Psicologia Aplicada A Negociacao em Crises - Policiais - TC - Marco Antonio Da Silva

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 115

Psicologia Aplicada à

Negociação em Crises Policiais

Tenente-Coronel Marco Antonio da Silva


Polícia Militar do Paraná (PMPR)
Psicólogo - CRP-08/15083
Especialista em Psicologia Jurídica (PUC-PR) / Especialista em Saúde Mental (UCDB-MS)
Especialista em Negociação Policial e Gerenciamento de Crises Policiais
Integrante por 11 anos da Equipe de Negociação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da PMPR
Sumário
• Introdução; • Principais Psicopatologias verificadas nas
• Contextualização do processo de crises:
Negociação Policial; • Transtorno depressivo maior;
• O psicólogo integrante de uma Equipe de • Transtorno bipolar;
Negociação: • Esquizofrenia;
• Atribuições do assessor psicológico antes • Transtorno da personalidade antissocial;
da crise; • Transtorno da personalidade borderline.
• Atribuições do assessor psicológico • Síndromes verificadas no ponto crítico:
durante a crise;
• Síndrome de Estocolmo;
• Atribuições do assessor psicológico após a
• Síndrome de Londres;
crise.
• Síndrome de Lima.
• Características necessárias ao negociador
policial: • Conclusões.
• Características psicológicas;
• Características profissionais.
Canal do YouTube:
“Vídeos Policiais Clássicos”

https://www.youtube.com/channel/UCq4a7rSvtpO92MgbZ4-0Q0A
Introdução
Introdução
• A atividade policial é uma área
extremamente fértil para a ciência da
Psicologia;
• Há uma diversidade imensa de situações
vinculadas ao trabalho policial que enseja
cada vez mais a atuação de psicólogos;
• São especialistas que podem contribuir
enormemente para o desenvolvimento de
diversas habilidades que auxiliem o
profissional de segurança pública no seu
dia a dia.
Introdução
• Psicologia aplicada é
a utilização das
teorias, princípios e
técnicas da psicologia
a coisas práticas,
como, por exemplo, a
negociação em
crises policiais.
Introdução
• Os estudos sobre a atividade da negociação
em crises se enquadram no contexto da
Psicologia Policial, subárea da Psicologia
Jurídica, que é um ramo específico da
Psicologia que faz interface com o Direito e
estuda as relações do indivíduo com as leis e
com as instituições jurídicas;
• Como são muitas as variáveis psicológicas
envolvidas nas crises policiais, um
psicólogo terá um cenário muito prolífico
para atuar.
Contextualização do processo
de Negociação Policial
Polícia Militar do Paraná (PMPR)
• Constituição Federal de 1988, art. 144:
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia
ostensiva e a preservação da ordem pública
(...);
• PMPR criada em 10 de agosto de 1854
(169 anos);
• Atua de maneira preventiva e
repressiva, atendendo e protegendo a
sociedade;
• Possui diversas especialidades de
atuação, entre elas, a gestão das crises.
O que é uma
crise policial?
Crise policial
• É uma ocorrência diferenciada, de risco
extremado e que excede a capacidade de
atendimento dos grupos policiais
regulares, evocando a necessidade
imperiosa de grupos especialmente
treinados para seu gerenciamento (SILVA,
2016, p. 63);

• Crises estáticas X crises dinâmicas.


Perturbado ameaça ex-patrão
Honolulu, Havaí (1996)
Crise policial estática

• Crise estática: quando


o ponto crítico está
contido; é conhecido.
Drogado ameaça criança
• Ex.: roubo frustrado Manila, Filipinas (2002)
com reféns,
mentalmente perturbado Perturbado com faca ameaça esposa
Paiçandu/PR (17 set. 2020)
mantendo vítimas,
tentativa de suicídio,
rebeliões em presídios
etc.;
Crise policial dinâmica

• Crise dinâmica: quando não


há contenção em virtude da
locomoção dos causadores Comodoro/MT (2013)
do evento crítico (CEC).
• Ex.: crise com Columbine
atiradores/agressores ativos, Colorado, EUA (1999)
ocorrências de crimes
violentos contra o patrimônio
(“novo cangaço/domínio de
cidades”), ações terroristas,
etc. Paris, França (2015)
Características de uma crise policial
• Imprevisibilidade: toda crise é imprevisível, não se sabendo quando e
nem onde ocorrerá;
• Urgência: indica que uma crise necessita de um atendimento
imediato, não podendo ser adiado nem subestimado;
• Risco iminente à vida: durante a eclosão de uma crise qualquer, a
vida dos envolvidos é exposta a um perigo imediato, sob ameaça do
Causador do Evento Crítico (CEC);
• Complexidade: uma crise policial não é uma ocorrência simples de
ser administrada há muitas variáveis envolvidas no processo e o
caminho para conduzi-la a um desfecho aceitável é complicado e
perigoso;
• Baixa incidência: a crise policial não ocorre com a mesma frequência
de outras ocorrências policiais corriqueiras, daí sua baixa incidência.
Conceito de Gerenciamento de Crises (GC)

• É um sistema amplo, que congrega diversos


atores, funções e etapas e estabelece as
diretrizes gerais para o atendimento das
ocorrências qualificadas como críticas;
• O foco primordial desse processo
sistemático é conduzir a crise ao
encerramento adequado por meio de um
trabalho conjunto e harmonioso de todos
os envolvidos, com a utilização de
procedimentos técnicos e amparados pelos
ditames legais vigentes (Diretriz n.º 005/2011, da Crise no ônibus 174
PMPR). Rio de Janeiro/RJ (12 jun. 2000)
Objetivos do GC
• A missão das autoridades
policiais e suas equipes
especializadas se traduz no
incessante trabalho técnico
para atingir os objetivos
previstos pela doutrina, quais
sejam, na estrita ordem de
valor:
1) Preservar vidas;
2) Aplicar a lei;
3) Restabelecer a ordem.
Crise de roubo frustrado a supermercado com reféns
Curitiba/PR (2014)
Causador do Evento Crítico (CEC)

• De maneira ampla e genérica, é Criminosos


todo aquele indivíduo que dá
causa a um evento crítico, podendo
fazê-lo pelas mais variadas Terroristas
motivações, determinando o tipo
de crise a ser gerenciada;
• A doutrina estabelece 4 tipos de Mentalmente
CEC de acordo com suas principais perturbados
características.

Presos rebelados
O CEC mentalmente perturbado
na doutrina da PMPR
• Apresenta um comportamento alterado e uma
linha de raciocínio lógica confusa;
• São três os fatores que podem
ocasionar perturbações mentais
nas pessoas e fazê-las gerar
crises:
• Presença de transtornos
mentais;
• Abalos emocionais súbitos;
• Abuso de drogas lícitas e
ilícitas.
Evolução histórica da negociação policial
1965/66 1967 1971 1972 1972
EUA EUA EUA Alemanha EUA
Criação da doutrina
Advento de Criação Presídio de Olimpíadas de Negociação no
crises sem da Attica de Munique NYPD pelo Tenente
condições SWAT
Frank Bolz e pelo
de resposta no 10 reféns e 9 reféns
mortos após
Detetive Psicólogo
policial LAPD 29 detentos
mortos ação policial Harvey Schlossberg
Evolução histórica da negociação policial
1973 Anos 80 1988 1990 2003
O FBI Delegado da PF Criado o A doutrina
difunde a COE na Criação da
Roberto das de GC
doutrina de PMPR, Equipe de
Chagas chega à
Negociação após Negociação
Monteiro se PMPR pelo
nos EUA e crises mal no BOPE da
especializa em DPF
para outros resolvidas PMPR em 20
GC no FBI Monteiro
países no PR de março

Palestra clássica de
Gerenciamento de Crises na
PMPR: Delegado PF Roberto das
Chagas Monteiro (1990)
ALTERNATIVAS TÁTICAS DO GERENCIAMENTO DE CRISES
NEGOCIAÇÃO AÇÕES TÁTICAS
Negociação Negociação Técnicas Tiro de Invasão
Técnica Tática Não-Letais Comprometimento Tática

EN - EQUIPE DE NEGOCIAÇÃO GI GAP GI

SOLUÇÃO DA CRISE
Legenda:
(SILVA; RONCAGLIO, 2021)
EN: Equipe de Negociação;
GI: Grupo de Intervenção;
GAP: Grupo de Atiradores de Precisão.
Negociação Técnica Negociação Tática
• É a primeira alternativa a ser considerada no • Caracteriza-se principalmente pelo auxílio que
processo de GC e a que impõe menor risco a equipe de negociação fornecerá na
aos envolvidos; organização do ambiente, na coleta de
• Procura impulsionar uma mudança no informações e na preparação das
comportamento do CEC por meio do diálogo, circunstâncias visando a aplicação de ações
fazendo com que ele apresente alteração em táticas pelos operadores táticos;
sua conduta e aceite encerrar a ocorrência de
forma pacífica, ou seja, sem o uso da força. • O objetivo principal da negociação tática é
• É o conjunto de técnicas que utiliza a prover suporte tático e minimizar os riscos
barganha, a persuasão, a influência e o quando da execução das demais alternativas
poder de convencimento para a resolução da táticas, portanto, a equipe de negociação
crise; possui importante papel tático.
• Ganha tempo, evita ações precipitadas e
diminui as implicações legais posteriores.

63% das crises terminam


na negociação técnica.
Equipe de Negociação (EN)
• Formada por negociadores policiais, a equipe de negociação (EN) do
BOPE é a responsável pela aplicação da primeira alternativa tática a ser
considerada durante o gerenciamento de um evento crítico;
• A EN é dividida por funções próprias, com seus operadores atuando de
forma integrada com os demais grupos especializados.

Roubo frustrado com refém em veículo


Pinhais/PR (2014)
Equipe de Negociação (EN)
• Estrutura básica de uma Equipe de Negociação:
• Comandante da Equipe;
• Negociador Principal;
• Negociador Secundário;
• Negociador Anotador;
• Assessor Logístico;
• Assessor Tecnológico;
• Assessor Psicológico.

Rebelião na Penitenciária Estadual de Piraquara I, PR – 2014


O psicólogo integrante de
uma Equipe de Negociação
O psicólogo integrante
de uma EN
• Estudos à luz da psicologia
sobre as especificidades do
processo de negociação em
crises policiais podem trazer
grandes benefícios para o
processo de gerenciamento na
sua totalidade, e,
principalmente, para o objetivo
primordial do sistema que é a
preservação das vidas dos
envolvidos.
O psicólogo integrante de uma EN
• Nos EUA, os psicólogos fizeram grandes
contribuições para o desenvolvimento de
técnicas de negociação e desempenharam
uma variedade de papéis e funções. Essas Perturbado armado e
barricado em casa
técnicas, quando implementadas pelas Curitiba/PR (2006)
agências policiais, reduziram drasticamente os
ferimentos e a perda de vidas nas crises
(HATCHER et al, 1998);
• É um campo que ainda está em
desenvolvimento no Brasil e precisa de
incentivos e muito apoio institucional para
que se constitua numa atividade frequente nas
corporações policiais.
O psicólogo integrante de uma EN
• Não é trabalho de o profissional de saúde mental negociar
diretamente com o CEC;
• É recomendado que o psicólogo
também seja policial; entretanto, em
caso de necessidade, não há óbices
de que o consultor psicológico seja
uma pessoa não policial, mas,
precisa ser treinado nas técnicas
policiais básicas e específicas e esteja
comprometido com a missão.
Perturbada com machado ameaçando filho em casa
Fazenda Rio Grande/PR (2012)
O psicólogo integrante de uma EN
• O assessor psicólogo desempenha importantes papéis antes,
durante e depois da crise aos negociadores policiais.
Curitiba, PR – 2005 Curitiba, PR – 26 jan. 2015 Curitiba, PR – 5 jun. 2003

Antes Durante Depois


Atribuições do
assessor
psicológico
antes da crise

Crise de 32 horas com CEC armado e 5 vítimas,


encerrada no processo negocial.
Joaquim Távora/PR (10 jan. 2013)
Atribuições do assessor psicológico antes da crise
• Triagem e seleção dos
policiais candidatos a
negociadores, participando
da comissão que aplicará os
testes psicológicos
específicos para a busca de
operadores com o perfil
profissiográfico
estabelecido pela
corporação e adequado para
o desempenho da atividade.
Atribuições do assessor psicológico antes da crise
• Prover treinamento aos
integrantes da equipe numa
extensa gama de assuntos
relacionados à atividade da
negociação, incluindo
habilidades de escuta ativa,
técnicas de persuasão, avaliação
de tipos de personalidade,
gestão de estresse, intervenção
em crises emocionais etc.
Atribuições do assessor psicológico antes da crise
• Também participam de
exercícios de treinamento
durante os cursos de
formação de negociadores,
avaliando os alunos durante
o desenvolvimento de seus
papéis em ocorrências
simuladas ou outros
exercícios práticos e
avaliativos.
Atribuições do assessor
psicológico durante a crise
Atribuições do assessor psicológico durante a crise
• A presença física do assessor psicológico no local da crise é
necessária, considerando as diversas missões que lhe serão
confiadas;
• Atua como observador na crise, em local seguro e protegido,
monitorando as negociações, e interpretando as condutas do
CEC, a atuação dos integrantes da equipe de negociação e da
relação estabelecida entre eles;
• Auxilia os negociadores realizando uma avaliação do estado
mental do CEC e, também, com o gerenciamento dos
diferentes comportamentos apresentados por ele durante a
crise.
Atribuições do assessor psicológico durante a crise
• Gerencia o nível de estresse dos
negociadores, monitorando suas
ligações com o CEC e com os
outros profissionais envolvidos no
gerenciamento;

• Auxilia o negociador a perceber


detalhes ou problemas no ponto
crítico e ajuda a prevenir o
agravamento da crise.
Atribuições do assessor psicológico durante a crise
• Ajuda a estimar a motivação e a
disposição do causador para
negociar, bem como os possíveis
desdobramentos da situação;

• Observa o que o CEC diz ou faz,


sempre atento se o processo de
negociação está aumentando ou
diminuindo a agressividade ou a Rebelião com reféns de 18h na
Penitenciária Central do Estado (PCE)
possibilidade de uma solução Piraquara/PR (5 maio 2015)
pacífica.
Atribuições do assessor psicológico durante a crise
• Faz uma avaliação
comportamental imediata e
contínua do CEC, assim como
situacional e específica do
contexto, e gera inferências e
hipóteses sobre as próximas
ações, com ênfase na
estimativa do potencial de
violência ou risco de suicídio.

China
Atribuições do assessor psicológico durante a crise
• Analisa as informações obtidas por meio de entrevistas com
familiares e amigos do CEC, estimando seu estado mental,
reconhecendo a presença de eventual transtorno mental e
utilizando dados sobre suas ações e padrões de
comportamento;

• Propõe técnicas de aproximação e de rapport ao negociador


principal, para que sua atuação seja mais apropriada de acordo
com a necessidade específica de cada situação.
Atribuições do assessor psicológico durante a crise
• Aplica seus conhecimentos técnicos para traçar o perfil do
CEC ou das pessoas ameaçadas, utilizando dados sobre os
envolvidos para contextualizar o problema e orientar os
negociadores para uma intervenção mais bem-sucedida na
crise;

• Intervém direta e indiretamente nos fenômenos psicológicos


(manifestações mentais dos indivíduos) que surgem no
momento da crise emocional, tanto em relação ao CEC quanto
aos policiais envolvidos no processo de negociação.
Atribuições do assessor psicológico durante a crise
• Identifica se o negociador está perdendo a
objetividade e recomenda sua substituição
ao comandante da equipe; mesmo altamente
treinado, as pressões sobre o negociador são
grandes e, invariavelmente, podem afetar seu
desempenho;

• Na medida do possível, o assessor


psicológico também pode monitorar e
promover o bem-estar dos reféns, refletindo
positivamente no contexto da crise.
Atribuições do assessor
psicológico depois da crise
Atribuições do assessor psicológico depois da crise
• É importante que ele participe da reunião
de debriefing, (reunião pós-ação)
momento destinado para o levantamento
de informações e análise das ações
durante o evento crítico, que conta com a
participação dos envolvidos;

• Nessa ocasião, ele indicará, dentro de sua


especialidade, suas percepções sobre o
incidente, auxiliando, assim, na correção
de eventuais falhas que tenham ocorrido.
Atribuições do assessor psicológico depois da crise
• Oferecer treinamento de gerenciamento de estresse aos
integrantes da equipe, principalmente quando as ocorrências
tiverem um desfecho adverso;

• Nesses casos, negociadores podem se sentir culpados, com


raiva ou deprimidos e correm risco de desenvolver transtorno
de estresse pós-traumático; o consultor psicológico, diante
disso, pode reestruturar a percepção do evento, mostrando ao
negociador e à equipe como usar a experiência para aprender
e seguir em frente.
Atribuições do assessor psicológico depois da crise
• Poderá realizar críticas construtivas
sobre questões pontuais da atuação dos
membros da equipe, com o objetivo de
correções futuras; Paranavaí, PR – 27 dez. 2011

• Poderá realizar o encaminhamento para


o atendimento psicológico especializado
do integrante que porventura tenha sido
afetado pelo resultado negativo de
alguma ocorrência, para que inicie um
acompanhamento e tratamento
específico.
Características
necessárias ao
negociador policial
Características necessárias ao negociador
• A atividade de negociação em crises é específica e altamente
qualificada, por isso, necessita de operadores com
características psicológicas e profissionais bem particulares;
• Certas habilidades e
conhecimentos tornam
os negociadores mais
bem-sucedidos, o que
resulta em encerramentos
de crises de forma
pacífica em prazos mais
curtos de tempo.
Curitiba, PR – 25 maio 2014
Características necessárias ao negociador
• Processo de seleção do negociador policial:
a) Inscrição: de acordo com o edital do curso;
b) Exame intelectual: o postulante a negociador precisa possuir bom
nível intelectual, boa capacidade de comunicação e uma adequada
habilidade em concatenar ideias;
c) Avaliação psicológica: deve ser baseada nos parâmetros do perfil
profissiográfico estabelecido pela corporação para essa função;
d) Exame de capacidade física: também de cunho eliminatório, o
exame precisa avaliar aspectos como agilidade, força e resistência
do candidato;
e) Exames de saúde: um negociador precisa gozar de boa saúde, pois
as demandas decorrentes dos serviços nem sempre são amenas.
Características
psicológicas

Reserva, PR – 25 fev. 2014


Características psicológicas
• Quando se trata do trabalho exigente e estressante de um
negociador policial, a personalidade, os estilos de
enfrentamento e de tomada de decisões do operador podem
ser de vital importância para a saúde e a longevidade de todos
os envolvidos em uma situação crítica.

Palmeira, PR – 12 fev. 2014


Características psicológicas
• Alta tolerância à frustração;
• Baixa ansiedade;
• Elevada autoestima;
• Elevado controle emocional;
• Elevado controle de impulsos;
• Atenção seletiva;
• Boa memória;
• Bom ouvinte;
• Ser empático;
Características psicológicas
• Ter elevada autoconfiança;
• Ser comunicativo;
• Ter responsabilidade elevada;
• Alta persistência;
• Bom raciocínio espacial;
• Alta adaptabilidade;
• Ser assertivo;
• Capacidade de liderança.
Características
profissionais
Características profissionais
• Possuir experiência no serviço policial;
• Ser voluntário;
• Capacidade de trabalho em grupo;
• Ter boa condição física;
• Ter um bom nível intelectual;
• Gozar de bom conceito entre seus companheiros;
• Possuir boas relações interpessoais;
• Ter conhecimentos básicos sobre ações táticas;
• Ter conhecimentos básicos sobre ciências comportamentais;
• Acreditar na doutrina de negociação.
Principais Psicopatologias
verificadas nas crises
Conceito de Psicopatologia
• É o estudo científico de transtornos mentais,
incluindo teoria, pesquisa, diagnóstico e
tratamento. Esse amplo campo de estudo pode
envolver psicologia, bioquímica, farmacologia,
psiquiatria, neurologia, endocrinologia e outras
matérias relacionadas (Dicionário de Psicologia da American
Psychological Association, 2010, p. 764);

• Transtornos mentais estão frequentemente


associados a sofrimento ou incapacidade
significativos que afetam atividades sociais,
profissionais ou outras atividades importantes
(American Psychiatric Association, 2014, p. 20).
Por que é importante
estudar Psicopatologia no
contexto da negociação em
crises policiais?

• Porque pessoas portadoras


de transtornos mentais são
constantemente encontradas
causando ocorrências
críticas;
• A equipe de negociação
precisa avaliar o estado
mental do CEC logo nos
primeiros contatos e aplicar
as técnicas adequadas.
Transtornos mais comumente verificados nas crises
Transtorno depressivo maior;
Transtorno bipolar;
Esquizofrenia;
Transtorno da personalidade antissocial;
Transtorno da personalidade borderline.
Transtorno
depressivo
maior
Transtorno depressivo maior
• Ou depressão, é uma afecção mental caracterizada por uma
alteração profunda de humor, com presença de tristeza,
sofrimento moral, dificuldade de concentração, retardo
psicomotor, entre outros sintomas;
• Os sintomas do transtorno causam sofrimento significativo ao
portador e graves prejuízos em sua vida social e profissional,
podendo culminar em suicídio;
• Diferentemente de uma tristeza ou infelicidade passageiras, a
depressão é um estado grave, persistente e com sofrimento
intenso.
Transtorno depressivo maior
• É uma das doenças mais frequentes na
prática clínica geral (BOTEGA, 2015);

• Globalmente, estima-se que 5% dos


adultos (mais de 300 milhões) sofram do
distúrbio (OMS, 2023);

• A depressão é a principal causa de


incapacidade em todo o mundo e contribui
de forma importante para a carga global de
doenças.
Transtorno depressivo maior / sintomas
• Para diagnosticar o transtorno, o DSM-5 (2014) estabeleceu os
seguintes critérios: presença de cinco (ou mais) dos sintomas
abaixo relacionados durante o mesmo período de duas
semanas (pelo menos um dos sintomas deve ser humor deprimido ou perda de
interesse, ou prazer):
a) Humor deprimido na maior parte do dia, com sensação de tristeza
e desesperança;
b) Anedonia: acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas,
ou quase, as atividades antes prazerosas;
c) Mudança significativa de peso (perda ou ganho) ou redução, ou
aumento do apetite quase todos os dias;
d) Alterações do sono, como insônia ou hipersonia (sonolência
excessiva);
Transtorno depressivo maior / sintomas
e) Agitação ou retardo psicomotor;
f) Fadiga ou perda de energia;
g) Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva, ou inapropriada
(que podem ser delirantes);
h) Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou
indecisão;
i) Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida recorrente
sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano
específico para cometer suicídio.

Os pensamentos suicidas variam desde um desejo de não acordar pela manhã,


ou uma crença de que os outros estariam melhor se a pessoa estivesse morta,
até pensamentos transitórios, porém recorrentes, sobre cometer suicídio
ou planos específicos para se matar.
Intervenção na tentativa de suicídio
• Entendida a crise suicida como uma ocorrência transitória
(passageira), ambivalente e relacional (que envolve relações
humanas), o objetivo da negociação deverá consistir na
transformação de uma situação de urgência suicida em
sobrevivência, possibilitando o encaminhamento do causador
para o acompanhamento especializado posterior.

CRISE SUICIDA

TRANSITÓRIA AMBIVALENTE RELACIONAL


Estudo de
caso
Curitiba, PR
7 jan. 2013
Transtorno bipolar
Transtorno bipolar
• O transtorno bipolar caracteriza-se
pela oscilação do humor entre dois
polos emocionais: o da depressão e
o da euforia (episódio maníaco);
• No episódio depressivo, os sintomas
são os mesmos apresentados pelo
transtorno depressivo maior;
• O risco de suicídio entre pacientes
com transtorno bipolar é 10 vezes
maior do que o observado na
população geral.
Transtorno bipolar
• É um transtorno que altera notadamente o comportamento da pessoa,
causando-lhe graves prejuízos sociais e profissionais, sendo
indispensável, em alguns casos, a hospitalização do paciente para
prevenir danos a si mesmo ou a outras pessoas;
• Os episódios (maníacos e depressivos) alternam-se no curso do
transtorno, cada um durando normalmente alguns meses, podendo ser
intermediados por períodos de completa normalidade;
• O indivíduo não reconhece o transtorno.
Transtorno bipolar / sintomas
• De acordo com o DSM-5 (2014), o episódio maníaco apresenta
três (ou mais) dos seguintes sintomas:
a) Autoestima inflada ou grandiosidade;
b) Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado
com apenas três horas de sono);
c) Mais loquaz que o habitual (fala muito) ou pressão para continuar
falando;
d) Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos
estão acelerados;
e) Distratibilidade (a atenção é desviada muito facilmente por
estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme
relatado ou observado;
Transtorno bipolar / sintomas
f) Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no
trabalho ou escola, seja sexualmente); ou agitação psicomotora;
g) Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para
consequências dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos
desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos
financeiros insensatos).
Estudo de caso
Curitiba, PR, 10 jul. 2013

CID 10
F31.2 –
Transtorno
afetivo bipolar,
episódio atual
maníaco com
sintomas
psicóticos.
Esquizofrenia
Esquizofrenia
• A esquizofrenia é um transtorno psicótico
caracterizado por distúrbios no pensamento
(cognição), responsividade emocional e
comportamento;

• A idade de início é tipicamente entre o final da


adolescência e metade da terceira década de
vida, eventualmente mais tarde.
Esquizofrenia
• Quanto ao risco para o suicídio, cerca de
5% das pessoas portadoras do transtorno
cometem suicídio, representando um risco
de 12 vezes maior do que o encontrado na
população geral (BOTEGA, 2015);

• Os sintomas prejudicam seriamente a vida


social e profissional do indivíduo portador,
pois a característica principal dos
transtornos psicóticos é a perda de
contato com a realidade.
Esquizofrenia / sintomas
• De acordo com o DSM-5 (2014), que fornece os critérios para
diagnóstico do transtorno, os distúrbios característicos devem durar pelo
menos 6 meses e incluir pelo menos um mês dos sintomas a seguir,
incluindo dois ou mais. Pelo menos um deles deve ser (a), (b) ou (c):
a) Delírios (aspectos: história construída com certeza inabalável
e falsa crença que não se confirma objetivamente);
b) Alucinações (percepção de algo – um ruído, um cheiro, uma
visão – que, na verdade, não está presente, ou seja, é uma
sensação sem estímulo);
c) Discurso desorganizado;
d) Comportamento grosseiramente desorganizado ou
catatônico;
e) Sintomas negativos (expressão emocional ou avolia, que é a
falta de vontade extrema).
Curitiba, PR – 16 set. 2005
Transtorno da Personalidade Antissocial
Transtorno da personalidade antissocial
• É um transtorno de personalidade caracterizado por um
comportamento antissocial crônico que não se deve a
retardo mental grave, esquizofrenia ou episódios maníacos (APA,
2010, p. 976).

• A característica essencial do transtorno é um padrão difuso de


indiferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge
na infância ou no início da adolescência e continua na vida
adulta (DSM-5, 2014).
Transtorno da personalidade antissocial
• Esse padrão também já foi referido como
psicopatia, sociopatia ou transtorno da
personalidade dissocial;
• A psicopatia é um transtorno caracterizado por
pessoas que não têm consciência e são
incapazes de empatia, culpa ou lealdade a
qualquer pessoa exceto com elas mesmas (FURNHAM,
2015).

• Psicopatia é um “constructo clínico caracterizado


por déficits no funcionamento interpessoal e
emocional que aumenta a probabilidade de um
indivíduo se comportar de uma maneira antissocial”
(HUSS, 2011, p. 348).
Transtorno da personalidade antissocial / sintomas
• O DSM-5 (2014) observa que o diagnóstico do transtorno só pode
ser formulado a partir dos 18 anos e o portador precisa apresentar
três dos seguintes comportamentos:
a) Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos
legais, com repetição de atos que constituem motivos de detenção;
b) Tendência à falsidade, verificada por mentiras repetidas, faz uso de
nomes falsos ou de trapaça para ganho, ou prazer pessoal;
c) Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro;
d) Irritabilidade e agressividade, verificado por repetidas lutas corporais
ou agressões físicas;
e) Descaso pela segurança de si ou de outros;
Transtorno da personalidade antissocial / sintomas
e) Irresponsabilidade reiterada, verificada
em falhas repetidas em manter uma
conduta consistente no trabalho ou
honrar obrigações financeiras;
f) Ausência de remorso, conforme
indicado pela indiferença ou
racionalização em relação a ter ferido,
maltratado ou roubado outras
pessoas.
Rebelião com reféns na PEP II
Piraquara/PR (12 set. 2014)
Transtorno da personalidade borderline
Transtorno da personalidade borderline
• É um transtorno de personalidade caracterizado por um padrão difuso
de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos
afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e
está presente em vários contextos (DSM -5, 2014);
• O portador do transtorno apresenta um padrão
de relacionamento pessoal muito variável, que
se caracteriza pela alternância entre um extremo
de idealização e outro de completa
desvalorização;
• Os sintomas são suficientemente graves para
causar extremo sofrimento ou interferir nas
relações sociais profissionais.
Transtorno da personalidade borderline / sintomas
• O DSM-5 (2014) listou as manifestações
inerentes ao transtorno, sugerindo a
presença de cinco (ou mais) das
seguintes:
a) Esforços desesperados para evitar
abandono real ou imaginado;
b) Um padrão de relacionamentos
interpessoais instáveis e intensos;
c) Perturbação da identidade: instabilidade
acentuada e persistente da autoimagem
ou da percepção de si mesmo;
Transtorno da personalidade borderline / sintomas
d) Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas
(p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável,
compulsão alimentar);
e) Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de
comportamento automutilante;
f) Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade de humor (p. ex.,
disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração
geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias);
g) Sentimentos crônicos de vazio;
h) Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (p. ex., mostras
frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes);
i) Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas
dissociativos (desconexão com a realidade) intensos.
Síndromes
verificadas
no ponto
crítico
Síndromes verificadas no ponto crítico
• Vários fenômenos psicológicos (manifestações
mentais dos indivíduos) são verificados no
desenrolar de uma crise, cujo ambiente expõe
pessoas ao risco real de violência e de morte;
• As reações comportamentais dos envolvidos na
crise, podem influenciar diretamente o resultado
das ocorrências;
• Especificamente nas crises que envolvem reféns,
três síndromes são comumente reconhecidas e
estudadas quando se trata dos comportamentos
manifestados pelos reféns e também pelos
próprios causadores das crises nos pontos
críticos.
Síndromes verificadas no ponto crítico

Síndrome de Síndrome de Síndrome de


Estocolmo Londres Lima
Síndrome de Estocolmo
Síndrome de Estocolmo
• A síndrome de Estocolmo (SE) é uma resposta mental e
emocional na qual um prisioneiro exibe aparente lealdade e até
afeto por seu captor. O capturado pode passar a ver a polícia ou
os negociadores como inimigos porque eles ameaçam o captor
(Dicionário da American Psychological Association – APA, 2010);

• É uma reação emocional, automática e inconsciente


manifestada pelas pessoas capturadas, inicialmente em busca de
sobrevivência;
• No decorrer da crise, a síndrome evolui para simpatia e
identificação, e seus efeitos podem persistir mesmo após o
encerramento da ocorrência.
Síndrome de Estocolmo
• A SE precisa ser entendida como resultado de ligações humanas
que ocorrem sob severas condições traumáticas durante um
determinado período, como é o caso da captura de reféns;

• O termo “síndrome de Estocolmo” foi


cunhado pelo psiquiatra e
criminologista sueco Nils Bejerot
(1921-1988), após analisar a crise dos
reféns no Banco de Crédito da Suécia
ocorrida em Estocolmo, no ano de
1973.
Síndrome de Estocolmo
• Estocolmo, Suécia, 23 de agosto de 1973;
• CEC: Jan-Erik Olsson, ladrão foragido e conhecido da polícia; exigiu a
presença de seu comparsa que estava preso, Clark Olofsson.
• Dois policiais entraram na agência;
Olsson atirou e feriu um deles na mão;
• Ele fez 4 reféns (3 mulheres e 1 homem),
mantendo-os na maior parte do tempo
dentro de um cofre e, por vezes, com uso
de violência;
• Na noite de 28 de agosto a polícia usou
gás lacrimogêneo e pôs fim à crise que
durou 131 horas (6 dias).
Síndrome de Estocolmo
• Na condição de ameaçados e dominados no
ponto crítico, os reféns são vulneráveis e se
tornam totalmente dependentes de seus
captores (como se regredissem a um estado de
infância), não apenas para realizarem suas
necessidades físicas básicas (comer, beber e ir
ao banheiro), mas também em questões
emocionais, como conversar e serem ouvidos;
• Os cativos se tornam obedientes, civis,
agradáveis e adaptáveis aos seus captores
para não os antagonizar, portanto, conseguirem
sobreviver àquela condição penosa.
Síndrome de Estocolmo
• O vínculo é criado quando o CEC ameaça a vida do refém, delibera
sobre isso e depois decide não o matar;
• O alívio do refém se transforma em sentimentos de gratidão pelo fato
de o CEC ter poupado sua vida, principalmente se o início da crise foi
violento;
• O desejo de sobreviver do refém tem precedência sobre o desejo de
odiar o indivíduo que o colocou naquela situação;
• Os seus pequenos atos de bondade provocam uma gratidão primitiva
pelo dom da vida nos reféns e são vistos por eles como as pessoas que
os deixarão viver;
• O tempo necessário para o desenvolvimento da síndrome varia de
situação para situação.
Áustria – 2006
Síndrome de Estocolmo
• Com o tempo e com o processo
de interação humana
acontecendo no ambiente
confinado, os cativos deixam de Goiás, 1996

ser “objetos” para os propósitos


do CEC e passam a ser pessoas
humanas com anseios,
problemas e família;
• Por outro lado, o CEC sabe que
se matar um refém no ponto
crítico poderá incitar uma ação
mortal da polícia contra ele.
Síndrome de Estocolmo
“Quero agradecer em primeiro lugar a Deus,
depois ao Pareja. Se não fosse por ele, nós
os reféns, não sairíamos vivos de lá”.
Nicola Limongi Filho – Diretor do CEPAIGO
Veja, 10/04/1996, p. 25.

“Ele se mostrou um líder. Todo mundo ali


só foi salvo por causa do Pareja”.
Desembargador Homero Sabino
Veja, 10/04/1996, p. 25.
Síndrome de Estocolmo
• A desvantagem do desenvolvimento dessa síndrome é que pode haver
sentimentos muito negativos do refém em relação aos policiais que
atuam na crise;
• Os negociadores devem estar preparados para, caso a síndrome
ocorra no ponto crítico, utilizá-la em proveito da preservação das vidas
envolvidas;
• Diversos fatores interferem no desenvolvimento da SE no ponto crítico:
- Duração curta da crise;
- CEC terrorista;
- Isolamento do capturado;
- A pessoa capturada é “vítima” e não “refém”;
- Conhecimento do fenômeno.
Síndrome de Londres
Síndrome de Londres
• Em contraste à síndrome de Estocolmo, surge a síndrome de Londres;

• Conceituada pelo dicionário da APA como sendo uma conduta de


resistência e recusa explícita e constante por reféns em fazer o que os
captores determinam durante uma situação de sequestro (Dicionário da
American Psychological Association – APA, 2010);

• É um comportamento que pode resultar em ferimentos sérios e morte


para aqueles que resistem;

• Basicamente, é usada para descrever uma resposta na qual os reféns


não cooperam com os causadores e se tornam desobedientes,
beligerantes e questionadores, por diversos motivos.
Síndrome de Londres
• A não aceitação das ordens pode imensamente
frustrar e irritar os causadores da crise, que
podem agir de forma violenta e descontrolada
quando sentem que estão sendo desafiados e
perdendo o controle da situação ou que não
têm suas determinações atendidas;
• Os negociadores e o assessor psicológico
da equipe precisam acompanhar de perto o
comportamento dos reféns, utilizando todas
as estratégias necessárias e aplicando os
esforços para se evitar resultados inesperados
e catastróficos gerados por eles próprios.
Síndrome de Londres
• O fenômeno foi identificado e nomeado
após a crise dos reféns de seis dias na
embaixada iraniana em Londres, em 1980;
• Um dos reféns, um jovem
idealista e
fervorosamente contrário
à ideologia dos terroristas,
discutia com os eles de
forma veemente;
• Ele acabou sendo morto a
tiros e seu corpo foi jogado
para fora da embaixada.
Síndrome de Londres
• Algumas motivações para a resistência dos reféns:
- O refém pode ter uma visão ideológica, política ou religiosa tão
forte que para ele vale a pena perder a vida em vez de se submeter
voluntariamente a seus oponentes;
- O refém pode julgar que arriscar sua vida é um pequeno preço a
pagar se isso significa que outros reféns serão salvos;
- Pode ser devido à crença de que os captores de fato causarão
danos aos reféns e por esse motivo, o refém precisaria resistir ou
reagir, como numa tentativa de fuga, por exemplo;
- O refém tem uma crença exagerada nas suas habilidades e que irá
resolver a situação (“complexo do herói”).
ESCALA DE REAÇÃO DOS REFÉNS NUMA CRISE: COMPARAÇÃO ENTRE
SÍNDROME DE ESTOCOLMO E SÍNDROME DE LONDRES

Fonte: SILVA; SILVA; RONCAGLIO (2021), baseada em Caupenne (2010).


Síndrome de
Lima
Síndrome de Lima
• Menos conhecida, mas não menos importante, a síndrome de Lima é
outro fenômeno psicológico que pode ser verificado num ponto crítico;
• Inversamente à síndrome de Estocolmo,
são os causadores que começam a
desenvolver simpatia e um vínculo
emocional positivo pelos reféns,
preocupando-se tanto pelo seu bem-estar
quanto por suas necessidades básicas;
• A síndrome de Lima pode ter recebido
esse nome em virtude da crise dos reféns
ocorrida na residência oficial do
embaixador do Japão, em Lima, capital do
Peru, em 1996, que durou 126 dias.
Síndrome de Lima
• Após a intervenção, que
durou apenas 36 minutos,
morreram todos os 14
causadores, um refém, o
magistrado da Suprema Corte
peruana que foi atingido na
perna, mas morreu a caminho
do hospital;
• A invasão contou com a
participação de cerca de 200
homens das Forças Armadas
peruanas. Dois militares
morreram.
Síndrome de Lima
• A síndrome pode ser percebida em diversas
condições:
• O causador descobre que não é capaz de matar
quando chega o momento de fazê-lo conforme o
planejado;
• Ele iniciou a crise sem a intenção de matar o
refém, acreditando que somente as ameaças
seriam necessárias para que suas exigências
fossem atendidas;
• Numa crise localizada, o CEC passa a ver o refém
como uma “tábua de salvação”, ou seja, como o
anteparo que o protege de uma eventual ação
violenta da polícia, por isso, precisa dele vivo.
Síndrome de Lima
• A síndrome pode ser percebida em diversas condições (cont.):
• O refém, inicialmente considerado como um objeto que garante sua
vida e serve para conquistar suas demandas, se “humaniza” depois
das interações no ponto crítico;
• O causador pode se sentir culpado por suas ações e com o objetivo
de redenção decide prover o bem-estar do refém;
• O causador não é um criminoso violento ou contumaz, não
praticou crimes anteriores ou, ainda, foi impelido a agir por uma
necessidade financeira muito grave;
• Fazendo parte de um grupo, o causador pode não concordar com os
atos de seus cúmplices e decide ajudar o refém.
Conclusões
Conclusões
• A Psicologia é uma ciência que está inserida no processo de
resolução de crises, assim como em qualquer atividade humana;
• Ela está diretamente relacionada com a gênese do processo
negocial, quando os policiais do Departamento de Polícia de Nova
York (NYPD) estabeleceram a doutrina vigente até hoje;
• A ciência psicológica auxilia os negociadores policiais a entender o
comportamento dos causadores, dos reféns e dos demais envolvidos
nas ocorrências;
• Consequentemente, eles terão mais subsídios para contribuir com o
tão almejado resultado aceitável das crises;
• “NEGOCIADORES SALVAM VIDAS”!
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. (DSM-5). Porto Alegre: Artmed, 2014.

AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). Dicionário de Psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2010.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2023]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 30 ago. 2023.

BOTEGA, N. J. Crise suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.

FURNHAM, A. 50 ideias de psicologia que você precisa conhecer. São Paulo: Planeta, 2015.

HATCHER, C. et al. The role of the psychologist in crisis/hostage negotiations. Behavioral Sciences and the Law Behav. Sci Law, 16, p. 455-472, 1998.

HUSS, M. T. Psicologia forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Porto Alegre: Artmed, 2011.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Depressão. Genebra: WHO, 2023. Disponível em: https://www.who.int/health-topics/depression#tab=tab_1. Acesso em: 30
ago. 2023.

PARANÁ. Polícia Militar do Paraná. Diretriz do Comando-Geral n. 005, de 21 de novembro de 2011. Regula o Gerenciamento de Crises na PMPR. Curitiba: PMPR, 2011.

PARANÁ. Polícia Militar do Paraná. Portaria do Comando-Geral n.º 930, de 17 de setembro de 2019. Define a data de criação da Equipe de Negociação da Polícia Militar
do Paraná. Curitiba: PMPR, 2019.

SILVA, M. A. Atuação do psicólogo na equipe policial de negociação em crises: um estudo a partir de casos reais de tentativa de suicídio. 2012. 84 p. Monografia (Curso
de Especialização em Psicologia Jurídica) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, 2012.

SILVA, M. A. Gerenciamento de crises policiais. Curitiba: InterSaberes, 2016.

SILVA, M. A. Primeira intervenção em crises policiais: teoria e prática. 3. ed. Curitiba: AVM, 2020.

SILVA, M. A.; RONCAGLIO, O. L. Gestão de crises e conflitos no contexto da segurança pública. In: MEDEIROS, D. B. (org.). Mediação de conflitos. Indaial: UNIASSELVI,
2021. p. 131-203.

SILVA, M. A.; SILVA, L. F.; RONCAGLIO, O. L. Negociação em crises policiais: teoria e prática. Curitiba: CRV, 2021.
Muito obrigado!
Tenente-Coronel Marco
41-99977-2905
[email protected]

Você também pode gostar