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O Que é Psicopedagogia Comportamental
Liliane Guethe
Psicopedagogia Comportamental
A Psicopedagogia é uma área de estudo e de atuação em aprendizagem
humana e tem como objetivos compreender o processo de aprendizagem e
intervir para prevenir, diagnosticar e tratar possíveis dificuldades relacionadas a
este processo. A aprendizagem ocorre em todos os ambientes e a todo momento
e, por isso, o trabalho psicopedagógico não é restrito ao ambiente escolar e a
um período determinado da vida das pessoas.
A prática psicopedagógica pode apresentar-se de diferentes maneiras. O
profissional pode atuar na adequação de condições de aprendizagem para que
o processo ocorra da melhor forma possível e que, por consequência, sejam
evitados comprometimentos neste percurso, como é o caso das intervenções em
questões didático-metodológicas, formação e orientação de professores e
orientação de familiares. Mas também pode atuar com o objetivo de eliminar
problemas de aprendizagem já instalados em um aluno ou grupo de alunos.
Independente do tipo de atuação que o psicopedagogo vá praticar, todas
elas se caracterizam por um trabalho individualizado, que respeita as
características de uma instituição, de um aluno ou grupo de alunos e que se
dedica a identificar suas necessidades ou dificuldades e a melhor maneira de
abordá-las.
Fazendo um breve histórico da Psicopedagogia, podemos considerar a
sua origem na Europa, ainda no século XIX, mas foi somente em 1946 que os
primeiros centros psicopedagógicos foram fundados na França. A literatura
francesa influenciou as ideias sobre a Psicopedagogia na Argentina, que por sua
vez, devido à proximidade geográfica e ao acesso fácil à literatura pela facilidade
da língua, influenciou a prática psicopedagógica no Brasil. O primeiro registro de
um curso de orientação psicopedagógica no Brasil, data de 1954, no Rio Grande
do Sul. Os primeiros cursos de especialização em Psicopedagogia no Brasil
surgiram no final da década de 1970 e em 1984 ocorreu o primeiro encontro de
psicopedagogos em São Paulo. E foi no início dos anos 1990 que houve a
multiplicação dos cursos de especialização em Psicopedagogia pelo país.
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Para chegarmos à construção do conceito de Psicopedagogia
Comportamental, abordaremos a seguir a ciência denominada Análise do
Comportamento. Para facilitar a compreensão, faremos a apresentação desta
ciência como sendo formada por três áreas:
O Behaviorismo Radical, que representa a filosofia que fundamenta a
Análise do Comportamento, fundado por Burrhus Frederic Skinner, segundo o
qual, a raiz de toda a compreensão humana poderia ocorrer pela análise de seu
comportamento, já que todo fazer humano é comportamento.
A Análise Experimental do Comportamento, a ciência básica, que abrange
os estudos científicos sobre os processos comportamentais e como as variáveis
do ambiente afetam o comportamento.
E a Análise do Comportamento Aplicada (do inglês, Applied Behavior
Analysis - ABA), a ciência aplicada, que utiliza os resultados das pesquisas
científicas para modificar comportamentos socialmente relevantes. Neste
sentido, a ABA está diretamente relacionada à qualidade de vida dos seres
humanos.
Em 1968, um grupo de cientistas descreveu as dimensões que definem a
ABA, e até hoje elas são utilizadas para guiar os estudos realizados por esta
ciência e também a prática de profissionais que a utilizam em suas intervenções.
São 7 as dimensões da ABA:
1. APLICADA: o comportamento selecionado para modificação deve ter
relevância social, ou seja, ter impacto no mundo real;
2. COMPORTAMENTAL: o comportamento-alvo deve poder ser observado
e medido;
3. ANALÍTICA: deve ser possível demonstrar, por meio de dados visuais,
que a melhora no comportamento foi resultado da intervenção realizada;
4. TECNOLÓGICA: a descrição dos procedimentos de intervenção deve ser
precisa, clara e simples a ponto de qualquer pessoa conseguir reproduzi-los;
5. CONCEITUAL: a intervenção deve seguir sistematicamente os princípios,
os conceitos da Análise do Comportamento;
6. GENERALIDADE: a melhora do comportamento deve ser duradoura e
ocorrer em outros ambientes, com outros estímulos e pessoas e está
generalização deve ser planejada desde o início;
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7. EFICAZ: a intervenção deve produzir o resultado desejado, ou seja, a
melhora do comportamento.
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exemplo, o Journal of Applied Behavior Analysis, o JABA. Os artigos dessas
revistas descrevem procedimentos de ensino para diversos comportamentos
socialmente relevantes. Existem pesquisas que estudam sobre esportes, abuso
de substâncias, fala, alimentação e também sobre dificuldades de
aprendizagem. As pesquisas sobre dificuldades de aprendizagem envolvem
procedimentos de ensino de matemática, alfabetização e muitas outras
habilidades e podem ser utilizadas no campo da Psicopedagogia
Comportamental, guiando a prática do profissional.
Diante deste contexto, apresentamos aqui a nossa proposta para o curso
de Psicopedagogia Comportamental: o uso de Práticas Baseadas em
Evidências, especificamente aquelas provenientes da ABA, para avaliação,
planejamento e intervenção no ensino de habilidades acadêmicas para pessoas
com dificuldades de aprendizagem, transtornos específicos de aprendizagem e
transtornos do neurodesenvolvimento.
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Estas equipes interdisciplinares são especializadas em ABA e oferecem
tratamento a pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e outros
transtornos do desenvolvimento e contam com prestadores de serviços com
níveis diferentes de formação. Existe um tipo de organização destas equipes que
favorece a realização da intervenção com a intensidade de horas necessária e
também a fidelidade da intervenção. Preferencialmente, as equipes devem
contar com os seguintes prestadores de serviços, com as respectivas formações:
• Analista do Comportamento Supervisor: Mestre ou Doutor em Análise do
Comportamento ou áreas associadas ao desenvolvimento atípico;
• Analista do Comportamento Coordenador: Especialista em Análise do
Comportamento;
• Aplicador: Cursos livres de Análise do Comportamento e
TEA/desenvolvimento atípico.
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planejar as intervenções, segue exatamente o que foi programado pelo
supervisor e é acompanhado de perto pelo coordenador e pelo supervisor, que
são os responsáveis pela intervenção.
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informações entre profissionais que atendem o mesmo aluno é essencial para o
melhor delineamento e efetividade da intervenção.
Podemos ainda diferenciar duas modalidades dentro da prestação de
serviços independente, uma baseada em diagnóstico e outra baseada em
queixa.
Quando a prestação de serviços é baseada em diagnóstico, o aluno chega
até o profissional com um diagnóstico médico, que vai informar o nome do que
o aluno apresenta como, por exemplo, Dislexia, Discalculia, entre outros. E a
partir daí, conhecendo o que estes diagnósticos (nomes) significam, ele pode ter
uma ideia geral de quais dificuldades o aluno pode apresentar.
A prestação de serviços baseada em queixa configura-se quando o aluno
chega até o profissional com demandas formuladas pelos pais, pelos
professores ou outros agentes escolares a respeito de dificuldades e problemas
que o aluno esteja enfrentando no ambiente escolar.
Dando continuidade ao modelo de intervenção focada, descreveremos a
seguir algumas práticas focais baseadas em evidências, provenientes da ABA,
que podem ser usadas pelo Psicopedagogo Comportamental e que serão
abordadas com mais detalhes no decorrer do curso.
Intervenções Baseadas no Antecedente: estas intervenções incluem
modificações feitas no ambiente/contexto para tentar alterar ou moldar o
comportamento de um aluno. Além de direcionar comportamentos desafiadores,
as Intervenções Baseadas no Antecedente também podem ser usadas para
aumentar a ocorrência dos comportamentos ou habilidades desejados. Os
procedimentos comuns destas práticas incluem: 1) modificar atividades,
materiais ou cronogramas educacionais, 2) incorporar a escolha do aluno em
atividades/materiais, 3) preparar os alunos antecipadamente para as próximas
atividades, 4) variar o formato, o nível de dificuldade ou a ordem de instruções
durante as atividades educacionais, 5) enriquecer o ambiente para fornecer
pistas adicionais ou acesso a materiais adicionais e 6) modificar os horários de
entrega e estímulo e reforço.
Intervenção Momentum Comportamental: é uma estratégia na qual a
apresentação das tarefas é modificada para que aquelas que requerem
respostas menos trabalhosas (sequências de respostas de alta probabilidade)
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ocorram antes daquelas que exigem respostas mais difíceis (sequências de
respostas de baixa probabilidade). Isso é feito para que os alunos recebam
reforço mais cedo e tenham maior probabilidade de permanecer engajados e
persistir com as tarefas ou solicitações mais desafiadoras que se seguem. A
Intervenção Momentum Comportamental pode ser usada nos domínios
acadêmico, social, de comunicação e comportamental.
Ensino por Tentativas Discretas (DTT): esta é uma abordagem
instrucional individual, geralmente usada para ensinar habilidades de maneira
planejada, controlada e sistemática. A DTT é caracterizada por tentativas
repetidas ou agrupadas que têm começo e fim definidos. Na DTT, o uso de
antecedentes e consequências é cuidadosamente planejado e implementado. A
tentativa começa quando o praticante apresenta uma instrução ou estímulo
claro, o que provoca um comportamento-alvo. Elogios e/ou recompensas
tangíveis são usados para reforçar as habilidades ou comportamentos
desejados. Os dados geralmente são coletados em todas as tentativas.
Modelação: envolve a demonstração de um comportamento-alvo
desejado que resulta no uso do comportamento pelo aluno e que leva à aquisição
do comportamento-alvo. Assim, o aluno está aprendendo uma habilidade
específica através da aprendizagem observacional. Esta prática é
frequentemente combinada com outras estratégias, como estímulo e reforço.
Intervenção Naturalística: é uma coleção de práticas, incluindo arranjo
ambiental e técnicas de interação implementadas durante rotinas diárias e
atividades na sala de aula ou no ambiente doméstico do aluno. Essas práticas
são projetadas para incentivar comportamentos-alvo específicos com base nos
interesses dos alunos, criando habilidades mais complexas que são
naturalmente reforçadoras e adequadas à interação. A Intervenção Naturalística
está incorporada em atividades e/ou rotinas típicas das quais o aluno participa.
Intervenção Implementada por Pais: nesta prática, os pais são as principais
pessoas a usarem uma prática de intervenção com seu próprio filho. Os
profissionais ensinam os pais em formato individual ou de grupo (em ambientes
domésticos ou comunitários). Os métodos para ensiná-los variam, mas podem
incluir instruções didáticas, discussões, modelação, treinamento ou feedback de
desempenho. O papel dos pais é usar a prática de intervenção para ensinar ao
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filho novas habilidades, como: formas de comunicação, maneiras de brincar ou
habilidades de autocuidado, o envolvimento do filho na comunicação social e
interações e/ou como diminuir comportamentos desafiadores. Depois que os
pais são treinados, eles utilizam as intervenções (ou parte delas) com seus filhos.
Dicas (Prompting): estas estratégias incluem o suporte dado aos alunos
que os ajudam a usar uma habilidade específica. Dica verbal, gestual ou física é
dada aos alunos para ajudá-los a adquirir ou se envolver em um comportamento
ou habilidade direcionada. Geralmente, as Dicas são dadas por um adulto ou um
colega antes ou quando o aluno tenta usar uma habilidade. Esses procedimentos
são frequentemente usados em conjunto com outras práticas baseadas em
evidências, incluindo atraso e reforço, ou fazem parte de protocolos para o uso
de outras práticas baseadas em evidências, como o Treino de Habilidades
Sociais, Ensino por Tentativas Discretas e a Videomodelação.
Reforçamento: é a aplicação de consequências após a ocorrência de um
comportamento que aumenta a probabilidade do uso deste comportamento em
situações futuras. O reforçamento inclui reforço positivo, reforço negativo
(diferente de punição), reforço não-contingente e economia de fichas. O
reforçamento é uma prática fundamental baseada em evidências, na medida que
quase sempre é usada com outras práticas baseadas em evidências, incluindo
Dicas, Ensino por Tentativas Discretas, Treino de Comunicação Funcional,
Intervenção Naturalística.
Análise de Tarefas: é o processo de decompor uma habilidade
comportamental complexa ou “encadeada” em componentes menores para
ensinar uma habilidade. O aluno pode ser ensinado a executar etapas individuais
da cadeia progressivamente, até que toda a habilidade seja dominada (também
chamada de “encadeamento direto”). Ou o aluno pode ser ensinado a executar
etapas individuais, começando com a etapa final e retornando progressivamente
pela cadeia de habilidades até que toda a tarefa seja dominada desde o início
(encadeamento de trás para frente). A Análise de Tarefas também pode ser
usada para apresentar uma tarefa inteira a um aluno de uma só vez, com etapas
claras sobre como atingir a habilidade do início ao fim. Outras práticas, como
reforço, videomodelação ou atraso de tempo devem ser usadas para facilitar o
aprendizado das etapas menores. Conforme os passos menores são
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dominados, o aluno se torna mais independente em sua capacidade de executar
a habilidade maior.
Atraso de tempo: é uma prática usada para diminuir sistematicamente o
uso de Dicas durante as atividades de ensino. Com este procedimento, é
fornecido um breve atraso entre a instrução inicial e quaisquer instruções ou
dicas adicionais. A pesquisa, baseada em evidências, concentra-se em dois
tipos de procedimentos de Atraso de Tempo: progressivo e constante. No atraso
progressivo do tempo, o praticante aumenta gradualmente o tempo de espera
entre uma instrução e qualquer solicitação que possa ser usada para obter uma
resposta do aluno. À medida em que o aprendiz se torna mais competente no
uso da habilidade, o praticante aumenta gradualmente o tempo de espera entre
a instrução e a dica. Em um atraso de tempo constante, sempre é usado um
período fixo de tempo entre a instrução e a dica, e isso à medida em que o aluno
se torna mais experiente no uso da nova habilidade. O atraso de tempo é sempre
usado em conjunto com procedimento de dica (por exemplo, dica de menos para
mais, dica simultânea, condução graduada).
Suportes Visuais: são dicas concretas que fornecem informações sobre
uma atividade, rotina ou expectativa e/ou suporte para alguma habilidade. Os
Suportes Visuais são frequentemente combinados com outras práticas, como
Dica e Reforçamento, e também são incorporados em muitas intervenções mais
complexas ou pacotes interventivos. Alguns exemplos de Suportes Visuais
comuns são: rotinas visuais, agendas visuais, sistemas de trabalho,
organizadores gráficos, dicas visuais e scripts.
Cabe aqui ressaltar que a formação continuada em ABA é tão importante
ao profissional que atue em equipes quanto àquele que atue de maneira
independente, já que a ABA é uma ciência e toda ciência está em constante
mudança, não permanece estática. Buscar formação atualizada, baseada na
melhor evidência disponível é uma característica inerente ao Psicopedagogo
Comportamental.
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Referências Bibliográficas
BAER, Donald M.; WOLF, Monterose M.; RISLEY, Todd R. Some current
dimensions of applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior
Analysis. 1, p. 91-97, 1968.
STEINBRENNER, Jessica R.; HUME, Kara.; ODOM, Samuel L.; MORIN, Kristi,
L; NOWELL, Sallie. W.; TOMASZEWSKI, Brianne; SZENDREY, Susan;
MCINTYRE, Nancy S.; YüCESOY-ÖZKAN, Şerife; SAVAGE, Melissa N.
Prática baseada em evidências para crianças, adolescentes e jovens
adultos com autismo. Traduzido ao português por equipe Terapia ABA:
GUIMARÃES, Luiza; DIAS, Roberta. Disponível em:
https://www.terapiaaba.com.br/upload/ebp-traducao-vf-0606.pdf. Acesso em:
03 out. 2021.
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