Mulheres No Púlpito em Feira de Santana
Mulheres No Púlpito em Feira de Santana
Mulheres No Púlpito em Feira de Santana
Introdução
Até bem pouco tempo a tendência religiosa da maioria dos brasileir os era ser
naturalmente batizada na Igreja Católica Apostólica Romana, em decorrência de uma tradição
histórica na qual o catolicismo se constitui u enquanto religião oficial do Estado brasileiro até
o final do Império. Já no período colonial houve incursões protestantes no País, resultando
num desenvolvimento de um protestantismo esporádico e efêmero, porém originári o da
Reforma. Somente n o século XIX o protestantismo fixou-se no Brasil, e aos poucos foi
ganhando adeptos, formando congregações de várias denominações, um fenômeno
tipicamente americano e brasileiro, afirmando um caráter plural para este protestantismo q ue
já na sua origem na Europa, nasce u diverso (GOUVEIA, 1984, p. 48).
Todavia, foi, sobretudo, nas três últimas décadas do século XX, que o protestantismo
viveu um grande revigoramento. Os pentecostalismos e neopentecostalismos fazem parte de
uma terceira onda protestante no Brasil e estão inseridos num fenômeno maior estudado por
muitos pesquisadores atualmente que é o revigoramento do fenômeno religioso nessa
sociedade capitalista secularizada.
O pentecostalismo surgiu nos Estados Unidos no início do séc ulo XX, chegando ao
Brasil em 1910 com a Congregação Cristã do Brasil e a Assembléia de Deus em 1911. Essas
denominações fazem parte do pentecostalismo tradicional, de ac ordo com as tipologias de
alguns estudiosos do tema. “A partir dos anos 50, porém, aco mpanhando a crise que se abateu
sobre o capitalismo brasileiro e latino -americano, ocorreu ao mesmo tempo uma
fragmentação e uma importante expansão do pentecostalismo com o surgimento de igrejas
brasileiras” (ORO, 1996, p. 47).
Entre as igrejas pentecost ais brasileiras estão , Brasil para Cristo (1956), Igreja
Evangélica Pentecostal Cristã (1956), Igreja da nova Vida (1960), Igreja Casa da Benção
(1964), e, especialmente, Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962), Igreja Universal do Reino
de Deus (1977) e Igr eja Internacional da Graça de Deus (1980), Renascer em Cristo (1986),
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Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo (1994), entre outras. Essa expansão do
pentecostalismo a partir da década de 50 , na década de 1970 foi classificada como
neopentecostalismo. Estas denominações neopentecostais, apesar da pouca idade, lograram
maior êxito na América Latina e no Brasil do que as igrejas pentecostais tradicionais.
O neopentecostalismo é um fenômeno religioso que surge na matriz protestante
brasileira, segundo o sociól ogo Ricardo Mariano (2005), na segunda metade do século XX,
tendo como principais características a adaptação de práticas religiosas à sociedade
circundante, incluindo reformas de caráter secularizante, comportamental, estético e
teológico, para além das c aracterísticas centrais do pentecostalismo que foi o
desenvolvimento da emotividade nos rituais religiosos, como o êxtase religioso, a prática de
cura, a glossolalia, o exorcismo, entre outras.
Estas práticas, segundo Mendonça (1984), descaracterizariam a religião reformada que
se apoiou sobretudo no racionalismo cultual, por isso, Mendonça não considera o
pentecostalismo e o neopentecostalismo como formas religiosas protestantes. A perspectiva
deste trabalho é de uma leitura crítica a essa posição, tendo e m vista o caráter plural e diverso
do protestantismo, mas que guardam características centrais que desde a Reforma Protestante
no século XVI até as formas protestantes contemporâneas estão baseadas no sacerdócio
universal e no livre exame da Bíblia, as quais fazem parte de um mesmo debate teológico que
é a acessibilidade de todos os homens a Deus, mediante a inspiração do Espírito Santo para a
leitura da Bíblia, tornando desnecessária a mediação sacerdotal entre o religioso e a
divindade.
Toda liderança eficaz está associada a uma visão. Esta determina todo o
processo para o sucesso. Quando Deus chamou -me para o ministério,
permitindo-me sonhar com uma igrej a tão numerosa como as estrelas do
céu e a areia do mar, mostrou -me que cada partícula de areia transformava -
se em uma pessoa; compreendi então, que ele me desafiava a trabalhar em
favor das almas, isto é, a liderar pessoas com necessidades espirituais e
ajudá-las a encontrar refrigério em Cristo .
As práticas centrais do G12, como a instalação das células, os cultos domésticos com
o objetivo de evangeli smo sistemático, usando a seguinte metodologia: g anhar é a etapa de
evangelismo que se concretiza nas r euniões celulares; c onsolidar é a fase de conservar o novo
convertido através d o encontro e do contato pessoal; d iscipular é o processo de capacitação e
formação do crente através da escola de líderes ; enviar é quando o discípulo está pronto para
conquistar novos discípulos, começando a etapa de multiplicação que vai até a conquista das
nações. Estes passos estão expressos como princípios tanto no material doutrinário quanto na
decoração dos templos que funcionam com esta metodologia. Outro ponto fundamenta l é a
realização de encontros , os retiros espirituais que têm o objetivo de cura física, interior,
libertação e aprendizagem da doutrina cristã. Além disso, a montagem e o funcionamento de
uma escola de líderes para a preparação dos líderes de célula é uma etapa obrigatória .
Segundo Milhomens (2000, p. 92), as células são fundamenta das na igreja primitiva:
A igreja primitiva conheceu sua força nas casas, nos pequenos grupos. Ali
estava a base da igreja, pelo que chamaremos os grupos pequenos nas casas,
nos escritórios, nas escolas, onde quer que seja, de células, a fim de fixar o
conceito de que elas são vivas, são a base da igreja e multiplicam -se.
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Nas palavras de Terra Nova (2003, p. 21) as células “estão debaixo de uma
administração, que é exercida pelo governo dos 12, que fará com que estejamos seguros, por
que é um governo gerado num testemunho de crescimento com doutrina, caráter e, o
primordial, a santidade ”. As células na metodologia colombiana são administradas pelo G12
local, desde a mensagem reli giosa que é feita pelo pastor local, que recebe relatórios dos seus
liderados com as informações de como foi a reunião, o número de pessoas, o número de
conversões, o número de pessoas para o encontro, número de pessoas na escola de líderes,
quantidade de oferta e a previsão de abrir mais células. Esta gestão com eficácia empresarial e
sistemática possibilitou a expansão de diversas congregações em Feira de Santana. Estas
congregações têm crescido não apenas como expressão religiosa, mas como projeto políti co,
econômico e social , daí a relevância de torná -lo objeto de pesquisa empírica, ao analisar as
práticas, concepções, valores, visões de mundo destes grupos religiosos .
Mulheres no púlpito
Argumenta Silva (1998) que a concepção de Calvin o foi distinta da Luterana , sobre a
culpabilidade de Eva na queda . Calvino defendeu que tanto o homem quanto a mulher são
imagens de Deus, e a submissão da mulher ao homem não foi uma punição ao gênero
feminino, mas uma ordenança de Deus sobre os papéis so ciais do homem e da mulher.
“Calvino manteve a tradicional concepção da inferioridade feminina justificando -a como
determinação divina para a manutenção do equilíbrio social ” (SILVA, 1998, p. 262). Com
isso, percebemos que por vias diferenciadas tanto Lute ro quanto Calvino , não avançaram em
suas concepções teológicas sobre as mulheres no que diz respeito à vivência das mulheres na
sociedade. Porém em relação à participação na vida religiosa, os reformadores abriram
perspectivas consideráveis de participação feminina na vida litúrgica de suas congregações
reformadas. Silva demonstra com clareza os limites da participação das mulheres na vida
religiosa desde o século XVI até meados do século XX:
1
Entrevista concedida dia 27.12.2007 em São Paulo.
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Ela tem os valores insubstituíveis na área espiritual, ela é uma mulh er das
mulheres que eu conheço, ... sendo ela uma mulher que fundou um
Ministério INSEJEC, várias igrejas, em vários estados do Brasil, ela nunca
está pensando só em INSEJEC, ela fala da redenção do Brasil, o que eu
tenho podido falar com ela, ela vê que o G -12 é uma ferramenta para uma
visão que ela teve sempre para esta nação que poderia se levantar uma nova
geração no Brasil para conquistar a nação para Cristo e eu vejo que para nós
como G-12, dentro da igreja, ela é uma porta espiritual, é uma porta
apostólica por onde entrou o G -12, e aí que o pastor Castellanos ungiu a ela
faz dois anos, a ungindo como líder principal do G -12 (VARÓN, 2007) 2.
2
Idem.
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G12 no país. Os “valores insubstituíveis” que foram comentados relacionam -se às práticas de
cura, revelação, ministério pastoral e apostólico, representando uma ruptura com a
representação do antigo testamento, onde a mulher Eva foi a responsável por provocar o
pecado do homem e sua queda. Aqui se evidência santidade, autoridade e confiança nesse
ministério feminino por parte de César Castellanos . Estes aspectos são relevantes em relação
às denominações pentecostais tradicionais, entre as quais, as mulheres não podem se
encarregar das tarefas ministeriais , embora sua membrezia seja majoritariamente feminina.
Nas palavras de Milhomens (2000, p. 13) sua adesão ao G12 correspondia a um anseio
pessoal anterior:
Ana Marita Terra Nova é esposa de René Terra Nova, apóstola d o mesmo ministério e
lidera a rede de mulheres que tem mais de sete mil células em Manaus. Além da sua atuação
em Manaus, ela se formou no Seminário Batista Teológico do Norte em Recife para
educadoras cristãs. Ela escreveu uma matéria para um periódico de Feira de Santana, no qual
discute as referencias bíblicas para o ministério feminino, ressaltando que a participação das
mulheres é inquestionável e a ausência delas no sacerdócio é de origem interpretativa. Em
suas palavras:
As igrejas históricas ignora m isso por parte de alguns líderes que ainda tem
limitações. Não é uma questão de cunho teológico. Mas exegético ou
hermenêutico, pois o assunto da participação feminina vem mais da questão
interpretativa do que bíblica. Existem aqueles que gastam tempo pa ra dizer
que a bíblia quer dizer outra coisa. Priscila era uma pastora. Dorcas era uma
pastora. Poderia citar funções pastorais dessas mulheres, inclusive temos
aprendido que, pelo texto original vindo da Septuaginta, o artigo que
precede a palavra pastor é neutra, podendo ser usado no masculino ou no
feminino. Gostando ou não, com toda resistência que alguns líderes ainda
fazem, precisamos de pastoras para cuidarem das mulheres que estão se
convertendo. Se uma mulher pode cuidar do seu marido que é pastor , por
que ela não pode cuidar e ajudar a pastorear o rebanho? ...A mulher poderá
ser esposa, mãe e administradora da casa... ela é ajudadora idônea,
administradora eficaz...não podemos limitar um ministério, por mais amplo
que seja ou limitado que pareça. Ma s o que podemos orientar é que a
questão homogênea evita riscos. Se algumas mulheres, tivessem cuidado
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[...] eu vejo que na Colômbi a a parte política é muito forte em nossa igreja,
começando que a nossa pastora principal, a pastora Claudia ela é senadora
da república, praticamente terminando o seu terceiro período como
senadora da Colômbia e lá está fazendo coisas muito boas lá. Um do s
projetos que ela trabalhou foi “Mulher cabeça de família”, ou seja, as
mulheres que não tem esposo, que estão separadas, viúvas, elas precisam
ser ajudadas pelo Estado. Então se criou uma lei para ajudar a mulher, de tal
forma que é muito impresso que an tes de receber a um homem um cargo
tem que contar primeiro a mulher cabeça de família. Então são muitas
vantagens, e muita coisa que aconteceu na Colômbia para a mulher e
também se está trabalhando especificamente, a pregação do evangelho é
para restaurar as famílias, então se fala de restaurar a mulher para chegar ao
encontro num processo pessoal, restaurar o homem para um encontro,
começar um processo também pessoal, eles estão sendo abençoados,
sarados, curados, e eles chegam na sua casa, na sua família, eles já são parte
ativa da restauração da sua própria família. Então a política tem nos ajudado
muito na Colômbia no sentido de que estamos fortalecendo a família
colombiana através da igreja e da política também (VARÓN, 2007) 3.
Diante da análise realiz ada, é necessário lembrar que o cristianismo foi e continua
sendo uma religião de práticas misóginas, onde as mulheres tiveram o exercício do sacerdócio
cerceado pelas exigências religiosas masculinas, onde a mulher deve estar sempre submissa
ao seu marido como ao Senhor . A reelaboração nas práticas e nos discursos foi no sentido de
possibilitar o diálogo entre as necessidades religiosas e as transformações seculares,
ampliando os espaços de participação das mulheres demonstrando as suas virtudes em novos
espaços. Além disso, constatamos que a ocupação de novos lugares pelas mulheres não
indicou uma reformulação no discurso do que seja a mulher protestante virtuosa e submissa,
3
Entrevista concedida dia 27.12.2007 em São Paulo.
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pois não há indícios de um feminismo protestante, nem tampouco uma autoridade reli giosa
feminina que seja superior à mesma autoridade masculina, demonstrando que a história
religiosa também é marcada por avanços e recuos, negociações e conflitos.
Referências
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DOMINGUEZ, César Castellanos. Liderança de sucesso através dos 12. São Paulo: Palavra
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