Artigo - Psicólogo Organizacional e Do Trabalho
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RESUMO
Este estudo descreve a percepção de 27 psicólogas (os) acerca da formação
acadêmica, inserção no mercado de trabalho e atuação na área da Psicologia
Organizacional e do Trabalho (POT) em Juazeiro do Norte, Ceará. Para tanto,
utilizou-se como ferramenta o questionário online enviado aos sujeitos da pesquisa
através das redes sociais Instagram e WhatsApp. A análise dos dados evidenciou
cinco categorias que discutem sistematicamente: a discrepância na compreensão
da POT enquanto campo teórico-prático na atualidade; as divergências de opinião
quanto à formação acadêmica ofertada durante a graduação; a baixa inserção
profissional na área; as restrições enfrentadas a atuação do psicólogo organizacional
e do trabalho; e o potencial transformador das intervenções propostas no arcabouço
teórico da POT. Com base nos resultados obtidos, compreende-se que a POT deve
ser explorada em suas diferentes dimensões promovendo o aperfeiçoamento
e a integração do campo, oportunizando assim uma maior clareza da área ao
psicólogo organizacional e do trabalho.
ABSTRACT
This study describes the perception of 27 psychologists about the academic formation,
insertion in the labor market and performance in the area of Organizational and Work
Psychology (OWP) in Juazeiro do Norte, Ceará. To do so, the online questionnaire sent
to the research subjects through the Instagram and WhatsApp social networks was
used as tool. The data analysis revealed five categories that systematically discuss:
the discrepancy in the understanding of OWP as a theoretical-practical field in the
1 Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (UNILEÃO). E-mail: [email protected]
2 Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN). Graduada em Psicologia pelo Centro
Universitário Dr. Leão Sampaio (UNILEÃO). Docente do Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (UNILEÃO). E-mail: larissavasconcelos@
leaosampaio.edu.br
218
present; the divergences of opinion regarding the academic formation offered
during the graduation; the low professional insertion in the area; the constraints
faced by the performance of the organizational and the work psychologist; and the
transformative potential of the interventions proposed in the theoretical framework
of the OWP. Based on the obtained results, it is understood that the POT should be
explored in its different dimensions promoting the improvement and the integration
of the field, thus providing a greater clarity of the area to the organizational and
work psychologist.
INTRODUÇÃO
A psicologia em seus cinquenta e sete anos de regulamentação no Brasil
cresce enquanto ciência e profissão buscando sua constante atualização junto
às realidades e dimensões que constituem o humano, sendo possível destacar
como uma de suas relevantes contribuições o desenvolvimento do campo da
Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT). Esta área de estudo e prática com
suas especificidades, desenvolve-se nas últimas décadas enquanto núcleo que
busca compreender seu objeto de estudo fundamentado nas complexas relações
que se estabelecem quando pensado o trabalhador, o trabalho, a gestão e as
organizações (LEITE et al., 2011; PINHEIRO, MARIO, GIACOMINI; 2012).
A POT configura-se como o terceiro maior campo de atuação em psicologia,
sendo antecedido pela clínica e pelas políticas públicas (BASTOS, GONDIM, 2010).
A partir da investigação de bibliografias em formato digital observa-se uma
desatenção quanto à produção de estudos recentes que discutam criticamente o
processo formativo, a entrada no mercado de trabalho e o exercício profissional do
psicólogo inserido nas organizações de trabalho, em especial no Estado do Ceará.
Diante da problematização relacionada ao objeto de estudo aqui proposto, tem-se
como pergunta norteadora: Como psicólogos percebem a formação acadêmica,
a inserção profissional e a atuação no âmbito da POT?
Com o propósito de contribuir para disparar a reflexão crítica acerca da
constituição do psicólogo em POT, a seguinte pesquisa possibilita a comunidade
acadêmica, psicólogos (as) e demais categorias profissionais aprofundar-se no
entendimento das potencialidades e dos desafios presentes no campo. Assim,
tendo em vista a seguinte proposta, o estudo tem como objetivo compreender
como psicólogos percebem a formação acadêmica, a inserção no mercado de
trabalho e as possibilidades de atuação profissional em Psicologia Organizacional
e do Trabalho.
Propondo-se a explorar tais questões, será sistematizado inicialmente o
referencial teórico que embasa o estudo aqui realizado, a metodologia utilizada
219
para aproximação com os sujeitos da pesquisa, seguida pelos resultados e discussões
das categorias advindas da coleta e análise dos dados e por fim as considerações
finais.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
220
diferentes enfoques dados ao trabalho, como por exemplo, as perspectivas da
Psicologia Organizacional e da Psicologia Social do Trabalho citadas em seu
estudo. Logo, estes apontam que apostar na diferenciação dos diversos campos
é fundamental, pois não se tratam de abordagens que se complementam em um
mesmo objeto, mas sim tradições que construíram e carregam suas próprias teorias
e concepções.
No que se refere à compreensão de Bastos (2003) a POT contempla
a diversidade da área, pois se propõem a examinar dois grandes eixos, as
organizações e o trabalho. No primeiro, consideram-se as organizações enquanto
ferramenta social que orienta a coletividade humana e o trabalho. E o segundo,
como elemento transformador da matéria e reprodutor da vida humana.
Portanto, observa-se nessa breve trajetória o quanto a POT vem se
transformado enquanto área que busca traduzir as necessidades e construções
humanas em relação ao trabalho e as organizações. Ao mesmo tempo em que
esta, para além de se adequar ou moldar-se as expectativas e exigências do
cenário atual de trabalho e emprego, tem buscado desenvolver-se criticamente
para atender as demandas da classe trabalhadora.
221
e autônomos focados na solução de conflitos psicológicos e capacitados para
intervenções individuais e curativistas. Enquanto, o início do que viria a ser a POT
se inseria nesse contexto de forma pouco explorado enquanto teoria e prática
(RODRIGUES, ZANIANI, 2017; CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2018).
Com a necessidade de repensar o currículo mínimo de Psicologia em
vista das demandas que emergiam do cenário social e das lacunas na prática
profissional, a criação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) possibilitou a
reflexão sobre como a POT se integrava nos cursos de graduação. Observou-se
que até então o espaço reservado a essa área era mínimo, sendo abordada de
maneira acrítica, tecnicista e gerencial, assim como, a teoria vista na formação não
correspondia à produção de conhecimento construída por esse campo (COELHO-
LIMA, BENDASSOLLI, YAMAMOTO, 2014).
Discussões na área expõem que a formação do psicólogo nas últimas
décadas ainda não o prepara devidamente para a prática profissional da POT
em vista da resistência das Instituições de Ensino Superior (IES) em acompanhar
as demandas de domínio organizacional e do trabalho e do privilégio dado às
ações clínicas. A diversidade de subáreas de atuação que integram esse campo
requer do psicólogo a construção de sólidos conhecimentos para a atuação nesse
contexto (MARTINS-SILVA, SILVA JUNIOR, LIBARDI, 2015).
Coelho-Lima, Bendassolli e Yamamoto (2014) tem uma visão otimista quanto
à abertura nos cursos de psicologia para essa área. Apontam como fatores para
o florescimento da POT o espaço que esta tem ganhado dentro da formação
psicológica, a sua capacidade de integrar uma grande diversidade de temas
oriundos de épocas distintas do campo e o aumento no número de disciplinas
destinadas ao estudo das relações do homem com o trabalho. Tendo em conta que
na década anterior estas configurariam apenas uma na matriz curricular, é possível
visualizar no presente que em média 10%, ou seja, 5,5 disciplinas são direcionadas a
POT. Logo, os autores acreditam que o curso de Psicologia consegue incorporar os
avanços, as tensões e os dilemas da POT.
Tendo em vista o aperfeiçoamento teórico e prático em POT, com a
valorização e a diversificação dos cursos de pós-graduação ofertados em instituições
públicas e privadas, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) instituiu as principais
especialidades em psicologia descrita através da Resolução nº 03/2016, sendo
contemplada a POT, assim como, a Psicologia Escolar/Educacional, a Psicologia
do Trânsito, a Psicologia Jurídica, a Psicologia do Esporte, a Psicologia Clínica, a
Psicologia Hospitalar, a Psicopedagogia, a Psicomotricidade, a Psicologia Social,
a Neuropsicologia e a Psicologia em Saúde (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA,
2016).
Considerando que os cinco anos de formação do psicólogo brasileiro, apesar
dos esforços, não consegue contemplar, aprofundar ou esgotar completamente
todos os conteúdos teóricos e práticos propostos na graduação, à formação
222
complementar é uma aposta a maior especialização na área de interesse do
profissional. No que se refere ao campo da Psicologia Organizacional e do Trabalho
observa-se que apesar de limitações há a possibilidade e indispensabilidade de
maior expansão na formação, pesquisa e exercício profissional.
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de atividades para além das organizações industriais e empresariais, ou seja, o
psicólogo não se encontra limitado a empresas privadas de produção de bens
de consumo. Atualmente, este passa a se inserir em organizações de serviços, no
setor público, no setor de trabalho informal, em organizações não governamentais,
em cooperativas, em sindicatos, em escolas e instituições de ensino superior, na
gestão de hospitais e de outros espaços de saúde, em negócio próprio ou de forma
autônoma como consultores organizacionais (ZANELLI, BORGES-ANDRADE, BASTOS,
2014).
Diante desse panorama, tornar-se psicólogo organizacional e do trabalho
requer conhecer as origens e especificidades desse núcleo profissional, transitar pelas
psicologias que delinearam a POT e atuar com compromisso e ética na consolidação
da área em um cenário brasileiro de rápidas e profundas transformações que
impactam as organizações, a gestão, o trabalho e o trabalhador. Portanto, é
imprescindível analisar criticamente e de forma constante a formação acadêmica
e o exercício profissional.
METODOLOGIA
Trata-se de pesquisa de campo, descritiva e com abordagem qualitativa,
possibilitando a descrição de características de um grupo, população ou fenômeno
específico, valendo-se de técnicas padronizadas, como o questionário, para
levantamento de opiniões, atitudes e crenças (GIL, 2010).
Os participantes da pesquisa foram psicólogos egressos de uma Instituição
de Ensino Superior (IES) privada localizada em Juazeiro do Norte, inserido na região
do Cariri, Ceará. Estes foram incluídos no estudo a partir dos seguintes critérios: a)Ter
optado durante a graduação pela ênfase em gestão, tendo cursado as disciplinas
específicas da Psicologia Organizacional e do Trabalho; b) Atuar recentemente na
POT, já ter atuado em POT ou nunca ter atuado na área.
Por estarem dispersos territorialmente após término da formação acadêmica,
os sujeitos foram selecionados através de amostragem por acessibilidade
acreditando que pudessem representar a população estudada. Assim, os dados
foram coletados através de questionário online contendo perguntas, entre objetivas
e subjetivas, referentes à formação acadêmica, a inserção no mercado de trabalho
e a atuação no campo da POT (PRODANOV, FREITAS, 2013).
O questionário foi elaborado através da ferramenta Google Forms e
encaminhado no mês de novembro de 2018, junto ao Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE) e do Termo de Consentimento Pós-Esclarecido, individualmente
para as redes sociais, como WhatsApp e Instagram, que reuniam o público alvo do
estudo, sendo necessário de 10 a 30 minutos para respondê-lo.
Os dados referentes à caracterização da amostra, contendo perguntas
sobre o Perfil do Egresso, Formação acadêmica e Atuação Profissional, foram
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disponibilizados nos relatórios do Google Forms através de gráficos e tabelas, sendo
possível visualizar as respostas de forma geral e também por participante. Enquanto
os dados qualitativos, representados por quatro perguntas subjetivas sobre a
percepção do egresso acerca do campo da POT, foram organizados pela mesma
ferramenta e avaliados pela Análise de Conteúdo Temática proposta por Minayo,
Deslandes e Gomes (2012).
Dessa análise resultaram cinco categorias das quais, 1- Discrepância na
percepção acerca do cenário da POT na atualidade; 2- Divergências na Formação
Acadêmica na área da POT; 3- Baixa inserção profissional no campo da POT; 4-
Restrições à atuação do psicólogo organizacional e do trabalho; e 5- Potencial
transformador das intervenções mediadas pelo psicólogo organizacional do
trabalho.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
Universitário Doutor Leão Sampaio (Parecer n° 3.261.710/19), conforme a determinação
do Conselho Nacional de Saúde por meio da Resolução 466/12. Cumprindo os
preceitos éticos e de sigilo, os psicólogos tiveram suas respostas identificadas pela
letra E, seguida de um número representando sua ordem de preenchimento online
do questionário.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Seguindo a proposta metodológica o questionário foi enviado através
das redes sociais, Instagram e WhatsApp, do pesquisador para 128 egressos
do curso de psicologia da IES já citada. Foi sugerido aos participantes
o auxílio no envio do questionário e/ou indicação de outros sujeitos que
correspondessem aos critérios de inclusão da pesquisa, no total, obteve-se a
contribuição de 27 psicólogas(os).
A partir dos dados levantados pela pesquisa verificou-se que 85%
da amostra eram de mulheres. De acordo com investigação do Conselho
Federal de Psicologia, a profissão é majoritariamente feminina tendo 89% de
psicólogas inscritas nos Conselhos Regionais, corroborando assim a tendência
predominante destas em estudos relacionados à profissão. No que se refere
à faixa etária, observa-se que 63% possuem menos de 25 anos, assim como,
tem-se uma maior porcentagem de formados no ano de 2017 (37%) e 2018
(29%). Acredita-se que pela proximidade de tempo os egressos graduados
nestes períodos estavam mais acessíveis no contato pelas redes sociais, em
comparação a menor adesão de participantes entre 2012 a 2015 (LHULLIER,
2013).
225
DISCREPÂNCIAS NA PERCEPÇÃO ACERCA DO CENÁRIO DA POT
NA ATUALIDADE
Nas respostas dos sujeitos pesquisados observa-se nesta primeira categoria
uma discrepância nas percepções relacionadas à configuração contemporânea
da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Alguns destes mantem um olhar otimista
acerca da área apontando o desenvolvimento crescente do campo, suas diferentes
possibilidades de atuação e a sua relevância nos contextos organizacionais, contudo,
também expõem uma perspectiva negativa quanto a POT como a complexidade,
o desconhecimento e a desvalorização, conforme destaca os seguintes egressos:
226
social e ambiental no ambiente de trabalho em prol do cuidado ao mundo do
futuro (ZANELLI, BORGES-ANDRADE,BASTOS, 2014).
Dessa forma, compreende-se que as discrepâncias apresentadas nas
respostas dos sujeitos da pesquisa fundamentam-se em parte nas adversidades e
capacidades discutidas interiormente no âmbito da POT. Assim como, em condições
exteriores que impactam, por exemplo, nas oportunidades de inserção no mercado
de trabalho e na continuidade do exercício profissional na área. Contudo, estas
devem ser de conhecimento permanente dos psicólogos organizacionais e do
trabalho promovendo a criticidade e o desejo por transformação.
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Na leitura destes resultados é possível apreender que a escolha pela
Psicologia Organizacional e do Trabalho se dá de forma heterogênea, tendo
em consideração aspectos que perpassam desde identificações pessoais até as
oportunidades de emprego na região de origem. Todavia, no espaço entre escolher
a ênfase e decidir por este campo de atuação, o egresso cursa disciplinas que o
orientarão a prática profissional.
Diante da experiência da formação com Ênfase em Gestão, 54% dos egressos
mostram-se satisfeitos por terem optado por esta. Quanto ao arranjo das disciplinas
na matriz curricular, 33% concordam parcialmente que foram bem distribuídas
durante o curso, contudo, 38% concordam parcialmente que os conteúdos teóricos
vistos na ênfase poderiam ter sido explorados com maior profundidade. Metade
concorda que conseguiram desenvolver as competências necessárias para a área
(50%), assim como, julgam que a vivência de estágio supervisionado contribuiu
para compreensão acerca da atuação profissional (46%).
Em investigação realizada por Coelho-Lima, Bendassolli e Yamamoto
(2014), a POT vem recebendo um espaço privilegiado no curso de Psicologia, sendo
direcionadas a essa área mais de sete disciplinas na matriz curricular ou chegando
à dedicação de mais de 400h da carga horária total da formação acadêmica.
Acerca do processo formativo alguns egressos apresentaram-se ainda
insatisfeitos apontando discrepância entre arcabouço teórico e a realidade da
prática profissional, assim como, mencionam deficiências na formação associada
a uma baixa oferta de emprego na área:
228
Para Zanelli (2009) a formação e o exercício das atividades do psicólogo
nas organizações de trabalho têm sido enxergados por um longo período como
limitada, precário e deficiente. Os conteúdos teóricos são vistos como restrito aos
subsistemas de recursos humanos, enquanto o escasso tempo para as disciplinas
permite apenas a transmissão de técnicas tradicionais. É percebido que não
acontece a integração entre conteúdos vistos na graduação, ou seja, as disciplinas
básicas são desconsideradas, não sendo associadas à prática profissional. Logo,
coloca-se uma lacuna entre formação e atuação, quando na verdade esses são
sistemas interligados.
Tratando-se de formação complementar 54% dos egressos não realizaram
nenhum curso de extensão, especialização, mestrado ou doutorado em POT,
entretanto, percebe-se a compreensão da necessidade de especialização junto
à abertura do mercado de trabalho para a inserção e atuação do psicólogo
organizacional e do trabalho. A quase ausência de cursos de pós-graduação
nesta área no país é um fator a ser considerado para perceber que a formação
continuada do psicólogo atuante nas organizações tem sido colocada em segundo
plano (ZANELLI, 2009).
229
“A minha crítica é sobre a falta de empregos na área e a
desvalorização do profissional que ainda existe muita” (E20).
230
“Dificuldades de inserção devido a não valorização do profissional,
seu detrimento em relação a outros como de RH, Gestão de Pessoas”
(E5).
231
Observa-se que os egressos se envolvem em atividades nas três dimensões
intradisciplinares da POT, contudo, predominam-se as ações da Psicologia
Organizacional (PO), como por exemplo, o comportamento organizacional; seguido
pelas atividades de Recrutamento e Seleção, Treinamento e Desenvolvimento e
Saúde do Trabalhador.
Tendo em vista a experiência de atuação dos sujeitos da pesquisa constata-
se a existência de restrições à atuação do psicólogo organizacional e do trabalho.
Como primeiro elemento reforça-se a incompreensão quanto à contribuição deste
para além do recrutamento e seleção de pessoas e de atividades operacionais,
não havendo abertura as diversificadas intervenções em POT.
232
com seu salário (68%). Analisando as características da atuação do psicólogo na
POT a partir de 22 produções científicas sobre esse tema, Coelho-Lima, Costa e
Yamamoto (2011) apresentam que os aspectos mais criticados por estes profissionais
são a remuneração, as condições de trabalho, a satisfação com o trabalho, à
atuação com outros profissionais de outras áreas, o desconhecimento do real papel
do psicólogo organizacional e do trabalho, a carga laboral excessiva e o desgaste
pessoal.
No que diz respeito aos vínculos trabalhistas observa-se atualmente
uma diversificação nos tipos de contrato. Os trabalhadores estão cada vez mais
submetidos à terceirização, a quarteirização, a subcontratação e o trabalho por
tempo determinado. Esse cenário, de acordo com Azevedo e Tonelli (2014, p. 215) é
preocupante, pois os trabalhadores perdem em garantias e benefícios, assim como,
as organizações encontram-se despreparadas para lidar com colaboradores com
diferentes tipos de contrato. Logo, “os trabalhadores são o elo mais frágil desse
contexto, devido ao fato de individualmente possuírem menos recursos para
maximizar os aspectos positivos e minimizar os aspectos negativos associados aos
contratos de trabalho que diferem dos tradicionais”.
Alguns egressos evidenciaram também uma visão da POT relacionada aos
estereótipos construídos como crítica a constituição histórica dessa área e que
impactam diretamente na percepção de atuação do psicólogo:
233
o trabalho; otimizar o tempo de trabalho insuficiente, tendo em vista o quantitativo
de atividades a serem realizadas; buscar refletir criticamente sobre sua prática,
não se limitando a burocracia necessária a sua atividade e nem se moldando a
institucionalização que permeiam os espaços nos quais estão inseridos.
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Corroborando com o entendimento dos autores, os sujeitos pesquisados
acreditam que as atividades executadas pelo psicólogo não se limitam ao espaço
organizacional das empresas privadas. Assim como, incluem a essa compreensão
que os conhecimentos não se restringem aos específicos da área, ou seja, a atuação
fundamenta-se também em outros ramos da psicologia. Os que atuaram em POT
apontam a Ética profissional (78%) e a Psicologia da Saúde (56%), enquanto, os que
recentemente atuam citam além da ética profissional (100%), a Psicologia Social e/
ou Comunitária (67%), a Psicologia Clínica (67%) e a Avaliação Psicológica (67%).
235
Em um dia habitual de trabalho, há tanto a ser feito e tudo se
apresenta com tal senso de urgência que, muitas vezes, o profissional
não encontra espaço entre suas tarefas para se questionar acerca
de qual papel está desempenhando em seu trabalho e se concorda
com esse papel ou não (VERIGUINE, 2015, p.188).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a configuração contemporânea da Psicologia Organizacional
e do Trabalho, entende-se da percepção dos sujeitos da pesquisa que este campo
científico e profissional continua a desenvolver-se, entretanto, carrega interiormente
potencialidades e desafios a serem periodicamente dialogados no âmbito da
psicologia.
Na graduação, dos que optaram pelo aprofundamento na ênfase em POT,
observa-se a identificação com as disciplinas, temáticas e atividades profissionais
deste campo como principal impulsionador para escolha desta área. Contudo, há
divergências quanto ao processo formativo, ou seja, elogia-se a matriz curricular, o
estágio supervisionado, a profundidade na exploração dos conteúdos disciplinares;
em contrapartida, questiona-se o distanciamento entre a realidade da prática
profissional e os conhecimentos teóricos e experiências vivenciadas durante esse
período.
Um grande desafio se apresenta aos egressos na transição da formação para
o mercado de trabalho. A dificuldade em conseguir um emprego ou ter experiência
profissional necessária para ser contratado, configura-se como principal obstáculo
a inserção profissional na POT, o que resulta na baixa absorção da especialidade
deste núcleo profissional e consequentemente reflete no enfraquecimento na
procura pela formação complementar em POT.
236
Quando empregado, o psicólogo organizacional e do trabalho enfrenta
restrições à sua atuação, pois, suas atribuições não são claramente compreendidas;
suas atividades são limitadas as clássicas e técnicas do campo; a remuneração
é geralmente insatisfatória; a carga laboral é excessiva em relação ao tempo
disponível para execução das ações; e os vínculos trabalhistas são fragilizados.
Apesar destas adversidades, os participantes desta pesquisa, acreditam no potencial
de transformação mediado pelo psicólogo quando inserido nas organizações de
trabalho a favor do trabalhador, dos empregadores e da sociedade.
No desenvolvimento dessa pesquisa observa-se que diferentes percepções
puderam ser apresentadas a partir das respostas trazidas pelos egressos de psicologia
acerca da formação acadêmica, inserção profissional e atuação no campo da
POT. Todavia, não se esgota aqui todas as possibilidades quanto à compreensão
desse fenômeno na população analisada.
Algumas limitações também foram observadas no estudo a partir da
escolha do método, como a mediana adesão dos profissionais de psicologia no
preenchimento do questionário online; a dificuldade de entrar em contato com os
egressos das primeiras turmas formadas entre 2012 a 2015 na IES de vínculo destes; e
as respostas simplificadas dos sujeitos da pesquisa as perguntas subjetivas.
Sugere-se assim, a continuidade nas pesquisas em POT com uma amostra
mais ampla de sujeitos, em especial com psicólogos organizacionais e do trabalho
no Ceará. Bem como, propõem-se o aprofundamento em questões a serem
exploradas com mais afinco a partir dessa pesquisa. A título de exemplo, como
a pouca experiência profissional e o limitado tempo de atuação inferem na
capacidade do psicólogo em POT compreender suas verdadeiras atribuições; o
que os profissionais atuantes nesta área trazem de diferencial para os locais em que
se inserem, contribuindo para valorização de si, da categoria e do campo; quais
as estratégias de enfrentamento adotadas pelo psicólogo em frente às restrições e
desafios presentes na área.
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