Quase Cidadão
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Inrroduçóo
Que cidodôo? Ileióricos do iguoldode, colidiono do
dtiaranço
Flóvio dos Santos Gomes e
Olívio Morio Gomes do Cunho
0 modo frio com o qual foi acolhida aqueia data demonstra evidentemente
a falta de patriotismo que existe entre nós (...)! Os dias 12 e 13 de maio do
corrente ano em nada diíeriram dos cornuns, scnio pelo melo especial que
tevenossapoIiciaemmandarespancarepúsaraspatasdosan¡mais,os
transeunterquesairamdosseuslaresmorqueaprudendaassirnoamnse-
ihava... diaendo que não bouve festa: (...). Algumas iluminaçoes. música
na rue, no largo da líberdade e também brincadeira particular. traduriram
o sentirnento de um pow (...).
'cum ¡sam
8 ousst-cioaoio
emmmodafesuedosilèndoqueoolocamemdiiiogompresentaçòessobreame-
mdriaeaesuindabistúriatliaisdeumsembapdsaexdnciofonnaldonabalho
esuammBmsü.aindignaçñodeJo¡oCliinanmesdmulaamfledrwbresemsigni-
licadosmooddianoda'pop\daç¡odeu›r'aoñmdoséuúoXD(enaspdmeirasdéu-
das do seculo XX.
Ao sugerir descontlnuidades entre a produçio e a inscrido do evento e a
eomuuçãodamemórimmaspreocupaçôesnosimúgamapensarsobrealgurudos
desafioa que devem ser enfrentados por todos aqueles que adentram no completo
territorio das questòes relacionadas oom o estudo das experiencias sociais que per-
meiarn a pos-emancipaçåo no Brasil. Embora nlo esteja propriamente ausente das
preocupaçñes de historiadores e dentistas sociais, diversas oonjunturas historicas e
polldoasoolodnmalembmnçadaqualJo¡oCbinaser¬mendaderazòesoutras,
nas quais o esquecimento por vezes transformou-se em estrategia atraves da qual
era possivel imaginar outros territorios de liberdade localizados muito alem do
evento. 'Ierritórios nos quais silencios. esquecirnentos e protestos constituiram estra-
tegias possiveise não-excludenres, utilizadas porex-escravos e “pessoas deeor” para
setornaremcidadåosdailepúbiicaeda naçio.Oreoonhecimentodaexistenciade
múltiples estrategias politicas. discursivas e simbólicas com as quais as narrativas
lristoriograñcas e populares descreveram e aludiram ao 13 de Maio nos permite es-
boçar algunas questôes que norteiam a proposta deste iivro.¡
Uma pergunta, de inicio. se faz neoessaria. Como esquadrinhar o impacto
simbólico do evento 'libertador' sem reduzir os significados oonferidos as experien-
ciasdeiiberdadequeoñzeramsocialeculturalmenterelevante? Diantedessedesa-
fio, nossas preocupaçôes se projetam para além da simples (ainda que neoessária)
problematizaçâo do evento e seus significados. ricos. densos e profundamente enrai-
zadosnaculturaenoimagintriodanação. imaginamosimprescindivelinventarum
jogo aparentemente oontraditório que nos perrnitisse nos desvencilhar do evento.
direcionando nossas atençñes tanto para o cotidiano de marginalização quanto para
as estrategias de sobrevivencia enfrentadas pela “populaçåo de col” nos anos que se
¡Comalgumuemeo6es.todmmtextmqtneomp6unamävmforamapresenmdmemse-
minario homdnimo. organizado pelo laboratorio de Antropologia e Historia da UFRJ em 22
demaioel0desetanbrode2(IJG.AiémdaparüdpaçIoadvadosaumruaquipresuuesm
dhctmlodetenosdewummlegasduranmosaninldmaapnsuiuçlodosmbalhmbe-
nefidou-sedosnHowscmnmtañmdoscoleguCelmCanro,MudrFalnnin.MumAbmn
Nwdo$aüaePeterPryGutadwiudeagradeoerumnnmårimnihsoseanlidrude
mmqueoscdabondwaedebatedores&enduammnoamamvite.Fuulmaue.amoola-
buadoruduteüvm,wsdebatedora.aaalunmbdúuudeinidaç¡odmüñcaqueseen-
voiveramernetapasdiversasdapreparaçåodoseminárioedeste livrmeaoscoiegasque
apresennnmseusuabalbosmaemmdñmmuqueporraañesdeudandivemnioforam
aqui inciuidos-I(eilaGrinber¡.Moacir PainieiraeRoboonMacbado-.nosaosagradecimen
tospelarlcaparcerianessaaventuradereflexlo.
Inrrooucio 'il
Oqueseimagina rupturaouoorreentteestatutossociaisdistintos-odo
esaomeododdodão-omsütuiunnmdedetemponlidadesdivenas,poréminten
namenteconectadas. Emseu interiorseabrigam muitas fonnasdesere reoonltecer-se
oomofiweeddadñoe,prmdpahnente,devivendartaismndiçñesnasrehçöesde
oaba1ho,nosmecanBmosdeparddpaçåopoUdca,nasesuatégiasdepmduçåode
subjetividade e identidade. É justamente nessas esferas que a oonexão entre estatutos
jurídicos de cidadania, representaçñes sobre “cor” e oonoepcñes de "pessoa" apareoem
como pecas de um quebra-eabeça aparentemente incompleto. Neie é possivel reco-
nbeeerdisctusospoiimèmioos,queonreafimnmd%ielhm¢sreiaüvasenueos
cidadåosmrasinaiizamaneoessáriaaoomodaçïodestes-defonna igualitariaepa-
tnóooa'
' -aoladodeoutrosbrasileirosfi Énumoompleno territóriode praticassocsais,"
queenmivemmlaçöesenuepesoasmarcadaspaldenddadessociahvadadagque
inusitadas oombinaçôes dos signiñcados de liberdade, cor e cidadania ganham e pro-
duaem novos significados. Esas transformaçòes estao estreitamente relacionadas a
um quadro de rnudança politia mais atnpio. Novas classiñcaçôes sociais povoaram
documentos, procasos, registros estatistioos, cartas e reiatórios, que inseriram nåo-ci-
dadåos are entäo qualiiicados como escravos, ingenuos, libertos, tutelados, desordeiros e
vadios no universo burocrático e na linguagem juridica do Estado republicano. Varios
ajustes, seja no piano da l1lI8\l1l8¢m- $218 no da representaçäo, foram necessúrios. No-
vos significados povoararn textos diversos e estiveram presentes em infindáveis deba-
testravadosnostribunais, ministériosecartóriosaoercadacessãodedireitospoiitioos
eiegaisapessoasdeoondassiñcadasnåosópeloseiodesuaodgemémica,mastam-
bémpormrmmdiepodaosamemóflasociüfonemenmemaizadamimaginåñopa-
triareal e escravistaf
Ainda que, no Brasil, a figura do 'emancipado' tenba reoebido feiçño for-
mal e juridica bastante limitada - aplicada åqueles classificados como “africanos
livres”,apremdidosdumnteoo'áfiooüegalemteladospeioEstadoaparúrde 1831 -,
um de seus mais importantes sentidos nos ofereoe múltiplos poaibilidades interpre-
tativas do que se pretendeu constituir periodos de “ajuste”, "pt-eparação”, 'aprendi-
zado' e 'instruçãd' para o advento do trabalho livre.” Ao mesmo tempo, vale a pena
assinalar que tanto os debates quanto os processos de concão de liberdade impli-
caram urna microcronologia da dissolucão e da reinvençåo das formas de domina-
flo, proximidade, dependencia, tutela e proteção, que permearam as reiaçòes entre
senhores e escravos, num novo contexto. Nas últimas décadas do sécuio XDK, con-
flitos entre apreensòes dispares da lei e do oostume e querelas envolvendo a defi-
niçño do estatuto social de ingenuos e sexagenårios, que passaram a povoar o
mundo dos 'livres de cor” nos tnbunais, parecem apontar para a neoessidade de re-
liberdade não se resume a um estatuto legal e esta longe de encontrar amparo nos
textos jurídicos coetlneos ao ano que a institulu, imaginamos neoessário nos mover
nesse terreno munidos de ferramentas interdiaciplinares. De forma simples, poderia-
mosdiner: msmdesejoéespendagprospecmndescobflrelnvesdgar-amaneim
dos geólogos - a natureza tenue, provisoria e múltipla da Iiberdade. Como, onde,
em que condioöes homens e mulheres “de cor" dela usufruiram, transformaram-na
em objeto de interpretação, connendas, ou mesmo rejeitaram os significados a ela
atribuidos pelo dbcurso jurídico.
A primeira tarefa talvez seja investigar os varios signiñcados atribuidos a
experièndaqueconcedeeperrniteumnovoesmmtosodalahonmmemulhereade
cotnopaisnofìnaldoséculoìmi. Muitose falouemsignifimdos atribuidosacor,
em oonjunção entre posição de classe e aparencia, e mesmo em micropoliticas de -
utiliaandoumtermopouoolernbrado,cunhadopor0racyNogueiranosanos 1940
- “evitapão”.¡3 A evitopão poderia ser tomada como resistencia a uma interpretaçio
inequívoca dos valores igualitårios? Talvez. 0 faro é que as experiencias de confor-
mação ou resistencia a essa reiutancia tem sido compreendidas como estrategias de
ajustqdeaceiuçâo-porvezespassiva-dosprojetoapoüdomqueconcebemo
“cidadão nacional”. A idéia de acentuar e sublinhar o carater provisdrio do estatuto
da cidadanla - o titulo quase-cidadao - se justifica por um desejo. Dar enfase a
compreenaão de casos e experiencias de recusa do projeno disciplinar que institul ju-
rídicamente a figura do ddadåo e do nacional. Essas pråticas estão longe de consti-
tuir exemplos de resistencia ou critica social envoltos num discurso politico único, e
muito mais presentes em situaçôes aparentemente experimentadas no cotidi-
ano do trabalho, na relaçåo com o Estado e as institulçñes oñclais, nas relaçñes ln-
terpessoais vivenciadas em espaços domésticos. enfim, a todo momento em que
esteve em jogo o poder do exercicio da igualdade para homens e mulhexes marea-
dos por origem social ou cor.
Oquedgnlflcaserdefawüvreelgualmeessasoondifiesestlvemmdealnd-
dasdasprerrogativaspolitieas (esobretudojuridicas) queooncedemaossujeitnspos-
sibihdadesconcetasdeexucè-las?FbrissomsmIedmosàuiviafidademmoalgo
aparente. Talvez os elementos mais aquecidoa nas análises sobre a pós-emancipaçio
noBrasüsejamaquelesquediaemrespeimåsesfenseåsdimensñesdepoden0de
bamsobmasexpedéndasdeüberdadedelineadopelosvårimauwresquecompöun
esmüvmmlomemrelevofacemsdimrsasdadisuihxiçâodesigtiddepoderntmm
sodedadepós-escravistaeaslinguagens utiliz.adasparareferi-las.Dessernodo,pode-
mosexplorarumpouoomaisoque Nogueirachamoudeevltaçñoequeporveaesfol
traduzido como silencio. ¡bnnas de preteriçño, subordinação, humilhação e domina-
çiomdaaleanóñuequemaünramemionnumaisoumenoaexplidtasdoquevee-
naDas(l997)dtamoude“sofrímentosodaP'-condiçãonaqualseenoontram
populaçöes que, por suoessivas geraçñes ou catástrofes de grande impacto social. es-
ltinerorios
Este livro se subdivide em duas partes. A primeira, intitulada Territorios
da Memoria e do irabalho, abre com um texto acerca do processo de construção de
uma memoria sobre a Aboliçño. Lilia Moritz Schwartz localiza o que denomina “am-
bigilidades do processo de Abolição". Narrativas em torno da noçño de dádiva (e re-
conhecimento) dos libertos para com a Redentora e, em última anúlise, a monarquía
for-am agenciadas por interpretes, protagonistas e narradores diversos. E os sons do
silencio ja se faziam estrondosos nos anos imediatamente pos-Aboliçåo. Para issc.
l-iebe Maria Martos de Castro e Ana Maria Rios investigam as narrativas da memoria
lo Qusstceosoåo
dos libertos e seus descendentes. Nelas, as concepcoes de liberdade dos anos imedia-
mmentepos-Aboüçãoforammarcadupdamanutençlo(eexmnsoo)doacessoa
terra. trabalho familiar; e por expectativas quanto ao campesinato no Rio de Janei-
ro. Expectativas outras mobilizaram politicas públicas e faaendeiros em termos de
projetos imigrantistasedeocupaçlodeterraspúblicaslìstesseooscaminhosque
cruza Giralda Seyfertlt, ao abordar as primeiras decadas republicanas, analisando a
politica de colonização no vale do ltajai, em Santa Catarina. imigrantes - transfor-
mados em 'colonos brancos” - confrontaram-se com a legislaçño, com empresas
colonizadoras e ideais de assimilaçlo nacional. Atravessando outras fronteiras, Ri-
chard Price analisa a regilo das Guianas. especialmente o Oiapoque (atualmente di-
visa da Guiana Francesa com o Amapå). Quilombolas - especialmente os mcroons
Soromokas, provenientes do Suriname -. com Ionga tradição de resistencia colo-
nial. migraram e redefiniram suas identidades. inventando territorios para os seus
deuses. Produziram-se outros espaços e fronteiras da pos-emancipaçlo, demareando
diferenças entre quilombolas e suas experiencias diante de outras populaçoes negras
emancipadas no Brasil, no Suriname e na Guiana Francesa. Fronteiras agrarias de
ocupação e colonizaçåo com indios, quilombolas, camponeses e migrantes cearenses
são perscrutadasporifloviodos Santosôomes. Foiohiaranliãoentreosseculoslilx
e XX um cenorio para a gestação de um campesinato negro que desaliava territorios
de poder e controle na pos-emancipação. Terra, trabalho e formas de controle colo-
caram em disputa e conflito vårios setores sociais em diversos contextos. É o que
evidencia Verena Stolclte ao tratar da introduçio de trabalhadores Iivres na agricul-
turadeSloPauloemmeadosdoseculoXIX.Relaçoesdetrabalbocadavezmais
conflitivas e formas de agenciamento de mio-de-obra rcdeiìniram a posiçio de pa-
tròes e traballiadores - com destaque para as mullieres - nas fazendas cafeeiras.
0 lugar da familia e do trabalho feminino na logica capitalista nos remete a uma
serle de questoes sobre o papel de concepcoes sobre momlidodc nos estudos sobre
traballio no Brasil.
Sealibeniade-parafraseandobarbaraïields-eraumalvoemoonstaw
temovunenwmcidadmia-enåoapenuosseusconceimsecstegodas-pamos
lbenosnåofoisomenteumanümgernfilafoidesenhadaunmnassuadimensôes
sunbolkzsquanwamvesdaagemiadosmjeimserwowidoslssaseouuuquestba
sioanalüadas na segunda parte: Algualdade porum 'lïizz Foliticasda Representação.
Quemainidae$idmyQralhwb,apmminundoadimensoesdesoüdariedadeseex-
periendudeoabaüiadoresnegros,homuuemulhues.queamvesdemdedadube-
neñcentesorganiuvamosmundosdouaballwedacukuraanravolu.Ptxiemos
pensarcomoashistoriasdonabalhonasultimasdeadasdaescravidåoforam frag-
mentadasemnarrativasnasquaisaetnicidadeeasculturasdeclasseforamtransfor-
madas em invisiveis. ideologías raciais, exclusão e cidadania não se manifestaram
apenas entre discursos. Cronologias, ternpos e espaços acabaram reiundidos. Mas as
representaçòer não foram quimeras. Russ, fábricas, conveses e outros espacos impro-
visadosforampalcosdeconfrontos.l.Znåosodeidéias.Al¡berdade.suasconcepçoese
simbolosfonmexperimurtodos,comodunonsuamoscaplndosdeMariaHelena Ma-
mnoouclio l7
chadoeÁlvmoPaeiradoNasdmenm.Aprinwininvesdgaasank\daçñesenuequi-
iombolaseoperåriosemSanmsnasúltimasdecadasdosoculo)GX.Aoinvesde
eloqüentes e diligentes abolicionistas - os tais eaifoses celebrados pela historiogra-
fia -, encontramos trabalhadores negros agenciando mao-de-obra, protsção dos pa-
trñes e "direitos". As identidades de quilombolas, ex-escravos e suas relaçôes com o
movimurmabolicionismfommmdimensiomdasnaquelecontenoflummesmoce-
nadointerpretanm-nosseuspropriostennos-ounospersonagensemnovosm-
teiros.Asconuadiçöaesmvammenosnasaümdesdelesemaisnunmhinodograña
queamstruiuumvazionahistodadouabaflwsobalogicadauansiçåo.ÁlvamNu-
dmurm,pusuavez,destaammoasteteoessurgimmalemdospomos,maispmpna-
mente no interior dos navios. Aborda como os marinheiros da Armada reinventaram
uma “cidadania possivel”. A Revolta da Chibata em 1910 não foi o último, e muito
menos o primeiro capitulo dessas lutas. A Armada e seus marinheiros transformaram-
se em territorio de confrontos. onde a cor e as identidades socials misturavam-se. Mi-
col Siege! analisa o movimento de construçåo do monumento ii mãe presa na démda
de l920.Aamuilaçåoenoemovimentmsodais,inmlemniseeütesnmmpuspecd-
va transatlentica. Ao descre-ver o dialogo travado entre diferentes personagens - fa-
voråveisounãoaoerguirnentodeummonurnentoamãepreta-,Siegel nos mostra
cornoe-sseeventotransforrnou-se num diålogodeideiasviajantessobreraçaegenero.
articulandooimaginariodenaçãoentre BrasileEUA. Retornandoasquestoesdapro-
duçâodosilêncioedainvençãodonão-eventoedesuanâo-memoria, destacados ini-
cialmente, surgem estudos abordando as dimensôes das acusaçñes de feiticaria e das
fonnasdeocupaçãourbam.YvonneMaggienvisimosestudossobnfeidçaflaeos
promssos criminais envolvendo curandeiros e seus clientes na cidade do Rio de Janei-
ro, destacando como as logicas e conseqiientes narrativas sobre as crenças organin-
vam uma certa face da sociedade brasileira, hierarquizando-a em meio ao clientelismo
e ao paternalismo. Outras formas de reproducao de hierarquias se imhricarn com re-
presentaçñes sobre intimidade e domesticidade. A partir da anolise da documentaçäo
adrninistrativadaiìscolaüomestica Nossa$enhoradoAmparo,fundadaem l868em
Petropolis, e de processos litigiosos envolvento “criadas” e “patrñes”, Olivia Maria Go-
mesdaCunhadiscuteafm'maçåodeumaconsdenciamoraledeumapedagogiado
trabalhodoméstico no lliodelaneironasúltimasdrãcadrndoséculoìibieseusvin-
culoscorndiscursossobreaemancipaçãodamulher. 'lendooRiodeJaneirocomoce-
nário, Brodwyn Fischer fecha o livro com um estudo no qual operaçöes juridicas no
campo do direito civil e na legislaçio de ocupação urbana produzem a “repartiçåo”
etnica.socialetopograficadacidademaravilhosanosanos l930e40. Fischermostra
como os roteiros da ocupação urbana obedeceram às politicas públicas do mercado de
trabalho, de modemizaçio e errclusåo da populaçâo pobre e negra. e como esta esta-
beleceu canais de relacionamento e dialogo com as elites e ciientelas politicas locais.
Enfim, e possivel pensar a emancipaçåo e seu legado constituindo-se entre
outros tempos. Tempos longos, mas não cristalizados. Menos cronologicos ou sob o
balizamento da legislação e principalmente da meo condutora indelevel da politica
do Estado. Ao contrario seriam tempos permanentemente refundidos, posto que es-
quecidos, aproximados, enfatiaados e distanciados entre textos e subtextos de diver-
sas experiencias historicas.
CAPi†eI_|:== 1
1 temen. 1ers±1st~e.
2 Úsjemeis entiesttre.¬rist.|a|s surgirem nessa epe-ee em Lerge es-eele: A Únde, A Ahelíçã-e, -Ditente e
Ne-ve. A Heíeneìll tdídgide per Jtntünie H-ente, lider des eeifesesfl. A W-de Se-nen-flrítr, File de He
dt'-I"e;dtt .FI Liítllerdttde, EJ ..¿|.-ÍÍI!-I¦It`, H. Gtlflte de T-iII"tI|'t! I[t|ir'l¦;1fle [Jer Jesë -tl.-e Ffltreelttlel. .FI T-itrrtt de
Hedm-|;-de. Úallnígedefsermn, .P|LeI!e, Ú '|:|-emeeme deeerles-depenfletesepes|:1uir|s.
3 Essa lei Íevereeie de te] rr±a.rLeir:e -:les Ietifundíáries es-ere1.'is|¦.es que ete es ele-elieienistes mais
metletedes e ele se epeserem. Pre*-"E-e e pegemente de Indertieeqåe :tes preprletdriee de esera-
ves per su: Llbenseüe. Hem disse. esrebeleetu que es esersves de útil mes detreriem dm mais
tres ¡Ines de trehelhe gretuite ee serlher; elem de ìrtstiluir ume multe de SIIIHIII e mil-nifis .eee
que ejud.esse|¬.e es-tnltres fisgitìtres-
24 Gun!-caonoio
Ano Nìdoleaovos
1819 146.060
182! 173.775
1873 150.549
1060 224.850
l&$I 229.637
1872 301 352
1873 289.239
1880 268.881
1882 2181130
1885 162.421
Ofamoéqueaportirdadécedadel880oabol¡cionismotomouasruase
oejornaisdaépomassimoomoñammevidentesesfalådesdessamdedadeesum-
vocreu, que mandnhaumdiscureoliberal como fechada.
Daparne dogovemo penecianåohaveroutra saídaaenãoantedpar-seao
inevnåvd,mesmoporqueeabollçloj¡aemellnvaàrevdladmgovemanwes.*0s
cazivos íugiamem massa. efluiam lsddades,eas auwndades emm lncapazesde
conte! movimentos de ul monta. Boaco ñnal veioem 1888, um ano antesdo ñnal
dalnonarquimquepexdeuoonxeleseusúltìnxosapoioseesteitas.Masessajåéoutra
h¡stóna,eaqueesmutenundomalìnroquimf«e-seanneseoembíguoproceno
deaboliçãoquetomouquasewdaadéoodadel880.\blnemoeaoam.Redlgidode
maneirasimples.onenodaleieracumoedixeto:'Fìcaabolidaaeecravidionolw
sil. Revogam-se as disposiçöes em oontrårio”. 0 13 de Maio redimiu 700 mil esm-
vos, que representavam. a em altura, um número pequeno em comparado com o
tomldepopnleçâmesdmudaem lSm¡lhñesdepessoos.ComoaevQ,el¡bemçlo
denwmudemaiserepresentouoflmdoúlümoapoioàmonarqulazosfaundelros
*Mündhno.nloapodeaquecuqueeuenvtdlojåluvi¡ndoaboüdaemprwhflaco-
mooCeeri (marçode l8B4)eoAmezonu(julhode 1884).
Dos Mmts om Dkowa 25
arioasdaregi¡odovaledoPanlbodivordanm-se,apnrdrdeantåo,deseuand-
goallado.
Comemoradanoestrange¡rocomoa^'vìuótia'dogovernoimperLnl.aleide
13 de maio foi reoebida no Brasil, após a explosåo inicial de júbilo, com multa ex-
pectativa, por mais que falas eufóticas, como as de Joaquim Nebuco. pamoessetn
desmentir a npteenalo:
23demalode188B.Meucarobario[dePenedo].E.¢túfeitaaabollçlol
Ninguémpodlaespenrtlooedotlopandefanoetambemnutaoatenfato
nlciottalfoicomemoradotannoentreruóml-Iåvlntediasvlveeatacldade
umdelltiostupende-setudoeportantotambemnoortespondendaenue
oeaml;os.MatétempodevoItar(...)lsabelñoouoomoaúItimeaooltedo-
ndeeacnmsquefezdou'onomnqu¡Iombo(...)AmonorcMoestdmo¡s
popu|1m'doquenunoo..."'
'lrata-sedepensernoquesecharnavadepopular.0atofoi,8ìlI\.P°P'1¡lfe
conferiu, por extensåo, populuidade a Isabel e à monarqula. No entanto, politica-
mente, a estabílidade do Imperio se desotganizou de maneira definitiva.
Malsdoqueperda¡matetia1e,aAbollçiolevouaodesptesdgiodeununflm-
ñapdidamuimadvgexuemmnenteligadaaouomeqtnnpidamemeaebendeou
penohdodoenpti›Beanos.Formdsqueenwonrquhptem1eaeoeptopnetånoem-
nbmmdttúosdehemmmedegameocmáta'h›evltå\elda|nedlde.afaludemduu-
melo-ehdaaonlxadapormulnosemhaes-selmnotonzflrnulmomnolstado.
Destaforma.apesardavenãoofldal.queatrlbulualsabelodmlode'1\
Redenton',edodimadeeufotlaqueosótglosoñdaispmmravamdemonmar-
oomaemieslodemoedasfesúvee,commuimsnegroeeü1dios,econdeooreç6es
ilustres-,esaepereoeuseroúltlmoatodoteatrodamonuqula. Noentan-
m,muitasvemesoúlümoétambemoprimelro.Apartlrdofamooonsumedoeem
meioaesasodedadedasmamupessouisedoculmaopenonüismo.aAbol¡ção
folennwdldaeebeowldeoomoumedådfva,umbelop|'eseonequememdauoooe
devoluçlo.Potls:oolsabeloon\nerteu-eeem"ARedent:ora"eoatodaAboll-
çiotransformou-seem mento de 'dono único' e não noresultado deum prooesso
ooletlvodelutaseotmqulstes.
Dlvorcieratn-se, portanto, nesse momento, duas instlncias de represen-
taçlo. A monarquía, decadente e falida como slsnema, recuperou o imaglnårio ao
vincular-se ao amo mais popular do Imperio: a Aboliçåo. A 'realeza política' se as-
soeiou a uma “realeza mitificada', quese mágica e, nesse eaeo, senhora da justiçe
edaeegurença.
Prfasrada das elites e de prdprie jege pelitiee, a rnenarquia panheu, per ea-
minhes terrneses. unrs neva represensaçãe e inengnreu uma rnsnelre eempliesda de
lider eem si qeestãe des direites e de eidedanie. Len,-ge de msree de indìvidue e de sus
lute pela prúpria rlihelieie, fieemes rnesrtle eetn e eemplieede je-ge des relarpìes e de-
veres, de :have de persenalisree e de prdprie elieereiisrne. El ete, -:eme qee ediei-:men
eme eeva vers-ie e eme eslruture antige, que sempre reveleu eeme es releeües priva-
das. nuse pais, aeabem per se irnper es esferas pdblieas de atuaeãe.
El els_|er.lve deste eeplrrrle E, perrente, refletlr sehre uma i|u.e|'prerei;ìe per-
tieular de rltheliçãe lrrasileire, feita nes mementes enterieres ae ete de 13 de maie
de le-BE en en eeetertte imedietareenre pesterler, que te-eden e ass-eeiet e realese
eern e Iibertaçie de t-setsvldäe en vie ne ste nm merite eselnsive des anrlges pre-
prieraries. Eeme se fdssemes evesses à representaçãe da vielèrieia e da lute. ne Bra-
sil a M:-e1ir;de fei entendida eeme uma dridiva, um presente que mereeie ates
reelpreees de el:-edieneie e snbrnlssie. ¡ies eserave-s reeerrt-iibertes se rt-steve, p-ele
menes ne v'r`sãe des elites, e respesta serví] e suhsenriente, reeenheeedera de tarna-
nhe de '*prmer1te" reedm-reeeh-ide. Diferentemente, dessa maneira. de preeesse vi-
verieiade em entres pslses. ende e 1ilsertsr;se Fer slsservids eeme urna eenquists,
equi ela repr-es-enteu eenrinuidede e e repesiçãe de hiererquies qee, de täe aenta-
des, pureeiem legidmedas pela prdpria netnresa.
Em erd-amd'
He decada de ïllìl-Eltl, e quesrde de abelí-çãe se temen e teme da ves. Hes
jerneis, em par1:iet.tIer. e assunte era de fate eerrtral. sende tratade de duas rneneiras
paralelas: se, per um lede, pere-:ie pre-:ise etìrmsr e erdem e e eenrrele per parte
das elites lrranees, diante da lihertaçãe imineete des esemves; per entre, estal1ele~
eia-se de ferrna perempterie e eeeessdrie snlsrnissle e Ieeldade des eetlves que ee-
meçevem e gerrher a Iiherdade. Ús imìgrantes etrrepetrs, que equí ehegeram pera
resnlver s tee enm-entade “qnestãe da rnãe-de-etrra'. ses penees estapevam das fa-
eendes, genhavem es eidedes e pessavam a erteeuter es tmhellies urhanes para es
quais estavanr mais preperades. .Tri des er:-eseraves penzeie se esperar e III-peste: ri
retsil trensperëntje, eu ume atitnde peeiliee, que irnplieeve li-:er nes fesendes, sel:
um te-girne muite peuee alterade. Eis es deis Iades da niesrna meeda que earaetreriea
nmn faceta singular da .thelie-ie hrrssileire: distante de n-eeäe de reveleeìe. nesse
pre-eesse de lilrerter;ãe eseteveerata era representade eeme peeífiee, gradual e, se-
bnetnde, eeme um “presente des serrheres e de E.stede". rtes eatlves resrave e Ieslds-
de e e peeir;ãe sulrmisse de quem ganhe ente dri-dive. It Iiherdede pareee representer,
'E Nes prúrtímes dues set;-En: ulilieei fartertnente ertigeu retiredes de urrle srfrie de jemeis peu-
llrtsmeis, Mes eeme- eies se referem a Ieerllidades divirrress, que tel insistencia em jett-
nais de uma se prevlnele nde traria maieres preh-lemas pera a anrllìse de represent-ar;-¡Su
28 Quest-001010
libertor.Asaidapanotex-escravor,neetamedida,nloeraaautonomia,martin-
sençlonasantigasfazendansuastnelltasconliecidas.
Maseseenio foi.poroerto.umcasoisolado.Vdrios relatoaoontamere-
contain a merma ladainha, alterando-se apenas locais e nomas.
Cepivari - Um benemetimo
Háfatoehoruoaagtlodigrrordelouvoteimitaçioqueomaiorelogioque
eelhespodefaaerepublid-io¢ti|npleamø1teaernoomentådot.Oentelu›
tirrimosrbarlodeAlme¡daLhna.depotsdererfeiwvåriosbeneficioseo
munsapioaüflvvtuiseamaønnmmargfeirmmmaumae-
¡anteediflcioondefuncionaumadareacolupúbIioas.tetdedaradotodos
orescravorlivrespornnmone,acabadef\mdatumaeacolaprimårlepata
lngemtoreacnvoafldlfleouurnacaeaerpaqosaecomtoduasooniodida-
de¢precisaparaaewola.CorttramouoomoproferaorortFtanciaooJoee
\tndoAmaralJúnlot,queoomtodeaeduea¢oregeaeeooIa.
Nodia4dooorrenmefoiinauguradaeabertaåraules;duratweodiaefre~
qüentadapeloth\g!nuore,ånoite,peIoradultorunnúniemsq›eriora40.
lIelnaaboaordemeadiedpllnareeon\endadapeloexmo.beråoeeaecuta-
daoomtodoouridadopelodignoptofeseotåbonitoeoovmventequando.
atarde.o¢eactavotvoltamdotrabalho.uooomdemupueoomtodooosaeio
upr¢sentmn~ted:oulorlSenne-eeumgnndepnaerquat›doseerttranosa-
iloondefuncionaaaula.todoiluminado.eaive«setms40bometudetra-
balhoque,tendolor¡odouenmdoeomo:hodo.¢mpunhnmupeno¢olíwo!
Nota-aenorembiantedetodosumarriaonl1o.cheiodepraaet,eoorntodo
orilencioeatençãoouvanuexplicaçòesdoprofesrotïermbtadasuau-
lagwloƒttsersrnurreƒeipdesedemonroroteooutrodia.
0xal¡todosotfu.enddrotlrnltaseunoexmo.rtberio,pnpmmrdoretu
múeroresaowrpomgomruttdesuoltìuroçdoqumdomiarodiodoredat-
ção. htabensaoenno.bariodeAlrneidal.itr\o,purubeIudltumonidode.
parabenraomunlcfi›iodeCapivariporum;randeÍeiro.A:sinado:Urnad-
mlrador(hovútdude$doHsulo,Sma¡ol888).
Assalto
Anteontem as 10 horas da manhl na antiga estrada de ltatiba foi assaltado
pordoisnegrosƒugidosumcsmaradadenornehntortioüodoi (...) foi quan-
do apareceu outro e os doi: negros se evadiram. Hi dias deu-se na estrada o
seguinte faro: tendo ¡do catar clpó a mando de seu senhor um preto de uma
faautda,quen'abaIbavatranq0llamente,foiapanhadopordiversosnegmr
/ugirisos e quilonrbolns que despediram-no e derarn-lbe uma Valente sova. 0
pretotcvedeesperaranoiteparavoltarparaafaaenda (Corre¡oPoulistono,
12 out. 1887).
ees starts es esetvs. 31
Eerrt leeltletie
I'-les jemais da epeea, e sel: a ferrea de ƒelrs slivers. ntna serie de materias
(muites veses, per eerte, inventadas] ia saeientie e etrrieei-dede des ieiteres eem ve-
rie-s 'eenses' que eee se reletiarn apenas e vieleneia sdvirtda de sistema eseravetra-
ta; pele eentrerie, muites pequenes relates desereviem eventes "`meraviIheses" e,
eeme tal. ertetnplares de lilrettaçñes feiras per pertiettlares, eeme stes de ventade
individual.
32 Quasrcuoaolo
Clmpíms.OtaSiIvetimoPedn›ooteunintodaa|uoeacravatiaeexpIic0u-
lheanovalelqueseregulat1:entou.$eparouoseseravosmalo¢esde60
attogdedatandoqueosoonsldetavaoomodesobtigadoodoservlçodetres
anoeedo¡lmeoesaeeleloeoompovtnnaItenmplm1na|te.OanPedmoofa-
louemaeguldaaotseusetcavosdoeemlnotesdetevoluquetuuoelcoo-
moasuafialnilialtúmttitooanosvlvlnmentreeletsentumsóemprqndo
|íwrecmfinntbunim|nentenojmtúpncotnqu¢smtpnasnumrmLOsexm-
votcontmddosdedomromqueestnmmprontosomavenmsemorresemseus
nnmm(cor~wmutut¢m›,1o3uuaao›.
Nessecaso.amatérlaremeoeàpol¿|nicaLeldosSexagenårlos,quellbet-
muesaevosoommaisde60anoe,osquais,|nesmoess¡m,deviamuabalharainda
malsu'esamepanlognraemancipação.lnngeda¡magemdecalmanaqueanu-
tétíaptocunpassanoambiente era conturbodoetollelmais pnovocavn do que ge-
'°MuiusobtumoetnmototalaD1eamentodoEnadonesoemomentodecrlae.
nos mms os oiiowa 33
rava resignação. Na verdade, o tema era tudo menos neutro. A situação interna
tornava-se cada vez mais tensa em funçio das agitaçbes em ptol da aboliçåo da es-
cravidão e do final da monarquía. Basta um breve olhar na “agenda” de fatos para
se ter uma idéia da situaçño: em 1880. foi fundada a Sociedade Brasileira contra a
Escravidlo e, em 1883, a Confederaçao Abolicionista. Também nesse ano. Castro Al-
ves publicou O escravo e Joaquim Nabuoo, 0 oboiicionismo, duas obras cujos autores
lideravam o movimento de emancipaçåo e que passaram a ser - na literatura e na
ciencia politica - livros de referencia sobre a questio. Em 1884, a escravidão foi
extinta noCearåenoAmazonaseem28desetembrode 1885 foi promulgadaa Lei
dos Sexagenårios - a Saraiva Gotegipe -, apenas acirrando ainda mais os animos.
O carater conservador da medida era tio evidente que as reaçöes não se
ñzeram esperar. Añnal. da época da Lei do “entre Livre (1871) a Lei dos Sexagenå-
rlos, a composicåo e a distribuição dos escravos no pais havia mudado radicalmente.
Segundo o Relatdrio de 1886. desde 1873, entre manumissbes e moroes, o número
de escravos sofrera uma reduçåo de 412.468 individuos. Dessa maneira, as estimati-
vas para 1886 apontavam para urna população escrava de 1.133.228, e as matricu-
las de 1887 revelavam a existencia de 723.419 cativos. Alem dessa reduçåo geral, a
dlstribulçåo desigual acelerara-se: nao só os cativos haviam sido deslocados do Nor-
te para o Sul do pais. como as libertaçôes eram muito mais evidentes na regiâo se-
tentrional." Mas, apesar do claro perfil pallatlvo da medida, ela não deixava de
sinalizar o fìm próximo da escravldão. A tåtica era ganhar tempo e evitar o que mais
se temía: rebeliöes de escravos.
De longe, até a Barral escrevia a d. Pedro. teniendo o processo. O impera-
doc, em resposta à carta aflita. reagia:
Sem malores abalos e de longe... assim era tratada a questão pelo Estado,
que deixava cada vez mais aos particulares a conduçåo da Abolição. Dessa maneira,
lidos nesse contexto, materias como as descritas adma parecern ganhar novo senti-
do e funçåo. Em vez da tensão das últimas horas, esse tipo de noticia trazia um esti-
lo e um tom bastante particulares: a libertacåo era uma concessão, um presente sob
controle, seja do Estado, seja do proprietario branco, que concedia o beneficio a
seus escravos, que em troca lhe deviam fidelidade, mesmo quando a liberdade fosse
comprada pelo cativo por altas somas.
Sorocaba-Natarrledeumdocorrentetevelugaraentregadmcartasde
liberdade pelacorniáoemancipadora. Foressaocasiãoltouve sinceras ma-
nilestaçñesderegoeljoporaquekacmuecinientopereurendooslüiatnnda
ansquidn.osmos.preood¡dosdocomistdoedemnabmidndemúsioa,sendo
rtesmocasiãokmntodosenmsidsdcm›ims(ComioIhtdktdno,Sjan.1888).
Açaoñlantrópica.ÉsabidoquenossomnigooomendadorJoaquim 8.do
Amaral eomprou uma grande fazenda aos lierdelros do ñnado Neto dos
Santos incluindo nos rronsoçães os esaavos. 0 praw ñndava-se em abril se-
guintc. mas o comendador Amaral disse-llies que se os servissem, os despa-
cliaria em dezembro, cumprindo religiosamente a palavra. No último dia
do mes de dezembro, lindo a um toque de sino, fez saber a toda aquela por-
çdo de liomens que flndava o estigma do cativeiro. 0 honrado lavrodor velo
a perder alguns contos de reis. mas lioou amplamente reoompensado nos
goaosdaoonsciêrtcioeriosoplmxsosdaobna (...) Eleaindafez mais: brindou
os libenosoomgrnndeelouroiontorentquesederomoenasanimadissimas
degrotídãoeƒenrorosossentimentosporpartednquelunrdescorupães. Assim,
por eaemplo. um dos preto: levantou-se oom este brinde. seguindo-se de ou-
tros. A liherdode?Ao nosso senltor de ontent! Ao nosso potrão de baje! Ã exce-
çlo de dois ou tres deles, que alegaram motivo justo, os outros ficaram
empregados a salario (Carreño Ptruiistano. 8 jan. 1876).
[1-1:5 Mates un Ehiiti-¡wi 3?
El sr. cnpitän Pedro .nlcanlara cmrloo-nos para ser publicada tt carte de li-
bertletle que conceden à cscrevn E1.-n. de di! anos mais ou menos¬ F'-de co-
rno -cu-ndiçcì-o uni-cctniente que t-f|`t-11 em qualquer um-n de .rucu ƒt:r.Iertd'd.t.. ¦e':|'ldo-
esta condiçäo intpor-to pero que não nndc o vo,-gnbundnr (Carreño Pnnlion-
no. jul. lEI¦?I5|.`I.
H I-ultin lrlattoso (19521 1'nostr.a que a |m!dLn de vida dos es-cravnr do campo, no ttnbalho. ere
de 15 actos. Den: n:m.11eLra, os escrmros que atlngiant a barrelr: dos 50 ernrn entes urn encar-
go, um p-en-u e ee1"re¬g.ere e elimenter.
SE Guns:-ctoaoio
1" Em El cttp-etticuio dos roptt.t iltìiül, live e utlurlunidatlt de detienvulver untn análltte nl-Hit
ctiida-do-se de entrada dos teorias recieis no E-:mail a partir d.e década de lB'.ì"I|1
DOS Maris oa DÁDWA 39
mais evidente da imigração europeia, devia ficar restrito ao “não-lugar". Era absolu-
tamente transparente que, com a abolição. ele não encontraría posiçio segura e es-
tåvel na nova lógica politica que se montava.
Na verclade, essas notícias, que se tornaram a feiçåo oficial e legitima de
nossa Abolição, eram antes 'representaçôes do Estado” e surgiam no lugar dele,
conferindo afetividade e pertença ao espaçp inócuo da libertação. Ou seja. se tomar-
mos o conceito de representação de Carlo Ginzburg (2001:8S), veremos que esse,
por um lado, “faz as vezes da realidade representada e. portanto. evoca a ausencia;
por outro, torna visível a realidade representada e, portanto, sugere a presença. Mas
a contraposição poderia ser facilmente invertida: no primeiro caso, a representação
é presente, ainda que como sucedâneo; no segundo, ela acaba remetendo, por con-
traste, à realidade ausente que pretende representar".
Os rituais de libertação viriam, assim, no lugar do Estado, ou de uma re-
pmentaçåo oficial. na falta do Estado e na presença excesiva dos senhores de escra-
vos. 'leatralizam dessa maneira a presença e a ausencia e seriam "semiófotos", no
sentido de que componariam muitos significados. Tal qual uma ¡magem reiterada, a
líbertaçåo era um presente de brancos, que ofereciam ao mesmo tempo a manumis-
são e o trabalbo. 0 negro que mostrava autonomia estava fora dessas falas, assim
como da representaçåo oficial que se fazia da nossa Aboliçâo, tão singular em seu
prooesso. Ou melhor, era um pano de fundo oculto, presença sugerida pela constan-
te reiteraçåo da ordem e do controle. .lá o preto, o bom escravo, o negro de alma
branca, era, sim, o objeto passivo desse tipo de reptesentaçño.
Na égide do discurso oficial, a libertsção era entendida de forma univoca,
sendo apagada: as nuanças e ambigüidadesz era uma dådiva de um lado só. Nada
de prever ressarcimentos. ou de falar em merecimento ou sacrificio. Como um fardo
branco, uma meta “quase que bumaniulria', essa 'abolição à brasileira” fazia-se oo-
mo representaçåo: escondendo a violencia e inflacionando a tutela e o caráter tran-
qüilo das ltbertaçòes.
Mas parece pouoo ficarrnos restritos à desconstrução do caråter merarnen-
te ideológico do discurso das classes dirigentes. É preciso levar a serio a eficacia
simbólica desses gestos politicos. Os rituais, ao teatralizar a libertação - esse tipo
de libertaçåo -, ao mesmo tempo em que moldavam as oondiçñes de vida em con-
sønñndn com a rcalldadc existente, acabuvarn por “fazrê-la acontecer”, tornrrvam-na
mais e mais real.
Como mostra o antropólogo Clifford Geertz, em Negara (s.d.:l7l), os
dramas do Estado-teatro balines. “mimetioos de si mesrnos. nio eram. ao ñm e ao
cabo, nem ilusñes nem mentiras, nem prestidigitação nem faz de conta. Eles eram
o que existia”. Com efeito, diferentemente da definiçåo tradicional, que opöe o
simbolo à realidade, quem sabe valba a pena insistir um pouco mais nessa outra
dimensåo que encontra eficacia nas estruturas simbólicas. Afinal, como mostra Ge-
ertz, os simbolos representam tudo que denota, descreve, representa, exempliñca,
rotula, indica, evoca, retrata, exprime - tudo o que de uma maneira ou de outra
significa, vindo dai sua dimensão pública. A eficacia de qualquer simbolo está vin-
«I-D r¦rur.sr.ere.r.e.ï.e
Md eeneeiin-rie
Hes jemrris eneentremes, pertsrrrte. uma serie de netí-r:ias dispersas. ƒerts
diver: referentes e vdfles leeelidedes, que. eeme per lnsisreeels. vie reeende uma
leia de 'causes' e erremples, que reflerern, mas tembem brrseem eemprever. e mes-
me predueir, e errrdter embigrre - emteprdenal e pneífiee - de Iiberteçãe bresileire.
Mes nie se nes penìddiees a±`rrn1.a¬.=e-se esse imegem eenrpleare de nessa
abeliçãe. Tlunhern es grandes auteres desrfievem-se de seus temes di]-eres para refle-
tlr flre tr liherteçäe des esersïes e seus tdnr.1.rIes -:em e fintrl de menarquia. Este d
e cese de famese terrte de Jeequim Hebuee. que em Minha ƒenneçãe. Ii'-'re publica-
de ne tirarle de seeule, em l9IEIt¦.15 registrerie:
tefetçaría -:1 1-¡de patemalista de nessa nhdliçie. Mas el texte fat rnais: revela uma
"estnlture prdfunde de escrevidìn”, nu nielhnr, uma serie de valnre-s. edstumes e
slmhnïns, que tetiam 'rinde para fiear, a despeite de sistema eset'a1m-:rata que se des-
1'l'IflI1'II¦-H"I|"¡H.
Fnius|:nquenpreb1un1me1nldees|:1tddiesedesen.tmupeJepm*.itnelre
tree ens meus elhes em sue nit:lder. perfeite eem sue mluçle e'|:rri|;atdri|.
Hãd sd esses esetet-'tu nin se ritthertl queisede de sue renhu-ra e-eme e Id-
nJ1aJnetenfimahe¶t;nadu.il;grunìi-En-utmunuImdndequflndmI1EIes
merrernm nt-reditende-te es dnedere: |[...} ¡eu enrirdm nda rerie detendn ger-
rntner e mais [ese suipeire de que d |en.I'¦e-.r pudeue ter urne e-brigeedd _t|-ere
tem ele: queIheperter|rirnn[...1Detucenre11nrenIieeerepde de estrena, e:|¬
nnJednirnnij'ìeLIm|gedncuntntnrnmnuïnquen;n¿dusernfnInn'snnUne
sue ded|E-teçde. Ene perdde upenrdnee de dlïdde de senñ-er geles estremsƒigu-
ree-se-me e enünh _t|-ere es pedir.: que eresterem pela es-trevidde, tr rnei-tr de
esenpurem 11 um dns pin-res tttiitï-es de hístdriu...
Auemtddin,pensedanesseste|'mes,nânseresumiriaåì|11agemda\dd-
ndaaçie. ne entitrdrie, teria preduzide uma rede teme de culture, um ¡diente letal,
eujes intplirmçües e teverberaçdes eentinuaríatn presentes e nie se aedm-ndariam a
I-ei. Assim, na file de um des grandes pilates de abel-lieienismn bresileim, e questie
del-enha¬I.re-se cum tnda a sua enmplesidade. Mais de que d prnblema eminentemen-
te pelitite, que se ter-else tem e ete eremplat, trata-.re-se de lider :em 1 'queme
mural" da est:rn'-fidin e en-m ns estratns mais pretendes Iegedns p-ele sistema e pet
sue ptdprie desmuntagern rápida: entre eles e tema de '51-andan" e de uma intima
dependencia.
Hesse eesn em particular, Hahuen trate - nn fnrnnse- eapítuln íntiruled-n
*Ii'Iassengena"- das suas primeires lemhrençns de estrwddàe e de releçåe de fideli-
dede que teria se estaheleeide da parte de eatiifn pera edm seu senlmn E meu nhje-
dve e jusratnente nemeer ta] releçle. de mellter. pensar ne sus penetreçde. pere
elem de uma Ieiture eatelusivannente ealeada na Idgiee de eunjunmre e de pelídea
1-mel. ñlgumee esmntttes se rndstram puede sfeitas à dieerenia e insistem em, rei-
mesamente, perpeaså-la: e ene e. quem sab-e. d ease aqui.
Tãlver. seja essa a maneira de entender entnt:-, Iìnda a ntdnarquia en-t|ua|1t-n
sistema pelitite, ele ressurgiu pepulermente e-ente rep-resentaçãe e essetiede trei-
eentemente ae etn da Ahnfieãn, mais u.tna vea reptetada ee-me didiva. Para tan-
te, baste entender e impnrtlneia de nm fenümenn :eme e Guarda Negra, que se
me-s1:|1:~u leal en eulte de "Isabel, e FLedentnre", nu de releitura pepular de prdprie
figura de d. Pedrn II. Enfrentetnns em-es d-nis fenümenes, a :fim de entender suas eee
need-es cum u tema de dddive. mete central deste reflexän
P-nr um Iade, e itnegem de mnnarea fe-í lentamente se -mnstruindn de ma-
neira pared-nxal: se n lntperin enlrasfa evid-enternente un deeadeneia, d- Pedre res-
surgia eeme simhnln pepular. ende ver mais essntiede à liherteçãu dns esermms. Em
44 Guns!-cioaolo
'lambém em 1889 foi editada a biografia de d. Pedro ll, feita pelo rabino
de Avignon. Benjamim Messe. Escrita em tom laodaoório. a obra era antes uma ho-
menagemaesseimpemdordoNovoMundo,queemumndtordaslinguasclassicas
e um estudioso do "ltebraismo".¡9
Em 1889, o Brasil também participou da importante Exposição Universal
de Paris. Cavaicanti, Rio Branco, Eduardo Prado esmeraram-se na oonstruçâo de
um pavilhiio grandioso, num estilo hibrido dos palacios de fantasia. Contava com
uma torre majestosa de 40 metros e uma cúpula envidraçada e ciiamativa. Bm um
quiosque ao lado, vendía-se cafe a 10 centimos a xicara. Enormes telas do pintor
brasileiro Bstevão da Silva, apresentando frutas tropicais, enfeitavam as salas mais
vaaias. Seis estatuas coiossais representavam os rios do Brasil e numa enorme ba-
cia fiutuava, rornanticamente, uma tipica vitória-regia. Enquanto a Holanda pre-
senteava o aniversårio frances oom uma beia tulipa, a vitória-regia, uma especie
selvagem e exótica. representava as excentricidades do Brasil. 0 café, a iúria de
nossos rios e de nossa vegetaçåo e até mesmo a África no Brasil adornavam o civi-
liaado e grandioso edificio.
'Para fora”, portanto, tudo ia muito bem; mas os simbolos e representa-
çôes nio se impôem exclusivamente por pura emissio. Em momentos de crise. a uti-
liaaçño do imaginårio e de emblemas nacionais é particularmente visivci e o Brasil
nãoescapouà regra.Aomesmo tempoemqueoimpérioiaà França homenageara
revoluçâo. a campaniia republicana ganhava força no Brasil. tomando como pretex-
to aa mesmas comemoraçôes do oentenårio da República Francesa. 0 exemplo da
França. que derrubara os privilegios da aristocracia, passou a ser invocado com in-
sistencia. obliterando-se o fato de que aquele pais comemorava só 18 anos de vida
republicana e não 100. como indicava a data festiva. Tudo se passava como se a mo-
narquía estivesse garantida exclusivamente em função da imagem ainda simpatica
do impcrador.
Mas os ánimos mudavam rapidamente e, a cada dia, as posiçôes se radica-
Iizavarn mais. No governo liberal de Ouro Preto tomou impulso uma idéia ja presen-
te na época de João Alfredo, que pretenden criar uma força paralela ao Eaercito,
para amar como protetora da monarquía. A 'Guarda Negra” nasoera de uma idéia
de André Rebouças e revelava até que ponno os militares se opunham ao novo regi-
me que se montava, embora uma das primeiras preocupaçôes de seu idealiaador
fosse evitar o enfrentamento direto, devido à especificidade de sua composiçao -
dizia-se que era formada pela “tale carioca e por maitas de capoeiras”.
A situaçåo era de fato paradoxal e, mais uma vez, reveiava os mminbos
ambiguos que o proccsso de libenaçao wmava no Brasil. Os ex-escravos guardavam
ieaidade à monarquía e se opunharn aos republicanos. cbamados de “os paulistar”.
" Ao que pareoe, apesar da autoria formalmente penenoer a Morse. a biografia teria sido
escrita pelo proprlo bario do Rio Branco.
eos M-tras es ei-else 45
E' iduito se tem dito sobre rs papel do Partido Iìepubiitarro paulista na pro-tlenraflo de Itepribli-
ee. De fate, desde a ti-ri'-tadade 1-E-?I'.I, São Fnule efitrtrrire urna post-pio de destaque no eetuirlo
ee-oniilrnieo de pais, sem rm entanto eorrtat e-om uma reprr:ser|I.er,1ìo perlltiea er:r|'|'t:rp-or|r;i:|'rte.
1" Em As' borhos de irnperttrioe.. [1'EI",i|fle] live a ofp-ortunititrtle de du-envolver esse argunsento
eom mais vagar:
-Id -nessa-etoselo
Essrarregrteesplitamirrgumaoserneeraaãodastemagetumlaoeree imperial
htsitarreteI;amarosrapirduemurmm1m,nmnar*ranoodetodaanr;a,nran
arrarreornílr-etesset1rtareirI:ona::íente:¬EIr!Ei11FedroIIr1.'lrseradr.'rrro'r":='
Essa talvez seja mais uma das multas manifcstaçòes que acompanliaram,
durante algum tempo, boa parte da populaçåo negra brasileira, que ligou o final da
escravidåo aos leones da realeza: isabel. “a liedentora”, e seu pal de barbas brancas.
E mais uma vez o modelo só reafirmava a mesma representaçao e vice-versa: a Abo-
liçao era um presente "dado" pelos monarcas ou pelos próprios proprletarios de ter-
ras, e todos pediam em troca lealdade e submissão.
Vimos, assim, até aqui, não só o lado ritual da afirmação da Aboliçåo -
nas tantas iestas de líbertação - como a criaçâo de um argumento que vinculou a
rnonarquia à abolição, seja no depoimento isolado de Nabuco, exemplar em sua
posição e local, seja na análise da idealizaçåo quase mítica da realeza no Brasil.
Resta pensar na dadiva como 'um fato social total”, que, nos termos de Marcel
Mauss, tem derivaçôes não só economicas e politicas. mas sociais, culturais. juridi-
cas, religiosas, técnicas e familiares. 0 social só é real quando apreendido como
sistema, e é nesse sentido que vale a pena insistir não tanto nas implicaçôcs exter-
nas da Aboiiçåo - que levaram à exclusão e à marginalizaçåo da populaçåo ne-
gra, sem espaço na nova ordem republicana que se montava -, mas na apreensão
intema e em suas repercussöes.
1* mana. meno?.
¡S lbid,p. 101. Dizohistoriadon 'åquetienhumdessesvizinhosaoubedeaertvolveratalextre
moesamhundapemnaüdadequeparemconstimuouaçodecidwdanevoluçlmdude
tempor imemoriais' lp. 32).
1° mu. p. 119.
|¦¦--|:|s. H.I.LEs an Diales 5|
cente um tema da “antigüidade", jogando com tempos e modelos que nio respeitam
espaçoouwodição.1alqualumaoemporaüdadesemmedicñesexmmas,oqueera
ontem virava mito e o tempo breve parecia distante, como lembrança de reliquia ve-
lha. 'Nos nem caemos que eacravos outmra tenham havido em tao nobre pais (...)
Liberdade, líberdade, abre as asas sobre nds”, dia o bino, reafirmando pelo menos
na lógica da afetividade do canto, que se quer nacional, que a Aboliçio nio teria
tardado. Nunca o “outrora” foi, de fato, tio breve.
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