Impressao
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LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL
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Para Saviani (2008), pesquisador da legislação brasileira, com base no
Parecer preliminar de Gustavo Capanema (2008, p. 94), o termo diretrizes pode
incluir todo o conjunto de preceitos normativos destinados a regular a estruturação
e a atividade de um serviço ou estabelecimento. A palavra bases veio como que
por acréscimo, para não vir a ter lugar uma interpretação que visasse restringir a
competência federal, em matéria de ensino, para fixação de princípios gerais
(Saviani, 2008). Assim interpretado, podemos afirmar que o caráter amplo da
expressão diretrizes e bases, nesse contexto, é entendido como universal,
referindo-se à totalidade do movimento da educação no Brasil, educação que
atende ou deveria atender a todos, impreterivelmente.
Em 1997, primeiro ano subsequente à homologação da LDB (Brasil, 1996),
ações constitutivas das políticas educacionais se fizeram presentes por meio da
participação ativa e intensa de educadores que estudaram, analisaram e
debateram as questões dúbias da lei. Ao ver da professora Iria Brzezinski (2005),
o movimento mais significativo daquele ano em relação à LDB foi a elaboração do
Plano Nacional de Educação para ser apresentado ao Congresso Nacional,
expresso pelas forças ambivalentes da sociedade política e da sociedade civil no
país.
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Sobre o direito à educação e o dever de educar, no seu art. 4º a LDB define
que:
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§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos e regimentos
aos dispositivos desta Lei e às normas dos respectivos sistemas de
ensino, nos prazos por estes estabelecidos.
§ 2º
O prazo para que as universidades cumpram o disposto nos incisos II e
III do art. 52 é de oito anos. (Brasil, 1996)
Do exposto, conclui-se que interpretar a LDB é questão sine qua non para
atribuir-lhe um sentido que ultrapasse a articulação do legislador para redigir as
leis, trilhando uma compreensão de propostas para o atendimento, de fato das
necessidades sociais nos diferentes momentos em que a LDB é aplicada (Brasil,
1996). Na perspectiva de Pino (2005, p. 20):
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escolares, a gestão democrática, os encaminhamentos didático-metodológicos, a
avaliação educacional, a alfabetização, o registro da documentação escolar, entre
tantos outros.
1 Com base nos estudos de W. James (1931); Van Riet, N. Abbagnano, Y. A. Visalberghi (1964) e
Gustavo Cirigliano (1969), Saviani (2008) descreve que o pragmatismo parte do princípio de que
a verdade existe em termos de utilidade para a vida, bem como amplia os tipos de vida e se
constitui numa teoria educacional não totalmente errônea, mas um tanto ambígua, porque não
distingue os vários níveis de vida do ser humano, acabando por reduzir tudo ao útil. Das posições
pragmatistas em educação, o autor ressalta como maior repercussão e maior desenvolvimento a
teoria de Dewey. Relembrando que o método de ensino de Dewey se articula em cinco passos: 1)
situação problemática; 2) identificação do problema; 3) observação e levantamento de dados; 4)
formulação de uma hipótese de solução; e 5) verificação da hipótese.
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observando que, ao educar, não podemos deixar de levar em conta, além da
realidade física, a realidade biológica do educando. Já na perspectiva psicológica,
é constado que a criança possui um mundo interior2 constituído de modo
complexo. Assim, ao educar, não podemos deixar de levar em conta, além da
realidade física e biológica, a realidade psicológica do educando, pois a
aprendizagem ocorre de acordo com o quadro psicológico de cada pessoa e se
dá com base em vivências internas. “Ela é, no fundo, a incorporação ao eu anterior
de elementos assimilados do ambiente. E a aprendizagem é também função das
ações anteriores, das emoções, dos sentimentos, temperamento” (Saviani, 2008,
p. 40).
Cabe reafirmar que a indissociação entre realidade física, biológica e
psicológica do educando, no contexto da educação, comporá o que é natural da
realidade humana, e a concepção educacional que se limita a esse quadro natural
denomina-se naturalismo pedagógico3, diz Saviani (2008, p. 43), tendo como
representante exponencial, dessa trajetória, Rousseau (1966).
E a estrutura do homem está completa, então? Não. Necessário se faz
incluir o homem como ser cultural.
2 Nas palavras de Saviani (2008, p. 40), “[...] este mundo interior, é, pois, bastante complicado,
mas muito importante para o problema da educação. Cada um tem sua maneira de encarar as
coisas. As divergências de pensamentos se explicam, muitas vezes, pelo a priori psicológico de
cada um.”
3 Rousseau (1966) desenvolve as suas ideias pedagógicas propondo a educação pela natureza.
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parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e dos educandos.
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o
conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política,
especialmente do Brasil.
§ 2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais,
constituirá componente curricular obrigatório da educação básica.
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é
componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua
prática facultativa ao aluno:
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas;
II – maior de trinta anos de idade;
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação
similar, estiver obrigado à prática da educação física;
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969;
V – (VETADO)
VI – que tenha prole.
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das
diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro,
especialmente das matrizes indígena, africana e europeia.
§ 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto ano, será
ofertada a língua inglesa.
§ 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens
que constituirão o componente curricular de que trata o § 2o deste artigo.
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério dos sistemas de
ensino, projetos e pesquisas envolvendo os temas transversais de que
trata o caput.
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá componente
curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola,
sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.
§ 9º Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção de todas
as formas de violência contra a criança e o adolescente serão incluídos,
como temas transversais, nos currículos escolares de que trata o caput
deste artigo, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), observada a produção e
distribuição de material didático adequado.
§ 9º-A. A educação alimentar e nutricional será incluída entre os temas
transversais de que trata o caput.
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de caráter
obrigatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de
aprovação do Conselho Nacional de Educação e de homologação pelo
Ministro de Estado da Educação. (Brasil, 1996)
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caracterizados pela musculatura e pelas estruturas cerebrais, as quais são
responsáveis pela organização do movimento pela criança.
Entretanto, para Vigotsky (1994), a percepção de uma criança, como ser
humano que é, não se desenvolve como uma continuidade direta e aperfeiçoada
das formas de percepção animal, nem mesmo daqueles animais que estão mais
próximos da espécie humana. Experimentos realizados por aquele autor
conduziram à descoberta de algumas leis básicas que caracterizam as formas
humanas superiores de percepção. Por meio de um conjunto de observações,
Vigotsky (1994) reiterou que a rotulação4 é a função primária da fala nas crianças
pequenas. Vigotsky (1994) afirma que a rotulação capacita a criança a escolher
um objeto específico e isolá-lo de uma situação global por ela percebida. Portanto,
4 Em relação ao estudo da linguagem infantil, Vigotsky (1994) reitera que a fala requer um
processamento sequencial, bem como o papel da linguagem na percepção infantil é surpreendente
devido às tendências opostas implícitas na natureza dos processos de percepção visual e da
linguagem. Elementos independentes num campo visual são percebidos simultaneamente; nesse
sentido, a percepção visual é integral. Ao passo que, na fala, os elementos são rotulados
separadamente, para após isso serem conectados numa estrutura de sentença, de frase, tornando
a fala essencialmente analítica.
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processos coincidem quase que exatamente: movimento e percepção não se
separam.
Em seu raciocínio, Vigotsky (1994) crê que, além de reorganizar o seu
campo visual-espacial, a criança, com o auxílio da fala, cria um campo temporal
que lhe é tão perceptivo e real quanto o visual, pois, ao desenvolver sua
linguagem, por intermédio da fala, ela adquire a capacidade de dirigir sua atenção
de uma forma dinâmica, percebendo mudanças na sua situação imediata e em
situações futuras.
Nessa mesma via, Luria (1998) exemplifica o assunto dizendo que, para
uma criança ser capaz de ler, escrever ou anotar alguma coisa, são necessárias
duas condições:
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III – atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para
o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral;
IV – controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar,
exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de
horas;
V – expedição de documentação que permita atestar os processos de
desenvolvimento e aprendizagem da criança. (Brasil, 1996)
5O sistema de Reggio Emilia, criado, no norte da Itália, por Lóris Malaguzzi (1999) – um intelectual
e jovem professor italiano –, em 1963 e vigente até os dias atuais, começou a ganhar destaque
mundial por volta de 1991. O diferencial do sistema é pensar nas crianças como indivíduos cheios
de potencial e possibilidades para o presente e para o futuro. “Descrito sucintamente, ele é uma
coleção de escolas para crianças pequenas, nas quais o potencial intelectual, emocional, social e
moral de cada criança é cuidadosamente cultivado e orientado. O principal veículo didático envolve
a presença dos pequenos em projetos envolventes, de longa duração, realizados em um contexto
belo, saudável e pleno de amor” (Gardner, 1999).
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da formação comum no art. 22, da base nacional comum dos art. 26, 39 e 64
(Brasil, 1996). Para o ensino fundamental, na LDB, o art. 32 traz no seu bojo o
objetivo principal para a formação básica do estudante e discorre da seguinte
forma:
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TEMA 5 – LEI N. 13.415/2017: O “NOVO” ENSINO MÉDIO
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração
mínima de três anos, terá como finalidades:
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos
no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com
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flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento
posteriores;
III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico;
IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos
processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de
cada disciplina. (Brasil, 1996)
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curriculares próprios que, sistematicamente, deverão possuir unidade com suas
identidades e seus projetos político-pedagógicos.”
Muito temos a trilhar ainda no âmbito dessa última etapa da educação
básica diante da complexa realidade por que passa o mundo na atual conjuntura.
Os resultados em termos de avaliação para o ensino médio brasileiro não são dos
melhores, é o que apontam as pesquisas atuais, demonstrando um significativo
aumento das taxas de reprovação, abandono e evasão a cada ano. Não podemos
deixar esgotar nossa análise somente nos documentos propositivos ou mesmo no
processo de elaboração das leis e reformas, mas, como tão bem define Silva
(2011, p. 66), avançarmos para a investigação dos processos por meio dos quais
tais proposições tensionam e são tensionadas nos momentos em que a escola e
seus sujeitos tomam contato e dialogam com os dispositivos normativos oficiais,
com suas referências explícitas e implícitas.
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REFERÊNCIAS
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FERREIRA, N. S. C. (Org.). Políticas públicas e gestão da educação:
polêmicas, fundamentos e análises. Brasília: Líber Livro Editora, 2006. p. 21-50.
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SILVA, M. R. da. Perspectivas curriculares contemporâneas. 1. ed. Curitiba:
Ibpex, 2011.
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