A Revolução Do Branding - Ana Couto

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Rosely Boschini

Gerente Editorial Sênior


Rosângela Araujo Pinheiro Barbosa

Editora Júnior
Natália Domene Alcaide

Assistente Editorial
Fernanda Costa

Produção Gráfica
Fábio Esteves

Edição de texto
Simone Ruiz
Paula Cardoso
Julian F. Guimarães

Preparação
Gleice Couto

Capa e Projeto Gráfico


Rafael Torres
Igor Oliveira
(Agência Ana Couto)

Fotografia de capa
Thiago Bruno
Copyright © 2023 by Ana Couto
Adaptação de Projeto Gráfico e Diagramação
Todos os direitos desta edição
Plinio Ricca
são reservados à Editora Gente.
Revisão Rua Natingui, 379 – Vila Madalena
Wélida Muniz São Paulo, SP – CEP 05435-000
Telefone: (11) 3670-2500
Desenvolvimento de e-book Site: www.editoragente.com.br
Loope | www.loope.com.br E-mail: [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Angélica Ilacqua CRB -8/7057

Couto, Ana
A (r)evolução do branding / Ana Couto. – São Paulo : Editora Gente, 2023.
ISBN: 978-65-5544-433-9

1. Negócios 2. Marketing I. Título

23-5601 CDD 658.8

Índice para catálogo sistemático:


1. Negócios
Nota da publisher

No atual contexto dos negócios, o que determina o sucesso ou


fracasso de uma empresa não são os seus produtos e serviços. Estes
são facilmente copiáveis por qualquer concorrente. Afinal, a
informação e a tecnologia estão disponíveis para todos, e entregar
boas soluções para o mercado é o mínimo que todos nós
precisamos fazer. Hoje, o sucesso ou o fracasso dos negócios é
determinado por sua reputação, pelo vínculo que constrói com as
pessoas e o impacto relevante que promovem.
Há uma nova visão fundamental e que Ana Couto apresenta
magistralmente neste livro: é preciso construir uma estratégia
baseada em gestão de valor, que alinha o que a marca é, o que faz
e como fala.
Nos últimos trinta anos, Ana Couto construiu e lapidou uma
metodologia que constrói diferenciação, permitindo que as
organizações saiam do paradigma do marketing tradicional e
cresçam a partir do que ela chamou de as três ondas do branding. É
uma nova estratégia de negócio que impulsiona a diferenciação dos
produtos e serviços ao mesmo tempo em que promove
identificação com a marca e, acima de tudo, privilegia seu
propósito. Tudo isso para que, nas palavras da autora, as
organizações coloquem seu talento à disposição do mundo.
A (r)evolução do branding apresenta anos de pesquisa e
desenvolvimento do caminho responsável por transformar
empresas comuns em marcas icônicas. Este livro é a declaração de
um sonho ao qual você, caro leitor, é também convidado a tomar
sua posição para torná-lo realidade: elevar marcas brasileiras ao
patamar das maiores marcas do mundo.
Comece essa revolução a partir do seu negócio!
ROSELY BOSCHINI
CEO e publisher da Editora Gente
Aos meus pais, que me deram energia e amor.
Ao Pedro, ao Bernardo e à Julia, que engrandecem e
alimentam minha jornada.
Agradecimentos

Agradecer é demonstrativo de gratidão, de reconhecer que


muitas pessoas fazem parte deste livro. Primeiramente, gostaria de
agradecer a um grupo de pessoas extremamente talentosas que me
acompanham no desenvolvimento de trabalhos criativos e métodos
eficazes. Minha crença nas relações e no time AC sempre foi a base
das minhas conquistas ao lado de talentos como de Danilo Cid,
companheiro desde os primórdios e um designer incrível; da expert
Fernanda Galluzzi, que veio expandir nossa oferta para execução
de comunicação; da parceira Aline Rubiano, com sua experiência
que nos possibilita nossa sustentabilidade para crescer; de Hugo
Eletrio, com sua expertise no design de serviço e experiência;
Napoleon Fujisawa, pela ética no trabalho e compromisso com
excelência; Erika Pinheiro, nossa sócia de muitos anos que
estrutura e faz acontecer com maestria; Igor Cardoso, pela energia
criativa e analítica, James que tem a genialidade dos dados e visão
do todo; Rafael Torres, com seu talento de fazer tudo belo e pelo
lindo projeto gráfico deste livro; Marcelle, que entende das mídias,
dados e métricas como ninguém; Luiz Felippe, que tem garra e foco
para trazer clientes para casa; e todo o time de talentos que está
com a gente, porque sabemos que nosso coração bate junto pelo
mesmo propósito de fazer acontecer mais valor. Gostaria de
agradecer a leitura atenta e minuciosa dos sócios e da Lais Cobra,
que por doze anos esteve nesse barco, e continua sempre por perto.
Queria agradecer aos nossos Advisors que nos dão o norte, a
energia e estimulam a nossa capacidade crítica para continuar
evoluindo. Meu muito obrigada pela colaboração e troca com Ana
Paula Bogus, Marcio Uscth, Marco Dalpozzo; e ao grupo de hoje
Fernando Chaccon, Diego Barreto, André Shinohara e a Maria
Silvia Bastos Marques.
Maria Silvia, que me acompanha e me inspira na sua jornada de
mulher pioneira em tantos desafios profissionais. Obrigada pela
amizade e estímulo para contribuir sempre de maneira tão
propositiva com nosso Brasil.
Especial gratidão a todos os clientes que nessa jornada nos
deram a honra e confiança de trabalharmos nos desafios dos seus
negócios. Durante esses trinta anos, aprendi muito em
relacionamentos imensamente engrandecedores com executivos e
profissionais. Posso afirmar que esses líderes carregam a
responsabilidade de desenvolver empresas para fazermos um país
melhor. De certa forma, todos esses aprendizados me inspiraram a
escrever este livro que espero que possa servir às próximas
gerações.
Esse livro não seria possível sem o árduo trabalho de texto de
Julian F. Guimarães, Simone Ruiz, uma editora de mão cheia, Paula
Cardoso, que transborda conteúdo e inspiração. Obrigada à Editora
Gente e à Natália Domene por ser uma superparceira.
Obrigada a minha família, essa, sim, base e ponto de partida para
tudo o que conquistei. Ao Pedro, meu grande companheiro dessa
jornada, por sua estabilidade e apoio integral. Não conseguiria ter
uma vida de empreendedora, empresária e mãe sem a sua parceria.
Obrigada aos meus filhos Bernardo e Julia, minha grande fonte
de amor, energia e renovação. Ser mãe é parte estruturante da
minha vida e me alimenta em todas as dimensões.
Obrigada aos meus pais. Deles aprendi e evolui sempre com base
forte de valores. Do meu pai, Paulo, trago a energia empreendedora
e artística. Ele é um projeto criativo em constante movimento que
passa das esculturas a peças de teatro. E quero agradecer a minha
mãe, Luiza, por me apresentar a paixão pelos livros, exercitando
minha mente analítica e o olhar empático. Incorporei para minha
vida o seu mantra: “Tenha olhos de abelhas, e não de mosca”. As
abelhas pousam nas flores e fazem o mel. Polinizar é o verbo que
procuro exercitar diariamente.
Sumário

Prefácio
Introdução
1 | Os desafios da construção de valor
2 | A história do branding e a evolução
do capitalismo no século XXI
3 | Como o Brasil pode usufruir do
“branding Brasil”?
4 | A construção do branding
5 | Quando é hora de um rebranding?
6 | Como criar valor nas dimensões do
branding: propósito, marca, negócio e
comunicação
7 | Gerir valor é surfar as ondas de
produto, pessoas e propósito
Epílogo: Vai e faz
Sobre a autora
Prefácio

Estratégia sem branding é plano de negócios. Branding sem


estratégia é marketing. Durante a leitura do livro de Ana Couto,
lembrei-me, com saudade, do professor de estratégia da Alfred
Sloan Management School do MIT, Arnoldo Hax.1 Ele foi nosso
consultor nos desafiadores anos pós-privatização da CSN, e muitos
dos seus conceitos inovadores, que foram divisores de água para a
companhia, estão presentes no livro de Ana Couto. Hax
chacoalhou a CSN, ao nos perguntar qual era o produto que
fazíamos. Ora, como fazer essa pergunta a uma vetusta e icônica
siderúrgica? Claro que produzíamos aço! Chocados com sua
negativa, fomos absorvendo a ideia de que produzíamos
automóveis, embalagens, produtos para a linha branca e a
construção civil. Com uma simples e inusitada pergunta, ele nos fez
ver quão raso era nosso conhecimento sobre nossos clientes e seus
mercados, nossos concorrentes e benchmarks. Mostrou-nos a
importância de desenhar uma proposta de valor abrangente e
inovadora, que fidelizasse nossos clientes e impedisse que nossos
produtos se tornassem commodities, sem diferencial de valor. Seus
ensinamentos foram preciosos para mim pela vida toda.
Em seu livro, com uma narrativa fluída e direta, Ana Couto nos
ensina que as organizações precisam atuar de maneira intencional
e estratégica em relação à gestão de sua marca e do valor de seu
negócio. O ciclo se inicia com uma reflexão de autoconhecimento
(“colocar o negócio no divã”) e de escuta das percepções dos
diferentes públicos de interesse da companhia, utilizando uma
metodologia desenvolvida pela Agência Ana Couto (AC), o
Valometry. Com base nesses inputs, e em conjunto com a equipe
do cliente, são identificados os diferenciais de seu produto/serviço,
os aspectos que o conectam às pessoas e as nuances do propósito
da organização. Definidas as métricas e os planos de ação, seu
acompanhamento e a gestão contínua do processo de valor são
feitos por uma ferramenta própria da AC, o Branding Score Value
(BVS), baseado na técnica de NPS, usada para medir a satisfação do
consumidor.
Para atingir o objetivo de criar uma identidade única para a
organização, que reflita seus valores e crenças, realce seus
diferenciais em relação aos concorrentes e fidelize seus clientes, é
preciso integrar a estratégia de marca com a visão de negócio e a
comunicação. Sem negligenciar o fato de que o espaço
concorrencial está inserido em um ambiente em constante
(r)evolução, com múltiplos desafios trazidos pela digitalização,
redes sociais e inteligência artificial, em especial as demandas para
que as organizações se posicionem quanto a temas relevantes para
a sociedade e tenham o propósito de impactar positivamente a
coletividade.
É crucial, também, que a estratégia de branding esteja permeada
no dia a dia da organização e em todos os níveis da hierarquia.
Ilustra bem esse ponto o ótimo caso narrado pela autora sobre a
visita do presidente John Kennedy à Nasa, durante a preparação da
missão espacial à lua. Ao perguntar a um funcionário que varria o
chão sobre o seu trabalho, ele ouviu como resposta: “Estou levando
o homem à lua”. Vivi experiência parecida visitando hospitais da
rede Sarah com sua presidente, dra. Lucia Willadino Braga.
Encantada com o atendimento dos funcionários e a limpeza
impecável das instalações, perguntei a ela como conseguiam
manter um padrão tão elevado em uma organização pública. A
resposta foi inspiradora – ela mesma faz o treinamento das equipes
prestadoras de serviços e os ensina que, na Rede Sarah, eles não
prestam serviços de limpeza ou de outra natureza, eles reabilitam
pessoas, cuidam da saúde dos pacientes. Portanto, todos são elos da
mesma cadeia para atingir um propósito de tanto impacto social.
Fiquei muito feliz com o convite para fazer o prefácio deste livro,
que conta a trajetória de uma companhia inovadora e seu
comprometimento em prover inteligência e metodologia para que
as organizações possam gerar mais impacto e mais valor, sendo, em
consequência, mais resilientes e duradouras. Ana tem uma
formação tão holística quanto a proposta de valor que a agência
entrega a seus clientes. É formada em Design, estudou
Antropologia (não sabia, mas sempre notei seu olhar antropológico
em diversas situações), Arte, Comunicação Visual, Branding e, por
fim, cursou a Harvard Business School.
Nós nos conhecemos há cerca de três décadas, o mesmo tempo
de vida da AC. Embora sempre tenha havido admiração e empatia
mútuas, a vida corrida, pessoal e profissional, nos deixou sem um
espaço de convivência regular por muitos anos, o que conseguimos
modificar recentemente, por meio de uma prática bem leve, o jogo
de biriba! No qual, aliás, ela também é craque. Com a maior
proximidade, pudemos afinar pontos de vista, somar opiniões e
conceitos e comprovar nossa sintonia em temas como gestão de
negócios, políticas públicas e outros tantos assuntos. Pude também
conhecer em mais detalhes o incrível trabalho de criação e gestão
de valor que a agência, fundada e liderada por ela, presta às
organizações. Fiquei tão encantada que, em 2022, Ana me
convidou para fazer a fala de abertura do evento de apresentação
do trabalho sobre o Branding Brasil, que mensurou a percepção
dos brasileiros sobre o Brasil e o valor que o país gera como marca.
Pronto, estava fisgada pelo tema do branding, multifacetado e
fascinante para alguém, como eu, com uma vida dedicada à gestão
de organizações públicas e privadas.
Ana nos ensina que, assim como as lideranças precisam “dar o
exemplo”, agindo de maneira condizente com seu discurso, também
as marcas precisam SER, FAZER e FALAR. O caso da Nike, um
entre os muitos relatos do livro, é emblemático ao apontar a
importância desse princípio. Após uma trajetória pioneira, ousada
e vitoriosa, em um certo momento, a empresa sofreu acusações de
uso de trabalho escravo, o que afetou de maneira significativa seu
valor de mercado e a fidelização dos consumidores. Após uma
primeira tentativa de “terceirizar” a responsabilidade, sob a
alegação de que as fábricas não eram suas, a Nike entendeu que era
preciso revisar seu modelo de negócios e ser, de fato, responsável
por toda a cadeia produtiva. Revendo seu posicionamento e
passando a praticar os conceitos que verbalizava, a empresa
retomou sua emblemática história de sucesso, continuando a ser
uma marca inspiradora e desejada.
Transpondo esses conceitos para o nosso país, a AC fez a
pioneira pesquisa sobre o Branding Brasil para avaliar os pontos
positivos e negativos do nosso país e o que devemos fazer para
superar os obstáculos. A motivação do trabalho foi a percepção de
que há um imenso valor a ser destravado no país, que não tem
nenhuma marca entre as cem mais valiosas do mundo. No Brasil,
qualidades como pluralidade, criatividade e resiliência são mais do
que compensadas pela falta de planejamento e visão estratégica, de
disciplina na execução de políticas, de métricas para aferição dos
planos de ação, pelo protecionismo sem critério e prazo de
vigência, pela baixa inovação e muitos outros aspectos, que
mostram o tamanho do nosso dever de casa e da nossa
oportunidade. A caminhada para a valorização global das marcas
brasileiras não será rápida nem simples, mas, certamente, será
facilitada pela atuação da Agência AC. Como diz a autora, somos
capazes de qualquer coisa quando nos unimos, e podemos
transformar potencialidade em realidade. Essa preocupação e essa
ambição estão no DNA da cultura da agência e direciona seus
projetos e atividades. Assim como nos ensina, a Agência Ana
Couto É, FAZ e FALA.
MARIA SILVIA BASTOS MARQUES
Economista e executiva
Introdução

No mundo hiperconectado de hoje, é dif ícil imaginar como


vivíamos sem a internet e suas inúmeras possibilidades. Consultar
a enciclopédia Barsa para um trabalho escolar parece tão antiquado
quanto enviar um fax para trocar informações. Outro tempo,
outras tecnologias. As conexões instantâneas proporcionadas pela
internet e especialmente por suas filhas mais notórias, as redes
sociais, abriram um universo de oportunidades e transformaram a
vida das pessoas.
E isso não foi diferente para as empresas. Os desafios de
construir valor em um mundo globalizado e amplamente
conectado vão além das fronteiras geográficas e demográficas, em
que marcas brasileiras passaram a ter total condição de competir
diretamente com gigantes globais. Antes da revolução digital,
começar um negócio do zero era muito dif ícil e burocrático. Hoje,
empreender se tornou mais acessível e relativamente simples. A
possibilidade de dar vida às suas ideias e colocar em prática os seus
sonhos empresariais está ao alcance de um público muito maior.
Por um lado, essa facilidade produziu um espantoso aumento do
número de novos empreendedores no Brasil e no mundo,
contribuindo enormemente para a pluralidade de vozes, produtos e
serviços disponíveis. Na esteira dessas transformações, temos a
nova economia chegando forte com startups virando unicórnios,2 e
investidores apostando em inovação. Por outro lado, formou-se um
verdadeiro rio de novos negócios que deságua em um mar de
outros já existentes.
Nesse cenário de competitividade cada vez mais acirrada, os
números revelam uma realidade preocupante: mais da metade das
empresas fecha as portas antes mesmo de completar cinco anos, e
uma grande parte delas não consegue superar sequer o primeiro
ano de atividade.3 Esses dados refletem a necessidade urgente de
estabelecer estratégias sólidas para garantir a sustentabilidade de
qualquer empresa. A chave para o sucesso de qualquer negócio está
em sua constante evolução.
Foi pensando nesse cenário que decidi escrever este livro, em um
esforço pessoal de ajudar a entender a importância do branding e o
modo como ele pode contribuir com as pessoas e empresas no
século XXI. Com esse objetivo em mente, nas páginas seguintes
vou revelar a metodologia que desenvolvi junto com meus sócios
ao longo de uma trajetória lidando com essa disciplina, para
mostrar onde estão as oportunidades e os perigos desse caminho.
Minha intenção aqui é oferecer uma visão holística do processo,
ampliando a perspectiva das estratégias e ações para a construção e
gestão de valor com as ferramentas do branding.
Nesses anos em que trabalhamos com diversos perfis de
diferentes de empresas, das familiares às holdings e estatais, foi
possível enxergar melhor as características de cada organização e
fazer uma distinção clara entre elas. Aprendemos que empresas
globais, como Coca-Cola, P&G, Unilever e Basf, são muito
disciplinadas no uso de metodologias de gestão de marca. No
entanto, grande parte dos clientes brasileiros não tem nenhuma
metodologia para fazer a gestão do intangível. É aí que o trabalho
de branding pode ajudar muito.
Desafiar a hegemonia de marcas globais é um dos grandes
desafios da agência Ana Couto. A brasilidade e o potencial que o
Brasil tem de ser relevante para o mundo são questões que me
acompanham e sempre pautaram a minha jornada profissional e
pessoal. Apesar de o Brasil figurar entre as quinze maiores
economias do planeta, não há nenhuma empresa brasileira entre as
cem mais valiosas em âmbito mundial segundo o ranking de valor
de marcas da Brand Finance.4 E entre as quinhentas mais valiosas
do mundo, temos somente três bancos brasileiros. Acredito
fortemente que podemos mudar essa história, trabalhando em
conjunto para construir marcas capazes de nos reposicionar nesse
ranking.
Quando comecei minha carreira na década de 1990, já havia me
formado em Design pela Pontif ícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (PUC-RJ), curso que fiz concomitantemente a dois anos
de Antropologia no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ). Minha
primeira incursão na vida de empreendedora aconteceu aos 20
anos, junto do meu querido amigo Giovanni Bianco, que tive a
sorte de conhecer nas aulas de arte do Parque Laje, no Rio de
Janeiro, e que hoje é reconhecido mundialmente pela genialidade
na direção artística de marcas internacionais de moda e de astros
pop, como Madonna e Anitta.
Depois de formada, decidi expandir meu conhecimento em
branding e voei para os Estados Unidos para um mestrado em
Visual Communication no Pratt Institute, em Nova York. Após
cinco anos nos EUA, exposta a um mercado muito competitivo e
globalizado, voltei ao Brasil em 1993 e assumi o desafio pessoal de
impulsionar o valor das pessoas e das organizações por meio da
visão mais ampla que viera comigo na bagagem. Queria ajudar
empresas a construir marcas fortes e potencializar seus negócios.
Com esse objetivo, trouxe a agência Ana Couto para o Brasil,
inicialmente focada apenas em oferecer serviços de Design.
Mas minha formação não parou por aí e, em 2008, parti para
uma especialização em Branding na Kellogg School of
Management. Em 2013, de novo, senti necessidade de
complementar minha visão de negócios e liderança, e iniciei um
curso no programa Owner/President Management (OPM), da
Harvard Business School, concluído em 2015.
Nessa trajetória que em 2023 completa trinta anos, posso olhar
para trás e reconhecer que valeu a pena. Nesses anos, evoluímos
não apenas nossos serviços muito além do design, mas também a
visão do branding, integrando estratégia de marca, negócio e
comunicação. Hoje, acompanhamos o cliente da estratégia ao plano
de execução. Conseguimos medir a eficácia das ações pelo
Valometry,5 ferramenta criada para medir a força da empresa e
identificar o que precisa ser priorizado a partir de dados do
consumidor.
Para reforçar nossa meta de impulsionar valor, em 2015
lançamos a plataforma de aprendizado Laje, na qual
compartilhamos conhecimento e fazemos mentoria de alunos e
pequenos negócios na aplicação de nosso método. Essa rica
experiência com diversidade de segmentos me permite afirmar que,
assim como aconteceu com a nossa agência, pequenas empresas
também podem crescer. Marcas como Natura, Itaú, Cosan,
Havaianas, entre muitas outras, são exemplos de organizações que
começaram pequenas e conquistaram reconhecimento global.
De todas as áreas de conhecimento, destaco na minha formação
e atuação profissional o estudo da Antropologia, por meio da qual
nos deparamos com a essência do branding e seu ingrediente mais
valioso e imprescindível: o próprio ser humano, com todos os seus
desejos, anseios, dilemas e suas peculiaridades fascinantes. Não à
toa, nosso mantra sempre foi: marcas são como pessoas. Às marcas
devem interessar todas as complexidades e os elementos que
compõem o mundo contemporâneo, o que obviamente inclui os
indivíduos e os seus comportamentos sociais, motivo pelo qual
podemos encontrar também na Sociologia outra poderosa aliada.
Dessas disciplinas, cujas matérias-primas são o ser humano e as
suas inúmeras maneiras de interação social, podemos extrair
informações baseadas em padrões e, com base em dados,
direcionar o branding. Somadas à minha formação e vivência no
mundo do Design e à minha paixão pelo mundo empreendedor,
essas ciências integradas me garantiram a base necessária para
construir projetos que vão além do campo puramente estético,
dando-me a oportunidade de incorporar elementos profundamente
humanos às estratégias que desenvolvemos para construir marcas
icônicas e narrativas envolventes.
Outro ponto que vou ressaltar neste livro é a importância do
pensamento estratégico, que sempre me orientou a entender os
desafios do mercado brasileiro de maneira estruturada e efetiva
para trazer o branding à pauta dos CEOs/líderes das organizações.
É desafiadora a empreitada de galgar essa agenda dentro das
empresas, em geral junto a uma maioria que ainda é de executivos
homens, alguns ainda arraigados a modelos de comando e controle
que costumam relegar essa temática a “gastos de marketing”, e não
entender o branding como “investimento na construção de valor”.
Mas acredito que abrimos a conversa e hoje contribuímos para
discussões profundas sobre como podemos ajudar na
transformação das organizações, integrando a disciplina de
branding na gestão do negócio.
Uma questão que influenciou a dinâmica das marcas é o modelo
de comunicação no Brasil, único do mundo, que remunera as
agências pela compra de mídia, levando muitas vezes às aplicações
desproporcionais de recursos financeiros. Esse modelo tradicional
criou certas distorções em que muitas vezes prevalece uma ideia
criativa, mas que não reforça nem a marca nem o negócio. Claro
que a comunicação digital transformou esse cenário e o orçamento
mudou de mãos, mas ainda temos gastos excessivos em publicidade
e que não têm uma visão estratégica de branding. E quando não há
mensagem coesa, muito valor – além de dinheiro – é desperdiçado.
Investir em branding não se trata somente de criar campanhas
publicitárias esporádicas, mas, sim, de construir uma relação de
confiança com os consumidores ao longo do tempo. Só assim se
alcança o sucesso sustentável das marcas. O foco deve estar na
construção de uma narrativa consistente e autêntica, para que sua
marca alcance o reconhecimento necessário, ajudando na
fidelização do cliente.
Não pense que o processo de valorização das marcas brasileiras
acontecerá de um dia para o outro. Entretanto, com ferramentas e
metodologia eficientes, será possível alcançar a visibilidade que
almejamos. Até porque a dificuldade de resistir em um mercado
cada vez mais competitivo não se restringe ao Brasil ou a pequenos
empreendedores. Não são raros os exemplos de grandes
corporações que encontraram mortes súbitas. Citarei neste livro
alguns casos clássicos de empresas que, em tempos passados, eram
líderes incontestáveis, mas que, por diferentes motivos, saíram do
mapa.
Os dados apresentados pelo índice S&P 5006 – um dos principais
indicadores do mercado de ações nos Estados Unidos, que lista as
quinhentas empresas mais valiosas da Bolsa de Valores de Nova
York – revelam que a taxa de mortalidade de empresas americanas
é igualmente elevada. Vale ressaltar que, para termos de
comparação, enquanto os EUA têm mais de seis mil empresas
listadas em bolsa, no Brasil não chega a quatrocentos o número de
empresas de capital aberto.
A alta taxa de mortalidade das empresas acaba reforçando a tese
do naturalista Charles Darwin sobre a evolução das espécies (aqui,
no caso, sobre a evolução das organizações) de que não são os
melhores, os mais fortes ou os mais inteligentes que sobrevivem,
mas, sim, aqueles com maior capacidade de adaptação.
Além da constante evolução dos modelos de negócio, que já traz
consigo uma complexidade crescente e irrefreável, existe também o
desafio da comunicação. Se antes as empresas tinham o controle
absoluto sobre a narrativa da sua marca, no mundo contemporâneo
tudo se tornou mais complexo, fluido e dinâmico com a revolução
tecnológica e o surgimento das redes sociais. O avanço da mídia
programática de performances mudou substancialmente o modo
de falar com o cliente, e trouxe também dados e métricas em
tempo real. São tempos líquidos, de alta volatilidade e rápida
transformação, diria o sociólogo Zygmunt Bauman.7
Como ponto de partida, é fundamental entender o que queremos
construir. Ter uma visão clara do objetivo quando lidamos com o
futuro de uma empresa é crucial para desenvolver uma estratégia
eficiente de branding. Todo empreendedor precisa ter como
horizonte a prerrogativa de fazer o seu negócio evoluir. Essa é a
premissa de qualquer estratégia. É como diz aquele velho ditado: o
lucro é como o oxigênio para um negócio; sem ele, não existe
empresa que resista. Mas não existimos somente para respirar. Se
estamos nessa condição, estamos no hospital precisando de
oxigênio.
Para se manterem relevantes, as organizações precisam, antes de
mais nada, encontrar a sua razão de existir a partir do seu maior
talento. Portanto, antes de sair tomando decisões que podem
comprometer ou apenas focar a saúde financeira de curto prazo do
seu negócio, é importante compreender o seu papel no mundo,
definindo quem você é como marca e aonde quer chegar em seu
mercado. Ou é provável que seu esforço se torne um desperdício de
energia e tempo.
O maior erro de um processo de branding é achar que ele se
reduz à definição de uma marca (logo de uma empresa). Muito
além do design, ele é um alinhamento de forças para convergir em
estratégias de marca, negócio e comunicação que ajude a
potencializar o sistema vivo que é uma corporação. É preciso criar
a “cultura de branding” treinando um olhar mais intencional. Ao
longo deste livro, vamos ver muitos casos nossos, globais e
brasileiros, de sucesso e de insucesso, para podermos aprender
com os exemplos. Falaremos da história dessa disciplina que vem
se tornando um GPS para as organizações, assim como de
processos e métodos que acreditamos ser essenciais para
trabalharmos de modo eficaz no sentido de impulsionar duas
palavras de lei: crescimento e valor. Vamos lá?
1
Os desafios da construção de valor

Leitores mais novos talvez não se lembrem, mas antes de


serviços de streaming como a Netflix invadirem as nossas casas,
uma empresa americana chamada Blockbuster se espalhava
depressa por todo o planeta, alugando filmes e videogames a seus
clientes. Os ventos pareciam soprar a favor da empresa, que em sua
época de ouro virou verdadeiro sinônimo de entretenimento em
casa. As pessoas visitavam suas lojas f ísicas em busca de diversão
em meio a uma vasta seleção de títulos. Um paraíso para cinéfilos e
gamers. A chegada da internet, no entanto, representou um ponto
de virada crítico para a empresa.
À medida que a internet foi se popularizando, tornando-se mais
rápida e acessível, os serviços de streaming se difundiram. A
Blockbuster, cujo modelo de negócio se amparava somente na
mídia f ísica desses produtos, não se adaptou a tempo. Diante da
conveniência de assistir a filmes e séries sem precisar sair de casa,
os consumidores mudaram mais uma vez seus hábitos de consumo
de entretenimento. Essa mudança de paradigma pegou a empresa
em cheio.
Por mais inacreditável que pareça, no ano 2000, a Blockbuster
teve a oportunidade de comprar a Netflix pelo valor, hoje módico
para o mercado, de 50 milhões de dólares (dezoito anos mais tarde,
a mesma empresa chegaria ao valor de mercado de 180 bilhões de
dólares), mas seu CEO não acreditou na proposta daquela empresa
digital e recusou a oferta.8 Diante da negativa de compra, a
estratégia que a Netflix adotou foi quebrar o modelo de negócio da
Blockbuster em três frentes: leveza de custos sem lojas próprias (a
Blockbuster contava então com a maior quantidade de lojas do
varejo americano); compreender a dor do consumidor na cobrança
de multa por atraso (o que representava uma receita forte para a
Blockbuster); além, é claro, de estar pronta para a era digital. Em
outras palavras, entender os detratores da proposta de valor
concorrente alavancou a Netflix.
A Blockbuster, que chegou a ter mais de nove mil lojas ao redor
do mundo e mais de oitenta mil funcionários, começou a acumular
dívidas e a perder clientes rapidamente. Foi assim que, em 2010, a
empresa entrou com pedido de falência, e suas lojas f ísicas
gradualmente fecharam. Hoje, a empresa praticamente não existe
mais, restando apenas uma unidade aberta nos EUA, funcionando
mais como modo de resistência e de certo fetichismo por essa
mídia já um pouco ultrapassada.9
Há muitos outros exemplos parecidos com esse na história das
grandes marcas e organizações. São empresas que não souberam se
adaptar e se manter relevantes para os seus consumidores, e
sucumbiram diante dos novos desafios. A Kodak é outro exemplo: a
empresa inventou a câmera fotográfica digital. Uma descoberta
desse tipo poderia ter revolucionado a história da organização – e a
isolado na vanguarda do mercado. A estratégia adotada pelos
executivos, porém, foi engavetar o projeto como modo de proteger
o seu negócio principal, que eram os filmes fotográficos. Essa
decisão quase custou a vida da empresa. Apesar de ser uma marca
icônica que nasceu em 1878, pioneira na ideia de tornar a fotografia
simples em um clique, e tão popular como uma caneta, não
respondeu às mudanças de contexto e quase levou tudo a perder.10

O PODER DAS REDES SOCIAIS DE ALAVANCAR OU DESTRUIR UM


NEGÓCIO
Entre as mudanças mais disruptivas que testemunhamos na
história, a internet está entre as mais impactantes. Ela
revolucionou a maneira como nos comunicamos e percebemos o
mundo. Embora tenha transformado profundamente todas as
esferas da vida (desde um chá de bebê da amiga até uma complexa
cirurgia no cérebro), seu efeito na comunicação foi ainda mais
extraordinário, superando em muito as tradicionais transmissões
de informações, como jornais, rádio e televisão – ou mesmo os
filmes e games que a Blockbuster alugava.
A capacidade de trocar informações em tempo real encurtou
distâncias e criou oportunidades para a colaboração global,
transformando profundamente a maneira como nos relacionamos e
interagimos com o mundo. As redes sociais deram às pessoas,
principalmente aos consumidores, o poder de construir ou destruir
marcas. Então a máxima do consumer driven, que sugere às
organizações colocar o consumidor no centro das decisões, passa a
ser mais verdadeira do que nunca.
Um caso emblemático que ilustra bem essa história aconteceu
em 2008, quando as empresas ainda não entendiam muito bem o
poder das redes sociais. Foi quando a United Airlines queimou 2,5
bilhões de reais do valor de marca em quatro dias. Das gafes
corporativas que a United já cometeu com seus clientes, essa talvez
tenha sido a mais memorável: o músico canadense Dave Carroll
teve a sua guitarra quebrada durante uma viagem com a
companhia, que se recusou a indenizá-lo. Após quase um ano de
reclamações, ele compôs a música “United Breaks Guitars” (em
português, “United quebra violões”)11 e produziu um videoclipe
para registrar sua insatisfação.12
O vídeo teve cerca de 5,7 milhões de acessos, ajudou a divulgar
pelo mundo as reclamações de Dave e sua banda, a Sons of
Maxwell, e ainda se reverteu em atenção e ofertas de ressarcimento
por parte da companhia aérea. “United, você quebrou meu violão
Taylor. Você quebrou, você devia consertar”, lamenta Carroll nos
versos da canção. Como consequência dessa má gestão de crise,
avalia-se que a quebra de confiança pelas pessoas na marca
representou uma perda de 15% de valor da United nesse curto
período. Um golpe considerável. Com certeza a compra de uma
guitarra nova para Dave teria saído mais barato do que esse strike
nas redes.

QUANDO O PRODUTO É UMA CELEBRIDADE-FURACÃO


Ainda mais impressionante do que os números de vendas de seus
empreendimentos, a cantora Rihanna é um dos mais emblemáticos
exemplos de celebridade que sabe construir o próprio branding,
promovendo, como poucos, a si mesma, assumindo riscos, sendo
fiel a seus valores e, o mais importante, fazendo ótimos produtos.
Além da bem-sucedida carreira como cantora, a artista também é
um furacão nos negócios.
No Super Bowl de 2023, a cantora voltou aos palcos depois de
uma pausa de cinco anos e aproveitou a enorme visibilidade para
promover suas marcas e anunciar a gravidez do segundo filho.
Durante a apresentação de treze minutos, cantou vários hits de sua
carreira e, é claro, viu no evento uma grande oportunidade de
divulgação. Depois do show, a artista teve alta de 390% nas vendas
digitais em geral e de 211% nos streams. Além disso, ganhou mais 3
milhões de seguidores no Instagram e as buscas por sua marca de
cosméticos, a Fenty Beauty, cresceram 833% após a cantora exibir
um espelho compacto para retocar a maquiagem durante o show.
No mesmo evento, aproveitou também para expor a nova coleção
da sua recém-lançada linha de lingeries, a Savage X Fenty.
Entre tantas qualidades, além do senso de oportunidade e
estratégia, essa capacidade de conexão que a Rihanna tem de criar
com o seu público é um dos seus grandes fatores de sucesso. Em
sua abordagem de marketing próxima e inclusiva, baseada em
“mais ação, menos discurso”, nas mídias sociais, o time criativo das
marcas prioriza e se envolve em uma conversa diária com a sua
comunidade e faz isso do melhor jeito possível: compartilhando
histórias reais que tenham raízes na cultura e que sejam
emocionalmente valiosas para seus consumidores. Rihanna, a
grande imagem e personalidade por trás das marcas, usa as redes
sociais de maneira próxima e autêntica para gerar inspiração e
aspiração. Acredito que seja hoje um dos melhores exemplos do
poder do bom uso das mídias digitais aliado a uma ótima entrega
de custo-benef ício.
Com as redes sociais, a possibilidade de falar, conversar e
entender o que o seu consumidor quer ficou muito mais acessível
para todos. Investir em mídia digital disponibilizada pelo Google
e/ou Meta ajuda a entender melhor os consumidores, testar e
vender seus produtos, e comunicar de maneira mais efetiva e
barata, além de poder medir o retorno e direcionar os
investimentos em tempo real. O jogo mudou radicalmente: da
hegemonia da comunicação de massa somente para anunciantes
com grandes orçamentos de mídia, para a liberdade de falar
diretamente com as pessoas, abrindo a possibilidade da conquista
de uma base fiel de seguidores.
Na era digital, a comunicação empresarial enfrenta desafios sem
precedentes, uma vez que as empresas não detêm mais o controle
absoluto da narrativa de suas marcas. Esse cenário é consequência
do avanço exponencial das redes sociais, da mídia programática e
de novas tecnologias que transformaram o modo como os
produtos e serviços são disseminados e consumidos. As redes
sociais possibilitaram que consumidores e usuários assumissem um
papel ativo na construção da reputação das empresas, por meio de
avaliações, comentários e compartilhamento, e decisão de compra.
Novos formatos de comunicação, que ganharam o nome de
growth marketing (marketing de crescimento), passaram a
demandar de seus gestores conhecimentos cada vez mais
específicos. Esforços somente focados em performance digital têm
o risco de cair em formato push sale, bombardeando seu
consumidor para empurrar as vendas, sem construir um
relacionamento fiel. Conjugar esforços de performance digital com
branding é um equilíbrio importante a ser ajustado para atrair
clientes de maneira mais dinâmica e econômica. Assim, o papel do
CMO (Chief Marketing Officer) passa a ser também o de
responsável pelo crescimento da organização. Os orçamentos de
marketing, que muitas vezes são considerados supérfluos e antes
eram os primeiros a ser cortados em tempos dif íceis, agora são
vistos como centrais para o negócio crescer com valor.
Dentro dessa conversa, aparecem importantes atores para
compor o tabuleiro das marcas: os influenciadores digitais. Em um
passado não muito distante, a influência sobre tendências, hábitos
de consumo e estilo de vida eram restritos a um pequeno grupo
vinculado às grandes mídias: as estrelas da novela, artistas com
contratos milionários e famílias tradicionais e influentes. Hoje,
tanto pela cultura dos memes quanto pela pluralidade de vozes que
emergem das redes sociais, qualquer pessoa pode se tornar um
influenciador. Tudo isso, é claro, impulsionado pelas marcas.
Esse mundo novo é também muito desafiador. Essa aposta em
personalidades com milhões de seguidores mexeu não somente na
dinâmica dos orçamentos de comunicação, mas também nos
territórios e no papel social das marcas. Se, por um lado, a
associação com influenciadores é muito potente para ampliar o
impacto, aproximar e reforçar a personalidade de uma marca; por
outro, é preciso saber bem dos riscos e das potencialidades desse
esforço, pois não controlamos personagens midiáticos. O Brasil é o
país que mais investe nesse tipo de divulgação no mundo, e os
principais benef ícios e consequências dessa nova relação muitas
vezes são aprendidos com a bola em jogo (assim como as regras,
que ainda estão sendo desenhadas).
Em sociedades cada vez mais polarizadas, tomar uma posição
sobre questões sensíveis pode atrair tanto admiradores como
críticos. Empresas que se envolvem em debates polêmicos correm
o risco de alienar parte do seu público e sofrer boicotes ou críticas
severas. No entanto, ficar em cima do muro, não se posicionando,
também pode ser arriscado, já que os consumidores querem
marcas de posicionamento claro e autêntico.

CO-BRANDING COM A PERSONALIDADE CERTA. ADIDAS


APRENDENDO COM AS SUAS APOSTAS
Um caso que ilustra a relevância do posicionamento de uma
marca é o da Adidas, que recentemente passou por uma situação
delicada envolvendo sua parceria com o rapper Ye – ex-Kanye
West. Após uma série de tuítes antissemitas por parte do artista, a
Adidas decidiu cortar relações, deixando a empresa com um
estoque considerável de tênis da linha Yeezy. Diante desse cenário,
a Adidas enfrentou um dilema: o que fazer com os milhões de pares
de tênis em estoque? A destruição dos produtos foi descartada, o
CEO da empresa, Björn Gulden, afirmou que “queimar o estoque”
não seria uma solução e simplesmente descartar os produtos
também não faria sentido.
A solução encontrada pela empresa foi vender o estoque
remanescente dos tênis Yeezy e doar os lucros. O rompimento da
parceria com o rapper representou uma perda significativa para a
Adidas, estimada em cerca de 1,31 bilhão de dólares em receita
anual. A marca esportiva agora está buscando maneiras de
aprimorar a gestão de suas parcerias e minimizar o risco de
comportamentos inadequados por parte de seus parceiros. Além
disso, a empresa está empenhada em melhorar as condições de
trabalho, reforçando seu compromisso com a responsabilidade
social corporativa.
Por outro lado, podemos citar em contraponto um caso de
grande sucesso de uma marca brasileira que fez parceria com a
mesma Adidas: a florida Farm, linha de roupas femininas que está
conquistando o mundo. Cansada de usar roupas sérias e caretas no
mundo corporativo, a estilista Katia Barros, sua fundadora,
sonhava com algo que carregasse o estilo de vida da menina carioca
que ela sempre foi: descolada e casual, refletindo charme nas
estampas e cores. Para garantir a autenticidade criativa, a marca
montou um espaço de trabalho que é uma espécie de mundo
encantado do espírito jovem, recrutando também para seu time
criativo de estilistas meninas que representam a personalidade da
marca.
Resumindo: a Farm virou uma referência tão forte com suas
lojas, estampas e vendedoras, que em pouco tempo expandiu pelo
Brasil todo. Nessa conquista de territórios, fez um movimento
audacioso propondo à Adidas um co-branding. Essa linha
desenvolvida com as roupas igualmente descoladas da marca
esportiva com estampas da marca carioca é hoje a linha de parceria
da Adidas que mais vende no mundo. Segundo Marcelo Bastos,
CEO e sócio da Farm,13 50% da receita atualmente já vem da
expansão global. A empresa faz parte do Grupo Soma, que
representa hoje muitas marcas de moda. Uma organização que
sabe o poder do branding.
A postura das marcas em relação a seus valores e objetivos tem
se tornado cada vez mais importante na construção de uma
identidade forte e na conexão com os consumidores. No contexto
atual, de cidadãos mais conscientes e exigentes, a maneira como as
empresas se colocam pode ter impacto significativo sobre o
negócio.

A COERÊNCIA DA APPLE É O MAIOR SUCESSO NA EVOLUÇÃO DA


MARCA
O que fica claro com esses exemplos é que as mudanças no
comportamento do consumidor são um dos principais fatores que
impulsionam a necessidade de adaptação. As preferências,
expectativas e os valores dos clientes estão em constante evolução,
estimulados por novas tecnologias, tendências culturais e questões
sociais e climáticas emergentes. Aqui podemos resgatar um grande
e conhecido mestre da área de tecnologia que simplesmente
construiu do zero a marca mais valiosa do planeta. Desde o início,
guiou sua empresa com uma coerência absurda, pautada na
expressão “desafie o status quo”. Com essa visão clara, a adoção de
um logotipo em formato de maçã mordida é coerente com sua
estratégia. A comunicação reforçada pela tagline “Pense diferente”
reflete muito bem seu posicionamento.
O nome do protagonista dessa história ainda não foi citado, mas
você já sabe quem é. Steve Jobs conta que um curso de Tipografia
foi transformador na sua formação. Ali, ele pôde entender a
potência de um design único e seamless, isto é, pensado nos
mínimos detalhes com todo cuidado para ser perfeito e integrado
não apenas no visual, mas também na usabilidade de seus
produtos. Assim, a Apple traz uma coerência incrível na proposta
de valor, percebida em todos os seus pontos de contato como
produtos, lojas, embalagens e campanhas. Seu design único e
narrativa coesa fazem o negócio crescer com muita diferenciação e
propriedades visuais.
A jornada da Apple,14 centrada na disciplina do branding,
transformou uma empresa especializada em computadores – o
primeiro Macintosh foi lançado por ela em 1984 –, em uma oferta
superabrangente, que engloba desde dispositivos iPod e iPhone,
iTunes até a plataforma de streaming Apple+. No ano de 2023, o
valor de mercado da empresa chegou a 3 trilhões de dólares na
Nasdaq (bolsa de valores de ações de tecnologia nos EUA). A
empresa é a única a ter alcançado esse valor, que chega a ser maior
que o PIB de quase todos os países do mundo, com exceção de seis
deles: Estados Unidos, China, Índia, Japão, Alemanha e Reino
Unido, cujo PIB ficou acima de 3 trilhões de dólares em 2022,
segundo levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI).15
Inclusive o Brasil, que ocupava a 12a posição na lista dos países
mais ricos do mundo, com um PIB de 1,92 trilhão de dólares em
2022.16
Na receita do mestre Steve Jobs, coerência do branding com
inovação constante é a mistura perfeita de ingredientes para
atravessar gerações com uma marca de sucesso.

RESULTADO A QUALQUER CUSTO NEM SEMPRE TRAZ O MELHOR


RESULTADO
Precisamos estar atentos à criação de negócios cujo único foco é
o resultado financeiro. Uma referência de gestão no capitalismo
brasileiro para outros empresários foi o grupo 3G, que trouxe para
as empresas do país valores como ambição, sonho grande,
disciplina de execução, foco em gestão de custos e a atitude de
dono para colaboradores. Empresas globais, como a Imbev,
surgiram desse trio de gestores que compraram grandes marcas
globais como a Budweiser, nos EUA, e no Brasil a Ambev é um
exemplo de sucesso. Para muitos clientes com quem trabalhamos, a
cultura 3G virou mantra e muitas conquistas vieram desse novo
jeito de desenvolver a cultura do time muito focado na execução.
Porém muita coisa mudou de rumo, e a própria rede das Lojas
Americanas, também investida do grupo, acabou bebendo do seu
próprio veneno, como veremos mais a seguir.
Um exemplo emblemático de estratégia focada exclusivamente
em resultado foi o conhecido “dieselgate” – grande escândalo que
ocorreu entre 2009 e 2015, envolvendo o impacto de poluentes dos
motores da Volkswagen.17 O mais curioso e desalinhado dessa
história é que em 2011 a empresa lançou a campanha “Think Blue”,
que traduzia toda sua ambição de ser uma empresa sustentável e
convidava os consumidores a participarem de uma mobilidade
mais ecológica.
Durante esse período, com o intuito de passar em testes
regulatórios, a montadora empregou várias técnicas fraudulentas
para reduzir as emissões de dióxido de carbono e óxido de
nitrogênio em alguns de seus motores a diesel e gasolina. Em 18 de
setembro de 2015, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos emitiu um aviso à Volkswagen por violação da Lei Clean
Air Act, que regula as emissões de poluentes nos Estados Unidos.
Ficou constatado que a Volkswagen havia programado
intencionalmente a injeção eletrônica dos carros a diesel para ativar
determinados controles de emissões apenas durante os testes.
No entanto, no mundo real, com os controles desativados, os
carros passavam a emitir até quarenta vezes mais óxido de
nitrogênio. A Volkswagen instalou esse programa em cerca de 11
milhões de veículos em todo o mundo, incluindo meio milhão nos
Estados Unidos, abrangendo modelos fabricados entre 2009 e 2015.
A partir de 2016, a montadora começou a convocar os
proprietários dos veículos afetados para reformular os carros com a
solução agora aprovada pelos órgãos reguladores na Europa. No
entanto, muitos clientes reclamaram de diversas alterações após
essa intervenção, incluindo um aumento no consumo de
combustível, perda de potência e aumento do ruído do motor.
Além disso, alguns consumidores relataram problemas mecânicos e
erros no computador de bordo, entre outros. Diante desse cenário,
milhares de clientes de vários países que se sentiram prejudicados
pelo grupo Volkswagen começaram a se organizar, criando grupos
nas redes sociais para trocar informações e elaborar estratégias
para enfrentar a montadora.
Em 2015, a Volkswagen enfrentou graves consequências
financeiras e de reputação. As ações da empresa despencaram 19%
em três dias, resultando em perdas acumuladas da ordem de 25
bilhões de euros devido ao “dieselgate”. Além disso, o CEO global
da empresa pediu demissão. No Brasil, o Departamento de
Proteção ao Consumidor concluiu um processo administrativo
contra a Volkswagen, impondo uma multa de 7,2 milhões de reais,
sendo essa a terceira penalização da montadora no país. Mais um
exemplo da importância de walk the talk, ou seja, da coerência de
que ser, fazer e falar é mais verdadeira do que nunca.
Outro capítulo mais recente na história das corporações foi o
caso da Americanas.18 Marca querida do varejo brasileira, com
história de quase um século, teve ajuda da nossa agência em
diferentes desafios de branding. Como exemplo de gestão
espartana, influenciou muitas organizações brasileiras com seus
valores de ambição, foco em execução e principalmente em
resultado. Sua gestão, porém, priorizava a remuneração dos
acionistas e executivos, muitas vezes em detrimento do foco no
consumidor e de seus fornecedores. Com ênfase excessiva em
resultados de curto prazo, apesar de ter sido pioneira em muitas
inovações digitais que a fizeram crescer enormemente, seu modelo
não se provou sustentável.
Mesmo sendo uma marca centenária, a liderança das
Americanas bebeu do próprio veneno e tropeçou na governança
corporativa, deixando seus executivos burlarem balanços para
falsos resultados – o que acabou desembocando na derrocada das
ações dessa empresa, acusação de fraude e no pedido de
recuperação judicial a que assistimos no início de 2023.
As empresas que conseguem criar uma atitude win, win,win, em
que o ganho de todos os envolvidos – colaboradores, parceiros,
fornecedores e comunidades locais – está sendo priorizado,
tendem a estabelecer relacionamentos mais fortes e duradouros.
Atender as demandas do ecossistema ao seu redor pode abrir
portas para novas oportunidades de negócio e crescimento.

É POSSÍVEL FICAR EM CIMA DO MURO NA DISCUSSÃO SOCIAL?


Mais um exemplo triste: o patrocínio da Bud Light a uma
postagem no Instagram da influenciadora Dylan Mulvaney. Em
abril de 2023, ela recebeu da Bud Light uma latinha exclusiva
celebrando um ano da sua transição de gênero. Esse post
desencadeou uma tempestade de reações transfóbicas e apelos por
boicote por parte dos consumidores da marca de cerveja,
predominantemente associada a padrões de masculinidade norte-
americana Em resposta, a empresa divulgou uma declaração vaga
do CEO, que não ofereceu apoio a Mulvaney ou à comunidade
trans, o que acabou gerando uma comoção e uma crise muito
maior para a empresa.
Além de ter tido rebaixada a sua classificação máxima em
igualdade LGBTQIA+, de acordo com a imprensa internacional, a
Bud Light teria perdido cerca de 5 bilhões de dólares em valor de
mercado desde o início da crise de imagem. Esse caso evidencia os
desafios de lidar com situações que colocam à prova seus valores e
seu propósito. A gestão das parcerias e a postura frente a
comportamentos inadequados se tornaram questões fundamentais
para as empresas, não apenas como uma preocupação ética, mas
também como um fator que pode impactar os resultados
financeiros e a imagem da marca.
Por outro lado, talvez o melhor exemplo de coerência de uma
organização cujas ações se baseiam em uma postura clara e bem
definida seja o da multinacional americana Starbucks. Acredito que
todos já passaram pela experiência de comprar um café em uma
das lojas dessa rede, que conta com a maior cadeia de cafeterias do
mundo. Funciona da seguinte maneira: o atendente pergunta pelo
nome do cliente, anota no copo de café e, depois de pronto o
pedido, chama as pessoas por seus nomes.
Pautada nessa tradição de personalizar o atendimento ao
público, em 2014, a cafeteria promoveu uma campanha nos
Estados Unidos em que duas drag queens, Bianca Del Rio e Adore
Delano,19 se encontram na fila da Starbucks aguardando o seu
pedido.20 Quando prontos, os cafés são entregues às duas ao
mesmo tempo, com os nomes estampados nos copos. A ideia que a
propaganda passa é de que no espaço da Starbucks, pelo menos,
todos podem assumir o nome com que mais se identificam, em um
ambiente de respeito à diversidade. Para o público conservador,
porém, aquela propaganda era uma afronta aos valores que
defendiam, e iniciou-se um movimento de boicote à Starbucks. No
entanto, o CEO da empresa, em atitude bastante corajosa, saiu em
defesa da campanha e deixou claro que aqueles que não estivessem
alinhados com os valores da empresa poderiam deixar de consumir
seus produtos e incentivou investidores a venderem suas ações.
Surpreendentemente, as ações subiram, e a empresa continuou a
reforçar essa postura na comunicação. Isso apenas demonstra a
coerência e a firmeza da marca em relação aos seus princípios.
E a Starbucks não parou por aí. Voltando à defesa da diversidade,
a marca lançou outra campanha no Reino Unido – empreitada esta,
aliás, que venceu o prêmio de diversidade na publicidade em 2019.
A propaganda, chamada What’s your name?, ilustra a história da
transição de uma pessoa transgênero justamente através de seu
nome. O jovem retratado na propaganda é constantemente
desafiado quando as pessoas insistem em chamá-lo por seu nome
de nascimento, “Jemma Miller”, mesmo durante a sua transição. É
visível que o jovem se sente incomodado ouvindo aquele nome
feminino que ele tanto deseja abandonar. Mas tudo muda de figura
quando ele vai à Starbucks e pede um café. Nesse momento, o
barista anota o nome “James” em seu copo de café e chama-o pelo
nome escolhido.
É uma cena comovente e contundente que mostra o poder que a
inclusão tem na vida das pessoas. Diante da realidade dos anúncios
de televisão no mundo, em que apenas 0,3% apresentam uma
pessoa transgênero, essa iniciativa quebra paradigmas relevantes
para pessoas da comunidade LGBTQIA+ e se mostra coerente com
o propósito da Starbucks.
Ambos os casos, tanto o da Bud Light, tentando apagar um
incêndio que ela mesma criou sem firmeza para se posicionar,
quanto o da bem-sucedida campanha da rede de cafés, são uma
prova de como é importante as organizações se posicionarem. Os
valores são os princípios e as crenças que guiam a empresa em suas
ações e decisões. Eles representam o que a marca significa e como
constrói relevância para as pessoas. Aprendemos com esses casos
que é importante mapear os riscos e as consequências de ações que
mexem com valores das marcas, sobretudo quando não são
verdadeiras.

COMO NAVEGAR NO MUNDO VUCA – VOLÁTIL, INCERTO,


COMPLEXO E AMBÍGUO
Já sabemos que toda organização contemporânea que deseja usar
seu talento para ir além da simples venda de produtos deve ter o
firme propósito de criar impacto positivo no mundo. Mas que
mundo é esse?
Criado pelo exército americano para descrever possíveis cenários
e contextos de guerra, o termo VUCA21 surgiu na década de 1990
para definir o ambiente global do século. A definição, rapidamente
assimilada pelas cartilhas de treinamento do mundo corporativo,
inspirou as empresas a fazerem planos de contingência para agir de
acordo com cada situação. Afinal, nesse âmbito, a capacidade de
uma organização evoluir se tornou uma questão central para sua
sobrevivência e relevância no mercado.
O mundo VUCA é ainda hoje uma realidade a que todas as
organizações precisam se adaptar, respondendo com agilidade às
mudanças e desafios que ele impõe. Mas, para isso, é fundamental
ter total clareza do que suas marcas representam e que papel
desempenham na sociedade a que pertencem. Afinal, a relevância
das marcas está no modo como elas se relacionam com seu
ecossistema, e não só na maneira como se vendem. Ainda que hoje
essa correlação seja cada vez mais clara e inconfundível.
Uma postura consistente é essencial para estabelecer a confiança
dos colaboradores, investidores e consumidores. Quando uma
marca se mostra autêntica e coerente em suas ações, ela fortalece
sua imagem e constrói relacionamentos duradouros com seu
público, gerando a tão importante fidelização. Por outro lado,
quando não mantém a coerência, corre o risco de ser percebida
como falsa, oportunista ou desinteressada das preocupações reais
dos consumidores. Isso pode levar à perda de confiança, a uma
crise de reputação e, consequentemente, a resultados financeiros
negativos. Tudo o que ninguém quer.

TAKE AWAYS – CAPÍTULO 1


Fique atento às mudanças de mercado e seja o primeiro a
percebê-las. Se alguém canibalizar seu negócio, que seja você
mesmo. Todo modelo de negócio precisa evoluir com o
contexto.
As organizações que não se ajustarem para permanecer
relevantes acabarão sucumbindo.
Não minimize o poder das redes sociais, elas podem ser uma
alavanca ou uma bomba-relógio.
Co-branding pode dar muito certo ou muito errado; por isso,
pense bem se as marcas têm a mesma visão de mundo.
A alteração nos padrões de consumo é um dos principais
motivos que impulsionam a necessidade de adaptação.
Aceite a realidade do mundo VUCA – volátil, incerto, complexo
e ambíguo.
Aprenda a construir um vínculo forte com seu consumidor,
afinal ele é fiel à necessidade dele, e não ao seu negócio.
Negócios obcecados somente por resultados financeiros não
evoluem bem.
Coerência com valores e propósito paga bons dividendos.
2
A história do branding e a evolução do
capitalismo no século XXI

Já faz bastante tempo que convivemos com o branding. Claro


que ele nem sempre foi reconhecido com esse nome, mas os
princípios dessa disciplina estão enraizados no nosso dia a dia há
milênios. Podemos perceber sua presença em muitos momentos da
história humana, e alguns desses períodos foram especialmente
marcantes para o seu desenvolvimento. Esses eventos refletem
também a transformação que a própria sociedade sofreu, assim
como a mudança no modo como nos relacionamos.
A origem do termo branding está na língua inglesa e deriva da
palavra brand, que em português significa marca. A etimologia
dessa palavra, por sua vez, nos revela que suas raízes são bem mais
antigas e, de certo modo, até um pouco inusitadas. Originalmente,
a palavra brand referia-se ao ato de marcar animais com um ferro
em brasa para identificá-los como pertencentes a um determinado
proprietário.22 Dá para entender a correlação com a concepção que
temos hoje de uma marca que indica a procedência de um produto.
Pouco tempo depois, esse conceito acabou estendido também às
atividades comerciais, em que as marcas eram utilizadas para
identificar a origem e a qualidade dos produtos.
O conceito de branding, como o conhecemos hoje, surgiu da
necessidade de desenvolver estratégias e práticas para gerenciar e
promover marcas de maneira eficaz no mercado. Ficou claro que a
simples criação de um produto ou serviço já não era suficiente para
se destacar. Era preciso ir além. E foi assim que o branding surgiu
como um instrumento para viabilizar a criação de uma identidade
única para as marcas, tornando-as capazes de transmitir seus
valores, suas crenças e aquilo que as diferencia dos concorrentes –
isso tudo difundido de modo intencional e estimulante para os
consumidores.
Foi assim, grosso modo, que o branding acabou se consolidando
como uma disciplina essencial na construção de valor para uma
organização. Desde então, é ele o responsável direto por construir e
fortalecer a reputação das marcas. Claro que, em seu início, as
estratégias adotadas não eram tão sistematizadas e bem
estabelecidas como são hoje. Para chegar até os dias atuais, essa
disciplina passou por muitas modificações e foi se adequando ao
contexto do mundo.
Este livro pretende expandir ainda mais o papel do branding
como uma disciplina que vai além da criação ou mudança de
marca, quando chamamos de rebranding. Vamos entender melhor
como, ao longo desses trinta anos, conseguimos evoluir o método
integrando e expandindo seu conceito para a melhor “gestão de
valor”.

O BRANDING PRÉ-HISTÓRICO DOS NOSSOS ANTEPASSADOS


O Parque Nacional Serra da Capivara, no estado do Piauí,
impressiona qualquer turista cosmopolita. Os vales esculpidos pela
ação do tempo e de forças geológicas surgem soberanos em meio
ao tapete verde de árvores e vegetação rasteira. A indiscutível
beleza desse lugar, no entanto, não é o que mais chama atenção de
quem visita o parque. O grande atrativo são as pinturas rupestres
que se espalham pelas paredes rochosas. Trata-se, na verdade, do
maior acervo de pinturas desse tipo do planeta.23
As cenas eternizadas nos paredões indicam não só a necessidade
de nossos antepassados de registrar a história de seu cotidiano, são
talvez os primeiros indícios de símbolos criados pelos humanos.
Muitos pesquisadores acreditam que boa parte das pinturas
possam ter um caráter ritualístico ou mágico, associado a crenças e
mitos desses povos ancestrais.
Se olharmos para trás em busca de um momento específico em
que o branding teria nascido, notamos que, na verdade, a biografia
dessa disciplina está bastante ligada à história da própria sociedade.
Em uma análise mais antropológica, é possível afirmar que ele
sempre existiu. Nesse contexto eram as primeiras formas de
linguagem visual. A criação de símbolos que carregam significados,
por exemplo, é de certa maneira a essência do branding – e as
pinturas do Parque Nacional Serra da Capivara são uma bela
amostra.
O mesmo fenômeno acontece em rituais e cerimônias religiosas,
tão comuns na história da sociedade humana: ali também podemos
encontrar elementos do branding. O que essas ocasiões propõem,
afinal, é justamente uma experiência singular e repleta de
significados que extrapolam os ritos em si e abrangem narrativas
que, desde tempos imemoriais, participam da história humana.
A Igreja Católica é um bom exemplo. Empregando metodologias
hoje comuns ao branding, essa antiga instituição acabou resistindo
ao tempo e chegando até os nossos dias com muita força. Não à
toa, a Bíblia Sagrada é o livro mais vendido na história, com mais
de 5 bilhões de cópias compradas. Um olhar mais atento às
cerimônias religiosas vai revelar o uso de objetos que representam
significados profundos e diversos. Podemos tomar como exemplo a
cruz, tão importante para a narrativa católica, que funciona como
um símbolo de complexas e ricas histórias a respeito de Jesus
Cristo e seus apóstolos. Além do símbolo da cruz, inúmeros outros
signos abundam no catolicismo: incenso, cantos, hóstia, vinho,
velas e arquitetura das igrejas. É praticamente um mergulho em
simbologias e narrativas.
Desse ponto de vista, podemos afirmar que nós, humanos,
criamos símbolos carregados de significados das coisas que nos
cercam e das experiências que vivenciamos no coletivo. Desde
tempos remotos, nossos ancestrais utilizavam símbolos para
expressar suas crenças, seus valores e identidade, uma maneira
criativa de singularizar e atribuir valor à própria existência,
gerando um senso de pertencimento a grupos sociais. Sem isso, é
até mesmo dif ícil pensar a sociedade moderna, na qual
transbordam alegorias e narrativas para explicar e interagir com o
mundo. O branding, no fim das contas, funciona como a
sistematização desse processo que, de certa maneira, acompanhou
os grandes momentos da evolução da nossa história.
Proponho, a partir daqui, um sobrevoo para entender momentos
importantes que ainda estão presentes na sociedade de hoje. Como
somos fruto dessa longa jornada, podemos perceber temáticas e
símbolos que continuam muito presentes: discussões sobre
estética, beleza, democracia, religiões, enfim, temos muito caldo.

O BRANDING NOS GRANDES CICLOS DA HISTÓRIA DA


HUMANIDADE

Agricultura: a primeira grande guinada


O início da agricultura é um grande passo na história da
evolução humana. Essa mudança paradigmática ocorreu entre dez
e doze mil anos atrás, durante o período conhecido como
Revolução Neolítica. Essa fase de transição acabou moldando a
sociedade como a conhecemos hoje. Um passo enorme em um
período da nossa história, marcado principalmente pelo abandono
da condição de nômades: foi nesse momento que os nossos
ancestrais fixaram residência nos locais mais adequados ao plantio
e à coleta de alimentos. Ficava para trás a peregrinação diária.
Com o surgimento da agricultura e da domesticação de animais,
nossos antepassados estabeleceram assentamentos permanentes, o
que possibilitou o desenvolvimento de comunidades mais
estruturadas e complexas. Como consequência colateral dessa
transição para a agricultura, surgiu uma divisão mais complexa do
trabalho, com o desenvolvimento de diferentes habilidades e
especializações entre os membros da comunidade. Apareceram os
primeiros agricultores, artesãos, líderes, sacerdotes e guerreiros,
cada um desempenhando um papel crucial na sustentação da
comunidade. Podemos discorrer sobre inúmeras civilizações que
expandiram suas culturas por meio de sistemas de crenças,
artefatos culturais que permanecem fortes e presentes.
Nessa história contínua e densa de significados, podemos traçar
o fio condutor de muitos aspectos culturais que mesmo hoje
permeiam nossa civilização. Muitos dos debates ainda em voga no
mundo ocidental têm suas origens em épocas remotas anteriores a
Cristo, como o conceito de democracia, surgido na Grécia; assim
como pensamentos filosóficos, artísticos e culturais, que englobam
desde a estética do belo em corpos perfeitos até o papel secundário
da mulher na sociedade, designada como a guardiã do fogo sagrado
restrito à casa.
Podemos também mergulhar na formação de diversas culturas,
identidades e valores de muitos países ou cidades. Tive a
oportunidade de ir recentemente ao Peru, onde a presença da
cultura Inca é impressionante. Desde o idioma quíchua, que junto
com o espanhol e o aimará formam a língua oficial do Peru e da
Bolívia, aos artefatos artesanais e à alimentação, com seus mais
diversos tipos de milhos e batatas, frutos da civilização que viveu
naquela região. É ainda exuberante a riqueza cultural que traz valor
para esse país em tantas dimensões, hoje ressignificada em
diferentes esferas da cultura como a culinária, que é
reconhecidamente uma das melhores do mundo.
A razão do meu interesse por Antropologia, porém, foi uma
visita ainda muito jovem ao Museu Nacional de Antropologia do
México e o fascínio que aquele espaço exerceu sobre a minha
formação. Quando mergulhamos também no Brasil e na riqueza
cultural dos povos originários, vemos o quanto deixamos de
reconhecer valor desse passado. Como o exemplo do manto do
povo Tupinambá, um dos mais bem preservados de um total de
onze levados para a Europa no século XVII e que só agora volta
para o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Medindo 1,2 metro de
altura por 60 centímetros de largura, ornados de penas azuis das
ararunas, e vermelhas de guarás, esse tipo de traje era usado em
eventos solenes, como reuniões, cerimônias funerárias de entes
queridos e rituais antropofágicos – as celebrações mais grandiosas
realizadas por eles durante o período colonial.24
Interessante observar ainda a imensa riqueza em tipos de
organizações sociais com diferentes sistemas de crença e símbolos
de poder e hierarquia – códigos iniciais que mais tarde seriam
essenciais para o entendimento do que hoje conhecemos como
Antropologia, Sociologia e Branding. Entendendo o branding como
gestão de valor, podemos ver o quanto é importante revisitar a
história para compreender as narrativas de poder e promover
movimentos de descolonização relevantes nessa conversa de
valores culturais. Olhar para trás, entender e ressignificar é um
processo necessário e positivo para a construção do valor futuro de
um país, uma cultura ou organização.

Industrialização: o início dos tempos modernos


A era industrial é o começo de uma grande mudança que
podemos considerar recente na trajetória da humanidade. Ela
possibilitou avanços significativos do bem-estar e na qualidade de
vida que usufruímos nos tempos modernos. Esse período de
intensas transformações sociais ocorreu a partir do século XVIII e
se estendeu até o início do século XX, trazendo consigo um
conjunto de mudanças que moldou a sociedade capitalista que
vivenciamos hoje.
A principal característica da industrialização foi a transição de
uma economia predominantemente agrária para aquela baseada na
produção em larga escala. Com o avanço da tecnologia e o
surgimento de máquinas a vapor, as indústrias passaram a produzir
em quantidades jamais imaginadas. A introdução de linhas de
montagem e a divisão do trabalho revolucionaram os processos
produtivos, permitindo um aumento expressivo na produtividade
das fábricas.
Uma grande invenção da nossa história recente é o carro, que de
certa maneira protagoniza uma nova era, exercendo o papel de
herói e vilão da economia global. Desbancando carroças, cavalos e
carruagens, quando colocado em uso, o automóvel mexeu com
todo o conceito de mobilidade da época. Receosos e diante de
grande pressão da sociedade, os ingleses aprovaram uma lei em
1865, exigindo que qualquer carro ou trem na velocidade de apenas
7 quilômetros por hora fosse acompanhado por uma pessoa
andando à frente do veículo com uma bandeira vermelha para
proteger os pedestres. A famosa Lei da Bandeira Vermelha (Red
Flag Law), que perdurou por trinta e um anos, mas hoje parece
totalmente fora de contexto. É interessante notar como as
inovações que quebram paradigmas vêm sempre acompanhadas de
muita resistência.25

O carro preto e muitas revoluções de significados


Ainda falando sobre como o automóvel é emblemático na nossa
cultura e como ele influenciou organizações, vale a pena lembrar o
caso da Ford. No século XIX, o engenheiro americano Frederick
Taylor (1856-1915) estudou profundamente o modo de produção
dos trabalhadores nas fábricas. Com esses dados em mãos, propôs
um novo método nas linhas de produção: em vez de um
trabalhador desempenhar várias funções, por meio da “divisão de
trabalho”, cada operário desempenharia uma única e repetitiva
tarefa. Assim, entrava uma nova variável no jogo: a produtividade.
Com um olhar mais mecanizado do trabalho, aliado à constante
medição da eficácia de processos, a meta passou a ser produzir de
maneira mais eficiente a partir do controle de horas e de custos.
Produtividade passou a ser uma medida fundamental para a gestão
das organizações do século XX.
Com a segmentação das tarefas, a indústria adotaria o
“taylorismo”, rapidamente incorporado pela fábrica de automóveis
de Henry Ford (1863-1947). Aumentando a produção sem
aumentar o tempo de trabalho dos operários, um novo modelo de
divisão na linha de montagem, também conhecido como fordista,
prevaleceu até a década de 1970. Henry Ford defendia sobretudo a
economia no processo de montagem para conseguir reduzir o
preço de suas mercadorias. Foi um visionário que também
influenciou o modo de vender seu produto, entendendo
profundamente a demanda humana. A ele é creditada a famosa
frase: “Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, elas
teriam dito: cavalos mais rápidos”.
Pode-se argumentar que Ford levou em conta o ponto de vista do
consumidor, preocupando-se em proporcionar mobilidade rápida e
acessível ao bolso. Mas essa foi somente a demanda racional que ele
supriu. O criador da marca também entendeu a demanda
emocional de construir a imagem do carro como símbolo de
sucesso da família americana próspera e feliz. A mágica estava em
entender que a equação de valor ia além do produto. Era o
aspiracional do sonho que estava em jogo. A partir daí, as marcas
começaram a investir na criação de identidades visuais, símbolos,
logotipos e slogans mais do que no produto. A ideia era transmitir
ao público uma imagem clara e positiva, associando as marcas a
atributos e significados aspiracionais. Assim, vemos o impacto
disso na história do branding, que passa a entender o poder do
significado emocional do produto, capaz de criar o desejo pela
marca.

De uma fábrica de sabão à maior casa de marca do mundo


Outro caso emblemático é a clássica história da Procter &
Gamble,26 que começa em 1837 quando dois cunhados, William
Procter e James Gamble, abrem uma fábrica de velas e sabão nos
EUA. Alguns anos depois, em 1879, a dupla fez uma revolução ao
lançar um sabão superbranco – uma inovação para a época. A ideia
era nomear o produto de Sabão Branco, quando Harley Procter,
filho de um dos fundadores da marca, pediu que testassem uma
nova estratégia.
Harley queria nomear o novo produto de uma maneira mais
inspiradora, Ivory Soap (sabão de marfim), em vez do original
White Soap (sabão branco), e pediu mais recursos para investir em
comunicação. Seu pai, como um bom homem de negócios, pediu a
ele que testasse ambas as marcas para avaliar qual teria mais
aderência junto aos consumidores. Um ano depois, o Ivory Soap
tinha vendido 400% a mais que o primeiro. Bingo! Eis o exemplo de
estratégia comprovadamente certa, não só de criação de um nome
mais marcante para um produto, mas também de maior
investimento em comunicação. Aliás, é interessante notar aqui a
alternativa de testar, entender o que tem mais resultado e
implementar o que o consumidor valoriza mais.
O caso do Ivory Soap abriu caminho para novas estratégias de
divulgação, patrocinando programas de rádio para as donas de casa
escutarem enquanto cuidavam dos filhos. Em 1950, com a invenção
da televisão, a marca migrou para o que nos EUA foi batizado de
Soap Opera (como são chamadas até hoje as novelas americanas).
Sempre visionária e inovadora, a P&G investiu em uma empresa de
produção de conteúdo, inaugurando, assim, a chamada “Era do
Merchandising”, baseado na presença de seus produtos em
conteúdos de entretenimento. Assim nasceu o que hoje é uma
tendência cada vez mais forte de criar relacionamentos emocionais
com as marcas. Uma espécie de filme da Barbie, o fenômeno de
2023, de algumas décadas atrás.

O marketing dita as regras no século XX


A formalização desse conhecimento, no entanto, só começa a
aparecer especificamente em 1913, quando surge a primeira
publicação sobre esse assunto no mundo: o livro Advertising and
selling,27 escrito por Harry Hollingworth. Esse é o nascimento do
Marketing, tão essencial para a gestão das organizações no século
XX. Foi formalizada principalmente por Philip Kotler, chamada
disciplina Quatro P: Produto, que você oferece de tangível de
features, design e qualidade; Preço, a definição do valor cobrado
para consumidor; Praça, definição de distribuição e canais; e
Promoção, todos os esforços de comunicação para a venda.
Outro marco da história do branding foi o surgimento dos
primeiros supermercados em Long Island, nos Estados Unidos, na
década de 1930. Hoje absolutamente comuns, esses centros de
comércio revolucionaram o conceito de compras ao reunir, em um
único local, uma ampla oferta de produtos vendidos em grande
escala. Esse modelo de varejo se expandiu rapidamente, tornando-
se uma tendência global e causando um impacto profundo na
indústria e nos hábitos de consumo em todo o mundo. Sua grande
contribuição, assim como da precursora P&G, foi o
desenvolvimento de técnicas e metodologia para influenciar a
decisão de compra nos pontos de venda.
Exemplos como da ford e da P&G deram início ao que ficou
conhecido como marketing emocional, propaganda com enfoque
nas pessoas e em suas necessidades emocionais. Sabemos com
dados de pesquisa que 95% das decisões de compra são
emocionais. É como indaga Gerald Zaltman, professor da Harvard
Business School, no título do seu livro traduzido para o português:
Afinal, o que os clientes querem?28
Os esforços de campanhas publicitárias para desenvolver
emoções positivas em seu público passam a priorizar as
necessidades de identificação e pertencimento nas grandes
engrenagens do marketing. Adeptas do modelo brand-driven
business, as organizações passam a focar a gestão de marcas
capazes de se conectar com desejos e sonhos de seus
consumidores.

O engajamento social começa a mudar a atitude empresarial


Continuando nosso sobrevoo sobre os momentos marcantes da
história do Marketing, vamos analisar a jornada que nasceu do
sonho de criar a marca de esporte mais valiosa do planeta.
Liderado por seu então CEO Phil Knight, foi realizado um forte
trabalho de rebranding, dezoito anos depois do início da empresa,
renomeando-a para Nike,29 nome dado em alusão à deusa grega da
Vitória – seguramente um nome cheio de significado. Dois anos
depois da nova marca, em 1980 ela abriu capital lançando suas
ações na bolsa de Nova York. Foi aí que começou a sua trajetória de
grandes conquistas e crescimento – não sem alguns percalços no
caminho, claro –, para se tornar a maior marca global de esportes,
desejada em mais de 170 países que a reconhecem como símbolo
de vitória.
Perseguindo o seu sonho, Phil Knight fez um movimento
corajoso para sair da cola dos seus grandes concorrentes, Adidas e
Puma. Sempre desenvolvendo produtos inovadores com foco nos
atletas, a Nike lançou em 1985 o primeiro tênis com o nome do
jogador de basquete Michael Jordan. Todos os ingredientes de
sucesso foram pensados: o tênis de design único seria vermelho
(burlando a regra do esporte que não autorizava cores na quadra), e
daria origem a uma submarca da linha, a Air Jordan. Além disso, o
modelo de receita das vendas seria compartilhado entre o atleta e a
Nike – o que abriu um precedente histórico para esse modo de
patrocínio. Uma inovação arriscada para quem precisaria dividir
todos os dividendos com o atleta que, impulsionado pela campanha
e por seu extraordinário espírito, se tornaria o maior ídolo do
esporte global.
Na década de 1990, a empresa fez outro movimento bastante
ousado com a criação da Nike Store, que veio a ser a meca da
experiência de marca. Nessa época, em Nova York, extensas filas
eram formadas para visitação da loja. Um enorme sucesso. Essa
iniciativa foi ao mesmo tempo inovadora e arrebatadora,
oferecendo aos consumidores a chance de conhecer os atletas e as
linhas de produtos variados. As lojas Niketown foram projetadas
para criar esse ambiente estimulante, com espaços temáticos,
exposições interativas e eventos esportivos, permitindo que os
clientes vivenciassem a marca. Nascia ali a ideia do concept store,
depois tão difundida no mercado, para criar uma experiência
completa da marca no varejo.
Até que, em certo momento, sua escalada de valor sofreu um
baque repentino: surgiram contra a marca diversas acusações de
trabalho escravo na Ásia, por toda a imprensa americana, o que
levou a um grande boicote dos consumidores. A primeira reação da
empresa foi terceirizar o problema, alegando que as fábricas não
estavam sob sua responsabilidade e que a Nike fazia somente a
gestão da marca (100% brand-driven business). Essa resposta,
porém, repercutiu negativamente, e a Nike perdeu valor de
mercado e a admiração dos consumidores. A marca precisou
revisar todo o seu modelo de negócio e assumir que, sim, ela era
responsável pelo ecossistema da sua produção.
Assumindo nova postura, seus negócios voltaram a crescer,
sempre com foco na ideia de que “Em cada corpo tem um atleta” e
com uma narrativa que parte da tagline é usada há mais de trinta
anos, “Just do it”.30 Uma aula de como evoluir respondendo às
novas demandas da sociedade, já que a mudança de foco ocorreu
justamente pela conscientização dos consumidores a respeito de
questões ambientais e sociais. No mundo contemporâneo, os
clientes não estão apenas em busca de produtos ou serviços de
qualidade, como acontecia no passado, mas se preocupam também
com as práticas éticas e sustentáveis das empresas. Assim podemos
compreender a importância de o branding incorporar a premissa
do bem-estar social e a transparência em suas práticas de
governança.
Quando consideramos os investidores e acionistas de uma
determinada empresa, precisamos ter em mente que as práticas de
ESG (Environment, Social and Governance – Ambiental, Social e
Governança, em português) influenciam cada vez mais as suas
decisões. Sua escolha, no fim das contas, vai ter como critério o
engajamento da empresa com questões ambientais, sociais e de
governança. E, nesse aspecto, marcas que demonstram
compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade social
tendem a atrair talentos jovens, mais investimentos e a se destacar
no mercado. O mundo mudou bastante, felizmente.

A Revolução Digital e o foco da Era do Serviço


Como já dito aqui, outra grande mudança ocorre justamente
quando a tecnologia começa de fato a impactar todo e qualquer
negócio ou vida neste planeta. Conhecida como Revolução Digital,
essa fase marcou uma transformação profunda nos negócios,
trazendo consigo uma era de avanços tecnológicos sem
precedentes. Desenrolou-se no final do século XX, e ainda estamos
entendendo a dimensão dessa revolução. Alguns se arriscam a
dizer que continuamos agindo como homens paleolíticos com
reações similares ao medo do ataque de leões, nosso instinto de
sobrevivência; que nossas leis ainda lembram a Era Medieval e que
a tecnologia já é um futuro tão avançado que não podemos
entender o impacto por ora. Sabemos que estamos pagando um
preço por esse descompasso.
Em 1992, assisti ao Bill Clinton na televisão americana
anunciando que os EUA passariam a ter uma rede que conectaria o
país inteiro, uma rede invisível, uma rede digital hoje famosa pelas
inicias www – world wide web: a internet. Aquela mensagem foi
quase tão impactante para o mundo quanto o homem pisando na
lua. Um passo fundamental para toda a humanidade, que também
empoderou consumidores, afinal, a partir dali, elogios e sobretudo
as críticas à determinada marca poderiam ser compartilhadas em
segundos.
Mas as inovações seguem em ritmo acelerado, transformando
constantemente como vivemos e fazemos negócios. O comércio
eletrônico revolucionou a maneira como as pessoas fazem
compras. A empresa emblemática que fez o e-commerce virar
realidade foi a Amazon. Fundada por Jeff Bezos no ano de 1994, em
Seattle, essa organização nasceu com o propósito de proporcionar
a melhor experiência de compra. Perseguindo esse objetivo, Bezos
criou e patenteou a primeira grande inovação em 1997: “um clique”,
permitindo que seu usuário fizesse sua compra literalmente com
um toque de tecla.
Logo em 2000, a empresa evolui seu modelo de negócio de venda
de livros para se tornar um marketplace. Enquanto trazia mais
clientes para os pequenos varejistas, a companhia ganhava uma
comissão sobre as vendas. É um modelo que continua em ascensão
e é utilizado por varejistas no Brasil e no mundo, passando a fazer
parte da nova economia de ecossistema em torno de uma
organização.
As inovações não param. Em 2005 é lançada a Amazon Prime,
oferecendo serviços e vantagens para que seus consumidores se
mantivessem fiéis, gerando receitas recorrentes de assinatura. A
expansão de novos serviços continua e nasce o serviço de
streaming Prime Video. Impressionante também notar o
crescimento dos serviços de Cloud AWS com receita de 80 bilhões
de dólares em 2022, deixando uma boa margem de lucro, pois se
utiliza de uma oferta com a capacidade já instalada.
Resultado: segundo dados da Brand Finance, em 2023 a Amazon
se tornou uma das marcas mais valiosas do mundo, com valor de
marca em 299,3 bilhões de dólares, além de estar bem posicionada
para o consumidor final (B2C) e para empresas (B2B). Algumas
lições que podemos tirar dessa gigante: foco no consumidor lhe
possibilita sempre expandir sua oferta buscando o que todas as
organizações desejam: receitas recorrentes e participação em vários
momentos na vida do consumidor para se tornar indispensável. A
construção de um ecossistema gigante, trazendo pequenos
varejistas para ampliar suas vendas, também se mostrou uma
estratégia vencedora, sempre mantendo foco na marca Amazon.
Interessante notar que ser uma empresa B2B2C paga bons
dividendos.

As redes sociais e o maior tsunami da história da comunicação


O nascimento das redes sociais também teve um impacto
expressivo na maneira como as pessoas se relacionam, tornando-se
o principal meio de comunicação da atualidade, permitindo que as
empresas estabelecessem uma relação mais próxima e autêntica
com seus clientes. Assim, vimos o mercado de comunicação sofrer
o maior terremoto da sua história, e com certeza as forças e os
orçamentos mudaram de mãos, colocando várias indústrias sob
ameaça, como os grupos de mídia, o mercado publicitário e tudo
que girava em torno de comunicação off-line.
Em 2023, 1/3 de cada dólar investido em comunicação vai para
as redes sociais. De modo geral, 4,5 bilhões de pessoas acessam as
mídias sociais diariamente. O advento do celular exigiu que as
organizações pensassem o mobily first (privilegiar o acesso pelo
celular) como regra, mas o acesso por computador ainda é
responsável por 2/3 das conexões, segundo estudo da We Are
Social. Dados mostram que 1/1000 pessoas só tem uma rede social,
e que nenhuma das opções concentra mais de 2% da audiência.31
Logo, a presença em diferentes redes é muito importante para a sua
comunicação, já que a maioria das pessoas tem mais de uma rede,
entre LinkedIn, Facebook, Instagram, TikTok etc.
No contexto do Brasil, temos uma população superconectada.
Os brasileiros são destaque mundial em acesso à internet. A
população brasileira tem mais celular do que habitantes. Somos o
segundo país do mundo com a maior média de tempo gasto nas
redes sociais: 5h19m diárias.32 Outro dado curioso: o Brasil é o país
que tem maior investimento em marketing de influência do
mundo. A pesquisa feita pela empresa de informação Nielsen
Media Research mostrou que o país possui cerca de 500 mil
influenciadores digitais, sendo o Instagram o aplicativo mais usado
para e-commerce e pesquisa sobre as marcas.33 Logo, navegar por
esse mundo de possibilidades sem ter a clareza do seu branding
pode ser uma bomba-relógio.

O incrível mundo da inteligência supra-humana


Não faz tanto tempo que o mundo se viu às voltas com uma nova
tecnologia que tem despertado reações bastante variadas. De
repente, protestos e abaixo-assinados começaram a clamar pela
interrupção de seu desenvolvimento, emulando os clássicos filmes
estrelados por Arnold Schwarzenegger no papel de O exterminador
do futuro.34 Esse roteiro, no fim das contas, não poderia ser
diferente: bem diante de nossos olhos, apesar de já utilizarmos há
algum tempo, o ano de 2022 foi marco para a Inteligência Artificial,
que virou uma ferramenta disponível para todas as pessoas e todos
os negócios.
Com o lançamento do Chat GPT, abre-se um novo precedente
na era tecnológica. Essa nova ferramenta de Inteligência Artificial
(IA) vai mais uma vez colocar em xeque muitas situações que até
então eram dadas como impossíveis, como criar uma inteligência
de máquina mais poderosa do que o cérebro humano. O
historiador Yuval Harari traz uma reflexão impactante sobre esse
tema. Para o pensador, se os humanos subjugaram os animais por
serem mais inteligentes, nós poderemos ser subjugados pela IA.35
Vamos trabalhar para que isso não aconteça.
Para as organizações, as aplicações dessa nova tecnologia são
diversas (e só aumentam a cada dia): desde utilizá-la para
aprimorar a experiência do cliente, prever tendências de mercado e
até mesmo para tomar decisões estratégicas mais efetivas. Muitos
dos serviços que usamos hoje já são fruto da IA, e provocam
discussões sobre questões éticas variadas sobre poder criativo,
direitos autorais e produção. Mas esse é só o começo. Especialistas
ainda estudam uma maneira de controlar o uso da IA por leis e
regras quando, na verdade, abre-se agora uma era da humanidade
que não sabemos ao certo no que vai dar.
O mundo ficou mais complexo e dinâmico, um caminho que
sabemos não ter mais volta. E nesse ambiente marcado por
inovações tecnológicas surgindo a todo instante e alterando por
completo a maneira de nos relacionarmos com o mundo e com o
outro é comum haver dúvidas sobre qual seria o papel do
marketing e do branding. As fronteiras dessas disciplinas existem, e
embora sejam complementares, são diferentes de sua essência.

UM PUSH DE CONSCIÊNCIA DO MERCADO FINANCEIRO


Quando trabalhamos no branding de uma organização e
entendemos a perspectiva da cadeira de CEO, compreendemos
como as novas demandas influenciaram a maneira de fazer
negócios e o modelo do capitalismo vigente. Desde a sua origem, o
capitalismo foi orientado para beneficiar acionistas, buscando
maximizar o retorno financeiro, muitas vezes focando os
resultados de curto prazo. Com essa visão em franca
transformação, empresas estão incluindo cada vez mais em suas
estratégias os interesses de todos os stakeholders envolvidos, que
passaram a valorizar não apenas o retorno financeiro, mas também
o impacto positivo das marcas nas pessoas e no próprio planeta.
Com questões originárias da industrialização, como o
consumismo crescente dos últimos cem anos, enfrentamos desafios
assustadores para o planeta. Mudanças climáticas, extinção de
espécies de animais, perda da biodiversidade, excesso de lixo,
poluição e até o que já podemos considerar como uma das crises de
saúde globais mais sérias já enfrentada pela humanidade: a
pandemia de covid-19. Esse ponto a que chegamos como coletivo
colocou a humanidade sob risco, e nos fez entender que algumas
engrenagens precisam ser repensadas. Assim, a máxima do
crescimento a qualquer preço está, na verdade, tendo um custo alto
para a sociedade. Precisamos redirecionar nossos esforços em gerar
valor para todos os stakeholders e na preservação do planeta.
Sob esse prisma, aquele que talvez tenha sido o pioneiro dessa
visão estratégica no mercado financeiro é Larry Fink, CEO da
BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo,36 que
tem sob sua gestão mais de 10 trilhões de dólares, e cuja prática
inovou e influenciou o mercado ao adotar uma abordagem mais
consciente e sustentável em seus investimentos. Sua carta anual aos
acionistas é sempre muito aguardada. Na mensagem de 2019, ele
afirmou de modo assertivo que propósito e lucro são indissociáveis,
impulsionando um novo capitalismo.
Larry Fink observa que empresas como a BlackRock têm papel
estruturante do ecossistema, começando com o envolvimento dos
colaboradores, passando pelos consumidores, acionistas e por toda
a comunidade em que ela está inserida. Seu impacto foi tão grande
que gerou uma retaliação de conservadores americanos contra essa
postura considerada “politicamente correta demais”. Entretanto,
apesar das possíveis contradições e oposições a essa postura woke –
termo denominado pelo excesso de cuidado com questões de
diversidade e sustentabilidade –, sabemos que o backlash faz parte
da dinâmica de evolução da sociedade.
Uma nova perspectiva de capitalismo, mais centrada nos
stakeholders e com enfoque no propósito de impacto positivo na
sociedade, está mudando a maneira como as empresas são
avaliadas e como os investimentos são feitos. A BlackRock tem
liderado essa mudança de mentalidade no mercado financeiro. Para
receber o apoio dessa gigante de investimentos, as empresas
precisam demonstrar como estão contribuindo positivamente para
a sociedade, abordando questões como mudanças climáticas,
diversidade e inclusão, governança corporativa e ética nos
negócios. É uma mudança e tanto.

O NOVO MARCO PARA AS ORGANIZAÇÕES – CAPITALISMO


CONSCIENTE
Organizações que impulsionam os negócios nessa direção
também ganharam reforço com o movimento do Capitalismo
Consciente.37 Esse movimento é encabeçado por empresas como
Patagônia, Whole Foods, entre outras – organizações que
entenderam as novas dinâmicas da economia circular, do consumo
responsável e da geração de valor para toda a sociedade.
Podemos considerar a Patagônia uma empresa ativista. Seu
fundador, Yvon Chouinard, criou uma das marcas mais desejadas
de esporte ao ar livre e com pilares ambientais muito arraigados.
Seu último movimento foi bastante ousado. Ele definiu que a
empresa teria um único acionista: o planeta Terra. Todo o lucro
gerado é direcionado para questões climáticas. Um movimento
muito coerente com sua visão de mundo.38
Cada vez mais os líderes executivos precisam se concentrar no
desenvolvimento sustentável da organização, pautado por novos
princípios como orientação ao cliente, sustentabilidade, resposta às
demandas de ESG, transformação digital, agilidade e inovação
contínua. Um bom exemplo a seguir é o de John Mackey, fundador
e co-CEO da empresa Whole Foods Market, maior rede de
supermercado de comida orgânica dos EUA, e um dos fundadores
do Movimento Capitalismo Consciente. Outro exemplo inspirador
é o de Raj Sisodia, PhD em Marketing pela Columbia University.
Em 2003, Sisodia foi citado como um dos cinquenta principais
estudiosos da disciplina. Ambos são executivos de trajetória
emblemática, que mostraram como evoluir os negócios sobre
outras bases além do puro e simples crescimento econômico. Mas
não é apenas no ambiente estrangeiro que as marcas demonstram
preocupação com seu impacto no mundo.
NATURA: MARCA PIONEIRA NO BRASIL EM ABRAÇAR O
PROPÓSITO
No Brasil, temos o exemplo da Natura,39 que foi a primeira
empresa no país a adotar o propósito muito claro de “bem estar
bem” – exatamente com essa repetição de palavras –, com ênfase
no relacionamento sustentável entre as pessoas e a natureza. De
modo pioneiro, desde o seu início, em 1969, essa organização
esteve comprometida com a sustentabilidade em todas as suas
operações, buscando constantemente maneiras de reduzir seu
impacto ambiental e promover a responsabilidade social
corporativa. Com essa visão consistente de futuro, ela se tornou a
maior multinacional brasileira de cosméticos e, depois da aquisição
da Avon, em 2020, acabou criando o quarto maior grupo do mundo
do segmento de beleza. No mesmo ano, seu engajamento com
práticas de ESG a conduziu ao compromisso com a Visão 2030,
uma série de ações direcionadas a questões como a crise climática,
a proteção à Amazônia e a garantia de salários dignos para a força
de trabalho, um movimento feito junto com o Pacto Global.40 Essa
visão de comprometimento com um impacto positivo no mundo,
alinhada ao contexto em que a marca está inserida, é a grande
responsável pelo sucesso que a Natura vem experimentando.
Todos esses exemplos só reforçam como é possível prosperar
economicamente promovendo uma cultura que respeita tanto as
pessoas quanto a natureza. As empresas que se deram conta dessa
mudança já saíram na frente ao incluir no seu propósito o
compromisso com a responsabilidade social e ambiental a longo
prazo. E, nesse sentido, a Natura é uma inspiração para as marcas
brasileiras.

TAKE AWAYS – CAPÍTULO 2


Evolução humana desde a Pré-História busca dar significado aos
artefatos e à essência do branding.
O olhar antropológico do branding está em entender e dialogar
com significados nas diferentes culturas.
O branding se desenvolveu como disciplina a partir de ciclos
econômicos da humanidade, mas foi impulsionado com
Revolução Industrial.
Criar desejo emocional pela marca é apostar na fidelização do
consumidor.
Assumir responsabilidade pelo ecossistema faz parte da
construção de valor.
A Era Digital impõe novas demandas no modo de comunicação.
É preciso ter um ponto de vista.
A Inteligência Artificial abre novo precedente na era da
humanidade.
O capitalismo evolui suas premissas respondendo aos
stakeholders (todos os públicos de interesse da marca), e não
somente a shareholders (acionistas).
O mercado financeiro precifica bem o valor das empresas a
partir da coerência entre atitudes e valores.
ESG responde às mudanças climáticas, na diversidade, na
inclusão e na governança corporativa dos negócios. Passa a ser
credencial, e não diferencial para estar no jogo.
3
Como o Brasil pode usufruir do
“branding Brasil”?

Ao longo das últimas décadas, eu e a equipe da agência Ana


Couto tivemos a oportunidade de colaborar com muitas marcas
brasileiras e, por isso mesmo, sabemos que ainda há muito valor a
ser destravado tanto pelas organizações quanto pela nossa nação. O
mundo inteiro tem expectativas sobre o Brasil, e há muito tempo
vemos previsões sobre o futuro do país como uma grande potência
global. Mas será que esse futuro nunca chegará? Seremos para
sempre a criança prodígio que nunca cresce? Se estamos entre as
maiores economias do mundo, não parece inaceitável que não haja
nenhuma marca brasileira entre as cem maiores do mundo? Em
contextos intensos, precisamos ser mais intencionais.
Nós, brasileiros, já identificamos a criatividade como um ativo
valioso de nossa identidade e nosso diferencial. Mas será que ela
não deveria estar presente de modo mais intencional nos incentivos
públicos e privados para influenciarmos o contexto global de
negócios? Com tantos problemas complexos a serem resolvidos no
Brasil e no mundo, não deveríamos investir mais na nossa
capacidade criativa para encontrar soluções que ninguém mais
enxerga?
O tempo segue seu curso, e ainda carecemos de um consenso
coletivo acerca do nosso valor e do caminho para desvendar nosso
potencial. Essa inquietação permeia a cultura da nossa agência,
direcionando nossos projetos e nossas conversas. Nos últimos
anos, estabelecemos diálogos construtivos e questionadores sobre
esse tema, trazendo executivos, cientistas, artistas e antropólogos
para contribuir com a discussão. Buscamos entender as maiores
aptidões do Brasil, o que nos distingue no cenário global e quais
obstáculos nos impedem de atingir patamares mais elevados.
Entre todas as iniciativas, a mais abrangente e detalhada foi o
estudo Branding Brasil, lançado em 2022. Esse projeto dedicou-se a
analisar a percepção dos brasileiros sobre o Brasil e o valor que o
país gera como marca.
O branding ajuda a decodificar valor, a entender as principais
associações e o universo simbólico de uma marca; além de
identificar o que precisa ser priorizado para alcançar objetivos. Um
processo investigativo e questionador permite a realização de um
diagnóstico que identifica impulsionadores, detratores e
aceleradores de uma organização.
A pesquisa Branding Brasil surge dessa ótica e da nossa
metodologia proprietária. Assim como fazemos em todos os nossos
projetos sobre a relação da empresa com seus stakeholders, o ponto
de partida foi um diagnóstico, uma investigação completa da
relação do brasileiro com o Brasil.
Para isso, realizamos um estudo quantitativo com 2.500
respondentes das mais diversas camadas sociais, idades e gêneros.41
Rodamos a pesquisa a partir dos insumos de grupos focais que
fizemos por região e do listening das redes sociais dos últimos dois
anos. A partir do método desenvolvido pela própria agência,
usamos a ferramenta do Valometry para coletar os dados. Os
resultados nos surpreenderam e foram essenciais para entender
melhor como se comporta o público brasileiro.
Com esses dados em mãos, disponibilizados gratuitamente em
nosso site, pudemos tirar algumas lições importantes para
entendermos os reais motivos por trás do desempenho das marcas
nacionais e como superar esses obstáculos. Nossa intuição nos
dizia que, ao reconhecer as necessidades e os desejos dos
brasileiros, poderíamos traçar estratégias mais adequadas para a
construção de valor de uma organização e – quem sabe – do país.
Graças ao esforço conjunto de uma competente equipe, que
contava com antropólogos, estatísticos e diversos outros
profissionais, o lançamento desse estudo trouxe diferentes
perspectivas sobre as possibilidades de futuro para marcas
brasileiras. A partir dessa colaboração entre diversas áreas de
conhecimento, a pesquisa ganhou uma abordagem abrangente e
enriquecedora, permitindo-nos ir além dos aspectos superficiais e
compreender melhor a nossa própria sociedade.

O BRASIL PRECISA REDESCOBRIR O BRASIL


A partir da pesquisa Branding Brasil, compreendemos como o
país é percebido de modo ambíguo por sua própria população, que
sustenta percepções antagônicas em relação ao país. Identificamos,
por exemplo, que há uma percepção negativa sobre o Brasil quando
estão em pauta assuntos como economia, política, desigualdades
sociais e desafios estruturais, ao passo que notamos avaliações
positivas no que diz respeito a aspectos mais subjetivos que, em
teoria, seriam definidores da identidade brasileira. No processo,
ouvimos por várias vezes que “O melhor do Brasil é o brasileiro” e
uma ênfase muito orgulhosa sobre a riqueza da nossa diversidade
cultural, do potencial que o povo brasileiro possui e dos nossos
principais atributos de personalidade.
Entendendo esse contexto, com clareza do que impulsiona e do
que nos faz perder valor, podemos direcionar esforços para agir de
maneira mais propositiva e intencional. Compreender essas
percepções ambivalentes que o brasileiro nutre em relação à
própria terra natal e à própria identidade nos habilita, em primeiro
lugar, a decifrar como a população brasileira se comporta. Isso
inclui reconhecer os aspectos culturais e históricos que moldam a
identidade nacional, assim como compreender as aspirações e os
desafios que o contexto atual produz. Em segundo lugar, com base
nesses dados, podemos delinear estratégias que nos preparem para
enfrentar os desafios do “Brasil Moderno”, buscando sempre
construir uma conexão sólida e positiva com o mercado e o público
em geral.
O estudo mostra que, entre as razões que justificam esse
sentimento de frustração em relação ao potencial do Brasil: 54%
dos brasileiros acreditam que somos um país isolado e 52%
apostam que o Brasil não se desenvolve porque muda sempre de
rumo. E, ainda, 51% acham que os brasileiros gastam muito tempo
brigando entre si.
Entre as diversas surpresas que tivemos com o resultado dessa
pesquisa, há um interessante contraste entre as gerações mais
velhas e mais novas quando se trata da percepção do Brasil. Os
jovens, em sua maioria, apresentam uma visão mais pessimista e
desvinculada emocionalmente do país. Em números absolutos,
nesse grupo de pessoas mais novas, com idades que variam entre
16 e 20 anos, os resultados são claros: 44% dos jovens, em contraste
com 31% dos brasileiros com mais de 55 anos não se identificam
com o Brasil. Entre esses mesmos jovens, 55% preferiam morar em
outro país se pudessem, mas somente 35% dos mais velhos
gostariam de sair do país. Além disso, 56% dos jovens acreditam
que o Brasil não é o lugar ideal para viver, o que reforça uma
preocupante desconexão dessa geração à nação.
Essa divergência de perspectivas pode ser atribuída a uma série
de fatores socioeconômicos, históricos, culturais e ideológicos que
influenciam o modo como cada geração enxerga o Brasil. Como
consequência, essa diferença pode ter contribuído
significativamente para a polarização nas opiniões sobre as
mudanças ocorridas no Brasil nos últimos dez anos, com
divergências expressivas em relação a temas como “desunião”,
“desgosto” e “intolerância”. Claro que esses extremismos geram um
cenário complexo de discussões e debates em torno dos rumos do
país. Mas isso seria assunto para outro livro.
A partir da pesquisa, percebemos também a importância das
marcas e dos símbolos na construção de valor da nação,
principalmente quando inseridas nesse contexto tão desafiador. Os
símbolos que mais foram mencionados refletem a identidade do
povo brasileiro e projetam imagens tanto internamente quanto
para além das fronteiras do país. Nossas principais referências para
os brasileiros foram a natureza de cartões-postais como o Rio de
Janeiro e Amazônia, e as manifestações da cultura popular de
festas, tendo o futebol em destaque. Quando exploramos a ideia de
qual personalidade representa mais o Brasil, as três mais
mencionadas foram: Pelé, Anitta e Neymar. Interessante notar que
nossa imagem é representada por três expoentes que conseguiram,
independentemente da adversidades, alcançar reconhecimento
global por meio do próprio talento.

A SAUDADE DA AMARELINHA E OUTROS SÍMBOLOS “BRAZUCAS”


Apesar das divergências internas de opinião, identificamos um
sentimento que ecoa na cabeça e no coração de muitos brasileiros:
a saudade de utilizar no cotidiano seus símbolos pátrios de modo
desvinculado da política, como a camiseta da Seleção Brasileira de
Futebol ou a nossa bandeira. De modo mais específico, 73% veem
“união” na nossa bandeira e 60% veem “futuro” e “esperança”. O
mesmo acontece quando a pergunta é sobre a camisa da Seleção:
65% afirmam que ela representa “união”, 60% “futuro” e 61%
“esperança”. Esses elementos simbólicos, carregados de valores
culturais e históricos, acabam exercendo um papel unificador da
população, evocando sentimentos de identidade e pertencimento à
nação.
Em paralelo ao desejo de desvincular o caráter político e
ideológico que esses símbolos e valores carregam nos últimos anos,
percebemos que o país vive um momento fascinante e intenso para
a brasilidade. Acompanhamos cotidianamente o resgate e a
reinterpretação de elementos que refletem a identidade e o orgulho
da nossa nação. É nesse sentido que podemos entender outros
dados levantados pela pesquisa: ao analisar os atributos de
personalidade do povo brasileiro, a própria população destaca
como elementos marcantes a nossa festividade (59%), alegria (58%)
e acolhimento (55%). É importante observar, porém, que a
percepção desses atributos pode variar de acordo com o contexto
social e econômico de cada indivíduo.
A pesquisa mostra que há uma espécie de correlação entre
instrução acadêmica e classe social e a maneira como os elementos
ligados à identidade brasileira são reconhecidos. Os dados nos
mostraram que pessoas com escolaridade e renda maiores tendem
a associar mais atributos positivos ao Brasil, enquanto aqueles com
menor escolaridade e de classes menos favorecidas têm uma
percepção mais negativa. E sem nenhuma surpresa observamos
também que a imagem do “brasileiro alegre e festeiro” é expressa
especialmente em encontros onde a arte se torna um meio de
expressão – o que corrobora com a ideia de que a arte é um
importante instrumento para os brasileiros compartilharem suas
emoções.
Outros aspectos merecem nossa atenção quando tentamos
compreender as causas para os problemas que apresentei nos
capítulos anteriores. Uma dessas questões se refere ao fato de não
haver um reconhecimento dos nossos potenciais, como é o caso da
Amazônia, símbolo da nação. Sob essa ótica, reconhecer esse
imenso mundo verde como vantagem competitiva do Branding do
Brasil pode ser uma poderosa fonte de desenvolvimento mais
sustentável para o país. Essa abordagem tem um papel especial
porque permite que os atributos únicos da Amazônia e das demais
regiões verdes do Brasil sejam valorizados e compartilhados,
estabelecendo uma conexão relevante e impactante com o planeta.

O PROTECIONISMO E A BAIXA COMPETITIVIDADE: MALES


DESNECESSÁRIOS
Quando pensamos nas causas para os problemas que as marcas
brasileiras enfrentam atualmente, podemos encontrar algumas
respostas olhando para o passado do país e a maneira como
lidávamos com a administração e regulação do mercado algumas
décadas atrás. Nesse sentido, um aspecto que está longe de ser
trivial se refere ao fato de a economia do Brasil ter sido
protecionista por muitos anos, limitando o acesso a mercados
internacionais e reduzindo a competição.
Esse cenário gerou um ambiente bastante propício para
empresas que não priorizavam o foco no consumidor. E a razão
para isso é simples: a falta de concorrência diminuiu a necessidade
de inovação e qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Nesse
ambiente, o consumidor inevitavelmente acaba em segundo plano,
restando a ele poucas opções de escolha e um poder de influência
sobre as empresas bastante reduzido.
A ineficácia de serviços públicos e a presença de um Estado
excessivamente intervencionista também podem ter contribuído
para essa falta de competitividade. Com serviços estatais ainda
predominando em diversos segmentos e mudanças de regras em
contratos de privatizações, o Brasil ainda traz grande sensação de
instabilidade para a iniciativa privada, que se vê em terreno
pantanoso, vulnerável a mudanças de rumo para investir e inovar.
Mas estamos evoluindo.
Em 1993, ao chegar dos EUA, eu tinha de montar logo a agência,
e saí à procura de um equipamento básico para começar o meu
negócio: um número de telefone. Naquela época, a telefonia era
rudimentar. Precisei comprar três linhas de telefone fixo por 10 mil
dólares em dinheiro nos corredores da então Telerj. Nada mais
constrangedor do que torrar esse dinheiro do qual eu sabia que
nunca mais veria a cor. Pouco tempo depois, em 1998, viriam as
privatizações da telefonia que foram fundamentais para termos a
economia de hoje com a penetração de 95% de internet móvel. O
mesmo resultado, porém, ainda não temos na área de saneamento.
Apesar de ter evoluído com o marco recente, 100 milhões de
brasileiros não têm rede de esgoto e 35 milhões continuam sem
acesso à água potável.
Em contraste, eu já tinha experimentado viver dentro dos
padrões da economia dos Estados Unidos, pautada pela
concorrência acirrada e pela busca incessante em atender às
demandas dos clientes. Os consumidores americanos são tratados
como prioridade há muito tempo. Lá, a mentalidade client first, que
põe o cliente em primeiro lugar, está enraizada na cultura
empresarial, o que impulsiona fortemente a inovação, a qualidade
dos produtos e a excelência no atendimento.
O resultado é um alto padrão na construção e no
posicionamento de marcas que rapidamente se tornam negócios
globais. Uma realidade bem diferente do Brasil de algumas décadas
atrás. Alinhar essa estratégia é adotar a mentalidade client first, um
caminho que precisamos seguir nesse desafio de ter marcas fortes
para gerar uma economia igualmente forte. Isso, porém, com a
nossa própria visão de sociedade, sem partir do princípio que a
fórmula de lá cabe para os trópicos.

MIOPIA E INDISCIPLINA: PROBLEMAS CRÔNICOS


Durante esses anos de atuação no mercado nacional, percebi
ainda outro fator que aumenta extraordinariamente o gap que há
quando comparamos o mercado brasileiro com outros mercados
internacionais. Falo aqui da falta de planejamento de longo prazo.
Muitas vezes, as empresas que não fazem planos de longo prazo
acabam priorizando resultados de curto prazo em detrimento de
uma visão estratégica de longo alcance. Esse tipo de abordagem
geralmente resulta em decisões imediatistas, deixando de colocar
na balança os impactos futuros e a sustentabilidade dos negócios.
Essa deficiência não apenas dificulta, mas quase sempre impede
um crescimento consistente e a consolidação de uma marca no
mercado global, que é dinâmico e altamente competitivo. É por
esse motivo que as marcas brasileiras precisam superar a miopia
causada por tantos anos de reclusão do mercado nacional e
estabelecer propósitos que tenham a intenção de perdurar no
tempo, rumo ao infinito. As empresas que se concentram em
resultados de curto prazo até podem obter ganhos momentâneos,
mas estarão desprotegidas diante das mudanças que ocorrem ao
longo do tempo de modo alheio às suas vontades.
Na esteira dessa miopia, temos a falta de disciplina na execução.
Um problema bastante comum por aqui. Acontece que, mesmo
com um planejamento bem elaborado e que contemple ações no
longo prazo, ter uma disciplina rigorosa para colocar essas ações
em prática é indiscutível. Não há outro caminho. Sem isso, todo o
esforço empregado na elaboração de estratégias pode ser em vão.
Sempre bato nesta tecla: para que o processo de branding dê
certo, é imprescindível cultivar a disciplina, e essa não é uma
questão apenas corporativa, mas também cultural. A inconsistência
na execução pode levar a resultados abaixo do necessário,
prejudicando a imagem das marcas e minando a confiança do
consumidor. É fundamental que as empresas se comprometam com
a execução efetiva das estratégias, monitorando constantemente os
resultados e fazendo os ajustes necessários para alcançar os
objetivos traçados.

MUDAR A MENTALIDADE PARA VALORIZAÇÃO DOS NOSSOS


DIFERENCIAIS
Somos um país cuja cultura reúne influências de todo o mundo
em uma grande miscelânea rica e diversificada. E esse movimento
de resgate cultural e reavaliação de símbolos e valores pode
fortalecer a identidade brasileira e estimular um novo olhar sobre o
patrimônio histórico e cultural do nosso país. Vide a devolução do
manto Tupinambá ao Museu Nacional.
Aprofundamos essa temática, com as obras muito inspiradoras
de Luiz Antônio Simas, historiador brasileiro que tem um olhar
bem original sobre brasilidade. Seus livros abordam as
contradições e complexidades do Brasil, joga luz sobre vários
“tensionamentos” que circundam as nossas vivências, como a
disputa entre a regra e a espontaneidade; entre a massificação e a
especificidade; entre a violência e a beleza. Como ele disse, “O
Brasil é isso: uma rinha, e não há dúvidas de que há um embate
entre o Brasil e a brasilidade. Uma vivência que se constrói nas
frestas, nas brechas de um projeto de horror, de um projeto
colonial, nos sentidos de beleza”.42
À medida que a sociedade se torna mais consciente dessas
questões relacionadas à nossa história, é possível promover uma
maior valorização e respeito pelas culturas nativas e tradicionais do
país. Somos constituídos por uma rica trama de origens e
influências, sincretismos que, muito mais do que simples mistura
de tradições, são a força criadora da história brasileira. Está nos
saberes ancestrais, que foram preservados ao longo das gerações,
nas escolas de samba e suas batucadas, e em cada manifestação
cultural que pulsa em nosso território.
O carnaval, com toda a sua potência, talvez seja o exemplo mais
radiante desse contexto: ele é influenciado pelo entorno que o
envolve, mas também exerce influência e contribui para moldar
novos contextos. A festa popular mantém uma relação delicada
com todos esses elementos, porém, é imprescindível não esquecer a
dimensão ancestral que constitui sua essência. A luta e a festividade
compartilham uma conexão intrínseca. Citando novamente Simas:
“O Brasil possível é aquele que o carnaval colocou para nós”.43
Essa conscientização nos permite enxergar as riquezas que
permeiam nossa identidade nacional, reconhecendo a importância
das culturas indígenas, afro-brasileiras e de todas as comunidades
que contribuíram para moldar a diversidade que nos define. Ao
valorizarmos essas raízes, estamos, na verdade, celebrando a
essência do Brasil, uma nação que se construiu sobre uma base de
pluralidade e resiliência.
Ao revisitar e redescobrir seu universo, as marcas podem
recontar suas histórias de maneira mais genuína e autêntica. A
incorporação de elementos culturais e históricos sempre gera
conexão emocional forte com os consumidores. As empresas com
propósito alinhado às tradições e valores brasileiros têm uma
oportunidade ímpar de se destacar e prosperar. Ao incorporar essas
questões em suas estratégias de branding, podem se posicionar
como agentes de uma mudança positiva, contribuindo para a
construção de uma sociedade mais inclusiva, respeitosa e
representativa.
Não à toa, o estudo mostra que as marcas que mais representam
o Brasil – Petrobras, Havaianas, Natura, Banco do Brasil e Guaraná
Antarctica – se conectam com os brasileiros porque estão
alinhadas com a maneira como nos enxergamos – um povo alegre,
festeiro, que gosta de estar unido e celebrar, além de valorizar as
matérias-primas e origens brasileiras. Nesse sentido, o Brasil e sua
riqueza humana, cultural e ambiental é o grande destaque. E esse é,
sem dúvida, um momento perfeito para que as marcas brasileiras
explorem novas narrativas, resgatando sua história e
ressignificando seus símbolos para afirmar sua identidade com
orgulho e autenticidade.

O POTENCIAL TRANSFORMADOR DA DIVERSIDADE


Um grupo que se destaca por sua positividade e esperança em
relação ao Brasil e aos brasileiros é composto por mulheres,
pretos/pardos e classes D e E. Esse grupo não apenas deposita
maior confiança na capacidade dos brasileiros, mas também
contribui para a evolução do país ao longo do tempo. Importante
mencionar que ele forma uma parcela significativa da força de
trabalho, criatividade, cultura popular e diversidade no Brasil.
Apesar da falta de infraestrutura, acesso a serviços básicos e
reconhecimento, o verdadeiro potencial de crescimento está na
população do país. Até que esse cenário do “nós e eles” se
transforme, é incontestável que todos sairão prejudicados.
A tendência do brasileiro em se comparar constantemente com
outros países, destacando o pior daqui frente ao melhor de lá,
levanta a questão sobre até quando vamos resistir a abraçar nossa
verdadeira identidade. O famoso “complexo de vira-lata” nos
impede de ganhar algo construtivo nessa comparação. Também
enxergamos o sucesso como algo excepcional, reforçando a ideia de
que nossa norma é o fracasso, não o êxito. É essencial destacar e
valorizar os aspectos positivos do Brasil e dos brasileiros,
colocando-os como fonte de inspiração e projeção positiva.
Histórias de sucesso, inovação, empreendedorismo e conquistas
nas mais diversas áreas existem abundantemente, só precisam ser
contadas e integradas em nosso repertório nacional. Se analisarmos
organizações brasileiras que já nasceram com essa visão de mundo,
também encontramos exemplos de sucesso. Um deles é a Dengo,
marca de chocolate bem alinhada com seu propósito: “Cacau além
do chocolate”. Empresa que nasceu em 2017 para oferecer
chocolates não apenas deliciosos, mas saudáveis e sustentáveis. O
core de seu negócio é o produtor de cacau. A Dengo construiu um
branding muito bem estruturado, com um nome que significa
carinho e cuidado, fala muito do respeito à origem baiana e
entende as necessidades de todas as partes interessadas envolvidas,
reforçando um ecossistema de valor que começa no produtor.
Dengo não é somente um excelente chocolate, mais puro e com
menos açúcar, é uma marca que gera identificação pelo estilo de
vida saudável e sustentável. Seu modelo de negócio engaja todos
em uma nova visão, menos extrativista e mais coletiva. Não tenho
dúvida de que a trajetória de sucesso dessa marca, que ganhou
notoriedade tão rápido, vem do cuidado de pensar em todos os
stakeholders. Um dos objetivos da empresa é dobrar a renda dos
produtores agrícolas. Ela paga cerca de 80% a mais do que o
mercado paga, segundo fontes da empresa. Com essa visão de que
valor se constrói para todos, já abriu mais de 200 lojas em pouco
tempo de existência. Bom para todos que a Dengo possa mostrar
novas possibilidades para essa commodity tão valiosa que é o cacau.
Não é por menos que quem está por trás dessa iniciativa é o
fundador da Natura, o empresário paulista Guilherme Leal, junto
com o Estevan Sartorelli, que veio da empresa e hoje é CEO da
Dengo.

O BRASIL NÃO SÃO OS OUTROS, SOMOS NÓS


A pesquisa aponta que os brasileiros se sentem capazes de
qualquer coisa quando se unem. De fato, temos feitos notáveis que
vão desde o carnaval até a produção agrícola superavançada. Nossa
capacidade de transformar o mundo por meio do trabalho, da
criatividade e alegria é extraordinária. É nesse sentido que vemos e
apostamos na brasilidade como um grande diferencial competitivo,
que faz brilhar uma perspectiva positiva que nos impulsiona: o
problema não reside na falta de valor intrínseco, mas, sim, no
desperdício desse valor.
O Brasil possui todos os elementos para criar empresas capazes
de solucionar uma boa parte dos desafios mundiais. Nossa nação é
enraizada na diversidade, celebrando a antropofagia cultural e
sendo reconhecida por sua criatividade. O desafio e a imensa
oportunidade residem em transformar essa potencialidade em
realidade. Para isso, é crucial superar as constantes mudanças de
direção, os conflitos, o complexo de inferioridade, a falta de
responsabilidade e de visão compartilhada de futuro.

JUNTOS SOMOS MAIS FORTES


Adotando uma postura cada vez mais proativa e responsável
diante de nossos problemas, as pessoas e as organizações têm a
oportunidade de liderar uma nova era na geração de valor no
Brasil. Embora seja um movimento recente, ele já demonstra seu
poder e seus resultados, como evidenciado pelas várias iniciativas
privadas que surgiram durante a pandemia de covid-19 e em torno
de temas como propósito e gestão ESG (Ambiental, Social e
Governança).
Nossa brasilidade, enraizada em nosso DNA, é motivo de
orgulho e uma vantagem competitiva no cenário global, que busca
respostas criativas e inovadoras. Além de seu apelo estético
autêntico, ela abarca um movimento profundo que resgata nossas
raízes, projeta nosso futuro e celebra nossa identidade presente. É
um movimento inclusivo que inteligentemente inventa soluções,
explorando nossos recursos com sensibilidade emocional para
gerar evolução coletiva. Agora, mais do que nunca, é crucial atuar
de maneira intencional e estratégica.
Em 2019, enfrentamos um desafio significativo ao realizar o
rebranding da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).44 Nossa
missão era revitalizar a imagem dessa organização em todos os
aspectos, uma vez que sua marca estava desgastada, sofrendo com
percepções negativas e desconexa da sociedade e de seu público,
especialmente entre as gerações mais jovens. Reconquistar a
confiança das pessoas era fundamental. Assim, nosso objetivo era
consolidar a CBF como uma marca impulsionadora do futebol
brasileiro. Para alcançar esse objetivo, identificamos diversos
desafios em três áreas principais: marca, negócio e comunicação.
Primeiro, era essencial criar um propósito claro que definisse a
direção e os valores da organização. Além disso, era necessário
trabalhar a marca para que ela se alinhasse com as ambições de
futuro da CBF e tivesse um desempenho aprimorado no ambiente
digital.
De maneira mais ampla, também tínhamos o desafio de evoluir o
ecossistema do futebol, envolvendo e engajando federações e
clubes. Isso incluía a necessidade de avançar na internacionalização
do futebol brasileiro de clubes, ampliando sua presença global.
Também tínhamos o objetivo de aumentar o conhecimento público
sobre o trabalho realizado pela CBF, que vai muito além das
Seleções Brasileiras, abrangendo todo o cenário do futebol
nacional.
Com esses desafios identificados, trabalhamos arduamente para
transformar a CBF em uma organização mais relevante, moderna e
conectada com seu público, alinhando-a com as demandas e
aspirações do cenário esportivo brasileiro e internacional.
Todo o processo foi conduzido em comitês de cocriação com o
cliente, com time executivo da CBF e time executivo e criativo da
agência alinhados na construção dessa história. Passamos por um
diagnóstico profundo e pesquisa com torcedores antes de definir as
diretrizes estratégicas para essa marca conseguir efetivamente ser a
fomentadora do futebol brasileiro e de seu impacto na sociedade.
Percebemos a necessidade de trocar a “paixão” pelo “amor” ao
futebol, aquele que cuida, quer ver bem e está disposto a construir
uma relação sólida, mostrando que a CBF pensa o esporte nacional
muito além de uma partida de noventa minutos. A partir desses
insights, emergiu o propósito da CBF: “Fazer do futebol a nossa
melhor brasilidade”. A evolução da brasilidade expressando talento,
alegria, união, coragem, fé, com a disciplina e competência dos
nossos jogadores. Os assets visuais da marca trouxeram expressões
e momentos marcantes da nossa história, além da imagem de
pessoas da vida real praticando o esporte que é para todos.
Mostramos respeito à marca e à sua história, trazendo o novo,
sem abrir mão do passado. Mantivemos a imagem em forma de
escudo, assim como a cruz no centro dele. As faixas ganharam
movimento e se expandiram para criar novas conexões,
expressando a ginga e superação, dentro e fora de campo. Os
grafismos foram inspirados na obra do artista brasileiro Athos
Bulcão, criados a partir de fragmentos do formato do nosso escudo.
Nossas cores ganharam mais força e intensidade, trazendo mais
modernidade para a marca nos meios digitais. A tipografia é
composta por duas fontes desenvolvidas por brasileiros e a tagline
sintetiza o que é o nosso futebol: jogar bola.
Pensando na implementação de toda essa estratégia, nos
momentos em que a marca ganha vida, a CBF se coloca como
protagonista de um ecossistema amplo, vê o Brasil como sinônimo
de talento e competência no futebol e entende que ser inovadora
envolve também recuperar ativos do passado de modo emocional.
Adotar uma postura propositiva acarreta engajamento digital,
entendendo a importância de criar uma central de conteúdo, ver
imprensa e formadores de opinião como parceiros e construir uma
comunicação estratégica com segmentação de seus públicos.
A partir desse projeto, a CBF passou a ter uma marca pronta
para se apresentar de maneira mais consolidada globalmente. Essa
mudança anda em paralelo ao novo momento dos negócios, com
uma gestão que olha para frente, com mais compliance. Adota a
postura de direcionar e propor as conversas com pautas positivas,
se conectar com o público e, em última instância, estar no mundo
de modo diferente, mostrando a nossa melhor brasilidade. Como
resultado, reforça o seu status de ícone nacional, ultrapassando
contextos políticos e até mesmo esportivos.
Sabemos que a realidade dessas mudanças que precisamos fazer
passa por um percurso muitas vezes tortuoso. Mas tendo uma boa
estratégia desenhada é mais fácil de executar, acompanhar e cobrar
a evolução de um branding. Essas mudanças que gostaríamos de
ver na CBF e no futebol, porém, ainda estão longe de se tornar
realidade. Nosso futebol e nosso país podem e merecem mais.

TAKE AWAYS – CAPÍTULO 3


Em contextos intensos é preciso ser intencional. Apenas com
consciência e disciplina é possível gerar valor percebido.
Não é possível valorizar o Brasil sem valorizar os brasileiros: a
brasilidade é uma vantagem competitiva.
O Brasil possui todos os elementos para criar as próximas
empresas capazes de solucionar grande parte dos desafios
mundiais.
Entre as maiores potencialidades do Brasil estão a riqueza da
diversidade cultural, a garra do povo brasileiro, a natureza e as
manifestações da cultura popular, especialmente as festas e o
futebol.
As marcas que mais representam o Brasil valorizam as matérias-
primas nacionais e estão alinhadas com a maneira como nos
enxergamos.
4
A construção do branding

Costumo dizer que o processo de criação de branding (e,


sobretudo, de rebranding) é altamente terapêutico. É o mesmo que
colocar “o negócio no divã”, em uma jornada de consciência e
intenção. O desafio é alinhar quem a marca é, como ela é percebida
e aonde ela quer chegar. O primeiro passo do projeto é entender o
contexto em que ela está inserida, levando em conta os
impulsionadores da marca, as fortalezas que já foram conquistadas;
definir inclusive quais são e seus detratores, ou seja, o que está
tirando valor dela; por fim, refletir a respeito do que pode acelerar
ainda mais seu crescimento. Essa análise chamamos de “decodificar
o valor de uma organização”. Trata-se de um diagnóstico complexo,
que exige conhecimento profundo da dinâmica do segmento do
cliente e do mercado.
Para se destacar no jogo, é fundamental dominar esses conceitos.
Assim como na vida, essa consciência demanda das marcas
autoconhecimento e uma renovação constante. Essa é uma
qualidade intrínseca de marcas inovadoras, contemporâneas e
relevantes. Tais marcas estão sintonizadas com o “espírito do
tempo”, o chamado Zeitgeist, e captam padrões de comportamento
e tendências de mudança, além de habilmente transformarem esses
insights em vantagem competitiva.
É natural surgirem dúvidas sobre como continuar evoluindo.
Essa questão desafia empresas e profissionais a buscarem novas
estratégias e abordagens para se destacarem no mercado. A
concorrência acirrada, a tecnologia provocando transformações em
quase todas as maneiras de fazer negócio e as novas demandas
sociais exigem que as empresas encontrem rapidamente soluções
que as habilitem a continuar relevantes e capazes de resolver as
dores dos seus consumidores.
Nesse trajeto, no entanto, muitas dessas organizações acabam
caindo em falsos dilemas, como “não vou planejar nada, pois tudo
muda o tempo todo”, “preciso lançar esse produto e entrar nesse
mercado, afinal está todo mundo entrando”, “vou estar em todas as
mídias sociais e falar sobre as pautas do momento, senão vou ficar
fora da cabeça das pessoas”, “quero chamar atenção a qualquer
custo”, ou ainda “devo ser ágil e sair fazendo”.
É importante estar atento para não cair nessas armadilhas. E,
nesse sentido, é crucial saber discernir entre a agilidade estratégica
genuína e uma reação impulsiva e automática diante das
circunstâncias e das mudanças que inevitavelmente acontecem.
Muitas vezes, a ânsia por se manter no jogo pode levar a atitudes
precipitadas, que, em vez de impulsionar, são capazes de
comprometer a longevidade, a reputação e o caixa financeiro da
empresa.
Por isso sempre insisto: é preciso refletir, planejar os objetivos
que deseja alcançar em cinco anos, fazendo planos anuais
decupados em ações trimestrais, sempre definindo metas com
resultados mensuráveis. Assim, a organização testa e aprende o que
funciona, resolve rápido o que está destruindo valor e investe no
que pode acelerar o seu crescimento.
Só provamos que a estratégia definida está funcionando se os
resultados vierem. E vou além: esse planejamento deve perpassar
toda a empresa, incluindo o dia a dia da organização. Se houver
essa sinergia de esforços que englobam a empresa como um todo, a
transformação ganha inevitavelmente outra dimensão, impactando
as mais diversas áreas dentro do negócio e gerando valor para
todos.
Se pensarmos nas grandes marcas da atualidade, podemos ver
como o branding foi essencial na construção da identidade de
organizações. A Coca-Cola é um bom exemplo. Sem a estratégia
correta, ela seria apenas uma empresa que vende refrigerantes. No
entanto, bem diferente disso, esse produto acabou virando um
verdadeiro símbolo de momentos de felicidade e de prazer,
identidade amplamente difundida por meio das propagandas em
mais de cem anos de comunicação. Caso parecido com o da Nike,
que poderia ser mais uma empresa de calçados entre tantas outras
que existem por aí. Contudo, nadando contra a correnteza da
mesmice, a Nike se transformou na marca capaz de “despertar o
atleta que existe em cada um de nós”.45
Não é incomum ver alguém em foto, vídeo ou texto declarando
seu amor a uma marca em rede social, mesmo que não haja
qualquer vínculo entre a organização e essa pessoa. A Natura, por
exemplo, é vista como uma empresa que se preocupa não só com a
beleza, mas com o bem-estar das pessoas e do mundo. A Patagônia,
por sua vez, é referência em sustentabilidade. A Apple é geralmente
lembrada como exemplo de design, com produtos que “todo
mundo quer”. E por aí vai.
O que nos interessa aqui, no fim das contas, é o fato de que essas
pessoas vão às redes sociais e usam a própria voz para defender
essas marcas e advogar por elas. É mais do que “publicidade
gratuita”. O que esses consumidores fazem, em linhas gerais, é se
colocar como os próprios representantes de uma organização e dos
valores que ela comunica. Eles se identificam a tal ponto com o
propósito da marca que acabam agindo como “embaixadores”,
contribuindo para uma disseminação orgânica e autêntica da visão
de mundo que ela criou. O resultado dessa sinergia é a geração de
um ciclo poderoso de envolvimento no qual o público não apenas
consome os produtos ou serviços, mas também os utiliza como
extensão da própria identidade e do próprio estilo de vida.
A pergunta que inevitavelmente surge busca responder como
essas marcas conseguem alcançar o status de ícone e se tornar tão
relevantes a ponto de fazerem parte da intimidade de seus clientes,
influenciando modos de vida e moldando tendências culturais. Se
tentarmos definir o que há por trás da construção dessas marcas
em seus respectivos mercados vamos descobrir o branding – aliado
às estratégias de marketing.

NUBANK: A VEZ DE STARTUPS LANÇAREM MÃO DO BRANDING


Antes de mergulharmos de cabeça na construção do branding,
acredito que é importante refletir a respeito das diferentes
oportunidades de aplicação dessa disciplina. De novo, não são
apenas as grandes marcas que podem empregá-lo. Pelo contrário,
as empresas pequenas podem e devem utilizar esses princípios se
desejam se consolidar e crescer. Com essa perspectiva em mente,
antes de me aprofundar nos processos e nas metodologias que
serão abordados nos próximos capítulos, considero de suma
importância examinar também o momento mais apropriado para
adotar as táticas que temos à nossa disposição.
O que tenho observado ultimamente é que o cenário atual é
particularmente propício às empresas emergentes, o que inclui,
claro, as startups. Empregando as ferramentas do branding, essas
empresas menores conseguem se destacar mesmo quando
ingressam em setores já saturados ou muito inovadores. E o motivo
para essa facilidade é relativamente simples: sua agilidade em
tomar decisões, formatar sua estrutura e adequar seu propósito
englobando as pautas em discussão no contexto atual.
A partir de uma definição clara dos valores, propósitos e da
identidade, essas startups podem construir uma narrativa autêntica
e corresponder às expectativas de seu público-alvo. Temos um caso
interessante no Brasil: o Nubank, que chegou para brigar com
grandes players de cartão de crédito e hoje é considerado por
alguns como o melhor banco brasileiro.
A proposta de valor é descomplicar a vida das pessoas. Ajudar a
organizar os gastos de cartão sem cobrança de taxa foi uma
inovação incremental do Nubank que fez toda a diferença na
experiência dos clientes. Além de tudo, foi muito consistente em
construir propriedade com a cor roxa. E continuamos a ver essa
fintech crescer. Hoje é o segundo maior banco digital do mundo,
com mais de 85 milhões de clientes entre Brasil, México e
Colômbia. Abriu capital na bolsa de Nova York em 2021 e no seu
IPO (Initial Public Offering, oferta pública inicial, em português)
atingiu um valor de mercado de 41,5 bilhões de dólares. Muitos
ingredientes de sucesso nessa história que fez em tão pouco tempo
uma marca icônica brasileira.
Empresas pequenas ou recém-constituídas que utilizam as
técnicas do branding levam a vantagem de crescer já sabendo como
se diferenciar sem cair em territórios populosos de concorrentes.
Da mesma maneira, empresas bem-estabelecidas e “maduras”
podem revitalizar sua imagem para fortalecer sua posição no
mercado. Não é raro que essas organizações muito estabelecidas e
fortemente enraizadas em processos, hierarquias e rotinas
consolidadas tenham dificuldade de se adaptar a tantas mudanças.
Em um cenário em que a agilidade e a inovação são cada vez
mais valorizadas, o branding pode atuar como um estímulo à esta
necessária transformação: entendendo a jornada do cliente e
criando uma narrativa de posicionamento, é possível quebrar as
barreiras da rigidez organizacional, fomentando a criatividade, a
colaboração e o foco no cliente.

ATENÇÃO, BRANDING É UM VERBO NO GERÚNDIO


Nunca é demais se lembrar daquilo que pode parecer uma
obviedade, mas é frequentemente ignorado. Branding é uma
palavra no gerúndio, o que indica a sua verdadeira essência: o seu
caráter contínuo, uma jornada de criar e gerir valor que exige
constantes correções de rota. Essa jornada não é como uma partida
ou campeonato de futebol, em que levamos o prêmio para casa no
final. O branding não deve ser encarado como um projeto, mas
como uma disciplina a ser implementada na gestão que muda a
cultura, influencia atitudes e ações e traz uma maneira de gerir os
resultados e evoluir uma organização coerente com seus valores.
Quando avaliamos o sucesso de um branding, devemos nos
atentar a alguns quesitos importantes:
Seu branding é diferenciado o suficiente para se destacar dos
concorrentes? Ninguém quer ser mais um na prateleira do
supermercado, mais um restaurante, mais uma marca de roupa.
Muitas vezes, essa simples pergunta não consegue ser
respondida pelo cliente. O que faz o seu negócio ser único?
Temos respostas como “somos sólidos”, “temos qualidade”,
“nosso time é talentoso”. Nenhuma delas, porém, cria
diferenciação, elas somente o credenciam a estar no jogo.
Sua proposta de valor é relevante para o público e para o
contexto em que a sua marca está inserida? Precisa evoluir algo
na sua proposta que responda às novas demandas do
consumidor? O seu produto ou serviço está respondendo a
alguma dor das pessoas?
A presença da marca é consistente em todos os pontos de
contato? No caso de uma auditoria visual do seu site, da
presença nas redes sociais, na embalagem e em campanhas,
consegue identificar um visual proprietário? Faça esse exercício
tirando o seu logo desse material de comunicação: as pessoas
reconhecem a sua marca mesmo ela não tendo assinado as
peças?
Por fim, o nível de propriedade que seu branding cria é
reconhecido? São o que chamamos de os “inegociáveis equities
de marca”, que devem estar presentes sempre. Isso é chave para
se construir um branding icônico.
A Coca-Cola é um bom exemplo da importância de construir
valores proprietários e de como isso agrega para a organização.
Além da cor vermelha (coke red, na escala Pantone), muitos ativos
foram construídos ao longo da sua história. Em 1915, o advogado
da empresa, Harold Hirsch, organizou um concurso de design para
encontrar a garrafa ideal. Oito empresas de embalagens foram
convidadas a criar “uma garrafa que uma pessoa pudesse
reconhecer apenas com o tato, e que tivesse um formato que,
mesmo quebrado, seria identificável com uma rápida olhada”.
A partir desse briefing foi criada a famosa garrafa da Coca-Cola,
reconhecida mundo afora. A força cultural da marca também é
cheia de significados: alguns dizem que o Papai Noel, o bom
velhinho, é vermelho justamente para tangibilizar o propósito da
Coca-Cola de “proporcionar momentos felizes para as famílias”.
Verdade ou não, fato é que, de novo, nada no branding deve ser
usado sem intenção, pois isso faz a diferença no valor percebido.
A marca Tiffany, por sua vez, tem a caixa azul Tiffany Blue, e o
anel de noivado que vem nessa embalagem virou desejo de toda
noiva americana. Logo, construir equities proprietários para uma
marca, como a escolha de uma cor, design, embalagens, som da
marca e os tipos de imagens que serão utilizadas são fundamentais
para o branding ser icônico. Saber dialogar com o passado, com o
presente e com o futuro é um dos maiores ativos de uma
organização. Olhar para o que foi construído de valor ao longo da
história é saber preservar essa herança e entender o momento certo
para ressignificá-la.
A Disney, por exemplo, é uma marca sinônimo de fantasia e de
sonho, que construiu um universo muito forte de princesas e
personagens com os quais crianças de todo o planeta se
identificam. O mundo das princesas da Disney poderia ter ficado
ultrapassado com a representação da Branca de Neve, que é salva
pelo Príncipe Encantado. As novas princesas da Disney, porém, são
empoderadas e não vivem mais à espera de um príncipe; elas são
corajosas, valentes e mais relevantes do que nunca para as meninas.
Isso é saber dialogar com o contexto, preservando seu patrimônio
de marca.
A Disney continua entendo as novas necessidades da sociedade e
lançou a Ariel como a primeira princesa encenada por uma atriz
preta. Essa decisão foi tão acertada que criou uma comoção em
muitas meninas que nunca tinham se sentido representadas nesses
personagens – estava mais do que na hora dessa questão ser
abordada por uma marca como a Disney.

OLHAR PARA TRÁS PARA OLHAR PARA A FRENTE: O QUE


APRENDER COM A LOUIS VUITTON
Todo gestor de marca precisa ter em mente que não faz sentido
jogar fora a sua história: é a partir dela que estabelecemos
estratégias para contemplar o futuro. Nesse sentido, podemos
aprender muito com marcas de luxo. Elas sabem como ninguém
criar desejo e cobrar por isso. Muitas delas são hoje centenárias e
exemplos vivos de como evoluir com equities fortes, como Chanel,
Dior etc.
Para citar uma das mais valiosas, a Louis Vuitton é um símbolo
dessa visão de mercado.46 Fundada em 1854 na cidade de Paris, a
marca manteve a tradição através de gerações sem perder o olhar
atento ao contexto do momento, e se tornou sinônimo de
sofisticação, elegância e status. Identificando seus ingredientes de
sucesso, podemos destacar, desde a sua origem, a inovação focada
no cliente.
Para que haja essa construção de valor, porém, o
acompanhamento dos resultados é fundamental para medir o
crescimento. Se analisarmos a trajetória da Louis Vuitton, cujos
primeiros passos foram dados por seu fundador homônimo aos 16
anos, perceberemos como o propósito definido lá atrás continua
guiando os rumos da empresa ainda hoje. O jovem observou a
dificuldade de carregar baú em carroças e carruagens, e colocou o
foco em resolver o problema com design mais funcional e
diferenciado, criando novos formatos de baú e malas na vertical.
Como também inventou uma fechadura supersegura, que foi
patenteada e está até hoje em uso.
A Louis Vuitton construiu sua identidade em torno de uma
combinação incomparável de tradição e inovação. Seus produtos
artesanais refletem a herança da marca, enquanto sua capacidade
de se adaptar às tendências contemporâneas mantém sua
relevância no mercado. A assinatura do monograma LV é
instantaneamente reconhecível e transmite um senso de
exclusividade e prestígio, em que se mesclam tanto a herança do
status que seu criador conferiu aos produtos da marca quanto a
ideia de modernidade e atualidade. Uma combinação clássica e ao
mesmo tempo moderna.
Percebendo a importância do marketing de experiência, a
empresa também investiu na criação de lojas impecáveis, as quais
são projetadas para proporcionar um ambiente de luxo, desde a
arquitetura elegante até o serviço ao cliente. Com um território
visual cheio de equities, a marca colabora com uma série de artistas
que fazem a reinterpretação do monograma em diferentes linhas de
produtos. Iniciativa, por exemplo, que trouxe enorme visibilidade
para a marca foi a parceria criativa com a artista plástica japonesa
Yayoi Kusama.
Essa iniciativa repercutiu não só apresentando peças icônicas
reinterpretadas em temas coloridos, como reforçando a ode à arte e
ao trabalho artesanal audacioso. Sob a inspiração de ícones da arte
de Kusama, a coleção apresentou novos temas, como Pumpkins,
Faces, Figurative Flowers e Infinity Dots, presentes em todos os
designs da maison através de materiais incríveis usados nas lojas,
que incluíram até um robô Kusama nas vitrines.
O convite para liderar a linha masculina da marca feito para
Pharrell Williams, um dos músicos americanos mais badalados e
admirados, também mostra a preocupação da marca de estar
conectada com novos públicos, mais jovens e trendsetters.
Contratado como Diretor Criativo, Williams realizou um desfile
para o lançamento de sua nova coleção na Pont-Neuf, em Paris – a
ponte mais antiga da cidade. O artista conseguiu criar, através
dessa ponte, uma metáfora que unia os mundos da cultura pop e da
alta costura. Entre os convidados estavam ninguém menos do que
Rihanna, Beyoncé, Jay-Z, LeBron James, Lewis Hamilton, Omar Sy
e Paul Pogba. Um elenco de peso. Com sua nova linha, Williams
trouxe novos ares para a marca, ressignificando, inclusive, os
quadrados típicos da Louis Vuitton.

O QUE NÃO SE PODE MEDIR NÃO SE PODE GERIR: ACOMPANHAR


RESULTADOS É PREMISSA PARA GESTÃO DE VALOR
Se evoluir seu negócio é uma máxima, acompanhar e monitorar
os resultados, analisando constantemente o feedback dos
consumidores e fazendo ajustes na rota, se torna uma premissa.
Para isso, é fundamental que toda a empresa esteja atenta, antes de
mais nada, aos KPIs (Key Performance Indicators, ou Indicadores-
Chave de Desempenho, em português).
Os KPIs são, em resumo, métricas quantificáveis que permitem
avaliar o desempenho de uma empresa de maneira mais objetiva.
Esses indicadores sempre foram muito importantes para gestão
financeira, hoje são igualmente necessários para gestão de marca,
negócio e comunicação. Com dados precisos em mãos, é possível
aferir o crescimento, a eficiência e a rentabilidade de uma
estratégia. Ou mesmo se a organização precisa de uma correção na
rota.
Para acompanhar os KPIs de branding, definimos indicadores de
marca, entendendo o nível de reconhecimento que ela gera pelos
atributos da personalidade. Se o consumidor se identifica e percebe
claramente sua visão de mundo. Com os indicadores, é possível
avaliar também como seu propósito impacta positivamente a
percepção dos consumidores.
Com os KPIs de negócios, podemos medir o que chamamos de
churn (perda de cliente). É crucial observar se o esforço de
conquistar novos clientes pode estar sendo em vão; ou cross sell
(venda de outros produtos para o mesmo cliente), outra premissa
relevante para medir fidelização; e NPS (Net Promote Score), que
testa o nível de satisfação do cliente. Já na comunicação,
precisamos identificar se os diferenciais do produto estão sendo
bem comunicados, assim como se as campanhas estão gerando
conexão emocional. Os ajustes não são só nos esforços de
comunicação, mas na jornada toda, avaliando o funil de
relacionamento desde o conhecimento, consideração até a
conversão e fidelização do consumidor.
O branding pode influenciar diretamente diversos KPIs-chave.
Por exemplo, um rebranding que alinha a empresa com valores
sociais relevantes pode aumentar a lealdade do cliente. Na prática,
além de monitorar o resultado de estratégias e ações que
determinada organização adota, é possível observar os KPIs mais
sensíveis e como sua marca está frente aos concorrentes para fazer
ajustes necessários em tempo real.

O JOGO EXPONENCIAL DOS ECOSSISTEMAS


As empresas precisam ter clareza sobre o seu papel para
construir ecossistemas envolvendo diversos atores e, assim,
contribuir e compartilhar impactos positivos.47 Analisando de novo
o caso do Google, que tem o propósito de “organizar as
informações do mundo”, percebe-se como o buscador expandiu
enormemente para uma série de serviços a partir dessa visão de
mundo. Google Maps, Google Translator, Google Earth, Chrome e
muitos outros que podemos identificar pelos ícones coloridos que
remetem à marca mãe.
O modelo de negócios em que uma empresa se preocupa
somente com criar produtos e vendê-los aos consumidores está
ultrapassado. É preciso dar lugar ao formato em que a empresa se
concentra na construção de ecossistemas mais amplos, deixando
para trás a visão de cadeia de produção.
É dessa maneira que saímos de uma estrutura centrada na
organização – mais transacional, segmentada e passiva – para um
modelo de ecossistema, com atores independentes que trabalham
integrados, trocando experiências e aprendendo uns com os
outros. E quanto mais rico e denso esse ecossistema, maiores são a
vantagem competitiva de uma organização e a consequente
fidelização do consumidor. A premissa desse jogo é transcender a
simples cadeia de produtos-consumidores, atuando em prol de
uma abordagem voltada para a visão de ecossistema.
É claro que construir um ecossistema saudável e próspero não é
fácil. E isso acontece porque não basta se cercar de “parceiros” e
extrair deles o que você precisa. A estratégia-chave aqui deve ser o
“ganha-ganha”, na qual todos os participantes com papéis claros e
bem definidos trocam valores. Desse modo, todos os agentes
envolvidos e conectados à rede em que consiste esse ecossistema se
beneficiam da parceria, refletida no coletivo. É a lógica do
desenvolvimento em rede, no qual as plataformas abertas e as
empresas se relacionam para construir o melhor produto/serviço.
Muitas vezes, os atores competem, cooperam e retroalimentam as
mudanças.
Esses ecossistemas cada vez mais poderosos também trazem
desafios, e um bom exemplo foi o confronto entre a Epic Games,
criadora do jogo Fortnite, e a Apple. A Epic desafiou as regras da
App Store ao oferecer um método de pagamento alternativo com
preços mais atrativos, evitando a taxa de 30% cobrada pela Apple.
Isso resultou na remoção do jogo da App Store e no início de um
processo legal, acusando a Apple de operar um monopólio. Essa é a
guerra que estamos vendo cada dia mais acirrada. Grandes
ecossistemas cercam seus consumidores e concorrem às vezes de
maneira desleal, dificultando alternativas independentes de
crescerem.
Assim, podemos compreender a complexidade gerada por esses
sistemas de ator. É tudo questão de saber acompanhar e adequar as
estratégias que apontam para propósito e engajamento gerando um
ecossistema. Nos últimos anos, temos presenciado empresas,
principalmente de tecnologia, expandirem enormemente a força
dos seus ecossistemas, em uma tendência que está criando grande
concentração de poder e uma série de dificuldades para quem está
de fora. Por exemplo, Spotify versus Apple Music?48 Quem ganha
essa quebra de braço? Vamos acompanhar esse filme, afinal, ele
ainda não terminou.

O DESAFIO DE FIDELIZAR O CORAÇÃO E O BOLSO DO CLIENTE


Captar novos clientes pode ser uma tarefa muito complexa, o
que acaba tornando fundamental que você preste atenção e cuide
bem daqueles que você já tem. E dentro dessa perspectiva de criar
um bom relacionamento com seu cliente, existem também
maneiras de garantir a fidelidade do bolso dele. Uma delas é por
meio do conceito de rundle, serviços por assinatura que geram
receita recorrente. Trata-se de uma tendência que tem dado bons
resultados e que temos visto ganhar força nos últimos anos com o
aparecimento dos clubes de entrega de ovos, livros, vinhos etc.
Um caso interessante é o do clube de assinaturas Dollar Shave
Club, que comercializa produtos de barbear. A marca lançou uma
assinatura mensal para homens receberem compras em casa. Com
um branding bem disruptivo e uma proposta de valor diferenciada,
a empresa, que surgiu nos EUA em 2012 e teve um investimento
inicial de 35 milhões de dólares, foi comprada quatro anos depois
pela Unilever por 1 bilhão de dólares. Àquela altura, com mais de
3,2 milhões de pessoas integrando o clube. Para a Unilever, essa
compra tinha dois objetivos: entrar com um modelo novo de venda
direta para o consumidor, que é uma tendência para driblar o
varejista, e ter uma vantagem competitiva frente à sua concorrente
P&G, dona da marca Gillette.
Outro fator importante para crescimento é evoluir a sua oferta
de serviços para o mesmo cliente. São os chamados bundles, um
agrupamento de serviços que também está sendo adotado por
diferentes segmentos para gerar receita recorrente. Por exemplo: a
operadora do seu celular passou a vender também internet e TV a
cabo. O melhor exemplo desse tipo de plataforma é o da Amazon,
que expandiu sua oferta para muito além das compras, incluindo
serviços como Amazon Prime e Audible. Para os clientes há uma
vantagem substancial com esse sistema: a partir de uma despesa
mensal, o usuário tem direito à utilização dos diferentes serviços de
que a plataforma dispõe.

OMNICHANNEL: A INTEGRAÇÃO DA JORNADA DO CLIENTE AOS


CANAIS DE VENDA E COMUNICAÇÃO
Essa batalha pelo consumidor é um exemplo de como a oferta de
pacotes completos de serviços está mudando a dinâmica entre
empresas e plataformas, e de como essa estratégia impactou o
mercado, criando tanto oportunidades quanto desafios. O fato é
que estamos todos em uma corrida acelerada para criar mais
relevância para as marcas, fidelizar clientes e expandir
ecossistemas. Para isso, os canais de venda e de comunicação
devem estar em perfeita harmonia, isto é, não devem gerar ruídos
para o cliente, em uma abordagem que chamamos de omnichannel.
É impressionante como mudou a jornada de compras nos
últimos trinta anos, desde as lojas-conceito como a NikeTown,
vieram o e-commerce, a compra pelo Instagram e WhatsApp.
Sabemos que não se deve negligenciar essa oportunidade de
facilitar e expandir a experiência de compra. Nesse contexto, a
pluralidade de canais de venda que toda marca deseja está
disponível para todos os tamanhos de negócio. Porém, para que
essa jornada seja fluida e sem confusões, é preciso estarmos atentos
à estratégia de omnichannel.
O objetivo principal aqui é oferecer uma experiência unificada e
consistente aos clientes, independentemente do canal que eles
escolham para interagir com a marca. Nesse modelo, os diversos
canais de contato, entre lojas f ísicas, on-line, aplicativos móveis,
redes sociais e atendimento ao cliente, entre outros, estão
interligados e compartilham informações em tempo real. Isso
permite que os clientes possam começar uma interação em um
canal e continuar em outro sem perder o contexto ou a qualidade
da experiência.
Um bom exemplo é um cliente que realiza uma pesquisa por um
produto no site da empresa, depois visita a loja f ísica para ver
pessoalmente esse produto e, em seguida, finaliza a compra por
meio de um aplicativo móvel. Em um sistema omnichannel bem
implementado, todas essas etapas acontecem de modo
sincronizado e sem lacunas na comunicação. Essa abordagem não
apenas melhora a experiência do cliente, mas também aumenta as
chances de conversão e fidelização, uma vez que a marca se mostra
acessível em todo o processo de compra.

HAVAIANAS E O DESAFIO DE SER UM ÍCONE GLOBAL


É fundamental nos negócios do século XXI ter um mindset
global, criando, desde o início da organização, estratégias que
apontem para oportunidades que vão além da sua região. Um de
nossos casos mais recentes de marca preocupada com esse desafio
foi o da empresa brasileira Havaianas.49 Não é preciso dizer muito
para expressar a grande responsabilidade que tínhamos pela frente
com essa empresa ícone no Brasil – e, de certa maneira,
entrelaçada à própria ideia de brasilidade.
Antes considerada uma marca de chinelos de baixo custo,
tradicionalmente direcionada para o público das classes C e D, a
Havaianas passou por uma transformação ao longo do tempo,
adaptando-se a um estilo de vida mais casual e encontrando seu
espaço no mundo. Ela transcendeu sua associação meramente
econômica, adquirindo significado e relevância para além do
aspecto do preço.
A história da marca mudou totalmente durante a Copa do
Mundo de 1998, realizada na França, na qual o Brasil era
considerado um dos favoritos para a vitória. Antecipando um
possível triunfo brasileiro, a Havaianas enviou chinelos com a
bandeira do Brasil para a França. A nossa Seleção, no entanto, não
levou a taça. A empresa decidiu, então, distribuir as sandálias pela
França, revelando, naquele momento, o potencial de sua marca. Foi
aí que a organização deu início ao trabalho de expansão global.
Quando a marca expandiu seu footprint global, cada mercado se
comunicava de uma maneira, sem os princípios de gestão de marca
definidos, criando comunicações muito distintas. Não existia até
pouco tempo uma gestão de branding centralizada, e isso gerou
muitas percepções diferentes da Havaianas pelo mundo. Fomos
acionados para dar consistência e propriedade à percepção global
da marca.
Realizamos diversas pesquisas internas e externas para coletar
insumos suficientes e entender como a marca era percebida. Com
isso, queríamos decodificar o código genético que a diferenciava e a
tornava única. Com esses dados em mãos, identificamos o fio-
condutor de todo o trabalho: o espírito da liberdade. O objetivo,
então, foi trazer uma abertura que convidasse as pessoas a abraçar
a vida ao ar livre, celebrando diversos estilos e despertando a
curiosidade para um espírito mais leve e colorido.
Precisávamos comunicar também a expansão de produtos muito
além da sandália de dedo original. Criar uma gestão global de uma
marca brasileira é criar uma nova ordem de comando do Brasil
para fora. Para criar as diretrizes de branding, definimos o
benef ício funcional do produto, considerando que eles são “um
respiro para o nosso corpo, dos pés à cabeça”, e chegamos ao
benef ício emocional, pelo qual a marca “nos faz sentir livres e
libertos de amarras”.
A partir dessas premissas, construímos uma narrativa genuína
que corrobora com a história da marca. Foi assim que conseguimos
propriedade e consistência para dar os próximos passos:
identidade, experiência e portfólio. Criamos um sistema único
global para o universo visual e verbal, no sentido de gerar
consistência e diferenciação em qualquer ponto de contato da
marca ao redor do mundo. E aqui a nossa estratégia foi
potencializar o caráter de elementos que a marca já havia
construído ao longo dos anos, mas que ainda não estavam
articulados de maneira estratégica e intencional.
Nos apropriamos das cores do arco-íris em diferentes
intensidades e do formato do chinelo para criar e fortalecer o
universo colorido, vibrante e versátil definido na sua personalidade.
O visual foi desenvolvido de maneira sensorial para transmitir
conforto e estilo mais fashion; a comunicação, direcionada de
maneira clara e simples, com flexibilidade para conviver com
diferentes co-brandings – já que Havaianas é colaborativa na
criação com uma infinidade de outras marcas e contextos.
Reforçamos também o território de comunicação de viagens,
moda, praia e uma vida despreocupada. A narrativa da campanha
valoriza a energia natural e espontânea das pessoas, donas de
corpos livres para sentir, dançar, explorar, celebrar a diversidade e a
criatividade, refletindo uma marca com verdadeiro espírito de
brasilidade. No design, reforçamos ainda a fluidez e as linhas
curvas identificadas com a marca e o Brasil.
Mas o desafio da Havaianas continua. Criar regras para
simplificar e dar consistência aos diversos usos da comunicação,
elevar a percepção de valor para uma marca de moda e expandir o
território de chinelos para roupas foi um bom começo. O jogo
agora é a disciplina de execução para chegar a uma Havaianas
icônica global.

TAKE AWAYS – CAPÍTULO 4


Branding é um verbo no gerúndio, o que indica seu caráter de
jornada contínua para gerar e gerir valor.
Quando os clientes disseminam de maneira orgânica a visão da
marca, cria-se um envolvimento poderoso em que os produtos e
serviços são incorporados à sua própria identidade. São os
chamados “embaixadores de marca”.
Tanto as grandes organizações quanto as empresas pequenas
podem e devem utilizar os princípios do branding se desejam
crescer e se consolidar no mercado.
O que não pode faltar na construção de branding: olhar para
trás para olhar para a frente, enxergando o valor na sua história
para evoluir.
Gerir valor é medir e acompanhar. Métricas de marca, negócio e
comunicação são fundamentais para uma boa gestão.
O cliente é dif ícil de conquistar. Portanto, uma vez feito isso, a
missão é fidelizar o consumidor oferecendo novos formatos de
serviços por receita recorrente – rundle – ou pacotes de
serviços com vantagem na compra completa – bundle.
A jornada do cliente é única – logo, ser omnichannel não é mais
uma escolha, é palavra de ordem.
Nascer com a mentalidade de ser uma marca global pode
expandir os horizontes.
5
Quando é hora de um rebranding?

O processo de branding pode servir a diferentes finalidades, em


momentos distintos da organização. Em geral, a necessidade de
transformação, ou rebranding, surge quando uma empresa enfrenta
desafios estruturantes, como o de lidar com uma imagem de marca
obsoleta, falta de identificação com seus clientes ou mudanças
significativas no mercado e na concorrência. No momento em que
os sinais se tornam evidentes, é hora de considerar a estratégia. O
desafio dos empresários é saber reconhecer o momento certo de
apostar nessa jornada.
Podemos ainda fazer uso do rebranding quando a organização
busca expandir sua atuação para novos mercados e públicos. Ou
mesmo quando uma empresa controladora compra ou se junta à
outra menor. Nesse caso, nosso papel é potencializar o melhor das
duas. Precisamos entender qual marca tem mais valor e melhor
representa o novo momento. Essa decisão não deve ser precipitada.
Deve ser um processo cuidadosamente planejado e executado para
garantir que a empresa se mantenha relevante para todas as partes
envolvidas.

O DESAFIO DE AMPLIAR A TEIA DA REDE DE MÁQUINAS DE


CARTÃO NO BRASIL
O rebranding também tem papel importante quando uma
empresa recebe investimento de um fundo de Venture Capital e
deve implementar um plano, em geral de cinco anos, para mudar
de patamar e preparar-se para abrir o capital na Bolsa de Valores
(IPO). A marca, afinal, é um dos principais ativos levados em conta
por investidores.50 Um caso importante em que atuamos foi o da
marca Rede, que operava as maquininhas de pagamento do Itaú,
inserida então em uma complexa trama de concorrentes.
Como em uma ciranda, o PagSeguro compete com o Itaú que,
por sua vez, também compete com iFood, e por aí vai. Em um
cenário em que não é fácil mapear a concorrência, precisamos estar
muito atentos para entender quem pode atrair o bolso e o coração
do nosso cliente. À época, a Rede, ainda chamada de Redecard, era
uma empresa de capital aberto.51 Sua história começa em 1970,
quando foi fundada como Credicard, uma empresa conjunta do
Citibank Brasil, Itaú e Unibanco. É importante lembrar que, há
cinco décadas, o mercado de maquininhas era muito mais regulado
e fechado do que hoje. Redecard aceitava apenas cartões de
bandeira Mastercard, seguindo os passos da Visanet, que só
aceitava cartões com bandeira Visa.
Essa situação, porém, estava prestes a mudar radicalmente. Em
março de 2007, o consórcio Redecard, constituído também pelos
acionistas controladores, foi encerrado. Desse modo, seus ativos,
direitos e suas obrigações foram integralmente transferidos para a
Redecard que, em junho do mesmo ano, abriu seu capital na
Bovespa. A oferta movimentou cerca de 4,07 bilhões de reais,
acima das expectativas iniciais, de 3,16 bilhões. O IPO marcou a
saída da Mastercard do capital da adquirente e foi um ponto de
virada dessa história.
Nesse novo momento, já em 2009, chegava ao fim o contrato de
exclusividade firmado entre a Redecard e a Mastercard, em um
esforço do CADE de quebrar o até então duopólio existente no
mercado de adquirência brasileira. Assim, em julho de 2010, a
empresa passou a aceitar cartões de bandeira Visa. No embalo de
tantas mudanças, em outubro de 2012, a companhia deixou de ser
uma empresa de capital aberto e tornou-se subsidiária integral do
Itaú.
Em 2013, nesse momento de completa ruptura, o processo de
rebranding bateu à nossa porta. Além do contexto interno, o
mercado também estava evoluindo: os pagamentos digitais estavam
chegando com toda força. Sem dúvidas, era hora de agir. Mas o que
fazer, então? A resposta foi preparar a Rede, que já era sinônimo de
máquina de cartão, para uma atuação mais ampla, que incluísse
serviços de pagamentos para os varejistas. Além disso, criamos
uma logomarca que potencializasse a visão de futuro, e “Rede” nos
parecia perfeita para isso.
No entanto, isso também significava perder o que poderia ser
uma referência na percepção da marca: Cartão (“Card”). Depois de
muita análise, considerando sobretudo que o formato em plástico
estava com os dias contados, definimos por “Rede” e trabalhamos
para que ela fosse uma marca mais moderna, trazendo a cor laranja
para criar sinergia com o Itaú. Desde então, o mercado evoluiu
muito, e novos players entraram no jogo, mas a Rede é até hoje
uma referência de solução para o lojista e fortalecida pelo
ecossistema do Itaú.

TRANSFORMANDO A COSAN: DO ÁLCOOL E ETANOL PARA


REFERÊNCIA GLOBAL
Em muitos casos, a decisão por uma fusão ou aquisição forçará
escolhas delicadas. Qual o melhor cenário para permitir que duas
marcas coexistam? Absorver e descontinuar uma delas ou criar
uma nova que representa a integração entre as duas? Nesse tipo de
situação, a proposta de valor se expande para novas ofertas e novos
segmentos. Aqui é fundamental que a narrativa reflita o passado,
mas também aponte o futuro da nova organização.
Interessante analisar a jornada da Cosan,52 uma empresa que
nasceu em 1936 de uma usina de cana-de-açúcar e que, com a
ambição e visão de negócio do seu líder, tornou-se um dos players
mais importantes do Brasil no mundo. Em 2008, com a compra da
Esso no Brasil, a Cosan teve, com a nossa ajuda, a primeira
oportunidade de mudança, incorporando a cultura empreendedora
e a disciplina de processo herdados da empresa global de petróleo.
Nesse momento, definimos o papel importante de crescer no
mercado de energia, trazendo a nova marca azul e verde, e criando
significado para refletir o crescimento sustentável de um player
global.
Dois anos depois, mais um desafio: juntar-se à Shell para somar
forças – da produção de energia verde do álcool para o posto de
gasolina. Nasceu, então, a Raízen, nome que reflete a proposta de
valor “Raiz da Energia”. Pensado também em associação ao verbo
to raise (crescer), do inglês, o nome foi colorido de roxo para
simbolizar a cana-de-açúcar, trazendo ainda a letra Z como
significado para “potência matemática”. Gol de placa: hoje, Cosan e
Raízen são as maiores companhias do setor no Brasil. Ambas
listadas na bolsa, não param de crescer.
Nesse processo de evolução, a Cosan tornou-se uma das maiores
corporações do Brasil e tem sob sua gestão marcas que geram mais
de 20 bilhões de reais. Além de Raízen, cuida da Moove, Rumo,
Compass e Vale. Com crescimento sustentável ao longo dos anos,
sua atuação está nos setores de maior potencial do país que, sob
sua gestão, torna esses ativos irreplicáveis: energia renovável,
agronegócio, óleo e gás, mineração e crédito de carbono.
Em 2023, fomos convidados a revisitar o branding da Cosan e
avaliamos como esse potencial todo poderia ter uma percepção
mais alinhada com colaboradores, investidores e a sociedade. Após
um diagnóstico que investigou a visão que públicos interno,
externo e o mercado têm da marca, entendemos que a Cosan era
percebida aquém do seu potencial. Havia ali uma grande
oportunidade para dar maior clareza ao seu modelo de gestão a fim
de posicionar a empresa como líder e referência no cenário global.
Para apresentar o seu real valor, partimos de três premissas: criar
um propósito simples e potente para direcionar o futuro da
empresa, mas sem engessar seus negócios e suas futuras aquisições.
E propusemos “o jeito de fazer Cosan” como referência de gestão
para o país.
Reforçamos os atributos de personalidade “empreendedora,
responsável, ousada e realizadora” para traduzir o jeito de ser da
empresa. Em diretrizes claras para o negócio, consolidamos um
modelo de gestão que combina investimento com excelência
operacional. E evidenciamos a construção de relações que
equilibram estratégia com gestão, resultados imediatos com os de
longo prazo junto aos colaboradores, parceiros e investidores. Um
mundo ideal. Não tinha por que fazer por menos.
Substituímos o discurso ESG pelo de Responsible Print Cosan,
um termo proprietário que direciona e integra as práticas
sustentáveis, éticas e transparentes da empresa. Para mensurar o
valor do negócio, definimos diferenciais que traduzem um jeito
único de fazer: uma investidora que aposta nas potencialidades
brasileiras e reúne grandes lideranças para levar negócios ao seu
máximo potencial. O posicionamento inspira pelo exemplo e é
sintetizado na tagline “Faz acontecer”, mostrando a força da marca
como agente de transformação.
Para expandir a exposição da marca, uma estratégia integrada de
mídia planeja levar a mensagem para públicos-chave no Brasil,
Estados Unidos, Emirados Árabes e Europa. Partindo de um marco
inicial, o Cosan Day, evento voltado para analistas e investidores, o
primeiro momento da estratégia é pautado em contar o que Cosan
faz acontecer, mostrando como a marca impulsiona as
potencialidades do Brasil. De empresa gigante para país gigante.

A DIFÍCIL DECISÃO DO MOMENTO DE MUDAR DE NOME: LEVEROS


E ENAUTA
Muito importante também é entender para onde a organização
pode crescer e se o nome da empresa é uma âncora que está
dificultando esse novo momento. Em geral, isso acontece quando a
marca não representa mais a organização, e o seu nome está
vinculado a algo que não mais reflete o negócio. Um caso
emblemático dessa situação é a mudança da Telefônica que, no
Brasil, virou Vivo. Dar um nome muito vinculado a um produto é
sempre um risco grande. Como nas últimas décadas o telefone
perdeu a relevância na vida das pessoas, a empresa precisou
expandir os seus serviços, e o nome não comportava mais essa
nova fase. Logo, a definição de um nome deve contemplar muito
mais uma visão de mundo mais ampla do que focar o seu produto.
Trabalhamos em um desafio muito representativo desse
contexto. Idealizada por Tiziano Pravato, a empresa Leveros53
nasceu como Gelosom, uma prestadora de serviços autorizada pela
Brastemp. Em 2005, passou a se chamar Multi-Air. Mas essa marca
não preparou a empresa para alcançar todo seu potencial. Era a
marca líder do segmento de climatização no Brasil, com uma
história de trinta e nove anos, e passava por um grande momento
de transição: a entrada do Fundo de Investimento 2bCapital e a
estruturação de novos serviços e negócios.
Pioneira em seu segmento na atuação em e-commerce, a Multi-
Ar quis concretizar sua ambição de ser a marca referência em
climatização tanto para o público B2B quanto para B2C. O desafio
era fazer a marca se destacar e abordar as questões típicas de um
mercado com baixíssima diferenciação e alta informalidade, que
fazia com que todos os integrantes de seu ecossistema, em especial
o cliente e o instalador, saíssem prejudicados. Apesar de ser
invisível para o consumidor final, a Multi-Ar já era referência
positiva para fabricantes, varejistas e instaladores, sendo estes os
maiores influenciadores da decisão de compra do consumidor final.
Enxergamos um grande potencial não só em ampliar sua atuação,
mas mudar a percepção de valor de um serviço que parecia estar
deixando dinheiro na mesa.
No entanto, o mercado, guiado pela guerra de preços e pela
agilidade de entrega do produto, dificultava uma maior fidelização
dos instaladores, que se sentiam desamparados na hora de resolver
problemas com o consumidor final e sem voz perante as grandes
empresas fabricantes e varejistas. Mudar esse cenário era a grande
oportunidade para colocar a Multi-Ar em um novo patamar. Suas
características mais fortes mostraram o caminho: seu
“profissionalismo, proximidade e prazer em servir” deveriam ser o
centro de tudo o que a marca faz.
Além de se propor a resolver ativamente as questões do
ecossistema do qual faz parte e elevar o nível de seus serviços, a
Multi-Ar deveria ser exemplo para seus parceiros, inspirando e
exigindo mais profissionalismo, excelência e simplicidade para,
assim, conquistar a confiança do consumidor final e contribuir para
a transformação do mercado.
Sendo assim, o nome Multi-Ar, descritivo e genérico, precisou
ser revisto para que traduzisse sua nova promessa. Passou então a
chamar-se Leveros, criado a partir do anagrama, ou transposição
de letras, da palavra “resolve”. Desse modo, “Leveros” traduz de
maneira simples e direta a proposta da marca: resolver as questões
do mercado por meio de profissionalismo, simplicidade, serviços
de excelência e parceria que gera negócios e, de fato, facilitando a
vida dos instaladores. Recomendamos a mudança de nome, mesmo
sabendo que não estava no escopo da contratação. Na época, o
CEO Tiziano Giordano Pravato Filho nos confessou ter ficado um
mês sem dormir para conseguir se decidir por uma mudança tão
radical. Tudo isso aconteceu em 2017 e, desde então, essa decisão
se mostrou acertada.
Baseada no conceito de transição, tanto da marca quanto do
negócio, a nova versão equilibra leveza e robustez, com letras e
cores que transitam do pesado para o leve conforme a mudança de
temperatura. Seu universo visual é repleto de grafismos cuja
intenção foi transmitir seriedade e profissionalismo, mas também
conforto e acolhimento, além de diferenciá-la dos códigos típicos
da categoria. A partir de todas essas mudanças, a empresa ampliou
sua atuação e vem crescendo com consistência e diferenciação.
Olhando para os projetos de casa, um caso relevante nesse
contexto foi o rebranding da Enauta, a antiga QGEP – Queiroz
Galvão Exploração e Produção. Única empresa do grupo com
capital aberto na Bolsa, tinha uma série de desafios para evoluir seu
negócio e desvincular-se da família. Com o olhar no cenário
mundial, nas demandas da sociedade e na vontade de mirar no
futuro, recebemos o desafio de criar a sua nova estratégia de
branding, alinhando marca, negócio e comunicação. Para isso, o
projeto respondeu a três perguntas:
Como a marca da empresa pode potencializar o negócio e criar
novas associações sem perder a credibilidade conquistada ao
longo dos anos?
Considerando as mudanças no mercado de Óleo & Gás no
Brasil e no mundo, qual a estratégia de negócios que garante a
sustentabilidade da QGEP?
Como estabelecer um relacionamento com os públicos de
interesse de modo a ganhar relevância em um mercado B2B?
Foram entrevistados executivos, parceiros estratégicos, clientes e
líderes de comunidades locais onde a empresa atua. Fizemos um
estudo profundo da concorrência e benchmarks. A estratégia de
branding foi pautada no desafio de negócios da empresa, que
expande o posicionamento do segmento de Óleo & Gás para o de
Energia. Visando posicionar a organização de maneira mais
estratégica no ecossistema, embarcamos na desafiadora missão de
criar um novo nome e uma nova marca.
O trabalho foi desenvolvido em completa colaboração entre
cliente e agência, unindo o time da agência com o presidente,
membros do conselho e executivos da QGEP. Assim nasceu a
Enauta.
Inspirados nos “argonautas”, criamos os “navegadores de energia”,
um nome diferenciado que reforça os atributos da marca,
apontando para o compromisso com o mercado de energia no
Brasil e no mundo.
Reforçamos os seus diferenciais de serem experts em águas
profundas, já construídos no segmento de Óleo & Gás, para refletir
o novo momento. A nova marca cria associações relacionadas à
coragem e à expertise que refletiu o caminho de sucesso na
exploração e produção de ativos nos últimos vinte anos, além de
reforçar o comprometimento histórico com ações de
sustentabilidade.
Assim, fortalecemos a intenção da marca de seguir em busca da
energia de que o mundo precisa, e também o orgulho de uma
empresa que é expert no território brasileiro e que acredita no
poder de novos começos.

UMA AQUISIÇÃO, DUAS CULTURAS: A ELETROMIDIA E SUA


AMBIÇÃO DE EXPANDIR NO SEGMENTO
Outro bom momento que ilustra a melhor hora para rebranding
é o trabalho feito para a Eletromidia,54 que começou um grande
plano de expansão do negócio comprando a concorrente Elemidia.
A empresa consolidadora é um dos principais players de mídia
OOH (Out Of Home), isto é, focada em publicidade feita em
ambientes de movimentação pública, como banners e cartazes em
prédios, metrôs, ônibus etc., que visa alcançar as pessoas em seus
trajetos diários. Ao adquirir a Elemidia, ela acabou se tornando
uma das maiores da América Latina. Um feito e tanto, diga-se de
passagem. Para garantir que essa fusão entre as duas marcas unisse
o melhor de cada uma, era necessário um trabalho aprofundado e
bem elaborado, cuja empreitada compreendesse as diversas
complementaridades, além das oportunidades e dos pontos de dor
a serem melhorados.
Diante desse cenário, compreendemos que seria preciso agir em
pelo menos três frentes: a primeira seria trazer à tona os grandes
diferenciais de cada uma, para tornar a nova mais relevante e
presente na vida de seus públicos. Isso permitiria a construção de
um relacionamento saudável não só com os anunciantes, mas
também com as agências. Em segundo lugar, entendemos que seria
primordial conversar com o consumidor final – e não só com os
anunciantes –, como de hábito das marcas do mercado mais
tradicional. E, por último, entendemos que seria importante
construir uma personalidade que refletisse uma marca com estilo
de vida urbano e criasse essa conexão com os transeuntes da
cidade. Eletromidia não seria somente uma janela, uma tela em um
ponto de ônibus, mas uma marca que colaborasse para que as
pessoas tivessem uma “rotina extraordinária”.
Ao longo do diagnóstico, percebemos quão admiradas eram
essas marcas e como havia potencial e vontade de fazer diferente.
Com esse esforço a muitas mãos, chegamos ao propósito da
organização: “tirar a mesmice do caminho”. Definimos que a
proposta de valor seria trazer uma jornada completa com métricas
e tecnologia de ponta, e seu posicionamento se refletiria na tagline
“Urban Conection”. Foi por esse motivo, portanto, que criamos um
símbolo inspirado em mapas e esquinas de ruas, trazendo, assim, o
lado pulsante de estar nesses locais de trânsito.
O objetivo era construir uma marca com personalidade forte e
que representasse o estilo de vida das ruas, descolado e energético,
com grafismos e cores que remetessem diretamente a ícones
urbanos, como a faixa de pedestres e os semáforos. Uma marca que
“chegou chegando”, abrindo caminho para o negócio crescer. Todo
o trabalho estratégico e criativo foi pensado para consolidar a
Eletromidia como uma marca que é, de fato, diferente dos seus
concorrentes tradicionais do mercado B2B.
O que percebemos, porém, é que muitas vezes a oportunidade
está justamente em quebrar essa premissa do mercado B2B e gerar
relevância para o consumidor final. Deixando, assim, de ser uma
venda de tela e passando a ser uma plataforma de comunicação que
está integrada na jornada das pessoas: do elevador até o ponto de
ônibus. É aí que está o valor: uma empresa que traz dados e
tecnologia para o anunciante com gestão de métricas claras, de
com quem e onde a marca pode se comunicar.
A aquisição da Elemidia foi em 2020. O IPO ocorreu menos de
um ano depois, em janeiro de 2021, tornando-se a primeira AD
tech (de tecnologia da publicidade) a entrar na Bolsa de Valores do
Brasil. Em 2023, além de ter feito novas aquisições,
complementando todo o inventário por regiões, a empresa atraiu
novos sócios de peso, foi a que mais valorizou suas ações e
melhorou seus resultados, superando os tempos dif íceis em que as
ruas ficaram vazias, perdendo a receita dos anunciantes. Isso só
comprova que, em tempos de crise, é hora de se mexer.

FIAT: QUANDO PERDEMOS A LIDERANÇA, É HORA DE APERTAR OS


PARAFUSOS
Nem sempre o rebranding é motivado por um elemento externo
que entra para o jogo. Às vezes, o desafio está dentro de casa. Se
uma empresa não cresce ou perde a liderança, é preciso reagir.
Olhar para dentro é sempre a melhor maneira de resolver o
problema. Assim, entendendo melhor os “porquês” da situação, o
próximo passo é traçar a rota de saída.
Foi o que aconteceu com o desafio da Fiat em 2020.55 Uma das
marcas mais amadas e conhecidas no Brasil, líder de vendas por
onze anos. Com a criação da FCA (Fiat Chrysler Automobiles), a
Fiat ficou em segundo plano por conta da consolidação da marca
Jeep no país. Com todo o time de executivos envolvidos e
superengajados, começamos a entender quais foram os detratores
que levaram à perda de espaço. Primeiro, a comunicação do
produto carro andava bastante pasteurizada, falando somente de
modelos com uma relação muito transacional e desconectada do
emocional do brasileiro. A relação com a revenda precisava de
atenção, pois estava gerando uma experiência ruim de venda.
Precisavam também trazer mais inovação nos produtos.
Mas havia muita coisa boa na história dessa marca ítalo-
brasileira, espontânea e encantadora como uma mesa de almoço
italiana. E, claro, muito pop e conectada com as ruas, com a busca
por novos caminhos e com a cultura brasileira. Nesse cenário,
fizemos um rebranding resgatando as bandeiras de quatro hastes
com as cores italianas – ícone estiloso e afetivo da Fiat nos anos
1980 e 1990. Foi definida a nova assinatura, “a paixão move” para
refletir o propósito “Apaixonados por cada caminho”, que fala da
história de respeito nas escolhas são feitas por paixão. O time de
produto trouxe para os novos modelos a flag Fiat para o carro ficar
mais branded e direcionamos a experiência nas concessionárias.
O time de produto da Fiat cuidou de novos lançamentos,
reforçando o novo posicionamento, e, com essa orquestração e
grande disciplina de execução, a marca recuperou a liderança. Em
2021, a empresa registrou 61% de crescimento de vendas e
aumentou o share de mercado de 13% para 21%. O sucesso nesse
caso pode ser atribuído ao total envolvimento das lideranças da
empresa, muito foco e disciplina na execução da estratégia definida
em todos os pontos de relacionamento da jornada do consumidor.
Como sempre digo e repito, branding é um processo eterno de
geração de valor. É preciso estar atento, testar, avaliar e, sim,
assumir riscos, não ter medo das mudanças. Organizações
evolutivas são inovadoras e sabem se adaptar para se manterem
relevantes.

É PRECISO CONFIAR NO PROCESSO


Falamos sobre momentos que o rebranding se faz
imprescindível. Mas, para empresas que não têm nenhuma
metodologia guiando seu valor intangível, é melhor prestar atenção
que você pode estar fazendo muito esforço e colhendo poucos
dividendos. Vamos entender agora alguns ingredientes
imprescindíveis para que o processo de branding seja efetivo.
Primeiro, é fundamental envolver toda a liderança executiva da
organização. Com o time executivo e a liderança do CEO,
construímos juntos a visão de como a empresa quer construir valor
definido no “é, faz e fala”. Assim, ao longo do processo,
conseguimos construir alicerces profundos de valor pelos quais
queremos ser percebidos.
Tudo se inicia a partir de um diagnóstico, uma tarefa complexa
que exige conhecimento profundo da dinâmica do segmento de
mercado do seu cliente. Sabemos que alguns setores, como os de
energia, financeiro, bens de consumo, holding, beleza etc., possuem
particularidades bastante específicas; embora o processo e o
método se apliquem da mesma maneira, só os insumos é que são
diferentes. E como a eficácia dos resultados depende desse
diagnóstico, da qualidade das informações obtidas nessa etapa do
processo, não se deve hesitar em convidar os líderes para refletirem
sobre pormenores da organização: como eles fazem uma jornada
de compra, como analisam o site como um cliente ou um possível
talento, como entendem que essas orquestrações podem deixar
muitas pontas soltas. Enfim, terem uma visão holística pelos olhos
de outros atores.
Contudo, antes mesmo de iniciar o desenvolvimento de qualquer
estratégia que se pretenda ser impactante, é fundamental dispor de
um método que nos habilite à criação de valor. Durante a nossa
trajetória, desenvolvemos uma metodologia que oferece a
consistência necessária para alcançar os resultados que almejamos.
Esse processo engloba diferentes perspectivas sobre a organização,
tudo isso a fim de dar conta da complexidade e dos desafios que
envolvem a construção de valor pelo branding.

CRUZAR INFORMAÇÕES E DADOS É A BASE PARA UM BOM


DIAGNÓSTICO
Ter um processo claro é fundamental para abordar os problemas
e encontrar soluções de maneira estruturada e eficaz, seja no
momento de nascimento de uma empresa ou para decidir os
próximos passos de uma grande corporação. Sem isso, mesmo algo
simples torna-se trabalhoso e quase sempre improdutivo. Para
realizar um bom diagnóstico, é essencial ter dados confiáveis em
que embasar qualquer estratégia ou decisão, por isso adotamos
uma abordagem que considera análise da marca e seus assets
diferenciados, entende proposta de valor para os clientes e o seu
modelo de negócio e como os esforços de comunicação são
efetivos. A partir daí, essas perspectivas cruciais são coletadas: a
Visão Interna (VI), a Visão Externa (VE) e a Visão do Mercado
(VM).
Iniciamos nossa abordagem analisando a Visão Interna (VI) da
organização. Nessa etapa, buscamos entender em uma série de
entrevistas e reuniões não apenas a perspectiva dos executivos
sobre o futuro do negócio, mas também consideramos a trajetória
que a organização percorreu para alcançar seu estado atual. Isso
nos permite traçar conexões entre as escolhas feitas e os resultados
obtidos, fornecendo insumos para a elaboração de estratégias bem
fundamentadas.
A partir de um ponto de vista que se inicia dentro da própria
organização, podemos ter uma compreensão mais clara dos
aspectos que funcionam bem dentro da empresa e buscar
fortalecer esses processos. Paralelamente, essa abordagem nos
capacita também a identificar áreas que podem ser aprimoradas,
lançando luz sobre possíveis oportunidades de melhoria. Essa
análise, naturalmente, influencia diretamente a estratégia que será
implementada no decorrer do processo. Buscamos alinhar entre os
diferentes executivos qual é a visão de futuro da companhia.
Na etapa Visão Externa (VE) vamos entender a percepção dos
consumidores e de outros stakeholders que não pertencem à
organização. Nesse contexto, precisamos considerar sobretudo o
que eles observam e valorizam. Utilizamos entrevistas em
profundidade para aferir resultados junto a públicos mais
estratégicos; pesquisas qualitativas de grupos focais para levantar
alguns sinais; e aplicamos pesquisa quantitativa para trazer dados
às percepções. Avaliamos o cenário com metodologia do
Valometry, que traz premissas para identificar KPIs iniciais do
branding e, depois do lançamento, podermos acompanhar sua
gestão contínua na ferramenta BVS – Branding Value Score.
Ambos ajudam a entender, sob a perspectiva externa, o que está
tirando valor ou desconectando os consumidores, e trazer insights
dos pontos de melhoria. Nessa investigação, ampliamos o nosso
olhar para além das fronteiras da empresa e avaliamos como os
consumidores também enxergam a oferta do concorrente.
Por fim, mas de igual importância, buscamos compreender
também a Visão do Mercado (VM). Nesse ponto reside a
necessidade de compreender o mercado e a própria organização,
não apenas a partir do que ela oferece em termos de produtos e
serviços, mas como gera diferenciação frente ao posicionamento
dos seus concorrentes e benchmarks. Os benef ícios dessa
abordagem são expressivos. Enquanto os concorrentes nos
garantem a base para identificar de qual maneira podemos nos
destacar e inovar no mercado, os benchmarks nos oferecem a
oportunidade de aprender com as melhores práticas adotadas por
empresas de outro mercado. Analisamos também um quadro de
equities: cores, formas, imagens, tagline e sites de todos no
mercado. Assim, saberemos o que não fazer.
Essa noção de concorrência, é importante destacar, não se limita
apenas às empresas diretamente concorrentes, uma vez que ela se
manifesta em diversas formas (um exemplo que sempre utilizo é o
caso emblemático de Frozen, que nasceu como um filme e, de
repente, virou concorrente direto das bonecas Barbie). Há
concorrentes também em diferentes lugares; por isso precisamos
estar atentos nessa etapa do método para englobar todos os atores
do cenário. Em meio a essa complexidade, compreender as nuances
dos players do mercado se torna uma peça-chave para o
desenvolvimento de estratégias bem-sucedidas.
Essas três análises combinadas (VI, VE e VM) são a base para
colher informações e dados que revelam uma visão bastante clara
de como a empresa é vista por seus stakeholders internos e
externos. Assim, podemos entender o que já é valorizado e onde há
espaço para melhorias.

DECUPAR INFORMAÇÕES PARA DECODIFICAR SEU VALOR


Com base nas informações coletadas no processo de diagnóstico,
começamos a decupá-las em uma única ferramenta chamada
Decodificador de Valor. A finalidade é dar clareza nos pontos de
melhoria e no potencial de crescimento de uma organização. É aqui
que conseguiremos identificar os impulsionadores (aquilo que
trouxe a organização até o lugar onde ela está hoje) e os seus
detratores (pontos onde a empresa está perdendo valor e precisa
melhorar), e quais são seus aceleradores (oportunidades de
crescimento que ainda não foram capturadas).
A partir dessa análise, conseguimos direcionar a estratégia que
vai servir como bússola, ou GPS. Essas informações nos auxiliam a
entender melhor onde estamos, para onde devemos ir e, sobretudo,
como chegar lá. Assim será possível aferir com mais clareza
resultados a médio e longo prazos, definindo onde a organização
está atualmente, onde quer estar em cinco anos, em dez anos e
assim por diante. Com o Decodificador de Valor, definimos o
DE_PARA, o GPS para o cliente trabalhar em um plano de ação
que acelere a mudança pretendida. É assim que obtemos as nossas
diretrizes, abordando sempre as dimensões de marca, negócio e
comunicação.
É bastante positivo o fato de que essa clareza de finalidade
cultiva terreno fértil para a autonomia, permitindo que os
colaboradores tomem decisões embasadas nas diretrizes
estabelecidas pela liderança. Isso não apenas promove um
ambiente mais dinâmico e criativo, mas também estimula a
aprendizagem contínua. A organização e seus membros podem
avaliar constantemente os resultados obtidos, identificar o que está
funcionando e o que precisa ser ajustado.
Quando a estratégia está definida, entrar em campo é crucial
para ver se ela está funcionando. Por isso, a gestão de valor
funciona como relógio de atleta, medindo a “saúde” do branding. É
preciso estar sempre avaliando os resultados e as carências da
performance para corrigir a rota, se necessário. Assim, podemos
analisar tanto as iniciativas já tomadas pela empresa, identificando
aquelas cujo resultado foi positivo ou negativo, quanto delinear
objetivos de médio e longo prazos.

SÓ DÁ PARA GANHAR O JOGO QUANDO O TIME TODO ENTRA EM


CAMPO
Uma vez definido o trabalho de estratégia de branding,
precisamos engajar toda a organização. Independentemente da
função exercida, todo o time desempenha um papel crucial na
formação da percepção de um conceito forte. Desde a alta gerência
até a base da hierarquia, todos devem estar alinhados com a
estratégia e o propósito desenvolvidos. Afinal, a implementação do
branding não é uma tarefa isolada ou responsabilidade do
Marketing, mas um trabalho coletivo que permeia todos os
aspectos da empresa.
E aqui chamo a atenção para a importância de alinhar a
estratégia com a execução na rotina diária do time. Ela não pode
ser apenas um plano teórico ou muito conceitual que dificulta a
execução na ponta. Precisamos ter um método que possa ser
acionável em todos os âmbitos da empresa. É preciso ser simples e
efetivo, afinal mudar de direção toda hora não ajuda a construir
nada. Por isso a importância de um método claro e bem embasado,
que vamos entender melhor no próximo capítulo.
Como diz uma frase famosa do CEO da Procter & Gamble, a
estratégia boa é aquela que o consumidor enxerga. LaFley, CEO
que levou a P&G para um outro patamar, sempre reforçou muito
bem o papel da estratégia corporativa. Na sua fala, podemos
entender bem seu ponto de vista: “Estratégia é um conjunto
coordenado e integrado de opções sobre onde jogar, como vencer,
sobre capacidades essenciais e sistemas de gestão que atendem
exclusivamente às necessidades do consumidor, criando, assim,
vantagem competitiva e valor superior para um negócio. A
estratégia é uma maneira de vencer – e nada menos”.56
De um modo geral, com essa estratégia, o direcionamento se
torna muito mais nítido, e a implementação ocorre com base em
resultados concretos do feedback contínuo. O trabalho que
realizamos para a Uol pode gerar alguns aprendizados sobre esses
pontos. O portal é uma empresa brasileira criada há mais de vinte e
cinco anos que, embora tenha uma trajetória bastante consistente
no mercado nacional, revelou déficits na área de comunicação e a
necessidade de modernização de sua marca.

O CASO DA EMPRESA UOL, PORTAL PIONEIRO DA INTERNET


Criada há mais de vinte e cinco anos, lá em 1996, a empresa de
conteúdo, serviços digitais e tecnologia Uol (Universo Online)57 foi
o primeiro portal de internet no Brasil e o grande responsável por
conectar os brasileiros à rede digital. Do primeiro e-mail ao seu
icônico bate-papo e notícias, o Uol foi um verdadeiro divisor de
águas na vida digital de milhões de pessoas. Desde então, a
organização soube evoluir e reinventar seu negócio enquanto
muitos de seus antigos concorrentes desapareceram. No entanto,
apesar de ser um negócio de sucesso consistente e com alta
capacidade de inovação, a empresa precisava reforçar a sua cultura
de branding, o que criou dois grandes desafios de percepção de
marca.
O primeiro desafio surgiu a partir do resultado de uma pesquisa
que apontou que uma parte do público final não sabia que o Uol era
muito mais do que um portal de notícias. Nosso objetivo era mudar
essa história. Já o nosso segundo desafio foi modernizar a marca
para acompanhar as grandes inovações pelas quais a companhia
passou nos últimos anos. Em um trabalho integrado com o time de
marketing e design da Uol, definimos a estratégia e cocriamos a
revitalização da marca.
Para evoluir o posicionamento da Uol, o ponto de partida foi
valorizar sua origem e o papel que a marca desempenha
diariamente na vida de milhões de pessoas como um pacote de
serviços. Assumimos, então, como propósito “conectar cada
brasileiro ao seu universo, informando, entretendo e facilitando a
vida de cada um”. Visão de mundo estabelecida, o nosso próximo
passo foi organizar o portfólio de produtos e marcas com o objetivo
de espelhar essa lógica e evidenciar a amplitude do negócio. Para
isso, desenvolvemos uma arquitetura capaz de garantir que todas as
marcas de conteúdo e serviços digitais tivessem sinergia e que
gerassem valor tanto para si quanto para a marca-mãe.
Essa revitalização da marca e de seu universo visual precisava
dar conta de quatro premissas: era primordial preservar seu
reconhecimento; melhorar sua performance nos pontos de contato,
sobretudo os digitais; ter um sistema visual mais flexível que
comportasse sua amplitude de atuação e seu portfólio; além de
transmitir mais personalidade, rejuvenescendo sua imagem. No
logotipo, trouxemos mais personalidade com as letras em caixa-
baixa e conectadas. Além disso, demos mais destaque para a
circularidade da letra “O”, que interage com a marca e pode até
comportar imagens.
No trabalho final, resultado de um processo rico de cocriação
com o time executivo e criativo da Uol, buscamos valorizar o
projeto da tipografia original da marca, suas imagens e universo
verbal, reforçando sua credibilidade e, ao mesmo tempo,
evidenciando como a empresa se orgulha de ser “brasileiríssima”.
Foi a partir dessas estratégias, e realizando essa renovação em sua
comunicação que, diante de concorrentes globais, a Uol conseguiu
se diferenciar das demais plataformas de conteúdo e serviços
digitais por conhecer e representar tão bem o brasileiro na
internet, com todas as suas peculiaridades.

TAKE AWAYS – CAPÍTULO 5


Quando o mercado muda, é preciso perceber a hora do
rebranding para se manter relevante.
Trocar o nome de uma empresa é decisão dif ícil, mas melhor
fazê-la do que investir em uma marca que vira uma âncora,
impedindo o crescimento.
Na hora de fazer aquisições, aproveite o melhor de cada cultura
e estruture qual é a visão de futuro desse novo momento de
companhia.
Quando há perda de mercado, é hora de apertar os parafusos da
engrenagem.
Quando entramos no processo, é preciso confiar.
É fundamental envolver toda a liderança executiva da
organização no processo de branding.
Trazer insumos para o diagnóstico é a chave para obter uma
visão integral da empresa e do ambiente onde está inserida.
Decodificar valor é entender o que impulsionou a organização,
identificar quais os detratores a combater e mapear os
aceleradores para agilizar o crescimento.
Alinhar a estratégia corporativa à estratégia de branding é
acelerar crescimento e valor.
Execução é chave para o sucesso, e esse alinhamento deve ser
claro para que o time vá na direção certa.
6
Como criar valor nas dimensões do
branding: propósito, marca, negócio e
comunicação

Desde que a agência Ana Couto foi fundada, aprendemos,


refinamos e criamos o que entendemos por construção de valor,
um conceito simples em essência, mas complexo na execução.
Nesse contexto, surge a pergunta sobre qual seria o primeiro passo
para resolver essa complexidade. A resposta é metodologia. Adotar
um método ilumina a todos os integrantes de uma organização
sobre “o caminho para chegar lá”.
Nesse momento, é de suma importância a utilização de
framework. O mais estruturante deles é a Plataforma de Branding –
cuja analogia é decifrar o código genético da organização. Todos os
insumos para que essa genética capture a valor da marca parte do
processo de diagnóstico que vimos no capítulo anterior. Todo o
conjunto de diretrizes que ajuda a organizar e a orientar as
estratégias adotadas pela empresa. O framework fornece uma
estrutura conceitual e prática para que essas estratégias possam
ajudar a dar consistência ao longo da evolução da organização e
garantir uma operação do dia a dia alinhada às aspirações da
empresa.
Quando cuidadosamente bem delineados e estrategicamente
pensados, esses conceitos podem ser traduzidos de modo simples e
acessível. Não precisamos de slides sem fim e um treinamento
enfadonho para passar as diretrizes. A chave aqui é o onepage da
Plataforma de Branding.
Na AC temos um mantra que consideramos chave para a criação
de valor: “A marca É, o negócio FAZ e a comunicação FALA”. Ele
diz respeito a saber além de quem ou o que a marca é, descobrir
qual a sua proposta de valor e como sua narrativa transmite
consistência na comunicação. Isso é o que chamamos no branding
de “criação de valor”.
Para minimizar os riscos associados à postura das marcas, é
essencial que as organizações façam uma reflexão profunda sobre
suas convicções e estabeleçam valores e propósito autênticos que
realmente passem a permear todas as áreas e ações da organização.
Além disso, é vital uma comunicação transparente, para que os
consumidores possam entender e avaliar a coerência entre discurso
e prática. Sem esse alinhamento, a visão de propósito corre o risco
de se tornar vazia e inconsistente ou somente marqueteira. É
preciso cumprir a promessa feita.
O branding pode ser utilizado tanto por empresas mais maduras
e que estão no mercado há bastante tempo, quanto pelas menores,
como startups, e até mesmo por países, regiões e cidades que
pretendem ser revalorizados. Há vários esforços de cidades que se
utilizaram do branding, como Nova York, quando lançou o I LOVE
NY – a famosa logomarca feita pelo lendário designer Milton
Glaser, que resgatou a autoestima da cidade em um momento
turbulento da década de 1970.
Esse esforço feito pelo Departamento de Desenvolvimento
Econômico do estado de NY virou símbolo da cidade,
independentemente do governo ou partido político. Em 2023, a
marca foi revisitada e substituída por WE LOVE NY, para que a
cidade voltasse a brilhar como hub global pós-pandemia. Essa
estratégia teve grande alcance e mobilização de todo o ecossistema
de moradores e turistas e gera muitos recursos tangíveis e
intangíveis, tais como o licenciamento de milhões de produtos para
a cidade. Quem não tem algo com I LOVE NY em casa?

SER, FAZER E FALAR: A FERRAMENTA QUE DÁ O TOM E O RITMO


DA EMPRESA
Muitas pessoas confundem branding com outras disciplinas,
como o marketing, a publicidade e o design. Na verdade, ele é
composto por diversas áreas e expertises que englobam uma ampla
gama de atividades que vão desde o universo visual da marca à
experiência do cliente, o tom de voz, o naming, a inovação, a
proposta de valor, o marketing, o posicionamento, a narrativa, a
mídia programática e a publicidade. Foi compreendendo essa
composição plural do branding que chegamos à filosofia adotada
na agência Ana Couto: marcas são como pessoas que precisam ser,
fazer e falar, ou seja, não se trata apenas de uma marca, ou de
apenas um produto e muito menos de somente uma campanha. É a
orquestração de todos esses aspectos ao longo do tempo e das
ações que constroem um branding marcante.

O PRIMEIRO PASSO É DEFINIR O MAIOR TALENTO DA


ORGANIZAÇÃO
Identificar o código genético da empresa, ou, tecnicamente
falando, criar sua Plataforma de Branding, começa por sua
definição de propósito. Esta palavrinha que usamos muito, e que
parece estar na moda, tem realmente um papel fundamental para
dar coerência à evolução do negócio. Precisamos, antes de mais
nada, identificar qual o talento que está no DNA da organização,
que guia as pessoas e envolve o ecossistema. Muitas empresas não
têm propósito de maneira explícita, mas todas que cresceram de
modo saudável entenderam bem como seu talento poderia
impactar a sociedade da melhor maneira. A importância de refletir
sobre a visão de mundo da marca, a necessidade de comunicar esse
ponto de vista e o impacto positivo que essas ações podem gerar é
mais que premente.
Aprendemos bastante com os modelos de negócio que estão
usufruindo de maior crescimento e impacto global. São marcas que
regem um ecossistema poderoso, como um sol que emana luz e
gravidade para os planetas que giram em torno dele. Quando
avaliamos o caso do Google, cujo propósito é “organizar as
informações do mundo”, surge um talento forte que é a capacidade
de construir uma série de derivações em torno dessa visão, como
Google Maps, Google Translate, Google Art etc. Podemos citar
ainda o exemplo de outra empresa que também inspira todos a
perseguir um propósito com impacto no mundo; e, ao entrar nesse
processo de decifrar seu talento, buscar nos primórdios as
motivações que fizeram parte da infância da organização é um
excelente começo. Não defina um propósito que não seja autêntico
e único.

LEGO: A CONSTRUÇÃO DE SONHOS QUE RESSIGNIFICOU UMA


MARCA
Um bom exemplo de empresa que soube decodificar o seu valor
é a gigante Lego. Praticamente onipresente, toda pessoa em algum
momento da vida se relaciona com essa marca que tem muito a
ensinar a respeito de construção de valor. Criada ainda na década
de 1930, o próprio nome da empresa já nasce com significado, fruto
da combinação de duas palavras em dinamarquês, leg godt, ou
“brincar bem”.58 Sua trajetória é uma história de sucesso pelo menos
até o ano de 1998, sempre apresentando resultados incríveis sem
jamais sofrer prejuízos. É apenas a partir de 2003 que essa
organização começa a observar os primeiros sinais de problemas:
as vendas caíram 30%, gerando um déficit de 800 mil dólares, e já
contavam dez anos desde o seu último lançamento.
Buscando razões por trás dessa queda, a empresa descobriu que
estava perdendo relevância no mercado porque andava
desconectada das crianças da época: as novas tecnologias, como os
jogos de videogame, eram bem mais atraentes para os pequenos. E
havia ainda a concorrência, que começava a lançar produtos
“genéricos” bem mais baratos.
Analisando a marca sob a ótica do decodificador de valor,
perceberemos que, entre seus impulsionadores está o fato de ser
amada por milhões de pessoas através de gerações, além de ter um
portfólio forte de produtos clássicos e um histórico de saúde
financeira. Já entre os seus detratores estava um portfólio
desatualizado, fruto justamente desses dez anos sem lançar uma
novidade, a desconexão com crianças, principalmente meninas, e
uma diversidade excessiva e descoordenada de produtos. Quando
se debruça sobre os aceleradores da marca, percebemos que a Lego
conseguiu ressignificar o negócio pelo próprio propósito “inspirar
os construtores do amanhã”. Várias iniciativas a partir dessa visão
mexeram no ponteiro de negócios, como a ideia da cocriação de
novos produtos com os consumidores e a expansão para muito
além dos cubinhos de plástico.
A marca incorporou ainda a pauta da diversidade na sua cultura,
tanto na temática dos produtos quanto nas ações que implementa,
produzindo filmes protagonizados por personagens do mundo
imaginário da Lego e oferecendo técnicas de treinamento para o
mercado corporativo, entre outras iniciativas. Além de inspirar
brincadeiras, a gigante dos cubinhos coloridos passava a estimular
sonhos e a construir em sentidos bem mais amplos.
O resultado desse esforço foi que, entre os anos de 2008 e 2010, a
empresa conseguiu quadruplicar de tamanho, tornando-se a marca
mais amada do mundo em 2017. Em 2020, eles conseguiram
aumentar as vendas em 20%, e a receita em 13%,59 tornando a Lego
a maior empresa de brinquedos do mundo, com um valor de
mercado de mais de 7,4 bilhões de dólares.60 E não para por aí.
Atenta às novas demandas sobre sustentabilidade, a empresa, desde
então, está totalmente empenhada em fabricar peças a partir de
materiais sustentáveis e faz investimentos na casa de 400 milhões
de dólares (2 bilhões de reais) ao ano em sustentabilidade, pois
pretende reduzir as emissões de carbono da companhia em pelo
menos 17% até 2032, usando o ano de 2019 como referência.61
A Lego é um exemplo de que os propósitos devem ter
características fortes que sejam percebidas por todos. Temos nas
marcas mais valiosas, como Apple e Amazon, grandes fortalezas
nesse sentido. O jogo de valor subiu de nível. É com o propósito
definido que entramos na dimensão do “é, faz e fala”.

A MARCA É
Quando fazemos a análise de branding ou de rebranding de uma
marca, começamos pela investigação do que a marca é, ou seja, dos
atributos de personalidade pelos quais ela é percebida. A pergunta
que queremos responder nessa etapa é simples: se a sua marca
fosse uma pessoa, como você a descreveria? Assim começamos a
puxar o fio do novelo. Se a pessoa Google entrasse na sua sala
como ela seria: descolada, casual, simpática, um geek bacana de se
relacionar? Certamente não estaria de terno e gravata, teria uma
atitude leve e prestativa. Sem dúvida, essa percepção da
personalidade da Google já é bastante consistente em todo o
planeta.
Muitas vezes somos chamados de “terapeutas de executivos”;
quando entramos nessas conversas, colhemos visões bem
divergentes que personificam a própria marca. Percebe-se, muitas
vezes, que o time da liderança vê a marca de maneiras distintas,
esse é um forte sinal de desalinhamento. Imagine como essa
personalidade de marca é percebida pelos consumidores?
Certamente a confusão se amplia. Quando queremos entender
melhor os atributos de personalidade da marca, costumamos
perguntar ao time executivo e aos funcionários que animal a marca
seria. Respostas como dinossauro, pelo gigantismo lento, ou
tartaruga, pela falta de agilidade, podem definir em poucas palavras
o tamanho do problema que a marca carrega.
Ao definir seus atributos de personalidade é importante fugir de
obviedades como qualidade, solidez e ética – consideradas
credenciais para estar no jogo, mas não diferenciais de marca. Ao
construir uma personalidade forte e marcante, criamos uma
conexão mais profunda com o público-alvo. Isso engloba definir as
características e os valores que representam a essência da marca e
que serão transmitidos por meio de um universo verbal e visual.
Quando definimos a personalidade da marca, podemos também
criar o nome da companhia, se esse for o desafio, como aconteceu,
por exemplo, no processo de rebranding da Zamp.62 A antiga BK
Brasil, marca que representa o Burger King no país, se viu com um
branding que não representava mais o potencial do seu negócio ao
assumir a operação do Popeyes, restaurante de fast food de Nova
Orleans, na Louisiana. Essa marca corporativa estava mandando
mensagens confusas para seus funcionários, ao se identificar
somente com a Burger King, mas principalmente para o time
Popeyes e seus investidores. O nome estava restringindo o
potencial da organização.
A estratégia da operadora de restaurantes era muito mais
ambiciosa do que a marca estampava. Trabalhamos profundamente
na definição do propósito e chegamos ao seguinte resultado:
“conectar as pessoas pelo sabor autêntico de cada comida”.
Definimos a personalidade dessa organização: curiosa, autêntica,
ousada. Dali, foi possível chegar ao nome Zamp, que é derivado da
palavra zampar: comer com grande apetite e vontade. Assim, uma
marca que é corporativa sai com grande diferenciação e coerência,
trazendo todo alinhamento de como esse negócio vai crescer e
engajando o time todo para esse movimento de zampar.
O resultado desse rebranding foi muito positivo: em menos de
dois anos de rebranding, a empresa ganhou reconhecimento do
selo Great Place to Work, muito importante para uma marca
empregadora, e se destacou como uma empresa da qual os
investidores estão disputando ações e controle. Aqui podemos
entender a força que uma marca corporativa bem estruturada pode
ter no negócio. Afinal, stakeholders, assim como funcionários e
investidores, são fundamentais nessa engrenagem, principalmente
quando estão alinhados com a ambição da empresa.

O NEGÓCIO FAZ
Quando aprofundamos a dimensão de negócio, entendemos que
é fundamental definir a proposta de valor do produto ou serviço
que seja relevante para o cliente. Toda empresa tem que vender
algo e despertar o desejo de comprar e fidelizar o consumidor.
Trabalhando nessa dimensão, o modo como sua oferta pode criar
experiências memoráveis é um grande ativo. Trata-se de uma esfera
do trabalho de branding que busca, em linhas gerais, dar diretrizes
acionáveis para que toda e qualquer experiência de uso ou compra
tenha algo de único e memorável.
O caso da Starbucks é um grande exemplo de como a marca
mais valiosa de restaurantes de café do mundo definiu o seu faz. A
proposta de valor para o cliente – a de ser o third place – foi
estrategicamente pensada desde o início do processo quando, em
1986, o CEO Howard D. Schultz começou a trajetória de pegar
uma marca local de Seattle e transformá-la em um branding de
alcance global. Para isso, ele concebeu a experiência da cafeteria e
fez daquele lugar um espaço aconchegante para pessoas que
gostariam de trabalhar e se encontrar. Um lugar no qual seria
possível se sentir entre sua casa ou em seu escritório. Daí o
conceito de terceiro lugar, o third place.
Ao comprar um café, o consumidor é chamado pelo nome:
personalização que serviu de mote às campanhas a favor da
diversidade nos Estados Unidos, em 2014, e no Reino Unido, em
2019, como mencionei no início deste livro. A máquina de café é a
estrela do espaço. Toda a produção de cafés de diferentes regiões
do mundo está na ambientação das lojas e na nomenclatura dos
produtos. Além de essa atmosfera elevar a experiência do café,
explora sabores e aromas do mundo todo. As lojas oferecem
poltronas, mesas e, claro, wi-fi de graça para que o consumidor
usufrua do tempo e do espaço. Assim, a Starbucks proporciona a
uma comunidade de pessoas que não só curtem o café, mas que
também gostam de trocar vivências, a experiência de serem vistas
nesse lugar cool. É muito estratégica toda essa experiência de
varejo, o que a torna única e proprietária, e o melhor: com rituais
que não custam nada para implementar, como chamar o cliente
pelo nome.
Uma evolução interessante no modelo de negócio foi a estratégia
do programa de fidelidade,63 que conseguiu o feito curioso de
tornar o café um presente. Hoje, nos EUA, grande parte da receita
da Starbucks vem desse modelo de venda que é super lucrativo,
pois nem todos os presentes de café são consumidos. A dica aqui é
pensar que toda experiência de consumo que sua organização
proporciona pode virar proprietária e memorável e expandir sua
receita. E, claro, o produto tem que ser bom, mas isso é básico para
entrar no jogo!

A COMUNICAÇÃO FALA
Quando afirmamos que a marca fala, nos referimos à narrativa
que a organização constrói para dar consistência ao processo de
branding. Mas essa necessidade de consistência da narrativa nada
tem a ver com padronização de discurso. A consistência indica a
importância de estar sempre em diálogo com o contexto no qual a
marca está inserida. Nessa troca, porém, o branding precisa
escolher um ponto de vista, sob pena de a marca virar aquela que
fala de tudo e não diz nada. Os famosos greenwashing e diverse
washing.
Uma narrativa inspiradora que podemos usar de exemplo é a da
marca de uísque Johnnie Walker, que usa tagline “Keep walking”,
uma mensagem que captura toda a atemporalidade da história da
organização, ao mesmo tempo que se conecta muito com a
necessidade humana de caminhar, de progredir. Uma das marcas
mais reconhecidas e admiradas do mundo, a Johnnie Walker é
sinônimo de prazer e sofisticação desde 1819, quando o então
adolescente escocês John Walker perdeu o pai e teve que cuidar da
pequena fazenda da família. A trajetória da marca mostra muito
bem como seu branding evoluiu nesses duzentos anos de história.
Essa família superempreendedora tinha a preocupação não só de
colocar no mercado um produto com alto padrão de qualidade,
mas também de estender sua oferta criando linhas de produtos. Foi
criada, então, com uma nomenclatura supercoerente: Red Label,
Black Label, Platinum Label…
Já com a preocupação de se diferenciar, isso em 1908, a marca do
andarilho foi criada pelo cartunista Tom Browne, um logo que
reflete a personalidade forte de um lorde vigoroso com seus passos
largos e determinado a perseguir seus objetivos. A princípio, cheio
de detalhes, o símbolo representa o luxo, a sofisticação e a
imponência conquistada pela família Walker. O logo sofreu
algumas simplificações ao longo do tempo para se adequar às novas
mídias, mas manteve sua personalidade.
O cuidado em fazer a primeira garrafa quadrada, que hoje é
grande propriedade da marca, não só a diferenciou como otimizou
o espaço de gôndola. Por fim, como todo bom empreendedor sabe
que crise é oportunidade, a marca aproveitou a Segunda Guerra
Mundial para expandir sua atuação para mais de 190 países.
Chegou a ser mais popular do que a Coca-Cola. Em 2005, foi
comprada e passou para as mãos da Diageo, quando a campanha
Keep Walking foi lançada. O sucesso dura até hoje, pois captura
toda a narrativa da marca desde sua criação e se mantém muito
alinhada ao contexto da busca do progresso da humanidade.
Podemos observar aqui a coerência do “é, faz e fala” guiando a
evolução desse branding. Por essa razão, nos pautamos firmemente
por essas diretrizes, que desempenham um papel crucial em todos
os projetos que empreendemos. Isso também se aplicou ao nosso
trabalho com a marca brasileira Ultragaz.

CASO ULTRAGAZ: COMO MANTER A ENERGIA DEPOIS DE OITENTA


ANOS?
Em 2020, no auge do lockdown, fomos convidados a trabalhar no
rebranding da Ultragaz.64 Foi um trabalho estratégico que envolveu
todo o time executivo sob a liderança do CEO. A empresa com
mais de oitenta anos sempre teve uma trajetória de sucesso e
inovação. Foi ela que implementou o bujão de gás no Brasil,
trazendo esse serviço que facilitou a vida de milhões de brasileiros.
A organização entendia que seu passado de sucesso havia sido
importante, mas que tinha de abrir novos caminhos para o
crescimento.
O ícone de sua marca era um entregador de botijão de gás, com
o carinhoso apelido de “esforçadinho”. Diferente do andarilho que
acabamos de usar de exemplo, esse já não representava mais a
organização. O “esforçadinho” simbolizava o árduo trabalho de
distribuição de gás para milhões de lares, mas para o resto do
serviço a granel para indústria e diferentes segmentos de negócios
a marca não tinha nenhum significado. Foi nesse momento que a
Ultragaz decidiu redefinir seu planejamento estratégico para
conquistar o mercado de energia.
Com liderança em distribuição de GLP no Brasil, a Ultragaz
precisava de uma evolução. Foi quando assumimos a tarefa de fazer
seu rebranding. Esse projeto envolvia alguns desafios, entre os
quais estava a necessidade de potencializar a marca, respeitando
sua trajetória, mas ressignificando sua proposta de valor. As metas
eram aumentar a percepção de valor do seu serviço em todo o
território brasileiro; organizar a oferta de produtos e serviços com
o objetivo de criar maior sinergia e facilitar a comunicação com o
consumidor; engajar os clientes no uso do serviço digital,
aumentando também a inteligência de dados. Mas, principalmente,
expandir a elasticidade da marca para atuar além do gás GLP, a fim
de garantir diferenciação frente aos players do mercado. Desafios
complexos, mas que, com estratégia, método e bastante disciplina,
poderiam ser vencidos.
Todo o processo foi conduzido de maneira cocriativa com o time
executivo da Ultragaz, discutindo e lapidando juntos a estratégia
que adotaríamos dali em diante. Desde o início do diagnóstico,
entendemos que a Ultragaz possui pontos de contato importantes a
serem levados em conta: o botijão de cor azul, os caminhões,
uniformes, a experiência das mais de cinco mil revendas, e mapear
a jornada do cliente desde a visita ao site até o aplicativo de serviço
digital. Para desenhar a estratégia, conversamos com executivos,
clientes finais, clientes empresariais e revendedores, coletando o
máximo de percepções possíveis.
Essa investigação feita por meio da pesquisa de Valometry –
avaliação das ondas de valor sob a percepção dos consumidores –
nos trouxe insights que embasaram os próximos passos. Ficou
evidente, por exemplo, a importância das revendas como parceiras
estratégicas, a força da sua capilaridade para construir a
proximidade desejada com o consumidor final. Entendemos que
todos os players estavam focados em uma comunicação de preço e
descontos, e pouco falavam do propósito que o serviço tem para
sociedade, como por exemplo, o GLP, que já é um gás que ajuda na
transição energética.
Diante desse cenário, organizamos todo o portfólio de serviço,
eliminando muitas submarcas de produtos que criavam ruído na
comunicação, e organizamos as soluções em energia como o fio-
condutor para expandir a oferta de gás para outras matrizes
energéticas limpas. A empresa passou a oferecer também
assinatura de energia elétrica, gás natural e biometano. Partindo do
planejamento estratégico e do propósito “Usar a nossa energia para
mudar a vida das pessoas”, construímos uma marca com
personalidade moderna, humana e inovadora para a Ultragaz dar
seu próximo passo: ampliar o foco do gás para a energia. Buscamos
traduzir todos esses novos aspectos da narrativa para
posicionamento, sintetizado na tagline “Somando energias”.
A criação do novo visual da logomarca teve como principal
objetivo somar atributos da nova personalidade. Com a tipografia
empregando letras em caixa-baixa, conseguimos estabelecer uma
relação de proximidade. As ondas que partem da letra G
simbolizam a transição para a matriz energética e inspiram
potência e fluidez, simultaneamente. A paleta de cor preserva a
história da empresa, trazendo o azul como cor predominante, e
novos tons de ciano e verde reforçam a ideia de sustentabilidade e
novas energias. O formato da letra “U”, por fim, busca fortalecer o
nome Ultragaz e trazer mais presença no mundo digital.
Para dar vida a esse propósito, definimos os territórios de
atuação que passariam a guiar toda a comunicação da Ultragaz. Foi
assim que estabelecemos os principais diferenciais da empresa:
uma marca brasileira e democrática, com inovação e escuta ativa
para atender todas as demandas de energia dos clientes e parceiros,
sempre com compromisso ambiental, social e de governança.
Dessa maneira, chegamos ao conceito da campanha “Vamos
energizar”, apresentando o novo momento do lançamento do
rebranding da Ultragaz e convidando todos os públicos da marca
para formarem uma “corrente de energia” da qual todos saem
energizados, sem precisar dos “esforçadinhos”. Para tangibilizar o
conceito, a campanha trouxe personagens reais que vão de
consumidores, revendedores e colaboradores até parceiros e
fornecedores da Ultragaz, reforçando a amplitude do portfólio de
soluções para suas casas e seus negócios.
Em ambos os casos, Johnnie Walker e Ultragaz, de segmentos e
histórias tão distintas, foram adicionados ingredientes importantes
para um resultado coerente do “é, faz e fala”.

Í
TAKE AWAYS – CAPÍTULO 6
Mudar de direção toda hora não constrói nada.
Seu propósito deve ser autêntico. Ser uma declaração do maior
talento da organização, e geralmente está nos seus primórdios.
Marcas são como pessoas, que precisam ser, fazer e falar.
É fundamental definir atributos diferenciados para criar uma
personalidade marcante.
Toda marca precisa despertar o desejo de fidelização no
consumidor.
É fundamental dar diretrizes acionáveis para que toda e
qualquer experiência de uso ou compra tenha algo de único e
memorável.
Uma narrativa que funciona é aquela que alinha a marca ao
contexto, para se manter conectada com o consumidor e trazer
resultado para o negócio.
Trabalhe a partir do seu código genético, faça parte para ele
crescer saudável e relevante.
7
Gerir valor é surfar as ondas de
produto, pessoas e propósito

Durante muitos anos, algumas perguntas dos clientes eram


constantes: como eu sei que o trabalho de branding pode trazer
resultado de negócio? Por que vou gastar tempo e dinheiro com
esse processo? Para nós, a resposta era óbvia. Não entendíamos
como uma empresa em ambiente tão hostil e com a demanda de
ser cada dia mais ágil orquestraria sua marca, sua experiência com
produtos e serviços e falar em tantos canais sem ferramentas que a
ajudassem a navegar.
Para identificar os prós e contras de uma organização, criamos o
Branding Value Score (BVS), uma métrica que foi concebida usando
uma adaptação da técnica de cálculo do NPS (Net Promoter Score)
plotada às Ondas de Valor. No caso do Branding Brasil, por
exemplo, buscamos entender como é a saudabilidade do país a
partir de três principais eixos:
Onda 1 – Produto: aqui avaliamos aspectos funcionais e
racionais da relação com o Brasil, como o nível de conhecimento,
seu custo-benef ício e diferenciais em relação a outros países.
Onda 2 – Pessoas: aspectos emocionais da relação foram
avaliados aqui. Ou seja, a identificação, a fidelidade e a conexão
emocional com o país.
Onda 3 – Propósito: avaliamos a percepção da visão de mundo
compartilhada pelos brasileiros, o impacto positivo do país na
sociedade global e sua capacidade de mobilizar pessoas.
O BVS do país evidenciou que o Brasil não está indo bem nas
Ondas de Valor, uma responsabilidade compartilhada por todos
nós a partir de um diagnóstico que alerta para a necessidade de
ação. Foi para ampliar esse tipo de compreensão e medir o impacto
nas diversas áreas em que o branding atua e como ele influencia a
percepção dos consumidores e não consumidores, que criamos a
ferramenta do Valometry. Para ter um dashboard completo para o
CMO e CEO, desenvolvemos esse método para gerir o trabalho,
que chamamos Ondas de Valor.
Já explicamos que definir o código genético é crucial para alinhar
as ações de marca, negócio e comunicação, mas entender qual é o
impacto das ações nos ponteiros da organização é o próximo passo.
Quando entramos no dia a dia e traduzimos isso na execução de
campanhas ou serviços, queremos entender quais esforços têm
impacto positivo ou negativo para o branding. Por isso, avaliar as
Ondas de Valor, que a todo momento chegam para abalar nossas
crenças e certezas, é colocar a mão no pulso do consumidor e
acompanhar essa jornada. Como um radar que auxilia nas tomadas
de decisão, elas ajudam a avaliar sistemática e continuamente a
saúde do branding da organização. Bons desafios para organizações
ambiciosas que querem não só sobreviver, mas crescer.

PRIMEIRA ONDA: PRODUTO


A primeira Onda de Valor é a de produto. Sabemos que o
produto/serviço tem um peso muito grande nessa construção.
Claro que se temos uma oferta mal avaliada, temos um problema.
Quando o cliente aponta que o preço é caro ou barato, isso
demonstra que algo na equação de valor está desalinhado com a
expectativa. Se estamos comprando um carro, um Fiat, por
exemplo, conhecer a marca já é um grande balizador. Se confio que
é uma marca boa, e considerando que o preço condiz com a
expectativa do consumidor, ela tem de gerar disposição para esse
cliente pagar pelo produto (willingness to pay). Além disso, os
diferenciais desse produto devem ser comunicados. No caso de um
carro, por exemplo, é importante comunicar suas características
únicas, como o fato de se tratar de um SUV, com um design
moderno, flex, que polui menos etc. Enfim, a primeira onda deve
ser positiva.
Quando analisamos a onda de produto, queremos entender o
nível de conhecimento que as pessoas têm em relação à marca. O
awareness ajuda nessa equação. Comprar um carro ou mesmo uma
garrafa de água de uma marca desconhecida com certeza pode
atrapalhar a decisão de compra.
Também avaliamos se o custo-benef ício é alinhado com a
expectativa da marca. Se eu for comprar uma bolsa, a marca já é
determinante. Uma Prada já me coloca em um patamar de preço
bem acima de outras. Seu diferencial, no fim das contas, é ser um
produto exclusivo e de luxo. Não é para todos, mas para quem está
disposto a gastar isso em uma bolsa de qualidade. Logo, essa
primeira onda traz clareza.
Podem ocorrer algumas distorções quando focamos somente a
primeira onda. Gastar uma fortuna em mídia para ser uma marca
conhecida sem criar mais significados além do transacional pode
ser uma bela armadilha. Vamos analisar o exemplo da Casas Bahia,
que por muitos anos foi o maior anunciante em mídia do Brasil e
com certeza é uma marca conhecida por todos os brasileiros. Sua
comunicação focava uma oferta muito baseada em promoção e
custo baixo, sem construir diferenciação e outros significados.
O foco excessivo no hard sell pode ter um preço alto: quando o
anabolizante da mídia cessa, o valor residual desse investimento é
muito pequeno na cabeça do consumidor. Temos muitos exemplos
desse foco excessivo de preço e promoção, como a Ricardo Eletro.
De um modo geral, quando você participa do jogo somente se
baseando no preço do seu produto, certamente terá grandes
dificuldades em evoluir nas ondas de valor.
SEGUNDA ONDA: PESSOAS
A onda de pessoas é o que nos permite ter uma compreensão da
força dos relacionamentos. Se na primeira onda avaliamos a relação
mais transacional com o consumidor, nesta avaliamos o papel e o
significado que a marca desempenha na vida dos clientes. Nesse
aspecto, precisamos entender como ela atende à necessidade
emocional de combinar com o estilo de vida daquele consumidor,
sempre reforçando sua personalidade.
Retomando o exemplo clássico, a Harley Davidson ilustra muito
bem esse reconhecimento. Uma moto que, segundo dizem os
especialistas, não é a melhor em termos de produto (vaza óleo do
motor, faz um barulho tremendo etc.), mas que, no entanto,
significa liberdade sobre duas rodas. A comunidade é tão forte a
ponto de reconhecermos de longe as turmas de motoqueiros com
estilo de roupa, cabelos e, claro, as motos. Muitos dessa tribo têm,
inclusive, a marca tatuada na pele.
Estamos falando aqui da dimensão emocional que a
comunicação precisa construir. Sabemos que a decisão de compra é
comprovadamente emocional. Sentimos nossos desejos, anseios e
valores refletidos na marca. Essa capacidade de gerar identificação
genuína com as pessoas é um elemento fundamental para
estabelecer uma conexão duradoura com o público. Quem não
estiver indo bem na onda de pessoas pode perder espaço para um
concorrente mais envolvente. Logo, não perca a chance de
conquistar também o coração do seu consumidor.
Quando uma marca consegue se alinhar com os valores, as
aspirações e o estilo de vida dos consumidores, ela transcende a
mera transação comercial e se transforma em parte integrante da
vida e da identidade do indivíduo. Essa identificação não apenas
aumenta a lealdade do cliente, mas também cria uma base sólida
para a construção de confiança e engajamento contínuo. Uma
marca que ressoa com seu público não é apenas uma opção de
compra, mas uma escolha consciente e emocionalmente carregada.
Também julgamos fundamental que todas as pessoas que fazem
parte da empresa estejam comprometidas a reverberar essa cultura
de inovação e evolução em suas atividades cotidianas. Ao nutrir
essa atitude, acabamos criando uma comunidade de colaboradores
que funciona como verdadeiro catalisador do progresso e como
agente ativo da mudança, tal qual o caso de uma empresa do ramo
da hotelaria com a qual contribuímos há pouco tempo.

A pousada que engaja as pessoas com o meio ambiente


A E-Brands é um bom exemplo de empresa-negócio que
conseguiu engajar as pessoas com o seu propósito de preservação
ambiental. Trata-se de um hub de sete marcas que oferece
experiências que vão desde hospedagens em pousadas inteiramente
conectadas com a natureza, até expedições de kitesurf pelo litoral
do Nordeste brasileiro. Auxiliamos essa empresa a destravar o seu
valor e a alcançar todo o seu potencial por meio da Laje, a
plataforma de conteúdo e aprendizagem da agência Ana Couto.
Através do curso Branding Aplicado, compartilhamos a nossa
metodologia para que pequenos negócios ou ONGs aprendam a
criar suas próprias estratégias.
Uma das marcas da E-Brands é a pousada Rancho do Peixe, no
Ceará, que nasceu entre um grupo de esportistas apaixonados
pelos ventos constantes e pela cultura da região nordestina.
Priorizando a contratação e treinamento de mão de obra local,
conseguiram engajar não só clientes, mas também os próprios
funcionários com a sua visão de mundo. Em harmonia com o meio
ambiente, proporcionam aos visitantes experiências únicas e
memoráveis, baseadas na verdadeira simplicidade.
Desde então, aliando o conforto de uma boa hotelaria a uma
arquitetura aberta e rústica, os sócios do Rancho do Peixe vêm
conseguindo preservar uma área de mais de 67 mil metros
quadrados à beira-mar, em que o diálogo com a natureza é a
essência do negócio. Na jornada de trabalho na Laje, sugerimos a
“vida simples” e a “preservação ambiental” como pilares da visão de
mundo da empresa para criar, por fim, a tagline “Experiência tão
leve quanto o vento”.
Esse jeito simples de viver instiga os clientes a abraçarem a causa
que a pousada defende, promovendo a conexão entre pessoas e
natureza, além de criar um grande engajamento entre o público e a
marca, com um lifestyle bem definido. Nessa trajetória,
encontramos não só uma proposta de sustentabilidade integrada,
mas também a valorização da cultura brasileira, em especial a do
Nordeste do país.

TERCEIRA ONDA: PROPÓSITO


Quando analisamos o que qualifica uma organização a ter boa
performance na onda de propósito, procuramos por ingredientes
que possam ser válidos e precisos para marcas de diferentes idades,
mas principalmente para as iniciantes. Definir o propósito já na
formação do seu negócio pode ser um grande acelerador.
Podemos usar como exemplo a XP, que nasceu com o propósito
de democratizar o mercado de investimentos no Brasil. Sua
trajetória, desde o início pautada nessa visão, construiu um
ecossistema forte de marcas e serviços, como “InfoMoney” e
“Expert XP”. Tivemos a oportunidade de criar a marca corporativa
XP INC,65 que foi definida para representar todos os negócios do
portfólio e abrir o capital da empresa, cujo IPO foi feito pela
Nasdaq em 2019, obtendo com a ajuda do branding o mérito de ser
a nona maior do mundo.
Se pensarmos em marcas globais que surgiram há menos de
vinte anos com essa visão já bem cristalizada, vimos novos modelos
de negócio como empresas sociais. Não são ONGs que precisam
sempre da boa vontade dos filantropos. Nem empresas que ficam
presas no hardsell de venda. São empresas como a Warby Parker,
que surgiu em 2010, e que traz uma nova proposta de valor baseada
na estratégia “compre um, doe um”. Para cada par de óculos
comprados, outro seria doado para alguma pessoa necessitada no
mundo. Estimou-se que mais de 1 bilhão de pessoas no planeta
precisam de óculos e não conseguem comprar. Ao mesmo tempo,
comprar óculos com belo design por um preço acessível também
era uma demanda que não estava sendo bem atendida.
Assim nasceu essa empresa cuja visão de mundo trouxe destaque
em um mercado totalmente controlado por grandes players. Me
lembro de estar andando pelas ruas de Nova York e vendo uma fila
imensa de pessoas esperando para entrar em algum lugar. Quando
me aproximei do tumulto, curiosa, achando que era um vernissage
de uma galeria qualquer do Soho, me deparo com a fila para entrar
na loja da Warby Parker. Uau, que mágica havia ali? Fui pesquisar
e entender o buzz em torno daquela loja que, no fim das contas,
estava vendendo óculos. A empresa cresceu enormemente com
vendas on-line e com lojas f ísicas, e hoje sua marca vale mais de 1
bilhão de dólares, e até 2020 já havia distribuído mais de 10
milhões de pares a pessoas que não tinham acesso a óculos de grau.
O caso da Warby Parker representa muito bem as três Ondas de
Valor. Quando falamos de produto, temos óculos com excelente
design que pode ser comprado on-line ou em lojas com ótimo
custo-benef ício. Quando analisamos a identificação que essa
proposta de valor gera nas pessoas, notamos que a empresa
conseguiu ter uma marca que representa muito além de status, pois
está atenta à individualidade do consumidor que gosta de usar uma
peça com design cool. E fala também de um consumidor consciente
de que seu ato de compra tem um impacto positivo na vida de
outras pessoas. E, claro, a onda de propósito engaja profissionais e
ONGs no mundo todo, mobilizando um ecossistema alinhado com
a ideia de que todos têm direito de enxergar o mundo em que
habitam. Podem chamar isso de marketing, mas eu chamo de
branding gerindo valor nas ondas de produto, pessoas e propósito.
Temos exemplos muito recentes de organizações que estão
entendendo o poder de surfar bem a onda de propósito. Mas
temos, claro, organizações que evoluem e procuram entender que
as premissas de construção de valor mudaram. No livro
Reimagining capitalism in a world in fire66 – um dos meus livros de
cabeceira escrito pela mestra Rebecca Henderson, de Harvard –,
conhecemos o caso da marca Lipton, uma das mais valiosas da
Unilever. O livro aborda todos os aspectos que precisamos mudar
para que o capitalismo continue como uma força de geração de
valor e não consuma todos os recursos do planeta, afinal, não
temos plano B, ou melhor, planeta B.
O caso da Unilever passa por um problema de posicionamento
da marca Lipton, que estava se perdendo em um mar de ofertas nas
gôndolas de supermercados ingleses. Muitas ofertas sem
diferenciação, preços lá embaixo e cada vez mais o chá se tornando
um commodity. Como resolver o problema? Greenwashing nunca
foi uma atitude da empresa. Então, para poder melhorar a oferta, a
Unilever se viu envolvida com a causa. Os produtores de chá na
África e na Índia, bastante mal remunerados, faziam o mínimo de
investimento, pois não recebiam qualquer atenção ou recurso nesse
modelo extrativista. A Unilever fez, então, uma série de ações para
certificar, treinar, educar e remunerar esses produtores, garantindo
que esse selo de produção tivesse de fato um impacto positivo.
Feita toda essa revisão da cadeia produtiva para uma visão de
ecossistema, surgiu um diferencial relevante para o inglês que
compra o chá Lipton: a marca passou a comunicar de maneira
explícita que era sustentável e, portanto, um produto melhor.
Assim, ela voltou a ser uma marca de maior valor agregado,
inclusive cobrando mais e figurando como a mais valiosa do
portfólio da Unilever, cujo propósito é: “Fazer a vida sustentável ser
para todos”.
A Unilever tem 127 mil funcionários trabalhando em 190 países,
contando com quatrocentas marcas alinhadas a esse propósito. Isso
mostra que é preciso entender constantemente quais são as
alavancas de valor do seu negócio. O que estamos aprendendo na
visão das Ondas de Valor é que performando bem nelas, as
organizações têm mais chance de se diferenciar, criando uma
relação mais fiel com o consumidor para engajá-lo em uma
mudança de atitude mais consciente de seu impacto no
ecossistema do qual participa.
Na busca por refletir o propósito de uma empresa em todo o
ecossistema do qual participa, uma marca brasileira de ovos nos
fornece outro ótimo exemplo.

MANTIQUEIRA BRASIL: O DESAFIO DE CRIAR DIFERENÇA NO


MUNDO DOS OVOS
É uma alegria quando surgem desafios de segmentos que até
então estavam subjugados a commodities. Até porque partimos do
princípio de que tudo pode ser visto como uma commodity: água,
petróleo, ovo, energia e até uma camiseta sem referência de marca.
Ou seja, naquele momento, ela é somente uma oferta transacional
sem qualquer valor percebido. É aí que entra o branding.
A Mantiqueira Brasil, cliente com que trabalhamos nos últimos
anos, também tinha esse desafio. Seu fundador Leandro Pinto,
empreendedor com tino único para negócios, construiu a empresa
líder em produção de ovos da América do Sul junto com seu sócio
Carlos Cunha. Um feito enorme. Mas a empresa podia mais. Essa
necessidade instintiva de evoluir fez com que Leandro abrisse os
olhos para o branding. Com uma verdade enorme e autenticidade
de um líder nato, me confessou logo no primeiro encontro: “Ana,
eu não falo inglês, estudei até a oitava série e o discurso de vocês
tem muitos conceitos complexos”. Sim, é verdade, mas fazemos um
esforço consciente de facilitar essa conversa. Não queremos que o
branding seja algo filosófico, complexo e americanizado. Leandro é
um exemplo de empreendedor brasileiro que construiu seu império
sem deixar valor sobre a mesa.
Com a valiosa ajuda ao longo de todo processo do nosso então
conselheiro e também consultor da Mantiqueira, Márcio Utsch, o
desafio era organizar a marca corporativa representada pelos Ovos
Mantiqueira, entendendo as novas demandas do mercado
consumidor de comer ovos mais saudáveis e prezar pelo bem-estar
animal. Ao analisar toda a oferta de produtos e marcas disponíveis
no mercado, partimos para a criação de uma marca corporativa
nova que representasse uma gama maior delas. Mudamos o nome
para Mantiqueira Brasil,67 a nova marca empregadora também
precisava representar um portfólio maior de marcas de ovos para
seus clientes varejistas. Reorganizamos o portfólio da marca
trazendo a Happy Eggs,68 que até então era somente uma submarca
de Ovos Mantiqueira, para um protagonismo maior de marca
estratégica que passa a ser o foco no crescimento do negócio de
galinhas livres.
Fizemos todo trabalho de rebranding na Happy Eggs construindo
o “é, faz e fala” de uma marca que tem uma promessa mais
sustentável baseada no propósito de ser “livre, leve e ovo”. Os
atributos de personalidade da marca foram inspirados no arquétipo
do bobo da corte, com sua maneira cativante e engraçada de ser. E
uma tagline que responde a tudo isso: “Maravilhoooovo!” Assim,
trabalhamos com o mesmo intuito em todas as embalagens,
materiais de ponto de venda e campanhas de comunicação
diferenciadas e memoráveis. E, claro, sempre surfando bem as
Ondas de Valor: produtos orgânicos de galinhas livres,
representados por uma marca que gera conversa e identificação
com pessoas que valorizam um estilo de vida mais sustentável com
respeito ao bem-estar animal.
É importante lembrar que para fazer gestão de valor pelas ondas
é preciso mudar o mindset de todas as pessoas envolvidas e
continuar evoluindo. E a inovação é o melhor combustível para
esse crescimento coerente.

A INOVAÇÃO NÃO É UMA ESCOLHA E PRECISA SER PERSEGUIDA


Ao longo de nossa trajetória de colaboração com diversas
marcas, percebemos que muitas vezes o que trava o valor de uma
empresa é justamente o mindset dos colaboradores. Por isso
percebemos a necessidade de acelerar o processo de criação de
valor por meio da inovação, que trabalha para entender a cultura
da organização e construir um ambiente seguro para que todos
possam pensar em como evoluir juntos. Foi-se o tempo em que
inovação ficava restrita à área de R&D (Research & Development).
Hoje, a inovação deve ser o mantra de qualquer empresa e de
qualquer profissional, a maneira de trabalhar precisa dar espaço
para pensar em como fazer melhor, testar, errar e aprender.
Entendemos que o profissional do século XXI precisa ser um
solucionador de problemas. E foi pensando nisso que incluímos
essa área para poder avaliar como a cultura da organização pode
ajudar na execução do branding. Não basta que a transformação se
dê em determinadas áreas de uma empresa e não aconteça em
outras. É preciso disseminar a Plataforma de Branding – o código
genético de como queremos ser percebidos – para que todos
possam auxiliar na entrega dessa promessa e fechar seu gap de
percepção.
Existem níveis diferentes de inovação que podem ser
absolutamente disruptivos em grandes segmentos – como o
Airbnb foi para o mercado hoteleiro, ou o Spotify para a indústria
da música –, ou podemos ter inovações que parecem pequenas,
mas que resolvem uma “dor do consumidor”. Foi como o Nubank
entrou no mercado. Pequeno e competindo com grandes bancos,
resolveu problemas como o da perda de controle nas compras de
cartão e do atendimento indiferente e burocrático dos grandes
bancos. Uma inovação incremental em um mercado já mais
populoso, que permitiu ao Nubank competir seriamente no
mercado financeiro.
A mentalidade enraizada em muitas organizações e a maneira de
trabalho antiga ancorada no comando e controle sem espaço para
erros reforçam uma cultura perigosa de que inovação é para
poucos. Mudança de cultura é sempre muito forte no processo de
branding. Como costumamos dizer aos nossos clientes, branding
não é uma mudança de marca, é o marco de uma mudança.
A busca pela inovação deve ser um imperativo contínuo, uma
jornada incansável de superação dos limites convencionais. É
importante lembrar, porém, que a inovação não se trata meramente
de lançar novos produtos ao mercado, ela abrange a criação de
soluções disruptivas, a reimaginação de processos, a introdução de
conceitos pioneiros e a constante evolução para atender às
mudanças nas demandas dos consumidores. No mundo
contemporâneo, a inovação é a força motriz que mantém uma
marca relevante e atualizada, mesmo em um ambiente de rápida
mutação.

TAKE AWAYS – CAPÍTULO 7


Cada uma das ondas representa um estágio que se mostra vital
na jornada de criação de valor.
A busca pela inovação deve ser um imperativo contínuo, pois
ela é a força motriz que mantém uma marca relevante e
atualizada, mesmo em um ambiente de rápida mutação.
Cidades e países também podem empregar técnicas de branding
para elevar seu valor percebido.
Toda decisão de compra é comprovadamente emocional: não
perca a chance de conquistar também o coração do seu
consumidor.
Quando uma marca consegue se alinhar com os valores,
aspirações e estilo de vida de seus consumidores, ela se torna
parte integrante da vida e da identidade do indivíduo.
É fundamental refletir sobre a visão de mundo da marca e saber
comunicar esse ponto de vista e o impacto positivo que essas
ações podem gerar nas pessoas e no próprio mundo.
Atualmente, um branding forte é um ativo inestimável que pode
definir o sucesso a longo prazo de uma organização.
O sucesso de uma organização corresponde ao valor que ela dá
às estratégias.
Inovação deve permear a cultura da organização.
Epílogo: Vai e faz

O Brasil é um país gigante não apenas em território, mas


também em potencialidades. Essa consciência das enormes
oportunidades que temos aqui foi reforçada pela pesquisa Branding
Brasil. Porém, para atingirmos esse potencial, precisamos aprender
a olhar de outra maneira para o que está ao nosso redor: treinar o
olhar com disciplina, usando os aprendizados do branding.
Com toda a imensidão e complexidade desse país, a Amazônia é
um bom parâmetro. No século XXI, é “dif ícil imaginar uma
herança mais rica”, como diz o escritor e cineasta João Moreira
Salles em Arrabalde,69 seu livro sobre a região. Essa valorização
depende, claro, de um novo olhar capaz de reconhecer a nossa
verdadeira riqueza. Por exemplo, ao entrevistar pessoas que saíram
de outros estados com o intuito de “povoar” a Amazônia, com o
suposto objetivo de “trazer o progresso”, um depoimento comum
chamou a atenção de Salles: “Quando cheguei aqui não havia nada”.
Nada: suas visões antiquadas não os permitiam ver a riqueza
incalculável da maior floresta do mundo, com sua diversidade de
fauna, flora e a presença dos povos originários do planeta.
Acredito fortemente que, para gerar valor para o Brasil e, como
consequência, para todos os brasileiros, é preciso mudar nosso
olhar para não desqualificar todo o nosso potencial. Ter um país
festeiro, alegre, acolhedor e trabalhador pode ser um grande
diferencial. Em um mundo em que a solidão é um problema
crônico, como evidenciou o estudo de Noreena Hertz em seu livro
The lonely century,70 nossa brasilidade é uma vantagem
competitiva.
Não podemos subestimar também a importância das
organizações para a evolução do Brasil; afinal, elas são o motor da
economia, gerando emprego e renda. As lideranças executivas
brasileiras devem estar alinhadas à necessidade de se
comprometerem com o novo capitalismo, mais consciente dos
compromissos com as premissas do selo ESG.
Para o sucesso das organizações brasileiras, adotar uma
mentalidade “ganha-ganha” que atenda às necessidades de
colaboradores, parceiros, fornecedores e comunidades locais é o
caminho para estabelecer relações fiéis e duradouras. Assim,
acabamos fortalecendo laços e criando oportunidades de expansão
e crescimento para os negócios, além de impedir que as empresas
caiam em falsos dilemas, escolhendo entre coisas que não são
autoexcludentes.
A construção de valor é uma jornada contínua e dinâmica para
evoluir as organizações. Portanto, desenvolver a estratégia que
alinhe sua marca, seu negócio e sua comunicação prepara melhor
para competir no inevitável mundo VUCA. Escolha os indicadores
corretos para acompanhar o crescimento real, reflita como seu
modelo de negócio está acompanhado as demandas do seu cliente e
nunca esqueça que a rentabilidade da sua empresa é seu oxigênio.
Quando disseminada de maneira alinhada e ágil, a cultura da
corporação é um propulsor do crescimento. Afinal, queremos ter
um time com autonomia e responsabilidade. Use o propósito como
um mantra para que todos saibam por que trabalham na
organização. Lembra de quando contei da visita que John Kennedy
fez à Nasa, e a funcionária respondeu que estava levando o homem
à Lua?71 Isso mostra que engajar seu time para um objetivo maior
torna a sua empresa única e, quem sabe, imprescindível.
Esteja atento também à consistência da sua comunicação em
todos os pontos de contato da marca. Cada interação deve reforçar
a sua personalidade. Adote um ponto de vista claro para transmitir
sua proposta de valor ao cliente, assim o diálogo com o contexto é
construtivo e evita abordar uma infinidade de temas sem transmitir
uma mensagem autêntica.
Para testar seu sucesso nesse ponto, desafie-se a avaliar se é
possível o consumidor reconhecer a presença da sua marca em
materiais de comunicação mesmo sem a presença do logo. Essa é a
verdadeira medida da sua força. Um exemplo recente de sucesso
nesse sentido aconteceu com o branding da Barbie72 e o
lançamento do novo filme da franquia: os cartazes de lançamento
adotavam apenas um fundo cor-de-rosa com um pequeno texto
acompanhando a tipografia da marca: “July 23”. E sabe qual foi o
resultado? A identificação instantânea da mensagem. Todos
entenderam que ela informava a data de estreia do filme da Barbie.
Esse sucesso estrondoso não aconteceu da noite para o dia. Na
verdade, é a consequência de uma trajetória bastante sólida na qual
o branding desempenhou um papel fundamental dando
consistência ao “mundo cor-de-rosa da Barbie”.
Criada na década de 1950 nos EUA, a boneca respondia à
necessidade de uma mãe de querer criar sua filha para não ser
somente mãe. A empresária Ruth Handler criou a primeira boneca
adulta para brincar com crianças. Com essa visão, fez uma série de
Barbies exercendo diferentes profissões, até a candidata à
presidência americana. Depois evoluiu seu padrão de beleza com
maior diversidade de corpos, mas sempre fiel à narrativa de
empoderamento feminino. Em 1997, foi a vez de a marca se tornar
mais inclusiva, lançando a boneca em cadeira de rodas.
De lá para cá, a marca evoluiu com os novos tempos, lançou-se
em novas plataformas e manteve-se nas prateleiras. No entanto, há
muito não causava o impacto promovido pelo filme. Vale pontuar
que, nos últimos anos, a Barbie também foi associada a
movimentos políticos (você se lembra dos memes da Barbie
fascista?) e a padrões e hábitos ainda considerados retrógrados,
reforçando padrões de beleza, principalmente para as novas
gerações. Nesse contexto, a superprodução tornou-se ainda mais
estratégica para a marca.
O filme da Barbie reuniu 1,2 milhão de brasileiros somente na
estreia, arrecadando 22,7 milhões de reais aqui no país e 356,3
milhões de dólares globalmente.73 Encantados e curiosos sobre os
reais efeitos desse hit, nos perguntamos: qual foi o impacto do
filme para a construção de valor do branding Barbie? Para além da
comoção social, a marca conseguiu rejuvenescer e ressignificar a
sua comunicação para os novos tempos? Qual é o real saldo de
todo esse investimento?
Essas dúvidas servem para Barbie, mas poderiam ser dúvidas de
qualquer gestor sobre seus próprios desafios de branding. Para
analisar profundamente e encontrar insights relevantes sobre o
impacto do filme no ponteiro do negócio, fizemos uma pesquisa
sobre o tema a partir do Valometry. Entrevistamos 700 pessoas de
todo o Brasil, incluindo cotas proporcionais para gênero, faixa
etária, região e classe social.
Logo de cara, notamos um feito surpreendente: 92% das pessoas
que assistiram ao longa-metragem saíram satisfeitas da sala de
cinema. Um percentual muito alto, independentemente do gênero,
idade ou classe social. Esse êxito do filme acabou se estendendo
também à própria recepção da marca: 67% das pessoas que já
viram o filme relataram uma mudança positiva na mensagem do
branding. Quando olhamos para o BVS, a nossa métrica
proprietária e mais relevante para a análise, vemos que a marca
pontua em 55 para o público geral, mas sua performance é ainda
melhor entre o público que de fato assistiu ao filme: 83 para as
mulheres e 70 para os homens.
A pesquisa também revelou que, mesmo antes de o filme ser
lançado, havia um alto percentual de Barbies na casa dos
entrevistados: 73% das mulheres que participaram da nossa
pesquisa tiveram as bonecas na infância. No entanto, constatamos
que as pessoas que se identificam com a marca têm um perfil
definido. Quase 70% das mulheres afirmaram que a Barbie era a
diversão preferida ou que brincavam com frequência na infância.
Entre elas, as classes sociais A, B e C são predominantes (64%),
enquanto 36% das classes D e E nunca brincaram com uma Barbie
na vida.
Isso mostra que, apesar de Barbie ser um sucesso inquestionável
há décadas, a conexão emocional estava restrita às mulheres das
classes A e B. Era preciso expandir o público, atualizando a
narrativa da marca para alcançar todas as classes sociais, gêneros e
faixas etárias. Fomos a fundo nessa investigação e entendemos que,
sim, valeu o hype: após o filme, houve uma expansão para públicos
de todas as idades. 58% do público de 18 a 24 anos se mostrou mais
inclinado a consumir os produtos da marca, assim como 74% do
público de 30 a 39 anos, o que mostra que a marca alcançou uma
nova fatia do mercado sem perder a fidelização do seu público
principal.
Além disso, e talvez de maneira ainda mais surpreendente, 80%
dos homens também se mostraram mais inclinados a comprar
produtos Barbie. Por fim, o filme também se mostrou um sucesso
democrático: todos amaram. 98% do público da classe A mostrou-
se satisfeito, assim como 91% das classes D e E – grupos que não
tinham uma conexão tão forte com a marca.
Podemos tirar algumas lições desse caso, como a importância de
construir ativos que sejam únicos para a marca, tais como a cor, o
design e até as embalagens utilizadas nas salas de cinema para
serem “instagramáveis”. Isso foi fundamental para o sucesso do
filme. O que percebemos foi um resgate às suas origens, do seu
propósito, uma história totalmente proprietária, com elementos
únicos, que fizeram parte da sua construção. Este é um grande
aprendizado: entender que, quando se trata de gestão de valor, tudo
faz parte de um processo de construção, e que tudo, a partir de um
olhar consciente, é uma oportunidade para evoluir absorvendo o
contexto.
O filme foi um grande acerto, mas podemos considerar que toda
marca é uma obra em andamento. A energia criativa existe na
jornada do fazer, não no ato de concluir. Cada campanha,
lançamento, ação é mais um capítulo de uma mesma história.
Entenda que, nessa dinâmica, o método e as ferramentas
desempenham papéis essenciais não apenas para guiar as ações,
mas também para manter a consistência ao longo do tempo – algo
fundamental para fortalecer a percepção de valor entre todos os
stakeholders. Evitar mudanças constantes de direção é outra chave.
Muito se fala sobre como construir marcas fortes. Uma marca
valiosa vai muito além de elementos visuais ou verbais. Nem toda
empresa forte tem uma marca à altura. Nem toda marca forte
sobrevive a um negócio ruim. Ter uma performance melhor que a
dos seus concorrentes e ter a preferência dos consumidores,
mesmo cobrando um pouco a mais por seus produtos e serviços, é
importante. As melhores marcas moldam a cultura, viram objeto
de admiração e respeito.
Compreendemos que o branding é uma composição plural,
assim como qualquer indivíduo que durante a sua vida precisa ser,
fazer e falar. Portanto, você precisa ter bem claro que tudo isso não
se limita apenas a uma marca, um produto ou uma campanha
isoladamente. Na realidade, a orquestração desses elementos ao
longo do tempo e das ações é o que vai definir um branding
verdadeiramente marcante.
Como venho argumentando ao longo dos últimos capítulos, as
marcas mais icônicas do mundo constroem muito valor. E temos
um caso oposto ao que acabamos de avaliar, a mudança de nome da
marca do Twitter, com logo, identidade visual, verbal,
posicionamento e experiência que potencializam a narrativa
“What’s happening now?” no mundo todo. Desde seu surgimento
em 2006, o Twitter evoluiu de uma simples plataforma de
mensagens curtas para se tornar muito mais do que uma rede
social.
O que começou como um lugar para compartilhar pensamentos
e atualizações breves de notícias, logo se transformou em um
espelho da sociedade contemporânea, moldando a maneira como
nos comunicamos, influenciando eventos globais e tornando-se
parte do tecido social. Mas e quando o nome Twitter vira um X
genérico? O que acontece quando se mexe radicalmente no
branding assim, rompendo com todo o histórico da marca? Foi
estimado que essa mudança jogou fora 20 bilhões de dólares em
valor de marca.74
As quatro principais qualidades das marcas icônicas se aplicam
ao Twitter:
1. Diferenciada: tem cor, símbolo e nome que a identificam na
categoria.
2. Proprietária: possui uma linguagem única: tweet, threads e até
280 caracteres e um pássaro como logo. Hashtag #.
3. Relevante: promove o senso da comunidade de tweeteiros, como
cenário para debates e tópicos que estão em alta.
4. Consistente: é fiel a uma plataforma com códigos e experiência
bem definidos.
No entanto, desde a compra da empresa por Elon Musk, em
2022, a marca vem passando por grandes modificações na
plataforma. Movida pela ambição de criar um superapp e
representar a migração completa para um novo modelo de negócio,
que deve passar a oferecer serviços financeiros, e-commerce e
outras transações, a marca sofreu um rompimento.
Neste ano, além da mudança de nome, o icônico passarinho deu
lugar ao X genérico, sem grandes explicações ou mudanças na
experiência do usuário. Da mesma maneira, a comunicação em
torno dessa mudança não ficou clara para o público (um dos
pontos mais críticos quando o assunto é relançamento de marca).
Não há como não apontar falhas e riscos em todo esse processo,
que está sendo feito sem levar em consideração todos os equities e
valor que o Twitter gerou ao longo dos anos.
Toda marca precisa evoluir em algum momento, isso é certo. A
questão é entender como fazer isso de uma maneira estratégica,
entendendo quais são suas forças e fraquezas. Uma aquisição
liderada sem cuidado pode levar a um posicionamento confuso,
perda de valor, crises de gestão e demissão em massa, além de
conflitos na cultura corporativa, entre tantas outras consequências.
Vejamos no âmbito do Brasil o caso da Brastemp,75 uma das
nossas marcas mais históricas que nasceu em 1954 e foi comprada
pela global de eletrodomésticos Whirlpool em 2000. Com sua
comunicação, construiu uma identidade e liderança de maneira
pioneira: “Brastemp: não tem comparação” e “Não é assim uma
Brastemp…” marcaram o imaginário de milhares de brasileiros. Foi
a primeira marca a produzir eletrodomésticos nacionais, a primeira
que saiu do lugar funcional de atributos técnicos para se tornar
objeto de desejo. Se destacou dos concorrentes e ganhou o coração
dos consumidores. Faz parte da casa e das relações das pessoas, e
há muitos anos está na liderança do mercado.
Mas o setor de eletrodomésticos se transformou. Em uma
evolução impulsionada pelo avanço tecnológico, concorrentes de
peso começaram a se multiplicar e ganhar destaque. Nesse
contexto, a Brastemp diminuiu sua presença na comunicação e
acabou perdendo espaço e atributos de marca, se distanciando dos
seus públicos. A boa notícia: não há marca que tenha conquistado
mais o coração dos brasileiros como ela fez ao longo de tantas
décadas. Por isso, o desafio era resgatar o que a tornou tão icônica
em seus sessenta anos, conectar a marca com o contexto em que
vivemos e reaproximá-la das pessoas.
Quando recebemos esse desafio na agência, e após investigação,
entendemos que Brastemp é uma marca que transforma. Com
grandes lançamentos de produto, trouxe inovações que fizeram
história e que realmente mudaram a vida do consumidor: a
primeira geladeira com aproveitamento de espaço na porta; a
primeira lava-louças do mercado brasileiro, a primeira frost free e a
primeira geladeira com três compartimentos. Mais do que colocar
tecnologia de ponta em tudo o que faz, a Brastemp tem a ver com
inaugurar atitudes que viram a mesa e provocar a rotina para ela
não se acomodar. Assim veio o nosso insight: “Brastemp é a marca
na qual o produto traz a conversa, muda comportamento e estilo
de vida”.
Assumimos o que foi proposto pelo cliente e pela agência, que
era “mudar na casa para mudar o seu mundo”, com o objetivo de
inspirar lares brasileiros a vivenciar as mudanças que o mundo de
hoje tanto precisa: nas relações, nas dinâmicas da casa, no nosso
entorno, no planeta. Entendemos que quando a Brastemp muda a
vida da porta para dentro, uma mudança começa da porta para
fora. A partir de uma personalidade ousada, espirituosa, autêntica e
questionadora, Brastemp fala com o seu tempo e com os brasileiros
por toda a intimidade que construiu ao longo dos anos. Elevamos
ainda a “experiência Brastemp” com produtos de design atemporal
e exclusivos, que trazem soluções e tecnologias que subvertem e
transformam a relação das pessoas com a casa. Brastemp dá
orgulho de ter, mostrar e usar.
Toda a proposta de valor e o posicionamento se materializaram
na tagline que criamos: “Brastemp. É outro mundo”, um conceito
que atualiza a narrativa da marca, reforça a imagem de qualidade
superior e as inovações que mudaram a vida das pessoas. Além da
conexão com a mudança de comportamento e a abertura para
conversas atuais com o público jovem, em um mundo que já é
outro.
Acredito fortemente no potencial das marcas que, aliadas ao
potencial do próprio Brasil, fazem a mágica acontecer. Mas para
explorar toda essa potencialidade, é preciso valorizar as nossas
empresas. O branding pode nos servir de guia na transformação da
realidade que acaba afetando a todos os brasileiros. A partir do
momento em que conseguimos destravar o valor intrínseco que a
brasilidade nos confere, com todas as suas matizes e riqueza
cultural, trabalhando com disciplina e foco, estaremos aptos a dar o
próximo passo no sentido de nos tornar uma nação rica em
oportunidades e, por que não, em marcas indispensáveis.
Não posso deixar de enfatizar a importância de cada indivíduo
nesse processo. Cada um de nós tem o papel de contribuir para a
construção de um Brasil mais forte e mais próspero. A
responsabilidade é individual, mas o bom trabalho é fruto do
talento coletivo. Seja como empreendedor, profissional, estudante
ou cidadão, todos desempenhamos um papel vital. Espero que esta
jornada tenha inspirado não apenas reflexão, mas também ação. O
futuro não é mais o amanhã. Nosso futuro é o hoje, e ele depende
da visão de longo prazo que vamos construir com disciplina,
diálogo e ação, reconhecendo nossos avanços e valorizando nossas
potencialidades para evoluir sempre.

1 HAX, A. C. The delta model: reiventing your business strategy. New York: Springer, 2010.
2 Esse é o nome dado às startups de tecnologia que alcançaram um valor de mercado de pelo menos 1
bilhão de dólares, geralmente em uma fase inicial de desenvolvimento. O termo “unicórnio” é usado porque
essas empresas são consideradas raras e especiais, assim como os unicórnios da mitologia, que são
criaturas mágicas e únicas.
3 O jornal O Globo publicou, ainda em 2019, um estudo do IBGE que apontava que seis a cada dez empresas
abertas em 2012 encerraram as suas operações em menos de cinco anos. Fonte: RIBAS, R.
Empreendedorismo: quase 60% das empresas fecham as portas em cinco anos. O Globo, 30 out. 2019.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/emprego/empreendedorismo-quase-60-das-empresas-
fecham-as-portas-em-cinco-anos-24045448. Acesso em: 20 jun. 2023.
4 Você pode consultar essas empresas no endereço: https://brandfinance.com/. Acesso em: 29 out. 2023.
5 Você pode conhecer mais sobre nossa plataforma de gestão contínua de branding utilizada para decifrar
o que realmente contribui para a conversão do seu público, incluindo maneiras de aplicá-la em seu negócio,
no seguinte endereço: http://valometry.com.br/. Acesso em: 29 out. 2023.
6 Amplamente utilizada como referência para acompanhar o desempenho do mercado acionário, essa lista é
considerada um indicador importante para investidores e analistas financeiros. Pode ser conferida no
endereço: https://www.spglobal.com/spdji/pt/indices/equity/sp-500/#overview. Acesso em: 29 out. 2023.
7 BAUMAN, Z. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
8 BLOCKBUSTER poderia ter comprado a Netflix por US$ 50 milhões em 2000, mas achou a empresa cara.
Época Negócios, 3 out. 2019. Disponível em:
https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2019/10/blockbuster-poderia-ter-comprado-netflix-por-
us-50-milhoes-em-2000-mas-achou-empresa-cara.html. Acesso em: 20 jun. 2023.
9 Para os curiosos que não imaginam como era uma loja desse tipo, ou mesmo para os saudosos, a última
unidade em funcionamento dessa rede tem um perfil no Instagram em que você pode acompanhá-los:
https://www.instagram.com/blockbusterbend/. Acesso em: 29 out. 2023.
10 KLEINA, N. “A história da Kodak, a pioneira da fotografia que parou no tempo”. Tecmundo. Disponível
em: https://www.tecmundo.com.br/mercado/122279-historia-kodak-pioneira-da-fotografia-nao-evoluiu-
video.htm. Acesso em: 16 out. 2023.
11 UNITED breaks guitars. Intérprete: Sons of Maxwell. In: UNITED Breaks Guitars. Halifax: Dave Carroll
Music, 2009.
12 DEIGHTON, J.; KORNFELD, L. United breaks guitars – case solution. Casehero, 6 jan. 2010. Disponível
em: https://www.casehero.com/united-breaks-guitars. Acesso em: 21 out. 2023.
13 Você pode se aprofundar mais nesse assunto no podcast Código Aberto, no qual eu convido alguns
executivos para debater temas ligados ao branding e ao mercado no geral. Marcelo Bastos já foi um desses
convidados. Confira o podcast em: https://open.spotify.com/show/4J2PJlRyyqEEHRLSdqTZSn?
si=2906eddeda58448e. Acesso em: 01 nov. 2023.
14 ISAACSON, W. Steve Jobs. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022.
15 GUILHERME, G. Apenas 6 países têm PIB maior que valor de mercado da Apple. Exame, 30 jun. 2023.
Disponível em: https://exame.com/invest/mercados/apenas-6-paises-tem-pib-maior-que-valor-de-
mercado-da-apple/. Acesso em: 21 out. 2023.
16 RIVIERA, C. Brasil fecha 2022 como a 12a economia do mundo, empatada com Irã; veja ranking. Exame,
2 mar. 2023. Disponível em: https://exame.com/economia/brasil-fecha-2022-como-a-12a-economia-do-
mundo-ranking/. Acesso em: 21 out. 2023.
17 “DIESELGATE”: veja como escândalo da Volkswagen começou e as consequências. G1, 23 set. 2015.
Disponível em: https://g1.globo.com/carros/noticia/2015/09/escandalo-da-volkswagen-veja-o-passo-passo-
do-caso.html. Acesso em: 21 out. 2023.
18 ENTENDA a fraude na Americanas em 4 pontos. CNN Brasil, 13 jun. 2023. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/economia/entenda-a-fraude-na-americanas-em-4-pontos/. Acesso em: 21
out. 2023.
19 Participantes do programa RuPaul’s Drag Race, reality-show que apresenta uma competição de drag
queens nos EUA, Bianca Del Rio e Adore Delano são influencers bastante populares, contando com milhões
de seguidores nas redes sociais.
20 Você pode assistir a essa campanha no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=YkyTQP27H6s.
Acesso em: 29 out. 2023.
21 Sigla composta pela abreviação das palavras Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity, VUCA é
frequentemente usado para descrever a natureza desafiadora e incerta do ambiente empresarial
contemporâneo. As organizações que reconhecem e se adaptam a essas características estão mais bem
preparadas para enfrentar os desafios e prosperar em um mundo em constante mudança.
22 ZAMPIERI, L. Branding: o poder simbólico das marcas. 2022. Dissertação (Mestrado em Ciências
Sociais) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, São Paulo, 2022.
23 LUISA, I. Serra da Capivara: um paraíso (quase) escondido. Superinteressante, 25 fev. 2019. Disponível
em: https://super.abril.com.br/especiais/um-paraiso-quase-escondido. Acesso em: 29 set. 2023.
24 CARDOSO, R. Museu Nacional recebe doação de manto tupinambá do século 17. Agência Brasil, 28 jun.
2023. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-06/museu-nacional-recebe-
doacao-de-manto-tupinamba-do-seculo-17 . Acesso em: 20 out. 2023.
25 A LEI da bandeira vermelha. Sinal de Trânsito. Disponível em:
https://www.sinaldetransito.com.br/curiosidades_foto.php?IDcuriosidade=33&alt=. Acesso em: 16 out. 2023.
26 O QUE é P&G? Disponível em: https://br.pg.com/o-que-e-pg/. Acesso em: 31 out. 2023.
27 HOLLINGWORTH, H. L. Advertising and selling: principles of appeal and response. [S.l.]: Createspace
Independent Publishing Platform, 2011.
28 ZALTMAN, G. Afinal, o que os clientes querem? Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
29 AIR: a história por trás do logo. Direção: Ben Affleck. EUA: Mandalay Pictures, Skydance Productions,
Amazon Studios, 2023. (112 min.)
30 Criada pela agência de publicidade Wieden+Kennedy em 1988 como parte de uma campanha
publicitária da empresa, a tagline “Just do it” significa algo como “simplesmente faça”, em tradução livre.
31 THE CHANGING world of digital in 2023. We Are Social, 26 jan. 2023. Disponível em:
https://wearesocial.com/uk/blog/2023/01/the-changing-world-of-digital-in-2023/. Acesso em: 21 out.
2023.
32 TEIXEIRA, E. Brasil é o 2o país com maior tempo de tela, diz pesquisa. Poder 360, 23 abr. 2023.
Disponível em: https://www.poder360.com.br/tecnologia/brasil-e-o-2o-pais-com-maior-tempo-de-tela-
diz-pesquisa. Acesso em: 21 out. 2023.
33 BRASIL é o maior mercado do mundo em marketing de influência. Acontecendo Aqui, 9 ago. 2022.
Disponível em: https://acontecendoaqui.com.br/marketing/brasil-e-o-maior-mercado-do-mundo-em-
marketing-de-influencia/. Acesso em: 21 out. 2023.
34 O EXTERMINADOR do futuro. Direção: James Cameron. EUA: Hemdale Film Corporation, Pacific
Western, Cinema 84, 1985. (107 min.)
35 GALINDO, C. Yuval Noah Harari, autor de ‘Sapiens’: “A tecnologia permitirá ‘hackear’ seres humanos”. El
País, 26 ago 2018. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/08/20/eps/1534781175_639404.html. Acesso em: 21 out. 2023.
36 Vale a pena conhecer um pouco mais sobre o trabalho inovador dessa gestora de investimentos no site:
https://www.blackrock.com/br. Acesso em: 29 out. 2023.
37 MACKEY, J.; SISODIA, R. Capitalismo consciente. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018.
38 PATAGONIA nunca foi uma empresa como as outras, muito antes de ser ‘doada’ para o Planeta. GQ, 15
set. 2022. Disponível em: https://gq.globo.com/um-so-planeta/noticia/2022/09/patagonia-nunca-foi-uma-
empresa-como-outras-muito-antes-de-ser-doada-para-o-planeta.ghtml. Acesso em: 16 out. 2023.
39 Para conhecer melhor esse caso, acesse o endereço: https://www.anacouto.com.br/cases/tododia-
natura/. Acesso em: 29 out. 2023.
40 O Movimento Salário Digno, ligado à Plataforma de Ação pelos Direitos Humanos do Pacto Global,
propõe que as empresas assegurem que todos os seus colaboradores, sejam eles da equipe interna,
contratados ou terceirizados, recebam um salário que garanta dignidade. Além disso, o movimento
incentiva a engajar toda a cadeia de fornecimento na definição de metas relacionadas ao salário digno, um
elemento fundamental para promover a garantia de condições que permitam a trabalhadores, suas famílias
e comunidades viverem com integridade e desfrutarem de um padrão de vida decente. Esse movimento
pode ser conferido em: https://www.pactoglobal.org.br/. Acesso em: 29 out. 2023.
41 Para conhecer essa pesquisa, feita com o objetivo de compreender mais profundamente o mercado
nacional, basta acessar: https://www.anacouto.com.br/brandingbrasil/. Acesso em: 29 out. 2023.
42 VERAS, L. “O Brasil é o que me envenena, mas é o que me cura.” Revista Continente, 1 ago. 2022.
Disponível em: https://revistacontinente.com.br/edicoes/260/ro-brasil-e-o-que-me-envenena--mas-e-o-
que-me-curar. Acesso em: 25 set. 2023.
43 CHAGAS, R. Luiz Antônio Simas sobre o carnaval do Brasil: “A luta e a festa são irmãs”. Brasil de Fato,
21 fev. 2023. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2023/02/21/luiz-antonio-simas-sobre-o-
carnaval-do-brasil-a-luta-e-a-festa-sao-irmas. Acesso em: 25 set. 2023.
44 A descrição desse desafio está em: https://www.anacouto.com.br/cases/cbf/. Acesso em: 29 out. 2023.
45 Uma excelente e agradável maneira de acompanhar a evolução das estratégias de branding da Nike é
assistir ao filme AIR: a história por trás do logo. Nesse longa-metragem, o ex-executivo de marketing
esportivo Sonny Vaccaro e a Nike buscam o atleta Michael Jordan, ainda um novato no basquete, e criam
uma parceria que revoluciona para sempre o mundo dos esportes e da cultura contemporânea.
46 UMA história lendária. Louis Vuitton. Disponível em: https://br.louisvuitton.com/por-
br/magazine/artigulos/a-legendary-history. Acesso em: 29 out. 2023.
47 Exploramos mais profundamente essa correlação entre as três ondas do branding e a importância dos
KPIs para mensurar o impacto das estratégias elaboradas para uma marca no artigo “Pi” aqui: PI. Agência
Ana Couto, 2018. Disponível em: https://www.anacouto.com.br/wp-content/uploads/2018/05/pi-index.pdf.
Acesso em: 6 ago. 2023.
48 Conheça mais sobre esse reprodutor de mídia da Apple e as suas funcionalidades em:
http://www.differencebetween.net/technology/difference-between-itunes-and-apple-music/. Aceso em:
29 out. 2023.
49 A descrição completa desse caso você encontra em: https://www.anacouto.com.br/cases/havaianas/.
Acesso em: 29 out. 2023.
50 A análise chamada de fundamentalista considera em seu escopo diferentes indicadores que, juntos,
buscam dar conta de um exame mais detalhado das melhores empresas para investimento. Como parte da
análise qualitativa, a atenção dessa análise se volta para aspectos mais subjetivos, como o peso da sua
marca e da sua reputação no mercado. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/guias/analise-
fundamentalista/. Acesso em: 29 out. 2023.
51 Para conhecer mais sobre esse trabalho, acesse: https://www.anacouto.com.br/cases/rede/. Acesso em:
29 out. 2023.
52 Para conhecer melhor esse caso em que trabalhamos, acesse:
https://www.anacouto.com.br/cases/cosan/. Acesso em: 29 out. 2023.
53 A descrição completa desse caso está disponível em: https://www.anacouto.com.br/cases/leveros/.
Acesso em: 29 out. 2023.
54 Para entender melhor o que fizemos nesse caso da Eletromidia, você pode acessar o endereço:
https://www.anacouto.com.br/cases/eletromidia/. Acesso em: 29 out. 2023.
55 Para entender melhor como encaramos esse desafio, acesse: https://www.anacouto.com.br/cases/fiat/.
Acesso em: 29 out. 2023.
56 LAFLEY, A. G.; MARTIN, R. L. Playing to win: how strategy really works. Massachusetts: Harvard
Business School Press, 2013.
57 A descrição completa desse caso você encontra no endereço: https://www.anacouto.com.br/cases/uol/.
Acesso em: 29 out. 2023.
58 JUNIOR, A. Experiência do cliente: como o case LEGO se destaca há anos no mercado. MBA USP
ESALQ, 2 mar. 2023. Disponível em: https://blog.mbauspesalq.com/2023/03/02/experiencia-do-cliente-
como-o-case-lego-se-destaca-ha-anos-no-mercado/. Acesso em: 16 out. 2023.
59 LEGO pursues digital initiatives to keep its sales growing. PYMNTS, 28 set. 2022. Disponível em:
https://www.pymnts.com/news/retail/2022/lego-pursues-digital-initiatives-keep-sales-growing/. Acesso
em: 24 out. 2023.
60 RELATÓRIO revela ranking de marcas de brinquedo mais valiosas do mundo. EPGRUPO, 16 fev. 2023.
Disponível em: https://www.seudinheiro.com/2019/empresas/lego-compra-rival-da-disney-por-us-75-
bilhoes/. Acesso em: 24 out. 2023.
61 COOBAN, A. Lego desiste de produzir peças com plástico reciclado. CNN Brasil. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/economia/lego-desiste-de-produzir-pecas-com-plastico-reciclado/. Acesso
em: 31 out. 2023.
62 Para saber mais sobre esse caso, acesse o endereço: https://www.anacouto.com.br/cases/zamp/. Acesso
em: 29 out. 2023.
63 Entenda melhor o impacto que o programa de fidelidade Starbucks Rewards, com quase 20 milhões de
membros, gerou em todo o setor de varejo em: PEARSON, B. 12 ways Starbucks’ loyalty program has
impacted the retail industry. Forbes, 16 dez. 2020. Disponível em:
https://www.forbes.com/sites/bryanpearson/2020/12/16/12-holiday-gifts-from-the-starbucks-card/?
sh=7a987b4f4534. Acesso em: 1 out. 2023.
64 Você pode encontrar a descrição desse caso no endereço:
https://www.anacouto.com.br/cases/ultragaz/. Acesso em: 29 out. 2023.
65 Você pode ver esse caso no endereço: https://www.anacouto.com.br/cases/xp-inc/. Acesso em: 29 out.
2023.
66 HENDERSON, R. Reimagining capitalism in a world in fire. New York: PublicAffairs, 2020.
67 Para entender melhor como desenvolvemos esse caso, acesse:
https://www.anacouto.com.br/cases/mantiqueira-brasil/. Acesso em: 29 out. 2023.
68 A descrição completa desse caso você encontra no endereço:
https://www.anacouto.com.br/cases/happy-eggs/. Acesso em: 29 out. 2023.
69 SALLES, J. M. Arrabalde: em busca da Amazônia. São Paulo: Companhia das Letras, 2022, p. 19.
70 HERTZ, N. The lonely century: how to restore human connection in a world that’s pulling apart. New
York: Crown Currency, 2021.
71 COMO grandes líderes tornam o trabalho significativo. Negociarte, 21 out. 2017. Disponível em:
https://negociarte.com.br/2017/10/21/como-grandes-lideres-tornam-o-trabalho-significativo/. Acesso em:
16 out. 2023.
72 BARBIE: o que fica depois do hype. Agência Ana Couto. Disponível em:
https://conteudo.anacouto.com.br/paper-barbie. Acesso em: 5 set. 2023.
73 FILME da Barbie tem 2o maior público em dia de estreia no Brasil; arrecadação chega a quase R$ 23
milhões. CNN Brasil, 21 jul. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/filme-da-barbie-
tem-2o-maior-publico-em-dia-de-estreia-no-brasil-arrecadacao-chega-a-quase-r-23-milhoes/ . Acesso
em: 25 out. 2023.
74 COUNTS, A.; LEVINE, J. Mudança em nome do Twitter apaga até US$ 20 bi em valor de marca, dizem
especialistas. Bloomberg Línea. Disponível em: https://www.bloomberglinea.com.br/negocios/mudanca-
em-nome-do-twitter-apaga-ate-us-20-bi-em-valor-de-marca-dizem-especialistas/ . Acesso em: 31 out.
2023.
75 Esse caso está disponível em: https://www.anacouto.com.br/cases/brastemp/. Acesso em: 29 out. 2023.
Sobre a autora

Ana Couto é designer formada pela PUC-Rio, concluiu o


mestrado em Visual Communication no Pratt Institute, em Nova
York, com outstanding merit. Especializou-se em Branding na
Kellogg School of Management em 2008 e, em 2015, formou-se no
curso OPM (Owner/President Management Program), em
Harvard.
Fundou a agência Ana Couto em 1993 com a proposta de
trabalhar o design como ferramenta para construir marcas fortes.
Desde então, expandiu a oferta da agência para um serviço
integrado, que vai da estratégia de marca à propaganda.
É referência em branding no Brasil e constrói, há mais de trinta
anos, para clientes como Vale, Coca-Cola, Fiat, Caixa Seguradora,
Youse, Itaú-Unibanco, P&G, Rio Galeão, Havaianas, Natura,
Ultragaz, Cosan, Raizen, Vinci Partners, Brastemp, Hapvida entre
outros.
A autora conta com publicações internacionais em livros
especializados, e seu reconhecimento é refletido em inúmeros
prêmios como Wave Festival; IDEA Brasil, Brasil Design Award,
LADAWARDS; 13a Bienal Brasileira de Design Gráfico; Profissional
do Ano de Comunicação – Design, pela Associação Brasileira de
Propaganda, Hall da Fama de Clube de Criação 2023, entre outros.
Também é jurada em diversas premiações internacionais como
Festival de Publicidade de Cannes, D&AD Awards e ADC Annual
Awards.
SITE: ANACOUTO.COM.BR
INSTAGRAM: ANAGCOUTO
LINKEDIN: ANA COUTO
Brastemp Rebranding • 2023

CBF Rebranding • 2019


Cosan Rebranding • 2023
Eletromidia Rebranding • 2020
Happy Eggs Rebranding • 2022
Fiat Rebranding • 2020
Havaianas Rebranding • 2022
Leveros Rebranding • 2017
Enauta Rebranding • 2019
Rede Rebranding • 2013
Ultragaz Rebranding • 2021
Uol Rebranding • 2021
Zamp Rebranding • 2022
Natura Tododia Toolkit de Comunicação • 2019
Raízen Rebranding • 2011
XP Inc. Rebranding • 2019

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