Livro de Física
Livro de Física
Livro de Física
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
Porto Alegre
Dezembro / 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
Comissão examinadora.
Dra. Mariéllen Dornelles Martins
Prof. Dr. Roberto Verdum
Porto Alegre
Dezembro / 2014
ii
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me dar luz e força para cumprir mais essa jornada. A minha família,
minha base, pela compreensão e suporte nos momentos necessários. Aos meus amigos que
são a família que escolhi para compartilhar os momentos bons e ruins dessa vida e que me dão
todo o apoio para que eu nunca me acovarde diante das dificuldades.
Ao meu orientador, professor Dr. Ulisses Franz Bremer - UFRGS, pela sua orientação,
paciência infinita e muita confiança depositada, pois, sem esta não haveria terminado essa
etapa de trabalho. Muito Obrigada.
À minha Coorientadora, Dra. Vera Regina Werner – Museu de Ciências Naturais da
Fundação Zoobotânica - MCN-FZBRS, que me acolheu de braços abertos. Por sua orientação,
confiança, paciência, compreensão e pela sua capacidade especial de saber transmitir
conhecimento. Além da amizade e bons momentos de risadas com café e doces deliciosos,
que foram fundamentais para que este trabalho se finalizasse. Meu muito Obrigado.
À Fundação Zoobotânica e aos colegas do laboratório de Ficologia MCN-FZBRS,
pelo suporte para com o trabalho, pela confiança e carinho e pelas amizades com boas risadas
e trabalho árduo, onde cresci muito como pesquisadora. Aos profissionais Manoel Nunes e
Nilson Bitencurt pelo apoio técnico na confecção de materiais.
À Grande Família do laboratório de Palinologia Marleni Marques Toigo do Instituto
de Geociências da UFRGS, o qual me acolheu, em muitos momentos, durante esta caminhada,
com muito carinho. Ao meu ex-orientador Paulo Alves de Souza, pelo aprendizado, auxílio,
carinho e pela oportunidade de fazer parte de minha jornada. Aos grandes amigos que fiz na
sala 203 que foram essenciais em todos os momentos. Em especial, meu muito obrigada ao
amigo Wagner Guimarães que sempre esteve ali a cada passo para auxiliar, corrigir ou me
fazer refletir em cada passo.
Ao professor Roberto Verdum e toda a equipe do grupo de pesquisa
Arenização/desertificação do RS, que me auxiliaram brilhantemente na coleta das amostras e
me acolheram em seu campo.
À pesquisadora Dra. Mariéllen Dornelles Martins pela dedicação e por estar sempre
disponível para me auxiliar em todas as minhas dúvidas de taxonomia. Ao professor Dr. Luis
Henrique Zanini Branco que, mesmo não me conhecendo pessoalmente, sempre se mostrou
solícito me ajudando nessa jornada que foi de conhecer as Crostas Biológicas no Brasil.
iii
À amiga Aline, por todo o suporte com o Arcgis e a todos os amigos e companheiros
de jornada não citados nominalmente, mas que contribuíram de uma forma ou outra e foram
importantes em minha vida acadêmica, profissional e pessoal.
iv
EPÍGRAFE
RESUMO
ABSTRACT
Cyanobacteria are important soil cover components, when attached to soil particles: algae,
micro fungi, lichens and mosses (bryophytes) in the first millimeters of Biological Soil Crusts
(BSC). These crusts can be found at various latitudes of the planet, from the poles to the
deserts. Due to the restricted vegetation in arid and semi-arid environments because of low
rainfall levels, most of the studies of this association occurs in these environments. In the
southwest of Rio Grande do Sul, it takes place a natural phenomenon called arenization. This
phenomenon makes these areas look like deserts and there the BSC were find. The soil
cyanobacteria edaphic act as aggregator agents of soil particles, due to the format of their
sheaths and mucilage that enhance the attachment of particles, stabilizing the soil and
reducing the power of erosion by wind and water. This study purposes the investigation of
species of subaerial cyanobacteria present in sands in Rio Grande do Sul, aiming to
understand these organisms diversity and trace the profile of taxa in biological crusts found in
this ecosystem. The work is being carried in the municipalities of Alegrete and São Francisco
de Assis. The samples were collected in May 2014 at three sites, two per site. The Alegrete
site is on the sands covered with eucalyptus plantation (29 ° 42'35.48 "S and 55 ° 25'13.47"
W). The São Francisco de Assis sites are in sand suffering gully processes, one without
human interference (29 ° 30'54.98 "S and 55 ° 7'23.07" W) and the other in artificially
stabilized ravine (29 ° 23'58.85 "S and 55 ° 13'37.60" W). the material was collected with
plate Petri inverted to ensure a maximum depth of 2 cm and the same volume for all samples.
The samples were kept alive under refrigeration. The material was analyzed with an optical
microscope and stereomicroscope (400-1.000x). From six samples analyzed, 11 taxa of
cyanobacteria were identified, especially filamentous species, including 81.8% of registered
taxa. This study comprises an exploratory analysis of taxa of cyanobacteria in existing sites in
southwestern Rio Grande do Sul, by taxonomic analysis and environmental behavior in order
to initiate studies on CBS in Rio Grande do Sul, Brazil.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Bloco esquemático em diagrama, de uma crosta de solo com CBS e seus agentes
típicos. Espessura da camada é de cerca de 3 mm (Belnap, et al., 2003).................................. 6
Figura 2. Site experimental de CBS com crostas transplantadas, durante período úmido.
Projeto ecologia de Crostas - Australian National Botanic Gardens e Australian National
Herbarium, Canberra. Australia. Fonte: http://www.anbg.gov.au............................................. 8
Figura 3. Site experimental de CBS com crostas transplantadas, durante período seco. Projeto
ecologia de Crostas - Australian National Botanic Gardens e Australian National Herbarium,
Canberra. Australia. Fonte: http://www.anbg.gov.au. ............................................................... 8
Figura 4. Legenda de morfotipos predominantes por crosta, do site experimental de CBS. Os
pontos amarelos indicam crostas de liquens, os pontos azuis mostram crostas com
predominância de musgos e o ponto vermelho, crostas hepáticas. Projeto ecologia de Crostas
– Australian. ............................................................................................................................... 9
Figura 5. Exemplos de quatro tipos morfológicos de BSC, de acordo com a evapotranspiração
potencial (Fonte: ROSENTRETER et al., 2007). ................................................................... 10
Figura 6. Distribuição das crostas biológicas de solo (CBS) no Planeta. (Adaptado de
BELNAP, et al., 2003). ............................................................................................................ 11
Figura 7. Estromatólitos vivos em Hamelin Pool, Shark Bay, Noroeste do estado de Western
Austrália, em formato de colunas. Estima-se sua idade entre 3 e 4 mil anos. Fonte:
http://www.ipaq.org.br/vb/showthread.php?91261-Estromat%F3lito. .................................... 12
Figura 8. Tipos de divisão celular nas cianobactérias unicelulares e coloniais, adaptados
conforme apresentados por Komárek & Anagostidis (1998). Fonte: Werner (2002). ............. 17
Figura 9. Exemplo de hormogônio de Nostocales sp. amostra de cultivo (Foto cedida por
Mariéllen Martins). ................................................................................................................... 17
Figura 10. Filamento de Porphyrosiphon com tricoma envolto por bainha lamelada. Fonte:
http://cfb.unh.edu/ http://cfb.unh.edu/phycokey/Choices/Cyanobacteria. ............................... 19
Figura 11. Tricomas de Microcoleus sp. envoltos por uma bainha mucilaginosa
espessa..Fonte: (http://galerie.sinicearasy.cz/galerie)............................................................... 19
Figura 12. Filamentos de cianobactérias heterocitadas. a) Formados por células vegetativas e
heterocito (seta). b) Formados por células vegetativas, acineto (seta) e heterocito. (Fonte:
http://mundociano.blogspot.com.br). ....................................................................................... 19
viii
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
Agradecimentos ........................................................................................................................ ii
Epígrafe .................................................................................................................................... iv
Resumo ...................................................................................................................................... v
Abstract .................................................................................................................................... vi
lista de figuras ......................................................................................................................... vii
lista de tabelas .......................................................................................................................... ix
sumário ...................................................................................................................................... x
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................ 1
1.2. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 4
2. REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL ................................................................... 5
2.1. Crostas Biológicas de Solo – CBS..................................................................................... 5
2.1.1. Morfologia das Crostas Biológicas de Solo – CBS ...................................................... 7
1. INTRODUÇÃO
A área escolhida - os areais no Sudoeste do Rio Grande do Sul - se fez relevante por
apresentar de forma clara e didática tais processos e já apresentar a configuração das crostas
biológicas em áreas de distúrbios pelo efeito negativo do pastoreio do gado e cultivos.
Segundo, (SUERTEGARAY,1988; VERDUM,1997; SUERTEGARAY et al.,2001,
GUASSELLI et al.,2009) a formação dos areais no sudoeste do Rio Grande do Sul,
interpretada a partir estudos geomorfológicos, associada à dinâmica hídrica e eólica, o que
indica que os areais resultam, inicialmente, de processos hídricos. Estes relacionados com
uma topografia favorável permitem, numa primeira fase, a formação de ravinas e voçorocas.
Em seguida por erosão lateral e regressiva, ampliam-se consequentemente alargando suas
bordas. Através desta dinâmica, conclui-se que inicialmente os areais resultam de processos
hídricos superficiais que provocam em particular escoamentos concentrados formando ravinas
e voçorocas. Essas transportam e ampliam as áreas descobertas gerando novos areais, que em
contato com o vento sofrem contínua remoção.
Para Suertegaray (1987), na região Sudoeste do Rio Grande do Sul ocorre um
processo de erosão do solo, que denominou de Arenização. Por Arenização compreende-se
“um processo de retrabalhamento de depósitos arenosos pouco ou não consolidados, que
acarreta nessas áreas uma dificuldade de fixação de cobertura vegetal, devido à intensa
mobilidade dos sedimentos pela ação da água e dos ventos”.
Consequentemente, esse retrabalhamento de depósitos arenosos, devido à constante
mobilidade dos sedimentos promove um problema de fixação da vegetação. Tal uso,
associado a uma dinâmica hídrica e eólica e solos frágeis, cria uma contínua associação de
processos que em algumas áreas dão origem a formação de areais (áreas de areia exposta em
espaços com cobertura de campo). Sobre as bordas destes, ora a vegetação se expande
recobrindo-os, ora a vegetações se retrai descobrindo-os. Portanto o sucesso de recuperação
desta área esta associado há difícil tarefa de fixação da cobertura vegetal.
Dessa forma, este estudo busca contribuir para a evolução e compreensão desses
sistemas de crostas no Pampa do Rio Grande do Sul. A partir do estudo de reconhecimento
das espécies pioneiras podem-se gerar informações que servirão de base para um estudo mais
aprofundado sobre as CBS e compor o quadro mundial de dados.
Por fim, as novas descobertas sobre estes organismos são de imensa importância,
pois promovem um conhecimento científico riquíssimo que ainda está incipiente no Brasil.
4
1.2. OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Objetivos Específicos:
2. REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL
As crostas biológicas de solos - CBS se formam nas camadas mais exteriores do solo e
podem ser diferenciadas pela sua morfologia e estrutura interna e externa, o que altera
completamente o seu comportamento perante fatores como erosão, escoamento superficial
capacidade de infiltração no solo e ciclagem de nutrientes. Sendo assim, existem dois tipos de
crostas nos solos: as crostas físicas e as crostas biológicas (BELNAP et al., 2003).
Crostas físicas são consideradas transitórias e podem variar em espessura possuindo
menos de um milímetro até alguns centímetros. Tem uma estrutura diferenciada do material
do pacote do solo imediatamente abaixo de sua formação e é uma das principais estruturas de
solo existentes em muitas regiões áridas. As propriedades das crostas físicas estão
relacionadas a sua capacidade de desenvolvimento, que têm sido estudadas há anos. São
consideradas crostas impactantes ao solo, devido ao selamento que geram na camada
superficial, o que provoca maior escoamento superficial. As quatro principais causas de
formação das crostas físicas de solo são: efeito “splash”, causado pelo impacto de gotas de
chuva; forças de compressão como o pisoteio de animais e/ou tráfego de veículos; processos
de evaporação (formando crostas químicas); bolhas de gás presas (formando crostas
vesiculares). Deste modo crostas físicas podem ser formadas a partir de um desses fatores ou
em quaisquer combinações destes (BELNAP et al., 2001).
6
Figura 2. Site experimental de CBS com crostas transplantadas, durante período úmido.
Projeto ecologia de Crostas - Australian National Botanic Gardens e Australian National
Herbarium, Canberra. Australia. Fonte: http://www.anbg.gov.au.
Figura 3. Site experimental de CBS com crostas transplantadas, durante período seco. Projeto
ecologia de Crostas - Australian National Botanic Gardens e Australian National Herbarium,
Canberra. Australia. Fonte: http://www.anbg.gov.au.
.
9
Assim, para Belnap, 2006 a classificação morfológica externa das crostas em áreas
áridas ou semiáridas é feita de acordo com o ciclo hidrológico através de sua
evapotranspiração potencial (PET), desta forma se reconhece quatro tipos de coberturas
distintas: lisa, rugosa, blocos pedunculados e/ou ondulada (figura 5).
Figura 6. Distribuição das crostas biológicas de solo (CBS) no Planeta. (Adaptado de BELNAP,
et al., 2003).
Embora o mapa já tenha cerca de dez anos, grande parte de estudos feitos com CBS
tratam da flora e taxonomia das espécies e novas interpretações por métodos moleculares
(LEWIS et al., (1992); GUNDLAPALLY & PICHEL (2006) ) ou pelo potencial fertilizante
dos organismos em áreas úmidas (WATANABE et al. (1978); PAINTER (1993); ABD-
ALLA et al. (1994) ) . Os estudos de comportamento ecológicos ainda são poucos e ocorrem
a partir dos últimos anos. No Brasil, os estudos de CBS foram iniciados no ano de 2013 pelo
professor Dr. Luis Henrique Zanini Branco da Universidade Estadual Paulista (UNESP),
Campus de São José do Rio Preto. Estes estudos se localizam nos estados de São Paulo e
Minas Gerais, no bioma cerrado, onde foram encontradas CBS com morfotipo predominante
de cianobactérias.
Contudo, estudos em regiões tropicais e subtropicais quentes e úmidas ainda se
encontram em escala inicial em todo o planeta. Desta forma, trabalhos em CBS são
necessários e muito importantes.
Obviamente, outros fatores podem influenciar na morfologia externa de crostas
biológicas de solo, como: textura do solo, composição química e possíveis históricos de
perturbações ao ambiente natural. Entretanto, tais fatores referem-se a etapas mais avançadas
de estudos.
12
2.2. Cianobactérias
As cianobactérias são uma das formas mais antigas de vida conhecidas deste planeta,
devido à sua plasticidade ecológica foram um dos organismos vivos que conseguiram
superaram a antiga atmosfera, evoluindo de forma extremamente competente a todas as
adversidades passíveis o que as possibilitou, a adaptarem-se em diversos ambientes e latitudes
da Terra, sendo assim, encontradas em todas as partes do planeta.
Tiveram seu auge no Pré-Cambriano onde deixaram seus registros fósseis, conhecidos
como estromatólitos (figura 7), que são depósitos organo sedimentares gerados da
precipitação ou ligação de sedimentos como resultado do crescimento vertical ou da atividade
metabólica desses organismos. São encontrados em rochas sedimentares com registro
geológico contínuo por 2.7 bilhões de anos. (WHITTON & POTTS, 2000).
Organismos edáficos são os que ocorrem sobre o solo, e segundo Granhall (1975), os
fatores que possibilitam as cianobactérias ocuparem esses habitats são: umidade, pH,
minerais, nitrogênio e radiação solar.
A maior parte da biomassa ocorre geralmente na superfície, com algumas células ou
filamentos penetrando vários milímetros no solo. Isso sendo possível devido à luz que penetra
através do substrato em solos ricos em quartzo (SCHWABE, 1963 apud WHITTON &
POTTS, 2000 ).
Na fertilização, sua principal característica é fixar o nitrogênio, sendo este um macro
nutriente fundamental. Somente certas cianobactérias e algumas bactérias são capazes de fixar
o nitrogênio atmosférico. Contudo somente as cianobactérias heterocitadas (com heterócitos)
são capazes de produzir a nitrogenase e liberar substâncias como nitrato para a absorção das
raízes das plantas (GAMA, 2012).
Na decomposição das moléculas orgânicas, provocam a fermentação dos organismos,
decompondo-os e iniciando o processo de produção de húmus, responsável pela presença de
matéria orgânica que é um elemento essencial na fertilidade do solo para a fixação de espécies
superiores. De tal modo, as cianobactérias desempenham um papel funcional significativo nos
solos, auxiliando na sua formação.
A partir da decomposição de organismos, ocorre alteração no substrato, que modifica
sua capacidade de retenção de água, e ao infiltrarem, ampliam o processo de quebra de
moléculas, retro alimentando o sistema e disponibilizando mais nutrientes que irão controlar a
capacidade de troca de cátions e o pH do solo, tornando-o mais apto para fixação de plantas
14
Apesar das cianobactérias não conseguirem manter reservas de água em seu sistema,
possuem a habilidade de diminuir o metabolismo durante prolongados períodos de secas, e
assim sobreviverem até a quase completa desidratação (WHITTON & POTTS, 2000).
Contudo, necessitam de água em estado líquido para se reidratarem, diferente de alguns
vegetais que conseguem absorver água no estado de vapor (BÜDEL, 2001).
Assim, as comunidades desses microrganismos foram se espalhando por todas as
latitudes e continentes, modificando o antigo planeta e desempenhando papéis fundamentais
no ecossistema do solo hoje encontrados (JEFFREY & SHUBERT, 2001). Na tabela 1
encontramos uma lista de regiões, assuntos e autores que estudaram espécies edáficas.
Tabela 1. Estudos conhecidos de florística e taxonomia de cianobactérias Edáficas (de solos) no mundo,
adaptado conforme Whitton & Potts (2000).
Johansen (1993)
Figura 8. Tipos de divisão celular nas cianobactérias unicelulares e coloniais, adaptados conforme
apresentados por Komárek & Anagostidis (1998). Fonte: Werner (2002).
Figura 9. Exemplo de hormogônio de Nostocales sp. amostra de cultivo (Foto cedida por
Mariéllen Martins).
18
Figura 10. Filamento de Porphyrosiphon com tricoma envolto por bainha lamelada. Fonte:
http://cfb.unh.edu/ http://cfb.unh.edu/phycokey/Choices/Cyanobacteria.
Figura 11. Tricomas de Microcoleus sp. envoltos por uma bainha mucilaginosa
espessa..Fonte: (http://galerie.sinicearasy.cz/galerie).
motilidade, a estrutura dos tricomas, o tipo de fragmentação dos mesmos e, ainda, o tipo de
talo de grande importância neste sistema (WERNER, 2002).
Atualmente, o critério constitui um sistema artificial que está sendo continuamente
reformulado, de caráter transitório, sendo necessário ampliação e aquisição de informações
para sustentar novas modificações e à medida que isso acontece, dados são acrescentados aos
sistemas de classificação Hoffmann et al. (2005). Desta forma, a morfologia é apenas um dos
critérios utilizados para distinguir esses microrganismos, sendo aceito a taxonomia polifásica
(KOMÁREK 2005).
A taxonomia polifásica utiliza vários dados provindos de outras áreas do
conhecimento, ou seja, é uma combinação de abordagens ecologicas, fisiologicas,
ultraestruturais, bioquímicas, biologia molecular e caracteres morfológicos (figura 14).
Assim, por ser um sistema bastante atualizado e completo foi escolhido o sistema de
classificação Hoffmann et.al (2005), observando as modificações de Komárek (2006). A
identificação dos táxons específicos foi baseada principalmente em trabalhos de Komárek e
Anagostides (1999, 2005) e Komarék (2013).
Figura 14 Esquema ilustrado de vários processos utilizados pela taxonomia polifásica durante a
identificação, classificação e a novas descrições de cianobactérias (Fonte: Gama, 2012).
22
No Sudoeste do Rio Grande do Sul, as áreas que apresentam areais estão mais
precisamente entre as latitudes 29°00’ S e 31º00’ S e as longitudes 54º30 W e 58º 45’ W. A
partir do meridiano de 54º em direção oeste até a fronteira com a Argentina e o Uruguai, sua
extensão para o conjunto de municípios é de, aproximadamente 3.600 ha, abrangendo as
municipalidades de Alegrete, Cacequi, Itaqui, Maçambará, Manuel Viena, Quaraí, Rosário do
Sul, São Borja, São Francisco de Assis e Unistalda.
Os areais ocorrem em áreas com substrato arenoso ou areno-argiloso determinadas
como depósitos sedimentares recentes do quartenário. Estes dados associados a indicadores
paleoclimáticos permitiram a conclusão de que os areais são áreas de retrabalhamento recente,
sob clima úmido, de depósitos cuja origem estão associadas a condições ambientais diferentes
das atuais (SUERTEGARAY, 2012).
Para a realização deste estudo foram escolhidas três áreas da Campanha Gaúcha, nos
municípios de Alegrete e São Francisco de Assis. Para realizar a amostragem optou-se por
coletar duas amostras por sítio (figura 15).
A primeira área de coleta é o Deserto de São João (29°42'35.48''S e 55°25'13.47"W),
localizada em Alegrete. O local foi escolhido uma área geologicamente peculiar onde ocorre o
contato entre os arenitos Botucatu e Guará. Além de ocorrer, sobre o areal, um dos primeiros
locais de plantio de eucalipto, e este se plantio ocorre há cerca de 20 anos, tempo suficiente
para modificações biogeográficas, devido à inclusão da espécie exótica.
A segunda área de coleta compreende o Areal na propriedade da Dona Irene, em São
Francisco de Assis (29°30'54.98"S e 55° 7'23.07"W). Foi escolhido por ser uma área que
sofre com processos de Arenização acentuados por peocessos de ravinamento, onde crostas
biológicas recobrem o solo ainda estável no topo das ravinas.
A terceira área de coleta é o Cerro da Esquina em São Francisco de Assis
(29°23'58.85"S e 55°13'37.60"W), a área foi escolhida por ser o areal mais estudado. O local
da coleta, se encontrar em uma ravina que passou recentemente por processo de estabilização
por estaqueamento de bambus.
24
Figura 16 Croqui representativo da tipologia dos areais. a) areais em rampa e b) areais em colinas.
Assim o processo inicial de formação dos areais ocorre sob áreas de reduzida
biomassa (campo) evoluindo para manchas arenosas ou areais propriamente ditos, passando a
feições de erosão como áreas de ravinamento e de formação de voçorocas (SUERTEGARAY
et al., 2012).
27
60% da área total estadual. A vegetação que mais se destaca no quadro natural formada por
campos de gramíneas e por vezes aparecem matas de galerias.
Figura 17 Localização dos campos no Sul do Brasil: (a) visão geral da América do
Sul (b) o Brasil e a classificação oficial dos Biomas brasileiros, segundo o IBGE
(2004) e (c) distribuição dos campos na região sul do Brasil. (OVERBECK, 2009).
Desta forma observa-se que a denominação das formações vegetais, da área de estudo
sobre divergência de nomenclatura para alguns autores, sendo por alguns sendo chamada de
pampa e pra outros campos. Contudo optou-se por adotar a nomenclatura local bioma pampa
utilizada por autores como Suertegaray et al. (2001), devido a sua concepção mais ampla,
que envolve a representação cultural e que já vem sendo adotado por grupos de pesquisa na
área (figura 19).
Sendo assim, os areais no sudoeste do Rio Grande do Sul são interpretados a partir de
estudos geomorfológicos, associados à dinâmica hídrica e eólica, o que indica que eles
resultam, inicialmente, de processos hídricos. Estes processos estão relacionados com uma
topografia favorável que permite, numa primeira fase, a formação de ravinas e voçorocas.
Estas, em seguida, por erosão lateral e regressiva, ampliam-se, consequentemente, alargando
suas bordas. Através desta dinâmica, conclui-se que inicialmente os areais resultam de
processos hídricos superficiais que provocam, em particular, escoamentos concentrados
formando ravinas e voçorocas. Essas transportam e ampliam as áreas descobertas gerando
novos areais, que em contato com o vento sofrem contínua remoção (SUERTEGARAY,
1987; VERDUM,1997; SUERTEGARAY et a.l, 2001).
30
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Figura 20 a) Local de coleta no areal Deserto de São João, Alegrete – RS. b) Amostra coletada em Placa
de Petri (vista equatorial).
Optou-se por coletar amostras de três estágios de sucessão: a) com focos iniciais de
colonização de cianobactérias; b) com inicio de associação entre cianobactérias e outros
componentes musgo ou liquens; c) crosta bem constituída com aparência já de tapetes de
musgo (Figura 21).
A preparação para a etapa laboratorial ocorreu a partir de visualização de manchas por
estereoscópio com aumentos de 100 vezes. A observação das cianobactérias foi precedida de
reidratação do material, colocando em placas de Petri contendo água destilada.
31
Em
virtude da maior parte do material a ser estudado contar com densos emaranhados, contendo
detritos, hifas de fungos, partículas de solos e cianobactérias, foi necessária a separação prévia
dos espécimes, com lupa em placa de Petri e água destilada e auxílio de pinças e agulhas
histológicas.
Parte das amostras foi preservada com formalina 4% e guardadas em potes de vidro de
100 ml e foi mantida viva sob refrigeração. As amostras serão tombadas no Herbário Alarich
Schultz - HAS do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do
Sul (MCN-FZB).
As análises taxonômicas foram feitas na Seção de Botânica de Criptógamas do MCN-
FZB, em microscópio óptico binocular de marca Carl Zeiss Oberkochen, modelo GFL óptico,
com aumentos de 400 e 1.000 vezes e lupa estereoscópica. (Figura 22).
Os registros fotográficos foram feitos com câmera digital, ajustada diretamente à
ocular do microscópio. Os estudos morfológicos e identificação das cianobactérias foram
realizados a partir de espécimes vivos.
32
Foram feitas observações de cinco lâminas por segmento nas amostras. Foram obtidas
medidas celulares de espécimes encontrados, com a finalidade de suas identificações. Para a
classificação dos táxons foi adotado o sistema de Hoffmann et al. (2005).
33
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O gênero que se fez representado em todas as amostras, foi o Stigonema sp. que
ocorreu com maior expressividade. As espécies subsuperficiais encontradas se fazem mais
raras aparecendo poucas vezes com tamanhos milimétricos, com baixa preservação e de difícil
interpretação devido a sua transparência e tamanho, ocorrendo diferenças entre táxons de
amostra para amostra.
Nas amostras do areal Dona Irene em São Francisco de Assis, foi possível verificar
nas camadas superficial e subsuperficial, uma predominância apenas de Stigonema sp. e
algumas populações de Porphyrosiphon notarissi Kützing ex Gomont.
35
Figura 25 a) Forma de ocorrência das CBS no areal Deserto de São João, Alegrete- RS. b). Forma de ocorrência das CBS no areal Deserto de
São João, Alegrete – RS, no topo de pedestais, “demoseilles”, onde, aparentemente, auxiliam na resistência desses pedestais. . c) Forma de
ocorrência das CBS no areal Dona Irene, no topo de pedestais, formando uma cobertura pinacular na vertente sul da ravina. d) Forma de
ocorrência da CBS no areal Cerro da Esquina na vertente formando uma cobertura mais suave e incipiente de crostas.
38
6. CONCLUSÕES
7. REFERÊNCIAS
AZEVEDO, M.T.P. Edaphic blue-green algae from de Säo Paulo Botanical Garden, Brazil.
Algologica Studie 64: 503-526, 1991.
BENALP, J.; ELDRIDGE, D.; KALTENECKER J.R.; LEONARD, S.; ROSENTRETER R.;
WILLIAMS, J. Biological soil crusts: ecology and management. Denver: USDI-BLM 2001.
(Technical Reference 1730-2).
BELNAP, J.; BÜDEL, B.; LANGE, O.L. Biological soil crusts: structure, function, and
management. Springer-Verlag: Berlin, 2003. 503 p.
BENALP, J. The potential roles of biological soil crusts in dryland hydrologic cycles.
Hydrol. Process. 20: 3159–3178, 2006.
BOWKER, M.A.; MAESTRE, F.T.; ESCOLAR, C. Biological crusts as a model system for
examining the biodiversity-ecosystem function relationship in soil. Soil Biology and
Biochemistry. Volume 42: 405-417, 2010.
BOOTH, W.E. Algae as pionners in plant sucession and the importance in erosion control.
Ecology 22: 38-46, 1941.
BÜDEL, B.; COLESIE, C.; GREEN, T.G.A.; GRUBE, M.; LAZARO-SUAU, R.; LOEWEN-
SCHNEIDER, K.; MAIER, S.; PEER, T.; PINTADO, A.; RAGGIO, J.; RUPRECHT, U.;
SANCHO, L.; SCHROETER, B.; TÜRK, R.; WEBER, B.; WEDIN, M.; WESTBERG, M.;
WILLIAMS, L.; ZHENG, L. Improved appreciation of the functioning and importance of
biological soil crusts in Europe: the Soil Crust International Project (SCIN). Biodivers
Conserv: publicado online em março de 2014.
40
ELDRIDGE, D.J; GREENE, R.S.B. Macrobiotic soil crusts: a review of their roles in soil
and ecological processes in the rangelands of Australia. Australian Journal of Soil Research
32: 389-415, 1994.
FISCHER, T.; VESTE, M.; SCHAAF, W.; DÜMIG, A.; KÖGEL-KNABNER, I.; WIEHE,
W.; BENS, O.; HÜTTL, R.F. Initial Pedogenesis in a topsoil crust 3 years after construction
of an artificial catchment in Brandenburg, NE Germany. Biogeochemistry, 101: 1-3; 165-
176, 2010.
JEFFREY, R.J; RUSHFORTH, S.R. Cryptogamic soil crusts: seasonal variation in algal
population in the Tintic Montains, Juab County, Utah. Western North American Naturalist,
Volume, 45: 1985.
JEFFREY, R.J; SHUBERT, E. Algae in soil. Nova Hedwigia, Beiheft 123, 297-306, 2001.
41
SCHLICHTING, Jr. H.E. Some subaerial algae from Irleand. Br. Phycol. J. Plymouth, 10: (3)
257-61, 1975.
SCHERER, C.M.S. & LAVINA, E.L. Sedimentary cycles and facies architecture of aeolian-
fluvial strata of the Upper Jurassic Guará Formation, southern Brazil. Sedimentology,
32:1323-1341, 2005.
SUERTEGARAY, D.M.A. Deserto Grande do Sul: Controvérsias 2° ed. Porto Alegre: Ed.
Da Universidade, UFRGS, 1998. 109p.
SUERTEGARAY, D.M.A.; SILVA, L.A.P. Tchê Pampa: histórias da natureza gaúcha in:
PILLAR, V.D.; MÜLLER, S.C.; CASTILHOS, Z.; JACQUES, A.V.A. (Org). Campos
Sulinos: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade. Brasília: Ministério do Meio
Ambiente, 2009. 403.p. p. 42-59.
OVERBECK, G. E.; MÜLLER, S.C.; FIDELIS, A.; PFADENHAUER, J.; PILLAR, V.D.;
BLANCO, C.C.; BOLDRINI, I.I.; FORNECK, E.D. Os Campos Sulinos: um bioma
negligenciado in: PILLAR, V.D.; MÜLLER, S.C.; CASTILHOS, Z.; JACQUES, A.V.A.
(Org. Campos Sulinos: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, 2009. 403.p. p. 26-41.
VERDUM, R. Approche Geographique dês deserts dans les communes de São Francisco
de Assis et Manuel Viana, État du Rio Grande do Sul, Brésil. 1997 Tese (Doutorado) –
Université de Toulouse-Le-Mirail, UFR de Geographie et Aménagent, Toulouse.
VESTE, M. The Role of Biological Soil Crusts on Desert Sand Dunes in the Northwestern
Negev. Published in: BRECKLE, S.W; VESTE, M; WUCHERER, W. (eds). Sustainable
Land-Use in Deserts. Springer: Heidelberg, Berlin - New York, pp 357-367, 2001.
43
VESTE, M. The Importance of Biological Soil Crusts for Rehabilitation of Degraded Arid
and Semi-arid Ecosystems. Science of Soil and Water Conservation 3(3): 60-65, 2005.
WATANABE, I.; LEE, K. K. Seasonal change of N2-fixing rate in rice field assayed by in
situ acetylene reduction technique. I. Experiments in long-term fertility plots. Soil Sci. Plant
Nutr. 24(1): 1-13. 1978.
WHITTON, B.A.; POTTS, M. The ecology of Cyanobacteria. Their diversity in time and
space. Dordrecht: Kluwer Academic, 2000. 669p.