Avaliação Psicologica No Contexto Juridico
Avaliação Psicologica No Contexto Juridico
Avaliação Psicologica No Contexto Juridico
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4
12 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 69
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 CONSTRUÇÃO DO CAMPO DA PSICOLOGIA JURÍDICA
Fonte: psicologianova.com
De acordo com Miranda Junior (1998), esse processo acarretou que os órgãos
judiciais e legislativos incorporassem noções e conceitos de outras áreas, entre elas
a Psiquiatria e a Psicologia.
Ainda para esse autor, a aproximação entre a Psicologia e o Direito começou
no campo da psicopatologia, com a realização de diagnósticos de sanidade mental
solicitados por juízes, baseados no uso de testes (classificação e controle dos
indivíduos).
Portanto, nesse primeiro momento, a função do psicólogo era fornecer um
parecer técnico (pericial) que fundamentasse as decisões do sistema judiciário (mapa
subjetivo do sujeito diagnosticado, quase sempre descontextualizado).
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Nesse sentido, a Psicologia passa a ser utilizada como um dos saberes que
substitui cientificamente o inquérito na produção jurídica (Foucault, 1986).
A ideia de que a Psicologia poderia auxiliar o Direito já estava presente desde
o século XVIII. Jesus (2001), numa revisão de obras a respeito dessa relação, cita o
livro de Eckardts Hausem, “A necessidade de conhecimento psicológico para julgar
delitos”, de 1792, como uma das primeiras obras sobre o tema.
O autor cita também as obras de Hoffbauer, “A Psicologia em suas em suas
principais aplicações à administração da Justiça”, de 1808, e o “Manual sistemático
de Psicologia Judicial”, de 1835, de Zitelman.
Selosse (1989), por sua vez, cita Hans Gross, jurista alemão interessado nos
métodos e procedimentos de investigação e exame de provas, que em 1898 publicou
a primeira obra de Psicologia Criminal, como um marco para o surgimento da
Psicologia Jurídica.
No entanto, nos parece importante esclarecer que há mais de três séculos,
Psicologia e Direito buscam formas conjuntas de descrição do comportamento
criminoso. No Século XX, definidas as primeiras aplicações da Psicologia ao Direito,
começam a surgir diferentes denominações para uma nova área de trabalho. Segundo
Selosse (1989), essas denominações dependerão do objeto de estudo.
Na França, aqueles que estudam os autores das infrações cunharam o termo
“Psicologia Criminal”; aqueles que se dispuseram a examinar as interações entre
Juristas e os usuários do sistema de justiça passaram a utilizar o termo “Psicologia
Judiciária”. Finalmente, um outro grupo, interessado nas implicações da Psicologia na
punição e nas sanções, vem utilizando o termo Psicologia Penal.
No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (www.crpsp.org.br) usa o termo
Psicologia Jurídica para definir uma das especialidades do psicólogo e apresenta uma
ampla descrição da sua área de atuação.
No entanto, essa autora alerta para o fato de que a sua prática continua ainda
muito atrelada aos processos jurídicos, mesmo que alguns profissionais tenham
trabalhado no sentido de mudar essa realidade, buscando atuar também a serviço da
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cidadania plena: “Tais profissionais acreditam na possibilidade de um exercício
profissional onde a informação deva ser repassada não só aos juristas, mas também
às pessoas que carecem de intervenção, de forma que o trabalho não seja
estigmatizante e de controle social” (Bonfim, 1994,).
É ponto pacífico que não se pode reduzir a prática do psicólogo jurídico à
perícia. Miranda Junior (1998) diz que é necessária uma abertura para a escuta do
outro, possibilitando a emergência do sujeito em sua singularidade na sua relação
com a lei simbólica e com a lei definida nos códigos jurídicos.
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Avançando por esse período marcado pelo imperativo da lei pela lei, e mediante
a conjuntura social da época com acontecimentos de grande impacto sob as ciências
humanas e suas discussões, como foi o caso do fascismo na Itália e o nazismo na
Alemanha, urgiu a necessidade de se repensar o paradigma que movia o direito.
Surge então o pós-positivismo, aliando aspectos do direito posto e do direito natural,
adequando-se, assim, as necessidades vigentes (SANCHES, 2009).
É a partir das mudanças sofridas nos postulados filosóficos do direito para
chegar-se ao pós-positivismo que baseia o saber-fazer dessa área atualmente, que
se deu abertura para outras ciências, dentre elas a psicologia. Assim, a psicologia
jurídica como disciplina vinculada ao direito é nova e encontra - se em fase de
construção, na qual muito conhecimento precisa ser explorado e agregado. Isso pode
se dar devido à frágil relação entre os saberes que constituem as ciências humanas.
Desta forma, urge à ciência pós-moderna romper com o individualismo
epistemológico, para construir conexões que atendam às demandas sociais latentes
(TRINDADE, 2004).
Em território brasileiro essa aproximação em virtude da premente necessidade
de expansão e de diálogo entre as áreas do saber veio através da reformulação das
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em direito que, pela
Resolução CNE/CES n° 09/2004, estabelecem em seu projeto pedagógico e em sua
organização curricular eixos de formação (fundamental, profissional e prático)
condizentes com as mudanças paradigmáticas.
No eixo de formação fundamental há integração do direito com outras áreas
do conhecimento, observando-se uma proeminência das ciências humanas, tais
como: antropologia, ciência política, economia, ética, filosofia, história, psicologia e
sociologia (BRASIL, 2004).
Chaves (2014) comenta sobre a inclusão da psicologia enquanto disciplina do
eixo fundamental de formação do direito, como uma busca de avanço para o campo
jurídico, não mais colocando o direito no patamar de ciência autônoma, mas
reconhecendo a necessidade de agregar contribuições de outras ciências.
Assim, á contraposição a abordagens unidimensionais e reducionistas que
privilegiam a interdisciplinaridade entre psicologia e diversas fontes de conhecimento,
se coloca enquanto alvitre de compreensão de aspectos do comportamento humano
em sua complexidade, deixando às claras diferenças e semelhanças existentes entre
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sujeitos, privilegiando o campo de construção subjetiva e as possíveis implicações
dessa dimensão na vida privada e coletiva (BOCK, 2007).
Em concordância com o raciocínio, Crisigiovanni e Siqueira (2012),
argumentam os benefícios trazidos pelo diálogo entre áreas, mostrando que estudar
a dimensão subjetiva do comportamento humano e suas repercussões nos atos
ocorridos no meio social permite aos juristas uma leitura mais meticulosa dos fatos
atrelados à moral dos sujeitos, permitindo julgamentos mais justos.
Apesar dos benefícios e avanços, outros desafios estão presentes na formação
dos operadores de direito no campo multidisciplinar, em específico relacionado à
psicologia. Um deles é a escassez de docentes preparados para ministrar as aulas,
ocasionando perdas significativas do conhecimento e da prática que permeiam o
trabalho nessa disciplina.
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4 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA JUSTIÇA
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como principais as atuações na interlocução com o direito civil, direito da família,
direito da criança e do adolescente, direito penal e direito do trabalho.
Vale ressaltar que, a depender da visão do operador de direto que atue em
conjunto com o psicólogo – independente de qual área estejam vinculados, as
demandas podem variar, fazendo com que os mesmos assumam caráter, ora de
testologos do século XIX, ora de profissionais multifacetados e com práticas
inovadoras, o que ocorreu, sobretudo, a partir da formulação do ECA na década de
90. A ampliação da área é eminente e outras práticas estão sendo constantemente
pensadas e implantadas, tornando o campo da psicologia jurídica cada vez mais
abrangente como será visto a seguir.
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5.2 Psicologia e o direito penal
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5.3 Psicologia e o direito do trabalho
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5.4 Psicologia e o direito da família
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Na destituição do poder familiar, Cesca (2004) enfatiza a importância do papel
do psicólogo, pois separar uma criança de sua família, por mais que a mesma esteja
colocando-a em situação de vulnerabilidade, sem o mínimo embasamento que
justifique tal decisão, pode acarretar em danos maiores que perdurem ao longo de
toda a vida do sujeito.
A adoção consiste em um procedimento complexo que envolve situações
anteriores que vão desde a destituição do poder familiar, do abandono ou da
institucionalização da criança, até o momento de reinserir a criança no seio da nova
família e legalizar esse ato (ZAUPA, 2012).
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A atuação de psicólogos torna-se necessária para trabalhar casos diversos de
violência, seja ela física ou psicológica, abuso ou exploração sexual de menores,
doentes mentais, etc.; abandono, rompimento ou fragilização de vínculos, ou
afastamento do convívio familiar devido à aplicação de medidas socioeducativas
(CREPOP, 2013).
Cada campo de atuação reserva suas especificidades e delimitações. Cabe ao
profissional que se encarrega da possível articulação entre Psicologia e Direito
produzir experiências, assim como a escrita e publicação. São necessários o
fortalecimento teórico e a formação contínua, assim como uma maior produção
acadêmica na área para que tais especificidades se tornem reconhecidas e os campos
se fortaleçam.
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Fonte: jusbrasil.com.br
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Fonte: jusbrasil.com.br
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psicólogo perito e vice-versa, para que não haja interferência na dinâmica e
qualidade do serviço realizado.
Parágrafo Único - A relação entre os profissionais deve se pautar no respeito
e colaboração, cada qual exercendo suas competências, podendo o
assistente técnico formular quesitos ao psicólogo perito.
Art. 3º - Conforme a especificidade de cada situação, o trabalho pericial
poderá contemplar observações, entrevistas, visitas domiciliares e
institucionais, aplicação de testes psicológicos, utilização de recursos lúdicos
e outros instrumentos, métodos e técnicas reconhecidas pelo Conselho
Federal de Psicologia.
Art. 4º - A realização da perícia exige espaço físico apropriado que zele pela
privacidade do atendido, bem como pela qualidade dos recursos técnicos
utilizados.
Art. 5º - O psicólogo perito poderá atuar em equipe multiprofissional desde
que preserve sua especificidade e limite de intervenção, não se subordinando
técnica e profissionalmente a outras áreas.
Art. 6º - Os documentos produzidos por psicólogos que atuam na Justiça
devem manter o rigor técnico e ético exigido na Resolução CFP nº 07/2003,
que institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo
psicólogo, decorrentes da avaliação psicológica.
Art. 7º - Em seu relatório, o psicólogo perito apresentará indicativos
pertinentes à sua investigação que possam diretamente subsidiar o Juiz na
solicitação realizada, reconhecendo os limites legais de sua atuação
profissional, sem adentrar nas decisões, que são exclusivas às atribuições
dos magistrados.
Art. 8º - O assistente técnico, profissional capacitado para questionar
tecnicamente a análise e as conclusões realizadas pelo psicólogo perito,
restringirá sua análise ao estudo psicológico resultante da perícia, elaborando
quesitos que venham a esclarecer pontos não contemplados ou
contraditórios, identificados a partir de criteriosa análise.
Parágrafo Único - Para desenvolver sua função, o assistente técnico poderá
ouvir pessoas envolvidas, solicitar documentos em poder das partes, entre
outros meios (Art. 429, Código de Processo Civil).
Parecer psicológico:
As conclusões tecnicamente fundamentadas de estudos psicológicos
acionados sobre a obrigação do objetivo de subsidiar uma decisão judicial (perícia
judiciária - o parecer psicológico judiciário constitui-se em uma prova pericial), ou
sobre o compromisso de subsidiar uma tomada de decisão (perícia); a manifestação
do psicólogo assistente técnico produzida por determinação judicial.
Parecer forense:
As conclusões de estudos realizados pelo psicólogo assistente técnico forense
dirigidas ao juízo; o parecer psicológico judiciário também pode ser denominado
parecer forense.
Parecer pericial:
Designa a emissão de parecer pelo psicólogo perito (parecer psicológico
judiciário, parecer psicológico para autorização do porte de arma; parecer psicológico
para reconhecimento da habilitação de conduzir veículos automotores, parecer
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produzido em perícia solicitada por entidade privada ou pessoa natural que não
integram o objeto da perícia etc.).
Parecer judiciário:
Designa a emissão de parecer pelo psicólogo judiciário e por todos a ele
equiparados.
Perícia psicológica judiciária:
Designa a realização de atividade pericial a mando e/ou a serviço do Poder
Judiciário.
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de subsidiar uma decisão judicial e, por isso, submete-se ao princípio da
imparcialidade, condição imanente a que uma decisão possa ser expressão de justiça.
O entendimento de que os códigos processuais imputam imparcialidade como
condição precípua da perícia, e a torna irrealizável pelo psicólogo que oferece
assistência à saúde mental da pessoa envolvida em situações sobre apreciação
judicial, por conseguinte, o psicólogo que trabalha no sistema prisional está impedido
de proceder à exame criminológico dos presos da unidade em que trabalha.
A Psicologia Forense, portanto, é uma ciência autônoma, complementar ao
Direito, e não a ele subordinada (Walker & Shapiro, 2003).
Área da Psicologia encarregada de descrever, explicar, predizer e intervir sobre
o comportamento humano que tem lugar no contexto jurídico, com a finalidade de
contribuir com a construção e prática de sistemas jurídicos objetivos e justos (Quintero
e López, 2010). Qualquer aplicação de pesquisa, método, teoria e prática psicológica
a uma atividade que tenha interface com sistema legal (Gomide, 2011).
Por fim, enumera as áreas de atuação do psicólogo forense: Psicologia do
Crime; Avaliação forense; Clínica Forense; Psicologia Aplicada ao Sistema
Correcional; Psicologia Aplicada aos Programas de Prevenção; Psicologia Aplicada à
Polícia; Assessoria; Pesquisa.
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É fundamental reconhecer que a própria legislação nos impõe a conclusão de que a
realização de perícia fica impedida caso qualquer modalidade prévia de assistência
técnica psicológica ao envolvido em processo judicial já tenha ocorrido.
A perícia psicológica judiciária assume a obrigação do objetivo de subsidiar o
juiz no processo de formação de sua convicção, seu paradigma é a perícia realizada
nas varas de família e sucessões e nas de infância e de juventude. Nelas, situações
e conflitos familiares são trazidos à apreciação da Justiça.
A Justiça da infância e juventude aprecia contextos familiares nos quais
crianças e adolescentes sofrem violação de direitos, e mesmo os trabalhos de
aconselhamento, orientação, encaminhamento e prevenção, que o psicólogo
judiciário venha a fornecer devem ser reconhecidos como atividade pericial, pois não
há como despojar-se do papel de auxiliar da justiça e da consequente imposição de
imparcialidade.
Há, na justiça da infância e da juventude, especificidades que não devem ser
subestimadas: os procedimentos prescindem de advogado, há procederes em que
fica suspenso o princípio da ampla defesa e a busca do benefício da criança implica
numa explícita parcialidade.
À psicologia judiciária, pertencem todas as intervenções procedidas por
psicólogos a serviço e/ou a mando da justiça sobre a obrigação do objetivo de
subsidiar uma decisão judicial e, por isso, submetidas ao princípio da imparcialidade.
A imparcialidade é pressuposta quando se vislumbra a justiça. Não se trata de uma
imparcialidade abstrata, até porque, sendo a justiça expressão de interesses coletivos,
ela é parcial quanto a tais interesses.
Trata-se de uma imparcialidade em relação às partes (aos envolvidos) e que
se traduz no respeito ao princípio do contraditório e na vigência de procedimentos
voltados a excluir qualquer parcialidade reconhecida ou reconhecível.
A perícia psicológica judiciária destaca-se no campo da psicologia judiciária e,
por força de sua posição na enumeração das funções legalmente atribuídas ao
psicólogo e da definição de seus objetivos em uma legislação que se estende a todas
as outras profissões, deve ser entendida como distinta do psicodiagnóstico.
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7.3 Psicologia forense
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prévio, pessoal ou profissional, com o periciando, aspecto presente nas relações aqui
descritas. Pode ocorrer de o cliente ou usuário do serviço solicitar ao psicólogo seu
posicionamento quanto a uma situação que ele pretende levar ou está levando à
apreciação da Justiça.
Caso o psicólogo resolva atender ao solicitado, deve estar certo de que estará
prestando assistência técnica psicológica forense e, por isso, torna-se imprescindível
que seja explicitado no relatório ou laudo produzido que tal posicionamento foi
realizado com o objetivo de vir a ser apreciado pela Justiça.
Não se poderá admitir como peça de um auto processual o posicionamento do
psicólogo, realizado por solicitação de seu cliente, sem a explícita manifestação do
profissional de que o produziu tendo em vista tal objetivo.
Pois, conforme vimos argumentando, neste campo, a utilização de métodos e
técnicas psicológicas são meios a serviço de determinados fins, sendo imprescindível
a explicitação dos fins em toda e qualquer manifestação técnica juntada aos autos.
O relatório ou laudo elaborado pelo psicólogo, só poderá ser admitido como
elemento a ser considerado pelo responsável por uma decisão, quando nele o
psicólogo tiver explicitado que o produziu com o objetivo de vir a ser apreciado por
este responsável.
No âmbito jurídico, só devemos considerar perícias as avaliações realizadas
sobre a obrigação profissional de responder às solicitações de um poder constituído
e submetidas ao princípio da imparcialidade.
Na lei, o perito é definido como auxiliar do juiz. Os psicólogos assistentes
técnicos forenses propriamente ditos são os contratados pelos envolvidos em uma
disputa judicial para se manifestarem tecnicamente nos autos de um processo em que
o contratante é uma das partes.
Fácil notar que o psicólogo assistente técnico forense fala nos autos a partir de
uma posição reconhecidamente parcial, não sendo, por isso, nos termos da legislação
vigente, passível de suspeição ou impedimento, tampouco objeto de sanções
disciplinares.
Por conseguinte, não deveria sofrer qualquer tipo de vedação. Importante
reconhecer que, à exceção da perícia, o psicólogo está sempre a assistir tecnicamente
seu cliente.
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A prática psicoterápica, a realização de diagnósticos e de avaliações
psicológicas, a orientação de pais, a orientação vocacional etc. são exemplos de
modalidades de assistência técnica psicológica ao cliente ou usuário de um serviço.
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Entre os instrumentos possíveis na AP estão: testes psicológicos (escalas de
desenvolvimento, testes de inteligência, teste de aptidão, teste de personalidade),
questionários, inventários, entrevistas, observações situacionais. A escolha do
instrumento vai depender do objetivo da avaliação.
O teste é “uma medida objetiva e padronizada de uma amostra de
comportamento” (Anastasi; Urbina, 2000). É um procedimento sistemático para
observar o comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou
categorias fixas (Cronbach, 1996). É, portanto, compreendido como um conhecimento
reduzido, como um recorte da realidade.
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A predominância da testagem é compreendida também pela expectativa do
jurídico, cujo caráter é positivista. A perícia forense é uma das possibilidades do
psicólogo jurídico, mas não a única; deve ser utilizada com prudência e ser entendida
enquanto uma composição de dados coletados, e não reduzida à aplicação de testes.
A AP é importante como elemento da Psicologia Jurídica, porém é imprescindível a
necessidade de repensá-la criticamente.
Assim sendo, insere-se também no campo da Psicologia Forense, sendo
conhecida como avaliação psicológica pericial ou, mais comumente, perícia
psicológica forense. A perícia psicológica se diferencia de outros tipos de avaliação
psicológica pelo fato do seu objetivo ser subsidiar decisões judiciais.
A perícia psicológica insere-se no campo interdisciplinar da psicologia forense
e da psicologia clínica. Ibañez e Ávila definem a psicologia forense como sendo toda
psicologia “orientada para a produção de investigações psicológicas e para a
comunicação de seus resultados, assim como a realização de avaliações e valorações
psicológicas, para sua aplicação no contexto legal” (1990, apud ROVINSKI, 2003).
A perícia psicológica forense pode ser definida como o exame ou avaliação do
estado psíquico de um indivíduo com o objetivo de elucidar determinados aspectos
psicológicos deste; este objetivo se presta à finalidade de fornecer ao juiz ou a outro
agente judicial que solicitou a perícia, informações técnicas que escapam ao senso
comum e ultrapassam o conhecimento jurídico.
Na perícia psicológica, todo o processo de avaliação (a obtenção dos dados
através de instrumentos adequados, a análise dos dados e a comunicação dos
resultados) deve ser direcionado aos objetivos judiciais.
Segundo Silva (2003), recorre-se à prova pericial quando os argumentos ou
demais provas de que se dispõe não são suficientes para o convencimento do juiz em
seu poder decisório, portanto, esta tem como finalidade última auxiliar o juiz em sua
decisão acerca dos fatos que estão sendo julgados. A perícia psicológica é
considerada um meio de prova no âmbito forense e sua materialização se dá através
da elaboração do chamado laudo pericial.
O laudo pericial:
Que será apreciado pelo agente jurídico que o solicitou, deve ser redigido em
linguagem clara e objetiva para que possa efetivamente fornecer elementos que
auxiliem a decisão judicial, devendo responder aos quesitos (perguntas) solicitados,
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quando presentes. Segundo a autora, embora o Direito exija respostas imediatas e
definitivas, o laudo psicológico poderá somente apontar tendências e indícios.
Segundo Rovinski (2003; 2004) as técnicas e os métodos de investigação
utilizados na avaliação psicológica forense não diferem de forma substancial do
processo de avaliação psicológica clínica, necessitando apenas de uma adaptação
aos objetivos forenses. A eleição da metodologia que será utilizada na perícia
dependerá das especificidades de cada caso.
A coleta dos dados deve direcionar-se ao que deve ser investigado, assim,
para que o psicólogo selecione os instrumentos psicológicos mais adequados para
cada caso, ele deverá se basear na própria natureza do exame em questão e na prévia
leitura dos autos do processo (com especial atenção ao que demandou a perícia
psicológica e aos quesitos formulados).
Não existem metodologias fixas para a realização de avaliações psicológicas
periciais, sendo estas construídas de acordo com as características do caso e do
sujeito (nível de escolaridade, idade, presença de limitações físicas ou mentais, etc.).
A leitura dos autos do processo propicia o levantamento de hipóteses prévias antes
do primeiro contato com o indivíduo e permite que a entrevista seja direcionada para
a investigação de tais hipóteses.
A metodologia utilizada nas perícias psicológicas seria, de modo geral, a
seguinte:
Leitura dos autos do processo (identificação da demanda, das questões
psicológicas que serão alvo da investigação pericial e dos quesitos que
deverão ser respondidos pelo psicólogo);
Levantamento das hipóteses prévias que nortearão a coleta dos dados;
Coleta dos dados junto ao sujeito (entrevista inicial) e, quando
necessário, junto a terceiros ou a instituições;
Planejamento da bateria de testes/técnicas mais adequada para o caso;
e) aplicação da bateria de testes;
Interpretação dos resultados dos testes à luz dos dados colhidos nos
autos processuais e na (s) entrevista (s);
Redação do informe psicológico com o objetivo de responder à
demanda jurídica que motivou tal avaliação
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Quando presentes, responder aos quesitos/perguntas constantes no
processo judicial).
Apesar de se utilizar uma metodologia parecida com a utilizada na clínica,
a avaliação psicológica pericial possui algumas características próprias e
específicas:
Dirige-se a um foco específico, determinado pelo sistema judicial;
Busca-se informações precisas e exatas, inclusive em outras fontes
(escola, local de trabalho, etc.);
O sujeito pode ser não colaborativo e apresentar uma resistência
consciente à avaliação, devido à sua natureza coercitiva;
O sujeito pode intencionalmente distorcer os dados que fornece sobre
si, (simulação/dissimulação);
Há um maior distanciamento emocional entre o examinando e o
psicólogo, já que este último não é visto como alguém que está ali para
ajudá-lo;
O tempo destinado à avaliação do examinando é menor, diminuindo a
possibilidade de reconsideração das formulações feitas (MELTON et. al,
1997, apud ROVINSKI, 2003).
Em uma perícia psicológica forense o psicólogo geralmente utilizará entrevistas
e testes psicológicos para conhecer os aspectos psíquicos do sujeito que se
relacionam com a questão legal pronunciada, buscando eleger quais instrumentos
poderão auxiliá-lo nesta investigação.
No momento da escolha de quais instrumentos são mais adequados para um
determinado tipo de perícia psicológica, há de se considerar se estes podem
responder à demanda, ou seja, às perguntas formuladas pelos agentes jurídicos (ou
seja, definem-se quais atributos serão avaliados e quais são os instrumentos mais
adequados para conhecê-los).
Este é um cuidado que deve existir em qualquer tipo de avaliação psicológica
e que, na perícia psicológica, deve ser revestida de um cuidado especial, pois a
grande maioria dos instrumentos dos quais dispomos não foram especificamente
construídos para uso em avaliações forenses e as conclusões obtidas a partir dos
mesmos deverão ser transpostas para os objetivos e linguagem jurídicos.
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Segundo Silva, os instrumentos utilizados na perícia psicológica forense
devem consistir de “métodos e materiais adequados, destinados a analisar e
avaliar aspectos referentes à estrutura da personalidade, à cognição, à
dinâmica e à afetividade das pessoas envolvidas” (SILVA, 2003).
Porém, nem sempre os instrumentos psicológicos, por mais que sejam válidos,
são capazes de responder de modo preciso e objetivo às questões jurídicas, portanto,
há de se ter muito cuidado tanto na escolha dos instrumentos que irão compor uma
perícia psicológica quanto no momento de interpretar os resultados e conclusões
obtidos a partir dos mesmos, evitando extrapolações, ou seja, evitando chegar a
conclusões que vão muito além daquelas que o instrumento pode oferecer.
Groth-Marnat (1984, apud CUNHA, 2003) traz um alerta em relação aos
resultados obtidos através dos testes psicológicos, ao dizer que “os dados descrevem
o que uma pessoa pode ou não fazer no contexto da testagem, mas o psicólogo deve
ainda inferir o que ele acredita que ela poderia ou não fazer na vida cotidiana”.
A (s) entrevista (s) psicológica (s) constitui-se como o primeiro momento junto
ao periciando; através desta busca-se colher dados pertinentes da história de vida do
indivíduo, compreender aspectos do seu funcionamento psicológico, entender os fatos
que motivaram o processo e a perícia em questão e observar a posição do periciando
frente aos mesmos.
É também o momento no qual o psicólogo realiza o enquadramento, apresenta
tanto a si próprio quanto o próprio processo avaliativo (objetivo, papéis, número de
encontros, lugar, horários e, se for o caso, honorários) e esclarece possíveis dúvidas
do periciando.
Será também o momento de se observar aspectos relacionais do periciando a
partir do modo como se vincula ao psicólogo, as reações transferenciais, levantar
hipóteses e, ainda, observar coerências e incoerências entre suas linguagens verbal
e não-verbal.
Será necessário informar ao sujeito que os dados colhidos e que sejam
pertinentes ao caso serão relatados ao agente jurídico que solicitou a perícia (laudo
pericial), estando, portanto, comprometidas a confidencialidade e o sigilo dos dados.
Para Taborda (2004) a questão da não-confidencialidade dos dados introduz no
setting a presença deste terceiro que solicitou a avaliação, podendo provocar uma
distorção nos dados e fatos que são comunicados pelo examinando ao perito.
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Em uma perícia psicológica frequentemente se faz necessário entrevistar
outras pessoas além do próprio examinando (como, por exemplo, algum familiar
próximo) para que possam ser colhidas mais informações a respeito das suas
características e funcionamento psicológico.
Segundo Rovinski (2003) isso acontece porque a avaliação pericial busca
entender e responder, de modo imparcial e neutro, as questões colocadas pela justiça,
diferentemente da avaliação clínica, que busca compreender a realidade psíquica do
paciente e sua visão particular sobre seus problemas.
A entrevista com terceiros também é de suma importância nos casos em que
a psicopatologia do sujeito impede que o mesmo forneça dados confiáveis e precisos
acerca de si próprio.
Segundo Taborda (2004) afirma que em uma avaliação pericial é comum que
a simulação se faça presente, pois o examinando poderá omitir informações
que possam prejudicá-lo e potencializar as que acredita que possam auxiliá-
lo. Deste modo, o “perito deverá estar atento a essa possibilidade e buscar
confirmar por fontes colaterais (entrevista com terceiros, exame de
documentos e prova técnica carreada aos autos) a fidedignidade do que é
afirmado” pelo examinando em sua entrevista, (Taborda 2004).
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A avaliação da personalidade constitui-se na maior demanda relacionada
às perícias psicológicas:
Busca-se investigar o grau de controle dos impulsos, características do
relacionamento interpessoal, o controle emocional, recursos da personalidade,
agressividade, presença de psicopatologias, dentre outros. No contexto pericial, os
testes de personalidade projetivos apresentam uma grande vantagem em relação aos
testes de personalidade objetivos ou psicométricos.
Isto ocorre porque a avaliação psicológica pericial, diferentemente da clínica,
constitui-se num embate de interesses advindos dos sujeitos envolvidos no processo
judicial; busca-se demonstrar que se é um genitor capaz de prover as necessidades
do filho; que se é portador de Esquizofrenia que o incapacita ao trabalho; que não
apresenta tendência a comportamentos violentos, etc.
O psicólogo perito deve estar sempre muito atento a estas características do
trabalho pericial e buscar cercar-se de estratégias avaliativas que sejam adequadas a
este contexto, a fim de diminuir a possibilidade de que o examinado distorça
intencionalmente a apresentação dos dados. Os testes de personalidade objetivos
geralmente oferecem poucas informações úteis em contextos forenses (GACONO;
EVANS; VIGLIONE, 2008).
As assertivas objetivas dos testes de personalidade psicométricos facilitam, por
parte do examinando, a produção ou simulação de traços/sintomas/características
que o mesmo não possui.
Por exemplo, se a avaliação pericial for para analisar um pedido de indenização
por danos psíquicos onde o requerente alega sofrer de Depressão, o Inventário de
Depressão de Beck (BDI) poderia facilitar um resultado do tipo falso positivo, pois ao
responder o teste o examinando, sem dificuldade, consegue escolher as assertivas
que melhor caracterizam uma personalidade que se encontra em um estado
depressivo.
O mesmo acontece com as tentativas de encobrimento ou dissimulação de
traços/sintomas/características que se possui; em um exame de cessação de
periculosidade, o uso do Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço
(STAXI) facilitaria ao sujeito manipular os resultados favoravelmente aos seus
interesses.
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Deste modo, os testes projetivos constituem-se como um método bastante
apropriado para se obter dados a respeito das características de personalidade de um
periciando, pois, as possibilidades de simulação ou dissimulação de características
apresentam-se mais reduzidas quando comparadas às entrevistas ou aos testes de
personalidades objetivos.
Serão as coerências ou incoerências entre os fatos relatados nos autos do
processo, nas entrevistas, no comportamento não verbal do examinando e nos
resultados dos testes psicológicos que nortearão o psicólogo na análise de questões
relacionadas à simulação ou dissimulação.
Para Rovinski (2006) o Rorschach é um teste bastante útil nas perícias
psicológicas em razão da possibilidade que este oferece para se conhecer a estrutura
e a dinâmica da personalidade, realizar diagnósticos diferenciais, avaliar o nível do
funcionamento psíquico, avaliar a presença de sintomas em casos de suspeita de
simulação/dissimulação e realizar um levantamento dos traços de personalidade do
sujeito.
Os instrumentos de avaliação psicológica forense, no Brasil, são praticamente
os mesmos instrumentos utilizados na avaliação psicológica clínica. Grisso (1986,
apud ROVINSKI, 2003; 2004) defende a criação de mais instrumentos de avaliação
específicos para responder às demandas judiciais, os chamados Forensic
Assessment Instruments (FAIS - Instrumentos Específicos de Avaliação Forense),
através dos quais se possa avaliar comportamentos relevantes às questões judiciais.
Tais instrumentos buscam “garantir a padronização de métodos quantitativos com os
quais se possa observar, identificar e medir comportamentos diretamente relevantes
às questões legais sobre as competências e capacidades do homem” (GRISSO, 1986,
apud LAGO; BANDEIRA, 2009). No Brasil temos atualmente dois instrumentos mais
especificamente direcionados às questões relacionadas às demandas judiciais: o
PCL-R e o IFVD.
O PCL-R (Psycopathy Checklist Revised) ou Escala Hare tem o objetivo de
verificar, por meio de uma entrevista semiestruturada, características da
personalidade e condutas presentes em pessoas que apresentam as condições
prototípicas da psicopatia e que, desta forma, são mais sujeitas à reincidência
criminal. Não se destina a realizar um diagnóstico clínico de psicopatia, sendo dirigido
à população carcerária. Os sujeitos classificáveis como psicopatas no meio carcerário
35
são minorias e essa diferenciação é fundamental para as questões de previsão de
reincidência criminal, reabilitação social e concessão de benefícios penitenciários
(HARE, 2004)
O sujeito é avaliado em vinte itens e recebe em cada um deles uma pontuação
que pode variar de zero a dois pontos; ao final, os pontos são somados e de acordo
com a pontuação obtida o sujeito é classificado como possuindo: transtorno global da
personalidade (personalidade psicopática), transtorno parcial da personalidade
(bandido comum, antissocial atenuado) ou como não apresentando nenhum dos
transtornos citados.
Os itens que o PCL-R avalia referem-se à: loquacidade/charme superficial;
superestima; necessidade de estimulação/tendência ao tédio; mentira patológica;
vigarice/manipulação; ausência de remorso ou culpa; insensibilidade afetivo-
emocional; indiferença/falta de empatia; estilo de vida parasitário; descontroles
comportamentais; promiscuidade sexual; transtornos de conduta na infância;
ausência de metas realistas e de longo prazo; impulsividade; irresponsabilidade;
incapacidade de aceitar responsabilidade pelos próprios atos; muitas relações
conjugais de curta duração; delinquência juvenil; revogação da liberdade condicional;
versatilidade criminal.
A pontuação no PCL-R é baseada nas respostas que o sujeito fornece a um
roteiro de entrevista que acompanha o manual do teste e também nas informações
colhidas em outras fontes (familiares, registros criminais, etc.), deste modo, é um
instrumento suscetível à manipulação.
O IFVD (Inventário de frases no diagnóstico de violência doméstica contra
crianças e adolescentes) constitui-se como um instrumento auxiliar na identificação
da violência doméstica (física e/ou sexual) contra crianças e adolescentes a partir dos
transtornos (emocionais, cognitivos, físicos, sociais e comportamentais) que essa
experiência pode trazer (TARDIVO; PINTO JÚNIOR, 2010). O instrumento pode ser
utilizado com sujeitos na faixa etária dos 6 aos 16 anos e é composto por 57 frases
que devem ser respondidas com “sim” ou “não”; de acordo com a pontuação obtida,
sugere-se que há indícios de vitimização.
O IFVD não é considerado um teste psicológico e não avalia a personalidade,
deste modo, pode ser utilizado por outros profissionais não-psicólogos que lidam com
esta situação.
36
O instrumento pode auxiliar as perícias nas varas criminais (identificação da
probabilidade de a violência física ou sexual ter ocorrido com uma criança ou
adolescente) e nas varas de família (quando situações de disputa de guarda e
regulamentação de visitas envolvem a denúncia de violência física ou sexual).
A avaliação psicológica pericial recobre temas distintos do Direito e acontece
em diversas áreas. Pode-se citar como exemplos as seguintes áreas e avaliações:
Direito de Família (avaliação para definição de guarda e regulamentação de visitas),
Juizado da Infância e Juventude (avaliação psicológica de candidatos à adoção e de
adolescentes autores de ato infracional que estão internados em regime de privação
de liberdade).
Direito Civil:
(Avaliar a presença de danos psíquicos decorrente de um fato particular
traumatizante e avaliar a incapacidade para exercer atos da vida civil – interdição),
Direito Penal (averiguação de periculosidade em detentos, da sanidade mental de um
indivíduo no momento do crime e de sujeitos que receberam medida de segurança –
doentes mentais que cometeram algum delito e que se encontram em alguma
instituição psiquiátrica forense) e Direito do Trabalho (avaliar se há nexo causal entre
possíveis danos psicológicos causados pelo ambiente de trabalho ou por acidentes
ocorridos neste, avaliar pedidos de aposentadoria e de afastamento do trabalho por
sofrimento psicológico).
No Direito de Família:
Os principais pedidos de avaliação concentram-se em torno da questão da
definição da guarda do menor e regulamentação de visitas. Nos casos onde ocorre a
separação conjugal e as partes não entram em acordo em relação a quem deve ser o
detentor da guarda, o juiz determina a realização da uma perícia psicológica com
todos os envolvidos (pais, filhos e eventualmente terceiros, quando for o caso), na
qual o psicólogo deverá comparar as qualidades que cada genitor possui e as
necessidades e interesses que o filho apresenta (GRISSO, 1986, apud ROVINSKI,
2003).
Nos casos de regulamentação de visitas a avaliação da família contribui ao
esclarecer ao juiz os conflitos e a dinâmica familiar existente, sugerindo medidas para
a superação das dificuldades que criam obstáculos às visitas.
37
As perícias que examinam as competências parentais (disputa de guarda e
avaliação de maus-tratos), segundo Rovinski (2003), não devem focar apenas na
avaliação dos aspectos intrapsíquicos dos pais, é necessário levar em consideração
os aspectos relacionais e as redes de apoio com as quais a família pode contar (família
extensiva e recursos da comunidade).
38
Esta autora buscou realizar a adaptação transcultural da versão revisada do
Inventário de Personalidade de Jesness, cujo objetivo é avaliar características de
personalidade de adolescentes infratores, sendo capaz de aferir o nível de
engajamento do adolescente com a prática de delitos e fornecer um diagnóstico
diferencial e multidimensional – psicodinâmico – do adolescente a partir de seu perfil
psicológico e das características dominantes em sua personalidade.
No Direito Penal, Rovinsky (2003; 2004) cita duas situações nas quais o
psicólogo perito poderá atuar:
A primeira delas refere-se aos exames de determinação da
responsabilidade penal (exame de insanidade mental para determinação
do grau de imputabilidade) quando necessita-se esclarecer quão
preservadas encontravam-se as capacidades de entendimento e
autodeterminação do réu no momento do crime (havia a presença de
alguma patologia que pudesse reduzir ou abolir tais capacidades?).
Este exame ocorre na fase de julgamento do réu e é realizado pelos médicos
psiquiatras, que podem solicitar ao psicólogo uma avaliação psicológica como exame
complementar, para aprofundar a compreensão do funcionamento psíquico do sujeito
e auxiliar nos diagnósticos diferenciais, já que em muitas situações estes profissionais
deparam-se com tentativas de simulação e dissimulação de sintomas por parte do
examinando.
Este aprofundamento é possível em uma avaliação psicológica já que os
psicólogos poderão utilizar testes psicológicos, que são capazes de medir de forma
padronizada características não passíveis de serem percebidas ou mensuradas
apenas através das entrevistas e observações.
A segunda situação ocorre na fase de execução da pena e é
denominado exame criminológico, cujo objetivo seria determinar a
possibilidade de reincidência criminal, individualizar a execução da pena
e verificar a cessação de periculosidade para fins de progressão de
regime.
39
No Direito Civil, existem as avaliações psicológicas para investigação de
danos psíquicos cujo objetivo é “avaliar os prejuízos emocionais decorrentes
de um evento traumático:
O foco deve se restringir à verificação da presença e da intensidade dos
sintomas emocionais com a determinação do nexo de causalidade”
(ROVINSKI, 2004, p. 43-44). Nos processos por danos morais, através
da perícia psicológica leva-se aos autos a realidade psíquica da vítima,
o que, segundo Rovinski (2009), auxilia na garantia dos direitos
humanos ao permitir que tais vítimas reivindiquem seus direitos.
41
9.2 Perícia em sentido jurídico
42
de determinar características técnicas ou cientificas (Brandimiller, 1996 apud Silva,
2012).
O objetivo da perícia é fornecer subsídios ao magistrado que se distingue do
conhecimento jurídico ou senso comum, essas informações não podem ser obtidas
pelo juiz, pois o mesmo não detém a clareza e a segurança precisa para a realização
de tal atividade.
43
A partir desses dados podem se identificar, qual é a tese de defesa e a de
acusação e para qual parte da história cada uma das partes relacionadas quer que o
perito verifica (Serafim, et al. 2017).
Estabelecimento de honorários e agendamento da perícia
O perito a efetuar o trabalho poderá fazer parte da equipe técnica do fórum, ser
um servidor público relacionado a um setor de perícias estado/prefeitura ou nomeado
pelo juiz, no caso deste último, após ler os autos, deve-se fornecer seus honorários.
No demais o perito deve articular a sua avaliação estimulando a quantidade de
encontros a serem realizados, quais instrumentos serão utilizados, se ocorrerá ou não
discussão com o assistente técnico e em qual tempo médio durará a perícia (Serafim,
et al. 2017).
Entrevista psicológica e entrevista de anamnese:
Entrevista psicológica e a entrevista de anamnese é uma maneira que o
psicólogo possui para estabelecer o rapport com o sujeito (ou sujeitos), observando o
comportamento do indivíduo e quais suas atitudes e reações mediante as situações
de avaliação. Utilizando-se de técnicas que permitirão conhecer detalhadamente a
sua história de vida, seu desenvolvimento neuropsicomotor, seu desempenho
acadêmico, seus relacionamentos interpessoais, atividades laborais, entre outros.
Vale salientar que o trabalho de avaliação psicológica é uma investigação do
funcionamento mental.
Quando um sujeito é investigado, certos acontecimentos não esperados podem
aparecer e o perito por sua vez, deve compreender que quando se é convocado para
uma perícia o sujeito está sendo intimado a comparecer a tal triagem, por essas
razões em muitos casos o periciando pode chegar à avaliação desconfiado, buscando
provar sua inocência ou sanidade (Serafim, et al. 2017).
Ao iniciar a entrevista psicológica emprega-se o contrato contendo dados sobre
quem solicitou a avaliação e como esta funcionará, ressaltando que o processo não
tem propósito de tratamento, mas objetivasse em compreender o que aconteceu e
não tem pretensão para julgar. Por fim, com as informações obtidas tenta-se uma
interligação casual com o fato investigado (Serafim, et al. 2017).
Avaliação das funções cognitivas/ personalidade:
Nesta etapa, busca-se mais precisamente colher informações acerca das
funções cognitivas, dos aspectos emocionais e dos aspectos da personalidade,
44
subsidiadas pelas entrevistas, como também pela utilização de testes psicológicos,
atendendo as questões judiciais quanto à capacidade de entendimento,
autodeterminação e a presença de transtornos mentais.
Para a realização de tal tarefa, é fundamental utilizar-se de instrumentos
psicológicos, pois é um recurso que possibilita de maneira mais rápida chegar ao que
se deseja, é importante para a utilização do teste, que o psicólogo tenha conhecimento
específicos sobre como aplicá-lo e como avaliá-lo e se o mesmo possui propósito
específico para o que foi designado (Serafim, et al. 2017).
No que se refere a avaliação psicológica forense na capacidade civil, os
principais testes utilizados e validados pelos psicólogos são:
Personalidade:
Teste de Apercepção temática (adulto – TAT; infantil – CAT): Um teste
projetivo que se fundamenta no que se refere às lembranças onde as
percepções já vivenciadas influenciam nos estímulos perceptivos atuais
(Serafim, et al. 2017).
Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister: analisa traços da
personalidade, especificamente da dinâmica afetiva (Serafim, et al.
2017).
Teste de Rorschach: um instrumento projetivo, constituído por 10
pranchas com manchas de tinta, sendo solicitado ao avaliado que
exponha a sua percepção perante as manchas apresentadas (Serafim,
et al. 2017).
HTP: é um método projetivo, considerado simples, podendo ser utilizado
por todas as faixas etárias, até mesmo com crianças pequenas.
Ferramenta gráfica que possui a finalidade de conseguir informações
referentes à individualidade em relação ao ambiente e ao outro (Serafim,
et al. 2017)
Inventário Fatorial de Personalidade. (IFP): tem como objetivo principal
traçar as necessidades dos sujeitos, com base em três motivos
psicológicos (Serafim, et al. 2017)
Inventário de personalidade (NEO PI): é fundamentado no modelo penta
fatorial da personalidade (Neuroticismo, Extroversão, Abertura à
Experiência, Amabilidade e Conscienciosidade) (Serafim, et al. 2017)
45
Teste Palográfico: é considerado um instrumento expressivo de
personalidade, com o objetivo de avaliar as características da
personalidade do avaliado (Alves & Esteves, 2009).
Teste R1 – Teste não verbal de inteligência: teste criado para o exame
psicotécnico de motoristas e pode ser empregado em outras áreas da
Psicologia. Foi construído para ser utilizado principalmente com pessoas
com baixo nível de escolaridade, analfabetos e estrangeiro. A aplicação
pode ser individual ou coletiva com duração de 30 minutos (Alves, 2012).
Inteligência:
Escala de Inteligência Wechsler para crianças (WISC – IV): é um teste
aplicado individualmente, tendo como pretensão verificar a capacidade
intelectual e o processo de solução de problemas de indivíduos entre 6
anos e 0 meses a 16 anos e 11 meses (Serafim, et al. 2017).
Escala de Inteligência Wechsler para adultos (WAIS – III): refere-se à
avaliação da capacidade cognitiva global e a averiguação do nível
intelectual de indivíduos entre 16 e 89 anos (Serafim, et al. 2017).
Escala Wechsler Abreviada de Inteligência (WASI): recurso breve de
avaliação de inteligência em indivíduos com idade de 6 a 89 anos
(Serafim, et al. 2017).
Matrizes Progressivas Coloridas de Raven: almejam mensurar um dos
integrantes do fator “g”, a capacidade educativa, que se compõe em
absorver novas informações e compreensões do que já é conhecido e
notório. O teste é relacionado ao raciocínio lógico não verbal (Serafim,
et al. 2017)
Memória:
Teste de Memória de Reconhecimento (TEM- R) averigua a capacidade
de identificar qualquer tipo de estímulo ou acontecimento já visto ou
vivido anteriormente. O instrumento é composto de palavras e figuras
para o indivíduo memorizar, e o avaliado deve em seguida assinalar os
estímulos lembrados (Serafim, et al. 2017).
TEPIC – M – O Teste pictórico de memória: tem função principal em
verificar a capacidade de armazenamento da memória de curto prazo,
pode ser aplicado individual ou coletivamente, em qualquer pessoal, em
46
diferente idade e ambos o sexo. Os estudos realizados para o
desenvolvimento dos instrumentos tiveram como público alvo sujeitos
com idades entre 17 e 97 anos (Rueda & Sisto, 2007).
Atenção
Teste de Atenção Dividida (TEADI) - Pode ser aplicado individual ou
coletivamente, em pessoas de ambos os sexos e diferentes idades. O
instrumento fornece uma medida referente à capacidade que o sujeito
possui de dividir a tenção diante de dois alguns estímulos apresentados,
tendo o avaliado 5 minutos para realizá-lo (Rueda, 2016).
Teste de Atenção Alternada (TEALT) - Este teste fornece informações
referentes à capacidade do sujeito em alternar a atenção, pode ser
aplicado em pessoas de ambos os sexos e diferentes idades e
escolaridades, no tempo de 2 minutos e 30 segundos (Rueda, 2016).
Atenção Concentrada (AC) - O teste de atenção concentrada pode ser
executado de forma individual e coletiva, objetivando avaliar a
capacidade do indivíduo em direcionar a sua atenção para estímulos em
meio a tantos outros. O seu tempo de aplicação leva em média 5 minutos
(Cambraia, 2009).
Teste de Atenção Concentrada (TEACO-FF) - Tem como público-alvo,
sujeitos de ambos os sexos. Os estudos realizados para o
desenvolvimento do mesmo foram com sujeitos de idade entre 18 e 61
anos. Pode ser aplicado individualmente ou coletivamente, com
processo de aplicação de 4 minutos (Rueda & Sisto, 2016).
Praxia
Figuras Complexas de Rey: tem a finalidade de avaliar a memória
visual, com também, a habilidade visoespacial e as funções de
planejamento/ organização dos informes visuais e sua efetuação. O
avaliado executa a cópia de uma figura geométrica complexa (Serafim,
et al. 2017).
Linguagem:
Teste de Desempenho Escolar (TDE) - É um instrumento que tem como
finalidade, apresentar de forma objetiva, uma avaliação das capacidades
fundamentais para o contexto escolar, como escrita, aritmética e leitura.
47
Possibilita a verificação de quais áreas de aprendizagem estão preservadas ou
comprometidas (Stein, 1994).
Além disso, é importante destacar que na avaliação diagnóstica psicológica, é
aconselhável o uso de diferentes testes que possuem finalidades semelhantes, não
se baseando na utilização de um único instrumento (Serafim, et al. 2017).
Análise dos dados apurados:
Decorrente a aplicação dos instrumentos psicológicos, o propósito seguinte é
corrigi-los e interligar as informações obtidas na entrevista com a avaliação cognitiva
e de personalidade. É neste momento que pode-se perceber se as alterações
percebidas e se são em decorrência de uma mudança na vida do avaliado, ou se
fazem parte do modo de como o mesmo funciona e sempre funcionou (Serafim, et al.
2017).
Elaboração do laudo:
No manual de elaboração de documentos decorrentes de avaliação
psicológicas, prevê que após a conclusão da avaliação deve-se elaborar o laudo ou
parecer (Serafim, et al. 2017). Segundo Silva (2012) o laudo pericial consiste no
relatório final realizado pelo perito, onde ele indica fielmente tudo quanto foi possível
observar no período de avaliação.
Portanto significa dizer, que o laudo é uma prova pericial que servirá para
subsidiar o magistrado quanto aos conhecimentos técnicos e científicos psicológicos,
podendo até sugerir algumas formas de sugestões que podem ser acatadas ou não
pelo magistrado que possui total autonomia pelo processo.
O código de ética profissional da psicologia (2014) destaca em sua introdução
que toda prática psicológica deve ser fundamentada em princípios éticos, de maneira
que a atuação do profissional de tal ciência, traga benefícios aos envolvidos no
processo, que nessa questão destaca- se o campo judiciário.
Assim a descrição que o psicólogo é direcionado a se manter dentro de seus
limites de atuação e de seu conhecimento, cabe ao mesmo respeitar os níveis de
probabilidade a respeito da previsão do comportamento, como também, deve evitar
incumbir seus achados ao favorecimento de uma das partes.
48
9.4 Avaliação psicológica
49
Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes
históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como
instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses
condicionantes que operam desde a formulação da demanda até a conclusão do
processo de avaliação psicológica. O resultado de uma avaliação psicológica é o
diagnóstico psicológico.
Obviamente, frente à complexidade de dimensões inter-relacionadas na
determinação do comportamento humano, a avaliação psicológica depara com limites
quanto ao que pode entender e prever.
Logo, é preciso ser cuidadoso na elaboração do relatório ou do laudo
psicológico, os quais devem focalizar a finalidade da avaliação realizada e descrever
os procedimentos e conclusões resultantes.
As informações ofertadas devem restringir-se ao que foi demandado e o
documento precisa, ainda, indicar direções a respeito de encaminhamento,
intervenções ou acompanhamento psicológico.
53
Consideramos da mais alta relevância que o psicólogo tenha clareza de que o
seu parecer é a fala do saber que ele detém. Não é a fala dos periciandos, nem a dos
demais envolvidos na avaliação, afinal, cada frase colhida no decorrer de uma perícia
psicológica é efeito da condução da perícia sobre os auspícios do saber detido pelo
psicólogo perito.
Assim, ao manifestar-se, o psicólogo não se deve esquivar de emitir sua
opinião, tomar posição; igualmente, não deve reproduzir, nos autos, o pronunciamento
do periciando, como se tal constituísse o elemento que se pretendia obter com a
perícia. Esta nossa insistência de que o parecer deve ser produzido, pois ele é a
finalidade última da perícia, destoa do preconizado nas normativas do SCP
(Sociedade em Conta de Participação), que está sempre a recomendar que se evite
a tomada de posição, a emissão de opinião, a oferta de sugestão, a indicação de
prováveis desdobramentos futuros.
Culminando em não considerar o parecer documento decorrente de avaliação
psicológica, conforme já apontamos.
Os dados e impressões colhidos no decorrer da perícia ou ao longo do trabalho
de atendimento importam na medida em que fundamentam o parecer que se produz.
O reconhecimento do parecer como manifestação da fala do saber detido pelo
psicólogo é extremamente relevante quando os psicólogos (a) indaga se a perícia
psicológica não se constituiria em violação ao direito de que ninguém será compelido
a produzir provas contra si mesmo.
55
9.6 Relatório, laudo e parecer
O CFP publicou em edição do dia 13/02 do Diário Oficial da União uma nova
resolução (CFP – 004/2019) que dispõe sobre as regras para elaboração de
documentos escritos produzidos pelo psicólogo no exercício profissional. Esta
resolução revoga a Resolução CFP º 07/2003 e a Resolução CFP nº 15/1996.
Conteúdo da Resolução CFP 004/2019:
A resolução CFP 004/2019 sobre elaboração de documentos escritos
produzidos pelo psicólogo dispõe sobre os seguintes itens:
Estrutura da resolução:
I – Disposições gerais
II- Princípios fundamentais na elaboração de documentos psicológicos
III- Modalidades de documentos
IV- Conceito, finalidade e estrutura
V – Guarda dos documentos e condições de guarda
VII- Prazo de validade dos conteúdos dos documentos
VIII- Entrevista devolutiva
Pela nova resolução, considera como modalidades de documentos
psicológicos:
I – Declaração:
Que consiste em um documento escrito, através do qual é descrita a prestação
de serviço psicológico, e tem por finalidade de registrar, de forma objetiva e sucinta,
informações sobre a prestação de serviço realizada ou em realização.
II- Atestado Psicológico:
Que consiste em documento de atribuição da (do) psicóloga (o), que certifica,
com fundamento em um diagnóstico, psicológico, uma determinada situação, estado
ou funcionamento psicológico, tendo como finalidade afirmar as condições
psicológicas de quem, por requerimento, o solicita.
III- Relatório:
Relatório Psicológico:
Consiste em documento que, por meio de uma exposição escrita, descritiva e
circunstanciada, considera os condicionantes históricos e sociais da pessoa, grupo ou
instituição atendida, podendo também ter caráter informativo. Visa a comunicar a
56
atuação profissional da (do) psicóloga (o), em diferentes processos de trabalho já
desenvolvidos ou em desenvolvimento, podendo gerar orientações, recomendações,
encaminhamentos e intervenções pertinentes à situação descrita no documento, não
tendo como finalidade produzir diagnóstico psicológico.
Relatório multiprofissional:
É produzido quando a (o) psicóloga (o) atua em contexto em que há uma
demanda multiprofissional, ocasião em que o relatório pode ser produzido em conjunto
com profissionais de outras áreas, preservando a sua autonomia e a ética profissional.
IV- Laudo Psicológico:
É o resultado de um processo de avaliação psicológica, com finalidade de
subsidiar decisões relacionadas ao contexto em que surgiu a demanda, e a quem o
solicitou.
V- Parecer Psicológico:
É um pronunciamento por escrito, que tem como finalidade apresentar uma
análise técnica, respondendo a questões focais do campo psicológico.
Seremos mais precisos se optarmos por parecer judiciário, para indicarmos o
resultante de perícia judiciária ou parecer forense, para o produzido pelo assistente
técnico por solicitação judicial.
No âmbito jurídico, realização de perícia psicológica, o psicólogo perito deve
incluir nesse conjunto de procedimentos os melhores métodos e técnicas de avaliação
psicológica com objetivo de diagnóstico psicológico, haja vista o tamanho da
responsabilidade por ele assumida.
Assim, não há como deixar de reconhecer que, neste âmbito, o parecer
psicológico, sendo a opinião tecnicamente fundamentada formulada a partir de perícia
psicológica que deve recorrer a métodos e técnicas de avaliação psicológica, é
também documento decorrente de avaliação psicológica.
O parecer, quando produzido por força de obrigação funcional de assistir
tecnicamente ao usuário do serviço público em que o psicólogo trabalha ou se
decorrente de determinação judicial dirigida ao psicólogo quem atende ao envolvido,
permanece subjugado ao compromisso profissional com a pessoa beneficiária do
atendimento.
57
Não se deve considerar parecer as conclusões do assistente técnico
produzidas por solicitação da parte que o contrata ou de cliente/usuário de serviço
público envolvido em processo judicial, pois, neste caso, não cabe ao requerente uma
tomada de decisão.
A consistência do entendimento do psicólogo (a) de que a essência da atividade
pericial é a emissão do parecer, revela-se ao se reconhecer que, de fato, não é
imprescindível proceder à realização de perícia para que ele seja produzido, ainda
que tal se suceda em condições bastante peculiares e raras no âmbito das práticas
jurídicas.
A condição sine qua non que se refere a uma ação cuja condição ou ingrediente
é indispensável e essencial, ela é uma produção do parecer e a convicção do perito
de que ele já tem formulada uma opinião tecnicamente fundamentada.
A admissão de que o parecer é o documento resultante da realização de perícia
é finalmente admitida, mas com a ressalva de que os psicólogos (a) deve respeitar os
limites legais da atuação, não tomar posição, entenda-se: não se deve adentrar nas
decisões e nem fazer previsões.
Desvela-se a razão até então suprimida: o parecer do psicólogo, assim como
suas sugestões de medida, tende a ser acolhido pelo juízo; as práticas judiciárias são
práticas de opressão, logo, o psicólogo torna-se opressor ao ter seu parecer e suas
sugestões acolhidas pelo juízo.
Note-se a inconciliabilidade com o entendimento legal de que a realização de
perícias visa colher dados para que se produza uma opinião tecnicamente
fundamentada a subsidiar uma decisão judicial.
Não se subestimem as dificuldades impostas aos psicólogos peritos, à medida
que se colocam questões que não admitem meias respostas: foi essa criança abusada
sexualmente por seu pai? Os filhos ficarão melhor sobre a guarda da mãe ou do pai?
Esta criança vem sofrendo violência física por parte de sua mãe? Estão dadas
condições suficientes para o retorno destes dois meninos ao convívio familiar? Este
preso tenderá a reincidir em práticas criminosas caso seja beneficiado com o regime
semiaberto? E tantas outras.
58
Acrescente-se que, em uma perícia, dificilmente se poderá deixar de
considerar o desdobramento dos acontecimentos: o presente sendo reconstruído com
base na retomada dos fatos passados, por meio de uma releitura sobre o crivo do
conhecimento técnico, apontando, ineludivelmente, a desdobramentos futuros.
Sabemos que o conhecimento obtido em prática clínica não deve ser transposto
acriticamente para as práticas jurídicas, haja vista o que nos adverte, por exemplo, o
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação
Americana de Psiquiatria, em sua quinta edição, 2014, ao ressaltar que ele foi
concebido para atender às necessidades da prática clínica, e não às dos profissionais
da área jurídica e às dos tribunais.
Recomenda que os responsáveis por decisões nos tribunais sejam alertados
dos limites dos diagnósticos nele formulados, especialmente no que se refere às
implicações quanto à etiologia ou às causas do transtorno, como também quanto ao
grau de controle sobre o próprio comportamento do indivíduo com o transtorno
diagnosticado:
As pessoas com poder de decisão fora do âmbito clínico também devem ser
alertadas de que um diagnóstico não traz em si quaisquer implicações necessárias
com relação à etiologia ou às causas do transtorno mental do indivíduo ou do grau de
controle que este tem sobre comportamentos que podem estar associados ao
transtorno. Mesmo quando a diminuição do controle sobre o próprio comportamento
é uma característica do transtorno, o fato de ter o diagnóstico, por si só, não indica
que a pessoa necessariamente é (ou foi) incapaz de controlar seu comportamento em
determinado momento. (APA, 2014).
O diagnóstico clínico de um transtorno de saúde mental, nos termos em que
ele é proposto no DSM-5, detém previsibilidades relacionadas a comportamentos
futuros - aí contidos o planejamento do tratamento, a evolução e o prognóstico, como
também é capaz de promover a compreensão de comportamentos passados.
Entretanto, não nos autoriza a conclusões sobre a capacidade do diagnosticado de
59
controlar seu comportamento, seja no passado, seja no futuro. Para tanto, deve-se
recorrer a informações adicionais.
O uso apropriado do DSM-5 no âmbito legal ocorre quando, por exemplo, o
diagnóstico de um transtorno mental fundamenta a determinação de uma internação
compulsória.
60
suas possibilidades comunicacionais para depois conceituar a realidade de que nos
apresenta.
Numa avaliação psicodiagnóstica com uma criança, a hora de jogo diagnostica
vai orienta-la a expressar as vivências de sua vida diária. E isto ajudará o psicólogo a
levantar informações relevantes a respeito da queixa inicial e a respeito de qual teste
apropriado para confirmar tais informações.
Antes da criança entrar no ambiente para realizar a hora do jogo diagnóstica,
há algumas instruções a fazer. É preciso separar os brinquedos necessários à queixa
encaminhada e ás informações recebidas pela anamnese dos pais e do paciente. Por
exemplo, se a queixa for uma dificuldade de raciocínio, escolha um brinquedo que irá
trazer a informação de confirmar se a queixa é verdadeira ou não.
Prepara- se a sala com tais brinquedos, tira-os da caixa e deixe-os sobre a
mesa com fácil acesso para a criança pegar.
A sala tem de ser ampla sem impedir o brincar eficaz da criança. Quando ela
chegar, é preciso explicar as atividades que ela fará com os brinquedos e que tem um
tempo determinado para executar tais brincadeiras.
Os principais materiais utilizados podem ser:
Fantoches;
Fazendinha;
O quadro negro;
Lápis de cor;
Giz de cera;
Papel;
Tesoura sem ponta;
Bonequinhos;
Massa de modelar entre outros.
Durante a sessão, é dada a orientação e é feita a observação de todo o
comportamento da criança, tudo é anotado para fins de hipóteses para o laudo.
A maior dificuldade da “hora do jogo diagnóstico” está na sua avaliação. Por
ser um procedimento não estruturado, depende da experiência do psicólogo e da sua
capacidade de observação e interpretação.
61
Na análise, levam-se em conta os aspectos evolutivos (desenvolvimento da
criança, segundo a idade), desenvolvimento emocional, inibição/sociabilidade, bem
como os conteúdos inconscientes expressos nos jogos – defesas, fantasias,
ansiedades, agressividade e a capacidade adaptativa, criativa e simbólica da criança.
O campo da avaliação psicológica abarca hoje uma pluralidade de práticas
diagnósticas que podem ou não recorrer a instrumentos estruturados e padronizados,
como os testes psicológicos, e a outras técnicas e procedimentos menos estruturados,
como jogos, brinquedos, desenhos e estórias.
A flexibilidade na escolha de determinada estratégia (ou instrumentos) é
influenciada pela experiência do profissional, referencial teórico e objetivo. O contexto
e as novas demandas das Psicologias (Clínica, hospitalar, jurídica, institucional etc.)
também influenciam na escolha.
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O magistrado nomeia um perito de acordo com a necessidade que tem de
conhecer melhor os fatos envolvidos no caso. O perito, em geral, deve realizar uma
avaliação da situação e apresentar um laudo que será incluído como documento no
processo (PIZZOL, 2009).
A produção pericial é um elemento importante que compõe o discurso jurídico
da prova, entretanto, é preciso ressaltar que ela não define a decisão do magistrado.
Ele pode decidir contrariamente ao laudo pericial, pois sua decisão provém do “livre
convencimento”, desde que fundamentado nas normas legais.
No campo da Psicologia Jurídica, a perícia demanda um estudo detalhado da
dinâmica relacional da família em conflito, englobando aspectos tanto psicológicos
quanto sociais. Esse tipo de estudo vem recebendo diversas denominações, tais
como: estudo psicológico, estudo técnico, estudo psicossocial, estudo social,
avaliação psicológica, reavaliação psicológica.
A Psicologia Judiciária compõe-se das práticas exercidas sobre a obrigação do
objetivo de subsidiar uma decisão judicial e, por isso, impõe-nos a atuação com
imparcialidade. O subsídio a ser ofertado sintetiza-se na emissão de um parecer
técnico fundamentado, em uma tomada de posição, na expressão de uma opinião. A
emissão de parecer é o cerne dessas práticas.
A perícia é o conjunto de procedimentos selecionados pelo perito para a
realização do estudo voltado a colher elementos capazes de fundamentar a produção
do parecer.
Destaque-se que o requerente se distingue do periciado. Não há impedimentos
a que se produza um parecer sem que se tenha, antes, realizado uma perícia. O
cuidadoso estudo psicológico da situação sobre apreciação judicial e a realização de
avaliação psicológica são meros meios para se produzir o parecer, sendo, em tese,
prescindíveis. Entretanto produzir um parecer sem realizar um amplo estudo e uma
séria avaliação é uma prática profissional é considerada irresponsável.
A psicologia forense, em que inserimos o subconjunto psicologia judiciária, haja
vista que ambas têm seus procederes vinculados ao que se passa no foro, inclui,
também, a assistência técnica psicológica forense: prática exercida sobre a égide da
relação entre profissional e cliente/usuário de serviço público em que o psicólogo (a)
assume objetivo explicitamente parcial de influenciar uma decisão judicial, seja por
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força de compromisso profissional para com o cliente, seja por força das obrigações
funcionais próprias dos serviços públicos em que o psicólogo (a) trabalha.
A Psicologia Jurídica foi definida como o conjunto universo em que está contida
a psicologia forense, que, por sua vez, contém a psicologia judiciária. É na psicologia
Jurídica que se situam as práticas psicológicas com envolvidos em situações
judicializadas ou judicializáveis, quando, para preservar-se o caráter genuinamente
psicológico clínico da atuação do psicólogo (a), esquivamo-nos de atender a objetivos
do direito, ou seja, o psicólogo (a) não reconhece tendo a obrigação de fornecer
relatórios, laudos ou pareceres, tampouco pretende influenciar a decisão.
Também são psicologia jurídica todo o conjunto de práticas relacionadas à
interface psicologia-direito a que não se aplicam ponderações quanto a
parcialidade/imparcialidade.
Toda a justiça atua a partir de uma posição de imparcialidade fundamentando
suas decisões em seus princípios norteadores, os quais se consolidam conforme
refletem os interesses e a dinâmica da sociedade como um todo. Sabemos haver
interesses de grupos que se camuflam como interesses de todos e que se fazem
exercer, ainda que em prejuízo da maioria.
A imparcialidade deve ser entendida como relativa, ou seja, por um lado, a
Justiça é imparcial na medida em que deixa falar todos os envolvidos sem se deixar
cativar pelas alegações de cada um deles; por outro, é parcial perante os interesses
coletivos, isto é, tende a privilegiá-los ao proferir suas decisões.
No âmbito processual, a imparcialidade concretiza-se nas alegações de
suspeição e de impedimento, admissíveis tanto em relação ao juiz, quanto aos
auxiliares da justiça e aos membros do MP-Ministério público.
A atuação profissional do psicólogo (a) no Tribunal de Justiça impõe-lhe um
posicionamento ético-político. É consensual o argumento de que, no exercício de toda
e qualquer prática profissional, não há imparcialidade, nem neutralidade.
Entretanto, a imparcialidade é um pressuposto da atuação em nome da Justiça
e concretiza-se, na letra da lei, na possibilidade de alegar-se impedimento ou
suspeição tanto do juiz, quanto de todos que a seu serviço manifestam-se nos autos
do processo. O Art. 148 do CPC estende os motivos de impedimento e de suspeição
aos auxiliares da justiça e "aos demais sujeitos imparciais do processo".
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Segundo Silva, a essência da função do perito é oferecer ao juiz subsídios
dentro de seu conhecimento técnico científico, sendo fundamentais o
diagnóstico e o laudo, não podendo o profissional eximir-se de apresentá-los,
(Silva 2003).
Bernardi (2005) afirma que o psicólogo deve ter a consciência e refletir sobre
as implicações éticas e políticas do seu trabalho, devendo considerar sempre que os
seus resultados podem ser determinantes na medida judicial aplicada ao caso pelo
juiz, embora este não esteja obrigado a acatar o laudo psicológico para sua decisão.
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11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DOLTO, Françoise. Quando os pais se separam Rio de Janeiro, Editora Zahar, 2011.
66
Oliveira, M. V., Mello. L. M., Oliveira. V. F. Psicodiagnóstico: ferramenta
psicológica. In: Interfaces no fazer psicológico. (2012). Direitos humanos,
diversidade e diferença. Santa Maria: UNIFRA.
67
TREVIZAN, Maria Júlia. Contextos em que a avaliação se insere. Conselho
Federal de Psicologia. Ano da avaliação psicológica. Brasília: CFP, p. 121-125,
2011- 2019.
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12 BIBLIOGRAFIA
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