Pcge 2022
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2022
ÍNDICE
SUMÁRIO ......................................................................................................................................................................................I
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................................... 5
D. RECOMENDAÇÕES.............................................................................................................................................................. 199
ANEXOS.................................................................................................................................................................................... 217
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Marcos da Reforma e dos Investimentos enquadrados na componente 17 do PRR a concretizar até 2023 .................................... 11
Quadro 2 – Repartição anual do Investimento TD-C17-i01.01 .............................................................................................................................. 12
Quadro 3 – Objetivos e Indicadores do Programa Orçamental piloto integrado na Missão de Base Orgânica da Economia e do Mar .............. 15
Quadro 4 – Prestação de contas relativas a 2022 .................................................................................................................................................. 18
Quadro 5 – Prestação de contas em SNC-AP por tipo de entidade ....................................................................................................................... 19
Quadro 6 – Medidas de política orçamental no ROE 2022 e a execução no RCGE 2022 – contabilidade nacional.............................................. 23
Quadro 7 – Previsão orçamental, execução e desvios na conta consolidada da AC e SS – contabilidade pública ............................................... 25
Quadro 8 – Conta consolidada da AC e da SS – 2021-2022 ................................................................................................................................... 33
Quadro 9 – Passagem do saldo em contabilidade pública para contabilidade nacional ....................................................................................... 35
Quadro 10 – Injeções/dotações de capital reclassificadas para transferências .................................................................................................... 36
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Figura 1 – Fases de implementação da LEO e desenvolvimentos em curso, por exercício orçamental ................................................................. 8
Figura 2 – Principais marcos da cronologia do processo orçamental de 2022 ...................................................................................................... 20
Figura 3 – Impacto no saldo global das AP por medidas de política orçamental em 2022 – em contabilidade nacional..................................... 22
Figura 4 – Universo da conta da segurança social ................................................................................................................................................. 29
Figura 5 – Financiamento da descentralização – 2022 .......................................................................................................................................... 47
Figura 6 – Caracterização da dívida incobrável ...................................................................................................................................................... 66
Figura 7 – Património financeiro do Estado – ativos e entidades mais representativas – 2022 e variação face a 2021 ...................................... 91
Figura 8 – Património financeiro dos SFA – ativos e entidades mais representativas – 2022 e variação face a 2021 ......................................... 95
Figura 9 – Sistemas e subsistemas da Segurança Social ...................................................................................................................................... 116
Figura 10 – CLC das contas individuais das entidades do perímetro da CSS – Principais áreas de reservas e ênfases ....................................... 118
Figura 11 – Caracterização do património imobiliário da segurança social ........................................................................................................ 132
Figura 12 – Sistemas de pensões ......................................................................................................................................................................... 155
Figura 13 – Alterações mais relevantes a benefícios fiscais em 2022 ................................................................................................................. 186
Figura 14 – Garantias acumuladas a 31/12/2022 ................................................................................................................................................ 194
Figura 15 – Situação das recomendações emitidas no PCGE 2020 – elementos-chave...................................................................................... 213
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
SUMÁRIO
No Parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2022, o Tribunal aprecia a atividade financeira do Estado, tendo
formulado 57 recomendações ao Governo e à Assembleia da República, que visam suprir as fragilidades
detetadas e que suportam a emissão de um juízo com reservas e ênfases. (Cfr. parte D e Juízo)
1. Em 2022, a Conta Geral do Estado registou um défice de 3 554 M€ (1,5% do PIB), o que representa uma
melhoria de 4 741 M€ face a 2021 e um regresso à trajetória de equilíbrio orçamental, sendo, ainda assim,
um défice três vezes superior ao melhor resultado do período pré-pandemia (-1 007 M€ em 2019). A despesa
e a receita, face a 2021, aumentaram 5 019 M€ (5,4%) e 9 760 M€ (11,6%), respetivamente. O défice refletiu o
impacto das medidas de apoio público, criadas para colmatar os efeitos decorrentes do choque geopolítico,
incluindo os da inflação, que totalizaram 5 582 M€, e foi parcialmente compensado pela cessação da maioria
dos apoios concedidos no contexto da pandemia de COVID-19, cuja despesa decresceu 1 075 M€. Releva
também o acréscimo de 14,5% das receitas fiscais (mais 6 743 M€) e de 9,3% das contribuições para a
segurança social e Caixa Geral de Aposentações (mais 2 258 M€), em resultado, sobretudo, da inflação e do
aumento do emprego e das remunerações. (Cfr. pontos C.1.1 e C.1.2)
2. A Conta inclui a execução orçamental de 482 entidades da administração central e a conta consolidada de
12 entidades da segurança social. Seis entidades da administração central estão omissas deste universo. Em
2022, o saldo negativo na conta da administração central (-7 622 M€) foi, em grande medida, compensado
pelo excedente da conta da segurança social (4 068 M€), que refletiu o forte aumento da receita e dos saldos
orçamentais. Note-se, no entanto, que o crescimento da receita reflete uma situação predominantemente
conjuntural. Já as pressões do lado da despesa assumem um caráter estrutural, com impacto na necessidade
I
4. A dívida pública manteve-se elevada totalizando 259 326 M€. O aumento que se tem verificado na despesa
(20% nos 5 últimos anos) tem limitado a redução da dívida pública que, em valor nominal, cresceu ainda
3 254 M€ face a 2021. Apesar de mais de metade da dívida direta ter como credores o Banco de Portugal
(43,3%) e o Banco Central Europeu (8,6%), a principal fonte de financiamento líquido do ano foram as famílias,
através da subscrição de certificados de aforro que, beneficiando de uma taxa de juro atrativa, aumentaram
7 157 M€. Por sua vez, os encargos com juros totalizaram 5 800 M€, uma redução de 6% face a 2021, por
dizerem ainda respeito a dívida emitida em anos anteriores a taxas de juro mais baixas (ou negativas). O
aumento da dívida nos últimos 5 anos (mais 22,1 mil M€), em paralelo com os riscos derivados do
prolongamento das tensões geopolíticas, da subida das taxas de juro e da finalização/redução dos programas
de compra de ativos por parte do Banco Central Europeu, potencia os riscos do financiamento futuro,
especialmente tendo em conta o elevado montante de dívida a refinanciar entre 2024 e 2027. (Cfr. ponto C.2.5)
5. Apesar de incluir informação mais completa sobre as garantias, o Relatório da Conta não comporta uma
análise do risco orçamental associado a situações de execução das responsabilidades contingentes. Em
termos acumulados, as garantias prestadas ascenderam a 18 825 M€ (menos 1 679 M€ que em 2021), sendo
de salientar os riscos associados a eventuais situações de execução das responsabilidades contingentes por
garantias prestadas a entidades fora do perímetro orçamental (14 747 M€, menos 1 115 M€ que em 2021),
que se revestem de particular importância porque, a serem executadas, têm impacto na despesa e na dívida e,
por essa via, na Conta Geral do Estado e na sustentabilidade das finanças públicas. (Cfr. ponto C.4.5)
6. Ainda que não afetem o défice, o Tribunal assinala que subsistem operações classificadas como ativos
financeiros que visam prosseguir, essencialmente, objetivos sociais e de política pública, não se destinando
a produzir retorno financeiro. Em 2022, enquadrava-se nesta situação o aumento de capital do grupo TAP, no
valor de 304 M€. Em contabilidade nacional, algumas destas operações são reclassificadas passando, desse
modo, a ser incluídas no apuramento do saldo. (Cfr. Caixa 3)
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
7. Duas das áreas com relevância na gestão financeira pública do ano – os fluxos do Plano de Recuperação e
Resiliência (PRR) e a descentralização – apresentam fragilidades de reporte que dificultam a sua análise e
controlo.
A execução do PRR é significativamente inferior às estimativas apresentadas à UE e os registos
contabilísticos apresentam insuficiências. A execução orçamental da despesa do PRR registada na Conta de
2022 foi de 970 M€, sendo a acumulada de 1 042 M€ (despesa consolidada), o que é significativamente inferior
às estimativas apresentadas à União Europeia (5 428 M€). Esgotados que estão dois anos do período de
execução do PRR, que deve ser integralmente cumprido até 2026, verifica-se que o nível de execução
orçamental apurado nos beneficiários diretos e finais do PRR, até 31 de dezembro de 2022, é de apenas 19%
do valor estimado no cronograma de execução financeira para o período em questão. Foram identificadas
insuficiências nos registos contabilísticos e diferentes práticas, entre organismos beneficiários da administração
central e da segurança social, de contabilização do recebimento e da utilização dos fundos com origem no PRR.
Em resultado, os registos contabilísticos espelhados na Conta Geral do Estado de 2022 não refletem a
totalidade das verbas recebidas pelos beneficiários do PRR, o que afeta a fiabilidade da informação e prejudica
a monitorização da execução orçamental do PRR. (Cfr. ponto C.4.2.3)
A Conta não inclui informação que evidencie com detalhe a dimensão orçamental da descentralização
apesar de se tratar de uma relevante política pública. Relativamente à transferência de competências do
Estado para as autarquias locais e entidades intermunicipais, não foi incorporado na Conta um relato
orçamental que integre informação suficientemente detalhada acerca das verbas transferidas, por área e
regime legal associado, situação que deve ser colmatada, atendendo à importância estratégica, ao nível
nacional e local, do processo de descentralização, bem como à dimensão do seu impacto financeiro.
(Cfr. Caixa 4)
II
REFORMA DAS FINANÇAS PÚBLICAS
8. Verificam-se atrasos crescentes e progressos limitados nos projetos de implementação da Lei de
Enquadramento Orçamental que colocam em risco o seu financiamento no âmbito do PRR e impossibilitam
a certificação da Conta Geral do Estado de 2023 pelo Tribunal. Do total de 122 M€ de financiamento previsto,
apenas se encontram executados 2,5 M€ (2%). Uma Conta, com base nos novos instrumentos previstos pela
Lei de Enquadramento Orçamental, incluindo demonstrações financeiras, encontra-se já previsivelmente
adiada, pelo menos, por mais 3 anos. Ao nível da aplicação do SNC-AP pelas entidades públicas, apesar de mais
68 entidades, pela primeira vez, terem prestado contas ao Tribunal no novo referencial contabilístico, estas
cobrem ainda apenas cerca de um quarto da despesa total da Conta. (Cfr. pontos A.1, A.2 e Caixa 2)
9. A reforma, iniciada há mais de oito anos, abrange áreas reconhecidas pelo Governo como essenciais para a
melhoria do reporte financeiro público. Porém, a falta de progressos mantém o reporte da presente Conta
Geral do Estado, em grande medida, semelhante ao de anos anteriores. Os atrasos abrangem as diversas
componentes da reforma, incluindo os projetos basilares como a Entidade Contabilística Estado e a
orçamentação por programas, pelo que se exigem esforços acrescidos para a sua concretização, incluindo o
desenvolvimento dos sistemas de informação. Desde logo, o plano de implementação da lei de enquadramento
orçamental, embora tenha sido ajustado no início de 2022, encontra-se em revisão. A Entidade Contabilística
Estado, apesar de já regulamentada, está ainda dependente de desenvolvimentos concetuais (incluindo o
modelo de gestão e controlo da tesouraria) e da aquisição de soluções aplicacionais. Quanto à orçamentação
por programas, o decreto-lei que define as respetivas especificações e as orientações, previsto para junho de
2021, continua em falta. Por sua vez, o programa piloto - Programa Desenvolvimento Sustentável da Economia
do Mar, apresentado no Orçamento do Estado para 2022, foi de âmbito restrito e utilidade limitada, uma vez
que não associou os recursos utilizados à maioria dos indicadores de resultados previamente definidos.
(Cfr. ponto A.1)
PROCESSO ORÇAMENTAL
11. Os progressos no reporte sobre a execução das medidas de política vieram reforçar a articulação e a
coerência entre os documentos do processo orçamental verificando-se, porém, a ausência de um adequado
enquadramento plurianual. O Relatório da Conta identifica, para a quase totalidade das medidas, o respetivo
impacto orçamental. Por outro lado, o enquadramento plurianual de políticas, objetivos orçamentais e de
limites de despesa do Orçamento para 2022 foi afetado, pelo facto de a proposta de lei das Grandes Opções
2022-2026 só ter sido apresentada com a proposta de Orçamento do Estado para 2023, o Programa de
Estabilidade 2022-2026 não ter dado a conhecer as opções de política e a aprovação do Quadro Plurianual das
Despesas Públicas só ter ocorrido no âmbito do Orçamento para 2023. (Cfr. ponto B.1)
12. Algumas componentes da receita e despesa apresentam, desde 2017 e de forma recorrente, desvios entre
as previsões orçamentais e a execução. Estes desvios traduzem-se na suborçamentação da receita fiscal e de
contribuições sociais e na sobreorçamentação da receita de fundos europeus e da maioria das rubricas de
despesa, em especial o investimento, que, em 2022, ficou 1 968 M€ abaixo do previsto. (Cfr. ponto B.2)
III
13. Tem crescido o recurso a dotações especiais no orçamento do Ministério das Finanças que, durante o ano,
são utilizadas, sobretudo, para fazer face a despesas suborçamentadas da Educação e da Saúde. A utilização
destas dotações no reforço de outras praticamente duplicou entre 2019 e 2022 (de 760 M€ para 1 506 M€).
Esta prática contraria o princípio da especificação, reduz a utilidade da previsão da despesa por programas
orçamentais e distorce o objetivo destes instrumentos de gestão orçamental. A dotação provisional (564 M€),
que visa fazer face a despesas excecionais, não previsíveis e inadiáveis, foi utilizada, sobretudo, no reforço de
dotações suborçamentadas, incluindo despesas com pessoal da Educação (220 M€). Por sua vez, a dotação
centralizada “regularização de passivos e aplicação de ativos” (433 M€), inscrita em ativos financeiros (sem
impacto no saldo), foi utilizada no reforço de despesas efetivas da saúde e da segurança social (com impacto
no saldo). (Cfr. ponto C.2.1)
15. A receita fiscal está subavaliada em 754 M€ por contabilização incorreta, designadamente no âmbito do
apoio extraordinário às famílias. Verificaram-se deduções à receita que deveriam ter sido contabilizadas como
despesa: i) 611 M€ no IRS relativos à medida de apoio extraordinário às famílias, indevidamente contabilizados
como reembolsos; ii) 143 M€ relativos a encargos de liquidação e cobrança da Autoridade Tributária e
Aduaneira. Acresce que parte destes encargos (119 M€) estão sobreavaliados, por terem sido apurados com
base no total da receita fiscal de IRC, IRS e IVA, ao invés de, tal como determina a lei, uma estimativa para as
receitas resultantes da atividade com ações de inspeção e fiscalização. (Cfr. ponto C.2.2.1)
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
16. A falta de progressos na implementação do regime de contabilização das receitas do Estado (aprovado há
23 anos) continua a penalizar o rigor e a tempestividade da informação contabilística. Um dos aspetos
centrais deste regime que continua por aplicar é a interligação dos sistemas de gestão da receita com os
sistemas centrais, o que conduz a atrasos na classificação e registo da receita e à ausência de uma clara
identificação de todos os responsáveis pela contabilização. (Cfr. ponto C.2.2)
17. As receitas fiscais consignadas totalizaram 4 388 M€ (8,3% da receita fiscal) e refletem uma prática que se
tem acentuado desde 2018, condicionando uma gestão financeira global. Esta prática não vai ao encontro
do princípio da não consignação previsto na Lei de Enquadramento Orçamental de que todas as receitas devem
servir para cobrir todas as despesas previstas. (Cfr. ponto C.2.2.1)
18. A dívida incobrável (8 693 M€) representa mais de um terço da dívida por cobrar coercivamente pela
Autoridade Tributária e Aduaneira (24 281 M€) e, desde 2016, mais do que duplicou. Constata-se que cerca
de dois terços desta dívida respeitam a contribuintes com atividade cessada em IVA e que para o aumento
assinalado contribuíram as crises financeiras, a situação de pandemia de COVID-19 e a crise energética, bem
como a alteração da jurisprudência quanto à contagem do prazo que decorre até à prescrição da dívida. Para
promover o cumprimento das obrigações fiscais pelos contribuintes, para 2022, foram introduzidos novos
regimes que facilitam o pagamento de dívidas em prestações (antes ou após a instauração do processo de
execução fiscal), que terão impacto na evolução futura da carteira de dívida. (Cfr. ponto C.2.2.3)
19. A despesa da administração central (78 916 M€) aumentou 4 449 M€ (6,0%), perto de metade em medidas
de resposta aos efeitos do choque geopolítico (2 128 M€). Neste âmbito, destacam-se os apoios para redução
das tarifas do gás (1 000 M€) e da eletricidade (500 M€), executados pelo Fundo Ambiental, e o complemento
IV
excecional a pensionistas (339 M€), pago pela CGA. Foram também significativos os aumentos verificados na
aquisição de bens e serviços na área da saúde (867 M€) e nas transferências para a administração local
(500 M€), designadamente para financiar processos de descentralização de competências. (Cfr. ponto C.2.3)
20. Apesar de, no final de 2022, os pagamentos em atraso há mais de 90 dias se terem reduzido para 72 M€, ao
longo do ano mantiveram uma média mensal de 547 M€. Esta diminuição reflete, sobretudo, o efeito das
dotações de capital para cobertura de prejuízos dos estabelecimentos de saúde EPE. Ainda assim, essas
dotações foram insuficientes para fazer face ao pagamento da totalidade dos encargos vencidos dessas
entidades (507 M€ no final do ano), traduzindo a necessidade de rever o seu modelo de financiamento.
(Cfr. ponto C.2.3.3)
21. Os sistemas centrais do Ministério das Finanças continuam a não incluir o registo de valores materialmente
relevantes de operações extraorçamentais, o que prejudica o controlo da movimentação de fundos pelas
entidades do perímetro orçamental. Tal continua a não suceder devido a inadequação dos sistemas de
informação e falhas de reporte das entidades (abrangendo, pelo menos, 4 321 M€ de receita e 4 400 M€ de
despesa) ou por desenho incompleto do procedimento (caso da entrega aos municípios e às regiões autónomas
da parte que lhes cabe nos impostos cobrados, 5 614 M€ em 2022, sem que esteja identificada a entidade
responsável por autorizar a despesa extraorçamental e assegurar o respetivo registo contabilístico). (Cfr. ponto
C.2.4)
22. O reporte da Conta Geral do Estado sobre a dívida pública é incompleto e inconsistente. A Conta omite o
stock da dívida dos serviços e fundos autónomos e das entidades públicas reclassificadas que ascende a
29 656 M€ (mais 284 M€ do que em 2021). Por outro lado, os mapas da Conta sobre a dívida direta do Estado
recorrem a óticas e conceitos diferentes, dificultando a compreensão dos dados relativos a alguns instrumentos
de dívida, pese embora a inclusão de notas explicativas contribua para minimizar estas dificuldades. (Cfr. ponto
C.2.5)
24. Continuou a verificar-se a sobrevalorização da despesa com ativos financeiros. Em 2022, foram
injustificadamente contabilizados como ativos financeiros 1 052 M€ (1 064 M€ em 2021) relativos a entradas
de capital em empresas públicas, para cobertura de prejuízos. (Cfr. ponto C.2.6)
25. Não se verificaram progressos na inventariação do património imobiliário do Estado e a informação que
consta do Relatório da Conta é muito limitada e pouco fiável, mesmo quanto às operações do ano.
Mantêm-se fragilidades inerentes ao próprio Sistema de Informação de Imóveis do Estado, o que limita as
condições necessárias para a existência de demonstrações financeiras, uma componente fundamental da
futura conta da Entidade Contabilística Estado. Acresce que o desenvolvimento de um novo sistema de
informação, atualmente enquadrado no PRR, regista atrasos devido a procedimentos ainda em curso e à falta
de aprovação de peças contratuais, que têm condicionado a obtenção do respetivo financiamento. Apesar de
o novo sistema de informação ser fundamental, tal não dispensa a aprovação de um Programa de Gestão do
V
Património Imobiliário e de um Programa de Inventariação (os últimos aprovados abrangeram o período 2009-
2012), previstos no respetivo regime jurídico e essenciais para uma abordagem estratégica e integrada da
gestão do património imobiliário.
Quanto às operações imobiliárias do ano, apurou-se uma receita de alienação de imóveis de 104 M€ e despesa
com terrenos, habitações e edifícios de 322 M€, sendo de relevar omissões e inconsistências de 78 M€ entre a
informação do Relatório da Conta e a registada pelas entidades na execução orçamental. (Cfr. ponto C.2.7)
26. A informação da Conta sobre o saldo de tesouraria é incompleta por omitir, em particular, as
disponibilidades que as entidades estão autorizadas a deter na banca comercial. Mesmo assim, o saldo da
tesouraria do Estado, no final de 2022, ascendeu a 12 822 M€ (mais 159 M€ face a 2021). (Cfr. ponto C.2.8.1)
28. Apesar da evolução favorável, o reporte da despesa fiscal na Conta ainda apresenta limitações por abranger
apenas cerca de dois terços dos benefícios fiscais (208 em 321). Foram reportados 16 441 M€ de despesa
fiscal, mais 4 136 M€ (33,6%) do que em 2021, traduzindo uma subida associada à generalidade dos impostos.
A despesa fiscal respeitante aos “Residentes não habituais” totalizou 1 360 M€ e constitui 67,2% da despesa
fiscal do IRS e a segunda mais elevada de 2022 (só ultrapassada pela relativa ao IVA); face a 2021, aumentou
401 M€ (41,8%), em reflexo do aumento do número de residentes não habituais. Apesar de ser essencial o
apuramento completo da despesa fiscal, para que se possa avaliar a atualidade e eficácia dos benefícios, pelo
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
confronto entre o seu custo e os objetivos extrafiscais que visam atingir, a Unidade Técnica prevista desde 2020
para, entre outros objetivos, fazer essa avaliação não se encontra operacional. Acresce que, devido à
desatualização do classificador dos benefícios fiscais, são considerados valores cada vez mais elevados na
rubrica residual “outros assuntos económicos” (82,5% da despesa fiscal total), reduzindo a utilidade desta
classificação. (Cfr. ponto C.4.4)
29. Em 2022 ficaram por concretizar autorizações da Assembleia da República para a criação de novos
benefícios. Foram criados novos benefícios (incentivo fiscal à recuperação, isenção de IVA de certos produtos,
redução transitória da taxa de IVA no fornecimento de eletricidade e dispensa de entrega de metade do terceiro
pagamento por conta de IRC). Porém, ficaram por concretizar as autorizações da Assembleia da República ao
Governo para criar deduções ambientais em sede de IRS e o regime de benefícios fiscais relativamente ao
Programa de Valorização do Interior. (Cfr. ponto C.4.4)
VI
Por sua vez, a redução da despesa no âmbito da pandemia de COVID-19 em 1 321 M€ (-68,8%) permitiu
absorver o impacto, praticamente do mesmo valor, das medidas de mitigação do aumento de preços da energia
e dos produtos alimentares decorrentes do choque geopolítico (1 310 M€). Assim, apesar do aumento
verificado na despesa com pensões e complementos de 1 248 M€ (6,6%), que ascendeu a 20 137 M€, a despesa
efetiva (31 459 M€) cresceu apenas 221 M€ (0,7%). (Cfr. ponto C.3.2)
31. O Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social desvalorizou 188 M€, não obstante as entradas de
capital terem sido 3 081 M€, devido ao resultado de gestão da carteira bastante negativo (-3 269 M€). De
facto, a evolução da conjuntura internacional, com a mudança de perceção em relação ao risco da inflação e a
alteração da política monetária com sucessivas subidas de taxas de juros, que se repercutiram na
desvalorização da dívida pública e nos mercados acionistas, originando rendibilidades menores e até negativas
para a generalidade dos seus ativos. As entradas de capital ocorridas em 2022 tiveram um acréscimo de
2 465 M€ face a 2021 e resultaram sobretudo de 2 601 M€ da transferência do saldo anual do sistema
previdencial-repartição (581 M€ em 2021) e de 479 M€ (34 M€ em 2021) de receitas fiscais consignadas
(297 M€ de parte da receita do IRC, 148 M€ de receita do adicional ao IMI e 34 M€ do adicional de solidariedade
sobre o setor bancário).
O Fundo é um instrumento importante para a promoção da sustentabilidade da segurança social, visando
contribuir para a estabilização financeira futura do sistema previdencial, sendo que esta perda de valor levou a
que, no final de 2022, o Fundo valesse 22 992 M€, o que corresponde a 144,3% da despesa anual com pensões
suportada por aquele sistema, suficiente para satisfazer apenas 17,3 meses destes encargos, inferior ao ano
anterior e aquém do objetivo de cobertura de 24 meses. (Cfr. ponto C.3.4)
32. Houve progressos no reporte disponível na Conta, continuando, no entanto, o exame da conta da segurança
social prejudicado. A exígua informação disponível na Conta Geral do Estado, constituindo apenas um relatório
sintético em anexo ao relatório da Conta, e o facto de o sistema de informação financeira da segurança social
não integrar as operações contabilísticas do Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social
33. Diplomas e normas legais, com impacto na segurança social, carecem de revisão há alguns anos, não se
tendo verificado progressos em 2022. A conta da segurança social é igualmente condicionada por
insuficiências legais e regulamentares decorrentes: da não constituição de património próprio do Fundo de
Garantia Salarial e ausência de regulamentação nacional para parte do seu financiamento; da inexistência de
diplomas reguladores da tesouraria única da segurança social e da fixação dos limites das aplicações de capital
realizadas pelo Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social; e da existência de discrepâncias no quadro
legal do financiamento, designadamente no que respeita à componente capitalização do sistema previdencial.
Carece ainda de revisão, no âmbito do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, a portaria que
regulamenta a política de investimento, bem como a norma que determina a afetação de parte da receita de
IRC, cuja formulação é inexequível. (Cfr. ponto C.3)
VII
34. Não obstante as melhorias ocorridas em 2022, o balanço consolidado não traduz a verdadeira posição
financeira da SS. Pela primeira vez, e indo ao encontro do recomendado pelo Tribunal há vários anos,
verificou-se a relevação de juros vencidos sobre dívidas de contribuintes, no montante de 2 901 M€, com
constituição de provisão de 2 365 M€ desse valor, e consequente impacto no ativo líquido e nos fundos
próprios, pelo reflexo de 536 M€ nos resultados transitados e do ano. Persistem, no entanto, omissões e erros
significativos, bem como inconsistências na aplicação de princípios e práticas contabilísticas: (Cfr. ponto C.3.3.1)
▪ Subvalorização dos passivos, por não refletir a existência de passivos pela atribuição de direito às
prestações sociais a pagamento, apresentando apenas os passivos decorrentes de prestações sociais
processadas, mas que não foram recebidas pelos beneficiários. Dada a materialidade, esta situação
compromete a obtenção de uma imagem verdadeira e apropriada da posição financeira da segurança
social, afetando igualmente a transparência do impacto das decisões que venham a ser tomadas neste
âmbito, como sejam os aumentos extraordinários das pensões.
▪ Subvalorização da dívida de contribuintes, uma vez que, em incumprimento do princípio da
especialização do exercício, para 43,3% das dívidas, no valor de 6 022 M€, não são calculados juros
vencidos e também pela existência de contas de juros de mora com saldos credores (contranatura) no
montante de 41 M€.
▪ Sobrevalorização da dívida de clientes por não registo da sua incobrabilidade, continuando relevadas nas
demonstrações financeiras dívidas para as quais não há qualquer possibilidade de recuperação.
▪ Inconsistência de 101 M€ da dívida de prestações sociais a repor, sendo o saldo relevado no balanço
superior ao que consta nas contas correntes dos beneficiários.
▪ Fragilidades no controlo e contabilização dos bens imóveis. Verifica-se falta de relevação contabilística
de imóveis e situações de imóveis relevados por valor nulo, bem como a não incorporação das obras de
beneficiação nos respetivos números de imobilizado dos edificados e a não segregação do valor do terreno
do valor do edificado, fatores relevantes para o valor das amortizações. Acresce que a existência de 425
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
imóveis devolutos contraria uma utilização eficiente do capital existente, situação que carece de avaliação,
uma vez que os imóveis detidos pela segurança social devem ser utilizados na prossecução das suas
atividades ou para a obtenção de rendimento. O valor do património imobiliário da segurança social –
constituído por 3 124 imóveis – tende a estar afastado do valor de mercado, pelo que se deverá aproveitar
a implementação do SNC-AP e a possibilidade de mensuração pelo valor patrimonial tributário quando não
exista informação fiável e atualizada sobre o custo. (Cfr. Caixa 6)
▪ Fragilidades no controlo e contabilização dos bens móveis, devido à sua incorreta classificação, bem
como à falta de uniformidade e a erros na atribuição de vida útil, com impacto nas amortizações.
35. O resultado líquido foi de 242 M€, uma quebra de 2 327 M€ (-90,6%) face a 2021. O acentuado decréscimo
do resultado líquido resultou dos movimentos verificados nos três grupos de resultados: a) operacionais
(2 699 M€) com um aumento substancial de 1 676 M€ (163,9%), muito suportado pela evolução das
contribuições; b) extraordinários (801 M€), com um aumento de 57 M€ (7,6%), assente no efeito líquido das
correções relativas a anos anteriores e nas reduções de amortizações e provisões; c) financeiros (-3 258 M€),
com uma forte quebra de 4 060 M€ (-506,5%) devido, essencialmente, ao desempenho da atividade do FEFSS.
(Cfr. ponto C.3.3.2)
36. A segurança social, em 2022, arrecadou apenas 19 m€ ao abrigo do princípio da onerosidade, ascendendo
o valor por cobrar a 20 M€. A aplicação do princípio da onerosidade (sujeição da ocupação ou utilização dos
imóveis por outras entidades públicas ao pagamento de uma contrapartida) a vários imóveis desde 2019 tem-se
traduzido numa arrecadação de receita bastante reduzida e numa acumulação de dívidas por cobrar, uma vez
que os procedimentos e ações de controlo desenvolvidos não têm sido suficientemente eficazes, continuando
por participar a execução fiscal as dívidas neste âmbito. (Cfr. ponto C.3.3.3)
VIII
CONTA CONSOLIDADA
37. Mantêm-se problemas no processo de consolidação que, ainda que não afetem o saldo, sobrevalorizam a
receita e despesa. O processo de consolidação continua incompleto, pelo que não foram “eliminados” todos
os fluxos materialmente relevantes que ocorrem entre as entidades pertencentes ao perímetro da Conta,
sobrevalorizando a receita e a despesa em, pelo menos, 347 M€ de venda/aquisição de bens e serviços e
511 M€ relativos a juros da dívida pública direta transacionável. (Cfr. ponto C.1.2)
38. O défice da Conta Geral do Estado encontra-se subvalorizado em 36 M€ por errada contabilização de parte
da receita do leilão 5G que já tinha sido registada em receita em 2021 pela ANACOM. Assinala-se ainda o
risco de se repetir o erro, tendo em conta que também podem vir a ser entregues ao Estado 392 M€ de taxas
já cobradas pela ANACOM e aos quais poderão ainda acrescer cerca de 113 M€ de taxas a arrecadar.
(Cfr. ponto C.1.2)
39. Existem inconsistências na receita e despesa por desatualização do classificador económico. A correção da
receita e da despesa é também afetada pela inadequação do classificador económico, que tem resultado na
utilização de rubricas residuais para registo de valores materialmente relevantes, por não existir rubrica mais
adequada. Esta situação é agravada pelo facto de, nos termos do decreto-lei de execução orçamental de cada
ano, ser permitido a um conjunto de entidades utilizar um classificador simplificado, comprometendo a
transparência e o próprio controlo dos valores da Conta. (Cfr. ponto C.1.2)
41. Na sequência do observado pelo Tribunal em anteriores pareceres, mantém-se a necessidade de acelerar o
ritmo de execução dos fundos europeus, para evitar a perda de fundos e para que os mesmos contribuam
eficazmente para o combate à crise económica e financeira derivada da pandemia de COVID-19, agravada pelos
efeitos da guerra na Ucrânia. Salienta-se, neste âmbito, o ainda avultado investimento por executar/validar no
PT 2020 até ao final de 2023 (4 356 M€), coincidente com a execução de um elevado montante de fundos
provenientes da UE (cerca de 60 000 M€) associados a vários instrumentos financeiros, nomeadamente, ao
Plano de Recuperação e Resiliência e ao quadro financeiro plurianual 2021-2027 (PT 2030). (Cfr. ponto C.4.2)
42. Os fluxos financeiros para as regiões autónomas apresentam uma tendência estável e para as autarquias
locais uma trajetória crescente, influenciada pelo processo de descentralização de competências. Em 2022,
estes fluxos totalizaram 885 M€ e 5 541 M€, respetivamente, e abrangem a participação destas entidades nos
principais impostos (IRS, IRC e IVA) e outras verbas afetas a finalidades específicas, incluindo empréstimos ou
fundos europeus. Nas regiões autónomas, os valores estão em linha com a tendência dos últimos anos, só
interrompida em 2021 por um maior volume de transferências de fundos europeus, enquanto os fluxos para
as autarquias locais dão continuidade a uma trajetória crescente (+7,8% face a 2021), associada ao processo
de descentralização de competências. No segundo semestre de 2022, estes fluxos passaram a ser pagos pelo
Fundo de Financiamento da Descentralização (469 M€), refletindo a concentração de recursos para os
IX
municípios fazerem face a competências específicas que, até então, estavam afetos a vários ministérios. Em
sentido inverso, os fluxos recebidos pela administração central compreendem o reembolso de empréstimos
concedidos e respetivos juros (166 M€ e 79 M€) e, no caso das autarquias locais, abrangem também
transferências que constituem receita de escolas (85 M€), da Administração Central do Sistema de Saúde
(49 M€) e de empresas de transportes (27 M€). (Cfr. ponto C.1.4)
43. O Relatório da Conta não apresenta informação estruturada e completa relativa aos fluxos com o setor
empresarial do Estado. O Tribunal apurou que o financiamento líquido deste setor totalizou 4 431 M€ (menos
1 440 M€ do que em 2021), destinando-se 70,8% a empresas públicas de transportes e de infraestruturas
rodoviárias e ferroviárias. As limitações do Relatório derivam da informação apresentada se restringir às
operações efetuadas pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças e, simultaneamente, extravasar o âmbito do
setor, por incluir fluxos com empresas da administração regional e local e alguns fundos com autonomia
administrativa e financeira. (Cfr. ponto C.4.3.1)
44. O Relatório da Conta deveria apresentar uma abordagem mais detalhada dos apoios concedidos a
entidades não pertencentes à administração pública, dada a sua materialidade e natureza não
reembolsável. Os apoios concedidos a entidades fora do setor das administrações públicas ascenderam a
5 949 M€, sendo o aumento de 1 643 M€ face a 2021 explicado, sobretudo, pelas medidas na área do
ambiente, para amortecer o efeito do crescimento dos preços da energia nas famílias e nas empresas. A
natureza não reembolsável destes apoios exige um escrutínio rigoroso, que passa pela transparência da
informação, sobretudo quanto às finalidades que visam atingir. Apesar de obrigatória a publicitação dos apoios
concedidos a particulares, subsistem abordagens distintas no reporte o que tem condicionado a qualidade da
informação. É necessário clarificar o conceito destes apoios e harmonizar a informação a divulgar no Relatório
da Conta, uma vez que os dados das entidades nem sempre coincidem com a execução orçamental e a
informação da Conta revela inconsistências entre mapas. (Cfr. ponto C.4.3.2)
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
45. Em 2022, não foram concedidos novos apoios ao setor financeiro, embora se tenha verificado uma despesa
de 7 M€ de encargos com a reprivatização do BPN. Pela primeira vez, desde o início da crise financeira
internacional de 2007/2008, verificou-se um saldo favorável ao Estado (165 M€), apesar de o valor acumulado
continuar negativo (-21 883 M€). A receita totalizou 173 M€, relativos a amortização de empréstimos
concedidos e recebimento de dividendos. O valor nominal dos ativos no final do ano (10 414 M€) corresponde
a cerca de metade dos encargos líquidos suportados, fundamentando uma fraca expetativa de virem a ser
recuperados. Em 2022 assinala-se ainda o aumento de capital do Novo Banco através da conversão dos direitos
atribuídos ao Estado ao abrigo do Regime Especial Aplicável aos Ativos por Impostos Diferidos que, conforme
ficara acordado no Contrato de Venda e Subscrição celebrado com a Lone Star, diluiu apenas a participação
pública no banco através do Fundo de Resolução, com o acionista privado a manter a participação de 75%.
(Cfr. ponto C.4.3.3)
X
JUÍZO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
A Conta Geral do Estado de 2022 está afetada por omissões e erros materialmente relevantes que fundamentam
as reservas abaixo formuladas1. Na apreciação dos valores da Conta foram também tidas em conta diversas
situações, evidenciadas como ênfases, que enquadram a execução orçamental e financeira e são essenciais para
a sua compreensão.
A Conta de 2022 tem uma estrutura idêntica à de anos anteriores, incluindo mapas informativos previstos na
LEO 2001 que, até à apresentação de demonstrações orçamentais e financeiras nos termos da LEO 2015,
contribuem para o controlo do Tribunal de Contas e para a transparência da informação divulgada.
Limitação de âmbito
A CGE 2022 não inclui o balanço e a demonstração de resultados do subsetor dos serviços integrados e do
subsetor dos serviços e fundos autónomos da administração central, que se encontravam previstos na LEO
Reservas
Conta consolidada
1 Este Juízo é emitido com base nos resultados das ações de controlo realizadas e quanto aos aspetos que, nos termos da lei,
cabe ao Tribunal apreciar.
2 E ainda não inclui as demonstrações financeiras e orçamentais consolidadas, respetivas notas e relatório, nos termos da LEO
2015 e exigíveis na Conta de 2023.
1
Erros e omissões nas operações dos subsetores. Por sobrevalorizar o saldo de 2022, destaca-se o registo
em outras receitas de capital do Estado de 36 M€ recebidos da ANACOM, relativos a taxas arrecadadas
por esta entidade em 2021, no âmbito do leilão do 5G, levando a que a mesma receita tivesse sido
contabilizada na conta consolidada em dois anos.
Administração Central
Contabilização incorreta da receita relativa aos montantes recebidos ao abrigo do Plano de Recuperação
e Resiliência, em incumprimento do n.º 1 do art. 8.º do DL 53-B/2021, de 23/06, devido a situações de
não nivelamento do valor da receita orçamental pelo montante da despesa orçamental do ano e de não
reconhecimento, em receita extraorçamental, pelos beneficiários, das verbas recebidas e ainda não
aplicadas em despesa orçamental.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Erros no Relatório da Conta relativamente aos fluxos com o setor empresarial do Estado, aos apoios a
entidades não pertencentes à administração pública e às operações imobiliárias do ano.
Quantificação incompleta da despesa fiscal: dos 321 benefícios fiscais identificados pela Autoridade
Tributária e Aduaneira, apenas é quantificada a despesa fiscal relativa a 208.
2
Segurança Social
Imobilizado:
Fragilidades no controlo e registo do universo dos bens imóveis e impossibilidade de validação do
valor bruto do património imobiliário constante das demonstrações financeiras, por falta de
relevação contabilística de imóveis e por imóveis registados com valor nulo.
Incumprimento das normas do Cadastro e Inventariação dos Bens do Estado relativamente aos bens
imóveis e impossibilidade de validação do valor líquido, pela não incorporação das obras de
beneficiação nos respetivos números de imobilizado dos edificados e a não segregação dos valores
do terreno e do edificado, fatores relevantes para o valor das amortizações.
Incumprimento das normas do Cadastro e Inventariação dos Bens do Estado relativamente aos bens
móveis e incorreções no cálculo das amortizações, com sobrevalorização do valor das mesmas e
subvalorização do valor do ativo líquido.
Dívidas de terceiros:
Para 6 022 M€, 43,3% do valor relevado no balanço como dívida de contribuintes, verifica-se:
Passivo: subvalorização pelo não reconhecimento de passivos pela atribuição de direito às prestações
sociais a pagamento.
Ênfases
Conta consolidada
A execução orçamental de 2022 decorreu num contexto de inflação elevada e subida acentuada das
taxas de juro, processos acelerados pelos efeitos da guerra na Ucrânia, que condicionaram as políticas
públicas e tiveram impacto direto na receita arrecadada e despesa paga. Simultaneamente, assistiu-se à
cessação da maioria dos apoios concedidos para mitigar os efeitos da pandemia de COVID-19. A CGE
apresenta informação sobre o impacto direto destas políticas na execução orçamental, facilitando a
apreciação da evolução das contas públicas.
3
A tomada de posse do XXIII Governo Constitucional condicionou o calendário orçamental, levando à
entrada em vigor do OE 2022 em junho, sem o devido enquadramento plurianual das políticas e
objetivos orçamentais definidos pela Lei de Enquadramento Orçamental, designadamente as Grandes
Opções e o quadro plurianual das despesas públicas.
A descentralização de competências para as autarquias locais é, nas vertentes educação, saúde, cultura
e ação social, acompanhada pela transferência de recursos financeiros. Este processo acelerou em 2022,
afetando a comparabilidade da composição da despesa por classificação económica (transferências em
vez de despesas com pessoal, aquisição de bens e serviços e outras) e por classificação orgânica
(concentração das transferências numa única entidade, o Fundo de Financiamento da Descentralização,
quando anteriormente a despesa estava distribuída por diferentes programas/subsetores).
Administração Central
As contas das entidades que constituem a CGE estão sujeitas ao cumprimento de normas contabilísticas
distintas, não só por serem elaboradas com base em diferentes regimes contabilísticos (designadamente
o Plano Oficial de Contabilidade Pública – POCP e o Sistema de Normalização Contabilística para as
Administrações Públicas – SNC-AP), mas também pela aplicação de diferentes regras aos descontos
sobre vencimentos em SNC-AP, consoante o ano em que as entidades passaram a aplicar plenamente
este regime contabilístico. Esta coexistência de diferentes regras traduz-se no facto dos fluxos
financeiros registados não terem subjacente a mesma realidade económica, o que diminui a qualidade
das contas públicas.
A informação divulgada na CGE não permite a identificação integral das alterações orçamentais
autorizadas pelo MF, ou seja, conhecer o impacto das suas decisões discricionárias no reforço das
dotações de despesa.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Sobrevalorização da despesa com ativos financeiros em 1 052 M€, por corresponderem a entradas de
capital em empresas públicas, para cobertura de prejuízos. Assinalam-se também, por terem impacto
significativo na dívida, os aumentos de capital em empresas fora do perímetro da AC, quando visam
prosseguir essencialmente objetivos sociais e de política pública (e não o retorno financeiro), de que é
exemplo o aumento de capital do grupo TAP, no valor de 304 M€.
Segurança Social
Falta de emissão da certificação legal de contas e parecer pelo Fiscal Único do Instituto de Gestão
Financeira da Segurança Social e do Instituto da Segurança Social da Madeira, bem como do parecer
sobre a conta do Fundo de Cobrança Executiva da Segurança Social e do Fundo Especial de Segurança
Social dos Profissionais da Área da Cultura.
4
INTRODUÇÃO
Neste contexto, o Tribunal emite um Juízo sobre a legalidade e a correção financeira das operações examinadas,
a economia, a eficiência e a eficácia da gestão e a fiabilidade dos sistemas de controlo interno. Formula também
recomendações dirigidas à Assembleia da República ou ao Governo.
A CGE 2022 inclui a execução financeira de 482 serviços processadores da administração central (AC) e de 12
entidades da segurança social (SS). À semelhança de anos anteriores, o reporte da AC é efetuado em
contabilidade orçamental (baseada numa lógica de caixa) e o da CSS é composto por demonstrações financeiras
e mapas orçamentais, em ambos os casos, acompanhados por um relatório3 e por diversos mapas.
5
D. Recomendações – que inclui, para além das formuladas no presente Parecer com vista a suprir as
fragilidades detetadas, os resultados globais sobre a implementação das recomendações do PCGE 2020,
cuja apreciação individual é efetuada em cada uma das respetivas matérias.
Em observância do princípio do contraditório, o anteprojeto do Parecer foi enviado aos responsáveis das
entidades e respetivas tutelas. As alegações apresentadas foram tidas em conta na fixação do texto final e,
quando pertinente, inseridas e comentadas. Em documento anexo, dando total amplitude ao contraditório, é
apresentado um quadro-síntese com a identificação das entidades ouvidas e das respostas recebidas, que são
integralmente reproduzidas.
Metodologias aplicadas
O PCGE e o Juízo formulado resultam das ações de controlo realizadas de acordo com os princípios dos Manuais
de Auditoria do Tribunal e das normas internacionais (ISSAI – International Standards of Supreme Audit Institutions).
Os procedimentos adotados consistiram, entre outros1, em:
1 Nos quadros e figuras apresentados, por questões de arredondamento, os totais podem não corresponder à soma das
parcelas. Em regra, os valores são apresentados em milhões de euros (xx M€). Sempre que a situação o justifique, são
apresentados em milhares de euros (xx m€). As percentagens foram calculadas sobre valores não arredondados. Para os
valores apresentados em percentagem do PIB, foi utilizada a estimativa preliminar divulgada pelo INE em março de 2023,
assim como os dados associados ao Procedimento dos Défices Excessivos.
2 Execução orçamental, contabilidade patrimonial e outros, como sejam, os sistemas que suportam a gestão dos impostos pela
administração tributária e aduaneira, a contabilidade do Tesouro, a gestão de contribuições para a SS e o inventário dos
imóveis do Estado.
6
A. A REFORMA EM CURSO
A reforma das finanças públicas iniciou-se há já oito anos com a aprovação da Lei de Enquadramento Orçamental
(LEO)1 e do Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas (SNC-AP)2. Inclui, na
reformulação do processo orçamental, a orçamentação por programas, articulada com a orçamentação
plurianual da despesa pública, a relevação contabilística de operações materialmente relevantes na Entidade
Contabilística Estado e a implementação de novos modelos de gestão da tesouraria do Estado e de consolidação
de contas, culminando na elaboração de uma nova Conta Geral do Estado (CGE), com demonstrações
orçamentais e financeiras consolidadas da administração central e da segurança social. Neste domínio, visa
melhorar a gestão financeira pública, em particular através do reforço da transparência e qualidade da
informação contabilística e de gestão.
Os progressos na aplicação do SNC-AP contrastam com os atrasos na implementação da LEO, visíveis no baixo
nível de execução dos projetos e reflexo da falta de liderança e da instabilidade e ineficácia do modelo de
governação3 que, apesar de algumas mudanças, essencialmente conceptuais, verificadas ao longo de 2022,
ainda não produziram efeitos, tal como se dá conta neste ponto4. Em contraditório, o Ministro das Finanças
(MF) realça que a reforma foi “afetada por fatores externos que implicaram a alocação temporária de recursos às
questões emergentes, designadamente as relacionadas com a pandemia da COVID-19”.
Por outro lado, em resultado da auditoria realizada, verificaram-se não existir condições para a certificação da
CGE 2023 pelo Tribunal (cfr. Caixa 2 – Auditoria ao processo de preparação da Conta Geral do Estado de 2023).
1 Aprovada pela Lei 151/2015, de 11/09, alterada e republicada pela Lei 41/2020, de 18/08 (3.ª alteração à LEO) que altera
também a Lei 2/2018, de 29/01.
2 Aprovado pelo DL 192/2015, de 11/09, alterado pelo DL 85/2016, de 21/12.
3 Tal como resulta da apreciação efetuada pelo Tribunal em oito relatórios de auditoria e dos PCGE, nos quais formulou 26
recomendações, cuja implementação foi objeto do Relatório 14/2021 - 2.ª Secção, aprovado em 25/11.
4 Com base na informação recolhida junto do MF, da UniLEO e da eSPap, designadamente quanto ao plano de implementação
e ao modelo de governação, à ECE e a outros projetos basilares para a implementação da LEO.
7
1. IMPLEMENTAÇÃO DA LEI DE ENQUADRAMENTO ORÇAMENTAL
O calendário deste processo foi já atualizado três vezes3 e a previsão atual encontra-se já desatualizada, tal como
demonstra a Figura 1, com a UniLEO e a DGO a salientar, em contraditório, “…a necessidade de ajustamento do
planeamento da Reforma face ao plano que resultou da contratualização do PRR, dado que este último veio a adensar
aos compromissos de cumprimento da LE0 um conjunto de Marcos PRR…”.
Demonstrações Demonstrações
Regulamentação da orçamentais e financeiras intercalares
orçamentação por financeiras na CGE (e)
programas (b)
Certificação pelo TC da
Adaptação dos demais programas orçamentais CGE 2023 (e)
à orçamentação por programas
8
Indo ao encontro do preconizado pelo Tribunal, a lei prevê desde 2020 a obrigação de o Governo remeter,
semestralmente, à Assembleia da República e ao TC informação detalhada sobre os avanços no processo de
reforma1. No entanto, apenas foi remetido ao Tribunal o relatório relativo ao 1.º semestre de 2021 (a
15/11/2021), encontrando-se em falta o envio dos relatórios subsequentes2.
Modelo de governação
Em 2022, o Governo3 decidiu alargar por mais três anos as competências da UniLEO para assegurar a
implementação da LEO, porém introduziu algumas modificações ao nível do seu modelo de governação: a
coordenação e gestão técnica dos trabalhos passou a ser desenvolvida pelo Coordenador da Unidade, por um
elemento da Direção Superior da DGO e por um elemento do Conselho Diretivo da eSPap, designados pelo
membro do Governo responsável pela área das finanças, visando um maior alinhamento no desenvolvimento
dos projetos contratualizados ao abrigo do PRR4. As equipas de projeto são coordenadas por um elemento da
UniLEO e cada entidade designa um gestor de equipa (responsável pela condução dos trabalhos na entidade
que representa)5.
Em contraditório, o MF refere que “…reavaliou o modelo de governação, tendo sido a UniLEO integrada na DGO,
por forma a priorizar e agilizar a implementação da reforma subjacente à LEO, aproveitando as sinergias existentes”.
Porém, o enquadramento legal vigente não reflete tal integração, constatando-se apenas que os cargos de
dirigente máximo das duas instituições são ocupados pelo mesmo titular.
A operacionalidade da UniLEO tem sido comprometida pela instabilidade da sua coordenação e também nos
recursos humanos afetos. A UniLEO e a DGO, em resposta conjunta ao contraditório, assinalam que “…a UniLEO
tem tido sempre coordenadores designados” e que o seu quadro jurídico sofreu apenas uma modificação desde
2016. Porém, a Unidade teve já quatro coordenadores e a instabilidade assinalada ocorre na sua
Desde logo a ausência de coordenador entre 06/12/2022 e 31/01/20236 e de responsável técnico entre
01/01/2019 e 31/01/20237. Acresce que o coordenador acumula funções com o cargo de Diretor-Geral
do Orçamento, sem existir evidência de redução dos riscos de as atividades relativas à reforma não
serem asseguradas tempestivamente, face às muitas competências atribuídas à DGO (algumas com uma
dimensão de curto prazo, como a preparação do OE e da CGE).
Ao nível da coordenação dos projetos, em todo o ano de 2022 e quase metade de 2023, verificou-se a
ausência da nomeação de responsáveis, o que ocorreu apenas a 30/06/20238, com a designação dos
coordenadores e a constituição formal das equipas de trabalho da DGO e da UniLEO para a concretização
9
de cada um dos projetos. Ao longo de 2022, estas entidades recrutaram técnicos superiores para o
exercício de funções no âmbito dos projetos PRR1.
Estes desenvolvimentos aplicacionais, mesmo após a adjudicação dos respetivos contratos de execução,
envolvem um período temporal que poderá ser ainda longo. Segundo estimativas da eSPap, serão necessários
dois anos para operacionalizar a “solução global da Gestão Financeira Pública”, dependente ainda de
lançamento de concurso público internacional. Relativamente à componente dos impostos, a AT estimou
necessitar de sete anos para desenvolver as suas aplicações visando a produção da informação contabilística
requerida.
1 Seis técnicos superiores para a UniLEO e dois especialistas de informática para a DGO, não tendo a eSPap sido autorizada a
contratar ao abrigo do regime excecional de contratação para a execução de projetos PRR (art. 15.º do DL 53-B/2021, de
23/06 e Despacho 11888-B/2021, de 30/11), por tal não estar previsto no contrato de beneficiário direto que celebrou com
a Estrutura de Missão Recuperar Portugal (EMRP), o que constitui um fator de elevado risco de execução por escassez de
recursos humanos (informação da eSPap de 29/06/2023).
2 Mapa 19 – Desenvolvimentos orçamentais da ECE.
3 Despacho 274/2023, de 06/01.
10
Na sua resposta, a UniLEO e a DGO referem que “Está em curso a finalização de um conjunto de documentos e
requisitos ajustados à Regulamentação publicada no despacho n.º 274/2023 (…) para promoção do alinhamento com
entidades parceiras, encontrando-se em fase de avaliação a solução que permita ir ao encontro das necessidades e
processos contabilísticos, de modo a assegurar a implementação faseada dos mesmos na ECE…”.
Neste contexto, o marco referente à implementação da ECE, contratado no âmbito do PRR com prazo de
conclusão para 31/12/2023, encontra-se atrasado1 (cfr. Quadro 1), tendo o Governo proposto o seu adiamento
para 31/12/2024. Ora, os atrasos verificados até ao segundo semestre de 2023 e identificados neste ponto
podem comprometer o financiamento da componente C17-i01.01 – Sistemas de informação de Gestão
Financeira Pública.
Quadro 1 – Marcos da Reforma e dos Investimentos enquadrados na componente 17 do PRR a concretizar até 2023
Reforma / Prazo
Marco Estado
Investimento (Trim/Ano)
1254 Modelo de regulamentação do conteúdo do orçamento da ECE (a) 4T 2021 Concluído
Regulamentação MTBF (medium term budget framework) e orçamento por
1253 Em incumprimento
programas 2T 2022
1255 Modelo de consolidação de contas Em incumprimento
Reforma 1256 Definição do modelo de gestão e controlo da tesouraria Em incumprimento
Fonte: PRR e Contrato de financiamento para a realização do Investimento TD-C17-i01.01 e Sistema de Gestão de Informação do PRR.
Informação prestada pela UniLEO e eSPap, de 30/06 e 29/06/2023, respetivamente.
No âmbito da orçamentação por programas prevêem-se reformas e investimentos financiados pelo PRR,
que registam atrasos consideráveis: continua em fase de aprovação2 o diploma de regulamentação e
1 Relatório de progresso do 2.º trimestre de 2023 referente a C17-i01.01 – Sistemas de informação de Gestão Financeira
Pública.
2 Informação prestada pela UniLEO, em 30/06/2023.
11
definição das especificações e orientações relativas à concretização dos programas orçamentais1 (Marco
1253). Acresce que o programa piloto “Desenvolvimento Sustentável da Economia do Mar” na Missão
de Base Orgânica (Ministério) Economia e Mar (Marco 1259), revelou-se uma experiência ainda muito
incipiente, que não permite a replicabilidade de soluções adotadas, prevendo o OE 2023 a criação de
dois novos programas piloto (cfr. Caixa 1 – Programa orçamental piloto).
Embora os Marcos 1259 “Implementação do Projeto Piloto de Orçamento por Programas" e 1260 “Novo
modelo da Conta Geral do Estado" estejam assinalados como “atrasados” nos relatórios de
monitorização do PRR, em contraditório, a UniLEO e a DGO informam que “…estão em curso os trabalhos
tendentes à sua finalização sendo o seu prazo estabelecido o IV trimestre de 2023”.
O modelo de gestão da tesouraria do Estado (Marco 1256), pese embora incluir os contributos de dois
projetos piloto já concluídos (contabilização automática da Fatura Eletrónica (Marco 1233) e Receita
Eletrónica (Marco 1234)), ainda não se encontra finalizado, pelo que compromete o desenvolvimento
da solução tecnológica para a recolha de informação para gestão de tesouraria (Marco 1235), para a
qual foi solicitado o adiamento de implementação para 31/12/20242.
Quanto aos restantes modelos concetuais com prazo de implementação para 2022, designadamente
manual de consolidação de contas (Marco 1255), modelo de centro de competências e parceiros (Marco
1258) e modelo de acompanhamento da execução orçamental e financeira das administrações públicas
(Marco 1257), somente este último se encontra concluído3. O atraso nestas reformas impede a definição
dos requisitos técnicos e funcionais para os sistemas de informação e põe em causa o lançamento dos
procedimentos de contratação para a realização dos investimentos previstos.
Os atrasos verificados contribuem para a baixa execução financeira dos projetos referentes ao investimento em
Sistemas de Informação de Gestão Financeira Pública (TD-C17-i01.01)4. Com o valor total previsto de 161 M€ (a
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
concluir até 30/06/2026), o seu nível de execução em 2022 apresenta um desvio de 91,0% face ao inicialmente
aprovado (cfr. Quadro 2). Em contraditório, a UniLEO e a DGO salientam que “…a aquisição de soluções globais
de gestão financeira pública envolve um conjunto de várias capacidades e funcionalidades tecnológicas que não se
esgotam em algumas funcionalidades centrais ao Ministério das Finanças que serão porventura endereçadas por via
de sistema de BI/análise de dados…”, confirmando que há projetos essenciais à reforma que não têm ainda a
maturidade suficiente para se traduzirem em cadernos de encargos e contratação.
1 Esta situação arrasta-se desde novembro de 2021 (cfr. contraditório do MF ao Relatório 14/2021 - 2.ª Secção, de 25/11,
apesar de já terem decorrido dois anos desde a data-limite fixada na lei para a sua aprovação (final do primeiro semestre de
2021).
2 Informação da eSPap, de 29/06/2023.
3 Despacho 275/2023, de 06/01.
4 Os Investimentos enquadrados na Componente 17 do PRR, constam do contrato de beneficiário direto, firmado entre a
eSPap e a EMRP, a 08/09/2021, para a realização do Investimento TD-C17-i01.01, a concretizar até 30/06/2026.
12
Considerando apenas os Investimentos relevantes para a implementação da LEO, com o custo total previsto de
122 M€1, a eSPap celebrou, até 30/06/2023, 13 procedimentos de contratação, no valor global de 4,2 M€
(valores sem imposto sobre o valor acrescentado – IVA), tendo sido executados em termos financeiros 2,5 M€
e, em termos físicos, em média, 68,7%.
Assim, é crucial acelerar a execução da componente reforma (definição de modelos concetuais, regulamentação
e arquitetura de processos), sem a qual não é possível dar seguimento às componentes de investimento
previstas no PRR. Neste processo, é essencial a liderança, empenho, coordenação e monitorização, assegurando
a afetação dos recursos necessários e o uso adequado do apoio técnico já facultado por diferentes instituições
internacionais2, caso contrário, novos atrasos a refletirem-se em incumprimento dos marcos contratualizados
no PRR podem colocar em risco o financiamento aprovado3.
A orçamentação por programas serve para melhor planear e avaliar as políticas públicas. Para tal, as ações que compõem
um programa orçamental e os seus objetivos finais deverão ser definidos em função das especificidades inerentes à
concretização dessas políticas. Esta forma de orçamentar exige, para cada programa, a desagregação por serviços e
entidades, evidenciando os respetivos custos, indicadores, metas que se pretendem atingir e fontes de financiamento4,
permitindo a comparação entre os custos previstos e verificados e entre as metas fixadas e resultados alcançados. Assim,
a orçamentação por programas poderá concretizar o seu desígnio de servir como instrumento para avaliar a eficiência
da despesa pública, associado a um quadro de maior transparência e de uma mais eficaz responsabilização dos gestores
públicos pelo desempenho e resultados.
A evidência internacional (OCDE, 2017)5 aponta que uma estrutura de reporte especializada facilita a ligação entre a
Prevista desde 1977, a orçamentação por programas ganhou importância em 2011 e em 2015, mas ainda não
se afastou de uma mera repartição orgânica
Prevista pela primeira vez na LEO de 1977, a orçamentação por programas tem o seu grande impulso com a LEO 2011
que determinou que toda a despesa da AC passasse a ser estruturada por programas6. Por sua vez, a LEO 2015 veio:
reforçar a relevância da orçamentação por programas, alargando o seu âmbito também à SS e sistematizando,
de forma mais clara, o processo da sua implementação;
1 120,3 M€ referentes ao investimento C17-i01.01 – Sistemas de Informação de Gestão Financeira Pública (Investimentos 1 a
10) e 1,7 M€ ao Investimento TD-C17-i01.02 – Implementação do Sistema de Informação e Gestão do Património Imobiliário
Público (SIGPIP).
2 Designadamente Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Structural Reform Support Service
da Comissão Europeia, Banco Mundial, abrangendo Concept papers no âmbito da gestão de tesouraria e receita não fiscal;
modelo de orçamentação por programas e utilização da contabilidade de gestão para a sua implementação; modelo de
quadro plurianual de receita e despesa pública; Spending Review (a decorrer).
3 O contrato entre a eSPap e a EMRP prevê que “Os apoios financeiros atribuídos (…) podem ser recuperados, total ou
parcialmente (…) Se o Investimento não for executado ou concluído tal como consta no cronograma…”.
4 Arts. 45.º, n.º 5 e 37.º, n.º 3, alínea a) da LEO.
5 Downes, R., Moretti, D. and Nicol, S. (2017). “Budgeting and performance in the European Union: a review by the OECD in
the context of EU budget focused on results”. OECD Journal on Budgeting. Volume 2017/1.
6 DL 131/2003, de 28/06 e Lei 22/2011, de 20/05 (5.ª alteração à LEO 2001), respetivamente.
13
definir etapas intermédias para a operacionalização, designadamente, a aprovação, até ao final do primeiro
semestre de 2021, do decreto-lei que regulamenta e define as especificações e as orientações relativas à
concretização da orçamentação por programas, com vista à criação de um programa-piloto e respetiva
calendarização1, tendo, para o efeito, sido constituído um Grupo de Trabalho (Despacho 3771/2021, de 14/09,
do Ministro de Estado e das Finanças).
Apesar deste enquadramento legal e conceptual, a orçamentação por programas nunca deixou de ser uma mera
repartição orgânica das despesas, coincidindo quase integralmente com uma repartição por ministérios2, mais centrada
nos recursos do que nos resultados, sem fixação de objetivos, metas ou resultados e respetivas métricas, não produzindo
informação com valor acrescentado, nem contribuindo para a avaliação das políticas públicas.
do que na anterior versão (de outubro de2021) e representando 3,1% da despesa da Missão de Base Orgânica
da Economia e do Mar. Comparando com o que a LEO prevê que venha a ser estruturado em programas
orçamentais, este piloto representa 0,04% da despesa consolidada da AC e da SS. Mesmo assim, mantiveram-se
os objetivos e indicadores de desempenho que haviam sido definidos em 2021.
Apesar do universo limitado, verificou-se um nível de execução deste conjunto de ações inferior a metade do
previsto (35,8 M€, ou seja, 45,4% dos 78,8 M€ orçamentados), não sendo divulgados os fatores que
concorreram para essa baixa execução, nem o impacto nos indicadores de desempenho selecionados.
O quadro seguinte evidencia o orçamento e a despesa executada, bem como os indicadores considerados no OE 2022
e os resultados apresentados na CGE.
1 Art. 5.º da Lei 151/2015, de 11/09, que aprovou a LEO, republicada pela Lei 41/2020, de 18/08.
2 Em 2022, a correspondência entre ministério e programa só não se verifica no Ministério das Finanças, que comporta os
Programas Finanças e Gestão da Dívida Pública.
3 Desde 2021, o modelo da orçamentação por programas está integrado nas reformas e investimentos do PRR com 19 M€
para o Investimento 5 - Sistema de Informação Previsional (SIP) - Solução informática para o redesenho e implementação do
processo orçamental, incorporando a orçamentação por programas.
4 Cfr. ROE 2022 que acompanhou a proposta do OE para 2022 de outubro de 2021, rejeitada pela Assembleia da República.
5 Não integraram a tutela deste novo Ministério, designadamente, a Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e
Serviços Marítimos e do Mar e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
14
Quadro 3 – Objetivos e Indicadores do Programa Orçamental piloto integrado na
Missão de Base Orgânica da Economia e do Mar
A medição dos resultados destas ações visou aferir o cumprimento de dois objetivos com base em sete indicadores de
desempenho. Porém verificou-se:
a apresentação de resultados, apenas para dois dos sete indicadores definidos;
a quantificação do indicador relativo à despesa em I&D efetuada com base em informação estatística relativa a
2021 que, embora seja a disponível à data, não serve para medir o desempenho de 2022.
Ora, as mudanças orgânicas que ocorreram ao longo do ano (integração de entidades da área governativa do Mar
noutros ministérios a partir de julho e a mudança de interlocutores no organismo piloto e na UniLEO), não podem ser
No âmbito dos investimentos do PRR, o projeto relativo à orçamentação por programas prevê uma calendarização
faseada até 2025: a componente regulamentação (até junho de 2022), o projeto piloto (a decorrer até ao final de 2023),
o desenvolvimento dos sistemas de informação (durante 2024) e o modelo de custeio (durante 2025). No entanto, os
passos dados até agora limitam as expetativas quanto à boa execução destes investimentos.
Em contraditório, o MF refere que o Governo está “…empenhado na implementação da Orçamentação por Programas…”,
sem criar “disrupção no processo orçamental”, pelo que “deve ser implementada de forma progressiva” e com foco “…na
criação de um modelo que seja realista na operacionalização, com qualidade e que permita melhorar a avaliação das políticas
públicas”. Por sua vez, a DGO salienta que a “…experiência de 2022 tem a virtude de possibilitar sobretudo, a identificação de
ações de melhoria a realizar, tanto para o MF como para as Entidades Coordenadoras e entidades envolvidas…” e que o
“…relatório que visa proceder à avaliação da experiência com os pilotos (…) constitui um marco de reforma cuja calendarização
está prevista para conclusão até ao IV trimestre de 2023 (…) sendo que todos os intervenientes estão investidos no melhor
sucesso das reformas preconizadas pela LEO”.
Contudo, constata-se que o enquadramento legal da orçamentação por programas ainda não foi aprovado e o projeto
piloto, tal como se dá conta nesta caixa, ficou aquém da utilidade proposta. Verificou-se, em particular, a ausência de
mecanismos que, neste contexto específico, permitissem assegurar a necessária articulação entre serviços de
ministérios distintos, perdendo-se a oportunidade de testar a orçamentação por programas em matérias que abranjam
missões de base orgânica diferentes, com troca de informação ao nível das ações, dos indicadores e das metas
previamente conceptualizados no programa orçamental definido.
15
Caixa 2 – Auditoria ao processo de preparação da Conta Geral do Estado de 2023
Por força do art. 66.º da LEO, o Governo apresenta, até 15/05/2024, a CGE 2023, a qual deve compreender, pela primeira
vez, um conjunto completo de demonstrações orçamentais e financeiras consolidadas, a sujeitar a certificação do
Tribunal de Contas, havendo, por seu turno, lugar à emissão desta até 30/09/2024, nos termos do mesmo dispositivo
legal.
No âmbito dos trabalhos preliminares da referida certificação, o Tribunal realizou uma auditoria de conformidade ao
processo de preparação da CGE 2023 (Relatório 9/2023 - 2.ª Secção, aprovado em 06/07) por via da qual foi apreciado
se se encontravam reunidas as pré-condições que viabilizassem a condução da auditoria financeira subjacente a essa
mesma certificação e, em concreto, se se verificavam as condições que habilitassem a DGO a elaborar a CGE 2023,
preparada e instruída nos novos moldes e prazo legalmente exigidos, enquanto objeto de certificação.
Em resultado da auditoria observaram-se desenvolvimentos concretos, alcançados no contexto da reforma das finanças
públicas e da implementação da LEO, como sejam a transição progressiva, embora ainda em curso, para o SNC-AP das
entidades que integram a administração central e a segurança social, ou a entrada em produção da componente Data
integration – Portal de integração do S3CP. Concluiu-se que tais progressos são, pela sua natureza e efeitos, suscetíveis
de contribuir, ainda que insuficientemente, para o processo de consolidação.
Sem prejuízo dos desenvolvimentos assinalados, apurou-se que não estão asseguradas as condições indispensáveis que
viabilizem a preparação de demostrações orçamentais e financeiras consolidadas para integrar a CGE 2023, sendo de
destacar, pela sua relevância, insuficiências críticas nos seguintes domínios:
1. Quanto ao quadro concetual, normativo, contabilístico e metodológico de referência à preparação
da CGE
Apurou-se a inexistência de elementos estruturantes do quadro concetual de referência (eg. o novo modelo da CGE ou
as políticas e os critérios contabilísticos a adotar); a insuficiente densificação do referencial de relato financeiro e
orçamental aplicável, no que respeita às especificidades do processo da consolidação no contexto da CGE (de que é
exemplo a delimitação do perímetro e a definição dos princípios e requisitos específicos a observar neste processo) e,
por fim, a insuficiente regulamentação e incipiente implementação da ECE, enquanto um dos componentes
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
16
As instruções e orientações emitidas aos Componentes, nomeadamente as constantes na Norma Técnica 1/2017
da UniLEO e na respetiva documentação de suporte, não são suficientes, nem estão a ser cumpridas
relativamente a aspetos que se reputam de essenciais para a preparação da CGE 2023.
5. Quanto ao modelo de controlo interno e auditoria
O novo modelo de controlo interno e auditoria, projeto enquadrado na implementação da LEO, e o manual de controlo
interno do processo de consolidação não estão definidos, apesar de constituírem pilares essenciais na estrutura de
prevenção e deteção oportuna de distorções passíveis de afetar a fiabilidade da CGE 2023.
Os constrangimentos mencionados, e uma vez decorrido cerca de metade do período de relato financeiro, são
inultrapassáveis dentro do prazo estabelecido para a apresentação da CGE 2023, dada a natureza e a profundidade das
condições que ainda estão por assegurar, bem como a complexidade e morosidade da implementação das respetivas
soluções necessárias.
O MF e a DGO reconhecem a ausência de condições para a preparação da CGE nos termos da LEO e informaram o
Tribunal que, em função da cadência e conclusão de investimentos indispensáveis enquadrados no PRR, a primeira CGE
suscetível de ser elaborada com os instrumentos previstos na LEO será a de 2026.
Nestes termos, no mesmo relatório de auditoria é observado que a ausência de objeto a auditar determina a
impossibilidade de certificação da CGE.
17
2. PRESTAÇÃO DE CONTAS EM SNC-AP
No ano de 2022 continuou o processo de transição para o SNC-AP com a prestação de contas por 1 188
entidades1 (1 120 no ano anterior), sendo de referir que cerca de 157 entidades ainda prestaram contas de
acordo com o Plano Oficial de Contabilidade Pública2 ou planos setoriais.
Esta prestação de contas em SNC-AP cobre uma despesa líquida paga de 56 865 M€, mais de metade relativa
ao setor social, designadamente na área da saúde3, conforme evidencia o quadro seguinte.
Porém, este total representa apenas cerca um quarto da despesa não consolidada da AC e SS refletida na CGE,
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
não estão obrigadas à aplicação do SNC-AP (ou que ainda não reuniram as condições para a respetiva
transição), prestando contas noutros referenciais contabilísticos – é este o caso, designadamente, das
contas entradas em 2022 e relativas a: empresas (192), fundações, associações e cooperativas (149) e
outras entidades (21);
que, não tendo transitado ainda para o SNC-AP, aplicaram o POCP (147) ou o POCISSSS (10)4 – incluem-
se neste grupo contas com uma dimensão financeira muito significativa como a dos encargos da dívida
pública, sob gestão do IGCP, ou as das entidades que integram o perímetro da CSS;
ainda não transitaram para o SNC-AP tendo prestado contas ao abrigo de instruções próprias, como os
serviços periféricos do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e o Instituto Camões (186 contas).
1 Os dados reportam-se a 31/08/2023 e não incluem contas da administração local nem da administração regional.
2 Ao abrigo do previsto no n.º 2 do art. 200.º da LOE 2022.
3 As entidades do Ministério da Saúde representam 41,6% da despesa total e 65,1% da despesa do setor social.
4 Ao abrigo do previsto no n.º 2 do art. 200.º da LOE 2022.O número de entidades que aplica o POCISSSS não coincide com as
contas que integram o perímetro de consolidação da SS, uma vez que este inclui duas entidades das regiões autónomas e
não inclui a Casa Pia que, embora aplique POCISSSS, é uma entidade da administração central.
18
Das entidades que prestam contas em SNC-AP, 67,6% são escolas do ensino básico e integrado1 e 15,7% são
Serviços e Fundos Autónomos (SFA), sendo estes últimos responsáveis por 47,4% da despesa líquida paga em
análise.
Contas em SNC-AP
Subsetor
Integral Pequenas Entidades Microentidades N.º de entidades %
SI (exceto escolas) 51 17 37 105 8,8
Escolas 652 149 2 803 67,6
SFA 166 18 2 186 15,7
EPE/EP 59 1 1 61 5,1
Associações públicas 17 11 1 29 2,4
Outros 3 1 0 4 0,3
Total Geral 948 197 43 1 188 100,0
% 79,8 16,6 3,6 100,0 -
(em milhões de euros)
Despesa refletida nas contas
Subsetor
Integral Pequenas Entidades Microentidades Despesa %
SI (exceto escolas) 16 140 59 74 16 273 28,6
Escolas 4 344 419 1 4 764 8,4
SFA 26 885 90 0 26 975 47,4
EPE/EP 8 646 3 0 8 649 15,2
Associações públicas 100 36 1 136 0,2
Outros 63 4 0 67 0,1
Total Geral 56 178 611 76 56 865 100,0
% 98,8 1,1 0,1 100,0 -
Do total de contas prestadas em SNC-AP, 79,8% enquadram-se no regime integral, representando 98,8% do
total da despesa líquida e 3,6% respeitam a microentidades, cuja expressão financeira é residual.
19
B. O PROCESSO ORÇAMENTAL
1. A PROGRAMAÇÃO ORÇAMENTAL
O processo orçamental foi marcado pela rejeição da primeira proposta do OE 20221, em outubro de 2021, que
levou à prorrogação da vigência do OE 20212 e à aprovação do regime transitório de execução orçamental3. O
OE 2022 apenas foi aprovado em maio de 2022, com entrada em vigor no final do primeiro semestre. Seguiu-se
a publicação do decreto-lei de execução orçamental, em agosto, o que não sucedia desde 2019 (cfr. Figura 2).
vigor
Considerando que a programação plurianual também se concretiza através do Quadro Plurianual das Despesas
Públicas (QPDP), o qual deve enquadrar a elaboração dos orçamentos, constatou-se que o OE 2022 não se
encontrou vinculado, previamente, a limites de despesa, em prejuízo da previsibilidade e disciplina orçamental,
uma vez que:
O QPDP 2021-2025, integrado nas Grandes Opções para o mesmo período, não foi aprovado5.
1 Conduzindo à dissolução da AR, à realização de eleições (30/01/2022) e à tomada de posse do novo governo, em 30/03/2022.
2 Nos termos do art. 58.º da LEO.
3 DL 126-C/2021, de 31/12.
4 90 dias após a tomada de posse do Governo, conforme alteração, da sua própria iniciativa, ao art. 39.º da LEO (Lei 10-B/2022,
de 28/04) para acomodar situações em que a tomada de posse de novo governo tenha impacto no calendário orçamental.
5 O QPDP está integrado na lei das Grandes Opções (art. 34.º da LEO).
20
O Programa de Estabilidade (PE) 2022-2026 não incluiu o projeto de atualização do QPDP.
A apresentação do QPDP para 2022-2026 no relatório que acompanhou a segunda proposta do OE 2022
(ROE 2022)1 não se enquadra no processo orçamental definido pela LEO nem foi objeto de aprovação.
Por sua vez, o PE 2022-2026 divulgou apenas o cenário orçamental em políticas invariantes sem dar a conhecer
as opções de política para o horizonte de projeção2. Apesar de o PE e a proposta de OE terem sido apresentados
em datas muito próximas, o PE só incluiu parte das medidas subjacentes ao OE 2022, discriminando as
relacionadas com o PRR, a pandemia de COVID-19 e o choque geopolítico3, mas não considerou outras,
nomeadamente as previstas no Programa do Governo, e o seu eventual impacto orçamental futuro.
Em suma, o único enquadramento orçamental de médio prazo que antecedeu a apresentação da segunda
proposta do OE 2022 reporta-se ao PE 2021-2025, elaborado um ano antes, o qual carecia de revisão,
nomeadamente por não incorporar os desenvolvimentos posteriores relevantes, sobretudo no primeiro
trimestre de 2022, com a guerra na Ucrânia e o subsequente aumento dos preços da energia4.
Neste contexto, e apesar de se terem verificado algumas melhorias ao nível da articulação e coerência entre os
documentos de programação e de execução orçamental, subsistem ainda as seguintes insuficiências:
As medidas de política orçamental explicitadas no ROE 2022, embora integrando medidas adicionais no
âmbito do choque geopolítico5, estão na sua maioria em consonância com as do PE 2022-2026, embora
com diferentes perspetivas quanto ao seu impacto orçamental.
As Grandes Opções 2022-2026 contêm, pela primeira vez, a vertente financeira, com a inclusão do
cronograma de instrumentos de financiamento para 2021-2029, a identificação das fontes de
1 Quadro 5.10, p. 147. Face à atualização do QPDP constante do PE 2021-2025 apresenta uma variação na receita e na despesa
de 2,5% (mais 6 816 M€).
2 Cfr. prevê o n.º 4 do art. 33.º da LEO. O Conselho das Finanças Públicas (CFP) entendeu não estarem reunidas as condições
para apreciar o cenário macroeconómico subjacente ao PE 2022-2026 por não incorporar as medidas de política a adotar
(cfr. Posição do CFP sobre o cenário macroeconómico subjacente ao Programa de Estabilidade, de 22/03/2022).
3 Quadros III.1, p.26, e A3. 1 18., p. 53.
4 O PE 2021-2025 continha também reduzida informação sobre as medidas de política para 2022, assinalando sobretudo o
efeito carry-over de medidas tomadas em 2021 (Quadros A2.1. e A2.2., ambos na p. 77).
5 O PE 2022-2026 previa uma despesa com a crise energética de 509 M€ (com impacto orçamental de 524 M€, considerando
a receita prevista para financiar as medidas), menos de metade do registado no ROE 2022. As diferenças advêm de medidas
entretanto aprovadas ou reforçadas, designadamente, para enfrentar o aumento dos preços dos combustíveis e do gás (Lei
10-A/2022, de 28/04 e DL 30-B/2022, de 18/04), para apoiar os profissionais da pesca pelo acréscimo de custos de produção
(DL 30-C/2022, de 18/04) e as famílias, trabalhadores e empresas (DL 28-A/2022 de 25/03 e 30-D/2022, 18/04).
6 Boa governação, alterações climáticas, demografia, desigualdades e sociedade digital, da criatividade e inovação.
21
O RCGE 2022 passou a identificar, para cada uma das medidas de política constantes do ROE 2022 ou
adotadas posteriormente, o impacto orçamental ou a indisponibilidade dessa informação1, dando
cumprimento parcial às recomendações do Tribunal2. Acresce que a sistematização do efeito orçamental
seguiu a tipologia de medidas adotada no ROE 2022, em benefício da harmonização e transparência da
informação.
O ROE 2022 assinalou um agravamento do saldo global das AP, em 2022, em 5 863 M€3, em resultado
do impacto orçamental previsto com as seguintes tipologias: invariantes (-2 003 M€; 34,2%), de resposta
à COVID-19 (-1 713 M€4; 29,2%), de mitigação do choque geopolítico (-1 125 M€; 19,2%), outras
medidas (-599 M€; 10,2%) e temporárias (-423 M€; 7,2%). O saldo integra o efeito do financiamento por
fundos europeus, designadamente no âmbito do PRR, no valor total de 3 475 M€ (cobrindo 36,2% da
despesa esperada).
Por sua vez, no RCGE 2022, o saldo global deteriorou-se em 9 928 M€5 por via da execução do conjunto
das medidas, o que representa um impacto mais desfavorável em 4 065 M€ face à previsão. Para esta
situação, contribuíram maioritariamente as medidas no contexto do choque geopolítico que não
estavam contempladas no ROE 20226, a suborçamentação de despesas COVID-19 e a não concretização
da receita de fundos europeus (-2 569 M€, 63,2% do desvio total) (cfr. Figura 3).
Figura 3 – Impacto no saldo global das AP por medidas de política orçamental em 2022 – em contabilidade nacional
Choque
Invariantes COVID-19 Outras Temporárias Total
geopolítico
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
ROE - 5 863 M€
-2 003 M€ -1 713 M€ -1 125 M€ -599 M€ -423 M€
2022 (a) 3 475 M€
RCGE -9 928 M€
-1 179 M€ -3 294 M€ -4 555 M€ -201 M€ - 245 M€
2022 (a) 906 M€
Por medida e dimensão do desvio7, destaca-se: i) a execução do investimento financiado através do PRR, cerca
de um quarto do previsto (desvio de -2 408 M€); ii) a perda de receita devido à redução do imposto sobre
produtos petrolíferos e energéticos (ISP) equivalente à descida do IVA para 13% e à devolução da receita
22
adicional de IVA via ISP (totalizando um desvio de -795 M€) e o acréscimo de despesa, parcialmente não
orçamentada, com o complemento excecional a pensionistas, apoio às famílias e redução das tarifas de acesso
às redes na eletricidade (no conjunto, desvio de 2 400 M€), devido ao choque geopolítico1; e iii) a execução da
despesa com o apoio ao grupo TAP (Transportes Aéreos Portugueses)2, aquisição de vacinas, medicamentos e
recursos humanos no âmbito das medidas COVID-19, a que acresce a despesa não prevista referente à
conversão de empréstimos concedidos ao abrigo das linhas de crédito COVID-19 em apoios não reembolsáveis
(desvio total de 1 038 M€) (cfr. Quadro 6 e Anexo B1).
Quadro 6 – Medidas de política orçamental no ROE 2022 e a execução no RCGE 2022 – contabilidade nacional
(em milhões de euros)
Medidas de política orçamental ROE RCGE Desvio
Medidas com impacto na despesa, das quais: 1 943 3 355 1 412
Aquisição de vacinas e medicamentos COVID-19 220 357 137
Recursos humanos – Saúde 67 269 202
COVID-19 Apoio extraordinário à TAP 600 990 390
Garantias COVID-19(a) - 309 309
Receita de fundos europeus 230 61 -169
Impacto no saldo -1 713 -3 294 -1 581
Medidas com impacto na receita, das quais: -647 -1 531 -884
Redução do ISP equivalente à descida do IVA para 13% -170 -700 -530
Devolução da receita adicional de IVA via ISP -117 -382 -265
Medidas com impacto na despesa, das quais: 688 3 079 2 391
Choque Redução das tarifas de acesso às redes na eletricidade 150 500 350
Geopolítico Famílias mais carenciadas 55 368 314
Complemento excecional a pensionistas(a) - 987 987
Fonte: MF, ROE 2022 (Quadros 3.3, p. 61, 3.4, p. 62, e 3.5, p.63) e RCGE 2022 (Quadros 2.3, p. 14, e 2.4, p.15).
Não obstante a já referida melhoria no reporte da execução orçamental das medidas de política, identificaram-
se ainda fragilidades:
1 Refira-se que não foi considerado no Quadro 3.4 do RCGE o apoio extraordinário ao gás natural (1 000 M€), o qual será
registado em 2023 por ter sido considerado um adiantamento (cfr. Procedimento dos Défices Excessivos, março 2023).
2 990 M€ no reporte em contabilidade nacional e 304 M€ de pagamentos em 2022, em contabilidade pública.
23
a execução de parte substancial das despesas com pessoal é apurada em termos globais e não por
medida de política orçamental “por impossibilidade de desagregação dos efeitos”1, limitando a sua
análise;
não existe informação sobre os resultados efetivamente alcançados com a medida “Revisão da despesa”,
designadamente os contributos para os ganhos de eficiência tendo em conta o elenco de submedidas
que concorrem para esse exercício2, o que impede a apreciação da viabilidade da poupança estimada,
bem como das prioridades definidas para este exercício. No âmbito das reformas previstas no PRR, foi
criado recentemente um grupo de trabalho com a missão de assegurar a revisão regular da despesa, o
que poderá futuramente contribuir para a melhoria do reporte3;
O ROE 2022 e respetivos elementos informativos não apresentam uma análise sistemática do
cumprimento do princípio da equidade intergeracional através da apreciação da incidência orçamental
futura das matérias referidas no art. 13.º da LEO, sendo omissos quanto a investimentos públicos5,
investimento em capacitação humana, necessidades de financiamento das entidades do setor
empresarial do Estado, responsabilidades contingentes e concessão de benefícios tributários.
No que respeita aos investimentos, em sede de contraditório, a DGO alegou que os mapas informativos
do OE 2022 e da CGE 20226 apresentam informação plurianual da despesa relativa a projetos. Porém,
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
estes mapas não suprem a falta de informação sobre a incidência plurianual dos investimentos a que se
refere o art. 13.º da LEO (conjugado com o art. 47.º n.º 1, al. j e k), uma vez que têm uma finalidade
distinta, a de reportar a despesa total relativa a projetos, por fonte de financiamento e por ministério.
O QPDP, incluído no ROE 2022, é apresentado em valores não consolidados e sem explicitação das
políticas públicas e respetivos limites de despesa, esvaziando-o de clareza e utilidade para o
planeamento. Ora, o QPDP, ao apresentar limites para a despesa em valores não consolidados (embora
em conformidade com a LEO), não permite demonstrar de forma rigorosa a ligação dos recursos
financeiros às prioridades de política pública, reduzindo-se a um exercício formal.
24
A quantificação dos recursos financeiros alocados à implementação da Agenda 2030, a que Portugal
aderiu em 2015, continua omissa no reporte orçamental1; não obstante, assinala-se que, a partir de
15/07/2023, as entidades coordenadoras dos programas orçamentais passaram a ter de prestar
informação periódica sobre as ações que contribuem para o cumprimento dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável2.
Em 2022, o défice da conta consolidada da AC e SS, em contabilidade pública, ascendeu a 3 554 M€ (1,5% do
PIB), em resultado do défice da AC, de 7 622 M€, e do excedente da SS, de 4 068 M€3. A execução orçamental
registou uma evolução favorável de 1 620 M€ no saldo face ao objetivo subjacente ao OE 2022, em virtude dos
desvios de sentido contrário na execução da despesa (menos 1 031 M€) e da receita (mais 589 M€) (cfr.
Quadro 7).
O ROE 2022 antecipava uma melhoria de 3 294 M€ no saldo decorrente do efeito conjugado do aumento da
receita (9 303 M€) e da despesa (6 010 M€) face à estimativa da execução para 2021, do qual resultava um
impacto na receita (mais 11,1%) superior à pressão ascendente da despesa (mais 6,5%).
A previsão da receita apontava para o aumento em todos os seus agregados, em relação à execução provisória
de 2021 constante do ROE 2022 (Gráfico 1), em resultado da evolução da economia, com particular destaque
para a inflação4, assim como pelos recebimentos provenientes de fundos europeus no âmbito do PRR. De
sublinhar que, apesar do aumento esperado de receita, o choque geopolítico conduziu à adoção de medidas
que implicavam uma perda de receita5.
25
No cenário previsional da despesa, o aumento na generalidade das rubricas (Gráfico 2) assentava, em particular,
nas despesas com investimentos no âmbito do PRR, atualização extraordinária de pensões, aumentos salariais
nas AP e apoios ao aumento da subida do preço da energia1. Apenas uma das rubricas de despesa (juros e outros
encargos) apresentava uma perspetiva de redução face ao ano anterior.
Gráfico 1 – Contributos para a previsão da receita da Gráfico 2 – Contributos para a previsão da despesa da
AC e SS – em contabilidade pública – 2022 AC e SS – em contabilidade pública – 2022
(em milhões de euros)
2468
1 592
1166
3163
1 106 123 313
289 -162
Receita Contribuições Outras Receitas de Receita Total Desp. Aquis. Subsídios Juros e Transf. Outras Desp. Despesa
Fiscal Sociais Receitas Capital Pessoal Bens e Outros Correntes Desp. Capital Total
Correntes Serviços Encargos Correntes
Para o saldo orçamental mais favorável face ao orçamentado contribuíram um nível de receita superior ao
esperado e, sobretudo, uma execução da despesa aquém do previsto no referencial anual (Gráficos 3 e 4):
Na receita, o desvio de 0,6% (Quadro 7) resultou da evolução da receita fiscal e das contribuições sociais,
cuja cobrança ficou acima do objetivo anual (mais 4 749 M€), o que compensou a execução abaixo do
previsto das outras receitas correntes e das receitas de capital2 (no conjunto, menos 4 160 M€).
Na despesa, o desvio de -1,0% (Quadro 7) deveu-se à execução abaixo do esperado de grande parte das
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
rubricas, destacando-se, nas despesas de capital, o investimento (menos 1 968 M€), com exceção das
despesas com pessoal e aquisição de bens e serviços (ambas com mais 39 M€), bem como das
transferências correntes (mais 3 195 M€)3.
Gráfico 3 – Desvios entre a execução e a previsão da Gráfico 4 – Desvios entre a execução e a previsão da
receita da AC e SS de 2022 – em contabilidade pública despesa da AC e SS de 2022 – em contabilidade pública
-1 031 Despesa Total
589 Receita Total
(em milhões de euros)
(em milhões de euros)
Fonte: DGO, Síntese de Execução Orçamental (SEO) de julho de 2022 (Quadro 5, p. A6); MF, RCGE 2022 (Quadro 3.2., p. 60).
1 De que são exemplo o AUTOvoucher e a redução das tarifas de acesso às redes de eletricidade.
2 Destaca-se nas outras receitas correntes, a menor execução da receita do PRR (-744 M€, designadamente pelas Serviços
Partilhados do Ministério da Saúde, ACSS, Fundo Ambiental e Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional) e
no âmbito da Parque Escolar, pela não aprovação do contrato programa (-114 M€), e nas receitas de capital, a menor
execução da receita do PRR pelo IAPMEI (-444 M€) e pelo IRHU (-130 M€) e do FEDER, do Fundo de Coesão e do FSE pela
AD&C (-333 M€).
3 Destaca-se nas transferências correntes, o acréscimo da despesa resultante do apoio às tarifas do gás e da eletricidade
(1 500 M€ através do Fundo Ambiental), nas outras despesas correntes, o impacto da utilização da dotação previsional
(-579 M€) e nas despesas de capital, a menor execução das despesas associadas ao PRR (-1 790 M€).
26
A execução orçamental da receita e da despesa face à previsão orçamental assumiu um padrão semelhante ao
verificado em anos anteriores, situação que tem vindo a ser assinalada nestes Pareceres desde 2017.
4 749
3 041
(em milhões de euros)
2 136
1 281 1 688
1 113
-1 312
-2 205
-2 941 -3 135
-4 160
-5 040
2017 2018 2019 2020 2021 2022
Receita fiscal e contributiva Outra receita corrente e receita de capital Receita Total
1 Conta Consolidada da Administração Central e Segurança Social (SEO janeiro de 2017, p. A3; SEO janeiro de 2018, p. A3; SEO
janeiro de 2019, p. A3; SEO julho de 2020, p. A5; SEO janeiro de 2021, p. A5; SEO julho de 2022, p. A6).
2 Conta consolidada da Administração Central e da Segurança Social – ótica da contabilidade pública (RCGE 2017, Quadro 28,
p. 52; RCGE 2018, Quadro 24, p. 48; RCGE 2019, Quadro 25, p. 51; RCGE 2020, Quadro 25, p. 55; RCGE 2021, Quadro 26, p.
58; RCGE 2022, p. 60.
3 Designadamente, em 2022, nas áreas da saúde, dos transportes e da educação (cfr. ponto 2.3 Parte C deste Parecer).
4 Designadamente, em 2022, para reforço das despesas com pessoal (dotação provisional) e dos orçamentos dos Ministérios
do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e da Saúde (dotações centralizadas) (cfr. ponto 2.1 Parte C deste Parecer).
27
Gráfico 6 – Desvios entre a execução e a previsão da despesa da AC e SS – em contabilidade pública – 2017-2022
3 500
3 000
2 500
2 000
(em milhões de euros)
1 500
1 000
500
0
-500
-1 000
-1 500
-2 000
-2 500
Despesas com Aquisição de Transferências Juros e Outros Subsídios Outras Investimento Outras
Pessoal Bens e Serviços Correntes Encargos Despesas Despesas de
Correntes Capital
2017 2018 2019 2020 2021 2022
Sobre as recomendações formuladas no PCGE 2020, no âmbito do cenário orçamental e os principais desvios:
e a quantificação do impacto de cada uma das medidas de política O RCGE 2022 apresenta, pela primeira vez, de forma harmonizada, a
orçamental na execução orçamental. quantificação do impacto das medidas de política orçamental
previstas no ROE 2022.
Dado o exposto, a recomendação encontra-se parcialmente
implementada.
Recomendação 2
Recomenda-se ao Governo que providencie a aprovação do decreto-lei Em agosto de 2022, foi publicado o decreto-lei de execução
de execução orçamental, em observância dos termos e do prazo orçamental relativo ao OE 2022, o que não sucedia desde 2019. Para
estipulados no artigo 53.º da Lei de Enquadramento Orçamental. o OE 2023 também foram publicadas as normas de execução
orçamental, em fevereiro desse ano.
Dado o exposto, considera-se a recomendação implementada.
Recomendação 51
Recomenda-se ao Governo que assegure a inclusão dos Objetivos de Apesar dos progressos na inclusão dos Objetivos de Desenvolvimento
Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 nos documentos Sustentável em alguns documentos estratégicos publicados
orientadores das políticas públicas, de modo a reforçar o compromisso sobretudo em 2022, com destaque para as Grandes Opções 2022-
com esses objetivos e permitir a monitorização qualitativa do 2026, subsistem fragilidades no alinhamento da maioria dos
contributo das medidas e políticas, bem como nos documentos do documentos orientadores das políticas públicas com os Objetivos e
processo orçamental, identificando os recursos financeiros associados metas da Agenda 2030. O Orçamento do Estado e a Conta Geral do
à sua implementação. Estados continuam a ser omissos quanto a esta matéria.
Dado o exposto, considera-se a recomendação parcialmente
implementada.
1 Conta Consolidada da Administração Central e Segurança Social (SEO janeiro de 2017, p. A3; SEO janeiro de 2018, p. A3; SEO
janeiro de 2019, p. A3; SEO julho de 2020, p. A5; SEO janeiro de 2021, p. A5; SEO julho de 2022, p. A6).
2 Conta consolidada da Administração Central e da Segurança Social - ótica da contabilidade pública (RCGE 2017, Quadro 28,
p. 52; RCGE 2018, Quadro 24, p. 48; RCGE 2019, Quadro 25, p. 51; RCGE 2020, Quadro 25, p. 55; RCGE 2021, Quadro 26, p.
58; RCGE 2022, p. 60.
28
C. A CONTA GERAL DO ESTADO
1.1. Universo
O universo de entidades que compõem o OE, no respeito pelos princípios da unidade e universalidade tal como
determina a LEO, compreende todas as entidades que compõem os subsetores da AC e da SS. A AC integra os
serviços e entidades públicas, incluindo as entidades públicas reclassificadas (EPR)1. A SS é constituída pelo
conjunto dos sistemas e dos subsistemas definidos na lei de bases da SS, as respetivas fontes de financiamento
e os organismos responsáveis pela sua gestão2.
Por sua vez, o reporte da execução orçamental e a elaboração da CGE são coordenados no Ministério das
Finanças pela DGO, cabendo-lhe a emissão das instruções necessárias à adequada execução do OE pelas
entidades da AC e a gestão do respetivo sistema de informação, bem como a recolha da informação pertinente
relativa ao subsetor da SS.
Neste contexto, a CGE 2022 incluiu: i) no universo da AC, 482 serviços processadores3 (pertencendo 139 aos
serviços integrados – SI e 343 ao subsetor dos SFA, dos quais 140 EPR); e ii) no perímetro de consolidação
financeira e orçamental da SS, 12 entidades identificadas na figura seguinte:
•Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS) •Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS)
•Instituto da Segurança Social (ISS) •Fundo de Socorro Social (FSS)
•Instituto de Informática (II) •Fundo de Garantia Salarial (FGS)
•Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança •Fundo Especial de Segurança Social dos Profissionais de
Social (IGFCSS) Banca dos Casinos (FESSPBC)
•Instituto da Segurança Social dos Açores (ISSA) •Fundo de Cobrança Executiva da Segurança Social (FCE)
•Instituto da Segurança Social da Madeira (ISSM) •Fundo Especial de Segurança Social dos Profissionais da Área
da Cultura (FESSPAC) - apenas desde 2022
1 As entidades que, no âmbito do Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais e independentemente da sua natureza e
forma, tenham sido incluídas, na última lista das entidades que compõem o setor das administrações públicas (na AC)
divulgada pelo INE. A estas é aplicável o regime dos serviços e entidades da AC, podendo beneficiar de um regime simplificado
de controlo da execução orçamental a definir por decreto-lei.
2 Cfr. arts. 2.º, 3.º e 9.º da LEO.
3 Em diversos casos, um serviço processador não corresponde a uma entidade, podendo abranger um conjunto específico de
despesas (por exemplo “encargos da dívida pública”) ou agregar as verbas orçamentais afetas a um conjunto de entidades
(caso dos “estabelecimentos de educação e ensinos básico e secundário”).
29
Todos os anos se têm vindo a verificar alterações neste universo, em particular ao nível da AC, e a CGE tem dado
conta dessas modificações1. A CSS, em 2022, incluiu uma nova entidade – o FESSPAC. Na AC, a CGE passou a
integrar 6 novas entidades (3 SFA2 e 3 EPR3), tendo deixado de incluir 11 entidades (2 SI4, 3 SFA5 e 6 EPR6), na
sua maioria por razões de fusão ou extinção. Durante a execução orçamental verificou-se a:
ausência de reporte da TDC – The Discoveries Centre for Regenerative and Precision Medicine – Associação,
da Universidade do Minho, entidade não ativa apesar de ter integrado o OE 20227;
1 Designadamente nos quadros A38-Alterações ao perímetro da Administração Central em 2022, A39 – Alterações decorrentes
da Lei Orgânica do XXIII Governo Constitucional e A40 – Alterações à lista das entidades públicas reclassificadas no perímetro
da Administração Central em 2022.
2
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
30
uma EPR, por não ter sido incluída no OE (CINTAL–Centro de Investigação Tecnológica do Algarve)1.
A classificação indevida, como EPR, de entidades que são SFA da AC, designadamente, o Fundo de
Contragarantia Mútuo, o Fundo de Garantia de Depósitos (FGD), o Sistema de Indemnização aos
Investidores e o Fundo de Resolução (FdR). Ora, essa classificação indevida tem permitido que lhes seja
aplicado o regime das EPR2, que as dispensa do cumprimento de um conjunto de obrigações, subtraindo-
as ao regime de controlo a que estão legalmente sujeitos os SFA. Acresce que às três últimas entidades,
por serem classificadas como EPR de regime simplificado, é permitida a utilização de um classificador
simplificado de receitas e despesas, prejudicando a especificação da execução orçamental3.
Neste âmbito, em contraditório, o MF refere que “assegura anualmente a inclusão de todas as entidades previstas”
na LEO e que, como se confirma nos casos acima referidos, tem “sido feito um esforço para corrigir situações”
assinaladas pelo Tribunal.
Por último, note-se que embora os mapas do OE e da CGE tenham eliminado, desde 2021 e em linha com a LEO,
a distinção entre SI e SFA (passando a reportar os valores de forma global para o subsetor da AC), essa distinção
continua a manter-se noutros diplomas basilares da administração financeira do Estado (que ainda não foram
revistos no âmbito da implementação da LEO), nas instruções emitidas pela DGO sobre a informação a prestar
para efeito da CGE 2022, bem como nos sistemas de informação da execução orçamental7.
31
Sobre as recomendações formuladas no PCGE 2020, no âmbito do universo de entidades:
Em 2022, o saldo orçamental da AC e SS representou -1,5% do PIB1 (-3,9% em 2021), valor que sinaliza o regresso
à trajetória de aproximação ao equilíbrio, interrompida com a pandemia de COVID-19. Embora a despesa tenha
continuado a crescer a um ritmo bastante superior ao de 2019 – designadamente por efeito das medidas para
minorar o impacto da pandemia e do choque geopolítico2 – a evolução da receita apresentou uma dinâmica
superior, principalmente ao nível da receita fiscal, alavancada pelo crescimento económico e pela inflação
(Gráfico 7).
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
88 633
(em milhões de euros)
93 931
-1 007 82 407
80 682
-2 664
-3 554
84 171
81 400
-8 294 78 018 77 150
Receita e despesa efetiva consolidada: exclui todas as receitas e despesas classificadas em ativos e passivos financeiros e saldos de gerência.
Foram objeto de consolidação fluxos intra e intersetoriais de juros, subsídios, transferências correntes e de capital e a venda/aquisição de serviços
no programa saúde.
Fonte: CGE e SIGO. Cálculos TC.
O saldo da “conta consolidada da administração central e da segurança social” totalizou -3 554 M€, representando
uma melhoria de 4 741 M€ comparativamente ao ano anterior, em resultado do melhor desempenho da receita
cobrada (+9 760 M€), face ao aumento da despesa (+5 019 M€) – Quadro 8.
1 O valor do PIB foi de 239 253 M€, cfr. Procedimento dos Défices Excessivos (1.ª notificação de 2023, de 24/03).
2 Cfr. Quadro 11 e ponto 1.3.
32
Quadro 8 – Conta consolidada da AC e da SS – 2021-2022
(em milhões de euros)
2021 2022 Variação
Receitas e despesas orçamentais(a)
AC e SS AC SS AC e SS Valor %
RECEITAS 84 171 71 294 35 527 93 931 9 760 11,6
Receita fiscal 46 371 52 884 230 53 114 6 743 14,5
Contribuições para a SS e a CGA 24 206 4 147 22 316 26 463 2 258 9,3
Taxas, multas e outras penalidades 3 411 3 322 91 3 413 2 0,1
Venda de bens e serviços correntes 3 173 3 780 47 3 827 654 20,6
Transferências e subsídios 4 051 4 813 11 995 3 915 -136 -3,4
Rendimentos da propriedade (e)1 498 873 518 1 388 -110 -7,3
Outras receitas (correntes e de capital) 1 462 1 475 330 1 810 349 23,8
DESPESAS 92 466 78 916 31 459 97 485 5 019 5,4
Pensões e outras prestações sociais diretas(b) 34 300 10 267 24 613 34 880 580 1,7
Apoios COVID-19 (transf. e subsídios) 2 831 1 279 605 1 755 -1 075 -38,0
Apoios choque geopolítico (transf. e subsídios) - 2 125 1 310 3 434 3 434
Outras transferências e subsídios(c) 13 530 22 067 4 474 13 782 252 1,9
Despesas com pessoal(d) 19 007 19 017 303 19 320 313 1,6
Aquisição de bens e serviços 11 473 12 461 91 12 552 1 079 9,4
Juros e outros encargos 6 800 6 398 7 6 402 -397 -5,8
Aquisição de bens de capital (investimento) 3 463 3 877 46 3 923 460 13,3
Outras despesas (correntes e de capital) 1 063 1 425 11 1 436 374 35,2
Saldo global -8 294 -7 622 4 068 -3 554 4 741 -57,2
Saldo em % do PIB -3,9 -3,2 1,7 -1,5 2,0
(a) Exclui todas as receitas e despesas classificadas em ativos e passivos financeiros. Foram objeto de consolidação fluxos intra e intersetoriais de juros, subsídios,
transferências correntes e de capital e a venda/aquisição de serviços no Programa Saúde.
(b) Corresponde às despesas destinadas à finalidade proteção social pagas a famílias, exceto as relativas aos apoios concedidos no âmbito da COVID-19 e do choque
geopolítico (incluído nas linhas seguintes). Note-se a mudança metodológica face ao PCGE 2021, alargando o perímetro de entidades considerado e deixando de
Fonte: CGE 2021 – Quadro 26 e Mapa M19; SGR; SIGO; CSS; e DGO (ficheiros das despesas COVID-19); CGE 2022 – Quadro 3.2 e Mapa M191;
SGR; SIGO; CSS; e DGO (ficheiros das despesas COVID-19 e impacto do choque geopolítico); PCGE 2021. Cálculos TC.
a receita fiscal (53 114 M€), conjuntamente com a de contribuições para SS e CGA (26 463 M€),
representa 84,7% do total da receita e está subavaliada em 754 M€2;
na despesa, 35,8% deveu-se a pensões e outras prestações sociais diretas3 (34 880 M€) e 19,8% a
despesas com pessoal (19 320 M€);
os apoios pagos no âmbito de medidas adotadas para mitigação do impacto do choque geopolítico
totalizaram 3 434 M€ (3,5% do total da despesa).
1 O Mapa M19 não inclui agregados relevantes da receita e da despesa (contribuições para a SS, CGA e ADSE, transferências
correntes e de capital, venda de bens de investimento, juros e outros encargos e investimento), embora os respetivos valores
somem para as linhas de total. Estes dados podem ser consultados no Quadro 3.2 do Relatório.
2 Cfr. ponto 2.2.2 (apoios pagos por reembolso de IRS (cfr. ponto 1.3) e abate de encargos de cobrança da AT). Esta situação
não afeta o saldo, uma vez que a sua correta contabilização obrigava ao registo dos mesmos montantes em despesa.
3 Excluindo as componentes relativas às medidas COVID-19 e choque geopolítico, pelo seu caráter pontual e volume financeiro.
33
O gráfico seguinte evidencia, em termos consolidados, a distribuição das despesas da AC e da SS e a sua
cobertura em receita.
Gráfico 8 – Origem e aplicação das receitas consolidadas da AC e SS – 2022 e variação face a 2021
Receitas efetivas: 93 931 M€ Despesas efetivas: 97 485 M€
Pensões e outras prestações sociais
Receita fiscal 53 114 M€ (+6 743 M€) diretas 34 880 M€ (+580 M€)
O aumento da receita em 11,6%, influenciado pelo crescimento de 14,5% das receitas fiscais (mais
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
6 743 M€ do que em 2021) e de 9,3% das contribuições para a SS e CGA (2 258 M€), em resultado,
sobretudo, do aumento do emprego e das remunerações.
O aumento da despesa, em 5,4%, por via do aumento em quase todas as componentes. Destacam-se as
seguintes situações:
os apoios decorrentes das medidas para minorar o impacto do choque geopolítico atingiram
3 434 M€, representando 68,4% do acréscimo da despesa, em parte compensado pelo decréscimo
de 1 075 M€ na despesa no âmbito da pandemia de COVID-19 (cfr. Quadro 11);
a aquisição de bens e serviços aumentou 9,4% (1 079 M€), dos quais 867 M€ no âmbito do
Ministério da Saúde;
as pensões e prestações sociais diretas (não considerando medidas no âmbito da pandemia e do
choque geopolítico) aumentaram 1,7% (580 M€);
as despesas com pessoal aumentaram 1,6% (313 M€, dos quais 180 M€ na área da saúde e 131 M€
na administração interna);
os juros e outros encargos diminuíram 5,8% (397 M€), evolução ainda influenciada pelas baixas taxas
de juro verificadas em anos anteriores1.
1 O aumento verificado no segundo semestre de 2022 teve um impacto limitado nos juros pagos nesse ano (na sua maioria
relativos a dívida emitida em períodos anteriores, a taxas mais favoráveis) – cfr. ponto 2.5.1.
34
Ainda que não integradas na despesa efetiva, o Tribunal assinala que subsistem operações classificadas como
ativos financeiros que visam prosseguir, essencialmente, objetivos sociais e de política pública. Apesar de não
se destinarem a produzir retorno financeiro, estas operações são classificadas como despesa com ativos
financeiros, o que permite que não tenham impacto no saldo orçamental, apesar do seu impacto na dívida
pública. Em 2022, enquadrava-se nesta situação o aumento de capital do grupo TAP, no valor de 304 M€1. Em
contabilidade nacional, algumas destas operações são reclassificadas passando, desse modo, a ser incluídas no
apuramento do saldo (cfr. Caixa 3).
A contabilidade pública e a contabilidade nacional têm fundamentos e objetivos distintos que se repercutem em
diferenças de natureza metodológica quanto à classificação das unidades e contabilização de operações – enquanto a
contabilidade pública2 se foca nos pagamentos e recebimentos, ou seja, aspetos do controlo de tesouraria numa ótica
de caixa, a contabilidade nacional3, tendo por referência um quadro macroeconómico, privilegia a substância sobre a
forma das operações. Em 2022, o défice das administrações públicas em contabilidade nacional totalizou 944 M€ (0,4%
do PIB)4 e as principais diferenças, face aos valores em contabilidade pública são sintetizadas no quadro seguinte.
Quadro 9 – Passagem do saldo em contabilidade pública para contabilidade nacional
(em milhões de euros)
2022
Saldos e ajustamentos 2021
Valor % PIB
Estado -9 852 -5 781 -2,4
Saldo na ótica da contabilidade pública Administração regional e local -310 148 0,1
Segurança social 2 254 4 068 1,7
Ajustamentos ao universo 1 507 1 823 0,8
Ajustamentos relativos à especialização do exercício, dos quais: 3 759 2 722 1,1
Diferença entre juros pagos e devidos 1 082 1 202 0,5
35
Dos ajustamentos com um carácter regular, são de destacar:
a delimitação do universo com a inclusão do saldo das demonstrações financeiras dos SFA/EPR que fazem parte
da AC (1 823 M€);
a especialização económica de operações (ajustamentos que totalizaram 2 722 M€), com contributos, entre
outros, da diferença entre juros pagos e juros devidos (1 202 M€), do ajustamento temporal da receita fiscal e
de contribuições para a SS, no valor de 740 M€ (531 M€ na AC e 209 M€ na SS), da anulação do registo do
pagamento de pensões associado a fundos de pensões que foram transferidos para o setor das AP (637 M€) e
dos encargos com material militar (238 M€) relativos aos pagamentos efetuados antes ou após a entrega do
equipamento.
A transferência de capital do apoio à Efacec (159 M€), concedido através de um empréstimo de 70,5 M€, e a
concessão de uma garantia de 88,5 M€, assim como o apoio de 197 M€ do Governo Regional dos Açores à SATA,
através de uma garantia no montante de 135 M€, à semelhança do que tinha sucedido em 2021 (120 M€) e um
aumento de capital de 62 M€.
Com impacto positivo no saldo, a anulação de 1 000 € relativos ao adiantamento no âmbito do apoio
extraordinário ao gás natural, que só teve efeito nas tarifas a partir de 01/01/2023, e a reclassificação como
operação financeira da conversão de ativos por impostos diferidos da CGD em crédito tributário reembolsável2,
no montante de 420,6 M€.
No âmbito da reforma do quadro de governação económica da União Europeia (EU), a Comissão Europeia (CE) avançou
com uma proposta para as novas regras orçamentais3. De acordo com a CE, a proposta tem em consideração um quadro
europeu, por um lado, com necessidades de investimento, designadamente ao nível das transições ecológica e digital,
do reforço da resiliência social e económica e das garantias de abastecimento energético a longo prazo e, por outro,
com um acentuado aumento das dívidas soberanas (atualmente, vários países da UE, como Portugal, têm rácios de
dívida pública muito superiores a 100% do PIB – cfr. Caixa Dívida de Maastricht).
1 Na sequência da decisão da CE de 21/12/2021 que aprovou o Plano de Reestruturação do Grupo TAP e a concessão de
auxílios à reestruturação, em 2022, foi aprovado o aumento de capital da TAP de 990 M€ (a realização deste aumento é
efetuada por tranches, que em 2022 correspondeu a 304 M€).
2 Ajustamento decorrente de regras específicas no âmbito do PDE sobre os reembolsos associados à conversão de ativos por
impostos diferidos em crédito tributário.
3 As propostas legislativas que se encontram em discussão (COM (2023) 240 final, 241 final e 242 final), contemplam alteração
aos regulamentos 1467/97 e 1466/97 (vertentes corretiva e preventiva do PEC) e Diretiva 2011/85 que estabelece os
requisitos aplicáveis aos quadros orçamentais dos EM.
36
Dos principais aspetos que caracterizam a reforma, destaca-se:
Um quadro de supervisão mais baseado no risco, colocando a sustentabilidade da dívida no seu núcleo e
estabelecendo uma maior diferenciação entre os países, atendendo ao seu grau de dificuldade em matéria de
dívida pública (os Estados-Membros terão uma "trajetória técnica" específica definida pela CE).
O procedimento relativo aos défices excessivos (PDE) para os casos em que a dívida pública não respeita o valor
de referência de 60% do PIB é reforçado, tanto para a ativação como para a revogação e centrar-se-á nos desvios
da dívida em relação à trajetória da despesa líquida. A proposta é eliminar a atual exigência de redução do
endividamento público em 1/20 e comprometer os países com planos individuais de redução plausível do
endividamento de médio prazo (de acordo com uma classificação de desafios "moderados" ou "substanciais").
Reforço da orientação de médio prazo, propondo-se uma adequada e sistemática especificação da
orçamentação plurianual e a articulação entre o orçamento anual e o planeamento de médio prazo.
Reforço do papel das instituições orçamentais independentes na supervisão do quadro orçamental da UE a nível
nacional.
Mantêm-se:
Os valores de referência para o défice (3% do PIB) e para a dívida pública (60% do PIB), bem como o PDE
que se aplica às infrações ao valor de referência para o défice.
O Semestre Europeu como principal canal para o controlo do cumprimento dos compromissos dos Estados-
Membros em matéria de reformas e de investimento.
1 Designadamente, não estão identificados fluxos financeiros associados à concessão Oceanário de Lisboa.
2 Cfr. ponto 2.4. Parcerias Público-Privadas do RCGE.
3 Continuam a ser referenciadas 39 PPP.
4 Cfr. ponto 4.6 do PCGE 2021.
37
Quadro 11 – Impacto das medidas COVID-19 – 2020-2022
(em milhões de euros)
Medidas COVID-19 2020 2021 2022 Total
Receita fiscal e contributiva (valores não cobrados) -1 473 -305 -516 -1 259
Adiamento de obrigações fiscais, contributivas e de pagamento de rendas -956 -79 -508 (a)-508
Isenção de pagamento da Taxa Social Única -517 -226 -8 -752
Despesa efetiva 2 787 4 721 3 254 10 762
Aumento da capacidade do SNS e medidas de contenção, tratamento e mitigação da doença(b) 786 1 817 1 314 3 918
Apoios ao emprego, manutenção da capacidade produtiva/instalada e retoma da atividade 1 649 2 214 923 4 787
Apoios às famílias 339 596 476 1 411
Outros apoios 10 21 356 387
Outros encargos 2 73 185 260
Impacto orçamental no saldo (receita – despesa) -4 260 -5 026 -3 770 -12 021
(a) O valor relativo ao adiamento de obrigações corresponde ao valor em dívida no final do triénio (e não à soma dos parciais em dívida no final de cada ano),
uma vez que esses adiamentos vieram a ser regularizados, deixando de traduzir uma redução de receita.
(b) Valor líquido da revenda de vacinas.
Fonte: CGE 2022, ficheiros de despesa COVID-19 da AC e receitas e despesas COVID-19 da SS. Cálculos TC.
A redução acentuada da despesa em 2022 (-1 467 M€) traduz a cessação da maioria dos apoios que vinham
sendo concedidos, com exceção dos classificados em rubricas residuais (outros apoios), que incluem os
concedidos no âmbito do PRR1. Note-se que apesar de classificada como “despesa COVID”, a sua ligação à crise
pandémica é já ténue, limitando-se a estar integrada no pacote destinado a promover a recuperação e resiliência
da economia.
impacto no saldo. Constitui exemplo dessa incompletude a venda/aquisição de bens e serviços entre entidades
da AC e SS3, uma vez que os procedimentos de consolidação continuam a abranger apenas as vendas/aquisições
de bens e serviços de saúde. Por sua vez, o procedimento de consolidação dos juros da dívida pública é
inconsistente4 e incompleto, continuando a não abranger os juros da dívida pública direta transacionável5.
1 Inclui, designadamente, 106 M€ no âmbito do Programa de apoio a edifícios mais sustentáveis, 48 M€ transferidos pelo
IAPMEI para o setor empresarial, 15 M€ relativos ao programa vale eficiência, 22 M€ para municípios (áreas de acolhimento
empresarial, acessibilidades rodoviárias, ligações transfronteiriças, alojamento de estudantes e outras).
2 Dando origem ao Quadro 3.2 do RCGE e ao Mapa M19 dos elementos informativos da CGE 2022.
3 Em 2022, não foram consolidados pelo menos 347 M€, 239 M€ relativos a rendas pagas pela ocupação de edifícios (ao
Estado, por aplicação do princípio da onerosidade cfr. ponto 2.7, e à Estamo), 61 M€ pagos pela Metro do Porto (MP) à
Nortrem (locação de equipamento ferroviário), bem como pagamentos à AMA (41 M€) e à eSPap (7 M€) por diversas
entidades.
4 À receita de juros registada pelos SFA (233 M€) e pela SS (323 M€) são abatidos os juros de dívida pública direta classificados
pelo IGCP como pagos a estes subsetores (22 M€ e 3 M€, respetivamente, correspondendo aos juros das aplicações
efetuadas em títulos não transacionáveis com titular identificado: CEDIC e CEDIM). O remanescente, no caso dos SFA, é
reclassificado como divergência de consolidação (de notar que a correta classificação dos 199 M€ de juros da dívida pública
recebidos pela CGA aumentou as divergências de consolidação, enquanto em anos anteriores empolava a componente juros)
e, no caso da SS, permanece como receita de juros.
5 Abrange, designadamente obrigações e bilhetes do Tesouro, não sendo possível identificar os juros efetivamente pagos a
entidades do perímetro de consolidação, que figuram na despesa como pagos a sociedades financeiras. Considerando a
materialidade dos valores envolvidos (225 M€ indicados como recebidos pelos SFA e 286 M€ pela SS – valores apurados pelo
TC, não considerando CEDIC e CEDIM), será necessário adotar solução que permita i) assegurar, do lado da receita das
entidades recebedoras, a devida classificação como juros recebidos do Estado; e ii) tomar esse montante como o valor a
consolidar (o que se traduz, na prática, do lado da despesa, em reclassificar como pagos a entidades do perímetro de
consolidação parte dos juros inscritos como pagos a bancos).
38
Sobre esta matéria, em contraditório, a DGO, refere que “…disponibilizou a nota metodológica que utiliza em
diversas publicações, de forma consistente (…), tendo presente que o processo de consolidação tem impacto, não só
nos registos contabilísticos, mas também nas transações que têm de ser identificadas, nos ajustamentos em sistemas
de informação, bem como nos próprios mapas e elementos informativos…” e salienta que a consolidação “…é um
processo exigente que está a ser trabalhado no contexto da reforma da gestão das finanças públicas…”.
A conta consolidada é também afetada por erros e omissões assinalados em diversos pontos do Parecer1.
Destaca-se, pelo seu impacto no saldo, o registo em outras receitas de capital do Estado de 36 M€ recebidos da
ANACOM, relativos a taxas arrecadadas por esta entidade em 2021, no âmbito do leilão do 5G, levando a que a
mesma receita seja contabilizada na conta consolidada de dois anos2. Sendo registada como receita pela
ANACOM no ano em que as verbas são recebidas, a entrega de verbas ao Estado e o recebimento por este
devem ser registados como transferências (permitindo a eliminação destes dois fluxos no processo de
consolidação). Assinala-se ainda o risco de erro continuado pois a ANACOM detém ainda 392 M€ de taxas que
poderão vir a ser entregues ao Estado e aos quais poderão ainda acrescer cerca de 113 M€ (de taxas a
arrecadar). Em contraditório, a ANACOM documentou, por um lado, ter proposto uma redação alternativa para
a portaria que determinou a entrega desta receita ao Estado notando que se “…tivesse sido acolhida a devolução
(…) teria sido eventualmente registada em transferências…” e, por outro, ter cumprido as instruções da DGO na
contabilização que veio a ser efetuada.
De referir ainda que a inadequação do classificador económico, aprovado em 2002, face às modificações do
universo e à evolução da composição dos agregados de receita e despesa3, tem resultado na utilização de
rubricas residuais para valores materialmente relevantes (por não existir rubrica mais adequada, ou por ser
permitido a um conjunto de EPR utilizar um classificador simplificado4), comprometendo a transparência e o
próprio controlo dos valores da CGE. O MF, em contraditório, informa que terá estas questões “…em
39
Sobre as recomendações formuladas no PCGE 2020, no âmbito da especificação das receitas e despesas:
A invasão da Ucrânia pela Rússia veio reforçar a instabilidade do mercado energético, posteriormente agravada
pelos sucessivos pacotes de sanções, e destabilizar cadeias de abastecimento internacionais, designadamente
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
de produtos agrícolas com origem na Ucrânia, fatores que aceleraram o crescimento da inflação durante 2022.
Neste contexto, o OE para 2022, publicado a 27/06, incluiu medidas para conter o aumento dos preços da
energia, apoios à produção e apoios às famílias, para as quais foi estimado um impacto orçamental de
-1 125 M€1. A estas medidas foram acrescidas outras com finalidades idênticas, com um impacto orçamental
total estimado pelo Governo de -5 582 M€, entre perda de receita e aumento de despesa2 (Quadro 12). Esta
perda encontra-se, porém, subestimada em 37 M€, relativos a apoios concedidos pelo Fundo Ambiental3.
Inversamente, não é disponibilizada informação quanto aos fundos comunitários recebidos para financiar estas
despesas, que reduzem o custo orçamental associado. Em contraditório, o MF assinala que esta informação
consta do Quadro 2.4, relativo ao impacto orçamental das principais medidas de política orçamental, em contas
nacionais, considerando o Tribunal que também deveria constar dos quadros relativos ao impacto em
contabilidade pública4.
40
Quadro 12 – Reflexo orçamental das medidas de mitigação do choque geopolítico
(em milhões de euros)
Medidas de mitigação do choque geopolítico AC SS Total
Receita (valores não cobrados) -2 142 -3 -2 145
Redução do ISP equivalente à descida do IVA para 13% -700 -700
Apoio extraordinário às famílias -611 -611
Suspensão da taxa de carbono -409 -409
Devolução da receita adicional de IVA via ISP -382 -382
Redução do IVA da Eletricidade -23 -23
Apoios ao setor agrícola -18 -18
Diferimento do pagamento de contribuições -3 -3
Despesa efetiva 2 128 1 310 3 438
Apoios à atividade produtiva 1 668 0 1 668
Apoio Extraordinário ao gás natural 1 000 1 000
Alocação adicional de verbas no SEN para redução da tarifa 500 500
Apoios às Indústrias de Gás 58 58
Apoios a setores de produção agrícola 49 49
Apoios ao setor dos transportes 48 48
Apoios ao setor das pescas 13 13
Apoios sociais 457 1 310 1 766
Complemento excecional de pensão 339 648 987
Apoios a famílias mais carenciadas 368 368
Apoio extraordinário às famílias 138 138
Apoio extraordinário a Instituições Particulares de Solidariedade Social 134 134
AUTOvoucher 85 85
Apoio aos Refugiados 30 30
Outros apoios 2 21 24
Outros encargos 3 3
Impacto orçamental no saldo (receita – despesa) -4 270 -1 312 -5 582
Fonte: CGE 2022, SIGO, DGO e SS. Cálculos TC.
1 Criado pelo Decreto-Lei 57-C/2022, de 06/09, a ser pago a partir de outubro de 2022 o montante de 125 € a cada cidadão
elegível, independentemente da sua situação familiar, acrescido de 50 € por cada dependente a cargo.
2 Cada receita e cada despesa deve ser suficientemente individualizada no orçamento e, para o seu cumprimento, devem
aquelas ser correta e devidamente classificadas, de acordo com as classificações orçamentais legalmente definidas.
3 Através do DL 78-A/2022, de 15/11 que aditou o n.º 6 ao art. 3.º do DL 57-C/2022, de 06/09.
4 A LEO prevê um conjunto de exceções ao princípio da não compensação, nelas se incluindo a figura do reembolso, que não
pode ser aplicada a esta situação, por estar a ser indevidamente utilizada.
5 Não houve qualquer procedimento prévio por parte do contribuinte de pagamento de imposto de que resultasse um direito
ao reembolso, e, consequentemente, não se traduz numa perda de receita de IRS. Os rendimentos declarados em sede de
IRS apenas serviram para identificar as pessoas elegíveis para a sua atribuição.
41
1.4. Fluxos financeiros com as regiões autónomas e com as autarquias locais
Em 2022 os fluxos financeiros (da AC e SS)1 para as regiões autónomas regressaram ao nível médio dos últimos
5 anos (perto dos 900 M€), embora abaixo do valor de 2021, por ter sido um ano no qual se verificou um maior
volume de transferências de fundos europeus. Os fluxos para as autarquias locais continuaram a sua trajetória
crescente, traduzindo, entre outros aspetos, o reforço de verbas de financiamento do processo de
descentralização de competências (cfr. Gráfico 9).
Regiões
152 138 81 166
Autónomas 90
Autarquias
locais 393 484 185 223 313
-3 196 -3 393
2018 2019 2020 2021 2022 -4 494
-4 918 -5 228
Receita Despesa Saldo
Fonte: CGE 2018 a 2022; SIGO; e informação dos serviços processadores. Cálculos TC.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Os fluxos financeiros com as regiões autónomas estão adequadamente evidenciados na CGE2 e totalizaram
885 M€ (diminuindo 194 M€ face a 2021): 516 M€ (-120 M€) para a Região Autónoma dos Açores - RAA e
369 M€ (-74 M€) para a Região Autónoma da Madeira – RAM (Quadro 13). De notar que estes fluxos não incluem
as despesas pagas diretamente pelo Estado relativas a essas mesmas regiões3, como seja o caso do subsídio
social de mobilidade (cfr. ponto 4.3.2).
1 Consideram-se os fluxos financeiros totais, i.e. incluem-se os da AC e da SS, bem como os orçamentais e os extraorçamentais.
2 Quadro 3.47 – “Fluxos financeiros com a Administração Regional” e Quadro 3.48 – “Fluxos financeiros destinados à
Administração Regional: operações extraorçamentais”.
3 Pagamentos feitos pelo Estado diretamente a terceiros relativos a atividades que decorram nas RA.
42
Quadro 13 – Fluxos financeiros para as regiões autónomas – 2021-2022
(em milhões de euros)
Açores Madeira Total
Entidades Tipologia
2021 2022 2021 2022 2021 2022 Variação
Operações orçamentais AC+SS 378 337 265 260 643 597 -46
Administração central 314 293 237 225 551 518 -33
Gabinete do Representante Repartição de solidariedade e (a)281 (b)217
302 232 534 498 -36
da RAA fundo de coesão
Outras Transferências e subsídios 12 12 5 8 17 19 3
Segurança social 65 44 28 35 92 79 -13
Operações extraorçamentais (AC) 258 179 178 109 436 288 -148
AD&C FEDER, FC, FSE e MRR 254 176 171 102 425 278 -147
Outras Vários fundos europeus 4 3 7 6 11 10 -1
Total 636 516 443 369 1 079 885 -194
(a) 181 M€ de repartição de solidariedade e 100 M€ do fundo de coesão.
(b) 173 M€ de repartição de solidariedade e 43 M€ do fundo de coesão.
Destaca-se ainda que a maioria da despesa orçamental da AC para as RA (83,5%) decorre da aplicação da Lei das
Finanças Regionais e a restante parcela (19 M€) diz respeito a outras transferências e subsídios. Para além disso,
67,5% destes fluxos constituem despesa orçamental (518 M€ da AC e 79 M€ da SS) e 32,5% operações
extraorçamentais (288 M€), que refletem as transferências provenientes dos fundos europeus, sobretudo do
FEDER, FC, Fundo Social Europeu (FSE) e Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR), recebendo os Açores
179 M€ e a Madeira 109 M€.
2018 2019 2020 2021 2022 2018 2019 2020 2021 2022
Por sua vez, os fluxos da administração regional para a AC, em 2022, totalizaram 166 M€ (44 M€ dos Açores e
122 M€ da Madeira), +85 M€ do que em 2021 (+51,1%), e respeitam, essencialmente, a reembolsos de
empréstimos do Estado (105 M€, um acréscimo de 60 M€) e juros (22 M€, mais 21 M€).
43
1.4.2. Fluxos financeiros com as autarquias locais
A CGE apresenta os fluxos financeiros orçamentais com as autarquias locais1, porém, relativamente aos
extraorçamentais2, é omissa quanto aos valores recebidos (11 M€ de devoluções de fundos europeus a título
de reembolso ou regularização), estando os valores pagos sobreavaliados em 6 M€ (relativos a subvenções
reembolsáveis já reportados nas operações orçamentais3).
Em 2022, verificou-se que os fluxos financeiros destinados às autarquias locais aumentaram 400 M€, totalizando
5 541 M€ (5 141 M€ em 2021): 89,0% de despesa orçamental da AC e da SS (transferências, subsídios e
empréstimos) e 11,0% de operações extraorçamentais (cfr. Quadro 14).
44
Dos fluxos para as autarquias locais destacam-se as transferências efetuadas pela DGAL, totalizando 77,3% da
despesa orçamental (3 814 M€)1, que resultam, essencialmente, da aplicação do regime financeiro das
autarquias locais e das entidades intermunicipais2, com a finalidade de promover a repartição dos recursos
públicos entre o Estado e as autarquias locais. Nas formas de participação dos municípios nos impostos do
Estado, merece destaque o montante que a DGAL transfere para os municípios relativamente ao Fundo de
Equilíbrio Financeiro (totalizando 38,7% dos fluxos financeiros para a administração local), uma subvenção geral,
cujo valor corresponde a 19,5% da média aritmética simples da receita proveniente do IRS, Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC) e IVA.
Em 2022, naquele valor incluem-se as transferências do FFD (469 M€) que operou, pela primeira vez, no
segundo semestre do ano, após a entrada em vigor da LOE 2022, concentrando recursos para os municípios
fazerem face a competências específicas (resultantes do processo de descentralização lançado em 20183) e que,
até então, eram distribuídas por vários ministérios. Estas transferências, de certa forma, explicam a redução dos
pagamentos efetuados por outras entidades da AC, como é o caso dos serviços do Ministério da Educação, que
reduziram as suas transferências em 144 M€.
No período 2018-2022, os fluxos financeiros para as autarquias locais (excluindo os empréstimos4) aumentaram
55,6%, com destaque para os fluxos com origem em fundos europeus (que duplicaram) e para os outros fluxos
orçamentais (processados por diversas entidades da AC e SS e que quadruplicaram), conforme evidencia o
gráfico seguinte.
A receita orçamental proveniente da administração local para a AC e SS totalizou 302 M€, mais 79 M€ do que
em 20215. Deste montante, mais de metade sob a forma de transferências (175 M€ e que constituem receita
1 Dos valores processados, a DGAL reteve no final do ano 8,1 M€ por incumprimento da prestação atempada de informação
financeira (1,4 M€, em 2021) e restituiu aos municípios 0,8 M€ de verbas retidas em anos anteriores (por regularização das
situações que deram origem à retenção).
2 Lei 73/2013, de 03/09.
3 Leis 50/2018 e 51/2018, de 16/08.
4 Ascenderam a 139 M€, 120 M€, 76 M€, 166 M€ e 176 M€ entre 2018 e 2022, respetivamente.
5 As receitas extraorçamentais totalizaram 11 M€, relativas a devoluções de fundos europeus.
45
de escolas (85 M€), da ACSS (49 M€) e de empresas de transportes (27 M€1)) e outra parte relativa a reembolsos
de empréstimos concedidos pelo Estado a diversas autarquias locais para reequilíbrio ou ajustamento financeiro
(79 M€, dos quais 54 M€ concedidos pelo Fundo de Apoio Municipal (FAM) e 21 M€ pela DGTF).
O Fundo de Financiamento da Descentralização (FFD) foi introduzido no Regime Financeiro das Autarquias Locais pela
Lei 51/2018, de 16/08, com vista a financiar as competências transferidas da administração central para a administração
local pelo processo estabelecido na Lei 50/2018, de 16/08, e decretos setoriais posteriores.
O OE 2022 foi o primeiro a prevê-lo2, tendo-lhe atribuído uma dotação global até 843 M€ para o período compreendido
entre 01 de abril e 31 de dezembro3. Apesar de o processo de descentralização abranger um conjunto bastante alargado
de áreas temáticas4, a verba em questão foi prevista para os domínios da Educação (730 M€), Saúde (70 M€), Ação
Social (42 M€) e Cultura (1 M€), cabendo aos serviços das áreas governativas descentralizadas assegurar a colocação
das verbas no FFD, e à DGAL a incumbência de assegurar mensalmente a transferência para os municípios.
Em consequência do atraso na aprovação e publicação da LOE 2022, o financiamento das competências transferidas,
com recurso ao FFD, encontrou-se balizado apenas entre julho e dezembro, registando-se uma execução de 469 M€
(55,6%).
Quadro 15 – Descentralização – fluxos financeiros do FFD – 2022
(em euros)
Área Setorial Dotação Pagamentos Totais Execução (%)
Ação Social 42 349 411 6 975 139 16,5
Cultura 890 942 324 699 36,4
Educação 729 564 220 458 912 636 62,9
Saúde 70 461 473 2 786 317 4,0
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Fonte: SIGO.
Os dados da execução do FFD são indicativos da evolução do processo ao longo de 2022, refletindo o estágio mais
avançado na Educação – domínio em que as respetivas competências foram transferidas para todos os municípios a
partir de abril de 2022 – e os atrasos nas restantes áreas: na Ação social, o prazo para aceitação das competências foi
adiado para 3 de abril de 2023; na Cultura e Saúde, o efetivo exercício das competências descentralizadas depende da
celebração de auto de transferência.5
46
Quadro 16 – Aceitação das competências a 31 de dezembro de 2022
31/12/2022 Universo(a)
Cultura 9 19
Saúde 54 201
Muito embora o n.º 8 do artigo 89.º da LOE 2022 tenha fixado o prazo de 30 dias para o efeito, o FFD apenas viria a ser
regulamentado em outubro de 2022 através da publicação do Decreto Regulamentar 5/2022, de 11/10, circunstância
que não impediu que as áreas da Educação, Ação social e Cultura iniciassem, logo a partir de julho, a transferência das
respetivas verbas para este novo instrumento financeiro.
Entre janeiro e junho, os montantes relativos às competências que já estavam a ser exercidas nesse período, foram
objeto de transferências diretas dos respetivos serviços centrais das áreas descentralizadas para os municípios,
totalizando 389 M€.
Figura 5 – Financiamento da descentralização – 2022
01/04/2022 - 31/12/2022
Fundo de Financiamento da Descentralização | Dotação 843 M€
OE2022
Lei-Quadro Financiamento pré FFD
CIDC
CE Execução do FFD
Ação social 2 M€ 7 M€
Cultura 98 m€ 325 m€
Saúde (a) 10 M€ 3 M€
858 M€
(a) A área setorial da Saúde efetuou as transferências para o FFD somente após o mesmo ter sido regulamentado, a partir de outubro de 2022,
circunstância que prolongou o período de transferência direta para os municípios.
Fonte: Dados SIGO e DGAL, complementados com informações recolhidas das áreas setoriais. Elaboração própria.
O esquema reflete o financiamento associado à descentralização, mostrando que, em 2022, o FFD ainda não teve uma
vigência plena.
O valor da execução global do FFD consta da CGE (Quadro 4.6 do Relatório e do Mapa 38)1. Contudo, a divisão desse
valor por área setorial e, dentro de cada, por competência, não é evidenciada de forma clara em qualquer quadro ou
mapa da CGE.
1 Mapa 38 – Desenvolvimento das despesas do subsetor Estado | Encargos Gerais do Estado (CGE, Vol. II, Tomo IV). O FFD é
apenas uma “entidade contabilística” criada no orçamento dos serviços integrados para operacionalizar a inscrição e
processamento das referidas verbas. À semelhança das restantes transferências para a administração local, foi inscrita no
PO01 – Órgãos de Soberania | Encargos Gerais do Estado, sendo todas as despesas do FFD classificadas como 04.05.01 –
Transf. correntes/Administração Local/Continente e maioritariamente financiadas por transferências de entidades da AP.
47
Quanto aos valores da descentralização executados no período anterior à entrada em vigor do OE 2022, importa referir
que não são detalhados ou autonomizados no Relatório da CGE (RCGE). Apesar das observações da DGO em sede de
contraditório quanto à existência de instruções para a orçamentação das transferências, constatou-se que nos mapas
contabilísticos, designadamente no Mapa 38, as áreas Educação e Saúde apresentam os respetivos registos enquadrados
com o contexto da descentralização, embora, quanto a esta última, não exista uma especificação adicional que permita
relacionar as verbas com as competências transferidas e respetivo regime legal. Os valores relativos à área da Ação social
e, em parte, à área da Cultura, não se encontram evidenciados nos respetivos mapas contabilísticos como estando
associados ao processo de descentralização.1
Analisado o relato constante no RCGE e nos mapas de execução orçamental, afigura-se, pois, que o mesmo não
proporciona informação orçamental suficientemente pormenorizada acerca da execução financeira da
descentralização, não sendo as despesas especificadas e agrupadas com um grau de pormenor condizente com um
processo que foi referenciado como a “base da reforma do Estado” 2 e que, por tal, convocaria um especial cuidado no
reporte.
A CGE 2022 não permite, pois, efetuar uma apreciação esclarecedora à dimensão orçamental da descentralização, pelo
que entende o Tribunal de Contas que esta informação, exatamente por estar ligada a uma relevante política pública
que concretiza a transferência de avultados recursos orçamentais do subsetor da administração central para a local,
deverá merecer um tratamento mais detalhado que evidencie os respetivos fluxos financeiros.
Relativamente aos valores executados em 2021, os fluxos financeiros associados à descentralização cresceram 65%,
evolução que sobretudo reflete a concretização, em 2022, da transferência de competências no domínio da Educação
para o universo dos municípios.
Gráfico 12 – Fluxos financeiros da descentralização – 2021-2022
13 9 0,4
(em milhões de euros)
836
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
516
2021 2022
Educação Saúde Ação Social Cultura
Nota: O aumento dos fluxos financeiros registado entre 2021 e 2022 reflete o prosseguimento da
aceitação dos municípios nas áreas identificadas:
Ação social_ 0 municípios com competências aceites em 2021;
Educação_ 161 municípios com competências aceites até final de 2021;
Saúde_ 20 municípios com competências em 2021;
Cultura_ 9 municípios com competências em 2021 (não tendo havido transferências financeiras).
Para 2022, consultar Quadro 16.
Fonte: Dados DGO e DGAL, complementados com informações recolhidas das áreas
setoriais. Elaboração própria.
1 De acordo com a informação prestada pelas respetivas entidades, no caso da Ação social, os valores constam do Mapa 8 –
Mapa relativo à classificação económica das despesas de cada sistema e subsistema e do total do subsetor da Segurança
Social apenas como “Administração local”. Quanto à área da Cultura, os valores transferidos pela Direção Regional de Cultura
do Alentejo, no valor de 18 580,35 € foram registados como transferências correntes com a descrição “Estado” e os da
Direção-Geral do Património Cultural (5 372,50 €) no Mapa 41 – Discriminação das receitas e das despesas do subsetor dos
Serviços e Fundos Autónomos dentro das despesas correntes pagas a “Administração local”.
2 Cfr. Programa do XXI Governo Constitucional, assim como das Grandes Opções do Plano (GOP) de 2016-2019. Nas GOP 2020-
2023, o processo de descentralização de competências é descrito como “um fator estruturante na organização e gestão do
Estado”.
48
2. ADMINISTRAÇÃO CENTRAL
As alterações1 efetuadas aos valores inscritos no OE aprovado2, que decorreram ao longo de 2022, aumentaram
o orçamento da receita e da despesa efetivas em 1 545 M€ e 8 697 M€, respetivamente, agravando o défice
previsto em 7 151 M€ (3 681 M€ em 2021) – Quadro 17.
Note-se que a informação reportada na CGE não tem sido completa nesta matéria, pois não quantifica as
dotações de despesa efetiva reforçadas (ou criadas) com contrapartida em saldos de gerência ou dotações de
1 As previsões de receita e as dotações de despesa inscritas no OE podem ser alteradas pelo Governo, através de: i) saldos de
gerência ou dotações de anos anteriores cuja utilização seja permitida por lei; ii) distribuição da dotação provisional e das
dotações centralizadas no Ministério das Finanças; iii) aumento de receitas efetivas próprias ou consignadas, contabilizadas
como receita do próprio ano; iv) e redistribuição de verbas entre dotações de despesa sob determinadas condições,
designada gestão flexível.
2 Não são consideradas as alterações orçamentais anteriores, efetuadas na vigência do Orçamento Transitório.
49
despesa não efetiva. Em contraditório, o MF e a DGO assinalam que “…os movimentos referidos, de reforços de
dotações de despesa efetiva com contrapartida em saldos de gerência ou dotações de despesa não efetiva, estão
incluídas na informação disponibilizada na CGE, na coluna “Outros” em vários quadros da CGE, concluindo que a
informação “é integral e não omite alterações orçamentais”. Porém, a informação assim apresentada não permite
destacar as alterações orçamentais das despesas que foram autorizadas pelo MF, em particular a abertura de
créditos especiais por contrapartida em receita (incluindo saldos da gerência anterior, que constituem receita
não efetiva, com impacto no défice projetado), uma vez que vêm apresentadas de forma agregada (juntamente
com outras alterações, como as decorrentes da gestão flexível e de modificação de orgânicas, que não têm
impacto no défice).
A dotação provisional de 564 M€, destinada a “despesas imprevisíveis e inadiáveis”, foi integralmente
utilizada, principalmente no reforço das seguintes dotações suborçamentadas:
Classificação
Valor e finalidade do reforço
económica
Despesas com 220 M€ (estabelecimentos de educação e ensino básico e secundário)
pessoal 20 M€ (PSP e GNR)
Aquisição de bens e
22 M€ para aquisição de manuais escolares (IGeFE)
serviços
64 M€ para o subsídio ao aumento da retribuição mínima mensal garantida (IAPMEI e Turismo de Portugal) –
DL 109-B/2021, de 07/12
Transferências 31 M€ para bolsas de formação avançada (Fundação para a Ciência e a Tecnologia)
correntes 31 M€ para bolsas de estudantes do ensino superior (reforço do Fundo de Ação Social)
12 M€ para centros de recolha oficial de animais, esterilização e promoção de bem-estar animal (ICNF)
11 M€ para apoio à produção cinematográfica e captação de filmagens internacionais para Portugal
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Das dotações centralizadas do Ministério das Finanças (1 145 M€), foram utilizados 962 M (+30,6% do
que em 2021), reforçando principalmente os orçamentos dos Ministérios do Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social (480 M€) e da Saúde (414 M€). Da dotação “despesas imprevistas da pandemia”, foram
usados, designadamente, 100 M€ em despesas com pessoal na área da saúde, 216 M€ para suportar o
apoio extraordinário às famílias mais vulneráveis e encargos da pandemia a cargo da SS e 19 M€ para
reforço de passivos financeiros da empresa CP. Da dotação “regularização de passivos e aplicação de
ativos” foram aplicados, designadamente, 303 M€ para as ARS no âmbito da rede nacional de cuidados
continuados e plano nacional de vacinação, 264 M€ para a SS (visando também suportar o apoio
extraordinário às famílias mais vulneráveis e encargos da pandemia) e 36 M€ para a Infraestruturas de
Portugal. A dotação “contrapartida pública nacional global” foi usada para o reforço de despesa em
vários ministérios (13 M€).
50
O recurso a 433 M€ da dotação “regularização de passivos e aplicação de ativos”, inscrita em ativos
financeiros (sem impacto no saldo), para reforço de despesas efetivas (da ARS e da SS), não respeita a
finalidade atribuída à criação desta dotação, que acabou por funcionar como uma extensão da dotação
provisional (reforçando despesa de qualquer natureza), não contribuindo para a adequada especificação
das despesas inscritas no OE. Em contraditório, a DGO refere o enquadramento legal (n.º 10 do artigo
8.º da Lei do OE2022), que autoriza o Governo “…a proceder às alterações orçamentais decorrentes da
afetação da dotação centralizada do Ministério das Finanças, criada principalmente para assegurar a redução
do volume dos passivos financeiros, por parte da administração central…”, o que reforça o facto de ter sido
afeta a uma utilização (despesa efetiva) diferente da prevista (passivos financeiros).
Em contraditório, o MF refere que: “O aumento das dotações provisional e centralizadas em 2021 e 2022 está
intrinsecamente relacionado com a enorme incerteza gerada pela pandemia da Covid-19, com a Guerra da Ucrânia e
consequente aumento do nível de preços. Entende-se que, nestes momentos, devem ser criadas margens de segurança
que permitam que a execução orçamental decorra com a maior estabilidade possível”. A DGO, por sua vez, salienta
que tem procurado inscrever estas dotações na “…classificação o mais apropriada possível em função daquela que
No entanto, a utilização que se verifica, novamente em 2022 e em valores crescentes, para a cobertura de
encargos que deveriam ser conhecidos e devidamente orçamentados, em particular nas referidas áreas da
educação e da saúde, não permite eliminar a crítica do Tribunal quanto ao uso desta dotação para colmatar
insuficiências do processo orçamental ou como meio de contenção da despesa.
As alterações orçamentais incluem ainda autorizações de abertura de créditos especiais, gestão flexível e
reafectação de dotações por modificação de orgânicas, que em 2022 se refletiram: i) na receita, sobretudo no
aumento das previsões de outras receitas correntes (1 159 M€), transferências correntes (156 M€) e de capital
(151 M€); ii) na despesa, aumentaram as dotações de transferências correntes (4 377 M€), aquisição de bens e
serviços (2 313 M€), investimento (580 M€) e despesas com pessoal (459 M€).
1 Apurado pela DGO aplicando a disciplina orçamental prevista na LOE, designadamente o art. 3.º, que remete para o art. 4.º
da LOE 2019.
51
Incidiram especialmente na aquisição de bens e serviços correntes (270 M€) e em outras despesas
correntes (147 M€).
A nível orgânico, recaíram principalmente nos Ministérios do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
(67 M€, 0,3% do seu orçamento), Ambiente e da Ação Climática (60 M€, 1,4% do seu orçamento),
Finanças (59 M€, 0,5% do seu orçamento) e das Infraestruturas e da Habitação (48 M€, 1,2% do seu
orçamento).
2.2. Receita
Em 2022, a receita consolidada da AC totalizou 71 294 M€ e teve origem em receita fiscal (74,2% do total), em
receita corrente não fiscal (23,7%) e em receita de capital (2,2%). Face a 2021, verifica-se um crescimento de
7 450 M€ (11,7%) do total da receita, essencialmente por via do aumento de 6 725 M€ da receita fiscal (cfr.
Gráfico 13).
29 501 M€
(+3 299 M€)
A fiabilidade do reporte da receita apresenta fragilidades, uma vez que não está assegurada a total
correspondência entre a informação registada nos sistemas centrais e a receita arrecadada. Esta situação deriva
de insuficiências na interligação dos sistemas de gestão da receita com os sistemas centrais, de atrasos na
classificação e registo da receita1 e de não haver uma clara identificação de todos os responsáveis pela
contabilização (cfr. Anexo C1), fatores que penalizam o rigor e a tempestividade da informação contabilística,
evidenciando que continua a não ser dado cumprimento integral ao regime de contabilização das receitas do
Estado, em vigor desde há 23 anos. No contexto da implementação da LEO, esta matéria requer especial atenção
para assegurar o funcionamento da ECE e a gestão da tesouraria (art. 55.º da LEO).
Em contraditório, a DGO informa que a partir de 2023 o reporte será melhorado, uma vez que passará a incluir
no Sistema de Gestão de Receitas (SGR) o registo e a entrega ao Estado das receitas das escolas dos ensinos
básico e secundário, bem como informação completa relativamente aos classificadores orçamentais,
1 Verbas depositadas em contas do IGCP que não são imediatamente classificadas e registadas na contabilidade, transitando
como fluxos de tesouraria que só serão contabilisticamente reconhecidos em momento posterior (designadamente em
exercícios económicos futuros).
52
abrangendo a classificação orgânica, a fonte de financiamento, o programa e a medida. O Tribunal irá
acompanhar estes desenvolvimentos, considerando o seu potencial contributo para a maior transparência da
informação relativa à execução orçamental da receita.
O Mapa M17 – Receitas cobradas, por classificação económica, comparadas com o ano económico anterior
(Volume II Tomo I), subvaloriza os valores indicados para 2021 em 1 393 M€, por não incluir a execução
orçamental dos Ministérios da Agricultura, Mar e Coesão Territorial, erro que também afeta a coluna de
“diferença em relação à cobrança de 2021”1. Em contraditório, a DGO remeteu ao Tribunal uma versão corrigida
sem, porém, ter retificado a informação que disponibiliza online.
Em 2022, a receita fiscal da AC (52 884 M€) cresceu 6 725 M€ (14,6%), em particular por via do aumento da
receita dos impostos diretos, em 3 426 M€ (17,2%), mas também dos impostos indiretos, em 3 299 M€ (12,6%),
refletindo a recuperação da atividade económica e o aumento da taxa de inflação2, apesar da adoção de diversas
medidas que geraram a perda de receita fiscal3.
No exame a estes valores, verificou-se a subavaliação da receita em 754 M€, pondo em causa o cumprimento
do princípio da não compensação, por terem sido deduzidos indevidamente à receita fiscal:
611 M€ por indevida contabilização da despesa com a medida de apoio extraordinário às famílias4. O
valor foi registado como reembolsos de IRS, reduzindo a receita deste imposto, quando deveria ter sido
contabilizado como despesa orçamental (medida 103 - Impacto do Choque Geopolítico, cfr. ponto 1.3).
53
24 M€ (23 M€ em 2021) relativos a encargos de liquidação e cobrança da AT, que são calculados em
percentagem dos valores cobrados para terceiros de certos impostos e contribuições1 e deduzidos à
receita fiscal2.
Pese embora exista um quadro legal que permite operacionalizar as deduções acima referidas e respetivos
despachos de autorização, tal como evidenciado em contraditório pelo MF, realça-se o modo como foram
operacionalizadas essas deduções, que conduziram à subavaliação da receita e da despesa e,
consequentemente, ao incumprimento de princípios orçamentais contemplados numa lei de valor reforçado
como é a LEO.
O aumento da receita de IRC (após dois anos de queda4) refletiu, essencialmente, a recuperação da atividade
económica no pós-pandemia, que foi acompanhada de um aumento da concessão de benefícios fiscais em IRC
(266 M€5) e dos reembolsos (221 M€, impulsionados pelo Regime Especial Aplicável aos Ativos por Impostos
Diferidos6), bem como um conjunto de medidas de política orçamental estimados em 15 M€7.
1 Contribuição de Serviço Rodoviário e adicional às taxas de imposto (ISP) 14 M€ (13 M€ em 2021), CESE 3 M€ (4 M€ em 2021),
adicional ao IMI (3 M€ em 2022 e 2021) e outros (3 M€ em 2022 e 2021).
2 Estes montantes constituem receita própria da AT e são inscritos como receita de venda de serviços. Decorrente de
disposições legais que atribuem como receita própria da AT, a retenção de uma determinada percentagem destes impostos
para compensar os encargos de liquidação e cobrança incorridos pela AT. A contabilização da receita em venda de serviços
decorre de orientações transmitidas pela DGO.
3 Reflexo do aumento das Autoliquidações (+1 036 M€), Pagamentos por Conta e Pagamentos Adicionais por Conta
(+1 084 M€ e +163 M€, respetivamente, relativos à atividade de 2022). As retenções na fonte aumentaram 80 M€,
nomeadamente nos rendimentos de capitais (+51 M€).
4 2021 (-120 M€; 2,4%); 2020 (-1 264 M€; 20,0%). Estas variações traduzem o impacto da pandemia nos resultados das
empresas e o efeito das medidas de política fiscal adotadas pelo Governo, designadamente em adiar o cumprimento de
obrigações fiscais (que totalizaram 695 M€ em 2020 e 50 M€ em 2021).
5 Nomeadamente em deduções à coleta no âmbito do RFAI (+63 M€), SIFIDE (+37 M€), CFEI II (+35 M€) e DLRR (+25 M€) –
vide ponto 4.4. Benefícios fiscais.
6 Este regime permitiu o reembolso de 665 M€ de créditos tributários em 2022 (82 m€ em 2021), nomeadamente à Caixa
Geral de Depósitos (421 M€) e NB (239 M€). Excluindo este efeito, os reembolsos de IRC teriam diminuído 444 M€.
7 Eliminação do pagamento especial por conta (10 M€) e desagravamento das tributações autónomas de IRC (5 M€) – vide
RCGE 2022, Quadro 2.3 – Receita: Principais medidas de política orçamental com impacto em 2022.
54
A receita do IRS aumentou 1 253 M€ (8,6%), em reflexo do aumento do emprego e da massa salarial que
geraram o aumento das retenções na fonte (+1 376 M€)1 e das notas de cobrança (+519 M€)2. Os reembolsos
ascenderam a 3 524 M€ (cfr. Anexo C3), com um aumento de 684 M€ que ficou a dever-se, sobretudo, à já
mencionada indevida contabilização como reembolsos de 611 M€ de apoios às famílias. De referir ainda um
conjunto de medidas de política orçamental (Pacote IRS) com impacto na receita deste imposto (estimado em -
191 M€)3.
Os outros impostos diretos mantiveram-se estáveis com um ligeiro aumento em 6 M€, uma vez que se
mantiveram em 2022, as contribuições já existentes, designadamente a contribuição sobre o setor bancário
(204 M€), o adicional de solidariedade sobre o setor bancário (38 M€) e a contribuição extraordinária sobre o
setor energético (110 M€)4, bem como o adicional ao IMI (138 M€).
Considerando a evolução dos últimos 5 anos, verifica-se que o IRC foi fortemente afetado pela pandemia (em
2020 e 2021), recuperando em 2022, enquanto o IRS manteve uma trajetória de crescimento5 (Gráfico 14).
Relativamente aos outros impostos diretos (Gráfico 15), as contribuições6 registaram os maiores valores em
2018 e 2020, pela regularização de dívidas relativas à CESE7, enquanto os outros impostos subiram a partir de
2020 devido à introdução do adicional de solidariedade sobre o setor bancário.
12 904 13 171
234
2018 2019 2020 2021 2022 2018 2019 2020 2021 2022
1 Relativas a rendimentos do ano, destacando-se as retenções do rendimento do trabalho (+1 123 M€), de pensões (+187 M€),
prediais (+37 M€) e de capitais (+33 M€).
2 A nota de cobrança corresponde ao documento de pagamento do IRS anual, respeitando essencialmente ao acerto do valor
do imposto devido pelos rendimentos auferidos em 2021.
3 Nomeadamente as reformas nos escalões de IRS (-145 M€) e o reforço do mínimo de existência (-30 M€).
4 Conforme art. 2.º, 3.º e 6.º da Lei 99/2021, de 31/12, que permitiram a cobrança destas contribuições desde o início de 2022,
uma vez que se têm mantido em vigor através das sucessivas LOE, sendo que a de 2022 só foi aprovada em julho.
5 Em resultado das medidas de apoio ao layoff que limitaram a quebra do emprego e foram objeto de tributação.
6 Incluem a contribuição sobre o setor bancário (CSB) e contribuição extraordinária sobre o setor energético (CESE).
7 123 M€ em 2018 e 66 M€ em 2020.
55
Quadro 19 – Impostos indiretos da AC – 2021-2022 Gráfico 16 – Impostos indiretos da
AC – variação 2021-2022
(em milhões de euros)
Variação total 3 299
Variação Homóloga
Impostos 2021 2022
Valor (%) IVA 3 561
Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) 17 729 21 290 3 561 20,1
O aumento da receita de IVA deve-se à recuperação da atividade económica e ao aumento do consumo privado
(cujo valor aumentou por via do efeito da inflação). Com impacto negativo na receita, assinala-se o aumento
significativo dos reembolsos (1 883 M€), as medidas de mitigação do choque geopolítico (405 M€)1 e, ainda no
âmbito da COVID-19, a prorrogação do pagamento do IVA (508 M€)2.
A quebra do ISP em 618 M€ (-18,4%) deve-se ao conjunto de medidas de impacto geopolítico que foram
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
adotadas para mitigar o aumento dos preços dos combustíveis cujo impacto ascendeu a 1 126 M€3.
O imposto do selo aumentou 116 M€ (6,5%), destacando-se o acréscimo de receita deste imposto na aquisição
de imóveis (+50 M€) e nos seguros (+36 M€). Como política de desincentivo, a LOE 2022 manteve o agravamento
extraordinário do imposto no crédito ao consumo4.
Relativamente ao IT, IABA, ISV e IUC, houve atualização das taxas de imposto em 1% de acordo com a LOE 20225.
O IT e o IABA aumentaram, no seu conjunto, 110 M€, traduzindo também o aumento das introduções ao
consumo e o efeito da inflação nos preços dos produtos6. A receita dos impostos ligados ao setor automóvel
(ISV e IUC) aumentou 64 M€ devido, no ISV (24 M€), ao ligeiro aumento nas vendas do mercado automóvel7 e,
1 Devolução da receita adicional de IVA via ISP (382 M€) e redução do IVA da eletricidade (23 M€).
2 Nos termos do DL 42/2022, de 29/06 e Despacho 10/2022 – XXII, de 07/01 do SEAAF.
3 Redução do ISP equivalente à descida do IVA para 13% (700 M€), suspensão da taxa de carbono (409 M€) e as medidas de
apoio ao setor agrícola (18 M€). Refira-se que, entre outubro de 2021 até final do ano de 2022, as taxas de ISP publicadas
nas respetivas portarias registaram uma quebra na gasolina e gasóleo em 29,2% e 49,9%, respetivamente, apesar do
aumento na introdução ao consumo de 9,9% na gasolina e 4,4% no gasóleo.
4 Nos termos do art. 292.º da LOE 2022, mantém-se o agravamento de 50% das taxas para créditos com prazos maiores ou
menores a 1 ano, maiores ou iguais a 5 anos bem como crédito sobre a forma de conta corrente ou descoberto bancário
(art. 70.º-A do Código de IS).
5 Nos termos do art. 294.º da LOE 2022, para o IT e IABA e arts. 303.º e 304.º para o ISV e IT.
6 Aumentos médios de 18% nos produtos sujeitos ao IABA e 4,3% nos produtos de tabaco.
7 Aumento de 2,8%, tendo sido vendidos mais 5.014 veículos novos.
56
no caso do IUC (40 M€), à diminuição dos reembolsos (-24 M€). Em 2022, manteve-se em vigor o adicional do
IUC, que rendeu 34 M€1 (31 M€ em 2021).
Numa perspetiva plurianual, analisando a evolução de 2018 a 2022, nos principais impostos indiretos
(Gráfico 17), destaca-se uma recuperação significativa do IVA após o período da pandemia, nomeadamente em
2021 e 2022, que reflete também o impacto da inflação. No caso do ISP, a receita tem-se mantido estável,
estando a quebra verificada em 2022 influenciada pelas medidas tomadas no âmbito do choque geopolítico. O
Gráfico 18 demonstra o crescimento assinalável do imposto do selo devido à sua incidência na aquisição onerosa
de imóveis, sobre operações financeiras, sobre o jogo e sobre prémios de seguros4. Os impostos ligados ao setor
automóvel ainda não recuperaram face a 2019, devido ao impacto negativo do ISV. De referir ainda que os
outros impostos revelam uma tendência de crescimento a partir de 2020, em resultado da recuperação do
imposto do jogo e dos jogos sociais do Estado, bem como com a introdução da contribuição extraordinária dos
fornecedores do SNS de dispositivos médicos com efeitos a partir de 20215.
Gráfico 17 – Receita dos principais impostos indiretos – Gráfico 18 – Receita de outros impostos indiretos –
2018-2022 2018-2022
21 290 1 778 1 895
1 685
1 414 1 466
1 427 1 422
1 376
1 217
1 156 1 175 1 043 1 094
2018 2019 2020 2021 2022 2018 2019 2020 2021 2022
IVA ISP IS IT ISV/IUC Outros impostos
Fonte: SGR e SIGO. Cálculos TC. Fonte SGR e SIGO. Cálculos TC.
57
Gráfico 19 – Receitas fiscais consignadas – 2018-2022 Quadro 20 – Proveniência das receitas consignadas
4 388 (em milhões de euros)
2022 Variação
4 198 Receitas consignadas 2021 Peso(a)
Valor Valor (%)
(em milhões de euros)
(%)
IVA 998 1 039 4,9 42 4,2
3 983
ISP 820 819 29,8 -1 -0,2
3 887 Jogos sociais 588 631 97,8 43 7,2
IRS 496 495 3,1 -1 -0,1
3 689 Imp. diretos diversos 476 480 97,8 4 0,8
IRC 343 401 5,6 58 16,9
Imp. indiretos diversos 270 282 50,2 12 4,3
Imposto do jogo 208 242 91,8 34 16,2
2018 2019 2020 2021 2022 Total Geral 4 198 4 388 8,3 191 4,5
(a) Peso do valor consignado no total do imposto. No total geral, o peso incide sobre
Fonte: SGR e SIGO. Cálculos TC. o total da receita fiscal.
Nota: Para uma análise mais detalhada sobre o modo de distribuição das receitas
pelas entidades ver Anexo C4.
Fonte: SGR e SIGO. Cálculos TC.
Do total de receitas fiscais consignadas, 80,1% (3 515 M€) foram cobradas pela AT e 19,9% (873 M€) pela Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e Turismo de Portugal, elencando-se os principais destinatários no gráfico
seguinte.
Gráfico 20 – Destinatários das receitas fiscais consignadas – 2022 e variação face a 2021
Educação, Cultura e Desporto
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Fundo de Resolução
204 M€;+18 M€
Turismo
217 M€;+39 M€
58
Como evidencia o gráfico, verifica-se que 70,8% da receita consignada de impostos1 se destina:
à SS (1 759 M€, 40,1%)2, aumentando face a 2021, nomeadamente, na consignação da receita de IRC
afeta aoF FEFSS (+57 M€) e no IVA Social consignado ao IGFSS (+55 M€);
ao turismo (217 M€, 4,9%), nomeadamente as receitas do Turismo de Portugal (203 M€) que
aumentaram 38 M€ no âmbito do imposto do jogo e imposto do jogo online.
Refira-se que o montante cada vez mais significativo das receitas fiscais consignadas traduz-se na redução do
financiamento de despesas gerais, limitando uma gestão financeira global. O Tribunal tem feito notar em
Pareceres anteriores que as situações de consignação de receitas fiscais para fins específicos não devem ser
sistemáticas ou sem o escrutínio anual, no âmbito da discussão e votação do Orçamento pela Assembleia da
República, uma vez que esta prática não vai ao encontro do princípio da não consignação, previsto na LEO, de
que todas as receitas devem servir para cobrir todas as despesas previstas.
A natureza desta receita é muito diversificada, espelhando as especificidades das entidades que a arrecadam 3,
e inclui desde receita de bilhetes (empresas de transportes ou teatros), de taxas diversas (de registos, para o
exercício de atividades, portagens, licenciamento, propinas e outras), de multas (de trânsito, infrações
tributárias e outras), de contribuições sociais e quotizações a receitas mais transversais, como as provenientes
de transferências. Assim, a evolução destas receitas é explicada por um conjunto diverso de situações, tais como
a recuperação da atividade económica, maior volume de execução das receitas do PRR ou situações pontuais,
com impacto diferenciado na execução de várias entidades e que originaram efeitos conjugados nos vários
agregados de receita (Quadro 21).
1 Em cada ano, podem existir diferenças entre o valor cobrado e o transferido para as entidades beneficiárias, que se justificam
pelo normal desfasamento temporal entre a cobrança e a afetação de verbas às beneficiárias, mas também pelo facto de,
em algumas situações, o valor a transferir não corresponder, nos termos da lei, ao valor cobrado (como sucede com o
adicional ao IMI, uma vez que a parte a transferir para o FEFSS corresponde à cobrança líquida das correspondentes deduções
à coleta a que houver lugar em sede do IRS e do IRC). Em alguns casos, essas diferenças resultam também de dificuldades no
apuramento e no processamento dos montantes a transferir, designadamente pela falta de clareza das normas que
regulamentam a consignação (cfr. ponto 3.4.1 sobre a afetação ao FEFSS de parte da receita do IRC).
2 Corresponde: i) ao IVA Social (970 M€), jogos sociais e imposto do jogo (230 M€), afetos à SS; ii) afetos ao FEFSS: parte da
receita do IRC (394 M€), o adicional ao IMI (127 M€) e o adicional de solidariedade sobre o setor bancário (38 M€).
3 Cfr. Anexo C5.
59
Quadro 21 – Receita não fiscal da AC – 2021-2022
(em milhões de euros)
Execução Variação 2022/2021
Receita
2021 2022 Valor (%)
Receita corrente não fiscal 16 470 16 867 396 2,4
Receita contributiva 4 252 4 147 -105 -2,5
CGA 4 119 4 008 -111 -2,7
Subsistemas de saúde da administração pública 132 139 6 4,8
Taxas, multas e outras penalidades 3 334 3 322 -12 -0,4
Rendimentos da propriedade 990 873 -117 -11,8
Transferências correntes 3 580 3 160 -420 -11,7
Venda de bens e serviços correntes 3 119 3 780 662 21,2
Outras receitas correntes (a) 1 156 1 329 173 15,0
Diferenças de conciliação 40 255 215 538,8
Receitas de Capital 1 214 1 544 329 27,1
Venda de bens de investimento 154 140 -14 -9,3
Transferências de capital 1 021 1 306 285 27,9
Outras receitas de capital 27 98 71 264,8
Diferenças de conciliação 12 0 -12 -
Receita não fiscal 17 685 18 410 725 4,1
(a) Incluem os capítulos: outras receitas correntes, recursos próprios comunitários e reposições não abatidas nos pagamentos.
As vendas de bens e serviços aumentaram 662 M€ (21,2%), totalizando 3 780 M€. Realçam-se as receitas
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
arrecadadas pelo Instituto de Proteção e Assistência na Doença (ADSE), totalizando 752 M€, mais 38 M€
do que em 20211. Por sua vez, o Fundo Ambiental e a AT contribuíram com metade do aumento das
vendas de bens e prestação de serviços.
Quadro 22 – Receita não fiscal – venda de bens e serviços – principais entidades
As transferências correntes (3 160 M€) e de capital (1 306 M€) abrangem, em grande medida, receitas
provenientes da UE e da SS. Nas provenientes da UE, destaca-se o impacto das receitas com origem no
PRR (+599 M€). Verifica-se, no entanto, que as transferências no seu conjunto diminuíram 135 M€
1 Dos quais 35 M€ relativos a contribuições de beneficiários devido ao aumento dos vencimentos e pensões e ao alargamento
do universo de beneficiários da ADSE
60
(-2,9%) devido à redução de outras verbas provenientes da UE (-456 M€), nomeadamente no âmbito da
Assistência à Recuperação para a Coesão e os Territórios da Europa (REACT-EU)1, e da SS (-336 M€)2 (cfr.
Quadro 23).
Quadro 23 – Receita não fiscal – transferências correntes e capital – 2021-2022
As receitas de taxas, multas e outras penalidades totalizam 3 322 M€, com um ligeiro decréscimo de
12 M€ (-0,4%), devido ao efeito base do leilão de 2021 da ANACOM3, sem o qual se verificaria um
acréscimo de 374 M€ (12,8%), refletindo o aumento das receitas da maioria das entidades beneficiárias
de taxas. É o caso do Fundo Ambiental, com um aumento de 41 M€ (totalizando 73 M€), devido à criação
da taxa de carbono sobre as viagens aéreas e marítimas4, e da Autoridade Nacional de Aviação Civil, cujas
receitas aumentaram 42 M€ (perfazendo 67 M€), devido ao aumento do tráfego aéreo decorrente das
medidas de desconfinamento5 (cfr. Quadro 24).
Quadro 24 – Receita não fiscal – taxas, multas e outras penalidades – principais entidades
1 Devido à execução, em 2021, da Direção-Geral da Saúde (226 M€) para a aquisição de medicamentos e doses de vacinas
contra a COVID-19, do IEFP (114 M€) para apoio a políticas de emprego e formação profissional (Programa Ativar.PT) e dos
estabelecimentos de educação e ensino básico e secundário (112 M€) para apoio à consolidação das aprendizagens.
2 Em especial, o IEFP (-313 M€) nomeadamente na medida de Incentivo Extraordinário à Normalização no âmbito de receitas
do FSE para políticas de emprego e formação profissional.
3 Em 2021 foram recebidos 410 M€ face aos 18 M€ recebidos em 2022 do leilão de licenciamento da 5.ª geração de
comunicações móveis, autorizado pela RCM 7-A/2020, de 07/02, que aprova a estratégia e calendarização da distribuição da
quinta geração de comunicações móveis.
4 A LOE 2021 introduziu uma nova de taxa de carbono sobre viagens aéreas e marítimas, que é regulamentada pela Portaria
38/21 de 16/02, onde se cobra uma taxa por passageiros nos navios e sobre os bilhetes do transporte aéreo comercial de
passageiros.
5 Entidades que merecem destaque pela variação, embora não atinjam volume de receita suficiente para figurar no quadro.
61
Relativamente às taxas, é de salientar os montantes significativos que as entidades contabilizam na
rubrica taxas diversas, sem qualquer identificação sobre a natureza das mesmas, uma vez que a
desatualização do classificador da receita não permite a sua adequada especificação, prejudicando a
transparência e a utilidade da informação contabilística. Nesta situação, o Tribunal apurou um conjunto
de 14 entidades cujo montante contabilizado ascendeu a 621 M€ (cfr. Anexo C6).
Os rendimentos da propriedade (873 M€) diminuíram 117 M€ (-11,8%). As receitas de maior peso
continuam a ser os dividendos entregues pelo Banco de Portugal (311 M€ em 2022, face a 336 M€ em
2021) e pela Caixa Geral de Depósitos (299 M€ em 2022, face a 303 M€ em 2021), fatores que
contribuíram para a rubrica dividendos e participações apresentar uma execução ligeiramente mais
baixa (-15 M€). Por outro lado, as variações com maior impacto referem-se a:
-199 M€ de juros de sociedades financeiras, devido à reclassificação dos juros da carteira de títulos
de dívida pública da CGA1 que, corretamente, passou a contabilizá-los como juros pagos pelo Estado
em vez de juros pagos por sociedades financeiras (208 M€ em 2022);
+65 M€ em rendas, em especial as recebidas pela Nortrem – Aluguer de Material Ferroviário, ACE
(61 M€ pagos pela Metro do Porto relativos à aquisição e locação de equipamentos ferroviário).
As outras receitas correntes (1 329 M€) aumentaram 173 M€ (15,0%), devido ao impacto da receita
relativa aos direitos aduaneiros de importações extracomunitárias, que totalizaram 364 M€ (+126 M€),
e +66 M€ de reposições não abatidas nos pagamentos relativas a entrega de saldos dos anos anteriores2.
A receita contributiva relativa às contribuições para a CGA e subsistemas de saúde (4 187 M€) registou
uma diminuição de 105 M€ (-2,5%), designadamente quanto às contribuições das entidades
empregadoras (-72 M€)3 e quotizações dos trabalhadores (-40 M€)4.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
As outras receitas de capital (98 M€) aumentaram 71 M€, influenciadas pela receita proveniente da
Haitong Bank, SA (17 M€)5 e pela transferência de 36 M€ da ANACOM para o Estado6 relativos ao leilão
de licenciamento da 5.ª geração de comunicações móveis7.
A contabilização desta transferência de verbas para o Estado foi efetuada através do registo de um
reembolso no capítulo de ativos financeiros que é uma receita não efetiva e do registo pelo Estado de
uma receita em outras receitas de capital, desequilibrando o saldo e levando a uma sobrevalorização da
receita em 36 M€ em 2022, quando esta mesma verba já tinha sido contabilizada como receita de taxas
da ANACOM em 2021 (cfr. ponto 1.2).
62
2.2.3. Receita por cobrar – dívida em cobrança coerciva
No final de 2022, esta dívida em cobrança coerciva (e que transita para o ano seguinte) totalizou 24 281 M€, na
sua maior parte (74,7%, 18 148 M€) proveniente de dívidas ao Estado referentes a impostos (o equivalente a
34,3% da receita fiscal do ano). Face a 2021, este valor acumulado aumentou 1 020 M€ (4,4%), com origem na
instauração de novos processos (3 140 M€), cujo valor superou os 2 120 M€ relativos à extinção de dívidas por
cobrança, anulação3 e prescrição4 (cfr. Gráfico 21).
7 788 8 693
Incobrável
8 573 8 425
Suspensa
Ativa
6 900 7 164
3 140 2 120
Para esta evolução, contribuíram algumas normas com impacto nos procedimentos de cobrança coerciva de
2022, designadamente:
1 Competindo-lhe desencadear todos os procedimentos, começando pela citação do devedor até, se necessário, à venda de
bens penhoráveis.
2 Decorrido o prazo de pagamento voluntário, é emitida a certidão de dívida pela entidade que gere a cobrança da receita,
essencialmente, a AT, em matéria fiscal. A dívida em cobrança coerciva inclui receitas de natureza diferente, de outras
pessoas coletivas de direito público (um conjunto diversificado de entidades, designadamente regiões autónomas,
municípios, institutos públicos, ordens profissionais (abrangidas pelo n.º 2 do art. 148.º do Código de Procedimento e
Processo Tributário - CPPT) e também das concessionárias (art. 17.º-A da Lei 25/2006, de 30/06).
3 As anulações de dívidas ocorrem, regra geral, em consequência da entrega de declarações fiscais de substituição pelos
contribuintes e da procedência parcial ou total de processos de impugnação judicial e de reclamação graciosa.
4 Em geral, a data de prescrição da dívida ocorre oito anos após o ano em que se produziu o facto gerador da obrigação de
imposto, ressalvadas as causas de suspensão e interrupção do prazo (art. 48.º da Lei Geral Tributária).
63
A criação de um novo regime de pagamento de dívidas de impostos, em prestações, antes da instauração
do processo de execução fiscal (fase pré-executiva)1.
No total desta carteira, a dívida incobrável4 é a mais representativa (35,8%), pese embora em 2022 se tenha
verificado um aumento de 264 M€ da dívida ativa (cobrável em tramitação corrente) e uma diminuição de
148 M€ da dívida suspensa5 (cfr. Quadro 25).
3. Dívida em cobrança coerciva (1+2) 24 939 6 964 3 218 8 617 876 6 727 26 401 1 462 5,9
4. Extinção 1 678 547 505 393 82 593 2 120 442 26,3
Cobrada, da qual: 928 183 319 261 56 264 1 084 156 16,8
Receita do Estado 899 1 071 172 19,1
Anulada, da qual: 740 354 181 106 26 308 974 235 31,7
Receita do Estado 429 676 247 57,4
Prescrita, da qual: 11 10 5 25 1 21 62 51 474,1
Receita do Estado 6 44 37 585,8
(…)
1 Aprovado pelo DL 125/2021, de 30/12, quanto a dívidas de IRS, IRC, IVA, imposto municipal sobre transações e IUC, até 36
prestações, (arts. 1.º a 8.º). Também pode haver lugar à criação automática de planos de pagamento em prestações (36) a
título oficioso, independentemente da apresentação de pedido pelo contribuinte, desde que verificadas certas condições,
designadamente, a dívida encontrar-se numa fase de cobrança voluntária e ter valor igual ou inferior a € 5 000,00 ou
€ 10 000,00, consoante se trate de pessoa singular ou coletiva (arts. 9.º a 12.º).
2 A LOE 2022 (art. 312.º) alterou o art. 227.º do CPPT (formalidades da penhora de abonos, salários ou vencimentos),
estabelecendo que certos rendimentos são impenhoráveis.
3 O DL 125/2021 aprovou: um regime excecional de pagamento em prestações para os processos de execução fiscal
instaurados em 2022, alargando o número (de 36 para 60), independentemente do valor em dívida, e que se pode aplicar
também a devedores com planos prestacionais em curso, desde que o requeiram (arts. 15.º e 196.º, n.º 5 do CPPT); e um
regime de diferimento de obrigações fiscais para o 1.º semestre de 2022, em IRS, IRC e IVA (art. 16.º). Aquele diploma foi
alterado, designadamente, pelos DL 28-A/2022, de 25/03, e DL 42/2022, de 29/06, tendo sido alargado o âmbito de aplicação
do regime de diferimento de obrigações fiscais e prorrogado para o 2.º semestre de 2022 (art. 16.º e aditamento do art.
16.º-A). Segundo a AT, foram elaborados 5 235 planos prestacionais à luz deste regime, correspondendo a 2 795 devedores
aderentes (com um valor pago de 7 M€, face a um valor total em dívida de 50 M€).
4 A dívida incobrável corresponde à declarada em falhas, o que sucede quando se demonstra a falta de bens penhoráveis do
executado, seus sucessores e responsáveis solidários ou subsidiários – art. 272.º do CPPT.
5 A dívida fica suspensa em caso de pagamento em prestações, reclamação ou impugnação judicial – art. 169.º do CPPT.
64
(…)
(em milhões de euros)
Variação
2021 2022
Dívida 2022/2021
Total IRC IRS IVA OIE(a) Outra(b) Total Valor %
5. Dívida a transitar para o ano seguinte (3-4)(d) 23 261 6 416 2 713 8 224 795 6 133 24 281 1 020 4,4
Ativa 6 900 1 775 977 2 141 173 2 097 7 164 264 3,8
Suspensa 8 573 2 858 655 2 722 506 1 683 8 425 -148 -1,7
Incobrável (declarada em falhas) 7 788 1 782 1 080 3 361 115 2 353 8 693 904 11,6
(a) OIE – Outros impostos do Estado.
(b) Outra: outras dívidas, incluindo as cobradas por conta de entidades terceiras.
(c) As regularizações incluem designadamente situações de má cobrança.
(d) A receita arrecadada em execução fiscal reparte-se entre receita do Estado e de outras entidades (por conta das quais a AT cobra dívidas). Este quadro reflete
essa repartição no momento da extinção do processo, pelo que o apuramento da parcela que constitui receita do Estado é apenas efetuado em relação às
cobranças, anulações e prescrições e não em relação ao total da dívida que integra a carteira.
Fonte: AT, SGR e RCGE 2022 (Quadros 3.15 a 3.18). Cálculos TC.
A dívida a transitar para o ano seguinte (24 281 M€) inclui dívidas de IVA (33,9%), de IRC (26,4%), de IRS
(11,2%) e outras dívidas ao Estado e a entidades terceiras (28,5%). Para além de as dívidas em sede de
IVA serem as mais representativas da carteira de dívida a transitar, 40,9% está classificada como
incobrável e 33,1% encontrava-se suspensa. Por sua vez, ao nível da dívida de IRC, 44,5% encontrava-se
suspensa e 27,8% declarada em falhas, resultando numa dívida ativa de apenas 27,7%.
O valor dos processos instaurados aumentou 229 M€ face a 2021 em resultado, sobretudo, do acréscimo
de dívidas de IRC (+231 M€) e de IRS (+62 M€), apesar da redução das dívidas de outros impostos ao
Para o aumento da cobrança coerciva de receita do Estado (+172 M€) contribuiu, em particular, o
acréscimo dos pagamentos de dívidas de IRS (+ 56 M€) e de IRC (+33 M€).
A par da cobrança, as anulações têm também um impacto significativo na redução da dívida. Em 2022,
foram anuladas dívidas no montante de 974 M€ (+31,7% do que em 2021), dos quais 676 M€ referentes
a receita do Estado. Note-se que as anulações de dívidas de IVA registaram uma diminuição de 15,1%
(-19 M€) face a 2021, enquanto as de IRS e de IRC aumentaram 79,4% e 71,8%, respetivamente.
Os valores prescritos (62 M€) aumentaram 474,1% (+ 51 M€), sendo as dívidas de IVA responsáveis pelo
maior aumento (+22 M€), em consequência do efeito base de 2021 por a ação executiva ter estado
temporariamente suspensa no âmbito das medidas COVID-19.
Ainda no âmbito do regime excecional de regularização de dívidas de natureza fiscal e de dívidas de natureza
contributiva à SS (PERES – Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado)1, foram cobrados 15 M€.
Porém, e tal como o Tribunal tem alertado, relativamente a programas especiais de regularização de dívidas
(como o PERES, mas também como o Regime excecional de regularização de dívidas – RERD2 em 2013), as dívidas
pagas podem vir a ser anuladas, principalmente por decisões judiciais, daí resultando a restituição dos
1 Aprovado pelo DL 67/2016, de 03/11. Os pagamentos ao abrigo desse regime tiveram maior impacto em 2016 (pagamentos
integrais e em prestações), reduzindo-se nos anos seguintes (apenas pagamentos em prestações): 443 M€ em 2016, 116 M€
em 2017, 57 M€ em 2018, 76 M€ em 2019, 26 M€ em 2020 e 18 M€ em 2021.
2 Criado pelo DL 151-A/2013, de 31/10.
65
montantes pagos pelos contribuintes. Em 2022, foram restituídos 16 M€ relativos ao PERES1 e 16 M€ relativos
ao RERD2 pelo que, até ao final de 2022, já foram restituídos 191 M€ dos montantes cobrados no âmbito destes
regimes.
Dívida incobrável
No final de 2022, a dívida classificada como incobrável ascendia a 8 693 M€, resultante da tramitação de
7 271 745 processos de execução fiscal, referentes a dívidas desde 1974 (cfr. Figura 6).
3
(a) Da dívida inicial 43 M€ não tem identificado o contribuinte devedor, sendo registada pelo serviço de finanças em “verbetes” .
(b) Dos quais 8 693 M€ de dívida, 4 123 M€ de juros de mora e 370 M€ de custas.
Fonte: Base de dados dos processos de execução fiscal declarados em falhas disponibilizada pela AT. Cálculos TC.
Este valor tem vindo a aumentar, tendo mais do que duplicado face ao valor de 2016 (+170,5%), constituindo
um fator de risco acrescido para a sustentabilidade das finanças públicas (cfr. Gráfico 22).
8 563
8 693
(em milhões de euros)
8 425
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
6 914
7 164
3 213
São vários os fatores que têm contribuído para o aumento da dívida incobrável, como sejam as crises financeiras,
a situação de pandemia de COVID-19 e a crise energética recente. A estes, acresce o impacto da alteração da
jurisprudência quanto ao efeito duradouro da interrupção da prescrição4, que tem conduzido a um aumento
muito significativo do número de processos declarados em falhas e a uma redução das prescrições (que
passaram de 236 M€, em 2019, para 41 M€, em 2020, e 11 M€, em 2021 (quebra de 73,5%). Em 2022, no
entanto, o valor subiu para 62 M€ (+474,1%).
1 Até ao final de 2021 já tinham sido restituídos 57 M€, totalizando assim 73 M€.
2 Até ao final de 2021 já tinham sido restituídos 102 M€, totalizando assim 118 M€.
3 Os verbetes são um código de identificação da propriedade para efeitos de registo na AT, anterior à existência do número
de contribuinte (NIF), subsistindo situações que não têm NIF associado. Nestes casos, como não é possível citar o devedor,
o processo de execução fiscal é imediatamente declarado em falhas.
4 Cfr. PCGE 2019 (ponto 3.2.2.3).
66
Sobre os processos declarados em falhas, verifica-se que são os contribuintes coletivos os que concentram a
maior fatia do valor em dívida (73,5%), sendo os contribuintes com atividade cessada em IVA responsáveis por
65,5% deste valor, o que dificulta a respetiva cobrança. Em termos de número de processos, mais de metade
(57,1%) pertence a contribuintes singulares (cfr. Quadro 26).
A emissão destas dívidas é efetuada por 735 entidades, a maioria serviços da AT (75,6% dos processos), mas
também pelas concessionárias de infraestruturas rodoviárias (22,7% dos processos) (cfr. Quadro 27).
Acresce que, apesar da maioria dos processos ter sido instaurada após 2015 (63,1%), a maior parte do valor em
dívida em 31/12/2022 corresponde a processos instaurados antes de 2015 (58,1%), o que traduz a dificuldade
na sua cobrança (cfr. Quadro 28).
67
Quadro 28 – Processos declarados em falhas – dívida por ano de instauração
(em número de processos e em milhões de euros)
Valor em dívida em
Processo de execução fiscal Dívida inicial
Ano de instauração 31/12/2022
Quantidade % Valor % Valor %
Até 1999 9 110 0,1 353 3,8 284 3,3
2000-2004 26 398 0,4 531 5,7 417 4,8
2005-2009 230 901 3,2 1 808 19,2 1 563 18,0
2010-2014 2 414 333 33,2 2 967 31,6 2 784 32,0
2015-2019 3 600 480 49,5 2 790 29,7 2 714 31,2
2020 360 632 5,0 312 3,3 307 3,5
2021 403 523 5,5 396 4,2 391 4,5
2022 226 368 3,1 235 2,5 234 2,7
Total 7 271 745 100,0 9 391 100,0 8 693 100,0
Fonte: Base de dados dos processos de execução fiscal declarados em falhas disponibilizada pela AT. Cálculos TC.
em 2021, aumentando o valor arrecadado em 99,4% e originando 177 M€ de receita. Por sua vez, as vendas de
ativos penhorados geraram depósitos de 17 M€, mais 76,9% do que em 2021 (associadas a 1 766 vendas).
Porém, à semelhança dos anos anteriores, apenas 6,2 M€ (36,3%) foram imputados a processos de execução
fiscal.
Das 408 graduações de créditos concluídas em 2022 (face a 385, em 2021), no valor total de 27 M€, apenas
1,7 M€ (6,2%) foram aplicados na redução da dívida em cobrança coerciva, verificando-se assim uma menor
eficácia da penhora e venda dos imóveis, por se encontrar dependente de graduação de créditos com outros
credores (normalmente instituições financeiras que, quando detêm garantias reais, têm prioridade sobre o
produto da venda4).
68
2.3. Despesa
Em 2022, a despesa orçamental totalizou 78 916 M€, mais 4 449 M€ (6,0%) do que em 2021 em reflexo,
fundamentalmente, das despesas para mitigar os efeitos do choque geopolítico (2 128 M€) e dos aumentos
verificados na aquisição de bens e serviços na área da saúde (+867 M€) e nas transferências para a administração
local (+500 M€) (cfr. Quadro 29 e Gráfico 23).
As despesas correntes, que cobrem 92,5% do total da despesa, cresceram 4 055 M€ (5,9%), destacando-se:
As transferências correntes (33 215 M€) representam quase metade do total da despesa efetiva (42,1%)
e aumentaram 3 041 M€ (10,1%). Este acréscimo reflete a despesa com medidas de resposta ao choque
geopolítico associado à guerra na Ucrânia, designadamente em apoios para redução das tarifas do gás
(1 000 M€)1 e da eletricidade (500 M€)2 (ambas executadas pelo Fundo Ambiental) e com o
complemento excecional a pensionistas para compensação do aumento conjuntural de preços
(339 M€)3 (executado pela CGA). Para o aumento da despesa contribuíram, ainda, as transferências para
a administração local (+500 M€), designadamente as realizadas para os municípios no âmbito do
1 O DL 84-D/2022, de 09/12 determinou a criação do regime transitório de estabilização de preço do gás natural por pessoas
coletivas com consumos anuais superiores a 10 000 m3, limitado à dotação total de 1 000 M€ (n.º 6 do art. 3.º).
2 Resulta do Despacho conjunto do Ministro das Finanças e do Ministro do Ambiente e da Ação Climática, de 09/12/2022.
3 Art. 4.º do DL 57-C/2022, de 06/09.
69
processo de descentralização de competências1 e os encargos com pensões e abonos pagos pela CGA às
famílias (+176 M€2).
Acresce que a despesa com transferências correntes encontra-se subavaliada, por não incluir 611 M€
relativos ao apoio extraordinário a titulares de rendimentos e prestações sociais3, processado por abate
à receita fiscal, quando se trata de transferências para apoiar o rendimento disponível das famílias (cfr.
ponto 1.3).
As despesas com pessoal (19 017 M€), que representam 24,1% do total, aumentaram 303 M€ (1,6%)4
devido, sobretudo, aos acréscimos da despesa dos seguintes Ministérios:
da Saúde (+180 M€), com a entrada do Hospital de Vila Franca de Xira no perímetro, devido ao fim
da PPP (+49 M€), com a contratação de novos profissionais de saúde5 e com pagamentos de
valorizações remuneratórias6;
da Administração Interna (+131 M€), com o ingresso de novos efetivos7 e com encargos decorrentes
da atualização dos montantes da componente fixa do suplemento por serviço e risco nas forças de
segurança, auferido pelos militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) e pelo pessoal policial da
Polícia de Segurança Pública (PSP)8.
As despesas com aquisições de bens e serviços (12 461 M€), com um peso de 15,8%, aumentaram
1 088 M€ (9,6%), devido à evolução dos encargos do Ministério da Saúde (+867 M€), sobretudo por via
da comparticipação de medicamentos (de cedência hospitalar e vendidos em farmácias privadas),
compra de vacinas e meios complementares de diagnóstico e terapêutica e dos Ministérios das
Infraestruturas e Transportes (+129 M€) e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (+77 M€).
Os juros e outros encargos (6 398 M€) diminuíram 398 M€ (-5,9%), refletindo o decréscimo dos juros e
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
outros encargos da dívida pública direta (-272 M€) e, de forma menos significativa, a redução dos juros
pagos pela ML (-66 M€) e pela Parpública – Participações Públicas, SGPS, SA (-23 M€)9.
Os subsídios (883 M€), com um peso de 1,1%, diminuíram 228 M€ (-20,5%), em resultado do decréscimo
dos apoios concedidos pelo IEFP (-291 M€), com destaque para as medidas de resposta aos efeitos da
70
pandemia de COVID-191. Em sentido contrário, relevam o acréscimo da despesa do programa
“AUTOvoucher”2 (+104 M€) e os apoios concedidos pelo IFAP aos setores de produção agrícola (24 M€)3.
As outras despesas correntes (968 M€) registaram um aumento de 51,7% (+ 330 M€), explicado pelos
acréscimos da despesa: i) da Agência para o Desenvolvimento e Coesão (+166 M€) e do IFAP (+82 M€)
em pagamentos de correções financeiras aplicadas pela Comissão Europeia; ii) dos Estabelecimentos de
Educação e Ensinos Básico e Secundário em despesas de funcionamento (+32 M€); e iii) da
Infraestruturas de Portugal em pagamentos de IRC (+22 M€).
Por sua vez, as despesas de capital, que representam 7,5% do total da despesa, aumentaram 394 M€ (7,1%).
Neste âmbito verifica-se que:
1 Designadamente os apoios concedidos pelo IEFP às empresas para apoio aos custos com trabalhadores, no âmbito das
medidas “incentivo extraordinário à normalização” e “novo incentivo à normalização da atividade empresarial” (-291 M€).
2 Subsídio financeiro, de natureza transitória e excecional, que visou mitigar os impactos resultantes do contexto
extraordinário de aumento do preço dos combustíveis (DL 92-A/2021, de 08/11, reforçado pelo DL 24-A/2022, de 11/03 e
Despacho 3560/2022 do SEAAF, de 25/03). Em 2022 a despesa executada no âmbito do programa “AUTOvoucher” totalizou
115 M€ (85 M€ enquadrados nas medidas de resposta aos efeitos do choque geopolítico e 30 M€ nas medidas associadas à
pandemia de COVID-19).
3 Subvenção financeira disponibilizada pela CE aos Estados-Membros que teve por finalidade mitigar os efeitos do aumento
dos preços da energia e dos fertilizantes nos setores de produção agrícola, decorrentes do choque geopolítico associado à
Guerra na Ucrânia (Regulamento Delegado (UE) 2022/467, da CE, de 23/03 e Portaria 180/2022, de 14/07).
71
As transferências de capital (1 639 M€) registaram um decréscimo de 261 M€ (-13,7%) devido: i) ao
efeito base da transferência realizada em 2021 pelo FdR para o Novo Banco (NB), no âmbito do acordo
de capitalização contingente (429 M€); ii) à reclassificação das transferências para redução da dívida
tarifária do sistema para despesa corrente1; e iii) à diminuição das transferências para os municípios, ao
abrigo da Lei das Finanças Locais (-120 M€), atenuado pelas transferências do IAPMEI, relativas à
conversão em valor não reembolsável, de financiamentos concedidos às empresas ao abrigo das Linhas
de Apoio à Economia COVID-19 (239 M€)2.
As outras despesas de capital (330 M€) aumentaram 180 M€ (120,1%) devido, fundamentalmente, ao
acréscimo da despesa da Agência para o Desenvolvimento e Coesão, decorrente do pagamento de
apoios3 no âmbito do Sistema de Incentivos às Empresas Portugal 2020.
A despesa não efetiva (ativos e passivos financeiros) é analisada nos pontos 2.6 e 2.5, respetivamente, para os
quais se remete.
Na despesa da AC por programa orçamental (PO)4, 28,4% do total concentra-se no PO Trabalho, solidariedade
e segurança social (22 712 M€), 17,4% no PO da Saúde (13 956 M€) e 9,0% no PO Ensino básico e secundário e
administração escolar (7 218 M€). Em conjunto, estes três PO abrangem 54,8% do total da despesa da AC
(cfr. Gráfico 25 e Anexo C7).
Trabalho, Saúde Ensino Gestão da Orgãos de Finanças Ambiente Infraest. e Ciência, Defesa Segurança Outros Despesa
solidar. e básico e dívida soberania e ação habitação tec. e ens. Interna programas Total
seg. social sec. e pública climática superior
adm.
escolar
Fonte: SIGO e DGO (ficheiros da consolidação). Cálculos TC.
1 Ascendia a 134 M€ em 2021, processada pelo Fundo para a Sustentabilidade Sistémica do Setor Energético (fundido no
Fundo Ambiental, pelo DL 114/2021, de 15/12) e a 130 M€ em 2022.
2 Linhas de Apoio à Economia COVID-19: i) Empresas Exportadoras da Indústria e do Turismo ii) Empresas de Montagem de
Eventos; e iii) Médias e Grandes Empresas do setor do Turismo, cujas condições de acesso previam que parte do empréstimo
concedido pudesse ser convertido em subvenção não reembolsável, tendo como limite 20% do valor do financiamento,
desde que cumpridas as condições de conversão fixadas para cada linha de crédito.
3 Em 2022 foram pagos com verbas provenientes do recebimento de reembolsos efetuados por beneficiários de apoios
europeus (207 M€) e com origem no reforço do orçamento da Agência para o Desenvolvimento e Coesão (107 M€).
4 Os PO correspondem à orgânica ministerial, com exceção do PO Gestão da dívida pública (que, juntamente com o PO
Finanças, integra a despesa do Ministério das Finanças) e do PO Governação (que abrange a despesa da Presidência do
Conselho de Ministros e do Ministério da Coesão Territorial). O PO Órgãos de soberania comporta a despesa dos Encargos
Gerais do Estado.
72
Estas despesas traduzem genericamente uma distribuição orgânica e não refletem a alocação de recursos por
políticas publicas, tal como se evidencia:
O PO Trabalho, solidariedade e segurança social (22 712 M€) inclui, essencialmente, as transferências
para a SS (10 736 M€), as transferências da CGA para pagamento de pensões e outras prestações sociais
às famílias (10 577 M€) e os subsídios pagos pelo IEFP (521 M€).
As transferências para a SS destinam-se, designadamente, ao pagamento das pensões do regime não
contributivo, bem como à concretização pela SS de medidas que cabe ao Estado suportar como o
aumento extraordinário de pensões, a aplicação de políticas de isenção/redução de taxas contributiva
ou as de mitigação do impacto do choque geopolítico.
O PO Saúde (13 956 M€) inclui as aquisições de bens e serviços (8 141 M€), que representam mais de
metade do total desta despesa e destina-se, sobretudo, à comparticipação de medicamentos, compra
de vacinas e despesas com pessoal (5 372 M€).
O PO Ensino básico e secundário e administração escolar (7 218 M€) inclui as despesas dos
estabelecimentos de ensino básico e secundário públicos com pessoal docente e não docente
(5 096 M€) e as transferências correntes (857 M€), designadamente as realizadas no âmbito do processo
de descentralização de competências no domínio da educação.
O PO Gestão da dívida pública (6 100 M€) inclui a despesa com juros da dívida pública (6 028 M€).
O PO Órgãos de soberania (4 685 M€) inclui as transferências (correntes e de capital) para os municípios
(3 034 M€) executadas ao abrigo da Lei das Finanças Locais.
O PO Finanças (4 564 M€) inclui as transferências de Portugal para o orçamento da UE (2 547 M€) e,
O PO Ambiente e ação climática (3 610 M€) inclui as transferências correntes executadas pelo Fundo
Ambiental (2 564 M€), das quais 58,5% visaram mitigar os efeitos do choque geopolítico associado à
guerra na Ucrânia, designadamente em apoios para redução das tarifas do gás e da eletricidade (cfr.
ponto 4.3.2).
O PO Infraestruturas e habitação (3 334 M€) inclui a despesa suportada pela Infraestruturas de Portugal
com concessões rodoviárias (1 476 M€) e com a construção e requalificação de infraestruturas
ferroviárias (796 M€).
O RCGE apresenta um ponto sobre políticas setoriais e recursos financeiros1, que abrange uma síntese de cada
PO. Como elementos comuns, todos os PO apresentam quadros com a despesa orçamental por classificação
económica e por medida e salientam as despesas mais significativas. Dos 17 PO, 162 incluem alguma informação
sobre resultados obtidos, verificando-se uma maior sistematização e alinhamento entre objetivos de política,
1 Ponto 4.
2 A exceção é o PO Órgãos de soberania.
73
definição de indicadores e apresentação de resultados em três1, porém não incluindo a ligação à componente
custos, que depende, em grande medida, do desenvolvimento da orçamentação por programas2.
Os pagamentos em atraso da AC3, no final de 2022, totalizaram 72 M€, menos 79 M€ (52,3%) face a 2021. O
resultado obtido deve-se, sobretudo, à diminuição dos pagamentos em atraso dos estabelecimentos de saúde
EPE (-90 M€).
Não obstante, à semelhança de anos anteriores, os pagamentos em atraso mantiveram-se em valores elevados
durante todo o ano, atingindo os 991 M€ em novembro. Somente em dezembro se verifica uma quebra
acentuada, diminuindo de 991 M€ para 72 M€ (cfr. Gráfico 26).
810
(em milhões de euros)
760 736
681
615
536
448
359
300
257
72
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Fonte: SEO, CGE 2022 e DGO (ficheiro da dívida do SNS). Cálculos TC.
Para a redução que se tem verificado desde 2018 (cfr. Gráfico 27) tem sido relevante o contributo das dotações
de capital dos estabelecimentos de saúde EPE, habitualmente efetuadas perto do final de cada exercício
económico, destinadas quase em exclusivo à regularização de dívidas vencidas, aspeto que a DGO também
salienta em sede de contraditório. Porém, conforme também evidencia o gráfico, a partir de 2021, a relação
com os fornecedores tem vindo a deteriorar-se, constatando-se um aumento da média mensal dos pagamentos
em atraso, que em 2022 se situou nos 547 M€.
74
Gráfico 27 – Pagamentos em atraso – 2015-2022
675
623
566 872 547
489
583
483 338
516 313
201 151
72
De facto, nos últimos dois anos, as dotações de capital dos estabelecimentos de saúde EPE para regularização
de dívidas vencidas (2 104 M€), têm sido incapazes de contribuir significativamente para a redução estrutural
da dívida vencida a fornecedores externos dessas entidades que, no final de 2022, totalizou 507 M€, e desses,
18 M€ (3,5%) constituem pagamentos em atraso (cfr. Gráfico 28).
Gráfico 28 – Dotações de capital para regularização de dívidas vencidas e dívida vencida dos
estabelecimentos de saúde EPE – final do ano 2021-2022
1 064 1 040
(em milhões de euros)
107 18
2021 2022
Dotações de capital para regularização de dívidas vencidas Dívida vencida Pagamentos em atraso
Fonte: CGE 2022 e DGO (ficheiro da dívida do SNS). Cálculos TC.
Em sede de contraditório, o MF informa que “…grande parte da disponibilidade orçamental gerada nos últimos
anos tem sido alocada ao setor da Saúde (…) cujas transferências aumentaram 45% entre 2015 e 2022”. Não
obstante, a manutenção dos pagamentos em atraso em valores elevados durante 11 meses do ano económico
coloca em evidência a suborçamentação do Programa Saúde que se traduz na insuficiência de dotações
orçamentais dos estabelecimentos de saúde EPE para fazer face ao pagamento da totalidade dos encargos
vencidos colmatada no final do ano com reforços de capital para cobertura de prejuízos que, apesar de
contribuírem para reduzir os pagamentos em atraso, são insuficientes para liquidar a totalidade da dívida
vencida no próprio ano.
75
O Governo deve assegurar a realização dos pagamentos nos prazos legais ou contratualmente definidos, uma
vez que, para além do impacto social e económico, o atraso nos pagamentos prejudica as condições negociais
com os fornecedores e sujeita o Estado a juros de mora1.
Para além das despesas e receitas denominadas de efetivas2, existem: i) as não efetivas (relativas a ativos e
passivos financeiros e saldos de gerência); ii) as relativas a operações extraorçamentais; e iii) as excluídas no
processo de consolidação3 (por se tratar de operações entre entidades da AC).
Os saldos de gerência abrangem as verbas não utilizadas no ano anterior, relativas a receitas próprias, gerais
(provenientes do OE), do crédito externo e de fundos europeus, autorizadas a transitar em saldo nos termos do
DLEO4 e inscritas em receita de SFA. Assinala-se o elevado montante destes saldos que, para a aplicação em
despesa, exigem a autorização do MF (ou do membro do Governo responsável pela área setorial).
1 Nos termos do DL 62/2013, de 10/05 (que transpôs para a legislação portuguesa a Diretiva 2011/7/UE do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 16/02, a qual estabelece medidas contra os atrasos no pagamento de transações comerciais) os
prazos de pagamento das entidades públicas que prestem cuidados de saúde que excedam os 60 dias, encontram-se sujeitos
a juros legais de mora, calculados em 2022 de acordo com os Avisos 1535/2022 e 13997/2022, publicados no Diário da
República, 2.ª série, em 25/01 e 14/07, respetivamente.
2 Examinadas nos pontos anteriores (2.2 e 2.3).
3 Cfr. ponto 1.2.
4 Cfr. arts. 18.º a 20.º do DL 53/2022, de 12/08 (DLEO 2022).
76
Operações extraorçamentais
As operações extraorçamentais englobam as operações que têm expressão na tesouraria (entradas ou saídas
de fundos) mas não se refletem na receita ou na despesa orçamental e incluem: i) devolução de pagamentos
orçamentais realizados em 20221, por terem sido indevidos ou efetuados em excesso (as denominadas
reposições abatidas nos pagamentos); ii) o registo nos sistemas centrais da AT de impostos cobrados para os
municípios e regiões autónomas; iii) os valores processados pelas entidades pagadoras de fundos europeus
quando funcionam como intermediárias, de forma a registar os fluxos financeiros sem empolar a receita e
despesa orçamental2; iv) verbas do PRR3, v) outras verbas incluindo, essencialmente, a retenção de receitas do
Estado (impostos e contribuições que devam ser entregues nos cofres públicos4) e outras operações de
tesouraria (retenções de fundos alheios, a entregar às entidades a que respeitam)5 e, do lado da despesa, a
correspondente entrega (ao Estado ou a terceiros).
No exame efetuado em sede deste Parecer verifica-se que os valores inscritos na receita (21 802 M€) excedem,
em cerca de 9 366 M€, os registados na despesa (12 435 M€) (cfr. Quadro 31).
Este excesso da receita em relação à despesa não traduz a realidade da tesouraria e encontra-se
sobrevalorizado, uma vez que subsiste a ausência de procedimentos que permitam colmatar esta situação e que
derivam fundamentalmente das seguintes situações:
1 Ou contabilizados como tal, caso das verbas de “saldos do Cap. 60 do OE 2022” não utilizadas até 15/02/2023 (art. 138.º da
LOE 2022).
2 Cfr. ponto 86.4 da Circular 1404, de 02/08/2021, da DGO (preparação do OE 2022): quando funcionam apenas como
intermediários efetuam o registo em receita/despesa extraorçamental. Porém, se estiver em causa a execução de políticas
nacionais cofinanciadas por fundos europeus, a receita e despesa são registadas como orçamentais.
3 Na receita corresponde às transferências orçamentais recebidas da UE que excederem a despesa orçamental de 2022 e, na
despesa às verbas do PRR que, não tendo sido utilizadas em 2021, foram sendo relevadas em receita orçamental durante o
ano de 2022, à medida que foi sendo necessária a sua aplicação em despesa.
4 O art. 156.º do DLEO 2018 que alterou o classificador (aprovado pelo DL 26/2002, de 14/02), prevê especificamente que a
cobrança e entrega de receita do Estado pelas entidades que atuam como seus agentes (caso da AT) seja contabilizada em
receita e despesa extraorçamental.
5 Designadamente descontos em vencimentos que não sejam receitas do Estado, cauções e garantias de fornecedores –
Circular 1/2018/DGO, de 15/01, capítulo VI (Processo de contabilização da receita extraorçamental).
77
Nas reposições abatidas nos pagamentos (RAP), o procedimento instituído determina que sejam
contabilizadas como receita extraorçamental dos SI e, simultaneamente, do lado da despesa, abatidas à
despesa paga (orçamental), libertando o valor correspondente de dotação orçamental. Este
procedimento duplica os registos contabilísticos face ao movimento de tesouraria.
Em 2022, 95,4% das RAP (1 820 M€) foram efetuadas no âmbito dos Encargos da Dívida e referem-se à
devolução de montantes de despesa orçamental processados pelo IGCP e não utilizados1. O seu
montante elevado implica que a informação sobre a despesa orçamental anterior a essa reposição esteja
significativamente sobreavaliada.
Em sede de contraditório, o MF refere que “No âmbito do processo da reforma subjacente à LEO, a orçamentação
e a contabilização dos fluxos da receita é matéria de objeto de análise e de estudo, sendo esperado melhorias na
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
relevação da receita”.
Note-se que o SNC-AP e as subsequentes alterações ao classificador económico das receitas e despesas,
introduzidas pelo DLEO 2018, vieram alterar as regras para a contabilização das operações extraorçamentais.
Este é o caso dos descontos sobre vencimentos, anteriormente registados como receita extraorçamental e
entregues como despesa extraorçamental6 aquando do seu pagamento e que, pelas novas regras, são
classificados como despesa orçamental no momento da sua entrega7. No entanto, a nova regra, em 2018, era
apenas vinculativa “para as entidades que apliquem plenamente o SNC-AP” e, entre 2019 e 2022, não era aplicável
1 O IGCP efetua pedidos de libertação de créditos, com base na previsão mensal de pagamentos dos encargos da dívida e
procede à devolução da parte não utilizada sob a forma de RAP.
2 No caso do Estado, a entidade que arrecada a receita (AT) não é a entidade responsável pela sua posterior distribuição, não
estando formalmente designada a entidade que deve autorizar a despesa extraorçamental e assegurar o respetivo registo
contabilístico.
3 Designadamente, nas contas de gerência remetidas ao TC constam por exemplo na receita e despesa de operações de
tesouraria, mas não no SGR e SIGO, a ADSE (R: 923 M€; D: 1 003 M€) e Agência Portuguesa do Ambiente (R:71 M€; D: 70 M€).
4 Na receita e na despesa verificam-se diferenças nos seguintes casos: Instituto dos Registos e do Notariado (R: 1 342 M€; D:
1 291 M€) a GNR (R: 909 M€; D: 920 M€), a PSP (R: 409 M€; D: 415 M€) a Força Aérea (R: 479 M€; D: 506 M€) e o Exército
(R: 188 M€; D: 196 M€).
5 Caso do Metro do Porto (84 M€) e IEFP (23 M€). De notar que estas operações estão regularizadas nas contas prestadas ao
Tribunal pelas entidades, com data de entrada de 06/07/2023 e 30/06/2023, respetivamente, concluindo-se que não foram
efetuadas e reportadas com tempestividade que permitisse a integração da informação na CGE.
6 Movimentos incluídos na linha “outras” do quadro 2.
7 Cfr. PCGE 2019, ponto 3.2.5.
78
às entidades que não a tivessem aplicado em 20181, resultando na coexistência de diferentes regras de
contabilização o que diminui o rigor da CGE e a qualidade da informação contabilística.
Em 2022, a gestão da dívida pública foi influenciada, em particular, pelos efeitos decorrentes do agravamento
da taxa de inflação. Por um lado, o efeito positivo na receita do Estado2 reduziu as necessidades de
financiamento por recurso à dívida e, por outro, a reação dos bancos centrais com a subida das taxas de juros,
a partir do 2.º semestre do ano, aumentou o custo da dívida e, nessa medida, manteve a pressão sobre as
finanças públicas. Paralelamente, o aumento da taxa de juro do indexante dos Certificados de Aforro (CA)3
impulsionou o crescimento das subscrições destes títulos, o que contribuiu significativamente para o
O exame efetuado pelo Tribunal, através do qual foram apurados os valores da dívida pública consolidada do
Estado4 e verificados os valores da CGE 2022, confirma que o reporte continua incompleto (cfr. pontos 2.5.1 a
2.5.4) porquanto:
A falta desta informação na Conta condiciona também a verificação do efetivo cumprimento dos limites fixados
pela Assembleia da República em cada OE (cfr. Anexo C8).
1 Cfr. n.º 5 do art. 156.º do DLEO 2018, ainda em vigor em 2022, por força do n.º 12 do art. 28.º e do art. 167.º do DLEO 2022.
2 Cfr. ponto 2.2 deste Parecer.
3 A Euribor a 3 meses é o indexante da remuneração da série E dos certificados de aforro.
4 O conceito de dívida financeira aqui utilizado integra a dívida direta do Estado em sentido restrito, gerida pelo IGCP, e a
dívida dos SFA (incluindo EPR), correspondente aos passivos resultantes do recurso a empréstimos, emissão de títulos e
situações passivas decorrentes da utilização de instrumentos derivados.
79
2.5.1. Dívida financeira consolidada
A dívida consolidada1 apurada neste Parecer é superior à de 2021 em 3 254 M€ (1,3%), em resultado do
aumento de 3 756 M€ da dívida direta consolidada, compensada apenas parcialmente pela diminuição de
502 M€ da dívida consolidada dos SFA (cfr. Quadro 32).
Fonte: CGE; Inquérito à dívida dos SFA; Instrução 1/2008 - 2.ª Secção, relativa ao património financeiro do Estado; IGCP. Cálculos TC.
A dívida direta na posse de entidades públicas (SI, SFA e SS) aumentou, no essencial, por via do aumento dos
CEDIC (na posse de SI e de SFA) e das obrigações do Tesouro – OT (na posse da SS). A dívida pública consolidada
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Foram ainda identificadas operações de derivados financeiros, realizadas pelo IGCP (em nome do Estado) e por
SFA. Porém, parte desta informação é omissa na Conta. O montante total, apurado ao justo valor, representava,
no final de 2022, um valor líquido a receber de 633 M€ (271 M€ em 31/12/2021), mais 362 M€ do que no ano
anterior3.
1 O apuramento da dívida direta consolidada consiste na identificação dos títulos na posse de SI, SFA e SS. Relativamente aos
SFA foi utilizada a informação sobre o património financeiro prestada pelas entidades ao Tribunal (Instrução 1/2008 - 2.ª
Secção; cfr. ponto 2.6.3).
2 Exclui o valor pago entre entidades do perímetro orçamental (nos juros da dívida direta, 289 M€ à SS, 225 M€ aos SFA e
96 m€ a SI e nos juros pagos por SFA, 0,5 M€ a SI e 1 M€ a SFA).
3 Devido à valorização da carteira a cargo do IGCP (em 145 M€, para a qual contribuiu, sobretudo, o instrumento Cross Currency
Interest Rate Swap (CCIRS)) e à valorização dos derivados detidos pela ML e pela Metro do Porto (em 217 M€).
80
Caixa 5 – Dívida de Maastricht
O conceito de dívida das Administrações Públicas relevante no contexto da supervisão orçamental europeia a designada
dívida de Maastricht – engloba as responsabilidades brutas em numerário e depósitos, títulos de dívida e empréstimos
do setor das administrações públicas, ou seja, entidades da administração central, administração regional e local e
fundos de segurança social e é compilada pelo Banco de Portugal e reportada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE)
ao Eurostat, no âmbito do Procedimento dos Défices Excessivos (PDE).
Dado o seu âmbito, a dívida de Maastricht difere da dívida pública em termos de contabilidade pública, seja a dívida
direta do Estado (Mapa 15 da CGE) ou a dívida direta consolidada do Estado apurada pelo TC, como se evidencia no
quadro seguinte1.
Quadro 33 – Dívida pública
(em milhões de euros)
2021 2022
CGE Dívida direta do Estado – CGE(a) 278 489 287 019
PCGE Dívida consolidada (SI + SFA)(b) 256 072 259 326
269 248 272 586
PDE Dívida de Maastricht (c)
em % PIB 125,4 113,9
(a) Mapa 15 da CGE, Vol. I Tomo III (em 31/12 de cada ano); (b) Valor apurado pelo TC (valor nominal do stock da dívida
consolidada), cfr. ponto 2.8.1 do PCGE 2021 e ponto 2.5.1 deste Parecer; (c) INE (PDE – 1.ª notificação de 2023), março 2023.
Em 2022, o rácio dívida pública/PIB diminuiu 11,5 pontos percentuais face a 2021, situando-se nos 113,9% (125,4% em
2021) e as previsões atuais da CE apontam para 106,2% em 2023 e para 103,1% em 2024. Pese embora a tendência
deste rácio seja decrescente, o seu desempenho ainda está longe do valor de referência (60% do PIB).
120,0%
200
100,0%
150 80,0%
60,0%
100
40,0%
50
20,0%
0 0,0%
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
Em 2022, o crescimento nominal do PIB (+11,4%) foi muito superior ao da dívida pública (+1,2%). A evolução favorável
do PIB nos anos mais recentes (com exceção de 2020) tem mitigado o efeito do crescimento da dívida pública portuguesa
em valor nominal. A evolução crescente da dívida - em paralelo com a potencial diminuição ou finalização dos programas
de compra de ativos por parte do BCE, o prolongamento da Guerra na Ucrânia e a subida das taxas de juro – reforça os
riscos do financiamento futuro, em especial, devido ao elevado montante de dívida a refinanciar entre 2024 e 2027.
1 A dívida direta do Estado (Mapa 15 da CGE) limita-se à dívida sob gestão do IGCP, avaliada ao valor nominal e não
consolidado. Por sua vez, a dívida apurada pelo TC integra a dívida direta e a dívida das restantes entidades da administração
central, compilada com base em informação recolhida junto das entidades, e, sendo consolidada, é deduzida da que é detida
por entidades da administração central e segurança social.
81
2.5.2. Dívida direta do Estado
Em 2022, o stock da dívida direta em valor nominal totalizou 290 799 M€, um aumento de 10 967 M€ (+3,9%)
após o período complementar face a 2021 (cfr. Quadro 34).
Quadro 34 – Composição e variação do stock da dívida pública direta (valor nominal) – 2021-2022
(em milhões de euros)
Valor apurado Variação
Período Período
Designação 31/12/2021 Total 2021 31/12/2022 Total 2022 Valor
Compl. Compl. %
(1) (2) (1)+(2)=(3) (4) (5) (4)+(5)=(6) (6)-(3)
Dívida de médio e longo prazo 253 839 0 253 839 257 798 0 257 798 3 959 1,6
Títulos (OT, OTRV, CEDIM e outros) 164 585 0 164 585 162 925 0 162 925 -1 660 -1,0
…dos quais OT 154 443 0 154 443 156 492 0 156 492 2 048 1,3
Certificados de Aforro e do Tesouro 30 318 0 30 318 34 869 0 34 869 4 551 15,0
Empréstimos (a) 58 937 0 58 937 60 004 0 60 004 1 067 1,8
…dos quais SURE e PRR 5 762 0 5 762 7 194 0 7 194 1 432 24,9
Dívida de curto prazo 24 496 1 377 25 872 29 201 3 800 33 001 7 128 27,6
Títulos (BT e CEDIC) (b) 23 956 1 377 25 332 28 532 3 800 32 332 7 000 27,6
Contas-Margem 540 0 540 668 0 668 128 23,7
Assunção de Dívida (Carris e STCP) 120 0 120 0 0 0 -120 -100,0
Total dívida direta não consolidada 278 454 1 377 279 831 286 999 3 800 290 799 10 967 3,9
(a) Inclui empréstimos do PAEF, SURE, PRR, BEI, IFRRU.
(b) Sobre o apuramento dos BT, cfr. “Fluxos financeiros” neste ponto. As emissões do período complementar de 2021 e 2022 correspondem apenas a CEDIC. Sobre
o apuramento dos CEDIC do período complementar de 2021 ver PCGE 2021, ponto 2.12.2.5.
Destaca-se:
O aumento do stock da dívida de curto prazo, no essencial, em resultado das emissões de CEDIC, que
após as emissões do período complementar, totalizaram 24 626 M€1 (+5 726 M€ que em 2021, após o
período complementar). Também os bilhetes do Tesouro (BT) apresentam um aumento de 1 274 M€2.
O aumento do stock da dívida a retalho, particularmente em Certificados de Aforro (+4 551 M€)
totalizando, no final do ano, 34 869 M€, (cfr. Quadro 35). A atratividade dos CA refletiu o aumento da
respetiva remuneração, com taxas de juro de 0,411% em janeiro de 2022 para 2,842% em dezembro de
20223 (cfr. Gráfico 30).
1 Em 31/12/2022 estavam aplicados em CEDIC 60 M€ (67 M€ em 31/12/2021), pertencentes a famílias que subscreveram CA
e CT. Trata-se de montantes de capital e juros, vencidos e não pagos, que se encontravam à guarda do IGCP até ser possível
realizar o pagamento ao investidor ou até à prescrição. Cfr. “Fluxos Financeiros” e Recomendação X deste Parecer.
2 Sobre as diferenças de 2021, relativas a BT e a CEDIC (do período complementar) cfr. PCGE 2021, ponto 2.12. Sobre o
apuramento de 2022 e respetiva diferença cfr. Anexo C10.
3 Taxa de juro bruta da série E. A remuneração dos CA, série E, estabelecida desde 2017 (Portaria 329-A/2017, de 30/10),
resulta da aplicação da seguinte fórmula: E3 + 1%, em que E3 é a média dos valores da Euribor a três meses observados nos
dez dias úteis anteriores, sendo o resultado arredondado à terceira casa decimal. Da aplicação da referida fórmula não
poderá resultar uma taxa base superior a 3,5%, nem inferior a 0%.
82
Gráfico 30 – Taxas de juro dos certificados de aforro – 2012-2022
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
jun-12
jun-17
jun-22
nov-12
set-13
fev-14
jul-14
dez-14
nov-17
set-18
fev-19
jul-19
dez-19
nov-22
jan-12
mai-15
mar-16
ago-16
jan-17
mai-20
mar-21
ago-21
jan-22
abr-13
out-15
abr-18
out-20
Séries A e B Série C Série D Série E
Fonte: IGCP.
O aumento da dívida representada por OT, que em valor nominal atingiu 156 492 M€2 (+1,3%).
O aumento do empréstimo SURE3 (+ 823 M€), em resultado do recebimento de mais duas tranches4.
O recebimento, em maio de 2022, sob a forma de empréstimo de mais 609 M€5 do instrumento Europeu
Next Generation EU (ao abrigo do Mecanismo de Recuperação e Resiliência).
1 Em 2021 os novos aforristas foram 23 921, em 2020 foram 21 870 e em 2019 foram 24 496.
2 O OE 2022 previa um aumento líquido das OT de 8 626 M€ (Cfr. Quadro 4.24 Composição do financiamento do Estado em
2022). Em 2022 o stock destes títulos aumentou 2 048 M€.
3 Instrumento da UE criado para proteger os postos de trabalho e os trabalhadores afetados pela pandemia (Support to
mitigate Unemployment Risks in an Emergency).
4 Estas tranches, de março e de dezembro, têm maturidade em 2037 (15 anos) e taxa de juro de 1,199% e 2,767%,
respetivamente. Como beneficiário, inicialmente, Portugal iria receber um financiamento global de 5,9 mil M€ (Cfr. PCGE
2020 ponto 3.2.7.2 e PCGE 2021 ponto 2.8.2.), mas em 2022 a CE aprovou um montante adicional de 300 M€, elevando este
financiamento sob a forma de empréstimo para o montante global de 6,2 mil M€, já recebidos.
5 Valor entregue à DGTF, nos termos da Portaria 193/2021, de 15/09 e do Anexo I (ponto 96) da Lei 12/2022, de 27/06, não
contribuindo para o Produto de empréstimos públicos de 2022 (receita de passivos financeiros).
83
A amortização (-500 M€ em valor nominal) do empréstimo obtido junto do Mecanismo Europeu de
Estabilização Financeira, no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira.
Vencimento de OTRV, no valor global de 3 500 M€, reduzindo o stock em dívida deste instrumento para
1 000 M€. Igualmente, por ter atingido a maturidade, foi totalmente amortizado o instrumento BND CNY
03JUN2022 no valor de 2 000 M CNY (o equivalente a 279 M€).
Relativamente à maturidade da dívida (cfr. Gráfico 31), há que salientar as alterações no perfil de médio e longo
prazos, no essencial, em resultado das operações realizadas com OT (emissões e amortizações) e com CA
(emissões):
as trocas de OT com o valor global de 2 495 M€: reduziram os compromissos em 2023 (-854 M€) e em
2024 (-1 641 M€), transferindo-os para 2027 (+1 023 M€), 2028 (+531 M€), 2032 (384 M€), 2035
(232 M€) e 2052 (325 M€);
o aumento das responsabilidades em 2032, em resultado das emissões de CA (+7 634 M€) e da emissão
e trocas de OT (+4 164 M€);
25 000
20 000
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
15 000
10 000
5 000
0
2023 2025 2027 2029 2031 2033 2035 2037 2039 2041 2043 2045 2047 2049 2051
Valores em 31/12/2021 Valores em 31/12/2022
Fonte: IGCP. Cálculos TC.
No que respeita aos detentores da dívida, apesar do aumento de subscritores de CA, continua a destacar-se o
aumento do peso do Eurosistema – no gráfico, Banco Central Europeu (BCE) e Banco de Portugal (BdP) –,
refletindo os programas de compra de ativos, Public Sector Purchase Programme (PSPP) e Pandemic Emergency
Purchase Programe (PEPP).
Nos últimos anos, o BdP tem assegurado a compra de um montante significativo e crescente de títulos de dívida
pública portuguesa. Em 2022, o BdP reforçou a sua posição como maior credor da dívida pública titulada (43,3%)
e, em novembro, detinha 74,5 mil M€ em títulos de dívida portuguesa. Por sua vez, o BCE detinha 8,6%
(14,7 mil M€) (cfr. Gráfico 32).
84
Gráfico 32 – Detentores da dívida transacionável – 2021-2022
Comparação 2021/2022 Peso dos detentores da dívida (nov2022)
80
0
Residentes BdP BCE Não residentes
excl. BdP (excl. BCE)
nov/21 nov/22
Nota: Desde o início do PEPP (programa do Eurosistema de compra de ativos devido a emergência pandémica) em março de 2020, que a desagregação dos
dados relativos aos detentores da dívida, divulgada pelo BCE, ocorre com periodicidade bimestral, pelo que informação dos detentores da dívida transacionável
de 2021 e 2022 é referente aos respetivos meses de novembro.
Fonte: IGCP. Cálculos TC.
Fluxos financeiros
De acordo com a CGE, em 2022, as emissões de dívida geraram receitas que totalizaram 68 007 M€ (67 809 M€
produto de empréstimos do ano e 198 M€ provenientes do saldo que transitou de 2021), tendo sido aplicados
67 486 M€ em despesa do próprio ano e o remanescente (522 M€) transitado em saldo para 2023.
Por sua vez, ao nível das despesas, destacam-se as amortizações de dívida que totalizaram 58 844 M€ (valor
nominal de 58 679 M€1). Os outros encargos correntes totalizaram 6 093 M€, menos 273 M€ do que no ano
anterior, em reflexo da diminuição da despesa com juros. Destes encargos, pela diferença face ao ano anterior,
assinala-se:
Não estão a ser evidenciados os “saldos dos encargos pagáveis4”que, no final de 2022 e de 2021,
totalizavam, respetivamente, 62,3 M€ e 67,5 M€. Estes saldos permanecem na posse do IGCP até o
efetivo pagamento ou até à prescrição, pelo que deveriam ser evidenciados nos mapas da CGE5 relativos
a juros e amortizações a cargo do IGCP.
1 Para maior detalhe cfr. Anexo C9 – Fluxos de receita e de despesa relativos à dívida pública direta.
2 Inclui juros corridos no valor de 83 M€.
3 Cfr. Mapa 25 da CGE 2022, Vol. II, Tomo I.
4 São contabilizados como “encargos pagáveis” os montantes requisitados ao OE (para pagamento de despesa com
amortizações ou juros) ou os montantes recebidos no âmbito de operações de dívida (como por exemplo os juros corridos
recebidos na emissão de OT) que, por algum motivo, ficam na posse do IGCP até ao efetivo pagamento ou até à data da sua
prescrição a favor do FRDP.
5 Vol. I Tomo III, Mapa 16 “Encargos com Juros da Dívida pública a cargo do IGCP” e Vol. II Tomo I, Mapa M63 “Encargos de
Amortizações da dívida Pública a cargo do IGCP”.
85
O MF e o IGCP justificaram a situação referindo que a “…atual aplicação informática que suporta a gestão
dos produtos de aforro (…) não permite a desagregação do saldo das contas aforro dos investidores
particulares, nomeadamente por juro e capital…”, sendo que esta está sinalizada como uma melhoria a
implementar na aplicação, no âmbito do projeto de transformação digital em curso.
Os juros associados às emissões de BT, quando estas se realizam a taxas de juro negativas1, continuam
a ser classificados pelo IGCP como se fossem receitas de capital, sendo considerados passivos financeiros
tanto no momento da emissão, como no da amortização dos títulos. Este procedimento, em 2022,
sobrevalorizou a receita e a despesa com passivos financeiros, em 27 M€ e em 40 M€, respetivamente
(cfr. Quadro 36). Paralelamente, sobrevalorizou o stock de dívida em 21 M€, por incluir receitas de juros
obtidos na emissão de BT, contabilizadas como passivos financeiros e acrescidas ao stock da dívida.
O stock de dívida não consolidada dos SFA2 aumentou 284 M€ em relação a 2021, totalizando 29 656 M€, sendo
a quase totalidade (99,9%) de médio e longo prazo. Tal como em anos anteriores, verificou-se um aumento da
dívida dos SFA ao Estado (645 M€) e uma diminuição significativa da dívida consolidada (-502 M€), ou seja, da
contraída junto de entidades fora do perímetro orçamental, que ascendeu a 7 210 M€ no final de 2022 (cfr.
Quadro 37).
1 Situação que resulta num recebimento, que nos termos da alínea ii), n.º 3, art. 15.º da LEO, por ser uma receita de juros
associada à emissão de dívida pública, deve ser abatida às despesas da mesma natureza.
2 Apurado com base num inquérito sobre passivos financeiros. Para o PCGE 2022, foi recolhida a informação diretamente de
48 entidades. A amostra foi selecionada com base nos SFA/EPR que detinham dívida em 31/12/2020 e os que na execução
provisória da receita e despesa orçamental de 2022 (mês 12) apresentam fluxos em passivos financeiros (receita e despesa)
ou em juros da dívida pública, outros encargos correntes da dívida pública e juros de locação financeira.
86
A dívida entre as entidades que pertencem ao universo dos SFA, apesar de registar um aumento significativo,
mantém um peso abaixo de 1% da dívida total dos SFA.
O conjunto dos onze principais devedores manteve-se inalterado em relação ao ano anterior (cfr. Quadro 38).
A Infraestruturas de Portugal, cuja dívida se fixou em 1 803 M€, tendo registado um decréscimo em
resultado da amortização de empréstimos contraídos junto do Banco Europeu de Investimento (BEI).
A Metro do Porto amortizou 109 M€ em empréstimos contraídos junto do BEI, reduzindo a dívida para
662 M€.
a manutenção dos elevados valores de dívida ao FdR (com 6 382 M€) e da Infraestruturas de Portugal
(com 2 216 M€);
o aumento das dívidas do IAPMEI (em 470 M€) e da Metro do Porto (em 270 M€).
87
Fluxos financeiros
No âmbito deste Parecer, foram apurados fluxos de receita e despesa associados à dívida financeira dos SFA,
que totalizam 1 352 M€ e 1 285 M€, respetivamente. Porém, estes valores não são coincidentes com os
reportados na CGE (cfr. Quadro 39).
Estas divergências refletem a ocorrência de erros de classificação económica das receitas e despesas associadas
à dívida financeira, que tornam a Conta menos fidedigna, em especial quanto às seguintes situações:
A contabilização pelo Fundo de Contragarantia Mútuo (FCGM) como receita de passivos financeiros de
113,5 M€ (dos quais 41,1 M€ se referem a receitas de FEDER) e despesas de passivos financeiros de
1,3 M€, apesar de não ser detentor de dívida financeira1. O Tribunal tem assinalado estas inconsistências
e o MF tem referido, que “…na medida em que o pagamento pelo Estado ao FCGM permite no futuro que
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
este Fundo venha a proceder à recuperação dos valores da execução de garantia e devolvê-lo ao Estado,
entende-se poder ser considerado como Passivo Financeiro”. Porém, note-se que, ainda que esses
montantes venham a ser devolvidos, não constituem passivos do FCGM, pelo que não se justifica a
classificação em causa.
Em sede de contraditório, a DGO vem referir que “A receita proveniente de aumentos de capital das
Entidades Públicas Reclassificadas e da subscrição de unidades de participação em Fundos confere um direito
à entidade que subscreve os aumentos de capital ou as unidades de participação, que são considerados ativos
financeiros na despesa da entidade que os realiza…”, acrescentando que “Adotando as classificações
disponíveis no classificador, o fluxo correspondente é registado na receita de passivos financeiros das
entidades que recebem os meios financeiros”. Ora, é precisamente para estas situações que o Tribunal tem
recomendado a adequada revisão do classificador económico de forma a permitir o registo adequado
das operações.
No que respeita aos fluxos de derivados financeiros (juros), a ML e a Metro do Porto efetuaram pagamentos
que totalizaram 134 M€, representando 47% do total dos juros consolidados do subsetor.
1 No inquérito do Tribunal à dívida financeira dos SFA não reporta nem receitas nem despesas de passivos financeiros.
88
Sobre as recomendações formuladas no PCGE 2020, no âmbito da dívida:
Em 2022, o valor nominal do património financeiro apurado pelo Tribunal1 ascende a 126 143 M€, sendo mais
de metade da carteira (64,2%) constituída por ativos relativos a entidades integradas no perímetro da AC,
conduzindo a um património financeiro consolidado de 45 218 M€ (cfr. Quadro 40)2.
Fonte: Informação prestada nos termos da Instrução 1/2008 - 2.ª Secção. Cálculos TC.
1 Apuramento feito com base na informação prestada nos termos da Instrução 1/2008 - 2.ª Secção, publicada na 2.ª Série do
Diário da República, de 09/12/2008, que vincula todos os serviços e organismos da administração central a remeter, até ao
final de fevereiro de cada ano, a informação relativa aos ativos financeiros.
2 No caso de ativos sem valor nominal, consideraram-se os valores indicados pelas entidades, os de cotação, quando
disponíveis ou ainda os resultantes das respetivas percentagens detidas sobre o capital social.
89
Face a 2021, o valor do património financeiro consolidado reduziu-se em 1 257 M€ (2,7%), sobretudo por via do
decréscimo dos créditos e outros ativos da carteira do Estado (-331 M€ e -351 M€) e dos créditos dos SFA
(-717 M€).
Na CGE 2022, apesar de melhorias no reporte, a informação sobre o património financeiro da AC ainda é
incompleta, quer por falhas quanto ao universo das entidades gestoras de património, quer por falta de dados
e erros na agregação em alguns dos ativos ou operações específicas, como se dá conta ao longo deste ponto.
A informação sobre a carteira de ativos irá beneficiar com a sua relevação contabilística em base de acréscimo
na CGE (em particular, a carteira do Estado na Entidade Contabilística Estado) porque permitirá: 1) refletir o
impacto das operações sem fluxos associados (como dações em pagamento, compensações, perdões e
extinções de créditos, dissolução e liquidação de entidades, aumentos ou reduções de capital); e 2) a
mensuração mais fiável do valor dos ativos que integram a carteira, designadamente através do reconhecimento
das imparidades necessárias. Em sede de contraditório, o MF e a DGTF reconhecem esta realidade, referindo
que “…o facto do património financeiro do Estado ser divulgado em função do respetivo valor nominal não permite
que seja avaliado, de acordo com o seu valor efetivo, situação que será ultrapassada com a sua relevação contabilística
em base de acréscimo na Conta Geral do Estado…”.
O património financeiro do Estado gerido pela DGTF, a 31/12/2022, atingiu o valor nominal de 91 353 M€,
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
registando um aumento de 4 570 M€ face a 2021, em resultado, principalmente, do aumento nas participações
societárias (1 611 M€), nas obrigações e títulos (1 598 M€) e nas prestações acessórias de capital (603 M€). A
carteira é constituída na sua maioria (65,6%) por ativos detidos em entidades do perímetro orçamental, com o
valor consolidado (31 447 M€) a representar cerca de um terço do total (cfr. Quadro 41).
90
Em termos de composição, o destaque (91,6%) mantém-se nas participações e empréstimos distribuídos pelas
mesmas entidades do ano anterior, conforme evidenciado na figura abaixo.
Figura 7 – Património financeiro do Estado – ativos e entidades mais representativas – 2022 e variação face a 2021
Participações internacionais
80% unicamente no
21 831 M€
Mecanismo Europeu de Estabilidade:
24%
17 524 M€
(+103 M€)
Fonte: Informação prestada nos termos da Instrução 1/2008 - 2.ª Secção. Cálculos TC.
O valor global da carteira de participações ascendeu a 36 203 M€1, sendo a maioria (84,2%) em entidades do
perímetro orçamental e 52,4% concentradas em três entidades: IP, CP e CGD (cfr. Figura 7 e Quadro 41). Das
alterações face a 2021 (mais 1 914 M€), salientam-se as seguintes operações:
aumento da participação do Estado no capital social do NB em 265 M€, através da conversão de créditos
fiscais que haviam sido atribuídos ao Estado, referentes aos anos de 2016 e 2017, ao abrigo do regime
especial aplicável aos ativos por impostos diferidos4, que lhe conferiram uma participação de 5,69%, no
valor de 359 M€5 (compensada pela redução da participação do FdR).
1 De referir que a DGTF, na informação que divulga no seu sítio na internet sobre as participações do Estado: i) não inclui os
títulos de participação do Estado representativos do capital no Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, apesar de o
Estado deter 95% do seu capital (75 M€ por considerar apenas as participações em empresas do SEE), situação que, segundo
o MF e a DGTF, na sequência da recomendação do Tribunal, foi corrigida a partir de 01/01/2023; ii) não inclui as participações
do Estado em Instituições Financeiras Internacionais em 4 mil M€, a não ser o Mecanismo Europeu de Estabilidade).
2 Da injeção de capital no valor do 990 M€ (980 M€ na TAP SA e 10 M€ na TAP SGPS), o valor realizado em 2022 na TAP SA, foi
294 M€ (30%), devendo o remanescente ser realizado em 2023 e 2024 (35% em cada ano). A variação do capital social
subscrito de 2021 para 2022 foi de mais 76 M€.
3 Para fazer face ao serviço da dívida realçando-se também a amortização de empréstimos ao BEI, no valor de 80,9 M€.
4 Aprovado pela Lei 61/2014, de 26/08.
5 O aumento de capital foi de 250 M€ (de 6 055 M€ para 6 305 M€) e resultou da conversão dos direitos que haviam sido
atribuídos ao Estado, que levaram a um aumento da participação do Estado de 1,56% para 5,69%, com a consequente
diluição da participação da Lone Star e do FdR. Porém, uma vez que, nos termos do Contrato de Venda e Subscrição de 75%
do capital social do NB celebrado com a Lone Star, o efeito dessa diluição deve afetar exclusivamente a participação do FdR,
o Fundo transmitiu à Lone Star, o valor correspondente em ações, pelo que, em 31/12/2022, a participação do FdR no NB
passou de 23,44% para 19,31%, por forma a manter a participação de 75% da Lone Star.
91
criação do Hospital de Loures, EPE1, com a entrada de 4 M€ para realização do capital estatutário inicial.
A inclusão de entidades há muitos anos em processo de liquidação. O RCGE 2022 identifica 15 sociedades
nessa situação, várias no âmbito do programa Polis. Refira-se também o caso do BES e Banif (entidades
em processos de liquidação judicial, de falência/insolvência ou ao abrigo do Regime Jurídico dos
Procedimentos Administrativos de dissolução e liquidação de entidades), bem como a Silopor em
processo de liquidação a decorrer desde 2001 (DL 188/2001, de 25/06). A este propósito, o MF e a DGTF
referem que “…a condução do processo (…) e a sua conclusão não está exclusivamente na dependência do
Estado quando o capital social não é por si detido na totalidade, como é o caso das sociedades Polis, na medida
em que nos termos legais tal decorre de uma decisão unânime de todos os acionistas. Nesse sentido, e não
obstante as diligências promovidas e a promover pelo Estado, (…) não pode o mesmo garantir, quanto às
sociedades naquelas circunstâncias, a conclusão rápida dos seus processos de liquidação”.
O risco de que certos ativos possam, em vez de gerar rendimentos, constituir um esforço financeiro com
impacto negativo nas contas públicas. Neste contexto, refira-se que os significativos aumentos de capital
que se têm verificado, nomeadamente na IP, para além de se destinarem a despesas com as PPP e a
investimentos ferroviários, são efetuados para fazer face ao serviço da dívida, desvirtuando o âmbito da
operação. Em sede de contraditório, o MF e a DGTF reconhecem que se deve “…atender sempre à
perspetiva da racionalidade económica em função de eventuais custos de gestão” e alegam que “…no âmbito
do património financeiro do Estado, constam ativos em que se justifica a sua manutenção na carteira do
Estado, apesar de não gerarem qualquer valor em termos reais, face ao propósito que esteve na génese da
sua constituição, cujo objetivo não passa pela rentabilização do seu capital social (designadamente as
sociedades de carater instrumental para a execução de um determinado projeto)…”.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Refere ainda o MF que “Tem sido dada continuidade à identificação dos ativos de natureza não estratégica, tendo
em vista a sua eliminação da carteira do Estado, bem como de conclusão dos processos de dissolução, liquidação ou
fusão em curso”, acrescentando que “A conclusão dos processos de liquidação, fusão ou outros está intrinsecamente
dependente da resolução de questões relacionadas com ativos e passivos das entidades, questões societárias ou
processos judiciais ou similares que obstam a uma maior celeridade na resolução dos processos”.
ii) Créditos
Os créditos por empréstimos, no final de 2022, totalizaram 25 672 M€, destinando-se maioritariamente (88,4%)
a SFA/EPR sendo que, destes, 51% (11 565 M€) foram concedidos a entidades ligadas ao sistema financeiro (FdR,
Parvalorem, Parups e Parparticipadas)2, e 10,4% (2 362 M€) a empresas de infraestruturas (IP e EDIA). O
aumento de 357 M€ face a 2021 resulta, sobretudo, da contratualização de novos empréstimos com despesa
de 992 M€, destacando-se o IAPMEI (470 M€)3 e a MP (270 M€). Em sentido contrário, salientam-se as
amortizações de empréstimos à Parvalorem (121 M€), à Grécia (101 M€) à RAM (90 M€) e à RAA (15 M€).
1 DL 100-A/2021, de 17/11.
2 Em 2022, foi concretizada a fusão da Parups na Parvalorem.
3 Referente a 2 contratos de empréstimo no âmbito do PRR: i) 250 M€ para financiar o aumento de capital do Banco Português
de Fomento, SA e ii) 1 300 M€ para financiar o Fundo de Capitalização e Resiliência (do qual 220 M€ realizados em 2022).
92
A omissão no RCGE do reporte de 475 M€ relativos a empréstimos ao IAPMEI e ao IHRU, apesar de os
valores constarem nos mapas da CGE1 o que constitui também um erro de especificação, uma vez que
tal execução não se apresenta classificada nos termos da LOE 20222. O MF e a DGTF informaram que “O
reporte de informação relativa aos empréstimos concedidos ao IAPMEI e ao IHRU será objeto de ponderação
em próximos exercícios”.
A inconsistência nos mapas da CGE, relativa ao registo de um contrato de financiamento entre a DGTF e
a Agência Nacional para a Gestão do Programa ERASMUS+Educação e Formação, cuja despesa de
37,5 M€ foi classificada como transferência de capital apesar de a fonte de financiamento indicar
“Empréstimos”3.
Em matéria de gestão desta carteira, continuam a existir empréstimos sem qualquer movimento4 e
pedidos de diferimento do serviço da dívida5.
No que se refere a créditos por execução de garantias, o valor nominal por recuperar, a 31/12/2022, era de
679 M€, com destaque para o FCGM com 215 M€, o Fundo de Recuperação de Créditos com 153 M€ e a Casa
do Douro com 82 M€.
1 Capítulo 50 - DGTF, na Divisão 09 – Cap.60 – Despesas Excecionais – Projetos PRR (medida 102).
2 Cfr. ponto 96 do Anexo I que determina que os apoios do PRR “(…) a título de empréstimos contraídos pelo Estado Português
junto da União Europeia são refletidos no orçamento da receita administrada pela DGTF e destinada, designadamente, a
empréstimos a conceder, através do capítulo 60, aos beneficiários diretos ou intermediários do PRR (…)”. Neste caso, ao invés
do estipulado na LOE, a execução foi registada no Capítulo 50 da DGTF.
3 Registo na CE 08.03.06 – transferências de capital – AC – SFA e na fonte de financiamento 717 – PRR – Empréstimos. Em
contraditório, o MF e a DGTF referem que este registo está em consonância com o estabelecido na Portaria 29-A/2022, de
10/01, relativa ao financiamento PRR de operações destinadas ao alojamento de estudantes do ensino superior. No entanto,
este argumento não esclarece a incongruência na utilização da classificação económica “transferência de capital” em
simultâneo com a fonte de financiamento “empréstimos”.
4 Alguns já antigos, designadamente a RTP, IHRU e RAM (empréstimo de 62,5 M€).
5 Solicitados para 2023 que, na maior parte, à data da informação prestada ao Tribunal, aguardavam despacho.
6 Aplicações efetuadas pelo IGCP que só foram reportadas pela DGTF no balanço após nova submissão da conta de gerência
em 03/05/2023 e não foram reportadas ao Tribunal no âmbito da Instrução 1/2008 - 2.ª Secção.
93
prejuízos no valor de 1 052 M€1 e continuam a ser injustificadamente classificadas como ativos financeiros2,
uma vez que não se traduzem num aumento de capital, nem se perspetiva qualquer possibilidade do respetivo
reembolso ao Estado. Aliás, no âmbito do Sistema de Contas Nacionais e para efeitos do Procedimento dos
Défices Excessivos, algumas destas operações têm sido reclassificadas para transferências de capital (despesa
efetiva), como se dá conta na Caixa 3 (cfr. ponto 1.2).
O valor da carteira de unidades de participação, em 31/12/2022, era de 596 M€, sem alterações significativas
face a 2021. Nesta carteira, destacam-se 13 Fundos com 520 M€, em que apenas dois representavam 59,4% do
total (o FAM, com 209 M€, e o Fundo de Fundos para a Internacionalização, com 100 M€).
No final de 2022, o património financeiro dos SFA/EPR integrava as carteiras de 221 entidades e totalizava
34 790 M€, mais 1 737 M€ face a 2021. Deste valor, 60,4% era detido sobre entidades que integravam o
perímetro de consolidação, conduzindo a um valor total consolidado de 13 771 M€ e mais de metade (54,2%)
relativa a um conjunto de cinco entidades o IAPMEI, a CGA, a Parvalorem, a AD&C e a Parpública (cfr. Quadro
40 e Quadro 42).
Face a 2021, é de destacar os acréscimos registados nas carteiras de participações em Fundos não titulados
(1 388 M€) e nas aplicações em CEDIC (1 156 M€), em combinação com a diminuição da carteira de créditos por
empréstimos (724 M€). Este agregado proporcionou rendimentos no valor de 338 M€, provenientes, na grande
maioria, de entidades que integravam o perímetro da AC, excluindo os rendimentos auferidos por estas
entidades, o valor foi de 104 M€.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
94
(…)
(em milhões de euros)
31/12/2021 31/12/2022 Variação Rendimentos
Ativos financeiros Em Em
Total entidades Total entidades Total % Total Consolidado
da AC da AC
Participações 4 150 1 098 4 096 1 098 -55 -1,3 80 80
Societárias 4 115 1 097 4 057 1 097 -58 -1,4 80 80
Não societárias 36 1 39 1 3 8,5 0 0
Outros ativos financeiros 4 590 1 125 5 832 2 513 1 242 27,1 2 2
Unidades de participação 2 598 192 2 452 192 -146 -5,6 1 1
Participações em fundos não titulados 929 929 2 317 2 317 1 388 149,3 0 0
Obrigações 681 0 834 0 153 22,4 1 1
Outros 382 4 229 4 -153 -40,0 0 0
Total 33 053 18 364 34 790 21 019 1 737 5,3 338 104
Nota: Valores relativos a 2021 não são totalmente coincidentes com os divulgados no PCGE/2021 por terem sido atualizados com informação obtida já em 2023 e pela
introdução de novos ativos financeiros e de entidades gestoras de património no início do ano.
Fonte: Informação prestada pelas entidades – Instrução 1/2008 - 2.ª Secção. Cálculos TC.
Os ativos financeiros com maior peso nesta carteira são os títulos de dívida pública, designadamente os CEDIC,
seguidos dos créditos por empréstimos e das participações sociais, com uma representação total de 73,0% (cfr.
Figura 8).
Figura 8 – Património financeiro dos SFA – ativos e entidades mais representativas – 2022 e variação face a 2021
Títulos de Dívida Pública 63% em CEDIC (10 817 M€),SFA mais representativos:
17 092 M€ AD&C: 1 823 M€ (+ 666 M€)
Valor nominal
Empréstimos 67% detidos por 3 SFA :
da carteira de
221 SFA/EPR 4 260M€ IAPMEI: 1 598 M€ (- 683 M€)
12% ITP: 716 M€ (-48 M€)
34 790 M€
(-724 M€) AD&C: 556 M€ (+1 M€)
(+1 737 M€)
Participações sociais
75% detidas por apenas 2 SFA:
4 057 M€
Parpublica: 1 829 M€(a)
12%
FdR: 1 217 M€(b)
(- 58 M€)
(a) Por não existir valor nominal para as ações da INAPA foi utilizado o valor de cotação.
(b) Não existe valor nominal para as ações do NB, pelo que o valor de participação foi calculado através da aplicação da % de participação ao
valor do capital social.
Fonte: Informação prestada nos termos da Instrução 1/2008 - 2.ª Secção. Cálculos TC.
Importa realçar que no âmbito do património financeiro do subsetor dos SFA/EPR a CGE revela algumas
melhorias, mas ainda não apresenta uma versão global e integrada destes ativos. A informação sobre o
património das EPR está, em parte, relevada no RCGE1, tendo registado em 2022 uma melhoria através da
integração de outras participações como as participações em agrupamentos complementares de empresas e
1 Desde 2020, quando passou a integrar um quadro com informação de algumas entidades (na CGE 2022, o Quadro 2.12
“Participações detidas pelas empresas públicas reclassificadas em 2021 e 2022”).
95
em sociedades por quotas. Esta informação, contudo, não é completa1 pois não integra o universo de EPR
gestoras de património, nomeadamente, a Banif Imobiliária, a OITANTE, o FdR, a Fundação Luso Americana para
o Desenvolvimento (FLAD), a SCML e a Metro do Porto Consultoria, situação para a qual o TC tem vindo a alertar.
Relativamente aos SFA, o RCGE continua a não conter informação quanto ao património financeiro destas
entidades.
O valor dos créditos totais ascendia a 7 771 M€, menos 717 M€, do que em 2021, em resultado do decréscimo
registado nos créditos por empréstimos (724 M€). Esta carteira era especialmente composta, no final do ano,
pelos créditos geridos pelo IAPMEI (1 598 M€) e pelo Turismo de Portugal (716 M€) que em conjunto registaram
uma diminuição de 731 M€.
O decréscimo nos créditos do IAPMEI (683 M€) resultou em particular de uma situação extraordinária
de anulação de créditos, de anos anteriores, no âmbito do Programa Operacional da Economia /
Programa de Incentivos à Modernização da Economia, no valor de 409 M€, regularizada apenas em
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
2022, reforçado ainda pelos prémios de realização e anulações de créditos por irrecuperabilidade de,
respetivamente, 115 M€ e 3,7 M€.
Em termos de operações relevantes dá-se ainda destaque à concessão pela Parpública de dois empréstimos à
EFACEC SGPS SA, no valor de 70,5 M€5, com vista a suprir necessidades de financiamento da tesouraria até à
realização da operação de reprivatização.
Nos créditos por empréstimos no âmbito da COVID-19, foram concedidos novos apoios pelo Turismo de
Portugal (13 M€) e pelo IAPMEI (11 M€) que registaram também reembolsos de capital de, respetivamente,
8 M€ e 0,4 M€. No âmbito destes créditos há ainda a assinalar a anulação por prémios e conversão em subsídios
não reembolsáveis por parte do Turismo de Portugal (-16 M€) e do IHRU (-0,5 M€). No seu conjunto, estas
operações praticamente se anularam, pelo que a variação deste ativo foi de menos 1 M€.
1 Em termos de valorização de ativos financeiros também se verificaram divergências com a informação prestada ao TC.
2 DL 53/2022, de 12/08, nos n.ºs 3 e 4 do art. 101.º.
3 Despacho 14343/2022 do Ministro das Finanças, de 15/12.
4 Coube ao IGCP determinar as entidades e os montantes das disponibilidades a serem aplicadas em dezembro e até ao dia
03/01/2023.
5 Até maio de 2023 foram realizadas mais três operações num total de 61,5 M€.
96
No que respeita às anulações registadas nos créditos salienta-se que não foram comunicadas à DGO pelo
IAPMEI, pelo IHRU e pelo IEFP anulações1 nos montantes de, respetivamente, 410 M€, 0,5 M€ e 1 M€.
O valor da carteira de participações ascendeu no final do ano a 4 096 M€, menos 55 M€, face a 2021, sendo
que a quase totalidade da carteira (99,0%) era composta por participações sociais no valor de 4 057 M€ e que
75,1% destes ativos estava concentrado em duas entidades, o FdR e a Parpública. Entre as alterações que
concorreram para a variação registada, destacam-se: o aumento do capital do BPF subscrito e realizado pelo
IAPMEI2 no valor de 250 M€, no âmbito do projeto “capitalização de empresas e resiliência financeira”, e o
decréscimo no valor da participação do FdR no NB (para 19,31%), por contrapartida do reforço da posição
acionista do Estado, na sequência da conversão de créditos fiscais, ao abrigo do regime especial aplicável aos
ativos por impostos diferidos3.
Verificou-se um acréscimo de 1 388 M€ nas participações em Fundos não titulados (carteira composta
por participações em seis SFA4, totalizando 2 317 M€) em resultado, essencialmente, da subscrição da
dotação de capital do Fundo de Capitalização e Resiliência5 pelo IAPMEI no valor de 1 300 M€, tendo
apenas sido realizado o capital inicial de 220 M€6. Este Fundo tem por objeto “aportar apoio público
temporário para reforçar a solvência de sociedades comerciais…” e ainda “apoiar o reforço de capital de
sociedades comerciais em fase inicial de atividade ou em processo de crescimento e consolidação”, tendo
colocado no mercado os seus dois primeiros instrumentos financeiros o Programa Consolidar e o
Programa de Recapitalização Estratégica.
As aplicações realizadas pelos SFA em fundos de investimento ascendiam, no final do ano, a 2 452 M€,
registando um decréscimo de 146 M€, sendo as operações mais relevantes:
1 Mapas 31 “Créditos satisfeitos por dação em pagamento ou por compensação”, 32 “Créditos objeto de consolidação,
alienação, conversão em capital ou qualquer outra forma de consolidação”, 33 “Créditos extintos por confusão”, 34 “Créditos
extintos por prescrição” e 35 “Créditos anulados por força de decisão judicial ou por qualquer outra razão” que integram o
Vol. II Tomo I “Elementos informativos comuns às contas dos SI, SFA e SS”.
2 Por forma a este Banco continuar a promover o apoio às empresas portuguesas e o crescimento da economia.
3 Aprovado pela Lei 61/2014, de 26/08.
4 O FC&QC, o FD&G, o FITEC, o FATC, o FdCR e o FCGM.
5 Criado pelo DL 63/2021, de 28/07.
6 Operação realizada pelo IAPMEI através de verbas com origem em empréstimos concedidos pelo Estado, no âmbito do PRR
no valor global de 220 M€.
7 Foi realizado no ano capital da FINOVA no valor de 109,9 M€.
97
2.6.2. Fluxos financeiros
Receita
O património financeiro do Estado gerou 593 M€ de receita de ativos financeiros (-51 M€ que 2021) e 734 M€ de rendimentos (excluindo
rendas e rendimentos de ativos incorpóreos), sendo de destacar:
Amortizações efetuadas pela Parvalorem (121 M€), Grécia (101 M€),
Parque Escolar (83 M€), PAEF à RAM (90 M€) e à RAA (15 M€), CP (40 M€),
Amortizações de empréstimos a médio e longo prazo: 529 M€
FAM (30 M€), Navegação Aérea de Portugal (22 M€), vários municípios
(7 M€) e QREN (4 M€).
Recuperação de créditos garantidos: 62 M€
Distribuídos pelo BdP(a) (311 M€), pela CGD (299 M€), pelo BPF (3 M€) e
Dividendos: 615 M€ ainda 2 M€ por 9 entidades não financeiras, sendo 1 M€ da Portugal
Venture Capital Iniciative.
Na maior parte pagos pelo FdR (78 M€) e pela RAM (21 M€ relativos ao
Juros de empréstimos pagos por entidades da AP: 102 M€
empréstimo PAEF).
Despesa
A despesa com ativos financeiros ascendeu a 4 062 M€(b), sendo de destacar:
IP (1 282 M€), TAP (304 M€), ML (181 M€), Parque Escolar (18 M€) e EDIA
Dotações de capital: 1 801 M€ (44%)
(8 M€).
IAPMEI (470 M€), MP (270 M€), CP (135 M€) Parque Escolar (63 M€), ML
Empréstimos: 1 157 M€ (28%)
(35 M€) e EDIA (14 M€).
Injeções de capital para cobertura de prejuízos 1 052 M€ (26%) 1 040 M€ para entidades EPE da saúde e 12 M€ AICEP.
(a) O Banco de Portugal paga dividendos ao Estado, apesar de não constar da carteira sob gestão da DGTF.
(b) Abaixo do valor orçamentado de 7 727 M€. A diferença de 3 664 M€ (entre o orçamento corrigido e a execução) é justificada, em grande parte, pela não
concretização das seguintes operações: i) nas dotações de capital, salienta-se: 336 M€ (CP), e 686 M€ (TAP) e ii) empréstimos a médio e longo prazos, com
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
destaque para 853 M€ (Fundo de Resolução Europeu), 165 M€ (MP) e 280 M€ (Parpública). Salienta-se ainda a diferença de 797 M€ nos ativos inscritos no
Capítulo 50 (DGTF).
O património financeiro dos SFA originou despesas no valor de 7 361 M€ e receitas no valor de 6 771 M€. Nestes
fluxos financeiros incluem-se:
os provenientes de operações financeiras com aplicações CEDIC e CEDIM, que representam 63,0% e
60,3% da despesa e da receita, respetivamente;
os resultantes das aquisições e resgates de obrigações de dívida pública estrangeira, espanhola e italiana,
realizadas pelo FGD, as quais representam, respetivamente, 17,5% da despesa e 16,5%, da receita.
os rendimentos gerados pela carteira de ativos financeiros no valor de 343 M€, sendo 233 M€
provenientes de títulos de dívida pública1.
1 De salientar o facto de a CGA ter corrigido o registo dos rendimentos auferidos com a carteira de títulos de dívida pública,
passando a registar como juros da administração central, em vez de sociedades financeiras (incorreção que condicionava as
operações de consolidação).
98
Os valores de receita e de despesa com ativos financeiros continuam significativamente afetados pela
contabilização das aplicações em CEDIC por parte dos SFA, dada a diversidade de procedimentos
adotados, face às diferentes interpretações das entidades quer sobre as orientações da DGO para a
contabilização dessas verbas, quer do Despacho do Ministro das Finanças que determinou a aplicação
em CEDIC das disponibilidades de tesouraria do final do ano. As instruções da DGO1 determinam que:
i) deve haver registo orçamental das despesas associadas às subscrições de novas aplicações
de CEDIC/CEDIM nas rubricas de ativos financeiros; ii) não devem ser relevadas orçamentalmente as
renovações de aplicações vencidas e renovadas no mesmo ano e; iii) devem ser relevadas
orçamentalmente no ano do seu reembolso as aplicações vencidas e não renovadas no mesmo ano nas
rubricas de ativos financeiros. Por sua vez, o Despacho do MF refere que o reembolso dessas aplicações
financeiras “…assume a forma de saldo de gerência anterior, no momento do seu reembolso”.
Verificou-se, assim, que dos 1292 SFA, incluindo EPR, gestores de aplicações CEDIC:
81 SFA/EPR relevaram os fluxos associados aos CEDIC em rubricas de ativos financeiros, mas
adotando procedimentos diferenciados quanto aos valores a contabilizar;
6 EPR relevaram os fluxos associados aos CEDIC nas rubricas residuais de “outros ativos financeiros”
porque, sendo EPR de regime simplificado nos termos do DLEO, utilizam uma versão simplificada do
classificador económico das receitas e despesas públicas, prejudicando a especificação destes fluxos;
37 SFA/EPR não efetuaram registo orçamental adequado por os valores aplicados não constituírem
receita própria ou por se tratar de fundos europeus e outros por considerarem que são movimentos
de tesouraria.
Em sede de contraditório, a DGO considera que tem ocorrido uma normalização procedimental relativa
às aplicações em CEDIC destacando “… a inclusão do art. 101 do DL 53/2022, de 12 de agosto, (DLEO 2022),
Existem entidades que processam os rendimentos pelo valor líquido, em detrimento do princípio da não
compensação e não cumprindo também com as orientações da DGO.
A receita e a despesa de ativos financeiros são ainda afetadas por erros de especificação (cfr. Anexo
C11).
99
Sobre as recomendações formuladas no PCGE 2020, no âmbito do património financeiro:
A CGE continua a não incluir informação fidedigna sobre o património imobiliário do Estado. O inventário
encontra-se muito incompleto, em resultado também das fragilidades inerentes ao próprio Sistema de
Informação de Imóveis do Estado (SIIE), estando-se assim longe de reunir as condições necessárias para a
existência de demonstrações financeiras que reflitam o património do Estado. Por sua vez, subsistem omissões
e inconsistências importantes entre a informação constante no RCGE sobre as operações imobiliárias do ano e
a informação da respetiva execução orçamental.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Em julho de 20231, o Governo procedeu à transmissão de todos os poderes e competências cometidos à DGTF
em matéria de gestão integrada do património imobiliário do Estado e dos institutos públicos para a Estamo SA.
Caberá, assim, a esta EPR atuar em nome e por conta do Estado na gestão dos seus ativos imobiliários,
designadamente a administração e gestão dos imóveis do respetivo domínio privado e a prática de todos os atos
de aquisição, alienação, oneração e desoneração destes imóveis e dos institutos públicos, previstos no Regime
Jurídico do Património Imobiliário Público (RJPIP)2. Estas competências incluem, entre outras, a celebração,
cessação ou alteração de contratos de arrendamento de imóveis do domínio privado do Estado, a aplicação do
princípio da onerosidade e a alienação de imóveis do Estado e institutos públicos.
No que ao reporte de informação diz respeito, incluem também a caracterização do património imobiliário
existente, através da elaboração, atualização e gestão de um inventário único do património imobiliário público,
com a identificação dos imóveis do domínio público e do domínio privado do Estado, da administração indireta
do Estado e do setor empresarial do Estado, bem como a gestão e manutenção do Portal do Imobiliário Público
e dos restantes sistemas de informação atualmente geridos pela DGTF. De salientar que, no âmbito destas novas
competências, as entidades da administração indireta do Estado e do setor empresarial do Estado (ainda que
não se encontre abrangido pelo regime previsto no RJPIP) passam a ter a obrigação de comunicar àquela
entidade toda a informação relativa à identificação e localização, quer dos imóveis de que sejam proprietárias,
100
quer dos imóveis integrantes dos domínios público ou privado do Estado de que sejam afetatárias, ainda que
estejam cedidos a terceiros, partilhando os respetivos inventários e cadastro, até 15 de novembro1.
2.7.1. Inventário
O RCGE identifica um total de 27 475 imóveis registados no SIIE (19 717 do tipo edificado e 7 758 que
correspondem a terrenos), dos quais 5 862 são registos incompletos2. Porém, não se identifica o peso deste
conjunto de imóveis no universo dos imóveis do Estado, uma vez que o inventário está por concluir.
Desde 2020, encontra-se planeado o desenvolvimento de um novo sistema, o Sistema de Informação e Gestão
do Património Imobiliário Público (SIGPIP)3, atualmente também enquadrado no financiamento do PRR4. Porém,
verificam-se atrasos na sua implementação, quer por via de procedimentos ainda em curso, quer por falta de
aprovação de peças contratuais por parte da DGTF, nomeadamente da minuta do Contrato de Financiamento
entre a eSPap (beneficiário intermediário) e a DGTF (beneficiário final), sem a qual não será possível
operacionalizar o financiamento associado.
Muito embora o sistema de gestão da informação do património imobiliário do Estado seja fundamental para
vários dos avanços na inventariação do património imobiliário, tal não obsta à existência de um Programa de
Gestão do Património Imobiliário (PGPI) e de um Programa de Inventariação (os últimos aprovados abrangeram
o período 2009-2012), aliás previstos no respetivo regime jurídico5, e tal como tem vindo a ser recomendado
pelo Tribunal em anteriores Pareceres. De facto, estes programas ultrapassam a dimensão do sistema de
informação, na medida em que são instrumentos essenciais para uma abordagem estratégica e integrada da
gestão do património imobiliário público nas suas diferentes vertentes. A título exemplificativo, refira-se que o
O MF e a DGTF, em contraditório, alegam que “…nos últimos anos houve um esforço no sentido de incrementar e
atualizar a informação contida no SIIE, nomeadamente através de uma campanha de sensibilização junto das UGP’s
para o efeito, no âmbito do Programa de Remoção de Amianto ou através de ações mais focadas, motivadas pelas
solicitações diárias relativas a processos de relevância para os quais a DGTF presta contributos, designadamente
relativos à aplicação do princípio da onerosidade, bem como as ações no decurso dos processos internos de validação
da informação na plataforma” e que “Durante os anos de 2022/2023 verificou-se um acréscimo de validação de
101
dados, novos registos e novas entidades…”. Atendendo a que, como já referido, a partir de julho de 2023 as
competências da DGTF em matéria de gestão integrada do património imobiliário do Estado e dos institutos
públicos foram conferidas à Estamo, mantêm-se as recomendações do Tribunal sobre esta matéria,
nomeadamente, a tomada de ações para a conclusão do inventário, elemento essencial ao desenvolvimento da
Entidade Contabilística Estado.
Em 2022, apurou-se uma receita de alienação de imóveis1, no montante de 104 M€, e uma despesa com
terrenos, habitações e edifícios de 322 M€ (cfr. Quadros 44 e 45).
Fonte: CGE 2022, SGR e SIGO 2022. Informação prestada por entidades da AC. Cálculos TC.
Verifica-se que 88,7% da receita da alienação de imóveis provém de alienações por EPR, sendo de destacar a
Oitante (51 M€), a Estamo (15 M€) e a Infraestruturas de Portugal (10 M€). Por sua vez, 80% da despesa
refere-se a edifícios (258 M€). Ainda relativamente a esta despesa com imóveis, cerca de metade corresponderá
a operações de conservação e reabilitação de imóveis e apenas cerca de 20% a aquisições. No entanto, a
concreta identificação do tipo de despesa é prejudicada não só pela diversidade das rubricas nas quais podem
ser contabilizadas as despesas com imóveis (como evidenciado no quadro), como pelo facto de não serem
1 Considerando a execução orçamental, corrigida dos erros detetados através do exame da informação recolhida junto das
diferentes entidades.
102
integralmente respeitadas as alíneas e subalíneas para a classificação da despesa com aquisições de capital, que
permitem distinguir a despesa com aquisições, da despesa relativa a conservação e construção.
De notar também que os fluxos financeiros das operações imobiliárias que são, em regra, registados como
receita ou despesa de bens de investimento, podem ser registados de forma diferenciada, em particular tendo
em conta a natureza diferenciada das EPR. No caso das EPR que desenvolvem atividades na área do imobiliário,
o respetivo registo pode ser efetuado em receita ou despesa corrente1. Para além disso, algumas EPR, por
beneficiarem do regime simplificado do controlo da execução orçamental previsto no DLEO, utilizam uma versão
simplificada do classificador económico das receitas e despesas públicas, levando ao registo dos fluxos de
operações imobiliárias residuais como “outros bens de investimento”, o que conduz a uma insuficiente
especificação das operações. Em 2022, esta situação foi alargada à Oitante, entidade com operações imobiliárias
de valor significativo2.
Pelo facto de o RCGE continuar a omitir uma parte relevante das operações cuja execução orçamental
está refletida na Conta, sendo de destacar a omissão de 78 M€ relativos a entidades com particular
relevância neste tipo de operações, como a Estamo (51 M€ de receita e 3 M€ de despesa), a Oitante e a
Banif Imobiliária (com 15 M€ e 8 M€ de receita, respetivamente).
Note-se que, para além das operações imobiliárias aqui reportadas, existem variações patrimoniais decorrentes
103
2.7.3. Princípio da onerosidade
O princípio da onerosidade1, determina que a ocupação de imóveis do Estado por entidades da administração
central deve ser sujeita ao pagamento de uma contrapartida (contabilizada como rendas).
O RCGE 2022 reporta de forma mais resumida2, mas suficiente, a informação sobre as contrapartidas pagas e
em falta, desde 2014 até 2022.
Em 2022, foram recebidas contrapartidas pela ocupação de imóveis do Estado por entidades públicas, no
montante de 199 M€, conforme evidencia o quadro seguinte.
Total 732 259 492 587 206 607 699 195 95,5 33 064
(a) Valor que vai sendo atualizado pela DGTF.
se encontravam por pagar 5,3 M€ relativos a contrapartidas desse ano e 28 M€ relativos ao período
entre 2014 e 2021;
globalmente, a receita recebida representa 95,5% do total estimado e que a percentagem recebida tem
aumentado nos últimos anos, em resultado, sobretudo do recebimento integral das contrapartidas
devidas pelas Forças Armadas, que passaram a estar sujeitas à aplicação do princípio a partir de 2019.
1 Previsto no art. 4.º do DL 280/2007, de 07/08. Regulamentado através da Portaria 278/2012, de 14/09, subsequentemente
alterada pelas: i) Portaria 222-A/2016, de 12/08 (estabeleceu que a contrapartida pela ocupação dos imóveis era devida
desde janeiro de 2013, para as áreas registadas no SIIE até 31/12/2012); ii) Portaria 397/2019, de 21/11 que faz sujeitar os
imóveis ou partes de imóveis ou espaços afetos à prossecução das atividades operacionais das forças armadas ao princípio
da onerosidade (art. 2.º, n.º 2); e iii) Portaria 309-D/2020, de 31/12, estabelecendo os termos em que é devida a
contrapartida pelas entidades utilizadoras de espaços públicos.
2 O RCGE 2021 inclui 4 quadros relativos à aplicação do princípio pelos vários ministérios e por cada ano desde 2014 – Quadros
3.82 a 3.85 (pp. 178 a 182), em vez dos 14 quadros apresentados no RCGE 2021.
104
De referir que a DGTF, à semelhança de anos anteriores, não contabiliza como receita do ano a totalidade dos
valores recebidos, o que incumpre o princípio da anualidade. Em 2022, a receita registada de 203 M€
corresponde aos valores recebidos em 2021 não contabilizados como receita desse ano e a uma parte das
contrapartidas recebidas em 2022. Este procedimento, agravado pelo facto de a DGTF não distinguir, em
registos diferentes, as verbas do próprio ano das relativas a anos anteriores, dificulta a conciliação entre os
recebimentos e os montantes registados como receita.
Apesar de prevista a utilização do Documento Único de Cobrança (DUC)1 desde 2017, tem-se mantido o
procedimento transitório de emissão de fatura pela DGTF, através do sistema Gerfip, e envio às
entidades por correio eletrónico.
Para a cobrança dos montantes em atraso, o DLEO 2022 autorizou a DGTF “…a notificar os serviços,
organismos públicos e demais entidades para pagamento das contrapartidas liquidadas, comunicadas e
devidas nos anos de 2014, 2015 e 2016 e cujo pagamento não tenha sido realizado, procedendo à emissão
das correspondentes faturas”. De notar que não são identificados procedimentos para recuperar os
montantes em falta das contrapartidas relativas aos anos de 2017 a 2021 e que, questionada sobre tais
montantes em atraso, a DGTF refere que “Não obstante a elevada taxa de execução já atingida no que se
refere aos citados anos, permanecem, contudo, algumas situações que carecem de revisão, prevendo-se, no
corrente ano, a resolução dessas situações e subsequente notificação das entidades para cobrança dos
montantes em atraso logo que estes venham a ser fixados”.
Como o Tribunal tem assinalado, o alargamento do prazo para pagamento das contrapartidas devidas,
estabelecidas nos sucessivos DLEO, adia a verificação de situações de incumprimento, penalizando as
entidades cumpridoras face às incumpridoras que, apesar de não pagarem as respetivas contrapartidas,
1 A Portaria 222-A/2016, de 12/08, definiu que o pagamento das contrapartidas devidas pelas entidades ocupantes dos
imóveis do Estado se efetuasse através de DUC a partir de 2017, tendo-se recorrido à emissão de fatura pela DGTF, em
substituição temporária do DUC. Posteriormente, foi decidido que se aguardaria pela implementação do DCC - Documento
Contabilístico de Cobrança, em desenvolvimento pela eSPap no contexto da reforma em curso.
2 Nos termos do n.º 4 do art. 120.º do DLEO 2022, designadamente: a aplicação das penas previstas no Estatuto disciplinar
dos trabalhadores que exercem funções públicas, aprovado pela Lei 58/2008, de 09/09, nos termos nele previstos, a não
admissão de candidaturas ao financiamento do Fundo de Reabilitação e Conservação Patrimonial que tenham por objeto
imóveis afetos aos serviços ou organismos incumpridores e a não afetação do produto resultante das operações de alienação
ou oneração de imóveis nos termos legalmente previstos. Pode ainda determinar a suspensão de contratos de financiamento
em vigor no âmbito do respetivo serviço ou organismo público que beneficiem da comparticipação do Fundo, bem como
mediante despacho do membro do Governo responsável pela área das finanças, de outros contratos de financiamento em
vigor no âmbito do respetivo ministério que beneficiem daquela comparticipação.
105
Recomendações PCGE 2020 Ações tomadas/Progressos
Recomendação 16 (Rec. 17 – PCGE 2021)
Recomenda-se ao Ministro das Finanças que o sistema de informação O desenvolvimento e implementação do SIGPIP está pendente da
sobre o património imobiliário do Estado e dos organismos da assinatura da minuta do contrato pela DGTF, sem a qual não avançará
administração central passe a refletir os dados sobre o universo do o respetivo contrato de financiamento.
inventário geral bem como a totalidade das variações patrimoniais Dado o exposto, a recomendação encontra-se parcialmente
ocorridas em cada ano. implementada.
Recomendação 24 (Rec. 24 – PCGE 2021)
Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure que o Relatório O MF considera a recomendação parcialmente implementada,
da Conta Geral do Estado contenha informação integral sobre o informando que foram sensibilizadas as entidades para assegurar a
património imobiliário público (abrangendo a totalidade das variações correta tramitação dos procedimentos associados às operações
patrimoniais), consistente com a execução orçamental relativa a imobiliárias e necessária confirmação entre a informação do relatório
operações imobiliárias registada pelos organismos da administração e a execução orçamental refletida na Conta e que se preconiza a
central nessa Conta. recolha de informação junto das entidades de forma sistematizada, em
colaboração com a DGO. Apesar disso, mantêm-se inconsistências
importantes na CGE.
Dado o exposto, a recomendação encontra-se parcialmente
implementada.
A atividade da tesouraria do Estado, cuja gestão cabe ao IGCP, compreende a movimentação de fundos públicos,
quer em execução do OE, quer através de operações específicas do Tesouro1. Para que o reporte destas
operações de tesouraria seja rigoroso, deverá ser consistente com a execução orçamental e permitir a
conciliação das receitas e despesas com as entradas e saídas de fundos.
No âmbito da reforma em curso, a LEO prevê2 a inclusão na CGE da demonstração consolidada do desempenho
orçamental, na qual se incluem os fluxos financeiros de todas as entidades que integram a AC, incluindo a
movimentação de fundos fora da tesouraria do Estado. Neste contexto, encontra-se identificada a obrigação da
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
CGE integrar, designadamente, um relatório e notas às demonstrações orçamentais e financeiras, embora não
esteja definido quais os elementos informativos a constar, nem está previsto, nos mapas contabilísticos que
acompanham a CGE, quaisquer mapas relativos à situação de tesouraria3.
Sobre esta matéria, o ICGP, em contraditório, refere ainda que “A disponibilização e tratamento da informação
dos fluxos financeiros realizados fora do IGCP para efeitos da CGE requer, para além de disposições legais, de
investimento em sistemas de informação”. Encontra-se também prevista, desde 2015, a revisão do Regime da
Tesouraria do Estado, cuja proposta de diploma se encontra em elaboração pelo IGCP desde 2019. O IGCP
informou que é essencial a articulação com os trabalhos a desenvolver pela UniLEO, designadamente quanto
“…ao documento sob o título “Modelo de Gestão da Tesouraria – Modelo Concetual e requisitos Funcionais (…)
porquanto as considerações e propostas apresentadas impactam com a proposta de revisão do regime jurídico da
tesouraria do Estado formulada pelo IGCP”.
106
2.8.1. Fluxos financeiros na tesouraria do Estado
A informação na CGE 2022 sobre a posição de tesouraria, bem como sobre o saldo efetivo das entidades que
integram o perímetro da Conta1, mantém-se incompleta e de utilidade limitada, porque continua a cingir-se à
movimentação de fundos na tesouraria do Estado em conta de terceiros no IGCP, excluindo a das contas que as
entidades detêm na banca comercial. Refira-se que, enquanto o novo modelo da CGE não estiver
completamente implementado, os mapas2 relativos aos movimentos e saldos das contas das entidades e nas
caixas da tesouraria do Estado (que relevam os saldos que constituem o balanço da tesouraria do Estado),
constituem a única informação disponível para apreciar as movimentações ocorridas na tesouraria do Estado.
No final de 2022, o saldo global de tesouraria totaliza 12 822 M€, o que representa um acréscimo de 159 M€
(1,3%) face a 2021 (Quadro 47).
Fonte: CGE 2021 (Mapa 26) e CGE 2022 (Mapa 26) – Volume II, Tomo I – Balanço da tesouraria do Estado. ICGP. Cálculos TC.
1 O saldo de tesouraria da AC que se conhece e que integra os mapas da CGE é somente aquele que o IGCP, no âmbito das
suas competências, reporta no seu Balanço.
2 Mapa M20 e 22 do Volume II, Tomo I, respetivamente.
107
Sobre estes montantes destaca-se:
A diminuição dos valores depositados no Banco de Portugal, em 2 326 M€, em reflexo essencialmente:
De menores necessidades líquidas de financiamento, no valor de 4 522 M€1.
Do aumento de amortizações em 5 641 M€, especialmente para amortização de CEDIC (13 958 M€),
compensado, em parte, pela redução de amortizações de outros produtos como os Bilhetes do
Tesouro (-4 986 M€). Releva ainda a amortização parcial do empréstimo âmbito obtido junto do
Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira, em 500 M€.
Para a menor necessidade de financiamento, contribuiu o aumento de emissões, especialmente, de
Certificados de Aforro (+7 157 M€) e de CEDIC (+3 303 M€), apesar da diminuição de 5 201 M€ nas
emissões de Obrigações do Tesouro (cfr. ponto 2.5.2 e 2.6.). De referir ainda o recebimento de duas
tranches do empréstimo no âmbito do SURE, que totalizaram 817 M€ e 1 162 M€ relativo ao PRR
(609 M€ em empréstimos e 553 M€ em subvenções).
O aumento do passivo em 159 M€ (1,3%) reflete a evolução nos saldos credores de terceiros (contas das
entidades no IGCP e produtos de empréstimos não utilizados) e de resultados de operações financeiras,
para o qual concorreram a diminuição dos depósitos no IGCP em 421 M€ (2,6%) quer pelas entidades
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
da AC (pelo impacto das aplicações em CEDIC5, atenuado pelas verbas recebidas em subvenções no
âmbito do PRR), quer por outras entidades (por efeito da aplicação em CEDIC, mais que compensada
pelos saldos de entidades da Segurança Social em 907 M€6).
De notar que em 2022 se verificou emissão de CEDIC ainda superior à do ano anterior (20 826 M€,
+3 303 M€ do que em 2021), em cumprimento do Despachos do MF7 a determinar ao IGCP a aplicação
em CEDIC, no final do ano e com maturidade até 02/01/2023 (cfr. gráfico seguinte), de disponibilidades
de tesouraria das entidades sujeitas ao cumprimento do princípio da unidade da tesouraria, até ao limite
do montante necessário para cobrir as necessidades de financiamento do ano.
1 Estas necessidades líquidas de financiamento foram utilizadas na cobertura do défice orçamental do Estado (3 690 M€) e na
aquisição líquida de ativos financeiros (832 M€).
2 Este aumento está sobrevalorizado em 198 M€ pelo facto de em 2021 o valor de emissão de dívida, ao abrigo do período
complementar ter sido de 1 575 M€, mas só ter sido contabilizado no balanço o montante de 1 377 M€, correspondente ao
valor gasto em despesa de 2021, não transitando em saldo o remanescente (198 M€). Em 2022, o produto de empréstimos
o abrigo do período complementar de 2022 (3 800 M€) foi integralmente contabilizado em 2022, originado um saldo de
522 M€, pelo facto de só ter sido utilizado em despesa 3 278 M€. Se os critérios de contabilização fossem idênticos nos dois
anos o ativo e passivo teriam uma diminuição em 39 M€.
3 É um saldo devedor (1 779 M€) porque reflete o valor ainda não regularizado pelos organismos, gestores dos programas
cofinanciados pela UE, das antecipações de fundos solicitadas para dar continuidade aos pagamentos afetos às medidas dos
Programas Operacionais e vai sendo regularizado com a entrada de verbas provenientes da UE.
4 Dos 929 M€ deveriam ter sido regularizados 104 M€ em 2022 no âmbito do FEADER 2020 (96 M€) e FEAGA (8 M€).
5 Que contribuíram para a diminuição do saldo em 2 739 M€. Destaca-se a subscrição significativa em CEDIC em contas
tituladas pela DGTF no valor de 1 650 M€.
6 FEFSS (541 M€) e IGFSS (366 M€).
7 Despacho 12447-A/2021, de 21/12 e Despacho 14343/2022, de 30/11.
108
Gráfico 33 – Emissão e amortização mensal de CEDIC – 2021-2022
18 000
16 000
(em milhões de euros)
14 000
12 000
10 000
8 000
6 000
4 000
2 000
0
SET
JAN
FEV
ABR
JAN
FEV
ABR
SET
MAR
MAI
JUL
JUN
AGO
JUL
OUT
NOV
MAR
MAI
DEZ
JUN
AGO
OUT
NOV
DEZ
2021 2022
Emissão Amortização
Fonte: IGCP – Aplicações a 31/12/2021 e 31/12/2022.
Ao longo dos últimos anos, o IGCP, de acordo com a estratégia de financiamento definida, tem contemplado a
manutenção de uma almofada financeira que, em 2022, se traduziu num saldo de tesouraria com um valor
médio de depósitos de 14 676 M€ (14 009 M€ em 2020 e 13 850 M€ em 2021), o qual teve um custo líquido de
169 M€ (46 M€ em 2020 e 39 M€ em 2021)1.
O princípio da unidade de tesouraria do Estado (UTE)2 traduz-se na obrigação das entidades a ele sujeitas
Em sede dos trabalhos deste Parecer, verifica-se que a CGE 2022 relativamente às EPNF, inclui apenas
informação provisória e não identifica de forma detalhada os fundos detidos fora do Tesouro, quer por
incumprimento (15 M€), quer por dispensa (341 M€).
Verificam-se também divergências ao nível do reporte nos sistemas centrais de informação – designadamente
os serviços on-line (SOL) da DGO e o sistema de recolha de informação económica e financeira (SIRIEF) da DGTF
– que apelam à adoção de medidas de reforço dos procedimentos de controlo e validação dos dados reportados.
Sobre esta matéria, refira-se que, de acordo com a DGTF, já se encontra em funcionamento o novo Sistema de
Informação do Setor Empresarial do Estado (SISEE), que visa substituir o SIRIEF, sendo que, desde janeiro de
2023, as empresas passaram a reportar no SISEE a informação económico-financeira, incluindo os dados da UTE.
109
Em sede de contraditório, a DGTF veio ainda referir que “…foram revistos os formulários da UTE no Sistema de
Informação, passando estes a evidenciar, quer os saldos contabilísticos, quer os saldos bancários, permitindo assim,
uma melhor validação, controlo e comparabilidade da informação reportada. Por outro lado, foi introduzido no
Sistema de Informação um conjunto de regras com vista à melhoria e controlo dos dados reportados no âmbito da
UTE, designadamente, regras de validação entre os dados (saldos de disponibilidades) reportados no formulário da
UTE e os dados reportados nas demonstrações financeiras (balanço e demonstração de fluxos de caixa) e, ainda,
mecanismos de alertas por falta de carregamento de dados ou preenchimento de formulários. Não obstante os
melhoramentos introduzidos face aos anos anteriores, a DGTF procurará evidenciar mais detalhadamente as situações
provenientes de incumprimento e dispensa”.
A UTE tem sido operacionalizada no contexto das sucessivas leis orçamentais e decretos-lei de execução
orçamental1, sendo o controlo do seu cumprimento assegurado pelo Ministério das Finanças com a intervenção
do IGCP, da DGO para as entidades da AC2, da DGTF para as EPNF e da Inspeção-Geral de Finanças (IGF)3.
Face a 2021, o quadro legal da UTE não apresenta alterações a destacar4, continuando a prever possibilidade de
dispensa do seu cumprimento nas situações previstas expressamente na lei5 e por despacho do IGCP, pelo prazo
máximo de dois anos, devendo esta entidade dar conhecimento dos serviços bancários dispensados6 à DGO e,
no caso das EPNF, também à IGF e à DGTF7.O DLEO 2022 vem, à semelhança de anos anteriores, identificar as
situações que se traduzem em incumprimento, bem como prever as condições para dispensa do cumprimento
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
O Tribunal, no âmbito do Parecer, tem assinalado que o quadro normativo que regulamenta a aplicação do
princípio aplicável à UTE continua incompleto, disperso por vários diplomas e apresenta lacunas, quer ao nível
dos procedimentos de acompanhamento e controlo, quer do respetivo regime sancionatório, o que dificulta a
sua adequada aplicação, posição partilhada pela IGF9. Como já referido, o MF considera que a revisão do atual
quadro legal é “…uma necessidade efetiva tendo em vista suprir, designadamente, a fragmentação legislativa no
1 Para 2022 – art. 136.º da Lei 12/2022, de 27/06 (LOE 2022) e art. 102.º do DL 53/2022, de 12/08 (DLEO 2022).
2 À DGO compete o controlo das entregas como receita do Estado dos rendimentos auferidos em incumprimento do princípio
da UTE e elaborar proposta de aplicação de eventuais sanções às entidades da AC (n.º 7 e 8 do art. 136.º da LOE 2022).
3 À qual compete, no âmbito das atribuições de autoridade de auditoria, verificar o cumprimento do princípio da UTE pelas
entidades obrigadas, em especial quanto aos fundos que se encontrem fora da tesouraria do Estado.
4 Em contraditório, o MF refere as alterações ao quadro legal relativas às escolas do ensino não superior, nos termos dos n.ºs
13 e 14 do art. 91.º do DL 10/2023, de 8/02, que só terão reflexo na execução de 2023.
5 N.º 4 do art. 102.º do DLEO 2022.
6 As entidades, cujos serviços bancários utilizados não sejam prestados pelo IGCP, em situações excecionais devidamente
fundamentadas podem solicitar a dispensa do cumprimento da UTE para movimentar disponibilidades e aplicações
financeiras na banca comercial, pelo prazo máximo de dois anos, fazendo referência expressa ao período abrangido.
7 Cfr. n.º 5 do art. 102.º do DLEO 2022.
8 Cfr. n.ºs 6 e 9 do art. 102.º do DLEO 2022.
9 Sobre esta matéria, a IGF tem vindo a propor ao Governo a alteração do regime legal da UTE, nomeadamente, com a criação
de um quadro jurídico único e a definição de um regime sancionatório a aplicar às entidades incumpridoras (refira-se a título
de exemplo o Relatório 156/2021, homologado pela Secretária de Estado do Orçamento, em 26/01/2022 e o Relatório
143/2022).
110
domínio da tesouraria do Estado…” (cfr. ponto 2.2). Este entendimento também é assinalado pelo IGCP que
ressalva “…que essa revisão carece de articulação com o trabalho sobre o modelo de gestão de tesouraria conduzido
pela UniLeo”.
Acresce que as situações de incumprimento da UTE identificadas durante o ano de 2022 continuam sem
consequência, tanto mais que a DGO não apresentou à Tutela qualquer proposta de aplicação de sanções, tendo
esta Direcção-Geral assinalado que “Em 2022, face à necessidade de a DGO se focar nas atividades críticas, não teve
possibilidade de apresentar propostas de sanções, processo que em si mesmo implicaria, para além da aplicação da
sanção, o respetivo acompanhamento. De referir, no entanto, que esta Direção-Geral mantêm a disponibilidade para
tratar esta matéria”.
Ao nível dos fundos fora da Tesouraria do Estado, em 2022, foram identificados 48 M€ em incumprimento da
UTE, 69% pertencentes a entidades da AC (SI, SFA e EPR) e 31% a EPNF (Gráfico 34).
1 Permite-se que possam depositar em qualquer instituição bancária as receitas que arrecadam, com exceção das dotações
do OE e das aplicações financeiras, salvo para um valor que não exceda 25% do seu montante total (cfr. n.os 3 e 5 do art.
115.º da Lei 62/2007 de 10/09).
2 Cfr. n.º 8 e 9 do art. 102.º do DLEO 2022.
3 Para todos os efeitos, a lei equipara este tipo de informação ao incumprimento do princípio da unidade de tesouraria (cfr.
n.º 3 do art. 102.º do DLEO 2022).
4 A DGTF em sede de aprovação de contas, tem dado orientações quanto aos procedimentos para cumprimento do princípio
da UTE e prestação de informação associada dirigidas às EPNF detidas diretamente pelo Estado, solicitando que as mesmas
sejam transmitidas às respetivas empresas participadas.
111
Gráfico 34 – Principais incumpridores da UTE (ex. IES), por tipo de entidade – 2022 e variação face a 2021
Administração central
Empresas públicas não financeiras
EPR; 32 M€ (-209 M€)
SFA; 2 M€ (- 1 M€)
Destaca-se:
Face a 2021, o significativo decréscimo verificado (menos 215 M€) é, em larga medida, justificado pela
redução em 209 M€ do montante detido fora do Tesouro pelo Fundo de Contragarantia Mútuo (FCGM)
que, mesmo assim, continua a ser a entidade com montante mais elevado em incumprimento (22 M€
em contas fora do Tesouro). Ora, o FCGM tem vindo a apresentar dificuldades na abertura de contas no
IGCP e, em 2022, a DGO1 sobre esta situação reiterou “(…) que o elevado montante depositado no sistema
bancário decorre de obrigação contratual de ter contas bancárias específicas para depósito dos fundos que
gere. Menciona o Fundo que tem intensificado as diligências junto do IGCP no sentido de usar os serviços desta
entidade”2. Perante estes constrangimentos, o FCGM solicitou, pela primeira vez, dispensa do
cumprimento da UTE para 2022 e 2023. Porém, o IGCP entendeu não terem sido apresentados motivos
que justificassem a dispensa.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Em contraditório o FCGM vem alegar que “O valor de 22 M€ depositados na banca comercial no final de
2022 foi originado por transferências processadas a favor do FCGM no último dia útil do ano, não tendo sido
possível transferir esses montantes para o IGCP ainda em 2022. No início de 2023, os valores foram
imediatamente transferidos (…) e o valor depositado na banca comercial voltou para montantes residuais. A
conta na banca comercial aguarda a emissão de adendas aos contratos para ser encerrada”. Já o IGCP
informou que se encontram abertas 32 contas consideradas como necessárias e não foi rejeitado
qualquer pedido de abertura de conta do FCGM, entendendo não existirem razões para a manutenção
do incumprimento assinalado.
1 No relatório que elaborou sobre a avaliação do cumprimento do princípio da UTE – 3.º Trimestre 2022.
2 Para o efeito, referiu estar em curso a implementação de uma solução informática que permita efetuar a gestão de
tesouraria, com o nível de detalhe que é exigido pelos diferentes dotadores das diversas linhas de garantia geridas, tendo a
expectativa que até final do presente ano esteja operacional a ferramenta em desenvolvimento, que permitirá toda a gestão
de recursos financeiros por linha e consequentemente a transferência dos fundos depositados na banca comercial para o
IGCP.
3 De acordo com a DGTF, esta entidade, entretanto, foi dissolvida com efeitos reportados a 31/12/2022.
112
pedido, foram excecionados do cumprimento da UTE para o ano de 2022 os valores inerentes aos contratos
de financiamentos obtidos para os projetos de investigação em curso”.
De referir que a dispensa a que o I3S faz referência, apesar de abranger também o ano de 2022, apenas
foi autorizada pelo IGCP em 05/01/2023.
De referir que o regime legal determina a entrega pelas entidades dos rendimentos de todas as disponibilidades
e aplicações financeiras auferidos fora da tesouraria do Estado (seja por incumprimento ou por dispensa). Do
total de 114 M€ (mais 98 M€ face a 2021)5 de rendimentos auferidos, apenas foram entregues 0,7 M€6. A quase
Também é incumprimento da UTE a prestação de informação incorreta ou falta de reporte por parte das
entidades. Ora, em 2022 é de salientar as seguintes situações:
Divergências no reporte de informação pelas EPR (26 entidades reportam menos 770 M€ quanto a
disponibilidades no Tesouro, e 14 entidades menos 22 M€ de disponibilidades fora do Tesouro no
sistema de reporte “SIRIEF”, quando comparado com o reporte feito no sistema SOL da DGO).
113
Divergência de 275 M€1 entre a informação reportada pelo IGCP à DGTF2 e a disponibilizada pelas
entidades, através do formulário da UTE disponível no SIRIEF, no que respeita aos depósitos à ordem.
Em contraditório, o MF e a DGTF referem: “A DGTF, à semelhança do procedimento adotado em anos
anteriores, procedeu à reconciliação dos dados carregados pelas entidades no SIRIEF e a informação remetida
pelo IGCP… Em resultado deste processo, foi solicitado às empresas a justificação e/ou correção das
divergências apuradas. Ainda sobre a conciliação da informação reportada pelas empresas, salienta-se que,
no âmbito das instruções emitidas anualmente (…) foi referenciado que os saldos de disponibilidades e
aplicações de tesouraria e financeiras identificadas nos respetivos Relatórios de Gestão e Contas devem ser
coerentes com os saldos reportados nos formulários do SIRIEF”.
Omissão de informação na CGE sobre entidades da AC (8 entidades sem reporte) e 20 entidades com
informação provisória.
Para além das situações de dispensa expressamente previstas na lei, as entidades cujos serviços bancários
utilizados não sejam prestados pelo IGCP, em situações excecionais e devidamente fundamentadas, podem
solicitar a dispensa do cumprimento da UTE, pelo prazo máximo de dois anos, para movimentar algumas das
suas disponibilidades e aplicações financeiras na banca comercial, devendo fazer referência expressa ao período
abrangido.
Em 2022, encontravam-se dispensadas do cumprimento da UTE (através de despacho do IGCP), 151 entidades
envolvendo fundos fora do tesouro que totalizam 1 078 M€ (Quadro 48). A quase totalidade dos serviços
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
bancários objeto de dispensa continua a ter como fundamento não serem serviços prestados pelo IGCP3.
Em contraditório o IGCP refere que “…essas dispensas são dadas com limitações que visam minimizar o saldo que
as entidades que beneficiam da dispensa, mantém junto da banca comercial”.
Quadro 48 – Fundos fora do IGCP detidos por entidades com despacho de dispensa do cumprimento da UTE
(em milhares de euros)
Disponibilidades
Variação
Tipo de entidade fora do Tesouro
2021 2022 Valor (%)
SI 1 717 1 620 -98 -5,7
SFA 58 609 50 741 -7 868 -13,4
EPR 691 328 684 112 -7 216 -1,0
EPNF 55 121 341 264 286 142 519,1
Total 806 776 1 077 736 270 960 33,6
Fonte: DGO, DGTF e IGCP. Cálculos TC.
114
Entre as entidades dispensadas, destacam-se as EPR com cerca de 684 M€ (63%) e, entre estas, o Fundo de
Garantia de Depósitos com 577 M€ (84,1%). Relativamente às EPNF, destaca-se a TAP SA com fundos fora do
Tesouro em 2022 de 322 M€.
Para além das dispensas por despacho, verificou-se que 19 entidades dispensadas por disposição legal detinham
5 638 M€ de fundos fora do IGCP (5 074 M€ em 2021), sendo de destacar a CGA com 4 456 M€ (79%).
115
3. CONTA DA SEGURANÇA SOCIAL
A conta consolidada da segurança social (CSS) incluída na CGE contempla diversas demonstrações financeiras e
orçamentais e um relatório sintético1, apresentando a execução orçamental e financeira consolidada das 12
entidades que compõem o perímetro da Segurança Social. Esta conta reflete também a execução das medidas
de proteção social cujo financiamento cabe ao Estado (através de transferências diretas e da consignação de
receita fiscal) e, nessa medida, evidencia a interdependência existente entre a sustentabilidade financeira da SS
e a do Estado.
A Lei de Bases da Segurança Social (LBSS)2 estabelece que o Sistema de Segurança Social (SSS) é constituído por
sistemas e subsistemas, os quais prosseguem fins específicos que se traduzem quer nas tipologias das despesas
incorridas, quer nas formas de financiamento das mesmas (cfr. Figura 9).
Previdencial
Assente no princípio do autofinanciamento.
Repartição
Sistema da Segurança Social (SSS)
As questões de sustentabilidade específicas do SSS colocam-se ao nível do sistema previdencial3, uma vez que
os demais sistemas são financiados por transferências externas ao sistema, sobretudo transferências do OE, e
deveriam, por isso, ter um efeito tendencialmente neutro nas contas da SS4.
1 Que continua a constituir apenas um anexo ao relatório da CGE, em vez de integrar o corpo do relatório a par da
administração central e da administração regional e local.
2 Lei 4/2007, de 16/01, alterada pela Lei 83-A/2013, de 30/12.
3 No sistema previdencial, o Estado tem, para além da receita fiscal consignada ao previdencial-capitalização, a obrigação de
financiamento das despesas que decorram de decisões políticas, como é o caso das medidas extraordinárias.
4 Nos demais sistemas, atenta a obrigação do Estado em financiar a despesa da sua responsabilidade, as questões de
sustentabilidade não se levantarão ao nível da CSS, mas sim na sustentabilidade financeira do Estado. Porém, como no
sistema proteção social de cidadania se tem vindo a verificar, conforme referido em Pareceres anteriores, um
sobrefinanciamento dessas despesas e tem havido transferência desses saldos para o previdencial o efeito não tem sido
neutro, mas sim positivo.
116
O subsetor da segurança social só iniciou a transição para o SNC-AP em 2023 pelo que, relativamente a 2022
prestou contas em POCISSS, motivo pelo qual a CSS não inclui as demonstrações orçamentais previstas no novo
referencial contabilístico1.
No que concerne à elaboração da CSS, é de salientar que os documentos necessários à apresentação da CSS não
são automaticamente extraídos do Sistema de Informação Financeira da segurança social (SIF)2, exigindo
intervenções manuais por parte do IGFSS na elaboração das peças contabilísticas finais consolidadas. Não
apenas por a aplicação não incluir a informação de todas as entidades do universo, mas também porque
apresenta limitações: na imputação das despesas de administração e de outras despesas comuns do SSS; na
eliminação das operações intra perímetro, com exceção das transferências correntes e de capital; na execução
dos saldos iniciais e integrados; e no apuramento das amortizações e provisões consolidadas3.
Em sede de contraditório o II informou que “…todas as instituições do perímetro da Segurança Social foram
integradas na entrada em exploração em janeiro de 2023 do novo Sistema de Informação Financeira da Segurança
Social (SIF) em S4HANA tendo por base o normativo do SNC-AP. Este novo SIF adotou ainda o módulo de Business
Planning and Consolidation (BPC) no sentido de suprimir as deficiências do anterior módulo EC-CS...”, pelo que as
questões identificadas poderão já não se verificar na CSS de 2023.
A CSS resulta da consolidação das contas individuais das entidades4. Relativamente às CLC e/ou pareceres sobre
as mesmas, apesar de legalmente exigidos, ainda não foram disponibilizados ao Tribunal: o Parecer do Fiscal
único e CLC das contas do IGFSS e ISSM; o Parecer sobre as Contas do FCE; e o Parecer do Conselho Consultivo
relativamente às contas dos FESSPBC e FESSPAC.
No que respeita ao IGFSS, o Fiscal Único tem vindo a justificar, nos últimos três anos, a não emissão de CLC para
As CLC do ISS, do ISSA e do FGS foram emitidas com reservas e ênfases nas áreas identificadas na figura seguinte.
1 Na CGE 2022, as receitas cessantes, desagregadas pelos diversos diplomas ao abrigo dos quais as receitas deixaram de ser
cobradas, já integram o Mapa 10, exigido pelo art. 67.º da LEO, a par com a informação da administração central – cfr.
Volume I, Tomo III – Mapas contabilísticos gerais.
2 O SIF não integra a informação relativa às operações do IGFCSS e do FEFSS.
3 Encontra-se em implementação uma nova ferramenta de consolidação orçamental e patrimonial que deverá ultrapassar
estas limitações.
4 Compete ao Conselho Consultivo do IGFSS emitir parecer sobre a CSS que foi disponibilizado ao TC a 21/07/2023.
5 A CLC relativa ao ano de 2019 só foi enviada ao Tribunal em 30/08/2021.
6 Nos termos do n.º 3 do art. 27.º da Lei 3/2004, de 15/01, na versão atual (Lei-quadro dos institutos públicos).
7 Despacho 8010/2014, de 22/05. Designação por cinco anos, podendo ser renovada nos termos da lei.
117
Figura 10 – CLC das contas individuais das entidades do perímetro da CSS – Principais áreas de reservas e ênfases
Quatro entidades (ISS, IGFSS, ISSM e IGFCSS) referiram nos relatórios de gestão que o aumento de custos,
decorrentes da invasão da Ucrânia pela Rússia e da inflação, conduziu à implementação de novas medidas
extraordinárias e a novos ajustamentos nos sistemas informáticos e no planeamento das atividades. Foi,
igualmente, salientado que os efeitos do choque geopolítico se refletiram na carteira dos fundos geridos pelo
IGFCSS, conforme se dá conta no ponto 3.4.
A inexistência das CLC e Pareceres, bem como as reservas e ênfases identificados naquelas que foram emitidas,
denotam algumas das fragilidades existentes nas demonstrações financeiras das entidades, designadamente ao
nível do imobilizado, da dívida de terceiros, provisões para cobrança duvidosa e especialização e que têm vindo
a ser alvo de reservas por parte do TC nos diferentes PCGE.
Em 2022, verificaram-se alterações orçamentais de valor significativo que, no total, aumentaram a receita e a
despesa prevista em 4 533 M€ e 4 779 M€, respetivamente, com a consequente redução de 247 M€ do saldo
orçamental (cfr. Quadro 49), provocando, igualmente, uma diminuição de 140 M€ do saldo efetivo, atento o
ajustamento da previsão de receita e despesa efetiva em 1 650 M€ e 1 790 M€, respetivamente.
118
Estas alterações orçamentais resultam, do lado da receita, essencialmente de créditos especiais com
proveniência em integração de saldos de anos anteriores (3 424 M€) e de transferências do OE (1 336 M€),
destinados, na sua maior parte, à cobertura de aumentos nas dotações de despesa de ativos financeiros
(2 989 M€1) e de despesa efetiva no âmbito das medidas extraordinárias e temporárias de mitigação do impacto
do choque geopolítico (1 122 M€) e da COVID-19 (416 M€).
A execução das receitas, com um aumento de 4,4% face a 2021, e das despesas do Orçamento da Segurança
Social (OSS), que aumentaram 1,8% reflete, em grande medida, as políticas implementadas com impacto no
setor, mas também a evolução etária, a dinâmica da população residente e o desempenho macroeconómico.
Especificamente em 2022, apesar do impacto das medidas de mitigação do aumento de preços da energia e dos
produtos alimentares decorrentes do choque geopolítico2, a evolução da despesa beneficiou da redução, na
mesma medida, na despesa COVID. Para além disso, as dinâmicas positivas no mercado de trabalho, ao nível do
emprego e das remunerações declaradas, traduziram-se numa receita de contribuições e quotizações sem
precedente e numa diminuição da despesa, designadamente com subsídio de desemprego e outros apoios
sociais.
Da conjugação dos fatores acima identificados resultou um incremento de 31,0% do saldo orçamental global
acumulado, que totalizou 5 285 M€, e um saldo efetivo de 4 068 M€, mais 74,7% face a 2021.
Note-se que se o crescimento da receita reflete uma situação predominantemente conjuntural, já as pressões
do lado da despesa assumem um caráter estrutural, não só decorrentes dos aspetos demográficos, mas também
3.2.1. Receita
As receitas totalizaram 48 463 M€ verificando-se acréscimos, em termos homólogos, quer nas receitas
correntes (+6,3%), quer nas receitas de capital (+30,0%) (cfr. Quadro 50).
119
Quadro 50 – Receitas por classificação económica – 2021-2022
(em milhões de euros)
Variação
2021 2022
Designação CSS 2022/CSS 2021
CSS OSS Final CSS Valor %
Receitas Correntes 33 120 34 786 35 205 2 085 6,3
Impostos Indiretos 212 240 230 18 8,5
Contribuições para a Segurança Social 19 954 21 166 22 316 2 362 11,8
Taxas, multas e outras penalidades 77 88 91 14 17,6
Rendimentos da propriedade 511 504 518 7 1,4
Transferências correntes 12 301 12 728 11 994 -307 -2,5
Venda de bens e serviços correntes 54 42 47 -7 -13,7
Outras receitas correntes 10 18 8 -2 -17,7
Receitas Capital 7 167 26 945 9 319 2 152 30,0
Venda de bens de investimento 1 5 1 0 45,4
Transferências de capital 0 2 0 0 17,6
Ativos financeiros 7 166 26 678 9 318 2 152 30,0
Passivos financeiros 0 260 0 0 n.a
Outras receitas de capital 0 0 0 0 n.a
Outras Receitas 6 128 3 820 3 938 -2 190 -35,7
Reposições não abatidas nos pagamentos – RNAP(a) 446 174 321 -124 -27,9
Saldo do Ano Anterior 5 682 3 646 3 617 -2 065 -36,3
Receita Total 46 415 65 552 48 463 2 048 4,4
Receita Efetiva(b) 33 567 34 968 35 527 1 961 5,8
(a) Afetadas pelo efeito base de em 2021 ter incluído 87,3 M€ relativos à contabilização da atualização do valor de referência anual da
componente base da prestação social para a inclusão e do limite máximo anual de acumulação da componente base com os rendimentos
de trabalho, com efeitos retroativos a 01/10/2020 (Portaria 5/2021, de 06/01). A operação contabilística (anulação do processamento
efetuado num período anterior e registo de novo processamento para o mesmo período) implicou uma compensação na receita de
2021 de 87,3 M€ (RNAP de março de 2021). Sem este efeito as RNAP apresentariam um recuo de 10,5%, em vez dos 27,9% apurados.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
(b) Receita efetiva = receita total deduzida do saldo do ano anterior e dos ativos e passivos financeiros.
na receita de contribuições e quotizações (+2 362 M€, +11,8%), que totalizou 22 316 M€, beneficiando
da conjugação de vários fatores como a recuperação do mercado de trabalho e da cobrança de receita,
cuja arrecadação esteve suspensa em anteriores anos, mas também das medidas de apoio
implementadas durante a pandemia que potenciaram a integração de um maior número de
trabalhadores no sistema1;
na receita de ativos financeiros (+2 152 M€, +30%) traduzindo, em grande medida, a gestão da carteira
de ativos do FEFSS (cfr. ponto 3.4);
na receita de impostos indiretos (+18 M€, +8,5%), ascendendo a 230 M€ e que incluem as receitas da
exploração de jogos sociais pela SCML (211 M€) e do imposto especial do jogo online (Turismo de
Portugal), no montante de 19 M€.
Por sua vez, as transferências, correntes e de capital provenientes da AC e da UE, registaram uma quebra de
306 M€ (-2,5%) e totalizaram 11 995 M€, conforme se evidencia no quadro seguinte.
1 5 003 643 indivíduos em 2022, face a 4 710 765 em 2021 – PORDATA 20/03/2023.
120
Quadro 51 – Transferências da AC e da UE para a CSS – 2021-2022
(em milhões de euros)
Variação
Transferências para a CSS 2021 2022
Valor %
Administração Central, das quais: 10 874 10 904 29 0,3
Transferências do OE – cumprimento da LBSS 7 034 7 908 874 12,4
Transferência OE – compensação medida COVID Layoff Contribuições 71 0 -71 -100,0
Transferências do OE – medidas Excecionais – COVID-19 1 474 616 -859 -58,2
Transferências do OE – adicional à contribuição sobre o setor bancário 34 34 0 0,2
Transferências do OE – adicional ao IMI 128 148 20 15,5
Transferências do OE – IRC 337 297 -40 -11,9
Transferências do OE – IVA Social 915 970 55 6,0
União Europeia, das quais: 1 427 1 091 -336 -23,5
Transferências do Fundo Social Europeu (FSE) 1 322 1 059 -263 -19,9
Transferências do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) 78 5 -73 -93,5
Total 12 301 11 995 -306 -2,5
Fonte: CSS2021 e CSS 2022. Cálculos TC.
As provenientes da consignação de receita fiscal à SS (IVA social, IRC, adicional ao IMI e adicional de
solidariedade sobre o setor bancário) que ascenderam a 1 449 M€ (+2,5%), enquanto as relativas às
receitas cessantes, que visam compensar a perda de receita contributiva por aplicação de políticas de
redução ou isenção de Taxa Social Única, ascenderam a 209 M€.
121
No que concerne às transferências da UE (1 091 M€1) verificou-se um decréscimo de 23,5% (336 M€), quer no
âmbito do FSE (menos 263 M€), quer no PRR (menos 73 M€) – esta última variação devido à sobrevalorização
da receita de 2021 em 70 M€2.
Em suma, a estrutura de financiamento do SSS foi, em 2022, semelhante à dos anos anteriores com cerca de
62,8% da receita efetiva proveniente de contribuições e quotizações, um acréscimo de 3,4 p.p. em relação a
2021, 30,7% proveniente da administração central, por via de transferências e de consignação de receitas fiscais,
menos 1,7 p.p. face a 2021, e 6,5% proveniente, entre outros, de fundos da UE e de receitas próprias da SS.
3.2.2. Despesa
As despesas totalizaram 43 566 M€. Destas, 72,1% dizem respeito a despesas correntes (31 407 M€), que
aumentaram 0,7% face a 2021, e 27,9% são despesas de capital que aumentaram 4,9%, atingindo o montante
de 12 159 M€ (cfr. Quadro 52).
Destaca-se:
o aumento de 240 M€ (0,8%) nas transferências correntes, influenciado pela evolução das transferências
para as famílias (mais 354 M€, 1,4%), que têm refletido o financiamento de medidas destinadas à
recuperação dos rendimentos das famílias, ao reforço das políticas de natalidade e de apoio à infância,
122
à sistematização e reforço das políticas de apoio à deficiência e ao combate à pobreza e exclusão social,
às quais acresceram as medidas extraordinárias destinadas a minimizar o impacto da crise pandémica e
do choque geopolítico no contexto socioeconómico1.
a despesa com ativos financeiros (12 107 M€) que aumentou 564 M€ e que traduz, em larga medida, os
investimentos financeiros efetuados pelo FEFSS no âmbito da gestão da sua carteira.
Note-se que, 98,8% da despesa efetiva se destinou a prestações sociais (29 387 M€, mais 481 M€) e a formação
profissional e políticas ativas de emprego (1 687 M€, menos 279 M€), tal como discriminado no quadro abaixo.
1 Acresce referir que despesa com layoff simplificado e apoio extraordinário à retoma progressiva da atividade, que totalizou,
em 2022, cerca de 55 M€, foi classificada na económica “transferências para as famílias”, quando deveria ter sido relevada
contabilisticamente em “transferências para sociedade ou quase sociedades não financeiras”.
123
Relativamente às prestações sociais, há a destacar as pensões e complementos que ascenderam a 20 137 M€1,
mais 1 248 M€ (6,6%) face a 2021, aumento que reflete um conjunto de medidas de política: i) reposição das
atualizações anuais2; ii) aumentos extraordinários aplicados desde 20173 que, em 2022, totalizaram 896 M€; e
iii) o complemento excecional pago a pensionistas no final de 2022 (648 M€)4, que constituiu uma antecipação
de parte da atualização normal de pensões a pagar em 2023.
A estas decisões de política acresce o impacto do aumento do número de beneficiários (mais 12 703
beneficiários/pensões)5, justificado pela evolução demográfica e pelo impacto dos regimes de reforma
antecipada (por valorização de carreiras longas e muito longas, implementado em 2017, e por flexibilização da
idade de acesso à pensão de velhice, em 2019).
De salientar o impacto que a atualização extraordinária de pensões tem no crescimento exponencial da despesa
em todo o período temporal da extensão da medida, atingindo, em termos acumulados, 2 714 M€ (cfr.
Gráfico 36).
2 000
1 818
1 500
1 000 1 071
622
500 284 896
77 747
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
338 449
0 207
2017 2018 2019 2020 2021 2022
Total acumulado Atualização extraordinária pensões
Fonte: CSS 2017 a CSS 2022. Cálculos TC.
Note-se que, por sua vez, a despesa em prestações de apoio às famílias e às empresas decresceu face a 2021
(711 M€), totalizando 4 787 M€, sendo de destacar as seguintes situações:
A redução em 1 321 M€ (68,8%) da despesa referente às medidas COVID-19 que ascenderam a 599 M€
(cfr. Anexo D2).
1 O valor das pensões atribuídas em 2022, deverá ser sujeito a algum tipo de correção em 2023, dado que as remunerações
consideradas no seu cálculo, não foram objeto de atualização de acordo com a correspondente portaria que só foi objeto de
publicação em 2023 (Portaria 24-C/2023, de 09/01).
2 DL 254-B/2015, de 31/12 – Em função do crescimento do PIB (média dos 2 anos anteriores) e da variação do índice de preços
no consumidor (nos últimos 12 meses, sem habitação, medida no final de novembro do ano anterior ao que respeita a
atualização).
3 Atualização prevista no art. 63.º da LOE 2022, com efeitos a partir de 01/01/2022 e regulamentada pelo Decreto
Regulamentar 2/2022, de 07/07.
4 DL 57-C/2022, de 06/09.
5 Estatísticas da SS – situação da base de dados em 31/12/2022 (extração a 15/03/2023).
124
As despesas extraordinárias destinadas a minimizar os efeitos da inflação nos produtos alimentares
situação decorrente do choque geopolítico (506 M€ excluindo o complemento a pensionistas e apoios
extraordinários às entidades da economia social – cfr. Anexo D1)1.
As despesas com o rendimento social de inserção e o complemento solidário para idosos diminuíram
4,8% e 2,5%, respetivamente.
As despesas de apoio da garantia para a infância4, medida implementada faseadamente em 2022 (com
retroativos a julho e prolongada para 2023), totalizaram 25 M€.
As prestações imediatas substitutivas dos rendimentos do trabalho totalizaram 1 277 M€5, menos 316 M€
(19,8%) face a 2021, nas quais se destacou o subsídio de desemprego que recuou 21,9% para 1 001 M€ e foi
acompanhado por uma redução de 10,9% no número de beneficiários.
Em 2022, a CSS registou o maior saldo dos últimos anos (cfr. Gráfico 37), com o saldo efetivo6 a atingir 4 068 M€,
1 Apoio extraordinário às famílias mais vulneráveis (368 M€), apoio extraordinário a titulares de rendimentos e prestações
sociais (122 M€) e apoio extraordinário por pessoa dependente (17 M€).
2 Mais que compensando o efeito regressivo da população alvo que perdeu, entre 2019 e 2021, 45 779 indivíduos.
3 INE, nados-vivos em Portugal, atualização de 27/02/2023.
4 Prestação de apoio social, prevista na LOE 2022 e regulamentada pelo Decreto Regulamentar 3/2022, de 19/08 que
complementa o abono de família de crianças e jovens em risco de pobreza extrema incluído num conjunto mais vasto de
medidas: 1) uma prestação que complementa o abono de família; 2) o aumento do valor do abono de família das crianças e
jovens com menos de 18 anos que se insiram nos primeiros e segundo escalões; 3) o Complemento Garantia para a Infância.
5 Subsídio de desemprego (1 001 M€); Complemento de desemprego (14 M€); Subsídio social de desemprego (164 M€);
Garantia Salarial (43 M€); Subsídio de desemprego e subsídio social de desemprego por salários em atraso (9 M€);
Compensação salarial – layoff normal (45 M€); e Retribuições intercalares (23 m€).
6 Sem atender aos saldos dos anos anteriores nem às receitas e despesas com ativos e passivos financeiros.
125
Gráfico 37 – Saldo anual efetivo do SSS – 2013-2022
2 822
2 132 2 328
2 086 1 977
1 564
1 037
489 429
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Fonte: CSS 2013 a CSS 2022. Cálculos TC.
Este resultado traduz o saldo positivo do sistema previdencial (4 278 M€) que, por sua vez, inclui um saldo
positivo de 688 M€ fruto das contribuições (saldo do sistema previdencial-repartição), bem como um saldo
positivo de 3 590 M€ (no previdencial-capitalização) em resultado, sobretudo, das transferências de anos
anteriores (do sistema previdencial-repartição) para o FEFSS, e que contribui para o reforço da almofada
financeira que visa assegurar a sustentabilidade futura da segurança social.
O saldo efetivo não reflete os montantes significativos de saldos orçamentais transitados de anos anteriores1,
nem as receitas e despesas de ativos financeiros (que impactam particularmente o saldo do sistema
previdencial-capitalização). Considerando essas receitas e despesas não efetivas, o saldo de execução
orçamental acumulado foi, no final de 2022, de 5 285 M€ (+31,0% que em 2021), correspondendo 4 006 M€ a
saldo de anos anteriores e 1 279 M€ a saldo gerado no próprio ano (cfr. Quadro 54).
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
1 Os saldos acumulados de anos anteriores (4 006 M€) apurados por componentes e subsistemas foram alocados da seguinte
forma: 3 617 M€ integrados, para utilização em despesa; 3 006 M€ nas respetivas componentes do sistema previdencial
(2 717 M€ em repartição e 289 M€ em capitalização); 611 M€ integrados no sistema de proteção social de cidadania,
distribuídos pelos vários subsistemas: proteção familiar (73 M€), solidariedade (229 M€) e ação social (309 M€); 389 M€ não
integrados: componente repartição do sistema previdencial (62 M€), subsistema de proteção familiar (1 M€) e subsistema
de ação social (326 M€), ambos do sistema de proteção social e cidadania.
126
O detalhe do quadro permite (cfr. Anexo D3):
Observar a importância do saldo transitado de anos anteriores para o saldo positivo do sistema de
proteção social de cidadania (ao permitir cobrir as despesas efetuadas, que excederam as receitas
efetivas arrecadadas no ano).
Identificar no sistema previdencial um saldo positivo que traduz um excedente orçamental do ano, mas
também uma política de investimento do FEFSS, com o montante monetário não investido a ter um
impacto positivo.
No final de cada ano, continua a verificar-se a transferência de parte dos excedentes do sistema de proteção
social de cidadania para o sistema previdencial-repartição. Em 2022, esse montante totalizou 113 M€ e desde
2012, em termos acumulados, estes valores totalizaram 2 284 M€. Ora, como o Tribunal tem assinalado1, estes
valores não sendo excedentes verdadeiramente gerados pelo sistema, porque resultam de transferências do OE
decorrentes de previsões menos ajustadas das despesas a suportar pelo Estado, deverão ser mantidos, em cada
ano, no sistema de proteção social de cidadania. Desta forma, seria possível a sua integração para financiamento
de despesas de anos seguintes, reduzindo, nessa medida, as transferências do OE e assegurando uma maior
transparência e rigor na execução orçamental da SS.
Em sede de contraditório, o SESS e o IGFSS referem que “À semelhança do que aconteceu nos anos de 2020 e 2021,
em 2022 continuou-se a acolher as recomendações 45–PCGE/2018 e 37–PCGE/2019, pois não se desvirtualizou o saldo
intrínseco a cada um dos sistemas. No ano de 2022 existiu um conjunto de despesa relacionada com medidas
1 Nos PCGE 2018 e 2019, o TC recomendou (Recomendações 45–PCGE/2018 e 37–PCGE/2019) que as previsões orçamentais
dos encargos da responsabilidade do Estado fossem fiáveis, de modo a evitar um sobrefinanciamento por parte das
transferências do OE e que os excedentes do sistema de proteção social de cidadania fossem sucessivamente transferidos
para o sistema previdencial-repartição. A recomendação foi considerada acolhida em 2021, tendo em conta que uma parte
substancial dos valores transferidos se destinaram a fazer face a despesas COVID-19, despesa obrigatoriamente financiada
por transferências do OE, e também pelo reconhecimento da necessidade de manter uma margem de segurança nas
previsões efetuadas para evitar roturas no sistema de proteção social de cidadania.
127
Sobre as recomendações formuladas no PCGE 2020, no âmbito da CSS:
128
3.3. Balanço e demonstração de resultados
3.3.1. Balanço
O balanço, que reflete a posição financeira e patrimonial da segurança social, evidencia um aumento, em termos
líquidos, de 1 470 M€ (4,0%) face a 2021.
3.3.1.1. Ativo
O ativo líquido manteve a estrutura do ano anterior continuando as disponibilidades a representar 83,0% do
total. Também as principais áreas de risco ao nível dos valores relevados no balanço se mantêm nas rubricas
referentes às dívidas de terceiros (com peso de 15,7%) e ao imobilizado (com um peso de apenas 1,1%).
Em termos brutos, o imobilizado, no seu conjunto, cresceu 1,4% (+13 M€) (4,0%, +36 M€ em 2021). As
imobilizações corpóreas, que representam mais de 75% destes ativos, apresentaram um crescimento relativo
de 2% (4,8% em 2021), enquanto os investimentos financeiros registaram uma quebra de 3 M€ (-2,4%).
129
Quadro 56 – Imobilizado – 2021-2022
(em milhares de euros)
2021 2022
Imobilizado
Bruto Líquido Bruto Líquido
Imobilizações incorpóreas 942 43 864 153
Imobilizações corpóreas 823 060 302 955 839 327 315 576
Investimentos financeiros 128 775 109 249 125 707 104 548
Total 952 776 412 247 965 898 420 277
Fonte: CSS de 2021 e 2022.
atualização dos inventários para a transição para o SNC-AP em 2023 tem proporcionado
regularizações contabilísticas relevantes.
Os bens imóveis4 registam um valor bruto de 400 M€ (reduzido em 26,7% pelas amortizações
acumuladas). No quinquénio 2018/2022, este património aumentou em termos brutos 11 M€ (2,9%) e
diminuiu em termos líquidos 6 M€ (2,1%), com as imobilizações corpóreas a representarem em média
77%5 do valor bruto e os investimentos financeiros os remanescentes 23%. O Tribunal tem vindo a
identificar fragilidades nos registos contabilísticos associados aos imóveis ao nível da documentação de
suporte aos valores contabilizados, bem como factos que concorrem para a sobrevalorização e
subvalorização das demonstrações financeiras da SS (cfr. Anexo D5)6.
1 Aquisições (por parte do II, no valor de 8,2 M€, do ISSA 379 m€, do ISS 314 m€, do ISSM 199 m€ e do IGFSS 75 m€) e
transferências de imobilizado em curso de software e de hardware (por parte do II, no valor de 15,4 M€).
2 No ISS a variação de 2 M€ decorreu de valorizações (+784 m€), regularizações contabilísticas (-2,2 M€), abates (660 m€) e
transferências ao abrigo do DL 112/2004, de 13/05 (192 m€).
3 O ISSA, em contraditório, informou que se encontra em curso a reconciliação físico-contabilística, bem como o registo da
localização dos bens e a implementação de procedimentos de validação da conformidade das taxas de depreciação. No
mesmo âmbito, o Secretário de Estado da Segurança Social (SESS) informou que as instituições continuarão a implementar
procedimentos de forma a garantir a atualização dos inventários, a validar as conformidades das taxas de depreciação
aplicadas e a regularizar as situações irregulares detetadas pelo Tribunal.
4 Relevado nas contas 421-Terrenos e recursos naturais, 422-Edifícios e outras construções e 414-Investimentos em imóveis.
5 Com os terrenos a corresponderem a 14% e os edifícios e outras construções a 63%.
6 Em contraditório, o IGFSS e o ISSA apresentaram algumas razões justificativas das fragilidades (cfr. Anexo D5).
130
Os investimentos financeiros diminuíram em cerca de 3 M€, devido ao efeito conjugado do aumento de
cerca de 3 M€ nos investimentos financeiros (cerca de 1 M€ de transferências do ISS)1 e da diminuição de
6 M€ em outras aplicações de tesouraria, referentes a dois depósitos a prazo constituídos como garantia
dos empréstimos concedidos pela Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) às instituições do setor não
lucrativo, no âmbito das Linhas de Crédito I e II de apoio à economia social iniciados em 2012.
A informação completa e integrada relativa aos imóveis detidos pelas entidades da Segurança Social, com a identificação
da sua situação e reconciliação com a informação contabilística, é necessária não só para uma adequada gestão dos
imóveis, como também para o correto registo nas demonstrações financeiras. Assim, no âmbito de elaboração deste
Parecer2 apurou-se que:
O património imobiliário dos institutos da segurança social é constituído por 3 124 imóveis3, disperso por 201
municípios do continente e ilhas, valorizados em 322 M€4 (cfr. Anexo D6).
1 949 imóveis (61,6% do total) estão registados por valores inferiores a 10 m€.
Não se colocando em causa a correção do registo contabilístico baseado no custo histórico, estes valores
tenderão a estar afastados do valor de mercado, pelo que se deverá aproveitar a implementação do SNC-AP e a
possibilidade de mensuração pelo Valor Patrimonial Tributário (VPT), quando não exista informação fiável e
atualizada sobre o custo5, para uma imagem mais verdadeira sobre o património imobiliário detido6.
Neste âmbito, a implementação do novo regime contabilístico SNC-AP terá algum impacto, seja pela
possibilidade, já referida, de remensuração dos imóveis, seja pela necessidade de adequação das vidas úteis ao
determinado no SNC-AP7.
Quanto à ocupação e finalidade dos imóveis, constatou-se a existência de diferentes situações, conforme se
evidencia na figura seguinte.
131
Figura 11 – Caracterização do património imobiliário da segurança social
(a) 21 imóveis, por se situarem em territórios de baixa densidade, foram dispensados da aplicação do princípio da onerosidade (n.º 6 do art.
119.º da LOE 2022).
Fonte: Informação disponibilizada pelo IGFSS, ISS, ISSA e ISSM. Cálculos TC.
Os imóveis detidos pela SS deverão ser utilizados na prossecução das suas atividades ou para a obtenção de rendimento,
sendo que a existência de 425 imóveis devolutos contraria uma utilização eficiente do capital existente. Esta situação
carece de avaliação cuidada, até porque 57 desses imóveis foram obtidos através de dação em cumprimento1 e 11 foram
alvo de aquisição, traduzindo exfluxos de recursos financeiros para a obtenção destes ativos, que não estão a ser
utilizados, quer na atividade operacional, quer para a obtenção de rendimento2.
A análise das contas da SS encontra-se assim prejudicada por estar em causa a integridade e totalidade dos registos
necessárias à garantia da imagem verdadeira e apropriada das demonstrações financeiras.
1 O IGFSS, em contraditório, refere que sobre os mesmos impendem um conjunto de ações tendo em vista a sua rentabilização.
Contudo, verifica-se que existem imóveis nestas condições desde 2010.
2 O art. 196.º do Código dos Regimes Contributivos do sistema previdencial de segurança social permite que esta aceite em
pagamento a dação de móveis ou imóveis, por parte do contribuinte, para extinção total ou parcial de dívida vencida. Trata-
se, pois, de um ato discricionário da administração, em que importaria acautelar quer a utilidade dos bens para o exercício
da atividade da segurança social, quer a possibilidade da sua alienação num prazo razoável e por um valor muito próximo do
contratualizado para a dação, aspetos que se revelam essenciais para a aferição do interesse público dos negócios em causa,
o qual passa, necessariamente, pela cobrabilidade dos valores em dívida à segurança social.
3 6 imóveis relevados nas demonstrações financeiras do IGFSS e 1 imóvel no ISS. Em contraditório, o ISS informou que vai
proceder à análise e correção do imóvel que se encontra registado pelo valor nulo. Por sua vez, o IGFSS refere que 4 dos 6
imóveis correspondem a sub-números zero e os restantes 2 permanecem em inventário para efeitos de controlo. No entanto,
os 6 imóveis relevados com valores nulos referem-se a sub-números de 1 a 6, correspondendo a várias frações, com o valor
total de todas as frações no sub-número 0 (414000005131).
4 21 estão incluídos nos 29 sem número de inventário atribuído nem valor. Em contraditório, o ISS e o IGFSS informaram que
apenas procedem ao registo dos imóveis inscritos em seu nome na conservatória do registo predial (CRP). Considera-se que,
mesmo em POCISSSS, esta é uma interpretação muito restritiva e chama-se a atenção para que, com a revogação do CIBE e
a implementação do SNC-AP, os procedimentos de reconhecimento de ativos, nomeadamente imóveis, deverão ser
alterados.
5 40 números de inventário referem-se a obras de beneficiação em edificados, no valor de 1,3 M€, aos quais acrescem mais 4,
no valor de 253 m€, identificados pelo ISS em contraditório.
6 O art. 36.º do CIBE determina que o valor do terreno não está sujeito a amortização.
7 Em contraditório, o ISS informou das dificuldades na obtenção da informação contabilística e que iria regularizar as situações
com a implementação do SNC-AP. O SESS, no mesmo âmbito, informou que o processo de implementação do SNC-AP foi
aproveitado para a correção dos registos.
132
3.3.1.1.2. Ao nível da dívida de terceiros
Em 31/12/2022, a dívida bruta representava 34,0% do ativo (29,3% em 2021), ascendendo a 16 840 M€ (+26,3%
do que em 2021), principalmente em resultado do aumento da dívida de médio e longo prazos (+3 093 M€;
+31,1%)1, mas também da de curto prazo (+411 M€; +12,1%). Também a dívida líquida de provisões para
cobrança duvidosa evidencia um acréscimo de 978 M€ (+19,5% face a 2021), atingindo o valor de 5 989 M€, dos
quais 2 240 M€ registados como dívida de médio e longo prazos, mais 468 M€ face a 2021(+26,4%), e 3 749 M€
como dívida de curto prazo, mais 510 M€, face a 2021(+15,7%).
Em 2022, pela primeira vez, foram relevados juros vencidos sobre dívidas de contribuintes, no montante de
2 901 M€2, indo ao encontro do recomendado pelo Tribunal há vários anos. Sem o efeito da relevação
contabilística dos referidos juros, a dívida bruta cresceu 603 M€ (4,5%), enquanto a dívida líquida (deduzida de
provisões) ascendeu a 5 453 M€ (+8,8%).
Dívida de Contribuintes
Os créditos sobre contribuintes representam 82,6% do total da dívida bruta e aumentaram 33,6% face a 2021
verificando-se que:
74,1% (10 303 M€) do valor dos créditos estava em mora há mais de um ano, sendo que 76,6% desta
dívida (7 890 M€) estava participada a execução fiscal (+301 M€ que em 2021). Desta última, refere-se
o seguinte:
79,9% (6 307 M€) tem uma antiguidade superior a 5 anos (prazo legal para a prescrição de dívidas à
segurança social);
53,3% (4 207 M€) tem uma antiguidade superior a 10 anos, refletindo para além da sua antiguidade
o risco de incobrabilidade;
4,1% (327 M€) tem uma antiguidade superior a 20 anos, pelo que se consideram praticamente
incobráveis, independentemente dos procedimentos efetuados pela segurança social, com vista à
não prescrição destas dívidas;
16,5% (1 301 M€) estava associada a planos prestacionais, um acréscimo de 299 M€ (29,8%);
1 Em 2022 foram extintos por prescrição créditos no valor de 101 M€ (Contribuintes: 100,7 M€; Beneficiários: 666 m€).
2 2 891 M€ de dívidas de juros de dívidas participadas a execução fiscal com uma maturidade superior a 12 meses e 10 M€ de
dívida de juros de dívidas participadas a execução fiscal com uma maturidade inferior ou igual a 12 meses.
133
18,2% (1 436 M€) era relativa a contribuintes com dívidas superiores a 1 M€1.
61,2% (8 517 M€) estava classificada como dívida de cobrança duvidosa (57,0% em 2021, representando
5 939 M€) estando provisionada em 98,2% (8 365 M€) (99,2% em 2021, atingindo 5 890 M€), refletindo,
para além da sua antiguidade, o risco de incobrabilidade2.
Em 2022, foram prescritas dívidas de contribuintes3 no montante de cerca de 100 M€ (+21,3 M€, 27,5%,
face a 2021) e foram anuladas dívidas prescritas em anos anteriores no montante de cerca de 42 M€,
mais 112,1% face a 2021 (41,3% da dívida prescrita no ano). Sem o efeito da extinção e anulação de
créditos por prescrição, a dívida de contribuintes cresceu 33,4% em 2022.
Neste exercício foi relevado contabilisticamente, pela primeira vez, nas demonstrações financeiras do
IGFSS4, ISSA5 e ISSM6 o montante de dívida e provisões referentes a juros de mora de contribuintes
apurados relativamente a processos de execução fiscal, à data de 31/12/20227, respetivamente de
2 901 M€ e de 2 365 M€. Excluindo o impacto da relevação dos juros, a dívida bruta de contribuintes
aumentou, face a 2021, 594 M€ (+5,7%) e líquida de provisões cresceu 485 M€ (+10,7%).
De notar, contudo, que só foram relevados juros vencidos para as dívidas participadas a execução fiscal
(56,7% das dívidas de contribuintes), continuando a não serem relevados juros para 43,3% destas
dívidas, no valor de 6 022M€. Em contraditório, o IGFSS informou que ainda não se encontram
salvaguardadas as condições técnicas para o apuramento dos juros relativos à dívida de contribuintes
residente no sistema de conta corrente GC. O SESS, no mesmo âmbito, refere que se irão efetuar todas
diligências necessárias para o acolhimento total da recomendação.
Desta forma, continua a não ser integralmente cumprido o princípio da especialização dos exercícios, tal
como previsto no POCISSSS, uma vez que para uma parte da dívida relevada nas demonstrações
financeiras da segurança social não são calculados juros vencidos, subvalorizando as demonstrações
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
financeiras na exata medida do valor desses juros. Em contraditório, o IGFSS informou que ainda não se
encontram salvaguardadas as condições técnicas para o apuramento dos juros relativos à dívida de
contribuintes residente no sistema de conta corrente GC. O SESS, no mesmo âmbito, refere que se irão
efetuar todas diligências necessárias para o acolhimento total da recomendação.
No ponto 14 da nota 17 do Anexo às demonstrações financeiras e orçamentais consolidadas é indicado
que os proveitos são contabilizados no período a que dizem respeito, independentemente da data do
seu recebimento. No entanto, este princípio ainda não foi aplicado à totalidade dos juros vencidos e não
1 636 contribuintes com dívidas superiores a 1 M€, sete destes com dívidas superiores a 10 M€.
2 98,6% da dívida de cobrança duvidosa tem antiguidade superior a dois anos estando, por isso, provisionada a 100%. Existem
valores em dívida desde 1976.
3 Sem considerar coimas e custas. Essencialmente dívida que tinha sido prescrita nos anos de 2010 (35 M€), 2011 (2 M€), 2009
(1 M€) e 2021 (823 m€).
4 10 M€ de dívidas referentes a juros vencidos com uma maturidade inferior ou igual a 12 meses e 2 741 M€ de dívida de juros
com uma maturidade superior a 12 meses e provisões sobre essas dividas com uma maturidade inferior ou igual a 12 meses
de 1 M€ e com uma maturidade superior a 12 meses de 2 234 M€.
5 155 m€ de dívidas referentes a juros vencidos com uma maturidade inferior ou igual a 12 meses e 47 M€ de dívida de juros
com uma maturidade superior a 12 meses e provisões sobre essas dividas com uma maturidade inferior ou igual a 12 meses
de 14 m€ e superior a 12 meses de 38 M€.
6 154 m€ de dívidas referentes a juros vencidos com uma maturidade inferior ou igual a 12 meses e 102 M€ de dívida de juros
com uma maturidade superior a 12 meses e provisões sobre essas dividas com uma maturidade inferior ou igual a 12 meses
de 17 m€ e superior a 12 meses de 93 M€.
7 Dando cumprimento ao recomendado desde há vários anos (31-PCGE/2021, 31-PCGE/2020, 28-PCGE/2019, 34-PCGE/2018,
40-PCGE/2017, 64-PCGE/2016, 79-PCGE/2015, 72-PCGE/2014 e 70-PCGE/2013).
134
pagos provenientes de dívida contributiva e não é divulgada informação que justifique a sua não
aplicação, contrariando o ponto 3.2 do POCISSSS e induzindo em erro os utilizadores das demonstrações
financeiras.
Verifica-se que (cfr. Anexo D7) a dívida refletida na conta de contribuintes continua, em 2022, a padecer de
erros e omissões, nomeadamente pela: impossibilidade de validação da informação existente no SIF e nos
sistemas de contas correntes inviabilizando o controlo ao encerramento de contas; existência de dívidas de juros
de mora com saldos contranatura; anulação de prescrições; e não inclusão da dívida não participada a execução
no processo de análise da cobrabilidade e da constituição de provisões. Em contraditório, o IGFSS referiu que a
dívida residente em conta corrente terá de ser objeto de análise, por forma a corrigir eventuais situações de
dívida indevida ou ainda não participada a execução fiscal, e assim proceder à constituição das respetivas
provisões.
Dívida de Clientes
As dívidas de clientes, que em 2022, ascendem a 1 824 M€ (+1,8% do que em 2021), em termos brutos, e advêm,
como se tem verificado nos últimos anos, das dívidas ao Fundo de Garantia Salarial (FGS), no montante de
1 394 M€, e ao Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores (FGADM), no valor de 429 M€. Em ambos
os casos, a quase na totalidade da dívida está provisionada a 100%, dada a natureza destes fundos1 e a elevada
incobrabilidade das dívidas. Do total da dívida ao FGADM, apenas 2,2% correspondem a acordos prestacionais
voluntários (10 M€) e 22,3% (95 M€) está participada em execução fiscal2, pelo que a maior parte da dívida,
75,5% (324 M€), não está abrangida por qualquer acordo nem em execução fiscal3.
A dívida refletida na conta de clientes continua (cfr. Anexo D8), em 2022, a padecer de erros e omissões,
designadamente por não registo da sua incobrabilidade, pelo que mesmo as dívidas para as quais não há
89 M€ (11,6%) estavam participados a execução fiscal5 – em 2022 houve uma agilização no processo de
recuperação destas dívidas, tendo sido participados a execução fiscal cerca de 33 M€, envolvendo
51 646 beneficiários, o que, face a 2021, representou um acréscimo de 112,5% em valor (17 M€) e 73,8%
em número (21 930 beneficiários);
1 O FGS assegura o pagamento aos trabalhadores de créditos que não possam ser pagos pela entidade empregadora por
motivo de insolvência ou de situação económica difícil. Por sua vez, o FGADM assegura o pagamento das prestações de
alimentos, em substituição da pessoa judicialmente obrigada, no caso de incumprimento desta obrigação.
2 9 M€ correspondiam a acordos prestacionais executivos.
3 Situação que também se explica pela significativa desaceleração na participação a execução fiscal face a 2021. Em 2022,
foram participadas dívidas de 2 505 devedores, num total de 14 M€ (17 343 devedores; 91 M€, em 2021).
4 Em contraditório, o IGFSS e o SESS informaram que quanto ao FGS se prevê solucionar e concluir até final de 2024 a revisão
do sistema informático e que, relativamente à dívida do FGADM, o registo da dívida incobrável é uma matéria que será objeto
de articulação em conjunto com as várias instituições da SS, nomeadamente com o II.
5 19,6% (17 M€) desta dívida estava incluída em planos prestacionais executivos.
135
637 M€ (83,1%) da dívida continua a não estar participada a execução fiscal nem enquadrada em planos
prestacionais de cobrança voluntária, o que compromete a sua cobrança.
A dívida de prestações sociais a repor continua a padecer de erros e omissões (cfr. Anexo D9).
Outros devedores
Existem outros créditos de terceiros, no valor de 339 M€, dos quais ressalta um conjunto de dívidas com
bastante antiguidade que ascendem a 120 M€ e têm vindo a ser objeto de acompanhamento por parte do
Tribunal (cfr. Anexo D10). O IGFSS, em contraditório, informou que tem efetuado procedimentos e tentativas
de resolução junto das entidades devedoras e que no próximo exercício económico vai dar continuidade aos
trabalhos desenvolvidos.
As disponibilidades representam 63,9% do ativo bruto e totalizaram 31 652 M€, mais 486 M€ (1,6%) do que em
2021. Incluem títulos negociáveis, na sua maioria títulos de dívida pública1, depósitos (no Tesouro2 e em
Instituições Financeiras) e caixa. 81,5% destas disponibilidades são títulos na posse do FEFSS3, que registaram
uma diminuição de 874 M€4 (-3,3%) face a 2021 (cfr. Quadro 58).
136
O exame efetuado permitiu identificar fragilidades1 particularmente ao nível das reconciliações bancárias e de
atualizações em falta nas autorizações de movimentações dos fundos (cfr. Anexo D11). No geral, verificou-se
uma melhoria no que respeita aos documentos por reconciliar, tanto em número como em volume financeiro,
em especial nos documentos do próprio ano. Mantém-se, contudo, a transição de documentos por reconciliar,
com montantes significativos (1 210 M€), impedindo a relevação nas demonstrações financeiras de valores
disponíveis nas contas bancárias, traduzindo-se numa subvalorização do saldo de disponibilidades e de execução
orçamental, podendo conduzir a saldos contabilísticos negativos2.
Os fundos próprios, no montante de 36 229 M€, são constituídos, na sua maioria, por património no valor de
24 926 M€, pertencendo 94,1% ao FEFSS (23 444 M€)4. À semelhança dos anos anteriores, verifica-se uma
tendência de crescimento, registando um aumento de 1 113 M€ (3,2%) face a 2021, por força:
1 O IGFSS e o SESS, em contraditório, informaram que, a par da implementação do SNC-AP, também estão em curso trabalhos
de desenvolvimento de novos interfaces que permitirão a contabilização correta e a integração das cobranças. Já o II, no
mesmo âmbito, refere que de modo a ultrapassar a situação “…foi apresentada proposta de operacionalização ao IGFSS, I.P..
Até à data, ainda não foi possível consensualizar a solução, que tenha o devido acolhimento, para que os trabalhos se possam
iniciar com a necessária estabilidade”.
2 Em 2022, a síntese de reconciliação bancária do IGFSS apresenta 5 contas bancárias com saldo contabilístico negativo no
total de 3,7 M€.
3 Estas observações têm sido objeto de recomendações por parte do Tribunal em pareceres anteriores. Em contraditório, o
IGFSS referiu que a regulamentação do enquadramento e funcionamento da tesouraria única da SS, bem como a portaria
com a composição e os limites das aplicações de capital realizadas, se encontram em fase de apreciação, enquanto o SESS
informou que a primeira se encontra em fase de revisão e a segunda em apreciação, para posterior envio ao MF.
4 O valor do património relevado no balanço do FEFSS foi deduzido do movimento de consolidação efetuado pelo IGFSS
correspondente à receita proveniente de: saldo orçamental do sistema previdencial-repartição (2 601 M€) e alienação de
imóveis e rendimentos patrimoniais com origem no princípio da onerosidade (722 m€).
5 Valor referente a: i) saldos anuais do sistema previdencial-repartição (581 M€); ii) alienação de imóveis (445 m€) e iii)
rendimentos prediais (229 m€).
6 Valor referente a: i) consignação do IRC (297 M€); ii) adicional ao IMI (148 M€) e iii) adicional de solidariedade sobre o setor
bancário (34 M€).
7 No exercício de 2022, pela primeira vez; o IGFSS o ISSA e o ISSM relevaram dívida referente a juros de mora e respetivas
provisões de contribuintes, apurados relativamente aos processos de execução fiscal.
8 Foi reconhecida no balanço do IGFSS, como dívida a pagar ao Ministério da Agricultura, o montante de 138 M€, matéria que
foi objeto de recomendação do Tribunal.
137
do resultado líquido do ano de 242 M€, apresentando uma diminuição de 2 327 M€ (-90,6%), em larga
medida, reflexo do resultado bastante negativo do FEFSS (-3 269 M€).
Ao nível do património, verifica-se que continua por regulamentar uma parte do financiamento do FGS,
designadamente a comparticipação do Estado, e o Fundo continua a não ter património próprio (contrariando
a Diretiva 2008/97/CE), sendo de difícil constituição devido ao facto de os saldos de gerência gerados pelas
receitas atribuídas ao Fundo reverterem para o OSS1, não se encontrando assim a legislação nacional em linha
com a legislação da UE no que à constituição de património diz respeito2.
3.3.1.3. Passivo
O passivo aumentou 358 M€ (23,4%), face a 2021, totalizando 1 883 M€. O grupo patrimonial mais significativo
é o dos acréscimos e diferimentos (contas de especialização de exercícios), no qual a conta de proveitos
diferidos3, que aumentou 1,7% (18 M€), apresenta um peso de 56,5% (1 064 M€).
As responsabilidades com terceiros, relevadas em outros credores, ascendem a 522 M€ (+322 M€, +162,2% face
a 2021) em reflexo da atividade do IGFSS, do ISS e do FEFSS. No caso do IGFSS, deve-se à assunção da dívida ao
Ministério da Agricultura no valor de 138 M€ e da relevação de mais de 2 M€ referentes a dívidas relacionadas
com o Fundo de Compensação do Trabalho (FCT)4. Já no ISS decorre do aumento de 45 M€ relativos a credores
por prestações sociais em prescrição5 e 29 M€ relacionados com credores pela utilização das verbas no âmbito
do PRR. No caso do FEFSS deve-se ao aumento de valores pendentes de liquidação relativos a operações com
instrumentos financeiros (108 M€).
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
As provisões para riscos e encargos aumentaram 4,1% (2 M€), ascendendo a 60 M€, sendo que o ISS é
responsável por 97,4% (59 M€)6 das mesmas, destacando-se com maior probabilidade de gerar uma saída de
recursos do Instituto as ações administrativas (46 M€) e as impugnações judiciais (13 M€).
1 N.º 3 do art. 14.º do Regime do FGS. Recomendações: 43-PCGE/2021, 37-PCGE/2020, 33-PCGE/2019, 41-PCGE/2018, 46-
PCGE/2017, 71-PCGE/2016, 89-PCGE/2015, 82-PCGE/2014 e 75-PCGE/2013. Estas recomendações têm sido dirigidas aos
membros do Governo responsáveis pela área do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social e pela área das Finanças.
No âmbito do seu acompanhamento, o SESS em junho de 2023 informou que, da articulação com os serviços, resultou uma
nova versão do projeto de portaria que visa definir os termos do financiamento do FGS por parte do Estado, que essa se
encontra a ser trabalhada pelo ministério.
2 Em contraditório, o IGFSS e o SESS informaram que os termos do financiamento do FGS se encontram em fase de apreciação.
3 Onde se relevam os saldos na posse da SS relativos a fundos consignados ao financiamento de ações de formação profissional
e projetos sociais com suporte no OE e no FSE e a outros programas com receita consignada no montante de 1 046 M€.
4 O FCT é um fundo autónomo, dotado de personalidade jurídica e gerido por um Conselho de Gestão. É um fundo de
capitalização individual financiado pelas entidades empregadoras por meio de contribuições mensais. Estas contribuições
constituem uma poupança a que se encontram vinculadas, com vista ao pagamento de até 50% do valor da compensação a
que os trabalhadores abrangidos pelo novo regime venham a ter direito na sequência da cessação do contrato de trabalho.
5 Valores de prestações sociais devolvidos à segurança social colocadas a pagamento aos beneficiários, mas cujo pagamento
não ocorreu, por várias ordens de razão, tais como: NIB de destino inválido, moradas incorretas, etc..
6 Em 2022, foi cumprido o princípio da não compensação estabelecido no POCISSSS de que “Não se deverão compensar saldos
(…) de contas de custos e perdas com contas de proveitos e ganhos…”, dando acolhimento à recomendação do Tribunal
(Recomendação 38-PCGE/2021).
138
Constata-se que, presentemente, as demonstrações financeiras consolidadas da Segurança Social e individuais
das instituições que integram o respetivo perímetro não refletem a existência de passivos pela atribuição de
direito às prestações sociais, apresentando apenas os passivos decorrentes de prestações sociais que foram
processadas, mas ainda não recebidas pelos beneficiários.
Admite-se que as prestações sociais sujeitas a condições que pressupõem aferição de cumprimento de
requisitos (seja da situação ou recursos do beneficiário), que possam implicar a sua descontinuação, como o
subsídio de desemprego, apenas cumprem a condição de serem uma obrigação a cada momento de pagamento.
Porém, tal já não se verifica, por exemplo, no caso das pensões de velhice e invalidez em que, uma vez atribuída
e definida a pensão, se confere ao beneficiário um direito vitalício à mesma. Neste caso, o passivo não se verifica
a cada momento de pagamento, mas sim aquando da atribuição da pensão definitiva e vence-se parcialmente
a cada período de pagamento.
A situação descrita compromete a obtenção de uma imagem verdadeira e apropriada da situação financeira da
Segurança Social afetando, igualmente, a transparência do impacto das decisões que venham a ser tomadas
neste âmbito, como sejam as decisões de aumentos extraordinários das pensões, pelo que deverá ser
aproveitado o processo de implementação do SNC-AP para encetar os procedimentos necessários ao
reconhecimento adequado destas responsabilidades nas demonstrações financeiras e divulgações, bem como
os direitos conexos, nomeadamente as transferências do OE, no que concerne à cobertura das
responsabilidades do Sistema de Proteção Social de Cidadania, em articulação com a Comissão de Normalização
Contabilística, sempre que pertinente.
O SESS e o IGFSS, no âmbito do contraditório, informaram que, atendendo à especificidade do Sistema Público
de Pensões, será promovida uma análise mais aprofundada sobre o tema.
Em 2022, os proveitos totalizaram 41 790 M€ enquanto os custos ascenderam a 41 549 M€, resultando num
resultado líquido positivo de 242 M€, o que representa uma quebra de 2 327 M€ (-90,6%) face a 2021.
139
(…)
(em milhões de euros)
Valor Variação 2022/2021
Contas
2021 2022 Valor %
Proveitos e Ganhos
Impostos e taxas 20 207 22 986 2 779 13,8
Transferências e subsídios correntes obtidos 12 197 11 489 -708 -5,8
Outros proveitos e ganhos operacionais 123 82 -41 -33,0
Total dos proveitos operacionais 32 528 34 557 2 030 6,2
Proveitos e ganhos financeiros 2 219 1 596 -623 -28,1
Proveitos e ganhos extraordinários 9 044 5 637 -3 407 -37,7
Total dos Proveitos e Ganhos 43 791 41 790 -2 000 -4,6
Resultados operacionais 1 023 2 699 1 676 163,9
Resultados financeiros 802 -3 258 -4 060 -506,5
Resultados extraordinários 744 801 57 7,6
Resultado líquido do exercício 2 569 242 -2 327 -90,6
Fonte: CSS de 2021 e 2022.
Do acréscimo de 2 030 M€ (6,2%) dos proveitos operacionais sustentado em grande medida pelo
aumento: i) das contribuições e quotizações para a SS declaradas em 2 781 M€ (13,9%)1; ii) do
financiamento para cumprimento da LBSS (+642 M€) e iii) da receita consignada do IVA social 6,0%
(+55 M€), que foram parcialmente compensados pela diminuição: i) dos fundos europeus em 256 M€
(-18,5%) destinados, sobretudo, a ações de formação profissional; ii) dos financiamentos do OE para as
medidas COVID (-679 M€, -43,9%), bem como, iii) da afetação ao sistema previdencial, realizada em
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Do decréscimo dos proveitos extraordinários em 3 407 M€ (-37,7%) decorrente das diminuições de: i)
3 368 M€ (-40,8%) em correções às declarações de contribuições para a segurança social3; ii) nos ganhos
em imobilizações e existências em 9 M€ (-77,9%) e 7 M€ (-92,7%), respetivamente. Estas variações
foram parcialmente mitigadas pelos acréscimos: i) 38 M€ (+12,4%) em reduções de provisões
constituídas para dívidas de contribuintes e de prestações sociais; ii) 22 M€ (+112,1%) em recuperação
de dívidas de contribuintes e iii) 10 M€ da relevação, pela primeira vez, de especialização de proveitos
de juros referentes aos processos de execução fiscal.
1 Por força da recuperação da atividade económica, crescimento do PIB e dinâmicas positivas no mercado de trabalho, com o
aumento da população ativa e a criação líquida de empregos. E ainda, da atualização da retribuição mínima mensal garantida
(RMMG), de 665€ em 2021 para 705€ em 2022, nos termos do DL 109-B/2021, de 07/12, que alargou a base de incidência
das contribuições e quotizações para a segurança social.
2 Nos termos do art. 376.º da LOE 2021 a receita fiscal consignada ao FEFSS proveniente de IRC e AIMI foi afeta ao sistema
previdencial-repartição. Nos anos em que estas receitas são afetas ao FEFSS são contabilizadas na conta de 51 – Património.
3 As correções efetuadas a declarações de anos anteriores levam ao registo de um custo extraordinário pela anulação da
declaração incorreta e a um proveito extraordinário pelo registo da nova declaração corrigida. Em 2022, os valores foram de
4 646 M€ de custos e 4 879 M€ de proveitos, com um impacto líquido de +233 M€ nos resultados do ano.
140
a mercado (-835 M€, -98,0%); ii) alienação de aplicações de tesouraria (-130 M€, -97,5%); iii) juros
obtidos (-14 M€, -3,8%); iv) rendimentos de participações de capital (-11 M€, -10,0%)1, que excederam
em muito os aumentos decorrentes das diferenças de câmbio favoráveis realizadas (+260 M€, +103,6%)
e dos ganhos de contratos futuros (+107 M€, +60,0%).
Do aumento dos custos e perdas financeiros em 3 437 M€ (+242,5%), explicado pela subida nos custos
do FEFSS (+3 436 M€, +242,8%), que resultaram, em grande medida, dos aumentos: i) das menos valias
potenciais por revalorização a mercado (+2 478 M€, +420,8%); ii) das perdas na alienação de aplicações
de tesouraria (+416 M€, +448,8%); iii) das diferenças de câmbio desfavoráveis realizadas (+311 M€,
+58,2%) e potenciais (+103 M€, +228,3%); e iv) das perdas em contratos futuros (+129 M€, +84,5%).
Do acréscimo dos custos operacionais (+354 M€, +1,1%), motivado pelos aumentos: i) das prestações
sociais em 374 M€ (+1,4%); ii) das provisões do exercício (+87 M€, +20,8%)2; iii) dos encargos sociais
(+11 M€, +3,8%) e iv) das amortizações do exercício (+8 M€, +37,1%), que foram parcialmente
contrabalançados pela diminuição das transferências e subsídios em 127 M€ (-2,6%).
O acréscimo das prestações sociais, que ascenderam a 26 192 M€ (63,0% do total dos custos), resultou
dos seguintes aumentos: i) pensões e complementos (+1 245 M€, +6,6%), com especial destaque para o
acréscimo na parcela de atualização de pensões (+797 M€, +106,7%) e ii) novos apoios extraordinários
aos titulares de prestações sociais e às famílias mais vulneráveis (+536 M€), criados em 20223, que foram
em parte compensados pelas diminuições: i) prestação social para a inclusão e respetivo complemento
(-50 M€, -9,7%); ii) prestações com desemprego e apoio ao emprego (-316 M€, -20,1%) e iii) prestações
excecionais e temporárias COVID-19 (-1 428 M€, -75,3%).
Da diminuição dos custos e perdas extraordinários em 3 463 M€ (-41,7%), que resulta sobretudo do
decréscimo do valor da anulação de contribuições para a SS em 3 485 M€ (-42,9%).
Em suma, o acentuado decréscimo do resultado líquido do exercício de 2022 resultou dos movimentos
verificados nos três grupos de resultados: a) operacionais (2 699 M€), com um acréscimo no valor de 1 676 M€
(+163,9%), muito suportado pela evolução das contribuições; b) extraordinários (801 M€) com um aumento de
57 M€ (+7,6%), assente no efeito líquido das correções relativas a anos anteriores e nas reduções de
1 E ainda, com a diminuição dos ganhos potenciais de diferenças de câmbio favoráveis (1,3 M€ -0,4%).
2 Em 2022, foi relevada contabilisticamente nas contas das entidades IGFSS, ISSM e ISSA dívida referente a juros de mora e
respetivas provisões de contribuintes com dívida participada a SEF.
3 Como mitigação dos impactos económicos do choque geopolítico foram estabelecidas medidas legislativas de apoio
extraordinário às pessoas mais vulneráveis, definidas pelo DL 28-A/2022, de 25/03, DL 30-D/2022, de 18/04, com a 3.º fase
definida no DL 85-B/2022, de 22/12. E ainda, o pagamento de um apoio a titulares de rendimentos e prestações socias e de
um apoio extraordinário por pessoa dependente, ambos, no âmbito das medidas de apoio às famílias previstas no DL 57-
C/2022, de 06/12.
141
amortizações e provisões; c) financeiros (-3 258 M€) com um decréscimo no montante de 4 060 M€ (-506,5%),
devido essencialmente ao desempenho da atividade do FEFSS1.
Os erros identificados no ponto 3.3.1 e detalhados nos Anexos D4, D5, D7, D8, D9 e D10, nomeadamente os que
afetam os valores das amortizações, provisões e especialização do exercício, também impactam, pelos motivos
aí referidos, o apuramento dos resultados. Em 2022, verificou-se a correção parcial de um desses erros, com o
registo, pela primeira vez, da especialização dos juros referentes aos processos de execução fiscal que teve um
impacto positivo de 9 M€ nos resultados do ano (10 M€ de proveitos e 1 M€ de custos com provisões).
A ocupação ou utilização dos imóveis propriedade do IGFSS, por outras entidades públicas, devem ser, sem
exceção, sujeitas ao pagamento de uma contrapartida nos termos de aplicação do princípio da onerosidade2,
até que seja celebrado um contrato de arrendamento (conforme determinado nas LOE desde 2019)3. Os valores
dessas contrapartidas, quando não resultam de um valor comercial, são determinados por um valor unitário por
m2 consoante a localização do imóvel4 e são, em regra, inferiores aos valores de renda que têm vindo a ser
comunicados para efeito de contratos de arrendamento5.
Desde 2019, os valores cobrados e os ainda em dívida pela utilização dos imóveis do IGFSS são os seguintes
Princípio da onerosidade
relativo a Capital Juros Total Capital Juros Total
2019 118 0 119 4 365 33 4 398
2020 105 2 106 4 354 278 4 632
2021 22 0 22 4 872 488 5 360
2022 19 0 19 4 872 690 5 563
Total 264 2,1 266 18 464 1 489 19 953
(a) Os valores em dívida de 2019, 2020 e 2021 divergem dos evidenciados no PCGE 2021 pois, em 2022, o IGFSS procedeu ao recálculo
do valor dos juros (131 m€), retificou o valor de um imóvel por correção das áreas (5 m€) e anulou o valor em dívida de outrol (50 m€).
Fonte: SIF e IGFSS. Cálculos TC.
As LOE 2021 e 2022 determinam que as receitas resultantes da aplicação do princípio da onerosidade sejam
transferidas para o FEFSS. Neste âmbito, verifica-se que foram transferidos 240 m€6, faltando transferir 9,3 m€7,
tendo o IGFSS informado8 estar em curso essa regularização e transferência dos montantes em falta.
142
O IGFSS tem vindo a desenvolver procedimentos com vista a melhorar esta situação. No entanto, os trabalhos
de verificação realizados no âmbito deste Parecer revelam que os procedimentos e as ações de controlo não
têm sido suficientemente eficazes e justificam os números acima evidenciados (cfr. Anexo D12)1. Também a
matéria referente à participação das dívidas das contrapartidas para cobrança em execução fiscal, que tem sido,
desde 2020, sinalizada como uma funcionalidade prioritária, no âmbito do Plano Anual de Desenvolvimento de
Sistemas de Informação e Infraestrutura Tecnológica (PADSIIT), encontra-se agora apontada como um
desenvolvimento a realizar após a entrada em exploração do SNC-AP, a ocorrer apenas em 2023. Em
contraditório, o IGFSS vem, novamente, referir que a participação da dívida para efeitos de execução fiscal
aguarda a implementação de solução tecnológica, encontrando-se sinalizada como um desenvolvimento
posterior à entrada em exploração do SNC-AP. Salienta-se, no entanto, que, dado o reduzido número de
devedores (8), a participação destas dívidas poderia ser efetuada de forma manual.
Por outro lado, verificam-se 11 despachos de dispensa de aplicação do princípio da onerosidade e estão em
curso 11 transferências gratuitas e definitivas, de imóveis da SS, para as autarquias locais. Em 2022, verificou-se
ainda a transferência gratuita e definitiva de um imóvel da SS para a Fundação INATEL2. São tudo situações que,
apesar de terem enquadramento na Lei, traduzem-se numa diminuição do património da SS e reduzem a
afetação de receita ao FEFSS.
1 Em contraditório, o IGFSS vem refutar a apreciação de que as ações e procedimentos não têm sido suficientemente eficazes
no âmbito da aplicação do princípio da onerosidade, dando conta de todas as diligências efetuadas. No entanto, não obstante
as inúmeras diligências efetuadas pelo IGFSS, verifica-se que: existem imóveis sobre os quais ainda não foi aplicado o princípio
da onerosidade; existe um elevado valor em dívida que tem aumentado todos os anos e mantém-se a falta de participação
a SEF; é reduzido número de contratos de arrendamento celebrados. Desta forma, traduzindo a eficácia a obtenção de
resultados finais, não se pode considerar que os procedimentos têm sido eficazes.
2 Cedência da titularidade isenta de contrapartida – Despacho 553/2023, de 28/12, da Ministra do Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social.
143
Recomendações PCGE 2020 Ações tomadas/Progressos
Recomendação 27 (Rec. 28 – PCGE 2021)
Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança que O IGFSS procedeu à validação do ficheiro para efeitos de carregamento
diligencie no sentido de assegurar a adoção dos procedimentos da informação necessária para a transição para o novo sistema de
necessários para que, na transição para o novo referencial informação, com o objetivo de determinar o universo de imobilizados
contabilístico (SNC-AP), seja garantido que as demonstrações relativos a imóveis sob a sua gestão, de forma a migrar informação
financeiras reflitam de forma verdadeira e apropriada o valor dos fiável. O ISS adotou o critério de mensuração do custo (valores já
imóveis. existentes) para a transferência para o novo sistema de informação.
Manifestou ainda a pretensão de analisar o registo contabilístico de
todos os imóveis e utilizar o critério de mensuração do valor de
aquisição (modelo de custo), ou, em certos casos específicos, a
valorização pelo VPT. Verifica-se assim, que têm vindo a ser tomadas
ações relevantes, mas que, dado o exposto, a recomendação encontra-
se parcialmente implementada.
Recomendação 29 (Rec. 29 – PCGE 2021)
Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Ao nível da cobrança coerciva e dos acordos já é possível identificar por
Social que providencie no sentido de que nos trabalhos de devedor os valores em dívida. Relativamente à dívida em conta
encerramento de contas sejam disponibilizados elementos que corrente, não foi ainda oportuno dar continuidade aos trabalhos. Dado
permitam verificar os valores em dívida por contribuinte, com o exposto, a recomendação encontra-se parcialmente implementada.
indicação da sua antiguidade e desagregados por dívida em cobrança
voluntária ou coerciva.
Recomendação 30 (não reiterada)
Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Dado o universo de aproximadamente 22.000 registos de suspensões
Social que providencie no sentido de que sejam produzidos relatórios em Sistema de Execuções Fiscais, o IGFSS está a proceder ao
de acompanhamento dos controlos implementados com vista a tratamento casuístico e manual mensal de 30 registos por cada Secção
garantir a fiabilidade dos registos relativos à suspensão dos processos de Processo executivo, estando em condições de produzir relatórios
executivos e que esses relatórios sejam remetidos ao Tribunal com que remeterá ao TC, semestralmente, a partir de setembro de 2023.
periocidade semestral. Dado o exposto, a recomendação encontra-se por implementar.
Recomendação 31 (Rec. 31– PCGE 2021)
Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Em 2022, foi relevado contabilisticamente o valor dos juros de mora
Social que diligencie no sentido de assegurar que o princípio da calculados e não pagos em Sistema de Execuções Fiscais, encontrando-
especialização dos exercícios previsto no POCISSSS seja integralmente se por apurar os juros referentes às dívidas que não se encontram
cumprido, no que respeita aos juros vencidos devido a atrasos no participadas a execução fiscal. Verifica-se assim, que têm vindo a ser
pagamento de contribuições e quotizações. tomadas ações relevantes, mas que, dado o exposto, a recomendação
encontra-se parcialmente implementada.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
144
Recomendações PCGE 2020 Ações tomadas/Progressos
Recomendação 35 (Rec. 35 – PCGE 2021)
Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança O acatamento da recomendação está dependente do
Social que diligencie no sentido de serem concluídos os procedimentos desenvolvimento do Sistema Integrado de Pensões (SIP) e do respetivo
necessários para que o novo Sistema de Informação de Pensões seja lançamento dos movimentos nas contas correntes dos pensionistas,
concluído, de modo a ultrapassar as limitações do atual sistema e, prevendo-se a sua conclusão em 2024.
assim, permitir que a constituição de provisões para cobrança duvidosa Em outubro de 2022 foi disponibilizado o módulo de pedidos de
proveniente de dívida de pensões indevidamente pagas permita pensões sociais, de invalidez, velhice, viuvez e orfandade e foi iniciado
identificar o beneficiário, o mês e ano referência a que respeita a dívida o projeto para os pedidos de pensão de sobrevivência.
e o correspondente valor. Verifica-se, assim, que têm vindo a ser tomadas ações relevantes, mas
que, dado o exposto, a recomendação encontra-se parcialmente
implementada.
Recomendação 36 (Rec. 37 – PCGE 2021)
Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Estão em curso os trabalhos de desenvolvimento dos novos interfaces
Social que diligencie no sentido de que sejam ultrapassadas as de forma a permitir a contabilização correta e integral das cobranças.
dificuldades ao nível dos sistemas informáticos que têm impedido a O agrupamento dos registos de cobrança foi implementado com
reconciliação dos documentos contabilísticos com os extratos sucesso em 2022 permitindo reduzir o número de documentos
bancários. lançados no sistema informático e o número de documentos por
reconciliar. O programa de regularização automática dos documentos
por reconciliar aguarda desenvolvimento por parte do II, prevendo-se
a sua conclusão a 31/12/2023. Verifica-se assim, que têm vindo a ser
tomadas ações relevantes, mas que, dado o exposto, a recomendação
encontra-se parcialmente implementada.
Recomendação 37 (Rec. 43 – PCGE 2021)
Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Encontra-se a ser trabalhada na área governativa da segurança social
Social e das Finanças que diligenciem pela conclusão do projeto de uma nova versão do projeto de portaria que visa definir os termos do
Portaria que visa definir os termos do financiamento do Fundo de financiamento do Fundo de Garantia Salarial por parte do Estado, não
Garantia Salarial por parte do Estado e que assegurem que o Fundo se traduzindo as ações tomadas em resultados finais. Dado o exposto,
seja dotado de património próprio, alinhando a legislação nacional com a recomendação encontra-se por implementar.
a legislação comunitária.
Recomendação 38 (Rec. 40 – PCGE 2021)
Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Foi elaborada nova versão do projeto de diploma, que se encontra a
Social que no quadro da reforma em curso, proceda à definição do ser trabalhada na área governativa da segurança social. Não se
quadro legal aplicável à unidade de tesouraria da segurança social. traduzindo as ações tomadas em resultados, a recomendação
encontra-se por implementar.
145
Recomendações PCGE 2020 Ações tomadas/Progressos
Recomendação 42
Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Verificou-se articulação entre os Institutos com vista à confirmação dos
Social que diligencie no sentido de que seja promovida uma articulação requisitos para a transferência dos imóveis do ISS para o IGFSS,
entre o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social e o Instituto subsistindo, no entanto, situações pendentes nomeadamente imóveis
da Segurança Social, com vista à avaliação de todas as situações que ainda em análise no que concerne a sua sujeição ao princípio da
estejam abrangidas pelo art. 4.º do Decreto-Lei 112/2004, de 13/05, e onerosidade. De salientar que a situação dos imóveis não é estática,
sujeitas à aplicação do princípio da onerosidade. pelo que é necessário um acompanhamento sistemático que permita
detetar alterações como a reclassificação de entidades ocupantes ou a
possibilidade de transformação em propriedade horizontal de imóveis
que não estejam integralmente ocupados pelos serviços do ISS.
Verifica-se assim, que têm vindo a ser tomadas ações relevantes, mas
que, dado o exposto, a recomendação encontra-se parcialmente
implementada.
Recomendação 28 (Rec. 39 – PCGE 2021)
Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Foram efetuados registos e correções relativos ao capital e juros de
Social que diligencie no sentido de que seja cumprido o princípio da mora provenientes de dívidas por aplicação do princípio da
especialização dos exercícios relacionados com dívidas provenientes onerosidade, mantendo-se, no entanto, a existência de incorreções
do princípio da onerosidade. designadamente no que concerne ao cálculo dos juros, ao
reconhecimento da dívida e aos acertos por pagamento em excesso.
Verifica-se assim, que têm vindo a ser tomadas ações relevantes, mas
que, dado o exposto, a recomendação encontra-se parcialmente
implementada.
O Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) é um instrumento importante para a promoção
da sustentabilidade da segurança social. Foi constituído em 19891 com o objetivo de contribuir para a
estabilização financeira futura do sistema previdencial, designadamente assegurar a cobertura das despesas
previsíveis com pensões deste sistema, por um período mínimo de 2 anos.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
O Fundo valia 22 992 M€, no final de 2022, menos 188 M€ (-0,8%) face a 2021. A redução do valor do Fundo só
não foi mais acentuada porque o resultado de gestão da carteira bastante negativo (-3 269 M€) foi, quase
integralmente, compensado por entradas de capital (3 081 M€).
No final de 2022, o valor do Fundo correspondia a 144,3% da despesa anual com pensões suportada pelo sistema
previdencial-repartição, pelo que seria suficiente para satisfazer 17,3 meses destes encargos, aquém dos 24
meses definidos como objetivo. Esta situação, que traduz um agravamento face a 2021 (em que os valores eram
de 151,3% e 18,2 meses, respetivamente) resulta, por um lado, do decréscimo do valor do Fundo (0,8%) e, por
outro, do crescimento verificado na despesa com pensões em causa (4,0%).
O financiamento do FEFSS tem sido assegurado por diversas fontes de financiamento, no âmbito do previsto na
Lei de Bases da Segurança Social (LBSS), mas também no âmbito do que anualmente tem sido definido em sede
de Lei do Orçamento do Estado, designadamente por via de consignação de receitas.
1 Com uma dotação inicial de 216 M€, sendo um património autónomo gerido pelo IGFCSS, em regime de capitalização.
146
Pela LBSS definiram-se quatro fontes de financiamento: uma parcela das quotizações dos trabalhadores por
conta de outrem1, os saldos anuais do sistema previdencial, as receitas resultantes da alienação de património
e os ganhos obtidos das aplicações financeiras. Para além disso e desde 2017, têm vindo a ser consignadas ao
FEFSS as seguintes verbas: i) a receita do Adicional ao Imposto Municipal sobre Imóveis (AIMI) (a partir da LOE
2017); ii) parte da receita de IRC (desde a LOE 2018); iii) o adicional de solidariedade sobre o setor bancário
(desde a LOE 2020); iv) a receita proveniente da aplicação do princípio da onerosidade (a partir da LOE 2021); e
v) parte da coleta do IRS (a partir da LOE 2022).
Porém, como foi dado conta no anterior Parecer, em 2021 e a título excecional, apenas as receitas provenientes
do adicional de solidariedade sobre o setor bancário2 e da aplicação do princípio da onerosidade3 foram afetas
ao FEFSS4, tendo as restantes sido consignadas ao equilíbrio financeiro do sistema previdencial-repartição5.
Em 2022, as entradas de capital no Fundo ascenderam a 3 081 M€ (mais 2 465 M€ do que em 2021):
De notar que, relativamente às receitas fiscais consignadas, os montantes transferidos em 2022 correspondem
aos valores previstos em sede de OE, embora não coincidam com os montantes que resultam das receitas
cobradas no ano (apuradas pela AT e registadas no SGR), tal como evidenciado no Quadro 61.
1 Até que o Fundo assegure a cobertura das despesas previsíveis com pensões por um período de dois anos (que se verificou
apenas até à LOE 2009, sem que se tenha atingido o objetivo).
2 No valor de 34 M€.
3 Art. 148.º da Lei 75-B/2020, de 31/12 (LOE 2021).
4 Art. 9.º do Anexo VI, da Lei 27-A/2020.
5 Art. 376.º, n.ºs 2 a 5 da Lei 75-B/2020, de 24/07 (LOE 2021) e ROE, p. 100.
6 Inclui 800 M€, de saldos de gerência resultantes de verbas com origem no Orçamento de Estado para as medidas excecionais
e temporárias em virtude da doença COVID-19. Art. 91.º da Lei 24-D/2022, de 30/12.
7 Muito embora não tenha ocorrido o registo contabilístico da transferência para o FEFSS de qualquer receita proveniente da
aplicação do princípio da onerosidade (ao contrário do que aconteceu em 2021, pela primeira vez, com a entrada de 0,2 M€),
o IGFSS informou (em julho de 2023) que em setembro de 2022, transferiu para o FEFSS 0,01 M€ referente ao princípio da
onerosidade, embora tendo utilizado incorretamente a classificação orçamental “Transferências de capital OSS – Receitas
alienação do património da Segurança Social”, o que impossibilitou a deteção e adequado registo contabilístico por parte do
IGFCSS do valor referente ao princípio da onerosidade nas demonstrações financeiras do FEFSS e nas demonstrações
financeiras consolidadas.
147
No caso do AIMI, o valor transferido excedeu em 21 M€ o valor apurado e, no que respeita ao adicional de
solidariedade sobre o setor bancário, ficaram por transferir 4 M€. Ora, as normas legais que preveem a sua
consignação ao FEFSS não estabelecem (contrariamente ao IRC) um mecanismo de acerto entre anos, pelo que
deveriam ser transferidos para o FEFSS os montantes efetivamente arrecadados, o que não se verificou.
Relativamente à parte da coleta de IRS consignada ao Fundo pelo art. 282.º da LOE 2022, verifica-se que não foi
efetuada qualquer transferência, uma vez que a mesma lei determina que, só se aplica a receita cobrada sobre
rendimentos auferidos a partir de 1 de janeiro de 2023, cuja liquidação apenas se efetuará em 20241, resultando
na impossibilidade de cumprimento da norma prevista e evidenciando desarticulação entre as diferentes
normas da LOE 2022.
Estas situações, mais uma vez, evidenciam as fragilidades que se continuam a verificar na operacionalização da
consignação de receitas fiscais ao FEFSS e que decorrem de normas legais que são, no todo ou em parte,
inexequíveis, quer no que respeita à sua operacionalização (no caso da receita do IRS), quer pela complexidade
no apuramento das receitas a afetar e pela intervenção de várias entidades (no caso do IRC).
3.4.2.1. Composição
1 O art. 282.º consigna ao FEFSS “… a parte proporcional da coleta do IRS que corresponder ao englobamento obrigatório dos
rendimentos previstos no n.º 14 do artigo 72.º do Código do IRS, na redação dada pela presente lei”. No entanto, a mesma
LOE determina no n.º 7 do art. 280.º que as alterações ao art. 72.º do Código do IRS só se aplicam aos rendimentos auferidos
a partir de 01/01/2023.
2 Cfr. ponto 3 da Parte II dos PCGE 2018 (p. 212), 2019 (pp. 179 e 180) e 2020 (pp. 206 a 208).
148
Gráfico 38 – FEFSS – Composição carteira – 2021-2022
2021 2022
Fonte: Informação do IGFCSS 2022. Cálculos TC.
Em 2022, a carteira do Fundo manteve uma composição semelhante à do ano anterior embora se tenha
verificado um decréscimo no valor de todos os principais componentes do Fundo: os investimentos em dívida
pública portuguesa1 (que representa 51,5% do total) diminuíram 0,9% (-104 M€), a carteira de dívida pública
estrangeira diminuiu 4,2% (-236 M€) e a carteira de títulos de rendimento variável (ações) diminuiu 11,5%
(-585 M€). Nas componentes de menor dimensão, apenas o montante considerado em Liquidez2 aumentou
significativamente, mais 777 M€ (+ 544%), passando a ter um peso de 4,0% na carteira (920 M€)3. Por sua vez,
a reserva estratégica4 que é, desde 2019, composta por investimentos relativos a 3 subfundos imobiliários5,
Com exceção da dívida pública portuguesa, com um limite mínimo de 50%6, o regulamento do FEFSS, visando a
maximização dos investimentos a médio prazo e a salvaguarda das melhores condições de estabilidade e
liquidez, estabelece apenas limites máximos para os investimentos em determinadas classes de ativos, que
foram cumpridos, como reflete o Gráfico 39.
149
Gráfico 39 – FEFSS – Limites à composição da carteira – 2022
100,0
90,0
(em % da carteira)
51,5 50,0
50,0 40,0
23,6 25,0
19,4 15,0
10,0 10,0 5,0 12,3
1,5 0,0 0,5 0,0
Dívida pública Dívida pública Dívida privada Ações Fundos de Imobiliário Reserva Ativos em
nacional estrangeira (a) Investimento Estratégica moeda
Mistos estrangeira
Peso mínimo (Regulamento de Gestão) Peso máximo (Regulamento de Gestão) Peso a 31/12/2022 Target 90%
(a) Inclui ativos de rendimento fixo e também aplicações geridas na Liquidez, em que a contraparte é uma instituição bancária, mas que se incluem na
dívida privada para efeitos do risco.
Não foi incluída a componente dos Derivados (3 998 M€) que, em módulo, representa 17,4% da carteira (o peso do valor nocional das posições
líquidas detidas em instrumentos financeiros derivados não pode exceder o valor líquido global do FEFSS – Regulamento de Gestão).
O investimento do património do FEFSS está sujeito às regras definidas no seu regulamento de gestão aprovado
em 20041, tendo, em 2013, o Governo determinado a substituição dos ativos em outros Estados da OCDE por
dívida pública nacional, até ao limite de 90%, estabelecendo, no entanto, que esta política de investimento fosse
reavaliada até final de 20152.
Desde 2016, ao contrário do determinado, tem-se verificado uma redução do peso da dívida pública nacional e
um aumento do investimento em dívida pública estrangeira. Neste sentido, o Tribunal tem recomendado (cfr.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
PCGE 2020) 3 a reavaliação da referida Portaria4, por forma a assegurar que as regras aplicáveis à estratégia de
investimento do FEFSS sejam aquelas que, em cada conjuntura, melhor permitam otimizar a relação entre
rendibilidade e risco na gestão dos recursos do Fundo5.
3.4.2.2. Valorização
Entre 2021 e 2022, o valor do FEFSS diminuiu 0,8% (188 M€)6, fixando-se em 22 992 M€. Por sua vez, a taxa de
crescimento da despesa com pensões foi de 4,0%, pelo que se interrompeu a tendência dos últimos 5 anos, em
que o valor da despesa com pensões do sistema previdencial cresceu menos que o valor do Fundo. Assim, a taxa
de cobertura das pensões pelo valor do FEFSS, em 2022, foi inferior à do ano de 2021 (144,3% versus 151,3%),
contrariando a tendência de crescimento que se manifestou nos últimos 10 anos (cfr. Gráfico 40).
150
Gráfico 40 – FEFSS – Taxa de Cobertura das Pensões – 2013-2022
151,3
147,0
143,7 144,3
130,4
124,6
119,2 116,4
115,6
(%)
101,0
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
No gráfico seguinte evidencia-se a contribuição das principais componentes para a evolução do valor do Fundo
ao longo da última década (em termos anuais e em termos acumulados).
17 379
15 768 15 552
14 100 14 246
13 504 12 472
11 699 11 337 11 856
9 656 9 905 10 709
7 544 7 772 8 032 9 023 7 440
7 349 7 429 7 722
6 075 6 555 6 474 7 736
4 350
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
FEFSS Dotações (acumulado) Gestão da carteira (acumulado) Dotações (ano) Gestão da carteira (ano)
De salientar a quebra significativa registada no valor acrescentado pela gestão dos ativos (componente
particularmente sensível ao comportamento dos mercados1) que totalizava, no final de 2022, 7 440 M€ (32,4%
do total). Já as entradas de capital valiam 15 552 M€, em termos acumulados (67,6% do total), traduzindo o
maior aumento verificado no período em análise.
O índice de rotação da carteira foi de 1,48, o nível mais elevado dos últimos 5 anos2, ou seja, o volume de
transações ocorridas em 2022, correspondeu a quase uma vez e meia o valor médio da carteira gerida ao longo
do ano.
1 Reflete os rendimentos e as valias, sendo que as valias acumuladas incluem valias realizadas e valias potenciais. A
contabilização das valias potenciais resulta da adoção da regra do justo valor. As valias potenciais podem gerar distorções
nas análises de desempenho e rendibilidade, uma vez que as oscilações de valor de mercado dos títulos originam impactos
elevados no valor da carteira sem que se venham a traduzir em valias efetivas.
2 Muito acima do apurado em 2021, 2020 e 2018 (0,89, 0,83 e 0,87, respetivamente), e acima do verificado em 2019 (1,23).
151
Em 2022, o acréscimo (face a 2021) de 2 465 M€ nas entradas de capital, através do aumento muito
considerável da transferência do saldo do sistema previdencial-repartição e do acréscimo das receitas fiscais
consignadas, não foi suficiente para compensar o decréscimo de 4 073 M€ (506,8%) no valor acrescentado pela
gestão (em reflexo da diminuição verificada em todas as suas componentes, sobretudo nas valias potenciais)
(cfr. Quadro 62).
Analisando os últimos cinco anos verifica-se que o peso do contributo das diversas componentes que integram
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
as entradas de capital, quando comparado com o peso do valor acrescentado pela gestão, sofre alterações
significativas, sendo revelador do grau de incerteza no que respeita ao comportamento a curto e médio prazo
das várias componentes que geram valor para o FEFSS (cfr. Gráfico 42).
2 981
3 081
(em milhões de euros)
1 611
1 401 1 419
1 625 1 680
1 301 882 804
519 616
- 14 - 188
-3 269
152
3.4.2.3. Rendibilidade e risco
Embora mantendo uma rendibilidade média anual positiva (3,37%) no período de 1989-2022, o Fundo
apresentou em 2022 a menor taxa de rendibilidade dos últimos 10 anos (3,33%) e um nível de risco1 3,4 p.p.
acima do verificado em 2021 (cfr. Gráfico 432).
2,0
22,0
3,0
19,0
14,74 4,0
16,0
13,0 5,0
8,86
10,0 6,86 7,42 6,0
7,00 7,0
7,0 4,43 3,56 4,43 4,83
4,0 3,33 8,0
4,94 4,33 3,70 9,0
1,0
-2,0 -0,57 -0,09 10,0
-5,0 11,0
-8,0 12,0
-13,04
-11,0 13,0
-14,0 14,0
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Nível de risco Taxa de rendibilidade anual Taxa de rendibilidade nos últimos 10 anos
Fonte: IGFCSS. Cálculos TC.
Naturalmente que a evolução e o comportamento das diferentes classes de ativos que compõem o Fundo
refletiram as condições económico financeiras do ano. A mudança de perceção em relação ao risco da inflação
Este desempenho negativo refletiu-se, quer na carteira dos títulos de rendimento fixo (que inclui fundos de
obrigações, juros corridos e forwards – a maior carteira de investimentos deste Fundo), quer na carteira títulos
de rendimento variável (ações). Se no primeiro conjunto a rendibilidade passou de -2,05% em 2021 para -15,92%
em 2022, nos títulos de rendimento variável (ações), a rendibilidade passou de 25,32% em 2021 para -13,59%
em 2022. Excluindo a valorização marginal da reserva estratégica (+0,02%), apenas os investimentos em
imobiliário mantiveram um retorno positivo, embora inferior ao do ano anterior (passaram de uma rendibilidade
de 23,86% para 4,70%).
153
Gráfico 44 – FEFSS – Rendibilidade das componentes da carteira – 2021-2022
25,32 23,86 30,0
20,0
4,7 10,0
3,70
0,0 0,0
( %)
-1,21 -3,08 -2,18 -1,02
-13,04 -10,0
-12,1 -13,6
-16,3 -20,0
-17,9
-30,0
Dívida pública Dívida pública Dívida privada Ações Imobiliário Reserva
nacional estrangeira estrangeira estratégica
O agravamento da rendibilidade negativa da dívida pública estrangeira: de -3,08% em 2021 para -17,87%
em 2022.
A quebra generalizada da rendibilidade das ações, a mais significativa a ocorrer no mercado dos Estados
Unidos da América, com os títulos passarem de uma rendibilidade positiva em 2021 (32,64%) para uma
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
rendibilidade negativa em 2022 (-17,43%), seguida do mercado da Europa onde a rendibilidade passou
também de positiva em 2021 (24,62%), para negativa em 2022 (-8,05%).
154
4. RESPONSABILIDADES, FINANCIAMENTOS E APOIOS PÚBLICOS
4.1. Pensões
O universo das pensões, que abrange todos os cidadãos residentes3, inclui diferentes sistemas refletindo-se
maioritariamente na CSS, mas também na conta da AC (cfr. Figura 12).
Pensões
SSS CGA
1 Art. 54.º da Lei 4/2007, de 16/01 (LBSS) que prevê, no âmbito do princípio da contributividade, que o sistema previdencial
deve “ser fundamentalmente autofinanciado”.
2 Visando assegurar benefícios a camadas da população que não tenham contribuído para o sistema ou que o tenham feito
insuficientemente (através do sistema de proteção social de cidadania – subsistemas de solidariedade e proteção familiar).
3 Art. 6.º da LBSS (princípio da universalidade).
155
No seu conjunto estas prestações destinam-se a substituir os rendimentos do trabalho perdidos por 3 diferentes
tipos de riscos, designadamente os inerentes às eventualidades de invalidez1, de velhice2 e de sobrevivência.
4.1.1. Universo
No final de 2022, encontravam-se em pagamento3 3 638 367 pensões, 82,2% da responsabilidade do SSS4 e
17,8% sob administração da CGA (do Regime de Proteção Social Convergente – RPSC) (cfr. Gráfico 45).
Verifica-se que o universo das pensões se tem mantido estável, com um acréscimo global de apenas 0,6% entre
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
2013 e 2022. Esta evolução reflete o impacto, por um lado da pressão demográfica e, por outro das medidas de
política que foram tomadas, em particular as que, entre 2013 e 2018, reduziram os incentivos ao acesso a
pensões de velhice em idades precoces (cortes nos valores das pensões, carreiras contributivas mais longas e
idades mais tardias de acesso a estas prestações). Já desde 2019, traduz os efeitos das medidas de flexibilidade
da idade de acesso às pensões de velhice cujo impacto positivo tem sido mitigado, em parte, pelo acréscimo de
saídas do sistema em consequência do aumento da mortalidade nas faixas etárias mais elevadas5.
Para a evolução do universo de pensões de velhice, contribuiu a aplicação dos regimes de acesso às pensões de
velhice por flexibilidade da idade, cujo impacto, foi particularmente acentuado ao nível da CGA (cfr. Gráfico 46).
1 Destinada a proteger os beneficiários em situações de incapacidade permanente para o trabalho, de causa não profissional,
sendo modelada de acordo com o grau de incapacidade (relativa ou absoluta), e pode ser acumulada com rendimentos do
trabalho, no caso de invalidez relativa, com os limites legalmente fixados.
2 Prestação paga aos trabalhadores por conta de outrem, trabalhadores independentes e beneficiários do seguro social
voluntário que reúnam as seguintes condições: terem 66 ou mais anos de idade e uma carreira contributiva com um mínimo
de 15 anos (ou 144 meses para os beneficiários do seguro social voluntário). Nos casos em que o beneficiário não cumpra o
requisito inerente ao prazo de garantia (carreira contributiva), pode haver lugar à atribuição de uma pensão social de velhice.
3 Relativamente ao SSS, por inexistência de dados fiáveis e por simplificação da análise, considerou-se que a cada pensão
correspondeu um beneficiário passivo (pensionista) daquele sistema.
4 Peso por eventualidade: velhice (69,6%), sobrevivência (24,7%) e invalidez (5,7%).
5 No triénio 2020-2022 verificou-se um aumento de 37 802 óbitos (+12,5%) nos grupos etários acima dos 70 anos, face a 2017-
2019 – PORDATA – 16/05/2023.
156
Gráfico 46 – Pensões de reforma atribuídas em cada ano – CGA – 2012-2022
14 000
12 000
(em unidades)
10 000
8 000
6 000
4 000
2 000
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
De facto, desde 2020 que na CGA se verifica um aumento do número de pensões antecipadas, tendo o número
passado de 4 782 em 2020 para 6 010 (35,5% dos aposentados/reformados no ano) em 2022. Já no SSS, em
2022, 6,3% do total das pensões de velhice em pagamento (130 1871) foram pensões antecipadas, distribuídas
pelos vários regimes legais em vigor.
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
SSS RPSC
Fonte: PORDATA, estatísticas da SS e da CGA. Cálculos TC.
157
Esta subida do índice ocorreu não obstante o facto da média de idades dos novos pensionistas do SSS e do RPSC
se situar nos 64,81 e 65,2 anos, respetivamente, cerca de dois anos abaixo da idade normal de acesso à pensão
de velhice (66 anos e 7 meses)2. Por sua vez, o número médio de anos de carreira contributiva foi de 28,533 no
RGSS e de 33,94 no RPSC, significativamente abaixo dos 40 anos, tempo normal de permanência na vida ativa,
necessários para a promoção da sustentabilidade do SSS.
Em 2022, a despesa com pensões e complementos totalizou 30 701 M€, dos quais 65,6% (20 137 M€)
integraram o SSS e 34,4% (10 564 M€) o RPSC. Face a 2021, a despesa com pensões aumentou 6,1%. Este
aumento reflete os efeitos de medidas de reposição de rendimentos das famílias tomadas nos últimos anos,
com destaque para: i) a reposição da regra de atualização de pensões5, acrescida de um aumento extraordinário6
atribuído sob determinadas condições; ii) a atualização dos valores do IAS; iii) a revisão do regime de reforma
antecipada por flexibilidade da idade, em razão da valorização de carreiras longas e muito longas e introdução
do conceito de idade pessoal da reforma (que consiste na possibilidade de antecipação da idade de acesso à
pensão de reforma por alongamento da carreira contributiva acima dos 40 anos); e iv) introdução (em 2019) de
um novo complemento extraordinário para pensionistas de novas pensões de mínimos7. Em 2022, foi ainda
atribuído um complemento excecional a pensionistas (prestação única) destinado a mitigar os efeitos da inflação
sobre os bens alimentares essenciais8.
Nos últimos anos, a despesa com pensões cresceu, em média 3,6% ao ano (cfr. Quadro 63).
158
As despesas com pensões de velhice e invalidez, que representam 81% da despesa com pensões e 51,0% das
quais estão integradas no sistema previdencial–repartição, aumentaram 2,1%, já as de sobrevivência
apresentaram uma subida de 2,6%, face a 2021.
4.1.3. Financiamento
A despesa com pensões e complementos foi financiada, essencialmente, por receitas provenientes de
contribuições e quotizações (62,9%) e por transferências do OE (34,4%), verificando-se, no entanto, um
aumento do peso das outras receitas1 (2,3%) (cfr. Gráfico 48).
Transferências do OE Transferências do OE
35,4% 34,4%
Contribuições e quotizações Contribuições e quotizações
62,7% 62,9%
Fonte: CSS 2018 e 2022 e dados fornecidos pela CGA 2018 e 2022. Cálculos TC.
159
Considerando cada um dos diferentes sistemas e regimes, por forma a identificar as diferentes fontes de
financiamento, é de salientar o seguinte:
No caso do sistema de proteção social de cidadania (na parte que respeita aos subsistemas de
solidariedade e de proteção familiar), dada a sua natureza não contributiva, o seu financiamento cabe
ao Estado, diretamente por transferências e residualmente por receitas fiscais consignadas (Quadro 66),
valor que, na sua totalidade, aumentou 2,7% desde 2018, acompanhando as necessidades de
financiamento deste sistema.
Quadro 66 – Financiamento do sistema de proteção social de cidadania (não contributivo) – 2018-2022
No sistema de regimes especiais, os encargos com pensões são maioritariamente suportados pelo OE
(Quadro 67). Fazem parte deste sistema: i) o regime substitutivo do setor bancário1, responsável por
98,0% da despesa com pensões integrada neste sistema, financiado integralmente por transferências do
OE; ii) as pensões dos ex-trabalhadores do BPN, cujo financiamento é proveniente da respetiva reserva
1 DL 127/2011, de 31/12, com as alterações introduzidas pelas Leis 20/2012, de 14/05, e 66-B/2012, de 31/12.
160
do Fundo de Pensões, integrado e gerido pela CGA1; iii) os complementos de pensão dos trabalhadores
da CARRIS, totalmente financiadas pelo OE2, através da CGA; e iv) os complementos de reforma ou
invalidez e prestações complementares de subsídio por morte dos trabalhadores da Sociedade de
Transportes Coletivos do Porto (STCP) financiados por transferências da CGA de verbas provenientes do
respetivo fundo de reserva.
Quadro 67 – Financiamento do sistema de regimes especiais – 2018-2022
O RPSC (CGA), dado o peso tendencialmente decrescente das contribuições e quotizações em resultado
da condição fechada do sistema, este é financiado, sobretudo e cada vez mais, por verbas provenientes
do OE, quer para financiamento do défice, quer para pagamento de pensões dos beneficiários dos
fundos transferidos para a CGA cujas reservas se esgotaram ou não foram constituídas. É ainda
financiado por verbas provenientes de outras entidades, de onde se destacam as transferências da SS
para financiamento das pensões da sua responsabilidade (cfr. Quadro 68).
Quadro 68 – Financiamento do Regime de Proteção Social Convergente (CGA) – 2018-2022
161
4.2. Fluxos financeiros com a União Europeia
No PCGE, o TC deve apreciar os fluxos financeiros com a UE, bem como o grau de observância dos compromissos
com ela assumidos.
Neste ponto procede-se à análise dos fluxos financeiros entre Portugal e a UE, bem como à avaliação da
execução financeira dos instrumentos que em Portugal concretizam a aplicação dos fundos europeus estruturais
e de investimento, do FEAGA e de outros instrumentos financeiros de iniciativa comunitária, incluindo os fluxos
relativos ao Mecanismo de Recuperação e Resiliência e à iniciativa REACT-EU.
A informação representada no gráfico seguinte foi apurada pelos serviços do Tribunal e, como se desenvolve
nos pontos subsequentes, não é totalmente coincidente com a que consta da CGE 2022 (Volume I – Quadro
3.52).
8 133,2
5 524,7
(em milhões de euros)
2 608,5
2 457,1
para Portugal
Saldo global
O “Saldo global” dos Fluxos financeiros entre Portugal e a UE diminuiu em 2 016,2 M€ (-36,5%), face ao ano
anterior, devido, essencialmente, ao decréscimo dos fluxos financeiros provenientes da UE, em 2 167,6 M€
(-26,7%).
A diminuição registada nas transferências para Portugal nos montantes do Mecanismo de Recuperação e
Resiliência (-1 254,5 M€), face a 20211; a aproximação da fase final do PT 2020 e consequente relação com a
despesa certificada e respetivos pedidos de pagamento à Comissão Europeia (CE); e as restituições resultantes
de correções financeiras no âmbito do PO Competitividade e Internacionalização (POCI), contribuem para
justificar tal decréscimo.
1 Em 2021 existiram influxos financeiros excecionais, como por exemplo os adiantamentos de 13% do MRR.
162
4.2.2. Fluxos financeiros para a União Europeia
Os valores constantes da CGE, relativos aos fluxos financeiros para a UE que constituem a contribuição de
Portugal para o financiamento do orçamento da UE (Quadro 3.52), foram objeto de verificação pelos serviços
do Tribunal junto da DGO, não existindo quaisquer divergências, conforme espelha o quadro seguinte:
Para o decréscimo global de 151,4 M€ (-5,8%) verificado nas transferências totais para a UE, contribuíram,
essencialmente, a diminuição do RP RNB de 166,0 M€ (-9,6%), a Redução RNB da Dinamarca, dos Países Baixos,
da Alemanha, da Suécia e da Áustria (-1,6 M€) e a inexistência de Ajustamentos dos RP IVA e RNB. As
transferências continuaram a respeitar maioritariamente ao RP RNB (63,8% do total das transferências), porém
os Direitos aduaneiros e o RP IVA, representam, no seu conjunto, quase 1/3 do total das transferências efetuadas
para a UE (28,3%).
À semelhança de 2021, foram incumpridos prazos indicados pela CE para o pagamento de RPT não
cobrados, em resultado de autorizações tardias por parte da Secretária de Estado do Orçamento, sendo
que o pagamento fora do prazo acarreta encargos adicionais, a título de juros. Existiram igualmente
atrasos na autorização de pagamento de juros.
Tal como salientado no PCGE relativo a 2021, urge, assim, agilizar o processo de autorização dos
pagamentos à CE relativos a RPT não cobrados, evitando encargos adicionais, a título de juros, seja
através do estabelecimento de mecanismos de articulação adequados, seja através da atempada
delegação e subdelegação de competências entre as Secretarias de Estado do Orçamento e dos Assuntos
Fiscais.
163
Existiam 23 processos pendentes de RPT não cobrados, totalizando 99,9 M€. Deste valor, foram
efetuados pagamentos condicionais por Portugal no âmbito de 12 processos, no montante de 76,1 M€,
entre 2013 e 2022. Em relação a estes processos, a AT prevê a possibilidade de pagamentos acrescidos
a título de juros, que podem atingir valores avultados, estimando, só para 3 processos, pagamentos de
44,6 M€.
Não foi possível, à semelhança de anos anteriores, a recuperação pelo IFAP de qualquer valor da dívida,
incluindo juros, de um operador, relativa a “Quotizações sobre o açúcar e isoglucose”, que ascendia, em
abril de 2022, a 1,2 M€.
Os elementos constantes da CGE 2022, respeitantes aos fluxos financeiros provenientes da UE, foram
confrontados com a informação recolhida junto das Autoridades de Certificação/Entidades Pagadoras dos
fundos europeus e com os elementos de suporte da DGO e do IGCP. Foi também considerada a informação
obtida junto de beneficiários diretos de apoios no âmbito de Programas de Ação de Iniciativa Comunitária.
Quanto aos valores indicados no Quadro 3.52. da CGE, apuraram-se diferenças que se evidenciam no quadro
seguinte:
Quadro 70 – Transferências da UE
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
164
(…)
(em milhões de euros)
Valor CGE Valor Apurado Diferença
Designação Notas
(1) (2) (3)=(1)-(2)
PT 2030 351,7 351,7 0,0
+ FEDER 184,5 184,5 0,0
+ FSE+ 116,6 116,6 0,0
+ Fundo de Coesão 46,6 46,6 0,0
+ FEAMPA 3,9 3,9 0,0
Instrumentos Especiais 44,6 44,6 0,0
+ Fundo de Solidariedade da UE 0,0 0,0 0,0
+ Reserva de Ajustamento ao Brexit (BAR) 44,6 44,6 0,0
Programas de Ação e Iniciativa Comunitária 338,4 355,6 -17,2 (d)
+ PAIC 338,4 355,6 -17,2 (d)
Diversos 0,2 0,2 0,0
+ Diversos 0,2 0,2 0,0
(a) Divergência parcialmente resultante da agregação utilizada na apresentação dos dados na CGE.
(b) Divergência resultante da agregação utilizada na apresentação dos dados na CGE. Apesar de estes fundos pertencerem ao período de programação
2014-2020, não estão incluídos no PT 2020.
(c)(d) Divergência resultante das validações efetuadas.
A variação de valores apurados apresenta pequenas diferenças, em alguns itens, devido a arredondamentos.
Fonte: CGE 2022, IGCP, DGO, AD&C, IFAP e beneficiários de transferências diretas da CE.
Verificou-se uma diferença global de -17,2 M€ entre os valores reportados na CGE e os apurados na sequência
dos procedimentos de validação desenvolvidos. O saldo das diferenças apuradas (-17,2 M€) é ligeiramente
inferior ao observado no ano anterior (-18,1 M€).
Outro conjunto de diferenças identificadas resulta de reportes incorretos, efetuados pelas entidades
intermediárias dos Fundos, à DGO, quanto à associação das transferências recebidas aos respetivos fundos
(assinaladas com a nota (c) no quadro). Estas diferenças, compensatórias entre si, verificaram-se nos itens Fundo
de Coesão (-46,8 M€) e FEADER (0,5 M€), do PT 2020, e Desenvolvimento Rural (-0,5 M€) e REACT-EU (46,8 M€),
do Next Generation EU. No âmbito do contraditório, e de acordo com a informação disponibilizada pela AD&C,
as diferenças assinaladas com a alínea (c), relativas ao Fundo de Coesão e REACT-EU, foram, entretanto,
colmatadas junto da DGO.
No que respeita aos PAIC, observaram-se divergências no valor de 17,2 M€ (assinaladas com a nota (d) no
Quadro 70).
Assim, continua a considerar-se necessária uma maior articulação entre a DGO e os beneficiários de
transferências diretas de fundos europeus, assim como entre a DGO e as entidades intermediárias dos fundos
europeus, para um correto apuramento dos fluxos financeiros rececionados da UE.
165
A CGE de 2022, no Quadro A45 “Despesa total financiada por fundos europeus”, evidencia o financiamento
europeu envolvido na execução orçamental da administração central, especificando os fundos europeus
envolvidos em cada Programa Orçamental. Da informação disponibilizada na Conta, observa-se que 2 561,9 M€
(1,9%) da despesa total consolidada da administração central foi financiada por fundos europeus1. A este valor,
acrescem 435,4 M€ de financiamento relativo ao FSE, apenas refletidos na CSS2.
Embora os dados constantes do Quadro A45 da CGE (e do Quadro CSS2, quanto ao FSE) não sejam totalmente
comparáveis com os dados oriundos das Autoridades de Certificação/Entidades Pagadoras, uma vez que estes
últimos correspondem a despesa validada3 e não a pagamentos efetivos, os totais de cada fundo europeu
deveriam ser próximos em milhões de euros, o que continua a não se verificar.
Dessa análise comparativa, continuam a resultar divergências acentuadas em relação a alguns fundos,
nomeadamente, no FEDER (-1 142,7 M€) e no FEAGA (-862,6 M€), que podem traduzir a aplicação do modelo
de registo preconizado pela DGO, se estas diferenças corresponderem a execução financeira de fundos
europeus sem cofinanciamento público nacional, situação em que os serviços registam a receita e a despesa
como extraorçamental, ou podem representar uma incorreta classificação da despesa.
Continua, assim, a ser necessário que, no domínio dos fundos europeus, a CGE disponha de informação mais
detalhada sobre as operações extraorçamentais das entidades da administração central sujeitas à disciplina
orçamental, dado que esse conhecimento é relevante para a análise da execução desses fundos.
Também se observou que o Quadro A45 da CGE apresenta no item de “Outros” o valor de 1 491,2 M€,
correspondendo ao segundo maior valor da despesa financiada com origem em fundos europeus. Atendendo à
relevância financeira dos atuais instrumentos financeiros que compõem este item, nomeadamente, do MRR, a
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
CGE deve contemplar a sua apresentação de forma desagregada, relevando neste item apenas valores residuais.
Relativamente ao REACT-EU, apesar de as verbas deverem ser relevadas orçamentalmente através de fonte de
financiamento específica, o valor registado na CGE de 2022 apresenta, também, uma diferença significativa, de
-433,7 M€, face ao valor da despesa validada.
Acresce que não foi possível efetuar essa análise, no âmbito dos fluxos financeiros enquadrados no reforço do
Desenvolvimento Rural com origem na Next Generation EU, por não ter sido criada uma fonte de financiamento
para o efeito.
Tal situação deverá ser objeto de correção, por forma a assegurar o reconhecimento na execução orçamental,
no contexto das entidades que executam estes instrumentos financeiros, discriminando a despesa financiada
com origem no REACT-FEDER, REACT-FSE e REACT – Desenvolvimento Rural.
166
b) Fluxos relativos ao Período de Programação 2014-2020
Em 2022, ocorreram transferências da UE destinadas ao Portugal 2020 no valor de 3 262,0 M€1, com a seguinte
distribuição:
Gráfico 50 – Fluxos financeiros recebidos da União Europeia em 2022 (PT 2020)
(em milhões de euros)
50,0
469,6
1 204,3 FEDER
479,5 FSE
FEADER
Fundo de Coesão
FEAMP
1 058,7
Fonte: Agência para o Desenvolvimento e Coesão e IFAP.
No ano de 2022, verificou-se um aceleramento dos níveis de compromisso dos Fundos Europeus Estruturais e
de Investimento (FEEI). No entanto, tendo em conta que se trata do penúltimo ano de execução do Portugal
2020 e que, em termos absolutos, a despesa comunitária validada ascendia a 22 534,1 M€, a taxa de execução
média é de 83,8%.
Um pouco acima da taxa média, posicionam-se o FSE e o FEDER com taxas de execução de 91,0% e de 86,7%,
7 626,7
6 938,4
5 089,3
3 607,0
2 781,1
2 153,6
392,5 299,4
Programação Execução
1 Este valor não inclui o montante de 118 M€ relativo aos Programas de Cooperação Territorial Europeia.
167
Apesar do nível de execução registado no final de 2022, observa-se que, em termos globais, o nível de
compromisso dos FEEI do PT 2020 já se encontrava em overbooking (116%). Dos 16 Programas, 14 registavam
taxas de compromisso superiores a 100%, verificando-se que este nível era especialmente elevado no POCI e no
PO Capital Humano, com taxas de 139,2% e 124,7%, respetivamente.
Contrariamente, os fundos que apresentavam maior risco de não absorção total até ao final de 2023,
continuavam a ser o FEAMP, com uma taxa de execução de 76,3% e o Fundo de Coesão, com uma taxa de 77,4%.
Salienta-se o ainda avultado investimento por executar/validar no PT 2020 até ao final de 2023 (4 356,4 M€),
data-limite para a elegibilidade das despesas a cofinanciamento. Na sequência da crise económica e financeira
derivada da pandemia COVID-19, agravada pelos efeitos da guerra na Ucrânia, torna-se premente promover o
aceleramento da execução da generalidade dos programas do PT 2020, não só de forma a evitar perdas de
fundos europeus, mas também para mitigar os efeitos da crise internacional. A última fase de execução e o
encerramento do PT 2020 concretizar-se-ão num período mais exigente, coincidente com a execução de um
elevado montante de fundos provenientes da UE (cerca de 60 000 M€) associados a vários instrumentos
financeiros, nomeadamente, ao Plano de Recuperação e Resiliência e ao quadro financeiro plurianual 2021-
2027 (PT 2030).
A iniciativa REACT-EU – Assistência à Recuperação para a Coesão e os Territórios da Europa foi operacionalizada,
por opção nacional, através do reforço do POCI e dos PO Regionais dos Açores e da Madeira (FEDER e FSE), no
total de 2 138,8 M€ e, no caso do Desenvolvimento Rural, através do reforço do FEADER nos PDR do Continente,
dos Açores (ProRural+) e da Madeira (Proderam 2020), no montante de 353,5 M€. O fluxo financeiro de
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
REACT-EU em 2022 foi de 327,5 M€ (297,4 M€ FEDER e 30,0 M€ FSE) e o fluxo relativo ao reforço do
Desenvolvimento Rural correspondeu a 92,0 M€.
Observa-se que a execução global do REACT-EU, em Portugal, no final de 2022, era de 67%, sendo o POCI aquele
que mais se destacava, quer em volume financeiro envolvido, quer nos níveis de compromisso e de execução.
Já relativamente ao reforço do Desenvolvimento Rural (FEADER), apurava-se uma taxa de execução global mais
baixa (48%), apesar do nível de compromisso se situar nos 73%.
Na sequência da aprovação do PRR pela UE, em 13 de julho de 2021, foi transferido para Portugal, até ao final
de dezembro de 2022, o montante de 3 321,3 M€ (2 361,4 M€ – subvenção e 959,9 M€ – empréstimo), o que
correspondia a 20% da dotação acordada com a UE. Destas transferências, as ocorridas em 2022 ascenderam a
1 162,4 M€ (553,4 M€ – subvenção e 609 M€ – empréstimo)1.
Em 31 de dezembro de 2022, o montante de pagamentos ordenados e pagos pela EMRP aos beneficiários
intermediários e diretos do PRR, ascendia a 2 741,4 M€ (2 422,2 M€ – pré-financiamento; 88,4% do total pago
1 Apesar de ter sido efetuado um segundo pedido de pagamento em setembro de 2022, as verbas só vieram a ser transferidas
para Portugal no ano de 2023. Durante o 1.º trimestre de 2023 foram recebidos mais 1 820,4 M€ (1 711,6 M€ referentes à
parcela subvenção e 108,8 M€ à de empréstimo), elevando-se os recebimentos no âmbito do MRR a 5 141,6 M€, o que
representava cerca de 31% da dotação acordada com a UE.
168
e 319,2 M€ – reembolso de despesas), dos quais 1 543,7 M€ correspondentes a pagamentos no ano de 20221.
Contudo, observava-se que existia um montante reduzido (1 409,8 M€; 8,5% da dotação total prevista), dirigido
para os beneficiários finais, incluindo os diretos, permanecendo 1 390,0 M€ na posse dos beneficiários
intermediários. Ainda a este propósito, e se comparadas as ordens de pagamento emitidas e pagas aos BD e BI
e os pagamentos efetuados aos BD e pelos BI aos BF, considerando valores em trânsito, apurou-se uma
divergência de 58,3 M€, situação que resultava de, nalguns casos2, os beneficiários intermediários pagarem aos
finais, montantes superiores aos pedidos e disponibilizados pela EMRP. Verificou-se, ainda, que o valor do
investimento aprovado reportado pela EMRP, a 31 de dezembro de 2022, excedia em 1 226,1 M€ o valor
contratualizado dos investimentos / subinvestimentos subjacentes. Assim, o investimento aprovado àquela data
ascendia a 9 723,1 M€ (ao invés de 10 949,0 M€), o que representava 58,4% da dotação total, e não 65,8%,
como divulgado. Em contraditório, a EMRP informou tratar-se de situações de aprovação acima da dotação.
Uma vez que esses montantes excedem o financiamento do PRR, as mesmas deverão ser corrigidas para efeitos
de monitorização e contabilização, de forma a garantir a fiabilidade dos dados no acompanhamento do grau de
execução do MRR e respetiva divulgação.
Relativamente ao investimento aprovado, a EMRP, em sede de contraditório, identifica ainda duas situações de
incorreções de reporte, entretanto, corrigidas.
Dos 1 543,7 M€ ordenados e pagos pela EMRP, em 2022, 1 031,4 M€ tiveram a natureza de subvenção e
512,3 M€ a natureza de empréstimo. Do total das subvenções pagas, 936,6 M€ respeitavam a beneficiários da
administração central e da segurança social. No entanto, esta verba não se encontra integralmente evidenciada
no SIGO/CGE como receita do PRR (orçamental ou extraorçamental). De facto, os dados apurados não
evidenciam o integral cumprimento do regime definido no DL 53-B/2021, de 23/06, tendo sido identificadas
insuficiências nos registos contabilísticos e diferentes práticas, entre organismos, de contabilização do
Situações de não nivelamento do valor da receita orçamental pelo montante da despesa orçamental do
ano.
Situações de não reconhecimento, em receita extraorçamental, das verbas recebidas por ordem da
EMRP e ainda não aplicadas em despesa orçamental.
Nas entidades que relevaram aquelas verbas em receita extraorçamental, os critérios adotados não
foram uniformes, existindo registos de receita extraorçamental que abrangem apenas as transferências
recebidas em 2022 e não utilizadas no ano e outras que, àqueles valores, acrescem a parte
remanescente das transferências recebidas em 2021 e não aplicadas nem nesse ano nem em 2022.
No que respeita à execução orçamental da despesa do PRR registada na CGE de 20223, apurou-se o valor
970,1 M€, sendo a acumulada de 1 041,5 M€4 (despesa consolidada), inferior às estimativas apresentadas à UE
1 Apesar da EMRP ter emitido mais OP’s, no valor de 28,5 M€, pagas em 2023.
2 Em 8 investimentos/subinvestimentos dos 139 previstos.
3 Medida 102 – Plano de Recuperação e Resiliência, fontes de financiamento 483 e 717.
4 Do qual 71,4 M€ em 2021 (cfr. PCGE 2021).
169
(5 428 M€1). Esgotados que estão dois anos do período de execução do PRR, que deve ser integralmente
cumprido até 2026, verifica-se assim que o nível de execução orçamental apurado nos BD e BF do PRR, até 31
de dezembro de 2022, é de apenas 19% do valor estimado no cronograma de execução financeira para o período
em questão. O detalhe da execução é apresentado no quadro seguinte.
Atendendo àquela taxa de execução financeira (19%), impõem-se o aceleramento da execução do PRR e a eficaz
monitorização dos investimentos, com vista ao cumprimento do calendário e à concretização dos desembolsos
da CE.
À semelhança do referido no PCGE de 2021, e no que respeita aos registos contabilísticos espelhados na CGE de
2022, continua a concluir- se que os mesmos não refletem a totalidade das verbas recebidas pelos beneficiários
do PRR, afetando a fiabilidade da informação. Esta situação evidencia a necessidade de rigor na contabilização
destas verbas, nomeadamente, através do seu reconhecimento como receita extraorçamental na parte que não
se traduz em despesa orçamental, como legalmente estabelecido, bem como a melhoria dos procedimentos de
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Acresce que o regime excecional de execução orçamental do PRR, determina que a DGO “elabora trimestralmente
um relatório com a análise sistemática da execução orçamental e monitorização das operações de gestão orçamental”
o que, à semelhança do ano de 2021, continuou a não se verificar.
Neste contexto, a DGO deve proceder à implementação dos procedimentos necessários para assegurar que a
totalidade da execução do PRR esteja refletida na CGE.
O PT 2030 tem uma dotação de 22 995 M€ e em 2022 Portugal recebeu, a título de pré-financiamento, o valor
de 341,8 M€, com a distribuição evidenciada no gráfico seguinte:
170
Gráfico 52 – Fluxos financeiros recebidos da União Europeia relativas ao PT 2030
(em milhões de euros)
3,9 46,6
2,2
Fundo de Coesão
116,6
FTJ
FEDER
FSE+
FEAMPA
172,5
Fonte: Agência para o Desenvolvimento e Coesão e IFAP.
Para além do montante referido, Portugal recebeu ainda 12,1 M€ (FEDER), relativo aos PO de Cooperação
Territorial: Programa Transnacional Espaço Atlântico (POCEA) – 2,3 M€, Programa Transfronteiriço
Espanha-Portugal (POCTEP) – 6,4 M€ e Programa Transfronteiriço Madeira-Açores-Canárias (POMAC) – 3,4 M€,
perfazendo assim, um valor total de pré-financiamento de 353,9 M€.
f) Outros fluxos
Os fluxos financeiros oriundos da UE, no âmbito do FEAGA, ascenderam, em 2022, a 885,2 M€, dos quais
875,9 M€ para os mercados agrícolas e 9,3 M€ para a gestão centralizada das medidas veterinárias. A execução
financeira do ano evidenciou pagamentos no montante de 887,3 M€, tendo ocorrido, no mesmo período,
devoluções no valor de 2,9 M€. De acordo com a informação sobre a campanha de 2022, na execução do FEAGA
Foram ainda recebidos fluxos financeiros provenientes do FEAC (31,8 M€), de FEDER relativo aos Programas de
Cooperação Territorial Europeia (118,0 M€) e transferências relativas à Reserva de Ajustamento ao Brexit
(44,6 M€).
No âmbito dos Programas de Ação de Iniciativa Comunitária, foi apurado o valor de 355,6 M€, valor superior em
17,2 M€ ao refletido na CGE (338,4 M€).
171
Sobre as recomendações formuladas no PCGE 2020, no âmbito dos fundos europeus:
172
4.3. Financiamento pelo Estado
Em 2022, o financiamento líquido do SEE1 (que inclui entidades públicas empresariais2 e as empresas públicas3
nas quais as entidades da AC detêm maior participação relativa4) totalizou 4 431 M€, menos 1 440 M€ do que
em 2021. O decréscimo verificou-se em todas as rubricas da despesa, destacando-se as dotações de capital e
outros ativos financeiros (-873 M€) e os empréstimos de médio e longo prazos (-366 M€) (cfr. Quadro 72).
Por sua vez, nas despesas destinadas ao SEE, as diminuições das dotações de capital e outros ativos financeiros
justificam-se em resultado dos decréscimos dos fluxos destinados ao grupo TAP (304 M€, -694 M€), à
Infraestruturas de Portugal (1 282 M€, -331 M€) e aos estabelecimentos de saúde EPE (1 054 M€, -26 M€).
1 Os valores referidos neste ponto não são comparáveis com os divulgados no ponto 2.7.2 do PCGE 2021, que tratava os fluxos
financeiros com o setor público empresarial (abrangendo também empresas maioritariamente detidas por entidades da
administração local e regional). Incluem-se no SEE as entidades públicas empresariais que integram o perímetro orçamental
enquanto entidades públicas reclassificadas (EP/EPR) no subsetor dos SFA da AC e que, nesta qualidade, são mencionadas
noutros pontos do Parecer.
2 Pessoas coletivas de direito público, com natureza empresarial, criadas pelo Estado, por decreto-lei, para prossecução dos
seus fins, sendo o seu capital designado “capital estatutário”, detido pelo Estado (arts. 56.º, 57.º e 58.º do DL 133/2013, de
03/10).
3 Organizações empresariais constituídas sob a forma de sociedade de responsabilidade limitada nos termos da lei comercial,
nas quais o Estado ou outras entidades públicas possam exercer, isolada ou conjuntamente, de forma direta ou indireta,
influência dominante.
4 Cfr. n.º 1 do art. 8.º do DL 133/2013, de 03/10.
173
Gráfico 53 – Principais empresas destinatárias – 2022 e variação face a 2021
Outras; 132 M€; -61 M€
PARPÚBLICA; 0 M€; -633 M€
Parque Escolar; 33 M€; -87 M€
RTP; 189 M€; +5 M€
Relativamente aos instrumentos de financiamento concedidos pelo Estado (cfr. Anexo E1), destaca-se que:
Os empréstimos a médio e longo prazos, líquidos de reembolsos1, ascenderam a 117 M€ (484 M€, em
2021), evidenciando-se os concedidos: à Metro do Porto (270 M€ para a atividade financeira), à CP –
Comboios de Portugal (60 M€ para a atividade operacional, financeira e investimento) e à ML (35 M€
para a atividade financeira relativa ao custo incorrido com swaps).
de saúde EPE (1 054 M€, com dotações para a cobertura de prejuízos, a título de outros ativos
financeiros, que ascenderam a 1 040 M€ e a título de aumentos de capital estatutário, 14 M€), ao grupo
TAP (304 M€, para compensar os efeitos associados à pandemia COVID-19) e ao BPF (250 M€2).
Acresce também o facto de a informação relativa à execução orçamental nem sempre se encontrar desagregada
a um nível adequado de especificação da classificação económica, uma vez que se mantêm as lacunas ao nível
do classificador, já identificadas em diversos Pareceres. De facto, o classificador económico das receitas e das
despesas, relativamente às sociedades financeiras, continua a não distinguir as públicas das privadas, o que não
é coerente, uma vez que essa distinção existe para as sociedades não financeiras. Na receita de ativos
financeiros, o classificador também não distingue as que provêm do SEE e certas classificações económicas (e.g.
174
outras despesas correntes) não preveem a especificação setorial. O MF, em contraditório, informa que “…o
classificador económico será alvo de revisão no âmbito da reforma da nova LEO, momento oportuno para se introduzir
uma alteração que garanta a adequada especificação”.
Também a informação constante do RCGE sobre esta matéria1 está incompleta por abranger apenas o reporte
dos fluxos recebidos e pagos pela DGTF, não incluindo os de outras entidades da AC2, e excede o âmbito
pretendido por incluir fluxos com outras empresas públicas (da administração local e regional), empresas
privadas e fundos com autonomia administrativa e financeira3, revelando uma identificação deficiente do
universo abrangido. Em contraditório, o MF e a DGTF referem que “…na elaboração de contributos para futura
Conta Geral do Estado serão efetuadas diligências em conformidade”.
Em 2022, os apoios4 concedidos pelo Estado a entidades (singulares ou coletivas) dos setores privado,
cooperativo e social, ascenderam a 5 949 M€. O significativo aumento face a 2021 (+1 643 M€; +38,2%) foi
influenciado pelas medidas adotadas pelo governo no âmbito do impacto do choque geopolítico,
nomeadamente as destinadas a amortecer o efeito do crescimento dos preços da energia nas famílias e nas
empresas, explicando assim o aumento dos apoios verificado na área do ambiente (+1 648 M€) e dos dirigidos
1 Ponto 3.1.1.2.1 – Transferências entre o Estado e o Setor Empresarial do Estado, abrangendo sob este título outros fluxos
(dividendos, dotações de capital e empréstimos).
2 Em contraditório, a DGO assinala que os mapas legais e informativos “abrangem toda a receita e despesa realizada” e que
no relatório visam “destacar as mais relevantes formas, através das quais o Estado financia este setor, no âmbito de funções
que são asseguradas pela DGTF enquanto representante do Estado…”.
3 Designadamente nos quadros 3.29 (Esforço financeiro do Estado), 3.30 (Dividendos entregues ao Estado/Direção-Geral do
Tesouro e Finanças) e 3.32 (Dotações de capital e outros ativos financeiros). O quadro 3.31 (Indemnizações compensatórias/
compensações financeiras) tem natureza distinta, apresentando as indemnizações compensatórias recebidas por empresas
públicas, incluindo entidades que não pertencem à AC.
4 Contabilizados sob a forma de subsídios e transferências (correntes e de capital).
175
ao mercado interno (+328 M€). Destaca-se também o aumento de 144 M€ no conjunto de apoios pagos pela
DGTF sob a forma de subsídios, indemnizações compensatórias e bonificação de juros (+82,6%) (cfr. Gráfico 54).
847
740
720
671
618
636
609
514
468
398
438
375
318
201
208
173
206
198
106
133
122
92
91
81
70
92
Ambiente, Agricultura, Trabalho, Ciência, Mercado Turismo, Educação Subsídios, Proteção civil
energia e pescas solidariedade tecnologia e Interno lazer, indemn. e segurança
ordenamento e mar e segurança ensino alojamento compensat, rodoviária
do território social superior e restauração bonific. juros
A maior parte dos apoios (82,1%) foi financiada pelo OE e receitas próprias, cabendo ao financiamento europeu1
os restantes 17,9% (1 064 M€), particularmente relevante nos apoios destinados à Agricultura, Florestas, Pescas
e Mar (517 M€), tal como discriminado no gráfico seguinte.
Estes apoios foram concedidos, na sua maioria, no âmbito das competências de 15 entidades públicas,
distribuídas por 12 ministérios (cfr. Quadro 73).
1 Sobre a despesa financiada por fundos europeus, cfr. ponto 4.2. Fluxos financeiros com a União Europeia.
176
Quadro 73 – Apoios 2022 – Principais entidades concedentes
(em milhões de euros)
Entidades Valor Beneficiários(a)
Total 6 494
Fundo Ambiental (FA) 2 262 65 382
Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) 1 621 231 893
Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI) 673 129 932
Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) 546 (b)6 575
Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) – Despesas Excecionais 319 n.d.
Fundação para a Ciência e Tecnologia 259 8 592
Instituto do Turismo de Portugal (ITP) 226 (c)40 448
Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) 152 n.d.
Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) 142 1 177
Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) 60 3 363
Direção-Geral de Administração Escolar (DGAE) 56 350
Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) 54 414
Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) 48 5 996
Gestão Administrativa e Financeira da Cultura (GAFC) 43 708
Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) 33 n.d.
(a) Estimativa aproximada baseada na informação prestada pelas entidades concedentes.
(b) O número de beneficiários não inclui o vasto número de formandos, que não foi possível quantificar, e de apoios sociais a ações
de formação profissional do Fundo Social Europeu – Programa operacional Inclusão Social e Emprego.
(c) Para além dos NIF, inclui entidades fora do País, identificadas através das respetivas contas bancárias.
n.d. Informação não disponibilizada ou não completa.
Fonte: Informação prestada pelas entidades.
Verifica-se que é o Fundo Ambiental (FA) a entidade com um maior volume de apoios concedidos (2 262 M€),
o que reflete, em parte, a fusão de diversos fundos e mecanismos de financiamento na área do ambiente, no
1 Nomeadamente o Fundo Florestal Permanente, o Fundo de Apoio à Inovação, o Fundo de Eficiência Energética, o Fundo para
a Sustentabilidade Sistémica do Setor Energético, os quais foram extintos por fusão no Fundo Ambiental (DL 114/2021, de
15/12. Entrou em vigor no dia seguinte à sua publicação e produziu efeitos no dia 01/01/2022).
177
Especificamente em 2022, parte significativa das verbas atribuídas através do FA destinaram-se a mitigar os
aumentos dos preços da energia para famílias e empresas, designadamente: 1 000 M€ para apoio extraordinário
ao Sistema Nacional de Gás1, 500 M€ para financiar o desconto a aplicar nas tarifas sociais de acesso às redes
de eletricidade2, 421 M€ para promover a utilização das energias renováveis3, 38 M€ para o apoio extraordinário
ao setor dos transportes públicos de passageiros4. As entidades recetoras destes apoios são bastante
diversificadas, distribuindo-se por instituições e particulares, abrangendo um universo estimado de mais de 65
mil beneficiários5. Destaca-se a SU Eletricidade, SA6, com cerca de metade do valor total dos apoios (1 027 M€)
para aplicar no desconto das tarifas do setor energético e na promoção da utilização das energias renováveis, e
a REN Gasodutos, SA (1 000 M€, 48,0%), para estabilização do preço do gás7. A restante parcela foi distribuída,
nomeadamente, por diversas empresas de águas e resíduos (Águas do Norte (11 M€) e Águas de Lisboa e Vale
do Tejo (11 M€)) e empresas da indústria do papel (25 M€).
Por sua vez, os apoios concedidos pelo Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) (1 621 M€),
principalmente através do Fundo Europeu Agrícola de Garantia (894 M€) e do Fundo Europeu Agrícola de
Desenvolvimento Rural (641 M€), abrangeram um universo estimado de mais de duzentos e trinta mil
beneficiários.
A Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI) atribuiu 673 M€, em que se destacam:
239 M€ canalizados para o Banco Português de Fomento, referentes à conversão, até 20%, de
empréstimos concedidos no âmbito das linhas de crédito COVID-19, em apoios não reembolsáveis;
108 M€ para promoção da inovação empresarial a nível regional (50 M€ para a região Norte, 36 M€ para
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
80 M€ a título de compensação face ao aumento do valor da retribuição mínima mensal garantida8, pago
a entidades empregadoras e a pessoas singulares com um ou mais trabalhadores;
58 M€ para a modalidade Apoiar Gás, no âmbito do sistema de incentivos à liquidez do programa Apoiar,
visando a continuidade da atividade económica mitigando os impactos da evolução no preço do gás
natural, dirigidos a empresas das indústrias intensivas em gás9.
1 DL 84-D/2022, de 09/12. Desconto realizado sobre o preço do gás natural. Os beneficiários finais são pessoas coletivas
regularmente constituídas, com consumos anuais superiores a 10 000 m3.
2 Cfr. Despacho 12461/2022, de 25/10, do membro do Governo responsável pela área da energia e n.º 2 do art. 198.º do DL
15/2022, de 14/01.
3 Através da compensação de parte do sobrecusto total da produção (utilização das receitas de leilão de licenças de emissão).
4 RCM 153/2021, de 12/11, alterada pela RCM 7/2022, de 26/01; Despacho 3329-A/2022, de 18/03; Despacho 10062/2022,
de 16/08.
5 Os apoios ao preço da eletricidade e do gás destinados aos respetivos consumidores são canalizados através das empresas
fornecedoras.
6 Empresa do grupo EDP que opera no mercado regulado.
7 Refira-se que, em ambos os casos, as verbas foram transferidas em 2022, sendo o desconto às tarifas apenas aplicado a partir
de 01/01/2023, tal como determinado pelo DL 84 D/2022 de 09/12, que institui o regime transitório de estabilização de
preço para o gás natural e o Despacho 12461/2022, de 25/10, que fixa a tarifa social de fornecimento de energia elétrica.
8 Em 2022, no valor de 705 € (DL 109-B/2021 de 7/12).
9 DL 30-B/2022, de 18/04.
178
O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) concedeu 546 M€ (de entre os quais, 238 M€ a
empregadores e 134 M€ a estágios) a um universo de mais de 6 mil beneficiários visando, nomeadamente, a
reabilitação profissional, a qualificação de ativos empregados, o apoio à contratação, o emprego-inserção, o
emprego jovem ativo e o empreendedorismo.
A Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) concedeu 319 M€ de apoios (mais 144 M€ do que em 2021),
influenciado, nomeadamente, pelo programa AUTOvoucher (115 M€) e pelo subsídio social de mobilidade
(111 M€), este último com uma variação significativa (+86 M€, em parte porque inclui 23 M€ referentes a 2021
que não foram pagos à Região Autónoma da Madeira)1. Os restantes valores distribuíram-se como ilustrado no
Gráfico 572:
Habitação;
Transportes; 51 M€;
23 M€; 16,0%
7,2%
Fonte: DGTF.
Na área da ciência, tecnologia e ensino superior, destacam-se os apoios atribuídos pelas seguintes entidades:
Fundação para a Ciência e Tecnologia (259 M€), abrangendo um universo superior a oito mil
beneficiários entre instituições e particulares. Os principais apoios destinam-se a bolsas de investigação
(112 M€), à promoção da produção científica, desenvolvimento tecnológico e inovação (51 M€), à rede
1 Em 2022, a IGF, conjuntamente com a Autoridade Nacional de Aviação Civil, efetuaram uma avaliação ao subsídio social de
mobilidade ao transporte aéreo, da qual se destaca a seguinte conclusão: “O modelo de subsidiação em vigor não
incentiva a procura de tarifas mais económicas por parte dos beneficiários e incita à fixação de preços
tendencialmente ligados ao valor máximo do custo elegível, o que se mostra incompatível com a sua natureza de
auxílio social”.
2 Os apoios à habitação são maioritariamente no âmbito do da Lei 64/2014, de 26/08, e do DL 308/2007, de 03/09, na sua
atual redação. As indemnizações compensatórias pagas a empresas de transportes privadas atribuídas em contrapartida da
prestação de serviço público é mais vasto que o referido no presente ponto, que se limita às atribuídas a entidades fora do
perímetro do setor das AP (cfr. ponto 4.3.1.). A transferência anual atribuída à Agência Lusa destina-se a compensar os
encargos anuais diretos e indiretos decorrentes do cumprimento de obrigações do serviço noticioso e informativo de
interesse público, de acordo com o RCM 8-A/2020, de 21/02.
179
nacional de instituições científicas e infraestruturas de investigação de interesse estratégico (49 M€) e
ao emprego científico (36 M€).
Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) (152 M€), para apoios através de bolsas de estudo a
estudantes carenciados do ensino superior (147 M€; 96,4%). Foram ainda atribuídos 1,7 M€ de Bolsas
de Estudo por Mérito e 1,6 M€ a estudantes com necessidades educativas especiais.
Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) (142 M€), que abrangeu um universo estimado
em mais de mil e cem beneficiários, maioritariamente para o ensino artístico especializado (64 M€;
45,1%), ensino profissional (51 M€; 35,9%) e educação especial (17 M€; 12,0%).
Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE) (56 M€), dirigidos maioritariamente às redes de ensino
privado, cooperativo e solidário (52 M€; 92,9%) e educação pré-escolar (3 M€) e efetuaram-se,
sobretudo, através de: contratos de associação celebrados com escolas particulares situadas em zonas
carenciadas de escolas públicas (41 M€; 73,2%); contratos de condições especiais às famílias
economicamente menos favorecidas, para frequência de escolas particulares sem contratos de
associação (10 M€; 17,9%); contratos de desenvolvimento da educação pré-escolar (3 M€).
Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) (60 M€), apoiando mais de três mil e trezentos
beneficiários (individuais e coletivos) em atividades desportivas, reabilitação de instalações e apoio à
juventude.
Os apoios concedidos pelo Turismo de Portugal (TP) (226 M) abrangeram um universo estimado de mais de
quarenta mil beneficiários. Para além de incentivos a empresas (131 M; 57,7%), dos quais 47 M€ a medidas
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
COVID-19, destacam-se as transferências legalmente devidas a federações, ligas e clubes, ao abrigo do Regime
Jurídico dos Jogos e Apostas Online (51 M€; 22,6%). Os restantes apoios distribuem-se por diversas finalidades,
nomeadamente ações de promoção e animação regional (18 M€).
Dos diversos apoios às artes transferidos através da Gestão Administrativa e Financeira da Cultura (GAFC)
(43 M€), destacam-se com o valor mais significativo os atribuídos ao abrigo do programa de apoio sustentado a
estruturas profissionais com atividade continuada1 (29 M€; 66,5%).
A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) concedeu 33 M€ de apoios, dos quais 30 M€
destinadas ao financiamento das associações humanitárias de bombeiros (AHB)2, no continente, enquanto
entidades detentoras de corpos de bombeiros e 2 M€ ao Fundo de Proteção Social do Bombeiro3.
1 DL 103/2017, de 24/08.
2 Cfr. n.º 1, do art. 5.º da Lei 94/2015, de 13/08.
3 Ao abrigo do art. 8.º da Lei 94/2015, de 13/08, conjugado com o n.º 6 do art. 163.º, da Lei 12/2022, de 27/06.
180
4.3.2.3. Divulgação da informação
A natureza não reembolsável destes apoios, a sua diversidade e especificidade exigem um escrutínio rigoroso,
que passa pela transparência da informação, designadamente quanto às finalidades que visam atingir, tendo
em conta os princípios da proporcionalidade e da sustentabilidade das finanças públicas.
Do ponto de vista legal, é obrigatória a publicitação e o reporte de informação sobre os apoios concedidos pela
administração pública a particulares, com a divulgação dos beneficiários, bem como do tipo e do montante
atribuído (Lei 64/2013, de 27/08). Esta obrigação compreende um universo bastante alargado de apoios, que se
designou genericamente de subvenções e subsídios públicos, tendo por referência a definição de subvenção
pública constante na Lei como “…toda e qualquer vantagem financeira ou patrimonial atribuída, direta ou
indiretamente, pelas entidades obrigadas, qualquer que seja a designação ou modalidade adotada (…) incluindo as
transferências correntes e de capital e a cedência de bens do património público…” (art. 2.º). Porém, subsistem
diferentes abordagens no reporte destes apoios, tanto pelas entidades concedentes como pelas entidades
beneficiárias, variando o seu âmbito, em grande medida, em função do tipo de prestação e do universo de
entidades abrangidas, o que tem condicionado a qualidade da informação1.
Neste âmbito refira-se que a informação prestada pelas entidades ao Tribunal (evidenciada no ponto 4.3.2),
nem sempre coincide com a execução orçamental da despesa com transferências e subsídios, apresentando:
valores superiores, por incluírem pagamentos registados em outras rubricas de despesa ou através de
operações extraorçamentais;
valores inferiores por a entidade não considerar como apoios a totalidade da despesa registada nas
rubricas de transferências e subsídios – foi, por exemplo, o caso da ANEPC que considera que, do total
Para além destas divergências, há a salientar o facto de a informação sobre estes apoios, divulgada na CGE,
também não ser consistente, uma vez que o Quadro A37 – Transferências e subsídios para entidades não
integradas no setor da Administração Central2 deveria corresponder à informação divulgada nos Mapas 29 –
Montante global das transferências e dos subsídios para entidades privadas exteriores ao setor público e 30 –
Montante global das indemnizações pagas a entidades privadas exteriores ao setor público, o que não sucede.
1 O controlo das subvenções e benefícios públicos foi atribuído à Inspeção-Geral de Finanças, no âmbito do Sistema de
Controlo Interno, que organiza e divulga a informação através da publicação de uma listagem (art. 4.º da Lei 64/2013, de
27/08). A listagem relativa a 2022, publicada no sítio da IGF na internet, identifica 8 763 M€ de subvenções, valor que não é
diretamente comparável com o considerado neste Parecer, uma vez que essa informação tem um âmbito mais alargado
quanto às subvenções e não se limita aos apoios concedidos pela administração central.
2 Apesar de este quadro, por lapso, apresentar como título “Transferências e subsídios da Administração Central para
entidades públicas empresarias”.
181
Quadro 74 – Transferências e subsídios pagos a entidades fora das AP - 2022 – Informação CGE
(em milhões de euros)
CGE 2022
Entidades concedentes
Quadro A 37 Mapa 29 + Mapa 30
Total de subsídios e transferências 35 737 29 209
Total Administração Central, dos quais: 16 527 5 919
Fundo Ambiental (FA) 2 261 2 239
Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) 723 715
Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI) 464 464
Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) 557 -
Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) – Despesas Excecionais 319 365
Fundação para a Ciência e Tecnologia 259 521
Instituto do Turismo de Portugal (ITP) 181 184
Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) 152 152
Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) 142 141
Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) 108 106
Camões - Instituto da Cooperação e da Língua 10 87
Fonte: CGE 2022 – Volume I, Tomo I, Quadro A 37; Volume II, Tomo I, Mapas 29 e 30.
As diferenças que se verificam nesta informação, confirmadas pela DGO em contraditório, que assinala os
diferentes âmbitos dos quadros e fontes de informação, reforçam a necessidade de se clarificar o conceito de
apoios públicos não reembolsáveis concedidos pelas entidades públicas e de se harmonizar a informação a
divulgar sobre esta matéria na CGE.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Em 2022, pela primeira vez desde o início da crise financeira internacional de 2007/2008, o saldo entre a receita
e a despesa dos apoios1 concedidos pelo Estado2 ao setor financeiro3 foi favorável ao setor público (165 M€)4.
A receita totalizou 173 M€ e resulta, sobretudo, da amortização parcial do empréstimo pela Parvalorem
(121 M€) e de dividendos da CGD (50 M€)5. A despesa totalizou 8 M€ e ficou a dever-se, na quase totalidade, a
despesas com a reprivatização do BPN6 (7 M€), como se apresenta no quadro seguinte.
182
Quadro 75 – Apoios públicos ao setor financeiro – 2022
Também as responsabilidades contingentes do Estado associadas aos apoios ao setor financeiro cessaram em
2022, em resultado da amortização de dívida financeira da Oitante, que beneficiava de garantia do Estado e cujo
valor ascendia a 39 M€ no final de 20211.
Ao longo de todo o período, o BES/NB, o BPN e a CGD foram as instituições financeiras que mais esforço exigiram
ao Estado, em especial, no período 2012-2020, em que os apoios atingiram uma despesa líquida de 19 395 M€2.
Nos últimos anos, observa-se uma tendência de redução destas despesas, mantendo-se, contudo, um saldo
global desfavorável para o Estado de -21 883 M€ (Quadro 76).
As operações realizadas ao longo do período neste âmbito traduziram-se em ativos financeiros para o Estado
num valor nominal de 10 414 M€ (em 31/12/2022), porém muito inferior ao total dos encargos líquidos
suportados. Para além da fraca expetativa de recuperação dos montantes aplicados na aquisição destes ativos,
especialmente ao nível das verbas para absorção de prejuízos ou ao abrigo de mecanismos de capital
contingente, também no que respeita às ações, o respetivo valor nominal é bastante inferior ao esforço
financeiro do Estado, como se apresenta no quadro seguinte.
1 Sobre esta evolução consultar anteriores Pareceres sobre a CGE, designadamente PCGE 2019 Gráfico II.13.
2 Cfr. Pareceres CGE anteriores, designadamente Gráfico 49 – Apoios públicos ao setor financeiro, despesas e receitas – 2008-
2021, do ponto 4.2. do PCGE2021.
183
Quadro 77 – Apoios públicos ao setor financeiro – por tipo de instrumento – 2008-2022
(em milhões de euros)
Saldo Global Ativos em
Tipo de Apoios
2008-2022 31/12/2022
Empréstimos -5 313 5 313
Ações -13 201 4 906
Garantias 314 195
CoCos 211 0
Mecanismo capital contingente / absorção de prejuízos -3 894 0
Total -21 883 10 414
Fonte: DGTF, FGD, SII, CGE e PCGE.
Nestes ativos incluem-se ações, cujo valor nominal de 4 906 M€ reflete uma variação positiva de 62 M€ face a
31/12/20211, no essencial, devido à variação do valor detido em conjunto pelo Estado e pelo FdR no capital
social do NB. Em 2022, o NB registou um aumento de capital2 por efeito da conversão de créditos fiscais que
haviam sido atribuídos ao Estado, referentes aos anos de 2016 e 2017, ao abrigo do regime especial aplicável
aos ativos por impostos diferidos3. A conversão dos direitos atribuídos ao Estado (através da DGTF) conduziu ao
aumento da sua participação para 5,69% com a consequente diluição da participação da Lone Star e do FdR.
Porém, uma vez que, nos termos do Contrato de Venda e Subscrição de 75% do capital social do NB celebrado
com a Lone Star, o efeito dessa diluição deve afetar exclusivamente a participação do FdR, o Fundo transmitiu à
Lone Star, o valor correspondente em ações vendo, em 31/12/2022, a sua participação reduzida de 23,44% para
19,31%, por forma a manter a participação de 75% do acionista privado.
Os benefícios fiscais (BF) são um importante instrumento de política pública na prossecução de objetivos
extrafiscais (como sejam a manutenção do emprego e o incentivo a determinadas atividades). A sua utilização
origina uma despesa fiscal (DF) correspondente à receita que seria obtida caso fosse aplicado o regime de
tributação-regra.
Quer os princípios de Finanças Públicas, quer a própria Lei recomendam boas práticas na criação e/ou
manutenção deste tipo de instrumento, que incluem não só uma fundamentação completa aquando da criação
de cada BF (com identificação clara das finalidades que se visa atingir), mas também uma reavaliação sistemática
dos BF (ponderando os objetivos extrafiscais atingidos face à DF que lhe está associada), que permita verificar a
sua eficácia e a atualidade dos pressupostos que justificaram a sua criação.
184
Também a LEO1 inclui a apreciação da DF como uma das matérias com incidência orçamental relevantes para a
verificação do cumprimento do princípio da equidade intergeracional, tendo em conta o seu eventual impacto
nas gerações futuras. A este propósito, o MF refere que se verificou “…ao longo dos últimos anos uma redução na
despesa fiscal. Em particular, entre 2019 e 2021 (…) num montante superior a 1,6 mil milhões de euros contribuindo
para uma desoneração das gerações futuras”2. Ora, a DF reportada na CGE foi em 2019 e 2021, respetivamente,
de 13 171 M€ e 12 305 M€, o que significa uma redução de 866 M€. No entanto, considerando a revisão da
classificação de BF, que ocorreu em 2021 (reclassificados como desagravamentos fiscais estruturais, com DF de
943 M€), a DF teria aumentado 77 M€. Acresce que a DF na CGE 2022 ascende a 16 441 M€, 3 270 M€ (24,8%)
acima da DF de 20193, confirmando, ao contrário do alegado, a tendência crescente da DF.
Acresce que a LOE 2022 dispôs que o Governo criaria no Portal Mais Transparência4 uma secção para permitir
“a disponibilização de toda a informação referente aos apoios concedidos ao abrigo do Estatuto dos Benefícios Fiscais”
(EBF), o que ainda não se verificou.
Em 2022, a CGE quantifica a DF relativa a 208 BF5, faltando apurar a DF de cerca de um terço dos 321 BF em
vigor, de acordo com a informação disponibilizada pela AT6.
Os objetivos das medidas mais relevantes do ano de 2022, associadas a BF, centraram-se no apoio (recuperação
e recapitalização) e proteção das empresas, no emprego e no fomento do investimento privado, objetivos
inseridos no contexto de estímulo aos efeitos da pandemia e da situação geopolítica. Neste âmbito, foram
mantidos alguns dos BF vigentes, nalguns casos com alargamento do seu âmbito, e foram criados novos BF.
185
Figura 13 – Alterações mais relevantes a benefícios fiscais em 2022
Novos BF
Incentivo fiscal à recuperação (IFR), de que podem beneficiar sujeitos passivos de IRC e cuja utilização depende, entre outras
condições, da manutenção dos postos de trabalho nas empresas beneficiárias e da não distribuição de lucros por três anos, para
capitalização das respetivas empresas(a).
Medidas para a mitigação do choque geopolítico:
Em IRC: extensão da concessão de benefícios fiscais contratuais ao investimento produtivo e dos BF do Regime Fiscal de Apoio
ao Investimento (RFAI)(e), de 31/12/2020 para 31/12/2027.
Em IRS: isenção parcial de rendimentos de jovens não dependentes que ingressem no mercado de trabalho (IRS Jovem) (f) e o
prolongamento do regime fiscal aplicável a ex-residentes para os anos de 2021 a 2023 (Programa Regressar)(g).
(a) Art. 307.º da LOE 2022, que aprova o respetivo regime (Anexo III da LOE). O benefício a conceder corresponde a um crédito fiscal - dedução à coleta de IRC das despesas de
investimento em ativos afetos à exploração, efetuadas entre 01/07/2022 e 31/12/2022.
(b) Lei 10-A/2022, de 28/04, que aprovou medidas excecionais e temporárias de resposta ao aumento dos preços dos combustíveis, designadamente esta isenção em IVA sobre
os adubos, fertilizantes, corretivos de solos e outros produtos para alimentação de gado, aves e outros animais (art. 1.º, alínea c)).
(c) Lei 19/2022, de 21/10, por aditamento da verba 2.38 à lista I anexa ao Código do IVA (arts. 1.º, alínea c) e 4.º).
(d) O MF e a AT explicam que “não é possível apurar isoladamente a despesa fiscal resultante desta medida” pois, em certas circunstâncias, os sujeitos passivos já podiam limitar
ou suspender o 3.º pagamento por conta (n.º 1 do art. 107.º do CIRC), tendo sido estimada “uma redução de cerca de 180 M€”.
(e) Art. 306.º da LOE 2022, que altera o Código Fiscal do Investimento (CFI), dando nova redação a artigos que respeitam aos benefícios fiscais contratuais e ao RFAI (arts. 1.º, 2.º,
7.º, 25.º e 43.º) e nos termos dos quais estes BF constituem regimes de auxílios com finalidade regional (nova redação do n.º 2 do art.1.º), prevendo-se também os limites
máximos de auxílio aplicáveis a estes BF. As alterações introduzidas produzem efeitos desde 01/01/2022 (art. 330.º da LOE).
(f) Art. 279.º da LOE 2022, que aditou o art. 12-B do CIRS (cfr. art. 329.º da LOE, que revogou o art. 2.º-B do CIRS).
(g) Art. 278.º da LOE 2022, que alterou o art. 12.º-A do CIRS (cfr. também art. 280.º da LOE).
(h) Art. 315.º da LOE 2022. Sem DF apurada em sede de IRS e em relação ao IRC não é possível isolar o valor de outros BF ao mecenato cultural.
(i) Art. 316.º da LOE 2022. Em 2022 a DF foi de 94.117,09 euros em IRC, não sendo apurada em IRS.
(j) Art. 325.º da LOE 2022, sem DF apurada em 2022.
(l) Mantidas em vigor pelo art. 292.º da LOE 2022 que incluiu estas isenções no Código do Imposto do Selo.
(m) Lei 4-C/21, de 17/02, e que se manteve em vigor até 31/12/2022 (art. 318.º da LOE 2022).
(n) Art. 290.º da LOE 2022.
186
Em 2022, no âmbito de assistência técnica da Comissão Europeia, uma equipa do FMI realizou uma avaliação a
três BF em sede de IRC1 – Remuneração Convencional do Capital Social (RCCS), Regime de Dedução por Lucros
Retidos e Reinvestidos (DLRR) e Benefícios fiscais contratuais ao investimento produtivo2.
As conclusões apontam para que: i) quanto à RCCS, as mudanças recentes no seu enquadramento
enfraqueceram a respetiva eficiência e eficácia e ii) sobre a DLRR, tendo em conta a sua baixa adoção e que se
encontra concentrada em empresas já estabelecidas, não existe evidência de que promova novos investimentos.
Assim o FMI recomenda a revisão do RCCS de acordo com as diretivas europeias, o redesenho dos limites
máximos existentes e a revisão do período de aplicação do benefício. Recomenda ainda, no que diz respeito à
DLRR, a sua integração/substituição pelo RFAI. Quanto aos BF contratuais ao investimento produtivo o relatório
constatou que existem poucos beneficiários e que este BF não tem vantagens sobre o RFAI, recomendando a
sua extinção e propondo a revisão e reforço do RFAI. Neste âmbito, mas já em 2023, foram revogados os BF
DLRR e RCCS3.
Embora com concretização só em 2023, foram ainda aprovadas em 2022 (em Conselho de Ministros), propostas4
que previam, designadamente:
A prorrogação por mais cinco anos dos BF relativos à propriedade intelectual e ao mecenato científico5,
(Lei 20/2023, de 17/05, art. 10.º).
No entanto, esta prorrogação levanta problemas uma vez que, embora introduzida em maio de 2023,
produz efeitos desde 01/01/2022 e, por isso, deveria ter sido justificada. É assim questionável a definição
de um BF em IRS quando, à data da aprovação desta prorrogação, já tinha sido iniciado o processo de
liquidação das declarações de IRS relativas ao ano de 2022.
A autorização ao Governo, por um período de um ano, para revogar expressamente BF que tenham
187
Neste contexto, refira-se a auditoria da IGF1 sobre o SIFIDE2, na qual foi recomendado o seu
aperfeiçoamento, essencialmente ao nível da monitorização e dos procedimentos de controlo de alguns
dos aspetos críticos identificados (despesas das empresas dedicadas a I&D e financiadas previamente,
direta ou indiretamente, pelo capital realizado pelos fundos de investimento)3. O SIFIDE II foi o BF mais
relevante em termos de DF ao nível do IRC em 2021, representando 39,7% da DF daquele imposto, e em
2022 a sua DF ascendeu a 474 M€ e representou 34,7 % da DF do IRC.
Embora prevista desde 2020, a Unidade Técnica permanente para avaliar os benefícios fiscais (entre outros
objetivos) ainda não se encontra operacional4. Em contraditório, o MF refere que se prevê que seja aprovado
“um diploma de criação e constituição desta Unidade Técnica até ao final do ano de 2023, tendo em vista nos anos
subsequentes produzir relatórios de base anual que façam uma avaliação custo-benefício dos vários benefícios fiscais,
com objetivo de simplificação do sistema fiscal, bem como exponenciar a eficácia e adequação da despesa fiscal”. O
Tribunal salienta a importância da adoção de metodologias que permitam a avaliação sistemática e global dos
BF, designadamente através da definição de critérios, para além da caducidade, que conduzam à seleção dos BF
a avaliar em cada ano (como a antiguidade do benefício, a DF gerada, alterações significativas na evolução da
DF ou a concentração num número reduzido de beneficiários).
O MF refere ainda “que a apresentação de todos os benefícios fiscais e a correspondente despesa fiscal, sempre que
quantificável, é feita no relatório da despesa fiscal, anualmente publicado pelo Ministério das Finanças e remetido à
Assembleia da República”. O relatório relativo à despesa fiscal de 2022 foi disponibilizado em agosto de 2023.
Refira-se que a informação reportada neste relatório não é comparável com a divulgada na CGE por abranger
um universo mais vasto (administrações públicas) e por seguir uma ótica diferente no apuramento da DF5.
A DF relevada na CGE totalizou 16 441 M€, mais 4 136 M€ (33,6%) do que em 2021, traduzindo a subida da DF
associada à generalidade dos impostos, com destaque para o aumento de 41,7% da DF de IVA e 30,2% do IRS.
Ao nível da estrutura, mantém-se o peso muito significativo da DF de BF em sede de IVA (67,8%), seguindo-se a
dos BF de IRS (12,3%), de IRC (8,3%) e de IS (7,5%) (cfr. Quadro 78).
188
Quadro 78 – Despesa fiscal – 2021-2022
(em milhões de euros)
Valor Estrutura Variação2021-2022
Imposto
2021 2022 2022 (%) Valor %
IVA (a)7 871 11 154 67,8 3 283 41,7
IRS 1 556 2 025 12,3 470 30,2
IRC 1 103 1 369 8,3 266 24,1
IS 1 167 1 225 7,5 58 5
ISP 258 310 1,9 53 20,4
ISV 282 290 1,8 7 2,6
IABA+IT 54 53 0,3 -1 -2,3
IUC 14 15 0,1 1 4,2
Total 12 305 16 441 100,0 4 136 33,6
(a) Difere em 2 M€ dos 7 873 M€ indicados na CGE, por correção incompleta dos dados apresentados
em 2021 (dedução de 12 M€ relacionados com missões diplomáticas e organismos internacionais
considerado como desagravamento estrutural).
Em termos globais, o reporte da DF na CGE tem evoluído, com informação mais completa, embora continuem
a verificar-se algumas fragilidades:
A quantificação da DF relevada na CGE (16 441 M€) encontra-se limitada a cerca de dois terços dos BF
em vigor – dos 321 identificados pela AT, apenas é quantificada a despesa relativa a 208.
Ausência de quantificação da DF relativa aos benefícios que concorreram para a formação de prejuízos
fiscais que os sujeitos passivos deduzem ao lucro tributável.
Não inclusão na DF de IRC, da perda de receita relativa ao benefício "Reinvestimento dos valores de
realização", por ser considerado pela AT como DFE (41 M€ em 2022, 23 M€ em 2021, 55 M€ em 2020 e
72 M€ em 2019)1.
Não inclusão na DF de IVA, dos BF no âmbito do combate à pandemia, em vigor em 2022, tendo a AT
referido que não é quantificada “por inexistência de informação, no universo de dados disponível na AT”.
O Classificador dos Benefícios Fiscais continua por atualizar: no que respeita à função, são imputados
valores cada vez mais elevados na rubrica residual “outros assuntos económicos” – 13 564 M€2 em 2022
(82,5% da DF total), 9 208 M€ em 2021 (74,8% da DF total) e 8 823 M€ em 2020 (68,7% da DF total) – o
que limita a utilidade daquele instrumento.
1 Em contraditório, a AT reitera a argumentação já aduzida no PCGE 2016, ponto 8.1.2.2.1, que não modificou a apreciação do
Tribunal sobre a matéria. Trata-se de um regime especial, que permite um tratamento fiscal privilegiado de mais-valias
realizadas pelos contribuintes que optem pela sua aplicação. Regra geral, as mais-valias realizadas concorrem para a
formação do lucro tributável, mas o legislador, com o objetivo de fomentar o investimento por parte dos contribuintes,
previu situações de isenção ou tributação parcial. Trata-se de um regime fiscal privilegiado e opcional, que visa finalidades
extrafiscais e da sua aplicação resultam vantagens fiscais que não seriam obtidas com a aplicação do regime de tributação-
regra. Por isso, integra-se no conceito de BF e a perda de receita decorrente da sua aplicação deve ser relevada como DF.
2 Valor que inclui a DF de IVA relativa às taxas reduzida e intermédia que na CGE consta, por lapso, classificada em “Indústria”.
189
Constata-se que, relativamente a alguns BF (Quadro 79), a DF apurada é significativamente superior à estimativa
apresentada no OE, com destaque para o IVA, fruto não só do dinamismo crescente da atividade económica,
mas também da inflação. No que respeita ao IRS e IRC, a AT esclareceu que é resultado do aumento do número
de beneficiários de diversos BF.
Forças Armadas e de Segurança (-7 M€), e, pela primeira vez, a quantificação da DF relativa a “Instituições de
Ensino Superior e Entidades sem fins lucrativos do sistema nacional de ciência e tecnologia inscritas no IPTCN”2
(13 M€).
1 Diferença entre o IVA a entregar ao Estado caso se aplicasse a taxa normal e o que é apurado utilizando as taxas preferenciais
(reduzida e intermédia), corrigido do fator correspondente aos consumos intermédios.
2 Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional.
3 Por sua vez, a receita cessante por DFE (deduções à coleta) quantificada pela AT (3 768 M€) aumentou 180 M€ (5%),
essencialmente pelo aumento de 77 M€ (15,3%) nas “Despesas de Saúde e Seguros de Saúde” e de 50 M€ (3,3%) nas
“Despesas gerais dos agregados familiares” (tipo de despesa que representa 41,7% das deduções à coleta).
190
A DF respeitante aos “Residentes não habituais” 1 totalizou 1 360 M€ e constitui 67,2% da DF do imposto,
sendo a segunda mais elevada de 2022 (só ultrapassada pela DF em sede de IVA). Face a 2021, aumentou
401 M€ (41,8%), em reflexo do aumento do número de residentes não habituais (cfr. Gráfico 58).
1 200
80 000 959 M€
74 258
893 M€ 1 000
Em 2022, a DF deste benefício foi apurada com base em 29 426 declarações2. De referir que as 50
declarações relativamente às quais se apura a maior despesa fiscal (0,17% do total) representam 31,6%
da DF. Uma vez que a DF é apurada com base nas declarações relativas ao ano anterior, é expetável o
seu aumento expressivo em 2023, dado o acréscimo dos RNH inscritos em 2022 ter superado em mais
de 50% o aumento anual que se verificava desde 2019.
1 O regime jurídico e fiscal dos “residentes não habituais” foi criado pelo DL 249/2009, de 23/09, e opera pela aplicação de
taxas preferenciais. A DF deste benefício tem aumentado significativamente desde 2017: em 2017 aumentou 257 M€
(145,8%), em 2018, 115 M€ (26,6%), em 2019, 72 M€ (13,1%), em 2020, de 273 M€ (44,0%) e em 2021 teve um incremento
de 67 M€ (7,5%). De notar que a respetiva DF é apurada pelo método da “reliquidação” (cfr. ponto 5.3.1 do PCGE 2018),
considerando-se DF a diferença entre o valor pago e o valor que seria pago se esses contribuintes fossem residentes sem
usufruir do regime, o que resulta na aplicação relativamente a rendimentos auferidos no estrangeiro, da metodologia de
cálculo da DF aplicada a residentes. Os elevados montantes desses rendimentos implicam valores significativos de DF, mas
que não correspondem a uma efetiva perda de receita para o Estado.
2 De um total de 33 010 declarações entregues, uma vez que, relativamente a algumas declarações, a DF é nula.
3 A isenção e a dedução à coleta em IRS relativa às pessoas com deficiência constam dos arts. 56.º-A e 87.º do CIRS.
4 Arts. 16.º, 17.º e 21.º do EBF.
191
Imposto do selo (IS)
A DF em IS aumentou 58 M€ (5,0%), tendo atingido 1 225 M€. Este aumento está relacionado com a DF relativa
a “Aquisição gratuita de bens, incluindo por usucapião” (635 M€), que aumentou 67 M€ e que representa 51,8%
de toda a DF de IS. De destacar ainda o aumento da DF relativa a “Prémios e comissões relativos a seguros do
ramo Vida” (+4,8%), em 18 M€, sendo este BF o segundo mais importante (383 M€, 31,3%). Em sentido
contrário, assinala-se a diminuição da DF relativa a “suprimentos efetuados por sócios” (29 M€, -26,0%).
A DF em IRC continua a evidenciar uma elevada concentração num reduzido número de benefícios (Quadro 80),
dado que aos cinco BF identificados corresponde 79,4% da DF (1 087 M€).
Relativamente aos BF em IRC auferidos por “Entidades licenciadas na Zona Franca da Madeira”2, e na sequência
de situações de desconformidade detetadas pela Comissão Europeia3, a AT estimou um valor a recuperar de
839 M€, relativo a 302 contribuintes e 1013 liquidações, para o horizonte temporal 2009/2022 4. Da estimativa
do valor a recuperar, 0,8% respeita a três contribuintes sediados no continente devendo o restante constituir
receita da RAM (sem impacto na CGE). Neste âmbito, a AT processou 122 liquidações, no valor global de 85 M€
(dos quais foram arrecadados 2 M€ – receita da RAM), e esclareceu que a emissão e processamento das
liquidações “(…) depende, quer da análise dos cerca de 700 direitos de audição exercidos pelos beneficiários, quer, em
situações específicas como sejam as de contribuintes cessados, da adaptação do sistema informático”, processo que
o Tribunal continuará a acompanhar.
192
Imposto sobre veículos (ISV)
A DF em ISV (290 M€) aumentou 7 M€ (2,6%), não existindo grande variação na quantificação dos diversos BF.
Dos 22 BF quantificados como DF, 66,8%, diz respeito a um único BF – “Automóveis ligeiros de mercadorias, de
caixa aberta, fechada ou sem caixa, com lotação máxima de três lugares” – com 194 M€ de DF (-2 M€ face a
2021).
Imposto sobre o álcool, bebidas alcoólicas e bebidas adicionadas de açúcar e edulcorantes (IABA)
A DF em IABA (53 M€) apresentou uma redução de 2 M€ (-3,1%) decorrente da DF relativa a “Álcool destinado
a fins terapêuticos e sanitários”, com um peso de 72% nesta tipologia de DF, que diminuiu 3 M€ (-6,2%).
1 Por ter sido criada na LOE 2021 e concretizar-se por reembolso do imposto pago. Assim, em 2021, ascendeu apenas a 0,2 M€.
2 Revogado pela Lei 21/2021, de 20/04, produzindo efeitos a partir de 01/07/2021.
193
4.5. Garantias públicas
As garantias são concedidas maioritariamente pelo Estado, através da DGTF, e pelo FCGM, e, ainda, por outras
pessoas coletivas de direito público, incidindo principalmente sobre financiamentos e seguros de crédito.
A sua concessão reveste particular importância porque são responsabilidades contingentes as garantias
prestadas a entidades fora do perímetro orçamental1 que, a serem executadas, têm impacto na despesa e na
dívida refletidas na CGE e, por essa via, na sustentabilidade das finanças públicas. Apesar disso, o RCGE continua
a apresentar de forma incompleta a informação sobre garantias2 e não comporta uma análise do risco
orçamental associado a eventuais situações de execução dessas responsabilidades. Sobre esta matéria, o MF
refere-se à informação divulgada na CGE 2022 sobre garantias já executadas “…sem prejuízo de se diligenciar no
sentido de, nos próximos exercícios, se procurar atender à melhoria da análise do risco orçamental associado a
eventuais situações dessas responsabilidades (…)”.
Em termos acumulados, no final de 2022, as garantias concedidas totalizavam 18 825 M€, das quais 14 747 M€
(78,3%) correspondem a responsabilidades contingentes por garantias prestadas a entidades fora do perímetro
orçamental e 4 078 M€ (21,7%) correspondem a garantias concedidas a entidades do perímetro orçamental.
Acrescem a estas 1 901 M€ de garantias concedidas pelo Estado ao FCGM3, no âmbito do sistema nacional de
garantia mútua.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Responsabilidades contingentes por garantias prestadas a entidades Responsabilidades por garantias prestadas a
fora do perímetro orçamental: entidades do perímetro orçamental:
14 747 M€ 4 078 M€(a)
(a) Sobre a dívida das entidades que integram a AC confrontar ponto 2.5.3.
Fonte: DGTF, BPF e Inquérito a SFA. Cálculos TC.
1 Por sua vez, a prestação e o acionamento de uma garantia entre entidades do perímetro orçamental já não tem impacto no
saldo e na dívida refletidas na CGE.
2 Identifica o stock da dívida garantida pelo Estado, as garantias concedidas pelo FCGM e apresenta um quadro com as
garantias concedidas por outras entidades (Quadro 2.21), porém incompleto.
3 Parte das dotações financeiras a efetuar pelo Estado para reforço do capital do FCGM têm sido substituídas por garantias
comumente intituladas de 3.º grau, por se tratar de garantias às contragarantias prestadas pelo FCGM.
194
Das responsabilidades contingentes por garantias prestadas a entidades fora do perímetro da CGE, 13 305 M€
(menos 923 M€ que em 2021) respeitam a garantias a financiamentos concedidos pela DGTF e pelos SFA e
1 442 M€ a garantias a seguros de créditos e afins.
Verifica-se, em 2022, um decréscimo de 1 679 M€ das garantias concedidas face ao valor de 2021, em resultado,
em particular, do efeito base dos apoios nesse ano no âmbito da COVID-192.
1 Criada em 2008 e disponibilizada através da COSEC para cobertura de riscos de natureza comercial e política em países fora
da OCDE, Turquia e México.
2 A vigência do DL 10-J/2020 (que, entre outras medidas, criou um regime especial para as garantias pessoais do Estado e para
a garantia mútua, como resposta à pandemia) cessou com a publicação do DL 66-A/2022, de 30/09.
195
No final de 2022, as garantias prestadas pelo Estado a financiamentos totalizavam 11 983 M€ (11 766 M€ em
2021), a que correspondiam responsabilidades efetivas1 de 11 340 M€2 (10 933 M€, no final de 2021), sendo de
destacar que:
Quase metade das responsabilidades assumidas, no final de 2022, respeitava a entidades da AC3,
totalizando 5 978 M€ (6 402 M€ em 2021). Destaca-se o FCGM que, em 31/12/2022, beneficiava de
garantias do Estado no total de 1 901 M€, sendo 1 323 M€ relativos a linhas de crédito COVID-19. Ainda
em 2022, foi aprovada4 a concessão de uma garantia pessoal do Estado 31,5 M€ ao FCGM, para fazer
face ao aumento dos preços da energia e aos efeitos da inflação decorrentes do contexto geopolítico,
que só foi concedida em 2023.
Em termos de variação face a 2021, a mais significativa (-424 M€) verificou-se nas garantias prestadas a
entidades da AC, no essencial, devido às amortizações de dívida6 da Infraestruturas de Portugal, da ML
e do Metro do Porto. Regista-se, ainda, o aumento de 360 M€ nas garantias a financiamentos da RAM,
em resultado, por um lado, de novas garantias, no total de 694 M€ (dos quais, 535 M€ para
refinanciamento de dívida e 159 M€ para financiamento da construção do novo Hospital Central da
Madeira) e, por outro lado, da amortização de empréstimos, que reduziram as responsabilidades do
Estado em 344 M€. Há ainda a referir o aumento, em 385 M€, das garantias no âmbito de cooperação
internacional, devido a uma nova garantia (400 M€) ao Banco Africano de Desenvolvimento e, em
sentido contrário, as amortizações de empréstimos realizadas por várias entidades, que reduziram as
responsabilidades do Estado em 15 M€.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
As garantias prestadas por outras entidades do perímetro da CGE (SFA/EPR e segurança social), no final de
2022, perfaziam 7 300 M€, sendo de destacar que:
A quase totalidade deste montante refere-se a garantias concedidas pelo FCGM (7 250 M€), associadas
a 68 linhas de crédito. Desde 2020, têm particular relevância as referentes às linhas no âmbito dos apoios
COVID-19, com o valor garantido a ascender aos 5 449 M€ (sobre as linhas de apoio COVID-19 cfr. Anexo
E2). Em termos de variação, registou-se uma diminuição de 1 565 M€, dos quais 1 199 M€ relativos a
linhas de crédito COVID-19, destacando-se a Linha de Apoio à Economia (com uma diminuição de
1 064 M€), na medida em que esta linha concentra o maior volume de crédito contratado.
1 As responsabilidades assumidas por garantias concedidas só se tornam efetivas à medida das utilizações das operações de
financiamento. Em sentido inverso, as responsabilidades assumidas/efetivas vão sendo reduzidas à medida que as respetivas
operações de financiamento vão sendo amortizadas.
2 O RCGE apresenta o detalhe das garantias efetivas por beneficiário (Quadro 2.18).
3 Sobre a dívida das entidades da AC, ver Ponto 2.5. deste Parecer.
4 Despacho n.º 1004/2023, de 30/12, do Ministro das Finanças.
5 Inclui designadamente SURE (366 M€); Pan European Guarantee Fund (227 M€); e créditos de ajuda internacional (1 122 M€).
6 Sobre a dívida das entidades da AC, cfr. ponto 2.5.3. deste Parecer.
196
Em 2022, ainda no âmbito das linhas COVID-19, foi lançada a Linha de Apoio à Produção, com uma
dotação inicial de 400 M€, que atingiu um grau de execução de 67,9% em apenas alguns meses. Esta
linha foi criada com vista a apoiar as empresas face às necessidades adicionais de fundo de maneio
resultantes da subida de custos das matérias-primas e energia e à disrupção nas cadeias de
abastecimento.
Há ainda a considerar 50 M€ de garantias concedidas por três entidades: o Instituto de Gestão Financeira
da Segurança Social (33 M€), o FAM (18 M€) e a CP – Comboios de Portugal (3 m€). De assinalar que o
RCGE 2022 inclui, pela primeira vez, informação, ainda que incompleta, sobre as garantias concedidas
por outras entidades para além do Estado e do FCGM1.
Em contraditório, o MF referiu que “será dada continuidade às diligências no sentido de melhorar o reporte desta
informação (…) que permitam identificar a natureza das garantias prestadas pelos SFA”. Por sua vez, a DGTF
salientou estar a diligenciar para obter “…informação relevante no âmbito do exercício orçamental em curso…”
relativa a garantias prestadas por outras entidades que incluirá na CGE 2023, designadamente no que respeita
a “pagamentos efetuados em execução de garantia, incluindo sinistros, bem como sobre o caráter excecional (…)” de
alguns dos instrumentos de apoio em causa.
No que respeita às responsabilidades do Estado por garantias prestadas no âmbito dos seguros de crédito à
exportação e ao investimento, em 31/12/2022, totalizavam 1 442 M€ (cfr. Quadro 82).
Fonte: DGTF.
Em 2022, a componente mais significativa continua a ser a dos seguros de créditos financeiros de médio
e longo prazo, que representa 69% deste total e, por países, a maior exposição continua a ser a de Angola
(51%), a de Moçambique (13%) e a de Argélia (6%).
1 Quadro 2.21 (com uma diferença pouco significativa face à informação do TC por omitir a garantia concedida pela CP).
197
Às responsabilidades por garantias de seguro sob gestão da seguradora COSEC acrescem
responsabilidades de curto prazo, no âmbito da OCDE que, em 31/12/2022, ascendiam a 422 M€, bem
como 253 M€ de garantias sob gestão do BPF, valor relativo a uma operação de exportação (créditos
financeiros) para Angola1.
1 A garantia de 270 M€ incide sobre um financiamento ao importador no âmbito de um contrato com a CGD referente à
empreitada de requalificação da Base Naval do Soyo, a executar pela Mota Engil, Engenharia e Construção África, SA. Quanto
à Convenção, as condições de cobertura passaram a assumir a natureza de garantia (anteriormente, seguro de crédito) com
a transição, em 2021, da função de agência de crédito à exportação da COSEC para o BPF. (cfr. Ponto 4.5.2 do PCGE 2021).
198
D. Recomendações
Embora o PRR venha permitir uma maior dinâmica na implementação da LEO, a ausência de reformas essenciais
à execução dos projetos e o incumprimento de prazos contratualizados, pode colocar em causa todo o
financiamento previsto, e comprometer a concretização da reforma das finanças públicas, fatores que reforçam
a necessidade do cumprimento das recomendações já anteriormente formuladas pelo Tribunal1. (Cfr. ponto A.1)
1. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assuma um maior compromisso com a condução do
processo de implementação da Lei de Enquadramento Orçamental, assegurando a:
- aprovação de um plano que dê prioridade à definição dos modelos concetuais e dos diplomas
legais essenciais para assegurar as condições de execução dos investimentos tecnológicos
previstos;
- apresentação nos Relatórios do Orçamento do Estado e da Conta Geral do Estado, de cada ano,
do ponto de situação do processo de implementação da Lei de Enquadramento Orçamental e
dos respetivos investimentos contratados no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.
No contexto do processo orçamental, verificaram-se progressos no que respeita ao reporte da execução das
medidas de política orçamental previstas no ROE 2022, ainda suscetível de melhorias em aspetos que se
prendem com a mensuração do impacto nas despesas de pessoal e com os contributos para os ganhos de
eficiência da revisão da despesa. Porém, ocorreram fragilidades no processo orçamental de 2022 que afetaram
um adequado planeamento do orçamento anual por ausência de instrumentos de enquadramento plurianual
de políticas, objetivos orçamentais e de limites de despesa. (Cfr. ponto B.1)
1 Cfr. Relatório 14/2021 - 2.ª Secção – Auditoria à implementação da LEO e do SNC-AP – seguimento de recomendações.
199
1.3. Conta da administração central
Universo
Quanto ao universo da administração central, na Conta Geral do Estado verificou-se a omissão de seis entidades,
em incumprimento dos princípios da unidade e da universalidade e quatro serviços foram incorretamente
inscritos como entidades públicas reclassificadas. (Cfr. ponto C.21.1)
O Financiamento da descentralização
O atual ciclo do processo de descentralização inaugurado pela Lei 50/2018 procede à transferência de
competências muito relevantes da administração central para a local. Sendo um processo de natureza universal
e definitiva e abrangendo áreas tão importantes como a Educação, Ação social, Saúde e Cultura, entre outras,
revela indiscutível importância estratégica com notórias implicações orçamentais.
Analisado o relato constante no RCGE e nos mapas de execução orçamental, afigura-se que o mesmo não
proporciona informação orçamental suficientemente detalhada acerca da execução financeira da
descentralização, não sendo as despesas especificadas e agrupadas com um grau de pormenor condizente com
um processo que foi referenciado como a ‘base da reforma do Estado’ e que, por tal, convocaria um especial
cuidado no reporte. (cfr. Caixa 4)
7. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que diligencie pela inclusão, nos documentos que
compõem a Conta Geral do Estado, de informação detalhada sobre as verbas transferidas, por área
e respetivo quadro legal associado.
200
Alterações orçamentais
A informação reportada na CGE relativa às alterações orçamentais não tem sido completa, pois não quantifica
as dotações de despesa efetiva reforçadas (ou criadas) com contrapartida em saldos de gerência ou dotações
de despesa não efetiva. (Cfr. ponto C.2.1)
Receita
Em 2022, verificou-se a subavaliação da receita em 754 M€, pondo em causa o cumprimento do princípio da
não compensação, por terem sido deduzidos indevidamente à receita fiscal: i) a despesa com a medida de apoio
extraordinário às famílias registada como reembolso de IRS (611 M€); e ii) receitas próprias da AT (119 M€
registadas como reembolso de IVA, IRS e IRC e 24 M€ como abate). (Cfr. ponto C.2.2.1)
Os pagamentos em atraso, que prejudicam as condições negociais das entidades com os fornecedores e
sujeitam o Estado a juros de mora, atingem o valor mais baixo apenas em dezembro (72 M€ em 2022),
mantendo-se elevados durante os restantes meses do ano (547 M€ de média mensal). Por outro lado, as
dotações de capital dos estabelecimentos de saúde EPE, destinadas quase em exclusivo à regularização de
dívidas vencidas, evidenciam a suborçamentação do Programa Saúde e a insuficiência de dotações orçamentais
dessas entidades para fazer face ao pagamento da totalidade dos encargos vencidos. (Cfr. ponto C.2.3.3)
10. Recomenda-se ao Ministro das Finanças a revisão do modelo de financiamento da área da saúde,
visando assegurar a atribuição e disponibilização de dotações adequadas ao longo do ano, de modo
a promover a responsabilização dos decisores e eliminar os pagamentos em atraso.
Apesar da divulgação de instruções, subsiste um número significativo de entidades que não reportam (total ou
parcialmente) as operações extraorçamentais em receita e despesa aos sistemas centrais do Ministério das
Finanças, estando em falta valores materialmente relevantes. (Cfr. ponto C.2.4)
11. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure a criação das condições técnicas que
assegurem o reporte aos sistemas centrais (SIGO/SGR) de todas as receitas e despesas
extraorçamentais, contabilizadas nas contas individuais das entidades.
201
Subsistem situações de arrecadação de receita para entrega a terceiros sem que esteja formalmente identificada
a entidade responsável por autorizar a despesa extraorçamental e assegurar o respetivo registo contabilístico,
caso da cobrança de impostos pela AT para entrega às regiões autónomas e municípios. (Cfr. ponto C.2.4)
12. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure a designação das entidades responsáveis
pela autorização e registo contabilístico da despesa extraorçamental associados à entrega de
receita cobrada para terceiros, designadamente no caso dos impostos cobrados pela Autoridade
Tributária e Aduaneira para entrega às regiões autónomas e municípios.
A dívida pública continua a ser apresentada na CGE 2022 de forma incompleta. Por um lado, o conceito de dívida
pública utilizado omite a dívida do subsetor dos SFA (no qual se incluem as EPR) e, por outro, embora contabilize
o serviço da dívida de SI e SFA (receitas obtidas com as emissões de dívida, amortizações, juros e outros
encargos) não consolida integralmente os fluxos associados. (Cfr. ponto C.2.5)
13. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure a inclusão na Conta Geral do Estado do stock
da dívida dos serviços e fundos autónomos, da dívida consolidada do universo das entidades que a
integram, bem como das receitas e despesas associadas ao serviço da dívida, em valores
consolidados.
Os valores relativos à dívida pública constantes dos diferentes mapas da CGE recorrem a óticas e conceitos
diferentes, nem sempre claramente explicitados. Como o Tribunal tem assinalado, essas diferenças
comprometem a transparência da informação e a compreensão dos dados apresentados, designadamente no
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
que respeita aos fluxos de receita e despesa associados a alguns instrumentos de dívida. O IGCP tem diligenciado
no sentido de incluir notas explicativas nos mapas da CGE contribuindo, assim, para uma maior transparência,
contudo estas notas ainda não abrangem todos os mapas da CGE, em especial no que respeita à contabilização
dos BT, CA, CT e CEDIC. (Cfr. ponto C.2.5.2)
14. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que promova a uniformização de critérios no reporte de
informação relativa à dívida pública, para assegurar a transparência e consistência dos valores dos
diversos mapas da Conta Geral do Estado os quais, sempre que necessário, devem incluir notas
explicativas de forma a possibilitar a sua correta interpretação e total transparência.
Em 31/12/2022, o IGCP tinha na sua posse 62,3 M€ (em 31/12/2021 era 67,5 M€) relativos a montantes
vencidos e não pagos de Certificados de Aforro e do Tesouro, em virtude de os respetivos investidores terem
encerrado as suas contas bancárias inviabilizando o pagamento e relativos a processos de habilitação de
herdeiros e penhoras. Estes valores constam da CGE como pagos, quando efetivamente ainda não o foram
encontrando-se à guarda do IGCP. (Cfr. ponto C.2.5.2)
15. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure que a Agência de Gestão da Tesouraria e da
Dívida Pública evidencie os valores requisitados ao Orçamento do Estado, relativos a Certificados
de Aforro e do Tesouro, vencidos e não pagos, nos Mapas da Conta Geral do Estado relativos aos
“Encargos com Amortizações” e aos “Encargos com Juros”, até ao seu efetivo pagamento aos
titulares ou até à prescrição a favor do Fundo de Regularização da Dívida Pública.
202
Património financeiro
Apesar das melhorias verificadas, o RCGE continua a não apresentar de forma completa e transparente a carteira
de ativos financeiros das entidades que integram o perímetro orçamental, cujo valor consolidado, apurado pelo
TC, ascende a 45 218 M€. (Cfr. ponto C.2.6)
16. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure que a Conta Geral do Estado passe a incluir
informação integral e consistente sobre a carteira dos ativos financeiros das entidades que
integram o perímetro orçamental, designadamente dos serviços e fundos autónomos.
A carteira do Estado continua a incluir ativos que carecem de revisão, designadamente ativos sobre os quais não
se perspetiva que venham a gerar qualquer valor, ou cujos custos de gestão podem superar os valores a
recuperar e, ainda, sobre entidades há muito extintas ou em processo de liquidação. (Cfr. ponto C.2.6.1.1)
17. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que, com vista a uma gestão mais eficiente da carteira do
Estado sob gestão da Direção-Geral do Tesouro e Finanças, promova a identificação de todos os
ativos, incluindo aqueles cuja manutenção não se justifique, e que sejam tomadas todas as medidas
necessárias a concluir, rapidamente, os processos em curso de dissolução e liquidação de empresas.
As aplicações em CEDIC e CEDIM têm tido um peso crescente na carteira de ativos das entidades que integram
o perímetro orçamental. Apesar disso, as orientações de contabilização emanadas pelo Ministério das Finanças
não têm sido suficientes para assegurar a adequada contabilização destas aplicações, em prejuízo do rigor das
contas públicas e dos procedimentos de consolidação. (Cfr. ponto C.2.6.2.2)
18. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure a emissão de orientações mais precisas que
Património imobiliário
Subsiste a falta do inventário e da valorização adequada dos imóveis, cuja conclusão esteve prevista para 2012,
elementos essenciais para a elaboração dos balanços que devem, nos termos da LEO, integrar a CGE. De acordo
com informação transmitida ao Tribunal, foram definidas em 2022 as linhas gerais da arquitetura e dos objetivos
do novo Sistema de Informação e Gestão do Património Imobiliário Público. (Cfr. ponto C.2.7.1)
19. Recomenda ao Ministro das Finanças que assegure a execução e implementação do novo Sistema
de Informação e Gestão de Património Imobiliário Público e tome as ações necessárias à conclusão
do inventário, elemento essencial à elaboração dos balanços que devem acompanhar a Conta Geral
do Estado e à implementação da reforma em curso, designadamente quanto à Entidade
Contabilística Estado.
203
A inclusão no PRR de projetos de investimento no âmbito do património imobiliário do Estado não dispensa a
aprovação do Programa de Gestão do Património Imobiliário e de um Programa de Inventariação (os últimos
aprovados abrangiam o período 2009-2012), expressamente previstos no regime jurídico do património
imobiliário público1, por se tratar de instrumentos essenciais para uma abordagem estratégica e integrada da
gestão do património imobiliário público nas suas diferentes vertentes, como seja o inventário mas também a
regularização jurídica e a ocupação. (Cfr. ponto C.2.7.1)
20. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que promova a atualização do Programa de Gestão do
Património Imobiliário e do Programa de Inventariação, como instrumentos de uma abordagem
estratégica e integrada da gestão do património imobiliário público nas suas diferentes vertentes.
O Relatório da CGE, apesar de incluir informação das receitas e despesas relativas às operações imobiliárias, não
permite conciliar essa informação com a registada pelas entidades na execução orçamental, designadamente
por subsistirem omissões significativas. (Cfr. ponto C.2.7.2)
21. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure que o Relatório da Conta Geral do Estado
contenha informação integral sobre o património imobiliário público, abrangendo a totalidade das
variações patrimoniais ocorridas no ano e consistente com a execução orçamental relativa a
operações imobiliárias registada por todas as entidades da administração central.
Operações de tesouraria
O Tribunal reitera a necessidade da revisão do atual quadro legal da UTE com vista a suprir, designadamente, a
fragmentação legislativa neste domínio. (Cfr. ponto C.2.8.2)
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
22. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que promova, no âmbito da revisão do regime de
tesouraria do estado, a implementação de um quadro normativo completo, coerente e estável, que
reforce o cumprimento do princípio da unidade da tesouraria do Estado, evitando a dispersão de
normas, e permitindo um eficaz acompanhamento e controlo, bem como a sua aplicação rigorosa
com a definição de um regime sancionatório a aplicar às entidades incumpridoras.
23. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que promova, no âmbito do reporte sobre a unidade da
tesouraria do Estado, a adequada consistência entre os diferentes sistemas por forma a garantir a
fiabilidade da informação.
204
1.4. Conta da segurança social
Apesar das reiteradas recomendações do Tribunal em anteriores pareceres, continuam a existir discrepâncias
entre a LEO, a LOE, a LBSS e o DL que regula o financiamento da SS, designadamente quanto ao financiamento
do sistema previdencial – capitalização. Não obstante as alterações introduzidas a estes diplomas, as referidas
discrepâncias não foram ultrapassadas. Em 2022, à semelhança de anos anteriores, o sistema previdencial-
repartição beneficiou de um financiamento adicional, proveniente do OE, por via do sistema de proteção social
de cidadania, no valor de 113 M€. Sendo o sistema de proteção social de cidadania maioritariamente financiado
pelo OE, os excedentes apurados em cada ano decorrem de previsões “excessivas” das despesas legalmente
suportadas pelo OE. Entre 2012 e 2022, o sistema previdencial beneficiou de 2 284 M€ por esta via.
(Cfr. ponto C.3.2.3)
24. Recomenda-se à Assembleia da República e ao Governo a harmonização dos diplomas legais que
estabelecem e regulamentam o quadro de financiamento do sistema de segurança social, no
sentido de dirimir as discrepâncias atualmente existentes, designadamente no que respeita ao
financiamento da componente capitalização do sistema previdencial.
25. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de que os saldos anuais de cada um dos subsistemas do sistema de proteção social de cidadania
revertam para os próprios subsistemas e que as previsões anuais das transferências do OE sejam
devidamente ajustadas em função dos respetivos saldos, de modo a evitar que o OE transfira
recorrentemente para a segurança social valores superiores aos das despesas que lhe cabe
suportar.
26. Recomenda-se aos Ministros do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e das Finanças que
assegurem, sempre que haja lugar a revalorização das remunerações anuais de referência ao
cálculo das pensões, que a publicação da respetiva portaria ocorra em data anterior à da produção
dos seus efeitos.
Tem-se verificado uma melhoria na informação sobre a localização dos bens móveis, com a omissão da
localização a abranger apenas 2,2 M€, 0,5% do volume financeiro registado no balanço (26 M€, 5,3% em 2021).
No entanto, apenas 75,9% dos bens móveis, que refletem 34,9% do valor registado, apresentam localização
completa, com morada e sala, informação essencial à imediata e expedita localização dos respetivos bens e à
sua reconciliação físico-contabilística. Persistem os erros no cálculo das amortizações, bem como a existência
de situações incorretamente classificadas como bens móveis. (Cfr. ponto C.3.3.1.1.1)
205
27. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de assegurar uma reconciliação físico-contabilística em todas as instituições que integram o
perímetro da segurança social, de modo a que:
– as demonstrações financeiras reflitam com fiabilidade todos os ativos na posse da segurança
social;
– os inventários permitam realizar um efetivo controlo físico dos bens através da identificação da
sua localização;
– as amortizações sejam realizadas de acordo com a legislação aplicável.
Ao longo dos anos, o Tribunal tem vindo a efetuar verificações aos processos dos imóveis e aos seus registos
contabilísticos tendo sido identificadas fragilidades ao nível da documentação comprovativa de valores de
registos contabilísticos e de factos que concorrem para a sobrevalorização e subvalorização das demonstrações
financeiras da SS, que se mantêm na CGE 2022, tendo-se detetado, igualmente, a existência de imóveis não
registados ou registados com valor zero. (Cfr. ponto C.3.3.1.1.1)
28. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de serem implementados procedimentos que visem assegurar que as demonstrações financeiras
relevem de forma verdadeira e apropriada o valor dos imóveis (bruto e líquido), bem como a devida
segregação dos terrenos.
Verifica-se que a dívida refletida na conta de contribuintes continua, em 2022, a padecer de erros e omissões,
nomeadamente pela: impossibilidade de validação da informação existente no SIF e nos sistemas de contas
correntes; existência de dívidas de juros de mora com saldos contranatura; e anulação de prescrições. (Cfr.
ponto C.3.3.1.1.2)
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
29. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que providencie no sentido
de que nos trabalhos de encerramento de contas sejam disponibilizados elementos que permitam
verificar os valores em dívida por contribuinte, com indicação da sua antiguidade e desagregados
por dívida em cobrança voluntária ou coerciva.
Em 2022, pela primeira vez, foram relevados juros vencidos sobre dívidas de contribuintes, no montante de
2 901 M€ indo ao encontro do recomendado pelo Tribunal há vários anos, faltando, no entanto, o mesmo
tratamento para a dívida que ainda não foi participada a execução fiscal e constante do sistema auxiliar de
gestão de contribuições. (Cfr. ponto C.3.3.1.1.2)
30. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de assegurar que o princípio da especialização dos exercícios previsto no Plano Oficial de Contas
das Instituições do Sistema de Solidariedade e de Segurança Social seja integralmente cumprido,
no que respeita aos juros vencidos devido a atrasos no pagamento de contribuições e quotizações.
O critério para classificação de dívidas de cobrança duvidosa não está a ser integralmente cumprido, uma vez
que apenas é considerada a dívida participada a execução fiscal e o POCISSSS não estabelece critérios distintos
entre a dívida participada e a não participada. A produção de informação para efeitos de encerramento de
contas limitada à dívida participada a execução fiscal, com a não inclusão da dívida não participada no processo
de análise da cobrabilidade e da constituição de provisões, prejudica o cumprimento do princípio da prudência
estabelecida no POCISSSS. (Cfr. ponto C.3.3.1.1.2)
206
31. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de assegurar que seja produzida informação que permita o cumprimento integral do princípio da
prudência na constituição de provisões para cobrança duvidosa.
Sobrevalorização no balanço das dívidas de clientes, em valor não quantificável, uma vez que incluem dívidas
para as quais já não há qualquer possibilidade de recuperação sem que se proceda ao registo da sua
incobrabilidade, designadamente as dívidas FGS e FGADM. Acresce que a inexistência de contas correntes por
devedor no FGS dificulta o controlo destas dívidas. (Cfr. ponto C.3.3.1.1.2)
32. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que providencie no sentido
de que sejam implementados procedimentos que possibilitem o controlo das dívidas por devedor
e que se proceda ao registo de dívidas incobráveis quando já não exista qualquer possibilidade de
recuperação.
Nas dívidas de prestações sociais a repor continua a existir um desvio entre o saldo relevado nas demonstrações
financeiras (SIF) e o existente nas contas correntes (SICC) que, em 2022, ascende a 101 M€ (mais 1,3 M€, 1,3%
que em 2021), o que põe em causa a fiabilidade das demonstrações financeiras, que se encontram
sobrevalorizadas. (Cfr. ponto C.3.3.1.1.2)
33. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de serem concluídos todos os procedimentos necessários com vista à correção das inconsistências
entre os valores da conta “Prestações sociais a repor” relevados nas demonstrações financeiras
(Sistema de informação financeira) e os relevados nas contas correntes dos beneficiários (Sistema
integrado de contas-correntes).
34. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de que o novo Sistema de Informação de Pensões seja concluído, de modo a ultrapassar as
limitações do atual sistema e, assim, permitir que a constituição de provisões para cobrança
duvidosa proveniente de dívida de pensões indevidamente pagas permita identificar o beneficiário,
o mês e ano referência a que respeita a dívida e o correspondente valor.
Nas demonstrações financeiras das instituições da segurança social (IGFSS e ISS) permanecem dívidas com
antiguidade significativa (algumas com mais de 40 anos) que, apesar das diligências realizadas pelos institutos
junto das entidades devedoras, não têm sido regularizadas por falta de resposta da entidade devedora ou
porque esta manifesta uma posição diferente, carecendo da intervenção da Tutela para que se ultrapassem as
situações de impasse e se conclua se as dívidas continuam a ser exigíveis, de modo a que as demonstrações
financeiras reflitam de forma verdadeira e apropriada os valores efetivamente em dívida. (Cfr. ponto C.3.3.1.1.2)
207
35. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de avaliar as situações que careçam da sua intervenção de modo a concluir se as dívidas com
antiguidade significativa continuam ou não a ser exigíveis, de modo a que as demonstrações
financeiras reflitam de forma verdadeira e apropriada os valores efetivamente em dívida e que
constituem ativos da segurança social.
Os documentos por reconciliar ainda demonstram valores significativos tanto em número (69 233), como em
volume financeiro (1 210 M€), sendo que, 82,7% respeitam a uma única conta bancária titulada pelo IGFSS, que
também é responsável por 89,3% dos documentos por reconciliar há mais de um ano e 51,1% do volume
financeiro total. Esta situação resultou de uma alteração ocorrida em fevereiro de 2019 ao nível da arquitetura
de sistemas que, apesar de implicar falhas de contabilização e impossibilitar a reconciliação bancária da
cobrança, ainda aguarda resolução por parte do II. (Cfr. ponto C.3.3.1.1.3)
36. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de que sejam ultrapassadas as dificuldades ao nível dos sistemas informáticos que têm impedido a
reconciliação dos documentos contabilísticos com os extratos bancários.
Continua por publicar a regulamentação do enquadramento e funcionamento da tesouraria única da SS, apesar
das recomendações do Tribunal em pareceres anteriores (Cfr. ponto 3.3.1.1.3)
37. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que, no âmbito da reforma
em curso, proceda à definição do quadro legal aplicável à unidade de tesouraria da segurança social.
Não foi publicada a portaria que visa regulamentar a composição e os limites das aplicações financeiras a efetuar
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
pelo IGFSS, o que resulta na falta de um quadro regulamentador desta atividade financeira do Instituto.
(Cfr. ponto C.3.3.1.1.3)
38. Recomenda-se aos Ministros das Finanças e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que
assegurem a publicação da portaria que estabeleça a composição e os limites das aplicações de
capital efetuadas pelo Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, nos termos do n.º 7 do
art. 3.º do Decreto-Lei 84/2012, de 30/03.
Continua em apreciação um projeto de Portaria para regulamentar uma parte do financiamento do FGS,
designadamente a comparticipação do Estado, e o Fundo continua a não ter património próprio (contrariando
a Diretiva 2008/97/CE), sendo de difícil constituição, atento o facto de os saldos de gerência gerados pelas
receitas atribuídas ao Fundo reverterem para o OSS, não se encontrando assim a legislação em linha com a
legislação da UE no que à constituição de património diz respeito. (Cfr. ponto C.3.3.1.2).
39. Recomenda-se aos Ministros do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e das Finanças que
diligenciem pela conclusão do projeto de Portaria que visa definir os termos do financiamento do
Fundo de Garantia Salarial por parte do Estado e que assegurem que o Fundo seja dotado de
património próprio, alinhando a legislação nacional com a legislação da União Europeia.
208
O anexo às demonstrações financeiras e orçamentais consolidadas divulga informação sobre a especialização
de exercícios que conduz a uma leitura errónea quanto à aplicação deste princípio aos juros vencidos
provenientes de dívida contributiva, pois poderia inferir-se que está a ser aplicado a toda a dívida contributiva,
quando está a ser apenas à dívida participada a execução. (Cfr. ponto C.3.3.1.1.2)
40. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de assegurar que a divulgação exigida pelo Plano Oficial de Contas das Instituições do Sistema de
Solidariedade e de Segurança Social seja efetuada de forma correta, designadamente quanto à
especialização de exercícios.
O balanço consolidado na Segurança Social não reflete a existência de passivos pela atribuição de direito às
prestações sociais a pagamento, apresentando apenas os passivos decorrentes de prestações sociais que foram
processadas, mas ainda não recebidas pelos beneficiários. (Cfr. ponto C.3.3.1.3)
41. Recomenda-se à Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido
de que o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social desenvolva e implemente uma política
contabilística relativamente ao reconhecimento, mensuração, apresentação e divulgações das
prestações sociais a pagamento, designadamente as pensões, nos termos do SNC-AP e das normas
internacionais de contabilidade pública aplicáveis, por força do disposto no artigo 13.º do Decreto-
Lei 192/2015, de 11/09.
A falta de clareza e as inconsistências da norma que regulamenta a afetação de parte da receita de IRC ao FEFSS
42. Recomenda-se ao Governo que promova a revisão da norma que determina a afetação ao Fundo
de Estabilização Financeira da Segurança Social de parte da receita de IRC, no sentido de assegurar
a sua clareza e exequibilidade, quanto às taxas a considerar, e que equacione a sua simplificação,
designadamente através da eliminação da parcela do adiantamento.
A LOE 2022 veio, no seu art. 282.º, consignar ao FEFSS parte da coleta de IRS. No entanto, a receita subjacente
à consignação apenas se aplicará, nos termos do art. 280.º da mesma LOE, aos rendimentos gerados a partir de
1 de janeiro de 2023 e, consequentemente, objeto de liquidação em 2024. Desta forma, verifica-se uma
desarticulação entre as diferentes normas da LOE 2022, da qual resulta a impossibilidade de cumprimento da
consignação prevista. (Cfr. ponto C.3.4.1)
43. Recomenda-se ao Governo que, nas consignações de receitas fiscais ao Fundo de Estabilização
Financeira da Segurança Social, assegure, por um lado, a exequibilidade integral das normas legais
que as preveem e, por outro, a adoção dos mecanismos que assegurem a inscrição orçamental, o
apuramento e a transferência dos montantes devidos.
209
O regulamento do FEFSS estabelece apenas limites máximos para investimentos em determinadas classes de
ativos, com exceção para a dívida pública nacional a que se impõe igualmente um limite mínimo de 50%. A
Portaria 216-A/2013, de 02/07, determinou a substituição dos ativos em outros Estados da OCDE por dívida
pública nacional até ao limite de 90%, estabelecendo ainda que esta política de investimento fosse reavaliada
até final de 2015. Contudo, essa reavaliação não foi ainda efetuada. (Cfr. ponto C.3.4.2.1)
44. Recomenda-se ao Governo que proceda à reavaliação da Portaria 216-A/2013, de 02/07, por forma
a assegurar que as regras aplicáveis à estratégia de investimento do Fundo de Estabilização
Financeira da Segurança Social são aquelas que, em cada conjuntura, melhor permitem otimizar a
relação entre rentabilidade e risco na gestão dos recursos do Fundo.
À semelhança de 2021, foram incumpridos prazos indicados pela CE para o pagamento de RPT não cobrados,
em resultado de autorizações tardias por parte da Secretária de Estado do Orçamento, sendo que o pagamento
fora do prazo acarreta encargos adicionais, a título de juros. Existiram igualmente atrasos na autorização de
pagamento de juros. Urge, assim, agilizar o processo de autorização dos pagamentos à CE relativos a RPT não
cobrados, evitando encargos adicionais, a título de juros. (Cfr. ponto C.4.2.2)
45. Recomenda-se ao Ministro das Finanças a adoção de medidas para assegurar o pagamento
tempestivo dos recursos próprios tradicionais à Comissão Europeia, de modo a evitar onerar o
Estado com juros.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
46. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que promova a qualidade da prestação de informação,
quer pelas entidades intermediárias quer pelas beneficiárias de transferências diretas de fundos
europeus.
A análise comparativa dos dados da execução orçamental dos fundos europeus constantes da CGE com a
reportada pelas Autoridades de Certificação continua a evidenciar diferenças significativas. De acordo com o
modelo preconizado pela DGO, estas divergências podem resultar de pagamentos sem cofinanciamento público
nacional e, consequentemente, classificadas como operações extraorçamentais, ou podem advir da sua
incorreta classificação pelos serviços que movimentam este tipo de fundos. (Cfr. alínea a) do ponto C.4.2.3)
47. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure que a Conta Geral do Estado, no domínio dos
fundos europeus, inclua informação detalhada sobre as operações extraorçamentais das entidades
da administração central.
A despesa financiada com origem em fundos europeus não se apresenta adequadamente desagregada por
fundo/instrumento financeiro. (Cfr. alínea a) do ponto C.4.2.3)
210
48. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que diligencie a desagregação da despesa por origem de
fundos, de forma a autonomizar a financiada pelos fundos /instrumentos financeiros europeus.
A um ano do final da execução do Portugal 2020, a despesa validada era de 22 534,1 M€, registando-se uma
taxa de execução acumulada de 83,8%, apesar do progresso de 13,2 p.p. face a 2021. (Cfr. alínea b) do ponto
C.4.2.3)
A CGE não reflete a totalidade das verbas recebidas pelos beneficiários do PRR que integram o perímetro
orçamental, por incorreta contabilização como receita orçamental ou extraorçamental, na parte que não se
traduz em despesa orçamental, como legalmente estabelecido. Verificou-se ainda que a DGO não elaborou os
relatórios trimestrais sobre a execução do PRR previstos na lei. (Cfr. alínea d) do ponto C.4.2.3)
50. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que zele pela expressão integral da execução do Plano de
Recuperação e Resiliência na Conta Geral do Estado e pela elaboração e divulgação dos relatórios
trimestrais, como legalmente estabelecido.
A execução financeira do PRR, até 31 de dezembro de 2022, na Medida 102 – Plano de Recuperação e Resiliência
(fonte de financiamento 483 – Instrumento de Recuperação e Resiliência), foi de apenas 19% face ao estimado
com a UE, registando-se um montante de despesa consolidada financiada com origem no MRR de 1 041,5 M€,
da qual 970,1 M€ registada em 2022, apesar das transferências terem totalizado 3 321,3 M€ até ao final de
A desagregação do classificador económico da receita e da despesa não contempla algumas operações típicas
do setor empresarial, dificultando a correta identificação dos fluxos financeiros. (Cfr. pontos C.1.2, C.2.5.3 e
C.4.3.1)
Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure, no âmbito da revisão do classificador económico,
a adequada especificação:
52. das operações típicas das entidades públicas reclassificadas, designadamente das que têm
estrutura empresarial, prevendo a classificação adequada para o pagamento de impostos, taxas e
dividendos e o recebimento de dotações de capital.
53. das operações com o setor empresarial do Estado.
211
O Relatório da CGE nas operações com o setor empresarial do Estado inclui, por um lado, as efetuadas com
empresas da administração regional e local, empresas públicas e alguns fundos com autonomia administrativa
e financeira, extravasando o âmbito daquele setor e, por outro lado, inclui apenas as operações efetuadas pela
DGTF. (Cfr. ponto C.4.3.1)
54. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que promova a adequada identificação e delimitação do
setor empresarial do Estado e a inclusão no Relatório da Conta Geral do Estado de informação
completa e sistematizada dos fluxos com este setor, de forma a melhorar a qualidade e assegurar
a integralidade da informação reportada.
Benefícios fiscais
A quantificação da DF por benefícios fiscais relevada na CGE (16 441 M€) encontra-se limitada a cerca de dois
terços dos benefícios fiscais em vigor – dos 321 identificados pela AT, apenas é quantificada a despesa relativa
a 208. (Cfr. ponto C.4.4)
Apesar da reavaliação realizada aos benefícios fiscais já não ter apenas em conta o critério da caducidade dos
mesmos, continua a ser essencial a definição de critérios de seleção dos benefícios a avaliar em cada ano, por
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
forma a assegurar a sua avaliação sistemática e global e permitir concluir sobre a sua utilidade face ao custo.
(Cfr. ponto C.4.4)
56. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure a criação de objetivos anuais para a avaliação
sistemática dos benefícios fiscais, com base na definição de critérios de seleção, verificando a
atualidade dos pressupostos que determinaram a sua criação e a sua eficácia.
Garantias públicas
O Relatório da CGE 2022 regista algumas melhorias, mas ainda não apresenta informação sobre a totalidade das
garantias concedidas pelas entidades que integram o perímetro da CGE nem contém uma análise integrada e
completa do risco orçamental associado a eventuais situações de execução dessas responsabilidades.
(Cfr. ponto C.4.5)
57. Recomenda-se ao Ministro das Finanças que assegure que a Conta Geral do Estado contenha:
– informação completa e sistematizada sobre as garantias prestadas pelas entidades que integram
o perímetro da Conta;
– uma análise do risco orçamental associado a eventuais situações de execução dessas
responsabilidades.
212
2. SEGUIMENTO DAS RECOMENDAÇÕES – PARECER SOBRE A CGE 2020
Das 48 recomendações formuladas no PCGE 20201, dirigidas à Assembleia da República e ao Governo, verificou-
se que em 35 foram desenvolvidas ações que vão ao encontro do recomendado, com 3 totalmente
implementadas e 32 implementadas apenas parcialmente (66,7%), por os resultados serem ainda insuficientes.
As restantes 13 (27,1%) continuam por implementar (cfr. Figura 15). Uma análise detalhada foi efetuada em
cada ponto deste Parecer, fazendo-se aqui uma análise global do cumprimento das mesmas.
Integralmente
Parcialmente implementadas Não implementadas
implementadas
32 recomendações 13 recomendações
3 recomendações
a divulgação de informação organizada e sistemática sobre o universo de entidades abrangidas pela CGE
e fundamentação das respetivas variações, procurando incluir as entidades que, em cada ano, o Tribunal
tem identificado como estando em falta;
1 Não foi efetuado o seguimento de três recomendações por incidirem sobre matérias que não foram objeto de apreciação
no PCGE 2022: i) receita proveniente do combate à fraude e evasão fiscais e aduaneiras; ii) parcerias público-privadas e
outras concessões; e iii) avaliação das medidas de reação à pandemia na área económica (recomendações 22, 49 e 50,
respetivamente).
213
a identificação do impacto orçamental de algumas medidas de política apresentadas no OE, o que
contribui para uma maior articulação e coerência entre os vários documentos do processo orçamental.
Porém, subsistem insuficiências que justificam reiterar (ou nalguns casos reformular1) 35 dessas recomendações
no presente Parecer, que, cobrem um âmbito alargado do reporte financeiro público, designadamente:
13 focam melhorias importantes ao nível dos sistemas de gestão e controlo, destacando-se, por exemplo
aquelas que visam a conclusão do inventário do património imobiliário do Estado, matéria essencial para
um reporte completo da gestão financeira pública;
7 visam suprir lacunas e fragilidades ao nível do reporte da informação, como sejam as relacionadas com
a carteira de ativos financeiros e o stock da dívida pública.
É certo que existem níveis distintos de complexidade na implementação destas recomendações. Umas têm uma
natureza mais estrutural (20 recomendações), cuja implementação exige a intervenção articulada de várias
entidades e/ou um período de tempo alargado para a sua concretização (é o caso das que implicam o
desenvolvimento de sistemas de informação e das que dependem da concretização de projetos incluídos na
reforma das finanças públicas ou da aprovação de legislação). Outras têm possibilidade de serem
implementadas num curto espaço de tempo (15 recomendações), como é o caso das relacionadas com o
universo de entidades que integram a CGE, a gestão da carteira de ativos financeiros, a uniformização de
critérios no reporte da dívida financeira, a aprovação dos programas no âmbito do património imobiliário público
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
e a afetação de receita ao FEFSS. Porém, o que se verifica é que, em ambos os casos, as ações levadas a cabo na
sua implementação têm sido insuficientes para eliminar os atrasos na sua execução e as consequências daí
decorrentes.
De referir ainda que a não implementação destas recomendações tem, naturalmente, implicações negativas no
reporte financeiro público. Em certos casos, a posição do MF, ao considerar algumas recomendações como
totalmente implementadas apesar de não terem sido tomadas quaisquer ações nesse sentido, limita a
expetativa de melhorias. É, por exemplo, o que sucede com as recomendações relativas à inclusão indevida de
SFA da administração central como EPR de regime simplificado e à revisão da norma que regulamenta a afetação
de parte da receita do IRC ao FEFSS que não é exequível, mas que se tem vindo a manter inalterada nas
sucessivas LOE.
1 Designadamente em função da sua implementação parcial ou da alteração das circunstâncias que determinaram a sua
formulação.
214
DECISÃO
Em sessão do Plenário Geral, os Juízes do Tribunal de Contas deliberam, nos termos dos artigos 74.º, n.º 1, alínea
f), e 75.º, alínea a), da Lei de Organização e Processo do Tribunal de Contas, aprovar o Parecer sobre a Conta
Geral do Estado de 2022.
215
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
216
Anexos
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro A 1 – Compatibilização dos prazos previstos na LEO com a calendarização das Reformas e Investimentos (marcos e metas)
enquadrados no PRR ....................................................................................................................................................................... 218
Quadro B 1 – Execução das medidas de política orçamental no RCGE 2022 vs previsão no ROE 2022 (contabilidade nacional) ..................... 220
Quadro C 1 – Erros no Mapa M17 “Receitas cobradas, por classificação económica, comparadas com ano económico anterior” ................ 223
Quadro C 2 – Receitas fiscais consignadas por entidades destinatárias – 2020-2022 ........................................................................................ 225
Quadro C 3 – Receita não fiscal – principais entidades ....................................................................................................................................... 226
Quadro C 4 – Taxas não identificadas – principais entidades .............................................................................................................................. 227
Quadro C 5 – Despesa efetiva consolidada por programa orçamental – 2022 ................................................................................................... 228
Quadro C 6 – Receita da emissão de dívida e sua aplicação e despesa com amortizações e encargos da dívida .............................................. 230
Quadro D 1– Financiamento das medidas de mitigação do impacto do choque geopolítico ............................................................................. 233
Quadro D 2 – Medidas do Impacto do Choque Geopolítico da SS – 2022 .......................................................................................................... 233
Quadro D 3 – Desagregação do Apoio extraordinário a IPSS .............................................................................................................................. 233
Quadro D 4 – Medidas excecionais e temporárias com impacto na CSS 2022 ................................................................................................... 234
Quadro D 5 – Medidas extraordinárias e temporárias COVID-19........................................................................................................................ 236
Quadro D 6 – Sistema de Proteção Social de Cidadania ...................................................................................................................................... 238
Quadro D 7 – Sistema Previdencial ...................................................................................................................................................................... 239
Quadro D 8 – Sistema dos Regimes Especiais ...................................................................................................................................................... 240
Quadro E 1 – Empresas beneficiárias de empréstimos, dotações de capital, indemnizações compensatórias e outros fluxos ........................ 259
Quadro E 2 – Linhas de crédito COVID-19 disponibilizadas até 31/12/2022 ...................................................................................................... 260
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico C 1 – Evolução das componentes da receita do IRS – 2018 a 2022 ........................................................................................................ 224
217
A. A REFORMA EM CURSO
Quadro A 1 – Compatibilização dos prazos previstos na LEO com a calendarização das Reformas e Investimentos
(marcos e metas) enquadrados no PRR
Horizonte Temporal (ano/trimestre)
Dimensões da Reforma da LEO / Marcos das Reformas
2021 2022 2023 2024 2025 2026
e Investimentos do PRR
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
Ausência de regulamentação e projeto piloto sem replicabilidade colocam em risco a boa
I - Planeamento e Orçamentação por Programas
execução do sistema de informação e modelo de custeio
R Regulamentação MTBF (medium term budget framework) e
Marco 1253 orçamento por programas
R Implementação do Projeto Piloto de Orçamento por Programas
Marco 1259
Marco 1255
218
Horizonte Temporal (ano/trimestre)
Dimensões da Reforma da LEO / Marcos das Reformas
2021 2022 2023 2024 2025 2026
e Investimentos do PRR
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
VIII – Centro de Competências para a Gestão das Finanças Públicas Definição do modelo concetual em incumprimento
R Definição do modelo de Centro de Competências e parceiros
Marco 1258
Ausência de contrato de financiamento, entre a eSPap e a DGTF, sendo esta substituída nas
Investimento 17 – Implementação de um Sistema de Informação
competências relativas ao património imobiliário público do Estado pela Estamo, a partir de
Gestão de Património Imobiliário Público
25/07/2023
Redesenho e implementação de arquiteturas de sistemas que
I otimizem a interoperabilidade entre sistemas e a partilha de
Meta 1243
informação
(a) Marcos considerados pela Comissão Europeia para efeitos da avaliação dos desembolsos dos apoios financeiros PRR.
Data prevista na Lei 151/2015, de 11/09, na redação que lhe foi dada pela Lei 41/2020, de 18/08
Data prevista no planeamento do PRR
Data inferida para permitir as etapas da LEO
Data em pedido de reprogramação
Fonte: Lei 151/2015, de 11/09, na redação que lhe foi dada pela Lei 41/2020, de 18/08, PRR, contrato de financiamento celebrado entre a eSPap e a
EMRP para a realização do investimento TD-C17-01.01 e informação prestada pelo MF, em 11/05/2023.
219
B. O PROCESSO ORÇAMENTAL
B1. Execução das medidas de política orçamental no RCGE 2022 vs previsão no ROE 2022
Quadro B 1 – Execução das medidas de política orçamental no RCGE 2022 vs previsão no ROE 2022 (contabilidade nacional)
(em milhões de euros)
Previsão Execução Desvio execução
MEDIDAS DE POLÍTICA ORÇAMENTAL
ROE 2022 RCGE 2022 vs previsão
Receita 177 3 -175
Receita decorrente do aumento das despesas com pessoal(a) 196 n.d. -
Redução das portagens -44 -30 14
Contribuição sobre as embalagens de utilização única em refeições prontas 10 0 -10
Taxa de carbono sobre as viagens aéreas e marítimas 15 33 18
Despesa 2 180 1 181 -999
Progressões e Promoções(a) 251 n.d. -
Contratações em curso(a) 75 n.d. -
Professores e outras carreiras especiais mitigação do congelamento(a) 51 n.d. -
Aumento assistentes operacionais e assistentes técnicos nas escolas(a) 22 n.d. -
Hospital Vila Franca Xira(a) 12 n.d. -
Outras despesas(a)
INVARIANTES
58 n.d. -
Remunerações Presidentes de Junta de Freguesia 21 15 -6
Efeito composição: aumento pensão média e entradas vs saídas de pensionistas 457 358 -99
Atualização pensões indexadas 0 7 7
Atualização regular pensões 148 257 109
Estatuto do cuidador informal (alargamento) 20 8 -12
Aumento das prestações sociais – atualização do IAS 13 8 -5
Creches segundo escalão gratuito (impacto incremental no ano letivo 2021/2022) 8 9 1
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
220
(em milhões de euros)
Previsão Execução Desvio execução
MEDIDAS DE POLÍTICA ORÇAMENTAL
ROE 2022 RCGE 2022 vs previsão
Receita -647 -1 531 -884
Redução do IVA da Eletricidade(b) - -23 -23
Suspensão do aumento da taxa carbono -360 -409 -49
Redução do ISP equivalente a descida do IVA para 13% -170 -700 -530
Devolução da receita adicional de IVA via ISP -117 -382 -265
Apoio setor agrícola(b) - -18 -18
Despesa 688 3 079 2 391
CHOQUE GEOPOLÍTICO
Conversão de ativos por impostos diferidos em crédito tributário 138 245 107
Decisão Judicial 285 0 -285
Impacto no saldo -423 -245 178
Impacto do conjunto das medidas na área do pessoal -454 -454
Impacto total no saldo -5 863 -9 928 -4 065
(a) Indisponibilidade de informação desagregada sobre as medidas na área do pessoal.
(b) Medida não prevista no ROE 2022.
(c) O impacto final não se encontra disponível, pelo que a execução no RCGE é igual à previsão no ROE 2022
1 ROE 2022, Quadros 3.3., p. 61, 3.4., p. 62, e 3.5., p. 63. RCGE 2022, Quadros 2.3., p. 14 e 2.4. p.15.
221
C. CONTA DA ADMINISTRAÇÃO CENTRAL
Com a terceira alteração à LEO, foram adiadas para 2023 matérias inovadoras consagradas na LEO 2015, como
a criação da Entidade Contabilística Estado (ECE)1. Deste modo, fica também por concretizar legislação
específica, designadamente quanto ao modelo de tesouraria do Estado e regras sobre o modo como será
definida a contabilização da receita do Estado no âmbito da futura ECE. No que respeita ao modelo de tesouraria
do Estado, o MF refere em contraditório que já foi solicitado ao IGCP2 a preparação de uma proposta de projeto
de diploma legal único para regular matérias relativas ao princípio de unidade de tesouraria, uma vez que
“considera que a revisão do atual quadro legal continua a ser uma necessidade efetiva tendo em vista suprir,
designadamente, a fragmentação legislativa no domínio da tesouraria do Estado”. O tratamento desta matéria exige
coordenação, designadamente com os trabalhos em curso na UniLEO para o “Modelo de Gestão da Tesouraria
– Modelo concetual e Requisitos Funcionais”3. Relativamente ao regime de contabilização das receitas do Estado
(RCRE)4, em vigor há 23 anos, subsiste o incumprimento dos seguintes aspetos:
Inexistência de despacho de transição relativamente às entidades que passaram a dispor do SGR, bem
como da nomeação formal do responsável pela contabilização da receita.
A lista das entidades administradoras de receitas do Estado publicada pela DGO não identifica, no início
do exercício orçamental, todas as entidades administradoras de receita e vai incluindo novas entidades
à medida que reportam execução, quando deveriam constar da lista inicial pelo facto de continuarem
em atividade. Em contraditório, a DGO confirma que a lista inicial apenas inclui as entidades que
inscreveram previsão de receita no OE aprovado e que “A lista é atualizada e publicitada trimestralmente,
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Falta de interligação dos sistemas próprios das EAR ao SGR – com destaque para os sistemas da AT, dado
o seu impacto na receita fiscal.
A intervenção na contabilização das receitas dos serviços cobradores com funções de caixa do Tesouro
(como o IGCP e a AT), prevista como transitória no regime de contabilização das receitas do Estado,
continua a manter-se, designadamente pela necessidade de reporte de receita do Estado por entidades
que não possuem SGR (como os SFA, as autarquias e estabelecimentos de educação dos ensinos básico
e secundário). Em contraditório, a DGO releva que “….têm sido dados passos no sentido de reduzir cada vez
mais esse âmbito, de que destacamos a disseminação do SGR pelos estabelecimentos de educação dos ensinos
básico e secundário em 2023”.
A reforma em curso deverá assegurar uma definição clara das entidades que irão atuar como agentes do Estado,
pelo facto de lhes caber administrar receitas do Estado5. Em 2022, verificou-se que foram contabilizados 643 M€
em impostos por entidades da AC e 230 M€ pela SS, sem estar clarificado que estas entidades sejam
formalmente entidades administradoras de receitas do Estado. Estão em causa receitas relacionadas com os
222
jogos sociais do Estado concessionados à SCML e com o imposto do jogo online geridos pelo Turismo de Portugal1
e derivam do facto de vários diplomas atribuírem funções de liquidação e coordenação destas receitas às
referidas entidades sem que tivesse havido uma articulação destes diplomas com o regime de contabilização
das receitas do Estado. Por outro lado, a SCML e o Turismo de Portugal transferem parte dessas receitas para
as entidades beneficiárias, que as contabilizam como impostos, sem que lhe estejam atribuídas as respetivas
funções de liquidação e cobrança2.
1 Estas receitas da SCML e do Turismo de Portugal estão classificadas em outros impostos indiretos.
2 Para além da SS (230 M€), as entidades que contabilizam valores mais relevantes destas receitas como impostos são: ACSS
(129 M€), Instituto Português do Desporto e Juventude (65 M€), Fundo de Fomento Cultural (22 M€) e Autoridade Nacional
de Proteção Civil (18 M€).
223
C3. Impacto do excesso de retenções na fonte e pagamentos por conta na receita de IRS
Os reembolsos têm um grande impacto na receita de IRS de cada ano e o seu montante depende, em grande
medida, das retenções na fonte e pagamentos por conta do ano anterior, na medida em que traduzem acertos
quanto ao excesso de cobrança verificado1. Considerando o período de 2018 a 2022 (Gráfico C 1), observa-se:
As retenções na fonte e os pagamentos por conta, representam, em média, 88% da cobrança de IRS 2 e
a sua componente mais significativa são as retenções na fonte sobre os rendimentos do trabalho.
Registaram uma evolução positiva ao longo dos cinco anos, ainda que com abrandamento significativo
em 2020 (acusando o efeito da pandemia de COVID-19 na atividade económica) e uma aceleração mais
expressiva em 2022, ano em que atingiram 12 023 M€, mais 10% que no ano anterior, explicado pelo
aumento do emprego e da massa salarial.
Os reembolsos traduzem um excesso de cobrança que, em 2019, ascendia a 21,9% das retenções e
pagamentos por conta efetuados no ano anterior, peso que tem vindo a diminuir, mas permanecendo
ainda elevado em 2022 (19,1%). O impacto das recentes modificações introduzidas pelo Governo,
designadamente ao nível das tabelas de retenção, será acompanhado pelo Tribunal.
15 219 16 753
13 701 14 276 14 364
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Nota: Não inclui reembolsos relativos a execuções fiscais (por não terem relação direta com o imposto entregue no período anterior).
Aos reembolsos de 2022 (3 524 M€) foram expurgados 611 M€ relativos ao apoio às famílias para efeitos de comparabilidade.
Fonte: AT, SGR e SIGO. Cálculos TC.
1 Apurados na nota de liquidação resultante da entrega do Modelo 3 do IRS. Esta pode dar origem a reembolsos (por ter
ocorrido excesso de retenções ou pagamentos por conta) ou a notas de cobrança (na situação inversa). Quando o
contribuinte não paga voluntariamente no prazo legal, é chamado a regularizar a situação em processo de execução fiscal.
2 Repartido por 87% de contributo pelas retenções na fonte e de 1% para os pagamentos por conta.
224
C4. Receitas fiscais consignadas
225
C5. Receita não fiscal – principais entidades
226
C6. Taxas não identificadas – principais entidades
227
C7. Despesa efetiva consolidada por programa orçamental – 2022
Despesa efetiva consolidada 19 017 12 483 6 398 35 843 3 877 1 297 78 916
(a) Menos 9 M€ do que o valor inscrito no Quadro 4.1 da CGE 2022 devido à consolidação de transferências identificadas de Estabelecimentos de Educação e Ensinos Básicos e
Secundário para a Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares.
(b) Menos 15 M€ do que o valor inscrito no Quadro 4.1 da CGE 2022 devido à consolidação de transferências identificadas da Secretaria-Geral do Ministério da Administração
Interna para orgânicas da mesma entidade.
(c) Menos 2 M€ do que o valor inscrito no Quadro 4.1 da CGE 2022 devido à consolidação de transferências identificadas da Gestão Administrativa e Financeira da Cultura para
orgânicas da mesma entidade.
(d) No total menos 27 M€ do que o valor inscrito no Quadro 4.1 da CGE 2022 devido à consolidação de transferências identificadas nas alíneas a) a c).
Fonte: CGE 2022 (Quadro 4.1), SIGO e DGO (ficheiros da consolidação). Cálculos TC.
228
C8. Limite máximo de acréscimo de endividamento líquido global direto
Anualmente, a LOE estabelece limites à emissão de dívida pública. Para 2022, o limite máximo de acréscimo de
endividamento líquido global direto fixado situou-se nos 16 200 M€ (art. 141.º), valor ao qual deve ser abatido
o pré-financiamento de 2021 (valores transitados em saldo para 2022) e acrescida a antecipação de
financiamento para o ano seguinte, totalizando assim um limite de 29 463 M€ (cfr. Quadro 3.58 do RCGE). Para
efeitos de demonstração do cumprimento deste limite, o Quadro 3.59 do RCGE2022 apresenta um acréscimo
de endividamento de 5 546 M€.
Considerando que a dívida, em termos consolidados, aumentou 3 254 M€, não está em causa o cumprimento
do limite de endividamento. No entanto, uma vez que a LOE 20221 estabelece que o apuramento da dívida
relevante deve ser feito numa base consolidada, a informação refletida no RCGE para demonstração do
cumprimento de tal limite é insuficiente e suscita as seguintes dúvidas:
No caso da dívida direta, o valor do acréscimo de endividamento líquido do ano apresentado na CGE
(6 185 M€), é calculado com base nos fluxos de receita e de despesa de passivos financeiros e, por isso,
não é comparável com o valor de 3 756 M€ apurado pelo Tribunal (cfr. Quadro C 6), cujo cálculo é
realizado com base nos valores nominais do stock da dívida no início e no final do ano.
No caso dos SFA, o Quadro 3.59 do RCGE apresenta o endividamento líquido de -638 M€, valor que
difere do apurado pelo Tribunal (-502 M€, cfr. Quadro C 6). Como a CGE não apresenta o stock da dívida
das entidades que compõem o subsetor dos SFA não é possível verificar a origem da diferença.
Como o Tribunal tem referido em Pareceres anteriores, para o apuramento do limite do endividamento líquido
numa base consolidada torna-se necessário que a CGE inclua a dívida dos SFA, à semelhança do que sucede com
1 Art. 141.º, n.º 3 da LOE 2022 que determina que “O apuramento da dívida relevante para efeito do previsto nas alíneas do
número anterior é feito numa base consolidada, só relevando a dívida que as entidades nelas indicadas tenham contraído
junto de instituições que não integrem a administração central”.
229
C9. Fluxos de receita e despesa relativos à dívida pública direta
A receita resultante da emissão de dívida (receita de passivos financeiros) e a despesa associada à gestão da
dívida (amortizações, juros e outros encargos correntes) constam na CGE em diversos mapas (Mapas 15, 16, 24,
38, 37 e 63) utilizando conceitos subjacentes, nem sempre idênticos, que se traduzem necessariamente em
valores diferentes. Para uma melhor perceção destes conceitos, o Quadro seguinte apresenta a sua
quantificação e a forma como se articulam entre si:
Quadro C 6 – Receita da emissão de dívida e sua aplicação e despesa com amortizações e encargos da dívida
Receita
Em 2022, foi emitida dívida com valor nominal de 69 265 M€ que gerou uma
Valor nominal: 69 265 M€
receita de apenas 67 809 M€. Esta diferença (-1 456 M€) resulta de:
(Mapa 15 da CGE – Vol. I Tomo III)
• menos valias líquidas obtidas na emissão: -607 M€
Produto de empréstimos de 2022: 67 809 M€ • montante do PRR, entregue à DGTF1: -609 M€
(Mapa 37 da CGE – Vol. II Tomo I) • títulos emitidos em 2022 cujos respetivos valores só foram recebidos, como
produto, em 20232: -240 M€.
Receita de Passivos Financeiros disponível em
Ao valor do produto de 2022 acresce 198 M€, que transitou em saldo de 2021,
2022: 68 007 M€
perfazendo 68 007 M€ para aplicação em despesa orçamental no ano.
Receita aplicada em despesa orçamental: 67 486 M€
Deste valor, apenas 67 486 M€ foram aplicados em 2022 como receita de passivos
(Mapa 24 da CGE – Vol. II Tomo I)
financeiros. O remanescente, 522 M€, transitou em saldo, para aplicação em 2023
Saldo para 2023: 522 M€
(Mapa 24 da CGE – Vol. II Tomo I)
Despesa
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Amortizações
Valor nominal amortizado: 58 679 M€
Em 2022, foi amortizada dívida com valor nominal de 58 679 M€, que teve o
(Mapa 15 da CGE – Vol. I Tomo III)
custo de 58 844 M€ (+ 166 M€ do que o valor nominal), em resultado de:
Custo das amortizações: 58 844 M€
• menos valias pagas na amortização antecipada de OT (+ 182 M€); (Mapa 63 da CGE – Vol. II Tomo I)
• custo da extensão da maturidade do empréstimo do Mecanismo
Europeu de Estabilização Financeira (+6 M€); e, em sentido contrário;
Despesa orçamental com Passivos Financeiros: 58 844 M€
• resultados obtidos na gestão de derivados financeiros (-22 M€). (Mapa 38 da CGE – Vol. II Tomo V)
Encargos Correntes
Juros
Os juros das operações de financiamento totalizaram 6 189 M€, mas a
Juros operações. financiamento: 6 189 M€
correspondente despesa orçamental totalizou 6 028 M€, a diferença
(Mapa 16 – Vol. I Tomo III)
(161 M€) foi paga com:
1 Nos termos da Portaria 193/2021, de 15/09 e do Anexo I (ponto 96) da LOE 2022.
2 Emissões verificadas no final de 2021, por Aforronet e nos CTT, cujo recebimento só se verificou em 2022 (+73 M€) e,
igualmente, emissões ocorridas no final de 2022 cujo recebimento só se verificou em 2023 (- 313 M€). Em termos líquidos,
o produto de 2022 tem menos 240 M€ do que o valor nominal das emissões.
230
C10. Falta de harmonização na contabilização dos fluxos do património financeiro
No que respeita às aplicações em CEDIC e ao registo efetuado pelos SFA/EPR em rubricas de ativos financeiros,
verificaram-se situações muito diversificadas quanto ao apuramento dos valores a contabilizar – que o
Ministério das Finanças deverá procurar harmonizar através de instruções mais completas – sendo referidas a
título exemplificativo algumas dessas situações:
contabilização da receita resgatada no início do ano e das aplicações registadas no final do ano, sem
ocorrência de operações ao longo do ano (ex.: Fundo de Regularização da Dívida Pública, Fundo de
Modernização da Justiça e Fundo para as Relações Internacionais);
contabilização da receita resgatada no início do ano e das aplicações registadas no final do ano, sem
contabilização das aplicações e resgates ocorridos durante o ano (ex.: Fundo de Reabilitação e
Conservação Patrimonial, Fundo de Estabilização Tributário e Infraestruturas de Portugal);
registo da receita e da despesa das aplicações e dos resgates ao longo do ano1 (ex.: Entidade Reguladora
dos Serviços Energéticos);
contabilização pela variação líquida entre os resgates e as aplicações (ex.: Fundo de Fundos para a
Internacionalização, Fundo de Inovação, Tecnologia e Economia Circular, Fundo para a Promoção dos
Direitos do Consumidor);
registo das operações pela variação líquida e por fonte de financiamento (ex.: Fundo de Capital e Quase
Capital e Fundo de Dívida e Garantias);
omissão de registo nas rubricas de ativos financeiros2 (ex.: AD&C, ADSE, Oitante, Comissão de Mercado
Relativamente às despesas associadas ao Fundo de Compensação do Trabalho (FCT), a DGO entende que estas
devem ser inscritas na rubrica 01.03.05. “Despesas com pessoal – Segurança Social – Contribuições para a
segurança social”4 tal como as despesas do Fundo de Garantia de Compensação do Trabalho (FGCT). No entanto,
considerando a natureza distinta destes dois fundos, uma vez que o FCT é um fundo de capitalização, cujas
entregas são aplicadas em unidades de participação, com possibilidade de recuperabilidade e o FGCT é um fundo
mutualista, com encargos obrigatórios que não são convertíveis em unidades de participação, o Tribunal tem
vindo a assinalar que não é correta a utilização da mesma rubrica para a inscrição dessas despesas.
A DGO, em contraditório, continua a referir que o reembolso do FCT se traduz apenas numa possibilidade e que
as entregas são obrigatórias não se consubstanciando numa “…lógica de investimento financeiro do ponto de vista
da entidade, mas sim visando assegurar o eventual pagamento ao trabalhador de metade do valor da compensação
devida por cessação do contrato de trabalho”. Reafirma-se que a lei que regula os regimes jurídicos do FCT e do
1 Sem saldo relativo a aplicações CEDIC no início e final do ano. Em sentido oposto, a Faculdade de Belas Artes não efetuou
qualquer registo da receita e da despesa.
2 Existem algumas entidades como o IAPMEI e a AICEP que efetuaram também registo na rubrica de despesa e receita
extraorçamental de parte das aplicações e resgates.
3 Apenas inscreveu 1 M€.
4 Registe-se que a maioria das entidades tem efetuado o registo conforme as orientações da DGO.
231
FGCT estabelece que a entidade empregadora tem direito ao reembolso dos valores entregues ao FCT, por via
da cessação do contrato de trabalho, independentemente da obrigação de pagar ou não essa compensação ao
trabalhador. Já no que respeita ao FGCT não existe dúvida sobre o reconhecimento das despesas realizadas
como despesas com o pessoal.
Em 2022 várias entidades foram informadas pelo Instituto de Gestão dos Fundos de que o regime do FCT não
era aplicável às relações de trabalho estabelecidas com os serviços da administração direta e indireta do Estado,
tendo sido efetuada a restituição desses valores a diversas entidades1, designadamente do setor da saúde. Face
à inexistência de orientações quanto à sua contabilização, as entidades registaram de forma diversa os valores
recebidos2, prejudicando a transparência e rigor das contas públicas.
Pela Oitante das receitas obtidas com o reembolso/redução de capital de fundos de investimento
imobiliário, no valor de 14,9 M€ na rubrica “venda de bens de investimento”, quando se trata de ativos
financeiros. Em contraditório, a Oitante alega que este registo decorre da aplicação do princípio da
substância sobre a forma e que foi efetuado em consistência com o registo das participações em fundos
imobiliários em inventários, como sucede com os imóveis detidos. Ora, para além de o classificador
económico das receitas e despesas públicas prever especificamente o registo da receita proveniente de
unidades de participação como receita de ativos financeiros, não se lhe aplica o princípio da substância
sobre a forma. Acresce que o registo da receita de bens de investimento também não é consistente com
a contabilização dessas unidades de participação em inventários, uma vez que o produto da alienação
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
Pelo IPO Coimbra, como receita de ativos financeiros e por indicação da DGO, do saldo de gerência
consignado ao projeto de Requalificação do Edifício da Cirurgia e Imagiologia, no valor de 17,2 M€;
Pelo IFAP das despesas relacionadas com a participação no European Investment Fund-FoF como
transferências de capital, no valor de 5 M€.
232
D. CONTA DA SEGURANÇA SOCIAL
233
Quadro D 4 – Medidas excecionais e temporárias com impacto na CSS 2022
Apoio extraordinário a Clausula I - apoio extraordinário único – 37,9 M€ a atribuir em dezembro de 2022 para
instituições Particulares mitigar os efeitos da inflação e fazer face a despesas extraordinárias de funcionamento
de Solidariedade Social decorrentes do aumento de preços de energia (gás e eletricidade), alimentação e outros
(Sustentada nas adendas produtos e serviços variados;
ao Compromisso de Clausula II – atualização, em 5%, dos valores das comparticipações financeiras a pagar
Cooperação para o Setor Adenda de 12/12/2022
em 2023 ao mesmo tempo que antecipa para dezembro 2022 o pagamento de parte
Social e Solidário para o (4,2%) desta atualização (clausula IV) que, sem esta decisão, seria apenas devida e paga
Biénio 2021–2022) em 2023 (antecipado);
Clausula III – comparticipação extraordinária em 2023 – (38,12 M€), a atribuir em
dezembro de 2022 (antecipado).
1 Complemento solidário para idosos; Rendimento social de inserção; Pensão social de invalidez do regime especial de
proteção na invalidez; complemento de prestação social para a inclusão, Pensão social de velhice; Subsídio social de
desemprego; agregados familiares em que uma das crianças é titular de abono de família do 1.º ou 2.º escalão ou em que o
apuramento do rendimento de referencia do mesmo agregado corresponde a situações de pobreza extrema segundo os
parâmetros definidos pelo INE (rendimento total anual do seu agregado familiar for igual ou inferior a 5 808 €, acrescido de
50% por cada elemento do agregado familiar (até ao máximo de 10 pessoas) que não tenha qualquer rendimento.
2 Prestações de desemprego; prestações de parentalidade com remuneração de referência mensal que não ultrapasse 2 700€
(exceto beneficiários de pensões), subsídios de doença e doença profissional, prestado por um período não inferior a um
mês e com remuneração de referência mensal que não ultrapasse 2 700 €; rendimento social de inserção, sendo maiores de
18 anos de idade; prestação social para a inclusão, sendo maiores de 18 anos de idade; complemento solidário para idosos,
sem pensão atribuída; subsídio de apoio ao cuidador informal principal.
234
D2. Medidas no âmbito da pandemia de COVID-19
Os apoios concedidos no âmbito das medidas COVID-19, no período de 2020 a 2022, encontram-se identificados
no Quadro D 5. No triénio, estas medidas acrescentaram à despesa da SS cerca de 4 540 M€, ao mesmo tempo
que prejudicaram a arrecadação de receita em cerca de 966 M€.
Do lado da receita, as medidas tomadas foram de apoio à tesouraria das entidades empregadoras, sendo destas,
a mais significativa, a isenção/redução de contribuições de onde resultou uma perda definitiva de receita
contributiva na ordem dos 752 M€. As demais medidas deste grupo geraram apenas perda temporária de
receita, a qual foi sendo recuperada ao longo do triénio1. Quanto à suspensão do pagamento dos planos
prestacionais, dentro e fora do processo executivo, os valores estimados2 para o triénio rondaram os 102 M€.
O reporte do impacto das medidas COVID-19 registou uma evolução positiva ao longo do período considerado,
refletida no aumento gradual da desagregação do reporte das despesas associadas a diversas medidas e na
inclusão de informação sobre receita não cobrada. Contudo, apesar das melhorias apresentadas, não foram
reportadas contabilisticamente como medidas extraordinárias COVID-19, nas respetivas CGE3:
Os pagamentos às IPSS, ao abrigo dos acordos de cooperação, pelas atividades suspensas, mantidos com
vista à manutenção da capacidade instalada (2020 e seguintes)4.
A prestação complementar de abono de família para crianças e jovens, no valor de 26,6 M€ (CGE 2020).
1 Relativamente ao valor total da receita que ficou por arrecadar em 31/12/2022 decorrente da medida “Diferimento de prazos
de pagamento de contribuições” a CGE refere que “Até 31/12/2022 já se encontrava cobrado o montante de 224,1 Milhões
de euros, referente à totalidade do diferimento de contribuições de entidades empregadoras e trabalhadores independentes
(iniciado em 2020)”.
2 Na suspensão de pagamento de planos prestacionais não foi possível aos serviços da SS efetuar um apuramento exato dos
valores envolvidos. Os valores estimados para esta perda temporária de receita (não só contributiva e não só COVID-19) teve
por base o valor proveniente da cobrança de receita de planos prestacionais prevista para o período da suspensão e aquele
que foi efetivamente arrecadado no mesmo período. O mesmo para a sua recuperação que se estima tenha ocorrido ainda
dentro do triénio 2020-2022.
3 Quadros das CGE dos anos de 2020, 2021 e 2022.
4 Não foi entendida, pelos serviços da SS, a necessidade de reportar como COVID-19 esta despesa, dado tratar-se de uma
despesa regular, prevista em acordos de cooperação previamente estabelecidos com as entidades do setor social,
independentemente da crise sanitária em curso. Acresce, no entanto, referir que, apenas a inclusão, por via legislativa, dessas
despesas naquele pacote, mesmo com as atividades suspensas, viria a permitir esses pagamentos sem a respetiva
contrapartida de prestação de serviços nos termos em que foi protocolada.
235
A perda de receita temporária, cerca de 3,7 M€, relativos a planos prestacionais geridos fora do processo
executivo devido aos períodos de suspensão ocorridos entre março e junho de 2020 e entre janeiro e
março de 2021.
A classificação económica dos valores pagos às empresas relativos às medidas COVID-19 (layoff simplificado e
apoio extraordinário à retoma progressiva da atividade) na rubrica de classificação económica “transferências
para as famílias”, não é a mais adequada, porque se trata de medidas de apoio à manutenção da capacidade
produtiva das empresas, que traduzem num apoio financeiro às empresas, como refere explicitamente a
legislação que as regulamenta, devendo ter sido registadas em “transferências para sociedades e quase
sociedades não financeiras”1.
Note-se que, o art. 91.º da LOE 2023 dispõe que os saldos de gerência resultantes de verbas com origem no OE
para as medidas excecionais e temporárias COVID-19 são aplicados em títulos de dívida pública portuguesa
subscritos pelo FEFSS. Segundo o IGFSS, esse saldo em 2022 foi de 40 M€, sendo que parte dele foi integrado
no OSS 2023, para aplicação em despesa (processada e ainda não paga).
236
(em milhares de euros)
Triénio
Medidas COVID-19 CSS 2020 CSS 2021 CSS 2022
2020-2022
Complemento estabilização trabalhadores layoff 58 254 504 562 59 320
Subsídio de doença por infeção SARS-CoV-2 40 934 83 737 66 737 191 408
Prorrogação de desemprego 53 832 184 081 59 856 297 769
Apoio Extraordinário Rendimento Trabalho 0 74 996 13 794 88 790
Majoração Apoio Extraordinário 0 4 902 359 5 260
Apoio extraordinário de Proteção Social e Prestações Sociais-Idosos-COVID 21 775 17 051 2 989 41 816
Subsídios de assistência a filho e a neto 6 998 26 238 15 340 48 576
Prorrogação do Rendimento Social de Inserção (RSI) – COVID 5 769 0 0 5 769
Prestações por doenças profissionais 2 318 3 439 1 291 7 048
Diminuição dos prazos de garantia (subsídio de desemprego e subsídio
276 18 2 296
por cessação de atividade)
Prestação complementar de abono de família para crianças e jovens 26 553 135 6 26 694
Domiciliação de serviços prestados pelas entidades do setor social 24 634 8 990 33 625
Outros encargos 3 0 0 3
Outros encargos 3 0 0 3
Subsídios e transferências para a administração central 298 296 243 894 129 000 671 190
Subsídios - Administração Central 1 096 0 0 1 096
Transferência - Administração Central – IEFP (Incentivo extraordinário
297 200 243 894 129 000 670 094
normalização atividade empresarial)
Total da despesa COVID 1 972 072 1 959 816 608 407 4 540 295
(a) Até 31/12/2022 já se encontrava cobrado o montante de 224,1 M€, referente à totalidade do diferimento de contribuições de entidades empregadoras e
independentes (iniciado em 2020).
237
D3. Execução orçamental por sistemas e subsistemas
Despesas Correntes 5 435 757 97,6 14,8 1 877 684 96,3 -5,6 2 565 215 89,7 9,4 9 878 656 95,2 8,9
Despesas com pessoal 51 259 84,8 32,2 17 642 86,2 2,8 64 158 86,6 5,2 133 059 85,8 13,8
Aquisição de bens e
10 870 62,1 22,4 3 759 62,4 -4,6 40 494 39,3 -17,5 55 123 43,5 -11,0
serviços
Juros e outros encargos 918 65,4 39,3 318 65,2 7,6 467 59,2 24,5 1 703 63,6 28,1
Transferências correntes 5 372 314 97,8 14,6 1 855 829 96,6 -5,7 2 374 323 93,1 9,9 9 602 466 96,4 8,9
Subsídios 138 80,8 -5,8 48 80,5 -27,2 85 418 64,5 15,0 85 604 64,5 14,9
Outras despesas
257 35,3 29,4 89 35,2 -0,1 355 49,1 3,4 702 41,1 11,1
correntes
Despesas de Capital 2 067 100,0 0,0 − − − 104 413 6,3 5 958,4 106 480 6,4 2 709,1
Aquisição de bens de
− − − − − − 643 19,6 63,2 643 19,6 63,2
capital
Transferências de capital 2 067 100,0 0,0 − − − 3 711 19,8 179,2 5 778 27,8 70,1
Ativos financeiros − − − − − − 100 000 6,3 n.a 100 000 6,3 n.a
Passivos Financeiros − − − − − − 58 0,1 n.a 58 0,1 n.a
Despesa Total 5 437 825 97,6 14,8 1 877 684 96,3 -5,6 2 669 627 59,0 13,8 9 985 136 82,9 10,0
Despesa Efetiva 5 437 825 97,6 14,8 1 877 684 96,3 -5,6 2 569 569 89,1 9,5 9 885 078 95,0 8,9
Saldo Global 86 103 6 297 214 346 306 746
Saldo Efetivo -142 991 -66 376 -555 -209 922
Fonte: CSS 2021 e CSS 2022. Cálculos TC.
238
Quadro D 7 – Sistema Previdencial
(em milhares de euros e %)
Sistema Previdencial – Sistema Previdencial –
Sistema Previdencial
Designação Repartição Capitalização
Valor Tx.Exec. Tvh Valor Tx.Exec. Tvh Valor Tx.Exec. Tvh
Receitas Correntes 24 474 476 102,4 1,7 997 809 102,5 83,2 25 472 285 102,4 3,5
Contribuições para a Segurança Social 22 316 143 105,4 11,8 - - - 22 316 143 105,4 11,8
Taxas, multas e outras penalidades 88 554 101,1 16,1 - - - 88 554 101,1 16,1
Rendimentos da propriedade 3 678 26,3 -14,1 518 387 104,9 1,5 522 065 102,8 1,4
Transferências correntes 2 030 435 78,7 -48,9 479 330 100,0 1.312,3 2 509 765 82,0 -37,4
Venda de bens e serviços correntes 28 575 92,3 -30,7 92 183,3 20,1 28 666 92,5 -30,6
Outras receitas correntes 7 092 56,4 -9,7 - - - 7 092 56,4 -9,7
Receitas de Capital 1 406 0,0 216,0 11 913 139 59,1 53,8 11 914 544 42,5 53,8
Venda de bens de investimento 783 15,2 76,1 115 66,3 -33,3 899 16,9 45,4
Transferências de capital - - - 2 601 283 99,5 347,3 2 601 283 99,5 347,3
Ativos financeiros 623 0,0 n.a 9 311 733 53,0 29,9 9 312 355 37,0 30,0
Passivos Financeiros 0 0,0 n.a - - - 0 0,0 n.a
Outras receitas de capital 0 0,0 n.a 7 1399,6 - 7 1,6 n.a
Outras Receitas 2 974 951 105,1 -35,5 289 356 99,9 -61,3 3 264 307 104,6 -39,1
Reposições não abatidas nos
257 677 226,4 -3,1 579 72,4 1.078,4 258 256 225,4 -2,9
pagamentos
Saldo da gerência anterior 2 717 274 100,0 -37,5 288 777 100,0 -61,4 3 006 051 100,0 -41,0
Receita Total 27 450 833 79,4 -4,3 13 200 304 61,6 46,0 40 651 137 72,6 7,8
Receita Efetiva 24 732 936 103,0 1,7 3 599 794 100,3 219,5 28 332 731 102,7 11,3
Despesas Correntes 21 397 964 96,0 -4,8 10 090 71,7 24,9 21 408 053 96,0 -4,8
Despesas com pessoal 168 066 96,8 -3,7 1 533 78,2 4,9 169 599 96,6 -3,6
Aquisição de bens e serviços 38 753 65,7 -7,2 1 856 36,4 90,2 40 608 63,4 -5,0
Juros e outros encargos 2 957 57,9 -0,6 2 264 88,3 2,7 5 221 68,1 0,8
239
Quadro D 8 – Sistema dos Regimes Especiais
(em milhares de euros e %)
Sistema dos Regimes Especiais
Designação
Valor Tx. Exec. Tvh
Receitas Correntes 416 926 99,3 -3,0
Contribuições para a Segurança Social - - -
Taxas, multas e outras penalidades - - -
Rendimentos da propriedade - - -
Transferências correntes 416 926 99,3 -3,0
Venda de bens e serviços correntes - - -
Outras receitas correntes - - -
Receitas de Capital - n.a n.a
Venda de bens de investimento - - -
Transferências de capital - - -
Ativos financeiros - - -
Passivos Financeiros - - -
Outras receitas de capital - - -
Outras Receitas - n.a n.a
Reposições não abatidas nos pagamentos - - -
Saldo da gerência anterior - - -
Receita Total 416 926 99,3 -3,0
Receita Efetiva 416 926 99,3 -3,0
Despesas Correntes 416 925 99,3 -3,0
Despesas com pessoal 155 97,9 3,2
Aquisição de bens e serviços - n.a n.a
Juros e outros encargos - - -
Transferências correntes 416 770 99,3 -3,0
Subsídios - - -
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
240
D4. Bens móveis
A omissão de informação no inventário dos institutos sobre a localização de bens num total de 2,2 M€2,
0,5% do volume financeiro registado no balanço3, traduzindo uma significativa melhoria face ao
registado no ano anterior (5,3% e 26 M€)4. Esta melhoria reflete os trabalhos desenvolvidos nos últimos
anos, em linha com as recomendações formuladas em pareceres anteriores5, que se traduziram em
registos informáticos mais completos e atempados, ao nível dos bens que se vão adquirindo, na
recuperação de informação de bens adquiridos em anos anteriores e ainda no abate de bens obsoletos6.
Apenas 75,9% dos bens móveis, que refletem 34,9% do valor registado, apresentam localização
completa, com morada e sala7, informação essencial à imediata e expedita localização dos respetivos
bens e a sua reconciliação físico-contabilística.
Relativamente aos bens adquiridos no ano e que não dispõem de informação sobre localização8,
verificou-se um aumento, quer ao nível do volume financeiro (4,9% em 2022, 1,7% em 2021), quer no
número de bens (14,5% em 2022 e 7,9% em 2021)9.
um aplicativo informático de suporte monotorização da movimentação dos bens sob gestão do Departamento de Apoio ao
Utilizador, (…) é possível controlar a localização dos bens, através da ligação IP das máquinas. Este sistema, vai permitir a
extração periódica de ficheiros para atualização da informação dos campos de localização do Sistema Financeiro”. Refere
ainda “que o parque informático (…) tem vindo a ser progressivamente atualizado, através da atribuição de computadores
portáteis, que pela respetiva mobilidade, justificam a atualização do campo “sala”, como número mecanográfico do respetivo
trabalhador”.
8 No II, no ISSM e no ISSA.
9 Bens adquiridos no ano sem localização (em número e em valor)/bens adquiridos no ano. Consideraram-se como bens
adquiridos no ano os bens com data de aquisição e incorporação do ano, uma vez que se verifica a existência de bens com
data de aquisição do ano, mas data de incorporação anterior.
10No âmbito do contraditório, o ISS informou que irá proceder às respetivas correções.
241
Continuam ainda a existir situações incorretamente classificadas como bens móveis1.
Erros no cálculo das amortizações por falta de uniformidade e incorreta atribuição do período de vida
útil, com impacto nas amortizações do ano e acumuladas e no valor do ativo líquido:
Sobrevalorização das amortizações para 1 508 bens adquiridos em 2022, aos quais foi atribuído um
período de vida útil inferior ao estabelecido no CIBE2. O II, procedeu em 2022 à transferência, de
grande parte dos bens adquiridos em 2021, para números de imobilizado individualizados, tendo,
nalguns casos, alterado a vida útil de um para quatro anos, sem, no entanto, corrigir o valor das
amortizações para o período já decorrido até à data da transferência, pelo que se manteve a
sobrevalorização das amortizações acumuladas;
Globalmente verifica-se que em 2022 mantém-se a situação identificada para 3 657 bens adquiridos
em 2021 e 2 011 em 2020 com período de vida útil inferior ao estabelecido no CIBE,
sobrevalorizando as amortizações acumuladas3.
(a) Existe uma diferença entre o saldo relevado no módulo FI e o constante no módulo AA, no valor de -48 000,07 €.
(b) Existe uma diferença entre o saldo relevado no módulo FI e o constante no módulo AA, no valor de -75 788,83 €.
(c) Existe uma diferença entre o saldo relevado no módulo FI e o constante no módulo AA, no valor de +162 465,29 €.
(d) Existe uma diferença entre o saldo relevado no módulo FI e o constante no módulo AA, no valor de -2 212,99 €.
(e) Existe uma diferença entre o saldo relevado no módulo FI e o constante no módulo AA, no valor de -78 788,83 €.
(f) Existe uma diferença entre o saldo relevado no módulo FI e o constante no módulo AA, no valor de +49 172,65 €.
1 22 números de imobilizado em que 21 (um do IGFSS e vinte do ISS) respeitam a imobilizações de obras e um caso (II) que se
trata de um consumível. Em contraditório, quer o IGFSS quer o ISS informaram que futuramente irão proceder à sua
regularização contabilística.
2 O n.º 1 do art. 34.º do CIBE, refere que “Em regra, são totalmente amortizados no ano de aquisição ou produção os bens
sujeitos a depreciação (…) cujos valores unitários não ultrapassem 80% do índice 100 da escala salarial das carreiras do regime
geral do sistema remuneratório da função pública…”. Contudo, o n.º 3 do mesmo artigo exceciona a sua aplicação aos bens
que constituam a base do processo produtivo de uma unidade operativa ou de uma unidade contabilística, ou seja, aos bens
classificados como equipamento básico, como é o caso do conjunto de bens contabilizados na conta 423 – Equipamento
básico. No entanto, surgem registados bens individualmente ou em grupo, com apenas 1 ano de vida útil (1 508 bens para o
ano em causa, no montante de 114 m€) – ISS: 1112 bens, 70 m€; ISSM: 277 bens, 23 m€; ISSA: 119 bens, 20 m€. Em
contraditório, o ISS informou que, com a implementação e utilização do SNC-AP e a transição para o novo SIF (S4HANA),
pretende harmonizar as vidas úteis dos bens de acordo com o classificador complementar 2.
3 Cfr. PCGE 2020, p. 170 e PCGE 2021, p. 174.
242
Quadro D 10 – Bens móveis sem localização
(em milhares de euros)
IGFSS ISS II ISSM ISSA Total
Conta
N.º Valor N.º Valor N.º Valor N.º Valor N.º Valor N.º Valor
423 Equipamento básico 17 25 0 0 3 198 717 625 250 1 673 933 5 513 1 924
424 Equipamento de transporte 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
425 Ferramentas e utensílios 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0
426 Equipamento administrativo 15 7 0 0 0 0 44 6 204 71 263 84
429 Outras imobilizações corpóreas 0 0 0 0 0 0 45 5 131 228 176 233
Total 32 31 0 0 3 198 717 714 261 2 009 1 232 5 953 2 241
Fonte: Módulo AA – Gestão de Imobilizado. Cálculos TC.
Em contraditório, o IGFSS informou que o campo “Localização” relativo aos 32 bens móveis apontados no
quadro anterior já se encontra preenchido.
243
Quadro D 13 – Bens móveis adquiridos em 2022 sem localização
(em milhares de euros)
IGFSS ISS II ISSM ISSA Total
Conta
N.º Valor N.º Valor N.º Valor N.º Valor N.º Valor N.º Valor
423 Equipamento básico 0 0 0 0 3 198 717 387 183 51 263 3 636 1 163
424 Equipamento de transporte 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
425 Ferramentas e utensílios 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
426 Equipamento administrativo 0 0 0 0 0 0 44 6 0 0 44 6
429 Outras imobilizações corpóreas 0 0 0 0 0 0 39 5 12 14 51 18
Total 0 0 0 0 3 198 717 470 194 63 277 3 731 1 188
Fonte: Módulo AA – Gestão de Imobilizado.
D5. Imóveis
244
Em 2021, foi realizada uma amostra de 34 imóveis1 tendo sido sinalizadas algumas incorreções2. Para efeitos de
verificação das correções efetuadas, foram examinados os lançamentos efetuados no ano de 2022 tendo-se
verificado situações com fragilidades/incorreções, designadamente:
A subvalorização das demonstrações financeira por um imóvel não se encontrar registado pelo seu valor
de aquisição4 (IGFSS) e por um terreno não se encontrar registado pelo valor que lhe foi atribuído na
escritura de permuta5 (ISSA).
A sobrevalorização do valor líquido dos imóveis devido a amortizações não calculadas, uma vez que:
Foi afeto, à parcela do terreno, um valor superior ao da escritura de aquisição6 (118 m€, ISSA);
As amortizações incidem sobre 75% do valor correspondente ao edificado quando existe um número
de imobilizado autónomo para a parcela do terreno7;
As amortizações incidem sobre 75% do valor das benfeitorias realizadas8;
245
A taxa de amortização efetiva é inferior à devida por não terem sido deduzidos, ao período de vida
útil, os anos já decorridos dos imóveis adquiridos em estado de uso1;
Existem imóveis que não se encontrarão totalmente amortizados no final da vida útil2.
A subvalorização do valor líquido dos imóveis, uma vez que as amortizações estão a ser calculadas sobre
a parcela afeta ao terreno3 por ainda não ter sido feita a sua segregação4.
Existem imóveis que não têm a titularidade totalmente regularizada uma vez que não possuem a
certidão da CRP em nome dos atuais institutos5.
Com base na informação fornecida pelos 4 Institutos (IGFSS, ISS, ISSA e ISSM), foi possível determinar o número
de imóveis de cada entidade, sendo:
246
Quadro D 17 – valores do imobilizado a 31/12/2022
(em milhares de euros)
IGFSS ISS ISSA ISSM Total
Património Imobiliário Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor Valor
bruto líquido bruto líquido bruto líquido bruto líquido bruto líquido
Imobilizações corpóreas:
Terrenos e recursos naturais 0 0 3 011 0 3 563 0 116 0 6 689 0
Edifícios e outras construções 4 718 1 835 168 958 75 891 25 038 13 385 26 966 20 571 225 681 111 683
Sub-total 4 718 1 835 171 968 75 891 28 601 13 385 27 082 20 571 232 370 111 683
Investimentos financeiros:
Terrenos e recursos naturais 18 665 0 0 0 8 672 0 0 0 27 337 0
Edifícios e outras construções 60 107 30 488 0 0 1 752 1 165 15 11 61 874 31 665
Sub-total 78 772 30 488 0 0 10 424 1 165 15 11 89 211 31 665
Total 83 490 32 324 171 968 75 891 39 025 14 550 27 097 20 582 321 581 143 347
Fonte: dados fornecidos pelas entidades e SIF. Cálculos TC.
No âmbito das verificações efetuadas para efeito deste Parecer, constatou-se que:
1 Em contraditório, o ISS informou que a segregação do valor do terreno do valor do edificado obriga à realização de uma
pesquisa por parte dos Centros Distritais da Segurança Social, para a obtenção de informação contabilística, uma vez que
cada organismo extinto, e que integrou o ISS, possuía sistemas informáticos distintos. Refere também que, com a
implementação do SNC-AP, irá proceder à regularização das situações e que, quando não exista informação fiável sobre o
custo, irá utilizar o VPT. O SESS, no mesmo âmbito, informou que no processo da implementação do SNC-AP e da transição
para o novo SIF, as instituições efetuaram uma análise criteriosa à informação relevada no atual sistema, identificaram não
conformidades e procederam à correção de registos, nomeadamente nas datas de início da depreciação e no período da
vida útil dos imóveis.
2 21 não têm número de inventário atribuído nem valor. Em contraditório, o ISS informou que apenas procede ao registo
contabilístico dos imóveis que estejam regularizados na CRP, segundo o n.º 2 do art. 15.º da Portaria 671/2000, de 17/04, e
que este processo é bastante moroso e complexo, encontrando-se 7 imóveis em processo de regularização contabilística. O
IGFSS reiterou que “…os bens são inventariados tendo em conta o disposto no n.º 2 do artigo 15.º do CIBE, aprovado pela
Portaria 671/2000, de 17 de abril”. Neste âmbito, o n.º 2 do art. 15.º do CIBE dispõe que a inventariação dos imóveis
pressupõe a existência de título de utilização válido e juridicamente regularizado. De notar que, fazer depender essa
relevação da regularização na CRP representa uma leitura muito estrita dessa norma, uma vez que embora o registo dos
imóveis na CRP tenha uma função de prova externa perante terceiros, outros comprovativos (como a escritura de compra e
venda ou de doação; escritura de habilitação de herdeiros; decisão judicial que lhe confira o direito de propriedade; Lei ou
outro tipo de diploma legal que lhe atribua esse direito) são elementos juridicamente válidos bastante para o
reconhecimento contabilístico. Acresce que com a revogação do CIBE e a implementação do SNC-AP com a consequente
adoção transversal do princípio da substância sobre a forma, o reconhecimento de ativos passa a ter que seguir outros
critérios, nomeadamente o do controlo, pelo que os procedimentos deverão ser adequados em conformidade.
247
favor das respetivas entidades, verificando-se que: a) para 38 encontra-se em curso o processo de
regularização da titularidade; b) para 1 estão em curso diligências para confirmar a titularidade do
imóvel em compropriedade com o Estado; c) para 1 encontra-se em curso o processo de localização
do prédio; d) 1 imóvel não é propriedade da segurança social, encontrando-se o mesmo registado
na CPU em nome do Banco Santander; e) para 1 está a decorrer um processo judicial para
confirmação da titularidade; f) 3 aguardam a doação do imóvel à segurança social; g) para 2 a
segurança social só tem o direito de superfície sobre o terreno; h) para 2 encontra-se a decorrer o
processo de constituição do direito de superfície sobre o terreno; i) 1 terreno está arrendado à APSS
– Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, SA; e j) 2 terrenos pertencem ao Instituto dos
Transportes Marítimos. Para os restantes não foi especificada a razão para que os imóveis não se
encontrem registados a favor das entidades detentoras dos mesmos.
372 (11,7%) imóveis integraram o património da segurança social através da dação em cumprimento
entre 1989 e 2019, relevados nas demonstrações financeiras por 75 M€ (23,4% do valor total dos
imóveis), dos quais 161 respeitam a terrenos, no valor de 27 M€. Dos 211 imóveis constituídos por
um edificado e um terreno, 57 encontram-se devolutos.
187 imóveis tiveram como origem a compra da parcela de terreno e/ou do edificado (41 M€, 12,9%),
sendo que em 20 dos terrenos, os edificados foram construídos pela segurança social (23 M€).
Destes 187, 11 encontram-se devolutos e 45 cedidos a outras entidades.
37 imóveis integraram o património da segurança social por via de doação, relevados pelo valor total
de 4 M€, sendo que em 22 dos terrenos, os edificados foram construídos pela segurança social
(27 M€).
256 imóveis entraram na esfera do património através da extinção/incorporação de outras
entidades nos termos previstos na lei e foram registados nas demonstrações financeiras por 65 M€,
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
248
21 imóveis estão ao abrigo da autorização excecional prevista no n.º 6 do art. 119.º da LOE 2022,
que permite a isenção do princípio da onerosidade quando preenchidos os requisitos aí
especificados.
425 imóveis encontram-se devolutos, apurando-se relativamente a estes o seguinte: a) 36 destinam-
se ao arrendamento; b) 77 são para venda (alguns já em processo de alienação, outros em processo
de avaliação para posterior venda); c) 182 encontram-se devolutos por não reunirem condições de
segurança para ocupação, sendo que 168 já se encontram em processo de reabilitação; d) 94 estão
em processo de avaliação para determinação do valor ou viabilidade de construção; e) para 22, por
deliberação do Conselho Diretivo do ISS, está em curso o processo de transferência para o IGFSS.
Para os restantes 14 não se dispõe de informação sobre qual o destino a dar a estes imóveis.
a 25 está a ser aplicado o princípio da onerosidade.
297 estão a ser utilizados para a atividade operacional dos institutos, apurando-se que: a) 8 estão
corretamente relevados como imobilizado corpóreo por parte do IGFSS; b) 272 estão a ser utilizados
pelo ISS, para o exercício da sua atividade, no que se refere a serviços locais do ISS e a serviços de
ação social na forma de Estabelecimentos Integrados do ISS, em Gestão Direta1; c) apenas 17 de 84
imóveis registados como imobilizado corpóreo no ISSA (16 compostos por terreno e edificado e 1
por terreno), estão a ser objeto de utilização própria, sendo que em 4 se verifica uma ocupação
parcial por parte de entidades públicas.
219 imóveis estão cedidos a terceiros, apurando-se o seguinte: a) 157 cedidos pelo ISS (123 a IPSS2,
e 34 a entidades públicas3); b) 10 cedidos pelo ISSM por acordos de gestão com entidades do setor
social (IPSS)4, contudo, confrontado o ponto 17 do Anexo às demonstrações financeiras e
orçamentais consolidadas verifica-se que relativamente a dois não foi referido na informação
recolhida junto do ISSM, que os mesmos se encontram igualmente cedidos a IPSS; c) 52 cedidos pelo
1 Centros Infantis; Centros de Reabilitação; Equipamentos de Acolhimento Temporário; Centros de Educação Especial, etc.
2 76 na forma de Estabelecimento Integrado do ISS de Gestão Indireta, encontram-se cedidos de forma gratuita ou com
acordos de gestão com entidades do setor social, para o exercício de valências/respostas sociais, no âmbito da ação social.
3 7 na forma de Estabelecimento Integrado do ISS de Gestão Indireta, tais como: Municípios (1 por aplicação do DL 280/2007,
de 07/08, encontrando-se a avaliação concluída, tendo sido remetido o respetivo processo à Direcção-Geral do Tesouro e
Finanças (DGTF), para homologação da renda); Administrações Regionais de Saúde (ARS); Instituto de Emprego e Formação
Profissional (IEFP); Cruz Vermelha Portuguesa (CVP); Secretária-Geral do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e
Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (14 por aplicação do DL 280/2007, encontrando-se a avaliação concluída,
tendo sido remetido o respetivo processo à DGTF, para homologação da renda).
4 Lares, centros comunitários, centros de acolhimento, etc.
5 Na análise efetuada não foram considerados os imóveis património da RAA, incluídos na informação fornecida pelo ISSA.
6 Divulgação prevista no ponto 8.2.12 do anexo às demonstrações financeiras, do POCISSSS.
249
3 imóveis relevados como imobilizado corpóreo aguardam a respetiva doação ao ISSA, para posterior
celebração de protocolo de cedência relativamente a dois deles.
250
Algumas contas destinadas ao registo de dívida proveniente de juros de mora1 continuam a apresentar
saldos credores (contranatura) que totalizam o montante de 41 M€2, facto que o IGFSS refere estar
relacionado com o carregamento de saldos iniciais aquando da implementação do SIF em 2001/2002,
os quais não foram alinhados com as respetivas contas correntes.
Em 2022 o valor de anulações de dívida já prescrita em anos anteriores foi de 41 M€, (41,3% do valor
prescrito em 2022), o que coloca em causa a veracidade dos valores anuais reportados, quer quanto às
prescrições, quer quanto ao valor da dívida relevada no balanço, sobretudo quando essas anulações
ocorrem em virtude de terem sido pagos valores dados como prescritos3.
O critério para classificação de dívidas de cobrança duvidosa não está a ser integralmente cumprido,
uma vez que apenas é considerada a dívida participada a execução fiscal e o POCISSSS não estabelece
critérios distintos entre a dívida participada e a não participada. A produção de informação para efeito
de encerramento de contas tem sido limitada à dívida participada a execução fiscal, deixando de fora a
não participada e com antiguidade significativa, o que prejudica o cumprimento do princípio da
prudência estabelecido no POCISSSS e a fiabilidade das demonstrações financeiras ao não serem
constituídas as respetivas provisões4.
O valor bruto das dívidas de clientes está sobrevalorizado em valor não quantificável, uma vez que
existem dívidas para as quais não há qualquer possibilidade de recuperação e que continuam relevadas
1 Juros de mora calculados na sequência de cobrança do valor do capital fora do prazo estabelecido em fase de cobrança
voluntária e não participada a execução fiscal (GC).
2 Conta 21212-Contribuintes c/c – Juros de mora - Regime dos trabalhadores independentes e do regime de segurança social
de inscrição facultativa: IGFSS: 40,9 M€, ISSA: 127 m€ e ISSM: 350 m€.
3 A anulação de valores já registados como prescritos em virtude de só mais tarde se detetar que o pagamento já tinha sido
efetuado, implica que a dívida tenha sido reduzida em duplicado: uma por via da cobrança e outra por via da prescrição.
Trata-se de uma situação que não contribui para a fiabilidade do valor da dívida relevado nas demonstrações financeiras,
não sendo possível estimar o respetivo impacto.
4 Recomendações: 32-PCGE/2021; 32-PCGE/2020; 29-PCGE/2019; 35-PCGE/2018; e 39-PCGE/2017. O SESS informou, em
junho de 2023 e em contraditório “No que respeita à eventual dívida residente em conta corrente, com características para
ser provisionada, a mesma terá de ser objeto de análise através de um trabalho de qualificação das contas correntes, por
forma a corrigir eventuais situações de dívida indevida ou ainda não participada a SEF”. Por sua vez, o II vem reforçar o
referido pelo SESS, considerando que “…a atividade a desenvolver, previsivelmente em 2024, (…) prevê a extração da
informação por software, (…) permitirá indicar o detalhe completo para uma correta contabilização”.
5 A do FGS resulta das quantias que não chegam a ser recuperadas por via da sub-rogação de créditos nos processos de
insolvência, quando estes processos já se encontrem definitivamente encerrados
6 A do FGADM advém de importâncias que nunca chegam a ser recuperadas por via da sub-rogação de créditos nos processos
de prestações substitutivas de alimentos a menores, que dependem do não cumprimento, obrigatório, dessa prestação de
alimentos, quando já não exista qualquer forma de a vir a recuperar.
251
A informação contabilística existente nestes dois fundos tem impedido o adequado controlo das suas
dívidas1. No FGS, em 2022 continuava a não existir contas correntes por devedor que permitam apurar
esses valores2. No FGADM, as contas correntes que apenas existem desde 2014 não incluíam a
informação de anos anteriores, o que dificultava o apuramento dos valores a registar como dívida
incobrável. No acompanhamento de recomendações3, o SESS informou que a dívida do FGADM, já se
encontra toda contabilizada em conta corrente4, mantendo-se, no entanto, por refletir a sua
incobrabilidade.
De facto, não obstante as LOE autorizarem, anualmente, o membro do Governo responsável pela área
da solidariedade e da segurança social a proceder à anulação de créditos detidos pelas instituições de
segurança social quando se verifique que a sua irrecuperabilidade decorra da inexistência de bens
penhoráveis do devedor5, este procedimento ainda não foi utilizado pelo FGS e pelo FGADM6.
1 Para mais desenvolvimentos sobre esta matéria cfr. ponto 3.3.4 da Parte I do PCGE 2018, pp. 174 e 175. Em contraditório, o
IGFSS e o SESS informaram que no âmbito do PRR foi constituído um grupo de trabalho para estudar a revisão do sistema
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
informático que suporta o Fundo de Garantia Salarial, sendo um dos problemas em análise, a falta de registo de dívida por
Entidade Empregadora que, no âmbito destes trabalhos, se prevê solucionar e concluir até final de 2024. Relativamente à
dívida do FGADM, informa que o seu registo é efetuado em SIF de forma agregada por interface com SICC, sendo que o
registo da dívida incobrável é uma matéria que será objeto de articulação em conjunto com as várias instituições da SS,
nomeadamente com o II.
2 Recomendação 33-PCGE/2021. Apesar da existência, na atual aplicação informática que dá suporte ao FGS, de um módulo
para registo de acordo de recuperação de valores, o FGS não faz uso deste módulo porque entende que o mesmo não
responde às necessidades, uma vez que não permite obter informação sobre a totalidade da dívida. Em 2021 foi solicitado
ao II “… a alteração de campos relacionados com a dívida e sua discriminação”. No acompanhamento de recomendações o
SESS, em junho do corrente ano, informou que, “No caso do Fundo de Garantia Salarial (FGS) continua a não existir sistema
informático para as contas correntes dos Devedores (Entidade Empregadora). Logo não é possível registar a incobrabilidade,
dado a inexistência de apuramento do valor da dívida a anular”.
3 Ofício de 02/06/2023.
4 “A conta corrente dos beneficiários e devedores do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores reside em SICC.
Anualmente no final do ano o II, IP indica o montante da dívida em SICC, em plano prestacional e a dívida participada. Com
base nesta informação, obtemos a maturidade da dívida (por escalões), o que possibilita efetuar a provisão, no final do ano.
A dívida participada e considerada incobrável ainda não é apurada”.
5 Art. 117.º da LOE 2022 “O Governo fica autorizado, através do membro do Governo responsável pela área da solidariedade
e da segurança social, a proceder à anulação de créditos detidos pelas instituições de segurança social quando se verifique
que os mesmos carecem de justificação, estão insuficientemente documentados, a sua irrecuperabilidade decorra de
inexistência de bens penhoráveis do devedor…”. Também as LOE de anos anteriores incluem norma idêntica.
6 Recomendações: 36-PCGE/2021, 33-PCGE/2020; 30-PCGE/2019 e 37-PCGE/2018.
7 De acordo com o art. 24.º do Regime do FGS, o fiscal único efetivo e o fiscal único suplente devem ser revisores oficiais de
contas ou sociedades de revisores oficiais de contas, sendo designados mediante despacho dos membros do Governo
responsáveis pelas áreas das finanças, do emprego e da segurança social. No relatório e parecer do Fiscal Único relativo a
2022, consta que: “…na qualidade de Revisores Oficiais de Contas, emitimos a nossa Certificação Legal das Contas, na
modalidade de opinião sem reservas” e que o Fiscal Único “…é de parecer que os documentos de prestação de contas do
exercício de 2022 do Fundo de Garantia Salarial estão elaborados em conformidade com o referencial contabilístico aplicável
ao Fundo”.
252
D9. Dívida de prestações sociais a repor
A dívida refletida na conta de prestações sociais a repor continua, em 2022, a padecer dos seguintes erros e
omissões:
Nas dívidas de prestações sociais a repor continua a existir um desvio entre o saldo relevado nas
demonstrações financeiras (SIF) e o existente nas contas correntes (SICC) que ascende a 101 M€1 (mais
1,3 M€, 1,3%), o que põe em causa a fiabilidade das demonstrações financeiras, que se encontram
sobrevalorizadas2.
O valor das provisões para dívidas de cobrança duvidosa provenientes de pensões continua a ser
calculado pelo método das contas do razão (SIF), que não permite relacionar a dívida com o devedor e
a data em que a mesma foi constituída, nem validar a referida dívida e, consequentemente, a correção
do valor das provisões constituídas3.
As dívidas à segurança social não se resumem apenas aos contribuintes, clientes e beneficiários, existindo outros
créditos sobre terceiros, tanto de médio e longo como de curto prazo, que apresentam, no seu conjunto, valores
significativos, tendo em 2022 atingido 339 M€, uma diminuição, face a 2021, de 40 M€ (-10,7% em termos
brutos), decorrente de variações positivas e negativas em várias contas, das quais se destaca no ISS a diminuição
do valor da conta referente aos pagamentos de pensões (-51 M€) fruto da renegociação, a título excecional,
com os CTT, do calendário das imobilizações financeiras com referência ao processamento de pensões de janeiro
de 20234.
253
Deste grupo ressalta um conjunto de dívidas com bastante antiguidade, algumas das quais têm vindo a ser
objeto de acompanhamento por parte do Tribunal há vários anos (98 M€)1 e outras mais recentes (22 M€)2.
Apesar de alguns desenvolvimentos ocorridos em 2022 e 20233, desencadeados pelos institutos da segurança
social, estes carecem de intervenção da tutela tendo em conta, por um lado, a reiterada falta de resposta de
algumas das entidades devedoras, e, por outro, a necessidade de decisão que permita sanar as posições
divergentes entre a entidade credora e a entidade devedora4.
D11. Disponibilidades
1 Ministério da Saúde (90 M€); Caixa de Previdência do Pessoal dos Caminhos de Ferro de Benguela (6 M€); e Direção Regional
do Trabalho e Qualificação da RAA (2 M€). Para mais detalhes cfr. ponto 4.1.4 da Parte II do PGCE 2018.
2 IGFSS: Dívida do Ministério da Defesa (20 M€) para reembolso dos pagamentos efetuados pela SS de prestações previstas
nas Leis 9/2002, de 11/02, 21/2004, de 05/06, e 3/2009, de 13/01 e dívidas relacionadas com adiantamentos por conta do
OSS de ações de formação Profissional com suporte em fundos europeus (2,3 M€).
3 Informação prestada pelo IGFSS em junho de 2023. Dívidas do Ministério da Saúde: – sobre a dívida proveniente da ex-Caixa
de Previdência dos TLP (88,7 M€), o ISS informou, que se mantêm os constrangimentos à validação das faturas dos
beneficiários de doença profissional no âmbito do reembolso da comparticipação da responsabilidade do ISS ao MS, mas que
está em curso a implementação de uma medida de desmaterialização da validação das faturas entre organismos que irá
permitir ao ISS efetuar o reembolso àquele Ministério pelo que, nessa altura, será retomada a proposta de encontro de
contas com o MS junto da Tutela. – Dívida no âmbito das Misericórdias (0,4 M€), o IGFSS propôs uma norma a constar no OE
2023 no sentido de se considerarem regularizadas as dívidas respeitantes ao MS, não tendo a mesma tido acolhimento.
Refere que na elaboração do OE 2024 irá propor norma equivalente, dado que a ACSS, tem vindo a alegar a prescrição da
dívida ao abrigo do art. 309.º do Código Civil, posição que não tem sido aceite pelo Instituto; Direção Regional do Trabalho e
Qualificação da Região Autónoma dos Açores – o IGFSS em 14/02/2023 voltou a solicitar àquela Direção-Geral o pagamento
da dívida, fazendo referência às sucessivas solicitações realizadas pelo Instituto desde 2013 e que não terão tido resposta;
Caixa de Previdência do Pessoal dos Caminhos de Ferro de Benguela – a última diligência do IGFSS junto da Caixa foi em
25/06/2021. Dívida do Ministério da Defesa –o último pedido de regularização da dívida foi efetuado pelo IGFSS em
14/07/2022, não tendo obtido resposta; Dívidas com origem em adiantamentos para ações de formação profissional – o
solicitou informação à AD&C sobre eventuais desenvolvimentos na recuperação dos valores em dívida e quais as diligências
em curso, não obtendo qualquer indicação de evolução na recuperação dos valores em dívida.
4 Em contraditório, o IGFSS e o SESS vêm referir que têm procedido a várias tentativas para a sua resolução e que irão dar
continuidade às mesmas no próximo exercício económico.
5 IGFSS (24 contas) e ISS (31 contas). Outras oito entidades (II, ISSM, ISSA, FSS, FESSPAC, FEFSS, IGFCSS e FESSPBC) também
apresentavam alguns movimentos por reconciliar, mas são pouco significativos e com datas do próprio ano, sobretudo do
final do ano. Duas entidades (FCE e FGS) não tinham movimentos por reconciliar em 31/12/2022.
6 IGFSS (66 268 documentos) e ISS (2 965 documentos).
254
(1 210 M€)1. Não obstante, refletem uma evolução globalmente positiva face a 2021 com uma
redução de 10 1862 (-12,8%) no número de documentos e de 501 M€3 (-29,3%) em valor.
Em termos de antiguidade, a maior redução verificou-se nos documentos do próprio ano, quer em
número (-44,6%, -7 697)4, quer quanto ao volume financeiro (-55 %, -768 M€).
Quadro D 18 – Documentos com movimentos por reconciliar – 2021-2022
Dos documentos por reconciliar, 82,7% respeitam a uma única conta bancária titulada pelo IGFSS5,
que também é responsável por 89,3% dos documentos por reconciliar há mais de um ano e 51,1%
do volume financeiro total. Esta situação resultou de uma alteração ocorrida em fevereiro de 2019
ao nível da arquitetura de sistemas que implica falhas de contabilização e impossibilita a
reconciliação bancária da cobrança e que ainda aguarda resolução por parte do II6.
Dos documentos por reconciliar verifica-se que 805, no valor de 2 M€7, têm mais de cinco anos.
1 IGFSS (1 198 M€) e ISS (13 M€). O volume financeiro dos documentos por reconciliar foi apurado através da soma do valor
em módulo de cada documento por reconciliar, do banco e da contabilidade, independentemente do sinal (entrada ou saída
de fluxo financeiro).
2 No IGFSS menos 10 268 documentos e no ISS mais 82 documentos.
3 504 M€ no IGFSS e +4M€ no ISS.
4 No IGFSS menos 7 749 documentos e no ISS mais 52 documentos.
5 Com 57 277 documentos por reconciliar, num valor total de 618 M€, com 53 279 documentos com data anterior a 2022, no
montante de 511 M€.
6 Esta situação foi, em parte, mitigada pelo facto de, em março de 2021, ter entrado em funcionamento um programa que, ao
permitir o agrupamento dos registos de cobrança, conduziu a uma redução significativa do número de documentos lançados,
bem como do número de documentos por reconciliar. Em 31/12/2020, a conta bancária em análise apresentava 424 469
documentos por reconciliar e um volume financeiro de 1 761 M€; em 31/12/2021, apresentava 68 304 documentos por
reconciliar (645 M€) e, em 31/12/2022, como referido, evidenciava 57 277 documentos por reconciliar (618 M€).
7 IGFSS (675 documentos no valor de 1,4 M€) e ISS (130 documentos no montante de 582,3 m€).
255
Quadro D 19 – Disponibilidades – por entidade – 2021-2022
(em milhões de euros)
Ativo
Banca
Ativo líquido IGFSS ISS II IGFCSS ISSA ISSM FEFSS FSS FGS FCE FESSPAC líquido
Casinos
agregado
Títulos negociáveis 3 841 0 0 0 0 0 21 844 100 0 0 0 0 25 785
151 – Ações 0 0 0 0 0 0 4 518 0 0 0 0 0 4 518
152 – Obrigações e títulos de participação 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
153 – Títulos da dívida pública 3 841 0 0 0 0 0 17 149 100 0 0 0 0 21 090
159 – Outros títulos 0 0 0 0 0 0 151 0 0 0 0 0 151
2022
Peso % 24,5 0,3 0,1 0,0 0,5 0,1 74,1 0,4 0,0 0,0 0,0 0,0 100,0
No âmbito das verificações efetuadas para efeito deste Parecer, constatou-se que:
1 O Instituto encontra-se a aguardar a prolação do despacho do Primeiro-Ministro para a alienação de um imóvel à SCML.
2 Entrega de três imóveis: em 2019, em 2020 e em 2022.
256
Algumas das últimas notificações enviadas (26/12/2022) não estão integralmente corretas, uma vez
que referem que a entidade foi notificada para efeitos de celebração de contrato de arrendamento
de imóveis ocupados pelos seus serviços quando tal não sucedeu em todos os casos1.
Ao nível do controlo:
Foram desenvolvidas diligências quanto à verificação e regularização da titularidade a seu favor e
quanto à verificação e confirmação das entidades ocupantes2, de modo a ser feita uma análise para
efeitos da aplicação do princípio da onerosidade ou para efeitos de transferência para as autarquias
locais, caso se trate de propriedade e património das Casas do Povo que não estejam afetas
exclusivamente a “fins de Segurança Social”3.
1 Para um imóvel ainda estão em curso diligências para criar as devidas condições para a celebração do contrato de
arrendamento e para dois imóveis ainda estão em curso as diligências necessárias com vista à sua avaliação para efeitos de
determinação da renda mensal. Entidade ocupante: ARS Norte I.P.
2 Cinco imóveis encontram-se nestas situações.
3 Conforme determinado no n.º 10 do art. 6.º da Lei 24-D/2022, de 30/12 (LOE 2023).
4 O IGFSS informou que estas três situações serão objeto de correção.
5 O número de dias utilizado no denominador (360) não coincide com o número de dias utilizado no numerador (365).
6 A entidade ocupante, que não era a entidade inicialmente notificada, foi notificada pelo IGFSS a 01/09/2020, em sede de
audiência prévia, tendo-lhe sido estabelecido prazo de pagamento até 30/09/2020 e o início da contagem dos juros reporta-
se a 01/10/2019. Uma outra situação semelhante, em que a entidade inicialmente notificada não era a entidade ocupante
tendo sido, a entidade ocupante notificada pela primeira vez a 23/06/2021, sem indicação de prazo para audiência prévia,
nem estabelecido prazo de pagamento e a contagem do período de dívida dos juros reporta-se a 01/10/2019. Uma outra
entidade foi notificada, pela primeira vez, a 21/08/2020, em sede de audiência prévia, sendo estabelecido o prazo de
pagamento a 30/09/2020 e o início da contagem dos juros reporta a 01/10/2019. Por fim, uma outra entidade foi notificada
a 12/10/2021, em sede de audiência prévia, não tendo sido estabelecido o prazo de pagamento e o início da contagem dos
juros reporta a 01/10/2019. Em contraditório, o IGFSS alega que irá proceder à análise das situações identificadas.
7 Em contraditório o IGFSS vem referir que “… já procedeu às referidas correções relativas ao cálculo dos juros de mora…” e
que “…a presente questão encontra-se sanada relativamente a todos imóveis”. No entanto, tal não inclui as situações
referidas na nota de rodapé anterior.
8 Em SIF, apenas se encontra registado o montante a devolver a uma entidade. Em contraditório, o IGFSS remeteu os ofícios
que comprovam o contacto com as entidades para a restituição dos montantes em 2023.
9 Informação fornecida pelo ISS através de e-mail de 16/05/2023.
10 Em contraditório, o IGFSS vem alegar que detém a titularidade dos imóveis na Autoridade Tributária, estando a aguardar a
conclusão do registo na CRP, para posteriormente proceder ao seu registo contabilístico. Sobre o alegado pelo IGFSS vg. nota
2 da p. 247.
257
Ao nível dos imóveis transferidos para o IGFSS1:
Foram identificados mais 14 imóveis detidos pelo ISS e ocupados por entidades públicas, para além
dos 25 imóveis identificados no PCGE 2020. No entanto, como se evidencia no quadro seguinte,
apenas 6 são passíveis de aplicação do princípio da onerosidade.
Quadro D 20 – Situação dos imóveis em análise detidos pelo ISS
(em unidades)
Situação dos imóveis N.º Imóveis
Imóveis excluídos da aplicação do princípio da onerosidade 32
Ocupação parcial com serviços do ISS 15
Em processo de transferência para as autarquias locais(a) 11
Com despacho a dispensar a aplicação(b) (com autos de entrega ao IGFSS) 4
Imóveis devolutos 2
Imóveis passiveis de aplicação do princípio da onerosidade 6
Aguarda emissão de auto de entrega para transferência para o IGFSS 4
Em regularização de titularidade para transferência para o IGFSS 2
Imóvel com situação em análise 1
Total 39
(a) N.º 10 do art. 6.º da LOE 2022.
(b) Através de despacho SESS – n.º 6 do art. 119.º da LOE 2022.
Para além destes imóveis foram transferidos, em 2022, 15 imóveis mas nenhum deles se encontra
em situação de aplicação do princípio da onerosidade porquanto: 7 encontram-se dispensados por
despacho do SESS, 4 estão devolutos, 3 encontram-se ainda em análise e 1 vai ser transferido para
a Fundação INATEL.
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
1 Segundo o art. 4.º do DL 112/2004, de 13/05, o património imobiliário do ISS que não se encontre afeto aos respetivos
serviços deverá ser transferido para o IGFSS, permitindo que esses imóveis, quando estejam ocupados por entidades
públicas, sejam sujeitos ao pagamento das contrapartidas do princípio da onerosidade até à celebração do contrato de
arrendamento.
258
E. RESPONSABILIDADES, FINANCIAMENTOS E APOIOS PÚBLICOS
Quadro E 1 – Empresas beneficiárias de empréstimos, dotações de capital, indemnizações compensatórias e outros fluxos
(em milhões de euros)
Empréstimos a
Dotações de Indemnizações
médio e longo Outras Total
Empresas capital(b) compensatórias
prazos(a)
2021 2022 2021 2022 2021 2022 2021 2022 2021 2022
Empresas Públicas Reclassificadas (EPR) 493 140 2 999 2 556 358 385 1 631 1 139 5 481 4 220
Infraestruturas de Portugal - - 1 613 1 282 68 34 622 651 2 302 1 967
Estabelecimentos de saúde EPE 29 (c)20 1 080 (d)1 054 - - 22 17 1 131 1 090
Metro do Porto 237 270 - - 7 3 41 67 284 341
ML – Metropolitano de Lisboa 119 35 254 181 8 4 38 43 420 263
CP – Comboios de Portugal 154 (e)60 - - 98 179 3 6 255 245
RTP – Rádio e Televisão de Portugal - - - 2 - - 184 187 184 189
Parque Escolar - -83 - 18 114 93 5 5 119 33
Parpública - - - - - - 633 - 633 -
Outras (f)-46 -163 53 20 (f)63 72 (f)83 163 152 92
Empresas Públicas não Reclassificadas (EPnR) -9 -22 1 006 575 17 17 47 283 1 060 852
Banco Português de Fomento, SA - 250 (g)239 - 489
TAP, SA - - 998 294 - - - - 998 294
TAP, SGPS, SA 10 10
Outras (f)-9 -22 8 21 17 17 (f)47 45 62 60
Total 484 117 4 005 3 131 375 401 1 677 1 422 6 541 5 072
(a) Líquidos de reembolsos.
As operações de financiamento ao abrigo das linhas de crédito COVID-19, criadas entre 2020 e 2022, beneficiam
de garantias no âmbito do Sistema Nacional de Garantia Mútua – SNGM (com uma cobertura entre 80% a 90%
dos financiamentos1), de contragarantias prestadas pelo FCGM (regra geral, 100%) e de condições mais
favoráveis, nomeadamente a redução do risco, taxas de juros mais baixas, maturidades e períodos de carência
mais alargados2.
1 Regra geral, beneficiam de 90% de cobertura de risco as micro e pequenas empresas e de 80% as médias empresas, Small
Mid Caps, Mid Caps e grandes empresas.
2 Na maioria das linhas de crédito, os financiamentos têm um prazo máximo de até 6 anos.
259
Desde 2020, foram lançadas 16 linhas de crédito COVID-19, disponibilizando às empresas um total de crédito
de 11 115 M€, do qual foram contratados 9 348 M€ destinados, sobretudo, a suprir necessidades de tesouraria
ou de fundo de maneio1 (cfr. Quadro E 2).
O montante acumulado de contragarantias executadas em relação às linhas COVID-19 totalizou 73 M€, dos quais
58 M€ relativas a 2022, o que representa cerca de 79,9%.
A Linha de Apoio à Economia COVID-19 concentrava a maioria da carteira viva, seguida da Linha de Apoio à
Economia COVID-19 MPE que, no conjunto, representam 81,1% dos apoios concedidos. Em sentido inverso, a
Linha de Apoio à Economia COVID-19: Empresas de Montagem de Eventos, a Linha de Apoio à Economia
COVID-19: Grandes Eventos Culturais e a Linha de Apoio à Economia COVID-19: Federações Desportivas
apresentam valores residuais.
1 As empresas beneficiárias devem reunir um conjunto de requisitos, nomeadamente não ser consideradas empresas em
dificuldades a 31/12/2019, nos termos do Regulamento da CE 651/2014, de 17/06.
260
SIGLAS E ABREVIATURAS
AC Administração central
ACSS Administração Central do Sistema de Saúde
AD&C Agência para o Desenvolvimento e Coesão
ADSE Instituto de Proteção e Assistência na Doença, IP
AICEP Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal
AIMI Adicional ao Imposto Municipal sobre Imóveis
ANACOM Autoridade Nacional de Comunicações
ANEPC Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil
AP Administrações Públicas
AR Assembleia da República
AT Autoridade Tributária e Aduaneira
BANIF Banco Internacional do Funchal
BCE Banco Central Europeu
BD Beneficiários Diretos
BdP Banco de Portugal
BEI Banco Europeu de Investimento
BES Banco Espírito Santo
BF Beneficiário final (ponto 4.2)
BF Benefício fiscal (ponto 4.4)
BI Beneficiários intermediários
BPF Banco Português de Fomento
BPN Banco Português de Negócios
BT Bilhetes do Tesouro
CA Certificados de aforro
261
EBF Estatuto dos Benefícios Fiscais
ECE Entidade Contabilística Estado
EDIA Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva
EMRP Estrutura de Missão Recuperar Portugal
EPE Entidade Pública Empresarial
EPNF Empresas públicas não financeiras
EPR Entidade Pública Reclassificada
eSPap Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública
FAM Fundo de Apoio Municipal
FC Fundo de Coesão
FCE Fundo de Cobrança Executiva da Segurança Social
FCGM Fundo de Contragarantia Mútuo
FCT Fundo de Compensação do Trabalho
FdR Fundo de Resolução
FEAC Fundo Europeu de Apoio a Carenciados
FEADER Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural
FEAGA Fundo Europeu Agrícola de Garantia
FEAMP Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas
FEAMPA Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos, das Pescas e da Aquicultura
FEDER Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FEEI Fundos Europeus Estruturais e de Investimento
FEFSS Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social
FEOGA Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola
FEP Fundo Europeu das Pescas
FESSPAC Fundo Especial de Segurança Social dos Profissionais da Área da Cultura
FESSPBC Fundo Especial de Segurança Social dos Profissionais de Banca dos Casinos
FET Fundo de Estabilização Tributária
FFD Fundo de Financiamento da Descentralização
FGADM Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
262
IRS Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
IS Imposto do Selo
ISP Imposto sobre produtos petrolíferos e energéticos
ISS Instituto da Segurança Social, IP
ISSA Instituto da Segurança Social dos Açores, IPRA
ISSM Instituto da Segurança Social da Madeira, IP-RAM
ISV Imposto Sobre Veículos
IT Imposto de consumo sobre o tabaco
ITP Instituto do Turismo de Portugal
IUC Imposto Único de Circulação
IVA Imposto sobre o Valor Acrescentado
LAP Linha de Apoio à Produção
LBSS Lei de Bases da Segurança Social
LEO Lei de Enquadramento Orçamental
LOE Lei do Orçamento do Estado
M Milhões
m Milhares
MF Ministro das Finanças
ML Metropolitano de Lisboa, EPE
MP Metro do Porto
MRR Mecanismo de Recuperação e Resiliência
NB Novo Banco
NER 300 New Entrants' Reserve Programme
NIF Número de Identificação Fiscal
Nortrem Nortrem – Aluguer de Material Ferroviário, ACE
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
OE Orçamento do Estado
OECD Organization for Economic Co-operation and Development (Cfr. OCDE)
OSS Orçamento da Segurança Social
263
REAT-EU Assistência à Recuperação para a Coesão e os Territórios da Europa
RERD Regime Excecional de Regularização de Dívidas
RFAI Regime fiscal de apoio ao investimento
RGSS Regime Geral da Segurança Social
RNAP Reposições não abatidas nos pagamentos
RNB Rendimento Nacional Bruto
ROE Relatório do Orçamento do Estado
RP Recursos Próprios
RPSC Regime de Proteção Social Convergente
RPT Recursos Próprios Tradicionais
RTP Rádio e Televisão de Portugal
SA Sociedade Anónima
SATA Sociedade Açoriana de Transportes Aéreos
SCML Santa Casa de Misericórdia de Lisboa
SEAAF Secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais
SEE Setor Empresarial do Estado
SEF Sistema de Execuções Fiscais
SEO Síntese de execução orçamental
SESS Secretário de Estado da Segurança Social
SFA Serviços e Fundos Autónomos
SGMAI Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna
SGPS Sociedade Gestora de Participações Sociais
SGR Sistema de Gestão de Receitas
SI Serviços Integrados
SICC Sistema Integrado de Conta Corrente
SIF Sistema de Informação Financeira da Segurança Social
SIFIDE Sistema de incentivos fiscais em investigação e desenvolvimento empresarial
SIGO Sistema de Informação de Gestão Orçamental
SIGPIP Sistema de Informação e de Gestão do Património Imobiliário Público
PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2022
264
FICHA TÉCNICA
Área de Responsabilidade I
Execução técnica: Ana Godinho Tavares, Arabela Correia, Bella Isa Rodrigues, Carla Martins, Clarisse Wagner, Cristina Silva, Daniela
Argolinha, Dina Rocha Machado, Fátima Perfeito, Graciosa Neves, João Miguel, José Correia, José Moreira, Manuel Rodrigues, Margarida
Gouveia, Maria Gisela Dias, Maria João Silveira, Maria Umbelina Pires, Marília Carrilho, Mário Domingos, Mónica Morgado Ferreira,
Nazaré Silva, Paulo Duque, Rosa Maria Sequeira, Rui Salgueiro, Teresa Garrido, Tiago de Moura Gonçalves e Zaida Sousa
Juíza Conselheira Maria da Luz Carmezim Pedroso de Faria – responsável pelo ponto 2 da Parte A
de Auditoria III
Departamento
Execução técnica: Ana Cristina Cabo, Carla Duarte Filipe, Maria de Fátima Fernandes e Paula Furtado Costa
Área de Responsabilidade IX
Juíza Conselheira Maria dos Anjos Capote – responsável pela Caixa 4
de Auditoria IX
Departamento
Auditora Coordenadora: Helena Fernandes; Coordenador de Equipa de Projeto: Luís Teiga Barros
Técnicos: Ana França, Graças Vaz, João Paulo Amado e Paula Fonseca
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