Supercomunicadores - Charles Duhigg
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Supercomunicadores - Charles Duhigg
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Sumário
Capa
Folha de rosto
Sumário
Prólogo
1. O princípio da combinação
5. Conexão em um conflito
Posfácio
Agradecimentos
Notas
Sobre o autor
Créditos
Para John Duhigg, Susan Kamil
nada em comum com ele — o que não acontecia com frequência, porque a
Felix era agente federal há duas décadas. Entrou para o fbi após
passou alguns anos atuando nas operações. Foi nessa época que seus
jovens — nunca tente se passar por alguém que não um policial; nunca
emotivo, chore, ria, reclame ou comemore junto. Mas o que o tornava tão
bom no que fazia, no fim das contas, era um tanto misterioso até para seus
colegas.
pessoa… comum.
início à entrevista com uma questão aberta: “Você pode nos dizer o que
disse, enfim. “Minha família toda estava lá, e minha mãe morreu poucos
meses depois.”
faleceu — de câncer, foi duro —, mas como estava linda naquele dia. É
mesmo. Se alguém revelava algo pessoal, ele retribuía com alguma história
tendo com a filha adolescente, e então Felix comentou sobre uma tia com
pesquisador perguntou sobre sua infância, e ele explicou que havia sido
outros.
interveio: “Olha, me desculpe, isso tudo é ótimo, mas eu continuo sem ter
a menor ideia do que você faz. Por que você acha que tanta gente
perguntar uma coisa: você comentou que era mãe solteira, e imagino que
Isso pode parecer meio estranho, mas eu gostaria de saber: o que você
responder isso sem problema”, afirmou. “Eu teria vários conselhos para
uma das coisas mais íntimas da sua vida.” Ele explicou que um motivo para
criado juntos, ao fato de que ele havia escutado com atenção e feito
demonstrou para eles que tinha escutado o que diziam. Sempre que
um supercomunicador.
Para quem você ligaria em um dia ruim? Se houvesse arruinado um
saco cheio de tudo: com quem gostaria de conversar? Você deve conhecer
alguém que o faria se sentir melhor, que poderia ajudá-lo a refletir sobre
mágoa ou de alegria.
conhece? (É provável que não, mas, se prestar mais atenção, talvez note
depois de conversar com ela.) Entre todas as suas amizades, ela é a mais
Este livro tenta responder a essa pergunta. Nas duas últimas décadas
conversas fluírem tão bem e outras serem tão sem graça. Suas descobertas
podem nos ajudar a escutar com mais clareza e a falar com mais
nos sentimos sortudos pela conversa correr tão bem. Em outras ocasiões,
mesmo quando estamos desesperados por desenvolver uma ligação com
diferenças sociais do que fingir que elas não existem. Que toda discussão é
influenciada pelas emoções, por mais racional que seja o tema discutido.
conexão.
complexo. Eu nunca havia sido gerente antes, mas já havia trabalhado para
certo?
conectar com as pessoas. Certo dia, colegas me procuraram para dizer que
queixaram-se.
Ou então…
pessoal. Eu saía de férias com minha família e ficava obcecado com alguma
compreendia que eu estava pedindo seu apoio — me diga que tenho razão
distração, escutava apenas em parte o que diziam, até que fossem embora.
pessoas que eram mais importantes para mim, mas não sabia como
porque, como escritor, a comunicação deveria ser meu meio de vida. Por
Algo me dizia que eu não estava sozinho nessa confusão. Todo mundo
punhado de ideias-chave.
Quem somos? Em geral, passamos por essas três questões à medida que
Além do mais, cada tipo de conversa opera segundo sua própria lógica e
boa comunicação, temos que saber detectar qual tipo de conversa está
O que me traz à segunda ideia essencial deste livro: nosso objetivo, para
perspectivas.
A última grande ideia não é bem uma ideia, mas algo que aprendi:
que o mundo está cada vez mais polarizado, que penamos para escutar e
ouvidos uns aos outros e, ainda que sejamos incapazes de resolver todas as
tudo.
OS TRÊS TIPOS DE CONVERSA
UM PANORAMA
Jim Lawler tinha de admitir que era péssimo em recrutar espiões. Tão
O ano era 1982, e Lawler estava com trinta anos. Ele entrou para a cia
enfadonhos. Um dia, sem saber o que fazer da vida, resolveu ligar para um
que pareciam destinadas a descobrir tudo o que Lawler não sabia. (Quem,
1960?)
essas coisas. Seu desempenho nas provas havia sido entre fraco e mediano.
Não tinha experiência alguma no exterior, não falava outras línguas, não
provas, mesmo quando ficou claro que não tinha a menor ideia de como
que parecia ser um otimismo admirável, por mais equivocado que pudesse
ser.
queria servir ao seu país e “levar a democracia a nações que anseiam por
ridículas. Quem diz anseio numa entrevista? Então fez uma pausa,
respirou fundo e falou a coisa mais honesta em que pôde pensar: “Minha
significativo.”
Uma semana depois, a agência ligou para lhe oferecer um emprego. Ele
vigilância clandestina.
era a ênfase dada pela agência à arte da conversação. Em seu período ali,
acreditar — com bons motivos, assim esperamos — que o agente é uma das
2
poucas pessoas, senão a única, que realmente o compreende”.
respondeu que sua família era bem rica, muito obrigado, e que seus chefes
na qual explicou que ela, na verdade, trabalhava para a kgb e ele era quem
cia comentou sobre Yasmin, uma jovem do Oriente Médio que trabalhava
sua vida. Ela gostava de seu trabalho? Era difícil viver em um país que
Sonhava em ir embora para viver em Paris ou Nova York, mas, para isso,
período, algo que poderia fazer sem deixar seu emprego no Ministério. E
para ela que você é da cia e vai querer informações sobre o governo’.”
Lawler achou a ideia péssima. Se fosse franco com Yasmin, ela nunca mais
Mas seu chefe explicou que era injusto não ser franco ao pedir a alguém
que passavam mais tempo juntos, ela foi sendo cada vez mais sincera.
Disse que sentia vergonha de seu governo por fecharem jornais e
governo, disse, não imaginou que as coisas pudessem ficar tão ruins.
Lawler interpretou isso como uma deixa. Certa noite, durante o jantar,
a mesma coisa que ela: minar a teocracia do país, enfraquecer seus líderes,
para a cia?
disse que matavam as pessoas por isso e que não poderia me ajudar de
Lawler voltou a procurar seu chefe com as más notícias. “E ele disse: ‘Já
contei para todo mundo que você a recrutou! Contei para o chefe da
quer que eu fale para eles que você não conseguiu levar até o fim?’.”
contou-me. Sua única chance era convencer Yasmin de que podia confiar
Como criar uma conexão genuína com outra pessoa? Como convencer
descobriram que a conexão com outros por meio da fala é não só mais
3
Além dessa descoberta, muitas pesquisas mostram que, no cerne de
Yasmin não parecia claro. “Eu sabia que tinha, no máximo, mais uma
CÉREBROS CONECTADOS
que tinha sido alguns anos antes. Certos dias, ao acordar, já saía correndo
deixando de lado qualquer outra coisa. Mas logo começou a suspeitar que,
“Por que entramos em sintonia com uns, mas não com outros, é um dos
parte porque o cérebro evoluiu para ansiar por esse tipo de conexão. O
Além do mais, essa ligação muitas vezes fluía por seus corpos: começavam
cientistas.
8
cabeças ou contavam histórias entre si. Em um experimento,
SUPERCOMUNICADORES
Esses e outros estudos evidenciam uma verdade fundamental: para
11
haver comunicação, precisamos nos conectar às pessoas. Quando
sincronização neural.
pessoas eram: aquele amigo que todos procuram para pedir um conselho;
como.14
Nenhum dos estudos lidos por Sievers, porém, parecia explicar por que
15
realizar um experimento para tentar descobrir.
raiva do loiro?”; “O homem na porta sente atração sexual pelo que está
tomando banho?”.
pessoa que facilitava o alinhamento geral. Mas quem eram eles? Sua
primeira hipótese foi que ter um líder forte deixava a sincronização mais
o início. “Acho que vai ter um final feliz”, afirmou uma dessas pessoas,
à cena de uma criança que parecia à procura dos pais. O Participante 4 era
17
seus diferentes pensamentos.
sacada! E o que mais você está pensando?”) e riam de suas piadas. Não se
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a se referir a essas pessoas como participantes de alta centralidade.
discutindo aquela cena da banheira, que traz os atores Brad Pitt e Casey
Affleck:
Participante 3: Casey está observando Brad na banheira. Considerando como não tira os olhos
dele, acho que sente atração por Brad. [Risada do grupo.] A recíproca não é verdadeira.
Participante de alta centralidade 2: Ah, boa! Não sei o que “recíproca” quer dizer, mas pode crer!
Participante de alta centralidade 1: O que vocês acham que vai acontecer na cena seguinte?
Participante 3: Minha impressão é que vão roubar um banco. [Risadas.]
Participante de alta centralidade 2: Pode crer. Eu estava esperando alguma outra epifania.
[Risadas.]
19
pessoas. Quando alguém fazia um ar sério, ajustavam-se à sua seriedade.
abandonado, seu tom de voz dando a entender que talvez falasse por
Participante de alta centralidade: Você acha que não tem final feliz?
Participante 6: Sei lá. Pra mim esse filme pareceu mais deprimente do que…
[Silêncio.]
Participante 6: Pode ser que o sobrinho e os pais vão morrer ou qualquer coisa assim, e eles…
21
alinhamento ao facilitar a conversa”. Mas não se restringiam a meramente
22
precisavam discutir algo sério ou pedir um conselho. “E faz sentido”,
supercomunicadores.
TRÊS MINDSETS
fazer é escutar com atenção tanto o que é dito como as entrelinhas, fazer
pelos outros.
Simples, não é?
Bem, claro que não. Cada uma dessas coisas é difícil por si só. Juntas,
podem ser mais bem captadas por estas três perguntas: Do que realmente
se trata?, Como nos sentimos? e Quem somos?. Cada uma dessas conversas,
para avaliar as palavras que escutamos, mas também para considerar quais
discuti-los.
24
Como nos sentimos?.
O terceiro mindset conversacional — o social — ocorre quando
somos vistos pelos outros e como nos vemos. São as discussões Quem
25
Matthew Lieberman. Um estudo de 1997 publicado na revista Human
26
Nature revelou que 70% de nossas conversas são de natureza social.
27
influência.
prática — “Por que você não convida ele para almoçar?” —, isso tende a
gerar antes conflito que conexão: “Não estou pedindo para você me
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cônjuges mais felizes espelham o estilo de falar do outro. “O mecanismo
29
Communication. Casais felizes “comunicam concordância não com o
ponto de vista ou o conteúdo do que falam, mas com seu afeto”, fazem
para aliviar a tensão, ficam sérios juntos.30 Da próxima vez que você sentir
que a coisa caminha para uma discussão, tente perguntar a seu parceiro:
pessoa se sente, o que ela quer e quem ela é. E então, para combinar,
Yasmin havia ido embora, Lawler não achou que restasse muita esperança.
trabalho. Meteu os pés pelas mãos e tinha certeza quase absoluta de que
esse fracasso lhe custaria o emprego. Só havia uma opção: ligar para
última vez. “Enchi uma caderneta com ideias sobre o que lhe dizer, mas
sabia que seria inútil”, contou-me Lawler. “Nada conseguiria derrubar suas
defesas.”
Yasmin concordou com um último jantar. Foram a um restaurante
chique onde ela permaneceu calada e tensa durante toda a refeição. Mas
como viver uma vida mais significativa. Mas ali estava, prestes a regressar,
“Ela estava tão triste, tentei animá-la. Sabe como é, contar piadas,
Lawler lhe contou sobre um senhorio que vivia esquecendo seu nome e
rememorou alguns passeios que ele e Yasmin haviam feito juntos. Ela
a mesa. Lawler se perguntou se deveria tentar dizer mais alguma coisa para
O silêncio continuou. Lawler não tinha ideia do que dizer. A última vez
em que se sentiu tão perdido foi antes de entrar para a cia, quando
trabalhava para seu pai vendendo peças de aço, em Dallas. “Eu não tinha a
sua mesa.
aço e lhe agradeceu pela visita. Então, começou a falar sobre os desafios
Na época, Lawler tinha vinte e poucos anos e nenhum filho. Não tinha
nada em comum com a mulher e não fazia ideia do que dizer. Mas
precisava dizer alguma coisa. Assim, começou a tagarelar sobre sua família.
O trabalho era pesado para seu pai, contou a ela. Seu irmão era um
vendedor melhor, e isso causava tensão entre eles. “Ela tinha sido honesta
comigo, então retribuí sendo honesto também”, disse-me. “Me senti bem
pretendia, mais do que parecia apropriado, para ser franco. Mas ela não
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pareceu se importar.
Dois meses depois, a mulher ligou e fez um pedido imenso. “Falei para
ela: ‘Não tenho certeza se consigo o preço que você está buscando’ — para
dar uma ideia do péssimo vendedor que eu era”, contou-me. “E ela disse:
‘Sem problema. Acho que nós dois desenvolvemos uma conexão pessoal.’”
como algo muito diferente de ser vendedor. Mas, em certo sentido, eram a
Mas percebeu que não havia agido assim com Yasmin, não de uma
maneira honesta, não como fez com aquela mãe no Texas. Não
sobre si mesmo. Não compartilhou coisas com ela da forma como ela fez
com ele.
sobre como se sentia. Disse a Yasmin que estava preocupado de não ser
adequado para aquela vida. Havia dado muito duro para entrar na cia, mas
percebeu que lhe faltava algo, uma espécie de confiança que notou em
fazê-la mudar de ideia. Então parei de tentar. Foi uma ótima sensação
“Lamento”, Lawler disse a ela. “Não tive intenção de deixar você triste.”
Isso tudo foi um erro, ele pensou. Deveria ter deixado essa mulher em paz.
“Não precisa fazer isso!”, exclamou ele. Foi pego tão de surpresa que
disse a primeira coisa que lhe passou pela cabeça. “A gente não precisa se
persistiu. Em nenhum momento disse que queria voltar atrás.” Assim que
tornou uma das melhores fontes na região”, disse Lawler. “Uma mina de
superiores.
Lawler continuava sem saber de fato por que Yasmin havia mudado de
vezes, mas nem ela sabia explicar. Disse apenas que, de alguma forma,
pela primeira vez, o que ele estava tentando lhe dizer: que aquilo podia ser
troca, lhes damos permissão para nos compreender — e nos escutar. “As
do humor, do tom de voz não forja uma conexão real. Ceder aos desejos e
por sorte que por qualquer outro motivo. Posteriormente, ele passaria
anos tentando repetir esse sucesso e fracassando, até aperfeiçoar suas
agente pode então esperar que cada novo encontro seja uma oportunidade
32
própria vida”.
passa a ser algo facilmente ensinado”, uma agente treinada por Lawler
nunca tinha pensado muito sobre comunicação. Mas depois que alguém
mostra como uma conversa funciona, como prestar atenção no que está
acontecendo, a gente começa a notar todas essas coisas que não percebia
* Como a transcrição dessa conversa é cheia de apartes e vozes sobrepostas, simplifiquei o diálogo
em prol da brevidade e da clareza. Removi hesitações, ruídos como “hum”, digressões e conversas
sem relação com o assunto discutido. Não alterei o significado de nada que foi dito, tampouco pus
palavras na boca de alguém. Ao longo de todo o livro, sempre que uma transcrição literal for
Parte i
que tipo de conversa todo mundo quer ter conforme os assuntos que
pontos de vista.
conversa instrutiva:
A CONVERSA INSTRUTIVA
Regra 1:
Preste atenção em que tipo de conversa está ocorrendo.
Regra 2:
Compartilhe seus objetivos e pergunte o que a outra pessoa está buscando.
Regra 3:
Pergunte sobre os sentimentos da outra pessoa e compartilhe os seus.
Regra 4:
Investigue se as identidades são importantes para essa discussão.
Cada uma dessas regras será explorada em uma série de guias ao longo
deste livro. Por ora, vamos nos concentrar na primeira delas, que gira em
Regra 1:
Preste atenção em que tipo de conversa está ocorrendo.
qualquer coisa e se perguntam: por que estou abrindo a boca para falar?
práticas, enquanto a outra pessoa quer falar sobre seus sentimentos. Talvez
estejamos querendo fofocar, enquanto ela quer fazer planos. Se ambos não
Pode ser algo tão simples quanto tirar um momento para esclarecer,
para si mesmo, o que você espera dizer e como quer dizê-lo: “Meu
objetivo é perguntar a Maria se ela quer passar as férias comigo, mas sem
ela se sentir na obrigação”. Ou pode consistir em perguntar ao cônjuge,
1
banco de investimentos se comunicavam entre si sob muita pressão, os
que podiam tornar essas batalhas menos ferozes pedindo a todo mundo
para escrever apenas uma sentença, antes de cada reunião, explicando seus
objetivos para a conversa que teriam dali a pouco. Assim, por uma semana,
mas, se a conversa for importante, fazer uma pausa para formular o que
tomar.
Observe:
A outra pessoa parece emotiva, prática ou focada em assuntos sociais?
A pessoa comunicou seu objetivo para essa conversa? E você?
Pergunte aos outros: Sobre o que você quer conversar?
alguma queixa, por exemplo, o professor pode perguntar: “Você espera ser
de fato.
conta. Não precisamos perguntar o que a pessoa quer, pois intuímos o que
ela tem em mente. Parece mais natural perguntar à pessoa como ela está se
raramente são.
“Estas são as instruções que o juiz leu para vocês” — ele aponta para outra
penitenciária estadual nove anos antes e, desde então, levava uma vida
vizinhos. De acordo com todo mundo, era um cidadão modelo — até ser
preso por posse de arma de fogo. Como já possuía ficha criminal, não
início”, disse aos jurados, “que Leroy Reed tem uma condenação antiga. E
no dia 7 de dezembro do ano passado, onze meses atrás, ele comprou uma
arma. Vou logo dizendo essas coisas. É algo que não se discute.”
Pela lei de Wisconsin (estatuto 941.29), Reed poderia pegar uma pena
de até dez anos. Mas “ele merece ser absolvido de qualquer maneira”,
antes, quando foi preso por, sem saber, servir como motorista de fuga para
estranhos eventos que levaram a essa mais recente prisão de Reed. Ele
preencheu a papelada necessária para sair com uma arma calibre .22.
Ao chegar em casa, guardou a arma em seu armário, ainda na caixa. Pelo
policial pediu sua identificação. Reed lhe mostrou a única coisa em seu
O policial disse a Reed para levar a arma, sem tirar da caixa, ao xerife.
da lei não é defesa”, afirmou. O júri talvez desejasse que a lei fosse
diferente, mas Reed de fato havia admitido sua culpa. Teria de ir para a
prisão.
deliberar, que o estatuto 941.29 ditava que havia três questões a serem
respondidas:
culpado.
O dever do júri, disse o juiz, era “não se deixar levar por simpatia,
Ninguém tem permissão de deixar a sala, a não ser para breves idas ao
acordo.
nosso tom de voz, nossa postura corporal, nossos apartes, nossos suspiros
a nos debruçar.
essas regras em voz alta. Na verdade, vamos experimentando para ver que
à reação de todos.
por aquela casa?”), julguemos algo (“O que você acha do trabalho da
ou busque as crianças?”).
continuar amigos? Temos condições de pagar tudo isso por uma casa? É justo
Mas, assim que percebemos o que todo mundo espera de uma conversa,
pode surgir.
3
próstata. Todo ano, centenas de homens o procuravam após receber a
vida.
cirurgia, radiação, nada. A vigilância ativa sem dúvida também tem seus
certa idade o paciente tem muito mais chance de morrer de velhice do que
de câncer de próstata.
tempo?
que, para 97% dos homens que optavam pela vigilância ativa, o risco de
vigilância ativa. “Eu achava que seriam as discussões mais fáceis da minha
Mas, inúmeras vezes, o paciente não escutava o que ele dizia. Enquanto
passavam questões bem diferentes: Como minha família vai reagir a essa
três por cento dos pacientes que não se beneficiaram da vigilância ativa? Eles
sobre esses três por cento”, disse o dr. Ehdaie. “E depois, numa nova
por ser um especialista! — e, mesmo assim, por mais que afirmasse que
não precisavam de cirurgia, muitos insistiam nisso. Às vezes, a pessoa
coisas como “Tenho um amigo que teve câncer de próstata e ele me falou
que fez cirurgia e correu tudo bem”. Ou “Uma vizinha minha teve câncer
que até hoje cerca de 40% dos pacientes de câncer de próstata optam
conselhos médicos.
era comigo. Estava fazendo alguma coisa errada. Estava falhando nessas
conversas.”
guerra civil de 52 anos que havia matado mais de 200 mil pessoas.9 Após
os donos dos times haviam fracassado e o que seria necessário fazer para
com a outra.
afirmar, por exemplo, que seu objetivo é o aumento salarial. Mas depois,
tanto quanto um salário mais alto, mas não sabem como trazer isso à mesa
12
qualquer negociação é perguntar muito.
era mais importante para eles. Não pensava em questões como: Será que
fazer coisas como viagens e sexo? A pessoa pode preferir cinco anos extras se
isso implica sofrimento constante? Até que ponto a decisão de alguém era
ditada antes por sua própria vontade do que pelos desejos da família? Estaria
o paciente secretamente torcendo para seu médico lhe dizer o que fazer?
O maior erro de Ehdaie era presumir, no início das conversas, que sabia
alheios, sem dúvida, é perguntar O que você quer?. Mas essa abordagem
pode fracassar se a pessoa não sabe ou tem vergonha de dizer, ou não tem
visão geral das opções, deveria fazer perguntas abertas para levá-lo a falar
13
Ehdaie perguntou a um paciente de 62 anos algumas semanas depois.
“Bem”, respondeu o homem, “me faz pensar no meu pai, porque ele
morreu quando eu era novo, e isso foi difícil para minha mãe. Odiaria
fazer minha família passar pela mesma coisa.” O homem falou sobre seus
filhos, e sobre como não queria deixá-los traumatizados. Falou sobre suas
falar sobre sua mortalidade ou querer saber sobre dor. Em vez disso, suas
saber era qual tratamento daria menos aborrecimentos para sua esposa e
seus filhos. Ele não se importava com os dados. Queria discutir como
com uma pergunta ampla — “O que sua esposa disse quando você lhe
contou sobre o diagnóstico?” — e, em vez de falar sobre a doença, o
começo.
disponível.
revelador do que era importante para eles”, contou-me. Isso explicava por
pacientes ao longo dos anos: não estava fazendo as perguntas certas. Não
Seis meses após o dr. Ehdaie adotar essa abordagem mais inclusiva, a
14
paliativos. É uma abordagem que todos podemos usar, mesmo em
“Sei que alguns júris gostam de votar logo de cara”, diz o recém-
dúvida de que Leroy Reed é culpado. “Para mim, ficou provado sem
Karl.
Dois outros jurados logo concordaram com ele: Leroy Reed era
culpado.
Mas os demais não tinham tanta certeza. “Acho que tecnicamente o réu
é culpado das três acusações, mas sinto que também deveríamos levar em
inclinado a considerar Leroy inocente porque acho que não tem total
clareza da lei.”
sete em cima do muro. “Temos uma discussão muito filosófica nas mãos”,
diz uma das indecisas, uma psicóloga escolar chamada Barbara. “Nós,
conhecimento?”
15
tem antecedentes criminais.
No entanto, há alguma coisa diferente com esse júri. No início, é
relação a esse caso”, diz Boly aos outros quando chega sua vez de falar.
“Não está em discussão que esse homem tem antecedentes e que comprou
uma arma de fogo.” Seu tom é um pouco formal. “Mas o cara lê essas
revistas e vive num mundo de fantasia”, diz Boly. “Não tenho tanta
certeza…”, repete ele. “Quero escutar todo mundo e conversar sobre isso
16
para descobrirmos juntos, conforme a gente prosseguir.”
Contudo, Boly também difere dos demais de uma maneira menos óbvia:
espera da discussão, o que cada um precisa, e sabe que isso exige, como
conforme todos vão falando: Qual sua opinião sobre armas? O que pensou
quando Leroy pareceu confuso, sem entender o que estava acontecendo? Você
tem uma arma? Podemos conversar sobre o que significa “porte”? O que é
justiça?
falando sobre isso, e não só concluir, logo de cara, que ele é culpado
entediados (“A gente pode ficar aqui filosofando pelo resto da vida”).
Conforme escuta, Boly faz uma lista em sua cabeça do que cada um está
querem.
negociar acordos sem fazer concessões, que virou de cabeça para baixo o
fossem jogos de soma zero: sempre que um ganhasse alguma coisa na mesa
das pessoas era ‘Quem vai vencer e quem vai perder?’.” Mas Fisher,
professor de Direito em Harvard, achou que essa abordagem era
18
completamente errada. Em sua juventude, ajudou a implementar o Plano
de negociar nossas diferenças e que mesmo que uma solução win-win não
possa ser obtida, um acordo sensato e melhor para ambas as partes ainda
19
assim pode muitas vezes ser atingido”.
não é obter a vitória, mas antes convencer o outro lado a colaborar para
criatividade.
tem mais valor para elas. Mesmo que não descubramos, de imediato, o que
os outros estão buscando — eles próprios talvez não saibam —, ao menos
os inspiramos a também escutar. “Se você espera que o outro lado preze
os dele.”
novo assunto ou farei uma concessão inesperada e observarei o que você faz
— até todos decidirem, juntos, quais normas são aceitas e como essa
por exemplo, e não sair do lugar”, disse Gelfand, “introduza algo novo à
crianças e dobrar a roupa lavada?”) até que seu rumo tenha mudado o
importante, então que tal se eu sair para comprar alguma comida pronta e
pedir ao tio Arvind para pegar as crianças, assim nós dois podemos voltar
tomadas em conjunto.
Voltando à sala do júri, Boly realizou a primeira parte da conversa Do
Parte do que Boly escuta indica que o veredito de culpado parece cada
e, então, outro jurado, antes em cima do muro, concorda com ele. Karl, o
bombeiro, reafirma seu voto. Leroy Reed não causou mal a ninguém dessa
vez, afirma, mas e da próxima? “A lei existe pra isso, é por isso que indiví-
duos com antecedentes não podem ter arma”, afirma Karl. Outros
por aí?”.
poderíamos encontrar alguma brecha”, diz ela, “para o fato de que talvez
crime, assim como não soubesse, no pleno sentido da palavra, que possuía
Nesse ponto, Boly volta a falar, mas de forma diferente do que fez
sobre as escolhas.
Ele começa por introduzir um novo elemento à conversa e imagina
“Uma das coisas que notei”, diz Boly, interrompendo a tensão crescente
coisa que eu faria seria deixá-la aqui”, ele faz um gesto na direção de sua
com o que poderia aparecer de trás de um poste ao passar por uma ponte
“trabuco” quer dizer? A única coisa que todos sabem com certeza é que
Mas Boly não está falando de verdade sobre armas. Está falando sobre
isso é um detalhe importante, diz Boly. “Ele não a põe num coldre, nem
Outro jurado concorda: “A gente não pode nem afirmar que ele sabe
sugerindo que Leroy Reed ignorasse como usar uma arma de fogo. Mas
agora os jurados estão construindo uma narrativa em suas mentes: Talvez
ele nem soubesse como portar uma arma. Talvez nem percebesse que uma
arma precisa de balas. Em poucos minutos, uma nova versão sobre Leroy
Reed se materializou: era alguém que, ainda que possuísse uma arma,
juiz — “Ele sabia que havia adquirido uma arma?” — assumia uma nova
dimensão.
20
como a lógica dos custos e benefícios. Quando as pessoas adotam
esperados.
Mas em algumas outras conversas Do que realmente se trata?, o objetivo
uma análise dos custos e benefícios, mas olhando para nossas experiências
das similaridades. Esse tipo de lógica é importante porque, sem ela, não
Mas outros contaram ao dr. Ehdaie histórias sobre seu passado e suas
pai a não optar pela operação. Contava a eles o que outros pacientes
estar certas.
Há uma lição a se tirar aqui: o primeiro passo de uma negociação
delas na internet”). Então fiquei surpreso quando ele disse que eu havia
sofrido uma lavagem cerebral. Sua lógica se baseava em histórias que havia
escutar nossa história (“Meu filho estava brincando com meu celular e não
sei como acabou comprando mil dólares em Lego”), mas descobrimos logo
que ele não se importa (“Senhor, por favor, forneça a data da transação”).
Ele não quer saber exatamente o que aconteceu. Está num mindset
seguinte.
Quando John Boly ouviu seus colegas de júri contando histórias sobre
suas vidas e falando em conceitos como justiça e ética, sentiu que alguns
uma pessoa portando uma arma devia se sentir, imaginando o que teria
passado pela cabeça de Leroy Reed. Começou a criar uma narrativa: “Ele
pode nem afirmar”, comenta um jurado, “que ele sabe como usar uma
arma.”
Por mais sutilmente que fosse, Boly mudou sua forma de falar e a lógica
A NEGOCIAÇÃO É CONCLUÍDA
Os jurados estavam reunidos na sala havia pouco mais de uma hora
Ele tinha declarado seu voto pela condenação, afirma. Mas, escutando
contou-me mais tarde, lembrou-se de uma ocasião em que fora parado por
achava certo ele me multar, não era justo, porque eu não havia arriscado a
Essa lógica fez sentido para ele na ocasião. E agora, na sala do júri,
da lei, mas isso significa que deve ser punido? Será que condiz com as
de lógica é mais persuasiva. Uma vez alinhadas, nossas mentes ficam mais
Agora resta um único voto de culpado. Uma última negociação para que
Mas esse voto é de Karl, e mesmo após todas essas conversas, ele
estava pensando, adivinhar o que sabia, adivinhar o que não sabia.” Leroy
era um ex-condenado e comprou uma arma. Era tudo que Karl precisava
saber.
filho de Karl me contou que seu pai, falecido em 2000, era um bombeiro
salvava vidas.
Então Boly adota outra estratégia de negociação.
Ela começa quando um jurado faz uma pergunta aberta para Karl:
“Parece que sua decisão sobre a culpa desse homem é muito importante e
está totalmente formada na sua cabeça. Explique um pouco mais para nós,
por favor”.
Karl se ajeita na cadeira. “Não sei como…” Faz uma pausa. “Não sou
cabeça das pessoas”, diz ele. “Sei que parece muito frio e simplista pegar
três motivos e dizer, o.k., foram todos atendidos” — mas, para Karl, o caso
se resumia a isso.
“Deixa eu perguntar só uma coisa”, diz outro jurado. “Você acha que
“Claro”, responde Karl. “Quando estava lá fora e olhei pro Reed, pra
mim ele não parece uma pessoa capaz de fazer mal a ninguém. Não acho
que tenha más intenções. Não sinto que seja uma ameaça à sociedade.”
guiasse pela lei, seria a anarquia. Absolver Leroy Reed poderia encorajar
exceção e considerar o réu inocente. Mas não consegue ver como isso
profundo. Ele valoriza a segurança pública acima de tudo. Por isso está
sociedade?
Ele dirige a palavra a todos na sala, embora seu alvo seja Karl: “Acho
que esse é um bom aspecto da lei e não quero dizer nem fazer nada para
sugerir que não a levo a sério”. Mas, mesmo assim, está frustrado. “Parte da
minha motivação é que tenho um monte de outras coisas para fazer. Estou
mais, “vários alunos meus têm sido vítimas de crimes. Uma semana atrás,
uma mulher foi agredida quando ia para minha aula. […] E uma outra
“Então, olha, quero cumprir meu dever cívico”, continua ele. “Tenho um
me vem com esse caso e apesar de ser tudo lindo e maravilhoso e de todas
essas pessoas serem muito sérias e de todo esse espetáculo e de toda essa
ladainha ser legal, eu meio que fiquei aqui pensando, estão de brincadeira.
Quer dizer, não sinto de verdade que isso tudo justifique o gasto do meu
que não oferece a menor ameaça à segurança pública — deve ou não ser
assim: vão se catar, e eu aqui com medo de caminhar até meu carro no
pública. É uma abordagem criativa da situação, sem dúvida, mas ele está
Reed.
“Definitivamente, ele nem devia estar aqui”, concorda Karl. Mas ainda
Assim, Boly tenta uma última sugestão. “Tenho o maior respeito por sua
conectamos?
Boly criou uma conexão com seus colegas de júri, compreendendo que
cada um queria uma coisa diferente: uns, falar sobre justiça; outros
se trata?, sinalizando que há algo mais profundo sobre o qual quer falar.
Boly sabia como ficar atento a esses sinais e o dr. Ehdaie aprendeu a
procurá-los.
outros disseram.
Na verdade, combinar é compreender o mindset da pessoa — que tipo
de lógica ela acha convincente, que tom de voz e abordagem fazem sentido
para ela — e a seguir falar sua língua. E isso exige explicar com clareza
outros possam, por sua vez, criar uma combinação conosco. Quando
* É possível perceber similaridades com os diferentes tipos de cognição que Daniel Kahneman
descreve em seu livro Rápido e devagar: Duas formas de pensar. Para Kahneman, o cérebro contém
dois sistemas: o Sistema 1 é instintivo e pode produzir juízos instantâneos, como a lógica das
similaridades. O Sistema 2 é mais lento, deliberado e racional, como a lógica dos custos e
benefícios.
Guia para usar essas ideias
Parte ii
lançar luz sobre uma questão: como as pessoas sinalizam a respeito de que
realmente se trata?.
mudar de assunto, sugerindo que queriam falar sobre algo novo, indicando
(“Como assim?”, “Por que você acha que ele disse isso?”), é um sinal de
passamos por isso algum dia. Às vezes, as pessoas não notam os sinais que
estamos tentando enviar porque não são treinadas a prestar atenção. Não
conversação.
conversa instrutiva.
Regra 2:
Compartilhe seus objetivos e pergunte o que a outra pessoa
está buscando.
2
de preparação é de fato útil. Eles instruíram os participantes de um
mesmo:
você gosta.)
não avançar. E tendemos a nos sentir mais confiantes apenas por antecipar
FAZENDO PERGUNTAS
realmente se trata?, que vem à tona quando precisamos tomar uma decisão
viagem à Europa?”)
não apenas descrever seu trabalho. Uma pergunta aberta pode ser
como a outra pessoa reage é importante, e assim devemos nos treinar para
interrompe?
Esses são sinais de que o interlocutor quer aceitar seu convite. (As
próprias reflexões?
sinal de que o interlocutor está escutando. Mas, em geral, não está. (Na
verdade, como veremos nos próximos capítulos, escutar é algo muito mais
ativo.) Indica antes que a pessoa está rejeitando nosso convite e gostaria
solidarizar.
As pessoas estão falando sobre planos e decisões ou avaliando
natural.
A CONVERSA COMO NOS SENTIMOS?
UM PANORAMA
ternos sob medida e alguns exibiam relógios que custavam mais que alguns
faria uma apresentação sobre como aprender a escutar. Todos ali sabiam,
muitos por experiência própria, que a inabilidade em escutar podia ser
numa única tarde após não se dar conta de que um corretor que, em geral,
estava indo à falência e que ele não tinha percebido os sinais. Um pequeno
ignorar uma resposta evasiva a uma pergunta direta — pode ser a diferença
facilmente escapar. Epley era a pessoa certa para a tarefa porque havia
1
errado. Por que, por exemplo, algumas pessoas eram incapazes de
identificar as emoções na voz dos outros? Como era possível duas pessoas
emoções, o que por sua vez faz com que escutemos. Se o gestor do fundo
Epley queria estimular os gestores a ter uma conversa do tipo Como nos
não conseguimos parar de nos preocupar com o que ela pensará a nosso
respeito.
armadilha. A chave para começar uma conversa sobre Como nos sentimos?
era ensinar as pessoas a fazer tipos específicos de perguntas que, de início,
2
admitir. Epley havia passado a década anterior ensinando as pessoas a
Em seguida, Epley revelou as perguntas que fariam uns aos outros, num
“Ai, droga”, exclamou alguém na primeira fileira. “Isso vai ser horrível.”
amigo e, após um silêncio, a pessoa diz: “Acho que vou precisar resolver
uns problemas”. Pode ser que estejamos pondo o papo em dia com um
Na maioria das vezes, essa é a escolha errada. Errada porque nos nega
acesso a um potente processo neural que evoluiu por milhões de anos para
nos ajudar a estreitar laços. Errada porque deixa todos os lados menos
Nick Epley não costumava dar ouvidos a ninguém. Sua recusa a escutar
os outros era tão grave, na verdade, que quase arruinou sua vida. Ele
imaginar. Então, certa noite, em seu terceiro ano, ele voltava para casa
bêbado após uma festa, ziguezagueando entre as faixas, quando foi parado
por uma viatura. O policial notou sua jaqueta de time de futebol, e isso
haviam sido jovens. Mas estavam preocupados com as más escolhas que
ele andava fazendo. Epley mal prestou atenção: “As palavras deles
dos adultos”.
com uma ligação para os pais. Mas, dessa vez, eles decidiram que era hora
não mencionar a maioria dos outros adultos que conhecia. Não fez
sermões nem lhe disse que precisava mudar de vida. Não afirmou
fez perguntas: “Por que você estava bebendo?”, “O que teria feito se
tivesse atropelado alguém?”, “O que teria acontecido com sua vida se você
“Precisei refletir sobre isso”, contou-me Epley. “Não podia fingir que
forçaram a falar sobre suas crenças e seus valores, como se sentia, quais
eram suas ansiedades e seus medos. Após as sessões, voltava para casa
intensas da sua vida, mesmo que a terapeuta não tenha lhe pedido em
começou a falar com seus pais sobre como se sentia — e a escutar, pela
primeira vez, quando descreviam seu próprio estado emocional. Seu pai
mencionou um dia, anos antes, em que Epley saiu de casa pela manhã sem
avisar ninguém. Eles desceram ao porão à sua procura e viram que faltava
Conforme seu pai falava sobre esse dia, Epley rememorou o episódio, a
lhe pareceu ridículo. Não foi capaz de escutar o que estavam tentando lhe
dizer: queriam que percebesse como era amado. Mas o amor implica a
obrigação de zelar pela própria segurança, dar satisfação aos outros sobre
enfim ser capaz de enxergar meu pai como uma pessoa real e complexa.”
quer que fosse, mesmo após escapar por um triz de ser preso em duas
ocasiões diferentes. “Às vezes a gente olha pra trás e pensa, por que era tão
difícil escutar?” Por que os sermões dos policiais não exerceram efeito
algum? Por que havia sido tão fácil ignorar seus pais quando imploraram e
pudessem lhe dar as costas e se recusar a ouvir o que tinha a dizer. Queria
6
capazes”.
Quando Epley relembrou suas experiências no ensino médio, percebeu
que seus pais, a seu modo, haviam tentado assumir sua perspectiva após
ele quase ter sido preso por dirigir embriagado. Haviam tentado se colocar
seus conselhos.
Mas se alguma coisa tinha ficado clara para Epley era como, naquele
escutava eram adultos que não faziam mais ideia do que era ser um
adolescente.
bebendo todas aquelas cervejas. Mas, mesmo que o tivessem feito, Epley
não teria conseguido responder. Ele próprio não entendia bem o que se
vez de tentar se colocar em seu lugar, simplesmente lhe fez perguntas que
“É isso que você quer ser?”. Então ela escutou e fez perguntas pertinentes
com base no que ele havia dito, e isso de algum modo o inspirou a escutar
o que ela tinha a dizer e, depois, a escutar seu próprio coração, até se dar
estavam errados.7 Talvez tentar “se colocar na pele do outro” não fosse a
que estava sentindo, suas esperanças e seus medos, e depois escutá-la falar
disse Epley. “Por isso me conectei com meus pais, pois finalmente
Por isso a conversa Como nos sentimos? é tão crucial. Toda discussão é
de alinhamento.
Epley começou a pensar que devia haver uma alternativa à tomada de
interior, seus valores, suas crenças e seus sentimentos, as coisas que mais
importam para elas. Epley intuiu que alguma coisa no ato de perguntar —
compreensão.8
AS PERGUNTAS CERTAS
Aron. “Até hoje fico surpreso. Não fazíamos ideia do que aquilo se
tornaria.”
metodologia prática para criar intimidade”, uma técnica que pudesse gerar
10
gostem” não necessariamente significa que as pessoas vão gostar uma da
outra.
pensadas durante pausas para o café ou por quem quer que estivesse por
perto quando todos iam a um bar. “Não houve muito do que poderíamos
criava, sei lá, duzentas perguntas, depois testava para descobrir quais
funcionavam melhor.”
para jantar?”) e então, aos poucos, avançar para coisas mais profundas.
frequentemente chorando.
A IMPORTÂNCIA DA VULNERABILIDADE
Algumas delas, como “Você gostaria de ser famoso?”, podiam ser tanto
uma coisa como outra. Para certas pessoas, a resposta seria um simples sim
13
predispunham a pessoa a revelar vulnerabilidades. Quando alguém
indaga “O que você mais valoriza numa amizade?” (pergunta 16), talvez
ou momentos prazerosos. Elas abrem caminho para outras cada vez mais
profundas (“O que você disse depois que ele terminou com você?”).
poderosa.
CONTÁGIO EMOCIONAL
14
bem documentado conhecido como “contágio emocional”. No início da
deliberada, por exemplo, quando optamos por mostrar empatia por uma
Esse contágio está na raiz da conversa Como nos sentimos? e explica por
humanos a formar laços entre si. É algo que vem praticamente de berço:
15
expressões de felicidade, tristeza e raiva de suas mães”. Esse instinto
evoluiu em nosso cérebro para que nos sintamos bem quando nos
experiências que foram significativas para nós, ou se expomos algo que nos
algo que parece visceral, algo que talvez leve a outra pessoa a nos julgar.
Isso explica por que o protocolo de Aron é tão eficaz e lança luz sobre
conexão.
À medida que os Aron continuavam explorando esse tipo de
Arthur Aron. “É uma das forças mais poderosas do mundo. Se não houver
17
vulnerabilidades. Isso também demonstra por que o comportamento de
não contribui para a proximidade usar isso como pretexto para falar sobre
neuroquímicas que evoluíram para ajudar a nos sentir mais próximos. Cria
CONEXÃO EMOCIONAL
Essas descobertas são úteis, mas isso não as torna conselhos práticos. É
um cientista forneceu uma lista com a qual trabalhar. Mas como nos
APROFUNDANDO-SE RÁPIDO
O protocolo sugere fazer uma pergunta. Mas não temos como repassar
todas as suas 36 questões, não dessa vez. Assim, pulamos para a pergunta
três: “Antes de dar um telefonema, você ensaia o que vai dizer?”. Ou,
considerando que o tempo é curto, vai mais fundo com a questão dezoito:
Não é preciso ser nenhum doutor em psicologia para perceber que esse
alguém, não temos de lhe perguntar sobre suas piores lembranças nem
(“Do que você mais gosta no lugar onde mora?”; “Qual foi a melhor parte
aprecia no lugar onde mora, do que mais gostou na faculdade — até ambos
tentar. É como estar no metrô, conversando com alguém que vai para o
‘Gosta do que faz?’ ou ‘Preferiria fazer alguma outra coisa?’. E bem aí, com
PERGUNTAS SUPERFICIAIS…
… PODEM FICAR PROFUNDAS
pouco mais sobre como responder. “Um motivo para as mulheres serem
porque eles nos permitem emitir juízos sem precisar pensar muito.
“Assim, quando uma mulher fala sobre suas emoções, isso pode ser
significativa, como “Do que você mais gosta em trabalhar aqui?”, isso
pressiona a pessoa a pensar antes de responder e “às vezes isso basta para
fazê-la começar a questionar suas suposições e escutar mais”, disse
Heilman.21
22
explicou. Elas facilitam a reciprocidade (“A sua parte favorita da
contexto para a conexão emocional descrito antes, mas sob uma roupagem
pensar e falar sobre seus valores, suas crenças e suas experiências, e depois
inevitável. “As pessoas que mais sabem escutar não estão apenas
A ALEGRIA DA RECIPROCIDADE
“quero que formem duplas com alguém que não conhecem para uma
específicas com o parceiro:23 “Se tivesse uma bola de cristal para lhe
mostrar o futuro, o que você gostaria de saber?”, “Pelo que se sente mais
pessoa?”.
Epley poderia ter começado devagar — com uma questão como “Onde
perguntas superficiais.
24
Mas Epley suspeitava que essa suposição estava errada. Sua hipótese
25
dava conta. Agora tinha uma chance de testar sua teoria.
conseguia escutar a maior parte do que era dito, mas após alguns minutos
parar. Foi ignorado. Ele tentou outra vez. “Com licença”, disse, mais alto
eram coletados, Epley lhes pediu para descreverem o que havia ocorrido.
íntimas e pessoais — sem ser solicitado. “Foi a melhor conversa que tive
on-line mais distantes, “todos anseiam por conexões reais”, disse Epley.
uma reação vulnerável — são mais populares entre seus pares e mais
são procuradas com mais frequência para fazer amizade e dar conselhos.
28
constatamos consistentemente que estavam errados em ambas as coisas”.
Quando telefonei a Epley pela primeira vez para entrevistá-lo para este
livro, tinha uma longa lista de tópicos que esperava cobrir, desde sua
pesquisa até a última vez que ele havia chorado na frente de outra pessoa.
(No dia anterior, respondeu. Quando conversava sobre os filhos, na hora
do almoço.)
aprofundando a conversa cada vez mais com suas indagações, até que me
problemas com a justiça, sobre minha esperança de que este livro pudesse
“Desculpe por fazer tantas perguntas”, disse Epley a certa altura. “Não
tive intenção de desperdiçar seu tempo.” Mas não fiquei com a sensação
Mas isso não basta para criar um vínculo real e duradouro. Para isso,
em sua cabeça, o que a pessoa mais valoriza. Uma conversa Como nos
falar sobre o que tinha acontecido, sobre meu pai, sobre os elogios que me
nunca mais poderei ligar para lhe contar boas notícias. Sua morte foi um
vida. Adoraria que alguém tivesse perguntado “Como era seu pai?”. Mas,
perguntou nada, talvez por não encontrar uma maneira de fazê-lo, por
“É mais fácil julgar um homem por suas perguntas do que por suas
ser feitas. A ciência sugeriu uma direção: pergunte às pessoas sobre suas
mudaram sua vida, sobre como se sentem, não sobre fatos. Reformule suas
que a pessoa expõe suas vulnerabilidades, revele algo sobre si mesmo. Será
linguagem corporal, das inflexões vocais, dos suspiros e das risadas. Como
* Uma lista completa delas pode ser encontrada na seção de notas no fim do livro.
** A lista de questões também é conhecida como Fast Friends Procedure. Na tradução, é referida
desse ponto em diante apenas como “protocolo” ou “protocolo de Aron”. (N. T.)
vários ambientes têm implicações significativas. Para mais detalhes, ver notas de fim.
4. Como perceber emoções que não são
expressas em palavras?
atendente.1 “Ele dizia coisas do tipo: ‘Bem, ela sorriu para mim, então
acho que posso aumentar a gorjeta em dois por cento, mas só encheu meu
copo d’água uma vez, assim devo deduzir três por cento, mas não sei como
contabilizar o fato de que pareceu flertar um pouco comigo, só que
também esqueceu meu nome’”, contava Prady. “Ele levava vinte minutos
para pagar a conta. Não conseguia enfiar na cabeça qual era o papel das
“Nunca vi alguém assim na tv”, disse Lorre. “Quem sabe não daria para
coisa a não ser olhar para uma tela —, assim imaginaram um grupo de
2
jovens físicos. Seriam o tipo de pessoa capaz de explicar com facilidade
3
durante Battlestar Galactica.
tão desajeitado socialmente que convidaria uma garota para comer comida
Seriados desse tipo são tão acelerados, piada após piada e reviravolta
Mas isso criou uma complicação, pois os personagens em The Big Bang
que a melhor maneira de confortar um amigo era observar que “você tem
uma vida inteira de decisões ruins pela frente”.4 Leonard podia explicar E
2
= mc , mas era incapaz de compreender por que alguém ficaria irritado se
ele lesse seu diário íntimo. Esse tipo de confusão era o eixo do humor do
real, ninguém fala assim.” As pessoas não anunciam suas emoções. Elas as
manifestam. “Alguém exclama ‘Fiz seu jantar, seu ingrato!’, e assim ficamos
5
palavras”, escreveu o psicólogo Daniel Goleman. “O segredo para intuir
que sentiam, porque, da forma como eram concebidos, deveriam ser ruins
mais fluidos, para estabelecer contrastes. Eles criaram Katie, uma vizinha
no episódio piloto, ela conta que, certa vez, transou a caráter em uma
adorar.
7
programa era emocionalmente confuso.
vez. Quando ficou sabendo, Lorre disse para Prady: “A gente precisa dar
um jeito de deixar bem claro quem realmente são esses incríveis gênios
desajustados”.
dizem, não a suas ações, até chegar a um ponto em que podemos deixar de
notar os sinais não linguísticos. A linguagem falada é tão rica em
informação, criamos dependência com tanta facilidade, que ela nos leva a
9
focar em suas palavras, “Não é nada. Está tudo bem”.
parece ajudá-las a escutar as coisas que ficam por serem ditas. Todo
mundo conhece alguém assim: amigos que parecem intuir quando estamos
de baixo astral, mesmo que não digamos nada; chefes que percebem a
são. Mas anos de pesquisa indicam que se trata de uma habilidade que
não verbais que indicam as verdadeiras emoções dos outros e usar esses
10
McGuire refletiu sobre isso e sobre a possibilidade de testar se alguém
psiquiatra chefe da Nasa para voos tripulados, era responsável pela seleção
maior parte de sua história, os voos espaciais tripulados haviam sido até
que breves, normalmente de apenas um ou dois dias, não excedendo uns
11
dez dias. Mas, em 1984, o presidente Ronald Reagan ordenou que a
pessoas ficassem por um ano.12 Para McGuire, isso significava que a Nasa
experiência em coisas como pilotar caças; não podiam ser muito altos
(alguém com mais de um metro e oitenta e poucos não caberia num traje
meio seus pés não alcançariam o chão e ela poderia escapar do cinto de
14
dos demais”. Pessoas dotadas de inteligência emocional sabiam não só
com frequência uma companhia agradável e faz com que os outros sintam-
colegas.15
espaço.
ele achou que seria necessária alguma coisa a mais: o problema da Nasa
teste ele usasse, qual pergunta fizesse, não conseguia penetrar o suficiente
na mente dos candidatos para descobrir como reagiriam em uma missão
inteligentes dos que sabiam fingir muito bem. “Assim como meus
resultados.”
os demais. Ele tinha acesso aos registros pessoais, então sabia, entre os
Foi quando escutava essas gravações que McGuire percebeu algo que
17
e por que as pessoas riam. Provine e um grupo de assistentes observaram
pessoas riam porque se deparavam com algo engraçado. Ele logo percebeu
humor, como piadas ou anedotas. Menos de vinte por cento das risadas
19
direta possível entre as pessoas: de cérebro para cérebro”.
mais próximas no futuro. Quando rimos juntos, não é apenas a risada que
distinguir com precisão entre amigos rindo juntos e estranhos tentando rir
porque dificilmente pode ser fingido. Sabemos dizer quando alguém está
20
a barra. Uma piada pode não ser engraçada, mas se ambos concordamos
nos conectar.
HUMOR E ENERGIA
22
(positivo ou negativo?) e seu nível de energia (alta ou baixa?). Por
(baixa energia), podemos presumir que está triste ou frustrado, mas que
não representa uma ameaça. Nosso cérebro não nos alerta para sair
correndo.
uma leve ansiedade que nos prepara para nos afastarmos rapidamente.
23
avaliar se é um amigo ou uma possível ameaça. Uma vantagem dessa
rapidamente, apenas com um olhar, mesmo sem nunca ter visto a pessoa
verbais. Tais sinais são importantes porque, embora seja ótimo saber num
que ficou feliz em nos ver ou sugere empolgação excessiva e uma certa
alarmados.
não combinavam. Sem dúvida, ambas estavam rindo. Mas uma ria
parecidas, mas quando a valência e a excitação não batiam, ficava claro que
24
combinamos nosso humor e nossa energia com alguém, estamos lhe
parecidos. Não é preciso que chorem junto conosco, mas precisam igualar
mas seu humor e sua energia são diferentes, algo parece fora do lugar.
ser igual —, mas se nossa valência emocional for diferente, saberemos que
nos gestos dos outros, o volume de suas vozes, a velocidade com que
tentando se conectar.
mais recentes. Assim, quando analisava suas gravações com vinte anos de
entrevistas com potenciais astronautas, ele estava por dentro das pesquisas
como ele havia feito, mesmo se o que houvesse acabado de dizer não
escolhas menos bem-sucedidas para a Nasa — que riam junto com ele, mas
vontade, apenas riam baixinho. Quando ele ria suavemente, davam uma
compreendido que deviam rir junto — era uma gentileza social básica —,
25
uma viagem espacial.
correspondido.
difícil em sua vida. O homem contou que seu pai havia morrido em um
acidente de carro cerca de um ano antes e que sua família ficara devastada.
Ele tinha conversado com um pastor sobre seu luto e todas as coisas que
gostaria de ter dito a seu pai, e aos poucos estava se conformando. Era
contato com suas emoções, mas não dominado por elas. Exatamente a
Mas, dessa vez, McGuire resolveu insistir: contou ao candidato que sua
sua voz ficasse trêmula. Descreveu sua infância, como a irmã tinha sido
Após alguns minutos, McGuire pediu ao homem para falar sobre seu
pai.
“Era muito bondoso”, disse. “Amável com todo mundo que conhecia.”
O homem não passou na seleção para astronauta. “Ficou claro para mim
que empatia não era seu forte”, contou-me McGuire. Talvez fosse o tipo
de pessoa que não apreciava falar sobre sua vida pessoal. Talvez a morte
do pai ainda fosse dolorosa demais para ser facilmente discutida. Nada
disso constituía uma falha de caráter — mas indicava alguém com pouca
prática em conexão emocional. Sua rejeição não se deveu apenas a isso,
emocional.”
levantou rapidamente para ajudá-lo a pegar suas coisas. Quando pediu que
sobre um amigo que havia falecido, mas afirmou que de resto era um
sujeito de sorte: seus pais continuavam vivos, havia se casado aos dezenove
anos e ainda amava a esposa, seus filhos eram saudáveis. Então McGuire
vocês eram próximos, como isso impactou sua mãe, ainda pensa bastante
nela? O candidato contou que por vários meses após o falecimento de seu
mim que “ficou claro que ele queria entender pelo que eu estava passando
conectar?
A cada vez que fazia uma dessas perguntas, após o candidato ter
uma base cognitiva sólida”, escreveu depois. “Mas só uma minoria tem
Para uns candidatos, fazer essa combinação parecia instintivo; para outros,
26
Quando a Nasa selecionou a turma de 1990, composta de cinco
com precisão o que uma pessoa está sentindo, se está com raiva, chateada,
ela sabe.
for a sua vez de expressar as próprias emoções, observe como ela reage. A
pessoa está tentando se alinhar com sua energia e seu humor? Essa técnica
calma do cliente. (Soube por empresas que utilizam o software que isso
Mas eles sentiram que deveriam tentar de novo. A essa altura, os atores
vizinha cínica, foi cortada, assim como Gilda, a fã de Jornada nas estrelas
Penny como uma pessoa leve e animada”, contou-me Prady. “Alguém que,
28
A versão final, quando filmada, ficou assim:
LEONARD
Vou perguntar se ela não quer almoçar. Uma refeição agradável
e um bate-papo.
SHELDON
Bate-papo? Não fazemos isso, só on-line.
tornar amigos. Assim que os atores alinharam sua energia e seu humor, o
cena várias vezes e o público ria cada vez mais alto. “Percebemos na hora
deveria sentir.”
saberíamos que gostavam uns dos outros. Se um deles tivesse dito ‘olá’ em
teria ido por água abaixo”. Teria sido confuso: ela está com medo deles e
nas neuroses do Sheldon. No palco, dou uma olhada para Jimmy Burrows,
que dirigiu nossos dois pilotos, e Jimmy olha para mim, e ficamos os dois
olhando um para o outro com um sorriso desse tamanho. A gente sabia
entenderia o que estava sentindo e poderia torcer por eles, celebrar sua
* Como sabe qualquer um que já leu um periódico de psicologia, os pesquisadores podem ser bem
específicos sobre termos como humor e energia. Para mais informações sobre a linguagem usada
aqui e ali: “Arma”, “Senhor Piggott baleado”, “Sangue no meu tênis”. Era
escolas.
podemos escutar, mas não vivenciar em primeira mão. Mas nas décadas
recebeu uma mensagem da filha de onze anos. A menina dizia que a escola
golfe”.
com toda força. Ela deixou o consultório correndo, entrou no carro e foi
alarme! Então, procurou a filha e ofereceu carona para três amigas dela.
meu professor falou que era pra ficar na sala”; “Minha professora abriu a
se fosse a coisa mais normal do mundo”, disse. “Como aceitar uma coisa
dessas?”
passou o tempo todo de olho nas portas de saída, imaginando por onde
ficar quieta”, disse. “Se não tomasse uma atitude, o medo me consumiria.”
armada. Sabia que não seria bem vista. “Moramos no sul”, contou-me. “A
vida”, disse.
fanáticos por armas que jurou combater — poderia ser civilizada? Por
outro lado, era atuante nessa questão havia anos e os tiroteios em escolas
outro lado, o que seria útil quando fosse falar com os legisladores.
algum momento dos últimos meses. Pode ter sido uma avaliação de
discussão política, uma disputa com os irmãos para decidir quem ficaria
Como teriam sido essas conversas? Será que nós e nossos parceiros nos
entendidos de sobra?
6
cancelaram alguém nas mídias sociais por algo que a pessoa disse. Mais
trabalho.7
8
ausência de conflito, mas a capacidade de lidar com ele”.
caso de discutir conflitos sérios, perguntar e dar ouvidos pode não bastar.
intransponíveis?
9
conduzir conversas difíceis.
matou catorze alunos e mais três adultos. Após essa nova tragédia, os
“As pesquisas mostram que todo mundo tem diversas opiniões sobre
armas”, ele disse. Por exemplo, a vasta maioria dos estadunidenses apoia a
11
verificação de antecedentes criminais para a compra de armas, assim
12
militar. Mas, apesar do consenso, é quase impossível fazer com que
13
algo ficasse explícito.”
Facebook.
“Pareceu loucura para mim, no começo”, disse Jon Godfrey, que ficou
anos no Exército e depois seguiu carreira na polícia. Ele possui algo entre
trinta e quarenta armas (faz um tempo que não conta, afirmou). Quando
participação na conversa não seria interessante para eles, pois não estava
disposto a abrir mão de suas armas. Além do mais, desconfiava que não
Washington, todas as despesas pagas. “Não esperava grande coisa, para ser
honesto”, ele me disse. “Mas eu não tinha nada marcado para aquele fim de
semana, então falei que iria, e acabou sendo uma das coisas mais
desde cedo. Às vezes, parecia que tudo era motivo para negociações: um
Roger Fisher, que recentemente havia escrito Como chegar ao sim. Ela
lado. Mas não era nada disso. Na verdade, o objetivo é descobrir por que
impossível.
casal discutindo sobre ter mais um filho”, disse-me Heen. “Há o conflito
primeiro olhar, explicar por que estão brigando. Mas há também uma
questão emocional mais profunda: estou com raiva porque você está
mais um filho nos leve à falência ou estou frustrado porque você parece não
“E sabemos que as emoções estão ali”, disse Heen, “porque sempre que
um casal briga, por mais sensatos que possam ser os argumentos de ambas
outro lado ou, muitas vezes, sequer para si mesmas. Desistiam de tentar
E, mais do que tudo, todo mundo queria sair vitorioso, derrotar o outro,
sentir-se justificado.
nunca vai entender por que está brigando”, disse Heen. “Nunca vai saber
15
do que a briga realmente se trata.”
suas emoções, terem uma versão da conversa Como nos sentimos? que
pessoas querem acreditar que podem ser analíticas como um robô”, disse
Heen. “Mas é claro que ninguém consegue fazer isso. A única coisa que
que isso trará uma vantagem para o outro lado ou será interpretado como
nossos sentimentos.
16
admitir que estão furiosos, tristes, preocupados. Em outras palavras, não
querem conversar sobre Como nos sentimos?, mesmo que essa seja a
EM UM CONFLITO
Descobrimos por que estamos brigando
ao discutir as emoções.
Discutir as emoções não vai resolver tudo, claro. Às vezes, um quer ter
discussão infinitamente.”
equivocado.
CONVERSANDO SOBRE ARMAS EM WASHINGTON
Ao todo, estima-se que 2 milhões de pessoas tenham ido às ruas nesse dia
acontecendo lá fora, acho que todo mundo é capaz de reconhecer que esse
é um momento em que nosso país está tentando ter uma de suas conversas
mais difíceis”, começou John Sarrouf. “Essa é uma conversa sobre armas e
segurança que os Estados Unidos estão tentando ter faz mais de duzentos
anos e que nunca correu muito bem.” Debates sobre armas, disse ele,
objetivo desse encontro era ter uma discussão franca sobre armas e
Achamos que podemos provar que é possível discutir esse assunto com
discordemos”.
retóricas.
escutando o outro.
A inteligência emocional vem de mostrar para alguém que escutamos
fica cético e desconfiado: será que ele está escutando ou só preparando uma
18
verdadeiro valor”. Quando a pessoa acredita que os outros estão
tentando entender sua perspectiva, passa a confiar mais, fica mais disposta
19
diz.
EM UM CONFLITO
Descobrimos as emoções
demonstrando que escutamos.
está escutando. As pessoas tentam coisas como manter contato visual com
esperam que o outro esteja prestando atenção a esses sinais. Mas quem
fala geralmente não está. “Temos dificuldade em observar os outros
Deixamos passar os sinais que a pessoa tenta nos mandar para mostrar que
está acompanhando.”
depois que a pessoa para de falar. Se queremos mostrar para alguém que
direito.
20
fórmula é por vezes chamada de ciclo de compreensão.a O objetivo não é
21
ficarem satisfeitos. Usar técnicas como essa “no início de uma conversa
22
previne a escalada do conflito no fim”, revelou um estudo de 2020.
colaboração”.
No saguão do Newseum, John Sarrouf dividiu a multidão em pequenos
que escutavam fariam perguntas e, uma vez encerrada essa etapa, deveriam
estava correto.
armas do Alabama chamado David Preston contou como sua mãe havia
cometido suicídio quando ele tinha apenas onze meses de idade. “Nos
cinco primeiros anos da minha vida, como todo mundo tinha pena de
mim, nunca ouvi a palavra ‘não’”, afirmou a seus colegas de grupo. “Nunca
dizer ‘não’ a uma criança pequena não é uma boa ideia. Mexe com sua
disse ao grupo. “Sinto orgulho por ter construído uma vida com as pessoas
que amo e poder mostrar pra elas que as amo de verdade. Antes, eu não
a fazer perguntas: Como se sente sobre sua mãe agora? Como mostrou
controle de armas, “que você sofreu muito durante a maior parte da sua
vida, que foi difícil expressar essa dor e que isso fez você se afastar das
pessoas”.
a não falar das emoções, não se queixar, não mostrar fraqueza. Mas aí a
Depois, Preston contou-me que essa foi uma das conversas mais
significativas que teve na vida, ainda que mantida com alguém que era
em quase todos os aspectos. “Senti-me tão valorizado por escutar ela dizer
minha vida adulta, senti como se pudesse falar sobre isso e as pessoas
23
desencaminhar uma conversa ou negociação contenciosa. “Todo mundo
tem uma história dentro da cabeça que explica por que acha que está
entendemos o que passa pela cabeça da outra pessoa, mesmo que achemos
uma história pessoal explicando por que essa questão era importante para
Jeffcoat ouviu uma mulher contar como uma parente havia sido
ela foi a um estande de tiro pela primeira vez e, desde então, dorme com
uma arma em sua mesa de cabeceira. “Assim eu sei que nunca vou deixar
Jeffcoat perguntou se não receava que a arma pudesse ser roubada ou mal
tinha uma trava de gatilho e não havia crianças na casa. “Aquela arma é
minha paz de espírito”, afirmou, “e quando alguém diz que quer tirá-la de
mim, está dizendo que quer que eu me sinta impotente outra vez.”
história da família aos seus filhos quando caçavam juntos. Outro contou
drogas, e que certa vez expulsou um intruso graças a seu rifle. Jeffcoat
contou-lhes sua história sobre o tiroteio na escola e seu temor pelas filhas.
escutado até todo mundo ter concordado que havia entendido direito.
comum.
“Voltei para casa e, quando sentei no computador, só levou, sei lá, uns
OS PSIQUIATRAS DO AMOR
que alguns casais permanecem felizes por décadas, mesmo com o mundo
sofrimento?
Stanley. “Se não fôssemos capazes de mostrar para o outro que estamos
Contudo, por mais que dessem ouvidos aos parceiros, a taxa de divórcio
se separar?
confirmaram que quase todos os casais brigavam. Alguns faziam isso com
25
uma vez por dia, enquanto outros, apenas ocasionalmente. Mas,
ainda assim sentiam-se realizados com seu casamento e felizes com sua
raiva apenas esperando por mais uma centelha para se inflamar. Casais
ameaça regularmente, imaginavam o que diriam aos filhos quando por fim
26
ocorresse.
forma diferente. Sua hipótese inicial foi que esses grupos discutiam por
27
ambos geralmente se desentendiam por coisas parecidas. Ambos os
E então havia outros casais que brigavam “direito”, que liam todos os
28
Íntimos na ucla.
coisa que haviam notado era que muitos casais — tanto felizes como
suas brigas. “Ele sempre quer me controlar”, uma mulher disse aos
minha boca.” Normalmente era por isso que começavam a brigar, explicou
ela, “porque quero tomar decisões por mim mesma e ele quer mandar”.
perdido o poder de decisão sobre seu dia a dia, seu corpo, sua mente.
Sem dúvida, todos ansiamos por controle. E, embora haja muitos
que estava disposto a discutir — “Não vou falar sobre isso!” — ou a esposa
tentativa de controlar a outra pessoa. “Acho bom você parar de falar agora
tempo todo e ignorar seus filhos e tratar a gente como lixo só porque teve
um dia ruim!”. Então ela começou a detalhar suas exigências, cada uma
(“Não use esse tom de voz comigo!”), determinar quais tópicos podiam ser
discutidos (“Nem toque nesse assunto”) e quais gestos deveriam ser
permitidos (“Se você revirar os olhos mais uma vez, vou embora”).
conflito.
caso algo soasse mais rude do que pretendiam. Tinham maior tendência a
autoconsciência.”
Casais felizes também focavam em controlar seu ambiente. Em vez de
uma discussão sobre ‘Vamos passar o feriado com minha família ou com a
sua?’ e, em pouco tempo, passam a ‘Você é tão egoísta, nunca lava a roupa,
é por isso que a gente nunca tem dinheiro’.” (Em terapia de casal, isso é
destrutivo.)
Uma vantagem de focar nessas três coisas — controlar você mesmo, seu
mesmo time.
enquanto outros vão por água abaixo. Mas, se em momentos tensos nos
única coisa que importa, claro, mas se os casais não sentem que
relacionamento progredir.
concordarão que temos razão. Mas o fato é que essa abordagem quase
procurando soluções.
Isso explica por que o ciclo de compreensão é tão poderoso: quando
como deveria ser feita uma terapia de casal. Novas abordagens, como
de comunicação.
31
parecer tão importante.”
armas voltaram para suas casas e suas telas de computador, as coisas não
demoraram a pegar fogo. Havia cerca de 150 pessoas no grupo privado do
32
sidade de sobra. “Não sei o que me deixa mais indignado, suas
“Quer dizer que, para você, tudo bem fazer uma lavagem cerebral nas
33
vez de aprender a pensar”.
Washington.
postagens que pareciam inocentes para alguns, mas soavam belicosas para
outro dizia. Esses duelos pelo controle não eram a única coisa
diálogo.36
que os outros podiam dizer, que opiniões eram permitidas, que emoções
podiam ser manifestadas: “É ridículo dizer que você está assustada porque
seu vizinho tem uma arma”, escreveu um. “Não tem cabimento falar uma
coisa dessas.”
“Isso que você está contando não me parece nada demais”, foi o
frustração, mas foi recebida como uma tentativa de restringir quem tinha
“Minha posição sobre armas não mudou desde que entrei neste grupo”,
mudou. Quero parar para conversar e ter todas essas discussões difíceis.”
Então algo surpreendente ocorreu. Godfrey, o antigo policial, enviou
uma mensagem privada a Jeffcoat, dizendo ter notado como ela vinha
pessoas em suas casas caso houvesse uma ameaça. Ela sabia que sua
alguém que oferecia perigo a si mesmo ou aos outros. Então disse que
haviam tirado a arma das mãos de algum parente ou em que suas próprias
fazendo algo errado. Mas escutar significa permitir que a pessoa conte sua
composta de pessoas como Jon Godfrey, e ele é boa gente. Não podemos
conversa muitas vezes, até conseguirmos escutar tudo que a pessoa está
dizendo.”37 Mas esse processo iterativo pode facilmente sair dos trilhos se
certo ponto mistos: nem todos superaram suas animosidades, nem todos
desse direito mais fundamental. […] Sei que na minha cabeça estou
decidido sobre esse assunto e provavelmente com você é a mesma coisa.
[…] Acho que no fim a gente se vê nas urnas.” Mesmo quem achava as
“Tem um cara que se eu nunca mais falar com ele na vida, pra mim tá
Mas também havia pessoas que encontraram uma ligação real através
dessas vastas divisões. Para elas, foi uma experiência profunda. “Usei essas
39
encerramento do projeto. “Estou mais tolerante para conversar com
escutar o que eles têm a dizer, ao mesmo tempo que expresso meu ponto
Para Jon Godfrey, o projeto foi transformador. Ele ainda tem dúzias de
mesma categoria de, digamos, comunistas ou, talvez, veganos: pessoas que
conversa em dia e saber o que ela tem a dizer sobre as notícias mais
recentes.
Parte iii
Regra 3:
Pergunte sobre os sentimentos da outra pessoa e compartilhe
os seus.
alinhados.
Uma questão profunda pode ser leve — “Como seria um dia perfeito
sobre sua família” ou “Por que você está tão feliz hoje?” são perguntas
fáceis de fazer — e podem ser profundas, uma vez que convidam a outra
empolgadas.
“Do que você mais gosta do seu trabalho?” (Um estudo de 2012
sente. Às vezes, basta dizer “Como você se sente sobre tal ou tal
determinada situação — “Por que você acha que ele ficou com raiva?”
você?”.
nós mesmos. Esse sentimento pode nos fazer parar para refletir. Mas
estudos mostram que as pessoas quase sempre ficam felizes por
profunda.
as palavras ditas pela pessoa. Para escutar de fato o que ela diz, precisamos
faciais.
energia)?
Os níveis de humor e energia nos dizem com frequência tudo o que
também ficamos com raiva, isso causa afastamento. Mas se admitimos seu
REAGINDO ÀS EMOÇÕES
em seguida?
demonstrar para os outros que escutamos suas emoções, o que nos ajuda
a mostrar reciprocidade.
funciona:
Faça perguntas para assegurar que compreendeu o que alguém disse.
mostrando que estamos dando duro para enxergar pela sua perspectiva, e
Mas se dizemos algo como “Sei como é assustador. Diga-me o que está
compreender.
Retribuímos a vulnerabilidade…
sente.
Dando algo em troca. Pode ser tão simples quanto descrever seus
impossível.
sentimos?, pois isso pode revelar como transpor os abismos que surgem.
direito”.
lugares nos quais você pode dizer “Concordo com você” ou “Acho
que tem razão”. Esses casos servirão para lembrar que, embora possa
expressões como pode ser que… ou será que não… e fale sobre coisas
discussão.
queremos dizer.
vezes truncada e sem filtro, carecendo dos sinais fornecidos por nossa voz
saber?
conversas on-line.
1
ser educado. Um estudo mostrou que foi necessário apenas
2
mau comportamento uma norma digital.
Tudo isso, claro, também constitui uma tática útil quando conversamos
frente a frente. Muitas delas são óbvias, coisas que aprendemos desde
mundo
Oregon, ele passou boa parte de seu primeiro ano como médico de
imunizados.
No entanto, alguns pais eram céticos. Tinham ouvido falar que vacinas
corriqueiras.
“E ele disse que era para eu falar: o médico sou eu e eu sei mais sobre esse
percebeu que a estratégia não era boa. Então, em vez de seguir o conselho,
usou seu tempo livre para elaborar um folheto para os pais em que
exames. Falou para os pais sobre a tristeza que sentia quando uma criança
que não tinha sido vacinada aparecia na clínica com alguma doença que
poderia ser fatal, e que teria sido fácil de evitar. Tentou de tudo — de
modo geral, em vão. “Quanto mais informação eu dava, mais eles fincavam
o pé”, ele disse. “Às vezes, eu dividia minhas pesquisas, mandava os pais
homem retrucou. “A gente não vai envenenar nosso corpo. O senhor está
já não se surpreender com as teorias, por mais bizarras que fossem. O que
comem orgânicos e os conservadores que acham que elas são uma tirania
do governo, tem os libertários que dizem que o Bill Gates quer botar
Mas no que diz respeito às vacinas, todo mundo está lendo a mesma
cartilha.”
1
aceitar medicamentos sem questioná-los. Quando os acadêmicos
tendências políticas. Mas a divisão sobre outro tema também pode causar
sociedade nos vê e de que maneira nos vemos como seres sociais. São as
sociais, o valor que damos a essa participação e o que ela significa para nós
3
do ponto de vista emocional”. Nossa identidade social parte de uma
todos temos uma identidade social, uma ideia que fazemos de nós mesmos
várias tribos.
5
gigantesca influência sobre nossos pensamentos e atitudes. Um
6
outro grupo a ponto de rasgarem a bandeira alheia e trocarem pedradas.
sou um engenheiro da computação hinduísta gay que nasceu no Sul e vota nos
8
libertários. Essas identidades levam todo mundo a criar pressupostos. De
9
um pesquisador da Universidade de Manchester em 2019. Nossa
somos?, que acontece sempre que falamos das nossas conexões dentro da
10
sociedade. Quando discutimos as últimas fofocas da empresa (“Ouvi
somos?
de torcermos para o mesmo time não significa que vou confiar em você
depois de ficar sabendo que você tem dezesseis rifles em casa ou acha que
a ingestão de carne deveria ser criminalizada. Sobretudo em ambientes
11
influentes do que outras.
filhos, ele passou a achar que a recusa tinha a ver com suas identidades
sociais: nós somos céticos quanto à comunidade médica ou não gostamos que
o governo nos diga o que fazer. Ele desconfiava que uma parte disso estava
estavam na sala de exames dele, onde ele fazia o papel de especialista e eles
12
rótulo como algo essencial para a percepção de suas identidades sociais”.
inteligência acima da média, ter mais senso crítico e ser mais dedicados à
saúde natural. Ser contra vacinas traz “benefícios psicológicos”, lê-se no
Romper essas posturas é difícil porque “você está pedindo à pessoa que
abra mão de princípios e valores que estão no cerne de como ela se vê”,
tais como o médico que o mandou dizer eu sei mais sobre esse assunto do
que você —, ele percebia essa arrogância como algo causado por uma
fazer parte de uma tribo de especialistas. Por mais coisas em comum que o
médico pudesse ter com os pacientes, por mais que morassem no mesmo
admitir, mas às vezes percebia esse ímpeto nele mesmo. “Você põe o
jaleco branco e passa a se ver como uma equipe que tem todas as
rejeitavam vacinas.
anunciou que mais cedo ou mais tarde vacinas seriam oferecidas a todo
a imunidade de rebanho.14
“Mas eu sabia que a gente precisava tentar”, ele me explicou. “Se a gente
reimaginarem?”.
SILENCIANDO OS PRECONCEITOS DA NOSSA CABEÇA
15% mais altas da parte de matemática do sat, tinham tirado notas altas
15
pessoais e profissionais”. Também havia homens no grupo, mas os
sempre tiravam notas mais baixas. “Eu não conseguia entender por que
isso acontecia”, Steele me contou. Como ele descreveu mais tarde, no livro
Whistling Vivaldi [Assobiando Vivaldi], “em todos os níveis de ingresso
pelo sat, mesmo no nível mais alto, os estudantes negros tiravam notas
16
matemática passando por psicologia”. Além do mais, ele escreveu,
de administração”.
o que estava acontecendo não era outra coisa. Os dados indicavam que os
minutos preciosos.
para os estudantes. Será que sofriam de baixa autoestima? Não parecia ser
Ele não tinha nenhum sinal de que isso era verdade. Aliás, era justamente
estavam ávidos para provar seu valor. Alguma outra coisa acontecia, e
Steele desconfiava de que sabia o que era. Esses estudantes estavam com
as mãos atadas por suas identidades sociais: os grupos — mulheres, negros
— dos quais faziam parte e os preconceitos que sabiam existir contra esses
grupos.18
homem negro com uma mulher branca de Chicago numa época em que
tomando outra forma: ele foi embora de Chicago para fazer doutorado em
menos talento natural para a matemática do que os homens — era algo, nas
palavras de Steele, “com que elas sabiam que precisavam lidar”. O fato de
essa crença não ter nenhuma base na realidade não tornava o estereótipo
menos difundido.
19
Para o experimento, Steele deu à metade dos participantes uma prova
já que, de modo geral, a aptidão das mulheres para as línguas não era
programas de pós-graduação.
preconceito nocivo, ainda que soubessem que ele era equivocado. Como
escreveu mais tarde, “com base nos estereótipos negativos sobre o talento
matemática já traz para a mulher o risco do estigma, de ser vista como uma
Steele escreveu que nesse tipo de teste havia, para os estudantes negros, o
horrível “estereótipo de que seu grupo tinha uma capacidade intelectual
saído bem melhor nesse teste difícil do que os negros” com “uma
diferença grande que, se mantida durante toda a prova do gre, seria muito
22
relevante”. Steele concluiu que a disparidade acontecia porque os alunos
negros estavam cientes do estereótipo que sugeria que não teriam um bom
para minar suas notas. (Por outro lado, quando os alunos negros ouviam
brancos.)
ser tomado, por causa do estereótipo e do efeito que ele tem sobre o
mesmo que essa não seja nossa intenção, mesmo que seja contra o nosso
a dizer a um paciente, em tom arrogante, “eu sei mais sobre esse assunto
do que você”.
25
neutralizar a ameaça do estereótipo. Em um experimento, quando eles
se fazer isso em sala de aula, o que é bom”, Steele me disse. “Mas é difícil
existem.”
26
pesquisadores que mudou um pouco o protocolo. Para garantir que um
estereótipo ameaçador estivesse na cabeça de todo mundo, a principal
mais baixas.
descrever sucintamente como eles se viam. Gresky lhes disse que um jeito
por isso, deviam incluir apenas as informações mais básicas. Ela lhes
associações das quais participa, sua classe na escola, seu emprego, seu time
outras identidades sociais que não a de mulher, ainda que essas outras
tão bem quanto os homens. Não houve diferença nas notas. A ameaça do
médicos. Rosenbloom sabia que era muito fácil, depois de vestir o jaleco
lembra que é pai ou mãe, sabe o medo que dá ter que tomar decisões
quanto à saúde dos seus filhos, isso gera um tiquinho de empatia”, ele me
disse. “Se você se lembrar de que é o vizinho de alguém, vai se dar conta
de que vizinhos não dizem coisas como eu sei mais do que você.”
me forçava a lembrar que não era só médico”, ele disse. “Então, quando
alguém dizia uma coisa irracional — que as vacinas são uma conspiração,
por exemplo —, em vez de me irritar, eu sentia uma conexão com a pessoa,
porque sei como é ser intimidado por especialistas. Já passei por isso.”
mundo tem muitas identidades: somos pais, mas também somos irmãos;
Isso significa que a discussão Quem somos? talvez precise ser mais
de suas comunidades — afetaram suas vidas. “Quando meu filho vai para a
escola, eu digo para ele: não esqueça, você pode achar a prova de hoje
difícil, mas pense no que mais você é”, diz Gresky, a pesquisadora da
seus laços, de como foram formadas por suas comunidades. (“De onde
você é? Ah, é mesmo? Como foi ser criado lá?”) Em seguida, retribua
descrevendo como você se vê. (“Sou sulista, sabe, e eu acho que…”) Por
que, como advogado, apoia a polícia, mas, e como pai, você se preocupa
outros com mais clareza — mas isso não vai necessariamente convencer,
Para que isso aconteça, precisamos achar uma identidade que possamos
compartilhar.
28
viram obrigados a fugir. Os combatentes do Isis tinham saqueado
29
cristãs. Quando o Isis finalmente saiu de Qaraqosh, em 2016, e os
vizinhos muçulmanos. “Quando esbarro com eles agora, eles viram a cara
30
“Eles sabem bem o que fizeram. Sabem que têm culpa.”
portador.
pouco a pouco seus times de futebol voltaram a jogar. Então chegou o dia
nove jogadores, todos os times da liga precisariam ter doze. Além do mais,
metade dos times teria permissão para agregar os jogadores que quisessem
metade dos times, os três jogadores extras teriam que ser muçulmanos
31
selecionados pelos dirigentes da liga.
32
A liga foi idealizada por Salma Mousa, doutoranda de Stanford
33
interessada em testar o que chamamos de hipótese do contato — a teoria
que uma liga de futebol pudesse vencer a profunda animosidade que havia
treinadores e jogadores ouviram que metade dos times teria que aceitar
outra guerra.”
que não era entendida por mais ninguém, inclusive a maioria dos
times estabeleceram uma nova regra para seus jogadores: todo mundo teria
regra.
cristãos fizeram uma vaquinha para pagar táxis para que os muçulmanos
34
depois de encerrada a intervenção”. Os preconceitos não desapareceram,
dentro do bar.
35
muçulmanos da região para participar da liga”.
não é só isso. O que fez a diferença foi como nós estruturamos tudo.”
somos?
dos jogos. Outro jogador era cristão, mas também era o responsável pelas
cidade boa parte de sua classe mais alta, mas quando os cristãos voltaram,
partidas.36
que uma conversa sobre Quem somos?, quando corre bem, dá certo: ele
choque para Mousa, pois ela não estava pedindo que eles se redefinissem.
Não ofereça conselhos que não foram solicitados nem faça alarde de sua
conheçamos Jim, mas essa conexão não baste — até começarmos a falar do
ir aos jogos com nossos pais e ver o Magic Johnson fazer cesta e
potente não só porque nos une em torno do que temos em comum, mas
elas vão mudar de ideia”, ele me disse. “Mas quem já lidava com esses
pacientes sabia que não daria certo. Eles já têm dados à beça! Passaram
horas fazendo pesquisas na internet! Você não vai convencer essas pessoas
38
vacinas. Muitos desses grupos já estudavam a indecisão diante da vacina
há anos e tinham concluído que a tática mais eficaz era algo chamado de
39
entrevista motivacional, um método desenvolvido nos anos 1980 para
mudança surjam.
ouvido boatos de que a ciência por trás dela não tinha sido testada, a
como o paciente se via. Ele disse ter três netos e ser policial aposentado.
Também era muito religioso. A igreja era o lugar mais importante de sua
vida. “É por isso que não preciso me vacinar”, ele disse. “Deus cuida de
mim. Eu lavo as mãos, uso máscara. Deus provê. Ele é quem cuida do meu
caminho.”
mãe, e os seus filhos ignoram seus conselhos pela própria conta e risco.
covid-19, poderia mencionar várias vezes que o papa tinha falado para as
pessoas se vacinarem, mas nada o faria mudar de ideia. “Só teria servido
para ele parar de me escutar”, ela disse. Assim, Chamie adotou outro
senhor tamanha força”, ela lhe disse. “É evidente que o senhor tem uma
identidade. “Imagino que a saúde dos seus netos seja muito importante
para o senhor”, ela disse. Sim, concordou o paciente, ele adorava ser avô.
não falo de religião com os pacientes, mas sou muito grata a Deus por ter
que Ele não nos deu as vacinas pensando na nossa segurança?’” Então ela
saiu da sala.
Ela não fez nada mais que reconhecer que ambos continham inúmeras
puxou uma enfermeira de lado. “O que ele ainda está fazendo aqui?”,
perguntou.
explicou. “Às vezes a gente fala de religião, às vezes fala dos filhos. Às
vezes eu só pergunto: numa escala de zero a dez, o que você acha desta
Por que não quatro? Fico genuinamente curiosa quanto ao três, quanto ao
fazer o que é correto pelas nossas famílias. Apesar das outras diferenças,
“Uma vez, uma família veio ao meu consultório com duas crianças”,
e eram de classe média alta, tinham uma boa formação, mas os dois filhos
têm uma enorme influência sobre o que dizemos, como ouvimos e o que
identidades que nos são impostas pela sociedade fazem de nós quem
somos.a
escutar?
* É tentador sugerir que só achar coisas em comum já é suficiente para nos comunicarmos melhor.
Mas, como vamos ver no próximo capítulo, a conexão também surge do entendimento de como as
menos arriscadas?
1
O problema com que a Netflix precisa conviver
tomar a palavra.
maioria dos presentes nunca tinha ouvido falar do especial — bem como a
pessoas podiam usar termos como “retardado”, fazia piada de pessoas com
objeções, e a empresa tinha que estar preparada para ouvir outras críticas.
não deixar dúvidas, ele fez uma analogia: seria “como se uma pessoa afro-
“n”. * 2
era inaceitável. E era ainda mais ofensivo quando dita por um dos
vezes.
funcionários tinham licença para fazer quase qualquer coisa, contanto que
pirei. Era muito explícito”. Ele se questionou: será que errei de ter vindo
mistério.”
firma em duas: uma lidaria com os dvds entregues pelos correios, a outra
Para alguns, essa atmosfera era estimulante. “Toda aquela ansiedade que
a gente sente tentando entender o que o nosso chefe acha, e o que o chefe
disse. “Você acha que seu chefe está cometendo um erro? Fale para ele.
crescia ano após ano. Sua cultura incomum possibilitou a contratação dos
tecnologia e cineastas do mundo. Ela não demorou muito a virar uma das
Ano.8
palavra ofensiva.
POR QUE CONVERSAS SOBRE IDENTIDADE SÃO RELEVANTES
são lembretes de que certas injustiças tornam mais difícil que algumas
9
ser muito eficazes. Quando uma equipe de pesquisadores de Princeton,
descobriram que em 76% dos casos o máximo que se poderia dizer sobre
10
seu impacto a longo prazo era que “ainda era incerto”. Um artigo
11
treinamento não mudou o comportamento preconceituoso”. Outra
análise de três décadas de dados gerou a conclusão de que “os efeitos
13
treinamentos ressaltavam os estereótipos de raça e gênero. Uma
mundo”.14
muitas pessoas acharem que a conversa sobre Quem somos? traz riscos
verdadeiros. É claro que torcemos para que todo mundo entenda que usar
um insulto racista é inaceitável, mas em outros tipos de diálogos, às vezes
é difícil sabermos quais são os limites. Até que ponto podemos perguntar
Como superar a preocupação de que dizer uma coisa errada ou fazer uma
discussões sobre raça, etnia e gênero. Muitas das nossas conversas mais
ao nosso patrão que ele não nos dá o que precisamos, é muito fácil que
15
acontecer a seguir.
dessas mensagens reagiram dizendo que a questão não era o racismo, mas
não tinham sido promovidas não devido a preconceitos, mas porque não
que ele devia ser perdoado. “Sim, o Jonathan cometeu um erro, mas ele
gente deve errar, fazer e receber críticas, aprender e seguir em frente. Mas
divisor de águas — ih, espera aí, tem gente que acha que este lugar é
perfeito, mas, na verdade, tem certas coisas que ‘cultivar o dissenso’ não
resolve.”
usado aquela palavra pelo menos duas vezes no local de trabalho indicava
praticamente qualquer coisa uns aos outros. Estava claro que insultos
e-mail do Reed não esclareceu as coisas, e é para isso que esses tipos de e-
mail servem.”
sendo marginalizado”. Uma coisa com a qual todo mundo concordava era
que, segundo esses critérios, a firma não estava se saindo muito bem.
de inclusão.
A ideia era entender por que alguns assuntos — como raça, gênero e
suas últimas conversas tinham sido desafiadoras por conta dos assuntos
que andavam vendo na televisão — até alguém falar alguma coisa que
explorar. O que exatamente tinha sido dito, e como, para deixar a outra
18
descobriram que muitas coisas podiam azedar uma conversa. Um dos
suas companhias de propósito, talvez sem querer. Mas havia uma atitude,
dizia algo que, contra a vontade do ouvinte, o encaixava num grupo, era
ouvinte — “Você é rico, então sabe que a maioria dos ricos é esnobe” —,
Vez por outra, os falantes teciam esse tipo de comentário sob a forma
mas tem gente que nem você que só entra por causa das cotas”. Volta e
meia a pessoa que fazia o comentário parecia não ter noção de que ofendia
alguém: “Como você não tem filhos, talvez não entenda como um pai se
19
corrosivo para a comunicação. “Quando alguém diz que você não faz
20
começa a procurar formas de fugir ou revidar.
21
identidades.”
Os participantes do estudo relataram ter vivenciado ameaças à
com quem eram casados, com quem namoravam, ao lugar onde tinham
22
genuínos na participação em diálogos sobre raça, mesmo entre amigos.
“Os amigos negros se preocupam com a possibilidade de que os amigos
brancos digam algo racista, talvez sem querer, e isso estrague a amizade”,
amigos brancos acham que podem falar alguma coisa preconceituosa sem
23
Conversation [A conversa]. “Precisamos iniciar essa conversa —
atitude.”
tentativa de entender como ter conversas mais francas e abertas sobre raça
24
de grandes amigos e os pôs cara a cara para falar de suas experiências
difíceis.
Todos os pares de amigos eram parecidos em dois aspectos: um era
branco e o outro negro, e nenhum dos dois foi avisado de antemão que
discutiriam raça.
pedido era que discutissem “alguma coisa que tenha acontecido com você
25
história que você nunca contou a este amigo”. A sugestão era de que a
26
preparação. Seus participantes também foram instruídos a discutir
experiência que você tenha tido referente à sua raça ou etnia”. Mas antes
benefícios que você acredita que possam ser extraídos da conversa sobre
que há alguma coisa, poderia impedir que você e seu amigo obtenham
pensar nos empecilhos que poderiam surgir e bolar um plano para superá-
pessoa admitir para si mesma, logo de saída, que uma conversa sobre raça
27
suportável. E instigar as pessoas a pensarem na estrutura da conversa —
melhor forma de lidar com elas — poderia tornar esses obstáculos menos
prováveis ou intimidantes.
esportes. Para um dos pares, a conversa foi tão incômoda que, apesar da
28
grande amizade, os dois se despediram em apenas três minutos.
Entretanto, no grupo experimental, as conversas geralmente
funcionário de uma loja. “Eu sentia o dono da loja olhando para mim, me
universidade, mas nunca tinham discutido raça. “Nos Estados Unidos, não
29
homem negro.”
questionasse se era realmente racismo o que estava em jogo (“Vai ver que
que sua angústia era desnecessária. E o participante negro, por sua vez,
talvez sugerisse que o amigo branco não queria reconhecer o racismo, que
que, apesar do nosso grupo de amigos ser multirracial, a gente não fala
dito.
externas e só curtir.”
30
próximos e mais à vontade para falar de raça com os amigos. Os
ouve essas conversas, você percebe que há muito apoio: ‘Deve ter doído
bastante’, ‘Que pena que isso aconteceu com você’, ‘Que horror que você
enorme. Prever obstáculos, planejar o que fazer caso eles surjam, ponderar
pensar no que você espera que aconteça, no que pode dar errado e em
A segunda lição: não é porque está preocupado com uma conversa que
admitindo, para nós e para os outros, que essas conversas podem começar
quanto o que é dito, sobretudo durante uma conversa sobre Quem somos?.
Quem vai falar primeiro? (Estudos indicam que a pessoa com menos
poder deve começar.) Que tipos de emoções podemos esperar? (Ao nos
32
suportáveis.) Que obstáculos devemos esperar? Quando surgirem, o
que faremos?
e eles valem o risco? (A resposta quase sempre é sim — quase todo mundo
atribuímos aos outros características que eles detestam (“Todo mundo que
votou nesse cara é racista”). São generalizações que tiram todos nós —
33
nossas perspectivas singulares e identidades complexas — da conversa.
insinuar que seus sofrimentos não existem porque não os vivemos na pele.
estabelecer vínculos.
ambiente de trabalho igualitário. Mas isso não queria dizer que todo
coisas funcionam.”34
35
inclusivas. “Ela deve ser a pessoa mais carismática que já conheci na
que vissem pela frente. “Talvez você já tenha ouvido falar que evitar um
erro sai mais barato do que corrigi-lo… mas isso não vale para ambientes
às vezes era desastrosa. “Ninguém na Netflix sabia como discutir esse tipo
sobre Quem somos? Havia assuntos que deviam ser evitados? “Ninguém
querer.
Mas essas conversas precisavam acontecer do jeito certo. Tinham que
ocorrer de uma forma que fizesse todo mundo se sentir seguro. A cultura
37
culpar, humilhar ou atacar outra pessoa. Fazer perguntas não era um
“tem pessoas que ficam muito emotivas ao falar dessa questão; sugiro que
38
seriam constrangedoras e que os erros seriam inevitáveis. Não havia
Todo mundo era incentivado a falar — não era justo que alguns se
funcionários ouviram que todo mundo tem uma identidade racial e étnica,
Admita o incômodo.
Talvez a conversa seja desafiadora, e talvez incomode seus participantes. Isso não é
um problema.
O sigilo é importante.
As pessoas têm que se sentir à vontade, ou seja, precisam ter a certeza de que suas
palavras não serão reproduzidas em outro lugar.
O respeito é essencial.
Ainda que discorde, mostre respeito pelo direito que o outro tem de ser ouvido.
erros. Contava que já tinha errado o gênero de pessoas; que tinha sofrido
elus poderiam não ser o melhor caminho. Falou de uma vez em que estava
piloto homem. “Eu nem sabia que tinha esse preconceito na minha
Myers, começou a sessão falando de sua história: ele era um negro gay que
nfl, mas tinha sido dispensado várias vezes até sair completamente da liga
de futebol americano. Doeu ser tão rejeitado, ele afirmou. Tinha cometido
Tinha feito suposições ignorantes, tinha dito coisas ofensivas sem querer.
Então Davis pediu que o grupo refletisse sobre suas experiências com o
ideia de achar candidatos diversos, mas ele também havia percebido que
“cumpriam os critérios”.
importante para mim”, ele disse aos presentes. “Mas é mais importante
Ele se calou. “Caramba”, ele exclamou. “Eu estou ouvindo o que estou
é bom, né?”
42
da desigualdade. O objetivo não é dizer a coisa mais certa nem chegar a
uma conclusão perfeita. A meta não pode ser a perfeição “porque, se você
está tentando dizer algo perfeito, nada autêntico vai acontecer”, ele
ficando mais cheias e falar sobre esses assuntos foi se tornando mais fácil
verdadeiro: O que significa ser transgênero? Como mãe e negra, o que você
pessoas falariam coisas erradas — mas lidar com esse incômodo e ver o
objetivo.
assegurar que elas sejam comunicadas com clareza. Convidar todo mundo
a dialogar e lhes dar voz — e informar que todos devem fazer uma
44
de Stanford. Mas quando o foco das conversas é o pertencimento, além
melhorar as coisas”.
dele. Parece ser uma diferença boba, mas a teoria subjacente é de que o
O IMPACTO
45
inclusão. Havia grupos de apoio para funcionários negros, do sul
da Netflix nos Estados Unidos eram de pelo menos uma etnia ou grupo
47
negros ou latinos.
48
negros e de outros grupos minorizados. A Netflix enfim parecia, para
que tinha sido “induzido” a chamar uma mulher trans de linda. Dizia que
comentários homofóbicos.
mais complexo e mais premiado até hoje”, o que inspirou ainda mais
brigas.
“A gente não precisava disso”, disse um funcionário que fez uma queixa
que, quando debates tensos aconteciam, via de regra o tom era empático,
estruturado para dar voz a todo mundo. Alguns dias depois de defender o
mea-culpa. “Fiz besteira”, ele afirmou. Ele admitiu que não tinha dado
que faltou humanidade aos meus e-mails.” Desde então, ele continuou,
se sentindo”.
aprendido a tê-las. “Fizemos uma grande reunião depois que tudo isso
falar, mas não podia humilhar, culpar ou atacar ninguém. Era preciso
pensar antes de falar. A pessoa tinha que contribuir e não apenas criticar.”
‘Não concordo com tudo o que você está falando, mas obrigado, eu
entendi que você está sofrendo e estou levando esta conversa a sério.’ Me
As discórdias sempre farão parte das empresas, assim como fazem das
passo.”51
A conversa sobre Quem somos? pode ser difícil, mas também é vital.
“Se não conseguirmos acabar com as nossas diferenças agora, pelo menos
antes de ser assassinado. “Em última análise, nosso elo comum mais básico
Todos temos esperança para o futuro dos nossos filhos. E todos somos
mortais.”
As características em comum nos possibilitam aprender com os outros,
* Aqui, o autor deixa subentendido um termo pejorativo específico para se referir a pessoas negras.
Na língua inglesa, trata-se de uma palavra tão ofensiva que, em geral, é mais comum que seja
indicada apenas como “the n-word”, ou “a palavra que começa com ‘n’”. (N. T.)
** Friedland, que antes de trabalhar na Netflix já tinha uma longa carreira, exprimiu seu
arrependimento ao me conceder uma entrevista: “Entendo por que fui demitido”, ele me disse. “Fui
insensível? Fui. Não entendia como essa palavra seria percebida e não devia tê-la falado. Mas o que
mais dói é que esse foi um momento pequenininho em uma longa carreira, e eu não sei se é justo
*** Dentro da Netflix, e na sociedade, as perguntas têm limites. “Isso acontece muito com pessoas
trans e não binárias”, Myers me disse. “As pessoas fazem perguntas sobre o corpo delas, e isso não
se faz. Jamais faríamos esse tipo de pergunta a uma pessoa cisgênero. E portanto nós dizemos a
todo mundo: pense bem em qual é a sua motivação. Você está perguntando por curiosidade pessoal
**** Essas oficinas são apenas uma faceta do trabalho que Myers e sua equipe levaram a cabo na
Netflix. Para saber mais sobre outros aspectos, veja as notas de fim.
***** É importante observar que, além de incentivar esses questionamentos, as diretrizes também
devem permitir que as pessoas se recusem a respondê-los. Isso é essencial porque, do ponto de
descomunal para falar de suas vidas. Para saber mais sobre esse assunto, ver as notas de fim.
Guia para usar essas ideias
Parte iv
temas como raça, etnia ou gênero. Vez por outra são intimidantes, mas por
instrutiva.
Regra 4:
Investigue se as identidades são importantes para essa
discussão.
ANTES DA DISCUSSÃO
Antes que qualquer palavra seja dita, em uma conversa sobre Quem
Pergunte a si mesmo:
que espera descobrir? O que você acha que os outros esperam dizer e
Como a conversa vai ser iniciada? Como garantir que todo mundo
participar mais?
conversa é importante?
NO COMEÇO DA DISCUSSÃO
questões.
NO DESENROLAR DA DISCUSSÃO
Já preparados para ter uma conversa difícil, e tendo discutido diretrizes
foi complicada para mim. Como foi para você?”) Mesmo se não
sensação de segurança.)
Pode parecer coisa demais. Conversas difíceis, por mais que tenham
Grant tinha largado o ensino médio décadas antes, mas havia feito uma
Então, aos 61 anos, ele anunciou que queria dar sua retribuição à
1
conselhos.
como usar o dinheiro; disseram sim. Fazia muitos anos que os docentes do
sua mãe, ele a considerou “uma das pessoas mais nervosas que já conheci
oficiais e voltaram para casa com medalhas e distinções, Camille ainda era
soldado raso quando foi dispensado com honras, sem nenhuma realização
ano de cama.”
acatar os desejos do pai, que o queria nos negócios da família, seguiu sua
advocacia.
tropeçariam para que esses juízos prévios não maculassem os dados. Mas
no que dizia respeito a Camille e Marsden, era difícil não fazer previsões.
pesquisador declarou, era “um dos membros do estudo com mais sucesso
profissional”.
escolha de gerentes de loja. Ainda pior, Harvard não tinha feito menções
medicina.
A história poderia ter se encerrado aí, mas, no começo dos anos 1970,
parecia ter se tornado outra pessoa. Estava na faixa dos cinquenta anos,
alguém com “a capacidade inata de se doar. Ele brinca que nem uma
que conversavam com Camille, ele lhes parecia mais feliz do que nunca.
escreveu em 1994, aos 75. Mas ele tinha conseguido escapar desse legado,
aos pesquisadores que iria aos Alpes para fazer alpinismo com os amigos.
que “ele tinha uma vida muito simples, mas muito rica”. Os pesquisadores
de Harvard concluíram depois que Camille tinha um dos níveis mais altos
faixa dos cinquenta anos, estava divorciado e não tinha contato com os
sucedida, tinha poucos amigos e passava boa parte do tempo sozinho. Ele
novo, mas alguns anos depois declarou que a relação era “sem amor”. Você
inesperado para esses dois? Não eram apenas Camille e Marsden. Quando
No entanto, por mais que esses fatores fossem importantes, uma coisa
parecia ser mais relevante do que todas as outras. Não foi uma surpresa:
feliz e saudável ou infeliz e com a saúde frágil era “o nível de satisfação das
satisfeitas com suas relações aos cinquenta anos eram as mais saudáveis
longe, para uma vida próspera é o amor”. Não o amor romântico, mas os
amor nos primeiros anos de vida facilita não só o amor nos anos futuros,
Por outro lado, aqueles que não haviam investido nas relações — que
infelizes. Vejamos John Marsden, por exemplo. Aos 43 anos — com quase
frequência:3
6. Não tenho certeza se sei como criar meus filhos. Eu achava que sabia.
7. As tensões no trabalho são profundas.
também era muito duro com os outros, o que deve tê-lo afastado de muita
pessoas mais próximas. Ele se casou duas vezes e nunca se sentiu amado
de verdade”.
pacientes. Reunia-se com alguns deles para estudar a Bíblia e com outros
para jogar cartas, e fez amizade com enfermeiras e auxiliares. Mais tarde,
escreveu em um dos questionários. “Nada foi mais difícil que aquele ano.”
medida que sua rede crescia, sua carreira decolava. “Minha vida
mais gratificante foi na pessoa que me tornei aos poucos”, ele escreveu em
um questionário quando tinha 75 anos. “Os laços são algo que devemos
deixar que nos aconteçam… Que criaturas duráveis e maleáveis nós somos,
aproximavam dos outros ao longo dos anos. “No decorrer de todos os anos
lê-se em um resumo dos dados de 2023. “Boas relações nos deixam mais
crônicas.5
aspectos, escrevi este livro para mim mesmo. Depois de fracassar como
gestor no meu trabalho e me perguntar por que tinha virado uma pessoa
— e eu sei que isso pode soar meio esquisito — me sentei para fazer uma
estragado uma conversa. Anotei as vezes em que não tinha prestado muita
todos temos uma versão dessa lista na cabeça. Mas escrevê-la me obrigou a
escutava tão pouco? Por que não entendia quando um amigo precisava ser
quando eles claramente queriam estar comigo? Por que era um suplício
ainda fosse capaz de errar tanto. Este livro é resultado dessa jornada. O
criar relações, mais atento quando os outros me revelam algo pessoal, sei
dizemos e ouvimos.
A conversa instrutiva
Regra 1:
Preste atenção em que tipo de conversa está ocorrendo.
Regra 2:
Compartilhe seus objetivos e pergunte o que a outra pessoa está buscando.
Regra 3:
Pergunte sobre os sentimentos da outra pessoa e compartilhe os seus.
Regra 4:
Investigue se as identidades são importantes para essa discussão.
entender o que as pessoas querem com uma conversa, mas também para
erros, sentimentos e quem eu sou. Com isso, me sinto mais próximo das
pessoas ao meu redor, mais conectado com a minha família, meus amigos
e meus colegas — e, sobretudo, mais grato que nunca por essas relações.
que eles deem ouvidos ao que você está tentando dizer. A eficácia de
quando seria bem mais fácil ir embora. Técnicas e observações podem nos
deste livro quanto na vida — foram com Andy Ward, meu editor. Ele é um
Centrello, que faz da Random House um oásis para escritores, bem como
Tom Perry, Maria Braeckel, Greg Kubie, Sanyu Dillon, Ayelet Durantt,
York Times, onde tive muitos colegas incríveis, e agora escrevo para a New
Yorker, em que David Remnick e Daniel Zalewski provam, dia após dia,
fez a checagem de fatos deste livro, a Asha Smith e Olivia Boone, minhas
maravilhoso. Boa parte desta obra foi escrita em Santa Cruz, Califórnia,
Por fim, meu mais profundo agradecimento aos meus filhos, Oli e
Julho de 2023
Uma observação sobre fontes e
métodos
livro e foram reproduzidos nas notas de fim. (Nenhuma fonte teve acesso
por várias razões, quiseram falar sem ser creditadas. Nesses casos, e em
PRÓLOGO
1. Felix Sigala conversou comigo sob a condição de anonimato. Os detalhes — incluindo seu
nome e as particularidades de sua carreira — foram mudados para omitir sua identidade. O fbi
recebeu uma lista de checagem de fatos relativa aos eventos aqui descritos, mas, citando as políticas
detalhes gerais.
2. A fonte dessa citação, como a de tantas grandes frases, é um pouco discutível, mas ela é
1. O PRINCÍPIO DA COMBINAÇÃO
1. Jim Lawler passou 25 anos trabalhando como agente para a cia e permanece vinculado ao
contrato de confidencialidade numa série de questões. Embora tenha passado muitas horas
confidencial. Como resultado, parte dos detalhes em sua história foram alterados, descritos para
mim apenas em termos gerais ou confirmados por outras fontes. Yasmin é um pseudônimo. Lawler
não especificou qual era seu país de origem, dizendo apenas que se tratava de “uma nação rica em
petróleo e hostil aos Estados Unidos”. Lawler se recusou a identificar o país ao qual foi enviado,
afirmando apenas que era “um país alpino europeu”. Se o leitor quiser saber mais sobre as expe-
riências de Lawler, recomendo seus incríveis livros de espionagem, Living Lies [Vivendo mentiras]
2. Randy Burkett, “An Alternative Framework for Agent Recruitment: From mice to rascls”,
3. Marta Zaraska, “All Together Now”, Scientific American, v. 323, n. 4, pp. 64-9, out. 2020;
Riecke, Lars et al., “Neural Entrainment to Speech Modulates Speech Intelligibility”, Current Biolo-
gy, v. 28, n. 2, pp. 161-9, 2018; Andrea Antal Christoph S. Herrmann, “Transcranial Alternating
Current and Random Noise Stimulation: Possible Mechanisms”, Neural Plasticity, v. 2016, 2016,
3616807; L. Whitsel et al. “Stability of Rapidly Adapting Afferent Entrainment vs. Responsivity”,
Somatosensory & Motor Research, v. 17, n. 1, pp. 13-31, 2000; Nina G. Jablonski, Skin: A Natural
Mechanism for Social Understanding”, Social and Personality Psychology Compass, v. 6, n. 8, pp.
589-606, 2012.
While Playing Guitar”, BMC Neuroscience, v. 10, pp. 1-12, 2009; Johanna Sänger, Viktor Müller e
Playing Guitar in Duets”, Frontiers in Human Neuroscience, v. 312, 2012; Viktor Müller, Johanna
Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1423, n. 1, pp. 198-210, 2018.
checagem de fatos, o autor desse estudo, Daniel Richardson, afirmou que embora esse tipo de
comportamento físico tenha sido documentado pelos cientistas, “esses não são especificamente
efeitos que eu tenha reproduzido pessoalmente em meu laboratório. Discuti esses efeitos
experimentos ligados a eles (sobre movimento ocular ou coordenação de movimento corporal, por
exemplo)”. Sievers observou que embora não vejamos esse tipo de alinhamento em atividades
8. Ayaka Tsuchiya et al., “Body Movement Synchrony Predicts Degrees of Information Exchange
in a Natural Conversation”, Frontiers in Psychology, v. 11, p. 817, 2020; Scott S. Wiltermuth e Chip
Heath, “Synchrony and Cooperation”, Psychological Science, v. 20, n. 1, pp. 1-5, 2009; Michael J.
Coordination”, Human Movement Science, v. 26, n. 6, pp. 867-91, 2007; Naoyuki Osaka et al.,
“How Two Brains Make One Synchronized Mind in the Inferior Frontal Cortex: fnirs-Based
Pérez, Manuel Carreiras e Jon Andoni Duñabeitia, “Brain-to-Brain Entrainment: eeg Interbrain
Synchronization While Speaking and Listening”, Scientific Reports, v. 7, n. 1, pp. 1-12, 2017.
32, pp. 14425-30, 2010; Lauren J. Silbert et al., “Coupled Neural Systems Underlie the
11. J. M. Ackerman e J. A. Bargh, “Two to Tango: Automatic Social Coordination and the Role of
Felt Effort”. In: Brian Bruya (Org.), Effortless Attention: A New Perspective in the Cognitive Science
of Attention and Action. Cambridge: mit Press Scholarship Online, 2010; Sangtae ahn et al.,
Using Simultaneous eeg/meg”, Human Brain Mapping, v. 39, n. 1, pp. 171-88, 2018; Laura Astolfi
et al. “Cortical Activity and Functional Hyperconnectivity by Simultaneous eeg Recordings from
Interacting Couples of Professional Pilots”, 2012 Annual International Conference of the ieee
Engineering in Medicine and Biology Society, 4752-5; Jing Jiang et al., “Leader Emergence Through
14, pp. 4274-9, 2015; Reneeta Mogan, Ronald Fischer e Joseph A. Bulbulia, “To Be in Synchrony
Journal of Experimental Social Psychology, v. 72, pp. 13-20, 2017; Uri Hasson et al., “Brain-to-Brain
Coupling: A Mechanism for Creating and Sharing a Social World”, Trends in Cognitive Sciences, v.
16, n. 2, pp. 114-21, 2012; Uri Hasson, “I Can Make Your Brain Look Like Mine”, Harvard
Business Review, v. 88, n. 12 pp. 32-3, 2010; Maya Rossignac-Milon et al., “Merged Minds:
Generalized Shared Reality in Dyadic Relationships”, Journal of Personality and Social Psychology, v.
12. Respondendo uma lista de checagem de fatos, Sievers escreveu que embora a compreensão e
compreender a pessoa e não ficar fisiologicamente sincronizados. […] Parte do que torna tanto a
conversa como a música significativas é ver como as pessoas mudam conforme interagem, entrando
13. Laura Menenti, Martin J. Pickering e Simon C. Garrod, “Toward a Neural Basis of Interactive
17060, 2017; Lyle Kingsbury e Weizhe Hong, “A Multi-Brain Framework for Social Interaction”,
Trends in Neurosciences, v. 43, n. 9, pp. 651-66, 2020; Thalia Wheatley et al., “Beyond the Isolated
Brain: The Promise and Challenge of Interacting Minds”, Neuron, v. 103, n. 2, pp. 186-8, 2019;
Zeitschrift für Psychologie, 2016; Ivana Konvalinka e Andreas Roepstorff, “The Two-Brain
Approach: How Can Mutually Interacting Brains Teach Us Something About Social Interaction?”
Frontiers in Human Neuroscience, v. 6, p. 215, 2012; Caroline Szymanski et al., “Teams on the Same
Wavelength Perform Better: Inter-brain Phase Synchronization Constitutes a Neural Substrate for
alinhamento no futuro, o que é diferente de alinhamento no momento presente. Além do mais, sua
dissertação foi sobre percepção das emoções na música e nos movimentos. B. Sievers et al., “Music
and Movement Share a Dynamic Structure That Supports Universal Expressions of Emotion”,
Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 110, n. 1, pp. 70-5, 2012; B. Sievers et al., “A
Multi-sensory Code for Emotional Arousal”, Proceedings of the Royal Society B, v. 286, n. 1906,
2019; B. Sievers et al., “Visual and Auditory Brain Areas Share a Representational Structure That
Supports Emotion Perception”, Current Biology, v. 31, n. 23, pp. 5192-203, 2021.
15. Nesse estudo, Sievers “estava interessado em saber quem era melhor em criar consenso por
ser convincente”, escreveu. “E eu estava interessado em saber por que e depois tentar delinear uma
base científica e neurobiológica para entender por que as pessoas podem ser mais ou menos
convincentes ou gerar maior ou menor coesão de grupo. […] Não estava pensando em coisas como
supercomunicação. [Mas] acho que algumas pessoas são muito melhores do que outras nisso. E faz
sentido tentar compreender cientificamente por que ela acontece e se podemos melhorar nossa
comunicação.”
16. B. Sievers et al., “How Consensus-Building Conversation Changes Our Minds and Aligns
17. Sievers escreveu: “Descobrimos que grupos com pessoas consideradas de status social
elevado mostraram alinhamento neural mais baixo e que pessoas de status elevado usaram
estratégias de conversação diferentes, incluindo falar mais, dar ordens para os outros e
implicitamente rejeitar as ideias dos outros. O Participante 4 no Grupo D foi classificado como
tendo status social elevado e essa conversa não produziu alinhamento maior, assim isso parece um
bom exemplo. Entretanto, a análise estatística não nos permite ‘focar’ numa única pessoa, assim
não podemos saber com certeza se o Participante 4 impediu o progresso do grupo; talvez houvesse
18. O diálogo dos participantes do estudo ao longo de todo esse capítulo foi editado e
centralidade”.
19. Sievers escreveu que “os participantes de alta centralidade que facilitaram o consenso não
falaram mais nem menos que os outros e direcionaram a atenção para outros que falavam, fazendo
isso mais que as pessoas de status elevado. Eles pediram esclarecimentos com mais frequência […].
Não foram classificados como mais influentes por seu grupo e eram mais suscetíveis a influência
neural. […] Isso tem relação com uma literatura mais ampla sobre os traços que as pessoas
grupo em que a pessoa se encontra. E não medimos esse traço em nosso estudo, mas deveríamos”.
20. Essa transcrição, como a anterior, foi editada e condensada em prol da brevidade e clareza.
uma “explicação proposta, não faz parte da ciência. […] Pode ser que a pessoa se torne central em
sua rede social e, então, outras pessoas tenham que falar com ela, porque podem ter se tornado
central por algum outro motivo, como ter um iate ou algo assim”.
23. Sievers notou que “a localização da função cerebral — quais partes do cérebro são
debatidos na neurociência. […] Entretanto, falando em termos gerais, as áreas e as redes cerebrais
parecem realizar múltiplas funções (Suárez et al., 2020). Isso parece ser verdade por todo o
cérebro, das redes neurais aos neurônios individuais (Rigotti et al., 2013). Assim, as mentalidades
identificadas nessa seção são provavelmente controladas por diversas redes cerebrais entrando em
coordenação ao mesmo tempo. Pondo em termos simples, o cérebro é muito complexo e qualquer
afirmação de que apenas uma rede ou parte do cérebro é responsável por certo tipo de
supersimplificação”.
24. Piercarlo Valdesolo e David Desteno, “Synchrony and the Social Tuning of Compassion”,
25. Matthew D. Lieberman, Social: Why Our Brains Are Wired to Connect. Oxford: Oxford
University, 2013. A rede do modo padrão incorpora a rede frontoparietal medial, ou mfpn (Medial
Frontoparietal Network). Sievers escreveu que “alguns cientistas teorizaram que a rede
frontoparietal medial é específica de estímulos sociais (por exemplo, Schilbach et al., 2008), mas
existe também forte evidência de que sua função pode ser muito mais geral. A mfpn pode estar
2016; Beaty et al., 2021). Pode ser que a mfpn esteja envolvida em gerar informação internamente,
quando essa informação está desconectada de dados sensórios imediatos (Buckner; Dinicola,
2019), ou integrando essa informação com informação sensória (Yeshurun, Nguyen; Hasson,
2021). Além do mais, há outras partes do cérebro que provavelmente desempenham um papel na
cognição social fora da mfpn, como o giro fusiforme para reconhecimento facial e a amígdala para
reconhecimento de emoção em expressões faciais. E assim, embora uma série de tarefas sociais
recrute a mfpn com confiabilidade, a ativação da mfpn nem sempre implica cognição social”.
26. Isso é uma supersimplificação de como nosso cérebro funciona, mas é útil para fins
ilustrativos. Em geral, muitas partes diferentes do cérebro estão operando ao mesmo tempo e as
27. Como escreveu Beau Sievers, há “evidências a sugerir fortemente que usar as mesmas redes
cerebrais não constitui garantia de que as pessoas estejam na mesma mentalidade, e vice-versa”.
Sievers escreveu que, em lugar de nos basearmos na ideia de que certas redes neurais são ativadas,
confiável de redes cerebrais isoladas. Uma mentalidade pode ser apenas uma predisposição a usar o
cérebro todo de uma maneira particular quando apresentado a certos tipos de informação. Segundo
essa perspectiva, o cérebro estar em determinada mentalidade é como uma orquestra tocando uma
sinfonia; muitas sinfonias são possíveis, mas apenas uma de cada vez”.
28. Caleb Kealoha, “We Are (Not) in Sync: Inter-brain Synchrony During Interpersonal
Communication, v. 32, n. 3, pp. 108-20, 1982. Há muitas razões diferentes para os casais
vivenciarem conflito e tensão e muitas maneiras de superá-los. Algumas são descritas aqui e no
capítulo 5. Também vale notar que há uma infinidade de abordagens para diagnosticar e lidar com
Gottman escreveu que “há várias descobertas para os ‘mestres’ do relacionamento: manter a
superior a 5 para 1, ausência dos quatro cavaleiros do apocalipse (crítica, ficar na defensiva,
desdém, recusa a cooperar), reagir a tentativas de conexão pelo menos 86% do tempo, mapas do
amor (conhecer o mundo psicológico interior da outra pessoa), manifestar carinho e admiração,
efetivo durante o conflito, uma capacidade de lidar com o aspecto existencial dos impasses”.
30. Adela C. Timmons, Gayla Margolin e Darby E. Saxbe, “Physiological Linkage in Couples and
Its Implications for Individual and Interpersonal Functioning: A Literature Review”, Journal of
31. Lawler mencionou que sua decisão de brincar com o filho enquanto ela estava ao telefone,
em sua opinião, também ajudou a criar uma conexão. “Acho que na verdade foi isso que mexeu com
ela”, contou-me. “Fiz aquilo simplesmente porque era a coisa certa a fazer, não porque estava
tentando lhe vender aço. Era o que um ser humano faria […].”
32. Randy Burkett, “An Alternative Framework for Agent Recruitment: From mice to rascls”,
1. Esse projeto foi descrito para mim pelos participantes sob a condição de confidencialidade.
1. As deliberações do júri em Wisconsin vs. Leroy Reed foram filmadas por produtores de
em dívida com Douglas Maynard, que teve a bondade de partilhar as transcrições das deliberações
completas comigo (o programa Frontline contém apenas uma seleção parcial dos comentários dos
jurados). Também sou grato aos produtores do episódio do Frontline. As transcrições são citadas
quase literalmente, embora muitos diálogos, apartes e conversas laterais não tenham sido incluídos.
Também me baseei em “But Did He Know It Was a Gun?”, International Pragmatics Association
Meeting, Cidade do México, 5 jul. 1996; “Truth, But Not the Whole Truth”, The Wall Street
Journal, 14 abr. 1986; Douglas W. Maynard e John F. Manzo, “On the Sociology of Justice:
Theoretical Notes from an Actual Jury Deliberation”, Sociological Theory, pp. 171-93, 1993.
3. Para saber mais sobre o trabalho do dr. Ehdaie e do dr. Malhotra, ver “Negotiation Strategies
for Doctors — and Hospitals”, Harvard Business Review, 21 out. 2013; “Bargaining Over How to
Treat Cancer”, The Wall Street Journal, 2 set. 2017; Behfar Ehdaie et al., “A Systematic Approach to
Discussing Active Surveillance with Patients with Low-Risk Prostate Cancer”, European Urology, v.
71, n. 6, pp. 866-71, 2017; Deepak Malhotra, Negotiating the Impossible: How to Break Deadlocks
and Resolve Ugly Conflicts (Without Money or Muscle). Oakland: Berrett-Koehler, 2016.
Respondendo a uma checagem de fatos, o dr. Ehdaie esclareceu que achava que os pacientes
conseguiam escutá-lo, mas que ele não estava discutindo o risco de câncer de próstata de uma
maneira efetiva.
4. Laurence Klotz, “Active Surveillance for Prostate Cancer: For Whom?”, Journal of Clinical
Oncology, v. 23, n. 32, pp. 8165-9, 2005; Marc A. Dall’Era, et al., “Active Surveillance for Prostate
Cancer: A Systematic Review of the Literature”, European Urology, v. 62, n. 6, pp. 976-83, 2019.
5. O dr. Ehdaie explicou que “a vigilância ativa visa monitorar o câncer atentamente e intervir
dentro da janela de cura para tratar o câncer de próstata. […] Morrer de câncer de próstata talvez
seja algo que se aplique apenas aos homens mais velhos e menos saudáveis. […] Também incluímos
homens mais jovens com câncer de próstata na vigilância ativa porque as evidências mostram que
esses indivíduos têm resultados tão bons quanto pacientes submetidos a cirurgia inicial ou a
radioterapia, porque monitoramos seu câncer atentamente e podemos intervir dentro da janela de
cura, ou o câncer permanecerá de baixo risco durante a vida toda e nunca exigirá tratamento”.
6. O dr. Ehdaie ressaltou que o risco associado à vigilância ativa não é equivalente a 3% de
mortalidade e que, na verdade, “os estudos mostram que não há diferenças de sobrevivência entre o
268 mil diagnósticos de câncer de próstata por ano. Se aproximadamente metade deles são de
baixo risco, e a taxa dos que optam pela vigilância ativa é de aproximadamente 60% (estimativas
fornecidas pelo dr. Ehdaie), cerca de 53 mil homens por ano estão optando por cirurgias que
Catalona, e Danil V. Makarov, “Time Trends and Variation in the Use of Active Surveillance for
Management of Low-Risk Prostate Cancer in the US”, jama Network Open, v. 6, n. 3, p. e231439,
2023.
10. Deepak Malhotra e M.A.L.Y. Hout, “Negotiating on Thin Ice: The 2004-2005 nhl Dispute
11. Malhotra, respondendo a uma lista de checagem de fatos, disse: “trabalhei em vários tipos
diferentes de negociações por muito tempo, não apenas nisso ao que o senhor se refere aqui como
negociações ‘formais’”, e “a situação do dr. Ehdaie não foi a primeira vez em que lidei com algo que
a maioria das outras pessoas talvez não pense imediatamente como uma ‘negociação’”.
12. “Ask Better Negotiation Questions: Use Negotiation Questions to Gather Information That
Will Expand the Possibilities”, Harvard Law School, 8 ago. 2022; Edward W. Miles, “Developing
Strategies for Asking Questions in Negotiation”, Negotiation Journal, v. 29, n. 4, pp. 383-412, 2013.
13. Em respeito à confidencialidade do paciente, esse caso só foi descrito para mim em termos
14. Além das intervenções descritas neste capítulo, Edhaie e Malhotra desenvolveram métodos
adicionais de encorajar essas conversas. Para saber mais, ver “Negotiation Strategies for Doctors —
and Hospitals”; “Bargaining Over How to Treat Cancer”; e Negotiating the Impossible, de Malhorta.
15. Em 2018 — último ano para o qual há estatísticas disponíveis — apenas 14% das pessoas que
optaram por um julgamento com júri para crimes federais foram consideradas inocentes. Leroy
Reed foi julgado no tribunal estadual, não federal, mas a tendência é similar. John Gramlich, “Only
2% of Federal Criminal Defendants Go to Trial, and Most Who Do Are Found Guilty”, Pew Re-
16. Em alguns lugares, inclusive aqui, a transcrição das deliberações foi editada ou condensada
em prol da clareza.
19. Em resposta a um e-mail de checagem de fatos, Sheila Heen, professora na Escola de Direito
de Harvard que trabalhava com Fisher, escreveu: “Fisher observou que todas as partes na verdade
precisam ter seus interesses atendidos a fim de dizer sim a qualquer acordo, e isso significa que
encontro a seus interesses, assim como aos nossos, se queremos encontrar soluções para nossos
desafios comuns”.
20. A lógica de custos e benefícios e a lógica de similaridades também podem ser chamadas de
lógica das consequências e lógica da adequação. Para saber mais sobre esses tipos de pensamento,
ver Long Wang, Chen-Bo Zhong e J. Keith Murnighan, “The Social and Ethical Consequences of a
Calculative Mentalidade”, Organizational Behavior and Human Decision Processes, v. 125, n. 1, pp.
39-49, 2014; J. Mark Weber, Shirli Kopelman e David M. Messick, “A Conceptual Review of
Decision Making in Social Dilemmas: Applying a Logic of Appropriateness”, Personality and Social
Psychology Review, v. 8, n. 3, pp. 281-307, 2004; Johan P. Olsen e James G. March, The Logic of
Appropriateness. Olso: arena, 2004; Daniel A. Newark, e Markus C. Becker, “Bringing the Logic
of Appropriateness into the Lab: An Experimental Study of Behavior and Cognition”. In: Carnegie
Goes to California: Advancing and Celebrating the Work of James G. March. Bingley: Emerald, 2021;
Jason C. Coronel et al., “Evaluating Didactic and Exemplar Information: Noninvasive Brain
268-95, 2020; Tim Althoff, Cristian Danescu-Niculescu-Mizil e Dan Jurafsky, “How to Ask for a
Favor: A Case Study on the Success of Altruistic Requests”, Proceedings of the International AAAI
21. A transcrição é ligeiramente ambígua em relação a essa votação — um voto deixou de ser lido
em voz alta. Mas, com base no diálogo subsequente, parece ter havido três votos de culpado e nove
de inocente.
22. Esse comentário vem de uma entrevista com o jurado James Pepper, não da transcrição das
deliberações.
1. Michael Yeomans e Alison Wood Brooks, “Topic Preference Detection: A Novel Approach to
Understand Perspective Taking in Conversation”, Harvard Business School Working Paper n. 20-
2. Ibid.; Anna Goldfarb, “Have an Upbeat Conversation”, New York Times, 19 maio 2020.
1. Para saber mais sobre a fascinante pesquisa, ver Nicholas Epley, Mindwise: Why We Mis-
understand What Others Think, Believe, Feel, and Want. Nova York: Vintage, 2015.
2. Para mais pesquisa sobre fazer perguntas, ver Alison Wood Brooks e Leslie K. John, “The
Surprising Power of Questions”, Harvard Business Review, v. 96, n. 3, pp. 60-7, 2018; Karen
Huang et al., “It Doesn’t Hurt to Ask: Question-Asking Increases Liking”, Journal of Personality and
Social Psychology, v. 113, n. 3, p. 430, 2017; Einav Hart, Eric M. VanEpps, e Maurice E.
Organizational Behavior and Human Decision Processes, v. 162, pp. 136-54, 2021.
3. Epley escreveu para mim contando que algumas das conversas mais significativas após o
segundo incidente de embriaguez ao volante também ocorreram com seus pais. “Levei um baque
nessa época quando percebi que poderia ter realmente arruinado minha vida. Parei de beber na
mesma hora […] inclusive na faculdade […] e nunca mais fiquei bêbado.”
2015.
5. Roderick M. Kramer e Todd L. Pittinsky (Org.), Restoring Trust in Organizations and Leaders:
Enduring Challenges and Emerging Answers. Nova York: Oxford University, 2012.
7. Epley escreveu que “eu não diria que ‘assumir a perspectiva’ pareceu a qualquer um de nós
8. Tal Eyal, Mary Steffel e Nicholas Epley, “Perspective Mistaking: Accurately Understanding
the Mind of Another Requires Getting Perspective, Not Taking Perspective”, Journal of Personality
and Social Psychology, v. 114, n. 4, p. 547, 2018; Haotian Zhou, Elizabeth A. Majka e Nicholas
Epley, “Inferring Perspective Versus Getting Perspective: Underestimating the Value of Being in
Another Person’s Shoe”, Psychological Science, v. 28, n. 4, p. 482-93, 2017. Epley disse que
“assumir uma perspectiva consiste em tentar imaginar o que se passa na cabeça da outra pessoa,
tentar se colocar na sua pele e ver as coisas do ponto de vista dela. Obter uma perspectiva significa
perguntar de fato o que ela está pensando e qual é seu ponto de vista, escutando o que ela tem a
dizer. Quando uso cientificamente a expressão ‘assumir uma perspectiva’, normalmente me refiro
perspectiva de alguém, tentar imaginar como são as coisas de seu ponto de vista. Trata-se de uma
ginástica mental que realizamos em nossa cabeça. ‘Obter uma perspectiva’ significa lhes perguntar o
que acham de X, Y ou Z e depois escutar o que têm a dizer. Estamos obtendo sua perspectiva
and Some Preliminary Findings”, Personality and Social Psychology Bulletin, v. 23, n. 4, pp. 363-77,
1997. Como observou Arthur Aron na resposta a uma lista de checagem de fatos, alunos ajudaram
10. A citação completa é “temos nos esforçado muito para combinar os parceiros. Baseados em
nossa experiência com pesquisa anterior, esperamos que você e seu parceiro apreciem um ao outro
— ou seja, você foi combinado a alguém de quem esperamos que goste e que goste de você”.
11. Algumas questões do Fast Friends Procedure foram editadas em prol da brevidade. A lista
completa das 36 questões está aqui: 1. Se você pudesse escolher qualquer pessoa no mundo para
convidar para jantar, quem seria? 2. Você gostaria de ser famoso? De que maneira? 3. Antes de
ligar para alguém, você ensaia o que vai dizer? Por quê? 4. O que constituiria um “dia perfeito” a
seu ver? 5. Quando foi a última vez que cantou sozinho? E na presença de outros? 6. Se você
pudesse viver até os noventa e conservar a mente ou o corpo de uma pessoa de trinta anos durante
os últimos sessenta anos de sua vida, o que gostaria de fazer? 7. Você tem alguma intuição secreta
sobre como vai morrer? 8. Diga três coisas que você e seu parceiro têm em comum. 9. Pelo que
você é mais agradecido em sua vida? 10. Se você pudesse mudar alguma coisa na forma como foi
criado, o que seria? 11. Tire quatro minutos para contar a seu parceiro sua história de vida com o
maior detalhamento possível. 12. Se você pudesse acordar amanhã com uma nova qualidade ou
habilidade, qual seria? 13. Se você tivesse uma bola de cristal para lhe mostrar a verdade sobre si
mesmo, sua vida, o futuro ou qualquer outra coisa, o que gostaria de saber? 14. Existe alguma coisa
que você sonha em fazer há muito tempo? Por que ainda não fez? 15. Qual é a maior realização da
sua vida? 16. O que você mais valoriza em uma amizade? 17. Qual é sua lembrança mais cara? 18.
Qual é sua pior lembrança? 19. Se você soubesse que daqui a um ano morreria, mudaria alguma
coisa na forma como está vivendo hoje? Por quê? 20. O que a amizade significa para você? 21. Que
papéis o amor e a afeição desempenham em sua vida? 22. Reveze com seu parceiro contando as
cinco coisas que consideram a característica mais positiva um no outro. 23. Até que ponto você e
sua família são ligados? Você sente que sua infância foi mais feliz que a das outras pessoas? 24.
Como é seu relacionamento com sua mãe? 25. Faça três afirmações verdadeiras na segunda pessoa
do plural. Por exemplo, “Estamos ambos nesta sala sentindo…”. 26. Complete esta sentença: “Quem
dera eu tivesse alguém com quem pudesse dividir…”. 27. Se você fosse se tornar um amigo íntimo
do seu parceiro, o que seria importante que ele soubesse? 28. Diga a seu parceiro o que aprecia
nele; seja muito honesto desta vez, dizendo coisas que talvez não dissesse para alguém que acabou
de conhecer. 29. Compartilhe com seu parceiro um momento constrangedor. 30. Quando foi a
última vez que você chorou na frente de outra pessoa? E sozinho? 31. Diga a seu parceiro algo que
gosta nele. 32. O que você considera um assunto sério demais para fazer piada, se é que há algum?
33. Se você fosse morrer hoje, do que mais se arrependeria por não ter dito a alguém? Por que
ainda não lhe contou tal coisa? 34. Sua casa, contendo todas suas posses, pega fogo. Após salvar
seus entes queridos e seus animais de estimação, você tem tempo para conseguir salvar apenas mais
uma coisa. O que seria? Por quê? 35. Entre todas as pessoas da sua família, a morte de quem o
deixaria mais transtornado? Por quê? 36. Conte um problema pessoal a seu parceiro e lhe peça um
conselho sobre como lidar com ele. Além disso, peça-lhe para refletir em voz alta como você
12. Essas questões vêm do primeiro estudo em “The Experimental Generation of Interpersonal
Closeness: A Procedure and Some Preliminary Findings”, que era focado em estabelecer condições
13. Vale a pena notar que há algumas desvantagens em revelar vulnerabilidades. Como disse
Margaret Clark, professora de psicologia em Yale, “em geral, está absolutamente correto que não
conseguimos fazer com que as pessoas demonstrem empatia ou nos deem o apoio de que
precisamos a menos que fiquemos vulneráveis e revelemos nossas necessidades, nossos sentimentos
e assim por diante. As pessoas precisam disso a fim de oferecer apoio. Posso ser vulnerável diante
de um amigo que realmente se importa comigo. Entretanto, em algumas circunstâncias, isso não é
nada sensato. A mais óbvia seria uma em que a pessoa não se importasse comigo e pudesse usar
essa informação antes para tirar vantagem de mim do que para me apoiar. Precisamos interpretar
relacionamento, a vulnerabilidade é boa, mas revelar coisas demais, cedo demais, pode dar errado.
14. Kavadi Teja Sree, “Emotional Contagion in Teenagers and Women”, International Journal of
15. Elaine Hatfield, John T. Cacioppo e Richard L. Rapson, “Primitive Emotional Contagion”. In:
M. S. Clark, (Org.). Emotion and Social Behavior. Newbury Park: Sage, 1992. pp. 151-77.
16. O estudo de um por vez mencionado nessa seção não foi conduzido pelos Aron. Em uma
discussão de checagem de fatos, Arthur Aron esclareceu que experimentos subsequentes revelaram
indivíduo acredita ser apreciado pela outra pessoa. Segundo, a responsividade e a reciprocidade —
mais do que apenas as revelações íntimas — são os fatores predominantes em estabelecer um senso
de proximidade. “Sentir o parceiro com uma atitude responsiva em relação a nós é um fator
17. Arthur Aron escreveu: “O principal, hoje, é que isso proporciona uma oportunidade para
18. A professora Clark, de Yale, explicou: “Quando meu marido teve um problema médico, um
primo meu deu enorme apoio e não disse uma palavra sobre seus próprios problemas. Alguns anos
depois, a esposa dele ficou doente, ele me ligou, revelou o que estava acontecendo e falou sobre
suas preocupações. Só aí retribuí oferecendo meu apoio — dois anos depois. O certo não é mostrar
Women, Leadership, and Expressing Emotion in the Workplace”. In: Handbook on Well-Being of
20. Huang et al., “It Doesn’t Hurt to Ask”, p. 430. Respondendo a perguntas de checagem de
fatos, Michael Yeomans, um dos pesquisadores nesse estudo, disse que o “artigo era sobre
perguntas de acompanhamento — baseadas em assuntos que se aprofundam”. Para saber mais sobre
iniciadores de assunto, ver Einav Hart, Eric. M. Vanepps e Maurice. E. Schweitzer, “The (Better
21. É importante notar que embora questões profundas possam desmontar alguns estereótipos,
para eliminar os dois pesos e duas medidas no local de trabalho é preciso um esforço continuado e
um exame estrutural das causas de preconceito. Heilman enfatizou que não basta simplesmente
ensinar as pessoas a fazer certo tipo de pergunta. Para saber mais sobre como eliminar esses
23. Essas questões foram editadas em prol da brevidade. A lista completa de questões pode ser
encontrada em Michael Kardas, Amit Kumar e Nicholas Epley, “Overly Shallow?: Miscalibrated
Expectations Create a Barrier to Deeper Conversation”, Journal of Personality and Social Psychology,
v. 122, n. 3, p. 367, 2022. Para essa versão do experimento, as questões incluíam: 1. Pelo que em
sua vida você se sente mais agradecido? Conte ao outro participante sobre isso. 2. Se você tivesse
uma bola de cristal capaz de lhe mostrar a verdade sobre você, sua vida, seu futuro ou qualquer
coisa, o que gostaria de saber? 3. Você poderia descrever uma ocasião em que chorou na frente de
outra pessoa?
24. Epley explicou: “Acho que nossos dados sugerem que os preparativos para as perguntas mais
significativas podem ser bem mais árduos do que imaginamos. […] Tratar alguém como uma pessoa
25. Epley enfatizou que “nós concebemos experimentos para testar hipóteses, não para ‘mostrar’
‘demonstrar’ uma crença se parece com propaganda. Assim, diria eu, queria testar nossa teoria,
usando dados, de que conversas mais profundas seriam mais positivas do que as pessoas
esperavam”. Ele escreveu também que, embora o contágio emocional seja um dos mecanismos que
tornam as conversas profundas poderosas, há outros que talvez exerçam impacto ainda maior,
“como a reciprocidade da confiança mútua, que aumenta com o tempo, conforme também
descobrimos coisas realmente significativas sobre a outra pessoa graças ao conteúdo da conversa.
27. Huang et al., “It Doesn’t Hurt to Ask”, p. 430; Nora Cate Schaeffer e Stanley Presser, “The
Science of Asking Questions”, Annual Review of Sociology, v. 29, n. 1, pp. 65-88, 2003; Norbert
Methodology, pp. 18-34, 2012; Edward L. Baker e Roderick Gilkey, “Asking Better Questions — A
Core Leadership Skill”, Journal of Public Health Management and Practice, v. 26, n. 6, pp. 632-3,
2020; Patti Williams, Gavan J. Fitzsimons e Lauren G. Block, “When Consumers Do Not
31, n. 3, pp. 540-50, 2004; Richard E. Petty, John T. Cacioppo e Martin Heesacker, “Effects of
28. “The Case for Asking Sensitive Questions”, Harvard Business Review, 24 nov. 2020.
“Especificamente era que, a despeito de sua genialidade matemática (ele conseguia fazer coisas
como converter decimais para hexadecimais de cabeça), ele era incapaz de processar a expressão
‘qualidade de serviço’. A fórmula para dar gorjeta é 15% a 20%, dependendo da ‘qualidade de
serviço’. A despeito de sua proficiência matemática, ele era incapaz de avaliar o fator humano
presente na ‘qualidade de serviço’. Na verdade, certa vez, sugeriu que sempre dava 17,5% e
observou que a probabilidade de o serviço ser exatamente mediano era infinitesimal e que 17,5%
asseguraria que estivesse quase sempre dando gorjeta abaixo do valor ideal”.
2. Em resposta a uma lista de checagem de fatos, Prady explicou que “a decisão de não usar
programadores de computador para fazer os personagens tinha dois motivos. Primeiro, no tempo
transcorrido desde minha época na indústria de software, ela evoluíra de startups de garagem para
para uma tela e ele pode ser maçante para o público”. Prady fez questão de enfatizar que a vocação
da programação, em si, não é maçante: “Nada poderia estar mais longe da verdade — programar é
empolgante”.
3. Para a história de The Big Bang Theory, sou grato a Jessica Radloff, The Big Bang Theory: The
Definitive, Inside Story of the Epic Hit Series. Nova York: Grand Central, 2022; “There’s a Science
to CBS’ Big Bang Theory”, USA Today, 11 abr. 2007; “Why the Big Bang Theory Stars Took
Surprising Pay Cuts”, Hollywood Reporter, 29 mar. 2017; “tv Fact-Checker: Dropping Science on
The Big Bang Theory”, Wired, 22 set. 2011; Dave Goetsch, “Collaboration — Lessons from The Big
Bang Theory”, true WELLth, 4 jun. 2019; “The Big Bang Theory: ‘We Didn’t Appreciate How
Protective the Audience Would Feel About Our Guys’”, Variety, 5 maio 2009; “Yes, It’s a Big
4. The Big Bang Theory, temporada 3, episódio 1, “The Electric Can Opener Fluctuation”,
5. Daniel Goleman, “Emotional Intelligence: Why It Can Matter More than iq”, Learning 24, n.
6. “The Big Bang Theory Creators Bill Prady and Chuck Lorre Discuss the Series — And the
7. Prady afirmou: “Acho que o público se sentia protetor [em relação a Sheldon e Leonard] e que
as personagens ao seu redor, especialmente Katie, representava perigo para eles. Foi surpreendente
para nós perceber como o público se sentia protetor em relação a Leonard e Sheldon”.
Review of Psychology, v. 70, pp. 271-94, 2019; Albert Mehrabian, Nonverbal Communication.
Londres: Routledge, 2017; Robert G. Harper, Arthur N. Wiens e Joseph D. Matarazzo, Nonverbal
Communication: The State of the Art. Nova York: John Wiley and Sons, 1978; Starkey Duncan Jr.,
“Nonverbal Communication”, Psychological Bulletin, v. 72, n. 2, p. 118, 1969; Michael Eaves e Dale
G. Leathers, Successful Nonverbal Communication: Principles and Applications. Londres: Routledge,
2017; Martin S. Remland, Nonverbal Communication in Everyday Life. Los Angeles: Sage, 2016;
Northeastern, afirmou que esse processo de “ignorar” os sinais não verbais é complexo, “assim
como muitos sinais e vazamentos não verbais penetram, de forma subconsciente, em nosso
cérebro. Podemos decidir ‘ignorar’ algo enquanto os sinais ficaram na verdade registrados em um
nível subconsciente. Então, é claro, às vezes de fato deixamos escapar algumas pistas”.
10. Entrevistei Terence McGuire em 2017. Ele faleceu em 2022, e, consequentemente, não
pôde participar da checagem de fatos para esse capítulo. Para isso, no que se refere à Nasa e a
McGuire, a agência foi responsável por confirmar alguns detalhes, mas não fez comentários sobre
especificidades relativas às entrevistas dos candidatos e à filha de McGuire, Bethany Sexton, que
confirmou os detalhes nesse capítulo, incluindo os métodos usados por McGuire para analisar
candidatos. Além disso, falei com inúmeras pessoas que trabalharam com McGuire, bem como com
pessoas que trabalharam com a Nasa na avaliação de candidatos a astronauta. Também estou em
dívida com: “This Is How Nasa Used to Hire Its Astronauts 20 Years Ago — And It Still Works
Today”, Quartz, 27 ago. 2015; “The History of the Process Communication Model in Astronaut
Selection Methodology, Astronaut Personality, and the Space Station. Houston: Nasa, 1987; Terence
14. Peter Salovey e John D. Mayer, “Emotional Intelligence”, Imagination, Cognition and
15. “It’s Not Rocket Science: The Importance of Psychology in Space Travel”, The Independent, 17
fev. 2021.
16. Schirra havia dito, antes dessa missão, que pretendia se aposentar. Respondendo às questões
de checagem de fatos, Andrew Chaikin, um historiador das viagens espaciais, afirmou: “O fato
básico é que Schirra tinha uma forte crença de que durante um voo o comandante da missão — ou
17. Robert R. Provine, Laughter: A Scientific Investigation. Nova York: Penguin, 2001; Chiara
Mazzocconi, Ye Tian e Jonathan Ginzburg, “What’s Your Laughter Doing There? A Taxonomy of
the Pragmatic Functions of Laughter”, ieee Transactions on Affective Computing 13, n. 3, 1302-21,
2020; Robert R. Provine,“Laughing, Tickling, and the Evolution of Speech and Self ”, Current
Directions in Psychological Science, v. 13, n. 6, pp. 215-8, 2004; Christopher Oveis et al. “Laughter
Conveys Status”, Journal of Experimental Social Psychology, v. 65, pp. 109-15, 2016; Michael J.
Owren e Jo-Anne Bachorowski, “Reconsidering the Evolution of Nonlinguistic Communication:
The Case of Laughter”, Journal of Nonverbal Behavior, v. 27, pp. 183-200, 2003; Jo-Anne
Bachorowski e Michael J. Owren, “Not All Laughs Are Alike: Voiced but Not Unvoiced Laughter
Readily Elicits Positive Affect”, Psychological Science, v. 12, n. 3, pp. 252-7, 2001; Robert R.
Provine e Kenneth R. Fischer, “Laughing, Smiling, and Talking: Relation to Sleeping and Social
18. Robert R. Provine, “Laughter”, American Scientist, v. 84, n. 1, pp. 38-45, 1966.
20. Gregory A. Bryant, “Evolution, Structure, and Functions of Human Laughter”. In: The
Handbook of Communication Science and Biology. Londres: Routledge, 2020. pp. 63-77.
Respondendo às questões de checagem de fatos, Bryant disse que “os ouvintes podiam distinguir
entre amigos rindo juntos e estranhos rindo juntos. […] Acho que é uma especulação razoável que
as pessoas estão detectando alinhamento em certo sentido, mas tecnicamente a tarefa foi apenas
diferenciar amigos de estranhos. Nossa interpretação foi mais geral, ou seja, de que amigos ficam
mais animados quando envolvidos em uma conversa, fato refletido em sua conversa genuína, ao
contrário da risada volitiva de menor intensidade mais comum entre estranhos. Um ouvinte é
altamente sensível a isso. Gosto da ideia de que as pessoas estão à procura de evidências da
tentativa de se conectar”.
21. Esse uso das palavras humor e energia, nesse contexto, embora condizente com as definições
do dicionário, não se alinham perfeitamente a como essas palavras são às vezes usadas por
Northeastern, explicou que “o ‘humor’ é descrito por duas propriedades, valência e excitação.
Humor não é sinônimo de valência. Usamos ‘afeto’ para nos referir a propriedades da consciência,
independentemente de a pessoa ser ou não emocional. Usamos ‘afeto’ como sinônimo de ‘humor’.
Alguns cientistas usam ‘humor’ para se referir a momentos envolvendo sentir que não são emoções,
definidos por eles como sem ligação com os eventos no mundo. Acho isso equivocado, porque um
cérebro sempre é capaz de processar as sensações internas, o que dá origem a seus sentimentos,
junto com os dados sensórios do mundo”. Para mais sobre esses temas, ver James A. Russell, “A
Circumplex Model of Affect”, Journal of Personality and Social Psychology, v. 39, n. 6, p. 1161, 1980;
James A. Russell e Lisa Feldman Barret, “Core Affect, Prototypical Emotional Episodes, and Other
Things Called Emotion: Dissecting the Elephant”, Journal of Personality and Social Psychology, v.
Contribution of Valence and Arousal”, Reviews in the Neurosciences, v. 15, n. 4, pp. 241-52, 2004;
Elizabeth A. Kensinger e Suzanne Corkin, “Two Routes to Emotional Memory: Distinct Neural
Processes for Valence and Arousal”, Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 101, n. 9,
22. Embora alguns psicólogos usem as palavras positivo ou negativo nesse contexto, Barrett
23. Dacher Keltner et al., “Emotional Expression: Advances in Basic Emotion Theory”, Journal
of Nonverbal Behavior, v. 43, pp. 133-60, 2019; Alan S. Cowen et al., “Mapping 24 Emotions
Conveyed by Brief Human Vocalization”, American Psychologist, v. 74, n. 6, p. 698, 2019; Emiliana
R. Simon-Thomas et al., “The Voice Conveys Specific Emotions: Evidence from Vocal Burst
Displays”, Emotion, v. 9, n. 6, p. 838, 2009; Ursula Hess e Agneta Fischer, “Emotional Mimicry as
Social Regulation”, Personality and Social Psychology Review, v. 17, n. 2, pp. 142-57, 2013; Jean-
Julien Aucouturier et al. “Covert Digital Manipulation of Vocal Emotion Alter Speakers’ Emotional
States in a Congruent Direction”, Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 113, n. 4, pp.
948-53, 2016.
24. Barrett afirmou que espelhar o comportamento pode ser contraproducente se o que o
interlocutor necessita é um apoio prestativo: “Me formei como terapeuta faz um milhão de anos.
Mas o que um bom comunicador faz é perceber se a pessoa espera empatia ou um apoio prestativo.
Se a pessoa quer empatia, espelhamos seu comportamento. Se ela quer apoio prestativo, tentamos
nos contrapor ao que está acontecendo com ela […]. Se tento acalmar minha filha quando ela só
espera minha empatia, não funciona. Por outro lado, se mostro empatia quando ela precisa que eu
seja prestativo, isso pode piorar as coisas. […] Assim um bom comunicador tenta descobrir se a
pessoa quer empatia ou apoio prestativo. […] No jargão, chamamos isso de compassar [pacing] e
harmonizava com sua respiração, e depois lentamente respirava mais devagar, daí a pessoa diminuía
25. Vale a pena observar que a abordagem de McGuire derivou de seu interesse no “Modelo de
checagem de fatos, escreveu que a abordagem descrita neste capítulo “foi algo que Terry usou não
só com os astronautas, mas também ao longo de sua prática por décadas. Além do mais, ele
Kahler. Na época, Taibi estava estudando análise transacional e havia produzido um modelo
trabalho de Kahler, eles criaram uma conexão e rapidamente se tornaram amigos. Terry usou o
modelo de Taibi na análise dos astronautas […] e o achou muito poderoso, tanto que lhe
possibilitou avaliar os astronautas em questão de minutos, com base na escolha de palavras que
26. “90-006: 1990 Astronaut Candidates Selected”, Nasa News; “Astronaut’s Right Stuff Is
5. CONEXÃO EM UM CONFLITO
1. Jeffcoat me contou que o lockdown foi causado por uma altercação nos arredores da escola,
cinema.
5. Charles Duhigg, “The Real Roots of American Rage”, The Atlantic, jan./fev. 2019; “Political
6. “Political Polarization and Media Habits”, Pew Research Center, 21 out. 2014.
7. Jeff Hayes, “Workplace Conflict and How Businesses Can Harness It to Thrive”, cpp Global
8. Essa frase também já foi atribuída a Gandhi. Sua fonte original, como tantas citações, é um
tanto nebulosa.
9. Os organizadores desse projeto incluíam Spaceship Media, Advance Local, Alabama Media
10. Em resposta a questões de checagem de fatos, John Sarrouf, da Essential Partners, escreveu:
uma experiência imersiva de diálogo de dois dias e no desenvolvimento de habilidades para fazê-los
continuar com a conversa na internet por um mês e manter o mesmo tipo de diálogo aberto e
11. “The Vast Majority of Americans Support Universal Background Checks. Why Doesn’t
12. “Polling Is Clear: Americans Want Gun Control”, Vox, 1 jun. 2022.
13. Sarrouf esclareceu que acredita que “há uma falta de confiança recíproca e […] a linguagem
que temos para discutir essa questão afasta ainda mais as pessoas”. Sua esperança era “ilustrar o
14. Heen é uma coautora de um dos meus livros favoritos de comunicação: Difficult
Conversations: How to Discuss What Matters Most. Nova York: Penguin, 2010.
15. Heen explicou que “o problema mais fundo é um problema de relacionamento, motivado por
como cada um se sente sendo tratado pelo outro. Isso envolve sentimentos, sem dúvida, mas os
sentimentos são antes um sintoma do que o problema. […] O problema mais fundo é como nos
sentimos tratados pela outra pessoa. E isso está causando frustração e fazendo a pessoa se sentir
sozinha, mal compreendida e ignorada. […] Acho que quem tende a dizer ‘você não deveria ser tão
emotivo’ está deixando de perceber que, na verdade, é como está tratando o outro que é o
16. Heen acrescentou que não é apenas se as pessoas em conflito admitem ou não suas emoções,
mas também como o fazem. “Também poderia ser que ambas estão dizendo que estão furiosas e
ambas estão culpando uma à outra. Não estão chegando a ‘tudo bem, estou escutando, deixe-me
17. Sarrouf descreveu suas metas assim: “Criar um ambiente onde se espere que as pessoas
18. Dotan R. Castro et al. “Mere Listening Effect on Creativity and the Mediating Role of
Psychological Safety”, Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts, v. 12, n. 4, p. 489, 2018.
19. Sarrouf explicou que embora os sentimentos façam parte desse diálogo, “meu objetivo é fazer
com que falem sobre razões. Quero escutar suas histórias. Quero escutar sobre os valores que
fundamentam suas crenças. E quero que falem sobre a complexidade de suas crenças. As emoções
são apenas uma parte do que vem à tona quando as pessoas falam sobre essas coisas. […] Não quero
ninguém expondo uma emoção que não se sinta confortável em expor. O que espero que façam é
contar para nós uma história sobre si mesmos, em vez de outra pessoa contar uma história sobre
eles, que é o que fazemos uns com os outros quando estamos em um conflito. Eu tenho uma
história sobre você, e você tem uma história sobre mim, e essas histórias são normalmente
imprecisas. E essa é uma oportunidade para você reescrever sua própria história”.
20. Descobri o ciclo da compreensão com a jornalista Amanda Ripley em seu maravilhoso livro
High Conflict: Why We Get Trapped and How We Get Out. Nova York: Simon and Schuster, 2021.
técnica como ciclo de compreensão nem a ensinaram como tal, mas usaram uma abordagem mais
geral. Sarrouf explicou que chama sua abordagem de “escutar todo o espectro” e que ela é com
frequência usada em “um exercício onde quatro pessoas se reúnem. […] Você conta uma história e
três pessoas escutam. Uma delas está escutando o que acontece, os fatos do que aconteceu com
você. A segunda está escutando seus valores, e as coisas que são mais importantes para você nessa
história. […] E a terceira está de ouvidos atentos para as emoções que você sente. […] E assim cada
um dos três relata o que escutou — e não apenas diz se escutou certo ou errado (embora haja um
pouco disso). Na maior parte, o que estão fazendo é, na verdade, aprendendo com as três pessoas
que escutaram sobre si mesmas — coisas que nem sabiam ser verdade a seu próprio respeito, mas
como as pessoas estavam escutando tão profundamente em diferentes canais para diferentes coisas,
a situação lhes trouxe novas percepções sobre sua própria experiência. […] Se podemos aprender a
escutar todas as diferentes mensagens que as pessoas estão partilhando quando falam, podemos na
verdade ficar sabendo não apenas os fatos de sua vida, mas o que é importante para elas, o que é
importante em suas vidas, que relacionamentos tiveram, como foi sua jornada emocional, seus
High-Quality Listening Is Key”, Social and Personality Psychology Compass, v. 16, n. 1, 2021; Brant
técnicas como o ciclo da compreensão podem ser consideradas um componente, mas não a
totalidade dessa abordagem. A citação completa desse artigo é a seguinte: “Usando dados de campo
Especificamente, editores da Wikipédia que escrevem posts mais receptivos são menos propensos
Receptiveness: Improving Engagement with Opposing Views”, Organizational Behavior and Human
23. Heen escreveu: “Acho que, na verdade, há três propósitos para o ciclo (ou escuta ativa
minha perspectiva para você, mas quando você a resume para mim, muitas vezes penso: ‘Bem, sim,
mas pra mim é mais do que isso. […] Também é que…’. Assim, na condição de falante, meu ouvinte
está me ajudando a identificar um punhado de camadas sobre por que isso importa para mim e
quais são meus interesses, minhas preocupações e meus sentimentos sobre isso; 2. Ajudar o
ouvinte a compreender melhor e mais plenamente (às vezes, pergunto para cada lado ‘O que você
acha que o outro lado não ‘saca’ sobre sua perspectiva?,’ e uma vez explicado, o ouvinte diz: ‘Ah,
puxa, é mesmo, essa parte eu não entendi’); e 3. Deixar que o falante saiba que o ouvinte
compreende mais inteiramente — o que também mostra para o falante que o ouvinte se importa o
suficiente sobre o assunto e sobre o relacionamento para dar duro e entender o que é mais
importante para o outro. Assim, o ciclo está fazendo todo esse trabalho, por isso pode mudar a
dinâmica tão dramaticamente, quando feito com sinceridade — e quando a recíproca é verdadeira”.
24. Sarrouf escreveu: “O que está descrito aqui é a primeira de três questões que foram feitas e
respondias na experiência do diálogo: 1. Você poderia nos contar sobre uma experiência de vida
que moldou sua perspectiva ou suas crenças sobre armas de fogo? 2. Qual a principal questão
quando você pensa sobre o papel das armas de fogo em nosso país? 3. De que maneiras você tem
sentimentos mistos ou se sente puxado em diferentes direções sobre a questão? Onde você vê
alguns de seus valores se chocando contra outros valores quando pensa sobre essa questão?
Fazemos as pessoas circularem na roda respondendo essas perguntas e depois abrimos a conversa
para que façam perguntas com genuína curiosidade. O propósito das questões de genuína
25. “How and Why Do American Couples Argue?”, YouGovAmerica, 1 jun. 2022.
26. Na resposta às questões de checagem de fatos, Benjamin Karney escreveu que “é correto que
conjugal, alteração na satisfação conjugal e divórcio são significativas, mas não tão fortes. Isso
significa que, em média, casais que vivenciam mais conflito ficam sob maior risco de resultados
conjugais piores, mas com isso ainda restam muitos casais que brigam muito e ficam perfeitamente
bem por longos períodos de tempo. Por quê? Porque a qualidade do conflito conjugal não é a única
coisa que importa para seus sentimentos sobre o relacionamento. É apenas um elemento em uma
série de variáveis (incluindo personalidade, histórico familiar, estresse externo, situação financeira)
que também contribuem para compreender como os casamentos têm sucesso ou falham”.
27. Embora de modo geral seja verdade que os casais discutem por problemas similares em
todos os perfis demográficos, pesquisas indicam que casais empobrecidos discutem mais sobre os
fatores de estresse que acompanham a pobreza, e que casais com problemas específicos —
incluindo problemas médicos ou de dependência química — discutem com frequência maior sobre
essas questões. Além do mais, Karney enfatizou que “um monte (praticamente tudo) desse trabalho
inicial foi conduzido com casais relativamente abastados e brancos. Aprendemos muito sobre
conflito em anos recentes expandindo nosso foco para além dessas amostras, estudando casais de
bairros de menor renda. Uma descoberta: o modo como casais lidam com o conflito é
poderosamente afetado por fatores que os parceiros não podem controlar. Os casais muitas vezes
não podem escolher as fontes de suas discordâncias, ou a gravidade delas. É preciso muito
privilégio para conseguir escolher o melhor momento para suas discordâncias e ter tempo para
processar os conflitos, antes de mais nada. Também descobrimos que ensinar os casais a melhorar
seus conflitos é algo muito difícil de fazer, e que os ganhos nisso […] nem sempre melhoram a
relação, especialmente quando essa relação é desafiada de outras maneiras que as intervenções não
autocontrole, mas encorajar que aceitemos nosso parceiro como uma pessoal integral, com uma
história e limites”.
28. Karney escreveu: “Meu entendimento dessa literatura é que havia diferenças significativas
entre casais satisfeitos e casais em conflito no modo como abordavam [discussões sobre
discordâncias]. Por um lado, casais em conflito descarregam comportamento negativo no outro com
mais frequência do que casais satisfeitos. Por outro, pesquisas usando uma estratégia de ‘mesa de
conversa’ que separava a intenção do comportamento de cada parceiro de seu impacto revelou que
casais satisfeitos e em conflito não diferiam na intenção por trás de seu comportamento, mas
diferiam muito no impacto sobre esse comportamento. Ou seja, nos casais satisfeitos, as intenções
se equiparavam ao impacto, mas nos casais em conflito, as intenções não previam o impacto”.
29. É importante notar que o controle é apenas um dos fatores que influencia o conflito dos
casais. Kerney escreveu que “há muita coisa rolando nos conflitos de casais e brigas por controle
são uma fatia. […] Não tem só uma coisa acontecendo quando um casal discorda. […] O conflito
surge quando cada um dos parceiros quer algo diferente, então sempre que tem um conflito cada
parceiro está tentando fazer a outra pessoa mudar ou se comprometer. Você pode chamar isso de
30. As transcrições foram mostradas para mim sob a condição de que a identidade dos
31. Stanley escreveu que “se eu fizer com que um casal se organize um pouco, tire o pé do
acelerador e fique ciente de seu comportamento sobre como estão falando, revezando-se e
escutando (e cortando as agressões), as pessoas se acalmam rápido e as coisas boas vêm à tona. Um
32. Citações de discussão no Facebook por todo esse capítulo incluem tanto postagens feitas na
página privada do Facebook dedicada a esse grupo como a mensagens diretas que os participantes
me mostraram.
33. Sarrouf escreveu que “uma das falhas do projeto foi que trouxemos para o grupo o sêxtuplo
de pessoas que na verdade nunca receberam treinamento nem orientação para nosso trabalho. […]
Acho que ficou mais difícil quando pessoas que não tinham a experiência entraram. As pessoas que
treinamos usaram algumas de suas habilidades para ajudar os outros, mas não foi a mesma coisa”.
34. “Dialogue Journalism: The Method”, Spaceship Media; “Dialogue Journalism Toolkit”,
Spaceship Media.
35. Sarrouf escreveu que os moradores também trabalharam para “dar nova ênfase ao propósito
do envolvimento. Assim, o propósito é muito importante para nós. Lembrávamos às pessoas que o
propósito é ajudar a compreender uns aos outros e aprender com o outro, não uns tentarem
convencer os outros. Esse é um elemento fundamental do trabalho, assim você intervém para
reforçar a ênfase no propósito. Você intervém para reforçar a ênfase de parte dos acordos de
comunicação estabelecidos, que também estão lá para ajudar as pessoas e seu propósito. E talvez
algumas habilidades que aprendemos, como, sei lá, escutar para compreender, falar para ser
genuinamente curiosas, não tentar descobrir podres nem fazer perguntas retóricas”.
36. Como esse capítulo observa, havia múltiplas dinâmicas, além das brigas pelo controle, que
fatos, esses outros fatores incluíam a marginalização de alguns participantes; casos em que os
participantes não aderiram a acordos de comunicação feitos pelo grupo; e outros padrões que
impediam uma conversa aberta e diversa. Ele escreveu que “o propósito é criar uma igualdade na
hora de falar, convidar as pessoas a apresentar seu argumento, ajudar os que escutam a seguirem
firmes”.
37. Heen acrescentou que esse processo leva um longo tempo, porque “nossas opiniões mudam
com o tempo, e à medida que integramos como a outra pessoa enxerga à nossa própria perspectiva,
38. Essa é uma versão editada da citação inteira, que diz, na íntegra: “Estou começando a perder
interesse nesse grupo. Não há nada sobre o que falar. Ninguém está interessado em mudar de ideia.
Ou você acredita no direito humano mais fundamental que existe — o direito de se defender,
defender sua família, sua comunidade, seu país — ou acredita na negação desse direito mais
fundamental e na concentração das armas e monopolização da força nas mãos da elite política e
seus subordinados. Sei que na minha cabeça estou decidido sobre esse assunto e provavelmente
com você é a mesma coisa. Sem problema. Aprecio a civilidade aqui, mas acho que no fim a gente
se vê nas urnas”.
39. Essas citações vêm de múltiplas pesquisas conduzidas pela Essential Partners.
40. Sarrouf escreveu: “Acho que o negócio a se compreender aqui é que isso tem menos a ver
com algumas pessoas se elevando acima dos desentendimentos enquanto outras não, e mais a ver
com construir padrões e tendências que aumentem a probabilidade de optar por escutar
abertamente e fazer perguntas honestas. […] Acho que sabemos hoje e soubemos por um longo
tempo que dispomos das ferramentas e estruturas para ajudar as pessoas a falar sobre assuntos
muito difíceis. […] Descobrimos que quando as pessoas vão para um ambiente on-line com algum
que contribuem com reportagens equilibradas e algumas pessoas como Melanie e Jon que estão
1. Tim Althoff, Cristian Danescu-Niculescu-Mizil e Dan Jurafsky, “How to Ask for a Favor: A
Case Study on the Success of Altruistic Requests”, Proceedings of the International AAAI
Conference on Web and Social Media, v. 8, n. 1 , pp. 12-21, 2014; Cristian Danescu-Niculescu-Mizil
et al., “How Opinions Are Received by Online Communities: A Case Study on Amazon.com
Helpfulness Votes”, Proceedings of the 18th International Conference on World Wide Web, pp. 141-
50, abr. 2009; Justine Zhang et al., “Conversations Gone Awry: Detecting Early Signs of
Conversational Failure”, Proceedings of the 56th Annual Meeting of the Association for
International aaai Conference on Web and Social Media, v. 9, n. 1, pp. 61-70, 2015; Justin Cheng,
Cristian Danescu-Niculescu-Mizil e Jure Leskovec, “How Community Feedback Shapes User
Behavior”, Proceedings of the International AAAI Conference on Web and Social Media, v. 8, n. 1 ,
1. Dewesh Kumar et al. “Understanding the Phases of Vaccine Hesitancy During the Covid-19
Pandemic”, Israel Journal of Health Policy Research, v. 11, n. 1, pp. 1-5; 2022: Robert M. Jacobson,
Jennifer L. St. Sauver e Lila J. Finney Rutten, “Vaccine Hesitancy”, Mayo Clinic Proceedings, v. 90,
n. 11, pp. 1562-68, 2015. Charles Shey Wiysonge et al. “Vaccine Hesitancy in the Era of Covid-19:
Could Lessons from the Past Help in Divining the Future?”, Human Vaccines and
Resistance: Moving Beyond Risk”, Health, Risk and Society, v. 5, n. 3, pp. 273-83, 2003; Jacquelyn
H. Flaskerud, “Vaccine Hesitancy and Intransigence”, Issues in Mental Health Nursing, v. 42, n. 12,
pp. 1147-50, 2021; Daniel L. Rosenfeld, A. Janet. Tomiyama, “Jab My Arm, Not My Morality: Per-
ceived Moral Reproach as a Barrier to Covid-19 Vaccine Uptake”, Social Science and Medicine, v.
impacto gerado por nossas várias identidades. Por exemplo, a raça pode ter um impacto muito
maior na vida de alguém do que o gênero e, por isso, é importante reconhecer que, embora
“identidade social” seja um termo útil para captar esse conceito, ele geralmente é insuficiente por si
sociais como raça, classe e gênero aplicadas a um indivíduo ou grupo, vistas como sistemas
para o entendimento de identidades sociais, como outras notas de fim explicam mais a fundo. Por
ter me ajudado a entender melhor esses conceitos, agradeço a Kali D. Cyrus, mestra em Saúde
Pública, psiquiatra certificada pela American Board of Psychiatry and Neurology e professora
assistente do Departamento de Medicina da Johns Hopkins, que revisou esses capítulos e deu
3. Joshua L. Miller e Ann Marie Garran, Racism in the United States: Implications for the Helping
4. Michael Kalin e Nicholas Sambanis, “How to Think About Social Identity”, Annual Review of
Political Science, v. 21, pp. 239-57, 2018; Russell Spears, “Social Influence and Group Identity”,
5. Jim A. C. Everett, Nadira S. Faber e Molly Crockett, “Preferences and Beliefs in Ingroup
of a Feather Synchronize Together,” Trends in Cognitive Sciences, v. 22, n. 5, pp. 371-2, 2018; Mina
Cikara, Jay J. Van Bavel, “The Neuroscience of Intergroup Relations: An Integrative Review”,
Bodenhausen, “I Know You Are, but What Am I? Self-Evaluative Consequences of Judging In-
Group and Out-Group Members”, Journal of Personality and Social Psychology, v. 82, n. 1, p. 19,
2002.
6. Muzafer Sherif et al. Intergroup Conflict and Cooperation: The Robbers Cave Experiment, v. 10.
7. Jellie Sierksma, Mandy Spaltman e Tessa A. M. Lansu, “Children Tell More Prosocial Lies in
Favor of In-Group Than Out-Group Peers”, Developmental Psychology, v. 55, n. 7, p. 1428, 2019;
Sima Jannati et al. “In-Group Bias in Financial Markets” (2023). Disponível em: <https://ssrn.co
Motivated Reasoning and Unethical Behavior”, Personality and Social Psychology Bulletin, v. 25, n. 1,
pp. 28-39, 1999; Alexis C. Carpenter e Anne C. Krendl, “Are Eyewitness Accounts Biased?
Evaluating False Memories for Crimes Involving In-Group or Out-Group Conflict”, Social
Neuroscience, v. 13, n. 1, pp. 74-93, 2018; Torun Lindholm e Sven-Åke Christianson, “Intergroup
Biases and Eyewitness Testimony”, The Journal of Social Psychology, v. 138, n. 6, pp. 710-23, 1998.
identidades que transcendem os pares binários, e como essas identidades intersectadas podem
compreensão da força das identidades sociais. Para saber mais sobre o tema, procure as obras de
Kimberlé Williams Crenshaw, Patricia Hill Collins, Sirma Bilge, Arica L. Coleman, Lisa Bowleg,
seguintes obras, que foram de grande valia para mim: Sumi Cho, Kimberlé Williams Crenshaw e
Leslie McCall, “Toward a Field of Intersectionality Studies: Theory, Applications, and Praxis”,
Signs: Journal of Women in Culture and Society, v. 38, n. 4, pp. 785-810, 2013; Ange-Marie
Hancock, Intersectionality: An Intellectual History. Nova York: Oxford University, 2016; Edna A.
Racism, Intersectionality Theory, and Immigrant Health”, Social Science and Medicine, v. 75, n. 12,
pp. 2099-106, 2012; Devon W. Carbado, et al. “Intersectionality: Mapping the Movements of a
Theory”, Du Bois Review: Social Science Research on Race, v. 10, n. 2, pp. 303-12, 2013.
9. Saul Mcleod, “Social Identity Theory: Definition, History, Examples, and Facts”, Simply
Annual Review of Psychology, v. 58, pp. 259-89, 2007; Carolyn Parkinson e Thalia Wheatley, “The
Repurposed Social Brain,” Trends in Cognitive Sciences, v. 19, n. 3, pp. 133-41, 2015; William Hirst
Memories”, Annual Review of Psychology, v. 63, pp. 55-79, 2012; Katherine D. Kinzler, “Language
as a Social Cue”, Annual Review of Psychology, v. 72, pp. 241-64, 2021; Gregory M. Walton et al.
“Mere Belonging: the Power of Social Connections”, Journal of Personality and Social Psychology, v.
11. É de grande valia notar que o poder conferido pela sociedade a certas identidades — o que às
vezes chamamos de privilégio — pode afetar muito a vida das pessoas. Para saber mais sobre o
assunto, recomendo Allan G. Johnson, Privilege, Power, and Difference. Boston: McGraw-Hill,
2006; Devon W. Carbado, “Privilege”. In: Ann Braithwaite e Catherine Orr (Org.), Everyday
Women’s and Gender Studies. Nova York: Routledge, 2016, pp. 141-6; Linda L. Black e David
Stone, “Expanding the Definition of Privilege: the Concept of Social Privilege”, Journal of
Multicultural Counseling and Development, v. 33, n. 4, pp. 243-55, 2005; Kim Case, Deconstructing
12. Matt Motta et al. “Identifying the Prevalence, Correlates, and Policy Consequences of Anti-
Vaccine Social Identity”, Politics, Groups, and Identities, pp. 1-15, 2021.
13. “CDC Museum Covid-19 Timeline”, Centers for Disease Control and Prevention. Disponível
em: <https://www.cdc.gov/museum/timeline/covid19.html>.
Minority Populations in the US: Implications for Herd Immunity”, Vaccines, v. 9, n. 5, p. 489,
2021; Lea Skak Filtenborg Frederiksen et al. “The Long Road Toward Covid-19 Herd Immunity:
Vaccine Platform Technologies and Mass Immunization Strategies”, Frontiers in Immunology, v. 11,
p. 1817, 2020.
15. Claude M. Steele, Whistling Vivaldi: How Stereotypes Affect Us and What We Can Do. Nova
16. Ibid.
17. Em resposta ao e-mail de checagem de fatos, Steele respondeu que acabou concluindo que
essa discrepância não se devia a um viés implícito porque “1) temos casos de desempenho aquém
do esperado em nossas pesquisas laboratoriais que não podem ser atribuídos a um viés implícito,
visto que os participantes estavam sozinhos no laboratório ao fazer o teste, e 2) quando tiramos a
ameaça do estereótipo do caminho — como foi o caso desses experimentos, feitos em condições
críticas —, o desempenho aquém do esperado desaparece por completo, o que deixa claro que pelo
menos nesses experimentos somente a ameaça do estereótipo poderia ter causado o mau
desempenho, já que sua completa eliminação acabou totalmente com as performances abaixo do
esperado”.
18. Steele escreveu: “Não estão exatamente preocupados com seu talento verdadeiro, mas com a
forma como serão julgados e vistos e o que isso significa para o futuro deles”.
19. Steven J. Spencer, Claude M. Steele, Diane M. Quinn, “Stereotype Threat and Women’s
Math Performance”, Journal of Experimental Social Psychology, v. 35, n. 1, pp. 4-28, 1999.
20. Steele escreveu: “Agora sabemos que elas não têm um desempenho aquém do esperado
porque estão aturdidas, e sim porque se esforçam demais, fazem várias coisas simultaneamente, se
empenham muito para se sair bem ao mesmo tempo que monitoram o tempo todo como estão indo
e se preocupam com o impacto de tudo sobre seu desempenho e as consequências desse
desempenho”.
21. Claude M. Steele e Joshua Aronson, “Stereotype Threat and the Intellectual Test
Performance of African Americans”, Journal of Personality and Social Psychology, v. 69, n. 5, p. 797,
1995.
22. Respondendo a uma checagem de fatos, Aronson, coautor do estudo, disse: “O resultado dos
estudantes negros era bem melhor quando tinham a sensação de não estarem sendo avaliados pelo
teste, mas para os estudantes brancos isso não fazia diferença e acreditamos que isso se deve ao
fato de não haver estereótipo em jogo”. Aronson alertou contra a comparação de notas dos
participantes brancos e negros e enfatizou bastante que “alunos negros estavam sujeitos a enfrentar
uma situação estereotipante: tinham um desempenho pior quando eram lembrados do estereótipo
23. Charlotte R. Pennington et al. “Twenty Years of Stereotype Threat Research: A Review of
Psychological Mediators”, Plos One, v. 11, 2016. Antes disso, atuou como reitor da Universidade
Columbia e da uc Berkeley.
24. Steele escreveu: “Não é que as mulheres e os negros acreditem ter sido confinados a seus
grupos por outras pessoas. Assim como homens e brancos, eles sabem muito bem qual é o grupo
deles. Não precisam supor que pessoas preconceituosas os tenham encaixado ali. Eles
simplesmente sabem que existem estereótipos a respeito de seus grupos na sociedade em geral. Isso
basta para que se sintam ameaçados pela possibilidade de serem julgados ou tratados de acordo
com os estereótipos quando estão em uma situação ou vivenciando algo que tenha a ver com o
estereótipo”.
25. Há uma enorme quantidade de pesquisas acerca de como lutar contra a ameaça do estereó-
tipo, com muitas soluções propostas e testadas. Para saber mais detalhes, recomendo o capítulo 9
26. Dana M. Gresky, “Effects of Salient Multiple Identities on Women’s Performance Under
27. Salma Mousa, “Building Social Cohesion Between Christians and Muslims Through Soccer
28. Richard Hall, “Iraqi Christians Are Slowly Returning to Their Homes, Wary of Their
29. “For Persecuted Christian Women, Violence Is Compounded by ‘Shaming’”, World Watch
31. Em resposta a um e-mail de checagem de fatos, Mousa esclareceu que, apesar de correta a
informação de que os três jogadores a mais seriam muçulmanos, na reunião as pessoas foram
informadas apenas de que “para garantir que membros de todas as comunidades participem da liga,
vamos acrescentar jogadores aos seus times de forma aleatória, e eles podem ser ou não ser
cristãos”. Entretanto, os presentes entenderam que provavelmente os outros jogadores seriam
muçulmanos.
32. Mousa contou com a enorme colaboração de líderes comunitários de Qaraqosh e com a
orientação de Rabie Zakaria. Mousa era estudante de doutorado quando esse trabalho foi feito.
33. Thomas F. Pettigrew e Linda R. Tropp, “Allport’s Intergroup Contact Hypothesis: Its History
and Influence”. In: Peter Samuel Glick Dovidio e Laurie A. Rudman, On the Nature of Prejudice:
Fifty Years After Allport. Malden: Blackwell, 2005, pp. 262-77; Marilynn B. Brewer e N. Miller,
“Beyond the Contact Hypothesis: Theoretical”, Groups in Contact: The Psychology of Desegregation.
Orlando: Academic Press, 1984. p. 281; Yehuda Amir, “Contact Hypothesis in Ethnic Relations”,
Psychological Bulletin, v. 71, n. 5, p. 319, 1969; Elizabeth Levy Paluck, Seth A. Green, e Donald P.
Green, “The Contact Hypothesis Re-Evaluated”, Behavioural Public Policy, v. 3, n. 2, pp. 129-58,
2019.
35. Salma Mousa, Contact, Conflict, and Social Cohesion, Universidade de Stanford, 2020,
dissertação de mestrado.
36. Mousa acrescentou mais um contexto para garantir o pé de igualdade: a vida de todos os
jogadores, muçulmanos e cristãos, tinha sido afetada pelos milicianos do Isis. “Os muçulmanos do
estudo, em sua maioria, eram da comunidade Shabak Shia, vista como herege pelo Isis… Então não
foi exatamente uma dinâmica ao estilo ‘criminoso vs. vítima’, mas um caso de profunda
pobres e mais conservadores. A experiência compartilhada do desalojamento pouco fez para unir
endogrupal.”
37. “Covid-19 Weekly Epidemiological Update”, Organização Mundial da Saúde, 23 fev. 2021.
38. Em resposta às perguntas que fizemos para nossa checagem de fatos, Rosenbloom disse que
“o objetivo do Boost Oregon não era convencer as pessoas a se vacinarem. Era ajudá-las a tomar
uma decisão bem fundamentada. Sim, estamos explicando às pessoas por que elas são boas e por
que são seguras, mas… o que a gente precisa fazer é ajudá-las a resolver as dúvidas que têm, sem
39. Jennifer Hettema, Julie Steele e William R. Miller, “Motivational Interviewing”, Annual
Review of Clinical Psychology, v. 1, pp. 91-111, 2005; William R. Miller e Gary S. Rose, “Toward a
Miller, “Motivational Interviewing: Research, Practice, and Puzzles”, Addictive Behaviors, v. 21, n. 6,
pp. 835-42, 1996; William R. Miller, S. Rollnick, Motivational Interviewing: Helping People
with Autonomy Support”, International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, v. 9, n.
1. Autores cometem vários equívocos ao escrever sobre raça e etnia, sobretudo quando são, assim
como eu, homens brancos heterossexuais que tiveram muitos privilégios e vantagens. Um dos
riscos é não perceber insights que seriam óbvios para outros escritores. Por isso, ao escrever esse
capítulo, conversei com acadêmicos que estudam racismo, preconceito e comunicação interracial e
que foram muito generosos com o tempo deles. Muitos são pensadores que vivenciaram a exclusão.
Fiquei grato por suas perspectivas e pedi que alguns deles revisassem esse capítulo e me dessem
detalhadas nas notas. Também considero importante observar que, embora tipos diferentes de
preconceitos tenham aspectos em comum, eles não devem ser postos num mesmo grupo. O
injustiça — são, à sua própria maneira, singulares. Por fim, ao escolher como me referir a temas
delicados nesse e em outros capítulos, inclusive ao me referir a etnias específicas, tentei adotar os
2. “At Netflix, Radical Transparency and Blunt Firings Unsettle the Ranks”, The Wall Street
3. É importante observar que declarações ofensivas podem ser escancaradas — como o uso de
um termo racista —, mas podem também ser bem sutis, algo que certos acadêmicos chamam de
microagressões. Para saber mais sobre o assunto, ver Derald Wing Sue e Lisa Spanierman, Microag-
gressions in Everyday Life. Hoboken: John Wiley and Sons, 2020; Derald Wing Sue et al. “Racial
Microaggressions in Everyday Life: Implications for Clinical Practice”, American Psychologist, v. 62,
n. 4, p. 271. 2007; Derald Wing Sue, “Microaggressions: More Than Just Race”, Psychology Today,
v. 17, 2010; Anthony D. Ong e Anthony L. Burrow, “Microaggressions and Daily Experience:
5. Pela minha compreensão da Netflix, tenho uma dívida de gratidão a muitas fontes, entre elas,
o livro de Reed Hastings, coescrito por Erin Meyer, No Rules Rules: Netflix and the Culture of
Reinvention. Nova York: Penguin, 2020; Corinne Grinapol, Reed Hastings and Netflix. Nova York:
Rosen, 2013; Patty McCord, “How Netflix Reinvented hr”, Harvard Business Review, v. 92, n. 1,
pp. 71-6, 2014; James Morgan, “Netflix: Reed Hastings”, Media Company Leader Presentations, v.
12, 2018; Bill Taylor, “How Coca- Cola, Netflix, and Amazon Learn from Failure”, Harvard Busi-
ness Review, v. 10, 2017; Kai-Ingo Voigt et al. “Entertainment on Demand: The Case of Netflix”. In:
Business Model Pioneers: How Innovators Successfully Implement New Business Models. Cham:
Springer International, 2017. pp. 127-41; Patty Mccord, Powerful: Building a Culture of Freedom and
Netflix disse que hoje em dia essa prática é mais rara, e que como a empresa cresceu e se tornou
mais sofisticada, ela vem pagando salários que seguem o padrão da indústria sem que os
9. Evelyn R. Carter, Ivuoma N. Onyeador e Neil A. Lewis jr., “Developing and Delivering
Effective Anti-bias Training: Challenges and Recommendations”, Behavioral Science and Policy, v. 6,
n. 1, pp. 57-70, 2020; Joanne Lipman, “How Diversity Training Infuriates Men and Fails Women”,
Time, v. 191, n. 4, pp. 17-19, 2018; Peter Bregman, “Diversity Training Doesn’t Work”, Harvard
Business Review, v. 12, 2012; Frank Dobbin e Alexandra Kalev, “Why Doesn’t Diversity Training
Work? The Challenge for Industry and Academia”, Anthropology Now, v. 10, n. 2, pp. 48-55, 2018;
Hussain Alhejji et al., “Diversity Training Programme Outcomes: A Systematic Review”, Human
Resource Development Quarterly, v. 27, n. 1, pp. 95-149, 2016; Gwendolyn M. Combs e Fred
Luthans, “Diversity Training: Analysis of the Impact of Self- Efficacy”, Human Resource
Development Quarterly, v. 18, n. 1, pp. 91-120, 2007; J. Belluz, “Companies Like Starbucks Love
Anti-bias Training but It Doesn’t Work—And May Backfire”, Vox, 2018; Edward H. Chang et al.,
“The Mixed Effects of Online Diversity Training”, Proceedings of the National Academy of Sciences,
10. Elizabeth Levy Paluck et al., “Prejudice Reduction: Progress and Challenges”, Annual Review
11. Francesca Gino e Katherine Coffman, “Unconscious Bias Training That Works”, Harvard
12. Frank Dobbin e Alexandra Kalev, “Why Diversity Programs Fail”, Harvard Business Review, v.
13. Citação tirada de “Unconscious Bias Training That Works” e de seu resumo em outro estudo:
Alexandra Kalev, Frank Dobbin e Erin Kelly, “Best Practices or Best Guesses? Assessing the
Efficacy of Corporate Affirmative Action and Diversity Policies”, American Sociological Review, v.
14. Elizabeth Levy Paluck, et al. “Prejudice Reduction: Progress and Challenges”, Annual Review
of Psychology, v. 72, pp. 533-60, 2021. Vale a pena notar que, entre os métodos que parecem ser
“contato intergrupal cara a cara” e o incentivo a “conversas interpessoais ao longo do tempo”, como
16. Muitas pesquisas sugerem que esses tipos de padrões, formal ou informalmente aplicados
desproporcional para trabalhadores de origens minorizadas. Para saber mais sobre o assunto, ver
James R. Elliott e Ryan A. Smith, “Race, Gender, and Workplace Power”, American Sociological
Review, v. 69, n. 3, pp. 365-86, 2004; Ashleigh Shelby Rosette, Geoffrey J. Leonardelli e
Katherine W. Phillips, “The White Standard: Racial Bias in Leader Categorization”, Journal of
Applied Psychology, v. 93, n. 4, p. 758, 2008; Victor Ray, “A Theory of Racialized Organizations”,
American Sociological Review, v. 84, n. 1, pp. 26-53, 2019; Alice Hendrickson Eagly e Linda
Lorene Carli, Through the Labyrinth: The Truth About How Women Become Leaders. Boston:
Distinguishing Belonging from Inclusion”, Social Psychological and Personality Science v. 12, n. 3,
pp. 392-406. 2021. Em resposta às perguntas que fizemos para nossa checagem de fatos, Slepian
esclareceu que a pergunta sobre conversas difíceis “foi apenas uma em cerca de trinta que
discutimos”.
18. Slepian observou que os resultados foram extraídos de vários estudos e artigos.
19. Nyla R. Branscombe et al. “The Context and Content of Social Identity Threat”, Social
Identity: Context, Commitment, Content, pp. 35-58, 1999; Claude M. Steele, Steven J. Spencer e
Joshua Aronson, “Contending with Group Image: The Psychology of Stereotype and Social Identity
Threat”. In: Advances in Experimental Social Psychology. Cambridge: Academic Press, 2002, v. 34:
pp. 379-440; Katherine T. U. Emerson, Mary C. Murphy, “Identity Threat at Work: How Social
Identity Threat and Situational Cues Contribute to Racial and Ethnic Disparities in the-
Workplace”, Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, v. 20, n. 4, p. 508, 2014; Joshua
Aronson e Matthew S. Mcglone, “Stereotype and Social Identity Threat” In: Handbook of Prejudice,
Stereotyping, and Discrimination. Nova York: Psychology Press, 2009; Naomi Ellemers, Russell
Spears e Bertjan Doosje, “Self and Social Identity”, Annual Review of Psychology, v. 53, n. 1, pp.
161-86, 2002.
20. Sarah Townsend et al., “From ‘in the Air’ to ‘Under the Skin’: Cortisol Responses to Social
Identity Threat”, Personality and Social Psychology Bulletin, v. 37, n. 2, pp. 151-64, 2011; Todd Lucas
et al., “Perceived Discrimination, Racial Identity, and Multisystem Stress Response to Social
Evaluative Threat Among African American Men and Women”, Psychosomatic Medicine, v. 79, n. 3,
p. 293, 2017; Daan Scheepers, Naomi Ellemers e Nieska Sintemaartensdijk, “Suffering from the
Possibility of Status Loss: Physiological Responses to Social Identity Threat in High Status
Groups”, European Journal of Social Psychology, v. 39, n. 6, pp. 1075-92, 2009; Alyssa K.
Mcgonagle, Janet L. Barnes-Farrell, “Chronic Illness in the Workplace: Stigma, Identity Threat and
Atrain”, Stress and Health, v. 30, n. 4, pp. 310-21, 2014; Sally S. Dickerson, “Emotional and
Physiological Responses to Social-Evaluative Threat”, Social and Personality Psychology Compass, v.
21. Slepian observou que os anúncios para recrutar participantes para o estudo buscavam
especificamente indivíduos que tinham se sentido excluídos por causa de algum grupo social, o que
pode ter resultado numa amostragem com uma experiência descomunal de ameaças à identidade.
menor.
22. Em resposta às perguntas que fizemos para nossa checagem de fatos, Sanchez desenvolveu
seus comentários: ela observou que, em seu estudo, 80% a 90% dos participantes também
disseram que esperavam se beneficiar dessas conversas. Kiara Lynn Sanchez, “A Threatening
Opportunity: Conversations About Race-Related Experiences Between Black and White Friends”,
23. Robert Livingston, The Conversation: How Seeking and Speaking the Truth About Racism Can
24. Devido à pandemia, a maioria das conversas foram feitas por videoconferência.
25. É bom notar que, em ambientes menos formais, pedir a um amigo negro que fale de suas
experiências com o racismo pode criar barreiras à conexão. Como disse a dra. Kali Cyrus, depois de
revisar esse capítulo, às vezes pede-se que a pessoa negra compartilhe seu trauma, e “as vivências
[da pessoa negra] são colocadas numa vitrine para serem alvos de comentários, pedidos de
desculpas ou para serem usadas como contraponto às experiências das pessoas brancas… [É
importante reconhecer que] não é reponsabilidade dos negros ou dos menos privilegiados
participar de conversas difíceis em prol da união! Porque é típico que tenham que agir assim como
branco. No entanto, há certas pessoas negras (como eu) dispostas e emocionalmente aptas a
participar”.
26. Essa é uma versão editada das instruções. A versão integral é a seguinte: “Um pouco depois,
você terá a oportunidade de conversar com ele [o amigo]. Mas, primeiro, queremos tirar um
tempinho para dividir algumas coisas que descobrimos com você. Perguntamos a outras pessoas
sobre suas conversas acerca da raça com amigos de grupos raciais diferentes. Estamos
27. Sanchez disse que o objetivo era “dar às pessoas uma estrutura para perseverar… A teoria
latente é de que o incômodo pode ser benéfico. Portanto, nosso objetivo não é acabar com ele, mas
sim ajudar as pessoas a verem que ele não precisa ser um obstáculo a conversas e relações
significativas”.
28. Sanchez observou que, para o grupo experimental vs. o grupo de controle, “não houve
diferença estatística no que diz respeito ao tempo de conversa. Tampouco temos evidências
atualmente de que as conversas foram mais profundas ou mais vulneráveis. De modo geral, o que
estamos descobrindo é que as conversas correram muito bem em ambas as condições. Os dois
amigos declararam que a experiência foi positiva, que se engajaram e foram autênticos na conversa.
29. Em resposta às perguntas que fizemos para nossa checagem de fatos, Sanchez escreveu que
esse participante negro estava “discutindo seu conflito interno por ser um homem negro em um
ambiente branco. Se por um lado ele se esquece disso às vezes, por outro, é frequentemente
lembrado disso e se equilibra entre essas duas experiências. [Essa complexidade] ressalta a natureza
Experiences Between Black and White Friends, Universidade Stanford, 2022, tese de doutorado.
31. Sanchez escreveu que os resultados mais potentes ocorrem logo depois das conversas,
quando “os dois amigos experimentaram um pico no sentimento de proximidade (de antes da
conversa para o momento imediatamente posterior). Além disso, alguns meses depois, os amigos
negros se sentiam mais à vontade para falar sobre raça com os amigos brancos e se sentiam mais
autênticos na relação”. Ela continuou, em resposta a outras perguntas que fizemos para nossa
checagem de fatos: “o resultado imediato se deu nas duas situações, tendo ocorrido treinamento
antes da conversa ou não, mas o treinamento teve um efeito singular para a ‘autenticidade’ e a
‘proximidade’ dos amigos negros com o passar do tempo — este foi o benefício a longo prazo. Logo
situações. A longo prazo, os amigos negros do grupo que passou por treinamento notaram o
quesito dos benefícios a longo prazo, o treinamento foi muito útil para os amigos negros”.
32. É importante observar a diferença entre se preparar para o incômodo e ficar obcecado com
ele. Como disse a dra. Kali Cyrus, a obsessão pode contribuir com o viés de confirmação.
33. Em resposta às perguntas que fizemos para nossa checagem de fatos, Sanchez escreveu que
“a ameaça à identidade volta e meia emerge sem que alguém ‘faça’ alguma coisa. O simples ato de
conversar com alguém de outro grupo pode despertar preocupações de que a pessoa o veja à luz de
34. Em resposta às perguntas que fizemos para nossa checagem de fatos, Myers desenvolveu sua
declaração: “A pessoa tem que ser ativamente antirracista, o que significa que, como indivíduos e
como empresa, precisamos antes de tudo reconhecer e entender nossos preconceitos inconscientes
era “aumentar a diversidade e a retenção dentro do gabinete, oferecer treinamentos contra assédio
longo prazo, ou seja, trabalhar junto com nossos parceiros e chefes de rh dentro dos
departamentos para formular essas estratégias. Fazer oficinas e conversas é apenas parte da
estratégia”.
38. Myers disse que “boa parte do trabalho é uma questão de conhecimento de si mesmo, de sua
moldam nossa visão de mundo, nossas relações, nossas condutas e nossos julgamentos. Também
devemos aprender a reconhecer nossos preconceitos e a refreá-los, a perceber quem podemos estar
39. Vale a pena destacar que, embora todos sejamos capazes de compreender a dor da exclusão,
nem todo mundo viveu a exclusão do mesmo modo. Algumas doem mais que outras e certas
pessoas, por conta de suas identidades sociais, vivenciam a exclusão com mais frequência e de
formas diferentes.
40. Myers escreveu que “é importante que as pessoas vejam que não são apenas as pessoas não
brancas e as mulheres que têm identidades: todo mundo as tem, e essa diversidade é algo que existe
dentro de todos nós, já que temos várias identidades e experiências que fazem de cada um de nós
certas identidades devido à exclusão histórica, ao racismo e ao sexismo, e essas identidades viram o
parâmetro segundo o qual tudo é elaborado e julgado. Não basta incluir pessoas diferentes da
norma: é preciso criar um ambiente em que elas são respeitadas e se veem refletidas nas equipes,
multifacetado para criar mudanças em quatro níveis: o nível pessoal (como as pessoas pensam,
41. Myers escreveu que o objetivo dessas conversas era trazer à tona comentários “não só sobre
raça: geralmente era sobre diferença, qualquer tipo de diferença, e como eles reagiam a essa
diferença. A raça era muito abordada, mas poderia ser gênero, deficiências, renda, orientação
42. Como esses tipos de pergunta podem ser incômodos, a empresa tinha diretrizes para quando
o incômodo ficava grande demais. “Quando alguém não fica à vontade discutindo alguma
característica pessoal ou alguma questão relativa às suas identidades, incentivamos a pessoa a avisar
o colega que não quer ter essa conversa”, disse Toni Harris Quinerly, diretora de estratégias
inclusivas da Netflix. “Como Equipe de Inclusão, empenhamo-nos para normalizar essa imposição
de limites, assim as pessoas ficam mais à vontade para comunicar quando querem ou não querem
conversar sobre algum assunto, e isso torna mais provável que as pessoas na outra ponta honrem e
respeitem esses limites. Para isso, é preciso informar que há inúmeras maneiras de as pessoas
aprenderem sobre experiências que não entendem completamente (por exemplo, procurando
artigos/livros relacionados ao tema e/ou buscando as opiniões de outras pessoas ou aliados que
43. Myers escreveu que “para algumas pessoas, essas conversas sempre serão difíceis e elas
jamais se sentirão seguras. Em alguns casos, alteramos o conteúdo para abordar as questões”. Ela
44. Greg Walton, em resposta às perguntas que fizemos para nossa checagem de fatos,
especificou que a meta de um exercício como esse não é tranquilizar quem já é detentor de poder,
mas criar uma atmosfera em que as pessoas possam refletir sobre elas mesmas e a sociedade, além
“precisamos criar um espaço na cultura para pessoas imperfeitas. Não podemos ter só uma cultura
do ‘te peguei no flagra’. O objetivo é pegar pessoas imperfeitas e transformá-las em aliadas, e não
em inimigas”.
45. Vernā Myers, “Inclusion Takes Root at Netflix: Our First Report”, Netflix, 13 jan. 2021.
46. Vernā Myers, “Our Progress on Inclusion: 2021 Update”, Netflix, 10 fev. 2022. Disponível
em: <https://about.netflix.com/en/news/our-progress-on-inclusion-2021-update>.
48. Stacy L. smith et al., “Inclusion in Netflix Original U.S. Scripted Series and Films”,
49. Não se sabe bem quantos funcionários participaram das manifestações. Segundo as
estimativas dos repórteres presentes, foram menos de duas dúzias. Alguns funcionários também
50. Em resposta às perguntas que fizemos para nossa checagem de fatos, a empresa declarou: “A
Netflix está tentando entreter o mundo e acredita que o Departamento de Estratégias Inclusivas
pode ajudar a empresa a cumprir esse objetivo; portanto, não se trata apenas do bem da sociedade
nem de cada um de nós aprender a trabalhar com os colegas de forma respeitosa e a tirar vantagem
de nossas diferenças, mas de como isso vai possibilitar que as pessoas e a empresa prosperem”.
fazemos nos ajuda a inovar e a sermos criativos. Também nos ajuda a contar novas histórias, mais
autênticas, que nunca foram contadas, e enxergar e dar uma plataforma a talentos que no passado
foram excluídos… Isso é bom para os negócios e é ótimo para os nossos atuais e futuros membros”.
51. Myers se demitiu da Netflix em setembro de 2023, depois de cinco anos na empresa. Ela
continua atuando como consultora da Netflix e foi sucedida por Wade Davis.
POSFÁCIO
1. Pela minha compreensão deste estudo, devo muito a Robert Waldinger e Marc M. D. Schulz,
The Good Life. Nova York: Simon and Schuster, 2023. George E. Vaillant, Triumphs of Experience.
Cambridge: Harvard University, 2012; George E. Vaillant, Adaptation to Life. Cambridge: Harvard
University, 1995; John F. Mitchell, “Aging Well: Surprising Guideposts to a Happier Life from the
Landmark Harvard Study of Adult Development”, American Journal of Psychiatry, v. 161, n. 1, pp.
Explanatory Style Is a Risk Factor for Physical Illness: A Thirty-Five-Year Longitudinal Study”,
Journal of Personality and Social Psychology, v. 55, n. 1, p. 23, 1988; Clark Wright Heath, What
People Are; a Study of Normal Young Men. Cambridge: Harvard University, 1945; Robert C.
Intrieri, “Through the Lens of Time: Eight Decades of the Harvard Grant Study”,
PsyCCRITIQUES, v. 58, 2013; Robert Waldinger, “Harvard Study of Adult Development”, 2017.
2. Os pesquisadores desse projeto, ao publicar estudos de caso, sempre preferiram se referir aos
informações incluídas aqui se baseiam nesses relatos publicados e, assim, incluem nomes e detalhes
alterados pelos pesquisadores. Entretanto, sempre que possível, complementei meu entendimento
entrevistando esses e outros pesquisadores, além de consultar artigos, tanto já publicados quanto
3. A frase foi formulada da seguinte forma: “Por favor, use a(s) última(s) folha(s) para responder
a todas as perguntas que teríamos feito se tivéssemos perguntado sobre as questões mais relevantes
para você”.
4. Julianne Holt-Lunstad, “Why Social Relationships Are Important for Physical Health: A
Systems Approach to Understanding and Modifying Risk and Protection”, Annual Review of
5. Yang Claire Yang et al. “Social Relationships and Physiological Determinants of Longevity
Across the Human Life Span”, Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 113, n. 3, pp.
578-83, 2016.
glenn matsumura
Universidade Yale e fez MBA na Harvard Business School. Foi por anos
repórter investigativo do New York Times e ganhou vários prêmios, entre eles o
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor
no Brasil em 2009.
Título original
Supercommunicators
Capa
Pete Garceau
Preparação
Milena Varallo
Revisão
Versão digital
Rafael Alt
isbn 978-85-3900-809-4
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