Publicação em Revistas Científicas
Publicação em Revistas Científicas
Publicação em Revistas Científicas
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Paper apresentado no II Simpósio ABCiber, Painel temático: Epistemologia I: Pensamento,
Conhecimento Científico e Redes Digitais. São Paulo, PUC/SP, 10 a 13 de novembro de 2008.
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Professora Doutora da ECA/USP e Pesquisadora do CEDUS - Centro de Estudos em Design de
Sistemas Virtuais Centrados no Usuário.Coordenadora do Projeto Univerciência – Portal de Revistas em
Ciências da Comunicação. smferrei@usp.br)
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Professora Doutora do DECiGI/UFPR e Pesquisadora do CEDUS - Centro de Estudos em Design de
Sistemas Virtuais Centrados no Usuário. (pzeni@ufpr.br)
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Professor da UMESP e Doutorando da FEA/USP, Membro do corpo discente do CEDUS - Centro de
Estudos em Design de Sistemas Virtuais Centrados no Usuário. (pzeni@ufpr.br)
(fulviocristofoli@uol.com.br)
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agrega valor somente mediante o seu uso e, para que possa ser útil, ela precisa ser
comunicada.. Le Coadic (1996, p. 27) observa que “a informação é o sangue da
ciência” e que “[...] só interessa se circula e, sobretudo, se circula livremente”. Neste
aspecto, pode-se dizer que produzir informação e conhecimento é fundamental, mas
comunicar o que se produz é imprescindível para o desenvolvimento da ciência.
Portanto, informação e comunicação são áreas privilegiadas enquanto sujeito e objeto
de pesquisa considerando-se a criação e a disseminação de conhecimentos em
espaços dinâmicos de aprendizagem.
Dentre os diferentes vetores que compõem o sistema de publicação da
ciência, os periódicos científicos têm sido um dos mais afetados pelas inovações
tecnológicas e por uma recente ideologia contrária aos interesses do mercado
editorial e de informação. As possibilidades apresentadas pela Iniciativa dos Arquivos
Abertos/Open Archives Initiative (OAI) e pelo Movimento do Acesso Aberto/Open
Access Movement (OA) alteraram substancialmente a maneira de se produzir, medir,
compartilhar, disseminar e gerenciar a produção científica veiculada pelos periódicos
e, conseqüentemente, de se fazer ciência.
A proposta de gerar publicações de acesso aberto fortaleceu-se especialmente
nos ambientes acadêmicos, devido às vantagens deste novo modelo em relação ao
tradicional. Neste particular, prolifera-se uma tecnologia de custos reduzidos e auto-
sustentável, voltada para a editoração eletrônica de periódicos chamada de Open
Journal Systems (OJS). Traduzido para o português como “Sistema Eletrônico de
Revistas (SER)” ou “Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER)”, o
software apresenta vantagens reconhecidas quanto ao gerenciamento de fluxo
editorial, a publicação e o acesso das informações por parte do editor, dos autores,
dos avaliadores e do público em geral. Ao utilizar o protocolo Open Archives Initiative
– Protocol of Metadata Harvesting (OAI-PMH) permite a coleta de metadados por
ferramentas de busca especializadas, agilizando a localização e a disseminação da
literatura científica publicada em tais repositórios.
Os debates advindos dos avanços da OAI especialmente na comunidade
acadêmica, ressaltam o peso de uma questão transversal que acompanha a
comunicação científica desde seu reconhecimento como um processo social.
Implementar uma “nova” tecnologia normalmente é uma problemática polarizada na
equação tempo, orçamento e mão de obra disponível. Contudo, sensibilizar pessoas
para o uso e validação desta nova tecnologia é uma tarefa muito mais complexa.
Discutir sobre a motivação para que autores publiquem é entrar em uma temática
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razoavelmente pantanosa (ADAMI, MARCHIORI, 2005) e extrapolar possíveis
condições de motivação para a publicação em repositórios de acesso aberto, eleva
esta complexidade de forma exponencial.
De forma a lançar algumas luzes em uma temática ainda em construção,
iniciou-se estudo buscando identificar, junto à comunidade científica, os principais
fatores motivacionais para a produção e consumo de revistas e artigos científicos,
quer em suporte impresso como eletrônico, quer de fonte aberta ou restrita, quer em
portal de periódico ou em repositórios digitais. Acredita-se que essas atuais
possibilidades somadas ao envolvimento dos próprios autores no processo de auto-
arquivamento de sua produção, descrição de metadados e inclusão de arquivos
minimamente formatados e estruturados têm tido implicações ainda maiores no
escoamento da produção de docentes, em especial aqueles vinculados a áreas de
ciências humanas e sociais.
As comunidades científicas, foco desse estudo, são os pesquisadores-autores
de trabalhos científicos que publicaram nos
congressos brasileiros na área de ciências da comunicação promovidos
pela Intercom no período compreendido entre 2004 a 2005
e nos anais de edições do Seminário Nacional de Bibliotecas
Universitárias (SNBU) e do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e
Documentação e Ciência da Informação (CBBDC), entre os anos de
2000 a 2005.
A comparação dos resultados obtidos com o estudo nas duas áreas pode contribuir
para estabelecer indícios dos padrões de comportamento de cada área e evidenciar
suas características específicas. Certamente, que a somatória de estudos desta
natureza junto às diversas subáreas brasileiras componentes das ciências sociais
aplicadas, poderá levar a um possível mapeamento do perfil da área.
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soluções técnicas efetivas, ágeis, econômicas e viáveis para que
comunidades científicas reconstruam práticas e processos de
comunicação científica, sistemas de gestão cooperativos, mecanismos
de controle bibliográfico, preservação da memória, promovendo assim
a consolidação de seu corpus de conhecimento.
suporte teórico e respaldo político que possibilitam e suportam a
discussão sobre a disseminação ampla e irrestrita do conhecimento
(principalmente aquele gerado com financiamento público); a
legitimação e institucionalização de novos sistemas de publicação
científica, a revisão das práticas associadas à concessão de seus
direitos de autor aos editores comerciais, a transparência
necessária no processo de peer-review e o compartilhamento
público sem custos, dentre outras questões. (p. 142).
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Portanto, muito mais do que se envolver com novas dinâmicas
tecnológicas para transformar as revistas impressas em eletrônicas, a
comunidade científica tem que rediscutir sua forma de produzir, discutir e
divulgar ciência.
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editores contrários aos objetivos do acesso aberto têm reagido de
maneira defensiva e ofensiva à proposta como um todo;
os editores exacerbam a divulgação das vantagens e do valor
agregado, pelas editoras, ao processo de comunicação científica, o
uso de tecnologias avançadas e novos serviços personalizados para
os pesquisadores.
os editores reconhecem a existência de um movimento para o
trabalho colaborativo, voltado para uma solução auto-sustentável
que respeite ambos os interesses.
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3. DIMENSÕES MOTIVACIONAIS E SEUS EFEITOS AUTORES-
PESQUISADORES
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ser pessoal. Em outros casos, os motivos apresentam semelhanças,
interdependências e complementaridades, distinguindo-se entre si apenas sutilmente.
Por exemplo, “fomentar a troca de idéias” também pode constituir um motivo para
“aprimorar o trabalho”.
Respeitadas tais ponderações, segue a revisão e detalhamento das categorias
motivacionais definidas e adotadas neste estudo:
É uma nova maneira de publicar tão legítima quanto os canais tradicionais: este fator
aponta para uma posição “política”, considerando-se as leituras tradicionais, as
condições históricas e a dinâmica que envolve a comunicação científica como um
todo e a publicação de artigos em particular;
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autores reconhecidos pela quantidade e qualidade de material publicado são
convidados a proferirem palestras, participarem de comitês científicos e ocuparem
posições de consultoria e/ou aconselhamento nos temas de sua especialidade;
Possibilidade de ser citado por outros autores: pode-se tomar este fator como uma
motivação clássica, pois a contribuição dos pesquisadores com novos conhecimentos
tem como indicador tradicional o número de citações que este trabalho recebe. A
citação representa o uso efetivo da informação produzida e publicada, convertendo-se
em prestígio e reconhecimento aos autores, editores, instituições e demais
envolvidos.
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Participação em programa de pós-graduação (mestrado / doutorado / pós-doutorado):
é de praxe que orientadores estimulem seus orientandos para a produção de artigos e
comunicações de forma a inseri-lo na arena científica por um lado e valorizar a linha
de pesquisa (e Programa) em que ambos atuam. Programas de pós-graduação stricto
sensu são avaliados também pelo número de publicações e uma quantidade
significativa destes Programas edita sua própria revista;
Manutenção dos direitos autorais do trabalho: tal condição, que permite maior
flexibilidade ao autor para submeter seu trabalho em outros espaços, tem sido a força
motriz de todo o Movimento Internacional de Acesso Aberto;
Exigência por parte da CAPES, CNPq, FAPESP e outros: este fator está associado ao
sistema de recompensas associado à carreira universitária e ao sistema da
comunicação científica como um todo, a partir do reconhecimento das
revistas/repositórios de acesso aberto como vetores válidos para a produção científica
nacional.
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de se prever, alguns dos fatores motivadores podem ser vistos por uma perspectiva
inversa, sendo brevemente listados abaixo.
Levando-se em conta as motivações científico-profissionais, os autores
podem alegar dificuldades para publicar em revistas, no geral, causadas: a) pela
dificuldade em obter fontes de informação atualizadas; b) pelo excesso de informação
na área: tema /assunto de interesse já foi repetitivamente publicado em revistas
científicas; c) pelo alto grau de dispersão de artigos sobre um mesmo assunto entre
as revistas da área; d) pelo fato de parte significativa da literatura na área ser
publicada em outros idiomas; e) pela dificuldade em encontrar pares/colegas
dispostos a escrever em colaboração.
Quanto ao acesso aberto, os maiores obstáculos estariam relacionados com
o fato da iniciativa de revistas/repositórios de acesso aberto ainda não ter se
fortalecido de forma a se tornar uma alternativa confiável ao modelo vigente. Outro
fator desestimulante seria a dificuldade de demonstrar inequivocamente que as
revistas/repositórios de acesso aberto têm a mesma qualidade dos outros canais de
divulgação acadêmico-científica tradicionais
Em termos pessoais, os fatores que desestimulariam os autores a publicar em
revistas, estão relacionados com: a) a baixa disponibilidade de tempo para pesquisar /
escrever; b) a participação restrita em grupos de pesquisa; c) a preferência por outros
formatos e canais de comunicação (tal como relatórios e eventos)5. Quanto à
publicação em revistas/relatórios de acesso aberto, os autores podem se sentir
desmotivados, devido: a) ao desconhecimento do que seja “acesso aberto; b) à falta
de confiança na permanência das revistas/repositórios de acesso aberto; c) ao
julgamento de que a iniciativa do acesso aberto corrompe os princípios tradicionais da
comunicação científica, o que é danoso à médio e longo prazo; d) à inércia – em que
ao autor ainda não lhe ocorre publicar em revistas/repositórios de acesso aberto; e c)
à dificuldades em encontrar tais revistas/repositórios e ter a habilidade para depositar
o item na revista/repositório.
Finalmente, os aspectos financeiros (ou relativos a recompensas) refletiriam
a dificuldade do reconhecimento, para fins de carreira e acesso a recursos de
pesquisa, das revistas/repositórios de acesso aberto pela instituição a qual o autor
pertence. Da mesma forma o autor pode se desestimular devido ao fato do país
carecer de uma política explícita para as revistas/repositórios de acesso aberto. Dada
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Neste particular, consultar: MUELLER, S. P. M. . A publicação da ciência: áreas científicas e seus canais
preferenciais. Datagramazero, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. art 2-art 2, 2005.
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esta fragilidade em termos de política de informação em ciência e tecnologia, o autor
pode preferir publicar em revistas científicas já consagradas e que tenham fator de
impacto conhecido. Além disto, as dificuldades de dominar a tecnologia exigida para
acesso e depósito nas revistas/repositórios de acesso aberto, pode desmotivar alguns
autores.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Vale mencionar que o estudo aqui relatado é parte de uma pesquisa mais
ampla que buscava avaliar: (a) os critérios que autores identificam como
representando qualidade em revistas científicas; (b) os fatores de motivação e/ou
dificuldade para consultar/ler revistas científicas; (c) os motivos para publicar/não
publicar artigos em revistas científicas tradicionais e/ou de acesso aberto e (d) razoes
para publicar/não publicar em repositórios digitais. Foram feitos estudos
independentes com pesquisadores das áreas de ciências da comunicação e ciência
da informação utilizando a mesma metodologia.
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Na ocasião do levantamento de dados os pesquisadores destes centros estavam atuando também em parceria com
a equipe da Portcom – Rede de Informação em Ciências da Comunciacao dos Países de Língua Portuguesa, da
Intercom.
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Para a coleta de dados elaborou-se e aplicou-se um questionário online (que
ficou disponível durante os meses de outubro a dezembro de 2006), sendo que cada
uma das anteriormente mencionadas variáveis foi subdividida em itens, para os quais
os participantes deveriam indicar seu grau de concordância/importância utilizando-se
a Escala Likert de cinco pontos (0 – menos importante a 5 – mais importante). Além
das questões fechadas, apresentaram-se questões abertas para possibilitar a inclusão
de comentários pelos respondentes.
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termos absolutos.
5. RESULTADOS
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Quadro 2: Formação superior dos respondentes por área de atuação
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como docentes.
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na amostra. 78 (65,54%) dos respondentes afirmaram participar de grupos de
pesquisas registrados no CNPq e/ou de projetos registrados na própria instituição. E
parte significativa dos respondentes (87, correspondendo a 73,11%) declarou ter
curriculum vitae na plataforma lattes.
Científico Profissional 0 1 2 3 4 5
Oportunidade de disseminar a informação e o
conhecimento: 2 0 0 7 36 166
Financeiro e Recompensa 0 1 2 3 4 5
Influência do sistema de recompensas associado à
carreira universitária: 2 6 11 38 66 88
Pessoal 0 1 2 3 4 5
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Tecnológico 0 1 2 3 4 5
Científico Profissional 0 1 2 3 4 5
Oportunidade de disseminar a informação e o
conhecimento: 0 0 0 4 16 96
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Financeiro e Recompensa 0 1 2 3 4 5
Influência do sistema de recompensas associado à carreira
universitária: 0 5 11 23 36 42
Pessoal 0 1 2 3 4 5
Tecnológico 0 1 2 3 4 5
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5.3 Fatores de dificuldades para escrever/publicar artigos em revistas científicas
Pessoal 0 1 2 3 4 5
Outras 0 1 2 3 4 5
Alto grau de dispersão de artigos sobre um mesmo assunto
entre as revistas da área: 4 39 38 62 42 26
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alternativa em aberto revelou outras dificuldades não listadas pelos pesquisadores,
como por exemplo: a) a falta de informação sobre as chamadas de artigos, a falta de
incentivo institucional, a falta de oportunidade [de uso de] metodologias de vanguarda,
o número reduzido de revistas científicas com boa classificação pela CAPES, a
insegurança em publicar, entre outros aspectos.
Pessoal 0 1 2 3 4 5
Outras
Alto grau de dispersão de artigos sobre um mesmo assunto
entre as revistas da área: 0 16 17 39 31 14
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publicação, critérios editoriais, ausência de canais para divulgar pesquisa em
andamento, periódicos Qualis nacionais fecham rapidamente as submissões devido a
grande quantidade destas, linhas editoriais que não comportam algumas propostas
“inéditas”, revistas demasiado pendentes dos critérios Qualis).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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no prelo).
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pesquisadores da área de Comunicação e aqueles da Ciência da Informação.
Neste sentido, ainda que não se tenha perguntado diretamente sobre taxas e
outros aportes financeiros para a publicação em revistas/repositórios de acesso
aberto, o “sistema de recompensas” é mais estimulante que as possíveis dificuldades
tecnológicas a serem enfrentadas para o auto-arquivamento, por exemplo.
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destas em suas atividades de socialização do conhecimento, em que a legitimidade e
a credibilidade são valores sobrelevados e inerentes à condição de pesquisador.
7. REFERÊNCIAS
BJÖRK, B-C, TURK, Z. How scientists retrieve publications: an empirical study of how
the Internet is overtaking paper media. The Journal of Electronic Publishing. v.6, n.
2, dez. 2000.
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LOPES, M. I. V. de. Pesquisa de comunicação: questões epistemológicas, teóricas e
metodológicas. Revista brasileira de ciências da comunicação. V. XXVII, no. 1,
jan./jun. 2004
SWAN, A., BROWN S. Authors and open access publishing. Learned Publishing
v.17, n. 3, p.219–224, 2004. Disponível em:
http://titania.ingentaconnect.com/vl=10553205/cl=13/nw=1/fm=docpdf/rpsv/cw/alpsp/09
531513/v17n3/s7/p219. Acesso em: dezembro 2007.
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