A Boa Razao e o Iluminismo Portugues

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DOI: 10.5433/1984-3356.

2020v13n25p722

A boa razão e o iluminismo


português
The good reason and the
portuguese enlightenment
Eduardo Teixeira de Carvalho Junior1

Antíteses, Londrina, v.13, n. 25, p. 722-746, jan-jun. 2020 } 722


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Resumo: Neste artigo, pretende-se discutir a ideia de “boa razão”


como um termo-chave no contexto do iluminismo português.
Como se sabe, o rei Dom José promulgou a famosa lei de 18 de
agosto de 1769, que pelo conteúdo de suas proposições passou a
ser chamada de “lei da boa razão”. Esta lei acabou servindo para
fazer referência às medidas implementadas pelo Marquês de
Pombal no campo do direito, representando um alinhamento do
reino com as tendências do jusnaturalismo moderno, ligada ao
processo de centralização do poder e de laicização e organização
do Estado a partir de uma racionalidade mais adequada aos
novos tempos. Na tentativa de melhor compreender o sentido
que este termo assumiu no contexto lingüístico do século XVIII
português, discutem-se alguns usos e significados deste termo
em documentos do século XVIII. Além da “lei da boa razão”, serão
A boa razão e o iluminismo português

analisados documentos da Reforma da Universidade de Coimbra


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

e o Verdadeiro Método de Estudar de Luiz António Verney. Este


artigo também visa contribuir para o projeto de um glossário de
termos setecentistas do grupo de pesquisa Cultura e Educação
nos Impérios Ibéricos (CEIbero).
Palavras-chave: Boa razão; Iluminismo português; Direito
natural; Jusnaturalismo; Verney.

Abstract: The aim of this article is to discuss the idea of


“good reason” as a key term in the context of the Portuguese
Enlightenment. As is well known, King Dom José enacted the
famous law of August 18, 1769, which, due the content of his
propositions, became known as the “law of good reason”. This
law ended up serving to refer to the measures implemented
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by Marquês de Pombal in the field of Law, representing an


alignment of the kingdom with the modern tendencies of
jusnaturalism, connected to the process of centralization of
power, secularization and organization based on a rationality
adequate to the new times. In an attempt to better understand
the meaning that this term assumed in the linguistic context of
the 18th century in Portugal, some uses and meanings of this term

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are discussed in 18th century documents. In addition to the “law


of good reason”, it will be analyzed some Reform documents of
the University of Coimbra and LuizAntónioVerney’s true method
of studying. This article also aims to contribute to a glossary of
eighteen century terms for the Culture and Education in the
Iberian Empires research group (CEIbero).
Keywords: Good reason; Portuguese enlightenment; Natural
law; Jusnaturalism; Verney.
A boa razão e o iluminismo português
Eduardo Teixeira de Carvalho Junior
Sociedades Cientifícas

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No encontro do grupo de pesquisa “cultura e educação nos impérios ibéricos”


(CEIbero) realizado no ano de 2017 na cidade de Diamantina apresentei um
trabalho intitulado “A dimensão política do conceito de método no século
XVIII português”. Nesta comunicação procurei argumentar que o conceito de
método foi um termo-chave no contexto lingüístico do iluminismo português,
pois serviu para demarcar duas grandes correntes ideológicas que marcaram a
mentalidade portuguesa entre os séculos XVII e XVIII, a saber, uma corrente
identificada com as “luzes” e outra de matriz escolástico-jesuíta. De forma geral
representa o conflito entre o moderno e o tradicional na cultura portuguesa.
Naquela ocasião a ilustre professora Ana Cristina Araújo levantou a hipótese
de que o conceito de “boa razão” também poderia ser pensado como um termo-
chave para se compreender este processo, o que acabei acatando como hipótese
de pesquisa.
Como se sabe, o rei Dom José, seguindo conselhos de seus ministros,
promulgou a famosa Lei de 18 de agosto de 1769, que pelo conteúdo de suas
proposições passou a ser chamada de “lei da boa razão”. A alcunha de “lei
A boa razão e o iluminismo português

da boa razão” só passou a ser utilizada para fazer referência a esta lei após a
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publicação dos comentários de José Homem Correia Telles em 1824 (TELLES,


1824). Talvez esta interpretação de Telles tenha contribuído para fazer com que
esta lei se tornasse referência a todo um conjunto de medidas implementadas
pelo Marquês de Pombal no campo do direito e da organização do reino. Trata-
se de um olhar específico em relação ao século XVIII, questão que não tratarei
aqui, e que talvez merecesse uma análise, pois sabem os historiadores que o
século XVIII não foi tão moderno e racional assim como seria tratado pela
posteridade com o epíteto de Era da razão. O caráter despótico de algumas ações
políticas do período pombalino podem servir para justificar estas considerações
(MAXWELL, 1996). Contudo, o termo “boa razão”, embora pudesse estar mais
ligado ao campo jurídico, foi envolvido pelas transformações mais amplas que
ocorreram no iluminismo português, como pretendo analisar neste texto.
A “lei da boa razão” representava uma adequação do reino português aos
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“novos tempos” e reforçava a autoridade do rei seguindo as tendências européias


de centralização do poder. No campo jurídico, apontava para um alinhamento
com as correntes do jusnaturalismo moderno, ligada ao processo de laicização e
organização do Estado a partir da racionalidade moderna. Não vou me ater aqui
na questão da efetividade da norma, ou seja, seu impacto na práxis jurídica do
Império português, mas tentar identificar de que maneira o termo “boa razão”
estava articulado com o ideário iluminista português.2

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Tendo como referência o modelo de abordagem da história do pensamento


político proposta por Quentin Skinner de analisarmos a maneira como
determinados termos são utilizados em diferentes contextos intelectuais,
procurarei responder a algumas perguntas: o que significa o termo “boa razão”
incluído no texto da lei? Contra qual tipo de razão a “boa razão” se contrapõe?
Haveria uma “má razão”? Em que outros contextos, além da lei de 18 de agosto
de 1769, o termo “boa razão” foi utilizado? São estas questões que procurarei
responder nesta análise.

A boa razão da lei e o direito natural na reforma da universidade

Em diversos momentos, a mencionada lei faz alusão à necessidade de


Portugal acompanhar as práticas jurídicas que vinham sendo objeto de cuidados
das “nações polidas da Europa”. Apontava para a necessidade de combater
“interpretações abusivas” que fragilizavam a necessária certeza que a justiça
e o direito deveriam oferecer para a conservação do “sossego público”. Visava
A boa razão e o iluminismo português

combater posturas antiquadas com que alguns advogados conduziam demandas


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

jurídicas, “animadas por frívolos pretextos tirados das extravagantes sutilezas”,


mediante “palavras sediciosas” e “prejudiciais cavilações”.
O termo “boa razão” é mencionado somente no item nono da lei, trecho
que remete ao Livro III das Ordenações Filipinas, publicado em 1603. Ressalta-
se que as Ordenações Filipinas ainda estavam vigendo no século XVIII, e só
cairiam em desuso ao longo do século XIX. Neste sentido, a “lei da boa razão”
pode ser compreendida como uma alteração do texto de 1603, especificamente
na parte que tratava de possíveis lacunas e casos omissos nas leis do reino. A
principal fonte do direito português eram as Ordenações, contudo, em casos
omissos, elas estabeleciam uma série de recomendações: crimes de pecado
deveriam ser julgados pelo direito canônico; caso não fosse matéria de pecado
dever-se-ia recorrer às leis romanas (Imperiais, Corpus Iuri Civili) respeitando
a seguinte observação: “As quais Leis Imperiais mandamos somente guardar
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pela boa razão em que são fundadas”; mas, se não houvesse uma resolução por
meio de nenhuma destas fontes, recorrer-se-ia às glosas de Acúrcio e Bártolo;
em última instância, se o caso permanecesse sem uma solução, recorria-se a
uma consulta ao rei, cuja resolução passava a servir de referência para futuros
casos semelhantes(ORDENAÇÕES FILIPINAS, 1603, p. 664).
A “lei da boa razão” ratifica algumas recomendações das Ordenações Filipinas
e a moderniza conforme os ditames do racionalismo iluminista. De acordo com

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o texto da lei, o princípio da “boa razão”, posto pelas Ordenações Filipinas,


havia sido corrompido com o passar do tempo. A jurisprudência foi “pondo
em esquecimento as Leis Pátrias, fazendo-se uso somente das dos romanos”.
Portanto, a “lei da boa razão” reafirma aquele princípio, porém adequando-o
aos novos tempos. Muitas das leis romanas haviam sido fundamentadas em
diferentes circunstâncias, pois “tiveram por fundamentos outras razões”,
baseadas em “particulares costumes dos mesmos Romanos, que nada podem ter
de comuns com os das Nações, que presentemente habitam a Europa” (SILVA,
1830b, p.4).
A “lei da boa razão” se diferencia em relação ao texto de 1603 na maneira
como tratava e reafirmava o princípio da “boa razão”, princípio este que já
constava nas Ordenações Filipinas, mas que assumiria um significado distinto
na lei de 1769. Tanto no texto de 1603, como no de 1769, determinava-se que
em casos de lacunas, quando não se encontrava nenhuma resolução nas leis do
reino, que se pudesse recorrer ao direito romano sempre que este estivesse de
acordo com a “boa razão”, contudo, a lei de 1769 alterava o entendimento sobre
A boa razão e o iluminismo português

o princípio da “boa razão” da seguinte maneira:


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

[...] aquela boa razão, que consiste nos primitivos princípios, que
contém verdades essenciais, intrínsecas, e inalteráveis, que a
Ética dos mesmos Romanos havia estabelecido, e que os Direitos
Divino, e Natural, formalizaram para servirem de Regras Morais,
e Civis entre o Cristianismo (SILVA, 1830b, p.5, grifo nosso).

A ideia de boa razão deveria constituir o espírito das leis, “Leis das Nações
Cristãs, iluminadas, e polidas” de acordo com os “novos tempos” de luzes das
“nações civilizadas”. Outra diferença importante em relação ao Código de
1603 é seu caráter laicizante, enfatizando que crimes de pecado “pertencem
privativa, e exclusivamente ao foro interior e a espiritualidade da Igreja”,
extinguindo qualquer possibilidade de confusão entre a esfera espiritual e
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a esfera temporal. E contrariando expressamente as Ordenações Filipinas, a


“lei da boa razão” determinava que as glosas e opiniões de Acúrsio e Bartolo
não pudessem mais ser alegadas em juízo e somente poderiam ser tolerados
costumes que seguissem o princípio da “boa razão” e que fossem tão antigos
quanto acima de cem anos. Todos aqueles costumes que não atendessem a estes
requisitos seriam considerados corruptos e abusivos.
A simples promulgação da lei não seria suficiente para se atingir os efeitos

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desejados pelo governo pombalino, que almejava uma profunda reformulação


no quadro administrativo do reino, alinhado com os princípios da utilidade e
da racionalidade (SANTOS, 2011). A exigência de adequação ao critério da boa
razão, que a princípio poderia ser considerado vago e impreciso, seria melhor
explicitado mais tarde, em outros documentos, principalmente nas diretrizes
para o ensino do direito apresentadas nos novos Estatutos da Universidade de
Coimbra (COSTA, 1996, p.358). Deve-se ainda salientar o caráter antijesuítico
destes documentos que, desde a expulsão dos jesuítas do reino, passaram a
apontar para o estado de atraso de Portugal em relação às potências europeias e
imputavam à Companhia de Jesus toda a causa deste atraso, como já é possível
observar no Alvará de Reforma dos Estudos de 28 de junho de 1759(SILVA,
1830a).
Para reparar os “prejuízos” causados pelos jesuítas, o rei institui uma “junta
de providência literária” constituída sob a inspeção do Conselho de Estado,
representados pelo Cardeal da Cunha e o Marquês de Pombal. O resultado dos
trabalhos desta junta foram publicados, em 1771, no Compêndio Histórico da
A boa razão e o iluminismo português

Universidade de Coimbra onde foram listados uma série de “estragos” produzidos


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pelos jesuítas nos diversos setores da educação, tendo como eixo central o
problema do método de ensino utilizado pelos jesuítas, fundado na filosofia
escolástica. Os “estragos” haviam começado desde os estudos preparatórios,
com destaque para o método de ensino do latim, língua fundamental para o
conhecimento das ciências, especialmente as jurídicas, cujas leis estavam
escritas nesta língua.A lista de “estragos” era imensa, desde os cursos
tradicionais como teologia, direito, medicina e filosofia, estendendo-se para
outras disciplinas como retórica, lógica e metafísica. Conforme já havia sido
apontado por alguns pensadores portugueses, como Luiz António Verney,
as críticas fundamentavam-se no uso de um método considerado atrasado e
prejudicial, que envolvia também o desprezo ou ausência de algumas disciplinas
consideradas fundamentais, como história, geografia e o ensino da língua grega.
De acordo com o Compêndio, os jesuítas teriam envolvido a jurisprudência
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do reino português em um “mar de trevas” com o objetivo de destruir e arruinar


a nação. Infiltrados nos setores-chave do reino, sobretudo no controle da
universidade, permitiram maliciosamente que as leis pátrias “acomodadas no
gênio e costumes da nação” e “as únicas adequadas e próprias para manter a
paz entre nós e fazer-nos felizes”, fossem deixadas de lado para dar lugar ao
direito romano, leis promulgadas em um contexto diferente, por um “povo de
diverso gênio, de Religião e costumes diferentes” (POMBAL, 2011, p.313). E,

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além disso, as leis eram “contaminadas” pelas opiniões de Acúrsio e Bartolo.


Assim, no Compêndio, fica enfatizado a primazia das leis pátrias (Ordenações
Filipinas) em detrimento de outras fontes do direito, pois as leis pátrias estariam
mais conformes à vontade do rei. Esta diretriz poderia ser compreendida como
um dos elementos que constituem o conceito de “boa razão” na legislação
pombalina, pois a “boa razão” é, entre outros fatores, aquela que convém ao
rei, o único responsável por conservar o reino e a felicidade de seus súditos.
Diante de tudo isso:

[...] foi necessária a providentíssima Lei de 22 de Agosto de 1769,


que estabeleceu uma Regra normal e segura, com que restituiu e
fixou a autoridade das ditas Leis Pátrias e declarou o justo preço
do Direito Romano e o uso legítimo que dele se pode ainda fazer
no Foro destes Reinos. (POMBAL, 2011, p.317, [sic])

Conforme o trecho citado, o direito romano não é abandonado, mas colocado


A boa razão e o iluminismo português

em segundo plano, podendo ser utilizado com bom senso, ou seja, de acordo
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com a “boa razão”. Outro elemento importante destacado pelo Compêndio é a


importância da ética e principalmente do direito natural, que é apontado como
“a Disciplina mais útil e a mais necessária com que os Juristas se devem dispor e
preparar para fazerem bons progressos nas Ciências Jurídicas”. O direito natural,
por ser fundamentado na razão natural, possibilita compreender os deveres e
obrigações que “a natureza impõe aos homens e aos cidadãos”, portando, são
considerados a base de todas as leis positivas (POMBAL, 2011, p.256).
Os resultados apresentados no Compêndio serviram de base para a elaboração
dos novos Estatutos da Universidade de Coimbra (1772), que foram anunciados
pelo rei como o início de uma nova era na história de Portugal. Os novos
estatutos foram instituídos por meio de uma “Carta de Roboração” datada de
28 de agosto de 1772, na qual o rei reafirma seu poder expressando que os
novos dispositivos de funcionamento da universidade estavam conformes com
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sua vontade (JOSÉ I, 1772a). O “Rei e Senhor Soberano, que na temporalidade


não reconhece na Terra Superior; como protetor da sobredita Universidade”,
aprova os novos estatutos que estavam “acomodados ao bem, e aumento da
sobredita Universidade; e muito úteis para os progressos das Ciências, e Artes
que nela se devem ensinar” (JOSÉ I, 1772b, p.viii).
Nos Estatutos reafirma-se o que havia sido posto na Lei de agosto de 1769,
assim como repetido no Compêndio, e chama mais uma vez a atenção para

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a importância do direito natural, como um pré-requisito necessário para o


entendimento do direito romano, canônico e pátrio. O direito natural é a cadeira
comum para os cursos de direito civil e canônico, considerada subsidiária
dos dois. Grócio e Pufendorf são os autores citados como fundamentais para
o ensino do direito natural. Mesmo assim, não deveriam ser tomados como
autoridades absolutas, o professor teria liberdade para discordar, quando
em seu entendimento, estes autores estivessem se desviando da justiça
natural. Conforme fica claro na passagem abaixo, a razão torna-se o principal
fundamento e guia para a compreensão e entendimento do justo:

A razão será a sua primeira Mestra; o Oráculo, a que ele primeiro


recorra, e que primeiro consulte. Esta é a fonte de toda a
Legislação da Natureza. Dela deduzirá os preceitos naturais, e por
Ela os demonstrará; pondo-os na maior luz, e evidencia, de que
eles possam ser suscetíveis (JOSÉ I,1772c, p.113).
A boa razão e o iluminismo português

Nos Estatutos da Universidade de Coimbra, há uma proposta ampla de


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reformulação das disciplinas, dos conteúdos e dos métodos de ensino, que,


de certa forma, constitui uma série de diretrizes para formar homens com os
conhecimentos e características que os tornassem úteis a administração do
reino; em outras palavras, homens dotados de “boa razão”. Nos Estatutos da
Universidade de Coimbra, não se nega apenas o método dos escolásticos, mas
também a “Moral dos Escolásticos”, por ser fundamentada na ética de Aristóteles,
pelo seu ateísmo e por não reconhecer na Moral nenhuma proposição de “eterna
verdade; nem admitiu Lei alguma natural no seu verdadeiro sentido” (JOSÉ I,
1772b, p.134). De acordo com os Estatutos, embora os escolásticos fizessem uso
da razão, esta não poderia ser considerada uma “boa razão” devido aos abusos
cometidos e “por se governarem nos seus raciocínios, não pela razão bem
dirigida, e ilustrada pela luz da revelação; mas sim escurecida pela corrupção
da natureza, e cegamente guiada pelos seus próprios caprichos, e paixões.”
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(JOSÉ I, 1772b, p.132).


A erudição, por exemplo, superestimada no modelo de ensino escolástico,
não é uma qualidade necessária ao professor de direito natural. Pelo contrário,
pode até mesmo ser prejudicial e atrapalhar a clareza do entendimento. Mesmo
que a erudição pudesse ser útil para relembrar fatos históricos, para ilustrar
ou comprovar preceitos naturais, ao se “entregar a leitura” e ao “esforço de
muito ler”, o sujeito se “esquece de meditar” (JOSÉ I, 1772c, p.134). Portanto, o

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princípio da boa razão envolve diretrizes na forma da leitura e interpretação da


lei, o jurista não deveria se apegar tanto ao texto, mas sim a sua aplicabilidade
e coerência com as necessidades dos “novos tempos”.

A boa razão: entre o seiscentos e o setecentos

Qual a diferença do uso feito do termo “boa razão” nas Ordenações, no


século XVII, e na lei de 1769? Conforme aponta Nuno Espinosa Gomes da Silva,
até então a razão era utilizada para a correta interpretação da lei, “era uma
razão exegética, uma razão que rasteja, colada ao texto” (SILVA, 2006, p.455).
Ou seja, trata-se da razão escolástica. Porém, era preciso subordinar a ordem
jurídica tradicional ao novo tempo e aos interesses dos monarcas, “onde antes
a razão se contentava em descobrir a “verdade” do texto jurídico, agora, a
razão, insatisfeita, levanta os olhos do texto, despreza-o e procura, antes, uma
“verdade” intemporal” (SILVA, 2006, p.457 [sic]). A lei procurava induzir uma
interpretação que fosse adequada aos interesses do governo; somente assim
A boa razão e o iluminismo português

uma interpretação da lei poderia ser considerada legítima. O objetivo era evitar
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outras interpretações, que embora pudessem ser consideradas legítimas sobre


o ponto de vista seiscentista, já não estavam mais de acordo com o ponto de
vista setecentista (MARCOS, 2006, p.176). Caracterizando um processo de
centralização, em última instância, só o rei poderia criar leis e nos casos de
dúvida de interpretação, só ele poderia resolvê-las (MARCOS,2006, p.177). Ou
seja, queria-se uma única interpretação, aquela conveniente e útil ao governo
e para isso era preciso eliminar o “tradicional labirinto opinativo” retirando a
autoridade das correntes jurídicas tradicionais que fragilizavam a vontade do
rei (MARCOS,2006, p.181).
Um dos traços que diferenciam a razão seiscentista da razão iluminista
consiste na tensão entre dois modelos ou formas de representação da sociedade
e do poder: uma tradicional, que representa a sociedade como um corpo, e outra
moderna, individualista (HESPANHA; XAVIER, 1998, p.113). Na Europa, até
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meados do século XVIII, havia uma pluralidade de normas leis e fontes do direito
que dariam lugar a uma perspectiva centralizadora e utilitarista de acordo com
as diretrizes do iluminismo. A concepção corporativista da sociedade baseia-se
na cosmovisão medieval na qual havia uma ordem precedente aos homens e às
coisas e que deveria ser reconhecida para o bom funcionamento da sociedade
e de seus desígnios. Portanto, de uma maneira geral, havia uma concepção
de natureza que fundamentava por sua vez uma noção de direito natural.

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Cada parte do todo tinha sua função e participava de uma forma diferente
na realização deste destino cósmico (HESPANHA; XAVIER, 1998, p.114). Em
uma sociedade bem governada, esta partilha natural deveria traduzir-se na
autonomia político-jurídica dos corpos sociais.
Na linguagem jurídico-política medieval, a palavra que designa o poder era
a palavra iurisdictio (o ato de dizer o direito). No século XVIII vai haver uma
mudança de paradigma: deixa-se de pensar no poder enquanto a administração
de uma ordem objetiva das coisas, o poder passa a ser concebido mais como um
ato de vontade (HESPANHA; XAVIER,, 1998, p.117). Seja na vontade de Deus
manifestada indiretamente na figura dos reis, seja na vontade de pactuar, o
que daria lugar à corrente identificada como contratualista. A vontade, e não
um equilíbrio preestabelecido, passa a ser o princípio que nortearia o direito.
De acordo com a doutrina seiscentista, fundamentada em uma concepção
corporativa do direito, os reis poderiam ser muitas vezes sujeitados pelas leis.
Entre o século XVII e XVIII ocorre uma mudança importante para a ideia de
uma ordem legal e constitucional distinta, a do Estado, o qual o governante
A boa razão e o iluminismo português

teria a responsabilidade de conservá-lo. Conforme apontam Hespanha e


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Xavier, embora nestes dois momentos houvesse uma tradição comum sobre as
obras de moral, direito e política, “os modernos tendem a ler coisas diferentes
dos tradicionais” (HESPANHA; XAVIER, 1998, p.113). Um importante divisor
de águas é a imposição do princípio da utilidade como fundamento dos
vínculos sociais. No modelo corporativista a moral e as virtudes se impõem
perante a utilidade. No modelo corporativista conselhos e tribunais podiam
se opor ao rei. O paradigma corporativista pressupunha a ideia de sociedade
como um organismo em que cada parte do corpo coopera de forma diferente,
caracterizada por uma autonomia político-jurídica dos corpos sociais. Dentro
desta concepção a ideia de um poder concentrado no soberano era estranha. No
paradigma corporativista não é o pacto que fundamenta o direito, é este que
fundamenta a obrigatoriedade dos pactos (HESPANHA; XAVIER, 1998, p.115).
O poder não é fundamentado no pacto, ou na vontade de pactuar, mas na forma
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originária (garantindo a autonomia) da organização social.


A ideia de direito natural, razão e natureza, remete aos gregos e foi sendo
ressignificada ao longo do tempo em diferentes contextos sociais. Hespanha,
por exemplo, identifica uma tradição jusnaturalista de raiz estoica difundida
por Cícero, que se diferencia da aristotélica na forma como trata o conceito de
natureza (HESPANHA, 2005, p.289). Em Santo Tomás de Aquino, o conceito de
natureza e direito natural devem ser compreendidos no contexto em que os

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dogmas da Igreja orientavam toda a produção filosófica. Mais tarde, estas ideias
assumiram um significado diferente e um papel fundamental na era moderna,
tornando-se conceitos-chave para se compreender o movimento iluminista
europeu e seu impacto nos diversos setores da sociedade.
Mas o que diferencia a percepção dos antigos sobre a razão quando
comparada com a dos modernos? A confiança na razão vem principalmente das
descobertas científicas, que de forma empírica, conseguem estabelecer nexos
de causa e efeito acerca de determinados fenômenos naturais. Esta certeza vem
através do uso da matemática; Galileu afirmava que Deus se comunicava por
meio da natureza em linguagem matemática (ver BAUMER, 1977, p.68). E por
isso observamos o impacto que as ideias de Newton causaram na república das
letras. Newton nunca questionou a existência de Deus, mas sua explicação de
alguns fenômenos da natureza (as leis de Newton) entrou em rota de conflito
com a forma como a Igreja descrevia e explicava estes fenômenos. Por isso, o
método da física experimental se tornaria um paradigma que também deveria
ser adotado para explicar as questões do homem e da moral. Impunha-se a
A boa razão e o iluminismo português

necessidade de pensar a política a partir da filosofia natural. O absolutismo


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de Hobbes era fundamentado na razão, o Leviatã foi baseado em uma teoria


sobre a natureza do homem, sem fazer referência a Deus ou a qualquer ordem
transcendente. O que não quer dizer que Hobbes era ateu, pois jamais duvidou
da existência de Deus (SKINNER, 2010).
O direito natural moderno, identificado com a corrente do jusnaturalismo
moderno, vai receber a influência de Descartes e da sua proposta de um método
que pudesse oferecer mais certeza pelo uso da matemática e das evidências. Esta
confiança na luz natural, base da recta razão, permitiria ao homem “ler” com
mais certeza e precisão o grande livro do mundo, obra do Deus divino. A filosofia
natural e o método científico passaram a servir de modelo para as ciências do
homem, e também serão elementos importantes na caracterização do termo
“boa razão”. Assim, as ciências humanas deveriam utilizar o mesmo método
das ciências naturais. Conforme apontou Cassirer, “Se Grotius ultrapassa a
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escolástica é menos, portanto, pelo conteúdo do seu pensamento do que pelo


seu método. Ele vai realizar no domínio do direito a mesma revolução que
Galileu realizou na física” (CASSIRER, 1992, p.325).

Verney e o jusnaturalismo moderno

Muitas ideias apresentadas no Compêndio e nos Estatutos também são

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encontradas na proposta de Luiz António Verney, sobretudo no seu polêmico


Verdadeiro Método de Estudar (1746). Esta obra propõe um novo modelo de
educação para o reino português em que se faz uma crítica pesada ao método
escolástico utilizado pelos jesuítas. O Verdadeiro Método é constituído por um
conjunto de cartas, cada uma tratando sobre uma disciplina específica, mas é na
parte em que aborda a ética que encontraremos a presença recorrente do termo
“boa razão”.3 Para Verney, “lei que não é deduzida da boa razão não merece o
nome de lei” (VERNEY, 1950,v. 3, p.261, grifo nosso). A falta dos princípios da
boa razão ocasionava uma série de “embaraços”, pois a maior parte dos juízes
examinavam as leis sem se servirem do raciocínio, “só se servem da memória”.
Assim, como mencionado nos Estatutos, Verney também criticava o excesso
de erudição, argumentando que ela deveria estar subordinada à “boa razão”.
Também destaca a importância do direito natural, que assume um papel central
na jurisprudência, pois quem tem conhecimentos do direito natural julga
melhor os casos não usuais, se comparado com aqueles que seguem apenas
o que diz a lei, “julga melhor qualquer caso do que os que afectam esquisita
A boa razão e o iluminismo português

erudição” (VERNEY, 1950,v. 3, p.263). O principal defeito dos juristas e dos


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

moralistas portugueses consiste em que:

[...] Estes, comumente, não dão razão do que dizem, mas apontam
somente os autores casuístas de onde o receberam, os quais nem
menos assinam razão, mas fundam-se em outros antecedentes. E assim,
copiando-se uns aos outros, multiplicam-se os livros sem necessidade,
nem utilidade (VERNEY, 1950, v. 3, p.263).

Verney considerava a ética uma parte importante da filosofia, mas que no seu
entender era desprezada em Portugal, por estar subordinada à teologia.4Além de
precisar ser integrada à filosofia, a ética deveria ser tratada como propedêutica
da jurisprudência e da teologia.5Além disso, na sua concepção, o direito natural
estava inserido dentro da ética (VERNEY, 1950,v. 3, p.257-260). Enquanto a
Sociedades Cientifícas

teologia tira suas conclusões das verdades reveladas, a ética é fundamentada


na razão (VERNEY, 1950,v. 3, p.262). A ética é a parte da filosofia que mostra
aos homens a verdadeira felicidade e regula suas ações para consegui-lo, é uma
“coleção de preceitos que a luz de uma boa razão mostra serem necessários ao
Homem para fazer ações honestas e também úteis à sociedade civil” (VERNEY,
1950, v. 3, p.254-259, grifo nosso). Para Verney, o direito natural representa
uma nova abordagem sobre a justiça, não mais fundamentada exclusivamente

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na letra da lei, o que requer erudição, mas adequada aos ditames da filosofia
moderna, cujo método inspirado nas descobertas das ciências da natureza,
fundamentavam a verdade menos na autoridade dos textos (doutores) e sim
nas evidências da observação e da experiência, o que corresponde a toda uma
nova lógica e um novo método.
A publicação das críticas de Verney no seu Verdadeiro Método de Estudar
gerou uma série de reações, principalmente por parte dos jesuítas. Por meio
da publicação de folhetos e livros, eles e seus adeptos acusavam Verney de ser
um traidor e inimigo da nação portuguesa. Dentre estas obras destacamos as
Reflexões Apologéticas a obra entitulada Verdadeiro Método de Estudar, do jesuíta
José de Araújo, escrita sob o pseudônimo de Frei Arsênio da Piedade. Nesta obra,
Araújo defendia a superioridade da teologia perante a filosofia, alegando que
somente a teologia teria competência para indicar os filósofos que “discorreram
bem e aqueles que discorreram mal” (ARAÚJO, 1748, p.35). Araújo também
defendia a importância da razão natural para se saber as obrigações do homem,
os valores cristãos, mas também acreditava que a mesma razão natural deveria
A boa razão e o iluminismo português

levar a certeza de que “existe apenas um só Deus”. Para ele o direito natural e
Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

o direito civil tem como fonte os ensinamentos de Deus e da Igreja (ARAÚJO,


1748, p.36). Araújo reiterava que os Teólogos também faziam uso da razão
natural, mas que de fato não era o mais importante resolver a questão, mas
mostrar os fundamentos. A busca pelos fundamentos, conforme argumenta
Araújo, está ligada às famosas disputas e contendas do método escolástico, que
foram atacadas obstinadamente por Verney, sobretudo quando envolviam o
uso de silogismos. As críticas de Verney são similares àquelas apresentadas na
“lei da boa razão” quando apontava para “posturas antiquadas”, “extravagantes
sutilezas”, “palavras sediciosas” e “prejudiciais cavilações” com que alguns
advogados portugueses, formados pelo método jesuíta de ensino, conduziam
as demandas jurídicas.
Em resposta a Araújo, Verney criticava os doutores, moralistas, casuístas, em
sua maioria seguidores da escolástica, por usarem de pouca razão e preferirem
Sociedades Cientifícas

citar os doutores da Igreja: “E estas razões que dão, tiram-nas cegamente


dos outros que citam, sem as deduzir da boa razão natural: e nenhum toma
o trabalho de as examinar fundamentalmente” (VERNEY, 1748, p.49). Verney
criticava a confusão dos escolásticos entre razão e revelação, insistia na
necessidade de uma distinção entre verdades e juízos deduzidos pela razão e
pela revelação. As virtudes sobrenaturais pertencem ao teólogo e as virtudes
naturais do entendimento pertencem à ética (VERNEY, 1748, p.49). Assim, cabe

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à ética fundamentar-se na razão e a teologia na revelação (VERNEY, 1748, p.78).


Vale ressaltar que Verney fala de uma “boa razão natural” para fazer distinção
da razão natural escolástica, considerada por ele atrasada e ineficiente. Em sua
argumentação, Verney deixa claro que ele considera que as virtudes morais
podem ser induzidas mais facilmente pela razão natural e não pela revelação.
Por isso a via da ética é o caminho mais curto para se atingir este objetivo, o
que seria muito mais complexo pela via dos mistérios da revelação.
Verney também defendia a importância da boa razão no combate aos
protestantes, considerados hereges e inimigos da verdadeira fé. Dotados de
uma “profunda notícia da Ética, da Jurisprudência Natural, da melhor Filosofia,
da Matemática”, os hereges estavam muito mais preparados para argumentar
e convencer os jovens, não só por toda a Europa, mas em todas as regiões do
mundo em que seus missionários atuavam (VERNEY, 1750, p.94). E para lutar
contra eles, seriam necessários conhecimentos da Ética e saber com propriedade
os princípios da religião católica. Para ser um bom teólogo é preciso “não só
repetir o que leu, como Papagaio; mas resolver os casos com os princípios da
A boa razão e o iluminismo português

boa razão”. No sistema verneyano tudo converge para o conceito de método,


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

baseado no método experimental da física newtoniana. Por isso, o estudante de


direito, antes de iniciar o estudo das leis, deveria ter conhecimentos de física e
de lógica (VERNEY, 1950, v. 4, p.175). O mesmo seria válido para a teologia, pois
esta deveria provar os dogmas pela “boa lógica”, ou seja, pela “boa razão”. Aqui
é possível perceber outros aspectos que caracterizam o sentido empregado por
Verney quando faz uso do termo “boa razão”, a ideia de uma “boa lógica” e de
uma “boa física”.
No seu plano de ensino de ética, Verney recomenda alguns autores, como
Grócio, mas sua preferência é por Pufendorf. Filho de um pastor luterano,
Samuel Pufendorf viveu o período que marcou o fim das guerras religiosas
que assolaram a Europa desde a Reforma Protestante. Neste contexto, surge
a necessidade de se defender sociedades multiconfessionais, priorizando a
paz social em detrimento da moral religiosa, o que levaria a Paz de Vestfália
Sociedades Cientifícas

em 1648. A sociedade e suas convenções deveriam servir como fonte da moral


e não a religião. Nesta consideração, Koselleck aponta para um processo de
desestruturação da moral européia como conseqüência das fraturas sofridas
pela Igreja Católica após a Reforma. Se antes havia uma identidade européia
em torno de uma consciência moral, isso já não era mais possível a partir do
século XVI. Se até então o campo moral teve a religião como sua fonte, esta vai
progressivamente sendo substituída pela razão. A partir das guerras provocadas

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pelas divergências religiosas tornou-se imperativo a necessidade política da paz


pelo soberano. Por isso, defende Koselleck, o ponto de partida do absolutismo
foram as guerras religiosas, o Estado Absolutista emergiu para por fim à guerra
civil e o iluminismo seria um movimento social em que o “campo da opinião”
passou a se constituir como fonte da moral (KOSELLECK, 1999).
Assim como Grócio, Pufendorf procurou pensar sobre como organizar uma
comunidade de povos e nações distintas independente da moral religiosa de
cada um. Desde o século XVI, houve um esforço de construção teórica de uma
política de Estado pautada pela razão, e não na religião, que se consolidaria no
século XVIII. Isso é o que se costuma chamar de jusnaturalismo moderno ou
jusnaturalismo racional. Tanto Grócio como Pufendorf, procuraram construir
um direito que pudesse existir independentemente da moral cristã e que
pudesse fundamentar uma teoria da sociedade internacional assentada no
direito e não na teologia (PUFENDORF, 2007, p 38). Conforme aponta António
Pedro Homem, até meados do século XVIII, predominou na Europa a ideia de
que a teologia era a mãe de todas as ciências, e conseqüentemente, havia uma
A boa razão e o iluminismo português

supremacia da teologia sobre o direito no plano do conhecimento (HOMEM,


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

2003, p.37).
Na sua obra Os deveres do homem e do cidadão, Pufendorf pretendia divulgar
para um público mais amplo, especialmente aos jovens, conhecimentos básicos
sobre o direito natural. Esta obra, cuja edição inglesa saiu com o título de The
Whole Duty of Man, Accordingtothe Law of Nature (1691) teve grande repercussão
na Europa, principalmente após ser traduzida para o francês por Jean Barbeyrac,
em 1707, edição que influenciou outras edições inglesas até culminar com a de
1735. Para Pufendorf, o direito natural deveria ter os mesmos privilégios de
outras ciências como o direito civil, a ética, a filosofia natural e a matemática.
Na obra Os deveres do homem e do cidadão, Pufendorf estabelece três fontes
sobre o conhecimento do homem de seu dever, cuja principal diferença entre
elas resulta das diferentes origens pelas quais derivam seus princípios. O direito
natural, comum a todas as nações, que corresponde aos deveres do homem como
Sociedades Cientifícas

“criatura sociável com o restante da humanidade”; o direito civil, que envolve


as leis e Constituições dos países e corresponde aos deveres do homem como
“membro de uma cidade ou comunidade” e a teologia moral, que versa sobre os
deveres dos homens enquanto cristão. Pufendorf reconhece certa dificuldade
em conciliar o direito natural e a teologia moral, sendo que o primeiro se refere
a esta vida apenas, enquanto a teologia moral se refere a esta vida e o pós-
vida. O objeto principal do direito natural são as ações externas enquanto a

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teologia moral visa às ações internas (aquelas em que exteriormente parecem


boas mas procedem de uma mente impura e corrompida) (PUFENDORF, 2007,
p. 46). Seguindo as tendências do método experimental, as ações externas
poderiam ser mais facilmente tomadas como objeto de análise por meio do
método experimental, enquanto as ações internas, devido talvez ao seu caráter
subjetivo, seriam muito mais difíceis de serem estudas por este método.
Pufendorf adverte que a teologia moral não trata com tanta frequência as
ações que costumam aparecer nas leis humanas, mas aquelas que geralmente
estão fora do alcance das leis e das constituições. Para ele, a proeminência do
direito natural perante as demais fontes do direito vem da seguinte máxima:
“Devemos ser humanos, antes de sermos cristãos; e quem não ouvir a voz da
natureza não irá ouvir mais a voz da lei ou a do Evangelho” (PUFENDORF, 2007,
p.469). Assim, a voz da razão é pré-requisito para se ouvir a voz da lei de Deus,
assim como das leis e das constituições.
Embora Pufendorf reconheça certa complementaridade entre as duas, na
medida em que as virtudes cristãs podem auxiliar na ordem social, sugere
A boa razão e o iluminismo português

que o direito natural é mais importante e necessário para que o homem possa
Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

reconhecer ações que possam ser contrárias à comunidade e que atuem contra
a paz (PUFENDORF, 2007, p.47). E assim, defende a ideia de que “a conduta do
homem bom é em toda a parte a mesma” e que existe uma lei fundamentada na
natureza dos homens, ensinada pela razão, uma lei perpétua e irrevogável, uma
“lei universal da humanidade” (PUFENDORF, 2007, p.450). Por isso critica as
leis baseadas no costume: “O costume é a opinião e a decisão de uma multidão
cega, e não de sábios e sensatos” (PUFENDORF, 2007, p.445).
Embora Grócio e Pufendorf fossem autores fundamentais para o ensino
do direito natural, Verney advertia para o fato de serem “hereges”, e por isso
recomendáveis apenas aos mestres. Contudo, mesmo assim, segundo ele, quem
não tivesse outra opção, poderia ler Pufendorf.6 Esta postura de Verney pode
ser relacionada com o que na historiografia costuma se chamar de “iluminismo
católico” 7, na medida em que havia o objetivo de uma modernização e laicização
Sociedades Cientifícas

do Estado português, porém conservando os princípios do catolicismo. Por


exemplo, embora Verney se posicionasse favorável a uma reforma da Inquisição,
não defendia sua extinção, pois segundo ele era um Tribunal necessário para
os portugueses para “conter as populações e evitar que elas, por superstição
ou leviandade de espírito, caiam em doutrinas absurdas”.8 Na perspectiva
verneiana, a modernização deveria ser orientada a partir do que considerava
medidas necessárias “proporcionadas ao estilo de Portugal”. Esta forma de filtro

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da modernidade, de adequação ao contexto específico português, talvez seja


um elemento característico importante para a compreensão dos significados
assumidos pelo termo “boa razão”.
Em uma carta de Verney escrita para o iluminista italiano Ludovico Antonio
Muratori, datada de dezembro de 1745, um ano após a publicação da primeira
edição do seu Verdadeiro Método de Estudar, afirmava concordar com o caráter
severo da Inquisição portuguesa, mas que, contudo, não poderia ser considerado
um Tribunal cruel. Demonstrando sua intolerância religiosa em relação aos
judeus, no caso daqueles que diziam crer em Cristo, mas que continuavam
a praticar o judaísmo clandestinamente, a Inquisição portuguesa “mandou
apertar o pescoço e queimar depois de mortos”, e ponderou: “[...] que vês tu em
tudo isto que não seja justo, equitativo e consentâneo com as leis?” (MORAIS,
2006, p.133- 134). Como podemos observar, no que se refere à religião, Verney
defendia opiniões contrárias aos princípios defendidos por Grócio e Pufendorf,
autores que, de certa forma, procuraram combater a intolerância religiosa na
Europa. Para Verney, assim como para a maioria dos reformadores portugueses,
A boa razão e o iluminismo português

a modernização do reino deveria ocorrer sem abalar a fidelidade à religião


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

católica.

A boa razão e o iluminismo católico

Dentre os autores que deveriam ser evitados, Verney aponta uma lista
extensa incluindo Maquiavel, Espinoza, Hobbes, Locke e também Barbeirac,
principal divulgador da obra de Pufendorf na Europa. São autores que tem
muita utilidade, mas que poderiam ser perigosos para os jovens estudantes e
para aqueles que ainda não tivessem bem formados nos princípios da religião
católica. Da mesma forma, embora os Estatutos recomendassem Grócio e
Pufendorf como referências fundamentais do direito Natural, reforçava-se o
papel da religião, advertindo que Pufendorf havia priorizado o estudo das leis
naturais em detrimento de tópicos importantes como “a essência de Deus”, “a
Sociedades Cientifícas

imortalidade da alma” e a “vida eterna”. Da mesma maneira, no seu tratado


de direito natural, Tomás Antônio Gonzaga se afasta de algumas premissas
de Grócio e Pufendorf por deduzir o direito natural a partir da ideia de Deus,
entendido como a base de todo o direito (GONZAGA, 2004, p.15). O primeiro
princípio apresentado em seu tratado parte da defesa da existência de Deus,
seguindo a tese aristotélica de que deve haver uma “causa incriada”, uma causa
primeira. O direito natural seria então o conjunto de leis infundidas por Deus

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no coração dos homens e que são naturalmente acessíveis pela luz natural da
razão (GONZAGA, 2004, p.10). A questão básica era saber se esse Deus era um
Deus católico, protestante ou de qualquer outra religião. A grande maioria dos
filósofos modernos não questionava mais a existência de Deus, mas considerava
esta temática menos fundamental do que avançar no sentido daquilo que
poderia ser conhecido por meio da razão e dos métodos científicos.
Na transição do século XVII para o XVIII, Paul Hazard apontou para a
presença de uma crise de consciência, em que as certezas do homem vão sendo
corroídas pelas ideias dos filósofos modernos (HAZARD, 1971). Basicamente,
consiste na triste constatação de que não existe uma sabedoria além do alcance
humano somente penetrável exclusivamente pela revelação, mas apenas
aquela alcançável pela limitada razão. Este processo tem como pano de fundo
a separação entre religião e filosofia, processo lento e gradual que marcou a
transição do século XVII para o século XVIII. Embora as certezas da revelação
tenham sido substituídas pelas incertezas da razão, havia um otimismo em
relação ao século XVIII, a esperança de futuras felicidades pelo triunfo da razão
A boa razão e o iluminismo português

sob a égide de um direito natural laico, emancipado da moral cristã.


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

Na medida em que avançamos em direção ao século XVIII, vai se impondo


uma nova maneira de conceber o homem e a natureza. Assim como existiam leis
naturais universais, como havia provado Newton, deveria haver leis universais
que governassem a vida humana. A política deveria ser tratada pelo mesmo
método da filosofia natural, e por isso a busca por verdades universais na
justiça e na política (BAUMER, 1977, p.118). Esta questão, por exemplo, havia
levado Hobbes, fascinado pelas ciências naturais, a considerar que assim como
existiam leis que determinavam o movimento dos corpos naturais, deveriam
existir leis que governassem o movimento dos corpos políticos (SKINNER,
2010, p.33 - 34).
A boa razão também estava articulada com o paradigma das ciências naturais,
mas, em Portugal, teve maior expressão associada ao processo de centralização
promovido pelo Marquês de Pombal, conforme as tendências do jusnaturalismo,
Sociedades Cientifícas

procurando impor maior “racionalidade” aos processos jurídicos do reino. De


acordo com António Pedro Homem, o jusracionalismo é uma nova forma de
pensar o direito e o Estado, baseado na separação entre teologia e direito, por
uma concepção secularizada do direito, tolerância religiosa, noção de ciência e
método (HOMEM, 2010, p.37).
Em Portugal e Espanha, percebe-se uma maneira específica de se conciliar
fé e razão, devido ao peso da Igreja Católica e pelo fato de terem sido reinos

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em que o contrareformismo teve forte expressão. Isso explica a intolerância


de Verney e de alguns portugueses em relação aos judeus mesmo em tempos
iluminados. Por isso, a expressão iluminismo católico passou a ser utilizada
para fazer referência à especificidade do iluminismo português. Dentre outras
características destacadas pela historiografia poderíamos apontar ainda o
caráter reformista associado à figura do Marquês de Pombal e o papel de destaque
que a educação teve neste movimento. Contudo, poderíamos destacar as raízes
deste movimento que prepararam as reformas pombalinas. Conforme apontam
Silva e Hespanha, a identidade católica dificultava a condução de uma “política
nacional” que priorizasse as “razões de estado” (SILVA; HESPANHA, 1998,
p.21). Por exemplo, o problema da intolerância aos judeus e o rigor excessivo
da Inquisição em Portugal já haviam sido apontados pelo Padre Vieira no século
XVII como elementos que afetavam o comércio do reino. O mesmo faria D. Luís
da Cunha que observou uma crescente diminuição do comércio e uma “sangria”
de população devido à Inquisição (CUNHA, 1820, p.53).9 Neste aspecto, a “razão
de estado”, de acordo com D. Luís da Cunha, consistia em conciliar a “utilidade
A boa razão e o iluminismo português

temporal” do reino com a “utilidade espiritual da religião”.


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

O ponto de contato entre estes portugueses é a defesa dos interesses do


reino por meio de uma forma mais útil e racional de governar e administrar,
e que também exigiria uma forma adequada de ensinar, e tudo isso estava
articulado de certa forma com o conceito de “boa razão”. Nesta análise, procurei
compreender algumas formas de utilização do termo “boa razão” seguindo
recomendações de Quentin Skinner quando aponta para a importância de
recuperarmos o “alcance referencial” de uma palavra ou termo dentro de um
contexto social específico, ou seja, trata-se de refletir não tanto sobre o seu
significado, mas principalmente sobre os critérios de sua aplicação (SKINNER,
2005, p.257). Assim, foi possível observar como o termo ”boa razão”, para além
da Lei de 18 de agosto de 1769, estava articulado com outras ideias do ideário
iluminista português, como direito natural, ética, método e lógica.
O que podemos identificar nas ideias de Verney, na Lei de 18 de agosto de 1769
Sociedades Cientifícas

e nos Estatutos da Universidade é toda uma modernização do reino que pudesse


acompanhar os tempos “iluminados”. Este processo, contudo, deveria levar em
conta a especificidade portuguesa, o que de certa forma encontramos de forma
cristalizada no princípio da “boa razão”. Era preciso repensar a finalidade da
educação, que até então era voltada para a formação de um “perfeito cristão”,
para formar “homens úteis”. Por meio das Luzes da “boa razão”, seriam formados
homens que pudessem julgar conforme as leis e aplicar a justiça com “bom

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senso”, de acordo as especificidades e necessidades do Estado português.

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Notas
Doutor em História pela UFPR. Professor do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba).
1

2
Sobre a influência da Lei da Boa Razão na prática dos agentes da administração da
justiça ver: (ANTUNES, 2011).
3
Ver Carta 11 Volume III. Na edição organizada pelo professor Salgado Junior (VERNEY,
1950) a obra é dividida em 5volumes.O volume I, intitulado Estudos Lingüísticos,
contém as Cartas I (Introdução); II (Língua Portuguesa); III (Gramática Latina) e IV
(Latinidade). O volume II, intitulado Estudos Literários, a Carta V (Línguas Orientais);
Carta VI (Retórica) e Carta VII (Poesia). O volume III, Estudos Filosóficos, a Carta VIII
(Lógica); Carta IX (Metafísica); Carta X (Física) e a Carta XI (Ética). O volume IV, Estudos
Médicos, Jurídicos e Teológicos, a Carta XII (Medicina); Carta XIII (Direito Civil) e Carta
A boa razão e o iluminismo português

XIV (Teologia). Por fim, o volume V, intitulado Estudos Canônicos, Regulamentação –


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior

Sinopse, é constituído pelas Cartas XV (Direito Canônico) e XVI (Regulamentação geral


dos Estudos).
4
Para Verney, a Ética ou Filosofia Moral se divide em duas partes: A que trata do Sumo
Bem e o modo de consegui-lo; e outra que expõe as diversas obrigações do homem que se
orienta pela boa razão. Estas ações ou são honestas ou são úteis, nascendo outra divisão
desta segunda parte. O Direito Natural – para Verney o mesmo que a Jurisprudência
Natural ou Universal ou direito das gentes, trata das ações honestas e das obrigações
do homem com Deus, para consigo e para os outros. A Prudência Civil ou Economia e
a Política, que administra os problemas das cidades e dos reinos, trata das ações úteis.
5
Para Verney a ética é a lógica da Teologia Moral e Jurisprudência, a ética deduzida da boa
razão, excita nos Homens os princípios do direito natural (VERNEY, 1950, v. 3, p.260).
6
Verney aponta a necessidade de um compêndio de Ética adequado às necessidades
de Portugal. Faz alusão a certo amigo que estaria escrevendo uma Ética que deveria
ser publicada. Sabemos que estava falando de seus compêndios. Verney escreveu um
compêndio de Metafísica e outro de Física que chegaram a ser publicadas. A Ética
provavelmente se perdeu e nunca foi publicada.
Sociedades Cientifícas

7
O termo “iluminismo católico” é atribuído a Cabral de Moncada que considerava que o
Iluminismo havia se propagado de formas distintas para cada região da Europa, mas que
os países católicos, como Itália, Espanha e Portugal seguiam características comuns:
“Este Iluminismo era assim, pode dizer-se, essencialmente Reformismo e Pedagogismo.
O seu espírito era, não revolucionário, nem anti-histórico, nem irreligioso, como o
francês; mas essencialmente progressista, reformista, nacionalista e humanista. Era o
Iluminismo italiano” (MONCADA, 1941, p. 12).
Carta escrita de Verney a Muratori de Roma em dezembro de 1745, Morais (2006, p. 133).
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De acordo com D. Luís da Cunha, um dos fatores que compõe a riqueza dos reinos é
sua população. Por isso chamava a atenção para a “sangria” de gente provocada pela
Inquisição.
A boa razão e o iluminismo português
Eduardo Teixeira de Carvalho Junior
Sociedades Cientifícas

Recebido em 30/03/2020 - Aprovado em 20/05/2020


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