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1) O documento resume pesquisas sobre o uso e papel do livro didático de ciências no ensino fundamental no Brasil a partir de 1997. 2) Mostra que o livro é usado como material de apoio dividindo espaço com outros, mas ainda guia o currículo. 3) Discutem a relação entre conhecimento científico, produzido em contextos específicos, e conhecimento escolar transmitido aos alunos.

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1) O documento resume pesquisas sobre o uso e papel do livro didático de ciências no ensino fundamental no Brasil a partir de 1997. 2) Mostra que o livro é usado como material de apoio dividindo espaço com outros, mas ainda guia o currículo. 3) Discutem a relação entre conhecimento científico, produzido em contextos específicos, e conhecimento escolar transmitido aos alunos.

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ESTUDOS SOBRE O USO E O PAPEL DO LIVRO DIDÁTICO DE

CIÊNCIAS NO ENSINO FUNDAMENTAL

STUDIES ON THE USE AND ABOUT THE ROLE OF TEXTBOOKS OF


SCIENCE IN THE ELEMENTARY SCHOOLS
Denise Estorilho Baganha1
Nilson Marcos Dias Garcia2
1
UFPR/Programa de Pós Graduação em Educação - [email protected]
2
UTFPR/Departamento Acadêmico de Física e Programa de Pós Graduação em Tecnologia e
UFPR/ Programa de Pós Graduação em Educação, [email protected]

RESUMO

Neste trabalho é realizado um levantamento das pesquisas publicadas em alguns periódicos


nacionais sobre o papel e uso do livro didático de ciências no ensino fundamental. A pesquisa
tomou como referência temporal de início o ano de 1997, ano subsequente à publicação da
LDB e em um período em que livros didáticos submetidos ao Programa Nacional do Livro
Didático passaram a ser avaliados com critérios pedagógicos. Apoiado teoricamente nos
trabalhos de Freitag, Delizoicov, Selles e Ferreira e Wuo, a pesquisa buscou analisar, nos
artigos identificados, o papel e o uso desse material didático pelos professores do ensino
fundamental, assim como as relações estabelecidas entre ciência e escola, saber científico e o
saber escolar são percebidos pelos autores das pesquisas. Observou-se que o livro é utilizado
como material de apoio, dividindo espaço com outros materiais didático-pedagógicos no
decorrer do trabalho docente. Entretanto, na opinião dos autores das pesquisas, dentre outros
aspectos, o livro continua desempenhando um forte papel de direcionador do currículo.

Palavras-chave: livro didático, prática docente, saber científico, saber escolar, ensino de
ciências.

ABSTRACT

In this work is performed a survey of some research published in national journals about the
role and use of science textbooks elementary schools. The research took as a reference the
time started in the year of 1997, the following year of the publication of LDB. This period
includes also the moment in which textbooks submitted to the Programa Nacional do Livro
Didático have been evaluated with pedagogical criteria. The theoretical base was obtained in
works of Freitag, Delizoicov, Selles and Ferreira and Wuo. The research sought to examine
the role and use of teaching materials by teachers of elementary school, and like the
relationship between science and school, scientific knowledge and school knowledge are
perceived by authors of researches. It was observed that the book is used as material of
support and divides space with other teaching materials during the lessons. However, in the
opinion of the authors of the research, among other aspects, the book still plays a strong role
in guiding the curriculum.

Keywords: textbook, teaching practice, scientific knowledge, school knowledge, science


education

1
INTRODUÇÃO

Os conteúdos apresentados nos livros didáticos de ciências do ensino fundamental abordam os


diferentes conhecimentos físicos, químicos e biológicos selecionados em determinado
contexto histórico, político, econômico e social, e organizados de forma seriada para atender
aos propósitos desse nível de ensino e dos sujeitos no universo escolar.
Diante da discussão sobre o ensino de ciências e a abordagem contextualizada e
interdisciplinar dos conteúdos ocorrida com a publicação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais em 1998, fez-se necessário repensar a concepção de ciência, o processo ensino-
aprendizagem, a organização dos conteúdos escolares, a prática docente, bem como o papel e
uso do livro didático e a relevância dos conhecimentos ali relacionados, buscando superar o
ensino reducionista, ahistórico, com ênfase na memorização de informações.
A compreensão sobre a ciência como uma atividade humana, em constante
transformação e associada aos fatores políticos, sociais, econômicos e culturais de uma
sociedade (KNELLER, 1980), e a importância de um ensino que propicie uma aprendizagem
mais significativa para o aluno, surge então, um novo desafio: analisar o papel do livro
didático e promover mudanças em relação ao ensino dos conteúdos apresentados nesse
material. Algumas alterações começaram a surgir mesmo diante de fatores que dificultavam
tais mudanças, como por exemplo, a resistência para modificar a seqüência de conteúdos dos
livros didáticos.
A cultura estabelecida no interior da escola, que transforma a sequência proposta pelo
livro didático como a que deve ser seguida na organização do currículo, é adotada pela
maioria dos professores e também pelos pais dos alunos, que acompanham e exigem a
utilização desse material no formato como está, uma vez que o livro de Ciências adotado foi
selecionado pelos professores da escola e encaminhado pelo Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD) do Governo Federal, sendo, portanto, nessa concepção, material que
representa a sequência mais adequada para o ensino e aprendizagem dos alunos.
Nessa perspectiva, tendo em vista que múltiplos fatores interferem na escolha e
organização dos conteúdos, contribuindo e determinando a constituição do currículo escolar
mediante reflexão sobre que conteúdos deverão ser ensinados, e não apenas o livro didático,
estudos sobre este recurso têm apontado a necessidade de se desenvolver pesquisas sobre a
sua utilização em sala de aula, tanto para o professor, na elaboração do currículo escolar,
quanto para o aluno, como veículo de informação e de transmissão de conhecimentos
(CARNEIRO E SANTOS, 2005).
Cientes da importância que o livro didático desempenha nas atividades de sala de aula,
neste trabalho são apresentados os resultados de um levantamento de investigações
desenvolvidas por pesquisadores do campo de ensino de Ciências a respeito do uso e papel do
livro didático, publicadas em periódicos nacionais.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO E CONHECIMENTO ESCOLAR

Entre os séculos XVI e XVII, a revolução científica, com Galileu, Descartes, entre outros
filósofos, possibilitou o desenvolvimento dos “fundamentos conceituais, metodológicos e
institucionais da ciência moderna” (WUO, 2002). Para esse autor, do entendimento
proporcionado por essa nova maneira de ver o mundo resultou em saber científico que foi
adquirindo relevância no decorrer dos tempos, tornando-se um dos pontos cruciais na
formação do homem moderno e a transmissão desse legado foi se tornando cada vez mais
importante dentro das perspectivas educacionais.
Os conhecimentos científicos produzidos em contextos culturais, políticos,
econômicos e históricos específicos não são transpostos diretamente em conhecimentos

2
escolares, surgindo, neste movimento, conflitos entre ciência e ensino. Diante das reflexões
decorrentes do movimento da Ciência Moderna no século XVII, pressupõem-se uma
aproximação entre os conhecimentos científicos produzidos e os conhecimentos escolares
necessários para a formação dos alunos (WUO, 2002).
Entretanto, devido à sua complexidade, os conhecimentos científicos não são
transferidos para a sala de aula de forma direta. Estes são selecionados e transpostos para o
âmbito escolar decorrentes de fatores sociais, políticos e culturais, e mesmo por limitações do
processo ensino-aprendizagem. A ciência atua como referência para o conhecimento a ser
ensinado. Já a escola deve despertar o interesse pelo conhecimento produzido com o propósito
de mostrar aos alunos como a ciência procura explicar os fenômenos naturais (WUO, 2002).
Para MACEDO E LOPES, citadas por SELLES et al (2005, p. 52), analisando a
relação entre ciência de referência e disciplina escolar, estas:

“(...) atendem às finalidades sociais do conhecimento e da educação. Entretanto,


enquanto as primeiras se desenvolvem em direção a processos cada vez mais
especializados, mobilizando determinados objetivos sociais em favor de sua própria
institucionalização, as disciplinas escolares trabalham com conhecimentos organizados
e transformados para fins de ensino, funcionando como um princípio ordenador e
controlador do currículo, estruturando os tempos e espaços escolares”.

Ao pensarmos na ciência contemporânea na perspectiva de uma ciência em


construção, caberá ao professor trabalhar com seus alunos levando-os a perceber que, por
estar em construção, não há um conhecimento definitivo, pronto e acabado. Além disso, eles
devem estar abertos às novas formas de compreender a realidade percebendo que seus
conceitos podem ser alterados facilitando “a compreensão do fenômeno científico e melhor
integração numa sociedade tecnológica” (CARVALHO FILHO, 2006, p.12).
Estimular a aprendizagem de conhecimentos científicos atualmente exige pensar a
abordagem histórica da construção destes conhecimentos. A importância da história da
ciência está em compreender como o conhecimento científico é construído. Assim, para o
ensino, o professor deveria ter melhor formação nesta área para que ele mesmo não transfira
aos seus alunos concepções inadequadas sobre a natureza da ciência (EL-HANI, 2006, p.11).
Retoma-se aqui o papel do livro didático como apoio à prática docente, destacando a
importância de se compreender o processo de aquisição do conhecimento científico através da
disciplina escolar. O livro didático também interfere na determinação do currículo escolar,
mas cabe ao professor ter clareza sobre o seu papel na atividade pedagógica e na formação do
conhecimento científico, quando da seleção de um material adequado ao contexto da escola
em que atua.
Para WUO (2002), remetendo-se ao livro didático e relacionando-o ao conhecimento
científico, afirma ser este um “(...) mediador entre o saber científico de referência e a matéria
disposta para o ensino em sala de aula” e ainda mais,

Com um caráter disciplinante, e conforme a “lógica” que o orientou, o livro didático


organiza os dados, ordena as atividades pedagógicas, pode sugerir atividades
complementares, apresentar soluções variadas e estimuladoras que favoreçam uma
aprendizagem mais criativa, trazendo situações do cotidiano, explicações de
fenômenos interessantes, apresentação de tópicos mais avançados, resolução de
problemas mais elaborados, etc. (WUO, 2002, p.164).

Para DELIZOICOV et al (2002), um dos desafios do mundo contemporâneo com


relação à educação escolar encontra-se na “superação das insuficiências do livro didático”.

3
Os autores demonstram ser o livro o principal instrumento de trabalho do professor mesmo
com os resultados de pesquisas apontando para as deficiências e limitações deste material.
Estas deficiências, no caso dos livros de Ciências, referem-se principalmente a equívocos
conceituais e metodológicos cujo trabalho de superação tem sido desenvolvido com o
aparecimento de livros produzidos por professores da área.
Entretanto, os autores argumentam que o livro didático não deve ser o único
instrumento para o professor. O uso de outros materiais deve ser considerado para o ensino,
porém, de forma crítica e consciente. Incluem-se CD-ROMs, TVs educativas, revistas,
suplementos de jornais, TVs de divulgação científica, rede web, entre outros, como espaços
de divulgação científica e cultural, como museus, laboratórios, planetários, parques
especializados, exposições, feiras, clubes de ciências, etc., fazendo parte do planejamento do
professor, de forma sistematizada e articulada. Todos estes recursos deveriam ser
considerados pelo professor em sua prática pedagógica com o intuito de promover uma
melhoria na qualidade do processo ensino-aprendizagem.
Remetendo-nos um pouco à história dos livros didáticos na educação brasileira,
especialmente a partir da década de 1930, legislações são estabelecidas no intuito de organizar
melhor o ensino nas escolas e inicia-se uma fase de investimento alto na produção de material
didática. Este investimento permite mesmo declarar que o livro é uma “(...) autoridade, uma
última instância, o critério absoluto de verdade, o padrão de excelência a ser adotado em
sala de aula” (FREITAG, 1989, p.123 – 124).
A autora afirma, ainda, que o livro é produzido sem levar em consideração o professor
e o aluno, o que não garante a mudança da prática docente e a melhoria do ensino. “Funciona
como instrumento de ensino no processo pedagógico em sala de aula; como fonte de lucro e
renda para editores e como cabide de empregos para os funcionários e técnicos dos
organismos estatais” (FREITAG, 1989, p. 128).
Quanto à estrutura e organização dos livros didáticos e o processo ensino-
aprendizagem, BIZZO (2002) relata que os livros didáticos de ciências traziam uma grande
quantidade de informação e exercícios com questões objetivas, por exemplo, “o que é”,
“defina”. Nessa forma, os alunos apenas copiam trechos do livro e resolviam exercícios que
pouco contribuía para a construção de conhecimentos científicos. Juntava-se a esta visão de
ensino o fato de existirem informações incorretas nos livros, o que comprometia ainda mais a
compreensão de conceitos científicos, desestimulando o seu uso pelo professor.
Diante desta realidade, somente com a implantação de um programa específico para
avaliação dos livros é que este quadro sofreria mudanças. Assim, desde 1996, no Brasil, o
Governo Federal vem implantando programas de avaliação da qualidade dos livros didáticos
produzidos para atender aos professores e alunos da educação básica e propiciar uma melhoria
da qualidade da educação.

METODOLOGIA DE PESQUISA

A presente pesquisa consta de um levantamento de artigos que investigam o papel e o uso do


livro didático de ciências nas séries finais do ensino fundamental com busca realizada em
quatro periódicos nacionais. Foram consultadas as revistas Ensaio – Pesquisa em Educação e
Ciência, sendo identificados 4 artigos; a Revista Ciência e Educação, com a identificação de 5
artigos; o Caderno Catarinense de Ensino de Física (período de 1997-2001), com 2 artigos, e
o Caderno Brasileiro de Ensino de Física (período de 2002 até 2007), também com 2 artigos.
Os periódicos foram selecionados por serem referências nacionais em publicações na área de
ensino de ciências.
A seleção inicial dos artigos ocorreu a partir de três critérios: o primeiro, pelo título da
publicação para localizar, imediatamente, artigos que abordassem a temática “livro didático”;

4
o segundo, pelo resumo, com o propósito de constatar a abordagem da pesquisa sobre o tema;
e o terceiro critério, leitura na íntegra para selecionar os artigos que abordavam o tema sobre
livro didático nas séries finais do ensino fundamental e que trouxessem análise sobre o uso e o
papel do livro didático.
Por serem revistas com publicação virtual, a busca foi realizada diretamente nos sites
correspondentes, consultando-se todos os volumes e números desde 1997, ano subsequente à
publicação da LDB/96, e em um período em que livros didáticos submetidos ao Programa
Nacional do Livro Didático passaram a ser avaliados com critérios pedagógicos.
Em um segundo momento, artigos com títulos mencionando conteúdos de ensino de
ciências também foram consultados para identificação de análises sobre o uso e o papel do
livro didático no ensino fundamental. Alguns artigos com abordagem de análise sobre outros
aspectos dos livros, como, por exemplo, análise de conteúdos específicos para o ensino
fundamental, também foram consultados como possíveis fontes de análise dos autores sobre o
uso e o papel de livro didático.

RESULTADOS

O primeiro artigo identificado na revista Ensaio – Pesquisa em Educação e Ciência é


de autoria de Caldas, Cunha e Magalhães (2000), “Repouso e movimento: que tipo de atrito?
O que relatam os livros didáticos da 8ª série do ensino fundamental e do ensino médio”. Nele
os autores propõem-se a analisar os conceitos científicos de repouso e atrito nos livros
didáticos de 8ª série (9ºano) do Ensino Fundamental e de livros do Ensino Médio.
Os autores analisam que os livros didáticos não contribuem para a formação dos
conceitos de forma correta e completa, ficando o conteúdo apresentado de forma reduzida,
simplificada. Concluem que o papel do livro didático no processo de formação e de aquisição
do conhecimento científico pode contribuir positivamente ou negativamente para a formação
ou permanência das concepções de senso comum dos alunos e dos modos de raciocínio dos
estudantes e professores.
Sobre o uso do livro didático com uma perspectiva diferenciada, o segundo artigo
identificado, de Carneiro, Santos e Mól (2005), “Livro didático inovador e professores: uma
tensão a ser vencida”, discute a função pedagógica e a relação do livro com o professor,
relatando as tensões resultantes da experiência de um grupo de professores ao adotarem um
livro didático com uma proposta metodológica diferenciada. Tais tensões surgem quando o
professor depara-se com a possibilidade de mudanças na prática pedagógica a partir de uma
proposta inovadora, concluindo que há um conflito, para alguns professores, entre a vontade
de promover mudanças em sua prática pedagógica e a dificuldade de desenvolvê-las diante de
uma estratégia diferenciada.
No terceiro artigo, de Cassab e Martins (2008), “Significações dos professores de
ciências a respeito do livro didático”, as autoras investigam os sentidos que os professores de
ciências atribuem ao livro didático no contexto da sua escolha. Relatam os critérios adotados
pelos professores e analisam, pela Análise do Discurso, como os professores estabelecem os
critérios de seleção do livro, haja vista que suas interações sociais interferem no
estabelecimento desses critérios e das concepções que eles possuem sobre ensino, ciência e
aluno. Destaca-se aqui, a importância que os professores atribuem ao critério de linguagem,
pois por este critério, verificou-se a concepção de ensino do professor, ainda centrada na
transmissão do conhecimento, e no papel do livro como “porta voz da linguagem da ciência”
e que, por possuir este papel, deve apresentar uma linguagem acessíve ao aluno para não
dificultar o processo ensino-aprendizagem.
O quarto artigo identificado, de Freitas e Martins (2008), “Concepções de saúde no
Livro didático de ciências”, apresenta uma análise de uma coleção de Ciências de 5ª a 8ª

5
séries (atuais 6º ao 9º ano) sobre o conceito “saúde”, tendo como referência o proposto nos
Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências da Natureza e o volume sobre Temas
Transversais, publicados em 1998. Mesmo com a proposta apresentada nesses documentos
oficiais, com enfoque na abordagem interdisciplinar e contextualizada dos conteúdos frente
aos problemas contemporâneos da sociedade, a coleção do livro analisado destaca as
nomenclaturas usadas da área de saúde, com maior ênfase na 7ª série, onde os conteúdos
trabalhados correspondem ao corpo humano, não apresentando alguma situação de
problematização, o que, para os autores, não favorece a construção de conhecimentos
científicos.
Na revista Ciência e Educação, o primeiro artigo identificado foi do autor Tiedemann
(1998), “Conteúdos de química em livros didáticos de ciências”, que aborda sobre os
conteúdos de química trabalhados na 8ª série. O autor aponta os problemas do ensino dessa
área de conhecimento do ensino fundamental, destacando que determinados conteúdos são
impróprios para essa faixa etária, principalmente por não ser uma etapa de formação
profissional de químicos. Além disso, erros conceituais são frequentes, o que também causa
problemas na aprendizagem de conteúdos científicos. Com isso, o autor afirma que o papel do
ensino de ciências na escola deveria ser o de propiciar “raciocínio em termos científicos para
solucionar problemas” e fazer com que “o aluno compreenda questões importantes para sua
vida”.
Em Vasconcelos e Souto (2003, p.93-94), “O livro didático de ciências no ensino
fundamental: proposta de critérios para análise do conteúdo zoológico”, os autores afirmam
que o livro didático de ciências tem função diferentes dos demais livros

“Os livros de Ciências têm uma função que os difere dos demais – a aplicação
do método científico, estimulando a análise de fenômenos, o teste de hipóteses
e a formulação de conclusões. Adicionalmente, o livro de Ciências deve
propiciar ao aluno uma compreensão científica, filosófica e estética de sua
realidade (Vasconcellos, 1993), oferecendo suporte no processo de formação
dos indivíduos/cidadãos. Conseqüentemente, deve ser um instrumento capaz
de promover a reflexão sobre os múltiplos aspectos da realidade e estimular a
capacidade investigativa do aluno para que ele assuma a condição de agente na
construção do seu conhecimento. Esta postura contribui para a autonomia de
ação e pensamento, minimizando a “concepção bancária” da educação, que
nega o diálogo e se opõe à problematização do que se pretende fazer
conhecer”.

Com isso, na opinião dos autores, o professor deveria participar das avaliações do
livro para melhor escolher dentre aqueles livros propostos pelo PNLD. Os autores apresentam
sugestões de critérios de avaliação para ajudar os professores, uma vez que, mesmo com toda
avaliação do MEC, alguns livros ainda apresentam problemas metodológicos e conceituais
que podem comprometer o processo educativo. A mesma discussão é apresentada por Ferreira
e Soares (2008), no artigo “Aracnídeos peçonhentos: análise das informações nos livros
didáticos de ciências” propondo a participação dos professores na escolha dos livros mediante
critérios bem definidos que permitam selecionar uma obra mais adequada à realidade dos
alunos.
Sobre o uso do livro didático, o artigo de Megid Neto e Fracalanza (2003), “O livro
didático de ciências: problemas e soluções”, relata uma pesquisa feita com professores do
ensino fundamental, agrupando os resultados em três grupos de análise: o primeiro indica o
uso simultâneo de várias coleções didáticas; o segundo, o uso do livro como apoio às
atividades, e, o terceiro grupo, o uso como fonte bibliográfica, tanto para complementar seus

6
próprios conhecimentos, quanto para a aprendizagem dos alunos, em especial na realização
das chamadas “pesquisas” bibliográficas escolares. Os autores destacam os problemas
presentes nos livros didáticos publicados no Brasil e que muitos ainda não foram corrigidos
mesmo com a avaliação realizada pelo PNLD. Os autores apontam que os professores estão
cada vez mais buscando outros recursos para suas aulas, não considerando mais o livro
didático como única fonte de informação para o ensino, tanto por necessidade de adequação à
realidade da escola, quanto por suas convicções pedagógicas. Com isso, são sugeridas
alterações na produção de livros e outros materiais que possam contribuir para a prática
docente.
Para Bellini e Frasson (2006), no artigo “Ciências e seu ensino: o que dizem os
cientistas e os livros didáticos sobre o HIV/AIDS?”, a discussão sobre a distância entre o
conhecimento científico e o escolar fica bem evidenciada quando da análise dos textos
acadêmicos e didáticos feita pelas autoras. Foram verificados cerca de 20 textos acadêmicos e
10 didáticos, onde, nesses últimos, o conhecimento científico é escrito utilizando-se de figuras
de linguagem, como metáforas, para representar os conceitos científicos, Com isso, as
distorções e erros acontecem frequentemente, o que compromete o processo educativo. É
necessário, por tanto, uma “aproximação da didática das ciências ao estudo da retórica” para
corrigir os erros e diminuir a distância entre o conhecimento científico e o escolar.

A busca realizada no Caderno Brasileiro de Ensino de Física, denominado Caderno


Catarinense de Ensino de Física até o ano de 2001, permitiu identificar 4 artigos publicados.
Os artigos de Pimentel (1998), “Livro didático de ciências – a física e alguns problemas”, e de
Cunha e Caldas (2000), “Sentidos da força de atrito e os livros de 8ª série” abordam sobre os
erros conceituais freqüentes nos livros didáticos, sendo que estes erros não contribuem para a
formação dos conceitos científicos. O professor deve estar preparado para perceber as
imprecisões e erros e corrigi-los assim que percebidos. Artigo de mesmo teor de Cunha e
Caldas já havia sido mencionado acima nas publicações da Revista Ensaio – Pesquisa em
Educação e Ciência.
Outros dois artigos, de Cardoso; Freire e Mendes Filho (2006), “Arquimedes e a lei da
alavanca: erros conceituais em livros didáticos” e Langui e Nardi (2007), “Ensino de
astronomia: erros conceituais mais comuns presentes em livros didáticos de ciências”,
também abordam os principais erros presentes nos livros, conforme artigos anteriores.
Entretanto, no primeiro artigo, os autores propõem que os professores, além de procederem à
avaliação criteriosa dos materiais, invistam, entre outras sugestões, em uma base histórica
para melhor compreensão dos conhecimentos a serem trabalhados. No segundo artigo, a
proposta incentiva os professores a buscarem superação dos conceitos prévios tanto dos
alunos quanto dos próprios professores, com investimentos em formação inicial e continuada
dos professores sobre os assuntos referentes à Astronomia.

CONSIDERAÇÕES

As discussões sobre o livro didático refletem a preocupação com produção de materiais que
apresentem determinadas características e que possam suprir uma demanda por parte de
professores que o utiliza em sala de aula, ora como único recurso disponível e que também
participa de sua formação, ora como material de apoio à prática docente.
Com a implantação de um programa de avaliação desses materiais, percebe-se uma
melhoria na qualidade das produções nacionais, apesar de que, mesmo com todos os critérios
estabelecidos, ainda continuam ocorrendo problemas de ordem conceitual, metodológica e
mesmo organizacional que comprometem a qualidade desse recurso, favorecendo o

7
surgimento de concepções equivocadas tanto para os professores quanto para os alunos, sobre
ciência, escola, ensino.
Diante desse quadro, analisar o uso e o papel do livro didático no ensino fundamental
é de grande importância e requer mais investigação, tendo em vista as concepções
transmitidas por estes recursos e a sua implicação para a formação inicial e continuada dos
professores, que, com bastante freqüência, utilizam este material como direcionador do
currículo escolar, interferindo nos propósitos da educação básica nos seus diferentes níveis, e
na qualidade do ensino que se pretende.

REFERÊNCIAS

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Cientistas e os livros didáticos sobre o HIV/AIDS? Ciência & Educação, v. 12, n. 3, p. 261-
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CARVALHO FILHO, José Ernane Carneiro. Educação científica na perspectiva
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KNELLER, George F. A ciência como atividade humana. São Paulo: Ed. Universidade de
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LANGHI, Rodolfo; NARDI, Roberto. Ensino de astronomia: erros conceituais mais comuns
presentes em livros didáticos de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 24, n.
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de Ciências Naturais no Contexto Educacional Piauiense: influências na Prática

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Pedagógica. In: II Encontro de Pesquisa em Educação da UFPI, 2002. Disponível em: www.
ufpi.br
MEGID NETO, Jorge; FRACALANZA, Hilário. O livro didático de ciências: problemas e
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SELLES, Sandra; FERREIRA, Márcia Serra. Disciplina escolar Biologia: entre a retórica
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VASCONCELOS, Simão Dias; SOUTO, Emanuel. O livro didático de ciências no ensino
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WUO, Wagner. O ensino de física: saber científico, livros e prática docente. In: BUENO, José
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