46653-Texto Do Artigo-134380-1-10-20191228
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colonial: escravidão e
modernidade em Urucungo de
Raul Bopp
Yasmeen Pereira da Cunha*; Miguel d’Abadia Ramos Jubé Júnior**
Resumo:
Partindo dos pressupostos da estética marxista, este artigo apresenta a análise dos poemas
“Diamba”, “Mucama” e “Favela n. 2”, do livro Urucungo (1932), de Raul Bopp, na tentativa de
evidenciar como a forma estética dos poemas representa o processo social da escravidão do
negro no Brasil até sua libertação e ascensão na sociedade de classes capitalista. A relação
entre forma literária e conteúdo social será evidenciada, principalmente, na configuração
do sujeito lírico que narra a história do negro africano em terras brasileiras a partir da
perspectiva do oprimido. Para isso, o sujeito lírico traça um percurso historiográfico que
demonstra que o passado colonial é reatualizado no presente, resultando na continuação da
opressão contra os negros mesmo depois da abolição da escravatura.
Palavras-chave: estética marxista; Raul Bopp; Urucungo; escravidão no Brasil.
* Mestra em Estudos Literários pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia-GO, Brasil.
Professora dos níveis médio e superior da rede particular. Artigo vinculado à pesquisa de mestrado,
realizada com apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES). End. eletrônico: [email protected].
** Doutor em Estudos Literários pela UFG, Goiânia-GO, Brasil. Coordenador Editorial da Martelo
Casa Editorial. End. eletrônico: [email protected]
- Cinturinha piquininha...
- Boba...
“Favela n. 2”, como foi dito, deixa evidente a atualização da opressão vivida
pelo negro. Na primeira estrofe, o sujeito lírico trata de ambientar o espaço e ao
contrário do que foi visto em “Diamba”, o espaço é urbano. Contudo, o cenário
urbano e moderno, enfatizado pelo “trem que vinha de São Paulo”, ganha um
tom negativo, o que fica evidente no verso “A paisagem enfeiou-se com borrões
de fumaça”. Na terceira e quarta estrofes há um elemento bastante representa-
tivo do passado colonial no presente do Brasil industrializado. Seu Manuel, que
“acocorou-se à porta da venda/ para palitar os dentes”, representa a nova vida
Considerações finais
O presente artigo tentou demonstrar através do livro Urucungo, de Raul
Bopp, que a violência direcionada aos negros continua mesmo após o fim
da escravidão. Assim, as construções dos poemas, principalmente a figura do
sujeito lírico, faz com que seja possível evidenciar os ecos do passado no pre-
sente. Outro fator que intensifica essa evidência é o fato de que este livro busca
reorganizar o discurso historiográfico e contar a história a partir dos vencidos.
Além dos poemas que foram analisados, há outros que revelam mais aspectos da
vida no negro no Brasil, como “Monjolo” que representa o ritmo exaustivo do
trabalho escravo; “Casos da negra velha” que tenta, através do mito, explicar a