Apostila07 Web
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Desenvolvimento
emocional e
comportamental II
Organizadores Sumário
Mônica C. Miranda
Carolina T. Piza
André Luiz de Sousa
Juliana C. Ferreira
Tatiana Góes Freitas
Pompeia Villachan-Lyra
Carolina Nikaedo
Orlando F. A. Bueno
A autonomia e
Colaboradores
Daniele Pereira de Souza
4 a autoconfiança
Emmanuelle Chaves
Maria Cristina C. R. Oliveira
Nelma Assis
Silvia Maciel
Renata Trefiglio Mendes
Projeto Gráfico
Priscilla Ballarin
Promovendo o
Diagramação
Flávio Della Torre 12 desenvolvimento emocional:
limites, regras e incentivo
Ilustrações
Eliza Freire
Agradecimentos
Um especial agradecimento à direção, coordenação e professores das escolas: Centro de Educa-
ção Infantil - CEI Arrastão, EMEI do Lar Sírio, EMEI São Paulo, CEI Nova Santana, que se pronti-
ficaram a receber a equipe de pesquisadores, auxiliando na primeira fase desse projeto em que
foi possível levantar as necessidades formativas do professor da educação infantil.
“Quando a mãe faz
Não existem manuais ou receitas prontas a
respeito de como devemos cuidar e educar
O manejo desses dois “ingredientes” no dia-
-a-dia dessas relações nem sempre é fácil.
tudo pela criança e
bebês e crianças, não é mesmo? Apesar de Pelo contrário, muitas vezes costuma ser um com a criança, ocorre
concordarmos com essa afirmação, vamos
aqui continuar nossa reflexão sobre alguns
grande desafio. Em muitos momentos surgem
dúvidas a respeito do que se deve priorizar um apego exagerado
possíveis caminhos, apontados pela psicolo-
gia e neurociência, que visam favorecer um
nas relações. Esse dilema entre como lidar
com afeto/suporte e o limite surge em mui-
(chamado de inseguro
desenvolvimento emocional infantil rico em tas situações do nosso cotidiano, ao longo de ansioso) entre elas e
oportunidades. todo o processo de educação da criança. Por
exemplo, quando a criança está brincando e
a separação da mãe,
Sabemos que este investimento, principal- se depara com algo novo, como um escor- mesmo por curtos
períodos, se torna
mente nos primeiros anos de vida, contribui regador muito alto, que inicialmente lhe pa-
para a formação de uma pessoa com maior rece ameaçador, ela geralmente solicita (ou
repertório sócio-emocional, mais apta a so-
lucionar problemas e enfrentar os obstácu-
requer) ajuda para se sentir segura e superar
aquele desafio inicial, que é escorregar. Uma
aversiva para a criança
los da vida, acreditando em si mesma, etc. forma de oferecer à criança essa segurança e que tem, então, reações
Pois é, como temos visto, todas essas carac-
terísticas começam a se delinear no início
confiança, é (o adulto) encorajá-la e motivá-la
a escorregar. Perceba que, ao dar este supor-
emocionais como: choro
da vida, na relação que a criança estabelece te, o professor não abandonou a criança, não e birras nos momentos
de afastamento e
com sua família, professores e amigos. considerou “bobagem” esse medo, mas vali-
dou o sentimento da criança e oportunizou a
Para nos aprofundarmos nesta reflexão, gos-
taríamos de propor uma analogia. Como em
ela a experiência de concretizar aquela situa-
ção. Desta maneira, o professor funcionou
mais tarde, se não for
toda boa receita culinária há aquele ingre- como um suporte para que ela conseguisse alterada a situação,
diente principal, responsável pelo sucesso
da receita. O processo de desenvolvimento
superar suas próprias dificuldades. Em uma
situação similar, na qual uma criança mais
podem aparecer fobias
infantil, considerando esta mesma analogia, agitada e destemida ameaça “se jogar” do sociais ou de situações.”
também tem um “ingrediente” imprescindí- escorregador, sem prever os riscos ou con-
vel, que não pode faltar: o afeto. Todo in- sequências, o adulto terá que auxiliá-la, es-
divíduo necessita de afeto (e cuidados) para tabelecendo limites e expondo os cuidados,
se sentir amado. Um bebê ou criança sem novamente com afeto, para que aos poucos,
alimento/nutrição fica desnutrido; sem ca- a criança comece a compreender seus riscos. Portanto, como em uma boa receita, temos dois grandes assuntos de interesse dos profis-
rinho, a criança poderá se sentir sozinha e Sendo assim, nós adultos, vamos aos poucos, que dosar bem os ingredientes, para não sionais que trabalham com a Primeira Infância:
desamparada. Assim, uma vida afetuosa e dosando os gestos de amor e encorajamen- abandoná-la, nem fazer por ela, mas sim, ser como potencializar o desenvolvimento da au-
emocionalmente saudável, que favoreça o to, para minimizar riscos e ajudar a criança a suporte para que ela consiga superar suas tonomia da criança (tornando-a cada vez mais
crescimento é fundamental! Mas, vale lem- superar seus obstáculos, enfrentando com próprias dificuldades. independente do adulto na realização das suas
brar que, como duas faces da mesma moe- maior autonomia seus pequenos desafios diá- tarefas), e como lidar com os comportamentos
da, o afeto e suas interfaces não se separam rios. Para isso, temos que entrar em contato Na apostila anterior tivemos a oportunidade de típicos dessa faixa etária na escola (estabele-
do limite. O queremos dizer com isso? Que- com nossos próprios medos e desafios, pois conhecer melhor como se dá o processo de de- cendo limites, regras e disciplina).
remos dizer que tão importante quanto se como já vimos, cuidadores excessivamente senvolvimento emocional da criança e suas in-
sentir amado e protegido é aprender a lidar preocupados também podem agir de maneira terfaces, quais os seus agentes complicadores e Começaremos falando sobre a autonomia e a
com limites, a frustração e os afetos a ela superprotetora, evitando que crianças explo- facilitadores e alguns conceitos complementa- autoconfiança, dois temas que se entrelaçam
inerentes, como também se apropriar das rem o ambiente e experimentem novidades. res, como a cognição social, a disciplina, a birra e cujo conhecimento deve vir antes da aplica-
regras de convivência. Como diz o psicólogo Helio Guilhardi: e a agressividade. Nesta apostila, abordaremos ção de qualquer método de disciplina.
De acordo com alguns teóricos da psico- está diretamente associado às experiências desenvolvimento da autoconfiança. Isso é o que aquilo que pode ou não realizar com seguran-
logia, a autoconfiança define-se como um e relacionamentos estabelecidos durante a desencadeia sua motivação para tomar novas ça, tendo como referência suas próprias expe-
sentimento aprendido, que se desenvolve primeira infância. iniciativas, resolver problemas, persistir diante riências. No entanto, deve-se ficar atento para
durante a nossa vida, a partir de nossos de tentativas fracassadas e assumir uma postura que as tarefas propostas sejam adequadas às
próprios atos, à medida que conseguimos Como já vimos anteriormente, na educação in- independente na vida. Em outras palavras, isto é suas habilidades e aos interesses da criança,
aquilo que queremos. Ela se desenvolve fantil, lidamos com inúmeras situações nas quais o que permite que a criança se torne um indiví- dosando adequadamente o desafio à motiva-
por meio de relações afetivas positivas que podemos auxiliar as crianças a desenvolverem duo com AUTONOMIA. ção. Quando o desafio está muito além de sua
construímos com outras pessoas, e que vão sua autoconfiança. Isso ocorre, por exemplo, possibilidade atual, corre-se o risco de provo-
demonstrando que é possível confiar nelas. quando uma criança quer se engajar em uma Deixar que a criança realize sozinha ativida- car o efeito contrário, gerando um sentimento
Consequentemente, isso aumenta a sensa- brincadeira nova e se desafia por saber que pode des do dia-a-dia, como as de autocuidado de fracasso e incapacidade.
ção de segurança, que nos permite ousar e contar com o suporte de um adulto de referên- (vestir-se, pentear-se, alimentar-se, escovar os
explorar o ambiente, contando com o apoio cia. Como destacado no exemplo do escorrega- dentes), ou dar a ela atividades físicas, como, Vejamos um novo exemplo com a figura acima.
de terceiros. Assim, na medida em que con- dor, ao sentir-se segura, se arrisca a fazer coisas por exemplo, subir em árvores, andar sobre
fiamos em outras pessoas e vivemos expe- que ainda não conseguia sozinha, obtendo no- um pequeno obstáculo (com supervisão para Pedir a uma criança que tem pouco contato
riências positivas de exploração do mun- vas conquistas. Assim, por meio das novas ex- evitar riscos), jogar bola, pular corda, realizar com a natureza, que suba em uma árvore alta
do, tendemos a construir um sentimento periências diárias, vai ampliando seu repertório , trabalhos manuais, etc.; possibilita criar con- para pegar uma flor, é fazer uma exigência para
de confiança em nós mesmos. É algo que aumenta sua valorização pessoal, favorecendo o dições para que ela, pouco a pouco, conheça além da sua capacidade atual. Possivelmente,
autoconfiança da criança na escola EXIJA QUE A CRIANÇA FAÇA SOZINHA. Agora que a tarefa foi dominada,
incentive que a criança faça a tarefa de forma autônoma.
40 PASSO Deixe a criança fazer a tarefa de forma autônoma por algum tempo,
repetindo a tarefa por alguns dias, assim ela usa a habilidade que aprendeu.
Para que os profissionais da educação infantil Fornecer uma ajuda inicial nas ativida-
possam contribuir ainda mais com o desen- des mais difíceis e colocar-se disponível
volvimento da autoconfiança e da autonomia às demandas da criança. Sempre que ne-
Por fim, para concluirmos esta primeira refle- seus comportamentos, acaba por apresentar
das crianças durante as atividades acadêmi- cessário, ofereça apoio e ajuda às crianças
xão, vimos acima que o estabelecimento de dificuldades em situações cotidianas, uma vez
cas, propomos algumas sugestões: que demonstrarem dúvidas. Vá retirando
relações afetivas positivas na primeira infân- que não aprende a tomar iniciativas nem a so-
este apoio gradualmente, até que a criança
cia pode contribuir positivamente para que as lucionar problemas, desiste facilmente diante
Organizar atividades em etapas suces- possa fazer a atividade sozinha. Isto a ajudará
crianças construam autoconfiança e autono- do fracasso, torna-se dependente dos outros
sivas e diferentes níveis de dificuldade, a não criar dependência do adulto para fazer
mia, e consequentemente tenham maior capa- e desenvolve, entre outros, sentimentos de
permitindo que crianças em diferentes suas atividades, mas evitará que se sinta des-
cidade para tomar iniciativas, resolver proble- medo, de ansiedade, de insegurança e fobias.
estágios possam responder e aprender. Este motivada diante da dificuldade da tarefa.
mas e ser independe dos outros.
é um modo de aumentar a probabilidade das
Desta forma, reforçamos o quanto o educador
crianças realizarem as atividades correta- Ouvir a criança, acolher as suas pergun-
Por outro lado, a criança que não recebe su- pode tornar-se um importante mediador, con-
mente, sentindo-se motivadas. Isso facilitará tas e incentivar que exponha argumentos
portes consistentes de seus cuidadores e ain- tribuindo para o bom desenvolvimento emo-
e aumentará o interesse pela aprendizagem. e opiniões. Este é o primeiro passo para
da é constantemente impedida de apresentar cional de seus alunos na primeira infância
ATENÇÃO:
cia deve
Nenhuma consequên
essidades básicas
comprometer as nec
limentação,
da criança, como a a
e, o afeto, etc.
a educação, a higien
“Dando um tempo”
• Outra estratégia de disciplina para estabelecer • Neste momento, você pode recordar por
limites é “dar um tempo” para a criança, o que que ela estava lá e elogia-la pelo esforço
significa retirá-la de um ambiente legal e deixá- que fez para ficar quietinha. Após o período
la em um cantinho até que ela se acalme. Com estipulado, a criança deve retornar às suas
esta atitude, a criança aprenderá novamente atividades normais e cotidianas, até mesmo
que o seu comportamento não adequado tem aquela que foi interrompida.
consequências.
• Quando um privilégio é retirado por um
• Explique à criança que quando ela estiver “dando período longo (por exemplo, ficar sem o
um tempo” não pode conversar com ninguém e computador), corre-se o risco da criança perder
deverá tentar se acalmar. o interesse por aquela atividade e o efeito da
consequência se perde.
• Depois de alguns minutos e, depois que a criança
se acalmar, vá até ela e diga-lhe que já pode sair.
1 ficará a criança. A criança precisa que você esteja no controle quando ela
o está perdendo.
7 este for retirado dela, ela aprenderá rapidamente a não atirar brinquedos.
Agora, se as regras sempre mudam, é difícil para a criança pequena
entender que as regras são “reais”.
Tente uma distração. Não se deixe contaminar pelos gritos e os chutes,
tente mudar o foco e crie uma distração alternativa, fazendo algo que a Se a criança tem que esperar a sua vez, dê ajuda visual enquanto ela
Sugira à criança “dar um tempo”. Muitas crianças se acalmam Observe os sinais do comportamento da criança. Às vezes é possível
rapidamente quando podem ser elas mesmas em um local seguro. Isto notar quando ela está prestes a perder o controle. Antecipar essas
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não é uma punição, mas sim uma maneira da criança se acalmar. Você
pode nomear esse local seguro e calmo como sendo um “cantinho
aconchegante”. Este pode ter travesseiros, almofadas, bichos de pelúcia,
9 situações pode até ajudá-la a prevenir comportamentos de difícil controle.
Por exemplo, se você percebe que uma criança tem dificuldades com
transições, como terminar o almoço e em seguida dormir, você pode avisá-
livros e brinquedos seguros. Quando a criança estiver neste espaço, diga- la com antecedência (por exemplo, 5 minutos antes).
lhe que ela que fez um bom trabalho para procurar se acalmar.
Dê opções que acabem com o mau comportamento. Se uma criança não
Converse sobre o que ocorreu e a solução que ela utilizou. “Você está quer dividir a bola, diga-lhe: “você tem duas opções, dividir, jogar junto
Ajude a criança a pensar nas diferentes formas de resolver a situação em Procure formas de ajudar a criança a praticar o autocontrole. Utilize jogos
Links úteis
Assim, faz parte do Projeto Pela Primeira Infância, um ciclo de debates teóricos in-
titulado: “Formação continuada em Desenvolvimento Infantil, com base nas neuro-
ciências, para profissionais da Educação Infantil” – constituído por 10 encontros,
nos quais há a disponibilização de material apostilado. Após a participação em todo
• http://www.zerotothree.org/child-development/social-emotional-development/self- o ciclo de debates, são desenvolvidas discussões práticas para a implementação de
-control- 24-36-months-1.html estratégias de estimulação do desenvolvimento da criança na primeira infância.
• http://www.radardaprimeirainfancia.org.br/como-lidar-com-agressividade-das-crian-
Nós acreditamos que um programa desta natureza deve incluir material estruturado
cas- pequenas/
e formação continuada, com intenso diálogo com aqueles envolvidos com a criança
(famílias, comunidades, profissionais da educação e da saúde).
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