Margarida Almeida - Os Bastidores Da Imprensa Cor-De-rosa
Margarida Almeida - Os Bastidores Da Imprensa Cor-De-rosa
Margarida Almeida - Os Bastidores Da Imprensa Cor-De-rosa
Mestrado em
Design Editorial
Orientado por:
Especialista Luís Filipe Cunha Moreira (IPT)
Relatório de Estágio
apresentado ao Instituto Politécnico de Tomar
para cumprimento dos requisitos necessários
à obtenção do grau de Mestre
em Design Editorial
Palavras-Chave:
estágio, jornal, revista, vidas, figuras públicas, ética
Abstract
The following report intents to present, in an early stage, the professio-
nal experience that I acquired through attending the six months long
curricular internship within the scope of the Master’s Degree on Editorial
Design at Instituto Politécnico de Tomar, that was developed at the com-
pany Cofina and more specifically in the newspaper Correio da Manhã .
This first phase deals especially with my first professional experience in
a daily newspaper which I come up with, although briefly, by relating
the whole process leading to its realization, as well as my participation
in this process.
The aim that lies beneath the second part of this report, is to reveal
the whole backstage of the tabloid journalism, and more specifically
the case of Correio da Manhã-Vidas, from everything the public wan-
ts to know (sources of information, paparazzi, the choice of news ...),
to explaining the aspect of the transformation of news to all areas in
which Vidas is implemented (TV, newspaper, magazine and online),
throughout all graphic analysis, until the magazine final result. I must
hereby emphasize that all mentioned and explained aspects were based
on research and interviews with professionals of the area.
Key words:
Internship, newspaper, magazine, vidas, public figures, ethic
Agradecimentos
Agradeço a todos aqueles que de forma direta ou indiretamente me ajudaram
no desenvolvimento deste trabalho. Não posso deixar de fazer um agradeci-
mento especial às pessoas que me acompanharam diariamente, e deste modo
quero agradecer ao meu grande amigo Cláudio Silva por todas as dicas, ajudas
e horas infinitas ao telemóvel a apoiar-me incansavelmente. Às minhas gran-
des amigas Ana Teresa e Beatriz Delgado que acompanharam bem de perto
todo este processo, pelas ajudas prestadas, pelas orientações dadas e pela com-
preensão, um muito obrigado do fundo do coração. Gostava de agradecer a
toda a equipa do CM por toda a dedicação, ajuda e confiança que me foram
dando ao longo dos seis meses de estágio. Ao professor Luís Moreira pelo
incentivo e amizade. Por fim, e o mais importante, um agradecimento sem
preço a três pessoas muito importantes, em primeiro lugar ao João Teixeira
por ser a pessoa com mais paciência que conheço e que só assim é que con-
segue aturar os meus devaneios, e ainda agradecer aos meus pais que apesar
de tudo sempre me apoiaram incondicionalmente nas minhas decisões, pela
força e coragem que sempre me transmitiram.
Índice
13 Introdução
14 Relatório de estágio
19 Cofina
20 Correio da Manhã
21 Linha cronológica do CM
24 CM Redação
26 Estrutura do jornal
27 Layout
27 Primeira página
28 Cores
28 Grelha do jornal
29 Construção de uma página
31 Linguagem cromática do jornal
32 Construção de uma página passo-a-passo
33 O meu percurso
Como nem sempre as coisas correm como nós esperamos e, uma vez
que me encontrava com o tempo a terminar, a decisão final acabou
por ser um jornal diário, o Correio da Manhã. Inicialmente, foi difícil
interiorizar a ideia de que o meu estágio seria no CM, dado que seriam
seis meses a trabalhar num jornal que nunca tinha comprado e que não
me chamava à atenção. O que sabia sobre o jornal era aquilo que ouvia
grande parte da população dizer: um jornal sensacionalista.
17
Cofina
1
Informação retirada do site http://
www.cofina.pt/business-overview.
aspx?sc_lang=pt-PT
A Cofina, fundada em 1995 e uma das principais empresas do país, teve FIGURA 1-9. Publicações periódicas
do grupo e o canal televisivo: CMtv,
participações em diversos sectores de negócios, passando, no entanto, a Correio da Manhã, Jornal de Negócios
dedicar-se exclusivamente aos ativos da imprensa desde 2005. Record, Destak, Sábado, Máxima,
TVGuia e Mundo Universitário
Atualmente, a Cofina lidera o domínio da imprensa Portuguesa. Conta
com quatro jornais: Correio da Manhã, Record, Jornal de Negócios e
Destak; quatro revistas: Sábado, Máxima, TVGuia e Mundo Universitá-
rio; e mais recentemente um canal televisivo: CMtv1.
Relatório do Estágio
19
Correio da Manhã
O jornal nasceu em 1979, pelas mãos de Vítor Direito, Carlos Barbosa e
Nuno Rochas. Nesta altura já existia um nicho razoável no mercado de
tablóides, o que fez com que fosse necessário criar um jornal diferente.
O diretor Vítor Direito começou a ter uma prosa diária no jornal, cha-
mada “Bilhete Postal”, sintética, incisiva e irreverente dando assim uma
imagem de marca ao jornal.
20
Linha cronológica do CM
1979 Sai para a rua no dia 19 de Mar-
ço o primeiro número do jornal
que se assumiu desde início como
sendo um jornal popular. A reda-
ção começou numa cave em Lis-
boa perto do Príncipe Real.
21
1992 A capa do jornal passou a ser a
cores o que a fez sobressair dos
outros jornais diários.
22
2007 Octávio Ribeiro foi nomeado di-
rector deixando assim o cargo de
director-adjunto do jornal.
Neste ano foram lançados novos
suplementos entre eles o Êxito e
a Vidas.
23
CM redação
A sede é em Lisboa mas conta com várias delegações espalhadas pelo
país, tais como, em Braga, Porto, Coimbra, Viseu, Leiria, Évora, Faro e
Portimão, mas é em Lisboa que todo o jornal é feito.
Diretor
A direção do jornal é liderada pelo Octávio Ribeiro desde 2007. Dirige
toda a redação com a ajuda dos diretores-adjuntos e tem como principal
responsabilidade a parte legal de todos os conteúdos publicados.
Chefia de redação
Os chefes de redação têm como responsabilidade verificar todas as pá-
ginas do jornal antes de seguirem para a gráfica, têm o poder de fazer
qualquer tipo de alteração nas páginas e são eles que planificam a capa
do jornal com a aprovação do diretor.
Secções/ Editores
A redação está dividida por várias secções (Política, Desporto, Econo-
mia, entre outros) e cada secção é dirigida por um editor.
O editor coordena a sua secção, define os temas para o jornal e revê
todos os textos escritos pelos jornalistas da sua secção.
Revisão
Compete à revisão verificar todos os textos e páginas, corrigindo os
erros ortográficos e outras falhas que possam existir.
Fotografia
Existem todos os dias dois fotógrafos a trabalhar no jornal que fazem
as escolhas das fotografias consoante o que os jornalistas lhes pedem.
Tratamento de imagem
Todas as fotografias que são escolhidas para entrar no jornal passam
pelo tratamento de imagem para garantir uma maior qualidade.
Infografia
Diariamente algumas notícias fazem-se acompanhar por infografias e
24
na redação trabalham dois infografistas que as produzem de acordo
com o que os jornalistas lhes pedem e com o material que lhes fornecem.
Paginação
O ponto de partida para todo o desenvolvimento do jornal é a paginação.
É liderada pelo diretor de Arte Final e por duas coordenadoras. É na
paginação que são desenhadas as páginas ou então são escolhidas a
partir de um catálogo, onde estão guardadas páginas previamente fei-
tas, adaptando-as aos pedidos dos jornalistas.
25
Estrutura do jornal
No CM trabalha-se com os programas QuarkXpress e Millenium. Este
último é utilizado por toda a redação. O Quark é utilizado exclusiva-
mente pelos paginadores, uma vez que é o programa que permite mo-
dificar tudo o que é possível, como modificar o texto, colocar fotogra-
fias ou infografias, desenhar, entre outras coisas. Estes dois programas
funcionam em simultâneo, o que permite a redação trabalhar toda ao
mesmo tempo.
O diretor de Arte Final coordena toda a parte gráfica do jornal, é ele que
na maioria das vezes faz a capa e tem como principal função garantir
que o jornal não vai com nenhum erro gráfico para a impressão.
26
Layout
Primeira página
A primeira página é o elemento mais importante de um jornal. A capa
é decisiva para a venda de um jornal, por isso tem que cativar o leitor.
27
Cores
O jornal está dividido por várias secções, como já referi, e cada secção
tem a sua cor. As secções são divididas por um retângulo no canto supe-
rior esquerdo com a respetiva cor e nome. Estes retângulos só aparecem
na primeira página de cada secção.
Grelha do jornal
As grelhas têm um papel fundamental na parte gráfica uma vez que os
elementos como: títulos, subtítulos, textos, imagens e legendas necessi-
tam de estar organizados de forma lógica, para que seja proporcionada
uma leitura rápida e fácil.
28
Construção de uma página
1. Após a chefia ter delineado a estrutura do jornal do dia seguinte,
contabilizado o número de páginas para cada secção e ter organizado a
publicidade que o jornal irá ter, é dada uma folha com todas estas dire-
trizes ao paginador responsável pelo plano do jornal do dia seguinte. O
paginador faz uma cópia da estrutura do jornal do dia e posteriormente
(no dia seguinte) faz as alterações conforme está no plano que lhe foi
dado (este processo é feito após o fecho do jornal).
29
texto coloca o estado “azul” que permite à revisão saber que o texto está
pronto para ser revisto.
8. A revisão é uma das secções onde o jornal fica muito tempo parado.
Aqui, os paginadores têm que aguardar que o texto seja revisto e que
seja colocado o estado “amarelo” para que possam então começar a
tratar do texto.
30
Linguagem
cromática do jornal
Com uma redação tão grande e todos a trabalhar no mesmo programa,
tem que existir uma língua comum, e essa linguagem é através de cores.
Imagem tratada
Caixa de imagem
31
Constituição
de uma página
Existem dois tipos de noticías, as notícia principais e a secundárias. As
principais são compostas por antetítulos, títulos, pós-títulos, pode ou
não levar destaque no texto, legendas nas imagens, imagem/ilustração/
infografia, e têm maior destaque na página. As peças secundárias de
menor dimensão podem, ou não ser, acompanhadas de imagens e res-
pectiva legenda.
2
1. O jornal é dividido por várias
secções e cada secção tem a sua cor 3
9. Infografia
32
Construção de uma página
passo-a-passo
33
1. Catálogo, onde os jornalistas vão buscar as suas páginas
34
2. Aspeto da página como vem da base
35
4. Grelha da página
36
6. Página pronta, falta a coordenadora ver se está tudo bem e por
esquadro
7. Quando está pronta os aspecto dela nos estados é este, toda amarela
e com as imagens em alta
37
8. Página com esquadro, pronta para a chefia ver
38
O meu percurso
Os meus dois/três primeiros dias foram a observar os paginadores. Pri-
meiro, percebi como funcionava o programa e só depois é que comecei
a entender a dinâmica da construção do jornal. Apontei sempre tudo o
que me explicavam: os atalhos, a ordem das coisas, cores, etc.
A vida de um jornal não é de todo fácil uma vez que se trata de uma
constante corrida contra o tempo, corrida essa que temos de ganhar
ultrapassando as imensas dificuldades e percalços de última hora que
vão surgindo. Estes obstáculos fizeram-me crescer profissionalmente.
Fizeram-me ganhar autonomia e confiança, tanto em mim como no
meu trabalho.
Hoje digo com o maior orgulho que estagiei no jornal Correio da Ma-
nhã, defendo todos os profissionais que nele trabalham e acabo a dizer
que o Correio da Manhã nasceu para dar resposta àquilo que os leitores FIGURA 24. Fachada do edifício
procuram noutros jornais e que não encontram. da Cofina.
39
par te
Os bastidores da imprensa cor-de-rosa:
O caso do Correio da Manhã
e 2
Contextualização
histórica
A imprensa: a história e evolução
Inicialmente, imprensa dizia respeito exclusivamente à máquina de im-
pressão de caracteres tipográficos (em papel ou noutro tipo de suporte).
Mais tarde, o termo foi alterado para tipografia, designando assim o es-
paço onde se encontravam as máquinas de impressão e todos os objetos
ligados à tipografia. (Tengarrinha, 2013)
43
Ainda no século XIX, criaram-se, novamente, condições para o floresci-
mento da imprensa. Os empresários começaram a perceber que o negócio
da imprensa popular dava bastante lucro. Começaram de novo a reapa-
recer em Portugal jornais noticiosos, direcionados para toda a sociedade,
com meios técnicos e capital que proporcionavam tiragens em grande
escala, com um baixo preço por exemplar e mais importante, uma lingua-
gem simplesl, que não seguiam qualquer linha política, mas procuravam
relatar acontecimentos interessantes, com a verdade e a objectividade
possíveis. O jornal Diário de Notícias foi o pioneiro, foi assim, que nasceu
o jornalismo industrial em Portugal e que perdura até aos dias de hoje,
(SOUSA, J. 2008).
44
O caso da imprensa
cor-de-rosa
Antes de falar em qualquer outro assunto é necessário perceber a histó-
ria e as características da imprensa feminina porque está intimamente
ligada à origem da imprensa cor-de-rosa.
Leandro Marshall (2003), afirma ainda, que este tipo de imprensa nas-
ceu da junção entre a imprensa amarela com a imprensa marrom. A im-
prensa amarela nasceu nos Estados Unidos na segunda metade do sécu-
lo XX, quando começaram a aparecer notícias com pouca credibilidade
nas páginas amarelas do jornais. Esta época ficou marcada pelo início FIGURA 25-26. Jornal francês Gazette
de France e jornal Inglês Ladies
da era do sensacionalismo, com o “vale tudo” para angariar leitores. Já Mercury
45
5
fonte - http://expresso.sapo.pt/life_ a imprensa marrom é marcada pelos escândalos, divulgação exagerada
style/gente/fernanda-dias-muitos- dos factos e principalmente pelo sensacionalismo.
pagariam-para-aparecer=f601723
Expresso on-line, entrevista realizada
pela Jornalista Mafalda Anjos a 01- Em Portugal, Fernanda Dias ex-directora da revista Caras, numa en-
09-10. trevista ao Expresso5, diz que em 1978, no período pós-revolução, o
jornalismo de sociedade era bastante diferente, existia apenas a revista
6 Nova Gente.
Jacques Rodrigues fundador da
revista Nova Gente
Antes da Nova Gente, existiu uma revista chamada Gente que não re-
sistiu ao 25 de Abril. Foi então que Jacques Rodrigues6 pegou nela e a
transformou na Nova Gente, lançando-a no mercado em Setembro de
1976 e fazendo-a acompanhar por outra três revistas, Mulher Moderna,
Florbela e Cigarra. A Nova Gente continha 52 páginas e custava cerca
de 20 escudos na altura, (Duarte 2008)
A ética e os valores
da imprensa cor-de-rosa
A ética é um conjunto de processos mentais reflexivos que derivam em
práticas concretas da vida. O jornalismo sendo uma actividade social
revela dados e liga factos, de forma a orientar, instruir e denunciar sobre
acontecimentos no mundo (Christofoletti, 2008).
Branco afirma ainda que “a solução está na tomada de consciência dos jor-
nalistas e dos responsáveis dos mass media, já que os mesmos não devem
nem podem repudiar a dialéctica liberdade/responsabilidade, de modo a
46
que os telespectadores e os leitores descodifiquem livremente a mensagem.”
É importante referir que a ética deve estar presente em tudo o que o
jornalista faça. Sendo que a questão é mais complexa, uma vez que a
ética transcende largamente uma crise de confiança entre o público e os
media, assim como aborda e se sustenta na mobilização ética do jorna-
lista. O segredo é balançar as relações entre a liberdade de imprensa e
os outros direitos individuais.
47
Opinião
e curiosidades
dos leitores
A imprensa cor-de-rosa segue vários processos até chegar à conclusão da
Revista. Alguns desses processos suscitam a curiosidade de muitos leitores.
O objetivo deste questionário foi perceber o que é que interessa aos lei-
tores que seja descortinado em relação ao que está por detrás da revista.
O questionário foi realizado maioritariamente em cafés e através da
internet. Procurando leitores da revista Vidas.
Tem alguma ideia de como surgiu a imprensa cor de rosa no nosso país?
48
Tem conhecimento pessoal de alguma notícia falaciosa que tenha sido
publicada?
49
te não, pois muitas das fontes a que a imprensa cor-de-rosa recorre não
são fidedignas e maior parte é tudo inventado para causar polémica e ser
vendido”; “Muitas vezes os limites éticos são completamente ultrapassa-
dos. A vida privada, bem como imagens explícitas da mesma são muitas
vezes publicadas sem qualquer autorização ou bom senso.”; “Muitas ve-
zes ultrapassam limites de intimidade e privacidade dos retratados, seja
ao expor informações sobre a sua vida pessoal ou a divulgar fotos da sua
intimidade.” são algumas das justificações. Este estudo foi feito por um
conjunto pequeno de leitores mas se na sua totalidade responderam que
estas revistas não seguem os padrões da ética isso significa que este tipo
de imprensa não está a assumir com o leitor um compromisso de con-
fiança nem de credibilidade, como deveria, onde a maioria dos leitores
culpa a imprensa no geral por esta falta de compromisso.
Metade dos leitores respondeu que sim e outra metade respondeu que não
à questão “Tem conhecimento pessoal de alguma notícia falaciosa que
tenha sido publicada?” e deram a sua opinião sobre o facto de saírem no-
tícias que nem sempre correspondem à realidade, “Acho muito triste, acho
ridículo existirem meios que se dedicam quase em exclusivo a este tipo
conteúdo, porque isto nem pode ser considerado imprensa. Pois quando
não se confirmam factos nem fontes, quando se publicam “notícias” que
nem são notícias na verdade e que não têm interesse informativo nem
cultural, não pode ser considerado conteúdo jornalístico.”; “O problema é
que há muitos leitores interessados neste tipo de “mexericos”, há pessoas
mais preocupadas com o novo carro do Ronaldo ou onde a Cristina Fer-
reira ou as Ritas Pereiras passam férias em vez de se preocuparem com a
sua própria vida e saber se vão ter dinheiro para pagar as contas ao fim
do mês, e informarem-se em com assuntos mais preocupantes divulgados
em outros meios de comunicação como os noticiários, jornais ou revistas
de informação, como assuntos da atualidade, sobre as leis e obrigações
que o governo nos impõe, como reportagens sobre ciência, sobre o meio
ambiente, sobre o futuro do planeta...”; “Não tem qualquer mérito, mas
cabe ao cidadão comum reflectir e decidir se quer acreditar em tudo o que
lê ou não.”; “Acho que a imprensa deve ser feita de notícias verdadei-
ras.”. Por estes exemplos de respostas podemos perceber que os leitores
não ficam em nada agradados com este tipo de jornalismo, preferem um
jornalismo verdadeiro do que um jornalismo cheio de histórias que não
correspondem à realidade só para cativar os leitores.
50
Em relação à questão sobre as notícias serem ou não interessantes, tive-
mos metade das pessoas a responderem que sim com respostas, “Por mui-
to que se critique, os leitores gostam de saber “cusquices” dos famosos”;
“Algumas sim, claro ... outras nem tanto, consoante os envolvidos, e as
notícias em questão , mas confesso que as mais escandalosas é que me
interessa mais.” e a outra metade respondeu que não com respostas; “A
vida dos outros não me diz muito”; “Porque nem sempre são verdadeiras”.
Este questionário é o meu ponto de partida para o meu trabalho. Com este
questionário percebi o que as pessoas não sabem, como o aparecimento da
imprensa cor-de-rosa em Portugal e percebi o que os leitores gostavam de
ver descortinado em relação ao que está por detrás da revista.
Com este trabalho vou tentar dar respostas a todas as questões que os
leitores gostavam de ver respondidas e ajudar a compreender melhor este
mundo cor-de-rosa através da revista Vidas do jornal Correio da Manhã.
51
O que dizem os
profissionais da área
Realizei três entrevistas a pessoas ligadas ao mundo cor-de-rosa. Rute
Lourenço, editora da revista Vidas, ao Duarte Roriz, fotojornalista e papa-
razzo, e a Lili Caneças, uma grande protagonista deste tipo de imprensa.
(Entrevistas na íntegra em anexos a, b e c)
Rute ,como editora da revista Vidas, afirma que os conteúdos “são como
outros quaisquer e direcionados para as pessoas que procuram este tipo
de conteúdos. Quem gosta de ver uma novela, uma senhora que esteja
a ver uma novela, gosta de saber o que é que está para lá da pessoa
que interpreta aquela personagem e nós vamos contextualizar e dar a
conhecer um bocadinho mais das pessoas que todos os dias entram na
casa dos portugueses pela televisão ou imagina por outra área qual-
quer, vamos mostrar quem é essa pessoa, imagina o Ronaldo é um fute-
bolista conhecido em todo o mundo e é normal que as pessoas queiram
saber um bocadinho mais sobre ele porque uma pessoa não é só aquilo
que é no trabalho, é um conjunto, e a vida pessoal faz parte desse con-
junto, daí nós querermos mostrar o outro lado das figuras públicas às
pessoas.”. Lili Caneças “Acho que a imprensa cor-de-rosa se limita a
aproveitar essas notícias que lhes são dadas para vender, até acho que
52
não há tabloides, acho que a imprensa cor-de-rosa em Portugal é muito
mais soft do que a imprensa em Espanha ou do que em Inglaterra que é
muito mais agressiva e que ataca as pessoas e que as persegue, porque
aí já há dinheiro para meter jornalistas atrás das pessoas.
A imprensa cor-de-rosa a portuguesa não é exagerada em relação a
estar em cima das pessoas ou tirarem a privacidade.”
53
VIDAS
A sua história
Foi um desejo do Correio da Manhã criar três suplementos que com-
pletassem o jornal, e foi assim que criaram a Vidas, o Êxito e o Sport.
O Sport foi um suplemento novo que vem da evolução da secção do
desporto, tal como o nome indica. O Êxito já era um título antigo no
Correio da Manhã, que tinha sido descontinuado mas foi reaproveitado
para falar sobre temas de cultura e espetáculos.
A Vidas foi também um suplemento que veio substituir uma outra revis-
ta que era o Correio Mulher e passou a existir com o intuito de colmatar
essa falha da secção do social e do “jet set”.
54
Backstage da revista
A revista Vidas é uma revista semanal que sai ao sábado juntamente
com o jornal Correio da Manhã.
55
Secções que definem
a revista
A revista é composta por várias secções, tais como:
GENTE - Uma rubrica composta por várias páginas com notícias dos
famosos em Portugal, são notícias que não são tão importantes como o
tema de capa mas que são suficientemente importantes para merecerem
destaque numa página. Esta rubrica fecha com o termómetro cor-de-ro-
sa que é uma análise das figuras que mais e menos se destacaram ao
longo da semana;
56
CAMINHO DAS ESTRELAS - É uma rúbrica parecida com a Cofinssões
mas é neste caso é com uma figura relacionada com a música;
JORNAL NACIONAL - É a última rubica da revista e constituída por uma FIGURA 35-37. Exemplos de seções
análise humurística feita por um jornalista sobre temas que tiveram em da revista Vidas
destaque durante a semana.
57
Quem protagoniza
este tipo de imprensa
Com uma influência indireta mas muito poderosa, a imprensa cor-de-rosa
acaba por determinar quem são as personalidades do chamado “jet set”.
Quando existe um evento e as revistas são convidadas para estarem pre-
sentes, estas precisam de saber em primeiro lugar que convidados vão
estar no evento. Se não existir ninguém conhecido, mediático e que faça
vender revistas, o evento não tem qualquer interesse. Uma boa presença
e estatuto pode não ser suficiente para aparecer.
Contudo, com o passar dos anos o “jet set” começou a perder o protago-
nismo cor-de-rosa, hoje em dia qualquer pessoa que entra num reality
show pode ser capa de revista, (Lili Caneças, entrevista em anexo c)
Fontes de informação
As fontes de informação são talvez a parte mais importante de qualquer
órgão de comunicação social. As noticias devem ser regidas pelas condu-
tas deontológicas do jornalismo, pois a fonte fidedigna irá ter em conta
o bom ou mau profissionalismo do jornalista envolvido (Barros, 2015).
58
arquivos, documentos e bibliotecas, fontes que os jornalistas vão co-
nhecendo ao longo da sua carreira. Rute Lourenço, editora chefe da
revista Vidas, afirma que “As fontes são fundamentais para desvendar
notícias”, pois são elas que poderão dar credibilidade à história.
Paparazzi
Cristiane Bazilio (2016) define que paparazzi é “Estar onde não é bem-vin-
do, fotografar quem não deseja aparecer, mostrar o que tentam esconder.
Tirar dessas situações o melhor ângulo, o flagra mais indiscreto, uma reve-
lação bombástica.” Duarte Roriz afirma (entrevista anexo b) “um paparazzi
é estar dez horas à porta de um prédio, fazer cinco quilómetros numa praia
para encontrar uma pessoa que se anda à procura para se fotografar.”
59
neste tipo industria, cor-de-rosa, e é talvez a fonte que dá a conhecer as
mais polémicas e bombásticas notícias.
60
Vidas nos vários meios
de comunicação
Observando a multiplicidade da revista Vidas, esta pode ser encontrada
não só em revista e no jornal do Correio da Manhã, como também nas
plataformas digitais e num programa na televisão no canal do CMtv.
61
Evolução gráfica
da revista Vidas
Formato
Os formatos foram variando à medida que as revistas foram sendo alte-
radas. A primeira revista tinha o formato de 200x275mm e era compos-
ta por 60 páginas. O segundo formato que passou a ter as dimensões do
jornal 280x370mm e com 24 páginas. As duas últimas revistas já têm
um formato igual de 200x295mm e com as mesmas 76 páginas.
Layout
Entende-se por layout a organização dos elementos num determinado
espaço. Neste sentido em todas as revistas o layout não é propriamente
fixo, varia consoante as secções e pela quantidade de texto e imagem
existentes por página.
Consuante o tempo os layout foram cadavez mais modernizando, ac-
tualmente utiliza um design simples, sofisticado de acordo com o perfil
da revista e do seu público.
Grelha
A grelha é um elemento bastante flexível na história da revista Vidas.
Qualquer das revistas tem uma grelha base, sendo a primeira de 3 colu-
nas, a segunda de 4, e as duas últimas de 6 colunas, mas qualquer uma
das revistas nunca respeitou na totalidade estas grelhas, foram sempre
adaptadas para fazer face às necessidades das páginas.
64
FIGURA 43-44. A Vidas de 2008
e a actual
Hierarquia da informação
É importante para o leitor perceber a importância de cada notícia. Neste
sentido os elementos têm que estar dispostos de uma forma ordenada.
No caso das revistas Vidas sempre foi bastante perceptível a hierar-
quização de todos os elementos. Para ajudar a essa hierarquização as
revistas sempre utilizaram o contraste com a cor, tamanhos de letra e a
utilização de bold.
Tipografia
A escolha tipográfica é extremamente importante para uma publicação
por ser o principal elemento visual utilizado.
Nas quatro fases pelas quais a revista passou, nota-se uma evolução
tipográfica, inicialmente era composta por uma tipografia mais clássica
e à medida de foi mudando de layout foi adoptando uma tipografia mais
moderna, tanto nos títulos como no texto. Com esta evolução a legibi-
lidade do texto tornou-se melhor.
65
Na revista vidas não há propriamente uma evolução a este respeito,
sempre ultrapassou as margens com algumas páginas com excepção da
Vidas em formato jornal que cumpria a margens.
Relativamente aos espaços em branco todas as revistas respeitaram dan-
do um ar mais leve às publicações.
Imagens
As imagens inseridas em qualquer uma das publicações nunca obede-
ceram a um formato específico. Uma das características da Vidas é o
uso de recortes nas fotografias e essa característica acompanha desde a
primeira revista até aos dias de hoje.
Desde de sempre que as fotografias ocupam um lugar de destaque nas
páginas.
Cor
A cor que sempre acompanhou a revista foi o cor-de-rosa, sempre com
o mesmo tom.
A primeira publicação foi a que utilizou mais a cor, cada secção da
revista era marcada com uma cor. Já as outras publicações adaptaram
um leque mais reduzido de cores, utilizando actualmente a cor preto,
branco, verde e alguns tons de cor-de-rosa.
66
Imagens comparativas
Vidas de 2005
Vidas de 2007
67
Vidas de 2008
Vidas actual
68
Vidas de 2005
Vidas de 2007
69
Vidas de 2008
70
Comparação
gráfica da Vidas
com três revistas
internacionais
cor-de-rosa
Apresentação das revistas
internacionais
Dados retirados dos sites: Para esta análise escolhi três revistas, a ¡Hola! espanhola, a Contigo! bra-
http://abcas3.auditedmedia.com/ecirc/
magtitlesearch.asp
sileira e a Star americana porque são revistas internacionalmente conhe-
https://www.infopedia.pt/$hola! cidas e para além disso a tiragem de cada publicação alcança mais de 200
http://www.revistas.com.br/revistas- mil exemplares por semana sendo que a revista ¡Hola! chega a atingir
de-famosos.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Star_
mais de 700 mil exemplares.
(magazine)
Revista ¡Hola!
A revista ¡Hola! foi fundada em 1948, inicialmente era conhecida como
uma revista feminina mas passou a pertencer à imprensa cor-de-rosa. É
uma publicação semanal com um nível de vendas bastante elevado em
Espanha e noutros países. Esta revista só mostra amor, luxo, riqueza,
alta sociedade e estrelas, evitando os escandalos que possam perturbar
os protagonistas que aparecem regularmente nas suas páginas.
Revista Contigo!
A revista Contigo! foi criada em 1963. É uma revista semanal que faz a
cobertura do mundo dos famosos, como cantores, atores e em especial
figuras públicas internacionais. Em 2004 a revista teve uma forte refor-
mulação a nível editorial e gráfico.
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Revista Star
A Star foi fundada em 1974 para competir com o tablóide National En-
quirer. Originalmente era uma revista de supermercado, com um preço
bastante acessível e impresso em papel de jornal.
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Análise gráfica
Vidas
A revista Vidas tem o formato de 200x295mm, composta por 76 pági-
nas, e é imprensa num papel reciclado. O seu design gráfico é o que se
utiliza neste tipo de revistas pouco texto, muitas imagens e fotografi-
cas que normalmente falam por si. É um design simples, sofisticado de
acordo com o perfil da revista e do seu público. Usa uma mistura bem
definida de cores como o preto, branco,verde e de alguns tons de rosa
o que faz com que a revista tenha armonia em termos de cor. Os textos,
na sua maioria, são em preto e em alguns casos a branco, o cor de rosa
aparece com bastante destaque em títulos e em caixas de destaques ou
citações. As fontes são contrastadas entre si com negritos, light, caixa
baixa e caixa alta, contrastando tamanhos e fontes não serifada e seri-
fadas, deixando a página com dinamismo.
As páginas são compostas por uma única grelha que é constituída por
6 colunas por página. A grelha é adpatada ao longo da revista, numas
páginas existem 3 colunas, noutras 2 e noutras 1 mas a base da grelha
é sempre a mesma.
Capa
A capa é sempre constituída por uma imagem principal, aquela que
ocupa a maior área da capa, que representa o artigo principal da revista,
contém sempre três chamadas na parte inferior da revista com as notí-
cias secundárias e outra no canto superior esquerdo. O título principal é
sempre a cor-de-rosa, branco ou preto, consuante a escolha da imagem.
Os textos são sempre a preto com execepção aos das chamadas que va-
riam entre o branco, verde, preto, rosa.
A sobreposição da fotografia sobre a logo é um recurso utilizado na
maioria das capas da revista.
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¡Hola!
Número de páginas: 118 páginas
Dimensão: 240x330mm
Layout: o layout varia muito consuante os artigos, não existe uma ex-
trutura fixa para cada artigo, o texto é adpatado à grelha. Existem pou-
cos espaços em branco o que não deixa os artigos respirarem entre si.
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FIGURA 56-57. Duas páginas
do interior da revista ¡Hola!
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Contigo!
Número de páginas: 92 páginas
Dimensão: 271x361mm
Grelha: a revista apresenta uma grelha com 3 colunas, não existe muita
variação na utilização das mesmas
Layout: mostra ser uma revista com um tom muito contido e pouco ino-
vador, porém aposta na utilização de fotografias de grandes tamanhos.
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FIGURA 58-59. Duas páginas
do interior da revista Contigo!
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Star
Número de páginas: 86 páginas
Dimensão: 197x267mm
Cor: para esta publicação são usadas várias cores, desde fortes amarelos,
a vermelhos garridos, azuis passando pelos rosas e os violetas, apesar do
uso diversificado das cores e de dar um ar vibrante à publicação, acaba
por ter um tom confuso pois não existe coerência nas cores usadas.
Capa: para a capa são usadas cores garridas de forma a chamar aten-
ção, da uma sensação de confusão devido ao conjunto das fotos, das
chamadas e das fotografias escolhidas, dificultando a assim a sua lei-
turabilidade.
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FIGURA 60-61. Duas páginas
do interior da revista Star
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Conclusão
Ao tema a que me propus, a imprensa cor-de-rosa, tentei perceber junto
de algumas pessoas-chave a sua opinião sobre este tipo de imprensa e
quais as questões que gostavam de ver desvendadas.
Podemos concluir que este tipo de imprensa, tem um padrão de ética e de Dados retirados dos sites:
valores tal como os outros tipos de jornalismo mas nem sempre se rege http://www.apct.pt/Analise_simples.
php
por esses padrões e é por nem sempre se reger pelos padrões que surgem
as críticas a este tipo de jornalismo. Mas o que é facto é que em Portugal
vendem-se mais de 35 milhões de revistas sociais e de televisão, o que
revela o interesse e existência de leitores deste tipo de imprensa.
Por existir muitos leitores deste tipo de imprensa é que no ponto três
deste trabalho resolvi descortinar o “backstage” da imprensa cor-de-
-rosa, com o exemplo da revista Vidas. Dei a conhecer como é todo o
procedimento para o desenvolvimento da revista com as dúvidas que os
inquiridos puseram. Tentei ao máximo analisar, com a ajuda dos profis-
sionais, o que é a vida da revista.
Para finalizar este trabalho fiz uma comparação pelos quatro redesign
que a revista Vidas já passou. E terminei o meu trabalho com a com-
paração gráfica entre a revista Vidas e três revistas internacionais, para
podermos perceber se existem muitas diferenças entre a imprensa cor-
-de-rosa nacional e a internacional a nível gráfico. Desta análise surgi-
ram as seguintes conclusões:
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em branco entre todos os elementos, o que dificulta a leitura e a com-
preensão da hierarquização dos elementos, ou seja, o leitor fica sem
perceber qual a ordem de importância das notícias.
84
Referências
Bibliográficas
Anastácio, M. (2012), A Imprensa Cor-de-Rosa em Portugal – Uma Aná-
lise ao Discurso Jornalístico. Instituto Politécnico de Portalegre.
86
Luz, L. P. (2007), Revistas femininas generalistas no Brasil: – um estudo
de caso da revista Claudia (2006 – 2007). Universidade Federal do Rio
de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Escola de Comuni-
cação.
Marshall, L. (2003, Outubro 7). A imprensa cor-de-rosa. Consultado em
Setembro 20, 2017 em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/ar-
tigos/jd071020034.htm
87
anexo
Entrevistas
os
anexo a
b.i.
Nome: Rute Lourenço
Profissão: Jornalista
Cargo: Editora da secção Vidas
91
Qual é a tua opinião sobre os conteúdos dessas revistas?
Acho que são conteúdos como outros quaisquer e direcionados para as
pessoas que procuram este tipo de conteúdos. Quem gosta de ver uma
novela, uma senhora que esteja a ver uma novela, gosta de saber o que
é que está para lá da pessoa que interpreta aquela personagem e nós
vamos contextualizar e dar a conhecer um bocadinho mais das pessoas
que todos os dias entram na casa dos portugueses pela televisão ou
imagina por outra área qualquer, vamos mostrar quem é essa pessoa,
imagina o Ronaldo é um futebolista conhecido em todo o mundo e é
normal que as pessoas queiram saber um bocadinho mais sobre ele
porque uma pessoa não é só aquilo que é no trabalho, é um conjunto,
e a vida pessoal faz parte desse conjunto, daí nós querer-mos mostrar o
outro lado das figuras públicas às pessoas.
92
relacionado a notícias mais abrangentes, como o que eles fizeram, algumas
cusquices e novidades de última hora que merecem ser abordadas no jornal.
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anexo b
b.i.
Nome: Duarte Roriz
Profissão: Fotojornalista
Cargo: Reporter fotográfico
e editor de fecho
O que é um paparazzo?
Hoje em dia vulgarizou-se o termo “paparazzo”.
Supostamente um paparazzo é alguém que fotografa famosos sem que eles
se apercebam que estão a ser fotografados. Para mim quando fotografas
e a pessoa sabe que está a ser fotografada mesmo que não goste já não é
paparazzo, porque estás a expor-te, a pessoa está a ver. Na minha opinião
paparazzo é quando fotografas e a pessoa não sabe de todo que está a ser
fotografada. Só que hoje em dia com o acesso tão fácil às máquinas e o
facto do digital também facilitar muito a coisa, qualquer um de nós pode
ser um paparazzo, basta ter um bom telemóvel. Se bem que ai para mim já
não é paparazzo, porque as pessoas acham que fazer uma foto de um famo-
so na discoteca sem ele ver é um paparazzo, só porque têm um telemóvel e
no meio da confusão ele não vê. Para mim um paparazzo é estar dez horas
à porta de um prédio, fazer cinco quilómetros numa praia para encontrar
uma pessoa que se anda à procura para se fotografar.
O que fazem?
Fazemos de tudo, olha por exemplo o primeiro paparazzo que fiz, ain-
da não havia disto em Portugal, foi para a revista Lux em 2000 mais
ou menos, quando António Guterres, era Primeiro Ministro na altura,
se casou. Era a primeira vez que tínhamos um Primeiro-ministro em
exercício que ia casar, o aparato mediático era enorme, eram as revistas
todas, os jornais todos, as televisões... tudo a fazer a cobertura. E na
altura a revista Lux teve um bocadinho mais à frente que os outros e
perguntou-me se eu estava interessado em ir atrás dele na lua de mel e
eu aceitei. Mas sempre pensei que fossem para o Algarve, mas a lua de
mel era em Marrocos e mandaram-me sozinho, eu na altura tinha vinte
e três anos e arranquei daqui com uma mala às costas com o material.
Na altura era mesmo preciso saber fotografar porque não havia ainda
digital, era em rolo e portanto tinha que se saber o que se estava a fazer
porque podia chegar cá e não ter nada nos rolos. Enquanto, hoje em dia
qualquer pessoa mesmo não sabendo nada de fotografia, tira a fotogra-
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fia vê logo o resultado e se não tiver bom, dá para tirar de novo e com o
rolo não se podia fazer isso, ou sabias ou não sabias. Eu fui atrás deles, e
esse foi o meu primeiro paparazzo com montes de peripécias pelo meio.
Hoje em dia já faço paparazzi todas as semanas. Mas um trabalho de
paparazzo hoje pode não valer nada como daqui a uns dias valer uma
pequena fortuna. Para as pessoas perceberem eu costumo contar uma his-
tória que aconteceu a um amigo meu, nós estávamos a fazer um trabalho
os dois para uma agência internacional que era tentar apanhar a Jenni-
fer Lopez. Ela vinha cá ao Pavilhão Atlântico dar um concerto e estava
hospedada no hotel Ritz e como nós não íamos lá ficar o dia todo dentro
do carro, combinamos que um ia das oito da manhã às duas da tarde e o
outro ia das duas da tarde até às dez da noite. Ele foi de manhã e eu fui à
tarde, quando eu cheguei à tarde perguntei-lhe se tinha conseguido algu-
ma coisa mas ele disse que não, e disse-me que tinha passado a Marga-
rida Amarante, e eu perguntei-lhe se a tinha fotografo mas ele disse que
não porque não tinha interesse, mas eu respondi-lhe que quando aparece
alguém conhecido fotografo sempre mesmo não sendo alguém muito im-
portante. E a Margarida Amarante morreu nessa madrugada, portanto ele
pode ter sido a última pessoa a vê-la com vida, não a fotografou porque
achou que não tivesse interesse e que não ia valer nada, mal ele sabia
que se tivesse fotografado essa fotografia ia valer muito. Hoje podemos
tirar uma fotografia a alguém que achamos que não tenha interesse, mas
passado umas horas, dias, semanas... pode valer dez vez mais que no dia
em que foi tirada. Isto depende do que é que acontece no dia-a-dia.
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e disseram-me, o cantor americano. Nem queria acreditar que ele estava
cá, quanto mais no Urban numa segunda-feira à noite. Por fim, a mais
normal é aquela que quando aqui no jornal se marcam as coisas, ou porque
sabemos que a pessoa vai estar em tal sítio, ou porque sabemos onde mora
pessoa x ou y, ou onde vão almoçar e marcam-se as coisas.
Há trabalhos combinados?
Tantos... Aí como a pessoa sabe que está a ser fotografada já está prepa-
rada, leva o melhor fato de banho, ou a melhor roupa, vai maquilhada,
encolhe a barriga, e esses trabalhos combinados já podemos dizer que
há manipulações mas por parte de que está a ser fotografado porque
está no seu melhor.
Já alguma vez te sentiste mal com algum trabalhos que tenhas feito?
Nós sabíamos de um aniversário de um jogador do Sporting e sabíamos
que iam estar presentes vários amigos futebolistas, então fomos para a
porta do restaurante. Por volta da meia noite e tal sai a Luciana Abreu
com o Yannick Djaló que na altura já era jogador do Benfica e eu fo-
tografei. No dia a seguir ele chegou atrasado ao treino, saíram as fotos
no jornal e ele ficou dispensado para o jogo que ia haver. Fiquei arre-
pendido, porque por minha causa o Djaló não jogou no jogo seguinte.
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anexo c
b.i.
Nome: Maria Alice Monteiro
(Lili Caneças)
Profissão: socialite portuguesa
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da Luz de Bragança que era uma revista de sociedade, que já havia tam-
bém na época, que tem também quase 40 anos. Ou uma outra que quase
ninguém fala que é o Olá Semanário que era uma revista que as pessoas de
alta sociedade não se importavam de aparecer porque não havia misturas
sociais, sem ofender ninguém, mas não aparecia uma pessoa de estrato so-
cial baixo ou um cantor “pimba” com uma pessoa de alta sociedade.
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leitura mas prefiro ler o Valter Hugo Mãe, ou ler qualquer outra coisa
que me interesse mais do que estar a ler imprensa cor-de-rosa. Às vezes
vejo por graça, como é que está vestida, se está bem penteada, bem
maquilhada, se está magra, se está gorda.
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olhando para trás, como era e como ela se transformou?
Acho que não se modificou muito, porque continua a focar num deter-
minado número de pessoas, hoje mais nos miúdos que fazem as novelas,
focam-se mais neles porque é o que as pessoas querem. Esta imprensa
precisa de vender, precisa de ganhar dinheiro, portanto, precisam de
acompanhar o que os seus leitores querem ler, e hoje em dia já não se
fatura com socialites nem com pessoas de estratos sociais altos.
O foco de protagonistas mudou de socialites para atores e participantes
de reality shows porque a imprensa percebeu que isso é que dava di-
nheiro, isso é que faturava.
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www.ipt.pt