Dissertação Oficial - Paulo César Lopes Cunha-7
Dissertação Oficial - Paulo César Lopes Cunha-7
Dissertação Oficial - Paulo César Lopes Cunha-7
Instituto de Educação
Outubro de 2020
Universidade do Minho
Instituto de Educação
Outubro de 2020
Aos amigos, aos colegas de trabalho que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste
trabalho. Em especial à minha mãe Adelaíde, aos irmãos e parentes que convivem ao meu lado. Rendo
também, uma homenagem póstuma a meu pai Manuel Roldão.
AGRADECIMENTOS
À Prof.ª Doutora Maria Assunção Flores pela sua dedicação, presteza e orientação deste trabalho.
Aos professores que contribuiram nesta obra, colaborando e partilhando de seus conhecimentos,
desafios, observações e críticas construtivas.
À minha família e amigos que me apoiaram com palavras de carinho e incentivo durante o meu
percurso.
“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes
brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação
sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda” (Paulo Freire).
RESUMO
ABSTRACT
ÍNDICE GERAL:
RESUMO ..................................................................................................................................
ABSTRACT ...............................................................................................................................
ÍNDICE DE ANEXOS: .................................................................................................................
ÍNDICE DE ABREVIATURAS: ......................................................................................................
ÍNDICE DE FIGURAS: ................................................................................................................
ÍNDICE DE QUADROS: ...............................................................................................................
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................
A atuação docente vai além das competências e dos conhecimentos aprendidos nos
cursos de licenciaturas. Grande parte dos professores iniciantes não se sente preparada para
exercer suas atividades adequadamente. Entretanto, a práxis vai-se aperfeiçoando no decorrer do
tempo, isto é, as habilidades se aprimorarão com as experiências, os acontecimentos críticos e
com as formações ao longo da carreira. As transformações e inovações que ocorrem nas diversas
áreas de estudo também devem ser levadas em consideração visto que os professores precisam
estar em constante formação para poder acompanhar as mudanças e assegurar o processo de
ensino-aprendizagem com qualidade.
Imig, Wiseman e Neel (2014) esclarecem que os docentes com boa base de formação
contribuem para a melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem dos alunos e salientam a
importância dos cursos de formação que preparam profissionais reflexivos a fim de construírem
os conhecimentos, habilidades e destrezas necessárias para identificar e resolver os desafios do
ensino, num contexto que apresenta a cada dia maior diversidade sociocultural dos alunos.
Entretanto, considerando a formação de professores em alguns países, estudos vêm
discutindo sobre qual o contexto ideal para que seja ofertada formação inicial aos futuros
professores: em universidades ou em percursos/modelos alternativos (escolas). Nesse
enquadramento, Niklasson (2014) levanta essas questões e argumenta que os futuros professores
podem desenvolver as competências profissionais quando são orientados por professores
experientes nas escolas. A mesma autora afirma que a investigação e a teoria constituem recursos
complementares à formação e que as pesquisas demonstram preocupação sobre a forma como
os conhecimentos devem ser priorizados nesses cursos, isto é, dar prioridade aos conhecimentos
práticos, teóricos ou um equilíbrio entres eles.
Libâneo (2008) sustenta que o docente é tido como profissional quando sua atividade
principal é o ensino e a formação inicial objetiva proporcionar conhecimentos, habilidades e
atitudes para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem. O autor acrescenta que essas são
as qualidades profissionais que estabelecem a formação do professor, isto é, a profissionalidade.
No entanto, a construção da profissionalidade é conquistada pela profissionalização e pelo
profissionalismo:
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aprende e desenvolve as competências, habilidades e atitudes profissionais; remuneração
compatível com a natureza e as exigências da profissão; condições de trabalho (recursos físicos e
materiais, ambiente e clima de trabalho, práticas de organização e gestão). O profissionalismo
refere-se ao desempenho competente e compromissado dos deveres e responsabilidades que
constituem a especificidade de ser professor e ao comportamento ético e político expresso nas
atitudes relacionadas à prática profissional. Na prática, isso significa ter o domínio da matéria e
dos métodos de ensino, a dedicação ao trabalho, a participação na construção coletiva do projeto
pedagógco-curricular, o respeito à cultura de origem dos alunos, a assiduidade, o rigor no preparo
e na condução das aulas o compromisso com o projeto político democrático (Idem, pp. 75-76).
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CAPÍTULO 01- DA IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO
Amorim (2003) menciona que o termo educação foi originado da palavra educatio cujo
sentido diz respeito a criar, nutrir, cultura, cultivo, entre outros. A educação delimita ações e
percursos que se concretizam num efeito. Ampliando seu significado, a autora salienta que
consiste no “ato ou processo de educar ou educar-se e o conhecimento e desenvolvimento
resultantes desse ato ou processo” (Idem, p. 1113). Nesse sentido, a educação compreende
distintas ideias ou processos passíveis de transformações. Ao longo de diferentes épocas, a
filosofia a abordou como uma questão inerente à sociedade humana. D’Ambrósio (2004, citado
por Millen et al. 2010, p.1) retrata a educação “como um processo de humanização, ocorre ao
longo da vida em diferentes contextos de socialização, como a casa, a rua, o trabalho, a igreja, a
escola, entre outros espaços e tempos”. A educação também está entre os fenômenos mais
significativos dos processos sociais, como explica Libâneo (2010, p.26): “[...] fenômeno
plurifacetado, ocorrendo em muitos lugares, institucionalizado ou não, sob várias modalidades”.
No Brasil, os avanços por melhorias na educação foram conquistados através da
promulgação da Constituição Federal de 05/10/1988, fruto de várias lutas e esforços por parte
de educadores e estudiosos da área. Foi delegado ao Estado o comprometimento de oferecer à
população o direito à educação, conforme estabelece seu Art. 205:
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A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Com a expulsão dos jesuítas de Portugal e do Brasil, somada aos ideais iluministas, o
ensino sofreu diversas alterações, isto é, a antiga metodologia foi se ajustando à concepção
materialista do homem e ao otimismo do progresso por meio da educação. Nesse momento
histórico, o Brasil entrava no Período Imperial, período marcado pela chegada da Corte Portuguesa
em 1808 ao país; como resultado o ensino agregou os cursos profissionalizantes de nível médio,
superior e de base militar. Foram estruturados em três níveis: primário, secundário e superior
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(Ghiraldelli, 2008). Destaca-se que o ensino superior se tornou relevante em virtude do
aparecimento e crescimento dos ambientes científico e cultural no país. Verifica-se o avanço na
educação desse período, conforme relato:
No setor educacional, surgem os primeiros cursos superiores, embora baseados em aulas avulsas
e com um sentido profissional prático. Dentre eles, distinguiam-se a Academia Real da Marinha e
a Academia Real Militar (depois transformada em Escola Militar de Aplicação), que formavam
engenheiros civis e preparavam a carreira das armas. Já os cursos médico-cirúrgicos do Rio de
Janeiro e da Bahia foram o embrião das primeiras Faculdades de Medicina. Assinala-se ainda a
presença da Missão Cultural Francesa, que possibilitou a criação da Real Academia de Desenho,
Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, em 1820 (Oliveira, 2004, p.947).
Evidencia-se que, com a constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I, a educação foi
vista com outros olhos. A preocupação com a instrução, principalmente a dos jovens, constou num
tópico específico da Carta Magna, mesmo que uma pequena parcela da população fosse
contemplada. Observou-se nos estabelecimentos de ensino o método em que alunos mais
instruídos auxiliavam na educação dos menos adiantados. Como aspecto negativo dessa prática,
hierarquicamente acima deles concentravam-se os monitores ou chefes. Estes eram inaptos para
ensinar porque nãopossuíam experiência e/ou formação pedagógica; desse modo, o método de
ensino não contemplava uma educação de qualidade (Ghiraldelli, 2008).
Durante o Brasil imperial constatou-se um relevante indicador que desvalorizou a
educação no país, isto é, um falho sistema tributário do Estad; como consequência, o ensino
secundário ficou sob a gestão da iniciativa privada, principalmente religiosa, o primário sobreviveu
aos cuidados de alguns mestres-escolas (Oliveira, 2004).
Ghiraldelli (2008) retrata que, ao longo do século XX, a educação brasileira vivenciou uma
série de entraves e conquistas no que diz respeito à educação básica. A exemplo, a Constituição
da República dos Estados Unidos do Brasil de 16/07/1934 estabeleceu princípios que abriram
espaços para que o fluxo de recursos públicos pudesse ser canalizado para entidades privadas.
Foi o primeiro passo para a oficialização da rede de ensino particular no país, conforme consta
em seu artigo 154: “Os estabelecimentos particulares de educação, gratuita primária ou
profissional, oficialmente considerados idôneos, serão isentos de qualquer tributo”. (Idem, p.76).
Outra observação relevante à história da educação pública brasileira e sinalizada por esse
autor se refere à gratuidade do ensino. Esta não foi privilegiada na Constituição da República dos
Estados Unidos do Brasil de 10/11/1937, ao contrário da Carta Magna de 1934, distanciou-se
das tendências democráticas. Desta forma, o Estado não se responsabilizou pela educação
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pública; no entanto, desempenhou papel subsidiário e não central para com a educação. Em seus
artigos 125 e 130 respectivamente, como cita Ghiraldelli (2008, p.78), afirma-se que o Estado
deixa de privilegiar a educação pública, fugindo da responsabilidade de manter e expandir o ensino
público:
Artigo 125 - A educação integral da prole é o primeiro dever e o direito natural do país. O Estado
não será estranho a esse dever, colaborando, de maneira principal ou subsidiária, para facilitar a
sua execução ou suprir as deficiências e lacunas da educação particular. Artigo 130 - O ensino
primário é obrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não exclui o dever de solidariedade dos
menos para com os mais necessitados; assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não
alegarem, ou notoriamente não puderem alegar escassez de recursos, uma contribuição módica
e mensal para a caixa escolar.
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Foi promulgada em 18 de setembro de 1946;
Constituição de 1946 Determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário
e dá competência à União para legislar sobre as diretrizes e bases da
educação nacional;
Configura que a educação é direito de todos.
Foi promulgada em 24 de janeiro de 1967;
Constituição de 1967 Reforma do ensino superior (Lei nº 5.540/68);
Reforma da educação básica, que fixa as diretrizes e bases
para o ensino de 1° e 2°graus (Lei nº 5.692/71).
Nessa perspectiva, a educação no Brasil vem passando por diversas adaptações desde a
chegada dos europeus ao país. As mudanças, cada vez mais exigentes e impostas pela sociedade
globalizada, demandam que a educação não fique retida no tempo tendo de acompanhar as
transformações do mundo atual. Apesar de todos os avanços conquistados, a educação brasileira
não só mostra pontos que são favoráveis, como também existem lacunas preenchidas por fatores
negativos que recaem sobre o povo, principalmente a fatia composta pelas camadas menos
favorecidas economicamente.
Esta seção tem por objetivo apresentar a educação como base propulsora de conquistas
e de confrontar as consequências desfavoráveis que a má política educacional proporciona.
Segundo Levin (1984), é por meio da educação que se tem a possibilidade de alcançar
oportunidades, obter o desenvolvimento pessoal e sucesso socioeconômico. Em diversas
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sociedades, ela constitui a força libertadora que assegura conhecimentos, valores, atitudes e
aspirações para uma participação política e democrática; porém, as instituições de ensino não se
encontram preparadas para oferecer as devidas práticas. A própria escola não é um ambiente
favorável à permanência e continuidade acadêmica do aluno, como se verifica:
Todo mundo espera que a escola cumpra seu papel, o de fornecer instrução e qualificação,
entretanto produz muito mais fracassos do que sucessos, pois trata uns melhores do que outros
e convence os que fracassam de que fracassam porque são inferiores. Ela educa e instrui uma
minoria, os demais são excluídos (Ceccon; Oliveira & Oliveira, 1994, p.23).
No fundo, porém, os grandes arquivados são os homens, nesta (na melhor das hipóteses)
equivocada concepção “bancária” da educação. Arquivados, porque, fora da busca, fora da práxis,
os homens não podem ser. Educador e educando se arquivam na medida em que, nesta
destorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe
saber na invenção, na reivindicação, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens
fazem no mundo, com o mundo e com os outros. Busca esperança também (Freire, 1983, p.66).
Retomando ao ponto de vista de Levin (1984), de que é por meio da educação que os
indivíduos superam as situações sociais desfavoráveis, observa-se que
[...] o processo educativo enquanto ação humana que tem como função social a capacidade de
intervir na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, na qual todas as partes
interessadas possam ser ouvidas e as decisões partilhadas, rumo ao cumprimento da função
social e dos objetivos da educação em uma sociedade democrática (SEDUC-PA, 2008, p.15).
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urbana e rural. Tomando o país como todo, nas áreas rurais, o ensino e a aprendizagem são
inferiores, há menos escolas e o acesso dos alunos e professores ao ambiente escolar é mais
difícil (SECAD, 2007). O descaso para com a educação no campo é devido ao seguinte:
Nesse sentido, é válido ressaltar que a educação para a população do meio rural, nunca tivera
políticas específicas, o atendimento a educação se deu através de campanhas, projetos e/ou
políticas compensatórias, sem levar em conta as formas de viver e conviver dos povos do campo,
que, ao longo da história, foram excluídos enquanto sujeitos do processo educativo (Rocha; Passos
& Carvalho, 2004, p.2).
A educação também contempla falhas que fogem aos ideais esperados quando beneficia
poucas pessoas principalmente aquelas com melhor poder aquisitivo e oriundas de famílias
tradicionais (Levin, 1984). Por essas razões, o autor (1984, p. 29) aponta dois caminhos para a
educação:
A educação tem um lado otimista e outro pessimista, aquele focaliza as possibilidades de melhoria
da saúde, participação econômica, social e política. A pessimista é vinculada à dependência
decisiva da natureza da sociedade, por exemplo, numa sociedade injusta as escolas eram
consideradas injustas. Isso quer dizer que as instituições de ensino apresentavam poucas práticas
democráticas.
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Em se tratando do ambiente escolar, o papel da escola seria o de oferecer um ambiente
democrático e acolhedor a seus alunos, facilitando a aprendizagem e desenvolvendo aspectos
socioculturais, mas “[...] são organizadas para ser autoritárias e com poucas práticas
democráticas” (Levin, 1984, p.25).
Conforme Fávero (2004, citado por Castilho, p.116, 2006), a escola “é o espaço
privilegiado da preparação para a cidadania e para o pleno desenvolvimento humano”. Entretanto,
não é verdade que a escola atenda a seus alunos de forma homogênea e inclusiva já que não se
observa o sucesso escolar e está longe de alcançar os fins assegurados legalmente, isto é, garantir
à população escolarizável o direito à educação com igualdade de condições de entrada e
permanência como preconizam a LDBEN (1996) e Carta Magana (1988).
Nessa perspectiva, o papel da escola necessita ser mais significativo, uma vez que lida
com um saber que, muitas vezes, precisa ser repensado, reavaliado e reestruturado. Infelizmente,
nem sempre ou quase sempre a escola “não tem cumprido o objetivo da educação que desejamos,
de cunho democrático, socializando o saber e os meios para aprendê-lo e transformá-lo” (Rios,
1995, citado por Carmo, 2009, np). Para Azevedo (2004), o currículo pedagógico é tido como
fator resultante do processo de fracasso escolar pela inexistência de flexibilidade, não acolhimento
das expectativas dos interesses e das aptidões pessoais dos alunos.
Coloca-se em pauta que o papel do professor pode conferir ao aluno seu fracasso ou
sucesso na aprendizagem quando os docentes atuam sem criatividade na ministração das aulas
e/ou na ausência de conteúdos com alto valor pedagógico. Alguns professores chegam ao cúmulo
de corrigir a maneira de falar e vestir dos alunos, até mesmo, relatam que os mesmos são
incapazes de aprender e não adiantaria perder tempo na sala de aula (Paula, 2009).
Pelo contexto exposto, observa-se que um povo munido de uma boa educação conquista
melhorias individuais e coletivas. Entretanto, o panorama da sociedade brasileira se encontra em
desigualdade no que se refere à educação. Melhorias são necessárias, a ausência de políticas
públicas educacionais gera consequências desfavoráveis, principalmente para a população com
menor poder aquisitivo.
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racional, soube sobressair das situações e intempéries adversas quando repassava o saber e as
técnicas através da observação e práticas, isto é, os conhecimentos sobre os insumos de
sobrevivência, incluindo a fabricação de armas, foram sendo transferidos de geração em geração
(Vieira & Souza Junior, 2016).
Manfredi (2002, p. 66) corrobora esta ideia explicitando que “As práticas de aprendizagem
efetivavam-se mediante a observação e a participação nas atividades de caça, de pesca, de coleta,
de plantio e de colheita, de construção e de confecção de objetos”. A mesma autora salienta ainda
que essas práticas eram tidas como processo de educação profissional que vigoram até os dias
atuais, pois empregam saberes e fazeres que condicionam a vida de diversas comunidades. A
exemplo no Brasil, os indígenas foram os precursores, considerados por Manfredi (2002, p.67)
“educadores de artes e ofícios para as áreas de tecelagem, para a construção de casas e,
obviamente, para as várias técnicas de cultivo da terra e para a produção de medicamentos”.
A educação profissional foi se firmando nas sociedades após a Revolução Industrial
ocorrida na Europa:
A educação profissional conhecida, hoje, iniciou sua consolidação em meados do final do século
XVIII, a partir da Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra, que marca a transição para novos
processos de manufatura, passando da produção artesanal para a produção por máquinas.
Surgiram, assim, os teares gigantes e as locomotivas a vapor (“Maria fumaça”). Era possível não
só produzir com maior rapidez, como também transportar pessoas e mercadorias num tempo
mais curto e com custos mais baixos do que anteriormente.Com as profundas alterações nas
relações de produção e capital, a necessidade de difusão das técnicas, preparando gerações
futuras para a continuidade dos ofícios, se tornou imperiosa (Vieira & Souza Junior, 2016, p.153).
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Continuamente, Ramos (2014) explica que a educação profissional no país, durante o
Governo Imperial, foi marcada pelos trabalhos das instituições que ofertavam à classe pobre o
ensino de letramento e iniciação à profissionalidade, isto é, os “destinatários eram as crianças
pobres, os órfãos e os abandonados, dentre essas, os Asilos da Infância dos Meninos Desvalidos”
(Idem, p. 24). A autora esclarece que esta modalidade preconizou anseios assistencialistas:
““amparar os órfãos e os demais desvalidos da sorte”, ou seja, de atender àqueles que não tinham
condições sociais satisfatórias, para que não continuassem a praticar ações que estavam na
contra-ordem dos bons costumes” (Idem, pp. 24-25).
Magalhães (2011) corrobora a autora anterior afirmando que a educação profissional no
país apresentou caráter assistencialista. Acrescenta que a política estava relacionada com os
modelos de pensamentos empregados na Europa durante o século XIX onde foi observado que a
formação dos trabalhadores seguiu a metodologias de segregação em duas classes sociais pré-
estabelecidas. Nesse sentido, a autora esclarece que “a sociedade se constituía de duas classes
sociais opostas: burgueses e trabalhadores, que possuíam papéis diferentes e para os quais a
escola deveria ser organizada de maneira particular” (Idem, p. 93). Destaca ainda que “ às classes
de poder aquisitivo considerável eram reservados os estudos clássicos, o trabalho intelectual era
valorizado e reservado às elites; às classes menos favorecidas cabia o trabalho manual, menos
valorizado” (Idem, p. 93). Seguindo a mesma linha de raciocínio, Vieira e Souza Junior (2016)
elucidam que as pessoas oriundas das camadas com maior poder aquisitivo e detentora dos bens
obtinham uma educação que abrangia as diversas áreas de conhecimento e que os menos
favorecidos economicamente estavam destinados a aceitar as carreiras menos sofisticadas e os
trabalhos braçais, como se observa:
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se deu “a partir de 1809, com a criação do Colégio das Fábricas, pelo Príncipe Regente, futuro D.
João VI (Brasil, 1999 - Parecer nº 16/99-CEB/CNE) ” (Idem, p. 24).
Foi durante o século XIX que a educação profissional foi sendo moldada para que, no
século seguinte, fosse reconhecida no contexto das prerrogativas legais. Vieira e Souza Junior
(2016) retratam que as ações de ensino voltadas à profissionalização se deram inicialmente no
transcorrer desse período. Explicam que o governo imperial instalou as chamadas Casas de
Educandos Artífices numa dezena de províncias do território brasileiro entre os anos de 1840 a
1865. Destacam que, por volta do ano de 1889, foram construídas em todo o país inúmeras
instituições que representaram maiores níveis de especificidades de formação, isto é, objetivaram
formar mão-de-obra qualificada para atender às pequenas fábricas que estavam surgindo, os
Liceus de Artes e Ofícios, sendo que, no estado do Rio de Janeiro, foi inaugurado o primeiro:
“Durante o período republicano, os liceus foram mantidos e, em alguns estados, ampliados,
servindo de base para a construção de uma rede nacional de escolas profissionalizantes” (Manfredi,
2002, p.78).
Após as iniciativas de formação profissional ocorridas no século XIX, a mudança do regime
de governo para o republicano trouxe para a educação a abertura das prerrogativas legais no que
diz respeito à educação profissional no Brasil, pois:
[...] em 1909, o Presidente Nilo Peçanha criou as Escolas de Aprendizes Artífices, destinadas “aos
pobres e humildes”, e instalou dezenove delas, em 1910, nas várias unidades da Federação. A
criação das Escolas de Aprendizes Artífices e do ensino agrícola evidenciou um grande passo ao
redirecionamento da educação profissional no país, pois ampliou o seu horizonte de atuação para
atender necessidades emergentes dos empreendimentos nos campos da agricultura e da
indústria. Nesse contexto, chega-se às décadas de 30 e 40, marcadas por grandes transformações
políticas, econômicas e educacionais na sociedade brasileira (Ramos, 2014, p.25).
Magalhães (2011) sublinha que, no ano de 1931, o país iniciou o processo de organização
da educação através da criação do Conselho Nacional de Educação. Uma das principais
restruturações ocorridas na época se deu em virtude da aprovação da Reforma Capanema, que
possibilitou que fossem criadas as Leis Orgânicas do Ensino. A mesma autora esclarece que,
apesar de ter havido mudanças, a educação profissional não sofreu nem foi sustentada como
modalidade de ensino democrática já que continuava privilegiando as classes mais favorecidas e
renegando os mais pobres, isto é, seu texto estabelecia que “o objetivo do ensino secundário era
formar elites condutoras do país e o do ensino profissional era de oferecer formação adequada
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aos filhos dos operários, aos desvalidos da sorte e aos menos afortunados” (Magalhães, 2011,
p.94).
A pressa por reestruturar e legalizar a educação profissional nas primeiras décadas do
século XX se deu porque o Brasil estava passando pela expansão da industrialização e
urbanização. Desse modo, a economia brasileira estava em processo de aceleração, segundo
Manfredi (2002, p.78):
Segundo Magalhães (2011), foi por volta do ano de 1950 que a educação brasileira tomou
novos rumos no que diz respeito à dualidade entre o ensino profissional e propedêutico. Com a
promulgação da Lei n. 1.076 de 30 de março de 1950, o ensino profissional foi elevado a nível
secundário e possibilitou aos alunos concluintes a continuação ao ensino superior na área de
formação. A autora salienta que as pessoas oriundas das camadas mais pobres foram
contempladas ao acesso para o nível superior; entretanto, a legislação não era totalmente
democrática em virtude desse público só poder adentrar nos cursos de determinadas áreas.
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Ramos (2014) assevera que, desde de 1942, com a gestão do ministro Gustavo
Capanema, as leis referentes à educação no Brasil vêm sendo determinadas de acordo com as
necessidades industriais, isto é, o ensino profissional visa atender às diferentes áreas econômicas.
Nesses termos, a autora menciona que o ensino industrial se consolidou com a promulgação da
Lei n. 3552 de 16 de fevereiro de 1959 e pelo “decreto n. 47038 de 16 de novembro de 1959
definiu as Escolas Técnicas que comporiam a rede federal de ensino técnico, transformando-as
em autarquias e em Escolas Técnicas Federais (Idem, p.26).
No decorrer das ações voltadas à educação profissional, Magalhães (2011) esclarece que,
com a aprovação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 4.024 de 20
de dezembro de 1961, avanços democráticos e de valorização da educação profissional puderam
ser observados: “equiparou o ensino profissional do ponto de vista da equivalência e da
continuidade de estudos, para todos os efeitos, ao ensino acadêmico” (Idem, p.95).
Ramos (2014, p. 28) corrobora esta facto, afirmando que a Lei de 1961 estipula:
Para a educação profissional o fato mais relevante foi a equivalência entre este e o ensino médio.
Organizado em dois ciclos – o ginasial de 4 anos e o colegial de 3 anos – ambos compreendiam
o ensino secundário e o ensino técnico (industrial, agrícola, comercial e de formação de
professores). A partir disto, os concluintes do colegial técnico podiam se candidatar a qualquer
curso de nível superior. Quebrou-se, também, a rigidez das normas curriculares, abrindo-se a
possibilidade de os Estados e os estabelecimentos anexarem disciplinas optativas ao currículo
mínimo estabelecido pelo Conselho Federal de Educação.
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objetivos: o PIPMO preparar operários qualificados, enquanto que a EPEM assessorava os Estados
na formulação de planos para o Ensino Médio.
Diante das pressões sociais, a obrigatoriedade do ensino médio como profissionalizante,
defendida também por aqueles que compuseram e participaram da revolução militar de 1964,
perdurou até o ano de 1982, isto é, “essa a intenção de tornar o ensino médio profissionalizante
obrigatório para todos não se concretizou, o que foi reconhecido pela Lei n. º 7.044/1982” (Vieira
& Souza Junior, 2016, p. 158).
Vieira e Souza Junior (2016) destacam que a educação profissional no Brasil, com o
passar do tempo, foi regulamentada pelo Decreto n. 2.208, de 17 de abril de 1997. Nesta norma,
foi criado o Programa de Expansão da Educação Profissional – PROEP. Este consistiu em melhorar
e expandir a modalidade, tendo como fundamentos integrar: “educação com trabalho, a ciência e
a tecnologia, em conjunto com a sociedade” (Idem, p. 159). Segundo os autores, o texto do
documento trouxe novamente a dualidade para a educação brasileira: propedêutica e profissional.
Apesar desse reconhecimento contido na legislação, a reestruturação da educação
profissional sofreu duras críticas relacionadas com os custos do processo de formação durante o
ensino médio, assim como com a visibilidade explícita do ensino elitista, observadas nas
instituições de ensino federal do país (Ramos, 2014). A autora explicita que os órgãos
internacionais econômicos tinham outra visão a respeito dos objetivos elencados na reformulação
educacional, estabelecida pelo Decreto n. 2.208/1997:
O Banco Mundial considerava que, em um país onde o nível de escolaridade é tão baixo, aqueles
que chegam a fazer o ensino médio têm expectativas e condições de prosseguirem os estudos ao
invés de ingressarem imediatamente no mercado de trabalho. Os recursos derreveriam ser
revertidos, então, para aqueles com menor expectativa social, principalmente mediante cursos
profissionalizantes básicos, que requerem pouca escolaridade. A posição descolada da educação
profissional em relação ao sistema educacional, assim como as políticas de formação para o
trabalho passaram a ser orientadas para os programas de capacitação de massa. As escolas
técnicas deixaram de oferecer ensino médio profissionalizante para oferecer cursos técnicos
concomitantes ou sequenciais a esses. A formação destinada a trabalhadores com baixo nível de
escolaridade passou a ser compartilhada pelos Ministérios da Educação e do Trabalho. As ações
engendradas por ambos os Ministérios, entretanto, mantiveram-se desarticuladas entre si, em
relação à educação básica e a políticas de geração de trabalho, emprego e renda (Ramos, 2014,
p. 54).
Art. 1º Para os fins deste Decreto, considera-se educação a distância a modalidade educacional
na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a
utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com
políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva
atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e
tempos diversos.
Art. 4º As atividades presenciais, como tutorias, avaliações, estágios, práticas profissionais e de
laboratório e defesa de trabalhos, previstas nos projetos pedagógicos ou de desenvolvimento da
instituição de ensino e do curso, serão realizadas na sede da instituição de ensino, nos polos de
educação a distância ou em ambiente profissional, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais.
Art. 8º Compete às autoridades dos sistemas de ensino estaduais, municipais e distrital, no âmbito
da unidade federativa, autorizar os cursos e o funcionamento de instituições de educação na
modalidade a distância nos seguintes níveis e modalidades: [...] III -a educação profissional técnica
de nível médio.
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De acordo com a Lei supracitada, o PRONATEC é considerado um programa democrático,
atendendo um amplo e variado público e estimula a disponibilização de bolsas de estudos para
àqueles que se enquadram nos requisitos exigidos pelo programa, conforme se verifica no art. 2º
da norma:
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Art. 4o § 1o A articulação entre a educação I - integrada, oferecida somente a quem já tenha
profissional técnica de nível médio e o concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado
ensino médio dar-se-á de forma de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional
técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino,
contando com matrícula única para cada aluno;
II - concomitante, oferecida somente a quem já tenha
concluído o ensino fundamental ou esteja cursando o
ensino médio, na qual a complementaridade entre a
educação profissional técnica de nível médio e o ensino
médio pressupõe a existência de matrículas distintas para
cada curso, podendo ocorrer:
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se
as oportunidades educacionais disponíveis;
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-
se as oportunidades educacionais disponíveis; ou
c) em instituições de ensino distintas, mediante
convênios deintercomplementaridade, visando o
planejamento e o desenvolvimento de projetos
pedagógicos unificados;
III - subseqüente, oferecida somente a quem já
tenha concluído o ensino médio.
Art. 7o Os cursos de educação profissional Parágrafo único. Para a obtenção do diploma de técnico
técnica de nível médio e os cursos de de nível médio, o aluno deverá concluir seus estudos de
educação profissional tecnológica de educação profissional técnica de nível médio e de ensino
graduação conduzem à diplomação após médio.
sua conclusão com aproveitamento.
Quadro x: Diretrizes da educação profissional.
Fonte: Decreto n. 5.154/2004
Nota: Adaptado pelo autor.
22
educando, conforme prevê o parágrafo 2o. do artigo 36 da LDB, atendendo às necessidades deste
país e de seus cidadãos; e) monitoramento e garantia da qualidade, com controle social, do nível
tecnológico da educação profissional (Ramos, 2014,pp. 81-82).
[...] erradicar o analfabetismo; dar acesso e permanência na escola, pois não basta garantir o
acesso se os estudantes não têm as condições necessárias para frequentar e concluir a
escolarização; superar as desigualdades sociais e consequentemente eliminar os estigmas
relacionados à educação profissional, para promover a cidadania, independente do trabalho
desenvolvido. Da mesma forma, contribui para a educação profissional a melhoria da qualidade
da educação; a formação baseada nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade;
o cumprimento do princípio da gestão democrática da educação pública; a promoção humanística,
científica, cultural e tecnológica do país; a efetivação da aplicação de recursos públicos em
educação que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e
equidade; a justa valorização dos (as) profissionais da educação, que não significa somente o
aspecto financeiro, mas de condições adequadas de trabalho e ainda, o respeito aos direitos
humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental, por vezes deixado em último plano
(Vieira & Souza Junior, 2016, p, 162).
23
É por meio da educação que se chega ao progresso de uma nação porque são
estabelecidas as estratégias que conduzem ao desenvolvimento econômico e, por consequência,
o social e o cultural (Gadelha, 2010). No caso da situação da educação brasileira, a autora salienta
que o Estado não consegue ofertar a todos um ensino gratuito e de qualidade. Reforça que as
autoridades gestoras do país precisam rever as políticas educacionais a fim de estabelecer novas
formas de atendimento a todos os níveis e modalidades da educação. Considera ainda (Idem,
p.10) que:
Vale ressaltar que a ideia de educação, sua finalidade, objetivos e organização encontram-se na
legislação educacional do País, em todos os níveis e modalidades. Várias são as leis, decretos,
resoluções e outros dispositivos legais que norteiam ou nortearam o sistema de educação
brasileiro e sempre elaborados em um contexto histórico-político e econômico-social. Um desses
dispositivos é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, nº.9.394/96, que normatiza
todos os níveis e modalidades de educação, dentre essas a educação profissional.
Em seu estudo, Figueiredo (2008) explica que as atuais Instituições Federais de Ensino
Profissional tiveram origem no ano de 1909 através do Decreto n. 7.566, de 23 de setembro.
Naquele período foram chamadas de Escolas de Aprendizes Artífices e instaladas em dezenove
unidades da Federação. Até à década de setenta do século XX pouco se tinha escrito sobre a
trajetória histórica da Instituição de Ensino Técnico-Profissional do estado do Ceará, atualmente
denominada Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).
Em 1979, o professor historiador Paulo Maria Othon Sidou, “um apaixonado do passado
e da história da escola”, palavras ditas pelo diretor da então Escola Técnica Federal do Ceará
naquele ano, professor Raimundo César Gadelha de Alencar Araripe, e que constam na obra
Incursão no Passado da Escola Técnica Federal do Ceará. Sidou (1979), relata que narrar o
contexto histórico da Instituição não foi um trabalho fácil em virtude de não existirem fontes
bibliográficas acessíveis nas bibliotecas da cidade de Fortaleza na época. O autor enfatiza que o
estudo se trata de uma “reconstituição despretensiosa do estabelecimento, em suas diversas
fases, na qual se põem em evidência certas particularidades que, inobstante as limitações
aduzidas, servirão de subsídio aos futuros estudiosos da evolução do ensino profissionalizante no
País ” (Sidou, 1979, p.5).
Nesse contexto, a Escola do estado do Ceará foi criada no dia 24 de maio de 1910 por
meio do Decreto n. 7.566/1909. Sidou (1979) menciona que o presidente da República, Nilo
Peçanha, foi o precursor da educação técnico-profissionalizante direcionada à juventude brasileira.
Somado a tais objetivos, o ensino profissionalizante no Brasil pretendeu “o rompimento da sujeição
24
com que as grandes potências manietam os países subdesenvolvidos ou em processo de
desenvolvimento” (Idem, p.7). O autor salienta que a primeira nomenclatura para a Instituição foi
Escola de Aprendizes Artífices e exerceu suas atividades iniciais na Escola de Aprendizes
Marinheiros. Esta foi extinta no ano de 1931 pelo Decreto n. 20.607, de 05 de novembro. Desse
modo, a Escola de Aprendizes Artífices passou a ocupar as instalações definitivamente.
Por meio da Lei n. 378, de 13 de janeiro de 1937, a escola passou a ser denominada
Liceu Industrial de Fortaleza. Já em 1941, por via do despacho de 28 de agosto, o Ministro da
Educação a nomeou de Liceu Industrial do Ceará. Entretanto, em 1942, pelo Decreto n. 4.121,
de 25 de fevereiro, passou a ser chamada de Escola Industrial de Fortaleza (Sidou, 1979). O autor
esclarece que, em virtude da II Guerra Mundial de 1939, nos anos seguintes, o governo brasileiro
iniciou o processo de modernização das escolas da Rede Federal de Ensino. Caminhava para uma
política de mão-de-obra qualificada que daria apoio técnico ao parque industrial que estava se
formando no país. Foram introduzidos novos equipamentos, construídos prédios novos para as
Escolas, assim atendendo à formação de profissionais demandada e estabelecida pelo governo.
Em 1952, a Escola Industrial de Fortaleza passou a exercer suas atividades na Avenida
13 de maio n. 2081, localização do atual IFCE campus Fortaleza. Sidou (1979) salienta que a
nova sede constituiu-se de um imóvel próprio, “onde poderiam, mais comodamente, dar
cumprimento aos seus quefazeres, num ambiente convidativo a uma maior produtividade,
condizente com a expansão da Escola, ... a fim de compatibilizar-se com a ascensão que o ensino
técnico-industrial vinha alcançando em todo o País” (Idem, p. 24). Menciona que, por meio da Lei
n. 4.759, de 20 de agosto de 1965, a escola se tornou Escola Industrial Federal do Ceará;
entretanto, em 1968, com a Portaria Ministerial n. 331, de 06 de junho, foi nomeada de Escola
Técnica Federal do Ceará.
Sidou (1979), tendo como fonte a Revista Pedagógica (vol. I, fascículo 1; jan./fev. 1917),
considera que, desde os primórdios históricos do funcionamento da Escola de Aprendizes Artífices
no Ceará, a Escola apresentou as seguintes características: “elevado número de alunos
matriculados nos Cursos Primário e de Desenho, e nas Oficinas de Sapataria, Tipografia e
Encadernação, Marcenaria e Carpitaria, Ferraria, Serralharia, Mecânica e Alfaiataria” (Idem, p.36).
Acrescenta que o total de alunos envolvidos nos cursos no ano de 1916 estava em torno de 218.
O curso com maior número de discentes era o de marcenaria com 97 e o de menor o de sapataria
com 12. Os alunos poderiam participar das turmas como ouvintes, compreendendo cada turma
com no máximo 35 discentes. Nesse entendimento, destaca-se que:
25
[...] a Escola de Aprendizes Artífices do Ceará era mantida pelo Governo Federal, portanto
com verbas públicas. Além dessas verbas, ela dispunha de renda própria, proveniente da
venda dos artefatos executados pelos alunos nas oficinas da alfaiataria, sapataria,
tipografia, marcenaria e ferraria. Do montante apurado, 10% era destinado a prêmio a
alunos, de acordo com o grau de aproveitamento e aptidão; 5% recolhido à Caixa
Cooperativa da Mutualidade, dos discentes da Escola, cujo fim era fornecer aos aprendizes
que concluíram o curso toda a ferramenta e utensílios indispensáveis ao exercício da
profissão (Gadelha, 2010, p. 52).
Gadelha (2010) discorre que nos anos de 1970 a 1980 as Escolas Técnicas se
propuseram a formar profissionais com capacidades e competências que estiveram além do
aprendizado técnico, isto é, “apoiado em teorias (conhecimento técnico) e saberes técnicos
específicos (tecnologias), organizaram e ampliaram seus currículos, proporcionando ao estudante
o acesso a esses conhecimentos” (Idem, p. 54). A autora esclarece que os profissionais formados
nas Escolas Técnicas Federais eram bem aceitos pelas indústrias. Desse modo, a metodologia de
ensino foi consolidada e abriu os caminhos para o surgimento de mais escolas no território
brasileiro.
A Escola Técnica Federal do Ceará exerceu suas atividades sob essa nomenclatura no
período de 1968 a 1997, oferecendo à população uma variedade de cursos técnicos (Figueiredo,
2008), conforme se verifica no quadro X:
26
A autora destaca que a Instituição também ofereceu cursos com cargas horárias menores,
denominados de Cursos Técnicos Especiais, quadro X.
Somados a esses tipos de cursos, a Escola Técnica Federal do Ceará ofertou também os
chamados Cursos Extraordinários, segundo Figueiredo (2008, p. 74):
Eram colocados à disposição daqueles que almejavam uma qualificação para ocupar um posto de
trabalho, mas não tinham a escolaridade exigida para cursar o técnico de nível médio. Alguns dos
cursos ofertados foram: impressão gráfica, encadernação; solda elétrica; serralheiro civil;
eletricista enrolador de motor; eletricista de transformador; eletricista instalador; corte e costura
de vestuário masculino; carpitaria civil, estofaria de móveis; mecânico diesel; lanternagem e
pintura; eletricidade de automóveis; reparador de rádio receptor; bombeiro hidráulico; tipógrafo;
desenhista de arquitetura; e laboratorista.
Santos (2017) menciona que, pelo Decreto S/N, de 22 de março de 1999, a escola
passou a ser denominada de Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará (CEFETCE). A
norma veio cumprir às exigências estabelecidas pela Lei nº 8.948, de 08 de dezembro de 1994,
que transformaria as Escolas Técnicas Federais em CEFET. O autor salienta que ocorreram
mudanças nas instituições antes da data do Decreto. O CEFETCE, com o objetivo de expansão
para o interior do estado, foi dividido em duas Unidades Descentralizadas (UNED) no ano de 1999,
uma na cidade do Cedro, outra na região do Cariri cearense, em Juazeiro do Norte. No ano de
1998 surgiu o Centro de Pesquisa e Qualificação Tecnológica, cujos papel são: oferecer cursos,
pagos e gratuitos à comunidade; administrar a receita pública dos cursos não-públicos e dos
diversos projetos dos professores ofertados à sociedade.
Gadelha (2010) elucida que o CEFETCE teve autonomia para fomentar currículos flexíveis,
criar e modificar os seus cursos. Retrata que outras duas UNED foram fundadas nas cidades de
27
Maracanaú e Quixadá. No Plano de Desenvolvimento Institucional 2005-2009 do CEFETCE (PDI
2005/2009 CEFETCE), documento que tem a funcionalidade de projetar as ações institucionais
durante cinco anos de vigência e atuou como elemento norteador do avanço do CEFETCE, consta
que a Instituição passou a ter “nova missão institucional com ampliação das possibilidades de
atuação no ensino, na pesquisa e na extensão tecnológica” (Idem, p.16), destacando que:
O Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará (CEFETCE) é uma autarquia federal vinculada ao
Ministério da Educação, gozando, na forma da lei, de autonomia pedagógica, administrativa e financeira,
tendo como marco referencial de sua história institucional uma contínua evolução, que acompanha o
desenvolvimento do Ceará, da Região Nordeste e do Brasil (Idem, p.13);
Produzir, disseminar e aplicar o conhecimento tecnológico e acadêmico, para formação cidadã, por meio
do ensino, da pesquisa e da extensão, contribuindo para o progresso sócio-econômico local, regional e
nacional, na perspectiva do desenvolvimento sustentável e da integração com as demandas da sociedade e
o setor produtivo (Idem, p.14);
Tem por finalidade formar e qualificar profissionais no âmbito da educação profissional e tecnológica, nos
diferentes níveis e modalidades de ensino, para os diversos setores da economia, bem como realizar
pesquisa aplicada e promover o desenvolvimento tecnológico de novos processos, produtos e serviços, em
estreita articulação com os setores produtivos e a sociedade, especialmente de abrangência local e regional,
oferecendo mecanismos para a educação continuada (Idem, p.21).
28
OBJETIVOS Criar um Núcleo de Inclusão Social, para estimular, analisar e promover as
ESTRATÉGICOS diretrizes dos projetos sociais, objetivando a melhoria da qualidade de vida
DA EXTENSÃO da comunidade;
Fortalecer a formação empreendedora e consolidar a incubadora de
empresas;
Promover campanhas educativas relacionadas aos principais problemas
epidemiológicos e sociais, com o apoio de organismos internos e/ou
externos.
Ampliar os indicadores de qualificação do corpo docente, mediante ações de
recrutamento de doutores;
OBJETIVOS Consolidar as atividades de pesquisa e iniciação científica nas áreas de
ESTRATÉGICOS atuação do CEFETCE;
DA PESQUISA Desenvolver ações de estímulo à inovação tecnológica;
Consolidar e expandir os Programas de Pós-graduação ofertados pelos
CEFETCE;
OBJETIVOS Desenvolver política de capacitação para servidores docentes e técnicos
ESTRATÉGICOS administrativos;
DA GESTÃO Ampliar o quadro permanente de pessoal;
Promover a modernização dos laboratórios, salas acadêmicas, e ambientes
administrativos e acesso a portadores de necessidades especiais;
Implantar sistemas de tecnologia da informação visando a melhoria da
gestão dos processos;
Otimizar as atividades administrativas e de ensino desenvolvidas através da
integração de Sistemas Informatizados;
Ampliar a área física das unidades de ensino;
Implantar novas Unidades de Ensino em regiões estratégicas do estado;
Propor a criação de novas unidades em regiões estratégicas do estado.
Fonte: PDI 2005/2009 CEFETCE, pp. 22-23.
Gadelha (2010) explicita que, pelo Decreto n. 3.462, de 17 de maio de 2000, os CEFET
de todo o país passaram a ter autonomia no que diz a respeito à criação e ampliação de vagas de
seus cursos no nível básico, técnico e tecnológico. Nesse sentido, “ o CEFETCE ofertou cursos de
todos os níveis da educação profissional, engenharias, licenciaturas e pós-graduação, em
consonância com a legislação na época em vigor” (Idem, p.72). Seguindo esse entendimento, a
autora apresenta os seguintes cursos de níveis médios e técnicos disponibilizados pelo CEFETECE
à população cearense, conforme quadro X:
29
06 Informática Fortaleza
07 Técnico Edificações Fortaleza
08 Mecânica Industrial Fortaleza
09 Manutenção Automotiva Fortaleza
10 Eletrotécnica: Sistemas Elétricos Fortaleza
Industriais
11 Eletrotécnica: Sistemas Eletrônicos Fortaleza
Industriais
12 Conectividade (Sede) (extinto) Fortaleza
13 Conectividade (Lg) (extinto) Fortaleza
14 Desenvolvimento de Software (extinto) Fortaleza
15 Desenvolvimento de Software (Lg) Fortaleza
(extinto)
16 Música Fortaleza
17 Segurança do Trabalho Fortaleza
18 Agenciamento e Guia (extinto) Fortaleza
19 Telecomunicações (extinto) Fortaleza
20 Desenvolvimento de Software Maracanaú
21 Conectividade Maracanaú
22 Automação Industrial Maracanaú
23 Informática Maracanaú
24 Edificações Juazeiro do Norte
25 Eletrotécnica Cedro
26 Mecânica Cedro
27 Guia Regional Especializado em Quixadá
atrativos naturais
Fonte: Gadelha, 2010, pp.72-73.
Art. 2º Os cursos de educação profissional de nível tecnológico serão designados como cursos
superiores de tecnologia e deverão: I - incentivar o desenvolvimento da capacidade empreendedora
e da compreensão do processo tecnológico, em suas causas e efeitos; II - incentivar a produção e
a inovação científico-tecnológica, e suas respectivas aplicações no mundo do trabalho; III -
desenvolver competências profissionais tecnológicas, gerais e específicas, para a gestão de
processos e a produção de bens e serviços; IV - propiciar a compreensão e a avaliação dos
impactos sociais, econômicos e ambientais resultantes da produção, gestão e incorporação de
novas tecnologias; V - promover a capacidade de continuar aprendendo e de acompanhar as
mudanças nas condições de trabalho, bem como propiciar o prosseguimento de estudos em
cursos de pós-graduação; VI - adotar a flexibilidade, a interdisciplinaridade, a contextualização e a
atualização permanente dos cursos e seus currículos; VII - garantir a identidade do perfil
profissional de conclusão de curso e da respectiva organização curricular.
30
Nessa perspectiva, Gadelha (2010) afirma que a formação superior desses profissionais
visa preencher as lacunas demandadas pelas tecnologias cada vez mais exigentes. Desse modo,
“necessário se faz, então, um trabalhador especializado com capacidade de aprender
continuamente e de tomar decisões rápidas e eficazes, ante situações novas e imprevistas” (Idem,
p. 76). A autora salienta que o CEFETCE estabeleceu uma política de expansão da oferta dos
cursos tecnológicos, na unidade sede e em suas unidades descentralizadas. Os cursos englobaram
diversas áreas do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento do Ceará, Região Nordeste
e do país como um todo, enfatizando que os cursos duravam em torno de três anos e meio e
acompanhavam as inovações tecnológicas que iam surgindo. Dessa forma, Gadelha (2010)
apresenta os respectivos cursos de tecnologia ofertados pelo CEFETECE, conforme quadro X:
31
de pesquisas e desenvolvimento de novos processos, produtos e serviços e vivenciou a maior
expansão de sua história:
De 1909 a 2002, foram construídas 140 escolas técnicas no país. Entre 2003 e 2016, o Ministério
da Educação concretizou a construção de mais de 500 novas unidades referentes ao plano de
expansão da educação profissional, totalizando 644 campi em funcionamento. São 38 Institutos
Federais presentes em todos estados, oferecendo cursos de qualificação, ensino médio integrado,
cursos superiores de tecnologia e licenciaturas. Essa Rede ainda é formada por instituições que
não aderiram aos Institutos Federais, mas também oferecem educação profissional em todos os
níveis. São dois Cefets, 25 escolas vinculadas a Universidades, o Colégio Pedro II e uma
Universidade Tecnológica (BRASIL/MEC/SETEC, 2018).
Nesse contexto, Pereira (2009) discorre que a criação dos Institutos Federais foi tratada
como uma política de valorização da educação e das Instituições Públicas tendo em vista que o
governo abriu espaço para um país soberano, democrático e onde se buscou a diminuição das
desigualdades sociais. Salienta que os investimentos direcionados à Rede Federal aspiraram
eficiência e eficácia, atendendo aos anseios do capitalismo moderno. Outeiro (2015) ressalta que
os Institutos Federais vieram suprir as necessidades de setores sociais que historicamente
estiveram à margem do desenvolvimento no Brasil sendo, portanto, instrumentos que
proporcionam a cidadania, construção e transformação sociais.
Com a aprovação do Decreto n. 6.095, de 24 de abril de 2007, o Ministério da Educação
estabeleceu as diretrizes para a reorganização das Instituições Federais de Educação Profissional
e Tecnológica. Desse modo, a reestruturação consistiu na criação do modelo de Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia – IFET. Segundo o Decreto, os Institutos são de natureza
jurídica de autarquia, detentores de autonomia administrativa, patrimonial, didático-pedagógica e
disciplinar, como Instituição de educação superior, básica e profissional, pluricurricular e
multicampus, especializada na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes
modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos às
suas práticas pedagógicas.
Posteriormente, foi promulgada a Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que instituiu
a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica; estabeleceu a criação dos
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia no âmbito do sistema federal de ensino. De
acordo com o Art. 1 desta legislação, o sistema federal de ensino passou a ser compreendido
pelos: I - Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia - Institutos Federais; II -
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR; III - Centros Federais de Educação
Tecnológica Celso Suckow da Fonseca - CEFET-RJ e de Minas Gerais - CEFET-MG; IV - Escolas
32
Técnicas Vinculadas às Universidades Federais; e V - Colégio Pedro II. Destaca em seu Art. 2,
parágrafo 3º que: os Institutos Federais terão autonomia para criar e extinguir cursos, nos limites
de sua área de atuação territorial, bem como para registrar diplomas dos cursos por eles
oferecidos, mediante autorização do seu Conselho Superior, aplicando-se, no caso da oferta de
cursos a distância, a legislação específica. No parágrafo 6º do Art. 5, a legislação elucida que: os
Institutos Federais poderão conceder bolsas de pesquisa, desenvolvimento, inovação e
intercâmbio a alunos, docentes e pesquisadores externos ou de empresas, a serem
regulamentadas por órgão técnico competente do Ministério da Educação.
Continuando com as recomendações delineadas pela Lei n. 11.892/2008, mencionam-
se as finalidades, características e objetivos a que os Institutos Federais devem atender, conforme
artigos sinalizados no quadro X:
33
IX - promover a produção, o desenvolvimento e a transferência de
tecnologias sociais, notadamente as voltadas à preservação do meio
ambiente.
34
de uma Escola criada nos termos da Lei. n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Juridicamente,
apresenta-se como uma autarquia, detentora de autonomia administrativa, patrimonial, financeira,
didático-pedagógica e disciplinar. Para efeito da incidência das disposições que regem a regulação,
avaliação e supervisão da instituição e dos cursos de educação superior, o IFCE é equiparado às
universidades federais (IFCE, 2019).
Segundo o IFCE (2019), a Instituição apresenta os seguintes princípios fundamentais,
conforme quadro X:
35
O mínimo de 50% das vagas para os cursos de educação profissional técnica de nível médio,
prioritariamente, integrada ao ensino médio, 20% das vagas ofertadas aos cursos de licenciatura
e programas especiais de formação pedagógica e 30% das vagas destinadas para cursos de
tecnológicos, bacharelado e pós-graduação. Além disso, promovem-se ainda Cursos de Formação
Inicial e Continuada (FIC) e cursos profissionalizantes para atendimento ao Programa Nacional de
Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos (Proeja), visando atender os segmentos sociais com menos condições de acesso à
educação profissional técnica. No âmbito da pesquisa e extensão acadêmica, o IFCE desenvolve
programas e projetos voltados para a valorização da cultura, acessibilidade, empreendedorismo,
inovação e transferência de tecnologias com ênfase no desenvolvimento local e regional, bem
como na preservação do meio ambiente (PDI 2019-23, p. 127).
36
Quadro X: Normativas para ocupação dos cargos efetivos do IFCE
Previsão para o IFCE: 1849 Professores do Ensino Básico Técnico e
Portaria MEC nº 246 Tecnológico e 1.618 Técnicos Administrativos em Educação, dos quais
/2016 561 são de cargos de nível superior, classe E; 998 cargos de nível
intermediário, classe D, e 59 cargos de nível auxiliar, classe C.
Estabelece que os professores da Educação Básica Técnica e Tecnológica
(EBTT), no âmbito da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Portaria SETEC/MEC nº Tecnológica, atuarão nas atividades de ensino diretamente vinculadas aos
17/2016 cursos e aos programas ofertados pela instituição em todos os níveis e
modalidades de ensino. Nesse sentido, os professores são os
protagonistas do corpo docente e tutorial da educação presencial e a
distância promovida pelo IFCE.
Fonte: PDI 2019-23, pp. 175-176.
37
técnica. Poderão Guia de Turismo 3 semestres (1 ano e
inscrever-se para meio)
esta modalidade Instrumento Musical 4 semestres (2 anos)
de ensino
Manutenção Automotiva 4 semestres (2 anos)
estudantes que,
no ato da Mecânica Industrial 4 semestres (2 anos)
matrícula,
apresentem Segurança do Trabalho 4 semestres (2 anos)
comprovante de
TÉCNICOS
conclusão do
SUBSEQUENTES
ensino médio.
TECNOLÓGICOS Tecnologia em Estradas 6 semestres (3 anos)
Tecnologia em Gestão Ambiental 6 semestres (3 anos)
Cursos destinados
Tecnologia em Hotelaria 6 semestres (3 anos)
a formar
profissionais para Gestão Desportiva e de Lazer 6 semestres (3 anos)
campos Tecnologia em Processos 7 semestres (3 anos e
específicos do Químicos meio)
mercado de Tecnologia em Saneamento 6 semestres (3 anos)
trabalho. Ambiental
Tecnologia em Mecatrônica 8 semestres (4 anos)
Industrial
Tecnologia em Telemática 6 semestres (3 anos)
Licenciaturas Licenciatura em Artes Visuais 8 semestres (4 anos)
GRADUAÇÃO Cursos de Licenciatura em Física 7 semestres (3,5 anos)
(SUPERIORES) graduação Licenciatura em Matemática 8 semestres (4 anos)
específicos para a Licenciatura em Teatro 8 semestres (4 anos)
formação de
docentes. Poderão
inscrever-se
nestes cursos os
estudantes que,
no ato da
matrícula,
apresentem
comprovante de
conclusão do
ensino médio.
38
conclusão do
ensino médio.
Artes
Ciência da Computação
Segundo o IFCE (2019,) a Escola ocupa área de aproximadamente 39.000 m², dispõe de
88 salas de aulas convencionais, mais de 100 laboratórios nas áreas de Artes, Turismo,
Construção Civil, Indústria, Química, Licenciaturas e Telemática, além de sala de videoconferência
e audiovisual, unidade gráfica, biblioteca, incubadora de empresas, espaço de artes, complexo
poliesportivo e auditórios.
39
CAPÍTULO 02- FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
40
componentes relevantes do desenvolvimento profissional. Nessa linha de pensamento, Pacheco
(2018, p.52) adverte que:
Flores e Simão (2009) chamam a atenção para os caminhos e objetivos que a formação
e o desenvolvimento profissional necessitam para ser significativos no percurso da aprendizagem
docente. Desse modo, a fim de se chegar a entendimentos satisfatórios, é imprescindível que haja
mudanças de comportamentos e de crenças, incorporação de valores, empatia com os alunos,
dominação dos conteúdos, saber-fazer, autoreflexão, etc. Diante dessa preocupação, as autoras
levantam as seguintes indagações: “o que aprendem os professores (em formação e em
exercício)? Como aprendem? Com quem? Em que contextos? De que modo se perspectiva a sua
aprendizagem, a sua formação e o seu desenvolvimento profissional contínuo? ” (Idem, p.7).
A formação de professores conduz a dois objetivos: aos saberes apreendidos, que por sua
vez estão imbuídos nas práticas curriculares e às transformações que os conhecimentos causam
na atitude docente e no processo de ensino-aprendizagem (Pacheco & Flores, 1999). Durante o
percurso formativo devem ser levados em consideração pressupostos inerentes aos anseios dos
professores porque: “[...] depende muito das representações, dos propósitos e dos efeitos [...] a
operacionalização de estratégias de formação contínua varia consoante as finalidades, as práticas
e as repercussões que se pretendam” (Idem, p. 128).
Nessa perspectiva, a formação se caracteriza como um processo que prepara,
profissionaliza e socializa os professores (Marcelo, 1999). O autor acrescenta que a formação
representa uma função social quando os conhecimentos são repassados a fim de beneficiar os
sistemas social, cultural e econômico. Como produto de desenvolvimento pessoal, exerce suas
influências quando estimula a maturação, possibilita a aprendizagem e experiências dos sujeitos.
Desse modo, o mesmo autor (1999, p. 26) explicita que:
A formação de professores surgiu como uma necessidade para se refletir sobre as práticas
educativas, constituindo momentos de partilha, sugerindo práticas alternativas e contribuindo para
a efetivação da mudança. Perante as possibilidades formativas o professorado vê-se confrontado
com múltiplas formas de atuar que necessita adequar e mobilizar para o seu contexto e, por tal,
esta transposição assume a faceta de um labirinto que exige reflexão sobre as várias alternativas.
Neste labirinto de formas de pensar o ensino e formas de fazer pedagogia o professorado
experiência incongruências que o conduzem por caminhos mais fáceis e que lhe permite, também,
cumprir a sua função de ser professor, subalternizando a cultura de colaboração e a sua
participação no contexto escolar (Mesquita, Formosinho, & Machado, 2014, p.356).
Por volta do século XIX, as nações deram início a programas de formação de professores.
Segundo Niklasson (2014), o cenário foi dividido em dois paradigmas: o primeiro foi caracterizado
por um quadro onde o futuro professor daria seus primeiros passos atuando ao lado de um mestre
experiente, desta forma, aprendia os conhecimentos necessários para seguir na profissão. O outro
modelo apresentou como peculiaridade a formação do futuro professor em instituição de ensino
superior; neste contexto de aprendizagem, os alunos estavam propícios a aprenderem os saberes
pelas unidades curriculares e, por consequência, estariam aptos a atuarem no ensino, apesar de
não obterem os conhecimentos pedagógicos básicos.
McMahon (2014) destaca que a formação de professores vem passando por
transformações em diversos países no mundo; no entanto as mudanças estão relacionadas aos
programas de avaliação internacional como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
(PISA) e aos resultados obtidosnessa mesma avaliação. A autora salienta que, para acompanhar
o ritmo acelerado e as inovações que se evidenciam no século atual, os professores necessitam
42
adquirirem “[...] as competências e o conhecimento profissional e pedagógico necessário para
prepararem os jovens para viverem e trabalharem no contexto diversificado do século XXI” (Idem,
p.41). Nesse entendimento, o conhecimento profissional dos professores é adquirido por duas
correntes de aprendizagem: a formal e a informal, incluindo uma variedade de situações que
motivam a aquisição das instruções; apresentando como fundamento a necessidade de combinar
peculiaridades referentes a uma atividade, a um contexto e a uma proposta de trabalho e estando
envolvido numa teoria que tem como objetivo a realização da prática docente (Pacheco & Flores,
1999).
Quando a educação está comprometida com os princípios estabelecidos pela
performatividade, as escolas de formação de professores estão designadas a instruir futuros
professores fadados a ser profissionais que se distanciam de suas capacidades de pensar, refletir
e compreender os aspectos emocionais e atitudes (Day, 2012). Desse modo, o processo formativo
se torna deficiente uma vez que o trabalho dos futuros professores será encaminhado para um
contexto compreendido e pressionado pelos interesses mercadológicos; currículos impostos de
forma não democrática; “gestão de inovações e sistemas de monitoramento e avaliação de
desempenho foram introduzidos mas, muitas vezes, foram mal implementadas e resultaram em
períodos de desestabilização, aumento da carga de trabalho, intensificação do trabalho e crise dos
profissionais” (Day, 2012, p.8, traduzido pelo autor).
Loughran (2009) esclarece que os futuros professores adentram nos cursos de formação
com perspectivas de “aprender” as funcionalidades do ensino. Outra situação descrita é a de que
os sujeitos podem ser resistentes à cultura enraizada no modelo do próprio ensino e
aprendizagem. Diante dessas adversidades surgiram questionamentos que buscam distanciá-las:
a inclusão de alternativas no ensino o afastamento de crenças trazidas pelos formadores de
professores e as experiências inadequadas dos alunos futuros professores. O autor acrescenta
que o formador de professores desconhece ou ignora essas atitudes como problemáticas, desse
modo, “a falta de orientação e de apoio pode, facilmente, limitar o desenvolvimento do
conhecimento e da prática do ensinar sobre o ensino” (Idem, p.20).
No que tange ao saber-fazer dos professores, este possibilita a transmissão do
conhecimento direcionado a determinadas ações educativas, exercidas intencionalmente e
fundamentadas no currículo (Pacheco & Flores, 1999). Nessa perspectiva o ensino compreende
a atividade em que o docente necessita ser formado a partir das destrezas básicas, didáticas e do
conhecimento dos conteúdos formais. Assim sendo,
43
[…] o conteúdo, a forma e os propósitos das oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento
profissional de professores devem reflectir a complexidade do ensino, a fase da carreira em que
se encontram, a sua biografia pessoal, os contextos em que trabalham, etc. (Flores & Simão,
2009, p.8).
A formação de professores converge para uma temática que perpassa os muros escolares
ao ser frequentemente objeto de pauta nas discussões políticas e de interesse acadêmico. Sua
relevância tomou grandes proporções, assim como o desenvolvimento profissional dos
professores, pelas transformações que ocasionam na melhoria do ensino, por consequência, no
rendimento escolar dos alunos. Estes fatores estão intrinsicamente relacionados à qualificação e
ao desempenho dos professores (Flores & Simão, 2009).
Como já sinalizado anteriormente, a formação de professores como objeto de pautas
políticas e acadêmicas em todo o mundo tem trazido grandes preocupações para as autoridades
ligadas à educação. Estas buscam medidas que atenuem as defasáveis no ensino, dentre elas,
está a melhoria da qualidade docente (Lapo & Flores, 2016). Diante de suas diversas
particularidades, as investigações na área aumentaram significativamente tendo em vista que as
pesquisas permitem avanços e melhorias dos docentes, das instituições de ensino e da própria
educação. Nesse sentido, Flores, Moreira e Oliveira (2015) sinalizam que a formação de
professores compreende um leque de modelos, relacionada aos variados contextos e à trajetória
percorrida pelos professores, mas também às instituições de formação inicial.
Por outro lado, Nóvoa (1992) argumenta que as reformas na educação interferem nos
objetivos proporcionados pela formação docente, pois as reestruturações significam uma linha
extensa que separa os professores daqueles que criam e promulgam as normas educacionais. O
autor esclarece que a política potencializa argumentos sociais conformistas e frequentemente
costuma engessar o papel docente. Desta forma, os preceitos desenvolvidos pelos decisores
políticos adentram a outras questões, isto é, aos assuntos ligados ao currículo e ao campo
científico. Para o autor, as reformas podem ser consideradas como bases para o surgimento de
novas formas de controle, inclusive sobre a profissão.
Nessa perspectiva e devido as rápidas transformações as quais a sociedade está submetida,
a escola e o ensino se veem forçados a se adaptarem aos novos padrões: da economia, dos
avanços científicos, tecnológicos, culturais, dentre outros. Observa-se que, por detrás das grandes
reformas que estão sendo implementadas em torno do mundo, geralmente não costumam
beneficiar a grande massa da população, interesses implícitos de uma minoria estão envolvidos.
44
Em se tratando de reformas na educação, Ball (2005) relata que existem disputas entre aqueles
que objetivam controlar e mudar os aspectos educacionais em favorecimento de seus julgamentos
e valores, isto é, transformar a educação numa espécie de mercadoria para atender a interesses
e ideologias em que poucos serão privilegiados, pois, segundo o autor, essa política está em linha
com a “liberdade” econômica. Nesse contexto, observa-se que a formação docente pode estar
vulnerável a políticas controladoras e que são direcionadas ao atendimento das ideologias
dominantes, como se verifica:
45
se deve entendê-la como uma simples junção dos saberes ao longo do tempo, mas como uma
fonte de conhecimentos composta por variadas aprendizagens, isto é, crescimento pessoal.
Acrescenta ainda que:
Esta pressão para a mudança deu origem a novas concepções de educação e formação. Saberes e
competências adquiridos através da formação inicial já não são suficientes para enfrentar as novas
exigências da sociedade em mudança. Tais mudanças exigem o prolongamento da educação e da
formação ao longo da vida, não se circunscrevendo a um período determinado, requerendo, por
isso, a necessidade de manter mecanismos de formação profissional permanente (Idem, p.25).
46
2.1.2 ETAPAS DE FORMAÇÃO DOCENTE: INICIAÇÃO, INDUNÇÃO E CONTÍNUA
Saberes e competências adquiridos através da formação inicial já não são suficientes para
enfrentar as novas exigências da sociedade em mudança. Tais mudanças exigem o prolongamento
da educação e da formação ao longo da vida, não se circunscrevendo a um período determinado,
requerendo, por isso, a necessidade de manter mecanismos de formação profissional permanente
(Forte, 2005, p.25).
No âmbito da formação inicial de professores, esta foi desenvolvida sob duas formas de
aprendizagens durante o século XIX: na primeira o futuro professor adquiria as habilidades do
ensino exercendo suas atividades ao lado de um professor experiente; o segundo panorama de
aquisição dos conhecimentos necessários para a prática docente foi compreendido por um
ambiente em que os futuros professores adentravam no ensino superior para apreender os
conteúdos específicos (Niklasson, 2014). Na Inglaterra por exemplo, a aprendizagem dos futuros
professores pode ser ofertada nas escolas pelo processo de imitação (treinamento) cuja pedagogia
de ensino desses futuros professores provavelmente se dar de forma técnica. Já na Escócia o
processo de formação inicial dos professores abrange um contexto que engloba a interrelação
entre os conhecimentos teóricos e práticos, vistos nas universidades.
Niklasson (2014) questiona sobre os ambientes de aprendizagens dos futuros professores,
sejam eles no contexto de trabalho ou nas universidades, demonstrando que a apreensão dos
conhecimentos e destrezas nas instituições de ensino superior representam uma formação de
47
melhor eficiência. Entretanto esta autora, levando em consideração os estudos de Labaree (2008),
salienta que a formação inicial de professores nas universidades se difere em virtude de existir,
por exemplo na universidade de investigação, a instabilidade entre os conhecimentos dos
conteúdos específicos e da formação profissional. Acrescenta que os programas de formação
necessitam oferecer aos futuros professores conhecimentos sobre a localidade, diversidades e
multiculturalidade em seu contexto de aprendizagem. Salienta ainda, corroborando com os
trabalhos de Haberman e Post (1998), que a formação inicial dos professores apresenta como
principal fator de sucesso os aspectos relacionados as qualidades pessoais, isto é, os recém-
formados “[...] necessitam de autoconhecimento, autoaceitação, empatia e onde têm de ser
capazes de ensinar no meio do caos e lidar com seus próprios preconceitos pessoais” (Niklasson,
2014, p.84).
Comumente os alunos futuros professores apresentam trajetórias intrínsecas de suas
vivências escolares, geralmente antes de adentrarem nos cursos de formação inicial, estão
carregados de crenças, questionamentos e visões sobre a profissão e o ensino (Flores, 2010).
Esta autora esclarece que a passagem de aluno a profissional da educação acarreta em
expectativas e em situações frequentemente conflitantes que estão relacionadas à formação da
identidade profissional, em virtude de “o contacto prolongado com a futura profissão, através da
observação dos seus professores, afectará, em maior ou menor grau, o seu entendimento e a sua
prática de ensino, quer como candidatos a professor, quer como professores principiantes” (Idem,
p.183). Nesse enquadramento,
De facto, os milhares de horas que um aluno passa na escola, contactando com professores e
alunos, desenvolvendo actividades didácticas, não deixarão de influenciá-lo no momento em que
se torna professor. É toda uma cultura latente, sublinha Lortie (1975), que os alunos assimilam,
interiorizam e reproduzem quando passam a professores (Pacheco & Flores, 1999, p. 52).
48
entendido (Flores, 2010, p.185). Nessa perspectiva, a formação inicial segue um currículo
composto por programas de formação orientados a partir de três fundamentos básicos, conforme
demonstra Marcelo (1999):
Vale salientar que a formação dos professores compreende um processo complexo e está
associada a especificidades conceituais que buscam atender aos propósitos do “processo
educativo, ao papel da escola e às competências que se reconhecem ao professor” (Pacheco &
Flores, 1999, p. 57). Nesse sentido, para se perceber os percursos de formação que os futuros
professores atravessam, estes autores apresentam as diferentes tendências desenvolvidas por
Zeichner (1983), isto é, os paradgmas2: tradicional/artesanal, condutista, personalista e orientado
para a indagação, conforme sinalizados no quadro X
Paradgmas
Preocupação está numa formação sólida no conhecimento dos
conteúdos a ensinar, complementada pela aprendizagem prática na escola
Zeichner (1983);
“Esta tradição da formação de professores acentua o papel do
professor enquanto acadêmico e especialista da matéria escolar’”,
considerando que a formação pedagógica tem uma “qualidade intelectual
supostamente inferior (Zeichner & Liston, 1990, p. 4);
Tradicional ou A formação tradicional, por tradição, coloca a ênfase na organização
tradicional acadêmica do saber-fazer (...) é na e pela experiência que se estrutura o desenvolvimento
da lucidez das ações. Colocando a ênfase na experiência e na didáctica do
oral da transmissão, cada aprendiz torna-se-á mestre.” (Lerbert, 1986, p.
132);
O saber de uma disciplina é suficiente para se poder ensinar;
Chega-se a professor pela acumulação da experiência, sobretudo
através do método do ensaio-erro, e por uma formação que privilegia o estudo
dos conteúdos do ensino.
2
Um paradigma constitui “uma matriz de crenças e pressupostos sobre a natureza e propósitos da escola, do ensino,
dos professores e da sua formação, que moldam formas especificas de formação de professores” (Zeichner, 1983,
citado por (Pacheco & Flores, 1999, p. 57).
49
A formação de professores fundamenta-se no estudo científico do
ensino e na existência de uma correlação directa entre a conduta do professor
e a aprendizagem do aluno, razão pela qual se torna a clarificar os objectivos
e organizar programas que ensinem o professor a comportar-se nas mais
Condutista ou variadas e estandizadas situações de ensino e aprendizagem;
comportamentalista A eficiência docente depende de programas de microensino que têm
(tradição de eficiência por finalidade principal o treino de competências específicas com vistas a um
social) desempenho ideal e ao reforço da dinâmica tecnológica da formação;
O professor encarado como técnico que executa competências
previamente adquiridas;
A formação é concebida como um processo meramente aquisitivo
de um repertório de destrezas necessárias para o desempenho da profissão.
Aponta para o desenvolvimento pessoal do formando;
Pressupõe um currículo formativo mais flexível;
A formação implica um processo de maturidade psicológica, pelo
que requer a participação activa do sujeito que se forma, bem como a
consideração das suas necessidades e preocupações;
Ideia de que é a, segundo Zeichner e Listo (1990, p. 7), “ordem do
desenvolvimento do aluno que fornece as bases para a determinação do que
deve ser ensinado tanto aos alunos das escolas como aos seus professores”
constitui a característica principal desta tendência;
Personalista (tradição Reconhece três versões: formação progressiva, centrada no aluno;
desenvolvimentalista) formação humanista; formação personalizada;
A individualização das situações de formação de um professor, em
função das suas necessidades, problemas e preocupações, constitui o
aspecto principal da formação personalizada ( Fuller & Bown, 1975);
O professor é visto como um naturalista (ligado à jardinagem), como
um artista e como um investigador, pelo que a sua formação deverá incidir
não nos processos técnicos de ensinar mas que favoreçam a sua
introspecção e maturidade.
Parte de uma concepção de escola e de professor como elementos
cruciais do movimento para uma sociedade mais justa e humana;
A reflexão e a investigação se assumem como traços distintivos; Os
programas de formação de professores devem desenvolver estas
capacidades nos futuros professores para que estes possam analisar as
situações que terão de enfrentar e tomar decisões mais adequadas a cada
uma delas;
Orientado para a O professor ocupa um papel determinante no seu percurso de
indagação (ou tradição formação, pois implica um processo de conscientização de crenças e teorias
de reconstrução social) e análise das consequências das suas decisões no desempenho profissional;
Os defensores desta tradição colocam de lado a hipótese de um
currículo neutro de formação de professores, defendendo um currículo
orientado por uma teoria social crítica que ajude o professor não só a
examinar aquilo que faz mediante princípios e ideias democráticas, como
também a verificar que as suas opções diárias estão associadas às questões
da continuidade e da mudança social;
Devido a seu poder crítico, esta tradição tem um estatuto marginal
nos actuais programas de formação de professores.
Quadro x: Paradigmas de formação de professores.
Fonte: Pacheco & Flores, 1999, pp. 57-62.
Nota: Adaptado pelo autor.
50
Esteves (2001) argumenta que, independente das etapas de formação, existem
deficiências e problemas ocasionados pelas metodologias tradicionais e/ou crenças implícitas, por
conseguinte, comprometem futuramente o desenvolvimento das atividades docentes. Esta autora
levanta a preocupação de que “a relação entre investigação, essencialmente enquanto estudo e
produção de conhecimento, e a formação, essencialmente enquanto acção, não é uma relação
simples nem fácil de estabelecer” (Idem, 2001, p. 217). Seguindo com essa linha de discussão,
Flores (2010) salienta que os estudos que permeiam nas vivências anteriores dos alunos futuros
professores não são suficientes para explicitar as influências e desafios enfrentados pelos mesmos
quando partem para exercer as atividades em sala de aula. Esta autora chama a atenção, seguindo
com os entendimentos de (Flores, 2006b; Flores & Day, 2006), para outro questionamento: “A
investigação indica que, para os professores, as teorias aprendidas na universidade não são
aplicáveis ao contexto da sala de aula, advogando uma abordagem mais prática e um contacto
gradual com a escola (Idem, p. 183). Esteves (2001) complementa afirmando que a problemática
carece de mais estudos, saber científico sobre o campo da formação de professores, distanciar-se
das políticas implementadas frequentemente por aqueles de cujos conhecimentos sobre as
lacunas abertas não conseguem solucioná-las, realça (Idem, p. 219):
Nesse entendimento, para que sejam alinhados caminhos entre formação e investigação
existe a necessidade de se perceber e averiguar esses fenômenos amplamente, discutindo-os e
nivelando-os a contextos de formação colaborativos e eficientes entre escolas e universidades no
sentido de gerar e aproveitar o que essas instituições possam oferecer (Flores, 2010). Fomentar
políticas de integração estabelecendo as funções que as universidades e os formadores de
professores adotem mecanismos “ no sentido de ultrapassar a lógica fragmentada e desarticulada
que tem prevalecido nos currículos de formação” (Idem, p. 186). Esta autora sugere ainda que
ambientes de formação de professores discutam e analisem as crenças e representações tragas
pelos futuros professores, partindo para o entendimento das problemáticas que compreendem o
ensino e o papel docente, levando esses sujeitos a repensar e/ou refletir o verdadeiro sentido do
que é ser professor, isto é, para a:
51
[...] (re)construção pessoal do conhecimento sobre o ensino (que contrarie a lógica prescritiva e
procedimental ainda prevalecente nalgumas concepções de alunos – futuros professores) com
implicações para a (trans)formação da identidade profissional; reconhecer que a formação inicial
é incompleta e que se inscreve num processo formativo mais longo, integrado e holístico (incluindo
o período de indução) numa lógica de desenvolvimento profissional e numa perspectiva de
aprendizagem ao longo da vida; e clarificar a filosofia subjacente a determinado projecto de
formação em que a reflexão e a investigação se assumam como elementos estruturantes.
No que se refere ao período de indução, este se revela como uma ponte entre a formação
inicial e a carreira docente. O professor iniciante exerce suas atividades didáticas, pedagógicas e
científicas geralmente auxiliado por um professor titular (mentor) durante o primeiro ano do
programa, apoiando-o e avaliando-o. Realiza uma espécie de estágio probatório onde serão
compreendidas as características e princípios que deverão guiá-lo durante sua vida como
profissional, dentre eles: os valores, as atitudes, os conhecimentos e os comportamentos.
Nesta etapa do processo de formação os professores assumem as atividades na sala de
aula após sua formação inicial. Segundo Pacheco e Flores (1999) este processo geralmente é
constituído por um intervalo de tempo que apresenta duração de três anos, envolvendo os
aspectos pessoais e contextuais, desse modo, salientam que “implica um processo de
aprendizagem fundamental que permite ao professor principiante assumir o papel numa dada
organização/profissão, na medida em que compreende os valores, os comportamentos e os
conhecimentos a ela associados” (Idem, 1999, p.111).
Nóvoa (2017, p.1124) elucida que o termo indução frequentemente é substituído por
outras terminologias dependendo do país que o aplica, isto é, “residências docentes, estágios
probatórios, períodos de supervisão, etc.”. Este autor adverte que as instituições escolares
geralmente não oferecem os meios adequados para a receptividade dos professores principiantes,
considerados sem experiência para lidar com as salas de aula. Nesse enquadramento, as escolas
dificilmente apresentam programas voltados à integração dos novos professores, até mesmo pela
ausência de solidariedade por parte dos professores de maior experiência profissional. Inquieto
com o descaso, esse autor (2017, p 1125) indaga que “É inaceitável. Tanto as instituições
universitárias como os responsáveis políticos têm de conceder uma atenção redobrada à indução
profissional.... a necessidade de criar boas condições nas escolas e um compromisso dos
professores mais prestigiados com a integração dos mais jovens”. No entanto, elucida que há
preocupações por parte das autoridades em fomentar políticas públicas que compreendem a
relevância desta fase de transição do desenvolvimento profissional em algumas nações.
52
Nesse entendimento, Pacheco e Flores (1999) salientam que é durante essa etapa de
formação que os professores adquirem e consolidam as competências e as habilidades no ensino,
reconhecendo e contornado as falhas, assumindo as responsabilidades profissionais porque “ a
entrada no ensino é brusca e repentina, pois o professor nóvel tem de desempenhar as mesmas
tarefas e de assumir as mesmas funções que um professor com experiência (Idem, p.111).
Seguindo as análises realizadas por Zimpher (1988), Marcelo (1999, p.119) aborda os
principais desafios enfrentados pelos professores principiantes durante a fase formativa da
indução:
Frequentemente, são atribuídos aos professores cargos de docência com grandes problemas à
gestão de classe; De um modo geral, existe falta de colaboração entre os professores e é dado
pouco apoio aos professores principiantes; Os professores lutam contra o caos e o stress durante
os primeiros anos de docência, salientando sobretudo o valor prático; A instituição escolar tem,
relativamente aos professores principiantes, as mesmas expectativas que tem face aos veteranos;
O Ensino Superior assume pouca responsabilidade na fase de iniciação; Os professores
principiantes têm poucas oportunidades de contato com modelos de ensino variados e eficazes.
Várias vezes, a indução é entendida como uma transição entre a preparação e a prática, ou seja,
como um processo de socialização dos professores recém-chegados numa comunidade escolar
particular e numa cultura profissional (FEIMAN-NEMSER et al., 1999; MOSKOWITZ; STEVENS,
1997; WONG, 2002). Na literatura sobre a indução, esta socialização pode ser apresentada: a)
como um processo, algo passivo, de aprendizagem e interação, através do qual os novos
professores são “induzidos” nos aspectos dominantes da sua área disciplinar - linguagem, valores,
missão, conhecimento, ideologia e tecnologia; ou b) como um processo, mais dinâmico, de
53
contínuo desenvolvimento e expressão das normas, identidades e formas de competência
(LAWSON, 1992). A socialização pode resultar exclusivamente de processos informais - interações
sociais, vivências, experiências, aprendizagens - ocorridos nos contextos em que se vai
desenvolvendo a atividade profissional, ou ser influenciada por um programa de indução formal
(Roldão, Reis, & Costa, 2012, p.444).
54
lecionar em ambientes de ensino harmônicos; oferecendo suporte necessário através do professor
mentor; garantindo-lhes recursos para que os mesmos desenvolvam suas atividades eficazmente.
Os autores explicitam ainda que os programas devem ser entendidos:
Quando se discorre sobre formação contínua não se pode abster que a formação inicial é
tida como um dos pilares que guiará os futuros professores ao sucesso profissional. Esta formação
está relacionada a aquisição dos saberes teóricos e práticos que se estenderão no decorrer da
vida profissional. Somados a estes conhecimentos, os professores ampliarão sua missão com
outros que apreenderão no decorrer da trajetória de trabalho considerando o contexto de suas
atividades, adequando-se às práticas, contornando e superando situações e desafios que irão
surgir (Libâneo, 2008).
Pacheco e Flores (1999) elucidam que é por meio da formação contínua que os
professores adquirem as destrezas necessárias para a aquisição das experiências profissionais e
crescimento pessoal, desse modo, essa etapa formativa conduz a uma amplitude de percursos de
aprendizagens. No entanto, estes autores acrescentam que a formação contínua é um fenômeno
que “depende muito das representações, dos propósitos e dos efeitos que sobre ele possuamos”
(Idem, p.128). Nessa perspectiva, destaca-se que a etapa compreende:
Uma formação permanente, que se prolonga por toda vida, torna-se crucial numa profissão que
lida com a transmissão e internalização e saberes e com a formação humana, numa época em
que se renovam os currículos, introduzem-se novas tecnologias, acentuam-se os problemas sociais
e econômicos, modificam-se os modos de viver e de aprender, reconhece-se a diversidade social
e cultural dos alunos. As escolas passam por inovações estruturais como as formas alternativas
de gestão, a elaboração coletiva do projeto pedagógico-curricular, os ciclos de escolarização, os
currículos interdisciplinares ou globalizados, as práticas interculturais, a avaliação formativa, a
interligação entre a escola e a comunidade, a relação com a vida na cidade e com as mídias
(Libâneo, 2008, pp. 227-228).
55
Nesse entendimento, a formação contínua se inseri numa das mais importantes
peculiaridades do contexto escolar em virtude de abranger a todos que exercem suas atividades
nas escolas. Segundo Libâneo (2008) é um percurso de constantes aprendizagens que vão além
do desenvolvimento profissional e estabelece transformações voltadas aos aspectos culturais e
pessoais dos professores e daqueles que estão ligados a atividades educacionais. Este autor
explica que as formações contínuas contribuem para que os docentes delineiem ações que
buscam a resolução dos problemas, assim como, elaborem ou recriem situações de trabalho que
favoreçam as mudanças e melhorias de suas práticas, e principalmente, proporcionar aos
professores reflexões que contribuam para identificar, avaliar e transformar aspectos pessoais e
profissionais.
Numa perspectiva global, a formação contínua visa o desenvolvimento profissional do
professor em seus variados aspectos e caminhos de aprendizagens (Pacheco & Flores, 1999).
Estes autores acrescentam que o percurso de formação compreende os conhecimentos adquiridos
durante a prática profissional e aqueles que surgem a partir de atividades que conduzam na
construção do saber-fazer didático e do ambiente do qual o professor exerce seu trabalho.
Considera-se importante que a realização de frequentes eventos de formação não
significam que possam agregar saldos positivos para os professores e ambientes escolares,
principalmente quando se avalia o comportamento desses durante a práxis e sua socialização com
a comunidade escolar. Nesse sentido, Nóvoa (1992, p. 15) adverte:
Práticas de formação contínua organizadas em torno dos professores individuais podem ser utéis
para a aquisição de conhecimentos e de técnicas, mas favorecem o isolamento e reforçam uma
imagem dos professores como transmissores de um saber produzido no exterior da profissão.
Práticas de formação que tomem como referência as dimensões colectivas contribuem para a
emancipação profissional e para a consolidação de uma profissão que é autonoma na produção
dos seus saberes e dos seus valores.
56
[...] uma finalização mais forte das formações em relação ao seu contexto; investimento
do regional e do local nas decisões sobre a formação; individualização dos percursos de
formação; formação e investigação; desenvolvimento de formação na situação de trabalho;
introdução de novos produtos e de novas tecnologias educativas; integração das
estratégias de aprendizagem na formação (Nóvoa 1992, citado por Pacheco & Flores,
1999, pp. 134-135).
Para que os objetivos da formação contínua sejam alcançados, é fundamental que esta
esteja aliada a critérios intrinsecamente ligados às exigências pessoal, profissional e organizacional
(Pacheco & Flores, 1999). Desta forma, os autores explicitam (Idem, p.132) que esses aspectos
podem ser subentendidos:
A exigência pessoal, relacionada a demanda autodesenvolvimento: “[...] deverá
almejar níveis mais elaborados de autoconhecimento e proporcionar níveis mais
elaborados de conhecimento acerca da realidade” (Idem, p.132);
A profissional busca atender às carências profissionais: “[...] quer individuais
(satisfação profissional, progressão na carreira e valorização curricular, quer de grupo
(sentido de pertença a um grupo profissional, partilhando uma cultura comum) ” (Idem,
p.132);
Servir ao contexto organizacional constituído por demandas concernentes: “[...]
as que reflectem uma adequação às mudanças sociais, económicas e tecnológicas que
se produzem nos dias de hoje e a que o professor terá de dar resposta; as que se orientam
para a melhoria do sistema educativo em geral e as formativas como forma de resposta à
desactualização da formação inicial” (Idem, p.132).
Turatti (2018) salienta que esta etapa de formação se destacou nas últimas décadas em
virtude de seus objetivos estarem relacionados à compensação das necessidades dos professores
e consequentemente das escolas. Para esta autora, essa situação se deu devido aos aspectos
deficitários ocasionados durante a formação inicial dos professores, desse modo para suprir as
lacunas, a formação contínua compreende as ações que estimulam a reflexão dos professores
sobre suas práticas, identificando e melhorando suas deficiências. Complementando esse
raciocínio, Esteves (2014) afirma que os formadores de professores exercem grande influência
sobre o sucesso docente, pois estes devem ser“[...] conscientes do valor socializador da formação
face às dificuldades enfrentadas pelos profissionais, mas também optem por estratégias que
57
permitam dar voz aos professores, fazer destes sujeitos do seu próprio desenvolvimento e co-
responsáveis da formação dos seus colegas” (Idem, p.33).
58
durante o ensino e que causaram preocupação ao aluno futuro professor; Reflexão e interacção
entre os futuros professores; Reinvenção orientada” (Idem, pp. 42-43).
Diante desse entendimento, Korthagen (2009) salienta que o professor necessita
desenvolver competências para direcionar a aprendizagem, estruturando suas experiências e
construindo suas próprias teorias da prática. Sugere que professores e escolas trabalhem de forma
colaborativa e/ou cooperativa visando o desenvolvimento em conjunto. Delineia que os
sentimentos consistem em aspectos inerentes à construção do comportamento docente e discente
no contexto do processo educativo.
Nomeadamente, a formação só representa concepção positiva quando os professores a
reconhece a partir do ponto de vista criativo, crítico e reflexivo. Não se trata de atitude aceitável
quando os professores realizam formações de forma obrigatória e/ou fugindo ao seu contexto de
trabalho e estudo para simplesmente contar pontos para a progressão na carreira, porque a
formação não atende aos objetivos pretendidos (Silva, 2003). Segundo o autor, é um processo
que implica tempo, causa custos e não atende ao juízo real da formação que é o de acrescentar
algo de novo aos conhecimentos e despertar nos professores as mudanças e transformações
necessárias para aperfeiçoamentos de suas práticas.
A formação de professores possibilita que sejam utilizadas estratégias de qualificação e
melhorias as quais ultrapassam a exclusividade da figura docente, isto é, envolve todo o universo
de trabalho em que estar situado o professor (Pacheco & Flores, 1999). Nesse contexto,
Os modelos de formação docente estão atrelados à maneira como esta é concebida e aos objetivos
de que tipo profissional a sociedade quer ter. Pode-se buscar uma formação adaptativa à
sociedade ou que forneça instrumentos para que se possa compreender a sua realidade, os seus
movimentos e desvelar as suas contradições para transformá-la qualitativamente a partir de
mudanças quantitativas (Lagar, 2011, p.2).
Diante dessas reflexões, Pacheco e Flores (1999) delimitam três modelos de formação
contínua de professores, classificando-os da seguinte maneira:
O modelo administrativo ou transmissivo está relacionado à formação realizada em
eventos rápidos, com curto período de tempo, que permitem a participação de um grande número
de pessoas, entre eles, estão: os congressos, seminários, cursos, workshops, dentre outros. Este
modelo é caracterizado como uma formação contínua planejada, tem como principal foco atender
às necessidades das organizações, instituições, órgãos superiores de educação em detrimento
dos anseios pessoais e profissionais dos professores (Pacheco & Flores, 1999). Por outro lado, é
59
considerada uma formação insatisfatória, deficiente, por não conseguir solucionar as demandas
dos professores, até mesmo, por não repassar os conhecimentos e estratégias que contribuam
para a qualidade da práxis docente. Está sujeito a críticas porque no modelo se verifica “ uma
formação colectiva em que o professor é um receptor passivo e uma formação de cariz
administrativo, onde a presença do professor é mais importante que a sua participação” (Idem, p.
133).
Em se tratando do modelo individual, refere-se às reivindicações dos professores no
tocante a uma formação que os guiem às transformações e melhoria das práticas letivas. O modelo
envolve a formação que apresenta duas tendências: a primeira está relacionada à auto formação,
isto é, “cada professor é o sujeito e objecto de formação” (Pacheco & Flores, 1999, p.133). Na
outra perspectiva, a formação é considerada heterogênea, pois “[...] um grupo de professores
elabora projectos formativos, dinamizados por um formador/animador, também ele professor”
(Idem, p. 133).
O último modelo, de colaboração ou parceria e de ligação das escolas de ensino superior,
ou ainda de aprendizagem cooperativa é compreendido pela associação entre os modelos
anteriores, administrativo e individual, conforme Pacheco e Flores (1999, p. 134) demonstram na
figura ?:
Os autores esclarecem que a formação contínua neste modelo está concentrada nos
fatores sociais, isto é, “[...] é uma arena social, com muitos actores envolvidos e cada um deles
com responsabilidades específicas de formação” (Idem, p.134). O modelo também é
caracterizado pela presença dos parâmetros de saberes teóricos interligados com os saberes
práticos. Os autores demonstram a incumbência dos diversos sujeitos que atuam no contexto
60
deste modelo, considerando que os professores necessitam ser os protagonistas devido à
participação e corresponsabilidade no percurso da formação; as instituições de ensino superior
têm o papel e os comprometimentos legal, conceitual e metodológico de planejar a formação
focada na escola, assim como, “ [...] os serviços centrais e/ou regionais do Ministério têm
responsabilidade de determinar os critérios e parâmetros globais de formação contínua” ( Idem,
p.134).
Ferry (1987, citado por Forte, 2005) entende que a formação é vista como parte integrante
do desenvolvimento profissional que permite aos professores aprimorar suas virtudes individuais,
adquirirem e potencializarem as tarefas profissionais. O autor estabelece três modelos de
formação: o modelo centrado nas aquisições, o modelo centrado no processo (ou modelo centrado
na démarche) e o modelo centrado na análise. Segundo Forte (2005, p. 44) os modelos podem
ser explicitados da seguinte forma:
No modelo centrado nas aquisições, a formação orienta-se por uma racionalidade técnica,
reduzindo-se a uma mera aprendizagem e não atende aos saberes experienciais nem aos
contextos de trabalho. Deste modo, a prática é concebida como uma mera aplicação da
teoria/formação. Neste sentido, o formando é considerado como objecto de formação;
No modelo centrado no processo, pretende-se que a formação favoreça aprendizagens
significativas, permitindo a formalização das práticas e potenciando as dimensões formativas
experienciadas no contexto de formação. O formando é considerado como um agente da sua
própria formação;
Por último, no modelo centrado na análise, a formação parte da identificação e análise
das situações profissionais e significativas para os formandos, potenciando a construção de um
projecto de acção adequado ao contexto de trabalho e às possibilidades das situações reais. Neste
modelo existe o confronto entre a formalização da prática e um campo teórico como estratégia,
com o objectivo de construir novos conhecimentos. O formando é, neste sentido, considerado
como observador de situações educativas.
Nessa perspectiva, Imbernón (2016) relata que nas décadas de 1980 e 1990 a formação
de professores passou por modificações em torno do mundo. O autor destaca as transformações
radicais que ocorreram na Espanha no século passado. No que concerne às mudanças nas
Instituições de Educação no país, dentre elas estão a territorialização e a maior participação dos
professores no planejamento e gestão. Neste entendimento, um dos interesses pleiteados está a
resolução das carências presenciadas nas instituições de ensino dos futuros professores no país.
No decorrer dos anos foi organizado um modelo de formação constituído pelo processo a qual se
baseou em planos e ações de formação com cursos e eventos voltados às modificações do ensino
teórico e da prática profissional. A partir daí, observou-se o surgimento dos termos “professor
61
pesquisador e da pesquisa-ação” e, em alguns lugares, foi dado “importância à formação nas
escolas a partir da prática, por exemplo” (Idem, p. 142).
Para o autor, os modelos de formação de professores que vigoraram na Espanha antes
da década de oitenta do século anterior foram conhecidos como modelo individual e o de
treinamento de formação. Estes não favoreciam a aprendizagem significativas dos futuros
professores e eram tidos como deficientes porque a inovação das escolas e professorado não
demonstravam resultados satisfatórios; não atendiam às expectativas dos professores por serem
bastantes padronizados, centralizados e apresentavam engessamento dos formadores no repasse
dos conteúdos, isto é, “baseado nas teorias de especialistas mais aptos a recomendar leituras e
explicar transparências ... que em um conhecimento real da prática da educação (poderíamos
chamá-los de divulgadores conjunturais dos grandes tópicos da profissão ou dos modismos
imperantes)” (Imbernón, 2016, p. 142).
Por outro lado, o novo modelo de formação adotado na Espanha em 1984 não representou
somente aspectos satisfatórios já que expressou pontos positivos e negativos os quais foram
instigadores de críticas. No entanto, Imbernón (2016) esclarece que com as falhas e a superação
dos desafios encontrados foi formatado novo percurso da aprendizagem, satisfatória para o
modelo. Isto se deu devido ao surgimento de questionamentos, das inter-relações entre instituições
de ensino e dos diversos contributos teóricos influenciados pelos países norte-americanos.
Destaca-se que as políticas voltadas à educação e o Modelo de Formação Permanente na Espanha
“necessitavam de uma de uma revisão tranquila e profunda para recompor o que não funcionou
e reestruturar o que funcionou, de acordo com os novos tempos; não precisam ser eliminados, e
sim transformados” (Imbernón, 2016, p. 144).
Seguindo com os entendimentos de Imbernón (2016), o modelo de formação de
professores foi construindo a partir dos acertos e erros, tendo os professores como protagonistas
dessa construção. No entanto certas dificuldades surgiram no transcorrer do decurso até os dias
atuais. Diante disso, persistem vários desafios, dentre eles estão as tentativas de mudar
culturalmente o trabalho dos professores, principalmente aqueles mais antigos. Em contrapartida,
o autor pontua alternativas que buscam desconstruir os costumes profissionais enraizados, apesar
de ser um processo complexo:
Para mudar uma cultura tão arraigada na profissionalização docente, aprendemos que se requer
tempo (o curto prazo não é válido) e uma base sólida (a total incerteza é má conselheira); que
esse processo tem altos e baixos (não é linear e uniforme) e deve se adaptar à e realidade do
62
professorado (contextos, etapas, níveis, disciplinas etc.). Além disso, exige um período experiencial
de apropriação e a integração das próprias vivências pessoais (Imbernón, 2016, pp. 144-145).
Modelo de formação permanente por projetos de inovação: Este modelo ocorre quando
o professorado está envolvimento em tarefas de projetos de inovação com a finalidade
de melhoria da escola e, com tudo isso, procura resolver problemas gerais ou específicos
relacionados com o ensino do instituto educacional. Às vezes, o próprio processo de levar
a termo um desses projetos produz uma aprendizagem que é difícil prever com
antecedência. Este modelo de formação supõe, portanto, uma combinação de formas e
estratégias de aprendizagem que se desenvolvem com a participação dos docentes em
tal processo. Parte da ideia de que as pessoas que estão próximas de seu trabalho têm
uma melhor compreensão do que se requer para melhorá-lo. Se se concede essa
possibilidade aos professores, eles podem desenvolver propostas que melhorem as
escolas e o ensino;
Modelo de formação permanente pela pesquisa reflexiva: este modelo exige que o
professorado identifique uma área de interesse, colete informações e, baseando-se na
interpretação desses dados, realize as mudanças necessárias o ensino. A fundamentação
desse modelo encontra-se na capacidade do professorado de formular questões válidas
sobre sua própria prática e de estabelecer objetivos que tratem de responder a tais
questões. O professorado precisa procurar dados para responder a questões relevantes
e refletir sobre esses dados para obter respostas para o problema do ensino. O
professorado desenvolve novas formas de compreensão quando ele mesmo contribui
para formular suas próprias perguntas e recolhe seus próprios dados para responder a
elas.
63
2.2 DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
64
Jesus e Santos (2004) esclarecem que diversos estudos objetivaram delinear as fases do
desenvolvimento profissional dos professores. Nesse contexto, sinalizam que essas investigações
afirmam que o processo formativo docente tem início antes mesmo de adentrar aos cursos de
licenciatura, já na pré-escola. Os autores explicitam as fases do desenvolvimento profissional
segundo a ótica de estudiosos da área, conforme se verifica no quadro ?
65
2.2.2 FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
66
escolas” (Idem, p.193). Em se tratando das políticas educativas, Marcelo (1999, p. 194) esclarece
ainda:
[...] inclui também aspectos que se referem aos professores como profissionais: salários,
incentivos, autonomia, controlo, rendimento, etc., que influenciam o desenvolvimento profissional,
na medida em que podem funcionar como factores motivantes ou alienantes dos professores em
relação ao seu compromisso profissional. A escolha política de incentivos extrínsecos (aumento
salariais por horas de formação), por oposição e incentivos intrínsecos (mudanças de papeis
profissionais, tempo, autonomia, etc.) influencia os professores quanto à sua implicação ou não
implicação em actividades de formação.
67
contextos onde atuam, consubstanciando‑se numa dimensão sistémica e ecológica” (Idem, p.68).
Afirma ainda que: “ os processos de tomada de decisão e de ação do professor, recaindo em todas
as vertentes da sua vida pessoal e profissional, tendo por isso que ser assumidos como
interdependentes e indissociáveis (Almeida, 2012, 2014, citados por Almeida, 2014, p.68). A
autora (2014, p.68) também elenca que:
68
Dillon-Perterson (1981, in positivo e de apoio, que tem como finalidade última melhorar a
Parker, 1990:3) aprendizagem dos alunos e a auto-renovação contínuae responsável
dos educadores e da escola.
O desenvolvimento profissional converteu-se numa actividade que
Fenstermacher e Berliner inclui muito mais do que um só professor agindo como um
(1985) indivíduo... O desenvolvimento profissional actual é um assunto de
grupos de professores, frequentemente trabalhando com
especialistas, supervisores, administradores, orientadores, pais e
muitas outras pessoas que estão ligadas à escola moderna.
O desenvolvimento de professores está para além de uma etapa
Heidman (1990) informativa; implica a adaptação às mudanças como propósito de
modificar as actividades instrucionais, a mudança de atitudes dos
professores e melhorar o rendimento dos alunos. O desenvolvimento
de professores preocupa-se com as necessidades pessoais,
profissionais e organizacionais.
O desenvolvimento de professores foi definido com maior amplitude
Fullan (1990) ao incluir qualquer atividade ou processo que procure melhorar
competências, atitudes, compreensão ou acção em papéis actuais
ou futuros.
A actividade de formação de professores, que reponde a uma
O’Sullivan (1990) preocupação consciente e institucional, e que procura melhorar a
capacidade dos professores em papéis específicos, em particular em
relação ao ensino.
Sparks e Loucks-Horsley (1990) Define-se como o processo que melhora o conhecimento,
competências ou atitudes dos professores.
Oldroyd e Hall (1991) Implica melhorar a capacidade de controlo sobre as próprias
condições de trabalho, um avanço no estatuto profissional e na
carreira docente.
Ryan (1987, citado em Hickcox Aquelas actividades planificadas para ou pelos professores,
& Musella, 1992) concebidas para os ajudar a planificar mais eficazmente e para
alcançar os objetivos educativos propostos
Fonte: (Marcelo, 1999. pp. 136-138).
69
Noutra vertente, desenvolvimento profissional de professores e formação contínua
erroneamente são tidos como termos que representam o mesmo significado, as mesmas
funcionalidades enquanto processos de formação. No entanto, as expressões apresentam
incumbências diferenciadas pois desenvolvimento profissional engloba as peculiaridades da
própria formação contínua somadas a outros aspectos inerentes (Forte, 2005). A partir dos
argumentos de Corcoran (1995), a autora (2005, p. 33) os analisa demonstrando as
especificidades de cada termo, conforme se verifica:
[…] significados implícitos quanto ao seu conteúdo, à forma, ao local, à iniciativa e ao controlo das
actividades que conotam. Assim, enquanto a expressão formação contínua remete para as
oportunidades formais de aprendizagem profissional promovidas pelas entidades formadoras
competentes, o desenvolvimento profissional constitui um conceito mais abrangente e inclusivo,
incluindo um vasto leque de atividades que afectam o processo de aprender a ensinar e o
crescimento intelectual e profissional dos professores.
Quando se fala em formação contínua não se pode esquecer que a formação inicial é tida
como um dos pilares que guiará os futuros professores ao sucesso profissional. Esta formação
está relacionada a aquisição dos saberes teóricos e práticos que se estenderão no decorrer da
vida profissional. Somados a estes conhecimentos, os professores ampliarão sua missão com
outros que apreenderão e aprenderão no decorrer da trajetória de trabalho considerando o
contexto de suas atividades, adequando-se às práticas, contornando e superando situações e
desafios que irão surgir (Libâneo, 2008). O autor destaca que:
Uma formação permanente, que se prolonga por toda vida, torna-se crucial numa profissão que
lida com a transmissão e internalização e saberes e com a formação humana, numa época em
que se renovam os currículos, introduzem-se novas tecnologias, acentuam-se os problemas sociais
e econômicos, modificam-se os modos de viver e de aprender, reconhece-se a diversidade social
e cultural dos alunos. As escolas passam por inovações estruturais como as formas alternativas
de gestão, a elaboração coletiva do projeto pedagógico-curricular, os ciclos de escolarização, os
currículos interdisciplinares ou globalizados, as práticas interculturais, a avaliação formativa, a
interligação entre a escola e a comunidade, a relação com a vida na cidade e com as mídias (Idem,
pp. 227-228).
70
superando os desafios e se reciclando continuamente. Compreender que a busca do
profissionalismo vai além das ações em sala de aula, é clarificar que os professores têm de
experienciar suas técnicas e práticas, avaliando e reavaliando as atitudes e comportamentos,
julgando que a aprendizagem acontece a todo momento e em vários lugares.
Definir a expressão ser professor se torna uma missão complexa por envolver variados
contextos que precisam ser levados em consideração. Desse modo, é factual conceber que os
professores não estão sujeitos e preocupados somente com a construção, transmissão dos
conhecimentos e com a aprendizagem de seus alunos. No transcorrer do processo educativo
estarão vulneráveis, precisando enfrentar as situações inesperadas que surgem. Nesse sentido,
os professores necessitam estar preparados profissional e emocionalmente. Para que isso
aconteça, o estudo e o desenvolvimento de habilidades possibilitam que os professores exerçam
seu trabalho com competência e êxito naquilo que se propõe a fazer. Parafraseando
Kelchtermans (2009), a vulnerabilidade dos professores permite que os tornem reflexivos,
enquanto dá suporte para a construção da identidade profissional.
O autor salienta que o professor é preparado para ser o centro do processo educativo.
Formosinho (2009) afirma que perante a um discurso normativo e presente na escola com
heterogeneidade contextual (escolas de massas), o professor é praticamente obrigado a apresentar
certas qualidades inerentes: psicologicamente maduro, pedagogicamente formado, instrutor e
facilitador da aprendizagem; expositor e o individualizador do ensino, etc., caracteriza-o como um
“superprofessor”.
Pacheco e Flores (1999) esclarecem que a construção do professor envolve um percurso
complexo, não estático, que se aprimora no decorrer do tempo com as diversas aprendizagens e
experiências, isto é, “envolve um processo de transformação e reconstrução permanente de
estruturas complexas, resultante de um leque diversificado de variáveis ... seu percurso formativo
inclua processos de aprendizagem contínua, de caráter formal e não formal” (Idem, p.45). Nesse
entendimento, os autores considerando as reflexões de Caldeirada e Shorrock (1997) demonstram
que:
71
Assim sendo, destaca-se que para os professores adquirirem as habilidades de ensino,
devem dá atenção aos contextos formativo, de atuação, aos aspectos pessoais e considerar outros
fatores que influenciam o desenvolvimento profissional. Todos os percursos que levam à
construção da aprendizagem docente necessitam de uma compreensão que pode ser explicada
por esses “quatro componentes processuais, a saber: a metacognição, a descontinuidade, a
individualização e a socialização” (Pacheco & Flores,1999, p.46).
No que tange à metacognição, para o indivíduo desenvolver-se como professor terá de
estar disposto a passar por complexas transformações ao longo do processo formativo, dentre elas
estão as de ordem cognitivas, afetivas e de comportamento. Baseados nos argumentos de outros
estudiosos, Pacheco e Flores (1999) demonstram que para aprender a ensinar é necessário que:
O professor deverá interligar a teoria à prática; conhecer a si, seu alunado, o conteúdo e
contexto de atuação (Schawb, 1969);
O conhecimento docente é resultante da associação entre a profissionalização e os
saberes contextuais (Webb & Blond, 1995);
No campo de trabalho os professores tendem a seguir a metodologia teórica aprendida
na instituição de ensino, existindo dessa forma, a preocupação com a necessidade do
saber-fazer no contexto prático, pois “[...] não é estranho que ¾ dos professores
consideram que a formação inicial que receberam não lhes serviu pra nada (Gimeno,
1988, citado por Pacheco & Flores,1999, p.47).
72
Na óptica do processo individualizado, aprender a ensinar está intrinsecamente ligado à
personalidade do indivíduo; um ato pouco problemático em virtude da formação ser caracterizada
como uma conduta vocacional e de intuição; ação compreendida também pelas crenças,
comportamentos, experiências anteriores, motivações e perspectivas (Pacheco & Flores, 1999).
Considerando as percepções de Sprinthall e Thies-Sprinthall (1993), os mesmos autores
salientam que a individualização é concebida pela teoria cognitivo-desenvolvimentalista por tratar
o docente como um adulto que está sempre aprendendo. Nessa linha de pensamento, aprender
a ensinar se refere a um percurso passível de “mudanças cognitivas, na medida em que a altos
níveis de desenvolvimento psicológico se associa uma maior complexidade e habilidade do
professor para resolver adequadamente os problemas, o que lhe confere maior segurança e uma
imagem positiva de si mesmo” (Pacheco & Flores,1999, p.49).
Aprender a ensinar como integrante de um processo de socialização, acontece em
diversas escalas e sofre interferências dos variados contextos, estes potencializam a construção
da identidade profissional. Apresenta como peculiaridades o envolvimento de tarefas, situações
comuns, surgimento de constrangimentos intrínsecos aos professores (Pacheco & Flores,1999).
No entanto, essas ocorrências manifestam as qualidades relevantes para a construção do
professor, como: interesses; compartilhamento das experiências e dos obstáculos cotidianos;
inclusive o de olhar e entender o mundo com outros olhos (Lacey, 1977; Dubar, 1997, citado por
Pacheco & Flores, 1999). Por outro lado, se não houver alinhamento na partilha da cultura de
ensino entre os professores, não presenciar-se-á a socialização homogênea nem padronizada.
Nessa perspectiva, Pacheco e Flores (1999, pp. 50-51) formatam o estudo bibliográfico referente
aos modelos de socialização, reportando aos seguintes autores, conforme quadro ?
73
decisiva na socialização do professor. Como referem
Clark & Peterson (1986)- que Jordell segue para modelar
a socialização a este nível- a actividade do professor
ocorre num contexto de oportunidades e
constrangimentos, determinados pelas características
dos alunos e pelas condições de funcionamento das
turmas. Aprender a ensinar, nesta perspectiva, envolve
aprender a textura da aula e o conjunto de
comportamentos congruentes com as solicitações
sociais desses lugares (Zeichner & Tabachnik, 1987) .
3) Institucional/escolar: fora da sala de aula, o professor
recebe influências pessoais (dos restantes professores,
dos elementos da gestão da escola, dos encarregados
de educação) e influências das estruturas
administrativas e curriculares, das opções políticas, dos
fins educativos, das funções e finalidades escolares.
Contrariando a crença de que a maior influência na
socialização do professor advém dos alunos, Jordell
(1987) afirma que são as condições de trabalho que
mais o socializam, reiterando o contexto da sala de aula
como o mais determinante e a estrutura escolar como
definidora e reguladora de comportamentos de
professores e alunos. Ao nível da interacção, as escolas,
enquanto lugares de trabalho, têm uma cultura própria
que, apesar de heterogênea e dispersa, influencia e
enquadra a acção do professor.
4) Social: observam-se influências indirectas e implícitas
que também socializam o professor, por exemplo, a
estrutura econômica, social e política em que a escola
se enquadra. Zeichner & Tabachnik (1987) consideram
os aspectos ideológicos da escola e da sociedade como
factores marcadamente socializadores dos professores.
Abordam os fatores de socialização distinguindo dois
momentos principais: a socialização prévia e a socialização em
serviço. Na primeira, distinguem factores como a pré disposição dos
alunos, o papel das tendências pedagógicas espontâneas, a
Zeichner e Gore (1990) orientação psicoanalítica e a experiência de aluno. Na segunda focam
alguns factores gerais: a educação geral, a especialização acadêmica,
a formação recebida e as influências do currículo oculto dos
programas de formação; os métodos geralmente utilizados na
disciplina e as experiências lectivas do professor.
Fonte: Pacheco e Flores (1999).
Day (2012) destaca que as investigações sobre a vida, tempo de serviço e o trabalho dos
professores mostraram resultados eficazes nos rendimentos profissionais e na valorização desses
profissionais. O autor explicita que dentre os fatores que contribuem para a satisfação pessoal e
profissional estão as percepções: do progresso dos alunos e; a auto referência como pessoa e
profissional. Somadas a tais, estão os aspectos que interferem na qualidade, retenção na profissão
e reconhecimento: “valores, liderança democrática, colegialidade, aprendizado profissional,
74
aprendizado comunidades e formas de liderança e confiança distribuídas” (Idem, p. 11) (traduzido
pelo autor). Levanta a seguinte observação:
A literatura sobre liderança nos diz muito sobre ambientes escolares em que os professores
florescem e em que provavelmente sustenta o compromisso e a competência, uma sensação de
bem-estar e positiva identidade profissional; e professores ao longo dos anos são consistentes em
nos dizer que onde eles experimentam suporte sustentado, tanto pessoalmente como
profissionalmente dentro do local de trabalho, eles são capazes não apenas de lidar, mas também
de maneira positiva gerenciar circunstâncias adversas - em outras palavras, para ser resiliente.
(Idem, p. 11, traduzido pelo autor).
75
aos colegas pois partilhar as dificuldades, sejam pessoais ou profissionais, fortalece os laços, os
valores, melhoram as atitudes, tomadas de decisões, outras.
Retomando às explanações de Kelchtermans (2009), o autor admite que a reflexão tende
a ser caracterizada como a habilidade que permite aos professores reavaliar suas crenças e
representações tendo em vista as particularidades pessoais e do ensino. Destaca que a construção
da identidade dos professores tem de partir das percepções dos próprios docentes e reconhecer
a relevância de suas ações no processo educativo, pois “[...] interessa saber não só aos próprios
professores, como também aos seus alunos, saber quem são e o que são” (Idem, p.71). Explicita
que para os professores alcancem o sentido de Self ou Identidade, é necessário realizar um estudo
narrativo-biográfico. Este possibilita que analisem sua aprendizagem profissional e o modo como
foi dado o desenvolvimento dessa formação. Considera ainda que:
As narrativas dos professores sobre suas próprias experiências não fornecem apenas informações
acerca do que pensam sobre si próprios. Eles constroem essa autocompreensão de uma forma
interactiva, ao mesmo tempo que convidam (implícita ou explicitamente) a “audiência” a
reconhecer, confirmar ou questionar e contradizer o que dizem. As narrativas que revelam a
autocompreensão de si próprio são momentos de dar sentido às coisas de forma interactiva. Uma
vez que a questão em causa não é uma declaração neutra mas inclui o Self, bem como as opções
morais e as emoções, as narrativas implicam sempre alguma negociação (como se estivessem à
procura de reconhecimento) (Kelchtermans, 2009, p.75).
76
fato deste produto ser resultado de um processo continuo de dar às suas experiências a ao impacto
do Self ou “identidade”” (Idem, p.73). Desse modo, o desenvolvimento da autocompreensão é
resultante dos contextos, dos conhecimentos prático, individual e/ou coletivo. Em seu estudo, o
autor (2009, pp.74-75) identifica cinco componentes que as caracterizam:
77
Figura? - Modelo da cebola: Um modelo de níveis na reflexão (Korthagen, 2009, p. 54).
78
2.5 ESTUDOS SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Em seu estudo realizado com professores dos primeiros ciclos de ensino em Timor Leste,
Freitas (2014) almejou construir uma proposta de currículo de formação contínua. A investigação
partiu para a construção de alternativas que objetivaram qualificar e despertar nos professores
suas competências de criatividade e inovação. A autora salienta que existiram diversos fatores
limitantes na sua pesquisa, mas conclui que para alcançar transformações expressivas no trabalho
docente é necessário:
79
Maiato (2014) levanta questões preocupantes a respeito dos formadores de professores.
Segundo a autora, estes não são assíduos nos cursos e não dominam os conteúdos que se
propõem a repassar aos professores, por essa razão, as formações são de baixa qualidade.
Salienta ainda que a formação contínua é prioridade para os professores menos experientes;
precisa-se de mais investimentos na qualidade dos formadores; que a formação seja centrada na
escola e com maior tempo de duração. Por fim, esclarece que as ações formativas sejam voltadas
às áreas de conhecimento dos professores, atendendo desta forma, aos interesses, motivações e
expectativas dos mesmos.
Nascimento (2015) concentrou-se na investigação que relaciona a contribuição da
formação contínua para a profissionalidade dos professores. De acordo com suas considerações,
a autora explicita que os conhecimentos adquiridos durante os cursos de formação contínua são
importantes para os professores no sentido: de estes sobressaírem de determinadas situações em
que estão relacionadas a temáticas atuais; atualizarem e se valorizarem como profissionais;
trabalharem em colaboração; partilharem e trocarem ideias de forma cooperativa nos contextos
escolares; superação das dificuldades enfrentadas dentro da sala de aula; implementação de
novas estratégias durante as práticas, assim como a formação contínua exercer a função de
agregar mais conhecimentos e melhorar a prática pedagógica. Em seu estudo, Nascimento (2015)
esclarece que os professores demandam por formações que enfatizam os conhecimentos
científicos e pedagógicos; funcionamento e estrutura escolar, como também preocupação com as
dimensões sociais, institucionais e políticas.
No estudo realizado no ano de 2018 e coincidente com a mesma localidade do estudo de
Maiato, Quintas (2018) buscou compreender as influências das reformas curriculares de Angola
nas práticas pedagógicas dos professores, tendo a formação contínua como pressuposto de
melhoria das práticas docentes. O autor encontrou uma série de obstáculos que impediram as
transformações dos trabalhos docentes. A crise econômica no país por exemplo, representou um
fator contrário ao processo de formação dos professores. No entanto, nas suas considerações
finais, nota-se incoerência dos resultados coletados. Os professores consideraram, segundo
Quintas (2018), que um dos obstáculos às mudanças curriculares seria a deficiência de formação,
ao mesmo tempo, tendo a maioria dos professores sinalizado que as ações formativas foram
significativas para exercer suas atividades com qualidade. O autor chegou à conclusão de que os
professores não conseguiram alterar suas práticas que continuaram de forma tradicional, isto é,
as formações contínuas não tiveram o efeito esperado.
80
Diante do exposto, verifica-se que o processo de formação de professores acompanha as
épocas e mudanças sociais, objetiva a aquisição e a construção de competências sejam
profissionais, pessoais e interpessoais. O processo formativo se inicia quando o futuro docente
adentra nos primeiros anos escolares, observando e se espelhando em alguns de seus
professores. Durante a licenciatura, partem para um processo que visa preparar, profissionalizar
e os socializar. Destaca-se que frequentemente o ambiente de aprendizagem desses professores
pode ser em instituições de ensino superior ou nas próprias escolas que irão exercer as atividades.
Salienta-se que durante todo esse processo e carreira, os professores estão sujeitos a deficiências
e problemas ocasionados pelas metodologias tradicionais e/ou crenças implícitas. Em alguns
países existe a indução docente, etapa entre a formação inicial e a carreira docente que busca
sanar algumas dessas deficiências. Neste contexto, o professor iniciante exerce as atividades
didáticas, pedagógicas e científicas geralmente auxiliado por um professor titular (mentor) durante
o primeiro ano do programa, tendo apoio e avaliação a fim de o tornar mais seguro. Observou-se
também que o desenvolvimento profissional é mais eficiente, quando os professores e escolas
trabalham de forma colaborativa e/ou cooperativa. Noutra perspectiva, a formação só representa
concepção positiva quando os professores a reconhece a partir do ponto de vista criativo, crítico e
reflexivo. Por fim foi demonstrado que a construção do professor envolve um percurso complexo,
não estático do qual se aprimora no decorrer do tempo com a aquisição as diversas aprendizagens
e experiências, tendo em vista que a formação contínua contribui para tais sucessos e construção
da identidade profissional. Advoga ainda da importância da reflexão sobre os processos decisórios
no ensino, pois a concepção de um professor reflexivo tende a ser caracterizada como a habilidade
que permite-lhes reavaliar suas crenças e representações tendo em vista as particularidades
pessoais e do ensino.
81
3. METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO
Esta investigação analisa o contributo da formação contínua para a mudança das práticas
e para o seu desenvolvimento profissional dos professores. No que se refere à formação contínua,
Forte (2005, p. 105) explica que é “entendida como um acontecimento planeado, um conjunto de
eventos ou um programa amplo de aprendizagens acreditadas e não acreditadas”. Acrescidos aos
questionamentos concernentes à formação contínua, a pesquisa alarga-se para compreensões
que exploram: o percurso formativo, o contexto de trabalho e as perspectivas dos professores
quanto à profisssão docente.
Nesse enquadramento, a forma como os professores aprendem e desenvolvem suas
competências é considerada como um processo organizado e constituído por “fases claramente
diferenciadas pelo seu conteúdo curricular, deverá manter alguns princípios éticos, didácticos e
pedagógicos comuns (Marcelo,1999, p.27). Ribeiro (2018), tomando como referência os estudos
de Flores et al (2009), elucida que o desenvolvimento profissional dos professores é significante,
consegue trazer mudanças, quando os docentes se reconhecem como apredentes e práticos
reflexivos, consigo e com os demais, em toda a carreira. Nesse entendimento, Flores (2003, citado
por Forte, 2005, p. 105), esclarece que a aprendizagem docente e suas interferências se tratam
de:
Uma questão central quando se pretende (re)pensar a sua formação, numa óptica de
desenvolvimento profissional”. Por outro lado, a autora acrescenta que “é também fundamental
conhecer a(s) suas perspectiva(s) de formação e de desenvolvimento profissional, bem como a(s)
forma(s) como pensam o ensino e como se vêem a si próprios enquanto professores, em suma,
como encaram o (seu)profissionalismo docente e a sua identidade profissional.
82
Em se tratando dos sujeitos de estudo, os participantes são professores do ensino técnico
integrado ao ensino médio de uma instituição pública federal, um Instituto Federal de Educação.
Trata-se de uma Instituição Federal de Educação Superior, Básica e Profissional, pluricurricular e
multicampi, que oferta educação profissional e tecnológica em suas diversas modalidades de
ensino e atua em todas as regiões de um estado, atendendo a mais de 28 mil alunos (PNP, 2018).
De acordo com a Lei n. 9.394 (1996), o ensino técnico integrado ao ensino médio
representa uma das formas da modalidade de Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Esta
compreende a última etapa da educação básica, o ensino médio, atendendo a formação geral e
preparando o educando para o exercício de profissões técnicas, conforme se verifica no Art. 36-C,
parágrafo I: “Integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo
o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio,
na mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula única para cada aluno” (Lei n.
9.394,1996).
É interessante destacar que não existe a obrigatoriedade dos professores do IFCE
realizarem cursos de formação contínua para a ascensão na carreira ou atender a outras normas
institucionais. No entanto, é relevante conhecer se os professores frequentam ações de formação
contínua e, em caso afirmativo, se essa formação contribui para o seu desenvolvimento
profissional e para a mudança das suas práticas curriculares. A partir dos resultados encontrados
nesta investigação agregar-se-ão mais elementos qualitativos às pesquisas acadêmicas. Será mais
uma fonte de futuras contribuições teóricas, como também poderá surgir interesse, por parte dos
próprios professores e dos gestores da Instituição, em ofertar formações que priorizem a área de
conhecimento dos docentes, com vista à melhoria da qualidade do processo de ensino-
aprendizagem.
Tendo em vista que a formação contínua deve contribuir para as reflexões dos docentes
sobre suas ações e desenvolvimento profissional, a problemática que norteia a dissertação é a
seguinte: Em que medida a formação contínua contribui para a mudança das práticas curriculares
dos professores?
Assim, os objetivos que permitirão responder a esta questão são:
83
a) Identificar a frequência da participação dos docentes em ações de formação contínua;
b) Compreender as experiências que os professores têm a respeito da formação
contínua;
c) Compreender o contributo da formação contínua para o desenvolvimento profissional
dos docentes e para a mudança das suas práticas;
d) Analisar expectativas e necessidades de formação.
Enquanto estudos quantitativos geralmente procuram seguir com rigor um plano previamente
estabelecido (baseado em hipóteses claramente indicadas e variáveis que são objetos de definição
operacional), a pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao longo de seu desenvolvimento;
além disso, não emprega instrumental estatístico para análise dos dados; seu foco de interesse é
amplo e parte de uma perspectiva diferenciada da adotada pelos métodos quantitativos. Dela faz
parte a obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a
situação objeto de estudo (Neves, 1996, p.1).
84
sobre o que foi pesquisado, como e que enfoque foi tratado e apresentado à literatura científica.
Para Lakatos e Marconi (2003, p. 159):
A investigação preliminar - estudos exploratórios - deve ser realizada através de dois aspectos:
documentos e contatos diretos. Os principais tipos de documentos são: a) Fontes Primárias - dados
históricos, bibliográficos e estatísticos; informações, pesquisas e material cartográfico; arquivos
oficiais e particulares; registros em geral; documentação pessoal (diários, memórias,
autobiografias); correspondência pública ou privada etc. b) Fontes Secundárias - imprensa em
geral e obras literárias. Os contatos diretos, pesquisa de campo ou de laboratório são realizados
com pessoas que podem fornecer dados ou sugerir possíveis fontes de informações úteis.
Nesse contexto, esta investigação se trata de uma pesquisa com abordagem qualitativa e
do tipo exploratório pois visa compreender a importância da formação contínua para a mudança
das práticas docentes, e consequentemente, para a melhoria da aprendizagem dos alunos e
qualidade do ensino através da percepção narrada pelos professores do IFCE. Os fatos serão
analisados sem serem manipulados ou interferidos. Para composição do embasamento teórico,
será realizado o fichamento bibliográfico das obras consultadas. Os professores entrevistados
fornecerão as informações necessárias para se compreender a questão em estudo e formulação
das considerações finais da investigação.
Lakatos e Marconi (2003, p. 86) salientam que “indução é um processo mental por
intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma
verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas”. Nesse sentido, este estudo se
trata de uma análise qualitativa indutiva e a técnica de recolha de dados se dará através da
entrevista.
As entrevistas serão aplicadas de forma presencial e individual aos professores de dois
cursos técnicos integrados ao ensino médio do IFCE e enquadram-se no tipo semiestruturada. As
entrevistas semiestruturadas “[...] garantem uma confortável margem de liberdade aos inquiridos
e permitem abordar assuntos de seu interesse, sem deixar de respeitar os seus quadros de
referência” (Morgado, 2012, p. 74). Desse modo, a técnica por entrevista tem o objetivo de obter
informações que visam explorar fatos e/ou explicar motivos (Lakatos & Marconi, 2003). Será
apresentado aos entrevistados o termo de consentimento e, como auxílio, a utilização de um
gravador. Para complementação das respostas e/ou pela eficiência na logística, parte das
perguntas poderá ser respondida via e-mail.
85
Os professores que constituirão o corpo de entrevistados serão identificados junto às
coordenações dos cursos. Os mesmos serão contactados por via telefone, e-mail, outras formas.
O número de professores entrevistados será constituído por voluntários e composto por uma
quantidade considerada relevante para validar a investigação.
No que tange à análise dos dados, utilizar-se-á a metodologia de análise de conteúdo. “ A
metodologia de análise de conteúdo se destina a classificar e categorizar qualquer tipo de
conteúdo, reduzindo suas características a elementos-chave, de modo com que sejam
comparáveis a uma série de outros elementos (Carlomagno & Rocha, 2016, p 175).
As categorias serão subdivididas pelos elementos que apresentarão características
comuns ou que tenham relação entre si. Decorrerão a posteriori em virtude de serem definidas
após a coleta dos dados, estarão dispostas por meio de grelhas e apresentarão as seguintes
características:
Por fim, após a recolha e análise dos dados e de acordo com os entendimentos de Moraes
(1999), para cada uma das categorias será produzido um texto síntese que apresentará os
significados, e a partir daí, formular-se-á a compreensão dos resultados e as conclusões da
investigação.
86
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