Inês de Castro
Inês de Castro
Inês de Castro
O Infante D. Pedro (1230-1367) era casado com D. Constança, mantendo, no entanto, uma ilícita
relação amorosa com D. Inês, de quem tinha três filhos. Dada a ascendência castelhana de D.
Inês, o Rei D. Afonso IV e os seus conselheiros viam, nesta relação, um potencial perigo para a independência nacional.
Inicialmente, o rei D. Afonso IV tentou pôr fim a tal relação, expulsando D. Inês de Castro do reino. Esta, no entanto na fronteira espanhola,
continuando a manter contacto com D. Pedro. A situação agravou-se quando D. Constança morreu. D. Pedro, agora viúvo, fez regressar D.
Inês à corte, contra ordem expressa de seu pai, D. Afonso IV.
O Rei Afonso IV temendo pela sucessão do trono que seria seu neto, filho de Constança e pela influência dos nobres que temiam uma
influência castelhana, tenta resgatar o filho e conduzi-lo a um casamento que obedecesse não aos caprichos de cupido, mas às conveniências
políticas de Portugal. Para isso, vendo como única saída, o Rei manda vir Inês para que seja executada. Aproveitando a ausência de D. Pedro
numa caçada, D. Inês foi morta pelos conselheiros (Diogo Lopes Pacheco, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves), por ordem do Monarca.
Mais tarde, quando D. Pedro I subiu ao trono, mandou matar aqueles conselheiros, vingando a morte de D. Inês, executando de modo cruel os
ex-conselheiros do seu pai, na altura refugiados em Espanha. Diz a lenda que retirou o coração, a um, pelas costas, a outro, pelo peito. O
terceiro conseguiu refugiar-se em Castela. Reza, ainda, a lenda que D. Pedro coroou D. Inês rainha depois de morta.
A reabilitação da figura de D. Inês completou-se com a transferência do seu cadáver, de Coimbra para o mosteiro de Alcobaça, numa
cerimónia que se revestiu de uma imponência nunca presenciada em Portugal.
A trágica história de D. Pedro e D. Inês inspirou poetas, dramaturgos, compositores e artistas plásticos, em Portugal e no estrangeiro. Camões
foi um dos escritores a celebrar a lenda, referida em Os Lusíadas.
Vocabulário
Breve Introdução (est.118, 119)
. Afonso - Rei D. Afonso IV
. longrar - gozar
. mesquinha - inocente
. molesta - lastimosa
. aras - altares
Amor despreocupado de Inês (est.120, 121)
. engano - ilusão
. Fortuna - sorte
. nome - de D. Pedro
Amor de D. Pedro e reação de D. Afonso IV (est. 122, 123)
. tálamos - leitos, núpcias
. enjeita - rejeita
. namoradas estranhezas- loucuras da paixão
. sesudo - prudente
. furor - loucura
. furor Mauro - sanha bélica
Inês é levada ao rei (est. 124, 125)
. algozes - partidários da morte de D. Inês
. mininos - filhos de Inês e D. Pedro
Discurso de Inês perante o rei (est. 126 a 129)
. mente - instinto
. Natura - Natureza
. Nino - Semíramis, rainha da Assíria, cuja mãe a abandonou num monte, tendo sido alimentada por pombas
. irmãos - Rómulo e Remo, alimentados por uma loba
. escura - horrível
. erro - delito, falta
. Cítia - região gélida
. Líbia - região muito quente
. feridade - ferocidade
. intrínseco - profundo, íntimo
. Estas relíquias suas - os filhos
. refrigério - alívio, consolo
Morte de Inês (est. 131, 132)
. Polycena - filha de Príamo, rei de Tróia, e de Hécuba. Foi imolada por Pirro, sobre o túmulo de Aquiles, pai de Pirro.
. Pirro - filho de Aquilies, o herói da Ilíada
. obras - seios
. brancas flores - pele do colo de alabastro
Reações da Natureza e das pessoas à morte de Inês (est. 133, 135)
. seva mesa - cruel banquente
. Tiestes - filho de Pélope e irmão de Atreu, cuja esposa seduziu
.Atreu - irmão de Tiestes, a quem deu a comer, durante um banquete, a carne dos filhos nascidos da ligação dele com a sua esposa
. lacivas - travessas
. capela - grinalda
. filhas do Mondego - ninfas de rio ou mulheres de Coimbra
. fonte - na Quinta das Lágrimas
. Amores - a Fonte dos Amores
A vingança de D. Pedro (est. 136, 137)
. Pedro - D. Pedro I, de Portugal
. Do outro Pedro cruíssimo os alcança os alcança - D. Pedro I de Castela entregou a D. Pedro I de Portugal dois dos homicidas de Inês de
Castro que se tinham refugiado em Espanha.
. concerto - acordo, pacto
. Que com Lépido e António fez Augusto - Camões compara o contrato feito entre os dois Pedros com o feito entre os três triúnviros.
.Este - D. Pedro I
. refrigérios - passatempos
Estrutura
Est. Resumo Interpretação
interna
O poeta depois de ter cantado a bravura de D.
Afonso IV na vitória de Salado, volta-se para
Conclusão do episódio da Batalha do um caso com carga socio trágica de um amor
118 Salado e introdução do episódio de Inês infeliz da "misera e mesquinha / que despois
de Castro. de morta foi rainha". É após esta referência
histórica que é "desenterrado" o caso "triste e
Exposição: dino" de D. Inês. de Castro.
122 (vv. Amor de D. Pedro Pedro recusa-se a casar com outras belas
1-4) senhoras e princesas porque o seu amor por
Inês fá-lo desprezar os outros. Vendo esta
conduta apaixonada e estranha, o pai, D.
Afonso IV, considerando o murmurar do povo
e a atitude do filho que não se queria casar...
... decide a morte de Inês para desse modo
libertar o filho, preso pelo amor, julgando que
. 122 (vv. Reação de D. Afonso IV (note-se a o sangue de uma morte infamante apagasse o
5-8) e influência do povo - 122, e a pergunta de fogo desse amor. Que loucura foi essa, que
123 retórica do poeta - 123, vv. 5-8) permitiu que a mesma espada que combateu
os Mouros se levante contra uma dama
delicada?
. 126 a Discurso de Inês perante o rei. 126- Se até os animais ferozes, que a natureza fez
129 referência à piedade que animais cruéis, e nas aves selvagens que só pensam
selvagens já demonstraram com seres em caçar, vimos haver piedade para com
humanos 127- Inês pede ao rei que tenha crianças pequenas como aconteceu com a
o mesmo sentimento pelos seus filhos mãe de Nino e com Rómulo e Remo, ... tu que
(netos dele) 128- 1ª- apelo à capacidade és humano (se é humano matar uma donzela
do rei de perdoar 128 (2ª) e129- fraca e sem força, só por amar quem a ama),
alternativa à morte de Inês tem em consideração estas criancinhas.
Decide compaixão delas e minha pois não te
impressiona a minha inocência. E se na
guerra contra os Mouros mostraste saber dar
a morte, sabe, agora, dar a vida a quem não
cometeu nenhum erro para a perder. Mas
mesmo assim se achas que a minha
inocência merece castigo, desterra-me para a
fria Cítia ou a Líbia ardente onde viverei em
sofrimento para sempre. Manda-me para onde
haja tigres e leões (animais selvagens) e verei
se encontro entre eles a piedade que não
encontrei entre humanos; e aí criarei estas
criancinhas, a minha única consolação, a
pensar em Pedro que amo.
131 - 132 Morte de Inês comparada à de Policena Do mesmo modo que Pirro prepara o ferro
para matar a jovem Policena, que se oferece
ao sacrifício, com os olhos postos em sua
mãe, de quem era a sua única
consolação... ... assim os algozes de Inês,
sem se preocuparem com a vingança de D.
Pedro, se encarniçavam contra ela, espetando
as espadas no colo de alabastro, que sustinha
as obras que fizeram Pedro apaixonar-se por
ela, e banhando em sangue o colo de
alabastro já regado com lágrimas suas.
Análise da obra
Tipologia do episódio: Lírico
Plano narrativo em que se insere o episódio: plano da história de Portugal
Narrador: Vasco da Gama
Contextualização: Vasco da Gama conta a história de Portugal ao rei de Melinde
Características das personagens (Inês de Castro e D. Afonso IV) : modeladas ou dinâmicas
Características da tragédia clássica que se encontram presentes no episódio:
. Estrutura interna (exposição, conflito e desenlace)
. Lei das três unidades -(ação - morte de Inês; tempo - menos de um dia e espaço - Coimbra)
. Sentimentos trágicos (terror e piedade)
. Presença dos destino que se verifica ao longo da peça.
. Coro (que neste caso são as considerações do poeta)
. Catástrofe – (morte de Inês)
Caraterização de Inês
Física Psicológica Estrofe
Jovem: "De teus anos colhendo doce fruito." Triste e suplicante 124, v. 5
Personificação - atribuição de características Tu, só tu, puro Amo r(est. 119, v1) Realçar o significado de amor.
humanas, a animais, coisas ou ideias
Que do sepulcro os homens desenterra (est. Dar-nos uma ideia mais clara da
Hipérbole – exagero de uma expressão
118 v. 6) realidade.
Perífrase - Uso de um número de palavras maior As obras com que Amor matou de amores
Tudo isto para nos dizer que era
do que o necessário para exprimir determinada Aquele que despois a fez Rainha (est.132,
D. Pedro.
ideia. v3-4)