João Rocha - Freio A Disco Elétricos para Veículos - TCC
João Rocha - Freio A Disco Elétricos para Veículos - TCC
João Rocha - Freio A Disco Elétricos para Veículos - TCC
Florianópolis – SC
06/2023
JOÃO BÜCHLER ROCHA
Florianópolis – SC
06/2023
AGRADECIMENTOS
Do início da minha jornada acadêmica até o dia de hoje, são incontáveis as conquistas
e aprendizados com os quais tive a sorte de ser abençoado; imensuráveis os impactos que todas
minhas experiências e vivências tiveram e continuam a ter sobre minha pessoa. Nunca me
esqueço disso e, da mesma maneira, sempre lembro de todos que me ajudaram e acompanharam
durante os últimos anos, plenamente consciente de que, se não fosse por eles e suas gigantescas
contribuições, eu seria uma pessoa muito menor do que sou hoje.
Dessa maneira, agradeço aos meus colegas, cuja parceria foi essencial em momentos
difíceis e cujas amizades levarei para a vida; aos meus professores, cada um deles um
verdadeiro maestro em suas respectivas áreas de conhecimento, conduzindo e regando o nosso
caminho de aprendizado de perto, de forma íntima e pessoal; a todos os outros que, apesar de
não serem colegas ou professores meus, se esforçaram para me ajudar e também contribuíram
para minha formação.
Por fim, e provavelmente mais importante, devo o maior dos agradecimentos a minha
família e em especial ao meu pai. Estiveram comigo desde o início de minha jornada como
pessoa, me apoiando e incentivando incessantemente, servindo sempre de referência e
inspiração para mim. Dedico assim, este trabalho à minha mãe, minha referência de disciplina
e personificação do logos; e ao meu pai, que sempre foi muito, mas muito mais do que ‘só’ pai,
me ensinando que com dedicação e perseverança se supera qualquer obstáculo.
RESUMO
Este trabalho aborda o desenvolvimento de um protótipo de sistema de freios elétrico para
veículos automotivos, visando substituir o sistema tradicional hidráulico por um sistema
puramente eletromecânico. O estudo inclui revisão das tecnologias de freios em automóveis,
componentes eletrônicos e de controle, e unidades de processamento de dados. A seleção e
desenvolvimento de componentes específicos são detalhados. Os testes realizados no protótipo
mostraram resultados confiáveis em relação ao torque de frenagem, taxa de aplicação de força
nas pastilhas, linearidade na resposta e precisão do sistema. O sistema de freios
eletroeletrônicos desenvolvido mostrou-se compacto, adaptável e com resposta linear. No final
são apresentadas algumas sugestões de melhorias e aprimoramentos futuros baseado nos
resultados observados. O trabalho contribui para o desenvolvimento de um sistema de freios
elétricos acessível e com menor impacto ambiental.
Keywords: Electric braking system, disc brakes, prototype development, prototype testing
SUMÁRIO
8 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 78
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 83
ANEXOS .................................................................................................................................87
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 2: Aperto nas pastilhas para valores de entrada variados no pedal …………. 77
LISTA DE TABELAS
Figura 3.7: Sensor Reed usado para medir a frequência de rotações de um movimento
circular ....................................................................................................................................27
Figura 3.10: Sensor ultrassônico simples (esquerda) e sua amplitude de detecção (centro),
sensor ultrassônico industrial (direita) ................................................................................ 29
Figura 4.1 - Valor agregado proporcionado pelo Proteus em uma produção .................. 48
Figura 5.2: Sinal de saída do sensor de efeito Hall de acordo com sinal de entrada ........ 53
Figura 5.3: Sensor Hall sendo utilizado para medir velocidade de rotação ..................... 53
Figura 6.15: Célula de carga situada entre fuso interno e pastilha ................................... 70
12
1.2 TEMA
13
considerando integrar as tecnologias novas que surgiram depois dos freios a disco e tambor.
Além disso, pode-se notar um aumento significativo na demanda por veículos elétricos e
sustentáveis para o meio ambiente, e estes frequentemente têm demanda por freios que também
sejam elétricos.
Vale notar que, devido à falta de uma solução mais adequada para o sistema de freios,
até os veículos elétricos atualmente precisam utilizar um circuito hidráulico para os freios e
bomba de vácuo para simular a pressão negativa gerada pelo motor dos veículos a combustão.
Como ainda não foi desenvolvida uma solução totalmente eletrônica com custo mais
baixo, ao se unir essa evolução tecnológica à acessibilidade, tanto de preço quanto de
compatibilidade e aplicabilidade nos sistemas atuais, acaba-se desenvolvendo um produto
capaz de proporcionar uma melhoria para a sociedade moderna como um todo.
Este produto seria composto por uma combinação de sistemas eletrônicos e mecânicos
para oferecer conforto e segurança para o usuário, além da redução de componentes. Estes
sistemas precisam ser, além de desenvolvidos a partir de metodologias claras, ter seu
desenvolvimento documentado para verificação e validação.
1.5 OBJETIVOS
1.5.1 Geral
14
A ideia é manter o projeto seguro, confiável e de baixo custo, assim contribuindo para
o desenvolvimento de um produto acessível e amplamente utilizado pela indústria
automobilística.
1.5.2 Específicos
15
2 REVISÃO DAS TECNOLOGIAS EMPREGADAS EM SISTEMAS DE FREIOS
Como bem resumido por Wolffe (2021), os sistemas de freios popularmente usados hoje
em dia funcionam da seguinte maneira: o condutor aplica uma força sobre o pedal, acionando
o servo freio que aumenta a força transmitida do pedal ao cilindro mestre. Este por sua vez
aciona os pistões que transmitem a pressão hidráulica pelos dutos até os cilindros nas rodas,
que comprimem as pastilhas de freio contra os discos, gerando um atrito e consequente
diminuição de velocidade nas rodas.
16
Além desse sistema primário, existe o sistema ABS que impede o travamento das rodas.
Funciona monitorando a velocidade individual de cada roda e comparando estes valores com a
velocidade média do carro. Caso haja uma mudança repentina na velocidade de alguma roda, o
sistema ABS identifica isso e reduz a pressão de frenagem nesta roda, assim evitando o
travamento e diminuindo o tempo e distância de frenagem principalmente em condições
adversas (BOSCH, 2005, apud WOLFFE, 2021).
Assim, segue uma breve revisão dos principais componentes empregados em sistemas
de freios atuais, com foco no que diz respeito a freios hidráulicos a disco, já que é este o
principal foco deste trabalho.
O cilindro mestre (Figura 2.1) é um cilindro com um ou dois pistões e fluido hidráulico,
responsável pela conversão de força do pedal em pressão hidráulica e distribuição desta pressão
ao resto da linha de freio. Ao chegar nas pinças ou êmbolos de freio, essa pressão gera o atrito
nos discos, aplicando um torque contrário à rotação das rodas. O cilindro mestre também
contém um reservatório para fluído, mas que pode ser integrado ou independente.
17
2.1.2 Pedal de Freio
O pedal de freio (Figura 2.2) é o componente primário com o qual o motorista entrará
em contato para aplicar o freio. Fisicamente, tem a forma de uma haste pivotada pois isso atende
a necessidade de ser ergonômica e também transmitir a força aplicada até o cilindro mestre.
Deve ser extremamente robusto pois a sua falha pode causar perda total da capacidade de
frenagem. Assim, precisa ser capaz de aguentar fortes cargas em todos os sentidos e ainda
manter sua rigidez. Além disso, deve possuir o mínimo de atrito possível (PUHN, 1985).
As linhas e conexões são um conjunto de tubos e dutos que têm a finalidade de transmitir
a pressão hidráulica do cilindro mestre aos pistões das pinças. Estes podem ser rígidos ou
flexíveis, mas sempre resistentes a corrosão, choques mecânicos e pressão.
2.1.4 Fluido
18
2.1.5 Pinças de Freio
O servo freio (Figura 2.4) é um componente que fica entre o pedal e o cilindro mestre.
Tem como função aumentar a força aplicada no cilindro mestre quando o condutor pisa no
pedal, e faz isso através de um cilindro pneumático de simples ação com uma membrana,
estando está sujeita à pressão atmosférica de um lado e do outro a pressão negativa da admissão
do motor. Assim, quando o motorista aplica um torque no pedal de freio, esta força é aumentada
com o auxílio desse simples sistema pneumático.
19
2.1.7 Freio a Disco
Existem alguns tipos de freio, baseado na sua construção. Os mais comuns são os freios
a disco e a tambor, mas este trabalho irá se concentrar especificamente na tecnologia de freios
a disco (Figura 2.5).
Os freios a disco apresentam uma configuração aberta, o que contribui para a dissipação
de calor, secagem, manutenção e regulagem, dentre outros fatores. Quando o freio é acionado,
um par de pinças pressiona o disco unido à roda, assim diminuindo sua velocidade através do
atrito.
Se tratando dos detalhes, existem algumas variações nas configurações de freios a disco
e seus componentes. Por exemplo, as pinças podem ser fixas ou flutuantes dependendo da
potência de frenagem necessária; os discos podem ser fabricados de ferro fundido ou materiais
cerâmicos, além destes estarem disponíveis em mais de um tipo de estrutura ou geometria; da
mesma maneira, as pastilhas de freio acopladas às pinças podem ser feitas de mais de um tipo
de material, alterando notavelmente a durabilidade e dissipação de calor (FREIO BREQUE,
2016; LIVRAMENTO, 2017; NAKATA, 2019, apud WOLFFE, 2021).
2.1.8 ABS
Em seu texto, WOLFFE (2021) resume muito bem o ABS ao dizer que “o sistema de
freios ABS (Anti-lock Braking System) é um sistema inteligente que une hidráulica e eletrônica
para impedir o travamento das rodas em uma freada brusca ou em piso escorregadio”.
20
Baseado em estudos estatísticos, APAROW et al. (2014) destaca que a maioria dos
acidentes de carro são decorrentes de condições instáveis em que o condutor perde o controle
de freio e manobra do veículo, causando derrapagens ou capotamentos. Um dos maiores
problemas é quando ocorre um travamento nas 4 rodas, caso no qual geralmente as rodas param
de rotacionar antes da parada completa do veículo. Este processo, em que há um deslizamento
das rodas, faz com que não haja uma transferência eficiente das forças de frenagem entre as
rodas e o chão, assim aumentando a distância de frenagem do carro.
Para tentar sempre manter o veículo sempre estável, o ABS trabalha prevenindo o
travamento das rodas. Monitora a rotação das rodas e manipula a frenagem individual destas
para garantir o máximo de atrito com a rua e estabilidade do carro. O resultado disto é que o
veículo consegue atingir a menor distância de frenagem possível enquanto ainda mantém
estabilidade e controle do motorista (ALY, 2011; ROHILLA, 2016).
A estrutura básica do sistema ABS geralmente consiste de sensores de rotação nas rodas,
dispositivos de ajuste de pressão, e aparelhos eletrônicos de controle. Em sistemas de ABS
diferentes, a estrutura e o princípio de funcionamento podem também variar. Os sensores de
velocidade instalados em cada roda enviam um sinal para o aparelho de controle, o qual está
sempre monitorando e analisando os dados recebidos e formando sinais de controle
correspondentes. Os dispositivos de ajuste de pressão são geralmente eletroválvulas que,
quando acionadas, aliviam a pressão do fluido por um breve momento antes de reaplicar a
pressão nos freios das rodas, individualmente. Ao repetir este processo rapidamente, sem
necessidade de intervenção do motorista, o ABS consegue manter tração entre as rodas e a rua
e assim entregar ao motorista muito mais controle sobre o veículo, além de realizar a frenagem
em menos espaço e tempo (ALY, 2011; CAO, 2021; ROHILA, 2016).
21
3 REVISÃO DOS COMPONENTES DE SISTEMAS ELETRÔNICOS E DE
CONTROLE
3.1 SENSORES
22
Em seu texto mais recente, Agostini (2017) nota que os sensores podem ser classificados
em digitais e analógicos. O primeiro grupo de sensores possuem como valores de saída apenas
dois estados lógicos: “0” e “1”, tendo o resultado de suas medições restritos a estes valores
binários apenas. Os do segundo grupo, do tipo analógicos, apresentam como saída sinais
elétricos proporcionais à grandeza sendo medida. Os sensores deste segundo grupo são mais
sofisticados e geralmente são tratados com conversores analógico-digitais antes de seu sinal de
saída ser processado.
Existe uma ampla gama de sensores para diversos tipos de leituras e aplicações
diferentes, sendo que há também mais de uma forma de se classificar estes em grupos distintos.
Podem ser classificados em ativos e passivos baseado na necessidade ou não de uma fonte ou
sinal externo para seu funcionamento; ou então classificados baseado em sua forma de
conversão de sinal como fotoelétrico, termoelétrico, eletroquímico, eletromagnético, óptico,
etc.; ou até simplesmente agrupados em sensores do tipo analógico ou digital baseado na forma
que se dá o sinal de saída. Segue na Figura 3.1 a seguir alguns exemplos de tipos variados de
sensores.
Para manter a análise e revisão mais simples, optou-se por comentar alguns tipos de
sensores classificando-os baseado no tipo de grandeza física que estes medem. Dentre os tipos
de sensores, foi feita uma lista dos mais populares a seguir.
23
3.1.1.1 Sensor Indutivo
Também conhecidos como sensores de proximidade, são dispositivos eletrônicos
usados para a detecção de partes e peças metálicas não só de ferro ou aço, mas também de
materiais diamagnéticos como alumínio, latão, aço inox, etc. Assim, podem ser usados para
detectar a presença deste tipo de objetos assim como a sua passagem e muito mais. Quanto à
sua estrutura, basicamente consiste de uma bobina em torno de um núcleo, um oscilador, um
sensor de nível de disparo e um circuito de saída, conforme a Figura 3.2. Essa montagem
garante o bom funcionamento do sensor até nos ambientes mais agressivos.
Funciona gerando um campo eletromagnético que oscila a uma alta frequência, gerando
um sinal senoidal. Quando um metal se aproxima do campo, este absorve energia através da
corrente de superfície e isso reduz a amplitude do sinal gerado no oscilador. Esta variação é
detectada, acionando o estágio de saída (AGOSTINI, 2008; GERARDO, 2005).
Além da sua alta resistência, são rápidos, precisos e também, por não possuir partes
móveis ou necessidade de contato físico, acabam aumentando a sua vida útil e a do sistema
como um todo. Trata-se de um sensor muito versátil e que pode ser utilizado para várias
aplicações, como exemplificado na Figura 3.3, a seguir. Exemplos de sensores indutivos são
mostrados na Figura 3.4.
24
Figura 3.3: Exemplos de aplicação
25
Quando um objeto dielétrico se aproxima do sensor passando por seu campo elétrico,
isso causa uma oscilação com uma certa amplitude que é detectada por um sistema integrado e
convertida em algum comando ou sinal de saída.
26
Figura 3.6: Sensores de pressão
Figura 3.7: Sensor Reed usado para medir a frequência de rotações de um movimento circular
Fonte: FilipeFlop
Fonte: FilipeFlop
28
3.1.1.6 Sensor Ultrassônico
De acordo com a definição de Balluff (2018), “os sensores ultrassônicos usam energia
elétrica e um transdutor cerâmico para emitir e receber energia mecânica sob a forma de ondas
sonoras”. Este tipo de sensor pode ser usado para medição de distância como também da
velocidade de um objeto e opera usando propriedades de ondas sonoras a uma frequência mais
alta do que o espectro audível para humanos. Se baseando no tempo em que uma frequência é
emitida até o momento em que ela atinge algum objeto e é captada novamente no aparelho, a
distância de um objeto pode ser calculada, de forma semelhante à tecnologia sonar, utilizada
em barcos e submarinos. Uma outra função muito interessante que pode ser desempenhada por
um sensor ultrassônico é o cálculo da velocidade de um objeto, utilizando a propriedade do
efeito Doppler (Doppler shift). É disponível tanto na forma analógica quanto digital e funciona
com altíssima precisão. A Figura 3.10 exibe alguns sensores ultrassônicos e um exemplo de sua
amplitude de detecção.
Figura 3.10: Sensor ultrassônico simples (esquerda) e sua amplitude de detecção (centro), sensor
ultrassônico industrial (direita)
29
Figura 3.11: Sensor de imagem (esquerda), de cor e distância (centro) e de cor (direita)
30
3.2 ATUADORES
Em seu livro, Ian Sinclair (2001) define um atuador como sendo um aparelho oposto ao
sensor, pois converte um sinal geralmente elétrico em uma ação, geralmente mecânica. De
forma complementar, de acordo com Agostini (2008, p. 37):
Dentro de uma malha de controle, o elemento final de controle, que tem por objetivo
reposicionar uma variável, de acordo com um sinal gerado por um controlador, é
chamado de atuador, pois atua diretamente no processo, modificando as suas
condições. São dispositivos utilizados para conversão de sinais elétricos provenientes
dos controladores, em ações requeridas pelos sistemas que estão sendo controlados.
Pode-se entender então que os atuadores executam de forma física o comando lógico do
sistema, gerando uma ação desejada. São um elemento indispensável de um sistema de controle
e, como notado por Janocha (2004) no prefácio de seu livro, de certa forma são até mais
necessários do que um sensor já que estes apenas possuem uma função ‘real’ quando aplicado
em um sistema de malha fechada para providenciar o controlador com as informações
necessárias para que o processador possa providenciar o atuador com os sinais ‘corretos’.
Atuadores são empregados em processos e aplicações que precisam ser modificados
para atingir um certo estado ou equilíbrio. Os sinais de controle com informações sobre a ação
requisitada são compatíveis com o atuador, mas nota-se que o sinal enviado do bloco lógico do
sistema ao atuador pode ser de tensão contínua ou variável, corrente variável, ou então de PWM.
Como hoje em dia a maioria dos componentes são eletrônicos, geralmente recebem um sinal
digital padronizado, na forma de pulsos. Como bem explicado por Agostini (2017) em seu texto,
o PWM é um sinal de onda quadrada onde a frequência e amplitude dos pulsos é constante,
variando-se apenas a largura do pulso, como pode ser visto na Figura 3.13 a seguir. Este último
é muito utilizado em fontes chaveadas e também controle de servo motores. Esses tipos de
sinais são de baixa potência, com intuito apenas de comandar outros dispositivos, neste caso os
atuadores.
31
Figura 3.13: Exemplos de sinais PWM
32
3.2.1 Exemplos de atuadores
Assim como na família de sensores, o grupo composto pelos atuadores é muito amplo e
possui inúmeros membros. Os tipos mais comuns foram listados a seguir.
3.2.1.1 Pneumático
Os atuadores pneumáticos (Figura 3.15) utilizam algum gás comprimido, geralmente o
próprio ar atmosférico, para realizar a sua atuação. Trata-se de um tipo de atuador muito rápido,
principalmente em movimentos lineares, mas que apresenta pouco controle de posição e baixo
nível de força ou torque (AGOSTINI, 2017). Vale também comentar que, devido à sua natureza
de funcionamento, um sistema de controle puramente pneumático pode ser o método ideal de
controle em locais de risco como os com presença de gases inflamáveis ou, por exemplo, certos
locais de uma plataforma petrolífera. Contudo, geralmente o controle de sistemas pneumáticos
utilizam eletroválvulas para a manipulação do ar pressurizado.
Fontes: Gomes (2022); Amazon (acesso 2022); Automation Direct (acesso em 2022)
33
3.2.1.2 Hidráulico
Pode-se dizer que de algumas formas, os atuadores hidráulicos (Figura 3.16) são
semelhantes aos pneumáticos, mas que utilizam algum fluido no estado líquido como água ou
óleo para gerar forças e movimentos. São usados principalmente em situações onde é necessário
um alto valor de torque ou de força. Assim como os atuadores pneumáticos, os hidráulicos
podem ser de atuação linear ou rotativa e são também controlados pelo uso de eletroválvulas,
que restringem ou liberam o fluxo de fluido de forma controlada. Dessa maneira, possuem um
controle de posição muito maior do que os atuadores pneumáticos.
3.2.1.3 Térmico
Atuadores térmicos (Figura 3.17) trabalham gerando energia para o aquecimento de
algum objeto ou ambiente. Quase sempre empregam o efeito Joule para gerar energia térmica
através de uma corrente que flui por um condutor resistivo, aquecendo-o. São simples,
compactos, econômicos e eficientes, e são frequentemente empregados no controle de
temperatura de casas, aquários, ou outros ambientes controlados.
34
Figura 3.17: Exemplos de atuadores térmicos
3.2.1.4 Eletromagnético
O grupo dos atuadores eletromagnéticos é possivelmente o mais amplo de todos, até
porque existem muitas formas de se utilizar o eletromagnetismo de forma útil.
Provavelmente o exemplo mais simples deste tipo de atuador é o relé, que faz o
fechamento físico de uma chave através das forças de eletromagnetismo. Quando se alimenta a
bobina do eletroímã, esta gera um campo magnético que atrai a chave metálica, assim fechando
um outro contato, em um circuito isolado da bobina (AGOSTINI, 2017). Existem também os
contatores, que são como um relé um pouco mais elaborado e que suporta cargas maiores,
também provido frequentemente de mais de um contato auxiliar para facilitar sua utilização em
projetos de automação e controle. O funcionamento de um relé pode ser observado ao lado de
um contator, na Figura 3.18 a seguir.
35
Figura 3.18: Diagrama de funcionamento interno de um relé (esquerda); contator (direita)
36
Figura 3.20: Exemplos de motores brushless
3.2.1.5 Mecânico
Este tipo de atuador é provavelmente o mais antigo, sendo empregado há milhares de
anos. Os atuadores mecânicos, vistos na Figura 3.22 a seguir, convertem algum tipo de
movimento em outro tipo de movimento como, por exemplo, uma rotação em um deslocamento
linear. Seu funcionamento é muitas vezes baseado em uma combinação de componentes
estruturais como engrenagens, polias ou correntes.
37
Figura 3.22: Exemplos de atuadores mecânicos
Fonte: Engrenagens Pozelli (1), Ebay (2 e 3), Terranova (4) (todas acessadas em 2022)
38
adaptados para aplicações diferentes. A operação de controladores digitais é baseada em
software e algoritmos de controle.
Em contraste a controladores analógicos que operam continuamente, os digitais
implementam seu algoritmo de controle em lotes. O CPU (unidade central de processamento)
opera sequencialmente em ciclos, como notado por Lipták (2006), e estes ciclos incluem o
processo de aquisição de dados, manipulação de variáveis, conferência de alarmes ou limites
antes de finalmente retornar as variáveis manipuladas às saídas apropriadas para execução de
algum comando analógico. O clock interno de microprocessadores modernos tende a ser
extremamente rápido, porém, fazendo com que a eficiência do sistema se mantenha, apesar da
execução sequencial de funções.
3.3.1.1 ASIC
Circuitos Integrados de Aplicação Específica, mais conhecidos pela sua sigla em inglês
‘ASIC’, são circuitos orientados para a implementação de tarefas específicas em domínios bem
definidos, o que entra em contraste com os circuitos de aplicação geral como
microcontroladores e microprocessadores (FERREIRA, 2007). Dessa maneira, são utilizados
para aplicações em que o processador não precise ser atualizado ou modificado, apenas
executando a mesma função durante toda sua vida útil.
O circuito de um ASIC é composto por conexões e flip-flops permanentemente ligados
em uma configuração específica à aplicação do controlador. Por este motivo, é útil em produtos
a serem produzidos em massa, pois sua produção em larga escala acaba sendo mais econômica
do que outras soluções. Infelizmente, porém, possui uma alta barreira de custo inicial e curva
de aprendizado. Também não é recomendado prototipar projetos usando um ASIC a não ser
que o mesmo tenha sido absolutamente validado, pois se for encontrado algum problema no
projeto do circuito, raramente pode-se fazer algo a respeito a não ser mudar o projeto por
completo (SINGH, 2018).
Agora, existem algumas vantagens na utilização de ASICs em relação a outras soluções
como FPGAs e microcontroladores como o fato de que são muito mais energeticamente
eficientes e podem operar a frequências mais elevadas. Dependendo da aplicação e a quantidade
a ser fabricado, um ASIC pode ser uma solução válida para muitos projetos.
Podem executar funções complexas e variadas, assim como muitos computadores, mas
estão sempre restritos à função e configuração específica ao qual foram projetados. Alguns
39
exemplos de aplicações válidas para um ASIC são: um chip em um brinquedo falante, chips
para satélites, conversores de áudio e vídeo, mineração de criptomoedas, etc. Segue na Figura
3.23 dois exemplos de ASICs.
3.3.1.2 CLP
CLP é a sigla de ‘Controlador Lógico Programável’ e foi definido pelo Me. em
Engenharia Elétrica Lance Pickup (2020) como sendo um dispositivo usado em aplicações em
que existam sinais de entrada de sensores que devem ser lidos e manipulados de tal maneira
que se gere um sinal de saída correspondente para atuadores. Como o próprio nome diz, se trata
de um aparelho programável, em contraste ao ASIC, mas que mesmo assim tem sua função de
certa forma limitada ao processamento de inputs e outputs de um sistema, geralmente em um
cenário industrial.
Podem variar desde pequenos aparelhos com poucas dezenas de entradas e saídas até
enormes aparelhos modulares ligados em rede com milhares de entradas e saídas.
De acordo com Fialho (2008 apud TEIXEIRA et al., 2019), a maior vantagem de CLPs
modernos em relação a outras alternativas mais antigas é a facilidade de alterar o programa
sendo executado. Basta alterar o software utilizando um computador sem necessidade de
qualquer alteração física, assim garantindo uma redução considerável de mão-de-obra. Teixeira
e seus colegas também complementam a informação anterior comentando que outro aspecto
bastante importante entre as vantagens que vem com a utilização de CLPs é a fácil gestão de
falhas. Os CLPs modernos conseguem diagnosticar falhas com agilidade e simplicidade em
qualquer momento do processo controlado. É também importante citar a rápida velocidade de
operação, que proporciona ao sistema uma rápida resposta se comparado aos sistemas
eletromecânicos.
40
Os CLPs são indicados para aplicações que requeiram muita robustez e confiabilidade,
e/ou sejam situadas em ambientes mais industriais ou rigorosos como linhas de produção e
fábricas que podem ter ruídos elétricos e vibrações. Um modelo popular de CLP é mostrado na
Figura 3.24, abaixo.
3.3.1.3 FPGA
FPGA (Figura 3.25) é a sigla em inglês para ‘Field-programmable gate array’, cuja
tradução ao português seria algo como ‘arranjo de porta programável em campo’. Estes
dispositivos são circuitos integrados que podem ser programados para funcionar de acordo com
um design ou projeto específico. Isso quer dizer que um FPGA pode ser programado para se
comportar como, por exemplo, um microprocessador, uma placa de vídeo, ferramenta de
criptografia, ou até todos estes ao mesmo tempo. Tudo depende da programação enviada à
placa, e esta pode ser reprogramada inúmeras vezes, tudo por software. É um dispositivo de uso
mais geral, e consiste de uma matriz de milhares de blocos lógicos e unidades de memória
unidos por uma malha de chaves de interconexões programáveis. Cada bloco lógico pode ser
programado para desempenhar uma função lógica arbitrária e a conexão dos blocos também
pode ser programada de forma arbitrária, geralmente usando uma linguagem de descrição de
hardware, como o VHDL (SINGH, 2018; PICKUP, 2020).
Assim como um CLP, um FPGA geralmente tem seu funcionamento associado com
sinais de entrada e saída, mas a diferença é que um FPGA pode realizar uma série de
manipulações complexas com estes dados, assim não sendo tão limitado ao processamento de
sinais de entrada e controle de sinais de saída.
41
Comparado aos ASICs e CLPs, FPGAs são mais versáteis e apresentam um custo
unitário geralmente muito menor, o que os torna opções muito melhores do que essas outras
quando se trata de prototipagem, mesmo que o produto final empregue alguma outra solução
final que seja mais barata para produção em massa. Não obstante, nada impede que sejam
utilizados FPGAs em produtos e projetos diversos, não ficando apenas restrito à prototipagem.
Alguns exemplos incluem processamento de áudio e vídeo, aplicações militares, processamento
especializado, e muito mais, ficando apenas limitado à sua programação.
3.3.1.4 Microcontrolador
No final do século passado, a tendência era de compactar ao máximo componentes
eletrônicos e ao mesmo tempo aumentar sua eficiência. Com isso, os processadores digitais
foram diminuindo de tamanho até o surgimento dos microprocessadores. Estes contêm um
processador digital completo, que inclui ao menos a unidade lógica aritmética e registros
associados, mas também precisa de muitos outros componentes para suportar seu
funcionamento como os que podem ser encontrados na placa mãe de um computador pessoal
comum (DAVIES, 2008).
Os microcontroladores surgiram como uma evolução natural dos microprocessadores e
são circuitos integrados que contém uma CPU que pode variar de simples processadores de 4
bits até variações mais complexas de 64 bits, em conjunto com outros recursos que serão vistos
42
adiante. Com essa integração, é possível reduzir a quantidade de chips e conexões, assim como
o tamanho do controlador, que controla uma ampla gama de periféricos e sinais de entrada e
saída através de suas portas I/O reprogramáveis. A sua operação é frequentemente baseada em
uma programação feita através de linguagens C ou C++.
A linha que separa um microcontrolador de um microprocessador é bem tênue e pode
ser difícil de definir objetivamente, porém Davies (2008) sugere que a diferença entre ambos
seja o sistema operacional. Afirma que é muito improvável que um microprocessador seja
utilizado sem um sistema operacional como Windows, MacOS, Linux, etc.; em contraste, é
difícil se encontrar um sistema operacional sendo rodado em um microcontrolador, pois
geralmente o software é escrito e rodado diretamente no hardware sem necessidade de suporte
adicional. Isto é devido ao fato de que um microcontrolador tem como objetivo principal o
controle do sistema no qual está inserido, precisando responder a eventos externos em pouco
tempo.
Um microcontrolador pode possuir muitos componentes e subsistemas internos que
desempenham diversas funções diferentes. Porém, de acordo com Davies (2008), existem
algumas funções e componentes que são verdadeiramente essenciais para um microcontrolador
prático, e estas são as exibidas na Figura 3.26 e explicadas em seguida.
43
Memória para o programa: Memória do tipo flash que retém sua informação mesmo
quando não está energizada, muitas vezes apenas permitindo leitura de seu conteúdo.
Memória para armazenamento de dados: conhecida popularmente como memória
RAM, é um tipo de memória mais rápida, mas que perde a informação nela contida quando for
desenergizada.
Portas I/O: são portas de entrada e saída de sinal, providenciando comunicação digital
com o mundo externo.
Barramento de dados e endereços: serve para linkar os subsistemas do
microcontrolador entre si e transferir dados e instruções.
Clock: Subsistema essencial para manter todo o sistema sincronizado. Frequentemente
possuem a opção de se usar um cristal ou fonte externa de clock.
Atualmente, quando se fala de microcontroladores populares, é comum se pensar
primeiramente nas placas Arduino, um kit que foi concebido em meados de 2005 e se
popularizou no início da década de 2010. Assim como o seu software, as placas produzidas são
completamente open-source, o que quer dizer que os componentes utilizados e detalhes da
montagem e manufatura são livremente distribuídos e disponíveis na internet para todos.
Módulos Arduino empregam microcontroladores AVR da Atmel como a famosa ATmega328
e suas variações (Figura 3.27), e é em torno desse microcontrolador que são construídas as
variadas placas Arduino.
Mesmo sendo muito popular, o Arduino não é o único módulo de seu tipo e, apesar de
serem muito famosos, os microcontroladores da família ATmega usados nas placas Arduino
também não são os mais completos, eficientes ou rápidos.
44
Um outro grupo de microcontroladores extremamente popular é dos desenvolvidos pela
empresa Espressif, especialmente os ESP8266 e ESP32, lançados em 2014 e 2016. Para
aplicações que não necessitem de conectividade sem fio ou muito processamento, um ATmega
geralmente basta, mas se o projeto precisar de Wi-Fi, Bluetooth, ou exija mais do processador,
usar um ESP32 no lugar pode ser muito beneficial, pois este opera em frequências de até 160
MHz, contra 16 MHz no ATmega328 do Arduino.
Existem ainda mais muitos modelos de microcontroladores acoplados a diversas placas
de desenvolvimento com variadas velocidades, funcionalidades, conectividade, etc. As famílias
ATmega e ESP são apenas alguns exemplos populares de microcontroladores dentro de um mar
de variedade. Na Figura 3.28 a seguir estão alguns outros exemplos.
45
4 REVISÃO DE SOFTWARES
46
A IDE também funciona com bibliotecas, que provêm funcionalidade adicional aos
programas produzidos (geralmente chamados de sketches) como compatibilidade com certo
hardware ou ferramentas de manipulação mais avançada de dados. Além disso, é possível ainda
se utilizar a IDE Arduino com outro hardware que não sejam as placas Arduino ou clones. O
software foi feito da maneira que foi justamente para ser fácil de qualquer pessoa adicionar
suporte a outros microcontroladores. Essas funções ampliam mais ainda o espectro de
compatibilidade da plataforma Arduino.
A facilidade de uso junto com, principalmente, a flexibilidade da IDE Arduino quanto
à sua utilização com vários microcontroladores são os principais componentes que motivaram
o seu uso para o desenvolvimento deste projeto.
O Visual Studio Code (VS Code) é um outro ambiente de programação integrado (IDE),
mas desenvolvido pela Microsoft. O diferencial deste é que é uma IDE muito mais completa do
que a do Arduino, dispondo de muitas ferramentas, funções e assistentes integrados, além de
mais inúmeros que podem ser adicionados pelo usuário.
Suporta mais de 35 linguagens de programação diferentes, permitindo edição,
debugging (depuração de código) e compilação de todas estas, ainda possibilitando o envio para
outros aplicativos. Pode também se comunicar com a grande maioria de microcontroladores,
sendo capaz de fazer upload de programas e comunicação e monitoramento durante a operação
(Microsoft, acesso em 2022).
O VS Code consegue trabalhar em conjunto com a IDE do Arduino, permitindo que
sejam escritos programas na própria linguagem Arduino e ainda feito upload para a placa, tudo
pela interface do VS Code e com todas as suas ferramentas disponíveis. Isso, junto com o fato
de que o programa da Microsoft consegue trabalhar com programação em C++ além da
linguagem Arduino, motivaram o uso do programa durante todas as etapas do desenvolvimento
do código deste projeto.
4.3 PROTEUS
47
Um ponto interessante comentado por Su e Wang (2010) é que sem a utilização de um
software como o Proteus, o desenvolvimento de um sistema e seus testes subsequentes só
podem ser realizados quando um protótipo físico estiver disponível e, mesmo assim, se houver
algum problema com o design do hardware, o processo todo deve ser reiniciado. Com o Proteus,
o desenvolvimento do software pode se iniciar assim que for desenhado o esquemático do
circuito, e a combinação do hardware e software do projeto podem ser bem testados antes da
construção do protótipo físico. A diferença que isso faz na produção é mostrada na Figura 4.1
abaixo.
Apesar de ser composto por esses 4 módulos, estes efetivamente são dispostos em
apenas 2 ambientes de trabalho: o ambiente ISIS, responsável pelo esquemático e simulação do
circuito; e o ARES, ferramenta usada para o desenvolvimento do layout da placa.
49
“Provavelmente a característica mais importante e atraente do Proteus é a sua habilidade
de simular a interação entre o software sendo executado em um microcontrolador e qualquer
componente eletrônico analógico ou digital conectado a ele” (SU e WANG, 2010). Em seu
texto, os autores Xiumei e Jinfeng (2011) concordam com a afirmação anterior, declarando que
o fato de a simulação com microcontroladores ser interativa foi realmente revolucionária. Não
só o código do microprocessador pode ser alterado dentro do software, como este também faz
uma depuração (debugging) em tempo real, que pode ser visto e analisado após a simulação.
Quanto à inclusão de um microcontrolador no projeto, a Labcenter (acesso em 2022,
tradução do autor), empresa desenvolvedora do software Proteus, afirmou que:
50
5 SOLUÇÕES E MATERIAIS UTILIZADOS
No capítulo 4 de seu texto, Wolffe (2021) faz uma análise comparativa detalhada das
possíveis soluções de componentes, baseado em um estudo de mercado e nas necessidades do
projeto. Conclui escolhendo um potenciômetro para medir o deslocamento do pedal de freio;
um sensor Hall para a medição de velocidade de rotação da roda; um sensor de força de
compressão para medir a força nas pastilhas; um motor de passo para gerar a força de aperto
nas pastilhas; e um redutor com parafuso e rosca sem fim e fuso interno para multiplicar a força
gerada pelo motor de passo. Todo esse sistema há de ser conectado a e gerenciado por uma
placa eletrônica de controle.
Segue, então, uma breve explicação acerca dos itens específicos que serão utilizados
neste trabalho.
5.1 SENSORES
Dentre os diversos tipos de sensores, este projeto deve empregar o uso de três, sendo
estes o potenciômetro, o sensor de força de compressão e um sensor hall. Segue uma breve
explicação acerca destes componentes:
5.1.1 Potenciômetro
51
Figura 5.1: Potenciômetro simples em forma de arco
O sensor Hall tem esse nome em homenagem ao físico americano Edwin Hall, que
descobriu que a eletricidade, magnetismo e movimento funcionam em conjunto, e os sensores
de efeito Hall utilizam esse princípio físico para converter informação magnética em sinais
elétricos (Radionics, acesso em junho de 2022).
Na sua forma mais primitiva, um sensor de efeito Hall apresenta um sinal de saída
analógico devido a sua natureza, também analógica. Apesar disto, adicionando alguns
componentes simples como um transistor permite que existam encapsulamentos desse tipo de
sensor com saídas digitais. Conforme citado em Ramsden (2006), sensores de efeito Hall desse
tipo apresentam uma saída digital que atua quando sujeito a um campo magnético mais forte
do que o limite estabelecido para o acionamento (𝐵𝑂𝑃 ) e reseta quando o valor do campo
magnético fica abaixo do limite de retorno (𝐵𝑅𝑃 ), como pode ser visto na Figura 5.2 a seguir.
A existência de um limite de atuação e outro de retorno com valores diferentes é para evitar
ruídos no sinal de saída digital. Este tipo de sensor Hall é sem dúvida o mais amplamente
utilizado. Existe também uma versão um pouco modificada deste sensor digital especificamente
voltado à leitura de velocidade.
52
Figura 5.2: Sinal de saída do sensor de efeito Hall de acordo com sinal de entrada
Por mais que esses aparelhos possam ser usados em uma gama de aplicações diferentes,
um dos campos onde seu uso é mais notado é em sistemas ABS em conjunto com um
microcontrolador, conforme notado nos artigos de Radionics (acesso em 2022) e Emilio (2019),
como também no livro de Ramsden (2006). Na maioria desses casos, o objeto metálico que
aciona o sensor de efeito Hall é um disco ou anel com dentes uniformemente distribuídos. Como
comentado no artigo no site TiePie Automotive (acesso em 2022), quando há rotação na roda,
os dentes do disco ou anel metálico passam perto do sensor, gerando um padrão no sinal de
saída do mesmo, onde cada período deste padrão representa um dos dentes passando. A
frequência deste sinal depende da quantidade de dentes e da velocidade de rotação da roda. Esse
funcionamento pode ser observado na Figura 5.3, abaixo.
Figura 5.3: Sensor Hall sendo utilizado para medir velocidade de rotação
54
Figura 5.4: Célula de carga com suporte 3D e módulo HX711
5.2 ATUADORES
Uma característica de motores de passo que o diferem de um servo motor é a sua alta
taxa de resposta, precisão e velocidade em movimentos mais curtos, e seu bom funcionamento
com cargas flutuantes. Todas essas características tornam este tipo de motor a escolha ideal
para controlar o aperto do disco de freio em um automóvel. O motor utilizado neste protótipo
foi o NEMA 23, mostrado na Figura 5.6.
5.3.1 Arduino
O Arduino (Figura 5.7) é provavelmente o microcontrolador mais popular. Para ser mais
preciso, o Arduino é uma placa de desenvolvimento com um microcontrolador embutido. É
completamente open-source, permitindo que centenas de milhares de usuários compartilhem
experiências, projetos e dicas abertamente. Além disso, as placas são feitas de tal maneira em
que os pinos de comunicação do microcontrolador ficam expostos para uma fácil utilização
com outros circuitos e componentes. Com isso, essas placas impulsionam fortemente o
Movimento Maker, uma cultura do ‘faça você mesmo’, de se colocar a mão na massa e
desenvolver projetos e ideias com facilidade e autonomia.
Tendem a ser uma família de placas tranquilas para iniciantes, fazendo com que sejam
ótimos pontos de partida para projetos. A maioria das placas utilizam microcontroladores 8-bit,
mas existem algumas de 32-bit, por exemplo (TAN, 2021).
57
5.3.2 ESP32
58
6 DESENVOLVIMENTO E PROTOTIPAGEM DO SISTEMA MECATRÔNICO
PARA FREIOS ELÉTRICOS
6.1 COMPONENTES
59
6.2 MODELO
Como mencionado, o projeto inicial proposto por Wolffe em 2021 foi utilizado como
base e inspiração para a elaboração do protótipo funcional. O projeto teve de ser alterado para
se adaptar aos componentes e processos de fabricação disponibilizados pelo IFSC, mas os
princípios de funcionamento foram mantidos, em grande parte.
6.2.1 Pedal
O pedal pode ser feito a partir da junção de duas chapas usinadas ou feitas em impressora
3D e este deve ser apoiado em um eixo fixo, em torno do qual poderá rotacionar. A posição e
rotação do pedal será limitada por uma mola de torção, indicada na Figura 6.1 abaixo.
Ligado ao pedal e seu eixo de rotação fica um potenciômetro, responsável por identificar
a posição do pedal - isto é, se está sendo acionado pelo pé do operador e, se sim, com qual
intensidade. Em seguida, estes sinais são enviados à controladora e interpretados pela mesma,
que opera de acordo.
A coroa possui, em sua parte central, uma rosca interna, na qual é encaixado um fuso
interno, destacado em azul. O fuso interno é fixado por duas varetas de apoio que permitem seu
deslocamento linear, mas impedem qualquer tipo de rotação. Assim, quando a coroa é
rotacionada, o fuso interno se desloca no sentido das pinças, seja para se aproximar ou se afastar
destas.
61
6.3 FABRICAÇÃO DAS PEÇAS
Quanto à confecção das peças projetadas, algumas foram feitas em impressora 3D, e
outras tiveram de ser fabricadas em metal, pois as cargas às quais estariam sujeitas seriam fortes
demais para que as peças mantivessem sua forma e rigidez estrutural, caso fossem feitas de
forma impressa.
Através de impressão 3D, foram feitas a coroa (Figura 6.3, peça branca), rosca sem fim
(Figura 6.4), e pedal (Figura 6.5). Para compensar a diferença de altura entre o eixo do motor e
dos mancais de rolamento, foi necessário se fazer uma base de apoio para os mancais, as quais
também foram feitas em impressora 3D (Figura 6.6).
62
Figura 6.5: Pedal impresso e mecanismo de mola
63
Figura 6.7: Conjunto coroa e fuso interno
Durante os testes, foi verificado que as molas Belleville não estavam sendo ideais para
uso como célula de carga, e então esta parte foi adaptada e acabou-se fazendo uso apenas de
uma célula de carga padrão, fornecida pelo laboratório de metrologia. Com o auxílio de um
suporte feito em impressora 3D, esta pôde ser encaixada na pastilha interna do freio de tal
maneira que se submeta às pressões aplicadas à pastilha (Figura 6.8).
Algumas outras peças como os suportes da pinça e suporte do motor de passo foram
usinadas e conformadas em aço de acordo com as dimensões dos itens. Para a usinagem destas
peças em aço, foram empregadas diversas máquinas e ferramentas como furadeira, fresadora,
guilhotina para corte bruto e esmerilhadeira para cortes mais precisos e acabamento, além de
outros. Para realizar a união de algumas peças de aço, como suportes da pinça e suportes do
fuso interno, foi necessário soldá-las com arco elétrico.
64
6.4 ELETRÔNICA
65
Figura 6.10 - Célula de carga, ponte de Wheatstone e módulo HX711
Antes de incluir a célula de carga na montagem, ela teve de ser calibrada com cargas
conhecidas. Assim, o valor digital recebido pela controladora pôde ser convertido para uma
unidade conhecida, como o quilograma no caso. Depois de testada e calibrada, pôde ser anexada
à pastilha de freio (Figura 6.11).
O motor de passo é alimentado e controlado pelo driver configurado para operar com
3A de corrente, conforme especificações do motor de passo. O sistema apresentou excelente
estabilidade e baixo nível de vibração ou ressonância com driver recebendo pulsos de 1kHz e
operando em half-step. Então, esta foi a configuração utilizada para testes. Considerando que
uma volta completa seria composta de 200 passos de 1.8° e que o motor recebe 1000 comandos
66
de meio passos por segundo, a configuração estável utilizada equivale a uma velocidade de 150
RPM no motor de passos.
O driver utilizado pode ser alimentado com uma fonte de tensão contínua entre 9V e
40V. Para simular a sua utilização com uma bateria de carro, optou-se por utilizar uma fonte de
12V para alimentar o driver e motor de passo.
Uma particularidade do driver usado é que este aceita apenas sinais digitais com tensão
de 5V. Como o ESP32 opera exclusivamente em 3.3V (por mais que a placa possa ser
alimentada com 5V em alguns casos, o microcontrolador ESP32 é restrito a 3.3V em suas
saídas), foi necessário o uso de conversores de tensão. Alguns drivers podem ser comandados
com sinais de 3.3V, então em alguns casos diferentes, pode não ser necessário o uso desses
conversores.
Utilizando o software Proteus, foi possível realizar algumas simulações básicas para
verificar que as ligações eletrônicas estavam em ordem e em seguida foi feito um protótipo do
sistema em matriz de contato, visto na Figura 6.12 abaixo. Os resultados foram satisfatórios,
suficientes para ver que todos os componentes e ligações estavam funcionando adequadamente.
67
A matriz de contato serviu muito bem o seu propósito inicial mas, por se tratar de uma
ferramenta de prototipagem apenas, fazia com que a célula de carga apresentasse resultados
variados, pois trata de um componente que trabalha com variações de tensão baixíssimas. Dessa
maneira, qualquer movimentação dos componentes interferia no funcionamento da medição de
força. Para resolver este problema, os componentes foram conectados e soldados utilizando
uma placa de fenolite furada, permitindo conexões fixas e estáveis, sem ruídos ou variações de
tensão perceptíveis. Além disso, todos os componentes ficaram unidos de forma mais compacta,
organizada e elegante, conforme pode ser visto na Figura 6.13 a seguir.
Na Figura 6.13 acima, pode-se notar no canto superior esquerdo o potenciômetro que
serve para simular o pedal durante os testes, e logo abaixo dele dois conversores de tensão,
azuis. O componente central, preto, é o controlador principal, um microcontrolador ESP32 em
um encapsulamento comercial padrão. À direita, pode-se ver o HX711, de cor verde. Os cabos
saindo pela esquerda estão ligados ao driver do motor, e os cabos saindo pela direita estão
ligados à célula de carga.
Um esquemático base para as ligações do circuito elétrico sem os conversores de tensão
pode ser encontrado na Figura A1, nos anexos do texto. Uma versão generalizada dos códigos
de programação utilizados para os testes realizados no protótipo também pode ser encontrada
nos anexos, na Figura A2.
68
6.5 MONTAGEM
Em primeiro lugar, para servir como suporte para a fixação dos componentes, foram
usadas duas chapas de aço carbono de 6mm soldadas em ângulo reto. Assim, obteve-se uma
base horizontal, e um suporte vertical.
Na base horizontal, foram fixados o motor e os mancais de rolamento com seus
respectivos suportes. Após a fixação dos mancais, foi possível fixar também a rosca sem fim
com o auxílio de um eixo de 8mm de aço inoxidável. Paralelo ao eixo da rosca sem fim, foram
fixados dois pequenos suportes para a pinça do freio, mantendo esta fixa em relação ao restante
da montagem.
Na base vertical, foram fixadas apenas as 2 varetas de apoio. Estas foram soldadas e
tiveram de ficar perfeitamente paralelas, assim como os seus respectivos furos no fuso interno
da coroa, caso contrário o fuso interno não teria estabilidade e liberdade para se movimentar na
direção pretendida. Com estas varetas de apoio e a rosca sem fim posicionados adequadamente,
foi possível também encaixar a coroa e o fuso interno (Figura 6.14).
Quanto ao disco de freio, este foi fixado a um eixo que gira livremente logo abaixo da
base de montagem. Assim, o disco fica preso no local correto em relação à pinça, enquanto
permanece livre para rotacionar em torno de seu eixo central.
A célula de carga se situa entre a pastilha do freio e o fuso interno à coroa (Figura 6.15),
enquanto a controladora, junto com o restante dos eletrônicos, fica na parte traseira da estrutura
(Figura 6.16). A montagem completa é exibida na Figura 6.17.
69
Figura 6.15: Célula de carga situada entre fuso interno e pastilha
6.6 PROGRAMAÇÃO
71
No início do código, são declarados os pinos da controladora a serem usados e estes são
associados a identificações compreensíveis. Em seguida, são declaradas as variáveis globais e
seus valores iniciais. Nesta parte, constam os valores máximos e mínimos registrados pela
célula de carga, além da pressão máxima desejada ou permitida pelo sistema de freio. Estes
devem ser calibrados e configurados de acordo com as especificações desejadas, já que estes
valores devem variar entre montagens.
Durante seu funcionamento principal, ou seja, durante a execução da função ‘loop’, os
valores recebidos do pedal são constantemente monitorados. Caso o pedal não esteja acionado,
a roda do carro deve ser permitida a girar livremente. Quando o pedal for acionado, porém, o
valor recebido deste será comparado com o valor da pressão sendo aplicada nas pastilhas do
freio, enviado pela célula de carga. Dependendo do resultado da comparação, a controladora
irá determinar se é preciso aplicar mais ou menos pressão nas pastilhas (ou até manter como
está), enviando um comando para o motor de passo de acordo.
O código foi dividido em funções separadas, que podem ser chamadas em momentos
específicos, deixando assim o código mais limpo e intuitivo. Foi feita uma função chamada
‘exibir_info’, que é chamada após uma leitura completa da função ‘loop’, e que pode ser usada
para exibir informações relevantes no monitor serial ou uma tela, para fácil monitoramento e
resolução de problemas, caso haja algum. Há também uma função separada que faz a leitura e
conversão dos valores recebidos pela célula de carga e seu módulo. Esta também é executada
uma vez a cada início de loop, fornecendo como resultado de saída o valor que será comparado
com aquele recebido pelo pedal, para verificar a necessidade ou não de acionar o motor de passo
e alterar a pressão aplicada nas pastilhas de freio.
7 TESTES E RESULTADOS
Uma vez finalizado o código e a montagem, foi possível realizar a execução de testes
para verificar, objetivamente, os resultados obtidos com este protótipo.
7.1 TORQUE
72
capaz de prevenir a rotação do disco, ou seja, o torque máximo produzido pelo freio. Estes
testes foram realizados em ambos os sentidos de rotação e com o disco em posições variadas.
Para cada valor de força aplicado nas pastilhas, foi feito uma média do torque de frenagem
obtido, exibido na Tabela 1.
Força Aperto
0 10 15 20 25 35 45
Pastilhas (kg)
Desvio Padrão
Relativo da - 13.9 10.8 6.3 11.0 4.4 6.4
Amostra (%)
74
relativamente consistente entre testes; e que os pontos médios dos valores de torque obtidos
para cada valor de força aplicado nas pastilhas têm uma relação linear muito boa, apresentando
desvio baixíssimo em relação à linha de interpolação linear calculada. Com isso, pode-se
concluir que o modelo é consistente em seus resultados e execução.
Força Aperto 5 a 15 5 a 20 5 a 25 10 a 20 10 a 25 10 a 30
Pastilhas (kg) (10kg) (15kg) (20kg) (10kg) (15kg) (20kg)
Taxa de Aperto
5.20 5.38 5.91 5.63 5.84 5.84
(kg/s)
Desvio Padrão
Relativo da 7.1 7.1 4.0 8.6 11.9 13.0
Amostra (%)
75
trabalho, verifica-se que de fato a velocidade de 150 RPM foi a ideal nos momentos de
transmissão de força.
A taxa de aperto nas pastilhas se manteve relativamente constante independentemente
da carga sendo aplicada, o que é resultado bom e de acordo com o esperado.
Pela natureza do projeto e da maneira com que o código foi escrito, o sistema deve
aumentar ou diminuir a força de aperto nas pastilhas de acordo com o sinal enviado pelo
potenciômetro do pedal e recebida pela controladora. Por ser um controle de malha fechada, o
sistema irá, por definição, se ajustar até obter um valor dentro da margem desejada, e assim
sempre será capaz de entregar um aperto nas pastilhas diretamente proporcional ao ângulo de
posição do pedal. A margem de erro permitida pode ser estabelecida com a modificação de uma
única variável no software.
Como o software utilizado para testes e validação não emprega nenhuma técnica
avançada de controle, foi necessário definir uma margem de erro aceitável para a força aplicada
nas pastilhas para evitar que o sistema fique oscilando.
Algumas soluções mais avançadas poderiam envolver um controle mais minucioso da
velocidade do motor na medida que o sistema se aproxima da força de aperto desejada, assim
diminuindo a chance de um ‘overshooting’ do alvo (passar do alvo). Isso poderia ser feito
empregando desde modelos mais simples até métodos de controle PID mais completos. Quanto
mais completa for a técnica de controle utilizada e sua calibração, maior poderá ser a precisão
do sistema e dependerá apenas da precisão dos sensores utilizados, como a célula de carga no
caso.
Sem alterar a velocidade padrão utilizada nos testes e sem empregar técnica de controle
de velocidade do motor, o sistema apresentou um erro máximo de ±1.16kgf. Este valor se
manteve bem consistente ao longo dos testes independentemente da força de aperto desejada,
desde 5 a 45 kgf. Este erro aceitável ficou estabelecido na programação do sistema, pois foi o
menor valor com o qual o sistema não entrava em oscilação (em menos de 5% dos casos ocorre
um overshooting, o que faria com que o motor tivesse que reverter seu sentido para aliviar um
pouco da força excessiva).
O estabelecimento de uma margem de erro permitida menor que estes 1.16kgf resultou
no sistema ocasionalmente ultrapassando o valor alvo, principalmente em cargas maiores (esta
76
questão será revista no Capítulo seguinte), o estabelecimento de uma margem de erro maior
resultou em um erro maior em alguns casos, mas sem que houvesse alguma vantagem.
Feita essa explicação acerca do funcionamento do sistema de controle e a existência de
uma margem de erro permitida, será agora apresentado um gráfico exibindo a resposta do
sistema à entradas variadas no pedal. Em outras palavras, foram aplicadas entradas diferentes
no pedal de freio, e os valores recebidos pela controladora foram anotados, junto com a força
de aperto registrada na célula de carga, para cada valor inserido. Os valores foram aplicados de
forma aleatória e em seguida plotados no Gráfico 2 a seguir.
A partir dos testes e resultados obtidos, foi possível verificar o funcionamento adequado
e consistente deste projeto de sistema de freios eletroeletrônicos. O conceito pôde ser validado,
tanto na teoria quanto na prática, de forma muito satisfatória. A força de frenagem desejada foi
obtida (limitada, neste protótipo, pela célula de carga de 50kg); a resposta do sistema às entradas
no pedal e a aplicação de força nas pastilhas e no disco de freio foram lineares e consistentes;
e, por fim, o torque de frenagem, medido diretamente no disco de freio, também apresenta uma
resposta linear em relação ao sinal de entrada recebido do pedal.
Como um todo, o protótipo se comportou conforme esperado, atendendo a todos os
fatores básicos necessários para seu pleno funcionamento. Ainda assim, é interessante se fazer
uma comparação com o sistema de freios hidráulicos, assim como apresentar algumas sugestões
de melhorias futuras baseado nas observações do protótipo desenvolvido e seus resultados.
Agora, já validado o conceito, existem algumas melhorias que podem ser incorporadas
em versões futuras do projeto, sempre visando o avanço e aperfeiçoamento do modelo.
Para implementar esta solução na prática, em um veículo completo, o fator mais
importante de se melhorar seria o tempo de resposta, ou seja, a velocidade de funcionamento
do sistema. Para se atingir este objetivo, o primeiro passo seria a produção de todas as peças
em metal, e com um maior fator de precisão para garantir um encaixe bem justo e ao mesmo
tempo suave entre todos os componentes móveis. A rosca sem fim e coroa foram fabricadas em
impressora 3D, o que foi necessário devido à complexidade geométrica das peças, mas também
acabou aumentando significativamente o atrito no sistema, limitando a força e velocidade de
79
operação possível. Além disso, estas peças ficam muito sujeitas a desgaste com o tempo e uso,
outro problema que seria resolvido ou ao menos amenizado ao se utilizar materiais metálicos,
por exemplo. Pode ser interessante se considerar um motor mais potente também, que seja capaz
de operar em velocidades mais elevadas, mas isso só fará sentido depois de fabricar as peças
em metal conforme descrito, senão o motor continuará ficando limitado pelo atrito e vibração
presente no sistema todo. Feito isso, o sistema pode ser reprogramado para operar em
velocidades maiores, assim reduzindo o tempo de resposta.
Outro fator a se melhorar é o suporte traseiro da coroa, que precisa ser bem robusto para
se manter fixo e rígido, enquanto mantém um atrito mínimo com a coroa. Notou-se que os
suportes usados no protótipo, por mais que serviram seu propósito principal de prevenir que a
coroa se deslocasse horizontalmente durante seu funcionamento, apresentava um certo jogo
durante a operação. Devido a esta falta de rigidez, o sistema encontrou maior dificuldade para
se estabilizar dentro da faixa de valor de aperto desejado em certos momentos, especialmente
com cargas maiores, superiores a 30 kgf de aperto nas pastilhas. Além disso, com uso contínuo
e se tratando de cargas mais altas (superiores a 45 kgf), os suportes estavam sujeitos a
deformações plásticas, o que não pode ocorrer em um sistema de segurança como freios
veiculares. Convenientemente, este problema é de fácil resolução. Uma simples troca dos
suportes utilizados por algum mais robusto resolveria os problemas encontrados no protótipo.
Quanto à placa eletrônica, seria interessante projetar e fabricar uma placa específica
para o projeto, em circuito impresso com placa de fenolite. O intuito com isso seria integrar
todos os drivers e componentes em um único encapsulamento, aproveitando para projetar a
placa da forma mais compacta possível. Por mais que isso não afetaria o funcionamento ou
resultado do projeto, deixaria o mesmo mais padronizado e compacto, fatores importantes para
a produção e instalação em massa em veículos populares.
Além dos componentes eletrônicos, seria desejável reduzir ao máximo as dimensões de
todo o projeto. Atendendo primeiro às sugestões de melhorias apresentadas acima e em seguida
reduzindo as dimensões dos componentes, fica possível ainda projetar um encapsulamento para
englobar e proteger todos os componentes em um único revestimento ou envoltório. Com isso,
se utilizaria menos material, e se acabaria com um produto mais leve, protegido e esteticamente
agradável.
Este projeto teve como foco a validação do funcionamento de um sistema de freios
eletroeletrônicos em uma roda de automóvel, mas sempre visando a possibilidade de se utilizar
esta solução em mais de uma roda simultaneamente, assim como ocorre num sistema de freios
80
hidráulicos. Isso abre as portas para muitas outras funções muito interessantes, como a inclusão
de um sistema de controle ABS, que necessita de ao menos duas rodas para ser aplicado. Da
mesma maneira com que é implementado em sistemas tradicionais, a função ABS poderia
facilmente ser incrementada no software deste projeto, aumentando mais ainda sua capacidade
de parar um veículo com o mínimo de tempo e distância possível após o acionamento do freio
pelo motorista.
Em relação ao ABS usado em sistemas hidráulicos, a sua adição ao sistema elétrico fica
ainda mais fácil e barato, pois não necessita de nenhum módulo específico de controle. As
funções podem simplesmente ser adicionadas ao código de funcionamento do sistema e a
controladora ESP32 consegue cuidar de todos os cálculos e controle sozinha, enviando os
comandos diretamente aos motores já instalados no freio de cada roda.
Com base em todos os testes e resultados obtidos ao longo deste estudo, é possível
afirmar que cada um dos objetivos estabelecidos no início do projeto foi alcançado. Com muito
trabalho e pesquisa, foi possível desenvolver um projeto e protótipo de bancada de um sistema
de freios eletroeletrônicos para veículos.
Para garantir uma base sólida ao trabalho, foi realizada uma revisão bibliográfica
abrangente sobre as tecnologias utilizadas em freios automotivos. Foi também explorado o
histórico, as aplicações, as variações, os componentes e o funcionamento desses sistemas,
resultando assim em um conhecimento mais aprofundado acerca do tema, o que permitiu a
projeção de soluções inovadoras e eficientes.
Além disso, foi buscado compreender a fundo a tecnologia eletrônica que seria aplicada
no sistema, e assim foi realizado uma revisão bibliográfica completa sobre sensores, atuadores,
sistemas de controle e programação, garantindo que o projeto fosse bem embasado em
princípios sólidos e nas mais recentes tendências do campo. Essa pesquisa proporcionou uma
boa base para o desenvolvimento do projeto, permitindo que fossem aplicados conceitos novos
e tecnologias atuais.
Ao buscar soluções de baixo custo e facilmente implementáveis em sistemas modernos,
o objetivo de tornar o sistema de freios elétricos acessível pôde ser atingido. Utilizando
materiais de baixo custo e adaptando-o aos modelos existentes de carros populares e suas peças
amplamente difundidas, foi desenvolvido um sistema que não compromete a qualidade nem o
desempenho do mesmo. Adicionalmente, a abordagem adotada também levou em consideração
81
a adaptação do sistema para pessoas com deficiências físicas, proporcionando uma solução
prática e de menor custo em comparação com os sistemas tradicionais de freios disponíveis no
mercado.
O desenvolvimento do projeto elétrico e eletrônico foi outro ponto importante do
trabalho. Foi garantido a compatibilidade entre os diversos componentes do sistema por meio
de cuidadosa programação, configuração e calibração. O projeto mecânico foi revisado e
adaptado, garantindo que todas as especificações e requisitos dimensionais fossem atendidos.
Com isso, foi construído um protótipo funcional, utilizando técnicas de usinagem e montagem
conforme o projeto mecânico.
Com a construção de um protótipo funcional de um sistema de freios elétricos, foi
possível verificar que este apresentou uma resposta linear e consistente às entradas no pedal,
aplicando a força desejada nas pastilhas e no disco de freio. Além disso, o torque de frenagem
também demonstrou uma resposta linear em relação ao sinal de entrada, de forma consistente.
Por fim, foram realizados testes abrangentes para validar o sistema de freios
eletroeletrônicos. Com a coleta de dados, foi realizado a elaboração de tabelas e gráficos
comparativos que demonstraram objetivamente a aplicabilidade e eficácia do projeto,
fornecendo evidências concretas do resultado positivo alcançado.
Como um todo, cada um dos objetivos específicos estabelecidos no início do projeto foi
cumprido de forma satisfatória. O resultado final é um sistema de freios eletroeletrônicos
inovador, acessível e eficiente, que pode servir como referência para futuros estudos e
aprimoramentos. O autor espera ter contribuído para o avanço da tecnologia automotiva e deseja
que este trabalho inspire outros a explorar novas fronteiras nessa área de pesquisa.
82
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ANEXOS
Legenda:
U1: Controladora ESP32
Figura A1: Projeto base do circuito e ligações eletrônicas, elaborada no Proteus
91
Figura A2: Código de testes, C++
92
Fonte: Autor (2023)
93
Fonte: Autor (2023)
94