Capítulo Familia

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Capítulo “Família”

Introdução

A família é o início, onde começa a vida humana, é algo comum a todos os


seres humanos, todos nós nascemos numa família num determinado contexto
físico, temporal, político e social que irá influenciar as nossas vivências,
apesar de existir uma grande diversidade familiar, uns vivem na família
biológica, outros em famílias de acolhimento, outros em instituições, mas
mesmo estes últimos consideram as pessoas que cuidam de si sua família,
uma vez que foi com estas pessoas que ganharam laços, que lhes deram colo
e cuidaram deles quando mais precisaram.

Assim sendo, neste capítulo, consideramos fundamental estudar este


conceito, face à sua história, às características da família atual e a diversidade
familiar com que nos deparamos atualmente. Ainda fazemos referência sobre
o ciclo vital a que a família fica sujeita, analisando a família do ponto de vista
de alguns autores que a consideram como um sistema e finalmente um
levantamento de fatores que podem levar ao stress familiar.

Definição do conceito “Família”

Realizou-se uma revisão bibliográfica, aonde se verificou que existem


diferentes definições do conceito de “família”, ou seja, para além de serem
perspetivas escritas diferentes formas, quase todas elas têm algo em comum.
Os pontos mais mencionados têm a ver com o facto de a família ser um local
onde existem laços ou relações, esta é vista como um sistema onde cada
membro tem as suas funções, finalmente, varia de acordo com o tempo, não
sendo um conceito estático.

Desta forma, Fazenda (2005) refere que a família é uma unidade social que
não é fácil definir. Para o autor, esta é baseada em laços de parentesco e
afinidades estando em permanente mudança para se adaptar às necessidades
dos seus membros, sendo algo que não se apresenta de modo nenhum
estático no tempo.

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Domingues e Domingues (2005) partilham da opinião de Fazenda (2005) ao
referirem que a família é um conjunto de pessoas ligadas por laços onde cada
um tem os seus direitos, obrigações e expetativas próprias. No entanto, estes
autores, têm uma visão da família como um sistema que assegura funções
indispensáveis ou úteis aos seus elementos individuais, consideram-na ainda
um pilar, pilar este que terá de estar assente sobre bases éticas e morais de
modo a que o agir dos seus constituintes seja um agir racional, tendo como
meta o bem comum.

Na opinião de Gameiro (Costa, s.d.) a família é uma rede complexa de


relações e emoções que não são passíveis de ser pensadas com instrumentos
criados para o estudo dos indivíduos.

De acordo com Paulo II (1994, cit. Domingues e Domingues, 2001) a família


é uma comunidade de pessoas, a mais pequena célula social, e como tal é
uma instituição fundamental para a vida da sociedade.

Para Costa (s.d.) o conceito de “família” é impreciso no espaço e no tempo.


O autor defende que a família pode ser um abrigo, onde se pratica a
intimidade, a afetividade, a autenticidade, privacidade e solidariedade mas
também pode ser um espaço onde existe opressão, egoísmo, obrigação e
violência.

Alarcão (2000) sugere que a família é o lugar onde naturalmente nascemos,


crescemos e morremos, ainda que, nesse longo percurso, possamos ir tendo
mais do que uma família. Para a autora a família é então um espaço
privilegiado para a elaboração de aprendizagens de dimensões significativas
da interação: os contactos corporais, a linguagem, a comunicação, as
relações interpessoais. É, ainda, o espaço de vivência de relações afetivas
profundas: a filiação, a fraternidade, o amor, a sexualidade, tudo isto numa
trama de emoções e afetos positivos ou negativos que, na sua elaboração,
vão dando corpo ao sentimento de sermos quem somos e de pertencermos
àquela e não a qualquer outra família. A família é ainda um grupo
institucionalizado, relativamente estável, e que constitui uma importante
base da vida social.

De acordo com Sampaio (1985, cit. Alarcão, 2000) a família é um sistema,


um conjunto de elementos ligados por relações, em contínuo intercâmbio com

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o exterior, que mantém o seu equilíbrio ao longo de um processo de
desenvolvimento percorrido através de estádios de evolução diversificados.

Andolfi (1981, cit. Alarcão, 2000) descreve a família do ponto de vista


holístico como um sistema de interação que supera e articula dentro dela os
vários componentes individuais, acrescentando que a família é um sistema
entre sistemas e que é essencial a exploração das relações interpessoais, e
das normas que regulam a vida dos grupos significativos a que o indivíduo
pertence, para uma compreensão do comportamento dos membros e para a
formulação de intervenções eficazes.

Na perspetiva de Gurvitch (1986, cit. Dias, 1996) a família é um agrupamento


duradouro, um grupo que só se dissolve em determinadas circunstâncias,
como a morte, a maturidade, a vontade ou o acordo dos interessados, decisão
da maioria dos membros.

Benson (1988, cit. Pereira, 1996) refere que a família varia quanto à forma,
dimensão, estrutura, religião, “background” cultural, educação, saúde,
localização geográfica, valores e crenças, difere ainda quanto ao número de
amigos e quanto ao número de elementos da família alargada. O autor
destaca ainda a importância de termos de considerar cada família como única.

A família é um sistema aberto constituído por muitas unidades ligadas no


conjunto por regras de comportamento e funções dinâmicas, em constante
interação entre elas e intercâmbio com o exterior. As regras/ normas
familiares constituem os limites, as fronteiras do sistema familiar. (Costa,
s.d.)

O conceito de família não teve sempre a conotação que tem atualmente, mas
em síntese, e de acordo com o que os autores defenderam anteriormente,
podemos definir a família da nossa perspetiva.

Assim, sempre que nos referirmos a família estamos a falar de uma unidade
social, constituída por várias pessoas, onde existem laços de parentesco, que
podem ou não ser positivos. A família vai sofrendo alterações ao longo do
tempo, não pode ser vista como algo estático, pois todos nós nascemos numa
família, mas podemos constituir ou vir pertencer a outras famílias.

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História da evolução do conceito

A família não é algo que se mantenha estático no tempo. Desta forma, o


modo como esta vai sendo vista, altera de acordo com as diferentes épocas
sociais, políticas e históricas. Assim, vamos verificar de que forma o conceito
“família” se tem vindo a alterar.

O termo “família” surge do latim “famulus” que significa “escravo doméstico”.


Este termo surge na Roma antiga para designar um grupo social que surgiu
entre as tribos latinas ao serem introduzidas a agricultura e também a
escravidão legalizada. (Antunes, 2009, p.12). Dias (1996) refere que este
conceito tem sofrido alterações ao longo dos tempos, Menezes (1990, cit.
Dias, 1996) acrescenta que estas alterações advêm dos tempos da idade
média, sendo, no entanto, a família permeável a todas as mudanças políticas
e económicas que se vão verificando na sociedade.

Era no seio da família que antigamente se aprendiam todos os


comportamentos que permitiam a sobrevivência, havendo como que uma
aprendizagem dos papéis sociais que cada um teria de integrar ao longo do
ciclo vital. A família seria como que um núcleo preponderante no contexto de
desenvolvimento/ construção/ aprendizagem do indivíduo. As raparigas
aprenderiam a recolha manual de produtos, enquanto os rapazes eram
iniciados à atividade da caça. A estandardização geral de utensílios e de um
padrão geral de vida, favorecia a apreensão por observação, experimentação
e imitação, sendo estes processos bastante ritualizados, substituindo assim,
uma instrução direta e objetivada. (Dias, 1996). A família era vista como uma
unidade economicamente autosuficiente (Ruivo, 1977, cit. Dias, 1996), dado
ser constituída por muitos elementos o que economicamente era muito
vantajoso.

Na fase da industrialização (Carvalho, 2002), no século XIX, a família típica


era a denominada de família nuclear, significa isto que o pai era o chefe e o
“ganha – pão”, a mãe era doméstica e os filhos dependentes. No entanto,
segundo Pedro (1998, cit. Dias, 1996) foi neste século que a maternidade
começou a ganhar mais relevo, levando à afirmação da esposa perante o
marido, tornando-a o eixo central da família e das aprendizagens do
indivíduo. E, foi a partir desta valorização do papel maternal (Menezes, cit.

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Dias, 1998) que as mulheres ingressaram no mundo do trabalho, o que vai
desencadear um sentimento de culpabilidade. Na opinião de Antunes (2009)
muitas mulheres não vão para o mundo do trabalho com o objetivo de
aumentar o rendimento familiar, embora isso seja em muitos casos um dos
motivos, mas fazem-no sobretudo para se sentirem realizadas, se
autonomizarem e se encontrarem como pessoas.

É só no início do século XX, que, o papel paternal ganha relevância, segundo


Dolto, 1978 (cit. Pedro, 1988, in. Dias, 1998) isto deve-se à influência das
teses psicanalíticas, em que o “pai” emerge como valor simbólico, simbolismo
esse que lhe confere importância afetiva no processo de socialização/
construção. De acordo com Ariés (1978, cit. Dias, 1998) é durante este século
que se dá uma redução na composição do agregado familiar, dissipando-se
os parentes no tempo e no espaço.

De seguida, abordaremos a família atual que é defendida por Ariés (1978, cit.
Dias, 1998) que se mantém extremamente atual.

A Família Atual

Domingues e Domingues (2001) afirmam que a sociedade tem vindo a sofrer


constantes e rápidas alterações, essencialmente nas últimas décadas, quer
demográficas, quer sócio-económicas, alterações estas que se fazem sentir
no seio da família, tais como: a diminuição do número de filhos por casal, a
instabilidade do casamento com um número crescido de divórcios, o aumento
da esterilidade e o aumento de famílias monoparentais e reconstituídas.

De tal forma, a família é obrigada a assumir novas configurações e novos


papéis, estabelecendo entre os seus membros e com a sociedade novas
relações.

Os autores supracitados, Domingues e Domingues (2001), referem que o


aumento da população, principalmente nos grandes centros, com o espaço
habitacional cada vez mais exíguo e o exagerado direito à intimidade do casal,
levam a que o núcleo familiar seja restringido a duas gerações, onde a mulher
é co-protagonista na obtenção de meios económicos com a sua entrada no
mercado do trabalho, repartindo as obrigações e partilhando os direitos com

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o homem; o relacionamento entre os cônjuges passa a ser mais igualitário
levando a uma diminuição da carga autoritária relativamente aos filhos e a
uma repartição das tarefas domésticas. Com o número do agregado familiar
reduzido e com os cônjuges a integrarem ambos no mercado de trabalho é
fácil supor que haverá “pouca vida humana nas famílias dos nossos dias”.

Domingues e Domingues (2001, p. 60) A socialização primária dos jovens


deixa de ser exclusivamente pela família, ficando esta a ser permeável a
maiores contactos com o exterior, como todos os desequilíbrios que daqui
podem advir: a criança vai desde cedo para a creche e escola tendo cada vez
menos contacto afetivo com os pais; este fenómeno evolui na sua gravidade
pois o aumento da escolaridade obrigatória é um facto assim como o ingresso
no mercado de trabalho é tardio, fazendo com que a dependência social e
económica relativa à família de origem aumente. Forma-se um ciclo vicioso,
com a criança ou jovem, a funcionar como encargo financeiro fazendo com
que muitas vezes o casal tenha um segundo emprego, implicando menos
disponibilidade para a educação dos sentimentos, para a solidariedade e para
a autodoação, ficam então, “os filhos privados do pai ou da mãe e condenados
a serem, de facto, órfãos de pais vivos.” Domingues e Domingues (2001,
p.61).

De acordo com Antunes (2009) antes do Estado Novo a divisão social do


trabalho era discriminativa, a mulher devia de estar em casa a cuidar dos
filhos e dedicar-se exclusivamente à família, sendo boa dona de casa, boa
mãe e boa esposa. Esta política do Estado Novo tentou manter a mulher em
casa até à década de 60 (devido à guerra e à imigração), altura em que a
mão-de-obra feminina foi precisa fora de casa.

Carvalho (2002) refere que, atualmente, várias modificações influenciam o


modelo da família: a mulher passa a ter vida profissional, diminuindo a
distinção entre tarefas masculinas e femininas; o planeamento familiar,
através da contraceção, acarreta a diminuição das taxas de natalidade; a
escola abre-se a todas as crianças, os tempos livres aumentam, os divórcios,
as uniões de facto, as mães solteiras, os casais homossexuais, algumas
inovações médicas como a manipulação genética e a procriação assistida, são
novas possibilidades; a realidade económica debilitada com o aumento do

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desemprego e a imigração faz aparecer os sem-abrigo e os meninos de rua;
a expectativa de vida aumenta implicando maior número de idosos.

De acordo com Barros de Oliveira (1994, cit. Carvalho, 2002) para além da
família tradicional surgem novas formas de família, as quais se podem
caracterizar da seguinte forma: a família de educador único (mães solteiras
ou casais divorciados); as famílias reconstituídas (casais em que um ou
ambos os elementos são divorciados, podendo haver filhos dos dois lados e
comuns); a família de casal homossexual e novas formas de parentalidade
(resultantes das inovações médicas já referidas). Assim, verifica-se cada vez
mais um desmoronamento da família tradicional, deixando de haver
comunhão entre as pessoas, o que aumenta o número de divórcios, o número
de filhos separados e a quantidade de famílias monoparentais. As figuras do
avô e da avó tendem a desaparecer dando lugar à televisão, companheira e
ama de tantas crianças enquanto esperam pelos pais ausentes nos seus
empregos precários lutando para a subsistência umas vezes e, outras nos
seus mundos egoístas de falsas aparências venerando o Ter e esquecendo o
Ser; é dificultado com estas atitudes, a plena integração da criança na família,
pela ausência de comunicação, dando-se início ao ciclo de marginalidade,
inicialmente familiar que rapidamente se alastra ao social.

Opinião diferente da anterior tem Fazenda (2005), a autora refere que temos
assistido, nomeadamente, a partir do século XX, a uma transformação
acelerada do papel da família na sociedade e da sua forma de organização
interna, que muitas pessoas confundem com o prenúncio de uma decadência
ou de um desaparecimento da família.

A autora pensa que não é isso que vai acontecer, apesar das grandes
transformações que se têm operado na família, que estão entrelaçadas com
as mudanças sociais ocorridas no último século, o grupo familiar continua a
ser o contexto em que se transmitem as aprendizagens fundamentais da
nossa cultura, e em que se encontram as melhores condições para o
crescimento harmonioso dos seus membros.

Para Cabrera, Tamis-LeMonda, Lamb & Boller (1999), Parke, (1996), Torres,
(2004) (cit. Monteiro, Veríssimo, Santos e Vaughn, 2008) as profundas
transformações económicas, sócio-demográficas e culturais ocorridas nas

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últimas décadas (onde a entrada massiva da mulher no mercado de trabalho
é apontada como o fator mais saliente), conduziram a uma mudança na
estrutura tradicional da família e nas expectativas acerca dos papéis a
desempenhar pelas figuras parentais. Para Monteiro, Veríssimo, Santos e
Vaughn (2008) quer seja por motivos económicos ou de desejo de autonomia
e realização pessoal, o número de mulheres com trabalho remunerado, em
Portugal, tem aumentado significativamente nas últimas décadas. Este
aumento foi acompanhado por um crescimento substancial do número de
crianças em cuidados não maternos, durante várias horas por dia. O aumento
do número de divórcios, de famílias monoparentais, de coabitações e de
famílias resultantes de segundos casamentos, tem contribuído, também, para
a alteração da estrutura familiar tradicional. A par da mudança na imagem
da mulher que, no presente, assume, simultaneamente, responsabilidades na
espera familiar e profissional, a imagem do homem tem vindo a alterar-se,
começando a ser visto como um pai afetuoso e ativamente envolvido no
quotidiano dos filhos. Em vez da atribuição de papéis específicos e
complementares, surge um novo ideal de co-parentalidade em que ambos os
pais partilham responsabilidades e tarefas nos domínios, financeiro,
doméstico, e nos cuidados das crianças de um modo mais igualitário.

No entanto, Monteiro, Veríssimo, Castro e Oliveira (2006, cit. Monteiro,


Veríssimo, Santos e Vaughn, 2008), constataram que, na perspetiva de mães
e pais portugueses, com crianças entre 1 e 6 anos de idade, é quase sempre
a mãe a responsável pelas atividades relacionadas com as rotinas de cuidados
à criança, assumindo o pai um papel de suporte, de ajuda quando é
necessário.

Deutsch, 2001, Parke, 1996; Rohner & Veneziano, 2001 (cit. Monteiro, et al.
2008) referem a imagem cultural da mulher como primeira prestadora de
cuidados e a do pai como figura substituta ou apenas como companheiro de
brincadeira, facto que parece ser ainda, uma crença bastante enraizada na
Sociedade Ocidental.

Para Lamb & Tamis-Lemonda, 2004; Parke, 1996¸ Pleck & Masciadrelli, 2004
(cit. Monteiro, et al. 2008) embora alguns pais desempenhem, no presente,
um papel mais ativo na vida dos filhos, comparativamente com os seus

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próprios pais, ou com os seus pares, no global poucas mudanças se
verificaram.

Concluímos que a família hoje em dia está bem diferente da família


tradicional, existindo, atualmente, uma grande diversidade familiar. A
seguinte citação resume isso mesmo: “Atualmente a família, tem assim, que
adaptar-se continuamente a novos modos de vida.” (Dias, 1996, p.XXVIII)

Diversidade Familiar

Como já foi dito anteriormente, a família tradicional, constituída por pais,


filhos, avós e parentes mais próximos, tende a desaparecer. Uma das
possíveis causas deste desaparecimento são as constantes mudanças que se
vão verificando na sociedade devido a fatores políticos, temporais, religiosos,
culturais. No entanto, há algo que é comum a todo o ser humano: todos
nascemos numa família, que por sua vez tem as suas características
individuais como veremos de seguida.

Glat (s.d) defende que o ser humano já nasce numa família específica, com
características próprias, pertencente a uma determinada cultura na qual
ocupa uma posição sócio-económica. Mas, o ser humano nasce ainda com o
seu lugar dentro do grupo familiar de certa forma, determinado: pode ser o
mais velho, o mais novo, um filho desejado, ou não. Logo, a família realiza a
chamada socialização primária que consiste na aprendizagem de papéis
sociais, ou seja, na formação da identidade pessoal e social do indivíduo, na
imagem que cada um tem de si próprio.

Cornwell e Corteland (1997, Leal, 2008) referem que a diversidade familiar


existente é um facto que advêm das transformações sociais constantes e não
um desvio temporário à norma. Atualmente, defende-se uma intervenção
centrada nas competências e necessidades das famílias, sendo fundamental
aceitar todos os diversos agregados familiares que caracterizam a atualidade:
famílias monoparentais, famílias reconstruídas, entre outras.

De acordo com Pereira (1996) o primeiro passo no trabalho com famílias será
reconhecer a diversidade dos seus valores, crenças, aspirações e prioridades,
uma vez que cada família tem a sua estrutura própria, as suas áreas fortes e

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fracas, uma cultura e uma linguagem própria, que devem de ser respeitadas.
Não esquecendo o subsistema da família alargada, esta é constituída pelas
interações com a restante família, vizinhos e amigos. Quando existe uma
criança com deficiência no seio familiar, a família alargada pode ser benéfica
para o aumento da qualidade de vida, na medida em que constituirá um
importante recurso na vida dos pais.

Leal (2008) também destaca que para caracterizar a estrutura familiar de


uma família é importante conhecer aspetos como: a sua composição, o
número de elementos, o estatuto sócio-económico, a cultura e etnia
familiares e a localização geográfica.

Em suma, todo o indivíduo nasce numa família. No entanto, o que caracteriza


cada família é a sua unicidade, não há famílias iguais, cada uma tem os seus
valores, culturas, aspirações, etnia, localização e composição. Relativamente
à composição, estas podem variar entre monoparentais, reconstituídas,
heterossexuais ou homossexuais. No entanto, pese esta diversidade observa-
se que no que se refere às suas funções existe uma unicidade que é comum
a todo o tipo de famílias.

Funções da Família

A definição de “família” como uma unidade social, constituída por várias


pessoas, onde existem laços de parentesco, que podem ou não ser positivos,
a sua alteração ao longo das diferentes épocas temporais já é suscetível de
algumas das suas funções.

O facto de a família ser vista como uma unidade social leva-nos a considerar
que esta unidade social tem de ter princípios comuns, tem de lutar para
objetivos em conjunto, regendo-se pelos mesmos princípios e valores morais
que a vão caracterizar como grupo.

De seguida, apresentamos diversas opiniões de diferentes autores sobre as


funções da família.

Segundo Sampaio & Gameiro (1995, cit. Carvalho, 2002) a função da família
é fornecer meios de subsistência aos seus elementos no sentido económico e
afetivo do termo, ao mesmo tempo que deve fazer face às tarefas de

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desenvolvimento e resolver situações que causem instabilidade (separações,
doenças, crises económicas…).

Para Leal (2008) as funções da família são atividades e tarefas inerentes ao


cumprimento das suas necessidades, tais como: os aspetos domésticos,
económicos, de lazer, de socialização, de cuidados de saúde, de afeto, etc.

Minuchin (1979, cit. Costa, s.d.) define uma função interna e uma função
externa na família. Como função interna, o desenvolvimento e a proteção dos
seus membros, como função externa a socialização, a adequação e
transmissão de determinada cultura.

Relvas (1996, Costa, s.d.) considera que a família tem de resolver com
sucesso duas tarefas, por um lado, a criação de um sentimento de pertença
ao grupo, por outro, a individualização/ autonomização.

Na perspetiva de Alvim (2002) no contexto sociocultural atual, a família


continua a desempenhar um papel fundamental e a ser a unidade básica em
que nos desenvolvemos e socializamos. É essencialmente nela que cada
indivíduo procura o apoio necessário para ultrapassar os momentos de crise
que surgem ao longo da vida.

Todas as famílias para que possam manter a integridade, desempenham


determinadas funções de modo a responder às suas necessidades enquanto
família (enquanto todo), às necessidades de cada membro individualmente e
às expectativas da sociedade.

Na perspetiva de Kozier (1993, cit. Alvim 2002) entre as muitas funções que
a família realiza a mais importante é a de proporcionar apoio emocional e
segurança aos seus membros, mediante o amor, a aceitação, o interesse e a
compreensão. A componente afetiva é enfatizada pelo mesmo autor, pois
segundo ele, mantém as famílias juntas, dando aos seus membros o sentido
de pertença. É esse sentimento de pertença que conduz a um sentimento de
identidade familiar.

Barker (2000, cit. Alvim 2002) acrescenta outras funções à família: a


resposta às necessidades básicas, a reprodução e continuação da espécie, a
criação e socialização dos filhos, espaço para a expressão legítima da

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sexualidade do casal e finalmente a possibilidade de amparo e apoio mútuo
dos seus elementos.

Pinto (1991, cit. Domingues e Domingues, 2001) avança alguns segredos


para que uma família se torne “Forte”, que poderão ser considerados
“funções”. São eles, o compromisso (engloba o bem-estar e a felicidade uns
dos outros), a estima, a comunicação, o tempo de convívio (o tempo que
passam juntos é de qualidade e preferencialmente em quantidade), a
plenitude espiritual (os membros da família têm um sentido de um bem ou
de um poder superior na vida e essa convicção é um valor do grupo) e a
capacidade de enfrentar (tensões e crises) para se reforçarem como família.

Desta feita, apesar da unicidade familiar que assiste cada família, podemos
constatar que por mais diferenças que haja entre elas, há pontos comuns,
nomeadamente, o ciclo vital pelo qual todas as famílias são sujeitas a passar,
bem como as funções que as caracterizam, como o sentimento de pertença
a um grupo, a resolução de situações de instabilidade, a procura incessante
por responder às necessidades económicas, domésticas, familiares, a
socialização, de entre muitos outros aspetos que foram supracitados.

O ciclo vital

Relvas (1996, cit. Alarcão, 2000) denomina de ciclo vital a sequência


previsível de transformações na organização familiar. Para o investigador, a
marcação das diferentes etapas do ciclo vital tem variado consoante os
autores, ainda que sejam relativamente consensuais os seguintes critérios de
diferenciação: aparecimento de novos elementos e, mais propriamente, de
novos subsistemas; tarefas de desenvolvimento a realizar e,
consequentemente, mudanças funcionais e estruturais a operar; finalmente,
a saída de elementos do núcleo familiar.

A conceptualização do ciclo vital da família e das suas etapas tem tido como
referência a família tradicional, composta por pai, mãe e filhos e a idade da
evolução do filho mais velho.

O autor supracitado sugere que sejam equacionados novos estudos, dadas


as mudanças que temos vindo a assistir no que respeita à constituição e

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composição da família. Uma vez que esses estudos ainda não foram
realizados, de seguida, vamos abordar as distintas fases do ciclo vital da
família, consideradas por Relvas (1996, cit. Costa, s.d.), tendo em conta a
família tradicional.

Para Relvas (1996, cit. Costa,s.d., p.79) o ciclo vital da família é composto
por cinco fases: a formação do casal; a família com filhos pequenos; a família
com filhos na escola; a família com filhos adolescentes e família com filhos
adultos.

1. Formação do casal – início da família, num contexto físico, psicológico e


social, na esperança de adaptação da vida a dois e de ter filhos;

2. Família com filhos pequenos – inicia-se este ciclo quando nasce o primeiro
filho, a díade existente até então transforma-se em tríade;

3. Família com filhos na escola – é um momento crucial de abertura do


sistema familiar ao mundo que a rodeia, a família sente-se observada, em
relação ao desempenho do seu filho na escola e em relação às competências
da criança para viver e conviver com os outros;

4. Família com filhos adolescentes – Nesta fase há uma necessidade de definir


um novo equilíbrio entre o individual, o familiar e o social;

5. Família com filhos adultos – Aqui entrecruzam-se gerações, saem os filhos,


vêm genros, noras e os netos, existindo uma ligação entre famílias de origens
diferentes. Com o decorrer do tempo um dos cônjuges desaparece desta
família, para a última saída coincidir com a morte do sistema.

Dado o alargamento da esperança de vida, é hoje relativamente comum


encontrarmos famílias com três ou até quatro gerações. Assim, não nos
podemos esquecer que os ciclos de vida de cada uma destas famílias se
entrelaçam e se repercutem uns nos outros, com todas as potencialidades e
vicissitudes que tal facto comporta. (Relvas, 1996, cit. Costa, s.d.)

McGoldrick e Carter (1982, cit. Alvim, 2002) também se dedicaram ao estudo


do ciclo vital, os investigadores referem que é cada vez mais difícil determinar

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quais os padrões normais dos ciclos de vida da família, desta forma, dividem-
nos em seis fases:

- A primeira fase é a do jovem adulto sem compromissos, uma pessoa que


se encontra entre famílias e que deverá aceitar separar-se da família de
origem;

- A segunda fase é a união das famílias através do casamento – o que nem


sempre é legalmente formalizado. O processo implica o compromisso mútuo
de ambos os parceiros de tal forma que se cria um novo sistema conjugal e
se consumam adaptações nas relações do casal com a sua família alargada e
os amigos;

- A terceira fase é a da família com filhos pequenos. A chegada de filhos


obriga a grandes alterações no sistema familiar. Ao sistema conjugal é
acrescentado um sistema parental novo. A geração mais recente tem de ser
aceite no seio da família e há uma mudança nas relações desta com a família
alargada. O papel de avô/ avó poderá ser significativo e importante;

- A quarta fase é a da família com adolescentes. Durante esta fase deverá


haver uma mudança gradual mais significativa, nas relações pai/mãe-filho de
forma que este se torne cada vez mais independente. Durante algum tempo
ele pode ainda entrar e sair do sistema familiar, tornando-se estas fronteiras
cada vez mais flexíveis;

- A quinta fase é a de “lançar” os filhos e continuar. Nesta fase poderá haver


muitas entradas e saídas de elementos da família, pois partem as gerações
mais novas e os pais tendem a ficar frágeis ou doentes e, por isso, a depender
dos seus filhos. Depois, à medida que os filhos casam e têm filhos
desenvolve-se o papel de avós. Os filhos das famílias têm de se entender com
a família dos sogros e durante este período poderão ter também de lidar com
a doença e a morte de gerações mais idosas;

- A sexta fase é a da família na última etapa da vida. A geração parental


tornou-se a geração dos avós e estes poderão estar sozinhos e necessitar de
conquistar novos interesses e um circuito social diferente. A geração
intermédia pode desempenhar um papel mais central na família, tomando
conta da mais idosa, e não como no passado criando espaço e utilizando a

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sabedoria e a experiencia das gerações mais velhas. Também há um
momento em que a doença e a morte são comuns na geração mais idosa, o
que afeta os cônjuges, parentes e pares;

Verificamos, que a forma como Relvas, McGoldrick e Carter veem o ciclo vital
é semelhante, no entanto, estes últimos dois autores distinguem-se de Relvas
ao acrescentarem um ciclo inicial (jovem adulto) e outro ciclo final (velhice,
doença e morte).

Uma vez abordada a família do ponto de vista do seu ciclo vital, faz também
sentido compreendê-la como um sistema com características bem distintas.

Família: Uma Visão Sistémica

São vários os autores que consideram a família como um sistema. Na nossa


pesquisa bibliográfica, encontramos diferentes perspetivas, no entanto, são
de referir os autores que classificam subsistemas no sistema família.

Para Cordeiro (1979, cit. Dias, 1998, p. 51) a família é um sistema, que na
sua generalidade enquadra os indivíduos no macrossistema que constitui hoje
em dia a "aldeia global". No entanto, o autor refere que não se trata de um
sistema único, mas de um conjunto de sistemas e subsistemas, entre os quais
é possível distinguir os sistemas social, cultural, ocupacional e biológico.

Do ponto de vista de Alarcão (2000) a compreensão sistémica da família, do


seu desenvolvimento e do seu funcionamento, não é hoje exatamente a
mesma que se tinha nos anos 50, 60 ou mesmo 70. Existem, atualmente,
diversas definições do termo família, mas cremos que o mais importante é
vê-la como um todo, no entanto, é ainda parte de outros sistemas, de
contextos vastos com os quais co-evolui, tais como, a comunidade ou a
sociedade. A autora refere-se ainda à família como um sistema aberto, dadas
as trocas que estabelece com o exterior, é dele que recebe um conjunto de
influências ao mesmo tempo que o influência.

Esta visão de família como sistema aberto é partilhada por Lóio, (2003, cit.
Barbas, 2003) para o investigador, este sistema é organizado, independente

15
e em transformação, o que implica que possua algumas propriedades comuns
aos outros sistemas vivos, são eles:

- Totalidade: significa que a família não é a soma dos elementos, o


comportamento de cada um é indissociável do comportamento dos restantes.
Isto implica que para compreender o indivíduo é necessário analisar,
também, a sua família como um todo complexo;

- Circularidade: esta explica-se pela interdependência do comportamento dos


membros devido aos múltiplos feedbacks, leva a que o modelo causa - efeito
não seja explicativo do comportamento de cada um. Por exemplo, o filho é
rebelde porque os pais são controladores e estes são assim porque o filho é
rebelde;

- Equifinidade: uma determinada causa pode levar a diferentes resultados e


o mesmo resultado pode ser atingido por causas diferentes. Para o autor,
este conceito pode-se clarificar com a expressão: há diferentes caminhos
para chegar ao mesmo destino. O destino de uma família depende do seu
funcionamento próprio e único. Interessa portanto estudar ou avaliar a
organização e as inter-relações familiares;

- Auto-organização: a família é um organismo vivo, possuindo desta forma


autonomia na regulação dos seus processos estruturais e funcionais, de forma
a conseguir adaptar-se e evoluir ao longo do tempo à medida que permanece
organizada e identitária;

Alarcão (2000) prossegue referindo que, na sua evolução, o sistema familiar


vai regulando esta abertura ao exterior, ora fechando-se ora abrindo-se,
realizando movimentos centrípetos e centrífugos de acordo com as
necessidades e características.

A autora evidencia ainda que é importante compreender que ao ser autónomo


o sistema familiar não despreza a relação que tem relativamente aos
restantes sistemas.

Tal como acontece com cada sujeito em particular: para sermos


independentes temos de ser dependentes, mais concretamente temos de
vincular-nos. O indivíduo é, por um lado, uma parte da família e da

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comunidade a que pertence, mas por outro lado, nele habita e reconhece-se
essa mesma família e essa mesma comunidade.

Para a investigadora, os sistemas (família, escola, trabalho dos pais,


comunidade) e os subsistemas são os papéis e as funções, as normas e os
estatutos ocupados pelos indivíduos.

A clara delimitação destes limites permite a cada um, em cada momento e


em cada espaço, saber o que pode esperar de si próprio, o que podem os
outros esperar dele e o que pode ele esperar dos restantes.

Na opinião da autora ao desempenhar diferentes papéis, os seus vários


elementos participam e pertencem a diferentes sistemas (ou subsistemas) o
que torna evidente, por um lado, que as fronteiras dos vários sistemas são
permeáveis (permitem a passagem seletiva de informação), por outro lado,
que a compreensão de cada sistema ou subsistema (desde o individual ao
mais alargado) requer o conhecimento dos contextos em que participa, o que
obriga não só à análise das relações horizontais (aquelas que ocorrem dentro
do mesmo subsistema) como as relações verticais (acontecem entre
diferentes subsistemas e sistemas). A esta hierarquia de sistemas (ou
subsistemas) em relação chama-se hierarquia sistémica.

Debatida a visão sistémica de Alarcão, consideramos pertinente verificar


quais os subsistemas que a autora defende na família.

Sendo eles, o individual, o conjugal, o parental e o fraternal.

O subsistema individual, é composto pelo indivíduo que, para além do seu


estatuto e função familiares tem também funções e papéis noutros sistemas.
Esta dupla pertença cria-lhe um dinamismo que se repercute no seu próprio
desenvolvimento e na forma como ele está em cada um desses contextos;

O subsistema conjugal, composto por marido e mulher, a complementaridade


e a adaptação recíproca são aspetos importantes do seu funcionamento. Uma
boa gestão da simetria permitirá, a cada elemento, manter a sua zona de
individualidade. Uma das funções desse subsistema é o desenvolvimento de
limites ou fronteiras que protejam o casal da intrusão de outros elementos
(tais como as famílias de origem ou os filhos) de modo a proporcionar-lhes a
satisfação das suas necessidades psicológicas. Desta forma, constitui uma

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plataforma de suporte para o casal lidar com o stress intra e extra familiar.
Este subsistema é considerado vital para o crescimento dos filhos, servindo-
lhes de modelo relacional para o estabelecimento de futuras relações de
intimidade.

O subsistema parental, habitualmente constituído pelos mesmos adultos mas


agora com funções executivas, visa a educação e proteção das gerações mais
novas. É a partir das interações pais-filhos que as crianças aprendem o
sentido da autoridade, a forma como negociar e lidar com o conflito no
contexto de uma relação vertical. É também no contexto desta interação que
se desenvolve o sentido de filiação e de pertença familiar. Este subsistema
pode variar quanto à sua composição, incluindo ou não avós, tios, padrinhos
ou mesmo o irmão mais velho. Os pais podem até não fazer parte desta
estrutura, no entanto, para a autora o que interessa é saber quem
desempenha as funções e as tarefas que lhe são inerentes.

O subsistema fraternal é constituído pelos irmãos, representa, um lugar de


socialização e de experimentação de papéis face ao mundo extrafamiliar,
primeiro em relação à escola e depois em relação ao grupo de amigos e ao
mundo do trabalho. É neste subsistema que as crianças desenvolvem as suas
capacidades relacionais com o grupo de iguais, experimentando o apoio
mútuo, a competição, o conflito e a negociação das brincadeiras solidárias e
nas “guerras”. (Alarcão, 2000, pp. 52-54)

Leal (2008) interpreta o sistema familiar relativamente à interação e ao


funcionamento analisando as relações existentes entre os subsistemas –
individual, conjugal, parental, fraternal e extrafamiliar – em função dos três
processos que lhe estão subjacentes: a coesão, a adaptabilidade e a
comunicação. O autor acrescenta ainda que não existem formas de
funcionamento certas e erradas, existem apenas formas de funcionamento
diferentes, para poder dar respostas a diferentes situações e acontecimentos
que ocorrem ao longo da vida de cada família. O facto de os subsistemas
(Alarcão, 2000) terem funções diferentes mas relacionadas, de as mesmas
pessoas poderem pertencer, simultaneamente, a diferentes subsistemas e de
a estrutura familiar variar, de forma adaptativa, ao longo do ciclo de vida da

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família, tudo isto torna necessariamente vital a definição clara de “limites” e
“fronteiras”. Estes limites são considerados como “linhas divisórias”,
permitem regular a passagem de informação entre a família e o meio, assim
como entre os diversos subsistemas.

Enquanto regras que definem “quem participa no subsistema e como o faz”,


os limites visam proteger a diferenciação do sistema e dos seus membros.
Com efeito, o desenvolvimento das competências interpessoais adquiridas
nos subsistemas depende do grau em que cada subsistema mantém a sua
autonomia, protegendo-se da ingerência dos restantes.

Minuchin (1979, cit. Alarcão, 2000, p.54) diferencia três tipos de limites: os
claros (que delimitam o espaço e as funções de cada membro ou subsistema,
permitindo, contudo, a troca de influências entre os mesmos), os difusos
(marcados por uma enorme permeabilidade que faz perigar a diferenciação
dos subsistemas) e os rígidos (que dificultam a comunicação e a compreensão
recíprocas). É a partir da diferenciação e permeabilidade dos limites que as
famílias são caracterizadas de emaranhadas ou desmembradas. Sendo que
as famílias emaranhadas possuem movimentos centrípetos e pelo mito da
unidade familiar, se fecham sobre si mesmas, desenvolvendo o seu próprio
microcosmos, promovem e alimentam um exagerado nível de intercâmbio e
de preocupações entre os diferentes elementos, reduzindo as distâncias
interpessoais e misturando as fronteiras entre gerações, subsistemas e
indivíduos. Os papéis familiares são rígidos e um dos pais é, frequentemente
colocado numa posição de one-down. São estabelecidas fronteiras rígidas
com o exterior, todas as solicitações de autonomia são vistas como falta de
lealdade para com o sistema familiar. O sofrimento de um dos membros tem
uma repercussão imediata no comportamento dos restantes, observando-se
uma invasão maciça das fronteiras pelas dificuldades que ecoam em todos os
subsistemas. Por outro lado, o autor sublinha que as famílias desmembradas,
são aquelas que estabelecem fronteiras rígidas no seu interior e difusas com
o exterior, numa profusão de movimentos centrífugos. Os intercâmbios
comunicacionais entre os subsistemas tornam-se difíceis e as funções de
proteção da família são diminuídas. Os membros destas famílias funcionam
de forma individualizada, os papéis parentais são instáveis, apesar da sua

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aparente rigidez. Estes sistemas familiares toleram uma grande diversidade
de variações individuais nos seus membros e o sofrimento de um deles
dificilmente ultrapassa as fronteiras, muito rígidas, que separam os diferentes
elementos: habitualmente, só em níveis muito elevados de sintomatologia é
que procuram ajuda.

Para o autor (Minuchin, 1979, cit.Alarcão, 2000, p.60), apesar destes


funcionamentos externos e de associar-lhe certo tipo de sintomas, há a
salientar os seguintes aspetos:

- Não existe diferença qualitativa entre famílias funcionais e famílias


disfuncionais; todas as famílias se encontram num continuum pontuado pelos
polos que acabamos de descrever;

- É possível encontrar, numa família funcional, períodos de maior


emaranhamento (p.e., no período da formação do casal ou da etapa com os
filhos pequenos) ou de maior desmembramento (p.e., na adolescência ou na
saída dos filhos de casa), adaptados à etapa do ciclo vital em que a família
se encontra;

- Numa mesma família podem existir diferentes tipos de limites entre os


vários subsistemas ou elementos (p.e., observar-se uma relação mais ou
menos enredada entre uma mãe e uma criança e um pai ausente e com
limites rígidos com a mãe);

- É fundamental, na apreciação valorativa do grau de emaranhamento ou de


desmembramento de uma família, situá-la no contexto cultural de que faz
parte assim como na sua história familiar: (p.e., as famílias da Europa
meridional são habitualmente mais emaranhadas enquanto as do norte da
Europa são mais desmembradas, sem que isso signifique disfuncionalidade;
há famílias com uma tradição de grande ligação emocional mas que revelam
uma adequada capacidade de desenvolvimento de indivíduos autónomos;
uma família, com filhos adolescentes, que está imigrada será, provavelmente
mais emaranhado do que uma outra que permanece na sua comunidade
original;

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Assim, para Minuchin (1979, Costa, s.d.) as unidades sistémico/ relacionais
(subsistemas) são criadas por interações particulares que têm a ver com os
indivíduos nelas envolvidos, com os papéis desempenhados, estatutos
ocupados, com as finalidades e objetivos e, finalmente com as normas
transacionais que se vão paulatinamente construindo.

O autor elaborou uma teoria dos sistemas com os seguintes princípios chave:

- A família é um todo organizado, cujos elementos são interdependentes;

- Os padrões de interação, no seio da família, são circulares, em vez de


lineares;

- As famílias apresentam características homeostáticas, que permitem


manter a estabilidade dos seus padrões de interação;

- A evolução e modificação são inerentes a toda a família;

- As famílias são constituídas por subsistemas separados por fronteiras,


governados por regras e padrões de interação;

A filosofia dos sistemas familiares sugere que a compreensão das


características das famílias, das suas interações, funções e ciclos de vida,
pode servir de base privilegiada e significativa individualização nas relações
entre pais e profissionais, com um fim único, que se traduz em benefícios na
própria criança, na família e nos profissionais (Turnbull & Turnbull, 1990, cit.
Amaral e Gil, 2008)

Ao longo na nossa abordagem à família como sistema constatamos que as


famílias podem ser mais ou menos funcionais, de seguida abordaremos os
fatores de stress, sendo que, por vezes estes, levam a que as famílias passem
por períodos menos funcionais.

Fatores de stress na família

Na perspetiva de Alarcão (2000) a família encontra-se sujeita a dois tipos de


pressão: interna (mudanças inerentes ao desenvolvimento dos seus
membros e dos seus subsistemas) e externa (exigências de adaptação dos

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mesmos às instituições sociais que sobre elas têm influência) e qualquer
destas situações vai transformar o sistema familiar.

Minuchin (cit.Alarcão, 2000) classifica quatro fontes de stress a que o sistema

familiar pode estar sujeito:

- O contacto de um membro da família com a fonte de stress extrafamiliar:


uma das funções da família é suportar os seus elementos relativamente a
pressões externas. Quando um elemento da família está sob stress os outros
elementos também sentem a pressão, surgindo assim a necessidade de
acionar mudanças no sentido de melhor lidar com o problema criado;

- Contacto de toda a família com a fonte de stress extrafamiliar: pode


acontecer que a família consiga encontrar formas de apoiar-se mutuamente,
naturalmente terá de operar mudanças nos seus padrões habituais de
funcionamento. No entanto, este stress também pode afundar o sistema,
dificultando a sua evolução, sobretudo quando o mesmo não tem criatividade
de encontrar novas respostas para os problemas com que se debate;

- Stress relativo aos períodos de transição do ciclo vital da família: este tipo
de stress é inegável ainda que esperado e normativo. O nascimento de uma
criança, a adolescência dos filhos, a morte de um progenitor idoso, são
acontecimentos que obrigam, naturalmente, à negociação de novas regras
familiares;

- Stress provocado por problemas particulares: diz respeito aos


acontecimentos inesperados que podem afetar fortemente a organização
estrutural de um sistema familiar. É o caso de nascimento de uma criança
deficiente, do aparecimento de uma doença crónica ou prolongada, de uma
adoção num casal infértil. Assim a família tem de reorganizar os seus padrões
transacionais para poder responder funcionalmente ao stress provocado por
estas situações;

Alarcão (2000) defende que toda a mudança causa stress,


independentemente da carga positiva ou negativa de que se faz acompanhar.
Com efeito, não é pelo facto de a mudança ser mais ou menos desejada, de
o novo estado ser mais ou menos agradável, que escapamos ao stress ou

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que lhe caímos na teia. O autor explica que em grego, crise [krisis] significa
momento decisivo, e, na realidade, é isso que ela representa, tal como
Minuchin (1979, cit. Alarcão, 2000) o explicou claramente quando disse que
a crise era simultaneamente, ocasião de (crescimento, de evolução) e risco
(de impasse, de disfuncionamento).

Dias (1998) acrescenta que a família sempre foi a unidade social mais
permeável à mudança, denotando uma capacidade de transformação e,
tendência homeostática, imprescindível à manutenção do seu equilíbrio
dinâmico interno. Apesar da vivência da família ser alargada a uma referência
sócio-cultural e histórica, a verdade é que a própria família nuclear parece
querer dar lugar às famílias monoparentais. Esta necessidade de responder a
mudanças interiores e/ou exteriores é a única forma que a família encontra
para responder a cada tipo de tensões que se lhe apresente.

De acordo com Rabkin & Streuning, 1976 e Rosenberg, 1977 (cit. Marques,
1977) os membros das famílias das classes sociais mais baixas experimentam
situações de stress mais severas, embora não tão frequentes, do que os
membros das famílias da classe média, sendo que, as situações sócio-
económicas difíceis não só ocasionam um elevado nível de stress, como
também influenciam a capacidade dos pais interagirem com os seus filhos.

Frude (1991, cit. Marques, 1977) revela que níveis académicos elevados têm
sido associados a níveis elevados de stress parental relativamente ao
nascimento da criança com deficiência, em comparação aos níveis
encontrados nos pais das classes mais desfavorecidas. Também Price,
Bonham e Addison (1978, cit. Marques, 1977) referem que as famílias de
crianças com deficiência são particularmente vulneráveis à experiência do
stress. Estes estudos demonstram ainda o aumento do número de divórcios
e de suicídios.

Hoffman (1984, cit. Rubinstein, Ramalho, Netto 2002, p.32) destaca quatro
variáveis que podem afetar a criança e a família:

- As condições económicas gerais;

- A classe sócio-económica;

- O trabalho do pai;

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- O trabalho da mãe;

De acordo com o autor, o desenvolvimento da criança muitas vezes é


influenciado pelo status económico designado pela ocupação do pai. Os
constituintes da vida da criança, como a saúde, nutrição, educação e, ainda,
o seu ambiente físico, vizinhos e amigos, além dos padrões de educação da
criança e o número de seus familiares, sua estrutura autoritária e sua
estabilidade, são relativos à classe social. No que se refere à classe social,
Cochran (1993, cit. Rubinstein, Ramalho, Netto, 2002) descreve que a renda
familiar, o nível educacional dos pais, o status e a complexidade da profissão
dos mesmos, são fatores que contribuem para determinar em qual classe
social a família está localizada.

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