Sob Sua Protecao - Stela Sa
Sob Sua Protecao - Stela Sa
Sob Sua Protecao - Stela Sa
Stela Sá
Copyright © 2020 Stela Sá.
Todos os direitos reservados.
É proibida a distribuição ou reprodução, total ou parcial, de qualquer parte
desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio, mecânico ou eletrônico,
sem o consentimento por escrito da autora.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas ou
acontecimentos é apenas coincidência.
Capa: Juliana Mesquita do @crazyforhotbooks
Revisão e Copydesque: Danilo Barbosa
Diagramação: Michael Josh
Este romance segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa
Índice
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Epílogo
Agradecimentos
AQUELE DIA NÃO ESTAVA SENDO UM DOS MAIS FÁCEIS.
Já me encontrava na quarta cliente só durante a manhã e mal havia
conseguido dormir pela segunda noite consecutiva. Se Lis continuasse com
aquela dor, como eu aguentaria trabalhar?
Minha pequena garotinha era meu sol, minha vida. Morreria e mataria
por ela. Mas ser mãe solteira exigia, algumas vezes, muito mais de mim do
que o corpo aguentava. Ela estava com dois dentes nascendo e isso a
incomodava demais. Durante a noite, quando o corpo esfriava das
brincadeiras, a dor vinha com tudo, fazendo-a chorar sem parar. Acalentá-la e
fazê-la voltar a dormir era uma missão cada vez mais desgastante.
Atualmente minha vida resumia-se a trabalhar e ser mãe de Elizabeth,
mas apesar dos problemas, estava longe de reclamar. Na maioria das
ocasiões, minhas maiores conquistas vêm em momentos de crise como esse.
Como este lugar. A Embeleze-se era um salão de beleza chique,
referência entre as mulheres do Upper East Side. Ficava em frente ao prédio
onde eu morava e atendia as mulheres mais ricas de Manhattan, em alguns
casos talvez do mundo.
Mesmo sem precisar preocupar-me com o aluguel do espaço e outras
burocracias, abrir a Embeleze-se foi desafiador. Estava grávida e precisava
arrumar uma fonte de dinheiro própria, para me manter. Para isso, deixei o
medo de lado, reuni as poucas economias que tinha e abri o salão, com um
barrigão.
Nessa aventura, tive o apoio de Brianna, uma amiga de infância. Foi
ela que cuidou de tudo nos primeiros meses após o nascimento da pequena,
conquistando assim a vaga de gerente. Não podia confiar em outra pessoa
para isso.
Assim que Elizabeth desmamou e começou a ingerir alimentos, pude
voltar a ficar mais tempo no salão, deixando-a aos cuidados da babá. Caso ela
precisasse de algo, era só eu atravessar a rua.
A vida em um salão de beleza era agitada. Pés cansados do tempo em
pé, as mãos e braços doloridos dos repetitivos movimentos, a língua inquieta
de tanta conversa. Mas o cansaço físico era um mero detalhe diante do prazer
que era dividir alguns momentos com todas aquelas mulheres. Apesar de
ricas e empoderadas, muitas eram gentis, sempre com um sorriso no rosto.
Aliado a isso, sempre prezávamos por bom atendimento e resultados
impecáveis, para deixar a todas satisfeitas e generosas
Terminei de lavar as longas mechas escuras de Sandra. A mulher era
uma das minhas melhores clientes e vinha ver-nos toda semana. Fazia unha,
depilação, cabelos… A Embeleze-se era responsável por deixá-la
impecavelmente linda.
— Lisandra, estou falando com você. Viu o babado da vez? – A
mulher chamou-me a atenção enquanto eu retirava o excesso de água dos
cabelos dela.
— O que aconteceu? — Tentei mostrar interesse na conversa.
— Uma garota, acho que com menos de quinze anos, está em todos os
noticiários. Ela afirma ser filha daquele senador… Como é mesmo o nome
dele? — Olhou para Brianna que me ajudava, pintando as unhas da mão da
mulher.
— Harry Adams. — Ela olhou-me inquieta.
Minha amiga de infância sabia como aquele tipo de assunto
incomodava-me.
— Isso! Obrigada, querida. — Sandra deu um tapinha na mão de
Brianna em agradecimento. — Ela declarou que o homem sabia da sua
existência, mas recusou-se até mesmo a registrá-la. O safado ainda era casado
quando a menina nasceu.
— Será que é verdade? Ele sempre pareceu-me tão bom sujeito.
Abandonar uma filha para evitar escândalo? — Amber, uma cliente próxima
a nós, que também fazia as unhas parecia visivelmente indignada.
— Não duvido. — Minhas palavras saíram mais azedas do que o
normal – Políticos não são confiáveis.
— Isso é senso comum, Lisandra. — Sandra aproveitou a massagem
que fazia em seus cabelos antes de começar a cortá-los.
— Já convivi muito tempo com eles para saber que não é…
— Família? — Ela passou a fitar-me com interesse.
— Trabalho — respondi com um sorriso no rosto. Não gostava de
falar sobre o assunto, odiava aquela época de minha vida e como fui tola, mas
Sandra era uma de minhas melhores clientes e era minha função agradá-la e
respondê-la com educação – Antes de abrir o salão tive o sonho de trabalhar
na política. Fiquei alguns anos em comitês de candidatos.
— Espero que não seja verdade. Eu votei nesse desgraçado. — Amber
parecia mau humorada.
Para a infelicidade de Harry Adams, não importava se a garotinha era
ou não sua filha. Aquilo já manchou a imagem dele para os eleitores
republicanos.
Assim que terminei de atender Sandra, respirei fundo e sentei-me na
imensa cadeira preta diante de mim. Tinha alguns minutos antes da próxima
cliente. Passei então a observar o espaço, que estava em polvorosa. Haviam
três clientes sendo atendidas por outras funcionárias, criando certa energia no
ar.
Eu era apaixonada por aquele lugar pequeno, mas acolhedor. Havia
um imenso sofá preto, que raramente era usado devido a nossa pontualidade;
algumas cadeiras como a que eu estava sentada, para tratar os cabelos em
frente a um enorme espelho; sem contar as seis cadeirinhas para as manicures
e duas salinhas separadas: uma para depilação e a copa.
— Cansada? — Brianna começou a massagear meus ombros, e dei
um gemido. Ela era como uma irmã para mim.
— Muito. Se Lis não dormir hoje, acho que serei um zumbi amanhã
— confessei, fazendo-a rir.
— Amorzinho, você já é um. Olha sua cara! — Mostrei a língua para
ela como uma criança de cinco anos. — Chateada com a conversa? — Olhei
para cima e vi os olhos preocupados de minha amiga.
— Não. Foi bom saber das notícias antes. Sei agora que logo
receberei uma ligação carinhosa de Bruce. Se bobear, essa noite ainda. — Fiz
uma careta demonstrando meu desagrado com a situação. — Sabe como é,
para garantir que o noticiário não me dê ideias…
— Eu o odeio.
— Não é a única.
— Eu gostaria de falar para ir embora, descansar, mas Kimberly é a
próxima, deve chegar em breve. — Enruguei a testa, surpresa.
— Que estranho. Eu atendi essa moça não tem três dias.
— Ao que parece, hoje ela quer mudar a cor. Já enjoou…
— A mesma que pintei faz duas semanas? Elas não têm ideia de como
isso estraga o cabelo. — Franzi o cenho e vi minha amiga dar de ombros.
— Às vezes isso é solidão, amiga. Mulheres também vem ao salão de
beleza apenas para conversar. — Sim, aquilo acontecia muito. E como podia
reclamar? Eu dava atenção para aquelas mulheres e recebia muito bem por
isso.
Pouco mais de vinte minutos Kimberly entrou no salão. Usava um
incrível salto da Jimmy Choo e uma Louis Vuitton no braço, apenas para me
matar um pouco de inveja. As grandes madeixas morenas que chegavam na
cintura haviam recebido uma camada de loiro nas pontas da última vez.
— Boa tarde Kim. — Dei um pequeno encostar de rosto na bochecha
dela e sorri docemente – Que bom te ver aqui de novo. O que faremos hoje?
— Ela deu-me um sorriso desanimado.
— Qualquer coisa, Lisa. Meu namorado me deu um pé na bunda para
ficar com a ex. — Ela limpou uma lágrima imaginária e sorriu – Quero deixar
aquela vaca no chinelo em questão de beleza, na festa que terei de aturá-la
hoje.
Sorri e fiz um pequeno movimento negativo com a cabeça. O cara
traía e a vaca era a mulher? Não que ela estivesse certa em envolver-se com
homem comprometido, mas ainda acho que o maior pecado sempre seria
daquele que tinha um compromisso a zelar.
Enquanto cuidava dela, contou-me sobre o ex e a amiga de infância
dele. A mulher resolveu dar em cima dele assim que descobriu que estava
namorando. Ele, como o fraco que era, caiu nas lábias da loira. Kimberly
descobriu a verdade rapidamente, e colocou um fim ao noivado. E agora
queria pintar os longos cabelos de loiro.
Quando o assunto começou a mexer com os nervos dela e as lágrimas
começaram a cair, mudamos para outros assuntos, mais banais. Falamos
sobre o salão, minha casa e a pequena Lis. Também falamos sobre antigos e
atuais paqueras. Contei até sobre Dylan, o segurança do prédio vizinho ao
que eu morava, que vivia tentando me conquistar.
Ele era um homem honesto e gentil. Éramos amigos há alguns anos e
ultimamente vinha tentando sair comigo para um drink. Infelizmente, eu
estava fugindo de relacionamentos, magoada com as atitudes de Bruce.
Preferia dar minha atenção total a pequenina em casa.
Homens não eram nem de longe algo que se passava em minha
cabeça naquele período. Havia muitas coisas para preocupar antes de
imaginar-me saindo e envolvendo-me amorosamente de novo. A última vez,
saí magoada e grávida. Não pretendia repetir a experiência tão cedo.
Como se adivinhasse que estávamos falando dele, Dylan havia saído
de seu posto e passou pelo salão apenas para tomar uma xícara de café… E
lógico, tentar convencer-me a sair com ele mais uma vez. Quando Kim o viu
ficou encantada. Aproveitou para lançar seu chame para o homem que, claro,
deleitou-se com a paquera. Depois disso passei parte do tempo contando para
ela tudo que sabia sobre meu amigo sedutor.
— Papai jamais poderá imaginar que dei em cima de um segurança.
— Ela riu, tampando a boca com a mão, as imensas unhas brilhando com o
vermelho que Darla, uma das manicures, havia acabado de passar. — Ele me
deserdaria, com certeza.
— Deus me livre ser deserdada pelo seu pai. — Brianna brincou,
apontando para os sapatos dela, fazendo Kim revirar os olhos.
— Essa é a única coisa boa de ser filha do meu pai, Bri… Não se
engane. — Por um longo momento os olhos de Kim perderam a
expressividade. Ela envolveu-se em lembranças, deixando a todas nós sem
graça. — Mas pouco me importo. — Ela balançou a mão em desdém,
mudando a feição completamente. — Enquanto ele deixar o cartão de crédito
ilimitado em minhas mãos, está tudo bem.
Era uma pena uma mulher tão linda ter o consumismo como único
amigo de verdade. Pessoas assim entristeciam-me, ao mesmo tempo que
davam-me novas forças. Lis merecia ter conforto e condições de crescer bem
e saudável, mas também precisava de amor e carinho. E dava o melhor de
mim nesse quesito a cada dia.
Pouco depois que Kimberly se foi, consegui fechar o salão. Dei um
beijo no rosto de Brianna e atravessei a rua para o meu apartamento,
querendo só algumas poucas horas de sono. Mas não sabia se conseguiria já
que uma hora daquelas Kate, a babá de Lis, já devia tê-la buscado na escola e
dado um bom banho na menina.
Assim que apertei o número do meu andar e digitei a senha, suspirei,
cansada. Que longa semana eu teria pela frente.
As portas de aço abriram-se e eu já estava em meu apartamento.
Ali,era uma ostentação para mim em cada metro quadrado. Queria tanto que
Bruce entendesse isso, mas parecia impossível. Tudo o que Lis gostaria era
de amor, não de algo que ligasse apenas a dinheiro.
— Mamãe… — Lis correu até meu colo, chorosa. O coração apertou-
se ao ouvi-la. Peguei-a e ela deitou a cabeça em meu ombro.
— Ela veio todo o caminho de volta reclamando de dor, Lisa. — Kate
estava tão chateada com a situação quanto eu. Afinal, ela viu Lis crescer e a
amava também. – Já pensou em ir atrás de um dentista?
— Farei isso amanhã, Kate. Da última vez que fomos ela avisou que
isso poderia acontecer. Lis vai fazer três anos e esses dentes já deveriam ter
nascido há muito tempo. Isso deve ser um dos motivos para estar com a
gengiva tão inchada e dolorida, mas não imaginei que duraria tanto tempo. —
Desanimada, pensei que passaria mais uma noite em claro. — Não vejo a
hora disso passar.
— Bom, já dei o jantar e o banho dessa garotinha. Ela está prontinha
para dormir. — A linda ruiva beijou o rostinho triste da minha filha. —
Dorme bem, Lis. Até amanhã. — Ela virou o rosto para mim – E você,
qualquer coisa me liga.
— Para que Kate? Fazer você se deslocar do Queens até aqui, ou para
que escute meus choramingos por telefone?
— Pare de querer fazer tudo sozinha Lisa. — Kate balançou a cabeça
em negação, pois sabia como eu agia. — Meu Deus, que mulher mais difícil.
— Ela reclamou e beijou o rostinho de Lis mais uma vez. – Coloque alguma
coisa na cabecinha da sua mãe. Te amo pequena. Até amanhã.
— Tchau, tia Kate — a pequena resmungou, fungando em meu
ombro.
Depois que ela saiu do apartamento, fui procurar um remédio para
medicar Lis e deitar-me com ela. Quando ela acalmasse, eu tomaria um
banho e dormiria agarradinha a ela na minha cama.
Kate jamais entenderia essa minha decisão de não depender dos
outros. Desde a morte dos meus pais que sou assim, sozinha. Estou
acostumada a tomar conta de mim desde os dezenove anos. Talvez se Dona
Elizabeth e seu Franklin ainda estivessem comigo, eu não teria caído na lábia
de Bruce. Teria formado em uma faculdade e moraria em algum lugar do
Brooklin, sem sentir-me tão solitária.
Mas aquela não era a minha realidade. Morava em Manhattan e da
janela da minha sala eu podia ver o Central Park. Vivia no meio de muitas
pessoas que não tinham a mesma origem que eu, longe disso. Tinha o meu
próprio negócio.
Era a prova viva de que dinheiro não comprava felicidade.
Deitada na cama, observava minha pequena garotinha. Tudo valia a
pena para tê-la comigo. No final de tanto sofrimento, ela foi o meu prêmio.
Acabei passando mais uma noite tumultuada. Mal consegui cochilar
antes da hora de acordar para um novo dia, em nada diferente do anterior.
Sinceramente, eu precisava de uma mudança em minha vida o quanto
antes.
O GRITO ESTRIDENTE DE LIS ACORDOU-ME. Com os olhos
fechados e o rosto contorcido de dor, ela resmungava ao meu lado na cama.
Peguei o celular na mesa de cabeceira. Ainda era uma da manhã.
Suspirei. O dia havia sido cheio no salão de novo e eu já estava
completando uma semana sem dormir direito. Minhas forças estavam
diminuindo consideravelmente.
Tentei um dentista que pudesse pagar, mas estavam todos com as
agendas lotadas. Por isso, no dia anterior eu dei o braço a torcer e liguei para
Bruce. Ele que encontrasse um dentista de ponta para atender a filha dele.
Não me importava que tivesse que ser na surdina. Engolia meu orgulho com
louvor nessas horas. Tudo para a minha pequena Elizabeth.
Fui até a cozinha e peguei a caixa de remédios. Procurei o analgésico.
Coloquei o remédio na seringa e voltei para o meu quarto, onde Lis ainda se
debatia, mesmo dormindo.
— Filha. Pequena. — Tentei acordá-la, sem muito sucesso – Amor da
mamãe, abre os olhos. Remédio. — Chacoalhei a pequena até os pequenos
olhos cor de mel se abrirem lentamente. Tinha que parecer tanto com o pai?
Graças ao meu bom Deus eu não era mais apaixonada por aquele cretino. —
Muito bem pequena, aqui.
Depois de ministrar o remédio, ela continuou inquieta. Meu coração
partia-se ao perceber o tamanho da dor daquela pequenina garota. Busquei
em meu celular uma canção de ninar e a coloquei em um volume baixo,
apenas para acalmá-la.
— Mamãe… – ela repetia como uma prece.
— Estou aqui, pequena. – Sem conter-me a peguei no colo.
O calor daquela cidade estava insuportável. Na correria, dormi sem
ligar o ar-condicionado, e por isso nós duas estávamos molhadas de suor.
Abri a janela do quarto e a balancei, ninando-a e cantarolando a música que
tocava suavemente.
Em pouco mais de dez minutos meus braços já doíam, mas Lis
acalmara, ainda sem ter pego no sono profundo. Seu corpo, tão pequenino e
leve, ainda estava ligeiramente tenso, provando que ainda não poderia colocá-
la na cama sem despertá-la.
Ah, os pequenos sacrifícios de uma mãe.
Se eu soubesse de tudo que a minha havia feito por mim, todas as
dores que muito provavelmente sentiu, as angústias e os medos, eu teria dito
que a amava mais vezes antes dela partir. Muitas e muitas vezes.
Acalentei Lis que começou a amolecer completamente em meus
braços. Enquanto isso, observava a lua do lado de fora. As estrelas tão
brilhantes, algo tão difícil de ser visto normalmente aqui. O excesso de luz da
cidade grande às vezes incomodava.
O prédio que Dylan trabalhava, ao lado do meu, era suntuoso. Passei
os olhos por aquele exagero em forma de construção. Tudo ali era muito
bonito, mas de um jeito quase escandaloso.
As imensas sacadas, por exemplo. Apesar de cumprirem a missão de
oferecer ar puro aos moradores, revelavam-se um imenso show de
indiscrição. As portas duplas de vidro que separavam o apartamento da
varanda permitiam que víssemos tudo dali.
Não que eu ficasse observando os acontecimentos das vidas dos
moradores ao lado. Nem tempo para tal coisa eu tinha… Mas era impossível
fugir disso enquanto observava uma ou outra luz ainda acesa àquela hora da
noite.
O prédio era do tamanho do meu, então conseguia ver com perfeição
a sacada do último andar – já que Bruce havia me dado um apartamento na
cobertura.
Será que ele realmente acreditava que era isso que precisava? Uma
vida de dondoca? Acho que ele nunca reparou em mim realmente. Ingênua
Lisandra. Uma garotinha que acreditou no amor de um homem tão
inescrupuloso.
Quantas vezes havia fantasiado um casamento entre nós dois.
Pensando em como seria a vida difícil da esposa de um homem como ele.
Quantas ocasiões pesquisei sobre a importância da mulher no meio político.
De como elas mudavam a visão dos eleitores. Mudei até mesmo o meu modo
de vestir e agir, apenas para ser o que ele precisava em frente às câmeras.
Quantos absurdos.
Ah, como as coisas mudavam nessa vida. Sentia uma grande idiota
hoje em dia ao lembrar disso. Bruce não tinha nenhuma qualidade além da
incrível beleza.
Mentira. Ele tinha algumas ótimas, que o faziam manter-se na
política. Ele era incrivelmente eloquente e observador. Provavelmente foi
isso que fez com que eu caísse na sua conquista. Foi muito fácil ver as
fraquezas de uma garota sozinha no mundo e romântica ao extremo.
Pergunto-me como ele conseguiu enganar as outras duas e quais eram
as fraquezas delas…
Um movimento na sacada do vizinho fez-me despertar do passado.
Nada poderia sair de bom desses pensamentos mesmo.
Como uma voyeur, movida pela curiosidade, observei o senhor de
cabelos grisalhos e rechonchudo ser puxado para fora do cômodo por uma
jovem, deixando-os ao ar livre. A moça ria enquanto caminhava apressada até
o parapeito.
O homem deslizou as mãos pelo corpo da linda ruiva. Os cabelos
foram colocados para o lado e pude ver com mais clareza a mulher.
Surpreendi-me.
Aquela era a Kimberly?
Eu não havia pintado o cabelo dela de loiro há dois dias? Estava ruiva
agora? Como assim? Aquela garota parecia um camaleão.
Eu devia parar de olhar. Não era certo continuar com meus olhos tão
vidrados na casa dos outros. Eu nem devia observar enquanto uma das
minhas clientes fazia um strip-tease para um velhote, mas eu não podia parar
de pensar que aquilo devia ser mais que imoral. Literalmente um abuso!
Quantos anos aquela garota tinha, afinal de contas? Não devia estar
ali com um velho decrépito como aquele.
O que eu faria? Meter-me em um assunto que não me pertencia?
Ligar para a polícia avisando que estava bisbilhotando a vida alheia e vi uma
garota envolvendo-se com um homem que tinha idade para ser pai dela?
Antes que qualquer uma das perguntas que rondavam minha cabeça
fossem respondidas, vi, em segundos, os acontecimentos se desenrolarem.
Kimberly retirava as alças do vestido vermelho vivo pelos braços E o
segurava para que não caísse. Ela então empurrou o homem de volta para
dentro do apartamento, até ele sentar-se em uma cadeira, ainda visível. Com
movimentos sensuais e um balançar que denunciava a música no ambiente,
ela rodeou o homem deslizando suas mãos por ele.
Lentamente, Kim enfiou uma mão dentro do vestido enquanto
sussurrava qualquer coisa no ouvido do homem. E antes que eu pudesse
desviar os olhos, vi o homem tentar levantar-se e ser impedido por aquela
garota tão magra.
Fiquei sem entender o que estava acontecendo, até notar a faca
passando pelo pescoço dele e o sangue brotando da ferida.
Os olhos do velho arregalaram-se e o sorriso dela expandiu enquanto
o corpo dele caía no chão, contorcendo-se. Retirando um pano de dentro do
vestido, ela limpou a faca. Os seios ainda estavam à mostra, e eu não sabia
como processar aquela cena. Como a mulher que testemunhei matar um
homem a sangue frio poderia ser a doce e carente Kim?
Assustei-me tanto que tive que levar a mão a boca para suprimir um
grito. Lis remexeu-se em meu colo, incomodada com meus movimentos
abruptos. Por um momento saí do campo de visão da cena, desviando a
atenção para minha filha.
Quando meus olhos voltaram para a sacada, Kimberly já não estava
lá, a cortina fechada, cobrindo a cena. Era impossível ver dali o corpo inerte
do velho caído no chão, cheio de sangue. A sacada não era perto o suficiente
para que tivesse visto tudo em detalhes, mas também não era longe o
suficiente para que aquele rosto perdendo a vida não tivesse o poder de me
assombrar pelo próximo ano.
Levantei-a e fiz com que se sentasse na mesa onde meu laptop estava
aberto. Enfiei meu corpo por entre as pernas dela e aprofundei o beijo. As
pernas circularam minha cintura e a garota entregou-se. Minhas mãos
ganharam vida e deslizaram pela barriga chapada, chegando até os seios
grandes e apetitosos.
Eu queria aquela mulher. Queria muito e talvez por isso ignorei todos
os sinais de alertas que minha cabeça mandava naquele momento. Todos os
motivos lógicos que deveriam me manter longe foram ignorados com
sucesso.
As mãos dela, afoitas, procuravam meu abdômen por baixo da camiseta
branca que usava, a boca gemia em meu ouvido nos poucos momentos que
deixei os lábios dela para experimentar sua pele. Estávamos pegando fogo
juntos e aquilo era muito errado… E excitante.
— Mamãe! — a voz rouca e chorosa de Elizabeth foi escutada. A
garotinha tinha acordado e muito provavelmente estava assustada ao ver-se
sozinha em um lugar estranho.
— Meu Deus! — Lisandra passou as mãos no cabelo.
Afastei-me, dando espaço para que ela fosse até a filha. Quando estava
já bem perto do quarto, virou-se.
— Sobre isso…
— Não vai se repetir. Desculpe-me, Lisandra. — Eu sabia que não
poderia fazer aquela promessa, principalmente se ela continuasse perto de
mim, mas eu tinha a obrigação de deixá-la sair pelos meus lábios.
Se eu não fosse um agente secreto do FBI e tivesse prática em ler
fisionomias, nem teria percebido o olhar decepcionado de Lisandra quando
eu assim declarei. Isso em nada facilitaria as coisas para mim.
— James… — Esperei por algum pedido ou declaração de que não se
arrependera. Engano o meu. — Me chame de Lisa. Apenas Lisa.
— Mamãe! Mamãe! — Lis chamou outra vez.
Lisandra sacudiu a cabeça e foi até o quarto, deixando-me sozinho.
NÃO FIQUEI SURPRESA COM O QUE ACONTECEU ENTRE
NÓS. Não mesmo. Estava na cara que cedo ou tarde faríamos alguma grande
burrada. O homem era lindo, estava ali nos protegendo, havia uma tensão do
caramba nos rondando.
Não podia me fazer de inocente, perguntando-me como aquilo havia
acontecido. Por Deus, claro que não! Eu já era crescida e tinha claras
intenções com o homem. Sorte a nossa que Lis acordou… Sei que não
podíamos dar aquele passo. Por mais desejo que eu sentisse, ou mais que eu
estivesse me afeiçoando a ele.
Céus, o homem caçaria Kimberly e se envolveria com a máfia por mim.
Aquilo me assustou um tanto, assumo. Ele estava correndo risco por nós e
estava aprendendo a gostar dele. Como um bom amigo, pelo menos…
Acalmei Elizabeth. Toda vez que ela acordava e não me encontrava na
cama, o choro era forte. Mas o mau humor matinal era superado após um
bom café da manhã. Depois de trocar a roupa e escovar os dentes, levei-a
para a pequena sala. James já havia se organizado e colocado uma mesa de
café da manhã ali. Dessa vez ele não poupou dinheiro mesmo.
— Lis, fica aqui com tio James que a mamãe vai fazer uma ligação —
avisei Elizabeth, que acenou concordando.
— Para quem pretende ligar? — James empertigou-se com minha
declaração.
— Para o pai de Lis. Desde o início dessa confusão ainda não nos
falamos. A qualquer momento ele deve mandar alguém atrás de nós. — Fui
categórica.
— Não acho prudente. — O homem adotou uma postura austera, o que
não me intimidou nenhum pouco. Isso era ciúmes? Achava que por ter me
beijado eu havia lhe dado o direito de ser um homem das cavernas? Estreitei
meus olhos e ele revirou os dele. — Se a máfia chegou até o seu ex-marido,
virão até nós facilmente. Garanto que eles são capazes de fazer qualquer
pessoa colaborar…
— Bruce não faria isso. — Tudo bem que ele nem ligava para a filha,
mas não nos entregaria.
— Você ficaria assustada com a quantidade de pessoas que fazem
acordos com o crime organizado. Muitas bem conhecidas, inclusive. Gente
que você olha e acredita serem boas pessoas — ele disse, irônico.
— James, tínhamos combinado de que eu ligaria. Preciso dar satisfação
sobre minha filha — falei, entredentes.
James se levantou irritado. Passou as mãos pelo rosto em um gesto
nervoso.
— É perigoso, estou avisando! — Apontou o dedo em minha direção. –
Liga, seja rápida e não dê muitas informações. Se perguntar onde está, diga
que em Los Angeles. Não demore mais que cinco minutos. Se ele foi
descoberto, eles garantirão que colabore.
— Já disse que ele não faria isso! — Estava tão irritada com ele…
— Você não pode ter certeza. — Jogou-me um celular – Liga desse
aparelho, ele não vai poder identificar a chamada ou rastrear. Assim que você
desligar iremos embora.
Lis olhava para nós dois com extrema curiosidade. Acalmei-me para
não causar mais tensão entre nós diante da pequena. Terminei de tomar café
da manhã e dar o lanche de Lis. Quando já estávamos com tudo pronto,
peguei o celular e liguei para meu ex.
Bruce, o pai de Elizabeth, era um senador republicano metido a
garanhão. E eu, tola, havia caído em sua incrível lábia quando tinha vinte e
três anos. Trabalhava junto com ele e uma dúzias de estudantes aspirantes a
políticos na campanha eleitoral. O charme, a beleza e as inúmeras cantadas
tão bem elaboradas fizeram com que eu caísse como uma patinha. Pois, é…
Apaixonei-me pelo incrível Bruce Rice.
Achava que vivia um conto de fadas, mesmo quando o homem
convenceu-me a esconder nosso relacionamento de todos.
Eles acharão que você não merece crédito pelo seu trabalho. Dirão
que só é reconhecida aqui por estar comigo.
Ele veio com essa e eu acreditei. Que vontade de voltar no tempo e
dar na minha própria cara…
Quando contei a ele que estava grávida, descobri que não podia
confiar nele.
Pedi um posicionamento dele ou iria à televisão. Contaria a todos que
o conservador senador Bruce Rice era um galinha que dormia com mais de
três funcionárias de sua campanha eleitoral, ao mesmo tempo. Faria um
escândalo! Foi aí que a máscara dele caiu. Ameaçou a mim, meu trabalho e
minha filha.
Calou-me. Eu teria que sair do ramo político e não contar a ninguém
sobre o acontecido. Em troca teria um apartamento em um dos melhores
bairros da cidade para morar com minha filha, um imóvel para começar o
negócio que eu quisesse e dinheiro para uma babá.
Ele podia ser um traste, mas não criminoso.
— Bruce Rice, bom dia.
— Bruce, aqui é Lisandra.
— Lisandra, que número é esse? E que raios aconteceu que você
sumiu? — Esbravejou do outro lado da linha, enquanto de cá eu franzia o
cenho.
— Não imaginei que sentiria minha falta. — Soltei um riso nervoso.
Olhei para James de canto de olho. Ele acenou com a mão para que me
apressasse. – Olha, Bruce, vou ser rápida. Te liguei apenas para avisar que
estou viajando com Lis.
— Você levou minha filha para fora da cidade e nem me comunicou?
— O traste teve mesmo a ousadia de me acusar?! Esta conversa estava
ficando estranha.
— Bruce, você nunca se importou para onde eu levo ou deixo de levar
nossa filha — resmunguei, irritada. – A questão toda é que destruíram meu
salão.
— Estou sabendo. Pode não parecer, mas sei de muitas coisas que
acontecem com sua vida. — A voz dele teve uma nota de ameaça que deixou-
me petrificada.
— Que seja! — Fingi pouco me importar com essa informação. – Estou
assustada e achei que merecia umas férias. Assim que voltar, penso na
reforma.
— Não vou dar nenhum centavo para isso.
— Eu por acaso te pedi algo? — Senti a mão de James ao redor de meu
braço. O carro já estava com nossas malas e Lis lá dentro.
— Vamos — ele sussurrou para que Bruce não escutasse.
— Onde você está, Lisa? — A voz do ex tornou-se sedutora. Conhecia-
o bem, aquilo queria dizer que estava tentando conseguir algo. Um mau
presságio surgiu em mim, subindo pela espinha, me dando arrepios. Será que
Bruce realmente estava envolvido com aquela gente? — Talvez eu possa ir
passar as férias com você.
— Não, obrigado! Liguei apenas para avisar. Aqui em Los Angeles sua
companhia não é bem-vinda. Obrigada!
Desliguei o celular, tremendo. Merda, merda, merda! Tudo poderia ser
apenas coisa da minha cabeça, mas por precaução decidi não mais contradizer
James. O homem era agente do FBI e tinha experiência o suficiente para
saber o que estava me dizendo. Nunca mais duvidaria de suas teorias. Chega
de correr riscos desnecessários.
O resto do caminho foi feito em silêncio. Não demorou muito para
chegarmos em Nova York. Carros para todo lado, a correria dos pedestres, a
cidade em intenso movimento. Fiz uma oração para Santa Mônica para que a
grande cidade e as infinitas pessoas nela fossem o suficiente para passarmos
desapercebidos por essa gente.
Estacionamos em um grande prédio no bairro de Boerum Hill. James
nos ajudou a descer do carro e fomos até o apartamento. Um lugar
aconchegante e bem equipado. Três quartos, uma varanda, cozinha e sala. O
espaço estava cheio de brinquedos, o que deixou Lis eufórica. Olhei de
esguelha para James que apenas deu de ombros.
— Vocês passarão muito tempo nesse prédio, Lisa. O mínimo que
poderíamos fazer era preparar o espaço para que ela não sentisse tanto essa
confusão.
— Obrigada. — Eu estava verdadeiramente grata.
Jamais imaginei que o FBI fosse tão cuidadoso e atento a tantos
detalhes. Não sei se era apenas James, mas acreditava que a corporação
inteira era assim. Não partia apenas dele os cuidados com Elizabeth.
Brinquei com minha filha, aproveitei a tarde com ela e no fim, um
pouco da minha angústia foi embora. Perto das seis da noite James pediu-me
que nos arrumássemos. Ele precisava encontrar alguém e enquanto não
tivesse uma segunda pessoa para nos proteger, iríamos onde ele fosse.
Dei banho em Lis e deixei-a pronta. Enquanto ela assistia a um filme e
brincava com James, fui me arrumar. Talvez fosse o ocorrido pela manhã,
mas depois de muitos anos tive o cuidado de me arrumar antes de sair.
James havia dito que iríamos a um bar familiar ali no bairro mesmo.
Por isso, tive o cuidado de colocar um vestido que chamasse a atenção dele,
apesar de ser comportado. Na minha cabeça era algo lógico que não
deveríamos confundir nosso relacionamento com beijos ou sexo, mas a
vontade de ser vista como uma mulher desejável foi mais forte. Sendo assim,
coloquei um salto alto e me maquiei.
Pronto. Eu estava muito mais bonita e produzida do que já estivera nos
últimos dois anos.
Assim que saí do quarto, deparei-me com James saindo do dele. O rosto
estava liso, sem nenhum fio de barba, a camiseta azul marinho grudada no
corpo sarado e a calça jeans apertando as coxas grossas. Um sapato mais
jovial completava o look do homem.
Os olhos escuros passearam por meu corpo e senti um calor subir. De
alguma forma sabia que aquilo estava errado, mas era mais forte que eu.
Elizabeth deu um gritinho agudo quando me viu, elogiando-me o
caminho inteiro.
Entramos no restaurante separados. James pediu-me que entrasse na
frente com Lis e pedisse mesa para nós duas. Sentamos em uma mesa um
pouco distante da entrada, em um canto mais escuro.
James entrou pouco depois. A hostess o levou até uma mesa para
quatro pessoas do outro lado do salão.
— Mamãe, tio James não vai sentar com a gente? — ela perguntou ao
olhá-lo do outro lado.
— Acho que ele vai falar com um amigo primeiro, querida. — Achei a
cena tão estranha quanto ela.
Peguei o cardápio e pedi um prato infantil para Lis e uma massa para
mim. Assim que a comida chegou percebi que James já estava impaciente.
Ele pedira por uma cerveja que não bebeu em nenhum momento da noite.
Assim que nossa comida chegou, passei a preocupar-me em alimentar
Lis. Observei aquele prato de comida e só conseguia pensar em como podia
alimentar-me de comida italiana sem ter meu estômago revirado pela
confusão em que me meti.
Pouco mais de trinta minutos depois que entramos, uma mulher alta,
loira e com um lindo vestido vermelho chamativo entrou pela porta do bar.
Deu uma piscadela para a hostess e se dirigiu até a mesa de James.
Ele levantou-se e deu dois beijos no rosto dela. A intimidade que eles
partilhavam me incomodou. Olhei para meu simples vestido preto bem
comportado e senti-me uma boba. Não conhecia a mulher, nem sabia quem
era ou o que representava para James, mas uma incomoda sensação me
consumiu.
Não precisei de muito para perceber que estava com ciúmes da bela
mulher que conversava com o homem que havia acendido meu corpo e aos
poucos tomava conta do meu coração.
Ele até poderia ser o agente secreto do FBI que estava me protegendo,
mas eu não estava mais tão certa sobre sair daquela situação sem estar ferida.
Pelo menos no coração.
UTILIZANDO TODO O MEU ESFORÇO, CONSEGUI
MANTER A PERNA parada enquanto permanecia ali, sentado naquele
restaurante. Dez minutos de atraso era muito mais do que eu conseguia
aguentar.
Quando liguei, há dois dias, o local e horário foram definidos. Apenas o
dia correto foi enviado por mensagem. A ligação era um código que
utilizávamos desde quando nos tornamos agentes, deixando claro que um de
nós estava em maus lençóis.
Nunca foi tão difícil para mim essa espera quanto hoje. Isso porque
sabia que aquela missão havia passado de um simples trabalho. Tornara-se
pessoal. Aquele maldito beijo não me saia da cabeça e tinha certeza de que
por causa dele as coisas somente complicariam.
Tentei manter-me distante o dia todo numa tentativa pífia de colocar a
cabeça no lugar. Aproveitei para passar o dia em frente ao notebook para
enviar os relatórios atrasados. Preferi, mesmo perto, manter-me longe de Lisa
e Lis. O grande problema foi que nenhuma das duas saiu da minha cabeça.
Fiz questão de não contar sobre o beijo para meu gerenciador. Nunca
permitiria que ele procurasse outro agente para fazer o meu serviço. Como
confiaria aquelas duas a outra pessoa, talvez um desconhecido?
Olhei novamente o relógio em meu pulso. Quinze minutos. Antes que
pudesse me levantar e desistir daquela espera, Emily passou pela porta
principal em um lindo vestido vermelho marcando todas as suas curvas.
Revirei os olhos com a visão. Que merda ela estava fazendo ali?
Eu deveria me levantar e ir embora no mesmo instante, mas ela me viu
e foi até minha mesa. Depois de dar-me um beijo na bochecha, sentou-se na
minha frente, cruzando as longas pernas.
— Quanto tempo, James…
— Como sabia que eu estaria aqui? — Ela acenou com a cabeça e
levantou a mão, chamando uma garçonete.
Esperei que minha colega do FBI fizesse o pedido de algo grande o
suficiente para encher a barriga de quatro pessoas e suspirei aliviado. Quem
eu estava esperando viria.
— Onde ele está?
— Chegando. — Ela deu um gole na minha cerveja e fez uma careta.
— Isso está quente!
— Estou aqui a trabalho, não pretendia bebê-la.
— Acho que estou acostumada demais com os mafiosos… —Ela fez
uma careta engraçada.
— Você também está infiltrada? Uma mulher? — Encarei-a incrédulo,
enquanto ela apenas abanou a mão.
— Não! Acontece que precisava do seu irmão em uma outra missão.
Um negócio complicado com alguns estrangeiros. — Sabia que não diria
nada além disso. O melhor era manter sigilo sobre nossas missões e ela sabia
fazer isso melhor do que ninguém. — E acabaram nos vendo juntos. Para não
levantar suspeitas, acabamos soltando que éramos noivos. — Ela balançou a
cabeça e revirou os olhos, como se com aquilo pudesse mudar os
acontecimentos – Enfim, agora sou a noiva de Danny Forger Rossi.
— Forger? — Comecei a rir.
— Ele é conhecido por conseguir qualquer coisa falsificada. — Deu de
ombros. – Enfim, atualmente formamos um casal exemplar para ambos os
lados. Para os mafiosos e os estrangeiros.
— Então você veio para não desconfiarem desse encontro? — Ela
concordou.
— Se perguntarem, estamos nos encontrando com um amigo de escola.
— E quando ele chega? — Não consegui mais conter as pernas e
comecei a balançá-las, nervoso com o seu atraso.
— O que está acontecendo, James? — Emily franziu o cenho.
— Só estou precisando da ajuda dele.
Logo Jake apareceu na porta principal. Deu um sorriso galanteador para
a hostess, o que provocou uma careta adorável em Em.
Aqueles dois entraram e formaram-se juntos em Quântico. A
competição entre ambos para ser o melhor da turma foi muita acirrada,
causando uma inimizade clara. Era até estranho vê-los trabalhando juntos.
Jake aproximou-se da mesa e deu-me um abraço apertado. Não pude
evitar de demorar ali, matando a saudades do meu irmãozinho. Quando nos
afastamos, Jake levou o dedo até o queixo de Emily e levantou o rosto
emburrado dela com delicadeza e carinho. Um beijo demorado foi dado em
seus lábios e não pude deixar de sorrir. Se eram noivos em suas missões, eu
não sabia, mas que ali estava rolando algo a mais, disso eu tinha certeza.
— Para, Jake! — Emily distanciou-se e deu espaço para que ele se
sentasse ao lado.
— Relaxa, baby. É apenas teatro. — Ela bufou e ele sorriu – O que te
traz aqui? — Os olhos enfim desprenderam-se de nossa amiga e voltaram
para mim.
— Preciso saber como andam as coisas na máfia. — Fui direto. Não
queria dizer ainda que estava com Lisa. Primeiro precisava sondar. Ele
estreitou os olhos e me observou.
— Caóticas. O que o FBI quer para te mandar para cá? James, você não
pode voltar para a máfia depois de um ano sumido. Vai estragar todo o meu
trabalho até aqui. — Fiz uma careta. Depois dele esbravejar que eu havia
cagado com tudo, nunca mais nos falamos. — Desculpa. — Ele suspirou. –
Nem estou dizendo que você vai fazer merda, mas sabe como são as coisas
no FBI. De uma hora para a outra acabam com um trabalho de anos por puro
capricho.
— Dificilmente é capricho, Jake. Aprendi isso durante meu ano na
parte burocrática. As vezes não nos damos conta do perigo que estamos
correndo — assim que disse isso, vi Emily dar uma pequena cotovelada no
abdômen dele. Jake estava se enfiando em algo perigoso, pelo visto.
Olhei de canto para a mesa do outro lado do restaurante. Minhas
garotas precisavam de mim. Jake estava com Emily, ele saberia se virar. Não
dava mais para enrolar.
— Jake, estou em uma missão e preciso que me dê algumas
informações...
— Merda, você saiu do castigo? Se soubesse disso teria ido atrás de
você para me ajudar. — Emily resmungou e cruzou os braços como uma
garota mimada. Jake voltou a beijá-la demoradamente, na tentativa que ela
deixasse de reclamar. Sorri com a cena.
— Não teria não! — Voltei meu olhar para meu irmão, que respirou
fundo.
— Olha, tivemos um assassinato grande. A máfia está em polvorosa
por conta disso.
— Frank Romano. — retruquei e vi os olhos de Jake se arregalarem.
— Isso não saiu nos jornais.
— Não saiu… — confirmei e o vi analisar minha sentença.
— Qual sua missão, James? — ele me perguntou, dando uma rápida
olhada por todo o restaurante. Seus olhos se detiveram em uma mesa a nossa
esquerda e temi pelas possíveis conjunturas que poderia tirar daquilo.
— Estou mantendo algumas pessoas em segurança — confessei.
— Se quer minha ajuda, vai precisar ser mais específico — ele foi duro
na resposta e revirei os olhos. – O que você quer saber exatamente?
— Sabem quem matou Frank Romano?
— Há uma testemunha. — Senti um frio passar por minha espinha. –
Mas não, não sabemos. Estão todos a procura dela. Você sabe, uma morte
desse porte na máfia só pode ser uma boa vendeta. Principalmente da forma
que deixaram o corpo. Foi ofensivo até para mim que achava que ele merecia.
— O que pretendem com a testemunha?
— Você está protegendo aquela moça com a garotinha não é? — Ele
mudou o foco e acenei, concordando. No fim eu confiava em Jake com a
minha vida. – O que ela viu?
— Uma jovem mulher cortando a garganta de Frank.
— Mulher? — Emily perguntou, incrédula, e concordei. – Uma mulher
matou Romano? É por isso que Júnior está tão irritado. — Emily lançou um
olhar acusador para Jake.
— Eu não sabia dessa informação. — Ele defendeu-se. – O filho de
Frank assumiu o lugar do pai na Comissão. Agora ele é o chefe e recebeu
carta branca para achar e destruir quem matou o pai. Ele anda para todos os
lados de Nova York com uma foto da testemunha. Quer ela a qualquer custo.
— Como eles poderiam saber a identidade da testemunha?
— A polícia é corrupta, meu caro. — Jake esclareceu assim a minha
primeira suspeita. Foi a polícia que nos delatou. Algum policial disse onde
estávamos e por isso fomos perseguidos.
— Conte a ele, Jake. — Emily pediu, segurando carinhosamente o
braço de meu irmão caçula. Ele respirou fundo.
— Eles também estão irritados com a morte de alguns associados.
Houve uma perseguição e o segurança matou alguns dos nossos. Eram novos
no negócio, mas sabe como é a máfia. Os que sobreviveram estão presos, o
que deixou-os mais irritados ainda. Eles podem dar com a língua nos dentes.
— Eu achei que eram comparsas da assassina. Não sabia que eram da
máfia. Além do que… Eu não poderia deixar que a pegassem. — Trinquei
meus dentes, nervoso com a pequena possibilidade de alguém chegando perto
das duas.
— Merda! — Os dois pronunciaram juntos, encarando-me. Eu estava
perdendo a cabeça, isso sim. Como deixei meus sentimentos recém-
descobertos ficarem expostos tão facilmente? Emily tentou abrir a boca para
me repreender, mas lhe lancei um olhar claro. Nenhum dos dois podia me
acusar se estavam envoltos em coraçõezinhos enquanto trabalhavam juntos
para o FBI.
— O que pretende fazer, James? — meu irmão perguntou, ansioso. –
Você não pode simplesmente voltar, como se nada tivesse acontecido.
Acham que você está morto.
— Eu sei — suspirei, rendido. Fizeram um ótimo trabalho em mandar
por Jake provas de um corpo queimado em um lugar esquecido como o meu.
Na época, os esforços estavam concentrados em achar o assassino de Joe.
Acreditaram por um bom tempo em um complô contra a máfia. Com o passar
do tempo as coisas esfriaram, mas não foram esquecidas. – Acham que…
— Que são as mesmas pessoas que mataram você e Joe? Sim — ele
respondeu, rindo. – Às vezes não acredito em como podem ser tão idiotas.
— Elas estão concentradas em nós três. Não conseguem disfarçar —
Emily comentou enquanto pegava uma bata frita e levava displicentemente à
boca. Ela era uma boa atriz e isso ajudava muito como agente especial. – O
que fará, James? As coisas não estão muito favoráveis para vocês.
— Vou protegê-las até as coisas com a US Marshal se desenrolar.
— E acha que mesmo assim eles não as encontrarão no Programa de
Proteção à Testemunha? Por favor! Pode demorar, mas chegarão até a única
testemunha do assassinato de um dos chefes da máfia. — Ele repetiu, apenas
para tentar me fazer entender a grandeza da situação.
— É por isso que pretendo fazer a minha própria investigação.
— Sabe quem é?
— Desconfio.
— Quem? — Emily mordeu o canto da unha, curiosa pela informação.
— Uma mulher de pouco mais de vinte anos? Tenho minhas suspeitas.
— Olhei para Jake, esperando que entendesse para onde meus pensamentos
estavam indo. Ele balançou a cabeça em negação.
— Hope está morta, James. — A informação foi como um baque em
meu coração. Apesar de tudo, eu gostava da garota. — Ela se jogou de uma
ponte — Jake continuou e arregalei meus olhos. – O segurança dela viu.
Nunca acharam o corpo.
— Por quê? — Minha voz era apenas um sussurro.
— Não sei. — Jake deu de ombros. – Ela estava entrando em
depressão, foi o que disseram. Você sabe, ela odiava a vida que levava.
Concordei, pois me lembrava com detalhes dos meus momentos com
ela. Ela odiava ser uma mulher no meio da máfia. As coisas só pioravam
sendo filha de Santori. Meus últimos momentos com ela invadiram minha
cabeça como uma avalanche. Nossa última discussão, minha recusa. Depois
daquilo não nos vimos mais.
Eu saí magoado daquela maldita discussão tanto quanto ela. Nunca
quis envolvê-la nos planos do FBI, enchê-la de esperanças. Na época agir
cegamente, de acordo com as vontades da polícia, parecia-me tão certo. Será
que comunicaram-lhe sobre a minha morte ou ela achava que eu apenas
sumira de sua vida? Ela teria se magoado com meu desaparecimento? Eu
teria participação em sua depressão?
O rosto angelical e risonho encheu minha mente novamente. Eu sentia
saudades daquela garota. Não queria imaginar que fosse ela, mas sabia que
seria capaz de fazer isso se Romano tivesse tentado abusar dela.
Depois do choque inicial comecei a me dar conta de que não sabia para
onde ir mais. Se ela não era a assassina, eu estava sem pistas.
— Merda! Era a minha melhor aposta. — Levei as mãos para o rosto, já
cansado de algo que mal havia começado.
Um silêncio ensurdecedor tomou conta da mesa. O barulho dos talheres
e as conversas amenas das pessoas ao nosso redor eram as únicas coisas que
enchiam minha cabeça preocupada.
— Léo! — A voz de Emily sobressaltou-se, animada.
— Eu odeio esse cara. — Jake resmungou e levantei minha cabeça.
— Ah, noivinho… – Emily apertou as bochechas vermelhas de
vergonha dele. – Ainda tem ciúmes do meu ex? Não precisa. — A última
palavra foi dita de forma arrastada. – Até porque não importa. — Ela
balançou a mão e voltou seu olhar para mim. – Leo é um agente do FBI
ótimo em retrato falado.
Uma pequena luz começou a despontar no fim do túnel.
— Você… — Olhei para James que concordou.
— Procure o maldito almofadinha e faça o retrato falado. Nos
encontraremos de novo e te digo se sei quem é a assassina.
Levantei-me e puxei Emily para um abraço apertado. Escutei um
pigarrear e ri de meu irmão caçula e o ciúme descabido.
— O que fará, James? Como pretende fazer a máfia esquecer sua
garota? — Ele levantou-se e deixei Emily para abraçá-lo.
— Não importa agora, Jake. Tenho meus planos.
— É realmente uma merda quando elas nos pegam de jeito, não? — Ele
sussurrou em meus ouvidos e sorri para Emily. — Se cuida, irmão! — O
aviso vindo do mais novo deveria ser engraçado, mas foi apenas acolhedor.
QUATRO ANOS ANTES
DIAS ATUAIS
Suspirei desanimado quando relembrei a última vez que vi aquela
garota. Uma dor absurda corroía minha alma ao saber de seu destino. Eu teria
sido responsável por sua depressão? No fim, eu sabia que eu era a única
pessoa em quem Hope confiava. Será que teria terminado de destruir a alma
quebrada daquela pobre menina?
Um frio percorreu minha espinha com a mera possibilidade. Fechei
meus olhos cansado com os rumos que minha vida estava levando.
De repente, escutei duas batidinhas na porta e gritei um entre para
Lisandra. Estava indo pelo mesmo caminho com essa mulher. Meu corpo
clamava por ela, já ultrapassando o limite do aceitável assim que a beijei.
Ninguém sabia do meu deslize com Lisa. Não comentei com Jake,
apesar dele e Em terem desconfiado. Algo em mim exigia que eu escondesse
esse detalhe de todos, coisa que jamais fiz com Hope. Todas as investidas
dela estavam devidamente registradas. Aquela merda deveria significar
alguma coisa.
Vi a mulher entrar no quarto com os cabelos jogados de lado. O blusão
enorme que usava escondia apenas o início de suas coxas e meu corpo tremeu
com a visão.
Quando conheci Hope ela era apenas uma garotinha e não me
envolveria com ela por mais tesão que eu sentisse. Lisandra era uma mulher
feita, mãe de uma menina, adulta e consciente da tentação que estava
causando-me. Aquilo era uma provocação e de alguma forma afetava-me
mais que a outra conseguiu fazer em algum momento.
Quem eu queria enganar? Meu coração já estava encantado pela
mulher determinada, amorosa e batalhadora que ela era. Poderia arriscar essa
relação? Colocar a perder minha sanidade e imparcialidade durante a missão?
Eu conseguiria fazer as coisas sem errar com ela como eu fiz com Hope?
Que os céus estivessem ao meu favor.
JAMES DESPEDIU-SE DO CASAL DE AMIGOS E ACENOU
PARA QUE O encontrássemos do lado de fora. Paguei a conta e entrei no
carro que já estava ligado em frente ao estabelecimento.
Ele não nos cumprimentou ou respondeu qualquer uma das mil
perguntas de Lis. De alguma forma o homem estava com seus pensamentos
longe e aquilo me angustiou. Seu silêncio poderia ser sinônimo de problema.
Sabia que havia ido ao encontro daquele casal para nos ajudar a sair dessa
enrascada.
Aceitei aquilo até chegarmos no apartamento.
Depois de um banho e cuidados com Lis, coloquei-a para dormir.
Minha garotinha devia sentir minha ansiedade, já que demorou mais
do que o costume para pegar no sono. Entre perguntas se o tio James estava
legal e qual seria as nossas atividades do dia seguinte, um bocejo e outro foi
surgindo até ela cair em um sono profundo.
Coloquei-a em sua cama que fica bem perto do chão para que não
caísse e fui tomar meu banho antes de ir até James.
Não podia negar que além de todos os problemas que me rondavam a
cabeça, o beijo que demos mais cedo também estava muito presente em meus
pensamentos.
Há anos morávamos apenas eu e Lis, e estava mais que acostumada a
andar pela casa de blusões e shorts. Por isso nem me toquei de como estava
vestida até descobrir os olhos de gavião de James sobre mim.
Ele era lindo e ainda tinha aquele jeito de homem perigoso capaz de
enlouquecer. Era muito mais que apenas ser o agente especial do FBI, era
algo que vinha dele.
Descaradamente ele analisou meu corpo, parando nos seios livre de
sutiã. Um hábito que ainda não perdi, apesar daquela nova presença
masculina em minha vida.
Era inegável o desejo que sentia por aquele homem. Até era tentadora a
ideia de esquecer os problemas por algumas horas através do sexo casual.
Quem eu quero enganar? Você quase estrangulou a mulher de vestido
vermelho no restaurante, Lisandra. Está mais envolvida do que imagina.
Tentei ignorar todos os meus pensamentos ao sentar-me ao lado dele.
— Alguma novidade? Eles vão nos ajudar? — Mordi o lábio inferior.
Um tique muito mais nervoso do que sensual.
— Lisandra, isso não é importante no momento. — Ele tentou se
levantar, mas segurei em seu braço.
— Me diz, James. Não gosto de ficar no escuro — falei
amigavelmente.
— Sua preocupação é cuidar de Lis, e a minha de vocês. Não lhe direi
todos os nossos passos, só o que precisa saber. — Puxando o braço
bruscamente ele se levantou, afastando-se de mim.
— Eu vim aqui para saber sobre coisas que me dizem respeito. É a
minha vida e a da minha filha que estão em jogo. Você não pode achar que
tem o direito de esconder coisas de mim.
— Você também me esconde informações, Lisandra, de suma
importância. Nem por isso eu estou te acusando ou dando chilique, porra! —
Olhei para a porta, preocupada se nossos gritos acordariam Lis. James
suspirou
— Não te escondo nada.
— Quem é o pai de Elizabeth? — ele perguntou à queima-roupa e
fiquei sem fala por um momento.
— Não posso falar, James. Manter a identidade dele em sigilo é
importante para mim.
— Por que é rico? Famoso? Político? Tendo em conta que você
trabalhava em campanhas eleitorais na época. — Claro que ele sabia sobre a
minha vida. Tinha tido muito tempo para pesquisar a fundo o meu passado.
Era isso que eu havia me tornado, uma suspeita em potencial?
— É bem mais complicado do que isso, James. — Fiquei triste. – E não
vejo como essa informação pode fazer alguma diferença.
— A máfia está em todo o lugar, Lisa. Nos pequenos assaltantes que
respondem a algum chefe, nos donos de estabelecimentos que pagam por
proteção, até líderes políticos que querem garantir sua vaga. Eu sei que é
muito mais complicado do que eu possa sugerir. Já sei: o safado do seu ex
descobriu a gravidez e pediu para você tirar? — Ele ergueu as sobrancelhas
esperando que eu o desmentisse. — Quando você disse não e ameaçou de ir à
público, ele disse que pegaria sua filha de você? Que levaria Lis e que você
não teria chances contra ele no tribunal? Por isso, com medo aceitou as
ridículas propostas dele para manter-se viva já que estava grávida e sem
emprego. — Escutar minha história resumida de forma vil e desdenhosa doía
o coração. Nem todas as afirmações eram corretas, mas James não estava
nada longe da verdade. – Ele ainda te ameaça dessa forma, não é? Quando
você faz qualquer coisa que esteja próxima de sair da linha na visão dele, ele
diz que vai levar Lis?
— Você nem faz ideia de como seja a minha vida. O meu passado não
cabe em um maldito documento…
— Concordo com você. Mas não é difícil deduzir algo ao ver a dona de
um salão de beleza morando em uma cobertura de Manhattan. Menos ainda
quando você protege a identidade desse cara com todas as forças. — Ele
amansou o tom de voz e meu coração se encheu de carinho por sua atenção.
James era observador e talvez muito daquilo devia-se ao trabalho, mas cada
dia eu encontrava mais detalhes que agradavam-me nele. – Você é uma
guerreira, Lisa, e te admiro por isso. Sei que você está lutando, mas precisa
deixar as coisas complicadas comigo. — James se virou, me dando as costas.
Algo havia dado errado, isso era um fato. James evitava me dar muitas
informações, mas sempre fora cuidadoso ao conversar comigo. Estava o
tempo todo preocupado em fazer com me sentisse bem e confortável com os
passos que daria. Algo tinha acontecido para deixá-lo tão arisco.
Aproximei-me e levei minha mão até suas costas. Deslizei-a até os
ombros e o vi se retesar. As mãos em punho, a respiração agitada, os pelos
dos braços arrepiados. Ele estava se controlando. Tentando evitar o repetir
dos acontecimentos.
O que ele não sabia era o quanto eu desejava que aquilo acontecesse.
Eu poderia entregar-me a ele ali e ser adulta o suficiente para saber que não
teríamos mais nada. Se ele pudesse ajudar-me a esquecer os problemas, se eu
pudesse repetir aquele beijo, eu não me importava com mais nada.
— Lisa, não! — ele pediu, ainda de costas. Sabia que aquilo também
era tentador demais para ele.
Minhas mãos tomaram maior intimidade, subindo a camiseta preta e
resvalando meus dedos pelas costas musculosas. Virando-se, ele lançou-me
um olhar cobiçoso. Sua mão foi até meus cabelos, envolvendo os dedos nos
fios sedosos. Um longo suspiro saiu de sua boca antes de puxar-me na
direção dela.
Sua língua deslizou por meus lábios antes dos dentes prenderem o
inferior, deixando uma mordida dolorida. Gemi alto e recebi o que, pareceu-
me, um rosnado em resposta.
Afoita, subi a camiseta dele e deixei meus dedos passearem pela barriga
sarada. James segurou-me nos braços e jogou-me em cima da cama. Cobriu o
meu corpo com o dele, deslizando as mãos por minhas coxas, levantando a
blusa, embolando-a em meu pescoço e deixando os seios descobertos. A boca
enfim tomou a minha mais uma vez, em um beijo intenso, delicioso e feroz,
que tirou de mim qualquer dúvida sobre a ideia de entregar-me ou não aquele
homem.
— James… — sussurrei quando a boca dele procurou minha pele.
Com pequenas mordidas e lambidas, James deixou os lábios
descobrirem meu corpo. Um intenso nó se apertou em meu ventre e desejei
mais que nunca que as preliminares terminassem. Com pensamentos
contrários aos meus, o homem permaneceu com uma paciência que eu não
tinha.
Seus lábios quentes encontraram meu mamilo intumescido e arqueei o
corpo quando sentia a língua deslizar antes dele fechar a boca em uma
chupada ardida. Os dedos deslizaram pelo contorno de minha calcinha. Levei
minha mão até sua evidente ereção por sobre a calça de moletom e fechei
meus dedos em torno do longo e grosso membro. Escutei um gemido e quis
acabar com aquilo o mais rápido possível.
— James… Por favor… Só… Vem! — pedi sem qualquer vergonha do
ato.
Como se um balde de água fria houvesse caído em seu corpo, James
afastou-se, deixando-me deitada na cama sozinha. Pegou a blusa e vestiu-se.
Escutei meia dúzia de palavrões, mas fiquei imóvel, sem saber o que fazer.
— Vista-se e saia — ele disse sem me olhar e estreitei os olhos.
— James… Eu quero. Está tudo bem. — Levantei-me, ajeitando minha
roupa. Constrangida.
— Por favor, Lisandra, não tem o menor cabimento nos envolvermos. É
loucura. Eu sou o agente do FBI responsável por sua proteção! — A voz
aumentou de volume.
— E onde está o erro nisso?
— Tem noção que posso ser retirado do caso se nos envolvermos? Se
meu gerenciador souber disso, ele procura outra pessoa e põe em meu lugar.
— Então não o deixe saber.
James fechou os olhos e levou os dedos até o nariz. Um longo suspiro
saiu de seus lábios. Quando reabriu-os, percebi a determinação neles. Soube
que não gostaria do que viria a seguir.
— Seu corpo não é moeda de troca por informações, Lisandra.
E antes que eu pudesse medir as consequências de minhas ações, minha
mão estalou um tapa, fazendo que o som do choque no rosto dele ecoasse
pelo ambiente. Meus olhos cheios de lágrimas o acusavam e os dele
demonstravam um leve toque de melancolia.
Se a ideia inicial dele fosse ofender-me para que eu desistisse, ele havia
conseguido.
— Utilizar as palavras eu não quero Lisandra teriam sido o suficiente.
Você não precisava ser tão escroto. — Acusei-o.
— Não me pareceu. — Ele levantou o queixo e senti mais nojo de mim
do que dele. Como eu pude me sujeitar a isso? — Não vamos falar sobre o
que aconteceu aqui para ninguém. Preciso garantir que não sairei de perto de
vocês.
— Talvez você ir embora não seja uma má ideia. — Levantei meu
rosto, negando-me a baixar a cabeça para aquele homem. Nunca o deixaria
ver como suas palavras haviam me ferido.
— Está aí um dos motivos que eu sabia que isso não daria certo. Você
já está confundindo as coisas. Eu não confio em quase ninguém para protegê-
las, você deveria fazer o mesmo.
— Vá se danar, James. Te conheci outro dia. Você também pode ser
um péssimo agente do FBI, ou da máfia tanto quanto eles — acusei-o e o vi
rir, sem nenhum traço de humor.
Sim. Eu sabia que estava sendo infantil e que ele agia como um escroto
por algum motivo. Algo naquela conversa destruiu o bom relacionamento que
tínhamos, fez repensar sobre nós dois, sobre as verdades que ele me contava e
estava com medo de descobrir o que era. James demonstrava segurança nas
atitudes, em seus planos e aquilo tranquilizava-me.
Mas não era isso o que eu estava vendo ali. Ele estava perdendo o
controle e tinha medo do que aquilo poderia significar para nós. O perigo era
maior do que deixava transparecer?
— Talvez tenha razão e eu os conheça melhor do que você e saiba com
o que estamos lidando. Com isso em mente não ouse fazer besteiras. Você
não tem a menor noção do que está acontecendo.
— Então me diga, inferno. — Bati o pé no chão. A raiva saindo por
meu corpo por meio de longas lufadas de ar, como um touro nervoso.
— Não! — A resposta foi dada em uma grosseria desnecessária.
Meu corpo arrepiou-se. Ele compartilhou comigo tantas informações
até agora. O que haviam dito para ele que causou aquilo?
— É tão ruim assim a situação em que me encontro? Tenho alguma
chance de sair dessa viva? — Fechei meus olhos com medo.
— Se depender do péssimo agente do FBI aqui? Sim. — A mágoa em
sua voz era perceptível, mas eu não estava muito preocupada no tanto que o
atingi. Ele foi pior e sabíamos disso.
Decidi não me indispor mais com James. Dane-se. Eu fui ali para
amenizar minhas preocupações e não discutir com ele.
— E, senhorita Hall — ele me chamou e virei para descobrir o que ele
queria. – Tudo o que tenho feito é para o seu bem-estar e de Elizabeth. Eu sei
com quem estamos lidando e atualmente, as cartas não estão a nosso favor.
Uma vontade imensa de chorar me consumiu. Talvez eu tenha deixado
transparecer, já que vi o rosto dele entristecer. As palavras não me
machucaram tanto quanto a falta de confiança que tinha demonstrado.
— Eu achava que não estava sozinha nisso tudo. Acreditei que tinha
seu apoio e cuidado. Talvez eu estivesse errada…
Bati a porta atrás de mim, antes mesmo de escutar meu nome saindo
pelos lábios dele.
OBSERVEI LISANDRA DAR O CAFÉ DA MANHÃ PARA LIS
NA SALA DE estar. O amplo espaço do apartamento dava uma visão
privilegiada da cozinha para a sala. Ali era grande, espaçoso e claro. Um
ótimo lugar para uma família tranquila.
Como uma dama de gelo, ela nem me dirigiu o olhar, em nenhum
momento. Tudo bem. Era isso que eu procurei fazer no dia anterior quando a
ofendi. Havia sido um cretino? Sim. Um idiota de marca maior? Com certeza.
Mas com um propósito.
Assim como fui com Hope no passado. Talvez estivesse fadado a ser
um idiota com todas as mulheres com que me envolvia, ou então eu não sabia
resolver as coisas de outra forma. Odiava ser esse homem. Não gostei de
como agi com Hope, menos ainda com Lisandra.
Por algum motivo, me doía mais ter feito isso com a linda morena à
minha frente. O desprezo dela machucava muito mais, mas eu não queria
analisar isso por enquanto.
Toda a minha energia precisava estar focada em protegê-las. Nutrir
esses sentimentos por Lisandra não me ajudaria a colocar minha cabeça no
lugar. Eu precisava ter objetivos claros e nenhum deles podia envolvê-las. Eu
sabia, no fundo, que o melhor seria agir ainda com elas sobre minha proteção.
Não poderia esperar a eternidade da burocracia do bureau para tirá-las da
mira da máfia.
Só que quanto mais eu me envolvia, mais queria ficar naquela bolha em
que estávamos, como se nada mais pudesse acontecer. No fundo, Lisa
também sabia disso.
— Decidiu o nome que dará a ela? — a mãe perguntou para a pequena
que fingia alimentar uma das imensas bonecas que o FBI deixou ali.
— Goto muito de Kate — Lis declarou enquanto abria uma boca
enorme para a mãe alimentá-la.
— Hummm… Muito bonito. E qual vai ser o nome da mamãe dela?
— Elizabeth — a pequena respondeu, enérgica.
— Oras, mas se é faz de conta você deveria escolher um nome para
você também. — Lisandra não se deixou levar pela pequena.
— Então eu sou a Kate e ela é a Brisa. — Ajeitando a postura e
levantando o queixo, a garotinha sorriu em seguida.
— Acho lindo. Os dois nomes. — Lisandra beijou o rostinho da garota
e continuou a dar o café da manhã para a filha.
Assim que a pequena veio para o meu pé brincar, dei um sorriso para
ela e a chamei de Kate meia dúzia de vezes. Fiquei envolvido em sua
brincadeira em pouco tempo. Alimentei, troquei e coloquei a boneca para
dormir enquanto ela me ensinava exatamente como fazer cada uma das
tarefas.
Lisandra terminou de lavar a louça e ficou encostada na parede a nos
observar.
— Vamos Kate, hora de escovar os dentes mocinha — ela disse um
pouco depois.
— É Lis, mamãe. Kate é só na bincadeila — a pequena respondeu a
mãe enquanto se levantava sorridente. – Acha que ela não sabe mais meu
nome? —cochichou em meu ouvido, fazendo-me dar uma sonora gargalhada.
— Tenho certeza que a mamãe sabe seu nome pequena, mas ela gostou
muito da sua ideia de Kate.
— Ahhh… — Os olhinhos se arregalaram, mas logo a informação
perdeu importância. – Vou escova os dentes e já volto. — Ela correu pelo
imenso corredor.
— Prefiro Lis. Kate não combina com ela. — Eu comentei antes de que
Lisandra sumisse pelo corredor.
— Não, não combina. — Um longo suspiro saiu dos lábios daquela
mulher, deixando meu coração apertado. A vida estava sendo injusta com
aquelas duas.
Lisandra nem me olhou quando respondeu. Deixou a sala a procura da
filha, deixando-me pensar no quanto as coisas ficariam esquisitas por um
bom tempo entre nós.
Ela era linda! Sensual também. Guerreira, educada, carinhosa,
independente… Lisandra me encantava em cada pequena atitude. Inclusive
como mãe. Sua filha era uma garotinha forte, alegre e encantadora. Tinha
muito dela na pequena. Seria uma lástima se tivesse de perder a própria
identidade para se proteger.
Aquela constatação deixou-me mais determinado a agir. Naquele
mesmo dia liguei para o ex-namorado de Emily. Combinamos de nos
encontrar no apartamento em três dias. Ele teria que nos ajudar.
— James, será que poderíamos dar uma volta pela rua? — Lisandra
veio falar comigo assim que desliguei o celular.
Aquilo me incomodava, mas Lis dava pequenos pulinhos, olhando-me
suplicante. Como eu poderia dizer não para aquela criaturinha?
— Lembra das roupas que compramos? — Vi ela acenar em
consentimento. – Use-as.
Lisandra entrou para o quarto e voltou quinze minutos depois com uma
calça jeans azul marinho colada no corpo, um top preto deixando em
evidência a barriga sarada e tênis. Pedi licença e fui trocar-me também.
Voltei para a sala com uma calça jeans surrada, larga, e uma camiseta com
uma caveira desenhada. O elástico da cueca boxer era visível, caso eu
levantasse meus braços. Senti-me como um moleque de dezesseis anos.
Descemos os andares até o térreo, com Elizabeth mexendo na roupa da
mãe, rindo das pulseiras e brincos que finalizavam o visual de adolescente de
gangue.
Ali perto do prédio havia um pequeno parque infantil utilizado pela
vizinhança. Sugeri a Lisandra que fossemos até lá e ela concordou de pronto.
Andamos pouco mais de duas quadras e chegamos ao espaço que já
contava com meia dúzia de crianças e seus pais a observarem. Enquanto
Lisandra empurrava e brincava com a filha, olhei ao redor para ver se
estávamos em segurança.
Um casal de idosos sentado em um banco, cochichando entre si,
pareceram-me inofensivos. Mafiosos envelheciam, mas não naquela área da
cidade. Um bêbado escorado em uma árvore a uns metros de distância
também era tranquilo. Esse era o tipo de disfarce que o FBI utilizaria durante
alguma missão temporária, não bandidos. Os homens da máfia não se
disfarçavam. Muito pelo contrário, eles gostavam da exposição. Três mães
com crianças no parquinho também não me pareciam motivo de alarde, assim
como os casais que acompanhavam as outras três.
Tentei relaxar. Estava tudo bem e ninguém chegaria perto das garotas.
Não havia ninguém ao nosso redor que pudesse reconhecer-nos. Olhei para
Lisandra, que ria de Lis tentando se levantar após escorregar e dar de bunda
com o chão de areia. A garota mostrou a mãe um rostinho emburrado
enquanto limpava o short com as mãozinhas agitadas. A cena era linda e
enchia-me o coração de certezas. Eu faria com que elas pudessem ter essa
vida de volta. A tranquilidade de brincar e aproveitar a luz do sol sem medo
de serem sequestradas por bandidos.
Uma hora depois chamei as duas, sabendo que havíamos passado
tempo demais em exposição. Voltamos para casa sob os protestos de Lis.
Assim que chegamos ao apartamento, Lisandra foi dar um banho na filha e
aproveitei para organizar nosso almoço.
Apesar da manhã alegre, o silêncio e indiferença de Lisandra não se
alteraram. Não que eu ousasse achar que seria perdoado, mas com toda
certeza acreditava que ela estaria mais relaxada. O que não aconteceu.
Foram três longos dias que ficamos ilhados mais uma vez. Algumas
poucas vezes desci com as duas para dar uma volta na rua, mas nada que
durasse mais que uma hora. O parquinho foi o ponto que mais fomos e parar
lá todos os dias começava a incomodar-me.
Eu estava ansioso e não deixava meus olhos se desprenderem das duas
ou das coisas ao meu redor. Até que em uma ocasião, vi um vendedor de
drogas rodear o espaço e obriguei as garotas a voltarem para casa em tempo
recorde. Em teoria, a máfia não se envolve com drogas. Utilizar produtos
nocivos à saúde não era do feitio deles, mas eu não colocaria minha mão no
fogo para homens que tinham o dinheiro como senhor.
Em um desses dias, a USMarshal finalmente se pronunciou, avisando
que teríamos a visita de uma psicóloga. O objetivo era ajudar Lis no processo
de mudança de nome, além de tratá-la para diminuir os danos dos
acontecimentos em sua cabecinha.
No final do terceiro dia, a campainha tocou e abri a porta, ansioso pelos
próximos momentos. Estava torcendo para ver um rosto conhecido e acabar
com aquele sofrimento. Precisava de uma pista.
Jake, Emily e um homem alto entraram assim que abri a porta. Com os
cabelos loiros bem penteados para trás como um mauricinho, o agente
apresentou-se como Léo.
— Vou chamar Lisandra no quarto e já volto. — Deixei que os três
agentes do FBI se sentassem na sala.
Bati na porta do quarto dela, que abriu vestindo um short e uma regata,
sem o maldito sutiã! Era para me enlouquecer! Aquela mulher estava
testando meu autocontrole, tinha certeza disso.
— Sim? — ela se apoiou na porta.
Fechei meus olhos e contei até dez. Eu era um agente especial do FBI e
conseguia me passar por traficante, bandido, assassino, falsificador e
mafioso. Eu tinha que conseguir ignorar o tesão por essa mulher. Eu era
capaz de abrir os olhos e ter controle sobre meu corpo.
Assim que eu o fiz, descobri que não sabia encenar tão bem quando o
assunto era Lisandra Hall. Quis loucamente puxá-la para meus braços e beijá-
la, e só não o fiz pela cara azeda com que me olhava.
— Chamamos um agente especializado em retrato falado. Ele está na
sala te esperando.
— Claro! — Olhou para dentro do quarto e abriu um pouco a porta. Lis
brincava de boneca no meio da cama. – Você pode… — Ela apontou para a
garotinha e assenti.
Lisandra abriu mais a porta e entrei no quarto delas. O lugar emanava o
delicioso cheiro daquela deslumbrante mulher a minha frente.
— Tio James… — Lis abriu um sorriso sincero. O medo inicial havia
passado e eu ganhava o coração daquela garotinha, assim como ela ganhara o
meu.
— Eu vou… — Lisa apontou para fora do quarto.
— Não seria bom colocar uma roupa mais... Você sabe. — Fui incapaz
de segurar minha língua. Não era para ser uma cobrança e pelo olhar
assustado dela ao se analisar, não acreditei que tenha soado como uma, mas
isso só comprovava que, com ela, qualquer distanciamento descia ralo
abaixo.
— Claro! — Ela correu para dentro do banheiro e voltou com um
vestido florido solto no corpo.
Sem lançar-me um segundo olhar, ela saiu do quarto deixando-me
sozinho com Lis. Aproveitei aquele pequeno momento para brincar com a
garotinha. Ela sentia a tensão no ar, mas se comportava muito bem para quem
passava por toda aquela confusão.
— Tio James, vem binca comigo. Olha esse chapéu, coloca aqui nessa
boneca. — Eu fiz questão de obedecê-la.
— James! — A voz ansiosa de Jake chegou aos meus ouvidos antes de
sua cabeça aparecer pelo batente da porta – Você precisa ver isso.
Estreitei meus olhos para o rosto assombrado de meu irmão caçula.
Puxei Lis para meus braços e a levei até a sala, onde Lisandra permanecia
sentada no sofá dando algumas características sobre a tal de Kimberly para o
policial.
O homem, apesar de concentrado em seu trabalho, desviava os olhos
para as pernas da minha garota de vez em quando. Emily permanecia sentada
ao lado do ex, observando seu trabalho.
Coloquei Elizabeth no chão e posicionei-me atrás do tal agente do FBI.
Meus olhos foram até o desenho inacabado do artista.
Muito provavelmente meus olhos também devem ter se arregalado;
minha boca abriu-se, depois de engolir em seco. Senti uma leve vertigem
antes de deixar as palavras escaparem de minha boca.
— Não pode ser ela!
— VOU LIGAR PARA RICHARD — JAMES FALOU POUCO
DEPOIS DE observar o desenho que Léo fazia.
Estreitei meus olhos para sua reação. O homem ficou branco igual
papel após olhar a imagem e respirou fundo algumas vezes antes de soltar a
frase, sumindo corredor adentro. Olhei para o agente que fazia o retrato
falado. Ele deu de ombros e voltou a riscar o desenho. Enquanto terminava,
deitei Lis no sofá e coloquei um desenho para ela assistir enquanto
terminávamos o processo e a conversa dos adultos. Depois de um tempo, Léo
chamou-me e mostrou a imagem.
— É ela! — afirmei, esperançosa.
— Tem certeza? — o irmão de James perguntou e acenei, confirmando.
– Merda!
— O que está acontecendo? — minha voz saiu trêmula, deixando claro
meu medo.
— Léo? — O homem ignorou-me sem o menor pudor. – Está ocupado
esses dias?
— Não. Estou terminando um relatório de uma missão anterior, mas
tirando isso, tudo tranquilo. — Ele deu de ombros.
— Ótimo. Vou conversar com Richard. James precisa de mais alguém
para ajudar na segurança das meninas. Vocês podem se organizar em turnos.
Como as conheceu hoje, acho que é o suficiente. Não queremos mais
ninguém envolvido nessa… Situação.
— Ok! Por mim tudo bem. Querem que venha para cá em definitivo?
— O loiro, muito parecido com o próprio Leonardo Di Caprio, estava pronto
para se mudar para lá. Senti na hora uma vontade enorme de responder pelo
irmão de James, mas fui interrompida mais uma vez.
— Sim. Tem um quarto aqui livre. Acho que será bom você se instalar
aqui.
Não! Chega de gente para perturbar a nossa rotina. Já era confuso
demais ter James ao nosso redor a lembrar-me da situação em que nos
encontrávamos, ainda teria que lidar com outro agente? Precisava de paz e
James conseguia transmitir isso em diversos momentos. Tínhamos uma
rotina, por Deus.
Além do que, apesar de estar brava com ele, a atração entre nós dois era
tangível. Imagina se queria um agente relatando o que tínhamos? Eu ainda
queria James por perto. Eu precisava da força e da calma dele.
— Bom, vou conversar com James sobre isso. Já volto. — Antes de
sair, Jake segurou o rosto da agente e lhe deu um beijo casto, mas demorado,
nos lábios.
Assim que ele desapareceu corredor adentro, a mulher deu uma leve
risada.
— Isso foi ele demarcando território? — O loiro olhou para a tal de
Emily, que riu mais ainda.
— Sim! Definitivamente…
— Meu Deus! Ele sabe por que terminamos? — Estreitou os olhos para
ela.
— E nem vai. Estou adorando esse lado possessivo dele.
— Você é ridícula! — O homem riu e virou-se para mim.
Eu poderia ter minhas dúvidas sobre aquele olhar, como o estreitar leve
dos olhos, o lamber dos lábios calmamente e o sorriso de canto que deixava
escapar… Mas parecia-me muito uma tentativa de seduzir. O que foi bem
estranho, dada a conversa que eu acabara de escutar.
Emily analisou a reação dele assim como eu, e deu um tapa no ombro
do colega de trabalho com uma risada sacana.
— Você não presta. Não dê atenção para ele, Lisandra. É galanteador,
mas está mais para Dom Juan do que para príncipe encantado.
— Não acho que eu esteja em condições de pensar em nenhum dos dois
casos. Minha situação atual não me permite. — Dei de ombros e vi a garota
sorrindo.
— Não é o que me parece. — Ela balançou a cabeça na direção ao
corredor.
Olhei para o lugar e suspirei. Céus, o que acontecia ali? Não estava
aguentando de curiosidade. Balancei minhas pernas de tão inquieta que
estava. A conversa entre os dois agentes que ficaram na sala continuou, mas
ignorei tudo o que era dito. Eu só precisava saber quem era a Kimberly e se
James a conhecia.
Depois da minha última conversa, decidi não me meter mais no
trabalho dele. Não procurei mais saber sobre o que estava sendo feito para
nos proteger ou retirar informações dele sobre quem estava atrás de mim. Eu
confiava naquele homem.
Levei a mão até a medalhe da Santa Mônica e suspirei. A vida
continuava sendo minha e tinha o direito de saber, certo? Confiava nossas
existências nas mãos dele, mas isso não era sinônimo de ignorar ou
desconhecer as informações.
Eu tinha o direito de entender as coisas. Levantei-me de um pulo e fui
até o quarto de James. A porta estava entreaberta e pude escutar os gritos de
Jake.
— Você está ficando louco? Essa é a pior ideia que já teve em toda a
sua vida — ele dizia enquanto andava de um lado para o outro.
De onde eu estava não podia enxergar James, mas pude escutar sua
potente voz sobressair a do irmão.
— Jake, você não precisa entender! Eu vou fazer isso e ponto. É a
minha missão. Preciso lembrá-lo quem é o mais velho aqui? — Sua voz
parecia um trovão de tão forte.
— Não estamos discutindo maioridade, inferno. — O homem jogou as
mãos para o alto. – Você matou o Joe, James.
— Mas ninguém da máfia sabe, só o FBI.
— Eles acham que você está morto! É suicídio.
— Eu não vou abandoná-las, Jake. Nem você e nem ninguém irá me
convencer de fazer isso.
— Nunca te pediria uma coisa dessas. — Jake parou de andar. Seu
rosto se suavizou, os olhos brilharam um pouco e um sorriso singelo brotou
nos lábios dele. – Você gosta das duas. De verdade. Está tão imerso nesse
sentimento que nem consegue perceber o óbvio. Tem que ter outra solução.
— Não temos, Jake. Nenhuma que nos dê resultados tão rápidos. Eu
preciso entender o que ela quer e tirar Lisandra da mira. — James deu alguns
passos para frente e pude ver sua silhueta. Meu coração acelerou. Virei-me e
encostei minhas costas na parede para que ele não me visse.
— Está envolvido, James. Mais do que devia. Terei que contar isso
para Richard? — o irmão o ameaçou com uma voz dura.
— Faça isso e esqueça que é meu irmão. Eu passei um maldito ano
atrás de uma mesa resolvendo serviços burocráticos por ter salvado a sua
pele. Você me deve essa. — Poderia conhecer James há pouco tempo, mas
conseguia identificar a mágoa em sua voz. Foi o mesmo tom que ele utilizou
em nossa última conversa.
— Você atirou…
— Porque ele faria em você! — James cortou o irmão.
De alguma forma comecei a sentir-me uma intrusa. Eles estavam
discutindo e não era nada sobre a situação que nos encontrávamos. Meu
coração acelerado pedia para sair dali. Eu não tinha que me envolver com
aquelas coisas mesmo. Eles eram os profissionais daquele lugar.
Eu também não ficaria nenhum pouco satisfeita se começassem a me
dar dicas de como cortar os cabelos das minhas clientes. Não de alguém que
fosse sem formação na minha área, pelo menos.
Mentira! Eu queria saber, precisava, mas estava com muito medo de
que me pegassem bisbilhotando.
— Você faria mesmo, não é? Ficaria sem olhar na minha cara se eu
afastasse vocês. Está gostando dela…
— Jake… — A voz de James pareceu-me mais um aviso.
— Está apaixonado?
— Jake…
— Sim. É isso. Você está apaixonado por ela.
Minha boca secou. Poderia entrar lá e dizer que também estava
afeiçoando-me a ele? Que tudo bem, vamos jogar as coisas para o alto e viver
aquela merda de atração que sentíamos? Caso eu morresse nessa loucura
toda, ao menos teria tido ótimas noites ao lado daquele homem.
— Lisandra! — Meu nome pronunciado por James fez com que eu
derrubasse um vaso de plantas no aparador do corredor. – Saia já daí e pare
de escutar nossa conversa.
— Eu não… — Coloquei a cabeça para dentro do quarto, escondendo
meu corpo da visão deles.
— Por favor, desde que levantei da cama que te vi aí. — Os olhos azuis
estavam estreitos em minha direção. Mordi a boca por dentro. Será que eu
contava que estava ali há muito mais tempo?
— Ela está aí já faz tempo. — Jake provocou o irmão, denunciando-me.
Arregalei os olhos para ele, que deu uma sonora gargalhada. – Somos agentes
especiais do FBI, fofura. — Escutei algo semelhante a um rosnado partindo
do irmão dele. – Você não achava que passaria despercebida, não é mesmo?
— Sua voz tinha um toque malicioso que não me agradou.
— Saia, Jake. — James rugiu, fazendo o irmão sobressaltar-se.
— Desculpa! Passei dos limites. — Ele levantou as mãos como se
apontassem uma arma para ele. O olhar lançado para o irmão mais velho
tinha muito mais respeito estampado do que medo. – Não vai funcionar,
James. Eles vão…
— Isso não importa. Eu nem preciso que confiem em mim. Meu tempo
lá será curto.
— Droga, irmão… — O mais novo resmungou, rendendo-se.
— Sei que me odeia. — Meus olhos saltavam de um para o outro,
tentando entender e juntar as peças daquele quebra-cabeças.
— Não. Eu entendi o que fez e porque fez. Na época…
— Isso já deixou de ter importância. — James o cortou, lançando um
rápido olhar para mim. Ele não queria que eu escutasse e talvez estivesse
certo. Repeti em minha mente que eu não tinha que saber nada daquelas
missões ou o que eles fariam para proteger-me, desde que eu ficasse segura.
— Agora saia. Vou conversar com Lisandra.
Sem mais nenhuma objeção, o caçula dos irmãos retirou-se do quarto,
lançando-me um olhar menos agressivo. Respirei fundo e vislumbrei o rosto
amedrontado de James. Meu corpo inteiro se arrepiou, mas daquela vez não
era de tesão.
— Escutando atrás da porta, mocinha? – O rosto dele estava
indecifrável.
Oh merda! Eu estava mesmo encrencada.
JAKE NOS DEIXOU SOZINHOS ASSIM QUE PEDI.
— Anda escutando atrás da porta, mocinha? —tentei parecer o mais
bravo possível.
Lisandra estava branca igual papel. Os olhos se arregalaram, as mãos
nervosas brincavam uma com a outra. Ela estava desconfortável, só não sabia
se por eu tê-la descoberto ou por se envergonhar do que estava fazendo.
Mais tarde eu perguntaria a Jake o quanto da conversa ela escutou. Não
pretendia entrar com Lisandra naquele assunto. Já sabia o quanto estava
determinada, por isso seria melhor mudar o rumo da conversa para não ser
crivado de perguntas.
— Desculpe, James. Não queria escutar a conversa de vocês, nem
presenciar a discussão, na verdade. — Ela bateu as mãos ao lado do corpo. –
Só entender quem era a mulher, se você a conhecia, se estamos perto de
alguma solução…
— Você não tem que se preocupar com nada disso, Lisandra. Achei que
estava claro depois de nossa última conversa. — Comecei a ficar impaciente.
— Eu sei! E juro por Deus, James, que estou tentando colocar isso
como mantra, mas ponha-se em meu lugar! — Ela aumentou o volume da
voz, arregalando os olhos e balançando as mãos no ar freneticamente.
— Eu entendo. — Apiedei-me dela. — Sei que não está sendo fácil,
Lisandra, mas sua preocupação tem que permanecer em Lis. Os federais
ligaram, explicando que já escolheram o nome para vocês. Como estão com
pressa, aceitaram que você chame Elizabeth de Lis, mas terá que ensiná-la
que o sobrenome dela é Barnes. Você será a Mary. Escolherão ainda uma
psicóloga que virá te ajudar com essa transição. Isso já te dá coisa suficiente
com o que se preocupar. Os detalhes sobre a investigação ficam por minha
conta. — Ela suspirou e me olhou, entristecida.
— Jake chamou o outro agente para ficar aqui também. — Ela me
contou como se eu já não soubesse. Assim que meu irmão entrou pela porta
do quarto e me disse quais eram os planos quis esganá-lo. Como ele ousava
se envolver em uma missão que nem era dele? Quem raios deu a autorização
para colocar outro agente no meio da minha relação com Lisandra?
Foi então que parei, espantado. Que relação? Eu tinha a obrigação de
cuidar dela, protegê-la e apenas isso. Não estava envolvido com ela ou ao
menos, não deveria.
Todo dia eu sabia que as coisas não permaneceriam daquele jeito por
muito tempo. Ainda sucumbiria aos encantos dela, não ficaria muito mais
tempo longe de seus lábios ou pele. Eu a queria e cada dia me convencia mais
de que em algum momento perderia a noção das coisas e jogaria tudo para o
ar, se assim tivesse a oportunidade.
Aquilo era um problema bem maior… Por isso a ideia de ter Léo no
apartamento começou a fazer sentido. Ele ficaria no quarto ao lado do meu.
Isso teria que bastar para me segurar. Além disso, assim que eu colocasse os
meus planos em prática precisaria de alguém para tomar conta delas. Melhor
que já estivessem familiarizadas com o agente.
— Eu sei. Léo será um bom reforço — comentei assim que vi seus
olhos desviarem dos meus.
— Não queria, James. Já está complicado demais as coisas do jeito que
estão. Estou fugindo dessa sensação de ser vigiada.
— Mas você já é por mim. — Estreitei o olhar e a vi bufar.
— Não é a mesma coisa. Nós já desenvolvemos essa… Essa…
Relação. — Balançou os braços no ar. – Lis vai ficar insegura.
— Desculpa Lisandra, mas precisamos disso. — Fui enfático. – Agora
que sabemos quem matou Romano, precisarei me ausentar algumas vezes e
você terá de aceitar que ficarão aos cuidados de Léo.
— James… — A voz dela continha um toque de desespero e birra
infantil. Não me contive e deixei um sorriso escapar.
— Você vai sobreviver, Lisandra. Fez isso com sucesso até agora. —
Aqueles olhos que continham o verde mais exótico que eu já vira brilharam.
— Obrigada.
Em rápidas passadas, ela aproximou-se e circulou minha cintura com os
braços. Por algum tempo fiquei sem saber o que fazer, até envolver o corpo
dela. Uma de minhas mãos ficou em seus cabelos, acariciando as madeixas
castanhas. O cheiro deles subiu até minha narina e senti uma imensa vontade
de me aconchegar ainda mais a ela.
Lisandra era uma mulher guerreira. Devia ser difícil ser vista como tal.
O paradigma de ser uma mãe solteira, como se uma condição dependesse da
outra, lutar sempre sozinha para cuidar da pequena, passar por tudo o que
estava acontecendo de queixo erguido e ainda não deixar que Elizabeth
sentisse o baque era, no mínimo, digno de reconhecimento.
Mas ela estava sem ninguém que a dissesse o quanto estava orgulhoso,
que tinha fé em seus passos, ou encher seus pensamentos de palavras bonitas
e encorajadoras. Ela estava sozinha desde o momento que fizera a mala.
E eu, em minha grande babaquice, criei essa distância entre nós dois
por puro medo de sucumbir aos seus encantos. Que fosse tudo para os ares,
mas eu não a deixaria passar por tudo isso sem ninguém.
Ela desencostou o rosto de meu peito e encarou-me. Os olhos
transmitindo o medo e a angústia de toda a situação.
— Eu estou aqui, Lisa. Vou cuidar de vocês. Acharei essa mulher e
garantirei que ninguém, nem mesmo a máfia queira algo com você, ok?
Deixei minha mão deslizar por seus cabelos. Os fios longos e marrons
terminavam na cintura dela. Aproveitei a intimidade imposta por ela para
acariciar seus quadris, sentindo uma ânsia de juntá-la a mim.
— O que você vai fazer é perigoso, não é? — sua voz tremeu e acenei –
Obrigada por cuidar de nós.
Seu rosto voltou para meu peito e apertei-a mais junto. Céus, como eu
vou conseguir ser um bom agente e deixar essa louca vontade de tê-la para
mim? Os braços deslizaram para o meu torso e estremeci. Eu preciso ser um
bom agente. Repeti as palavras em minha cabeça como se fossem um mantra.
— Quer dizer que está apaixonado por mim? — Ela se afastou.
Encarei-a e vi o brilho intenso, além de um leve sorriso despontar-lhe
nos lábios. Senti meu rosto esquentando, a vergonha se apoderando de mim.
Jake era esperto e as palavras haviam sido ditas para que Lisandra escutasse.
Não que aquilo fosse a constatação de um fato. Ainda não poderia dizer
que estava apaixonado por ela, mas ela já lançou os seus encantos, enquanto
eu estava sendo tragado para esse possível mar de sensações e sedução cada
vez mais. Jake queria que ela se afastasse de mim. O pobre coitado do meu
irmão só não conhecia Lisandra e nem desconfiava tudo que já havia
acontecido entre nós.
Se ele, assim como eu, suspeitasse que ela estaria mais disposta a correr
o risco de um relacionamento comigo do que eu, jamais teria dito aquelas
palavras. Ele não compreendia que Lisandra era dona de si e pegaria o que
quisesse de mim, se assim decidisse.
Balancei a cabeça em negação e sorri para ela.
— Você não presta, Lisandra Hall.
Soltei seu corpo esbelto e me afastei. Ela começou a gargalhar.
— Desculpe, James. Precisava aliviar o clima. — Ela deu de ombros.
Saímos do quarto e fomos até a sala. Despedi-me de Jake e Emily. Léo
ficou para conversarmos um pouco mais. Pedi a ele um tempo para conversar
com Richard e combinar como as coisas seriam. Assim que o homem saiu,
liguei para meu gerenciador novamente.
Richard era muito bom em seu trabalho e logo organizou tudo para que
Léo estivesse disponível para aquela missão. Conversou comigo por mais
meia hora, tentando achar outra solução para o caso, mas ele sabia, assim
como eu, que não havia.
O FBI temia que a morte de Romano criasse uma disputa por poder
dentro da máfia e que a sede de vingança por parte da família do morto se
estendesse acima do que fossemos capazes de segurar. Se isso respingasse na
população, aí sim as coisas se complicariam de verdade.
Em busca de poder e vingança, os membros da máfia, principalmente
os mais ávidos a subirem de posição, poderiam perder a noção das coisas e
ninguém queria algo assim.
Consegui então uma semana antes de colocarmos as coisas para
funcionar. Nem todos ficaram satisfeitos com os arranjos feitos, mas não
podíamos demorar muito para acharmos a assassina.
Os três dias seguintes ao retrato falado passaram tranquilos. Lisa e eu
reestabelecemos nosso bom convívio, o que muitas vezes se tornava um
martírio para mim. Muita pele exposta, carinho e cuidado. Meu autocontrole
estava se esvaindo e isso era bem ruim. Criamos uma rotina e algumas vezes
a sensação era de sermos uma única família feliz.
Queria jogar o foda-se para toda a situação e pegar aquela mulher para
mim, mas a realidade sempre caia em meu colo para que me lembrasse das
minhas responsabilidades. Naquela tarde, seria o primeiro encontro de
Elizabeth com a psicóloga designada para o caso e, por mais que eu quisesse
me perder nas curvas de Lisandra, minha responsabilidade era garantir que
elas estariam seguras.
ACORDEI TARDE NAQUELA MANHÃ. FIQUEI ATÉ DE
MADRUGADA passando cada detalhe em uma reunião interminável com
Richard. Cuidamos dos processos operacionais da missão, contatando os
agentes que me ajudariam e fechando os últimos detalhes de minha mentira.
Tudo feito por meio de videoconferência.
Vesti um short e uma camiseta folgada e saí a procura de café.
Chegando na sala, encontrei Elizabeth sentada no chão, em frente à mesa de
centro. Tinha diante dela um papel e muitos lápis de cor. A mão desenhava
círculos intermináveis enquanto conversava animada com uma senhora diante
dela.
Amaldiçoei-me por ter dormido tanto tempo. Teria que conversar com
Lisa sobre a entrada de estranhos. Por mais que eu a tivesse avisado sobre a
chegada da psicóloga, ela teria de ser revistada por mim antes de entrar. As
coisas não podiam ser feitas de forma tão relaxada. Assumia uma coisa: por
mais que eu não gostasse da ideia de Léo por aqui, precisava de ajuda para
cuidar daquelas meninas.
Principalmente agora que tinha outras preocupações.
– Tio James! – Lis deu um pequeno gritinho e correu até minhas
pernas.
– Bom dia, bonequinha. – Segurei-a no colo e fiz cócegas em sua
barriga.
– Pala, tio. Pala! – Ela segurou o riso quando cessei o ataque. – De
novo! – ela pediu, mesmo ofegante. Voltei com minhas mãos no pequeno
corpo, fazendo-a se contorcer em meus braços.
– Pronto, pequena. – Coloquei-a no chão. – Ao que me parece você tem
uma visita e não devemos deixar nossos amigos esperando. Volte a conversar
com ela, sim?
Ela confirmou, enérgica, e correu para o sofá. A psicóloga sorriu na
minha direção e perguntou quem eu era. Lis focou no desenho enquanto
respondia tudo o que lhe era perguntado. Suspirei. As coisas estavam
andando cada vez mais rápido e começava a rezar por mais tempo. Mais dias
com elas, mais momentos só nossos. Quem diria que você gostaria de se
tornar um segurança particular, hein James?, ironizei ao me lembrar de
quando recebi aquela missão.
Torcia para que tudo corresse bem e as duas ficassem livres, mas
parecia difícil me despedir.
Assim que cheguei na cozinha, encontrei Lisandra preparando o
almoço. Encostei no batente da porta e deixei meus olhos descerem por
aquele corpo. De costas para mim, ela vestia um short curto, chinelos de
dedo, uma blusa regata, os cabelos enrolados em um coque mal feito. O suor
escorria pelo pescoço mostrando que ela já estava na ativa há muito tempo.
– Bom dia, Lisa.
Ela virou o rosto em minha direção e sorriu. Por um momento, desejei
aquela vida ao lado delas, cheia de paz e tranquilidade para todos nós. Poder
beijar o rosto corado de Lisandra e brincar com Lis durante o dia. Eu só
desejava que a loucura dos últimos dias sumisse e eu não tivesse que dar os
próximos passos daquele plano.
– Não me olhe assim, James. A não ser que pretenda fazer algo a
respeito. – Lisandra sussurrou para que apenas eu ouvisse. Ela era direta
como uma bomba.
– E se eu fizer? – Minha voz soou baixa, rouca e sexy.
Lisa mordeu o lábio inferior. Os olhos percorreram meu corpo, mas sua
atenção estava voltada para uma grande parte específica da minha anatomia.
Balancei a cabeça em negação e ri.
– Gosto do clima de paquera. – Ela voltou a lavar os pratos de repente e
quebrou toda a brincadeira.
Não fazia ideia do que estávamos fazendo. Se era mesmo apenas uma
brincadeira ou se em algum momento deixaríamos a ética e bom senso de
lado para ficarmos juntos. Quer saber? Eu já não me importava. Preferia
aquela relação calorosa e divertida do que o mau humor e silêncio dos dias
anteriores.
Aproximei-me dela e encostei-a no balcão da pia. Respirei fundo para
sentir o perfume…
Balancei a cabeça e me afastei, disposto a me concentrar no que
realmente importava. Era melhor do que piorar as coisas.
– Vamos criar uma regra por aqui, ok? Não deixe que ninguém entre
sem que eu reviste primeiro. – Ela suspirou, virando-se para mim.
– Desculpa. Quando estamos aqui sozinhos eu esqueço a merda de vida
que estou levando. Perco a noção do perigo as vezes. – Ela deu de ombros –
De qualquer forma você já tinha me contado que ela viria.
– Eu sei. Mesmo assim temos que tomar precauções. A máfia está onde
menos esperamos. Então vamos tomar cuidado, ok? – Ela balançou a cabeça,
assentindo.
Lisandra se virou até o fogão um canto um pouco mais escondido da
cozinha e ligou o fogo. De costas para mim, colocou algumas coisas na
panela. O cheiro preencheu o ambiente e grunhi em aprovação.
– Espero que goste de bolo de carne.
– Qualquer coisa preparada por você. – Tive que cortar o clima mais
uma vez – Leo virá aqui hoje. Vamos ter mais uma reunião e organizar a
vinda dele.
– Vou limpar o quarto. Onde deixo as coisas que estão lá?
– Vou arrumar um cantinho. Talvez na dispensa. – Apontei para o
pequeno cômodo ao lado da cozinha.
O lugar parecia apertado e um pouco claustrofóbico, mas não queria
nenhum computador, rastreador ou microfone perto de Elizabeth. Aquele
equipamento era caro e precisávamos tê-lo em excelente estado no caso de
necessidade.
– A propósito, vou colocar um rastreador em seu celular — continuei.
— Não quero que saiam daqui sem mim, mas sei que em alguns momentos
não temos a liberdade de escolha, principalmente quando envolvemos
crianças. Então vou te pedir para só sair daqui com Leo, e em caso de
emergências, ok?
– Ok!
Os ombros de Lisandra caíram. O olhar cansado observava a comida
que fazia sem muito interesse, as olheiras evidentes e as mãos tremendo um
pouco. Minha garota estava cansada e entendia a situação.
Sem pensar muito, massageei seus ombros. Um gemido de
agradecimento escapou pela boca rosada. Fiz um pouco mais de força e Lisa
jogou a cabeça para trás, apreciando o contato físico.
Envolvido naquela atmosfera, desci minha cabeça e pousei os lábios em
seu longo pescoço, um pouco acima do colar que sempre carregava. Abri
levemente a boca, dando um beijo molhado na pele bronzeada. Deslizei as
mãos por seus braços. Lisandra desligou o fogo e relaxou o corpo. Minhas
mãos foram de encontro as dela e entrelaçamos nossos dedos.
Meu nariz passeou por seu ombro, aspirando o aroma adocicado. O
corpo dela se arrepiou. Com a cabeça jogada para trás, pude ver os lábios se
abrirem e deixar uma lufada de ar escapar.
Céus, como gostaria de me perder em seu corpo. Esquecer os
problemas e me enterrar nela até tudo sumir dos meus pensamentos. Deliciar-
me com aquele corpo, descobrir seus segredos, apertar-lhe os seios e enterrar
minha cabeça em seu ponto mais sensível. Jogar tudo para o alto e ser feliz.
Porque, por algum motivo muito estranho, eu só conseguia me ver feliz
ao lado dela? Ao lado delas.
– James… – A voz veio carregada de luxúria e um pouco de aviso.
– Só mais um beijo. – Dei mais um em seu ombro antes de afastar-me,
dando dois passos para trás.
As mãos voltaram para os ombros dela. Assim que ela relaxou, afastei-
me lentamente.
– Quando meu corpo não estiver mais aguentado, vou bater em sua
porta. – Ela ameaçou.
– Acho que vou abri-la com muito prazer – sussurrei, mas minhas
palavras não passaram desapercebidas por ela. Precisava diminuir a tensão
entre nós. – Qual é a do colar?
– Foi um presente da minha mãe. Ela me deu pouco antes de falecer.
Disse que me amava e queria que Santa Mônica estivesse sempre comigo.
– Santa Mônica? Desculpe, não sou religioso. – Dei de ombros e a vi
sorri.
– Também não, mas ela era. Contou-me que Santa Mônica era a mãe de
Santo Agostinho e rezou muito pelo filho e toda a família, assim como ela
rezava por mim. Caiu-me bem, já que pouco depois engravidei de Lis e
passei a pedir a Deus por minha vida e a de minha filha com mais frequência.
– Bonito.
Lisandra levou a mão ao colar e suspirou.
– É uma das poucas coisas que me restou de meus pais. Guardo com
muito carinho.
– Deve mesmo. – Beijei seu ombro novamente.
Minha garota era uma guerreira.
— Eu as levo em casa.
Suspirei aliviada ao perceber que o homem entendeu meu recado.
OLHEI NERVOSO PARA OS PAPÉIS EM MINHAS MÃOS
NOVAMENTE. Há duas horas lia e analisava todas as informações que
consegui nos últimos quatro meses, à procura de respostas, mas não
encontrava nada concreto. Alguma coisa eu tinha de ter deixado escapar.
— Assim vai queimar os neurônios sem encontrar nada.
Léo sentou-se ao meu lado, no sofá da sala de Richard. Pegou uma
das folhas jogadas na mesa diante de nós e virou-a, olhando os dados
impressos ali com interesse.
— Tem que ter alguma coisa, Léo! Não posso continuar desse jeito.
— Achou algo? — Richard entrou com alguns copos de café sobre
uma caixa de pizza. Afastou os documentos para um lado e colocou tudo na
mesa, sentando-se no sofá à minha frente.
– Nada! Eu não entendo…
Larguei os papéis num rompante e esfreguei meu rosto com as mãos.
Estava há quatro meses encontrando Hope com frequência. Ela ligava,
eu ia. Eu ligava, ela vinha. Vários encontros, todos com flertes por parte dela.
Enquanto isso, tentava a todo custo tirar qualquer informação, mas a garota
era escorregadia.
Apesar de atender algumas ligações perto de mim, nunca consegui
escutar nada que me fizesse compreender o motivo do assassinato de Romano
ou qualquer outro tipo de conversa que parecesse uma confissão. Estava de
mãos atadas.
Escutar as gravações que fiz e ler as informações que anotei não
estavam ajudando-me em nada. Parecia perda de tempo e isso me estressava.
Não aguentava mais fingir ser amigo de Hope. Ela já deixou há muito
de ser aquela garota inconsequente. A maldade cresceu no coração da menina
que um dia conheci. Estava visível nas conversas, no ódio que transmitia
quando falava do pai, nas mãos que se esfregavam como um vilão de desenho
animado enquanto planejava algo ruim.
Escutava suas conversas ao telefone. Cada comando para os
subordinados, as ameaças feitas, as ordens de matar ou pegar dinheiro de
alguém. Ela estava formando a sua própria Máfia.
E para piorar acabei tornando-me um espião. Ela pedia informações e
eu as dava. Era isso ou perder a preciosa proximidade conseguida.
Tinha noção do perigo que corria, nunca fui inocente. Estava no meio
de três grandes organizações e tinha que tomar todos os cuidados possíveis
para não despertar a suspeita de nenhuma delas. A máfia, Hope e o FBI.
Todos queriam algo de mim e tudo o que eu fazia era uma forma de salvar
Lisa e Lis.
– Estou dizendo que nada disso vai adiantar. – Leo jogou a folha em
sua mão na mesa e pegou um pedaço de pizza.
– Para de falar em etapas e diz logo o que está pensando. – Bati as
mãos na mesa, nervoso com a enrolação de meu colega de trabalho.
Eu ainda devia minha vida para ele, mas o cara não precisava saber
dessa merda.
– Bom… – Léo falava de boca cheia, continuando a linha de raciocínio.
– Você está muito pacífico, James. Um cara bonzinho demais.
– Tem razão… – Richard levantou-se, empolgado.
Meu chefe andou de um lado para o outro da sala, a mão no queixo, o
dedo batendo repetidas vezes na boca.
– O quê? – Eles estavam doidos?!
– Oras, você vive nos dizendo que não reconhece mais a garota, que ela
mudou e tal… Se ela está ruim assim, não vai abrir a boca para um cara
bonzinho como você está sendo. – Ele concluiu o raciocínio com um sorriso
no rosto. – Se ela for contar algo, precisa saber que poderá contar contigo.
– Ser o amigo bonzinho e cheio de medo da máfia não te transforma em
um aliado interessante para ela.
Suspirei e apoiei a cabeça nas mãos, escondendo o rosto. Eles tinham
razão. Hope era esperta e nunca daria um passo em falso.
– E o que tornaria?
– Eu tenho uma ideia. – Léo mordeu outro pedaço de pizza antes de
fazer uma careta para mim. – Só que acho que você não vai gostar nadinha
dela.
– Eu tenho escolha, Léo? – Levei automaticamente mão para o colar no
meu pescoço.
Se essa missão durasse muito mais, eu morreria.
Desde que as meninas se foram, eu estou sem notícias. Haviam se dado
bem na nova cidade? Como Lis estava se dando com a nova escola, a volta da
rotina? E Lisa, teria escutado meus conselhos e seguido a vida? Estaria feliz
com as mudanças? Eu esperava que sim. Ao mesmo tempo meu coração
apertava-se com a possibilidade de me esquecerem.
Que bobagem a minha. A gente se amava, da forma mais pura e
sincera. Não se apaga algo assim em quatro meses.
E para conseguir revê-las, faria o que fosse necessário.
JAMES
LISANDRA
FIM
LEIA TAMBÉM:
Sinopse:
Natália Fonseca era uma mulher independente que precisava urgentemente se casar
para herdar a empresa da família. Essa era a única cláusula obrigatória. O problema
era que ela não tinha nenhuma intenção de se prender a um homem.
Ricardo Valença era um famoso dono de boates. Filho de Fernando Valença, um
poderoso político, Ricardo vê-se obrigado a lançar candidatura para governador a fim
de agradar seus pais. Mas para isso, necessitava de uma melhor imagem para poder
vencer as eleições.
Uma proposta que beneficiaria os dois...
O que não estava nos planos era ficarem fisicamente atraídos. Render-se a essa
vontade poderia atrapalhar o plano de ambos.
Como viver dia a dia com alguém que você deseja, mas não deve ter?
Link: https://www.amazon.com.br/dp/B07W31DP24
Sinopse:
Após descobrir que seu marido a traía com uma de suas melhores
amigas, Flávia sente-se devastada. Seu mundo estava de cabeça para
baixo e a única certeza que tinha era que precisava de algo novo e
estimulante para se reerguer. Com o apoio das amigas ela se matricula
em uma academia para ajudar na mudança do corpo, mas precisando
mesmo é de uma mudança na alma.
Anderson e Pedro são dois grandes amigos, professores de educação
física e trabalham na academia Corpo e Alma. Dois mulherengos que,
por obra do destino se interessam pela mesma mulher. A doce e
inocente Flávia mexerá com a cabeça deles e causar uma bela de uma
confusão.
Como lidarão com o redescobrimento do amor próprio, a amizade e a
atração? O que falará mais alto?
Encontros e Desencontros do amor é uma série de livros que conta a
história de quatro amigas e suas aventuras no amor. Nesse primeiro,
vamos conhecer Flávia e sua busca em se redescobrir mulher.
Link: https://www.amazon.com.br/dp/B07ZLV1754
Sinopse:
Tatiana Amorim está grávida. De ninguém mais, ninguém menos que
uma antiga paixão platônica. Tem uma família muito religiosa e não
sabe como contar a eles o que está acontecendo. Para não decepcionar
muito seus pais, faz um pedido para o pai de seu filho.
Leonardo Brandão descobriu que será pai da mulher de seus sonhos. A
mulher que ele insiste em conquistar e que ela insisti em dispensá-lo.
Sua fama de mulherengo faz ela querer distância dele. Ela faz um
pedido, ele vê como uma ótima oportunidade e estar mais perto dela e
de conquistá-la.
[1]
Expressão utilizada para referir-se à homens que tenham interesse em entrar na máfia e
estão sob os cuidados de algum cappi.
[2]
Expressão utilizada para referir-se à homens que já tenham sido aceitos na máfia.