Características e Modalidades Da Regra Jurídica
Características e Modalidades Da Regra Jurídica
Características e Modalidades Da Regra Jurídica
Professor Regente: José Alberto Vieira // Professor Assistente: João Pedro Marchante
CARACTERÍSTICAS E MODALIDADES DA
REGRA JURÍDICA
A conceção segundo a qual as fontes do direito são os modos de revelação das
regras jurídicas pode desdobrar-se nas seguintes asserções:
As fontes de direito têm um significado normativo;
As regras jurídicas são o significado normativo das fontes de direito;
As regras jurídicas são inferidas de uma fonte através de uma atividade de
interpretação.
A interpretação da fonte é a atividade intelectual pela qual se determina o seu
significado e, portanto, a regra jurídica que ela contém.
Entenda-se que não é possível fazer identificar qualquer proposição normativa com
uma norma jurídica visto que nem todo o texto de uma lei equivale a uma norma
jurídica. Uma proposição jurídica pode conter uma regra, mais do que uma regra, ou
conter apena parte de uma regra.
ART. 879.º C: A previsão é “Se celebrares um contrato de compra e venda” e, por outro lado,
a estatuição é "Dá-se a transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito, a
obrigação de entregar a coisa e a obrigação de pagar o preço".
Generalidade
Uma norma diz-se geral por se dirigir a uma pluralidade indeterminada de
destinatários, não se dirigindo, por isso, a sujeitos determinados. O caráter geral
opõe-se ao caráter individual.
Abstração
Uma norma diz-se abstrata quando vale para uma pluralidade indeterminada de
casos, não se dirigindo, por isso, a uma situação concreta. O caráter abstrato opõe-se
ao caráter concreto.
A abstração e a generalidade são características comuns da regra jurídica, porque a regra que
é abstrata é também geral. No entanto, a regra pode ser:
Concreta e geral
o Por exemplo: norma que autoriza e confirma a declaração do estado de
sítio ou de imergência (art.161.º, al.l) CRP).
Concreta e individual
o Por exemplo: norma que atribui competência a outro órgão para regular
uma certa matéria, como as leis de autorização legislativa (art.165.º,
n.º2 CRP).
Imperatividade
A imperatividade é uma característica da Ordem Jurídica no seu todo, visto que o
Direito pretende ser obedecido e imposto. No entanto, quando olhamos para cada
norma isolada e individualizada não podemos afirmar que toda e qualquer uma é
imperativa, ou seja, deve ser respeitada pelos destinatários. Visto que há muitas
normas jurídicas que deixam á vontade do destinatário a sua aplicação.
A imperatividade é uma característica da ordem jurídica, mas não das normas
individualmente analisadas visto que existem imensas regras jurídicas que não impõe regras
de conduta, sendo elas as normas dispositivas.
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ART.7.º, N.º3 - A lei geral posterior não revoga a lei especial anterior, exceto se outra
for a intenção inequívoca do legislador. A justificação deste regime é fácil de perceber:
a lei especial contém um regime que foi definido para corresponder a certas
circunstâncias particulares; por isso, a lei geral, que não atende a essas circunstâncias,
não pode revogar a lei especial. Por exemplo: uma nova lei sobre o contrato de locação
não revoga a lei sobre o arrendamento urbano.
Exceção: da nova lei geral pode resultar que ela também se deve aplicar às
situações que são abrangidas pela lei especial, hipótese na qual se verifica a
revogação da lei especial pela nova lei geral. Saber se isso se sucede é questão
de interpretação da nova lei geral e da determinação, através dela, da
intenção inequívoca do legislador. Para isso, é importante determinar se
permanecem as razões que justificaram a elaboração da lei especial; se tal não
suceder, pode concluir-se que o legislador teve a intenção de revogar a lei
especial.
Por outro lado, a lei especial posterior derroga a lei geral anterior. Como a lei especial
só se aplica em casos especiais, a lei geral anterior permanece aplicável em todos os
outros casos.
o Permissivas: regras que permitem uma conduta, ou seja, não a impõe nem
proíbem;
Uma norma imperativa deve ser obedecida e, portanto, não é objeto de uma decisão livre
por parte do destinatário, estando estes sempre vinculados a segui-la e obedecer-lhe. Quando
o Direito estabelece normas de conduta obrigatórias, os destinatários não têm opção se não se
sujeitar às mesmas, sendo que se se verificar violação da norma jurídica em causa, o sujeito
sujeita a um efeito jurídico desfavorável, ou seja, uma sanção.
Uma regra supletiva é uma regra que se destina a suprir o vazio legal deixado,
conforme as situações, pela livre disposição das partes ou pelo legislador. Assim,
sempre que, por deficiência ou silêncio fortuito ou deliberado na regulação do
conteúdo contratual, não existirem cláusulas específicas aplicáveis a certas situações
emergentes desse negócio jurídico, aplicam-se as regras supletivas sobre a matéria
previstas na lei, as quais passam a assumir conteúdo imperativo.
Para a classificação de uma regra jurídica como injuntiva ou dispositiva, podem ser
utilizados vários critérios:
Qualificação pelo legislador: são injuntivas as regras que o legislador não
admite que sejam afastadas pela vontade das partes e, em contrapartida, são
dispositivas as regras cuja aplicação seja expressamente ressalvada pela falta
de disposição ou de estipulação pelas partes em contrário.
Valoração da regra: são injuntivas as regras que são essências a um
determinado regime, ao passo que as regras dispositivas são aquelas que não
são.
REGRAS DEFINITÓRIAS
A definição consiste na explicação do significado de uma palavra ou de um
enunciado. As regras definitórias contêm definições estimulativas de conceitos
jurídicos: elas não procuram descrever uma realidade, mas fixar o significado de um
conceito jurídico. As regras definitórias equiparam um conceito jurídico a uma
descrição desse conceito.
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REGRAS DE REMISSÃO
As regras de remissão equiparam duas situações distintas, aplicando a uma delas o
regime jurídico que está previsto para a outra. Por exemplo: o art.499.º CC manda
aplicar à responsabilidade pelo risco, na parte aplicável e na falta de preceitos legais
em contrário, as disposições que regulam a responsabilidade por factos ilícitos
(art.483.º a art.498.º CC).
A remissão assenta numa analogia entre duas ou mais situações: em vez de se
definir um regime legal, remete-se para outro já existente, porque as situações são
análogas e merecem um mesmo tratamento jurídico.
Ao passo que nas regras de remissão equiparam-se realidades análogas, nas ficções
legais equiparam-se realidades distintas.
REGRAS DE PRESUNÇÃO
As presunções são, na definição do art.349.º CC, as ilações que a lei ou o julgador
tira de um facto conhecido para firmar um facto desconhecido. Do facto conhecido X
infere-se o facto desconhecido Y, podendo essa inferência ser retirada pela lei
(presunções legais: art.350.º CC) ou pelo julgador (presunções judiciais: art.351.º CC).
As regras jurídicas que contêm presunções legais estabelecem uma implicação entre
dois factos: segundo a presunção legal, um facto (conhecido) implica um outro facto
(presumido).
Estas presunções podem ser:
Ilidíveis: podem ser ilididas mediante a prova do facto contrário (art.350.º,
n.º2 CC).
o Por exemplo: o art.1268.º, n.º1 CC estabelece que o possuidor goza da
presunção da titularidade de um direito sobre a coisa; esta presunção
baseia-se na circunstância de que, normalmente, quem está na posse de
uma coisa tem um direito sobre ela (nomeadamente, um direito de
propriedade); no entanto, a presunção é ilivível, podendo provar-se que
o possuidor não tem afinal nenhum direito sobre a coisa.
Inilidíveis: não admitem prova em contrário (art.350.º, n.º2 CC), pelo que não
é permitido provar que o facto presumido não é verdadeiro.
o Por exemplo: o art.1260.º, n.º3, CC dispõe que a posse que for adquirida
por violência é sempre considerada de má fé; assim, da prova da
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FICÇÕES LEGAIS
Através das ficções legais, o legislador ficciona que duas realidades distintas são
idênticas, ou seja, o legislador equipara uma realidade a outra realidade para
permitir a aplicação a ambas da regra que regula uma destas realidades.
A distinção entre as ficções legais e as presunções inilidíveis torna-se clara nos
seguintes postulados: as ficções legais baseiam-se numa relação de equiparação entre
realidades distintas; as presunções inilidíveis fundamentam-se numa relação de
implicação entre um facto conhecido e um facto presumido.