Proibida Do Ceo

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PERIGOSAS NACIONAIS

Contents
Title Page
Copyright
Sinopse
Prólogo
Um
Dois
Três
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Trinta e dois
Trinta e três
Trinta e quatro
Trinta e cinco
Epílogo
Em breve...
Agradecimentos
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PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

A proibida do Ceo

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright © 2019 Sara Ester


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste
livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes sem a autorização por
escrito da autora.

Revisão: Sara Ester


Diagramação digital: Jennifer Souza(Dream
Design)
Capa: Barbara Dameto

+18
Sara Ester

PERIGOSAS ACHERON
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1. Romance
2. Adulto

Todos os direitos reservados á Sarah Ester.


Essa é uma obra de ficção.
Quaisquer semelhanças com pessoas vivas ou
mortas é mera coincidência.

PERIGOSAS ACHERON
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Sinopse
O que acontece quando os sentimentos são
mantidos em cheque dentro de uma relação de
amizade?
Romeu e Eva foram criados juntos, como
primos. A cumplicidade deles ia muito além de
qualquer ausência de laço sanguíneo, porque tudo o
que importava e fazia sentido era o que os tornava
unidos: a amizade, o respeito e a confiança.
Mas um pedido inusitado mudou tudo, e a
virgindade de Eva se tornou um problema a ser
resolvido.
Eva queria aprender.
Romeu seria o professor.
O que sobraria dessa amizade no final?
**Aviso**
Para você que não leu os primeiros livros da
série ou não se lembra, Romeu e Eva não possuem
qualquer tipo de laço sanguíneo, logo não se trata
de uma relação de incesto.

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Prólogo

A proposta
Romeu

Fazia alguns minutos que eu estava


observando a garota que atormentava meus
pensamentos a mais tempo do que eu podia me
lembrar. Isso, porque ela não se comparava a
nenhuma que eu já tivesse tido a oportunidade de
conhecer ou ficar. Não. Eva era delicada e inocente.
Inteligente e sarcástica quando queria. Eu não tinha
certeza do momento em que comecei a enxergá-la
com olhos maliciosos, contudo, o momento não
importava, mas sim o fato em si. Eu era a porra de
um cretino que sonhava em comer a prima.
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E de várias formas e ângulos diferentes.


Em cada canto do meu apartamento.
Eu queria respirar aquela inocência dela e
roubá-la para mim. Puta que pariu! Eu seria
mandado apenas com passagem de ida para o
inferno.
Os cabelos negros como a noite, naquele
momento, caíam como cascatas em seus ombros
desnudos. Seus lábios rosados estavam
deliciosamente presos entre seus dentes brancos
enquanto ela me encarava, expectante. Seus olhos
me faziam cativo com tanta facilidade que eu me
sentia fora de controle com o efeito que ela possuía
sobre mim e meu corpo.
Nenhuma outra tinha aquele poder.
— Você pode repetir, Eva? Juro que estou
tentando não acreditar que você veio até meu
apartamento para me pedir um absurdo desses.
Ela rolou os olhos, demonstrando toda a sua
impaciência. Incrivelmente ela conseguia ficar
ainda mais linda quando estava irritada.
— Romeu, nós crescemos juntos, poxa! E,
eu sei que você já comeu a maioria das minhas
colegas. Então por que não quer me comer
também?
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Fúria invadiu meus poros quando ouvi suas


palavras.
— Nunca mais se refira a você dessa forma
tão baixa, Eva — vociferei, indignado. —
Nenhuma das suas amigas se compara a você.
Nenhuma significou nada para mim. Você é
diferente. Pelo amor de Deus.
Levantei do sofá, nervoso com toda aquela
situação.
Fiquei de costas, esfregando o rosto e
tentando raciocinar qualquer coisa que não fosse
meu pau indo de encontro ao calor reconfortante
entre as pernas da minha prima quente como o
inferno.
— Mas eu não quero ser diferente, será que
não percebe? — Ela me puxou para ela, e vi as
lágrimas banhando seu lindo rosto. — Estou
cansada de ser tratada como a garotinha perfeitinha
mesmo tendo quase vinte e um anos. Eu estou a fim
de um rapaz, mas ele sequer se aproxima, porque
tudo em mim... — ela gesticulou para o próprio
corpo —, berra inexperiência.
— Então você quer que eu lhe ensine o
sexo? — Minha voz quase não saiu.
A proximidade dela, em contrapartida com
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aquela proposta indecente e tentadora estavam


fazendo um ótimo trabalho entre minhas pernas.
E lá estavam eles novamente, os dentes
castigando seus deliciosos lábios. Será que ela fazia
ideia do quanto a imagem dela assim era erótica
pra caralho?
— É isso que eu quero. — Veio a resposta
num tom rouco, porém firme.
Ali, na minha frente, Eva parecia a própria
perdição em forma de mulher. Deliciosamente
dentro daquele vestido curto e sexy. Os pés
carregavam o tipo de salto que eu simplesmente
ficava louco, alto e fino. Minha mente passou a
criar múltiplas cenas, onde eu a fodia com ela
usando apenas aqueles saltos, cravando-os nas
minhas costas.
Trêmulo, e tentando controlar meus piores
instintos, eu acariciei seu rosto angelical.
— Eu adoraria poder ajudá-la, meu anjinho,
mas não posso fazer isso. Além dos nossos pais me
matarem, eu nunca me perdoaria se levasse você
para a minha selvageria.
Irritada, ela retirou minha mão do seu rosto
num gesto agressivo. Admirei seu traseiro
arrebitado quando ela se inclinou para pegar a
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mochila do chão, ao lado do sofá, em seguida,


marchou para a saída.
— Não se preocupe, porque encontrarei
quem queira me ajudar. Garanto que não faltará
preten...
Não a deixei terminar de falar, porque
apenas imaginá-la fazendo aquela mesma proposta
a outro, já me fazia querer matar alguém.
— Ok, eu ajudo. — Espalmei a porta,
impedindo ela de sair.
Eu estava sem fôlego.
— Sério? — perguntou, eufórica. — Uau!
Graças a Deus, porque não queria que fosse outra
pessoa.
Respirei fundo antes de me voltar para ela.
Meu olhar estava escuro na sua direção, e ela parou
de sorrir.
— Se eu fosse você, eu não perdia tempo
clamando por Deus, porque nem ele poderá te
ajudar depois do que eu pretendo fazer com você,
Eva. — Enlacei-a até mim, inspirando seu aroma
com toda a fome que eu possuía dela. — Você quer
aprender a ser uma putinha na cama? Ok, eu vou
ensinar, anjinha. E quando terminarmos, você terá
se transformado numa verdadeira diabinha. Eu
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prometo.

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Um

Algum tempo antes da Proposta


Eva

O romantismo não deveria ser algo taxado como


antiquado ou fora de moda, justamente porque o
amor é um sentimento lindo, puro e único, que
enaltece o ser humano. Entretanto, nem todos
carregam o mesmo pensamento, e foi exatamente o
que comecei a perceber naquele momento enquanto
sentia meu rosto queimar e tentava ignorar as
risadinhas ao meu redor.
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Em uma rápida retrospectiva da minha


manhã até ali, eu me vi acordando cedo para tomar
um banho sem pressa. Minhas roupas já haviam
sido deixadas separadas na noite anterior,
impecavelmente passadas e prontas para serem
usadas. Amarrei os cabelos longos e rebeldes — no
alto da cabeça e, em seguida, peguei minha mochila
e me preparei para sair do quarto em que dividia
com Penélope, mas parei assim que escutei o
despertador dela tocando. Eu poderia fazer a
gentileza de chamá-la, já que claramente, ela
perderia o primeiro período da manhã, mas eu a
conhecia tempo suficiente para saber que essa não
seria uma boa ideia, porque seu péssimo humor a
transformava num monstrinho.
Então, apenas ignorei quando a mesma
desligou o alarme, e dei uma última espiada no
espelho antes de sair do quarto.
Levei pouco mais de vinte minutos para
atravessar a Vila e chegar ao prédio em que teria a
primeira aula do dia. Quando entrei na sala, a classe
estava consideravelmente cheia, e uma pequena
discussão sobre sexo e seus tabus, parecia estar
inflamando os ânimos. O professor da disciplina de
Econometria estava atrasado, o que facilitou para
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que aquela pequena baderna, entre os alunos,


acontecesse.
Eu não era considerada uma das garotas
mais populares, não no quesito bom para ser mais
exata; na verdade, o meu histórico trazia uma
infinita lista de momentos constrangedores,
considerando que minha maneira de agir e pensar
sempre houvera sido diferente em comparação com
outras garotas da minha idade.
— Atualmente muitos casais reclamam da
qualidade de seus relacionamentos sexuais. No
entanto, antes de se falar de atração física,
disposição para o ato sexual ou sensualidade, deve-
se observar qual é o símbolo que a relação sexual
tem num relacionamento que, a princípio, está
baseado no amor. Obviamente, a convivência entre
um casal pede contato físico, intimidade e,
consequentemente, sexo. Mas a questão é: Até que
ponto um sobrevive sem o outro? É possível amar
sem transar? É possível transar sem amar? Por
quanto tempo? Quanto vale uma relação onde o
sexo insiste em “existir” sem o amor, ou vice e
versa?
— Então resumindo, você acredita que o
sexo só deve acontecer depois do casamento, Eva?
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— questionou um rapaz, entre risos.


— Que tosca! — zombou uma garota. —
Por acaso está esperando o príncipe encantado, meu
bem?
— Não foi isso que eu disse — defendi-me,
constrangida. — Apenas me expressei mal. Eu quis
dizer que o ato sexual é uma consequência de uma
série de vários outros atos; que a qualidade do sexo
está diretamente relacionada com a qualidade que
se tem em todos os outros setores do
relacionamento, tais como respeito, admiração,
confiança e entre outros.
Meu rosto estava queimando.
— Eu acho que traduzindo em outras
palavras, você quis dizer que ainda é virgem, doce
Eva — insistiu o rapaz, audacioso. Seus olhos
chisparam nos meus. — Acertei?
Meu coração acelerou, enquanto
gargalhadas podiam ser ouvidas até mesmo por
quem passasse pelo lado de fora da sala, no
corredor.
— Oh, coitadinha. Nem ao menos deve
saber chupar um pau — lamentou uma garota de
cabelos loiros, olhando-me com extrema maldade.
— Se quiser, eu me ofereço como cobaia,
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doce Eva — gritou um rapaz do fundo da sala.


Meus olhos começaram a arder, num triste
aviso de que as lágrimas estavam prestes a rolarem.
— Faça isso e o Romeu acaba com você —
outro rapaz ralhou, fazendo-me ainda mais
consciente da minha insignificância, já que sequer
conseguia lutar minhas próprias batalhas.
Nervosa, eu juntei minhas coisas e me
levantei da cadeira, apressando-me para sair dali o
mais rápido possível, antes que meu
constrangimento aumentasse assim que as lágrimas
se fizessem presentes no meu rosto.
Quase esbarrei no professor, que estava
entrando na sala; ele tentou me parar, mas neguei
com a cabeça. Ainda o ouvi se questionando: O que
deu nela?
Eu poderia facilmente voltar e responder:
Quer realmente saber o que deu em mim,
professor?
Bem, eu sou zombada pela minha
inexperiência.
Sou zombada por meus pensamentos
românticos.
Sou zombada por ser estudiosa.
E tudo isso me frustra.
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Lutando para controlar minha respiração, eu


consegui me recompor enquanto ajeitava a mochila
nas minhas costas e levava as mãos ao rosto a fim
de enxugar o rastro das lágrimas. Eu não conseguia
entender o motivo para ter meus pensamentos
taxados como ridículos apenas por eles serem
diferentes. E daí que eu era romântica? O que havia
de errado com a palavra amor? Cresci num dos
ambientes mais amorosos do mundo, tendo meus
pais como os principais protagonistas. Aliás, onde
eu encontraria prova maior de amor do que aquela
que eles fizeram por mim, criando-me como uma
verdadeira filha mesmo que eu não houvesse saído
deles?
Estava tão absorta nos meus pensamentos
confusos que não percebi a aproximação de
alguém. Romeu sorria quando olhei para ele,
contudo fechou o sorriso ao notar meus olhos
avermelhados.
— O que aconteceu? — quis saber num tom
perturbador. — Alguém ousou mexer com você?
— rosnou.
Rolei os olhos, puxando meu braço do seu
aperto, sentindo-me exausta demais para pensar em
prolongar o teor daquela situação.
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— Não aconteceu nada — menti, sabendo


exatamente a confusão que ele faria se eu dissesse a
verdade. E, eu não estava querendo mais exposição
negativa sobre mim. Romeu poderia ter as
melhores intenções, mas sabia ser sufocante quando
queria.
Continuei meu caminho.
— Como assim, nada? — insistiu. — Eva,
você está chorando. Anjinha...
Eu odiava quando ele me chamava pelo
apelido carinhoso — dado quando ainda éramos
crianças — porque era meu ponto fraco. E ele
sabia.
— Foi um cisco, Romeu — interrompi num
suspiro. — Um cisco.
Ele continuou me seguindo, o que me fez
querer perguntar se ele não teria aula, ou qualquer
outro compromisso, mas me calei.
— Ah, um cisco? — Pigarreou. — Então
me diz por que está indo embora agora?
Não respondi, e ele me parou, forçando meu
olhar no seu. Seu corpo estava tenso e ainda mais
assustador naquela camiseta preta e jeans rasgado.
Cruzei os braços, tentando disfarçar o
incômodo que me sufocava por dentro. Ainda
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assim, a minha boca acabou expressando o que


estava me angustiando:
— Você acha que a mulher para ser boa pra
um cara, ela precisa saber transar?
Romeu pareceu chocado com minha
pergunta, porque permaneceu me encarando com a
testa franzida, por segundos que pareceram
intermináveis. Eu senti como se tivesse duas
cabeças.
— Quem disse isso? Com quem você andou
conversando, Eva? — Sua expressão preocupada
me desmotivou.
Suspirei, sentindo-me patética. Dei de
ombros.
— Esquece.
Tentei passar por ele, mas não fui longe,
porque seus braços me impediram. Tentei não
chorar quando suas mãos amoldaram meu rosto;
seus polegares começaram a acariciar minhas
bochechas em um carinho tocante.
— Ei? — Firmou nossos olhares. — Está
tudo bem, eu estou aqui — garantiu. — Não sei o
que está te incomodando, mas saiba que isso me
deixa frustrado pra caralho. Porque eu me sinto
impotente, entendeu? Não gosto de vê-la
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sofrendo... — abri a boca para continuar negando,


mas hesitei quando ele cobriu meus lábios com
seus dedos —, o que está evidente para mim,
anjinha — completou o raciocínio.
Sorri fraco, porque ele me conhecia bem.
Em seguida, deitei a cabeça no seu peito, e
Romeu me apertou um pouco mais forte do que o
necessário.
— Eu sou uma garota estranha aos olhos de
outras pessoas, Romeu — desabafei. —
Honestamente, eu estou cansada de ser taxada
como diferente.
— Você não ser como as outras garotas não
a torna diferente e nem estranha, Eva, mas especial.
Um achado. Uma pérola. Um diamante bruto. —
Afirmou. — E acredite em mim quando digo que
muitos marmanjos sonham com a oportunidade de
lapidá-la.
Afastei a cabeça para poder encarar seus
olhos escuros, que me encaravam com tanta
intensidade que quase fiquei sem ar.
— Você jura? — Fiz beicinho, enquanto
fungava.
Pensei ter visto suas pupilas dilatarem
quando ele focou nos meus lábios, mas não tive
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tempo para me atentar a isso.


— Tenho certeza. — Sorriu, enxugando
meus olhos com seus polegares. Em seguida, pegou
a mochila das minhas costas. — Por isso que
preciso estar sempre de olho em você para evitar
que tenha seu coração partido por causa de algum
malandro.
— Malandro igual a você? — brinquei,
porque eu mais do que ninguém conhecia a enorme
lista de garotas que tiveram seus corações partidos
pelo garanhão ao meu lado.
— Principalmente. — Ele também sorriu,
depois beliscou meu nariz.
Continuamos caminhando em direção ao
estacionamento.
— O que pretende fazer agora?
Entortei os lábios.
— Ir para casa...?
Dessa vez, foi ele quem revirou os olhos.
Chegamos ao lado de seu conversível, e ele
pulou para dentro. Não tive alternativas a não ser
abrir a porta do carona e entrar também.
— Vamos levar alegria para alguns
coraçõezinhos — disse ele, de maneira enigmática.
— Não entendi — comentei, confusa.
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Mas Romeu não respondeu, ao invés disso,


apenas ligou o carro e acelerou.

∞∞∞
Eu ainda não sabia o que dizer enquanto
meus olhos admiravam a cena diante de mim.
Romeu e eu tínhamos uma forte ligação, entretanto,
jamais desconfiei daquele lado humano dele. Meu
peito estava tão sufocado de amor, que me segurei
para não chorar.
— Venha, Eva — disse ele, inclinado ao
lado de uma garotinha, que usava uma touca rosa,
para mascarar a falta de cabelos. — Quero
apresentá-la minha namorada. A minha
princesinha, Julie.
Ele estava usando uma fantasia de mágico
— colocada minutos antes, quando me vi incrédula
assim que ele parou em frente ao Instituto que
tratava de crianças com câncer.
Tentando não chorar, eu me aproximei e me
abaixei, ficando sob meus joelhos.
— Oi, princesa.
Ela não respondeu, e Romeu me encarou,

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cochichando.
— Ela está com um pouco de ciúmes,
porque acha que você pretende me roubar dela —
falou, agindo como se aquilo fosse loucura. — Eu
prometi a ela que vamos nos casar quando ela
crescer, então...
Entrei na brincadeira.
— Oh. — Cobri os lábios com a mão. —
Então, nós seremos da mesma família, sabia?
Porque Romeu e eu somos primos. — Ela me
encarou, desconfiada.
— Verdade?
O som de sua voz era quase angelical.
Assenti, porque minha voz certamente
soaria embargada.
Respirei fundo.
— E digo mais... Com uma beleza como a
sua, dificilmente você precisa se sentir ameaçada,
querida. — Ela sorriu, encantada com minhas
palavras. Aproveitei a distração, e peguei a flor que
Romeu ofereceu, sem que a menina visse. Num
movimento de ilusão, eu levei a mão por trás de sua
orelha, e trouxe a flor diante de seus olhinhos
infantis, surpresos e brilhantes. — Uma flor, para
outra flor ainda mais bela.
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— Uau! Você também faz mágica —


deduziu, em sua doce inocência.
Sorri, emocionada.
— Romeu e eu somos da mesma família,
lembra? — Pisquei um olho.
Eufórica, ela saiu correndo para contar a
novidade para as amigas.
— Por que nunca me disse que fazia esse
trabalho voluntário, Romeu? — perguntei num
sussurro. — Desde quando?
Ele se levantou.
— Há um ano — respondeu. — Nunca tive
oportunidade de contar. — Deu de ombros.
Assenti.
— É uma sensação incrível, né? — Não
pareceu uma pergunta, mas uma afirmação.
— Você não poderia estar mais certo,
Romeu.
Senti sua mão na minha cintura fina.
— Então vem... — murmurou. — Pare de
encher sua cabecinha linda com bobagens e se
distraia com os sorrisos mais lindos e sinceros
desse mundo.
E foi exatamente o que eu fiz.
Ao menos por hora, foi uma distração
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maravilhosa.

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Dois

Algum tempo antes da proposta

Romeu

A sensualidade é algo que muitas mulheres


desconhecem o verdadeiro significado; a maioria
confunde com vulgaridade, que é algo
completamente diferente. Ali, sentado numa parte
do gramado do Campus da Universidade de
Barcelona, em Bellaterra, e observando a minha
doce Eva, de longe, eu ficava me perguntando se
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ela sabia o quanto conseguia ser sensual sem


precisar fazer o mínimo esforço.
Naquele momento, ela estava sorrindo ao
lado da amiga com quem dividia o apartamento; as
charmosas covinhas ficavam evidenciadas, assim
como o rubor sexy em suas bochechas. Obvio que
de onde eu estava não dava para ver o avermelhado
da pele macia, mas eu sabia que estava lá, porque
conhecia cada detalhe, cada mania. Ao longo dos
anos, observá-la havia se tornado meu passatempo
favorito, quase uma obsessão, embora me
recriminasse toda vez que pensamentos sujos
começavam a invadir minha mente.
Tudo isso, porque eu era um maldito
pervertido por me sentir atraído por minha prima de
coração.
Ela era proibida para mim em todos os
sentidos.
Felizmente, eu era bom em mascarar meu
desejo, deleitando-me com outros lábios, outros
corpos femininos. Entretanto, toda aquela
adrenalina de pegar garotas diferentes quase todas
as noites estava me cansando. Percebi que não
havia mais desafio nisso.
Voltei a olhar na direção da Eva, me
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perguntando se um dia conseguiria sentir por outra


mulher um terço do que sentia por ela — sem que
ela ao menos se desse conta disso — e cheguei a
triste conclusão de que não. Eva era única. Ela se
destacava das demais. Roubava não somente o meu
ar, mas também minha linha de raciocínio, já que
eu era incapaz de pensar com clareza sempre que
ela estava por perto.
Conformado com minha torturante
realidade, eu continuei admirando o alvo dos meus
desejos mais insanos, absorvendo a certeza de que
aquela seria a única forma em que poderia tê-la...
em meus pensamentos.
De repente, eu tive minha bela visão
bloqueada quando meus melhores amigos me
encontraram. Laura e Eduardo eram gêmeos e
vinham sendo minhas melhores companhias nos
últimos tempos. Eles tinham a minha idade, vinte e
dois anos, e ambos estávamos envolvidos num
projeto secreto, já que meu pai não entenderia se eu
contasse.
Embora, cursasse Administração de
Negócios, eu não tinha a menor intenção de seguir
por esse caminho e ocupar a cadeira principal da
Corporação González, porque minha paixão vinha
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de desenvolver jogos digitais, e era exatamente o


que eu estava fazendo com a ajuda dos gêmeos —
que conheci, há um ano e meio, numa feira de
jogos — e descobri que eram excelentes
programadores e profissionais de designer gráfico.
Juntos, estávamos desenvolvendo um jogo de
corrida. O primeiro de muitos.
— Ei, Romeu — Eduardo disse.
Ele não lembrava em nada a aparência de
Laura; enquanto tinha olhos verdes claros, ela tinha
olhos castanhos. As personalidades deles também
eram bem divergentes, mas nada que atrapalhasse
nossa boa convivência. Eu os amava.
— Ainda se recuperando da ressaca de
ontem?
— Eu acho que aquela foi a ressaca das
ressacas. — Laura acrescentou, tomando um lugar
ao meu lado, no gramado, e me oferecendo um
copo de café.
Eu aceitei, agradecido pela gentileza.
— Que porra está acontecendo com você e
aquela garota?
Eu estava prestes a beber um gole do meu
café, mas virei a cabeça para poder encarar a Laura,
que me olhava com olhos curiosos. Seus cabelos
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compridos balançavam devido à força da brisa


fresca que nos atingia.
— Que garota? — Senti-me genuinamente
confuso.
Ela rolou os olhos.
— Fala sério, Romeu! Não consegue se
lembrar da boceta que comeu ontem?
— Pelo amor de Deus, Laura! Que
vocabulário podre. — Eduardo reclamou, fazendo-
me sorrir.
— Ah, sei lá! Eu acho que ela faz curso de
Economia. — Dei de ombros, despreocupado. —
Não é como se eu pedisse uma ficha completa para
comer alguém, Laura. O objetivo é um só: Meu pau
na boceta, e a boceta no meu pau.
Eu tirei a tampa do copo de café. Tomei um
gole generoso, adorando o efeito que a cafeína
causava no meu corpo.
— Céus! Você é muito cretino, Romeu.
Jesus! — Ela resmungou, parecendo realmente
incrédula.
Eu apenas voltei a dar de ombros, porém
com um sorriso nos lábios.
— Você me deve vinte euros, Laura. —
Afirmou Eduardo, de repente.
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Ele continuava de pé, e oferecia um sorriso


maroto.
— Vinte euros? — questionei, olhando para
ele.
— Ontem, depois que você saiu da festa,
Laura e eu fomos interceptados pela garota que
você fodeu. Ela disse que sabia da sua fama de
mulherengo, mas que acreditava que você a
procuraria no dia de hoje. Eu apostei que você
sequer se lembraria do nome dela. — Ele apontou o
polegar para a irmã. — Ela apostou que dessa vez,
você sossegaria e daria uma chance para um
possível amor.
Franzi a testa, sem acreditar.
— Possível amor, Laura? Sério?
Joguei a cabeça para trás e ri tanto que
quase fiquei sem ar.
— Ah, qual é Romeu? No fundo, eu sei que
você já não anda tão animado com todo esse ritmo
de pegação. Está cada dia mais cansado disso.
— Nisso, eu preciso concordar com a minha
irmã. Daqui a pouco, você acabará perdendo o
titulo de Rei das festas de fraternidades, Romeu —
zombou.
E eles estavam certos. Minha empolgação e
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curiosidade do início — da vida acadêmica —


haviam se dissipado. Talvez se desse pelo fato de
que eu não via mais desafio nisso, ou porque eu
finalmente percebi que uma garota passou a ter
importância para mim, então era um território novo.
Eva vinha mexendo com minha cabeça mais do que
eu estava conseguindo controlar.
— Ou por acaso você acabou se
apaixonando por alguém, de verdade? — Laura
insinuou, sem esconder a ironia no tom.
— Vá se foder — rosnei, chocando meu
ombro no dela, o que a fez reclamar.
— Ai. Cavalo! — exclamou, socando meu
braço com força.
Pisquei, maroto.
— Eu juro que se gostasse de homens, você
seria o último que eu pegaria, Romeu, porque
honestamente, você é gostoso pra caralho, mas é
muito cretino e estúpido — disse Laura, arrancando
gargalhadas da minha garganta.
— Hmm... então você me acha gostoso,
hein? — brinquei, adorando irritá-la.
— Que criancice — murmurou, revirando
os olhos. — Gostoso até o ponto de saber que o que
você carrega entre as pernas não é o que me atrai,
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querido — disse sem o mínimo pudor.


— Wou! Cala a boca, Laura. Poupe meus
ouvidos da sua promiscuidade. — Eduardo sorria
enquanto dizia isso.
Ele resolveu se sentar ao meu lado,
erguendo as pernas e abraçando-as com as próprias
mãos.
— Como está a sua grade de aulas hoje? —
perguntou. — Laura e eu estamos trabalhando na
criação do designer das rodas do carro.
Verifiquei o horário no meu relógio de
pulso.
— Precisamos de uma equipe de
freelancers, Edu. O projeto é muito complexo para
ser desenvolvido por apenas nós três — murmurei.
Decidi me levantar, sendo seguido por eles.
— Eu já falei para você convidar sua prima
para se juntar a nós — Laura comentou, maliciosa.
A porra do meu coração baqueou com a
simples menção àquele nome.
— Eu não sei que tipo de função a Eva
poderia fazer, além de servir de distração para
você, Laura — brinquei, olhando para ela, que
piscou, marota. Sacudi a cabeça, rindo. — Nem
adianta que ela não é da sua turma, querida.
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Laura deu risada, parecendo divertida.


— Você é tão safada, irmã. — Eduardo
soprou, fazendo-me rir.
Os dois brigavam com a mesma intensidade
que se amavam.
— Vamos comer alguma coisa, primeiro.
Depois iniciamos os trabalhos — decretei.

Eu estava na sala de ginástica, me


exercitando no Kettlebell, quando ouvi o pigarro de
alguém. Eu não me virei e nem larguei o aparelho.
Com as pernas semiflexionadas e alinhadas ao
ombro, elevei o kettlebell do quadril ao peito,
usando membros inferiores e superiores para o
impulso.
— Oi, Romeu.
Eu podia ver a silhueta feminina com o
canto do meu olho.
— Eu fiquei esperando a sua ligação, mas
você pareceu ter se esquecido de mim. — Havia
excesso de mágoa no seu tom.
Eu me afastei do equipamento e estendi a
mão para a garrafa de água que havia colocado aos
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meus pés. Tomei um longo gole da bebida e então


peguei uma toalha para limpar meu rosto.
— Me desculpe — falei, encarando a bela
garota, tentando, inutilmente, me recordar do nome
dela. — Meus últimos dias foram corridos, então
não tive muito tempo para socializar — menti,
descaradamente.
Meus olhos escuros esquadrinharam o corpo
da loira, sendo presenteado por uma visão
tentadora, tive que admitir. A garota era gostosa.
Senti-me sortudo por já ter estado entre suas coxas
quentes.
Entretanto, ali, naquele momento, eu me vi
entediado.
Muito entediado.
Passei por ela, que começou a me seguir
como uma maldita sombra.
— Você não precisa se desculpar, Romeu,
porque eu entendo, querido — apressou-se em
falar, como se estivesse falando com o namorado.
Ri daquele pensamento ridículo. — Do que está
rindo? — Ela quis saber, confusa.
Assim que passamos pela porta da sala de
academia, eu parei e virei meu corpo na direção da
garota sem nome. Minha garganta estava prestes a
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deixar escapar uma sequência — educada — de


argumentos, que explicariam que jamais
poderíamos voltar a ficar juntos, nem na cama e
nem da maneira equivocada que ela provavelmente
estaria imaginando, mas tudo se dissipou dentro de
mim quando meus olhos tiveram a atenção
roubada.
Meu coração começou a bater mais rápido
com a aproximação daquele trio de garotas, e meu
pau começou a subir em reconhecimento a somente
uma delas... Eva González, que sorria, alheia ao
meu martírio.
Minha mente começou a se concentrar e
meu corpo começou a se preparar.
Pronto para o ataque.
Eva era meu fruto proibido e, eu precisava
me conformar com essa sina.
Incapaz de controlar a gigantesca ereção, eu
pisquei ao sentir o toque suave de alguém.
Foi quando voltei a encarar a garota sem
nome diante de mim. Comecei a varrer seu corpo,
sem esconder dela a minha leitura; suas pernas
eram longas. Seus cabelos loiros eram enfeitados
com cachos delicados naquele tom de ouro. Ela não
tinha quadris chamativos, mas o tamanho de seus
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peitos ajudava um homem a ignorar tal falha. Eles


não eram reais, mas eu não dava à mínima. Peitos
eram peitos.
E, eu precisava desesperadamente aplacar
aquele desejo insano que tomou conta do meu
corpo.
Só havia um jeito.
Só havia um escape no momento.
Eu peguei em sua cintura. Suas
sobrancelhas eram num tom perfeitamente
correspondente de marrom claro. Seus olhos verdes
estavam delineados por cílios que eu tinha certeza
que eram falsos.
— Vamos sair daqui?
Ela sorriu, tão maliciosa quanto meu
convite havia soado.
— Eu pensei que precisaria implorar.

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Três

Dois dias antes da proposta


Eva

Fazia alguns minutos que eu tinha saído do


alojamento e caminhava pela Vila Universitária a
fim de encontrar um ambiente bacana para entrar e
comprar um café.
Eu poderia optar pela Cafeteria habitual,
mas amanheci desejando sair da rotina, coisa que
eu não fazia com frequência.
Meu telefone tocou, o que me tirou o foco
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do momento.
Joguei a mochila para o lado, no ombro e,
em seguida, peguei o celular de dentro. Atendi.
— Oi, filha.
— Mamãe — respondi, enquanto
continuava caminhando. — Aconteceu alguma
coisa? — Ela não respondeu de imediato, e eu
estranhei. Pausei os passos, preocupada. —
Mamãe, o que foi?
— Cecílie está aqui — disse abruptamente,
num tom de voz perturbado. Inspirei fundo,
castigando meus lábios com os dentes,
compreendendo seu incômodo. Ela sempre se
sentia insegura quando o assunto se tratava da
minha mãe biológica, embora eu insistisse em
deixar claro que ela era e sempre seria única para
mim. — Sua mãe quer vê-la, querida. — Revirei os
olhos, pensando no quanto tudo aquilo era ridículo,
já que eu e Cecílie mal nos conhecíamos,
considerando que ela aparecia poucas vezes em
cada ano. — E não revire os olhos, Eva. Não seja
malcriada.
Eu ri, deliciada com a facilidade que minha
mãe tinha de me ler, mesmo que não estivéssemos
perto uma da outra.
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— Quando, mãe? Estou numa época bem


corrida e mal estou tendo tempo para respirar. —
Não menti, embora não fizesse nenhuma questão de
ter qualquer convívio com Cecílie.
— Eu sei, amor. Romeu comentou que
vocês quase não estão se vendo devido à falta de
tempo.
Segurei o desejo de rosnar de frustração
diante daquele comentário, porque ele abrangia
muita coisa que me irritava. O fato de saber que
meus pais não confiavam em mim o suficiente para
ter que pedir informações minhas ao meu primo era
o cume da minha decepção.
— Vou conversar com ela e explicar
direitinho a situação — continuou, diante do meu
silêncio. — Acredito que ela ficará o mês todo na
cidade — disse com um suspiro. Depois de alguns
instantes, perguntou: — Está tudo bem com você?
Está precisando de alguma coisa? Querida, você
sabe que a mamãe pode ir aí a qualquer momento,
né? Eu só não quero que você se sinta sozinha.
Peguei-me sorrindo, porque no fundo, eu a
conhecia e sabia que ela não estava sabendo lidar
com a saudade e a presença da irmã na minha vida.
Minha mãe não conseguia compreender que o laço
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de sangue que eu tinha com Cecílie, não significava


nada para mim.
— Eu estou bem, mãe, não precisa se
preocupar — falei num tom amoroso e que pudesse
levar o conforto que ela precisava do outro lado da
linha.
— Tem certeza?
Sacudi a cabeça.
— Claro que sim — confirmei, e decidi
mudar de assunto. — E como está meu irmãozinho
Lorenzo? Estou com tantas saudades desse chato —
brinquei e ela riu com diversão.
Lorenzo tinha cinco anos e era a alegria da
casa.
— Ah, filha, seu irmão está naquela fase de
questionar sobre as coisas, sabe? Esses dias, ele me
viu nua e perguntou o motivo de eu não ter o piu
piu. — Não me aguentei e comecei a rir.
— Não acredito! Que danadinho!
— Juro! — exclamou, também rindo. —
Esse menino não nega a linhagem, minha filha —
brincou.
— É verdade, mãe — murmurei, rindo,
erguendo os olhos para sentir o calorzinho gostoso
do sol. — Diz pra ele que mandei um beijinho de
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esquimó — pedi, melosa.


— Eu vou dizer.
— Te amo muito, mãe.
— Do tamanho do oceano? — quis saber,
num tom emotivo.
— Do tamanho do oceano. — Sorri.
— Eu também, meu amor — soprou,
emocionada. — Um beijo.
— Outro.
Desliguei o telefone, sentindo o sorriso
iluminar meu rosto.
Prestes a continuar minha busca seletiva, eu
o vi.
Rangel.
Ele estava sentado, confortavelmente,
diante de uma mesa de uma lanchonete de estilo
clean. Minhas mãos suaram e meu corpo, patético,
ameaçou estancar no lugar, já que estar tão perto
dele costumava me causar um frenesi maluco.
Respirando com dificuldade, eu obriguei
minhas pernas a se moverem. Não era como se eu
não fosse capaz de me comportar como uma pessoa
normal, apenas porque estava na frente do cara por
quem eu vivia suspirando pelos cantos.
Rangel fazia Doutorado em Arquitetura
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Paisagista, PhD, e era meu sonho de consumo a


mais tempo que eu conseguia me lembrar.
Entretanto, eu nunca fui boa na arte da sedução; e a
timidez era minha maior inimiga. Ele era um
homem atraente, despojado e mais velho.
Constantemente, eu o via paquerando outras
garotas, detalhe que me deixava incomodada,
porque eu me sentia quase invisível. Toda a minha
inexperiência parecia brilhar em minha testa, pois
mesmo com todo meu esforço para demonstrar meu
interesse, ele nunca se aproximava de mim, o que
me deixava enormemente frustrada
Consegui ir até o balcão do estabelecimento
e pedi um copo médio de café, seguido de um pão
de queijo.
Enquanto me afastava — depois de ter
efetuado o pagamento — minha mente buscava
desesperadamente encontrar a coragem que me
faltava para parar em frente à mesa dele e puxar
assunto, contudo, tal foi minha surpresa quando o
mesmo me chamou?
A mesa que ele estava ficava numa parte a
céu aberto, sendo presenteada pelo calor dos raios
solares.
Nervosa demais, porém lutando para não
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transparecer o quanto a presença dele me afetava,


eu fui até ele, sentindo-me flutuar devido à
expectativa que tomava conta do meu corpo todo.
— Bom dia — saudei, soando o mais
tranquila que consegui.
O sorriso que ele me ofereceu foi tão lindo
que quase me fez suspirar como uma boba.
Observei que ele estava estudando enquanto
tomava café, pois a mesa estava repleta de livros e
anotações.
— Seu nome é Eva, né? — perguntou,
encarando-me com curiosidade estampada naquele
rosto lindo. Sem palavras, eu apenas assenti,
sacudindo a cabeça devagar. Em todo aquele
tempo, aquela era a primeira vez que ele falava
comigo diretamente. — Por favor, sente-se e tome
seu café comigo — pediu, desviando, por um
instante, os olhos dos meus para apontar para
minhas mãos, que seguravam meu copo de café e
meu salgado.
Minhas bochechas esquentaram quando
aceitei, embora houvesse, por força do hábito,
olhado em volta, querendo fugir, mas ao mesmo
tempo, querendo ficar. Estar ali feria minha zona de
conforto.
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— Espero que você não tenha aula agora —


comentou, depois que me sentei. — Eu não ficaria
feliz com a ideia de atrapalhar seus horários.
Tentei devolver o sorriso que ele me
ofereceu, mas tive certeza que mais pareceu uma
careta.
Rangel era tão bonito e despojado, que me
fazia sentir sem graça. Sem atrativo algum. Seus
lábios eram finos, mas não deixavam de ser
chamativos; seus cabelos tinham um corte estiloso,
que em hipótese alguma ficava desarrumado. Os
olhos, que naquele momento, me encaravam com
confusão, eram de um tom verde escuro, causando-
me intenso torpor.
— Há algum problema comigo? —
perguntou ele, com um franzir de testa.
Estranhei sua pergunta.
— Por quê?
Ele voltou a sorrir, mas jogou o corpo para
trás.
— Bom, porque desde que você se sentou
aqui, não parou de me olhar estranho, e ainda não
pronunciou uma única palavra, além de bom dia.
Abri a boca, incrédula, ao constatar que ele
tinha razão. Senti-me ridícula.
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— Oh, me desculpe — murmurei


envergonhada. — Acho que meu organismo precisa
de cafeína para funcionar direito. — Dei uma
risadinha sem graça antes de levar o copo de café à
boca rapidamente.
— Ah, então você é das minhas! Porque eu
não sou gente sem meu café matinal — brincou,
usando um tom leve, de modo a me deixar menos
tensa.
— Gosto do meu bem forte e sem açúcar —
expus, tentando agir com naturalidade na frente
dele.
Surpresa tomou seu rosto.
— Isso é interessante, porque olhando para
você não dá para se imaginar isso.
— O quê? Que não gosto de açúcar no café?
— Franzi a testa, tentando visualizar uma pessoa
que fizesse leitura dos outros a esse ponto. Era
surreal.
— Veja bem, Eva, aos meus olhos, você
sempre me pareceu ser uma garota doce, mesmo
que nunca houvéssemos tido oportunidade para
conversar antes.
Fiquei tentada a perguntar se aquilo tinha
sido um elogio, mas resolvi ficar quieta e apenas
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me dignei a sorrir.
— O que está estudando? — perguntei, na
intenção de puxar assunto e fazer valer aquela
oportunidade. Eu queria mostrar a ele que também
podia ser uma garota interessante.
— Anotações e mais anotações — disse,
sem muito entusiasmo. — É meu último ano, então
as coisas estão apertando. — Riu, e me vi rindo
junto.
Eu não estava fazendo mestrado, como ele,
mas sabia o quanto o ritmo de estudo, às vezes,
podia ser enlouquecedor.
Nos próximos minutos, Rangel começou a
narrar um pouco sobre seu curso e planos para seu
futuro; acabei descobrindo algumas curiosidades
dele, como por exemplo, que ele odiava a sensação
de apresentar seminários, porque se sentia
envergonhado ao se ver exposto. Eu ri, porque
jamais imaginei que ele fosse um cara tímido.
Aos poucos, eu fui me sentindo mais a
vontade; aquele nervosismo foi ficando para trás e
dando lugar à prazerosa sensação de bem estar; de
me sentir eu mesma.
Quando terminei de contar um pouco sobre
mim e minha rotina, percebi que Rangel estava
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verificando o relógio.
— Bom, querida, a conversa está boa, mas
eu preciso ir agora.
Tentei não deixar transparecer minha
decepção, porque se dependesse de mim, eu ficaria
o dia todo ali com ele.
— Oh, claro — falei, também verificando o
horário e me dando conta de que minha aula estava
prestes a começar. — Foi legal conversar com
você. Espero que possamos... — pigarreei, sem
jeito —, repetir isso mais vezes. Eu sempre...
Ele me cortou, fazendo-me piscar.
— Eva, querida, pegue... — ofereceu-me
um pedaço de papel com o número do seu telefone.
Meu coração começou a bater tão rápido que pensei
que fosse sofrer uma síncope. Era muita emoção
para conseguir administrar em tão pouco tempo.
Ainda lutando para encontrar minha voz, eu senti o
baque da água fria quando Rangel continuou: —
Será que você poderia fazer o favor de entregar
meu número de telefone para sua colega de quarto?
— questionou ele, sorrindo discreto.
Choque cobriu meu rosto.
— Mas, eu... eu pensei que...
Eu estava sem palavras. Lívida.
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O que aconteceu ali? O que acontecia com


ele que não era capaz de me enxergar como
mulher?
Eu não era feia, ao menos eu gostava do
reflexo que me encarava, todos os dias, através do
espelho. Então qual era o problema comigo?
— O que foi, Eva?
Pisquei, voltando minha atenção para o
lindo par de olhos verdes diante de mim, que me
encaravam com clara confusão.
— Nada. Esquece — respondi, guardando o
pequeno papel num dos bolsos da minha mochila,
torcendo para que ele não percebesse o quanto
minhas mãos estavam trêmulas.
— Tem certeza?
— Claro. — Forcei um sorriso, controlando
o desejo de chorar.
Ele sorriu também, parecendo aliviado, em
seguida, se levantou.
— Obrigado, linda — disse, pegando suas
coisas de cima da mesa e se preparando para sair.
— Espero que quando crescer, você encontre um
carinha legal, porque você é uma garota incrível. —
Piscou.
Quando eu crescer?
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— Mas eu já tenho quase vinte e um anos


— murmurei, engasgada, entretanto Rangel já
estava longe demais para me ouvir.
Segurando o choro, eu saí dali e, com mãos
atrapalhadas, consegui pegar meu aparelho de
celular de dentro da mochila. Sequer sabia o que
estava fazendo direito quando disquei o número do
Romeu. Eu sabia que ele não estava no Campus,
uma, porque suas aulas começavam sempre depois
das dez, e duas, porque ao contrário de mim, ele
tinha optado por outro endereço quando nos
matriculamos.
— Eva? — A voz dele estava grossa,
provavelmente porque deveria estar dormindo antes
de atender. — O que foi?
Engoli o choro, e respirei fundo a fim de
limpar a voz e não deixar qualquer vestígio.
— Você acha que eu sou uma garota sem
atrativos?
— O quê?
Rolei os olhos, buscando paciência.
— Perguntei se você me acha uma garota
sem atrativos, Romeu — repeti, com minha mente
girando. — Uma garota incapaz de enlouquecer um
homem. — diminui o tom, porque não seria
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apropriado que outras pessoas ouvissem minha


conversa.
— Que pergunta é essa, Eva? — Ele parecia
nervoso. Ao fundo, ouvi o ranger da sua cama;
deduzi que ele estivesse se levantando. —
Ultimamente, você anda muito esquisita.
— Eu sou esquisita, Romeu — resmunguei,
irritada comigo mesma.
— Onde você está? E por que não está na
aula?
Odiava quando ele usava aquele tom
controlador comigo.
— Estou voltando para o alojamento. Não
estou me sentindo muito bem.
— Por quê? Me fale o que aconteceu,
anjinha. Você me ligou e agora fiquei preocupado,
porque não estou entendendo nada.
Mordi os lábios.
— Não é nada. Eu apenas não entendo o
que há de errado comigo, já que nenhum rapaz se
aproxima de mim.
— Você está pensando em namorar
alguém? — A pergunta dele soou engasgada, quase
incrédula.
— Eu não falei em namorar, Romeu —
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rosnei. — Estou falando do fato de não me sentir


desejada por ninguém.
— Eva...
— Agrh! Esquece.
Dizendo isso, eu desliguei na cara dele.
Ninguém poderia me ajudar naquele
momento nem mesmo Romeu, que era meu melhor
amigo. Minha alma gêmea.
Longos minutos depois, eu cheguei ao meu
apartamento; passei o cartão e abri a porta.
Penélope não estava, o que agradeci, pois ela seria
a última pessoa que eu gostaria de ver, embora não
tivesse culpa pelo Rangel estar interessado nela.
Droga!
Larguei a mochila sobre a cama e segui até
o banheiro a fim de tomar um banho. Lentamente,
tirei minhas roupas tentando não pensar no que
tinha acontecido; mas, como uma masoquista,
minha mente repassava cada detalhe. Era como um
filme de terror, entretanto frisando apenas a última
parte:
“Espero que quando crescer, você encontre
um carinha legal, porque você é uma garota
incrível”.
Completamente nua, eu me encarei no
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espelho me perguntando o que tinha de errado;


meus seios eram de tamanho médio, daqueles que
não cabem na mão, mas que também não são
exagerados. Desci a mão pela minha barriga
percebendo que ela era plana e minha pele lisa.
Macia. Isso, ela era macia. Observando atentamente
meus quadris, eu deduzi que ele era perfeito aos
olhos, porque tinha o formato de um violão.
Voltando a encarar meu rosto, visualizei a grossura
dos meus cabelos; eles eram de um tom de castanho
escuro, quase negros, destacando meus olhos
grandes. Ali, me analisando tão detalhadamente
como nunca antes, eu cheguei a conclusão de que
era uma garota bonita.
Eu realmente era atraente.
O problema era a inocência berrante em
cada um dos meus gestos; em cada uma das minhas
atitudes; em cada centímetro da minha pele
intocada.
Agindo por puro impulso, voltei a tocar
meus seios, mas desta vez de uma forma diferente.
Estremeci quando uma pequena eletricidade correu
pelo meu corpo no momento em que apertei um
mamilo; o mesmo aconteceu assim que repeti o
gesto com o outro seio. Sentindo a vibração da
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excitação por toda a minha pele, eu desci a mão


lentamente mais para baixo.
Dentro de mim havia um desespero gritante.
Era como se eu estivesse presa.
E eu não queria continuar desse jeito.
Um gemido sufocante e surpreso escapou
dos meus lábios quando meus dedos sentiram a
textura das dobras entre minhas pernas; eu estava
úmida e pegajosa, e completamente agoniada por
uma espécie de libertação...?
Sem saber direito o que fazer, eu passei a
massagear aquele amontoado de nervos; a princípio
com delicadeza, mas conforme as ondas
eletrizantes foram se chocando contra meu corpo,
meus movimentos se tornaram mais agressivos e
velozes. Com a mão livre, voltei a apertar meus
seios, revirando os olhos enquanto meu corpo
estava sendo jogado de um lado para o outro
naquela violenta dança erótica o qual jamais
experimentei os passos antes.
Era novo.
Era incrível.
De repente, me vi diante de um precipício;
minha respiração estava entrecortada e tive que me
segurar na pia em busca de apoio quando comecei a
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sentir os espasmos me chacoalhando assim que me


deixei cair do cume. Joguei a cabeça para trás, em
êxtase. Nunca havia me sentido tão bem em toda
minha vida de princesa.
Depois de alguns segundos significativos,
eu passei a mão no espelho na intenção de limpar o
efeito do vapor causado pela minha própria
respiração no vidro. Naquele momento, eu
descobri. Descobri que não queria continuar sendo
a princesinha da mamãe. Descobri que não queria
mais ser taxada apenas como a garota doce e
ingênua. Não.
Eu queria mais.
Queria me tornar mulher.

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Um dia antes da proposta


Eva

Para Penélope, não existiam as palavras


pudor ou complicação, e ela desconhecia qualquer
sinônimo que a forçasse a se reprimir. Eu não
deveria, mas sentia uma pontada de inveja dessa
liberdade toda, porque parecia ser agradável a
sensação de não ter medo de se arriscar.
Você é maravilhosa, gritava meu
subconsciente, enquanto eu lutava para não
transparecer a decepção pelo fato de estar narrando
a ela meu vergonhoso encontro matinal com
Rangel.
— Então quer dizer que ele passou longos
minutos com você para no final pedir meu número
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de telefone? — Não havia qualquer vestígio de


zombaria no tom dela, pelo contrário, havia
incredulidade, eu diria. — O que esse palhaço é?
Cego por acaso?
Eu fiz uma careta, e ela se levantou da sua
cama e atravessou o pequeno espaço do nosso
quarto.
— O que está fazendo? — perguntei,
piscando freneticamente enquanto ela remexia nas
roupas do meu closet.
— Vamos dar uma lição nesse cara —
disse, sem se abalar. — Eu vou ligar para ele e
marcar um encontro, mas será você quem irá em
meu lugar.
— O quê? — engasguei. — Ficou louca?
Virando-se para mim, ela me analisou com
tranquilidade, ignorando propositalmente meu
apavoro.
— O que foi? Pretende continuar agindo
como uma covarde? — intimou, desafiando-me
com o olhar. — Eva, você tem quase vinte e um
anos, e é a única garota nessa idade, que eu
conheço, que ainda é virgem. Veja bem, não estou
te julgando, mas acredito que as oportunidades
estão aí para serem aproveitadas. — Sorriu, como
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se aquelas palavras escondessem um contexto


estritamente sexual.
Meu rosto esquentou.
— Está me dizendo para ir em seu lugar e
agir feito uma vadia?
Ouvi sua risada e, por um momento, aliviei
a tensão que se estabelecia no meu corpo.
— Agir como uma vadia nada tem a ver
com o fato de você se permitir, gata. Você precisa
agitar seu sangue; desligar seu cérebro dessas
coisas relacionadas à faculdade e vivenciar a delícia
que um ou vários orgasmos são capazes de
proporcionar ao nosso corpo. Acredite em mim, é
libertador.
Franzi o cenho, tentando imaginar o que ela
estava querendo dizer, mas não cheguei a lugar
algum. Embora de uma coisa, eu tivesse plena
convicção: o prazer que senti, mais cedo, com meus
próprios dedos ainda era pouco perto do que
desejava sentir.
Eu não queria continuar sendo taxada como
a garota imaculada e imatura que não sabia nada
sobre sexo. Eu odiava a sensação de não saber das
coisas.
— Ok, ok. Qual é o plano?
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Sorrindo, ela puxou os cabelos para trás e


fez um rabo de cavalo. Penélope era mais alta do
que eu; cabelos lisos, negros e curtos; olhos
castanhos e muito significativos. Nos conhecíamos
há dois anos, desde que nos esbarramos num dos
corredores da faculdade. Na época, ela estava atrás
de um lugar para ficar, então ofereci meu
apartamento para dividir com ela. E não poderia ter
escolhido parceira melhor.
— Primeiro passo é ligar para ele — falou,
pegando o celular e discando o número que eu tinha
dado a ela, minutos antes.
Embora a expectativa vibrasse através dos
meus poros, assim que Rangel atendeu a ligação, eu
isolei meus sentidos; a expectativa do que eu estava
prestes a fazer me deixou zonza, desesperada para
encontrar minha zona de conforto.
— Prontinho! — Penélope disse, batendo
uma palma na outra como se tivesse acabado de
realizar um enorme feito. — Marquei de encontrá-
lo no bar Estrella De La Noche. — Pisquei, assim
que ela me ergueu da cama e me puxou, agarrando-
me pelo cotovelo. — Agora precisamos encontrar
uma roupa ideal, diferente das que você está
acostumada a usar — comentou, desistindo do meu
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closet e partindo para o dela.


— Ei! Qual o problema com minhas
roupas? — reclamei, sentindo-me ofendida.
Ela revirou os olhos, agindo como se eu não
fosse capaz de enxergar a resposta para uma
pergunta tão óbvia.
— Você se veste, constantemente, como
uma freira, Eva. E nenhum cara pensa em trepar
com uma freira. Salvo os pervertidos, claro. — Ela
mesma riu da própria piada. — Certo, agora fique
calma e deixe que eu faça todo o trabalho, ok?
Longos minutos torturantes mais tarde, eu
estava me sentindo como uma maldita boneca nas
mãos da Penélope, que naquele momento, me
encarava com um brilho nos olhos. Eu tinha vetado
as primeiras opções de visual, porque me fizeram
parecer como uma vadia, e aceitei ir com uma
legging preta e uma regata branca, com alguns
detalhes brilhantes, que deixava a mostra uma boa
parte da fenda entre meus seios.
Olhando-me dos pés a cabeça, Penélope
abriu um largo sorriso, parecendo orgulhosa da
obra.
— Você tem camisinha? Porque se não
tiver, eu posso conseguir umas duas ou três.
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— Duas ou três? — Arregalei os olhos,


desacreditada. — Você é muito engraçada, Pê. —
Sacudi a cabeça, rindo.
— É sério, Eva — insistiu, acompanhando
meus passos enquanto eu saía do quarto. Assustei-
me quando ela enfiou um estranho e pequeno tubo
dentro da minha bolsa. — É um spray de pimenta
— explicou quando notou minha confusão. — Para
o caso de se sentir coagida a fazer o que não quiser
— argumentou, séria.
Pisquei, incrédula.
— Ok — respondi, ainda tentando me
recuperar. — Você não vai comigo?
Ela me encarou de um jeito esquisito.
— E por que eu iria? Eva, essa é uma
oportunidade para você finalmente mostrar do que
é capaz — disse, embrenhando as mãos nos meus
cabelos e trazendo os fios sobre meus ombros
desnudos. — Leve seu celular, camisinha e só volte
para casa com o copinho cheio.
— Copinho cheio? — questionei, sem
entender a expressão.
Rindo, Penélope, praticamente, me
expulsou do apartamento.

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∞∞∞
Fazia pouco mais de meia hora que eu
estava parada do lado de fora do bar, batendo no
chão com meus sapatos de salto alto.
Minha mente questionava-me sobre a
dificuldade de toda aquela situação, quando seria
muito mais fácil e divertido estudar o Teorema de
Pitágoras e a equação da Relatividade.
Cansada de me sentir acuada, eu enchi o
pulmão de ar, buscando coragem. Endireitei os
ombros, joguei os cabelos para o lado e segui para
o interior do estabelecimento. Meu corpo estava
trêmulo e minhas mãos suadas.
Ziguezagueando pelas mesas espalhadas, eu
tive vontade de ir até o balcão e pedir uma dose de
tequila, para me dar um pouco mais de coragem,
mas não tive tempo para raciocinar sobre mais
nada. Eu já estava devastada pelo nervosismo, e
piorou consideravelmente quando meus olhos o
avistaram.
Rangel.
Simplesmente não consegui manter a boca
fechada.
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— Eva?
Seu olhar no meu me causou dificuldade
para engolir. Minha mente ainda processava a visão
de seus cabelos bem arrumados e seus intensos
olhos verdes, então demorei alguns segundos para
responder:
— Oi — soprei.
Eu precisava respirar.
— Que surpresa vê-la por aqui —
comentou, sem esconder o espanto. — Está
sozinha?
— Eu, hum... — eu me esforcei para reunir
os pedacinhos do meu raciocínio —, vim para me
encontrar com alguém.
— Oh, que coincidência! Eu também.
Minhas bochechas se tornaram quentes.
— Rangel, eu...
— Junte-se a mim. — Apontou para sua
mesa. — Eu posso comprar um drinque para você.
— Não foi uma pergunta.
Eu não pensei duas vezes antes de tomar um
dos assentos como se fosse minha tábua de
salvação, porque minhas pernas estavam como
gelatina e, seria embaraçoso que eu desmaiasse por
causa do influxo de hormônios que estava fazendo
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uma ebulição no meu cérebro.


O garçom chegou — depois que Rangel fez
um sinal — e nós pedimos nossos drinques. De
modo atordoado, eu tentava encontrar as palavras
certas para dizer que Penélope não viria, e que era
eu, literalmente, no lugar dela ali.
— E então doce Eva!? — Rangel inclinou-
se para frente, encarando-me com curiosidade. —
Diga-me, quem é seu acompanhante misterioso?
Pigarreei, sentindo toda a cor abandonar
meu rosto.
— Bem, hum... a verdade é que...
Meu celular começou a vibrar dentro da
bolsa, e eu me apressei em atender, antes que
aquela minha tentativa tosca de explicação se
tornasse ainda mais embaraçosa.
— Sim?
— Está viva?
Era Penélope.
— Por que a pergunta? — Não entendi. Ela
tomou fôlego, mas voltei a dizer: — Ok. Espere um
segundo.
Voltei a encarar Rangel, que tinha seus
olhos fixos em mim.
— Preciso dar um pulinho no banheiro,
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tudo bem?
— Claro, sem problemas. — Ele piscou, e
eu me abanei internamente.
O banheiro ficava nos fundos do bar,
passando por duas mesas de sinuca.
— O que foi, Pê? Pode falar agora —
murmurei, assim que me enfiei numa das cabines
vagas.
— Romeu já chegou aí?
Juntei as sobrancelhas.
— Do que você está falando?
Ouvi sua áspera inspiração de ar.
— Romeu acabou de sair daqui, possesso.
— Não me passou despercebido a forma como ela
frisou a última palavra.
— O que você contou pra ele? Pelo amor de
Deus, Penélope, você por acaso disse alguma coisa
sobre o Rangel?
— E o que você queria que eu dissesse? —
retrucou. — Ele chegou aqui alegando que, mais
cedo, você ligou toda estranha para ele, que ficou
muito preocupado. Ah, Eva, sei lá... Seu primo não
me deixa muito confortável — defendeu-se. —
Além do mais, você sabe melhor do que ninguém
que ele não é nem um pouco meu fã.
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Nisso, ela tinha razão, porque desde o


primeiro dia, Romeu implicava com ela, afirmando
que a garota não seria boa influência para mim.
— Certo — falei, tentando me acalmar. —
De zero a dez, qual a probabilidade do Romeu
chegar aqui e fazer um escândalo?
— Você conhece seu primo, Eva. Eu sinto
muito.
— Droga! — resmunguei, saindo da cabine.
— Vou tentar sair daqui antes que ele chegue.
— E o Rangel? Você chegou a vê-lo? —
Ela quis saber.
— Estávamos iniciando uma conversa
quando você ligou. — Dei de ombros. — Não tive
muito tempo.
— Ah, que pena, Eva. — Suspirou,
entristecida. — Eu já estava tão ansiosa para ouvir
os detalhes fatais e deliciosos da sua noite.
Eu ri.
— Até mais, Pê.
Desliguei.
Nervosa, eu fui até a pia e encarei meu
reflexo no espelho. Eu estava bonita, demonstrando
uma força feminina que estava longe de ter, pois
por dentro eu me via apavorada.
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Respirei fundo, algumas vezes, antes de


fazer o caminho de volta.
Rangel estava mexendo no celular quando
me aproximei da mesa. Minha intenção, depois de
relutar muito, era de pedir desculpas e ir embora,
mas tive minhas palavras cortadas
surpreendentemente.
— Sabe, doce Eva, enquanto você estava no
banheiro, eu fiquei me perguntando a respeito da
demora do seu acompanhante misterioso, em
contrapartida sobre o atraso da minha própria
acompanhante, que por acaso é sua amiga de
quarto, e cheguei a conclusão de que há algo muito
errado por aqui.
Engoli em seco, porque naquele instante, o
olhar fixo dele fazia meu sangue ferver.
— Rangel, eu...
— Qual de vocês duas está me fazendo de
idiota, garota? — Todos os músculos do meu corpo
ficaram tensos. — Porque eu jamais viria a esse
encontro se soubesse que me encontraria com você.
Senti o baque daquelas palavras, com a
mesma força de quando ondas se chocam contra
nosso corpo.
— Por quê? — Minha pergunta soou como
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um murmúrio. — Eu não sou tão desejável quanto


a Penélope?
Tentei não demonstrar toda a insegurança
que se escondia por trás daquela pergunta.
Ele soltou um suspiro tedioso, em seguida,
se levantou.
— Sua carinha de anjo indefeso ainda grita
por trás de toda essa roupa vulgar, querida —
decretou.
Roupa vulgar?
Ainda tentando assimilar suas palavras,
senti quando Rangel passou por mim, na intenção
de me deixar sozinha e ir embora.
— Rangel? — Audaciosa, ou desesperada,
eu o segurei pelo braço. Eu podia ouvir os meus
batimentos cardíacos acelerando e aumentando aos
meus ouvidos. — Eu... gosto de você. Eu realmente
gosto de você — confessei aquilo em voz alta.
Eu me ruborizei, adquirindo um tom de
carmesim.
Seu lindo rosto se virou para mim, fazendo-
me prestar atenção em sua barba rala, que o tornava
másculo e simplesmente delicioso.
— Você é uma garota adorável, Eva. — O
tom de sua voz alcançou aquele registro baixo que
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fazia minhas entranhas curvarem-se para dentro de


si mesmas. — Mas infelizmente você me lembra da
minha irmãzinha, entende? Pequena, inexperiente e
inocente garotinha...
Eu não sabia que estava chorando, até me
deparar com o Romeu na minha frente; sua
expressão não era das melhores.
— Anjinha, o que foi? — perguntou, mas
sequer me deu tempo para responder e foi atrás de
Rangel, que já estava saindo do bar.
Assustada, eu passei as mãos nos olhos e
corri atrás do meu primo, que mais parecia um leão
enjaulado.
— Romeu! — gritei.
— Eu vou matar aquele infeliz.
Agradeci por ter conseguido chegar até ele a
tempo, e, então o puxei para mim, forçando seu
corpo para trás. Nossos olhos se encontraram e ele
amenizou o olhar raivoso ao me encarar com
calma.
Naquela altura do campeonato, Rangel já
deveria estar longe, sem sequer ter se dado conta de
que quase chegou a ser uma vítima da fúria do
Romeu.
— O que aquele otário fez com você, hun?
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— Suas mãos deslizaram pelo meu rosto,


afundando em meus cabelos atrás da nuca. — Você
não foi feita para chorar, Eva — disse ele,
franzindo o cenho e puxando-me para o aperto
sufocante de seus braços fortes. — Conversa
comigo. Por favor...
Estávamos ao lado da porta do bar, onde
diversas pessoas estavam transitando e nos
encarando com curiosidade, mas eu sequer me
importei.
Sentindo novas lágrimas preencherem meus
olhos, eu escondi meu rosto no peito duro do
Romeu, ansiando encontrar a paz que somente ele
era capaz de me transmitir.
— Apenas me abrace, Romeu. Só me
abrace.

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Presente
Eva

— Você tem certeza que não quer ir?


— Uhum... — resmunguei, enquanto enchia
minha mão com um bocado de pipoca da tigela em
meu colo. — Estou bem entretida no filme, Pê.
Ouvi quando ela rosnou, inconformada com
minha resposta.
— Fala sério, Eva! Você nem está
prestando atenção nesse filme.
Franzi o cenho, tentando disfarçar o choque
perante sua percepção.
— Claro que estou! — menti
descaradamente.
Nesse momento, ela parou na minha frente,
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com os braços cruzados.


— Ah, é? Então me conta sobre o filme —
exigiu, deixando claro seu sarcasmo.
Novamente enchi a boca com a pipoca,
nervosa de repente.
— É sobre uma garota que, humm... ela...
ela... — gaguejei — Tem o rapaz que...
Penélope gargalhou e, em seguida, me
puxou do sofá.
— Já chega! Você anda muito deprimida e,
estranha nos últimos dias. — Ela me soltou assim
que nos enfiou no quarto. — E como sei que isso
tem a ver com aquele palhaço do Rangel, e que por
mais que eu diga que você não deveria chorar por
causa dele, você irá me ignorar, então eu me
contento com sua companhia na balada de hoje. E
nem ouse recusar — disse, abrindo meu closet e
dedilhando os diversos cabides até selecionar um,
que carregava um vestido azul marinho em suede
com pedrarias bordadas a mão e amarração nas
costas, bojos e forro. Havia um detalhe de tiras para
formar um transpassado na parte de cima das
costas. O fechamento da saia era com zíper. —
Esse aqui é perfeito — empolgou-se. — Finalmente
você acertou na escolha de suas roupas, gata —
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comentou, referindo-se a minha recente ida ao


shopping da Vila.
Deixei um suspiro escapar diante da euforia
dela. A verdade é que meu desânimo nada tinha a
ver com Rangel, ao menos não diretamente. Eu
também não estava interessada em festejar; não
quando minha mente estava cativa da promessa
luxuriosa do Romeu, que estranhamente parecia
estar me evitando desde então, e isso já fazia dez
dias.
— Eu não sei, Pê...
— Todo o pessoal da faculdade vai estar lá,
Eva, por causa do DJ famoso que está na cidade.
Eu garanto que será divertido.
Por um instante, eu me perguntei se Rangel
também compareceria, e meu coração tolo acelerou
com a possibilidade de revê-lo. Porque depois do
que aconteceu no bar, eu não tive mais chance de
colocar meus olhos nele; era como se ele houvesse
evaporado.
— Acho que hoje poderia ser uma ótima
oportunidade para algum sortudo conhecer suas
partes baixas, hun? — Pisquei, voltando a prestar
atenção na voz da Penélope, que naquele momento,
me encarava com um daqueles sorrisos que
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tentavam esconder as travessuras.


— O quê? Com quem?
— Ah, sei lá, Eva, com algum cara que for
bonitinho. Legal. Com quem você sentir que estão
trocando faíscas. — Ela revirou os olhos,
impaciente.
Mordi os lábios.
— Você pretende beber ao ponto de se
esquecer do próprio nome?
— Por que a pergunta?
— Bem, porque eu sim, já que ninguém
ficará entre minhas pernas se eu não estiver bem
bêbada, então vou precisar que você fique de olho
em mim.
Penélope balançou a cabeça em negativa,
mas ela estava sorrindo.
Nervosa, eu me aproximei e peguei o
vestido da sua mão estendida.
— Onde vai ser?
— Numa Boate fora do Campus —
respondeu. — E o melhor: estará cheio de rapazes
lindos, vibrando suas testosteronas por todos os
cantos. — Piscou um olho, totalmente animada.
Eu não estava tão animada quanto ela, mas
me esforçaria para ficar.
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∞∞∞
Era quinta-feira à noite, e por incrível que
pudesse parecer, a Casa Noturna estava lotada.
Levou uns bons vinte minutos até finalmente
entrarmos no local, já que a fila estava enorme.
O ritmo dançante da música eletrônica me
fez querer sacolejar o corpo.
Penélope segurou minha mão e me levou ao
andar VIP, pois afirmou que tinha ganhado as
entradas de um amigo.
— O que você vai querer beber? — Ela
gritou. Seu corpo balançava conforme as batidas do
DJ, deixando qualquer marmanjo babando pelas
curvas perfeitas dentro daquele vestido pecaminoso
que ela estava usando.
Abri a boca para responder, mas fui
impedida por um furacão em forma de músculos e
muita testosterona.
— Ela não vai beber nada. — Romeu
decretou. — Porque vai embora comigo. Agora.
— Ei! Mas eu acabei de chegar — reclamei,
assim que ele segurou meu braço e saiu me
arrastando por entre o aglomerado de pessoas,
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como se eu fosse uma criança.


Olhei para trás, apenas a tempo de me
desculpar com a Penélope, que deu de ombros. Ela
já conhecia Romeu o suficiente para saber que não
adiantava discutir com ele.
— O que pensa que está fazendo, Romeu?
— Tentei dissuadi-lo a parar, mas não obtive
sucesso.
— Eu que pergunto, Eva! — rosnou de
volta. — Eu que pergunto!
Calei-me. Não por achar que ele tinha
qualquer direito sobre mim para estar agindo
daquela maneira Neandertal, mas porque ele
parecia nervoso e incapaz de raciocinar no
momento.
Paramos quando chegamos em frente ao seu
carro, e eu me soltei de seu aperto sufocante.
— Entra no carro.
Cruzei os braços, incomodada com aquela
atitude rude.
— Não — sibilei. — Você não manda em
mim, Romeu, então pode parar agora mesmo de
usar esse tom grosseiro comigo.
Vi quando ele levou ambas as mãos ao
rosto, esfregando-o com agressividade e, em
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seguida, bagunçando os próprios cabelos.


— Não seja teimosa, Eva — falou com
impaciência. — Não me obrigue a jogá-la nas
minhas costas.
Semicerrei os olhos, incrédula.
— Você não ousaria — desafiei.
Ele intensificou a força do olhar, forçando-
me a seguir firme com o meu, apesar da
dificuldade.
— Eva, você me conhece bem o suficiente
para saber que não sou bom em lidar com a raiva.
Engoli em seco.
— E por que você está com raiva?
Como um felino, ele se aproximou de mim
tão rápido que minha respiração travou na garganta,
embora Romeu não tivesse me tocado com suas
mãos. Seus olhos me mantiveram cativa, o que fez
meu coração acelerar.
— Porque nós tínhamos um acordo, Eva, e
eu não gosto de dividir, anjinha.
Arquejei, nervosa. Aquela sensação nova
era estranha; ter atravessado aquela linha perigosa
entre nós era estranho.
— Você sumiu, Romeu — argumentei,
incapaz de frear a chateação no meu tom de voz. A
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verdade é que meu peito havia ficado pequenino


com a possibilidade de ter afastado meu melhor
amigo, porque acima de tudo era isso que Romeu
era para mim. — Eu pensei que você houvesse
desistido.
— Pensou errado! — Veio a resposta, um
pouco rude, eu diria. — Agora entre no maldito
carro.
Segurei o desejo de rolar os olhos, já que
odiava que usassem aquele tom comigo. Mas decidi
ignorar, porque queria ver até onde tudo aquilo nos
levaria.
Em silêncio, eu entrei no veículo, no banco
do carona. Instantes depois, Romeu deu a volta e
também entrou, tomando o assento do motorista
antes de acelerar para longe.
— Coloque o cinto — ordenou, ranzinza.
Abri a boca para pronunciar algum
xingamento, mas acabei desistindo.
Romeu era insuportável quando queria. O
que me fez rir, porque desde que me conhecia por
gente, eu e ele vivíamos grudados, então os últimos
dias que ficamos afastados foram bem difíceis de
lidar.
— Qual é a graça?
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Sorrindo, eu virei a cabeça na direção dele.


Ele era tão bonito. E mesmo que naquele momento
estivesse oferecendo-me uma expressão
contrariada, ele não perdia a beleza. Maxilar
quadrado e lábios perfeitamente desenhados. Na
verdade, ele tinha uma bela mistura dos pais, tia
Luna e tio David.
— Nada. Só estava me lembrando do
quanto você sabe ser insuportável quando quer —
respondi, recebendo um sorriso sacana em seguida.
Levei o olhar para fora da janela, buscando
acalmar as reações estranhas que acometiam meu
corpo. Por um momento, agradeci o silêncio dentro
do carro, porque assim poderia reorganizar meus
pensamentos e planos.
Romeu e eu crescemos juntos; sempre
tivemos um bom relacionamento, o que facilitou
nossa vinda a Barcelona — também juntos — para
nossa graduação; eu, para cursar Economia, e
Romeu, Administração de negócios.
Nossa relação podia facilmente ser
confundida como algo entre irmãos, o que não
éramos. Sequer possuíamos algum laço sanguíneo,
já que fui adotada pela minha tia Amálie — Blue
— que me criou como filha. Entretanto, tudo isso
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não impedia Romeu de cuidar de mim como a um


cão de guarda, embora eu desconfiasse que todo
esse excesso de cuidado fosse a mando dos nossos
pais.
Naquele momento, voltei a virar a cabeça
para encará-lo; ele usava uma camiseta preta que
deixava seus bíceps à mostra; os cabelos
bagunçados, de tanto ele passar os dedos, davam-no
um ar de badboy. Honestamente, eu não era cega;
sempre percebi o quanto meu primo era atraente.
Mas jamais permiti dar vazão aos pensamentos
impuros, porque o amava demais para querer
estragar a boa relação que tínhamos.
Contudo, ali, admirando-o descaradamente
naquele carro, eu estava me sentindo uma hipócrita
por ter feito aquela proposta tão obscena a ele.
Onde eu estava com a cabeça quando
propus que ele me ensinasse a fazer sexo?
Talvez, houvesse sido a frustração de
sempre ficar para trás no quesito paquera. Ou o fato
de que eu não me sentisse preparada o suficiente
para seduzir um homem. Ou o amargo sentimento
de saber que Rangel jamais se aproximaria de mim
novamente, porque como ele mesmo disse: eu era
inexperiente.
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A verdade é que eu não estava pensando


com coerência quando procurei Romeu naquela
noite, e quando voltei à razão, já era tarde demais,
porque ele conseguiu me fazer sentir coisas; coisas
jamais sentidas antes.
Romeu era meu primo de coração, mas
desde que ultrapassamos a linha do proibido, eu
não conseguia mais vê-lo com os mesmos olhos.
— O que foi?
Assustei-me com o som da sua voz tão de
repente.
Respirei fundo.
— Onde está me levando?
Ele não respondeu de imediato. Parecia
estar buscando as palavras certas. Ou apenas estava
sem coragem.
— Para Andorra, na casa dos meus pais.
Arregalei os olhos, presa entre a
incredulidade e a expectativa.
— Como assim, Romeu? É uma viagem de
quase três horas. Enlouqueceu?
Ele me encarou, de soslaio.
— Enlouqueci. Eu enlouqueci desde o
momento que você entrou no meu apartamento para
me propor sexo com você — disse, fazendo-me
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inspirar profundamente, porque senti meu corpo


todo estremecer.
— Eu tenho aula amanhã. — Foi tudo o que
consegui pronunciar.
— Eu também tenho, mas foda-se! — disse
num tom baixo, porém perigosamente controlado.
— Tenho planos melhores para nossa sexta-feira e
fim de semana. E isso inclui você na minha cama.
Nua. Inteiramente nua para mim, Eva.
Oh, Deus!
Perdi a capacidade de falar.

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Seis

Romeu

Enquanto dirigia rumo a Andorra, eu me


perguntava o que estava fazendo com a Eva ali, ao
meu lado naquele carro. No fundo, eu sabia que era
errado a ideia de querer realizar todos os
pensamentos e desejos sujos que tinha com ela, mas
infelizmente, eu não estava mais no meu controle
racional.
Eu estava fora de mim.
Por longos dez dias, me debati sobre ceder
ou não àquela loucura entre nós; esquivei-me dela o
quanto pude. Praticamente, me escondi. Mas bastou
vê-la toda deslumbrante naquela Casa Noturna,
para que todo o meu autocontrole fosse por água
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abaixo, se esvaísse das minhas mãos. A partir do


instante em que visualizei suas pernas desnudas e
deliciosas, um sentimento de posse me dominou
com tanta força que me vi sem ar. Perceber que eu
não era o único a observá-la com malícia piorou
ainda mais o meu estado emocional.
Ela era minha.
E, eu deveria deixar isso claro.
— Merda! — resmunguei, quase inaudível.
Olhei para o lado e notei que Eva dormia de
maneira tranquila e serena. Ela era tão linda, que
chegava a doer apenas olhar para ela.
Havia uma confusão de sentimentos dentro
de mim, entretanto eu sabia que não teria mais
lugar para arrependimentos.
Porque, eu me esbaldaria com o que ela
pudesse me dar.

∞∞∞
Chegamos ao chalé, em Les Salines,
Parroquiá d’Ordino, perto da meia noite.
A casa era magnífica, de estilo rústico, e,
situada numa região tranquila, o que era

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maravilhoso, porque eu não tinha intenção de ser


incomodado enquanto Eva e eu estivéssemos ali.
— Você ao menos avisou aos nossos pais
que viríamos para cá? — Ela quis saber, ainda
sonolenta e um pouco trêmula por causa do clima
frio de Andorra.
Abri a porta, dando espaço para que ela
pudesse entrar antes de mim. Assim que ela passou,
roçando o corpo no meu, eu inspirei seu perfume de
morango, arrepiando-me pela sensação deliciosa
que tomava conta do meu corpo apenas por estar
perto dela.
— Mandei uma mensagem para meu pai —
respondi num tom baixo. — Expliquei que estamos
juntos, e que faríamos uma saída de campo para
assistir algumas palestras para complementar as
horas obrigatórias da grade.
— E ele acreditou? — Ela perguntou,
divertida, caminhando pelo espaço da cozinha.
— Eu sei ser bem convincente — respondi,
também sorrindo.
Nesse momento, ela se virou para mim e
nós nos encaramos. Eva afastou os cabelos para o
lado, prendendo-os atrás da orelha. Tudo o que ela
fazia produzia um efeito eletrizante no meu corpo.
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Fechei a porta e, em seguida, depositei as


chaves sobre o aparador mais próximo.
— Além do mais, nossa família me
considera seu melhor guardião. Acreditam
cegamente em mim para cuidar de você, — Tentei
manter meu tom de voz neutro, apesar de toda a
ansiedade que predominava em meu íntimo.
— E eles estão certos. — Não foi uma
pergunta, mas resolvi responder assim mesmo.
— Eu sempre estarei pronto para cuidar de
você, Eva. Por mais que um dia você me queira
longe, ainda assim, eu estarei lá pra você.
— E por que eu ia querer você longe?
Eu estava parado na frente dela, sem
esconder meus olhos enevoados.
— Porque sei ser um babaca, às vezes.
— Mas não comigo. — Ela afirmou,
convicta, encarando-me com aqueles olhos tão
perturbadores quanto a noite. — Você é o único
capaz de me fazer sentir eu mesma, Romeu. Ao seu
lado, não me vejo perdendo tempo, preocupada,
com o que os outros pensam.
Parei um pouco para refletir sobre suas
palavras.
— E por que você se preocupa com o que
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os outros pensam?
— Eu não sei. Insegurança, talvez.
Segui-a quando a mesma caminhou até a
sala e retirou as sandálias de tiras, antes de se
deixar cair sobre o sofá.
O rosto dela estava ruborizado quando me
encarou por sob os cílios longos.
— Afinal de contas, por que me trouxe
aqui? Poxa, Romeu, você me ignorou durante toda
essa semana. O que estava pensando?
Dei uma pausa para respirar e pensar além
da névoa daquele turbilhão de sentimentos que
estava me sufocando naquele momento.
— Eu precisava de um tempo — falei no
fim.
Fui até a adega para me servir com uma
dose de vinho. Em seguida, liguei o sistema de
aquecimento da casa.
— Tempo? — Ela parecia confusa.
— Nós crescemos juntos, Eva. Você é
minha prima — respondi mais ríspido do que
planejei. — Então é óbvio que eu precisava pensar.
— Mas não temos nenhum laço sanguíneo.
— Ela revidou, nervosa. Seu tom de voz se alterou
um pouco, o que a deixou ainda mais linda e
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excitante. — Você me fez acreditar, Romeu. Eu


confiei em você.
— E, eu não menti — falei, sorrateiro. —
Jamais mentiria para você, anjinha.
Observei que ela se empertigou.
— O-o que isso significa?
Recostei-me contra o balcão atrás de mim, e
a encarei por sob a borda da taça de vinho.
— Significa que precisamos estabelecer
algumas regras antes de começarmos com isso.
Pegando-me de surpresa, ela se levantou e
veio até mim, pegando a taça de vinho da minha
mão.
— Que regras? — quis saber, extremamente
nervosa, antes de beber um generoso gole do vinho.
Sorri, me deliciando com seu nervosismo
aparente.
— Não haverá beijos.
Ela quase engasgou.
— O-o quê? Por quê? — Sua voz soou
quase decepcionada.
Ergui a mão para tocar seu rosto
avermelhado. Notei sua respiração acelerar com
aquele mero toque.
Num movimento abrupto, eu avancei sobre
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seu corpo, invadindo seu espaço pessoal, e


prensando-a com meu corpo contra a bancada.
Meus braços deixaram-na enjaulada.
— Porque o beijo traz uma intimidade
desnecessária, Eva. E, eu sei que o seu único intuito
com tudo isso é aprender a transar, hun? Você quer
aprender a como seduzir um homem.
Ela arquejou, encabulada. Entretanto, não
teve forças para falar, então apenas balançou a
cabeça, confirmando minhas palavras.
Inclinei a cabeça, outra vez inspirando o
perfume doce que emanava da sua pele, como um
maldito viciado incapaz de se controlar.
— Nosso acordo deverá permanecer entre
nós. Deverá ser um segredo só nosso.
— Concordo — disse ela, sem fôlego.
Permaneci olhando fixamente para ela, que
começou a ficar trêmula.
Cenas do filme que era a nossa vida
invadiram meus pensamentos como canais de TV
sendo zapeados. Desde que meus hormônios se
afloraram, eu passei a desejá-la como um louco,
porém sabia que não poderia deixar o animal dentro
de mim se mostrar. Não naquele momento. Eva não
era qualquer uma.
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Ela era e sempre seria minha anjinha.


O meu melhor lado.
— Ótimo! — exclamei, lutando para não
demonstrar minha euforia interna. — Apesar de
toda essa loucura, eu espero que não pense que
pretendo tirar vantagem de você, Eva. Vamos com
calma, tudo bem?
— Com calma? E o que isso quer dizer? —
Sua voz estava abalada.
Será que ela sentia os mesmos efeitos que
eu?
— Significa que daremos passos conforme
o seu tempo, porque isso não tem nada a ver
comigo ou com meus hormônios desesperados,
Eva, mas com você e suas descobertas.
Ela pareceu pensar um pouco, enquanto
aproveitou a oportunidade para desviar o olhar.
— Então nós vamos mesmo transar? —
Veio a pergunta quase incrédula.
Peguei uma de suas mãos e levei até minha
boca, e a passei sobre meus lábios úmidos. Meu
hálito esquentou seus dedos, e ela levou um susto
quando arreganhei os dentes e mordi de leve a
ponta do seu indicador.
— Tenha certeza de que aproveitarei cada
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oportunidade para foder com você.


Ela ficou sem saber o que dizer, certamente
assustada pela rudeza das minhas palavras cruas,
então eu ri.
Afastei-me dela, à contra gosto.
— Venha — pedi, entrelaçando nossos
dedos. — Está tarde e nós precisamos dormir —
falei, guiando-a pela escadaria.
O quarto estava escuro quando abri a porta.
Tanto Eva quanto eu demoramos um pouco para
ajustar nossos olhos a luz assim que a liguei pelo
interruptor.
A cama era do tipo king, ocupando boa
parte do espaço. Havia uma porta dupla, que
separava o quarto da sacada, que nos presenteava
com a linda vista do jardim.
— Tem algumas roupas no armário, caso
queira se trocar — falei, desabotoando minha calça
jeans e começando a abaixá-la.
Na mesma hora, notei os olhos dela se
arregalarem. Gargalhei quando a vi levar as mãos
para cobrir os olhos.
— Meu Deus, Romeu! O que está fazendo?
Por que não se troca no banheiro? — Seu tom não
escondeu o desespero.
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— E essa pergunta vem da mesma garota


que me propôs sexo há apenas dez dias? —
respondi num tom brincalhão.
Ela continuou com os olhos cobertos.
— Bem, eu sei que parece ridículo, mas é
que eu não estava preparada.
Arranquei a camiseta e joguei-a em
qualquer canto. Aproximando-me da Eva, toquei
em suas mãos, forçando seus olhos a me
encararem.
Embora, sua timidez estivesse mais do que
evidente para mim, ela não desviou o olhar, que
desceu pelo meu peitoral desnudo.
— Eu não sabia que você tinha feito uma
tatuagem — comentou em tom surpreso, com os
olhos sobre os detalhes do desenho que
representava meu fascínio pelo Star Wars. Num
súbito de coragem, ela estendeu a mão e colocou os
dedos sobre a tatuagem. Em seguida, seus olhos se
arregalaram e ela puxou a mão rapidamente, como
se tivesse se deixado agir pelo impulso. —
Desculpe, eu...
Agarrei sua mão e a levei de novo ao meu
peito, adorando a sensação do contato de seus
dedos em minha pele quente.
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— Você não precisa se desculpar por sentir


vontade de me tocar, Eva — falei, com meus olhos
nos seus. — Eu gosto do seu toque — provoquei.
Ela respirou com dificuldade, em seguida,
contornou um pedaço do desenho da espaçonave. O
efeito que a presença, o cheiro e o toque dela
causavam em meu corpo era eletrizante. Quase
surreal.
Saber que ela jamais tinha dividido a
mesma cama com outro cara, já bastava para me
deixar ensandecido; ansiando por ser o primeiro
dela em tudo.
Simplesmente tudo.
— O que você está sentindo? — perguntei,
ansioso para entender o que se passava dentro
daquela mente mirabolante. Meu dedo passeou pela
sua bochecha, e seus olhos se fecharam
involuntariamente.
Seu lindo rosto se ergueu e tive meu ar
roubado quando nossos olhos se encontraram. O
rubor delicioso de suas bochechas fazia tudo aquilo
parecer ainda mais proibido. Vi-me vidrado no
formato de seus lábios e no deslizar sensual de sua
língua entre eles.
— Sinto um frio na barriga. É como se
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tivesse uma eletricidade percorrendo meu corpo


todo.
Não segurei o sorriso orgulhoso.
— Essa sensação ficará mil vezes mais forte
quando você sentir minhas mãos em você. — Então
desci minha mão. Passei pelo seu braço, deixando-a
toda arrepiada. — Quando sentir minha língua em
cada centímetro da sua pele — sussurrei, levando a
mão ao seu pescoço. Meu indicador ficou
passeando pelo seu ombro e pela sua nuca. Escutei
sua respiração acelerar quando aproximei minha
boca e a deixei centímetros da sua. — Quando me
sentir forte entre suas pernas, anjinha...
— Romeu. — Ela sussurrou, mas aos meus
ouvidos soou mais como um gemido.
Soltei uma risadinha, sabendo exatamente o
estado que a tinha deixado. Afastei-me
abruptamente, ciente do seu olhar queimando
minhas costas.
— Espero que não se importe de ter que
dividir a cama comigo — murmurei, subindo no
colchão e desfazendo a arrumação impecável.
Puxei a colcha, deitei na cama, coloquei os braços
atrás da cabeça, cruzei os pés e sorri para ela, que
continuava no mesmo lugar. Contudo, os olhos
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pareciam chamas na minha direção. — Sou


espaçoso e há as más línguas que afirmam que eu
ronco.
Percebi que sua expressão mudou um pouco
depois do que falei.
— O que foi?
— Nada. É só que... seu comentário me
lembrou que você já dormiu com várias garotas e...
— franziu a testa e sacudiu a cabeça. — Esquece.
As bochechas dela estavam num tom forte
de vermelho. Adorável.
— Por acaso está com ciúmes, Eva? —
questionei, num tom bem-humorado.
— Não, claro que não.
— Eva, você não entendeu o contexto das
minhas palavras, anjinha.
— Tudo bem, não precisa explicar — disse
ela, encabulada.
Mais rápido do que nós pudéssemos
raciocinar, eu saí da cama, segurei Eva pela cintura,
tombei seu corpo sobre o colchão e comecei a lhe
fazer cócegas. Ela soltou um grito em meio às
gargalhadas enquanto eu a massacrava sem um
pingo de piedade. Sua risada ecoou pelo quarto e
era o som mais maravilhoso que já tive o prazer de
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ouvir.
— Não seja rabugenta — falei, também
rindo.
— Tá legal... tá legal! — exclamou com um
gritinho agudo, e eu parei.
De repente, percebi que estávamos
próximos demais.
Meu corpo estava sobre o dela, prensando-
a. Ambos estávamos ofegantes, com nossos rostos
muito perto um do outro. Notei minha respiração
acelerar conforme meus olhos fixaram-se em seus
lábios rosados e tentadores. Por um segundo,
cogitei a ideia de infligir a maldita regra que eu
mesmo havia criado, sobre não nos beijarmos.
Porque porra, eu queria me esbaldar naquela boca.
Deslizei uma das mãos pelo seu queixo e
ajeitei uma mexa de cabelo atrás da sua orelha. Eu
podia jurar que ouvi sua pulsação quando,
lentamente, inclinei minha cabeça para baixo.
— Romeu...?
A realidade tomou conta de mim. O transe
imediatamente se desfez.
Saí de cima dela.
Pigarreei:
— Você pretende dormir assim? —
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perguntei, mais para tentar mudar o rumo da


situação constrangedora, do que outra coisa. — No
armário tem roupas mais confortáveis.
Voltando para a cama, eu deitei meu corpo
no lugar de antes.
Vi o momento que ela, em silêncio,
caminhou até o guarda-roupa enorme e remexeu.
Fiquei observando sua postura tensa, me
perguntando se ela estaria sentindo o mesmo calor
e desconforto que eu.
Com algumas peças de roupa nas mãos, ela
ameaçou deixar o quarto.
— Aonde você vai? — perguntei.
— Me trocar — respondeu como se fosse o
obvio, porém depois de ter notado o sorriso
sarcástico que tomou conta dos meus lábios, ela
acrescentou: — Ainda não estou pronta para deixá-
lo me ver nua, Romeu.
Revirou os olhos e saiu do cômodo ao som
da minha risada alta.

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Sete

Eva

Atordoada.
Era assim que eu estava me sentindo quando
entrei no banheiro para trocar de roupa.
A todo o momento, a minha mente buscava
processar tudo o que aconteceu e estava
acontecendo, além da promessa do Romeu a
respeito do que faríamos dali em diante.
Eu estava quente.
E tentando administrar tudo o que acontecia
em meu corpo desde que Romeu passou a me tocar

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e a me olhar com olhos predadores.


— Eva? — Dei um pulinho de susto quando
escutei uma batidinha na porta. — Está tudo bem
aí? Precisa de ajuda para trocar de roupa? — Sua
voz tornou-se maliciosa na última pergunta.
Abri um sorriso, apesar de saber que ele não
estaria vendo. Um friozinho se instalou na minha
barriga com a possibilidade de ter as mãos dele em
mim.
— Estou bem — falei. — Acho que vou
tomar um banho — acrescentei.
— Está certo. Não demore.
— Não vou.
Comecei a tirar o vestido, em seguida, as
minhas peças íntimas.
O espelho do banheiro me presenteou com
meu reflexo, e notei que havia um rubor sutil em
minhas bochechas quando prendi meu cabelo em
um coque, num esforço de impedir que ele
molhasse durante o banho.
Minha consciência insistia em me
confundir; Romeu sempre esteve ao meu lado, mas
estávamos prestes a ultrapassar uma linha perigosa
e, eu temia perdê-lo.
Perdida em pensamentos, liguei o chuveiro,
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dizendo a mim mesma que tudo ficaria bem no


final, embora estivesse confusa.
Após passar longos minutos no banho, eu
me sequei, me vesti e voltei para o quarto,
admitindo o quanto me sentia nervosa com o fato
de ter que dividir a cama com Romeu e torcendo
para que a eletricidade que percorria meu corpo se
dissipasse e, eu pudesse dormir.
Abri a porta, sendo surpreendida pela
escuridão do cômodo. A única luz vinha da janela,
refletida pela Lua. Vi que Romeu estava dormindo,
tranquilo e perfeito.
Aproximei-me devagar, consumida pela
delicadeza daquela visão magnífica. Romeu era um
rapaz com o corpo de um homem.
Impressionantemente excitante.
Sentei-me na cama e não tive como deixar
de reparar em seus músculos sob a pele bronzeada.
Obviamente que eu já tinha visto Romeu sem
camisa antes, mas as coisas estavam diferentes.
Tudo mudou.
Uma névoa de luxúria estabeleceu-se entre
nós dois.
Ajeitando-me entre as cobertas, permaneci
admirando o movimento do seu peito, que subia e
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descia, e o suspiro que escapava de seus lábios


carnudos, lembrando-me que minutos atrás, ele
quase havia me beijado. Ao menos, foi o que
pareceu. E o mais assustador foi que eu quis o beijo
dele.
Desejei muito que ele me beijasse.
Desejei tocá-lo enquanto ele dormia, mas
freei meus instintos, acreditando veemente que
aquilo seria uma ideia ruim.
Estar ali com ele me acalentava, porque
sabia que Romeu nunca me machucaria. Entretanto,
mesmo com isso em mente, e com a garantia das
regras do nosso acordo, eu temia que não fosse
suficiente. Não tinha certeza se seria capaz de
separar meu corpo do coração.
Olhei para ele e o admirei sob a luz fraca do
luar.
Quando peguei no sono, percebi que meu
peito estava tão repleto de expectativas como
jamais havia estado antes.

∞∞∞
Uma leve brisa se chocou contra meu rosto,

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de modo suave, porém insistente. Remexi-me na


cama na intenção de me livrar daquela sensação e
continuar presa no meu mundo dos sonhos, mas
meu corpo encontrou uma superfície quente e
macia. Assustada, eu abri os olhos, apenas para me
deparar com Romeu me encarando e soprando
contra meu rosto. Um ensaio de sorriso brincava
nos lábios dele.
— Bom dia — disse num tom preguiçoso.
E então me dei conta de que o dia havia
amanhecido e, definitivamente, minha aparência
devia estar horrível.
Sentei-me num gesto apressado.
— Não olhe para mim, Romeu — falei. —
Eu devo estar horrorosa.
— Horrorosa, é um sinônimo que não
combina com você, Eva — provocou, enquanto eu
me levantava da cama, ciente do olhar dele em
minhas pernas expostas, graças ao conjunto, quase
indecente, de pijamas.
— Não seja mentiroso, Romeu —
murmurei, olhando ao redor do quarto, buscando
por algo sem saber o quê especificamente.
A risada dele me fez encará-lo e quase
arquejei. Ele ainda estava de cuecas, e com o corpo
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recostado contra a cabeceira da cama, com sua


perna erguida enquanto um braço repousava em seu
joelho. Era uma posição relaxada, porém fui
surpreendida pela minha mente quando ela me
presenteou com pensamentos pecaminosos.
Incrivelmente pecaminosos.
— Tá legal — concordou ele. — Você está
parecendo um monstrinho. Daqueles fofos, mas
ainda sim, um monstrinho.
Ele caiu na risada de tal forma que não
consegui segurar o riso.
Peguei um travesseiro e joguei nele antes de
escapar do quarto feito uma bala de canhão.
— Não demora no banheiro, porque vou
preparar nosso café. — Ele gritou.

∞∞∞
Cheguei à cozinha e parei por um momento
no arco da porta.
Romeu estava mexendo em algo no fogão e
parecia concentrado no que estava fazendo.
Agradeci mentalmente o fato de ele ter vestido uma
roupa, além daquela cueca perturbadora.

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— Oh, porra! — resmungou de repente,


afastando-se enquanto praguejava e sacudia a mão
como se tivesse acabado de se queimar.
Tentei segurar o riso preso na garganta, mas
Romeu percebeu e me avistou.
— Por acaso está zombando de mim? —
Seus olhos semicerraram em minha direção.
Neguei com a cabeça.
— De maneira alguma — respondi, porém
sem esconder a diversão no tom de voz.
Caminhando pelo espaço, eu me senti
segura diante da análise dele, descarada, ao meu
visual.
Graças ao sistema de aquecimento da casa,
eu pude optar por um short jeans e uma camiseta
com estampa de estrelas, mas sem grandes
atrativos.
— O que está tentando cozinhar? —
perguntei, próxima dele. Embora, eu estivesse do
lado contrário, com o balcão entre nós. Fiquei
inclinada, tentando espiar o conteúdo da frigideira.
— Não estou tentando fazer... — disse ele,
despejando algo parecido com ovos mexidos, em
um prato —, eu fiz. — Colocou o prato sobre o
balcão, diante de mim. — Ovos com bacon.
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Fiquei olhando para aquela mistura,


tentando decifrar o que tinha ali, além do
queimado.
— O que foi? — questionou, depositando
um copo de suco, ao lado do prato. — Bem, eu não
sei fazer café, então o suco é a única opção no
momento.
Olhei para ele, tentando encontrar algum
resquício de que ele estivesse brincando, mas não
encontrei nada.
— Romeu, eu não vou comer isso aqui.
— Por quê? — quis saber, juntando as
sobrancelhas.
Mordi os lábios, sem jeito.
— Bem, me desculpe, mas está com uma
aparência estranha — respondi, segurando o riso.
Ele abriu a boca, fingindo estar ofendido.
— Você está julgando sem provar, anjinha,
e isso é muito feio. Poxa, eu fiz com tanto carinho...
Senti-me mal, porque ele tinha razão. Eu
estava sendo mal agradecida.
Pigarreei, em seguida, respirei
profundamente.
— Ok. Então a primeira garfada é sua. —
Sorri.
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Ele deu de ombros, inclinando o corpo para


frente e enchendo o garfo com uma porção bem
generosa. Não visualizei qualquer reação negativa
em seu rosto — enquanto ele mastigava — que
pudesse indicar que estivesse ruim.
— Vamos lá. Agora é sua vez — disse ele,
depois de beber um gole do suco de laranja.
Enfiei o garfo na mistura e, em seguida,
levei à boca para saborear.
Uma única olhada para o Romeu, e eu o
peguei rindo, mas de mim.
— Seu cretino! Isso aqui está horrível —
reclamei, depois de quase ter vomitado enquanto
engolia.
Peguei o copo de suco que ele me oferecia,
aos risos.
— Eu não poderia demonstrar o quanto
estava ruim, oras! Você precisava sofrer junto
comigo — explicou como se não fosse nada
demais.
Irritada com ele, eu fui em sua direção na
intenção de enchê-lo de beliscões, mas de
predadora, eu acabei me tornando a caça
rapidamente.
— Isso foi golpe baixo, Romeu. Além de ter
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me deixado com fome — falei, tentando empurrá-


lo enquanto o mesmo me agarrava e prensava
minhas costas contra o balcão atrás de nós.
— Acalme-se, pois eu ainda não mostrei
todos os meus dotes culinários — disse ele, num
tom brincalhão.
— Oh, então tem mais dessa gororoba?
Não sei se posso ficar feliz com essa informação.
Ambos rimos.
De repente, o clima ficou denso.
Nossos olhares se encontraram e Romeu
abaixou a cabeça, olhando para minha boca. Fiz o
mesmo sem saber ao certo o que estava
acontecendo.
Eu ainda tentava raciocinar quando Romeu
levou a boca na minha, pegando-me totalmente
desprevenida.
Respirei de susto quando senti seus lábios
nos meus. Não tinha ideia do que estávamos
fazendo, mas me vi cativa no meio daqueles braços
fortes.
Senti sua língua morna percorrer a minha
quando abri a boca e o beijei de volta. Meu corpo
todo parecia querer entrar em erupção; nunca tinha
me sentido daquela forma antes.
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Meus olhos se abriram quando Romeu


afastou o rosto do meu, me fazendo querer soltar
um protesto. Arquejei quando ele fez uma carícia
nas minhas bochechas vermelhas.
— Romeu... — sussurrei e, em seguida,
movida por algo mais forte, eu colei minha boca na
dele outra vez.
Minha mente não estava mais no comando e
uma sensação arrebatadora dominava cada
pedacinho do meu corpo. Sentia intensamente cada
movimento da sua língua.
Enrolei seu pescoço com meus braços,
enquanto Romeu descia beijos molhados em minha
pele, agarrando meu cabelo para me manter imóvel.
Seus dentes passaram a raspar minha
clavícula, e eu gemi, sentindo uma sensação boa se
espalhando pelo meu corpo todo.
De repente, Romeu desceu as mãos pelas
minhas costas, estabelecendo-as em meus quadris.
Estremeci quando ele apertou meu traseiro.
Longos minutos depois, ele voltou a afastar
o rosto.
Quando olhei em seus olhos, notei que
estavam escuros e seus lábios inchados. Senti algo
duro cutucando meu baixo ventre, então olhei para
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baixo e percebi que havia um volume a mais na


parte da frente da sua calça. Fiquei ainda mais
vermelha e desviei o olhar.
Romeu segurou meu rosto com suas mãos.
— O que acha de quebrarmos a regra do
beijo mais vezes?
A voz da consciência dentro da minha
cabeça gritou comigo, lembrando-me de que aquilo
não era uma boa ideia, que não acabaria bem, mas
eu a sufoquei.
Espalmando o peitoral musculoso, inclinei a
cabeça, sendo presenteada com o furor de mais um
beijo faminto e desesperado. Levei as mãos ao seu
cabelo, puxando, e fazendo Romeu gemer baixinho.
Era o som mais sensual que já ouvi na vida, e me
senti capaz de fazer qualquer coisa para ouvi-lo de
novo.

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Oito

Romeu

De todas as sensações que já experimentei


na vida, beijar a Eva tinha sido a mais intensa.
A mais arrebatadora.
Eu não tinha a intenção de quebrar a regra,
justamente, porque tornaria as coisas mais
complicadas entre nós dois, uma vez que, tudo com
Eva era mais gostoso.
Suas reações fáceis me enlouqueciam de
maneira absurdamente excitante. Eu nunca tive que
me preocupar com o fato de a minha parceira sentir
vergonha de ficar nua na minha frente, por
exemplo, porque isso jamais aconteceu. Então no
fundo, tudo o que estava acontecendo era tão novo
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para Eva quanto para mim.


As garotas com quem eu estava acostumado
a ficar eram sempre a mesma coisa, a mesma
facilidade.
Com Eva não...
Sentia-me como uma criança em fase de
crescimento, vibrando com cada conquista.
Curtindo cada descoberta dela.
E o melhor de tudo? Era eu a estar
ensinando e, isso me fazia sentir foda pra caralho.
— Do que está rindo? — perguntei, assim
que descemos do carro.
Eu não tinha o menor desejo de sair da
cabana, mas infelizmente precisávamos comer, e a
contar pelo desastroso episódio do café matinal,
minutos atrás, nós morreríamos de fome, já que
Eva era tão ruim na cozinha quanto eu.
— Estou rindo disso — apontou de mim
para ela —, de toda essa loucura.
Aproximei-me dela e segurei sua mão,
enquanto caminhávamos pela frente das mais
variadas marquises de lojas aleatórias.
— Está com medo? — quis saber,
preocupado. Levei sua mão, entrelaçada na minha,
aos meus lábios e beijei os nós de seus dedos. —
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Eu jamais farei algo que você não queira, Eva.


Ela sorriu, encarando-me com carinho.
— Sei disso. O meu medo é perder você,
Romeu — confessou num tom sufocado. — Tenho
medo de que no final, a nossa amizade fique
abalada.
De repente, seus passos travaram e ela me
encarou, com uma expressão apavorada.
— Romeu, eu não sei o que farei se algum
dia, você se afastar de mim.
— Ei? — Colei meu corpo ao dela,
amoldando seu rosto com minhas mãos. — Pare de
se preocupar. Pare de pensar — falei. Sem que eu
pudesse controlar, meus olhos desceram até seus
lábios rosados. — Eva, eu prometi que sempre
estaria ao seu lado, e vou cumprir minha promessa.
Diga-me quando que eu já falhei com você?
— Nunca — soprou, espalmando meu peito
com suas delicadas mãos.
— O quê? Pode repetir, por favor? —
brinquei, fazendo-a sorrir.
— Nunca. Nunquinha. — Sua voz soou
orgulhosa e boba.
Fui pego desprevenido quando ela uniu
nossos lábios num selinho. Certamente movida pelo
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impulso, já que seus olhos arregalados depois que


afastou o rosto demonstravam exatamente isso.
— Oh, meu Deus, Romeu, me des...
Silenciei sua tentativa tola de justificativa
com meus lábios, calando-a da melhor maneira
possível, com um beijo.
— Eu já falei que você não precisa se
desculpar por sentir vontade de estar comigo da
forma que for, entendeu? — murmurei contra seus
lábios doces, acariciando suas bochechas rubras
com meus polegares. — Estamos nisso, juntos. O
prazer que você sente, eu sinto também.
Ela ficou me encarando, muda e um tanto
encabulada. De repente, inclinou a cabeça numa
ameaça clara de voltar a me beijar, mas me afastei
depressa.
Seus olhos se ergueram nos meus,
nitidamente confusos.
— O que foi? Não quer mais me beijar? —
perguntou, constrangida.
— Eu quero. Mas e você? Eu preciso ouvir,
Eva. Você precisa aprender a se comunicar comigo
— expliquei, analisando de perto suas reações.
Era deliciosamente excitante acompanhar
cada nuance.
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— Ah — murmurou, absorvendo minhas


palavras. Por um instante, ela desviou o olhar, mas
logo voltou a encarar meu rosto atento. — Eu quero
beijar você, Romeu. Quero muito.
Sorri, encantado com seu jeitinho tímido.
Chegava a ser doce.
Avancei os dedos em seus cabelos,
bagunçando os fios, enquanto minha boca devorava
a dela, em pleno deleite. Eva tinha um sabor único,
sabor esse que eu temia jamais me cansar.
Deslizei a língua pelo seu queixo, seguindo
na direção do seu pescoço perfumado. Sorri,
arrogante, quando ouvi o som de um gemidinho
baixo.
— Gostosa. — Fiz questão de sussurrar em
seu ouvido, apenas para senti-la estremecer em
meus braços.
E lá estava ele, o rubor excitante em suas
lindas bochechas.
— Diga-me se sua calcinha ficou
molhadinha — exigi, olhando nos olhos dela.
Assisti seu rosto ganhar um tom ainda mais
vermelho depois de ela levar alguns instantes para
assimilar meu pedido.
— Céus, Romeu! — exclamou,
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desvencilhando-se dos meus braços. — Eu não vou


dizer nada disso — garantiu, sem me encarar. Ela
não negava o quanto estava envergonhada,
enquanto caminhava para longe, deixando-me para
trás.
Eu ri.
— Ei!? Por quê? — insisti. — Faria muito
bem para meu ego, sabia? — murmurei, divertido,
seguindo-a de perto.
— Porque é algo constrangedor, Romeu —
disse ela, como se fosse obvio.
O silêncio reinou por alguns instantes,
porque eu estava dando a ela, a chance de
administrar todas as informações e tudo o que
vinha acontecendo entre nós dois e com ela mesma.
— As garotas com quem você já saiu,
diziam esse tipo de coisa? — perguntou ela,
quebrando o silêncio.
Nesse momento, ela estava com o olhar no
meu, embora o rubor ainda continuasse lá.
Assenti.
— Na verdade, eu nem precisava pedir —
respondi, dando de ombros.
Eva revirou os olhos.
— Argh, Romeu!
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E saiu pisando duro.


— O quê? O que foi que eu disse de errado?
Fui totalmente ignorado, porque ela acabou
entrando numa Cafeteria, alguns metros à frente.
Estava prestes a segui-la, mas meu celular
começou a tocar.
Atendi com entusiasmo depois que li o
nome indicado no visor do aparelho.
— Novidades, José?
— Já estou com todas as informações em
mãos — disse ele. — Todo o planejamento que
você precisa a fim de diminuir os riscos.
Um sorriso enorme estabeleceu-se em meus
lábios.
— Então por onde eu devo começar?
— Bem, como eu disse antes, Romeu, uma
empresa de games não é feita só de programadores.
Tenha artistas gráficos, músicos para elaborar uma
trilha sonora boa, administradores, pessoas com
tino comercial.
— Certo. O que mais?
— Apoio financeiro, claro — respondeu. —
Eu tenho certeza de que se você conversar com seu
pai, ele ficará feliz em investir, Romeu, porque é
algo bem inovador — argumentou.
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Abaixei a cabeça.
— Não. Ele não entenderia, porque não é o
que ele sonhou para mim, José. Meu pai almeja que
eu assuma o lugar dele na Corporação González.
Então certamente ele não ficará feliz em me ver
como CEO de uma empresa de games.
— Mas eu ainda acho que seria melhor
que...
— Agradeço pelo seu conselho, José, mas
eu realmente seguirei meus instintos e verei no que
vai dar — falei, cortando suas palavras. — Peço
total descrição e que tenha em mente que eu não
sou o filho do seu patrão, mas um cliente em busca
de ajuda empresarial.
Ele suspirou, claramente inconformado com
minha postura teimosa.
Desde que tive a ideia de procurá-lo, há
pouco mais de um mês, ele já demonstrou
insatisfação com o fato de eu pedir para que não
contasse nada ao meu pai. José trabalhava para a
família e para a empresa há anos, como Contador
de Custos e outras funções relacionadas a finanças
e planejamentos.
— Está certo — disse no fim. — Vou
enviar no seu e-mail todas as informações
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coletadas, que inclusive, eu já classifiquei e


registrei os dados operacionais das diversas
atividades que sua empresa vai precisar.
— Faça isso, José — falei. — Até a
próxima semana, eu pagarei pelos seus serviços.
— Não há necessidade, rapaz — disse ele,
parecendo sorrir. — É um prazer poder ajudá-lo.
Passei a mão na cabeça, entusiasmado.
— Caramba, José! Eu nem sei o que dizer.
— Não fala nada, oras. — Riu. — Apenas
agilize a verba para podermos dar o ponta pé
inicial.
— Combinado — murmurei, também
sorrindo. — E José? — chamei, antes que ele
desligasse.
— Sim?
— Mais uma vez, obrigado.
Depois que desliguei, apressei os passos
para entrar logo na Cafeteria. Falaria com Eduardo
e Laura depois, meus futuros sócios.
Eufórico, adentrei no estabelecimento e
varri o lugar em busca da minha anjinha, mas a
cena que meus olhos encontraram não me agradou
nem um pouco.
Marchei feito um touro desgovernado,
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desviando das mesas espalhadas, concentrado


somente no lugar em que Eva estava sentada, mas
não estava sozinha.
Mesmo sendo apaixonado pelo sorriso dela,
ali eu odiei. Odiei, porque ela estava oferecendo a
outro.
— Ah, Romeu! — exclamou ela, assim que
me aproximei. — Você sabia que terá um encontro
com uma galera aqui perto numa zona de
campismo?
Ergui as sobrancelhas.
— Hmm — resmunguei, sem dar muita
importância. Estava um pouco chateado por tê-la
visto tão a vontade com um desconhecido. Droga!
Tomei um dos assentos, e fiz questão de
marcar território, esticando o braço nos ombros
dela, por cima do encosto da cadeira. Eva estranhou
minha atitude, mas não falou nada.
— Nós poderíamos ir — continuou. Em
seguida, olhou para o rapaz, em pé, ao lado dela. —
Esse simpático rapaz estava me convidando. Olha...
— repassou um panfleto — A propósito, esse é o...
— Eu sei muito bem quem ele é, Eva —
cortei suas palavras, fuzilando o rapaz, que me
encarava com igualmente fúria.
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— Oh, que coincidência — comentou Eva.


— Bem, hun... — ela se calou, sentindo a tensão no
ambiente. Vi quando pegou o copo de café e o
levou diretamente a boca.
Pietro sorriu, mas um daqueles sorrisos
frios.
— Vejo que o tempo não serviu para
amenizar os nossos ressentimentos, hein, Romeu?
— Da minha parte não há qualquer tipo de
ressentimento, caro amigo Pietro — falei, também
sorrindo. — Mas para que as coisas continuem no
passado, que é o lugar delas, eu aconselho você a
ficar longe da Eva, e então tudo ficará bem.
Ele riu, enquanto descruzava os braços.
— Vou adorar ver você no acampamento,
linda — disse, segurando a mão da Eva, e beijando
o dorso.
Ouvi o som de um rosnado como de um
animal feroz, mas percebi que tinha escapado da
minha própria garganta. Eva me encarou, assustada,
encabulada com meu comportamento.
— Muito obrigada — disse ela, para o
Pietro, que abriu ainda mais o sorriso cretino.
Controlei-me para não arrancá-lo na porrada. —
Foi um prazer conhecer você.
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Assim que ficamos sozinhos, Eva se voltou


para mim, irritada.
— O que foi isso, Romeu? Eu fiquei
morrendo de vergonha com a maneira como você
agiu aqui — ralhou.
Cruzei as mãos e apoiei os braços em cima
da mesa, olhando severamente para Eva.
— Por que você estava, toda sorrisinhos,
para aquele cara? — intimei, enciumado.
Vi que ela arregalou os olhos, chocada.
— Como assim? Eu estava apenas sendo
gentil e educada com alguém que parou para falar
comigo, Romeu — respondeu, arisca. — Olha só,
se isso que temos for me privar de ter minha
liberdade, então é melhor pararmos agora —
sibilou, indignada.
Meu peito se apertou com a possibilidade de
não tê-la mais em meus braços.
Toquei seu rosto e, em seguida, segurei sua
mão nas minhas, apertando-a.
— Me desculpe, você está certa —
murmurei com os olhos baixos. — É que Pietro e
eu não temos um passado muito bom — desabafei.
— Mas saiba que se você realmente quiser
acampar, então nós iremos. Mas que fique bem
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claro que meu desejo é ficar trancafiado vinte e


quatro horas com você naquela cabana —
provoquei, usando um tom recheado de malícia.
E alcancei o efeito desejado, já que ela
ruborizou e desviou o olhar.
Demorei a perceber a jarra de suco na mesa,
um copo de café para mim e, algumas delícias para
degustar.
— Afinal de contas, o que há entre vocês
dois? — quis saber.
Dei de ombros, beliscando uma torrada.
— Ele acha que eu fodi a garota dele de
propósito, mas tenho minha consciência tranquila
quanto a minha inocência — respondi. — Conheci
o grupo dele numa dessas festas universitárias fora
do Campus; uma das garotas ficou a noite toda se
jogando pra cima de mim, mas eu não estava no
clima. Meu negócio aquela noite era apenas curtir o
som e beber — expliquei. — No fim, ela acabou
me pegando desprevenido enquanto eu saía do
banheiro e me tascou um beijo.
— Oh. — Ela deixou escapar. — Vocês
transaram?
— Sim. Mas só depois fiquei sabendo que
Pietro tinha um caso com ela, e não somente isso,
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mas que ele era tremendamente apaixonado pela


garota.
— Wou! E o que aconteceu?
— Bem, mesmo nós dois não tendo
qualquer convivência, ele jurou que se um dia nós
nos reencontrássemos, que ele pagaria na mesma
moeda.
— Então resumindo, você acha que ele
pretende me usar para atingir você? — perguntou
ela, séria.
— Eu não faço ideia do que se passa na
cabeça dele, Eva.
— Então iremos descobrir mais tarde —
disse ela, sorrindo enigmática.
Seu olhar atrevido fez com que minha
mente criasse diversos cenários luxuriosos entre
nós dois.
Porém, tudo o que fiz foi devolver o sorriso,
igualmente travesso.

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Nove

Eva

A viagem até Carretera de la Vall d’Incles


levou aproximadamente uma hora. A primeira coisa
que notei foi o quanto a zona do acampamento era
selvagem e os arredores surpreendentes. Seria
realmente um privilégio dormir no vale e acordar
com aquelas visões.
Romeu não parecia muito animado, uma
vez que, acabei frustrando seus planos quando
aceitei o convite do Pietro, e ele pensava em um
programa apenas para nós dois. Algo que fizesse
valer todas as promessas luxuriosas que pairavam
no ar sempre que ficávamos sozinhos.
Na verdade, eu ainda não tinha parado para
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pensar no que vinha acontecendo. Obviamente que


para muitos não era nada de mais — beijos quentes
e mãos bobas — mas tudo isso tinha um peso
enorme para mim, porque sempre busquei trazer
minhas coisas de maneira metódica, justamente,
por gostar de ser regrada e manter uma rotina
predefinida. Mas com Romeu? Eu me via
abobalhada; ele me desnudava e desarmava com
uma facilidade assustadora. Minha pele queimava
sempre que suas mãos me tocavam um pouco mais
ousado, e mesmo que a timidez fizesse com que eu
me retraísse, secretamente, eu desejava que ele me
tocasse mais.
Eu o queria em todos os lugares.
Queria as mãos dele em cada centímetro
escondido da minha pele.
Esse desejo proibido me fazia questionar:
Desde quando passei a sentir esse sentimento tão
cru, tão carnal por ele?
Talvez ele sempre estivesse flutuando,
vibrando em meus poros sem que eu tivesse tido
consciência, e aflorou-se depois que Romeu me
tocou pela primeira vez.
De qualquer forma, estava lá, e eu não tinha
mais forças para escondê-lo.
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Meu telefone começou a vibrar dentro da


minha bolsa. Praguejei internamente quando
visualizei o nome da Penélope no visor do
aparelho. Tinha enviado uma mensagem para ela
— mais cedo — avisando que estava tudo bem e
que eu voltaria somente na segunda-feira, mas ela
obviamente não ficou satisfeita com a escassez de
detalhes.
Até pensei em atender, mas Romeu,
finalmente, estacionou o carro, então desisti e optei
por desligar o celular, já que tinha certeza que
Penélope não desistiria e me venceria pelo cansaço.
— Quem era? — Romeu quis saber,
puxando o freio de mão.
— Era a Pê — respondi sem dar muita
importância. — Mas depois eu falo com ela.
Ele apenas assentiu, depois abriu a porta do
carro, e eu fiz o mesmo.
Já tínhamos passado pela recepção, onde
nos foi informado sobre todas as regras e
funcionamento do lugar, que era simplesmente de
tirar o fôlego.
Havia várias áreas para escolher — perto do
Rio ou acima da estrada. Romeu optou por
ficarmos perto do lindo córrego.
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— Honestamente, nunca pensei que um dia


acamparia nas montanhas de Andorra com você —
comentei, enquanto tirávamos as coisas de dentro
do carro.
Romeu me ofereceu um olhar cúmplice.
— Você sabia que estamos a apenas vinte
minutos da Fronteira com a França? Uma
esticadinha na viagem e logo estaríamos em Paris, a
cidade dos amantes.
Eu dei risada da expressão engraçada que
ele fez.
— Palhaço — falei entre risos.
— Já pensou? Nós dois na ponte do amor,
sobre o rio Sena? Poderíamos colocar nosso
cadeado lá, fechado, na grade da ponte e jogar a
chave no rio. Permaneceríamos juntos para sempre.
Parei o que estava fazendo e olhei para ele,
chocada com suas palavras românticas.
Mas antes que tivesse oportunidade de
comentar qualquer coisa que fosse, tive minha
atenção roubada por um carro que passou por nós,
com uma galera extremamente eufórica. Reconheci
o Pietro dentre eles.
Romeu deu uma encarada dura, mas não fez
nenhum comentário.
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Estalando as mãos, nervosa, olhei para


nossas coisas empilhadas diante de nós, no chão.
— Acho que vou dar um pulo na loja para
comprar comida e bebida para nós enquanto você
arma a barraca. Que tal?
— Tentando escapar do trabalho sujo,
senhorita Eva González?
Cobri a boca com a mão na intenção de
esconder o sorriso, mas foi inevitável.
— De maneira alguma — murmurei,
consciente da proximidade dele, que dava passos
sorrateiros em minha direção. — Mas tenho plena
convicção de que seus braços fortes farão um ótimo
serviço — brinquei, tentando descontrair.
Notei suas sobrancelhas arquearem-se.
— Braços fortes, hun? — repetiu, divertido.
Dei um gritinho quando fui enlaçada por suas
mãos. — Gosto de saber sua opinião a meu
respeito, anjinha.
O clima, outrora, leve se tornou em algo
mais denso. Coração foi acelerando, minhas mãos
suando, enquanto apertava os bíceps com meus
dedos finos. Os olhos do Romeu pareciam querer
ler a minha alma, e eu não entendia o significado
daquele olhar.
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— Romeu...
Fui silenciada com o toque do seu indicador
em meus lábios. Sua cabeça se inclinou, tocando
nossas bocas num beijo casto, porém recheado de
promessas.
— Preste atenção no caminho para não se
perder — soprou contra meus lábios semiabertos.
— O quê? — perguntei, meio débil,
entorpecida pelo fato de estar nos braços dele.
Sua risadinha me fez piscar.
— A loja, Eva. Eu disse para você prestar
atenção no caminho quando for até a loja. Você não
disse que pretendia ir até lá?
Senti-me boba.
— Ah! — exclamei, afastando-me dele e
colocando algumas mechas de cabelo para trás das
orelhas, de modo a amenizar o desconforto. Eu
ainda não sabia como reagir e me comportar diante
de todas as novas sensações que Romeu estava
causando em mim. — Claro, eu vou.
Comecei a rodar feito uma barata tonta a
procura da minha bolsa, até que o assovio do
Romeu me fez encará-lo.
— Está procurando isso? — Balançava
minha bolsa nas mãos. Fui até ele, que sorria. — Se
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cuida — repetiu.
Rolei os olhos.
— Está certo, papai — zombei, me
afastando.
— Ei? — gritou ele, e me virei,
encontrando-o com o celular na orelha. — Por falar
em papai... — comentou, depois de esticar o
aparelho para mim.
Droga!
Peguei o celular e o cobri com a mão de
modo a abafar o som.
— O que falo pra ele? — questionei
Romeu, num sussurro.
Ele me encarou como se aquela pergunta
fosse doida.
— Que estamos participando de eventos
universitários, oras — falou por fim, como se fosse
algo simples.
Não era algo simples para mim, porque a
verdade é que eu odiava mentir, sobretudo, para
meus pais.
Voltei para a trilha, deixando Romeu para
trás.
Respirei fundo antes de atender.
— Oi, pai.
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— Oh, filha. Por que seu celular está


desligado? — intimou.
Mordi o cantinho interno da boca.
— Está? — Me fiz de desentendida. —
Provavelmente descarregou a bateria e não percebi.
Desculpa, pai — pausei, buscando me concentrar.
— Está tudo bem por aí? Lorenzo está na escola?
— Sim, eu mesmo o levei hoje antes de vir
trabalhar.
— E como está a mamãe?
— Qual delas? — brincou, mesmo sabendo
que eu odiava aquele tipo de brincadeira.
— A única que eu tenho, pai — ralhei. —
Cecílie apenas serviu de incubadora.
— Eva!
Suspirei, porque aquele assunto me deixava
sempre cansada e irritada.
— Não quero brigar — murmurei. Parei de
caminhar, porque já estava ficando sem fôlego.
— Tudo bem — disse ele, igualmente
frustrado. — O que você e Romeu estão fazendo
em Andorra, afinal?
Meu coração começou a galopar no peito.
Sacanagens, pai. Nós estamos aqui para
fazer sacanagens...
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— Está tendo uma série de eventos aqui, e


Romeu e eu estamos aproveitando para preencher
as horas extras obrigatórias na grade. — Engoli em
seco.
Eu era uma filha horrível.
— Entendi. Precisam de dinheiro?
— Não. Estamos bem, pai.
— Que bom! — exclamou. — Fico feliz
que tenha ido com Romeu e não com qualquer
estranho.
— Romeu cuida bem de mim.
Na hora que essas palavras escaparam da
minha boca, um intenso calor se espalhou pelo meu
corpo com a lembrança erótica de todo o clima
sexual ao qual já havia sido submetida por Romeu
e, em tão pouco tempo.
— Eu sei, princesa do pai — disse ele. De
repente, ficou em silêncio por alguns instantes. —
Olha só, mesmo você não gostando, Cecílie quer
vê-la. — Abri a boca para retrucar, mas ele não
deixou: — E trate de agir de acordo com a
educação que eu e sua mãe te demos. Você é
melhor do que isso.
— Entendi, pai — falei num murmúrio.
— Eu te amo, querida.
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— Eu também.
Desliguei, frustrada com toda aquela
situação.

∞∞∞
Eu estava com as mãos entupetadas de
sacolas quando retornei ao lugar que havíamos
escolhido para montar a barraca.
Uma olhada para o horizonte e pude assistir
a despedida do sol, enquanto seus raios deixavam
um lindo mosaico no céu. A visão era espetacular.
Contudo, nem tal beleza foi capaz de
amenizar o desconforto que senti ao me deparar
com a cena de Romeu e uma garota.
Ele estava terminando de organizar nossas
coisas, enquanto sorria de algo que ela estava
dizendo. Em determinado momento, ele parou ao
lado dela a fim de assistir sabe-se lá o quê que ela
lhe mostrava no próprio celular.
Arquejei quando a mão dela repousou no
ombro dele, abusando um pouco mais da
proximidade dos corpos. Romeu não percebeu, mas
eu vi quando, sutilmente, ela virou a cabeça para o

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lado apenas para inspirar o perfume dele.


— Eva! — exclamou ele, quando notou
minha chegada. — Você demorou um pouco.
Sorri, quando ele veio até mim, pegou as
sacolas das minhas mãos e deixou um beijo no meu
pescoço.
— Desculpa. Acabei parando um pouco
enquanto conversava com meu pai — comentei,
encarando a garota, que também não parecia
contente com minha presença.
— Ah, sim. Está tudo bem com o pessoal?
— Está — respondi, esfregando meus
braços por conta do frio, mas também pelo olhar
matador da garota.
Romeu parou na minha frente, preocupado.
— Está com frio — deduziu, passando as
mãos em meus ombros e pelos meus braços
arrepiados. — Sua pele branquinha está
avermelhada.
— Não sou acostumada a fazer esse tipo de
atividade selvagem — brinquei.
Ele riu, abraçando minha cintura.
— Concordo, porque você é muito
princesinha do papai — zombou.
Em seguida, colou a cabeça na dobra do
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meu pescoço, raspando a barba rala em minha pele.


Mesmo zangada por ele ter me chamado de
princesinha do papai, eu não consegui segurar a
risada.
— Romeu! — Tentei sair do aperto dos
seus braços, mas foi em vão. Contorci-me feito
uma lagartixa. Arrepios percorreram meu corpo
todo quando ele começou a dar mordidinhas.
Um pigarro foi suficiente para fazê-lo parar
com a tortura, embora não houvesse permitido que
eu escapasse do seu aperto.
— Bem, acho que vou voltar para junto da
minha turma — disse a garota, olhando apenas para
ele.
— Tudo bem — disse Romeu, sem se
preocupar em nos apresentar.
Nervosa com aquela tensão, eu decidi ir até
ela.
— Muito prazer, eu me chamo Eva. —
Estendi minha mão, porém a mesma foi ignorada.
— Sou Jade — respondeu ela, um tanto
rude para meu espanto.
Deixando-me para trás, ela se aproximou do
Romeu.
— Espero você mais tarde na nossa fogueira
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— disse com a voz melosa. — Será divertido.


Ali, analisando-a, eu comecei a me sentir
deslocada, porque a garota claramente estava dando
em cima do Romeu. Sem contar que ela era muito
atraente; cabelo castanho claro e ondulado, o corpo
era repleto de curvas sensuais, capazes de fazer
qualquer homem refém.
— O que foi?
Pisquei, assim que visualizei o rosto curioso
de Romeu.
Olhei ao redor, me dando conta de que
estávamos sozinhos outra vez. Sequer percebi o
momento em que a garota tinha ido embora.
— Eu acho que sua amiga não gostou de
mim.
Ele franziu as sobrancelhas.
— Ela não é minha amiga. — Afirmou.
Cruzei os braços.
— Não foi isso que percebi quando cheguei
e vi vocês dois juntinhos — resmunguei, usando
mais amargura no tom do que gostaria.
Ele parou e me encarou por algum tempo
até que um sorrisinho bobo tomou conta de seus
belos lábios.
— Está com ciúmes?
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A expressão sarcástica estampada no seu


rosto me irritou.
— Claro que não — quase rosnei.
Fui até a barraca, que já estava
perfeitamente armada, e peguei minha mochila.
Sentia-me irritada sem nem mesmo saber o
motivo.
— Aonde vai? — quis saber.
— Tomar banho.
— Quer companhia?
Olhei escandalizada para ele, que estava
sorrindo sacana.
Safado!
— Agradeço, mas ainda prefiro fazer isso
sozinha.

∞∞∞
A noite estava absurdamente estrelada e
fria.
O lugar encheu de maneira rápida; diversas
pessoas e de vários lugares estavam ali em busca de
aventuras.
Eu me sentia encantada e eufórica com toda

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aquela interação com pessoas novas e


desconhecidas; algo completamente incomum no
meu dia a dia.
No fundo, eu devia isso ao Romeu, que
parecia ter um imã para fazer amizades. Sua
simpatia era tão incrível quanto sua beleza, o que
facilitava tudo, inclusive a disputa de atenção das
garotas.
— Galera, que tal um jogo para esquentar
ainda mais as coisas por aqui? — perguntou Pietro,
soando mais alto do que a música que estava
tocando ao fundo.
Havia um grupo de aproximadamente
quinze pessoas perto da fogueira. Romeu e eu
estávamos lado a lado, sentados num tronco seco de
árvore.
— Verdade ou consequência — gritou uma
garota, que reconheci como sendo a Jade, que
estava conversando com Romeu, longos minutos
antes.
Enquanto a maioria respondia com
empolgação, Romeu me cutucou.
— Vamos?
Tinha tanta travessura no sorriso que ele me
oferecia, que fui incapaz de não sorrir junto.
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— Não sei Romeu...


Ele se levantou e, em seguida, esticou o
braço na minha direção.
— Pare de pensar e apenas viva, Eva.
Concordei, aceitando sua mão, mesmo com
a mente recheada de dúvidas e medos.
Seguimos até a pequena roda formada com
as pessoas que aceitaram jogar, perto do fogo.
Uma garrafa de bebida veio parar na minha
mão. Confusa, olhei para a garota ao meu lado, e a
mesma me estimulou a beber.
— Vai fundo — disse ela, rindo quando
entornei o líquido forte, mas acabei tossindo por
conta da queimação que causou na minha garganta.
— Nunca bebeu vodca, querida? —
perguntou Jade, num tom zombeteiro.
Romeu tirou a garrafa da minha mão.
— Você está bem? — perguntou,
oferecendo-me uma garrafa de água.
— Estou — respondi, sem graça. Mas
aceitei a água.
Romeu sorriu, fazendo um carinho em meu
rosto, o que fez meu coração acelerar.
— Bora começar, galera?
Tivemos nossa atenção roubada por um
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garoto, que colocou uma garrafa de vidro no meio


da roda.
— Verdade ou consequência, moça bonita?
— Veio a pergunta para mim.
Olhei para o Romeu que, como todos os
outros, esperava pacientemente por minha resposta.
— Verdade — respondi.
Minha resposta não foi bem quista pela
maioria, já que a graça do jogo estava em praticar
os desafios, muitas vezes absurdos, da segunda
escolha da brincadeira.
— Alguma vez, você já tomou um porre?
— Não — falei, sentindo-me uma
alienígena. — Sempre bebi socialmente.
Houveram-se alguns resmungos e risadas,
mas o jogo logo seguiu seu curso.
Em determinado momento, a garrafa parou
na direção de Pietro e Romeu. O clima tornou-se
gélido.
— Verdade ou Consequência? — Pietro
perguntou.
Romeu se jogou para trás, apoiando-se sob
as mãos.
— Verdade — disse ele, para o desânimo
das garotas.
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— Você transou ou não transou com a


Kim?
Meu coração só faltou sair do peito devido à
intensidade com que os dois se encaravam. Logo
me lembrei da história contada por Romeu, da
desavença deles.
— Eu transei — respondeu sem um pingo
de remorso. — Você conhece a história, Pietro, por
que se desgastar desse jeito?
— Wou! — exclamou um rapaz, socando o
braço do Pietro, que sacudiu a cabeça, rindo. Mas
eu senti que era uma risada forçada.
A garrafa voltou a girar, e eu ainda estava
tentando absorver o clima pesado que se instalou
quando Jade jogou a pergunta para mim:
— Verdade ou Consequência?
— Verdade.
Ela sorriu, diabólica.
— Você por acaso já chupou um pau,
querida?
Arregalei os olhos, chocada com sua
pergunta.
As gargalhadas perante meu
constrangimento deixaram tudo ainda pior. Romeu
apertou minha mão, instigando-me a olhá-lo, mas
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me recusei. Ao invés disso, respirei fundo, ignorei


o rubor nas bochechas e encarei a garota nos olhos.
— Não, eu nunca chupei.
O alvoroço foi geral, e embora eu me
esforçasse para levar todas as piadinhas na
esportiva, no fundo, eu me sentia um peixe fora
d’água.
Olhei para o Romeu, que sussurrou um:
“Você está bem?” mas eu apenas assenti de modo
positivo.
Os minutos seguintes foram de pura
bagunça e, incrivelmente, eu me peguei dando boas
risadas em determinados momentos. Aquele
ambiente era totalmente diferente do que eu estava
acostumada, assim como a leveza como tratavam
tudo quanto era assunto.
Eu tinha acabado de enxugar o resquício de
lágrimas — causadas por um ataque de risos,
quando um garoto foi desafiado a dançar como uma
bailarina — porém tive meus instintos alertados ao
ouvir a voz da Jade.
— Verdade ou Consequência, Romeu?
Ele deu de ombros.
— Consequência.
Vi-me atenta a cada reação dela, que
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parecia ter acabado de ganhar um presente dos


céus.
— Eu o desafio a me dar um beijo.
O ar abandonou meus pulmões.
Virei a cabeça para o Romeu, mas ele não
se dignou a me olhar de volta; os olhos dele
estavam nela, na garota que só faltava devorá-lo
vivo.
Assisti, em transe, o momento em que ela se
levantou, preparando-se para ter seu desafio
realizado, entretanto, não fui capaz de continuar lá
para ver o que se seguiria.
Enquanto voltava para a barraca, eu ficava
me perguntando o motivo de tanto incômodo, uma
vez que, Romeu e eu não tínhamos uma relação
amorosa, mas a dor estava ali...
Sufocando meu peito.
Apertando minhas entranhas.
Tive noção do tamanho da minha dor
quando senti as lágrimas banhando meu rosto.
Deixei os soluços escaparem livremente assim que
entrei na barraca.
Arranquei meus sapatos e, em seguida, me
enfiei entre as cobertas ansiando desaparecer, ou
melhor, que aquela dor fosse embora.
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— Eva?
Era Romeu.
Enxuguei as lágrimas, não querendo que ele
visse que eu estava chorando. Contudo, continuei
no mesmo lugar e do mesmo jeito, encolhida.
— Eu estou bem — resmunguei.
Ignorando minhas palavras, ele entrou na
barraca, fechando-a.
— Não precisa ficar aqui comigo, Romeu
— falei, sendo sincera. — Você é livre para se
divertir.
Passou alguns minutos até que ele ergueu as
cobertas e se aninhou ao meu lado. Seu delicioso
perfume infundiu em minhas narinas, deixando-me
quase bêbada.
— Por que perderia meu tempo com outras
pessoas sendo que a única que me importa é você?
Mordi os lábios e virei um pouco meu corpo
para poder olhar nos olhos dele. Ele estava com a
cabeça apoiada numa das mãos, e trouxe a outra
mão até meu rosto de modo a limpar o rastro das
lágrimas teimosas.
— Você está chorando... — ele parecia
confuso — Foi por causa daquele desafio ridículo
de beijo? Eu não beijei aquela garota, Eva —
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respondeu sem nem esperar por minha resposta.


Pisquei freneticamente.
— Não? — Nesse momento era eu a estar
confusa.
A mão dele continuou a acariciar meu rosto,
desenhando meus lábios de maneira lenta e
torturante, enquanto seus olhos seguiam cada
movimento.
— Por que beijaria?
Entortei os lábios.
— Não sei. Acho que porque fazia parte da
brincadeira.
Tremi quando sua mão abandonou meu
rosto e passou a acariciar meu ombro,
embrenhando-se em meus cabelos por trás da nuca.
— Foda-se a brincadeira — disse. — A
única boca que desejo beijar é a sua, Eva.
Havia um brilho diferente nos olhos dele,
que me fez arquejar. Umedeci os lábios, nervosa
com aquele olhar ardente.
— Então beija — pedi num surto de
coragem.
A eletricidade que existia entre nós
apareceu de novo, e bem mais forte.
A boca dele tocou meu queixo, fazendo-me
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estremecer toda, enquanto levei minha mão em


seus cabelos. Meus olhos se fecharam
automaticamente assim que seus beijos foram
descendo em meu pescoço. Gemi, quando seus
lábios chegaram próximo da minha orelha, o que o
levou a repetir, mas dessa vez com a língua quente.
Minha respiração travou na garganta
quando minha boca foi tomada de assalto. O beijo
feroz me fez querer gritar, porque o aperto entre
minhas pernas estava se intensificando.
Romeu começou a descer a mão para baixo,
passeando com ela pelo meu corpo.
Vagarosamente, ele passeou os dedos pelos meus
seios, apertando um e depois o outro. Percebendo
que eu não fiz menção em parar suas investidas, ele
deslizou um pouco mais para baixo e decidiu tocar
minha pele diretamente. Soltei um gemido com a
boca colada à dele quando ele voltou a segurar
meus seios, dessa vez beliscando os mamilos por
dentro do sutiã.
— Ah, que delícia, Eva — gemeu, quando
deixei minha língua passear pelo seu pescoço,
subindo até pouco abaixo da sua orelha, e ele
estremeceu sob meus braços.
Minha calcinha estava ensopada diante de
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todas as carícias que estávamos compartilhando.


De repente, meu peito ficou em chamas,
inflado por uma sensação de pânico, euforia e
expectativa quando Romeu começou a desabotoar
minha calça.
— Posso... tocar em você? — A voz dele
saiu rouca, surpreendendo-me pelo efeito que eu
estava causando nele.
Fiz que sim com a cabeça, porque estava
com a voz sufocada, e os olhos dele brilharam de
excitação.
Como ainda estávamos com as cobertas por
cima de nós, tomei coragem e aproveitei para tirar a
calça e facilitar as carícias.
Apertei o rosto do Romeu, junto ao meu,
quando a mão dele entrou na minha calcinha. Os
gemidos dele quase me fizeram gozar.
De repente, ele retirou a mão, mas antes que
eu tivesse tempo de reclamar, fui pega
desprevenida quando visualizei o momento em que
ele levou os dedos diretamente à boca, sugando os
dedos que, outrora, estavam em mim.
Fiquei assustada com o quanto aquela cena
era erótica e excitante.
— Seu gosto é uma delícia — sussurrou,
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voltando a me tocar lá embaixo. Primeiro por cima


da calcinha, depois por dentro. — Você está tão
molhada, Eva... — sua voz soou áspera. Senti seu
hálito quente na minha orelha; ele passou a língua
nela.
Levei minha mão por baixo da sua
camiseta, ansiando sentir a maciez da sua pele em
meus dedos. A verdade é que naquele momento, eu
tinha perdido qualquer controle sobre meu corpo e
minha mente.
— Está gostoso? Se quiser, eu paro —
disse, lambendo e mordendo meu pescoço,
enquanto movimentava os dedos lentamente entre
minhas pernas abertas.
— Não! — exclamei em pleno desespero e
ele deu uma risadinha.
— Não o quê? Está gostoso? Ou quer que
eu pare?
— Não... ouse parar, Romeu... — gemi,
assustada com o tom carregado da minha voz.
Um redemoinho começou a nascer no meu
baixo ventre, pouco a pouco ganhando força
conforme os movimentos dos dedos hábeis do
Romeu aceleravam em meu ponto mais sensível.
Involuntariamente, minhas costas
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abandonaram o colchão.
— Oh, meu... Romeu...
Fechei os olhos com força e mordi os
lábios, e minhas pernas começaram a tremer.
— Assim mesmo, anjinha, lambuze meus
dedos com o seu mel — disse ele, selvagemente. —
Mas olhe para mim — exigiu. — Veja quem é o
causador de todo esse frenesi.
Com isso, eu olhei para ele, e seu olhar
ardente fez com que eu perdesse o controle de vez,
e então me deixei cair.
— Romeu...
— Isso... — seus dedos lentamente foram
perdendo a força. — Deixe vir...
Sua boca desceu até meu seio, por cima da
camiseta, onde mordeu minha carne de leve.
Meu coração ainda batia descompassado no
peito quando senti sua mão sair de dentro da minha
calcinha.
Meu rosto ficou ainda mais vermelho
quando o vi levá-la ao nariz, cheirando os dedos
lambuzados.
— Acho que nunca mais vou lavar essa mão
— disse, sorrindo consigo mesmo.
Dei risada, me sentando e cutucando a
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barriga dele, que se encolheu, também sorrindo


brincalhão.
A atmosfera ainda estava pesada, e eu não
sabia como me expressar. Odiava não saber das
coisas.
Olhei para baixo, notando o impressionante
volume entre as pernas dele.
— Você quer que eu... — não conclui o
pensamento, mas Romeu entendeu.
Observei quando ele retirou a camiseta e,
em seguida, se deitou outra vez.
— Venha — convidou-me para deitar em
seu peito.
Fiz exatamente o que meu corpo ansiava e
me aninhei naquele corpo lindo e quente como o
inferno. Senti um beijo em minha testa.
— Teremos tempo até você estar pronta,
querida. Não se preocupe com meu tesão.
Não falei nada, apenas fiquei mordendo
meu polegar, pensativa.
Romeu estava deixando meus sentimentos
confusos; fazendo-me sentir coisas que eu nem
sabia ser capaz de sentir. Porém no fundo, o medo
de ter meu coração partido ainda gritava com toda a
força.
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Dez

Romeu

Eva dormiu, deliciosamente, em meus


braços, contudo, eu não consegui me desligar assim
tão fácil. Meu corpo ainda ardia com o tesão
desenfreado que ela me causou, longos minutos
atrás.
Era incrível a minha dificuldade em
administrar tudo o que Eva vinha causando em
mim, mesmo ela não tendo qualquer tipo de
experiência.
O rubor, os toques leves e indecisos, a
maneira delicada e, ao mesmo tempo, urgente com
que me beijava.
Tudo era novidade.
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Cada detalhe era uma descoberta para ela,


que aos poucos vinha se tornando mais confiante de
si mesma.
Ali, deitado de lado e admirando-a ressonar
tão serena, cheguei a conclusão do quanto ela era
especial na minha vida e, em todos os sentidos.
Chegava a ser assustador o medo que eu tinha de
perdê-la.
— Prometo que jamais vou magoar você,
anjinha — soprei, desenhando seus doces lábios
com o polegar antes de me inclinar para tocá-los
com os meus de maneira casta. — Você é tudo de
mais lindo que eu tenho.
Voltei a me deitar, puxando seu frágil corpo
junto ao meu, ouvindo-a resmungar baixinho. Sorri,
consciente de que poderia facilmente me acostumar
com aquele cenário.

∞∞∞
Fui acordado de modo tão carinhoso que
quase quis permanecer fingindo que ainda dormia
apenas para continuar sendo beijado por Eva. O
perfume delicioso dela infundiu minhas narinas,

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enviando uma corrente elétrica, direto para o meio


das minhas pernas.
— Acorda, Romeu — pediu, começando a
me beliscar, já sabendo que eu estava acordado. —
Está um lindo dia lá fora — complementou.
Lentamente abri os olhos, me deparando
com aquele lindo mar castanho diante de mim. Eva
estava ajoelhada ao meu lado, sorrindo feito o anjo
que era.
Sua expressão estava animada, o que me
dizia que seus planos para as próximas horas
seriam intensos e bem divertidos.
Erguendo-me, eu me sentei, piscando um
pouco para fazer minha mente funcionar. A
verdade é que só consegui dormir perto do
amanhecer do dia, então meu cérebro estava bem
pesado.
Eva me ofereceu uma garrafinha pequena
de suco de laranja e um pacote de bolachas.
— Seu café da manhã — disse. — Ou se
quiser, nós podemos ir até o restaurante —
convidou, sorridente.
Não aguentei e segurei sua cabeça,
puxando-a para roubar um beijo.
— Argh, Romeu — resmungou, limpando a
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boca. — Você está com mau hálito matinal —


reclamou, enquanto eu tentava atacar sua boca
outra vez, com ela se esquivando e rindo. —
Romeu! Para, Romeu!
Fomos interrompidos.
— Ei, casal? — Alguém chamou do lado de
fora da barraca. — Por acaso gostariam de
participar de uma partida de vôlei?
Eva olhou para mim, esperando que eu
tomasse a decisão final.
— Já estamos indo — respondi, observando
o lindo sorriso que brotou nos lábios dela. Ela
parecia realmente animada.
— Ok — devolveu a pessoa no lado de fora.
— Não demorem.
Quase revirei os olhos, mas o sorriso de Eva
freou meu impulso. Ainda olhando nos olhos dela,
eu abri o pacote da bolacha.
— Quer conversar sobre o que aconteceu
ontem? — perguntei, levando um biscoito
amanteigado a boca.
Ela não esperava pela minha pergunta,
porque desviou o olhar, tornando-se inquieta.
— Eva, você não precisa se envergonhar —
pedi, tocando seu queixo e trazendo seu olhar de
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volta ao meu. — Ontem, eu a fiz gozar nos meus


dedos e foi a cena mais erótica que já presenciei na
vida.
Suas sobrancelhas se franziram enquanto
ela analisava minhas palavras. Parecia estar
absorvendo-as.
— Não minta, Romeu — acusou, zangada.
— Ambos sabemos que você já teve com muitas
garotas.
— Mas nenhuma como você — garanti. —
Você é única, Eva, e não apenas pelo fato de ainda
ser virgem, mas por ser você, entende? Sou
apaixonado pela sua essência.
Os olhos dela se arregalaram diante do que
falei, então tratei de complementar:
— Me orgulho da garota incrível que você
é, anjinha.
Sorrindo, ela baixou a cabeça e, em seguida,
se ajeitou ao meu lado, ombro a ombro.
— Obrigada — disse no fim.
— Pelo quê? — perguntei, antes de beber
um gole generoso do suco.
— Por tudo. — Sua cabeça se virou na
direção da minha. — Você sempre esteve comigo
em todos os meus passos, e agora com a...
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— A ideia maluca de ensiná-la a transar? —


completei seu raciocínio. — Não esquenta! Vai ser
moleza. — Pisquei, brincalhão e fui estapeado.
— Palhaço.
Apenas dei risada, enquanto dividia o
pacote de bolachas com ela.
— Será sempre daquele jeito? — perguntou
ela, quebrando o silêncio que havia se estabelecido
entre nós.
Olhei para ela, que continuava de cabeça
baixa, mas entendi muito bem a que assunto ela
estava se referindo.
Sorri, arrogante.
Novamente levantei seu queixo, porque me
deleitava com a timidez expressa em suas adoráveis
bochechas.
— Quando eu, finalmente, tocá-la lá
embaixo com a minha língua, Eva, você sentirá
como se o seu corpo, principalmente, a parte do
ventre, virilha e pernas se enrijecessem com uma
forte tensão, até que subirá uma onda de calor
muito grande e um frio na barriga, uma euforia
tomará conta de você, que poderá ter até
gargalhadas espontâneas, ou até mesmo chorar.
— Sério? — questionou, abobalhada e, eu
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quase beijei seu narizinho enrugado.


Levei uma das mãos ao seu rosto, juntando
a mexa de cabelo atrás da sua orelha.
— Porém, quando eu estiver entre suas
pernas com meu pau, anjinha, será um misto de
sensações… Seu corpo vai tremer, as pontas dos
pés ficarão queimando, enquanto você terá vontade
de se contorcer e fazer barulho, mas também terá
uma sensação de liberdade — pausei, analisando as
reações dela. — É isso o que queremos, não? —
sussurrei, deixando minha boca a centímetros de
distância.
Observei o movimento da sua garganta,
quando ela engoliu com dificuldade. Era possível
observar o subir e descer de seu peito com sua
respiração entrecortada.
— O quê? — Sua voz não passou de um
murmúrio.
Trouxe minha mão para seu rosto,
acariciando com carinho e calma.
— Fazê-la livre de todas as amarras —
respondi. — Desprendê-la de todos os medos, hun?
— Ela assentiu, hipnotizada.
Prestes a beijá-la, sua voz soou sarcástica.
— Você ainda está com mau hálito.
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Joguei a cabeça para trás, gargalhando. Era


realmente surpreendente que eu me deliciasse com
a sinceridade absurda dela, uma vez que, nenhuma
garota já chegou a se recusar a me beijar em tais
circunstâncias.
— Tá legal — resmunguei, esticando-me
para remexer nas minhas coisas. — Vou ao
banheiro e já aproveito para escovar os dentes.
Ela assentiu.
Antes de sair, eu me virei para ela.
— Se quiser, pode ir conversar com o
pessoal enquanto eu não chegar — expliquei. —
Assim, você não ficará sozinha.

∞∞∞
Quando pedi para que Eva se enturmasse
com a galera, não imaginei que ela levaria tão a
sério minhas palavras.
De volta ao acampamento, a primeira cena
que meus olhos visualizaram foi a proximidade da
Eva com Pietro, que pareciam alheios ao restante
do pessoal ao redor deles. Odiei que ele estivesse
arrancando sorrisos dela, quando aquela função

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deveria ser única e exclusivamente minha.


— Romeu! — Jade exclamou quando me
aproximei deles, depois que deixei minhas coisas
na barraca. Eva estava sentada ao lado de Pietro,
permitindo que ele deslizasse a mão em seus
cabelos. — Que tal formar uma dupla comigo?
Irritado, porém tentando raciocinar e prestar
atenção no que aquela garota estava falando, voltei
meu olhar para ela.
— O que disse?
— Está combinado — gritou Pietro,
puxando Eva pela mão. — Eu e Eva, contra Romeu
e Jade — concluiu.
Meu maxilar trincou, enquanto assistia
minha garota nos braços de outro.
Jade soltou uma risada eufórica, enquanto
dava pulinhos, feito uma criança. Aceitei quando
sua mão buscou a minha, porque sabia que Eva
estaria olhando e, internamente, torcia para que ela
se sentisse tão incomodada com a situação quanto
eu.
Uma rápida olhada na direção dela e peguei
sua expressão irritada. Debochado, mandei um
beijo no ar.
A bola foi lançada e a partida começou.
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Surpreendi-me quando o restante da galera se


dividiu entre as torcidas, a maioria estava torcendo
para Eva e Pietro, o que me deixou ainda mais
revoltado.
Minha fúria aumentava a cada oportunidade
que Pietro se aproveitava para resvalar no corpo
dela, abraçando e segurando Eva em momentos que
ele pensava que ela fosse cair. No começo do jogo,
eu até pensei em causar ciúmes, mas a verdade é
que aquilo estava ficando ridículo e já estava
saindo do controle. Ou melhor, o meu controle já
estava se esvaindo.
Era a minha vez de sacar, então me
posicionei lá atrás e num impulso mirei a bola na
direção do Pietro, que bloqueou, mas a bola repicou
e Eva rebateu, mas acabou trombando no corpo de
Pietro, que não perdeu a chance de cair em cima
dela. Os dois se embolaram no chão.
Meus olhos perderam o foco e tudo o que
consegui enxergar foi vários tons de vermelho.
Marchei até eles como um touro furioso e
descontrolado, passando por debaixo da rede e
erguendo Pietro num puxão.
— Tira a porra das suas mãos dela —
rosnei, ameaçadoramente, jogando-o longe. — Se
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você voltar a tocar nela de novo...


— Romeu, já chega. — Eva apertou meu
ombro, mas ignorei seu pedido. Pela primeira vez, a
voz dela não serviu como calmante.
— Ah, entendi. — Pietro zombou, se
levantando. — A regra de comer a mulher dos
outros só serve para você.
— Eu não sabia que aquela garota era sua,
caralho! — murmurei pela milésima vez. — Será
que não entende que Kim era uma vadia? Ela não
deu a boceta apenas para mim, mas para vários
caras naquela noi...
Fui calado por um soco na boca.
Felizmente, a distração foi momentânea, porque
logo me recuperei e ameacei avançar contra ele,
que estava sendo segurado, mas o rosto de Eva
surgiu no meu campo de visão, freando meu
impulso.
— Já chega, Romeu — exigiu, segurando-
me pelo braço. — Vocês estão estragando a
diversão dos outros! Daqui a pouco os funcionários
do lugar expulsarão todo mundo por causa dessa
briga ridícula de vocês dois.
Mordi o maxilar com força, odiando que ela
estivesse certa.
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Bufei e acabei me afastando, soltando-me


do seu toque com um safanão. Comecei a caminhar
sem rumo, seguindo uma pequena trilha.
— Romeu, espera.
Eu estava muito irritado.
— Romeu! — Eva insistiu.
Parei, respirando fundo antes de me virar
para ela, que freou os passos diante do meu olhar
feroz.
— Eu não gostei de ver você nos braços
daquele idiota — rosnei, deixando a sinceridade
deslizar pela minha língua.
Eva cruzou os braços, empertigada.
— Foi um acidente, Romeu — defendeu-se.
— Além do mais, por que está me cobrando sendo
que também estava trocando carícias com aquela
garota?
Franzi a testa.
— Mas eu não estava trocando carícias com
ela.
— Não minta! — rosnou tão irritada
quanto. — Você sabe muito bem que ela está doida
para ser fodida, então não se faça de desentendido.
Semicerrei os olhos.
— Você está tentando virar o jogo, Eva —
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acusei. — Mais cedo, depois que voltei do


banheiro, vi você bem próxima daquele otário.
— Estávamos conversando como duas
pessoas normais — disse ela, fadigada.
— Ok. Então acho que você não ligará se eu
começar a conversar mais com a nossa amiga Jade
— provoquei.
— Argh! Você é muito criança, Romeu.
Segurei-a no momento em que ela
tencionava se afastar. Ela estava de costas para
mim, enquanto meu corpo todo a abraçava por trás.
Adorei ouvir seu arquejo.
— É apenas medo de perdê-la, Eva —
confessei. Em seguida, virei seu corpo de frente
para mim. — Me mordi de ciúmes quando aquele
filho da puta colocou as mãos em você.
— E eu quando aquela vadia... — arregalei
os olhos diante de sua forma raivosa de falar —,
sim, eu disse vadia, porque é exatamente o que Jade
é. Detesto quando ela coloca as garras em você a
cada oportunidade.
Meu coração acelerou diante daquela
confissão. Tudo estava acontecendo tão rápido e de
maneira tão intensa entre nós, que era impossível
não sentir um friozinho na barriga.
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— O que vamos fazer?


— Agora?
Assenti com a cabeça.
Não previ o movimento seguinte quando fui
lançado para trás com um empurrão, gritei quando
caí com tudo dentro da água fria do riacho.
— Hora de esfriar a cabeça, garanhão. —
Eva gritou, divertida, enquanto retirava os sapatos e
se preparava para pular também.
A água espirrou para todos os lados com o
impacto. A risada dela era contagiante, enquanto
tentava com todo afinco me afundar. Segurei seu
corpo, levando seus braços para trás de suas costas
de modo a tê-la rendida. Nossas risadas foram
parando aos poucos, conforme os olhares foram se
intensificando. Ambos sabíamos que havia alguma
coisa diferente acontecendo entre nós, mas
ninguém ousava falar nada.
— Eu quero beijar você — falei num
sussurro.
O peito dela subia e descia com rapidez,
enquanto olhava para minha boca com desejo.
— Então beija.
Soltei seus braços, que logo vieram parar no
meu rosto, enquanto nossas bocas se chocavam
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com urgência e algo mais. Beijar Eva nunca era


igual, sempre havia uma emoção nova, uma
sensação diferente a cada toque da língua macia.
Uma corrente elétrica acendia cada célula do meu
corpo, deixando-me consciente e alerta da
excitação que somente um beijo dela me fazia
sentir.
Ousada, ela enrolou as pernas ao redor da
minha cintura, enquanto nos beijávamos como se
não houvesse amanhã. Fiquei surpreso, mas não
falei nada, uma vez que, não seria capaz de frear os
impulsos dela quando nem mesmo conseguia fazer
isso com os meus.
— Hora do banho de rio, galera! — Alguém
gritou.
Assustados, ambos nos separamos para
olhar em volta. Água espirrou por todos os lados
quando, um a um, o pessoal começou a se jogar
dentro do riacho.
Eva me encarou com um sorriso travesso
nos lábios, e, divertida, se afastou, batendo com as
mãos na água, de modo a me molhar um pouco
mais.
Ela estava me provocando.
— Ah, você quer guerra, hun? — perguntei,
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nadando até ela, que se afastava, mas não tão rápida


o suficiente para que eu não conseguisse pegá-la.
Comecei a girá-la, adorando o delicioso
som da risada que escapava dos seus lábios que,
outrora, estavam colados nos meus.
Se dependesse de mim, faria tudo o que
estivesse ao meu alcance para arrancar mais e mais
sorrisos como aquele.

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Onze

Eva

Romeu e eu decidimos passar o restante do


sábado, isolados, considerando que o clima ainda
estava bem carregado entre o pessoal a respeito de
tudo o que aconteceu mais cedo.
Eu não queria ter que pensar em toda a
bagunça que minha nova relação com ele estava
causando dentro do meu peito, mas a verdade é que
não havia como ignorar que algo diferente estava
surgindo. Honestamente, minha mente teimava em
afirmar que o sentimento já existia — apesar de
escondido — porém aflorou-se com a enorme gama
de acontecimentos dos últimos dias.
Embora o medo existisse, o típico friozinho
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na barriga também, porque as emoções e sensações


eram reais. As novas descobertas não se isolavam
apenas às reações do corpo, mas em algo mais.
E era esse algo mais que estava fervendo na
minha cabeça.
— O que você tanto olha nesse laptop? —
perguntei, ansiando mudar o rumo dos meus
pensamentos perturbadores. A noite estava
silenciosa fora da barraca, contradizendo a
turbulência dentro da minha mente.
Romeu virou a cabeça para me encarar.
Seus olhos tinham o poder de me deixar de pernas
bambas, mesmo estando sentada.
— Estou estudando um e-mail que recebi do
José — disse ele. — Há um pouco mais de um mês,
o procurei para que me ajudasse com meus planos
de abrir minha própria empresa de Games.
— O quê? Como assim? — Minhas
sobrancelhas se arquearam. — Você nunca
comentou sobre isso comigo. — Não queria que
minhas palavras houvessem saído em tom de
cobrança, mas foi inevitável.
— Mas você sempre soube da minha paixão
por games, Eva.
— Sim, mas não sabia que isso seguiria
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para o lado profissional também.


Ele abaixou a tampa do laptop e o colocou
de lado. Em seguida, deu uma batidinha no colo,
num convite silencioso.
Entendendo o recado, eu me ajeitei e deitei
a cabeça sobre suas pernas.
— Você se lembra do casal de gêmeos,
amigos meus?
Assenti.
— Você vive grudado neles, Romeu —
comentei, divertida. — Não há como me esquecer
dos dois.
Rimos.
— Então, eles também são apaixonados por
tudo que é relacionado a jogos e tecnologia —
explicou. — Juntos, nós estamos trabalhando num
projeto de criação, nosso primeiro jogo de corrida.
— Uau! Que incrível! — exclamei,
verdadeiramente feliz, porque era possível sentir a
euforia em cada palavra pronunciada.
— A princípio, eu não pensava em algo tão
abrangente, sabe? Apenas estava compartilhando
de algo que realmente gosto e que me sinto
realizado — explicou. — Mas aí, conversei com o
José a respeito dos riscos de se abrir uma empresa
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de Games, e ele me deixou a par de todos os


detalhes. Minha mente se abriu e agora consigo ver
um leque de possibilidades.
— Fazer jogos não é o mesmo que jogar.
Quem montar uma empresa de games tem que estar
disposto a fazer jogo sobre tudo, inclusive sobre o
que não gosta.
— Sei disso. Entendi que Game não é só
entretenimento — falou, acariciando meus cabelos.
— Estou pensando em jogos para áreas de
publicidade, educação, simuladores, treinamento
militar e até para seleção de emprego.
— Também tem as plataformas, rede social,
tablet, celular — lembrei-o, tão entusiasmada
quanto. — Para desenvolver jogos para consoles
mais famosos, é necessário experiência prévia para
que o fabricante abra sua tecnologia para sua
empresa.
— Exatamente. — Ele se inclinou para
poder depositar um beijo casto em meus lábios
sedentos. — Estou consciente que preciso fazer o
jogo que as pessoas querem e não o que eu quero
jogar.
Sorri, orgulhosa dele.
— Seu pai já sabe?
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Ele negou.
— Você sabe que isso não é o tipo de coisa
que ele aplaudiria, Eva — queixou-se com um leve
toque de tristeza. — Os sonhos dele para mim são
outros.
— Acho que você está enganado —
contrapus. — Pode até ser que o tio David tenha
outros planos para você, mas não significa que
pretende passar por cima dos seus sonhos. Antes de
tudo, vem a família. Esqueceu-se do lema dos
González? — brinquei, fazendo-o sorrir
lindamente.
— Você tem razão. — Afirmou, respirando
forte. — No fundo, acho que estou com medo de
decepcioná-lo. É difícil quando expectativas são
lançadas sobre nós de modo que nos obrigue a
seguir apenas o caminho dos acertos.
— Errar faz parte da trilha.
Romeu ergueu os joelhos, e com isso minha
cabeça ficou mais próxima da dele.
— Obrigado — soprou, unindo nossos
lábios. — Pretendo conversar com Laura e Edu
antes de qualquer coisa.
— Acho válido que você me contrate como
sua assessora pessoal — brinquei, mordendo os
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lábios para segurar o riso.


Ele fingiu estar chocado.
— Assessora, hun? — instigou, oferecendo-
me um olhar safado. — Como CEO e seu chefe, eu
poderei me aproveitar do seu corpinho?
Dei risada.
— Com a minha permissão? Sempre.
Ele voltou a me beijar, um pouco mais duro
dessa vez. As mãos passearam em minha nuca,
causando-me arrepios por todo o corpo.
Porém, senti certa cautela da parte dele e,
não era isso que eu queria. Tudo dentro de mim
ansiava por mais. Gritava por loucuras e selvageria.
De repente, me afastei.
— O que foi? — Ele parecia confuso.
Mas no instante seguinte, eu me ajeitei em
seu colo, com as pernas abertas. Ambos estávamos
com calças de moletom, então era possível sentir
um contato maior de nossos corpos.
— Eu quero mais, Romeu — falei,
enrolando seu pescoço com meus braços e
buscando sua boca para beijar, porque temia que a
coragem me abandonasse.
Porém, para minha frustração, ou irritação,
Romeu empurrou a cabeça para trás.
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— Mais? — Havia um brilho devasso nos


olhos dele, que analisava minuciosamente meu
rosto rubro. — O que significa esse mais?
— Quero voltar a sentir aquela sensação
que você causou em meu corpo ontem — respondi,
embora morrendo de vergonha. Tentei esconder
meu rosto na dobra do seu pescoço, mas ele não
deixou.
Sua risadinha piorou ainda mais as coisas.
— Quer que eu faça você gozar?
Assenti, muda.
Pegando-me desprevenida, porém de uma
forma que me deixou ainda mais quente, ele
enrolou meus cabelos com uma única mão,
enquanto a outra espalmava em minhas costas.
— Então sinta...
Sua mão — nas minhas costas —
impulsionou meu corpo para frente no mesmo
momento em que seu próprio quadril se ergueu, me
fazendo sentir sua rigidez entre minhas pernas.
Pequenos choques envolveram todas as
minhas terminações nervosas.
— Romeu...
Eu estava assustada com aquele contato,
mas Romeu repetiu o movimento, dessa vez
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impondo mais força e, eu gemi contra a boca dele.


Suas duas mãos subiam e desciam em
minhas costas e no meu traseiro, conforme ambos
ditávamos o próprio ritmo dos movimentos. Minha
calcinha estava totalmente encharcada, enquanto o
latejar constante dos nossos sexos, em pleno
contato, deixava claro a abundante excitação.
— Porra, Eva... — gemeu, com dificuldade
de respirar — Consigo sentir o calor da sua
bocetinha...
Aquele jeito rude de falar, incrivelmente,
serviu para aumentar minha excitação, o que me
deixou confusa. Talvez se devesse ao fato de
aquelas palavras chulas terem saído da boca do
Romeu.
Era isso.
Era por causa dele.
Era por ser ele.
Joguei a cabeça para trás, dando livre
acesso ao meu pescoço. Romeu começou a beijar
minha garganta, arrastando a língua quente e macia
pela minha pele sensível e suada. Calor irradiava
por meus poros. Eu podia sentir o quanto meu rosto
estava vermelho com a aproximação do orgasmo.
No final das contas, Romeu decidiu deixar o
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controle em minhas mãos, então passei a me


esfregar, desavergonhadamente, sobre ele com todo
o desejo que vibrava através de cada célula
existente em mim.
Minha respiração ofegante equiparava-se
com a dele, que lambia e mordia meus lábios, tão
desesperado por libertação quanto eu.
Minha mente já não controlava mais nada,
porque tudo o que berrava aos meus ouvidos era a
vontade insuportável de gozar. Era aquela pressão
deliciosa e, ao mesmo tempo, desesperadora no
meu baixo ventre e que, aos poucos, tomava conta
do meu corpo todo.
Era tão carnal.
Parecia tão malditamente errado.
Com os olhos semicerrados, segurei o rosto
de Romeu com minhas duas mãos e ele fez o
mesmo com o meu. Nossos lábios foram unidos no
mesmo instante em que senti a pressão aumentar
sobremaneira, causando-me um frenesi maluco que
quase me fez perder o ar.
— Oh, céus, Romeu... por favor, por favor...
Eu sequer sabia o motivo de estar
implorando, muito menos ao quê, eu estava
implorando. Entretanto, a agonia estava lá,
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deixando-me de pernas bambas e buscando por


alívio.
Foi quando Romeu apertou meu corpo,
colocando a ereção dele bem em meu ponto
sensível e, friccionando tão deliciosamente, que
não consegui segurar a explosão. Meus olhos se
reviraram nas órbitas, enquanto tudo o que eu
conseguia era me concentrar na sensação de leveza
que inundava todo o meu ser.
Meu coração batia descompassado, então
enrolei o pescoço do Romeu e o segurei com força,
deitando minha cabeça em seu ombro, enquanto
lutava para fazer minha mente voltar a funcionar.
Nenhum de nós dois parecia ter coragem de
falar nada, então permanecemos naquela posição
por longos minutos.
— Eva? — Veio o sussurro dele, quebrando
o silêncio. Suas mãos deslizavam lentamente por
minhas costas.
— Hun? — Eu me sentia sonolenta.
— Estou todo molhado.
Pisquei, rapidamente tentando absorver suas
palavras. Afastei minha cabeça para poder encará-
lo nos olhos. Em seguida, olhei para baixo e
percebi a umidade em nossas calças.
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Franzi o cenho, constrangida.


— Isso tudo é... meu? — Engasguei, mas a
risada dele amenizou meu desconforto.
— Não, anjinha. — Sua mão acariciou
minha bochecha. — Eu também gozei, e confesso
que foi um dos melhores orgasmos da minha vida.
Meu rosto voltou a se tornar quente.
— Verdade? — indaguei num sussurro.
Ele se lançou para frente, abraçando-me
com um cuidado cortante.
— Sim. — Sua boca buscou a minha. —
Foi delicioso sentir a sua ânsia em gozar sobre o
calor do meu pau — disse com aquele palavreado
chulo. Porém o brilho devasso presente em seus
olhos não me permitiu falar nada. — Você,
finalmente, está se permitindo, Eva. E isso é lindo.
Você é toda linda.
Acabei rindo da expressão fofa que ele fez
no final da frase.
— Bobo.
— Sou nada — falou, deixando
mordidinhas em meu pescoço.
Comecei a dar risada, porque sua barba rala
estava me causando cócegas. Acabei me deitando,
com Romeu ainda em cima de mim, enchendo-me
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de beijos.
Naquele momento, me dei conta de que
aquele era o cenário que sempre almejei. O carinho
e cuidado do Romeu, além de todas as novas
sensações que ele estava me proporcionando.

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Doze

Romeu

O domingo mal amanheceu e Eva e eu já


tínhamos deixado a zona de campismo. Uma,
porque já não tinha mais sentido continuarmos ali
depois de todo o clima desconfortável com Pietro, e
outra, porque ambos teríamos aula no dia seguinte.
Durante o trajeto até Pont de les Salines, na
Cabana dos meus pais, eu permanecia pensativo
quanto a tudo o que vinha acontecendo e o que
seria de nós dois dali por diante.
Era óbvio que nossa relação não voltaria a
ser como antes, considerando toda a intimidade que
compartilhamos nos últimos dias, mas era
impossível não permitir que a agonia do medo do
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desconhecido invadisse meu peito. Eva era meu


pedacinho do céu, e tocá-la tinha se tornado a
melhor sensação que já tive a sorte de
experimentar, então não saberia mais como viver
sem ela daquela forma íntima.
— O que foi? Está sério.
Olhei para ela de soslaio, enquanto
mantinha a atenção na estrada.
— Estou apenas pensativo — respondi,
forçando um sorriso. — Preocupado com nosso
retorno, na verdade.
Pelo canto do olho, vi que ela mordeu os
lábios e virou o rosto para a janela.
— Também estou — disse.
O silêncio voltou a invadir o carro, mas
dessa vez de forma tensa.
Nervoso com aquilo, eu levei a mão do
câmbio até a coxa dela, apertando a carne por cima
da calça jeans. Isso me fez ter sua atenção de volta.
— O importante é estarmos juntos,
entendeu? — Ela assentiu. — O restante virá com o
tempo. Acredito que tudo dará certo no fim. Confia
em mim?
— Sim, eu confio — disse, com um lindo
sorriso.
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Meu telefone começou a tocar, quebrando


nosso momento. Eva pegou o aparelho no porta-
luvas.
— É o seu pai — disse ela, quando leu o
nome no visor.
Praguejei baixinho.
— Quer que eu recuse?
Neguei.
— Se recusar, ele vai pensar que alguma
coisa está errada e será capaz de mandar a CIA
atrás de nós. — Rolei os olhos.
Mal terminei de falar e Eva decidiu atender:
— Oi, tio — disse no rotineiro tom doce.
Em seguida, colocou a chamada no viva-voz para
que eu também pudesse ouvir.
— Oi, querida. O Romeu está por aí? — A
voz do meu pai ressoou no interior do carro.
Ela me encarou, mas como não fiz menção
de falar nada, ela respondeu:
— Ele está sim, mas não pode falar agora,
tio, porque está dirigindo. Estamos voltando para o
Campus hoje.
— Ah, estão?
— Sim.
— Essa é uma boa notícia, porque preciso
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que Romeu faça um favor para mim — disse ele,


tendo minha total atenção, mesmo que eu
continuasse em silêncio. — Há uma moça, fazendo
intercâmbio na Universidade, que se interessou por
um dos nossos programas de estágios. E eu gostaria
que o Romeu a levasse até a filial de Barcelona, já
que ele sabe como tudo funciona. — Deu uma
risadinha orgulhosa no final.
Eva se retesou um pouco.
— Pode ficar tranquilo que aviso o Romeu
e peço para que ele retorne a ligação assim que
possível, tudo bem?
— Obrigado, querida. Se cuidem!
Assim que a ligação foi encerrada, senti que
o clima havia se tornado uma geleira.
— Quem é essa tal garota? — intimou, sem
se preocupar em esconder a irritação na voz.
Franzi a testa, chateado com a situação.
— Wou! Como vou saber? — revidei,
também irritado. — Por acaso você ouviu meu pai
mencionar nomes? — Fui rude.
Ela ficou quieta, e pelo canto do olho, vi
que tinha cruzado os braços. Parecia bem indignada
e, por um momento, desejei morder o biquinho em
seus lábios carnudos.
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— Eva... — tentei tocar novamente em sua


perna, mas ela impediu:
— Não me toque! — rosnou, batendo em
minha mão.
Indignado, joguei o carro no acostamento.
Tirei o cinto, abri a porta e saí do veículo.
Em seguida, dei a volta e abri a porta do
carona.
— Desce — exigi, sem paciência. — Não
me faça repetir, Eva.
Praguejando, ela tirou o cinto e saiu. Assim
que desceu, meu corpo a prensou contra a lataria do
carro, deixando-a presa.
— Você está sendo infantil e ciumenta —
falei, segurando seu queixo para obrigá-la a encarar
meus olhos sérios. — No fundo, não julgo você,
porque tudo entre nós está sendo muito intenso e
bem difícil de administrar — amenizei o tom. —
Mas, eu juro que não faço a menor ideia de quem
seja essa garota, Eva.
Os olhos dela se tornaram marejados,
deixando-me extremamente consciente de que o
tsunami de emoções dentro do meu peito, também
era o mesmo dentro dela. Estávamos os dois
perdidos.
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— Nós estamos voltando, Romeu... —


sussurrou ela. — Estamos voltando e, eu sei que as
coisas voltarão a ser como antes.
Amoldei seu rosto com minhas mãos,
querendo que ela enxergasse a verdade em meus
olhos.
— Nada será como antes, eu prometo.
Ela mordeu os lábios antes de avançar a
boca sobre a minha com uma urgência
avassaladora. Uma das minhas mãos estabeleceu-se
em sua cintura fina, enquanto a outra se embrenhou
em seus cabelos macios e sedosos. Nossos gemidos
e suspiros se misturaram, e tudo o que minha mente
conseguia pensar era que eu não queria que aquilo
acabasse.
Nunca.

∞∞∞
Enquanto estávamos na Cabana, meus
pensamentos não paravam, assim como o meu
desejo de continuar vivendo aquele sonho com
minha anjinha. E decidido a prolongar aquilo um
pouco mais, convidei Eva para esquiar como

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fazíamos antigamente, antes de retornar ao


Campus.
Levamos aproximadamente quarenta
minutos para chegar até GrandValira. Escolhemos
Encamp como base, porque era o acesso mais
rápido a um teleférico e não queríamos ficar
ziguezagueando por entranhas de montanhas.
Com cinco regiões esquiáveis, que
conectadas oferecem 210 km de pistas, não faltou
divertimento para nós. Uma das coisas que mais
gostei foi o clima. A cidade de Andorra la Vella,
por estar em um altitude abaixo das pistas, estava
com um clima muito agradável quando chegamos,
praticamente, tinha uma onda de calor e parecia
difícil acreditar que poderia ter alguém esquiando.
Depois de alugar nossos equipamentos —
botas, esquis, bastões e capacetes — Eva e eu
começamos nossa aventura.
Obviamente que não éramos grandes
esquiadores, mas o traçado das pistas de
GrandValia era bem moderado; pistas não muito
longas e um grau de dificuldade mais compatível
com o que esperava de cada tipo de pista.
Os locais que mais gostamos foram Pas de
La Casa, porém antes passamos por Grau Roig que
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também era um vale muito bonito. Entre


Encamp/Soldeu, próximo aos teleféricos Solanas e
Solanelles, as pistas também eram ótimas.
Interessante também o fato de pistas azuis e
vermelhas, lado o lado, nos mesmos teleféricos.
Gostei de conhecer a região de Soldeu, mas
as pistas mais próximas ao vilarejo eram mais
íngremes. Sem falar que algumas, devido à baixa
altitude, não tinham uma neve muito boa.
Ao fim do passeio, nós decidimos parar
para almoçar no Refúgio em Pas de La Casa.
— Seu nariz está todo vermelhinho —
comentei rindo, enquanto saboreávamos nossa
comida.
Seu lindo sorriso iluminou seu rosto todo.
— Estou a ponto de congelar, sabia? Não
estava mais acostumada ao clima daqui — disse
ela, antes de levar um pequeno pedaço de carne à
boca. — Mas confesso que voltar a esquiar foi uma
experiência incrível. Adorei fazer isso com você.
— Eu também — falei, piscando um olho.
— Quero aumentar seu leque de lembranças
comigo, anjinha.
Sua testa ganhou alguns vincos.
— Por quê?
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Dei de ombros, tentando não pensar no


futuro, embora fosse inevitável.
— Não faço ideia do que o amanhã nos
aguarda, Eva, então quero aproveitar cada segundo
disso... — apontei de mim para ela.
Seu suspiro foi dolorido, mas ela acabou me
oferecendo um olhar compreensivo. Sua mão
procurou pela minha, onde apertou de leve.
— Também quero.
E com isso, nós voltamos a almoçar.
Entre assuntos aleatórios, ambos buscamos
não mencionar nada do que estávamos sentindo
verdadeiramente. Ignorar era bem melhor do que
sentir.

∞∞∞
Passava das sete da noite de domingo
quando entramos na Vila Universitária.
Coincidentemente estava silencioso, assim como
dentro do carro. Eu não ousava olhar para Eva,
porque temia não aguentar a fraqueza que os olhos
dela me causava. E apesar da mudança nítida em
nossos sentimentos, o principal motivo que deu

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início a tudo aquilo, ainda pairava entre nós,


deixando claro que uma hora aquela loucura
chegaria ao fim.
E, eu não sabia se estaria pronto quando
esse momento chegasse.
Estacionei o carro numa área próxima ao
alojamento e, em seguida, puxei o freio de mão.
Eva e eu nos encaramos, em silêncio.
Permanecemos assim por longos segundos.
— Obrigada por esses dias incríveis —
disse no fim, usando um tom rouco.
Virei meu corpo para ela, de modo a me
inclinar para poder assaltar sua boca num beijo
desesperado.
— Não agradeça ainda, porque muito mais
está por vir... — soprei, mordendo seu lábio
inferior, antes de voltar a beijá-la com todo o
desejo que sufocava o meu peito.
Num ato impulsivo, Eva me empurrou e, em
seguida, veio pra cima do meu corpo. Seu cheiro,
em contrapartida com sua demonstração crua de
desejo por mim, estavam me deixando louco.
Minhas mãos amassaram suas nádegas quando,
com dificuldade, ela se sentou em meu colo com as
pernas abertas. Nossos gemidos aumentaram no
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instante em que passei a moer meus quadris,


esfregando-me diretamente em seu ponto sensível.
— Oh, foda, Eva! — gemi, segurando sua
cabeça e lambendo sua garganta, depois partindo
para o seu pescoço, onde aproveitei para deixar
algumas mordidinhas.
Descontrolado, desci a língua pelo seu
ombro, arrancando sua jaqueta e, em seguida,
abaixando a alça da blusa que vestia. Delirei
quando senti o calor da pele entre seus seios
redondinhos. Prestes a avançar um pouco mais, nós
fomos interrompidos por uma batida no vidro da
minha janela.
Eva deu um pulo do meu colo quando
visualizou a pessoa, parada no lado de fora.
— Meu Deus, Romeu! — exclamou,
engasgada. — É a minha mãe. É a Cecílie.
O desespero dela passou para mim e, eu me
vi de mãos atadas.
— O que ela está fazendo aqui, porra?
Eva tentava ajeitar os cabelos bagunçados.
— Ela estava querendo me ver, mas não
pensei que viria até aqui — respondeu com a voz
cada vez mais trêmula.
Juntos, nós olhamos para a janela, quando
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houve mais batidinhas no vidro.


Sem opção, tive que baixar.
A bela mulher, cópia perfeita da Eva,
parecia curiosa e um pouco intrigada. Inclinando-
se, ela levou os olhos de mim para a filha.
— Por que demoraram tanto para sair do
carro? O que estavam fazendo, afinal?
Engoli em seco, como se minha garganta
estivesse com areia. Dentro daquele carro, eu não
sabia qual coração estava batendo mais forte, o meu
ou o da Eva.

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Treze

Eva
Gelada.
Era exatamente assim que eu estava me
sentindo naquele momento, e tentando encontrar
alguma solução rápida para fugir daquele embate.
Não precisava ser um gênio para saber que
minha nova relação com Romeu não seria bem
vista pela nossa família, uma vez que, eles haviam
nos criado como irmãos. Criados para um cuidar do
outro, mas de uma maneira diferente da que
estávamos fazendo. O que diriam se descobrissem
que Romeu vinha me proporcionando orgasmos
maravilhosos?
A resposta para tal pergunta me deixava
enjoada, porque certamente não seria nada bom.
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Meu novo relacionamento com Romeu era algo


proibido, mesmo que cada centímetro de pele
existente em meu corpo gritasse pelo toque dele.
— Eva tinha deixado o brinco cair no
carpete... — pisquei ao ouvir sua voz, que de longe
parecia tranquila —, e estávamos procurando. —
Pigarreou na esperança de amenizar o tom.
Apertei as duas mãos juntas, exigindo a
minha mente que as fizesse parar de tremer.
— E acharam? — Cecílie questionou de
maneira divertida, enquanto direcionava os olhos
aos meus, esperando que eu respondesse.
— O quê? — perguntei num silvo.
Fiquei nervosa com a risadinha que ela
deixou escapar depois da minha pergunta.
— O brinco, Eva. Não foi isso que os
impediu de sair do carro? — Suas sobrancelhas
arquearam.
Soltei uma risada forçada, e meu olhar se
encontrou com Romeu, que estava tão nervoso com
a situação quanto eu. A adrenalina do perigo ainda
pairava entre nós dois.
— Ah, claro, o brinco — comentei, sem
graça, passando a mão nos cabelos. — Não. Eu não
achei.
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Cecílie continuava olhando de mim para o


Romeu com extrema desconfiança, o que estava
deixando o clima ainda mais esquisito.
— Pretende dormir aí dentro? — referiu-se
ao interior do carro. — Eu pensei que ficaria mais
feliz em rever sua mãe.
Ignorei o desejo de rolar os olhos e, em
seguida, me inclinei para poder abraçar o Romeu
em despedida.
— Tenha paciência com ela. — Ele
sussurrou no meu ouvido. — Amanhã, nós
conversamos.
Fechei os olhos quando senti seu beijo em
minha testa.
— Até amanhã.
Abri a porta do carro e saí.
Assim que Romeu deu uma buzinada baixa
e acelerou para longe, meus olhos avistaram melhor
a pequena mulher diante de mim. Cecílie era tão
bonita quanto minha mãe Amálie; também optava
por manter os cabelos em vários tons de cores. Em
todas as vezes em que vinha me visitar, ela estava
com um visual diferente, porém sempre peculiar.
Seus olhos eram tão intensos quanto eu me
lembrava, e pareciam querer descobrir o que se
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escondia na minha alma.


— Você continua linda — disse com
emoção.
No instante seguinte, fui sufocada por
braços magros, porém fortes. O perfume de
damasco invadiu minhas narinas enquanto eu me
perdia naquele abraço.
Minha relação com ela não era exatamente
ruim, mas também não podia ser considerada boa.
Eu cresci consciente das minhas raízes; sempre
soube que tinha duas mães. Entretanto, minha
mente e meu coração não conseguiam entender o
motivo para ter sido abandonada horas depois do
meu nascimento.
Sentia-me trocada.
Trocada por uma vida de aventuras.
Porque foi para isso que ela me deixou com
a própria irmã, para se aventurar no mundo a fora.
— A Amálie não avisou que eu estava em
Madrid? — perguntou, passando as mãos em meus
cabelos.
Baixei a cabeça, inquieta com a presença e
o toque dela.
— Avisou, mas estou numa época bem
corrida de aulas — menti e, sutilmente, me afastei
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dela e comecei a caminhar na direção do


alojamento.
— Eu notei — falou, me seguindo. — Você
e Romeu estavam em Andorra, né? Passearam
muito? Aquele lugar é muito bonito.
Pigarreei, tentando dispersar o nervosismo
crescente.
— Não muito, porque precisávamos nos
concentrar em todas as palestras. — Fingi um
sorriso quando olhei para ela, que caminhava ao
meu lado.
— Ah, sim. Entendo — murmurou,
encarando meus olhos. Eu sentia como se tivesse
um alerta gritante em minha testa: MENTIROSA.
— Pretende ficar na cidade por muito
tempo?
Não queria que minha pergunta tivesse
soado tão rude, mas não controlei a amargura.
— Por alguns dias — respondeu ela,
passando por cima da minha rispidez. — Inclusive,
eu estava aqui a sua espera, porque gostaria de
jantar com você, filha. Algo somente entre garotas.
— Riu, eufórica.
Respirei fundo para controlar o desejo de
gritar com ela, porque detestava quando tentava
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agir como se não houvesse um abismo entre nós.


— Na verdade, estou um pouco cansada,
Cecílie...
Calei-me quando sua mão segurou a minha,
freando meus passos.
— Por favor, filha — implorou, fazendo-me
engolir duro assim que vi o marejar dos seus olhos.
— Não estou aqui para reivindicar o meu direito
como mãe, se é o que pensa. — Mordeu os lábios,
suspirando. — Sei que esse lugar pertence à
Amálie, que criou você como uma verdadeira filha
e, eu jamais terei palavras suficientes para
agradecê-la por isso. Ela e o Alejandro fizeram de
você uma garota maravilhosa e me orgulho disso,
querida.
Por um instante, o silêncio nos abateu,
enquanto nos encarávamos.
— Então o que quer? — perguntei baixinho
e, ela sorriu.
— Quero ser a sua amiga — respondeu de
prontidão. — É o que eu sempre quis.
Mordi o lábio inferior, enquanto analisava
aquela mulher na minha frente. Lembranças do
passado começaram a invadir minha mente como
canais de TV, dando-me liberdade para questionar
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a mim mesma se eu deveria ou não dar uma chance


a ela.
— Está bem. — Fui vencida. Sorri de seu
gritinho alegre. — Já tem ideia de onde vai me
levar?
— Não pensei em nenhum local específico.
Mas estou hospedada num hotel próximo ao centro
histórico, que é rodeado por ótimos restaurantes.
Abri a porta do apartamento e não vi
qualquer sinal da Penélope, que provavelmente
estaria em alguma festa.
— Encontraremos um local agradável —
comentei, caminhando até o quarto duplo. Virei-me
para ela, que analisava tudo com olhos curiosos. —
Se importa de me esperar tomar um banho?
Ela sacudiu a cabeça, cruzando os braços e
se colocando no canto do cômodo.
— Sem problemas, filha. Esperarei por você
bem aqui.
Sorri sem mostrar os dentes. Ainda era
difícil me sentir a vontade com ela.

∞∞∞
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O restaurante escolhido era perto da Praça


da Catalunha, uma das maiores praças da Espanha e
um dos lugares mais importantes de Barcelona.
Optamos por usar o Metrô, já que o trajeto
levaria pouco mais de meia hora.
— Está sozinha? — perguntei, depois que
nossos pedidos chegaram. Eu pedi um dos pratos
mais conhecidos da culinária espanhola, a Paella.
Feito de arroz, azeite e açafrão. Pedi para que
acrescentassem alguns frutos do mar também.
— Nunca estou sozinha, Eva — respondeu
ela, sorrindo. — Porém, ainda não encontrei
alguém que fizesse meu coração bater forte, sabe?
Então prefiro continuar assim — apontou para si
mesma — livre, leve e solta.
Dei uma risadinha com a expressão
engraçada que ela fez.
Os próximos minutos foram surpreendentes,
porque Cecílie não permitiu que a tensão se
estabelecesse e, muito menos que minha má
vontade impedisse que ambas tivéssemos um
momento agradável. Ela narrou algumas histórias
de suas infinitas aventuras, arrancando-me muitas
risadas e suspiros incrédulos.
No final, eu me vi um pouco chateada com
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o término do nosso jantar.

∞∞∞
Acordei com meu despertador, mas não tive
a chance de desligá-lo, porque uma mão
intrometida fez isso por mim. Remexi-me na cama
e, lentamente, abri os olhos, me deparando com
Penélope, sentada ao meu lado.
— Desembucha!
Pisquei, obrigando minha mente a
raciocinar. Ergui-me, sentando com as costas
contra a cabeceira.
— Você acordada a esse hora? Por acaso,
eu dormi e acordei numa realidade distorcida?
Vi que ela cruzou os braços, enquanto seus
olhos reviravam-se nas órbitas.
— Passou três dias fora e voltou
engraçadinha, hun? — zombou, fazendo-me sorrir.
Baixei a cabeça, encarando minhas próprias
mãos, em cima das cobertas. Eu queria poder
compartilhar com ela tudo o que estava
acontecendo comigo e com Romeu, mas tinha
receio do que ela pudesse pensar.

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— O que realmente aconteceu, Eva? Você


faz ideia do quanto fiquei preocupada com você?
Poxa, o seu primo, simplesmente, levou você
arrastada do bar quinta-feira à noite e, depois disso,
você sumiu. Recusou minhas ligações. Ignorou
minhas infinitas mensagens.
— Não ignorei suas mensagens — defendi-
me. — Eu respondi.
Sua expressão furiosa me fez fechar a boca.
— Você sabe que não me contento com
apenas detalhes superficiais, Eva — disse. — Me
conhece melhor do que isso.
Respirei fundo, sentindo-me sufocada com
aquele segredo. Mas eu tinha prometido que não
contaria nada a ninguém. Era parte do acordo.
Embora tivéssemos burlado a regra do beijo.
Droga!
Meu corpo se aqueceu com a mera
lembrança.
Nervosa, joguei as pernas para fora da
cama.
— Romeu me levou até Andorra.
O rosto de Penélope, extremamente
maquiado, demonstrou toda a surpresa com aquela
informação.
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— Como assim?
Levantei, e segui até o banheiro.
— Nossa família se reuniu num evento
comemorativo — menti, mas acabei engasgando
quando, subitamente, Penélope abriu a porta do
banheiro. Cuspi a pasta de dente. — Você por
acaso conhece o sentido da palavra inconveniência?
Ela pareceu ignorar meu questionamento
sarcástico, porque recostou o ombro no arco da
porta.
— Você está mentindo!
Meu coração acelerou. Terminei de escovar
os dentes e joguei uma boa quantidade de água fria
no rosto.
— Por que diz isso?
Passei por ela, voltando ao nosso quarto.
— Porque se tivesse sido apenas uma
comemoração em família, você não teria ficado
incomunicável — deduziu. — Fora que Romeu não
teria levado você daquela maneira tão... — ela
pareceu pensar numa palavra que melhor se
encaixasse no contexto — neandertal.
Mordi o cantinho interno da boca, enquanto
escolhia as roupas para montar meu visual do dia,
já que quando voltei do jantar com Cecílie tudo o
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que fiz foi me jogar na cama e dormir. E sempre


gostei de deixar tudo preparado com antecedência.
— Eu acho que você está imaginando
coisas, Pê — murmurei, incapaz de encará-la,
porém me vestindo rapidamente.
— Sei que você está escondendo alguma
coisa — insistiu.
Peguei meu laço de cabelo e prendi os fios
num coque bagunçado. A verdade é que eu estava
desesperada para escapar do interrogatório da
Penélope.
— Tá legal, Sherlock Holmes — zombei,
pegando minha mochila e me encaminhando para a
saída. — Mais tarde, nós poderemos analisar todas
as suas pistas, mas agora, eu realmente preciso ir.
— Eva...
Escapei pela porta, deixando suas palavras
morrerem no vazio.

∞∞∞
A manhã, praticamente, voou e mal tive
tempo para almoçar, já que aproveitei para colocar
a matéria em dia, considerando que não compareci

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as aulas na sexta-feira passada. Consegui evitar


Penélope e Cecílie durante boa parte da tarde, mas
assim que o término da minha última aula do dia
foi se aproximando, meu corpo foi se tornando
tenso automaticamente, porque não teria mais como
fugir. E por mais que eu amasse a Pê, ainda não era
o momento de enfrentá-la, uma vez que, eu nem
mesmo estava entendendo o que se passava no meu
interior.
Sentimentos e emoções confusas.
E, Cecílie? Bem, eu ainda não confiava nela
a esse ponto.
Sentada numa cadeira de canto, perto da
porta, eu me esforçava para ouvir a voz do
professor, mas minha cabeça estava pesada demais
para conseguir tal feito.
De repente, assustando-me, meu celular
vibrou.

“Romeu: Está a fim de dar uma


escapada?”

Um enorme sorriso tomou conta dos meus


lábios.

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“Eu: Para onde?”

A resposta não demorou a chegar.

“Romeu: Me encontre no
estacionamento.”

Sem conseguir conter minha euforia,


guardei minhas coisas e saí da sala num rompante.
Não tinha certeza de quanto tempo levei
para chegar ao estacionamento, mas me peguei
franzindo a testa assim que notei uma garota
conversando com Romeu. Ele estava recostado na
porta do próprio carro, enquanto ela estava parada
na frente dele. Meu corpo se tencionou na mesma
hora.
— Então, eu aguardarei você amanhã —
ouvi-a dizer, demonstrando toda a sua empolgação.
Aproximei-me no momento em que ela
estava se afastando. Sorri sem mostrar os dentes
quando ela acenou para mim com simpatia.
Os olhos de Romeu fixaram-se nos meus e
senti o rotineiro calor se espalhando por cada
centímetro do meu corpo, entretanto a cena que
acabei de presenciar deixou-me travada.
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— Quem era? — Apontei para a garota que


tinha acabado de se afastar.
Ele sacudiu a mão, como se não desse a
mínima importância.
— É a tal garota do estágio — explicou. —
Estávamos combinando de visitar a empresa
amanhã.
Fiz uma careta, enquanto cruzava os braços.
— Ela é muito bonita — comentei num tom
chateado e, ele notou.
Suas mãos enlaçaram-me pela cintura e seu
rosto veio parar na dobra do meu pescoço. Tentei
não rir quando sua barba raspou na minha pele, mas
foi impossível.
— Eu só me interesso por você — garantiu
num sussurro, trazendo arrepios pelo meu corpo
todo.
Nossos rostos ficaram próximos, mas não
nos beijamos. Ao invés disso, ele deu a volta no
carro e, eu entrei no banco do passageiro.
— Aonde vamos?
Ele apenas sorriu. Aquele sorriso capaz de
derreter cada pedacinho do meu coração.

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∞∞∞
Do alto do monte mais alto de Barcelona,
pode-se ver a cidade inteira até o mar. E foi
exatamente onde Romeu me levou.
— Que vista incrível! — exclamei,
sentando-me num espaço das ruínas do lugar.
— Desde que viemos para Barcelona,
minha visita aos Bunkers Del Carmel encheu meus
olhos, justamente, por isso. Apreciar a vista e as
cores da cidade ao pôr do sol — disse Romeu,
sentando-se ao meu lado e nos cobrindo com um
cobertor.
— Então você me trouxe aqui para assistir
ao pôr do sol com você? — indaguei em tom
brincalhão, embora meu coração estivesse
acelerado. Suas palavras, em contrapartida com seu
corpo colado ao meu, estavam me deixando
nervosa.
— Imaginei que o encontro com sua mãe
não tivesse sido algo muito confortável para você,
então que jeito melhor de escapar dos problemas
com algo assim? — Ele apontou para diante de nós.
A vista dali de cima era, sem dúvidas, uma
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das melhores que já vi. Do alto, era possível ver o


desenho perfeito dos quarteirões da cidade e como
o traçado muda ao passar para uma das cidades
adjacentes. Dava para ver a Sagrada Família, a
duvidosa Torre Agbar e o azul do Mediterrâneo ao
fundo. O lugar era verdadeiramente perfeito para
assistir ao pôr do sol. Ainda que ele se ponha em
um ângulo estranho, atrás de uma das estruturas,
dava para acompanhar como as cores da cidade iam
mudando junto com o céu e o momento em que as
luzes começavam a se acender e logo tomavam
conta da cidade.
Olhando para o outro lado do monte, ainda
dava para ver o outro lado da cidade e o Monte
Tibidabo, uma visão completa da região.
— Até que não foi tão ruim — comentei de
repente, referindo-me ao meu encontro com minha
mãe biológica. — Cecílie afirmou que não quer
exigir seu lugar de mãe, mas garantiu que apenas
quer ser a minha amiga.
Romeu me abraçou de lado, aninhando-se
ao meu corpo um pouco mais.
— O que você pensa sobre isso? Eu gosto
dela. Ela é meio doida.
Dei risada.
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— Nisso concordamos. — Olhei para ele,


que beliscou meu nariz. Suspirei, parando de rir. —
Ah, eu ainda não sei — confessei. — Cecílie e eu
temos um laço de sangue, mas sinto como se
houvesse uma cratera entre nós duas, entende?
Existem mágoas que não podem ser curadas com
visitas esporádicas, Romeu, é preciso muito mais
do que isso.
— Eu sei, anjinha. — Ele trouxe a mão aos
meus cabelos, onde passou a acariciar. — Mas
talvez agora ela esteja disposta a te reconquistar.
— Devo ficar feliz por isso?
Dessa vez foi ele quem sorriu.
— Pense em quão sortuda você é ao ter
duas mães.
Entortei os lábios.
— Duas mães se metendo na minha vida.
Ambos rimos.
O silêncio pairou de maneira agradável
enquanto admirávamos a mudança no céu com a
despedida do sol.
— Romeu? — chamei, mas não ousei
encará-lo.
— Hum?
— Você já conhecia aquela garota?
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— Que garota?
Olhei para ele com ar impaciente e, ele
revirou os olhos.
— Sim, mas isso não importa — falou sem
dar detalhes.
Franzi a testa.
— É claro que importa!
— Para mim, não.
Dizendo isso, ele tocou nossas bocas num
beijo sedento. Aquele era nosso primeiro beijo
depois do retorno ao Campus.
Gemi contra seus lábios.
— Você confia em mim? — Assenti,
abobalhada. — Então abaixe a calça e a calcinha.
Arregalei os olhos.
— O quê? Está louco?
Olhei ao redor. Apesar de não ter ninguém
por perto, aquele ainda era um lugar público.
Embora meu olhar estivesse escandalizado,
o de Romeu continuava pleno. Sua boca desceu até
meu ouvido.
— Está com medo?
Fechei os olhos, gemendo baixinho quando
arrepios deliciosos eriçaram meus pêlos.
— Não é uma questão de ter ou não ter
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medo, Romeu, mas de manter o pudor — retruquei.


— E se formos pegos? Aliás, o que pretende fazer?
O sorriso que ele me ofereceu foi tão
cafajeste que senti minha calcinha umedecer
somente com as promessas luxuriosas presente nos
olhos dele.
— Fazê-la gozar na minha língua.
— Ah. — Foi a única palavra que saiu da
minha boca aberta. O calor em meu rosto se
espalhou por cada canto do meu corpo.
Voltei a olhar ao redor, rindo nervosa por
estar cogitando aceitar aquela loucura.
— Não pense, Eva. Liberte-se.
Praguejei quando ele se abaixou e se perdeu
debaixo do cobertor sobre nossas pernas. Seus
dedos atrevidos abriram o botão da minha calça e,
em seguida, ergui o quadril de modo a facilitar
quando ele desceu o jeans por minhas pernas,
deixando-a embolada aos meus pés.
Meu coração galopava tão alto que era o
único som que eu conseguia ouvir. A todo o
momento, eu olhava ao redor tentando descobrir a
presença de mais pessoas, mas estávamos sozinhos
ali. Entretanto, à contra gosto, percebi que era
justamente aquela incerteza que fazia tudo ainda
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mais intenso. A adrenalina do perigo. Do proibido.


— Romeu...
Joguei a cabeça para trás assim que senti o
toque macio de sua língua naquele lugar tão íntimo.
Minha respiração travou na garganta devido à
intensidade do prazer que tomou conta de mim.
Romeu abriu minhas pernas e afundou o rosto ali,
um local, outrora, intocado. Sua língua começou a
fazer movimentos calmos e ritmados, porém com o
passar dos minutos, eles aumentaram não somente
de velocidade, mas de intensidade também. Eu
queria controlar os gemidos que escapavam da
minha garganta, mas estava impossível. A pressão
do aperto dos dedos do Romeu em minhas coxas
abertas, junto com a precisão do movimento da sua
língua quente, estava me deixando anestesiada.
Eu queria gritar.
Eu queria chorar.
Queria afastá-lo.
Mas também queria trazê-lo mais perto.
Ignorando tudo ao nosso redor, eu levei as
mãos para baixo, puxando seus cabelos quando o
crescimento do redemoinho se tornou insuportável
e as ondas de prazer dobraram de tamanho.
Desavergonhada, eu me esfreguei contra o rosto do
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Romeu, delirando com o espetar de sua barba rala


naquela região tão sensível.
— Por favor, Romeu, por favor...
— Deixe vir, anjinha... deixe-me beber do
seu prazer.
Meu corpo chacoalhou com a invasão dos
espasmos incontroláveis. Deixei meu corpo cair
para trás, enquanto de olhos fechados, eu me via
perdida em meio a uma constelação de estrelas. O
orgasmo me transportou para um lugar mágico,
porém me deixando consciente de quem tinha
proporcionado tudo aquilo.
Romeu subiu, deitando o corpo sobre o meu
— ainda nu da cintura para baixo — porém com o
cobertor por cima de nós. Abri os olhos assim que
senti sua respiração sob meu rosto.
— Você está chorando?
Havia vincos em sua testa, conforme
analisava meu rosto e passava os dedos abaixo dos
meus olhos.
Naquele momento, ali, olhando para ele,
não tive mais dúvidas do que eu queria.
— Romeu? — Segurei o seu rosto com
minhas mãos trêmulas. — Eu quero ser sua. Estou
pronta.
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Ele pareceu engolir em seco, enquanto


absorvia minhas palavras.
— Vo-você tem certeza? — Sua voz saiu
com dificuldade.
Assenti com a cabeça.
Sua cabeça se inclinou e, ele beijou meus
lábios de modo casto. Em seguida, se afastou e me
ajudou a colocar a calça. Tudo com calma e num
silêncio perturbador.
— O que foi? Você não quer?
O calor do meu corpo estava se esvaindo.
Romeu me encarou nos olhos, puxou-me
para ficar em pé e me apertou em seus braços
fortes. O meu cheiro estava em seus lábios,
deixando a situação ainda mais erótica.
— É tudo o que eu mais quero, anjinha —
respondeu rouco. — Porém nada disso tem a ver
comigo, mas com você e suas descobertas, lembra?
Eu jamais a teria aqui, nesse chão sujo e frio —
explicou, acariciando minhas bochechas rubras. —
Você merece mais. Muito mais.
Senti meu coração galopante sendo
aquecido.
— Então mesmo que eu esteja louco para
foder você, não deixarei meus instintos selvagens
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tomarem conta da situação.


— Para onde estamos indo? — Consegui
perguntar, apesar de me sentir completamente
anestesiada da cabeça aos pés.
— Para meu apartamento.
O calor voltou, deixando-me viva e
plenamente consciente de meus desejos e vontades.
O fervor com que ele pronunciou aquelas
palavras não deixou dúvidas de que tão logo
estaríamos os dois nus e conectados como um só.

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Quatorze

Romeu

Minha pele estava vibrando.


Eu ainda conseguia sentir o sabor agridoce
na minha língua; o cheiro afrodisíaco no meu nariz.
Jamais tinha sentido tanto tesão apenas por dar
prazer a uma garota.
Mas Eva era diferente de todas as outras,
porque cada toque fazia com que ela se perdesse e,
eu acabava me perdendo junto.
Me perdia nos sons que escapavam da sua
boca.
No cheiro da sua pele macia.
Na maneira delicada e, ao mesmo tempo,
descontrolada como ela tocava meu corpo.
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Descobrindo... Exigindo mais de mim.


E na verdade, eu também exigia. Exigia
controle. Lembrava ao meu corpo que precisava ir
devagar, porque não queria assustá-la.
Queria marcá-la como minha.
Mas queria ficar marcado na mente dela
também.
No fundo, eu sentia que aquilo ia muito
além do ensinamento e da aventura, porque Eva
estava sob minha pele e, de uma maneira que
chegava a ser dolorosa.
Assim que chegamos ao meu apartamento,
abri a porta e fiquei de lado para que ela pudesse
entrar. Seus olhos estavam atentos e expectantes,
contudo ela estava silenciosa.
Minhas mãos estavam surpreendentemente
frias quando as passei em meu rosto. Deixei as
chaves e o meu celular em cima do aparador e
obriguei meu cérebro a pensar com clareza e calma.
— Está com fome? — Forcei minha voz a
sair. Eva estava parada no meio do hall, nervosa
demais para sequer se mover.
Assisti sua cabeça virar de um lado ao
outro, negando.
Esquadrinhei seu corpo como um maldito
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predador, porém sorri um pouco de modo a aliviar


o clima. Peguei sua mão, trazendo-a até minha boca
onde beijei com carinho e cuidado. Em seguida,
entrelacei nossos dedos. Ambas as mãos estavam
frias.
— Você está nervosa — comentei, olhando
em seus olhos. Eu ainda conseguia ouvir o som
delirante dos seus gemidos quando, minutos antes,
lhe proporcionei um orgasmo com minha língua
sedenta.
— Um pouco — falou num fiapo de voz.
Toquei sua bochecha rosada.
— Então, antes de qualquer coisa, eu vou
relaxá-la — avisei, enquanto analisava suas reações
de perto.
— Relaxar?
Assenti.
— Vou massagear seu corpo durante um
banho quente — expliquei, deleitando-me com a
forma como seus lindos olhos se arregalaram,
embora ela lutasse para não transparecer a visível
timidez. — Você quer? Permitirá que eu veja a sua
nudez por completo? — Sua cabeça sacudiu, e eu
deslizei o dedo em seus lábios. — Eu preciso ouvir
você, anjinha. Preciso que me diga o que quer e o
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que não quer.


— Sim, eu o deixarei me ver nua, Romeu.
Segurei o desejo de dar um salto no ar em
puro êxtase.
Caminhamos até minha suíte, acendendo as
luzes pelo caminho. Meu apartamento era pequeno,
contudo, com um espaço otimizado, prático, fácil
de manter, mas também aconchegante.
O silêncio de Eva estava deixando tudo
ainda mais complicado, porque eu não conseguia
saber o que ela estava pensando ou sentindo. E isso
me deixava um pouco apreensivo e, me
perguntando se seria capaz de suprir as expectativas
dela.
Delicadamente, levei-a ao banheiro e,
lentamente passei a desnudá-la. Minhas mãos
tremiam, embora aquela cena não fosse a primeira
na minha vida. A diferença estava sendo a
protagonista.
Eva.
Meu alvo de desejo insano.
Enquanto descia seu casaco por trás de suas
costas, os olhos dela não se desgrudavam dos meus,
que se mantinham fixos em seu rosto. Eu não
queria fazer nada que ela não quisesse, assim como
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queria deixá-la ciente e tranquila de cada um dos


meus passos.
— Vou tirar sua camiseta agora — avisei
num tom rouco.
Enganchei as mãos na barra do tecido e
arrastei para cima, sendo ajudado por ela, que
ergueu os braços. Seus seios de tamanho médio,
cobertos pelo sutiã branco, surgiram no meu campo
de visão e tive que engolir duro para controlar a
respiração descompassada.
Ajoelhei-me, passeando o nariz pela pele da
sua barriga plana e lisa. Sorri internamente quando
um arquejo baixo escapou de seus lábios.
Arranquei seu par de tênis, juntamente com
as meias. Ainda ajoelhado, ergui os olhos,
encontrando o seu olhar no meu. Silenciosamente,
pedi permissão para tirar sua calça e, tomando uma
respiração ofega, ela mesma trouxe os dedos para o
botão do jeans e, eu fiquei em transe quando ela
baixou o zíper. Com os olhos em mim, ela
empurrou a calça para baixo de suas pernas. Ajudei
o tecido a deslizar para fora do seu corpo. Eva deu
um passo para o lado, de modo a ficar livre da
roupa.
Voltei a olhar para cima, arrastando os
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olhos por suas pernas lindas e torneadas. Meus


olhos pousaram no tecido minúsculo que escondia
sua pequena boceta e me obriguei a lamber os
lábios, que se tornaram secos com aquela visão do
paraíso.
— Tudo bem se eu puxar?
Seu olhar tímido vacilou, mas ela acabou
assentindo.
— Sim — disse ela, encarando-me nos
olhos.
Ofegante, levei os dedos nas laterais da
calcinha e, lentamente, puxei para baixo,
descobrindo o tesouro que reluzia aos meus olhos
famintos. Mesmo com todo o nervosismo, Eva
estava excitada. Minha respiração engatou.
Ela já estava molhada.
Eu segurei minhas mãos em punho,
clamando por compostura à vista da boceta dela
cintilando. Eu não podia estragar tudo. Cada
movimento com ela tinha que ser cuidadoso e
pensado.
Novamente de pé, nós permanecemos frente
a frente. Acompanhei o movimento de suas mãos,
que tremiam, quando ela as trouxe para o fecho
frontal do sutiã de renda. Com os lábios
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entreabertos, ela deixou a alça deslizar pelos


braços, expondo o mais sexy par de peitos que já
vi.
Nua. Eva estava deliciosamente nua diante
dos meus olhos.
Não havia palavras.
Porque as sensações e emoções falavam por
nós dois.
— Puta que pariu! Você é tão linda.
Ainda olhando para ela, eu arranquei
minhas próprias roupas, também ficando nu.
Pronto.
Finalmente estava acontecendo...
Suas bochechas ficaram ainda mais rosadas
quando ela baixou o seu olhar curioso para frente
do meu corpo, especificamente entre minhas
pernas.
Meu lado consciente gritava aos meus
ouvidos, afirmando que aquilo era errado, que Eva
merecia muito mais... entretanto, o outro lado, o
lado egoísta, berrava muito mais alto, deixando
claro que não, que ela era minha.
Minha.
Liguei o chuveiro e, em seguida, coloquei
Eva debaixo da ducha quente.
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Sempre mantendo os olhos sobre os dela,


peguei o sabonete e comecei a ensaboá-la com
delicadeza, permitindo que meus dedos sentissem a
textura de sua pele. Deslizei a mão pelo seu ombro,
seguindo por seus seios empinados e bicos rosados
e entumescidos. Suas mãos apoiaram-se em meus
ombros quando enchi minhas mãos com eles,
apertando os mamilos. Mordi os lábios, numa
tentativa de evitar gemer junto com ela. Meu pau
estava dolorido, mas eu não estava preocupado com
meu prazer, apenas com o dela.
Eu queria testar seus limites.
Ver até onde ela conseguia ir.
Novamente me ajoelhei, ficando cara a cara
com sua bocetinha rosada. Voltei a encher minhas
palmas com o sabonete, depois passei a ensaboar
seus pés; primeiro um, depois o outro. Minhas
mãos subiram por suas pernas, apertando um pouco
mais forte assim que cheguei às coxas.
— Oh, meu Deus, Romeu... —
choramingou ela, apoiando-se em meus ombros,
respirando ruidosamente.
Dei uma risadinha.
— Não estou fazendo nada — zombei,
arrogante.
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Meus dedos resvalaram em seu clitóris, mas


não me aprofundei naquele toque propositalmente.
Ergui-me em meus calcanhares e pensei ter ouvido
um gemido de protesto. Forcei seu corpo para trás,
virando-a de costas para mim. Respirei fundo
quando visualizei a dobra sexy dos seus quadris e
de suas perfeitas nádegas.
Passeei minha mão por suas costas,
massageando e apertando sua carne bronzeada. Um
olhar para ela me deixou paralisado. Ela estava com
o pescoço para baixo, queixo inclinado em direção
ao chão, mãos espalmadas no piso gelado e,
embora seus olhos estivessem fechados, eu sabia
que ela estava perdida com o toque das minhas
mãos.
Com o calor do meu corpo pairando sobre o
seu.
A minha boca na sua pele febril.
Ela estava cem por cento, ali comigo. Eu
arrastei minha língua sobre sua coluna, em seguida,
desci, mordendo sua nádega. Amei o jeito como ela
gemeu meu nome.
Suavemente, me coloquei por trás, deixando
minhas mãos descobrirem cada centímetro de pele
molhada. Uma descida ao meio de suas pernas foi o
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suficiente para encontrar sua abertura pegajosa.


Roçando em sua pele, subi suavemente pela
coluna ate chegar ao pescoço e encontrar o seu
ouvido:
— Você reage tão bem aos meus estímulos
— sussurrei, deslizando minha boca sobre sua
clavícula.
— Romeu...
A maneira como ela pronunciou meu nome
— como um gemido sem fôlego, implorando por
algo mais — lançou-me direto para a deriva, me
cortando ao meio.
— Oh, foda-se!
Desliguei o chuveiro.
Minha respiração estava tão imperfeita
quanto à dela. Antes que ela tivesse a chance de
recuar com a timidez novamente, eu peguei uma
toalha e passei por seu corpo trêmulo.
Seus olhos estavam enormes e redondos
quando ela segurou em meus braços, sentindo
minha nudez contra ela.
Incapaz de controlar mais, eu reuni sua
cabeleira espessa em minhas mãos, segurei sua
cabeça e colei nossas bocas. Ambos gememos.
Sem nos desgrudar, abri a porta do banheiro
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e caminhei com Eva, cegamente, até que a parte de


trás dos seus joelhos bateu na borda da cama e ela
caiu para trás.
Pedi para que ela se ajeitasse sobre minha
cama, enquanto eu ligava o som. A música
Photograph, Ed Sheeran, começou a entoar no
quarto, deixando o clima ainda mais intenso.
Caminhei de volta até a cama, porém
permaneci com meus joelhos sobre a beirada e
apenas observei o corpo nu. Eva estava no meio do
colchão, encarando-me com os olhos semicerrados.
— Abra suas pernas. Deixe-me vê-la —
ordenei.
Seu rosto inteiro corou com meu pedido,
mas ela obedeceu. Devagar, levantou os joelhos e
deixou que se abrissem, exibindo o amontoado
perfeito de nervos rosados e reluzentes de sua
excitação.
— Agora espalhe os lábios da sua boceta
para mim, Eva.
Seu rosto ficou mais vermelho com minhas
palavras chulas, mas ela não se encolheu. Assisti,
fascinado, enquanto centímetro por centímetro, ela
moveu suas mãos em direção ao interior de suas
coxas até que as pontas de seus dedos alcançaram
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seus lábios e ela os separou para mim.


Eu não consegui parar o gemido que
escapou da minha garganta. Meus olhos famintos
foram para os dela.
— Você quer que eu coma sua boceta, Eva?
Quer voltar a sentir minha língua devorando você?
O rubor dela inundou sua pele clara,
deixando as coisas muito mais excitantes.
— Eu preciso ouvir você, anjinha... — subi
na cama e coloquei meus ombros entre suas coxas
macias. Em seguida, respirei seu perfume
afrodisíaco, que me deixou mais louco do que eu já
estava. Abaixei minha cabeça e dei um longo, lento
e lânguido golpe da minha língua em sua fenda
molhada.
Suas mãos embrenharam-se em meu cabelo,
puxando-os com força.
— Romeu!
— Diga o que quer... — insisti.
— Quero sua boca em mim outra vez —
falou, atropelando as palavras e me fazendo rir pelo
seu descontrole.
Apoiei meu peso nos cotovelos e usei
minhas mãos para espalhá-la o máximo que seu
corpo permitia.
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— Seu pedido é uma ordem.


E nos próximos minutos, eu lambi, provei e
provoquei cada centímetro de sua boceta até que
seu corpo começou a se debater em meus braços.
Eu coloquei todo o meu peso em suas coxas
abertas quando estendi a mão e peguei seus seios.
Amassando e massageando enquanto rodava minha
língua ao redor de seu clitóris, aplicando tanta
pressão, que ela acabou explodindo em minha boca.
— Romeu! Oh, Romeu...
Eu pude assistir sua pequena abertura
rosada se contraindo enquanto ela se desmanchava
em mais um orgasmo avassalador.
E era deliciosamente fascinante.
Eu nunca tinha me interessado em parar
para assistir o corpo de uma mulher quando ela
estava gozando. Mas com Eva, eu queria
acompanhar cada detalhe. Eu queria assistir àquele
espetáculo mais e mais. Então, eu a fiz gozar mais
duas vezes antes que ela me empurrasse, porque
seu corpo não estava mais aguentando os espasmos.
Lentamente beijei o caminho até seus seios,
onde os juntei em minhas mãos, e apertei, moldei,
mordendo levemente os mamilos rijos. Soprando,
lambendo e sugando. Porém não necessariamente
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nessa ordem. Quanto mais eu via, tocava e


experimentava o corpo dela, mais viciado eu ficava.
Depois de alguns minutos, terminei minha
jornada por seu corpo. Apoiei-me nos cotovelos em
ambos os lados da sua cabeça e abaixei para pegar
sua boca num beijo quente e depravado.
— Está sentindo o quanto seu gosto é
viciante? — perguntei, deixando minha língua
escapar para se encontrar com a dela. — O quanto
você é saborosa?
Seus seios estavam pressionados contra o
meu peito e suas pernas estavam abertas com
minha ereção aninhada em seu centro.
Afastei o rosto para poder admirar seu rosto
ruborizado.
— Sim — soprou.
Estiquei o braço a fim de abrir a gaveta do
criado-mudo e pegar um preservativo. Com mãos
trêmulas, eu me cobri com a camisinha e voltei a
me aninhar no corpo ardente de Eva.
— Está pronta? — perguntei. — Se quiser
desistir, a hora é agora.
Em resposta, ela enrolou meu pescoço e
assaltou minha boca num beijo desesperado.
Sua boceta estava encharcada e lubrificada
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o suficiente para que eu pudesse bater meu pau


dentro dela até a base, porém eu teria que ir
devagar. Precisava dirigir todos os meus vinte
centímetros pouco a pouco dentro dela.
Apertei minha mandíbula de modo a
segurar o desejo de avançar com tudo, e comecei a
invadi-la calmamente. Minha boca não deixava a
dela conforme meu pau ia preenchendo-a,
alargando-a com meu tamanho.
Afastei um pouco a cabeça para poder
encarar os olhos de Eva, e me deparei com sua
expressão de dor. Seus olhos estavam marejados.
— Está doendo, Romeu — sussurrou.
Fechei os olhos e colei minha testa na dela.
Quando os abri novamente, eu disse:
— Eu sei, anjinha. Eu sei que dói e me
desculpe. Eu sinto muito. Estou tentando ir
devagar, mas... eu quero você com uma
necessidade que não consigo controlar. — Minha
respiração bateu contra seu rosto.
— Então coloca tudo de uma vez! — exigiu
num silvo.
Arregalei os olhos.
— Eva...
Suas mãos forçaram meu traseiro para
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frente e o inevitável aconteceu, entrei até o talo.


O corpo dela se inclinou e, com as mãos
segurando o edredom ao lado do corpo, soltou um
grito estridente.
— Porra!
Voltei a apertar a mandíbula, respirando
com dificuldade. Era doloroso ter que controlar os
instintos.
Abri as pernas de Eva mais largas, de modo
a tentar amenizar o desconforto, e, então, eu me
retirei, apenas para entrar novamente. Seus dentes
rangeram, e ela segurou meus bíceps, cravando
suas unhas em minha pele.
— Relaxe, Eva — pedi num rosnado. —
Não se retraia. Apenas relaxe.
Comecei a aumentar o ritmo das investidas
com um pouco mais de força quando percebi que
seu corpo estava se ajustando e se permitindo.
— Romeu... a dor está diminuindo —
choramingou ela.
— Isso, meu anjo. Goza no meu pau, Eva
— falei, acelerando os movimentos.
Embora minhas pálpebras estivessem
pesadas, eu forcei meus olhos a seguirem abertos
para poder enxergar as reações dela. Assisti o
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momento em que seus olhos se reviraram nas


órbitas e suas costas deixaram o colchão quando os
tremores abateram seu corpo delicado.
— Romeu!
— Puta que pariu, sim, Eva — grunhi
enquanto continuava a investir contra ela, e de novo
e de novo, até que meu corpo se apoderou do seu e
eu me libertei. E, ainda assim, eu continuei
investindo e não parei até que meu pau começou a
amolecer.
Era surpreendente como eu não conseguia
ter o suficiente dela.
Depois que finalmente consegui encarar a
realidade, me retirei de dentro dela, ouvindo um
gemidinho baixo. Percebi que ela tentou enrolar as
pernas sobre as minhas, quando me coloquei ao seu
lado, mas novamente visualizei sua expressão de
desconforto.
Ela estava uma bagunça molhada e,
certamente, dolorosa.
Permanecemos nos encarando sem nada
dizer. O que eu diria? Estava apavorado com o que
poderia estar se passando na mente dela.
Visualizei o rastro de lágrimas, descendo
por suas bochechas e me preocupei.
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— Eu machuquei você?
Sentei-me, a fim de analisar o estrago feito
entre suas pernas, mas ela se apressou e freou meus
movimentos, segurando meu rosto entre suas mãos.
Seu olhar me manteve cativo.
— Foi lindo, Romeu — garantiu. — Você
foi perfeito. Foi incrível.
— Então o que significam essas lágrimas?
— perguntei, desconfiado, enquanto ela deixava
beijinhos por todo o meu rosto contraído pelas
dúvidas.
— Estou uma bagunça em todos os
sentidos, Romeu. — Ela riu. — Então dê um
desconto.
Voltamos a nos deitar de lado, frente a
frente. Unimos nossas mãos e permanecemos em
silêncio, porém sorrindo um para o outro.
Embora não expuséssemos em voz alta,
sabíamos que havíamos ultrapassado uma linha
sem volta.
E ali, aninhados um no outro, nós nos
perdemos na letra da música de Ed Sheeran — que
estava repetindo no aparelho de som — e, pela
primeira vez, eu fiquei com medo. Medo de perdê-
la.
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You won't ever be alone, wait for me to


come home
“Você nunca estará sozinho, espere eu
voltar para casa”
Loving can heal, loving can mend your
soul
“Amar pode curar, amar pode consertar
sua alma”

And it's the only thing that I know, know


“E é a única coisa que eu sei, sei”

I swear it will get easier


“Eu juro que vai ficar mais fácil”
Remember that with every piece of you
“Lembre-se que com cada pedaço de
você”
Hm, and it's the only thing we take with us
when we die
“Hm, e é a única coisa que levamos
conosco quando morremos”
Hm, we keep this love in this photograph
“Nós mantemos esse amor nesta
fotografia”
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We made these memories for ourselves


“Nós fizemos essas memórias para nós
mesmos”

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Quinze

Eva

A vida é movida por adrenalina,


novidades, emoções e sensações. Eu ainda era
capaz de me recordar de algumas das minhas
primeiras vezes.
A primeira vez que caí um tombo de
bicicleta.
A primeira vez que paguei um mico.
A primeira vez que fui ao cinema.
A primeira vez que me apaixonei.
O primeiro beijo.
A primeira decepção.
A primeira discussão com meus pais.
Contudo, nenhuma delas conseguia superar
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a minha primeira vez com o Romeu. A maneira


bruta, porém delicada como ele agiu me deixou
extasiada. A dor excruciante do início do ato foi
consumida pelos sinais familiares do prazer. Meus
nervos se espatifaram em um milhão de estrelas
diferentes em todo o meu corpo. Meu orgasmo foi
tão forte, que manchas brancas dançaram atrás das
minhas pálpebras. E embora Romeu já tivesse me
proporcionado orgasmos antes, aquele, com a
penetração, veio com uma sensação que eu nunca
imaginaria que pudesse existir. O sentimento era
tão intenso, tão... incrível, que tudo o que eu
desejava era sentir outra vez, e outra e outra e
outra...
Romeu passou, praticamente, o restante da
semana dentro de mim, e eu não queria que ele
saísse nunca mais.
Apesar de toda a intimidade compartilhada,
ambos não conversávamos a respeito do que
verdadeiramente estávamos sentindo. Os assuntos
eram aleatórios, porém propositalmente longe do
peso que nossa nova realidade trazia aos nossos
ombros. Eu não era hipócrita em negar a mim
mesma que meus sentimentos por ele haviam
mudado, e queria acreditar que os dele também.
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Quando ele me deixou no Campus, na noite


anterior, eu pensei ter visto um brilho diferente em
seus olhos quando afirmei que ele havia sido o
responsável por noventa por cento das minhas
primeiras vezes. Meu coração quis acreditar que eu
e ele estávamos compartilhando não somente o
prazer carnal, mas também sentimentos mais
intensos.
E ali estava eu, sentada na minha cama
diante de diversos livros e anotações. Porém tendo
muita dificuldade de me concentrar em qualquer
outra coisa, além do que vinha acontecendo entre
Romeu e eu.
A porta do apartamento foi rompida com a
entrada da Penélope. Ela estava com os cabelos
molhados e usava um top preto. Uma calça legue
abraçava seus quadris curvilíneos. Sua perspicácia
em suspeitar que eu estivesse escondendo alguma
coisa era quase assustadora. Mas eu não cogitava a
ideia de contar tudo para ela.
— Acabei de encontrar essa gata aqui na
nossa porta — disse ela, entrando no quarto e
apontando para alguém atrás de si.
Arqueei as sobrancelhas.
— Ah! — exclamei. — Oi, Cecílie.
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Penélope se jogou em sua própria cama,


olhando com curiosidade de mim para Cecílie.
— De onde vocês se conhecem? —
perguntou.
— Desde o ventre. — Cecílie respondeu. —
Sou a mãe dela.
Penélope retirou as sapatilhas, sentou-se de
pernas cruzadas e se virou de frente para mim.
— Como assim? Eva por que você não se
refere a ela como sua mãe?
Mordi os lábios, nervosa. Olhei para Cecílie
e, como se percebesse meu desconforto, ela
entreviu:
— É uma longa história. Mas o importante
para mim é poder ter a amizade da minha filha.
Acabei sorrindo com suas palavras.
— Uau, Eva! Não sei se você é sortuda ou
azarada.
— Por quê? — questionei, começando a
recolher meus livros de cima da cama.
— Ué?! Você tem duas mães para mandar
na sua vida.
Dei risada.
— Se você reparar, eu não sigo exatamente
o padrão de mãe perfeita — comentou Cecílie,
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piscando um olho para mim.


— Nisso, eu devo concordar. — Penélope
desceu os olhos pelo corpo de Cecílie, que embora
estivesse no auge dos quarenta anos, ainda
conseguia arrancar suspiros de muitos marmanjos.
— Você é de causar inveja com todo esse seu
visual autêntico. Eva não poderia ser mais
diferente.
— Às vezes, ser diferente faz bem.
— Ou pode ser motivo de chacota —
acrescentei às palavras de Cecílie, que me encarou
com a testa franzida.
Nos últimos dias, por mais que eu tivesse a
intenção de ignorá-la, Cecílie não permitiu e, impôs
sua presença em rápidos momentos do meu dia. Ou
ela tomava o café da manhã comigo. Ou me levava
para almoçar.
Talvez, eu apenas não quisesse admitir, mas
ela não era tão ruim afinal.
— Nesses casos o melhor a se fazer é...?
Fiquei encarando-a, meio abobalhada, sem
saber exatamente o que ela queria que eu
respondesse.
— Ligar o foda-se, Eva! — disse no fim,
arrancando gargalhadas de Penélope.
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— Puta que pariu, Eva! Adorei sua mãe.


Eu ri.
Cecílie se sentou na minha cama.
— Que tal uma praia? — convidou. —
Podemos ir à praia de Barceloneta, que é mais perto
do Centro.
— Eu topo. — Penélope bateu palminhas,
animada.
— Ei?! E seus contatinhos? — intimei,
achando estranho.
Ela deu de ombros.
— Eles estão me deixando sufocada.
Preciso ficar um pouco sozinha.
Eu ri da expressão engraçada que ela fez.
Penélope era alguém que, definitivamente,
não tinha problemas no departamento de sexo.
Voltei a olhar para Cecílie, e mordendo os
lábios, pensei em recusar.
— Bem, eu... — encarei a pilha de livros.
— Nem ouse recusar, Eva. — Penélope
intrometeu-se. — Hoje é sábado. Sábado! Você
precisa viver além desses livros.
Se ela soubesse...
Cecílie me encarava com expectativa.
— Está bem.
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Sorri com o gritinho das duas.

∞∞∞
— Então você se tornou uma excelente
tatuadora? É algo interessante, considerando o
passado com sua irmã.
Não me preocupava em amenizar o tom
com Cecílie, uma vez que, não tinha intenção de
fingir sentimentos. Se fosse para construir uma
relação nova entre nós duas, que fosse de maneira
limpa e sincera.
Penélope tinha optado por encarar umas
ondas, enquanto eu e Cecílie permanecemos
sentadas debaixo do guarda-sol.
— Isso não tem nada a ver com Amálie,
Eva. — Afirmou. — Mas a verdade, que você já
está cansada de saber, é que eu sempre invejei a
minha irmã. — Ela revirou os olhos. — Sempre a
achei incrível, corajosa e autêntica. E quando tudo
aconteceu, e você nasceu, eu quis experimentar
essa mesma liberdade, então me joguei nesse
mundo a fora. Conheci tantas coisas, tantas culturas
novas... — parou de falar, como se tivesse

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nostálgica — Eu, finalmente, me permiti, Eva. E


foi quando tive o prazer de aprender essa arte com
um tatuador excepcional. Nós dois vivemos uma
história rápida, mas posso dizer que nunca o
esqueci. Pierre foi um dos meus amores
inesquecíveis. Inclusive, ele estava comigo no dia
em que você nasceu.
Ajeitei-me sobre a espreguiçadeira,
apoiando a cabeça sob a minha mão, de modo a
poder encará-la melhor.
— E meu pai?
Vi que ela entortou os lábios.
— Valentim nunca fez meu coração bater
forte — respondeu. — Hoje, eu sou consciente de
toda a mágoa que causei a Amálie, porém na época,
eu não via dessa forma. Valentim não passou de
mais uma forma de magoá-la.
— Por quê?
— Não sei. Talvez, por inveja, ou raiva, ou
mágoa. — Ela suspirou audivelmente. — A grande
beleza em toda essa história, Eva, é você.
Arqueei as sobrancelhas.
— Eu?
O sorriso que ela me ofereceu foi tão
genuíno que quase sorri junto.
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— Quando você veio ao mundo, eu não


estava preparada. Eu não tinha uma casa e nem um
destino certo. Seu pai biológico se recusou a
reconhecê-la como filha, então me vi desesperada
— explicou. — Mas eu já a amava tanto... — de
repente, seus olhos tornaram-se brilhantes —
Quando você ainda estava no meu ventre e, eu
ouvia o barulho do seu coração, ou quando sentia
seus fortes chutes, sabia que tinha sido agraciada
com um verdadeiro milagre. Eva, você veio para
me ensinar o real sentido do amor e do perdão.
— Mas eu não entendo... então por que me
abandonou?
— Eu não abandonei você, querida —
garantiu. — Na época, eu a deixei com a única
pessoa que eu sabia que lhe daria, não somente o
amor, mas tudo o que você precisasse e que eu não
poderia dar no momento. Amálie me fez enxergar
que o elo que eu e ela temos é sagrado,
independente do que aconteceu conosco no
passado. Ela me fez admirá-la e continua fazendo
isso dia após dia e ano após ano.
Não pude segurar o sorriso orgulhoso que
tomou conta dos meus lábios.
— Minha mãe é incrível mesmo.
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— Ela é.
Nosso pequeno momento foi interrompido
com a chegada de uma esbaforida Penélope.
— Vocês precisam experimentar a água,
porque está uma delícia.
Ela encarou a nós duas.
— Perdi alguma coisa aqui? — Apontou de
uma para outra.
Demos risada.
— Estamos bem.
O brilho nos olhos de Cecílie me deixou
encantada.

∞∞∞
Durante o trajeto de volta para casa, meu
telefone vibrou com o aviso de novas mensagens.

“Romeu: Onde você está?


Romeu: Por que não me avisou
que sairia?

Olhei para o lado e vi que Cecílie e


Penélope estavam entretidas numa conversa,
enquanto voltávamos de Metrô.
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Eu: Fui à praia com a Cecílie


e a Pê.

Quando pensei em mandar outra para saber


se ele havia me procurado no apartamento, o
celular voltou a vibrar com uma nova mensagem.

Romeu: Por favor, me diz que


não colocou nenhum biquíni
pequeno.

Peguei-me sorrindo de sua preocupação


boba.

Eu: O que você considera como


biquíni pequeno?

Romeu: Aqueles que mal cobrem


a boceta, Eva. E sua bocetinha foi
feita apenas para a minha
apreciação, anjinha.

Senti o calor tomando conta do meu rosto e


se apossando do meu corpo todo. Eu achava
incrível como Romeu conseguia me deixar excitada
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com aquela maneira chula de falar.

Romeu: Ficou molhadinha, hun?


Consigo visualizar você esfregando
as pernas juntas, baby.

Droga! Não era justo ele me conhecer tão


bem.

Eu: Onde você está?

Romeu: Precisa de mim para


aliviar sua dor, anjinha?

Rolei os olhos, indignada com sua


arrogância, embora ele estivesse certo. Tinha ficado
excitada apenas com as malditas palavras dele.
Apesar de saber que bastava ele respirar perto de
mim para me deixar vibrando em todos os meus
hormônios.

Eu: Preciso.

A resposta não demorou a chegar.

Romeu: Estou perto do


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Edifício da Casa Milà.

Eu: Espere-me aí.

Guardei meu telefone e, em seguida, me


levantei, automaticamente tendo a atenção de dois
pares de olhos curiosos.
— O que foi? — Penélope quis saber.
Pigarreei:
— Preciso ficar na estação de metrô
Catalunya.
— Por quê? — Foi a vez de Cecílie
perguntar.
Eu estava toda vermelha, mas respirei
fundo, tentando não encarar os olhos delas por
muito tempo, ou acabaria me entregando.
— Combinei de me encontrar com alguém.
— Não deixava de ser verdade.
— Um ficante? — perguntaram juntas.
Eu quase ri, mas estava nervosa demais para
isso.
Agradeci quando o trem parou, dando-me a
oportunidade de escapar do interrogatório.
— Até mais, meninas.
— Espera...
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— Eva...
Saindo da estação, eu optei por um taxi, e a
viagem até a Casa Milà não levou menos de três
minutos. Paguei a corrida e desci do carro, me
preparando para voltar a rever meu novo vício
particular.
Não demorou muito e, eu o vi. Romeu
estava encostado no seu conversível esperando por
mim. Soltei o ar, admirada com as reações do meu
corpo, considerando que não fazia nem vinte e
quatro horas que tínhamos nos visto.
Incapaz de continuar olhando-o de longe,
fui até ele, larguei tudo o que estava em minhas
mãos e passei meus braços ao redor do seu
pescoço, beijando-o como se fôssemos invisíveis.
Quando finalmente nos separamos, eu
estava ofegante e Romeu estava muito excitado.
Era possível sentir sua dureza contra meu abdômen.
Meu corpo estava coberto com uma canga
de renda.
— Porra, Eva, você foi à praia desse jeito?
Anjinha, eu preciso estar por perto quando você
decidir se aventurar por aí exibindo esse seu
corpinho sexy.
Voltei a beijá-lo, segurando sua camiseta e
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forçando-o contra mim.


— Eu preciso de você agora, Romeu.
Ele sorriu e se inclinou para sussurrar no
meu ouvido:
— O que exatamente você quer Eva? — Ele
brincou. — Eu preciso ouvir as palavras.
Passei meus braços mais apertados em volta
do seu pescoço e esfreguei meu corpo contra o
dele.
— Eu preciso que toque em mim, que me
beije — choraminguei. — Vamos Romeu, me leve
para algum lugar e me faça sua.
Sem outra palavra, ele pegou minha mão e
me levou para dentro do carro com um destino
incerto para mim, porém com a certeza de que
receberia orgasmos alucinantes.

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Dezesseis

Romeu

Eu estava tendo problemas para me livrar


da insistente presença da garota que meu pai
colocou no meu caminho. A garota sem nome de
semanas atrás, enchia os lábios de sorrisos quando
eu pronunciava seu nome... Andressa.
Não tinha qualquer intenção de passar mais
tempo com ela do que o necessário, uma vez que,
Eva já havia dado indícios de que aquela situação
estava deixando-a desconfortável. E num curto
período de tempo, nós dois discutimos mais do que
eu podia contar, e tudo por causa da minha
convivência com Andressa.
Obviamente que minha relação com Eva
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ainda não tinha sido rotulada, mas eu sentia que


nossa conexão ia muito além do acordo inicial de
professor e aluna. E o ciúme de ambos só servia
para reafirmar esse pensamento.
Estávamos nisso a pouco mais de um mês,
porém a pressão dos nossos sentimentos começou a
gritar mais alto do que todo o tesão louco que
pairava sempre que ficávamos juntos. Eu sabia que
era tudo muito recente e difícil de administrar, mas
estava ali, mesmo que tentássemos ignorar, ou
negar.
E quando meu pai me pediu para ajudá-lo a
respeito do programa de estágios, não imaginei que
aquilo fosse me trazer tantos problemas. Andressa
era uma garota bonita e inteligente, contudo não
conseguia entender que entre nós não aconteceria
mais nada. Eu fodi a boceta dela no passado, e ela,
certamente, foderia minha relação com Eva se não
parasse de infernizar meus nervos.
— O que você ainda quer comigo?
Minha paciência estava em um nível
absurdo enquanto meus olhos encaravam Andressa,
em pé, na minha frente, na Praça da Vila
Universitária. Laura e Eduardo estavam ao meu
lado, e discutíamos a ideia de finalmente abrir
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nossa empresa de Games, antes de sermos


interrompidos por Andressa.
— Desculpa por estar interrompendo a
conversa, mas eu realmente preciso conversar com
você, Romeu — disse ela, de forma mansa e
delicada.
Respirei profundamente e, numa rápida
olhada aos meus amigos, peguei os dois se
levantando. Laura me encarava com as
sobrancelhas arqueadas, afirmando a mim,
silenciosamente, que eu estava fodido.
— Esperamos você mais tarde, Romeu —
disse Eduardo. — Precisamos decidir os próximos
passos.
Apenas balancei a cabeça, assentindo, e
batendo meu punho fechado contra o dele.
Andressa se sentou no banco em que eu
estava sentado, e não me passou despercebido a
maneira sutil como ela resvalou o corpo no meu.
— Olha só, Andressa...
Ela me cortou, um tanto impaciente, eu
diria.
— Eu já entendi que você não me quer,
Romeu! Não estou aqui para isso. — Arqueei as
sobrancelhas, surpreso. Ela suspirou e, em seguida,
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me mostrou uma pasta com anotações. — Desde


que iniciei o estágio na empresa do seu pai...
— Não é só do meu pai — corrigi. — É um
patrimônio de toda a minha família.
Ela deu de ombros.
— Que seja!
Entreguei a pasta para ela.
— Ei?! Mas você nem leu o conteúdo —
reclamou, quase indignada.
— Não tenho interesse.
— Romeu, eu fiz algumas observações a
respeito de mudanças significativas no programa de
estágio que fariam a empresa González ganhar o
prêmio NT de Estágio, que serve para destacar os
principais projetos do País. — Ela disse quando me
levantei para ir embora.
— Parabéns pra você — ironizei, revirando
os olhos em puro tédio.
— Romeu! Isso é importante, não entende?
Parei e me virei para ela, que pausou os
passos quando absorveu a raiva no meu olhar.
— Qual a parte do: “Eu não tenho
interesse” que você não conseguiu entender?
— Aaaah... E-eu...
— Não quero trabalhar para o meu pai, e
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muito menos com você — cortei seus balbucios.


Dizendo isso, eu me preparei para sair, mas
sua voz me parou:
— Ei, Romeu, espere... — pisquei quando,
numa fração de segundos, ela uniu nossos lábios
num beijo rápido.
— Mas que porr...
Seu dedo indicador me calou.
— Eu só queria voltar a ter o seu sabor nos
meus lábios.
Fiquei sem reação quando ela,
simplesmente, piscou e se afastou de mim, rindo. A
situação piorou quando me virei e meu olhar se
chocou com o da Eva.
— Oh, merda!
Ela sequer me esperou e, apenas se virou
nos calcanhares, pisando duro.
— Eva! — gritei, mas ela não parou.
Voltei a gritar quando assisti seus passos
acelerando em direção ao ponto de taxi. Ela estava
fugindo.
Consegui me aproximar e minha mão
serpenteou e agarrou seu braço, eu puxei seu corpo
até que seus seios estivessem sendo esmagados
pelo meu peito duro.
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— Eva não é nada disso que você está


pensando, anjinha.
Seu rosto estava pura fúria quando ela disse:
— Ah, não? Você vai ter a cara de pau de
me dizer que meus próprios olhos estavam me
pregando uma peça, Romeu? Que estou
imaginando coisas e que aquela garota não estava
com a maldita língua enfiada na sua garganta? —
vociferou.
— Não foi dessa maneira, Eva — tentei
explicar, agoniado com seu olhar feroz. — Eu fui
pego desprevenido e, eu...
— Me solta! — exigiu ela, deixando claro
que não estava a fim de ouvir minhas explicações.
— Eu não vou a lugar nenhum até que você
me ouça, Eva — falei, minha voz firme e segura,
porém escondendo todo o pânico existente em meu
peito. — Andressa e eu não temos nada. Já falei
isso milhares de vezes. E essa é a verdade.
— Ok. Mas eu não me importo! — rosnou
ela, contra meu rosto. — Sexo não equivale a amor,
e é somente isso que existe entre nós dois. Então,
foda-se!
Ela me empurrou, mas voltei a segurar seu
braço.
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Eu estava assustado com a maneira como


ela estava agindo e reagindo, em contrapartida com
sua menção a palavra amor.
— Então por que está tão incomodada com
a cena que acabou de presenciar?
— Não se iluda, Romeu. Agora que eu não
sou mais virgem, qualquer cara poderá foder minha
boceta quando eu estiver com vontade. — Ela
sussurrou as palavras apenas para que eu pudesse
ouvir.
Trinquei o maxilar.
Eu quase a joguei por cima do ombro para
espancar seu traseiro, somente por cogitar pensar
em deixar que outro cara a tocasse.
Em vez disso, reuni todo o meu
autocontrole, mas não consegui parar o grunhido
emergindo da minha garganta:
— Você pode dizer a mim e a si mesma que
isso é tudo o que você quer, Eva, mas sei que você
está mentindo.
— Então estamos quites no quesito
mentiras.
Dizendo isso, ela se soltou do meu aperto e
correu na direção de um taxi, mas não sem antes
me fazer vislumbrar a umidade abaixo de seus
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olhos.
Fiquei ali sentindo absolutamente nada e
absolutamente tudo.
Eu estava com tanta raiva de mim, dela e de
todos, que a única coisa que consegui fazer foi
encontrar um alvo para todo aquele sentimento
ruim. Então comecei a destruir um dos bancos ao
meu lado, com chutes e socos fortes e brutais na
madeira.
Eu estava perdendo o meu anjo...

∞∞∞
Depois do meu embate com a Eva, fui
obrigado a assistir mais três aulas antes de,
praticamente, acampar em frente ao apartamento
em que ela dividia com a Penélope. Em
determinado momento, decidi ficar escondido,
porque temia que ela pudesse voltar a fugir se me
encontrasse parado ali.
Era pouco mais de seis da tarde quando vi a
amiga dela saindo com uma roupa de ginástica,
provavelmente estava indo malhar.
Comecei a brincar com meu celular de

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modo a passar o tempo, e pouco mais de vinte


minutos depois, eu vi o momento em que Eva
chegou. Aguardei mais alguns minutos, saí do meu
esconderijo e fui até lá.
Estava prestes a bater, mas decidi girar a
maçaneta. Para minha surpresa, a porta estava
destrancada. Então eu entrei, tomando o cuidado de
girar a chave pelo lado de dentro.
Assim que virei, meu corpo estancou no
lugar quando um som invadiu meus ouvidos.
Eva estava chorando.
Desesperado, avancei pelo pequeno espaço
do apartamento e a visão que tive acabou comigo
completamente. Eva estava deitada na sua cama,
segurando um travesseiro enquanto chorava
copiosamente.
Eu caminhei na direção dela.
— Eva...
Seu rosto se levantou do travesseiro e seus
olhos se arregalaram ao perceber que eu estava ali.
A princípio, ela me analisou.
— O que houve com suas mãos? —
perguntou, num tom engasgado, assim que
visualizou os ferimentos nos nós dos meus dedos,
causados pelo meu ataque de fúria mais cedo.
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Olhei para minhas mãos machucadas,


consciente que aquilo não era nada se comparado a
confusão de sentimentos que ela parecia estar
sentindo naquele momento.
— Não importa — murmurou no fim,
desviando o olhar. — Sai daqui. — Soluçou,
passando as mãos no rosto molhado, tentando
amenizar a bagunça. — Não quero vê-lo, Romeu.
Os soluços dela estavam partindo meu
coração, então eu fiz a única coisa que consegui
pensar. Eu sentei na cama e a peguei em meus
braços, embalando ela para mim.
— Me desculpe, anjinha, por favor —
implorei, sentindo-me impotente.
— Vo-você é um... idiota. — Ela gaguejou.
Meus braços se apertaram ao redor dela. Eu
estava com medo de deixá-la ir quando ela se
afastou do meu aperto. Eu soltei um suspiro
profundo.
— Temos que conversar.
Observei em silêncio enquanto ela
caminhava até o banheiro. Eu podia ouvir o barulho
da água correndo da torneira e, alguns minutos
depois, Eva voltou ao quarto, recomposta.
Ela parou alguns metros à minha frente e
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repetiu o que disse antes:


— Você é um idiota. E não temos nada para
conversar.
Eu me levantei e fechei o espaço entre nós.
Eu olhei para ela e discordei:
— Aí que você se engana, porque temos
muita coisa para falar, Eva.
— Sobre o quê? — Cruzou os braços,
fulminando-me. — Sobre seu pequeno caso com
aquela loira vadia? Eu acreditei em você, Romeu!
Acreditei que pudesse estar acontecendo alguma
coisa especial entre nós dois — gritou ela,
totalmente diferente da bagunça chorosa e
emocional de minutos atrás.
— Pelo amor de Deus! Quantas vezes, eu
terei que dizer que não tenho nada com aquela
maldita garota? — explodi, furioso e exausto.
Minha mandíbula travou. — Quer saber? Eu fodi a
boceta dela sim, mas foi bem antes de você, Eva.
Desde que começamos nesse lance, há pouco mais
de um mês, você é a única para mim. É a única
garota que me mantém refém em todos os sentidos.
São os seus olhos de anjo que eu vejo em meus
pensamentos a cada anoitecer e a cada amanhecer,
caralho! Sabe por quê?
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Seus belos olhos castanhos estavam


segurando os meus em cativeiro e seu olhar não
vacilou quando perguntou:
— Por quê?
— Porque estou completamente apaixonado
por você. E, porra! Estou cansado de negar o que
sinto. Cansado de ter que me esconder. Cansado de
sentir ciúmes todas as vezes em que vejo algum
cara te secando com os olhos e não poder fazer
nada por causa desse maldito néon de “Proibido”
nas nossas testas.
Calei-me, analisando as reações dela, que
continuava me encarando com intensidade cortante.
— Você não pode me dizer isso, Romeu. —
Ela finalmente abriu a boca.
Em seguida, se afastou um pouco, ficando
de costas enquanto esfregava o rosto.
— Posso, porque é a verdade — falei de
modo terno. — Na verdade, eu sempre amei você,
Eva, eu apenas não entendia antes.
Seus olhos se voltaram para os meus, e
novamente vi os seus com lágrimas não
derramadas.
— Você tem certeza disso? Tem certeza de
que não está confundindo as coisas? Romeu, eu não
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sou forte o suficiente para encarar essa bagunça de


sentimentos, você mesmo acabou de presenciar o
estado em que fiquei apenas por cogitar que você
estava tendo um caso com essa tal de Andressa.
Tem certeza de que não vai me machucar?
Não respondi a nenhuma pergunta. Em vez
disso, fechei o espaço entre nós e choquei meus
lábios nos seus em um beijo desesperado e faminto.
Minhas mãos subiram pelo seu rosto e pelo seu
cabelo, trazendo-a para mais perto. Meu aperto
aumentou quando aprofundei o beijo.
E porra! Ela se rendeu a mim.
Suas mãos subiram em meu peito e
contornaram meu pescoço enquanto afundava em
nosso beijo.
Um grunhido baixo e áspero saiu da minha
garganta quando senti o raspar das suas unhas em
minha nuca. Minha mão se desembaraçou do seu
cabelo e a desci pelo seu corpo para passear por
baixo da sua camiseta em busca dos seus seios.
De repente, eu me afastei. Ambos
estávamos nos olhando, porém minha expressão
podia ser descrita facilmente como desesperada.
— Você me ama? — perguntei com meu
peito arfando.
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Ela piscou para mim.


— Sim, Romeu. É claro que eu te amo —
disse, colando sua boca novamente na minha.
Suas mãos começaram a puxar a minha
camiseta e, eu parei o beijo para que pudéssemos
nos despir.
No segundo em que estávamos livres de
nossas roupas, peguei Eva e joguei seu corpo contra
a sua cama.
— Penélope pode chegar a qualquer
momento, Romeu — lembrou-me, presa entre o
temor de sermos flagrados por sua amiga, e o
desejo de ser fodida por mim.
— Eu vi o momento em que ela saiu para
malhar — falei, enquanto me apressava para
colocava a camisinha. — Então acho que temos um
tempinho.
Suas pernas enrolaram-se na minha cintura,
quando me ajeitei sobre seu corpo febril. Eu não
hesitei e a penetrei em um poderoso e doloroso
golpe.
— Você é minha, Eva — rosnei. — Vou
gritar pra porra do mundo que você sempre será
minha. Eu vou amar você pelo resto da minha vida,
anjinha.
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— Eu também te amo. — Ela ofegou. —


Romeu, por favor...
Eu comecei a me mover dentro dela e nada
nunca me fez sentir tão realizado. Seu corpo estava
tremendo com uma necessidade que só eu poderia
satisfazer. E eu a fiz gozar tantas vezes que ela se
tornou uma bagunça amolecida, gozando todo o
meu pau, e de novo.
Retirei todo o meu comprimento de sua
boceta inchada, apenas para colocar tudo de novo.
Eva apertou os olhos e jogou sua cabeça para trás.
— Romeu! Não aguento mais...
Enganchei seu joelho esquerdo e apoiei sua
perna sobre meu ombro e logo tive o corpo dela
bem aberto para mim enquanto eu investia contra
ela como um maldito selvagem.
Eu queria reivindicá-la.
Eu a estava possuindo.
Queria deixá-la tão louca por mim como eu
estava por ela.
— Só mais um orgasmo, Eva — exigi. —
Goze só mais uma vez no meu pau para que eu
possa me derramar dentro dessa sua bocetinha
gulosa — falei em meio a respirações ofegantes.
— Romeu! — gritou ela, totalmente
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entregue e despreocupada com o lugar em que


estávamos.
Ela estava no limite.
— Encharque meu pau, Eva — ordenei em
delírio, me preparando para gozar também.
Suas paredes pélvicas começaram a me
apertar e ela gritou, convulsionando embaixo de
mim. Seu corpo tremeu com tanta força que a parte
de trás de sua cabeça bateu na parede e suas unhas
estavam rasgando a pele dos meus ombros.
Eu penetrei nela tão duro e tão profundo
quanto eu fui capaz. Levei minha boca até seus
lábios e, enquanto dava os últimos impulsos para
meu orgasmo, eu soprei:
— Eu te amo tanto que chega a doer.
Meu orgasmo foi tão forte que meu corpo
inteiro tremeu. Deixei-me cair para o lado, trazendo
Eva junto comigo.
Nossas respirações ofegantes eram o único
som naquele quarto. Eu estava deitado de costas e
Eva estava espalhada em cima de mim.
— Isso foi...
Ela não conseguiu concluir a frase e, eu
olhei para baixo, encontrando seus olhos,
extasiados, nos meus.
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Seu rosto estava corado devido ao nosso


sexo.
— Diferente — concluiu ela.
— Por que diz isso?
Ela se ajeitou de modo a poder me olhar nos
olhos. Estávamos cara a cara agora.
— Porque nunca tínhamos feito desse modo
tão... primitivo.
Eu ri.
Puxei sua boca para mim e beijei seus
lábios carnudos e tentadores.
— Não gostou?
— Pelo contrário. — Sorriu, mordendo os
lábios no processo e me deixando hipnotizado. —
Foi extremamente excitante.
Voltei a beijá-la.
— Então isso significa que ainda estamos
juntos? — perguntei, sem esconder meu medo de
que ela dissesse não.
Nossos olhos voltaram a se encontrar.
— Só se você prometer ser paciente comigo
e aturar os meus ataques de insegurança, porque eu
terei muitos, Romeu.
Forcei meu corpo sobre o dela, raspando
minha barba rala por seu pescoço.
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— Prometo tudo desde que você me deixe


entrar nessa sua bocetinha deliciosa sempre que eu
tiver vontade — brinquei e, ela me beliscou.
Caí de costas, sorrindo.
Eva se jogou em cima de mim e seu olhar
intenso fez meu coração voltar a bater forte.
— Eu te amo. E é muito bom poder,
finalmente, confessar isso em voz alta.
— Sim, é.
Sorrimos um para o outro.
Agora éramos um só coração.

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Dezessete

Eva

Eu ainda estava tentando processar tudo o


que tinha acabado de acontecer há poucos minutos.
Era difícil absorver cada palavra no meu cérebro e
não querer fechar os olhos e suspirar feito uma
boba romântica.
“Estou apaixonado por você, Eva.”
Essa simples frase estava martelando em
meu coração desde o momento que foi proferida
por ele.
Nas últimas semanas, nosso relacionamento
se intensificou e vinha se tornando cada vez mais
complicado negar o que eu sentia por Romeu,
porque o sexo já tinha deixado de ser a peça
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principal do jogo há muito tempo.


— O que há de errado com aquela garota,
afinal? — perguntei num tom baixo, enquanto
sentia o braço de Romeu intensificar o aperto em
minha cintura.
Arrepios invadiram minha pele quando ele
roçou a barba na minha nuca. Ainda estávamos nus
e deitados na minha cama, com Romeu me
abraçando por trás, de conchinha.
Ele suspirou.
— Você pode não acreditar, mas foi ela
quem me beijou, Eva — disse num tom cauteloso.
— Eu estava conversando com Eduardo e Laura
quando Andressa chegou com a desculpa de que
precisava falar comigo.
— E...?
— Ela tentou me mostrar algumas
anotações que fez a respeito do programa de
Estágios em que ela está, mas eu não dei
importância. Você sabe que não tenho qualquer
interesse em trabalhar no ramo do meu pai. Já foi
uma tortura os dias em que tive que acompanhar
essa maldita garota.
Virei o pescoço para ele, encontrando seus
olhos.
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— Romeu, você precisa falar com seu pai


sobre seus planos futuros — murmurei, ciente de
que ele estava se martirizando. — Não aja como se
ele fosse o monstro que não é. Confie em mim, não
vai doer.
Seu sorriso foi tão lindo que não controlei o
meu.
— Eu vou falar — garantiu, beijando meus
lábios várias vezes. — Eu só preciso de um pouco
mais de tempo.
— Tempo?
— Eduardo e eu estamos em busca de
patrocínio, já que o investimento para abrir a
empresa de Games é um pouco alto — respondeu,
demonstrando sua frustração.
— Você sabe que seria um prazer para seu
pai ajudá-lo, hun? — mencionei, analisando suas
reações.
Sua cabeça sacudiu de um lado para o outro.
— Prefiro fazer isso com meu próprio
esforço, amor.
Minha boca se alargou num sorriso
gigantesco e, eu tinha certeza que meus olhos
estavam tão brilhantes quanto o amor vibrando
dentro do meu peito.
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— O que foi? — perguntou ele, sem


entender minha reação abobalhada.
Impulsionei meu corpo de modo a ficar
sobre ele, com as mãos em seu peitoral repleto de
músculos.
— Você acabou de me chamar de amor.
Ele deu uma risadinha e aproveitei para
voltar a beijá-lo.
— Eu tenho um fundo de reserva —
comentei, deitando a cabeça em seu peito e ouvindo
o barulho do seu coração acelerado. — Adoraria
ajudar no patrocínio da sua empresa.
— Sério? — Ele ergueu minha cabeça para
poder olhar em meus olhos. Parecia genuinamente
surpreso.
— Claro que sim! — exclamei. — Não
entendo nada de jogos, mas estou no último ano de
Economia, poxa, imagino que isso sirva pra alguma
coisa. — Eu ri, sendo seguida por ele.
Voltamos a nos rolar pelo pequeno colchão,
prontos para mais uma rodada, contudo, um
barulho na porta chamou nossa atenção. Nossas
respirações ainda estavam rasas por causa das
carícias, quando a voz da Penélope rompeu o
silêncio.
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— Merda — sibilei.
Não fiz nenhum esforço para ser gentil
enquanto empurrava o corpo do Romeu de cima de
mim e jogava os pés para fora da cama.
— Ei? Está tudo bem. — Romeu sussurrou.
— Não quero mais esconder o nosso
relacionamento.
Mordi os lábios, pegando as roupas
espalhadas pelo chão e jogando para ele.
— Eu também não quero, porém não estou
a fim de constranger minha melhor amiga ao
flagrar você, nu, na minha cama.
— Você também está nua. — Ele estava
sorrindo enquanto apontava para meu corpo.
Olhei para baixo.
— Droga, droga, droga!
Segurei Romeu e puxei-o para que pudesse
ficar de pé. Minha mente estava trabalhando rápido
demais, porém não havia outro ponto de escape a
não ser a porta do banheiro.
Empurrei-o para dentro e entrei logo em
seguida.
— Eva? — Pulei com a voz da minha
amiga.
— Estou no banheiro — gritei, enquanto
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vestia minhas roupas. Romeu estava tão


despreocupado que eu comecei a ficar irritada. —
Vista-se! — sussurrei para ele, que continuava nu e
me encarando com um sorrisinho sacana.
Tentei ignorar a beleza escultural do seu
corpo.
— Está tomando banho? — Penélope quis
saber.
Terminei de colocar a calça e, em seguida,
empurrei Romeu para longe da pia e liguei a
torneira.
— Já vou sair Pê — gritei, molhando meu
rosto na esperança de mascarar o rubor da pós foda.
Antes de me virar para sair, olhei para o Romeu e
pedi para que ele ficasse quieto.
Penélope estava sentada na própria cama e
mexia no celular. Observei que seus cabelos
estavam molhados, o que me dizia que ela tinha
optado por tomar banho no vestiário da academia.
— Onde estava? — perguntei, tentando soar
tranquila, apesar do nervosismo aparente. Dei a
volta e gelei quando meus olhos avistaram a
camisinha usada por Romeu ao lado da minha
própria cama. Apressei-me em chutá-la para baixo.
— Estava malhando. — Penélope
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respondeu, ainda mexendo em seu celular.


Minhas mãos estavam frias enquanto
esfregava uma na outra. Na verdade, todo o meu
corpo parecia tenso demais.
— O que foi? — Olhei para Penélope
quando ela me fez a pergunta, e a encontrei me
encarando com curiosidade. — Você está com cara
de quem aprontou.
De repente, ela abandonou o celular e me
encarou com mais vontade.
Franzi a testa, lutando para não transparecer
a verdade.
— Não é nada, Pê — menti. — Credo, me
deixa. — Disfarcei.
Deixei meu corpo cair para trás no colchão.
Meus olhos flagaram o momento em que Penélope
se levantou e seguiu até meu closet.
— O que está fazendo? — estranhei.
— Acabei de combinar uma festa com o
pessoal — disse ela. — E você vai comigo.
— Não, Pê, eu não estou a fim de sair.
Ainda mais para uma festa.
Pensei no Romeu, e me perguntei se ele
podia nos ouvir.
— Problema seu, porque você vai sair hoje.
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Desde aquela merda de encontro com Rangel, você


se dignou a voltar para seu mundinho de estudos e
mais estudos, Eva. Já chega! Vamos encontrar um
carinha legal para amolecer suas pernas. — Ela
piscou um olho, totalmente animada com aquela
ideia.
Soltei um grunhido quando ela jogou um
vestido contra meu rosto.
— Coloque isso.
— Eu realmente não quero ir, Pê — falei,
nervosa. — Preciso me focar no meu TCC.
Novamente, ela me ignorou e continuou
mexendo no meu closet, dessa vez em busca de
sapatos que complementassem meu visual.
Respirei fundo, odiando ter como melhor
amiga uma pessoa tão teimosa quanto Penélope.
— Sem estudos, Eva. Combinamos que
você focaria em diversão.
Revirei os olhos.
— Eu não combinei nada.
Ela riu.
De repente, ameaçou caminhar até o
banheiro e me desesperei. Minha única reação foi
correr na frente para entrar antes dela.
— Wou! — exclamou ela, quando esbarrei
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em seu corpo. — Isso que estava dizendo que não


estava a fim de sair, hein?! — zombou, rindo.
Novamente dentro do banheiro, encontrei
Romeu já vestido, recostado na pia e me encarando
com os braços cruzados. Sua expressão não era das
melhores. Cobri sua boca com minha mão no
momento em que ele ameaçou rosnar toda a
indignação que brilhava em seu olhar zangado.
— Shii — soprei. — Penélope quer me
levar para uma festa.
— Por que não conta a verdade pra ela?
Eva, eu não vou deixar você acompanhá-la em
merda de festa nenhuma — rosnou ele.
— E se você me encontrar lá? — perguntei.
— Vou dar um jeito para você sair sem que ela
perceba, e mais tarde mando a localização da festa
por mensagem.
— Não sei se gosto dessa ideia — sibilou
entre dentes.
Mordi o biquinho que seus lábios formaram.
Afastei-me e comecei a tirar a roupa na
intenção de colocar o vestido. Os olhos dele
brilharam e tive que afastá-lo quando suas mãos me
puxaram para mais perto.
— Para! Ela está bem aqui — sussurrei,
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apontando para o lado de fora da porta.


Ele entortou os lábios, desgostoso.
Sorrindo, eu coloquei o vestido.
— Fique atento, porque vou tirar ela do
quarto para que você possa sair.
Em seguida, abri a porta, encontrando
Penélope analisando o visual na frente do espelho.
Ela tinha colocado um short rasgado tão curto, que
se perdia no meio de suas nádegas redondas. A
blusa tinha um decote fundo, favorecendo os seios
fartos.
— Uau! — exclamei, verdadeiramente
impressionada. — Como você consegue fazer isso?
— Isso o quê? — perguntou ela, me
encarando através do reflexo do espelho, onde ela
terminava de se maquiar.
— Ficar ainda mais linda.
Ela sorriu.
Afastando-se, passou por mim e deu um
tapinha na minha bunda.
— Olha só quem fala — brincou.
Eu estava torcendo os dedos, pensando
numa forma de tirá-la do quarto.
— Ei, Pê?
— Hun? — Ela estava se decidindo sobre
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qual calçado usaria.


— Você já viu o problema que temos na
cozinha?
Ela me encarou com o cenho franzido.
— Que problema?
Mordi o cantinho interno da boca,
agradecendo por ter conseguido sua atenção.
— Vem cá — falei alto, torcendo para que
Romeu tivesse escutado.
Ela me seguiu, enquanto eu me esforçava
para inventar qualquer desculpa que pudesse
mantê-la na cozinha tempo suficiente para que
Romeu escapasse.
— A geladeira não está gelando bem. Você
já percebeu o barulho absurdo que ela faz a noite?
— Ela negou, me olhando como se eu fosse doida.
— E a infiltração que tem ali atrás? — Empurrei-a,
gentilmente, para que ela se afastasse do arco da
porta.
— Não estou vendo nada, Eva — reclamou.
Meu coração acelerou quando olhei por
cima do ombro e avistei Romeu caminhando pé por
pé. Mordi os lábios para não sorrir quando ele me
mandou um beijo.
Forcei o corpo da Penélope para baixo, de
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modo a fazê-la enxergar algo totalmente


inexistente, mas que eu precisava
desesperadamente que ela acreditasse para dar
tempo de Romeu sair de fininho do nosso
apartamento.
— É sério que você não está conseguindo
ver a umidade nessa parede, Pê? Céus!
Respirei mais aliviada quando o plano deu
certo e Romeu conseguiu escapar.
Impaciente, ela se afastou.
— Qualquer problema, nós temos que levá-
los a recepção e ver se estava assim quando o
apartamento foi alugado — comentou sem dar
muita importância.
— Uhum — resmunguei, rindo
internamente.
Ela me olhou, analisando meu rosto.
— Certo, agora vamos dar um jeito nessa
sua cara de bebê — falou, puxando-me pela mão e
me forçando a sentar na cama dela. O estojo de
maquiagem logo estava em suas mãos e me
preparei para os minutos torturantes que se
seguiriam.
Penélope adorava me usar como sua
bonequinha.
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∞∞∞
A música estava bem alta quando chegamos
à festa. Eu não fazia ideia de quem era o dono da
casa, que já estava lotada e ainda nem eram dez da
noite.
— Pê, eu não conheço nem um por cento
das pessoas que estão aqui — reclamei,
empurrando um rapaz que se jogou pra cima de
mim assim que eu entrei. — Argh! — resmunguei,
rolando os olhos.
— Não precisa conhecer — disse ela. —
Apenas se divirta. — De repente, ela se virou para
mim, carregando dois copos de bebidas nas mãos.
— Beba.
Aceitei, meio desconfiada.
Embora a casa fosse enorme, estava
extremamente sufocante com o tanto de pessoas
amontoadas. Desde que entramos, passamos por
duas salas. Meu corpo, automaticamente, começou
a sacudir no embalo das batidas da música
enquanto varria meus olhos pelo lugar abafado.
Nunca me senti a vontade naquele tipo de
ambiente; era como se eu não pertencesse àquela
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bagunça de corpos suados e mãos bobas.


Meu corpo se aqueceu assim que visualizei
um casal espremido num dos sofás, os dois
pareciam completamente alheios ao que acontecia
ao redor deles. Lembrei-me de Romeu e tudo em
mim se contorceu de saudade, desejo e expectativa.
Levei o copo de bebida à boca e olhei para
o lado, em busca da Penélope, e a encontrei
agarrada com um cara. Sacudi a cabeça, rindo. Ela
não perdia tempo.
Decidi me aventurar pela casa, em busca de
um lugar calmo onde pudesse ligar para o Romeu.
Cheguei perto da escada e alguém esbarrou em
mim.
— Ei! — reclamei, apesar de minha voz ter
sido abafada pela surpresa visível em meus olhos
quando me deparei com Rangel.
Ele também parecia surpreso a me ver.
Enquanto olhava para ele, eu analisava as
sensações que cresciam no meu peito,
questionando-me o que cada uma significava. Era
óbvio que devotei meus pensamentos a ele por mais
tempo que podia me lembrar, mas nas últimas
semanas tive meu coração invadido por um
sentimento mais forte. Um sentimento verdadeiro.
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Real.
— Doce Eva? Uau! Você está... — a voz
dele, que outrora, arrepiava-me sempre que ele
falava, naquele momento não me causou nada. —,
linda.
Seus olhos desceram pelo meu corpo,
coberto por um vestido em tom nude, com uma
abertura generosa no decote.
— Não nos vemos há quanto tempo? Um
mês? Dois?
— Por aí... — respondi, encarando-o nos
olhos e percebendo a malícia em seu olhar. Olhei
para cima das escadas, ansiando subir e encontrar
um espaço silencioso para poder falar com o
Romeu.
— Está sozinha aqui? — Voltei-me para
Rangel, que estava mais perto. Senti o momento em
que seus braços pretendiam cercar minha cintura,
porém impedi, espalmando seu peito com minhas
mãos.
— Nem ouse tocar em mim — falei com
uma tranquilidade, que contradizia minha
expressão furiosa.
As sobrancelhas grossas e perfeitas se
arquearam, enquanto um sorriso sacana começava a
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tomar conta de seus lábios.


— Não faz muito tempo que você deixou
claro para mim que esse era um desejo seu —
comentou em tom irritantemente arrogante. — Ter
minhas mãos em você.
Sorri.
Em seguida, me inclinei de modo a encostar
a boca em sua orelha.
— Acontece que as coisas mudam com o
tempo — sussurrei. — Antes, eu era muito nova
pra você... — afastei a cabeça para que ele pudesse
encarar toda a intensidade expressa em meus olhos
— Mas agora? Você é muito velho para mim. —
Pisquei antes de empurrá-lo, deixando-o com a cara
de tacho.
Minhas pernas tremiam enquanto subia os
degraus, porém por dentro, eu me sentia vibrar.
Não resisti ao desejo de gargalhar quando
cheguei ao único corredor no segundo andar da
casa. Jamais esqueceria a expressão chocada no
rosto de Rangel.
Prestes a pegar o celular da minha bolsinha
de mão, tive meu corpo enlaçado por mãos fortes.
— Mas qu... Romeu? — Pisquei quando
meus olhos se depararam com o rosto perfeito que
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vinha roubando cada pensamento meu nos últimos


tempos.
— Você está linda. — Gemi quando seu
rosto avançou em meu pescoço para inalar meu
perfume. — E cheirosa demais.
— Como achou o endereço? — Minha voz
estava afetada. — Eu nem mesmo mandei a
mensagem com a localização. — Apertei seus
ombros quando seus dentes rasparam minha pele.
— Eu não sou considerado o rei das festas
em vão, anjinha — disse ele, piscando um olho.
Belisquei sua barriga cheia de músculos.
— Devo me preocupar com minha
integridade física? — Ele me encarou sem entender
e me apressei em complementar: — Aposto que
metade das garotas que estão aqui, já foi parar na
sua cama. Estou errada?
Ele riu, desencostando da parede e
entrelaçando os dedos nos meus.
— Não me importo com nenhuma delas,
Eva. Só com você. Você é a razão de tudo para
mim.
Meu coração ameaçou derreter. Os
batimentos estavam tão forte que tive medo de
sofrer uma síncope. Ignorei todas as inseguranças e
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apertei minha mão na dele, enquanto descíamos as


escadas. Sabia que as pessoas olhavam para nós
dois, mas não dei a mínima importância para nada,
além da felicidade que eu sentia.
— Avise sua amiga que você está indo. —
Ele gritou acima da música para que eu pudesse
ouvir. Assenti.
Entretanto, demorei um pouco para
encontrar a Penélope, e quando encontrei, vi que
ela estava beijando um cara.
Dei de ombros.
— Depois mando uma mensagem pra ela.
— Afirmei.
No lado de fora da casa, Romeu me puxou
para seu carro.
— Onde pretende me levar? — perguntei.
— Ao meu apartamento — respondeu. —
Você está precisando de algumas palmadas depois
do que fez comigo.
Eu ri.
— Romeu, eu não tive escolha — defendi-
me. — Penélope vai saber sobre nós. Eu vou
contar.
Ele me encarou com aquele ar de luxúria
que me deixava louca.
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— Nós sempre temos escolha, Eva —


garantiu. — E é por isso que eu escolho encher seu
traseiro de palmadas e fazê-la desfalecer na minha
cama de tanto gozar.
Dizendo isso, ele simplesmente, deu a
partida no carro e acelerou para longe.

∞∞∞
O trajeto até o prédio em que Romeu
morava foi feito em tempo recorde, porém
silencioso. Minhas entranhas estavam retorcidas em
pura expectativa com tudo o que ele tinha
prometido fazer comigo, apesar da ameaça crua por
trás de suas palavras.
A verdade é que eu tinha apreciado aquele
lado mais bruto dele, o aperto mais forte de suas
mãos em minha pele clara. Era excitante continuar
descobrindo novas formas de prazer. Mais excitante
ainda sendo com Romeu.
Assim que as portas do elevador se
fecharam, eu me joguei sobre o Romeu em busca
da sua boca. Meu corpo inteiro tremia pelo
descontrole causado por ele. Meu desejo era enrolar

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minhas pernas ao redor da sua cintura e fazê-lo


entrar em mim ali mesmo, prensada numa das
paredes do elevador.
As portas se abriram e Romeu me soltou,
contudo, eu voltei a agarrá-lo assim que saímos.
Meus braços avançaram por dentro da camiseta,
adorando sentir o calor da pele das suas costas entre
meus dedos.
— Romeu... — gemi, descontrolada. — Eu
quero você...
Sua boca desceu até a minha com força.
Gemi ainda mais alto quando nossas línguas se
chocaram e, num determinado momento, eu senti
minhas costas baterem contra a parede do corredor.
Romeu ergueu minha coxa, enrolando-a em
sua cintura e impulsionando sua pélvis em direção
a minha.
— Deliciosa demais. — Sua voz saiu como
um grunhido animalesco, o que serviu apenas para
piorar o estado deplorável da minha calcinha.
Estávamos prestes a transar ali mesmo.
Estávamos tão excitados que nem
percebemos que tínhamos plateia. Gritei de susto
quando Romeu nos tirou da parede com intenção de
abrir logo a porta do seu apartamento, mas ambos
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paralisamos diante de seus amigos gêmeos.


Eduardo e Laura estavam sorrindo de orelha a
orelha.
— Confesso que já estava quase gozando
aqui, apenas assistindo ao fogo de vocês — disse a
garota, num tom zombeteiro.
Meu coração retumbava no peito enquanto
tudo o que eu conseguia sentir era o calor absurdo
tomando conta do meu rosto. Eu deveria estar mais
vermelha do que um pimentão.
Droga!

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Dezoito

Romeu

Mortificada.
Essa era a palavra que descrevia Eva com
perfeição.
Minha vontade era de rir, mas certamente
pioraria as coisas pra ela. Eu sabia que minha
anjinha ainda não estava preparada para revelar
nosso relacionamento assim, tão rápido, ainda mais
dessa forma.
Jamais imaginei que seríamos flagrados por
meus amigos.
Esforçando-me ao máximo para não dar
risada da situação constrangedora, eu me aproximei
da porta.
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— Por que não me avisaram que viriam? —


Joguei a pergunta para nenhum em específico.
— Será que é por que você ficou de nos
encontrar e não apareceu? — Eduardo retrucou,
sarcástico.
— Se soubéssemos que estaria tão ocupado,
não viríamos. — Laura aproveitou a oportunidade
para zombar.
Eva apertou minha mão.
Abri a porta do apartamento e fiquei de lado
para que meus amigos pudessem entrar primeiro.
Em seguida, entrei com Eva em meu encalço.
— Bem... — pigarreei. — Obviamente que
vocês já conhecem a Eva, mas ainda não sabem da
novidade. — Puxei-a para mim, encarando seu
rosto rubro. — Nós estamos juntos.
— Deu para perceber, meu amigo, deu para
perceber. — Laura comentou, sorrindo. Seus olhos
fixaram-se em Eva. — É um prazer finalmente
conhecê-la.
Eva sorriu sem jeito.
— Digo o mesmo — disse ela. — Apenas
perdoe-me pelas circunstâncias. — Gesticulou com
as mãos, desajeitada.
As duas se cumprimentaram com um
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abraço. Laura me encarou com um ar malicioso


enquanto esfregava o nariz nos cabelos perfumados
de Eva. Tive vontade de esganá-la.
— Também estou feliz em conhecer o lindo
anjo do meu melhor amigo — disse Eduardo. — É
bom saber que ele finalmente sossegou.
Meu coração se aqueceu com a risada da
Eva, enquanto cumprimentava meu amigo com um
abraço.
Depositei a mão no meio das costas da Eva
e nos levei em direção à sala.
— Nem sei por que eu ainda pergunto, mas
vamos lá: Vocês dois não têm vida social?
Eduardo riu, socando meu braço.
— O que seria do nosso projeto se nós
fôssemos como você, Romeu? Alguém precisa
trabalhar, não?
Rolei os olhos.
— Tão engraçadinho, né?!
Eva tomou um dos lugares no sofá.
— Romeu comentou comigo a respeito da
empresa de Games — disse ela. — Acho que tem
tudo para dar certo. — Sorriu.
Laura se jogou no sofá adjacente e, em
seguida, me ofereceu o celular dela.
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— Você sabe que há algum tempo, eu


mandei informações do nosso jogo para diversas
fontes numa tentativa de receber ajuda em
patrocínio, hun? Esse foi o e-mail de resposta que
recebemos de um deles agora a tarde.
Com o cenho franzido, eu passei os olhos
pelo conteúdo do e-mail. Arqueei as sobrancelhas.
— Estão interessados no nosso jogo? —
Estava chocado.
— Sim — respondeu Eduardo. — E o valor
da proposta é absurdamente alto, o que nos traz a
possibilidade de obter o investimento de que
precisamos para abrir a empresa.
— Você já respondeu? — perguntei a
Laura.
— Claro que não — disse. — Precisávamos
conversar primeiro. É o nosso jogo. Então a decisão
é dos três.
Sentei-me ao lado da Eva, porque me sentia
anestesiado pelo susto.
— Gente, eu não sei — murmurei,
incrédulo. — Nem terminamos o jogo ainda,
caramba!
— Fora que também não paramos para
analisar o real valor dele, tirando o que já foi
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investido — comentou Eduardo.


— O que é melhor? Um jogo único, mas na
mão de vocês agora, ou dez jogos num futuro
próximo e que renderão muito mais? — Eva
questionou, obtendo nossa atenção. — Entendo o
apego, já que esse é o primeiro jogo que projetaram
juntos, o que faz dele um filho muito amado —
comentou ela, sorrindo. — Mas, vocês precisam
pensar lá na frente. Pensar nas diversas portas que
irão se abrir. No sucesso e no retorno que cada um
vai ter com a empresa.
— Ela tem razão. — Afirmou Laura. —
Com a empresa aberta, nós teremos tempo,
autonomia e a tecnologia ao nosso alcance.
— Temos o contato do pessoal que está
interessado em comprar o jogo. — Eduardo
lembrou. — Antes de tudo, nós podemos visitar a
empresa e ir nos familiarizando com esse ambiente.
Fora que é preciso pensar na lista de funcionários
imediatos, porque não tem como fazermos tudo
sozinhos.
— Vocês já fizeram um site? — Eva quis
saber.
— Eu terminei de dar os últimos arranjos
hoje. — Laura respondeu. — Cadê seu laptop,
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Romeu?
Fui até o quarto o mais rápido que consegui.
— Aqui. — Entreguei a ela.
Todos nós nos amontoamos ao redor do
laptop e vibramos quando o site com a nossa
logomarca surgiu na pequena tela. Era o nosso
sonho se concretizando diante dos nossos olhos.
— Vamos investir nessa porra! — gritei,
enquanto abraçava o Eduardo. — Fazer nossa
marca de games invadir cada lugar desse mundo.
Bati o braço no de Laura, que parecia tão ou
mais animada do que eu.
— Anjos em combate? — Eva questionou,
referindo-se ao nome dado a nossa marca. O sorriso
pairando em seus lábios me dizia que ela tinha
aprovado.
Puxei-a para mim, inspirando seu aroma
delicioso.
— Gostou? — soprei. — Foi em sua
homenagem.
Ela riu, envolvendo-me com seus braços
delicados. Eu podia facilmente me acostumar com
aquela rotina. Suas mãos em mim eram como um
bálsamo.

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∞∞∞
Não foi fácil convencer Eva a dormir
comigo depois que meus amigos foram embora. Ela
ainda se sentia desconfortável com a velocidade
com que as coisas entre nós dois estavam
acontecendo. Porém, bastou que minhas mãos
envolvessem seu corpo com um pouco mais de
vontade e, eu a tive, completamente, derretida para
mim.
A sensação que eu tinha quando Eva estava
nua em meus braços era indescritível. Surreal. Eu
sabia que não era apenas uma transa qualquer. Era
muito mais.
Era amor.
Puro e real.
Era desejo.
Puro e carnal.
Eram descobertas.
Novas e únicas.
Ao mesmo tempo em que, eu amava tê-la
daquela forma íntima, eu também odiava, porque
me sentia facilmente vulnerável. Nenhuma garota
já mexeu tanto com minhas estruturas quanto Eva
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foi capaz. E pensar em perdê-la deixava-me sem ar.


Deixava desestabilizado. Fazia-me miserável em
meus próprios medos.
E era justamente assim que eu estava me
sentindo naquele momento enquanto conversava
com meu pai através do telefone.
Eva estava nua e, aninhada em meus
lençóis, dormindo serenamente, alheia ao meu
terror emocional. O dia mal amanheceu e, eu me
sentia desesperado.
— Romeu, está me ouvindo?
Praguejei internamente.
— Estou.
— Eu não entendi o motivo de você não ter
dado ouvidos às anotações da garota chamada
Andressa, porque são excelentes, filho.
Respirei fundo, esfregando meu rosto.
— Ela levou as novas ideias até a
Coordenação do programa — continuou ele, visto
que não falei nada. — E todos ficaram
impressionados com a inteligência da garota,
inclusive eu.
Eu sacudi a cabeça, rindo.
— É, eu também notei o quanto ela é
inteligente — murmurei, entretanto não tive certeza
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se meu pai notou a ironia no meu tom.


— Eu quero que você trabalhe com ela nas
mudanças do programa — disse ele, usando um
tom que não deixava brechas para discussão. —
Você está no último ano de faculdade, então é justo
que já comece a praticar em algo que será seu
quando eu me aposentar.
Droga, droga, droga!
— Pai, eu...
— Sua mãe e eu estamos pensando em
organizar um evento para apresentá-lo aos outros
acionistas. — Ele me cortou. — Achamos que é
importante que você já comece a se familiarizar
com o ambiente empresarial.
— Mas pai, eu não...
— Preciso desligar agora, filho. ——
Novamente interrompeu minhas palavras,
deixando-me puto e desesperado. — Acabei de ver
que seu tio Hugo chegou na empresa e, eu preciso
saber como sua tia Leá está, já que ela precisou ser
levada ao hospital logo cedo.
Minha testa vincou.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei,
esquecendo-me dos meus problemas e me
preocupando estritamente com minha tia, que
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estava grávida. — É algo com o bebê?


Ouvi o suspiro do outro lado da linha.
— Uma gestação em mulheres acima dos
quarenta anos é sempre considerada de alto risco,
filho. Essas pacientes são mais propensas às
doenças pré-existentes que complicam a gestação,
como obesidade, hipertensão arterial, doenças da
tireóide, diabetes... enfim. Desde que a gravidez
dela foi descoberta, há três meses, todo o cuidado
tornou-se necessário para que nenhuma
complicação aconteça. Estamos na torcida somente
para o melhor, uma vez que, os dois lutaram tanto
para terem um filho.
Balancei a cabeça, pensativo sobre suas
palavras. Eu não sabia bem o que tinha acontecido
no passado da tia Léa, mas tinha conhecimento da
tentativa deles em ter um filho, algo que nunca
aconteceu até então. O quão surpreendente a vida
podia ser? Engravidar perto dos cinquenta anos?
Parecia surreal.
— Estamos com saudades, filho.
Soltei um suspiro desanimado.
— Também estou.
— Qualquer coisa que precisar, você sabe
que pode contar comigo, né?
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— Eu sei, pai. Obrigado.


— Eu te amo, filhão.
— Eu também.
Assim que encerrei a chamada, tive vontade
de jogar o telefone contra a parede de tanta raiva. A
frustração agia como um maldito bichinho
corrosivo, rasgando pouco a pouco.
Saí da sacada e voltei para o interior do
quarto. Eva ainda dormia, obrigando-me a desviar
os olhos de suas pernas desnudas ou não resistiria
ao desejo de me juntar a ela. E, eu precisava
resolver aquela situação com a Andressa.
Decidido, abandonei o quarto
silenciosamente e peguei a chave do meu carro.

∞∞∞
O trajeto até a Vila Universitária foi feito
em poucos minutos. Eu sequer tinha noção de como
consegui controlar minha ira enquanto trilhava o
caminho até o prédio rosa em que abrigava os
apartamentos.
Andressa me ofereceu um sorriso imenso
quando abriu a porta e se deparou comigo,

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entretanto o sorriso logo se desmanchou quando


envolvi a mão em seu pescoço e empurrei seu
corpo para trás, fechando a porta com o pé.
— Que porra você pensa que está fazendo?
— sibilei entre dentes, chocando suas costas contra
a porta fechada. — O que preciso fazer para que
você entenda de uma vez por todas que não quero
ter qualquer contato com você, hun?
O rosto bonito começou a ficar vermelho, e
ela tentava desesperadamente respirar sob meu
aperto de morte.
À contra gosto, tive que soltá-la, ouvindo o
inspirar profundo do ar entrando em seus pulmões.
— Eu... — tossiu —, não... — tossiu — fiz
nada, Romeu.
Apoiei as mãos em minha cintura, lutando
contra o desejo de agir feito um covarde e acabar
com a raça daquela infeliz por estar ameaçando
minha felicidade com a Eva.
— Eu acabei de falar com meu pai —
rosnei. — Como eu não dei ouvidos a sua tentativa
de se dar bem, então você deu um jeito de se
infiltrar até chegar ao meu pai, não é mesmo? Que
tipo de vadia você é, Andressa? Do tipo,
aproveitadora? Ou daquelas que se faz de boa moça
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até o último segundo?


Pela primeira vez desde que nós
começamos a conviver, eu vi a raiva brilhar em
suas belas feições.
— Diz você!
Eu dei risada.
— Na verdade, acho que você é burra
mesmo — cuspi. — Burra por pensar que eu
voltarei a estar entre suas pernas.
— Sou muito melhor do que aquela mosca
morta da Eva.
Apertei os punhos, sentindo o ódio vibrar
em cada célula do meu corpo.
— Você sequer sabe o que significa o
sentido da palavra “melhor”, quem dirá chegar aos
pés da Eva — murmurei com sarcasmo. — Eva é
um anjo na minha vida.
Dizendo isso, rumei para a porta na
intenção de sair, mas tive meu braço segurado por
ela, que, literalmente, cravou suas unhas em minha
pele.
— Então, se ela é um anjo, eu serei o diabo
— prometeu.
Inclinei a cabeça e sussurrei em seu ouvido:
— Tente o seu melhor, porque terei o prazer
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de cortar suas asas, demônio.


Afastei-me, fazendo questão de bater a
porta com toda a força que havia em mim.
Embora a fúria me envolvesse como a um
manto, eu precisava controlar meus nervos para
tentar convencer a Eva de que meus próximos dias
— com Andressa — seriam uma tortura tanto para
ela quanto para mim.

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Dezenove

Eva

Eu estava presa entre o sono e a realidade.


Tinha consciência do calor crescente em meu baixo
ventre; dos arrepios tomando conta de cada
centímetro da minha pele; da pressão de dedos e de
uma língua atrevida exatamente no ponto pulsante
entre minhas pernas abertas, mas me perguntava se
todas aquelas sensações eram realmente reais.
— Sou eu, anjinha... — estremeci com a
vibração daquela voz rouca sobre meu clitóris. —
Abra os olhos para mim — exigiu. — Veja quem é
o detentor do seu prazer.
Completamente dominada, abri meus olhos
e arquejei com a visão do Romeu entre minhas
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pernas. Os lábios vermelhos estavam preenchidos


com meu amontoado de nervos, enquanto sua
língua trabalhava dentro de mim, juntamente com
dois dos seus dedos.
— Oh, Romeu... — revirei os olhos,
ameaçando arquear os quadris, mas sendo impedida
por seus braços, que forçaram meu corpo para
baixo.
Minha mente era como um quadro branco
naquele momento; eu não conseguia raciocinar
sobre nada, além do prazer exorbitante que Romeu
estava me proporcionando com sua boca fantástica.
Forcei meu peso sob os cotovelos e assisti,
fascinada, Romeu me dar um beijo de boca aberta;
sugando-me como se eu fosse um manjar, a mais
saborosa das frutas. Joguei a cabeça para trás.
Totalmente entregue.
Totalmente à mercê do Romeu e de sua
língua mágica.
Num determinado momento, a pressão
aumentou e, eu tentei fechar minhas pernas. Olhei
para baixo e vi Romeu movimentando os dedos
com força e precisão dentro de mim. Seus lábios
estavam entreabertos e ele me encarava com fome,
tesão, luxúria, desejo, amor. Era uma mistura
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excitante de emoções e sentimentos.


— Romeu! — Minha voz falhou quando
uma quantidade de líquido incolor saiu da minha
vagina durante meu orgasmo. Passei a não ter mais
o controle sobre minhas pernas devido à
intensidade dos espasmos e dos tremores que me
abateram.
Não soube dizer quantos minutos se
passaram até que eu voltasse à realidade, mas
Romeu estava pairando sobre mim assim que abri
os olhos, ainda respirando com dificuldade.
— Por favor... fala pra mim que eu não
acabei de fazer xixi.
A risada dele foi espontânea e deliciosa.
Depois, seus lábios tocaram os meus com carinho.
— Não, você não fez xixi, Eva — garantiu,
deixando-me tranquila. — Aquilo foi uma
ejaculação feminina. E, puta que pariu, foi a visão
mais erótica da minha vida!
Eu ainda estava chocada, porque jamais
tinha ouvido falar daquilo. Não sabia que mulheres
podiam experimentar tamanho prazer.
— Como isso é possível? — perguntei,
gemendo com sua língua quente que passeava por
meu corpo sedento por mais.
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Eu sempre ansiava por mais.


— De certa forma, a ejaculação é muito
parecida com o orgasmo: às vezes, acontece e, às
vezes, não.
Sua língua circulou meu mamilo e, em
seguida, sua boca o tomou por completo fazendo-
me gemer alto.
Gritei quando num movimento abrupto,
Romeu desceu da cama e puxou meu corpo para
fora. Suas mãos enrolaram minhas pernas em sua
cintura, enquanto meu tronco permaneceu sobre o
colchão em um ângulo de quarenta e cinco graus.
Não tive forças para barrá-lo quando senti sua
invasão num único e duro golpe. Sem camisinha.
Pele com pele.
— Porra! — Gememos juntos.
Romeu apertou meus quadris, enquanto
iniciava os movimentos, deixando-me sem ar.
Sequer imaginava que ele pudesse ir tão fundo
dentro de mim como naquela posição. Meus
punhos embolaram-se nos lençóis, e passei a gritar
mais alto devido a toda intensidade. Minhas coxas
fixaram-se em seus quadris, dando ao Romeu
liberdade para tocar em meus seios e beliscar meus
mamilos tenros.
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— Gostosa demais... — se retirou —


Apertada demais — investiu num golpe só.
Romeu parecia tão alucinado quanto eu,
entretanto senti que ele precisava provar algo a si
mesmo ali. Como se estivesse com medo. Mas de
quê?
Tirando as mãos dos meus seios, ele voltou
a segurar meu quadril com uma delas. Seu polegar
foi parar no meu clitóris, onde pressionou com
força calculada.
— Agora eu quero que você encharque meu
pau, Eva — sibilou entre dentes. — Grite meu
nome, porra! Deixe-me saber que sou eu a
amolecer suas pernas. Eu. Somente eu.
A pressão do seu polegar no meu clitóris,
em contrapartida com o rápido movimento da
penetração deixou-me refém e a beira do
precipício. Minha mente insistia em prolongar a
sensação torturante, embora meu corpo tivesse
outros planos.
Ao final, fui vencida pelo descontrole e
tudo o que fiz foi abrir os braços e me deleitar com
a queda do cume do prazer. Era como estar vendo
estrelas cadentes, ao mesmo tempo em que me
sentia estar numa praia, sentindo o sol queimar
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minha pele.
Era surreal.
Mas aquilo éramos nós.
Romeu e eu.
Ainda estava me recuperando quando senti
Romeu se derramar em cima da minha barriga. O
rosnado que escapou da sua garganta fez com que
tremores invadissem todo o meu corpo.
Apesar de sentir que toda a força havia me
abandonado, ainda consegui me equilibrar sob os
braços para poder analisar o líquido pegajoso
escorrendo por minha pele. Era branco e espesso.
Pude ouvir a respiração de Romeu travar no
peito, quando levei os dedos sobre a substância de
aparência viscosa e, em seguida, trouxe à minha
própria boca.
Os olhos dele estavam enormes, pupilas
dilatadas, enquanto me observava lamber os dedos
que, outrora, estavam lambuzados pelo seu gozo.
— É salgado — comentei, sentindo o sabor
em minha língua.
Assustei-me quando seus lábios se
chocaram nos meus.
Tentei empurrá-lo, sem sucesso. A
alternativa foi cobrir sua boca com minha mão.
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— Romeu, não! Eu estou com mau hálito


— reclamei, fazendo-o sorrir e morder meus dedos.
— Não me importo nem um pouco com seu
bafinho de onça.
Eu ri, tentando beliscá-lo.
Enrolando o braço em minha cintura,
Romeu impulsionou meu corpo a sair da cama.
Abracei seus quadris com minhas pernas, aceitando
quando sua boca tomou a minha num beijo
apaixonado.
Ele nos levou até o banheiro e, rapidamente,
ligou o chuveiro. Lentamente deslizou meu corpo
até que meus pés tocassem o chão.
Meus olhos estavam fechados, enquanto
seus dentes mordiam meus lábios e meu queixo,
repetidas vezes, conforme a água da ducha se
chocava contra nossos corpos ardentes.
— Que jeito delicioso de acordar —
comentei, sorrindo. Ele não respondeu, apenas
permaneceu me encarando e acariciando meu rosto
com seus dedos. Parecia quase em transe. — O que
houve?
Seus olhos piscaram, assustados, como se
eu tivesse acabado de descobrir uma travessura sua.
— Por quê?
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Levei as mãos ao seu pescoço, colando


nossas testas.
— Porque eu te conheço e sei que tem
alguma coisa incomodando você. Então vamos lá,
me fale logo. O que foi?
Respirando profundamente, ele enfiou
nossas cabeças dentro da água. Passei as mãos pelo
seu rosto e ele repetiu o movimento no meu.
— Meu pai pretende me apresentar aos
acionistas em breve. — Ele falou, quebrando o
silêncio ensurdecedor. — Ele me ligou mais cedo,
afirmando que preciso começar a me habituar ao
ambiente da empresa, considerando que estou no
último ano de faculdade.
— E você não o deixou saber sobre suas
vontades? Sobre seus reais planos? — Ele negou
com a cabeça e, eu praguejei. — Caramba, Romeu!
Que porcaria de medo é esse? Seu pai precisa
saber. Aliás, ele tem o direito de saber dos seus
planos futuros, para que também possa se
reprogramar, já que está contando com o único
filho para assumir o lugar dele na empresa.
— É isso! — rebateu, injuriado consigo
mesmo. — Sou o único filho e irei decepcioná-lo.
— Não fale isso.
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Aproximei-me dele quando suas mãos


espalmaram-se na parede úmida e gelada. Seus
ombros pareciam tensos, e seu peito subia em um
movimento ritmado, porém rápido.
— Você é daquelas pessoas que sofrem por
antecipação, Romeu — comentei, rindo baixinho.
— Aposto que depois que falar com ele, você
sentirá todo esse peso se esvaindo.
Silêncio.
Silêncio.
— Romeu?
— Aquela garota conseguiu a atenção dele,
Eva.
Franzi a testa.
— Que garota?
— Andressa — respondeu num murmúrio
dolorido. — Agora serei obrigado a passar mais
tempo com ela — disse ele, mas sem me encarar.
— O quê? — quase engasguei.
— Vou precisar trabalhar com ela —
repetiu, mas dessa vez olhando diretamente em
meus olhos. — Fui, praticamente, intimado a passar
malditas horas trabalhando em algo que não gosto,
e ainda com aquela garota como companhia —
rugiu em pleno desespero. — Não quero nada
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disso, Eva. Não quero desapontar meu pai. E


também não quero desapontar você, entende? O
que será de mim se você me deixar?
Havia tanto medo em sua voz, que tive
vontade de chorar.
Puxei seu enorme corpo para um abraço,
lutando para transmitir uma força que eu estava
longe de ter, porque na verdade, eu também tinha
medo do nosso futuro. Minhas inseguranças
gritavam aos meus ouvidos a cada instante.
— Eu nunca deixarei você, Romeu.
Sua boca fez uma trilha de beijos da minha
testa até meus lábios.
— Promete? — soprou.
Amparei seu rosto com minhas mãos.
— Eu prometo.

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Vinte

Romeu

Andar por aquele ambiente barulhento,


carregado de fumaça e cheiro insuportável estava
me aborrecendo demais. Minha última semana se
resumiu, basicamente, em acompanhar as diversas
etapas de criação de peças automotivas. Era
desgastante e chato. Aquilo não enchia meu
coração. Definitivamente não era o que eu queria
para mim, mesmo que eu não fosse colocar a mão
na massa.
— Coloque a máscara — ordenei a um
funcionário, enquanto passeava por um dos setores
da fábrica.
Eu ficava admirado com a falta de cuidado
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de algumas pessoas com a própria vida. A empresa


González fabricava as peças do zero, e com os
melhores materiais. Entretanto, era um processo
trabalhoso em cada peça, que se dividia em muitas
etapas. Naquele momento, eu estava visitando uma
das fábricas de Freios Automotivos.
— Eu gostaria de um relatório mais
detalhado sobre cada setor... — me calei quando
escutei um estrondo — O que foi isso, porra? —
questionei ao diretor que me acompanhava no meu
tour pelo lugar.
Os olhos dele se arregalaram.
— Foi a caldeira — respondeu ele.
Acelerei os passos e, rapidamente,
chegamos ao setor de Fundição e a primeira coisa
que visualizei foi a incrível caldeira derretendo
sucatas e mais sucatas de ferro. A visão do fogo era
tão impressionante quanto assustadora, e o barulho
era ensurdecedor.
— Aqueles caras estão carregando baldes
com ferro derretido? — questionei ao diretor,
arrepiado, aproximando minha boca da orelha dele
para que pudesse me ouvir. — E a segurança?
Porra, aquilo ali é uma maldita bomba!
— Realmente, concordo com você — disse
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ele. — Uma única gota de água que cair dentro da


caldeira faria um estrago enorme. — Tentou sorrir,
mas não achei graça alguma. — Mas nossa equipe
de Segurança do Trabalho está sempre atenta aos
itens e dispositivos de segurança, e nós estamos
sempre dando cursos de capacitação e palestras
sobre segurança para os nossos funcionários.
Sacudi a cabeça, absorvendo suas palavras.
Meus olhos varriam cada lugar atentamente.
— Por que aquele funcionário está usando
um macacão diferente dos demais? — perguntei, ao
observar as luzes no tecido.
— Provavelmente um dos uniformes dele
estava sujo. — Deu de ombros.
Aproximei-me do chefe do setor e fiz a
mesma pergunta, e então ele chamou o funcionário.
— O que aconteceu com seu macacão,
Pablo?
— Estava sujo, senhor — respondeu ele,
sem jeito. — A mulher não teve tempo de lavar.
Eu sorri, deliciando-me com a simplicidade
do homem.
— Pode voltar ao trabalho, senhor Pablo —
falei, tocando no ombro dele e lhe oferecendo um
sorriso sincero. Voltando-me para o Diretor e chefe
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do setor, eu falei: — A fumaça causada pela


fundição das peças prejudica bastante a
visualização do lugar... — apontei para o homem
perto de nós — E aquele tipo de macacão, com
listras no tecido que possam ficar visíveis mesmo
na baixa iluminação, é uma opção excelente.
Também é interessante que se invista na tecnologia
dos tecidos com bloqueadores de raios
ultravioletas, que são tratados com substâncias
inibidoras dos raios solares e, que reduz sua
absorção em cores escuras e promove melhor
gerenciamento térmico. Já ouvi falar que esse
produto diminui a temperatura em até 5 ºC e
minimiza o desconforto causado pelo calor.
Vi que ele anotou minha consideração.
Passei a mão pela testa suada e, em seguida,
verifiquei as horas no meu relógio de pulso.
— Bem, acho que preciso respirar um
pouco de ar puro agora — murmurei, fazendo-os
rirem.

∞∞∞
Já passava das duas da tarde, quando meu

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expediente de tortura finalmente chegou ao fim.


Praguejei baixo assim que peguei o momento em
que Andressa surgiu no estacionamento, olhando de
um lado para o outro até parar os olhos em mim.
Um pequeno sorriso pairou nos lábios dela.
Dei a volta no meu carro, tentando escapar
das garras da infeliz, mas não fui rápido o
suficiente.
— Romeu, por favor, espere. Você poderia
me dar uma carona?
Abri a porta.
— Tenho cara de taxista? — rebati,
entrando e me ajeitando no banco.
Prestes a fechar a porta, tive meu
movimento travado por uma mão delicada.
— É apenas uma carona até o Campus,
Romeu. — Revirou os olhos. — Eu não mordo,
juro.
Travei o maxilar quando a observei cruzar
os dedos e beijá-los de um lado ao outro como se
estivesse fazendo uma promessa.
— Entra aí — murmurei, entediado.
Assim que ela deu a volta — quase
saltitando — e entrou no carro, avisei:
— Não quero uma palavra durante o trajeto,
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Andressa. É silêncio total. Entendeu?


Sua mão subiu e ela deslizou os dedos pela
extensão da sua boca, fingindo que estava fechando
um zíper.
Rolei os olhos e liguei o carro, acelerando-o
logo depois.

∞∞∞
Eva estava batendo o pé quando estacionei
o carro perto dela. Desci do veículo, verificando o
horário e tendo consciência do meu pequeno atraso;
a maldita carona para a Andressa não tinha sido
uma boa ideia afinal.
— O que aconteceu? — questionou Eva,
aceitando meu abraço. — Não estava perto do seu
celular? Liguei algumas vezes.
Beijei seus lábios convidativos.
— Eu devo ter deixado o celular na fábrica.
— Dei de ombros. Mordi seu lábio inferior quando
vi que ela fez um bico desgostoso. — Já falei que
amo quando você usa esse batom vermelho?
Ela enrolou os braços em minha cintura,
porém me dignando um olhar enviesado.

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— Não tente mudar o jogo.


Eu ri.
— Me desculpe. Não quis me atrasar para
sua primeira aula de direção, eu juro — falei, entre
um beijo e outro, sequer pensando em mencionar a
carona dada a Andressa. Levei a cabeça na dobra
do seu pescoço perfumado. — Aquele lugar me
deixa louco. É um maldito inferno.
— Você precisa contar a verdade para seu
pai — disse ela, com um suspiro cansado. Essa era
uma frase que saía dos seus lábios constantemente.
— O que pretende? Por acaso quer que o tio David
descubra tudo na inauguração da Anjos em
Combate?
Meu coração ameaçou sufocar.
— Eu vou contar.
Beijei sua testa antes de me afastar,
balançando as chaves do carro diante do seu rosto.
— Pronta para aprender a dirigir? —
perguntei, oferecendo-lhe um sorriso.
Acabei descobrindo por acaso que Eva tinha
reprovado duas vezes no teste prático de direção,
então me prontifiquei a ensiná-la.
Ela deu alguns pulinhos, enquanto juntava
as mãos e pegava as chaves.
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Dei um tapa forte no seu traseiro empinado,


quando ela passou por mim. Deleitei-me com seu
gritinho agudo.
Dentro do carro, aguardei até que ela
colocasse o cinto.
— Certo. Já verificou os retrovisores?
— Já.
— Você sabe qual é a embreagem, né? O
freio é o pedal do meio e o terceiro é o acelerador.
— Uhum.
— Liga o carro agora.
Ela girou a chave na ignição e o carro deu
um solavanco para frente.
— Caralho, Eva! O carro estava engatado
na marcha, anjinha.
— Ah, eu não vi. Você também não falou
nada — reclamou ela, chateada.
— Eu pensei que não precisasse, oras —
revidei, um tanto impaciente. — Preciso ensinar
sobre a forma de engatar as marchas também? —
zombei e, ela ficou irritada.
— Romeu, se é para ser grosseiro e
impaciente comigo, então não quero continuar com
isso — ralhou.
Eu ri, puxando seu rosto para mim a fim de
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beijar sua boca.


— Me desculpe — sussurrei. Novamente no
meu banco, voltei a dar instruções: — Coloca no
ponto morto primeiro, depois pisa na embreagem e
engata a primeira marcha — expliquei com calma.
Ela fez como instruí.
— Agora vai soltando a embreagem
devagar... isso.
— Onde é a seta? — perguntou.
— É ali... naquele botão. — Apontei.
Lentamente, o carro foi ganhando
velocidade e logo estávamos na estrada.
— Pode mudar a marcha, Eva — falei
quando percebi que ela não passaria da segunda. —
Cuidado para não invadir a outra pista, anjinha. —
Puxei levemente o volante quando notei que o carro
estava seguindo para o lugar errado.
Ela ficou nervosa.
— Eu não consigo ter noção de espaço,
Romeu — choramingou. — Não sei dizer quando é
seguro fazer tal manobra, ou se o carro conseguirá
passar por tal lugar. E se eu bater?
Soltei uma risadinha.
— Eva, nós estamos seguindo reto e numa
pista que mede bem mais de doze metros.
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— Você tem certeza, Romeu? —


questionou num tom abafado pelo medo. — Oh,
meu Deus! Tem carros atrás de nós.
Paramos num semáforo, longos minutos
depois.
— Dê a seta para a direita, que é para onde
estamos indo, aguarde o momento certo e depois
siga no seu tempo, entendeu? Ignore quem está
atrás.
Eu podia ver o tremor de suas mãos e o
pânico visível em seu rosto.
Assim que o sinal abriu, ela tentou arrancar
com o carro, mas o mesmo apagou. Foram três
tentativas.
— Não consigo. Não vai.
— É só você ter calma — falei. — Acelere
um pouco e vai soltando a embreagem devagar.
— As pessoas estão buzinando, Romeu —
disse ela, desesperada. — Eu sabia que não deveria
ter aceitado essa loucura. Eu não me dou bem com
o volante. Não dá.
De repente, ela desistiu. Abriu a porta do
carro e saiu.
Não tive alternativa, a não ser pegar o lugar
dela e nos tirar dali.
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Assim que encontrei um local menos


barulhento, eu parei.
— Ei? — Puxei seu corpo miúdo para meus
braços quando notei suas lágrimas. — Não se
pressione tanto, Eva. Nem todos os anjos são
perfeitos, uns não sabem dirigir.
Ela deu risada, beliscando minha barriga.
Afastei-me de modo a poder enxugar a
umidade de lágrimas em suas bochechas.
— O seu problema é o nervosismo.
Ela assentiu, fungando feito uma criança
magoada.
Jogando as costas para trás, no encosto do
seu banco, ela levou os olhos para fora da janela.
— Vou para Madrid amanhã — disse de
repente.
Estranhei.
— Por quê? — perguntei, tentando me
recuperar do choque diante daquela informação.
— Meus pais querem me ver — respondeu.
— E na verdade, já faz tempo que não os vejo.
Estou com saudades deles, sobretudo, do meu
irmão.
Sorri.
— Quanto tempo pretende ficar?
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— Dois dias no máximo.


Assenti, enquanto começava a fazer uns
cálculos.
— O que está calculando? — questionou
ela, confusa.
— Calculando toda a farra que poderei fazer
durante esses dois dias sem você.
Ela estapeou meu braço.
— Só porque vou viajar não significa que
você esteja solteiro — ralhou em tom de
advertência, embora esbanjasse um sorriso
brincalhão.
Voltei a puxá-la para meus braços.
— Vou sentir saudades — murmurei,
tocando nossos lábios num beijo casto.
— Eu mais ainda — soprou, puxando meu
lábio inferior com os dentes. — Precisamos
aproveitar as poucas horas que temos... — deixou a
intenção no ar.
— Para quê? — provoquei.
O rubor inundou suas bochechas.
— Você sabe, Romeu.
Franzi a testa.
— Eu sei? — perguntei, descendo uma das
mãos pela lateral do seu corpo e apertando sua
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coxa.
— Você vai mesmo me obrigar a falar? —
sibilou ela, nervosa.
— Eu adoro quando sua boca pronuncia
sacanagens e palavras feias, anjinha.
Ela riu, porém soltou um gemidinho quando
voltei a apertar sua coxa.
— Foder — falou num sussurro. —
Podemos aproveitar essas poucas horas para foder.
Afastei um pouco minha cabeça para poder
olhá-la e quase não controlei o rugido animalesco
que ficou engasgado na minha garganta. Eva estava
com o rosto completamente vermelho e me
encarava com um olhar recheado de malícia
enquanto mordia os lábios carnudos.
Ela estava puro pecado.
— Quando você diz foder, é foder mesmo?
— Argh, Romeu, já chega! — Se afastou,
rindo. — Não vou falar mais nada.
Minha risada foi espontânea, enquanto
ligava o carro na ignição e colocava o carro na pista
novamente.
— Pode ao menos dizer se está
molhadinha?
Ela me encarou, rubra.
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— Encharcada... — gemeu, entretanto


gritou quando freei de modo abrupto num sinal
vermelho. — Romeu! Quer nos matar?
Seus olhos estavam arregalados.
— Quem está querendo me matar é você,
porque agora não consigo parar de pensar nessa sua
bocetinha suculenta. — Avancei a mão por trás da
sua nuca e puxei seu rosto para mim.
A risadinha eufórica dela freou minhas
intenções.
— Você precisa prestar atenção no trânsito
agora, garanhão — lembrou-me.
Empurrando meu corpo de cima dela,
assisti, fascinado, a garota se ajeitar no banco. Os
cabelos foram de um lado ao outro, até que ela
estivesse satisfeita com o próprio visual. Sorri,
deslumbrado, enquanto voltava a me concentrar na
direção, completamente apaixonado.
Estar com Eva, independente do lugar ou
das circunstâncias, já fazia meu coração bater mais
forte.
Porque era ela.
Sempre seria por ela.

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Vinte e um

Eva

Eu vinha lutando constantemente contra


minhas inseguranças; esforçando-me ao máximo
para não me parecer com aquelas namoradas
ciumentas que não conseguem administrar os
próprios sentimentos e nem separar a realidade da
imaginação. Romeu era maravilhoso e, todos os
dias, ele me surpreendia com seu carinho e seus
cuidados; deixando claro que não era necessário
que eu deixasse o medo assolar meu coração,
porque eu era a única para ele.
Apesar de tudo isso, o bichinho do ciúme
não me abandonava, embora eu não deixasse
transparecer. Não me sentia confortável com a ideia
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de saber que Romeu trabalhava diariamente com


uma garota que ele já teve um caso, mesmo de uma
noite só.
Questionava-me: E se ela se oferecesse e ele
não fosse capaz de ceder à tentação? Porque
mesmo não sendo experiente, eu sabia que para o
homem os hormônios eram sempre mais intensos.
Mas aí, eu me lembrava da força de uma
palavra: Confiança. Eu precisava confiar no Romeu
a esse respeito, assim como sempre confiei que ele
jamais me machucaria e, ou decepcionaria. Nossa
cumplicidade não tinha nascido com nosso
relacionamento de homem e mulher, mas desde
nossos primeiros passos na vida. Eu o amei antes
mesmo de saber o significado da palavra amor.
Então estava tomando tudo de mim para não
decepcioná-lo com minhas desconfianças
incabíveis.
— Que horas pretende viajar amanhã? —
Cecílie quis saber. — Amálie não comentou nada
comigo.
Estávamos em seu quarto de hotel.
— Vou pegar o primeiro vôo.
Ela pegou tudo o que precisaria usar e
colocou perto de mim, num grande armário.
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— Foi uma decisão meio que de última hora


— complementei.
Cecílie me encarou, carregando um
sorrisinho no canto da boca.
— Acho que minha irmã está se sentindo
ameaçada por mim — zombou e, eu me irritei um
pouco.
— Não estamos numa competição aqui,
Cecílie. — Não consegui evitar a rispidez. — A
melhora na nossa relação não muda nada o amor e
o respeito que tenho pela minha mãe.
— Wou! — Ela ergueu as mãos em sinal de
rendição. — Sei disso, Eva. Não precisa ficar na
defensiva, garota.
Meu coração estava acelerado diante do
nervosismo que aquele assunto me causava. Não
gostava de imaginar a dor da minha mãe por pensar
que eu pudesse me esquecer do meu passado. Que
pudesse me esquecer de tudo o que ela fez e fazia
por mim apesar de eu não ter saído do útero dela.
Éramos mãe e filha.
Mesmo que a ciência negasse isso, meu
coração e minha boca gritariam essa certeza pelos
quatro cantos da Terra, e enquanto houvesse fôlego
de vida em mim.
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— Já escolheu o que vai querer tatuar? —


perguntou ela, numa clara intenção de amenizar o
clima tenso que havia se estabelecido entre nós
duas.
Respirei fundo, tentando controlar os
batimentos cardíacos e meu humor. Apontei para
um desenho de asas.
— Quero tatuar essas asas aqui... —
indiquei o local acima das minhas costelas.
Cecílie sorriu, aprovando minha escolha.
— Já vi que você tem o desejo de voar —
comentou, enquanto terminava de preparar seu
equipamento e começava a colocar as luvas. — As
asas são a representação perfeita do vôo e da
possibilidade de realizá-lo. E a tattoo de asas pode
ter o significado aliado a esse desejo de voar, ou
numa metáfora de “alçar novos vôos”, ou seja, de
vencer barreiras, obstáculos e ir em busca dos
sonhos.
— Na verdade a escolha foi mais pela
sensação de liberdade mesmo — falei. — Assim
como o vôo é associado à liberdade dos pássaros,
as asas também estão ligadas ao simbolismo de
poder voar em busca da liberdade.
— Sinto que essa liberdade que você tanto
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anseia já foi conquistada, hun?


Sorri, assentindo.
Tirei a blusa e o sutiã, em seguida, deitei-
me sobre a cama, erguendo o braço de modo a
deixar minha pele à mostra. Cecílie ligou seu
equipamento e iniciou.
Ela estava usando máscara, e por um
momento, comecei a analisar seus olhos, idênticos
aos meus. Por anos, me perguntei sobre o motivo
de ter sido rejeitada por ela, obviamente não
chegando a nenhuma conclusão. Eu tive amor; tive
calor e abrigo; tive aconchego em dias frios, mas
também tive ensinamentos em dias difíceis.
— Por que não pergunta de uma vez, Eva?
Pisquei com sua pergunta.
— Perguntar o quê? — Empertiguei-me.
— O que tanto te atormenta.
Inspirei e expirei devagar, absorvendo suas
palavras e minhas próprias emoções.
— Sei que já entramos nesse assunto antes,
mas eu ainda não consegui entender. — Respirei
fundo para criar coragem. — Por que você me
deixou? Aliás, por que continuou e continua
voltando e sumindo da minha vida? Você não
estava no meu aniversário de quinze anos. Não
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estava lá quando menstruei pela primeira vez. Não


estava lá para me segurar quando eu caísse na
primeira vez que andei de bicicleta. Caramba,
Cecílie, você não vibrou comigo quando eu beijei
um garoto pela primeira vez.
— Mas estou aqui fazendo sua primeira
tatuagem — disse ela, como se aquilo fosse um
grande marco.
Fiquei tão chocada com a facilidade que ela
lidava com aquele assunto que comecei a rir.
— Romeu tem razão quando diz que você é
doida — comentei entre risos.
Ela me encarou de soslaio.
— É bom saber que sou um dos assuntos de
vocês dois.
Revirei os olhos.
O silêncio reinou, e apenas o barulho da
máquina podia ser ouvido.
— Sou sincera quando afirmo que não
tenho intenção de tirar o lugar da Amálie, Eva —
disse ela, de repente. — Desde que vi seu rosto pela
primeira vez, tive certeza que não seria a mãe que
você precisava, que não seria o melhor exemplo
para você. Aliás, olhe para mim?! Não sou exemplo
para ninguém. — Ela riu da própria piada. —
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Contudo, admitir que eu não tenha o dom para ser


mãe, não significa que eu não possa amá-la. Talvez,
minha maneira de amar você, nunca seja suficiente,
porque hoje estou aqui, mas amanhã é sempre um
novo dia. — Seu dedo tocou a pontinha do meu
nariz. — Porém estarei ao seu lado durante o tempo
que as circunstâncias permitirem. Durante o tempo
que você permitir, Eva. Sem amarras. Sem
cobranças. Sem mágoas. Sem pressão.
Analisei suas palavras, tentando absorvê-las
da melhor forma possível e de coração aberto.
— É, acho que posso lidar com isso —
murmurei no fim.
Ela sorriu.
— E então? Desde quando você e Romeu
estão transando?
Engasguei com minha própria saliva; uma,
pela mudança abrupta de assunto, e outra, pelo
choque causado pela sua pergunta. Cecílie se
obrigou a parar um pouco.
Ergui-me, ficando sentada na cama
enquanto tentava controlar a tosse. Com o canto do
olho, notei que Cecílie foi atrás de uma garrafinha
de água.
— Beba — pediu depois de alguns
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instantes. — Devagar.
Depois de poucos minutos, consegui
equilibrar minha respiração.
— Está melhor?
Ergui os olhos para ela, que agora me
encarava de cara limpa, sem a máscara.
— Como descobriu?
Ela sorriu e, em seguida, veio se sentar na
cama, ao meu lado. Suas mãos tocaram as minhas.
— Eu não falei nada na hora, mas vi quando
você saiu de cima do colo do Romeu naquela noite
que peguei vocês dois no carro — contou, olhando-
me com um ar travesso. — Tentei ganhar sua
confiança primeiro, antes de entrar no assunto.
— Meu Deus, que vergonha! — Mordi os
lábios, baixando a cabeça e olhando para nossas
mãos juntas.
Cecílie tocou meu queixo, forçando meu
olhar no seu.
— Vergonha, por quê? — perguntou. —
Você e Romeu cresceram juntos, então é normal
terem essa curiosidade, essa ligação. — Mordi o
cantinho interno da boca. — Sua primeira vez foi
com ele?
Pensei em não responder, mas era ridículo,
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já que ela sabia de tudo.


— Foi — respondi, sentindo o rubor
tomando conta do meu rosto.
— Mas vocês estão em algum tipo de
relacionamento romântico?
Fiquei brincando com nossas mãos.
— Bem, na verdade ninguém sabe ainda,
além de você. — Ri, nervosa. — Tivemos um
começo meio louco, comigo querendo apenas
aprender a transar...
— Você pediu para o Romeu ensiná-la a
transar? — Ela parecia chocada, embora não
deixasse de sorrir.
— Sei que parece algo um tanto quanto
inconsequente, mas eu estava cansada de ser taxada
como uma boba romântica. — Dei de ombros. —
Então Romeu e eu começamos uma pequena
jornada de descobertas.
— E nesse meio tempo, acabaram
descobrindo muito mais do que o prazer. — Não
foi uma pergunta. — Acabaram descobrindo o
amor.
Assenti, sorrindo como uma boba
apaixonada.
— Não prevemos que isso pudesse
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acontecer — murmurei. — Mas não há como


mandar no coração.
— Vocês pretendem contar para a família?
— quis saber. — Não tenho certeza se eles verão a
nova relação de vocês dois com bons olhos.
Franzi a testa.
— Você acha? — Me preocupei.
Cecílie suspirou.
— Veja bem, querida, vocês foram criados
como irmãos — disse o obvio. — Certamente que
ninguém previu que isso pudesse acontecer no
futuro — explicou, vendo minha expressão
preocupada. — Mas não se preocupe muito. —
Tocou meu rosto. — Preocupe-se em viver essa
aventura de amor o máximo de tempo que
conseguir, querida, porque a sensação do proibido
deixa a relação sempre deliciosa.
Eu ri.
— Você tem razão — comentei, voltando a
me deitar.
— E, eu não sei? Querida, o sexo é a
melhor coisa já inventada por Deus — disse ela,
voltando a colocar as luvas e a máscara. —
Melhora a circulação sanguínea, queima calorias,
libera substâncias benéficas, fortalece os músculos,
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rejuvenesce — ela apontou para si mesma quando


disse isso e, eu ri. — Melhora o estado de espírito,
melhora o aspecto da pele, é um bom analgésico,
melhora a aparência física... — seus olhos voltaram
para os meus — Enfim, Eva, as razões para se
deixar levar pelos orgasmos da vida são infinitas.
Gargalhei alto.
— Agora vai, me conte todos os detalhes —
pediu. — Adoro ouvir essas histórias de amor
proibido — disse rindo.

∞∞∞
Tinha acabado de chegar em casa depois de
longas horas com Cecílie fazendo minha tatuagem.
As asas não tinham muitos detalhes, também não
era muito grande, então ela conseguiu terminar.
Apesar da dor, eu me saí muito bem e o resultado
final foi incrível.
Penélope não estava no apartamento quando
cheguei, o que não me surpreendeu, já que ela
quase não parava em casa. Peguei meu celular,
verificando minhas chamadas e mensagens, e
estranhei por não ter nada do Romeu, uma vez que,

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eu estive fora por algum tempo. Depois da tentativa


dele em me ensinar a dirigir, nós fomos direto para
seu apartamento, onde saí de lá perto das cinco da
tarde, indo direto para o hotel em que Cecílie
estava hospedada.
Tínhamos combinado de passar as últimas
horinhas, antes da minha viagem, juntos, apesar de
eu ter decidido fazer a tatuagem. Contudo, senti-me
estranha com o fato de ele não ter me procurado
depois que deixei seu apartamento.
Um sorriso enorme tomou conta dos meus
lábios assim que alguém bateu na porta. Corri para
atender, confiante que era o Romeu.
— Eu já estava pensando que você tinha se
esqueci... — minhas palavras morreram quando
meus olhos se depararam com outra pessoa. — Oi.
Andressa estava sorrindo para mim, e eu me
esforçava para devolver-lhe a simpatia.
— Seu nome é Eva, não é? — perguntou
ela, e eu assenti, porque minha voz havia sumido
enquanto admirava a beleza invejável da garota. —
Desculpe se estiver incomodando, mas o seu primo
acabou esquecendo o celular dele no meu
apartamento e...
— O Romeu? — Quase engasguei.
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— Sim. O Romeu é o seu primo, certo? —


Voltei a assentir, meio aérea. — Ufa! Por um
momento pensei que tinha feito confusão aqui... —
ela sorriu, colocando a mão no peito de modo
dramático. — Bem é isso... você poderia entregar
para ele por mim? Fico preocupada, porque o
coitadinho pode estar precisando do celular.
— Claro. — Aceitei quando ela me
entregou o aparelho. Meus olhos ardiam, mas
estava me concentrando para não chorar na frente
dela.
— Obrigada, querida! — exclamou. —
Romeu tem razão quando diz que a priminha dele é
um amor. Foi um prazer conhecê-la.
Sorri, mas sem mostrar os dentes.
Desesperada para chorar e sem forças para
continuar segurando os soluços, eu fechei a porta,
colando minha testa na madeira. Por mais que
lutasse para controlar a enxurrada de sensações, era
impossível. Meu raciocínio estava prejudicado. Não
queria aceitar aquela dura realidade. Não queria
aceitar que Romeu tinha mentido para mim.
Incapaz de continuar remoendo aquela
dúvida por mais tempo, decidi ir atrás dele. Ele
teria que me explicar exatamente o que fazia na
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casa daquela vagabunda.

∞∞∞
Apertei a campainha apenas uma vez e a
porta logo foi aberta. Não soube dizer se Romeu
não percebeu o meu rosto inchado, ou o fato de eu
não ter retribuído seu abraço quando ele me ergueu
do chão, trazendo-me para dentro do seu
apartamento, mas levou alguns instantes para que
seus olhos analisassem meu estado físico e
emocional.
— O que foi? — Havia um vinco gigante
em sua testa.
Mostrei o celular para ele.
— Ah, estava com você? Passei um bom
tempo procurando depois que você foi embora —
explicou. — Tinha realmente chegado a conclusão
de que tinha deixado na fábrica.
— Não estava comigo — falei num tom
frio. — Andressa acabou de deixá-lo na minha
porta, e me pediu para entregar a você. — O rosto
dele empalideceu. — Agora estou me perguntando
os motivos que fizeram seu celular ir parar no

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apartamento da garota que você vive jurando não


ter nada.
— Eva...
Interrompi suas palavras, batendo em suas
mãos que ameaçavam me tocar.
— E sabe de uma coisa, Romeu? A única
conclusão que está martelando na minha mente
desde que saí do meu apartamento feito uma doida
para confrontar você, é que você está comendo nós
duas.
— Não! Claro que não!
Ele parecia desesperado.
Meus olhos estavam novamente nublados
pelas lágrimas mesmo que eu tentasse impedi-las.
— Argh! Malditas lágrimas! — gritei,
passando os dedos abaixo dos olhos. — Você me
enganou direitinho, Romeu — falei, rindo de
maneira amarga. — Me fez acreditar que me
amava.
— Mas eu te amo, Eva, pelo amor de Deus!
— gritou ele, avançando para me pegar em seus
braços.
— Ah, ama? — vociferei, chocando seu
peito com meus punhos. — Então me explica —
exigi num grito desesperado. — Me faça entender
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que tudo não passou de um mal entendido. Me faça


entender que sou a única na sua vida, Romeu. Caso
contrário, sairei por aquela porta e você nunca mais
chegará perto de mim.
O pânico no rosto dele fez meu coração
doer ainda mais, entretanto, eu não poderia ampará-
lo dessa vez. Não quando tudo dentro de mim
gritava.
Era medo.
Era ansiedade.
Era dor.
Era decepção.
Contudo, o que gritava mais alto era o
amor. O sublime e doloroso amor.

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Vinte e dois

Romeu

A raiz de um dos meus maiores medos


estava ali, olhando para meus olhos.
Se apresentando.
Mostrando sua cara horrenda.
Eu não queria aceitar olhar; queria fugir.
Era difícil enfrentar. Era difícil aceitar que o medo
de perder meu anjo estava bem ali, na minha frente.
Que ele era real.
Engoli o engasgo do choro, pouco me
importando que estivesse prestes a chorar na frente
dela. Eva era a única garota que me conhecia
melhor do que eu mesmo. Ela conhecia minhas
fraquezas como a nenhum outro, entretanto, eu
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duvidava que soubesse que ela própria era meu


calcanhar de Aquiles.
— Por favor, vamos nos sentar... — tentei
pegar sua mão, mas ela se esquivou de mim como
se eu tivesse uma doença contagiosa. Aquilo doeu
mais do que imaginei ser possível.
Em silêncio, ela caminhou na minha frente
e se ajeitou num dos sofás da sala. O clima era
tenso. O ambiente carregado fazia jus ao que estava
se passando dentro do meu coração naquele
momento, enquanto pensava numa forma de fazer
Eva entender que não existia outra na minha vida.
Para não deixá-la ainda mais irritada, optei
por me sentar no sofá adjacente, dando a ela uma
distância considerável de mim.
— Eva, não é novidade para você que eu
transei com a Andressa antes de qualquer história
entre nós dois acontecer... — apontei de mim para
ela — Foram duas vezes, porém se eu pudesse
voltar no tempo, jamais teria feito tal escolha. — O
silêncio dela era cortante, assim como seu olhar,
isento de qualquer emoção que pudesse me dar
algum vestígio do que pudesse estar pensando. —
Nos últimos dias, eu me esforcei ao máximo para
não ter contato com ela mais do que o necessário,
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justamente, porque sei o quanto essa situação é


desconfortável para você, anjinha... — pausei para
analisar suas reações. Nada. Ela não dizia e não
fazia nada. Pigarreei: — Mas hoje... — fechei os
olhos, me sentindo o mais estúpido dos caras —, eu
dei uma carona para ela.
Eva riu, deixando-me inquieto, porque
aquela não era a reação que eu esperava.
— Agora entendi seu atraso afinal — disse
ela num tom irônico. — Acredito que foi nesse
momento que você perdeu seu celular, hun? Me
responda uma coisa, Romeu: — Ela se inclinou,
apoiando os cotovelos sobre as pernas semi-
dobradas. — Você ficava comparando o sexo entre
nós duas? Porque, veja bem, Andressa deve ser a
típica garota pornô, não? Repleta de experiência. —
A mágoa escorria em cada palavra dita. — Quer
saber? Já chega! Foda-se, você! Foda-se, aquela
vadia!
Irritado, eu me levantei no momento em que
ela pensava em sair.
— Já chega, digo eu! — explodi, forçando
seu corpo para baixo, para que ela voltasse a se
sentar. — Entendo que a porra da circunstância não
está a meu favor, mas eu ainda tenho o direito a
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defesa. — Ela engoliu em seco, contudo não falou


nada. Respirei fundo e, em seguida, ajoelhei-me
aos seus pés. — Eu dei a carona, mas foi só isso,
Eva. Não faço a menor ideia de como meu celular
foi parar nas mãos dela, mas isso também não é
difícil de deduzir, considerando que o aparelho
estava no porta-luvas. Quem garante que ela não
tenha aproveitado um descuido meu, enquanto eu
estava concentrado no trânsito, para pegar o celular
sem que eu visse?
Eva não disse nada, mas notei os vincos em
sua testa enquanto absorvia minhas palavras.
— Ela sabe de nós dois, Eva —
complementei, desesperado para que ela acreditasse
que eu dizia a verdade. — A garota cismou que
quer a mim, mas não há maneiras no céu e nem no
inferno para que eu fique com ela, porque meu
corpo e meu coração são seus. Seus.
Ficamos nos encarando por segundos que
pareceram intermináveis. Eu não sabia que estava
chorando até que senti a delicadeza do toque dos
seus dedos abaixo dos meus olhos, enxugando a
umidade das lágrimas.
Aproveitei a brecha na sua guarda, e me
coloquei entre suas pernas circulando sua cintura
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com meus braços. Nossos rostos ficaram a


centímetros um do outro.
— Você está com medo também? — Sua
pergunta soou num mero sussurro.
Assenti, deslizando meu nariz no seu;
inspirando seu aroma lentamente.
— Estou — soprei. — Perder o que nós
temos não é uma opção para mim, Eva. Perder você
não é uma escolha, entende? Isso vai me destruir.
Ela suspirou, segurando minhas mãos e
trazendo-as aos lábios. Fechei os olhos no
momento em que sua testa colou na minha.
— Eu o amo, Romeu. — Um sorriso de
puro alívio se instalou nos meus lábios. — Mas
preciso de um tempo.
Abri os olhos, assustado.
— Como assim, tempo?
Gentilmente, suas mãos me empurraram
para trás, de modo a se levantar com mais
liberdade.
— Vou aproveitar a viagem até Madrid para
pensar a respeito de tudo isso.
Desespero tomou conta de cada célula do
meu corpo.
— Pensar sobre o quê, Eva? Por acaso você
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tem dúvidas sobre o que sente por mim?


— Claro que não! — revidou ela, quase
ofendida. — Eu o amo mais do que meu coração
aguenta.
O homem das cavernas existente em meu
interior quis bater no peito em puro contentamento
diante daquela declaração, mas obviamente não era
o momento.
— Então qual é o problema? Quer que eu
confronte aquela maldita garota para que você
possa ter certeza de que não temos mais nada? Eva,
eu faço qualquer coisa por você. — Não tinha
vergonha de estar implorando.
Os olhos dela estavam úmidos quando se
fixaram nos meus.
— Então conte a verdade para seu pai —
disse num tom de voz firme. — Vá viver seus
sonhos livremente, Romeu. Livre-se de todas as
amarras e depois volte a me procurar. — Dizendo
isso, ela se virou, me dando as costas.
— Eva...
Ela parou com a mão na maçaneta.
— Você sempre será meu primeiro amor.
Sempre — disse ela, sem me olhar.
O grito que escapou da minha garganta —
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depois que ela saiu do meu apartamento — foi


como um rugido direto da minha alma.
Era desespero.
Era raiva.
Era fúria.
Era dor.
Meu anjo estava me deixando. A minha
amiga, o meu amor, a minha alma gêmea.
O amor não deveria ser um sentimento tão
doloroso. Não deveria.

∞∞∞
O bar que eu entrei estava
consideravelmente cheio, embora não me
importasse com nada e nem ninguém. Minha única
preocupação era em tentar esquecer minha dura
realidade. Uma realidade em que Eva não estava
mais comigo. Que nosso pequeno conto de fadas
havia chegado ao fim. E qual a melhor forma de
fazer isso do que encher a cara?
— Quero uma dose de uísque — pedi ao
barman. — Ou melhor, traga a garrafa.
Estava me ajeitando num dos banquinhos

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diante do balcão, quando uma voz conhecida soou


ao meu lado.
— Não me diga que já estragou tudo,
Romeu?!
— Não enche, Laura — rosnei, sem me
dignar a olhar para ela, que riu do meu mau humor
aparente.
— Por favor, traga um copo para mim
também. — Ela pediu ao barman, quando o mesmo
depositou a garrafa de uísque na minha frente.
Apoiei a cabeça sob a mão, tentando não
pensar na minha sorte de merda; tentando encontrar
refúgio no álcool, mas aparentemente Laura tinha
outros planos para minha noite, que deveria ser
solitária.
— E então? Que merda você fez dessa vez?
— É tão lindo saber a fé que você tem em
mim — zombei e ela deu risada.
— Estou tentando analisar o cenário na
minha frente, oras — comentou. — Não faz muito
tempo que você nos apresentou sua prima...
— Eva e eu não somos primos — corrigi,
irritado demais para me conter.
— Ok, ok — pareceu entediada. — Não faz
muito tempo que você nos apresentou a Eva como
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sua namorada, e vocês pareciam felizes. Romeu!


Você parecia apaixonado.
— Eu estou apaixonado, porra! —
exclamei, servindo-me com a segunda dose de
uísque. — Não é fingimento.
Laura tomou a liberdade de se servir com
uma dose da minha garrafa.
— Jamais diria que é fingimento — falou.
— Conheço você tempo suficiente para saber que
seus sentimentos são íntegros. Ou você sente, ou
você não sente. — Ela se calou, talvez esperando
que eu fizesse algum comentário, mas não fiz. —
Por que está aqui, afinal?
Eu poderia optar por não falar nada, mas a
verdade é que meu peito estava tão sufocado que
me vi obrigado a desabafar.
— Eva pretende viajar para Madrid dentro
de poucas horas. Passará o fim de semana com os
pais.
— E é por isso que está se embebedando?
— Havia incredulidade no seu tom.
— Claro que não, não seja ridícula —
rosnei, virando a terceira dose num gole só. — Eva
acredita que eu estou traindo ela.
Não olhei para Laura, mas podia sentir a
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força do seu olhar em mim.


— E ela está certa?
— É séria essa pergunta?
Erguendo as mãos, Laura tentou amenizar o
clima.
— Eu só estou tentando entender, Romeu,
credo! — defendeu-se. — É estranho vê-lo
verdadeiramente apaixonado. Falando nisso,
lembre-me de cobrar duzentos euros do Eduardo.
Franzi a testa.
— Vocês apostaram algo sobre mim de
novo?
— Ele não acreditou que o lance com a Eva
fosse sério. Já eu? Afirmei o contrário.
— Hmm... — girei o copo entre minhas
mãos, tentando me concentrar em algo além da
Eva. — Devo parabenizá-la? — Ergui o copo. —
Acabou de faturar duzentos euros.
— Ah, fala sério, Romeu. — Rolou os
olhos. — Deixa de drama e me conte essa história
direito.
Pensei um pouco, mas acabei aceitando
compartilhar, ou explodiria.

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∞∞∞
— E-eu... não sei pra quêeee... chamar o
Eduu... — resmunguei num tom de voz embolado.
— E como pensou que eu o traria pra casa,
hein, bonitão? Nas costas? — Laura se irritou.
— Bastava ter deixxxado que eu ficasse lá...
no bar.
Tropecei em meus próprios pés, porém fui
segurado por Eduardo, que riu do meu estado.
— Romeu, meu amigo... — ele enganchou
o ombro abaixo de um dos meus braços —, já é
difícil lidar com você sóbrio, então, por favor, cale
a boca, porque seu lado bêbado apaixonado é um
saco.
Laura gargalhou e, eu quis brigar com eles,
mas acabei dando risada também.
— Cadê a chave? — Ela quis saber,
remexendo em meus bolsos.
— Wou! — reclamei quando ela enfiou a
mão no bolso da frente da minha calça. — Esse
instrumento já tem dooona — falei entre risos,
pendendo o peso do meu corpo no de Eduardo. —
Eva. Evaaa.
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Os dois riram.
— Querido, é mais fácil eu me interessar
pelo instrumento dela, não do seu.
Pisquei, confuso com suas palavras.
— Voocê gosta de garotas?
Eduardo me ajudou a caminhar para dentro
do meu apartamento.
— Faz tempo — respondeu ela,
despreocupada. — Nós já até dividimos uma,
tempos atrás.
Meus olhos quase saltaram das órbitas.
— Verdade?
— Laura, por favor, pare de torturá-lo. —
Eduardo comentou, rindo.
Fui deixado na minha cama como uma
criança. Pisquei, tentando focar no rosto dos meus
amigos.
— Vo-você gosta de boceta? — perguntei,
enrolando a língua.
— Uhum... — ela resmungou,
aproximando-se de mim, na cama, e depositando
meus pertences sobre o criado-mudo. — E daquelas
bem molhadinhas... — deu uma risadinha.
— Céus, Laura! Poupe-me dos detalhes —
reclamou Eduardo. — Estou indo. Se cuida,
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Romeu.
Laura revirou os olhos.
— Agora seja um bom menino e vá dormir,
porque dentro de poucas horas será um novo dia.
Assenti, sentindo-me zonzo. Joguei-me para
trás, cobrindo a testa com o braço. Minha cabeça
estava extremamente confusa, embora me
esforçasse para pensar com clareza.
Laura apagou a luz e, em seguida, deixou o
quarto, garantindo que daria um jeito de trancar
meu apartamento pelo lado de fora e passaria a
chave por baixo da porta.
Os minutos foram passando de maneira
lenta, mas o turbilhão dentro da minha cabeça não
diminuía. Na escuridão daquele quarto, peguei meu
celular em cima do criado-mudo e disquei o
número da Eva, mas obviamente a ligação caiu
direto na caixa postal.
— Oi, aqui é a Eva. Você ligou para o
número certo, a pessoa certa, o lugar certo, mas na
hora errada, então, por favor, deixe uma mensagem
após o bip:
— Anjinha... — suspirei, ofegante. —, sei
que vo-você não está disposta a falar comigo agora,
mas... — me calei, buscando as palavras certas —
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Caramba! Vo-você acredita que eu me esqueci do


que ia dizer? — Dei risada, sentindo-me um
estúpido, mas sem conseguir me controlar. —
Quando éramos crianças, eu morria de medo de
bêbados. Agora sei que a gente não faz mal a
ninguém. — Voltei a rir, contudo o riso foi se
desvanecendo aos poucos. Meus olhos começaram
a arder. — Por favor, Eva... você prometeu que não
me deixaria, mas vi que mentiu. Vo-você é uma
maldita mentirosa, sabia? Mentirosa! — gritei em
meio à fúria e aos engasgos do choro. — Me
desculpa, e-eu não queria gritar, eu... tô bêbado —
ri em meio ao pranto dolorido. — Eu só queria que
vo-você soubesse que não sou apenas a pessoa que
te abraça e te beija, mas sim aquele quee não para
de pensar em você, pois te amo. Eu amo você, Eva.
Por favor, não se esqueça de nós.
Desliguei, chorando feito um menino
perdido.
Perdido em minhas próprias emoções e
temores.

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Vinte e três

Eva

Estar de volta em casa era uma mistura de


sentimentos, ainda mais quando meu coração
estava completamente assolado pelas dúvidas e
inseguranças dos recentes acontecimentos.
As últimas horas foram bem cansativas,
porque não consegui pregar o olho; minha mente
não parava de trabalhar. Era difícil querer eliminar
Romeu do meu sistema.
— Oh, meu bebê, que saudade — disse
mamãe, vindo me abraçar assim que passei pela
porta de casa. — Por que não me ligou como
combinamos? Eu disse que buscaria você no
aeroporto.
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Aceitei seu cheirinho no meu pescoço.


— Não tinha necessidade, mãe — respondi,
sorrindo. — Eu vim de taxi.
Afastei-me dela assim que uma bala de
canhão em formato de um menininho de cinco anos
veio na minha direção.
— Mana! — Quase caí quando Lorenzo se
jogou em meus braços.
— Oi, amor da mana. — Deixei vários
beijinhos em seu rosto, o que fez com que ele risse
com alegria. Afastei um pouco a cabeça para poder
encará-lo. Lorenzo era a cópia perfeita do nosso
pai, porém com a personalidade completamente
diferente. — Você está enorme, sabia?
— É, eu tô sabendo — disse ele, em tom
arrogante, e comecei a fazer cócegas em sua
barriga, adorando o som da sua risada infantil.
Vi quando a mamãe chamou uma das
empregadas para levar minha pequena mala até um
dos quartos.
— Pode deixar no antigo quarto dela. — A
ouvi dizer. — Obrigada, querida.
Seu sorriso era bobo quando se aproximou
de mim e do Lorenzo. Levantei-me com ele em
meu colo, apertando-me como se tivesse medo que
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eu fosse desaparecer.
— Isso tudo é saudade? — perguntou
mamãe e, eu funguei meu nariz na dobra do
pescoço cheiroso dele, arrancando-o mais risadas
por conta das cócegas.
— Lorenzo sabe que é o tesouro da mana,
né? — Ele assentiu, dando risadas, porque eu não
tirava as mãos dele. — Vamos jogar vídeo game?
— convidei, enquanto colocava-o no chão.
— Não sei se você consegue ganhar de
mim, mana — declarou, erguendo o queixo em
desafio e, eu ri, juntamente com a mamãe.
Coloquei a mão no peito de modo
dramático.
— Confesso que fiquei até com medo agora
— brinquei e, em seguida, me inclinei para ficar na
mesma altura dele. — Vai lá se aquecer, porque
daqui a pouco a mana sobe para brincarmos.
Ele bateu palminhas, demonstrando toda a
euforia. Mamãe e eu sacudimos a cabeça, rindo da
facilidade que era entreter uma criança.
Novamente sozinhas, ela me pegou pela
mão e nos levou até uma das salas. Eu adorava a
estética daquele cômodo, porque as paredes de
vidro permitiam que eu contemplasse o lindo
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jardim externo e, ainda, aumentava a luz natural da


sala.
— Ainda não acredito que você está aqui,
filha — disse ela, em tom de pura euforia. — Está
tão linda. — Suas mãos amoldaram meu rosto com
carinho. Segurei-as e trouxe até meus lábios, onde
beijei uma e depois a outra.
— Obrigada, mãe. Estou muito feliz de
estar aqui.
Seu dedo ergueu meu queixo.
— O que foi? Sua boca diz uma coisa, mas
sua expressão mostra outra completamente
diferente, querida. Você não me parece bem.
— O papai está em casa? — Ignorei
propositalmente seu comentário a meu respeito.
— Não. Vai demorar um pouco para chegar,
porque ele terá algumas reuniões — respondeu.
Arranquei meu par de tênis e, em seguida,
me aninhei com a cabeça em suas pernas. Agradeci
quando ela se ajeitou melhor para me receber em
seu colo.
— Oh, meu amor, o que aconteceu?
Comecei a chorar. Infelizmente a emoção
de rever ela e Lorenzo, em contrapartida com o
desentendimento com o Romeu, foi demais para
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que eu continuasse me mantendo forte.


— Brigou com alguém? — insistiu. — Por
acaso tem a ver com algum namoradinho?
Fechei os olhos, escondendo a cabeça em
minhas mãos.
— Não quer conversar? — Suas mãos
acariciavam delicadamente meus cabelos soltos. —
Filha, eu não posso te ajudar se não me falar nada.
— No momento, eu só preciso do seu
carinho, mãe — soprei com a voz embargada.
Peguei sua mão, que estava no meu cabelo, e beijei.
— Eu te amo.
Ela suspirou.
— Eu também, meu amor. Eu também.

∞∞∞
Depois do meu momento de fraqueza, eu fui
até o quarto do Lorenzo e brinquei um pouco com
ele, distraindo-me da dor constante em meu peito.
Depois de um tempo, ele acabou cochilando e,
então mamãe e eu decidimos dar uma volta de
bicicleta, como fazíamos antigamente. Nosso ponto
de partida foi do bairro de Moncloa, na zona norte

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da cidade.
Após algumas quadras, nós chegamos ao
Parque del Oeste. Em cima de um grande morro,
que nos presenteava com uma baita vista!
Fomos zanzando e cruzamos a Calle de
Ferraz apenas para dar uma olhadinha na bem
cuidada Plaza de España. Depois de um tempo,
retornamos para o outro lado da Calle de Ferraz e
descemos dois lances de escada. A partir desse
momento estávamos nos Jardins de Sabatini, o mais
florido e bem cuidado dos arredores. Encostamos
as bicicletas e escolhemos um dos vários bancos
para um descanso.
— Nossa! Senti falta disso — comentei,
sorrindo, embora estivesse cansada.
Olhei para minha mãe, que me encarava
com tanto encantamento que tive vontade de ficar
ao lado dela para sempre.
— Pode nos visitar quando quiser, meu
amor — disse ela, amorosa.
Peguei sua mão.
— Eu sei, mãe — murmurei, entrelaçando
nossos dedos.
O silêncio nos abraçou por poucos
segundos.
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— Cecílie comentou comigo que vocês


estão se dando bem — disse ela de repente. —
Fiquei feliz por isso, afinal foi ela quem gerou
você.
— Uma coisa não tem nada a ver com a
outra, mãe — resmunguei. — Cecílie jamais terá a
mesma importância que a senhora tem para mim,
porque o laço que temos independe de sangue,
entendeu? — Ela assentiu, emocionada, e acariciou
meu braço. — Mas a verdade é que os últimos dias
têm me mostrado que Cecílie e eu podemos
encontrar uma maneira de nos entendermos.
Percebi que não vale à pena continuar remoendo as
mágoas; que não podemos querer mudar uma
pessoa apenas porque não gostamos ou não
entendemos os defeitos dela — pausei, suspirando.
— Cecílie e eu somos ligadas pelo laço de sangue,
mas não teremos qualquer outro, porque ela já
deixou claro que não quer.
— Não?
Sacudi a cabeça.
— Cecílie gosta de viver de momentos,
mãe. Apenas momentos.
— Entendi — disse, franzindo a testa. —
Sinto muito. Foi por esse motivo que você estava
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chorando daquele jeito?


Sorri fraco.
— Não.
— Quer me contar?
Levei os olhos ao nosso redor, admirando a
beleza das flores.
— Não tenho certeza se a senhora vai gostar
de saber, mãe.
— Como pode ter certeza?
— Cecílie disse que a família não veria isso
com bons olhos.
Ouvi seu arquejo chocado.
— Então minha irmã já sabe e eu não? —
Ela se levantou e parou na minha frente com as
mãos na cintura. — Agora eu também quero saber
— exigiu, me fazendo segurar o riso. Ela estava
com ciúmes.
— Mãe...
— Eva, eu sou a sua mãe. Tenho direito de
saber tudo o que acontece na sua vida, filha.
Inspirei profundamente, tentando encontrar
coragem para contar.
— Esta bem. — Soltei o ar aos poucos.
Esfreguei as palmas das mãos sobre minha calça
jeans, de modo a controlar o nervosismo. — Eu e o
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Romeu nos apaixonamos — falei de uma vez.


Ela franziu a testa, confusa.
— E o que isso tem de mais? — questionou,
gesticulando as mãos. — Vocês são jovens, filha, é
normal que um dia encontrariam alguém e...
Cortei suas palavras:
— Não é isso, mãe...
Ela demorou um pouco para absorver
minhas palavras, e quando entendeu, o choque
ficou evidente em seu rosto. Assisti o momento em
que ela buscou o aconchego do banco de novo.
— Você e o Romeu... vocês...
— Sim — terminei sua frase. — Nós nos
apaixonamos um pelo outro.
— Meu Deus, Eva! Como foi isso? Desde
quando?
— Ah, não faz muito tempo — falei, não
querendo mencionar o fato vergonhoso de ter
pedido para que ele me ensinasse a transar. Mamãe
não precisava saber disso. — Sempre fomos muito
unidos, então isso meio que facilitou as coisas. E
quando percebemos, já estávamos numa relação
bem intensa. — Eu não conseguia olhar para ela,
mas podia sentir seus olhos em mim.
— E vocês já... — pigarreou, sem coragem
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para formalizar a pergunta.


Minhas bochechas esquentaram.
— Sim. — Minha voz mal saiu. — Minha
primeira vez foi com ele.
Novamente ouvi seu arquejo, e dessa vez,
encarei seu rosto. Ela estava mordendo os dedos,
nervosa.
— Mamãe, nenhum de nós dois premeditou
nada disso. Simplesmente aconteceu. Eu sinto
muito se isso possa constranger a família de alguma
forma.
Sua expressão se tornou anuviada.
— Como assim, constranger? Do que está
falando?
Dei de ombros.
— Ah, sei lá, mãe — resmunguei, voltando
a olhar ao nosso redor. — Nós fomos criados como
irmãos.
— Mas não são irmãos — revidou. —
Querida... — seus dedos puxaram meu rosto para si
e, em seguida, suas mãos tomaram as minhas nas
suas. — Eu não estou aqui para julgar vocês, pelo
contrário. Eu fiquei chocada? Fiquei. Quero dar
uma surra no Romeu por ter deflorado minha filha?
Sim. — Ambas rimos. — Mas a verdade é que
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estou triste por você não ter confiado em mim antes


para contar.
— Ah, mãe... — baixei a cabeça,
envergonhada —, eu fiquei com medo. E Cecílie
acabou descobrindo sozinha, não contei pra ela. —
Belisquei seu narizinho que estava enrugado pelo
ciúme. — Aconteceu tudo tão rápido, sabe? Apesar
de conhecer o Romeu como a palma da minha mão,
às vezes, parece que tudo desaparece da minha
mente, sobrando apenas as inseguranças.
— Por que diz isso? Vocês brigaram antes
de você vir? — Assenti com a cabeça. — Por isso o
choro de mais cedo. — Não foi uma pergunta.
— Tem uma garota entre nós — expus o
que estava me incomodando.
— Romeu já ficou com ela?
— Sim. — Mordi o cantinho interno da
boca. — Mas ele jura que não há motivos para
minhas inseguranças, porque sou a única que ele
ama. Que ele está comigo, apenas comigo.
— Então qual é o problema, filha?
As lágrimas deslizaram sem que eu pudesse
contê-las.
— Ela é tão bonita, mãe — confessei em
tom embargado. — É daquelas garotas tão
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experientes, sabe? Fora que a beleza exuberante


não é sua única qualidade, ela é muito inteligente
também, já que conseguiu um estágio num dos
programas das empresas González.
Parei de falar, tentando controlar o choro.
— Eva, você está deixando o medo
comandar sua vida. Você sabia que quando jovem,
eu quase perdi seu pai pelo mesmo motivo?
— Como assim? — Funguei.
— Quando estávamos juntos, também
surgiu uma garota — respondeu. — Linda, elegante
e inteligente. Eu fiquei tão insegura que no fim das
contas acabei abandonando seu pai, porque pensei
que estivesse fazendo a escolha certa para ele. Eu
só queria que ele fosse feliz, e na época pensei que
eu não fosse a opção ideal.
— Por quê?
— Ah... — deu de ombros. — Medo.
Balancei a cabeça, entendendo.
— O medo nunca é o melhor conselheiro,
querida. Por sorte, tive a chance de reverter meu
erro, então eu e seu pai, finalmente, conseguimos
viver nosso amor. E estamos cultivando-o até hoje.
Dia após dia.
Um sorriso emocionado surgiu em meus
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lábios.
— Que lindo, mãe.
Sua mão ergueu para tocar em meu rosto.
— Não faça como eu fiz, querida. Se o
Romeu é aquele que faz seu coração bater mais
forte, então lute por ele. Lute por esse amor. Lute
pelo que você acredita.
Sorri, sendo seguida por ela, que beijou meu
rosto várias vezes.
— Meu Deus! Meu bebê cresceu —
comentou num tom brincalhão. — Já virou uma
mulher.
Eu ri, divertida.
— Será que o papai vai aceitar?
— Ninguém tem que aceitar nada, Eva. É a
sua vida, entendeu? Não aceite que ninguém
imponha suas vontades em cima das suas escolhas.
Nunca!
Puxei-a para mais um abraço forte e
apertado. Sentia-me muito mais leve.

∞∞∞
Quando chegamos em casa, o papai ainda

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não tinha chegado.


— Vou subir e aproveitar para tomar um
banho — comentei, enquanto subia as escadas,
sentindo a dor de cãibras nas minhas pernas.
— Uhum — resmungou. — Depois
podemos tomar um café bem quentinho e assistir a
algum filme, o que acha?
— Perfeito, mãe! — gritei, pois já estava
quase no segundo andar. — Já desço.
No quarto, comecei a tirar o casaco. De
repente, avistei meu celular em cima do criado-
mudo e me aproximei do móvel para pegá-lo. Tinha
optado por desligá-lo depois que deixei o
apartamento do Romeu, já que precisava me manter
afastada dele, ou não teria forças para resistir.
Liguei o aparelho e aguardei alguns
instantes. Havia muitas mensagens e ligações
perdidas. Ignorei todas, exceto uma. Era uma
mensagem de voz deixada por Romeu no meu
correio eletrônico.
Cliquei para ouvir:
— Anjinha... — Ele estava bêbado?
— Sei que vo-você não está disposta a falar
comigo agora, mas... — ele ficou em silêncio por
segundos intermináveis. — Caramba! Vo-você
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acredita que eu me esqueci o que ia falar? —


Acabei rindo com ele. — Quando éramos crianças,
eu morria de medo de bêbados. Agora sei que a
gente não faz mal a ninguém. — Eu me sentei na
cama, apertando o telefone contra a orelha. Meus
olhos começaram a arder com novas lágrimas. —
Por favor, Eva... você prometeu que não me
deixaria, mas vi que mentiu. Vo-você é uma maldita
mentirosa, sabia? Mentirosa! — gritou ele,
enquanto parecia soluçar. Ele estava chorando? —
Me desculpa, e-eu não queria gritar, eu... tô bêbado.
— Riu em meio às lágrimas. — Eu só queria que
vo-você soubesse que não sou apenas a pessoa que
te abraça e te beija, mas sim aquele quee não para
de pensar em você, pois te amo. Eu amo você, Eva.
Por favor, não se esqueça de nós.
O bip indicando o final da mensagem fez
com que eu piscasse freneticamente, e então cliquei
na opção que me permitia ouvir novamente. Não
porque estava apreciando o nítido desespero do
Romeu, mas porque suas palavras estavam
preenchendo meu coração — cheio de dúvidas —
de amor.

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Vinte e quatro

Romeu

Minha cabeça estava tão pesada quanto


meu peito. A vontade de ficar em casa era enorme
— ainda mais com toda aquela maldita ressaca —
mas a pressão do último semestre estava me
desgastando. Eu não podia falhar.
— Cara, você está péssimo. — Alguém
mencionou, embora não fizesse ideia de quem, já
que estava curvado sobre a madeira da mesa. O
mínimo barulho fazia um estrago enorme dentro da
minha cabeça.
— Obrigado por me avisar do obvio —
resmunguei, erguendo a cabeça de leve para saber
com quem estava falando, e ri quando me deparei
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com Eduardo. — E aí? — Acenei, voltando a


tombar a cabeça.
— Não sei se você percebeu, mas a aula já
acabou — murmurou.
— Eu jurava que você não fosse vir. —
Dessa vez foi a voz da Laura, que bagunçou meus
cabelos, forçando-me a erguer meu tronco. —
Pegue... — aceitei quando ela me ofereceu um copo
de café e um analgésico.
— A reunião com os caras que pretendem
comprar nosso jogo é hoje, mas você está
parecendo um zumbi, Romeu, puta que pariu!
Fechei o punho e soquei o ombro do
Eduardo, que riu.
Levantei, pegando minha mochila.
— Não se preocupem, porque já pedi para o
José ir com vocês — expliquei. — Realmente
minha cabeça não está num bom lugar agora. —
Sorvi um gole do café forte e preto.
— Não teve noticias dela? — Laura quis
saber, enquanto saíamos da sala e pegávamos um
dos muitos corredores da faculdade.
— Não seja intrometida, irmã. — Eduardo
resmungou.
— Cala a boca! — ralhou ela, e eu ri.
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— Calem a boca vocês dois, porra! Vocês


estão piorando minha dor de cabeça. — Parei no
meu armário.
— Sabe o que isso quer dizer? — Laura
perguntou, encostando-se no armário ao lado do
meu.
— É Romeu, sabe o que isso quer dizer? —
repetiu Eduardo, como se soubesse exatamente o
que a irmã estava pensando. O quão louco isso era?
— De que porra vocês estão falando?
Eles deram risada.
— Que pela primeira vez na sua vida, você
está do outro lado.
Franzi a tesa, estranhando.
Voltamos a caminhar.
— Que lado?
— O lado dos corações partidos. — Laura
respondeu, rindo alto.
Fiquei irritado.
— Ah, que engraçado — resmunguei,
rolando os olhos. De repente, meu corpo inteiro se
empertigou.
— Ei, Romeu...
— Agora não posso, Edu — cortei suas
palavras, enquanto dava uns tapinhas no ombro
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dele. — Mais tarde, voltaremos a nos reunir no meu


apartamento. — Me apressei em falar.
— Aonde você vai, porra? — Laura quis
saber.
— Fiquem tranquilos que o José encontrará
vocês na reunião — gritei, girando o corpo e
fazendo sinal para eles, que deram de ombros.
Meus punhos estavam fechados enquanto
marchava em direção a Andressa, que estava
conversando com algumas amigas, porém fixou os
olhos nos meus quando viu que eu caminhava até
ela.
Não me preocupei em ser gentil, e agarrei
seu braço arrastando-a por alguns metros até nos
enfiar dentro de uma sala vazia.
— Ai! — reclamou ela. — Eu gosto de um
pouco de pegada dura, mas isso aqui já está mais
para agressão do que qualquer outra coisa, Romeu.
— Você ainda não viu o meu lado mau,
Andressa — rosnei, aproximando o rosto do dela.
— Que porra você falou para a Eva? Aliás, que
merda você estava pensando quando pegou meu
celular?
Ela riu, sacudindo os cabelos loiros.
— Eu apenas pedi para que ela entregasse a
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você, ela não falou?


Fechei o punho, desejando com todas as
minhas forças esganá-la ali mesmo e acabar com
meu martírio, mas me controlei. Espalmei as mãos
na parede e abaixei a cabeça, inspirando devagar.
— O que você quer, garota? Por que está
infernizando a minha vida?
— Não estou fazendo nada, Romeu —
defendeu-se. — Desse jeito me sinto até ofendida.
Não tenho culpa se sua namoradinha não confia no
próprio taco. — Deu de ombros. — Mas me diz
uma coisa, vocês terminaram?
Havia esperança no seu tom, o que me
deixou nauseado.
Afastei-me da parede e, sorrateiramente,
comecei a dar passos até ela, que pareceu assustada
com meu sorriso diabólico.
— Tsc, tsc, tsc... — estalei os lábios —
Sabe o que aconteceu? — Prendi-a entre meu corpo
e a parede em suas costas. — Eva me entregou o
celular e, em seguida, eu expliquei exatamente o
que aconteceu e, ela acreditou, porque confiamos
um no outro. Transamos a noite toda... — levei a
boca ao seu ouvido —, deliciosamente.
— Já chega, seu cretino! Poupe-me desses
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detalhes nojentos. — Ela me empurrou, afastando-


se e me fazendo dar risada. Jamais daria àquela
vagabunda o gostinho de saber que tinha
conseguido trincar minha relação com a Eva.
— O que foi? Não gostou de saber que seu
planinho sórdido não deu certo? — zombei. Em
seguida, peguei-a desprevenida. — Nunca mais
ouse se aproximar da Eva — rosnei, com o
indicador contra seu rosto.
— Ou o quê? — desafiou, empinando o
nariz perfeito.
Voltei a sorrir, dessa vez passando a língua
pelos meus caninos.
— Ou eu juro que vou me esquecer das
minhas boas maneiras.
Ficamos nos encarando por segundos que
pareceram intermináveis, até que, para minha
surpresa, ela acabou perdendo a força das próprias
pernas. Por sorte, consegui segurá-la a tempo de se
esborrachar no chão frio.
— Oh, merda! — resmunguei. — O que
foi?
Ela esfregou o rosto. Parecia aérea.
— Eu... acho que vou desmaiar, Romeu...
eu...
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— Mas que porra! — rosnei, juntando seu


corpo no meu e dando alguns tapinhas no rosto
dela. — Andressa? Andressa? Acorda.
Demorou alguns segundos, mas ela abriu os
olhos.
— Por favor, Romeu, me leva ao pronto
socorro.
Travei o maxilar, porque aquilo não estava
no planejado. Aliás, o que eu estava pensando
quando a arrastei até ali? Merda!
— Não é longe, Romeu... — disse ela,
tentando se firmar em seus próprios pés. — Tem
um no próprio Campus.
Acabei assentindo, mesmo à contra gosto.
Não que eu fosse um cara insensível, mas preferia
ter o mínimo contato possível com Andressa, uma
vez que, a presença dela em minha vida só me
trouxe dor de cabeça.
Nos longos minutos seguintes, caminhamos
— com Andressa empoleirada em meu braço — até
a sala do pronto atendimento. Não era um local tão
bem equipado quanto um hospital, mas certamente
teriam condições de ajudá-la de imediato.
— Feito — falei, quando entramos no lugar.
— Boa sorte.
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— Romeu... — sua mão segurou a minha


quando me virei para sair — Por favor, não me
deixe sozinha. Estou com um pouco de medo.
Ignorei o desejo de revirar os olhos, mas
respirei fundo, buscando paciência, e então assenti.
Cruzei os braços e me sentei num dos bancos de
espera.
Dei uma verificada no meu celular na
esperança de ter alguma mensagem ou ligação da
Eva, mas não tinha nada.
Nada.
Somente o maldito silêncio dela.
Suspirei em frustração. Sabia o quanto
minha anjinha podia ser teimosa.
O tempo foi passando e minha paciência de
continuar esperando pela Andressa também. Prestes
a ir embora, a porta da pequena sala foi aberta e
Andressa saiu com os olhos vermelhos e
arregalados.
— E então? Está tudo bem?
Ela parecia catatônica.
— Não está nada bem, Romeu —
respondeu ela, como se falasse consigo mesma.
Arqueei as sobrancelhas quando ela passou
por mim, desesperada para se afastar e, ao mesmo
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tempo, sem saber exatamente para onde ir. Segurei


seu braço, fazendo com que ela parasse.
— Ei? O que foi? O que você tem?
As lágrimas agora enfeitavam seus olhos
claros.
— O enfermeiro acabou de me dizer que
tem tudo para que eu esteja grávida.
O choque de suas palavras fez com que eu
desse alguns passos para trás. Automaticamente
minha mente passou a fazer alguns cálculos
rápidos, tentando garantir que não teria qualquer
possibilidade de aquela criança ser minha. Não
podia ser.
Inspirei forte:
— Andressa, se isso for verdade, você...
nós... — pigarreei, tentando encontrar as palavras
certas. — A última vez que transamos faz pouco
mais de dois meses e me lembro muito bem de ter
usado camisinha.
Ela tornou-se lívida.
— Ah, você se lembra? Também se lembra
da noite da festa e da quantidade de vodca que
bebeu, hun? Olha só, não me trate como uma vadia,
Romeu — sibilou entre dentes. — Depois de você,
não tive mais ninguém e sabe de uma coisa? Me
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arrependo amargamente, porque você não passa de


um moleque medroso e covarde.
Dizendo isso, ela se afastou, mas parou.
— Farei o exame de sangue e assim que
tiver o resultado, eu avisarei se você será papai ou
não.
Não tive forças para ir atrás dela, não
quando minha mente ainda estava tentando
processar mais aquela bomba, lançada contra mim
sem nem um pingo de piedade. Por um instante, me
perguntei se estava preso numa espécie de
pesadelo. Estapeei meu rosto, exigindo a minha
mente que me fizesse acordar, porque não era
possível que tudo aquilo fosse real.
— Enlouqueceu, Romeu? Estapeando a si
mesmo? — comentou um rapaz que fazia duas
disciplinas comigo.
— Vá se foder — rosnei, sem paciência
alguma para ser cordial.
— O que deu nele? — Outro perguntou,
mas eu já estava longe demais para ouvir a
resposta.

∞∞∞
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Beirava às sete da noite quando alguém


bateu na minha porta. Meu dia tinha sido péssimo,
considerando que depois do acontecido com
Andressa, não consegui fazer ou pensar em mais
nada. Tudo pairava sobre a ideia daquela possível
gravidez e na minha situação com Eva.
Eva...
Minha anjinha.
O que ela pensaria sobre isso? Porra! Ela,
certamente, me odiaria.
Perdido em meus próprios pensamentos,
não me preparei para me deparar com a figura do
meu pai quando abrisse a porta.
— Pai? — Meus olhos estavam quase
saltando das órbitas. — O que faz aqui? Aconteceu
alguma coisa? — Meu coração batia
descompassado.
Dei alguns passos para trás dando a ele
espaço para entrar no apartamento. O semblante em
seu rosto não era dos melhores, considerando que
cada linha do seu rosto estava endurecida.
Assisti, em transe, o momento em que ele
pegou o celular do bolso do paletó e clicou num
botão. Minha própria voz soou através do aparelho,
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desesperando-me, porque não me recordava de ter


feito aquela ligação para ele:
— Oi, paaai... antes que pergunte, sim, e-eu
estou bêbado... — risadas descontroladas — Estou
ligando apenas para dizer q-que e-eu não dou a
mínima para esse inferno de legado... e-eu nãaao
gosto de trabalhar com peças automotivas. Odeeeio
a ideia de tomar o seu lugar, paai... o graaande
David González... — novamente risadas. — Nãaao
quero assumir nada! Enteeendeu, pai? Nada!
A gravação chegou ao fim, e minha
garganta estava sufocada. Por que maldição eu fui
beber daquela maneira?
— Agora eu pergunto: Então você não dá a
mínima para esse, como você se referiu mesmo?
Ah, inferno de legado?
— Pai...
Ele me cortou, deixando claro toda a sua
irritação.
— Eu não terminei! — gritou, fazendo-me
engolir em seco. — Esse inferno de legado é o que
garante o dinheiro para suas festinhas particulares;
o dinheiro que paga sua faculdade e todos os gastos
que abrange sua graduação. É de onde sai o
dinheiro para bancar esse lugar aqui, por exemplo.
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— Apontou ao nosso redor. — Então, me explique,


Romeu — pediu, extremamente nervoso. —
Explique o que significa esse áudio que você me
enviou durante a madrugada, porque juro que estou
até agora sem entender. Nós já tínhamos
combinado que você se formaria em Gestão de
Negócios; que começaria me ajudando na empresa
para em seguida tomar o meu lugar na Presidência.
Nós tínhamos combinado que você assumiria os
negócios da família, filho. A sua mãe e eu fizemos
tantos planos e...
Interrompi suas palavras, sentindo-me
sufocado.
— Ah, pai, fala sério, eu estava bêbado —
resmunguei, passando por ele.
— Isso é tudo o que você tem para me
dizer, Romeu? Que estava bêbado? Então é dessa
forma que resolve seus problemas?
Fiquei calado, enquanto seguia até o mini
bar a fim de me servir com uma dose de bebida.
Precisava me anestesiar.
Assustei-me quando meu pai puxou o copo
da minha mão com agressividade.
— Eu estou falando com você! — rosnou,
deixando claro sua autoridade. — Então você acha
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que está tudo bem a maneira como falou comigo?


Devo aceitar que meu único filho se acha no direito
de me ligar no meio da madrugada, completamente
bêbado, me faltando com respeito, e agir como se
nada aconteceu? — Meu coração parecia querer
saltar do peito, enquanto encarava os olhos furiosos
diante de mim. Nunca tinha visto meu pai tão
enraivecido. — Não! Eu não vou deixar isso pra lá.
Você vai me explicar direitinho. Que porra foi
aquilo, Romeu? Se você foi homem para falar
enquanto estava bêbado, então deverá me enfrentar
olho no olho. Aqui e agora.
Minha respiração estava ofega, conforme
meu corpo lutava para se controlar. Meu raciocínio
estava lento, devido a toda pressão dos últimos
acontecimentos e, naquele momento, tudo o que eu
desejava era ficar sozinho. Não era o momento para
enfrentar meu pai. Não era o momento para termos
aquela conversa, não quando tudo o que se passava
na minha mente era o medo de perder a Eva para
sempre diante do risco de Andressa estar grávida de
um filho meu.
Virei meu corpo sobre o balcão, apoiando
os braços na madeira. Fechei os olhos, sentindo o ar
entrar e sair dos meus pulmões.
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— Estou esperando Romeu — sibilou ele,


impaciente.
— Me desculpa, pai — soprei, sentindo o
peso abraçando meu peito. — Me perdoe, mas... eu
não quero.
— O que você não quer?
— Isso. — Gesticulei ao redor. —
Trabalhar junto com você — confessei, sem
coragem alguma de olhar para ele, mas podia sentir
seu olhar me queimando.
— Quando isso aconteceu?
— Desde sempre. Eu nunca quis nada disso
— exasperei.
— Mas por que não me disse? Eu e sua mãe
fizemos tantos planos e...
Meus olhos arderam quando encontrei a
coragem para encará-lo.
— Vocês fizeram! — declarei num tom
embargado, interrompendo suas palavras. — Vocês
combinaram! Vocês fizeram planos! Vocês, porra!
Eu não combinei nada, pai. Eu nunca fui ouvido.
Sequer se deram ao trabalho de me perguntarem o
que eu queria. — Ele franziu os olhos, incrédulo.
— Sabe o que eu sempre gostei, mas que nem você
e nem a mamãe perceberam? Jogos. Sempre fui
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apaixonado por jogos digitais e tudo o que abrange


esse meio. — Dei uma risada triste. — E sabe o que
mais? Já que estamos colocando as cartas na mesa
aqui, por que não escancarar tudo, não é? Eu estou
prestes a abrir minha própria empresa de Games.
— O quê? Como assim?
— Não contei antes, porque sabia que ia
enxergar essa sua expressão decepcionada. Para
não ter que ouvir que sou um filho ingrato e
egoísta.
— Eu jamais diria isso, filho.
— Ah, para pai, o senhor acabou de jogar
na minha cara todo o gasto que tem comigo, tudo
porque não planejo seguir conforme os seus planos.
— Bufei.
— Não foi isso que eu quis dizer.
— Foi! Foi exatamente isso o que quis
dizer. E quer saber? Eu não ligo! Estou cansado de
me esconder por medo de não agradar. Esse sou eu,
e sinto muito não ser o filho ideal para você. — As
lágrimas desciam abundantes em meu rosto. —
Meus últimos dias estão sendo uma merda e parece
que tudo o que faço é estragar as coisas. — Solucei,
incapaz de me controlar. Estava me sentindo como
um menino perdido.
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Não vi em que momento meu pai puxou-me


para ele, num abraço protetor.
— Tudo bem, filho. — Esfregou meus
cabelos num carinho que há muito tempo eu não
sentia. — Eu estou aqui com você. E sempre
estarei. Somos uma família. — Ele afastou a cabeça
para encarar meus olhos molhados. Suas mãos
amoldaram meu rosto. — Um sempre deve apoiar o
outro, entendeu? Independente das escolhas que
faça. Hun?
Assenti.
— Obrigado, pai — soprei.
Algo dentro de mim explodiu.
Demorei um pouco para entender, mas logo
reconheci o sentimento.
Liberdade. Sim, era a tão sonhada liberdade.

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Vinte e cinco

Eva

A brisa fresca da manhã invadiu o quarto


em que eu dormia, banhando minha pele e me
fazendo abrir os olhos para dar boas vindas ao novo
dia que estava nascendo. Estava me sentindo leve e
relaxada, porque tinha conseguido descansar bem
durante a noite. Mesmo com minha mente
insistindo em me levar para o Romeu a todo o
maldito instante.
— Bom dia, princesa do pai.
Pisquei, arrastando os olhos pela extensão
da cama, e encontrando meu pai sentado no
colchão, me oferecendo um dos seus sorrisos
lindos. Eu não me cansava de olhar para ele e
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admirar sua beleza que não se perdia mesmo com o


passar dos anos.
Espreguicei-me um pouco e, em seguida,
fiquei de joelhos na cama e joguei meu corpo sobre
seus braços abertos.
— Que saudade, pai — soprei, sentindo seu
aperto gostoso. — Ontem não o vi chegar —
reclamei, lembrando-me da frustração de ter ido
dormir sem vê-lo.
— Tivemos alguns imprevistos chatos na
empresa — explicou, enquanto eu voltava a me
ajeitar entre as cobertas, porém com as costas
contra a cabeceira. Sorri com o sorriso dele. —
Você está a cada dia mais linda, sabia?
— Ah, pai. — Baixei a cabeça, encabulada
com seu elogio.
— Eu trouxe o seu café — disse ele,
fazendo-me olhá-lo enquanto se erguia para pegar a
bandeja. — Espero que eu não tenha me esquecido
de nada do que você gosta, querida — comentou,
depositando a bandeja em meu colo.
Eu estava encantada.
— Pai! Aqui tem comida para um batalhão
— brinquei, mas no fundo estava emocionada com
aquele carinho. Sorrindo, olhei para ele. —
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Obrigada.
Ele voltou a se sentar, olhando para mim
com expectativa.
— E então? Quais as novidades? Muita
pressão para finalizar o TCC?
Levei a xícara de café à boca, apreciando o
detalhe de ele ter se lembrado exatamente de como
eu gostava: preto, forte e sem açúcar.
— Bastante. Ainda mais porque decidi
escolher um tema difícil.
— Sério? — Ele pareceu interessado. Aliás,
meu pai sempre se mostrava interessado em tudo o
que eu me propunha a fazer. Era um pai e amigo
incrível.
Os minutos passaram voando enquanto
conversávamos sobre minha vida em Barcelona. Eu
o amava, porque ele tinha o dom de me fazer sentir
corajosa. Especial. Capaz de fazer e ser qualquer
coisa. Meu pai era o primeiro da fila a me aplaudir,
e o primeiro a me ajudar a levantar no momento
que eu caísse.
— Então pai... — mordi os lábios,
colocando a bandeja de lado, finalmente, me
preparando para a conversa tensa. — Não sei se a
mamãe já comentou algo...
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Estalei os dedos, nervosa demais para ficar


parada.
— Sobre o quê? O que foi? — Parecia
genuinamente confuso.
Respirei fundo, torcendo para que ele não se
decepcionasse comigo.
— Eu me apaixonei — falei meio
engasgada.
— E isso é ruim? — quis saber, com uma
expressão engraçada.
— Não! Por que diz isso?
— Pela maneira como você se expressou,
como se estivesse sofrendo.
— Ah — murmurei, sem graça. — É que...
— Que...? — incitou-me.
Soltei o ar, preso nos pulmões.
— Eu estou apaixonada pelo Romeu —
falei de uma vez, sentindo o peso dos meus ombros
esvaindo-se.
Empertiguei-me quando as sobrancelhas
dele se arquearam em pura incredulidade. O ar
escapou por seus lábios, como se o baque da
confissão houvesse o pegado de jeito.
Assisti o momento em que ele se levantou e
ficou de costas, com as mãos na cintura.
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— Pai... — engoli em seco. — Sei que isso


é um pouco desconfortável, já que Romeu e eu
fomos criados como irmãos, mas nós nos
apaixonamos e...
— Ele também? — interrompeu-me.
Assenti com a cabeça.
— Na verdade, nós meio que estamos... —
remexi as mãos.
— Namorando? — ele concluiu.
— Sim — respondi num fiapo de voz.
O silêncio invadiu o ambiente, tornando
tudo ainda mais perturbador. O único som que eu
ouvia era o barulho ensurdecedor do meu coração.
Esperei até que meu pai voltasse a se virar na
minha direção depois de absorver minha
declaração.
— Me perdoe se o decepcionei, pai —
choraminguei assim que nossos olhos se
encontraram.
Ele se sentou na cama, mas dessa vez um
pouco mais perto, de modo a manter minhas mãos
entre as suas.
— Querida quem sou eu para julgar?
Quando eu me apaixonei pela sua mãe, ela se
achava imprópria para mim, sabia?
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Sorri fraco.
— É, ela me contou.
Ele beliscou meu nariz.
— Meu silêncio foi apenas pelo choque. —
Sorriu. — Honestamente, eu não esperava por isso.
— Mas não está decepcionado? — insisti.
— Claro que não. Sempre apoiei suas
escolhas, filha, e agora não será diferente.
Meus olhos nublaram e, eu o puxei contra
mim num abraço de urso.
— Ah, pai, obrigada — gemi. — Estava
com tanto medo de que não me entendesse. O apoio
de vocês, seu e da mamãe, são muito importantes
para mim.
Senti o toque dos seus lábios em minha
testa num beijo singelo.
— Mas me diz uma coisa... — ele pigarreou
— Esse relacionamento de vocês é sério? Daqueles
com... hun... intimidades e tudo o mais?
— Está querendo saber se nós fazemos
sexo? — Ajudei, já que sabia que ele estava com
dificuldade para se expressar. — Ora, pai, nós
somos jovens.
Sua testa franziu, incomodado com o
assunto e, eu quase ri.
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— Vou ter que ter uma conversa com ele —


murmurou em tom sério.
Arregalei os olhos.
— O quê? Por quê?
— Ele não me pediu a sua mão —
respondeu como se a resposta fosse óbvia. —
Preciso saber se as intenções dele são boas. Aliás,
boas não, mas excelentes. Porque minha filha não é
qualquer uma.
Mordi os lábios, segurando o riso.
— Estamos falando do Romeu, pai —
comentei, rolando os olhos. — Quando crianças, eu
mal caía no chão e ele já estava lá para me segurar.
Agora não é diferente. — Sorri com a lembrança,
sentindo a saudade corroendo meu peito.
Ele sorriu também.
— Mas vocês usam camisinha?
— Pai! — Joguei o travesseiro nele, que
desviou, rindo. — Não vou falar disso com você.
— Estava rubra.
— Ok, ok — murmurou, erguendo as mãos.
— Vou deixar esse assunto pra sua mãe.
Sorri, colocando minhas pernas para fora da
cama.
— Obrigada.
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— Ei? Quer aprender a dirigir? — disse


numa mudança brusca de assunto.
Sacudi a cabeça, rindo, porém agradecendo
intimamente. De pé, novamente o envolvi com meu
abraço. Meu corpo miúdo se perdia entre seus
braços, mas por dentro me sentia gigante. Protegida
e amada.
O barulho da porta se abrindo chamou nossa
atenção e ambos olhamos na direção. Mamãe sorria
diante da cena, enquanto Lorenzo corria na nossa
direção.
— Eu também quero abraço — disse ela,
também correndo até nós.
Beijei o rosto de cada um deles, enquanto
nós quatro nos abraçávamos.
— Amo vocês.
— Nós também, querida.
Inclinei-me para beijar a cabeça de Lorenzo,
que abraçava minhas pernas com força.
— Mais tarde a mana volta para brincar
com ele — prometi, adorando ver o sorriso enorme
tomando conta dos lábios rosados e perfeitos.
— Hora de escovar os dentes, mocinho —
disse mamãe. — Você nem ao menos lavou o rosto,
Lorenzo — ralhou ela, tirando-o de perto de mim e
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forçando seu corpo para fora do quarto. — Vai e


espera a mamãe no quarto, viu?
Sorri dos resmungos dele, que saiu pisando
duro.
— Nem tem tamanho de gente ainda e já
fica todo nervosinho. — Ela comentou, sacudindo a
cabeça, rindo.
— É a fase, mãe — murmurei, também
achando graça. Em seguida, olhei para meu pai. —
Vou me arrumar bem rapidinho, pai — avisei, me
afastando, ansiosa para perder o medo de dirigir.
Tinha esperança de que com ele as coisas fossem
melhores do que com Romeu.
Enquanto estava remexendo na mala — que
preferi não desfazer — em busca de uma peça de
roupas, escutei um pedaço da conversa deles
enquanto deixavam o quarto:
“— Acabei de falar com a Luna e parece
que David viajou para Barcelona. Por que não me
disse? — sussurrou mamãe.”
Será que tinha alguma coisa a ver com
Romeu? — questionei-me, pensativa.
Pensei em ligar para ele a fim de descobrir o
que estava acontecendo, mas pensei melhor e
ignorei tal desejo. Era bom que continuássemos
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afastados por enquanto. Deixaria para conversar


pessoalmente quando voltasse ao Campus no dia
seguinte.

∞∞∞
Mesmo o aeroporto de Barcelona sendo
imenso, os meus olhos não demoraram a encontrar
a razão dos meus pensamentos.
Romeu.
Eu tinha me preocupado em avisá-lo da
minha chegada, porque meu íntimo desejava
reencontrá-lo. Cada célula do meu corpo clamava
de saudade; de amor; de tesão. Naquele momento,
enquanto caminhava até ele, me esqueci de
qualquer motivo que tenha sido a razão da nossa
briga, e tudo o que desejava era me jogar em seus
braços e me perder em seus beijos.
A expressão dele estava diferente,
preocupada, eu diria, contudo seus olhos exalavam
amor ao direcioná-los a mim.
— Oi — soprei, parando na sua frente.
Ele fez menção de me tocar, mas acabou
hesitando. Então segurei suas mãos e trouxe-as até

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minha cintura, me deleitando com seu perfume que


inundou minhas narinas. Vi que ele apreciou meu
gesto.
— Eu senti saudades — soprei, deitando a
cabeça em seu peito e me concentrando no ritmo
acelerado do seu coração.
Ele soltou o ar como se estivesse
prendendo-o desde que nos aproximamos.
— E, eu me senti perdido sem você —
confessou num tom entristecido.
Senti meu peito apertado. Afastei a cabeça
para poder enxergar seus olhos atormentados. Seus
lábios estavam a centímetros dos meus, fazendo-me
desejar beijá-los.
— Está tudo bem?
Seu nariz tocou o meu delicadamente, e o
senti inspirar meu aroma, de olhos fechados, antes
de voltar a me apertar contra si.
— Não, infelizmente, não está.
Meu corpo inteiro enrijeceu e tudo o que
consegui sentir foi medo.

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Vinte e seis

Romeu

Meu final de semana foi torturante, uma


vez que, não sabia como sair daquela confusão o
qual acabei me enfiando. A conversa com meu pai
tinha sido boa, embora sentisse que no fundo ele
ficou chateado com o fato de eu me recusar a seguir
seus passos. Eu entendia sua frustração, já que
tanto ele quanto meus tios seguiram os negócios do
pai. Meu avô havia sido um excelente empresário e
mentor dos filhos.
Durante o trajeto feito do aeroporto ao meu
apartamento, o silêncio foi nossa companhia,
considerando que tanto eu quanto Eva parecíamos
tensos demais para falar qualquer coisa; para
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confessar o que nos afligia. Não era novidade que


nossa relação estava balançada em decorrência do
que Andressa fez, mas ainda assim, Eva me avisou
do seu retorno a Barcelona, então tomei isso como
algo positivo. Contudo, ela não sabia da suspeita da
gravidez. E mesmo se eu enchesse a boca para
explicar que o filho poderia não ser meu, uma vez
que, me recordava de ter usado camisinha, a
desconfiança já teria sido lançada. Rachaduras já
teriam trincado nossa relação.
O que fazer? Era o que minha consciência
questionava-me a cada instante.
O aroma adocicado da Eva também não
ajudava, já que tudo dentro e fora de mim almejava
puxá-la contra meu peito e mantê-la em meus
braços para sempre.
— Está com fome? — perguntei, assim que
abri a porta do apartamento.
— Depende — disse ela, passando por mim,
mas me olhando com um ar divertido. — Pretende
cozinhar? Porque se for, eu prefiro dizer que não
estou com fome.
Gargalhei, sentindo a leveza que sempre
tivemos, querendo fazer-se presente outra vez.
— Assim você me ofende, hein? —
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retruquei, mas carregando um sorriso. Peguei o


celular. — Vou pedir uma Paella para nós.
Suas mãos impediram meu movimento e
obriguei-me a erguer os olhos, encontrando-a bem
próxima. Eu poderia puxá-la. Poderia unir nossos
lábios e provar a ela e a mim que havíamos sido
feitos um para o outro. Eu poderia acabar com
aquela tortura. Poderia fazer tantas coisas, mas
sabia que antes, precisava contar o que vinha me
atormentando.
Droga!
— Vamos conversar primeiro.
Respirei fundo, consciente de que Eva podia
sentir o pavor em meus olhos.
— Claro. — Forcei um sorriso e, em
seguida, apontei para o sofá. — Como foi sua visita
aos seus pais?
Ela se sentou ao meu lado, olhando
diretamente em meus olhos. Não pude deixar de
admirar o movimento de seus lábios conforme ela
falava.
— Ah, foi maravilhoso! — exclamou ela,
sorrindo com emoção. — Meu pai me deu algumas
aulinhas de direção — confidenciou.
— Sério? — quis saber. — Não acredito
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que não me deu outra chance para ensiná-la —


reclamei e ela riu.
— Você é muito impaciente, Romeu —
concluiu sem um pingo de remorso. — E fora que a
pressão de ter você no banco do passageiro é muito
maior.
Franzi o cenho.
— Como assim?
— Ah, Esquece. — Rolou os olhos.
O silêncio reinou por alguns instantes,
enquanto nos encarávamos. Havia tanto a dizer.
— Você bebeu na noite que saí daqui. Sinto
muito. Eu não tinha a intenção de permitir que
nossa relação acabasse trazendo dor para ambos.
Romeu, eu...
Peguei suas mãos.
— Eu a amo, Eva — cortei suas palavras.
— Independente do envolvimento que tivemos, o
laço da nossa relação será eterno. Ficará para
sempre. Amizade, confiança, respeito...
— O que está tentando dizer, Romeu? —
Havia medo em sua voz.
Minha garganta estava fechada, conforme
minha mente me ordenava a ser sincero. Precisava
contar a verdade. Precisava dizer a ela sobre a
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desconfiança da gravidez de Andressa.


— Aconteceu alguma coisa que não sei? —
insistiu. — Tem a ver com seu pai? Eu soube que
ele teve em Barcelona.
Tomei um fôlego.
— É, ele teve. Na verdade, é uma história
engraçada — falei, me permitindo sorrir. Eva fez o
mesmo, apesar de não saber o motivo do sorriso.
— Como assim?
— Você não foi a única a receber
mensagens de bêbado — comentei, com uma
expressão culpada e Eva arquejou.
— Não vai me dizer que você...
Assenti sem deixar que concluísse o
raciocínio.
— Meu pai veio aqui, porque falei o que
precisava ser dito a ele, mas de um jeito nada
agradável.
— Romeu! — Suas mãos foram parar em
sua boca, que se abriu em puro choque. — E então,
como foi?
Dei de ombros.
— Meio tenso. Meio difícil. Meio confuso.
— Resuma — exigiu, ansiosa.
— Bem, a conversa chegou onde eu queria.
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Ela sorriu.
— Então você contou sobre sua empresa?
Desabafou sobre seus verdadeiros sonhos e
vontades?
Balancei a cabeça, fascinado com o brilho
deslumbrante nos olhos castanhos, que me
encaravam com emoção.
— Acho que sim.
Fui pego desprevenido quando suas mãos
vieram parar em minha nuca enquanto Eva colava
sua testa na minha.
— Então agora estamos livres, Romeu —
soprou ela, respirando seu aroma perto do meu
nariz, o que me fez quase um embriagado.
Fechei os olhos, lutando contra o que era
certo e o errado. O carinho na minha nuca, em
contrapartida com a maneira como estávamos
próximos, deixava tudo mais difícil. Eu a amava
tanto que chegava a doer o meu peito.
— Romeu? — Abri os olhos. Eva me
encarava com curiosidade e expectativa. — O que
foi? Você está tenso desde que saímos do
aeroporto. Tem mais alguma coisa pra dizer?
Fiquei em silêncio, apenas olhando para
aqueles olhos que me dominavam com uma
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intensidade cortante. Poderia estar sendo egoísta


por cogitar esconder dela o que vinha me
atormentando. Mas como seria capaz de arrancar
aquele sorriso? Ou apagar a luz daquele olhar?
— Romeu, eu sei que na sexta-feira quando
saí daqui, as coisas ficaram meio estranhas entre
nós dois, mas meus sentimentos continuam os
mesmos. Eu até contei sobre nós dois aos meus pais
e...
Não consegui mais ignorar o desejo de
avançar sobre aqueles lábios. Perdi a luta contra a
vontade de puxá-la contra mim. Fui vencido.
Deixaria o pior para depois. Não permitiria
que nada estragasse aquele momento.
Eva ergueu o corpo e se ajeitou em meu
colo, sentando com as pernas abertas ao meu redor.
Minhas mãos foram parar em seus quadris, onde
apertei suas nádegas, moendo minha dureza contra
seu calor.
— Ai que saudade. — Suspirou ela,
separando nossas bocas. Aproveitei para beijar sua
garganta, arrastando a língua por sua pele e orelha.
— Eu não via a hora de voltar para casa...
— Voltar para casa, ou voltar para mim? —
perguntei, fazendo-a sorrir.
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— Tão arrogante — zombou, erguendo os


braços quando puxei sua camiseta. Rapidamente
abri o fecho do sutiã, libertando suas duas
preciosidades que pularam diante dos meus olhos.
Surpreendi-me quando visualizei sua tatuagem de
asas.
— Saber o quanto mexo com você não é
arrogância — comentei, esmagando seus seios com
as duas mãos, antes de abocanhá-los com toda a
fome existente em mim.
O gemido alto que escapou de seus lábios
me deixou ainda mais insano.
— Quando você fez essa tatuagem? —
perguntei, passeando meus dedos pelo plástico
filme que cobria a pele avermelhada.
— Fiz na sexta-feira — respondeu. — Não
tive tempo de mostrar.
Desenhei as asas com meus dedos, sentindo
todo o peso daquela escolha. Era bom, mas ao
mesmo tempo, aterrorizante vê-la desabrochando,
porque temia que ela voasse para longe de mim.
Coloquei suas mãos em meu pescoço e, em
seguida, fixei as minhas abaixo de seu traseiro.
Impulsionei-me para cima e nos ergui. Gemi
quando Eva tomou minha boca de assalto enquanto
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seguia, cegamente, até o quarto.


— Então estamos bem? — perguntei,
depois que a depositei sobre a cama desarrumada.
Arranquei minha camiseta e desabotoei a
calça. Prestes a retirar a cueca, Eva me impediu e
assumiu o comando.
— Depende — disse ela, deixando o pânico
retornar com tudo ao meu peito. Suas mãos
passearam pela minha cintura, mas seus olhos
confiantes fixaram-se nos meus. — Seremos um
casal? — quis saber.
Rangi os dentes quando seus dedos
atrevidos desceram minha cueca e minha ereção
saltou aos olhos dela, que lambeu os lábios.
— Nós já éramos um casal antes — falei,
engasgado. Assisti, em transe, o momento em que
ela fechou os dedos em minha grossura, começando
um vai e vem lento e quase torturante.
— Eu falo de assumir, Romeu. Deixar com
que todos saibam que você é meu.
Não precisava ser gênio para entender pelas
entrelinhas. Ela estava querendo marcar território
por causa da Andressa.
O gemido saiu rasgando minha garganta
quando senti o toque macio da sua língua em minha
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glande. O ar ameaçou faltar dos meus pulmões


diante do prazer absurdo.
Eu estava surpreso e sem palavras, uma vez
que, Eva jamais tinha me chupado antes. Não
tínhamos chegado nessa etapa ainda.
— Você está disposto a me assumir como
sua namorada? — A boca dela me engoliu por
completo e, eu quase desfaleci as pernas.
— Oh, porra, sim! — sibilei entre dentes,
empurrando-a gentilmente para trás e avançando
com os lábios nos seus. — Sim, sim.
Nossas mãos rapidamente trabalharam na
sua calça e calcinha, deixando-a nua.
Pairei meu corpo sobre o dela, mas tomando
o cuidado de não colocar meu peso todo. Ali,
olhando em seus olhos, tive total certeza de que
jamais seria o mesmo sem ela. Eva tinha sido feita
sob medida para mim. Éramos um.
— Eu amo você — soprei, arrastando a mão
por seu corpo, pairando em seu clitóris duro e
necessitado onde passei a massageá-lo. Ela gemeu
baixinho. — Amo seu corpo. Amo sua voz. Amo
seu cheiro. — Inclinei-me e inspirei seu ar,
embriagado com seu aroma. Dois dos meus dedos
afundaram-se em sua abertura úmida, e então
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iniciei um movimento de vai e vem. — Não haverá


qualquer dificuldade em assumir o que temos,
porque não consigo me imaginar vivendo longe de
você mais do que o necessário. Você está em mim,
Eva. Consegue entender? — Ela gemeu, revirando
os olhos, conforme eu intensificava os movimentos
dos meus dedos. — Está sob minha pele.
— Romeu! — E ela gozou lindamente em
meus dedos. Não dei tempo para que se recuperasse
e então coloquei a camisinha e a penetrei de uma
vez só.
— Em casa, porra! É assim que me sinto
quando estamos juntos — murmurei,
movimentando-me dentro dela, não querendo sair
dali nunca mais.
Depositei uma das mãos em seu quadril e a
outra foi parar em sua nuca de modo a unir nossas
bocas num beijo faminto e lento ao mesmo tempo.
— Eu amo você — sussurrou ela, enrolando
as pernas em minha cintura tornando a penetração
mais profunda. — Amo você.
— Meu anjo. Minha. Toda minha.

∞∞∞
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O dia amanheceu mais bonito. A verdade é


que eu estava me sentindo completo. Corajoso.
Embora lá no fundo, sentisse que a maior covardia
estava no fato de não ter sido sincero com a Eva.
Droga!
Sacudi a cabeça, tentando socar aquela
sensação para o fundo da minha mente. Eva estava
comigo. Estávamos bem.
Estacionei meu conversível na vaga de
sempre do Campus e desci. Repousei o traseiro no
capô e digitei o número da minha mãe e aguardei.
— Mãe?
— Oi, meu amor — disse ela. — Eu já
estava pensando em ligar pra você. Como foi a
conversa com seu pai?
Entortei os lábios.
— Foi como tinha que ser, mãe. — Dei de
ombros. — Tanto eu, quanto vocês foram pegos
desprevenidos.
— Juro que não fazia ideia, filho. Fiquei
muito chateada por não ter sido mais atenta aos
seus sentimentos, querido.
Sorri da sua voz melosa.
— Está tudo bem, mãe — falei. — Não
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liguei para isso. O papai está aí?


— Está. Quer falar com ele?
— Na verdade, quero falar com os dois. A
senhora pode colocar a chamada no viva voz?
— O que está tramando? É alguma
pegadinha? Por acaso bebeu de novo?
Dei risada.
— Claro que não, mãe. Estou na faculdade,
oras.
Ela riu baixinho.
— Ok. Pronto. Estamos ouvindo.
— O que foi, filho? — Veio a voz grave do
meu pai.
Respirei fundo.
— Bem, sei que esse não é o melhor jeito
para dar notícias, mas as circunstâncias me obrigam
— pausei, criando coragem. — Eva e eu estamos
namorando — falei de uma vez só.
O silêncio reinou.
Um segundo.
Dois.
Três.
Quatro.
— O que disse? — Minha mãe quis saber.
— Sei que parece estranho.
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— Não é estranho, Romeu. É muito


estranho. Vocês foram criados como primos.
— Mas nós não somos — retruquei. —
Somos homem e mulher, e nos vemos dessa forma
agora — expliquei, calmo. — Eva e eu nos amamos
e, espero que assim como meus tios aceitaram,
vocês também possam me honrar com o apoio de
vocês.
— Romeu...
— É importante, mãe — cortei suas
palavras. — Eva é importante para mim.
Ela suspirou.
— Está certo, meu amor. Estou feliz por
vocês e vou esperá-los aqui em casa para nos
reunirmos com todos para entender tudo isso.
Sorri em alívio.
— Você tem certeza, Romeu? Eva não é
qualquer uma, filho, ela é nossa princesinha e...
— Eu sei, pai. Eva é minha alma gêmea.
Ele pareceu sorrir.
— Ok. Se cuidem. Vou conversar com o
Ale e marcar um encontro com a família.
— Uhum. Vou conversar com a Eva.
Obrigado, pai. Amo vocês.
— Também amamos, querido. Um beijo.
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Encerrei a ligação no mesmo instante em


que vi Eva caminhando ao meu encontro.
Guardei o celular no bolso. Meus braços
esperavam por ela, abertos, quando se aproximou.
Meu corpo inteiro se arrepiou em
reconhecimento. Nem parecia que tínhamos nos
visto a menos de doze horas. Entretanto, eu sabia,
nunca era suficiente.
Apertando-a em meus braços, arrastei as
mãos por suas costas e embrenhei os dedos em seus
cabelos sedosos. Olhos nos olhos.
Não pedi permissão e apenas inclinei a
cabeça e toquei nossos lábios, deixando claro que
éramos um do outro. Ligando o foda-se para tudo e
todos.
Éramos nós.
— Bom dia. — Ela sussurrou contra meus
lábios. Havia um resquício de sorriso em sua voz.
Circulei sua cintura fina, juntando um
pouco mais nossos corpos.
— Bom dia, namorada. — Sorri para ela,
que me abraçou mais forte. Seu olhar era de puro
contentamento.
— Gosto de como isso soa — brincou ela,
beliscando meu nariz e voltando a me beijar.
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Não havia preocupação com nada e nem


ninguém. Apenas nós dois.
Abandonei seus lábios apenas tempo
suficiente para abraçá-la, e foi nesse momento que
vi a Andressa a poucos metros de nós dois.
Meu coração acelerou com um medo capaz
de sufocar. Agarrei-me a Eva como se isso pudesse
fazer com que ela não me deixasse.
Ela não poderia me deixar.
Andressa sumiu do meu campo de visão,
porém não sem antes me oferecer um sorriso
maldoso.
Com o coração aos pulos, voltei a encarar a
Eva.
— Pronta?
Com olhos brilhantes, ela apertou minha
mão, quando entrelacei nossos dedos.
— Estou se você estiver.
Aproximei o rosto do seu e mordi seu
queixo.
— Estou louco para exibi-la por aí, anjinha.
Sua risada gostosa aqueceu meu peito,
deixando meu coração amolecido.
De mãos dadas, nós caminhamos rumo a
um dos prédios do Campus. Rumo a uma nova
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jornada.
Já não éramos mais professor e aluna, mas
duas pessoas apaixonadas. Dois corações que se
amavam.

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Vinte e sete

Eva
Dias depois
— Eu não acredito que você não me
contou da sua relação com o Romeu, Eva.
Assustei-me com a chegada abrupta de
Penélope, que jogou a bolsa sobre a mesa em que
eu estava, bagunçando todas as minhas anotações.
— Céus, Penélope! — exclamei,
massageando meu peito, assustada. — Fale baixo,
poxa! Estamos numa biblioteca — sussurrei, sem
jeito por causa de alguns olhares feios em nossa
direção.
Ela deu de ombros, mas acabou se sentando
e, em seguida, inclinou-se sobre a mesa me
encarando com uma expressão sapeca.
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— Então quer dizer que a senhorita está


dando para o priminho?
Segurei o riso, enquanto estapeava seu
braço.
— Não temos qualquer laço sanguíneo, Pê,
você sabe — comentei enquanto guardava minhas
coisas. — Eu ia te contar, mas as coisas foram
acontecendo rápido demais e não consegui achar o
freio.
Levantei e segui para fora da biblioteca,
com Penélope em meu encalço.
— Então isso já tem um tempo? Não
acredito que só descobri agora, Eva — resmungou
ela, chateada. — Por que não me disse antes? Poxa,
eu conto tudo pra você.
Havia mágoa em seu tom, o que me fez
sentir culpada.
Mordi os lábios e olhei para ela, que
caminhava ao meu lado. Ambas estávamos com os
cabelos soltos, contudo os de Penélope eram curtos
e negros, diferentes dos meus, que eram longos e
castanhos.
Segurei sua mão.
— Vem comigo. — Puxei-a para fora do
prédio. — Vamos fazer um lanche e então contarei
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tudo.
Penélope quicou.
— Com todos os detalhes?
Rolei os olhos, mas o sorriso estava em
meus lábios.
— Do jeitinho que eu sei que você gosta. —
Ela riu. — Depois quero que vá comigo no meu
teste de direção.
— De novo? — zombou.
— Só vou parar quando conseguir.

∞∞∞
— Agora vire a esquerda e, em seguida,
estacione ali — disse o meu instrutor de direção.
Eu estava nervosa, contudo menos do que das
outras vezes. A presença do examinador no banco
de trás quase não me intimidou, porque eu estava
confiante.
Fiz exatamente como ele pediu.
— Agora faça a baliza — exigiu.
Assenti, respirando fundo.
Girei o volante para o lado direito e, em
seguida, para o lado esquerdo. A manobra foi tão

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perfeita que me senti extremamente orgulhosa.


Desliguei o carro e aguardei.
Meu instrutor me confidenciou um olhar
satisfeito, o que me deixou um pouco mais aliviada.
Minutos depois, recebi a notícia de que
finalmente tinha conseguido.
— Você passou, Eva. Conseguiu. Parabéns.
Abracei meu instrutor, sorrindo e vibrando
pela conquista.
— Obrigada.
Apertei a mão do examinador, depois saí do
carro. Penélope parecia agoniada com a espera.
— E então? — quis saber quando me
aproximei.
— Eu passei!
Ela gritou, tão eufórica quanto eu e veio me
abraçar.
— Ah, que maravilha! Agora precisamos
comprar um carro — brincou, fazendo-me rir. —
Festa pra ir é o que não vai faltar.
— Uhum, sei — murmurei entre risos. —
Vamos embora.

∞∞∞
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Perto das seis horas da tarde, Romeu


apareceu no meu apartamento. Eu tinha acabado de
tomar banho, então pedi para que Penélope abrisse
a porta e o recebesse.
— Olha só, garanhão, sei que você não vai
muito com a minha cara, algo recíproco devo
salientar, mas a Eva é uma preciosidade que temos
em comum. Então não ouse quebrar o coração dela.
— Oh, fiquei até com medo agora — disse
Romeu, sem esconder o sarcasmo.
Revirei os olhos, surgindo logo atrás.
— Parem com isso os dois! — ralhei,
aceitando quando Romeu me puxou para ele.
— A culpa é dessa sua amiga chata.
— Ei! Eu ouvi isso, hein? — Penélope
socou o braço dele, que riu da sua irritação. —
Estou saindo, pombinhos.
Escondi o rosto no peito do Romeu, rindo.
— E aí, como foi no teste? — perguntou
ele, amparando meu rosto com as duas mãos.
— Eu passei! — exclamei com euforia. —
Finalmente sou habilitada.
— Meu Deus! Agora preciso redobrar os
cuidados — brincou e, eu belisquei sua barriga.
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— Palhaço!
Puxei-o para o quarto.
— E, então, sabe o que está acontecendo lá
em Madrid? Por que marcaram uma reunião com a
família? Aliás, você também recebeu uma
mensagem, né? — questionei, deixando-me cair
sobre a cama. — Será que tem a ver com a tia Léa?
Fico tão preocupada com ela por conta da gravidez.
— Respirei fundo, sentindo o medo me abater.
Amava demais minha família e temia perder
qualquer um deles. Minha mãe comentou comigo
uma vez que minha tia havia sido submetida a um
aborto quando jovem e, tal procedimento criminoso
trouxe complicações, o que dificultou todas as suas
tentativas de voltar a engravidar depois que casou
com tio Hugo. A gravidez surgiu quando as
esperanças já nem mais existiam, porém veio para
unir bem mais a família.
— Recebi logo cedo — respondeu ele. —
Também fico preocupado com a tia, mas acho que
está tudo bem com ela e o bebê. Acho que
marcaram esse encontro, porque querem conversar
conosco sobre nossa relação.
— Será?
Romeu pairou o corpo sobre o meu,
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cheirando meu pescoço.


— Eu acho. Meus pais ficaram um pouco
confusos quando dei a notícia pelo telefone. — Riu,
fazendo cócegas no meu pescoço. — Então
certamente estão querendo entender. Só isso.
— Só isso? — Sorri para ele, que mordeu
meus lábios.
Não resisti e avancei em sua boca com a
minha.
— Viajaremos que horas? — perguntei.
— Amanhã, no primeiro horário.

∞∞∞
O avião tinha acabado de decolar, quando
Romeu se levantou e fez sinal para que eu o
seguisse. Não entendi o que pretendia, mas acabei
indo atrás.
— O que foi? — sussurrei, e fui puxada
para dentro do minúsculo banheiro.
— Que tal uma rapidinha?
Arregalei os olhos, sentindo meu coração
acelerar com a possibilidade.
— Não! Tá maluco?

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O sorriso que ele me ofereceu foi tão sacana


que minha pele se arrepiou com as promessas
maliciosas expressas em seu olhar.
De repente, Romeu se abaixou na minha
frente, arrastando as mãos por minhas pernas.
— Erga o vestido para mim.
— Não! — Eu estava escandalizada. —
Romeu, pare com isso! Não vamos transar aqui —
ralhei com ele, que continuou no mesmo lugar,
encarando-me com um tesão insano.
— Erga o vestido, Eva. Eu quero chupar
muito essa sua bocetinha antes de preenchê-la com
meu pau.
Arquejei, enquanto sentia o pulsar furioso
entre minhas pernas. Ele sabia o quanto falar
comigo daquela maneira me excitava. Droga!
Com mãos trêmulas, segurei e ergui a barra
do vestido, deixando Romeu cara a cara com minha
calcinha, que ele logo arrastou para baixo.
— Oh, delícia molhada. — Suspirou em
deleite antes de abocanhar meu clitóris e arrancar
um gemido alto da minha garganta. — Sem gritar,
anjinha.
Levei a mão à boca e mordi a fim de abafar
os gemidos.
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Romeu me lambia com urgência, como a


um desesperado por água ou comida. Levei a outra
mão aos seus cabelos e comecei a puxá-los com
força, conforme o movimento — da sua língua
faceira — ficava mais intenso. Meus gemidos
tornaram-se murmúrios e meus murmúrios
tornaram-se lamentos. Eu queria fazê-lo parar, ao
mesmo tempo em que o queria com mais
intensidade. Romeu era como uma força da
natureza, arrastando-me com ele para qualquer
lugar, fazendo-me compartilhar de suas loucuras.
— Romeu...
Seus dedos passaram a entrar e a sair de
dentro de mim, em investidas precisas e num ritmo
veloz, enquanto sua língua castigava meu clitóris
duro.
— Dê-me seu mel, Eva. Faça-me orgulhoso
por tê-la feito gozar na minha boca, conosco
estando à milhas de altura.
Afundei a cabeça dele contra meu sexo,
completamente desavergonhada e louca para gozar.
O senti rir do meu desespero, e a vibração
que isso causou em minha carne foi o estopim que
faltava para minha libertação. Gozei tão forte que
se Romeu não estivesse me segurando, certamente
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eu teria desfalecido.
Erguendo-se, Romeu me fez sentir meu
gosto e meu cheiro em seus lábios quando sua boca
atacou a minha com a mesma fome de sempre.
Ele me virou de costas para ele, enquanto
abria a braguilha e descia as calças. Poucos
instantes depois, eu segurei o grunhido quando ele
me penetrou furiosamente. Uma de suas mãos
desceu até minha perna, onde ergueu posicionando-
a sobre a privada. Joguei a cabeça para trás em
cima do seu ombro, o que facilitou o acesso dele ao
meu pescoço. Seus beijos, mordidas e lambidas, em
contrapartida com suas investidas estavam me
levando à loucura.
— Está gostando, hun? — Ele quis saber.
— Quer que eu pare?
— Não ouse! — Praticamente rosnei.
Joguei o bumbum para trás, indo de
encontro aos seus movimentos. O redemoinho
estava se formando outra vez em meu baixo ventre,
causando-me uma sensação de sentimentos e
emoções. Jamais imaginei que teria coragem de
fazer aquilo.
— Você está me levando para o mau
caminho, sabia? — Minha voz soou resfolegante e
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ele riu, puxando meu rosto para ele.


— Culpado! Se proporcionar a você os
melhores orgasmos da vida me faz o vilão, então
sou culpado — disse com aquele sorriso travesso
que eu amava.
— Safado! – Mordi seu lábio inferior.
Nos minutos seguintes, Romeu me castigou
com seus impulsos furiosos. Sua mão abafou minha
boca de modo a me fazer calar. Quando sua mão
livre desceu para brincar com meu clitóris, não
consegui parar o orgasmo que chegou me
derrubando como a um nocaute. Meus olhos
reviraram-se nas órbitas e tudo que fiz foi me
deixar levar enquanto meus dentes cravavam na
pele da mão de Romeu, que continuava em minha
boca.
Duas investidas depois foi a vez dele, que
urrou deliciosamente perto do meu ouvido.
Arrepios me tomaram por completo. Eu amava a
maneira como eu o fazia sentir. Adorava presenciar
suas reações comigo.
— Puta que pariu! — exclamou, analisando
sua mão. — Você me mordeu pra valer —
reclamou e, eu ri.
— Pense pelo lado positivo: o orgasmo que
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você me proporcionou foi furioso — falei,


divertida.
Ele riu, arrogante. Seus dedos
embrenharam-se em meus cabelos por atrás da
nuca.
— Foi um prazer — sussurrou, brincando
com meus lábios entre os seus.
Alguém tentou abrir a porta e, eu me
sobressaltei.
— Droga! Deixaremos o próximo round
para mais tarde.
Eu ri de suas palavras e então ambos
voltamos a nos vestir.

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Vinte e oito

Romeu

Eu não tinha visto Andressa nos últimos


dias, e ela também não me procurou, o que me fez
deduzir que a história da gravidez pudesse não ter
passado de um engano, ou que não tivesse nada a
ver comigo.
Numa última ida a uma das fábricas do meu
pai, acabei descobrindo que Andressa tinha pedido
uma licença por alegar estar doente, e isso me
deixou menos preocupado, uma vez que, gravidez
não era doença, então logo, ela não estaria grávida.
Leve.
Essa era a palavra que me descrevia
enquanto deixava o aeroporto de Madrid,
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juntamente, com Eva. O lindo rosto estava rosado


devido a nossa pequena travessura dentro do
banheiro do avião. Não tinha a intenção de fazê-la
perder a compostura daquela forma, mas o quão
curta a vida pode ser para não aproveitarmos?
Antes, eu protagonizava aventuras, mas era
diferente, porque era apenas por prazer. Com Eva
era por devoção. Por amor.
Era fascinante assistir a maneira como ela
se abria a novas experiências. Para novas
oportunidades de se descobrir. Eva era como uma
preciosa flor e, eu me sentia agraciado por vê-la
desabrochando.
Quando o táxi nos deixou em frente à casa
dos meus pais já beirava às duas da tarde. Nem um
de nós dois tínhamos contatado nenhum parente,
uma vez que, a mensagem que ambos recebemos
era de que a reunião seria importante e que a
presença de todos seria imprescindível.
— Está nervosa? — perguntei ao segurar a
mão da Eva e perceber o quão fria estava.
— Um pouco — respondeu em tom baixo.
Trouxe sua mão aos meus lábios e beijei os
nós de seus dedos.
— Vai dar tudo certo, porque estamos bem
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e juntos.
Ela sorriu.
— Estamos juntos. Estamos bem. —
Concordou.
Assim que entramos, não demorou muito
para que meus olhos avistassem uma figura que
destoava o ambiente repleto de familiares.
— Romeu... — não consegui olhar para
Eva, assim que sua mão soltou a minha. — O que
essa garota está fazendo aqui?
Minha boca abria e fechava, embora
nenhum som saísse. Talvez eu pudesse colocar a
culpa ao pânico que tomou conta do meu corpo
quando meus olhos se chocaram com os de
Andressa. A maldita garota sem nome. A garota
com quem eu jamais deveria ter deixado brincar no
meu playground.
— Que bom que chegaram — disse meu
pai, sério. — Venham até aqui, por favor.
Eva estava arisca e desconfiada, mas
caminhou ao meu lado, em silêncio.
— Como foi a viagem, querida? — Ouvi a
pergunta da tia Blue, enquanto Eva a abraçava.
Não prestei atenção às conversas ao meu
redor, considerando que minha concentração estava
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na loira de olhos maldosos. Meu peito parecia


sufocado enquanto tudo o que minha mente
pensava era no quanto eu estava fodido.
— Bem, Romeu, sente-se! — disse meu pai,
num tom frio.
Alguma coisa estava errada. Muito errada.
— O que está acontecendo? — perguntei.
— Por que essa garota está aqui?
— Essa garota tem nome, Romeu — ralhou
minha mãe, fazendo-me olhar para ela. — Ela se
chama Andressa e nos procurou há alguns dias
dizendo que precisava da nossa ajuda.
— Uma ajuda o qual você me negou,
Romeu — disse ela.
Franzi a testa.
— Do que você está falando, garota?
— Romeu, o que é isso? — Eva quis saber,
tão nervosa quanto eu.
— Estamos muito decepcionados com você,
Romeu — disse meu tio Alejandro. — Jamais
pensei que você fosse capaz de algo assim.
— Filho, por que não nos procurou?
Caramba! Você tem toda a liberdade para conversar
conosco sobre tudo. Nós te educamos para ser um
homem e não um moleque.
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— De que merda vocês estão falando? —


vociferei, irritado com todo aquele joguinho
psicológico.
— Fale Andressa — ordenou meu pai.
Levei o olhar fulminante até ela, que me
encarava com os olhos brilhantes.
Aquilo eram lágrimas?
— Romeu e eu tivemos um lance rápido,
admito. Não tenho vergonha de afirmar que
transamos no primeiro encontro.
— Romeu... — Eva suplicou, contudo não
fui capaz de olhar em sua direção.
— Escute, querida. Apenas escute — pediu
tia Blue.
— Tivemos outros encontros esporádicos,
mas então ele começou a se relacionar com a Eva
e... — calou-se, fingindo buscar fôlego — Eu falei
pra ele que não era certo continuarmos, porque eu
não sou nenhuma vagabunda. Tenho meu amor
próprio.
Eva se levantou.
— Do que essa vadia está falando, Romeu?
— sibilou entre dentes. — Eu estava certa ao
desconfiar que você me traía com ela, é isso?
— É claro que não, porra! Ela está
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mentindo descaradamente e não entendo como esse


circo todo foi armado.
Meu corpo todo tremia.
— Ah, estou mentindo? E sobre a gravidez,
também estou mentindo?
— Gravidez? — Eva perguntou num fiapo
de voz.
Olhei para ela, assustado.
— Eva...
— Essa garota está grávida de você?
Engoli em seco.
— Era só uma desconfiança e...
— Então você sabia e não me disse nada?
— Havia dor e mágoa em seus olhos.
— Eu...
— Desde quando? — Interrompeu minhas
palavras.
— Descobri durante sua viagem pra cá —
respondi, sentindo-me um tolo por não ter falado
nada antes. O peso do meu egoísmo destruiu meus
ombros naquele momento.
O choque ficou evidente em seu rosto.
— Então quer dizer que você me fez de
palhaça durante os últimos dias? — acusou com
dor.
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— Aparentemente não foi a única — disse


meu pai, decepcionado. — Andressa me procurou
na semana passada e explicou tudo o que vinha
acontecendo. Mostrou todos os exames, inclusive
as mensagens de texto trocadas com Romeu, onde
ele exigia que ela abortasse o bebê.
— O quê? — gritei. — Que loucura é essa?
Eu jamais faria isso.
— Por que continua fazendo isso, Romeu?
— questionou Andressa, em prantos. — Não cansa
de me magoar?
Fechei e abri os punhos, odiando a maneira
como todos estavam olhando para mim. Senti-me
um monstro.
Comecei a rir, descontrolado.
— Vocês não podem acreditar nessa garota.
Não percebem que ela está mentindo?
— Pegue. — Meu pai jogou um celular na
minha direção, e peguei o aparelho no ar. — Veja
as provas com seus próprios olhos.
Não acreditei quando vi minha foto e meu
número ali, no aplicativo de troca de mensagens.
Era eu. Mas ao mesmo tempo não era, porque eu
jamais diria aquilo. Por mais que ela realmente
estivesse grávida, eu jamais a deixaria
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desamparada. Se fosse meu, eu pretendia assumir.


— Vocês precisam acreditar em mim —
implorei, desesperado agora. — Isso foi armado.
Não enviei essas mensagens.
Eva pegou o celular da minha mão.
— Eu transei com ela apenas duas vezes,
mas usei camisinha. Como falei antes, a
desconfiança da gravidez surgiu dias atrás enquanto
Eva estava aqui de visita, mas ficou só por isso, já
que Andressa sumiu. — Voltei a rir. — Mas já
entendi o motivo do sumiço, né, vagabunda? Estava
se preparando para dar o bote!
— Já chega, Romeu! — gritou meu pai. —
Não tente justificar o injustificável.
— Andressa é uma boa garota e nos contou
o quanto é inteligente e esforçada — disse mamãe.
— É cheia de sonhos, mas deixou claro que não
pretende abrir mão do bebê.
Esfreguei o rosto, sentindo-me traído.
— Eu vou embora — disse Andressa,
chorando. — Não deveria ter vindo até aqui. Isso
foi um erro.
Tia Lea, que até então estava em silêncio,
segurou-a pela mão.
— Não faça isso. Por que está querendo
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fugir?
— Vocês não entendem! Romeu vai me
odiar — insistiu ela, protagonizando o papel de
vítima da situação.
Voltei a rir.
— É impressionante o cinismo.
— Cala a boca, Romeu! Será que dá para
demonstrar um pouco de arrependimento pelo que
fez? — falou tio Alejandro. — Você estava se
relacionando com minha filha, enquanto mantinha
um caso com essa pobre garota.
— Não! Isso não é verdade! — Fui até Eva,
que se desvencilhou do meu toque. Os olhos dela
estavam úmidos. — Eva, por favor, acredite em
mim.
— Mas está aqui — apontou para o celular
— Você mandou mensagem para ela exigindo o
aborto. Está aqui, Romeu. Está aqui! — Sua voz se
tornou embargada, quebrando meu coração em
pedaços. — Como pôde? Como conseguiu se
transformar de um príncipe encantado a um sapo de
uma hora para outra?
— Eva, por favor, me escuta. Essa garota
está mentindo, ela está querendo nos separar e eu
nem sei o porquê.
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— Pare de mentir! — gritou. — Não há


porque continuar negando. Está aqui! Você me
usou, né? Fui apenas um brinquedo pra você?
Alguma aposta, talvez?
Tentei me aproximar dela, mas meu tio me
impediu, o que me fez explodir.
— O que é isso? Uma porra de complô
contra mim? Vão mesmo acreditar numa
desconhecida?
— Não é uma questão de acreditar ou não,
mas de ter certeza. As provas não mentem — disse
meu pai num suspiro exausto. — Dias atrás, você
me disse que só estraga as coisas, filho.
— Ah, claro, então isso já diz muita coisa,
hun?
— Há momentos que basta apenas nós
olharmos pelas entrelinhas — retrucou.
Sacudi a cabeça.
— Claro, claro. — Bati palmas. — O que
mais vai acontecer agora? Serei acusado de
assassinato? — Olhei para a Andressa. — Vai,
vadia, aproveita para destilar mais o seu veneno. A
hora é essa.
— Já chega! — exclamou minha mãe,
tentando me tocar, mas me desvencilhei do seu
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toque.
— Gente, tem alguma coisa muito errada
aqui — disse tia Lea.
— Finalmente alguém sensato. — Ergui as
mãos.
— Se Romeu soubesse do que se tratava a
reunião, ele teria tempo para se armar; para fingir.
Mas ele não sabia.
— Mas e quanto às provas? — Tio Hugo
questionou, pensativo. Ele também parecia
desconfiado.
— Eu não sei, oras — disse ela,
depositando as mãos na barriga saliente e,
encarando Andressa com desconfiança. — Só estou
achando tudo isso muito estranho. Quem é essa
garota? De onde ela surgiu? Vocês estão
crucificando o Romeu sem nem pesquisar a história
a fundo.
— Preciso sair daqui — murmurou Eva,
desnorteada e me fazendo piscar.
Forcei-me a reagir, desesperado.
— Eu sinto muito, Eva, querida, não queria
ter estragado nada aqui. — Andressa chorou,
fingida. — Sabia que vocês tinham planos para o
futuro, não só no relacionamento amoroso, mas
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profissional também, já que seu empenho para que


Romeu investisse em um negócio próprio era forte.
— O quê? Então quer dizer que tem dedo
seu no fato do Romeu se recusar a tocar os
negócios da família, mocinha? — Meu tio
questionou, e Eva apenas chorou.
— Tenho que ir. Eu preciso ir.
Fiquei travado no lugar, apenas olhando
para a garota que era meu mundo todinho indo
embora. Magoada comigo. Zangada por algo que
eu não fiz, mas não sabia como provar minha
inocência.
Todos estavam falando ao mesmo tempo,
entretanto minha mente não absorvia nada. Tudo o
que eu conseguia pensar era na Eva. Minha
anjinha.
— Hora de parar com a brincadeira, Romeu.
Você vai aprender a assumir suas
responsabilidades.
Virei a cabeça na direção do meu pai.
Minha mãe me encarava com o mesmo olhar
decepcionado.
Meu coração doeu um pouco mais.
— O que querem que eu faça? — perguntei,
engasgado.
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— Primeiro, você vai deixar a sua prima em


paz e começar a se concentrar no que é real.
— Meu amor pela Eva é real, pai.
— E o nosso bebê? — Andressa
intrometeu-se.
Fechei os olhos na intenção de me segurar
para não xingá-la.
— Não sei o que você está tramando,
garota, mas isso não vai ficar assim — rosnei.
Virei as costas.
— Ei? Ainda não acabamos.
— Acabamos sim — respondi, desolado. —
Vocês acabaram de selar meu destino e, eu aceito.
Se isso os deixará felizes, então está ok para mim.
— Romeu, espera...
Caminhei até a porta, abri e fechei,
ignorando todos os chamados.
Entretanto, era impossível ignorar o vazio e
a dor excruciante corroendo meu peito cada vez
que me lembrava do olhar da Eva.
Como um menino, eu chorei. Chorei,
porque tinha quase cem por cento de certeza de que
dessa vez tinha perdido meu anjo para sempre.

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Vinte e nove

Eva

“— Anjinha, provavelmente você irá


ignorar essa mensagem, assim como as outras,
mas, por favor, dê-me uma chance, Eva. Deixe-me
explicar. Já se passou duas semanas. Duas
malditas semanas. — Ouvi o suspiro frustrado. —
Precisamos conversar. Eu não aceito que nossa
história acabe desse jeito. Não é justo. Eu te amo.
Mesmo que não acredite, eu te amo.”
A mensagem chegou ao fim. Deslizei o
celular do rosto, sentindo meus olhos arderem com
novas lágrimas.
— Era ele de novo? — Penélope quis saber,
entrando no quarto.
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Assenti, fungando o nariz e lutando contra o


choro inevitável.
— Você atendeu?
— Não.
— Eva, eu sei que você está sofrendo,
porque é nítido, mas precisa reagir — disse ela,
sentando-se em minha cama. — Romeu se mostrou
um maldito cretino e não merece que você sofra por
ele.
— Mas e se...
Calei-me, envergonhada por cogitar aquele
pensamento. Mas a verdade é que nos últimos dias
e com todas as mensagens e tentativas de conversa
do Romeu, eu passei a me questionar sobre toda
aquela história. Talvez tia Leá estivesse certa em se
questionar sobre a veracidade do fato.
— E se o quê, Eva? Não acredito que você
esteja pensando em reconsiderar sua decisão! Eva,
ele estava te traindo com aquela vagabunda.
Caramba! Ele a mandou abortar, tem noção da
cretinice disso tudo? Acorda!
Suspirei, sabendo que ela provavelmente
estivesse certa, mas por que meu coração parecia
tão confuso?
— Sempre fomos amigos, Pê.
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— E daí? Está com pena? Ele não teve pena


de trair você.
Ela não dava trégua.
— Não é isso! Só estou me sentindo
estranha, porque sei que ele está sofrendo e, eu não
posso ajudá-lo. Na verdade, não sei o que pensar.
Estou muito confusa.
— Acha que ele a ama? Você é muito boba,
Eva.
— Não sei dos sentimentos dele, Pê, mas
sei dos meus. Eu o amo como jamais amei qualquer
outro. Não consigo fingir. Não consigo negar.
Penélope me encarou com um olhar
compreensivo, em seguida, aproximou-se de mim
para apertar minhas mãos.
— Eu sinto muito, minha amiga —
murmurou. — Sinto muito que seu coração tenha
sido partido dessa forma.
Meus lábios se torceram numa vã tentativa
de segurar as lágrimas, mas falhei miseravelmente.
Corri para os braços dela, apreciando seu carinho.
Desde a trágica notícia, eu simplesmente
não fui capaz de continuar em Madrid; não poderia.
Recusei qualquer contato e meus dias se resumiram
às aulas e a minha cama. Nem sequer quis me
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despedir de Cecílie quando ela me procurou para


avisar que estava de partida. Por um instante, eu a
invejei. Deveria ser libertador viver sem criar laços.
Viver apenas de momentos.
— Que tal passar o final de semana fora?
— Onde?
— Estou pensando em visitar minha irmã
mais velha em Girona, e você poderia vir comigo.
Será bom para se distrair. Poderemos curtir uma
baladinha e beber um pouco, hun? Nada como
encher a cara para afogar as mágoas — brincou,
arrancando-me algumas risadas.
Enxuguei o rastro de lágrimas e me ergui.
— Será que sua irmã não vai achar ruim que
eu vá junto?
Penélope sorriu, animada.
— Claro que não — garantiu. — Ela é mais
louca do que eu. — Riu.
Não aguentei e acompanhei sua risada.
Eu precisava me permitir. Precisava liberar
toda aquela dor ou acabaria enlouquecendo.

∞∞∞
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Girona fica a 1h30 de trem de Barcelona.


Antes, colônia romana, foi, na idade média, um
importante centro onde as culturas árabe, judaica e
crista coexistiram pacificamente — até que os
judeus foram confinados, formando o maior gueto
da Idade Média na Europa. Cortada pelo Rio
Onyar, a cidade ainda preserva os estreitos becos de
seu gueto judeu, conhecido como El Call, e casas
coloridas às margens do rio além de ruínas
romanas.
— Olha, Penélope, devo concordar que esse
é um lugar super pitoresco e acredito que foi a
cidade medieval mais medieval que já visitei na
Europa! — Ela riu, enquanto deixávamos a estação.
— Isso é verdade. Girona é repleta de becos
que instigam nossa curiosidade e com várias
escadarias que te levam a lugares muito mágicos.
Ela chega sim a ser esotérica, pois tem um ar de
mistério. Um ar de “desvenda-me”.
Dei risada da sua expressão divertida no
final da frase.
— E então? Pra onde iremos agora?
— Pra cá — disse, puxando-me em direção
a uma linda mulher, que estava recostada num carro
simples.
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— Ah, olha só pra você — comentou, e


deduzi que fosse a tal irmã. — Está a cada dia mais
gostosa — brincou, fazendo Penélope rir.
Fiquei de lado, admirando a interação das
duas. Antes de Lorenzo, meu desejo por um irmão
sempre foi suprido por Romeu, que não permitia
que eu sentisse falta de nada, mimando-me de todas
as formas possíveis.
Sacudi a cabeça, espantando a visão dele
dos meus pensamentos.
— Olívia, essa é Eva, minha amiga e colega
de apartamento — pisquei, tentando me concentrar
no presente e estendendo minha mão em direção a
bela mulher de cabelos encaracolados. — Eva, essa
é Olívia, minha irmã mais velha.
— É um prazer conhecê-la e espero não
estar sendo inoportuna ao ter vindo na mala da Pê,
já que ela garantiu que não teria problema.
Ela riu, amenizando meu desconforto.
Arquejei, quando seus braços me puxaram para si
num abraço apertado, quase de urso.
— Todas as amigas da Pê, são minhas
amigas também. Você é muito bem-vinda.
Sorri, sentindo-me agraciada e bem quista.
— Estão com fome? — perguntou, dando a
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volta no carro.
— Um pouco — respondi.
— Você fez aquela comida que a mamãe
sempre fazia? Ai, Oli, faz tanto tempo que não
como Bacalao a La llauna. — Penélope
confidenciou, abrindo a porta do passageiro. Decidi
me ajeitar no banco de trás.
— Eu fiz. — Olívia respondeu, fazendo a
irmã vibrar. — E de sobremesa, eu fiz...
— Crema Catalana. — Penélope completou,
fazendo-me rir do seu entusiasmo.
Olivia voltou a puxar a irmã para seus
braços, verdadeiramente apreciando a presença da
Penélope. Meus olhos se encheram de lágrimas,
porque estava me sentindo muito sentimental nos
últimos dias.
Meu telefone tocou, mas ignorei a chamada
depois que visualizei a foto da mamãe no visor.
Ainda não estava pronta para aceitar conversar com
eles. Estava extremamente magoada com o fato de
terem permitido que aquela garota me
ridicularizasse na frente de toda a família. Senti-me
traída não somente pelo Romeu, mas também por
todos eles.
— Está tudo bem? — Penélope quis saber,
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virando o corpo para trás.


Forcei um sorriso, guardando o celular na
pequena mochila em meu colo.
— Está sim.
Não tive certeza se ela acreditou, mas
Olívia logo puxou assunto e ambas passamos a nos
entreter na conversa.

∞∞∞
À noite, Penélope e eu optamos por ir a uma
pizzaria antes da balada, o que não tive certeza se
foi a melhor escolha, considerando que chegamos
por volta das vinte e três horas e o lugar estava
quase morto. Entretanto, com o passar dos minutos,
as pessoas logo começaram a vir e ficou lotado
muito rápido. Felizmente existiam dois pisos com
DJ's diferentes, por isso não estava muito cheio
como se não conseguíssemos respirar, apesar de ser
sexta-feira!
A música era surpreendente. Para todas as
idades e necessidades.
— Você não vai acreditar em quem eu vi!
— gritou Penélope, perto do meu ouvido. Eu estava

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na pista de dança a alguns minutos, aproveitando


para me perder e esquecer tudo o que vinha sendo
meu tormento.
— Quem? — Não dei muita atenção.
Ela não respondeu, apenas me segurou pela
mão e saiu me arrastando como se eu fosse uma
criança.
— Ei! — reclamei, chateada.
Paramos perto do bar e então eu vi.
Andressa estava conversando, ou melhor, brigando
com um homem parrudo e mal encarado. Observei
que ela parecia nervosa enquanto tentava convencer
ao homem de alguma coisa, contudo de onde
Penélope e eu estávamos não dava para ouvir o teor
do assunto.
— O que ela está fazendo aqui? Será que
descobriu que eu vim e decidiu vir atrás de mim?
Penélope rolou os olhos.
— Eva, meu amor, você pode ser um anjo,
mas não é o centro do Universo. — Entortei os
lábios, desgostosa com sua grosseira, contudo não
tive muito tempo para raciocinar, porque ela me
colocou para pensar. — Aquilo ali é coisa grande,
Eva. — Apontou para onde Andressa estava,
intimidada pelo estranho homem. — Morei aqui
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minha vida toda, então conheço tipos como ele.


Franzi a testa, sem entender onde ela estava
querendo chegar.
— Traficantes, Eva — explicou ao notar
minha confusão. Seus olhos não deixavam a figura
da loira desesperada. — Dou minha boceta para
qualquer um daqui se eu não estiver certa diante
dessa constatação: aquele homem é um traficante.
Arregalei os olhos, assustada, mas tentando
entender o significado daquela informação perante
todos os últimos acontecimentos.
— Mas o que essa garota tem com ele? —
questionei mais para mim mesma. Arquejei,
virando-me para encarar a Penélope: — Será que
Andressa é algum tipo de viciada? Meu Deus, Pê,
eu preciso avisar o Romeu e...
Penélope abafou minha boca com uma das
mãos.
— Shii... — fez sinal com a boca,
impaciente — Tudo isso está muito estranho, então
precisamos averiguar os fatos antes de qualquer
coisa.
Assenti, com minha mente a mil por hora.
Penélope tinha razão. Eu precisava ter sangue frio e
trabalhar à surdina.
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Esvaziei a mente e busquei me concentrar


na cena diante de mim.
“— O que você está escondendo,
Andressa?”

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Trinta

Eva

Não demorou muito para que Andressa


fosse embora da boate, deixando Penélope e eu
com a pulga atrás da orelha.
Fiquei escondida, já que não tinha a
intenção de ser vista. Mesmo sob as sombras,
consegui analisar o corpo tenso da loira enigmática.
Era como se ela estivesse com muito medo, o que
me deixou ainda mais desconfiada.
— Me espere aqui — disse Penélope, dando
alguns passos na direção do homem mal encarado.
— Ei? — Segurei seu braço. — Aonde vai?
— Minha voz soou esganiçada.
— Vou conversar com ele. — Apontou para
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o homem, que agora conversava com o barman. —


Quero tentar entender o que está acontecendo.
— Pê, não. É perigoso — soprei, apertando
seu braço com um pouco mais de força. — Acho
melhor deixar isso pra lá. Esse não é um problema
nosso.
Ela arqueou as sobrancelhas, em sarcasmo.
— Tem certeza? Eu pensei que você
estivesse com dúvidas sobre essa garota. Romeu
não é o seu grande amor? E se ele estiver sendo
vítima de uma armação? Ele pode estar correndo
perigo, sabia? Porque tem muito mais de onde
aquele ali veio. — Apontou, sutilmente, para o
homem mau.
Meu coração estava batendo
desesperadamente, enquanto tentava raciocinar.
— Pê, eu...
Seu suspiro me calou, e suas mãos
apertaram as minhas.
— Fique aqui e não se preocupe.
Não tive tempo de falar mais nada, porque
ela se afastou e, sorrateiramente, se aproximou do
bar.
Senti meu corpo todo trêmulo com o
nervosismo da situação.
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Coloquei-me de lado, perto de uma das


pilastras, apenas assistindo a tentativa de Penélope.
Ela era uma mulher atraente e sabia muito bem
como utilizar a sedução ao seu favor. Sacudi a
cabeça, sorrindo, quando visualizei o momento em
que ela se sentou ao lado do homem esquisito e,
rapidamente, fez com que ele lhe pagasse uma
bebida.
Com sorrisos e conversas entre os dois, os
minutos foram passando e minha agonia
aumentando. Estava louca para me aproximar, mas
sabia que não deveria, pois desse jeito estragaria
todo o plano.
No fim, decidi me sentar e esperar, porém
contando os segundos.
Estava quase roendo as unhas quando
Penélope saiu do bar, mas não seguiu para a
direção em que eu estava. Preocupada, fui atrás
dela.
Segurei o grito no momento em que mãos
me seguraram.
— O que é isso? — sussurrei, assim que
visualizei o rosto de Penélope. Ela estava olhando
ao redor e por cima do meu ombro. — Pê, o que
está acontecendo? O que descobriu?
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— Vamos embora — decretou, segurando


firme em minha mão.
— Por quê? Estamos em perigo, é isso?
Penélope, eu preciso saber se estamos prestes a
sermos atacadas, porque assim poderei me
preparar.
Ela riu, sacudindo a cabeça.
— Já disseram pra você o quanto fica
insuportável quando está nervosa?
— Não estou nervosa. Quem disse que
estou nervosa? Por que está dizendo isso?
Ela voltou a rir.
— Eva?
— Hun? — resmunguei, enquanto saíamos
para o lado de fora da casa de boate. O ar úmido da
noite foi bem vindo, considerando que eu estava
suando em decorrência do pânico crescente em meu
interior.
— Só fique quieta — exigiu, deixando claro
que meu interrogatório não estava ajudando em
nada.
Agradeci quando pegamos um táxi.
— E então? — perguntei, ansiosa, porém
Penélope negou com a cabeça, enquanto apontava,
sutilmente para o taxista.
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Assenti, respirando fundo. Droga!


Precisaria esperar um pouco mais.
O trajeto foi feito em silêncio, apesar de
rápido. Penélope pagou a corrida e, em seguida,
descemos do carro.
— Vai me contar agora? Ou terei que
implorar?
A risada dela me irritou, já que minha
curiosidade estava quase me sufocando.
— Tá legal, dramática. — Ergueu as mãos
para o alto, enquanto se virava de costas e de frente
para mim, mas dando alguns passos para trás. —
Pode perguntar agora.
— Primeiro, por que saímos como duas
fugitivas?
— Porque de certa forma era o que nós
éramos — explicou, rindo. — Eu avisei que
precisava ir ao banheiro, mas que depois ele
poderia me levar para onde quisesse.
— Meu Deus, Pê! — A preocupação ficou
evidente em meu tom de voz. — E se ele vier atrás
de nós?
Vi que dispensou minha preocupação com
um dar de ombros.
— Isso não vai acontecer, já que para ele
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sou uma vadiazinha qualquer. — Rolou os olhos.


— Enfim, não foi fácil, mas acabei arrancando
algumas informações do cara.
— E como conseguiu essa façanha,
espertinha? — zombei, mas realmente estava
ansiosa para entender.
— Bem, comecei contando que estava atrás
de um cafetão, uma vez que, tinha interesse em
ganhar dinheiro como garota de programa.
— Céus! — Estava em choque, enquanto
ela ria do meu desespero.
— Depois disso... — ela continuou
contando —, passei a mostrar minhas pernas para
ele e, rapidamente, deixei claro que meu único
interesse era o dinheiro. Falei que queria me dar
bem a qualquer custo.
— E ele?
— Gostou, é claro! — exclamou como se
fosse óbvio. — Comecei a dar trela, até que
finalmente encontrei a oportunidade para
mencionar sobre sua amiguinha.
— Andressa não é minha amiga —
retruquei, incomodada.
— Mas parece ser uma pedra no seu sapato
— pontuou.
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Franzi o cenho, sem saber como responder


àquilo.
— Pois bem... — Penélope continuou,
vendo que eu não falaria nada. — Eu descobri que
ela acabou adquirindo a dívida do irmão, que se
tornou uma vítima do vício em drogas. Drogas
essas, vendidas pelo nosso grandalhão mal
encarado.
— Então aquele cara era mesmo um
traficante?
Ela me encarou como se eu tivesse duas
cabeças, ou pior, como se eu fosse burra.
— Quer que eu desenhe para que entenda a
história mais facilmente?
Não segurei a vontade de rir, dando uns
tapas nela, que acabou dando risada também.
— Parece que Andressa está tendo
dificuldade para pagar a quantia, e ele comentou
que já está ficando impaciente.
— Ele disse isso?
— Não com essas palavras, mas a sorte é
que meu raciocínio é melhor do que o seu —
zombou, rindo, e rolei os olhos. — Não sei o que
ela está planejando, mas aposto meus lindos
silicones que Romeu e toda a família de vocês
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fazem parte dos planos dela.


Inspirei e expirei fundo.
— No mínimo, ela usará o bebê para
arrancar dinheiro — comentei, dando de ombros.
Chegamos em frente a casa da irmã dela,
tão pitoresca quanto o restante da cidade.
— E será que ela está grávida mesmo, Eva?
— perguntou, enquanto abria o pequeno portão
barulhento.
Seu questionamento me fez parar, porque
ainda não tinha pensado em tal possibilidade.

∞∞∞
Voltamos para o Campus no domingo a
noite, já que tínhamos aula logo na segunda. Como
eu estava no último semestre, a correria estava
maior, considerando que precisava cumprir
algumas disciplinas que ainda devia, ou não
poderia me formar.
Beirava às dez horas quando terminava de
me arrumar para sair a fim de assistir a terceira aula
da manhã. Meu dia tinha começado cedo, uma vez
que, fazia uma disciplina às sete. Penélope não se

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encontrava em casa quando voltei, o que me fez


deduzir que estaria em aula.
Peguei a mochila e fui até a porta, contudo
não estava preparada para me deparar com Romeu
ali, parado e a minha espera.
Todo o meu corpo estremeceu em
reconhecimento.
Em saudades.
Ainda estava travada no lugar quando o
assisti entrar no apartamento e fechar a porta atrás
de si.
— Eva, nós precisamos conversar — disse
ele, parando na minha frente.
Os olhos dele estavam tristes.
Duas semanas me esquivando. Duas
semanas vendo-o de longe.
— Não temos mais nada para conversar —
falei com um engasgo. Não queria ter que encará-
lo, porque meu peito ficava sufocado toda vez que
isso acontecia.
— Até quando pretende agir assim? Por
acaso é mais fácil fingir que não temos nada um
com o outro?
— Mas nós não temos! — rosnei com
irritação. — Estou agindo da melhor maneira que
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posso, já que acabei de levar uma rasteira da única


pessoa que jamais pensei que pudesse ser capaz de
me magoar. De me trair!
— Eu não traí você, Eva! — Suas mãos
tentaram me tocar, mas me esquivei. — Confesso
que tinha conhecimento da desconfiança da
gravidez, e que tinha que ter te contado, mas fiquei
com medo. Medo de perder você. Eu não queria
perdê-la, Eva.
Dei risada.
— E perdeu, não? — zombei.
Não consegui impedir quando ele me
agarrou e prensou meu corpo contra a porta
fechada.
— Me solta! — sibilei, encarando seus
olhos. — Você não tem o direito de tocar em mim,
Romeu. Não mais!
Uma de suas mãos segurou as minhas no
alto, enquanto a outra segurou meu queixo,
firmando minha cabeça.
— Eu não traí você! Eu não mandei aquelas
malditas mensagens! Não enganei ninguém, mas
nada do que eu fale vale de alguma coisa, porque
ninguém acredita em mim. — A voz dele
embargou. — Meu peito dói, porque meus pais me
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olham com decepção. Você me olha com decepção.


Estou sendo taxado como um monstro e sequer
posso me defender. Não tenho mais ninguém, Eva.
Engoli o caroço enorme que se formou em
minha garganta.
— Não posso voltar a ser o que você quer.
— Minha garganta ardeu como se estivesse com
cacos de vidro.
— Mas pode me oferecer sua amizade —
disse com a voz engasgada. — Pode me oferecer o
seu abraço, Eva.
As lágrimas desceram por suas bochechas, o
que fez com que ele soltasse minhas mãos para
poder se recompor.
Meu corpo tremia quando Romeu se afastou
de mim, ficando de costas. Era possível visualizar a
tensão gigantesca em seus ombros.
— Eu aceito que me julguem — disse ele,
soluçando. — Aceito que me acusem. Aceito que
me obriguem, a viver um futuro que não planejei.
— De repente, seus olhos se fixaram nos meus
quando ele se virou em minha direção. — Mas não
aceito ficar sem você, Eva. Não consigo aceitar que
me odeie.
Abri a boca para falar, mas hesitei e, ele
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continuou:
— Minha alma dói quando penso que perdi
seu amor; que perdi sua amizade. E, eu estou
precisando tanto de você, anjinha. Tanto...
Meus olhos nublaram.
— Romeu, eu...
— Por favor, me abrace — implorou,
cortando minha tentativa de negar qualquer tipo de
intimidade com ele. — Não me negue isso, Eva.
Seguindo meu coração, eu respirei fundo,
abri os braços e Romeu me puxou para seu peito.
Ambos arquejamos com o contato, mas nada foi
dito. Fechei os olhos quando inspirei o cheiro dele.
Estava com tantas saudades.
Céus, eu o amava tanto!
Não era justo que nossa relação tivesse
chegado ao ponto que chegou. Merecíamos mais.
Merecíamos tudo.
Depois de alguns minutos, que pareceram
intermináveis, criei coragem e me afastei daqueles
braços que me apertavam com força exagerada.
Sem encará-lo, fui até a porta e a abri.
Passei os dedos abaixo dos olhos para limpar a
umidade das lágrimas.
— Precisa ir agora.
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Ergui o olhar e o peguei com os olhos


vermelhos. Havia tanta dor em seu semblante que
cheguei a ficar sem ar. Romeu parecia tão ou mais
desolado do que eu.
Em silêncio, ele passou por mim, me
encarou por poucos instantes e depois foi embora.
Respirei fundo e aguardei um pouco.
Depois peguei minha mochila e saí também.

∞∞∞
Não fazia nem vinte minutos que deixei a
sala de aula quando passei por um dos espaços
abertos do Campus e fui atingida por um copo
plástico de refrigerante.
— Ei! — Olhei para meu casaco sujo, e
depois me virei para trás. — Penélope? — Franzi a
testa ao me deparar com ela. — Por que fez isso?
Ela riu, debochada.
— Por quê? Não gostou?
Passei as mãos no meu casaco, indignada.
— É claro que não. Está louca?
Voltou a rir.
— Louca? É, talvez — gritou, alterada, e as

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pessoas começaram a parar para assistir.


— Pê, o que é isso? — Eu estava ficando
constrangida com nossa discussão na frente de
estranhos.
— O que é isso? — repetiu. — Isso, é eu
mostrando que você não deve se meter na minha
vida!
— Do que está falando?
— Ai, do que está falando? — Me imitou,
com o timbre de voz escorrendo ironia. — Por que
falou de mim para minha irmã, hun? Pensa que não
fiquei sabendo da sua fofoquinha? Ela me contou
que você pediu para que ficasse de olho em mim,
dizendo sou irresponsável. Quem você pensa que é,
Eva González?
Mordi os lábios, nervosa demais para
raciocinar.
— Eu só estava tentando te ajudar, Pê —
falei num fiapo de voz.
— Pois pare! — gritou ela, se levantando do
banco em que estava sentada. — Vá cuidar da sua
vida e esqueça a minha. Ou melhor, a partir de hoje
esqueça que me tem como amiga.
Bateu em seu próprio peito antes de se
afastar, deixando-me parada no lugar, sentindo meu
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rosto quente com toda aquela exposição.

∞∞∞
Eu estava me preparando para dormir
quando a porta do apartamento foi aberta. Penélope
se jogou na minha cama, sorrindo sapeca.
— Nosso showzinho de hoje cedo deu certo
— garantiu. — Andressa logo ficou sabendo sobre
a nossa briga e se aproximou de mim para entender
o que tinha acontecido.
— Não acredito! — Me sentei com rapidez.
— Que vadia.
— Uma vadia que a partir de agora se
tornará minha melhor amiga — disse ela,
maquiavélica e, eu ri. — Vamos descobrir o que ela
está escondendo, eu prometo.
Inspirei o ar profundamente.
A ideia de fingir uma discussão entre nós
tinha partido dela e, eu só aceitei porque estava
verdadeiramente desconfiada de que algo muito
errado estivesse acontecendo.
— Obrigada, Pê. — Puxei-a para um
abraço, sentindo-me agraciada por tê-la como

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amiga.
Estava tão sufocada, diante de toda a
bagunça que vinha acontecendo na minha vida, que
saber que podia contar com Penélope era
reconfortante. Eu não estava bem, e passei a me
sentir pior depois da conversa que tive com Romeu
mais cedo.
— Somos amigas e detesto injustiças. —
Afirmou ela, apertando-me.
Continuei abraçando-a, porque me sentia
inquieta demais para falar ou fazer qualquer outra
coisa.

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Trinta e um

Romeu

— Você tem certeza do que está falando,


Romeu? Não acredito nisso!
— Que merda é essa, Romeu? Agora que as
coisas estão dando certo. Porra, acabamos de
assinar toda a papelada.
— Eu sei, Eduardo, e sinto muito estar
dando para trás, mas com toda essa confusão que
está minha vida, eu não teria tempo para me
concentrar em mais nada e vocês não merecem
isso.
Laura se aproximou de mim com a cadeira.
Estávamos numa das lanchonetes do Campus.
— Mas a Anjos em combate não é nada
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sem você, Romeu, não entende? Que porra nós


faremos sem um dos CEOS?
Esfreguei o rosto, repousando os cotovelos
sob a mesa.
— Vocês irão brilhar — falei. —
Continuarão fazendo o mesmo excelente trabalho
que sempre fizeram, porque são os melhores. —
Olhei para eles, com orgulho. — Eu amo vocês e é
por isso que preciso me afastar, mas sei que se
sairão bem.
Os dois permaneceram em silêncio por
alguns instantes.
— O que pretende fazer agora? — Laura
perguntou. — Ainda não resolveu o problema com
aquela vadia?
Sacudi a cabeça.
— De acordo com os últimos exames feitos,
Andressa está com eclampsia, então me
comprometi a ficar do lado dela durante a gravidez
até a criança nascer e podermos fazer o DNA.
— Eu não acredito que seja seu —
resmungou ela.
— Também não — disse Eduardo. —
Ainda mais depois da armação dela em afirmar que
você exigiu o aborto. Aliás, você não conseguiu
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descobrir nada?
— Juro que quase a peguei pelos cabelos
um dia desses, mas me segurei, já que não sabemos
se ela está grávida mesmo.
Respirei fundo, brincando com meu copo de
café.
— Na verdade, estou evitando passar mais
tempo com ela do que o necessário, porque tenho
medo do que posso fazer. Não faço a menor ideia
de como ela conseguiu fazer aquelas trocas de
mensagens, provavelmente, foi quando pegou meu
celular e acabou causando aquele desentendimento
que tive com a Eva.
— Ela deve ter logado seu dispositivo de
mensagens em outro lugar e você nem percebeu. —
Afirmou Eduardo.
— Sim. Mas não adianta falar nada, porque
ninguém da minha família acredita em mim, salvo
minha tia Lea que se mostrou avessa às primeiras
informações. — Dei de ombros.
— E a Eva?
Meu coração doeu com a menção aquele
nome.
— Conversei com ela ontem— respondi. —
Mas estamos longe de estar bem.
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— Eu sinto muito, meu amigo. — Laura


segurou minhas mãos. — Queria poder fazer
alguma coisa pra ajudar.
— E você pode. Ou melhor, vocês podem.
— Apontei para os dois. — Continuem com a
empresa. Não quero Royalties. Não quero créditos.
Não quero meu investimento de volta. Eu só quero
que continuem o projeto. Quero ver essa empresa
de games fazendo história.
— E você, Romeu? — Eduardo perguntou,
deixando claro o quanto estava desgostoso com a
situação.
— Bem, de momento, eu preciso me
concentrar na apresentação do meu TCC —
respondi. — Depois disso darei os meus cem por
cento nos negócios do meu pai. — Entortei os
lábios.
Laura fez uma careta.
— Tudo isso para agradá-lo?
Soltei um suspiro frustrado e, em seguida,
me levantei.
— Eu só quero fechar os olhos e acordar
desse pesadelo — desabafei.
Bati o punho contra o de Eduardo, em
seguida, puxei-o para um abraço.
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— Tudo vai dar certo, meu amigo —


garantiu.
Assenti, sem muita fé.
Abracei a Laura, que fungou, mas não se
permitiu chorar.
— Boa sorte.
Parei e os encarei por alguns instantes. Bati
o punho contra meu peito antes de me afastar,
sorrindo para eles.
Eu não poderia continuar sendo um
empecilho, uma vez que, minha vida havia se
transformado em uma bagunça total.
Nas últimas duas semanas, eu me esforcei
para provar que era inocente. Tentei mostrar que
aquela carinha de choro da Andressa era apenas
uma máscara; uma fachada; que no fundo, ela
estava apenas querendo se dar bem. Mas não tive
êxito.
Na verdade, eu estava tão desolado pela
perda da Eva, que acabei me conformando. Sabia
que nada traria meu anjo de volta. Minha felicidade
escapou pelos meus dedos, então nada mais teria
sentido.
Trabalhar com meu pai era o mínimo que eu
poderia fazer para amenizar a lacuna enorme que se
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abriu entre nós.


Meu celular vibrou com a notificação de
uma mensagem. Rolei os olhos quando visualizei o
nome da Andressa.

“Andressa: Estou sentindo


muitos enjôos. Será que teria como
você vir até meu apartamento? Acho
que estou passando mal.”

Respirei fundo, sentindo em meus poros


toda a frustração.
Guardei o celular no bolso e continuei
seguindo, lutando para controlar a raiva existente
em meu ser.

∞∞∞
Quando Andressa abriu a porta, sequer me
dignei a olhar em sua direção. Joguei a pequena
sacola com os remédios em suas mãos.
— Aí tem remédio para febre, enjôos e
todas essas merdas de gravidez.
— Merdas de gravidez? Está dizendo que
nosso bebê é uma merda, Romeu?
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Ergui o rosto, encarando seus olhos. Por


vezes — nas últimas semanas — eu me perguntei o
que tinha me atraído nela. Não precisava ser gênio
para chegar a conclusão de que o corpo era seu
único atrativo. Nada mais.
— Quem está dizendo isso é você —
resmunguei. Arrastei os olhos pelo seu corpo,
coberto por um vestido curto. — Mas não me
surpreendo, porque você é uma garota bem
malvadinha, hun? — Me aproximei dela, que deu
passos para trás. — É você quem gosta de criar
historinhas mirabolantes.
Espalmei as mãos na parede, ao seu redor,
deixando-a presa. Meu olhar fez com que ela se
encolhesse.
— Vai dizer como conseguiu simular
aquelas mensagens? — Ri de maneira amarga.
Desci os olhos para sua barriga. — Às vezes, me
pergunto se realmente há um bebê aí dentro. —
Apontei com o queixo.
— Eu precisava forçá-lo a se concentrar em
mim, e quem melhor para fazer isso do que sua
família?
Absorvi suas palavras.
— Então a melhor maneira que encontrou
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foi me fazer parecer um monstro que estaria


colocando a doce princesa em risco. — Não foi
uma pergunta.
— Ah, pare de fazer drama, Romeu. — Ela
me empurrou e acabou se afastando. — Foi só uma
mentirinha de nada. E não adianta insistir nisso, já
que consegui conquistar seus pais e, eles estão
ansiosos com o nascimento do netinho. O resto é
resto, e precisa ficar no passado.
Segui-a, em silêncio, até a cozinha.
— Os fins justificam os meios, então? —
Cruzei os braços, analisando-a como a um falcão.
— Se esse filho for realmente meu, eu vou assumir.
Aliás, assumiria de qualquer maneira.
— Não quero você apenas como o pai desse
bebê, Romeu — disse ela, servindo-se com um
copo de água e, em seguida, recostando-se na pia.
Seus olhos me encontraram por sob a borda do
copo. — Eu quero mais, você sabe.
Abri e fechei os punhos, buscando forças
para me controlar.
— Você nunca terá a mim — expliquei. —
Minha responsabilidade com você será apenas pelo
bebê — sibilei entre dentes. — Faremos o teste de
DNA quando nascer, porque será um procedimento
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menos evasivo. Mas não se iluda pensando que eu e


você teremos qualquer tipo de envolvimento.
Ela ficou me encarando com raiva.
— Estou indo agora — resmunguei. Já
estava de saco cheio.
Ajeitei minha mochila nos ombros e fui até
a porta.
— Desse jeito não vai funcionar.
Parei com a mão na maçaneta. Com a testa
franzida, eu me virei para ela.
— Do que está falando?
Ela estava com os braços cruzados,
caminhando com a expressão séria.
— Não cuidarei dessa criança sozinha.
— Acabei de falar que assumirei minhas
responsabilidades, Andressa — murmurei. —
Depois do parto, nós faremos o teste e, sendo
comprovada a minha paternidade, eu não a deixarei
desamparada.
— Você não entende — rosnou. — Não é
só isso que eu quero. Que eu preciso — resmungou
com impaciência. — Não estou preparada para
enfrentar essa jornada sem um... Companheiro.
Franzi os olhos.
— O que está insinuando?
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— Se não for para você ficar comigo, então


não vejo sentido em seguir com essa gravidez.
Fúria tomou conta do meu corpo naquele
momento.
— Você fez da minha vida um inferno
quando afirmou que exigi que abortasse, e agora
está cogitando a ideia só por que não quero ficar
com você? É isso mesmo que entendi?
Vi quando ela baixou o olhar e esfregou os
braços.
— Nesse caso, não será difícil fazer sua
família acreditar que a culpa seria sua, já que na
mente deles, você já tentou isso uma vez.
Minhas narinas inflaram.
— Vou embora antes que eu acabe com a
sua vida e com a minha, sua desgraçada!
Abri a porta e a bati com tanta força que me
surpreendi por não tê-la quebrado.
Precisava relaxar minha mente. Precisava
encontrar a paz que tinha me abandonado há tantos
dias.
Cheguei ao meu carro e o liguei, sabendo
exatamente para onde ir.

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∞∞∞
Estacionei o carro em frente ao Instituto
infantil de combate ao câncer, no mesmo momento
em que meu telefone começou a tocar. Pensei em
ignorar, mas resolvi atender quando vi que era o
número da minha tia Lea.
— Romeu?
— Oi, tia. Aconteceu alguma coisa? — quis
saber, estranhando sua ligação. — É o seu bebê?
Ela deu uma risadinha.
— Meu bebê está bem, não se preocupe,
querido. Meus cuidados estão sendo redobrados,
como sabe, por conta da minha idade, mas estamos
conseguindo enfrentar. Na verdade, não foi para
falar de mim que liguei, mas de outra coisa que
acabei percebendo aqui.
— Diga.
— Você sabia que todos os exames da
Andressa foram feitos na mesma clínica e fora de
Barcelona?
Franzi a testa.
— E o que tem isso?
— Não acha isso estranho?
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Joguei meu corpo para trás, no banco,


cansado daquele assunto.
— Olha tia, com todo o respeito, mas nesse
momento tudo o que eu menos quero e preciso é
falar dessa garota.
Ouvi o suspiro dela, foi baixo, mas acabei
escutando.
— Romeu, meu querido, eu entendo sua
frustração e quero que saiba que estou do seu lado
— disse, surpreendendo-me. — Não acreditei em
nenhuma palavra daquela garota, que para mim,
não passa de uma espertalhona.
Sorri, grato.
— Obrigado, tia. Pena que meus pais não
tiveram a mesma visão.
— Acredito que nenhum dos dois aceitou
muito bem a ideia de você não seguir os passos do
David, querido, então de repente chega essa garota
e joga essa bomba no colo deles. Foi muita surpresa
e em pouco tempo. Mas tenho certeza que as coisas
vão se ajeitar.
— Como tia? Acabei de sair do apartamento
da Andressa e ela ameaçou abortar se eu não ficar
com ela.
— O quê? Que pilantra!
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— Pois é! E não existe qualquer


possibilidade de isso acontecer, porque a única
mulher que eu quero e amo é a Eva.
— Oh, meu Deus! Não tive nem tempo de
parabenizá-los — reclamou. — Mas vou te ajudar,
Romeu. Fique tranquilo, porque você não está
sozinho.
Voltei a sorrir, enquanto descia do carro.
— Obrigado, tia. Só em saber que alguém
acredita em mim já me faz sentir melhor.
— Imagina, querido. Agora vou deixar você
em paz. — Riu. — Qualquer novidade, eu prometo
que entro em contato.
Encerrei a chamada, mas fiquei olhando
para o aparelho de celular por alguns instantes.
Estava sentindo meus batimentos acelerados, já que
a adrenalina tomou conta de cada célula existente
em meu ser.
Sacudi a cabeça e guardei o celular no
bolso.
Em seguida, eu me virei para a fachada do
prédio e senti um sorriso invadindo meus lábios.
Aquele era o único lugar que me fazia esquecer os
meus problemas.
Peguei minha mochila — onde carregava
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minha fantasia — e caminhei em direção a porta de


entrada.
Longos minutos depois, pronto, eu me
preparei para visitar meus amiguinhos, mas uma
cena me fez estagnar no caminho.
Alguém já estava ali, fazendo a alegria
daqueles anjos. Ou melhor, esse alguém também
era um anjo.
Mas o meu.
— Romeu? — Eva engoliu em seco quando
cravou os lindos olhos nos meus. Ela estava vestida
com a fantasia de uma das princesas da Disney.
Fiquei ainda mais encantado. — Eu não sabia que
viria.
Respirei, ofego, entretanto me esforcei para
reagir.
— Não planejei, eu juro — respondi,
aproximando-me dela com cautela. — Mas meus
dias vêm sendo uma merda, então...
Calei-me, enquanto nos encarávamos.
Havia tanto a dizer. Meus braços doíam com o
desejo de puxá-la contra mim, mas não podia.
— Eva, eu...
Fui calado quando pequenas mãozinhas
abraçaram minhas pernas. Olhei para baixo e me
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deparei com uma linda menina com a cabecinha


raspada, mas que me encarava com os olhinhos
brilhantes.
— Oi, minha princesa — falei, me
ajoelhando para poder ficar da altura dela.
— Você não veio mais — reclamou ela,
usando um tom magoado. Naquele momento, eu
desejei bater minha cabeça na parede por ter ficado
tanto tempo longe.
— Eu sei, mas posso explicar — comentei,
olhando de relance para Eva, que continuava ali.
Puxei a mochila para frente do corpo e retirei um
embrulho de dentro. — Demorei, porque estava
procurando o melhor presente para a princesa mais
linda.
Ela aceitou quando ofereci o presente.
Aguardei, ansioso, enquanto ela abria o pequeno
embrulho.
— Ai que lindo! — exclamou, eufórica,
assim que visualizou o cordão de ouro. Virou-se
para a Eva, mostrando o pingente de coração, onde
dentro tinha uma foto nossa, da garotinha e eu, em
uma das muitas visitas minha ao hospital. — Tia,
olha só o que eu ganhei do meu namorado.
Dei risada, sentindo meu coração aquecido.
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Emocionada, Eva também se ajoelhou e


pegou o cordão das pequenas mãozinhas.
— Meu Deus, que presente lindo! — disse.
— Digno de uma princesa, sabia? Agora, todos
saberão que Romeu é seu namorado. — Sorriu. —
Vire-se, pois vou ajudá-la a colocar esse lindo
cordão em seu pescoço.
Fiquei em pé, analisando as duas. De
repente, tirei a touca que usava. Ambas arquejaram.
— Você raspou a cabeça? — Eva parecia
presa num misto de orgulho e incredulidade.
— Príncipe! — A pequena garotinha
exclamou num espanto.
Sorrindo, eu me inclinei e toquei sua testa
com meus lábios, num beijo casto. Segurei as
lágrimas quando ela amparou meu rosto com as
duas mãos e beijou minha cabeça raspada.
— Não se preocupe, porque seu dodói vai
passar.
Engoli o choro, e evitei olhar para Eva, que
continuava ali, mas em silêncio.
— Obrigado, princesa.
Erguendo-me novamente, eu estendi a mão
para ela.
— Pronta para brincar?
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Ela sorriu e, em seguida, estendeu a mão


para Eva.
— Vamos.
Permiti-me olhar para o lado, apenas para
roubar um olhar da mulher da minha vida. Do meu
anjo. Da minha alma gêmea. Porém, surpreendi-me
quando a flagrei roubando um meu também.
Sorrimos um para o outro. E foi o sorriso
mais sincero e reconfortante que recebi depois de
muito tempo.

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Trinta e dois

Eva

Estava concentrada nas minhas anotações,


sobre a cama, quando meu telefone começou a
tocar. Pensei em não atender, mas a curiosidade me
dominou quando vi o nome da Cecílie no visor.
Era uma ligação de vídeo chamada. Atendi.
— Oi, querida — disse ela, sorrindo. —
Pensei que não me atenderia.
Segurei o riso.
— A vontade foi essa mesmo — confessei,
desavergonhada, e ela deu risada. — Onde você
está? — perguntei, ajeitando-me melhor na cama.
Havia uma cachoeira ao fundo.
— Estou na África — disse, empolgada. —
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Conheci um grupo de mochileiros e decidi me


aventurar com eles.
— Meu Deus, Cecílie. — Sacudi a cabeça,
incrédula. — Isso é muita loucura, não acha? É
muito perigoso.
Ela riu, caminhando pelo lugar, que se
percebia ser fechado de mata.
— Loucura pra mim é viver com medo, Eva
— revidou.
De repente, ela parou de falar comigo, pois
alguém de lá chamou sua atenção.
Fiquei pensativa com suas palavras, porque
sempre fui medrosa. Não no sentido ruim da
palavra, mas no fato de buscar segurança em todas
as decisões e escolhas da minha vida.
— Desculpe, filha — disse, instantes
depois. Seu rosto estava rosado. — Precisaram de
mim aqui — explicou. — Mas e então? Você e
Romeu já se resolveram? Amálie se queixou sobre
você estar ignorando as ligações dela.
Revirei os olhos, chateada, mas consciente
de que aquele assunto seria mencionado.
Fazia quase um mês, desde que Cecílie
tinha ido embora de Barcelona. Eu não quis me
despedir, mas no fundo sentia falta dela, porque já
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tinha me acostumado a tê-la por perto.


— Eu fui ridicularizada, Cecílie. Eles
sabiam o que ia acontecer e mesmo assim
permitiram que aquela garota roubasse a cena
daquela maneira.
— A garota que diz estar grávida do
Romeu?
— Isso. Romeu teve um casinho com ela,
mas garantiu que não significou nada para ele.
Entretanto, a vadia chegou lá esfregando a gravidez
na minha cara. Por que minha mãe permitiu essa
perversidade comigo? Ainda fui acusada de ter
feito a cabeça do Romeu para que ele não seguisse
os negócios da família.
— Amálie me ridicularizou no meu
casamento com seu pai, Eva, e eu perdoei.
Dei risada.
— Mas você mereceu que eu sei.
Do outro lado, ela ergueu as mãos.
— Culpada. — Riu sem um pingo de
remorso.
Permanecemos rindo por alguns instantes.
— Eva... todos erram, minha querida. E, eu
tenho certeza que minha irmã é louca por você.
Certamente que a intenção deles jamais foi magoá-
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la.
Dei de ombros, suspirando.
— É, pode ser. Mas agora não consigo falar
com nenhum dos dois.
— Entendo. Deixe as coisas esfriarem.
— Estou deixando. — Mantive meus lábios
em linha reta.
— E você e o Romeu...
Cortei suas palavras:
— E como se chama esse lugar que você
está agora na África?
Ela riu um pouco por causa da minha
mudança brusca de assunto. Não tinha a menor
intenção de falar sobre o Romeu com ela.
— Ok, ok, entendi — murmurou e, em
seguida, virou a câmera para que eu pudesse ver a
linda paisagem. — Estou aqui há três dias e, é
simplesmente incrível, Eva, você precisa conhecer.
E nos próximos minutos, conversamos
sobre tudo, menos sobre Romeu, eu e toda a
complicação que vinha junto.

∞∞∞
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Fazia pouco mais de duas semanas desde


que encontrei Romeu no Instituto infantil de
combate ao câncer. Não conseguia parar de me
emocionar sempre que me recordava do carinho
dele com aquelas crianças. Era uma doação sincera.
Naquele dia, eu vi a face do homem que eu me
apaixonei, aliás, do homem que sempre amei.
Romeu era um ser humano surpreendente e
espetacular.
Dispersei meus pensamentos quando
Penélope abriu a porta do nosso apartamento.
— Aqui está. — Ela jogou uma chave sobre
a mesa. Eu tinha terminado de tomar café.
— É a cópia do apartamento dela? —
questionei, arqueando as sobrancelhas.
— Sim. Sou ou não sou maravilhosa?
Minha risada foi espontânea e não resisti ao
desejo de me jogar nos seus braços.
— Minha convivência com Andressa foi
uma tacada de mestre afinal — disse, afastando-se
e apontando para a chave com o queixo. — A
convidei para sair daqui a pouco, então será o
momento perfeito para você fuçar o apartamento
em busca de alguma coisa suspeita.
Meu coração bateu descompensado.
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— Será?
— Por quê? Está com medo?
“Loucura pra mim é viver com medo, Eva.”
A voz de Cecílie veio a minha mente.
— Não. Eu vou — respondi, estufando o
peito. — Preciso ir a um lugar antes, mas ficarei
aguardando seu aval para começar a missão
detetive.
— É isso aí, garota.
Tocamos as mãos, rindo e, em seguida,
saímos.
Penélope seguiu por um caminho e, eu
segui por outro.
Eu sabia exatamente para onde ir, porque
meu coração gritava alto aos meus ouvidos.
Demorei um pouco, mas quando cheguei à
sala, a apresentação já estava em andamento.
Romeu defendia seu TCC com furor enquanto
alguns o assistiam, tão fascinados quanto eu. Meus
olhos provavelmente brilhavam, porque era
impossível não admirá-lo; era impossível esquecer
nossa história. Mesmo com tudo o que aconteceu, o
sentimento não se perdeu, pelo contrário. Estava
ali. Mais forte do que nunca.
Fiquei na porta por mais um tempinho até
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receber uma mensagem da Penélope, avisando que


ela e Andressa tinham acabado de sair.
Respirei fundo e me preparei para entrar em
ação.

∞∞∞
A porta do apartamento se abriu com
extrema facilidade. Observei o lugar com calma.
Não havia diferença entre nossos apartamentos,
mas o de Andressa era mais bagunçado.
Dei uma olhada minuciosa pela sala e pela
cozinha. Não sabia exatamente o que estava
procurando, mas meu instinto dizia que tinha
alguma coisa para encontrar.
Estalando os lábios, segui para o quarto e
repousei os olhos sobre o computador. Meu
coração acelerou.
Tentei acessar, mas o login estava seguro
por uma senha.
— Droga!
Insisti em mais algumas tentativas, mas
todas falharam.
Respirei fundo, pensativa, parando com as

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mãos na cintura. Precisava seguir em frente. Não


podia voltar atrás. Sendo assim, peguei meu celular
e liguei para a Laura.
— Por acaso você está no Campus? —
questionei quando ela atendeu.
— Estava indo embora agora, Eva.
Aconteceu alguma coisa? Honestamente, estou
surpresa com sua ligação.
— Estou precisando da sua ajuda. — Fui
direta, pois não estava a fim de rodeios.
— Ok — disse ela, desconfiada. — Estou
ouvindo.

∞∞∞
Olhei por cima dos ombros de Laura antes
de puxá-la porta adentro.
— Eu sabia que Romeu tinha ganhado na
loteria quando você aceitou ficar com ele, só não
sabia a proporção da sorte, garota. Invasão de
propriedade? É sério? — comentou, divertida. —
Sem dúvidas você é das minhas — disse, sacudindo
a cabeça. Seus olhos rastrearam o lugar como uma
águia. — Que tipo de crime nós cometeremos além

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da invasão, afinal?
Rolei os olhos, mas segurei-a pela mão e a
arrastei até o quarto.
— Há algumas semanas, minha amiga e eu
nos deparamos com Andressa numa situação
constrangedora.
— Como assim?
— Ela estava sendo coagida por um
homem, que depois descobrimos que era um
traficante.
— Descobriram? — Suas sobrancelhas
arquearam.
— Isso não vem ao caso agora —
desconversei. — Nós ficamos sabendo que
Andressa tem um irmão viciado em drogas e que
deve uma quantia absurda de dinheiro.
— Uau! Isso é meio surpreendente. Romeu
sabe?
Dei de ombros.
— Não sei.
Laura me analisou.
— Então o que estamos fazendo aqui
afinal? Porque Romeu meio que assumiu a nova
situação, considerando que você e, toda a família
acreditou na historinha daquela vadia.
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Suspirei.
— Na verdade, eu estou muito confusa,
Laura. Magoada também. Mas, honestamente? Eu
amo o Romeu e, acima de tudo, nós somos amigos.
Então se existe alguma possibilidade de essa garota
estar usando ele para se dar bem, eu preciso
descobrir — expliquei, assistindo um sorriso brotar
nos lábios dela. —Topa me ajudar?
— Garota, com você, eu topo tudo. —
Piscou ela, fazendo-me sorrir, embora minhas
bochechas houvessem ruborizado ao notar a
mensagem maliciosa pelas entrelinhas.
— Consegue acessar esse computador? —
Apontei. — Tem uma maldita senha. — Ela olhou
para o aparelho. — Sei que você e seu irmão são
feras em tecnologia.
Vi que seus lábios se distenderam num
sorriso arrogante.
— É, nós somos muito bons.
Dei risada da sua modéstia.
Ela começou a mexer na máquina e,
rapidamente, conseguiu acessar a área de trabalho.
Eu estava ansiosa e expectante.
— Olha só — disse ela, apontando para
algo na tela. — Esse é um programa de mensagens,
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e a conta do Romeu está logada aqui.


Meu coração, que antes estava batendo
forte, passou a galopar no meu peito.
— Como ela conseguiu isso? — perguntei
num fio de voz, mas na mesma hora me lembrei do
episódio do celular. — Ela conseguiu ter acesso ao
celular do Romeu uma vez.
— Vadia! — rosnou. — Essa foi a
oportunidade perfeita. Não faz muito tempo que
comentamos a respeito — disse. — Romeu sequer
percebeu que a conta dele estava ligada em outro
dispositivo. Dessa forma, as trocas de mensagens
ficam fora de suspeitas. A desgraçada foi muito
esperta.
— E ainda está monitorando todas as
conversas dele — observei com indignação.
— Wou!
— O que foi? — perguntei, assustada. — O
que encontrou?
— Ela está sofrendo ameaças.
— De quem? — indaguei, nervosa.
— Espera... — ela mexeu, abriu e fechou
guias e páginas. — São várias mensagens, Eva, e a
maioria em tom de ameaças. Vocês estavam certas,
o irmão dela realmente deve muito dinheiro para
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um traficante e o cara está muito impaciente. — Ela


clicou e mostrou para mim. — Aqui ela está
dizendo que encontrou uma forma de conseguir o
dinheiro mais rápido.
Aproximei-me um pouco mais para poder
ler o conteúdo. Uma mistura de sentimentos e
emoções tomou conta do meu corpo
completamente. Não conseguia acreditar no que
estava lendo.
— Ela não está grávida — falei mais para
mim mesma, mas Laura respondeu:
— Não. Ela fez os exames fora de
Barcelona, justamente para facilitar as falsificações
— comentou e, em seguida, selecionou outras
mensagens na tela. — Aqui estão algumas
conversas com amigas e, conhecidos, onde ela pede
informações a respeito de sintomas de gravidez,
barriga falsa e clínicas clandestinas...
— Resumindo, com tudo isso não há como
ela escapar, certo?
Laura negou com a cabeça.
— A vadia armou para ganhar dinheiro
através da família de vocês e isso está obvio aqui.
— Você consegue enviar tudo isso para o
meu e-mail? — perguntei com a voz trêmula.
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— Deixa comigo.
Peguei meu celular e comecei a tirar várias
fotos também. Queria me garantir de todas as
formas.
— O que está pensando em fazer? — Laura
quis saber, curiosa.
— Vou desmascará-la, é claro.
Nesse momento, meu telefone começou a
vibrar na minha mão com uma chamada da minha
mãe. Dessa vez, eu atendi:
— Oh, filha, que bom que atendeu —
choramingou. — Vamos conversar?
— Tenho algo a dizer — decretei, sentindo
cada parte do meu ser se contorcendo pela culpa de
não ter acreditado no Romeu
— Pode falar, meu amor.
— Não assim — expliquei. — Quero toda a
família reunida, inclusive a Andressa e o Romeu.
— Por que isso, Eva? O que está tramando,
filha?
— A senhora verá — respondi, enigmática.
— Por favor, mãe, faça isso por mim.
— Está bem, eu faço.
— Obrigada.
Ficamos em silêncio. Eu estava magoada e,
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ela sabia disso.


— Eva, eu sinto muito, filha — murmurou
ela. — Você entendeu tudo errado. Eu e seu pai não
queríamos magoá-la, querida. Jamais faríamos isso.
Mordi os lábios.
— Teremos tempo para conversar sobre
isso, mãe. Agora, eu só preciso que toda a família
seja reunida. Depois discutiremos as desavenças.
Ouvi seu suspiro frustrado.
— Ok. Vou marcar a reunião e aviso você
— disse.
— E mãe? Mande Lorenzo para a casa de
algum amiguinho.
— Por quê? Filha. Você está me assustando.
— Não é para tanto — falei. — Eu só não o
quero por perto nesse momento, porque o que tenho
para dizer não será bonito.
Ela pareceu refletir.
— Está bem. Ligue quando chegar ao
aeroporto, porque vou buscá-la.
— Não vai precisar. Um beijo, mãe.
Encerrei a ligação antes que ela tivesse
tempo de retrucar.
Olhei para a Laura.
— Você e seu irmão estariam dispostos a
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viajar comigo até Madrid?


— Depende — disse, sorrindo. — O show
será bonito?
Permiti-me sorrir de maneira ampla.
— Pode apostar que sim.
— Wou! Adoro apostas — brincou,
fazendo-me rir um pouco mais.
Finalmente estava enxergando a margem da
praia. A luz para o fim daqueles dias turbulentos.
Meu coração estava prestes a voltar para
casa.
Ao dono dele.

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Trinta e três

Eva

Cheguei na casa dos meus pais, consciente


do que me aguardava. A reunião tinha levado dois
dias para ser marcada. Penélope, Laura e o irmão
estavam comigo e, juntos, entramos na propriedade
luxuosa.
Meu olhar varreu cada canto, cada rosto
familiar. Meu peito estava sufocado e apertado,
embora soubesse que estava prestes a fazer a coisa
certa.
— Oi, filha. — Minha mãe veio até mim,
aparentemente, ignorando meu semblante fechado.
— Por que não avisou que tinha chegado? Você
sabe que fico preocupada, meu amor. — Suas mãos
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esfregaram meu rosto com carinho tocante.


— Preferi vir direto — respondi, sem evitar
o tom seco.
— Você está bem? — Minha mãe
perguntou.
Ergui o olhar para meu pai, quando o
mesmo se aconchegou ao nosso lado. Seu rosto
estava amoroso, apesar de toda a minha frieza dos
últimos dias.
— Eu não sabia que viria com amigos —
comentou ele, roubando minha atenção para si.
Abri a boca para responder, mas a visão do
Romeu e Andressa num dos sofás da sala me fez
hesitar.
— Eles são primordiais para o que pretendo
falar — expliquei, fuzilando Andressa, que sorria,
mas acabou desmanchando o sorriso quando me
viu.
— Eva? — Romeu franziu a testa. —
Laura? Edu? O que foi? — Observei eles se
cumprimentarem. — Por que estão aqui?
— Não sei de nada, cara. Vim apenas
acompanhando a maré — brincou.
Meu coração bateu mais forte quando meus
olhos se encontraram com os de Romeu. A conexão
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continuava ali.
Esmagando.
Pressionando.
Fazendo-me refém.
— Vai dar tudo certo, Romeu. — Laura
sussurrou no ouvido dele quando se abraçaram. —
Apenas desfrute do show. — Piscou.
Aproveitei a oportunidade e caminhei pela
sala. Pedi ajuda para a governanta e conectei o
pendrive no receptor ligado a televisão e deixei o
arquivo pausado até que todos estivessem
prestando atenção em mim.
— Gostaria de continuar aguardando a tia
Lea, juntamente com o tio Hugo, mas na verdade,
eu já esperei demais. Ou melhor, Romeu e eu já
esperamos demais.
— Eva...
Cortei minha mãe:
— Por favor, não me interrompa. — Ela
assentiu, apesar de contrariada. Respirei fundo e
prossegui: — Há um tempo, eu procurei Romeu,
porque queria que ele me ensinasse a transar —
confessei a verdade, e o alvoroço começou, mas
não permiti que isso me desestimulasse, então
continuei, calando o falatório. — Eu estava cansada
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de ser taxada como a garotinha virgem e


inexperiente; não queria mais continuar sendo a
diferente da turma — pausei, tomando fôlego.
Encarei o Romeu nos olhos. — Então, eu convenci
o Romeu e, juntos, iniciamos essa nova jornada.
— Como você pôde compactuar com uma
loucura dessas, Romeu? — Meu pai perguntou,
irritado. — Eu confiava em você.
— Por que está dizendo isso, pai? Por acaso
escutou tudo o que eu acabei de falar? — Eu estava
muito chateada. — Eu que fui atrás dele. Eu que fiz
a proposta indecente. Eu o convenci. Eu quis perder
minha virgindade com ele. Eu. Conseguiu
entender? Romeu nunca me forçou a nada.
Ele mordeu o maxilar, mas não disse nada.
— A verdade é que meu relacionamento
com ele foi se intensificando e começamos a
perceber que o que nos mantinha unidos ia muito
além do sexo compartilhado, porque havia amor.
Cumplicidade. Amizade. Respeito. — Voltei a
encarar o Romeu, que não desgrudava os olhos de
mim. Parecia desnorteado com tudo o que ouvia. —
Estávamos bem, ao menos até essa garota entrar no
meio e plantar a sementinha do mau.
— Eva, querida, já foi conversado sobre
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isso e...
Interrompi as palavras da minha tia Luna.
— Não! Vocês conversaram! — Apontei,
indignada. — Vocês acusaram. Vocês apontaram
os dedos.
— Eva... — Romeu segurou minha mão,
olhando-me com amor. — Está tudo bem, anjinha.
— Não. Não está tudo bem — rosnei. —
Essa garota é uma farsante.
— Sinto muito que minha gravidez tenha se
tornado um empecilho — choramingou ela, fingida.
— Gravidez? — perguntei, clicando no
botão do play e indicando a tela da TV. — Essa
onde você está comentando que vai precisar forjar
exames?
— O que é isso? — Tio David comentou,
semicerrando os olhos para ler o que estava na
televisão, assim como o restante da família.
— Isso, tio, é a prova do julgamento
errôneo de vocês ao único filho. — Fui passando as
imagens, onde continha as mensagens. — Semanas
atrás, Andressa pegou o celular do Romeu quando
o mesmo deu uma carona pra ela e, nessa
oportunidade, ela conseguiu logar a conta de
mensagens dele no computador pessoal dela e, ele
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nem percebeu. Isso facilitou o forjamento da


conversa sobre o aborto que, aliás, nunca aconteceu
de fato, já que foi tudo simulado por ela mesmo.
— Como tem coragem de inventar uma
barbaridade dessas? — Ela perguntou, ainda
fingindo estar no papel de pobre coitada.
— Eu quem pergunto, garota! Pensa que
não descobri que seu irmão está jurado de morte
pelos traficantes? Sei que você está desesperada
para pagar a dívida dele e aproveitou a chance de
ter conhecido o Romeu para dar o golpe perfeito.
Os olhos dela se arregalaram em puro pavor
e descrença.
— Isso não é verdade — jurou, mas
enxerguei sua confiança desvanecendo.
— As provas estão aqui. — Apontei para a
tela da televisão. — Fora as cópias impressas. —
Penélope colocou a pasta sobre a mesinha de centro
para que todos pudessem ver. — Você sequer está
grávida. Romeu transou duas vezes com você e nas
duas usou camisinha. Você queria era se dar bem.
— Isso é mentira! — Ela gritou.
— Andressa, por favor, explique. — Tia
Luna pediu. — Você demonstrou ser uma pessoa
totalmente confiável, além de doce e inteligente.
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Céus! Você nos fez acreditar que era uma moça


dedicada e que conseguiu conquistar tudo o que
tem com o próprio esforço. Você nos enganou?
Andressa começou a respirar com
dificuldade, no sofá.
— Romeu, eu acho que estou passando
mal... — disse, jogando-se sobre ele.
Furiosa, fui até ela e a agarrei pelos cabelos.
— Pare de fingir e confesse a farsa, sua
vagabunda! — exclamei, revoltada, mas acabei
sendo segurada pela minha mãe. — Fui enganada
por você uma vez, mas não serei de novo. Eu vi
você em Girona conversando com o traficante.
Tenho as fotos. A própria Penélope aqui, que
conviveu com você nos últimos dias, tem detalhes
da sua safadeza. Você é tão egocêntrica que sequer
percebeu que minha briga com ela tinha sido
armada, garota. — Seu olhar me fuzilou. —
Acabou.
Ela ficou me encarando por alguns
instantes, em seguida, tentou escapar.
No caminho, esbarrou na tia Léa, que estava
entrando com o tio Hugo.
— Olhem só quem estava tentando fugir
desesperada — zombou. — Será que ela adivinhou
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que eu estava prestes a desmascará-la?


Franzi o cenho.
— Como assim, tia?
Segurando Andressa — que chorava
copiosamente — pelo braço, sibilou:
— Desde o começo, deixei claro que não
tinha acreditado em nada dessa palhaçada toda. —
Gesticulou ao redor. — Como sabem, estou prestes
a completar seis meses de gravidez, e minha
condição por conta da idade não me permite agir
como a garotinha ágil de antes, por isso demorei
um pouco com minha investigação. — Ela olhou
para a Andressa. — Sem ninguém saber, eu paguei
alguém de confiança para ir até a clínica onde
foram realizados os tais exames, e adivinhem?
Descobri que eles foram fraudados. Essa sem
vergonha nunca esteve grávida. Jamais teve bebê aí
dentro. — Tocou na barriga da Andressa e puxou
um preenchimento de tecido, usado para simular o
volume da gravidez.
Houve-se um arquejo alto na sala.
— Meu Deus! — Tia Luna murmurou, em
choque.
— Essa desconhecida conseguiu passar a
perna em vocês com uma facilidade assustadora, e
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isso é inadmissível — zangou-se tia Léa.


— Mas eu mandei um perito examinar o
computador dela na filial de Barcelona e não foi
encontrado nada — defendeu-se o tio David. —
Fora que nosso investigador particular ainda está
investigando a vida dela, e a princípio as
informações são boas. Pai e mãe mortos, e somente
um irmão. Eu já tinha conhecimento que o rapaz
estava perdido nas drogas, e inclusive, conversei
sobre isso com a Andressa, mas ela garantiu que
tentou ajudá-lo de todas as formas possíveis,
entretanto ele não quer ser ajudado. A garota só
sabia chorar, caralho! Porra! — Jogou o punho no
ar, frustrado consigo mesmo. De repente, voltou-se
para encarar a tia Lea. — Os exames são
verdadeiros, Lea, pois foi a primeira coisa que
mandei averiguar — insistiu.
Ela suspirou, rolando os olhos.
— Eles realmente são verdadeiros, mas não
pertencem a essa espertinha aqui — confirmou,
olhando para a Andressa. — Parece que ela tinha
amizade com um funcionário da clínica e foi
através dele que conseguiu fraudar dados de uma
das pacientes. O favorzinho foi pago com sexo,
suponho. Hein, vagabunda?
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— Me solta! — Andressa gritou.


— Honestamente, eu estou envergonhada,
David. — Tia Lea rosnou, incomodada. — Romeu,
o único filho de vocês, chorou e implorou para que
acreditassem nele, mas vocês lhe viraram as costas.
Estou decepcionada.
Nesse momento, ela soltou a Andressa, que
saiu correndo. Penélope ameaçou impedir a fuga,
mas fiz sinal para que deixasse. O castigo dela viria
de um jeito ou de outro.
— Romeu é um rapaz extraordinário! —
exclamei. — Vocês sabiam que ele faz serviço
voluntário, há mais de ano, no hospital infantil de
combate ao câncer? — A surpresa tomou conta dos
olhos de todos. — Ele é amoroso e amigo. A
lealdade dele chega a ser assustadora, porque
mesmo tendo consciência da inocência, ele se
comprometeu a seguir o futuro imposto a ele e, por
vocês, mesmo significando a própria infelicidade.
— Comecei a chorar. — Eu estou me sentindo a
pior pessoa do mundo agora, porque o abandonei.
Aliás, vocês também. — Apontei para o tio David e
a tia Luna. — Deveriam se envergonhar pelo o que
fizeram. Se deixaram influenciar por uma estranha
e abandonaram o próprio filho.
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— Eva, já chega! — Minha mãe pediu.


— Vocês também me abandonaram —
avisei, soluçando e os encarando com mágoa. O
olhar de todos eles era de culpa e dor. — E sabem
de uma coisa? Eu e o Romeu nos amamos, vocês
gostando ou não. Romeu ama o mundo digital e
não suporta trabalhar na empresa da família —
expus, furiosa demais para controlar o verbo. —
Mas isso não deveria ser uma coisa ruim,
considerando que o lema da família sempre foi
apoiar um ao outro, hun? Por que problematizar o
fato de Romeu querer abrir o próprio negócio?
— Não fizemos isso, Eva — defendeu-se tia
Luna.
— Fizeram! — revidei com tom firme. —
Fizeram inconscientemente quando acolheram
aquela cobra, usando disso para forçá-lo a
abandonar os próprios sonhos.
Estendi a mão para o Romeu, que aceitou.
Ele estava numa mistura de choque, fascínio e
torpor.
Num impulso, segurei seu rosto e o beijei na
frente de todos.
— Eva! — Alguém exclamou, mas não me
atentei ao dono da voz, porque nada além do
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Romeu me interessava no momento.


— A fim de dar uma escapada? — soprei
contra seus lábios a mesma pergunta feita por ele
uma vez.
Ambos sorrimos um para o outro, ignorando
todos ao nosso redor.
Éramos somente nós dois.
Como sempre foi.
E como sempre deveria ser.

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Trinta e quatro

Romeu

Quando fui comunicado sobre a nova


reunião da família, eu não fazia ideia do que se
tratava, e também nem procurei saber, já que nada
mais me importava, uma vez que, tinha perdido o
interesse de tudo.
A defesa do meu TCC, há três dias, ao invés
de me trazer orgulho e alívio, trouxe-me um peso
enorme, porque significava o início de uma rotina o
qual não pedi. Era estranho, pois semanas antes, os
planos eram outros. A porra da minha realidade era
outra.
Eu sabia que de nada adiantaria Eva e eu
nos amarmos se não poderíamos ficar juntos. De
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nada adiantaria nos entendermos se eu não pudesse


terminar com ela nos meus braços. Porque sempre
teríamos uma lacuna entre nós. Uma rachadura que
permitiria que a desconfiança entrasse. Jamais
poderíamos ser aquilo que o outro precisasse.
Ter essa certeza enchia meu coração de dor
e mágoa, porque não era justo. Desde crianças a
nossa relação foi baseada em carinho, amor e
amizade. Ambos prometemos que onde um
estivesse o outro também estaria, porque ficarmos
juntos era nosso destino.
Mas o destino decidiu brincar com nossos
planos.
Nossos caminhos foram desviados e, eu
sequer podia fazer algo para mudar. Não poderia
lutar quando minhas mãos estavam atadas.
Entretanto, Eva lutou por nós.
Ela não desistiu do nosso futuro.
Ao sair de Barcelona, longas horas atrás,
sequer passou pela minha cabeça que minha
alforria estaria prestes a chegar em minhas mãos.
Tinha consciência do mau-caratismo da Andressa,
mas nunca imaginei que ela pudesse chegar àquele
ponto.
— O que está pensando? — Eva
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questionou, enquanto caminhávamos, de mãos


dadas, pela Plaza de San Ildefonso. Fazia pouco
mais de trinta minutos que tínhamos saído da casa
dos meus tios, deixando todos em pleno torpor
depois de tudo o que foi dito.
— Na verdade, eu estou torcendo para que
isso não seja um sonho — comentei, olhando para
ela, que sorriu.
Parei quando seu corpo se atravessou na
frente do meu. Eva abraçou minha cintura com
força.
— Pois não é. — Afirmou num tom rouco.
— Estamos livres agora. Sem segredos. Sem
gravidez. Sem mentiras. — Acariciei seu lindo
rosto com minhas mãos. — Somente nós dois,
Romeu.
Uni nossas bocas num beijo casto, apenas
porque ainda não conseguia acreditar que tudo era
real. As últimas semanas haviam sido tão
perturbadoras que era difícil crer que algo tão bom
pudesse estar finalmente acontecendo comigo.
— Vem... — ela se afastou, entrelaçando
nossas mãos — Vamos nos sentar ali e pedir algo
para beber.
Deixei-me ser guiado por ela. Aquela era
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uma das praças mais vibrantes de Madrid, com


ótimos pubs, bares e restaurantes. A arquitetura
também era de primeira categoria.
Eva e eu optamos por uma mesa do lado de
fora do restaurante Miss Chez e, em seguida,
pedimos vermute. Havia um cantor de rua ali que
tocava violão muito bem. A praça estava lotada,
mas a atmosfera era tão boa que não tinha como
não sentir aquele calorzinho no peito e a esperança
de que as coisas se encaixariam.
— E então, como descobriu tudo? —
perguntei, trazendo suas mãos nas minhas, por cima
da mesa. — Confesso que eu já estava
desacreditado de que pudesse voltar a ter você,
Eva. Nem imaginei que estaria investigando aquela
garota quando nem eu mesmo pensei nisso.
Ela deu risada da minha expressão
engraçada.
— Eu realmente acreditei em tudo o que ela
falou, Romeu, e sinto muito por ter duvidado de
você. — Seu olhar tornou-se pesaroso e culpado.
— Eu deveria saber que com a sua índole aquelas
mensagens sobre aborto jamais poderiam ser
verdadeiras. Eu deveria ter sido mais cuidadosa,
mas...
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— Eva? — cortei suas palavras. — Uma


das maiores dificuldades do nosso relacionamento
sempre foi a intensidade dos nossos sentimentos.
— Sorri, compreensivo. — Somos apaixonados.
Somos ciumentos. E isso nos faz impulsivos —
expliquei e ela fez uma careta.
— Temos que trabalhar nisso, porque não é
nada saudável.
Beijei suas mãos com carinho.
— Teremos muito tempo para aprender a
lidar.
— Sim, nós teremos! — exclamou com
euforia. — Enfim, voltando à explicação...
Penélope me convidou para visitar a irmã dela em
Girona, e foi nessa ocasião que vimos Andressa
conversando com um homem mal encarado —
disse ela, franzindo a testa como se a lembrança
não lhe fizesse bem. — Achamos estranho, porque
ela parecia coagida pelo homem, então decidimos
investigar.
— Eu não fazia ideia de nada, porque eu e
aquela garota não tínhamos intimidade —
expliquei. — Depois que ela armou aquele show
com meu celular e você viajou pra cá, eu fiquei
puto, então fui tirar satisfações com ela, que acabou
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passando mal nos meus braços. Depois disso, eu a


levei até o pronto atendimento do Campus e foi
aonde veio a notícia da possibilidade da gravidez.
— Baixei os olhos para nossas mãos unidas. — Sei
que deveria ter te contado, porque o relacionamento
precisa ter uma base sólida de confiança e
honestidade, e eu falhei nisso, porque tive medo de
perdê-la.
Eva soltou minha mão apenas para tocar
meu rosto e erguê-lo para poder encarar meus
olhos.
— Mas o importante é que não perdeu —
garantiu com os olhos brilhantes. — Independente
do curso das nossas vidas, eu e você sempre
estaríamos juntos, Romeu, porque o amor mora em
nossos corações.
Beijei sua mão quando a mesma passeou os
dedos pelos meus lábios.
— Eu assisti a defesa do seu TCC —
confessou, fazendo-me arquear as sobrancelhas em
espanto. — Você foi ótimo, fiquei muito orgulhosa.
— Sério? Não vi você na plateia.
— Eu fiquei escondida. — Riu. — Não
queria que você me visse e ficasse se achando. Não
estávamos mais juntos, oras. — Deu de ombros,
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divertida.
Foi minha vez de rir.
— Está certo — murmurei entre risos. — E
quando será a sua apresentação?
— Daqui um mês — respondeu. — Por
quê? Está com ideia de me contratar como sua
assistente?
Voltei a rir.
— Não tenho mais certeza de nada, Eva —
falei, sentindo-me leve depois de muito tempo. —
Deixei Laura e Edu livres para seguirem com o
projeto, sozinhos, então agora só sei que sou um
ex-CEO, aliás, eu nem mesmo cheguei a ser um —
brinquei.
— Aposto que eles não pretendem abrir
mão de você na equipe deles — disse ela,
orgulhosa. — Então seu lugar está garantido. —
Piscou. — Não pense que vou querer namorar um
desempregado.
Joguei a cabeça para trás, rindo com
liberdade.
—Então estamos juntos? — perguntei assim
que me recompus. Inclinei-me sobre a mesa,
querendo chegar o mais perto possível.
— Depende — disse, mordendo os lábios
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de modo sedutor, embora ela nem se desse conta


disso. — Você não ficou com a Andressa nenhuma
vez durante as últimas semanas?
Franzi a testa e soltei o ar, fingindo pensar.
— Quando você diz ficar, está querendo
dizer: transar? — Eu ri quando ela deu um tapa no
meu ombro, zangada.
— Não se faça de bobo, Romeu, porque
sabe muito bem do que estou falando — sibilou.
Levantei, rapidamente, e puxei suas mãos
forçando seu corpo a se erguer também. Sem me
importar com os expectantes e, aproveitando a
música ao vivo, eu rodopiei Eva em meus braços.
— Romeu! — exclamou ela, rindo com
alegria, sem a expressão zangada de antes.
Comecei a cantar alto para ela, ignorando
tudo e todos ao nosso redor:
— Tú llegaste a cambiarme la vida (Você
veio para mudar minha vida), Es la verdad mi amor
no es la mentira (É a verdade, meu amor não é
mentira), Cada vez que a los ojos me miras cupido
sus flechas me tira (Toda vez que você olha para
mim, cupido flechas me jogam)...
De repente, eu me ajoelhei diante dela, que
cobriu o rosto com as duas mãos, enquanto olhava
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para os lados, tímida com toda aquela exposição


sobre nós dois.
— Y yo, quiero cantarte como Alejandro
Sanz (E, eu quero cantar você como Alejandro
Sanz), Pero los tonos no me dan, disculpa la
desafinación (Mas os tons não me dão, desculpe a
dureza), Es que no canto yo, canta el corazón (Eu
não canto, canto o coração).
— Romeu, as pessoas estão olhando —
queixou-se ela, tentando me fazer levantar. — Para!
— exclamou, embora estivesse sorrindo com
emoção.
— Vai acreditar em mim? Eu não tive nada
com a Andressa e nenhuma outra depois de você,
Eva. Nunca! Você é a única para mim, entendeu?
— Entendi. Eu entendi. — Suas mãos
abraçaram meu rosto enquanto sua boca tocava a
minha num beijo amoroso. — Agora se levante,
porque estou constrangida com toda essa atenção.
Eu ri.
— Eu amo essa garota aqui, pessoal —
gritei a plenos pulmões, erguendo-me do chão e
ouvindo alguns aplausos.
Eva deu risada e escondeu o rosto
avermelhado na dobra do meu pescoço quando a
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puxei para meus braços.


— Seu doido — sussurrou, sentindo meu
aperto.
Trazendo seu rosto para mim, fiz questão de
olhá-la nos olhos e com toda a intensidade existente
em meu ser, declarei:
— Doido por você, anjinha. Apenas por
você.
Naquele momento, nós unimos não somente
nossos lábios, porque a união ia muito alem
daquele mero toque.
Era uma união de almas.

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Trinta e cinco

Eva

Nossas bocas se chocaram


desesperadamente quando a porta do quarto de
hotel foi fechada.
Depois que saímos da Plaza de San
Ildefonso, o primeiro pensamento foi o de
matarmos a saudade de maneira mais íntima; num
local com mais privacidade.
Tanto eu quanto Romeu, tentávamos tirar as
roupas um do outro com rapidez, embora nenhum
de nós quisesse desgrudar nossas bocas. A verdade
é que permanecemos longe por muito tempo.
De repente, eu afastei a cabeça para poder
encarar os olhos pesados do Romeu; carregados de
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luxúria. Lentamente, arrastei os dedos por seu


peitoral desnudo e cheio de gominhos. Eu adorava
aquela tatuagem dele. Foi impossível não lamber os
lábios, literalmente.
Sem aguentar, Romeu voltou a me agarrar,
afundando os dedos em meus cabelos, enquanto
beijava e mordia meus lábios e queixo.
— Eu fiquei com tanta saudade —
murmurou ele, caminhando comigo, mas sem tirar
a boca do meu corpo. — Tive tanta vontade de
você... Tanta...
Meus gemidos foram aumentando conforme
os toques e carícias foram intensificando. Não
demorou muito para que minhas roupas fossem
arrancadas do meu corpo completamente, porém
antes que Romeu tivesse tempo de me jogar sobre a
cama, eu me sentei e arrastei os dedos até a barra
da sua cueca, a única peça ainda existente no seu
corpo.
Olhando nos meus olhos, Romeu se
estabeleceu na minha frente e me ajudou quando
baixei sua cueca. Encarei seu rosto excitado antes
de fechar a mão em sua grossura, sentindo-me
privilegiada por ter um homem como ele aos meus
pés. Romeu tentou, mas foi vencido pela vontade
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de fechar os olhos quando passei a acariciá-lo com


a boca, arrastando a língua por todo o seu
comprimento. Era delicioso admirar as reações que
eu arrancava dele. Eu me sentia incrível, mesmo
sem ter qualquer experiência.
— Porra, Eva — sibilou ele, entre os dentes.
Sua mão se fechou em meus cabelos, onde puxou
com um pouco de força, mas não reclamei.
Romeu começou a impulsionar o quadril em
direção ao movimento da minha boca, contudo sem
dizimar meu controle. O comando era meu.
— Eu vou gozar na sua boca se você não
parar...
Abocanhei-o com um pouco mais de
vontade, sugando com uma força calculada. Eu
queria dar a ele o prazer que sempre me fazia
sentir. Queria que ele visse que eu conseguia ser
fodona.
Entretanto, na hora que o primeiro jato
quente da sua carga atingiu minha língua, tive
vontade de golfar. Não estava preparada. Aquela
era a segunda vez que eu o chupava, e a primeira
que o deixava se libertar na minha boca.
Consegui esperá-lo se acalmar, impactada
pelos seus gemidos, mas assim que tive
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oportunidade, eu me levantei e corri direto para o


banheiro e cuspi todo aquele líquido salgado no
vaso sanitário.
Romeu surgiu logo depois, enquanto eu
lavava o rosto na pia.
— Você está bem? — quis saber,
preocupado.
— Não — falei, sentindo-me péssima. —
Eu quase vomitei, Romeu. Como as garotas
conseguem engolir aquilo? — Olhei para ele, sem
entender.
Droga!
Fiquei irritada quando Romeu começou a
rir.
— Pare de rir da minha cara — rosnei,
embora o riso estivesse pairando em meus lábios.
— Sou uma fraude — brinquei e aceitei quando ele
me puxou para seus braços fortes. Ambos
estávamos nus.
— Você foi maravilhosa, anjinha — disse,
acariciando minhas bochechas. — Eu nunca senti
tanto prazer como naquele momento com sua
deliciosa boca em mim.
— Mas eu... Não consegui... Você sabe. —
Escondi o rosto no pescoço dele, que riu um pouco
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mais. — Que vergonha — comentei entre risos.


— É falta de prática, Eva. — Tentou fazer
com que eu me sentisse melhor. — Não se exija
tanto, anjinha.
Afastei a cabeça para trás.
— Esse é o problema, Romeu — expus. —
Eu não quero continuar sendo uma anjinha na
cama. — Os olhos dele brilharam e o senti latejar,
pressionando meu baixo ventre. — Quero ser uma
diabinha.
Um rosnado escapou da sua garganta
quando sua boca tomou a minha num beijo bruto,
mas delicioso.
Eu adorava quando ele me tomava daquela
maneira crua.
Segurei-me em seus ombros quando seus
braços me impulsionaram de modo a abraçar sua
cintura com minhas pernas. Gememos com o
contato íntimo.
— Então venha cavalgar no meu pau —
soprou, mordendo meu pescoço e nos tirando do
banheiro.
Na cama, ele se deitou de costas e me fez
sentar sobre sua cintura. Com calma, eu me ajeitei e
o coloquei em minha abertura úmida.
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— Você está sem camisinha — falei sem


fôlego, mas descendo e me preenchendo com seu
comprimento.
— Eu aviso quando estiver pra gozar —
falou, mordendo os lábios e moendo a pele dos
meus quadris com suas mãos.
— Oh, céus! — exclamei ao senti-lo todo
dentro de mim. — Que delícia.
— Gostosa demais — murmurou ele,
movimentando-se junto comigo. Seus olhos
estavam nublados, assim como os meus. — Nunca
mais deixarei você escapar. Nunca.
Estiquei-me a fim de atacar sua boca,
enquanto nos movimentávamos em sincronia. Eu
queria gritar. Queria expor ao mundo minha
felicidade, mas as palavras simplesmente não
saíam, porque eu só sabia sentir e sentir.
— Você é meu e eu sou sua — soprei,
chupando seu lábio inferior. — Para sempre.
Ergui-me e acelerei os movimentos.
Espalmei seu peito com minhas mãos, sentindo o
ardor nas minhas pernas, mas não parei de
cavalgar.
— Olhe para mim — exigi quando notei
Romeu com os olhos fechados, absorvendo as
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sensações. Peguei suas mãos e trouxe-as aos meus


seios. — Veja quem está o enlouquecendo. —
Sorri, arrogante, adorando o brilho nos olhos dele.
O barulho dos nossos corpos se chocando
aumentou devido à intensidade das investidas.
Rolei os olhos quando a primeira onda me atingiu,
deixando minha pele arrepiada e meus músculos
pulsando involuntariamente. Romeu segurou minha
cintura e roubou o controle, pois eu já estava
totalmente perdida em minha própria bolha de
prazer.
Instantes depois, minhas costas se chocaram
contra o colchão e Romeu bombeou mais duas
vezes, com força, antes de se retirar e se derramar
em meus seios, lambuzando minha pele suada.
Nossas respirações estavam igualmente
descontroladas, e quando nossos olhos se
encontraram, não consegui segurar as lágrimas.
Pairando o corpo sobre o meu, Romeu
tocou meu rosto com carinho, limpando a umidade
do choro. Seus olhos também estavam vermelhos.
— Eu amo você — sussurrei, puxando sua
boca na minha. — Pedaço da minha alma.
Ele sorriu em minha boca e, em seguida,
beijou minhas lágrimas insistentes.
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— Pedaço de mim. Amo você além da vida.


E ali selamos todas as promessas que não
precisavam mais ser ditas, porque estavam
expressas em cada toque.

∞∞∞
Quando retornamos a casa dos meus pais já
era de manhã, considerando que passamos a noite
no hotel.
Meus pais, meus tios, Penélope e os gêmeos
estavam conversando na sala quando chegamos.
— Ah, os fugitivos chegaram. — Penélope
comentou num tom de zombaria.
Nossos pais se levantaram e ambos nos
puxaram para um abraço apertado. Havia tanta
sinceridade naquele gesto que toda a minha
tentativa de manter aquela postura dura foi por
água abaixo e, no fim, acabei me desmanchando
nos braços deles.
— Antes de qualquer coisa, nós queremos
pedir perdão a vocês dois — ditou minha mãe, num
choro engasgado.
— Erramos quando, inconscientemente,

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tentamos proibir o amor de vocês — confessou


meu pai.
— Erramos também quando não confiamos
que vocês dariam conta de todos os obstáculos que
viessem — disse minha tia Luna.
— E, principalmente, erramos ao julgá-los
de maneira tão errônea — disse o tio David.
Emocionada, assisti quando ele repousou a mão
sobre o ombro do filho. — Eu sinto muito, Romeu,
e saiba que vou me condenar pelo resto da vida
pela forma como tratei você, que é um filho tão
maravilhoso.
Tia Luna se aproximou do Romeu, que
estava tão emocionado quanto eu.
— Você só nos dá orgulho, meu amor —
declarou ela com fervor. — E queremos participar
da sua vida; das suas conquistas. Ontem você ainda
era um bebê, mas agora já é um homem, e não
poderíamos estar mais felizes pela honra de sermos
seus pais.
— Obrigado, mãe — murmurou ele, aos
prantos.
— Você nos perdoa? — Tio David
perguntou, com a voz engasgada.
— Claro que sim, pai, eu os amo. — Romeu
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soltou a mãe e foi de encontro aos braços abertos


do pai. — Meu maior objetivo de vida sempre foi
fazer com que sentissem orgulho de mim, pois
vocês são a minha base.
Olhando para mim, ele sorriu. Não consegui
deixar de sorrir também.
De repente, levou os olhos ao meu pai.
— Tio Alejandro, eu não tive tempo de
comprar alianças — disse, nervoso. Quase ri,
porque aquilo era algo incomum. — Mas gostaria
de pedir sua permissão para namorar a Eva.
Meu pai encarou o Romeu com o rosto
sério, e cruzou os braços, pensativo.
— Vocês estão se prevenindo?
— Pai! — exclamei, envergonhada.
— O que foi? Só estou fazendo minha parte,
oras — defendeu-se.
A risada de todos foi espontânea.
Minha mãe tomou a frente, olhando para
mim com carinho.
— É isso que você quer, filha?
Olhei para o Romeu, aceitando quando ele
uniu nossas mãos.
— Com todas as forças do meu ser, mãe. —
Sorri. — Eu o amo demais.
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Ele não precisou falar, mas li um “eu


também” em seus lábios quando os mesmos de
distenderam num sorriso lindo.
— Então não precisamos dar permissão
alguma — garantiu. — O desejo dos pais é que os
filhos sejam felizes.
Meu sorriso foi de pura gratidão e
encantamento. Voltei a abraçá-la.
— Obrigada, mãe — sussurrei.
— Ok, agora venham. — Tia Luna chamou,
interrompendo nosso abraço. — Vamos tomar café
e colocar o papo em dia, família.
Observei quando tio David depositou o
braço nos ombros do Romeu.
— Ainda tenho um tempinho antes de ir
para a empresa — comentou. — Quero falar sobre
seu projeto com seus amigos. Conversei bastante
com eles de ontem pra hoje, e vi que o negócio de
vocês tem muito potencial.
— Sério? — Havia euforia em seu tom.
De um lado, eu tinha meus pais me
paparicando. Do outro, eu tinha a Penélope
querendo detalhes da minha noite de aventuras.
A verdade é que eu me sentia em êxtase,
porque estava realizada. Família e amor era uma
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combinação tão perfeita.


Às vezes, buscamos fora aquilo que está
diante dos nossos olhos. Romeu sempre esteve ali,
preocupando-se em fazer meus dias melhores.
Começamos toda aquela loucura com a intenção de
compartilhar experiências, mas terminamos
compartilhando a descoberta do amor.
Ah, o amor...
Uma palavra tão pequena, mas com um
significado tão grande e intenso.
Eu poderia expor todas as sensações e
descobertas do meu coração, mas o meu “felizes
para sempre” estava apenas começando.

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Epílogo

Eva
Um mês e meio depois

— Primeiramente, boa noite a todos. Eu


gostaria de agradecer pelo privilégio de ser uma das
oradoras da nossa turma de formandos nesta noite.
Em nome deles, eu gostaria de agradecer a presença
de todos que estão aqui, todos aqueles que se
disponibilizaram para participar desta ocasião tão
especial. Hoje concluímos mais uma etapa de
nossas vidas e esta, sem dúvidas, é apenas uma das
tantas vitórias que estão por vir. Ao longo de todos
esses cinco anos, nós convivemos com muitas
pessoas. Professores e colegas vieram e se foram e
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deles levamos apenas as boas lembranças conosco


— parei um pouco para respirar. — Na física existe
uma teoria chamada Teoria do Caos, ela fala sobre
como acontecimentos aparentemente irrelevantes
podem vir a ter consequências gigantescas no
futuro. Uma das frases mais célebres sobre a
mesma é aquela que diz: “O bater de asas de uma
borboleta no Brasil seria capaz de causar um
furacão no Texas”. Parece um tanto absurdo, mas
foi exatamente o que nos ocorreu, os sussurros do
passado que diziam “corra atrás, estude, siga em
frente, você é capaz” tornaram-se furacões e
mudaram nossas vidas. E todos esses
acontecimentos fizeram com que estivéssemos aqui
essa noite. A gratidão que sentimos não poderia ser
traduzida em apenas uma palavra. Nós somos
gratos a todos aqueles que passaram por nossa vida.
Pais, professores, colegas, porque sem vocês nada
disto seria possível. O nosso agradecimento
também àqueles que, mesmo de fora, mas sempre
presentes, nos quiseram bem e nos apoiaram nos
bons e nos maus momentos. Dividam conosco os
méritos desta conquista, porque ela também
pertence a vocês — pausei, olhando diretamente
para um local específico na plateia. — Pai e mãe,
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amo vocês. E Romeu? Obrigada por ter feito com


que eu acreditasse em mim como pessoa e como
mulher. Te amo demais.
Depois disso, eu me afastei da bancada com
o microfone e me juntei a minha turma sob
aplausos calorosos. Meu coração estava aos pulos,
mas a sensação era de dever cumprido.
A cerimônia da Colação de Grau continuou
e depois que todos nós recebemos nosso canudo,
jogamos os chapéus para o alto em comemoração a
nossa conquista.
Ao sair do palco, Romeu estava a minha
espera e me pegou pela cintura, girando meu corpo
no ar. Ri como uma criança, sentindo-me agraciada
com todo aquele carinho. A formatura dele tinha
acontecido um mês antes, e eu também fiz questão
de ser a primeira da fila na torcida.
— Você foi incrível — disse ele, apertando-
me contra seu corpo. — Fiquei muito orgulhoso do
seu discurso.
Sorri, colando nossos lábios num beijo
casto, porém amoroso.
— Obrigada, meu amor — murmurei. —
Confesso que na hora as minhas mãos chegaram a
suar frio, mas felizmente deu tudo certo. — Ri,
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fazendo uma expressão engraçada.


Romeu também sorriu, voltando a beijar
meus lábios repetidas vezes. Em seguida,
entrelaçou os dedos nos meus e nos encaminhou
para perto da nossa família.
Depois que desmascarei Andressa, ela
simplesmente desapareceu. Deixou o apartamento e
a faculdade. O tio David quis vingança contra ela
pelo que fez, mas falei que não havia necessidade,
uma vez que, as consequências dos nossos atos uma
hora são cobradas pela vida, pelo destino. Então, eu
acreditava que o que era dela estava bem guardado.
— Feliz? — perguntou Romeu, encarando-
me com entusiasmo enquanto caminhávamos.
— Muito! — exclamei, parando e me
jogando nos seus braços, pois não consegui
controlar o desejo de abraçá-lo. — Nossa vida está
apenas começando.
Sua boca tocou a minha e tudo ao nosso
redor perdeu a importância.

∞∞∞
Quatro meses depois

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Um dos grandes desafios da Anjos em


combate era fornecer melhores condições para seus
funcionários, mas sem perder a produtividade.
Estruturas compactas e claustrofóbicas não
significam ganho de foco. E era por isso que
trabalhávamos não apenas com a constante busca
pela inovação, mas também por um design que
favorecesse interação entre as pessoas, válvulas de
escape rumo à natureza e acomodações ambientais,
porém moldáveis para a função de cada setor.
Enquanto caminhava pelos corredores da
empresa, eu me deslumbrava pela criatividade dos
espaços funcionais. Tudo para dar mais liberdade e
com isso estimular a produtividade. Era importante
apostar num cenário bacana para se trabalhar com
jogos de vídeo games. A equipe de marketing e
desenvolvimento, contratados por Romeu, Laura e
Eduardo apostava veemente em oficinas de criação
com um designer totalmente inovador.
Sorrindo, orgulhosa, abri a porta do
escritório do Romeu. Laura e Eduardo investiram
numa filial em Barcelona, enquanto eu e Romeu
retornamos a Madrid, para junto da nossa família.
Meu trabalho era basicamente organizar a
agenda dele e garantir que todos os compromissos
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fossem cumpridos no prazo. Ainda era novo, mas o


negócio estava se expandindo com uma velocidade
ímpar.
Romeu estava atrás de sua mesa. A sala era
composta por dois sofás coloridos e paredes em
tons pastéis. Havia uma tela gigante de TV e um
aparelho de vídeo game de última geração.
A única coisa que minha mente raciocinou
foi o desejo de me jogar no colo do Romeu
abruptamente, interrompendo seja lá o que ele
estivesse fazendo.
— Eva! — exclamou ele, rindo, mas
circulando minha cintura com suas mãos.
— Vim para saber se você está com fome
— murmurei, lambendo e mordendo seu pescoço.
— Porque se estiver, saiba que eu adoraria ser o seu
lanchinho.
Ele riu no meu ouvido, causando arrepios
intermináveis no meu corpo.
— Eu estou conversando com seu pai...
— Sobre o quê? — perguntei, arrastando as
mãos por seu peitoral, ansiando arrancar sua
camiseta. Ele ficava tão lindo naquele visual de
CEO despojado.
— Certamente sobre assuntos relacionados
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ao trabalho, mocinha. — Veio a voz zangada atrás


de mim.
Romeu segurava o riso quando,
desajeitadamente, eu me virei e me deparei com a
figura do meu pai na tela do laptop do Romeu.
Eles estavam tendo uma pequena reunião
online e eu sequer percebi.
Que vergonha!
— Olha pai, não é nada disso que o senhor
está pensando. Eu e Romeu... — pigarreei,
gaguejando. Cutuquei Romeu quando o mesmo
começou a rir.
— Poupe-me dos detalhes, Eva, pelo amor
de Deus. — Meu pai revirou os olhos, embora
exalasse um toque de divertimento no tom de voz.
— Enfim, a Lea e o bebê já ganharam alta e estão
em casa. Toda a família vai se reunir em
comemoração.
— Estaremos lá, pai — falei, ainda
envergonhada.
Ele e Romeu trocaram mais algumas
palavrinhas antes de encerrarem e Romeu fechar o
laptop.
Cobri meu rosto com as mãos, constrangida
pela situação.
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— Você deveria ter me avisado que estava


conversando com meu pai — reclamei, escondendo
meu rosto rubro na dobra do seu pescoço. — Que
vergonha, Romeu.
Ele riu, mordendo meu ombro.
— Você nem me deu tempo, oras — falou
em sua defesa. Sua mão amassou meu cabelo solto
forçando minha cabeça para trás. — Aliás, fiquei
muito interessado no tal lanchinho — disse,
chupando meu lábio inferior. — Poderia, por favor,
enumerar as opções de cardápio?
Dei risada, enquanto me ajeitava melhor em
seu colo.
— Safado — soprei, antes de jogar meus
braços em seu pescoço e avançar meus lábios nos
seus.
A prioridade do nosso relacionamento não
era outra se não a de sermos felizes.
E a felicidade? Tínhamos de sobra.

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Em breve...
PROTETOR — Livro 1 —
LINHAGEM GONZÁLEZ
Lorenzo

Aquele podia ser mais um dia qualquer, com


nuvens negras preenchendo o céu que, outrora,
estava azul. A umidade tomou conta do ar, e fortes
rajadas de vento frio passaram a completar o
cenário ao meu redor. Repito, aquele podia ser mais
um dia qualquer, mas não era...
Eu nunca fui taxado como uma pessoa
agradável de conviver, porque meu lema sempre
foi: observar primeiro e falar depois. Minha
facilidade em ler as pessoas por vezes me trouxe
vantagens, considerando que conseguia descobrir o
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outro lado. O lado que se mantinha escondido.


Entretanto também me colocava em
encrencas, já que a inveja do diferente, geralmente
é a desculpa para atacar. Para ferir. Nunca
considerei um problema o fato de não ser tão
sociável como a maioria, apesar de me pegar, por
muitas vezes, desejando a popularidade.

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Por outro lado, cresci num lar amoroso,


tendo pessoas que me amavam incondicionalmente.
Tive a melhor educação e o melhor da vida;
oportunidades de conhecer e experimentar tudo o
que quis e que o dinheiro permitiu. Infelizmente
não fui agraciado com muitos amigos, porém um
deles se sobressaiu, porque ficou marcado. Luigi
era um rapaz igualmente tímido, contudo eu e ele
tivemos facilidade de entrosamento. Juntos,
começamos a criar um laço quase fraternal. E
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embora ele fosse mais velho do que eu, nossa


amizade não perdeu a força, considerando que
tínhamos algo em comum: o vício em jogos de
vídeo game. Entretanto, às vezes, eu desconfiava
que ele estivesse me usando para se aproximar da
minha irmã Eva, porque na época, ele tinha quinze
anos e eu apenas dez.
Os anos passaram, e nós amadurecemos
com eles. Luigi e eu seguimos rumos diferentes,
mas eu nunca me esqueci da nossa amizade. Aliás,
ele havia sido o único amigo de verdade que tive o
prazer de ter.
Eu não quis aceitar quando recebi uma
carta, informando sobre a morte dele. Foi um
choque. Algo que não previ. Sequer imaginei que
ele estivesse doente, muito menos que tivesse tido
uma filha aos dezoito anos. O choque da notícia
não permitiu que eu raciocinasse sobre o pedido
feito no final daquela pequena carta de despedida.
“Por favor, Lorenzo, cuide da minha filha.
Você é o único a quem posso confiar o meu bem
mais precioso, meu leal amigo.”
Mesmo tendo passado dois anos desde a
leitura da tal carta, eu não consegui me preparar o
suficiente para aquele momento. Poderia ligar o
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foda-se e, simplesmente ignorar, mas minha


consciência não permitia. Luigi estava morto, mas
eu estava ali e precisava fazer aquilo por ele.
Precisava honrar sua confiança em mim.
Respirei fundo assim que escutei o barulho
das trancas, seguido pelo som do grande portão de
ferro sendo aberto. Desci do meu carro.
Levando os olhos para além dos poucos
metros que nos separava, eu a vi...
O primeiro detalhe que chamou minha
atenção foi a cor dos belos cabelos, negros como a
noite. Depois prestei atenção nos olhos, que era de
um azul tão intenso que, eu me vi hipnotizado.
Cativo na verdade.
O plano não era que eu me sentisse
encantado, considerando que apenas deveria ajudar
a mulher desconhecida e, em seguida, seguir meu
caminho. Mas por que raios meu coração estava
batendo tão forte no peito?
Fascinado, admirei seus passos enquanto ela
caminhava na minha direção, como se estivesse
certa sobre mim. Sem medo. Sem dúvidas. O corpo
era miúdo, porém perfeito aos meus olhos.
— Oi — soprou, assim que parou na minha
frente, deixando-me momentaneamente
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desestabilizado com tamanha beleza. — Você é o


meu protetor?
Arrepios inundaram minha pele quando a
pergunta foi feita e com ela olhando diretamente
nos meus olhos, sem titubear.
Havia doçura em seu tom de voz, porém
contradizia sua postura, que berrava selvageria. Seu
olhar escondia toda a sua ferocidade.
Descruzei os braços e me aproximei dela,
que continuou no mesmo lugar.
Nos olhamos por alguns instantes.
— Sim, senhorita Giovanna — respondi,
enrolando seu nome em minha língua. — Eu serei
seu protetor.
E ali selei meu destino.
Giovanna, uma mulher que no momento
que deixou a prisão cometeu seu primeiro crime de
reincidência: roubar meu coração.

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Agradecimentos
Primeiramente a Deus, por cuidar dos meus
passos a todo o instante. Sou grata pelo meu
marido, que me dá total atenção para que meus
personagens possam sair da minha mente. Um
agradecimento especial a autora Silmara Izidoro,
que foi fundamental na criação da série González:
Adoro você, amiga!
Enfim, obrigada a você que chegou até aqui,
seguindo a série ou pulando livros hahaha. Sou
muito feliz e honrada por cada um que me
acompanha e dá oportunidade aos meus livros.
Um beijo estalado♥

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