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Este artigo é um recorte do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
a relação entre professor - aluno como potencialização do bem-estar e aprendizagem das crianças sob a orientação do Prof.
Me. Adil A. Alves de Oliveira, Curso de Pedagogia, Faculdade de Ciências Humanas e Linguagem (FACHLIN) da
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Campus Universitário de Sinop, 2023/1.
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Resumo traduzido por Karina Hubner Ferassolli Sansoni, mestranda em Letras pelo Programa de Pós-Graduação em
Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso (PPGLetras/UNEMAT, Sinop). Curriculum Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5063076435864511
E-mail: [email protected]
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AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: a relação entre professor - aluno como potencialização [...] 294
authors used for theoretical support and foundation of the research were Lev
Semionovitch Vygotsky, Josivaldo Constantino dos Santos and Cláudio J. P.
Saltini. The methodology originated from a qualitative approach through
semi-structured questionnaires, in which the object of research were teachers
working in early childhood education in public and private institutions. The
research evidenced the need for an affective approach in the school routine as
a potential for children's well-being and learning.
Keywords: Child education. Affectivity. Children. Learning. Well-being.
1 INTRODUÇÃO
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A análise realizada no artigo, tem como justificativa fazer a ligação das emoções, sentimentos e
paixões humanas com o processo cognitivo de ensino e sobre a forma como esses afetos dirigem e
estimulam, enquanto tendências inconscientes, todo o dinamismo funcional da estrutura psíquica,
baseando-se nas teorias de grandes pensadores e filósofos como Freud (1856/1939), Piaget
(1896/1980), e Vygotsky (1896/1934) que citam o afeto como uma das maiores motivações para o
ensino-aprendizagem, com ampla utilidade para a escola, pois nessa é escassa a reflexão crítica sobre o
assunto. Freud, por exemplo, explica o inconsciente afetivo como fator determinante para a formação
da consciência individual.
Na psicologia em geral, a afetividade corresponde ao conjunto dos fenômenos psíquicos que se
manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre de uma impressão
de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza.
Considerando-se que o afeto é o elemento básico da afetividade, Freud descreve o afeto como um lugar
que determinadas inervações ou descargas motoras e que certos sentimentos aparecem em primeiro
lugar, com isso, há dois tipos de percepções das ações motoras e sensações que ocorrem diretamente a
partir do prazer ou desprazer, o que dão ao afeto um traço predominante. Isso significa que ao enxergar
com maior profundidade o caso de alguns tipos de afetos se reconhece o cerne que reúne a combinação
que gera experiências significativas e que perduraram na memória.
Já em Piaget (1896/1980), a afetividade possui um caráter extremamente importante para o
desenvolvimento, de forma que ela permeia toda a conduta humana, que apresenta, distintamente, um
aspecto afetivo e outro cognitivo, essenciais e estreitamente interdependentes. “Diremos, pois,
simplesmente, que cada conduta supõe um aspecto energético ou afetivo, e um aspecto estrutural ou
cognitivo” (PIAGET, 1983, p. 15).
Na teoria elaborada por Jean Piaget, o desenvolvimento intelectual é entendido a partir da
estruturação das dimensões cognitivas que possibilita o sujeito ao conhecimento. Apesar do enfoque
a inteligência, Piaget não ignora a importância da dimensão afetiva no processo de formação da
criança. O fato de não destacar a afetividade, possibilita a crítica de considerar o desenvolvimento
cognitivo paralelo ao afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos, tendências, valores e
emoções em geral.
Já Vygotsky (1896/1934, apud LA TAILLE, 1992, p. 11), propôs a construção de uma nova
psicologia, fundamentada no materialismo histórico e dialético. Nesta, aprofundou-se nos estudos
sobre o funcionamento dos aspectos cognitivos, mais precisamente as funções mentais e a consciência.
Vygotsky usa o termo função mental para fazer uma conexão, referindo-se aos processos como
pensamento, memória, percepção e atenção. De modo que, a organização dinâmica da consciência é
aplicada através do afeto levando-se até o intelecto.
Em La Taille (1992, p. 76), Vygotsky descreve que o pensamento tem sua origem na esfera da
motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Nesta esfera,
encontra-se a razão última do pensamento e, assim, uma compreensão por completo do pensamento
humano no qual só é possível quando se compreende sua base afetivo-volitiva. Apesar de a questão da
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afetividade não receber aprofundamento em sua teoria, Vygotsky evidencia a relevância das conexões
entre as dimensões cognitiva e afetiva do funcionamento psicológico humano, propondo uma
abordagem unificadora das referidas dimensões.
No âmbito da educação infantil, a inter-relação professor/ aluno em geral e com cada um em
particular é constante, gerada a todo tempo seja em sala de aula, no pátio ou em passeios, e é em função
dessa proximidade afetiva entre eles que se dá a interação com os objetos e a construção de um
conhecimento altamente envolvente.
Como afirma Saltini (1997, p. 89), “essa inter-relação é o fio condutor, o suporte afetivo do
conhecimento”. Complementa o referido autor:
Neste caso, o educador serve de continente para a criança. Poderíamos dizer, portanto, que o
continente é o espaço onde podemos depositar nossas pequenas construções e onde elas
tomam um sentido, um peso e um respeito, enfim, onde elas são acolhidas e valorizadas, tal
qual um útero acolhe um embrião (SALTINI, 1997, p. 89).
A escola, por ser o primeiro agente socializador fora do círculo familiar da criança, torna-se a
base da aprendizagem se oferecer todas as condições necessárias para que ela se sinta segura e
protegida. Portanto, não nos restam dúvidas de que se torna imprescindível a presença de um educador
que tenha consciência de sua importância não apenas como um mero reprodutor da realidade vigente,
mas sim como um agente transformador, com uma visão sócio crítica da realidade.
A instituição facilita o papel da educação nos tempos atuais, que seria construir pessoas plenas,
priorizando o ser e não o ter, levando o aluno a ser crítico e construir seu caminho.
Crianças pequenas (período sensório-motor), por exemplo, querem interagir com os objetos
manipulando-os com todo o seu corpo, não só com as mãos, pois esta é uma necessidade natural do
seu desenvolvimento, conforme Saltini (1997, p. 91).
Não há como aceitar que a sala de aula na educação infantil seja apenas um espaço de “passa
tempo” e que não se fale sobre o assunto para que os profissionais envolvidos pensem em como
promover melhorias no processo ensino-aprendizagem. Santos (2011, p. 68) afirma que:
A sala de aula é o principal compartilhamento da escola. Ela é o espaço por excelência da escola.
É um ambiente destinado ao convívio entre os que a habitam, e por ser impreterivelmente um
espaço de convivência, é um espaço dialético, de conflito e de harmonia. Conflito no sentido
da contraposição de ideias, de saberes, de preferencias e posturas construídas durante toda
uma vida e que neste espaço encontra novas ideias, outros saberes, que geram diferentes
posturas diante da realidade. Harmonia no sentido da reciprocidade que deve acontecer entre
os integrantes deste espaço de produção, quase uma interdependência entre os sujeitos que
convivem neste espaço, uma vez que a produção do conhecimento acontece na relação consigo
mesmo, com o outro e com o mundo.
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E através dessa concepção do que é a sala de aula que é importante ressaltar a necessidade de
um ambiente acolhedor, afetuoso que torne possível o diálogo e o convívio entre os que frequentam o
meio escolar. Vale citar ainda a capacitação dos professores para tal desafio, já que nesse lugar habitam
vidas distintas umas das outras com suas próprias características.
Rubem Alves (1933/2014) traz uma reflexão sobre a importância da entrada dos professores no
mundo das crianças, ou seja, ele fala da ausência das crianças no universo particular dos professores
quando se trata da falta de diálogo entre os mesmos. Os dois pontos aqui problematizados são
interligados uma vez que afeta diretamente todo um processo relacional/educativo.
3 METODOLOGIA
O presente artigo teve como suporte metodológico a abordagem qualitativa, com pesquisa
participante realizada em três turmas, sendo: uma em escola privada, duas em escola pública. Para
coleta de dados realizou-se a observação participante, que possibilita acompanhar o fenômeno a ser
estudado, de modo a conviver com o objeto para uma melhor análise. Essa busca por uma melhor
compreensão de como ocorrem as práticas pedagógicas em que o professor elege ou não as relações
afetivas como dimensão fundamental ao processo educativo dos alunos, permite uma reflexão
necessária para responder o desafio de uma formação totalizadora do sujeito.
Também vale ressaltar o impacto que a pesquisa possibilita no acompanhamento e na
percepção do processo que envolve os sujeitos no seu cotidiano e nas suas experiências, podendo
compreender melhor suas ações e entendendo qual a abordagem mais adequada para a promoção da
afetividade.
Entende-se que o enfoque da pesquisa participante engloba todo o desenvolvimento do objeto
a ser observado, proporcionado uma maior aproximação ao mesmo, possibilitando entendimento de
todos os aspectos que estão envolvidos no cotidiano do objeto, para que então haja intencionalidade
sobre as ações de tal como, ter sensibilidade ao agir, falar e se expressar com as crianças não sendo um
sinônimo de fraqueza ou incapacidade e sim de empatia, receptividade e compreensão, de que cada ser
tem sua particularidade e que cada uma delas tem seu significado.
Além da observação foi aplicado um questionário para sete professoras que atuam na educação
infantil com a intenção de verificar a visão dessas profissionais em relação a afetividade.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dessa análise, o presente artigo possui enfoque na pesquisa todo o processo de
desenvolvimento do sujeito a ser observado, possibilitando entendimento de todos os aspectos que
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estão envolvidos no cotidiano do mesmo, para que então haja intencionalidade sobre as ações de tal
como: ter sensibilidade ao agir, falar e se expressar com as crianças não sendo um sinônimo de fraqueza
ou incapacidade e sim de empatia, receptividade e compreensão, de que cada ser tem sua
particularidade e que cada uma delas tem seu significado.
Por meio de questionamentos houve um levantamento da opinião de alguns professores da
rede pública e também particular sobre como a afetividade é abordada nas instituições de ensino e qual
o nível de entendimento dos profissionais sobre tal assunto.
Um dos questionamentos realizados foi se os professores acreditam que a infância pode ser
considerada uma das etapas mais importante no desenvolvimento biopsicossocial da criança e 100%
dos entrevistados afirmaram a importância dessa etapa. O que reafirma boa parte do que a pesquisa
defende, que a infância possui um impacto muito grande no desenvolvimento de um ser humano, pois,
é na infância que se constroem as memórias afetivas e onde se inicia a formação do intelecto do sujeito.
Pergunta 01: “Você acredita que a infância pode ser considerada uma das etapas mais importante no
desenvolvimento biopsicossocial da criança?”
Quando se fala da infância sabe-se que um dos braços dela é a escola, onde seres inexperientes
e aprendentes adquirem conhecimentos e competências por meio do seu convivo social com várias
outras crianças e com os professores, que podem ser caracterizados como os seres experientes, cultos
e ensinantes. Ou seja, transmissores de conhecimento e instrumentos culturais.
Como comprovado por diversos pedagogos, psicólogos e terapeutas, a afetividade é uma
ferramenta valiosa para o desenvolvimento biopsicossocial da criança e que nessa etapa de
desenvolvimento a criança irá construir relações solidas.
Pergunta 02: “Sente que ao longo dos anos a relação entre professor-aluno tem perdido a afetividade?”
(08) Professor 1: Não, nos anos iniciais eles buscam o aconchego e o carinho dos professores.
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(09) Professor 2: Sim. Apesar que a afetividade entre meus alunos não abro mão.
(10) Professor 3: Infelizmente
(11) Professor 4: Na educação infantil não vejo isso.
(12) Professor 5: Da minha parte como professora não... faço o possível para que os alunos se sintam
acolhidos...
(13) Professor 6: Aos poucos vem se recuperando está relação. Sim.
(14) Professor 7: Sim.
Pergunta 03: Descreva em poucas palavras como avalia sua experiência pedagógica na educação
infantil?
As experiências em sala de aula são bastante particulares, por esse motivo, é muito importante
entender também como o professor se sente e qual é o seu estado emocional quando entra em sala de
aula, como nos relatos acima, a construção de um ambiente confortável foi fundamental para ter bons
resultados.
Pergunta 04: Acredita que a afetividade pode ser usada como instrumento de aprendizagem?
(22) Professor 1:Deve ser usada, pois as crianças precisam sentir-se amada e respeitada para que tenha
um bom desenvolvimento pessoal, emocional e cognitivo.
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Durante muito tempo, professores atuaram em salas de aula sem se atentarem para os aspectos
afetivos e resquícios dessa invisibilidade ainda perduram nas relações educador/educando atualmente,
entendendo-se que é o afeto que possibilita criar um ambiente favorável para aprendizagem dos alunos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao retomar o objetivo deste artigo, encontramos o debate acerca das relações entre professor e
aluno dentro da sala de aula na educação infantil, ao mesmo tempo em que buscamos refletir acerca
da influência dessas relações no processo de aprendizagem da criança. Nesse sentido, entendemos que
na atual conjuntura os elementos apreciados para uma formação libertadora dependem da consciência
crítica dos participantes do ambiente escolar.
A partir da análise dos dados e estudo das bases teóricas utilizadas, pudemos notar que a
afetividade é uma grande ferramenta nesse processo de aprendizagem e que a busca de práticas que
promovam esse sentimento em sala de aula pode garantir um ambiente enriquecedor e acolhedor que
promoverá um maior envolvimento das crianças nas atividades propostas.
Por esse motivo é essencial discutir sobre esse assunto para potencialização do bem-estar e
aprendizagem das crianças e sua grande influência no meio em que se aplica.
REFERÊNCIAS
Revista Even. Pedagóg., Sinop, v. 14, n. 2 (36. ed.), p. 293-301, jun./jul. 2023
301 Isabella Ribeiro Souza
SANTOS, Josivaldo C. dos (orgs.). EAD tecnologia pedagogia e formação continuada. Cáceres:
Unemat editora, 2011.
WALLON, Henri P.H. Psicologia e educação da criança. Lisboa: Editorial Veja, 1979.
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Graduanda em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT). Faculdade de
Ciências Humanas e Linguagem (FACHLIN). Sinop, Mato Grosso, Brasil.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8972740376220902
ORCID: https://orcid.org/0009-0009-2058-2726
E-mail: [email protected]
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