OE-disciplina e Mediação de Conflitos
OE-disciplina e Mediação de Conflitos
OE-disciplina e Mediação de Conflitos
1
Luciene Guiraud
2020
Curitiba, PR
Faculdade UNINA
2
Faculdade UNINA
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000
Conselho Editorial
D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu /
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros /
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Revisão de Conteúdos
Vianeis Rodrigues Pereira
Revisão Ortográfica
Juliano de Paula Neitzki
Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério
FICHA CATALOGRÁFICA
GUIRAUD, Luciene.
Orientação Educacional: indisciplina e mediação de conflitos / Luciene Guiraud. –
Curitiba: Faculdade UNINA, 2020.
80 p.
ISBN: 978-65-86092-34-9
1. Conflitos intraescolares. 2. Contexto escolar. 3. Disciplina e indisciplina.
Material didático da disciplina de Orientação Educacional: indisciplina e mediação
de conflitos – Faculdade UNINA, 2020.
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870
3
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA!
4
Sumário
Prefácio ......................................................................................................... 06
1.3 Organizacionais................................................................... 18
Conclusão da disciplina................................................................................. 70
Índice Remissivo............................................................................................ 73
Referências.................................................................................................... 74
5
Prefácio
6
Aula 1 – As relações de poder na escola
Apresentação da aula 1
7
avaliação formal, classificatória, excludente. Assim entendido, denotamos que
os critérios de legitimação e hierarquização presentes na sociedade prevalecem
na organização escolar, indicando um sistema educacional enraizado em uma
sociedade estruturada por relações sociais desiguais, com consequências
profundas no rendimento escolar e nas manifestações que a partir daí se
desvelam (VALLE, 2008).
A escola, enquanto organização e instituição social tem uma função social
que a distingue das outras e é parte fundamental na formação das sociedades
humanas. A distinção está na sistematização, no processo formativo que visa
inculcar valores, ensinamentos e normas da sociedade, fazendo a mediação
entre os conteúdos historicamente produzidos pela humanidade e o aluno,
procurando formas para que esses conhecimentos sejam apropriados pelos
indivíduos, contribuindo para a formação de novas gerações de seres humanos
(SAVIANI, 2003).
Tais conhecimentos são selecionados para serem transmitidos e
reelaborados didaticamente para serem apresentados e ensinados
(CHEVALLARD, 1991; GABRIEL, 2000a, 2000b, 2002, 2004a, 2004b, 2005,
2006; MONTEIRO, 2001, 2003; LOPES, 2007), o que nos faz entender que se
caracterizam “pela disputa/tensão entre interesses diversos; pela intenção de
'territorialização' do conhecimento, em um movimento de legitimação de
grupos, ideias, sujeitos” (PUGAS; RAMOS, 2008, p. 5) [grifos nossos]. Essa
característica, por si só, já desenreda a relação de poder que se manifesta na
organização escolar. Mas não é o único atributo que assim o faz. No decorrer de
nosso estudo, estaremos refletindo sobre outros aspectos do espaço escolar que
estabelecem e são estabelecidos por relações de poder e determinadas
intencionalidades que os promovem.
A escola expressa um tipo de “racionalidade escolar” que se assemelha à
“racionalidade econômica” e à “racionalidade política” das sociedades modernas
(VERRET, 1975), assim como à própria “racionalidade científica”, cujos aspectos
institucionalizados de sua própria cultura a caracterizam como organização,
compreendida por “práticas e condutas, modos de vida, hábitos e ritos, objetos
materiais e modos de pensar, assim como significados e ideias” (FRAGO, 1995,
p. 68,69), expressos nos saberes por ela oferecidos, compreendido pelo
8
currículo, bem como nos modos de interpretar o mundo, o ser humano e tudo
que os envolve. Interpretação essa advinda da visão materialista defendida pela
ciência nos últimos séculos, ou seja, a matéria como o substrato para tudo o que
existe.
Ora, se tudo é matéria, se pensamentos, ideias e todas as coisas existem
por intermédio de apenas uma fonte de causação, as interações materiais
(GOSWAMI, 2010), não é de se admirar que haja tantos conflitos com
manifestações violentas, tantos embates, nem é de se admirar que valores como
respeito e ética sejam relegados e desconsiderados, como cada vez mais
podemos observar.
Vocabulario
Causação: ato ou efeito de causar.
Palavra que envolve muitos debates no mundo científico e
que gera muitas polêmicas quanto ao seu conceito, que
difere do conceito de causalidade, adotado pela ciência
materialista. Normalmente "causalidade" se refere aos
princípios envolvidos na relação entre causa e efeito, ao
passo que "causação" se refere à relação propriamente dita.
Em português, o termo "causalidade" tem sido mais usado
tradicionalmente em filosofia (em ambas as acepções
indicadas), mas o uso do termo “causation” na
contemporânea metafísica de língua inglesa tem levado ao
uso frequente de "causação". Há, ainda, conceitos para
“causação ascendente” (materialista, que tudo parte da
partícula da matéria, o átomo, resultando na formação da
consciência) e “causação descendente” (quântica, que
comprova que tudo parte da consciência e essa cria toda a
matéria, toda a realidade).
9
individuais. Para tal, utilizam-se recursos coercitivos como a vigilância, as
sanções e os exames, características do poder disciplinar que marca a estrutura
e o funcionamento de instituições, de modo particular, a escola.
10
observava por meio de venezianas, de postigos semicerrados de modo
a poder ver tudo, sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo. Para
Bentham esta pequena e maravilhosa astúcia arquitetônica podia ser
utilizada por uma série de instituições. O Panopticon é a utopia de uma
sociedade e de um tipo de poder que é, no fundo, a sociedade que
atualmente conhecemos - utopia que efetivamente se realizou. Este
tipo de poder pode perfeitamente receber o nome de panoptismo.
Vivemos em uma sociedade por meio reina o panoptismo (OLIVEIRA,
2004, p.7).
Importante
É visto, mas não vê; objeto de uma informação, nunca sujeito em uma
comunicação. [...] E esta é a garantia da ordem. Se os detentos são
condenados, não há perigo de complô, de tentativa de evasão
coletiva, projeto de novos crimes para o futuro, más influências
recíprocas; se são doentes, não há perigo de contágio; loucos, não
há risco de violências recíprocas; crianças, não há "cola", nem
barulho, nem conversa, nem dissipação [...]. A multidão, massa
compacta, local de múltiplas trocas, individualidades que se fundem
com efeito coletivo e abolido em proveito de uma coleção de
individualidades separadas (FOUCAULT, 2001, p. 166) [grifos
nossos].
11
Importante
A escola, assim, define espaços, subdivide e recompõe
atividades, capitaliza o tempo e as energias dos indivíduos pela
disciplina, de maneira que sejam susceptíveis de utilização e
controle, articula os indivíduos que se movimentam e se
articulam com os outros, ajusta a série cronológica de uns ao
tempo dos outros, de modo a aproveitar combinar ao máximo
as forças individuais. Esta combinação prevê um sistema
preciso de comando, baseado em sinais definidos, que venham
a provocar de imediato o comportamento desejado (FLEURI,
1993).
12
consciência ou de suas disposições previamente organizadas e preparadas para
tal, a reconhecem e creem nela, prestando-lhe obediência (BOURDIEU;
PASSERON, 1982).
Para Refletir
Até que ponto a escola é reconhecida socialmente por seus
agentes?
Importante
Em seu interior, acordos são feitos de modo que as regras
estabelecidas não sejam abaladas. Além disso, todos estão
mobilizados em um processo educativo, em uma prática de
poder simbólico, inevitável, reconhecido como necessário e
exercido com a cumplicidade de todos. Até surgirem
incompatibilidades e divergências entre os atores, mediante
então se desvenda o poder que, ao invés de existir
simbolicamente, torna-se manifesto, explícito e revelado. As
greves, eleições para diretores, as reuniões ideológicas sobre
metodologias e concepções pedagógicas, a relação conflituosa
entre professor e aluno marcada pela indisciplina, são exemplos
do poder simbólico desvelado, que cede lugar ao embate, sendo
transformado em relações de poder antagônicas e tumultuadas.
13
Marcada por um amplo e complexo conjunto de prescrições e realizações,
o currículo imbuído do caráter de processo, em âmbitos diversos e com relações
e implicações as mais variadas, a escola acaba por não dar conta do caráter
multicultural das sociedades contemporâneas, nem responde às contradições e
às demandas provocadas pelos processos de globalização econômica e de
mundialização da cultura (ORTIZ, 1994), responsáveis pelo fortalecimento da
separação do mundo em ricos e pobres, civilizados e selvagens, nós e eles,
incluídos e excluídos (MOREIRA; CANDAU, 2003).
Tornar a cultura um eixo central do processo curricular, como conferir uma
orientação multicultural às suas práticas, na busca de sintonia às dificuldades de
relacionamento explícitas no cotidiano escolar, traz incertezas e indagações aos
profissionais que compõem o cenário educacional: como lidar com essa pessoa
tão estranha, que apresenta tantos problemas, que tem hábitos e costumes tão
diferentes? Como adaptá-la às normas, condutas e valores vigentes? Como
ensinar-lhe os conteúdos que se encontram nos livros didáticos? Como prepará-
la para os estudos posteriores? Como integrar a sua experiência de vida de
modo coerente com a função específica da escola? São questionamentos que
refletem visões de cultura, escola, ensino e aprendizagem e dificuldades
explícitas em um ambiente invadido por diferentes grupos sociais e culturais,
antes ausentes desse espaço (MOREIRA; CANDAU, 2003). Dessa forma,
podemos sintetizar as características da organização escolar da atualidade e
como nos apontam os autores (2003):
14
Importante
A escola, tal qual a sociedade, age consciente e inconscientemente
de modo a silenciar e sufocar tudo o que lhe parecer estranho,
diferente (FOUCAULT, 1997). E os embates são travados em seu
interior, pois a resistência toma vulto e na lógica das batalhas, a parte
que se julga poderosa, por meio de uma força, de uma dominação, de
um ato de violência, mesmo que simbólica, apaga os sentidos que o
componente aparentemente derrotado possui (FOUCAULT, 2007).
Foucault (1999, p. 234) nos diz que “para compreender o que são
relações de poder talvez devêssemos investigar as formas de
resistência e as tentativas de dissociar essas relações”.
15
outras, que empregam alguma versão da chamada “teoria do conflito”. Os
autores assim refletem em seus estudos:
[...] o mito de que o conflito é ruim está ruindo. O conflito começa a ser
visto como uma manifestação mais natural e por conseguinte,
necessária às relações entre pessoas, grupos sociais, organismos
políticos e Estados. O conflito é inevitável e não se devem suprimir
seus motivos, até porque ele possui inúmeras vantagens dificilmente
percebidas por aqueles que veem nele algo a ser evitado [...]. Outro
mito importante construído em torno do conflito e que está também
sendo superado, é aquele que diz que o mesmo atenta contra a ordem.
Na verdade, o conflito é a manifestação da ordem em que ele próprio
se produz e da qual se derivam suas consequências principais. O
conflito é a manifestação da ordem democrática, que o garante e o
sustenta. A ordem e o conflito são resultado da interação entre os seres
humanos. A ordem, em toda sociedade humana, não é outra coisa
senão uma normatização do conflito (CHRISPINO, 2007, p. 17).
Conflitos existem por toda a parte. Não são, em sua natureza, nem
bons nem ruins: fazem parte da vida em sociedade. A maneira como
lidamos com eles, no entanto, faz com que tenham
desdobramentos positivos ou negativos. Quando bem manejados,
os conflitos podem levar a situações de intensa criatividade e
16
aprendizagem. Quando ignorados ou mal administrados, podem ter
consequências não desejadas. O que comumente se denomina
violência é uma das possíveis consequências da inabilidade em se
manejar conflitos. Compreender isso é uma questão crucial para
gestores e outras lideranças escolares (CECCON, 2009, p. 19) [grifos
nossos].
17
é feito, não se chegando ao cerne da questão. Assim se sucede na sociedade,
com brigas entre vizinhos, por exemplo. Por sermos conscientes de que a escola
tanto produz quanto reproduz efeitos tal qual ocorre na sociedade, podemos
apontar que os conflitos intraescolares são comumente motivados e ocorrem:
1.3 Organizacionais
18
Comunitários: são aqueles que emanam de redes sociais de diferentes
atores. Rompem-se as concepções rígidas dos muros da escola, ampliando-se
as fronteiras (por exemplo, os bairros e suas características, as organizações
sociais do bairro, as condições econômicas de seus habitantes, entre outros).
Raciais e identidades: são aqueles grupos sociais que possuem um
pertencimento e afiliação que faz a sua condição de existência no mundo. Estes,
com suas características culturais, folclóricas, ritualísticas, patrocinam uma série
de práticas e habitus que retroalimentam o estabelecimento de ensino (por
exemplo, a presença de fortes componentes migratórios na região, entre outros).
Pedagógicos: são aqueles que derivam do desenho estratégico da
formação e dos dispositivos de controle de qualidade e das formas de ensinar,
seus ajustes ao currículo acadêmico e suas formas de produção (por exemplo,
não é a mesma coisa ensinar matemática que literatura e ambas possuem
procedimentos similares, mas diferentes; a organização dos horários das turmas,
dos professores e as avaliações).
19
poder propriamente dito, da posse, das diferenças de toda ordem. Estão
explícitos e devem ser valorizados, de forma que se deem espaços para o
diálogo permanente, para a escuta das diferenças na perspectiva da tomada de
melhores decisões, para o exercício da explicitação do pensamento, para o
aprendizado da exposição madura das ideias por meio da assertividade e da
comunicação eficaz, para a consideração das oportunidades para o encontro de
soluções alternativas para os diversos tipos de conflito que possam surgir
(CHRISPINO, 2007).
Vídeo
O filme “Entre os muros da escola” retrata a
indisciplina, a relação de poder, a postura de
professores, a realidade de um sistema educacional
civilizador, a diversidade cultural presente em uma
sala de aula, a intolerância, a discriminação, entre
outros fatores que podem influenciar a formação
humana de forma positiva ou negativa. Algumas
cenas retratam situações de conflito, permitindo a
reflexão sobre a temática. Vale a pena assistir e
refletir! Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=YD7CFS0mLaY
Conclusão da aula 1
20
Atividade de Aprendizagem
Foucault (1999, p. 234) nos diz que “para compreender o que
são relações de poder, talvez devêssemos investigar as formas
de resistência e as tentativas de dissociar essas relações”. Ou
seja, em toda relação de poder haverá resistência. A resistência
apresenta-se como parte da relação de poder estabelecida,
configurando-se como o descontentamento que anuncia o
exercício da liberdade. É no descontentamento que residem os
mais variados tipos de conflitos.
Diante dessa afirmação, redija um texto que deverá ter no
mínimo 10 linhas e no máximo 15 linhas, descrevendo e
refletindo sobre os variados tipos de conflitos que ocorrem no
interior das nossas escolas, exemplificando-os.
Apresentação da aula 2
21
2.1 Conceituando disciplina e disciplinarização
Importante
Na escola, a disciplina consiste na conduta dos alunos no
ambiente escolar, sendo que esta deve estar em consonância
às normas estabelecidas pela própria instituição de ensino,
dispostas em um documento: o Regimento Escolar. Disciplina
pode também significar o conjunto de conteúdos, as matérias
que são ensinados para os alunos e se referem aos diferentes
campos do conhecimento humano.
22
A esse respeito, há um campo de saber, a História das Disciplinas
Escolares, cuja especificidade, segundo Chervel (1990), reside na investigação
dos ensinos da idade escolar, pois o seu elemento central é a história dos
conteúdos, ou seja, o campo da História das Disciplinas Escolares procura
enfatizar o porquê da escola ensinar o que ensina.
Nessa perspectiva há a relação de poder que determina o quê a escola
deve ensinar, uma vez que “permitem vislumbrar a configuração dos saberes
escolares no momento de sua proposição, os diferentes sujeitos envolvidos na
tarefa disciplinadora, os jogos de interesse e as relações de poder que se
estabeleceram nessa configuração” (MARTINS, 2003, p. 142). Diante disso,
podemos refletir que a escola, em variados aspectos, exerce seu poder
disciplinar, termo cunhado e explicitado por Foucault (2001), incluindo-se então
o saber que veicula, pois:
23
o próprio pensamento, por meio dos saberes que são “escolhidos” para serem
compartilhados.
24
a baixo, mas também até um certo ponto de baixo para cima e
lateralmente; essa rede 'sustenta' o conjunto e o perpassa de efeitos
de poder que se apoiam uns sobre os outros: fiscais perpetuamente
fiscalizados. O poder na vigilância hierarquizada das disciplinas não
se detém como uma coisa, não se transfere como uma propriedade;
funciona como uma máquina. E se é verdade que sua organização
piramidal lhe dá um 'chefe', é o aparelho inteiro que produz 'poder' e
distribui os indivíduos nesse campo permanente e contínuo
(FOUCAULT, 2001, p.158).
Para Refletir
Mas, como então proceder com os alunos de forma que
compreendam a importância da disciplina para apreensão dos
conhecimentos que lhes são transmitidos? Como tornar as salas
de aula um ambiente propício para aprendizagens, sem a
constante condição de estresse e mal estar provocada pela
desordem/desorganização e todas as consequentes situações que
se desenredam a partir disso? Como tornar a relação de poder
provida de autoridade e não de autoritarismo?
25
Importante
Se fizermos uma revisão profunda das nossas posturas e ações,
chegaremos à conclusão que falta efetivamente o “entendimento”
sobre o ser humano, suas capacidades, características,
personalidades. Desconhecemos e refutamos nossas emoções,
nossos sentimentos e a consequente frequência vibracional que estes
nos proporcionam. Temos ações e pensamentos fragmentados. Há
uma dualidade corpo/espírito na percepção que temos de nós
mesmos. Conhecemos apenas as “partes”, não temos desenvolvida
a capacidade de observar o “todo”, por assim ter sido o modelo de
verdades e conhecimentos aos quais fomos sendo submetidos.
Privilegiamos os aspectos da materialidade. Refutamos ou
silenciamos a espiritualidade. E isso se tornou nosso paradigma. É
preciso, pois, mudar nossos paradigmas.
26
Por quais razões afirmamos que a visão materialista promove tantas
incoerências? A partir do momento em que o corpo humano foi tido como
instrumento de contemplação, cuja perspectiva retoma os tempos da Grécia
Antiga, todo o direcionamento científico ocidental da modernidade foi sustentado
por essa ideia (GUIRAUD, 2020). Tal direcionamento trouxe a convicção e “o
grito cartesiano de “cogito, ergo sum” (penso, logo existo) e a dualidade corpo e
alma é posta” (PENHA; SILVA, 2009, p. 211).
Importante
Todo o aspecto sutil de nossa existência não é contemplado o quanto
deveria. O que isso representa? Conforme já mencionamos, os
aspectos das emoções e sentimentos, que são sutis, abstratos, são
relegados ao segundo plano. Valores, ética, respeito, integridade,
empatia, entre outros, não assumem o legítimo valor que
representam. Como então considerar importante as atitudes que têm
em seu centro tais valores?
27
subjetividade? Certamente as resistências, os conflitos, a indisciplina, a
violência. A esse respeito vamos refletir a seguir.
28
“problema comportamental” do aluno, contemplando os aspectos psicossociais
envolvidos neste fenômeno:
Importante
Para muitos profissionais, há equívocos na interpretação do que
venha a ser um comportamento indisciplinado. Segundo indica o
próprio Garcia (1999), há “incongruência entre os critérios e
expectativas assumidos pela escola” (p. 102), demonstrada nas
circunstâncias por meio a interação dos alunos com os conteúdos
explicados muitas vezes é tida como ato de indisciplina (há ainda
profissionais que não admitem serem questionados ou simplesmente
interrompidos), a alegria no modo de ser de alguns alunos,
evidenciada ao se expressarem, as brincadeiras próprias da idade,
entre outros comportamentos que não poderiam, de forma alguma,
serem entendidos como atos indisciplinados. Infelizmente muitos dos
profissionais da educação, com suas arcaicas visões, têm como
disciplina a apatia, o silêncio total, o aparente estado dos alunos
estarem sob seu controle, a ambiguidade entre disciplina e
disciplinarização, conforme já refletido.
29
Certas afirmações parecem óbvias, mas realmente não o são para quem
parece não fazer as distinções necessárias. Inúmeras vezes podemos ver que
se esperam determinadas atitudes e comportamentos sem se levar em conta a
faixa etária, interesses, capacidades cognitivas, entre outros. A própria
configuração das salas de aula e as metodologias empregadas pelos
professores não contemplam tais características. Se formos fazer uma análise
precisa, constataremos que a escola tem características que se adéquam a
adultos. Não são oportunas para crianças, nem para adolescentes. Aí reside
também uma causa a se considerar para a indisciplina: esta seria uma resposta
à jaula que muitas vezes os alunos estão expostos. Como cita Morais (1986),
30
Para Refletir
No período de cem anos aproximadamente, teria mudado tão
inversamente o comportamento das crianças e adolescentes? Ou
teriam mudado as relações entre pais e filhos, alunos e
professores? Será o reflexo da sociedade no interior de nossas
escolas por genuína reprodução? A civilização estaria se tornando
incivilizada? Qual a relação entre indisciplina e incivilidade?
31
aos direitos de cada um de ser respeitado como pessoa (GARCIA,
2006, p. 125-126).
E então nos remetemos mais uma vez à análise de uma possível causa
para posturas de insensibilidade e desrespeito. É urgente que se desenvolva a
percepção e o entendimento de “um mundo no qual significado e valor podem
ser reintroduzidos na ciência como aspectos da consciência além da matéria”
(GOSWAMI, 2018, p. 28).
Importante
Os estudos de Trevisol (2007) indicam que “a indisciplina escolar não
apresenta uma causa única, reflete uma combinação complexa de
causas” (2007, p. 12). A autora defende o ponto de vista em uma
perspectiva clássica, ou seja, atribui como causa a influência da
mídia, enquanto que Guiraud (2019) identifica tal influência como a
consequência da desfiguração das raízes espirituais, não no sentido
religioso, mas de acordo com a visão da ciência espiritualista. Um
efeito dominó: a causa para a desvalorização do “outro” e também de
si mesmo reside no conflito entre espírito e matéria; o efeito é
assinalado por “um tempo marcado por interesses diversificados,
fragilizado em valores, marcado por crises, violência, desigualdades,
32
corrupção em todos os níveis, desrespeitos generalizados. Uma
sociedade cujos valores éticos são capengas” (GUIRAUD, 2019, p.
21).
A escola acaba por produzir exatamente o que rejeita: situações que vão
gerar indisciplina, incivilidade, violência. Ao valorar objetividade em detrimento à
subjetividade, cai em uma armadilha que ela própria se encarrega de armar.
Entretanto, educar pressupõe apresentar possibilidades de que o educando
desenvolva capacidades, dentre as quais as de convivência. Assim, de acordo
com Rego (1996), o ato educativo implica também em oferecer parâmetros e
estabelecer limites. La Taille (1996, p. 9) assim analisa:
[...] crianças precisam sim aderir a regras e estas somente podem vir
de seus educadores, pais ou professores. Os ‘limites’ implicados por
estas regras não devem ser apenas interpretados no seu sentido
negativo: o que não poderia ser feito ou ultrapassado. Devem também
ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa, dá consciência
de posição ocupada dentro de algum espaço social, a família, a escola
e a sociedade como um todo (LA TAILE, 1996, p. 9).
33
Não são poucos os que dirigem seu olhar para a indisciplina como “uma
espécie de grande e último mal, e a qualidade das capacidades psicológicas da
criança, a causa das causas” (LAJONQUIÉRE, 1996, p. 26). Isso representa falta
de segurança no que o adulto entende sobre “limites”, assim como o que é
peculiar à personalidade infanto/juvenil, ou ainda sobre o que realmente deseja
com a imposição feita.
Para Aquino (1996, p. 48), “a indisciplina apresenta-se como sintoma de
relações descontínuas e conflitantes entre o espaço escolar e as outras
instituições sociais”. Entre as instituições sociais às quais o autor se refere está
a família. Quais são as visões de mundo desses espaços educativos, o que
ambos esperam para a educação do filho/aluno, se há coerência no
direcionamento dado, muitas vezes não é contemplado o quanto deveria. Assim,
para o ser que se encontra em formação compreender seus reais limites se torna
praticamente algo, de tão contraditório, impossível de discernir.
Além dessas questões que envolvem coerência, mesma linguagem e
postura, a escola certamente contribui com a indisciplina de seus alunos à
medida que, por alguns fatores, não busca a solução para determinados
problemas de seu cotidiano. Podemos citar, conforme Trevisol (2007) traz em
sua pesquisa cujo referencial aborda os pensamentos e reflexões de La Taille
(1996), Aquino (1996), Rego (1996) e Araújo (1996):
Vídeo
O professor Clément Mathieu assume a
missão de ensinar música a crianças de
um pensionato. Contrariando os métodos
rígidos utilizados para conter as crianças
indisciplinadas, o docente estrutura um
coral e modifica as relações existentes.
Talvez a principal contribuição do filme "A
voz do coração", do diretor Christophe
Barratier, seja o fato de ele nos conduzir a
um conceito simples e pouco explorado:
as aparências enganam e as pessoas
podem ser mais do que costumamos
julgar.
O filme não focaliza uma perspectiva pedagógica, nem um
método, mas o valor do ser humano. Fica a indicação do filme
caso tenham interesse em assistir!
Conclusão da aula 2
35
se a devida importância à espiritualidade e subjetividade. Afinal, é por meio da
completude das dimensões humanas que poderemos, enquanto ambiente
educativo, produzir e possibilitar a formação de sujeitos livres, emancipados,
imbuídos por ética, respeito e integridade.
Atividade de Aprendizagem
Na escola, enquanto a disciplina consiste na conduta dos
alunos no ambiente escolar, sendo que esta deve estar em
consonância às normas estabelecidas pela própria instituição
de ensino, dispostas em um documento: o Regimento Escolar,
podemos chamar de disciplinarização, o conjunto de ações
controladoras e intencionais.
Assim entendido, redija um texto que deverá ter no mínimo 10
linhas e no máximo 15 linhas, refletindo e apontando quais as
possibilidades de se promover disciplina na perspectiva de
ordem, regra, responsabilidade, autorresponsabilidade e
autodisciplina no sujeito que se desconhece e como efeito,
desconhece e desconsidera o “outro”.
Apresentação da aula 3
36
Entretanto, determinados conflitos podem ser originados em certos
contextos de indisciplina e/ou incivilidades. A partir do descaso com os fatos,
acarretando eventuais pendências, o encontro entre indisciplina, conflito e
violência poderá ser inevitável. Também, valerá compreender quando e se
determinados tipos de violência poderão ser matriz para comportamentos
indisciplinados e permeados por situações conflituosas.
Do que se trata e de que forma sobrevém o ato denominado de
transgressão, distinguindo-o dos demais, nos parece pertinente analisar. É,
então, o que nos propomos na sequência deste estudo.
Importante
Assim, pode se manifestar de diversas maneiras: em guerras,
torturas, conflitos étnico-religiosos, preconceito de todos os níveis,
violência contra a mulher, contra a criança, contra o idoso, violência
doméstica (física, psicológica, sexual, patrimonial, moral), violência
escolar (na escola, da escola e contra a escola), violência sexual,
violência urbana (contra pessoas, assassinatos, roubos, sequestros e
contra o patrimônio público, vandalismo contra bens públicos e de uso
coletivo, tais como a destruição da sinalização rodoviária, incêndios
criminosos de transportes públicos, destruição do sistema de
iluminação pública, de gramados e jardins etc.), entre outras, nas
quais a agressividade é usada de forma intencional e excessiva, para
ameaçar ou cometer algum ato que resulte em acidente, morte ou
trauma psicológico. Nesse último caso, a violência pode ser também
verbal, velada, simbólica.
37
os atos de violação dos direitos: civis (liberdade, privacidade, proteção
igualitária); sociais (saúde, educação, segurança, habitação); econômicos
(emprego e salário); culturais (manifestação da própria cultura) e políticos
(participação política e voto).
Conforme anteriormente sinalizamos, dada à complexidade do tema,
assim como ao limite espacial de nossa pesquisa, a exposição de forma breve
que fizemos intenciona vir a refletir com maior propriedade no que diz respeito à
sua ocorrência na escola. No entanto, vale citar que a violência doméstica
emerge como questão social importante mediante os efeitos que se propagam
também no interior das escolas, mostrando-se extremamente interligada a todas
as demais, ora como causa, ora como efeito, cujo fato é possível de ser
percebido:
38
Importante
De acordo com Carvalho et. al. (2019):
O ambiente escolar, historicamente, foi espaço de aplicação de
castigos corporais, uma prática educativa comum a que recorriam os
missionários/educadores desde os tempos coloniais. As ordens
religiosas oriundas da Europa que se estabeleciam no Brasil, em
especial, jesuítas e franciscanos, aplicavam os castigos físicos, da
mesma forma que aplicavam nas escolas que mantinham na
metrópole. O entendimento dos jesuítas era o de que não se poderia
conceber disciplina sem obediência. Nesse sentido e com
fundamento no cenário de dominação que se instituía, o controle e
disciplinamento da população escolar eram legítimos porque se
inspiravam em regulamentações e políticas educacionais,
exemplificadas na época pelo plano de estudos jesuítico e pela
própria prática cotidiana de controle da população colonizada
(CARVALHO et. al., 2019, p. 25).
39
A literatura apresenta controvérsias quanto ao que seja um ato
disciplinador violento por parte dos pais, podendo variar de uma
simples palmadinha no bumbum até o espancamento cruel,
embora existam ponderações científicas mais recentes no sentido de
que a violência deve se relacionar a qualquer ato disciplinador que
atinja o corpo de uma criança ou de um adolescente (LONGO, 2005,
p. 102) [grifos do autor].
Vídeo
Pro dia nascer feliz
40
crer, o quanto a própria escola produz e
reproduz os seus dilemas.
Disponível em: https://www.youtube.Com/watch?v=zKPIJG_rVzQ
41
Palmatória
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/797066834025140362/
Pesquise
A palmatória foi utilizada como ferramenta de punição física
em estudantes do mundo todo. No Brasil, seu emprego foi
introduzido pelos jesuítas, como forma de disciplinar os
indígenas. A técnica foi perpetuada pela escravidão africana.
Os senhores a utilizavam como um dos muitos castigos
aplicados aos negros desobedientes. No século XIX, quando
a educação dava seus primeiros passos em nosso país, a
palmatória migrou para a escola. A prática só começou a ser
repensada em 1970, com as campanhas pelo fim da violência
infantil, na década de 1970. Na década de 1980, foi
considerada crime.
Esse objeto ainda é utilizado em alguma parte do mundo?
42
Importante
Todas acontecem no interior da escola ou em seus arredores, se
relacionando tanto a problemas internos como externos do cotidiano
escolar, mas diferem no propósito. Furtos (dos mais variados),
roubos, pontapés, empurrões, xingamentos de toda espécie, bullying,
socos, perfurações corporais, presença de armas de fogo, gangues
que ameaçam de variadas formas, inclusive à vida, tráfico de drogas,
assassinatos, são os exemplos que podemos caracterizar como
violência na escola.
43
Importante
Como violência da escola, podemos considerar todo o tipo de prática
utilizada por meio da instituição escolar que venha a prejudicar
(intencional ou inconscientemente) quaisquer de seus membros: o
descaso e despreocupação com os fracassos escolares, o desdém
em relação à falta de interesse em permanecer na escola (do aluno
ou de algum profissional que ali exerça suas atividades laborais), o
conteúdo alheio aos interesses dos alunos ou do mercado de trabalho
e sociedade, os preconceitos (de diversas dimensões), a
desvalorização (tanto da instituição para com o aluno, como do aluno
para si mesmo).
44
do reconhecimento ou, em última instância, do sentimento” (p. 8). Para Bourdieu
e Eagleton (2007):
Importante
A partir da infinidade de pesquisas e estudos realizados sobre
todos os aspectos educacionais, psicológicos, de inclusão, de
formação de professores, de políticas educacionais, enfim, de
variados temas, não é admissível que ainda a organização que
a escola oferece seja a que vemos: filas de carteiras, horários
rigorosos, calendário uniforme, metodologias ultrapassadas,
45
currículo duro e inflexível (mesmo que a legislação considere
sua flexibilidade), exclusividade da objetividade e racionalidade,
desprezo às questões subjetivas, dentre outras características.
Entretanto, como consequência, a própria escola produz seus
maiores dilemas: a indisciplina e a violência (essa última não é
de produção exclusiva da escola, é claro). Uma violência
explícita e manifestada, uma violência simbólica e velada, ou de
ambas as formas. Nas reflexões sobre violência simbólica, mas
na concepção frankfurtiana, Bicalho e Paula (2009, p. 7)
concluem que “a manifestação de tal violência imputa ao sujeito
a necessidade de se enquadrar em preceitos que são alheios a
ele, por meio de um estereótipo que lhe é exigido”. É uma
violência que “deixa livre o corpo e investe diretamente sobre a
alma” (ADORNO, 2002, p. 26). Ou seja, [...] é próprio do
mecanismo de dominação impedir o conhecimento do
sofrimento que provoca” (ADORNO, 2001, p. 60). Orgulhoso de
fazer parte da maioria, o sujeito nega espontaneamente
qualquer raciocínio que venha a questionar o estabelecido e sua
vinculação a ele (ADORNO, 1989).
46
1.Comportamento agressivo e intencionalmente nocivo; 2.
Comportamento repetitivo (perseguição repetida); 3. Comportamento
que se estabelece em uma relação interpessoal assimétrica,
caracterizada por uma dominação (RISTUM, 2010, p. 96).
Vídeo
Bulliyng
Segue a lista de alguns filmes sobre essa temática, complexa e
delicada:
1. A Classe;
2. Carrie, A Estranha;
3. Evil, Raízes do Mal;
4. Ben X, A Fase Final;
5. Bullying, Provocações Sem Limites;
6. Cyberbully;
7. Meu Melhor Inimigo;
8. Quase um segredo.
48
educação, já houve o tempo em que a escola assegurava a transmissão de
conhecimentos e principalmente, dos valores fundantes da vida em sociedade
(ASSIS; MARRIEL, 2010).
Acreditamos que, como já refletido, o paradigma da ciência clássica
materialista, ao desconsiderar a espiritualidade, colaborou para que a natureza
moral da educação deixasse de ser atendida. Dessa forma, concordamos com
Goswami (2010) ao afirmar que:
49
Para Refletir
E o que dizer sobre moral e ética em um sistema social
constituído por uma visão de mundo que estimula
exclusivamente a materialidade?
50
Para tal, precisamos despertar o potencial criativo dormente em cada um
de nós. “Uma criatividade que pode ser conquistada por qualquer pessoa. Uma
transformação que afeta diretamente o modo como agimos, abrindo caminho
para ações que gerem benefícios a ser compartilhados por todos” (GOSWAMI,
2010, p. 9). Estaremos abordando na sequência desse estudo certas formas de
intervir na perspectiva de, a princípio, prevenir e também na premissa de
mediação e gestão de conflitos para um efetivo combate da indisciplina e
violência escolar.
Conclusão da aula 3
A partir de todas as reflexões feitas sobre esta aula, vale ponderar que,
antes de qualquer julgamento, é importante avaliar o contexto do
desenvolvimento cognitivo e emocional de cada aluno. A escola precisa ter
discernimento e controle de suas práticas, assim como das situações que se
apresentam. Muitos, então, são os aspectos que podem influenciar direta e
indiretamente o comportamento dos alunos: a realidade que a escola oferece; o
ambiente familiar; a forma como os alunos lidam com as emoções; o contexto
51
social em que estão inseridos. Assim, conhecer o aluno é prioritário, estando à
frente de qualquer outra função que a escola tenha.
A falta de medidas preventivas ou de conscientização em casos de
indisciplina, de conflitos e de violência, nas mais diversas manifestações, pode
nutrir sentimento de injustiça, abandono e insegurança por parte dos que são
prejudicados e/ou alvos dessas ações. Da mesma forma, os que praticam os
atos que perturbam a convivência e o bem-estar geral do ambiente podem mais
facilmente naturalizá-los e repeti-los, gerando um gatilho para a violência
generalizada e um círculo vicioso de indisciplina e hostilidade acaba se
constituindo no ambiente escolar. Portanto, enquanto instituição educativa é
imprescindível se posicionar diante das circunstâncias em que tais fenômenos
se fazem presentes.
Atividade de Aprendizagem
A violência da escola poderá ter características de violência
explícita, manifesta e revelada ou de violência simbólica. Para
Bourdieu (2003), a violência simbólica é uma manifestação
decorrente do poder simbólico. Esse tipo de violência é
“suave, insensível e invisível às suas próprias vítimas”
(BOURDIEU, 2003, p. 7).
Com base nessa reflexão, redija um texto que deverá ter no
mínimo 10 linhas e no máximo 15 linhas, analisando quais as
principais situações que ocorrem violência simbólica na
escola. Analise-as, identificando aquelas em que o professor
exerce o poder e a violência simbólica, as que os professores
e a escola se submetem a isso e as situações nas quais os
alunos vivenciam e que refletem violência da escola.
Apresentação da aula 4
52
disciplina/indisciplina, a violência e as transgressões, bem como suas causas e
motivos, interessa-nos nesse momento focar nossa atenção para a mediação e
gestão dos conflitos (princípios, etapas e implicações pedagógicas), buscando
identificar ações motivacionais e alternativas na premissa de desenvolver a
conscientização, a prevenção e o combate para as práticas de indisciplina e de
violência.
Entendemos que a compreensão de tais fenômenos é um passo inicial e
decisivo, desde que se assumam as devidas responsabilidades e a capacidade
de discernir o que cada um desses fenômenos representa de fato. Assim, todas
as reflexões que por ora se iniciam têm a intenção de apontar determinadas
direções, mas em hipótese alguma são indicativas de algum tipo de prescrição.
Importante
Concordamos com Chrispino (2007) quando assim define:
Chamaremos de mediação de conflito o procedimento no qual
os participantes, com a assistência de uma pessoa imparcial, o
mediador, colocam as questões em disputa com o objetivo de
desenvolver opções, considerar alternativas e chegar a um
acordo que seja mutuamente aceitável. A mediação pode
induzir a uma reorientação das relações sociais, a novas formas
de cooperação, de confiança e de solidariedade; formas mais
maduras, espontâneas e livres de resolver as diferenças
pessoais ou grupais. A mediação induz atitudes de tolerância,
responsabilidade e iniciativa individual que podem contribuir
para uma nova ordem social (CHRISPINO, 2007, p. 22-23).
53
Entretanto, para que haja a necessidade de uma mediação, há que
primeiramente se reconhecer a causa de seu propósito, ou seja, no caso do
objeto de nosso estudo, o conflito propriamente dito. Parece óbvia essa
afirmação. Mas ainda temos escolas que insistem em não aceitar que haja algum
tipo de desencontro de ideias ou qualquer outro motivo para que desavenças se
instalem, ou seja, não permitem o conflito e tentam, inutilmente afastá-lo de todas
as formas.
Importante
[...] o diálogo é permanente, objetivando ouvir as diferenças
para melhor decidirem; são aquelas em que o exercício da
explicitação do pensamento é incentivado, objetivando o
aprendizado da exposição madura das ideias por meio da
assertividade e da comunicação eficaz; em que o currículo
considera as oportunidades para discutir soluções
alternativas para os diversos exemplos de conflito no campo
das ideias, das ideologias, do poder, da posse, das diferenças
de toda ordem; em que as regras e aquilo que é exigido do aluno
[e de todos que ali frequentam] nunca estão no campo do
subjetivo ou do entendimento tácito: estão explícitos, falados e
discutidos. Em síntese, devemos ser explícitos naquilo que
54
esperamos dos estudantes e naquilo que nos propomos a
fazer (CHRISPINO, 2007, p. 23) [grifos nossos].
55
Diante disso, a escola não pode se eximir dessa função, nem atribuir a
outrem a responsabilidade, como às vezes o faz. Não cabe a política do avestruz,
escondendo a cabeça e fechando os olhos para o que também é sua atribuição.
É certo que não compete à escola as situações além de seus muros, no
entanto, tudo o que envolve pedagogia é inerente à escola. E o trabalho
educativo é o cerne das questões pedagógicas. Assim, para que o conflito
escolar não se torne violência, não é recomendada a negação de sua existência,
como já refletido (CHRISPINO, 2007). Sabemos por experiência que, na prática,
mediar é uma ação delicada e muitas vezes nos parece impossível realizar.
Porém, o trabalho educativo deve começar antes de qualquer outra
manifestação mais acalorada, mais acirrada, ou seja, quando do plano das ideias
parte-se para a discussão, para a briga, para a chuva de ofensas ou algo mais
tumultuado, já iniciando assim o processo de uma prática de violência na escola.
Geralmente a escola foge do conflito, ou o ignora convenientemente, ou
ainda incita-o por meio de suas próprias práticas (inclusive de negação). É esse
termômetro que precisa ser acionado, por todos e não somente pela equipe
gestora e/ou pedagógica.
Importante
É possível, também pensar na introdução do tema mediação
de conflito no currículo escolar, o que seria uma oportunidade
para verbalizar a questão e tornar claro o que se espera dele, o
jovem, no conjunto de comportamentos sociais. De outra forma,
é dizer ao jovem e à criança que suas diferenças podem
transformar-se em antagonismos e que, se estes não forem
entendidos, evoluem para o conflito, que deságua na violência.
Cabe ressaltar que esse aprendizado e essa percepção social,
quando ocorrem com o estudante, são para sempre.
(CHRISPINO, 2007, p. 23) [grifos nossos].
56
certamente auxiliariam no enfrentamento de conflitos e na prevenção de
indisciplina ou violência? Para que se deem espaços para tais práticas, mais
uma vez podemos afirmar: é preciso haver mudanças de paradigmas. Estaremos
abordando especificamente nosso ponto de vista a esse respeito no tópico posto
na sequência das atuais reflexões.
Segundo Sales (2010), na maioria dos casos o conflito sequer se inicia
nas pessoas, mas nas condições objetivas que a sociedade oferece para que
elas vivam ou sobrevivam. Já trouxemos algumas vezes a perspectiva do
materialismo fortemente presente na sociedade, que traz de antemão o conflito
entre matéria/espírito. Para Lima (2010), há urgência no entendimento:
[...] que o conflito real não é aquele que muitas vezes aparenta.
Impõem-se, então, mais do que tardia a necessidade de se propor uma
formação pedagógica que permita ao facilitador do diálogo ou dirimidor
do conflito uma visão interdisciplinar, baseado não apenas em uma
cultura jurídica, mas em uma cultura humana. Daí que a discussão
sobre o papel do ensino ganha nova conotação, devendo ser
transformador (LIMA, 2010, p. 31) [grifos nossos].
57
solução. “Ambos dão ênfase ao momento anterior ao processo de mediação
propriamente dito, a pré-mediação” (SALES; DAMASCENO, 2014, p. 149).
Entretanto, segundo Paes de Carvalho (2009), não há uma forma
específica para o processo de mediação. Sales e Damasceno (2014) indicam a
pré-mediação, a partir de suas pesquisas sobre o tema. Essa pré-mediação
consiste em um momento em particular com cada um dos envolvidos,
objetivando a apresentação do mediador, o devido esclarecimento dos princípios
que devem ser seguidos (sigilo, boa-fé, imparcialidade entre outros), assim como
o estabelecimento dos critérios para a manutenção do respeito mútuo, de forma
a garantir o bom andamento do processo.
“É um momento importante para o nascimento da confiança no processo
e para a posterior transferência dessa confiança para o mediador” (BRAGA
NETO, 2007, p. 45). Desta forma, “a pré-mediação e a mediação devem servir
para a mudança de posição frente ao conflito e frente ao outro, possibilitando, na
primeira sessão de mediação, um diálogo pacífico” (LIMA, 2010, p. 35). Para
Vezzulla (2001) a mediação pode ser dividida em 7 fases: pré-mediação e outras
6 etapas.
Importante
A primeira etapa representa a fase em que o mediador se apresenta
e deve explicar como funciona o processo da mediação, assim como
os princípios que o regem, tais como imparcialidade do mediador,
confidencialidade de tudo que for discutido, poder de decisão dos
mediados, responsabilidade das partes pela decisão, igualdade de
tratamento, formas de pagamento, caso seja mediação privada,
enfim, todas as dúvidas relacionadas a esse procedimento devem ser
explicadas nesta primeira fase. Nesta sequência, a segunda etapa é
o momento em que as partes podem falar sobre o conflito em questão,
cabendo a elas, inclusive, a escolha de quem deve começar a falar.
Neste momento o mediador deve ouvi-las com atenção, em igualdade
de tempo e tratamento. Deve guiar o processo harmoniosamente,
facilitando o diálogo entre eles, mas sem opinar e nem sugerir
soluções. Na terceira etapa, após perguntar se as partes desejam
acrescentar mais alguma coisa, o mediador deve ser mais cauteloso
ainda, pois deve fazer um resumo de tudo que foi dito, permitindo às
partes que interfiram caso percebam algum engano do mediador.
Neste resumo deve conter as palavras dos mediados, porém deve dar
ênfase aos pontos de convergência e aos pontos positivos. Mais uma
vez o mediador deve deixar claro que o conflito é algo natural, inerente
aos seres humanos, momentâneo e que se bem administrado, pode
58
resultar em crescimento e em posterior momento de paz. Esta terceira
etapa é o momento em que o mediador organiza as ideias, verifica as
diferenças e as semelhanças para trabalhá-las. A quarta etapa é o
momento em que podem surgir agressões mútuas, descontrole
emocional entre os mediados, pois é neste momento que, após ouvir
o resumo do mediador, as partes iniciam um diálogo mais intenso,
com mais contradições, acusações, que nada contribuem para a
solução. Nesta fase o mediador deve ser prudente, sensato para
acalmar a possível desarmonia. Cabe ao mediador decidir se são
necessárias reuniões individuais (caucus) para o melhor andamento
do processo objetivando alcançar resultados satisfatórios para as
partes. A quinta etapa representa o início das conclusões, na qual o
mediador resume as questões que já foram abordadas e esclarecidas,
ajudando as partes a pensar com lógica em busca de soluções
satisfatórias e possíveis de serem cumpridas. A sexta e última etapa
corresponde à elaboração do acordo que deve ser consentido por
ambas as partes, escrito em linguagem clara, de fácil entendimento e
que contenha todas as condições e exigências que foram tratadas
pelo diálogo na reunião da mediação (SALES; DAMASCENO, 2014,
p. 149,150) [grifos das autoras].
Vocabulario
Caucus: é uma técnica que possibilita o mediador se reunir
com cada parte em separado, se elas autorizarem, para
verificar se estão à vontade para continuar o procedimento
ou confessar alguma nova informação. Vale ressaltar que
tudo que for dito neste momento é sigiloso.
59
aula; desenvolve o autoconhecimento e o pensamento crítico, uma vez que o
aluno é chamado a fazer parte da solução do conflito; consolida a boa
convivência entre diferentes e divergentes, permitindo o surgimento e o exercício
da tolerância; permite que a vivência da tolerância seja um patrimônio individual
que se manifestará em outros momentos da vida social. (CHRISPINO, 2007, p.
24). Nos estudos desse autor, há uma tabela que demonstra o resumo dos
estudos que documentam mediações e porcentagem de êxitos nos programas
de mediação postos em prática nos Estados Unidos (EUA), de acordo com
Kmitta (1999, p. 293). Entendemos ser muito pertinente compartilhá-la:
60
Importante
Para Porro (2004), há 7 bons motivos para realizar um programa
de mediação, tais como:
A capacitação em resolver conflitos valorizar o tempo; a
capacitação em resolver conflitos ensina várias estratégias
úteis; a capacitação em resolver conflitos ensina aos alunos
consideração e respeito para com os demais; a capacitação em
resolver conflitos reduz o estresse; traz a possibilidade de
aplicar as novas técnicas em casa, com familiares e amigos; a
capacitação em resolver conflitos pode contribuir para a
prevenção do uso do álcool e de drogas; traz a possibilidade de
sentir a satisfação de estar contribuindo com a paz do mundo.
61
desejo de toda a sociedade por uma justiça
efetiva e célere.
62
Vale destacar que não se deve pretender evitar os conflitos, mesmo
porque não nos é facultada a decisão pela ação alheia, ou seja, podemos
responder por ações próprias, o poder da autorresponsabilidade por nossos
próprios resultados e não pelo controle dos resultados dos demais. Dessa forma,
ver os conflitos e deles fazer uma oportunidade para “educação”, para
“desenvolvimento humano”, parece bem possível e a atitude certa a se tomar.
A mediação permite que isso aconteça. O que certamente podemos tentar
evitar, prevenir, não medindo esforços para isso, tem relação direta com a
indisciplina e com a violência. Mas conflitos são pertinentes ao plano das ideias,
à inteligência emocional de cada um. Mediá-los tem a intencionalidade das
partes não se perderem nas ações posteriores, mas sim, se reencontrarem na
capacidade de consenso.
Estudos sobre os impactos que a mediação escolar causa no contexto em
que é realizada, nos dizem que os benefícios para os alunos são francamente
maiores quando a mediação inclui não só crianças e jovens, como também os
pais, os educadores e todo o pessoal da escola e da comunidade, de maneira
geral (JONES; KMITTA, 2000; MORGADO; OLIVEIRA, 2009).
Importante
A mediação realizada pela escola deverá ser o mais abrangente
possível, ou seja, [...] deve ser utilizada em todos os âmbitos da
vida escolar e com todos os setores da comunidade educativa.
O projeto de implementação da mediação escolar exige, para
que seja compatível com a aprendizagem dos seus jovens, uma
intervenção organizacional ao nível dos conflitos existentes na
escola: relação professores/direção, relação
professores/professores, relação professores/alunos, relação
professores/pais; bem como, no contexto da sala de aula:
relação professores/alunos, relação dos alunos entre si e
relação professores/pais. Uma vez que todos os elementos da
comunidade educativa (direção da escola, docentes, pessoal
auxiliar e administrativo, estudantes e pais) podem intervir de
modo a serem ouvidos, em uma mudança de cultura e de
hábitos de resolução de conflitos [...] (MORGADO; OLIVEIRA,
2009, p. 50).
63
Assim, desmistificar o conflito como negativo é também uma prioridade. A
partir disso, a mediação será feita com naturalidade, sem tensões, pois busca
sempre o consenso de forma segura e inteligível. Na perspectiva de Alzate
(2005), deverá haver a inclusão simultânea das seguintes áreas:
64
dos serviços que já oferece e que são citados por Alzate (2005). Concordamos
com Morgado e Oliveira (2009), quando afirmam que:
Pesquise
De acordo com o Prof. Eduard Vinyamata, conflitologia é
um termo que foi primeiramente utilizado pelo renomado
pensador Johan Galtung, que há muitas décadas se dedica
a abordar o tema da paz, da não violência e da resolução de
conflitos. Um dos pontos essenciais da conflitologia é a
interdisciplinaridade.
Pesquise e se aprofunde nessa ciência do conflito.
65
intermédio do que e da forma como o paradigma materialista é oferecido pelo
currículo, a escola produz e reproduz a vida em sociedade). Dessa forma,
estaremos elencando possíveis ações que motivam e previnem, combatendo
tanto indisciplina quanto a violência nos variados aspectos, na escola, da escola
e contra a escola.
A mediação dos conflitos escolares é uma dessas ações (embora não a
única), uma vez que para que aconteçam, mudanças nos paradigmas
certamente já devem ter se iniciado (incluindo-se a maneira de compreender
conflitos). Sobre isso, fazemos nossas as palavras de Almeida (2010),
66
Vocabulario
Chakras ou chacras: são centros de energia, representando
os diferentes aspectos da natureza sutil do ser humano (do
corpo físico, emocional, mental e energético). Segundo a
cultura hindu, yogue e estudos do ocultismo, teosofia e
conscienciologia, são centros de absorção, exteriozação e
administração de energias no duplo etérico. Os Chakras são
estudos por diversas religiões, escolas espirituais e
pesquisadores da área da ciência espiritualista.
Mindfulness: é uma meditação, estado mental de controle
sobre a capacidade de se concentrar nas experiências,
atividades e sensações do presente.
Pesquise
Segundo explica Stephen Little, físico, budista e diretor de
aprendizagem da The School of Life, no Brasil, a meditação
mindfulness “não é desligar a mente, desativar o
pensamento, nem controlar a mente, mas, sim, a capacidade
de ficar no momento presente”. Pesquise mais sobre essa
prática.
67
programadas. Há um projeto posto em prática com essa técnica em escolas de
São Paulo, iniciado nesse ano de 2020, ou seja, bem recente.
Vídeo
Barra de Access Consciousness®
Conheça sobre essa ferramenta que
certamente auxiliará muito como prevenção às
situações de indisciplina e violência. Disponível
em:https://www.youtube.com/watch?v=kfpAsg
Wluis
68
Conclusão da aula 4
Atividade de Aprendizagem
O trabalho educativo deve começar antes de qualquer outra
manifestação mais acalorada, mais acirrada, ou seja, quando
do plano das ideias parte-se para a discussão, para a briga,
para a chuva de ofensas ou algo mais tumultuado, já iniciando
assim o processo de uma prática de violência na escola.
Geralmente a escola foge do conflito, ou o ignora
convenientemente, ou ainda incita-lo por meio de suas
próprias práticas (inclusive de negação). É esse termômetro
que precisa ser acionado, por todos e não somente pela
equipe gestora e/ou pedagógica.
69
Conclusão da disciplina
70
discorrer de forma breve no que concerne às raízes mais profundas do tema,
buscando refletir com maior domínio no que refere à sua ocorrência no contexto
escolar. A partir deste material, você pôde entender que o fenômeno da
indisciplina não necessariamente ocorre em casos de discordância ou violência,
este material traz como analise que determinados conflitos podem ser originados
em certos contextos de indisciplina e/ou incivilidades.
Neste material, pôde-se observar que a partir do descaso com os fatos,
acarretando eventuais pendências, o encontro entre indisciplina, conflito e
violência poderá ser inevitável. Diante disso, as informações aqui trazem como
compreensão determinados tipos de violência que podem ser matrizes para
comportamentos indisciplinados e infiltrados por situações conflituosas. Vale
relembrar que o ambiente escolar precisa ter discernimento e controle de suas
práticas, assim como das situações que se apresentam, conhecer o estudante é
prioritário, estando à frente de qualquer outra função que a escola tenha.
A falta de precauções em casos de indisciplina, de conflitos e de violência,
nas mais diversas manifestações, pode prover sentimento de injustiça,
abandono e insegurança por parte dos que são prejudicados e/ou alvos dessas
ações. Da mesma forma, os que praticam os atos que perturbam a convivência
e o bem-estar geral do ambiente podem mais facilmente naturalizá-los e repeti-
los, gerando um começo para a violência generalizada e um círculo vicioso de
indisciplina e hostilidade que muitas vezes pode acabar formando no ambiente
escolar. Portanto, a instituição de ensino escolar é imprescindível se posicionar
diante das situações em que tais fenômenos se fazem presentes.
Pode-se concluir que a mediação e gestão dos conflitos: princípios,
etapas e implicações pedagógicas, a partir dessas questões se identifica quais
as ações motivacionais e alternativas possíveis que venham ao encontro de
desenvolver a conscientização, a prevenção e o combate para as práticas de
indisciplina e de violência.
Concluiu-se que o novo paradigma que começa finalmente a ganhar
espaço na sociedade remete à ética das virtudes, como a que foi recomendada
por Aristóteles, ao requerer das pessoas que, pautadas pela boa-fé e pela
consideração com o outro, construam, a cada momento da convivência, não
somente em situações de impasse, mas em soluções fundadas no respeito ao
71
outro e no benefício mútuo. Relembrando, como visto neste material, tal
paradigma também remete à interpretação de mundo quântica cuja fonte de
conhecimento dos arquétipos, traduzida em sentimentos nobres como amor,
beleza, verdade, bem (bondade), justiça, inteireza (plenitude), poder,
abundância e self, remonta a Platão.
Podemos encerrar reafirmando que as posturas analisadas sobre a
mediação de conflitos e o combate efetivo à indisciplina e violência escolar é um
convite pautado no respeito ao outro a partir da avaliação interna e pessoal de
cada sujeito e não a partir de leis externas estabelecidas pela sociedade, mas
sim de leis do universo, leis da existência. E a escola precisa, definitivamente,
abrir-se para o novo que se anuncia.
72
Índice Remissivo
A indisciplina no contexto escolar.................................................................. 28
(Aspectos psicossociais; desenvolvimento cognitivo; incongruência)
Conceituando poder....................................................................................... 07
(Função social; múltiplas; organização escolar)
Mediando os conflitos..................................................................................... 52
(As transgressões; implicações pedagógicas; intraescolares)
Organizacionais................................................................................... 18
(Pedagógicos; raciais e identidades; setoriais)
73
Referências
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Tradução Mauro W. Barbosa. São Paulo:
Perspectiva, 2016.
ASSIS, Simone Gonçalves de; MARRIEL, Nelson de Souza Motta. Reflexões sobre
violência e suas manifestações na escola. In: ASSIS, et. al. Impactos da violência na
escola: um diálogo com professores. Rio de Janeiro: Ministério da Educação / Editora
FIOCRUZ, p. 41, 61, 2010.
BICALHO, Renata de Almeida; PAULA, Ana Paula Paes de. Violência simbólica: uma
leitura a partir da teoria crítica frankfurtiana. In: Anais do EnGPR 2009 - II Encontro de
Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho, Curitiba, 15 a 17 de novembro de 2009.
74
BOURDIEU, Pierre. Poder simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil LTDA,
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