PRODUTO RepresentaçãoGráficaEstudo
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CDU: 51:37.011.3
Catalogação: [email protected]
CDU: 669.162.16
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 4
2 APORTES E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................... 8
2.1 Características do pensamento matemático avançado………………………........8
2.2 Interacionismo simbólico........................................................................................... 18
2.3 Interações em sala de aula e pensamento matemático avançado........................... 23
3 DESCRIÇÃO DA REALIZAÇÃO DE TRÊS ATIVIDADES
COMPLEMENTARES.............................................................................................. 25
4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM O GEOGEBRA PARA
POTENCIALIZAR O ESTUDO DE FUNÇÕES E SUAS DERIVADAS............ 49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 58
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 60
Prezado colega,
1 INTRODUÇÃO
Frota (2006, p. 2) aponta que “a sala de aula de Cálculo tem sido afetada por fatores
decorrentes, em parte, de um ensino universitário de massa: excessivo número de alunos,
grande parte deles desmotivada, ou apresentando lacunas na formação matemática básica”.
Entendemos que o papel do professor de Cálculo vai além da simples transmissão de
conhecimentos: ele deve priorizar o desenvolvimento do raciocínio e a articulação de
conteúdos, além de conhecer as estratégias de aprendizagem de seus alunos, bem como suas
habilidades em abstrair a partir de situações matemáticas. É de responsabilidade do professor
fornecer contextos e ambientes de aprendizagem para que o estudante desenvolva a
capacidade de conjecturar, questionar, estabelecer relações e investigar, bem como a
habilidade de realizar abstrações a partir de situações matemáticas, e isso também é alvo de
pesquisas. Nessa perspectiva, Dreyfus corrobora essa ideia:
5
1
“If a student develops the ability to consciously make abstractions from mathematical situations, he has
achieved an advanced level of mathematical thinking. Achieving this capability to abstract may well be the
single most important goal of advanced mathematical education.”
6
Tomando como referência o trabalho de Tall e Vinner (1981), Meyer (2003) considera
que a definição conceitual pode constituir-se também numa “reconstrução pessoal da
definição de um conceito, sem que tenha necessariamente significados coincidentes. Nesse
caso, a definição conceitual é considerada como a forma verbal utilizada pelo estudante para
especificar sua imagem conceitual (evocada)” (MEYER, 2003, p. 6 apud ABREU, 2011, p.
57).
Conforme afirma Vinner (1991, p. 6), “adquirir um conceito significa formar uma
imagem conceitual para ele. [...] Entender, como acreditamos, significa ter uma imagem
conceitual. Certos significados devem ser associados com as palavras”. Vinner desenvolveu
um modelo que está baseado na existência de duas células (não relacionadas com o conceito
biológico): uma para a imagem conceitual e a outra para a definição conceitual. Qualquer uma
dessas células pode estar vazia quando não se associa significado algum ao conceito. Ainda
que cada célula possa constituir-se de maneira independente, o referido modelo sugere que
haja interações entre elas. A exemplificação desse modelo será apresentada à continuação
segundo o trabalho de Vinner (1991).
Inicialmente, o autor considera o processo pelo qual se introduz um conceito por meio
de uma definição. Nesse caso, a célula da imagem conceitual inicialmente vazia é
gradualmente desenvolvida a partir dos exemplos e explicações realizados pelo professor,
consultas em livros, discussões com colegas, pesquisas na internet etc.
Inicialmente, o autor considera o processo pelo qual se introduz um conceito por meio
de uma definição. Nesse caso, a célula da imagem conceitual inicialmente vazia é
gradualmente desenvolvida a partir dos exemplos e explicações realizados pelo professor,
consultas em livros, discussões com colegas, pesquisas na internet etc.
Quando um professor propõe aos alunos a resolução de exercícios do tipo: “Encontre
a reta tangente à curva y x 3 nos pontos onde x 0 e x 1 , e calcule a inclinação
(coeficiente angular m) da reta tangente à curva traçada nestes pontos”, o aluno pode
2
“The definition of a concept (if it has one) is quite a different matter. We shall regard the concept definition to
be a form of words used to specify that concept. It may be learnt by an individual in a rote fashion or more
meaningfully learnt and related to a greater or lesser degree to the concept as a whole. It may also be a personal
reconstruction by the student of a definition. It is then the form of words that the student uses for his own
explanation of his (evoked) concept image. Whether the concept definition is given to him or constructed by
himself, he may vary it from time to time. In this way a personal concept definition can differ from a formal
concept definition, the latter being a concept definition which is accepted by the mathematical community at
large.”
12
visualizar o gráfico da função e da reta tangente a essa curva traçada, e esse mesmo aluno
pode reagir de modo diferente ao conceito de reta tangente. Para a resolução do problema,
parte de sua memória é evocada e, nesse contexto, as representações visuais, impressões e
experiências ligadas a esse conceito são manifestadas: isto é sua imagem conceitual. Há um
intercâmbio entre as definições conceituais apresentadas pelo professor (função polinomial de
terceiro grau, reta tangente, coeficiente angular, e outros) e a imagem conceitual do aluno.
Vinner (1991) apresenta esse intercâmbio na Figura 1.
Definição Imagem
Conceitual Conceitual
Vinner (1991) considera que o esquema representado pela Figura 1 refere-se aos
processos de formação de conceito a serem desenvolvidos em longo prazo, conforme ilustrado
pela Figura 2.
Figura 2 – O desenvolvimento cognitivo do conceito formal
Definição Imagem
Conceitual Conceitual
Fonte: VINNER, 1991, p. 10.
Resposta
Informação
Resposta
Informação
Resposta
Informação
Nos processos ilustrados pelas Figuras 3-5, Vinner (1991, p. 11) considera que “não
importa como seu sistema de associação reaja quando um problema lhe é colocado em um
contexto técnico, não se espera que você formule sua solução antes de consultar a definição
conceitual. Isso é, naturalmente, o processo desejável”. Entretanto, o autor reconhece que isso
não corresponde ao que o estudante realiza na prática. Assim, propõe o seguinte modelo
(Figura 6) para a prática:
14
Informação
Fonte: VINNER, 1991, p. 11.
Vinner (1991, p. 12) esclarece que, no que se refere à ilustração realizada por meio da
Figura 6,
Resposta
Definição Conceitual
Imagem Conceitual
Formal Pessoal
Informação
aqueles que aplicam e eliminando aqueles que não aplicam 3. Usando a palavra para nomear
uma variedade de animais, os significados como quatro patas, rabo etc., ou seja, sua imagem
conceitual a respeito do que é um cachorro caracteriza para a criança esse animal. Em outras
palavras, o uso do termo cachorro em uma variedade de situações contribui à significação
desse conceito. Isto é, os significados em relação ao conceito são extraídos do seu uso.
Em termos de definições matemáticas, considere a definição conceitual pessoal de um
aluno (conforme transcrição desta pesquisa) para a função exponencial: uma função que “tem
uma base e a variável está no expoente”. Com base nesse entendimento, o estudante afirma
1
coerentemente que a função f ( x) 3 é uma função exponencial. A definição pessoal do
x
3
Esse exemplo da significação do conceito de cachorro é de Dewey (1959), que aponta que conceitos no seu uso
se tornam mais definidos.
18
discussão específica e é utilizada para servir a um propósito. A definição estipulada faz surgir
os usos de conceitos, ao passo que a extraída surge dos usos e conceitos.
As premissas apresentadas por Blumer nos mostram que a maneira como as pessoas
interpretam os fatos e agem perante outros indivíduos ou coisas depende dos significados que
elas atribuem às coisas, ou seja, em vez de somente reagir às ações um do outro, as pessoas
interagem umas com as outras por meio de interpretação mútua das ações. De forma
interativa, as pessoas interpretam o mundo que os cercam, e essa interação social é contínua e
mediada pelo uso de símbolos e significados. Para Blumer (1980, p. 121), “o significado é
produzido a partir do processo de interação humana”, ou seja, é resultado dos processos de
interação, provenientes ou provocados pela interação social, que podem sofrer mudanças ao
longo do tempo, pois, mediante um processo interpretativo desenvolvido pelo indivíduo ao se
relacionar com os objetos que o cercam, podem ser manipulados e modificados. Assim,
Blumer (1980, p. 121), afirma que “o interacionismo simbólico considera os significados
produtos sociais, criações elaboradas em e através das atividades humanas determinantes em
seu processo interativo”.
Na pesquisa que gerou esse produto, analisamos a imagem conceitual de alguns alunos
em relaçao ao conceito “Parábola”, quando apresentaram em grupo as conclusões de estudos
sobre funções polinomiais e suas derivadas. Esse grupo apresentou diversas representações
gráficas de funções polinomiais com o auxílio do Geogebra e afirmaram que a função de
quarto grau era uma parábola, devido sua forma. Nas discussões ocorridas durante a
apresentação e nas interações entre professores e colegas, os estudantes foram modificando
suas conclusões de acordo com os argumentos do grupo e dos colegas e professores. Baseados
na afirmação de Godino e Llinares (2000), de que o aspecto central da perspectiva
interacionista em relação ao significado é desenvolvido através da interpretação e interação.
Nos diálogos transcritos, percebemos que o significado que uma das alunas tinha em relação
ao conceito de parábola foi modificado durante a discussão em grupo, quando ela afirma: “Eu
achei que tudo era parábola”. Para Blumer, o ser humano conhece as coisas pelos seus
significados e esses são criados e modificados pela interação social. Nesse sentido, ele
considera que:
20
funções por meio de algumas fórmulas, ou seja, usam regras de derivação tipo:
d n
dx
x nx n 1
cf ' cf ' , fg ' f g ' f ' g ' , f g ' f ' g ' ,
'
d x
dx
e e x . A interpretação de cada símbolo dessas regras não deve ser considerada como
uma mera aplicação automática, mas sim como um processo formativo em que os significados
são utilizados para orientar e formar ações.
Para Blumer (1980), o objeto passa a ter significado para a pessoa quando há uma
interpretação consciente desse objeto, quando se reflete e se pensa sobre ele, quando se passa
por um processo de autointeração, quando seleciona, confere, reagrupa, suspende, quando
transforma os significados à luz da situação em que está colocado. O autor afirma:
sequência) também foi feita utilizando a malha quadriculada, sem o auxílio do software
GeoGebra, e teve como objetivo principal a construção do gráfico da derivada a partir do
gráfico da função, sem o conhecimento da forma algébrica da função.
fg ' fg ' f ' g , f g ' f ' g ' , f gf '2 fg ' , f g ' f ' g ' , e e x .
'
d x
g g dx
O professor seguiu a abordagem do livro-texto, mostrando que “o problema de
encontrar a reta tangente a uma curva e o problema de encontrar a velocidade de um objeto
envolvem determinar o mesmo tipo de limite” (STEWART, 2010, p. 130). As seguintes
definições de acordo com o mesmo autor também foram exploradas:
27
DEFINIÇÃO: A reta tangente a uma curva y = f(x) em um ponto P(a, f(a)) é a reta por
P, que tem a inclinação m lim f ( x) f (a) , desde que esse limite exista.
xa xa
Na Figura 8 desta seção, apresentamos o gráfico que pode ser obtido através do
processo de construção apresentado. O controle deslizante a corresponde ao ponto A (a, h(a)).
28
a equação da reta tangente à curva h(t ) 4,9t 9,8t 14,7 , o ponto A, o ponto B e o valor
2
Conforme afirma Vinner (1991, p. 6), “adquirir um conceito significa formar uma
imagem conceitual para ele. Saber a definição conceitual de cor não garante o entendimento
do conceito. Entender, como acreditamos, significa ter uma imagem conceitual. Certos
significados devem ser associados com as palavras”. Segundo Vinner (1991), quando se vê ou
se ouve uma palavra associada a um conceito matemático, algo como o nome do conceito é
evocado na memória. Isso faz parte do que é denominado imagem conceitual. De acordo com
Tall e Vinner (1981), a imagem conceitual corresponde ao que está associado ao conceito na
mente do indivíduo e inclui todas as imagens mentais, processos e propriedades ligadas ao
mesmo. Assim, sugerimos que os alunos recorressem à animação do controle deslizante para
completar a Tabela 1, e respondessem aos questionamentos que se seguem. Aqui mostramos a
Tabela 1 já completada.
1.9. Use esses dados para completar a Tabela 1, que relaciona a altura (h) do mergulhador
com o tempo (t) nos instantes especificados.
1.10. No contexto do problema, o que o coeficiente angular m representa?
1.11. Qual o significado de m ser positivo? E negativo? Quando ele é nulo? Por quê?
30
1.12. Calcule a derivada de h(t) e verifique se as coordenadas dos pontos gerados pelo rastro
de B= (a,m) pertencem a essa função.
1.13. O que representa as coordenadas do ponto B?
1.14. Elabore e responda a uma pergunta no contexto dessa situação-problema.
Alguns resultados:
Essa atividade foi realizada em sala de aula com a utilização de lápis e papel
quadriculado para traçar uma reta tangente a um gráfico num dado ponto. Propomos a
função h(x), seria viável uma estratégia diferente da utilizada para construir f(x) e g(x), ou
seja, objetivava-se explorar com os alunos outras formas para a construção de gráficos de
funções na malha quadriculada. Apenas um deles, Marcelo, conseguiu realizar o esboço do
gráfico de h(x). Portanto, a maioria não respondeu, nessa aula, aos questionamentos referentes
ao domínio, imagem e intervalos de crescimento e decrescimento. Apresentamos, para efeito
de comparação, na Figura 10 o gráfico da função h(x) e sua derivada na folha quadriculada,
feito pelo aluno Marcelo, e na Figura 11 a construção da mesma função e sua derivada feita
pela pesquisadora no GeoGebra.
Fonte: A pesquisadora.
4 x 4 12 x3 16 x 4 x( x 1)( x 2) 2 .
Dos diálogos ocorridos nas interações entre alunos, destacamos o questionamento feito
pelo aluno Ivo, e a resposta do aluno Guto:
posterior comparação. Em segundo lugar, os alunos receberam outra folha com uma malha
quadriculada, na qual esboçaram novamente o gráfico da função que haviam elaborado na
primeira tarefa, mas, dessa vez, não registraram a forma algébrica da função e tiveram o
cuidado de não assinar a tarefa, ou seja, na folha constava apenas o esboço do gráfico de uma
função sem identificar quem o havia esboçado. Essa folha também foi recolhida, codificada
de acordo com o nome do aluno que estava na folha recolhida anteriormente. Essa codificação
foi necessária para que não fosse identificada, pelo colega, a autoria do gráfico.
4. Na malha quadriculada, você tem o esboço do gráfico de uma função que foi elaborado
por um de seus colegas.
Por fim, recolhemos todas as folhas, organizamo-las de acordo com o nome do aluno
que havia elaborado as funções, e as entregamos novamente para os alunos, de forma que
cada estudante tinha em mãos o que havia elaborado e o que o colega havia feito. Assim,
iniciou-se a discussão sobre as relações gráficas que havia entre uma função e sua derivada, e
cada aluno pôde comparar o que havia feito com o que fez o colega.
Alguns resultados:
segundo grau. Os diálogos que estão transcritos logo a seguir aconteceram durante a
realização da atividade, em sala de aula.
Após a ideia de Marcelo, todos os alunos começaram a procurar qual era a lei que
definia a função. Em alguns gráficos cujos pontos não estavam tão nítidos, os alunos ficaram
sem saber o que fazer, e depois começaram a testar possibilidades gráficas de funções escritas
algebricamente:
Mesmo sugerindo a construção do gráfico sem recorrer à lei que a definia, Guto
preferiu testar vários exemplos de funções até achar uma função que se parecesse com o
esboço que tinha. O aluno que recebeu o esboço da função trigonométrica descobriu que se
tratava da função seno e, assim, traçou a derivada, também recorrendo à regra algébrica. Após
a construção dos gráficos, permitimos aos alunos que comparassem o gráfico que haviam
feito, sem ter referência da lei da função com um gráfico elaborado a partir da lei da função.
Esse momento de interação entre eles foi muito importante devido ao elevado nível de
discussão a respeito dos resultados dos conceitos abordados. Durante a correção da atividade,
fomos aos poucos, como professores mediadores, conduzindo-os para a observação de
regularidades, e interagindo com toda a turma.
Consideramos de fundamental importância para a aprendizagem a interação entre
alunos e entre alunos e professores. Para o interacionismo simbólico, as pessoas interagem
39
umas com as outras por meio de interpretação mútua das ações, em vez de somente reagir às
ações uma do outra Suas respostas não são dadas diretamente às ações um do outro, mas
baseadas no significado que atribuem a tais ações. Assim, interação humana é mediada pelo
uso de símbolos e significados, através de interpretação, ou determinação do significado das
ações um do outro. (BLUMER, 1962). As perspectivas interacionistas enfatizam os processos
individuais e os sociais, e o desenvolvimento da compreensão pessoal dos indivíduos é
concebido por meio de sua participação. De acordo com Godino e Llinares (2000), o aspecto
central da perspectiva interacionista, em relação ao significado, é que esse é desenvolvido
através da interpretação e interação. A importância da participação do aluno José no momento
da discussão abriu espaço para a observação de regularidades e retomada de conceitos
abordados anteriormente. Notamos que o aluno Pedro, até então, acreditava não ser possível
esboçar a função derivada sem a forma algébrica da função que a definia.
Jonas afirmou que a função f(x)=2 seria representada por um ponto no plano
cartesiano, e Marcelo imediatamente esclarece que seria uma reta paralela ao eixo x. Para
Blumer, o ser humano conhece as coisas pelos seus significados, os quais são criados e
modificados pela interação social. Nesse sentido, ele considera que:
Os alunos não estabeleceram conexões para esboçar o gráfico da derivada sem a lei da
função, mas manifestaram importantes conclusões sobre os tipos de funções e suas derivadas.
40
Nota-se que o aluno José estabeleceu relações entre a representação gráfica das funções
polinomiais e suas derivadas. Podemos inferir que nesse momento esse aluno recorreu à
definição formal e pessoal como estratégia de resolução para o questionamento feito pela
pesquisadora. As interações ocorridas entre os integrantes do grupo e professores e os
argumentos utilizados nas discussões nos remetem às afirmações de Vinner (1991). O autor
desenvolveu um modelo baseado na existência de duas células: uma para a imagem conceitual
e a outra para a definição conceitual (ver figuras 1 a 6), e considera que são centrais para a
explicação do processo cognitivo de formação do conceito. Vinner (1991, p. 11) considera
que “não importa como seu sistema de associação reaja quando um problema lhe é colocado
em um contexto técnico, não se espera que você formule sua solução antes de consultar a
definição conceitual”. Isso é, naturalmente, o “processo desejável”, entretanto o autor
reconhece que isso não corresponde ao que o estudante realiza na prática. Para Tall e Vinner
(1981), a definição conceitual, geralmente utilizada para o desenvolvimento de conceitos
matemáticos no ensino universitário, compreende a definição conceitual formal e a definição
conceitual pessoal. De acordo com essa distinção, que consideramos relevante, elaboramos
um esquema, compreendido pela Figura 13, no qual destacamos os intercâmbios propostos no
modelo indicado por Vinner (1991), bem como explicitamos um intercâmbio entre a definição
conceitual formal e a pessoal dentro da célula definição conceitual de Vinner (1991, p. 11)
conforme evidenciado nos dados da pesquisa. Resssaltamos que os dados de nossa pesquisa
evidenciarm intercâmbios entre o uso da definição conceitual formal e pessoal.
Resposta
Definição Conceitual
Imagem Conceitual
Formal Pessoal
Informação
Esclarecemos que, no que se refere à ilustração realizada por meio da Figura 13,
compreendemos que é possível que a célula da definição conceitual, tanto pessoal quanto
41
formal, seja evocada durante o processo de resolução de um problema. Também pode haver
intercâmbio entre essas definições, bem como entre elas e a imagem conceitual. De acordo
com Tall e Vinner (1981), a definição conceitual pessoal é o entendimento verbal da definição
conceitual formal de uma pessoa. A resposta dada pelo indivíduo a uma situação-problema
pode partir da definição conceitual pessoal.
Destacamos que no início do diálogo, o aluno Pedro diz: “Acho que não tem jeito de
ser diferente”. A partir dos exemplos e argumentos realizados pelos professores e colegas, a
célula da imagem conceitual sobre a representação gráfica de função polinomial do aluno
Pedro pode ter sido ressignificada, pois no primeiro momento ele acreditava não ser possível
traçar o gráfico de uma função derivada sem a lei dessa função. De acordo com Vinner
(1991), muitos professores têm a expectativa de um processo de mão única para a formação
do conceito. Eles esperam que a imagem conceitual seja formada por meio da definição
conceitual formal e seja completamente controlada por esta.
Revisamos o conteúdo relacionado à diferença entre a representação de ponto no plano
cartesiano e da função constante. Um dos alunos, que não é repetente, falou sobre o ponto
máximo e mínimo, assunto abordado apenas pelos alunos repetentes na aula anterior, da
seguinte maneira:
O aluno está dizendo que, no intervalo onde f ’ era decrescente, a imagem de f era
negativa, e, onde era crescente, a imagem era positiva. Questionamos com toda a turma se o
que Caio estava falando podia ser generalizado. Como já havíamos explorado funções
polinomiais de terceiro grau, foi fácil perceber que essa conclusão não se aplica a todas as
funções. A continuação dessa aula ocorreu no laboratório de informática, e, neste momento,
os alunos tinham acesso às ferramentas do GeoGebra. Na figura 15, podemos apreciar o que
Caio estava visualizando.
43
símbolos. Por sua vez, as definições extraídas referem-se ao uso de conceitos em uma
variedade de contextos específicos.
Devido as dúvidas surgidas em relação a definição de função crescente e decrescente,
solicitamos aos alunos que fizessem a leitura, retirada do livro texto (STEWART, 2010, p.
11).
Definição de função crescente:
Questionamos quem era x1 , f x1 , x2 e f x2 , e para isso usamos novamente a tela do
SITUAÇÃO-PROBLEMA:
1.19. Qual a derivada de h(t) no instante em que o mergulhador atinge a água? Explique.
1.20. Que relação você pode estabelecer entre os conceitos abordados nesta atividade e o
conceito de derivada de uma função em um número a?
1.21. Apresente sua opinião sobre as possíveis contribuições desta atividade para a
compreensão dos conceitos estudados. As críticas e sugestões são bem-vindas.
Figura 16 – Gráfico da função h(t ) 4,9t 2 9,8t 14,7 ,construído de acordo com as
instruções da atividade 1 da sequência.
SITUAÇÃO-PROBLEMA:
1.12. Calcule a derivada de h(t) e verifique se as coordenadas dos pontos gerados pelo rastro
de B= (a,m) pertencem a essa função.
1.13. O que representa as coordenadas do ponto B?
1.14. Elabore e responda uma pergunta no contexto dessa situação-problema.
Figura 17 – Gráfico da função h(t ) 4,9t 2 9,8t 14,7 ,construído de acordo com as
instruções da atividade 1 da sequência.
f(x)=
f’(x)=
4. Na malha quadriculada a seguir, esboce novamente o gráfico da função f que você criou.
53
5. Na malha quadriculada, você tem o esboço do gráfico de uma função que foi elaborado por
um de seus colegas.
OBJETIVOS: Analisar gráfico de uma função derivada quando a função atinge um valor
máximo ou mínimo.
t’(x)=
f’(x)=
p’(x)=
r’(x)=
e’(x)=
l’(x)=
OBJETIVOS: Estabelecer relações entre uma função e sua derivada, através do gráfico de
vários tipos de funções, observando máximos, mínimos e números críticos.
Definições:
OBJETIVOS: Estabelecer relações entre uma função e sua derivada primeira e segunda,
através do gráfico de vários tipos de funções, observando concavidades e pontos de inflexão.
Definições:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
fundamentais para a compreensão das definições pelos estudantes. Assim, a compreensaõ das
definições sendo evidenciada a partir de um encadeamento de ideias compartilhadas por meio
das interações entre os sujeitos e não estreitamente por meio da interação indivíduo e objeto.
Consideramos que a interação é um processo social, e, apesar de que os alunos
individualmente vão ter diversas imagens conceituais, essas são produzidas socialmente e
podem ser modificadas pelo estudante durante as interações produzidas em um contexto
específico. Através das interações, os alunos foram estimulados a ressignificar seus
conhecimentos e a construirem novos saberes.
Todas essas considerações nos remetem à importância do papel mediador do professor
no ensino e aprendizagem de funções e suas derivadas. Isso possibilitou que estudantes, em
diversos momentos durante as aulas de Cálculo, refletissem sobre os conceitos abordados,
chegando à sua ressignificação. Nesse sentido, entendemos que os estudantes atribuíram
significados aos distintos termos e símbolos utilizados na definição conceitual formal de
conceitos relacionados a funções e suas derivadas, chegando à definição estipulada desses
conceitos, no sentido proposto por Edwards e Ward (2008).
Finalmente, consideramos que o educador matemático deve atuar como mediador do
conhecimento, de forma que os estudantes possam ser submetidos a um processo ativo de
aprendizagem, permeado pelas distintas interações que conduzam a uma aprendizagem
significativa dos conceitos de Cálculo. Corroboramos com Godino e Llinares (2000, p. 3), ao
considerarem que o professor deve criar condições suficientes para que os estudantes se
apropriem de certo conhecimento, e deve assegurar que o conhecimento anterior e as novas
condições criadas no contexto das aulas possibilitem oportunidades para os estudantes
apropriarem-se do conhecimento, cabendo aos estudantes uma atuação interativa e o
cumprimento das condições acordadas com o professor.
60
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