Ipadê
Ipadê
Ipadê
O Orixá Exú
2
Assentamento para cultuar os Orixás. CONSTRUÇÃO•TECNOLOGIA
colocação em seu devido lugar das peças de qualquer construção ou aparelho.
Nigéria para associar Exú ao diabo, com o intuito de converter/dominar os
indivíduos para o cristianismo e tornar o território domínio da civilização industrial
ocidental.
O Ritual do Ipadê
3
Comida feita de papa de milho branco enrolada na folha de bananeira apreciada por todos os
Orixás.
O candomblé é uma religião no qual o feminino é exaltado, pois foi fundado
como prática religiosa no Brasil por mulheres negras que foram escravizadas. No
Ipadê somente as mulheres podem dançar o ritual e têm o papel de conduzir o
ritual. O candomblé é uma religião hierárquica, no Ipadê dois cargos litúrgicos são
essenciais para o funcionamento dos ritual:
1. Iyamoro é o cargo destinado a uma mulher com o propósito de
conduzir o ritual do Ipadê.
2. Iyadagan é a mulher responsável por auxiliar a Iyamoro no ritual do
Ipadê.
Ao começar o ipadê, toda a comunidade do terreiro deve estar envolvida com
o ritual, mesmo os abians, que são aqueles que não foram iniciados liturgicamente
no Candomblé, mas participam do cotidiano do terreiro. É proibido conversar e se
deve mostrar o máximo respeito ao ritual. O ritual deve ser feito no salão principal
do terreiro, conhecido como barracão.
A comunidade do terreiro precisa estar vestimentas específicas para o ritual,
roupas brancas, homens e mulheres com as cabeças cobertas. As mulheres usam
Ojá (espécie de turbante) e os homens eketes (espécie de chapéu etnico).
São estendidas no chão esteiras feitas da palha da Taboa para os adeptos se
posicionarem. Os adeptos com menos de sete anos de iniciado no Candomblé,
conhecidos como Iaôs (Ìyàwó), se ajoelham em cima da esteira com os corpos
curvados, os punhos fechados e juntos apoiando-se o corpo nos antebraços. Os
Ebomis (Egbon-mi), adeptos que já concluíram os setes anos da iniciação, ficam em
posição curvada em cima da esteira, mas com um banco de apoio para descanso
dos antebraços. Os babalorixás, Iyalorixás, Ogans, Ekedis, ficam em cadeiras,
demonstrando que são parte da mais alta hierarquia daquela comunidade
tradicional. No centro do salão principal do terreiro (barracão) deve estar a Iyamoro
em pé e de costas para a Iyadagan que deve estar ajoelhada em um esteira
cuidando das oferendas. Como a cuia representa a cabeça de todos, durante a
dança é passada sobre a cabeça dos participantes e os participantes durante o
ritual devem estar levemente se balançando para demonstrarem que estão vivos e
não há transe de Orixás.
O Ogan (homem que toca o atabaque, também responsável pela imolação
animal e outros afazeres) que será responsável pelos cânticos do ritual e começa a
cerimônia jogando três punhados de água no chão e com o punho da mão
esquerda cerrado bate nos três punhados pedindo a Exú que a água acalme, limpe
o ambiente para começar o ritual.
No primeiro cântico invoca-se Exú, enquanto a Iyadagan de joelhos faz uma
mistura de água, farinha e dendê dentro da cuia. Após a mistura pronta, a Iyadagan
passa a cuia para a Iyamoro, mantendo-se sempre na mesma posição. A Iyamoro
começa dançando em volta da Iyadagan, vai para fora do barracão e despeja a
mistura em um pé de Akoko4. A Iyamoro volta dançando para dentro do barracão e
repete esse ato mais duas vezes.
No segundo e terceiro cântico, se homenageia Exú como o mensageiro de
Deus, como o protetor do culto e se louva todos os outros ancestrais. Repete-se a
mesma forma de preparo dentro da cuia, porém agora ao invés de água se usa na
mistura aguardente. Não será mais usada a cuia nas próximas partes dos rituais.
Do quarto ao sexto cântico são louvados os Esá (ancestrais da comunidade)
e os Babás-Eguns (ancestrais masculinos). Não é servido nenhuma oferenda,
pede-se que os Esá e Babás-Eguns aceitam as oferendas que foram dadas para
Exú e comunguem com ele. A Iyamoro e a Iyadagan permanecem nas posições
iniciais, porém a Iyamoro deve ficar levemente dançando, mexendo os ombros e os
braços, pois esta nunca pode parar de se movimentar durante o ritual.
No sétimo cântico é colocado uma quartinha de barro com aguardente do
lado de fora do terreiro pela Iyamoro, é hora de invocar os orixás pelos nomes e
títulos de cada um. Durante o oitavo até o décimo cânticos são invocadas as
Iyamis, a cada vez que o nome de uma Iyami é falado na cantiga é preciso fazer um
sinal de cruz com os dedos no chão, para mostrar às Iyamis que os praticantes
estão vivos e estão em uma interseção entre o mundo dos orixás e o mundo dos
seres humanos e não humanos.
Na fase final do ritual, a Iyadagan entrega à Iyamoro o acaçá que representa
o corpo de todos os humanos e é colocado no mesmo lugar que foram colocadas as
oferendas anteriores. Algum dos Ogans vão jogando um pouco de água no caminho
que a Iyamoro percorre para levar o acaçá e o qual deverá estar sempre próximo
ao corpo da Iyamoro. Assim que a Iyamoro vai voltando do pé de akoko que deixou
o acaçá, a Iyadagan vai recolhendo as esteiras e a cuia. Assim que a Iyamoro volta,
4
Akoko é uma planta da família bignoniaceae que no candomblé é considerada a planta da
prosperidade.
todos os adeptos se levantam e cantam pelo final do ritual e com a certeza que o
equilíbrio espiritual e físico será mantido para aquela comunidade.
5
As obrigações no Candomblé são processos rituais que marcam o ciclo temporal dos iniciados
perante a comunidade religiosa.
6
Cargo hierárquico dado somente a mulheres no Candomblé nação Ketu e tem por função zelar pelo
Orixá que está em transe.
7
Cargo hierárquico dado somente a homens para tocar os atabaques e administrar os cânticos,
imolações no Candomblé Nação Ketu.
repassado pela oralidade por outro sacerdote8 , conotando o que Barth (2000)
define como “tradição de conhecimento”. As ações do sacerdote durante qualquer
ritual do Candomblé têm por consequência efeito na comunidade religiosa.
São as interpretações das narrativas cosmológicas durante as danças e
rituais possuem o intuito de fortalecer os laços sociais, as normas e regras e o bem
estar da comunidade religiosa. A cosmogonia interfere nas escolhas dos materiais
ritualísticos, como no caso da cuia feita da planta conhecida popularmente como
cabaça usada pela Iyamoro que representa a cabeça de todos. A cabaça está
presente desde a narrativa da criação Iorubá, em muitos ritos a cabaça pode
representar o útero, ou seja, o órgão onde a vida é gerada. Para gerar vida uterina é
preciso estar vivo.
Nesse sentido Tim Ingold (2012), propõe que o mundo que habitamos não é
composto por objetos e sim por “coisas”. Ingold cita o pensamento do filósofo Martin
Heidegger:
O objeto coloca-se diante de nós como um fato consumado, oferecendo
para nossa inspeção suas superfícies externas e congeladas. Ele é definido
por sua própria contrastividade com relação à situação na qual ele se
encontra (Heidegger 1971, p. 167).
8
O conhecimento só pode ser repassado pelo sacerdote que passou pelo ritual de Odú Ejé, que é o
ritual feito após sete anos de iniciação.
Referências
BARTH, Fredrik. 2000. “O guru e o iniciador”. In: Fredrik Barth (org. Tomke Lask),
O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Contra Capa
Livraria.