TCC 2023
TCC 2023
TCC 2023
A ARTE DA TRADUÇÃO:
A tradução como um conceito de transcriação do capítulo XXXVIII do livro de Jó
no livro Bere’Shith
Vilhena – Rondônia
2024
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS
CAMPUS DE VILHENA - RONDÔNIA
A ARTE DA TRADUÇÃO:
A tradução como um conceito de transcriação do capítulo XXXVIII do livro de Jó
no livro Bere’Shith
Vilhena – Rondônia
2024
POLIANA DO CARMO DE OLIVEIRA
A ARTE DA TRADUÇÃO:
Vilhena – Rondônia
2024
POLIANA DO CARMO DE OLIVEIRA
A Arte da Tradução:
A tradução como um conceito de transcriação no capítulo XXXVIII do livro de Jó
no livro Bere’Shith
Profª. ___________________________
Chefe do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários
BANCA EXAMINADORA
Prof. ________________________
Ms. Josias Kippert
Orientador
Profª. _______________________
Dr. Ana Carolina Lopes
Membro
Prof. ________________________
Ms. Rômulo
Membro
Aos meus pais e aos amantes da literatura.
Agradecimentos especiais
Michel Foucalt
RESUMO (refazer)
1INTRODUÇÃO............................................................................................................. 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 43
BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................44
1 INTRODUÇÃO
É esse texto cheio de dificuldade, que Campos encara como “sedutor”, e “aberto
a recriação”. Onde não se traduz apenas o significado, mas, o “próprio signo”. Uma
tradução atenta para os aspectos sonoros e visual, em que há semelhança com a sua
denotação. Campos deixa claro sua intenção ao traduzir a poesia bíblica conforme
descreve em nota prévia do livro Bere’ shith. Vejamos:
Este capítulo visa realizar a análise da transcriação poética realizada por Haroldo
de Campos no capítulo 38 do livro de Jó. Portanto, faz-se necessário tecermos uma
síntese do livro, e em seguida, apresentar um quadro sinótico do capítulo 38, com a
transcriação do livro Bere’Shith e a tradução da Bíblia de Jerusalém, edição de 1973,
em língua portuguesa, diretamente dos originais. A presente análise, será pautada na
transcriação de Haroldo, sendo a tradução da Bíblia de Jerusalém uma base
fundamental para comparação dos textos.
O décimo oitavo livro da Bíblia, do antigo testamento, é o livro intitulado Jó. Sua
autoria é desconhecida, e mesmo existindo inúmeras especulações que os possíveis
autores seriam Moisés, Jó, ou até mesmo Eliú, não há nenhuma comprovação que
sustente tais argumentos. O livro tem como tema central a soberania de
Deus e o sofrimento humano. Construído por quarenta e dois capítulos,
o livro inicia com os primeiros dois capítulos em prosa narrativa,
prossegue com diálogo poético, e no seu desfecho retoma a prosa.
A fascinante história de Jó narra que, certa vez, havia na terra de Uz um
homem chamado Jó. Ele era íntegro, justo e temente a Deus. Jó tinha sete filhos e três
filhas, possuía muitos bens, e era o homem mais poderoso do oriente.
Certo dia, quando os anjos se reuniram na presença de Deus, satanás estava
entre eles. Na ocasião, Deus quis saber de onde ele estava vindo e se havia
observado seu servo Jó, pois não havia homem tão íntegro e correto como ele em toda
a terra. Então satanás incita a Deus, dizendo que é fácil ser justo, sendo abençoado.
Porém, se tirasse tudo dele, certamente esse seu servo fiel o amaldiçoaria.
Então Deus permitiu que satanás tirasse tudo que Jó possuía, porém não
tocasse nele. E, em uma sequência de tragédias, ele perde os filhos, as ovelhas os
bois, e os empregados. Ao ser comunicado dos fatos trágicos, rasgou o seu manto,
raspou a cabeça, ajoelhou-se e adorou ao Senhor.
Posto isto, Deus volta a perguntar a satanás, se ele tinha observado como seu
servo Jó havia permanecido fiel. Então satanás retruca, dizendo que Jó só havia
permanecido fiel porque estava com saúde. Então permitiu que ele lançasse uma
terrível doença sobre Jó, mas não tirasse a sua vida.
Diante tantos obstáculos, não faltaram vozes incitando-o a abandonar sua fé
perseverante em Deus. A esposa tenta convencê-lo que Deus não é merecedor da sua
fidelidade. Três amigos tentaram persuadi-lo de que a causa da sua tragédia era
consequência do seu próprio pecado. Jó se defende e afirma ser inocente. Porém,
diante de tudo isso, manifesta o desejo de nunca ter nascido e exige de Deus um
julgamento justo, que o responde, expondo a limitação humana em compreender a sua
grandeza, e os mistérios da criação.
Por fim, envergonhado, arrepende-se do que havia dito e por ter questionado a
justiça Divina, ora pelos seus amigos; Deus o abençoa e ele se torna mais próspero
que antes.
6. Sobre quê §
6. Onde se encaixam suas bases, Seus pilares se plantam §§§
ou quem assentou sua pedra angular, Ou quem lançou §§
Sua pedra angular
8. Quem fechou com portas o mar, 8. Quem fechou com portas o mar §§§
Quando irrompeu jorrando do seio Quando ele jorrando §§
materno; Rompeu das entranhas maternas
9. Quando lhe dei nuvens como 9. Quando lhe fiz uma veste de nuvens §§§
vestidos E de brumas foscas §§
E espessa névoa como cueiros; Faixas
10. Quando lhe impus os limites 10. Quando o reduzi a meus termos §§§
E lhe firmei porta e ferrolho, E lhe impus §§
Ferrolho e portas
11. e disse: “Até aqui chegarás e não 11. E disse §§
passarás: Até aqui virás §
Aqui se quebrará a soberba de tuas E não irás além §§§
vagas”? E aqui se deterá §§
Teu orgulhoso escarcéu
13. Para agarrar as bordas da terra 13. Para que ela apanhasse §
e sacudir dela os ímpios? A terra pelas fímbrias §§§
E sacudisse fora os malignos
15. Ele retira a luz aos ímpios 15. E se tolhe a luz dos malignos §§
E quebra o braço rebelde. E o braço sublevado §§
Se parte
20. Para que conduzas à sua terra 20. Para que o possas agarrar §
E lhes ensine o caminho para Junto à fronteira §§§
casa? E incar-lhe §§
O caminho de volta a seu retiro
25. Quem abriu um canal para o 25. Quem abriu à torrente um canal
aguaceiro §§§
E o caminho para o relâmpago e o E uma via §§
trovão, Ao trovão reboante
32. Podes fazer sair a seu tempo a 32. Fazes que os planetas surjam no seu
coroa, tempo §§§
Ou guiar a Ursa com seus filhos? E a Ursa Maio §§
Podes guiá-la com seus filhos?
34. Consegue elevar a voz até as 34. Elevas tua voz para as nuvens
nuvens, E um dilúvio de água te recobre?
e a massa das águas te obedece? §§§
39. És tu que caças a presa para a 39. Rastreias para a leoa a caça
leoa, §§§
Ou sacias a fome dos leõezinhos, E matas a fome aos filhotes de
leão
40. Quando se recolhem nos seus 40. Quando se escondem nos seus covis
covis, §§§
Ou se põem de emboscada nas Quando se emboscam nas moitas à
moitas? espreita?
41. Quem prepara ao corvo o seu 41. Quem prepara a ração do corvo
alimento, §§§
Quando gritam a Deus seus Quando seus filhotes gritam §
filhotes Ao poderoso §§§
E se levantam por falta de E a esmo se agitam
alimento? à míngua de alimento?
1. E O Nome respondeu a Jó §
Do meio da tormenta §§
E disse
2. Quem é esse §
Que escurece o desígnio com palavras §§
Não sábias?
Neste caso, observa-se que apesar das escolhas lexicais diferentes, o sentido
permaneceu igual em ambas as traduções. Apenas, o ritmo criado por Haroldo com as
pausas do sinal disjuntivo e a tipografia do texto se diferem. Porém, as pausas
enfatizam os versos à medida que a interrupção abrupta, funciona como um refletor
conduzindo a uma reflexão.
Nota-se na retórica resposta Divina, um desfiar dos seus feitos a cada verso,
demonstrando seu domínio sobre a criação. Um após o outro, os elementos cósmico
da criação são demonstrados, com perguntas que calam a Jó, e revelam a imponência
Divina.
No verso 22, Jó é impelido por Deus com os verbos (penetraste/avistaste), que
apesar de significados diferentes, expressam a mesma ideia, enfatizando a ação
retomada pelo paralelismo sinonímico dos versos.
Observe:
Bíblia de Jerusalém Bere’ shith
22. Entraste no depósito da neve? 22. Penetraste §
Visitaste o reservatório do Nos celeiros da neve §§§
granizo, E avistaste os silos do granizo
Esta grandeza literária é observada por Haroldo de Campos ao expor que seu
objetivo “era vivificar essa poesia primeva [...] altamente elaborada em nosso idioma,
abalando-o criativamente com a violência do seu sopro, evitando que esse alento
fundamental se perdesse ou se edulcorasse (Campos,2019, p.20)”. Graças a esse olhar
atento de poeta/tradutor, atualmente podemos apreciar a beleza da poesia bíblica
contida nos versos do livro de Jó, existente na língua hebraica e ignorada pelas
traduções convencionais, dessa grande literatura sapiencial.
É indiscutível que por ser considerado um texto sagrado, a Bíblia poucas vezes
tem sido utilizada como base literária no meio crítico e acadêmico. É como se a
transcrição da palavra Sagrado em bonitas letras douradas de sua capa preta, a
estigmatizasse do rol da literatura, servindo apenas para o sermão do domingo à noite
e enfeitar as estantes de nossas casas num ritual de proteção.
Porém, nesse caso rotular é perder.
BIBLIOGRAFIA
CORÔA, Maria Luiza Monteiro Sales. O tempo dos verbos no português. São Paulo:
Parábola editorial, 2005.
GIRALDI, L. A. História da Bíblia no Brasil. 2ª ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013
GOLIN, Luana Martins. A Bíblia como texto literário: uma leitura a partir de
Northrop Frye. In: RIBEIRO, Cláudio; FONSECA, Hugo (orgs). Teologias e Literaturas
2: aproximações entre religião, Teologia e Literatura. São Paulo: Fonte Editorial, 2013,
p. 49-68.
KONDER, Leandro. O que é dialética. 28. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 2008.
MILES, Jack. Deus. Uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, 497p.