TCC Exemplo1
TCC Exemplo1
TCC Exemplo1
FACULDADE DE DIREITO
Niterói
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Niterói
2017
1
Universidade Federal Fluminense
Superintendência de Documentação
Biblioteca da Faculdade de Direto
CDD 341.5
2
FOLHA DE APROVAÇÃO
Avaliação:
Banca examinadora:
______________________________________________
______________________________________________
______________________________________________
Niterói
2017
3
RESUMO
A psicopatia hoje pode ser vista como um tema desafiador tanto na esfera médica
quanto no âmbito jurídico. Uma das primeiras divergências encontra-se na definição
da psicopatia como um transtorno de personalidade ou doença mental. O presente
trabalho irá apresentar as principais características da personalidade psicopática
que estão presentes na Psychopath Checklist (Avaliação de Psicopatia), elaborada
pelo psicólogo Robert D. Hare. A partir da identificação do sujeito psicopata, o
objetivo consiste em analisar a culpabilidade desses indivíduos, levando, assim, a
partir de um juízo de responsabilidade, a sanção penal pertinente aos psicopatas
que praticam alguma infração penal e ao modo como ela dever ser aplicada.
4
ABSTRACT
Psychopathy today can be seen as a challenging issue in both the medical and legal
spheres. One of the first divergences lies in the definition of psychopathy as a
personality disorder or mental illness. The present work will present the main
characteristics of the psychopathic personality that are present in the Psychopath
Checklist, elaborated by the psychologist Robert D. Hare. From the identification of
the psychopathic subject, the objective is to analyze the guilt of these individuals,
thus taking, from a judgment of responsibility, the penal sanction pertinent to the
psychopaths that practice some criminal infraction and to the way in which it should
be applied
5
LISTA DE FIGURA
6
LISTA DE TABELA
7
LISTA DE ABREVIATURAS
CP – Código Penal
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................11
1. A PSICOPATIA.....................................................................................................13
1.1. Aspectos históricos.........................................................................................14
1.2. Conceito de psicopatia...................................................................................15
1.3. Características mais notórias da personalidade psicopata............................17
1.3.1. Emocional/interpessoal.........................................................................20
1.3.1.1. Eloquência e superficialidade....................................................20
1.3.1.2. Egocentrismo e grandiosidade...................................................20
1.3.1.3. Ausência de remorso.................................................................21
1.3.1.4. Falta de empatia........................................................................22
1.3.1.5. Mentira e manipulação...............................................................23
1.3.1.6. Emoções “rasas”........................................................................23
1.3.1.7. Ausência de “coração mental”...................................................25
1.3.2. Desvio social (estilo de vida)................................................................30
1.3.2.1. Impulsividade.............................................................................30
1.3.2.2. Insuficiente controle das emoções.............................................30
1.3.2.3. Necessidade de excitação.........................................................31
1.3.2.4. Responsabilidade zero...............................................................31
1.3.2.5. Problemas comportamentais precoces......................................32
1.3.2.6. Comportamento adulto antissocial e transgressor.....................33
2. CULPABILIDADE.................................................................................................34
2.1. Teoria normativa pura....................................................................................35
2.2. Elementos integralizantes da culpabilidade...................................................35
2.2.1. Imputabilidade.......................................................................................35
2.2.1.1. Inimputabilidade.........................................................................37
2.2.1.2. Semi-imputabilidade...................................................................38
2.2.2. Potencial consciência da ilicitude do fato.............................................39
2.2.3. Exigibilidade de conduta diversa..........................................................39
3. PSICOPATIA E IMPUTABILIDADE...................................................................40
9
3.1. A reincidência na psicopatia........................................................................42
3.2. Sanção penal adequada aos psicopatas.....................................................44
3.2.1. A ineficácia psicoterápica.....................................................................46
3.2.2 O projeto de lei necessário...................................................................47
4. CONCLUSÃO.......................................................................................................51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................53
10
INTRODUÇÃO
11
Além da padronização de um exame específico a respeito da psicopatia,
complementar ao já existente exame criminológico, outra proposta consiste na
separação dos presos comuns dos já identificados como psicopatas, para que estes
sagazes manipuladores não atrapalhem o cumprimento da pena dos demais,
incitando rebeliões, motins e execução de novos crimes dentro do sistema prisional.
12
1. A PSICOPATIA
1
Garcia, J. Alves. Psicopatologia forense: para médicos, advogados e estudantes de medicina e
direito. 3ª ed. refundida e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1979, p.224.
2
Trindade, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 4ª ed. rev. atual. e ampl.
Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010, p. 160.
3
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014,
p.20.
13
Esse transtorno de personalidade se apresenta em uma pequena fração da
população mundial e, mesmo assim, essa parcela mínima tem o poder de deixar um
enorme rastro de destruição.
4
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed, 2013,
p. 41.
5
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed,
2013.p. 43.
6
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed,
2013.p. 39.
14
Podemos dizer que esse transtorno de personalidade é fruto de uma
colaboração entre o código genético trazido pelo indivíduo, junto com um conjunto
de fatores do ambiente habitado por este7. Desse modo, a família e o contexto social
em que o psicopata vive, juntamente com predisposições biológicas (estas
relacionadas a características de áreas cerebrais específicas), é capaz de conduzir,
desde a infância, a dificuldades para se conviver de acordo com as normas sociais,
culminando em um comportamento altamente perigoso.
Outros dois termos também são utilizados por instituições distintas, tendo a
Associação Psiquiátrica Americana adotado o termo transtorno de personalidade
antissocial, enquanto a Organização Mundial de Saúde (CID-10) prefere o termo
transtorno de personalidade dissocial.
7
Garcia, J. Alves. Psicopatologia forense: para médicos, advogados e estudantes de medicina e
direito. 3ª ed. refundida e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 199.
8
Stout, Martha. Meu vizinho é um psicopata; tradução: Regina Lyra. Rio de Janeiro: Sextante, 2010,
p. 18.
15
literal, a palavra psicopatia - psique, “mente” e phatos, “doença” - significa “doença
mental”. Essa análise etimológica pode dar a entender que esses indivíduos são
loucos ou doentes mentais.
Uma das primeiras obras responsável por apresentar uma visão mais
detalhada da psicopatia foi o livro The Mask of Sanity (A máscara da sanidade), de
Hervey Cleckley publicado em 1941. A obra consiste em apresentar inúmeras
características clínicas da psicopatia, sistematizando e ampliando o conhecimento a
respeito desse transtorno.
9
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed, 2013,
p.43 (trecho do livro The Mask of sanity, Hervey Cleckley, p.90).
16
Conforme a Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial
da Saúde, a CID 10, os psicopatas devem ser considerados pessoas portadoras de
transtornos específicos da personalidade10.
10
Classificação de Transtornos mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e
Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organiz. Mund. da Saúde; trad. Dorgival Caetano. – Porto Alegre:
Artmed, 1993.
11
Trindade, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 6ª ed. rev. atual. e
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012. p. 174.
17
“No momento, parece haver um consenso de que o PCL-R é o mais
adequado instrumento, sob a forma de escala, para avaliar psicopatia e
identificar fatores de risco de violência, Com demonstrada confiabilidade,
tem sido adotado em diversos países como instrumento de eleição para a
pesquisa e para o estudo clínico da psicopatia, como escala de predição de
recidivismo, violência e intervenção terapêutica”.
No total, são vinte itens e fatores presentes na Escala de Hare que serão
pontuados em uma escala numérica de zero a três pontos. Compõem a PCL dois
fatores estruturais, sendo o Fator 1 relacionado aos traços afetivos e interpessoais e
o Fator 2 ligado aos aspectos comportamentais, além dos itens de muitas relações
sexuais de curta duração e a versatilidade criminal, conforme dispõe a tabela abaixo:
12
Morana, Hilda Clotilde Penteado. Identificação do ponto de corte para a escala PCL-R
(Psychopathy Checklist Revised) em população forense brasileira: caracterização de dois subtipos da
personalidade; transtorno global e parcial. Tese apresentada à Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003, p. 24.
18
Figura 1 Itens e fatores da Escala Hare. Fonte: Trindade, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito.
4ª ed. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. pág. 169.
20
acreditar ser o controlador das regras, o psicopata se torna incapaz de aprender, de
forma experimental, as normas da sociabilidade e do bom senso14.
14
Garcia, J. Alves. Psicopatologia forense: para médicos, advogados e estudantes de medicina e
direito. 3ª ed. refundida e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1979.p. 226.
15
Stout, Martha. Meu vizinho é um psicopata; tradução: Regina Lyra. Rio de Janeiro: Sextante, 2010,
p. 16.
16
Garcia, J. Alves. Psicopatologia forense: para médicos, advogados e estudantes de medicina e
direito. 3ª ed. refundida e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 204.
17
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed,
21
“Não importa o que fiz no passado”, disse Ted, “seja lá o que for, você sabe
- as emoções das omissões ou comissões -, isso não me incomoda. Tente
tocar o passado” Tente lidar com o passado. Ele não é real. É só um
sonho!”. Quanto à culpa, Bundy dizia ser um “mecanismo que se usa para
controlar as pessoas. É uma ilusão. É um tipo de mecanismo de controle
social, e é muito doentio. Isso faz o nosso corpo reagir de um modo horrível.
E há modos muito melhores de controlar nosso comportamento do que o
uso extraordinário da culpa”.
O psicopata vive livre das repressões interiores, sentindo-se livre para fazer o
que bem entender sem nenhum peso na consciência18.
Essa falta de avaliação de sentimentos alheios faz com que se torne possível
a prática de atos considerados horrendos com requintes de crueldade. Entretanto,
devemos ressaltar que são a minoria os psicopatas que cometem crimes pavorosos.
De uma forma geral, eles atuam como parasitas humanos com um objetivo bem
claro de consumir todos os bens materiais e a dignidade de suas vítimas.
2013.p. 56 (trecho retirado do livro Stephen G. Michaud and Hugh Aynesworth, 1989. Ted Bundy:
Conversations with a killer. New York: New American Library).
18
Stout, Martha. Meu vizinho é um psicopata; tradução: Regina Lyra. Rio de Janeiro: Sextante, 2010,
p. 16.
22
1.3.1.5. MENTIRA E MANIPULAÇÃO
A mentira está presente em nossas vidas como um ato instintivo. Todos nós
mentimos, de forma consciente ou não. Entretanto, essa mentira habitual é diferente
da mentira psicopática.
19
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014,
p.37.
20
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo,
2014.p.18.
23
Ao mesmo tempo que o lado cognitivo ou racional do psicopata encontra-se
em perfeito estado, fazendo com que ele saiba exatamente o que está fazendo, os
sentimentos destes indivíduos são falhos. A parte emocional é “absolutamente
deficitária, ausente de afeto e sem profundidade emocional”21.
Alguns médicos acreditam que as emoções dos psicopatas são tão “rasas”
que não passam de proto-emoções: respostas primitivas a necessidades
imediatas22.
21
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014.p.
20.
22
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed, 2013,
p. 67.
23
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed, 2013.
p. 68.
24
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014,
p. 81.
24
1.3.1.7. AUSÊNCIA DE “CORAÇÃO MENTAL”
25
Trindade, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 4ª ed. rev. atual. e
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010, p. 161.
25
emoções estão relacionados, assim como seus efeitos na vida das
pessoas.”
26
Trindade, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 4ª ed. rev. atual. e
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010.p. 162
27
Trindade, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 4ª ed. rev. atual. e
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010.p.163.
28
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014,
p. 173.
26
As emoções negativas são mais estudadas e compreendidas, sendo o medo
a mais conhecida de todas, surgindo no momento de uma ameaça e provocando
uma ação de fuga ou luta. Outro emoção importante é a raiva, podendo aparecer
como mecanismo de defesa ou meio de garantia de sobrevivência 29.
29
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo,
2014.p.177.
27
Figura 2 Regiões do cérebro envolvidas na tomada de decisões morais. Retirado do livro Mentes perigosas: o psicopata
mora ao lado. Ana Beatriz B. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014.
28
temporal, (...) funciona como um "botão de disparo" de todas as emoções. A
razão, por sua vez, envolve diversas operações mentais (...) entre elas
raciocínio, planejamentos, comportamentos sociais adequados. A principal
região envolvida nos processos racionais é o lobo pré-frontal (região da
testa): uma parte dele (córtex dorsolateral pré-frontal) está associada a
ações cotidianas do tipo utilitárias (...). A outra parte (córtex medial pré-
frontal) recebe maior influência do sistema límbico, definido de forma
30
significativa as ações tomadas nos campos pessoais e sociais" .
Mas é importante registrar que os psicopatas não possuem uma lesão nos
córtex pré-frontal e na amígdala. Eles sim apresentam um déficit na integração das
emoções com a razão e o comportamento, mas não necessariamente causado por
lesões nas regiões cerebrais específicas.
30
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014. P.
179.
31
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo,
2014.p.183.
32
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed,
2013.p. 180.
29
1.3.2. DESVIO SOCIAL (ESTILO DE VIDA)
1.3.2.1. IMPULSIVIDADE
“Pense duas vezes antes de agir”. Definitivamente essa frase não existe na
vida dos psicopatas, que decidem agir sem uma prévia avaliação das consequências
de seus atos. Eles não costumam pensar ou se preocupar com o futuro fazendo
planos a longo prazo, mas sim viver cada dia para obter uma satisfação imediata
sempre que possível.
30
comportamental33. Entretanto, nos psicopatas, esse controle é fraco. Apenas uma
provocação ou ofensa pode fazer os psicopatas perderem a cabeça e responderem
com ameaça e agressividade. Porém esse descontrole normalmente é por um curto
espaço de tempo, pois eles se recompõem rapidamente.
Vale ressaltar que essa forma impulsiva como resposta é totalmente fria, sem
nenhuma excitação ou emoção, pois eles desconhecem essa sensação emocional
que uma pessoa normal teria ao “perder a cabeça”.
Viver a vida sempre no limite máximo é o desejo dos psicopatas para alcançar
a excitação extrema. E, muitos entram para a vida criminosa apenas pela sensação
de prazer, da adrenalina do momento.
A monotonia não faz parte dos planos do psicopata, que costuma ficar
entediado facilmente, por isso quanto mais frequente a excitação melhor.
Dificilmente iremos encontrá-los em atividades repetitivas e monótonas. Eles
“apreciam viver no limite, no conhecido “fio da navalha.”34
33
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed, 2013..
73.
34
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014.p.
87.
31
estabelecimento. E, na vida pessoal, não honram nenhum compromisso com as
pessoas mais próximas.
Não é da noite para o dia que alguém se torna um psicopata. Uma grande
parcela dos indivíduos com esse transtorno de personalidade tende a apresentar
problemas comportamentais – vandalismo, mentiras constantes, violência,
sexualidade precoce, roubo, etc. – desde a infância, de forma mais contundente em
comparação com outras pessoas também possuidoras desses problemas.
35
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014.p.
162.
36
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed,
2013.p. 80.
32
1.3.2.6. COMPORTAMENTO ADULTO ANTISSOCIAL E TRANSGRESSOR
37
Trindade, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 4ª ed. rev. atual. e
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. P. 168.
38
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014.p.
92.
33
2. CULPABILIDADE:
39
Abdalla-Filho, Elias, Miguel Chalub, Lisieux E. de Borba Telles. Psiquiatria forense de Taborda. 3ª
ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 163.
40
Capez, Fernando. Curso de direito penal, volume 1, parte geral :(arts. 1º a 120). — 16. ed. — São
Paulo : Saraiva, 2012. p.328 (livro digital).
41
Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de direito penal : parte geral, 1 – 17. ed. rev., ampl. e atual. de
acordo com a Lei n. 12.550, de 2011. – São Paulo : Saraiva, 2012. p. 945 (livro digital).
34
reprovabilidade. Logo, não devemos falar em pena se não há culpabilidade, ou seja,
nulla poena sine culpa.
Com o passar dos anos, inúmeras teorias foram criadas com objetivo de
apresentar os requisitos para a responsabilização do agente infrator. A partir dessa
evolução dogmática jurídico-penal, ressaltam-se três teorias da culpabilidade, sendo
elas a teoria psicológica, a psicológica-normatica e a normativa pura, esta última
adotada pela legislação brasileira.
2.2.1. IMPUTABILIDADE
35
Fazendo uma análise inversa, a partir da inimputabilidade presente no caput
do artigo 26 do Código Penal, podemos dizer que o agente imputável é aquele que,
ao tempo da ação ou omissão, era totalmente capaz de compreender o caráter ilícito
do fato e de determinar-se conforme esse entendimento.
42
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal. 4ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004.p. 435.
43
Abdalla-Filho, Elias, Miguel Chalub, Lisieux E. de Borba Telles. Psiquiatria forense de Taborda. 3ª
ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 133.
44
Abdalla-Filho, Elias, Miguel Chalub, Lisieux E. de Borba Telles. Psiquiatria forense de Taborda. 3ª
ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 133.
36
O critério biológico – retratado pela doença mental, perturbação da saúde
mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado –, condiciona a
responsabilidade à saúde mental do sujeito, à normalidade da mente.
2.2.1.1. INIMPUTABILIDADE
45
Abdalla-Filho, Elias, Miguel Chalub, Lisieux E. de Borba Telles. Psiquiatria forense de Taborda. 3ª
ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 135
37
Artigo 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
2.2.1.2 SEMI-IMPUTABILIDADE
46
Capez, Fernando. Curso de direito penal, volume 1, parte geral :(arts. 1º a 120). — 16. ed. — São
Paulo : Saraiva, 2012. p. 301 (livro digital).
38
Assim sendo, o réu que pratica um fato típico, ilícito e culpável e que se
enquadra nos moldes do parágrafo único do artigo 26, CP, será condenado, mas
sofrerá uma responsabilidade parcial, fazendo com que a imputabilidade sofra uma
diminuição. Enquanto que, de acordo com o caput deste mesmo artigo, o agente não
pode ser responsabilizado, tendo sua imputabilidade abolida.
47
Hungria N. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro. Forense; 1949.
39
Como mencionado anteriormente, as regras da sociedade são vistas pelos
psicopatas como inconvenientes obstáculos às suas ambições e desejos. Eles criam
suas próprias leis tanto na infância quanto na vida adulta.
3. PSICOPATIA E IMPUTABILIDADE
48
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed, 2013.
p. 81.
40
crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de
pena aplicável, dentro dos limites previstos; (...). (Grifo nosso)
41
Os psicopatas têm a total consciência dos seus atos. Com sua racionalidade
em perfeito estado, eles escolhem agir de maneira criminosa de forma livre, sabendo
que essas ações infringem as regras sociais. A parte deficitária para alguém com
esse transtorno de personalidade é o campo das emoções, inexistindo qualquer
forma de arrependimento ou culpa.
Diante disso, é preciso que cada caso concreto receba uma avaliação
meticulosa, por parte não somente da perícia responsável por examinar o agente
através de um exame completo e padrão, como a Psychopathy Checklist, mas
também do Magistrado, que tem a responsabilidade de julgar e condenar a uma
sanção penal adequada.
49
Trindade, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 6ª ed. rev. atual. e
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012. p. 179.
42
Para J. Alves Garcia, o psicopata é incapaz de aproveitar integralmente a
pena, pois, “recolocado nas mesmas circunstâncias, repete os mesmos erros e
delitos, porque a isso o conduz a sua natureza 50”.
50
Garcia, J. Alves. Psicopatologia forense: para médicos, advogados e estudantes de medicina e
direito. 3ª ed. refundida e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1979. p. 224.
51
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014.p.
152.
52
Trindade, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 4ª ed. rev. atual. e
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p.170.
53
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014.p.
152,
43
3.2. SANÇÃO PENAL ADEQUADA AOS PSICOPATAS
Assim como não devemos tratar a psicopatia como uma doença mental, de
acordo com o caput do artigo 26 do Código Penal, pois o psicopata possui a
capacidade de entender o caráter ilícito de seus atos, também não podemos
classificá-lo como um agente que detém uma capacidade mental diminuída, e
enquadrá-lo parágrafo único do artigo 26 ora mencionado, pois, dessa forma,
estaríamos beneficiando com uma punição mais branda esses indivíduos que
possuem um alto grau de periculosidade.
54
Garcia, J. Alves. Psicopatologia forense: para médicos, advogados e estudantes de medicina e
direito. 3ª ed. refundida e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1979.p. 204
44
De acordo com J. Alves Garcia, “é inútil qualquer tentativa de reeducação ou
regeneração, pois não existe na sua personalidade o móvel ético sobre o que se
possa influir”55.
55
Garcia, J. Alves. Psicopatologia forense: para médicos, advogados e estudantes de medicina e
direito. 3ª ed. refundida e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1979. P. 206
45
classificação adequada e, consequentemente, uma individualização da pena
apropriada.
Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o
condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-
aberto.
Cumpre salientar que o psicopata não pode ser visto como um sujeito de
personalidade frágil, vulnerável. Caso venha a participar de um programa de terapia,
tanto de uma maneira forçada por familiares ou para cumprir alguma ordem judicial,
seus padrões comportamentais são firmes e inflexíveis.
56
Hare, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós;
tradução: Denise Regina de Sales; revisão técnica: José G. V. Taborda. Porto Alegre: Artmed,
2013.p.200.
46
de ensinar ao psicopata como sentir, possuir emoções como remorso culpa ou
empatia.
Da mesma forma que a terapia não é efetiva para esse tipo de transtorno de
personalidade, essa forma de tratamento pode agravar a situação. O psicopata pode
tratar a terapia como mais um jogo, cujo objetivo é dominar totalmente a situação,
desenvolvendo gradativamente suas habilidades de manipulação.
57
Projeto de lei nº , de 2010. Altera a Lei nº 7.210, de 1984, (Lei de Execução Penal). Disponível
em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/737111.pdf
47
independente, até como forma de complementação do já exigido exame obrigatório
expresso na LEP.
A LEP passou a determinar, após a alteração de seu artigo 84, pela Lei nº
13.167, de 6 de Outubro de 2015., alguns critérios que deverão ser considerados na
separação dos presos provisórios e condenados nos estabelecimentos penais.
(...)
o
§ 3 Os presos condenados ficarão separados de acordo com os seguintes
critérios: (Incluído pela Lei nº 13.167, de 2015)
48
Ainda não há nenhum critério para separar os presos psicopatas dos demais
presos comuns. Mas, independente do crime praticado, do crime hediondo ao
estelionato, ou do nível de psicopatia, leve, moderado ou grave, o cuidado sempre
deve existir quando o assunto é o poder de manipulação de um psicopata em
qualquer ambiente em que se encontra.
Oito anos após a prática do crime, em 1974, foi beneficiado com a liberdade
condicional por bom comportamento. No parecer elaborado pelo Instituto de
Biotipologia Criminal, constava que Francisco tinha "personalidade com distúrbio
profundamente neurótico", excluindo o diagnóstico de personalidade psicopática 58.
Em outubro de 1976, Francisco assassinou Ângela de Souza Silva de forma cruel e
sádica.
58
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2014.p.
213.
50
4. CONCLUSÃO
Não há dúvida que a psicopatia deve ser tratada como um potencial risco à
sociedade através de ações devastadoras. Os psicopatas são incapazes de
experimentar qualquer emoção ou ligação positiva com outro indivíduo de forma
genuína. Eles farão de tudo para atingir seus objetivos com uma boa lábia e com o
melhor estilo manipulador.
51
cotidiano quanto nos sistemas prisionais. Infelizmente o PCL, que foi adaptado pela
psiquiatra forense Hilda Morana, não é aplicado no sistema prisional brasileiro.
Mesmo não sendo aprovado, o texto proposto pelo Projeto de Lei ora
mencionado neste trabalho é de suma importância tanto para implementação do
PCL, este já utilizado em alguns países desenvolvidos, quanto no modo como é
aplicada e cumprida a condenação penal do psicopata, garantindo a individualização
da pena de forma eficaz.
52
REFERÊNCIAS
Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de direito penal : parte geral, 1 – 17. ed. rev.,
ampl. e atual. de acordo com a Lei n. 12.550, de 2011. – São Paulo : Saraiva, 2012.
(livro digital).
Capez, Fernando. Curso de direito penal, volume 1, parte geral :(arts. 1º a 120).
— 16. ed. — São Paulo : Saraiva, 2012 (livro digital).
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal. 4ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004.
Stout, Martha. Meu vizinho é um psicopata; tradução: Regina Lyra. Rio de Janeiro:
Sextante, 2010.
54