Curso de Direito Processual Civil - Livro 1 - Proc - 230815 - 085457
Curso de Direito Processual Civil - Livro 1 - Proc - 230815 - 085457
Curso de Direito Processual Civil - Livro 1 - Proc - 230815 - 085457
CURSO DE DIREITO
PROCESSUAL CIVIL
Volume i - Parte Geral
(Lei n.Q13.105/15 - Novo CPC)
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VERBATIM
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\il\ii|i,nlo Professor de direito processual
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ProvcsMial Civil pela PIJC7SP. Mestra cm
I incito ( onsthucfcmal pela Instituição loledo
de I usino de Bauru (2006). lispcciulista cm
Dlruiki Processual Penal pela Universidade
( uldlicu IX>m Bosco (2005) e graduada em
Direito pelo Universidade Federal do Mato
( nosso I I W ) . Delensorj Pública do listado
ilc Mato Cirosso do Sul desde l‘WX. Diretora
da I seolu Superior dn IX-lciisoria Pública
I SIJP/MS (2013-atuiil >. Membro do IBDP
Insiituio Brasileiro de Direito Processual
c do IB IX Instituto Brasileiro de Direito
( onstitueional. Professora universitária.
O lavo de O liveira N eto
Elias M arques de M edeiros N eto
Patrícia Elias C ozzolino de O liveira
Curso de direito
PROCESSUAL
CIVIL
Volume 1 - Parte Geral
(Lei n.° 13.105/15- Novo CPC)
editora
VERBATIM
D ado, Inlarnaiinnal» ilr ( atal"K*\ An na PnMlM fáolt II')
(('Amara Brasileira do 1 Iviu. SI', llratll)
Bibliografia.
ISBN 978-85-8399-012-3
1. Processo civil 2. Processo civil • Brasil I Medeiros Neto, Elias Marques de.
IL Oliveira, Patricia Hlias Cozzollino dc. III. Titulo.
15-01180 CDU-347.9(8I)
PREFÁCIO................................................................................................................ 3
PLANO DA OBRA.................................................................................................. 5
OS AUTORES...........................................................................................................9
Livro I
NOÇÕES PROPEDÊUTICAS.
I. NOÇÕES PRELIMINARES............................................................................29
1.1. Vocabulário básico de direito processual civil............................................. 29
1.2. A estrutura do Código de Processo Civil.................................................... 34
1.3. Breve evolução histórica do direito processual civil....................................37
1.3.1. Importância da história do direito....................................................... 37
1.3.2. O Direito sem escrita............................................................................38
1.3.3. O Direito dos povos antigos................................................................. 39
a) Código de Hamurabi............................................................................40
b) Código de Manu.................................................................................. 42
1.3.4. O Direito na Grécia...................*......................................................... 43
1.3.5. O Direito Romano................................................................................ 44
1.3.6. O Direito dos povos germânicos...........................................................47
1.3.7. O processo comum (1088 até 1868)...................................................... 49
1.3.8. Processo civil científico........................................................................51
1.4. O direito processual civil brasileiro.............................................................. 52
1.5. As normas processuais e sua aplicação......................................................... 57
1.5.1. Norma processual no espaço (eficácia espacial ou territorial)..............59
1.5.2. Norma processual no tempo (eficácia temporal)..................................60
Verificação de Aprendizagem............................................................................. 62
Plunlficaçdo para aula...........................................................................................63
2. NOVOS PAKADKiMAS 1)0 D IR EITO PROCESSUAL CIVIL...................... 67
2.1. A reforma ideológica do processo civil c o CPC de 1973............................. 67
2.2. Constitucionalizaçio do direito processual civil e Modelo constitucional do
processo..........................................................................................................71
2.3. A revisitação dos institutos processuais....................................................... 75
Verificação de Aprendizagem..............................................................................76
Planificação para aula......................................................................................... 77
Bibliografia..........................................................................................................77
3. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL.............................................................. 79
3.1. Princípios constitucionais do processo civil................................................. 81
a) Princípio do devido processo legal............................................................. 81
b) Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional
(do direito de ação)............. .'................................................................83
c) Princípio do acesso à Justiça.......................................................................85
d) Princípio do contraditório......................................................................... 86
e) Princípio da ampla defesa........................................................................... 88
f) Princípio da Isonomia................................................................................ 90
g) Princípio do Juiz Natural........................................................................... 93
h) Princípio da publicidade dos atos processuais........................................... 95
i) Princípio da fundamentação das decisões judiciais....................................97
j) Princípio do duplo grau de jurisdição........................................................105
k) Princípio da proibição da prova ilícita......................................................106
l) Princípio da celeridade processual............................................................ 108
1. Meios que garantem a celeridade de tramitação..................................111
2. Razoável duração do processo.............................................................112
3.2. Princípios informativos do processo civil................................................... 115
a) Princípio dispositivo................................................................................. 117
b) Princípio do impulso oficial......................................................................119
d) Princípio da paridade de tratamento........................................................123
e) Princípio da oralidade...............................................................................126
f) Princípio da economia processual............................................................ 128
g) Princípio da fungibilidade....................................................................... 130
h) Princípio da lealdade processual............................................................ 131
Verificação de Aprendizagem............................................................................ 133
Planificação para aula........................................................................................134
Bibliografia........................................................................................................ 137
I. MECANISMOS COGNITIVOS DO PROCESSO CIVIL............................141
4.1. Teoria da cognição...................................................................................... 142
4.2. Relação de prejudicialidade......................................................................... 146
4.2.1. Breve apresentação do instituto...........................................................146
4.2.2. Evolução do conceito de relação de prejudicialidade..........................148
a) Escorço histórico................................................................................. 148
b) Concepção hodierna........................................................................... 151
c) Classificação proposta por Barbosa Moreira...................................... 155
Verificação de Aprendizagem............................................................................ 159
Planificação para aula........................................................................................160
Bibliografia.........................................................................................................161
Livro II
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL
5. TUTELA JURISDICIONAL........................................................................... 165
5.1. Considerações gerais....................................................................................165
5.2. Poderes inerentes à jurisdição..................................................................... 167
5.3. Características............................................................................................. 168
5.4. Definição..................................................................................................... 171
5.5. Tutela jurisdicional de direitos.................................................................... 173
5.6. Classificação das tutelas jurisdicionais........................................................175
5.7. Procedimentos de jurisdição voluntária (não contenciosos)....................... 179
Verificação de Aprendizagem............................................................................ 182
Planificação para aula........................................................................................ 183
Bibliografia........................................................................................................ 184
6. DIREITO DE AÇÃO........................................................................................ 187
6.1. Evolução histórica......................................................................................187
6.2. As condições chi ação no atual ordenamento processual........................... 19-1
a) As partes................................................................................................ 200
b) O Objeto (pedido)...................................................................................203
c) A causa de pedir......................................................................................204
6.3. As condições da ação.................................................................................205
a) Legitimidade de parte............................................................................ 205
b) Interesse de agir...................................................................................... 208
Verificação de Aprendizagem.......................................................................... 213
Planificação para aula......................................................................................214
Bibliografia...................................................................................................... 215
7. PROCESSO......................................................................................................219
7.1. Principais vertentes de pensamento acerca da natureza do processo........ 219
7.1.1. Natureza contratual............................................................................219
7.1.2. O processo como relação jurídica...................................................... 220
7.1.3. Outras concepções relevantes sobre a natureza do processo..............223
7.1.4. A revisitação do processo................................................................... 225
7.1.5. O que é instituição?............................................................................ 226
7.1.6. O processo como instituição constitucional...................................... 228
7.2. Definição....................................................................................................229
7.3. Finalidade...................................................................................................230
7.4. Características............................................................................................232
7.5. Pressupostos...............................................................................................234
Verificação de Aprendizagem.......................................................................... 239
Planificação para aula...................................................................................... 240
Bibliografia.......................................................................................................242
Livro III
ELEMENTOS ESSENCIAIS
À ESTRUTURA BÁSICA DO PROCESSO
8. COMPETÊNCIA INTERNACIONAL............................................................247
8.1. Os limites da jurisdição brasileira..............................................................247
8.2. Cooperação internacional..........................................................................252
Verificação cie Aprendizagem.......................................................................... 254
Planificação para aula.......................................................................................254
Bibliografia....................................................................................................... 255
9. COMPETÊNCIA INTERNA........................................................................... 257
9.1. Definição.................................................................................................... 257
9.2. Critérios determinativos.............................................................................259
a) Critério objetivo....................................................................................... 259
b) Critério funcional.................................................................................... 261
c) Critério territorial.................................................................................... 265
9.3. Princípio da perpctuatio jurisdictionis ..................................................... 271
9.4. Competência absoluta e competência relativa............................................ 273
9.5. Foro de eleição............................................................................................ 275
9.6. Cooperação nacional.................................................................................. 277
Verificação de Aprendizagem........................................................................... 279
Planificação para aula.......................................................................................280
Bibliografia....................................................................................................... 280
10. CONEXÃO DE CAUSAS............................................................................... 283
10.1. Noções gerais............................................................................................ 283
a) A conexão na França................................................................................284
b) A conexão na Alemanha..........................................................................286
10.2. A teoria tradicional. (Teoria clássica ou Teoria de Pescatore)................. 287
10.2.1. Conteúdo..................................*...................................................... 287
10.2.2. Influência da teoria tradicional........................................................ 289
a) Influência na Itália............................................................................. 290
b) Influência no Brasil............................................................................ 291
10.2.3. Outras teorias acerca da conexão de causas: a) A teoria de
Carnelutti (Teoria da identidade de questões).
b) A teoria materialista...................................................................... 293
a) A teoria de Carnelutti (Teoria da identidade de questões)................. 294
b) A teoria materialista...........................................................................302
10.3. Nossa posição acerca da conexãode causas...............................................303
10.4. Atual perfil da conexão de causas............................................................ 308
10.5. Possibilidade de aplicação da teoria materialista da conexão
em face do Direito Positivo Brasileiro.......................................................... 314
10.6. Continência de causas...............................................................................317
Verificação de Aprendizagem........................................................................... 320
Planificação para aula....................................................................................... 321
Bibliografia....................................................................................................... 322
11. AS PARTES E OS PROCURADORES..........................................................325
11.1. Capacidade processual.............................................................................. 325
a) Incapazes..................................................................................................326
b) Cônjuges.................................................................................................. 328
c) Pessoas jurídicas e universalidades.......................................................... 332
d) Regularização da capacidade processual em juízo.................................. 333
11.2. Dos deveres das partes e dos seus procuradores.......................................334
11.2.1. Litigância de má-fé............................................................................ 338
a) Taxatividade e limites subjetivos........................................................338
b) Processamento e conteúdo.................................................................340
11.2.2. Despesas processuais........................................................................ 343
a) Despesas e multas...............................................................................345
b) Honorários advocatícios.................................................................... 347
11.2.3. Da gratuidade de justiça................................................................... 352
a) Limites do benefício........................................................................... 352
b) Processamento....................................................................................355
11.3. Dos procuradores......................................................................................357
11.4. Sucessão das partes e dos procuradores....................................................360
a) Sucessão das partes.................................................................................. 360
b) Sucessão dos procuradores.......................................................................363
11.5. Substituição processual.............................................................................365
Verificação de Aprendizagem........................................................................... 367
Planificação para aula....................................................................................... 369
Bibliografia.......................................................................................................371
12. LITISCONSÓRCIO....................................................................................... 373
12. 1. Definição..................................................................................................373
12.2 . Classificaçfto............................................................................................. 374
12.2.1.1.itlsconsórcio unitário ou simples....................................................375
a) Distinção do litisconsórcio necessário............................................... 375
b) Conteúdo............................................................................................377
12.2.2. Litisconsórcio necessário ou facultativo.........................................379
a) Distinção............................................................................................ 379
12.3. Princípio da autonomia dos litisconsortes............................................... 385
12.4. Intervenção iussu iudicis......................................................................... 387
Verificação de Aprendizagem........................................................................... 389
Planificação para aula.......................................................................................390
Bibliografia....................................................................................................... 391
13. DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS...................................................... 393
13.1. Noções Gerais........................................................................................... 393
13.1.1. Definição........................................................................................... 394
13.1.2. Interesse............................................................................................ 395
13.1.3. Classificação......................................................................................398
13.2. Assistência................................................................................................ 401
13.2.1. Definição...........................................................................................401
13.2.2. Admissão do assistente.....................................................................403
13.2.3. Assistência simples e assistência litisconsorcial................................405
13.3. Denunciação da lide................................................................................. 407
13.3.1. Denominação....................................................................................407
13.3.2. Definição e natureza.........................................................................409
13.3.3. Hipóteses de cabimento.................................................................... 411
13.3.4. Processamento.................................................................................. 415
13.4. Chamamento ao processo........................................................................ 420
13.4.1. Definição e natureza.........................................................................420
13.4.2. Hipóteses de cabimento...................................................................423
13.4.3. Processamento..................................................................................426
13.5. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica..........................427
13.5.1. A desconsideração da personalidade jurídica.................................427
13.5.2. Perfil do incidente.......................................................................... 42s>
13.6. Amicus curiac........................................................................................ 4.12
13.6.1. Noções gerais.................................................................................... 432
13.6.2. Natureza e definição......................................................................... 433
13.6.3. Admissão no processo...................................................................... 435
Verificação de Aprendizagem........................................................................... 439
Planificaçâo para aula.......................................................................................440
Bibliografia....................................................................................................... 444
14. OS PERSONAGENS DO PROCESSO........................................................ 447
14.1. Magistratura............................................................................................. 447
14.1.1. Definição........................................................................................... 447
a) Acepção objetiva................. 448
b) Acepção subjetiva.............................................................................. 449
14.1.2. Seleção dos magistrados....................................................................451
14.1.3. Garantias constitucionais................................................................. 453
14.1.4. Princípios insertos no CPC............................................................... 455
14.1.5. Impedimento e suspeição do magistrado..........................................459
a) Hipóteses de ocorrência..................................................................... 459
14.2. Auxiliares da Justiça................................................................................. 465
14.3. Ministério Público.................................................................................... 468
14.3.1. Generalidades................................................................................... 468
14.3.2. Princípios institucionais................................................................... 471
14.3.3. Atribuições no juízo cível................................................................. 472
14.4. Da Advocacia Pública............................................................................... 474
14.5. Defensoria Pública....................................................................................479
14.5.1. Generalidades.................................................................................... 479
14.5.2. Princípios institucionais e objetivos................................................. 481
Verificação de Aprendizagem...........................................................................484
Planificaçâo para aula.......................................................................................485
Bibliografia....................................................................................................... 487
l i. TEORIA GI RAI DOS A l OS PROCESSUAIS............................................ 489
15.1. Noções gerais............................................................................................ 489
15.2. Princípios..................................................................................................491
15.3. Classificação............................................................................................. 498
a) Atos da parte............................................................................................499
b) Atos do juiz..............................................................................................500
c) Atos dos auxiliares da Justiça...................................................................502
15.4. Lugar dos atos processuais........................................................................503
15.5. Flexibilização do procedimento............................................................... 504
Verificação de Aprendizagem...........................................................................506
Planificaçâo para aula.......................................................................................506
Verificação de Aprendizagem........................................................................... 506
Planificaçâo para aula.......................................................................................506
Bibliografia...................................................................................................... 507
16. TEORIA DOS PRAZOS................................................................................509
16.1. Definição...................................................................................................509
16. 2. Princípios................................................................................................. 510
a) Paridade de tratamento............................................................................ 511
b) Brevidade e utilidade................................................................................513
c) Não continuidade..................................................................................... 514
d) Inalterabilidade........................................................................................ 515
16.3. Classificação........................................................................................... 516
16. 4. Contagem.................................................................................................518
16. 5. Verificação dos prazos e penalidades.......................................................523
16. 6. Tempo dos atos processuais..................................................................... 525
16. 7. Preclusão.................................................................................................. 528
Verificação de Aprendizagem........................................................................... 531
Planificaçâo para aula....................................................................................... 532
Bibliografia.......................................................................................................533
17. ATOS PROCESSUAIS EM ESPÉCIE............................................................535
17.1. Comunicações dos atos processuais.......................................................... 535
17.2. Dal cartas..................................................................... 536
17.3. Da citação............................................................................................... 539
17.3.1. Noções gerais.................................................................................. 539
a) Definição e natureza jurídica...........................................................539
b) Necessidade........................................................................................542
c) Destinatário e local............................................................................ 544
17.3.2. Efeitos................................................................................................545
17.3.3. Modalidades......................................................................................548
a) Citação real indireta: correio e meio eletrônico................................. 548
b) Citação real direta: oficial de justiça e escrivão.................................. 551
c) Citação ficta ou presumida: edital e hora certa.................................. 552
17.4. Intimações................................. ..............................................................557
17.5. Distribuição e registro.............................................................................560
17.6. Do valor da causa.................................................................................... 564
a) Necessidade e mensu ração..................................................................... 564
b) Finalidades...............................................................................................566
c) Impugnação............................................................................................. 568
Verificação de Aprendizagem........................................................................... 569
Planificação para aula....................................................................................... 569
Bibliografia....................................................................................................... 571
18. TEORIA DAS NULIDADES......................................................................... 573
18.1. Noções gerais............................................................................................ 573
18.2. Regimes de decretação de nulidades.........................................................575
18.3. Classificação..............................................................................................576
18.4. Princípios.................................................................................................. 579
Verificação de Aprendizagem.......................................................................... 581
Planificação para aula......................................................................................582
Bibliografia...................................................................................................... 582
19. FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO..................... 585
19.1. Formação................................................................................................... 585
19.2. Suspensão..................................................................................................588
19,3. Extinção...............................................................................1................... 592
Vcriflcaç&o dc Aprendizagem........................................................................... 593
Planificaç&o para aula.......................................................................................594
Bibliografia....................................................................................................... 594
Ml DAS MEDIDAS CAUTELARES AS TUTELAS DE URGÊNCIA............... 597
20.1.0 processo cautelar como uma terceira espécie de processo....................597
20.2. Evolução do processo cautelar no Brasil.................................................. 600
20.3. Perfil da tutela antecipada no CPC de 1973............................................. 605
20.3.1. Âmbito de cabimento....................................................................... 605
20.3.2. Concessão da medida.......................................................................606
20.3.3. Requisitos......................................................................................... 608
20.4. Perfil da tutela cautelar no CPC de 1973.................................................. 610
20.4.1. O processo cautelar........................................................................... 610
20.4.2. Poder geral de cautela....................................................................... 613
20.4.3. Procedimento cautelar...................................................................... 615
Verificação de Aprendizagem........................................................................... 617
Planificação para aula....................................................................................... 618
Bibliografia....................................................................................................... 619
21. TUTELA PROVISÓRIA................................................................................ 621
21.1. Noções gerais............................................................................................ 621
21.1.1. Classificação...................................................................................... 622
21.1.2. Eficácia..............................................................................................624
21.1.3. Efetivação.......................................................................................... 626
21.1.4. Demais aspectos tratados..................................................................628
21.2. Tutela de urgência..................................................................................... 629
21.2.1. Perfil..................................................................................................629
21.2.2. Requisitos..........................................................................................631
21.2.3. Liminar............................................................................................. 633
21.2.4. Responsabilidade por dano causado pela tutela de urgência............637
21.3. Tutela antecipada antecedente.................................................................. 638
21.3.1. Estabilização da tutela de urgência.................................................638
21.3.2. PetiçAo simplificada........................................................................ Md
21.3.3. Aditamento ou emenda da petição simplificada............................. M t
21.3.4. Estabilização do provimento........................................................... 6-h
21.4. Tutela cautelar antecedente......................................................................MV
21.4.1. Noções iniciais................................................................................. 64V
21.4.2. Procedimento.................................................................................. 650
21.5. Tutela de evidência.................................................................................. 655
21.5.1. Definição..........................................................................................655
21.5.2. Hipóteses de cabimento...................................................................657
Verificação de Aprendizagem..........................................................................660
Planificação para aula......................................................................................661
Bibliografia...................................................................................................... 666
LIVRO I
NOÇÕES PROPEDÊUTICAS.
1. NOÇÕES PRELIMINARES
1.1. Vocabulário básico de direito processual civil. 1.2. A estrutura do Código de Pro
cesso Civil. 1.3. Breve evolução histórica do direito processual civil. 1.3.1. Importância
da história do direito. 1.3.2.0 Direito sem escrita. 1.3.3.0 Direito dos povos antigos, a)
( lódigo de Hamurabi. b) Código de Manu. 1.3.4. O Direito na Grécia. 1.3.5. O Direito
Romano. 1.3.6. O Direito dos povos germânicos. 1.3.7. O processo comum (1088 até
1868). 1.3.8. Processo civil cientifico. 1.4. O direito processual civil brasileiro. 1.5. As
normas processuais e sua aplicação. 1.5.1. Norma processual no espaço (eficácia espa
cial ou territorial). 1.5.2. Norma processual no tempo (eficácia temporal).
história, a maior parte das instituições jurídicas já existem, mesmo que ainda
misturadas com a moral e com a religião, como o casamento, a propriedade, a
sucessão, o banimento, etc. [...] Característica corrente desta fase do direito, a
fonte pode ser considerada quase exclusivamente o costume, ou seja, a forma
tradicional de viver em comunidade, as normas estabelecidas consensualmente
pelos membros do grupo. A obediência aos costumes era assegurada pelo temor
dos poderes sobrenaturais e pelo medo da opinião pública, especialmente pelo
medo de ser desprezado pelo grupo em que se vivia. Naquela época, um homem
fora do seu grupo, vivendo isoladamente, podia considerar-se fadado à morte.V
Destarte, se nessas sociedades primitivas existiam regras de conduta que
deveríam ser obedecidas, então também deveria existir um método, nem que
losse uma cerimônia ou ritual religioso, praticado quando do descumpri-
mento das regras, para a aplicação da penalidade decorrente do não cum pri
mento da conduta esperada. Isso porque a regra material, em nosso entender,
n.io sobrevive sem a regra de forma, relativa à sua efetivação, nem vice-versa.
Daí a possibilidade de concluir que mesmo para os povos antigos, ainda
em o advento da escrita, já existia um conjunto de regras de conduta e rituais
p.tra a realização destes costumes ou para a punição pela sua não observação,
0 que, em última análise, pode ser considerado como uma norma de natureza
processual.
M Ar III, Jurí l ilhlo HndrltyiicH o A< ÍUI Alt. Ueiinii Ithlórhi ilo direito. Stlo 1’milo: Surolvu, 2007.
|. 2H 2V.
de justiça social, pela garantia, dentre outros, de direitos aos cegos, pobres, viú
vas e outros. No prólogo do Código está escrito: “El poderoso no oprimirá al
huérfanoya la viuda: pues tal pacto ha establecido Urukagina con Ningirsu.’’.'
Na sequência, em 2040 a.C.. aproximadamente, é elaborado o Código de
Ur-Nammu, que “...surgido na Suméría, descreve costumes antigos transfor
mados em leis e a enfatização de penas pecuniárias para delitos diversos ao
invés de penas talianas. Considerado um dos mais antigos de que se tem notí
cias, no que diz respeito a lei, foi encontrado nas ruínas de templos da época do
rei Ur-Nammu, na região da Mesopotâmia.”.3
Pouco mais de um século após surge o Código de Esnunna, composto
de apenas sessenta artigos, que serviu de parâm etro para a elaboração do
famoso Código de Hammurabi, datado de 1694 a.C.; cujas características
veremos a seguir.
a) C ódigo de H am urabi.
Reconhecido como o mais importante conjunto de leis da antiguidade, os
282 artigos do Código de Hamurabi foram entalhados, em escrita de caracte
res cuneiformes, numa pedra negra de 2,25 metros, que atualmente se encon
tra no Museu do Louvre, em Paris. Como lá também se encontram pedaços
de argila com a reprodução de parte do texto, há conjecturas no sentido de
que tais pedaços eram utilizados para divulgar o conteúdo de certas partes do
código e por todos que se dispunham a aplicar o direito da época. Também
se diz que o entalhe na pedra se prestava a fornecer matriz para a cópia em
papiro ou argila, que com o tempo acabavam por se deteriorar .4
Após uma introdução onde se justificava a origem divina do documento
(também contida na inscrição que fecha o texto) e a escolha do rei Hammu
rabi para confeccioná-lo, os artigos eram divididos em 18 capítulos, sem a*
b) C ódigo de M anu.
Outro diploma de enorme importância para o mundo antigo, elaborado na
índia por volta do ano 600 a.C., é o Código de Manu. Trata-se de uma con
solidação de leis orais, bastante extenso e originalmente redigido em versos,
de forma bastante poética. É composto de doze livros, nos quais são tratados
aspectos históricos, religiosos, políticos, sociais e jurídicos da época. Basta ver,
nesse sentido, que o conteúdo do Livro I diz respeito, dentre outros aspectos,
a criação do mundo e ao alternar-se da vida e da morte em cada ser criado.
Os livros oitavo e nono, todavia, “São os que mais interesse trazem aos juris
tas, pois contém normas de direito substancial e processual, como também as
normas de organização judiciária. A justiça vem do rei, que deve decidir pesso
almente as controvérsias que podem ser resumidas nos dezoito títulos do Livro
Oitavo e nos três do Livro Nono.’’.6
Analisando o conteúdo do Livro Oitavo é possível ter uma vaga ideia do
que era o sistema judiciário da época, se é que assim podemos denominá-lo.
Isso porque vários artigos aludem aos termos corte, tribunal, juizes, exame
das causas e partes contestantes; tudo a dar ideia de que havia, efetivamente,
um ritual que implicava na instrução e decisão dos conflitos.
O primeiro capítulo da parte geral, denominado "Da administração da
justiça. Do oficio. Dos Juizes.’’, iniciava por definir que embora o primeiro
juiz natural da causa fosse o rei, pois o art. Io dizia que "Um rei. desejoso de
examinar os negócios judiciais, deve comparecer à Corte de Justiça em um
lila*lli II «I \
1. NOÇÕES PRELIMINARES 43
d o m a g is tr a d o , o u . a n u l a . p o r s o r te io ( s o r titio ) d e n t r e a q u e le s c i d a d ã o s c o n s ta n te s d e u m á l b u m
e x is te n te n o tr ib u n a l" .
1. NOÇÕES PRELIMINARES 47
I' >lt< a-., l-lávio C.hcin. A p e la ç ã o c ív e l. São Paulo: RT, 1999. p. 22-23. “N a e x t r a o r d i n á r ia c o g n itio
o l» n i a l i m e n t o p a s s a a s e r u n ific a d o , d e s e n v o lv id o a té o f i n a l p o r f u n c i o n á r i o s e j u i z e s e s ta ta is ,
'<"> q u a is se tr a n s fe r e a p l e n i t u d e d a ju r is d iç ã o . O m a g is tr a d o , e a g o r a t a m b é m j u i z , p a s s a a se r
l l l l ll a i d o p o d e r d e v e r d e e x a m i n a r a s p r o v a s e p r o fe r ir s e n te n ç a , a q u a l, p e la p r i m e i r a v e z n a
hitlãila ilo p r m e s so i l v i l r o m a n o , n ã o m a i s c o n s is tia n u m a to e x c lu s iv o d o c i d a d ã o r o m a n o , n ã o
l i n h a m a is c u r á tc i a r b itr a i, rn a s ■a n s u l u l a m la v a se n u m a a t u a ç ã o e m q u e e r a e x p r e s s a a v o n ta d e
d o > a h e ia n a ( » ) u l t ju lg a v a o p n u e s sa n a q u a l i d a d e d e / u m h m á r l o d a li s t a d o e r e p r e s e n ta n te d a
n n p iiia d a r ."
rei dos hérulos, em 476, simboliza o fim do império romano do Ocidente e t>
início da Idade Média.".'*
Com a conquista de Roma pelos povos bárbaros (todos os não romano ,
eram considerados bárbaros), o sistema jurídico então vigente viu-se frente .1
um sistema jurídico bem mais primitivo e cujos valores eram completamenti
diversos. O titular da Jurisdição no chamado período germânico, como anota
James Goldschmidt ,151617era uma assembléia de homens livres dos povoados,
denominada Ding, cabendo ao juiz função de mero investigador e mediadoi
dos debates entre as partes.
O procedimento adotado, extremamente formal, iniciava-se com a citação
do réu e constituição da assembléia, desenvolvendo-se oral e publicamente,
com as alegações do autor e a contestação do réu. Terminada a instrução
o próprio juiz (Alta Alemanha e Frísia) ou uma comissão por ele indicada
(Francos), formulava uma proposta de decisão, que era então votada pelos
membros da Ding. Em seguida podia o credor, sem qualquer interferência do
Estado, aprisionar o devedor e optar pela execução pessoal ou patrimonial.
Nada obstante, o que mais chama atenção daqueles que estudam o sistema
germânico é o regime jurídico atribuído às provas. Isso porque o principal
meio de prova é o juramento, onde a reputação do demandado era atestada
por conjuradores, que não são testemunhas dos fatos, mas apenas do cará
ter daquele que jura. “Subsidiariamente, para o caso em que 0 juramento seja
impugnado ou quando não se consegue a ajuda de conjuradores, ou quando
0 acusador, substitui 0 juramento do demandado por uma provocação a um
duelo, deveram existir os julgamentos de Deus (ordálios) [...] Está provado que
foram empregados com este caráter a prova da água quente, a do fogo, a do
ferro candente, 0 duelo, o ordálio aleatório e a prova da água fria .”.'7 (sic)
A utilização generalizada destes meios de prova demonstra, à evidência,
a íntima relação do direito com a religião, na medida em que se acreditava
que aquele que estava com razão não seria atingido pela dor ou por qualquer
•" LOBO DA COSTA, Moacir. Breve noticia histórica do direito processual civil brasileiro e de sua
literatura. São Paulo: RT, 1970.
O primeiro periodo identificado vai do ano de 1832 até 1850. Proclamada
I i Independência em 1822, impunha-se aos governantes a criação de uma nova
ordem legal, o que teve início com a instalação de uma Assembléia Cons-
llluinte e Legislativa, aos 03 de maio de 1823. Para não deixar o País num
hiato legislativo, o colegiado editou uma lei, em 20 de outubro de 1823, espe-
t lllcando qual legislação seria aplicada até a promulgação da carta Constitu-
i tonal. Esta lei, porém, nada mais fez do que mandar aplicar o sistema então
Vigente em Portugal, representada pelas Ordenações Filipinas e algumas leis
extravagantes.
No ano seguinte, mais precisamente em 25 de março de 1824, veio a lume
I primeira Constituição do Brasil. Ela criava o Supremo Tribunal de Justiça e
indicava suas atribuições, mas deixava para a lei infraconstitucional a tarefa
de elaborar normas específicas de cunho processual. Com isso, no ano de
IK30, foi promulgado o Código Criminal do Império, que teve a ele acostado,
itm 29 de novembro de 1832, uma lei que tratava das disposições provisórias
«obre a administração da Justiça Civil. A entrada em vigor destes dois últimos
diplomas, segundo Moacir Lobo da Costa ,24 foi o marco inicial do processo
civil no Brasil.
Nesta primeira fase, por exemplo, a execução era de competência dos juí-
/,es municipais, que também tinham a atribuição de preparar o processo de
conhecimento para que os juizes de direito proferissem sentença, sendo obri
gatória a tentativa de conciliação.2S
O segundo período inicia-se com a entrada em vigor do Regulamento n°
737, de 25 de novembro de 1850, que disciplinou o procedimento a ser adotado
nas causas de natureza comercial. Em vigor o Código Comercial desde 25 de
junho de 1850, dispunha um Título único, encartado no final do diploma
sob a denominação “Da administração da Justiça nos negócios e causas
comerciais”, em seu artigo 27, que o Governo deveria, mediante expedição
de regulamentos, disciplinar o procedimento e as formalidades necessárias à
ordem do juízo nos processos comerciais. Foi aí, então, que toram editados o14*
14 Idem. p. 01-11.
Sobre essa competência dizia a Disposição Transitória acerca da Administração da Justiça Civil:
" A r t. 8°. O s j u i z e s m u n i c i p a i s f i c a m a u t o r i z a d o s p a r a p r e p a r a r e m e p r o c e s s a r e m to d o s o s f e i t o s , a té
s e n te n ç a f i n a l e x c lu s iv e , e p a r a a e x e c u ç ã o d a s e n te n ç a .''.
regulamento acima citado e o Regulamento n" 738, ambos com a finalidade
de complementar a legislação codificada.
As qualidades do regulamento n° 737 eram tantas2* que em 19 de setem
bro de 1890, após a Proclamação da República, por meio do Decreto n° 763.
o Governo Provisório, mandou aplicar às causas cíveis a legislação referente
ao processo comercial. Com isso, mesmo após a Proclamação da República e
a instituição do pluralismo legislativo, quando se atribuiu aos Estados a com
petência para legislar sobre processo civil, a citada legislação continuava a set
utilizada, enquanto não elaborados os códigos estaduais.
O terceiro período do Direito Processual Brasileiro (1890-1934) inicia-se
com a fase do pluralismo legislativo. Proclamada a República, as idéias libe
rais da época impunham que a competência para legislar sobre o processo
civil fosse conferida aos Estados, o que ocorreu com a promulgação da cons
tituição de 24 de fevereiro de 1891.*27 Antes mesmo da promulgação da Carta,
porém, através de legislação infraconstitucional, o Governo Provisório havia
abolido a conciliação obrigatória e criado e regulamentado a Justiça Federal,
como conseqüência da natureza do sistema federativo.
Enquanto os Estados não elaboravam seus próprios diplomas, todavia, o
Regulamento n° 737 continuava em vigor, com a finalidade de evitar um hiato
legislativo. Por isso, nos Estados onde a codificação demorou a ser elaborada,
referido regulamento teve longa vida, como nos casos de São Paulo, Espírito
Santo e Paraíba, que só editaram seus diplomas no ano de 1930.
O quarto período do nosso direito processual civil ocorreu entre os anos de
1934 e 1938, que não apresentou qualquer evolução significativa em termos das
instituições do processo. Com a vitória da revolução de 1930, foi promulgada
a Constituição de 1934, que restabeleceu a unidade do sistema processual,
" LOPES, João Batista. C u r s o d e d i r e it o p r o c e s s u a l c iv i l . São Paulo: Atlas, 2005. v.I, p. 16.
" SANTOS, Moacyr Amaral. P r im e ir a s l i n h a s d e d i r e i t o p r o c e s s u a l c iv il. 25* ed. São Paulo: Saraiva,
2007.V. I.p. 31-32.
Nosso Código adota como regra geral o terceiro sistema, ao disciplinar
em seus art. 14 e 1.046 que a norma processual não retroagirá e será aplicável
imediatamente aos processos em curso. Daí, não incide a nova lei aos pro
cessos já encerrados, incide plenamente aos processos ainda não iniciados e
incide de imediato aos processos pendentes, respeitando a validade dos atos
processuais praticados sob a vigência da legislação anterior.
Nada obstante, o próprio código regula inúmeras exceções à aplicação
imediata da lei processual, que vêm reguladas na Parte Especial, Livro Com
plementar, relativo às Disposições Finais e Transitórias. Assim, por hipótese,
extinto o procedimento comum sumário e alguns procedimentos especiais
de jurisdição contenciosa previstos no CPC de 1973; dispõe o art. 1.046. §1°,
que aos feitos relativos a tais procedimentos iniciados antes da vigência do
diploma atual aplica-se a lei revogada, até que seja proferida sentença.
Visando não prejudicar direito adquirido e ciente de que as normas rela
tivas à prova judiciária são, em grande parte, de natureza material, o art.
1.047 faz com que as novas disposições relativas à prova só se apliquem àque
las cuja produção foi requerida ou determinada de ofício após a vigência do
novo CPC; preservando com isso a expectativa existente no campo probatório
quando da propositura do feito.
Observa-se, por fim, que assim como se deu com relação à extensão da
coisa julgada a algumas questões prejudiciais (art. 503, §1°), que somente se
aplicou aos feitos iniciados após a vigência do atual diploma (art. 1.054); seria
conveniente a inserção no texto da lei de preceito referente aos recursos que
foram suprimidos (embargos infringentes) ou cujo alcance foi reduzido pelo
novo sistema processual (agravo de instrumento); já que assim como ocorre
com as provas, ao propor uma determinada ação ainda na vigência da lei ante
rior, tem a parte expectativa de dispor do recurso existente, podendo ocor
rer prejuízo a sua atuação processual e, com isso, infringência ao disposto na
Constituição da República.
Verificação de Aprendizagem
01 . Havia direito nos povos sem escrita?
02. Quais os períodos evolutivos do Direito Romano?
it I, Em que consiste o chamado período romano-barbárico?
0 l Quais os períodos evolutivos do Direito Processual Civil Brasileiro?
II'. Como se classifica a norma jurídica? Como definir norma processual?
llii Em que consiste o Princípio da Territorialidade da lei processual civil?
il7. Quais os sistemas relativos à aplicação da lei processual no tempo?
Ou Em que consiste o Princípio da Irretroatividade da lei processual civil?
Pura que se possa ter a exata noção dos parâmetros que moldam o direito
l>i(M ssual civil, mister se faz observar a evolução (ou revolução) da maneira
ilr pensar e aplicar seus institutos, que se operou a partir de dois movimen
lus distintos e convergentes, que foram à reforma ideológica do processo e .1
• slruturação, pela Constituição da República, de um Modelo Constitucional
t!n Processo Civil.
A partir destes novos ideais, verdadeiros paradigmas para o estudo e apli-
1 ação dos institutos do processo, nasce o processo civil da atualidade, com
.iitibuição de nova roupagem a antigos institutos, otimizando a prestação da
1niela jurisdicional.
w DINAMARCO, Cândido Rangel. A in s tr u m e n ta lid a d e d o pro cesso . São Paulo: RT, 1987.
CHIOVENDA, Giuseppe. S a g g i d i d i r i t t o p r o c e s s u a le c iv ile . Volume primo. Milano:Giufrè, 199 1
p. 110.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. N o t a s s o b r e o p r o b le m a d a 'e f e t i v i d a d e ' d o processo in Tenun
Terceira série. São Paulo: Saraiva, 1984. p. 27.
d e d i r e it o p r o c e s s u a l c iv il.
" BEDAQUE, José Roberto dos Santos. D ir e ito ep ro cesso . São Paulo: Malheiros, 1977. p.15.
que alguém tenha que aguardar 3, 4, 5, ás vezes dez anos, para obter, pela via
jurisdicional, a satisfação do seu direito. Quem procura a proteção estatal, ante
a lesão ou a ameaça a um interesse juridicamente assegurado no plano mate
rial, precisa de uma resposta tempestiva, apta a devolver-lhe, da form a mais
ampla possível, a situação de vantagem a que faz jus.”; ou, como afirma Sérgio
Shimura ,40 “de nada adianta a existência dos direitos se, quando vêm judicial
mente reconhecidos, ou exigidos, não mais tem utilidade prática, seja porque se
alterou a situação fática, seja porque a situação emergencial já se transmudou,
de dano temido a dano lamentado.”.
Destarte, portanto, ainda sob a égide do Código de 1939, clamava a socie
dade e a comunidade jurídica da época pela reforma na ideológica do processo
civil, ancorada nos novos ideais de acesso à Justiça, instrumentalidade e efe
tividade do processo.
Nesse contexto, ao elaborar a exposição de motivos do Código de Processo
Civil de 1973, asseverou Alfredo Buzaid que a finalidade precípua do novo
diploma era a construção de um processo civil moderno, “...em consonância
com o progresso científico dos tempos atuais ” (item 01 ); optando-se pela ela
boração de um novo diploma, ao invés da reforma do antigo, sempre tendo
em vista as finalidades de “...simplificar a estrutura do Código, facilitar-lhe
o manejo, racionalizar-lhe o sistema e torná-lo um instrumento dúctil para a
administração da Justiça.” (item 02).41
Percebe-se, pois, que a intenção dos que elaboraram o estatuto processual
de 1973 era a de trazer o processo para a era da modernidade, alinhando-o a
evolução sentida na doutrina por obra da vinda de Liebman ao Brasil; móvel
este que colocou em relevo os aspectos técnicos e procedimentais do então
novo estatuto, relegando a um plano um pouco inferior a nova ideologia que
à época já estava bastante difundida.
O Código de 1973, portanto, nasceu novo no aspecto técnico, mas superado
no aspecto ideológico, na medida em que os valores acima tratados foram
relegados a um segundo plano; tornando-se necessário pensar na reformula
ção dos institutos nele contidos, para adaptá-lo aos parâmetros dos ideais de
acesso à Justiça, instrumentalidade e efetividade do processo.
11 LOPES, João Batista. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: Atlas, 2005. v.l, p.38.
' MEDINA, Paulo Roberto Gouvèa. D ir e ito p r o c e s s u a l c o n s t it u c i o n a l . Rio de janeiro: Eorcnsr,
2003. p. 07.
" DINAiM ARCO, Cândido Rangel. A i n s t r u m e n t a l i d a d e d o p ro cesso . São Paulo: RT, 1987. p.2r> l h
“No que diz respeito particularmente aos direitos, tem-se socorrido à imagem
da ossatura, que aliás se pode aplicar igualmente as obrigações: a personalidade
seria uma ossatura destinada a ser revestida de direitos, assim como os direitos
seriam destinados a revestir a ossatura.”. 474
8
Tratando desse novo modelo, base de todo o ordenamento processual, Cás-
sio Scarpinella Bueno4S traça com incomum perspicácia seu hodierno perfil e
estrutura. Após falar sobre a constitucionalização do processo assevera que o
mais importante, ainda quanto ao raciocínio desenvolvido, é aquilatar como
a constituição quer que o direito processual seja. “Ê verificar na Constitui
ção Federal, qual é (ou, mais propriamente, qual deve ser) o 'modo de ser (de
dever-ser) do direito processual civil como um todo. É extrair, da Constitui
ção Federal, o 'modelo constitucional do direito processual civil' e, a partir
dele, verificar em que medida as disposições legais anteriores à sua entrada em
vigência foram por ela recepcionadas e em que medida as disposições norma
tivas baixadas desde então encontram-se em plena consonância com aqueles
valores ou, escrito de forma mais precisa, bem realizam os desideratos que a
Constituição impõe sejam realizados pelo direito processual civil ou que têm
condições de concretizar o modelo constitucional do direito processual civil.".49
Em seguida o professor aduz que o modelo constitucional do processo reúne
normas (princípios e regras) que podem ser classificados em quatro grupos,
diversos, segundo as suas características estruturais e teleológicas: a) tutela
constitucional do processo, que reúne os princípios e garantias que vão moldar
as leis infraconstitucionais e a atuação dos órgãos jurisdicionais; b) os proce
dimentos jurisdicionais constitucionalmente diferenciados, que dizem respeito
às chamadas ações constitucionais (mandado de segurança, ação declaratória
de inconstitucionalidade, etc.); c) organização da Justiça, que trata da estru
turação e competência dos tribunais; e, d) disciplina das funções essenciais da
Justiça, que traça o perfil, estrutura e finalidade das carreiras de Estado.
Esse arcabouço legislativo e principiológico, portanto, compõem o Modelo
Constitucional do Processo Civil Brasileiro, dando forma a todo o sistema
segundo as diretrizes impostas pela Constituição da República.
47 DE CUPIS, Adriano. O s d ir e ito s d a p e r s o n a lid a d e . Lisboa: Livraria Moraes Editora, 1961. p. 15.
48 BUENO, Cássio Scarpinella. C u r s o s i s t e m a t i z a d o d e d ir e ito p r o c e s s u a l. 3* c.. Sâo Paulo: Saraiva,
2009. p. 85 e ss.
49 Idcm, p. 86.
2. J. A revisitação dos institutos processuais.
A reforma ideológica do direito processual civil e a adoção, pela nossa
i «instituição, de um Modelo Constitucional do Processo Civil Brasileiro,
driam causa a uma necessidade ainda maior de repensar o direito processual,
pmmovendo uma adaptação dos institutos existentes a essa nova realidade.
Tratando da necessidade de re-elaboração da doutrina existente afirma
|ose Roberto dos Santos Bedaque que “a partir do momento em que se aceita
a natureza instrumental do direito processual, torna-se imprescindível rever
■viis institutos fundamentais, afim de adequá-los a esta nova visão. Isso porqia
nula a construção científica se deu na denominada fase autonomista, em que.
devido à necessidade de afirmação da independência do direito processual.
v valorizou demasiadamente a técnica. Passou-se a conceber o instrumenti
pelo próprio instrumento, sem a necessária preocupação com os seus objetivos,
que, obviamente, lhe são externos. Em nenhum momento pode o processualistc
esquecer que as questões internas do processo devem ser solucionadas de modi
11 favorecer os resultados pretendidos, que são exteriores a ele.”. 50
No mesmo sentido João Batista Lopes,51 que ao tratar da ideia de revisita
t,ao do processo civil afirma: "Por influência da doutrina italiana, os proccs
■ ualistas brasileiros passaram a utilizar o termo revisitação para designarpos
tara mais moderna orientada no sentido de rever os institutos fundamentai
tio Direito Processual Civil. Essa tentativa de atualização (aggiornamento) si
/a presente na doutrina mais autorizada, que, reconhecendo embora a impor
táncia da contribuição de autores clássicos como Chiovenda, Carnelutti, ( '.ala
mandrei e Liebman, procura avançar em busca de um modelo de processo mal.
moderno, ajustado aos anseios e reclamos da sociedade. Para alcançar o Jín
colimado, sentiram os autores a necessidade de revisitar os institutos proics
suais no sentido de lhes dar nova visão e configuração em harmonia com a
exigências da vida moderna. Assim, os institutos da jurisdição, ação eproí e.s.so
além dos princípios do acesso à justiça, do contraditório, da igualdade das par
les, do dispositivo, etc., foram, submetidos a rigorosa revisão ou reformulação i
que se convencionou chamar de revisitação”.
BEDAQUE, José Roberto dos Santos. D ir e ito e p r o c e s s o . São Paulo: Malheiros, 1977. p. 13.
w LOPES, João Batista. T u te la a n te c ip a d a . São Paulo; Saraiva, 2001. p.14-15.
Diante de tal realidade, como se viu, houve uma tentativa frustrada de ela
boração de anteprojeto de reforma do Código de Processo Civil em 1985, que
veio a desencadear a ideia de que a necessidade de alteração do sistema pro
cessual deveria ser feita setorialmente, com a elaboração de inúmeros diplo
mas alterando pontos específicos do código então vigente. Foi nesse ambiente
que se multiplicaram diplomas que alteravam a legislação existente, por vezes
reelaborando um de instituto por inúmeras vezes, como aconteceu com o
recurso de agravo.
Vê-se, pois, que as inúmeras reformas setoriais realizadas no Código de
Processo Civil de 1973, não devem ser vistas como a causa de um novo pen
samento que se deveria ter sobre os institutos, mas sim como a consequência
de uma evolução que foi pensada, debatida, questionada, criticada e elogiada,
mas que foi uma profunda evolução no modo de pensar o processo civil. Tra
tou-se de uma nova roupagem que foi dada aos vários institutos processu
ais, sob a primazia dos novos princípios programáticos do processo (acesso à
Justiça, instrumentalidade e efetividade) e do Modelo Constitucional do Pro
cesso Civil imposto pela Constituição da República.
Ocorre, entretanto, que as modificações efetivadas no Código de 1973
acabaram por transformar o diploma numa colcha de retalhos, dando causa
a inúmeras contradições, gerando a necessidade da elaboração de um novo
código, onde uma das principais finalidades foi assegurar a integralidade do
sistema e a viabilidade de uma interpretação e de uma aplicação coerentes da
lei processual.
Diante desses novos paradigmas foi que nasceu, portanto, nosso atual
Código de Processo Civil.
Verificação de Aprendizagem
01. Em que consiste a chamada reforma ideológica do direito processual
civil?
02. Quais as duas acepções possíveis para a chamada constitucionalização
do processo civil?
03. O que é o modelo constitucional do processo?
u i Como é que o professor Cássío Scarpinella Bueno classifica as normas
(princípios e regras) que compõem o modelo constitucional do processo?
OV Km que consiste a revisitação do direito processual civil?
Bibliografia
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Notas sobre o problema da efetividade
do processo in Temas de direito processual civil. Terceira série. São Paulo;
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3. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL
44 REALE, Miguel. I n tr o d u ç ã o à filo s o fia . 3* e.. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 46.
44 ALEXY, Robert. T e o r ia d e lo s d e r e c h o s f u n d a m e n t a l e s . 2 ‘ e.. Trad. Carlos Bernal Pulido. Madrid:
Centro de Estúdios Políticos y Constitucionales, 2008. p. 67-68.
45 DIAS, )efferson Aparecido. P r in c ip io d a e fic iê n c ia e d a m o r a li d a d e a d m i n i s t r a t i v a . Curitiba:
Juruá, 2004. p. 36.
46 COZZOLINO DE OLIVEIRA, Patrícia Elias. S i s t e m a , r e g ra s e p r i n c í p i o s n a C o n s t i t u iç ã o B r a s i
le ir a d e 1 9 8 8 . In P r in c íp io s p r o c e s s u a is c iv is n a C o n s titu iç ã o . Coord. OLIVEIRA NETO, Olavo de
e LOPES, Maria Elizabeth de Castro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 10.
Advirta-se, porém, que além dos princípios insertos na Constituição da
República, podemos identificar princípios informativos do processo civil, pre
vistos explicita ou implicitamente na lei processual e que se aplicam a todos os
institutos processuais; bem como princípios específicos para cada um dos ins
titutos, apenas a eles aplicáveis, como os princípios que informam a teoria dos
recursos. Trataremos aqui dos dois primeiros, abordando os demais quando
do tratam ento específico de cada um dos institutos.
“ CÂMARA, Alexandre Freitas. L iç õ e s d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 9* e.. Rio de janeiro: Lumen luris,
2003. v.I. p. 46-47.
concreta por decisão judicial, seja cia provisória ou definitiva; sob pena de
infringência ao principio em comento.
d) Princípio do contraditório.
O princípio do contraditório, atualmente previsto no art. 5o, LV, da Cons
tituição da República, sempre esteve tradicionalmente ligado à ideia da dialé
tica no curso do processo, ou seja, à possibilidade de manifestação de uma
das partes acerca da atuação da outra. Nesse sentido a definição e Joaquim
Canuto Mendes de Almeida, para quem o contraditório é “a ciência bilateral
dos atos e termos processuais e a possibilidade de contrariá-los."^ da qual não
destoa o pensamento de Alfredo Soveral M artins ao asseverar que “No fundo,
o princípio do contraditório traduz-se no direito de cada uma das partes exigir
do ju iz que lhe dê a possibilidade de contraditar, em plano de igualdade, as
narrações e pretensões que lhe são apresentadas pela parte contrária.”.65
Atualmente, todavia, houve uma evolução no pensamento noticiado, para
acrescentar ao binômio informação-reação um terceiro elemento, que é a par
ticipação. Com isso, além do direito de ser informado de qualquer conduta
p a r t e d e v e e s se r e s e m p r e i n g r a d o d i p o t e r r e p lic a r e , d i p o t e r a s s u m e r e i n i z i a t i v e c o n tr a r ie a q u e lle
c h e I u f f i c i o h a d is p o s to , in v is ta d e i m e d e s ir n o f i n e c h e a b b i a m o d e tto : u m p i ú c o r r e tto e s e r c iz io d e i
I a ttiv ità g iu r is d iz io n a le .
f) Princípio da Isonomia.
A igualdade é um dos ideais que acompanha o homem desde o nascimento
da civilização, sendo elemento que está presente nas condutas dos seres hum a
nos da mais tenra idade. Basta observar várias crianças que brincam juntas
para notar que elas sempre procuram estabelecer uma situação de igualdade
entre si, numa relação de poder que permite a continuação da distração.
Quando este equilíbrio se rompe, normalmente a brincadeira termina.
Sentimento ínsito à natureza humana, pois, o elemento igualdade foi uma
das molas propulsoras para o desenvolvimento dos povos, ganhando impor
tância ímpar quando se fala em Estado Democrático de Direito.
Nesse sentido a lição de Paulo Bonavides, ao tratar do princípio da igual
dade, também conhecido como princípio da isonomia, alerta que “O centro
medular do Estado social e de todos os direitos de sua ordem jurídica é indu
bitavelmente o princípio da igualdade. Com efeito, materializa ele a liberdade
da herança clássica. Com esta compõe um eixo ao redor do qual gira toda a
concepção estrutural do Estado democrático contemporâneo. De todos os direi- ,
tos fundamentais a igualdade é aquele que mais tem subido de importância no
Direito Constitucional de nossos dias, sendo, como não poderia deixar de ser, o
direito-chave, o dircito-guardião do Estado social.”.72
Canotilho também ressalta a importância deste princípio ao afirmar: “Um
dos princípios estruturantes do regime geral dos direitos fundamentais é o prin
cípio da igualdade. A igualdade é, desde logo, a igualdade formal (“igualdade
jurídica”, “ igualdade liberal” estritamente postulada pelo constitucionalismo
liberal: os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. Por isso se
considera que essa igualdade é um pressuposto para a uniformização do regime
das liberdades individuais a favor de todos os sujeitos de um ordenamento
72
BONAYrIDES, Paulo. C u r s o d e d ir e ito c o n s t it u c i o n a l . 144 e.. Sào Paulo: Malheiros, 2004. p. 376.
jurídico. A igualdade jurídica surge, assim, indissociável da própria liberdade
individual.”.7' (sic)
Entretanto, assumir papel de vital importância no sistema implica, à evi
dência, a necessidade de receber um tratamento mais harmonioso com os ide
ais da modernidade. Por isso a antiga máxima de todos conhecida, apresen
tada por Aristóteles, de que igualdade seria tratar desigualmente os desiguais
para, no finai, obter uma igualdade, não mais se demonstra suficiente para
preencher o conteúdo do princípio. Há necessidade de traçar novos parâm e
tros para que se possa compreender seu exato conteúdo.
Daí a advertência de Bandeira de Mello: para o desate do problema é
insuficiente recorrer a notória afirmação de Aristóteles, assaz de vezes repe
lida, segundo cujos termos a igualdade consiste em tratar igualmente os iguais
r desigualmente os desiguais. Sem contestar a inteira procedência do que nela
se contêm e reconhecendo, muito ao de ministro, sua validade como ponto de
partida, deve-se negar-lhe o caráter de termo de chegada, pois entre um e outro
extremo serpeia um fosso de incertezas cavado sobre a intuitiva pergunta que
aflora ao espírito: Quem são os iguais e quem são os desiguais ?”.74
Nesse passo, torna-se forçoso perquirir quais seriam os critérios passíveis
de utilização para identificar os iguais e os desiguais, permitindo que a lei
lhes conferisse um tratamento diferenciado, tudo com a finalidade de alcan
çar a chamada igualdade material, efetiva ou concreta, segundo a qual o que
\e busca é obter um efetivo equilíbrio no mundo empírico. Sem isso não seria
possível a satisfação de uma gama mínima de necessidades que o ser humano
precisa para ter dignidade em sua vida.
Quais seriam, entretanto, tais critérios? Uma proposta bastante atraente é
i formulada por Bandeira de Mello75 ao estudar o conteúdo jurídico do prin
cípio da igualdade.
Para o eminente administrativista três seriam os enfoques passíveis de
exame para identificar a ocorrência de eventual desrespeito ao princípio da
76 Ibidem , p. 21.
de respeito ou de ofensa ao princípio <Ia isonomia, pois, como se viu, em deter
minadas situações a discriminação empreendida, longe de contraditar, realiza
o preceito constitucional...".”
Fixados os critérios hodiernos para o estabelecimento dos parâmetros que
delimitam a isonomia substancial, resta claro que a isonomia formal não se
presta à definição de uma efetiva igualdade entre as partes, devendo o pro
cesso buscar sempre a realização daquela, sob pena de incorrer em ofensa ao
princípio ora tratado.
Idem. p. 159-160.
1
Ibidem. p. 47.
"A aplicação dos direitos privado e público entra em elevado grau na esfera de
influência do direito constitucional. Sobretudo o efeito de irradiação dos direi
tosfundamentais sobre o direito privado - desde o princípio uma evidência per
se para o direito administrativo - tornou-se, ao lado da interpretação da lei em
conformidade com a constituição, uma figura de argumentação que produziu
efeitos conseqiientes para a interpretação genérica das leis.”.*9
Em resumo, pois, o atual perfil da atividade jurisdicional e do magistrado
i|ue a exercita exige, além da postura tradicional de solução de controvérsias,
uma atividade valorativa dirigida à implementação dos valores contidos na
Constituição Federal, com o fito de preencher o conteúdo das normas fun
dadas em conceitos não determinados, cada vez mais comuns em nossa
legislação.
Por sua vez, o aparecimento de um Estado que assumiu uma postura ativa,
conhecido como Estado do bem estar social, implicou o crescimento dos
poderes do magistrado, chamado a desenvolver tarefas às quais até então não
estava acostumado a realizar. Surgiram novos direitos e a ampliação da ati
vidade do Estado legislador implicou a elaboração de leis repletas de normas
de conceitos não determinados, onde a criatividade do juiz deveria completar
aquilo que a lei não disse. Ademais, não tendo os direitos sociais uma natu
reza meramente normativa, mas também um aspecto promocional e proje
tado para o futuro, com a finalidade da gradual realização de seus objetivos,
coube ao magistrado zelar pela efetivação das aspirações contidas no ideal do
novo modelo, decidindo em consonância com seus valores .90
Esse novo papel atribuído ao magistrado, que cada vez mais se afasta
do ser inanimado que pronuncia as palavras da lei, implica a ampliação da
importância da justificação que dá às suas decisões, ou seja, num aumento
de importância da fundamentação da decisão judicial. Se antes bastava jus
tificar a razão pela qual aplicava ou não uma determinada norma no plano
meramente jurídico; agora a operação tornou-se mais trabalhosa, na medida
em que há de acrescentar, à sua antiga tarefa, a tarefa de justificar a opção
por um ou outro valor utilizado no preenchimento das normas de conceitos
91
PERELMAN, Chain. É tic a e d ir e ito . São Paulo: M artins Fontes, 1996. p. 566.
92
PORTANOVA, Rui. P r in c íp io s d o p r o c e s s o c iv il. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 250.
legislador, mostrando que não violava a lei, bastava lhe indicar os textos que
aplicava em sua sentença. Mas, se a motivação se dirigir à opinião pública, esta
i/in rerá, além disso, que a interpretação da lei pelo juiz seja o mais conforme
possível tanto à equidade quanto ao interesse geral.”P
(',01110 se vê, portanto, se o novo perfil do Estado implicou o crescimento da
atividade do magistrado, obrigado a formular juízo de valores para preencher
n conteúdo de normas de conteúdo não determinado; então essa atividade
i imbém implicou o aumento da importância da fundamentação da decisão,
.igora não mais voltada apenas para a parte, mas também para o meio social
(inde a decisão é prolatada. Cresceram a liberdade e os poderes do magistrado
•l>ntro do processo; mas também cresceu, proporcionalmente, a sua respon-
.íbilidade perante a sociedade na qual judica.
Daí a conclusão de que a fundamentação da decisão judicial, que deve ser
•In igida à sociedade na qual judica o magistrado, onde também as partes estão
inseridas, tem fundamental importância, na medida em que servirá para que
,i própria sociedade possa fiscalizar a atuação do magistrado, verificando se
• sle decide segundo os valores sociais vigentes em determinada época e em
delerminado local.
Outrossim, enquanto nos regimes ditatoriais, onde o poder é concentrado
nus mãos de poucos indivíduos que subjugam os demais mediante o uso da
lorça, as decisões proferidas são impostas e não justificadas; numa sociedade
democrática há necessidade de justificar as decisões tomadas. Daí, para todo
I stado que pretende intitular-se democrático, o fato do magistrado funda
mentar sua decisão para a sociedade na qual está inserido tem implicação
maior do que a mera satisfação desta própria sociedade. Tal dever se justi-
tua porque somente através do exame da decisão é que a responsabilidade
do magistrado poderá ser aferida. No dizer de Cappelletti: “Os juizes exerci
tam um poder. Onde há poder deve haver responsabilidade: em uma sociedade
organizada racionalmente, haverá uma relação diretamente proporcional entre
poder e responsabilidade. De conseqüência, o problema da responsabilidade
indiciai torna-se mais ou menos importante, conforme o maior ou menor poder
ilos juizes em questão.”.9*
PERELMAN, Chain. É tic a e d ir e ito . São Paulo: Martins Fontes. 1996. p. 565.
" CAPPELLETTI. J u iz e s ir r e s p o n s á v e is ? p. 18.
Realmente, para que se possa falar em exercício da democracia, torna-se
necessário conceber mecanismos através dos quais o povo possa participai
da atuação do poder. Se as atividades executiva e legislativa são legitimadas
pelo voto direto, o mesmo não acontece com a atividade judiciária, já que em
nosso País os juizes não são eleitos, como ocorre em alguns Estados ameri
canos, mas recrutados mediante concursos públicos de provas e títulos. Por
isso se torna fundamental permitir que o povo possa fiscalizar a atuação dos
seus juizes, sendo a fundamentação das decisões o meio encontrado para tal
finalidade.
Nesse sentido assevera Teresa Arruda Alvim Wambier que “Em face do
estado de Direito, nos dias atuais, se pode estabelecer o porquê desta exigên
cia num sentido, sob certo aspecto, unívoco. O Estado de Direito efetivamente
caracteriza-se por ser o Estado que se justifica, tendo como pauta a ordem ju rí
dica a que ele próprio se submete. Assim, quando o Estado intervém na vida
das pessoas, deve justificar a intromissão: materialmente, pois a intromissão
tem fundamento, e, formalmente, pois o fundamento é declarado, exposto e
demonstrado. [...] A obrigatoriedade e a publicidade de motivação é que perm i
tem o exercício eficaz do controle extraprocessual.".^
Daí a pertinência da afirmação de que a legitimação da atuação do magis
trado decorre da fundamentação da decisão judicial, sendo a falta de funda
mentação verdadeiro atentado à democracia e aos valores inseridos na Cons- 1
tituição Federal.
Torna-se possível à conclusão, pois, que a importância da fundamentação
das decisões judiciais reside: a) na necessidade do preenchimento de conceitos
não determinados com os valores sociais dominantes; b) na justificação do
decidido perante a sociedade na qual o magistrado encontra-se inserido; c) na
possibilidade de fiscalização da atividade desenvolvida pelo magistrado; e, d)
na legitimação da atuação do magistrado, como agente de Poder, num Estado
democrático de direito.
Em termos pouco ortodoxos, quando se pensa na larga margem de liber- 1
dade que a lei confere ao magistrado ao elaborar normas de conceitos não
determinados, que implicam um juízo de valores da sua parte, não é errado 95
97 SORMANI, Alexandre. P r in c ip io d o d u p lo g r a u d e ju r is d iç ã o . In P r in c íp io s p r o c e s s u a is c iv is n a
Coord. OLIVEIRA NETO, Olavo de e LOPES, Maria Elizabcth de Castro. Rio de
C o n s t i t u iç ã o .
Janeiro: Elsevier, 2008. p. 215.
,s Op. cit., p. 27.
«o processo judicial, quanto ao administrativo, tratando-se de regra que leva
em conta a licitude de uma prova a única interpretação possível é a de que a
norma se aplica a qualquer tipo de processo, sob pena do paradoxo de restar
legalizado para algumas espécies aquilo que é ilegal.
Após analisar os preceitos constitucionais supracitados e, em especial, o
art. 332, do CPC de 1973, Sérgio Shimura ensina que "... de acordo com a dou
trina dominante, [...] prova ilegal é a que viola o ordenamento jurídico como
um todo (leis, princípios gerais), quer sejam de natureza material ou proces
sual. Ê gênero das espécies prova ilícita e prova ilegítima, a) prova ilícita é a, ao
ser colhida, contraria norma de direito material; b) prova ilegítima é a que fere
disposição de caráter processual.”.9*
Entretanto, embora não exista divergência quanto à vedação de quaisquer
das espécies de ilicitude em quaisquer das espécies de processo, há contro
vérsia no que toca a aplicação absoluta do princípio ou a possibilidade de sua
relativização, permitindo-se ao julgador, em hipóteses especiais e justificáveis,
valorar algumas provas quando da fundamentação da sua decisão.
Também a demonstrar tal divergência é a lição de Sérgio Shimura, ao ensi
nar que “Uma primeira corrente (proibitiva ou obstativa) pugna pela vedação
absoluta da prova ilegal ou obtida por meio ilícito. O f undamento dessa posição
deita raízes nos direitos e garantias individuais, como o direito à intimidade,
honra, imagem, domicílio, sigilo de correspondência e de comunicações. Uma
segunda corrente, mais flexível, vale-se do princípio da proporcionalidade,
conhecida como a do interesse predominante, admitindo a prova, conquanto
ilícita ou ilegal, tudo a depender dos valores jurídicos e morais em discussão
no caso concreto. [...] E no rumo dessa segunda posição, há os que sustentam
a validade da prova, tendo em vista que a finalidade do processo é a verdade,
sem prejuízo de a parte poder ser responsabilizada, até penalmente, pela produ
ção da prova ilícita. O critério da proporcionalidade passou a ser adotado ini
cialmente pela Justiça alemã, idéia que se alastrou para os Estados Unidos da
América (princípio da razoabilidade), com a função de evitar ou prevenir injus
tiças que a aplicação da vedação absoluta das provas ilícitas poderia acarretar.*
faz com que o próprio direito material venha a perecer. No lúcido exemplo de
|osé Roberto dos Santos Bedaque "Náo se pode aceitar que alguém tenha que
aguardar 3, 4, 5, às vezes dez anos, para obter, pela via jurisdicional, a satisfa
ção do seu direito. Quem procura a proteção estatal, ante a lesão ou a ameaça a
um interesse juridicamente assegurado no plano material, precisa de uma res
posta tempestiva, apta a devolver-lhe, da forma mais ampla possível, a situação
de vantagem a que faz jus.”. 102*
Em verdade, a demora excessiva para que o Estado preste a tutela juris
dicional implica a negativa de prestação de tutela jurisdicional, situação que
infringe o princípio do devido processo legal e pode justificar que o particu
lar efetive seu direito pelas próprias mãos, subjugando o Estado de Direito e
implantando o caos social.
Em vista disso, como vimos no capítulo anterior, nosso processo civil tem
passado por ampla reformulação, fundada em três ideais que já podem ser
considerados verdadeiros princípios informativos da disciplina: o acesso á
lustiça, a instrumentalidade e a efetividade do processo. Trata-se de revisitar
os institutos existentes para dar-lhes um novo perfil ideológico, sempre tendo
em vista a necessidade de criação de meios mais céleres para a obtenção dos
resultados almejados.
Todavia, embora a ideia de efetividade esteja intimamente ligada à ideia de
celeridade do processo,l(B pois a excessiva demora na prestação da tutela juris
dicional náo permite que a parte obtenha exatamente àquilo que teria direito
de obter,104 sempre houve recalcitrância da comunidade jurídica em aceitar a
celeridade processual comum um princípio processual constitucional implí
cito no sistema.
antes aquela que bem pode ser chamada de 'fisiológica'. Duração, portanto, ineliminável, pois
decorrente das garantias fundamentais com as quais se pretende assegurar a justiça do resultado
final a ser alcançado através do processo.
BEDAQUE, )osé Roberto dos Santos. D ir e ito c p ro c e ss o . 2■ e., São Paulo: Malheiros, 1995. p. 15.
"" BARBOSA MORF.IRA, |osé Carlos. N o ta s s o b r e o p r o b le m a d a 'e f e t i v i d a d e ' d o p r o c e s s o . In T e m a s
d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. Terceira Série. São Paulo: Saraiva, 1984. p. 27.. Para o autor o ideal de
efetividade deve ser ampliado para abarcar outros prismas relevantes, que em seu quinto aspecto
contêm a ideia de que o r e s u lta d o o b tid o d e v e s e r s e m e lh a n te a o c u m p r i m e n t o d a o b r ig a ç ã o , c o m
u m m í n i m o d e d is p ê n d io d e t e m p o e e n e r g ia .
li»
GASPARINI, Diógenes. D ir e ito a d m i n i s t r a t i v o . São Paulo: Saraiva, 2000. p. 19.
que misturou num único capítulo os princípios das diversas categorias; men
cionando alguns princípios constitucionais do processo e esquecendo-se dos
demais, situação que pode induzir o intérprete à conclusão de que algum deles
é mais importante do que o outro, quando todos se prestam, como já vimos, a
moldar o perfil infra-constitucional do processo civil brasileiro. Tratou, tam
bém, de princípios que não são exclusivos do processo (art. 8o, do CPC), mas
atinentes ao Estado Democrático de Direitos, como a dignidade da pessoa
humana (art. Io, III, da Constituição da República); bem como de princípios
que são reguladores da atividade administrativa em geral, como a legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (art. 37, da Constituição
da República).
Ora, se todos estes princípios estão previstos na Constituição da República
e se alguns não são ao menos específicos ao processo, porque tratar deles no
código, repetindo de forma inútil aquilo que já foi tratado anteriormente? Em
outros termos, por exemplo, se simplesmente fossem excluídos do código,
dentre outros, o art. 6o ou o art. 11 , deixaria o nosso processo de ter que ser
público e as decisões proferidas fundamentadas? E o magistrado, agente
público e de poder, poderia deixar de aplicar a lei sem observar a dignidade
da pessoa humana ou agir de forma imoral ou sem a mínima eficiência? Evi
dentemente que não, pois continuariam as normas Constitucionais a impor a
observância de tais preceitos.
Melhor seria, portanto, que o código fosse omisso quanto aos princípios
constitucionais processuais e não processuais que menciona em seu pri
meiro capítulo, limitando-se a mencionar os princípios gefais e informativos
do processo, na sua dimensão infraconstitucional, classificando-os de uma
forma mais clara e delineada, como fez o art. 2 o, da Lei n° 9.099/95 (Juizados
Especiais).
Nada obstante, podemos identificar no capítulo e no sistema processual
posto, expressa ou implicitamente, os seguintes princípios informativos do
processo civil, que doravante trataremos de forma pormenorizada: a) Princí
pio dispositivo; b) Princípio do impulso oficial; c) Princípio da cooperação; d)
Princípio da paridade de tratamento; e) Princípio da oralidade; 0 Princípio da
economia processual; g) Princípio da fungibilidade; e, h) Princípio da lealdade
processual.
I v rninunui iA»rmn m u i mi I l /
a) Princípio dispositivo.
Não é nova a oposição existente entre o sistema inquisitório, no qual o juiz
tem poderes ativos na instauração e na condução do processo, e o sistema
dispositivo, onde o magistrado atua como mero expectador da atividade das
partes, sem ter poder de iniciativa quanto à limitação do objeto do processo e
a produção das provas. Variando a época e o local, ambos já foram adotados
de maneira bastante preponderante sobre o outro, o que ainda acontece ao
sabor da ideologia que permeia cada sociedade.
No sistema inquisitório, que dá ensejo à existência do princípio inquisi
tório, o juiz tem plena liberdade de ação tanto para dar início ao processo,
quanto para determ inar a produção das provas que entende necessárias à apu
ração da verdade. Gozou de enorme prestígio na idade média, dando nome até
mesmo a época conhecida como inquisição, onde a notícia de alguma situação
contrária a moral cristã era considerada como heresia ou como bruxaria e, por
isso, punida rigorosamente. Posteriormente, teve novamente seu ápice com o
regime adotado pela extinta URSS (União das Repúblicas Socialistas Sovié
ticas), onde tudo era de interesse do povo e do Estado e, por isso, passível de
investigação independentemente da vontade das partes. Tem-se notícia, tam
bém, de sua enorme influência no direito aplicado na China.
Vê-se, portanto, que o princípio inquisitório, na sua versão mais radical,
costuma ganhar extremo prestígio nos Estados com regime político que se
impõe mediante o uso da força, sendo utilizado como forma de manutenção
do poder. Afinal, atribuindo-se ao magistrado o poder de instaurar o pro
cesso, de produzir as provas e de julgar a demanda, abre-se campo fértil e
propício ao abuso do Poder, limitando-se ao extremo a real possibilidade de
defesa daquele que se vê atingido pelo processo. Talvez seja por tais razões que
Rui Portanova ,109 ao analisar o processo inquisitivo, utiliza-se da expressão
"juiz ditador", em oposição ao “juiz espectador" de outrora e ao atual “juiz
diretor” do processo atual.
Nada obstante, a utilização com parcimônia de um sistema inquisitório
abrandado é extremamente útil e aconselhável em determinadas circuns
tâncias, como acontece com o sistema adotado no Brasil para a apuração de
crimes, representado pela possibilidade de instauração de ofício de inquérito
Idem, p. 121.
111 LOPES, João Batista. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: Atlas, 2005. v. I, p. 59.
112 MARTINS, Alfredo Soveral. D ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. Coimbra: Fora do texto, 1995. p. 146.
LOPES, Maria Elisabeth de Castro. O j u i z e o p r i n c íp i o d is p o s itiv o . São Paulo: RT, 2006. p. 116.
Atualmente, porém, embora nosso sistema processual civil tenha esco
lhido o principio dispositivo para preponderar sobre o princípio inquisitório,
optou por fazê-lo de forma mitigada, permitindo ao juiz, em determinadas
hipóteses, agir de ofício em prol da realização dos escopos do processo (capí
tulo 07, infra). Daí a locução, dentre outros, do art. 2o, do CPC, ao dizer que o
processo começa por iniciativa da parte (podia dizer do autor) nos casos e nas
formas legais; mas que a própria lei indicará exceções a esta regra. Por isso, a
iniciativa de requerer e de produzir provas é atribuída às partes, mas em casos
especiais pode o magistrado decidir e determ inar a produção de provas de
ofício, isso quando houver permissão legal para fazê-lo ou desde que a ponde
ração dos direitos e interesses em conflito o justifiquem.
Na hipótese da ausência de previsão legal, a possibilidade do juiz agir sem
i|ue exista iniciativa das partes deve ser examinada diante do caso concreto,
onde será feita uma ponderação entre os valores em disputa e a necessidade
ila iniciativa, inclusive quanto a instrução probatória. Aplicando-se as regras
da proporcionalidade e da razoabilidade, deverá observar o magistrado se a
situação empírica justifica a superação da necessidade da iniciativa da parte,
tomando de ofício a providência exigida para evitar o perecimento de um
direito ou faculdade processual. Trata-se de um aumento nos poderes ins-
trutórios do magistrado, em prol de viabilizar decisão aderente ao direito
material, que poderia não acontecer se a iniciativa fosse totalmente deixada
ao alvedrio da parte. Nesse sentido, aliás, a lição de Maria Elisabeth de Castro
Lopes,1" em monografia que estudou profundamente o tema, traçando seu
atual perfil no direito brasileiro.
Idem.
discussão, que só virá a acontecer após percorrer todas as fases processuais
necessárias à instrução e ao julgamento do feito. Para isso cabe ao magistrado
velar para que as partes pratiquem os atos processuais que são da sua respon
sabilidade, exortando-as a agir da maneira exigida por lei e a fazer com que a
marcha processual não pare. Na lição de Rui Portanova “As partes continuam
com o dever de impulsionar o andamento do processo, mas essa obrigação tem
um co-devedor solidário, vigilante e poderoso. Tanto assim que, se as partes
não movimentarem o processo, o juiz provocará o andamento a ponto de extin
gui-lo, com ou sem mérito. Pelo impulso oficial, há evidente abrandamento
do princípio da disponibilidade das partes em relação ao processo. Por isso, se
algum motivo trouxer às partes dificuldade em promover o andamento do feito,
melhor que requeiram dilação de prazos, (seforem dilatórios - art. 181) ou que
requeiram, a suspensão do processo (art. 265, II).”.m
Realmente, dispõe o art. 485, do CPC, que se o processo ficar parado em
virtude da negligência das partes por mais de um ano (inciso II) ou devido à
inércia do autor por mais de um mês (inciso III), deverá o juiz proferir sen
tença sem resolução do mérito; mas que antes disso deverá intim ar a parte
para suprir sua falta no prazo de 05 (cinco) dias (§1°). Essa necessidade de
intimação representa a essência do princípio do impulso oficial, na medida
em que atribui ao juiz o dever de velar para que o processo continue a andar,
independentemente da atividade dos litigantes.
Embora tenha esse sistema merecido tratamento diverso em uma das ver
sões do projeto do Código, a opção final foi a de adotar a intimação pessoal da
parte para que dê andamento ao feito, assim como fazia o art. 267, §1”, do CPC
de 1973, em evidente descompasso com a realidade forense atual e em nítido
prejuízo ao Princípio da Celeridade Processual. Perdeu-se, com isso, a opor
tunidade de aprimorar o instituto, na medida em que a intimação deveria ser
efetivada pela imprensa, gerando uma menor dificuldade ao andamento do
processo.
Na entrada em vigor do CPC de 1973 o volume de feitos era muito menor
do que o volume hoje registrado, sendo que não representava demora signi-
ficante intim ar pessoalmente a parte. Na atualidade, porém, com o elevado
volume de processos que tram itam perante o Poder Judiciário, não se justifica
115
Op. cit., p. 154.
intimar pessoalmente e por mandado a parte indolente, o que retarda sobre
maneira o curso da demanda e representa uma verdadeira benesse para aquele
que pretende apenas protelar o andamento do feito, deixando de praticar ato
em prol do direito que alegou possuir.
Não bastasse, sendo boa parte dos processos oriundos daquilo que se cos
tuma chamar de advocacia de massa, onde grandes escritórios movimentam
milhares de processos de uma mesma empresa; não há razão para intimar
pessoalmente um banco, uma seguradora, uma empresa de plano de saúde
ou de telefonia, que são representados em juízo por vários escritórios gigan
tescos, com milhares de profissionais que estão perfeita mente aptos a defesa
dos direitos de seus representados. Tal medida com certeza fere o Princípio da
Celeridade Processual e, por isso, pode ser reputada inconstitucional.
Daí a razão pela qual entendemos que, nas hipóteses tratadas pelo art. 485
II e III, do CPC, poderá o juiz determ inar a intimação pela imprensa, sem
com isso deixar de cum prir o princípio do impulso oficial, na medida em que
o Princípio Constitucional da Celeridade Processual estará sendo plenamente
atendido.
Observe-se, por fim, que o Princípio do Impulso Oficial tem por escopo
fazer com que o processo siga sua marcha processual normal, devendo ser
aplicado quando da inércia das partes, mas não serve para que o magistrado
atropele o andamento do feito, dispensando a prática dos atos processuais
necessários para que o processo tenha normal andamento. Age o magistrado,
pois, apenas para forçar as partes a imprimir ao processo a marcha necessária,
de modo suprir eventual inércia dos litigantes.
c) Princípio da cooperação.
Quando analisamos o princípio do contraditório, observamos que houve
uma evolução da sua concepção inicial, estreitamente ligada a ideia da dialé
tica no curso do processo, para um plano mais amplo, acrescentando ao
binômio informação-reação um terceiro elemento, que é a participação. Com
isso, além do direito de ser informado de qualquer conduta praticada pela
parte contrária no processo e de ter a possibilidade de reagir a essa conduta,
a parte ainda deve ter a possibilidade de interferir na condução do processo,
praticando atos tendentes ao convencimento do magistrado acerca da rela
ção jurídica de direito material que se pretende acertar, efetivar ou assegurar,
conforme o tipo de tutela pretendida. Na significativa linguagem de José Lebre
Freitas “O escopo principal do princípio do contraditório deixou assim de ser n
defesa, no sentido negativo de oposição ou resistência à actuação alheia, para
passar a ser a influência, no sentido positivo do direito de incidir activamente
no desenvolvimento e no êxito do processo.”.m
Como corolário dessa nova concepção acerca do contraditório, nosso
código apresenta, no art. 6o, o Princípio da Cooperação, também chamado
Princípio da Participação, segundo o qual as partes devem cooperar ativa
mente com o magistrado na condução do processo. Em outros termos, as par
tes têm o direito de participar ativamente do processo, fornecendo ao juízo
elementos que possam influenciar na solução do processo de conhecimento,
na eletivação da tutela executiva e na efetivação das medidas de urgência; mas
também têm o dever de participar de modo a contribuir para a rápida solução
do litígio, sempre respeitando o princípio da lealdade processual, abstendo-se
de praticar condutas e de provocar incidentes infundados, não necessários e
de cunho procrastinatório (art. 5o).
Excelente explicação acerca do conteúdo do princípio e dos citados arti
gos pode ser encontrada no Direto Português, que no Decreto-Lei n° 329
A/95, de 12 de dezembro de 1995, aduz “...as linhas mestras de um modelo
de processo,...'’, assim se expressando: “Consagra-se o princípio da cooperação,
como princípio angular e exponencial de processo civil, de form a a propiciar
que juizes e mandatários cooperem entre si, de modo a alcançar-se, de uma
feição expedita e eficaz, a justiça do caso concreto; [...] Tem-se, contudo, plena
consciência de que nesta sede se impõe a renovação de algumas mentalida
des, o afastamento de alguns preconceitos, de algumas inusitadas e esotéricas
manifestações de um já desajustado individualismo, para dar lugar a um espí
rito humilde e construtivo, sem desvirtuar, no entanto, o papel que cada agente
judiciário tem no processo, idôneo a produzir o resultado que a todos interessa
- cooperar com boa-fé numa sã administração da justiça. Na verdade, sem a
formação desta nova cultura judiciária facilmente se poderá por em causa um
dos aspectos mais significativos desta revisão, que se traduz numa visão parti
cipada do processo e não numa visão individualista, numa visão cooperante e
não numa visão autoritária.” ."7* 17
114 FREITAS, José Lebre de. I n t r o d u ç ã o a o p r o c e s s o c iv il. Coimbra: Coimbra Editora, 1996. p. 96-97.
117 C ó d ig o d e P ro c e s so C iv il ( A c t u a l i z a d o ) . Porto: Almeida & Leitão, 1997. p. 19.
Nesse mesmo sentido é o pensamento de Luiz Guilherme Marinoni e de
I Janiel Mitidiero, que analisando a primeira versão do projeto que deu origem
.10 atual CPC assim se manifestaram: "O projeto é fértil em normas sobre a
(olaboração. Ê possível afirmar sem qualquer dúvida que o modelo de processo
i ivil proposto pelo projeto é indubitavelmente um modelo de processo civil coo
perativo. No Estado Constitucional o direito fundamental ao processo justo
implica direito à elaboração no processo civil. Várias são as normas que densi-
ficam o dever de colaboração do Estado para com o jurisdicionado no processo
i ivil. É altamente positiva a tópica previsão dos deveres de esclarecimento, pre
venção, diálogo e auxílio inerentes à colaboração ao longo de todo o Projeto.”.11*
Nota-se, portanto, que mais do que simplesmente acenar com a possibili
dade de um maior envolvimento das partes no desenvolvimento e solução do
processo, o princípio da cooperação visa implantar uma nova mentalidade
cm nosso processo civil e nos seus principais personagens; chamando à res
ponsabilidade todos os participantes do processo e eliminando a figura do
magistrado que age sem levar em conta atividade das partes, efetivando assim
0 ideal de uma maior participação popular na administração da Justiça, o que
sem dúvida implicará uma maior responsabilidade das partes e de seus pro-
vuradores no âmbito da atividade judiciária.
e) Princípio da oralidade.
Embora o processo oral e o processo escrito tenham convivido nos siste
mas desde a criação da escrita, foi a partir do pensamento de Giuseppe Chio-
venda que se espalhou o pensamento de que o processo oral deve prevalecer
sobre o processo escrito, embora mitigado pela necessidade de documentação
de certos atos processuais. Dai a imensa importância que o grande mestre
peninsular deu ao princípio da oralidade, aduzindo, ainda na primeira metade
do século passado, que “Entre os muitos problemas concernentes ao procedi
mento, este é o fundamental. O tipo e os característicos de um processo deter-
minam-se, sobretudo pelo prevalecer do elemento oral ou do elemento escrito.
Basta, para demonstrá-lo, confrontar o nosso processo penal, que é oral, com o
nosso processo civil, que é escrito. A experiência deduzida da história permite
concluir sem detença, que o processo oral é, com ampla vantagem, melhor e
mais conforme à natureza e às exigência da vida moderna, porque exatamente
sem comprometer, antes assegurando melhor a excelência intrínseca da deci
são, proporciona-a com mais economia, simplicidade e presteza. E, pelo que
se refere à celeridade do processo, frisamos, desde logo, a esta altura, um dado
extraído das estatísticas judiciárias dos países de processo oral em confronto
com o nosso, e é que o processo escrito dura em média três ou quatro vezes mais
que o processo oral.".111
125 ASSIS, Araken. M a n u a l ilo s re c u rs o s. 2* e.. São Paulo: RT, 2009. p. 89.
Na segunda hipótese, embora nao exista divergência a respeito do tema,
cm razão das circunstâncias de fato nao se pode considerar que houve erro
grosseiro ou má-fé por parte de quem utilizou o meio processual de modo não
adequado. É o que pode acontece com o recurso inominado previsto na Lei
9.099/95 e a apelação prevista no CPC, sempre examinada a hipótese de fato.
Por fim, a terceira hipótese é justamente a que vem prevista no art. 554, do
<1PC, onde se positiva a fungibilidade das ações possessórias, isso em razão
da volatilidade da situação de fato, que de um momento para o outro pode se
liansmudar de ameaça à posse em turbação ou em esbulho, e vice-versa. Daí a
opção por se permitir a proteção efetiva à posse, qualquer que seja a natureza
do ato praticado.
Presentes quaisquer das três hipóteses narradas e não havendo expressa
vedação legal, torna-se plenamente viável aplicar o princípio da fungibilidade
em prol de se alcançar o escopo inicialmente almejado.
Verificação de Aprendizagem
01. Há hierarquia entre princípios e regras?
02. Em que consiste o princípio do devido processo legal, no sentido
substancial?
03. Pode o magistrado, mediante liminar, impedir a propositura de demanda
infundada?
12. Princípio do duplo grau de jurisdição - Previsto implicitamente no Modelo ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JUNIOR, Vidal Serrano. Curso de
Constitucional de Processo Civil, consiste na possibilidade de reexamc direito constitucional. 7a ed.. São Paulo: Saraiva, 2003.
da decisão judicial por dois órgãos jurisdicionais sucessivos, de igual ASSIS, Araken. Manual dos recursos. 2a ed. São Paulo: RT, 2009.
ou superior instância, com a concessão ao legitimado de meios aptos a
HANDF.IRA DF. MELLO, Celso Antonio. Conteúdo jurídico do princípio da
provocar tal revisão.
igualdade. 3a ed.. São Paulo: Malheiros, 2001.
13. Princípio da proibição da prova ilícita - Ponderação de princípios c
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Notas sobre o problema da efetividade do
admissibilidade da prova ilícita.
processo. In Temas de direito processual civil. Terceira Série. São Paulo:
14. Princípio da celeridade processual. Saraiva, 1984.
- Critérios da Corte Européia. BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e processo. 2a ed., São Paulo:
- Complexidade do feito Malheiros, 1995.
- Critérios - Atuação das partes BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 14“ ed.. São Paulo:
Malheiros, 2004.
- atuação do magistrado e dos seus auxiliares.
CÁxMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 9a ed.. Rio de
15. Princípios informativos do processo civil.
Janeiro: Lumen Iuris, 2003. v.I.
a) Princípio dispositivo.
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7a
b) Princípio do impulso oficial. ed.. Coimbra: Almedina, 2006.
c) Princípio da cooperação. CAPPELLETTI, Mauro. Juizes legisladores. Porto Alegre: SAFE, 1999.
d) Princípio da paridade de tratamento. _______ . Juizes irresponsáveis? Porto Alegre: SAFE, 1989.
e) Princípio da oralidade. CHIOVENDA, Giuseppe. Saggi di diritto processuale civile. Volume primo.
f) Princípio da economia processual. Milano:Giufrè, 1993.
g) Princípio da fungibilidade _______ . Instituições de direito processual civil. Campinas: Bookseller, 1998.
h) Princípio da lealdade processual. Código de Processo Civil (Actualizado). Porto: Almeida & Leitão, 1997.
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WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença. São
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4. MECANISMOS COGNITIVOS
DO PROCESSO CIVIL
150 WATANABE. Kazuo. D a c o g n iç ã o n o p r o c e s s o c iv il. 2 “ ed. atualizada. São Paulo: CEBEPEJ, 1999.
. p. 37.
da cognição impostos ao órgão jurisdicional, conforme o processo que é
analisado.
Essa realidade, diga-se de passagem, já era percebida por processualis-
las antigos, como Carnelutti, que efetuou sua classificação de lide, quanto à
extensão, em lide total e lide parcial. Dizia o mestre que “Unas veces el pro-
ceso se utiliza para componer enteramente la litis, resolviendo todas sus cues-
tones; otras veces se pide al juez que resuelva sólo algunas de ellas. Prescindo
de ejemplos, ya que los he aducido abundantemente en mis Lezioni; agrego,
en cambio, aun a peligro de abusar, que también el médico más de una vez
combate separadamente las causas dei mal. Comprobado este simples fenô
meno, he creído oportuno distinguir com los nombres diferentes los dos tipos
de proceso que corresponden a esas dos hipótesis, y he hablado de proceso
integral y de proceso parcial .”. 131 A teoria da lide parcial, desenvolvida por
Carnelutti, nada mais é do que um antecedente, destarte, da ideia atual que se
deve ter de cognição no plano horizontal, abaixo analisada, como bem assi
nala Luiz Guilherme M arinoni .132
Chiovenda, por sua vez, explicou a cognição, já no tocante a sua profun
didade, classificando-a em duas espécies: a cognição ordinária e a cognição
sumária. Ensinou que “ Diz-se ordinária, ou seja, plena e completa, a cognição
do juiz, quando tem por objeto o exame a fundo de todas as razões das partes,
quer dizer, de todas as condições para a existência do direito e da ação e de
Iodas as exceções do réu. Qualifica-se de sumária ou incompleta a cognição
do juiz quando o exame das razões das partes ou não é exaustiva ou é parcial.”.
IJ3
Nada obstante, mais recentemente, Victor Fairén Guillen 134 propôs uma
nova classificação para a cognição, identificando a maneira pela qual ela é
exercida em quatro tipos de processos, que deram nome a sua obra: “Juicio
ordinário, plenários rápidos, sumário e suinaríssim o”. A cognição ordinária *1
I
-Ti r m v . 1 V W g i l l l l f V J l/W r n w i J J \ f V l f l l 11/
" GRINOVER, Ada Pellegrini. A ç ã o D e c la r a tó r ia I n c id e n ta l. São Paulo: RT, 1972. p. 9-11. São essas
as palavras da autora: “O j u l g a m e n t o d a q u e s tã o f i n a l s ó p o d e s e r f e ito a p ó s a e l i m i n a ç ã o g r a d a t i v a
d e to d a s a s q u e s tõ e s p r e ju d ic ia is , a s s im c h a m a d a s p o r c o n s t it u í r e m o a n t e c e d e n t e ló g ic o d a d e c is ã o
fin a l, e p o r s e r e m j u l g a d a s a n t e s q u e se p o s s a d e c i d i r s o b r e a q u e s tã o p r i n c i p a l ”.
a) Escorço histórico.
O fenômeno da prejudicialidade era conhecido em Roma, onde existiam as
praeiudicialis. Tratava-se de fórmulas destituídas de carga condenatória, onde
se objetivava apenas a certeza acerca de determinada intenção. Em outras
palavras, segundo a lição de José Carlos Barbosa Moreira: “Acerca dos pra
eiudicia romanos, a despeito de obscuridades e contradições que se apontam
nas fontes, algumas noções precisas podem ter-se por assentes, à vista das con
clusões a que chegaram os mais autorizados estudiosos do assunto. Na sua fei
ção mais característica, o instituto visava precipuamente à fixação judicial da
certeza jurídica em torno de certa relação ou estado. A fórmula praeiudicialis,
desprovida de condemnatio, reduzia-se à intentio ”.141
Vê-se, pois, que a prejudicialidade estava jungida à gênese da nossa ação
declaratória ,142 pois a fórmula romana não continha carga de condenação,
limitando-se a tornar certa a interpretação acerca de determinada relação
jurídica .143 Não havia uma definição própria do fenômeno prejudicialidade,
embora fosse conhecido e identificado para efeito da declaração.
Como essas actiones praeiudicialis (denominação do período Justiniano)
diziam respeito, quase sempre, ao estado das pessoas, o direito pátrio mais
remoto entendia que existia uma espécie de ação denominada prejudicial, que
tratava apenas desse tipo de matéria. Em outras palavras, entendia-se que as
ações prejudiciais eram aquelas que tratavam do estado de pessoas.
João Mendes Junior, com a clareza que lhe é peculiar, ensinava: A s acções
prejudiciaes são aquelas em que se trata de acautelar ou firm ar o estado da
pessoa. Hoje, o estado de liberdade é garantido por actos administrativos r
pelo habeas corpus; o estado de cidade é garantido pelos actos administrativos
ALMEIDA JUNIOR, João Mendes de. D ir e ito J u d ic iá r io B r a z ite ir o . 2. cd.. Rio de Janeiro, Typo-
grafiha Baptista de Souza, 1918. p. 110.
GAMA, Affonso Dionysio Gama. D a s A c ç õ e s P r e ju d ic ia e s . São Paulo: Saraiva, 1928. p. 17.
" AMERICANO, Jorge. C o m e n t á r i o s a o C ó d ig o d e P r o c e s s o C iv il d o B r a s il. São Paulo: Saraiva, 1940.
v. l.°, p 601-.
' BA RBOSA MOREIRA, p. 28-29.
Pontes de M iranda, por seu turno, embora nào tenha chegado a essência d.i
relação de prejudicialidade, percebeu que ela estava relacionada com a relação
existente entre questões. Por isso definiu: “Compreende-se que o princípio de
serem julgadas antes da questão principal as questões prejudiciais seja dedu
zido da própria definição de prejudicialidade e até do étimo (praejudicialis).
dá-se prejudicialidade quando alguma questão se interpõe que pode excluir a
obrigação de sentenciar sobre a questão principal.”}**
Desenvolvendo com correção a matéria, embora de forma um pouco con
fusa, o operoso autor distinguiu a existência do ponto, da questão e da causa
prejudicial, dando-lhes definições distintas,14'' e apurando que se tratava de
realidades diversas. Também procurou afastar a confusão terminológica que
reinava, propondo que “Melhor é que se use o termo questões prévias para
abranger as preliminares e as prejudiciais.”.
Com esses ensinamentos já se percebe uma aproximação dos conceitos
modernos, pois existe uma classificação das questões prévias (questões prc
liminares e questões prejudiciais) e a distinção entre elas, o ponto e a causa
prejudicial.
Diante dessa evolução e observando as lições até agora expostas, Ada Pel-
legrini Grinover elaborou uma classificação das questões dizendo que aquelas
que surgem durante o processo são prejudiciais em sentido lato. Reservou a
denominação de prejudiciais em sentido estrito “para as questões relativas a
outros estados ou relações jurídicas, que não dizem respeito à relação jurídica
controvertida, mas que, podendo embora ser por si só objeto de um processo
independente, apresentam-se naquele determinado processo apenas como
ponto duvidoso na discussão da questão principal. [...] às questões prejudiciais
em sentido lato, dá-se hoje o nome de questões preliminares.”} 50 Ensina, ainda,
que existe diferença entre o significado de questão prejudicial e questão pre
liminar, sendo ela precisamente exposta por Alfredo Buzaid ,*150 151 que asseve
rou que a preliminar diz respeito aos pressupostos do processo, enquanto as
b) Concepção hodierna.
A obra de Menestrina 152 abriu caminho para a moderna concepção de
tolução de prejudicialidade, que foi minuciosamente estudada por Barbosa
Moreira,'” Thereza Alvim15'' e Scarance Fernandes,1” autores que em muito
•ontribuíram para a elucidação do fenômeno.
No entender desses autores, todas as questões que surgem no decorrer do
processo, devendo ser conhecidas e decididas antes da decisão de mérito, são
•hamadas de questões prévias. Na linguagem de Thereza Alvim “essas ques
tões, todas, são logicamente antecedentes de outras, havendo entre elas uma
relação de dependência; são questões prévias
Nota-se, pois, que toda questão que surge no decorrer de um processo e
exige decisão antes do mérito da causa deve ser considerada uma questão pré-
• Ia. Se, em senso contrário, o juiz puder conhecer e julgar a causa sem deci-
•llr a questão, então ela não será uma questão prévia. O que caracteriza uma
questão como sendo prévia é o seu aparecimento na pendência de um deter
minado processo e a necessidade de sua decisão antes da decisão de mérito.
I xiste uma relação de dependência entre o mérito e a questão previa porque
157
BARBOSA MOREIRA, p. 22.
I sscs conceitos, todavia, como adverte Barbosa Moreira,1'" devem sei
observados com certa relatividade. Ocorre que a questão X pode ser preli
minar da questão Y, mas quando relacionada com a questão Z a influência
ausada pode ser diversa, caracterizando uma questão prejudicial. O que
importa observar para definir a espécie da questão é a natureza da influência
i|ii< .1 questão condicionante exerce sobre a condicionada, e não propriamente
■matéria que cada uma veicula. Consequentemente, imperiosa a conclusão
ilr que não sc pode estabelecer previamente quais questões são preliminares e
i|tiuis são prejudiciais como parte da doutrina pretendeu, conforme se viu no
Hem anterior.
Ultrapassada a compreensão da maneira pela qual uma questão influen-
■ui outra, resta saber qual a natureza da relação que se estabelece entre elas.
l ma primeira tentativa de estabelecer qual a natureza e verdadeira essência
il.i relação entre a questão condicionante e a questão condicionada rumou
|Mia a seara do Direito Substantivo. Corrente oriunda da Alemanha, na pri
meira metade do século XIX, “fo i retomada em época recente na Itália, onde
oleançou interessante desenvolvimento.”.159
Para os substancialistas, as relações jurídicas não existem isoladas. Elas se
i ulrelaçam num amalgamado que ata umas às outras, havendo imbricações
ii i iprocas. Por isso, a essência da prejudicialidade residiría no liame de depen-
.1' ncia entre duas ou mais relações jurídicas, sendo esse liame que determina-
i ui .1 influência que uma exercería na outra. “Nessa perspectiva, pode definir-se
n lação jurídica prejudicial ” como aquela que integra o pressuposto de fato
iIr outra relação jurídica. E distinguiu-se entre a prejudicialidade “em sentido
1'osltivo", que ocorre quando a existência da relação prejudicial é condição de
• \istencia da relação subordinada, e a prejudicialidade “em sentido negativo”,
i/ue se verifica quando a existência da última depende, ao contrário, da inexis
tência da prim eira”.'60
I sse pensamento, todavia, não pode ser aceito. Embora se trate de teoria
i|iie albergue grande número de casos, não está apta a abarcar a sua totalidade.
Serve para determ inar os casos que dizem respeito a questões substanciais,
•ill.i, ainda, que a questão deve ser de conhecimento necessário, tendo o juiz,
mm m u iter lógico, de decidi-la.
iju e i m p l i c a m v a lo r a ç ã o ju r íd ic a d e f a t o s - e s â o e s s a s a s q u e s tõ e s a c u jo r e s p e ito , e m p r in c ip io , v a le
f o r m u l a r a in d a g a ç ã o r e la tiv a à c o is a j u l g a d a . ”.
DINAMARCO, Cândido Rangel. L itis c o n s ó r c io . São Paulo: RT, 1984. p. 187. “S a b e - s e q u e a cog-
n iç ã o d o j u i z , n o p r o c e s s o d e c o n h e c im e n to , te m p o r o b je to u m t r i n ô m i o d e q u e s tõ e s , i n c lu in d o
a q u e la s s o b r e a r e g u la r id a d e d o p r o c e s s o m e s m o (v.g., o s p r e s s u p o s to s p r o c e s s u a is ) , a s q u e v e r s a m
so b r e a s c o n d iç õ e s d a a ç ã o e, f i n a l m e n t e , a s q u e s tõ e s d e m é r ito ." .
' WAMBIER. Teresa Arruda Alvim. N u l i d a d e s d a S e n te n ç a . São Paulo: RT, 1987. p. 16.
sejam analisados antes das condições desta. Ou, em outras palavras, primeiro
o continente, e depois, o conteúdo.".'69
Ademais, além dos argumentos já aduzidos, o direito de ação não está con
tido na relação jurídica de direito processual. O que ali existe, isto sim, para
usar a linguagem do direito italiano, é a demanda, que é o ato inicial do exer
cício do direito de ação, onde também são aferíveis às condições existentes no
próprio direito que se exerce.
Ora, o direito de ação, como direito que é, tendo seu exercício vinculado a
uma conduta ativa do autor, acaba por quebrar a inércia inicial do Poder Judi
ciário através do processo, que tem como ponto de partida a petição inicial
(semelhante à demanda dos Alemães e Italianos). Portanto, parece-nos que
um primeiro passo do juiz ao receber a inicial deve ser observar se ela poderia
ter sido proposta, o que nos leva ao exame das condições necessárias para o
exercício do direito de ação, que nosso direito positivo denominou condições
da ação.
Por sua vez, as condições da ação e os pressupostos processuais, embora
tenham campo de atuação diverso, (e as questões preliminares quando for o
caso) são aglutinados em relação ao mérito, formando um só compartimento.
Em outras palavras, quando o juiz analisa as condições da ação e os pressu
postos processuais, está fazendo um juízo de admissibilidade quanto à pres
tação da tutela jurisdicional. Se não preenchidos estes requisitos do direito de
ação e do processo, ficará o juiz impedido de decidir o mérito.
Tudo isso acontece, em verdade, em decorrência da autonomia que tem o
direito de ação em face do direito material, bem como em razão da distinção
existente entre a relação jurídica de direito material e a relação jurídica de
direito processual, que cria compartimentos estanques e independentes para
efeito de apreciação por parte do julgador. São planos distintos e autônomos,
embora guardem entre si uma relação de necessidade e interdependência;
mesmo porque as condições da ação e os pressupostos processuais, como viu,
funcionam como verdadeiras questões prévias em relação ao mérito.
Em resumo, portanto, deve o magistrado analisar o feito em uma sequ
ência lógica, primeiro resolvendo as questões relativas às condições da ação
e sequencialmente as atinentes aos pressupostos processuais. Superadas tais
Verificação de Aprendizagem
01. O que é cognição? Trata-se de sinônimo de conhecimento?
02. Como se classifica a cognição quanto à extensão ou amplitude (plano
horizontal)?
03. Como se classifica a cognição quanto a intensidade ou profundidade
(plano vertical)?
04. O que são questões prévias?
05. O que são questões preliminares e questões prejudiciais?
06. Há diferença entre prejudicial lógica e prejudicial jurídica?
07. Como se classificam as questões prejudiciais?
08. Como se subdivide o juízo de admissibilidade no processo de
conhecimento?
09. Qual o percurso lógico que deve ser percorrido pelo magistrado antes de
analisar o mérito de um feito?
Planificarão para aula
01 . Cognição - É a relação que se estabelece entre uma pessoa e a coisa que
será objeto do seu conhecimento.
- Plena (total)
- Qto a extensão - Por força de lei
(horizontal) - Parcial (segmentada)
- Por força da atuação das partes
- Exauriente (é)
- Qto a profundidade - Sumária (deve ser)
(vertical) - Superficial (pode ser)
02. Questões prévias - são aquelas que devem, lógica e necessariamente, ser
decididas antes do mérito.
- questões preliminares
Questões prévias
- questões prejudiciais
- Questões preliminares - São as que devem, lógica e necessariamente, ser
decididas antes do mérito, porque impedem o seu conhecimento.
- Questões prejudiciais - São aquelas que devem, lógica e necessariamente, ser
decididas antes do mérito, porque direcionam a sua solução.
- As questões prejudiciais jurídicas são aquelas que, além de lógicas, ainda
operam a eficácia de coisa julgada.
- Quanto à origem: homogêneas ou heterogêneas
- Questões prévias - Quanto aos efeitos: obrigatória ou facultativa
- Quanto à influência: total ou parcial
03. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito.
- condições da ação
- Admissibilidade - pressupostos processuais
- questões preparatórias
Bibliografia
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WATANABE, Kazuo. Da cognição no processo civil. 2a ed. atualizada. São
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Li v r o II
IN STITUTO S FUNDAMENTAIS
DO DIREITO PROCESSUALCIVIL
5. TUTELA JURISDICIONAL
5.1. Considerações gerais. 5.2. Poderes inerentes à jurisdição. 5.3. Características. 5.4.
Definição. 5.5. Tutela jurisdicional de direitos. 5.6. Classificação das tutelas jurisdicio-
nais. 5.7. Procedimentos de jurisdição voluntária (não contenciosos).
171 PODETTI. J. Ramiro. T e o r ia y té c n ic a d e i p r o c e s o c iv il. Buenos Aires: EDI AR, 1963. p. 99.
'*.2. Poderes inerentes à jurisdição.
A atividade desenvolvida pelo magistrado quando investido de jurisdição,
n ime um feixe de vários poderes, também conhecidos como elementos da
lurisdição, necessários ao desempenho de seu mister, sem os quais não seria
(*»issível alcançar a real efetividade do processo. São eles a notio, a vocatio, a
mit reio, o judicium, o imperium e a executio.
5.3. Características.
Não há uniformidade nas opiniões dos diversos autores no que diz respeito
às características da atividade jurisdicional. Embora algumas características,
como a substitutividade e a coisa julgada apresentem-se de forma mais cons
tante, diverge a doutrina com relação a inúmeras outras.
Para Arruda Alvim,174 que trata do problema com amplitude, a atividade
jurisdicional tem índole eminentemente substitutiva e secundária, já que o
juiz profere uma decisão que substitui a vontade das partes, que não chegam a
5.4. Definição.
Conceito e definição, embora muitas vezes tomados por sinônimos, são
ical idades diversas. Enquanto o conceito é uma ideia que se tem sobre algo,
definição é uma "proposição onde se expõe com clareza c exatidão os caracteres ( jiuseppe Chiovenda: "...a Junção do Estado que tem por escopo a atuação
genéricos e diferenciais de uma coisa”.'78 Quando se fala o termo cadeira, por ,l,i vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos
tanto, o conceito que vem a mente é a figura de uma cadeira qualquer; o que /tublicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afir
é diverso da sua definição, que pode ser elaborada como o objeto ou móvel, mar a existência da vontade da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva.”.'87,
normalmente composto de encosto, assento e quatro pernas, que serve para Não obstante, já tivemos a oportunidade de definir jurisdição como "... a
sentar. lunção do Estado, exercida pelo Poder judiciário e substitutiva da vontade das
Em outros termos, pois, definir algo é reunir, em um mesmo enunciado, /tartes, que tem por finalidade compor os conflitos de interesses que são levados
todas as características daquilo que se define. Daí a diversidade das definições ao seu conhecimento, mediante o exercício do direito de ação e de um processo
de um mesmo instituto, já que cada autor procura dar ênfase àquelas carat tegular.”.'8*
terísticas que entende mais relevantes. Vejam-se, nesse sentido, as seguintes Tal definição, entretanto, foi elaborada antes da entrada em vigor da Lei
definições de jurisdição: n" 4.307/96 (que trata da arbitragem) e em momento em que tínhamos uma
- Emane Fidélis dos Santos: “...o poder-dever do Estado de compor os litl . uncepção de processo mais influenciada pela estrutura e finalidade do pro-
gios, de dar efetivação ao que já se considera direito, devidamente acertado, r ■i st) de conhecimento. Essas duas deficiências, pois, levaram-nos a elaborar
de prestar cautela nos processos em andamento ou a se instaurarem, para que u m a nova definição acerca da jurisdição, que não deixa de lado a particular
não percam sua finalidade prática.”;'79 posição de que a arbitragem tem a natureza de atividade jurisdicional e nem
- Moacyr Amaral Santos: “A jurisdição, portanto, é uma das funções da i Importância da função executiva e da prestação das tutelas não satisfativas.
soberania do Estado. Função de poder, do Poder Judiciário. Consiste no poder Daí, pois, hodiernamente entendemos que jurisdição é a função do Estado,
de atuar o direito objetivo, que o próprio Estado elaborou, compondo os confli normalmente exercida pelo Poder judiciário e substitutiva da vontade das
tos de interesses e dessa form a resguardando a ordem jurídica e a autoridade p.irtes, que tem por finalidade compor as relações jurídicas de direito mate-
da lei.”;'80 ■ioI controvertidas que são levados ao seu conhecimento, efetivar o conteúdo
- Cândido Rangel Dinamarco: “...função do Estado, destinada à solução •Io um título executivo ou de determinação judicial e prestar proteção urgente
imperativa de conflitos e exercida mediante a atuação da vontade do direito em i direito, mediante o exercício do direito de ação e de um processo regular
casos concretos.”;'8' processo.
185 CAPPEL1.F.TTI, Mauro e GARTH, Bryant. A cesso à ju s tiç a . Tradução Ellen Gracie Northflcel.
Porto Alegre: SAFE, 1988. p. 912.
■Ir permitir a mais ampla e efetiva atuação em defesa de um direito perante o
1'iuler Judiciário.
I'.tl posicionamento foi bem sintetizado por Luiz Guilherme Marinoni ao
ostentar que “...tutela jurisdicional, em nosso entendimento, não é sinônimo
■ Ir sentença, mas sim de procedimento estruturado (mediante, por exemplo,
>umarização form al e material, tutela antecipatória, sentença imediatamente
<\ccutável) para tutelar efetiva e adequadamente o direito material.”1*6; bem
i mno por João Batista Lopes, ao ensinar que “Em rigor técnico, o conceito de
tutela abrange não só a proteção dada pela autoridade judiciária durante a
Ihimitação do processo, assegurando a plena participação do autor e do réu
quanto às alegações e provas, mas também o resultado do processo, a garantia
i/r que serão cumpridas as decisões judiciais.”.1*7
I lodiernamente a doutrina prefere tratar do fenômeno da jurisdição pela
•Iniominação tutela jurisdicional de direitos, com o fito de indicar a aderência
do direito processual ao direito material, relevando seu caráter instrumental.
Na medida em que cada direito se efetiva de uma forma e, por isso, várias são as
• Iicácias exigidas para sua implementação, a doutrina acabou por elaborar inú
meras classificações a respeito das tutelas jurisdicionais, como adiante se verá.
188 LOPES, Joào Batista. A ç ã o d e cla ra tó ria . São Paulo: RT, 1982. p. 40.
j niTwmnmm;wHm i / t
LOPES, João Batista. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: Alias, 2005. v. I. p. 21.
TAI.AMINI, Eduardo. T u te la r e la tiv a a o s d ir e ito s d e f a z e r e d e n ã o fa ze r. São Paulo: RT, 2001. p.
205.
destinatário opção para cumpri-la ou não. Se o destinatário não cumpre a
determinação judicial, então o juízo o substitui por outra pessoa para que a
cumpra.
Pense-se no seguinte exemplo, bastante comum em nosso País: a lei orgã
nica de determinado município dispõe que é dever da municipalidade for
necer transporte gratuito para os estudantes universitários que estudam em
cidade vizinha. Por razões de caráter político, o prefeito municipal faz cessar o
transporte, o que implica a interposição de mandado de segurança pela asso
ciação dos estudantes. O magistrado examina a hipótese e concede a ordem,
de natureza mandamental, determinando o fornecimento do transporte aos
estudantes. Todavia, o alcaide se prostra diante da porta do coletivo e ameaça
de demissão o motorista que transportar os estudantes. Como fazer, nesta
hipótese, para cum prir o provimento mandam ental emitido? A única solução
é afastar o alcaide do local e colocar outra pessoa para cum prir a determina
ção, sem prejuízo da aplicação do art. 79, do CPC. Observa-se, portanto, que
o juízo não pode praticar atos de sub-rogação, na medida em que cabe ao des
tinatário da ordem, ou àquele que lhe suceda, cumpri-la, sem a possibilidade
de deixar de fazê-lo.
For fim, deve-se observar que as decisões proferidas sempre apresentam
todas essas eficácias, que não subsistem isoladamente. Ao tratar das eficácias
das ações acentuou Pontes de Miranda que “Não há nenhuma ação, nenhuma
sentença, que seja pura. Nenhuma é somente declaratória. Nenhuma é somente
constitutiva. Nenhuma é somente condenatória. Nenhuma é somente manda
mental. Nenhuma é somente executiva. A ação somente é declaratória porque
sua eficácia maior é a de declarar. Ação declaratória é ação predominante
mente declaratória. Mais se quer que se declare do que se mande, do que se
constitua, do que se condene, do que se execute.V9'
Em outros termos, qualquer que seja a decisão proferida pelo magistrado,
tendo o ato processual cunho decisório, em especial no tocante as sentenças,
a tutela prestada é um a mescla de todas as tutelas existentes, embora algumas
delas possam ser imperceptíveis em face da forte presença das demais.19
l«J PRATA, Edson. J u risd içã o v o lu n tá r ia . São Paulo: LEUD, 1979. p. 12.
Luiz Guilherme Marinoni, Vicente Greco Filho e Cândido Rangel Dina nessas hipóteses deve ocorrer um acompanhamento próximo da solução do
marco, dentre outros. problema, tudo para evitar que o descumprimento da lei venha a gerar inú
Acreditamos, com a primeira corrente, que a jurisdição voluntária não é, meras controvérsias que, fatalmente, converter-se-ão em vários processos. É
em sua essência, uma atividade jurisdicional. Trata-se, em verdade, de ativí 0 caso, por exemplo, da alienação judicial de bem (art. 730), do divórcio con
sensual (arts. 731 a 734) e da interdição (arts. 747 a 758), dentre outros; campo
dade que poderia ser atribuída a órgão da administração, mas que foi atribu
ida ao Poder Judiciário por uma opção legislativa e pelas razões que veremos Ireundo para o desentendimento entre os envolvidos.
abaixo. A reforçar esse entendimento a precisa explanação de Luiz Rodrigues Destarte, pois, podemos definir a jurisdição voluntária como a atividade
Wambier ao afirm ar que a jurisdição voluntária "...não é assimilável à natu «dministrativa, exercida pelo Poder Judiciário, com a finalidade de fiscali
reza da atividade jurisdicional, porque nela não há decisão que diga o direito zar os interesses privados, prevenindo a ocorrência de litígios decorrentes de
aplicável à lide, em substituição à vontade dos interessados. Também não se situações potencialmente ofensivas a direito.
assemelha a atividade jurisdicional, porque não consiste em resolver conflitos, Por conta de sua natureza administrativa, onde não há litígio entre os
mas apenas em chancelar, por força de lei, aquilo que os interessados entre si jt) 1nvolvidos, mas apenas a necessidade da fiscalização de sua atuação, costu
resolveram, mas cuja eficácia depende dessa chancela, isto é, da manifestação ma-se afirm ar que na jurisdição voluntária não existem partes (que necessa-
do Poder Judiciário, ainda que apenas com caráter homologatório da vontade i lamente seriam contrapostas e antagônicas), havendo apenas interessados; o
dos interessados. Também não tem os mesmos efeitos da atividade jurisdicional i|Ue é ratificado por força da redação do art. 238, do CPC, onde se indica que
típica, não produzindo, por exemplo, coisa julgada material.”.193 a citação chama em juízo o réu, o executado ou o interessado.
Em verdade, três são os motivos que levaram a lei a optar pela atribui Embora exista necessidade de citação de todos os interessados (art. 721),
ção das atividades realizadas na jurisdição contenciosa ao Poder Judiciário: ‘■stes estão dispensados de elaborar peça que preencha os requisitos da peti-
a) a tradição, já que desde a época romana era o Poder Judiciário que deci slo inicial, prevista no art. 319, do CPC, por força da redação constante do
dia tais questões; b) o conhecimento da lei, já que ninguém melhor do que o art. 720, do CPC, que permite que o início do feito se dê por mero requeri
Poder Judiciário para conhecê-la; e, c) a eliminação de uma instância, pois se mento. Daí a razão pela qual se afirma que não há relação jurídica processual
outro fosse o órgão a decidir a questão poderia haver recurso ao Poder Judi na jurisdição voluntária, existindo mero procedimento. Também se afirma,
ciário, tornando mais morosa à solução do problema. Todavia, já se observa mormente tendo-se em conta que não há litígio entre os interessados, que não
um movimento no sentido de desjurisdicionalizar tais atividades, atribuin há exercício de direito de ação.
do-a aos cartórios extrajudiciais, como aconteceu com o inventário e com o
Por fim, com a afirmação corrente na doutrina de que a jurisdição voluntá-
divórcio consensuais, que a partir da entrada em vigor da Lei n° 11.441, de 04
i ia não produz coisa julgada, podemos parafrasear, parcialmente, Athos Gus
de janeiro de 2007, passaram a poder ser realizados também fora do Poder
mão Carneiro,19'1relacionando as principais diferenças entre as duas espécies
Judiciário.
de jurisdição:
* Fixada a premissa de que a jurisdição voluntária é atividade administrativa,
devemos observar que a sua finalidade é exercer a fiscalização das ativida
des dos particulares, com a finalidade de evitar que situações potencial mente
ofensivas a direitos possam gerar litígios. Existem situações em que, embora
não exista um conflito, são propícias para sua formação. Daí entende a lei que
1,1 WAMBIER, Luiz Rodriguez, ALMEIDA, Flivio Renato Correia de, TALAMINI, Eduardo. C u r so
a v a n ç a d o d e p r o c e s s o c iv il. 7* e.. São Paulo: RT, 2005. v. 1, p. 45-46. CARNEIRO, A thos Gusmão. J u risd iç ã o e c o m p e tê n c ia . 4* e.. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 35-36.
Jurisdição contenciosa Jurisdição voluntária
N a tu reza d e ativ id a d e ju risd ic io n a l N a tu re z a d e a tiv id a d e a d m in is tra tiv a
P etição in icial M ero re q u e rim e n to
E xercício d o d ire ito d e ação N ã o h á ex ercício d o d ire ito d e ação
L itígio a s e r c o m p o s to O s in teresses são co n v e rg e n te s
P artes c o n tra p o s ta s e a n ta g ô n ic a s In te re ssa d o s co m v o n ta d e c o m u m
P ro d u z co isa ju lg a d a N ão p ro d u z co isa ju lg a d a
Verificação de Aprendizagem
01. Quais são os poderes inerentes à jurisdição?
02. Quanto aos poderes da jurisdição, há diferença entre vocatio e coertio?
03. Quais são as características da jurisdição?
04. Defina jurisdição.
05. Porque a jurisdição, atualmente, é tratada por tutela jurisdicional de
direitos?
06. Como se subdivide a tutela de conhecimento?
07. A jurisdição voluntária é atividade jurisdicional ou administrativa?
08. Quais as características da jurisdição voluntária?
09. Em que consiste a não vinculação ao critério da estrita legalidade?
j, i u i r i « w m jw M u iim 103
- notio
- vocatio
02. Poderes - coercio
- judicium
- imperium
- executio
Notio é o poder de conhecer do pedido formulado e de todos os fatos e
circunstâncias a ele relacionados.
Vocatio é o poder de convocar as partes ou outros sujeitos ligados ao processo
para a prática de um ato processual.
Coercio é o poder de coerção atribuído ao magistrado, para que possa impor
a realização de um determinado ato processual.
ludicium é o poder de implementar a discussão entre as partes, visando à
instrução do feito e o esclarecimento das alegações formuladas.
Imperium é o poder de decisão que possui o magistrado ao prolatar decisões
interlocutórias e sentenças.
Executio é o poder de invadir a esfera de direitos de outrem, até mesmo do
próprio Estado, com a finalidade de tornar real a ordem emanada do
juízo, visando a efetividade empírica do comando estatal.
- secundária
- substitutiva
03. Características - inércia inicial
- imparcialidade do juiz
- possibilidade de produzir coisa julgada material
I*
?IIV II II« II M V I V / • I w i i i m i i i i m m . i i .i \ i n m i t w r m n r n u n i i m i
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Paulo: RT, 2001.
1'HEÜDORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 44a ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2006.
VVAMBIER, Luiz Rodriguez, ALMEIDA, Flávio Renato Correia de, TALA-
MINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. 7a ed. São Paulo: RT,
2005. v. 1.
6. DIREITO DE AÇÃO
197 ARAÚJO CINTRA, Antônio Carlos de, GRINOVER, Ada Pellegrini e DINAMARCO, Cândid..
Rangel. T e o r ia g e r a l d o P ro c e s so . 18* ed. Sào Paulo: Malheiros, 2002. p. 250.
|,w BARBI, Celso Agrícola. C o m e n tá r io s a o C ó d ig o d e P r o c e s s o C iv il. 6* ed. Rio de Janeiro: Forense,
1991. v.I, p. 16.
r
Di-parava-se, então, coni um caso no qual o autor tinha ação, mas não tinha
direito, o que contrariava frontalmente o pensamento civilista. O mesmo
ocorria com a ação declaratória negativa. O autor vinha ajuizo pedir a decla-
i ação da inexistência de um direito, o que fazia com que a procedência do seu
pedido gerasse verdadeira antinomia, já que exercia o direito de ação numa
iiçfto que declarava a inexistência do direito.
Diante desses obstáculos, a partir da monografia de Adolf Wach sobre
ii nção declaratória (Pretensão de declaração - Der Feststellungsanspruch),
il.itada de 1888, a teoria civilista da ação foi considerada superada, assentan
do se o entendimento de que a ação e o Direito Material são autônomos, na
medida em que é possível o exercício do direito de ação independentemente
«Ia existência do direito material do qual a parte se diz titular.
Surgiram, então, diversas teorias quanto ao conceito e natureza da ação,
t|iic podem ser agrupadas em dois blocos distintos. O primeiro, encabeçado
por Chiovenda, que encampou alguns pontos da teoria de Wach, conside
rando a ação como direito concreto de agir; e, o segundo, reunindo a maioria
ilos processualistas modernos, tratando da ação como direito abstrato de agir.
Nesse sentido a precisa lição de Celso Agrícola Barbi ao ensinar que “O reco
nhecimento da existência da ação declaratória negativa foi a golpe de morte na
doutrina civilista da ação. Mas, a essa harmonia inicial quanto a ser a ação
um direito autônomo, seguiu-se profunda divergência sobre a natureza e as
i aracterísticas desse direito. Quase se pode dizer que cada processualista criou
tua própria teoria da ação, de modo que seu número já anda aproximada
mente em uma centena. Podem elas, todavia, ser agrupadas em duas grandes
correntes: uma primeira, menos numerosa, que considera existir nexo bastante
estreito entre o direito de ação e o direito subjetivo material que ela visa a prote
ger, corrente essa qualificada como da ação como direito concreto de agir: uma
segunda, mais numerosa, que desvincula a ação do direito subjetivo material
i/ue ela visa a proteger, corrente essa qualificada como da ação como direito
abstrato de agir.".'99
Para Giuseppe Chiovenda, a lei é a manifestação da vontade de uma coleti
vidade, visando regular a atividade dos cidadãos e do próprio Estado. Tem por
linalidade a conservação dos sujeitos que a compõem e a distribuição dos bens
ldem, p. 17.
da vida existentes entre eles. Assim, pode o sujeito aspirar obtenção e con vlolnçâo da vontade abstrata da lei geradora de uma vontade concreta. Tam
servação dos bens da vida que lhe são assegurados pela lei, mesmo que paru bém é colocada como condição para a existência do direito de ação a existên-
isso tenha de usar de coação. Tal aspiração foi por ele denominada direito <i.i do Direito Material, isto é, a procedência da ação. Nesse passo, classificou
subjetivo, que por sua vez teve a seguinte definição: “A expectativa de uni bem ii nçâo como direito potestativo, que não exige qualquer obrigação que lhe
da vida garantida pela vontade da lei.”.200 i oi responda, mas apenas sujeita o adversário à ação.
Analisando essas idéias, explicou que toda norma legal representa um For fim, ressalte-se que para o citado autor, ao contrário do que propunha
dever ser e, portanto, uma vontade geral abstrata; isto é, a norma legal é hipo Wuch, a ação é movida contra o adversário e não contra o Estado, já que não
tética e sua concretização está condicionada ao surgimento de determinados i- pode presumir a existência de um conflito de interesses entre o Estado e o
fatos nela previstos. Quando esses fatos se verificam, forma-se, então, uma • liladão que teve seu direito lesionado por terceiro.
vontade concreta da lei, "ao tempo que da vontade geral e abstrata nasce uma Embora a teoria demonstre toda a genialidade do seu elaborador, seus
vontade particular que tende a atuar no caso determinado.”.20' Desrespeitada adversários objetavam que continuavam sem explicações os casos em que o
essa vontade concreta da lei, surge para a pessoa que teve seu direito lesionado lUtor propunha ação e, ao final, perdia a causa. Ocorre que não havia justi-
duas vias para obter uma recomposição: mediante prestação espontânea do Iu ativas para a movimentação do aparato judicial uma vez que não existia
que lesionou ou mediante coação, exercida por intermédio do órgão judicial. I direito violado e, consequentemente, o próprio direito de ação também não
por isso que o autor afirma que "... a ação é um dos direitos que podem flu ir da rxistia.
lesão de um direito; e eis como aquela se apresenta na maioria dos casos: como
Diante disso, criou-se uma corrente defendendo a abstração do direito de
um direito por meio do qual, omitida a realização de uma vontade concreta da
ição, ou seja, que esse direito não depende de ter ou não o autor razão. Tanto
lei mediante a prestação do devedor, se obtém a realização daquela vontade por
iquele que pleiteia com direito, quanto àquele que não o tem, são titulares do
outra via, a saber, mediante o processo.”.202
ilireito de ação. Em realidade, mesmo antes dessas objeções, no ano de 1877
Esse direito, embora tenha gênese independente de qualquer ato de von na Alemanha, Degenkolb já elaborara a teoria da ação como direito abstrato
tade do titular do direito lesionado ou de terceiro, não aciona espontânea de agir. “Quase ao mesmo tempo, por outra coincidência curiosa, Plász form u
mente o pronunciamento judicial. Está ele sujeito a uma condição que é a lava doutrina idêntica, na Hungria.”.20*
manifestação de vontade do indivíduo, uma vez que, como já se viu, ‘ nemo
Para os autores adeptos deste pensamento, o direito de ação independe da
judex sine actore”.
existência do próprio Direito Material. Existe ação mesmo que a lide seja jul
Destarte, após elaborar todos os conceitos acima mencionados, o autor gada improcedente, reconhecendo-se a falta do Direito Material, ou mesmo
definiu ação como "o poder jurídico de dar vida à condição para a atuação da quando o autor tenha conhecimento prévio da ausência do direito invocado,
vontade da lei”.2m dizendo-se seu titular por má-fé. É suficiente para a existência da ação que
Como se vê, pois, para Chiovenda e para os adeptos da teoria da ação como o autor afirme ter um direito protegido. Concebem, em maioria, que a ação
direito concreto de agir, existe um nexo bastante estreito entre o direito sub é movida contra o Estado, que tem a obrigação de sujeitar o réu às sanções
jetivo material e o direito de ação, já que tem a mesma origem, qual seja: a legais, segundo o que pretende o autor, embora existam os que entendam que
' ”5 Idem, pp. 252. Segundo os autores, Carnelutti concebe a ação " c o m o u m d ir e ito a b s t r a t o e d e n a tu
r e z a p ú b lic a , m a s d ir ig id a c o n tr a o j u i z e n ã o c o n tr a o E s t a d o " . Já Couture " c o n c e b e - a in te g r a d a
n a c a te g o r ia c o n s t it u c i o n a l direito de petição”.
LIEBMAN, Enrico Túlio. M a n u a l e d e d i r i t t o p r o c e s s u a le c iv ile . 5* e.. Miiano: Giuffrè, 1992. “A
ação, como direito ao processo e ao julgamento do mérito, não garante um resultado favorável do
processo: o resultado do processo depende do convencimento que 0 juiz faz sobre os fundamen
tos de fato e de direito da demanda proposta e poderá, por isso, ser favorável ao autor ou ao réu
Somente da experiência (do exercício) da ação resultará se o autor tem razão ou está errado: só
enfrentando o risco de perder é que o autor poderá procurar a vitória.” (Tradução livre)
“ 7 BARBI.p. 19-20.
A teoria de Liebman, também conhecida por teoria eclética, da ação con-
dliionada ou da asserção (embora para alguns seja esta uma variação), alcan
çou enorme repercussão entre os processualistas, em especial no nosso País.
Ocorre que o mestre peninsular, por causa da situação política efervescente
n,i Kuropa e da 2a Grande Guerra Mundial, mudou-se para a cidade de São
r.uilo e lá passou a m inistrar aulas de processo civil na faculdade de direito
•Io Largo de São Francisco, desenvolvendo estudos que acabaram por gerar
um incomum e incontestável avanço desse ramo do direito. Nasceu deste
encontro a chamada Escola Processual de São Paulo, "...hoje em dia reconhe
cida internacionalmente (e esse nome surgiu pela primeira vez num trabalho
,1c Alcalá-Zamora), seja pela unidade metodológica em torno de certas pre
missas fundamentais, seja pela coerente aceitação de certos princípios e pela
maneira comum de ver os institutos que estão à base do grande edifício da
processualística.”.m
Dentre os discípulos de Liebman estava o Professor Alfredo Buzaid que,
nomeado M inistro da Justiça, tratou de completar projeto de Código de Pro-
icsso Civil do qual ele mesmo participara, encaminhando-o ao Poder Legis
lativo. Nesse texto, transformado no Código de Processo Civil de 1973, foi
expressamente adotada a teoria elaborada por Liebman acerca do direito de
ação, com diversos artigos fazendo expressa referência às condições da ação
acima apresentadas.
Embora a teoria de Liebman tenha sido positivada, logo após a promul
gação da Constituição da República, em 1988, voltou-se a discutir acerca da
sobrevivência ou não das condições da ação, isso devido à expressa admissão
do princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional (supra, item 03.01).
Para alguns a teoria da ação adotada pelo CPC de 1973 não teria recebido
suporte de validade do novo texto constitucional, já que em última análise
representaria uma limitação ao exercício do direito de ação.
Ocorre, todavia, que a lei não pode impedir ou inibir o exercício do direito
de ação, mas pode muito bem discipliná-lo, o que faz mediante o estabeleci
mento das condições da ação, sem as quais não será possível a obtenção de
uma sentença de mérito. Usando uma figura do cotidiano, trata-se da pos
sibilidade que todos têm de dirigir veículo automotor, desde que respeitadas
ções da ação ou mesmo uma delas (interesse e legitimação para agir), dizemos " MONIZ DE ARAGÂO, Egas Dirceu. C o m e n tá r io s a o C ó d ig o d e P ro c e s so C iv il. 6* ED. Rio de
Janeiro: Forense, 1989. v. II, p. 563
Nada obstante as posições acima explanadas, apresenta-se como bastante
interessante a tese ampliativa advogada por Cândido Rangel Dinamarco,JM
para quem o perfil do instituto ainda não se encontra plenamente esboçado,
talvez em razão de tratar-se de teoria recente. Partindo de hipóteses clássi
cas de impossibilidade jurídica, o autor observa que existem diversas causas
que determinam o reconhecimento da falta da condição da ação. No caso da
cobrança de uma dívida de jogo, por exemplo, o pedido que o autor formula
não está desamparado pelo sistema jurídico. Este permite, em tese, o provi
mento jurisdicional condenatório e a cobrança de certa quantia em dinheiro,
assim como ocorre nos casos das demais obrigações. O que impede que o
autor possa cobrar judicialmente a dívida é uma peculiaridade da causa de
pedir, qual seja, a negativa de fundamento jurídico para que a cobrança seja
efetuada. Aí, portanto, a impossibilidade jurídica teria origem na causa de
pedir.
Já no caso da impossibilidade de exame do mérito do ato administrativo
pelo Poder Judiciário, isto em razão do princípio da autonomia dos pode
res, ocorre outro fenômeno. O sistema jurídico deixou de oferecer qualquer
tipo de ação para que as situações criadas pelo ato pudessem ser revistas. Por
isso, observa a negativa legal de tutela jurisdicional em razão da natureza do
pedido. A impossibilidade, então, reside no âmbito de outro elemento da ação,
qual seja, a não existência de pedido imediato previsto em abstrato.
Por fim demonstra que não é possível alguém propor execução contra
devedor solvente em face da fazenda pública, porque esta goza de prerroga
tiva legal, tendo procedimento próprio que lhe é reservado pelo ordenamento.
Assim, a impossibilidade jurídica residiría, no caso, em aspecto atinente à
qualidade da parte.
Explanadas estas, dentre outras hipóteses, conclui que, entre elas, existe
uma heterogeneidade, “fundamentando-se a negativa de jurisdição na natu
reza do pedido, às vezes em peculiaridade da causa petendi, ou até na prerro
gativa de que goza uma das partes.". Mas, em que pese a divergência de causas,
todas elas apresentam o traço comum de que o sistema jurídico, aprioristica
mente, indica hipóteses que não serão objeto de julgamento pelo mérito. Em
214
DINAMARCO, Cândido Rangel. E x e c u ç ã o c iv il. 2* ed. São Paulo: RT. 1987. v. Io, p. 213-.
outras palavras, o juiz não pode, em qualquer dos exemplos, julgar o mérito,
porque o próprio sistema legal o proíbe de fazê-lo.
Nesse momento, então, alerta o doutrinador para o fato de que, em nosso
direito, o conceito de demanda é pouco estudado e difundido, como ocorre
entre italianos e alemães. Para eles não é a ação que é proposta, já que esta
representa apenas um poder conferido a alguém. O que se apresenta ao juiz é
uma pretensão (interesse de que o interesse próprio se sobreponha ao interesse
alheio), que é veiculada pela demanda, traduzida esta pelo ato de provocação
da atividade jurisdicional. Se o ato que rompe a inércia judiciária, a demanda,
possui os mesmos elementos que identificam uma ação (as partes, o pedido
c a causa de pedir), então faz sentido concluir que a impossibilidade jurídica
reside nos elementos da demanda; já que as hipóteses estudadas estão relacio
nadas com o pedido formulado (impossibilidade do exame do mérito do ato
administrativo pelo Poder Judiciário), a causa de pedir (dívida de jogo) e a
uma especial condição da parte (execução contra a pessoa jurídica de direito
público). Por fim, demonstra que a possibilidade jurídica e o interesse de agir
são realidades diferentes, já que este tem caráter eminentemente processual
e "corresponde à utilidade do provimento”, enquanto aquele “é conceito que
recebe mais intensos influxos do direito substancial e se mostra como o reflexo
processual dos limites da área que o próprio direito substancial cobre.”.115
Realmente, não há como negar que a possibilidade jurídica deve ser sempre
aferida tendo em vista o sistema jurídico em vigor. Isso, porque ela decorre
da possibilidade que o sistema confere à parte de buscar o socorro do Poder
Judiciário, com a finalidade de obter a prestação da tutela jurisdicional. Como
pudemos observar nos exemplos acima citados, o que acontece é que o próprio
Estado, por motivos de ordem política, impede que a parte obtenha deter
minado tipo de prestação jurisdicional, subtraindo-lhe o direito material
respectivo ou impedindo que tenha ação para efetivá-lo. Trata-se, sempre,
do estabelecimento de uma disciplina para a obtenção da tutela jurisdicio
nal ou, quando a própria Constituição da República permite, uma proibição
quanto a sua obtenção, em exceção ao Princípio da Inafastabilidade da Tutela
Jurisdicional.
Idem, p. 220.
Em sentido contrário as posições acima narradas encontram-se aqueles
que, ainda sob a égide do CPC de 1973, entendiam que a impossibilidade juri
dica não possui natureza jurídica de condição da ação, mas sim de mérito
Nesse sentido, dentre outros, as opiniões de Donaldo Armelin,216 José Miguel
Garcia Medina e Teresa Arruda Alvim Wambier217 e de João Batista Lopes,
para quem, “Em rigor técnico, a impossibilidade jurídica do pedido constitui
matéria de mérito, isto é, se o tipo de tutela não fo r previsto expressamente, ou
se fo r proibido, tem-se, a priori, hipótese de inexistência do direito pleiteado, e
não simples ausência de requisito para julgamento do mérito.”.2™
Entretanto, como já tivemos a oportunidade de asseverar,219 sob a regên
cia do CPC de 1973 e no plano exclusivamente legal, ou seja, sob a óptica do
direito positivo, não restava dúvida de que a possibilidade jurídica era efeti
vamente uma das condições da ação. Isso, porque diversos artigos do CPC
de 1973 indicam a possibilidade jurídica do pedido como condição da ação,
sendo que o art. 267, inciso VI, o mais expressivo a este respeito, determinava
que o juiz deveria extinguir o processo sem resolução de mérito “quando não
concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a
legitimidade das partes e o interesse processual.” (grifo nosso).
No mesmo sentido, aliás, a posição de Cássio Scarpinella Bueno ao afir
mar que “..., não há como negar a peculiaridade do direito brasileiro de tê-la
acolhido expressamente e, por isto, nenhuma diferença faz o fato de, doutri-
nariamente, ela ser mais ou menos aceita pelo seu próprio idealizador ou pela
doutrina que se seguiu a ele, no exterior e no Brasil. [...] Destarte, não há como
recusar a possibilidade jurídica do pedido como uma das condições da ação no
direito processual civil brasileiro. Quaisquer críticas que a ela se façam devem
ser recebidas como considerações de lege ferenda, nunca como de lege lata.”.
Toda essa polêmica, como se verificou, que foi travada sob a égide do CPC
de 1973, resta agora superada com a entrada em vigor do novo código, que
a) As partes
A divergência existente entre a teoria concreta e a teoria abstrata da ação
repercutiu no tocante ao entendimento sobre a definição de parte. Sob a égide
da teoria concretista, não se duvidava que parte fosse o titular do Direito
Material litigioso; enquanto para os adeptos das teorias abstratas, o sentido de
parte tinha caráter exclusivamente formal. Alguns autores, com objetivo didá
tico, passaram então a classificar as partes no sentido substancial e processual.
1 LIEBMAN, Enrico Tullio. M a n u a l d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. Rio de janeiro: Forense, 1984. p. 90.
GOLDSCHMIDT, James. D e r e c h o P r o c e s a l C iv il. Barcelona: Editorial Labor, 1936. p. 191.
" CHIOVENDA. Op. cit., p. 355.
da relação jurídica processual, quando a alteração da parte não implica pro
priamente a alteração da sua qualidade.
A definição de parte como quem pede e contra quem se pede a prestação
da tutela jurisdicional, adotada pela grande massa dos processualistas pátrios
ou não, encontra objeção no pensamento de Liebman, seguido entre nós pot
Cândido Rangel Dinamarco. Liebman diz que “são partes do processo os sujei
tos do contraditório instituído perante o ju iz ”,222 acrescentando que essa con
dição pode ser adquirida: 1) por força da propositura da ação; 2) por força de
sucessão na posição da parte originária; e, 3) por força de intervenção em um
processo pendente. Por isso aquele que propõe a ação e aquele contra quem ela
é proposta, bem como o sucessor, podem ser enquadrados dentro do conceito
de parte já exposto, mas o terceiro interveniente não pode ser considerado
parte, porque nada pede e contra ele nada é pedido no processo.
Diante disso Cândido Rangel Dinamarco, ainda sob a égide do CPC de
1973, aponta que se deve distinguir entre partes na demanda e partes do pro
cesso. Autor e réu, bem como seus eventuais sucessores, seriam partes na
demanda, porque são os que pedem e contra quais se pede a tutela jurisdi
cional. Já o assistente, "... ingressa na relação processual sem nada demandar
e nem por isso deixa de ganhar a titularidade dos mesmos poderes e mesmos
ônus processuais que tem a parte assistida (art.52); é parte , consequentemente,
ainda que secundária, agregada à principal...”.22S E, para comprovar sua pro
posição, diz o autor que o CPC de 1973 adotou, em seu art. 52, “a linha do
pensamento liebmaniano”,227*229 dando ao assistente o status de parte secundária.
Com o devido respeito à posição delineada, preferimos entender, com a
maioria, que a definição inicialmente indicada é a mais pertinente, já que
também abarca os casos de assistência, seja sob a égide do CPC de 1973, seja
sob a égide do Código atual. Dividida a assistência em simples (art. 121) e litis-
consorcial (art. 124), deve-se observar no primeiro caso que o assistente é um
terceiro e não parte na relação jurídica estabelecida. Ele tem interesse jurídico
na vitória do assistido porque será atingido pelos efeitos da sentença, estando
h) O Objeto (pedido).
Esse elemento identificador da ação pode ser encontrado no próprio con-
icito de parte, quando se afirma que é autor quem pede e réu contra quem se
pede a prestação da tutela jurisdicional. Toda demanda ajuizada, portanto,
deve conter um pedido de determinada providência objetivada pelo autor, que
visa a impô-la ao réu.
Ora, o autor não traz para apreciação do juiz toda controvérsia que tem
com o réu. Do conflito de interesses entre ambos só é objeto da ação aquilo
que vem delimitado pelo pedido formulado. O que não constou do pedido
não pode ser conhecido e decidido, sob pena de nulidade da decisão proferida,
f por isso que o nosso Código de Processo Civil, quando trata do objeto da
ação, lhe dá o nome de pedido (art. 322-329). Pode-se dizer, pois, com Antônio
( iarlos Marcato, que "o pedido é o objeto da ação, aquilo que se pede ao juiz, a
matéria objeto do provimento jurisdicional.”.230
A doutrina costuma identificar duas espécies de objeto (ou pedido): o
objeto imediato e o objeto mediato. Objeto imediato é o tipo de providência
c) A causa de pedir.
Quando o autor propõe a ação ele o faz em função de determinados fatos
que, segundo alega, criaram, modificaram ou extinguiram o direito que
afirma. A conjugação desses fatos com os fundamentos jurídicos que invoca
constitui a causa geradora do pedido que faz perante o juiz, denominada
i .msa de pedir ou causa petendi. Trata-se do terceiro e último elemento iden-
lllicador da ação, que vem positivada no art. 319, III, do CPC, como “o fato e
os fundamentos jurídicos do pedido”.
Torna-se possível extrair da locução legal e da doutrina tradicional que a
causa de pedir se decompõem, portanto, em causa de pedir próxima e causa
de pedir remota. Enquanto esse diz respeito aos fatos articulados na inicial,
aquela diz respeito ao fundamento jurídico invocado.
A necessidade de indicação de uma ou de ambas as formas de causa de
pedir dá ensejo a duas teorias distintas, normalmente relativas à petição ini-
i ial: a teoria da individualização e a teoria da substanciação. Para a primeira,
hasta que o autor descreva o direito que afirma possuir para que se identifique
a ação, enquanto para a segunda existe a necessidade de descrição do fato
constitutivo do pedido.
A adoção da teoria da substanciação permite que o autor possa propor duas
ações semelhantes, desde que fundadas em fatos diferentes. É o caso da ação
de despejo fundada em falta de pagamento e da ação de despejo fundada em
infração contratual, movidas entre as mesmas partes, que seriam considera
das idênticas se adotada a teoria da individualização.
Nosso código, assim como o seu antecessor, optou pela teoria da subs
tanciação, já que exige que a petição inicial narre os fatos que dão ensejo ao
pedido e o fundamento jurídico em que o pedido é embasado.
a) Legitimidade de parte
Já abordamos, quando do estudo dos elementos da ação, a definição de
parte, que deve ser entendida como aquele que pede e contra quem se pede
a prestação de tutela jurisdicional. Na ocasião, porém, passamos ao largo do
problema relativo à legitimidade, já que esta, sendo uma condição da ação,
não poderia ter sido abordada no tópico referente aos seus elementos, de modo
atécnico.
Não é tarefa fácil, entretanto, aferir quem pode ser considerado part<
legítima para figurar no polo ativo ou no polo passivo de uma determinada
demanda, o que levou Juan Montero Aroca a observar que “intento de aclanu
um concepto que resulta más confuso cuanto más se escribe sobre él.”11' e Cân
dido Rangel Dinamarco a negar a existência dogmática da legitimidade como
verdadeira condição da ação, afirmando que “Em rigorosa técnica processual,
a legitimidade ad causam insere-se no âmbito do interesse de agir porque sua
falta traduz-se em ausência de utilidade do provimento jurisdicional .”.21J
Nada obstante, embora tenha se tornado clássica a repetida afirmação de
Liebman,231*233234também adotada por Buzaid, no sentido de que a legitimidade de
parte é a pertinência subjetiva da ação; tal definição não se demonstra suli
ciente para dar a entender em que efetivamente consiste a legitimidade. N.i
crítica de Moniz de Aragão “Nota-se nesse conceito aparente círculo vicioso
tem legitimidade para propor a ação aquele a quem esta pertine; a ação por sua
vez pertine àquele que pode propô-la e, por isso, é considerado parte legítima.
Diante de tal realidade, elaborando regras para um estudo sistemático da
legitimação extraordinária, embora sob a ótica do processo de cognição, como
acentua o autor cm sua primeira nota, José Carlos Barbosa Moreira define
legitimação como "... a coincidência entre a situação jurídica de uma pessoa,
tal como resulta da postulação formulada perante o órgão judicial, e a situação
legitimante prevista na lei para a posição processual que essa pessoa se atribui
ou que ela mesma pretende assumir:”. 2M
Em outras palavras, a lei estabelece determinados modelos nos quais a
parte, em tese, estaria legitimada para estar em juízo, defendendo seu alegado
direito. Tais modelos, ou tipos, para utilizar uma linguagem mais comum
231 AROCA, Juan Montero. L a I c g itim a c ió n e m e l p r o c e s o c iv il. Madrid: Civitas, 1994. Apud LIMA
FREIRE, Rodrigo da Cunha. C o n d iç õ e s d a a ç ã o . São Paulo: RT, 2000. p. 73.
231 DINAMARCO, Cândido Rangel. I n s titu iç õ e s d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: RT.2001. v. II,
p. 305.
233 LIEBMAN. Manual, p. 157. " L e g itim a ç ã o p a r a a g ir /legitimatio ad causam) é a t i t u l a r i d a d e (a tiv a
e p a s s iv a ) d a a ç ã o . O p r o b l e m a d e l e g itim a ç ã o c o n s is te e m i n d i v i d u a l i z a r a p e s s o a a q u e m p e r te n c e
o in te r e s s e d e a g ir (e, p o is , a a ç ã o ) e a p e s s o a c o m r e fe r ê n c ia a q u a l [ n e i c u i c o n fr o n ti] e le e x is te ; em
o u t r a s p a la v r a s , é u m p r o b l e m a q u e d e c o r r e d a d i s t i n ç ã o e n tr e a e x is t ê n c i a o b je tiv a d o in te r e s s e d t
a g ir e a s u a p e r t in ê n c i a s u b j e ti v a .“.
b) Interesse de agir.
Interesse, segundo leciona Calmon de Passos, "é a relação que se estabelece
entre uma necessidade e o bem que pode satisfazê-la. Seja necessidade de ordem
material, seja necessidade de ordem imaterial (moral, psicológica, intelectual,
J56 LOPES, João Batista. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: Atlas, 2005. v. I, p. 9 2 . ",I n s is ta - s e ,
p o r é m : e s sa a n á lis e d a le g i t i m i d a d e é s e m p r e f e i t a n o p la n o h ip o té tic o , c o m o se se d iss e ss e : a d m i t i n ■
d o - s e . p o r h ip ó te s e , a e x is tê n c ia d o d ir e ito , q u e m é o t i t u l a r a t i v o e e m f a c e d e q u e m e sse d ir e ito é
e x e r c id o ? "
v . vmiiM V wk n«jnw &v#
1'iplrítual, etc.).".1*7 Quando esse interesse está protegido pelo direito, surge,
rnt.in, um interesse jurídico, que não se confunde com o interesse processual.
Uso porque se trata de um interesse primário, que pode ser satisfeito sem a
interferência do órgão jurisdicional. A partir do momento em que o sujeito
lem o seu interesse insatisfeito, seja por oposição de outrem ou por qualquer
nutro fator, surgindo a necessidade de buscar o amparo do Poder judiciário
para obtê-lo, nasce o interesse processual.238
lál distinção também é formulada por Liebman,239 que afirma que “o inte
resse de agir é o elemento material do direito de ação e consiste no interesse cm
obter o provimento solicitado. Ele se distingue do interesse substancial, para
i uja proteção se intenta a ação, da mesma maneira que se distinguem os dois
elementos correspondentes: o substancial que se afirma pertencer ao autor e o
processual que se exerce para a tutela do primeiro. Interesse de agir é, por isso,
um interesse substancial, secundário e instrumental com relação ao interesse
mbstancial primário; tem por objeto o provimento de um interesse primário
lesado pelo comportamento da parte contrária, ou, mais genericamente, pela
atuação de fato genericamente existente
Observa-se, pois, que o interesse de agir tem evidente natureza processual,
u&o se confundindo com o interesse em obter determinado bem da vida, que
t fundado no direito material. O interesse processual é a necessidade de obter
do Estado-juiz um provimento acerca de um interesse substancial insatisfeito.
A partir de tal ideia, Cândido Rangel Dinamarco240 introduziu e desenvol
veu no Brasil doutrina dos alemães Stein e Neuner, segundo a qual, o interesse
de agir se funda em dois elementos distintos: a necessidade e a adequação do
provimento jurisdicional. Esse pensamento calou fundo nos processualistas
pátrios que, hoje, adotam, em sua maioria, tal pensamento. Dentre diversos
autores podemos citar:
Verificação de Aprendizagem
01 Em que consistem a chamada teoria imamentista e as teorias que pregam
a autonomia e a abstração do direito de ação?
Diante do Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional é
possível sustentar, sob a égide do novo CPC, a existência das condições
da ação?
01 Diante do conteúdo do novo CPC, em especial dos art. 17 e 485, V,
é possível sustentar a existência da condição da ação denominada
possibilidade jurídica?
04. Quais são os elementos da ação?
05. Como se subdivide o pedido e a causa de pedir?
00. Em que consiste a legitimidade de parte?
07. Como se subdivide o interesse de agir?
Planificação para aula
-D. Romano - Não há ação sem o respectivo D. material.
-T. Civilista (Imamentista) -Idem. Ação é faceta do direito
material. “Não há ação sem direito; não há direito sem ação,
a ação segue a natureza do direito material.”
1) Evolução
-Concreta (Chiovenda) - Lcl
representa a vontade geral e abstrata
Norma violada da ensejo a vontadi
concreta, que quer a recomposição
do estado anterior.
-T. Autonomia
-Abstrata.
Ex. Ação improcedente e declaratória negativa (Wacli
1888)
-T. Liebman - autônoma e condicionada.
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UAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades da sentença. 4a ed. São Paulo:
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7. PROCESSO
1 GRINOVER, Ada Pellegrini, ARAÚJO CINTRA, Antonio Carlos, DINAMARCO, Cândido Ran
gel. T e o r ia g e r a l d o p r o c e s s o . 18" e.. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 278.
sempre na presença das partes; b) o período Per formula (Formulário ou ( 'lá»
sico), em que o interessado recebia uma fórmula para o exercício do direito di
ação, normalmente escrita na madeira, levando ainda ao particular a instru
ção e decisão do feito; e, c) o período da Cognitio extra ordinem, em que um
agente oficial recebia, instruía, julgava e executava a sua decisão.
Nos três períodos, ao que parece, os romanos entendiam que a submissão
das partes ao processo se dava por força de um contrato, na medida em que o
interessado praticava os atos necessários à instauração do procedimento e o
sujeito passivo, ao apresentar resistência (litiscontestatio), concordava com sua
própria submissão ao que fosse decidido. Em outras palavras, a conduta ativa
do interessado e a resistência do sujeito passivo eram compreendidas como
um contrato tácito, em que ambos se comprometiam a se submeter à decisão
que fosse proferida.
Essa ideia do processo como um contrato, como indicam Ada Fellegrini
Grinover et all,148 foi englobada pela doutrina francesa dos séculos XVIII c
XIX, pois era a que mais se aproximava dos ideais da sociedade como con
trato social, que gozavam de repercussão e prestígio social na época.
Todavia, como as partes em verdade não teriam liberdade para contratai
quando existe um processo em juízo, a ideia do processo como contrato foi
abandonada, havendo uma tentativa de enquadrá-lo como quase-contrato. Em
outros termos, como não seria possível um contrato contrário à vontade das
partes, sua submissão à decisão proferida advinha de algo que era quase um
contrato, mas sem a necessidade de manifestação de vontade, que era suprida
pela vontade da lei. Tanto uma quanto outra concepções restaram totalmente
abandonadas, na medida em que o processo passou a ser observado sob á
óptica do direito público e não do direito privado.
Idem. p. 279.
luilonomia em face da relação de direito material, sendo complexa porque
estabelece direitos, deveres, ônus e obrigações recíprocos entre todos os parti
cipantes do processo.
Para o autor “O processo é uma relação jurídica que avança gradualmente
f que se desenvolve passo a passo. Enquanto as relações jurídicas provadas que
constituem a matéria do debate judicial, apresentam-se como totalmente con-
cluídas; a relação jurídica processual se encontra em embrião. /.../ Esta ativi
dade ulterior decorre também de uma série de atos separados, independentes
r resultantes uns dos outros. A relação jurídica processual está em constante
movimento e transformação.”. E arremata que o processo deve ser visto
como uma relação de direito público, que se desenvolve de modo progressivo,
entre o tribunal e as partes, ...”.2A'>
Em seguida, após sustentar que o processo é uma relação jurídica diversa
c independente da relação jurídica de direito material controvertida, o autor
propõe que os elementos constitutivos desta relação processual devem ser
i hamados de “pressupostos processuais”; estando o juízo obrigado a conhecer
ambos os aspectos quando chamado a proferir sua decisão.
Nas palavras do próprio autor: “Com os mencionados grupos de requisi
tos processuais - os pressupostos processuais - acrescenta-se à relação litigiosa
substancial existente no processo (a chamada merita causae) uma matéria de
debate mais ampla e particular. O tribunal não somente deve decidir sobre a
existência da pretensão jurídica em pleito, mas também, para poder fazê-lo,
deve certificar-se se concorrem as condições de existência do processo mesmo:
ademais do suposto de fato da relação jurídica privada litigiosa {da res in judi-
cium dedueta [coisa deduzida em juízo (ou levada a juízo)]} deve comprovar se
dá-se o suposto de fato da relação jurídica processual (do judicium).”.250
Já tivemos, anteriormente, a oportunidade de afirm ar nossa filiação a tal
corrente de pensamento,251252 que também é adotada pela maioria dos autores,
255 ARRUDA ALVIM, José Manoel de. M a n u a l d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 7* e.. São Paulo: RT, 2001
'4 CALMON DE PASSOS, José Joaquim. C o m e n t á r i o s a o C ó d ig o d e P ro c e s so C iv il. 6* e.. Rio d<
Janeiro: Forense, 1989.
255 DINAMARCO, Cândido Rangel. I n s titu iç õ e s d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: Malheiroy
2001.
256 BUENO, Cássio Scarpinella. C u r s o s i s t e m a t i z a d o d d i r e it o p r o c e s s u a l c iv il. 3* e.. São Paulo
Saraiva, 2009.
287 FORNACIARI JUNIOR, Clito. D a r e c o n v e n ç ã o n o d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il b r a s ile ir o . 2" e.. São
Paulo: Saraiva, 1983.
251 TALAMINI, Eduardo. C u r s o a v a n ç a d o d e p r o c e s s o c iv il. 7* e.. São Paulo: RT, 2005.
254 ALMEIDA, Flávio Renato Correia de. C u r s o a v a n ç a d o d e p r o c e s s o c iv il. 7a e.. São Paulo: RT, 2005,
260 DIDIER JUNIOR, Fredie. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. Salvador: Podium, 2007.
241 SOUZA, Gelson Amaro de. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. Presidente Prudente: Data Júris,
1998.
262 MIRANDA, Gilson Delgado. P r o c e d im e n to s u m á r i o . São Paulo: RT, 2000.
265 THEODORO JUNIOR, Humberto. C u r s o d e d i r e it o p r o c e s s u a l c iv il. 47“ e.. Rio de Janeiro
Forense, 2007.
244 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O n o v o p r o c e s s o c iv il b r a s ile ir o . 25“ e.. Rio de Janeiro: Forense.
2007.
265 FREDERICO MARQUES, José. M a n u a l d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: Saraiva, 2002.
244 MEDINA, José Miguel Garcia. P r o c e s s o C iv il m o d e r n o . São Paulo: RT, 2008.
247 DALL' AGNOL, Jorge Luis. P r e s s u p o s to s p r o c e s s u a is . Porto Alegre: Lejur, 1988.
244 WAMBIER, Luiz Rodrigues. C u r s o a v a n ç a d o d e p r o c e s s o c iv il. 7“ e.. São Paulo: RT, 2005.
247 DESTEFENNI, Marcos. C u r s o d e p r o c e s s o c iv il. São Paulo: Saraiva, 2006.
270 GONÇALVES, Marcos Vinícius Rios. N o v o c u r s o d e d i r e it o p r o c e s s u a l c iv il. 4* e.. São Paulo:
Saraiva, 2007.
271 SANTOS, Moacyr Amaral. P r im e ir a s lin h a s d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 25“ e.. São Paulo: Saraiva,
2007.
272 SILVA, Ovídio Baptista da. C u r s o d e p r o c e s s o c iv il. 7“ e.. Rio de Janeiro: Forense. 2005.
273 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. C u r s o c o m p le to d e p r o c e s s o c iv il. São Paulo: Saraiva, 1990.
I crreira, ‘ Sérgio Seiji Shimura;175Teresa Arruda Alvim Wambier374e Vicente
<liceu Filho.177
Nada obstante o posicionamento majoritário da doutrina acerca do pro-
i osso ter a natureza de relação jurídica processual, outras explicações foram
elaboradas, contrárias à teoria de Bülow, sobre a concepção de processo, como
adiante se verá.
de Albuquerque Rocha, para quem “A teoria cia relação processual só difere tias
teorias do contrato e do quase contrato quanto aos fundatnentos do processo
Em ambas, porém, está presente a idéia do processo como relação jurídica. Só
que as anteriores fundamentaram essa relação na vontade das partes. Já a cha
tnada teoria da relação processual fundamenta-a na lei.”.2**
Real mente, parece ter chegado o momento de pensar na natureza do pro
cesso em consonância com o modelo imposto pela Constituição Federal, em
especial pelos princípios que regem o processo civil. Não há mais como falai
no processo como uma simples relação jurídica, que estabelece direitos e deve
res entre as partes, na medida em que há um modelo pré-estabelecido, mol
dado pelas normas constitucionais, do qual o processo não pode se afastar.
Cada vez mais se robustece o caráter público do processo. Aumentam
os poderes instrutórios do juiz brasileiro, aproximando-o da figura do juiz
gerenciador do processo do direito inglês (case management powers), tendo as
partes como contrapartida a participação no gerenciamento do feito.
Destarte, portanto, nosso processo cada vez mais prescinde da disponibili
dade das partes, situação que em nosso crer o descaracteriza como uma típica
relação jurídica, aproximando-o mais da ideia de instituição.
7.2. Definição.
A definição de processo, à evidência, está intimamente vinculada e varia
conforme a posição que se adota acerca da sua natureza jurídica, em que a
corrente majoritária afirma existir uma relação jurídica processual, autônoma
da relação jurídica de direito material.
Nada obstante, discute a doutrina qual seria o tipo de relação jurídica exis
tente, surgindo três posições a tal respeito. A primeira diz que a relação jurí
dica é linear, já que se estabelece entre autor e o estado-juiz; a segunda sustenta
que se trata de uma relação jurídica angular, na medida em que a participa
ção do réu é imprescindível para sua formação; enquanto a terceira justifica
que a relação jurídica é triangular, na medida em que estabelece faculdades,
deveres, ônus e obrigações recíprocas entre todos os sujeitos do processo. A
terceira posição é a que prepondera, conforme assevera João Batista Lopes
ao ensinar que "é vencedora na doutrina a tese de que o processo constitui
7.3. Finalidade.
Em plena consonância com os ideais da sua época, relativos à fase do pro
cesso civil científico (capítulo 01 - infra), a doutrina sempre apresentou como
as finalidades do processo aspectos de ordem jurídica, deixando de observar
finalidades alheias a este campo de conhecimento. Famosa a tal respeito â
2,2 LOPES, João batista. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: Atlas, 2005. v. 01, p. 102.
FORNACIARI JUNIOR, Clito. D a r e c o n v e n ç ã o n o d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il b r a s ile ir o . 2* ed. São
Paulo: Saraiva, 1983. p. 125.
2M CALMON DF. PASSOS, José Joaquim. C o m e n tá r io s a o C ó d ig o d e P r o c e s s o C iv il. 6* c.. Rio dc
Janeiro: Forense, 1989.
»s THEODORO JUNIOR, Humberto. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 47* e.. Rio de Janeiro:
Forense, 2007. p. 49.
M SANTOS, Moacyr Amaral. P r im e ir a s l in h a s d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 25* ed. São Paulo: Saraiva,
2007. p. 281.
distinção entre as doutrinas de Chiovenda (teoria dualista) e de Carnelutti
(teoria unitária). Enquanto para este o direito material não produz qualquer
eficácia a não ser após sua declaração por sentença, o que implica a existência
de um único plano jurídico; para aquele os direitos preexistem à sentença, que
apenas reconhece a sua existência.297*
Para Cândido Rangel Dinamarco, que em nosso entender foi quem melhor
tratou dos escopos do processo, o verdadeiro escopo jurídico do processo é
aquele proposto por Chiovenda, ou seja, a atuação da vontade concreta do
direito. Nas palavras do autor “Tem-se por correta, portanto, a teoria dualista
tio ordenamento jurídico. Confirma-se que a sentença não cria direitos, mas
revela-os; e a execução forçada, que também tem caráter jurisdicional, confe
re-lhes efetividade quando falta o adimplemento voluntário pelo obrigado. O
escopo jurídico do processo civil não é a composição da lide, ou seja, a criação
tnt complementação da regra a prevalecer no caso concreto - mas a atuação da
vontade concreta do direito.".m
Nesse passo, esposando a ideologia acima explanada, podemos dizer que
o verdadeiro escopo jurídico do processo é aplicar o sistema jurídico vigente
para a composição da relação jurídica controvertida ou para a efetivação do
conteúdo de um título executivo.
Além da finalidade jurídica, o mencionado autor ainda classifica as fina
lidades do processo como social e política.299 No campo social os escopos do
processo seriam a pacificação social e a educação, na medida em que o pro
cesso serviría para buscar a eliminação dos conflitos, ofertando aos envolvi
dos definição quanto a angústia da incerteza, e para “educar para a defesa de
direitos próprios e respeito aos alheios".
7.4. Características.
Tratando das características do processo Alfredo Araújo Lopes da Costa,
em clássica lição, ensina que “Essa relação é: a) uma relação jurídica [...]; b) de
direito público [...]; c) autônoma [...]; d) complexa [...]; e) unitária [...]; f ) concreta
[...]; dinámica.V00 Cremos, todavia, que são características do processo, seja3 0
300 LOPES DA COSTA, Alfredo de Araújo. D ir e ito p r o c e s s u a l c i v i l b r a s ile ir o . Rio de Janeiro: Forense,
1959. v. I. p. 204.
T--------- -----------------
como relação jurídica, seja como instituição, a) a natureza pública, b) a auto
nomia, c) a complexidade; d) a unitariedade; e, e) o dinamismo.
O Estado exerce, sobre seu território, o poder denominado soberania, do
qual decorrem as funções executiva, legislativa e jurisdicional. Daí, se a Sobe
rania do Estado e suas funções são consideradas como institutos de direito
público, então o processo, também decorrente da Soberania do estado e inti
mamente jungido à atividade jurisdicional, também deve ser considerado
como uma instituição de direito público.
Por sua vez, como já vimos quando do estudo do juízo de admissibilidade
no processo (item 04.03, infra), este é composto por várias espécies de ques
tões, que estão relacionadas com três diferentes conjuntos, o primeiro atinente
.1 regularidade do exercício do direito de ação, o segundo atinente a regulari
dade do processo, e, o terceiro, atinente ao preenchimento de certos requisi
tos específicos para o meio processual de que se utiliza. As três espécies, por
sua vez, também são independentes do juízo de mérito. Portanto, as ques
tões atinentes ao processo guardam autonomia com relação a todas as demais
categorias, não se confundindo com as condições da ação, com as questões
preparatórias quando existentes e com a relação jurídica de direito material
controvertida.
Como terceira característica, o processo deve ser observado como um ins
tituto complexo, na medida em que é inconcebível como ato único, devendo
ser observado como um conjunto concatenado de atos processuais que criam,
modificam e extinguem faculdades processuais entre todos os seus persona
gens. Trata-se de um conjunto de direitos, deveres, ônus e faculdades; todos
coordenados para propiciar o avanço da marcha do processo.
Não bastasse, todos esses atos só existem com a finalidade de propiciar a
prestação da tutela jurisdicional, seja ela de acertamento, seja ela executiva,
razão pela qual podemos asseverar que o processo também tem por caracte
rística a unitariedade.
Por fim, como o processo está em constante modificação, superando fases
e caminhando para seu desfecho final, não alcançando estabilidade a não ser
depois que encerrado, quando poderá operar a eficácia de coisa julgada, afigu
ra-se correto afirmar que se trata de instituto marcado pelo dinamismo, cuja
mola propulsora encontra albergue no princípio do impulso of icial, segundo
o qual cabe ao magistrado velar pela sua constante e regular tramitação.
7.5. Pressupostos.
Para a concepção dom inante em nossa doutrina, que sustenta ter o pro
cesso a natureza de relação jurídica, esta relação está sujeita a certos pres
supostos para que possa ter existência e desenvolvimento válido. Em outras
palavras, para que o processo possa existir e se desenvolver, como conjunto do
atos sucessivos e interligados, é necessário a concorrência de certos requisitos,
que a doutrina denomina pressupostos processuais. Sem sua presença, exigida
pelo sistema (art. 485, III, do CPC), não pode o juiz apreciar o mérito da causa,
Na definição de Jorge Luís DalLAgnol os “pressupostos processuais são aqueles
elementos indispensáveis para a existência jurídica do processo e as condições
necessárias para o seu desenvolvimento válido. Sinteticamente: são os requisitos
necessários para a existência jurídica e o desenvolvimento válido do processo".
301
,01 DALL’AGNOL. Jorge Luis. P r e s s u p o s to s p ro c e ss u a is. Porto Alegre: LEJUR, 1988. p. 22.
ARRUDA ALVIM NETO. José Manoel d e M a n uai d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: RT. 1979
v. I. p. 286.
Nesse passo, o primeiro pressuposto de constituição da relação jurídica
processual é a existência de uma petição inicial. Isso, em decorrência do Prin
cípio da Inércia do Poder Judiciário, imbricalmente jungido ao Princípio Dis
positivo. Não existe, salvo raras exceções previstas por lei, como acontecia
com o inventário no código anterior (art. 989, do CPC de 1973), possibilidade
de existência do processo se a parte deixar de acionar o Poder Judiciário para
pleitear a prestação da tutela jurisdicional.
Não basta, porém, a existência de petição inicial se não há jurisdição. O
pedido veiculado pela petição inicial deve ser formulado perante um órgão
investido de jurisdição, mesmo que incompetente, para que possa nascer a
relação jurídica processual. Se a petição inicial for despachada por juiz apo
sentado, que não possui jurisdição, o processo não existe, a não ser aparen
temente, já que o Estado, salvo nas exceções previstas pela própria lei (v.g.
arbitragem), detêm o monopólio da prestação da tutela jurisdicional, como
decorrência da sua soberania.
É necessário, ainda, para aqueles que adotam a teoria angular ou trian
gular acerca da relação jurídica processual, que a outra parte seja chamada a
juízo para responder a ação, exercitando seu direito de defesa. Assim, sem que
ocorra citação, não se pode falar em constituição da relação.
A citação, por definição legal (art. 238, do CPC), é o ato pelo qual são con
vocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação proces
sual. Se esta não ocorre, a relação jurídica não chega a se completar, o que faz
com que o processo não exista.
Por fim, por exigência do sistema, mitigada em face da Lei n.° 9.099/95, que
instituiu os Juizados Especiais Cíveis, o último requisito para a constituição
da relação jurídica processual é a capacidade postulatória, que é a capacidade
de atuar em juízo, requerendo a produção de atos processuais válidos, sendo
exclusiva dos advogados. Ainda nas palavras de Arruda Alvim “O requisito
da capacidade postulatória nada mais é do que a exigência de a parte postular
em juízo através de advogado, salvo as exceções legais. Aplica-se ao réu, não
como requisito indispensável à formação do processo, em relação a ele, mas
como requisito consistente em que o réu só pode validamente se defender por
advogado.”. 303
M»
Op. cit., p. 290.
Em resumo, pois, são pressupostos de constituição da relação jurídica pro
cessual a existência de petição inicial; a existência de jurisdição; a citação; e, a
capacidade postulatória.
Tendo em vista que o processo é um conjunto de atos interligados e unidos
por uma finalidade comum, porém, não basta sua constituição para que a
parte possa alcançar seu objetivo final, que é a prestação da tutela jurisdicion.il
pleiteada. Isso porque a existência de uma relação é uma realidade, enquanto
o seu desenvolvimento, como relação que se projeta no tempo, é outra. Não
basta, pois, o processo existir. Deve ele se desenvolver num constante avanço
em busca do seu momento final, que é a prolação da sentença. Sem isso não
teríamos o dinamismo como uma das características do processo.
Nesse passo, para que o processo possa se desenvolver de modo válido c
regular são necessários outros requisitos, intimamente jungidos à dinâmica
do próprio instituto, que tomaram a denominação de pressupostos de desen
volvimento válido e regular do processo, como acima aduzido.
O primeiro deles é que a petição inicial apresentada seja apta, pois, caso
contrário, deverá ser indeferida, nos termos do art. 330, I, do CPC, fazendo
com que o desenvolvimento do processo seja interrompido. Petição apta é
aquela que preenche os requisitos exigidos por lei, digam eles respeito sua a
forma ou ao seu conteúdo, em especial no que toca as matérias elencadas no
art. 319, do CPC.
O segundo requisito é a competência e a imparcialidade do juízo. Embora
todo juiz exerça jurisdição, esta é exercida nos limites de sua competência.
Assim sendo, tratando-se de competência absoluta, que não pode ser pror
rogada, será inválida a relação jurídica devido, em última análise, à própria
ausência de jurisdição no que toca à determinada matéria. Ora, se um juiz è
absolutamente incompetente para conhecer e decidir certa matéria, ele não
está investido de jurisdição com relação a ela, não podendo o processo ter nor
mal desenvolvimento. O mesmo ocorre com o juiz parcial, que está impedido
de conhecer e decidir o feito já que tal circunstância afeta mortalmente diver
sos princípios informativos do processo, tornando inválida a decisão profe
rida. Nessa hipótese, aliás, existe expressa previsão legal para a propositura
de ação rescisória, nos termos do art. 966, II, do CPC, com a finalidade dc
desconstituir a coisa julgada.
() terceiro pressuposto desta espécie é a citação válida. Isso porque, embora
i citação inválida constitua a relação jurídica processual, não pode fazer com
que o processo tenha normal seguimento, já que não se produzirão os efeitos
previstos no art. 240, do CPC, a não ser aparentemente, viciando a relação
lurldica.
Finalmente, deve a parte ter capacidade processual. Torna-se necessário
que tenha aptidão não apenas para possuir direitos, o que caracteriza a capa-
t idade civil, mas que possa validamente exercitá-los, produzindo em juízo
■ilos processuais válidos. Por isso, tal pressuposto não é encontrado quando
um menor deixa de ser representado ou assistido num processo, ou quando
mitro tipo de incapaz demanda sem representação, embora tenham advoga
dos constituídos.
Ao lado destes pressupostos processuais, denominados intrínsecos e posi-
l ivos como já aludido, já que são aferidos em face do próprio processo e devem
fitar presentes; estão os pressupostos processuais extrínsecos, que devem ser
.itcridos fora do processo e que devem estar ausentes, uma vez que impedem
•i formação da relação jurídica processual e seu desenvolvimento válido. São
fies a litispendência, que é a identidade de ações em andamento porque idên
ticos seus elementos; a coisa julgada, que é o caráter de imutabilidade e incon-
li stabilidade que se agrega ao comando emergente da sentença; a perempçào,
que é a perda do direito de ação por desídia do autor que, por três oportuni
dades, permite a extinção do processo; e, o compromisso arbitrai, que não
permite o conhecimento da matéria eleita pelo Poder Judiciário; fenômenos
que impedem o juiz de proferir uma decisão de mérito, devendo extinguir o
processo sem a sua solução.
Pensando no processo como instituição constitucional, algumas pequenas
alterações devem ser observadas no perfil acima traçado, ainda com fulcro
na teoria que reconhece o processo como relação jurídica. Os pressupostos
processuais podem continuar a ser definidos como os requisitos necessários
a existência (constituição) e ao desenvolvimento válido e regular do processo,
*in consonância com a redação do art. 485, IV, do CPC, que se utiliza dessa
terminologia. Também é possível uma primeira classificação entre pressupos-
lo.s positivos e negativos, já que existem elementos que devem estar presentes
e elementos que devem estar ausentes para que o processo possa existir e para
que possa de desenvolver de forma regular.
Todavia, cremos que dentre os pressupostos de existéncia devem permanc
cer a jurisdição, a petição inicial e a capacidade postulatória; excluindo-se do
rol a citação. Isso porque, em nosso entender, o processo existe antes mesmo
da realização da citação e, independentemente de tais atos, pode produzir efei
tos. Assim, quando ocorre o indeferimento da petição inicial, na forma do art.
330, do CPC, ou a improcedência liminar do pedido, na forma do art. 332, do
mesmo diploma, o autor sofre as consequências da existência de um processo,
mesmo sem a participação do réu.
Não bastasse, há processos em que não existe a figura do sujeito passivo,
como acontece no caso da ação declaratória de inconstitucionalidade de lei.
em que em momento algum do procedimento aparecerá um réu, um execu
tado ou um interessado para responder a demanda; e nem por isso se afirma
que neste procedimento específico não há processo e que não se obedeceu ao
Modelo Constitucional de Processo inserido na Constituição da República.
Também a classificação dos pressupostos de desenvolvimento válido c
regular comporta uma pequena correção, substituindo-se a citação válida por
uma categoria mais ampla, que é o respeito ao Modelo Constitucional do pro
cesso, com a manutenção dos demais pressupostos, qual sejam, a competên
cia (absoluta) e imparcialidade do juízo, a petição inicial apta e a capacidade
processual.
Na verdade não discordamos com o fato de que, sem a citação válida, o
processo não pode se desenvolver de modo válido e regular. Apenas enten
demos que tal situação é abarcada por outra, de maior amplitude, que é o
respeito ao Modelo Constitucional do Processo. Isso porque, assim como sem
a citação válida o processo não pode se desenvolver, já que há desrespeito ao
Princípio do Contraditório; também a falta de publicidade importa na impôs
sibilidade de desenvolvimento válido e regular do processo, mas por conta de
desrespeito ao Princípio da Publicidade, ou redução dos prazos para a defesa,
já por desobediência ao Princípio da Ampla defesa.
Em outros termos, se o processo não poderá ter desenvolvimento válido
e regular sempre que houver infringência ao Modelo Constitucional do Pro
cesso, então a ideia da citação válida como pressuposto deve ser substituída
pela ideia de respeito a todos os matizes do modelo de processo previsto na
Constituição da República.
—
Km resumo, pois, podemos classificar os pressupostos processuais de exis
tência (constituição) em: a) existência de jurisdição, b) petição inicial e c) capa
cidade postulatória; e, os pressupostos processuais de desenvolvimento válido
e regular em: a) competência e imparcialidade do juízo; b) petição inicial apta;
c) capacidade processual e d) respeito ao modelo constitucional do processo.
Por fim, devemos observar que a teoria dos pressupostos processuais tem
aplicação irrestrita no processo de execução, como salientou Marcelo Lima
( iuerra.304 Isso porque, embora os dois tipos de processo sejam espécies que
não podem ser reduzidas a apenas uma, derivam do mesmo gênero, que é o
processo. Por isso, se é com respeito a este que devemos observar a existência
dos pressupostos processuais intrínsecos ou a ausência dos pressupostos pro
cessuais extrínsecos, então a teoria até aqui demonstrada tem plena aplicação
no processo de execução, em que o juiz também deve, antes de examinar o
mérito, aferir se o processo foi efetivamente constituído e se estão preenchidos
os requisitos válidos para o seu normal desenvolvimento.
Verificação de Aprendizagem
(II. Explique a concepção de processo como relação jurídica processual.
02. Pode o processo ser considerado uma instituição constitucional?
03. Defina processo observando a sua concepção como relação jurídica e a
sua concepção como instituição.
04. Segundo o pensamento de Cândido Rangel Dinamarco, quais são os
escopos do processo? É possível acrescentar mais alguma modalidade a
classificação do referido autor?
05. Quais são as características do processo?
06. Como se classificam os pressupostos processuais?
1 LIMA GUERRA. Marcelo. E x e c u ç ã o fo r ç a d a . São Paulo: RT, 1995. p. 117. "... n o q u e d i z r e s p e ito <1
i n c id ê n c ia d o s p r e s s u p o s to s p r o c e s s u a is n o p r o c e s s o d e e x e c u ç ã o , é p o s s í v e l a d e r i r in te g r a lm e n te a
e sse e n t e n d i m e n t o ...”
Planificação para aula
01. Natureza:
a) Natureza contratual - Não é acatada pela doutrina, já que no processo nito
existe o acordo de vontades.
b) Situação jurídica (Goldschmidt) - É uma situação porque não se estabelecem
vínculos entre os participantes. Eles só têm expectativas, mas nenhum
direito ou dever.
c) Processo como instituição (Jaime Guasp) - Já que “é o conjunto de atividade '
relacionadas entre si pelo vínculo de uma idéia comum e objetiva,” a que
aderem as partes.
d) Relação Jurídica (Büllow) - Os pressupostos não são meramente exceções
dilatórias. Há vínculos entre as partes e o juiz, assim como na relação
jurídica obrigacional. Doutrina mais aceita.
02. Concepção do processo como instituição constitucional.
03. Definição:
- como relação processual - É a relação entre os sujeitos processuais,
juridicamente regulada.
- tipos de relação: a) linear, b) angular e c) triangular
- como instituição - É a instituição constitucional que disciplina a atuação
de todos que nele intervém, cujo perfil está traçado pela Constituição da
República e complementado pelo Código de Processo Civil, permanente
e imprescindível para a obtenção da tutela jurisdicional.
a) aplicar o sistema jurídico vigente para a composição da relação jurídii ,i
controvertida.
- Plano jurídico
b) aplicar o sistema jurídico vigente para a efetivação do conteúdo de um
título executivo.
a) pacificação social
III finalidades -P lano social b) educação
c) manutenção do equilíbrio econômico
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LIVRO III
ELEMENTOS ESSENCIAIS
A ESTRUTURA BÁSICA DO PROCESSO
T
8. COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
Idem, p. 13.
im SILVA, Ovídio A. Baptista da. C o m e n tá r io s a o C ó d ig o d e P ro c e s so C iv il. São Paulo: RT, 2000 v
1, p. 408. “D a í d i z e r B O T E L H O D E M E S Q U I T A q u e , s o b r e a s c a u s a s n ã o i n c lu íd a s n a c h a m a d o
c o m p e tê n c ia i n t e r n a c io n a l d o B r a s il, o q u e f a lta r á a o s s e u s m a g is tr a d o s n ã o s e rá c o m p e tê n c ia e sim
j u r i s d i ç ã o . ”.
>Ihimada competência concorrente, no art. 23 hipóteses da chamada compc
•i' ih ia exclusiva e no art. 24 as litispendência e conexão internacionais.
i decisão proferida por juiz estrangeiro só estará apta a gerar eficácia após
un homologação pelo Superior Tribunal de Justiça, antes do que não estará
irvcstida do caráter de soberania necessário à produção de efeitos em nosso
território. Ao contrário e por questão de ordem lógica, quando as exceções se
l.i/em presentes (art. 24, infine), então a ação proposta em outro país poderá
gorar prevenção no Brasil, como acontece com as causas relativas a matéria
contratual, no âmbito do Mercosul, por força do Decreto 2.095, de 17.12.1996,
que aderiu ao Protocolo de Buenos Aires, assinado em 05.08.1994.
Problema interessante surge, entretanto, havendo duas ações idênticas em
países diversos, uma aqui e outra em país estrangeiro, porque apenas uma
poderá ser executada em nosso território, sob pena de incompatibilidade na
execução dos julgados (quando antagônicos) ou de ocorrência de bis in idem
(quando semelhantes). Como o parágrafo único, do art. 24, menciona que a
pendência de causa no Brasil não impede a homologação da sentença estran-
geira; em interpretação contrária torna-se forçosa a conclusão de que o trân
■iito em julgado de ação proposta no Brasil impede a homologação da sentença
estrangeira, que consequentemente nunca mais poderá ser executada em ter
ritório nacional (art. 963, IV, CPC). Mas se a sentença estrangeira é hom o
logada antes do trânsito em julgado da sentença nacional; então aquela está
(«•vestida de soberania e por isso estará apta a gerar litispendência, devendo
•r extinta a ação aqui proposta. Com isso fica compatibilizada a não possibi
lidade de execução das duas decisões judiciais.*I,
l>. 1. Definição.
)á estabelecidas as noções essenciais acerca da atividade jurisdicional, deve
mos observar que seria impossível o exercício desta função como um todo.
I m outras palavras, a imensa gama de conflitos existentes e a diversidade
(Ia matéria veiculada nas ações propostas obrigam o legislador a estabelecer
determinados critérios para distribuir, entre os juizes, as causas ajuizadas.
Assim sendo, embora todos os juizes, investidos que estão na função de
lulgar, desempenhem atividade jurisdicional, não o fazem por inteiro, uma
vez que sofrem uma limitação em razão de determinados critérios estabeleci
dos por lei. Nas palavras de Alhos Gusmão Carneiro: “Todos os juizes exercem
jurisdição, mas exercem numa certa medida, dentro de certos limites. São, pois,
iompetentes somente para processar e julgar determinadas causas. A compe
tência, assim, é a medida da jurisdição, ou ainda, é a jurisdição na medida em
i/ue pode e deve ser exercida pelo juiz.”.m
Ksse conceito de competência é seguido por todos os autores, embora apre
sentem definições um pouco diversas. Vejamos algumas delas:
a) Marcos Afonso Borges: “Competência, pois, é a parte do poder jurisdicio-
Hal que compete a cada juiz. É a limitação da jurisdição ou a jurisdição apli
cada a um caso concreto. A jurisdição é um todo. A competência uma fração.
Pode o juiz ter jurisdição sem competência. Não poderá ter competência sem
jurisdição”. 311
112 SANTOS. Moacyr Amaral. P r im e ir a s lin h a s d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 25* ed.. Sâo Paulo: Saralvj
2007. p. 207.
3,3 GRECO FIL.HO, Vicente. D ir e ito p r o c e s s u a l c iv il b r a s ile ir o . 19‘ ed.. São Paulo: Saraiva. 200<> |<
172.
314 ARRUDA ALVIM, José Manuel de. M a n u a l d e D ir e ito P r o c e s s u a l C iv il. São Paulo: RT, 2001. v I
p. 262.
313 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcante. C o m e n tá r io s a o C ó d ig o d e P r o c e s s o C iv il. Rio tl>
Janeiro: Forense, 1947. p 172.
314 PIETRO CASTRO, L. D e r e c h o P ro c e s a l C iv il. Madrid: Revista de Derecho Privado, 1964. pn
meira parte, p. 210.
317 CHIOVENDA, Giuseppe. P r in c ip io d i D i r i t t o P r o c e s s u a le C iv ile . Napoli: Casa Editrice Doll
Eugênio Jovene, 1965. p. 483.
Qualquer que seja o conceito que se opte por adotar, entretanto, pode-se
Mtndensar a ideia nelas contida na definição de que a competência é uma
parcela da jurisdição atribuída ao juízo, conforme as regras estipuladas pelo
legislador.
a) Critério objetivo.
O critério objetivo leva em conta elementos que não dizem respeito à pró
pria lide, ou seja, procura determ inar a competência segundo aspectos alheios
' relação controvertida veiculada pela ação. Com isso pode-se estabelecer uma
subdivisão segundo a natureza da causa, o seu valor e as condições pesso
a i s das partes; normalmente previstas pelo CPC (art. 44) e complementadas
pelas normas de organização judiciária, que levam em conta as peculiarida
des e necessidades dos órgãos jurisdicionais vinculados a um determinado
Tribunal.
Na primeira hipótese, relativa à natureza da causa (ratione materiae), o»
juizes são competentes para conhecer apenas determinadas matérias, exclu
idas outras cuja lei não lhes atribuiu. Assim, um juiz trabalhista é incompc
tente para conhecer e julgar uma causa que veicula matéria relativa a direito
de família. Da mesma maneira, existindo varas especializadas, como é o caso
das comarcas de maior movimento, um juiz titular de vara criminal não tem
competência para conhecer e julgar uma causa de indenização fundada em
acidente de veículo ou relativa a despejo pior falta de pagamento.
A segunda hipótese diz respeito ao valor que é atribuído à causa. Sendo
ele superior a um determinado montante, estabelece-se competência paro
juizes diferentes. Embora se trate de caso de competência concorrente entre
dois órgãos jurisdicionais, a doutrina519costuma apresentar como exemplo da
divisão de competência em razão do valor as causas propostas perante os juí
zados especiais cíveis, que obrigatoriamente devem possuir valor inferior a 40
salários mínimos, sob pena de renúncia ao montante superior a este patamai.
na forma prevista no art. 3o, §3°, da Lei. 9.099, de 26.09.1995.320
No Estado de São Paulo, já logo após a entrada em vigor do CPC de 1973, a
Resolução n.° 02, de 15.12.76, do Tribunal de Justiça, determinava, em seu art
5 4 ,1, competir às varas distritais, processar e julgar causas cíveis e comerciai1,
cujo valor não excedesse 50 vezes o salário mínimo vigente. Criava, portanto,
norma de determinação de competência fundada no valor de causa. Poste
riormente, porém, a Lei n.° 3.947, de 8.12.83, em seu art. 4.°, I, revogou o crité
rio anterior, atribuindo aos foros regionais o julgamento de causas em matéria
cível independentemente do valor que lhes era atribuído.
Na atualidade, entretanto, para atender as circunstâncias existentes no
momento e para aperfeiçoar a prestação da tutela jurisdicional, foi alterada
,w LOPES, )oão Batista. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: Atlas, 2005. v. I, p. 114; e, TH I
ODORO JUNIOR, Humberto. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 47* ed. Rio de laneiro: Forenu,
2006. v. I, p. 193.
wo L e i n .“ 9 .0 9 9 /9 5 . A r t . 3 o. O m is s is ... §3". A o p ç ã o p e lo p r o c e d i m e n t o p r e v i s t o n e s ta L e iimportatil
e m r e n ú n c ia a o c r é d ito e x c e d e n t e a o l i m i t e e s ta b e le c id o n e s te a r tig o , e x c e tu a d a a hipótese 11<
c o n c ilia ç ã o .
mais uma vez a regra atinente à competência em razão do valor. Assim, foi
iiiihuida competência, aos Foros Regionais, para decidir causas de natu-
ir/a cível de até 500 salários mínimos.321 Daí que somente as Varas Cíveis do
11>i um Central (João Mendes Junior) passaram a ter competência para conhe-
i ei e julgar as causas de valor superior ao montante preestabelecido.
Por fim, a competência também pode se estabelecer segundo uma especial
qualidade da parte (ratione personae). Na lição de Moacyr Amaral Santos "...
há algumas pessoas que, por motivos de interesse público, gozam de foro espc-
lul, c então se fala em competência em razão das pessoas - ratione personae.
Tais são, entre outras, as pessoas jurídicas de direito público, as autarquias, e,
ftti certas causas, o presidente da República, os ministros de Estado, o governa
dor de estado, seus secretários etc., que têm foros privativos.”.312 Nessas hipóte-
.t’s, portanto, a mera participação da parte no processo, desde que preenchido
u lipo legal relativo à competência, implica o estabelecimento do juízo onde a
i ausa será conhecida e decidida.
h) Critério funcional.
A lei pode determ inar que no curso de um determinado processo atue mais
tle um magistrado, seja para que um complemente a atuação do outro, seja
|i(ira que um promova a revisão daquilo que foi deliberado pelo outro. Essa
possibilidade de atuação de diversos juizes num mesmo processo foi eleita
pelo CPC como um dos critérios determinaiivos de competência, qual seja, o
. ntério funcional. Sobre ele já tivemos a oportunidade de afirmar que “O cri
tériofuncional [...] leva em conta ofato de que em determinado processo podem
luncionar diversos juizes, que têm delimitado seu campo de atuação. Empres
tando do processo penal um exemplo, trata-se do caso do juiz que conhece e pro-
Icrc sentença de pronúncia em processo que será julgado por jú ri popular. Após
proferir sentença de pronúncia, torna-se o juiz incompetente para prosseguir no
frito, devendo remetê-lo à vara do jú ri .”.323
Nada obstante, talvez o exemplo mais interessante de competência funcio
nal tenha sido a existência, no primeiro período do nosso direito processual,
S ú m u l a 2 2 4 . “E x c lu íd o d o f e i t o o e n t e fe d e r a l, c u ja p r e s e n ç a le v a r a o J u i z E s t a d u a l e d e c lin a r n
c o m p e tê n c ia , d e v e o J u iz F e d e r a l r e s t i t u i r o s a u t o s e n ã o s u s c i t a r o c o n f l i t o .”
i ) Critério territorial.
O último critério determinativo de competência adotado pelo CPC é o ter
illorial, que procura fixar competência tendo em vista o território afeito á
lim.sdição do juízo. Em outras palavras, um órgão jurisdicional possui um
inritório previamente demarcado por lei, dentro do qual será exercida sua
liirisdiçâo.
Essa divisão espacial do território se dá com a finalidade de tentar equi
librar as posições de vantagens e desvantagens do autor e do réu que litigam
■ui juízo, fazendo com que seja eliminado um possível desequilíbrio inicial
ilivorrente da parte inferiorizada ter que litigar em local distante de seu domi-
. llio. É por isso que a regra geral para as ações fundadas em direitos pessoais
■ para as ações fundadas em direito reais sobre bens móveis é que a ação seja
proposta no domicílio do réu (art. 46), se não houver regra especial de compe
tência a respeito daquela situação discutida em juízo.
Ora, o autor pode preparar a tese defendida na sua inicial, obter os docu
mentos necessários para sua instrução e propor a ação num prazo bem supe-
Hor ao prazo que possui o réu para oferecer sua defesa, pois a sua atuação
• .lá limitada apenas ao prazo prescricional. Permitir que a regra geral fosse a
piopositura da ação no domicílio do autor acabaria por desequilibrar ainda
mais essa posição de vantagem em relação ao réu, que poderia ter que liti-
.11 em local diverso do seu próprio domicílio, onde nada conhece. Seria bem
mais difícil contratar um advogado de sua confiança, obter documentos em
u tórios que não sabe onde se localizam ou até mesmo ir ao Fórum obter
mlormações acerca do feito, caso não seja digital. Daí as razões pelas quais,
\ Isando manter o equilíbrio entre as partes, elegeu o CPC o foro do domicílio
tio réu como regra geral.
Fixada a regra geral para a propositura de uma ação, passa o CPC a esta
belecer foros especiais levando em conta as peculiaridades de cada uma das
.11 nações, sempre sem descuidar da manutenção do equilíbrio entre as partes.
l'or isso, em se tratando de ação fundada em direito real sobre imóvel, reza o
ui 47 que o foro competente será o do local do imóvel. Isso porque desapa
ia e a desvantagem acima aduzida, já que é pouco provável que alguém seja
proprietário de imóvel onde nunca esteve, bem como porque a produção da
prova resta facilitada pela proximidade física do juízo ao bem.
Nos artigos seguintes (art. 48 até 52) o código trata de algumas situaçõcn
especiais, determinando onde deverá ser proposta a ação que tenha como
parte o espólio, o ausente, o incapaz e as pessoas jurídicas de direito público
interno. Para isso indica que ações promovidas pelo ou contra o espólio terão
como foro o local do seu último domicílio (art. 48); sendo idêntica a regra para
o ausente. Assim, se o autor da herança era domiciliado em São Paulo, seu
inventário será processado nesta Comarca e todas as ações contra ele inten
tadas, se não houver outra regra que a esta se sobreponha, como acontece
no caso da ação de alimentos, também serão proposta neste mesmo local. O
mesmo acontece quanto ao ausente, cujo foro para dem andar ou ser deman
dado é o do seu último domicílio.
A regra do art. 50, que reproduz em conteúdo o art. 98, do CPC de 1973, e
que trata da demanda proposta contra o incapaz, poderia ter sido eliminada
do sistema, na medida em que o incapaz, por força do que dispõe o art. 76,
parágrafo único, do Código Civil, tem domicílio necessário no local onde tem
domicílio seu representante ou assistente. Daí, mesmo que o art. 50 não cons
tasse da parte que trata da competência territorial, a ação contra ele intentada
teria como foro competente o previsto na lei civil. Aliás, a redação dada ao
art. 50, do CPC, seguiu a melhor estrutura apresentada pela redação do art.
76, do Código Civil, na medida em que agora também se utiliza dos termos
“representante” e “assistente”, dirim indo qualquer dúvida acerca da expressão
incapaz abarcar também o relativamente incapaz.
Outrossim, necessário notar que a regra do art. 50 é especial e afasta a
regra geral do art. 46, ambas do CPC, razão pela qual sua interpretação deve
ser restritiva. Por isso nas ações onde o incapaz for autor o foro competente
será o do domicílio do réu, já que o art. 50 não se refere ao incapaz como
parte, mas apenas como réu.
Já o art. 51, do CPC, em consonância com o art. 109, da Constituição da
República, disciplina o foro onde deve litigar a União, estabelecendo que “É
competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a
União; sendo esta a demandada, poderá a ação ser proposta no foro de domicí
lio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que deu origem à demanda, no de
situação da coisa ou no Distrito Federal”. Com isso a regra facilita à atuação
da parte contrária, que sempre será demandada no seu domicílio, mas poderá
optar por uma ampla gama de locais para acionar a União.
Encerrando a seção relativa à competência territorial o art. 53 repete,
mm algumas alterações e com enorme vantagem, o conteúdo do art. 1U0, do
t l'C de 1973; traçando regras especiais de competência para hipóteses bas
tante comuns dia a dia do foro. Começa por alterar o foro competente para as
ações de divórcio, que antes deveriam ser propostas no local da residência da
mulher, situação que reputávamos inconstitucional.
A esse respeito tivemos a oportunidade de observar que “O art. 100, inciso
I, do CPC, estabelece que o foro da residência da mulher é o competente para
a propositura da ação de separação judicial, divórcio e de anulação de casa
mento; excepcionando a regra geral de que o foro competente seria o do domi
cilio do réu. Como tal redação foi determinada pela Lei n° 6.515, de 16 de
dezembro de 1977, portanto anterior à Constituição de 1988, muito se debate,
seja na doutrina, seja na jurisprudência, se o preceito foi ou não recepcionado
pela nova ordem jurídica. Seria a regra contrária aos arts. 5o, I, e 226, § 5o,
da Constituição; e, portanto, inconstitucional? Para obter uma resposta ade
quada a tal questão, mister se faz a aplicação dos três critérios antes delinea
dos, estabelecendo-se a razoabilidade do discrímen, sua pertinência ao fator
de desigualdade e sua consonância com o sistema constitucional. Nesse passo,
podemos notar que a razão de existir a regra se prendeu, quando da sua edi
ção, ao fato de que a mulher estava em situação social inferior a do homem.
Séculos de submissão à vontade do pai ou do marido, numa sociedade eminen
temente patriarcal, fizeram com que a mulher tivesse inúmeras dificuldades
no momento da separação, o que justificava o discrímen com a finalidade de
obter o equilíbrio entre as partes. Atualmente, porém, cremos que não é mais
razoável a manutenção de tal fator de diferenciação. Passados 30 anos da Lei
do Divórcio, a sociedade é outra. A mulher está inserida no mercado de traba
lho e tem as mesmas oportunidades que os homens para desenvolver-se física,
psíquica e mentalmente. Por que, então, dispensar tratamento diferenciado a
ambos? Ademais, a manutenção da norma no sistema infraconstitucional, com
a devida vênia, representa verdadeiro menosprezo à mulher, pois a considera,
em certa medida, inferior ao homem, já que necessita de umforo especial para
litigar quando da sua eventual separação. Destarte, o fator de discriminação
não é razoável e o art. 10 0 ,1, do CPC, não está em consonância com os arts. 5 o,
I, e 226, § 5o, da Constituição Federal; razão pela qual se verifica desrespeito ao
princípio da isonomia, sendo inconstitucional o referido preceito.“d1*
^ Nesse passo, acolhendo a lei o entendimento mais moderno e em con
sonância com nossa realidade social, estabeleceu no art. 5 3 ,1, do CPC, cjiu-
para as ações de divórcio, de anulação de casamento e de reconhecimento ou
dissolução de união estável, o foro competente é o do domicílio do guardião
de filho incapaz. Não havendo filho incapaz, então a competência será do
foro do último domicílio do casal, e, se nenhuma das partes residir no antigo
domicílio, será competente o foro de domicílio daquele que for o réu. Com
isso, cremos, se restabelece o equilíbrio entre homem e mulher e se cumpre a
igualdade material prevista na Constituição da República.
O art. 53, II, do CPC, repete a redação do art. 100, II, do CPC de 1973,
sobre o qual se manifestou com precisão Patrícia M iranda Pizzol ao comentar
que “O alimentando não se encontra em pé de igualdade com o alimentante;
ele, seguramente, é a parte mais fraca na relação jurídica processual. Se o ali
cí
mentando tivesse de submeter-se à regra geral de competência, ou seja, foro do
domicilio do réu (devedor de alimentos), aí sim verificar-se-ia uma desigual
dade. Imaginem se aquele que precisa dos alimentos para subsistir, para se ali
mentar, estudar, se vestir, ir ao médico etc. e depende do processo judicial para
ver seu direito a eles reconhecido tivesse de propor a competente ação no foro do
domicilio do réu, que, muitas vezes, além de não coincidir com o seu, fica muito
distante dele? Na maioria dos casos, seria impossível ao alimentado deman
dar, diante dos custos relativos ao deslocamento, à contratação de advogado no
local do domicilio do réu etc. Por conseguinte, entendemos que a norma não <■
inconstitucional, como poderia parecera um intérprete apressado.V29
A redação do preceito, que se utilizou de ambas as locuções, indica que a
ação poderá ser proposta no local do domicílio ou no local da residência do
alimentando, ficando a seu cargo a opção por um ou por outro local. Optando
pelo local do domicílio, entretanto, não poderá o alimentando deixar de cum
prir o determinado no art. 50, do CPC, já que o incapaz, como se viu, por*129
IMJ
N E R Y IUNIOR, Nelson, NERY, Rosa M aria de Andrade. C ó d ig o d e P r o c e s s o C i v i l C om enlaihi 7*
e.. São Paulo: RT, 2003. p. 499.
Por sua vez, conforme dispõe a alínea “c", para a ação em que for ré a sot ic v Rosa Maria de Andrade Nery que "í: do autor a opção pelo ajuizamcnto do
dade sem personalidade jurídica, o foro competente será o do lugar onde a ação no foro de seu domicílio ou no foro do lugar do acidente. O réu não pode
empresa exerce a sua atividade principal; enquanto por força da alínea "d Opor-se a opção do autor. Este, entretanto, pode renunciar à prerrogativa de
será competente o foro do lugar onde a obrigação deve ser satisfeita, para u foro e ajuizar a ação no domicilio do réu (CPC 94). Se isso ocorrer, ao réu é
ação em que exige o seu cumprimento. vedado argüir a incompetência relativa, por falta de interesse processual, já que
A alínea “e” não constava do rol existente no art. 100, IV, do CPC de 1973. estaria sendo beneficiado com a escolha do autor pelo foro do domicílio dele,
sendo introduzida no diploma atual como uma consequência lógica e neces teu.”. Em resumo, tais ações podem ser propostas no domicílio do autor, no
sária de uma melhor implementação do direito das pessoas idosas, nos termos domicílio do réu ou no local dos fatos, à livre escolha do autor.
previstos pelo Estatuto do Idoso (Lei n.° 10.741, de Io de outubro de 2003). Daí
dizer o preceito que é competente o lugar “de moradia do idoso, nas causas que 9.3. Princípio da perpetuatio jurisdictionis.
versem direitos individuais previstos no respectivo estatuto;”. Com isso, o foro
competente para conhecer e decidir ação que verse direito previsto no estatuto A determinação do juízo competente para conhecer e para decidir deter
será o da moradia do idoso. Assim sendo, se pessoa idosa for impedida dc minada demanda depende, além das regras acima apresentadas, da fixação
prestar um concurso público de bibliotecária, por exemplo, cuja natureza do dc um marco temporal, sem o que cada alteração na situação de fato ou de
cargo não exige vigor físico extremado para o desempenho da atividade,” 1a direito poderia implicar a alteração da competência inicialmente fixada. Pen
ação para discutir a lesão ao seu direito será proposta no local da sua morada se-se na seguinte hipótese: o alimentando que reside em Bauru/SP na data em
Por fim, as ações referentes à reparação de danos causados em razão da que propõe a ação, muda-se no dia seguinte para a cidade de Marília/SP, onde
atuação de serventias notariais ou de registros, como uma ação de indeniza permanece até a data em que o alimentante é citado. Muda-se novamente,
ção fundada na elaboração de ata notarial que retrata situação inversa da exis antes do término do prazo para a resposta, para a cidade de Araraquara/SP,
tente, deverão ser propostas na sede da serventia, conforme dispõe a alínea mas quando da decisão acerca da preliminar de incompetência está residindo
“ f ” do preceito.
na cidade de São Paulo. Não houvesse marco temporal para estabelecer o juízo
competente, em qual das comarcas seria processada e decidida a ação de ali
O art. 53, IV, do CPC, estabelece como foro competente aquele “do lugar do
mentos proposta?
ato ou do fato para a ação: a) de reparação de dano; b) em que fo r réu o admi
nistrador ou o gestor de negócios alheios.”. A importância da alínea “a” reside Diante da necessidade, pois, da fixação de um momento em que a incidên
na grande quantidade de ações de reparação de danos materiais e morais que cia das regras de determinação da competência devem ser observadas, esta
tramitam perante nossos Tribunais, cujo volume é sentido visu et intuito, belece o art. 43, do CPC, que “Determina-se a competência no momento do
embora não tenhamos conhecimento de estatísticas confiáveis a esse respeito. registro ou distribuição da petição inicial,...”; ou seja, por força do disposto no
art. 312, do CPC, determina-se a competência no momento em que a petição
Por fim, o inciso V do artigo, ao dispor que nas ações de reparação do
inicial for protocolada, uma vez que em proceso de base eletrônica é nesse
dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves,
exato momento que também se dá o seu registro.
será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato, dá ensejo à
existência de foros concorrentes, cuja opção quanto ao local da propositura da A previsão legal deste momento para aferir qual é o juízo competente,
ação fica ao livre critério do autor. Nesse sentido ensinam Nelson Nery Junior fixando no tempo a relação jurídica de direito material, assim como uma
loto torna inerte um momento que fatalmente sofrerá alteração futura; pot
Lei n.“ 10.741, de Io de outubro de 2003. “A r t . 27. N a a d m i s s ã o d o id o s o e m q u a l q u e r tr a b a lh o o u influência do Direito Romano denomina-se princípio da “perpetuatio juris
e m p r e g o , é v e d a d a a d i s c r i m i n a ç ã o e a f i x a ç ã o d e l i m i t e m á x i m o d e id a d e , i n c lu s iv e p a r a c o n c u r s o s ,
dictionis”, também conhecido como princípio da perpetuação da jurisdição
r e s s a lv a d o s o s c a s o s e m q u e a n a t u r e z a d o c a r g o ex ig ir.".
ou regra da perpetuação da jurisdição; sempre a indii .11 que uma vez fixado
o juízo competente, essa competência só virá a sofrer alterações em hipótese»
excepcionais, previstas na parte final do art. 43, do CIH .
Nada obstante as críticas existentes 11a doutrina quanto a imprecisão da
denominação perpetuação da jurisdição,"2isso sob o argumento de que o que
se perpetua em realidade é a competência, a denominação está consagrada
desde o Direito Romano, como esclareça Celso Agrícola Barbi ao aduzir que:
“Desde 0 direito romano existe a regra de que a competência para uma determi
nada causa, uma vez fixada, não mais se modificará, a não ser em casos muito
especiais. É 0 princípio da perpetuado jurisdicionis, consagrado do Digesto ubi
acceptum est semel judicium, ibi et finem accipere debet e que se justifica por
uma questão de conveniência e de estabilidade. Não houvesse a regra, poderio
ser mudado 0 lugar do processo tantas vezes quantas o réu transferisse 0 seu
domicilio, se a competência fosse decorrente dele.”.m
Fixada a competência pelo momento em que a petição inicial é protoco
lada, sendo irrelevantes as alterações de fato e de direito ocorridas após esse
momento; estabelece a parte final do art. 43, assim como já fazia o art. 87, do
CPC de 1973, que somente poderá ser aferida novamente a competência em
razão da supressão do órgão judiciário ou caso ocorra alteração da competên
cia absoluta. Nessas hipóteses deverá novamente ser verificado o juízo com
petente tomando-se por conta o momento em que houve a supressão do órgão
jurisdicional ou a alteração da competência absoluta. Por isso, utilizando
novamente o exemplo acima mencionado, proposta a ação de alimentos em
Bauru/SP, se esta comarca for suprimida, então é no momento da supressão
que se irá aferir o juízo competente; independentemente de outra localidade
ter herdado o território da comarca extinta.
Ressalte-se, por fim, que na hipótese de supressão do órgão jurisdicional,
por ser tratar de competência relativa, a não arguição importará em pror
rogação da competência do foro que herdou o território da unidade extinta;
enquanto no caso de competência absoluta deverão os processos ser remetidos
de imediato ao juízo competente.334
02 PIZZOL. A c o m p e tê n c ia . . . . p. 334-335.
UJ Op. cit., p. 237.
554 Súmula 10 do STJ: “S ú m u l a 10. I n s ta la d a a J u n ta d e C o n c ilia ç ã o e J u lg a m e n to , c e s sa a c o m p e
t ê n c ia d o j u i z d e d ir e ito e m m a t é r i a tr a b a lh is ta , in c lu s iv e p a r a a e x e c u ç ã o d a s s e n te n ç a s p o r ele
‘>.1. Competência absoluta e competência relativa.
Uma das classificações mais importantes acerca da competência diz res
peito a ser ela relativa ou absoluta, sendo corriqueira e errônea a ideia de que a
• oinpetência absoluta é aquela que se prorroga, enquanto a competência rela
Uva é aquela que não se prorroga. Isso porque uma definição pelos próprios
eleitos de um instituto nada define, servindo apenas para gerar confusão e
perplexidade acerca do seu conteúdo. Afinal, a competência absoluta é a que
mU> se prorroga ou a competência que não se prorroga é a absoluta? Qual foi,
eíctivamente, o conteúdo declarado desta espécie de competência com uma
ilelinição embasada em seus próprios efeitos?
O que acontece, em verdade, é que ao repartir a jurisdição entre os diver
sos juizes a lei leva em conta que, em certas situações, o interesse do Estado
ilcve preponderar sobre o interesse particular, isso para que se possa prestar
.i tutela jurisdicional de forma adequada. Daí, por uma questão de interesse
público, determina que a competência de um foro não poderá ser alterada,
na medida em que tal alteração causaria problemas quanto ao serviço pres
tado pelo Poder Judiciário (v. g , causa trabalhista julgada pela Justiça Comum
I stadual). Cria, assim, as hipóteses de competência absoluta. Em outras hipó
teses, porém, o interesse do particular prepondera sobre o interesse do Estado,
|á que a alteração de foro nenhum prejuízo causa a prestação da tutela, motivo
pelo qual apresenta hipóteses de competência relativa (v. g., feito de competên
cia da Comarca de São Paulo julgado na Comarca de Guarulhos).
Nesse sentido as precisas lições de Liebman e de João batista Lopes que
ensinam, respectivamente, que "A distribuição de competência é feita pelo
modo que a lei considera mais oportuno para o bom andamento da função
jurisdicional, sendo por isso inderrogável (C.P.C. art. 6o); somente nos casos em
que a lei pretendeu levar em conta o critério da maior comodidade das partes
<l que podem estas pôr-se de acordo para derrogar a ordem legal.”;33* e, que
"lintende-se por competência absoluta a que é fixada pela lei de modo inflexí
vel, atendendo a razões de ordem pública, isto é, sem permitir qualquer altera
(<íopelo juiz ou pelas partes. Já a competência relativa é estabelecida atendendo
p r o f e r i d a s .”.
" LIEBMAN, Enrico Tullio. M a n u a l d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. Rio de Janeiro: Forense, 198-1 p.
59-60.
às razões de conveniência das partes, segundo critérios que podem por elas sei
alterados.”.336
Em conclusão, portanto, a competência absoluta é fixada por razões dr
ordem pública, visando à otimização da prestação da tutela jurisdicional e.
por isso, não pode ser alterada por conveniência das partes; enquanto a com
petência relativa reúne critérios onde prevalece o interesse do particular sobre
o interesse público, razão pela qual as partes podem alterar o foro competente
para conhecer e decidir um determinado feito. Por isso são critérios de com
petência absoluta o material e o funcional; e, são critérios de competência rela
tiva o territorial e o fundado no valor atribuído à causa. Portanto, as partes
não têm disponibilidade para alterar o foro competente por motivos ligados
à matéria ou a função, mas podem alterar a competência quando se tratar de
território ou de valor.
Observe-se, por fim, que pela sistemática do CPC de 1973 a incompetência
absoluta era alegada como preliminar em contestação, enquanto a incompc
tência relativa era alegada mediante exceção de incompetência, que era autu
ada e decidida em separado (art. 307 a 311), com a necessária suspensão do
processo (art. 265, III). Atualmente, porém, por força do disposto no art. 64,
do CPC, tanto a incompetência absoluta quanto a relativa, deverão ser alega
das como preliminar na contestação, devendo ser solucionadas quando do
saneamento do feito.
Na nova sistemática quanto à alegação da incompetência do juízo, a incom
petência absoluta continua a poder ser reconhecida de ofício pelo juiz (art.
64, §1°), importando o seu reconhecimento na imediata remessa dos autos
ao juízo competente (art. 64, §2°), com a conservação dos efeitos das deci
sões proferidas pelo juízo incompetente, salvo decisão judicial em contrário
(art. 64, §3°); enquanto a incompetência relativa não pode ser reconhecida de
ofício, devendo ser objeto de alegação da parte, sob pena de prorrogação da
competência do juízo originalmente incompetente, na forma prevista no art.
65, do CPC.
Em que pese à sedimentação de tal entendimento, consubstanciado na
Súmula 33, do STJ, segundo a qual “a incompetência relativa não pode ser
declarada de ofício”, acreditamos que a propositura de uma ação fora do
na 'competência determinada pelo contrato’. Com efeito, a escolha do lugar do Para que a cláusula de eleição do foro possa produzir eficácia é necessário o
adimplemento da obrigação como elemento idôneo a fundar um critério </< preenchimento dos requisitos previstos no art. 63, §1°, do CPC, que exige que
competência territorial originou-se no direito romano, quando o locus destin.i ela conste de contrato escrito e que se refira a determinado negócio jurídico.
tae solutionis se pôs ao lado, em talfunção, da conclusão do contrato.”.™ Como Portanto, deixando de lado nosso entendimento sobre o tema, utilizando se a
anotam o citado autor e também Pontes de M iranda,338 nossas legislaçúr I<i da ideia de eficácia (produz efeito) e não da ideia de validade, acreditamos
sempre permitiram a eleição do foro, à exceção do CPC de 1939 que não tra que a cláusula não escrita sobre a eleição do foro também é válida, podendo
tava expressamente da matéria, mas mesmo assim a doutrina e jurisprudência produzir efeitos se a parte contrária anuir expressamente com o seu conteúdo,
da época se encarregaram de firmar o entendimento quanto a possibilidade confirmando o acordado quanto ao foro de eleição.
de eleição do foro, o que deu origem ao entendimento contido na Súmula 33f>, Preenchidos os requisitos exigidos pelo art. 63, §1°, do CPC, a eleição do
do STF, segundo a qual “É válida a cláusula de eleição do foro para os processos loro obriga os herdeiros e sucessores das partes (§2°), se o próprio contrato
oriundos do contrato.”. não trouxer qualquer disposição em contrário, já que o sistema não proíbe
Nada obstante, em que pese ser da tradição do nosso direito a possibilidade ,i elaboração de cláusula segundo a qual o foro de eleição cessa com o faleci
de fixação de foro de eleição, tal prática, com a devida vênia, não se coaduna mento de uma das partes que originalmente firmou a avença. Nesse sentido
com o processo civil moderno, onde cada vez mais se busca a otimização da ensina Celso Agrícola Barbi que “A regra é supletiva, isto é, aplica-se na falta
prestação da tutela jurisdicional. Isso porque o deslocamento da competência de convenção em contrário. Esta é perfeitamentepossível, porque nem a lei nem
por deliberação das partes não leva em conta as necessidades de todos os júris i».sprincípios impedem que as partes estabeleçam que a morte de qualquer delas
dicionados, acarretando um aumento de feitos desproporcional entre as várias laça desaparecer a convenção sobre foro. Mas não é possível contratar que oforo
unidades cartorárias, sempre criadas em razão de critérios de ordem pública se modifique em razão de morte da parte após proposta a ação, porque isto viria
Não se justifica, como se vê no foro, que as partes possam litigar em local contrariar a regra da perpetuatio jurisdictionis, constante da segunda parte do
diverso de seus domicílios, residências ou local onde exercem a sua principal art. 8 7 ” .■539
atividade, desprezando os critérios válidos para todos os demais que precisam
ir ao Poder Judiciário. Ademais, não raras vezes o instituto propicia que a 9.6. Cooperação nacional.
parte mais forte dificulte a defesa da parte mais fraca, o que levou ao acrés
cimo de parágrafo no art. 112, do CPC de 1973, permitindo ao juiz declarar de Além de prever as hipóteses em que se dará a cooperação internacional,
oficio a nulidade da cláusula de eleição de foro nos contratos de adesão, regra o código disciplina em seus art. 67 a 69 a cooperação entre os Órgãos Juris-
cujo conteúdo se repete no atual art. 63, §3°, do CPC, segundo a qual - “Antes dicionais brasileiros, impondo a todos o dever de cooperar para que o pro
da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz cesso alcance seus escopos, em especial o relativo à efetividade da prestação
de ofício pelo juiz que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro dc da tutela jurisdicional. Daí a razão pela qual o art. 67, impondo a ideia de
domicílio do réu.”. Pelo exposto tivemos a oportunidade de sugerir a supressão universalidade do princípio da cooperação, refere-se a todas as possíveis sub
do preceito relativo ao foro de eleição quando da elaboração do projeto que divisões previstas para os órgãos jurisdicionais, mencionando a Justiça Esta
deu origem ao atual CPC, mas a sugestão não foi acolhida, estampando a lei o dual e a Justiça Federal, a Justiça comum e a Justiça especializada, os juízos de
posicionamento hoje majoritário. primeiro e de segundo grau, além de todos os Tribunais Superiores. Em suma,
nenhum dos integrantes do Poder Judiciário; seja magistrado, seja servidor,
está isento desse dever recíproco de cooperação.
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. J u r is d iç ã o c c o m p e tê n c ia . São Paulo: RT, 2008. p. 195.
“• PONTES DE MIRANDA, p. 283. »" BARBI. p. 195. '< V( ” 'V '
Realmente, para utilizar uma alegoria popular comum a esse tipo de situa
ção, não se justifica que aqueles que estão na mesma canoa remem para dire
ções opostas, fazendo com que a embarcação não saia do local. Se todos os
agentes públicos estão submetidos ao Princípio Constitucional da Eficiência
da Administração, os esforços devem ser somados e não divididos, sob pena
de prestação de um serviço ineficaz e inadequado àqueles que deste serviço
público precisam.
Nada obstante, embora seja dever de todos a cooperação, o art. 69 trans
mite a falsa ideia de que deverá ela ser imediata e que não precisa atender a
forma específica, ao aduzir que “o pedido de cooperação jurisdicional deve sei
prontamente atendido...” e que “'...prescindem de forma específica,...”; o que em
verdade não acontece. Isso porque o atendimento as solicitações de outro juízo
devem levar em conta a situação do juízo que presta a colaboração, sendo que
o mero pedido não tem a propriedade de gerar prioridade com relação aos
processos que tram itam perante o juízo solicitado.
Do mesmo modo, só não haverá forma específica para a prática do ato
quando a lei for omissa a tal respeito. Caso contrário, quando o próprio código
prevê hipóteses em que uma determinada forma deverá ser observada, esta
deverá ser efetivamente seguida; sob pena de nulidade do ato praticado, seja
por expressa cominação legal, seja porque o desrespeito à forma causou algum
tipo de prejuízo para as partes ou para terceiros intervenientes no processo.
Essa é a razão, aliás, pela qual as expedições de cartas de ordem, precatórias
ou arbitrais devem seguir o regime previsto pelo código, na forma determi
nada pelo próprio art. 69, §1°, do CPC.
Há de ser observar, ainda, que a redação dada ao art. 69 não foi feliz ao
indicar quatro hipóteses para a execução dos pedidos de cooperação, que
poderíam se resumir ao inciso primeiro, ou seja, a previsão de auxílio direto.
Isso porque, quanto ao inciso II, que diz respeito a reunião ou apensamento de
processo, existem regras expressas que disciplinam a reunião de feitos, como
ocorre com a conexão ou a continência, sem as quais haveria infringência
ao Princípio do Juiz Natural, com a remessa de feito a juízo que original
mente não fosse o competente para conhecê-lo e para decidi-lo. Já no que toca
ao inciso III, relativo a prestação de informações, essas podem ser pleiteadas
sem maior formalidade e constituem uma forma de auxílio direto de um a
outro juízo; enquanto o inciso IV, que trata de atos concertados entre os juizes
inoperantes, também está abarcado pelo auxílio direto na medida em que o
Irr nio concertados é utilizado como ato ajustado ou combinado.
Nada obstante, o dia a dia forense, rico em novas experiências, virá a indicar
as formas mais usuais de auxílio direto, cuja estrutura e procedimento dever a
.cguir a técnica mais adequada ao ato processual que se pretenda realizar.
Verificação de Aprendizagem
1)1. Defina competência.
02. Quais são os critérios determinativos de competência? Explique cada um
deles.
03. É possível detectar, na Súmula 150, do STJ, ofensa ao Princípio do juiz
natural?
04. Onde será proposta a ação contra o espólio? E contra o ausente?
03. Qual o foro competente para julgar a ação promovida pelo incapaz?
06. Explique o princípio da “perpetuatio jurisdictiones"7.
07. Em que consistem a competência absoluta e a competência relativa?
Quais seus critérios e como são alegadas?
08. Quais os requisitos exigidos para que a cláusula relativa ao foro de eleição
possa produzir eficácia?
09. Como deve agir o juiz ao perceber que a cláusula que institui o foro de
eleição é abusiva?
10. Em que consiste a ideia de universalidade do princípio da cooperação
nacional?
H
Planificação para aula |l( )RGES, Marcos Afonso. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo:
LEU D, 1974/1975.
01. D e fin iç ã o . É uma parcela da jurisdição atribuída ao juízo, conformi
( ARNEIRO, Athos Gusmão. Jurisdição ecompetência. 4a e.. São Paulo: Saraiva,
regras estipuladas pelo legislador.
1991.
0 2 . C r ité r io s d e te r m in a tiv o s d e c o m p e tê n c ia .
< 11IOVENDA, Giuseppe. Principio di Diritto Processuale Civile. Napoli: Casa
a) Matéria Editrice Dott. Eugênio Jovene, 1965.
- Objetivo b) Valor i XJNHA, Leonardo José Carneiro da. Jurisdição e competência. São Paulo: RT,
c) Especial qualidade da parte 2008.
Obs.: Leva em conta critérios alheios a lide. (iRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 19a e.. São Paulo:
Saraiva, 2006.
- horizontal
I OPES, João Batista. Curso de direito processual civil. São Paulo: Atlas, 2005.
- Funcional
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- vertical (hierárquico)
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Obs.: Intervenção da União e de entes federais - art. 51.
NERY JUNIOR, Nelson, NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo
- regra geral - art. 46 Civil Comentado. 7a e.. São Paulo: RT, 2003.
- Territorial OLIVEIRA NETO, Olavo de. Conexão por prejudicialidade. São Paulo: RT,
- regras especiais 1994.
03. P r in c íp io d a “perpetuatio jurisdictionis”. (a rt.4 3 ) ________ e COZZOLINO DE OLIVEIRA, Patrícia Elias. Princípio da Isono-
0 4 . C o m p e tê n c ia s a b s o lu ta e re la tiv a , (declaração de ofício?) mia. In Princípios processuais civis na Constituição. Coord. OLIVEIRA
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Rio de Janeiro: Forense, 2006.
10. CONEXÃO DE CAUSAS
a) A conexão na França.
A legislação de França e seus principais autores adotam a posição de que
não é possível sistematizar todas as hipóteses de conexão. A diversidade com
que se apresenta o fenômeno e a dificuldade de encontrar pontos comuns que
identifiquem um gênero tornam impossível a elaboração de norma hipotética
e abstrata sobre a matéria, pois as exceções seriam mais frequentes que a pró
pria regra. Por isso delegam ao arbítrio do Juiz a tarefa de examinar e decidir
em que caso existe conexão e em que caso é recomendada, ou não, a reunião
de diferentes processos.
Expondo esse pensamento Tomás Pará Filho ensina com precisão que "no
direito francês, tem-se acentuado não ser possível extrair regra positiva relati
vamente aos elementos constitutivos da conexão, pois o fenômeno em estudo
revela seu caráter de mera apreciação móvel de circunstâncias e fatos, ou, como
já se acentuou, de intuição arbitrária pela lei conferida à responsabilidade do
juiz. A esses autores, portanto, parece impossível precisar as condições de atu
ação e a essência do princípio da conexão, cabendo ao juiz a apreciação sobe
rana das circunstâncias, da influência de uma ação sobre outra e do risco dos
julgados contraditórios.”.W25
43
335 PARA FILHO. Op. Cit., p. 16-17. São essas as palavras do autor: " R e v e la n d o m a i o r p r e o c u p a n d o
s is t e m á t i c a e m e s ta b e le c e r o s c a s o s d e c o m p e tê n c ia p o r c o n e x ã o , d e litis c o n s ó r c io e d e in te r v e n ç ã o
d e te r c e ir o s , d e m o d o a e x a u r i r a s h ip ó te se s p o s s ív e is , o C ó d ig o a le m ã o , to d a v ia , n ã o d e f i n e a c o n e
x á o e, ta m b é m , d e i x a d e m i n i s t r a r regras p a r tic u la r e s d e q u e s e p o s s a e x t r a i r f ó r m u l a ló g ic o - c ie n ti
fic a , à cuja ilh a r g a c a ib a m o u d e v a m ca b er os c a s o s p o s s ív e is d e c o n e x ã o ." .
349 WACH, Adolf. M a n u a l d e D e r e c h o P rocesal C iv il, Buenos Aires: ed. luridicas Europa-América
1977. p. 238. “S e d is c u te si co n la lic e n c ia q u e e l 2 5 3 c o n c e d e e n g e n e r a l a la s p a r t e s , se s a n c io n a u n
f u e r o d e c o n e x ió n m a t e r i a l.”.
10.2.1. Conteúdo.
Na Itália, ao contrário do que ocorreu na França e na Alemanha, firmou-se
u entendimento de que é possível a sistematização e a definição da conexão de
i ausas. Essa posição, chamada de doutrina tradicional, é devida ao brilhante
1'rocessualista Matteo Pescatore, que desenvolveu sua teoria ainda na metade
do século XIX, expondo-a na clássica obra Sposizione Compendiosa delia Pro-
• i‘dura Civile e Criminale, publicada em 1864.
Partindo da observação de que a ação tem três elementos constitutivos,
. orno acima já se expôs, constatou o autor que a coincidência entre esses ele
mentos gera a necessidade de união das causas, para que não ocorram decisões
. onflitantes. Surge, daí, um vínculo que une duas ou mais demandas, fazendo
com que se possa definir o fenômeno da conexão de causas. Nesse passo, diz
Pescatore que “Causas conexas são as que têm alguns elementos comuns e
alguns diversos; se todos os elementos fossem comuns, disso resultariam causas
idênticas e não apenas conexas. Se todos os elementos fossem diversos, faltaria
qualquer vinculo de conexão. Ora, se os elementos constitutivos de todas as
i ausas são: l.°) as pessoas litigantes; 2.°) o título litigioso, isto é, o titulo em que
se apoiam a demanda e a exceção relativa; 3.°) a coisa demandada (personae,
musa petendi e causa excipiendi, res): então emergem daí dois sumos gêneros
de causas conexas: o primeiro das que têm dois elementos comuns e um só
diverso; o segundo, das que têm dois elementos diversos e um só comum. Cada
um desses gêneros se subdivide depois em três espécies, porquanto, sendo três
os elementos, o elemento diverso do primeiro gênero e o elemento comum do
segundo podem variar três vezes.”.m
id e n t i c h e e n o n s o l a m e n t e c o n n e s s e : S e t u t t i g l i e l e m e n t i f o s s e r o d iv e r s i, m a n c h e r e b b e o g n i v in c o lo
d e c o n n e s s io n e . O r a g li e l e m e n t i c o s t it u t i v i d i t u t t e le c a u s e so n o : 1 °) le p e r s o n e c o n t e n d e n ti; 2.°) II
t i to lo d e lia c o n te s a , c io e q u e llo a c u is i a p p o g g ia Ia d o m a n d a e la r e la tiv a e c c e z io n e ; 3.°) Ia co sa cltr
s i d o m a n d a : (p e r s o n a e , c a u s a p e t e n d i e c a u s a e x c ip ie n d i, res): o n d e e m e r g o n o d u e s o r n m i g e n e r i dl
c a u s e c o n n e s s e : il p r i m o d i q u e lle c h e a b b i a n o d u e e l e m e n t i c o m u n i e u n s o lo d iv e r s o : il s e c o n d o di
q u e lle s e a b b ia n o d u e e le m e n t i , e u n so lo c o m u n e . C ia s c u n o d i q u e s ti g e n e r i s i s u b d i v id e p o i in Ire
sp e c ie ; p a r ic c h e tr e e s s e n d o g li e l e m e n t i / 'e l e m e n t o d iv e r s o n e l p r i m o g e n e r e , e /'e l e m e n t o c o m u n e
n e l s e c o n d o p u o v a r ia r e tr e v o lte ."
351 MATTIROLO. T r a tta to d i D i r i t t o G i u d i z i a r i o C iv ile I ta lia n o . 4* E.. [S.L.]: [s.n.], 1892. v. I, P. 749
São essas as palavras do autor: “D u e c a u s e a d u n q u e si d i r a n n o - I d e n tic h e , a llo r c h e , d e c o m p o s te
n e i lo r o e l e m e n t i c o s t it u t i v i , p r e s e n t i n o le s te s s e p e r s o n a e , la m e d i e s i m a res, la s te s s a c a u s a p e te r n li
- d iv e r s e , s e in e s so s o n o d i f f e r e n t i t u t t i e tr e g l i e l e m e n t i c o s t it u t i v i - a n a lo g h e f i n a l m e n t e , o (In
l i n g u a g g io le g a le ) c o n n e s s e , s e r i s u l t a n o c o r s titu ie d i e le m e n t i , in p a r t e id e n tic i, in p a r t e d iv e r si." .
c o m p e t e n z a e Ia p r o c e d u r a , c h e le s o n o p r o p r ie . D ã l t r o c a n to , I e c o n o m i a d e i g i u d i ^ i , la m a g g io r e
p o s s ib ile c e le r ita n e lla s p e d iz io n e d a lle c a u s e , il b is o g n o d i e v ita r e 1’e v e n t u a l i t a d i d t i c o p iti s e n te n z e
f r a d i lo ro c o n t r a d d it t o r i e s u l m e d e s i n o p u n t o d i q u e s tio n e , c o n s ig lia ito m a n i f e s t a r e i e n t e in v a r i c a s i
la r i u n i o n e d e l l e c a u s e c o n n e s s e in u n s o lo g iu d iz io ." .
ma 1'espressiotie superficiale e inutile di una condizione di cose che si verifica in congiunture epoco
complesse."
M P A R Á F IL H O , T o m á s. Conexão de causas. I n Enciclopédia Saraiva de Direito. S ã o P a u lo : S a r a iv a ,
1973. p. 481.
Segundo suas concepções, com o início da vida em sociedade passaram .1
ungir relações entre as pessoas que a compõem e os bens existentes. Procuram
«•Ias obter os “bens da vida ” para satisfazer suas vontades. Ocorre, todavia, que
existe uma maior quantidade de pessoas do que de bens, motivo pelo qual
duas ou mais delas podem pretender um mesmo bem, o que faz nascer um
tonflito entre os interesses antagônicos, que não diz respeito exclusivamente
.10 campo do direito, sendo pré-processual e essencialmente sociológico. Seu
Âmbito de atuação está nas relações entre as pessoas, o que não é objeto espe
1 it ico do estudo jurídico.
0 grande perigo dessa situação conflitante, sem dúvida, reside no fato de
que um dos antagonistas pode se valer da força para obter para si o bem da
vida, subjugando o oponente mais fraco. Isso ocorria nas sociedades primi
livas, sendo a forma mais rudim entar de soluções dos conflitos de interes
.i.*s; ocorrendo ainda em casos especiais, como no exemplo dado pelo autor,
que ilustra: “Cuando dos hombres que iienen hambre se encuentran ante um
pedazo de pan, es probable, ya que no seguro, que cada uno de ellos intente
tomarlo por la fuerza.”.M
Pode acontecer, entretanto, que o conflito de interesses não se resolva de
um modo violento, mas de maneira pacífica. Os antagonistas podem, reci
procamente, limitar seu interesse em face do interesse do outro, chegando a
uma composição mediante o sacrifício de parte de seus interesses, que vem a
se autodelimitar. Essa forma de composição, segundo o próprio autor, recebe
o nome de solução moral.
A par da solução moral, identificam-se duas outras formas de composição
que são a solução contratual e a solução arbitrai. Essa consiste na composição
em virtude do temor da força de um terceiro a quem desagrade uma solução
de violência; enquanto aquela reside no temor à força do próprio antagonista
Todas essas formas de solução dos conflitos de interesses não resolvem de
maneira conveniente o problema, já que estão fadadas a durar pelo mesmo
período em que durar a violência ou o temor pelo opositor ou pelo terceiro.''*17
1 CARNELUTTI, Francesco. Sistema dederecho procesal civil. Buenos Aires: UTHEA, 1944. v. 1.1
17.
SANTOS. Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 25* e.. São Paulo: Snraivj
2007. V. 1, p. 05. “Mas qualquer dessas soluções não é estável nem definitiva. A violência gera violén
cia. reavivando o dissídio; a solução moral repousa no equilíbrio do espirito e enquanto o cquilitu i,
Cria-se, consequentemente, uma instabilidade nas relações sociais, o que i tle servir para componerlo. I)e ahí que entre proceso y litigio medie la misma
prejudicial para toda sociedade. relm ión que entre continente y contenido.” 368
O panorama acima exposto fez com que surgissem os sistemas jurídicos, Ora, se processo e lide são realidades distintas, não podendo ser confundi
compostos de regras permissivas, proibitivas e obrigatórias, destinadas a esta das, então seus elementos também são necessariamente diferentes. Partindo
belecer condutas abstratas que devem ser seguidas, com o fulcro de compoi iln definição de lide é forçoso convir que o primeiro de seus elementos são as
os conflitos de interesses existentes de modo definitivo. É o ordenamento partes. O sujeito que afirma uma pretensão perante o Juiz e aquele que lhe
jurídico dirimindo os conflitos de interesses entre os membros da sociedade opõe resistência. Essa dualidade é necessária e suficiente, pois inexiste lide
Entretanto, como o conflito de interesses é fenômeno que independe do sis de uma pessoa contra si mesma e não é possível a existência de três partes.
tema jurídico, pois este procura apenas dirimi-lo quando se transmuda em No segundo caso explica o autor que pode haver mais de uma pessoa lili
lide, pode ocorrer que uma das pessoas pretenda ver seu interesse prevalecei gando num dos polos da relação jurídica processual, mas que nem por isso
sobre o interesse do seu antagonista, esteja ou não amparado pelas normas deixa de existir apenas um sujeito da lide. Cita como exemplo os casos que
postas. Essa pretensão é definida pelo autor como a "esigenza delia subordina veiculam direitos coletivos.369 O segundo elemento da lide é o bem da vida
zione di un interesse altrui alVinteresse próprio.”.*66 objeto da pretensão resistida, devendo ele ser entendido em sentido amplo e
Pois bem, se essa pretensão é resistida pelo outro antagonista, que não não na acepção estrita do termo, para abranger também as coisas imateriais e
admite ter seu interesse subordinado no interesse de outrem, surge o que o os direitos; enquanto o terceiro elemento da lide é a pretensão qualificada pela
autor denomina de lide, que “può definirsi corne un conflito (intersoggettivo) di resistência, cujas características adiante serão examinadas. Em síntese, pois,
interesse qualificato da una pretensaresistita (contrastata).”.*67 os elementos da lide são: 1) as partes; 2) o bem da vida que se disputa; e, 3) a
Cientes das definições formuladas acerca da lide e de pretensão, podemos pretensão resistida.370
agora, avançar na teoria traçada pelo autor, que embasa nestes dois institutos Ao classificar esses elementos o autor371 ensina que os dois primeiros (par
os pilares de sustentação de suas lições. Afirma Carnelutti, ainda, que existe les e bem) são elementos genéricos do conflito de interesses, já que aparecem
um estreito contato entre processo elide, embora sejam conceitos distintos, o lambém em outras formas de conflitos juridicamente transcendentes, como a
que tem contribuído sobremaneira para que os termos sejam tomados como relação jurídica e a relação possessória. Com isso, quer ressaltar que eles não
idênticos. Ocorre que o processo é o veículo utilizado para reproduzir a lide são aptos, por si sós, para caracterizar a existência de uma lide. Em outras
perante o juiz. Ele não é a lide, mas contém a lide. Tem a finalidade precípua palavras, sua inexistência implica a inexistência da lide, mas sua existência
de propiciar que ela seja resolvida. São significativas suas palavras ao tratar não é suficiente para que ela exista.
do tema: “La distinción consiste en <\ue el proceso no es el litigio, sino que lo Nesse passo, chama a pretensão e a resistência que a ela se opõe de elemen
reproduce o lo representa ante el juezo, en general, ante el oficio. El litigio no tos específicos, embora as enumere como um único elemento. Diz que esse
es el proceso, pero está en el proceso; ha de estar en el proceso si el proceso ha elemento é o mais importante de todos, já que por meio dele se constata a exis
tência ou não de uma lide, nos termos definidos. É o elemento que só aparece
perdura; as duas últimas, fu n d a d a s no temor, têm a duração deste: estabelecido o contrato ou pro CARNELUTTI. Sistema..., p. 03.
ferido o arbitramento, pode cessar o temor recíproco entre os contendores, ou destes em relação ao ,M Idem, p 04-05.
árbitro, propiciando o renascimento do conflito”.
CARNELUTTI, Fracesco. Lezioni di dirito processuale civile. Padua: Cedam, 1931. v. 4o,p. 04 c 05.
166 CARNELUTTI, Francesco. Istituizioni delprocesso civile italiano. 5* e.. Roma: Soc. Ed. dei Foro São esses os ensinamentos do autor: “Elem enti differenziali delia lite sono soltanto; a) le parti: b) in
Italiano, 1956. v. 1, p. 07. bcne; c) gli interessi in contrasto, cioé la situazione che rispetto al bene ciascuna parte pretende."
567 Idem. CARNELUTTI. Sistema .... p. 04.
na lide e é ausente dos outros tipos de conflitos citados. Em decorrência, a pre
tensão e sua resistência assumem capital importância na teoria, sendo mesmo
seu ponto central.
Quando alguém exige a subordinação de um interesse alheio ao interessi
próprio, como já se viu, surge uma pretensão. Essa exigência nada mais é do
que um ato praticado pelo sujeito. Não se trata de um direito, mas de uma
manifestação de vontade na qual o sujeito intenciona que seu interesse prev.i
leça sobre o do seu opositor. Na linguagem de Carnelutti: “La pretensión es un
acto y no un poder, o sea algo que el titular dei interés hace, y no algo que tienc;
una manifestación y no una superioridad de su querer."?71
Diante disso, podemos afirmar que uma pessoa pode ir a juízo propor
uma ação mesmo que saiba não ter o direito que a embasa, isto é, pode for
mular uma pretensão destituída de qualquer direito. Se a pretensão é apenas
um fazer e não um direito, uma declaração de vontade de quem a formula,
então pode existir pretensão sem direito. Nesse caso ocorre o que se denomina
pretensão infundada, que pode ser definida como aquela que não está emba
sada no direito objetivo. Contrariamente, se a pessoa formular sua pretensão
amparada pelo direito objetivo, teremos a chamada pretensão fundada.
O autor traz a lide ao conhecimento do juiz, mediante um processo, afir
mando querer que o interesse alheio seja subordinado ao seu. Alega que assim
deve ser porque seu interesse está de acordo com o direito objetivo, enquanto
a resistência do réu não está. Essa declaração de pertinência entre sua preten
são e o direito objetivo é chamada de razão.37' Ou seja: razão é a afirmação da
conformidade da pretensão com o direito objetivo.
Ora, "puesto que la tutela jurídica se traduce en la atribución de determi
nados efectos a determinados hechos, la razón se traduce, a su vez necesaria-
mente, en la afirmación dei efecto en que la tutela se concreta y en la afirmación
dei hecho de que la tutela desciende"?7AIsso implica duas espécies de elemen
tos componentes da razão: os elementos de fato e os elementos de direito
das razões. Em outras palavras, quando alguém afirma a conformidade da*37
371 I d e m , p . 0 8 .
373 I b i d c m , p . 0 8 - 0 9 . E s s a é a liç à o m i n i s t r a d a : “La razón (de la pretensión) es la afirmación de la
tutela que el orden jurídico concede al interés cuyo prevalecímiento se exige; o en olras palabras: la
afirm ación de la conformidad de la prelensión con el derecho (objetivo)".
,74 I b i d e m , p . 10.
pretensão com o direito objetivo, está a dizer que esta pretensão se f unda em
determinados fatos e em suas necessárias consequências jurídicas.
Se a razão da pretensão comporta elementos de fato e elementos de direito,
tomo se viu, deve-se observar que a resistência a essa pretensão também
admite a mesma classificação, embora em sentido diametralmente oposto.
I rata-se da negativa formulada por quem não quer ter seu interesse subordi
nado ao interesse alheio, que pode negar os elementos de fato ou os elemen
tos de direito da pretensão. Como essa negativa recebe o nome de discussão,
t onclui-se que existem elementos de fato e elementos de direito da discussão.
Quando uma declaração contida na razão, seja de pretensão ou de dis
cussão, gera dúvida, surge o que se denomina questão. Na definição do autor
"In quanto la ragione, delia pretensa o delia contestazione, sia dubbia, sorge
tina questione, la quale è pertanto il dubbio intorno a una ragione.”? 7* Des
tarte, a ideia de questão apresenta-se isolada das idéias de lide e de processo,
sendo uma “soldadura” entre ambos, que serve para esclarecer a definição de
conexão.376 É o elo de ligação a lide e o processo e dela se serve o autor para
formular sua concepção de lides conexas. Foi por isso que assumiu relevo e
desenvolvimento de suas idéias acerca dos institutos básicos do processo civil
até esse momento.
Surge daí, para o grande jurista, a definição de conexão: “São lides cone
xas aquelas cuja decisão requer a solução de questões comuns ou, em outras
palavras, de questões idênticas. È na identidade de questões, não na identi
dade (total ou parcial) dos elementos da lide, que determina o que constitui a
- N *77
conexão..
Essa definição já demonstra um afastamento das idéias veiculadas pela teo
ria tradicional. Se para aquela o que importa é a identidade dos elementos da
ação, para Carnelutti a essência da conexão reside na existência de questões57
,7“ PARÁ FILHO. Estudo..., p. 58. Ilustra com precisão a problemática dizendo que: “Consoante a
doutrina tradicional, lides conexas são as que se assemelham por terem comuns a causa e o objeto,
ou um só desses elementos. Carnelutti, porém, mostra que a identidade das questões em nada diz
com a identidade da lide; e só a identidade das questões explica o fenôm eno da conexão."
379 CARNELUTTI. Lezioni..., p. 27. "Se m i fosse lecito il paragone, direi che Ia connessione consiste
nella parentela, non nella somiglianza tra due piú liti; questa puó tu ttd l piú costituire un índice di
quella."
«liuples, de direito ou de fato,-"10 o grau de conexão entre duas lides variará
uniform e a comunhão de uma ou mais dessas questões, bem como diante de
«i m s características. Consequentemente, assim como o parentesco acima de
um determ inado grau é irrelevante, também a relação de conexidade existente
• ul i e duas lides pode ser tão inexpressiva que não chegue a determinar a ocor
m iu ia de conexão entre elas. A comunhão das questões é de tal maneira irre
I. vunte que torna o vínculo de conexão por demais fraco para gerar qualquer
i o ito. Diante disso, "...nella massa indistinta dellc liti connesse, sipuó tracciarc
una grande linea di separazione. [...] ...si puó contrappore la connessionc impro
Iiria alia connessione própria...”.™' A conexão própria corresponde à interde
pendência de lides, enquanto a conexão imprópria indica uma comunhão de
questões meramente eventuais. Aquela é o elemento central para o estudo do
processo com lides parciais.
Outrossim, sabemos que a tutela jurídica se constitui na atribuição de
determinados efeitos a determinados fatos. Pode ocorrer, porém, que um fato
produza mais de um efeito, como é o caso do casamento, que faz nascer diver
hos direitos e obrigações entre os cônjuges. Contrariamente, podem diversos
latos gerar um só efeito, como ocorre no caso de um empréstimo bancário c
da cambial para garanti-lo, que são dois fatos que visam a apenas um efeito,
qual seja, o pagamento. “Tais relações, derivadas de um mesmo fato, ou ten
dentes a um mesmo efeito, são necessariamente conexas, ou interdependentes.
No primeiro caso, conexão causai; no segundo, conexão final. Uma e outra se
dngularizam pela convergência de duas ou mais relações em direção à mesma
causa ou ao mesmo efeito, confundindo-se ou unificando-se, no ponto de par
tida, ou no de chegada, sendo, na linguagem viva e colorida do mestre, "un
fascio di rette divergenti che se diramano da un punto solo, ou unfascio de rette
convergenti che confluiscono verso un punto solo.”.™2 Destarte, se os fatos ou os
efeitos oriundos de uma relação jurídica estão presentes em duas causas, então
ocorrerá conexão própria ou interdependência entre elas. Se, ao contrário, os
fatos ou efeitos são diversos, então ter-se-á conexão imprópria, pois a comu
nhão das questões é apenas eventual.
m I d e m , p . 29.
I b i d e m , p . 31.
'*■ P A R Á F IL H O . Estudo.... P. 6 2 .
Em suma, pois, o que indica a conexão entre lides é a identidade de questoc que a conexão de causas é material, é a afinidade relativa ao negócio jurídico
e não de seus elementos. Na grande massa de lides conexas pode-se classií ii ai material.”; e, para o autor, “o critério para reconhecer a relação de conexuludc
a conexão como imprópria ou própria, sendo esta subdividida em conexão t' i ritério material, pois, por via dele, se cotejam em sua origem e nos fins mira
causai ou final, que são as duas subespécies em que existe interdependência tios, direitos vinculados aos mesmos fatos, ou às mesmas relações jurídicas.''.""
entre as lides. Essa interdependência é o elemento genético da conexão, nele
Nesse passo, a conexão é pré-processual, ou seja, existe fora e antes do pro
repousando o vínculo que une duas lides diversas, sendo também o respon
<i sso, sendo ele campo fecundo apenas para o desenvolvimento dos seus elei
sável pela deflagração dos efeitos gerados pela efetiva união das causas; o que
tos, que são a possibilidade de julgados contraditórios e o encarecimento do
não ocorre no caso da conexão imprópria, que não é apta a gerar tais efeitos
processo,585 embora alguns admitam como efeito único o primeiro.58'’
b) A teoria m aterialista. Por fim, resta asseverar que são essas idéias que levam o autor a afirmar
Observando as insuficiências da teoria tradicional e da ideia de que a cone que “a concepção moderna, consoante a qual conexidade de causas é, sobre
xão é fenômeno aieito à semelhança ou equivalência de questões, procura tudo, afinidade relativa ao negócio jurídico material, ou projeção de uma afi
Tomás Pará Filho,583 partindo das lições de Carnelutti, aprofundar seu estudo nidade no plano do processo, correspondente à própria evolução da processu
sob o tema. Segundo leciona, para melhor compreensão da ideia de conexão, iilistica.”;iS7 visão esta que demonstra toda sua genialidade ao perceber, ainda
é necessário se ter em mente o conceito de processo parcial, que fornece ele rin 1964, o liame existente entre o direito material e o direito processual, hoje
mentos para o desenvolvimento das suas concepções. Quando dois indivíduos i unsagrado pelo pensamento da totalidade dos autores, que sempre buscam
têm interesse sobre o mesmo bem, nasce entre eles um conflito, que pode aplicar o processo sob a ótica da instrumentalidade.
ser composto extrajudicial mente ou mediante decisão judicial. Esse conflito,
todavia, nem sempre é levado em sua totalidade ao conhecimento do juiz. O 10.3. Nossa posição acerca da conexão de causas.
que ocorre, usualmente, é que as partes delimitam a extensão do conflito de
interesses mediante o pedido do autor e a resistência do réu. A exposição efetuada indica que, para os que admitem a sistematizaçào
dos casos de conexão, existem três teorias principais formuladas a respeito do
Sendo o processo, no entendimento do autor, o veículo que reproduz .1
tema: 1) a tradicional, que afere a conexão segundo a identidade dos elementos
lide perante o juiz e havendo limitação pelas partes da extensão do conflito
da ação; 2) a teoria de Carnelutti, que procura a gênese do fenômeno na identi
de interesses apresentado, pode-se afirm ar que existe o que Carnelutti con
dade de questões; e, 3) a teoria materialista, que diz que a conexão é fenômeno
vencionou chamar de processo parcial, que se caracteriza por reproduzir cm
afeito à relação jurídica de Direito Material.
juízo apenas uma fração do conflito existente. Nesse passo, como apenas uma
tração do conflito de interesses pode ser apresentada mediante um processo,
pode ocorrer que sobre os diversos segmentos de um mesmo conflito de inte
resses exista mais de um processo. Em outras palavras, um mesmo conflito de Ibidem, p. 76.
interesses pode gerar diversos processos. " Ibidem. p. 85. É essa a lição m inistrada “Q u e r d iz e r , a c o n e x ã o e x is te f o r a d o p r o c e s s o o u p r e e x is te
a e le. p o r q u e a s u a e x is tê n c ia e s s e n c ia l n ã o e s tá s u b o r d i n a d a a o a j u i z a m e n t o d a s r e la ç õ e s j u r í d i c a s
Destarte, se esses vários processos derivam do mesmo conflito de interes so b r e a s q u a i s in c id e . M a s . é s o b r e tu d o , p o r m e i o d o p r o c e s s o , q u e se n o t a a s u a r e le v â n c ia p a r a o
ses, então existe entre eles uma relação de Direito Material comum, que há de D ir e ito .”.
ser resolvida uniformemente. Não se pode decidi-la diversamente nos vários ' CUANDRAO, Jesús. C ó d ig o P r o c e s a l C iv il y C o m e r c ia l d e Ia N a c ió n C o m e n t a d o y C o n c o r d a ta d o
Buenos Aires: Dcpalma, 1969. p. 222. “L a n e c e s i d a d d e e v i t a r s e n te n c ia s c o n tr a d ic to r ia s re sp e i to
processos porque se tratam dos mesmos fatos. “Por isso, já se disse com acerto, d e u n m i s m o h e c h o o d e u n a m i s m a c u e s tió n d e d e r e c h o , y n o p r i n c ip i o d e e c o n o m i a p r o c e s a l. cs <•/
f u n d a m e n t o d e e s ta in s titu c ió n ..." .
J83
Idem, o. 65-. PARÁ FILHO. E s tu d o .... P. 86.
A teoria tradicional, em que pese ser a adotada pela maioria dos processu parte delas, sob pena de ter sua aplicação restrita. Adotar entendimento con
alistas pátrios e a contida no art. 55 do nosso CPC, é insuficiente para abarcar Irário conduziría, em última análise, à falta de sistematização, delegando ao
todos os casos de conexão.188 Ela se limita, como já se disse, apenas àqueles de iirbltrio do juiz a identificação das ações conexas.
mais fácil solução. Todavia, não se lhe pode retirar o mérito de ter sido a pri E. 1). Moniz de Aragão,392 por seu turno, interpreta a teoria tradicional,
meira tentativa de sistematização científica da matéria, podendo ter seu valor • utáo contida no art. 103 do CPC de 1973, afastando a divergência doutrinária
aferido pela repercussão obtida e pelo tempo durante o qual perdura, que já • Mstente sobre a definição dos elementos da ação. Diz que o legislador pátrio,
atinge quase 150 anos. ui Iratar da litispendência e da coisa julgada (art. 300 do CPC de 1973), bem
Essa imensa repercussão encontrada nas idéias de Pescatore fez com que ■oino ao definir a continência (art. 104 do CPC de 1973), havia usado o termo
alguns autores procurassem “salvar” a teoria, propugnando sua aplicação con identidade, o que significava que os elementos da ação deviam ser iguais. Já
comitante com outros critérios ou uma interpretação diferente de seu enun pnra definir a conexão, utilizava-se a lei do termo comum, que não significa
ciado. Moacyr Amaral Santos,389 Celso Agrícola Barbi390e Henrique Fagundes igualdade, mas semelhança. Essa diferença terminológica também foi anu
Filho,391 dentre outros, ainda sob a égide do CPC de 1973, cujo art. 103 apre lada por Henrique Fagundes Filho.393
sentava redação semelhante a do atual art. 55, caput, alertavam para o fato de Destarte, pois, para o autor, o que importa para o reconhecimento da cone
que a conexão prevista no art. 103 era apenas uma espécie de um gênero que x o entre duas lides é a existência de um elemento comum, embora não neces-
ainda não havia encontrado a sua devida sistematização. Porém, não obstante .Ite ser idêntico. Com essa interpretação afasta-se o problema da diversidade
identificar apenas parcialmente o fenômeno, advogavam os dois primeiros a parcial de objeto e da causa petencii, permitindo-se que duas causas que pos-
sua aplicação, uma vez que abarcava grande número de casos. Essa orienta u.im, por exemplo, o mesmo objeto mediato e objeto imediato diverso sejam
ção, aliás, também foi a adotada pelo atual CPC italiano, que apresenta pre icputadas conexas. Esse enfoque, porém, não leva em conta a característica
ceito embasado na teoria tradicional (art. 33) e preceitos que indicam outras essencial do fenômeno, que no caso da conexão não pode ser considerado a
formas de conexão, como a conexão por acessoriedade (art. 31) e a conexão identidade de elementos. Como já alertaram Cogliolo e Tomás Pará Filho,
por garantia (art. 32). onforme acima observado, na medida em que os casos de conexão entre lides
Com o devido respeito aos citados autores e ao legislador italiano, não se diversas vão se tornando mais complexos, a teoria vai tendo menor aplicação.
pode adotar essa construção. Ocorre que uma regra, como já se viu, deve ser Náo serve, consequentemente, para as hipóteses que dela mais necessitam.
formulada tendo em vista todas as hipóteses que pretende regular e não apenas I m outras palavras, usando de linguagem matemática, sua aplicação é inver
amente proporcional ao grau de dificuldade de identificação do fenômeno.
R T 650/140. Os reparos à teoria tradicional, como se vê, não elidiram as objeções que
A M A R A L S A N T O S , p . 2 6 3 . D iz o a u t o r : " N a d o u t r i n a d e P e s c a to r e n ã o s e a c h a to d a a te o r ia d a llie foram formuladas, sendo bastante sedutora a ideia de simplesmente aban
conexão. A in d a h a v e r á o u t r a s h ip ó te s e s d e c o n e x ã o , m a s q u e n ã o e s tã o s u f i c i e n t e m e n t e s i s t e m a t i donar a concepção de Pescatore, uma vez que não representa o melhor enten
za d a s p a ra se re m e x p o s t a s n u m b r e v e c u r s o d e p r o c e s s o .”.
dimento que se pode dar à matéria.
m BARBI, C e ls o A g r íc o la . C o m e n t á r i o s a o C ó d ig o d e P r o c e s s o C iv il. 6* e .. R io d e J a n e ir o : F o re n s e .
1991. p. 2 8 4 . “A a f i r m a ç ã o c o n t i d a n o a r tig o n ã o é e r r a d a , p o r q u e , r e a lm e n te , s e g u n d o a d o u t r i n a A teoria de Carnelutti, por seu turno, representa significativo avanço em
d o m in a n te , a s c a u s a s q u e tiv e r e m a q u e la s c a r a c te r ís tic a s s ã o c o n e x a s . A f a l h a d a le i e s tá e m q u e a
h ipótese p re v ista é a q u e l a u m a , e n t r e a s v á r ia s e m q u e o c o r r e a c o n e x ã o ”.
finsca da essência da conexão de causas. Sua concepção permite que sejam
F A G U N D E S F IL H O , H e n r i q u e . A c o n e x ã o d e c a u s a s . S ã o P a u lo : S e t o r d e P ó s - G r a d u a ç ã o . P o n
identificados casos de conexão que a teoria tradicional não admite, como é o
tilícia U n iv e r s id a d e C a tó l i c a d e S ã o P a u lo - P U C S P , 1 9 8 8 . p. 4 0 0 . " O ra . s e o a r t. 103 d e fin is s e , d e
m a n eira e x a u s tiv a , o f e n ô m e n o d a c o n e x ã o d e c a u s a s , n ã o h a v e r ia r a z ã o , p a r a o le g is la d o r m e s m o ,
M O N I Z D E A R A G Ã O , E .D . C o n e x ã o e tr íp lic e i d e n t i d a d e . R e p r o 2 9 /5 0 - 5 6 .
n o art. 46, III, f a l a r e m c o n e x ã o p e l o o b je to o u p e la c a u s a d e p e d ir , p o r q u e a p a r t i c u l a r i z a ç ã o f a z
su p o r a e x is tê n c ia d e o u t r a s m o d a l i d a d e s o u e s p é c ie s d e c o n e x ã o ." . 1 I A G U N D E S F IL H O , p. 393.
caso, dentre outros, da conexão entre uma ação de despejo por falta de pagu
mento e uma ação de consignação em pagamento. Ora, pelos critérios da teu
ria tradicional, deverá o juiz identificar o objeto e a causa de pedir de cada
uma das ações. Constatará quca consignação tem como objeto mediato a qul
tação e como objeto imediato, em regra, uma prestação declaratória. Conm
causa de pedir próxima a recusa no recebimento do aluguel e como caus.i
de pedir remota o contrato de locação. Já a ação de despejo tem como objeto
mediato a desocupação do imóvel, como objeto imediato uma sentença ext
cutiva lato sensu, como causa de pedir próxima a falta de pagamento e como
causa de pedir remota o contrato de locação. Após essa operação constatara
que os elementos não são comuns, não existindo conexão nos termos ao ai l
55, do CPC.
Já para a teoria de Carnelutti, observará o juiz que entre ambas as ações
haverá dúvida quanto a determinadas razões de fato ou de direito comuns
formuladas na pretensão e na discussão, ou seja, haverá uma identidade di
questões, como a recusa no recebimento dos aluguéis ou, se o locador admilu
a recusa, a justiça ou não de sua conduta. Com isso reconhecerá a existência
de conexão entre as causas.
Embora tenha avançado emdireção ao elemento essencial da conexão d«
causas, deixou Carnelutti de dar o último passo, para identificar na relação dr
Direito Material a gênese do fenômeno, o que foi feito por outros processua
listas, como Tomás Pará Filho. Realmente, a conexão entre a ação de consig
nação em pagamento e a de despejo reside no simples aspecto que será deu
dida a mesma relação jurídica material, embora sob enfoques diferentes. Em
ambas as ações o ato do pagamento é que determinará a decisão do juiz: se foi
recusado ou se a recusa foi injusta, será procedente a consignação e improce
dente o despejo. Caso contrário, a sorte das ações será diametralmente oposta
Como se trata do mesmo fatoe,consequentemente, da mesma relação jurídii.i
de direito material, não pode ojuiz decidi-la de forma diferente, sob pena di
ocorrer uma contradição lógica.394
Comungamos, pois, pelas razões expostas, do pensamento daqueles qut
identificam na relação jurídica do Direito Material a gênese do fenômeno dn
3,4 ECHAVE, Delia Teresa. URQU1|Ü, Maria Eugenia e GUIBOURG, Ricardo A.. L ó g ic a , p r o p a tl
c ió n y n o r m a . 2* e.. Buenos Aires: Astrea, 1986. p. 70-71.
<micxão de causas."''’ Esse entendimento permite uma explicação coerente de
alguns aspectos que vêm sendo contundidos com causas da conexão, quando
<in realidade são consequências dela.
Nada obstante, não é incomum encontrar explicações no sentido de que as
•iiisas da conexão são: a) a necessidade de evitar julgados contraditórios e b) a
■mnomia processual; o que efetivamente não é correto. Isso porque a contra
illsáo dos julgados e o desperdício de atividade jurisdicional não são propria
mente causas da conexão, mas sim uma possível consequência de se decidir
mais de uma vez acerca de uma mesma relação jurídica de direito material.
Usando um exemplo diuturno pense-se na criança que vai até a mãe, que
. .1.1 na sala da casa, e pede para brincar na casa do vizinho. A mãe nega o
Iml ido e o filho, então, vai até o pai, que está na sala, e formula novamente o
mesmo pedido, sendo que o pai permite a saída do filho. A contradição das
•iidens, e a provável discussão que lhe seguirá, decorrem do fato de que o
mesmo pedido foi decidido duas vezes por pessoas diversas. O mesmo acon-
ln c com as causas conexas quando julgadas por juiz diferente, quando as deci
i<tes podem ser contraditórias e até mesmo, conforme a situação, inexequíveis.
Portanto, se as causas são conexas porque veiculam seguimentos diver-
o.s de uma mesma relação jurídica de direito material, então é consequência
•Io vínculo de conexidade que os julgados sejam uniformes. Também seria
dentar contra o princípio da economia processual decidir mais de uma vez a
mesma relação jurídica de direito material. Em suma: os julgados não podem
<i contraditórios e haverá desperdício de atividade judicante porque a relação
jtn ídica material é a mesma nas duas causas. Ambos os argumentos são uma
i onsequência de se decidir por duas vezes uma mesma coisa e não causa para
i reunião de ações conexas. Ocorre aqui o mesmo fenômeno que se verifica
nos casos de litisconsórcio unitário, em que a decisão deve ser uniforme para
Iodos os litisconsortes porque existe apenas uma lide, isto é, as causas devem
l’A R A F I L H O e F A G U N D E S F I L H O , s e n d o q u e o s e g u n d o s a l ie n ta , a o e n c e n a r s u a d i s s e r t a ç ã o ,
q u e : “A e s s ê n c ia d a c o n e x ã o d e c a u s a s è d a d a p e lo D ir e ito M a t e r i a l , r e le g a n d o -s e p a r a o d ir e ito
p r o c e s s u a l a s c o n s e q u ê n c ia s d e d e t e r m i n a ç ã o o u m o d ific a ç ã o , c o n fo r m e o c a s o , d a c o m p e tê n c ia o u
d a r e u n i ã o d a s “a ç õ e s p r o p o s t a s e m s e p a r a d o " . T a m b é m n e s s e s e n t id o , e m b o r a p r o c u r e a p r o v e i t a r
a d e f i n i ç ã o le g a l, a n t i g a d e c i s ã o i n s e r t a n a R /T J S P 1 3 1 /4 2 2 , q u e c o n t é m a s e g u i n t e e x p la n a ç ã o :
" A s s im s e i m p õ e f i q u e o r a d e c id id o , n o s e x a to s t e r m o s d o lú c id o p a r e c e r : T o d a s a s a ç õ e s e m q u e s tã o
tê m p o r f u n d a m e n t o a m e s m a re la ç ã o ju r íd ic a d e D ir e ito M a te ria l.” (g rifo n o sso ).
» w u •■*¥ n w III u k » . i f i i m i w .1 i j J i m . i n i i n i " iu m u iim u n j i v n w \j i n w v u w
ser julgadas numa mesma sentença porque a relação jurídica de direito mau- de direito material. Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput entre os Jei
rial é única. iiis que pleiteiam tutela executiva e os que pleiteiam tutela de conhecimento.''.
Todavia, uma observação deve ser feita no que toca a unicidade da relação I uiretanto, a sugestão parece ter sido implicitamente rejeitada, já que além
jurídica de direito material veiculada pelas ações conexas: ela deve ser enlo <lo aviso de recebimento da nota não houve qualquer comunicação acerca da
cada como um todo e tendo em vista um mesmo momento da sua dinâmii .1 Iimposta efetivada.
Isso porque duas ações podem veicular segmentos parciais de uma relação Nada obstante, embora o atual diploma tenha repetido a redação que já
jurídica continuativa (que se prolonga no tempo), que se altera em virtude . onstava do diploma anterior, o artigo veio com três acréscimos representados
do decorrer do próprio tempo. Daí a razão pela qual não há conexão entn pela inserção dos §§ Io, 2o e 3o; tratando o primeiro de matéria que era disci
uma ação de despejo por falta de pagamento e uma ação de consignação dr plinada pelo antigo art. 105, do CPC;396 o segundo procurando por termo ao
períodos distintos, embora proposta entre as mesmas partes e fundadas num • ntendimento de que a conexão é fenômeno possível apenas no caso da reu
mesmo contrato de locação; ou, porque não há conexão entre processo em nião de processos que pleiteiam tutelas de acertamento; e, o terceiro, tratando
andamento e processo findo. Em suma, pois, deve-se enfocar a unicidade da da reunião de feitos ainda que entre eles não exista conexão.
relação jurídica de direito material sob um prisma estático, como se fosse uma Nesse passo, o art. 55, §1°, do CPC, trata de ações conexas propostas sepa-
fotografia, cujo momento retratado é o da propositura das ações conexas. nulamente, substituindo com vantagem o art. 105, do CPC de 1973, pois
icsolve debate que já se eternizava a respeito de ser ou não uma faculdade do
10.4. Atual perfil da conexão de causas. magistrado a reunião dos feitos. Isso porque o revogado art. 105 utilizava-se
do termo “pode”, dando a impressão de que se tratava de uma faculdade judi-
O atual CPC prevê e regulamenta a conexão de causas, juntamente com • lal a reunião das ações conexas; enquanto o atual preceito utiliza-se da locu-
a continência, nos art. 55 a 59, do CPC, sob a denominação “Da modificação «,1o “serão reunidos”, demonstrando a obrigatoriedade da reunião dos feitos
da competência ”, alertando que os fenômenos somente podem ser reconhecí para julgamento conjunto.
dos quando se tratar de competência relativa, ou seja, competência referente Na vigência do Código de 1939 0 termo empregado já ensejava controvér-
à matéria ou ao valor da causa, isso por expressa determinação contida no .la, uma vez que a redação do art. 116 era semelhante à do art. 105, do CPC
art. 54, do CPC. Definido o âmbito de incidência das causas de modificação de 1973. Assim dispunha o art. 116: “Art. 116. Antes de proferida a sentença, 0
de competência, o art. 55, do CPC, assim como já fazia o art. 103, do CPC de fUiz poderá ordenar, ex officio ou a requerimento, a reunião de ações conexas,
1973, passando ao largo das objeções doutrinárias acima analisadas, houve bem como, antes de finda a instrução, 0 desmembramento de processos reu
por bem definir conexão sob o prisma da teoria tradicional, ou seja, definiu nidos”. Comentando o conteúdo do preceito, ensinava Pontes de M iranda’97
conexão tendo em vista a semelhança entre os elementos da ação. Daí dizei lialar-se de norma de direção material do processo e não de regra de compe
o “caput” do preceito que “Art. 55. Reputam-se conexas duas ou mais ações, tência, motivo pelo qual a reunião ou desmembramento dos feitos não eram
quando lhes for comum 0 objeto ou a causa de pedir.”. obrigatórios para o juiz, o qual deveria observar se as circunstâncias da causa
Por entender que seria uma boa oportunidade para colaborar com a evo justificavam a providência.
lução do instituto da conexão, migrando da proposta da teoria tradicional
para a proposta da teoria materialista, tivemos a oportunidade de remetei
C P C d e 1 9 7 3 . A r t . 105. H a v e n d o c o n e x ã o o u c o n t in ê n c ia , o j u i z , d e o fíc io ou a r e q u e r im e n to d e
Nota Técnica ao Senado Federal propondo a alteração da redação do pre q u a l q u e r d a s p a r te s , p o d e o r d e n a r a r e u n iã o d e a ç õ e s p r o p o s t a s e m se p a ra d o , a f i m d e q u e s e ja m
ceito nos seguintes termos: “Art. 40. Consideram-se conexas duas ou mais d e c id id a s s i m u l t a n e a m e n t e .
P O N T E S D E M I R A N D A , F r a n c i s c o C a v a l c a n t e . C o m e n t á r i o s a o C ó d ig o d e P rocesso C iv il. R io d e
ações quando veicularem segmentos diversos de uma mesma relação jurídico
l a n e i r o : F o r e n s e , 1947. v. II, p . 4 2 0 .
Já na vigência do Código de 1973, Marcos Afonso Borges"'* dizia que a
reunião das ações era uma faculdade do juiz. Acompanhando essa posição
encontramos os ensinamentos de Vicente Greco Filho,399 Athos Gusmão ( .11
neiro,40" Humberto Teodoro Júnior401 e Henrique Fagundes Filho,402 denlrt
outros. Farta jurisprudência da época também firmava posição nesse sen
tido,403 o que motivou, durante o 5.° Encontro Nacional dos Tribunais dt
Alçada, a aprovação, por 10 votos contra 8, da seguinte conclusão: “O art. IV'<
deixa ao juiz certa margem de discricionariedade na avaliação da intensidadt
da conexão, na gravidade resultante da contradição de julgados e, até, na detn
minação da oportunidade da reunião de processos.”.
Por outro lado, juristas não menos renomados sustentavam posição di.i
metralmente oposta, no sentido de que a regra contida no art. 105 obrigava
o juiz a reunir as ações conexas. Arruda Alvim404 ensinava que cabia ao jui/
"ordenar a reunião dos processos que correm separadamente”, devendo agir c\
officio - apesar do art. 105, com impropriedade, falar em pode - ou atendendo
requerimento de qualquer das partes. No mesmo sentido era lição de Celso
Agrícola Barbi,405 além de algumas decisões da época.406
Tratando do tema tivemos a oportunidade de cerrar fileiras com o segundo
entendimento, aduzindo que "A controvérsia deve ser resolvida em favor daque
les que sustentam a obrigatoriedade da reunião das ações para julgamento
OLIVEIRA NETO, Olavo de. C o n e x ã o p o r p r e ju d ic ia lid a d e . São Paulo: RT, 1994. p. 70.
* A favor do julgamento independente das causas: R J T /S P , 51/71 e 51/68; RT 492/164; J T A C iv S P
48/209. Contra o julgamento de apenas uma das causas conexas: I T A C iv S P 43/195, 59/296 c
106/330.
mérito. Proferida a sentença, não é mais possível ordenai se a reunião de ações
conexas.”;409 bem como o conteúdo da Súmula 235, do ST), segundo a qual "A
conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já fo i julgado.”.
Por seu turno, embora o preceito tenha deixado de se manifestar exprcs
samente quanto a possibilidade do juiz determ inar a reunião das causas dc
ofício, o art. 337, §5°, do CPC, permite que isso ocorra ao dispor que, à exceção
da incompetência relativa e da convenção de arbitragem, poderá o juiz conhe
cer de ofício das preliminares objeto dos seus incisos. Mas mesmo que assim
não fosse, a opção por tornar obrigatória a reunião dos feitos conexos, por sl
só, implica tornar a matéria questão de ordem pública e, por isso, reconhecível
ex officio e sem a necessidade da provocação de qualquer das partes.
Já o art. 55, §2°, do CPC, como se disse acima, sepulta de forma definitiva
o entendimento de que a conexão é fenômeno possível apenas no caso da reu
nião de processos que pleiteiam tutelas de acertamento, excluindo-se a possi
bilidade de reunião entre uma ação de conhecimento com uma ação executiva,
ideia que já defendíamos em passado remoto ao afirm ar que “Pode ocorrer,
sendo até mesmo comum, que concomitantemente à propositura da execução
pelo credor, o devedor ajuize uma ação objetivando a declaração de nulidadc
do título, visando a eximir-se de obrigação. Tanto a execução quanto a ação
de conhecimento têm origem na mesma relação jurídica de Direito Material,
existindo conexão entre elas. O título é representativo de uma dívida líquida
e certa que tem o devedor para com o credor, sendo que sua anulação estará,
fatalmente, fundada em parte do mesmo conjlito de interesses que alberga a
necessidade de execução do título.”.410
Em que pese o avanço contido nos §§ 1° e 2o, com a adoção de um posi
cionamento mais adequado ao fenômeno da conexão, foi muitíssimo mal o
atual diploma ao inserir na última versão do projeto, que deu origem ao atual
código, um §3°, determinando o julgamento conjunto de causas não conexas,
quando houver risco de que seus julgamentos gerem decisões conflitantes ou
contraditórias. Isso porque pelo teor do texto torna-se possível determinar
a reunião de uma ação de alimentos em trâmite no Rio Grande do Sul com
outra ação de alimentos em trâmite no Amapá, apenas porque numa o jui/
' Vicente Greco Filho, Arruda Alvim, Athos Gusmão Carneiro, Marcos Afonso Borges e Celso
Agrícola Barbi, dentre outros; R T 506/212, 508/184 e 537/104; J T A C iv S P 37/288. 91/422 e 116/67,
dentre outras.
RP 2/346 e 3/330; R J T 1 S P 110/408.
RP 2/346 e 3/330; R JTJSP 110/408.
Visando superar essas divergências e adotar a posição preponderante lunltt
na doutrina, quanto nos Tribunais, a redação do art. 59, do CPC, dispõe qm
“Art. 59. O registro ou distribuição da petição inicial torna prevento o juízo
fazendo com que não possa mais existir dúvida a respeito do tema. Detectada
a conexão entre duas ou mais causas, sejam elas de conhecimento ou de ex*
cução, a reunião dos feitos dar-se-á no juízo prevento, conforme determin.i
art. 58, do CPC; que é aquele em que a petição inicial de uma das ações com
xas foi anteriormente distribuída, conforme preceitua o art. 59, do mc.sm<>
estatuto.
Uma primeira observação que deve ser feita, conforme alertava Arruda
\lvim ao analisar o art. 46, do CPC de 1973, que possuía redação semelhante
it do art. 113, é no sentido de que as hipóteses contidas no artigo em estudo são
l ixativas, ou seja, “é incogitável pensar-se no art. 46 como sendo exemplificati-
iv V"5 Não existe caso de litisconsórcio facultativo que não se tipifique numa
ilas três hipóteses do preceito, o que já nos permite estudá-las.
O primeiro inciso do artigo trata da “comunhão de direitos e obrigações
mlativamente à lide ”, que nada mais é do que a identidade do objeto de direito,
«•ndo diversos seus titulares. Em outras palavras, existe comunhão de direitos
c obrigações entre as pessoas que estão na mesma qualidade perante o direito
ou a obrigação. É o caso, dentre outros, dos co-proprietários, dos compossui-
ilores, dos credores e dos devedores solidários.
Ora, se nesse inciso o que se pretende é facultar a possibilidade de eleger
litisconsorte àqueles que são titulares dos mesmos direitos e obrigações na
órbita do Direito Material, então existe uma relação jurídica material comum
tomo fato determinador do litisconsórcio facultativo; embora possa ser ela
■iudida em vários segmentos. Vêem-se, aí, traços de semelhança entre a hipó-
Icse e a teoria da conexão fundada na relação jurídica de Direito Material, que
nos parece o entendimento mais adequado que se pode dar à matéria.
O segundo inciso, por seu turno, abarcou os incisos II e III, do art. 46,
tio CPC de 1973, que em verdade tratavam de uma mesma hipótese de cabi
mento. Afinal, o inciso terceiro tratava do litisconsórcio devido à conexão
pelo objeto e pela causa de pedir, enquanto o segundo tratava dos casos de
ilircitos e obrigações derivados dos mesmos fundamentos de fato e de direito.
Assim, se a causa petendi pode ser decomposta em fatos e fundamentos jurí-
ilicos, então a hipótese do inc. II nada mais era do que a existência de direitos
<• obrigações que dela derivavam. Nesse sentido, aliás, a posição de Henri
que Fagundes Filho, que dizia: “A hipótese do inc. II do art. 46, do CPC é, na
ui ARRUDA ALVIM, José Manoel. T r a ta d o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: RT, 1990. v. 1, p.
355.
verdade, despicienda, porquanto já se acha incluída no preceito mais amplo do pertinente, é possível ao magistrado reconhecer a conexão tendo em visia a
inc. III desse mesmo artigo...”.*'6 Identidade da relação jurídica de Direito Material.
Sanado pelo atual diploma esse “cochilo legislativo”, resta observar que o
atual inciso II adota o posicionamento da teoria tradicional, que reputa cone 10.6. Continência de causas.
xas duas ou mais causas quando comuns o objeto ou a causa de pedir.
Por fim, o inc. III trata da afinidade de questões, que é a posição adotada Tradicionalmente tratada em conjunto com a conexão de causas, o fenô
por Carnelutti para definir conexão. Esse preceito, todavia, usou do termo meno da continência entre as causas sempre foi compreendido como uma
“questão” de modo equívoco, como anota com precisão Arruda Alvim.'"/ I lôrma de conexão mais intensa, chegando a afirmar Costa Machado que “A
que sendo a questão uma dúvida decorrente de contradição entre as razões de /Igura da continência traz em seu bojo a idéia de uma conexão muito intensa,
pretensão e as razões de discussão, não poderá ser identificada no momento lauto que não dispensa a identidade quanto a causa de pedir nem a identidade
em que é proposta a ação, uma vez que ainda não existe oferecimento de defos.i <lc partes (que na conexão não é exigida).".*'1' Nesse passo, se a continência for
por parte do réu. Entretanto, esse fato em nada prejudica a remissão às idéias considerada como uma forma de conexão mais intensa, então não há razão
do mestre italiano. |>ara o tratamento diferenciado e em artigos diversos do mesmo fenômeno,
sob pena de incidência em bis in idem ; assistindo razão a Celso Neves quando
Como se vê, portanto, o artigo em estudo adotou, para definir as hipóteses
afirmou que "Como a conexão exige menos que a continência, mus exige um
de litisconsórcio facultativo, também chamado de cumulo subjetivo faculta
elemento que também é essencial nesta (mesma causa de pedir), a conclusão
tivo, critérios das três principais teorias acerca da conexão.
é que a continência é um caso especial de conexão; esta está para aquela na
Ora, sendo a eleição do litisconsórcio facultativo de exclusiva opção do relação de gênero e espécie: a continência é espécie do gênero conexão. Resulta
autor, não podendo haver recusa do réu de litigar em conjunto ou não com do exposto que o art. 104 é inútil, porque toda vez que houver continência entre
corréu, se o juiz não determinar a integração de um dos polos da relação juri duas causas elas são conexas; basta o fato de terem a mesma causa de pedir,
dica, então poderá acontecer que existam casos nos quais o autor não eleja para se enquadrarem na conceituação do art. I03.”.*'')
determinado litisconsorte. Nessa hipótese, poderá o litisconsorte preterido
Nada obstante, cremos que a continência não pode ser compreendida
propor ação que será conexa com aquela da qual foi excluído, podendo las
como uma espécie de conexão ou apenas como uma forma mais intensa dela,
trear-se a conexão em fundamento diverso do contido no art. 113, II e III, do
mas sim como uma forma de identidade parcial entre dois feitos, bem mais
CPC, devendo ainda assim ser determinada a reunião dos feitos para proces
próximo de uma litispendência parcial. Daí o erro do CPC de 1973 ao atribuir
sarnento e para julgamento conjunto.
os menos efeitos para a reunião de causas conexas e para a reunião de causas
Destarte, tendo em vista que a lei adota critérios diversos para os casos de continentes, qual seja, o julgamento conjunto de ambos os feitos, sem a ime
litisconsórcio facultativo e que mesmo para os que adotam a teoria tradicional diata extinção da causa contida no caso da continência. Aliás, sobre a iden
existem outras hipóteses de conexão além daquelas previstas no art. 55, do tidade das causas já dizia Pontes de Miranda que “A expressão continência’,
CPC, podemos afirmar que é possível à aplicação do critério por nós adotado referente à causa, vem de séculos na língua e no direito português. É a relação
para determinar a reunião de causas devido ao reconhecimento da conexão entre duas causas, entre duas ações, por uma conter em si, como parte, a outra.
Em resumo, face ao sistema legal, em interpretação analógica e perfeitamente A confusão com a conexão perdurou muito tempo, principalmente em leis e
•4 2 0
PONTES DE MIRANDA, p. 264.
FIGURA A FIGURA B
- Juízo prevento IAGUNDES FILHO, Henrique. A conexão de causas. São Paulo: Setor de Pós
-Graduação. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP,
- Possibilidade de aplicação da teoria tradicional - analogia ao art. 113
1988.
09. Continência de causas - A causa contida veicula seguimento da relação
11( iUEIREDO FERRAZ, Manuel Carlos de. Notas sobre a Competência por
jurídica abrangido por segmento maior, que é veiculado pela causa
Connexão. São Paulo: Saraiva, 1937.
continente.
1KFDERICO MARQUES, José. Instituições de Direito Processual Civil. Rio de
Janeiro: Forense, 1966.
Bibliografia
111 ASSON, E.. Traité Théorique et Pratique D’Organisation Judiciaire, de Com
ARRUDA ALVIM, José Manoel de. Manual de direito processual civil. S.io pétence et de Procédure Civile. Paris: Librairie Recueil Sirey, 1925.
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1991.
11. AS PARTES E OS PROCURADORES
OLIVEIRA NETO, Olavo de. Conexão por prejudicialidade. São Ptmln III
1994.
11.1. Capacidade processual, a) Incapazes, b) Cônjuges, c) Pessoas jurídicas e univcr-
PARÁ FILHO, Thomas. Estudo sobre a conexão de causas no processo t n ll San salidades. d) Regularização da capacidade processual em juízo. 11.2. Dos deveres das
partes e dos seus procuradores. 11.2.1. Litigância de má-fé. a) Taxatividade e lim i
Paulo: EDUSP, 1964.
tes subjetivos, b) Declaração e conteúdo. 11.2.2. Despesas processuais, a) Despesas
_______ . Conexão de causas. In Enciclopédia Saraiva de Direito. Sio Piuilu e multas, b) Honorários advocatícios. 11.2.3. Da gratuidade de justiça, a) Limites do
benefício, b) Processamento. 11.3. Dos procuradores. 11.4. Sucessão das partes e dos
Saraiva, 1973. procuradores, a) Sucessão das partes, b) Sucessão dos procuradores. 11.5. Substituição
PESCATORE, Matteo. Sposizione Compendiosa delia Procedura Civile e ( tlnil Processual.
a) Incapazes.
O primeiro destes mecanismos de representação encontra-se disciplinado
no art. 71, do CPC, que repete o conteúdo do art. 8o, do CPC de 1973, segundo
o qual os incapazes serão representados ou assistidos por seus pais, tutores ou
curadores, na forma da lei. Com isso a lei processual refere-se à lei civil, em
especial aos art. 3o e 4°, do CC, que tratam respectivamente das incapacidadcs
absoluta e relativa.
O art. 3o, do CC, considera como absolutamente incapazes para a prática
de atos na vida civil os menores de dezesseis anos (menores impúberes), os
que não possuem discernimento para a prática de tais atos e os que, por causa
transitória, não podem exprimir sua vontade. Por isso uma criança, uma pes
soa que se encontra internada e inconsciente em decorrência de um acidente
vascular cerebral (AVC) ou um toxicômano internado para desintoxicação,
desde que não possam exprimir sua vontade, serão representados em juízo por
quem a lei ou a decisão judicial determinar. Se a impossibilidade de expressão
da vontade acontece quando já pendente a demanda, então deverá o magis
trado determ inar a regularização da representação processual, admitindo que
o curador, definitivo ou provisório, passe a representar a parte no processo.
|A o art. 4°, do CC, prevê as hipóteses em que a incapacidade c apenas rela
Uva. como no caso dos maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos,
. .isos em que tanto o menor, quanto o seu assistente deverão constar na pro
>uração outorgada ao advogado para que atue em juízo; bem como agir em
lonjunto quando se trata da prática de ato processual que implica a disponi
bllidade de direito.
Pode acontecer, entretanto, que o interesse do incapaz e o interesse do seu
irpresentante sejam contrários, ocasião em que deverá o magistrado, aten
ilrndo a determinação contida no art. 72, I, do CPC, nomear um curador
especial para representá-lo no processo. Essa nomeação limita-se ao processo
cm que se deu o conflito e no sistema do CPC de 1973 podia recair em pessoa
que não era advogado, desde que constituísse patrono para representar o inca
paz em todas as fases do processo. Agora, como se verá, a nomeação deverá
recair em defensor público ou, em sua falta, em advogado.
Representando incapaz cujo interesse diverge do interesse do seu repre
sentante, entendemos que o curador especial, também denominado curador
i) lide, não estará obrigado a propor determinado tipo de ação ou de praticar
atos processuais que repute prejudicial para o seu representado. Daí a possi
bilidade de, após a nomeação, entender o curador que se trata de caso em que
o representante do incapaz tem razão, sendo-lhe permitido agir de forma a
melhor salvaguardar os interesses e direitos do curatelado.
Também haverá necessidade da nomeação de um curador especial, tam
bém chamado curador de ausentes, no caso do réu preso e na hipótese de
réu revel, citado por edital, conforme determina o art. 72, II, do CPC, desde
que estes não tenham comparecido ao processo por meio de patrono regular
mente constituído. Isso se dá porque o artigo em comento representa exce
ção ao exercício do contraditório, que em regra é apenas facultado à parte.
A parte é citada para responder a demanda e, querendo, poderá deixar de
íazê-lo, embora sofra os ônus decorrentes da revelia, em especial o da presun
ção de veracidade dos fatos contidos na inicial. lá no caso do preso e do revel
citado por edital, exige a lei que o exercício do contraditório seja efetivo, sendo
vedado ao curador especial concordar com o pedido formulado. Terá ele, obri
gatoriamente, de comparecer em juízo e oferecer resposta, tornando com isso
litigioso o objeto do processo, tudo sob pena de nulidade. A esse respeito asse
vera Ovídio Baptista da Silva que “o curador especial, quando represente o réu
ausente, tem o dever de contestar a ação, sob pena de nulidade do processo. Si
o curador não cumprir este dever, cabe ao juiz destitui-lo, nomeando outro cm
seu lugar. Não pode igualmente o curador especial praticar atos de disposição
de direitos, tais como recolher o pedido e renunciar, a não ser que a parte pt»
ele representada tenha condições de expressar sua vontade e ratifique o ato."'
Tanto no caso do curador de icapaz, quanto no caso do curador de ausen
tes, a função de curador especial será exercida pela Defensoria Pública (arl
72, §1°). Trata-se de função atribuída por lei à defensoria, razão pela qual t»
defensor não poderá se recusar a exercê-la, mesmo nas hipóteses em que seu
representado tenha condição financeira para contratar advogado particular
Porém, na hipótese do inciso II, intervindo advogado constituído cessará a
atuação do defensor público.
Outrossim, não havendo defensor público na comarca, nada impede que
o magistrado nomeie um advogado para exercer a função, já que o direito a
ampla defesa e ao contraditório tem gênese na Constituição da República, não
podendo a parte sofrer prejuízo em razão da deficiência do Estado no apare
lhamento da instituição.
b) Cônjuges.
Do casamento decorrem vários direitos e obrigações inerentes a sua pró
pria condição, inclusive de ordem patrimonial. Daí a razão pela qual os art. 73
e 74, do CPC, regulam a capacidade processual dos cônjuges, estabelecendo
regras atinentes à participação ou não dessas pessoas nos polos ativo ou pas
sivo das diversas ações que especifica.
O art. 73, caput, do CPC, em interpretação contrária, aduz a regra de que
um cônjuge não necessita de consentimento do outro para propor uma ação,
a não ser que verse ela sobre direitos reais imobiliários. Mas, mesmo nessa
hipótese, se o regime de bens é o da separação, estará o cônjuge dispensado
do consentimento do outro. Trata-se da afirmação da autonomia da capaci
dade processual dos cônjuges, embora na maioria dos casos possam litigar
em litisconsórcio ativo facultativo não ações que apenas um propõe. Desse
regime de autonomia se conclui que a capacidade processual das pessoas casa
das substancialmente não difere, a não ser por exceção à regra, da capacidade
422
SILVA, Ovidio Baptista. Comentários ao código de processo civil. São Paulo: RT, 2000. v. I, p. 86.
1'roccssual dos não casados; o que implica a necessidade de concluir que a
tttao proposta por um, em regra, não beneficiará nem prejudicará o outro,
pois não há substituição processual do cônjuge que não participa da demanda
| mii aquele que dela participa.
A exceção à regra geral encontra-se nas ações que versam sobre direitos
Miis imobiliários, isto é, naquelas em que são discutidos direitos reais que
Incidem sobre bens imóveis. É o caso, por exemplo, de uma ação reivjndi-
*ntória, em que os autores pleiteiam a obtenção de bem imóvel em razão do
titulo de propriedade que possuem. Embora na atualidade não seja comum á
■lassificação das ações pelo seu conteúdo, o que era comum antes do CPC de
1973, a distinção entre as ações como sendo prejudiciais, reais e pessoais foi
■lássica em nosso direito, afirmando Corrêa Telles: “§2. As acções tiram a sua
origem, (b) ou do estado da pessoa, (c) ou do jus in re, ou da obrigação pessoal,
(il) Ás l.as chamamos prejudiciaes; ás 2.as reaes; ás 3.as pessoaes. §3. Acçõespre-
judiciaes são, pois, aquellas em que se trata de defender, ou vindicar o estado
iIr liberdade, de cidade, ou de família. §4. Acções reaes são (como disse) as que
nascem do jus in re, e competem áquelle que tem este jus contra o réo, (jUe o
não quer reconhecer, e que está possuindo a cousa, sobre que recahe o direito
real. $5. Chamam-se pessoaes as acções que nascem da obrigação de dar, fazer,
ou não fazer alguma cousa; ou esta obrigação resulte de contracto, quasi-con.
tracto, delicto ou quasi-delicto, ou preceito da Lei, ou ainda da equidade, dos
casos em que esta obriga perfeitamente. estas acções competem contra a pessoa
constituída na obrigação.”.423
No tocante a exceção, o cônjuge que propõe a ação não litiga comoljtís-
consorte necessário daquele que lhe dá o consentimento para litigar, mas sim
como seu substituto processual. A esse respeito, comentando o conteúdo do
art. 10, do CPC de 1973, asseverava Arruda Alvim que “Não trata, portanto,
o caput do artigo de litisconsórcio ativo necessário, mas de integração da capa
cidade do cônjuge, oriunda do consentimento do outro. [...] Como vimos, oart.
6° estabelece que só poderá haver substituição processual, em havendo previsão
legal, pois determina que ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito
alheio, salvo quando autorizado por lei. O art. 10, caput, contudo, é a autoriza
ção legal para tanto. Nessas condições, ante o regime do Código de ProcessoQvil
423 CORRÊA TELI.ES, José Homem. Doutrina das acções. Rio de laneiro: Jacinlho Ribeiro dos San
tos, 1918. p. 27-29.
podemos afirmar que, no caso em exame, não há litisconsón io aiivo, mas um
consentimento que, por força de lei, dá margem à substituição processual. V,M
Por sua vez, agiu muito bem a lei ao alterar diametralmente o sentido do
preceito que trata da união estável. Isso porque a redação não aprovada do
art. 73, §5° de projeto anterior, dispunha que a regra geral constante do prc
ceito não se aplicava a união estável, disposição esta cuja constitucionalidade
seria bastante questionável. Afinal, se a união estável goza da proteção e do
reconhecimento por parte do Estado, nos moldes previstos pelo art. 226, §3",
da Constituição da República, o que justificava a instituição de regime dife
renciado quanto à capacidade dos membros da entidade familiar? Afinal, um
dos escopos para a existência da concordância do cônjuge está justamente
na proteção do patrimônio comum, o que estaria sendo negado no caso da
união estável. Daí a razão pela qual entendíamos que o §5° deveria ser repu
tado inconstitucional, aplicando-se a regra do caput também para os casos
de união estável, desde que devidamente reconhecida em juízo ou declarada
pelas partes. Seguindo esse entendimento o atual art. 73, § 3o, do CPC, dispõe
que a regra geral também se aplica a união estável, fazendo expressa remissão
ao fato de que a comprovação da sua existência poderá acontecer nos próprios
autos, sendo desnecessária uma ação autônoma para obtenção da prova da
união.
Nada obstante, a ausência do consentimento poderá ser suprida, na forma
do art. 74, do CPC, desde que a recusa em consentir possa ser considerada
injusta ou desde que seja impossível ao cônjuge obtê-la; não havendo previsão
no capítulo da maneira pela qual se processará o pedido para que seja suprido
judicialmente o consentimento. A tal respeito, ainda sob a vigência do CPC
de 1973, comentava Celso Agrícola Barbi que o “procedimento para suprir
a outorga - O Código de 1939, nos arts. 625 e 628, regulou o procedimento
para o suprimento de consentimento em geral, nos quais se inclui o do cônjuge.
O Código atual não prescreveu procedimento especial para esse fim . Mas os
arts. 1.103 a 1.111 regulam um procedimento geral para os casos de jurisdição
voluntária que não tenham um procedimento especial previsto em lei, como se
vê no art. 1.103. O suprimento de consentimento é de natureza de jurisdição
voluntária, segundo o entendimento da mais autorizada doutrina. Logo, deve*58
ARRUDA ALVIM, José Manuel de. Código de Processo Civil Comentado. São Paulo: RT, 1975. p.
58.
m i processado pela forma prevista nos mencionados artigos.";*1 posição com a
qual não concordamos, aderindo a doutrina minoritária.426
Ora, se uma das hipóteses em que caberá o suprimento diz respeito a ana
lisar se foi ou não justa a recusa, então não há que se falar na ausência de
liligiosidade do procedimento, que poderá até mesmo demandar a produção
ile provas para que possa o magistrado definir se é ou não o caso de atendei
ao pedido que lhe é formulado. Afinal, a aferição do que é ou não justo para
o caso concreto depende de valoração judicial. Por isso nos parece mais coe
rente que o pedido seja formulado de modo autônomo ou mesmo no corpo da
própria petição inicial, processando-se como um incidente processual e com
0 suspensão do curso do processo, já que a decisão quanto ao suprimento ou
não do procedimento é questão prejudicial ao processamento do feito, isso
por expressa disposição do art. 74, parágrafo único, do CPC, que comina pena
nulidade do processo para os casos em que houver falta do consentimento do
cônjuge ou, em nossa opinião, do companheiro.
Recebido o pedido de suprimento do consentimento autônomo ou no
corpo da inicial, deverá o magistrado determinar a citação da parte contrária
para oferecer resposta em prazo razoável, proferindo decisão desde logo se
não houver necessidade da produção de provas. Caso contrário, a decisão virá
após a instrução do incidente. Acolhido o pedido e suprido o consentimento,
o processo retoma seu curso natural, com o recebimento da petição inicial e a
citação do réu. Caso contrário, isto é, se o consentimento não é suprido, resta
ao magistrado indeferir a petição inicial em razão da ausência de plena capa
cidade processual do autor.
Resolvida a capacidade processual do cônjuge ou do companheiro no polo
ativo da demanda, cabe agora analisar essa capacidade quando se trata de
feito movido contra pessoas casadas ou que vivem em regime de união estável,
o que está disciplinado no art. 73, §1°, do CPC.
BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao código de processo civil. 6* e.. Rio de Janeiro: Forense,
1991. v.l. p. 82.
' SILVA, p. 94. “O procedimento relativo à obtenção da vènia conjugal de que trata o art. II. é </<•
jurisdição voluntária, segundo o entendimento dominante em nossa doutrina, de que porém diva
giam. ante o Código anterior, PONTES DE MIRANDA c EGAS MONIZ DE ARAGÀO, em llçóes
que poderíam ser reproduzidas perante o Código atual.".
Deve-se notar, de proêmio, que ao indicar que ambos os cônjuges serão
necessariamente citados para os feitos que especifica, o art. 73, §1”, do CIH
prevê hipótese de litisconsórcio passivo necessário por força de lei, ou seja,
prevê hipótese em que duas pessoas devem obrigatoriamente litigar em con
junto, na forma do art. 114, do CPC. Daí a necessidade de citar ambos o»,
cônjuges ou companheiros nas ações 7 - que versem sobre direitos reais imo
biliários, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; II
- resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cônjuges ou de atos prati
cados por eles; III - fundadas em dívidas contraídas por um dos cônjuges a bem
da fam ília; IV - que tenham por objeto o reconhecimento, a constituição ou a
extinção de ônus sobre imóveis de um ou de ambos os cônjuges.”.
Por fim, diante do disposto no §2° do preceito em análise, seja no polo
ativo, seja no polo passivo da demanda, a participação de cônjuge ou de com
panheiro em ação possessória somente é exigida em casos de composse ou dc
atos praticados por ambos os cônjuges, o que implica o reconhecimento da
lei de que a posse não é um direito real, mas sim uma mera situação de fato
caracterizada como direito pessoal.
YVAMBIHR, I.uiz Rodrigues, WAMBIF.R, Teresa Arruda Alvim, MEDIDA, José Miguel Garcia.
São Paulo: RT. 2005. p. 151.
B r e v e s c o m e n t á r i o s à n o v a s is t e m á t i c a p r o c e s s u a l c iv il.
<36 l.F.ÃO, Adroaldo. O litigante de má-fé. Rio de Janeiro: Forense, 1982. p. 12.
4,7 STOCO, Rui. Abuso do direito e má-fé processual. São Paulo: RT, 2002. p. 97.
hipótese dos expurgos das cadernetas de poupança derivados dos planos eco
uõmicos que o País conheceu. Embora um dos princípios constitucionais do
processo, sem o qual não se pode falar ao menos no Estado Democrático de
I h reito, seja o princípio da ampla defesa, esta deve ser realizada de forma cons-
i lente e com um mínimo de fundamento aceitável, sob pena de caracterizar
i onduta abusiva do sujeito passivo. Por anos e mais anos os réus responderam
ii» inúmeras ações relativas aos planos econômicos sempre com as mesmas
leses, que foram sistematicamente refutadas em todos os graus de jurisdição,
inclusive nos tribunais superiores, embora não sumuladas. As iniciais eram
Iguais, as respostas eram iguais, as sentenças eram iguais e os acórdãos eram
Iguais, com todos trabalhando de modo desnecessário para resolver algo que
Ia estava sedimentado. Isso porque os réus, em evidente abuso do poder eco
nômico, esperavam desencorajar a propositura destas ações ou forçar seus
opositores, normalmente ansiosos para receber o que lhe era devido, a receber
valor menor do que aquilo que efetivamente lhes cabia. O lucro sempre acima
ilc tudo.
Ora, sendo todas as teses ventiladas conhecidas e exaustivamente rejeita
das, não há como negar que os réus utilizaram o processo para conseguir
objetivo ilegal, ou seja, protelar a satisfação de um evidente direito do autor,
lal conduta, cremos, representa a utilização do processo para obter objetivo
que, se não ilegal (art. 80, III), ao menos é imoral; se não opõe resistência
Injustificada a processo (art. 80, IV), ao menos opõe resistência injustificada
i satisfação do direito do autor; se não representa incidente manifestamente
mlundado (art. 80, VI), ao menos representa defesa manifestamente infun
dada; e, se não é um recurso com intuito manifestamente protelatório (art.
HO. VII), ao menos é defesa com intuito manifestamente protelatório. Por tais
lazões, embora os tipos legais tenham sido apenas gramaticalmente tangeu
i lados, com certeza o princípio da lealdade processual foi atingido, sendo o
■iso do reconhecimento da litigância de má-fé.
Outra questão de excepcional importância diz respeito a aferir quem pode
M?r condenado como litigante de má-fé; em especial no que toca a condenação
do patrono da parte e não da própria parte. E nesse aspecto ousamos discor
dar da jurisprudência dominante, que fixou entendimento de que o advogado
não responde como litigante de má-fé. Isso porque o dia a dia forense é repleto
de situações em que o magistrado percebe que, à evidência, a parte nada sabe
a respeito da conduta improba, sendo ela praticada exclusivamente pelo seu
patrono.
Para bem ilustrar essas situações extremas vem a calhar o caso discutido
na Apelação 9569135100 do TJSP (10* Câmara de Direito Público, Relatoi
Urbano Ruiz, 12/04/2010, Votação: Unânime, Voto n° 9043) cuja ementa dis
põe: “MANDADO DE SEGURANÇA - Abuso de direito - Impetração simul
tànea de dois mandados de segurança, com objetivo de burlar o princípio do
juiz natural e ampliar as possibilidades de obtenção da liminar pleiteada
Nítido ato atentatório à dignidade da justiça - Litigância de má-fé configurada
- Condenação ao pagamento de multa calculada sobre o valor dado à causa
- Responsabilidade do advogado e da parte, que devem preservar os fins éti
cos do processo - Artigo 18 do Código de Processo Civil - Recurso parcialmentc
provido.”.
Assim como acontece em outras situações também extremas, não há como
isentar o advogado de responsabilidade quando este distribui ações idênticas,
apondo sua assinatura em ambos os feitos, com a nítida intenção de ampliar a
possibilidade de obtenção de medida liminar, quebrando a regra do juiz natu
ral. Mesmo que o cliente pudesse propor tal manobra, o que é inviável diantt
do seu desconhecimento do processamento dos feitos, caberia ao advogado se
recusar à prática do ato, que além de ferir a ética da sua profissão ainda atenta
contra a dignidade da própria Justiça.
,i uia defesa.".***
Observe-se, por fim, como sustenta o referido autor, “Que o fato de o cul
pado litigar com justiça gratuita não o isenta da obrigação de indenizar. Do
iindrário, a pobreza constituiría imunidade inadmissível.".**'* Em outros ter
mos, também aquele que litiga sob o pálio da gratuidade está sujeito as penas
.Io liligância de má-fé, devendo recolher tais valores quando condenado a
I. i/ê-lo, sob pena de sofrer atividade executiva com a alienação de seus bens
l**ii ,i a satisfação da condenação imposta pela conduta ímproba; situação agora
rxpressamente reconhecida pelo art. 98, §4°, do CPC.
I» BARBI, p. 105.
O* Idem .
multas às partes, o que se desembolsou para que se verificassem as perícias, th a) Despesas e multas.
custas da perícia, a condução e indenização às testemunhas, os pareceres d> A responsabilidade pelo pagamento das despesas e multas fixadas no pro
jurisconsultos de que lançou mão a parte para seu esclarecimento ou efeito ih cesso, além de constar em inúmeras disposições esparsas do CPC, também
melhor tratamento em público da matéria, etc.”.uo está concentrada nos arts. 82 a 97, em que é apresentada a regra geral relativa
Nada obstante, o gênero despesas processuais, na atualidade, pode ser divi .is despesas processuais, semelhante a existente no sistema processual anterior
dido em três espécies diferentes, que são: a) as custas processuais, b) os hono (art. 19, do CPC de 1973), segundo a qual incumbe às partes prover as despesas
rários advocatícios e c) as despesas processuais propriamente ditas. Nesse sen dos atos que realizarem ou requererem no processo, antecipando-lhes o paga
tido a posição de Humberto Theodoro Junior ao ensinar que “São custas as mento, desde o início até sentença final ou, na execução, até a plena satisfação
verbas pagas aos serventuários da Justiça e aos cofres públicos, pela prática dc iIo direito reconhecido no título (art. 82, do CPC). Existe, todavia, uma série de
ato processual conforme a tabela da lei ou regimento adequado. Pertencem ao dispositivos regulando casos específicos e que não se amoldam à regra geral,
gênero dos tributos, por representarem remuneração de serviço público. Des como o pagamento pelo autor das despesas relativas aos atos determinados
pesas são todos os demais gastos feitos pelas partes na prática dos atos pro tle ofício ou a requerimento do Ministério Público, quando atua como fiscal
cessuais, com exclusão dos honorários advocatícios, que receberam do Código da ordem jurídica (art. 82, §1°); o adiantamento das despesas pelo requerente
tratamento especial (art. 20, Caput).”. " ' de procedimento não contencioso (art. 88); e, o pagamento proporcional aos
Realmente, as custas processuais são os valores recolhidos em favor do quinhões no juízo divisório sem litígio (art. 89); dentre outros que merecem
Estado ou a União, conforme previsto nas respectivas leis de custas, também um olhar mais detido.
denominadas regimentos de custas, para que a parte possa propor a ação e Nesse passo, assim como acontece com relação aos honorários advocatí
interpor certos recursos. Trata-se da também conhecida taxa judiciária, que cios, aplica-se também às despesas processuais a regra de que a sua respon
tem por finalidade custear a atividade desenvolvida pelo Poder Judiciário. sabilidade deve ser atribuída àquele que sucumbir no processo ou, em não
Já os honorários advocatícios servem para pagamento da remuneração dos havendo sucumbência, àquele que deu causa a prática do ato processual ou
patronos das partes; enquanto todas as demais despesas, como os gastos com a interposição, extinção ou julgamento da demanda. Daí as regras previstas
oficiais de Justiça, as despesas postais para citações e intimações, as despesas nos art. 86 e 87, do CPC, segundo as quais havendo sucumbência recíproca as
com a publicação de editais, os valores relativos aos honorários dos peritos, despesas serão distribuídas na proporção da sucumbência de cada parte; e, no
dentre inúmeros outros gastos, são chamados de despesas processuais. caso da existência de litisconsortes que sucumbem, determinando a divisão
Observamos, por fim, que as multas decorrentes da prática de conduta proporcional das despesas e dos honorários da parte contrária. Porém, o art.
não adequada no processo não deve ser incluída, em nosso entender, como 92, do CPC, por exceção, ao aduzir que “se o processo terminar por desistên
uma quarta espécie das despesas processuais, já que caracteriza uma pena cia, renúncia ou reconhecimento do pedido, as despesas e os honorários serão
que é eventualmente aplicada à parte, tendo por isso uma natureza diversa das pagos pela parte que desistiu, renunciou ou reconheceu.”, consagra a regra da
demais despesas com o custo do processo. causalidade, independentemente de se aferir se houve ou não sucumbência na
hipótese concreta.
Nos vários projetos que se sucederam antes da versão final que deu ori
gem ao CPC, restou demonstrada grande preocupação quanto à realização
e ao pagamento das despesas relativas à prova pericial, tendo sido propos
"° PONTES DE MIRANDA, p. 408. tas algumas alterações substanciais. Isso porque no sistema do CPC de 1973
Ml THEODORO JUNIOR, Humberto. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l civil. 4 7 “ e.. Rio de Janeiro: Forense, os problemas quanto ao custeio de tal meio de prova, normalmente bastante
2007. v. I, p. 102.
oneroso, acabavam por inviabilizar a própria realizarão da prova, por foi <iri ando a Fazenda com o ônus de nào ter demonstrado aquilo que lhe lncum
çar o perito a trabalhar gratuitamente em alguns casos ou a receber o valoi lua, ainda que inexista norma específica nesse sentido.
da perícia somente após o encerramento do processo; quando não era obi i A segunda questão que era expressa mente tratada e que agora deixou de
gado a executar seus honorários não recebidos. Sobre o problema, em espeiml iei disciplinada era relativa a gratuidade processual, situação em que a perl-
quanto à realização da prova em processos beneficiados pela Justiça gratml.i t Ia também seria realizada, preferencial mente, por instituição pública ou por
ensinava com precisão João Batista Lopes que “Em casos de assistência judii I perito da administração. Não concretizada tal situação, o valor da prova peri
ária, o beneficiário está isento das custas e despesas processuais, mas a lei nada i ial requerida pelo beneficiário da gratuidade de justiça seria fixado conforme
dispõe sobre a remuneração do perito e ressarcimento das despesas que fizer. (> tabela do Conselho Nacional de Justiça e pago, desde logo, pelo Estado ou
problema é delicado porque não se pode obrigar o perito a trabalhar sem remu pela União, conforme se tratasse da Justiça Estadual ou Federal. Não sendo o
neração, nem há como requisitar aos cofres públicos a verba correspondente valor recolhido no prazo fixado, nem por isso ocorrería a preclusão, devendo
Particularmente grave é o problema nas ações de investigação de paternidade o magistrado se valer dos meios de coerção necessários para que o Poder
em razão do alto custo do exame de DNA, cuja realização por entidades públi Público recolhesse, de imediato, o valor necessário à realização da prova.
cas esbarra, geralmente, em entraves burocráticos.”.441
Como se vê, repita-se, infelizmente, por questões de ordem política, já que
Todavia, em que pese a preocupação demonstrada pelos inúmeros pro o maior litigante do País sempre foi o Poder Público, deixamos de evoluir
cessualistas que atuaram na elaboração dos projetos, infelizmente, o sis rumo a um sistema mais técnico e adequado a um Estado Democrático de
tema atual fez ouvidos moucos ao reclamo da doutrina, mantendo o mesmo Direitos.
e arcaico regime para a realização da prova pericial requerida pela Fazeiul.i
Observa-se, por fim, que no tocante as multas, assim como acontecia com
Pública, Ministério Público e Defensoria Pública, bem como nos casos de Jus
o art. 35, do CPC de 1973, o capítulo trata apenas da sua destinação, dispondo
tiça gratuita. Esses dois problemas estavam tratados em projetos anteriores
o art. 96 que as sanções impostas aos litigantes de má-fé reverterão em bene
com grande vantagem sobre o sistema atual, sendo perdida uma ótima opor
ficio da parte contrária; enquanto as impostas aos servidores públicos serão
tunidade para avançar rumo ao aperfeiçoamento do instituto.
recolhidas em favor do Estado ou da União.
No primeiro caso, exigia-se que também a Fazenda fizesse o recolhimento
do valor relativo à prova pericial por ela requerida, isso caso não houvesse b) H onorários advocatícios.
instituição pública ou perito da administração que pudesse realizar a prova Em sua origem a condenação ao pagamento de honorários advocatícios
O montante dos honorários periciais, entretanto, seria fixado pelo CNJ levan se confundia com uma penalidade imposta àquele que litigava sem ter razão,
do-se em consideração o tipo da perícia que seria realizada, devendo a fazenda o que aproximava sua natureza a uma condenação por litigância de má-fé.
recolher desde logo o valor. Isso evitaria, como acontecia no sistema ante F.ssa ideia evoluiu, todavia, para a natureza ressarcitória, inicialmente vin
rior e agora se repete, que o perito viesse a receber sua remuneração apenas culada à aferição da existência de culpa grave ou dolo na conduta de quem
depois do trânsito em julgado da decisão, o que no caso da Fazenda Pública perdia a ação, para, por fim, embasar-se na teoria da sucumbência, adotada
nunca acontece num curto espaço de tempo. A Fazenda deve ser tratada da como regra em nosso processo de conhecimento. A esse respeito aduz Yussef
mesma forma que os demais litigantes, em respeito ao Estado Democrático dc Said Cahali que “Repelindo a opinião então generalizada, que divisava na con
Direitos. Assim, em caso, de não recolher o valor devido no prazo fixado pelo denação uma pena imposta ao litigante temerário, Weber afirma o princípio
magistrado, a solução mais plausível é decretar a preclusão da prova pericial,
442
LOPES, João Batista. A p r o v a n o d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 3* e.. São Paulo: RT, 2006.
segundo o qual esta condenação, ao contrário, não é senão o ressarcimento do
prejuízo do vencedor.".**'
Daí a razão pela qual o art. 85, do CPC, prevê que a sentença condenará n
vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor, em clara demonstras.»'»
de que será no momento da decisão do processo, quando o juiz resolve a rela
ção jurídica controvertida, dizendo quem tem razão, que será fixada a conde
nação ao pagamento dos honorários aquele que perdeu a demanda. Trata m
da afirmação do princípio da sucumbência, que segundo o mesmo autor deve
ser assim compreendido: "A justificação para o principio da sucumbência »'
uniforme entre os autores: aquele que se pretende necessitado da tutela jurisdi
cional, se não é atendido senão recorrendo às vias judiciais, não deve suportai
um sacrifício econômico (que, segundo a clássica proposição, diminuiría o valot
do direito reconhecido); à sentença cabe prover para que o direito do vencedot
não saia diminuído de um processo em que fo i proclamada a sua razão'.”: 1"
Em outros termos, reafirma a regra da sucumbência o ideal de efetividade
no processo, na medida em que está se dando a parte que tem razão aquilo e
exatamente aquilo que teria se seu direito fosse espontaneamente satisfeito.
Nada obstante a adoção do princípio da sucumbência como regra geral, las
treado no “...fato objetivo da derrota...” da parte,443445 o sistema adota por exceção
a regra da causalidade (que para alguns abarcaria a sucumbência), aplicada
precipuamente as hipóteses em que não se pode dizer propriamente que um.i
das partes perdeu a demanda. O exemplo mais importante dessa exceção está
na execução de título extrajudicial e no cumprimento da sentença (art. 85, §1",
do CPC), em que não há um “ganhador ” da causa, na medida em que apenas
se praticam atos materiais tendentes a satisfação do direito do sujeito ativo.
Aplica-se também esse princípio para os casos da perda do objeto da demanda
(§10°), cabendo a quem deu causa a propositura da ação arcar com os ônus
decorrentes da sua atuação. Trata-se da hipótese, por exemplo, na qual o plano
444 Id e m . p. 35.
446
CAPPELLETTI, Mauro,GARTH, Bryant. A c e s s o à ju s tiç a . Porto Alegre: SAFE, 1988. p. 31.
oportunidade de comentar que experiência de julgador demonstra que
tem havido abuso quanto à propositura de ações que visam à reparação de
ihinos morais. O autor sofre um pequeno contratempo e procura transformá-lo
em um acidente de proporções trágicas, como maneira de ganhar uma pequena
fortuna, sem que exista causa para tal. Para obter tal desiderato, sem correr
o risco de ter de arcar com o ônus de demandar, o autor propõe a ação com o
valor da causa abaixo do que pleiteia e requer o benefício da Justiça Gratuita;
ou, propõe ação formulando pedido genérico, indicando que a indenização não
deve ser inferior a muitos salários mínimos. Se ganhar estará rico. Se perder,
nada terá de pagar ao vencedor. Um ambiente praticamente perfeito para a
propagação de uma aventura processual.V47
Diante do uso abusivo do pedido de gratuidade, mesmo antes da entrada
em vigor do novo CPC, a presunção de veracidade da declaração firmada pelo
postulante da assistência judiciária, normalmente impugnada à época por
um incidente processual denominado de impugnação ao benefício da Justiça
gratuita (agora alegável como simples preliminar em contestação), passou a
ser questionada de ofício pelos magistrados, conforme comprova o elevado
número de agravos a respeito do tema. Nesse passo, de ofício e antes mesmo
ela determinação da citação do réu, passaram os magistrados a determinar
que a parte justificasse a necessidade da gratuidade, principalmente naqueles
easos em que a matéria discutida ou a condição da parte indicava um descom
passo entre o benefício pretendido e as condições pessoais do seu postulante.
Nesse contexto histórico veio a lume nosso atual estatuto, que fez bem ao
apresentar capítulo próprio acerca da gratuidade da Justiça, composto pelos
art. 98 a 102, do CPC, procurando atualizar o perfil do instituto, já que a
sua regulamentação já ultrapassava a casa dos sessenta anos (Lei n° 1.060/50),
dando-lhe uma dinâmica adequada ao contexto social hodierno.
A redação do art. 98, do CPC, inicia eliminando uma controvérsia que a
doutrina e a jurisprudência já haviam definido, no sentido de que tanto a pes
soa física quanto a pessoa jurídica podem pleitear o benefício da justiça gra
tuita. O simples fato de se tratar de pessoa jurídica não exclui a possibilidade
da concessão do benefício, desde que preencha os requisitos necessários a sua
BARBI, p. 144.
Por fim, na forma do art. 107, do CPC, além dos direitos que lhes são con II (substituição) nada tem a ver com o instituto da substituição processual.
feridos pelo Estatuto da OAB, os advogados têm o direito de examinar quais \< reflitamos, todavia, que preferível teria sido deixar de lado a expressão sub s
quer processos, desde que não se trate de segredo de Justiça; requerer visi.i llluição e falar o legislador em sucessão no processo. A expressão sucessão no
dos autos fora do cartório por cinco dias; e, retirar os autos quando lhe coubci /irocesso não é desconhecida na literatura processual...”.***
manifestar neles. Sendo o prazo comum, porém, os autos não poderão sn
Realmente, o instituto aqui tratado não guarda semelhança alguma com a
retirados do cartório mesmo nestas hipóteses, a não ser que todos os desti
substituição processual. Enquanto na substituição, por força do disposto no
natários do prazo comum pleiteiem vista em conjunto, juntando aos auto-,
,ii t. 18, do CPC, o substituto pleiteia direito alheio em nome próprio, desde
petição informando a divisão do prazo entre eles (§2°).
que autorizado por lei; na sucessão processual, também nos casos previstos
l>or lei, acontece à sucessão da parte originária no processo por alguém que
11.4. Sucessão das partes e dos procuradores. adquire direitos com relação ao objeto litigioso ou sucede a parte original em
uzão de seu falecimento. Daí a existência de duas espécies de sucessão pro
cessual tratadas pela lei: a) voluntária ou inter vivos (art. 109), que se opera por
a) Sucessão das partes.
lorça da alienação da coisa ou do objeto litigioso; e, b) obrigatória ou causa
Quando do estudo da competência observamos que a determinação mords (art. 110), que se opera por força do falecimento de uma das partes.
do juízo competente para conhecer e para decidir determinada demanda Diante de tais aspectos podemos definir o instituto da sucessão processual
depende, além das regras que regulam a competência em seus diversos aspec como o fenômeno da sucessão da parte originária no processo, que se dá por
tos, da fixação de um marco temporal, sem o que cada alteração na situação que alguém adquire direitos com relação à coisa litigiosa ou com relação ao
de fato ou de direito pode implicar a alteração da competência inicialmente objeto litigioso (sucessão voluntária); ou, porque sucede a parte em razão de
fixada. Daí a razão pela qual o art. 43, do CPC, estabelece que “Determina-se seu falecimento (sucessão obrigatória).
a competência no momento do registro ou distribuição dea petição inicial,...";
Outrossim, enquanto a sucessão obrigatória decorre do mero falecimento
o que se denomina princípio da “perpetuado jurisdictionis” ou princípio da
de uma das partes, a sucessão voluntária, como se disse, deve ser expressa
perpetuação da jurisdição.
mente autorizada por lei, conforme dispõe o art. 109, do CPC. Essa autori
O mesmo acontece, embora com mais exceções, no tocante determinação /.ação expressa, entretanto, deve ser entendida como ausência de vedação a
do polo ativo e do polo passivo da demanda, fixados quando da propositura transmissão do objeto litigioso, na medida em que aquilo que tiver caráter
da ação, que para alguns toma a denominação de “perpetuado legitimationis”. patrimonial em regra poderá ser alienado livremente pela parte, respeitadas
Em outros termos, em regra, a propositura do feito implica a fixação das par as limitações de ordem procedimental e as relativas aos direitos indisponíveis.
tes e da sua legitimação para a causa até o final; sendo possível eventual alte
Promovida a sucessão voluntária, a alienação da coisa ou do direito litigioso
ração apenas nas hipóteses previstas nos art. 108 até 110, do CPC, que tratam
não altera a legitimidade das partes (art. 109), a não ser que a parte contrá
da sucessão das partes no curso do processo.
ria concorde com a sucessão operada. Nesse sentido já alertava Celso Neves,
A redação dos preceitos sofreu poucas alterações com relação aos art. 41 a ao analisar o art. 42, §1°, do CPC de 1973: “Concordância na substituição da
43, do CPC de 1973, mas corrigiu uma imprecisão (art. 108) que era objeto de parte - O § 1° admite a substituição voluntária da parte originária pelo adqui
robusta crítica por parte da doutrina, promovendo a substituição do termo rente da coisa ou cessionário do direito objeto da demanda, mas a subordina*29 3
“substituição processual” pelo termo “sucessão voluntária” (sucessão proces
sual) o que nos dá uma ideia mais exata da natureza do instituto em comento.
«* ARRUDA ALVIM, José Manuel de. C ó d ig o d e P ro c e s so C iv il C o m e n ta d o . São Paulo: RT, 1975. p,
A tal respeito alertava Arruda Alvim que “£ curial que o vocábulo do art.
293.
■IIIII I I I III— — — ~~
ao consentimento da parte contrária. Se esta não concordar, a substituição ,i In a utilização de um procedimento próprio para que se proceda a sucessão
não poderá ser feita, devendo a causa continuar com o alienante ou cedente, da parte falecida, que está previsto nos art. 687 a 692, do CPC.
observados os efeitos referidos no § 3 ojá comentado. Mas se a parte contrária
(irosso modo, já que este procedimento será melhor analisado quando
anuir na substituição, ela se fará, e o alienante ou cedente será excluído do
do estudo dos procedimentos especiais, falecendo a parte originária e não se
processo.”.450 Nesse caso, pois, o adquirente ou cessionário poderá ingressai
tratando de direito que não admite a transmissão; a parte contrária ou os
no processo como parte, operando-se a extromissão da parte originária. Mas
sucessores do falecido deverão se habilitar nos próprios autos (art. 689), cujo
se a parte contrária não estiver de acordo com a sucessão processual que se
trâmite ficará suspenso até o trânsito em julgado da sentença de habilitação
operou, poderá o adquirente ou o cessionário intervir no processo como assis
(art. 692). Segue o procedimento com a citação da parte contrária (art. 690)
tente do alienante ou do cedente, fazendo-o na modalidade de assistência litis
e, se não houver impugnação ou necessidade de prova, com a imediata deci
consorcial (§2°), já que passa a ter uma relação jurídica com o adversário do
são julgando habilitado o sucessor (art. 691, inftne). Havendo impugnação e
assistido, sendo que a sentença proferida entre as partes originárias estende os
necessidade de instrução probatória, porém, será determinada a autuação em
seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário (§3°).
separado do pedido, deliberando o magistrado quanto a sua instrução. Numa
Não há previsão expressa da maneira pela qual deverá se processar o inci ou noutra hipótese, conforme dispõe o art. 692, do CPC, “Transitada em ju l
dente relativo à admissão da sucessão processual no feito. Daí, ocorrendo gado a sentença de habilitação, a causa principal retomará o seu curso;...”, jun
à sucessão voluntária e com a finalidade de agilizar a solução do incidente, tando-se aos autos respectivos cópia da sentença de habilitação.
deverão o sucedido e o sucessor, em petição simples, que não possui requisi
Cremos, aqui, que agiu mal a lei ao condicionar a tramitação do processo
tos específicos, pleitear a substituição, juntando o documento comprobatório
ao trânsito em julgado da decisão que promove ou não a sucessão processual.
da alienação ou da cessão. É conveniente, ainda, que seja formulado pedido
Isso porque o trânsito em julgado está sujeito ao esgotamento de todas as vias
sucessivo de assistência, para o caso de eventual discordância da parte contrá
recursais, seja pela sua nào utilização, seja pela utilização de todos os recursos
ria. Em seguida, levando em conta os princípios da brevidade e da utilidade
disponíveis, situação que com certeza retardará sobremaneira a tramitação do
dos prazos processuais, deverá o magistrado fixar prazo para a manifestação
processo, praticamente o eternizando.
da parte contrária. Aceitando a sucessão ou mantendo-se inerte, o magistrado
determinará a substituição da parte e a alteração dos registros. Caso contrá Por fim, acompanhando o que já acontecia sob a vigência do CPC de 1973,
rio, admitirá o terceiro como assistente litisconsorcial. e deixando de positivar o art. 109, parágrafo único, de projeto anterior ao que
deu origem ao CPC, em que havia inovação no sentido de que “na ausência
Embora a lei também seja omissa a tal respeito, tendo o sucedido relação
de sucessores conhecidos, será nomeado curador especial”; deixou a lei atual
jurídica com o sucessor e podendo ser atingido pela eficácia natural da sen
de regular lacuna existente no sistema anterior e que por vezes forçava uma
tença, nada impede que se habilite no processo como assistente simples, pro
busca infindável por eventuais sucessores da parte falecida, o que levava a
curando auxiliar o sucessor a vencer a demanda.
uma demora exacerbada do processo. O problema, portanto, continua a exis
Além da sucessão voluntária, que se opera por vontade das partes, o art. tir até que uma eventual revisão do preceito possa inserir norma semelhante
110, do CPC, prevê a sucessão obrigatória, que decorre do falecimento de uma no sistema, em prol de um melhor desenvolvimento do processo.
das partes originárias do processo, situação que expressamente suspende o
curso do procedimento, na forma do art. 313,1, do CPC. Nessa hipótese prevê b) Sucessão dos procuradores.
Sendo regra em nosso sistema processual o fato de que a capacidade pos
450 BARBI, Celso Agrícola. C o m e n tá r io s a o c ó d ig o d e p r o c e s s o c iv il. 6* e.. Rio de Janeiro: Forense. tulatória é atribuída ao advogado, sendo vedado à parte, a não ser em casos
1991. v. I, p. 150.
excepcionados por lei, atuar livremente em juízo, torna se necessária a cons <um isso se evita que a parte ou o terceiro possam ser prejudicados pela perda
tituição de procurador para representá-la nos feitos em que lor autora ou i< de um prazo ou pela omissão quanto a prática de determinado ato processual.
bem como nos feitos em que atua como terceiro. Para isso a parte ou o terceiro, Ao contrário do que acontecia no sistema anterior, isso por expressa dis
como vimos, outorga ao seu patrono procuração geral, fazendo nela constai posição do art. 112, §2°, do CPC, sendo vários os advogados da parte a comu-
poderes específicos, se for o caso, na forma prescrita no art. 105, do CPC. A nk ação da renúncia é dispensada, podendo o patrono sair imediatamente do
relação que se estabelece entre o constituinte e seu patrono, assim como acon leito, sem a necessidade de continuar a exercer os poderes que lhe foram con-
tece entre o médico e seu paciente, é uma relação baseada na confiança e, poi Iri idos por mais 10 dias.
isso, a qualquer tempo poderá ser desfeita, caso desapareça a confiança inicial
Isso se dá mediante a revogação da procuração por parte do constituinte ou
mediante a renúncia aos poderes recebidos por parte do patrono constituído 11.5. Substituição processual.
Nada obstante, se a revogação da procuração ou a renúncia aos poderv. Já observamos, quando do estudo da legitimidade da parte, que a lei prevê
recebidos acontece quando na pendência de processo judicial, há necessidad» icrtos modelos (tipos) denominados “situações legitimantes”, nos quais a
de regularizar a situação da parte no processo, na medida em que sua repre parte está legitimada para estar em juízo defendendo o direito que alega ter.
sentação processual passa a ser irregular e, portanto, o feito não pode seguii A coincidência entre a situação que a pessoa se atribui quando postula em
seu curso normal. Destas hipóteses tratam os art. 111 e 112, do CPC, que Jilízo (afirmação de direito contida na inicial) com a situação legitimante pre
regulam, respectivamente, a revogação e a renúncia ao mandato. vista em lei consiste na legitimação ou legitimidade ordinária. Entretanto, a
Nesse passo, conforme impõe o art. 111, do CPC, se a parte revoga o man lei pode perm itir que outras pessoas que não sejam as titulares do direito ale
dato outorgado ao seu advogado, para evitar que o feito sofra interrupção em gado estejam em juízo como partes legítimas, o que caracteriza a legitimação
seu regular andamento, deverá constituir outro patrono que venha a substi extraordinária.'51
tuí-lo. Embora a lei utilize a expressão “...no mesmo ato...”, isso não quer dizer Em outros termos, a legitimidade para estar em juízo, que decorre de uma
que há necessidade da constituição no mesmo instrumento. É perfeitamente situação prevista em lei, pode recair sobre o próprio titular do direito, ocasião
possível, e até mesmo normal, que a revogação aconteça por um instrumento cm que se denomina legitimidade ordinária; ou, sobre quem não é o titular
e a constituição de outro patrono por meio de outro instrumento, juntando-se do direito material alegado, o que se denomina legitimidade extraordinária.
ambos ao processo. Nesse caso, se o legitimado está autorizado a litigar sem anuência do titular
Ademais, dispõe o parágrafo único, do preceito em comento, que “não do direito a legitimidade extraordinária será autônoma; enquanto será deno
sendo constituído novo procurador no prazo de quinze dias, observar-se-á o minada legitimidade extraordinária subordinada se sua atuação depende
disposto no art. 76.“; o que impõe a conclusão de que o magistrado somente da autorização do titular do direito posto em juízo. Por fim, a legitimidade
poderá extinguir o processo se a parte, intimada para regularizar sua repre extraordinária autônoma comporta, ainda, uma última subdivisão, no sen
sentação no prazo lixado pelo juiz, quedar-se inerte. tido de ser concorrente ou exclusiva. Nesta a atuação do legitimado extraor
dinário impede que o legitimado ordinário participe do processo como parte
Do mesmo modo,por força da regra constante do art. 112, do CPC, o advo
gado poderá a qualquer tempo renunciar ao mandato, desde que comprove
que comunicou ao seu constituinte a renúncia, isso para que ele possa nomear BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A p o n t a m e n t o s p a r a u m e s t u d o s i s t e m á t i c o d a le g itim a ç ã o
seu sucessor. Para que da renúncia não decorra prejuízo processual ao m an e x t r a o r d i n á r ia . RT 409/10. “Q u a n d o a s itu a ç ã o l e g i t i m a n t e c o in c id e c o m a s i t u a ç ã o d e d u z i d a e m
j u i z o , d i z - s e o r d i n á r i a a le g itim a ç ã o ; n o c a s o c o n tr á r io , a le g itim a ç ã o d i z - s e e x t r a o r d i n á r ia . /.../ O
dante, o renunciante continuará a representá-lo até dez dias após o ato (§1°). le g i t i m a d o o r d in á r io d e v e e n c o n t r a r n a s e n te n ç a a d is c ip lin a d e s u a p r ó p r i a s itu a ç ã o ; o le g ítim o
e x t r a o r d i n á r io , a d i s c ip lin a d e s i t u a ç ã o a lh e ia , t a l v e z s u s c e tív e l d e r e p e r c u tir n a s u a ."
principal, enquanto naquela o legitimado extraordinário e o ordinário podem
promover ou sofrer a ação em igualdade de condições.
Esta classificação, já vista anteriormente, assume grande relevância no qu<
toca a tutela coletiva, situação em que as espécies de legitimidade extraordl
nária podem ser encontradas com facilidade; mas representam uma exceção
cada vez menos utilizada quando se tratam de direitos individuais e, espe
cialmente, quando esses direitos também são de caráter patrimonial. Dal .1
razão pela qual dispõe o art. 18, do CPC, que “ninguém poderá pleitear dimt<<
alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico.
estabelecendo a hipótese de legitimidade extraordinária conhecida por subs
tituição processual.
Não são poucas, entretanto, as críticas à denominação substituição pro
cessual. A esse respeito ensina Waldemar Mariz de Oliveira Junior que “No
que tange à denominação dada ao fenômeno, lembramos a crítica de Ponlc»
de Miranda, que considera imprópria a designação utilizada por Chiovenda.
para salientar os casos em que não há coincidência entre os sujeitos das relações
processual e material. De acordo com 0 insigne Mestre, substituição é o que não
ocorre, sendo certo que a doutrina, ao falar em substituído, persiste, incons
cientemente, na atmosfera da concepção privatística do processo. E fo i isso que
aconteceu com Chiovenda. Conforme já afirmamos em nosso trabalho anterior,
entendemos, também, que a denominação não é feliz, pelas razoes apontadas
pelo festejado Pontes de Miranda. Ousaríamos, até, sugerir quefôsse 0 instituto
chamado de equiparação ou equivalência processual, uma vez que êsses têrmos
expressariam, com maior precisão, 0 fenômeno em estudo.” A denomina .4 H
,s; OLI VF.IRA JUNIOR, Waldemar Mariz de. S u b s t i t u i ç ã o p r o c e s s u a l. São Paulo: RT. 1971. P. 89.
453 Idem.
d» seguintes requisitos: a) o lei atribuir a alguém direito de ação de molde a que
P»\e possa agir, em nome próprio, para a tutela de direito material alheio ; b) o
titular daquele direito material estiver ausente naquela ação como parte (prin
i Ipal).”.*** Em outros termos, a substituição processual, por força do disposto
lio art. 18, do CPC, pode ser definida como o instituto por meio do qual o
•ubstituto pleiteia direito alheio em nome próprio, desde que expressamente
autorizado por lei.
Ocorrendo a substituição processual, o substituído será atingido pela efi-
. <kia da sentença proferida no feito do qual não participou, em especial por-
»|Utí com relação a ele se opera coisa julgada formal e material. Nesse sentido
.1 opinião de Ephraim de Campos Junior ao discorrer no seguinte sentido:
‘Assim, como assinala Arruda Alvim, do ponto de vista processual, a conse
quência mais importante da substituição processual consiste precisamente em
que a sentença proferida, no processo, produz efeitos, revestidos da autoridade
iIa coisa julgada, para quem não fo i parte processual, pois atinge alguém que
ficou estranho ao processo; os efeitos da sentença atingem não só o substituto
Indiretamente (preclusão - coisa julgada formal), como também diretamente
aquele que ficou fora do processo, isto é, o substituído.".'55
Ressalte-se, por fim, que ao contrário do CPC de 1973, que era omisso
quanto ao tema, o art. 18, parágrafo único, do CPC, dispõe que havendo subs
tituição processual o juiz determinará que seja dada ciência ao substituído
da pendência do processo, o que se faz mediante sua intimação, isso para
que possa, querendo, participar do feito. Se o substituto comparece ao pro
cesso cessa a substituição processual, procedendo-se a sucessão automática da
parte, independentemente da aceitação da parte contrária, como necessaria
mente deve acontecer na sucessão processual supra analisada.
Verificação de Aprendizagem
P A R T E 01.
01. Qual a diferença entre capacidade civil, capacidade processual e
capacidade postulatória?
IV*
CAMPOS JUNIOR, Ephraim de. S u b s titu iç ã o p r o c e s s u a l. São Paulo: RT, 1985. p. 20.
.-r< n T T
02. Há diferença entre o curador à lide e o curador dc ausentes? (M Não concordando a parte contrária com a sucessão voluntária, como
03. Pode o curador de ausentes reconhecer juridicamente o pedido do autoi poderá o sucessor intervir no processo?
04. Em que circunstâncias os cônjuges estarão obrigados a litigar como 01 Na substituição processual (art. 18, do CPC), o substituído é atingido
litisconsortes passivos necessários? pela coisa julgada?
Ilibliografia
ARRUDA ALVIM, José Manuel de. Código de Processo Civil Comentado. São
Paulo: RT, 1975.
BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao código de processo civil. 6a e.. Rio de
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12. LITISCONSÓRCIO
DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma da reforma. 2* e.. São Paulo
Malheiros, 2002.
DINIZ, Maria Helena. Novo Código Civil Comentado. Coord. FIÚZA, Ricardo 12.1. Definição. 12.2. Classificação. 12.2.1. Litisconsórcio unitário ou simples, a) Dis
São Paulo: Saraiva, 2003. tinção do litisconsórcio necessário, b) Conteúdo. 12.2.2. Litisconsórcio necessário ou
facultativo, a) Distinção, b) Limitação do litisconsórcio facultativo. 12.3. Princípio da
DUARTE, Nestor. Código civil comentado. Coord. PELUSO, Cezar. 4“ e autonomia dos litisconsortes. 12.4. Intervenção iu s s u iu d ic is .
Barueri: Manole, 2010.
LEÂO, Adroaldo. O litigante de má-fé. Rio de Janeiro: Forense, 1982. 12.1. Definição.
LOPES, João Batista. A prova no direito processual civil. 3a e.. São Paulo: RT,
Já tivemos a oportunidade de estudar a conexão de causas, fenômeno que
2006.
iletermina a reunião de feitos para julgamento conjunto. Ali existe o que se
OLIVEIRA JUNIOR, Waldemar Mariz de. Substituição processual. São Paulo denomina cumulo objetivo, ou seja, a reunião de dois ou mais feitos para jul
RT, 1971. gamento por meio de uma mesma sentença; situação que também acontece
OLIVEIRA NETO, Olavo, OLIVEIRA, Patrícia Elias Cozzolino de. A neces quanto o autor formula pedido complexo, isto é, numa mesma inicial formula
sidade de pedido específico na ação de indenização por dano moral. In iliais de um pedido. Aqui passamos a analisar o chamado cumulo objetivo,
Revista do IASP. São Paulo: RT, Janeiro/Julho de 2009. Ano 12, n° 23. que nada mais é do que a existência de mais de uma pessoa num ou em ambos
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcante. Comentários ao Código de ns polos do processo. Tem-se, então, um litisconsórcio.
Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1947. A própria palavra, por si só, já dá ideia daquilo que ela representa, na
SILVA, Ovídio Baptista. Comentários ao código de processo civil. São Paulo: medida em que a sua decomposição e inversão implica a formula “consórcio +
RT, 2000. lide", a indicar que se está tratando de pessoas que agem em conjunto numa
determinada demanda.
STOCO, Rui. Abuso do direito e má-fé processual. São Paulo: RT, 2002.
Na vigência do CPC de 1973 asseverava Ovídio Baptista da Silva que “Dis
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 47a e.. Rio
põe o art. 46 que poderão litigar duas ou mais pessoas, num mesmo processo,
de Janeiro: Forense, 2007. v. I.
em conjunto, ativa ou passivamente. Trata-se de uma espécie de pluralidade de
WAMBIER, Luiz Rodrigues, WAMBIER, Teresa Arruda Alvirn, MEDIDA, partes, ou de um cúmulo subjetivo de partes, form ador de um litisconsórcio
José Miguel Garcia. Breves comentários à nova sistemática processual Nem todo o cúmulo subjetivo de partes corresponde, no entanto, a um litis
civil. São Paulo: RT, 2005. consórcio. Diz-se que há litisconsórcio quando figuram na relação processual,
reunidos por algum interesse comum , dois ou mais autores, ou dois ou mais
» » .1 Q A
reus.. ,56
Dessa definição não diferem substancialmente as definições de Ernani
lidelis dos Santos e de João Batista Lopes ao ensinarem, respectivamente, que
"ü litisconsórcio é pluralidade de partes. E, se partes são o autor, que pede, e o*19
4
réu, contra quem se pede, sempre haverá litisconsórcio, quando houver mais </•
um autor, ou mais de um réu."1'''; e, que "Litisconsórcio é, pois, o vinculo qiu
se estabelece entre duas ou mais pessoas que ocupam, num mesmo processo, ii
posição de autores ou réus.”.*n
Destarte, utilizando a mesma perspectiva dos autores citados, podemos
definir litisconsórcio como a pluralidade de sujeitos em um ou em ambos o
polos da relação jurídica processual.
12.2. Classificação.
Ao contrário do que sucede com outros institutos processuais, não há vai 1.1
ção relevante com relação à classificação das formas de litisconsórcio. Assim,
a doutrina mais aceita formula classificação fundada em quatro aspectos: .1)
quanto à posição ocupada no processo - ativo, passivo e misto; b) quanto no
momento da sua formação - inicial ou ulterior; c) quanto à obrigatoriedade 1I1
participação no feito - necessário ou facultativo; e, d) quanto ao conteúdo dn
sentença - unitário ou simples.
v As duas primeiras categorias não apresentam grau maior de dificuldadt
O litisconsórcio será ativo quando reúne várias pessoas no polo ativo do pro
cesso, será passivo quando reúne várias pessoas no polo passivo do processo
e será misto quando reúne várias pessoas no polo ativo ao mesmo tempo em
que reúne várias pessoas no polo passivo do processo. Por seu turno, teremos
um litisconsórcio inicial quando este se forma no momento em que a ação
é proposta e um litisconsórcio ulterior ou posterior, quando a sua formação
acontece após o momento em que 0 feito foi distribuído.
As demais categorias, entretanto, têm sido objeto de amplos e profundos
estudos, seja aqui, seja no exterior, suscitando problemas bastante complexos
e de difícil solução, na forma que doravante teremos breve notícia.458
15 SANTOS, F.rnane Fidélis dos. M a n u a l d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 12* e.. São Paulo: Saraiva, 200H
v. 1. p. 71.
458 I.OPES, João Batista. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: Atlas, 2005. p. 191.
12.2.1. Litisconsórcio unitário ou simples. < ' ^
it) IJistinção do litisconsórcio necessário.
A primeira questão que se apresenta com relação ao litisconsórcio unitá
(In diz respeito a isolar seu conceito e o seu regime jurídico do conceito c do
i»’Hlme jurídico do litisconsórcio necessário, na medida em que nem sempre
Itmive uma nítida separação entre os institutos, chegando o litisconsórcio uni
I n to a ser compreendido como uma espécie do litisconsórcio necessário.
Cfomentando o tratamento legal que foi atribuído ao litisconsórcio pelo
projeto que acabou dando origem, após alterações, ao CPC de 1973, embora
entendesse que os institutos em tese não se confundiam, aduzia José Carlos
ll.ii bosa Moreira que "Já a vista do art. 56, caput, do Anteprojeto, o litisconsórcio
unitário terá que ser considerado como espécie do gênero litisconsórcio necessá
uo, uma vez que a presença de todos os co-interessados no processo é corolário
tnafastável do fato de precisar o juiz decidir a lide de modo uniforme'.":'™
Nesse mesmo sentido, mas já sob a vigência do referido diploma, assinalava
Contes de Miranda que “Litisconsórcio unitário é o litisconsórcio necessário em
que é exigida a unitariedade. Foi isso que sempre mostramos. Todos os litiscon
■ireios unitários são litisconsórcios necessários, mas nem todos os litisconsór-
rios necessários são unitários. O art. 47 referiu-se a unitariedade como causa
ila necessidade.”.*60
Realmente, a redação do art. 47, do CPC de 1973, ao dizer que “há litis-
i onsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza da relação
luridica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes;
", induzia o intérprete a conclusão de que todo litisconsórcio unitário tam
bém seria um litisconsórcio necessário, transformando este em gênero com
relação àquele. Já se entendia, entretanto, que a má redação do preceito não
implicava a confusão das espécies, explicando Cândido Rangel Dinamarco
que “A nossa lei não merece, como se vê, as injustas críticas que, desse ângulo,
lhe têm sido movidas; não é correto pensar que ela tenha feito confusão entre os
conceitos de litisconsórcio unitário e necessário, nem que haja disposto aquele
‘ BARBOSA MOREIRA, José Carlos. L itis c o n s ó r c io u n itá r io . Rio de Janeiro: Forense, 1972. p. 22H
P O N T E S D E MIRANDA, Francisco Cavalcante. C o m e n t á r i o s a o C ó d ig o d e P r o c e s s o C iv il. R io d r
Janeiro: Forense, 1973. p. 30.
corno subespécie deste. O que elu diz, nu sua linguagem que reconheço ser pota o
clara, é que se aferirá a necessariedade a partir da unitariedade, podendo <>t oi
rer aquela também sem esta, sempre que a lei específica o determine (infra
n. 29). Peca o art. 47, em substância, apenas por não anunciar também </n.
casos existem de litisconsórcio unitário não necessário, como todos sabemos qn,
existem;...”.46'
Nesse mesmo sentido, dentre outros, a posição dos seguintes autores:
a) Arruda Alvim - “De um modo geral a doutrina tem considerado o lilh
consórcio unitário como uma espécie do litisconsórcio necessário, ao qual, o h
último colocar-se-ia como gênero. [...] O nosso legislador, seguindo praticamenh
a torrencialidade da nossa doutrina anterior, aparentemente subordinou o litls
consórcio unitário ao necessário. [...] O litisconsórcio unitário tem fisionomia t
função autônomas. É certo que, na sistemática atual, o litisconsórcio necessá
rio, na maioria das hipóteses, implicará, no plano do direito material, darsorh
idêntica a todos os litigantes. [...] No entanto, o litisconsórcio unitário há </«
ser entendido como tendo sido disciplinado como figura autônoma, por varia *
razões: ...”.462
b) Celso Agrícola Barbi - “A fórmula legal é defeituosa por vários moüvo\
em primeiro lugar, porque nem sempre a solução uniforme da causa em relação
a todas as partes (litisconsórcio unitário) produz litisconsórcio necessário.”.4"'
c) Mathias Lambauer - “O texto da nova lei tem sido acoimado de retro
grado de vez que não teria acompanhado a evolução da ciência processual <
errados estariam mesmo os conceitos que enuncia em sua definição, na medido
em que, definindo todo litisconsórcio de necessária decisão uniforme como lilis
consórcio de necessária presença à lide, teria, ademais, incidido na indistinção
conceptual assinalada, por não distinguir entre o litisconsórcio necessário e o
unitário. Se nem todo litisconsórcio unitário é necessário, não lhe seria dado
pressupor a necessidade litisconsorcial, sempre que possível a incidência da
necessária decisão uniforme, em face de uma pluralidade de partes.”.464
161 DINAMARCO, Cândido Rangel. L itis c o n s ó r c io . São Paulo: RT, 1984. p. 114.
M ARRUDA ALVIM, José Manuel de. C ó d ig o d e P ro c e s so C i v i l C o m e n ta d o . São Paulo: RT, 1975. p
387-390.
w BARBI, Celso Agrícola. C o m e n t á r i o s a o C ó d ig o d e P r o c e s s o C iv il. 6* e.. Rio de Janeiro: Forense.
1991. p. 276.
*** LAMBAUF.R, Mathias. D o litis c o n s ó r c io n e c e s s á r io . São Paulo: Saraiva, 1982. p. 104.
r — “—
il) Cássio Scarpinella Bucno "O fato é que hoje predomina, na dou
tuna brasileira, o entendimento de que o litisconsórcio necessário não guarda
nenhuma relação cotn o litisconsórcio unitário e vice-versa. Não obstante a
icdação do art. 47, que, inequivocadamente, define o litisconsórcio necessário
itinto unitário, os critérios de classificação de uma e de outra espécie de litis-
ionsórcio não são os mesmos e, por isto, podem, ou não, conviver ambas auto-
mnnamente. Pode haver litisconsórcio necessário sem que ele seja unitário e
unitário que não seja necessário. É dizer de forma bastante direta: não é porque
tmi litisconsórcio é necessário que ele também será unitário e não é porque um
litisconsórcio é unitário que ele será também necessário.”.™
De todo o exposto, portanto, nota-se que ainda sob a égide do CPC de 1973
11A0 era possível, tecnicamente, confundir o litisconsórcio necessário com o
litisconsórcio unitário, na medida em que este é classificado em face da uni-
Inrmidade do sentido da decisão para todos os litisconsortes, enquanto aquele
iliz respeito à necessidade da participação de alguém num determinado feito.
Visando pôr fim a tal polêmica o art. 116, do CPC, definiu o litisconsórcio
unitário salientando que "O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza
iIn relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todos
M litisconsortes."; colocando em relevo que para esta espécie de litisconsórcio
o que importa é a uniformidade da decisão e não a participação ou não das
pessoas no processo.
b) Conteúdo.
Ao litisconsórcio unitário se opõe o litisconsórcio simples. Enquanto aqui
0 conteúdo da sentença poderá ser diverso para os litisconsortes, lá o conte
údo da sentença deverá ser idêntico para todos os litisconsortes, sob pena de
nu Iidade.
Explicando tal distinção ensina João Batista Lopes que “Quanto à natureza
iIn sentença, o litisconsórcio pode ser simples (comum) ou unitário. Simples é
o litisconsórcio se não houver necessidade de a sentença dar a mesma solução
turídica para os litisconsortes, isto é, a mesma sorte no plano do direito mate-
rial (no exemplo dos funcionários que propõem ação pleiteando vantagens,
uns poderão vencer outros não). Unitário será o litisconsórcio se, em razão da
466
LOPES, p. 192.
Nesse mesmo sentido é o entendimento de Tereza Alvim ao af irm ar cjuc:
Imitindo explicar o significado e a abrangência do litisconsórcio unitário, jií
/i»/ dito por vários autores, que nele o pedido é uno, que se faz essencial, haju
ioiii idade de pedido e de causa de pedir, ainda que a esses elementos se acres
■ mia o da impossibilidade de serem, ao pedido, contrapostas defesas diversas
■ por fim, que a decisão importe em certo grau de constitutividade, vale dizer,
ipic esta sentença tenha, embora sem mesmo grau de preponderância, efeitos
■imstitutivos. Estas colocações do problema resultaram de enfoque mais escor
irllo a ele dado, mais minucioso do que a que simplesmente afirma ser o litis
tonsórcio unitário aquele que deve ser decidido de maneira uniforme para as
partes litisconsorciadas. Tem-se, então, só se tratar de litisconsórcio unitário,
i iii havendo uma só lide a ser decidida pelo Estado-juiz .”.4<’7
Em suma, portanto, entendemos que a decisão no caso do litisconsórcio
unitário deverá ser idêntica para os litisconsortes apenas em razão do fato
'li que a relação jurídica controvertida é única, não se admitindo decidir de
turma diversa uma mesma controvérsia. Já nas hipóteses de litisconsórcio
unples não existe unicidade da relação jurídica de direito material controver
lulo, decidindo o juiz as várias controvérsias em uma mesma sentença.
.1) Distinção.
Quanto à obrigatoriedade de participação de uma determinada pessoa no
processo, o litisconsórcio se classifica em necessário ou facultativo. Enquanto
nesse caso a participação não é obrigatória, mas uma mera faculdade da parte,
naquele a participação resta obrigatória, sob pena de ineficácia da decisão
proferida.
Ainda sob a vigência do CPC de 1973, João Batista Lopes nos apresentava a
'.cguinte lição: “quanto á natureza do vínculo, 0 litisconsórcio poderá ser neces
sário ou facultativo. Diz-se necessário o litisconsórcio que não pode deixar de ser
admitido, seja em razão de determinação legal, seja por força da relação juri
dica de direito material. Em certas hipóteses, a própria lei impõe a formação do
litisconsórcio, como na ação reivindicatória de imóvel em que devem ser citados
1orno litisconsortes (réus) 0 marido e a mulher (litisconsórcio necessário). Em
D 1 D I E R J U N I O R , F r e d ie . C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. S a lv a d o r : P o d i u m , 2 0 0 7 . v. I, p . 2 8 5 .
BUENO. p. 115.
a integração seria somente passiva (‘para integrarem a contestação', sie), ou,
na verdade, referia-se também ti possibilidade de integração subjetiva da lid<
quando fosse a hipótese de litisconsórcio necessário ativo. Esta última posição
era a correta. Aliás,oart. 91 era tradução, errônea, do Projeto Solmi, que usava
a palavra contradittorio, abrangente, portanto, das posições ativa e passiva. " ' 1
Não há mais dúvida, portanto, de que o juiz pode determinar a integração
tanto do polo passivo, quanto do polo ativo da demanda.
Quanto às consequências da falta de participação de litisconsorte em feito
que deveria participar, sempre houve vivida discussão na doutrina, que ac»
bou por apresentar três posições distintas: a) a ausência de um litisconsorte
implicava a inexistência da decisão judicial;481482b) a ausência de um litisconsorlr
implicava a ineficácia da decisão judicial; e, c) a ausência de um litisconsork
implicava a nulidade da decisão judicial.483 Daí a razão pela qual agiu bem o
art. 115, do CPC, ao disciplinar de forma mais detalhadas as consequência
advindas da ausência de litisconsorte em demanda que deveria participar.
Nesse passo, conforme dispõe o art. 115, I, do CPC, em se tratando da
ausência de litisconsorte necessário-unitário,484 a sentença proferida ser.i
nula. Em outros termos, a decisão proferida sem a participação de litiscon
sorte necessário-unitário será nula, isso em decorrência da própria nulidade
do feito ab initio. Entretanto, em se tratando de litisconsórcio necessário-sim
pies, na forma como esta disposto no inciso II do mesmo preceito,, a sentença
proferida não será nula, mas apenas ineficaz com relação aos litiosconsortr.
481 A R R U D A A L V I M .p .403-404.
Verificação de Aprendizagem
01. Defina litisconsórcio.
02. Como se classifica o litisconsórcio?
03. O litisconsórcio necessário é sempre unitário?
04. Porque a decisão deve ser uniforme no litisconsórcio unitário?
05. Como se classifica o litisconsórcio necessário?
06. Interprete o art. 113, do CPC.
07. A limitação do litisconsórcio facultativo implica o desmembramento do
feito com relação aos litisconsortes excluídos ou a extinção do processo
quanto a eles?
08. Km que consiste o princípio da autonomia dos litisconsortes? Aplica m »
todas as espécies de litisconsórcio?
09. Em que consiste a intervenção iussi iudicis?
Bibliografia
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VVAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença. 4a e..
São Paulo, RT, 1998.
■
13. DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
13.1. Noções gerais. 13.1.1. Definição. 13.1.2. Interesse. 13.1.3. Classificação. 13.2.
Assistência. 13.2.1. Definição. 13.2.2. Admissão do assistente. 13.2.3. Assistência
simples e assistência litisconsorcial. 13.3. Denunciação da lide. 13.3.1. Denominação.
13.3.2. Definição e natureza. 13.3.3. Hipóteses de cabimento. 13.3.4. Processamento.
13.4. Chamamento ao processo. 13.4.1. Definição e natureza. 13.4.2. Hipóteses de
cabimento. 13.4.3. Processamento. 13.5. Do incidente de desconsideração da perso
nalidade jurídica. 13.5.1. A desconsideração da personalidade jurídica. 13.5.2. Perfil
do incidente. 13.6. A m icus curiae. 13.6.1. Noções gerais. 13.6.2. Natureza e definição.
13.6.3. Admissão no processo.
” LOPES, João Batista. Curso de direito processual civil. São Paulo: Atlas, 2005. v. I, p. 204. “O termo
intervenção é de origem latina (inter=entre e venire=vir) e significa ingerência, interferência, intro
missão de alguém em discussão ou disputa alheia."
limites subjetivos da coisa julgada, isso para tratar do interesse que legitima os
terceiros a intervir em processo alheio.
13.1.1. Definição.
Quando tratamos do direito de ação, tivemos a oportunidade de tecei
algumas considerações acerca da definição de parte, que é um dos elemen
tos da ação. Observamos, então, que Goldschmidt já dizia que as partes não
precisam ser necessariamente titulares de res injudicium dedueta. Basta, para
defini-las, aferir quem solicita a tutela jurídica e contra quem essa tutela é
pedida. Nas palavras do autor: "Las partes son los sujetos de los derechos y dc
las cargas procesales. En todo proceso civil han de intervenir dos; no se concibc
una demanda contra si mismo, ni siquiera en calidad de representante de otra
persona. Se llama actor ai que solicita la tutela jurídica (is qui rem in judiciurn
deducit), y demandado aquél contra quien se pide esta tutela (is contra quem
res in judiciurn). No es preciso que las partes sean necesariamente los sujetos
dei derecho o de la obligacion controvertidos (j:s decir, de Ia res in judiciurn
dedueta). EI concepto de parte es, por consiguiente, de caráter form al.”.4**’ A
esse conceito acrescentou Chiovenda que “a identidade Jisica das partes nem
sempre produz identidade subjetiva de ações: a mesma pessoa pode ter diversas
qualidades, e duas ações só são subjetivamente idênticas quando as partes se
apresentam na mesma qualidade.”,4*7 isto é, deve ser verificado a que título
demanda a parte e não apenas sua identidade.
Na conclusão daquele estudo, após observar algumas posições um pouco
divergentes da explanada, acabamos por adotar, assim como a grande massa
dos processualistas pátrios, a definição de parte como quem pede e contra
quem se pede a prestação da tutela jurisdicional.
Tais considerações se fazem necessárias agora porque o conceito de tercei
ros está ligado de modo siamês ao conceito de parte, sendo corrente e usual
a afirmação de que terceiros são aqueles que não figuram no processo como
parte. Nesse sentido a lição de Cândido Rangel Dinamarco, para quem “Esses
raciocínios conduzem a um conceito negativo e puramente processual de ter
ceiro, em simétrica oposição ao de parte. ‘São terceiros todas as pessoas que
13.1.2. Interesse.
Conforme veremos oportunamente, quando do estudo da coisa julgada, o
interesse de terceiros no processo de conhecimento sempre foi aferido, pelas
principais teorias que tratam do tema, tendo em vista a extensão subjetiva da
coisa julgada, ou como se diz usualmente, tendo em vista os limites subjetivos
da coisa julgada.
Já para os romanos a coisa julgada não podia produzir efeitos com relação
a terceiros. Como ensinava Ulpiano (D. 44.2.1): Ucum res inter alios iudicata
nullum aliis praeiudicium facien t”. Entretanto, não se pode negar que o pro
cesso instaurado entre as partes pode produzir alguns eteitos com relação aos
terceiros, o que faz com que tal problema tenha sido sempre objeto de questio
namento entre os diversos autores.
O primeiro a tentar resolver o problema relativo aos terceiros que eram
atingidos por processo alheio foi Savigny, que sustentava que a coisa julgada
poderia ser estendida a terceiros em razão de um elo de representação que
estes tinham para com uma das partes, o que deu origem à chamada teoria da
13.2. Assistência.
13.2.1. Definição.
No mais profundo estudo do nosso direito acerca do escorço histórico da
assistência, elaborado por Moacyr Lobo da Costa, denota-se que o instituto
leve a sua origem no direito romano, onde surgiu como uma forma de per
mitir a um terceiro, prejudicado por conluio praticado pelas partes, pudesse
intervir no processo alheio, para evitar o prejuízo decorrente da fraude pro
«essual. Na linguagem do autor “do exame das fontes resulta, claramente, tjuc
d processo civil romano do período imperial da cognitio extra ordinem conhe-
i cu a intervenção de terceiro no processo, em primeira instância, antes de ser
proferida a sentença pelo magistrado, e em apelação, com a finalidade de impe-
ilir que, pelo conluio, dolo ou negligência da parte, os efeitos da sentença inter
«lios viessem causar-lhe prejuízo .”.497
Embora essa finalidade original tenha perdurado - na árvore genealógica
do nosso Direito - até a época das ordenações,498 passou a ser paulatinamente
substituída por outra, no sentido de que o instituto tem por escopo auxiliar
uma das partes do processo a vencer a demanda. Aliás, curiosamente, após
i ssa transformação de finalidade não surgiu em nosso direito qualquer insti-
luto apto a colmatar a lacuna que foi deixada pela fórmula original da assistên-
i la, o que nos permite, em algumas situações especiais, a utilização de formas
Inominadas de intervenção de terceiros para suprir a omissão legislativa.499
" COSTA. Moacyr Lóbo da. São Paulo: Saraiva, 1968. p. 08.
"" Idem, p. 23. “E m P o r tu g a l, t a m b é m , u m a d a s m a is a n tig a s d e c is õ e s ju d i c i a i s , q u e s e c o n h e c e a
r e s p e ito d a a s s is tê n c ia , p r o c l a m o u , e x p l i c i t a m e n t e , a m e s m a fi n a l i d a d e . O te r c e ir o e r a a d m i t i d o a
i n g r e s s a r n o p r o c e s s o , c o m o a s s is te n te d e u m a d a s p a r t e s , d e s d e q u e a le g a s s e in te r e s s e d e im p e d ir
'Si
o p r e s u m í v e l c o n lu io d a s p a r t e s e m s e u p r e ju íz o , t a l c o m o f ô r a e s ta b e le c id o n o d ir e ito r o m a n o :
suspecta collusio sit legatariis’... Dig.5, 2, 29 pr. A finalidade própria da assistência traduzia-se na
formula n e f i a t c o llu s io ."
m OLIVEIRA NETO, Olavo de. A d e fe s a d o s e x e c u ta d o s e d o s te r c e ir o s n a e x e c u ç ã o fo r ç a d a . São
Paulo: RT, 2000. Cuja denominayão original, enquanto tese de doutorado, foi “F o r m a s i n o m i n a
d a s d e i n t e r v e n ç ã o d e te r c e ir o s n a e x e c u ç ã o p o r q u a n t i a c e r ta c o n tr a d e v e d o r s o lv e n te ."
Prevista atualmente nos art. 119 até 124, do CPC, a assistência é a primei ni
das formas nominadas de intervenção de terceiros constante do capitulo qu»
disciplina essa temática. Com isso ocorre a correção de erro cometido pelo
CPC de 1973, que tratava da assistência fora do capítulo relativo às formas dt
intervenção de terceiros, alocando-a juntamente com o litisconsórcio, o qm
poderia dar ensejo à errônea interpretação de que não se tratava de forma «I*
intervenção de terceiros em processo alheio. A esse respeito já tivemos a opoi
tunidade de afirmar que “A assistência, embora não venha relacionada /»«•/. •
nosso estatuto Processual como forma de intervenção de terceiro, pois constitui
capítulo à parte, juntamente com o litisconsórcio, é a forma de intervenção </<
terceiro em processo alheio mais clara e típica da nossa legislação. Em verdudi,
o Anteprojeto Duzaid colocava a oposição no capitulo relativo ao litisconsòt
cio e a assistência no capítulo da intervenção de terceiros. Porém, durante a
tramitação do diploma, tal sistemática fo i modificada por amor a tradição >
desrespeito a técnica, que fo i um dos pontos altos do trabalho elaborado pelo
processualista.”.500
Destarte, diante do moderno escopo que se deu ao instituto, transformadi <
em meio de auxiliar uma das partes a vencer a demanda, os autores definem a
assistência das seguintes formas:
a) Vicente Greco Filho - “Há assistência simples quando o terceiro, tendo
interesse jurídico na decisão da causa, ingressa em processo pendente entn
outras partes para auxiliar uma delas. Há assistência qualificada ou litiscon
sorcial (nos termos do código alemão) quando o interveniente é titular de relo
ção jurídica com o adversário do assistido, relação esta que a sentença atingirá
com força de coisa julgada.”; 501
b) Athos Gusmão Carneiro - “A intervenção por assistência é uma forma de
intervenção espontânea, e que ocorre não por via de ‘ação’ mas sim por inserção
do terceiro na relação processual pendente.”; 502
c) Moacyr Amaral Santos - “Consiste a assistência simples na intervenção
de terceiro no processo entre as partes visando a sustentar as razões de uniu
1 SANTOS, Moacyr Amaral. 24' ed.. Primeiras linhas de direito processual civil. São Paulo: Saraiva,
2008. Volume 2, p. 51.
" SOUZA, Gelson Amaro de. Curso de direito processual civil. 2' cd.. Presidente Prudente: Data
(uris, 1998. p. 167.
Por sua vez, embora o mencionado parágrafo diga que a assistência tem rkpressamente previa o art. 51, do CPC de 1973,50* determinando a autuação
lugar em qualquer dos tipos de procedimento, deve-se ter em conta que o t Ipn i m separado do incidente, isso para evitar tumulto processual.
de processo adequado a sua utilização é o processo de acertamento (conhci i
mento), já que não há possibilidade da sua utilização no processo de execução 11.2.3. Assistência simples e assistência litisconsorcial.
A esse respeito já sustentamos que na execução “...não existe a viabilidade d>
Nosso código prevê, assim como fazia o CPC de 1973 e a doutrina pro-
aplicação do instituto, uma vez que há incompatibilidade entre o sistema ada
. i ssual de modo uníssono, duas espécies distintas de assistência, que são a
tado na assistência e a própria atividade executiva. Isso se dá, principalmenh
nssistência simples ou adesiva, disciplinada nos art. 121 a 123, do CPC, e, a
porque a sentença a que se refere o art. 50, do Código de Processo Civil, é aquela
issistência litisconsorcial, prevista no art. 124, do CPC. O principal elemento
que resolve uma controvérsia levada a juízo, típica do processo de conhei I
que levou a distinção entre as espécies reside, em especial, na titularidade da
mento. Ademais, o interesse do assistenteé aferível, segundo as teorias existen
irlação jurídica que dá ensejo a atuação do assistente. Se a relação jurídica
tes, pelo fato de que ele é, de algum modo, atingido pela coisa julgada, enquanto
que legitima a intervenção se dá entre assistente e assistido, então teremos
o interesse que deve legitimar alguém para intervir na execução emerge, como
I assistência simples. Mas se a relação jurídica que legitima a intervenção se
se verá, de constrição sofrida pelo terceiro.”.™
dá entre o assistente e o adversário do assistido, então teremos assistência
O segundo requisito, como já vimos acima, diz respeito à existência de litisconsorcial.
interesse jurídico que legitime o assistente a ingressar em processo alheio, o
Em outras palavras, na assistência simples o assistente vai ao processo para
que se dá porque ele será atingido em sua esfera de direitos pela eficácia natu
auxiliar o assistido a vencer a demanda porque a solução da relação jurídica
ral que decorre da sentença proferida entre as partes.
«liscutida entre as partes pode influenciar na relação jurídica que ele tem com
Destarte, havendo causa pendente e interesse jurídico que legitime a atua o assistido. Entretanto, ele não possui uma relação direta com o adversário
ção do assistente, que são os dois requisitos para admissão da intervenção, o do assistido ou com a relação jurídica de direito material controvertida que é
requerimento de admissão tem forma livre, já que não há uma forma espei í objeto do processo. Na linguagem de Ubiratan de Couto Maurício “...a esfera
fica prevista em lei. Por isso tal pleito pode ser feito tanto por escrito, quanto lurídica do terceiro, aquele que não fo i autor nem réu da relação processual,
verbalmente, mas neste caso somente em audiência. poderá vir a sofrer algum prejuízo decorrente da decisão de mérito prolatada
Conforme dispõe parcialmente o art. 120, do CPC, formulado o pedido para as partes, em que pese a lide dizer respeito apenas a estas... [...] Ante essa
de intervenção, que deverá estar instruído com os documentos que com possibilidade de consequências negativas para o terceiro, decorrentes da decisão
provem, desde logo, o interesse jurídico, fará o magistrado juízo de admis da lide de outrem, os ordenamentos processuais colocam à disposição do ter
sibilidade, podendo rejeitá-lo liminarmente. Caso contrário, deverá detei ceiro meios de defesa do seu interesse, variando estes instrumentos, de sistema
m inar a intimação das partes para que se manifestem no prazo de quinze jurídico para sistema jurídico.”.507 Também nessa linha a afirmação de Gena-
dias, deferindo o pleito no caso da ausência de manifestação. Mas se qualquer céia da Silva Alberton, para quem “Não está em causa a relação jurídica ou o
das partes alegar que o terceiro não possui interesse jurídico que o legitime .i direito que o assistente se tem como titular, mas, ela poderá ser reflexamente
intervir no processo, então deverá o magistrado providenciar a instrução do
incidente ou julgá-lo desde logo, se isso for possível. Embora a lei atual sej.i " C P C d e 1 9 7 3 . “A r t . 51. N ã o h a v e n d o i m p u g n a ç ã o e m 5 (c in c o ) d ia s. o p e d id o d o a s s i s t e n t e s e rá
d e fe r id o . S e q u a l q u e r d a s p a r t e s a le g a r , n o e n t a n t o , q u e fa le c e a o a s s is te n te in te r e s s e j u r í d i c o p a r a
omissa nesse respeito, no caso da instrução do incidente, que não suspende o i n t e r v i r a b e m d o a s s is tid o , o j u i z : I - d e t e r m i n a r á , s e m s u s p e n s ã o d o p rocesso, o d e s e n t r a n h a m e n t o
curso do processo, é de todo conveniente que o juiz proceda da maneira como d a p e t i ç ã o e d a i m p u g n a ç ã o , a f i m d e s e r e m a u t u a d a s e m a p e n s o ; t i - a u to r iz a r á a p r o d u ç ã o d e
p r o v a s ; 111 - d e c id ir á , d e n t r o d e 5 (c in c o ) d ia s , o in c i d e n t e " .
M A U R Í C I O , U b i r a t a n d e C o u t o . A s s is tê n c ia s im p le s n o d ir e ito p ro c e ss u a l c iv il. S ã o P a u lo : R T,
505
O L I V E I R A N E T O , p . 154. 1 9 8 3 . P. 3 7 -3 8 .
indenizatória, pretensão ‘de reembolso', caso ele, denunciante, vier a sucumbi*
na ação principal. ”; 5'9
e) Humberto Theodoro Junior - é medida obrigatória, que leva a imiit
sentença sobre a responsabilidade do terceiro em face do denunciante, de pai
com a solução normal do litígio de início deduzido em juízo, entre autor e rcu
520
f) Sydney Sanches - "é a ação incidental proposta por uma das partes (i/.i
ação principal) via de regra contra terceiro, visando aquela a condenação deste
à reparação do prejuízo decorrente de eventual derrota na causa, seja pchi
perda da coisa (evicção), seja pela perda de sua posse direta, seja por lhe assislit
o direito regressivo previsto em lei ou em contrato (relação jurídica de garan
tia).”;*2' e,
g) Piero Calamandrei- “La chiamata in garantia é 1’instituto processuale tu
forza dei quale chi é parte di una causa vertente sopra un oggetto per cuí un
terzogli deve garantia (questione di moléstia), chiama in causa questo terzo pci
metterlo in grado di prestare spontaneamente la difesa e per estendere anche <i
lui chi effetti deigiudicato; e, in previsione che il terzi neghi di essere tenuto alht
difesa, o, pur acconsentendo a prestaria, resti soccombente, chiede, alio stesso
giudicc investito delia questione di moléstia, che dichiari il terzo tenuto a pres
tar la difesa (azione di difesa) e a resarcire in danno derivante dalla nonfatta a
non riuscita difesa (azione di regrasso).”. 522
Nesse passo, observando as definições elencadas, o direito comparado, o
escorço histórico do instituto e sua disciplina no atual Estatuto Processual
Civil, torna-se forçosa a conclusão de que a denunciação da lide nada mais l
do que uma ação incidente que visa resguardar o direito de uma das partes no
caso da perda da demanda. Não resta dúvida de que possui a natureza jurídica
de ação, em que se pleiteia uma eventual condenação do denunciado, respon
sável pelo ressarcimento do denunciante que perde a ação que lhe é proposta.
Ou, em outros termos, trata-se de ação condenatória que visa efetivar garantia*523
G O N Ç A L V E S , C a r l o s R o b e r to . D ir e ito c iv il b ra sileiro . 9* e d .. S ã o P a u lo : S a r a iv a , 2 0 1 2 . 3 o v o l. p.
142. A s s im o a u t o r d e f i n e o i n s t i t u t o : " E v ic ç ã o é a p e r d a d a c o isa e m v ir tu d e d e s e n te n ç a j u d i c i a l ,
q u e a a t r i b u i a o u t r e m p o r c a u s a j u r í d i c a p r e e x is te n te a o c o n tr a to ."
t
que em nosso entender continua a existir. Isso porque a obrigatoriedade nau
decorre da norma inserta no CPC, mas sim do teor do art. 456, do CC. All
nal, se “Para poder exercitar o direito que da cvicção lhe resulta, o adquirenti<
notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando
e como determinarem as leis do processo.”(grifo nosso), e, se a lei processu.il
determina que isso se faça mediante o oferecimento da denunciação; então,
não havendo a denunciação, não mais poderá o adquirente exercitar o direito
que da evicçào lhe resulta.
De qualquer forma, agiu muito bem a lei ao prever a possibilidade de ape
nas uma denunciação da denunciação (art. 125, §2°, do CPC), impedindo com
isso a chamada denunciação sucessiva, que também foi objeto de polêmu.i
na literatura processual. Isso porque a admissão da denunciação sucessiva .t
todos os antecessores da cadeia dominial de um imóvel acabava por tornar
praticamente inviável a prestação da tutela jurisdicional, já que as complica
ções processuais dela resultantes não permitiam que o feito tivesse o anda
mento adequado, demorando por décadas a espera de uma decisão.532
A segunda hipótese em que se admite a denunciação, constante do inciso
II, que abrange o ressarcimento decorrente da lei e o ressarcimento decorrente
de contrato, também apresenta algumas limitações no tocante a sua admissi
bilidade, pois a ampliação objetiva da demanda não pode tum ultuar o curso
do processo. Daí a razão pela qual não pode o denunciado, como veremos
adiante, introduzir na ação principal fundamentos completamente alheios
dos já deduzidos pelo denunciante, não constantes da relação jurídica origi
nalmente discutida, pois há necessidade de se levar em conta fatos alheios a
discussão travada na ação principal. Por tais razões, sob a vigência do CPC
de 1973, entendia a jurisprudência, de modo majoritário, que não era viável a
denunciação nestes casos, conforme demonstra a análise das decisões conti
das nas RSTJ14/440, 58/319,133/277,142/346; RT 780/207; RJTJERGS 167/273,
168/216; e, JTA 98/122; em especial o seguinte Arresto; “A denunciação da lide
só deve ser admitida quando o denunciado esteja obrigado, por força da lei ou
do contrato, a garantir o resultado da demanda, caso o denunciante resulte
13.3.4. Processamento.
Tendo a denunciação da lide a natureza jurídica de ação, sua utilização
implica, necessariamente, a formação de um processo que veicula pretensão
diversa daquela veiculada na ação principal, embora entre si relacionadas. Na
explicação de Arruda Alvim “sendo feita a denunciação, teremos duas ações
tramitando simultaneamente. Uma, a principal, movida pelo autor contra o
réu; outra, cuja procedência é eventual, movida pelo litisdenunciante contra o
litisdenunciado.”.™
Nesse passo, (não se olvidando da sedutora opinião daqueles que enten
dem que a ação apenas rompe a inércia inicial, sendo que posteriormente a
esse momento o que se verifica é apenas a cumulação de novos pedidos numa
mesma ação) se a denunciação da lide possui natureza de ação e se se trata
de uma ação diversa da ação principal, então cabe observar que ela deverá
ser exercitada mediante a distribuição de uma petição inicial que preencha
os requisitos previstos pelos art. 319 e 320, do CPC, deverá respeitar um pro
cedimento previamente previsto por lei e ainda deverá se encerrar, ao menos
quanto à fase inicial do processo, mediante sentença. Afinal, sempre que nos
deparamos com alguma via processual que goza do status de ter a natureza de
ação, todos esses aspectos devem ser observados, sob pena de infringência ao
modelo constitucional do processo civil.53
535 NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado. 3a e. São Paulo: RT, 3a ed. Art. 70,
verbete “F u n d a m e n t o novo”
5H ARRUDA ALVIM. M a n u a l ..., p. 169.
1íiante desse perfil o primeiro problema com o qual nos defrontamos é o dr
saber se o denunciante deve elaborar uma peça específica para a denunciaçtlo
ou se poderá fazê-lo na petição inicial quando autor e na contestação quando
réu. A esse respeito alerta Athos Gusmão Carneiro que “formalmente, ii
denunciação da lide deve ser oferecida em petição própria, com os requisito»
do art.282 do Código de Processo Civil. Não haverá maior inconveniente, toda
via, em que seja redigida na mesma peça da petição inicial (na denunciação
pelo autor) ou da contestação (na denunciação pelo réu), dês que obedecido»
os requisitos mencionados, eformalmente destacada a denunciação”, 535 com o
que concordamos em parte.
Embora a lei não seja expressa a esse respeito, o art. 126, do CPC, indica
que sendo a denunciação promovida pelo autor, então esta poderá ser feita
na mesma petição inicial que deduz a pretensão relativa à ação principal, na
medida em que o preceito diz que “a citação do denunciado será requerida na
petição inicial,...”, referindo-se a petição inicial da causa principal. Afinal, se o
local propício para requerer a citação é a petição inicial, qual seria a utilidade
do preceito se estivesse a se referir à petição inicial da ação de garantia? Nesse
caso, mesmo sem a existência do texto legal, ali seria o local propício para
requerer a citação do denunciado.
Sendo denunciante o réu, a denunciação deve ser feita na contestação,
embora o ideal fosse que redação de versão anterior do projeto fosse mantida,
para permitir o oferecimento da denunciação em petição inicial autônoma.
Em redação anterior o preceito se referia ao fato de que, sendo denunciante
o réu, a denunciação deverão ser requerida no Iprazo para contestar, o que
dava a entender que deveria o denunciante ofertar uma petição inicial espe
cífica para a ação de regresso, o que melhor atendería a circunstância de que
os requisitos da petição inicial são diversos dos requisitos da contestação,
tornando confusa a formulação de duas peças de requisitos diversos numa
mesma petição. Não bastasse, sendo a denunciação ação de regresso, deverá
ela ser distribuída e registrada, o que não acontece com a contestação, que
independe de registro e de distribuição.
Destarte, portanto, entendemos que a denunciação formulada pelo autor
dispensa uma petição inicial diversa da petição inicial da ação, podendo
BUENO, p. 218.
|á as demais possibilidades estão ligadas a ausência de resistência eficaz por
parte do denunciado, conforme se depreende das hipóteses previstas no art.
I .'H, II c III, do CPC. No caso do inciso II, citado para responder, o denun-
. uulo se mantem inerte, tornando-se revel. Aqui o denunciante poderá dei-
■wii de prosseguir na defesa que formulou perante a ação principal e também
poderá deixar de recorrer, já que julgadas procedentes a ação principal e a
açao regressiva, poderá o autor promover diretamente atos executivos contra
o denunciado. Na hipótese prevista no inciso III, em que o denunciado com
parece e confessa os fatos articulados na ação principal (não pode reconhecer
juridicamente o pedido apenas porque não é parte originária da ação princi-
pal), o denunciante poderá aderir a confissão e discutir apenas o conteúdo da
.u,áo de regresso, isso pela mesma razão de ser da hipótese anterior, ou seja,
porque a atividade executiva do autor poderá se voltar diretamente contra o
denunciado.
O que se vê nestes dois últimos casos, por força do disposto no parágrafo
único, nada mais é do que a admissão da possibilidade da chamada execução
per saltutn, em que a atividade executiva do autor se volta diretamente contra
o denunciado. Embora o denunciante também possa ser acionado pelo autor,
este prefere, a princípio, excluí-lo do cumprimento da sentença, facilitando o
processamento do feito e obtendo a satisfação da condenação de uma forma
mais rápida e eficaz. A positivação deste mecanismo, que sob a égide do CPC
de 1973 era questionável, permite, por exemplo, que o autor deixe de mover o
cumprimento da sentença contra o réu, fazendo-o em desfavor da seguradora,
que certamente tem situação financeira bem mais confortável para satisfazer
a obrigação. Além disso, mover um único cumprimento da sentença contra o
denunciado, ao invés de promovê-lo contra o réu e este, por sua vez, promover
um segundo cumprimento de sentença contra o denunciado, implica otimizar
o princípio da economia processual, com a prática de um número de atos pro
cessuais bem menor do que os que seriam necessários se dois cumprimentos
de sentença fossem promovidos.
Feita a denunciação e comparecendo o denunciado ao processo, os fei
tos são instruídos conjuntamente, sendo proferida uma única sentença, na
medida em que se trata de ações conexas por força de lei. Todavia, o julga
mento conjunto não implica deixar dc observar que cada uma das ações (prin
cipal e denunciação da lide) possui objeto próprio e que guardam entre si uma
relação de prejudicialidade. Por isso, se a ação principal é julgada improce
dente, então o objeto da ação de garantia não será decidido, na medida em
que a decisão que se dá a primeira ação condiciona a decisão que seria dada im
segunda, impedindo o seu conhecimento. Trata-se, portanto, de uma relação
de prejudicialidade impeditiva;537 razão pela qual não merece qualquer reparo
o teor do art. 129, do CPC, ao determinar que neste caso a denunciação da lide
não terá seu pedido examinado, arcando o denunciante com o pagamento da >
verbas de sucumbência em favor do denunciado, isso em razão da incidência
do princípio da causalidade.
537 Vide a respeito deste tema nossa abordagem sobre a relação de prejudicialidade, constante do
capítulo intitulado “M e c a n is m o s c o g n itiv o s d o p r o c e s s o c iv il" .
litisconsortes que não loram indicados pelo autor ao propor a demanda.5’*
Como o CPC de 1939 não possuía uma via processual específica para que
isso pudesse acontecer, o CPC de 1973, buscando inspiração no art. 330, do
i ódigo de Processo Civil de Portugal então vigente, disciplinou em seus art.
77 a 80 o chamamento ao processo, que no sistema vigente é objeto de trata
mento nos art. 130 a 132, do CPC.
Analisando o instituto Moacyr Amaral Santos define o chamamento ao
processo “como o ato pelo qual o réu, citado como devedor, chama ao pro
cesso o devedor principal, ou os co-responsáveis ou coobrigados solidários para
virem responder pelas suas respectivas obrigações.’’; 539 enquanto José Frede
rico Marques diz que o “chamamento ao processo é o ato pelo qual o devedor,
quando citado como réu, pede a citação também de outro coobrigado a fim de
ifue se decida, no processo, a responsabilidade de todos.”. 540Destas definições
não encontra divergência substancial o pensamento de Athos Gusmão Car
neiro, para quem, “pelo chamamento ao processo, ao réu assiste a faculdade
(não a obrigação) de, acionado pelo credor em ação de cobrança, fazer citar os
coobrigados, a fim de que estes ingressem na relação jurídica processual como
seus litisconsortes, ficando destarte, abrangidos pela eficácia da coisa julgada
material resultante da sentença.”.™'
Por sua vez, em profundo estudo acerca do tema, Flávio Cheim Jorge nos
apresenta a seguinte definição: “O chamamento ao processo é uma das formas
de ingresso coativo de terceiro ao processo, onde é concedido ao réu a faculdade
de, sendo demandado em obrigação comum, chamar ao processo os outros
devedores, para ocuparem juntamente com ele a posição de réu, sendo todos
condenados na mesma sentença.”.™2
Das definições apresentadas é possível aferir que, em momento algum,
se verifica a existência de menção expressa ou implícita quanto a urna via
processual que tenha a natureza de ação ou de fase processual. Também se
observa que aquele que tem a iniciativa do chamamento é apresentado como*5401
sw SANTOS, p. 34.
540 MARQUES, p. 285.
541 GUSMÃO CARNEIRO, p. 99.
513 JORGE, Flávio Chein. C h a m a m e n t o a o p ro c esso . Sâo Paulo: RT, 1997. p. 22.
o sujeito passivo do processo e que os chamados s.u» apresentados como aque
les que poderíam ter sido partes, mas que não participaram da formação do
litisconsórcio inicial. Por isso já tivemos a oportunidade de afirm ar543 que o
chamamento ao processo, a nosso ver, não representa uma verdadeira forma
de intervenção de terceiro em processo alheio, já que o chamado nada mais e
do que o corréu que não foi nomeado na inicial pelo autor, que por ato facul
tativo do réu nomeado passa também a integrar o processo.
Nada obstante, há polêmica na doutrina quanto a real natureza do insti
tuto, que para alguns apresenta a natureza jurídica de ação condenatória, na
medida em que consiste numa ação promovida pelo corresponsável que foi
acionado sozinho contra os demais corresponsáveis pela satisfação do direito
pleiteado pelo autor. Mas nesse aspecto preferimos cerrar fileiras com Flávio
Cheim Jorge, para quem tal posição "...não parece condizer com a finalidade
do instituto. Como já demonstrado, não existe pretensão alguma do chamante
em face do chamado que justifique a concepção de se tratar de uma ação conde
natória incidente com direito de regresso. O único objetivo que o chamante pos
sui é o d e ver o chamado condenado juntamente com ele, pois aquele que pagar
a dívida se sub-rogará nos direitos do credor, e, usando a mesma sentença, de
acordo com o art. 80, exigirá dos demais a sua cota parte. Tanto é assim que, se
o chamado pagar a dívida, ficará sub-rogado nos direitos do credor, e os papéis
se inverterão, ou seja, é o chamado que usará a sentença para receber a sua
cota-parte do chamante. E, nessa hipótese, como ficará a suposta ação conde
natória do chamante em face do chamado P”.544
Ademais, se o chamamento tivesse efetivamente a natureza de ação, deve
ríam os chamados responde-la, isso mediante o oferecimento de contestação
contrária a pretensão do chamante, o que não possui previsão legal, seja no
sistema anterior, seja no sistema processual atual.
Podemos dizer, portanto, que o chamamento ao processo é o ato pelo qual
o réu chama ao processo corresponsável perante o autor, para que seja decla
rada por sentença a responsabilidade de cada qual, estabelecendo-se um litis
consórcio passivo entre o réu e os chamados.
13.4.3. Processamento.
Diante da posição acima adotada, no sentido de que o chamamento ao pro
cesso não possui natureza jurídica de uma ação condenatória, fica eliminada a
necessidade de o réu ter que atender aos requisitos da petição inicial, bastando
que de cumprimento ao determinado no art. 131, do CPC, requerendo a cita
ção do litisconsórcio passivo (chamado) em sua contestação.
Feito tal requerimento, que é de uso exclusivo do réu (art. 130, do CPC),
serão os chamados citados na forma prevista pelo art. 131, do CPC, sob pena
da não admissibilidade da nomeação. Nada impedirá, entretanto, que o réu
acione posteriormente os corresponsáveis visando obter o ressarcimento
daquilo que pagou e que não era da sua responsabilidade. Essa forma faculta
tiva de intervenção de terceiro, portanto, serve apenas para otim izar o prin
cípio da economia processual, definindo na ação proposta contra o réu uma
responsabilidade que, sem a utilização do instituto, exigiría a propositura de
ação autônoma.
Não há que se cogitar, por seu turno, da instauração de um incidente pro
cessual para a discussão acerca da legitimidade do chamamento, já que se
trata de matéria que deverá ser ventilada no bojo da contestação, já que “...o
chamado também terá prazo para resposta após a sua citação, desde que se
tornará litisconsorte do chamante.".S5"
Julgado o feito, se o pedido do autor for acolhido, a sentença valerá, na
forma do art. 132, do CPC, “...como título executivo em favor do réu que satis
fizer a dívida, a fim de que possa exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou
de cada um dos codevedores a sua cota, na proporção que lhes tocar.”. Neste
caso cada um dos litisconsortes passivos também arcará, na proporção da
sua respectiva responsabilidade, com o pagamento das verbas decorrentes da
sucumbência. Do mesmo modo, rejeitado o pedido do autor, tais verbas serão
de sua inteira responsabilidade.
Em qualquer das duas situações, todavia, se na sentença restar decidido que
o chamamento ao processo não era cabível, isso porque o chamado não tinha 50
S5: COELHO, Fábio Ulhoa. M a n u a l d e d ir e ito c o m e r c ia l. 17* e.. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 126.
553 TfSP. Agravo de instrumento n" 1198103000 - 29* Câmara de Direito Privado - Relator Manoel
Queiroz Pereira Calças, p. 26.11.2009.
DINIZ, Maria Helena. N o v o C ó d ig o C iv il C o m e n ta d o . Coord. FIÚZA, Ricardo. São Paulo: Saraiva,
2003. p. 65.
11.5.2. Perf il do incidente.
Embora prevista em lei e largamente aplicada no dia a dia forense, mesmo
após a entrada em vigor do Código Civil, o CPC de 1973 não sofreu alterações
para regulamentar a maneira pela qual seria processado um eventual pedido
de desconsideração da personalidade jurídica da empresa ou a desconsidera
rão inversa. Em razão deste vácuo legislativo cada magistrado, praticamente,
aplicava ao caso o procedimento que entendia cabível, por vezes com o cercea
mento da atuação das partes. Inovando acerca do tema, o atual diploma prevê,
em seus art. 133 até 137, com a finalidade de uniformizar o procedimento,
um incidente processual específico para a declaração da desconsideração da
personalidade jurídica.
Nesse passo, observa-se que houve por bem a lei objetivar os requisitos
que conduzem ao reconhecimento da ocorrência de abuso da personalidade,
utilizando-se para tal, no art. 133, §1°, do CPC, segundo o qual “o pedido de
desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos
em lei.”. Por isso deverá o magistrado observar se estão ou não presentes, na
hipótese que aprecia, os requisitos que a lei civil considera essenciais para a
ocorrência do abuso. No caso do art. 50, do CC, por exemplo, os elementos
necessários à configuração do abuso são a presença de desvio de finalidade ou
a existência de confusão patrimonial, sem o que não será possível acolher o
pedido de desconsideração.
Presentes tais elementos poderá a parte ou o Ministério Público, em peti
ção que não precisa preencher os requisitos da petição inicial, já que se trata
de incidente processual, requerer a declaração da desconsideração, que a prin
cípio não poderá ser decretada ex officio pelo magistrado (art. 133, caput),
conforme observa Nestor Duarte ao aduzir que “a desconsideração da pessoa
jurídica é ato privativo do juiz, que, também, não agirá de ofício, dependendo
de iniciativa da parte ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo.”.555
Sendo o pedido de desconsideração possível em processo de conhecimento,
no cumprimento de sentença ou em execução fundada em título executivo
extrajudicial (art. 134), prevê a lei que ele será processado de duas formas*60
5SS
DUARTE, Nestor. C ó d ig o c iv il c o m e n ta d o . Coord. PELUSO, Cezar. 4a e.. Barueri: Manole, 2010. |>
60.
distintas, conforme o local onde foi formulado. Varia o rito conforme o pedido
seja feito na própria petição inicial ou em petição distinta. Daí, se o pedido i
formulado na petição inicial, não ocorrerá propriamente à instauração de uni
incidente processual (art. 134, §2°) e nem se dá a suspensão do curso do pro
cesso (art. 134, §3°). O pedido será apreciado no curso do próprio processo,
Porém, se formulado em petição autônoma, será instaurado o incidente e o
processo deverá ser suspenso, já que o termo “suspenderá” constante do
parece ser impositivo.
Com o devido respeito, em termos de procedimento, perdeu a lei uma
excelente oportunidade para regulamentar o pedido de desconsideração de
forma adequada, já que a redação confusa do capítulo acaba por gerar intime
ras dúvidas que terão, necessariamente, que receber da jurisprudência uma
interpretação adequada.
O primeiro problema diz respeito à autuação ou não do incidente em apar
tado (ou abertura de incidente vinculado em processo eletrônico), já que a lei
é omissa a esse respeito. Porém, em se tratando de cumprimento de sentença
ou de execução de título extrajudicial, como o feito poderá ter normal anda
mento se pode haver necessidade de instruir o pedido de desconsideração?
Ora, se o art. 135, in fine, do CPC, diz que o sócio ou a pessoa jurídica podem
requereras provas cabíveis, então pode existir necessidade de dilação probató
ria no incidente, o que não pode ser feito no bojo do cumprimento da sentença
ou do processo de execução. Nesse passo, melhor seria ter previsto a lei que,
havendo resposta quanto ao pedido de desconsideração, fosse instaurado o
incidente de modo autônomo, ou, ao menos, determ inar também a suspensão
do processamento do feito quando o pedido de desconsideração fosse feito no
bojo da petição inicial, evitando problemas decorrentes do seu processamento
conjunto.
Outra questão que se apresenta diz respeito à obrigatoriedade de suspensão
do processo, posição que parece estar na contramão da forma de proceder
prevista pelo sistema. Isso porque, no caso de impugnação ao cumprimento
da sentença (art. 525, §5°) e no caso de embargos (art. 919), que são defesas que
em tese possuem uma amplitude maior do que a defesa ofertada ao pedido
de desconsideração, a não suspensão é a regra, só podendo ser sobrestado o
curso dos procedimentos quando preenchidos os requisitos exigidos pela lei
para tal.
P or sua vez, nada impede que o magistrado conceda tutela antecipada no
In» lilente, seja ela tutela de urgência, seja ela tutela de evidência, desde que
fin-nchidos os requisitos específicos para o seu deferimento.
Nada obstante os inúmeros problemas que advirão da aplicação prática do
Instituto, em se tratando de incidente processual, feito o juízo de admissibili-
•liide e recebido o pedido de desconsideração, na mesma decisão deve o magis-
liado, ainda, na forma do art. 135, do CPC, determinar a citação do sócio ou
<l.i pessoa jurídica para que, no prazo comum de quinze dias, se manifestem
( re q u e ira m a produção das provas que entendem cabíveis. Embora se trate
ile u m incidente processual, em que normalmente não há a necessidade de
»ilação, bastando a intimação para a participação no procedimento, aqui agiu
bem a lei ao prever a citação para o caso da desconsideração, na medida em
»|iie a pessoa física passará a ser responsável executiva secundária e, portanto,
p assará a ser parte quando ocorrer a atividade executiva que venha a promo
ver a constrição e alienação de seus bens.
Em suma, recebida a petição e determinada a citação do responsável execu-
Iivo primário e do responsável executivo secundário, terão eles o prazo comum
de quinze dias para oferecer defesa, devendo o magistrado proferir decisão de
plano se a questão for unicamente de direito, se não houver resposta ou se a
questão discutida é de direito e de fato, mas não houver necessidade da pro
dução de provas. Caso contrário, visando manter a ordem do procedimento
e otimizar sua tramitação, deverá o magistrado proferir decisão que reúna os
requisitos da decisão que saneia processo (art. 354, do CPC), resolvendo ques
tões processuais, fixando os pontos controvertidos e deferindo a produção de
provas que entender pertinentes. Então, por força do previsto no art. 136, do
CPC, o incidente será resolvido por decisão interlocutória.
Por fim, observa-se que a decisão proferida no incidente tem por escopo
reconhecer a prática de abuso na gestão da empresa e, por consequência,
declarar a desconsideração da personalidade jurídica, situação que trás ao
processo o responsável executivo secundário para que também responda pela
satisfação da obrigação; mas que também retroage para fixar o marco inicial
de quando a alienação de bem aconteceu em fraude de execução, conforme
previsto no art. 137, do CPC.
13.6. A m icus curiae.
559
BUENO. A m ic u s... p. 161.
I )e qualquer modo, sendo o amicus curiae um órgão integrante da adm i
nistração federal, sua intervenção não implica o deslocamento da competên-
. Ia da Justiça estadual para julgar o feito onde houve a sua intervenção, já que
0 ar1. 138, § Io, do CPC, aduz expressamente que a intervenção do terceiro não
Implica alteração de competência para processar e decidir a causa.
Concretizada uma das hipóteses demarcadas pelos limites objetivos de
.íbimento da intervenção, na forma do art. 138, caput, do CPC, poderá o juiz
ou o relator admitir, de ofício ou mediante requerimento, o ingresso do ami-
1us curiae no feito. Trata-se de uma faculdade do magistrado a admissão do
terceiro, sendo que do deferimento ou do indeferimento da decisão não cabe
icvurso das partes ou do próprio terceiro. Esse, aliás, por expressa vedação
Kinstante do §1°, do preceito em comento, não pode lançar mão da utiliza
rão de qualquer recurso no processo que interveio; embora possa recorrer da
decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas, pois esta
decisão poderá servir de paradigma para decisões futuras, afetando com isso
eu interesse institucional (§3°). Nada obstante a vedação legal da interposição
de recurso, a decisão que admite ou não o amicus curiae no processo possui
i natureza jurídica de decisão interlocutória e, por isso, está sujeita ao Princí-
plo da Fundamentação das Decisões Judiciais, devendo o magistrado indicar
quais são as razões que o levaram a decidir pela admissão do terceiro. Por
Isso, sendo flagrante a não necessidade da intervenção, estará caracterizada a
ilegalidade do ato praticado permitindo, em tese, a interposição de mandado
de segurança da decisão proferida.
Na decisão de admissão, por expressa disposição contida no art. 138, §2°,
do CPC, deverá o magistrado “...definir os poderes do amicus curiae.”, ou seja,
deverá discrim inar quais serão os limites de atuação do terceiro, sempre tendo
em vista a finalidade específica desta modalidade de atuação, que tem por
escopo fornecer ao magistrado elementos de convicção para que possa profe
rir uma decisão mais próxima da que poderá ser considerada a ideal.
Deve-se observar, nesse passo, que a intervenção do amicus curiae, mesmo
quando fundada na especificidade e dificuldade do tema, não substitui a reali
zação da prova pericial, que deverá ser realizada nos moldes preconizados por
lei. Servirá a manifestação do terceiro para agregar elementos à conclusão da
perícia ou perm itir uma análise mais ampla das suas conclusões, mas nunca
para dispensar a realização quando verificada a necessidade. Por isso nada
impede, inclusive, que o magistrado confira ao Intcrvcnientc poderes p.iN
formular quesitos ao perito antes da apresentarão d.is suas informações solire
o tema decidendum. Mas, como o amicus curiae não é detentor de intercsM
próprio, não se justifica a sua atuação como se fosse assistente de uma di»
partes, mormente porque não deve ter interesse em auxiliar o autor ou o u u
propriamente a vencer a demanda. Por isso não poderá requerer a produção
de provas no processo, embora possa ser ouvido como informante do juízo
Nesse limitado espaço de atuação nada impede que o terceiro se manl
feste por escrito, inclusive mediante o oferecimento de razões finais, mas esttii
deverão ser ofertadas antes das razões das partes, que assim terão a possibl
lidade de afrontar os argumentos aduzidos pelo terceiro interveniente. Miu
se a possibilidade de manifestação escrita é certa, há séria divergência aceri u
da possibilidade de sustentação oral por parte do amicus curiae , conforme
noticia Cassio Scarpinella Bueno antes de concluir que "a sustentação oral da
amicus curiae deve ser admitida como corolário de sua atuação e para que
na última oportunidade possível, possa ele levar ao conhecimento de todos n»
Ministros votantes sua específica colaboração sobre a matéria, que, em última
análise, justifica sua própria intervenção.”.560
Admitida a participação do terceiro e não sendo dele mesmo a iniciativa
do ingresso no processo, deverá ser intimado para se manifestar no prazo de
15 (quinze) dias (art. 138, caput), não havendo qualquer penalidade prevista
para sua eventual omissão. Mesmo esse prazo, em nosso entender, deverá ser
considerado como um prazo impróprio, permitindo-se a juntada de manifes
tação extemporânea, desde que ainda não proferida a decisão final (sentença
ou acórdão). Isso porque o amicus curiae não tem interesse próprio e sua atu
ação apenas auxilia a decisão judicial, o que justifica, a critério do magistrado,
a manutenção nos autos dos argumentos apresentados fora do prazo estabe
lecido por lei.
Por fim, embora esse terceiro não tenha ônus ou bônus por participar do
processo, pois não arcará com o pagamento de verbas decorrentes da sucum
bência e nem receberá honorários periciais pela sua atividade, poderá ser
condenado como litigante de má-fé se incidir numa das hipóteses previstas
por lei, principalmente pelo fornecimento de informações imprecisas e que
Verificação de Aprendizagem
UI Qual critério deve ser utilizado para definir os terceiros?
II.’. O que legitima o terceiro a intervir no processo alheio?
113. Como devem ser classificados os terceiros segundo o seu interesse?
u i. O terceiro que tem interesse meramente econômico na solução de um
litígio pode intervir em processo alheio?
Of». O que é uma intervenção de terceiro provocada?
il<>. Em que consiste uma intervenção de terceiro por inserção?
07. Qual a finalidade da assistência?
0K. Quais os requisitos legais para que o terceiro possa pleitear sua admissão
como assistente no processo?
09. Qual a principal distinção entre a assistência simples e a assistência
litisconsorcial?
10. Em que consiste o princípio da limitação da atividade do assistente?
11. Por que sedizqueadenunciaçãodelide deveria, em verdade, denominar-se
chamamento a autoria?
12. Defina denunciação da lide.
13. Ê cabível a denunciação da lide no processo de execução?
14. A denunciação da lide, fundada na hipótese da evicção (art. 125, I, do
CPC), é obrigatória?
15. É possível a denunciação da lide sucessiva?
16. Pode o denunciante formular seu pedido na petição inicial da ação
principal? E na contestação?
17. Feita a denunciação pelo autor, tem o denunciado plena liberdade para
aditar a inicial? E em caso de denunciação feita pelo réu?
18. Em que consiste, na denunciação da lide, a possibilidade de execução per
saltum (art. 128, parágrafo único, do CPC)?
19. Em que consiste o chamamento ao processo? Qual a sua naturc/t II
jurídica?
20. As hipóteses de cabimento do chamamento ao processo, previstas no arl
130, do CPC, são taxativas ou exemplificativas?
21. O que é desconsideração inversa da personalidade jurídica?
22. Onde e como pode a parte formular o pedido de desconsideração d.i
personalidade jurídica?
23. É possível ao magistrado antecipar tutela no pedido de desconsideração
da personalidade jurídica?
24. O amicus curiae é parte?
25. Qual interesse legitima a intervenção do amicus curiae?
26. Quais são os limites objetivos para a intervenção do amicus curiae?
27. O amicus curiae recebe honorários periciais?
14.1. Magistratura.
14.1.1. Definição.
O primeiro e mais importante personagem do processo é o juiz, cuja pre
sença e atuação não se pode prescindir. A ausência de uma das partes no pro
cesso pode gerar penalidades, como a revelia para o réu regularmente citado
que deixa de oferecer resposta, mas não implica a impossibilidade de pros
seguimento do feito. Já a ausência de magistrado, qualquer que seja o tipo
de processo, faz com que o feito não tenha movimento, Jã que não há comn
avançar no iter procedimental.
Observa-se, na prática do foro, o uso indiscriminado da expressão órgilo
jurisdicional tanto para indicar a pessoa física do juiz, quanto para indic.ii
uma determinada unidade judiciária. Porém, tecnicamente e para fins didáti
cos, afigura-se possível classificar o órgão jurisdicional na acepção objetiva c
na acepção subjetiva. No aspecto subjetivo tem-se em conta a pessoa física do
juiz, enquanto no aspecto objetivo tem-se em conta a unidade judiciária qur
ele ocupa.
a) Acepção objetiva.
Na concepção objetiva, órgão jurisdicional é uma determinada unidade
judiciária criada por lei e que recebe um conjunto de atribuições legais, ou
seja, uma determinada competência. Assim, uma vara cível tem competência
para processar, decidir e executar feitos cíveis; uma vara de execuções crinn
nais tem competência para processar causas relativas a execuções criminais,
uma vara do trabalho tem competência para conhecer, decidir e executar cau
sas de natureza trabalhista; etc., independentemente da pessoa física que atue
como juiz e do período que ela permanece à frente deste órgão jurisdicional.
Somente a lei de organização judiciária pode criar, alterar ou retirar as suas
atribuições.
Tais unidades judiciárias, porque criadas por lei, podem ter uma estru
tura diferenciada e adequada ao tipo de tutela jurisdicional que se destinam a
prestar. Assim, quanto a sua composição, os órgãos jurisdicionais podem ser
colegiados, quando compostos por mais de um magistrado, ou unipessoais,
quando compostos por apenas um magistrado. Exemplos de órgãos colegia
dos são os próprios tribunais, suas turm as ou câmaras; enquanto o órgão uni
pessoal é o juiz singular, que decide sozinho. Mas o exemplo mais apresentado
de um órgão colegiado vem do processo penal, já que o julgamento de crimes
contra a vida por parte do júri popular é de todos conhecido, tam anha a atra
ção que tal tipo de julgamento exerce na população.
Por seu turno, em razão da enorme extensão territorial do nosso País e
por conta do Princípio Federativo, a Constituição Federal divide a prestação
de tutela jurisdicional em dois grandes setores, sendo o primeiro relativo à
Justiça Federal e o segundo relativo à Justiça Estadual. Também cria diversos
tribunais, dentre os quais o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal
de justiça, que serão estudados no momento oportuno, órgãos revisores de
todos os demais órgãos jurisdicionais.
A justiça federal pode ser especializada, como acontece com a Justiça do
trabalho e a Justiça Eleitoral, que processam e julgam causas relativas às suas
respectivas matérias, ou comum, que aprecia o que não é de competência das
demais justiças de índole federal. Já a justiça estadual possui caráter subsidi
ário, ou seja, processa e julga todas as causas que não são de competência da
lustiça federal ou especial.
Ainda por conta do Princípio Federativo, é dos Estados Membros a compe
tência para disciplinar a criação e atribuições dos seus próprios órgãos jurisdi
cionais, o que se faz por meio das respectivas Leis de Organização Judiciária.
São elas que criam, classificam ou extinguem as unidades judiciárias, con
forme a necessidade de prestação de tutela jurisdicional.
No Estado de São Paulo, por exemplo, as inúmeras comarcas existentes
são classificadas como comarcas de entrância inicial (pequenas), de entrância
intermediária (médias) e de entrância final (grandes comarcas e a comarca da
Capital), sendo que toda comarca com mais de três varas poderá contar com
a especialização das unidades jurisdicionais (varas criminais e varas cíveis). Já
na Comarca da Capital, devido ao gigantismo da cidade de São Paulo, existe
o Fórum Central Cível (Fórum João Mendes Junior) e 15 Fóruns Regionais,
todos com inúmeras varas, distribuindo-se entre eles a competência em razão
do território e do valor. As causas cujo valor não ultrapassa o montante de 500
(quinhentos) salários mínimos são distribuídas a todos os fóruns segundo os
seus respectivos territórios (inclusive ao Fórum Central), enquanto as causas
de valor superior vão todas para o Fórum Central, sendo distribuídas a uma
das suas 45 Varas Cíveis.561
b) A cepção subjetiva.
Na acepção subjetiva leva-se em conta a pessoa do magistrado e não a
estrutura do órgão jurisdicional que ocupa. Daí a razão pela qual é possível
arguir a suspeição ou o impedimento do magistrado, isso quando é amigo
íntimo ou parente da parte litigante. A figura do magistrado e a sua atuação
V»1
Resolução n" 148/2001, do Tribunal de lustiça do Estado de São Paulo.
como agente que exercita um dos poderes do listado sempre foi objeto de inu
meros e apaixonados debates, levados, por vezes, ao sabor dos valores pessoais
daquele que escreve a respeito do tema.
Dentre as clássicas lições acerca da pessoa do juiz são interessantíssimas,
e inspiradoras, às colocações de Piero Calamandrei, Eduardo Couture e de
Afonso Fraga.
Para Calamandrei “O juiz é o direito feito homem. Só desse homem posso
esperar, na vida prática, aquela tutela que em abstrato a lei tne promete. Só se
esse homem fo r capaz de pronunciar a meu favor a palavra da justiça, poderei
perceber que o direito não é uma sombra vã.”.562
)á para Couture "O juiz é um homem que se move dentro do direito como o
prisioneiro dentro do seu cárcere. Tem liberdade para mover-se e nisso atua sua
vontade; o direito, entretanto, lhe fixa limites muito estreitos, que não podem
ser ultrapassados. O importante, o grave, o verdadeiramente transcendental do
direito não está no cárcere, isto é, nos limites, mas no próprio homem. [...] O
juiz é uma partícula de substância humana que vive e se move dentro do pro
cesso. E se essa partícula de substância humana tem dignidade e hierarquia
espiritual, o direito tem dignidade c hierarquia espiritual. Mas se o juiz, como
homem, cede as suas debilidades, o direito cederá em sua última e definitiva
revelação. (...] Da dignidade do juiz depende a dignidade do direito. O direito
valerá, em um país e um momento histórico determinado, o que valham os ju i
zes como homens. O dia que os juizes tiverem medo, nenhum cidadão poderá
dormir tranquilo.".562
Affonso Fraga, por sua vez, vaticina: “ ...Mas, além dellas, uma outra, e
talvez a mais importante, convém ser agóra salientada, que é a concernente a
form a porque devem ser eleitas as differentes cellulas constitutivas desse Poder.
Contraproducente ou inteiramente inútil seria para esse escopo colhe-las numa
camada social inferior, num meio de profanos em direito, de ignorantes ou
inexpertos na pratica de julgar; ou no meio de seres destituídos de moral e reli
gião, pois se assimfôra o poder judiciário mentiría a sua missão convertendo-se
num instrumento do mal. E, portanto, necessário constitui-lo de elementos sãos
M CALAMANDREI, Piero. Eles, osjuizes, vistos por um advogado. São Paulo: M artins Fontes, 1996.
p. 11-12.
541 COUTURE, Eduardo J .. Introdução ao estudo do processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p.
58-59.
sahidos, na phrase de Eouillée, de uma elite jurídica (681), dotada de grande
i altura geral e de conducta anterior irreprehesivel. O juiz, para ser órgão legi
timo do direito, precisa ser direito, isto ê, reunir em sua pessoa um conjunto
de qualidades taes, physicas, intellectuaes e ethicas, que o tornem digno de
magistrado e de, exornado por ellas, fazer parte da organização judicia
ria regularmente constituída em qualquer Estado. A boa e fie l applicação das
leis depende sobretudo das qualidades peculiares do juiz a quem é confiada...
/.../ Com a exigência de taes predicados no magistrado, não se pretende que a
organização judiciaria seja composta de seres de angélica pureza, de juizes que
sejam outros tantos deuses, ou, que essas organização se alcandore em regiões
superlunares de perfeição absoluta, pois não se desconhece que ella é construída
na terra e para a terra, onde o máximo que se pode exigir e se exige realmente é
uma perfeição terrena ou relativa”.564
Realmente, em nosso entender, a judicatura exige, mais do que tudo, pes
soas vocacionadas para exercer essa atividade tão fascinante e ao mesmo
lempo tão difícil, que por vezes se torna um fardo pesado e espinhoso. Na
atualidade tão atacada por órgãos de imprensa e tão desvalorizada pela popu
lação, ser juiz representa, mais do que tudo, um exercício de paciência e de
perseverança. Fazer o que é certo no processo, independentemente dos inte
resses em disputa, de acordo com sua consciência e os valores da sociedade na
qual judica. Trabalhar com afinco, sem esquecer que por trás de um monte
de papéis se encontra um drama humano, que merece toda atenção e respeito.
Ser cordial e atencioso, mesmo com aqueles maus profissionais que atuam
no foro, porque sua função assim o exige e para preservar a imagem da sua
instituição. É difícil ser juiz, mas após décadas de judicatura acredito que a
maioria dos juizes estaria disposto a começar tudo novamente, isso pela sim
ples razão de ter ajudado as pessoas e resolvido as angústias de milhares de
jurisdicionados durante sua vida profissional, tornando-a útil ao desenvolvi
mento da sociedade.
i
fiscalizadoresde sua carreira, em especial pela Corregedoria Cieral da )usti(,.i
Se no período de 02 (dois) anos, denominado período de prova ou de estágio
probatório, nenhum problema de ordem profissional ou pessoal é constatado,
então o magistrado é vitaliciado, isto é, passa a gozar da garantia da vilali
ciedade, somente podendo perder o seu cargo por força de sentença judicial
transitada em julgado (art. 9 5 ,1, da CR). Essa garantia permite ao juiz decidii
conforme sua convicção e de acordo com a prova produzida nos autos, impe
dindo que venha a perder o cargo por proferir uma decisão contrária aos inte
resses de pessoas que poderíam, inexistente tal garantia, por meios políticos,
forçar a sua demissão.
Não menos importante do que a vitaliciedade, a inamovibilidade também
permite ao juiz julgar com a tranquilidade de que não será afastado do local
onde exerce a judicatura, a não ser em razão de remoção compulsória imposta
por 2/3 (dois terços) dos integrantes do Tribunal ou do órgão que o represente,
isso após procedimento administrativo permeado pela ampla defesa e pelo
contraditório.
Para ilustrar os males que poderíam derivar da não existência dessa garan
tia, podemos apresentar um infeliz exemplo que tivemos a oportunidade de
vivenciar durante a carreira. Tratava-se de período eleitoral, e um excelente
delegado de polícia, profissional muito qualificado e dedicado, mas que não
tinha inamovibilidade, agindo corretamente, acabou por deter o líder regio
nal de um partido político em razão da realização de propaganda de boca dc
urna. Encerrada e apurada a eleição, o candidato daquele partido obteve a
vitória e o delegado, dois dias depois, foi removido para munícipio que ficava
a quase 1.000 quilômetros de distância do local onde trabalhava. Felizmente,
alguns meses se passaram e a situação foi contornada, retornando o profissio
nal a sua delegacia de origem. Ora, imagine-se que o mesmo pudesse acon
tecer com um magistrado que julgasse determinado feito contra os interesses
do Estado? Qual seria a isenção que teria o magistrado para julgar sob tal
pressão, sabendo que fatal mente sofreria enormes transtornos em sua vida
pessoal, sendo forçado a mudar para outro local, em prejuízo próprio e da sua
família?
A terceira garantia, também não menos importante que as demais, é a irre-
dutibilidade de vencimentos. Afinal, se houvesse a possibilidade de redução
dos vencimentos do julgador conforme o tipo de solução que ele desse a uma
determinada causa, com» podería ele manter a si e a sua família? Tal pres
são seria enorme e lhe retiraria a isenção de animo necessária à atividade de
lulgar.
Além dessas garantias, consideradas essenciais ao exercício da judicatura,
.1 própria Constituição (art. 93) e a legislação infraconstitucional, instituem
Inúmeras outras garantias, deveres e vedações ao magistrado, a maioria delas
visando mantê-lo isento para que possa decidir sem as influências exercidas
pelas forças políticas, sociais e econômicas.
568 Entendemos, por exemplo, que o principio da congruência não diz respeito propriamente ao
magistrado, mas sim aos limites objetivos da sentença; que o principio dispositivo é princípio
informativo do processo; e, que o princípio da vinculação à prova diz mais respeito a sua valora-
ção do que propriamente a atividade própria do magistrado.
a atividade das partes, conhecidos como compliance. Ao mesmo tempo, a
reforma do direto brasileiro deu aos juizes nacionais poderes de julgamento r
cumprimento típicos do common law, como o julgamento por precedentes e o
contempt of court.”.569
Conclui-se, portanto, que o juiz deverá exercer a gestão do processo sempre
com a colaboração das partes, zelando para que sejam atendidas as disposi
ções contidas no art. 139, do CPC; tudo no intuito de viabilizar um processo
mais célere, seguro e direcionado a obtenção da solução mais adequada ao
caso concreto.
O segundo princípio que rege a atividade do magistrado é o da indeclina-
bilidade da jurisdição, previsto expressamente no art. 140, do CPC, segundo o
qual o “...juiz não se exime de decidir sob alegaçnao de lacuna ou obscuridade
do ordenamento jurídico.”.
Assim sendo, ao contrário do que acontecia na fase inicial do Direito
Romano, em que o julgador podia deixar de decidir sob a alegação de que
não sabia como fazê-lo (non liquet), hodiernamente não pode o juiz deixar de
proferir sua decisão sob a alegação de não existe qualquer regra legal relativa
à hipótese que tem de decidir. Como as normas legais podem ser classifica
das como princípios ou regras, percorrido todo o iter do procedimento e não
existente regra aplicável ao caso, deve o juiz julgar com base nos princípios
pertinentes à matéria.
O terceiro principio a guiar a atividade do magistrado é o princípio da
legalidade, que preconiza que cabe ao magistrado, nos processos contencio
sos, observar a lei e aplica-la ao caso concreto. Somente será possível ao juiz
deixar de “...observar critério da estrita legalidade...” quando se tratar de pro
cesso não contencioso (art. 723, parágrafo único, do CPC); ocasião em que
será possível uma solução diversa da prevista em lei, mas que possa ser consi
derada mais conveniente ou oportuna para solucionar o caso concreto.
Com o devido respeito aos que crêem na escola do livre direito e na possibi
lidade de desrespeito aos aspectos formais do processo, observamos para que
se possa ter a segurança necessária à manutenção do Estado Democrático de549
549 COSTA, Henrique Araújo. “Os poderes dojuiz na Inglaterra e no Brasil: estudo comparado sobre os
case management powers.". São Paulo: Setor de Pós-graduação. Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo - PUCSP, 2012. p. 369. Tese (Doutorado em Direito das Relações Sociais - Direito
processual civil). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP, 2012.
I Mreitos há necessidade de que o magistrado siga a lei em todos os seus aspec
tos. Quando o juiz não segue a forma a parte padece, ocorrendo um desequilí-
bi io de forças no processo e penalizando aquele que agiu em consonância com
.t lei, em detrimento daquele que deixou de cumpri-la.
Impressiona a tal respeito à atualidade da lição de Moacyr Amaral Santos,
•ui ensinar que “No processo, mais que em qualquer outro ramo do direito, vige
o principio do formalismo. Direito processual é direito formal. É que as formas
torrespondem a uma necessidade de ordem, de certeza, de eficiência prática, e
a sua regular observância representa uma garantia de regular o leal desenvol
vimento do processo e garantia dos direitos das partes. Os menos argutos, espe-
tialmente os profanos na ciência do direito, insurgem-se contra o formalismo,
a que atribuem o sacrifício e o sufocamento do direito. Realmente, há que se
reprovar o formalismo que atribua a forma preponderância sobre o conteúdo
e olvide que ela é meio e não fim. Mas não se pode deixar de reconhecer que o
formalismo é uma necessidade, porquanto representa uma garantia para todos
que são interessados o processo, e que a ausência deformas daria lugar a incon
venientes muito mais graves e gerais.”.570
No mesmo sentido a colocação de Calamandrei ao afirmar que “Nesta
insensata e irracional confusão entre o problema político do conteúdo e o pro
blema jurídico da forma, a função social do direito, que é acima de tudo equipa
ração e pacificação, obscurece-se. Abolida a forma da legalidade, que significa
tranqüilizadora consciência preventiva dos limites individuais postos a todos
e a cada um, a justiça do caso singular se reduz a ser inquietação e incerteza,
temor do arbítrio, sede de privilégio, luta perpétua e perpétua escravidão.”.571
Foi por tais razões que já tivemos a oportunidade de sustentar que “como
coadjuvante da teoria dos precedentes na obtenção de previsibilidade e de segu
rança jurídica, a atual realidade do processo civil está por exigir que os per
sonagens do processo respeitem as formas previstas por lei, o que fatalmente
acabará por acontecer quando da implementação do processo eletrônico, onde
a adoção de padrões decorre de necessidades de ordem técnica. No momento,
porém, algumas condutas já podem ser adotadas para que se retome a alme
jada segurança; isso sem olvidar que o que mais importa é uma alteração de4 70
573 LOPES, João Batista. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. Sâo Paulo: Atlas, 2003. I, p. 146-147.
I U., CPC de 1973,' 1o jui/ que termina a instrução deve decidir a causa. A seu
respeito sustentava Vicente Greco Filho que o princípio tinha por finalidade
' ..garantir a melhor apreciação da lide por aquele que colheu a prova oral. Seus
fundamentos encontram-se nos princípios da concentração e da oralidade do
processo, que enunciam que melhor terá condições de decidir o juiz que pesso-
iihnente fez a instrução.”.*
575
Com o devido respeito, discordamos da omissão legislativa quanto ao
tratamento do princípio por dois aspectos essenciais. Primeiro deveria a lei
optar por um dos sistemas existentes, de maneira expressa, com a finalidade
de evitar futuras polêmicas, mormente as decorrentes da retirada de regra
expressa do sistema processual sem dizer que adota o sistema oposto. Se não
temos em nosso sistema distinção entre o juiz que instrui e o que julga, pode
rão dois juizes implantar tal sistema numa unidade judiciária sem previsão
legal? Enquanto o juiz auxiliar apenas instrui, o juiz titular apenas julga? Em
segundo lugar, o sistema da vinculação no processo civil funcionava bastante
bem, evitando que um juiz titular repassasse a um juiz auxiliar processos que
não quisesse decidir ou pior, que fizesse o contrário com aqueles que quisesse
decidir, gerando a quebra do princípio do juiz natural.
Por tais motivos, enfim, seria de todo conveniente a manutenção do sis
tema já tradicional em nosso direito, sem o qual novos problemas decorrentes
da sua ausência certamente surgirão num futuro não distante.
a) H ipóteses de ocorrência.
No capítulo em que foi estudado o perfil do “instituto processo”, tivemos
a oportunidade de asseverar que a competência e a imparcialidade do juízo
são pressupostos de desenvolvimento válido e regular do processo, sem o que
este não terá andamento ou validade normais, aduzindo que “Embora todo
juiz exerça jurisdição, esta é exercida nos limites de sua competência. Assim
575 GRECO FILHO, Vicente. D ir e ito p r o c e s s u a l c iv il b r a s ile ir o . 22a e.. São Paulo: Saraiva, 2010. v.I, p.
263
sendo, tratando-se de competência absoluta, que não pode ser prorrogada, será
inválida a relação jurídica devido, em última análise, á própria ausência de
jurisdição no que toca à determinada matéria. Ora, se um juiz é absolutamente
incompetente para conhecer e decidir certa matéria, ele não está investido de
jurisdição com relação a ela, não podendo o processo ter normal desenvolví
mento. O mesmo ocorre com o juiz parcial, que está impedido de conhecer e
decidir o feito já que tal circunstância afeta mortalmente diversos princípios
informativos do processo, tornando inválida a decisão proferida. Nessa hipó
tese, aliás, existe expressa previsão legal para a propositura de ação rescisória,
nos termos do art. 966, II, do CPC, com a finalidade de desconstituir a coisa
ju lg a d a ”.
576 BARBI, Celso Agrícola. C o m e n tá r io s a o C ó d ig o d e P r o c e s s o C iv il. 6* ed.. São Paulo: Forense, 1991.
v. I, p. 333/334.
577 ARRUDA ALVIM, José Manuel de. C ó d ig o d e p r o c e s s o c iv il c o m e n t a d o . São Paulo: RT, 1981. V. VI,
p. 03-24.
demonstrados de modo objetivo, enquanto a suspeição tem fundamento em
vínculos que devem levar em conta aspectos subjetivos. Em outros termos,
para provar uma relação de parentesco entre o magistrado e o advogado de
uma das partes (art. 144, III), por exemplo, basta a apresentação de uma ou
mais certidões de nascimento ou casamento; enquanto a demonstração de
uma amizade íntima com a parte não pode ser comprovada diretamente por
um documento, embora esse documento possa servir como um fato que dê
ensejo ao reconhecimento, por presunção, da amizade íntima (certidão de
batismo demonstrando que o magistrado é padrinho do advogado da parte).
Daí a razão pela qual os casos de impedimento geram uma presunção abso
luta de parcialidade do magistrado, enquanto nos casos de suspeição cabe a
parte demonstrar a caracterização da hipótese prevista em lei. Nesse sentido
a observação de Celso Agrícola Barbi, ainda sob a égide do CPC de 1973, ao
afirmar que “Os casos de impedimento do art. 134 contem verdadeira presun
ção juris et de jure de parcialidade. São todos eles fundados em fatos objetivos,
de fácil comprovação, não dependendo do sentimento real do juiz em relação
aos participantes do processo, nem de ter ele interesse efetivo no seu desfecho.”.578
Deve-se notar, também, que “os casos de impedimento são mais graves e,
uma vez desobedecidos, tornam vulnerável a coisa julgada, pois ensejam ação
rescisória da sentença [...]. Já os de suspeição permitem o afastamento do juiz
do processo, mas não afetam a coisa julgada, se não houvera oportuna recusa
do julgador pela parte .”.579
Embora mantendo estrutura semelhante ao seu antecessor (art. 134,
do CPC de 1973), o art. 144, do CPC, acrescentou ao seu rol taxativo mais
três hipóteses em que a lei considera o magistrado impedido. Na primeira
delas, contida no inciso VI (“herdeiro presuntivo, donatário ou empregador
de alguma das partes”), houve a transformação de hipótese que era prevista
como caso de suspeição (art. 135, III, do CPC de 1973) para caso de impedi
mento, entendendo a lei que naquelas três situações é dispensável perquirir
sobre a existência ou não de eventual interesse do magistrado no desfecho
da causa. Já na segunda hipótese, contida no inciso VII (“em que figure como
parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente
5,0 C P C d e 1 9 7 3 : “A r t . 2 9 7 . O ré u p o d e r á o fe r e c e r, n o p r a z o d e I S ( q u in z e ) d ia s , e m p e t i ç ã o e s c r ita ,
d ir ig id a a o j u i z d a c a u s a , c o n te s ta ç ã o , e x c e ç ã o e re c o n v e n ç à o ."
MARQUES, José Frederico. M a n u a l d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il.9" ed.. Sâo Paulo: Saraiva, 1982. v.
01, p. 259. Segundo o autor " E s c r iv ã o é o a u x ilia r d o ju iz o <i q u e m ca b e m o v i m e n t a r o p r o c e d i m e n t o
e d o c u m e n t a r o s a to s q u e n e le s ã o p r a tic a d o s . A a tr ib u iç ã o d e d o c u m e n ta r é a q u e c o n s t i t u i a s u a
a t i v i d a d e b á s ic a , p o i s o q u e se p a s s a n o p r o c e d i m e n t o d e v e f i c a r e sc rito e c o m p r o v a d o d e t a l a r t e q u e
f a ç a f é e te n h a a u t e n t i c i d a d e . G r a ç a s à d o c u m e n t a ç ã o , o p ro c e ss o p e r m a n e c e n o te m p o . A p r ó p r ia
s e n te n ç a , q u e é o a t o p o r e x c e lê n c ia d o j u i z , s e a p r e s e n ta c o m o f a t o tr a n s e u n te q u e , à f a l t a d e d o c u
m e n t a ç ã o d e v i d a , f i c a r i a s e m b a s e m a t e r i a l p a r a p r o d u z i r e fe ito s e te r a e fic á c ia q u e lh e é in e r e n te .
{...] C a b e a in d a a o e s c r iv ã o c o o r d e n a r o s a to s q u e c o m p õ e m o p r o c e d im e n to e t a m b é m p r o v o c a r a
r e a liz a ç ã o d e a t i v i d a d e s p r o c e d i m e n t a i s , p a r a q u e n ã o se e s ta n q u e o im p u ls o p r o c e s s u a l e c h e g u e o
p r o c e s s o a s u a m e t a f i n a l ." .
qual sc vincula. Suas atribuições estão previstas uo art. 154, do CPC, sendo
ele considerado como uma longa manus do juízo.SM Trata-se de uma ativi
dade essencial ao processo e muito difícil de ser exercida, já que costuma sei
por meio do oficial que alguém acaba por ver executada, dentre outras, uma
ordem de despejo ou de busca e apreensão de uma criança, situações bastante
tensas e que normalmente acabam por exigir o concurso policial para o seu
cumprimento.
O Projeto da Câmara dos Deputados havia inovado ao prever, em seu art
156, o assessor judicial, já que não havia menção a tal tipo de atividade no
CPC de 1973. Trata-se de um funcionário que assessora diretamente o magis
trado, elaborando minutas de decisões (I); realizando pesquisa de legislação,
doutrina e jurisprudência necessárias à elaboração das decisões judiciais (11);
e, cumprindo outras tarefas atribuídas ao magistrado (III), podendo também,
mediante delegação do juiz e respeitadas as atribuições do cargo, proferir des
pachos (parágrafo único).
Trata-se de atividade de suma importância para que os trabalhos judiciais
tenham um desenvolvimento adequado, já que existem atividades menos
complexas que poderão ser exercidas pelo assessor judicial, liberando o magis
trado para que possa realizar tarefas mais complexas. O que há muito já existe
na iniciativa privada agora alcança o Poder Judiciário, com evidente ganho de
produtividade e de qualidade na atividade judicial.
lníelizmente, na redação final do CPC esse personagem do processo aca
bou por ter sua previsão excluída do texto, embora sua existência seja uma
realidade na maioria dos 94 (noventa e quatro) Tribunais existentes no País.
Também auxilia a atividade judicial a figura do perito, que atua no pro
cesso “quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico,
...”(art. 156). Isso acontece porque o magistrado, por mais culto que possa ser,
não tem como conhecer todos os aspectos técnicos das causas que chegam ao
seu conhecimento. Daí se valer do conhecimento ou da experiência de alguém
que seja versado no tema discutido para auferir subsídios para proferir sua
M E N D E S J U N I O R , Jo ã o . D ir e ito j u d i c i á r i o b r a z i k i r o . 2 ‘ e d .. R io d e J a n e ir o : T y p o g r a f i a B a p tis ta
d e S o u z a , 1918. p . 77. S e g u n d o o c lá s s ic o p r o c e s s u a l i s t a : "... a c o m p e tê n c ia d o s m e i r i n h o s , t a m b é m
r e s tr ic tiv a m e n te c h a m a d o s o ffic ia e s d e ju s tiç a , te m p o r o b je c tiv o f a z e r c ita ç õ e s , n o tific a ç õ e s , i n t i
m a çõ es, p re g õ e s ( q u a n d o s ã o p o r te ir o s ) a r r e s to s , s e q ü e s tr o s , p e n h o r a s , d e te n ç õ e s , p r is õ e s , d e s p e jo s ,
b u sc a s e a p p r e h e n s õ e s e m a i s d ilig e n c ia s d e e x e c u ç ã o ; ..."
decisão. lísses peritos serio "nomeados entre os profissionais lega Intente habi
litados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro
mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado” (§1°); tema esse do qual
li ataremos com maior profundidade quando do estudo da prova pericial.
Outros auxiliares da Justiça, mas que aparecem apenas eventualmente
«• com menor ocorrência que os demais são o depositário, o administrador,
o tradutor e o intérprete. Ao depositário ou ao administrador, conforme a
necessidade, por força do que dispõe o art. 159, do CPC, cabe a “guarda e
a conservação de bens penhorados, arrestados, sequestrados ou arrecadados.”.
Portanto, em se tratando do sequestro de um veículo, por exemplo, caberá ao
depositário sua manutenção, guarda e conservação. Já no caso de uma tintu-
raria caberá ao adm inistrador fiscalizar a atividade praticada e prestar con
tas de todo o ocorrido, adm inistrando o funcionamento do estabelecimento
e cumprindo as diretrizes fixadas pelo juízo para a prática de determinada
ordem judicial.
O intérprete e o tradutor, a seu turno, atuarão no processo, conforme pre
visto pelo art. 162, do CPC, quando houver necessidade de “I - traduzir docu
mento redigido em língua estrangeira; 11 - verter para o português as declara
ções das partes e das testemunhas que não conhecerem o idioma nacional; e,
III - realizar a interpretação simultânea dos depoimentos das partes e testemu
nhas com deficiência auditiva que se comuniquem por meio da Língua Brasi
leira de Sinais, ou equivalente, quando assim for solicitado”.
Por fim, embora existam outros personagens que atuam no processo como
auxiliares da Justiça (o partidor, o contador, o distribuidor, o porteiro de audi
tórios, etc.), houve por bem o atual diploma processual regular de forma por
menorizada neste capítulo (Dos auxiliares da Justiça) apenas os conciliadores
e os mediadores, o que fez nos art. 165 a 175, demonstrando a destinação de
onze artigos e de inúmeros parágrafos a importância que o atual sistema atri
bui a auto composição dos litígios.
O CPC de 1973 já privilegiava a tentativa de composição das partes, isso
por entender que, muitas vezes, a sentença judicial, como ato de força que é,
resolvia o processo, mas não resolvia o litígio. Em outros termos, uma solução
imposta nem sempre pacifica o conflito, podendo por vezes ser o estopim
para problemas ainda mais danosos à paz social. Por isso em várias passagens
do código revogado havia a possibilidade de se tentar a conciliação, proposta
pelo próprio magistrado.
Com o passar do tempo e o desenvolvimento de técnicas especificas p.uo
a conciliação das partes, percebeu-se que havia uma maior ocorrência di
composições quando as partes eram ouvidas por um terceiro desinteressado
muitas vezes treinado para tal tipo de atividade, e não pelo próprio magis
trado, que embora tendo boa vontade pouco conhecia de tais técnicas e ainda
não podia utilizá-las em sua completude, sob pena de ser alegada a quebra do
princípio da imparcialidade ou a antecipação do julgamento da causa. Para
robustecer tal pensamento foi enorme a contribuição dos juizados especiais d«
conciliação e posteriormente dos juizados de pequenas causas, que demons
traram a eficiência de tal prática. Tamanho foi o sucesso da atividade, que o
atual CPC encartou no procedimento comum uma fase inicial de tentativa de
composição, realizada por pessoas treinadas para tal atividade e integrantes
de centros judiciários de solução de conflitos, “...responsáveis pela realização
de sessões e audiências de conciliação e mediação, e pelo desenvolvimento de
programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a auto composição." (arl
165).
Somente o tempo dirá, porém, se a implantação desta nova ideologia virá
ou não a surtir os efeitos que dela se esperam, pois se trata de uma nova ati
vidade que deverá ser desenvolvida em grande escala, dependendo em muito
da qualificação dos mediadores e dos conciliadores, o que não é tarefa fácil
num País de vasto território como o nosso. Voltaremos a abordar esse tema no
momento oportuno, ou seja, quando for estudada a audiência que se destina a
realização da conciliação ou da mediação.
14.3.1. Generalidades.
Segundo nos dá notícia Arruda Alvim, o Ministério Público teve ori
gem na França, quando o rei Felipe, “o Belo ”, buscou no modelo romano dos
advogados do fisco a inspiração para a edição da Ordenança de 25.03.1302,
que é tida como o marco legal inicial da instituição. Segundo ensina o autor
“No mais antigo direito francês, no qual originou-se o Ministério Público,
dtnominavam se os seus membros de les gens du roi, ou, em latim Gentes
itostrae, tal como constava da Ordonnance, de 25.03.13U2, Cap. 24. Aliás, a
n pressão les gens du roi era comum a todos os funcionários do rei que, prirni-
uvamente, assim se denominavam. Dentre estes, todavia, foram os membros do
Ministério Publico que, sozinhos, guardaram mais tempo a expressão. Parece,
porém, que quando a Ordonnance de 1302fez referência expressa ao Ministério
Publico fks gens du roi) a instituição já existia, plenamente, donde o que teria
havido seria menos uma criação da lei, porém, uma adoção ou legalização do
que já precedentemente existia.”.585
Na época do seu nascimento a instituição não gozava de autonomia, pois
tepresentava os interesses do rei, que se confundiam com o interesse do pró
prio Estado. Também nas palavras de Arruda Alvim "Havia, de certa forma,
Identificação entre a ação do Ministério Público e os interesses das monarquias,
na medida em que estas se identificavam ou pretendiam se identificar com o
próprio rei ou monarca, tal como o disse Luís XIV, em frase célebre ou que se
lhe atribuiu: 'L’État c’est moi'.”.586
A evolução institucional do Ministério público, entretanto, o desvinculou
da defesa do Estado para colocá-la na posição de guardião do interesse público,
lazendo nascer uma das mais vivas polêmicas existentes sobre a instituição,
consistente em definir sua efetiva natureza jurídica. Afinal, se o poder é uno,
mas se exerce por meio de três funções, a legislativa, a executiva e a judiciário,
em qual delas poderiamos inserir o Ministério Público? Tal polêmica pode se
resolver pela própria lei, como acontece no caso do sistema italiano, em que
o Ministério Público integra os quadros da magistratura, sendo diversas suas
atividades.
Entre nós muito já se disse a respeito do tema, sendo majoritários os enten
dimentos no sentido de que integrava o Poder Executivo ou de que não inte
grava nenhum deles, representando verdadeiramente um quarto poder. Na
atualidade, porém, a Constituição da República de 1988 acabou por defini
do como uma “...instituição permanente essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais indisponíveis.” (art. 127).
,,s ARRUDA ALVIM, José Manoel de. C ó d ig o d e p ro c e ss o c iv il c o m e n ta d o . São Paulo: RT, 1981. v. III,
p. 384-385.
M6 Idem, p. 400.
Do que se viu e em razão do seu perfil institucional, em nosso entender, o
Ministério Público apenas não é um quarto poder porque a Constituição n.m
quis tratá-lo com esta denominação, mas tem autonomia, inclusive fm anceiu
para atuar como um órgão do Estado que não integra nenhum dos demub
poderes, sem o que não teria como realizar suas atribuições. Correta, por
tanto, a afirmação de Ovídio Baptista da Silva, para quem "...a Carta Con '
titucional de 1988 completou o círculo evolutivo através do qual o Ministério
Público de simples procurador do rei, na primeira ordenança francesa que m
refere a essa figura, no século XIV, adquire, no sistema brasileiro, a dignidade
de uma função constitucional independente.".5*7
Portanto, cientes dessa perspectiva, mas deixando de lado a polêmica pau
concentrar forças apenas na atividade desenvolvida, podemos definir o min is
tério público como fez José Frederico Marques, afirmando que "... é o órgão
através do qual o Estado procura tutelar, com atuação militante, o interessi
público e a ordem jurídica, na relação processual e nos procedimentos de jú r is
dição voluntária";5** ou como fez Vicente Greco Filho, afirmando que se tral.i
do "... órgão do Estado que exerce, junto ao Poder Judiciário, a tutela dos inte
resses sociais indisponíveis.".5*9
Por fim, assim como acontece com relação à magistratura, que por força
do Principio Federativo é dividida em magistratura federal e magistratuu
estadual, também o ministério público é dividido desta maneira. O ministe
rio público federal pode ser simples ou especial, conforme a sua atribuição
Assim, enquanto o ministério público do trabalho se enquadra na categoria
de especial, o comum é simplesmente denominado ministério público fede
ral, composto pelos procuradores da república, que atuam junto aos juízos c
tribunais federais. Cada um dos Estados, por sua vez, conta com ministérios
públicos independentes, todos exercendo suas atribuições nos limites impos
tos pela lei.5879
587 SII.VA. Ovídio Baptista da. C o m e n t á r i o s a o c ó d ig o d e p r o c e s s o c iv il. São Paulo: RT, 2000. p
377-378.
588 MARQUES, p. 299.
589 GRECO FII-HO. v. I. p. 189
14.3.2. Princípios institucionais.
Para que possa desenvolver suas atribuições de forma adequada, a Consti
tuição da República estabeleceu, em seu art. 127, §1°, os três princípios institu-
. limais constitucionais do ministério público, dizendo textualmente que “são
/•rlncipios institucionais do ministério público a unidade, a indivisibilidade e
,i autonomia funcional.”. Não há que se confundirem tais princípios com as
garantias dos integrantes do ministério público, que são as mesmas do magis-
11ado (inamovibilidade, vitaliciedade e irredutibilidade de vencimentos), já
que os princípios se referem à instituição enquanto as garantias aos indivíduos
que a integram.
Ao mencionar o Princípio da Unidade, a Constituição quis afirmar,
(•('.undo Hugo Nigro Mazzilli, que “...os promotores de um Estado integram
um só órgão sob a direção de um só chefe.” 590 Em outras palavras, cada pro
motor de justiça ou procurador da república, quando age individualmente,
pratica um ato como se fosse a própria instituição, representando a vontade
•Io próprio órgão ao qual pertence.
|á o Princípio da Indivisibilidade, segundo Humberto Theodoro Junior,
permite que os diversos membros do ministério público, logicamente de um
mesmo órgão, pois um procurador da república não pode se manifestar por
um promotor de justiça, podem ser “...indiferentemente substituídos uns pelos
outros em suas funções sem que disso decorra alteração subjetiva nos processos
i m que o ministério público atua.”.59'
Por fim, pelo Princípio da Autonomia Funcional, que nos parece ser o mais
Importante para a real concretização do Estado Democrático de Direito, o
promotor de justiça ou procurador da república possui plena independência
•Ir atuação, não estando sua opinião sujeita a uma “opinião institucional”, a
ingerências dos órgãos superiores da sua respectiva carreira ou a influência
de quem quer que seja. Cabe ao promotor ou procurador agir de acordo com
dquilo que entende ser o correto e conforme sua consciência, embora seus
■ilos possam estar sujeitos a recursos judiciais ou administrativos, assim como
acontece com as decisões judiciais.
5.2 G R E C O . p . 190.
1
existe justificativa para que a Fazenda Pública e o Ministério Público gozem </r
tal privilégio. Isso porque cabe ao Estado prestar os serviços ou múnus público%
deform a eficaz, devendo contratar mais servidores para exercer as atividades
onde há carência de pessoal. Após várias tentativas de alteração da redação
do artigo, debatidas nas esferas legislativa e jurisdicional, prevaleceu o teor da
Súmula n° 116, do ST), que implicitamente admite o critério distintivo como
não infringente à igualdade material. A discussão acerca do tema, entretanto,
está longe de terminar. Isso porque tramita na Câmara dos Deputados o Projeto
de Lei n° 61/2003 (número na Câmara: PL 4331/2001), que simplesmente revoga
o art. 188, fazendo com que a Fazenda e o Ministério Público não mais tenham
prazos diferenciados. Em sua justificativa o autor do projeto, deputado Roberto
Batochio, argumenta que: ‘O projeto que ora apresento tem por objetivo retirar
de nosso ordenamento jurídico um resquício dos tempos da ditadura, que é o
de tratar a Fazenda Pública de modo privilegiado em relação ao particular.
Evidentemente, em determinadas situações o modo de tratar não só pode como
deve ser diferente. Todavia quando as duas partes estão em plano processual,
não vejo porque uma parte deva ter prevalência sobre a outra. Nos dias atuais
não há motivo algum para que a Fazenda Pública, assim como o Ministério
Público, a que referem o art. 188 do CPC, tenham o privilégio de ter prazo qua
druplo para contestar e em dobro para recorrer. Os ônus decorrentes das lides
forenses têm de ser arcados por todos, sejam as partes particulares, Fazenda
Pública ou Ministério Público. Tal mudança, contudo, causaria bastante trans
torno para as partes que deixariam de gozar desse prazo tão prolongado. Os
órgãos teriatn, evidentemente, que se adaptar à nova legislação. Por tal motivo,
proponho que esta lei, depois de aprovada, entre em vigor apenas um ano após
a sua publicação, dando assim tempo suficiente para que tanto a Fazenda
quanto o M P a ela se amoldem.'Por seu turno, concordando com a justifica
tiva do projeto, o relator, deputado Alceu Colares, proferiu voto no seguinte
sentido: 'Nunca entendemos o porquê de certas partes, no que concerne aos
atos processuais, terem privilégios em detrimento de outras. O princípio da iso-
nomia, garantido constitucionalmente como cláusula pétrea (art. 5 o), não dá
guarida a qualquer tipo de privilégio a quem quer que seja. “A lei deve tratar
igualmente tanto quando concede benefícios, confere isenções, outorga vanta
gens, quanto quando impõem sacrifícios, multas, sanções. (Celso Ribeiro Bastos
e Ives Gandra Martins - Comentários à Constituição do Brasil, vol. 2) Num
estado democrático de direito, como o nosso se diz fundamentar, o privilégio
t ílatiil, no que concerne aos prazos processuais, tem resquícios de feudalismo
ou ile estados totalitários, ou remonta à época em que as classes dominantes
Ino absolutismo) detinham indesculpáveis privilégios. E esses tratamentos desi
guais, discriminadores, somente levam ao descrédito das instituições. Quando
lembramos que o conjunto altamente qualificado de representantes da fazenda
l'id>lica ou do Ministério Público é numeroso, deixamos de entender os motivos
juc podem ser levantados para dar este privilégio processual, ofendendo o prin-
<Ipio da isonomia, tão sobejamente propalado. Há que se aprovar, portanto, a
Proposição.'Das opiniões dos parlamentares é possível extrair que o discrímen,
hodiernamente, não se apresenta mais como razoável ou em consonância como
ns valores matrizes do Estado Democrático de Direito, sendo o caso da sua eli
minação do sistema na medida em que fere o princípio da isonomia constitucio
nal. Não obstante, entendendo que o discrímen ainda é razoável e compatível
i iimo o sistema constitucional, mas que não guarda a devida adequação com o
fator de desigualdade, o Governo apresentou proposta de alteração, mitigando
a amplitude dos prazos previstos com a seguinte redação: Art. 188. Computar-
se-á em dobro o prazo para contestar, quando a parte for a Fazenda Pública
nu o Ministério Público, ou estiver assistida pela Defensoria Pública. Parágrafo
único. O prazo em dobro não se aplica quando houver prazo destinado especi
ficamente à Fazenda, ao Ministério Público ou à Defensoria Pública. Em meio
ii tanta polêmica preferimos cerrar fileira com os que entendem que, em face
da atual realidade brasileira, há necessidade de instituir tratamento diferen-
• iado para a Fazenda e para o Ministério Público, situação compatível com o
listado Democrático de Direitos, mas que não há adequação entre o discrímen
c o fator de desigualdade. Isso porque os entes públicos devem estar aparelha
dos para prestar m serviços de excelência, o que ainda não acontece em alguns
setores do Estado. Uma alteração abrupta nesta situação poderia gerar o caos,
iendo pequeno o prazo de um ano para que possa ocorrer uma adaptação ade
quada ao novo sistema proposto. O art. 188, do CPC, portanto, na redação
atual, fere o princípio da isonomia, devendo ocorrer uma adequação entre o
discrímen eleito e o fator de desigualdade, com a aprovação da nova redação
proposta pelo governo. Posteriormente, num segundo momento, com o Estado
já devidamente organizado, será outra a realidade, momento cm que será pos
sível a supressão por inteiro do prazo diferenciado.". v' '
Essas considerações, que datam de 2008, agora merecem uma nova con
clusão, isso tendo em vista o momento institucional e político que vivemos,
bastante favorável a implantação de reformas. Ocorre que o Estado, infe
lizmente, tem se demonstrado inerte e absolutamente inoperante, a não ser
quando pressionado ou obrigado, pela via judicial, a tomar as condutas que
deveria tomar espontaneamente. Daí a razão pela qual não acreditamos mais
que uma fase de adaptação seja adequada, sob pena de tornar o provisório
em definitivo, mais uma vez em prejuízo dos consumidores da tutela juris
dicional; sendo o caso de supressão do eterno privilégio da fazenda do prazo
diferenciado, em prejuízo ao Estado Democrático de Direito.
Perdida a oportunidade, pois, com a simples eliminação do art. 183, do
CPC, de proceder à reforma a tanto tempo aguardada, espera-se que nos
sos Tribunais Superiores assumam a sua verdadeira função e reconheçam a
inconstitucionalidade do preceito, que fere o Princípio da Isonomia, levando
a concretização dos ideais estampados na Constituição da República.
Por fim, havia agido muito bem nosso legislador ao prever, no art. 103,
§2°, do Projeto de Lei do Senado n° 166, que “As verbas sucumbenciais recebi
das em decorrência da atuação dos advogados públicos, inclusive quando deví
das por quaisquer entes públicos, serão destinadas ao fundo respectivo, para
o fim exclusivo de aparelhamento do órgão e capacitação profissional de seus
membros e servidores.”. Com isso se resolvia questão que se apresentava bas
tante polêmica acerca da destinação de tais verbas, por vezes bastante altas
e que acabavam por enriquecer o advogado em detrimento do próprio inte
resse público em aparelhar e melhorar sua carreira. Porém, no atual art. 183,
do CPC, houve a supressão dessa regra tão salutar, mantendo-se a polêmica
antes existente, isso em favor do corporativismo e em detrimento do interesse
público, tão desprestigiado nos dias atuais.
14.5.1. Generalidades.
Nenhum brasileiro desconhece a situação social pela qual atravessamos,
cm que a economia evolui, mas a igualdade social continua relegada a um
segundo plano. Numa rápida consulta na internet, encontramos na Wikipédia
.1 informação de que “O Brasil não é um país pobre, mas um país extrema
mente desigual. Segundo pesquisa, em 2011 havia 8,5% da população brasi
leira vivendo em fam ílias com renda inferior à linha de indigência e 15,1%,
com renda inferior à linha da pobreza. Isso corresponde a 16 e 25 milhões
ile pessoas respectivamente. [...] O Governo Federal adota como medida de
extrema pobreza fam iliar rendimentos mensais abaixo dc R$ 70 por pessoa.”.596
lim outros termos, quase um quarto da população brasileira ainda vive em
extrema pobreza, sendo enorme o contigente daqueles que não são classifica
dos como integrantes desta categoria, mas pode ser considerados pobres para
o efeito de obter uma assistência jurídica integral.
Diante desse enorme contingente, que com certeza representa a maioria
da população brasileira, seria de se esperar que o Estado cumprisse de modo
sério sua função ao invés de “fingir que o fa z ”, pois ao que nos parece e com
o devido respeito, para a classe política os pobres somente são importantes às
vésperas da eleição. O Estado deveria criar e fortalecer as diversas defensorias
públicas, permitindo que pudessem desenvolver seus objetivos institucionais
e, com isso, atuar como um verdadeiro instrumento para a concretização dos
auspícios traçados em nossa Constituição da República, isso para a verdadeira
implantação de um Estado Demnocrático de Direito.
Porém, infelizmente, não é isso que acontece. Ao tratar do tema observa
Cassio Scarpinella Bucno que “Um exemplo parece ser bastante iliustrativo a
respeito. Não obstante a determinação constante do art. 134 da Constituição
Federal, alguns Estados-membros demoraram mais de uma década e meia
para a criação e a instalação de suas defensorias públicas.";59' enquanto aler
tou Patrícia Elias Cozzolino de Oliveira, em 2006, que “Na atualidade, ape-
O L IV E IR A , P a t r íc ia E lia s C o z z o l i n o d e . U m o l h a r s o b r e a d e fe n s o r ia p ú b l i c a - in s tr u m e n to dt
ig u a ld a d e n o e s ta d o d e m o c r á tic o d e d ir e ito b r a s ile ir o . I n R e v i s t a D is c e n te I n t e r i n s ti t u c i o n a l . Fln
r i a n ó p o l is / S C , V o lu m e 1, N ú m e r o 1, j a n / i u n 2 0 0 6 . p . 3 3 6 .
À
14.5.2. Princípios institucionais e objetivos.
A Lei Complementar 80, de 12.01.1994, alterada pela Lei Complementar
142, de 07.10.2009, disciplina a organização e a atuação das defensorias públi
cas da União e dos Estados, relacionando em seus primeiros artigos quais são
os seus princípios institucionais e os seus objetivos enquanto instituição.
Nesse passo, dispõe seu art. 3o que “São princípios institucionais da Defen
soria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.”; o
que significa afirm ar que cada defensor, mesmo quando age individualmente,
pratica um ato como se fosse a própria instituição; que um defensor pode
substituir o outro sem que ocorra alteração da representação processual, e,
que o defensor possui plena independência de atuação, não estando sua opi
nião sujeita a uma “opinião institucional”, a ingerências dos órgãos superiores
da sua respectiva carreira ou a influência de quem quer que seja.
No que toca aos seus objetivos, dispõe o art. 3°-A que “São objetivos da
Defensoria Pública: I - a primazia da dignidade da pessoa humana e a redu
ção das desigualdades sociais; II - a afirmação do Estado Democrático de
Direito; III - a prevalência e efetividade dos direitos humanos; e IV-agarantia
dos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório.” Tal con
junto de objetivos demonstra o acerto da afirmação de Patrícia Elias Cozzo-
lino de Oliveira, para quem “...o fortalecimento da Defensoria Pública é con
dição indispensável para a efetivação da igualdade legal e para a realização
dos direitos no plano concreto. É verdadeira imposição da democracia a efetiva
implementação da instituição, visando o fortalecimento de um estado que prio
rize o acesso à Justiça para os cidadãos carentes.”.*99
Realmente, tais objetivos estão intimamente ligados a real efetividade dos
direitos fundamentais, o que só poderá acontecer, para a população brasileira,
a partir de uma assistência jurídica integral e gratuita.
13.5.3. Atuação.
Devido ao fato de que a defensoria pública trabalha em prol da população
carente, há uma ideia errônea de que seu âmbito de atuação estaria limitado
àqueles processos em que o magistrado defere o pedido de gratuidade, quando
a parte não está representada por um advogado particular. Essa visão limita
Idem. p. 340.
L.
a atuação da instituição, que em verdade possui um vasto campo de atuação,
balizado pela prestação de assistência jurídica integral e gratuita, termo nem
sempre compreendido no seu exato significado.
A esse respeito esclarece patrícia Elias Cozzolino de Oliveira que “no>
dias atuais ainda se observa confusão entre os conceitos de assistência ju rl
dica, assistência judiciária e justiça gratuita. Motivo pelo qual vale referir o
entendimento de Cláudia Maria Costa Gonçalves: Justiça Gratuita - que sc
relaciona com à dispensa das despesas processuais e extraprocessuais, desde
que as últimas sejam necessárias ao perfeito andamento do processo, ou seja.
ao devido processo legal; Assistência Judiciária - engloba o serviços gratuita
de representação, em juízo, da parte que requer e tem deferida a citada assis
tência; Assistência Jurídica Integral e Gratuita - termo mais amplo, utilizada
pela atual Constituição (art. 5 o, LXXIV), que envolve não somente a assistência
judiciária, mas também a consultoria e a orientação jurídica. A assistência
jurídica englobará a esfera administrativa, tanto na área cível quanto na cri
minai, o que inclui os recursos administrativos, acompanhamento do inquérito,
acompanhamento da lavratura do auto de prisão em flagrante delito e atendí
mento jurídico carcerário, entre outros.”.600
Nesse passo, embora o art. 185, do CPC, se limite a dizer que a Defensoria
Pública exercerá a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a
defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, em todos os graus,
de forma integral e gratuita, de fato suas atribuições são bem mais amplas,
estando devidamente especificadas nos vinte e dois incisos do art. 4o, da Lei
Complementar 80.MI
m Ibidem. p. 329.
Art. 4o São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: I - prestar orientação
jurídica e exercer a defesa dos necessitados, em todos os graus; II - promover, prioritariamente. .1
solução extrajudicial dos litígios, visando à composição entre as pessoas cm condito de interesses,
por meio de mediação, conciliação, arbitragem e demais técnicas de composição e administração
de conflitos; III - promover a difusão e a conscientização dos direitos humanos, da cidadania r
do ordenamento juridico; IV - prestar atendimento interdisciplinar, por meio de órgãos ou de
servidores de suas Carreiras de apoio para o exercício de suas atribuições; V - exercer, mediante
0 recebimento dos autos com vista, a ampla defesa e o contraditório em favor de pessoas natu
A segunda questão está ligada a destinação que deve ser dada aos honorá a) Órgão judicial
rios de sucumbência nos processos em que o assistido da defensoria pública Subjetivo - Pessoa que exerce as atribuições
é vencedor. Aqui, com o devido respeito às posições contrárias, parece sei
juridicamente impossível sustentar que a verba de sucumbência deve ser par
Colegiados
tilhada entre todos os defensores, como se fosse parte integrante dos seus ven
cimentos. Isso porque o art. 135, da Constituição da República, é expresso - Composição
ao indicar que o defensor público recebe subsídios na forma do art. 39, §4", Unipessoais
o que o impede receber os honorários a título de remuneração. Esses valo
- Comum
res, portanto, devem ser destinados ao aparelhamento da própria defensoria
e ao aprimoramento funcional dos defensores públicos e dos funcionários da - Justiça Federal
instituição. - Especializada
- Divisão
Verificação de Aprendizagem - Justiça Estadual
03. Quais as garantias constitucionais da magistratura? Explique cada uma b) Garantias - Vitaliciedade
delas. - Irredutibilidade de vencimentos
04. Quais os princípios que regem a atividade do juiz? - “Dominus processus”
05. O incidente de impedimento do magistrado suspende o curso do c) Princípios - Indeclinabilidade da jurisdição
processo? - Legalidade
06. Quais são os princípios institucionais do Ministério Público? - Responsabilidade
d) Parcialidade
Impedimento (art. 144) e Suspeição (art. 145).
- Hipóteses de cabimento.
Forma de arguição - Incidente processual.
02. AUXILIARES DA JUSTIÇA.
- O escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o
administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial
e outros auxiliares da Justiça.
03. MINISTÉRIO PÚBLICO.
- General idades: evolução h istór ica, natu reza ju ríd ica, defi n ição e classificação,
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15. TEORIA GERAL
DOS ATOS PROCESSUAIS
15.1. Noções gerais. 15.2. Princípios. 15.3. Classificação, a) Atos da parle, b) Atos do
juiz. c) Atos dos auxiliares da Justiça. 15.4. Lugar dos atos processuais. 15.5. Flexibili
zação do procedimento.
M: SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 25* e.. São Paulo: Saraiva,
2007. v.l, p. 285.
404 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. 9* e.. São Paulo: Saraiva,, 1982. v. 1.
p. 313.
consequência no bojo do processo, cremos ser possível definir ato processual
como o ato praticado por um dos sujeitos processuais, com a finalidade d<
criar, modificar ou extinguir o processo.
Ksses atos processuais, segundo os ensinamentos de Lopes da Costa"'",
expostos de maneira mais didática por Moacyr Amaral Santos606, apresentam
três características próprias, que são as seguintes: a) não se apresentam isola
damente; b) os atos se ligam pela unidade do escopo; e, c) são interdependentes
Realmente, não há como pensar na prática de um ato processual de forma
isolada. Um ato de citação, uma decisão de saneamento ou a interposiçáo de
um recurso nada significam por si só, a não ser que estejam encartados numa
perspectiva maior, que é o conjunto dos atos processuais. Isso se dá porque
a prática de um determinado ato processual somente se justifica na medida
em que integra e serve ao todo, visando um mesmo e comum destino. Em
linguagem coloquial, o ato processual esta para o processo assim como o elo
esta para a corrente. Sem o conjunto dos elos não se forma a corrente, mas o
elo isoladamente não tem razão de existir, sendo nenhuma a sua utilidade.
Não basta, entretanto, a existência de um conjunto de atos processuais se
estes não se prestam ao atendimento de uma mesma finalidade, que é a decla
ração do direito ou a satisfação de uma obrigação ou dever não adimplidos.
Daí a razão pela qual os atos processuais se reúnem em razão da existên
cia de uma mesma finalidade, sendo os que não se destinam a tal desiderato
irrelevantes.
Por fim, além de não se apresentarem de forma isolada e de se ligarem pela
unidade do escopo, os atos processuais ainda devem ser interdependentes, isto
é, a prática de um determinado ato pressupõe a prática do ato que lhe é ime
diatamente anterior e permite a prática do ato que lhe é posterior no curso
do procedimento. A quebra desta interdependência, por expressa disposição
legal ou se dela resultar prejuízo, poderá implicar a nulidade do processo em
razão da ocorrência de erro in procedendo. Nesse passo, após o recebimento da
contestação, contendo ela preliminares, deverá ser o autor intimado para falar
em réplica, para então adentrar o juiz na fase das providências preliminares.
15.2. Princípios.
Vários são os princípios relativos aos atos processuais, individualizados por
Moacyr Amaral Santos608 em cinco espécies diversas: a) princípio da liberdade
das formas, b) princípio da instrumentalidade; c) princípio da documentação;
d) princípio da publicidade; e, e) princípio da obrigatoriedade do vernáculo.
O princípio da liberdade das formas, como acima se observou, nada mais
é do que uma evolução quanto à prática dos atos do processo, que deixou de
lado a preocupação excessiva com o aspecto formal para dar maior impor
tância ao seu conteúdo. Daí, repetindo o que já era estabelecido pelo art. 154,
do CPC de 1973, a parte inicial do art. 188, do CPC, dispõe que todos os atos
processuais não dependem de uma forma determinada, a não ser quando a lei
expressamente a exigir.
610
MARQUES, p. 336.
nada maiiido qUC a documentação do ato processual realizada por um fun
cionário dopoder Judiciário.
Quanto o ato processual é praticado no interior das dependências da uni
dade judiciaria a denominação utilizada mantém a terminologia “termo". Por
tanto, quando o executado comparece ao fórum e oferece um bem à penhora,
o funcionário lavrará um termo de penhora. O mesmo acontece com o termo
de audiência ou com o termo de caução. Porém, se o ato é praticado fora das
dependências da unidade judiciária, a ele se dá a denominação de “auto”,
como acontece com o auto de penhora, que é lavrado pelo oficial de justiça
que efetiva a penhora em bem que se encontra na residência do executado.
Ambos não se confundem com a “ata", que é a descrição dos atos processuais
praticados em reuniões de órgãos colegiados (v.g. ata da 22a reunião do Tri
bunal do Júrj da Comarca de Palmital), e com os autos, que é a reunião dos
termos e dos atos processuais escritos que formam o processo.
O quarto princípio que regula a prática dos atos processuais é o princípio
da publicidade, que já foi abordado quando do estudo dos princípios proces
suais inseridos na Constituição da República. Na ocasião, tivemos a oportu
nidade de salientar que a publicidade é essencial para a efetivação dos ideais
democrático^ permitindo a fiscalização da atividade jurisdicional por todos,
e não é difundida e amplamente aceita apenas no Brasil, mas se trata de uma
tendência natural de todos aqueles países que repudiam o arbítrio acobertado
pela prática de atos secretos. Não bastasse, para que ocorra o efetivo respeito
ao Principio do Contraditório, a publicidade do ato processual é imprescin
dível, pois sem ela as partes não terão a possibilidade de exercer a faculdade
de reagir a üma conduta da parte adversa, simplesmente porque não terão
conhecimento da sua prática.
Essa publicidade, entretanto, pode sofrer pequenas limitações que em
nossa legislaçao infraconstitucional estão em parte disciplinadas pelos incisos
do art. 189, d0 CPC, onde consta a regra geral de que todos os atos processu
ais serão públicos, para em seguida apresentar quais são as exceções. Esta ali
disposto que serão objeto de segredo de justiça os processos em que o exigir o
interesse publico ou social; que versam sobre casamento, separação de corpos,
divórcio, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
em que con$tem dados protegidos pelo direito constitucional á intimidade; e,
que versam sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitrai,
desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada
perante o juízo.
A primeira hipótese exige que o magistrado realize um juízo de valor para
indicar onde reside o interesse público no caso concreto, fundamentando
de forma adequada a decisão que atribui ao processo o segredo de justiça.
São inúmeras e variadas as hipóteses em que pode existir interesse de que
os dados do processo não sejam divulgados, pois poderão causar inquieta
ção na população ou prejudicar investigação criminal, dentre outras variadas
situações. Também se amolda a esta hipótese a proteção às celebridades e às
autoridades, que em razão da fama e do conhecimento público acabam por se
tornar alvos da curiosidade alheia. Por esse motivo, aliás, que o nosso sistema
constitucional é expresso ao vedar a publicidade na ação de impugnação de
mandato eletivo, dispondo no art. 14, §°11, da CR, que “a ação de impugnação
de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da
lei, se temerária ou de manifesta má-fé.”. Neste caso não existe opção ao juiz a
não ser, quando do recebimento do feito, decretar o segredo de justiça.
)á o art. 189, II, do CPC, confere proteção às causas de família ou que
envolvam criança ou adolescente, situações que se procura minimizar o dano
marginal que a propositura e tramitação de um processo possa causar as par
tes. Prepondera aqui a proteção a intimidade da pessoa e ao desenvolvimento
psicológico adequado da criança e do adolescente, que não podem ter sua vida
devassada e exposta na comunidade onde vivem.
Por sua vez, o art. 155, do CPC de 1973, não previa as hipóteses agora cons
tantes no art. 189, III e IV, do CPC, que tratam da proteção de dados sigilo
sos e da proteção à cláusula de confidencialidade estipulada em arbitragem.
Na primeira situação, bastante comum quando vem ao processo cópia de
declaração de renda ou de extrato de movimentação bancária, o que se visa
é a preservação de dados protegidos pelo direito à intimidade; enquanto na
segunda situação o que se protege é, normalmente, dados de uma empresa ou
de uma marca, que pode sofrer publicidade negativa pelos dados constantes
do processo.
Decretado, por decisão fundamentada, o segredo de justiça, que vale tam
bém para o processo eletrônico (art. 194, do CPC), apenas as partes e seus
procuradores terão amplo acesso aos autos, embora possam os terceiros
interessados pleitear a expedições de certidões pontuais acerca do resultado
da demanda ou da partilha de bens (art. 189, §2°, do CPC).
Ainda em decorrência do princípio da publicidade, o Projeto da Câmara
dos Deputados pretendia inovar o CPC ao dispor, em seu art. 190, que o juiz
ou o relator deveríam dar “...publicidade ao comparecimento informal, junto
a ele, de qualquer das partes ou de seus representantes judiciais, ordenando o
imediato registro nos autos mediante termo, do qual constarão o dia e o horá
rio da ocorrência, assim como os nomes de todas as pessoas que se fizeram
presentes.”.
Felizmente tal dispositivo acabou por ser excluído do texto pelo Senado
Federal. Com o devido respeito à opinião daqueles que enxergam fantasmas
por todos os lugares, tratava-se de dispositivo absolutamente dispensável, que
somente serviría para atrasar sobremaneira o trabalho do magistrado e do
cartório, cada vez mais sobrecarregados de funções burocráticas (relatórios,
pesquisas de endereços, pesquisas de ativos, etc...) e desviados de suas ativida
des essenciais, que dizem respeito ao andamento e solução do processo. Basta
pensar na situação de um juiz que atua numa vara de família, localizada em
comarca de grande porte, onde o atendimento de advogados é uma constante
do dia a dia. No Fórum Central de São Paulo (Fórum João Mendes Junior),
por exemplo, um juiz de família atende, com certeza, mais de 10 pessoas por
dia, todos os dias da semana. Isso porque as causas de família são normal
mente urgentes, em especial no que toca a alimentos e a prisão dele decor
rente, obrigando os advogados a conversar com o magistrado para noticiar a
urgência dos pedidos que formulam. Se em todas essas oportunidades o juiz
estivesse obrigado a ordenar o “imediato ” registro nos autos, mediante lavra-
tura de termo acerca da ocorrência, com os inúmeros dados exigidos pelo
preceito, com certeza não faria outra coisa a não ser despachar as liminares,
os pedidos que exigem decisão urgente e elaborar termos com os registros de
“comparecimento informal” das partes e de seus procuradores.
Não bastasse, a norma era odiosa porque deixava bastante clara a descon
fiança na honestidade do magistrado. Ou confiamos em nossos juizes, já fis
calizados por inúmeros órgãos (CNJ, Corregedorias, imprensa), pelos advoga
dos e pela própria população, ou vamos mudar o sistema e criar outra forma
de se prestar tutela jurisdicional, talvez com provas tarifadas e decisões profe
ridas por um sistema de informática, sem a intervenção humana.
!•> ITOHWQtKAl IHAAIU^KUltiMJAh
ui OLIVEIRA NETO, Olavo de. M a n u a l d e m o n o g r a fia j u r í d i c a . Sào Paulo: Q uartier Latin, 2007. p.
124-125.
•1*70 uvnum n r r v i c m u j n u nu im iim m n u i u r w t m m n i/u rn u \ n u ;
15.3. Classificação. ( )bservamos, ainda, que a classificação apresentada parece ser a mais ade
quada porque os atos processuais, quanto ao seu conteúdo e finalidade, como
Não há unanimidade no que toca à classificação dos atos processual* M* verá, podem apresentar características atribuídas a várias das espécies
embora as posições dos autores possam ser reunidas em dois grandes grupo < i onstantes da classificação objetiva. Vejamos, pois, o perfil de cada um destes
os que classificam os atos pelo seu enfoque objetivo, que leva em conta \m Kpos de atos processuais.
conteúdo ou o momento em que é praticado; e, os que classificam os atos pelo
seu enfoque subjetivo, que leva em conta o sujeito processual que pratica o aln a) Atos da parte.
analisado. Nossa legislação optou pelo segundo enfoque, ao disciplinar na
Classificados os atos processuais praticados pelas partes pelas suas carac-
três seções que tratam do tema os atos das partes (art. 200 a 202), os pronun
ln isticas preponderantes, podemos agrupá-los como a) atos postulatórios, b)
ciamentos do juiz (art. 203 a 205) e os atos do escrivão (art. 206 a 211).
ilos dispositivos e c) atos instrutórios. Os atos postulatórios, cuja denomina-
Nesse passo, nada obstante as inúmeras classificações existentes, seguindo Siio deriva do verbo postular (pedir), se caracterizam porque visam formular o
a posição adotada pelo nosso código e por parte da doutrina, preferimos ado pedido de determinada providência no processo. Dentre eles podemos encon-
tar a seguinte planificação dos atos processuais: irar a petição inicial, os requerimentos diversos de juntada ou de vista dos
- postulatórios uitos ou os tão comuns, porém não aconselháveis, pedidos de reconsideração
das decisões. Isso porque o chamado pedido de reconsideração não tem pre
- unilaterais
visão legal para a quase totalidade das hipóteses em que normalmente é utili
- dispositivos zado, atrasando a prestação da tutela jurisdicional, em afronta ao princípio da
- bilaterais ideridade processual, e gerando a perda de prazo a interposição do recurso
- Das partes que se apresente como o cabível para a impugnação da decisão do magistrado,
0 que desaconselha sua utilização. O processo, com o devido respeito, não
- de alegação
pode andar na marcha à ré, com a análise por mais de uma vez das questões já
- instrutórios decididas e superadas nos autos. Não se conformando a parte com a decisão,
- probatórios deve interpor o recurso cabível à espécie.
- despachos Além dos atos postulatórios, as partes também praticam atos processuais
1hamados de dispositivos, já que visam especificamente dispor de um direito
- jurisdicionais - decisões interlocutórias
ou de uma faculdade processual, produzindo consequências práticas no curso
- sentenças do processo. Trata-se da hipótese em que uma das partes desiste da produ-
- Do juiz s*io de uma determinada prova ou do pedido de homologação do acordo que
- instrutórios i ntabularam. Tais atos, por força do disposto no art. 200, infine, do CPC, pro-
iluzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de direitos
- materiais
processuais; à exceção da desistência da ação, que somente produzirá efeitos
- documentação após a homologação por sentença (parágrafo único).
- movimentação Também por força do teor do citado preceito, que repete a redação do art.
- Dos auxiliares - documentação 158, do CPC de 1973, os atos dispositivos podem ser divididos em atos uni
laterais e atos bilaterais. Enquanto estes exigem a participação de ambas as
- execução
n. irum« urum IXAAIUb ('KUCIóSUAIS 501
partes, aqueles podem ser praticados por apenas uma delas. Bom exemplo Seguindo o que já havia feito o art. 162, do CPC de 1973, nosso atual
desta distinção se encontra no art. 329, I, do CPC, segundo o qual o autoi diploma também optou por definir os pronunciamentos do juiz, aduzindo
poderá, de forma unilateral, alterar o pedido ou a causa de pedir, indepen que, salvo disposição em contrário, nos termos do art. 203, §1°, do CPC, a
dentemente do consentimento do réu, desde que o faça até a citação; mas pre sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com base nos art. 485
cisará do consentimento do réu para promover tais alterações entre a citação OU 487, põe fim ao processo ou a alguma de suas fases. Com isso nosso sistema
(I) e o saneamento do processo (II), o que caracteriza o ato processual como tentou resolver as imensas críticas dirigidas à definição original do CPC e
bilateral. ■Iquela imposta pela lei n° 11.232/05, que serão comentadas mais adiante. Em
Os atos processuais instrutórios, que se subdividem em atos de alegação « suma, na atualidade, a sentença extingue o processo com (art. 487) ou sem
atos probatórios, se destinam a instruir o feito, seja mediante a formulação dc (art. 485) resolução do mérito, ou, põe fim ao processo de execução ou a fase
alegações que venham influir na decisão judicial, seja mediante a comprova de cumprimento da sentença. Por isso, embora os exemplos sejam inúmeros,
ção de determ inado fato no bojo do processo. Quando a parte oferece alega são sentenças as decisões judiciais que indeferem uma petição inicial (art. 485,
ções finais ou quando se manifesta sobre documentos que vieram aos autos, I), as que extinguem o processo devido à ilegitimidade de parte (art. 485, VI),
ela está praticando atos instrutórios de alegação. Já quando a parte junta ao s as que acolhem ou rejeitam o pedido do autor (art. 487,1) e aquelas extinguem
autos memória de cálculo discriminada e atualizada, a matrícula de um imó a execução devido à satisfação da obrigação (art. 924, II).
vel que deverá ser penhorado ou um comprovante de pagamento do preparo, Já a definição do que seja uma decisão interlocutória, por força do art. 203,
estará praticando um ato instrutório probatório. §2°, do CPC, é obtida mediante exclusão, ou seja, a decisão interlocutória é
todo o pronunciamento do juiz de natureza decisória e que não se enquadre
b) Atos do juiz. na definição de sentença. A decisão que saneia o feito, resolvendo todas as
questões processuais pendentes, ou aquela que rejeita um incidente de pré-
Os atos praticados pelo juiz podem ser classificados, na forma acima
executividade, dentre inúmeras outras, enquadram-se nesta definição.
explanada, como atos de natureza jurisdicional e atos de natureza material
Enquanto estes são representados pelos atos praticados com a finalidade Completando a categoria dos pronunciamentos do juiz, o art. 203, §3°, do
de desempenhar uma determinada atividade material no processo, aqueles CPC, define que são despachos todos os atos que não são sentenças ou deci
dizem respeito à conduta do magistrado ao tomar uma determinada decl sões interlocutórias. Aqui a característica reside na não existência de decisão,
são, razão pela qual também podem ser denominados atos decisórios. Nosso mas na prática do ato apenas com a finalidade de dar normal andamento ao
código houve por bem apresentar os atos jurisdicionais nos art. 203 a 205, procedimento previsto em lei. Isso acontece, por exemplo, quando o magis
sob a denominação “Dos pronunciamentos do ju iz ”, com a nítida finalidade trado, após a realização de prova pericial, designa data para a realização de
de dem onstrar que se trata de dar solução a algo no curso do procedimento uma audiência de oitiva das testemunhas das partes. Não há cunho decisó-
Daí a linguagem direta do art. 203 ao dispor que “Ospronunciamentos do ju i : rio neste pronunciamento judicial, mas apenas organização do feito para que
consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos.”. possa prosseguir normalmente.
Em que pese a sentença receber tratamento pormenorizado nos art. 485 u Como são inúmeros os atos processuais que exigem atividade meramente
495, do CPC, razão pela qual o aprofundamento acerca do tema acontecer.i mecânica, como a juntada de uma petição aos autos ou a remessa dos autos ao
em momento oportuno, insta desde logo consignar que as sentenças e as deci ministério público quanto intervém no feito, visando reduzir tal tipo de ativi
sões interlocutórias se caracterizam pelo fato de que o juiz resolve algo, ao dade e criar mais tempo para que o magistrado pudesse efetivamente proferir
contrário dos despachos, em que nada é solucionado, servindo apenas par.i decisões e sentenças, a Lei n° 8.952, de 13 de dezembro de 1994, acrescentou ao
fazer com que o procedimento siga o curso previsto pela lei. art. 162, do CPC de 1973, um parágrafo cuja redação era idêntica ao art. 203,
§4°, do CPC, segundo o q u a l"os atos meramente ordinatôrios, como a juntada
e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de oficio
pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário." Com isso, embora pre
visto na seção destinada ao tratamento dos atos jurisdicionais, a lei permite
que os auxiliares da justiça pratiquem vários tipos de atos que outrora eram
de competência única do magistrado, racionalizando com isso a distribuição
do serviço prestado.
Além dos pronunciamentos, a lei ainda prevê uma série de atividades que
são praticadas pelo juiz e que não se enquadram, de forma propícia, nas defi
nições acima explanadas. A estes atos a doutrina dá a denominação de atos
materiais, que podem ser instrutórios ou de documentação.*13 Nesse passo,
quando o juiz colhe o depoimento pessoal da parte, quando colhe o depoi
mento de uma testemunha ou quando tenta a conciliação entre as partes, por
exemplo, não está a praticar ato que possa ser classificado como jurisdicional,
embora se trate de atividade de suma importância para a solução da causa.
São estes os atos denominados instrutórios. Quanto assina um termo de leilão
negativo ou um termo de penhora, outrossim, está praticando ato que visa
apenas autenticar o documento elaborado, que a partir daquele momento
passa a ser considerado documento público. São estes os atos denominados
de documentação.
Por fim, cabe observar que os julgamentos proferidos pelos órgãos colegia
dos dos tribunais tomam a denominação de acórdão, por força do disposto no
art. 204, do CPC.
Bibliografia
GAJARDONI, Fernando Fonseca. Flexibilização procedimental. São Paulo:
Atlas, 2008.
LOPES DA COSTA, Alfredo Araújo. Direito processual civil brasileiro. 2“ e..
Rio de Janeiro: Forense, 1959.
MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. 9a e.. São Paulo:
Saraiva, 1982.
MONIZ DE ARACíAO, E.D.. Comentários ao código de processo civil. 6“ e.. Rio
de Janeiro: Forense, 1989.
16. TEORIA DOS PRAZOS
OLIVEIRA NETO, Olavo de. Manual de monografia jurídica. São Paulo
Quartier Latin, 2007. 16.1. Definição. 16.2. Princípios, a) Paridade de tratamento, b) Brevidade e utilidade, c)
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao código de Não continuidade, d) Inalterabilidade. 16.3. Classificação. 16.4. Contagem. 16.5. Veri
ficação dos prazos e penalidades. 16.6. Tempo dos atos processuais. 16.7. Predusão.
processo civil. 2a e.. Rio de Janeiro: Forense, 1974.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 25“ e.
São Paulo: Saraiva, 2007.
16.1. Definição.
Ao tratar das repercussões de fato que o tempo exerce sobre o processo, José
Rogério Cruz e Tucci ressaltou a feliz lição de Carnelutti ao relacionar o tempo
i om o processo, destacando que "... - como exortava Carnelutti - a semente
iIa verdade necessita, às vezes, de anos, ou mesmo de séculos, para tornar-se
espiga (veritas filia temporis).... O processo dura; não se pode fazer tudo de uma
unica vez. É imprescindível ter-se paciência. Semeia-se, como faz o camponês;
< é preciso esperar para colher-se. Ao lado da exigência da atenção, coloca-se
11 paciência entre virtudes inafastáveis do juiz e das partes. Infelizmente estas
São impacientes por definição; impacientes como doentes, visto que também
sofrem. Uma das tarefas dos defensores é aquela de inspirar-lhes a paciência. O
slogan da justiça rápida e segura, que anda na boca dos políticos inexperientes,
contém, lamentavelmente, uma contradição in adiecto: se a justiça é segura não
i: rápida, se é rápida não é segura'.”.616
Realmente, tempo e processo são realidades indissociáveis, já que não é
possível se pensar na existência de um processo instantâneo. Permeado que é
pelo contraditório e pela ampla defesa, o processo exige tempo para a prática
dos atos processuais e, por conseqüência, precisa de tempo para que possa
se desenvolver de forma válida e regular. Trata-se daquilo que Marcelo Lima
Guerra617 chama de demora fisiológica, ou seja, de uma demora ínsita a pró
pria estrutura do processo.
Em razão disso, para que o processo possa seguir a sua dinâmica natu
ral, torna-se necessário estabelecer prazos para a prática dos atos processu
ais, além de um sistema de preclusões para impedir o retrocesso da parte do
16.2. Princípios.
Tratando dos princípios relativos ao tema, Moacyr Amaral Santos620 rela
ciona dois princípios informativos do processo que também se relacionam
com a teoria dos prazos, que são o princípio da paridade de tratamento e o
princípio da brevidade. Em seguida relaciona como princípios informativos
da teoria dos prazos os princípios da utilidade, continuidade, inalterabilidade.
peremptoriedade e da preclusão. Já Cristina Ferraz621 relaciona como princí
pios informativos do processo atinentes ao prazo os da eventualidade,
"' LO P E S , João Batista. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. São Paulo: Atlas, 2005. p. 173.
T H E O D O R O J U N IO R , H um berto. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 47* e.. São Paulo: Forense
2007. v. I, p. 277.
a) Paridade de tratamento.
Quando estudamos este princípio no capítulo 03, observamos que ele
decorre naturalmente do Princípio Constitucional da Isonomia, fazendo com
que o magistrado deva velar, no bojo do processo, para que as partes tenham
igualdade de condições para o exercício de seus deveres e de suas faculdades
processuais. Trata-se de um princípio destinado a moldar a conduta do juiz no
processo, para que a prática dos atos processuais respeite as diferenças entre
os litigantes, aproximando-os de uma igualdade substancial e eliminando
fatores que possam influir num desequilíbrio de forças dentro do processo.
É o que sucede, por exemplo, com a inversão do ônus da prova nas relações
de consumo, prevista no art. 6o, VIII, do CDC, que deverá ser aplicada pelo
magistrado sempre que a alegação formulada for verossímil ou quando o con
sumidor for considerado hipossuficiente técnico.
Citamos, ainda, a precisa lição de Alfredo Soveral Martins, que analisando
o direito português aduziu que "... as partes, no processo, hão-de estar coloca
das num plano de igualdade perante o juiz, dispondo de iguais direitos, poderes
e deveres. Só com dois pratos iguais é que não se vicia a balança da justiça. Neste
sentido, e como vimos, este princípio é igualmente um princípio modelador da
actividade do juiz, impondo-lhe trato idêntico a ambas as partes. [...] Trata-
se, como é óbvio, da afirmação de um princípio de igualdade em abstracto
cuja garantia pressupõe a adopção, a nível do processo, de todo um sistema que
atenue /adores de desigualdade econômico, cultural e técnica susceptíveis de a
ajectarem em concreto.”. 622
Portanto, em seu aspecto de princípio informativo do processo civil, n
princípio da paridade de tratamento nada mais é do que uma norma dirl
gida ao magistrado, com a finalidade de que assegure, no bojo do processo v
diante da situação concreta de cada um dos ligantes, igualdade de tratamento,
mesmo que para isso tenha que tratar as partes de forma diversa.
Fácil de perceber, portanto, a enorme repercussão que tal princípio exene
no tocante aos prazos processuais, devendo o magistrado assegurar que as
partes tenham tratamento equilibrado no curso do processo, sob pena ilc
ofensa ao próprio princípio do contraditório. É por isso que a própria lei poi
vezes estabelece prazos diferenciados, como acontece com o art. 229, do CPt .
ao dispor que os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritó
rios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas
manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerí
mento. Afinal, se no caso o prazo fosse o usual, a defesa poderia restar preju
dicada, não tendo o patrono dos litisconsortes tempo hábil para consultar os
autos e formular a defesa adequada a hipótese. Há casos, porém, que repre
sentam a maioria das hipóteses diuturnas, nos quais a lei não fixa um prazo
distinto, cabendo ao magistrado fazê-lo.
Não bastasse, existem situações em que o prazo previsto em lei pode se
demonstrar insuficiente para a prática do ato processual, podendo o magis
trado alterá-lo em prol de atender ao princípio da paridade de tratamento e
mesmo ao princípio do contraditório. É o que acontece com algumas ações
de prestação de contas, onde a especialidade da hipótese pode justificar uma
dilação nos prazos previstos em lei. Assim, proferida sentença na primeira
fase da ação de prestação de contas, declarando o direito de exigir a prestação
de contas e condenando o réu à obrigação de prestá-las (obrigação de fazer) no
prazo de 15 (quinze) dias (art. 550, §5°, do CPC); poderá o magistrado, diante
do caso concreto, aumentar o prazo legal. Isso porque, em que pese à lei sei
expressa quanto ao prazo de 15 dias para a prestação de contas, cremos que
em certos casos tal prazo é por demais reduzido, isso devido à complexidade
dos cálculos, sendo que a sua manutenção implicaria em infringir o núcleo42
S A N T O S , p. 306.
F E R R A Z , p. 39.
de nada adiantará a fixação de um prazo de 05 dias, que atende ao principio
da brevidade, para o cumprimento do ato processual. Isso porque é pratica
mente impossível que a remessa da carta, a avaliação do imóvel e a devolu
ção da carta possam ser realizados em prazo tão exíguo, razão pela qual não
será atendido o princípio da utilidade. Nesse caso, pois, observando a situação
concreta, deverá o juiz fixar um prazo bem maior e que permita a realização
de modo adequado do ato processual deprecado.
Conjugando ambos princípios e sempre tendo em vista o caso concreto,
estará o juiz habilitado para fixar todos os prazos judiciais ou para fixá-los
quando houver omissão legal a respeito do processamento de uma deternn
nada via processual.
c) Não continuidade.
O CPC de 1973, em especial no seu art. 178,w5 adotava como princípio da
teoria dos prazos o princípio da continuidade dos prazos, segundo o qual ini
ciada a contagem do prazo essa não se interrompe em razão dos feriados, que
abrangem alem dos feriados os dias relativos ao final de semana, quando não
há expediente forense regular. Ao comentar tal preceito ensinava Moniz de
Aragão que “Todo prazo, em princípio, é continuo: uma vez iniciado, o seu curso
não pára por motivo algum, nem mesmo pela superveniência de dias feriados.
Estes, portanto, não lhe serão acrescentados ao final, como compensação.”.62'’
Ocorre, entretanto, que o atual sistema processual reverteu de forma plena
tal princípio, dispondo em seu art. 219 que na contagem de um prazo em dias,
estabelecido pela lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os úteis. Com isso
a regra para a contagem dos prazos passou o desconto dos dias relativos aos
feriados forenses, que abarcam todos os sábados e domingos; bem como todos
os demais dias em que, por qualquer motivo, não ocorra o funcionamento do
fórum.
Quando aberto o prazo para sugestões acerca do primeiro dos projetos do
CPC (Projeto de Lei do Senado n° 166, de 2010), tivemos a oportunidade de256
d) Inalterabilidade.
Quem fixa o prazo para a prática de um determinado ato processual, em
regra, é a própria lei, que leva em conta os critérios acima descritos e a neces
sidade de uniformizar certas condutas no bojo de processo. Afinal, se em
casos como da contestação ou do recurso de apelação pudesse cada juiz fixar
o prazo que reputasse mais conveniente, ficaria praticamente impossível exer
cer a advocacia. Daí o motivo pelo qual o art. 218, §1°, do CPC, dispõe que os
atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em lei e que, apenas
quando houver omissão legal, deverá o juiz fixa-los.
Diante dessa regra, portanto, parece intuitiva a idéia de que o magistrado
não possa alterar os prazos que a lei quis fixar, podendo apenas agir de forma
supletiva. Trata-se do principio da inalterabilidade, segundo o qual não pode
o juiz, em regra, dilatar ou reduzir os prazos processuais.
Nada obstante o raciocínio desenvolvido, o princípio inalterabilidade dos
prazos goza de outra compreensão no nosso sistema processual, podendo ser
observado em sua versão mitigada. Isso porque o sistema permite a alteração de
prazos que considera dilatóriose náo permite a alteração dos prazos que con
sidera peremptórios, conforme disciplina que abaixo será melhor explicitada
Por fim, observamos que não comungamos da opinião de parte da dou
trina que ainda apresenta como princípios da teoria dos prazos os princípios
da improrrogabilidade e da irredutibilidade, uma vez que compreendemos
tais efeitos como aspectos diversos da inalterabilidade; e, que também apre
sentam como princípios a peremptoriedade e a preclusão, que são efeitos do
transcurso do prazo fixado pela lei ou pelo magistrado.
16.3. Classificação.
Segundo a doutrina tradicional os diversos tipos de prazos podem ser reu
nidos em razão de quatro aspectos diversos: a) com relação a sua origem ou de
onde provêm os prazos são legais, judiciais ou convencionais; b) com relação
ao destinatário os prazos são comuns ou particulares; c) com relação a penali
dade que geram os prazos são próprios ou impróprios; e, d) com relação a sua
natureza os prazos são dilatórios ou peremptórios.
A primeira forma de classificar os prazos diz respeito a sua origem, isto é,
de onde provêem o estabelecimento do prazo. Se o prazo é fixado pela pró
pria lei, que como se viu acima representa a regra geral estampada no art. 218,
"caput", do CPC, diz-se que o prazo é legal. Já no caso do prazo ser fixado
subsidiariamente pelo magistrado, na forma do art. 218, §1°, do CPC, diz-se
que o prazo é judicial. Quando o prazo pode ser estabelecido por acordo entre
as partes, diz-se que o prazo é convencional.
Já a segunda forma de classificar os prazos leva em conta o seu destinatário,
ou seja, refere-se a quem deverá praticar determinado ato processual no prazo
fixado. Nesse passo, quando o prazo se destina a mais de um sujeito proces
suai, como acontece com o destinado à interposição de apelação no caso de
sucumbência recíproca ou para o autor único falar em réplica, diz-se que o
prazo é comum. Entretanto, quando o prazo se destina a apenas um sujeito
processual, como acontece no caso da contestação onde não há litisconsórcio
passivo, diz-se que o prazo é particular.
Duas advertências devem ser efetivadas quanto aos prazos comuns e par
ticulares. A primeira é a de que não se pode dizer que o prazo comum é o
que atinge ambas as partes litigantes, já que o prazo comum pode atingir
apenas aos litisconsortes. fi o caso, por exemplo, do prazo para inlerposiçã° cl e
recurso do motorista e da empresa condenados solidariamente ao pag^ment^
de danos oriundos de acidente de veículo, que têm prazo comum para reco*-_
rer da decisão. Já a segunda advertência, que por suas repercussões pratic^ s
deve ser de todos conhecida, diz respeito à vedação imposta pelo art. 107,
do CPC, no sentido de que sendo comum o prazo, os procuradores aPen^ s
poderão retirar os autos do cartório em conjunto ou mediante prévio ajus^e
por petição nos autos; salvo pelo período de duas horas a seis horas para a
extração de cópias do processo (§3°).
O terceiro enfoque relativo à classificação dos prazos leva em conta a
penalidade decorrente da inércia da parte que, regularmente intimada>dei>ça
decorrer in albis o prazo para a realização do ato processual. Nesse aspect0
os prazos são classificados como prazos próprios, que têm a aptidão gera r
preclusào, e em prazos impróprios, que não geram preclusão, mas podem d a r
ensejo a uma penalidade de ordem administrativa.
Em outros termos, no caso de prazo próprio, a parte que deixa de produ^jr
o ato processual não poderá mais realizá-lo, na medida em que ocorre a p re
clusão. Dessa inércia podem decorrer variadas consequências, comoa revelia
quando se deixa de oferecer contestação ou o trânsito em julgado quando se
deixa de oferecer recurso de apelação. Já os prazos impróprios não geram p re
clusão, mas podem submeter aquele que deveria praticá-lo a uma penalidade
de cunho administrativa. É por isso que o magistrado que excede o Pra zo
de 30 dias para proferir sentença (art. 226, III, do CPC) continua obrigado a
fazê-lo, embora sujeito a sanções disciplinares se o atraso náo for ju$óficáve l.
Por fim, com relação a sua natureza, os prazos são classificados como p ra
zos dilatórios ou prazos peremptórios, sendo normal encontrar suaS deíini-
ções como aqueles que podem ser prorrogados (dilatórios) e aqueles que não
podem ser prorrogados (peremptórios) por convenção das partes. Incorreta,
porém, tal assertiva. Ocorre que formular a definição de um instituto com
base unicamente nos seus efeitos acaba por gerar uma proposição <lue nada
define, na medida em que tanto pode ser dito que o prazo é dilatório porque
pode ser prorrogado, quanto pode ser dito que o prazo pode ser prorrogado
porque é dilatório. Trata-se da velha brincadeira de quem nasceu primeiro; 0
ovo ou a galinha?
Ora, a fixação de um prazo pela lei pode atender ao interesse público ou
ao interesse particular. Quando se trata de dar preponderância ao interesse
público, o prazo é peremptório. Por isso, se for alterado, poderá ser afetado
o equilíbrio que levou a fixação do prazo, ocorrendo a violação de princípios
constitucionais, em especial os do contraditório e da ampla defesa. Porem,
com relação ao prazo dilatório, por preponderar o interesse da parte, torna-se
possível sua alteração, desde que ambas o façam de comum acordo. Em suma,
os prazos peremptórios atendem ao interesse público e, por isso, não podem
ser prorrogados; enquanto os prazos dilatórios atendem ao interesse particu
lar e, por isso, podem ser prorrogados.
Para que os prazos dilatórios possam sofrer alteração é necessário que
ambas partes estejam de acordo e que requeiram a redução ou prorrogação
antes do vencimento do prazo. Além disso, há necessidade de alegação de
um motivo legítimo para a alteração, cuja plausibilidade será apreciada pelo
magistrado no momento em que fixar o dia de vencimento do prazo pror
rogado ou reduzido. Havendo custas acrescidas em razão da prorrogação do
prazo, serão elas de responsabilidade daquele a quem beneficia a prorrogação.
Por fim, os prazos peremptórios estão previstos no art. 222, §1°, do CPC,
mas em casos excepcionalíssimos a lei permite que o juiz prorrogue esse
tipo de prazo. Isso poderá acontecer, por até sessenta dias, nas comarcas e
nas seções judiciárias onde for difícil o transporte, como acontece em muitas
localidades de Estados como o do Amazonas, onde o transporte muitas vezes
é fluvial ou aéreo, ou, em casos de calamidade pública (art. 222, §2°), ocasião
em que a prorrogação deve atender as peculiaridades do desastre, não estando
sujeito ao limite temporal de dois meses, previsto no caput do preceito.
16.4. Contagem.
Sendo o processo, em sua definição meramente analítica, um conjunto
de atos processuais coordenados à obtenção de uma determinada finalidade;
para que possa seguir seu caminho cada ato processual deve ter um prazo
previamente determinado, permitindo com isso uma evolução em direção ao
escopo pretendido. Em outros termos, o sistema prevê a existência de prazos
para a prática de todos os atos processuais, por vezes fixando esse prazo de
forma específica e, em havendo omissão, determinando que o juiz fixe o prazo
ou estatuindo regras gerais para certas categorias de atos processuais. São pra
zos lixados de forma específica pelo código, por exemplo, o prazo de 15 dias
para contestar (art. 335), o prazo de 15 dias para que a parte se manifeste sobre
documentos que a outra parte juntou aos autos (art. 437, §1°), o prazo de 15
dias para pagamento no cumprimento definitivo da sentença condenatória
(art. 523) e o prazo de 15 dias para interpor recursos, salvo no caso dos embar
gos de declaração (art. 1.003, § 5o).
Na ausência de um prazo específico, entretanto, caberá ao magistrado,
observados os princípios da brevidade e da utilidade, fixar o prazo para o
cumprimento do ato processual. É o que acontece, também, quando a via
processual não possui previsão legal, como acontece com o incidente de pré-
-executividade. Na sua omissão, entretanto, fecha o sistema o art. 218, §3°, do
CPC, ao dispor que em não havendo preceito legal nem outro prazo assinado
pelo juiz, será de cinco dias o prazo para a prática de ato processual a cargo
da parte.
Os prazos para o magistrado, por sua vez, estão previstos levando-se em
conta a natureza do ato processual praticado. Daí a previsão constante do art.
226, do CPC, segundo o qual o juiz deverá despachar em 05 (cinco) dias (inciso
1), proferir decisões interlocutórias em 10 (dez) dias (inciso II) e sentenciar em
até 30 (vinte) dias. Havendo motivo justificado, esses prazos podem ser exce
didos por igual tempo, por expressa disposição contida no art. 227, do CPC.
Após mais de 20 (vinte) anos de judicatura entendemos que, dentro de
condições normais de trabalho, que deveríam constituir a regra geral para
todos os órgãos jurisdicionais, os prazos fixados para o magistrado são exces
sivos. Isso porque o montante de 05 dias para proferir um despacho, que não
possui cunho decisório, por exemplo, apresenta-se como demasiadamente
excessivo. O mesmo acontece com os demais atos processuais. Por vezes uma
decisão interlocutória e até mesmo uma sentença apresentam grande facili
dade, podendo o magistrado a elaborar em menos de uma hora. Pense-se,
por exemplo, numa sentença de cobrança de condomínio ou em uma sen
tença despejo por falta de pagamento, onde há revelia, cuja complexidade é
praticamente nenhuma. Por outro lado, existem situações onde o magistrado
deverá fazer uma análise profunda do conteúdo do processo, estudar questões
que não domina, amadurecer seu convencimento, para só então proferir sua
decisão. Isso aconteceu em uma causa que tive a oportunidade de atuar, cujas
teses eram bastante complexas e o feito contava, na época «1a sentença, com 5 1
(cinqüenta e três) volumes. Mesmo aqui, a sentença foi prolatada antes de 30
(trinta) dias.
Porém, se o serviço está acumulado e o órgão jurisdicional não consegue
dar vazão aos feitos que lhe são endereçados, mesmo o prazo de 20 (vinte) dias
ou de 40 (quarenta) dias poderão não ser suficientes para que a decisão seja
proferida. Mas nesse caso, como se trata de prazo impróprio e há justificação
fundada no excesso de serviço, de nada adiantará a previsão legal.
Já o serventuário da justiça, por forca do disposto no art. 228, do CPC.
deverá remeter os autos à conclusão em um dia e executar os atos processuais
em até cinco dias; embora tais prazos também sejam considerados como pra
zos impróprios.
Por seu turno, quando da análise do princípio da não continuidade dos
prazos observamos que, no atual sistema, nos prazos fixados em dias se con
tam apenas os dias úteis, excluindo-se da contagem os dias em que não há
expediente forense. A estrutura do art. 231, do CPC, além de reiterar essa
regra, trata do termo inicial da contagem do prazo, também conhecido por
termo a quo. Trata-se do momento em que o prazo começa a ser contado. Daí,
nos exatos termos deste preceito, o termo inicial será, quando 7 - a data de
juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação ou intimação for
pelo correio; II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando
a citação ou a intimação for por oficial de justiça; III - a data de ocorrência da
citação ou da intimação, quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe de
secretaria; I V - o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz, quando
a citação ou a intimação fo r por edital; V - o dia útil seguinte à consulta ao teor
da citação ou da intimação ou ao término do prazo para que a consulta se dè,
quando a citação ou intimação fo r eletrônica; VI - a data de juntada do comu
nicado de que trata o art. 232 ou, não havendo esse, a data de juntada da carta
aos autos de origem devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação
se realizar em cumprimento de carta; VII - a data de publicação, quando a
intimação se der pelo Diário da Justiça impresso ou eletrônico; VIII - o dia da
carga, quando a intimação se der por meio da retirada dos autos, em carga, do
cartório ou da secretaria.”.
Já o prazo para a interposição de recursos, que em regra é de 15 dias, numa
análise conjunta dos art. 331 e 224, do CPC, começa a correr a partir do dia
seguinte a data em que os advogados sào intimados da decisão a recorrer ou,
se a decisão é proferida em audiência, a partir da data seguinte a da realização
da audiência.
Nada obstante a existência de um termo inicial para o decurso de todo
prazo, nada impede que a parte pratique o ato processual antes mesmo do
momento em que se dá esse termo a quo. O que no sistema anterior dependia
apenas do bom senso do magistrado, já que adiantar a prática de um ato não
implica em perder o prazo para praticá-lo, agora está expressamente previsto
no art. 218, § 4o, do CPC, segundo o qual não são intempestivos atos pratica
dos antes da ocorrência do termo inicial do prazo.
Iniciada a fluência do prazo, todavia, pode acontecer que a contagem fique
suspensa ou volte a fluir novamente. Quando o prazo se paralisa e volta a fluir
pelo que restava para o seu final ocorre à chamada suspensão do prazo pro
cessual. iMas quando o prazo volta a fluir integral, recomeçando sua contagem
desde o início, ocorre à chamada interrupção do prazo processual.
A razão mais comum para a suspensão dos prazos processuais é a ocor
rência do recesso forense (ou férias forenses), que se dá entre os dias 20 de
dezembro e 20 de janeiro de cada ano, por expressa disposição do art. 220, do
CPC. Durante esse período todos aqueles que atuam no processo (§1°), exceto
o advogado, exercerão as suas atribuições normal mente; mas fica vetado ao
magistrado realizar audiências durante o período e aos órgãos colegiados pro
ferir julgamentos.
Essa norma, com o devido respeito aos que sustentam o contrário, repre
senta verdadeiro atentado ao Estado Democrático de Direitos, pois cria bene
fício para os advogados que nenhum outro profissional liberal possui, impede
o magistrado e seus auxiliares, bem como outros agentes públicos de traba
lhar de modo adequado e, ainda, impede os juizes de segundo grau de proferir
julgamentos; tudo isso em detrimento do princípio da celeridade processual e
do direito do jurisdicionado. Daí a razão pela qual tal preceito, não atendendo
ao modelo constitucional do processo civil, pode ser acoimado de inconstitu
cional e deixar de ser aplicado, com a realização de qualquer ato processual
também durante o período previsto.
Ora, quando alguém opta por ser magistrado já sabe, previamente, que
não poderá comerciar ou se candidatar a cargo político partidário. Quando
alguém opta por fazer medicina, já sabe que terá de realizar residência médii >i
para poder exercer sua atividade. Mesmo quem faz direito já sabe, previa
mente, que terá de prestar exame da ordem dos advogados para obter o título
e poder exercer a profissão de advogado. Se assim é, então porque quem opta
por ser profissional liberal, sabendo previamente que sua atividade deve sei
contínua, recebe da lei a benesse de um período onde pode ficar sem exen ei
sua atividade, isso enquanto todos os demais envolvidos no processo devem
exercer suas respectivas tarefas? Qual a razoabilidade do discrimen e qual .1
sua pertinência com o sistema jurídico? Com certeza nenhuma. Por isso que
tal regra também infringe o princípio da isonomia, devendo deixar de sei
aplicada. Não bastasse, a norma impede os magistrados de segundo grau de
julgarem, o que é sua função precípua. Nesse passo, se os órgãos colegiados
não podem proferir julgamentos, então o que ficaram fazendo os seus inte
grantes nesse período?
Outros motivos para a suspensão do curso do prazo estão expressos no
art. 221, do CPC, dizendo respeito à ocorrência de obstáculo criado pela parte
contrária para a prática do ato processual ou a concretização de quaisquer das
hipóteses contidas no art. 313, do CPC, que em verdade apresenta regra geral
para a suspensão do próprio curso do procedimento.
Além dessas hipóteses, o próprio código prevê inúmeros casos de suspen
são de prazos processuais ou de suspensão do próprio processo, como acon
tece com a admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas, onde
o relator determinará, por força do disposto no art. 982, I, do CPC, a sus
pensão dos processos pendentes, em primeiro e segundo graus de jurisdição,
até a solução do incidente. O mesmo acontece no que toca a interrupção dos
prazos processuais, ocasião em que voltam a correr desde o seu início, como
na hipótese de interposição de embargos de declaração, que na forma do art.
1.026, do CPC, interrompem o prazo para a interposição de outros recursos
por qualquer das partes.
Transcorrido o prazo previsto em lei ou fixado pelo magistrado, na forma
prevista no art. 223, do CPC, ocorre o termo final ou termo ad quem, inde
pendentemente de declaração judicial, operando-se a preclusão de emendar
ou praticar o ato processual. Nada impede, porém, que a parte comprove que
o ato processual não se realizou por justa causa, ocasião em que o magistrado
fixará novo prazo para a realização do ato (§2°).
Por fim, havendo qualquer anomalia quanto ao transcurso dos serviços
forenses, como o fechamento do fórum ou o encerramento do expediente
.uitcs do horário normal, tal data não será considerada como dia útil, sendo
excluída da contagem do prazo.
16.7. Preclusão.
No início do presente capítulo afirmamos é essencial ao desenvolvimento
do processo à existência de um sistema de prazos para a prática dos atos
processuais, bem como de um sistema de preclusòes, isso para impedir o
retrocesso da parte do procedimento já ultrapassada. Na linguagem de Cris-
lln.i Ferraz “em nossa vida, o tempo está vinculado a idas sem retorno, a não
ier por meio da memória. Ê impossível retornar a um dia que já passou. Muta-
tis mutandi, o professor José Lisboa da Gama Malcher compara o procedimento
11 um canal de eclusas, em que a preclusão atuaria 'como as comportas que se
In liam, uma a uma, à medida que por elas passa o navio. .".627 Real mente, para
que o procedimento possa seguir o iter previsto em lei, torna-se necessário
encerrar e definir o momento anterior para que se possa seguir no momento
posterior. Sem esse mecanismo corre-se o risco de que os atos processuais
-.«•jam repetidos de forma infindável, com a eternização da demanda. Essa a
u /ã o da existência da preclusão.
A doutrina acerca do tema parte necessariamente da posição de Chiovenda
que, em diversas oportunidades, afirmou que “a preclusão c um instituto geral
mm freqüentes aplicações no processo e consistente na perda de uma faculdade
processual por se haverem tocados os extremos fixados pela lei para o exercício
desta faculdade no processo ou numa fase do processo.".62* Em outras pala
vras, a preclusão pode ser considerada, de uma forma geral, como a perda de
uma faculdade processual, isto é, como a perda da possibilidade de praticar
um determinado ato processual. Seguindo essa doutrina alerta João Batista
l.opes para a existência de três modalidades de preclusão, aduzindo que “para
impedir retrocessos ou repetições de atos, a lei processual vale-se do instituto
da preclusão, que se conceitua como a perda da faculdade de praticar um ato,
em razão do decurso do prazo respectivo (preclusão temporal) ou por já ter sido
praticado o ato pretendido (preclusão consumativa), ou, ainda, por já ter sido
praticado ato incompatível com o pretendido (preclusão lógica).”.629
São três, portanto, as modalidades de preclusão: a) a temporal, que acon
tece quando a parte deixa de praticar o ato processual no prazo fixado pela
lei ou pelo magistrado (ex.: perda de prazo para contestar); b) a lógica, que
acontece quando a parte pretende praticar ato contrário a ato que praticou
anteriormente (ex.: parte se arrepende de acordo formulado e apela da sua
FERRAZ, p. 43.
' CHIOVENDA, Giuscppe. I n s t i t u i ç õ e s d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. Campinas: Bookseller, 1998. p.
homologação pelo magistrado); e, c) a consumai iva, que acontece quando n
parte pretende praticar novamente ato que já praticou (ex.: réu que pretendí
emendar a contestação). Nessas três hipóteses estará a parte impedida de pra
ticar o ato processual por perder a faculdade de fazê-lo nos autos em que .<
deu a preclusão.
Há quem acrescente a estas três espécies de preclusão uma quarta espc
cie. Para Fredie Didier Jr., por exemplo, há necessidade de complementar a
classificação apresentada para nela acrescer a preclusão decorrente de ato ili
cito, denominada preclusão punitiva. A esse respeito alerta o autor que "llii
alguns exemplos no direito positivo, em que se vislumbra a perda de um podet
processual (preclusão), como sanção decorrente da prática de um ato ilícito: I)
perda da situação jurídica de inventariante, em razão da ocorrência dos ilícito.*
apontados no art. 995 do CPC;... [...] Em todas essas hipóteses, há a perda «/<
um poder jurídico processual decorrente da prática de um ato ilícito; há, pois,
preclusão decorrente de um ilícito e não do descumprimento de um ônus.”.'’'"
Fundado nas lições de Riccio e levando em consideração as mesmas idéias.
Antonio Alberto Alves Barbosa denomina essa quarta espécie de preclusão
ordinatória, alertando que ela "...nasce do exercício irregular de uma faculdade
processual. Se a faculdade processual deve ser exercida de determinado modo <•
segundo determinadas formas, decorre disso que o exercício irregular precludc.
nos casos estabelecidos pela lei, qualquer outro exercício.".6"
Nada obstante, preferimos a adoção da classificação tradicional, já que
as hipóteses que tipificam as situações jurídicas acima mencionadas, salvo
melhor juízo, também caracterizam a prática de um ato processual, embora
de forma não adequada. Daí, cremos, todas as hipóteses aventadas podem ser
abarcadas pela preclusão consumativa, já que algum tipo de ato foi efetiva
mente praticado.
Por fim, cabe observar que a decretação da ocorrência da preclusão não
caracteriza uma punição no processo, mas sim a perda de uma possibilidade,
o que a caracteriza como o resultado de um ônus processual não cumprido.
6M> DIDIER IR, Fredie. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. Salvador: Podium, 2007. v. 01, p. 254-255.
631
BARBOSA, Antonio Alberto Alves. D a p r e c lu s ã o p r o c e s s u a l c iv il. 2* e.. Sáo Paulo: RT, 1992. p. 35
i\ j ii.v/nm u u j r ivuv<i J 1 I
Verificação de Aprendizagem
ui Defina prazo processual.
li.’ Quais são os princípios informativos da teoria dos prazos?
l i C o m o se classificam os prazos?
III O que são prazos dilatórios e prazos peremptórios?
(IV Qual a distinção entre suspensão e interrupção de um prazo?
Il<>. De qual instrumento dispõe o interessado para atacar atraso injustificado
da prática de ato processual pelo magistrado?
1)7. Em que consistem os feriados forenses?
OK. O que é preclusão? Quais são suas espécies?
u v m s ft* - k tt.tT n .iifv » i
Ilibliografia
BARBOSA, Antonio Alberto Alves. Da preclusão processual civil. 2a e.. São
Paulo: RT, 1992.
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MONIZ DE ARAGÃO, Egas Dirceu. Comentários ao código de processo civil.
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THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 47a e.. São
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17. ATOS PROCESSUAIS EM ESPÉCIE
17.1. Comunicações dos atos processuais. 17.2. Das cartas. 17.3. Da citação. 17.3.1.
Noções gerais, a) Definição e natureza jurídica. b) Necessidade, c) Destinatário e local.
17.3.2. Efeitos. 17.3.3. Modalidades, a) Citação real indireta: correio e meio eletrônico,
b) Citação real direta: oficial de justiça e escrivão, c) Citação ficta ou presumida: edital
e hora certa. 17.4. Intimações. 15.5. Distribuição e registro. 17.6. Do valor da causa, a)
Necessidade e mensuraçâo. b) Finalidades, c) Impugnação.
discutir interesses recíprocos.".*” Neste mesmo sentido a colocação de Joigi (Oivstar no art. 238. do CPC, que a “citação é o ato pelo qual são convocados
Americano, para quem “citação é o chamamento ao juízo para atender à causa 0 réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual." Essa
ou para praticar algum ato judicial. Faz-se, em regra, a requerimento da parle atual definição do instituto, como se vê, apresenta três alterações relevantes
e por exceção, ex-ofício como no juízo administrativo, ou para diligências, no quando comparada com a definição anterior. Por primeiro, houve a substi
despacho saneador:”.636 já o CPC de 1973 houve por bem definir o ato pro tuição do verbo chamar pelo verbo convocar, situação que acentua a idéia de
cessual da citação, aduzindo em seu art. 213 que “Citação é o ato pelo qual se obrigatoriedade do comparecimento ao processo e da possibilidade daquele
chama a juízo o réu ou o interessado, a fim de se defender." que se ausenta de sofrer algum tipo de penalidade (no caso do réu a revelia).
1 m segundo lugar houve um alargamento da definição legal para abranger
Observa-se, portanto, que nos sistemas processuais anteriores a citação
também o executado, além do réu e do interessado. Por fim, agora a convoca
era concebida como o ato que chamava o réu ao processo, vinculando a sua
rão não mais se dá para o oferecimento de resposta, mas sim para integrar o
finalidade a possibilidade do oferecimento de defesa. Em outros termos, dois
processo ou, nos exatos termos da lei, da relação jurídica processual.
elementos eram observados para caracterizar o ato processual como sendo a
citação: a) o chamamento inicial de alguém a juizo e b) a finalidade de, que Por sua vez, distribuída e encaminhada ao juízo à petição inicial, não sendo
rendo, oferecer resposta. Em razão disso a definição legal era criticada pela o caso de julgamento prima facie, deve o magistrado exercer juízo de admis
doutrina sob o argumento de que, por vezes, não se cita alguém para oferecei sibilidade para aferir se estão ou não presentes os requisitos da petição inicial,
defesa, mas sim para participar no processo de outra forma. Era o que acon mandando emendá-la em caso negativo ou mandando citar o réu, o execu
tecia, por exemplo, com a citação do ministério público para participar do tado ou o interessado em caso positivo. Essa decisão inicial, que no processo
processo na qualidade de custos legis. de conhecimento normalmente se resume aos dizeres 7. Recebo a inicial. II.
Cite-se para audiência de conciliação no setor competente, com as advertências
Por tais razões, após apresentar a objeção da doutrina a respeito do tema,
de praxe. Intime-se.” (art. 334, do CPC), dá a entender que o juiz profere uma
André De Luizi Correia procurou ampliar a definição legal para abarcar os
decisão que pode ser classificada como despacho, já que aparentemente nada
demais casos em que se realizava a citação, definindo-a como o “...ato judi
resolve. Mas qual será, efetivamente, a natureza jurídica desta decisão? Des
ciai que tem por finalidade comunicar ao sujeito passivo da relação processual
pacho ou decisão interlocutória?
(réu e litisconsortes passivos) ou aos interessados, que fo i ajuizada demanda ou
procedimento de jurisdição voluntária, a fim de que possam, querendo, vir se No sistema do CPC de 1973 a resposta a tal questão ganhou enorme relevo,
defender ou se manifestar, dando-se-lhes oportunidade, dessa forma, de exercer na medida em que a definição da natureza do ato implicava na possibilidade
o fundamental direito ao contraditório (no caso do réu e litisconsortes passi ou não da interposição de recurso de agravo. Por isso, após um vacilo ini
vos) ou o fundamental direito de ação (no caso dos interessado em integrar a cial acerca do tema, a jurisprudência da época praticamente se pacificou no
lide)”.6” sentido de que se tratava de um despacho, sendo inviável a interposição de
recurso. Tal se deu, em verdade, não em função da real natureza jurídica do
Observando as objeções da doutrina e em atenção à evolução natural do
instituto, mas sim porque durante longo período o que se via era a interposi
instituto, o atual sistema processual alterou a definição do instituto, fazendo
ção de agravo da decisão e de mandado de segurança para paralisar o curso
do processo - depois substituído pelo pedido de efeito suspensivo ao relator do
“ s DE PLÁCIDO E SILVA. Comentários ao código de processo civil. 4* e.. Rio de Janeiro: Forense, recurso - situação que causava enorme prejuízo ao normal desenvolvimento
1956. 2° v, p. 09.
do feito, que em muitas ocasiões se eternizava por conta da habilidade dos
6,6 AMERICANO, Jorge. Comentários ao código do processo civil do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1940.
p. 307. advogados dos litigantes.
CORREIA, Andrc De Luizi. A citação no direito processual civil brasileiro. São Paulo: RT, 2001. p,
33.
Nada obstante, embora aparentemente nada resolva, o lato do magistrado
determinar a citação implica, forçosamente, no reconhecimento de que a ini
ciai foi examinada e de que o magistrado considerou presentes todos os requl
sitos necessários à regularidade formal do processo, que pode seguir no ih t
processual previsto em lei. O ato processual que ordena a citação, atualmenti
caracteriza uma decisão interlocutória, razão pela qual deve ser praticado pelo
magistrado, não se incluindo naqueles atos que podem ser praticados de ofú Io
pelos auxiliares do juízo (art. 203, §4°, do CPC). Desta decisão, porém, poi
falta de previsão legal, não cabe a interposição de recurso.
b) N ecessidade.
Sendo o processo necessariamente permeado pelo contraditório, torna se
necessário que o ato inicial de convocação para a integração no processo seja
realizado, sob pena de desrespeito ao sistema de garantias previsto pela Cons
tituição da República. Tratando da necessidade da citação e ainda sob a égidi
do CPC de 1973, asseverava Moacyr Amaral Santos que “Já em respeito no
princípio do contraditório, que não admite exceções, já por se tratar de ato
constitutivo da relação processual (Cód. cit., art. 263), a citação é ato necessá
rio, indispensávehj...] Sem citação, nulo é o processo: não se integrou a relação
processual. Tal nulidade pode ser alegada em qualquer momento do processo
e, ainda que transitada em julgado a sentença, por via de ação rescisória (Cód
cit., art. 485, VJ.".638
Essa necessidade, outrossim, estendia-se a todos os tipos do processo e até
mesmo aqueles que poderíam ter seguimento conjunto, o que levou Moniz de
Aragão a afirmar que “A exigência da lei, por outro lado, se endereça aos pro
cessos de conhecimento, de execução e cautelar, assim como aos procedimen
tos de jurisdição voluntária. A citação inicial para um não vale com relação a
outro, ainda que todos estejam pendentes, ...”.639
De fato, mediante o ato de citação o réu, o interessado ou o executado
tomam conhecimento do processo e são convocados a comparecer a juízo,
importando a sua inércia na ocorrência de ônus que, eventualmente, acabarão
por selar a sorte da demanda. O réu que é citado e não comparece a juízo, por
' " SANTOS, Moacyr Amaral. P r im e ir a s l i n h a s d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 24* e.. São Paulo: Saraiva,
2008. v.2, p. 174.
"w M O N I Z D E A R A G À O .p . 227.
'"templo, deixando de oferecer resposta, suportará a presunção de veracidade
ilie, latos articulados na inicial, o que na grande maioria dos casos leva ao
acolhimento do pleito formulado pelo autor. Seja, portanto, por imposição
do modelo constitucional do processo civil, seja para evitar a ocorrência de
•atuações normalmente contrárias ao direito da parte, a citação demonstra-se
necessária ao desenvolver do processo.
Nada obstante a efetiva necessidade da citação e em que pese à redação
dada ao art. 239, do CPC, segundo a qual para a validade do processo é indis
pensável a citação (grifo nosso); é questionável se a sua falta gera conseqüên-
t ias no plano da existência ou da validade do processo. Para os que adotam a
posição tradicional e majoritária de que a citação é pressuposto de existência
do processo, sua ausência importará na não existência do processo e não na
sua invalidade, como prescreve o artigo em epígrafe, permitindo que a qual
quer tempo seja reconhecida, até mesmo em ação autônoma, a inexistência
do feito. Já para aqueles que entendem que a citação é pressuposto de desen
volvimento válido e regular do processo, a sua ausência gera efeitos quanto à
validade do feito, situação que se amolda à previsão legal.
Qualquer que seja a posição adotada, porém, o comparecimento espontâ
neo do réu ou do executado supre a falta ou a nulidade da citação (art. 239,
<d°), desde que, à evidência, deles não resultem quaisquer prejuízos para o réu
ou para o executado. Nesse caso, será a partir do comparecimento que passará
a fluir o prazo para o oferecimento de defesa, pois é nesse momento que resta
documentada a ciência inequívoca que o sujeito passivo tem do processo e do
seu conteúdo.
Todavia, se a parte comparece ao processo apenas para alegar a ausência
ou a nulidade da citação, pedindo que o juiz decrete a nulidade do feito a par
tir de certo momento procedimental, então o prazo para o oferecimento de
defesa passará a fluir da intimação da decisão que decretou a nulidade. Mas
se o juiz não acolher a alegação, então será aplicado o art. 239, §2°, do CPC,
segundo o qual no processo de conhecimento o réu será considerado revel
(inciso I), enquanto no processo de execução os atos executivos terão normal
prosseguimento (inciso II).
c) D e s t i n a t á r i o e lo c a l.
Tendo em vista que a citação foi definida como o ato processual que tem
por finalidade convocar o réu, o executado ou o interessado para que venham
integrar o processo, resta certo que são estes os seus respectivos destinatário-,
Daí a razão pela qual o art. 242, do CPC, eliminou uma impropriedade exh
tente na redação no art. 215, do CPC de 1973, que se referia apenas ao réu r
não mencionava o executado e o interessado como os destinatários da citação
Portanto, além do réu, também o executado e o interessado podem ser citado-,
na pessoa de seu representante legal ou na pessoa de seu procurador legal
mente autorizado ao recebimento da citação.
Outrossim, também não há maiores problemas com relação ao local onde
pode ser realizada a citação, na medida em que o art. 243, do CPC, seguindo
a regra geral que já era estabelecida pelo art. 216, do CPC de 1973, afirma que
a citação poderá ser feita em qualquer lugar em que se encontre o réu, o exe
cutado e o interessado.
Os problemas surgem, todavia, quanto as exceções as regras gerais, que
estão previstas nos art. 244 e 245, do CPC, mesclando proibições decorrente-,
do estado das pessoas que deverão ser citadas, com proibições decorrentes dos
locais onde estas pessoas estão. Aqui o que se pretende é preservar a dignidade
do citando, evitando a exposição desnecessária de sua imagem perante tercei
ros, bem como por questões de ordem humanitária.
Por isso não se fará à citação do réu, do executado ou do interessado, salvo
quando houver necessidade de evitar o perecimento de um direito (v.g. a deca
dência ou a prescrição do direito objeto de litígio), nas hipóteses elencadas
pelo art. 244, do CPC. Na primeira exceção preserva-se aquele que está assis
tindo a um culto religioso de qualquer natureza, mas nada impede que a cita
ção se realize logo após o término da cerimônia, desde que fora do local onde
o culto se realizou. Já os incisos II e III preservam um período posterior ao
falecimento de um parente e um período posterior ao casamento dos citan
dos, denominados período de nojo (oito dias) e período de gala (três dias),
respectivamente. Finalmente, o art. 242, IV, do CPC, protege os doentes em
estado grave, que somente deverão ser citados quando houver uma melhora
do seu estado de saúde, sem a fixação de um prazo determinado para tal.
Do mesmo modo, por força do disposto no art. 245, do CPC, não se fará
t ilação quando se verificar que o citando é mentalmente incapaz ou está
impossibilitado de recebê-la. Na primeira hipótese se enquadram os já inter
ditados c aqueles que, embora ainda não legalmente incapazes, exibem vee
mentes sinais externos de incapacidade. Nesse caso deverá o oficial de justiça
M itificar de forma pormenorizada as razões que o levaram a concluir pela
17.3.2. Efeitos.
Repetindo parcialmente a redação do art. 219, do CPC de 1973, o art. 240,
do CPC, trata dos efeitos produzidos pela citação válida, ou seja, pela citação
que obedeceu a todas as prescrições legais para sua realização. Não havendo
obediência a forma prescrita por lei a citação não será válida e, portanto, não
produzirá os efeitos que dela se esperam para que o processo tenha um desen
volvimento válido e eficaz.
Tais efeitos podem ser classificados, segundo a doutrina majoritária, em
efeitos de natureza processual, já que se produzem no âmbito de institutos
de direito processual, ou em efeitos de natureza material, já que se produzem
no plano de institutos de direito material. Este diz respeito à constituição em
mora do devedor; enquanto àqueles são a litispendência e a litigiosidadc do
objeto do processo. O sistema processual anterior (art. 219, do CPC de 1973)
também relacionava como efeito de natureza processual da citação válida .1
prevenção do juízo e como efeito de natureza material a interrupção da pres
crição. Mas no sistema atual ocorre a prevenção do juízo independente de tal
ato, bastando à distribuição do feito, isso por força do disposto no art. 59, dn
CPC, segundo o qual a mera distribuição da petição inicial torna prevento
o juízo; e, para a interrupção da prescrição, basta 0 despacho do magistrado
ordenando a citação (art. 240, §1°).
Ao dizer a lei que a citação válida produz litispendência, está estabelecendo
que todos os feitos com as mesmas partes, o mesmo pedido e a mesma causa
de pedir posteriores deverão ser extintos porque são iguais ao processo que
gerou a litispendência (art. 485, IV, do CPC). Com isso a lei evita a existência
de processos idênticos e que poderíam, em tese, gerar decisões opostas, tor
nando-os inexequíveis, em evidente desprestígio a atividade jurisdicional e ao
princípio da economia processual.
O segundo efeito processual da citação válida é tornar o objeto do processo
litigioso. Segundo esclarece Moniz de Aragão “Coisa, no texto da lei, não quer
dizer 0 bem móvel ou imóvel sobre o qual verse 0 litígio. O conceito de res em
Direito Romano, que informa 0 de coisa no artigo comentado, é bastante mais
amplo, como se pode notar na locução res in indicio dedueta, da qual resultará
a res iudicata. Trata-se, ao que parece, da relação jurídica objeto da ação. Bar
bosa Moreira observa que se trata do ‘direito deduzido pelo autor’.”.640
Por razões de ordem prática, já que o tema merece uma reflexão mais apro
fundada e que não deve ser efetivada no âmbito de um curso, cuja proposta
reside apenas numa apresentação fundamentada dos institutos, adotamos
a idéia de que 0 objeto litigioso do processo é a relação jurídica de direito
wo Idem, p. 255.
material controvertida; sem deixar de observar que existe larga controvérsia
a respeito do tema, com autores clássicos a sustentar que o instituto possui
natureza eminentemente processual, como faz Karl Heinz Schwab'’41 após
explanar as várias teorias a respeito da matéria.
Pelas mesmas razões práticas deixaremos de questionar, por ora, a clas
sificação deste efeito como sendo ou não um efeito de ordem processual, na
medida em que o objeto litigioso, além de ficar vinculado ao processo, tam
bém gera limitações no plano do direito material, como a limitação quanto à
disponibilidade de determinados bens.
O efeito que se projeta sobre o plano do direito material é a constituição em
mora. Em outros termos, desde que não exista regra em contrário e de forma
subsidiária ao que está disposto na lei civil, considera-se em mora o sujeito
passivo a partir do momento em que ocorre a citação válida. Daí a razão pela
qual se costuma ver, na parte dispositiva das sentenças condenatórias, a fixa
ção do valor da condenação seguida da frase "...acrescida de correção monetá
ria a partir da propositura da ação e de juros de mora, no montante de 1% (um
por cento) ao mês, a partir da citação.”.
Trata-se, porém, de uma regra que visa complementar o que está disposto
no art 397, do CC, como, aliás, consta expressamente da parte final do próprio
art. 240, do CPC; pois se aplica apenas quando não se trata de obrigação posi
tiva e líquida, sujeita a termo, situação em que a mora decorre da própria ina
dimplência (art. 397, caput), ou, quando não há termo, de interpelação judicial
ou extrajudicial (art. 397, parágrafo único).
Por fim, embora não se trate de um efeito que decorre da citação válida,
mas sim da decisão que determina a citação, a interrupção da prescrição, assim
como acontece com a litispendência, deve ser reconhecida desde o momento
em que a ação é distribuída, já que o art. 240, §1°, confere a este efeito eficácia
retroativa. Assim não fosse, ficaria fácil para o citando se ausentar tempora
riamente dos locais onde habitualmente é encontrado, isso para frustrar o
ato de citação e obter, de modo indevido, a ocorrência da prescrição. Tam
bém nunca é demais rememorar que interromper um prazo difere de suspen
der um prazo, já que neste caso o prazo volta a correr pelo período restante,
M l
SCHAWAB, Karl Heinz. E l o b je to litig io s o e m e l p r o e e s o c iv il. Buenos Aires: Ediciones Jurídicas
Europa America, 1968.
enquanto naquele o prazo volta a correr desde o seu início. Todavia, para que arta para o endereço do citando, acompanhada dos dados necessários para
se dê efetivamente à retroação da interrupção da prescrição ou da litispcn que tenha conhecimento do processo e possa intervir em tempo hábil para
dência ao momento da propositura da ação, deverá o sujeito ativo viabilizai a eletlvar sua defesa. Tal sistemática, que não existia quando da entrada em
citação do réu, interessado ou executado nos dez dias seguintes ao despacho vigor do CPC de 1973, foi encartada no art. 222 daquele diploma por força
que a ordenar (§2°), não sendo o autor prejudicado pela demora imputávcl do disposto na Lei n° 8.710, de 24 de setembro de 1993, com a finalidade de
exclusivamente ao serviço judiciário. agilizar a prática do ato processual e tendo em vista a imensa confiabilidade
d.i qual desfruta o correio no Brasil, há décadas sinônimo de eficiência e de
17.3.3. Modalidades. precisão nos serviços que presta.
Embora existam várias formas através das quais se realiza a citação do réu, Nesse passo, pertencendo o endereço do citando ao território da própria
do interessado ou do executado, as modalidades do ato processual costumam iomarca onde tramita o feito ou a outra localidade, em qualquer local do País,
ser agrupadas como citação real ou citação ficta, que também é conhecida o magistrado determina a citação pelo correio e a unidade judiciária provi
pela denominação de citação presumida. Na citação real o ato é efetivamenlr dencia a expedição de uma carta de citação, que deverá ser instruída com
praticado, sendo certo que o citando teve ciência inequívoca do processo no uma cópia da petição inicial (denominada contra-fé) e uma cópia da decisão
qual deve intervir. Essa modalidade, por sua vez, pode ser subdividida em que determinou a citação. Devem constar da carta, ainda, sob pena de gerar
citação direta ou indireta, esta efetivada sem contato direto com o citando dúvida e com isso impedir a ampla defesa do citando, o prazo para a resposta,
e aquela realizada em contato direito com o citando. Já na citação ficta ou o endereço do juízo e o endereço do cartório (art. 248, do CPC); bem como,
presumida não ocorre à prática efetiva do ato processual, mas sim a prátic.i por força do que dispõem o art. 248, §3°, do CPC, todos os elementos infor
de atos que permitem ao citando ter ciência da demanda e nela intervim em mativos que também devem constar no mandado de citação, previsto no art.
tempo hábil para a defesa dos seus interesses. 250, do CPC.
São consideradas citações reais diretas as realizadas pelo oficial de justiça A carta de citação deve ser registrada e o carteiro deverá exigir do citando,
ou pelo escrivão e citações reais indiretas as feitas pelo correio ou por meio quando fizer a entrega da correspondência, que assine recibo (art. 246, §1°).
eletrônico. As citações fictas ou presumidas, por sua vez, são as citações por Nesse caso admite-se também que a correspondência seja recebida por quem
hora certa e por edital. Planificando obtemos o seguinte gráfico: está encarregado recebe-la, como acontece no caso da portaria dos prédios
- Direta: a) Oficial de Justiça ou b) Escrivão residenciais ou comerciais, onde os porteiros recebem a correspondência ao
Real invés dos respectivos condôminos ou representantes da pessoa jurídica que
deverá ser citada, na forma prevista no art. 248, §§2° e 4a, do CPC.
- Indireta: a) Correio ou b) Meio eletrônico
O próprio art. 247, do CPC, todavia, excepciona cinco hipóteses em que a
- Modalidades citação não será realizada pelo correio, isso em razão de uma especial situação
Ficta ou presumida: a) Edital ou b) Hora certa. em que se encontra a pessoa que será citada. São elas / - nas ações de estado,
Vejamos, pois, cada uma destas modalidades de citação, onde a carta de citação poderia, em razão das circunstâncias do direito posto
em juízo, ser encaminhada para o próprio endereço do autor da demanda, que
a) C itação real indireta: correio e m eio eletrônico.
sendo autor está impedido de receber a citação do réu; II - quando o citando
Dentre todas as formas de citação existentes, a citação efetivada pelo cor for pessoa incapaz, já que nesta hipótese o réu pode não ter capacidade para
reio deve ser considerada a regra geral para a realização deste ato processual, entender a realidade e em que consiste aquela comunicação que recebe; III -
estando disciplinada nos art. 247 e 248, do CPC. Trata-se da emissão de uma quando o citando fo r pessoa de direito público, onde há mais um benefício em
prol do Estado; IV quando o réu residir em local não atendido pela entrega meio."; demonstrando que quando houver necessidade de intim ar litigante
domiciliar de correspondência; ou, V quando o autor, justificadamente, a que não é grande empresa e uma grande empresa será utilizada a via comum.
requerer de outra forma; situação em que o magistrado deverá observar se as
razões aduzidas pela parte são ou não plausíveis para determinar que a cita», ao b) Citação real direta: oficial de justiça e escrivão.
se faça por meio de oficial de justiça. Nas espécies de citação real direta o oficial de justiça ou o escrivão, em
Vê-se, pois, que a citação pelo correio não implica na participação direta contato direto com o citando e no exercício das suas atribuições, onde gozam
de um funcionário do Poder Judiciário na entrega do documento ao citando, de fé pública, realizam o ato processual dando ciência ao citando de todos os
razão que dá ensejo, como observado, a sua classificação como citação indi dados que obrigatoriamente devem constar no mandado de citação, lendo-o e
reta. O mesmo se dá com a citação realizada por meio eletrônico, onde a entregando-lhe a contrafé, que é uma cópia fiel da petição inicial distribuída,
comunicação é emitida para um endereço eletrônico previamente fornecido excluídos os documentos que a acompanham.
pelo citando, mas não há o contato direto entre os interlocutores.
Sendo regra geral a citação indireta, seja pelo correio, seja por meio ele
O art. 246, §1°, do CPC, introduziu em nosso sistema regra relativa às cita trônico, a citação direta apenas acontecerá quando a citação pelo correio se
ções e as intimações por meio eletrônicos que, ao que se espera, contribuirá frustra (art. 249, do CPC) ou quando o citando comparece espontaneamente
sobremaneira para a redução dos serviços cartorários relativos a prática de ao cartório, sabendo ou não da existência do feito, ocasião em que caberá ao
tais atos processuais. Isso porque o preceito dispõe que as empresas públicas escrivão efetivar o ato processual (art. 246, III, do CPC).
e privadas, à exceção das micro e das pequenas empresas, estarão obrigadas
Para a realização do ato processual fora do cartório será expedido um
a criar um endereço eletrônico destinado exclusivamente ao recebimento de
citações e de intimações; situação que evitará o gasto de tempo e de emissão mandado de citação que deverá, sob pena de nulidade, apresentar todas as
de cartas destinadas a prática de tais atos. O mesmo se dá quanto à União, aos informações que são relacionadas no art. 250, do CPC. Embora formalmente
Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades da administração não seja exigido mandado para a citação em cartório, como as informações
indireta, por força do disposto no §2°, do mesmo preceito. nele constantes devem ser obrigatoriamente fornecidas ao citando, isso para
evitar futura alegação de nulidade, na prática a melhor solução será imprimir
Ora, embora existam inúmeras e por vezes díspares estatísticas acerca da
uma cópia do mandado, com todas as advertências e informações necessárias,
litigiosidade das grandes empresas, sabe-se hoje que uma grande parte dos
repassando-o juntamente com a cópia da inicial para o citando.
feitos em tramitação, senão a sua maioria, envolve o Estado e as suas entida
des administrativas, as instituições financeiras (bancos, financeiras, segura Expedido e cumprido o mandado de citação, nos termos previstos no art.
doras), as empresas de telefonia, as empresas de planos de saúde e as grandes 251, do CPC, deverá o oficial de justiça ou o escrivão ler o conteúdo do m an
empresas varejistas (supermercados, magazines, etc), dentre outras; que agora dado e entregar a contrafé ao citando, certificar todo ocorrido e informar
têm centralizado o endereço para o recebimento de tais comunicações, pou se o citando recebeu ou recusou a contrafé e, ainda, colher a assinatura do
pando em muito o trabalho realizado pelos auxiliares do juízo. citando após o termo ciente ou certificar que ele não quis assinar o recebi
Tal sistemática que acreditamos ser uma regra de ouro para a citação, não mento da contrafé. Tais informações serão certificadas no verso do mandado
terá uma repercussão tão generosa no que toca as intimações, já que aqui ou em folha que lhe segue pelo oficial ou pelo escrivão, que deverá descrever
ambas as partes teriam que se enquadrar na categoria de grandes empre de maneira pormenorizada as diligências encetadas para localizar e citar o
sas, o que muitas vezes não acontece, fazendo-se as intimações pela maneira réu, o interessado ou o executado; bem como, diante da sua recusa, descrever
comum, como adiante se verá. Daí a razão pela qual a parte final do art. 244, fisicamente o citando, indicando qual é a sua aparência física e sinais caracte
§1°, utiliza a expressão “as quais serão efetuadas preferencialmente por esse rísticos, se os tiver. Se os servidores reputarem existentes outras informações
relevantes, nada impede que a façam constar cia sua certidão, facilitando .1
prática de atos processuais futuros.
Embora não exista disposição especial a tal respeito, nada impede que tam
bém o magistrado realize diretamente a citação do réu quando este compa
rece em audiência relativa a outro processo. Nesse caso, entretanto, também
deverá cumprir as exigências legais para a validade da citação e, ainda, deverá
documentar de maneira pormenorizada o ocorrido no termo de audiência,
entregando ao citando os documentos relativos à ação da qual se vê citado.
Da mesma forma, em que pese a não existência de norma expressa, em se
tratando o citando de pessoa que demonstre desconhecer questões de natu
reza jurídica, deverão o oficial ou o escrivão explicar todas as conseqüências
do ato processual e as providências que devem ser tomadas, embora lhes seja
vedado indicar advogado para patrocinar a causa ou mesmo orientar o citando
a praticar qualquer ato processual desacompanhado de patrono regularmente
constituído. Ao contrário, sendo o citando ou seu representante advogado,
não haverá necessidade de explicitar as advertências de modo enfático, sob
pena de menosprezar a capacidade profissional daquele que está recebendo a
citação.
Por fim, enquanto o escrivão somente realiza a citação quando o citando
comparece em cartório; o oficial de justiça somente deverá realizá-la, em
regra, no território da comarca onde está lotado. A exceção se encontra no art.
255, do CPC, segundo o qual “nas comarcas contíguas de fácil comunicação e
nas que se situem na mesma região metropolitana, 0 oficial de justiça poderá
efetuar, em qualquer delas, citações, intimações, notificações, penhoras e quais
quer outros atos executivos.”. Esse preceito, que na redação original do CPC de
1973, não se referia as regiões metropolitanas e que, antes do atual sistema,
não abarcava as penhoras e quaisquer outros atos executivos, causa ao autor
nostalgia, já que foi objeto de questionamento específico em, seu exame oral
da Ordem dos Advogados do Brasil (hoje infelizmente abolido), que na época
também era requisito para aprovação e obtenção da carteira de advogado.
642
MONIZ DE ARAGÂO, p. 286.
por efetivada a citação, deixando a contrafé com pessoa da família ou com um
vizinho que deverá ser identificado (art. 253, §§ Io, 2o e 3o). De tudo isso deverá
ser lavrada certidão pormenorizada do ocorrido.
Por fim, para aperfeiçoar a citação por hora certa o escrivão comunicará
ao citando sobre todo ocorrido, mediante a expedição de carta, telegrama ou
meio eletrônico (art. 254, do CPC), não havendo necessidade de que a comn
nicação seja efetivamente realizada, bastando para a validade da citação a
emissão do comunicado.
Frustrados todos os demais meios processuais para que seja realizado o
ato de citação e não havendo mais como diligenciar a localização do citando,
portanto de uma maneira nitidamente subsidiária das demais modalidades
de citação, realiza-se a citação por edital, onde não há efetivo contato com o
citando, mas sim uma presunção de que ele teve conhecimento do feito e pode
utilizar os meios necessários a sua defesa. Daí a afirmação de André De Luizi
Correia de que a “A regra geral, imperativa e multimilenar, como diz Moniz de
Aragão, éfazer-se a citação à própria pessoa do citando. Nisso consiste o princí
pio da pessoalidade da citação. A citaçãoficta é, pois, exceção, razão pela qual
a lei cercou-a de tantos requisitos e cautelas. E a citação por edital é a citação
ficta por excelência, constituindo a forma mais excepcional de citar, razão pela
qual só se justifica em circunstancias verdadeiramente extraordinárias.".6*3
As hipóteses taxativas onde a lei autoriza a citação por edital estão previs
tas no art. 256, do CPC, que repete com pequenas alterações o conteúdo do
art. 231, do CPC de 1973. Daí a possibilidade de citação por edital quando o
réu é desconhecido ou incerto (inciso I), que na lição de Pontes de Miranda
assim se apresentam: “Citação de pessoas desconhecidas. - Desconhecido: ou
a) por se lhe não conhecer o nome; ou b), sabendo-se-lhe o nome, não se conhe
cer a pessoa a que corresponda; ou c) não se lhe sabendo o nome, nem se tendo
conhecimento da pessoa, se existirem dados para que o citando receba como
para si a noticia da citação. Citação de pessoas incertas. - incerto: a) por serem
muitos, sem individuação possível, ou extremamente difícil; ou b) por ser unus
ex publico,- ou c) por haver dúvida sobre a sua identificação; ou d) por ser pes
soa futura (“os que nasceram no dia Io de janeiro'').".64*6
5
4
17.4. Intimações.
Já tivemos a oportunidade de salientar que o CPC de 1939 fazia distin
ção entre as modalidades utilizadas para a comunicação dos atos processu
ais, tratando por citação o ato de chamamento ao processo, como notificação
a comunicação da necessidade da realização de uma conduta comissiva ou
omissiva (praticar ou deixar de praticar um ato processual), e, como intima
ção, o ato que dava a parte ciência de atos processuais já praticados. Também
alertamos que essa distinção não foi adotada pelo CPC de 1973 ou pelo código
atual, que reconhecem apenas a intimação e a citação como modalidades de
comunicações dos atos processuais. Esta destinada a convocar o citando para
645
CORREIA, p. 155.
integrar o processo, enquanto aquela é utilizada para a comunicação de todos
os demais atos processuais; ou, na definição legal estampada no art. 269, do
CPC, é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos termos do processo
Regra geral, sempre que houver a prática de qualquer ato processual, em
respeito ao Princípio do Contraditório, deverá o magistrado determinar c.\
officio (art. 271) a intimação da parte contrária ou de terceiros que possam ser
de qualquer modo atingidos pelos efeitos do ato, isso para que pratiquem as
condutas necessárias a defesa dos seus respectivos interesses, considerando-se
efetivadas as intimações pela simples publicação no diário da [ustiça eletrô
nico (art. 272, do CPC).
Não obstante a regra geral para a realização das intimações seja a sua efeti
vação por meio eletrônico, por vezes há necessidade da sua realização de uma
forma diversa, na medida em que a regra geral não se demonstra eficaz para
promover a efetiva comunicação do ato processual realizado ou a realizar. Daí
a razão pela qual as intimações também podem ser efetivadas pelo correio,
pelo escrivão, pelo oficial de justiça e, em ultimo caso, por edital.
Não sendo possível a intimação pelo meio eletrônico, que abarca a inti
mação por e-mail, prevista no art. 246, §§ Io e 2o, do CPC, e, a intimação por
meio do diário da Justiça eletrônico; realizar-se-á a intimação pelo correio,
pelo escrivão ou pelo oficial de justiça, conforme exijam as peculiaridades de
cada caso. Se a pessoa a ser intimada reside na sede do juízo, então a intimação
é feita pelo próprio escrivão ou por seu auxiliar (art. 273, I, do CPC) quando
esta comparece ao cartório, certificando-se a comunicação do ato processual
nos autos e colhendo-se, se possível, a assinatura de quem está sendo inti
mado. A intimação pelo próprio juiz também é bastante comum, acontecendo
sempre que as partes participam de uma audiência e saem intimadas dos atos
processuais ali realizados.
Se a pessoa a ser intimada não comparece a juízo, a comunicação do ato
se realiza por oficial de justiça ou pelo correio, mediante emissão de carta
registrada com aviso de recebimento. Embora o art. 271, II, do CPC, indique
que a carta será utilizada no caso da intimação de quem reside fora da sede
do juízo, resta evidente que tal mecanismo também pode ser utilizado para
aqueles que residem na sede do juízo, isso por se tratar de um meio mais
eficaz e menos custoso para a realização da intimação. Mas se a intimação
for realizada pelo oficial de Justiça, então a certidão do ato deverá conter as
Informações relacionadas no ari. 275, §lu, do CPC, nada impedindo que se
realize por hora certa (§2°).
Por sua vez, conforme dispõe o art. 272, §6°, do CPC, o advogado (pessoa
credenciada ou a sociedade de advogados) que retira os autos em carga está
automaticamente intimado de qualquer decisão que tenha sido proferida no
processo que retirou, ainda que exista publicação pendente. Com isso não
será possível à parte sustentar que desconhecia o ato processual praticado por
que não foi intimado através de uma das formas previstas por lei, gerando a
retirada mediante carga, depois de passado o prazo para impugnação do ato,
verdadeira eficácia preclusiva que sana as irregularidades até então existente.
Trata-se da positivação da idéia da ciência inequívoca, que vários magistrados
entendiam acontecer quando o advogado retirava os autos com carga, pois
havia tido acesso a todos os atos processuais praticados.
De se notar, ainda, que o atual sistema manteve o teor do art. 238, pará
grafo único, do CPC de 1973, dispositivo altamente eficaz para evitar mano
bras tendentes a procrastinar o curso do processo, se as partes mudam de
endereço ou dele se ausentam temporariamente durante o curso do processo,
têm o dever de comunicar a alteração em juízo, sob pena de presunção de que
foram efetivamente intimadas da prática do ato processual (art. 274, pará
grafo único).
Deixou o sistema, porém, de promover inovação importante e que cons
tava de versões anteriores ao projeto que deu origem ao CPC, onde se permitia
que a intimação do advogado de uma das partes fosse efetivada pelo advogado
da outra parte. Essa era a previsão do art. 241, §§ Io e 2o, do Projeto de Lei do
Senado n° 166, de 2010, ao dispor que “§ Io É facultado aos advogados promo
ver a intimação do advogado da outra parte por meio do correio, juntando aos
autos, a seguir, cópia do ofício de intimação e do aviso de recebimento. § 2 a O
ofício de intimação deverá se instruído com cópia do despacho, da decisão ou
da sentença.".
Nosso processo civil, que sempre centralizou a prática dos atos processuais
ligados ao andamento do processo na figura do magistrado e das unidades
judiciárias, precisa da implementação de mecanismos através dos quais as
partes possam agilizar o curso do processo. Afinal, a intimação realizada por
um cartório que tem cerca de 8.000 (oito mil feitos) em andamento certamente
será bem mais demorada do que a intimação realizada por um escritório de
advocacia que possui um volume de processos bastante menor. Náo bastasse,
sendo o princípio da cooperação um dos ideais mais relevantes da reforma
do nosso processo, a possibilidade de com partilhar funções atende a um pro
cesso mais rápido e eficaz, otimizando a prestação da tutela jurisdicional. Poi
isso andou mal nossa lei ao não iniciar o compartilhamento dos atos proces
suais de comunicação entre o juízo e as partes; situação da qual poderiamos
esperar resultados bastante auspiciosos num futuro não muito distante.
640
MONIZ DE ARAGÃO. p. 423.
i f n i u i r n u v c í ju n n cm r jrcvir 10!
M7 Idem, p. 420.
prevenção. Trata-se da remessa do feito a uma vara jã prevcnta para conhecei
e decidir a demanda, situação na qual a distribuição se presta principalmenle
para igualar os feitos que cada unidade judiciária receberá, promovendo a
necessária compensação com outros processos cuja competência não esteja
prevenia.
Embora o magistrado só deva despachar a petição inicial após a sua di.s
tribuição, nos locais onde a distribuição não é eletrônica abre-se uma exceção
à regra, pois deverá o juiz examinar o feito para reconhecer a prevenção e
determ inar a realização da distribuição por dependência. Nesse caso, reco
nhecida à prevenção, nada impede que o juiz desde logo aprecie outras ques
tões urgentes e que tenham sido suscitadas pelo autor, como a concessão ou
não de uma medida liminar. Sendo a distribuição eletrônica, porém, o próprio
sistema apontará a causa da prevenção e procederá automaticamente a distri
buição direcionada, nada impedindo que o magistrado, ao receber a inicial
para despacho, decida pela não ocorrência da prevenção e determine que se
proceda a distribuição livre do processo. Tal situação, alias, é bastante comum
no foro central de São Paulo (que possui quarenta e cinco varas cíveis) com as
ações de cobrança de verba condoininial de períodos diversos.
As hipóteses em que a lei determina que se proceda a distribuição por
dependência estão previstas nos inciso do art. 286, do CPC, sendo que a pri
meira delas diz respeito à existência de conexão ou continência entre uma
demanda que já tram ita e a que esta sendo distribuída. Nesse caso a distri
buição anterior da ação conexa torna um juízo que originalmente poderia
não ser competente para conhecer a demanda, competente para conhecê-la
e decidi-la, já que ambos os feitos são oriundos da mesma relação jurídica de
direito material controvertida.
Já a hipótese prevista no inciso 11 tem por finalidade evitar a burla na distri
buição, fazendo com que um processo findo sem resolução do mérito, se pro
posto novamente, seja encaminhado para o mesmo juízo que decretou a sua
extinção. Com isso se evita, por exemplo, que o autor que não teve seu pedido
lim inar atendido ou que já conheça posicionamento jurídico do magistrado
deixe o feito ser extinto por falta de andamento, para em seguida repropor a
ação perante outra unidade judiciária, em absoluto desrespeito ao princípio
do juiz natural. Aliás, antes da inserção dessa regra no art. 253, II, do CPC de
1973, era bastante comum a propositura de várias ações idênticas num mesmo
local sendo que, uma vez obtida a medida liminar, a parte desistia das demais
ações, em especial daquelas onde a liminar era negada pelo magistrado. O pre
ceito veio, em verdade, para coibir essa nefasta prática em causas que envol
viam matéria tributaria e onde haviam posições distintas sobre a incidência
ou não de um determinado tributo. Também por essas razões, aliás, a regra
contida no inciso III do mesmo preceito.
Há de se observar, ainda, que o distribuidor não exerce atividade jurisdi-
cional, razão pela qual não pode decidir se a inicial deve ou não ser distri
buída. Qualquer questão que possa levar ao indeferimento da petição inicial
deve ser apreciada apenas pelo magistrado, embora possa o funcionário da
distribuição comunicar o fato detectado ao juiz para que tome as deliberações
necessárias ao caso. Como alude Moniz de Aragâo “A fiscalização do distri
buidor é sempre superficial e provisória. Mesmo que o ato esteja sendo presi
dido por magistrado. Todos os problemas inerentes à representação judicial e
sua regularidade constituem matéria de defesa [...], a ser decidida pelo juiz do
processo, que não fica vinculado à solução do distribuidor.”.64*
Por fim, merece especial crítica a regra esculpida no art. 290, do CPC,
segundo a qual a distribuição será cancelada quando a parte, regularmente
intimada na pessoa do seu advogado, deixar de pagar as custas e as despesas
do processo no prazo de 15 dias. Isso porque as custas do processo, ou taxa
judiciária, se destinam ao pagamento do custeio do serviço de prestação da
atividade jurisdicional, que já existe desde o momento em que a petição inicial
é protocolada. Se desde este primeiro momento os funcionários do judiciário
já estão a praticar condutas aptas a dar andamento ao feito, então há efetiva
prestação de serviços e a taxa deverá ser recolhida.
Não fosse o bastante, perm itir o cancelamento de feito já distribuído implica
em abrir uma porta para a ocorrência de fraude processual, na medida em
que o cancelamento da distribuição faz com uma nova ação proposta, embora
idêntica a anterior, não gere a prevenção prevista no art. 286 do CPC. Isso
porque em nenhum dos casos ali elencados existe a hipótese de cancelamento
da distribuição, sendo a distribuição da nova ação livre. Daí, basta ao autor,
propositalmente, deixar de recolher as custas iniciais e, com isso, abrir a pos
sibilidade da distribuição livre da ação novamente proposta.
Ibidem, p. 431.
Destarte, entendemos que a melhor solução para o caso é a extinção do
processo sem resolução do mérito, considerando-se o recolhimento das cus
tas como uma questão preparatória (aquela que deve ser atendida para que
se possa exercer um determinado direito), que juntamente com as questões
preliminares e prejudiciais integram o juízo de admissibilidade do processo
a) Necessidade e mensuração.
Não há dúvida de que o sistema processual exige a atribuição de valor ,i
causa para qualquer tipo de feito, ônus este que recai sobre o autor. Isso por
que o art. 319, V, do CPC, indica que um dos requisitos da petição inicial é .1
atribuição de valor à causa, enquanto o art. 291, do mesmo diploma, que com
pequena alteração gramatical repete 0 conteúdo do art. 258, do CPC de 1973,
aduz que a toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha
conteúdo econômico imediatamente aferível. Daí a afirmação peremptória de
Gelson Amaro de Souza, ainda sob a vigência de normas semelhantes encar
tadas no CPC de 1973, de que “não se pode ter a mínima dúvida sobre a obri
gatoriedade da atribuição do valor em todas as causas. Todas as causas estarão
sujeitas ao requisito em análise, sem qualquer exceção.”.649 Também nesse sen
tido a afirmação de Luiz Rodriguez Wambier et all, para quem “O art. 258 não
deixa qualquer dúvida quanto à obrigatoriedade de a petição inicial expressai
0 valor da causa, ainda que esta não tenha conteúdo econômico imediato, ou
mesmo que não possua nenhum conteúdo econômico. A cogência da norma c
patente, ainda que, muitas vezes, possa parecer sem sentido atribuir um valor
pecuniário a causas destituídas de conteúdo patrimonial.”.6™
Em que pese 0 entendimento consolidado sobre a existência deste ônus
processual (ônus porque o seu descumprimento implica numa penalidade,
qual seja, o indeferimento da inicial), verifica-se no foro a insistência de
alguns em atribuir à causa valor inestimável ou mesmo em atribuir à causa
um valor para fins meramente fiscais, praxe que não é correta. Quanto ao*680
M9 SOUZA, Gelson Amaro. D o v a lo r d a c a u s a . 2 ‘ e.. São Paulo: sugestões literárias, 1987. p. 62.
680 WAMBIER. Luiz Rodriguez, ALMEIDA, Flávio Renato Correia de, TALAMINI, Eduardo. C u r so
a v a n ç a d o d e p r o c e s s o civil. 7* ed. São Paulo: RT, 2005. v. 1, p. 293.
» r . rtfV rf r m m I. t n»i » n i v ii »U »
valor inestimável, o óbice se encontra no próprio art. 291, que faz expressa
referência a um valor certo. Já no caso de atribuição de um valor para efei
tos meramente fiscais, tal locução não limita as conseqüências decorrentes da
atribuição de valor à causa, estando fora da esfera de direitos e faculdades do
autor limitar aquilo que a lei não limita.
Todavia, qual seria o valor certo a ser atribuído a uma causa? Segundo
Humberto Theodoro Junior “determina-se [...] o valor da causa apurando-
se a expressão econômica da relação jurídica de direito material que o autor
quer opor ao réu. O valor do objeto imediato pode influir nessa estimativa,
mas nem sempre será decisivo.” f sl e, para Gelson Amaro de Souza “o valor da
causa deve sempre corresponder ao valor do pedido, ou ainda em outros ter
mos deve corresponder ao valor do benefício pretendido pelo autor.".6*2 Nota-se,
portanto, que o valor da causa deverá corresponder ao proveito que o autor
pretende obter em face do réu; que diante do princípio da congruência estará
limitado pelo pedido formulado na petição inicial.
Diante disso, o art. 292, do CPC, estabelece parâmetros objetivos, embasa-
dos no pedido formulado pelo autor, para que se possa aquilatar qual o valor
que deverá ser atribuído à causa. Assim, sendo simples o pedido em ação de
cobrança, por exemplo, o valor da causa deverá corresponder ao principal cor
rigido e aos seus acessórios na data da propositura da ação (inciso I); enquanto
no caso de pedido alternativo deverá ser observado o de maior valor (inciso
VII), dentre inúmeras outras hipóteses.
Por seu turno, inovou o inciso V ao dispor que nas indenizações por dano
moral o valor da causa deverá corresponder ao pedido formulado, já que não
havia regra expressa a tal respeito no CPC de 1973. Aqui observamos que,
em nosso entender, como abaixo será exposto, o pedido de condenação ao
pagamento de danos morais deve ser certo e determinado, razão pela qual o
valor atribuído à causa também será certo e determinado, correspondendo ao
pedido formulado.
Quanto ao padrão monetário que deve ser utilizado, já houve discussão
na doutrina com relação à possibilidade de atribuir a causa valor em moeda
' 1 THEODORO JUNIOR. Humberto. C u r s o d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 47° e.. Rio de Janeiro: Forense,
2007. p. 319.
SOUZA, p. 16.
'W U u n i u Iff U U T I U 1I V J » M it iM iv im w n w i* r ~ %
b) Finalidades.
A atribuição de valor certo e determinado a todas as causas não visa apenas
servir como parâmetro para o recolhimento das custas processuais e para a
fixação da verba honorária, mas produz inúmeros efeitos com relação a divcr
sos institutos processuais. Para Teresa Arruda Alvim Wambier a fixação do
valor da causa “O valor da causa, definido em atenção ao disposto nos arts. 258
e 259, tem importância para: determinação do procedimento a ser empregado
(ordinário ou sumário; cf art. 275, inciso I); definição dos honorários advocati
cios, em alguns casos (cf. art. 20, § 4o); indicação do juízo competente, de acordo
com as norma de organização judiciária (cf. art. 9/).”.655 Já Gelson Amaro dc
Souza observa que "Em linhas gerais, os autores apontam as várias finalida
des, desmembrado-as em itens e subitens, mas em resumo e de uma forma
mais concentrada, podemos destacar as seguintes: 1) fixação de competência,
2) determinação do rito processual a ser obedecido; 3) tributação ou encargos
processuais; 4) estabelecimento de alçada para recursos; 5) norteamento dos
parâmetros da sucumbência; 6) fixação de multa; 7) formação de relação pro
cessual; 8) disciplinação das provas permitidas; 9) admissão e processamento
da reconvenção; 10) penhora na execução; 11) forma de publicidade para leilão*4 5
A56
SOUZA, p. 18.
300 uvnu ui BiíCTicmv» pwrwtiwyw w iiwwww w— ” w n w m u
c) Impugnação.
Ao contrário do que acontecia sob a vigência do CPC de 1973, onde .1
impugnação ao valor da causa se fazia mediante incidente próprio, que
processava em autos apartados e sem a suspensão do processo, o sistema alu.il
prevê que a impugnação ao valor da causa deve ser feita pelo réu como preli
minar da contestação, na forma determinada pelos art. 293 e 337, III, ambo-.
do CPC. A matéria deixou de ser objeto de defesa processual indireta p au
constituir defesa processual direta; o que deve ser elogiado por concenlr.n
a matéria de defesa e evitar a multiplicação de incidentes processuais qm
normalmente, dificultavam a tramitação do processo. Como não há previsão
específica para a solução desta controvérsia, a questão deverá ser tratada como
as demais questões processuais e resolvida quando do saneamento do feito, mi
forma prevista pelo art. 357,1, do CPC.
Nada obstante o tratamento mais adequado que se deu à matéria, os ail
293 e 336, III, do CPC, alertam de modo expresso que o não oferecimenlu
da preliminar de impugnação implica na pena de preclusão, o que indu/ .1
conclusão de que o réu não mais poderá discutir tal matéria. Todavia, não •
bem isso que sucede, já que o art. 292, §3°, do CPC, resolvendo controvérsia
até então existente, foi expresso ao dispor que o juiz poderá corrigir de ofício
o valor atribuído à causa. Com isso, havendo motivo justificado, nada impedi
que o juiz tome ciência das razões que a parte formula, mesmo que extempo
ràneas, alterando o valor atribuído à causa.
Ora, embora diga o preceito que o juiz corrigirá o valor da causa, de ofício
e por arbitramento, apenas quando verificar que o valor atribuído não cor
responde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico
perseguido pelo autor; o fato é que se a lei prevê a possibilidade de alteração
nessas hipóteses, cujo valor não é preciso, seria um despropósito não permili
Ta nos casos onde o valor é preciso, como acontece com as hipóteses previst.r.
nos incisos do art. 292, tendo o autor errado na sua indicação.
Ademais, se a atribuição do valor à causa gera implicações que desbordam
o interesse particular para atingir questões ligadas ao interesse público, como
o recolhimento de custas, a fixação da competência e a determinação do pro
cedimento, não é razoável que se permita a parte alterar tais circunstâncias d<*
forma indireta, atribuindo à causa um valor incorreto e que não condiz com
i/ Aim mui.nMwmivinmit '.n‘j
Verificação de Aprendizagem
01. Qual a principal razão pela qual os atos processuais devem ser
comunicados as partes?
02. Quais os tipos de cartas existentes no processo civil?
03. Há diferença da concepção da citação adotada pelo sistema atual e pelo
sistema do CPC de 1973?
04. Qual a natureza jurídica da decisão que determina a citação do réu? Desta
decisão cabe algum recurso?
05. Quais são e como se classificam os efeitos da citação válida?
06. Quais as modalidades de citação previstas no CPC?
07. Pode o oficial de justiça realizar a citação fora do território da comarca
na qual trabalha?
08. Tendo deixado a parte de comunicar seu novo endereço, determinou o
magistrado sua intimação por editais. Agiu corretamente o juiz?
09. Deixando o autor de recolher as custas iniciais, deverá o magistrado
m andar cancelar a distribuição ou extinguir o feito sem resolução do
mérito?
10. Pode o autor dar a causa valor inestimável?
11. Quais as principais finalidades pelas quais se atribui valor à causa?
12. Em quais situações pode o magistrado, de ofício, corrigir o valor dado à
causa?
- Definição (Art. 238. A citação é o ato pelo ipial selo convocados o réu, i» f inalidade: a) fixação da competência, b) determinação do rito processual,
executado ou o interessado para integrara relação processual.)- A lteraçóo e, c) estabelecimento de parâmetros para o pagamento das verbas
relevantes quando comparada com a definição anterior: a) substituição processuais.
do verbo chamar pelo verbo convocar; b) alargamento da definição legal Impugnação: a) requerimento da parte; e, b) correção de ofício pelo juiz.
para abranger também o executado, além do réu e do interessado; e, c)
a convocação não mais se dá para o oferecimento de resposta, mas sim
para integrar o processo.
Bibliografia
- Natureza jurídica - decisão interlocutória. AMERICANO, Jorge. Comentários ao código do processo civil do Brasil. São
- gera litispendência Paulo: Saraiva, 1940.
Processuais CORREIA, André De Luizi. A citação no direito processual civil brasileiro. São
Paulo: RT, 2001.
- Efeitos - faz litigiosa a coisa
I)E PLÁCIDO E SILVA. Comentários ao código de processo civil. 4a e.. Rio de
- constitui em mora
Janeiro: Forense, 1956.
Materiais
MONIZ DE ARAGÂO, E.D.. Comentários ao código de processo civil. 6a e.. Rio
- interrompe a prescrição de Janeiro: Forense, 1989.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao código de
- Direta: a) Oficial de Justiça ou b) Escrivão processo civil. 2“ e.. Rio de Janeiro: Forense, 1974.
Real SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 24a e..
São Paulo: Saraiva, 2008.
- Indireta: a) Correio ou b) Meio eletrônico
- Modalidades SCHAWAB, Karl Heinz. El objeto litigioso em el proceso civil. Buenos Aires:
Ediciones Jurídicas Europa America, 1968.
Ficta ou presumida: a) Edital ou b) Hora certa.
SOUZA, Gelson Amaro. Do valor da causa. 2a e.. São Paulo: sugestões literá
04. Intimações
rias, 1987.
- Intimação pelo advogado da parte. THF.ODORO JUNIOR. Humberto. Curso de direito processual civil. 47a e.. Rio
- Carga dos autos. de Janeiro: Forense, 2007.
- Dever das partes de informar seu novo endereço. YVAMBIER, Luiz Rodriguez, ALMEIDA, Flávio Renato Correia de, TALA-
05. Registro e distribuição. MINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. 7a ed. São Paulo: RT,
2005.
06. Valor da causa.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, MEDINA, José Miguel Garcia. Processo
- Obrigatoriedade.
Civil moderno. São Paulo: RT, 2008.
- Hipóteses: Art. 292.
18. TEORIA DAS NULIDADES
•57
MONIZ DE ARAGÁO, E.D.. C o m e n t á r i o s a o c ó d ig o d e p r o c e s s o c iv il. 6“ e.. Rio de Janeiro: Forense.
1989. p. 357.
ser reputado válido, já que há casos em que o ato existe e não pode ser reto
nhecido como sendo válido. Por fim, segundo a idéia mais referida, a eficái i<*
diz respeito à produção de efeitos e, por isso, pode acontecer mesmo que o alo
não seja válido. Na precisa lição de Teresa Arruda Alvim Wambier “Contudo,
tratando-se de fenômenos distintos, pode ocorrer que um ato nulo nunca venha
a ser como tal decretado e que tenha, portanto, sido eficaz por toda a sua vida,
embora carecendo de validade, pois 'valer é uma qualidade contrafática, isto
o valor de uma norma não depende da existência real e concreta das conduta »
que ela prescreve .”.658
Atento a tal realidade e se reportando expressamente ao plano de validade,
ainda que sob a égide do Regulamento 737 e tendo em conta o conteúdo do
projeto do Código Processual Paulista, asseverava Tito Prates da Fonseca que
“Nullidade, propriamente, é o estado do que é nullo. Costuma-se, porem, defi
nil-a pela sua causa. Neste sentido, pode-se dizer que nullidade é a falha do ado
que lhe affecta a validade jurídica, segundo os preceitos legaes. A imperfeição
do acto jurídico e, portanto, do judicial, pôde ir desde a simples irregularidade
até à inexistência. Segundo a natureza da falha, variam os seus effeitos sobre a
validade do acto. Mas, essa maior ou menor actuação do defeito não é arbitra
ria, nem pôde depender exclusivamente dos ensinamentos da doutrina, carece
de determinação da lei. Por isso, se diz que a nullidade é a violação da lei c se
reconhece segundo os preceitos legaes.”.6S9 Embora seja essa a idéia da maioria
da doutrina até a atualidade, tanto que alguns autores até preferem a utili
zação da denominação invalidades ao invés de nulidades isso para deixai
,6 6 0
65f WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença. 4a e.. São Paulo: RT, 1997
p. 112.
659 FONSECA, Tito Prates da. Nullidades no processo civil. São Paulo: Saraiva, 1926. p. 124.
660 DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil. Salvador Podium, 2007; KOMATSU, Roque
Da invalidade no processo civil. São Paulo: RT, 1991; e, MARDF.R, Alexandre S.. Das invalidada
no direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2010.
r :
i/c deixar de produzir seus efeitos próprios e, em alguns casos, destroem-se os já
produzidos
Vejamos, portanto, quais são os aspectos concernentes ao sistema de nuli-
dades proposto pelo atual CPC, que repetiu sem alterações aquilo que já era
objeto de semelhante disciplina pelo CPC de 1973 e pelo CPC de 1939.
WAMBIER, p. 112.
'*•’ D U C O S , Michele. Roma e o direito (Roma et le Droit). Tra d . Z A R Z A N A , Sílvia e P U G L IE S E
N E T O , M á rio. São Paulo: M adras, 2007. p. 116.
Lições de história do processo civil
’ C R U Z E T U C C 1 , |osé Rogério; A Z E V E D O , Lu iz Carlos de.
romano. Sào Paulo: R T, 1996. p. 198. N o anexo das Institutas de Gaio, item 11: "...Daí, o ter-se res
pondido que perdia a ação quem, agindo por causa de videiras ceifadas mencionara videiras, pois a
Lei das XII Tábuas, na qual sefundava a ação por videiras cortadas, falava de árvores cortadas em
geral.".
regime da equidade, onde cabe ao magistrado criar .1 norma específica pui >1
0 caso concreto. Portanto, qualquer que fosse a forma adotada, não havia qtn
se falar em nulidade do ato processual, sendo o aspecto formal absoluta menti
irrelevante para a validade do ato praticado.
Como os dois regimes, à evidência, por se lastrearem em posições extrema
das, acabam por dar ensejo ao arbítrio, surge a idéia de considerar que o alo
processual praticado em desacordo com a forma prevista para sua realizas •'*'
gera a presunção de má-fé, que poderá ser elidida por prova em contrário. Pm
outros termos, para o regime da presunção de má-fé, esta se presume quando
o ato não segue a forma predeterminada pela lei. Como em nosso direito .1
regra é da presunção de boa-íé, tal regime nunca logrou aceitação por contra
riar, de modo pouco justificado, a regra geral.
Diante da deficiência dos regimes apresentados, a doutrina nacional aca
bou por adotar um regime ou sistema que podemos denominar contemporá
neo, segundo o qual o ato processual deve ser considerado viciado e, portanto,
passível de nulidade, em duas hipóteses: a) quando a lei comina expressa
mente a pena de nulidade para a não observância da forma: e, b) quando .1
não observância da forma prevista em lei gera prejuízo para uma das parti-'
no processo. Em suma: há nulidade por expressa cominação legal ou, quando
a não obediência à forma gera prejuízo para uma das partes. Esse é o regime
adotado pelo nosso sistema processual civil.
18.3. Classificação.
Em que pese parte da doutrina sustentar que não há um interesse prático
efetivo na classificação das invalidades processuais,664 a doutrina tradicional
sustenta que há uma gradação entre os vícios do ato processual que vão da
inexistência do ato até a sua mera irregularidade, passando por duas formas
intermediárias, que são a nulidade absoluta e a nulidade relativa. Nesse sen
tido a lição de Moniz de Aragão ao sustentar que “Em três grandes categorias c
possível agrupar os vícios resultantes da infração do modelo traçado na lei pro
cessual. ü mais grave de todos é a inexistência do ato; 0 menos grave a simples*S
,
O
«8 LACERDA, Galeno. Despacho saneador. 3a.. Porto Alegre: SAFE, 1990. p. 124.
Inexistência N u lid a d e a b so lu ta N u lid a d e relativa A n u la b ilid a d e
Insanável Insanável Sanável Sanável
N u n ca c o n v alid a C o n v alid a a p ó s o C o n v a lid a se n ã o há C o n v a lid a se n ão
p razo d a re scisó ria preju ízo alegada
1)c oficio D e ofício D e ofício R e q u e rim e n to
Interesse p ú b ico Interesse p ú b lic o In teresse p a rtic u la r In teresse p a rtic u la r
18.4. Princípios.
Como a casuística dos vícios que podem atingir os atos processuais é por
demais ampla, já que os atos mais importantes do processo possuem disci
plina própria e, por isso, podem ser passíveis de realização de forma diversa
daquela prevista pela lei, nosso código houve por bem, seguindo os parâme
tros já estabelecidos pelo CPC de 1973, fixar no capítulo das nulidades (art.
276 até 283) vários princípios que regulamentam a sua decretação. São eles os
seguintes princípios: a) instrumentalidade; b) preclusão; c) causalidade; e, d)
conservação dos atos processuais.
Previsto no art. 277, do CPC, o princípio da instrumentalidade das formas
pode ser considerado, em nosso entender, como o mais importante dos prin
cípios relativos à nulidade dos atos processuais, já que permite ao magistrado
considerar válido o ato se ele alcançar a finalidade a qual se destina. Como
dissemos ao tratar da teoria geral dos atos processuais, há nítida a opção legis
lativa em prestigiar os aspectos atinentes ao conteúdo do ato processual em
detrimento da sua forma.
Nada obstante, a aplicação da fungibilidade alcança apenas os vícios saná-
veis, que são as nulidades relativas e as anulabilidades, não se estendendo aos
casos de inexistência ou de nulidade absoluta, situações em que os atos prati
cados não poderão ser aproveitados na medida em que há ofensa ao interesse
público. Nesse sentido o pensamento de Moniz de Aragão ao comentar o art.
244, do CPC de 1973, formulando o seguinte questionamento: “Qual a exten
são conceituai do vocábulo nulidade, empregado no dispositivo? Evidentemente
não abrange a todas: é inaplicável, sem a menor dúvida, aos casos de inexistên
cia jurídica; também não incide sobre os de nulidade absoluta.”.669
670
MARDER, p. 63.
Todavia, como a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras
que dela sejam independentes (art. 283, infiné) e nem os atos posteriores que
também o sejam, deverá o magistrado, ao pronunciar a nulidade, declarar
quais são os atos processuais atingidos e determinar, na mesma decisão, a
repetição ou ratificação dos atos já realizados.
O quarto princípio que regula a aplicação das nulidades processuais é o do
aproveitamento dos atos praticados, que em nosso sentir decorre do principio
informativo da economia processual, já que este não pode ser considerado
como um princípio específico da teoria das nulidades. Decretada a nulidade
de determinado ato do processo, deverá o magistrado declarar quais atos
deverão ser repetidos e quais atos poderão ser aproveitados, isso mediante
mera ratificação das partes no processo (art. 282, do CPC). Para isso deverá
estar atento acerca da existência ou não de prejuízo para a parte, pois o ato
somente não se repetirá quando não existir prejuízo resultante do desrespeito
à forma (§ Io). Em regra, pois, devem ser aproveitados ao máximo os atos já
praticados, o que apenas não acontecerá se deles puder decorrer prejuízo às
partes.
Por fim, o art. 282, § 2o, do CPC, dispõe que quando puder o magistrado
decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade,
não deverá pronunciá-la ou m andar repetir o ato, já que tal conduta podería
gerar um prejuízo ainda maior para a parte do que a decretação da nulidade,
pois poderá obter desde logo uma decisão aderente ao direito material, em
prol da efetividade do processo.
Verificação de Aprendizagem
01. Qual a distinção entre os planos de existência, validade e eficácia do ato
processual?
02. Quais os regimes existentes acerca da decretação das nulidades?
03. Em que consiste o sistema contemporâneo de decretação das nulidades?
04. Como se classificam as nulidades do ato processual?
05. O que justifica a distinção entre as nulidades absolutas e as nulidades
relativas?
06. Quais os princípios que informam a teoria das nulidades processuais?
Planificação para aula
01. Planos de existência, validade e eficácia.
a) Absolutismo da lei (se em desacordo com a lei o ato é nulo)
02. Regimes b) Equidade (fica ao critério do juiz)
c) Má-fé (presume-se quando o ato não segue a forma prevista
em lei)
d) Contemporâneo (Há nulidade por expressa cominação legal
ou quando, não seguida a forma, existe prejuízo para a parte)
03. Classificação:
- Inexistência (plano de existência)
- Nulidade absoluta
- Nulidade relativa
- Irregularidade
- Tabela de diferenças:
In ex istên c ia N u lid a d e a b so lu ta N u lid a d e relativa A n u la b ilid a d e
Insanável In san áv el Sanável Sanável
N u n c a co n v alid a C o n v a lid a a p ó s o C o n v a lid a se n ã o há C o n v a lid a se n ã o
p ra z o d a re sc isó ria p reju ízo a le g a d a
D e oficio D e ofício D e ofício R e q u e rim e n to
In teresse p ú b ic o In te re sse p ú b lic o In teresse p a rtic u la r In te re sse p a rtic u la r
04. Princípios.
a) instrumentalidade;
b) preclusão;
c) causalidade; e,
d) aproveitamento.
Bibliografia
CALMON DE PASSOS, José Joaquim. Esboço de uma teoria das nulidades
aplicada às nulidades processuais. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
( :kUZ E TUCCI, José Rogério; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história
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I )I D1HR JR, Fredie. Curso de direito processual civil. Salvador Podium, 2007.
DUCOS, Michele. Roma e o direito (Roma et le Droit). Trad. ZARZANA, Sílvia
e PUGLIESE NETO, Mário. São Paulo: Madras, 2007.
FONSECA, Tito Prates da. Nullidades no processo civil. São Paulo: Saraiva,
1926.
KOMATSU, Roque. Da invalidade no processo civil. São Paulo: RT, 1991.
LACERDA, Galeno. Despacho saneador. 3a.. Porto Alegre: SAFE, 1990.
MARDER, Alexandre S.. Das invalidades no direito processual civil. São Paulo:
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MONIZ DE ARAGÃO, E.D.. Comentários ao código de processo civil. 6a e.. Rio
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PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao código de
processo civil. 2a e.. Rio de Janeiro: Forense, 1974.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 24a e..
São Paulo: Saraiva, 2008.
THEODORO JUNIOR. Humberto. Curso de direito processual civil. 47a e.. Rio
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WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença. 4a e..
São Paulo: RT, 1997.
_______ , MEDINA, José Miguel Garcia. Processo Civil moderno. São Paulo:
RT, 2008.
WAMBIER, Luiz Rodriguez, ALMEIDA, Flávio Renato Correia de, TALA-
MINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. 7a ed. São Paulo: RT,
2005.
19. FORMAÇÃO, SUSPENSÃO
E EXTINÇÃO DO PROCESSO
19.1. Formação.
Sob a denominação de formação do processo, o atual sistema processual
houve por bem tratar apenas do momento em que o processo deve ser consi
derado iniciado, dispondo no art. 312, do CPC, que se considera proposta a
.tçáo no momento em que a petição inicial for protocolada. Transferiu deste
capítulo, do art. 262, do CPC de 1973, para o atual art. 2o, a regra que trata
do princípio dispositivo e do princípio do impulso oficial; e, do art. 264, do
CPC de 1973, para o atual art. 329, a regra que trata da estabilização parcial do
processo, ou seja, do momento a partir do qual o pedido e a causa de pedir não
poderão mais sofrer quaisquer alterações por iniciativa do autor.
Além disso, houve por bem o atual CPC fixar como o momento de nasci
mento do processo o momento do protocolo da petição inicial e não mais o
momento em que a petição inicial é despachada pelo magistrado ou distribu
ída onde houver mais de uma vara, locuções estas que eram as adotadas pelo
art. 263, do CPC de 1973. Tal alteração demonstra uma nítida opção por dar
uma maior segurança ao sistema, já que antes poderia haver dúvida acerca
do momento em que o juiz despachava a petição inicial, embora não devesse
fazê-lo antes da distribuição. Diante disso, cremos, doravante uma petição
inicial despachada pelo magistrado não é suficiente para marcar o início do
processo, sendo essencial para isso que a peça seja devidamente protocolada.
Portanto, se a prescrição acontece hoje e o autor despacha a inicial, mas deixa
de levá-la ao protocolo, o que faz apenas no dia de amanhã, então deve ser con
siderada como consumada a causa extintiva do exercício do direito de ação.
Também poderia haver problemas quanto ao momento da distribuição, já
que há locais onde a distribuição não é imediata, ocorrendo sempre em hora
do dia pré-determinada, isso para facilitar sua fiscalização. Nessas hipóteses a
validade dos atos praticados pelo sujeito passivo antes da distribuição poderia
ser questionada, por vezes em prejuízo do autor e em benefício daquele que
praticava o ato de modo fraudulento. Pense-se, por exemplo, na hipótese
regrada pelo art. 828, do CPC, sucessor do art. 615-A, do CPC de 1973, onde
o exeqüente poderá obter certidão da distribuição e promover sua averbaçáo
junto ao registro de veículo, para os fins de gerar a presunção de fraude pre
vista no §4°, do mesmo preceito. No sistema anterior, se o protocolo da inicial
acontecia às dez horas e a distribuição às dezessete horas, poderia o executado
alienar um veículo às treze horas, situação que gerava dúvida quanto à ocor
rência ou não da fraude, já que o processo só seria considerado como iniciado
após a sua efetiva distribuição.
Como se vê, pois, agiu bem a lei em fixar como momento inicial do pro
cesso o momento em que a petição inicial é protocolada, não se olvidando
que em caso de processo eletrônico esse protocolo poderá, em tese, acontecer
em qualquer momento do dia, já que o art. 213, do CPC, dispõe que a prática
eletrônica de ato processual pode ocorrer em qualquer horário até as vinte c
quatro horas do último dia do prazo.
Por seu turno, para aqueles que entendem, como nos, que o processo não
pode mais ser considerado como uma mera relação jurídica, mas sim como
um instituto constitucional, a partir do protocolo da inicial o processo está
definitivamente e integralmente iniciado, sendo desnecessária a realização da
citação para consolidar a sua formação. Isso porque afirmamos (Capítulo 07
- Processo) que os pressupostos de existência do processo são a jurisdição,
a petição inicial e a capacidade postulatória; excluindo do rol normalmente
apresentado a citação, na medida em que o processo existe antes mesmo da
sua realização. Assim, quando ocorre o indeferimento da petição inicial, na
forma do art. 330, do CPC, ou a improcedência liminar do pedido, na forma
do art. 332, do mesmo diploma, o autor sofre as conseqüências da existência
de um processo, mesmo sem a participação do réu. Não bastasse, há processos
onde não existe a figura do sujeito passivo, como acontece no caso da ação
declaratória de inconstitucionalidade de lei, onde em momento algum do pro
cedimento aparecerá um réu, um executado ou um interessado para respon
der a demanda; e nem por isso se afirma que neste procedimento específico
não há processo e que não se obedeceu ao Modelo Constitucional de Processo
inserido na Constituição da Republica.
|â para aqueles que comungam da opinião de que o processo é uma relação
Jurídica, ainda a maioria da doutrina, a efetiva e integral formação do pro-
cesso acontece de uma forma gradual, com seu início no momento em que a
petição inicial é protocolada e a sua complementaçào apenas após a citação
válida do sujeito passivo (art. 330). Nesse sentido a opinião de Humberto The-
odoro Junior ao afirmar que “em resumo: a) a propositura da ação vincula
imtor e juiz à relação processual por meio do exercício do direito de ação; b) a
citação amplia a relação e nela integra o réu, para assegurar-lhe o exercício do
direito de defesa; e, c) completa a relação, assegurado ao estado estará o exercí
cio pleno do poder jurisdicional.”;67' e, de Moniz de Aragão, ao comentar que
“a relação processual vincula o autor e o réu ao juiz e este a ambos; [...] Seja
qual fo r a extensão que se lhe dê, o certo é que o vínculo não se estabelecerá de
pronto, com um só ato, mas gradativamente através de uma série de atos, que
fazem da formação do processo ato complexo, ...”.6 71672
Nada obstante, independente da posição adotada quanto à natureza jurí
dica do processo, fixar o momento em que ele se considera proposto é aspecto
de grande importância para o direito processual, já que este é o momento que
deverá ser considerado tanto para a fixação do juízo competente, quanto para
a fixação dos sujeitos processuais; dentre outras questões não menos relevan
tes como à interrupção da prescrição, por exemplo.
Por isso, quando do estudo da competência observamos que a determina
ção do juízo competente para conhecer e para decidir determinada demanda
depende, além das regras que regulam a competência em seus diversos aspec
tos, da fixação de um marco temporal, sem o que cada alteração na situação
de fato ou de direito pode implicar na alteração da competência inicialmente
fixada. Daí a razão pela qual o art. 43, do CPC, estabelece que “Determina-se
a competência no momento em que a ação éproposta,...” (grifo nosso); o que se
denomina princípio da “perpetuatio jurisdictionis” ou princípio da perpetua
ção da jurisdição. O mesmo se dá no tocante determinação do pólo ativo e do
pólo passivo da demanda, fixados quando da propositura da ação, que toma
a denominação de “perpetuatio legitimationis”. Em outros termos, em regra,
671 THF.ODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direitoprocessual civil. 47* e.. Rio de Janeiro: Forense,
2007. p. 340.
67; MONIZ DE ARAGÀO, E.D.. Comentários ao código de processo civil. 6* e.. Rio de Janeiro: Forense,
1989. p. 475-476.
a propositura do feito implica na fixação das partes e da sua legitimação p a u
a causa até o seu final; sendo possível eventual alteração apenas nas hipóteses
previstas nos art. 108 até 110, do CPC, que tratam sucessão das partes no pro
cesso em curso.
Em suma, portanto, é o momento da formação do processo, considerado
pela lei como aquele em que a petição inicial é protocolada, que deverá sei
levado em conta para os efeitos da fixação da competência (perpetuatio juris
dictionis) e para a determinação do pólo ativo e do pólo passivo da demanda
(perpetuatio legitimationis).
19.2. Suspensão.
Quando tratamos da teoria dos prazos observamos que, uma vez iniciada
a sua fluência, podem ocorrer algumas situações que impedem a sua normal
continuidade. Por vezes o prazo se suspende e volta a correr novamente pelo
que restava para o seu término, por vezes o prazo se interrompe e sua conta
gem, por isso, se inicia novamente. Em outros termos, quando um prazo se
paralisa e volta a fluir pelo que restava para o seu final ocorre à chamada sus
pensão do prazo processual; e, quando o prazo volta a fluir integral, recome
çando sua contagem desde o início, ocorre à chamada interrupção do prazo
processual.
No que toca a paralisação do curso do processo, como intuitivamente se
percebe, não há que se falar na repetição dos atos processuais já praticados,
razão pela qual optou o CPC pela terminologia suspensão do processo, isso
para demonstrar que o que acontece, em realidade, é apenas a paralisação
momentânea iter procedimental. Nesse sentido, ainda sob a égide do CPC de
1939, após salientar que a lei prevê a suspensão do processo e não a suspensão
da relação jurídica processual, que são realidades diversas, assevera Pontes de
M iranda que “o código não conhece interrupção da relação jurídica processual.
Conhece apenas suspensão do processo e extinção do processo, ...”.673
Também nesse sentido a precisa lição de Humberto Theodoro Junior
ao afirm ar que “Ocorre a suspensão do processo quando um acontecimento7
i7S PONTES DF. MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao código de processo civil. 2* e.. Rio
de Janeiro: Forense, 1974. p. 398.
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T
674
THEODORO JUNIOR, p. 344.
na forma do art. 146, do CPC, onde o termo a quo da suspensão é o momento
em que tal petição é protocolada, com posterior revisão do efeito por parle
do relator (§2°). Afinal, como alertava Vicente Greco Filho ao comentar regia
equivalente do CPC de 1973 (art. 265, III), "A argüiçào form al de incompetèn
cia, impedimento ou suspeição, pela exceção, cujo procedimento está regulado
nos arts. 304 e s., provoca a suspensão do processo, mesmo porque não é con
veniente que o juiz continue a oficiar quando se alega sua incompetência ou
impedimento ou suspeição, até o julgamento definitivo da exceção.”.675
Tal inconveniência, todavia, não implicava na imediata decretação da nuli
dade do ato processual praticado por juiz suspeito ou impedido, na medida
em que não havia norma expressa que cominasse nulidade a tal situação. Por
isso agiu de modo absolutamente correto o atual sistema ao dispor, no arl.
146, §6°, que o tribunal decretará a nulidade dos atos do juiz, se forem eles
praticados quando já estava presente o motivo de impedimento ou de suspei
ção. Também por tais razões é que, uma vez suspenso o processo, não pode o
magistrado cuja suspeição ou impedimento foram arguidos apreciar pedido
de tutela de urgência, sendo competente para fazê-lo o seu substituto legal
(§3°).
Por sua vez, se o termo inicial da suspensão é o momento em que a petição
é protocolada, então o termo final (termo ad quem) deve ser compreendido
como o momento em que o próprio magistrado reconhece a veracidade da
alegação e remete o feito ao seu substituto legal, ou, o momento em que o Tri
bunal decide o conteúdo do incidente processual. Era essa a posição de Luiz
Guilherme Marinoni e de Sérgio Cruz Arenhart, que na vigência do CPC de
1973 diziam que “A suspensão, nesse caso, durará até o 'julgamento defini
tivo’ da exceção (art. 306 do CPC). Esse 'julgamento definitivo’, todavia, não
se confunde com a preclusão da decisão sobre a competência, o impedimento
ou a suspeição. O julgamento definitivo’, a que alude a lei processual como
termo fin al para a suspensão, deve ser entendido como a primeira decisão sobre
o 'mérito’ da exceção.”.676 Ou seja, mesmo pendente recurso de estrito direito
e ainda não sendo definitiva a decisão sobre o incidente, o feito retoma seu
curso normal.
i7í GRECO FILHO. Vicente. D ir e ito p r o c e s s u a l c iv il b ra s ile ir o . 19 “ e.. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 65.
MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. M a n u a l d o p r o c e s s o d e c o n h e c im e n to .
São Paulo: RT, 2003. P. 225.
O quarto motivo que leva a suspensão do processo, previsto no art. 313,
IV, do CPC, é a admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas.
Instituto que não era previsto na legislação anterior e que agora está previsto
nos art. 976 até 987, do CPC. Segundo o art. 976 o incidente é admissivel
sempre que “...houver, simultaneamente: l - efetiva repetição de processos que
contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito; 11 risco
de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.".
Nada obstante, em que pese à redação do inciso IV induzir a idéia de que
a mera existência do incidente, por si só, será suficiente para a suspensão do
feito, a redação dada ao art. 982, I, do CPC, indica que para que isso acon
teça deverá o relator declarar quais processos pendentes devem ser suspensos
na sua esfera de competência. Daí, em nosso entender, os feitos que não são
indicados continuam a ter normal andamento, não podendo o juiz ou relator
decretar a sua suspensão para aguardar a decisão do incidente, já que se trata
de competência hierárquica atribuída exclusivamente ao relator do incidente.
As situações contidas no art. 313, V, do CPC, por seu turno, dizem res
peito à existência das chamadas questões prévias, que já estudamos quando
da análise dos mecanismos cognitivos do direito processual civil (capítulo
04). Naquela ocasião dissemos que as questões prévias são um gênero que
apresenta duas espécies: as questões preliminares e as questões prejudiciais.
Se a solução da questão antecedente pode tornar dispensável ou impossível à
solução da outra questão, estaremos diante de uma questão preliminar. Se a
sua solução apenas influenciar na solução da subsequente, estaremos diante
de uma questão prejudicial. Em outros termos, as questões preliminares são
aquelas que devem, lógica e necessariamente, ser decididas antes da questão
subseqüente, pois impedem sua decisão; enquanto as questões prejudiciais são
aquelas que devem, lógica e necessariamente, ser decididas antes da questão
subseqüente, porque influenciam na sua solução.
Destarte, sempre levando em consideração o caso concreto, deverá o
magistrado suspender o andamento do feito por prazo nunca superior a um
ano (§4°), isso para que o outro juízo possa proferir decisão quanto à questão
condicionante, situação que permitirá, então, que seja examinada a questão
condicionada.
A sexta causa de suspensão do processo, prevista no inciso VI, é a ocor
rência de motivo de força maior, que segundo Ernani Fidelis dos Santos deve
ser examinado caso a caso. Segundo o autor “a lei não define força maior. \ r. preferencial mente, de morte rápida e súbita. Com isso se pretende observar
doutrina procura fazê-lo, considerando-a como circunstância invencível ipie que quanto mais cedo se extingue o processo, obviamente com resolução de
torna impossível o desenvolvimento do processo. A força maior pode dar-se de mérito, mais cedo o direito das partes envolvidas estará recomposto.
maneira geral ou apenas com referência a um dos interessados, cabendo ao ju u A respeito desse inexorável destino, o nosso atual CPC houve por bem
ou ao tribunal decidir e aquilatar a circunstância de cada caso particular."." reduzir os dispositivos que integravam o capítulo relativo à extinção do pro
Nesse passo, um acontecimento não esperado com o advogado ou com .1 cesso, nele mantendo apenas dois preceitos, um relativo ao ato extintivo (art.
parte, quando se dirigem ao fórum, por exemplo, podem ser considerados U6) e outro relativo à possibilidade de correção de vícios formais que possam
como acontecimentos de força maior e justificativos da não realização de uma ser superados (art. 317). Os preceitos que, na vigência do CPC de 1973, trata
audiência, bem como da posterior suspensão momentânea do processo ate vam da extinção do processo sem resolução de mérito (art. 267) e das hipó
que sem resolva tal situação (\'.g. a melhora da situação de saúde da parte qur teses em que havia resolução de mérito (art. 269), agora integram o capítulo
veio prestar depoimento pessoal). Também já se decidiu que greves, como que trata da sentença, versando o art. 385, do CPC, das sentenças onde não há
as dos serviços do correio ou de parte dos funcionários do Poder Judiciário, resolução de mérito e o art. 387 das sentenças onde há resolução do mérito.
podem ser considerados como motivos de força maior para os fins da suspen Embora tal opção demonstre uma melhor técnica legislativa, já que definir
são momentânea do curso dos processos. em quais hipóteses há solução ou não do mérito não é tema que possa ser rela
Outrossim, indicando o caráter taxativo da relação constante do artigo, o cionado de modo independente com o término do processo, a redação dada ao
inciso VII se refere a todos os demais casos em que o código expressamente art. 316 poderia ter sido aprimorada, isso para indicar que o encerramento do
prevê a suspensão do processo, demonstrando que só será possível suspender processo sempre se dá por uma sentença ou por um acórdão. Ao mencionar o
o curso do processo mediante a verificação das hipóteses em que a lei autoriza preceito que a extinção do processo se dará apenas por sentença, esqueceu-se
essa suspensão. Caso contrário, não há fundamento legal para impedir a m ar que é normal e corriqueiro que o encerramento se dê pela decisão de órgão
cha normal do procedimento. colegiado, que segundo o art. 204, do CPC, toma a denominação de acórdão.
Por fim, havendo necessidade da prática de medidas de urgência enquanto De qualquer forma, em que pese à impropriedade cometida pelo preceito, o
suspenso o processo, poderá o juiz determiná-las a fim de evitar a ocorrência lato é que o processo deve ser encerrado por uma sentença ou por um acórdão;
de danos, na forma do art. 314, do CPC; embora a expressão dano irrepará não sem antes se dar a parte a possibilidade de corrigir vícios que levem a uma
vel contida no preceito deva ser mitigada para que possa o magistrado, pre extinção sem resolução do mérito, conforme pronuncia o art. 317, do CPC.
ventivamente, impedir a ocorrência de qualquer dano, mesmo que de fácil Por isso, antes de proferir sentença ou o acórdão sem resolução de mérito, o
reparação. juiz ou o relator deverão conceder à parte oportunidade para, se possível, cor
rigir o vício, propiciando que possa ser alcançado o mérito, desiderato último
de quem procura aciona o Poder Judiciário.
19.3. Extinção.
Desde o seu momento inicial, cuja formação acontece na ocasião em que Verificação de Aprendizagem
é protocolada a petição inicial, o processo tem como destino a sua extinção.
Daí a afirmação, já de domínio público, de que o processo nasce para morrer 01. Em qual momento deve ser considerada proposta a causa?
02. Há necessidade de citação para que se considere formado o processo?
«77
SANTOS, Ernani Fidélis dos. M a n u a l d e d ir e ito p r o c e s s u a l c iv il. 12‘ c.. Sâo Paulo: Saraiva, 2008.
p. 400.
03. O rol de hipóteses previstas no art. 313, do CPC, é taxativo mi
exemplificativo?
04. Pode o magistrado, suspenso o processo em razão da admissão dr
incidente de demandas repetitivas, determinar a suspensão de feito não
indicado pelo relator?
05. Pode o magistrado, suspenso o processo, determinar a realização de
medidas de urgência em casos nos quais não há possibilidade de dano di
irreparável?
06. Diante do teor do art. 316, do CPC, há necessidade do juiz proferit
sentença extintiva do processo quando o acórdão decide de m aneiu
definitiva a controvérsia?
Bibliografia
D1DIF.R f R, Fredie. Curso de direito processual civil. Salvador Podium, 2007.
GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 19 a e.. São Paulo:
Saraiva, 2008.
LOPES, João Batista. Curso de direito processual civil. São Paulo: Atlas, 2005.
u iv n iT in y 'V /, i v m i i r v j i |l/ \ ! in iJ n u ! A M n w M n w
2 0 .1 . O p r o c e s s o c a u t e l a r c o m o u m a te r c e i r a e s p é c ie d e p r o c e s s o . 2 0 .2 . E v o lu ç ã o d o
p r o c e s s o c a u t e l a r n o B ra s il. 2 0 .3 . P e r f il d a t u t e l a a n t e c i p a d a n o C P C d e 1 9 7 3 . 2 0 .3 .1 .
 m b i t o d e c a b i m e n t o . 2 0 .3 .2 . C o n c e s s ã o d a m e d i d a . 2 0 .3 .3 . R e q u is ito s . 2 0 .4 . P e r f i l
d a t u t e l a c a u t e l a r n o C P C d e 1 9 7 3 . 2 0 .4 .1 . O p r o c e s s o c a u te la r . 2 0 .4 .2 . P o d e r g e r a l d e
c a u te la . 2 0 . 4 . 3 . 0 p r o c e d i m e n t o c a u te la r .
A R I E T A , G i o v a n n i . I p r o v v e d i m e n t i d ' u r g e n z a . 2* e.. P a d o v a : C e d a m , 1 9 8 5 . p . 0 2 - 0 4 . N a s p a l a
v r a s d o a u t o r : “L e s te s s e tip ic h e m i s u r e c a u t e l a r ip r e t o r i e d e i d i r i t l o r o m a n o h a n n o s i c u r a m e n t e o r i-
g i n i s tr a g iu d iz ia li: V o p e ris n o v i n u n t i a t i o n o n e r a a ltr o c h e u m a d e n u n z i a o ra le , f a t t a c o m f o r m u l e
s a c r a m e n ta li, c o m Ia q u a le s i in ib iv a ( p r o h ib itio ) a l p r o p r i e t á r i o d e i f o n d o d i c o m p ie r i u t n o p e r a g ià
in i z i a t a ( o p u s n u v u m ) , m a n o n t e r m i n a ta , c o m V a v v e r te n z a , n e l c a s o in c u i il d e n u n z i a t o ( n u n c ia -
lu s ) n o n in te r r o m p e s s e l o p e r a , c h e il d e n u n c i a n t e ( n u n c ia n s ) a v r e b b e c h ie s to a l p r e t o r e u m in te r -
d i c t u m p r o h i b i t o r i u m o d a n c h e d e m o l i t o n u m : m e n tr e , n e lla c a u tio d a m n i in fe c ti, Ia f a s e c a u te la r e
c o n v e n z i o n a l e s i r e a liz a v a n e l l d t t o n e g o z ia le d e la s ti p u l a t i o e d e la p r e s t a z i o n e d e la c a u tio , c h e
p e r m e t t e v a a l p r e s u n t o d a n n e g g ia to d i o tte n e r e u m a g a r a n z i a d i r is a r c im e n to n e l c a s o in c u i il
p e r ic u lo d i d a n n o s i f o s s e tr a d o tto in v e r o e p r ó p r io d a n n o ."
ofendido, assegurando os bens para futura execução ou criando meios de delem
dos interesses de uma parte, como a interdição de obras.”.*79
Tal panorama não foi alterado durante o direito intermediário, até qm •
doutrina alemã, através de Adolf Wash,680681passou a se preocupar com a n a •
sidade de categorizar tais tipos de provimentos como uma espécie diversa, qu<
não se adequava nem ao perfil do processo de conhecimento, nem ao peilll
do processo de execução; tarefa que acabou por ser efetivada pela doutrliM
italiana, em especial por Chiovenda, por Calamandrei e por Carnelutti.
Para Giuseppe Chiovenda o traço característico da medida cautelar, qm
lhe dava uma tipicidade diferente das medidas típicas da atividade de acerta
mento e da atividade executiva, residia na sua provisoriedade. Na linguagem
do autor, “A medida provisória correspondente à necessidade efetiva e atual il<
afastar o temor de um dano jurídico; se, pois, na realidade esse dano é ou mio
eminente, apurar-se-á na verificação definitiva. [...] A medida provisória aluo
uma efetiva vontade de lei, mas uma vontade consistente em garantir a atuação
de outra suposta vontade da lei: se, em seguida, v,g„ se demonstra a inexistêm Ia
dessoutra vontade, a vontade que se atuou com a medida provisória manifesta
-se igualmente como uma vontade que não teria devido existir. A ação assem
ratória é, por conseqüência, ela própria, uma ação provisória;
Porém, a tal ideia se objetava o fato de que toda medida cautelar à époia
existente era provisória (ou temporária), mas nem todas as medidas proviso
rias eram medidas que apresentavam o traço da cautelaridade. Nesse sentido
a crítica de Piero Calamandrei ao afirm ar que: “Mas nem mesmo essa proví
soriedade, entendida como expressão dessa relação cronológica comum entii
dois procedimentos, parece suficiente para proporcionar a diferença específica
dos procedimentos cautelares: essa provisoriedade, de fato, não é um carátei
exclusivo dos procedimentos cautelares, enquanto o próprio caráter proviso
rio se confronta com um outro grupo de procedimentos não-cautelares, isto <•
C A L A M A N D R K I , P ie r o . I n tr o d u ç ã o a o e s t u d o s i s te m á tic o d o s p r o c e d i m e n t o s c a u te la r e s . C a m p i
n a s : S e r v a n d a , 2 0 0 0 . p . 27.
Id em , p. 42.
',ir DE PLÁCIDO E SILVA. Comentários ao Código de 1‘rocesso Civil. 4“ ed.. Rio de janeiro: Forense,
1956. 4" v., p. 168.
“ * LACERDA, Galeno. Comentários ao Código de Processo Civil. 3* ed.. Forense: Rio de Janeiro,
1990. v. VIII, 1.1, p. 03.
AMERICANO, Jorge. Comentários ao Código de Processo Civil do Brasil. 2‘ ed.. Saraiva: São
Paulo, 1960. 3o v., p. 12. O CPC de 1939 também padecia desse erro classificatório, como alerta o
visionais, regulada pelos art. 852 a 854, do CPC de 1973, onde os alimento*
fixados pelo juiz eram desde logo entregues pelo alimentante ao aliment.iiuln
situação que à evidência demonstra a satisfação do direito pleiteado, mm
mente tendo em vista a irreversibilidade do provimento. Da mesma forma
mas ainda mais significativa, a previsão para a “...demolição de prédio / mm
resguardar a saúde, a segurança ou outro interesse público.’’, prevista no .ul
888, VIII, daquele diploma. Afinal, como sustentar que a demolição de um
prédio não está a satisfazer o direito de forma definitiva, não sendo possível t
reversão do provimento de forma específica?
Com o início da vigência do CPC de 1973, essa promiscuidade no trata
mento de medidas de natureza diferente logo fez com ocorresse uma amplia
ção da aplicação das medidas cautelares, que passaram a ser utilizadas sentpu
que havia a necessidade de obtenção de uma medida com brevidade, intlr
pendentemente da satisfação ou não do direito almejado. Observando cv <
fenômeno, que não ocorreu com exclusividade entre nos, mas que também lui
observado na Europa, assevera Luis Guilherme Marinoni que “A necessidiuh
de sumarização cognitiva, advinda da busca de uma tutela jurisdicional cjv
tiva em face de situação de perigo, levou à utilização da tutela cautelar como
instrumento destinado à satisfação antecipada de pretensão que só poderio m i
veiculada através da chamada ação principal’. Se talfenômeno - denominado
por Carpi, para o direito italiano, de força expansiva da tutela cautelar - Joi
realmente necessário, não cabe discutir nesse momento, importando, em vci
dade, saber se a tutela que satisfaz a pretensão no plano fático pode ser classi
ficada como cautelar.”.690
Entre nós, a larga utilização de medidas cautelares que ao invés de apenas
assegurar também satisfaziam, deu ensejo a elaboração da teoria da ação cau
telar satisfativa, denominação esta que apresenta em si mesma uma contradi
ção inconciliável. Afinal, se o que distingue o processo cautelar das demais
espécies de processo é justamente o fato de que se trata de uma tutela de mer*
M1 I d e m , p. 79.
6,5 O L I V E I R A N E T O , O la v o d e . A d e fe s a d o s e x e c u ta d o s e d o s te r c e ir o s rui e x e c u ç ã o f o r ç a d a . S io
P a u lo : R T , 2 0 0 0 .
m Z A V A S C K I, T e o r i A l b i n o . A le d id a s c a u te la r e s e m e d i d a s a n te c ip a tó r ia s : té c n ic a s d ife r e n te s , f u n
ç ã o c o n s t it u c i o n a l s e m e lh a n te . I n R E P R O 8 2 /5 6 .
6,7 T H E O D O R O J U N I O R , v. I II , p . 7 3 4 -7 3 5
»n|> pena de perecimento total ou parcial do direito pleiteado; o que poderia
wt obtido de duas formas, correspondentes a duas espécies de um mesmo
gênero, que eram a tutela antecipatória e a tutela de cautelar. Enquanto nessa a
tutela era de mera segurança, naquela acontecia à satisfação mediante a ante-
. ipaçào dos efeitos do provimento final.
11,8 Já eram requisitos para a obtenção da liminar: a) prova da posse do autor, b) turbação ou esbulho
praticado pelo réu, c) ocorrência do esbulho ou turbação a menos de ano e dia e d) continuação da
posse turbada ou perda da posse.
Na redação original do preceito, entretanto, eram o», adeptos tia tercelia
posição que tinham razão. Ocorre que na sua redação original, o art. 273. ^ t".
do CPC de 1973, dizia que a execução da tutela antecipada deveria observai
o disposto no art. 588, que tratava de execução provisória, Assim, como i
execução provisória se dava da mesma forma que a execução definitiva, sendo
apenas incompleta no seu iter procedimental, para ambas havia necessidadi
de um título executivo. Ocorre que, na época, o art. 584, I, aduzia que ei .i
título executivo judicial “a sentença condenatória proferida no processo c iv il ",
não se referindo em momento algum as demais modalidades de provimento',
como títulos executivos. Portanto, como para os títulos executivos já vigorava
o princípio da taxatividade, segundo o qual não existem títulos executivo-,
sem previsão legal, então apenas a sentença condenatória, enquanto título,
poder ia ser objeto de execução provisória. Logo, apenas os provimentos de
natureza condenatória poderíam ser objeto de antecipação de tutela.
Os adeptos das demais correntes sustentavam que o parágrafo deveria sei
interpretado de maneira ampliativa, pois a lei havia dito execução onde que
ria ter dito efetivação, e, que havia se referido a execução provisória de modo
exemplificativo. Porém, não havia possibilidade dessa ampliação, bastante
distante daquilo que a regra efetivamente dizia.
Após calorosos embates por parte de renomados autores, dando-se um
reconhecimento tácito quanto ao acerto da terceira posição, a Lei n° 10.444,
de 07.05.2002, alterou a redação do §3°, fazendo nele constar que “a efetivação
da tutela antecipada observará, no que couber e conforme a sua natureza, as
normas previstas nos arts. 588, 461 §§ 4o e 5o, e 461-A.”. Com isso, portanto, a
antecipação da tutela passou a ser possível em provimentos de natureza con
denatória, mandamental e executiva lato senso.
20.3.3. Requisitos.
Para que fosse possível ao magistrado antecipar a tutela sob a vigência do
CPC de 1973, deveria a parte preencher vários requisitos previstos no art.
273, que elencava requisitos que deveriam estra presentes, por isso denomi
nados requisitos positivos, e, um requisito que deveria estar ausente, por isso
denominado requisito negativo. Os requisitos positivos, por sua vez, se clas
sificavam em obrigatórios (verossimilhança da alegação e prova inequívoca)
ou facultativos, também denominados hipóteses de cabimento, previstas nos
incisos do preceito. Reconhecida à presença dos dois requisitos obrigatórios e
de uma das hipóteses de cabimento, e, ausente o requisito negativo, deveria o
magistrado antecipar a tutela.
O primeiro dos requisitos positivos obrigatórios era a verossimilhança da
alegação, ou seja, uma alegação representativa de fato que normalmente cos
tuma acontecer. A alegação de que dirigir sob o efeito de bebida alcoólica
aumenta a possibilidade de um acidente, por exemplo, pode ser tomada como
uma hipótese de alegação de algo que, para a maioria das pessoas, costuma
acontecer. Se tal alegação viesse comprovada por uma prova robusta, deno
minada pelo art. 273, do CPC de 1973, de prova inequívoca, então estariam
presentes os dois requisitos obrigatórios para a concessão da antecipação dos
efeitos da tutela.
Além desses requisitos ainda era necessária a verificação da presença de
um dos requisitos positivos facultativos, que na locução da lei eram a existên
cia de “...fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação” (inciso I)
ou a caracterização do “...abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito
protelatório do réu” (inciso II). A hipótese prevista no inciso I aproximava-se a
situação de perigo a direito exigida para a concessão de uma medida assecura-
tória, enquanto a hipótese prevista no inciso II visava uma distribuição mais
adequada dos males que o tempo causa ao processo.
Já o requisito negativo tinha previsão no §2", cuja redação era “não se conce
derá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do pro
vimento antecipado”. Ao seu respeito ensinava João Batista Lopes que “Cabe
registrar, à partida, a impropriedade técnica do dispositivo: o provimento ante-
cipado( decisão interlocutória ) é sempre reversível, seja porque cabível contra
ele recurso ( agravo de instrumento ), seja porque, por sua natureza, a tutela
antecipada é provisória e revogável. Diante disso, a quem interpretar o texto
com os olhos votados para o ratio legis: evitar que a concessão da tutela ante
cipada crie fato consumado e definitivo, sem possibilidade de retorno ao sta-
tus quo ante. Cuida-se, por tanto de irreversibilidade dos efeitos práticos do
provimento, e não, propriamente, irreversibilidade do provimento tout court.
Como observa Marcacine, ‘é evidente que, quando se fala em reversibilidade,
não se pode nem pensar em apenas duas situações, de modo que ou a medida
seja reversível ou irreversível. Ê possível que a reversibilidade seja de difícil rea
lização, ou demande tempo, dinheiro e muita atividade processual. Assim, é
possível apurar no caso concreto o quanto a medida pode ser mais ou tn e n o «
facilmente reversível. ”.699
O preceito ainda previa, no seu §6°,700 uma outra possibilidade de antec I
pação dos efeitos da tutela, aqui sem a necessidade da presença dos requisito-,
acima descritos. Tratava-se da antecipação da tutela quanto a parte incon
troversa da demanda, que para alguns representava uma verdadeira sentença
parcial, na medida em que resolvia parcial mente o conteúdo do processo.
Por fim, previa a lei expressamente, no art. 273, §7°, do CPC de 1973, .i
fungibilidade entre as medidas cautelar e antecipatória. Pleiteada uma sob
a denominação da outra, presentes os requisitos legais, nada impedia que o
magistrado concedesse a tutela tecnicamente adequada ao caso concreto.
LO P E S . p. 70.
700 " A r t. 2 7 3 . §6°. A t u te la a n te c ip a d a t a m b é m p o d e r á s e r c o n c e d id a q u a n d o u m o u m a is d o s p e d id o s
c u m u l a d o s , o u p a r c e la d e le s , m o s tr a r - s e in c o n tr o v e r s o ." .
^ .i concessão de uma medida cautelar sem a existência de um processo cautelar,
situação que por si só demonstra a não coincidência entre os termos.
Essa contusão entre o veículo (processo cautelar) e o seu resultado (medida
cautelar) deu ensejo a uma praxe absolutamente contrária a técnica proces
sual, mas que era aplicada pela maioria dos magistrados, onde uma petição
inicial de um processo cautelar era recebida e a liminar apreciada (deferida ou
indeferida), mas o processo não tinha sequência, despachando o magistrado
nos autos a locução “Prossiga-se na ação principal.". Com isso a ação cautelar
sofria uma “morte súbita”, sem que fossem respeitados inúmeros princípios
processuais, já que não havia oportunidade de defesa na cautelar, obediência
ao procedimento cautelar ou mesmo uma sentença cautelar, que viesse a tor
nar definitiva ou a cassar a lim inar concedida. Tudo isso, aliás, em absoluto
desrespeito a doutrina mais autorizada, que pode ser encontrada nas lições
de Sérgio Shimura ao afirm ar que “Se existe um processo cautelar, mister se
faz a existência de um procedimento cautelar, que é o rito ou a formalidade
a ser cumprida para se atingir a tutela cautelar. Outrossirn, se há processo,
pressupõe-se inelutavelmente a existência de uma ação cautelar, como direito
subjetivo público à concessão da providência jurisdicional. Por derradeiro, o
resultado prático, o objetivo final traduz-se numa medida cautelar ".701
Aqueles que eram obedientes à lei, determinando a citação na ação caute
lar, seguindo o procedimento estabelecido e proferindo uma sentença caute
lar, com isso observando as regras contidas no CPC; numa absoluta e espan
tosa inversão de valores, eram taxados de formalistas e retrógrados, quando
em verdade nada mais buscavam do que garantir a aplicação da própria lei,
velando com isso pela segurança jurídica e pelo respeito aos direitos processu
ais das partes. Triste a época em que a banana come o macaco!
Nada obstante o divórcio existente entre a técnica e a prática, ao analisar o
perfil do processo cautelar a doutrina enunciava a existência de quatro cara-
teristicas marcantes e que deveríam nortear a concessão ou não da medida
pleiteada: a) a instrumentalidade, já que servia para tutelar o resultado prático
de outro processo; b) a autonomia, já que possuía objeto próprio e diverso
dos demais tipos de processo; c) a provisoriedade, já que produzia eficácia
vinculada a solução de outro processo; e, por fim, d) a revogabilidade, pois a
702
THEODORO JUNIOR, p. 59.
I
20.4.2. Poder geral de cautela.
7“
A exposição de motivos do CPC de 1973, ao discorrer acerca das inovações
daquele diploma, alertava, em seu item 23,'70:1 que o livro relativo ao processo
cautelar era dividido em dois capítulos: o primeiro se referia as disposições
gerais do processo cautelar, enquanto o segundo dizia respeito aos procedi
mentos cautelares específicos, onde era encontrada a disciplina de algumas
modalidades de ações cautelares (nominadas ou específicas) cuja ocorrência
era comum ou mesmo por conta da tradição. Com isso, ao prever algumas
ações cautelares nominadas, mas reconhecendo implicitamente a impossibi
lidade de prever todas as hipóteses em que seria viável a concessão de uma
medida cautelar, o art. 798,704 constantes das disposições gerais do livro, atri
buía ao juiz poderes para conceder medidas cautelares além daqueles previs
tas pela lei, mecanismo este denominado poder geral de cautela do juiz, tam
bém existente no direito alienígena (ex.: Alemanha, Itália, Argentina, etc) e no
precedente CPC de 1939.705
Para concessão de uma medida cautelar fundada no poder geral de cautela,
embora tais termos não constassem expressamente do referido preceito (art.
798), deveria o magistrado verificar se estavam presentes os dois requisitos
que a doutrina entendia necessários, consubstanciados no periculum in mora
e no fum us boni iuris. Este a significar a plausibilidade do direito invocado e
aquele representado por uma situação atual de perigo ao direito alegado. Mas
muito se discutia acerca do teor do referido preceito e da exata extensão dos
termos que empregava.
“O L iv r o I II , r e la tiv o a o p r o c e s s o c a u te la r , s e d i v i d e e m d o is c a p ítu lo s . O p r i m e i r o c o n té m d i s p o s i
ç õ e s g e r a is s o b r e m e d i d a s i n o m i n a d a s e o p r o c e d i m e n t o q u e d e v e s e r o b s e r v a d o a s s im e m r e la ç ã o a
e s ta s c o m o a o s p r o c e d i m e n t o s c a u te la r e s e s p e c ífic o s , r e g u la d o s n o c a p ítu lo s e g u in te " .
“A r t . 7 9 8 . A l é m d o s p r o c e d i m e n t o s c a u te la r e s e s p e c ífic o s , q u e e s te c ó d ig o re g u la n o C a p ítu lo I I d e s te
liv r o , p o d e r á o j u i z d e t e r m i n a r a s m e d i d a s p r o v is ó r ia s q u e j u l g a r a d e q u a d a s , q u a n d o h o u v e r f u n
d a d o r e c e io d e q u e u m a p a r t e , a n t e s d o j u l g a m e n t o d a lid e . c a u s e a o d ir e ito d a o u tr a le s ã o g r a v e e
d e d i fíc il r e p a r a ç ã o .”.
" A r t. 6 7 5 . A lé m d o s c a s o s e m q u e a le i e x p r e s s a m e n te o a u t o r i z a , o j u i z p o d e r á d e t e r m i n a r p r o v i
d ê n c i a s p a r a a c a u t e l a r o in te r e s s e d a s p a r te s : I. Q u a n d o d o e s ta d o d e f a t o d a lid e s u r g ir e m f u n d a d o s
r e c e io s d e r i x a o u v io lê n c ia e n tr e o s litig a n te s : II. Q u a n d o , a n te s d a d e c is ã o , f o r p r o v á v e l a o c o r r ê n
c ia d e a to s c a p a z e s d e c a u s a r le s õ e s, d e d i fíc il e in c e r ta r e p a r a ç ã o , a o d ir e ito d e u m a d a s p a r te s : III.
Q u a n d o , n o p r o c e s s o , a u m a d a s p a r t e s f o r im p o s s ív e l p r o d u z i r p r o v a , p o r n ã o se a c h a r n a p o s s e d e
d e t e r m i n a d a c o is a .”.
A primeira celeuma dizia respeito ao uso do termo ...fundado receito ",
que não representava qualquer tipo de receio, mas apenas aquela espécie apt.i
a gerar uma preocupação real na maioria das pessoas. A seu respeito ensinas •
Vitor Marins que “O fundado receio de dano deve ser objetivamente demoth
trado e não apenas suposto pelo interessado, dando asas à fertilidade da uto
imaginação.”.706
Também se questionava se o termo “...uma das partes...” impedia que o
receio de dano pudesse advir de um fato natural, assim como a deterioração
de um bem, independentemente da uma conduta da parte; mas não havia
no sistema qualquer empecilho para que tal situação pudesse gerar direito ã
obtenção de uma tutela de segurança.
Ainda se polemizava se o juiz poderia ou não conceder medidas cautelares.
com base no poder geral de cautela, quando se tratasse de processo de execii
çào, já que o art. 798, do CPC de 1973, utilizava a expressão “...antes do julgo
mento da lide...”, que a evidência se referia ao processo de conhecimento. Aqui
a solução da polêmica tendia a entender que havia apenas uma impropriedadr
no teor do preceito, que se referiu a julgamento quando em verdade procu
rava fixar como limite temporal o fim do processo, fosse ele de conhecimento,
fosse ele de execução.
Por fim, dentre tantas outras discussões, havia dúvida sobre a função do V
que unia “...lesão grave...” a “...difícil reparação”. Seria ele conectivo, impondo
tanto a existência da lesão quanto a difícil reparação; ou, seria ele disjuntivo,
impondo alternativamente uma ou outra das hipóteses tratadas? Para Pontes
de Miranda a partícula era conectiva. A seu respeito dizia o autor que “A lei
não disse lesão grave ou de difícil reparação', mas sim “A lei não disse 'lesão
grave e de difícil reparação'. Não basta, portanto, que se tema lesão grave, é
possível que não se possa ser facilmente reparada a lesão.”.707 Porém, firmou-se
o entendimento de a função da partícula era disjuntiva, ou seja, para a con
cessão da medida bastava a existência de lesão grave ou de reparação difícil.
Não podia o magistrado, todavia, conceder medidas cautelares em quais
quer situações, já que a própria natureza da medida impunha limites ao
706 MARINS, Victor Alberto Azi Bomfim. T u te la c a u te la r . Curitiba: Juruá, 1996. p. 233.
707 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcante. C o m e n tá r io s a o C ó d ig o d e P r o c e s s o C iv il. Rio de
Janeiro: Forense, 1976. Tomo XII, p. 45-46.
i nMc u io do poder geral de cautela. Esses O primeiro desses limites era conhe
■Ido i orno a coordenação com o açdo principal, ou seja, a medida cautelar não
podería exceder os limites da ação correlata. Tratava-se de uma vertente do
piluclpio da congruência, já que não é razoável que alguém pretenda obter
tuna segurança maior do que obterá como resultado na ação de conhecimento
ou de execução. Daí a razão pela qual a parte que não requeria a produção de
pmva oral na ação correlata, também não poderia pleitear, em sede de pro
dução antecipada de provas, a oitiva de uma testemunha. O outro limite ao
exercício do poder geral de cautela era a reversibilidade da medida. Afinal,
xntdo irreversível a medida cautelar concedida, deixa ela de ser uma tutela de
segurança e passa a ser uma tutela satisfativa da obrigação, transmudando-se
em tutela de natureza executiva.
roa CPC de 1973. "A rt. 939. A p lic a -se a e sta a ç ã o o d isp o sto n o a rt. 8 0 3 ”.
então existente, o chamado rito ordinário, com evidente desrespeito ao prin
cípio da celeridade processual e prejuízo ao direito das partes, que eram mau
tidas numa situação de incerteza quanto ao conteúdo do processo cautelar.
A petição inicial da ação cautelar, que além dos requisitos da petição inicial
do processo de conhecimento (art. 282), também devia se referir ao conteúdo
da causa principal (art. 800, III). Com isso a lei visava proporcionar ao juiz. jti
no exame da petição inicial, um contato precário com a causa de pedir da ação
correlata, sem o que não seria viável decidir acerca de eventual incompetcni ia
ou mesmo aferir em qual extensão a cautela era necessária, em desrespeito ao
limite relativo à coordenação com a ação principal.
Dois problemas eram mais agudos quanto a inicial da ação cautelar: a com
petência e o valor da causa. Quanto àquela, previa o art. 800 que era com
petente para conhecer da ação cautelar o juízo que fosse competente para
conhecer da ação principal, o que remetia ao exame das regras gerais de
competência, então previstas no livro relativo ao processo de conhecimento.
Estando a ação principal em segundo grau, dizia o parágrafo único do pre
ceito que “interposto o recurso, a medida cautelar será requerida diretamente
ao tribunal.’’. Entretanto, sendo a apelação interposta em primeiro grau, onde
se inicia o seu processamento, qual era o juízo competente para conhecer e
decidir a medida cautelar quando os autos ainda não haviam subido para o
tribunal? Nesses casos a solução mais adequada era interpor a medida caute
lar diretamente em segundo grau, mas instruí-la com cópia de todas as peças
da ação principal, ainda tramitando em primeiro grau. Caso contrário, na
maioria dos casos, não tinha o tribunal condição de saber se era ou não o caso
de concessão da cautela.
Situação existente desde o CPC de 1939, entendia-se que até mesmo um
juiz absolutamente incompetente poderia conhecer e apreciar uma medida
de natureza cautelar, isso em virtude da urgência inata a tal tipo de provi
mento, remetendo os autos para o juízo competente. Em termos práticos, por
exemplo, uma cautelar para forçar um pleno de saúde a fornecer material para
realização de cirurgia poderia ser deferida por um juiz trabalhista, pois todos
os magistrados possuem jurisdição, para ser o processo remetido em seguida
para o juiz competente. Raríssimos, todavia, os casos práticos que assim se
apresentavam.
Por fim, a propositura da ação cautelar preparatória tornava prevento o
(ulzo para as ações que lhe fossem conexas, devendo a impugnação a compe
lem, ia do juízo (na época feita pelo veículo denominado exceção de incom
petência) ser feita no prazo para a resposta da ação cautelar, sob pena de
preclusão.
No tocante ao valor da causa, havia dúvida quanto ao parâmetro que deve
ria ser utilizado para atribuição de valor a ação cautelar. Atribuir o mesmo
valor que seria atribuído à ação principal poderia, em tese, duplicar o valor
do proveito que se pretendia obter e ainda dificultar o exercício do direito
de ação, mediante a interposição de recursos, por conta do elevado valor das
custas e do preparo. Nessa hipótese a solução era casuística, sempre se levando
em conta a regra da razoabilidade.
Recebida a inicial e citado o réu, esse tinha o prazo de 05 dias para con
testar o pedido formulador, qualquer que fosse o procedimento cautelar (art.
802), não havendo a possibilidade de formulação de pedido contraposto ou
de utilização de reconvençâo. Isso se dava porque não havia possibilidade de
que o direito alegado fosse plausível tanto para o autor, quanto para o réu; e,
porque a inserção do procedimento da reconvençâo, então com natureza de
ação, no curso de uma ação cautelar, acabava por atentar contra a estrutura
do próprio procedimento cautelar, a exigir celeridade na sua solução. Trans
corrido o prazo para a resposta e estando a causa madura, seja por conta da
revelia, seja por conta da possibilidade de julgamento no estado do processo,
decidia o juiz no prazo de 05 (cinco) dias (art. 803). Caso contrário, embora a
lei fosse omissa a tal respeito, deveria o magistrado sanear o feito e designar
uma audiência de instrução e julgamento, onde então a prova seria produzida
e, após a alegação das partes, deveria o magistrado proferir sentença.
Embora polêmica a questão, sempre entendemos que a sentença cautelar
deveria fixar condenação ao pagamento de honorários advocatícios, indepen
dentemente dos honorários fixados na ação principal, já que em ambas have
ría de ser remunerado o trabalho desenvolvido pelo patrono das partes.
Verificação de Aprendizagem
01. Segundo a doutrina clássica, qual é a característica que diferencia o
processo cautelar dos demais tipos de processo?
02. Como evoluiu a doutrina italiana para chegar a essa concepção?
03. No sistema do CPC de 1973 era possível antecipar tutela declaratória?
04. No sistema do CPC de 1973 era possível a concessão da antecipação da
tutela na sentença?
05. No sistema do CPC de 1973 era possível antecipar tutela de ofício?
06. Quais os requisitos necessários a antecipação da tutela no CPC de 1973?
07. Quais as características do processo cautelar no CPC de 1973?
08. Em que consistia o poder geral de cautela, previsto no art. 798, do CP(
de 1973? Quais eram os seus limites?
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21. TUTELA PROVISÓRIA
21.1. Noções gerais. 21.1.1. Classificação. 21.1.2. Eficácia. 21.1.3. Efetivação. 21.1.4.
Demais aspectos tratados. 21.2. Tutela de urgência. 21.2.1. Perfil. 21.2.2. Requisitos.
21.2.3. Liminar. 21.2.4. Responsabilidade por dano causado pela tutela antecipada.
21.3. Estabilização da tutela de urgência. 21.3.1. Noções iniciais. 21.3.2. Petição sim
plificada. 21.3.3. Aditamento e emenda da petição simplificada. 21.3.4. Estabilização
do provimento. 21.4. Tutela de evidência. 21.4.1. Definição. 21.4.2. Hipóteses de cabi
mento. 21.5. Tutela cautelar antecedente. 21.5.1. Noções iniciais. 21.5.2. Procedimento.
a tutela cautelar antecedente, respectiva mente. Por fim, o terceiro título dis
ciplina a tutela de evidência, procurando distingui-la da tutela de urgência.
21.1.1. Classificação.
O art. 294, primeiro preceito do livro relativo à tutela provisória, apenas se
limita a apresentar as classificações formuladas pela própria lei, ao que parece
seguindo o pensamento de Alfredo Buzaid, que fez constar na Exposição de
Motivos do CPC de 1973 que “À força de ser repetido, passou à categoria de
adágio jurídico o conselho das fontes romanas, segundo o qual ominis defini-
tio in jure civile periculosa est (D. 50.17.202). Sem discutir o valor dessa reco
mendação, de cujo acerto não pomos dúvida, ousamos, contudo, em vários
lugares do projeto, desatendê-la, formulando algumas definições que reputa
mos estritamente necessárias.”.70,) Assim, entendeu a lei ser necessário classi
ficar a tutela provisória segundo três enfoques distintos: a) quanto à satisfati-
vidade da decisão (antecipada ou cautelar); b) quanto ao momento da decisão
(antecedente ou incidental); e, c) quanto natureza da decisão (de urgência ou
de evidência).
Tendo por traço distintivo a satisfação ou não do direito material, a pri
meira classificação apresenta duas espécies opostas de decisões, já que a tutela
antecipada satisfativa realiza de algum modo à pretensão relativa ao direito
material, enquanto a tutela antecipada cautelar (não satisfativa) apenas asse
gura o resultado de outro provimento jurisdicional. Nesse passo, quando se
pede tutela antecipada para a realização de uma cirurgia, trata-se de uma tutela
antecipada satisfativa, na medida em que o resultado que é objeto do provi
mento final terá sido alcançado, ainda que em sede de uma medida concedida
liminarmente. Porém, quando se pleiteia uma medida cautelar de sequestro
de um bem cuja propriedade se discute, depositando-o em mãos de um ter
ceiro, apenas se estará assegurando que este bem não se perderá enquanto não
advém a decisão que define com quem ele deverá ficar em definitivo.
Quanto ao momento da decisão, toma-se por parâmetro o momento da
propositura do feito que veicula o pedido principal. Se a tutela é pleiteada
antes do momento em que se formula o pedido principal, então se trata de709
710 Súmula 93, do Tribunal de Justiça de São Paulo. " S ú m u la 93: a im p l a n t a ç ã o d e 's t e n t ’ é a t o in e r e n te
a c ir u r g ia c a r d ia c a /v a s c u la r , s e n d o a b u s iv a a n e g a tiv a d e s u a c o b e r tu r a , a i n d a q u e o c o n tr a to se ja
a n t e r i o r à L e i 9 ,6 5 6 /9 8 ° .
Em suma, portanto, a classificação legal pode ser assim planificada:
- A n te c e d e n te
- Cautelar
- Incidente
- T. de urgência
- Antecedente
- Antecipada
- Incidente
Tutela Provisória
T. de evidência
21.1.2. Eficácia.
Quando se trata de uma decisão judicial, o termo eficácia deve ser enten
dido como a aptidão que essa decisão tem para produzir seus efeitos. Dai
a razão pela qual se costuma dizer que o efeito suspensivo atribuído a um
determinado recurso impede que a decisão recorrida venha a produzir os seus
regulares efeitos. Portanto, quando o art. 296, do CPC, estabelece que a tutela
provisória conserva sua eficácia enquanto pendente o processo, parece querer
indicar que desde o momento em que é concedida, até a extinção do processo
(pois só a partir daí ele não será um processo pendente), estará ela apta a pro
duzir seus respectivos efeitos.
Essa interpretação, porém, não está correta. Em primeiro lugar a tutela pro
visória produz seus efeitos enquanto não for modificada por uma decisão que
lhe altera. Isso pode acontecer por conta de uma alteração imposta em grau
de recurso, onde o juízo ad quem cassa a medida liminar que foi concedida
pelo juízo a quo, ou quando o próprio magistrado profere outra decisão modi
ficando o conteúdo da primeira, situação expressamente prevista pela parte
finai do art. 296, caput, do CPC, segundo o qual a tutela provisória "... pode,
a qualquer tempo, ser revogada ou m odificada”. Aliás, em complemento, o
termo “poderá” deve ser entendido como “deverá”, já que desaparecidos os
requisitos que levurum o magistrado a conceder a medida esta deverá, obriga
toriamente. ser cassada.
Em segundo lugar, quando a decisão relativa ao pedido principal é pro-
latada no mesmo sentido da decisão liminar, tendo essa a natureza de uma
tutela antecipada satisfativa, então quem passa a produzir eficácia é a pró
pria decisão relativa ao pedido principal. Nesse sentido pode-se dizer, com
o apoio no que ensina Sérgio Shimura, que a medida inicialmente concedida
não se reveste da definitividade própria das tutelas típicas de acertamento e de
execução, surgindo “com previsão do término de sua eficácia, quando serão
modificadas, absorvidas ou substituídas por outra, definitiva e de mérito do
feito principal.”.711 (grifo nosso)
Em terceiro lugar existem as hipóteses específicas de cessação da eficácia
da tutela cautelar antecedente, previstas no art. 309; e, por fim, em quarto
lugar, existem situações excepcionais onde o magistrado pode atribuir ultra-
-atividade a tutela concedida liminarmente. Neste caso, mesmo encerrado o
processo, continuará a medida a produzir eficácia.
Certa ocasião, no exercício da judicatura e ainda sob a vigência do CPC
de 1973, recebemos medida cautelar que pleiteava o fornecimento de atendi
mento pelo sistema de home care (internação domiciliar) para uma senhora
de quase cem anos, concedendo a medida liminarmente inaudita altera parte.
Efetivada a decisão, a advogada da autora praticamente abandonou a causa
e deixou de propor a então necessária ação principal, no prazo de 30 dias, o
que fez com que não houvesse outra possibilidade a não ser a extinção do pro
cesso. Na sentença que extinguiu o feito, devido ao estado de saúde da autora,
tivemos a oportunidade de aplicar a teoria ao caso prático, fazendo constar no
corpo da sentença que: “Nada obstante, como a situação da autora continua a
inspirar cuidados, podendo ser a medida cautelar renovada a qualquer tempo,
não se justifica cassar a lim inar concedida, sendo o caso de conferir ultra-a-
tividade a segurança já efetivada, ao menos até o trânsito em julgado da pre
sente decisão. Daí, portanto, a manutenção da situação de fato na forma como
se encontra, com o fornecimento de todo o material necessário à manuten
ção da autora em Home-Care, inclusive com o fornecimento de fraldas (que
seriam utilizadas se esta estivesse no hospital), do aparelho e do medicamento
711
SHIMURA, Sérgio Seiji. A r r e s to c a u te la r . São Paulo: RT, 1993. p. 28-29.
indicados a fls. 190, é medida que st* impõe; isso em razfio do cotejo entre
os direitos em discussão, devendo prevalecer a proteção à saúde da autora ã
necessidade de aplicação do art. 808, do CPC, mediante aplicação dos princi
pios da proporcionalidade e da razoabilidade. Devido ao delicadíssimo estado
de saúde da autora, a interrupção do fornecimento de quaisquer dos materiais,
medicamentos ou aparelhos ora utilizados implicará em multa diária de RS
10.000,00 (dez mil reais); limitada a 100 (cem) dias multa.”
Em resumo, ao contrário do que diz textualmente o art. 296, do CPC, não é
a pendência do processo que delimita a eficácia da tutela antecipada, mas sim
as situações acima articuladas e que devem ser sempre examinadas à vista do
caso concreto.
21.1.3. Efetivação.
Num Estado Democrático de Direito, onde todos devem respeitar a Cons
tituição e o arcabouço legislativo infraconstitucional, parece ser inconcebí
vel pensar que, proferida uma decisão judicial, alguém deixe de cumpri-la
de forma espontânea. Porém, a realidade brasileira é enormemente distante
dessa situação ideal. O que se vê é um enorme desrespeito a norma ou a deci
são judicial que não vêm acompanhadas de uma sanção. Daí o acerto do art.
297, do CPC, ao determ inar que "O juiz poderá determinar as medidas que
considerar adequadas para efetivação da tutela p r o v i s ó r i a municiando o
magistrado dos instrumentos necessários a forçar o cumprimento daquilo
que determinou. Mas quais serão essas “medidas adequadas ”?
Ao diferenciar a atividade praticada no processo de acertamento da ativi
dade praticada no processo de execução, conforme se verá com maior profun
didade quando do estudo da tutela executiva, observou Chiovenda712a existên
cia de meios diversos para a obtenção do resultado almejado na execução, qual
seja, a satisfação do conteúdo do título, classificando-os em meios de coerção
e meios de sub-rogaçâo. Enquanto nessa forma de execução não é necessária à*I,
71J G U E R R A , M a r c e lo L im a . E x e c u ç ã o in d ir e ta . S ã o P a u lo : R T , 1 9 9 8 . p. 3 4 .
' A S S IS , A r a k e n . C u m p r i m e n t o d a s e n te n ç a . R io d e J a n e ir o : F o r e n s e , 2 0 0 6 . p . 3 3 .
21.1.4. Demais aspectos tratados.
Encerrando as disposições gerais relativas à tutela antecipada, os art. 29H r
299, do CPC, tratam da fundamentação da decisão judicial e da competênc 1.1
para conhecer e decidir tal espécie de pedido.
Quanto à fundamentação, repetimos o que foi dito em diversas passagens
deste curso, não havia necessidade de “gastar” um artigo para fazer constai
expressamente à necessidade de fundamentação clara e precisa para a decisão
judicial que nega ou que concede a tutela provisória. Isso porque a fundamen
tação das decisões judiciais é um princípio constitucional que informa o pro
cesso civil, sendo um dos deveres do magistrado o de fundam entar qualquei
tipo de decisão que profere.
Por seu turno, importante asseverar que o art. 299, do CPC, que disciplina
a competência do juízo no caso de tutela provisória supera com boa vantagem
qualitativa o art. 800, do CPC de 1973, que disciplinava idêntica matéria no
sistema anterior. Ocorre que a redação daquele preceito gerava dúvida quando
se tratava da competência para receber, processar e julgar medida cautelar
incidental interposta após o momento em que o magistrado já havia proferido
sentença no processo cautelar, isso na medida em que seu parágrafo único
dizia que “interposto o recurso, a medida cautelar será requerida diretamente
ao tribunal.”. Porém, o recurso cabível na época, que era de apelação, era
interposto e tinha parte de seu processamento em primeiro grau, subindo ao
tribunal apenas após o oferecimento de contrarrazões e a realização de juízo
de admissibilidade pelo juiz a quo. Portanto, até a subida dos autos, como
interpor a medida se a competência para conhecê-la era do tribunal, mas os
autos ainda permaneciam em primeiro grau? A solução prática era a interpo
sição da medida diretamente no tribunal, com cópia integral do processo que
ainda tramitava em primeiro grau.
Atualmente, porém, não há mais espaço para dúvida a respeito do tema.
Em primeiro lugar, se já há processo veiculando o pedido principal, a tutela
provisória, que será incidental, será pleiteada ao juiz da causa que já foi pro
posta (art. 299, Ia parte: a tutela provisória será requerida ao juízo da causa).
Em segundo lugar, se ainda não foi distribuída causa que veicula o pedido
principal, então a competência será fixada levando-se em consideração quem
será o juiz competente paru conhecer desse pedido principal (art. 299, 2“ parte:
...quando antecedente, ao juízo competente para conhecer do pedido principal.).
Por fim, nas causas de competência originária e nos recursos, a tutela provi
sória será pleiteada perante o órgão que for competente para apreciar o mérito
da causa ou do recurso (art. 299, parágrafo único) e, neste caso, desapareceu
o problema gerado pela tramitação do feito principal em primeiro grau e da
interposição de pedido incidente em segundo grau, isso diante da escolha da
lei, que optou pelo recurso de agravo de instrum ento para todos os casos que
envolvam a tutela provisória, conforme previsto pelo art. 1.015,1, do CPC.
21.2.1. Perfil.
Já tivemos a oportunidade de salientar, quando do estudo da tutela jurisdi-
cional, que o termo tutela significa proteção, o que faz com que tutela jurisdi-
cional tenha o significado de proteção mediante o exercício da jurisdição. Mas
essa proteção não pode acontecer de qualquer forma e a qualquer tempo, com
independência das necessidades ditadas pelo próprio direito material, sob
pena do perecimento deste próprio direito. Afinal, quando o direito proces
sual deixa de atuar em consonância com as necessidades do direito material,
torna-se praticamente impossível a obtenção da efetividade que o processo
deve conferir ao direito da parte, ou seja, da concretização da clássica lição de
Chiovenda de que "II processo deve dare per quanto è possibile praticamente a
chi un dirrito tutto quello chegli ha dirrito di conseguire."
Nesse passo, deve-se observar que por mais eficiente e rápida que possa ser
a atividade do Poder Judiciário, sempre haverá a necessidade de respeitar os
princípios da ampla defesa e do contraditório, o que faz com que exista um
tempo necessário para a prestação da tutela pretendida pela parte. Esse tempo
inerente à atividade processual é denominado, por Marcelo Lima Guerra, de
demora fisiológica, isso em oposição àquela demora causada pela má prestação
dos serviços judiciários ou mesmo pela indevida atuação procrastinatória das
partes, denominada demora patológica. Nas palavras do próprio autor “..., por
mais simples que seja a estrutura atribuída ao processo, sempre marcada pelo
contraditório, tende ele, inexoravelmente, a durar, e esta duração, em si mesma,
já significa uma Jonle perene cie obstáculos ü própria efetividade da tutela júris
dicional a ser através dele prestada. Seja sublinhado que esta duração não se
trata, necessariamente, de uma duração ‘p atológica’, mas antes aquela que
bem pode ser chamada de ‘fisiológica’. Duração, portanto, ineliminável, pois
decorrente das garantias fundamentais com as quais se pretende assegurar a
justiça do resultado fin a l a ser alcançado através do processo. Observa-se que a
duração do processo pode obstar à efetividade da tutela jurisdicional, de duas
formas distintas. Por um lado, essa duração é uma ameaça à efetividade da
tutela jurisdicional, apenas por criar a oportunidade à ocorrência de eventos
que impeçam aquela efetividade e, de outro lado, por submeter o titular do
direito, que se pretende tutelar através do processo, a um estado prolongado de
insatisfação deste direito, do qual resultem prejuízos capazes de tornar inócua
a tutela, quando afinal prestada. De qualquer modo, em ambas as hipóteses,
a duração do processo se põe como uma ameaça à própria efetividade do seu
resultadofin a l (= tutela jurisdicional), por gerar o perigo de que não proporcione
à parte vitoriosa ‘tudo aquilo e exatamente aquilo que tenha direito de obter’, o
que equivalería, como já fo i mencionado, a denegar-lhe tutela jurisdicional.”.711'
Também nesse sentido a extremamente feliz e precisa afirmação de Sérgio
Shimura: “De nada adianta a existência dos direitos se, quando vêm judicial
mente reconhecidos, ou exigidos, não mais tem utilidade prática, seja porque se
alterou a situação fática, seja porque a situação emergencial já se transmudou,
de dano temido a dano lamentado.”.717
No mesmo diapasão a posição de Luiz Fux, Presidente da primeira comis
são de elaboração do Projeto do Código de Processo Civil, que tratando do
tema sob o enfoque da tutela de segurança concluiu que “a base empírica da
tutela de segurança reside num estado de ‘ periclitação do direito' material
gerado por um fato da natureza ou pelo comportamento judicial ou extrajudi
cial da parte adversa.”.718
Diante do exposto torna-se inevitável a conclusão de que, em certos casos,
a prestação da tutela pelo Estado apenas no final do processo faz com que
o direito pleiteado possa não ser devidamente protegido, razão pela qual há*7
716 GUERRA, Marcelo I.ima. Estudos sobre o processo cautelar. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 14-15.
7,7 S H I M U R A , p. 22-23.
7" FUX, Luiz. Tutela de segurança e tutela de evidência. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 367.
necessidade de um.i unlec Ipnçdo da tutela que seria prestada no final do pro
cedimento, isso como for ma de evitar o peredm ento do próprio direito mate
rial posto em juízo. Nestes casos, onde a prestação da tutela deve ser feita de
modo rápido é que encontramos o campo de atuação da hodiernamente deno
minada tutela provisória de urgência, o que nos fez afirm ar no item relativo
à classificação, repita-se, que a tutela provisória é urgente quando há perigo
iminente de perda ou de lesão ao direito que a parte declara ter, o que implica
na necessidade da obtenção de uma proteção jurisdicional rápida.
Reunidas assim pelo traço da urgência, o que implica na submissão a um
mesmo regime jurídico, os art. 300 até 302, do CPC, que integram o Capítulo
I, do Título II, apresentam disposições gerais aplicáveis tanto a tutela ante
cipada antecedente, quanto a tutela cautelar antecedente, que estão tratadas
separadamente no capítulo II (art. 303 e 304) e no capítulo III (art. 305 e 308).
21.2.2. Requisitos.
Para a concessão da tutela de urgência determina o art. 300, do CPC, que
deverão estar presentes dois requisitos que são: a) a existência de elementos
que evidenciem a probabilidade do direito; e, b) o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
Sob a égide do CPC de 1973, o primeiro requisito correspondia àquilo que
se tratava por fumus boni iuris no processo cautelar e por verossimilhança
da alegação em sede de antecipação de tutela, ambas ligadas a um juízo pro
visório e de probabilidade, realizado pelo magistrado ao conceder a medida.
Nas palavras de Calamandrei “Por aquilo que se refere à investigação sobre
o direito, a cognição cautelar se limita em cada caso a um juízo de probabili
dade e de verossimilhança. Declarara existência do direito é função do processo
principal: em sede cautelar basta que a existência do direito pareça verossímil,
ou seja, melhor dizendo, basta que, segundo um cálculo de probabilidade, se
possa prever que o procedimento principal declarará o direito em sentido fa vo
rável àquele que requeira a medida cautelar.”.719
Não se afasta dessa idéia o atual sistema, embora o uso da frase “...quando
houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito...” represente, em
21.2.3. Liminar.
Numa situação de normalidade, o que se espera do processo é que ele
possa, após seu processamento regular, embebido pelo debate e pela atua
ção das partes em contraditório, prestar uma tutela que venha a acertar o
direito controvertido, satisfazer o conteúdo de um título ou apenas prestar
7;l I H E O D O R O J U N I O R , H u m b e r t o . P r o c e s s o c a u te la r . S ã o P a u lo : L E U D , 2 0 0 8 . p . 6 4 . “...a p a r t e
d e v e r á d e m o n s t r a r f u n d a d o t e m o r d e q u e , e n q u a n t o a g u a r d a a tu t e l a d e f i n i t i v a , v e n h a m a f a l t a r
a s c i r c u n s t â n c i a s d e f a t o f a v o r á v e i s à p r ó p r ia t u te la .."
uma tutela de segurança. Porém, como já tivemos a oportunidade de salientar,
existem situações que exigem a prestação de uma tutela de modo mais rápido
ou mesmo de modo imediato, sob pena do perecimento do direito, Esse é o
campo propício para a concessão das chamadas medidas liminares, que na
sua essência representam nada mais do que um momento processual anterioi
ao momento em que a tutela seria normalmente prestada, ou seja, quando da
prolação da sentença. Daí a precisão da lição de João Batista Lopes, para quem
“... a decisão concessiva da tutela é proferida in limine litis, vale dizer, revcs
te-se da natureza liminar (do latim, limen, inis = a soleira da porta, a parte
inicial da casa).”.722
Assim sendo, vista a lim inar em sua essência como um mero momento
processual, há de se observar que a concessão deste provimento jurisdicional
se faz sempre723 mediante ato que possui a natureza de decisão interlocutó
ria, cujo conteúdo vai variar de acordo com o tipo da tutela que se pleiteia.
Se o pedido é de uma tutela urgente antecipada, então teremos uma liminar
satisfativa; se o pedido é de uma tutela urgente cautelar, então teremos uma
liminar cautelar; e assim por diante.
Embora toda decisão interlocutória que conceda uma tutela provisória seja
uma decisão liminar, isso pelo simples fato de que o momento considerado
normal para a concessão da tutela é o momento da sentença, a lim inar con
cedida antes da citação do sujeito passivo e sem a sua manifestação toma a
denominação de lim inar inaudita altera parte, que significa que a decisão foi
proferida sem a prévia oitiva prévia da parte contrária. Aqui o magistrado
se depara com situações ainda mais urgentes, nas quais não é possível nem
mesmo aguardar o comparecimento da parte contrária ao processo, pois o
tempo necessário à integração da demanda, com a realização do ato de cita
ção, por si só já representa um grave risco de que a tutela prestada será inefi
caz. O que justifica tal conduta no bojo do processo, segundo Humberto The-
odoro Junior, “é simplesmente a possibilidade de o dano consumar-se antes da
citação, qualquer que seja o motivo. Impõe-se o provimento imediato, porque se
722 LOPES, João Batista. T u te la a n t e c i p a d a . 4* ed.. São Paulo: RT, 2009. p. 117.
723 Mesmo quando a antecipação é concedida no corpo da sentença, para os que admitem tal possibi
lidade, trata-se de um capítulo cuja natureza é de decisão interlocutória e, portanto, impugnável
mediante recurso de agravo.
se tiver que uguunhn ti <lliiç tío, o perigo se converterá em dono, tornando tardia
a medida cuja finalidade é, essencialmente, preveni-lo.Vu
Mas a lim inar concedida, seja ela ou não inaudita altera parte, passa desde
logo a produzir eficácia e, com isso, pode alterar a situação no mundo empíri
co,725 fazendo com que a parte contrária suporte ônus financeiros decorrentes
da necessidade de cumprir uma decisão ainda não definitiva. Por isso, se a
medida lim inar for cassada por outra decisão interlocutória, pela sentença ou
por decisão proferida em grau de recurso, terá o requerente da medida que
indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta suportou.
Para tornar viável essa eventual reparação poderá o magistrado, por força
do disposto no art. 300, §1°, do CPC, determ inar que aquele que requereu a
medida preste caução real ou caução fidejussória. Com isso quem requer a
medida confere no processo a segurança de que a parte contrária terá res
sarcido eventuais prejuízos, recebendo, em contrapartida, uma tutela mais
rápida.
Por hipótese, pense-se num pedido de sustação de protesto onde o autor
presta caução em dinheiro e no exato montante do título remetido ao pro
testo. Nesse caso o raciocínio do juiz pode ser o seguinte: “Se houve o depò
sito do valor total do título, o autor possui dinheiro para pagar o débito e, por
isso, não está apenas tentando ganhar tempo. Se não fez o pagamento deve ser
porque possui alguma razão relevante para isso, que inclusive veio descrita na
petição inicial. Afinal, seria bem mais fácil, mais seguro e bem menos custoso
para o autor pagar o débito, ao invés de ter que contratar advogado e custear
uma demanda em juízo, isso sem saber em quanto tempo ela será decidida e de
que forma ela será resolvida. Portanto, se assim agiu, trata-se de caso onde o
autor deve ter razão e a liminar deve ser concedida.”
Cabe ressaltar, por fim, que a determinação para que a parte preste cau
ção não está acompanhada de nenhum requisito específico, o que indica que721
721 T H E O D O R O J U N I O R , p . 150.
726 Nesse sentido, aliás, a Súmula 16 do TJSP, cujo teor é o seguinte: “Súmula 16: I n s e r e - s e n a d is c r iç ã o
d o J u iz a e x ig ê n c ia d e c a u ç ã o e a n á l i s e d e s u a i d o n e i d a d e p a r a s u s t a ç ã o d e p r o te s to ." .
Com a alteração do texto do projeto c com omissão du lei na redação final,
que agora não veda em situação alguma a concessão de ofício de tutela de
urgência, certamente abriu-se o caminho para que a corrente que sustenta a
possibilidade da concessão sem pedido expresso da parte ganhar corpo e, por
consequência, tornar-se a posição majoritária. É assim que pensamos, mas é
necessário aguardar o que a doutrina e a jurisprudência dirão acerca do tema.
727
MARINONI, Luiz Guilherme. A a n t e c ip a ç ã o d a t u te la . 3" ed.. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 216.
IIJO m m ; m - cumcmv >i. jjuivini.i n umvumn umnn uv »nyv». u \j
7111 L A C E R D A , G a le n o . C o m e n tá r io s a o C ó d ig o d e P r o c e s s o C iv il. 3* e d .. R io d e J a n e ir o : F o r e n s e ,
1 9 9 0 . p. 4 3 4 .
™ T H E O D O R O J U N I O R , H u m b e r t o , p. 150.
i n ic ia r o p r o c e s s o o r d in á r io , a p a r t e in te r e s s a d a p o d e p e d i r a o j u i z a a n t e c ip a ç ã o p r o v is ó r ia d a
t u te la . É e s se o m o d e l o a p lic a d o n a E u r o p a p e lo s is te m a fr a n c ê s m e d i a n t e o ré fé ré , p r e v is to n o s a r t '
8 0 8 e 8 0 9 d o N o u v e a u C o d e d e P r o c é d u r e C iv ile , e a i n d a p e lo s is te m a b e lg a n o a r t. 5 8 4 d o C o d e
J u d ic ia ir e . O s e g u n d o m o d e lo , p e lo c o n tr á r io , la s lr e ia - s e n o p r i n c íp i o e m v i r t u d e d o q u a l a tu te la
a n t e c i p a t ó r i a é c o n c e d id a p e lo j u i z d o p r o c e s s o o r d in á r io , d u r a n t e o c u r s o d o p r ó p r io p ro c e ss o . N ü o
p o d e , to d a v ia , h a v e r d ú v i d a s a c e r c a d a s u p e r io r id a d e , p o r v á r io s m o tiv o s , d o s e g u n d o m o d e lo e m
r e la ç ã o a o p r im e ir o ." .
de taxi, por exemplo, que tinha seu veículo abalroado e que por isso se via
obrigado a propor uma ação contra o causador do dano, queria apenas obter
a reparação do seu veículo e o ressarcimento dos valores que iria receber caso
estivesse trabalhando. Obtidos esses proveitos, o processo passava a ser um
fardo para as partes, que já tinham solucionadas as suas pendências de ordem
prática, mas ainda precisavam continuar a litigar, isso em busca da segurança
da coisa julgada, fenômeno que desconheciam por completo e não sabiam
para o que se prestava. Afinal, na prática, o que significa a coisa julgada para
um leigo, quando já recebeu tudo aquilo que lhe era devido?
Nesse mesmo sentido, aliás, o pensamento explicitado na escorreita colo
cação de João Batista Lopes ao afirmar que “No que toca à tutela antecipada,
tem-se observado que, em muitos processos em que a providência é concedida,
o autor praticamente se desinteressa em promover os atos necessários ao desen
volvimento do processo, porque já obteve a satisfação do direito, ainda que em
caráter provisório. A seu turno, o réu muitas vezes permanece omisso por recear
que, na sentença, sua situação venha a ser agravada.’? 3'
Esse foi o principal motivo, cremos, que deu ensejo a inserção em nosso
sistema jurídico da estabilização da tutela de urgência, onde os valores rapidez
e efetividade se sobrepõem ao valor segurança jurídica; mediante a aplicação
de um procedimento diferenciado do procedimento comum, como doravante
passaremos a examinar.
731
LOPES, p. 234.
Embora essa modalidade de petição inicial seja simplificada e em lese
menos complexa do que a petição inicial do art. 319, do CPC, o art. 303 enu
mera alguns requisitos que lhe são essenciais, previstos no caput do preceito
e nos seus §§ 4o e 5o. São eles: a) a declaração expressa do autor de que pre
tende se valer do benefício da petição inicial simplificada (§5°), b) a exposição
da lide {caput), c) a exposição do direito que se busca realizar (caput), d) a
exposição da situação de perigo (caput), e) a indicação do pedido da tutela
final (caput), f) o pedido da tutela antecipada (caput) e g) o valor da causa
(§4°). Logicamente, em que pese não conste expressamente do texto do artigo,
também será necessária a indicação de um determinado órgão jurisdicional
e uma qualificação mínima das partes, sem o que não é possível delimitar os
limites subjetivos da medida que se pleiteia ou mesmo quem será atingido pela
sua efetivação.
Nesse passo, pretendendo o autor se valer do procedimento previsto para a
estabilização da tutela de urgência, deverá elaborar a sua petição simplificada
indicando, inicialmente, qual é o juízo competente, que será definido pelos
mesmos critérios utilizados para a elaboração de uma petição inicial. Todavia,
mesmo que distribuído o feito a juízo absolutamente incompetente, se houvn
imediata possibilidade do perecimento do direito, decorrente da não aprec ia
ção da medida, deverá o magistrado apreciar o pleito liminar, antes mesmo
de remeter o feito para o juízo competente para conhecê-lo e decidi-lo. Já no
tocante a qualificação das partes, deve ser mitigada a regra inserta no art. 319,
II, do CPC, bastando ao autor declinar sua qualificação completa e qualificar
o réu de forma a permitir a sua identificação, seja para responder ao feito, seja
para sofrer as consequências da efetivação da tutela antecipada concedida.
A declaração expressa do autor (§5°) de que pretende se valer do benefício
previsto no art. 303, caput, do CPC, como requisito essencial da petição sim
plificada, mais do que uma mera opção pela via processual que permite a uti
lização dessa modalidade de petição, implica na opção pela adoção deste pro
cedimento diferenciado e em verdadeira renúncia ao procedimento comum
e a prestação, pelo Estado, de uma tutela jurisdicional exauriente. Quando o
autor declara esta opção, ele aceita a possibilidade de extinção do feito (art
304, §1) sem a apreciação do seu conteúdo, dispensando a realização de ins
trução probatória e de uma sentença de mérito. Como essa opção pelo proce
dimento diferenciado também deve ser aceita pelo réu, a não interposiçáo de
recurso acaba por representar uma verdadeira aceitação tácita de submissão
ao procedimento, dando ensejo à estabilização da tutela liminarmente conce
dida (art. 304, caput).
No tocante à causa petendi, embora o termo “exposição sumária” tenha
sido excluído da redação final do projeto que deu origem ao Código, deverá
o autor fazer a exposição sumária da lide, a exposição sumária do direito que
busca realizar e a exposição sumária da situação de perigo. A urgência na
prestação da tutela exige uma exposição sumária destes elementos induzindo
o autor a ser sucinto ao descrevê-los. Não há necessidade de tecer profundas
considerações acerca de como se deram os fatos ou de quais os direitos do
autor que estão sendo violados, bem como de apresentar minúcias acerca do
contexto que deve ser compreendido como uma ameaça ao direito que alega
possuir. Basta que o autor se faça inteligível, embora de forma simples, para
que estejam preenchidos estes requisitos. Posteriormente, sendo necessário,
quando do aditamento da petição simplificada, os detalhes serão esclarecidos.
Em respeito ao princípio dispositivo, previsto no art. 2o, do CPC, deverá
o autor formular requerimento expresso de antecipação da tutela, ficando o
magistrado, a principio, impedido de conceder a medida de ofício, a não ser
nas hipóteses em que há possibilidade do perecimento do direito, como adu
zimos anteriormente.
Além disso, também está o autor obrigado a indicar qual será o pedido
de tutela que fará para obtenção do provimento final, isso para que possa o
magistrado aferir a existência de correlação entre o pedido lim inar e o pedido
final. Em outros termos, se a tutela antecipatória visa à antecipação dos efeitos
do provimento que será obtido ao final, então não há como pleitear, em sede
liminar, algo diverso daquilo que ao final seria obtido. Daí, portanto, a neces
sidade do preenchimento deste requisito.
Por fim, optou a lei por exigir a indicação do valor da causa na petição
simplificada, o que se faz na mesma forma e seguindo os mesmos critérios de
atribuição de valor da causa a petição inicial.
Por se tratar de uma modalidade de petição inicial, embora mais simples e
com requisitos específicos, tudo o que se aplica quanto ao recebimento ou não
da petição inicial também se aplica ao recebimento ou não da petição sim
plificada. Daí a possibilidade do magistrado receber formalmente a petição
simplificada »• apicclnr o conteúdo da medida liminar pleiteada; Indeferir a
petição simplifkada com base nas hipóteses do art. 330, do CPC, no que cou
ber; ou, ainda, mandar emenda-la para que sejam preenchidos os seus requi
sitos específicos, na forma do art. 321, do CPC.
Nada obsta, além disso, que o magistrado decrete a improcedência liminar
do pedido, desde que verifique a presença de uma das situações previstas no
art. 332, do CPC. Daí, por exemplo, se ao examinar a causa petendi o magis
trado puder concluir pela existência de prescrição, aplicará o § Io do preceito
para, de plano, rejeitar o pedido com resolução do mérito (art. 484, II).
21.4.2. Procedimento.
Nessa via processual, por expressa indicação do art. 305, do CPC, o autor
se utiliza de medida que possui natureza jurídica de ação, razão pela qual
deve exercitar seu direito mediante a distribuição de uma petição inicial, que
além dos requisitos gerais para essa modalidade de peça processual, que estão
previstos no art. 319, do CPC, ainda deve preencher os requisitos específicos
elencados no próprio artigo, que são a) a indicação da lide e do fundamento
do pedido principal, b) a exposição sumária do direito que se visa assegurar e
c) o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.
Ao indicar qual é a relação jurídica controvertida e o fundamento do pedido
principal, o autor estará fornecendo ao magistrado os elementos necessários
para aferir, dentre outras coisas, se é ou não o juízo competente para conhecer
e decidir a demanda, se há ou não viabilidade formal de processamento do
pedido principal, se há ou não necessidade de assegurar o resultado pleite
ado no pedido principal e qual é a dimensão do litígio, seja no aspecto subje
tivo (legitimidade), seja no aspecto objetivo (amplitude da liminar e valor da
causa). Além disso, deverá o autor indicar de modo sumário, porém expresso
e inteligível, o direito que visa assegurar, e, o periculum iri mora, isto é, a situa
çào de perigo a qual esta submetido o direito que deverá ser assegurado.
Distribuída à petição inicial deverá o magistrado realizar juízo de admis
sibilidade, podendo indeferi-la (art. 330), determinar a sua emenda (art. 321)
ou recebe-la e m andar citar o réu para oferecer contestação no prazo dc 05
(cinco) dias, conforme reza o art. 306, do CPC. Além destas três possibili
dades ainda poderá o magistrado, presente a hipótese do art. 332, decretar a
improcedência liminar do pedido cautelar ou receber a petição inicial e pro
cessá-la na forma dos art. 303 e 304, aplicando a regra da fungibilidade, desde
que entenda que o pedido formulado pleiteia, em verdade, ao invés de uma
tutela cautelar, uma tutela antecipada (art. 305, parágrafo único).
Assim como acontecia sob a vigência do código anterior (art. 802, do CPC
de 1973), o art. 306, do CPC, ao se utilizar do termo “contestar" e não do termo
“resposta”, não cometeu qualquer impropriedade, mas foi preciso para indi
car que não há possibilidade de utilização de reconvenção no caso da tutela
cautelar antecedente, embora essa possa ser ofertada depois de formulado o
pedido principal. Isso porque não há como o direito alegado em sede cautelar
ser plausível tanto para o autor, quanto para o réu; e, porque a inserção do pro
cedimento da reconvenção no curso do procedimento da tutela cautelar ante
cedente atenta contra a estrutura do próprio procedimento cautelar, que exige
celeridade na sua solução. Ofertada ou não resposta pelo réu, o feito passa a
seguir o procedimento comum, com o julgamento antecipado na hipótese da
revelia (art. 307, caput) ou com a aplicação das demais providências prelimi
nares, julgamento no estado ou saneamento (art. 307, parágrafo único). Findo
o curso procedimental o magistrado deverá proferir sentença, concedendo ou
negando a tutela cautelar pleiteada.
Embora o Capítulo III não trate especificamente do tema, sendo a tutela
cautelar uma das modalidades da tutela de urgência, aplica-se aqui o que está
disposto no art. 300, §2°, do CPC, sendo possível ao magistrado a concessão
da medida liminar inaudita altera parte para evitar que a situação de perigo
ao direito se transforme em dano a ser composto.
Como existe autonomia entre a lide cautclar e a lide principal," embora
estejam vinculadas porque oriundas de uma mesma relação jurídica de direito
material, mesmo se a sentença prolatada rejeitar o pedido relativo ã tutela cau
telar antecedente poderá o autor formular o pedido principal nos próprios
autos (art. 308, caput, c.c. art. 310), desde que o fundamento da rejeição não
seja a decretação da decadência ou da prescrição. Nesse caso, também por
opção legislativa, o pedido cautelar desborda seus limites e vai alcançar o con
teúdo que seria próprio do pedido principal, tudo em prol do princípio da
economia processual.735 Afinal, qual seria a justificativa para permitir que a
decadência ou a prescrição tivessem que ser novamente apreciadas, quando já
decididas anteriormente no pedido cautelar?
Por sua vez, se o pedido cautelar for concedido em sede de uma medida
liminar ou se for concedido na sentença, a partir do momento em que se efe
tivar a medida passará a fluir o prazo de 30 (trinta) dias para que o autor
formule o pedido principal, o que será feito nos próprios autos e independen
temente do recolhimento de novas custas processuais (art. 308, caput, in fine).
O termo inicial desde prazo não é o momento da concessão da medida ou da
sua intimação, mas sim o momento da sua efetivação, conforme alerta expres
samente o art. 308, caput, ab initio, do CPC; mesmo que essa efetivação seja
apenas parcial. Isso porque não parece razoável que o prazo somente passe a
fluir com a completa efetivação da medida, já que mesmo em caso de efetiva
ção parcial o réu já estará sofrendo os efeitos práticos da decisão judicial, que
nesses casos geralmente produz imediatos efeitos no mundo de fato.
Por seu turno, ainda sob a vigência do CPC de 1939 e do CPC de 1973,
houve ampla discussão acerca da natureza do prazo para a propositura da
então ação principal,736 parecendo ter prevalecido o entendimento daqueles
7.6 V id e p o r t o d o s M A R I N S , V i c t o r A . A . B o n f im . T u te la c a u te la r . C u r i t i b a : J u r u á , 1 9 9 6 . p. 3 3 3 -.
que atribuíam .1 pm/.o .1 natureza de prazo decadencial. Nesse sentido as
lições de I lumbcrlo Thcodoro Junior, para quem "U prazo do art. 806 r dccn
dencial, não se sujeitando a interrupção ou suspensão. Não se vence, todavia,
em dia que não haja expediente forense no foro, caso em que será prorrogado
para 0 primeiro dia útil.”?37 e, de Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade
Nery para quem “Não ajuizada a principal no prazo de trinta dias, opera-se a
decadência do direito à cautela. Matéria de ordem pública que é, a decadência
deve ser pronunciada de oficio pelo juiz. A norma só se aplica as cautelares
antecedentes, pois, quanto as incidentes, a ação principal já se encontra em
curso. A decadência atinge somente 0 direito à cautela, permanecendo integro
eventual direito material de que seja titular 0 requerente. Assim, mesmo após
verificar-se a decadência da cautela, 0 requerente pode ajuizar ação principal,
se 0 direito nela pleiteado ainda não tiver sido extinto. Apenas a medida caule
lar concedida é que perderá seus efeitos.”.733
Mantido este entendimento quanto à natureza do prazo constante do art.
308, do CPC, e tendo em vista que os prazos decadenciais, a princípio, não se
suspendem e nem se interrompem, torna-se forçoso questionar como serão
contados os 30 (trinta) dias para a formulação do pedido principal: a con
tagem se dará na forma do art. 219, do CPC, computando-se apenas os dias
úteis, ou, dar-se-á sem que ocorra qualquer suspensão, computando-se lam
bém os feriados forenses (sábados, domingos e feriados)? Aguardando 0 que a
jurisprudência dirá sobre o tema, acreditamos que deve prevalecer a natureza
específica deste tipo de prazo, que deverá ser contado sem a suspensão dos
feriados forenses.
Deve-se observar, ainda, que no atual sistema 0 oferecimento do pedido
principal não implica na propositura de uma nova ação e ainda aproveita o
mesmo suporte (processo) onde foi formulado o pedido cautelar. Em outras
palavras, é no processo já existente que o autor deverá formular seu pedido
principal, que por isso não precisa atender as determinações relativas à peti
ção inicial (art. 319), já que não se trata de peça que vai materializar o exercício
do direito de ação. Daí, não havendo necessidade de alteração dos dados cons
tantes da petição inicial do processo, bastará ao autor juntar aos autos uma
21.5.1. Definição.
A tutela provisória foi classificada, no art. 294, do CPC, como sendo uma
tutela de urgência, necessária quando há perigo iminente de perda ou de lesão
ao direito que a parte declara ter, o que implica na necessidade da obtenção de
uma proteção jurisdicional rápida; ou, como sendo uma tutela de evidência,
cuja ocorrência se dá sempre que o magistrado pode, desde logo, reconhecer
a presença de uma grande possibilidade da existência do direito. Vista a pri
meira espécie, resta agora analisar o perfil da segunda, sendo que no aspecto
meramente semântico é evidente aquilo “1 Que se compreende sem dificuldade
nenhuma, que não oferece dúvidas. 2 Claro, manifesto, patente; óbvio. 3 Que
não pode ser contestado ou negado; incontestável, inegável..”.739 Trata-se de
algo tâo claro que é possível a todos compreendê-lo facilmente.
Todavia, em que pese à novidade da denominação que se dá a essa modali
dade de tutela, sua ocorrência sempre foi bastante comum no dia a dia forense,
quando provimentos judiciais fundados em tutela de evidência eram conce
didos sob diversas denominações. As liminares concedidas numa ação de ali
mentos provisionais (art. 852 a 854, do CPC de 1973) ou numa ação de alimen
tos provisórios (Lei n° 5.478/68), fundada na relação de filiação, por exemplo,
sempre foram consideradas pela doutrina majoritária como tendo a natureza
cautelar e antecipatória, respectivamente, embora tais alimentos não fossem
repetíveis. Portanto, se a reversibilidade da medida, no sistema do CPC de
1973, era requisito tanto para concessão de uma tutela cautelar, quanto para
a concessão de uma tutela antecipatória; então como poderia o juiz conce
dê-la sem ofensa aos requisitos necessários ao seu deferimento? O mesmo se
diga quanto à concessão de uma liminar para o tratamento de doente, sem
condições financeiras, sob o sistema de home care; ou, da concessão de uma
7J»
Verbete evidente. M ic h a é l i s - M o d e r n o d ic io n á r io d a lín g u a p o r tu g u e s a . Capturado de http://
michaelis.uol.com.br em 16.04.2013.
• • « • • • « m w » • / r t i i v i n u M i. j n n / i u i m u n j i \ n i / \ / r n \ / V l .»I V
7i2
BUENO, Cassio Scarpinella. T u te la a n t e c ip a d a . Sáo Paulo: saraiva, 2004, p. 42.
Quanto ao que sojn iim.i pmva documental (ou documento), veremos no
momento oportuno que s.io três os requisitos para que algo possa ser classifi
cado como documento: a) uma representação escrita ou não; b) a representação
de um fato pretérito ou de declaração; e, c) o caráter relativamente duradouro
do objeto; o que permite a definição de documento como toda a representação
de fato pretérito ou de declaração, gravada em meio relativamente duradouro,
que por si só permita ao agente conhecer do seu conteúdo. Mas não basta que
se trate de documento, já que a lei se utiliza do termo suficiente, que implica
na realização de um juízo de valor (axiológico) por parte do magistrado para
que possa conceder a medida. Obviamente, como acontece em todo juízo de
valor, deverá o juiz fundamentar de forma clara sua decisão, indicando quais
foram às razões que o levam a acreditar na suficiência dos documentos para a
demonstração dos fatos constitutivos do direito do autor.
Nesse caso, antes de proferir decisão concedendo a tutela antecipada, por
força do disposto na parte final do inciso IV (a que o réu não oponha prova
capaz de gerar dúvida razoável), estará o juiz obrigado a ouvir o réu e a lhe
permitir a produção de prova que possa por em dúvida a conclusão obtida
pela prova unilateralmente juntada pelo autor. Aliás, essa obrigatoriedade
também está expressa no parágrafo único do preceito, onde consta que no
caso dos incisos II e III a medida poderá ser deferida inaudita altera parte,
o que implica na não possibilidade da sua concessão sem a oitiva do réu nas
hipóteses dos incisos I e IV.
Nada obstante as hipóteses expressamente previstas por lei, em resposta a
questão inicialmente ventilada, entendemos que o rol constante do artigo é
apenas exemplificativo, sendo perfeitamente possível a concessão de tutela de
evidência, mesmo em sede de lim inar inaudita altera parte, quando o direito
posto em juízo permitir ao magistrado, desde logo, realizar cognição exau
riente sobre o tema.
Voltando ao exemplo tratado no item anterior, onde o companheiro
expulsa sua companheira de casa e retêm seus documentos e suas roupas ínti
mas, observamos que a hipótese não se amolda perfeitamente em nenhum
dos incisos do art. 311. Mas mesmo que se pudesse dizer que na inicial esta
riam suficientemente comprovados os fatos constitutivos do direito da autora
(inciso IV), estaria o juiz obrigado a perm itir ao réu a produção de contra
prova (inciso IV c.c. parágrafo único) antes de conceder a liminar. Porém, se
as tutelas de urgência tem gênese na Constituição da República, que assegura
a proteção contra a ameaça de lesão a direito, então como limitar a realização
imediata do evidente direito da autora sob o pretexto de que há necessidade
da prévia oitiva do réu? Numa ponderação entre a efetividade do processo e a
segurança jurídica, nessas hipóteses extremas, em prol da realização do bem
maior da Justiça, deve prevalecer a efetividade, com a concessão da medida
mesmo sem a oitiva da parte contrária.
Em conclusão, portanto, sendo extremamente evidente o direito invocado
pela parte, nada obsta que o magistrado conceda a tutela antecipada de evi
dência fora das hipóteses previstas pelo art. 311, do CPC, com embasamento
na gênese constitucional das tutelas de urgência, mesmo quando se tratar de
lim inar onde não ocorre a oitiva da parte contrária antes da concessão da
medida.
Verificação de Aprendizagem
01. Como se classifica a tutela provisória? Explique cada uma das espécies.
02. Até quando a tutela provisória produz eficácia?
03. Como deve agir o magistrado para impor a efetivação da tutela provisória?
04. Quais os requisitos exigidos para a concessão da tutela de urgência
antecipada? Há diferença na apreciação dos requisitos na tutela antecipada
e na tutela cautelar?
05. É possível a concessão de tutela de urgência antecipada sem pedido
expresso da parte?
06. Em que consiste a lim inar inaudita altera parte ?
07. A caução prevista no art. 300, §1°, representa um requisito para a obtenção
da liminar?
08. Não agindo o autor com culpa, mas ocorrendo uma das hipóteses
previstas no art. 302, do CPC, como deve acontecer a composição de
prejuízos causados pela efetivação da tutela antecipada?
09. Em que consiste e quais são os requisitos da a “petição simplificada ” (art.
303, do CPC)?
10. Concedida a tutela a n ta Ipndn, na forma de art. 303, do CPC, como deve
prosseguir o feito?
11. Negada a tutela antecipada, na forma de art. 303, do CPC, como deve
prosseguir o feito?
12. Quais os requisitos exigidos por lei para a estabilização da tutela de
urgência antecipada?
13. É cabível recurso de apelação da decisão que estabiliza a tutela antecipada?
14. Quais os requisitos específicos da ação que visa atacar a tutela estabilizada?
15. É possível a antecipação de tutela na ação que visa atacar a tutela
estabilizada?
16. A decisão que estabiliza a tutela opera eficácia de coisa julgada material?
17. Qual a razão para a existência de procedimentos diversos para a obtenção
da tutela de urgência antecipada e para a obtenção da tutela de urgência
cautelar?
18. Pode o réu oferecer reconvenção na ação que pleiteia tutela cautelar
antecedente?
19. Como se conta o prazo para a formulação do pedido principal (art. 308)?
20. Cessada a eficácia da tutela cautelar antecedente, isso por conta da
ocorrência da hipótese prevista no art. 309,1, do CPC, como o magistrado
deve proceder?
21. Defina tutela provisória de evidência.
22. É possível a concessão da tutela de evidência fora das hipóteses previstas
no art. 311, do CPC?
2. Tutela de urgência.
- Perfil: A tutela provisória é urgente quando há perigo iminente de perda ou
de lesão ao direito que a parte declara ter, o que implica na necessidade
da obtenção de uma proteção jurisdicional rápida.
- Espécies: a) Tutela de urgência antecipada e b) tutela de urgência cautelar
- Requisitos para concessão (positivos)(art. 300): a) a existência de elementos
que evidenciem a probabilidade do direito; e, b) o perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo.
- No caso da tutela de urgência antecipada, por força do disposto no art. 300.
§3°, do CPC, há ainda a necessidade de irreversibilidade dos efeitos da
decisão (requisito negativo).
- Cognição: a) Na tutela de urgência antecipada é sumária e b) na tutela de
urgência cautelar é superficial.
03. Liminar.
- Momento processual - do latim, limen, inis = a soleira da porta, a parte
inicial da casa.
- Liminar inaudita altera parte.
- Concessão da lim inar sem pedido expresso da parte.
- Caução real ou fidejussória.
04. Responsabilidade por dano causado pela tutela antecipada.
- Art. 302 - Responsabilidade objetiva.
- Hipóteses legais.
05. Estabilização da tutela de urgência.
05.01. Procedimento diferenciado nos casos de extrema urgência, concomitante
com a propositura da ação.
05.02. Requisitos da “Petição simplificada" (art. 303)
a) indicação do juízo competente, (mas mesmo o absolutamente incompetente
pode apreciar o pedido liminar)
b) qualificação das partes
c) a declaração expressa do autor de que pretende se valer do benefício da
petição inicial simplificada,
d) quanto à causa de pedir: a exposição sumária da lide, a exposição sumária
do direito que se busca realizar e a exposição sumária da situação de
perigo,
e) a indicação do pedido da tutela final,
f) o pedido da tutela antecipada satisfativa
g) o valor da causa.
05.03. Aditamento da petição simplificada - Concedida a tutela antecipada,
segue o feito um procedimento especial de jurisdição contenciosa, na
forma do art. 303, §§ Io a 3o, do CPC.
05.04. Emenda da petição simplificada - Negada a tutela antecipada, segue o
feito o procedimento comum, na forma do art. 303, §6°, do CPC.
05.05. Estabilização do provimento - Opção das partes pelo procedimento
especial, com a exigência de dois requisitos:
a) declaração expressa do autor, na inicial simplificada, de que opta pelo
procedimento especial (art. 303, §5°); e,
b) que o réu deixe de interpor agravo de instrumento (art. 304, caput), que é
o recurso cabível contra a decisão que a concede a antecipação da tutela
(art. 1.015,1).
- Preclusão lógica e impossibilidade dc apelar ila dec isilo que estabiliza a tutela
satisfativa.
- Sentença que estabiliza a tutela e coisa julgada formal.
05.06. Ação de revisão da tutela satisfativa estabilizada.
- Natureza jurídica de ação constitutiva negativa.
- Requisitos da inicial (art. 319) + limitação do pedido + prazo de 02 anos
- Manutenção da eficácia da decisão até sua reforma por sentença de mérito,
gerando a impossibilidade de antecipação da tutela.
- Produção de coisa julgada material.
06. Tutela cautelar antecedente.
06.01. Razão da existência de procedimentos diversos para a obtenção da
tutela antecedente satisfativa e da tutela cautelar
- Estabilização da demanda na tutela de urgência antecipada.
- Grau de cognição diferente entre a tutela antecipada e tutela cautelar.
06.03. Cautelar preparatória x cautelar antecedente.
06.04. Procedimento.
- Natureza jurídica de ação.
- Requisitos da petição inicial: gerais (art.319) e específicos (art. 305).
- Contestação e possibilidade de oferecimento de reconvenção.
- Possibilidade de lim inar inaudita altera parte.
- Sentença de rejeição do pedido liminar não impede a formulação, nos
próprios autos, do pedido principal, (art. 310)
- Contagem do prazo para formulação do pedido principal (art. 308): a) termo
inicial; b) natureza jurídica; e, c) forma de contagem.
- Art. 307 - Cessação da eficácia da tutela cautelar e julgamento do mérito.
07. Tutela de evidência.
07.01. Direito evidente é aquele que "se compreende sem dificuldade nenhuma,
que não oferece dúvidas. Claro, manifesto, patente; óbvio."
07.02. Reconhecimento da sua existência enquanto categoria antes mesmo do
novo CPC.
07.03. Definição - Tutela de evidência é a que pode ser concedida
independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao
resultado útil do processo, bastando-lhe a possibilidade do magistrado
reconhecer de plano (prima facié), mediante cognição exauriente, o
direito alegado pelo autor.
07.04. Hipóteses de cabimento (art. 311, do CPC) e possibilidade de concessão
fora das hipóteses previstas por lei.
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SHIMURA, Sérgio Seiji. Arresto cautelar. São Paulo: RT, 1993.
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Livro I
NOÇÕES PROPEDÊUTICAS
1. NOÇÕES PRELIMINARES
2. NOVOS PARADIGMAS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL
3. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL
4. MECANISMOS COGNITIVOS DO PROCESSO CIVIL
Livro II
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL
5. TUTELA JURISDIGONAL
6. DIREITO DE AÇAO
07. PROCESSO
Livro III
ELEMENTOS ESSENCIAIS À ESTRUTURA BÁSICA DO PROCESSO
8 . COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
g. COMPETÊNCIA INTERNA
IO. CONEXÃO DE CAUSAS
n. AS PARTES E OS PROCURADORES
12 LITISCONSÕRCIO
13. DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
14. OS PERSONAGENS DO PROCESSO
15. TEORIA GERAL DOS ATOS PROCESSUAIS
16. TEORIA DOS PRAZOS
17 ATOS PROCESSUAIS EM ESPÉCIE
18. TEORIA DAS NULIDADES
19. FORMAÇAO. SUSPENSAOF e x t in ç ã o d o p r o c e s s o
20. DAS MEDIDAS CAUTELARES AS TUTELAS DE URGÊNCIA
21. TUTELA PROVISÓRIA
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