2001 - Análise Cefalométrica Pré e Pós-Operatória Das Proporções Divinas de Fibonacci em Pacientes Submetidos A Avanço Mandibular

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Artigo Inédito

Análise Cefalométrica Pré e Pós-operatória das


Proporções Divinas de Fibonacci em Pacientes
Submetidos a Avanço Mandibular*
Preoperative and Postoperative Cephalometric Analysis of the Fibonacci
Proportions in Patients treated with Mandibular Advancement

Resumo as proporções de Fibonacci não se apli-


Este estudo analisou três proporções caram às alterações esqueléticas advindas
divinas de Fibonacci, descritas por da cirurgia de avanço mandibular.
Ricketts (1982). A amostra foi de dez
pacientes, leucodermas, sem distinção INTRODUÇÃO
de sexo, com idade variando de 16 a Grandes civilizações, como os egíp-
Marcelo
Marotta 44 anos. Os pacientes eram portadores cios e os gregos, bem como artistas da
Araujo de retrognatismo mandibular, com má Renascença, como Michelangelo, de-
oclusão tipo Classe II, e foram submeti- monstraram por meio de infinitas obras
dos à cirurgia para correção, através da de arte a preocupação e apreciação da
osteotomia sagital do ramo mandibular. beleza (PECK; PECK21, 1970). A habili-
Foram avaliadas as proporções PFr-A/ dade em se reconhecer o belo é inata,
A-Pm, A-1/1-Pm e Co-Xi/Xi-Pm. Cefa- existindo uma preferência individual,
logramas foram confeccionados nas ra- com influência cultural, de forma que
diografias pré e pós-operatórias imedia- tentar traduzí-la em metas terapêuticas
tas. Os resultados foram submetidos à objetivas e definidas é muito difícil
Análise de Variância e teste “t de (Suguino et al.29, 1996).
Student”. Concluiu-se que os pacientes A idéia de beleza está ligada à pro-
apresentaram respostas diferentes. Hou- porção. Muitos estudos foram realiza-
ve diferença estatística entre os dados dos com o intuito de padronizá-la, a
pré e pós-operatórios nas medidas A-1/ partir de uma determinada proporção.
1-Pm e Co-Xi/Xi-Pm, o mesmo não ocor- Na área específica da Odontologia, a
rendo na medida PFr-A/A-Pm. Nesta, a preocupação com a estética é muito
situação da proporção estar ausente na maior nos dias de hoje, uma vez que o
radiografia pré-operatória, e presente na paciente está cada vez mais exigente com
radiografia pós-operatória, existiu em 2 seu aspecto final (SARVER26, 1998). Au-
pacientes. Na medida A-1/1-Pm existiu tores como Epker e Fish11 (1986), Stella28
em 1 paciente e na medida Co-Xi/Xi-Pm (1996) e Passeri20 (1999) padronizaram
existiu em 2 pacientes. Nesta amostra, a análise facial, onde por meio de

* Tese apresentada à Faculdade de Odontologia de Piracicaba/Unicamp, para obtenção do grau de Doutor em Clínica
Odontológica, Área de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial

Marcelo Marotta Araujo **


Luis Augusto Passeri ***
Antenor Araujo ****

** Professor Assistente Doutor da Disciplina de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de


Odontologia de São José dos Campos – Unesp; Pós Doutorado pela Universidade do Alabama em
Birmingham.
*** Professor Doutor da Disciplina de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de Odontologia de Piracicaba -
Palavras-chave: Unicamp; Pós-Doutorado pela Universidade do Texas – Southwestern Medical Center at Dallas;
Cefalometria. Presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial.
**** Professor Titular da Disciplina de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de Odontologia
Proporção Divina. da Universidade Ibirapuera; Pós-Doutorado pela Universidade do Texas - Southwestern Medical Center at
Retrognatismo. Sagital. Dallas.

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uma sistematização é possível, atra- cirúrgica mais utilizada para a corre- As duas radiografias cefalométricas fo-
vés de proporções, reconhecer as de- ção do retrognatismo mandibular é a ram tomadas em norma lateral, em oclu-
formidades. osteotomia sagital do ramo mandibu- são cêntrica e lábios em repouso para
A deformidade dentofacial pode ser lar, que é realizada por via intrabucal, cada paciente. Sendo uma no máximo
definida como qualquer condição onde e permite o uso da fixação interna rí- até uma semana antes da cirurgia (ra-
o esqueleto facial difere do normal, exis- gida (BELL e SCHENDEL4, 1977, diografia pré-operatória) e a outra, uma
tindo má oclusão e aparência facial al- EPKER9, 1977, STEINHÄUSER27, semana após a cirurgia (radiografia pós-
terada (FISH et al.13, 1993). Para a 1982, EPKER e FISH11, 1986, POLI- operatória imediata).
correção desses tipos de deformidades DO23, 1999). Esta técnica foi inicial- Os pacientes foram submetidos a
está indicada a cirurgia ortognática, que mente descrita por Trauner e tratamento ortodôntico-cirúrgico, e
tem como objetivo recuperar a função Obwegeser30 (1957) e sofreu diversas operados pelo mesmo cirurgião. To-
e a estética (BELL et al.3, 1980). A ci- modificações, entre as quais as pro- dos com ausência de outras deformi-
rurgia, associada à Ortodontia, melho- postas por Dal Pont 8 (1961), dades crânio-faciais, síndromes ou
ra a função mastigatória e a aparência Hunsunk16 (1968) e Epker9 (1977), fissuras lábio-palatais e bom estado
facial, com um resultado estável do sendo esta última, a técnica que é uti- geral de saúde.
ponto de vista oclusal, sendo a melhor lizada até hoje. Foram realizados traçados cefalo-
forma de tratamento para pacientes Acredita-se que a mente humana métricos sobre um negatoscópio de luz
com problemas dentários e esqueléticos é atraída pela proporção que está re- centralizada, usando folhas de papel
(FISH et al.,13 1993). lacionada com a “secção áurea”, que acetato Ultraphan de 18 x 24 cm e
Com o intuito de atingir este corresponde a proporção de 1 para espessura de 0,07 mm, adaptadas ao
objetivo da melhor forma, um correto 1,618, e sua recíproca geométrica de filme por fita adesiva. Para uma me-
planejamento é primordial. A análise 0,618 para 1. A série numérica de lhor visualização da radiografia os tra-
facial, a de modelos, e a cefalométrica Fibonacci expressa precisamente esta çados foram realizados em uma sala
devem ser usadas para que se possa proporção. Ricketts25 (1982) aplicou escura. Para se copiar as estruturas
estabelecer o diagnóstico correto da as proporções divinas de Fibonacci anatômicas foi utilizado uma lapiseira
deformidade e o melhor plano de em radiografias cefalométricas e des- (Pentel 0,5 mm) com grafite (Pentel
tratamento (WOLFORD et al., 33 creveu relações para esta análise, tan- HB de 0,5 mm), régua milimetrada
1985). to em norma frontal, como em nor- (Desetec modelo 7115 – Trident),
O retrognatismo mandibular pode ma lateral. transferidor (Desetec nº 1521), bor-
ser definido como uma deformidade Como a análise das proporções racha (Carbex 40/20), e onde estas
dentofacial onde existe uma discre- tem um enorme valor no planeja- se encontravam com dupla imagem,
pância entre as bases ósseas no sen- mento da cirurgia ortognática, o ob- foi delineada um ponto médio entre
tido ântero-posterior, que tem como jetivo deste trabalho é avaliar em ra- as duas (HOUSTON15, 1983).
característica constante uma posição diografias cefalométricas, em norma Em cada traçado cefalométrico foi
retraída do mento, outra é um exces- lateral, obtidas no pré e no pós-ope- realizado o delineamento das estru-
so do sulco labiomentoniano, com ratórios imediatos, de pacientes que turas dento-esqueletais para marca-
aspecto protuberante do lábio supe- foram submetidos à cirurgia ortognáti- ção dos pontos, linhas e planos ce-
rior, e uma postura anormal do lábio ca, para avanço mandibular, as Pro- falométricos (Fig. 1A). Nas duas ra-
inferior, que normalmente se encon- porções Divinas de Fibonacci descritas diografias de cada paciente foram
tra girovertido (WORMS et al.,34 por Ricketts25 (1982): PFr-A / A-Pm, aplicadas as seguintes proporções de
1976, EPKER et al.,12 1978, BELL e A-1 / 1-Pm e Co-Xi / Xi-Pm. Fibonacci descritas por Ricketts25
JACOBS2, 1979, BELL et al.,3 1980, (1982): proporção Co-Xi / Xi-Pm:
EPKER e FISH11, 1986, TUCKER31, MATERIAIS E MÉTODO distância da medida do ponto Condi-
1993, BOLLEN e HUJOEL5, 1994). Para o presente estudo foram utili- liano ao ponto Xi, equivalendo a 1,
Sob o ponto de vista oclusal, a defici- zados 10 indivíduos de ambos os se- em relação à distância da medida do
ência mandibular está ligada a uma xos, com idade média de 25,9 anos, na ponto Xi, ao ponto Protuberância
relação de molares e de caninos Clas- faixa etária de 16 a 44 anos. Foram Mentoniana equivalendo a 1,618
se II (ANGLE1, 1901) e uma sobres- selecionados pacientes leucodermas, (Fig. 1B); proporção PFr-A / A-Pm:
saliência aumentada na região de in- portadores da má oclusão de Classe II distância da medida do ponto de
cisivo. de Angle1 (1901), dos quais foram ob- intersecção do Plano de Frankfurt
Através da cirurgia se obtém um tidas as radiografias, pré e pós operató- com o plano facial ao ponto A, equi-
resultado estável e harmonioso, tan- rias, no mesmo aparelho de raios X, de valendo a 1, em relação com a dis-
to sob o ponto de vista facial, como acordo com a técnica descrita por tância da medida do ponto A ao pon-
oclusal (TUCKER32, 1995). A técnica Broadbent6 (1931) Apud Pereira (1984). to Protuberância Mentoniana equiva-

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lendo a 1,618. (Fig. 1C); proporção de forma alternada por três vezes, re- valores esperados foram subtraídos
A-1 / 1-Pm: distância da medida do sultando que para cada radiografia a dos valores encontrados. As diferen-
ponto A à incisal do incisivo inferior, mesma medida foi conferida por quin- ças das proporções que foram encon-
equivalendo a 1, em relação com a ze vezes. Para a análise estatística, tradas nas radiografias cefalométricas
distância da medida incisal do incisi- foram usadas as médias dessas me- pré-operatória e pós-operatória ime-
vo inferior ao ponto protuberância didas (HOUSTON15, 1983). diato de cada paciente foram subme-
mentoniana, equivalendo a 1,618 Os dados obtidos foram valores tidas à análise estatística.
(Fig. 1D). médios das distâncias medidas, de Para a análise estatística foram
As mensurações foram realizadas cada radiografia cefalométrica, pré- considerados 3 fontes de variação:
manualmente com o auxílio de uma operatória e pós-operatória imediato, indivíduos (10), cirurgia (2) e o
régua milimetrada (Desetec modelo para cada paciente. Os valores cor- desenho (5), sendo esta última
7115 – Trident). No intuito de se eli- respondentes a “1“ (Co-Xi, PFr-A e A- considerada apenas como repetições
minar possíveis erros, para cada ra- 1) foram multiplicados por 1,618, de- de um experimento. A análise de
diografia foram realizadas, de forma terminando os valores esperados. Os Variância de 2 fatores (NETER e
alternada cinco traçados cefalométri- valores encontrados corresponderam WASSERMAN18, 1974) foi realizada
cos e cada ponto traçado foi medido às medidas Xi-Pm, A-Pm e 1-Pm. Os nas medidas PFr-A / A-Pm, A-1 /1-Pm

1,618

A B

1
1,618

1,618

C D
FIGURA 1 - A) Traçado inicial; B) Proporção Co-Xi / Xi-Pm; C) Proporção PFr-A / A-Pm; D) Proporção A-1 / 1-Pm.

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e Co-Xi / Xi-Pm. Cada indivíduo foi analisado se- Finalmente, cada média pôde ser
O teste de Bartlett (NETER; paradamente: quando apenas duas testada individualmente para veri-
WASSERMAN18, 1974) foi utilizado médias foram comparadas, foi uti- ficar se obedecia à razão de 1 para
para testar a igualdade de variâncias lizado o teste “t de Student” 1,618, o que seria comprovado se
para todos os fatores e consideran- (NETER; WASSERMAN18, 1974). a mesma não se diferenciasse de
do o nível de confiança de 99%, ve- Nesse caso, se as médias fossem zero significativamente. Para todas
rificou-se que as variâncias são iguais, o valor do “t calculado” ten- as análises foi utilizado o nível de
iguais. deria a ser muito próximo a zero. confiança de 99%.

TABELA 1
Representa a análise de variância das medidas PFr-A / A-Pm, com um nível de confiança de 99%.
Fonte de Soma dos Graus de Quadrado “F” Prob
Variação Quadrados Liberdade Médio Calculado (F Tab > F Calc)
Cirurgia 10,86 1 10,86 1,10 0,30
Indivíduo 3.568,91 9 396,55 40,23 0,00
Interação CI 543,5977 9 60,40 6,13 0,00
Erro 788,59 80 9,86
Total 4.911,95 99

TABELA 2
Representa a análise de variância das medidas A-1 / 1-Pm, com um nível de confiança de 99%.
Fonte de Soma dos Graus de Quadrado “F” Prob
Variação Quadrados Liberdade Médio Calculado (F Tab > F Calc)
Cirurgia 109,83 1 109,83 22,36 0,00
Indivíduo 1.851,69 9 205,74 41,88 0,00
Interação CI 559,5827 9 62,18 12,66 0,00
Erro 392,99 80 4,91
Total 2.914,08 99

TABELA 3
Representa a análise de variância das medidas Co-Xi / Xi-Pm, com um nível de confiança de 99%.
Fonte de Soma dos Graus de Quadrado “F” Prob
Variação Quadrados Liberdade Médio Calculado (F Tab > F Calc)
Cirurgia 521,72 1 521,72 43,72 0,00
Indivíduo 2.866,07 9 318,45 26,68 0,00
Interação CI 350,5096 9 38,95 3,26 0,00
Erro 954,75 80 11,93
Total 4.693,06 99

TABELA 4
Médias e variâncias das medidas PFr-A / A-Pm (*valores que não obedecem a proporção divina, com confiança de
99%, **médias pré e pós operatórias diferem significativamente a 99%).
Pré – operatório Pós – operatório Dif. entre
Pac. nº Média Variância Média Variância Médias
1 0,09 5,69 2,08 9,14 1,99
2 0,19 0,67 -3,16* 4,17 -3,35**
3 6,14* 13,34 9,78* 18,02 3,64
4 -0,13 3,38 -7,36* 1,93 -7,23**
5 -3,07* 3,87 -1,95 2,83 1,12
6 -5,98* 20,41 2,53 29,84 8,51
7 17,57* 2,95 9,77* 10,52 -7,80**
8 9,48* 0,50 8,50* 4,78 -0,98
9 9,65* 5,54 7,28* 30,49 -2,37
10 9,45* 11,32 9,35* 17,76 -0,10

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TABELA 5
Médias e variâncias das medidas A-1 / 1-Pm (* valores que não obedecem a proporção divina, com confiança
de 99%, ** médias pré e pós operatórias diferem significativamente a 99%).
Pré–operatório Pós–operatório Dif. entre
Pac. nº Média Variância Média Variância Médias
1 13,67* 2,21 16,03* 0,73 2,36**
2 9,56* 3,19 14,30* 3,40 4,74**
3 8,60* 1,82 6,15* 0,24 -2,45**
4 11,56* 3,03 13,31* 3,66 1,75
5 3,17* 5,17 2,63 8,07 -0,54
6 12,11* 2,26 14,87* 0,69 2,76**
7 -3,56 13,32 11,23* 0,97 14,79**
8 12,60* 2,34 12,30* 1,47 -0,30
9 16,02* 17,64 15,83* 5,28 -0,19
10 8,90* 12,14 6,93* 10,60 -1,97

TABELA 6
Médias e variâncias das medidas Co-Xi / Xi-Pm (* valores que não obedecem a proporção divina, com confiança de
99%, ** médias pré e pós operatórias diferem significativamente a 99%).
Pré–operatório Pós–operatório Dif. entre
Pac. nº Média Variância Média Variância Médias
1 8,58* 9,26 11,91* 17,32 3,33
2 0,36 13,51 -5,55* 2,45 -5,91**
3 -7,53* 5,51 -12,27* 7,71 -4,74**
4 8,65* 15,59 1,79 10,62 -6,86**
5 -0,31 3,40 -3,46 26,93 -3,15
6 2,21 21,27 2,85 14,99 0,64
7 1,21 5,83 -8,01* 7,37 -9,22**
8 2,54* 1,82 -5,03* 11,11 -7,57**
9 8,98* 5,09 1,10 53,11 -7,88
10 0,78 3,58 -3,55* 2,19 -4,33**

RESULTADOS (1993), ressaltaram a importância do nóstico e do plano de tratamento, dan-


As tabelas apresentadas, repre- trabalho conjunto, ortodontista e cirur- do uma idéia da natureza quantitati-
sentam os resultados obtidos a par- gião buco-maxilo-facial, e que as deci- va da deformidade dentofacial.
tir das mensurações e da análise es- sões deveriam ser baseadas na função, No trabalho original de Ricketts25
tatística. na estabilidade e na estética. Segundo (1982), o autor descreveu oito
Tucker32 (1995), a cirurgia para avan- proporções no traçado cefalométrico.
DISCUSSÃO ço da mandíbula, geralmente apresen- Neste estudo foram utilizados, apenas,
A amostra deste trabalho foi cons- ta melhores resultados, do que com a os pontos relacionados à mandíbula,
tituída de dez pacientes portadores da camuflagem ortodôntica; Precious e que foram as proporções A-1 / 1-Pm,
deformidade dentofacial, caracteriza- Lanigan24 (1997), afirmaram que para Pfr-A / A-Pm, Co-Xi / Xi-Pm.
da por retrognatismo mandibular, pacientes submetidos à cirurgia ortog- Cada traçado cefalométrico foi
com oclusão tipo Classe II (ANGLE1, nática, o aspecto estético é muitas ve- repetido cinco vezes, uma a mais do
1901). No trabalho original, zes mais importante que o funcional. que sugeriu Houston 15 (1983).
Ricketts25 (1982) avaliou as propor- A cefalometria é um ótimo elemen- Segundo este autor a repetição dos
ções divinas de Fibonacci, de um tra- to para completar o diagnóstico obti- traçados seria mais importante que
çado final que resultou da análise do na análise facial, permitindo reali- a mensuração, porque os maiores
cefalométrica de uma amostra de 30 zar previsões das alterações resultan- erros ocorreriam na identificação dos
pacientes com oclusão normal, ide- tes com o ato cirúrgico, sendo uma pontos. No presente estudo foram
al, composta por 32 dentes. Esses forma de comunicação entre os pro- feitas três repetições para cada
pacientes eram peruanos, adultos, do fissionais envolvidos e o paciente. Se- distância a ser medida. Desta forma,
sexo masculino, sem mistura racial. gundo Burstone et al.7, (1978), a ce- cada medida foi conferida 15 vezes,
Epker e Fish10 (1983) e Fish et al.13 falometria é apenas um passo do diag- em uma mesma radiografia.

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Houve diferença estatística entre a cirurgia, na média individual. Nos Essa alteração corresponderia à es-
os dados pré e pós-operatório, nas pacientes 1, 2, 3, 6 e 7 houve dife- pessura desta.
proporções A-1 / 1-Pm e Co-X i/ Xi- rença estatística entre os dados pré e Na revisão bibliográfica foram ob-
Pm (Tabs. 2 e 3), e isto significa que pós-operatórios. Nos pacientes 1, 2, tidos poucos trabalhos das proporções
houve alteração após a cirurgia. O 6 e 7 a proporção existia antes da ci- descritas por Ricketts25 (1982). Não
mesmo não ocorreu na proporção rurgia, e após não. No paciente 3 ocor- havia nenhum estudo similar, para
PFr-A / A-Pm (Tab. 1), que não apre- reu uma melhora após a cirurgia. comparação com o resultado obtido
sentou diferença significante, reve- Na análise da proporção Co-Xi / nesta pesquisa. Em 1997, Garbin14
lando que do ponto de vista estatísti- Xi-Pm (Tab. 6), não houve diferença (1997) avaliou as proporções divinas
co não houve alterações com a cirur- estatística entre os dados pré e pós- de Fibonacci em 40 jovens com oclu-
gia. Isto pode ser explicado, pois as operatórios nos pacientes 1, 5, 6 e 9. são normal. A proporção foi encon-
medidas verticais, quando compara- Porém o paciente 9 não estava na trada nas medidas PFr-A / A-Pm, A-1
das à medida Co-Xi / Xi-Pm, sofrem proporção antes, e passou a estar após / 1-Pm para jovens do sexo masculi-
uma menor alteração com o avanço a cirurgia, na média individual. Nos no e Co-Xi / Xi-Pm para jovens do sexo
mandibular; que proporciona uma al- pacientes 2, 3, 4, 7, 8 e 10, houve feminino. No mesmo ano, Piccin22
teração maior no sentido anteropos- diferença estatística entre os dados pré (1997) realizou um estudo em 121
terior do que no sentido vertical. A e pós-operatórios. Nos pacientes 2, 3, fotografias de perfil de três segmentos
medida A-1 / 1-Pm pode ter sofrido 7 e 8 a proporção existia antes da da face, e foi constatada a proporção
alteração, caso a posição do incisivo cirurgia, e após não. O paciente 4 não 1:1,618 em dois destes.
estivesse alterada, pois inclinações estava na proporção antes, e passou No planejamento ortodôntico-cirúr-
para vestibular ou lingual interferiri- a estar após a cirurgia. gico o emprego das proporções é uma
am na distância a ser mensurada. O Alguns pontos precisam ser con- forma de avaliação para o diagnóstico
que pode justificar o fato que houve siderados, pois podem ter interferido da deformidade. Tem como vantagem
diferença estatística nesta medida no resultado. Ricketts25 (1982) estu- a individualização do paciente, relacio-
vertical, e o mesmo não ter ocorrido dou pacientes com oclusão dentro dos nando as medidas do complexo crani-
na medida PFr-A / A-Pm. padrões de normalidade. No presen- ofacial entre si. Estas proporções de-
Avaliando o indivíduo e sua inte- te estudo foram avaliados os resulta- vem ser unidas com medidas cefalo-
ração (Tabs. 1, 2, 3), foram obser- dos obtidos após a cirurgia, onde foi métricas, relacionando assim estrutu-
vadas nas três proporções que os in- corrigida uma deformidade. ras mais estáveis com estruturas me-
divíduos têm respostas diferentes, e Oliveira e Telles19 (1996) citaram as nos estáveis. A partir de medidas co-
também, responderam de maneira formas de erros que podem interferir nhecidas, do tamanho de certas estru-
diferente à cirurgia. Portanto cada nos resultados: erros de projeção, pela turas do complexo craniofacial, é pos-
indivíduo deve ser avaliado de forma transformação de um objeto sível avaliar as proporções do pacien-
independente. tridimensional para a projeção em duas te, observando, qual estrutura está fora
Na análise da proporção PFr-A / dimensões, que seria a radiografia; er- das mesmas Garbin14 (1997).
A-Pm (Tab. 4), não houve diferença ros de identificação, como a técnica
estatística entre os dados pré e pós- radiográfica empregada, o cuidado e CONCLUSÕES
operatórios nos pacientes 1, 3, 5, 6, conhecimento do operador, e como o Baseados na metodologia empre-
8, 9 e 10. Porém os pacientes 5 e 6 traçado foi realizado; e erros mecâni- gada e nos resultados obtidos, con-
não estavam na proporção antes, e cos, como a espessura da ponta do lá- cluímos que:
passaram a estar após a cirurgia, na pis, os limites de percepção do olho hu- 1 -Os pacientes apresentaram
média individual. Nos pacientes 2, 4 mano na obtenção de linhas através respostas diferentes.
e 7 houve diferença estatística entre de pontos sobre o traçado, e na leitura 2 - Houve diferença estatística
os dados pré e pós-operatórios. Nos com régua ou transferidor. Midtgard et entre os dados pré e pós-operatório
pacientes 2 e 4 a proporção existia al.17 (1974) afirmaram que os erros na nas proporções A-1 / 1-Pm e Co-Xi /
antes da cirurgia, e após não. O pa- marcação dos pontos cefalométricos, Xi-Pm, o mesmo não ocorreu na
ciente 7 apresentou uma melhora devido à incerteza do observador são proporção PFr-A / A-Pm.
após a cirurgia. mais significantes do que erros duran- 3 -A situação de a proporção
Na análise da proporção A-1 / 1- te a tomada radiográfica. estar ausente na radiografia pré-
Pm (Tab. 5), não houve diferença es- As medidas verticais, A-1 / 1-Pm operatória, e presente na radiografia
tatística entre os dados pré e pós-ope- e PFr-A / A-Pm, tiveram alteração pela pós-operatória, existiu em 2 pacientes
ratórios nos pacientes 4, 5, 8, 9 e 10. presença de uma goteira cirúrgica, nas medidas Pf-A / A-Pm e Co-Xi /
Porém o paciente 5 não estava na confeccionada em resina, interposta Xi-Pm, e em 1 paciente na medida
proporção antes, e passou a estar após entre as arcadas superior e inferior. A-1 / 1-Pm.

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Abstract
In this study the Fibonacci pro- Student “t” test were performed. It ray ocurred in 2 patients in the pro-
portions PFr-A/A-Pm, A-1/1-Pm and were concluded that patients had portions PFr-A/A-Pm and Co-Xi/Xi-
Co-Xi/Xi-Pm, described by Ricketts differents responses. Statistical differ- Pm, and in one patient in the pro-
(1982) were evaluated, in ten pa- ence were found between the pre- portion A-1/1-Pm. In this group of
tients, leucoderms, of both sexes, operative and post-operative data in patients, the Fibonacci proportions
between the ages of 16 to 44, who the A-1/1-Pm and Co-Xi/Xi-Pm pro- were not found in the skeletals alter-
underwent bilateral saggital split os- portions; there was no statistical dif- ations ocurred with the mandibular
teotomy for correction of mandibu- ference in PFr-A/A-Pm proportion. advancement surgery.
lar deficiency. Cephalograms in pre- The situation where the proportion
operatives and post-operatives x-rays did not exist in the preoperative x- Key words: Cefalometry. Divine pro-
were made. Variance analysis and ray and exist in the postoperative x- portion. Retrognathism. Sagittal.

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