Cervicalgia e Lombalgia
Cervicalgia e Lombalgia
Cervicalgia e Lombalgia
CLÍNICA MÉDICA V
LOMBALGIA E CERVICALGIA
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SUMÁRIO
LOMBALGIA E CERVICALGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2. A coluna vertebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.1. Região cervical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
3. Etiologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
4. Abordagem da cervicalgia e lombalgia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
4.1. Anamnese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
5. Síndromes clínicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5.1. Síndrome dolorosa miofascial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5.2. Lombalgia mecânica comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5.3. Hérnia discal com radiculopatia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5.4. Estenose de canal lombar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
6. Conduta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
6.1. Terapia não farmacológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
6.2. Terapia medicamentosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
6.3. Tratamento cirúrgico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
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LOMBALGIA E CERVICALGIA
importância/prevalência
2. A COLUNA VERTEBRAL
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
Figura 2. Articulação atlantoaxial (C1-C2). As demais vértebras cervicais são constituídas pelo
corpo vertebral e pelo arco posterior, formando o
forame vertebral; e articulam-se entre si através dos
discos intervertebrais (articulações fibrocartilagino-
sas) e articulações zigoapofisárias/interfacetárias
(sinoviais).
Os processos articulares inferiores da vértebra se articulam com os processos articulares superiores da vértebra situada
logo abaixo desta, através das facetas articulares (articulações zigoapofisárias). A medula espinhal se situa dentro do forame
vertebral, delimitado pelas lâminas, pedículos e corpo vertebral. A artéria vertebral passa através do forame transverso.
Fonte: Acervo Sanar.
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Lombalgia e cervicalgia
É característica comum das vértebras lombares possuírem corpos grandes e reniformes, forames
vertebrais triangulares, pedículos e lâminas curtas e espessas.
Fonte: stihii/Shutterstock.com¹.
A medula espinal ocupa o canal vertebral, do forame São inúmeras as etiologias responsáveis por cau-
magno até a 1ª ou 2ª vértebra lombar, depois diverge sar cervicalgia ou lombalgia. Vimos que existem
em nervos individuais que viajam para a porção estruturas que compõem a região musculoesque-
inferior lombossacra. Por causa de sua aparência, lética cervical e lombar, como músculos, nervos,
este grupo de nervos é chamado de cauda equina. ligamentos, articulações, e, além das estruturas
musculoesqueléticas, causas extraespinhais podem
levar à sintomatologia álgica, como uma pielonefrite
3. ETIOLOGIAS evoluindo com dor lombar ou uma tireoidite evo-
luindo com dor cervical. Portanto, fique atento ao
enunciado das questões de prova para identificar
corretamente a causa da cervicalgia/lombalgia.
BASES DA MEDICINA
A possibilidade de diagnósticos diferenciais de
cervicalgia e lombalgia é ampla, porém a maioria
ara compreender as etiologias possíveis, é fundamental
P
conhecer os aspectos anatômicos apresentados anterior- dos casos é secundário a problemas musculoesque-
mente e também lembrar das estruturas não espinhais léticos, como tensão muscular, dor miofascial, dor
da região cervical e lombar. discogênica ou dor de origem facetária. O segundo
grupo mais frequente é de causas neurológicas,
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
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Lombalgia e cervicalgia
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
A avaliação da presença de red flags é fundamental o médico fique atento à necessidade de abordar o
na anamnese e determina a necessidade ou não paciente de maneira mais holística e multidisciplinar,
de avaliação complementar. Note que a presença evitando a solicitação excessiva de exames, assim
de sinais de alarme indica a possibilidade de dor como terapias farmacológicas em demasia.
secundária à síndrome da cauda equina, origem
traumática, infecciosa, neoplásica ou reumato- 4.2. EXAME FÍSICO
lógica inflamatória (espondiloartrite). Portanto, a
possibilidade de não se tratar de uma dor de origem
puramente musculoesquelética primária faz com
BASES DA MEDICINA
que exista a necessidade de investigação adicional.
Já a presença de yellow flags (bandeiras amarelas) embre-se, cada nervo espinhal é composto por uma raiz
L
indica risco de cronificação e incapacidade da dor ventral e outra dorsal; a raiz ventral contém fibras eferentes
lombar. A presença de yellow flags como catastro- dos neurônios motores no corno ventral da medula; já a
fismo, depressão, situação trabalhista, faz com que raiz dorsal contém fibras aferentes sensoriais primárias
das células no gânglio da raiz dorsal.
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Lombalgia e cervicalgia
discais, buscando encontrar os pontos álgicos e já dor na parte anterior ipsilateral, é sugestivo de
identificar exatamente onde se localiza a dor e para patologias do quadril.
onde irradia.
Figura 7. Teste de Patrick.
4.2.3. Testes
4.2.3.1. Lombalgia
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
Quadro 1. Raízes nervosas e alterações correspondentes motoras, de sensibilidade e reflexos (C5-C8 e T1).
Raízes nervosas C5 C6 C7 C8 T1
Face lateral
Dedos anelar
do antebraço,
Sensibilidade/ Face lateral do e mínimo, face Face medial
polegar, índice Dedo médio
Trajeto da dor antebraço medial do do antebraço
e metade do
antebraço
dedo médio
Bíceps,
Tríceps, flexores Flexores dos Musculatura
Teste motor Deltoide e bíceps extensores
do punho dedos intrínseca da mão
do punho
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Lombalgia e cervicalgia
Quadro 2. Raízes nervosas e alterações correspondentes motoras, de sensibilidade e reflexos (L4, L5 e S1).
Raízes nervosas L4 L5 S1
Nádega-face posterolateral
Nádega-face anterolateral Nádega-face posterior
Sensibilidade/ da coxa-face lateral da
da coxa-borda da coxa-face posterior da
Trajeto da dor perna até tornozelo-região
anterior da perna perna-região plantar do pé
dorsal do pé e hálux
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
alerta e pacientes que não melhoram em 6 semanas, 5.2. LOMBALGIA MECÂNICA COMUM
apesar do tratamento adequado.
O exame de imagem mais adequado para avaliação
BASES DA MEDICINA
da coluna é a ressonância nuclear magnética pela
sua alta sensibilidade; no entanto, não apresenta
uma boa especificidade, já que muitos achados no origem da dor na LMC não é muito conhecida. Acredi-
A
ta-se que seja multifatorial e associada à disfunção no
exame não são correlacionáveis com a clínica do
controle da dor no sistema nervoso central.
paciente. Já a radiografia é uma opção acessível
e de menor custo, com utilidade na detecção de Guarde essa síndrome, pois é a principal causa de
alterações ósseas. lombalgia crônica. A dor lombar é inespecífica e
chamada de Lombalgia Mecânica Comum (LMC).
Trata-se de uma lombalgia de ritmo mecânico bilate-
DIA A DIA MÉDICO ral ou unilateral, com ou sem irradiação para nádegas
e região sacral. Tal irradiação não caracteriza uma
a prática do manejo de lombalgias e cervicalgias, vemos
N radiculopatia (Teste de Lasègue e reflexos normais,
uma solicitação excessiva de exames complementares, trajeto da dor não compatível com raiz nervosa).
desnecessária e redundante. Infelizmente, a avaliação
clínica, anamnese e exame físico, não são priorizados. Os exames laboratoriais são normais, e exames de
imagem podem mostrar alterações degenerativas
inespecíficas, como desidratação discal e osteófitos.
5. SÍNDROMES CLÍNICAS
O tratamento é conservador, com analgesia, edu-
cação ao paciente, cinesioterapia e fortalecimento
5.1. SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL muscular. O afastamento ao trabalho e repouso
absoluto devem ser desencorajados.
BASES DA MEDICINA
DIA A DIA MÉDICO
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Lombalgia e cervicalgia
A degeneração do disco intervertebral faz com podemos encontrar hérnia discal pela imagem em
que o núcleo pulposo colabe e empurre para fora pacientes assintomáticos. Em determinados casos,
o anel fibroso que está enfraquecido. Quando nos a hérnia discal pode ser sintomática, resultando em
referimos à presença de hérnia discal, estamos envolvimento da raiz nervosa e quadro clínico de
definindo que houve o deslocamento do núcleo radiculopatia.
pulposo além dos limites do anel fibroso. Portanto,
A maioria das hérnias discais acometem os discos resolução da dor em semanas. Evolução para sín-
de L4-L5 e L5-S1. No caso da hérnia discal sintomá- drome da cauda equina é rara e ocorre por uma
tica, o envolvimento da raiz nervosa faz com que o hérnia discal maciça de linha média. Trata-se de
paciente se apresente com dor irradiada em trajeto uma emergência cirúrgica, e clinicamente o paciente
radicular (cervicobraquialgia ou lombociatalgia). A se apresenta com ciatalgia bilateral, déficit motor,
dor é de início agudo, após esforço em flexão. anestesia em cela (perda sensorial no períneo) e
incontinência urinária e fecal.
O diagnóstico é clínico, baseado na história compa-
tível e exame físico característico: limitação e piora
da dor à flexão, Sinal de Lasègue positivo, trajeto da 5.4. ESTENOSE DE CANAL LOMBAR
dor e sensibilidade compatíveis com raiz nervosa,
assim como alteração de reflexo (hiporreflexia)
correspondente à compressão da raiz acometida BASES DA MEDICINA
e ao déficit motor.
O prognóstico da hérnia discal com radiculopatia ormalmente o canal medular tem reserva de espaço
N
suficiente, permitindo o deslizamento e a tração das
é favorável, com menos de 10% necessitando de
estruturas nervosas, sem o desenvolvimento de sintomas.
intervenção cirúrgica, e a maioria dos casos com No entanto, numa condição patológica, pode ocorrer a
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
compressão gradual e progressiva do tecido nervoso. de exercício físico, fisioterapia e medidas terapêu-
Esta compressão se desenvolve simultaneamente com ticas, como: terapia cognitivo-comportamental,
o avançar do processo degenerativo (espessamentos
acupuntura e outras. Como dito anteriormente, o
ligamentares, osteofitose, prolapsos discais e alarga-
mento da lâmina).
repouso absoluto deve ser desencorajado, e os
pacientes devem ser orientados a manter suas ati-
A síndrome do canal estreito é mais comum após vidades rotineiras, o que leva à recuperação mais
os 50 anos e aumenta sua frequência com o enve- rápida e menor incapacidade a longo prazo.
lhecimento. Geralmente decorre de processos dege-
nerativos, como hipertrofia ligamentar, protrusões
6.2. TERAPIA MEDICAMENTOSA
discais, escolioses, que ocasionam diminuição do
canal lombar.
Sabe-se que cerca de 90% das lombalgias melhoram
Clinicamente, o indivíduo se manifesta com lom- espontaneamente sem qualquer intervenção, em um
balgia crônica, que piora a extensão da coluna e período de 30 dias. No entanto, na prática, é comum
melhora a flexão. A claudicação neurogênica é a prescrição de anti-inflamatórios não esteroidais,
um sintoma característico da estenose de canal analgesia simples e relaxantes musculares. Sendo
lombar, e é definida como dor ou desconforto nos a lombalgia um sintoma relacionado à dor, o trata-
membros inferiores, exacerbada pela extensão da mento “sintomático” deve seguir a escala de dor,
coluna lombar em ortostase prolongada ou marcha sendo o tratamento escalonado. É muito importante
e que melhora com a flexão da coluna. ponderar os possíveis efeitos colaterais, fazendo
Diante de achados clínicos sugestivos, a ressonância uma análise do risco-benefício.
magnética da coluna facilita a avaliação do canal e Os antidepressivos duais, tricíclicos e gabapenti-
as relações anatômicas das estruturas. noides são medicações que podem ser usadas na
O tratamento geralmente é conservador, com anal- sintomatologia crônica.
gesia e reabilitação. Pacientes incapacitados pela Ademais, o tratamento deve ser dirigido à etiolo-
claudicação neurogênica tem indicação cirúrgica. gia; logo, causas infecciosas bacterianas devem
ser tratadas com uso de antibióticos, assim como
espondiloartrites, neoplasias e fratura vertebral por
DICA
Claudicação neurogênica = esteno- osteoporose, seguem suas respectivas recomen-
se de canal lombar. dações de tratamento.
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Lombalgia e cervicalgia
Lombalgia
Estenose de
Claudicação neurogênica
canal medular
Ausência de radiculopatia
e claudicação
Lombalgia mecânica
comum
Ausência de radiculopatia
e claudicação
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
REFERÊNCIAS
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Lombalgia e cervicalgia
QUESTÕES COMENTADAS
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
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Lombalgia e cervicalgia
⮦ Dissecção da aorta.
⮧ Doença do disco lombar.
⮨ Estenose do canal medular lombar.
⮩ Arterite de Takayasu.
⮪ Claudicação vascular.
Questão 10
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
Questão 5 dificuldade:
Questão 3 dificuldade:
Y Dica do professor: Red flags são definidos como
Y Dica do professor: Paciente com queixa mecânica
dados da história médica individual e exame clíni-
de longa data; logo, podemos descartar espondilite
co que possam estar associados a um risco eleva-
anquilosante. Estenose de canal é compatível com
do de doenças graves, como infeção, inflamação,
idosos apresentando claudicação neurogênica, já a
neoplasias ou fratura. Portanto, a presença de red
hérnia discal teria sinais de radiculopatia ao exame
flags enfatiza a necessidade de investigação para
físico. Se você não consegue encontrar claramente
diferenciar uma causa mecânica ou não mecânica,
podendo indicar presença de doença grave. A coluna
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Lombalgia e cervicalgia
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
Questão 10 dificuldade:
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