Caderno de Atividades - Análise Linguística A2

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TA XE

"O português são SIN 2


dois; o outro,
mistério".

A língua errada do povo?

ATIVIDADE DE ANÁLISE
LINGUÍSTICA
Já é hora de
praticar, né?! Atividade avaliativa 2 (3,0 pontos):
Bora!? Análise linguística (individual ou em dupla)

Professoras Juliana Mantovani e Larissa Dantas

Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa


2/2021
Para começar, vamos ler o conto a seguir, de
Ignácio de Loyola Brandão

Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram
11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos,
solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi
aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a
mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro.
Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam
crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam a cintura. Finas,
compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a
orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das
moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era
correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua.
Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo.
Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório.
Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro.
Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.

Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário


tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao
médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro
branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.

Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura.
A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil.
Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a
orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os
nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a
cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez
da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama.
Dormiu.

Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de


novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a
orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E
forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor.
Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hospedes
fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu
para o quintal. Para a rua.

"O homem cuja orelha cresceu"


Para começar, vamos ler o conto a seguir, de
Ignácio de Loyola Brandão

Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros


trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a
carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência
social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de
churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham com cestas,
carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de
orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos,
organizou filas, fez uma distribuição racional.

E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros,
começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando
não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades.
Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os
açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se
cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu
uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador
ao presidente.

E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de


orelha, disse a um policial: “Por que o senhor não mata o dono da orelha?”

"O homem cuja orelha cresceu", de Ignácio


Brandão Loyolla

E aí, o que você


entendeu do
texto?
Após a leitura do conto "O homem cuja orelha cresceu", escrito por Ignácio
de Loyola Brandão, responda às perguntas a seguir.

Questão 1
O conto que você acabou de ler, escrito por Ignácio de Loyola
Brandão, pode ser classificado como um conto fantástico. Veja,
abaixo, um parágrafo que tenta caracterizar esse gênero literário.

"O fantástico é um gênero (TODOROV, 2014) ou modo literário (CESERANI, 2006)


caracterizado por uma história inicialmente semelhante ao quadro da vida real
como é conhecida, porém com uma ruptura dos fatos cotidianos por um evento
aparentemente sobrenatural. Tal evento, segundo Todorov (2014), provoca a
hesitação por parte do leitor (e da própria personagem) que se vê diante da
incerteza entre encontrar uma explicação racional – e, muitas vezes, não
satisfatória – ou aceitar o sobrenatural enquanto tal. Para tanto, a ambiguidade é
mantida até o final."
CAMPOS, Laís Marin de. “O gato preto” de Poe: uma nova visão para um clássico. Revista de Letras - UNESP, v. 55, n. 2, 2015. Acesso
em 17 jun 2021 https://periodicos.fclar.unesp.br/letras/article/view/8681/6490

Identifique, no conto, elementos que comprovem os trechos


destacados nesta citação.

Questão 2
Os contos são textos narrativos curtos, caracterizados por alguns
elementos, como: situação inicial, conflito (apenas 1), clímax e
desfecho. Embora "O homem cuja orelha cresceu" seja considerado
um conto, ele não possui um (1) desses elementos. Qual é esse
elemento? Explique sua resposta.

Questão 3
Quando os hóspedes da pensão se depararam com essa orelha que
não parava de crescer, eles chamaram primeiro policiais e
bombeiros e, depois, açougueiros. Você acha que essas pessoas
seriam capazes de resolver o conflito? Justifique sua resposta.
Você já
conhecia este
conto?

Questão 4
Quando os açougueiros começaram a cortar a orelha do homem, o
prefeito ordenou que distribuíssem a carne aos pobres. Então,
apareceram "os favelados, as organizações de assistência social,
irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de
churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa".
a. Por que essas foram as pessoas e/ou grupos sociais escolhidos
para receber a carne de orelha?
b. Embora a ideia pareça absurda, nos últimos anos já aconteceram
diversos casos de (tentativa de) distribuição de comida duvidosa a
alguns grupos sociais no nosso país. Você consegue se lembrar de
algum desses casos? Qual é a semelhança entre as histórias reais e
o conto?

Questão 5
No título do conto, identificamos o uso do pronome relativo "cuja".
a. Qual é o sentido construído pelo uso desse pronome?
b. O título traz o substantivo "orelha" no singular, mas percebemos
que foram as duas orelhas do homem que cresceram. Reescreva o
título colocando o substantivo "orelha" no plural. Haverá alterações
em outros termos da oração? Se sim, justifique-as.

Questão 6
A conjunção "mas" é utilizada para construir a ideia de oposição e é
repetida 3 vezes no 1º parágrafo. Explique a importância dessa
conjunção para a construção do conflito da história.

Questão 7
Na história, há quase que exclusivamente verbos no pretérito. Por
que isso acontece?
Questão 8
Ao longo da narrativa, Loyola emprega diferentes tempos do
pretérito. Releia o primeiro parágrafo e observe os verbos
destacados (em azul e em laranja)

Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da
noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35
anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele
percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez
centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas
estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas
cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas.
Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não
encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também.
O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na
rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o
escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não
amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na
cabeça, como se estivesse machucado.

a. Todos os verbos estão no mesmo tempo e modo? Traga exemplos


para ilustrar a sua resposta.
b. Atentando-se apenas aos verbos em laranja, explique como
grande parte desses verbos contribuem para a elaboração da
imagem que, nós leitores, construímos do homem e das orelhas.
c. Agora observe apenas os verbos em azul. Esse tempo é
adequado à narrativa? Por quê?
d. Como o uso repetitivo desse tempo contribui para ilustrar a reação
do personagem diante da situação?

Questão 9
No desenrolar da narrativa, outro pretérito do indicativo é empregado.
Releia o trecho a seguir:

"Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha
crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as
orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama".

a. Qual é o tempo dos verbos destacados?


b. Por que esse emprego é relevante na construção da cronologia da
narrativa?
Questão 10
Ao longo do texto há vários trechos descritivos. Releia os trechos a
seguir:

"Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. [...] As orelhas
estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. [...] Elas cresciam, chegavam
a cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. [...] Ele abriu a camisa,
enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse
machucado. [...] Quando chegou na pensão, a orelha saía pela perna da calça. [...] Ao
acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha
crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as
orelhas enroladas. Pesavam. [...]

a. Considerando que o texto é um conto fantástico, por que essas


descrições são especialmente fundamentais na construção da
narrativa?
b. Identifique os adjetivos usados para caracterizar as orelhas neste
trecho.
c. Você deve ter percebido que a caracterização das orelhas não é
construída apenas por adjetivos, há o emprego de outras
estruturas. Identifique dois trechos com esse outro tipo de recurso.

Bons estudos! Profas. Larissa e Juliana


"Dificuldade é a parte que vem antes do sucesso"
(Adriana Falcão, em Mania de explicação)

O que mais te
chamou a atenção na
leitura do conto?

Fonte: https://www.naauladeportugues.com.br/

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