Analise de Risco Social A Inundacao Na Cidade de Rio Branco Acre 2
Analise de Risco Social A Inundacao Na Cidade de Rio Branco Acre 2
Analise de Risco Social A Inundacao Na Cidade de Rio Branco Acre 2
2 | OBJETIVOS
2.1 Geral
Analisar o risco das áreas inundadas às margens da bacia hidrográfica do rio
Acre (BR/BO/PE), mais precisamente na cidade de Rio Branco, a partir das manchas de
inundação obtidas através da literatura a respeito dos eventos registrados em 2015 e 2021.
2.2 Específicos
3.1 SRTM
De acordo com Carvalho (2008), as novas geotecnologias geram grande impacto nas
metodologias de estudos ambientais, pois geram maior agilidade, precisão, objetividade e
consistência aos dados que são utilizados para tomada de decisões.
O mapeamento do território brasileiro foi iniciado pelo exército nos anos 60 sendo
atualmente responsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da
Diretoria do Serviço Geográfico (DSG), contudo, devido à extensão territorial do país e a
diferentes problemas, como o alto custo destes mapeamentos, ainda existem áreas com
vazios de informações e mapeamento em escala adequada para estudos ambientais, por
exemplo. Sendo que apenas os mapeamentos de escala 1:1.000.000 conseguiram atingir
100% do território brasileiro. (LÖBLER et al, 2013)
Desta forma, conforme destacado por Löbler et al (2013), o satélite SRTM (Shuttle
Radar Topography Mission) foi lançado com o objetivo de completar os vazios encontrados
nos mapeamentos feitos pelo exército, além de obter dados altimétricos da terra para a
elaboração de pesquisas geológicas, hidrológicas, geomorfológicas e de diversas outras
áreas que visam caracterizar a superfície terrestre.
Ademais, segundo a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), os
dados são distribuídos em formato raster1 pelo EROS Data Center2, controlado pelo USGS
(United States Geological Survey) e podem ser acessados em formato HGT3, com resolução
radiometria de 16 bits. Os MDEs (Modelos Digitais de Elevações) gerados oferecem
resolução vertical de 30 m para os Estados Unidos e 90 m para as outras localidades.
Por fim, conforme destacado pelo USGS (United States Geological Survey), o
satélite SRTM voou a bordo do ônibus espacial Endeavour de 11 a 22 de fevereiro de 2000
utilizando a interferometria de passagem única. Essa ferramenta permite a aquisição de
duas imagens ao mesmo tempo usando duas antenas de radar, uma localizada no ônibus
espacial Endeavour e a outra em um mastro de 60 metros que se estendia do ônibus
espacial, ao passo em que as diferenças entre os sinais, permitia o cálculo da elevação da
superfície.
1 Raster: Os dados raster são compostos por linhas horizontais e verticais de pixels, em que cada pixel representa uma
região geográfica, e o valor do pixel representa uma característica dessa região.
2 EROS Data Center: Sistema de Observação de Recursos Terrestres, usado para gerenciar e distribuir os dados gera-
dos por missões que lidam com superfícies e processos terrestres.
3 Formato HGT: Extensão de arquivo associada ao satélite SRTM compatíveis com aplicativos GIS.
4 | METODOLOGIA
A metodologia utilizada para analisar o risco das inundações que acontecem no
estado do Acre, especialmente na cidade de Rio Branco, caracteriza-se com a aquisição
de dados e análise de risco, como é exposto na Figura 1, para melhor compreensão das
etapas executadas.
Figura 2 - Localização geográfica da bacia hidrográfica do rio Acre em relação às cenas do SRTM
utilizadas.
Fonte: Elaborada pelas autoras (2021).
Com o auxílio das ferramentas do QGis, foi extraído do MDE o mapa hipsométrico
da região (Figura 7), informação essa que representa a variação da elevação de um terreno
por meio de cores. A determinação desse parâmetro é importante, visto que ele pode
interferir na intensidade de escoamento, devido à influência que exerce na distribuição
da vegetação, nos tipos de solos, no clima e, consequentemente, na rede de drenagem
(DUARTE, 2006).
4.3 Evento
O Rio Acre é um rio que apresenta recorrência em eventos de cheia, destacando-se
as ocorridas nos anos de 1988, 1997, 2006, 2012, 2014 e 2015 por representarem eventos
semelhantes uns aos outros, podendo ser citado, também, a inundação que ocorreu mais
recentemente entre fevereiro e março de 2021, afetando inúmeras pessoas.
Observa-se ainda que, durante a cheia ocorrida no ano de 2015, o município de
Rio Branco foi uma das cidades mais prejudicadas com a elevação do nível do Rio Acre
afetando vários ribeirinhos.
Portanto, neste estudo foram escolhidas as inundações ocorridas entre 18 de
fevereiro e 05 março de 2015, bem como a inundação registrada entre os dias 10 e 27 de
fevereiro de 2021, com enfoque na cidade de Rio Branco, sendo essa uma das cidades
mais prejudicadas com o transbordamento dos rios que compõem a bacia hidrográfica do
Rio Acre.
Floriano
13650000 Peixoto (Boca -9,06 -67,39 Acre ANA Ok -
do Acre)
De acordo com Rebelo (2003), o estudo de risco pode ser feito através da
multiplicação da vulnerabilidade social pela ameaça de inundações, em que o risco possui
suas classificações em alta, moderada e baixa, podendo ser obtido por meio da Equação 5.
Variáveis
Descrição
(Abreviaturas)
Pessoas de 10
anos ou mais
População População
População de idade com
Vulnerabilidade Classificação População infantil idosa
analfabeta rendimento
0-4 anos >60 anos
nominal mensalaté
1 salário mínimo
Baixa 1 Até 10% Até 10% Até 10% Até 30% Até 30%
Moderada 2 10% a 20% 10% a 20% 10% a 20% 30% a 50% 30% a 50%
Acima de Acima de
Alta 3 Mais20% Acima de20% Acima de 50%
20% 50%
Quadro 4 - Classificação da vulnerabilidade segundo agrupamento das variáveis populacionais por
setores censitários.
Fonte: Adaptada de Silva Jr. (2010).
Baixa Menos de 2 1
Moderada 2a5 2
Alta Mais de 5 3
Alta UR < 1
Moderada 1 ≤ UR ≤ 2
Baixa UR > 2
Ademais, após a análise dos elementos essenciais e das unidades de resposta, pode-
se observar que hospitais, escolas e igrejas são mencionados nas duas classificações, pois
ao mesmo tempo que esses elementos são considerados necessários para a população
evoluir, também são utilizados como abrigos e apoio, sendo uma unidade de resposta em
meio a desastres naturais. Portanto, para o cálculo utilizou-se a Equação 6 e classificou-
se os setores censitários analisados em três grupos distintos a respeito da vulnerabilidade
social (alta, moderada e baixa) conforme critérios descritos no Quadro 7.
Alta 3 V ≥ 1,2
Quadro 7 - Classificação dos setores censitários segundo cálculo da vulnerabilidade social dos setores
censitários.
Fonte: Adaptada de Silva Jr. (2010).
VULNERABILIDADE SOCIAL
Quadro 8 - Classificação do risco segundo exposição à ameaça e cálculo da vulnerabilidade social dos
setores censitários.
Fonte: Elaborada pelas autoras (2021)
Por fim, foi possível mapear as áreas de risco em Rio Branco localizadas às margens
do rio Acre a partir da análise dos setores censitários, tendo como base a classificação dos
riscos segundo as áreas ameaçadas e a vulnerabilidade social da região.
5 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com dados obtidos pela ANA dos anos 1988 a 2015, pode-se observar
na Figura 12 a representação do nível da cota no posto de Rio Branco, em que excedeu o
valor do nível de transbordo do rio determinado pela CPRM, tendo todos os valores acima
da cota de transbordamento, o que resultou em inundações em Rio Branco e nas cidades
vizinhas que o Rio Acre está presente, durante o decorrer dos anos.
Após levantamento e análise das variáveis (Quadro 9), pode-se classificar os setores
censitários com base nos critérios pré-estabelecidos por Silva Jr (2010) no Quadro 4, onde
% População % da % da % de Pessoas de
Urbana total população população % da 10 anos ou mais de
Setor de Rio Branco com idade com idade População idade com rendimento
em relação ao entre 0-4 maior que 60 analfabeta nominal mensal até 1
setor anos anos salário mínimo
1 1 1 2 1 1
2 1 1 1 1 1
3 1 1 2 1 1
4 1 1 2 1 1
5 1 1 1 1 1
6 1 1 2 1 1
7 1 1 1 1 1
8 1 1 1 1 1
9 1 1 1 1 1
10 1 2 1 1 1
11 1 1 2 1 1
12 1 1 1 1 1
13 1 1 1 1 1
14 1 2 1 1 2
15 1 1 2 1 1
16 1 1 2 1 1
17 1 1 1 1 1
18 1 1 2 1 1
19 1 1 1 1 1
20 1 2 1 2 1
21 1 2 1 1 1
22 1 1 1 1 1
23 1 1 1 1 1
24 1 1 2 1 1
25 1 1 1 1 1
26 1 1 1 1 1
27 1 1 1 1 2
Quadro 10 - Variáveis classificadas segundo sua vulnerabilidade para cada setor censitário.
Fonte: Elaborada pelas autoras (2021)
19 - - - - Baixa
IGREJA 1
20 2 2 Moderada
MERCADO 1
21 MERCADO 1 1 1 Baixa
MERCADO 7
22 9 3 Alta
ESCOLA 2
IGREJA 2
23 MERCADO 6 9 3 Alta
HOSPITAL 1
24 MERCADO 1 1 1 Baixa
MERCADO 3
25 4 2 Moderada
ESCOLA 1
26 - - - - Baixa
IGREJA 2
27 MERCADO 5 8 3 Alta
ESCOLA 1
Quadro 11 - Quantificação e classificação dos elementos essenciais para cada setor censitário.
Fonte: Elaborada pelas autoras (2021)
Vulnerabilidade do setor
Setor Classificação Classe de Vulnerabilidade
censitário
1 1,065 2 Moderada
2 0,883 1 Baixa
3 1,169 2 Moderada
4 1,260 3 Alta
5 0,948 2 Moderada
6 1,130 2 Moderada
7 0,857 1 Baixa
8 0,857 1 Baixa
9 0,805 1 Baixa
10 1,104 2 Moderada
11 1,104 2 Moderada
12 0,922 2 Moderada
13 0,714 1 Baixa
14 1,000 2 Moderada
15 1,026 2 Moderada
16 1,260 3 Alta
17 0,909 2 Moderada
18 1,221 3 Alta
19 0,714 1 Baixa
20 1,260 3 Alta
21 1,000 2 Moderada
22 1,039 2 Moderada
23 1,026 2 Moderada
24 1,000 2 Moderada
25 0,948 2 Moderada
26 0,714 1 Baixa
27 1,182 2 Moderada
Quadro 13 - Vulnerabilidade social por setor censitário.
Fonte: Elaborada pelas autoras (2021)
Uma melhor visualização espacial desta classificação pode ser observada na Figura
13, no qual as análises a respeito da vulnerabilidade social estão relacionadas com as
mudanças bruscas e significativas que ocorrem na vida da sociedade residente no local,
de modo a estarem mais suscetíveis a essas mudanças, sendo estes relacionados à
educação, à saúde, à cultura, ao lazer e ao trabalho.
A partir da Figura 14, foi possível apresentar as áreas de maior risco, sendo aplicada
a metodologia utilizada por Rebelo (2003) para realizar a análise de risco da população
ribeirinha no município de Rio Branco a partir dos dados de unidades de resposta,
elementos essenciais e população do local. Sendo ainda possível observar na Figura
14 que as regiões que apresentaram maiores riscos as inundações e enchentes, de fato
são aquelas inseridas às margens do rio e que, provavelmente, correspondem ao leito de
inundação do rio de modo que não deveriam ter sido ocupadas ao longo dos anos.
Os setores em vermelho apresentam alto risco às inundações e em amarelo
apresentam risco moderado, sendo possível observar a relação entre a vulnerabilidade e
ameaça em relação a quantidade dos elementos essenciais e unidades de respostas que
cada setor apresenta. Tal risco, caracteriza-se, principalmente, pela maior dificuldade de
recuperação no caso de um possível desastre natural nesta região.
Ainda com base na Figura 14, os setores 1, 3, 4, 5, 6, 10, 11, 12, 14, 15, 16, 17,
18, 20, 21, 22, 23, 24, 25 e 27, apresentaram altos riscos associados às demais áreas
analisadas devido, principalmente, à alta quantidade de pessoas analfabetas e com renda
inferior a 1 salário mínimo, configurando grupos populacionais que explicitam maiores
riscos à vulnerabilidade e ocorrência de desastres (Quadro 10).
No caso do risco apresentado nos setores 2, 7, 8, 9, 13, 19 e 26, sendo definidas
Figura 15 - Localização dos setores censitários no mapa hipsométrico da bacia do Rio Acre.
Fonte: Elaborada pelas autoras (2021)
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