Exegese Tiago em Grego
Exegese Tiago em Grego
Exegese Tiago em Grego
IAKWB
A Enunciação do Discurso Religioso.
Leitura/Análise do texto grego da Epístola de Tiago
São Paulo
2008
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA E LÍNGUA PORTUGUESA
IAKWB
A Enunciação do Discurso Religioso.
Leitura/Analise do texto grego da Epístola de Tiago.
Esta Tese foi realizada com o auxilio da CAPES, que concedeu ao aluno uma bolsa de
estudos para suas pesquisas no Brasil e no Exterior.
São Paulo
2008
Agradecimentos
Aos professores
Lineide, Henrique e Louis Panier
pelos ensinamentos e oportunidades oferecidas
no decorrer deste trabalho.
Dedico este trabalho à memória do grupo de autores do
Novo Testamento, os primeiros lingüistas que acreditaram
no discurso como instrumento de mudança social,
na pessoa de IAKWB, autor da epístola - Carta Magna da
Humanidade - objeto de estudo do presente trabalho.
SUMÁRIO
Resumo ....................................................................................................................... IX
Abstract ........................................................................................................................ X
Resumée ...................................................................................................................... XI
Siglas Utilizadas .........................................................................................................XII
Índice de Figuras ..................................................................................................... XIII
INTRODUÇÃO ............................................................................................................1
METODOLOGIAS .......................................................................................................5
PALAVRAS-CHAVE
Discurso Religioso; Enunciação; Coesão e Coerência; Argumentação; Semiótica .
IX
ABSTRACT
The present thesis presents a Greek text reading/analysis proposal of the Epistle
of James that pertence, in corpus biblical, to the New Testament. The reading/analysis
is made applying concepts, language Sciences Notions and methodologies, modernly
employed in the analysis of the most varied discursive genders. The research constitutes
of three distinct parts: The first, in which we present summarily the used methodology
and some reflections on context are done, the Greek language system utilization, and the
epistolary discourse gender. The second, in which is presented a theory proposal that
has as goal identify a structure and a process for the enunciation instance. In the third
part, readings analyses are done: of context and of the speech gender of James; of the
Greek language system resources as the verbal aspect, the Greek participle and for
spacialization marked since the lexicon; of the addressee's speechlization as indicating
the possibility that the speaker – James – is destinator of a driven speech so much to a
particular auditorium as universal. The sciences of the used language priority were: own
theoretical vision of enunciation instance, the textual linguistics, the argumentation, and
the semiotics of Paris School. Both the theoretical reference as the readings/analyses
done had as goal of showing the applicability of modern methodologies in old texts -
religious - and written in the original tongue, and in the search of an argumentation,
cohesion and coherence for James's Speech.
KEY WORDS
Religious speech; Enunciation; Cohesion and Coherence; Argumentation; Semiotics.
X
RÉSUMÉ
La présente thèse propose une lecture/analyse du texte grec de l’Épître de Jacques qui
appartient, au sein du corpus biblique, au Nouveau Testament. Cette lecture/analyse est
faite en appliquant des concepts, des notions et des méthodologies issus des sciences du
langage actuellement utilisées pour analyser les genres discursifs les plus variés. Le
travail se compose de trois parties. La première présente sommairement la méthodologie
utilisée ainsi que quelques réflexions sur le contexte, l’utilisation de la langue grecque et
le genre discursif épistolaire. La deuxième partie présente une proposition de théorie
qui a pour objectif d’identifier une structure et un processus pour l´instance
d´énonciation. Dans la troisième partie, enfin, sont faites des lectures et des analyses du
contexte et du genre du discours de Jacques; des ressources du système de la langue
grecque tels que l’aspect verbal, le participe grec et la spatialisation marquée depuis le
lexique; de l’action discursive du destinataire en tant qu’indication de la possibilité pour
que l’orateur – Jacques– soit le destinateur d’un discours dirigé vers un public qui soit
aussi bien particulier qu’universel. Les sciences du langage utilisées en priorité ont été
notre propre vision théorique de l´instance d´énonciation, ainsi que la linguistique
textuelle, l’argumentation et la sémiotique de l’Ecole de Paris. Le référentiel théorique
tout comme les lectures et les analyses effectuées ont eu pour objectif de montrer la
possibilité d’appliquer des méthodologies modernes à des textes anciens – religieux – et
écrits en langue originale, ainsi qu’à la recherche d’une argumentation, d’une cohésion
et d’une cohérence au discours de Jacques.
Mots-clefs
Discours religieux ; énonciation ; cohésion et cohérence ; argumentation ; sémiotique.
XI
SIGLAS UTILIZADAS
TA – Tratado da Argumentação
NT – Novo Testamento
AT – Antigo Testamento
Tg – Epístola de Tiago
Col - Colossenses
Lc – Lucas
Mt - Mateus
XII
ÍNDICE TABELAS, QUADROS, FIGURAS
XIII
Figura 25 Marcas que discursivizam o destinatário 210
nos versículos 5:1-6
Figura 26 Ocorrências da raiz (makroqum-) no léxico da perícope 5:7- 213
10
Figura 27 Discursivização do destinatário na perícope 5:7-11. 214
Figura 28 Discursivização do destinatário na perícope 5:12-17, 219
Figura 29 Referência ao destinatário figurativizada por um (ele) 220
marcado
na terceira pessoa do modo “imperativo”.
Figura 30 Pronomes indefinidos e os pronomes pessoais oblíquos em 221
5:13-14
Figura 31 Desinências pessoais da 3ª pessoa do singular em 5:13-14 221
Figura 32 Referências ao destinatário que individualizam o membro do 221
grupo na perícope 5:12-16
Figura 33 Quadro de utilização de figuras para (des) construção da 232
identidade do destinatário da Epístola na perícope 1:21-27
Figura 34 Relações, entre sujeitos, construídos com figuras da perícope 235
1:17-
Figura 35 Verbos compostos com a raiz erc-erc 237
Figura 36 Intersecção de enunciados: Sabedoria imaginária/aparente 256
versus sabedoria vivida/real.
Figura 37 Isotopia temática nos vers. 4:13 e 5:3 316
XIV
INTRODUÇÃO
______________________________________________________________________
Jesus falou. . . .
e os discípulos
ouviram
perguntaram
falaram
escreveram
e nós lemos . . .
e milhões
aderiram
e o mundo
transformou-se e se transformará para sempre
a partir deles.
O galo só “emite sons” fone,w. Nos sons emitidos pelo “bicho” qhri,on não se
forma a “palavra” on,v oma, porque não são sons articulados.
Epv ei. dhlous/ i ge, ti kai. oiv agv ram, matoi yof
. oi oio- n qhriw
, n wn- oudv en, esv tin
on; oma.. ....1
Tradução Linear: A seguir também mostram algo os sons não representados
pelas letras, como os dos bichos (feras) de que não há nome nenhum...
1
Aristóteles, 16a, linhas 2 e 3.
2
E Lucas narra:
Lc 22:34 o` de. ei=pen( Le,gw soi( Pe,tre( ouv fwnh,sei sh,meron avle,ktwr e[wj
tri,j me avparnh,sh| eivde,naiÅ
Lc 22:34 - ARA - Mas Jesus lhe disse: Afirmo-te, Pedro, que, hoje, três vezes
negarás que me conheces, antes que o galo cante.
Os textos acima mostram com clareza que “o que está dizendo” o] le,geij, e “o
que está falando” lalou/ntoj é um “ser humano” Anqrwpoj. E, quem canta “emite sons”
evfw,nhsen é o “galo/não articulador” avle,ktwr.
3
É fato atestado, inclusive, que a leitura/análise do texto bíblico, utilizando
conhecimentos e noções advindas das ciências da linguagem, influenciará, no futuro de
forma radical, o modo de fazer um comentário, exegese, ou interpretação.
4
Da mesma forma, mesmo que o texto de Tiago, em seu primeiro versículo seja
dirigido a um auditório2 particular, ou seja, às doze tribos na dispersão – tentaremos
demonstrar que ele é igualmente dirigido a um auditório universal – o grupo de seres
humanos concebidos como gênero/espécie, numa situação social e de valores
específicos.
METODOLOGIAS
2
Como imaginaremos os auditórios aos quais é atribuído o papel normativo que permite decidir da
natureza convincente de uma argumentação? Encontramos três espécies de auditórios considerados
privilegiados a esse respeito, tanto na prática corrente corno no pensamento filosófico. O primeiro,
constituído pela humanidade inteira, ou pelo menos por todos os homens adultos e normais, que
chamaremos de auditório universal; o segundo formado, no diálogo, unicamente pelo interlocutor a
quem se dirige; o terceiro, enfim, constituído pelo próprio sujeito, quando ele delibera ou figura as razões
de seus atos. Cf. PERELMAN, C. e OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação, a nova
retórica. Trad. Maria Ermantina Galvão. 1 ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 1996, pp.
33-34.
3
James moves rapidly from one theme to another, often without logical connection. For this reason many
commentators feel that it is difficult to detect a formal and cohesive structure in the book. Cf. LOH, I-Jin.
A Handbook on the Letter from James. New York: United Bible Societies, 1997 (USB Handbook
Series).“Tiago passa rapidamente de um tema a outro, freqüentemente sem conecção lógica. Por esta
razão alguns comentaristas sentem que é difícil identificar uma estrutura formal e coesiva no livro”
(tradução nossa).
5
leitores de Saussure. As disciplinas cursadas durante a Pós-Graduação - Mestrado e
Doutorado - permitiram uma aproximação com as diversas metodologias de
leitura/análise dos textos/discursos.
6
Assim, optamos por pequenas sínteses resumitivas, ou citações, de alguns
conceitos e noções das metodologias utilizadas. Um dos objetivos desta tese é chamar
atenção e mostrar a utilidade de aplicação das ciências lingüísticas na leitura/análise do
texto bíblico, e não é nosso objetivo priorizar a aplicação de uma só metodologia. Ao
final, pensamos ser importante marcar que todas as metodologias utilizadas estarão em
correlação direta e hierarquicamente abaixo da noção central de ENUNCIAÇÃO.
A INSTÂNCIA DA ENUNCIAÇÃO sensu large será vista sob três enfoques: na sua
origem e sua criação (sua gênese), na produção de um objeto textual e discursivo, no
seu ato comunicativo. Enfatizando a INSTÂNCIA DA ENUNCIAÇÃO queremos remarcar o
que consideramos sua gênese, ou seja: a experiência/percepção de um objeto por um
sujeito. Nossa tese pretende fazer uma ligação entre as teorias utilizadas e o
texto/discurso de Tiago, objetivando assim mostrar a pertinência de aplicação das
ciências da linguagem nos textos do Novo Testamento. Faremos, por exemplo, uma
leitura da prática textual/discursiva de VIa,kwb “Tiago”, a partir de alguns
recursos/técnicas/elementos e estruturas argumentativas/discursivas elencadas no TA4.
7
pela morfologia do termo – particularmente da formação com as preposições ou
prefixos separáveis que modalizam espacialmente o termo. B) as isotopias construídas a
partir das figuras do mundo natural e do mundo cultural, e C) discursivizadas por meio
de recursos como a analogia, metáforas, comparações, etc.; ISOTOPIAS
5
The Greek New Testament (GNT), edited by Kurt Aland, Matthew Black, Carlo M. Martini, Bruce M.
Metzger, and Allen Wikgren, in cooperation with the Institute for New Testament Textual Research,
Münster/Westphalia, Fourth Edition (with exactly the same text as the Nestle-Aland 27th Edition of the
Greek New Testament), Copyright (c) 1966, 1968, 1975 by the United Bible Societies (UBS) and 1993,
1994 by Deutsche Bibelgesellschaft (German Bible Society), Stuttgart. Copyright © 1998 BibleWorks,
LLC.
8
sua utilização sintagmática atualizada e realizada no texto/ discurso da epístola. São os
elementos do sistema grego em uso no discurso que serão para nós um ponto de apoio
concreto para a aplicação das demais teorias.
9
escritos ou falados em intertextos, por si só, no próprio discurso de Tiago, já apontam
um intertexto. Ver, entre outros, alguns exemplos, nas frases a seguir:
10
CAPÍTULO 01
CONTEXTO
______________________________________________________________________
7
O contexto de um elemento X qualquer é, em principio, tudo o que cerca esse elemento. Quando X é
uma unidade lingüística (de natureza e dimensões variáveis: fonema, morfema, palavra, oração,
enunciado), o entorno de X é ao mesmo tempo de natureza lingüística (ambiente verbal) e não-lingüística
(contexto situacional, social, cultural). Ver verbete “contexto”. In: CHARAUDEAU, Patrick e
MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. Coord. de Tradução: Fabiana
Komesu. São Paulo: Contexto, 2004.
série de relações familiares e sociais que são típicas do contexto social, no qual o
enunciado aparece. Essas marcas lexicais tanto servem para nos mostrar o contexto
situacional em que o produto é criado como contribuem para construir temas e a
argumentação. Se essas marcas são repetidas, como é o caso de “meus irmãos” avdelfoi,
mou, do campo analógico da família, é sinal de que as micro-narrativas, ligadas a essas
marcas, são escolhas preciosas para a argumentação do enunciador. Mas, o contexto
situacional que aparece nas marcas do enunciado não é só aquele contexto da
organização social e das praticas culturais entre elas as práticas discursivas. A situação é
também do contexto do mundo natural e geográfico. Além disso, para as diversas
práticas, aparecem: as relações do homem com a natureza, a relação do homem com o
homem, na qual se incluem as práticas econômicas. Estas últimas, por exemplo: de
compra e venda, de relações patrão empregado, de senhor e servo, do trabalho sazonal,
da remuneração por salários, de acúmulo e ostentação de riquezas, e da pobreza.
12
com fins argumentativos. Os objetos servem de suporte figurativo para trazer ao
discurso os valores, crenças, fatos, ou até mesmo suposições, como pontos de partida
para argumentação. Figuras que servem igualmente de suporte e colaboradoras na
construção de temas, significado e efeitos de sentido. E, mais ainda, nesses casos, o que
o texto/discurso da epístola pode significar é que, os fatos, ações ou estados, de natureza
interna ou externa das micro-narrativas das quais o mundo natural faz parte, conteriam
traços semânticos de leis senão perenes, ao menos estáveis ou de valor universal.
Dessa forma, o tema que está sendo construído com os elementos contextuais do
mundo natural adquire igualmente um caráter perene e universal. Este fato pode nos
fazer pensar que naquelas ocasiões o enunciador está se dirigindo não só a um auditório
imediato e particular, mas igualmente a um auditório universal. É o caso, por exemplo,
das figuras trazidas pelos elementos contextuais do mundo natural, que são escolhidos e
apresentados nos vers. 1:10-11, abaixo, em que aparecem: a flor, o sol, o vento, a erva.
1:10 o` de. plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou
pareleu,setaiÅ
1:10 Mas ao rico, diga a ele que (comece a se vangloriar/exaltar) na sua
humilhação, porque irá embora/cairá/passará como a flor da erva.
1:11 avne,teilen ga.r o` h[lioj su.n tw/| kau,swni kai. evxh,ranen to.n co,rton kai.
to. a;nqoj auvtou/ evxe,pesen kai. h` euvpre,peia tou/ prosw,pou auvtou/ avpw,leto\
ou[twj kai. o` plou,sioj evn tai/j porei,aij auvtou/ maranqh,setaiÅ
1:11 Pois, o sol atingiu o seu ponto máximo/o seu pico/a sua meta tendo ao
lado o vento escaldante/abrasador e secou a erva e a sua flor caiu e a beleza
da aparência dela morreu/desapareceu. Assim também o rico em seus
negócios/nas suas andanças será murcho.
13
enunciativo/discursivo como aquele que mais contribui para efeito de sentido na
leitura/análise da Epístola de Tiago. A Epístola se situa e é posta em relação com outros
produtos, outros enunciados/discursos e seus enunciadores/oradores8. É a partir desse
confronto que o tema da sabedoria e da sua transmissão aparece.
3:7 pa/sa ga.r fu,sij qhri,wn te kai. Peteinw/n( e`rpetw/n te kai. Evnali,wn
dama,zetai kai. Deda,mastai th/| fu,sei th/| avnqrwpi,nh|
3:7 Pois toda a natureza das feras, também das aves, dos répteis, e também
dos seres marinhos está sendo domada e está domada pela natureza
humana/dos homens.
CO(N)TEXTUALIZAÇÃO ENUNCIATIVA
8
As marcas da intertextualidade bíblica são centenas, apontadas e até listadas pelos comentaristas. A este
respeito, ver o trabalho exaustivo de ZODHIATES, S. The behavior of belief: an exposition of James
based upon the original Greek text. 2 ed. Michigan: Grand Rapids, 1966.
14
Primeiro Percurso: Um sujeito coletivo enunciador SC1, figurativizado pelos
enunciados/discursos do Antigo Testamento. Um sujeito coletivo de estado SC2
figurativizado pelas doze tribos na dispersão. SC1 com seu discurso faz saber ao SC2
(em estado de falta de sabedoria) em que consiste a sabedoria de um outro sujeito: Deus.
O fazer saber tem como objetivo a transformação de SC2 (em estado de falta de
sabedoria). Esse se transforma em SC2 (portador de sabedoria). Esse Primeiro Percurso
pressupõe, além da transformação pelo saber, o início de outro percurso, desta vez, do
fazer.
SC1 ( AT) > SC2 (em falta de sabedoria) > SC2 (aquisição de sabedoria)
SC1 ( NT) > SC2 (em falta de sabedoria) > SC2 (aquisição de sabedoria)
15
A noção de intervenção, que consideramos como sendo um dos significados do
ato enunciativo/discursivo de Tiago, encontraremos tanto na Teoria da Argumentação
como em nosso enfoque teórico sobre a INSTÂNCIA DA ENUNCIAÇÃO.
CONTEXTUALIZAÇÃO ARGUMENTATIVA
9
TA, p. 55.
16
Mas, não só houve uma demora na tomada de decisões como houve igualmente
a tomada de decisões que indicavam uma ruptura nas próprias crenças, uma ruptura dos
acordos. Essa ruptura aparece na epístola tanto quando o orador aponta, no vers. 1:6,
para a divisão, do crer pi,stij “fé”, ao “fazer juízos atravessados/fazer considerações/
discriminar” diakri,nw no momento da busca da sabedoria, como na atribuição de
funções narrativas ao sujeito Deus/Senhor/Jesus Cristo com o qual as doze tribos na
dispersão mantinham um contrato. Os versículos a seguir ilustram o que queremos
dizer:
1:7 mh. ga.r oives, qw o` a;nqrwpoj evkei/noj o[ti lh,myetai, ti para. tou/
kuri,ou
1:7 Pois, diga a ele - aquele ser humano/o ser humano aquele - que não
pense/não comece a pensar /não continue pensando, que receberá algo
da parte do Senhor.
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/
kuri,ou h`mw/n VIhsou/ Cristou/ th/j do,xhjÅ
2:1 Meus irmãos não tenhais/continuais a ter em parcialidade/distinção
de pessoas, a fé do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.
17
Com a ruptura dos acordos, houve necessidade de intervenções na historia da
narratividade enunciativa bíblica, tanto do AT e como do NT. A relação contratual do
sujeito as doze tribos na dispersão com o sujeito Deus/Senhor/Jesus Cristo precisava ser
relembrada. As intervenções ocorreram porque o que o contrato previa eram ações
efetivas que se seguiriam naturalmente após a decisão pelo convencimento intelectual, e
não se esperava por parte do grupo apenas um monte de decretos e papéis.
2:18 VAllV evrei/ tij( Su. pi,stin e;ceij( kavgw. e;rga e;cw\ dei/xo,n moi th.n pi,stin
sou cwri.j tw/n e;rgwn(kavgw, soi dei,xw evk tw/n e;rgwn mou th.n pi,stinÅ
10
TA, p. 55.
18
pi,stij. Quando o orador diz no versículo 2:18 que “a partir/de dentro dos trabalhos” evk
tw/n e;rgwn a fé é mostrada ele está fazendo discursivamente o caminho inverso do
percurso narrativo da argumentação. O percurso no qual o TA justifica a intervenção:
INTERVENÇÃO E ENUNCIAÇÃO
11
Ver capítulo 7 desta tese.
12
BERTRAND, Denis. Caminhos da semiótica literária. Bauru: EDUSC, 2003, p. 249ss.
19
Bertrand, a intervenção é vinculada a uma falta. Esta falta é a privação de um vínculo
sensível. Na leitura/análise do texto de Tiago, observamos que a intervenção está
também vinculada a uma falta. A falta do PN do fazer ao qual nos referimos acima. É
aqui que queremos estabelecer uma relação entre a falta do PN do fazer e nossa visão
teórica da INSTÂNCIA DA ENUNCIAÇÃO. Essa relação procurará mostrar que a falta do
PN do fazer está igualmente estribada na privação de um vínculo sensível. Esta privação
aparece marcada no texto de Tiago quando o discurso do destinatário, previsto
argumentativamente na epístola, mostra que sua enunciação verbal não se origina no
percurso do sentir, experimentar, sofrer de um objeto, no caso o seu irmão ou
companheiro do grupo. Tiago tenta mostrar que a enunciação verbal do destinatário da
epístola não se origina num dispositivo enunciativo que indica a conquista de sua
presença no mundo, e que lhe permite a aquisição de uma identidade. Uma presença que
é fruto do seu sentir, experimentar, sofrer de, no momento da sua relação com o objeto
Deus. Uma relação que passa por uma relação consigo mesmo e por uma relação com os
outros seres humanos.
20
CAPITULO 02
O TEXTO ORIGINAL GREGO
______________________________________________________________________
Cabe assinalar que o texto de Tiago é considerado como escrito por um profundo
conhecedor da língua grega. E, a competência no uso da língua é fundamental para a
construção argumentativa de qualquer discurso, conforme assinala o autor abaixo:
(...) quanto mais domínio o falante tiver dos recursos expressivos de sua
língua, mais eficientemente atuará sobre os seus ouvintes. Tendo à sua
disposição múltiplas formas de se comunicar, o indivíduo selecionará as mais
adequadas para atingir seus objetivos. Esse agir sobre a linguagem ocorre
tanto por parte do emissor como por parte do receptor: se ambos têm domínio
do material lingüístico com o qual estão interagindo, melhores resultados
estarão obtendo na sua comunicação.13
13
ARAÚJO, Ubirajara Inácio de. Tessitura textual: coesão e coerência como fatores de textualidade. 2
ed. São Paulo: Humanitas, 2002, p. 24.
Murachco14. Ressalte-se que, da mesma forma que utilizamos teorias específicas para o
grego neo-testamentário, a base gramatical é a do grego ático, já que pertence ao ático a
variante Koinh,. Admite-se historicamente, embora sem unanimidade, que os livros do
Novo Testamento foram escritos originalmente nessa variante.
PRIMEIRA HIPÓTESE
A LÍNGUA ESTRANGEIRA COMO REFÚGIO.
A primeira hipótese nos veio lendo o livro Identidade e Discurso, e nele o artigo
de Bolognini.15 Nesse artigo, a autora ensina: quando duas pessoas – que poderiam estar
falando numa mesma língua conhecida, ou que está sendo aprendida pelos dois,
preferem usar uma terceira ou uma segunda língua, trata-se de um artifício que visa
amenizar ou destruir as posições dos sujeitos discursivos, no momento em que estão
falando. Trata-se de eliminar os valores ideológicos que estabelecem lugares tópicos –
trazidos pelas posições sociais hierarquizadas – e que condicionam os discursos dos
interlocutores.
14
MURACHCO, H. Língua grega: visão semântica, lógica, orgânica e funcional. Vols 1 e 2. Petrópolis:
Editora Vozes/Discurso Editorial, 2001.
15
BOLOGNINI, Carmen Zink. A língua estrangeira como refúgio. In: CORACINI, Maria José (org.).
Identidade & discurso: (des)construindo subjetividades. Campinas/Chapecó: Editora da Unicamp/Argos
Editora Universitária, 2003.
22
submetido à história, à cultura do outro pelo fato de estar falando em sua
língua. Implica uma opção por silenciamento de sua própria história, de sua
própria cultura, mas também implica posicionar discursivamente os dois
sujeitos em uma região nebulosa devido às incertezas que os mistérios da
língua estrangeira colocam em cena. E nesse sentido que a língua estrangeira
se coloca, na opção dos dois sujeitos analisados aqui, como um refúgio: um
lugar no qual ambos se sentem seguros no aparente nivelamento que ela lhes
proporciona.16
No caso de Tiago, algumas reflexões poderiam ser feitas com relação a essa
possibilidade de escolha. Primeiramente, Tiago não é um profeta, e não sendo um
profeta para o seu auditório, as doze tribos na dispersão, ele não poderia falar em nome
de Deus e, se o fizesse, ele estaria se posicionando num lugar social/religioso
inadequado. A seguir, o orador apresenta-se como servo. Essa posição para os valores
do Antigo Testamento não dá autoridade nenhuma para que um sujeito se assuma como
sujeito discursivo e fale em nome de Deus. Assim, aplicando o ensinamento de
Bolognini, ao usar a língua grega, o orador estaria procurando um lugar no qual pudesse
se tornar mais livre das coerções sociais/religiosas que lhe reservavam um lugar tópico
hierarquicamente inferior, um lugar que lhe impediria de se assumir como sujeito
discursivo. A língua grega seria um refúgio aonde ele poderia se movimentar com mais
liberdade, livre das coerções sociais que lhe eram impostas pelo uso da língua comum,
pressupostamente o hebraico ou aramaico.
23
auditório especifico do mundo grego - aqui transformado num auditório universal pelo
fato de que o mundo da época falava grego - os valores, crenças, enfim categorias da
religião/sociedade judaica. Quanto a essa hipótese - utilizar-se da língua grega para
introduzir novos valores - ela pode ser aceita com facilidade uma vez que é fato
comprovado pelos lingüistas/tradutores que, nos atos tradutórios há um componente
imprescindível, e que não pode ser deixado de lado, qual seja, os aspectos culturais da
sociedade da língua de partida e da língua de chegada, no texto traduzido. O uso da
língua grega pelos autores do NT, incluindo o orador da epístola de Tiago, pode indicar
uma recategorização ou retomada de uma categorização há muito esquecida de um
conjunto de idéias como um todo, ou de um objeto cultural. Especificamente, na
epístola17, essa hipótese se comprava quando olharmos, por exemplo, para o termo
qrhsko,j “fazedor/religioso” cujo significado no mundo grego não é a do conceito
abstrato de religião.
17
Ver, no presente capítulo, o parágrafo intitulado Destaques tradutórios.
18
Ver nota 5.
24
recursos possíveis de serem utilizados na construção coesiva, coerente e argumentativa,
dos textos/discursos. Koch19 ensina:
Os recursos do sistema da língua grega que serão objeto de nossas reflexões são:
as raízes gregas formadoras dos termos, que sinalizam uma analogia de significados; a
formação de palavras com prefixos separáveis ou preposições que modalizam
espacialmente o significado do termo e do discurso; os particípios verbais gregos (com
suas flexões) que contribuem para a coesão e argumentação; os temas aspectuais verbais
que auxiliam na construção de isotopias temáticas, construção de identidade de sujeitos,
e na argumentação.
Optaremos pelo recurso da tradução linear dos versículos citados. A opção pela
tradução linear se mostra eficaz por seu caráter dialético. O caráter dialético se instala
nesse tipo de tradução porque o texto se apresenta como um lugar para reflexão. A
tradução linear descarta o definitivo, o indiscutível. As traduções usuais, ao mesmo
tempo em que necessárias do ponto de vista prático, optam por uma forma definitiva
que trás consigo uma escolha. Tais escolhas certamente são, ou direcionam para, uma
interpretação. Na tradução linear o que ocorre é que vamos buscar uma nova proposta
de acordo. Primeiramente um acordo entre orador e o auditório de nossa tese, e em
segundo lugar um acordo entre o orador e o auditório dos leitores/analistas do
texto/discurso do Novo Testamento. Assim, a tradução linear do texto destaca a
influência do traço aspectual verbal na língua de partida na tradução das formas verbais
conjugadas. Para essa opção de tradução nos valemos da necessidade imperiosa de
marcar no texto de chegada (texto português) o significado do traço verbal aspectual
19
KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e linguagem. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
20
KOCH, p. 107.
25
assinalado no tema dos verbos mesmo nas suas formas nominais: particípios e
21
infinitivos. Barroso após fazer uma retrospectiva de autores que estudaram a
marcação do aspecto na língua portuguesa, conclui:
A justificativa do uso das perífrases verbais para tradução dos verbos nos
aspectos Infectum/Inacabado e perfectum/acabado leva em conta igualmente a
leitura/análise da argumentação. A argumentação no ato tradutório leva em conta um
conjunto de situações argumentativas, como segue: 01. O conjunto de situações
argumentativas que está contido na argumentação que faz parte do discurso do texto de
partida. 02. O conjunto de situações argumentativas que está contido no processo de
escolhas do ato tradutório, portanto, argumentação do tradutor. 03. O conjunto de
situações argumentativas que ao final aparece na argumentação, e que faz parte do
discurso do texto de chegada.
DESTAQUES TRADUTÓRIOS
21
BARROSO, Henrique. O aspecto verbal perifrástico em português contemporâneo: visão funcional/
sincrônica. Porto: Porto Editora Ltda, 1994.
22
BARROSO, p. 53.
23
TA, p. 579.
26
O objetivo dos breves comentários do presente parágrafo é apontar dificuldades
até históricas, nas opções de traduções. As opções podem direcionar ou esconder
questões importantes para a leitura/análise da epístola, e por extensão para exegese,
interpretação e comentários.
Fqo,noj (Tg 4:5) – o termo é normalmente traduzido nas Versões Bíblicas por inveja. No
entanto, mostramos uma alternativa de tradução. O sentido original da palavra é, na
verdade “segurar para si”. Estendendo-se depois, e estando ligado a esse sentido, nos
significados dos termos: Poupança, Acúmulo, Opulência, Avareza.
qrhsko.j (Tg 1:26) - Traduzimos o termo por “fazer religioso” ou ter uma relação de
oferta verdadeira com Deus. Com a versão bíblica da Septuaginta foram introduzidas
noções da cultura grega no texto do Antigo Testamento. O termo qrhsko.j é traduzido
nas versões modernas, como “religião”. Mas para os gregos, religião não era um
conceito abstrato. Concretamente, qrhsko.j era o fazer religioso, de trazer, como quem
diz: “aqui está, deus, a minha oferta”, pois os gregos tinham uma relação concreta com
os seus deuses. Não é só uma visão da língua grega da época do Koinh, mas é
igualmente uma visão da cultura grega.
di,yucoj – Mesmo nas versões ocidentais tradicionais, a palavra se traduz por “duas
mentes” ou “mente dupla”, e não duas almas. Ora, isso abre a possibilidade da inserção
de seu significado numa isotopia que está mais direcionada para uma atitude cognitiva
do que para uma referência espiritual. O termo yuch, da mesma família que di,yucoj no
entanto é traduzido por alma, pelas mesmas versões tradicionais, na mesma epístola de
27
Tiago, nas ocorrências dos versículos 1:21 e 5:20. No entanto, optamos pela
manutenção na tradução de di,yucoj na isotopia da cognição.
avnastrofh, (Tg 3:13) – Tradicionalmente traduzido por “boa conduta de vida”, optamos
traduzir por retorno. No sintagma deixa,tw evk th/j kalh/j avnastrofh/j ta. e;rga auvtou/
“mostre os trabalhos dele, a partir do retorno eficiente/bom/bonito”. Essa tradução leva
em conta a espacialização no caminho do tema da vida. Após uma saída do caminho, a
sugestão do orador é que se mostrem os trabalhos com o retorno ao caminho. A
preposição Ana, modaliza espacialmente a figura.
Plana,w (Tg 1:6 e 5:19) – Nossa opção de tradução é por “vagar”, ao invés da tradução
tradicional por “enganar”.
pla,nhj (Tg 5:20) – Optamos por fazer a tradução de pla,nhj relacionando com “vagar”,
“errar”. Isso está coerente com o significado/sentido da epístola, que inclusive termina
com o mesmo tema no versículo 5:20 evk pla,nhj o`dou/ auvtou “do caminho errante dele”.
O termo - pla,nhj - com a mesma raiz de - plana,w. A opção por essa tradução vai ao
encontro da busca de uma unidade de significado na carta, que trás um novo foco
temático, nas recomendações de Tiago. Há outras palavras usadas na carta relacionadas
com esse tema. Exemplos dessas palavras são diakrino,mai ”eu faço juízos
atravessados,” e di,yucoj “duas mentes, mente dupla” que conteriam a idéia junto com
Mh. plana/sqe “não continueis vagando” de recomendação geral para que uma
direção/juízo24 tomada/o não seja atravessada/o, e por extensão interrompida/o.
24
O Versículo 4:8, que junto com o versículo 1:8 contém as duas ocorrências do termo di,yucoj (“duas
mentes”), indica a direção recomendada pelo orador: 4:8 evggi,sate tw/| qew/| kai. evggiei/ u`mi/n kaqari,sate
28
Igualmente a própria recomendação para que se peça com fé evn pi,stei tem relação com
esse tema. A recomendação evn pi,stei “com fé” aparece como oposição “àquele que faz
juízos atravessados” o` diakrino,menoj tradicionalmente traduzido como : “o que está
duvidando”.
(raiz krin-)
krin – a raiz, na nossa opção de tradução, inclui igualmente o significado de uma
tomada de decisão, de um cálculo, da chegada ao final de um raciocínio. A ênfase do
significado não é o campo jurídico, mas o campo semântico da tomada de decisão, da
chegada a um conceito.
cei/raj( a`martwloi,( kai. a`gni,sate kardi,aj( di,yucoi. 4:8 Aproximai-vos de Deus e ele se aproximará de
vós. Limpai pecadores as mãos e purificai os corações /homens de/ mentes duplas.
29
CAPITULO 03
GÊNERO
______________________________________________________________________
Se, como alguns teóricos admitem toda literatura é uma "lettre" endereçada a um
leitor, o gênero epístola/carta é o protótipo da literatura pois condensa e capitaliza, na
própria forma de discursivizam, as demais implicâncias enunciativas que lhe são
inerentes. (sua gênese e seu ato comunicativo). A Epístola tem marcada no texto a
presença indissociável da enunciação, como ato de interlocução/interação. Esse fato
leva o leitor a reparar igualmente na questão dos lugares, de onde fala o
destinador/orador, aparecendo aqui uma hierarquia social/político/religiosa, certamente
aceita. O destinador da Epístola de Tiago está, do ponto de vista tópico da organização
do grupo ao qual pertence, num lugar de autoridade em relação ao destinatário. Quanto
à discursivização: as escolhas do modo de dizer; e sua construção a narratividade e o
agenciamento de figuras; o texto de Tiago é dialético. O orador admite a participação do
auditório como interlocutor participante. Destacamos a argumentação, que tanto parte
de questões tidas como importantes e aceitas pelo auditório principal, como também
pelo modo de discursivizam, rico em marcas que criam um diálogo.
31
futuro.25 Na epístola predominam os atos de aconselhar ou desaconselhar; trata de
valores úteis ou nocivos; e usa como um dos argumentos, o exemplo. Os exemplos são
mesmo explícitos e aparecem na evocação de fazeres de personagens do AT. Mas, os
exemplos são igualmente pressupostos e aparecem no uso das orações hipotéticas que
têm igualmente um caráter de exemplo, já que são consideradas, argumentativamente,
como reais. Ver ocorrências de argumentos pelo exemplo, explícitos e/ou pressupostos,
a seguir:
Exemplos explícitos:
2:20 qe,leij de. gnw/nai( w= a;nqrwpe kene,( o[ti h` pi,stij cwri.j tw/n e;rgwn
avrgh, evstinÈ
2:20 Oh! Ser humano vazio! Tu estás querendo saber porque a fé separada
dos trabalhos é inativa ?
2:21 VAbraa.m o` path.r h`mw/n ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh avnene,gkaj VIsaa.k to.n
ui`on. auvtou/ evpi. to. qusiasth,rionÈ
2:21 O nosso pai Abraão não foi “justificado” a partir dos trabalhos, tendo
levado para cima/oferecido Isaac, o seu filho, sobre o altar do sacrifício?
2:25 o`moi,wj de. kai. ~Raa.b h` po,rnh ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh u`podexame,nh
tou.j avgge,louj kai. e`te,ra| o`dw/| evkbalou/saÈ
2:25 Da mesma forma, também, Raab a meretriz não foi justificada a partir
dos trabalhos, tendo acolhido os mensageiros e os tendo enviado por outro
caminho ?
5:10 u`po,deigma la,bete( avdelfoi,( th/j kakopaqei,aj kai. th/j makroqumi,aj tou.j
profh,taj. . . . . . . . . . . . . 5:17 VHli,aj a;nqrwpoj h=n o`moiopaqh.j. . . . . . . . . . . .
.
5:10 Irmãos, tomai exemplo da dificuldade/sofrimento e da paciência dos
profetas. 5:17 Elias era um homem de mesmo sentimento que nós
Exemplos pressupostos:
25
Não estamos falando aqui das marcas textuais que se utilizam do tempo verbal futuro, mas sim do
grande uso de exortações, no modo imperativo, que clamam por uma realização futura. Imperativos que,
quando no aspecto Infectum/Inacabado, contêm o sentido de uma realização imediata do ato ou
continuação do ato já em curso. Quando no aspecto verbal pontual, simplesmente mencionam a ação,
deixando-a no ar para ser pensada e/ou realizada no futuro.
32
A epístola como um todo pode ser considerada como do gênero deliberativo
porque assinala o que é útil ou nocivo, quando se leva em conta o Percurso Narrativo do
destinatário, na (des)construção da sua identidade.26 Por sua vez, como gênero
judiciário, a epístola assinala o que é justo ou injusto: no relacionamento dos auditórios
com Deus; no relacionamento dos seres humanos entre si; e no relacionamento do ser
humano consigo mesmo. Os modos de dizer do orador auxiliam a reforçar o
enquadramento da epístola como sendo do gênero judiciário. Em Tiago, o que é justo ou
injusto aparece, por exemplo, em sanções dos pequenos percursos narrativos, como
abaixo:
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes:
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
26
Como aparece, por exemplo, em vers. 1:26 qrhsko,j, “fazedor/religioso”; vers. 1:18 avparch,n tina tw/n
auvtou/ ktisma,twn, “um certo tipo de primícia das criaturas dele”; ou vers. 1:25 “bem-aventurado no fazer
dele”, maka,rioj evn th/| poih,sei auvtou/; vers. 1:12 “recebedores da coroa da vida”, cf. lh,myetai to.n
ste,fanon th/j zwh/j; vers. 2:5 “herdeiros do reino que ele prometeu”, klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j
evphggei,lato; vers. diversos : “justo”, di,kaioj.
33
igualmente, na Epístola de Tiago o tema jurídico está evidenciado, discursivamente nos
termos utilizados, argumentos, e tópicos, não só na relação homem/Deus como na
relação homem/homem. 27
Alem de ser uma carta, epístola, o discurso de Tiago tem, de acordo com os
comentaristas, a característica de um panfleto que deveria circular e ser lido em voz alta,
oralmente, conforme abaixo:
27
O gênero judiciário postula uma tese perante um terceiro, tentando persuadir o julgador. Este jogo
interativo aparece em Tiago, quando o orador apresenta ao seu auditório o membro das doze tribos
referenciado como alguém, ninguém, cada um, etc. Com aquele tipo de discursivização, o orador mostra
para as doze tribos na dispersão, como um todo, a ação de uma personagem individual. Naquele
momento, as mesmas doze tribos na dispersão - como auditório - funcionam como julgadores, afinal, de
seu próprio ato. Mas também criando uma cena fictícia, como na cena da sinagoga (vers. 2-8), o orador
isola o destinatário de seu próprio ato, para que ele seja persuadido no ato de julgar a si mesmo.
28
BROSEND II, William F. James and Jude. Cambridge: Cambridge University Press, 2004, p. 8.
34
CAPÍTULO 04
ARGUMENTAÇÃO
______________________________________________________________________
29
Este fundamento teórico é parte da bibliografia básica do projeto intitulado “Retórica e Argumentação:
Exame de Procedimentos Discursivos da Área de Concentração Estudos do Texto e do Discurso”, sob a
responsabilidade da Profa. Dra. Lineide do Lago Salvador Mosca.
30
TA, p. 8.
A argumentação tem como objeto o estudo das técnicas discursivas cujo
intuito é ganhar ou reforçar a adesão das mentes às teses que se lhes
apresentam ao assentimento (grifos nossos).31
Além disso, a técnica torna os objetos de acordo mais delimitados já que fixa os
objetos sobre os quais há controvérsia. O efeito de sentido que se cria no texto é de uma
construção textual objetiva, ao mesmo tempo em que o éthos do orador é mostrado, um
orador firme e confiável, independente das controvérsias. Ver, por exemplo, o versículo
2:4 a seguir:
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
31
PERELMAN, Chain. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 324.
32
TA, p. 123.
33
TA, p. 123.
36
e, exemplos de enunciados encaixados proferidos pelo próprio destinatário da epístola,
estão nos vers. 1:13, 2:3 e 4:13
1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw o(ti VApo. qeou/ peira,zomai\ o` ga.r qeo.j
avpei,rasto,j evstin kakw/n( peira,zei de. auvto.j ouvde,naÅ
1:13 Ninguém ao mesmo tempo que está sendo envolvido/provado/tentado
(ele) diga/comece a dizer/ continue a dizer “da parte de Deus eu estou sendo
envolvido/provado/tentado”, pois o Deus não é envolvedor/tentador
maldoso/para o mal - suscetível de tentação a partir dos males. Ele mesmo
ninguém envolve/testa/tenta.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes :
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
4:13 :Age nu/n oi` le,gontej( Sh,meron h' au;rion poreuso,meqa eivj th,nde th.n
po,lin kai. poih,somen evkei/ evniauto.n kai. evmporeuso,meqa kai. kerdh,somen\
4:13 Agora, vamos! Os que estão dizendo/os falantes: hoje ou amanhã nós
iremos para dentro daquela cidade e faremos/produziremos lá por um ano/um
tempo e comerciaremos e lucraremos.
37
inserem o orador no grupo de seu auditório, e no grupo mais geral dos seres humanos
com sua natureza. Por exemplo, quando aponta:
5:17 VHli,aj a;nqrwpoj h=n o`moiopaqh.j h`mi/n( kai. proseuch/| proshu,xato tou/
mh. bre,xai( kai. ouvk e;brexen evpi. th/j gh/j evniautou.j trei/j kai. mh/naj e[x\
5:17 Elias era um homem de mesmo sentimento que nós e com oração dirigiu
uma prece de não chover e não choveu sobre a terra, durante três anos e meio.
38
O auditório universal é o dos seres humanos em geral, discursivizadas como
portadores de uma natureza física, tal como no versículo 3:7:
3:7 pa/sa ga.r fu,sij qhri,wn te kai. Peteinw/n( e`rpetw/n te kai. Evnali,wn
dama,zetai kai. Deda,mastai th/| fu,sei th/| avnqrwpi,nh|
3:7 Pois toda a natureza das feras, também das aves, dos répteis, e também
dos seres marinhos está sendo domada e está domada pela natureza
humana/dos homens.
Os recursos argumentativos da língua grega são trazidos pelo uso dos modos e
aspectos verbais; pela utilização os particípios e dos imperativos; pela morfologia das
palavras, raízes gregas; e pela modalização espacial trazida pelas preposições.
36
TA, p. 438.
39
participial, identificamos uma técnica argumentativa chamada pelo TA de ligação de
coexistência.
A origem da palavra ga.r < ge a.r / ge a=ra >: “é uma somatória de uma
partícula enfática, restritiva, intensiva, e uma aditiva (de ajuste) a.r /
a=ra. É a partícula anafórica explicativa por excelência. Aristóteles a
usa constantemente para explicar ou demonstrar um postulado”.38
A função anafórica talvez seja dada mais precisamente pelo ge? E, reforçando o
seguinte fato: o que vem em seguida ao ga.r tem relação com a palavra que o ge está
enfatizando? Se a resposta for esta, a ligação entre o particípio e o que vem antes, como
por exemplo, no versículo 1:6, na expressão o` ga.r diakrino,menoj “o que está fazendo
juízos atravessados/o que está discriminando”, está mostrada no próprio texto. Sendo
que o que está sendo enfatizado é a nominalização da idéia, da situação, do enunciado
37
KOCH , p. 33.
38
MURACHCO, Vol. 1, p. 634.
40
anterior, pois o ga.r vem logo depois do artigo.39 Como se vê o uso da partícula ga.r é
argumentativo tanto no significado que possui no sistema da língua como na sua
etimologia. Em uso então, ela é perfeita como encadeamento de uma técnica
argumentativa, e dela faz parte. No versículo acima, além de anaforizar e explicar,
auxilia a manter a noção de que o particípio tem também uma função referencial e
anafórica.
ARGUMENTAÇÃO E GÊNERO
1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw o(ti VApo. qeou/ peira,zomai\ o` ga.r qeo.j
avpei,rasto,j evstin kakw/n( peira,zei de. auvto.j ouvde,naÅ
1:13 Ninguém ao mesmo tempo que está sendo envolvido/provado/tentado
(ele) diga/comece a dizer/ continue a dizer “da parte de Deus eu estou sendo
envolvido/provado/tentado, pois o Deus não é envolvedor/tentador
maldoso/para o mal - suscetível de tentação a partir dos males. Ele mesmo
ninguém envolve/testa/tenta.
2:6 u`mei/j de. hvtima,sate to.n ptwco,nÅ ouvc oi` plou,sioi katadunasteu,ousin
u`mw/n kai. auvtoi. e[lkousin u`ma/j eivj krith,riaÈ
2:6 Vós desonrastes o pobre. Não (são) os ricos (que) estão
oprimindo/tiranizando no meio de vós e também (não são) eles que estão
arrastando vocês para dentro dos tribunais?
2:7 ouvk auvtoi. blasfhmou/sin to. kalo.n o;noma to. evpiklhqe.n evfV u`ma/jÈ
2:7 Não (são) eles que blasfemam o bom nome, o que foi invocado sobre vós
?
2:8 eiv me,ntoi no,mon telei/te basiliko.n kata. Th.n grafh,n(Vagaph,seij to.n
plhsi,on sou w`j seauto,n(kalw/j poiei/te\
2:8 Se, não obstante, uma lei régia cumpris/estais completando de acordo
com a escritura : “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” , estais fazendo
bem/com eficácia.
39
A partícula ga,r aparece no texto antes de outros particípios: versículos 1:16 - 1:13 - 4:14, o que
eventualmente pode auxiliar a construir uma relação argumentativa, pela proximidade entre os dois fatos
lingüísticos.
41
tratamentos afetivos; virtualidades ou meras menções do aspecto verbal aoristo/pontual;
referências indiretas ao próprio destinatário como um ele; e a inclusão do próprio orador
no grupo dos destinatários. Como é o caso do texto ora analisado, do gênero
Epístola/carta, a argumentação pode ser identificada, por exemplo, por meio das marcas
que indicam que o discurso está centrado prioritariamente no destinatário.
Esse enfoque nos permite depreender uma imagem do sujeito, tal como ensina
Discini: “A imagem dada pelo modo de dizer que é (em sua opinião) um éthos brando.
Lembrando que o éthos é o modo dizer”41. Em outra ocasião, a mesma pesquisadora dá
o seguinte parecer:
Acho bom você ressaltar que é argumentativo no sentido estrito, porque você
não está trabalhando com a argumentação lato sensu. E sim essa a
argumentação voltada mais para a valorização do destinatário. O páthos
aristotélico. O enunciador dá mais atenção aqueles a quem se dirige do que a
si mesmo. (é uma das características da argumentação: a preocupação com o
auditório), construindo uma cena própria de adesão fiduciária, de adesão, de
confiança, para levar ao crer, para fazer o leitor fazer, porque ele ressalta a
necessidade das ações.42
40
Colóquio com o co-orienador, Prof. Dr. Henrique Murachco, dezembro/2006.
41
Anotações feitas durante a Banca de Qualificação desta tese, dezembro/2006.
42
Entrevista com Norma Discini, com orientações sobre a monografia de nossa autoria para a disciplina
“Tópicos da Teoria da Enunciação”, dezembro/2003.
42
Há seres com os quais qualquer contato pode parecer supérfluo ou pouco
desejável. Há seres aos quais não nos preocupamos em dirigir a palavra; há
outros também com quem não queremos discutir, mas aos quais nos
contentamos em ordenar. Com efeito, para argumentar, é preciso ter apreço
pela adesão do interlocutor. Pelo seu consentimento, pela sua participação
mental. Portanto, às vezes é uma distinção apreciada ser uma pessoa com
quem outros discutem. O racionalismo e o humanismo dos últimos séculos
fazem parecer estranha a idéia de que seja uma qualidade ser alguém com
cuja opinião os outros se preocupem, mas, em muitas sociedades, não se
dirige a palavra a qualquer um, como não se duelava com qualquer um.43
Une image se fixe qui, ....., fait de la lettre le refuge privilegié du sentiment,
de l´éffusion, et de la vérité du moi communiqué à qui en est digne. 44
Uma imagem se fixa que .... faz da carta o refugio privilegiado do sentimento,
da efusão e da verdade de “si mesmo”, comunicado a quem é digno disto
(tradução e grifos nossos).
Esse modo de dizer nos levou a olhar o discurso de Tiago como dialético ou das
contradições cordiais, como nos ensinou o Prof. Henrique. Um tipo de discurso que se
utiliza das características do texto argumentativo e que leva em conta a capacidade de
raciocínio e decisão do auditório. Pelo modo de dizer o orador deixa por conta do
auditório a possibilidade de decidir, já que pode ser ou não persuadido e/ou convencido
pela argumentação. Um dos fortes indícios da argumentatividade do orador da Epístola
é centrar seu discurso no destinatário. As marcas do "vós" – destinatário - estão
presentes a cada momento da Epístola.45
43
TA, p. 18.
44
CHARTIER, Roger. La correspondance, les usages de l´écrit au XIEe siècle. In: HAROCHE-
BOUZINAC, Geneviève. L'epístolaire. Paris: Hachette, 1995, p.18.
45
Ver o capítulo 13 desta tese: Discursivização do destinatário.
43
CAPÍTULO 05
O ASPECTO VERBAL
______________________________________________________________________
Em Tiago a diferença “do que é para ação e o que é predisposição para ação” é
bem nítida. A diferença de sentido pode ser mostrada textualmente, por exemplo, no uso
diferenciado dos modos e dos aspectos verbais. Quando a recomendação é vista como
para a ação o aspecto verbal usado é o Infectum/Inacabado, já quando a ação é vista
como predisposição (para ação) o aspecto verbal é o pontual/aoristo. A utilização do
traço aspectual verbal, no discurso de Tiago, tem várias funções47 e uma delas é sua
utilização como técnica discursivo/argumentativa. A escolha do aspecto cria no discurso
efeitos de sentido – sobretudo argumentativos – de aproximação e distanciamento,
criando impressões diferentes no auditório, para fins de persuasão ou estabelecimento
de acordos.
46
MOSCA, Lineide. Seminário. PUC-SP, 2003
47
Uma leitura/análise predominantemente descritiva, mas também teórica, sobre as ocorrências do
aspecto verbal na Epístola de Tiago encontra-se em nossa dissertação de mestrado: Bittencourt, Fo.
Heitor. Anotações sobre o texto grego da Epístola de Tiago com ênfase no aspecto e modo verbal, tema e
argumentação. São Paulo: USP, 2003 (Dissertação de Mestrado). Orientador: Prof. Dr. Henrique
Graciano Murachco.
O ASPECTO PONTUAL OU AORISTO
1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( aivtei,tw para. tou/ dido,ntoj qeou/ pa/sin
a`plw/j kai. mh. ovneidi,zontoj kai. doqh,setai auvtw/Å|
1:5 E se, dentre vós, alguém está precisando/carecendo/faltante de sabedoria,
que ele busque/que ele entre no ato de buscar, da parte do Deus doante/que
está doando a todos, simplesmente, e que não censura /não está agredindo e
ser-lhe-á dada.
1:10 o` de. plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou
pareleu,setaiÅ
1:10 Mas ao rico, diga a ele que (comece a se vangloriar/exaltar) na sua
humilhação, porque irá embora/cairá/passará como a flor da erva.
48
“Nos discursos, o objeto da retórica é o discurso dialógico e pragmático. Há uma diferença entre o que
é para ação e o que é predisposição para ação”. (MOSCA, Lineide. Seminário. PUC-SP, 2003). Em Tiago
esta diferença é bem nítida. Ela pode ser constatada no uso diferenciado dos modos e dos aspectos
verbais. Quando a recomendação é vista como para a ação, o aspecto verbal utilizado é o
Infectum/Inacabado. Quando a ação é vista como predisposição para ação o aspecto verbal é o pontual.
45
O aspecto pontual é, portanto, uma menção do enunciador, um lembrete com
sentido prescritiva, sua função é trazer à memória do interlocutor algo esquecido ou
algo desconhecido. Um exemplo marcante desse uso são os indicativos pontuais usados
para proferir os provérbios. Por exemplo, no Tg. 1:11:
1:11 avne,teilen ga.r o` h[lioj su.n tw/| kau,swni kai. evxh,ranen to.n co,rton kai. to.
a;nqoj auvtou/ evxe,pesen kai. h` euvpre,peia tou/ prosw,pou auvtou/ avpw,leto\ ou[twj
kai. o` plou,sioj evn tai/j porei,aij auvtou/ maranqh,setaiÅ
1:11 Pois, o sol atingiu o seu ponto máximo/o seu pico/a sua meta tendo ao lado
o vento escaldante/abrasador e secou a erva e a sua flor caiu e a beleza da
aparência dela morreu/desapareceu. Assim também o rico em seus negócios/nas
suas andanças será murcho.
2:25 o`moi,wj de. kai. ~Raa.b h` po,rnh ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh u`podexame,nh
tou.j avgge,louj kai. e`te,ra| o`dw/| evkbalou/saÈ
2:25 Da mesma forma, também, Raab a meretriz não foi justificada a partir
dos trabalhos, tendo acolhido os mensageiros e os tendo enviado por outro
caminho ?
O ASPECTO INFECTUM/INACABADO
46
O aspecto Infectum/inacabado/contínuo potencializa a nominalização (ou
adjetivação) feita com os particípios (adjetivos) substantivados pelo uso do artigo. A
iconização49 do referente já sobrevalorizada pela nominalização é potencializada
quando o aspecto utilizado é o Infectum/Inacabado. Com a iconização50 aumenta-se a
ilusão referencial do mundo posto no texto e aumenta-se o efeito de sentido de
realidade. O aspecto Infectum/Inacabado ao criar um efeito de maior realidade traz, por
extensão, o efeito de que a ação e a narrativa são mais concretas.
1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( aivtei,tw para. tou/ dido,ntoj qeou/ pa/sin
a`plw/j kai. mh. ovneidi,zontoj kai. doqh,setai auvtw/Å|
1:5 E se, dentre vós, alguém está precisando/carecendo/faltante de sabedoria,
diga a ele que busque/que ele entre no ato de buscar, da parte do Deus
doante/que está doando a todos, simplesmente, e que não censura/não está
agredindo e ser-lhe-á dada.
49
A onomização (dar nome) é recurso de iconização.
50
Observar que a iconização também está relacionada com a argumentação, pois pode ser considerada
uma figura de presença.
47
Vimos a importância que os chineses davam aos valores concretos. Esta
estaria relacionada com o imobilismo da China.51
1:19 :Iste( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ e;stw de. pa/j a;nqrwpoj tacu.j eivj to.
avkou/sai( bradu.j eivj to. lalh/sai( bradu.j eivj ovrgh,n\
1:19 Vós sabeis, meus irmãos amados/queridos: seja todo ser humano
rápido/pronto para o escutar, lento para o tagarelar, e lento para uma agitação.
51
TA, p. 89.
48
CAPÍTULO 06
METODOLOGIA SEMIÓTICA
______________________________________________________________________
A Semiótica será vista como uma metodologia inserida numa ciência mais
ampla: As ciências da linguagem, entre elas a ciência lingüística. Ciência que procura o
significado/sentido dos signos em geral, isolados no paradigma, ou postos em relação na
frase/texto/discurso. A Semiótica é uma das mais importantes teorias do discurso e do
texto elaboradas no século XX. Os conceitos, noções métodos e ensinamentos da
Metodologia Semiótica Greimasiana de linha francesa, ou escola de Paris, serão
ferramentas de nossa leitura/análise. Tal metodologia é amplamente aplicada no Brasil.
em suas aulas, grupos de estudos, que desenvolvem e aprofundam essa linha teórica.52
Nossa tese utiliza essa metodologia na leitura/análise de um texto neotestamentário,
escrito em língua grega antiga. A Metodologia Semiótica será além de aplicada um alvo
de reflexões, particularmente quando apresentamos uma visão da INSTÂNCIA DA
ENUNCIAÇÃO e sua relação com a instância discursiva.
52
A semiótica é também a metodologia exclusiva de análise de textos bíblicos no CADIR – Lyon/França,
local de nosso estágio de pesquisa durante oito meses, no ano de 2007.
do significado dos usos das figuras são diferentes, embora complementares. A
argumentação prioriza o efeito persuasivo e a Semiótica busca o efeito de
sentido/significado, na contribuição do uso das figuras, por exemplo, para a
tematização. . Nas duas, a questão do sujeito esta presente. Na retórica, o orador que
enuncia e discursiviza faz parte de um ato interativo pragmático, aparecendo os papeis
sociais nas duas teorias. Em Tiago, por exemplo, o orador ao mesmo tempo o
argumentador/exortador/ ensinador, que se apresenta como servo de outro sujeito
cultural/religioso: o Senhor-Jesus-Deus. O sujeito semiótico aparece igualmente
figurativizado por papéis sociais que constroem sua identidade nas diversas funções que
exerce nas pequenas narrativas, pelo modo com que é figurativizado. Sua identidade
social igualmente aflora.
FIGURATIVIDADE
53
Ver, por exemplo, divisão simples de formas de aquisição de conhecimento – a sensorial e a intelectual
– nos livros escolares de nível médio, como em RUIZ, João Álvaro. Metodologia cientifica: guia para
eficiência nos estudos. São Paulo: Editora Atlas, 1980, pp. 89-90.
50
figuratividade é utilizada, pois, para que a reflexão intelectual adquira o status de uma
experiência sensível, e assim se integrem as diversas maneiras de construção de um
conhecimento, o conhecimento sensorial e o conhecimento intelectual54. Além do prazer
estético, que a sinestesia e a figuratividade criam, elas têm uma função
extraordinariamente argumentativa. No TA, por exemplo, a figuratividade do mundo
físico é assinalada como diretamente vinculada a uma necessidade, conforme o TA, a
necessidade de fundamentar as hierarquias:
Mas é óbvio que muitas hierarquias não podem ser descritas nem
fundamentadas por meio de elementos homogêneos, quantificáveis ou
mensuráveis. Ora, quando nos encontramos diante de hierarquias qualitativas
é que a argumentação, não podendo ser substituída pela medição ou pelo
cálculo, adquire maior importância e que, para sustentar essas hierarquias,
recorreremos a outras, em geral extraídas do mundo físico. Servir-nos-emos,
por exemplo, das noções de profundidade, altura, tamanho, consistência.55
3:4 ivdou. Kai. Ta. Ploi/a thlikau/ta o;nta kai. U`po. Avne,mwn sklhrw/n
evlauno,mena( meta,getai u`po. Evlaci,stou phdali,ou o[pou h` o`rmh. Tou/
euvqu,nontoj bou,letai(
3:4 Eis que também os navios, sendo de tal tamanho, (ao mesmo tempo)
estando sendo movimentados pelos ventos duros/secos, pela ação do pequeno
leme, mudam de direção para o lugar em que o impulso do condutor está
desejando.
3:5 ou[twj kai. H` glw/ssa mikro.n me,loj evsti.n kai. Mega,la auvcei/Å Vidou.
H`li,kon pu/r h`li,khn u[lhn avna,ptei\
54
Ver, por exemplo, as justificativas e o conteúdo a seguir. Justificativa: A partir dos anos de 1960, a
imagem da semiótica francesa se congelou como a de uma teoria formal. por princípio, orientada rumo a
artefatos textuais separados da vida. Hoje, a disciplina oferece, porém, uma face radicalmente diferente: é
principalmente dessa evolução que o curso dará testemunho. Em particular, longe de excluir a dimensão
vivida dos processos de significação, trata-se agora de dar conta dos aspectos mais sensíveis da
experiência cotidiana da construção do sentido. Conteúdo: Rumo a uma integração das dimensões
sensível e inteligível da significação. Disciplina: O Contágio do Sentido. Docente: Prof. Dr. Eric
Landowski. Ano/Semestre: 2004/2º, USP. Anotações de aula.
55
TA, p. 385.
51
3:5 Assim também a língua é um pequeno membro do corpo e de grandes
coisas se enaltece. Vede quão pequeno fogo ilumina tão grande bosque.
4:14 oi[tinej ouvk evpi,stasqe to. th/j au;rion poi,a h` zwh. U`mw/n\ avtmi.j ga,r evste
h` pro.j ovli,gon fainome,nh( e;peita kai. Avfanizome,nhÅ
4:14 Sejais quem for (vós), os que não estais sabendo/continuais não sabendo
qual a vossa vida, (a) de amanhã. Pois vós sois vapor, (o) que continua
estando aparecendo, pouco numeroso/pequeno, depois também começando a
(ser) desaparecido.
52
argumentação é inerente à forma participial. A ligação de coexistência56 argumentativa
encerrada e expressa na forma participial está como que pedindo uma justificativa para
sua ocorrência. Para atender a essa demanda, como desdobramento dessa tensão, seria
inevitável que essa justificativa aparecesse no referencial interno do texto/discurso. Não
aparecendo no referencial interno, a leitura/análise poderia num segundo momento ser
buscada na intertextualidade.
Com o uso das palavras gregas compostas com preposições as noções, conceitos
e idéias discursivizadas adquirem igualmente com mais facilidade o simulacro de um
objeto concreto. Um objeto capaz de ser apreendido sensorialmente pelas evocações
despertadas pela figuratividade espacial.
56
Ligação de coexistência: a ligação de coexistência fundamental, em filosofia, é a que relaciona uma
essência com suas manifestações. Parece-nos, contudo, que o protótipo dessa construção teórica se
encontra nas relações existentes entre uma pessoa e seus atos (TA, p. 334).
53
FIGURAS E TEMAS
Assim, também, a identificação das figuras vai estar em função do objetivo mais
geral da tese, já que contribuindo na construção dos temas, sua manutenção e
progressão, contribuirão também para a leitura da coesão e coerência da Epístola e,
certamente, de seu caráter argumentativo. Cabe assinalar um aspecto peculiar da
Epístola vista no contexto do meta-discurso bíblico. A Epístola retoma e continua a
construção de um tema que esta no conjunto da obra Vétero e Neotestamentária. A
Epístola funciona como um acúmulo de argumentos, quando inserida especificamente
57
As isotopias são equivalentes ao que os teóricos chamam de “campo analógico dos termos”,
“constelações semânticas”, “família de palavras”.
58
Este item da tese se valerá principalmente dos quadros de isotopias que construímos aplicando três
traduções diferentes, mas com analogia às palavras que ocorrem na epístola.
59
SPITZER, C. Dicionário analógico da língua portuguêsa. 3 ed. Porto Alegre: Livraria do Globo
S.A.,1953.
54
no macro texto do NT, e como uma intervenção60 argumentativa, quando inserida no
macro texto do AT/NT.
LIMITAÇÕES E AMPLIAÇÕES
60
Ver o capítulo 07 desta tese, Instância da enunciação: o sujeito do le,gein.
55
outras metodologias. O que fica claro é que a metodologia Semiótica permite uma
leitura/análise produtiva na reflexão lingüístico/discursiva, no entanto, ela não exclui
outras metodologias de leitura/análise. É na leitura/análise do discurso que a pertinência
da metodologia se comprova e mostram-se as dificuldades de sua aplicação. Nesse
confronto aparecem novos caminhos para o enriquecimento da leitura/análise na
presente tese, e se faz uma relação entre a Semiótica e a Teoria Argumentação (Nova
Retórica, de Perelman), a Teoria da Enunciação e a Lingüística Textual.
56
CAPÍTULO 07
A INSTÂNCIA DA ENUNCIAÇÃO
______________________________________________________________________
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO
61
Disciplina “Tópicos da Teoria da Enunciação” – FLL5710, Profa. Dra. Norma Discini de Campos,
Programa do Curso. USP, 2003.
OS TRÊS MODELOS
;Esti me.n ou,n ta. Evn th/| fwnh|/ tw/n evn th|/ yuch/| paqhma,twn su,mbola kai. ta.
grafo,mena tw/n evn| th|/ fwnh/| . . . . . . .62
62
Aristoles, 16a, linhas 2 e 3
63
Tradução Linear – Universidade de São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Área: Letras
Clássicas – Língua Grega. Disciplina: Aristóteles – de Interpretatione: Proposta de uma Leitura
Denotativa. Ano: 2000. Docente: Prof. Dr. Henrique Graciano Murachco.
58
O SENSÍVEL E O COGNITIVO
Ao que podemos chegar, no momento, é que avlhqh,j é aquilo que “não está
esquecido”, que deixou de ser “latente64” para fazer parte do mundo consciente do
observador/analista, que voltou sua atenção para aquele algo. Se os métodos usados pelo
observador/analista forem bons, e por que não bonitos e eficazes - kalo,j - a atenção
daquele que entrou em contato com o texto/discurso convergirá, em consonância com o
sentido para o qual o texto o quer dirigir a atenção.
64
Observar que a raiz lat- é comum à palavra grega lhqh,j, e à raiz lhq-
lhq e à palavra da língua portuguesa
latente.
59
Essas reflexões poderão servir também para um processo de criação de um texto
verbal que auxilie na compreensão dos processos que ocorrem na relação corpo e
sentido, durante a experimentação de um objeto. Nosso ponto de partida é que a relação
sujeito/objeto corresponde a uma estrutura, e esta, em funcionamento. Essa estrutura só
pode ser entendida se analisada em suas partes tornadas, metodologicamente, fixas e
isoladas pela palavra do analista que a observa. É por essa razão que escolhemos falar
de um actante do par que compõe a relação sujeito/objeto, como centro da observação
na sua experiência de sentir com o corpo. Chamamos a atenção aqui para a questão da
presença do sujeito. A presença como um estado sustentado por uma continuidade,
indispensável, de posturas e atos do actante que podem ser dicursivizados muitos bem
na figura do caminho, em Tiago. Destaca-se no “caminho” o`do,j tanto o caráter ativo,
movimentado, como também, implicitamente, o caráter ativo da presença dos
participantes. Também destacamos esse caráter de atividade, de trabalho, de fazer, de
agir, para situar a noção da gênese da enunciação. Isolando o actante sujeito enunciativo
da estrutura para entender o que se passa no percurso, destacamos a necessidade de
experimentar na prática também a relação entre o corpo e o sentido. Assinalamos, ainda,
que um dos primeiros componentes que aparecerá no percurso do sujeito do sentir é o
percurso de um oponente: anti-sujeito ou obstáculo. Destacamos, também, que a
observação do sujeito da enunciação, num primeiro momento, sem texto escrito, pode -
não só pode, mas obrigatoriamente deve - criar um verdadeiro saber no qual o corpo é
elemento visceral. O sensível e o cognitivo estão visceralmente ligados. O sujeito, tendo
como ponto de apoio o seu corpo, conhecerá o que se passa com o objeto sentido.
60
A INSTÂNCIA DA ENUNCIAÇÃO
Para que se possa fazer uma relação entre o discurso e a instância da enunciação,
é útil observar como a enunciação se estrutura e como a enunciação se origina e se
coloca em marcha. Para saber como a enunciação se estrutura, é necessário saber quais
são as unidades mínimas que a compõem e, ao mesmo tempo, quais são os elementos
que compõem essas unidades. Ao final, a identificação das funções de cada elemento e
de cada unidade, e as relações entre eles nos darão um quadro daquilo que chamaremos
O PROCEDIMENTO SÊMIO NARRATIVO da enunciação.
As reflexões a seguir têm por objetivo fazer uma identificação preliminar das
unidades e dos elementos do PROCEDIMENTO SÊMIO NARRATIVO da enunciação. Em
seguida, se fará uma relação entre o discurso e o procedimento enunciativo. Ao final,
com exemplos, pretendemos mostrar como as figuras discursivas fazem referência aos
DISPOSITIVOS SÊMIO NARRATIVOS ENUNCIATIVOS (DSNEs), aos PERCURSOS SÊMIO
NARRATIVOS ENUNCIATIVOS (PSNEs), e aos elementos, que compõem a instância da
enunciação.
65
RASTIER, F. La perception semantique. In: Semantique et recherches cognitives. Paris: PUF, 2001, p.
1.
61
DISPOSITIVOS e PERCURSOS ENUNCIATIVOS
62
UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03
DSNE DO pa,scein DSNE DO le,gein DSNE DO avkou,ein
63
UNIDADE 2. O DSNE do sujeito do le,gein.
ein O sujeito do le,gein é aquele que
fala/dicursiviza. Ele é o enunciador stricto sensu. Esta unidade, ver o quadro acima, é
composta por dois percursos do sujeito:
64
ELEMENTOS DOS PERCURSOS
O esforço do proto-sujeito é digno de nota, uma vez que ele é a condição sine
qua non para que o PSNE do S do (p) seja mostrado como um verdadeiro enunciado66,
ou seja, uma “coisa” que aparece, ou melhor, pressuposta que aparece, uma vez que não
estamos falando ainda do nível discursivo. No nível discursivo, o esforço do sujeito
66
Um enunciado não verbal, no nível da instância enunciativa.
65
poderá ser chamado ou relacionado a figuras como: energia, vontade,vigilância, etc. Ao
final, o PSNE do S do (p), fruto do esforço mencionado, pode ser chamado como a
figura de uma “coisa”. Uma “coisa” que na essência é fruto da relação entre um sujeito
e seu objeto do sentir. Tanto o PSNE como o sujeito do pa,scein são uma coisa
“colocada em pé”, instaurada, uma coisa que não é esquecida ou ignorada, mais ou
menos consciente, uma coisa que aparece - um fenômeno.67
Il s'agit d' appréhender la signification non plus seulement dans l' articulation
des écarts différentiels constitutifs d' un système ou d´ une structure, mais à
partir de “l'apparaître du monde” pour un sujet. La saisie de la
signification et sa description mettent alors en avant les effets sensibles,
affectifs de l' esthésie69 (grifos nossos).
67
Metalingüisticamente, as palavras gregas i[sthmi (“eu ponho em pé”), avlhqh,j (“não
esquecimento/verdade”), pi,stij (“fé”) e fa,inein (“estar mostrando”) se prestam bem para designar esta
semiótica não verbal, ainda no nível da instância enunciativa.
68
Panier e outros autores já levantam a hipótese de uma Teoria Evangélica da Enunciação , conforme a
seguir: «On pourrait se demander si ce début de l’épître au Galates ne fournit pas les bases d’une théorie
évangelique de l’énonciation, dont la caractéristique serait de déployer la rupture instauratrice dont la
communication présente serait la manifestation. L’antithèse en serait peut-être une théorie de la
communication-information. » Cf. PANIER, Louis. Les marques d’énonciations dans l’épître aux
Galates. Essai d’organisation et d’interprétation. In: LÉMONON, Jean-Pierre (dir.). Regards croisés sur
l’épître aux Galates. Lyon: PROFAC, 2001. «Poder-se-ia perguntar se este começo da Epístola aos
Gálatas não fornece as bases de uma teoria evangélica da enunciação, cuja caracteristica seria revelar a
ruptura instauradora da qual a comunicação alí presente seria a manifestação. A antítese disto poderia ser
uma teoria da comunicação-informação » (Tradução nossa).
69
PANIER, p. 112.
66
Esse tipo de busca começa já pela leitura/análise da instância da enunciação e
remete diretamente, em primeiro lugar, ao PSNE do S do pa,scein. Os efeitos sensíveis
no discurso a serem provocados no auditório procuram reproduzir de maneira figurada
os efeitos sensíveis, percepções, que se criam no sujeito do pa,scein, quando ele sente,
percebe, experimenta, sofre de, observa seu objeto.
V,Esti me.n ou,n ta. Evn th/| fwnh|/ tw/n evn th|/ yuch/| paqhma,twn su,mbola kai. ta.
grafo,mena tw/n evn| th|/ fwnh/| ...73
70
Esta é uma divisão metodológica. Na verdade é um só, porém é considerado como um sujeito
desdobrado.
71
É o caso, por exemplo, da Páscoa na história de Jesus, considerada como a sua paixão, seu sofrimento.
72
A raiz grega pq-
pq compõe ambos os termos, pa,scein e paqh,mata.
73
Aristóteles, 16a, linhas 2 e 3.
67
Os sujeitos do le,gein e o sujeito do avkou,ein têm também um percurso do sentir,
perceber, experimentar, sofrer de, observar. Mas, seu nome é tirado de sua atividade
principal, respectivamente: falar le,gein e escutar/ler avkou,ein.
O SUJEITO DA PRESCRIÇÃO
74
Quando Bertrand ensina sobre a lógica semiótica diz: “Assim, por exemplo, a lógica deôntica (do grego
« dever ») vai se dedicar a determinar a boa formação das regras da « obrigação » . . . enquanto a
semiótica especificará o obrigatório como « prescrição ». A nuança é importante. No primeiro caso, o
termo designa estritamente o caráter deôntico de uma relação entre sujeitos abstratos, no segundo, faz
aparecer o ambiente hierarquizado que essa modalidade implica: de um lado, o sujeito que está diante do
dever fazer, que o «experimenta» e o « sente », e do outro, o Destinador, fonte da prescrição, que
caracteriza um /fazer/ factitivo, ele faz fazer (BERTRAND, pp. 309-310). No entanto, em nossa proposta
teórica, nesta tese, focalizamos a experiência e o sentir do sujeito. Porém, enfatizamos a relação sensível
entre o sujeito e seu objeto e não com a experimentação do dever fazer.
68
No Novo Testamento, uma referência figurativo/discursiva a essa capacidade de
suportar aquilo que é prescrito ao sujeito do pa,scein pode ser ilustrada pelo versículo75
a seguir:
1 Cor 10:13 peirasmo.j u`ma/j ouvk ei,lhfen eiv mh. avnqrw,pinoj\ pisto.j de. o`
qeo,j( o]j ouvk evas, ei u`ma/j peirasqh/nai u`pe.r o] du,nasqe avlla. poih,sei su.n tw/|
peirasmw/| kai. th.n e,kbasin tou/ du,nasqai u`penegkei/nÅ
1 Cor 10:13 Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é
fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário,
juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais
suportar (tradução da ARA).
ANTI-SUJEITO OU OBSTÁCULO
75
Aqui é preciso não confundir a origem da “tentação/prova” com a capacidade do sujeito do pa,scein de
a suportar. As duas são coisas bem distintas. Tiago, na sua epístola, é muito claro quando diz que as
provas/tentações vêm do interior do próprio proto-sujeito do pa,scein (Cf. vers. 1:14 e 1:21). NB: nossa
proposta de tradução para o termo peirasmo,j leva em conta a modalização espacial trazida pelo prefixo da
preposição peri,. Assim, optamos por uma idéia mais concreta de envolvimento/enredamento ao invés de
tentação.
76
Em nossa tese consideramos que os termos gregos com a raiz dik- são termos que remetem a esse
acordo de vontades. Tradicionalmente os termos com a raiz dik- são traduzidos como pertencentes à
família de palavras da qual fazem parte os termos “justo”, “justificação” e “justiça”, remetendo, assim,
para uma isotopia semântica do campo jurídico.
69
No nível discursivo, os oponentes aparecem sob diferentes formas e têm
percursos diferentes. O anti-sujeito, ou obstáculo, pode ser um sentimento, uma paixão,
funcionando como um actante. Em Tiago, as evpiqumi,ai, vers. 1:15; o diakri,nw, diversos
vers. ; o fqo,noj, vers. 4:15; e a evriqei,a e o zh/loj, vers. 3:16 funcionam como anti-
sujeitos ou obstáculos. Esses anti-sujeitos ou obstáculos agem, atravessando dia, a
vontade boulh, do proto-sujeito do pa,scein. Na verdade, os oponentes atravessam o
acordo de vontades entre o sujeito da prescrição e o proto-sujeito do PSNE. O anti-
sujeito ou obstáculo é uma condição interna, que acompanha o proto-sujeito durante
todo seu percurso. E ele – o anti-sujeito ou obstáculo – trabalha para se instalar como
um sujeito do comando – sugestão, prescrição, exortação. Um percurso se realiza
vencendo obstáculos. Os obstáculos aparecem como valores investidos em outros
objetos, que são apresentados ao proto-sujeito durante seu percurso. Esses objetos são
como que criações do próprio proto-sujeito do percurso, que apresenta a si mesmo, uma
outra opção para dirigir sua atenção, quer dizer, permanecer no seu esquecimento. Cabe
assinalar que o nome objeto se aplica tanto ao objeto da percepção, sentido pelo proto-
sujeito, como ao objetivo de sustentar o seu agora, o seu aqui, e chegar à condição de
ser chamado eu.
Num discurso, os objetos que funcionam como oponentes aparecem sob a forma
de figuras portadoras de valor. Semioticamente, esses objetos – anti-sujeitos ou
obstáculos – se apresentam seduzindo o sujeito do PSNE da busca. É por isso que
lingüisticamente eles aparecem sob a forma de discursos bem argumentados, com
aparência de sabedoria, mas que são vazios de conteúdos. De um ponto de vista mais
amplo, por exemplo, seria um discurso cheio de figuras retóricas, mas que esconde seus
70
verdadeiros objetivos. O sujeito enunciador de tal discurso é chamado na epístola de
Tiago de “ser humano vazio” w= a;nqrwpe kene,.77
2:20 qe,leij de. gnw/nai( w= a;nqrwpe kene,( o[ti h` pi,stij cwri.j tw/n e;rgwn
avrgh, evstinÈ
2:20 Oh! Ser humano vazio! Tu estás querendo saber porque a fé separada
dos trabalhos é inativa ?
O PROTO-SUJEITO DO pa,scein
ENUNCIATIVA. Mas essa tarefa é a condição primeira para que o aqui apareça e para que
o sujeito possa chegar a uma presença, a uma identidade no nível enunciativo. Após a
aquisição dessa identidade, o sujeito pode ser referido pelo sujeito do le,gein como um
eu, assumir-se como um sujeito enunciativo verbal e discursivamente receber um nome.
77
Um sujeito que pressupostamente, no vers. 2:18, só sabe se assumir como sujeito discursivo, criar um
enunciado verbal e dizer: “eu tenho fé”.
71
pa,scein instância enunciativa. E, se lhe foi dado um nome, é porque seu percurso foi
evocado/focalizado pelo sujeito do le,gein. Seu percurso é um percurso importante, não
só para uma narrativa, mas também para o significado do discurso.
Essa idéia pode nos levar à conclusão mais geral de que, para o enunciador da
epístola, a relação dos seres humanos com os objetos do mundo, e/ou suas práticas de
vida, pode ter como objetivo a desconstrução de uma identidade natural pré-existente no
momento de seu aparecimento/nascimento no mundo.79 Isto explicaria, por exemplo, o
ensinamento do orador da Epístola de que certas condições naturais foram instaladas em
nós a partir do nascimento. Por exemplo, as evpiqumi,ai “cobiças” vers. 1:15, o diakri,nw
“fazer juízos atravessados/discriminar” e o fqo,noj “segurar para si” vers. 4:15, a evriqei,a
“luta/disputa” e o zh/loj “ciúme” vers. 3:16, e a língua, membro do corpo, como incapaz
de ser controlada vers. 3:6.
78
O estado inicial a que nos referimos é o que está marcado no enunciado englobante. Um estado que só
adquire sentido dentro do próprio discurso da epístola.
79
Seria, por exemplo, o que as teologias cristãs chamam de “pecado”. O homem nasceria “manchado”
pelo pecado.
72
momento em que a Epístola esta sendo escrita, é tido como portador de uma identidade
já formada, um eu. Um sujeito que funcionaria como anti-sujeito ou obstáculo do proto-
sujeito do novo percurso. Assim, a narratividade da Epístola é vista dentro de dois PNs.
Um PN de um homem na história, de um actante em transformação. Na epístola, ele
passa da condição nominada/figurada como “adúlteras” moicali,dej - vers. : 4:4, para o
estado de um sujeito nominado/figurado como qrhsko,j “fazedor religioso” - vers. 1:26.
Um PN de um actante em transformação interior, no estado inicial de falta de sabedoria:
Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( “se alguém está precisando/carecendo/faltante de
sabedoria” vers. 1:5, para evn mhdeni. leipo,menoi “em nada faltantes”, vers. 1:4 . Essa
mesma identidade é também a de um homem que está transformando a sua condição de
ser da/na natureza - como homem na história. inserido na narratividade da historia das
doze tribos na dispersão. Como homem na sua condição natural, visto na sua relação
com as condições naturais em que foi criado. As duas facetas desse homem, presentes
na Epístola e que se inter-relacionam, são assinaladas nos temas e sub-temas que
remetem às relações consigo mesmo, relações dentro do grupo e relação com Deus. As
marcas dessas relações estão, por exemplo: na sua vida efêmera e morte vers. 4:14; seus
sentimentos e paixões evpiqumi,ai “cobiças” Vers. 1:14; o diakri,nw “fazer julgamentos
atravessados/discriminar” Vers. 1:6; o fqo,noj “segurar para si” vers. 4:5; e a falta, ou
presença, de sabedoria, que se mostram nas suas práticas de vida como: katalale,w
“falar mal”vers. 4:11; proswpolhmyi,a “fazer distinção de pessoas” vers. 2:1; diakri,nw
“eu faço discriminações/juízos atravessados” vers. 1:6; evcqro.j tou/ qeou “ser inimigo de
Deus” vers. 4:4 etc.
SUJEITO DO le,gein
73
responsável por assumir a palavra na condição de sujeito discursivo. Ele é aquele que os
teóricos tradicionalmente chamam de “o enunciador”. Na nossa visão teórica, ele é o
enunciador stricto sensu. Tradicionalmente, sua condição de falante é evocada.
Habitualmente também é evocada sua condição de observador. Mas, normalmente, não
é dada atenção para sua condição de sentir, perceber, experimentar, sofrer de seu objeto.
80
Esta é uma separação metodológica.
81
O sujeito não tem uma só identidade, monolítica, reverenciável. Sua identidade é fruto da relação com o
objeto que ele sente. Há dois tipos de pluralidade de identidades: uma pluralidade de identidades que se
refere ao conjunto de identidades que o sujeito tem com cada objeto particular, e há uma pluralidade de
identidades, no caso, então de “duas caras”, com relação a um só objeto, na mesma situação.
74
recomenda, que o se sujeito ponha numa posição própria/com atenção, para ouvir, e seja
tardo, para falar. Conforme vers. 1:19, a seguir:
1:19 :Iste( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ e;stw de. pa/j a;nqrwpoj tacu.j eivj to.
avkou/sai( bradu.j eivj to. lalh/sai( bradu.j eivj ovrgh,n\
1:19 Vós sabeis, meus irmãos amados/queridos: seja todo ser humano
rápido/pronto para o escutar, lento para o tagarelar, e lento para uma agitação.
75
Em conferência de Paul Leon82, a que assistimos em Lyon, o conferencista falou
muitas vezes da divisão da narratividade da Paixão em quadros, feitas por muitos
artistas e escritores. Ele apresentou o exemplo em pintores, fotógrafos, Pasolini, e
Mateus. Para nós, os quadros são a materialização textual discursiva, uma representação
– ou mesmo uma anáfora - da relação entre o sujeito do le,gein e o sujeito do pa,scein, lá
no nível da instância da enunciação.
76
sujeito discursivo: verbal, como orador; pictórico, como artista plástico; criador de bens
úteis à sociedade, como operário; etc. O que é que faz o enunciador, o sujeito do le,gein,
com sua criação, seu enunciado, seu produto? Ele clama também pela criação de uma
percepção, de uma impressão, de uma experiência, de um sofrer de por parte do sujeito
do avkou,ein. De certa forma, ele dá qualquer “coisa” ao utilizador de seu produto. Ele
compartilha o produto de sua própria impressão e percepção. Este gesto é ao mesmo
tempo um ato dialético e um ato de amor, de boa vontade. O sujeito do le,gein, se for um
“homem honesto”, irá tentar compartilhar com todo o seu esforço, com o sujeito do
avkou,ein, as impressões que teve ao sentir o PSNE do sujeito do sujeito do pa,scein. A
obtenção de impressões é também sua função primeira e objetivo principal. Isso ele vai
conseguir, também, com o esforço de sustentação de seu agora, a criação de um aqui, e
que contribui para manter seu PSNE como um eu sujeito do le,gein.
83
Tradicionalmente se diz que a contrapartida do enunciador é o enunciatário. Os dois andam juntos. Mas
não se enfatiza que a relação entre eles é primeiramente e acima de tudo uma relação sensível e que gera
impressões.
77
afetivo, será justamente para que as impressões possam ser mais bem sentidas, e
também para o escutar/ler do sujeito do avkou,ein. Assim, as figuras clássicas da retórica
serão figuras que materializam essa função básica do sujeito do le,gein.
Uma retomada teórica final, uma síntese final é útil: Cada um dos três DSNEs -
do pa,scein, le,gein, avkou,ein – é constituído por seu PSNE da percepção, da
experimentação, do sofrer de, do sentir, da observação. É no nível desses PSNE da
experimentação que se estabelecem as bases das e primeiras relações entre os sujeitos. É
por esses percursos que se iniciam as relações entre os sujeitos. As relações sensíveis,
que são os liames de ligação – “articuladores” sundesmo,ij - entre os três sujeitos é que
constroem a estrutura sintática mais profunda e mais importante para colocar em marcha
a instância da enunciação.
84
1:1 VIa,kwboj qeou/ kai. kuri,ou VIhsou/ Cristou/ dou/loj tai/j dw,deka fulai/j tai/j evn th/| diaspora/|
cai,reinÅ 1:1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, para as doze tribos, aquelas na diáspora,
saudações/bem-vindos.
78
tratamento adelfoi mou são os que assinalam, junto com outras marcas a presença
discursiva do destinatário no texto discurso.
O SUJEITO DO avkou,ein
85
É o mesmo fenômeno que ocorreu com as tentativas de abstração de Propp, para criar um esquema
narrativo dos contos maravilhosos, tal como ensina Barros: “Então, a primeira coisa foi essa descida dum
nível, que já era no Propp uma abstração, porque o Propp estava propondo um modelo para um conjunto
enorme de contos maravilhosos. Ele já estava fazendo abstração de cada conto, em particular, para propor
o seu modelo. Com idéias de ação, sanções e tudo isto. Mas, ainda tendo feito a abstração, ficava
próximo dos contos maravilhosos. O que a semiótica vai tratando de fazer é descer mais na escala da
abstração, mais abstrato, de forma que essas relações sintáticas, que vão ser descritas, possam ser
utilizadas para diferentes tipos de textos” (Gravação de Seminário na PUC-SP, 17 de setembro de 2007).
79
um discurso, mas eles não têm as condições de sentir intensamente, ou diretamente, o
PSNE do pa,scein, como as que têm o sujeito do le,gein. Como se irá resolver esta perda
de condições? Essa perda de condições será suprida pela maestria do sujeito do le,gein,
figurado como o orador. O orador é que fará todos os seus esforços para que o auditório
seja tocado em sua sensibilidade, por meio, somente, da palavra, do discurso. Para isso,
leva em conta a virtualidade sensitiva do ouvinte, ou na retórica o páthos do auditório.
No nível enunciativo, as primeiras escolhas são feitas pelo sujeito do le,gein, levando
em conta o sujeito do avkou,ein. Uma outra dificuldade é que os leitores colocam, na
frente, seu intelecto. No momento da leitura, eles dão prioridade à compreensão
intelectual. O discurso poético, por exemplo, ou a linguagem conotativa tentam inverter
essa prioridade. Eles deixam a percepção, a sensibilidade ir na frente da compreensão
intelectual. De certa forma, a argumentação estimula também essa sensibilidade. Assim,
o sensível e o cognitivo caminham juntos. Uma outra característica do leitor/ouvinte é
que ele fala também consigo mesmo. Toda leitura/escuta inclui uma deliberação consigo
mesmo.
80
ACTANTES
ACTANTE TEMPO: Ele não é um tempo externo. Ele é o agora que permanece:
to. nu/n uvpa,rcein “o agora subsistir”87. Ele é a unidade que é criada pelo sujeito, ao fazer
o esforço para ocupação de seu espaço aqui.
81
permanência do agora cria as condições para que apareça o aqui. O agora é o tempo
interno de um sujeito que sente, percebe, experimenta, sofre de, observa, seu objeto. No
nível discursivo verbal, esse agora irá aparecer, como um tempo interno do discurso.
Um tempo interno, o qual é mantido pela progressão textual discursiva, do início ao fim.
88
Uma progressão que permite aparecer, criar, um lugar discursivo – o aqui. A relação
entre o agora e o aqui cria as condições para que o actante, proto-sujeito-enunciador do
PSNE do pa,scein apareça. O agora e o aqui são as condições para que o proto-sujeito
se transforme e adquira uma identidade, e o sujeito do le,gein possa se referir a ele,
como um eu. O sucesso da colocação em presença de um sujeito enunciativo lato sensu
vai depender: A) de que o proto-sujeito do pa,scein consiga sustentar o agora – uma
condição indispensável e interna do procedimento enunciativo – para que possa
aparecer um aqui, e depois um eu; B) de que o sujeito do le,gein acompanhe, passo a
passo, com sua própria percepção, o perceber, a experimentação do proto-sujeito do
pa,scein. Mas há situações que podem se apresentar em direção a um insucesso do
esforço do proto-sujeito para se enunciar e, conseqüentemente, para o insucesso de um
discurso, como por exemplo:
5:14 avsqenei/ tij evn u`mi/n( proskalesa,sqw tou.j presbute,rouj th/j evkklhsi,aj
kai. Proseuxa,sqwsan evpV auvto.n avlei,yantej Îauvto.nÐ evlai,w| evn tw/| ovno,mati tou/
kuri,ouÅ
88
Mas a composição do discurso pode desdobrar-se em diversos aqui(s). São as diversas unidades
lingüístico- discursivas maiores. Estas unidades lingüísticas maiores são aquelas que podem ser isoladas e
postas em relação com as outras unidades, sejam elas grandes ou pequenas. Elas são os equivalentes das
unidades lingüísticas maiores de Saussure e que são portadoras de um significado. No Novo Testamento
são freqüentemente referenciadas como rh/ma, que os tradutores traduzem como «coisa» ou «palavra».
89
É muito significativo que a etimologia desta palavra/figura avsqenei/
sq
sq seja composta pelo alfa privativo +
a raiz ( st -). Esta composição indica uma ausência de possibilidade de aquisição de uma postura, enfim
de fazer um esforço subjacente para sustentar qualquer coisa.
82
5:14 Se alguém no meio de vós está doente, que ele chame [em seu interesse]
os presbíteros da igreja e que tendo ungido o doente com óleo que eles orem
em nome do senhor,
B) O sujeito do PSNE do pa,scein não deseja, porque não aceita - ou pensa que
não pode -, esforçar-se para sustentar o seu agora. Nesse caso, ele pode desistir do
percurso, ou mesmo chamar outros sujeitos para compartilhar sua experimentação.
Como isto irá aparecer no discurso? Isto pode aparecer no discurso pela utilização da
figura do apelo à companhia de outras personagens, como por exemplo, no vers. 26:38
de Mateus:
Mat 26:38 to,te le,gei auvtoi/j( peri,lupo,j evstin h` yuch, mou e[wj qana,tou\
mei,nate w-de kai. grhgorei/te metV evmou/Å
Mat 26:38 Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à
morte; ficai aqui e vigiai comigo (tradução da ARA).
4:1 po,qen po,lemoi kai. po,qen ma,cai evn u`mi/nÈ ouvk evnteu/qen( evk tw/n h`donw/n
u`mw/n tw/n strateuome,nwn evn toi/j me,lesin u`mw/nÈ
4:1 De onde vem guerras e de onde ve) lutas em vós? Não estão vindo dos
vossos prazeres, os que estão guerreando nos vossos membros/do corpo?
1 Pe 2:2 w`j avrtige,nnhta bre,fh to. logiko.n a,dolon ga,la evpipoqh,sate( i[na evn
auvtw/| auvxhqh/te eivj swthri,an(
83
1 Pe 2:2 desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite
espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação,
(tradução da ARA)
Heb 5:13 2 pa/j ga.r o` mete,cwn ga,laktoj a,peiroj lo,gou dikaiosu,nhj( nh,pioj
ga,r evstin\
Heb 5:13 Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra
da justiça, porque é criança (tradução da ARA).
UM NOME
Bob Dylan
84
nome no discurso é um sujeito de um PSNE do pa,scein. É por isto que o sujeito do
le,gein o tem como um ele.
90
Curso de Lingüística Geral (CLG), atribuído a Ferdinand Saussure.
85
sendo evocada. O fato enunciativo-discursivo importante é que o sujeito tem um nome.
Esse nome é um sinal, uma figura, que evoca a instância enunciativa.
DIGRESSÕES
É ego a quem se pode atribuir a frase evgw eivmi “eu sou”. Por sua vez é um eu
aquele ele a quem o sujeito do le,gein, em concordância com o sujeito do avkou,ein, cria o
simulacro da assunção da palavra, e atribui a ele o enunciado: evgw eivmi “eu sou”.
Só que o sujeito do le,gein vai ter que provar discursivamente, mostrar que o ele
tem essa/uma condição identitária, como sujeito, como eu. Mas como o sujeito do
pa,scein – um ele para o sujeito do le,gein – jamais assume a palavra o sintagma evgw
eivmi “eu sou” é apenas um nome que é criado pelo sujeito do le,gein. Um nome atribuído
ao sujeito do pa,scein, que lhe é dado pelo sujeito do le,gein em concordância com o
sujeito do avkou,ein. Sendo assim, nós podemos compreender um discurso, como a carta
de Inácio de Antioquia91, na qual se fala sobre a figura de um nome. E nós podemos
também compreender o discurso atribuído a Deus – ele – quando o sujeito enunciativo,
stricto sensu, atribui a ele – Deus - a frase: Meu nome é evgw eivmi “eu sou”92.
Utilizando uma proposição inteira - evgw eivmi, ou um eu, tu, ele, ninguém
funcionando como um nome, o criador do discurso faz uma união entre a instância da
enunciação e as figuras do discurso, que dão um nome aos actantes sujeitos.
Aqui se cria uma « mistura » que é bem interessante, uma vez que um pequeno
enunciado com valor de um nome está fazendo a figuração de um procedimento
enunciativo mais complexo e tomando como base um jogo de relações que leva em
conta, em primeiro lugar, como origem da enunciação, um ato de percepção, sentir,
experimentar, sofrer de.
91
CALLOUD, Jean. Les Lettres d’ Ignace d’ Antioche. De la langue à la lettre. In: Louis Panier (dir.).
Les lettres dans la Bible et dans littérature. Paris: CADIR/Les Éditions du Cerf, 1999 (Coll. Lectio divina
181).
92
Ex 3:13 Disse Moisés a Deus: Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de
vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? Ex 3:14
Disse Deus a Moisés: “Eu Sou O Que Sou”. Disse mais: “Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me
enviou a vós outros” (Tradução da ARA).
86
ISOTOPIAS, TEMATIZAÇÃO, E REPRESENTAÇÕES - ANÁFORAS.
A–J. Greimas est le premier linguiste à avoir utilisé le concept d' isotopie en
le transférant dans l’analyse sémantique. En premier lieu, il entend par ce
concept: “ L’itérativité le long d'une chaîne syntagmatique, de classèmes qui
assurent au discours-énonce son homogénéité”Puis ce concept connaît un
élargissement:“au lieu de désigner uniquement l 'iterativité de classèmes, il se
définit comme la récurrence de catégories sémiques, que celles-ci soient
thématiques (ou abstraits) ou figuratives. D'où les dénominations qu'on a:
isotopie thématique, isotopie figurative.93
A–J. Greimas foi o primeiro lingüista a utilizar o conceito de isotopia
colocando –o na análise semântica. Em primeiro lugar, ele compreende por
esse conceito: “ a iteratividade ao longo de um canal sintagmático, de
classemas que asseguram a homogeneidade do discurso enunciado”. Depois,
esse conceito conhece uma ampliação: “no lugar de designar unicamente a
iteratividade de classemas, ele se define como a recorrência de categorias
semicas, quer sejam temáticas (ou abstratas) ou figurativas. Daí as
denominações que se tem de isototopia temática e isotopia figurativa
(tradução nossa).
93
BOUHOUHOU, Ayoub. Les acteurs et l' illusion référentielle dans Au bonheur des Dames d' Emile
Zola. Approche sémiotique. Lyon: Universitè Lumiere Lyon 2, 1998 (These pour obtenir le grade de
docteur), p. 78.
87
Podemos levantar a hipótese de que as figuras, que constroem uma estrutura
referencial no discurso, têm uma relação com os elementos que estão presentes na
estrutura e procedimentos do nível enunciativo. No nível textual/discursivo as figuras
são anáforas de referentes do nível enunciativo. Por esta razão, nós as chamaremos de
anáforas enunciativas. Considerando-as assim, e as chamando-as assim, estamos
querendo concretizar, objetivar os discursos, considerando-os como um todo ampliando
o conceito para que se faça uma leitura imanente, que considere a instância enunciativa
94
e a instância discursiva como um conjunto indissociável. Nesse conjunto o texto e
discurso adquirem seu significado. A articulação entre o discurso e a realidade se dá na
gênese da instância enunciativa, o momento em que focalizamos nossa atenção, como
leitores/analistas, para o processo da relação silenciosa do sujeito do pa,scein com seu
objeto, relação essa que a seguir, vai ser posta em discurso, vai ser discursivizadas. Uma
definição possível para essa noção de anáfora enunciativa é a que propomos a seguir:
94
Assim, poderíamos considerar a instância da enunciação como um verdadeiro texto. O texto da
instância enunciativa tem seu correspondente no texto da instância textual/discursiva. São dois textos que,
em conjunto, compõem o texto/discurso que aparece para ser lido/analisado.
95
O nome poderia ser “anáforas da enunciação” ou “anáforas do nível enunciativo”.
88
- Um sujeito da sugestão, prescrição, exortação – que diz: agora! a um proto-
sujeito que aceita a exortação/ sugestão.
- Proto-sujeito – que aceita começar um PSNE do pa,scein. Um sujeito que tem
por função principal sustentar o agora. No percurso narrativo da enunciação, ele
é um “actante enunciativo” em vias de transformação.
- O esforço do proto-sujeito para sustentar seu agora.
- Um corpo físico pressuposto sobre o qual se apóia o sujeito no seu esforço de
sustentação do agora.
- O agora que irá ser criado pelo esforço do proto-sujeito. Um agora em
permanente sustentação.
- O aqui que depende do sucesso de sustentação do agora.
- O eu – fruto da transformação do proto-sujeito. Esse eu aparece no PSNE do
pa,scein, como resultado da sustentação do agora e da criação de um aqui.
- Os oponentes, anti-sujeitos ou obstáculos do percurso do proto-sujeito, que
trabalham contra a sustentação do agora, a criação de um aqui e ao final a
aparição de um sujeito que pode ser chamado eu.
A figuração dos elementos dos PSNEs pode sugerir uma interpretação mecânica.
Essa interpretação considera essas figuras como designando referentes externos,
referentes do mundo - seres/objetos ou ações. Mas, mesmo que essas figuras sejam
estabilizadas pelo uso como se referindo a elementos externos, na verdade, cada uma
delas é a figuração também de um elemento que faz parte da instância da enunciação.
89
A Semiótica vê as narrativas modalizadas pelo poder, saber, dever.
Consideramos que a história, no nível discursivo, tem modalizados os seus contratos e
as rupturas de contratos racionais entre sujeitos.96 Mas consideramos também que a
narrativa é modalizada pelo modo pelo qual são anaforizados os processos enunciativos
que lhe deram origem no nível enunciativo. Os níveis narrativo e discursivo são
modalizados pelos elementos que originam a enunciação, a partir do primeiro percurso
do sujeito do pa,scein, seu percurso de percepção de seu objeto. Ou seja, o percurso no
qual ele aceita a sugestão de um agora, sustenta esse agora, cria um aqui, e é visto
como um actante transformado de proto-sujeito em sujeito. Este último capaz de receber
um nome e de no discurso ser chamado eu.
OS AUXILIARES DO PERCURSO
96
Ou seja, a narrativa será apenas a história, os contratos e as rupturas de contratos racionais entre
sujeitos, mas a história de relações e rupturas de relações emocionais, afetivas, sensoriais. Ela contará
tudo isto, também, aí (BARROS, Diana. Seminário. Gravação. PUC-SP, 17 de setembro de 2007).
90
das luzes”, a luz que modaliza o pai é na verdade a figura de um valor modal: o saber.
A não referência à luz que modaliza o eu, que representa o grupo, indica por oposição a
falta de sabedoria. Isso aparece relacionando-se o vers. 1:17 com a perícope 3:15-17,
conforme abaixo:
1:17 pa/sa do,sij avgaqh. kai. pa/n dw,rhma te,leion a;nwqe,n evstin katabai/non
avpo. tou/ patro.j tw/n fw,twn( parV w-| ouvk e;ni parallagh. h' troph/j
avposki,asmaÅ
1:17 Todo doação boa e todo presente dado completo/com objetivo/com
meta/está descendo do alto, do pai das luzes; junto ao qual não existem
mudanças/sombras ou de volta/lugar de mudança.
3:15 ouvk e;stin au[th h` sofi,a a;nwqen katercome,nh avlla. Evpi,geioj( yucikh,(
daimoniw,dhjÅ
3:15 Essa não é a sabedoria [a] que está descendo do alto, mas [uma] que está
sobre a terra/terrena , vivente/do mundo, mental, demoníaca/que diz respeito
aos demônios.
3:16 o[pou ga.r zh/loj kai. Evriqei,a( evkei/ avkatastasi,a kai. Pa/n fau/lon
pra/gmaÅ
3:16 Pois onde (há) inveja/ciúme e disputa, ali (há) instabilidade/agitação e
toda qualidade inferior.
3:17 h` de. a;nwqen sofi,a prw/ton me.n a`gnh, evstin( e;peita eivrhnikh,( evpieikh,j(
euvpeiqh,j( mesth. Evle,ouj kai. Karpw/n avgaqw/n( avdia,kritoj( avnupo,kritojÅ
3:17 A sabedoria (que vem) do alto, primeiro é pura/inocente, depois
pacífica, conveniente/na justa medida), obediente/dócil,cordata, cheia de
compaixão/piedade e de frutos bons.
(B) com o PN do Pai das luzes, parV w-| e;ni parallagh. h' troph/j avposki,asma “no
qual, junto ao qual, não existem trocas/mudanças/sombras” ou de volta, de lugar de
mudança/nem lugar de mudança”.
91
(C) no vers. 1:8 com o tema do o`do,j “caminho”, vinculado também, como no
vers. 3:16, às figuras: avkata,statoj e avkatastasi,a.97
97
Observar que só o texto grego permite a identificação das intersecções dos PNs e dos temas, pois nele
se identifica a recorrência da figura da instabilidade trazida pela morfologia de akatastat-. A ARA, por
exemplo, traduz avkata,statoj por “inconstante” e avkatastasi,a por “confusão”, enquanto a etimologia dos
termos das duas figuras remete a um campo isotópico que tem como núcleo sêmico a instabilidade.
98
De acordo com Murachco, a semântica de zh/loj e h` evpiqumi,a aponta para “duas faces da mesma
moeda”. (Colóquio entre orientando e co-orientador).
92
PERÍCOPE 1:13-15
99
Marcuschi ensina que “a primeira entrada do segmento discursivo que serve de paradigma é designada
como matriz (M)”. Cf. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Estratégias de construção textual. 6: Repetição. In:
JUBRAN, Clélia Cândida Abreu Spinardi e KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça (orgs.). Gramática do
português culto falado no Brasil. Volume I: Construção do texto falado. Campinas: Editora da Unicamp,
2006, p. 222. Nós ousaríamos dizer que a matriz é a primeira entrada do elemento no conjunto
enunciação/discurso, visto como um todo, ou seja a “matriz” está na instância da enunciação.
100
A construção que cria a discretização figurativa de peirasmo,j, na Epístola de Tiago, não apresenta este
oponente axiologizado como mau ou ruim, mas como uma condição para que o sujeito, ao final, chegue
ao estado de “nada estar em falta” no que se refere à sabedoria. No vers. 1:2, peirasmo,j é claramente uma
condição. Já no vers. 1:13, a figura é axiologizada, desta vez pelo enunciador previsto no enunciado
encaixado: VApo. qeou/ peira,zomai\.
101
Um anti-sujeito é sempre um oponente para o sujeito, mas nem todo oponente é um anti-sujeito: um
instrumento, por exemplo, pode desempenhar o papel de obstáculo sem, por isso , ser o sujeito de uma
93
diferentes mas apontam para uma mesma função: a criação de condições adversas –
oponentes - à continuidade de um PN. Considerando o peirasmo,j como « uma pedra no
caminho » ele será um obstáculo. Associada a um sujeito, a condição fará parte do
programa de um anti-sujeito. E, no próprio texto de Tiago, vamos constatar que é um
programa do próprio sujeito do pa,scein, este último figurativizado e referenciado em
1:14 como mhdei.j “ninguém” e e[kastoj “cada um”:
1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw o(ti VApo. qeou/ peira,zomai\ o` ga.r qeo.j
avpei,rasto,j evstin kakw/n( peira,zei de. auvto.j ouvde,naÅ
1:13 Ninguém ao mesmo tempo que está sendo envolvido/provado/tentado
(ele) diga/comece a dizer/ continue a dizer “da parte de Deus eu estou sendo
envolvido/provado/tentado”, pois o Deus não é envolvedor/tentador
maldoso/para o mal - suscetível de tentação a partir dos males. Ele mesmo
ninguém envolve/testa/tenta.
1:14 e[kastoj de. peira,zetai u`po. th/j ivdi,aj evpiqumi,aj evxelko,menoj kai.
deleazo,menoj\
1:14 Mas cada um é/está sendo envolvido/provado/tentado pela própria
ambição/cobiça. Estando sendo arrastado/tirado, pescado e sendo
iscado/seduzido.
94
Adjetivo: avpei,rasto,j “não tentador/envolvedor”;
Particípio: peirazo,menoj “estando sendo envolvido, tentado”;
Verbo: peira,zomai “eu estou sendo envolvido, tentado,testado”;
Verbo: peira,zei “ele não envolve, tenta/testa”.
1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw o(ti VApo. qeou/ peira,zomai\ o` ga.r qeo.j
avpei,rasto,j evstin kakw/n( peira,zei de. auvto.j ouvde,naÅ
1:13 Ninguém ao mesmo tempo que está sendo envolvido/provado/tentado
(ele) diga/comece a dizer/ continue a dizer “da parte de Deus eu estou sendo
envolvido/provado/tentado”, pois o Deus não é envolvedor/tentador
maldoso/para o mal - suscetível de tentação a partir dos males. Ele mesmo
ninguém envolve/testa/tenta.
102
O “enunciado englobante” é o produto da enunciação pressuposta que faz aparecer o texto principal ou
englobante (em nossa tese, a Epístola de Tiago). O “enunciado encaixado” é o produto da enunciação
pressuposta, que faz aparecer uma parte do texto englobante ligada a outras partes do mesmo texto. Cf.
ALMEIDA, Yvan. L'Opérativité Sémantique des Récits-Paraboles. Sémiotique narrative et textuelle.
Herméneutique du discours religieux. Louvain/Paris: Editions Peeters/Editions du Cerf, 1978
(Bibliothèque des Cahiers de l'Institut de linguistique de Louvain 13), p. 48.
103
Esta intersecção de PNs põe a nu o caráter polêmico do cotexto e do contexto, visto como um Percurso
enunciativo maior que perpassa toda Bíblia.
95
do experimentar, sentir, sofrer de, do sujeito do pa,scein. Esse último figurativizado na
Epístola como Tiago. A marca discursiva eu pode ser lida como um reforço, no
enunciado englobante, para caracterizar ou potencializar o ensinamento, que está
contido no mesmo vers. 1:13. O modo de dizer do enunciador principal aponta para a
condição interior do destinatário que está sendo descrita, ou seja, é dentro do próprio
sujeito, que se institui como sujeito discursivo, que se encontram os obstáculos para o
prosseguimento de seu percurso.
No mesmo vers. 1:14, encontra-se ainda o sintagma th/j ivdi,aj evpiqumi,aj “pela
própria cobiça”, que discursivamente circunscreve ainda mais, dentro do próprio sujeito
os oponentes que se lhe apresentam para sustentar o seu agora. Portanto, há um
acúmulo de recursos discursivos que servem para situar subjetivamente a condição
interior dos membros do grupo, e por extensão servem para (des)construir a identidade
daqueles sujeitos individualmente e do grupo como um todo. Retomamos aqui a idéia de
que o proto-sujeito do pa,scein, em vias de transformação, funciona como oponente de si
mesmo. No nível discursivo o tema aparece, como estamos querendo demonstrar, no
momento em que o orador assume a palavra e diz:
1:14 e[kastoj de. peira,zetai u`po. th/j ivdi,aj evpiqumi,aj evxelko,menoj kai.
deleazo,menoj\
1:14 Mas cada um é/está sendo envolvido/provado/tentado pela própria
ambição/cobiça. Estando sendo arrastado/tirado, pescado e sendo
iscado/seduzido.
96
discursivizado como as doze tribos na dispersão, ao invés de experimentar seu objeto o`
qeo.j, põe-se a falar e diz: VApo. qeou/ peira,zomai “A partir de Deus estou sendo tentado”.
O marcante aqui é que a questão da enunciação está fortemente presente. E é possível
retomar a idéia de que o discurso da Epístola se constrói no co(n)texto de um conflito de
sujeitos que assumem a palavra: dois sujeitos enunciativos.
PERÍCOPE 1:17-18
1:17 pa/sa do,sij avgaqh. kai. pa/n dw,rhma te,leion a;nwqe,n evstin katabai/non
avpo. tou/ patro.j tw/n fw,twn( parV w-| ouvk e;ni parallagh. h' troph/j
avposki,asmaÅ
1:17 Todo doação boa e todo presente dado completo/com objetivo/com
meta/está descendo do alto, do pai das luzes; junto ao qual não existem
mudanças/sombras ou de volta/lugar de mudança.
1:18 boulhqei.j avpeku,hsen h`ma/j lo,gw| avlhqei,aj eivj to. einai h`ma/j avparch,n
tina tw/n auvtou/ ktisma,twnÅ
1:18 Tendo tido vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade/do não
esquecimento para sermos um tipo de primícia das criaturas dele.
97
que relembra essa sabedoria/verdade aos destinatários. A existência desse PSNE é
assegurada por uma asserção categórica.
O segundo PSNE que está sendo enfocado pelo enunciador é o PSNE do sujeito
do pa,scein que aparece na Epístola como o grupo constituído pelo orador e o auditório.
Na perícope o conjunto orador/auditório é discursivizado como nós e como “uma (certa)
primícia das criaturas dele”.
Seguindo seu próprio percurso, o sujeito do primeiro PSNE figurativizado como
“o pai das luzes” é instituído como um sujeito que atingiu a meta de seu próprio
percurso (PSNE). Ele sustentou o seu agora, criou um aqui, e pode ser chamado de eu.
Tudo isso porque sentiu, experimentou, sofreu de seu objeto, o mesmo objeto que ao
final foi criado pelo seu fazer. O que constatamos aqui é que o sujeito do pa,scein – o
pai das luzes - já sentia seu objeto, figurativizado como nós, antes mesmo de ele ser
criado ou, o sentia, a medida que o criava. A identidade do pai como sujeito enunciador
lato sensu aparece na qualificação: parV w-| e;ni parallagh. h' troph/j avposki,asma “no
qual,junto ao qual, não existem trocas/mudanças/sombras ou de volta, de lugar de
mudança/nem lugar de mudança”.
Esse é o seu nome, o nome desse pai, e é o sinal discursivo que figurativiza a
aquisição de seu eu, como sujeito do sentir, experimentar, sofrer de seu objeto. Por sua
vez, na seqüência hierárquica e sintática da instância da enunciação, o sujeito do le,gein
toma a palavra e fala sobre este processo. O que é que o sujeito do le,gein fala sobre a
experimentação, sobre essa relação do sujeito tou/ patro.j tw/n fw,twn( parV w-| ouvk e;ni
parallagh. h' troph/j avposki,asma e seu objeto, que na epístola é figurativizado como
“nós” e como “uma (certa) primícia das criaturas dele”?
O sujeito do le,gein marca que viu – ele sabe porque viu, sentiu, experimentou –
uma criação. O percurso do “pai das luzes” é referido aqui como um todo, e
figurativizado no discurso como lo,gw| avlhqei,aj “palavra da verdade/do não
esquecimento” vers. 1:18.
98
É extraordinariamente marcante que esse PSNE do sujeito do pa,scein
figurativizado como “pai das luzes” tenha um nome no discurso de Tiago. E que este
nome remeta a um ato enunciativo, a uma enunciação: lo,goj avlh,qeia “palavra da
verdade”. Cabe assinalar que o lo,goj avlh,qeia “palavra da verdade não é um ato
enunciativo que remete à noção da utilização da palavra como instrumento, e sim a um
ato enunciativo que remete à noção de todo um percurso do sentir, experimentar, sofrer
de. O lo,goj avlhqei,aj “palavra da verdade” não é um auxiliar no percurso do sujeito, e
sim o lo,goj avlhqei,aj “palavra da verdade” é o próprio percurso do sujeito, que se
transformou, pelo seu fazer. A transformação é marcada no discurso de Tiago pela
figura utilizada “do pai” tou/ patro.j. O sujeito passou do estado de não pai para o estado
de pai.
Ao figurativiza o « pai das luzes » com o qualificativo de que parV w-| ouvk e;ni
parallagh. h' troph/j avposki,asma “no qual, junto ao qual, não existem trocas/mudanças/
sombras”ou de volta, de lugar de mudança/nem lugar de mudança”, o enunciador da
Epístola de Tiago está assinalando que o sujeito cumpriu o seu PN enunciativo, sem
oponentes, conseguindo sustentá-lo até o final e cumprindo a meta que se havia
proposto. O enunciador do discurso englobante da Epístola está mostrando que, para
ele, o estatuto de uma sabedoria é a junção completa com os actantes do percurso
narrativo que a discursiviza. Só uma junção intima com a questão posta na sabedoria
pode criar no enunciador do discurso englobante da Epístola o estatuto daquele que
sabe.
99
Testamento, há ocasiões nas quais aparece enfatizada a condição de criatura criada, a
figura de uma nova criatura, como em Gálatas:
Gal 6:15 ou;te ga.r peritomh, ti, evstin ou;te avkrobusti,a avlla. kainh. kti,sijÅ
Gal 6:15 Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o
ser nova criatura. (tradução da ARA)
Ao mesmo tempo em que a figura do lo,goj avlh,qeia pode ser considerada como
a palavra do sujeito do pa,scein, ela pode figurativizar também o esforço do sujeito do
pa,scein em sustentar o seu agora. A avlh,qeia remete por sua semântica tirada da
morfologia à figura de um modo de presença, a uma consciência, e mesmo à ocupação
de um espaço. Ou pode ser que seja um modelo de PSNE a ser seguido por todos que
estão no “caminho” o`do,j, ou seja, por aqueles que estão figurativizados como “uma
certa primícia das criaturas dele” avparch,n tina tw/n auvtou/ ktisma,twn.
Finalmente, “o pai das luzes” tou/ patro.j tw/n fw,twn, ao percorrer seu percurso,
criou as condições para que outros sujeitos possam seguir seu próprio percurso. Essas
personagens são figurativizadas no discurso de Tiago como seres criados, criaturas -
vers. 1:18.
104
Há a sobremodalização semântica, já nos termos utilizados. A sobremodalização se dá pelo uso das
figuras “gerar”, avpokue,w, e avparch,n tina, “um tipo de primícia”.
100
quando ele conseguir sustentar o seu agora, criar um espaço aqui. Esse sujeito é que
está tendo sua identidade (des) construída na Epístola, ele está modalizado na oposição
parecer/ser durante todo o enunciado englobante da Epístola, na relação de interação
orador/auditório. Na Epístola, esse sujeito é aquele cuja identidade está sendo
(des)construída, a quem está sendo proposto sair do parecer para o ser é discursivizado
aqui, neste momento, no vers. 1:18 como: “um tipo de primícia das criaturas dele.”
avparch,n tina tw/n auvtou/ ktisma,twn.
1:17 pa/sa do,sij avgaqh. kai. pa/n dw,rhma te,leion a;nwqe,n evstin katabai/non
avpo. tou/ patro.j tw/n fw,twn( parV w-| ouvk e;ni parallagh. h' troph/j
avposki,asmaÅ
1:17 Todo doação boa e todo presente dado completo/com objetivo/com
meta/está descendo do alto, do pai das luzes; junto ao qual não existem
mudanças/sombras ou de volta/lugar de mudança.
1:18 boulhqei.j avpeku,hsen h`ma/j lo,gw| avlhqei,aj eivj to. einai h`ma/j avparch,n
tina tw/n auvtou/ ktisma,twnÅ
1:18 Tendo tido vontade, ele nos colocou no mundo (gerou) pela palavra da
verdade para nós sermos uma (certa) primícia das criaturas dele.
A figura do patro.j tw/n fw,twn, como pai, remete a um actante que cria, origina,
faz nascer e, ao mesmo tempo, a um enunciador que faz aparecer um discurso de
sabedoria. A ocorrência do pronome da primeira pessoa do plural, que une os programas
101
do sujeito da prescrição - orador – ao sujeito do estado/fazer no percurso narrativo
principal da Epístola o enunciado englobante, é marca indicativa do vínculo com o
programa do actante Senhor, Deus, e Pai.
No caminho inverso, partindo da condição de filhos eivj to. einai h`ma/j avparch,n
tina tw/n auvtou/ ktisma,twn de um pai comum, chega-se ao ato de criar, que corresponde
ao fazer do actante tou/ patro.j tw/n fw,twn “do pai das luzes”, em seu próprio
programa.
Isso pode se estender a uma série de associações como: um novo mundo, uma
criação nova que corresponde ao Gênesis, no intertexto Vétero Testamentário, ou seja, à
própria criação do ser humano. Ou evoca também que o percurso do sujeito do pa,scein,
actante figurativizado como Senhor, Deus, e Pai, na condição de sujeito enunciador, é
mais importante do que o percurso dos actantes figurativizados como Tiago e como o
das doze tribos na dispersão. Tanto as faltas do orador como as faltas dos destinatários
serão resolvidas com o auxilio da sabedoria que se encontra no Percurso Narrativo do
tou/ patro.j tw/n fw,twn “do pai das luzes”, que é o PN da enunciação pela palavra da
verdade lo,gw| avlhqei,aj.
102
PERÍCOPE 2:1-4
2:2 evan. ga.r eivse,lqh| eivj sunagwgh.n u`mw/n avnh.r crusodaktu,lioj evn evsqh/ti
lampra/(| eivse,lqh| de. kai. ptwco.j evn r`upara/| evsqh/ti(
2:2 Se, pois, entrar dentro da sinagoga de vocês um homem masculino que
tem um anel de ouro com veste brilhante, mas, também, se entrar um pobre
com veste comum.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes:
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
A modalização pelo sensível pode ser observada, entre outros, nos percursos a
seguir: (A) o percurso narrativo principal da Epístola, que leva em conta a interação
Tiago/Doze tribos na dispersão; (B) o percurso narrativo dos atores: os ricos e os
103
pobres, na micro narrativa ambientada no espaço da sinagoga. Todos os dois percursos
se valem de elementos sensoriais nas escolhas figurativas, que põem a enunciação em
marcha. O percurso narrativo principal modaliza sensivelmente a intervenção pelo
impacto cinematográfico da narrativa, que é ambientada no espaço da sinagoga. O
próprio espaço mexe sensivelmente com o auditório da Epístola, pelo seu caráter de
lugar próprio para um discurso religioso ou um discurso de sabedoria. Por sua vez, na
própria micronarrativa, a modalização pelo sensível opera uma transformação no
freqüentador da sinagoga, que recebe o rico e o pobre, pelas figuras do brilho das vestes
e dos adereços usados pelo rico, bem como pelos andrajos usados pelo pobre.105 Na
estrutura e funcionamento da instância da enunciação a transformação no freqüentador
da sinagoga que recebe o rico e o pobre remete ao PSNE do pa,scein do destinatário: o
percurso modalizado inteiramente pelo sensível. Na instância da enunciação, o sensível,
o sentir/experimentar/sofrer de, é a gênese da construção identitária do sujeito e na
Epístola, do destinatário como sujeito religioso e sábio, presente no mundo.
105
No enunciado englobante esta modalização pelo sensível faz o sujeito na sinagoga equivaler à figura
da onda do mar soprada e arrastada pelo vento, da qual se utiliza o orador no versículo 1:6.
104
Ao realizar a operação figural106, que modaliza pelo sensível os dois percursos,
um efeito de sentido está sendo construído, o que se dará em função da (des) construção
de identidades. O orador intervém no metadiscurso histórico. A intervenção
argumentativa do discurso englobante é representada pelo discurso encaixado que
enuncia a simples indicação dos lugares nos quais as pessoas devem sentar, para a
seguir, vers. 2:4, apontar a significação precisa do enunciado encaixado: o gesto da
discriminação.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes :
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
106
L´opération figurale en quoi consiste l´enonciation fait passer de la vraisemblance d´une monde
representé (empirique ou virtuel) à l´etablissement d´une forme figurative do contenu (PANIER, Louis.
La théorie des figures dans l’exégèse biblique ancienne: figures en devenir. In: FONTANILLE, J. (éd.).
Le devenir. Limoges: P.U.L.I.M, 1995, p. 11). A operação figural na qual está presente a enunciação faz
passar da verossimilhança de um mundo representado (empírico ou virtual) ao estabelecimento de uma
forma figurativa do conteúdo (tradução nossa).
107
No enunciado englobante, ao fazer juízos atravessados (diakri,nw) durante a busca de sabedoria, o
buscador não irá atingir o seu objetivo, conforme vers. 1:5-6.
105
ENUNCIAÇÃO EVANGÉLICA
108
PANIER, Louis. Sémiotique et études bibliques évolutions méthodologiques et perspectives
épistémologiques. In: Destini del Sacro – Congrès de l’Aiss. Itália, 23-25 novembre 2007.
109
BERTRAND, p. 120.
106
A instância da enunciação stricto sensu, tal como é focalizada por um de seus
modelos de leitura/análise, está presente em qualquer texto/discurso. A enunciação é um
ato de assunção da palavra por um sujeito, um ato que tem como produto um
enunciado/discurso. A mesma instância da enunciação está presente, de maneira
particular, no discurso neotestamentário, no qual se insere o discurso de Tiago. As
análises semióticas da enunciação do discurso do NT sugerem, nos dias de hoje, a
possibilidade da construção de uma teoria enunciativa evangélica. Isso se deve à
particularidade do texto neotestamentário: no Novo Testamento, o objeto valor que
circula entre os sujeitos é o enunciado, a Palavra de Deus, discursivizado com o nome
“Jesus”. O discurso de Tiago é uma carta/epístola e pela própria natureza do gênero
carta, a enunciação em ato está fortemente marcada na interação. Nesse caso, é
produtivo na leitura/análise o enfoque no modelo que focaliza a enunciação como
interação/pragmática .
Na Epístola de Tiago, o termo “caminho” o`do,j ocorre pela primeira vez no vers.
1:8. As outras duas ocorrências explícitas estão nos vers. 2:25 e 5:20, como a seguir:
107
2:25 o`moi,wj de. kai. ~Raa.b h` po,rnh ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh u`podexame,nh
tou.j avgge,louj kai. e`te,ra| o`dw/| evkbalou/saÈ
2:25 Da mesma forma, também, Raab a meretriz não foi justificada a partir
dos trabalhos, tendo acolhido os mensageiros e os tendo enviado por outro
caminho ?
5:20 ginwske,tw o[ti o` evpistre,yaj a`martwlo.n evk pla,nhj o`dou/ auvtou/ sw,sei
yuch.n auvtou/ evk qana,tou kai. Kalu,yei plh/qoj a`martiw/nÅ
5:20 Diga a ele que comece a tomar conhecimento de que: o que se volta
para/em direção ao pecador do caminho errante dele, ele salvará a alma/a
mente dele da morte e esconderá uma multidão de pecados/não atingimento
de metas.
Sobre as ocorrências acima, inicialmente nos chama atenção, o que segue. 01. -
Início da epístola - A primeira ocorrência - vers. 1:8110. 02. Um homem masculino - No
mesmo vers. 1:8, o enunciador muda inesperada e inexplicavelmente, a maneira de
discursivizar o destinatário, que passa a ser figurativizado como avnh,r “um homem
masculino”. 03. Uma mulher - No vers. 2:25, o termo “caminho” o`do,j aparece
explicitamente na pequena narrativa que tem coma personagem uma mulher, uma
prostituta – Raab. 04. O fim da epístola – A última ocorrência da figura do caminho é
no vers. 5:20. É digno de nota que o vers. 5:20 é também o ultimo versículo da Epístola.
110
Este é um dos quatro versículos da epístola em que não há ocorrência de verbo. Um fato curioso é que
em dois versículos, que não se utilizam de verbo, há ocorrência do termo formado com o tema avkata,stat-
: no vers. 1:8 o adjetivo avkata,statoj “inconstante/instável/desposicionado”, e no vers. 3:16, o substantivo
avkatastasi,a instabilidade/agitação.
108
O CAMINHO DAS DOZE TRIBOS
111
A divisão do sujeito enunciador em “dois” sujeitos é um recurso metodológico para assinalar os dois
componentes, o sensível e o cognitivo, na gênese da enunciação evangélica.
109
entre as duas instâncias – enunciativa e discursiva, que formam um só conjunto, o
texto/discurso como um todo. Metalingüisticamente, uma parte do conjunto pode ser
designada como o discurso enunciativo e a outra como discurso discursivo.
110
enunciativa. É a partir da figura do “caminho” o`do,j, no discurso, que consideramos
também a existência de um caminho na instância da enunciação. Só que na instância da
enunciação, metalingüisticamente, seu nome é percurso. O caminho na instância da
enunciação é o PSNE (Percurso Sêmio Narrativo Enunciativo do Sujeito do pa,scein.
112
No Novo Testamento, o caminho é a figura espacial utilizada para metaforizar o “Movimento” dos
primeiros seguidores de Jesus Cristo. Um movimento constituído por um grupo de pessoas com ações
definidas, baseadas também num referencial teórico definido. As pessoas desse movimento, no início da
era cristã, eram tidas como se fossem quase pertencentes a um partido, que era chamado “o caminho”.
Esse enfoque aparece nos usos da figura do caminho em sentido absoluto, como em Atos: 9:2 : “e lhe
pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do caminho,
assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém” (tradução da ARA).
111
de aivte,w como “eu busco” torna mais compreensíveis os mesmos vers. 1:5-6. Isso
porque, seria muito difícil sustentar e responder à pergunta, que certamente seria feita,
pelo leitor imediato, ou remoto da Epístola de Tiago: Qual é o lugar que vou procurar
para “pedir”, ao Deus a sabedoria que me está faltando?
1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( aivtei,tw para. tou/ dido,ntoj qeou/ pa/sin
a`plw/j kai. mh. ovneidi,zontoj kai. doqh,setai auvtw/Å|
1:5 E se, dentre vós, alguém está precisando/carecendo/ faltante de sabedoria,
diaga a que busque/que ele entre no ato de buscar, da parte do Deus
doante/que está doando a todos, simplesmente, e que não censura /não está
agredindo e ser-lhe-á dada.
1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken
klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw|Å
1:6 Que ele busque/entre no ato de buscar com fé, e não fazendo julgamentos
atravessados/ considerações/discriminações, pois o que está fazendo
julgamentosatravessados/ considerações/ discriminações parece uma onda do
mar, que está sendo agitada/empurrada e soprada pelo vento.
Com a opção de tradução de aivtei,tw, no vers. 1:5, por “diga a ele que
busque/que ele entre no ato de buscar”, a resposta estaria no próprio discurso de Tiago:
busque, recebendo “o presente” dw,rhma e a “doação” do,sij, da parte do Deus doante, o
Deus que está sempre doando:
1:17 pa/sa do,sij avgaqh. kai. pa/n dw,rhma te,leion a;nwqe,n evstin katabai/non
avpo. tou/ patro.j tw/n fw,twn( parV w-| ouvk e;ni parallagh. h' troph/j
avposki,asmaÅ
1:17 Todo doação boa e todo presente dado completo/com objetivo/com
meta/está descendo do alto, do pai das luzes; junto ao qual não existem
mudanças/sombras ou de volta/lugar de mudança.
112
CONFIGURAÇÃO DISCURSIVA DO CAMINHO
Tomaremos como ponto de apoio os vers. 1:5-6 e 3:13, abaixo, para nossa
construção da configuração discursiva do “caminho” o`do,j.
1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( aivtei,tw para. tou/ dido,ntoj qeou/ pa/sin
a`plw/j kai. mh. ovneidi,zontoj kai. doqh,setai auvtw/Å|
1:5 E se, dentre vós, alguém está precisando/carecendo/ faltante de sabedoria,
diga a ele que busque/que ele entre no ato de buscar, da parte do Deus
doante/que está doando a todos, simplesmente, e que não censura /não está
agredindo e ser-lhe-á dada.
1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken
klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw|Å
1:6 Que ele busque/entre no ato de buscar com fé, e não fazendo julgamentos
atravessados/considerações/discriminações, pois o que está fazendo
julgamentosatravessados/ considerações/ discriminações parece uma onda do
mar, que está sendo agitada/empurrada e soprada pelo vento.
3:13 Ti,j sofo.j kai. Evpisth,mwn evn u`mi/nÈ deixa,tw evk th/j kalh/j avnastrofh/j
ta. E;rga auvtou/ evn prau<thti sofi,ajÅ
3:13 Quem (é) sábio e instruído/erudito em vós, diga a ele que mostre os
trabalhos dele pela eficaz/boa/bonita ação de ir e vir, em doçura/mansidão de
sabedoria.
A escolha dos versículos acima leva em conta a existência de três sintagmas que,
em nossa opinião, servem como fundamento para assinalar três movimentos através do
espaço. Essas moções através do espaço são: a sustentação da permanência, a saída, ou
o retorno ao caminho. A configuração discursiva do “caminho” o`do,j pode ser
observada focalizando esses três estados e/ou movimentos. Na sua discursivização, a
configuração discursiva do “caminho” o`do,j tem como termos-chave, os seguintes: a) A
permanência é marcada pela condição/estado trazido pela figura da fé evn pi,stei
“em/com fé”. b) A saída, pela figura do “ fazer juízos atravessados” e.n diakrino,menoj,
por extensão “duvidar”. c) O retorno, pela figura das freqüentes “belas/eficientes/boas
idas e vindas” th/j kalh/j avnastrofh/j.
113
vers. Morfologia Espacialização
1:6 (evpi,) (st) (h) (mi) e`p` i, sobre, em
cima de com
contacto
1:6 (dia,) (kri,nw) dia, através de,
ao longo de
3:13 (Avna,) (st) (rwfh) A`n` a, movimento
de baixo para
cima
Figura 03: Modalização espacial nos termos dos versículos 1:6 e 3:13
113
Uma das traduções, de acordo com Bailly, é “intr. faire de fréquents détours ». Cf. Verbete
“avnastrofh/j”. In: BAILLY, M. A. Dictionnaire grec-français. Paris: Librairie Hachette, 1894.
114
(Frei João) - Tg 3:13 (JERUSALÉM) – Tg (NTLH) - Tg 3:13
quem dentro vós é sábio e 3:13 quem dentre vós é Existe entre vocês alguém
inteligente? Mostre, pela sábio e entendido? Mostre que seja sábio e
boa conduta as suas obras pelo seu bom inteligente? Pois então que
feitas em mansidão de comportamento as suas prove isso pelo seu bom
sabedoria. obras repassadas de comportamento e pelas
docilidade e sabedoria. suas ações, praticadas com
humildade e sabedoria.
1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken
klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw|Å
114
Dizemos que é uma tradução legalista porque remete à idéia de que a ênfase está nas ações que estão
de acordo com uma norma ou lei, e não como uma ação de esforço pessoal na manutenção do percurso do
sujeito. O enfoque das traduções é no ato social. Nossa visão focaliza o esforço interior do sujeito.
115
1:6 Que ele busque/entre no ato de buscar com fé, e não fazendo julgamentos
atravessados/ considerações/discriminações, pois o que está fazendo
julgamentos atravessados/ considerações/ discriminações parece uma onda do
mar, que está sendo agitada/empurrada e soprada pelo vento.
115
Ver, por exemplo, entre outras, as palavras: postura, estável, estátua, estabilidade, estação, estaca,
estar.
116
Versículo 1:2 pa/san cara.n h`gh,sasqe( avdelfoi, mou( o[tan peirasmoi/j peripe,shte poiki,loij( “Meus
irmãos, dirigi-vos [ide] - em direção a toda a alegria, quando estiverdes enredados nas mais diversas
(tentativas, provas)”.
116
PREPOSIÇÃO evn e ESPAÇO - O uso da preposição evn , nas duas expressões,
evn pi,stei “em fé,com fé ”, e o e.n diakrino,menoj “em/com fazendo juízos atravessados”
modaliza espacialmente a condição. É como se o sujeito que busca a sabedoria
fosse/estivesse no interior de um círculo que figura espacialmente tanto a fé como os
juízos atravessados.
evn evn
Mas qual é então a diferença entre os dois estados que a figura espacial do
círculo reforça?
A diferença se encontra na relação que o sujeito estabelece com seu objeto. Nos
dois casos, o objeto ao qual o sujeito está ligado é uma ação, a ação de “buscar” aite,w a
sabedoria da parte do Deus. Assim, o vers. 1:3 introduz a figura da sabedoria como um
dos traços para a configuração do “caminho” o`do,j. A modalização espacial trazida pela
preposição evn reforça a figuração do estado e contribui para a (des) construção do
117
sujeito no caminho. Dessa forma, a leitura /análise do discurso de Tiago se estende para
outros elementos como: a perseverança/constância/permanência; a experimentação, a
prova; o trabalho que chega ao fim; a transformação do sujeito: herdeiros completos e
atingidores de sua meta; e a ausência (nenhuma) da falta; conforme a seguir:
1:3 ginw,skontej o[ti to. doki,mion u`mw/n th/j pi,stewj katerga,zetai u`pomonh,nÅ
1:3 Ao mesmo tempo tomando conhecimento/sabendo,sabedores de que a
prova da vossa fé/colocação em pé/postura está realizando com seu trabalho
para vós mesmos,, a perseverança/a permanência.
1:4 h` de. u`pomonh. e;rgon te,leion evce,tw( i[na hte te,leioi kai. o`lo,klhroi evn
mhdeni. leipo,menoiÅ
1:4 E a perseverança comece a ter/continue a ter um trabalho completo/que
atinje sua meta, para que sejaiscompletos/atingidores do fim/meta e herdeiros
completos, em nada faltantes.
1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( aivtei,tw para. tou/ dido,ntoj qeou/ pa/sin
a`plw/j kai. mh. ovneidi,zontoj kai. doqh,setai auvtw/Å|
1:5 E se, dentre vós, alguém está precisando/carecendo/faltante de sabedoria,
diga a que ele que busque/que ele entre no ato de buscar, da parte do Deus
doante/que está doando a todos, simplesmente, e que não censura /não está
agredindo e ser-lhe-á dada.
3:13 Ti,j sofo.j kai. Evpisth,mwn evn u`mi/nÈ deixa,tw evk th/j kalh/j avnastrofh/j
ta. E;rga auvtou/ evn prau<thti sofi,ajÅ
3:13 Quem (é) sábio e instruído/erudito em vós, diga a ele que mostre os
trabalhos dele pela eficaz/boa/bonita ação de ir e vir, em doçura/mansidão de
sabedoria.
3:15 ouvk e;stin au[th h` sofi,a a;nwqen katercome,nh avlla. Evpi,geioj( yucikh,(
daimoniw,dhjÅ
3:15 Essa não é a sabedoria [a] que está descendo do alto, mas [uma] que está
sobre a terra/terrena , vivente/do mundo, mental, demoníaca/que diz respeito
aos demônios.
3:17 h` de. a;nwqen sofi,a prw/ton me.n a`gnh, evstin( e;peita eivrhnikh,( evpieikh,j(
euvpeiqh,j( mesth. Evle,ouj kai. Karpw/n avgaqw/n( avdia,kritoj( avnupo,kritojÅ
3:17 A sabedoria (que vem) do alto, primeiro é pura/inocente, depois
pacífica, conveniente/na justa medida), obediente/dócil,cordata, cheia de
compaixão/piedade e de frutos bons.
118
O CAMINHO NAS INSTÂNCIAS ENUNCIATIVA E DISCURSIVA
A “fé” pi,stij é uma figura que pode ser focalizada como um estado do sujeito
no nível da instância discursiva, e a fé também figurativiza um elemento do nível
narrativo da instância da enunciação. Na instância discursiva, a “fé” pi,stij, é condição
que cria o estado para a busca da sabedoria. Ela modaliza, na visão tradicional, com a
modalidade do crer. Na nossa proposta teórica ela modaliza com uma postura que
remete ao querer. No nível enunciativo, uma posição que se sustenta pela homologação
de duas vontades, ou seja a vontade do sujeito da prescrição e a vontade do sujeito do
fazer. No nível discursivo, a vontade de um sujeito que pode querer, figurativizado
como Deus, o Senhor, Jesus Cristo, e a vontade de um sujeito da ação de busca de
sabedoria. A “fé” pi,stij, tal como aparece no discurso, nos vers. 1:5-6, modaliza pelo
crer o PN pressuposto do auditório. Posta em relação com a instância da enunciação, a
“fé” pi,stij representa e anaforiza um elemento do PSNE do sujeito do pa,scein. Esse
elemento é também uma postura, e condição criada pela energia que sustenta o agora,
cria um aqui, e permite que o sujeito possa ser chamado eu. Também na instância da
enunciação a fé” pi,stij, como energia que sustenta o agora aparece pela homologação
de duas vontades. Há, pois, no discurso evangélico, dois Percursos Narrativos que
remetem um ao outro, e que formam o todo estruturado composto pelo discurso e pela
enunciação. Na instância da enunciação, o espaço é o aqui, criado no PSNE do sujeito
do pa,scein. Um espaço que, ao mesmo tempo em que é criado, é também ocupado. Na
instância discursiva, nível discursivo/narrativo, esse espaço é figurativizado como o
“caminho” o`do,j. Nas duas instâncias, o espaço não é simplesmente ocupado,
isoladamente pelo sujeito. Tanto o espaço aqui como o espaço “caminho” o`do,j só são
ocupados à medida que se sustentam as relações entre sujeito e o objeto. Na instância
discursiva, essas relações são figurativizadas: Primeiro, há um objetivo, a sabedoria, a
ser adquirido pela busca. Segundo, há um objeto que se intersecciona com o objetivo.
119
Esse objeto da experimentação é o membro do grupo com o qual o sujeito da busca se
relaciona.
Temos então, na nossa leitura, até aqui, algumas relações entre as duas instâncias
- discursiva e enunciativa - que auxiliam a dar um efeito de sentido para a configuração
do “caminho” o`do,j, como segue:
117
Na epístola são trinta e nove (39) exortações usando o modo imperativo.
120
Um percurso do sujeito do Na INSTÂNCIA DA PSNE do pa,scein
pa,scein ENUNCIAÇÃO
Um percurso do sujeito - as Na instância discursiva o`do,j “caminho”.
doze tribos na dispersão - no
o,̀doj “caminho”.
E Elemento comum aos dois Nas duas instâncias pi,stij; - avlh,qhj)
percursos: um esforço, uma
postura um não esquecimento.
118
Se focalizarmos o percurso do enunciatário stricto sensu, consideramos que ele é constituído também
dos mesmos elementos. O enunciatário stricto sensu, sujeito que assume a palavra, nada mais realiza do
que fazer “o agora permanecer”, to nu/n u`pa,rcein. Isso aparece na construção e progressão textuais.
121
que será chamado qrhske,ia “fazer religião”. Esse sujeito tem um ato enunciativo lato
sensu - criação e ocupação de um espaço de presença - que é o objetivo de seu próprio
ato. O ato e o objetivo se confundem. O objetivo é a ação de permanecer no caminho,
que remete ao exterior (presença no mundo).
119
Para Tiago, os irmãos estão nas doze tribos na dispersão: eles não têm o que lhe é próprio: o to.n
e;mfuton lo,gon, o presente de Deus, que tem o poder de restaurar as suas mentes (vers. 1:21); eles
freqüentam a sinagoga (vers. 2:2); eles são criados à imagem e semelhança de Deus (vers. 3:9).
122
OPONENTES NO CAMINHO
123
objeto é o seu “irmão”, membro do grupo. No esquema narrativo do discurso
evangélico, o sujeito não tem somente como meta adquirir um objeto, tal como sugere o
ensinamento da metodologia Semiótica. O sujeito tem como meta um objetivo: sentir
seu objeto no trajeto do percurso. Para o objetivo ser alcançado, é necessário criar um
conjunto de condições.
1:3 ginw,skontej o[ti to. doki,mion u`mw/n th/j pi,stewj katerga,zetai u`pomonh,nÅ
1:3 Ao mesmo tempo tomando conhecimento/sabendo,sabedores de que a
prova da vossa fé/colocação em pé/postura está realizando com seu trabalho
para vós mesmos,, a perseverança/a permanência.
1:4 h` de. u`pomonh. e;rgon te,leion evce,tw( i[na hte te,leioi kai. o`lo,klhroi evn
mhdeni. leipo,menoiÅ
1:4 E a perseverança comece a ter/continue a ter um trabalho completo/que
124
atinje sua meta, para que sejais completos/atingidores do fim/meta e herdeiros
completos, em nada faltantes.
1:04 h` de. u`pomonh. e;rgon 1:4 E a perseverança comece a ter te,leioi kai.
te,leion evce,tw( i[na hte (continue a ter) um trabalho que chega o`lo,klhroi
te,leioi kai. o`lo,klhroi evn ao fim (completo) para que sejais
mhdeni. leipo,menoiÅ completos (atingidores do fim/meta) e
herdeiros completos, em nada
faltantes.
125
1:22 1:22 Gi,nesqe de. poihtai. 1:22 Tornai-vos começai/continuai a poihtai. lo,gou
lo,gou kai. mh. mo,non vos tornar fazedores/criadores da
avkroatai. palavra e não enganadores de si
paralogizo,menoi mesmos, (como) ouvintes somente.
e`autou,jÅ
1:23 1:23 o[ti ei; tij avkroath.j 1:23 Porque, se alguém é ouvinte da poihth,j(
lo,gou evsti.n kai. Ouv palavra,e não fazedor/realizador, esse
poihth,j( ou-toj e;oiken parece um homem que está
avndri. Katanoou/nti to. observando/refletindo a aparência de
pro,swpon th/j gene,sewj nascimento/nascença dele, em um
auvtou/ evn evso,ptrw|\ espelho.
1:25 1:25 o` de. paraku,yaj eivj 1:25 Mas o que tendo olhado com poihth.j e;rgou
no,mon te,leion to.n th/j atenção para dentro da lei perfeita/ que
evleuqeri,aj kai. tem meta, aquela da liberdade e, ao
paramei,naj( ouvk mesmo tempo, está persevererando,
avkroath.j evpilhsmonh/j não tendo se tornado ouvinte
geno,menoj avlla. poihth.j esquecido mas realizador do trabalho,
e;rgou( ou-toj maka,rioj evn esse será bem aventurado/feliz em sua
th/| poih,sei auvtou/ e;staiÅ ação criação.
04:11 4:11 Mh. katalalei/te 4:11 Irmãos, não falais/cessai de falar poihth.j no,mou
avllh,lwn( avdelfoi,Å o` mal um dos outros. O que está
katalalw/n avdelfou/ h' falando/o falante/o que continua
kri,nwn to.n avdelfo.n falando mal do irmão ou o que está
auvtou/ katalalei/ no,mou julgando/julgador/continua julgando
kai. kri,nei no,mon\ eiv de. seu irmão está falando da lei e está
no,mon kri,neij( ouvk ei julgando a lei. E, se julgas/continuas
poihth.j no,mou avlla. julgando a lei, não és fazedor/produtor
krith,jÅ da lei, mas juiz.
126
A figura discursiva pode ser considerada uma anáfora, ou mesmo um índice, se
considerarmos que a instância enunciativa e o texto/discurso formam um conjunto,
embora sejam duas semióticas diferentes. Uma virtual e tradicionalmente vista como um
ato pressuposto, e outra real já que um objeto concreto, e com as características de um
produto. A semiótica do texto/discurso representa e anaforiza, pelas figuras, a semiótica
da instância enunciativa. Podemos tentar fazer nos vers. 4:4-7, uma leitura da
espacialização nas duas instâncias, a enunciativa e a discursiva. O quadro abaixo tenta
resumir e assinalar a correspondência dos espaços nas duas instâncias.
ESPAÇOS ESPAÇOS
VERSÍCULO
NO NIVEL DISCURSIVO NO NÍVEL ENUNCIATIVO
4:4 moicali,dej( ouvk oi;date
o[ti h` fili,a tou/ ko,smou DOIS ESPAÇOS
e;cqra tou/ qeou/ evstinÈ o]j evan.
ou=n boulhqh/| fi,loj ei=nai tou/ O espaço pressuposto em que O aqui criado na relação
ko,smou( evcqro.j tou/ qeou/ está Deus, e S+Objeto/Deus ou
kaqi,stataiÅ S+Objeto/Irmão
4:4 Adúlteras, não sabeis vós O espaço chamado “mundo” Fora do aqui: h` fili,a tou/
que a amizade do mundo é ko,smoj ko,smou
inimizade contra Deus?
Portanto, aquele que desejar DISCURSIVIZAÇÃO DO DESTINATÁRIO: moicali,dej e o]j
ser/continuar sendo amigo do evan. oun boulhqh/| fi,loj einai tou/ ko,smou( evcqro.j tou/ qeou/
mundo ele está kaqi,stataiÅ
posicionando/instalando como
inimigo de Deus.
127
4:5 h' dokei/te o[ti kenw/j h` UM ESPAÇO
grafh. le,gei( pro.j fqo,non O espaço ocupado/delimitado pelo
evpipoqei/ to. pneu/ma o] corpo humano
katw,k| isen evn h`mi/n(
4:5 Ou vos parece/está “em nós” evn h`mi/n - o qual é Um aqui, invadido por um
parecendo que, em vão, a habitado por um anti-sujeito. sujeito/oponente – “uma
escritura diz/está dizendo: fqo,non. paixão” Fqo,noj.
contra o “segurar para
si”/avareza deseja o espírito,
aquele que morou/habitou em
vós?
Para que o sujeito siga tranqüilo em seu percurso, é desejável que os espaços não
sejam invadidos. Uma vez invadidos, os espaços precisam ser defendidos. A
figurativização da resistência aparece no discurso de Tiago, por exemplo, na figura do
verbo avntita,ssein “resistir”.
ESPAÇO ESPAÇOS
NO NIVEL DISCURSIVO NO NÍVEL
ENUNCIATIVO
4:6 mei,zona de. di,dwsin ca,rinÈ O espaço pressuposto onde está Um aqui, ocupado por um
dio. le,gei( ~O qeo.j u`perhfa,noij deus. Deus “resiste” eu individual - Deus.
avntita,ssetai( tapeinoi/j de. avntita,ssetai à invasão de seu
di,dwsin ca,rinÅ espaço.
4:6 Maior graça dá/continua
dando? Por isso ele/a está
dizendo diz/continua dizendo: O
Deus resiste aos soberbos e ele
dá/continua dando graça aos
humildes.
128
4:7 u`pota,ghte oun tw/| qew/(| O espaço pressuposto onde está Um aqui de Deus. O sujeito
avnti,sthte de. tw/| diabo,lw| kai. Deus. Neste espaço o sujeito “em "baixo" u`po - ta,ghte
feu,xetai avfV u`mw/n( esta u`po, “em baixo”ta,ghte.
4:7 Portanto, submetei-vos à
autoridade de Deus mas resisti
ao diabo e ele fugirá do meio de
vós.
4:8 evggi,sate tw/| qew/| kai. evggiei/
u`mi/n kaqari,sate cei/raj(
a`martwloi,( kai. a`gni,sate
kardi,aj( di,yucoiÅ
4:8 Aproximai-vos de Deus e ele
se aproximará de vós. Limpai
pecadores as mãos e purificai os
corações /homens de/ mentes
duplas.
Em Tiago, há uma relação do sujeito qrhsko.j “fazedor religioso” vers. 1:26, com
a qrh,skeia “fazer religioso/religião” e o o`do,j “caminho”. A qrh,skeia remete a três tipos
de relações do homem que está no o`do,j “caminho”: as relações consigo mesmo, as
relações com os outros homens e as relações com Deus. O homem chamado qrhsko,j
“fazedor religioso” é o que tem uma qrh,skeia kaqara. kai. avmi,antoj “uma religião/fazer
religioso, pura e sem mácula”.
129
Essa relação subentende que o sujeito tem um corpo. O corpo está figurado, ou
comparado, no texto/discurso da Epístola com(o): vers. 3:3 i[ppwn “cavalos”; vers. 3:4
ta. ploi/a “navios”; vers. 3:5 pu/r “fogo”; vers. 3:12 evlai,aj “figueira”; vers. 3:12 a;mpeloj
“videira”; vers. 5:18 h` gh/ “a terra”; vers. 1:6 klu,dwni qala,sshj “onda do mar”.
3:3 eiv de. Tw/n i[ppwn tou.j calinou.j eivj ta. Sto,mata ba,llomen eivj to.
Pei,qesqai auvtou.j h`mi/n( kai. O[lon to. Sw/ma auvtw/n meta,gomenÅ
3:3 Ora, se lançamos os freios para dentro da boca dos cavalos, para eles
estarem sendo persuadidos por nós, também todo o corpo deles estamos
conduzindo/mudando de lugar.
3:4 ivdou. Kai. Ta. Ploi/a thlikau/ta o;nta kai. U`po. Avne,mwn sklhrw/n
evlauno,mena( meta,getai u`po. Evlaci,stou phdali,ou o[pou h` o`rmh. Tou/
euvqu,nontoj bou,letai(
3:5 ou[twj kai. H` glw/ssa mikro.n me,loj evsti.n kai. Mega,la auvcei/Å Vidou.
H`li,kon pu/r h`li,khn u[lhn avna,ptei\
3:5 Assim também a língua é um pequeno membro do corpo e de grandes
coisas se enaltece. Vede quão pequeno fogo ilumina tão grande bosque.
3:12 mh. du,natai( avdelfoi, mou( sukh/ evlai,aj poih/sai h' a;mpeloj su/kaÈ ou;te
a`luko.n gluku. poih/sai u[dwrÅ
3:12 Meus irmãos, não pode uma figueira produzir olivas ou uma perreira de
uvas (produzir) figos, nem fonte salgada produzir uma água doce.
1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken
klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw|Å
1:6 Que ele busque/entre no ato de buscar com fé, e não fazendo julgamentos
atravessados/ considerações/discriminações, pois o que está fazendo
julgamentos atravessados/ considerações/ discriminações parece uma onda do
mar, que está sendo agitada/empurrada e soprada pelo vento.
130
Há a possibilidade de que, no esforço para permanecer no caminho, o corpo
sofra a ação de um oponente. Nesse caso ele cairá “será envolvido” peripi,ptw - vers.
1:2.
Se o oponente não for vencido, o sujeito do percurso irá se transformar num sujeito que
não atingiu a sua meta, e será discursivizado, no vers. 1:6, como “o que está fazendo
juízos atravessados” o` diakrino,menoj, e como “uma onda do mar estando sendo agitada
/empurrada e soprada pelo vento” klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw, e no
vers. 1:8 de “Um homem masculino de mente dupla,
inconstante/instável/desposicionado em todos os caminhos dele. ” avnh.r di,yucoj(
avkata,statoj evn pa,saij tai/j o`doi/j auvtou.
3:13 Ti,j sofo.j kai. Evpisth,mwn evn u`mi/nÈ deixa,tw evk th/j kalh/j avnastrofh/j
ta. E;rga auvtou/ evn prau<thti sofi,ajÅ
3:13 Quem (é) sábio e instruído/erudito em vós, diga a ele que mostre os
trabalhos dele pela eficaz/boa/bonita ação de ir e vir, em doçura/mansidão de
sabedoria.
131
Os enredamentos/envolvimentos podem ser provocados por oponentes que estão
dentro do próprio sujeito. Por ex.: th/j ivdi,aj evpiqumi,aj “pela própria ambição/cobiça”-
vers. 1:14. Ou podem ser exteriores, com um assentimento interior, como por exemplo,
a visão da aparência do rico nos vers. 2:2-4. Os enredamentos subjetivos, interiores,
podem ser também do nível cognitivo (que mostram uma falta de/na sabedoria. Os
intersubjetivos podem ser afetivos ou patêmicos, como discriminar proswpolhmpte,in ,
“falar mal dos outros” katalale,in, etc.
132
CAPÍTULO 08 – ARGUMENTAÇÃO
DESQUALIFICAÇÃO DO DISCURSO DO OUTRO
______________________________________________________________________
120
Citado por BERTRAND, p. 102.
Tiago propõe um tema semelhante. Na Epístola, aparece uma terminologia
abundante que faz referência direta ou indireta ao uso da voz, como portadora de um
discurso. Alguns exemplos, como a seguir, podem nos dar uma pista para a abundância
de figuras discursivas que remetem ao tema da assunção ou não da palavra por um
sujeito discursivo.
Nos verbos:
Dizer, falar, julgar, lamentar, falar mal, perguntar, pedir, vangloriar-se, prometer,
tagarelar,murmurar, etc.
E nos substantivos:
Escritura, mandamento, palavra da verdade, palavra enxertada, ouvintes, ouvinte
esquecido, lei, lei da liberdade, língua, etc.
Pela própria natureza do gênero do discurso que estamos analisando – uma carta,
uma Epístola – para que o discurso do outro possa ser desqualificado: ou ele foi
proferido anteriormente em outros textos/discursos e é citado direta ou indiretamente,
ou ele tem que ser criado hipoteticamente, pelo autor da Epístola. No ato de
previsão/criação do discurso do outro, o enunciador vai se desdobrar em vários papéis,
ou seja: ele mantém o papel do enunciador do enunciado englobante; mantém o seu
134
papel de actante destinador/manipulador também da narrativa principal; e ao final
instala outro sujeito que produzirá outro discurso encaixado, no enunciado englobante.
No discurso encaixado, o outro, em se tratando do destinatário da Epístola e membro do
grupo, aparentemente, não usou aquela forma de dizer, para se referir aquele tema. Por
exemplo, nos vers. 1:13 e 2:3, abaixo transcritos, o discurso do outro é hipotético,
apenas previsto. Na verdade o discurso do outro é um discurso do próprio
orador/narrador - o enunciador do enunciado englobante - e estará em função dos seus
objetivos persuasivos.
1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw o(ti VApo. qeou/ peira,zomai\ o` ga.r qeo.j
avpei,rasto,j evstin kakw/n( peira,zei de. auvto.j ouvde,naÅ
1:13 Ninguém ao mesmo tempo que está sendo envolvido/provado/tentado
(ele) diga/comece a dizer/ continue a dizer “da parte de Deus eu estou sendo
envolvido/provado/tentado”, pois o Deus não é envolvedor/tentador
maldoso/para o mal - suscetível de tentação a partir dos males. Ele mesmo
ninguém envolve/testa/tenta.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes :
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
135
será feita como recurso argumentativo do destinador/manipulador da narrativa principal.
No nível de expressão, o narrador principal usará maneiras de dizer a fala do outro, as
quais já têm em mira a desqualificação. Do ponto de vista argumentativo, a introdução
do discurso do outro, tem o papel de antecipação do seu possível proferimento. Tal
antecipação tem por objetivo fazer com o que, o discurso do outro perca a sua força,
conforme o TA:
A PERÍCOPE 1:13-15
1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw o(ti VApo. qeou/ peira,zomai\ o` ga.r qeo.j
avpei,rasto,j evstin kakw/n( peira,zei de. auvto.j ouvde,naÅ
1:13 Ninguém ao mesmo tempo que está sendo envolvido/provado/tentado
(ele) diga/comece a dizer/ continue a dizer “da parte de Deus eu estou sendo
envolvido/provado/tentado”, pois o Deus não é envolvedor/tentador
121
TA, p. 532.
122
O enunciado da perícope 2:1-4 será analisado, nesta tese, especificamente quando a questão da
intersecção de enunciados for tratada.
136
maldoso/para o mal - suscetível de tentação a partir dos males. Ele mesmo
ninguém envolve/testa/tenta.
1:14 e[kastoj de. peira,zetai u`po. th/j ivdi,aj evpiqumi,aj evxelko,menoj kai.
deleazo,menoj\
1:14 Mas cada um é/está sendo envolvido/provado/tentado pela própria
ambição/cobiça. Estando sendo arrastado/tirado, pescado e sendo
iscado/seduzido.
137
1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw
1:13 Ninguém ao mesmo tempo que está sendo envolvido/provado/tentado
(ele) diga/comece a dizer/ continue a dizer
Tiago ensina, no entanto, contrapondo-se aos valores aceitos, que “Deus é não
tentador maldoso/para o mal” o` ga.r qeo.j avpei,rasto,j evstin kakw/n e que, cada um é
enredado/envolvido/tentado “por seus próprios desejos/paixões/timias” u`po. th/j ivdi,aj
evpiqumi,aj. Considerar que Deus é pei,rasto,j “agente de tentação” é Plana,w “andar
errante/vagar, conforme a exortação do vers. 1:16 que vem logo a seguir:
1:17 pa/sa do,sij avgaqh. kai. pa/n dw,rhma te,leion a;nwqe,n evstin
katabai/non avpo. tou/ patro.j tw/n fw,twn( parV w-| ouvk e;ni parallagh. h'
troph/j avposki,asmaÅ
1:17 Todo doação boa e todo presente dado completo/com
objetivo/com meta está descendo do alto, do pai das luzes; junto ao
qual não existem mudanças/sombras ou de volta/lugar de mudança.
Vamos nos deter um pouco na leitura/análise desse pequeno trecho, para criar a
oportunidade de falarmos de outras questões como: uso dos termos e da aspectualização
123
Exemplo dessa convicção encontra-se, entre muitos outros, no AT em Ex 20:20 (LXX) - kai. le,gei
auvtoi/j Mwush/j qarsei/te e[neken ga.r tou/ peira,sai u`ma/j paregenh,qh o` qeo.j pro.j u`ma/j o[pwj a'n ge,nhtai
o` fo,boj auvtou/ evn u`mi/n i[na mh. a`marta,nhte. Ex 20:20 = Respondeu Moisés ao povo: Não temais, Deus
veio para vos provar e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis (tradução da
ARA).
138
temporal e discursiva. O trecho 1:13-15, na verdade, trás para dentro da Epístola uma
tese: “Deus envolvedor /tentador dos homens, para o mal” - . Para que o tema apareça,
introduz-se o discurso hipotético do outro. Mas, o discurso do outro está, na verdade,
representando a adesão pelos destinatários aos valores que estão presentes em
ensinamentos ou sabedorias anteriormente recebidos. O registro da adesão a esses
valores encontra-se na intertextualidade bíblica em várias passagens do AT. O que está
ocorrendo nesse momento do discurso da Epístola é uma interpretação de outros atos
enunciativos. Como já assinalamos logo no início , quando abordamos a questão da
contextualização da Epístola, o contexto que elegemos é aquele que considera o
discurso de Tiago como fazendo parte de um percurso narrativo enunciativo presente no
metadiscurso bíblico. Aqui no vers. 1:13, Tiago está tentando anular a transformação
sofrida anteriormente pelos destinatários e em seu lugar propor uma nova
transformação.
1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw o(ti VApo. qeou/ peira,zomai\ o` ga.r qeo.j
avpei,rasto,j evstin kakw/n( peira,zei de. auvto.j ouvde,naÅ
1:13 Ninguém ao mesmo tempo que está sendo envolvido/provado/tentado
(ele) diga/comece a dizer/ continue a dizer “da parte de Deus eu estou sendo
envolvido/provado/tentado”, pois o Deus não é envolvedor/tentador
maldoso/para o mal - suscetível de tentação a partir dos males. Ele mesmo
ninguém envolve/testa/tenta.
Proposta nova, essa, que é feita nos vers. 1:14-15 e que se constitui numa nova
sabedoria, a qual substituirá a anterior:
1:14 e[kastoj de. peira,zetai u`po. th/j ivdi,aj evpiqumi,aj evxelko,menoj kai.
deleazo,menoj\
1:14 Mas cada um é/está sendo envolvido/provado/tentado pela própria
ambição/cobiça. Estando sendo arrastado/tirado, pescado e sendo
iscado/seduzido.
139
Ora, o tema da tentação/envolvimento (maldoso/para o mal), que vem de Deus,
está sendo abordado como inserido dentro da sintaxe narrativa do tema sair vs. entrar
(permanecer no caminho). O que fica claro é que, conforme já assinalamos acima, essa
sabedoria anterior, que está sendo refutada, faz parte dos movimentos de saídas, de
movimentos irregulares, da instabilidade, daquele que está no caminho. A
figurativização da perícope auxilia com preciosismo a criar um efeito de sentido para o
discurso previsto, conforme assinalaremos a seguir.
140
relacionados com a noção de pequenez, bem como com a noção de subtração. Essa
noção de subtração poderia nos conduzir para um jogo de oposições com as palavras
que estão no campo semântico de: grandeza, tamanho, repleto, pleno, acabado, perfeito.
Essas figuras se encontram, por exemplo, no vers. 1:4, abaixo:
1:4 h` de. u`pomonh. e;rgon te,leion evce,tw( i[na hte te,leioi kai.
o`lo,klhroi evn mhdeni. leipo,menoiÅ
1:4 E a perseverança comece a ter (continue a ter) um trabalho que
chega ao fim (completo) para que sejais completos (atingidores do
fim/meta) e herdeiros completos, em nada faltantes.
Observe-se que o vers. 1:4 que reproduzimos acima faz parte de um percurso
narrativo que está inserido dentro da perícope 1:2-4, em que um termo formado com a
raiz peir- também aparece, o que auxilia a construir essa isotopia que contém as
oposições de grandeza/tamanho vs pequenez/subtração.
No campo semântico das relações abstratas vistas como número, o verbo - iscar
e o verbo arrancar/tirar se relaciona com as noções de operações com algarismos, em
que do total se tira uma parte ou do resultado se tira uma prova. Ora essas noções,
trazidas pelas idéias acima, só auxiliam a concretizar e objetivar ainda mais os
processos apontados nos percursos narrativos do discurso criado e ao mesmo tempo
desqualificado, que faz parte da perícope 1:13-15.
Essa isotopia vai ser mantida também em outros locais da Epístola, como por
exemplo, com o auxílio do termo logi,zomai “calcular/pensar”, no vers. 2:23, e
paralogi,zomai “calcular com erro” no vers. 1:22, reproduzidos abaixo, que apesar de se
referirem a operações cognitivas no processo de formação das idéias originalmente tem
141
a semântica do cálculo aritmético/matemático. O termo paralogi,zomai com o prefixo
para- indica um cálculo errôneo, isto é um engano.
1:22 Gi,nesqe de. poihtai. lo,gou kai. mh. mo,non avkroatai. paralogizo,menoi
e`autou,jÅ
1:22 Tornai-vos começai/continuai a vos tornar fazedores/criadores da
palavra e não enganadores de si mesmos, (como) ouvintes somente.
2:23 kai. evplhrw,qh h` grafh. h` le,gousa( VEpi,steusen de. VAbraa.m tw/| qew/(| kai.
evlogi,sqh auvtw/| eivj dikaiosu,nhn kai. fi,loj qeou/ evklh,qhÅ
2:23 E foi cumprida/preenchida a escritura, a que diz/a dizente: “Acreditou
Abraão em o deus e ele foi escolhido/pensado para a justiça e amigo de Deus
ele foi chamado.
Partindo para identificar essa isotopia, seria possível assinalar na carta uma
dezena de palavras que auxiliariam a construir o campo semântico do engano, do erro,
etc. O orador considera com precisão o mesmo que o TA aponta como sendo uma
constante na construção das convicções humanas conforme abaixo:
1:14 e[kastoj de. peira,zetai u`po. th/j ivdi,aj evpiqumi,aj evxelko,menoj kai.
deleazo,menoj\
1:14 Mas cada um é/está sendo envolvido/provado/tentado pela própria
ambição/cobiça. Estando sendo arrastado/tirado, pescado e sendo
iscado/seduzido.
124
TA, p. 68.
142
1:15 eita h` evpiqumi,a sullabou/sa ti,ktei a`marti,an( h` de. a`marti,a
avpotelesqei/sa avpoku,ei qa,natonÅ
1:15 A seguir, a ambição tendo sido reunida/agregada/juntada gera um
pecado/não atingimento da meta. E o pecado tendo ocorrido/sido completado
gera morte.
Tiago vai mais além, na progressão de seus argumentos ao provar por meio de
outros ensinamentos que os destinatários agem exatamente como “envolvedores”, como
acusam ser Deus. E, para isso o orador se utiliza, ao argumentar, de um novo tratamento
aos destinatários, inserindo-os nesse momento no grupo universal dos seres humanos.
Ora esse é um procedimento eficaz de acordo com o TA conforme abaixo:
Cada vez que importa refutar a acusação de que nossos desejos é que
determinaram nossas crenças, é indispensável fornecer provas, não de nossa
objetividade, o que é irrealizável, mas de nossa imparcialidade, indicando as
circunstâncias em que, numa situação análoga, agimos contrariamente ao que
podia parecer nosso interesse e especificando se possível a regra ou os
critérios que seguimos, os quais seriam válidos para um grupo mais amplo
que englobaria todos os interlocutores e, no limite, se identificaria com o
auditório universal.125
Cada vez que importa afirmar, de que nossos desejos é que determinam
nossas crenças, é indispensável fornecer provas de nossa parcialidade,
indicando as circunstancias em que, numa situação análoga, agimos
exatamente do acordo com nosso interesse e especificando se possível a regra
ou os critérios que seguimos, os quais seriam válidos para um grupo mais
amplo que englobaria todos os interlocutores e, no limite, se identificaria com
o auditório universal.
125
TA, pp. 68-69.
143
Isso ocorre quando o tratamento aos destinatários é feito pelo termo a;nqrwpoj “ser
humano”, conforme abaixo:126
1:7 mh. ga.r oives, qw o` a;nqrwpoj evkei/noj 1:7 Pois, diga a ele - aquele ser humano/o ser
o[ti lh,myetai, ti para. tou/ kuri,ou humano aquele - que não pense/não comece a
pensar /não continue pensando, que receberá
algo da parte do Senhor.
1:19 :Iste( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ e;stw 1:19 Vós sabeis, meus irmãos
de. pa/j a;nqrwpoj tacu.j eivj to. avkou/sai( amados/queridos: seja todo ser humano
bradu.j eivj to. lalh/sai( bradu.j eivj rápido/pronto para o escutar, lento para o
ovrgh,n\ tagarelar, e lento para uma agitação.
2:20 qe,leij de. gnw/nai( w= a;nqrwpe kene,( 2:20 Oh! Ser humano vazio! Tu estás
o[ti h` pi,stij cwri.j tw/n e;rgwn avrgh, querendo saber porque a fé separada dos
evstinÈ trabalhos é inativa ?
2:24 o`ra/te o[ti evx e;rgwn dikaiou/tai 2:24 Começai a ver/continuai a ver que a
a;nqrwpoj kai. ouvk evk pi,stewj mo,nonÅ partir dos trabalhos um ser humano é
justificado/posto de acordo com, e não
somente a partir da fé
3:7 pa/sa ga.r fu,sij qhri,wn te kai. 3:7 Pois toda a natureza das feras, também
Peteinw/n( e`rpetw/n te kai. Evnali,wn das aves, dos répteis, e também dos seres
dama,zetai kai. Deda,mastai th/| fu,sei th/| marinhos está sendo domada e está domada
avnqrwpi,nh| pela natureza humana/dos homens.
3:8 th.n de. Glw/ssan ouvdei.j dama,sai 3:8 Mas a língua ninguém dentre os homens
do,natai avnqrw,pwn( avkata,staton kako,n( pode domar, ela é mal agitado repleta de
mesth. Ivou/ qanathfo,rouÅ veneno mortal/mortífero.
3:9 evn auvth/| euvlogou/men to.n ku,rion kai. 3:9 Com ela bendizemos/elogiamos o senhor
Pate,ra kai. Evn auvth/| katarw,meqa tou.j e pai e com ela amaldiçoamos/lançamos
avnqrw,pouj tou.j kaqV o`moi,wsin qeou/ pragas em direção aos seres humanos, os
gegono,taj( nascidos de acordo com a semelhança de
Deus.
5:17 VHli,aj a;nqrwpoj h=n o`moiopaqh.j 5:17 Elias era um homem de mesmo
h`mi/n( kai. proseuch/| proshu,xato tou/ mh. sentimento que nós e com oração dirigiu uma
bre,xai( kai. ouvk e;brexen evpi. th/j gh/j prece de não chover e não choveu sobre a
evniautou.j trei/j kai. mh/naj e[x\ terra, durante três anos e meio
126
Somente a ocorrência do vers. 2:24 da expressão “ser humano” não se refere diretamente ao uso da
língua.
144
A PERÍCOPE 4:13 A 4:17
A expressão: Age nu/n oi` le,gontej usa três recursos da língua para tornar real o
fato ao qual o enunciador se refere, criando um efeito de presença útil na argumentação.
São eles:
1o) A forma verbal: “Ide, vamos!” que usa um tema verbal no aspecto Infectum.
Esse modo de dizer indica um “ato por vir”, que se inicia – iniciará – imediatamente e
continuará. É um “vir a ser imediato”, entrada no ato verbal, que quase forma uma
perífrase com os verbos da citação direta que vem a seguir. O aspecto verbal Infectum,
mais o significado de “movimento” do verbo, mais o caráter exortativo do modo,
somam-se de tal forma nesta palavra – Age - que ela se tornou, pelo uso, uma
interjeição. Assim ela é apresentada nos dicionários e gramáticas, fato que lhe confere
uma independência de concordância de número, com o sujeito e com o verbo que a
segue.
145
justificaria a introdução mais adiante no vers. 4:15 do tema que aponta a presunção
humana de poder prever seu futuro.
3o) o aspecto verbal - recurso que torna mais real o fato referido pelo enunciador,
criando um efeito de presença na expressão: Age nu/n oi` le,gontej. O aspecto verbal é
justamente o Infectum usado no particípio substantivado oi` le,gontej “os que estando
dizendo/falantes”. Esse Particípio com o uso aspecto verbal Infectum cria o efeito de
uma realidade, em relação de simultaneidade com o verbo, também no aspecto verbal
Infectum, que faz parte do sintagma que inicia o próximo vers. 4:14: oi[tinej ouvk
evpi,stasqe “vós – os que não estais sabendo”.
4:12 ei-j evstin (Infectum) Îo`Ð nomoqe,thj kai. krith,j o` duna,menoj Realidade,
(Infectum) presença
Um é o legislador e juiz, o que pode/o que continua tendo poder de
restaurar/salvar e fazer perecer.
4:12 sw/sai (Pontual) kai. avpole,sai\(Pontual) Menção
restaurar /salvar e fazer perecer.
4:12 su. de. ti,j ei= (Infectum) Realidade,
Mas tu quem és presença
4:12 o` kri,nwn to.n plhsi,on (Infectum) Realidade,
o que está julgando/o que continua julgando o próximo ? presença
4:13 4:13 :Age nu/n oi` le,gontej Realidade,
4:13 Agora, vamos! Os que estão dizendo/os falantes presença
4:13 Sh,meron h' au;rion poreuso,meqa eivj th,nde th.n po,lin kai. poih,somen Pontual
evkei/ evniauto.n kai. evmporeuso,meqa kai. kerdh,somen\ Citação direta.
(Pontual) evkei/ evniauto.n kai. Evmporeuso,meqa (Pontual) kai. Conteúdo da
Kerdh,somen (Pontual). fala
hoje ou amanhã nós iremos para dentro daquela cidade e
faremos/produziremos lá por um ano/um tempo e comerciaremos e
lucraremos.
4:14 oi[tinej ouvk evpi,stasqe 4:14 Realidade,
Sejais quem for (vós), os que não estais sabendo/continuais não presença
sabendo
4:14 ((Pontual/implícito) to. th/j au;rion poi,a h` zwh. U`mw/n\ Menção
qual a vossa vida, (a) de amanhã.
4:14 avtmi.j ga,r evste (Infectum) Realidade,
Pois vós sois vapor, presença
4:14 h` pro.j ovli,gon fainome,nh((Infectum) e;peita kai. Avfanizome,nhÅ Realidade,
(Infectum) presença
(o) que continua estando aparecendo, pouco numeroso/pequeno,
depois também começando a (ser) desaparecido.
146
4:15 avnti. Tou/ le,gein (Infectum) u`ma/j Realidade,
Ao invés do estar dizendo vós: presença
4:15 Vea.n o` ku,rioj qelh,sh| (Pontual) kai. Zh,somen (Pontual) kai. Eventualidade
Poih,somen (Pontual) tou/to h' evkei/noÅ
Se o Senhor quiser também nós viveremos e nós produziremos isto
ou aquilo.
4:16 nu/n de. kauca/sqe (Infectum) evn tai/j avlazonei,aij u`mw/n\ Realidade,
Mas agora (vós) estais vos vangloriando/estais rindo com as vossas presença
presunções.
4:16 pa/sa kau,chsij toiau,th ponhra, evstinÅ (Infectum) Realidade,
Todo envaidecimento desse tipo é mau. presença
4:17 eivdo,ti (Pefeito) ou=n kalo.n Estado
Portanto, sabendo fazer/produzir bem/com eficácia
4:17 poiei/n (Infectum) kai. Mh. poiou/nti (Infectum) (a`marti,a auvtw/| Realidade,
evstinÅ (Infectum) presença
sabendo fazer/produzir bem/com eficácia e não fazedor/estando
fazendo/ao mesmo tempo não estando fazendo está sendo para ele
um pecado/ um não atingimento da meta.
147
dado pelo uso do singular. Olhando sob esse prisma, no vers. 4:17, o singular de eivdo,ti
“Estando sabendo/sabedor” e mh. poiou/nti “não estando fazendo/não fazedor/não
criador” está relacionado aos singulares su. de. ti,j ei= “Mas tu quem és”, do vers. 4:12,
como abaixo:
4:12 4:12 ei-j evstin Îo`Ð nomoqe,thj kai. krith,j o` duna,menoj sw/sai
kai. avpole,sai\ su. de. ti,j ei= o` kri,nwn to.n plhsi,onÈ
4:12 Um é o legislador e juiz, o que pode/o que continua tendo
poder de restaurar/salvar e fazer perecer. Mas tu quem és o
que está julgando/continua julgando o próximo?
4:17 4:17 eivdo,ti ou=n kalo.n poiei/n kai. Mh. poiou/nti( a`marti,a Singulares
auvtw/| evstinÅ em negrito
4:17 Portanto, sabendo fazer/produzir bem/com eficácia e
não fazedor/estando fazendo/ao mesmo tempo não estando
fazendo está sendo para ele um pecado/ um não atingimento da
meta.
4:11 Mh. katalalei/te avllh,lwn( avdelfoi,Å o` 4:11 Eu vos exorto: 4:11 Irmãos, não falais/cessai
katalalw/n avdelfou/ h' kri,nwn to.n avdelfo.n de falar mal um dos outros. O que está falando/o
auvtou/ katalalei/ no,mou kai. kri,nei no,mon\ falante/o que continua falando mal do irmão ou o
eiv de. no,mon kri,neij( ouvk ei poihth.j no,mou que está julgando/julgador/continua julgando seu
avlla. krith,jÅ irmão está falando da lei e está julgando a lei. E eu
digo: E, se julgas/continuas julgando a lei, não és
fazedor/produtor da lei, mas juiz.
4:12 ei-j evstin Îo`Ð nomoqe,thj kai. krith,j o` 4:12 Pois, eu afirmo: 4:12 Um é o legislador e juiz,
duna,menoj sw/sai kai. avpole,sai\ su. de. ti,j o que pode/o que continua tendo poder de
ei= o` kri,nwn to.n plhsi,onÈ restaurar/salvar e fazer perecer. Mas tu quem és o
que está julgando/continua julgando o próximo?
148
4:13 :Age nu/n oi` le,gontej( Sh,meron h' 4:13 Falando nisso, (na onipotência de Deus) (no
au;rion poreuso,meqa eivj th,nde th.n po,lin poder de Deus) 4:13 Agora, vamos! Os que estão
kai. poih,somen evkei/ evniauto.n kai. dizendo/os falantes: hoje ou amanhã nós iremos para
evmporeuso,meqa kai. kerdh,somen\ dentro daquela cidade e faremos/produziremos lá por
um ano/um tempo e comerciaremos e lucraremos.
4:14 oi[tinej ouvk evpi,stasqe to. th/j au;rion 4:14 Na verdade, 4:14 Sejais quem for (vós), os que
poi,a h` zwh. U`mw/n\ avtmi.j ga,r evste h` pro.j não estais sabendo/continuais não sabendo qual a
ovli,gon fainome,nh( e;peita kai. vossa vida, (a) de amanhã.Pois eu digo vós sois
Avfanizome,nhÅ vapor, (o) que continua estando aparecendo, pouco
numeroso/pequeno, depois também começando a
(ser) desaparecido.
4:15 avnti. tou/ le,gein u`ma/j Vea.n o` ku,rioj 4:15 Ao invés do estar dizendo vós: Se o Senhor
qelh,sh| kai. zh,somen kai. poih,somen tou/to h' quiser também nós viveremos e nós produziremos
evkei/noÅ isto ou aquilo.
4:16 nu/n de. kauca/sqe evn tai/j avlazonei,aij 4:16 Mas agora (vós) estais vos vangloriando/estais
u`mw/n\ pa/sa kau,chsij toiau,th ponhra, rindo com as vossas presunções. Mas eu digo: Todo
evstinÅ envaidecimento desse tipo é mau.
4:17 eivdo,ti ou=n kalo.n poiei/n kai. Mh. 4:17 Dessa forma, por esta razão: Portanto,
poiou/nti( a`marti,a auvtw/| evstinÅ sabendo fazer/produzir bem/com eficácia e não
fazedor/estando fazendo/ao mesmo tempo não
estando fazendo está sendo para ele um pecado/ um
não atingimento da meta.
Nessa perícope, ocorre também o fato lingüístico, de que fala Brandão: “se
percebe um desdobramento na configuração do perfil dos protagonistas do discurso”127,
aos quais consideramos como o interlocutório principal, o auditório da Epístola, ou seja,
o grupo de “vós”, as doze tribos na dispersão. Este desdobramento é marcado: vers.
4:12 pelos pronomes - ti,j ei= “quem tu és” e su. tu; vers. 4:14 pelo pronome oi[tinej “Os
que”; e, vers. 4:17 pelo pronome pessoal oblíquo auvtw/| “para ele” o qual concorda
também com a pessoa indefinida singular implícita nos Particípios eivdo,ti “estando
sabendo” e mh. poiou/nti “não estando fazendo”. Essa forma de se referir ao interlocutor
tem um nítido objetivo argumentativo e é um procedimento atenuador, de acordo com
Lakoff, e consiste “na supressão da referência explícita aos interlocutores”128 e, para o
TA, uma figura de comunhão.
127
BRANDÃO, Helena. Subjetividade, argumentação, polifonia. A propaganda da Petrobrás. São Paulo:
Editora da UNESP, 1998.
128
Citado por ROSA, Margaret. Marcadores de atenuação. São Paulo: Contexto, 1992, p. 21.
149
Há ainda um fato a destacar no uso dessas referências atenuadoras. Constata-se
que, o desdobramento do interlocutário principal com a supressão de uma referência
explícita, encontra-se em 4:2 e 4:7, nas sanções negativas. Trata-se de sua vinculação
com o caráter adversativo de toda perícope, fato que já assinalamos acima. As sanções
negativas aparecem como resultado da oposição (adversativa) presente nas ações dos
membros do grupo. O orador atenuando o ensinamento não se refere naquele momento
nem diretamente ao grupo nem a um membro específico daquele. Entre os
desdobramentos do interlocutor em 4:12; 4:14 e 4:17, o que é usado em 4:14 - oi[tinej
“os que” - contém dentro dele mesmo uma oposição que potencializa mais a noção
adversativa do texto. Ocorre aqui o recurso que faz parte de um processo de
“desqualificação do outro pela diluição de qualquer idéia de identidade”129.
129
BRANDÃO, p. 110.
150
Mas, essa indefinição é apenas aparente, pois, trata-se de um jogo argumentativo. A
indefinição de oi[tinej “os que” caiará por terra se analisarmos o texto em seu conjunto e
levarmos em conta, por exemplo, os versículos iniciais da Epístola . Daí o seu caráter
claramente argumentativo. O uso dos atenuadores da condição do grupo de “vós” é, no
entanto, interrompido nos vers. 4:14, 4:15 e 4:16. Nesses vers. , o grupo de “vós” está
marcado explicitamente pelos pronomes pessoais da Segunda pessoa do plural u`mw/n “de
vós”; u`ma/j “vós”; e u`mw/n “de vós”, respectivamente.
4:16 nu/n de. kauca/sqe (Infectum) evn tai/j kauca/sqe Estais vos
avlazonei,aij u`mw/n\ vangloriando
Mas agora vos estais vos vangloriando em
as presunções de vós.
Há uma razão para que o tratamento seja explícito ao grupo de vós e para que os
temas verbais estejam no Infectum. É que, o uso do aspecto verbal é argumentativo.
Trata-se do fechamento do raciocínio que se constitui todo ele em um ensinamento que
pode ser resumido num possível sub-tema. Esse sub-tema vincula a condição atual do
sujeito, mostrada por meio de suas ações marcadas no Infectum, com a noção de
efemeridade da vida; da relação homem/Deus; da relação homem/homem. Há
complexidade na construção do discurso que ora analisamos. Essa complexidade pode
151
ser identificada a partir do momento em que ele começa a ser considerado como um ato
de persuasão do locutor/destinador dentro de sua estratégia argumentativa. A estrutura
130
mostra a competência pragmática dos interlocutores. O caráter argumentativo se
mostra ao identificarmos os recursos e técnicas utilizadas por Tiago como, por exemplo:
02) O sentido adversativo do trecho, como um todo, que é dada pelas oposições
assinaladas acima, marcadas pelas conjunções/partículas, tanto expressas como
implícitas.
152
A PERÍCOPE 3:12 A 4:10
Além disso, o tema da natureza está vinculado à vida real dos destinatários já
que estreitamente ligado a fatos do espaço geográfico onde viviam; a sua sobrevivência
comunitária econômica; e às práticas e textos religiosos que lhes eram tão caros. Sem
131
Cf. BERTRAND, p. 213.
153
aprofundarmos o tema da vida real, apenas lembramos a água como um elemento
natural importante para a vida dos habitantes do Oriente Próximo, de onde se originam
os destinatários da epístola; da oliveira e seu fruto azeitona como fazendo parte da vida
econômica, doméstica; da presença de frutos como o figo, como sinal de fartura da
região. E, mais ainda, o uso à exaustão, de todos esses elementos, como símbolos nas
cerimônias religiosas, e como figuras discursivas, simbólicas e metafóricas, na
intertextualidade tanto vétero como neotestamentária. Outro destaque merecido, na
construção do argumento por analogia, é para a utilização pelo enunciador de elementos
sinestésicos. A utilização da técnica argumentativa por analogia é feita levando-se em
conta todo o cotexto onde os elementos sinestésicos aparecem, como se pode ver,
comparando-se:
3:14 eiv de. zh/lon pikro.n e;cete kai. Evriqei,na evn th/| kardi,a| u`mw/n(
3:14 Mas, se uma inveja amarga e um sentimento faccioso continuais a ter no
seu coração,
154
conhecimento (conforme já assinalamos acima). O conhecimento – saber - vem
marcado no sintagma do vers. 3:13 : Ti,j sofo.j kai. Evpisth,mwn evn u`mi/nÈ “Quem (é)
sábio e instruído/erudito em vós,”
155
com outros sub-temas, e o mais forte é da relação dos homens entre si, particularmente
centrado nos sub-temas da riqueza e da pobreza.
156
CAPÍTULO 09
O PARTICÍPIO GREGO
______________________________________________________________________
There are few languages which have equalled the Greek in the abundance
and variety of its use of the participle and certainly none has surpassed
it.132
Por que a questão participial está sendo vista como inserida na noção de
actorialização?
132
DANA, H. G. & MANTEY, Julius R. A manual grammar of the Greek New Testament. New York:
The Macmillan Company, 1941, p. 220.
133
GREIMAS, Algirdas Julien e COURTÉS, Jospeh. Dicionário de semiótica. São Paulo: Cultrix, 1999,
p. 34.
Isso porque consideramos o particípio grego como um fato enunciativo,
lingüístico, discursivo, narrativo e argumentativo: de um lado, introduzindo um
sujeito/actante do enunciado que, no discurso, é marcado na forma pelo gênero e
número134; de outro lado, a forma gramatical estabelecendo discursivamente na
narrativa uma ligação de coexistência argumentativa entre um sujeito e seu estado ou
ato. A ligação cria e atribui ao sujeito um papel actancial e um papel temático. Uma
ligação que contribuirá para a (des)construção da identidade desse ator, introdução de
temas, narrativizando fazeres e transformações. Argumentativamente, também, o ator
aparece referenciado como um “aquele que os que”, um ele, qualificado ou nomeado
pelo particípio de forma momentaneamente definitiva e estável. Um ele que age ou
sofre uma ação, ou é portador de um estado. O ator marcado pela visão temporal do
enunciador, na modalização aspectual verbal, já que o particípio “participa”, como seu
nome indica, da condição de verbo, além da condição de adjetivo ou mesmo de
substantivo, quando definido.
134
Marcações estas que servem tanto como dêiticos tanto como anáforas, fazendo ultrapassar esse ator do
nível da frase e se perpetuando ao longo do discurso. Cf. GREIMAS e COURTÉS, p. 35.
135
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1988,
p.142.
136
MAINGUENEAU, D. Novas tendências na análise do discurso. São Paulo: Ed. Unicamp, 1997, p. 18.
158
em conexão com a Semiótica, que se ocupa das práticas significativas, sejam
elas verbais ou de outra natureza.137
São pelas razões acima, que vemos a forma participial como uma marca
textual/discursiva, que se insere na actorialização. A escolha do particípio grego se
justifica, também, pelas amplas possibilidades que ele oferece para a construção de um
texto coeso e coerente.
137
MOSCA, Lineide do L. Salvador. Discurso publicitário e tradição retórica. In: LUMEN: Revista de
Estudos e Comunicações 5.11 (1999): 24.
159
O PARTICÍPIO GREGO NO DISCURSO
160
forma discursiva, que tem as características de uma asserção, sugerindo uma
competência enunciativa daquele que sabe e não tem medo de afirmar o que sabe.
Afinal, criar uma forma participial é criar um nome. O particípio é um nome. Ao criar
um nome o enunciador assume um poder fazer que reflete – pressupõe - uma
competência. Ao mesmo tempo, o sujeito criador do discurso mostra que é também
portador de um certo grau de adesão ao seu discurso.
SUJEITO
Designado pela forma participial
Relação discursiva Relação “interna” Relação discursiva
A QUE ESTÁ DIZENDO
2:23 kai. evplhrw,qh h` h` le,gousa( VEpi,steusen de. VAbraa.m tw/| qew/(|
grafh. kai. evlogi,sqh auvtw/| eivj
dikaiosu,nhn kai. fi,loj qeou/
evklh,qhÅ
138
DUBOIS, Jean et alii. Dicionário de lingüística. 10 ed. São Paulo: Cultrix, 1998, p. 414 .
161
2:23 E foi cumprida a que diz/a dizente: Acreditou Abraão em o deus e
/preenchida a escritura ele foi escolhido /pensado para a
justiça e amigo de Deus ele foi
chamado.
O esquema acima serve para qualquer relação deste tipo, em que há tanto
simultaneidade como anterioridade/posterioridade, de um acontecimento que é
considerado exterior a outro evento ou condição, visto como interior. Pode ser que
outros eventos estejam também muito próximos do sujeito, mas um evento é escolhido
como mais interior ou escolhido para ser focalizado. Esse evento é escolhido
argumentativamente pelo orador como ponto de partida ou estabilidade, ou considerado
mais ligado ao sujeito, no cotexto mais próximo. A maneira de expressar essa
estabilidade, esse ponto de partida, essa maior proximidade com o sujeito é feita, no
discurso grego, com o uso do particípio.
139
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Editora Ática, 1999, p. 78.
162
dêitica trazida pelo sufixo que funciona como um demonstrativo se referirá a sujeitos
discursivos diferentes. Essa polissemia da forma participial a torna muito semelhante às
características polissêmico/discursivas dos dêiticos em geral, pois, se no sistema, o
dêitico tem um significado primeiro que é único - o de apontar para um referente
qualquer -, no discurso ele tem sentidos diferentes que dependem do cotexto, dos fatos
ou sujeitos para os quais os dêiticos apontam. A partir do momento em que é designado
pela forma participial, o ator não passa a ser mais um ser com indefinição total. Ele
passa a ter uma definição em função da relação que se estabelece entre ele e seu estado
ou ação. O sujeito passa a ser construído como uma identidade discursiva, constituindo-
se assim como um ator já que, cf. Greimas: “...seu (do ator) conteúdo semântico próprio
parece consistir essencialmente na presença do sema individualização que o faz
aparecer como figura autônoma do universo semiótico.”140 Ao mesmo tempo, tem-se
um ator com a potencialidade de ter vida própria dentro do discurso e de estabelecer
novas relações, agir ou sofrer ações, e adquirir um estado. Em qualquer tempo, a relação
da forma participial com os outros eventos, no que se refere a sua modalização
temporal, vai ser sempre a mesma, mesmo que os verbos das orações principais estejam
no passado, no presente ou no futuro. A forma escolhida do particípio é sempre a
mesma, seja qual for a referência temporal externa, o que demonstra que a visão que se
tem, é interna, isto é, a expressão escolhida para nomeá-la prioriza o que se chama
aspecto verbal e, no grego, isso aparece na morfologia do tema verbal.
140
GREIMAS e COURTÉS, p. 34.
163
COMPONENTE ARGUMENTATIVO DO PARTICÍPIO
Uma pergunta seria: qual a função desta coisificação do sujeito ligado à sua
condição?
141
TA, pp. 333-334.
164
transitório, para fins de (des)construção de um sujeito. Ela só é natural (ou essencial)
nas narrativas em que os enunciados tentam criar um simulacro de identidade definitiva
para o sujeito, na Epístola de Tiago, por exemplo, quase sempre o destinatário. É
importante assinalar o fato de que o vínculo é transitório, apesar de conferir certa
estabilidade ao ator, tendo objetivos meramente discursivos. Isso porque, se o vínculo
fosse considerado permanente, o enunciador estaria podando a possibilidade de
transformações desse mesmo ator no restante do discurso.
142
Mas, como o próprio nome exprime, metoch, (“participação”), o particípio é nome (adjetivo) quanto à
forma, mas não perde sua natureza verbal e suas relações com o sujeito e complementos se mantêm
intactas: ele pode ser ativo, médio e passivo. E, se é transitivo, continua a procurar (aivte,w - eu busco) o
seu complemento (termo do ato verbal). Cf. MURACHCO, Vol. 1, p. 274.
165
uma causa que pôde determiná-lo; C) as que, sendo dado um acontecimento,
tendem a evidenciar o efeito que dele deve resultar.143
Uma das funções mais expressivas e mais evidentes das formas participiais
gregas é funcionar, como recurso tanto de coesão como de coerência, contribuindo para
a progressão textual. Como se concretiza essa função de progressão textual, criando a
coesão e a coerência?
143
TA, pp. 299-300.
144
TA, p. 333.
166
instituem na atividade da linguagem entre os indivíduos que a utilizam,
atividade esta que se inscreve sistematicamente no interior da própria língua.
Portanto, para que possa chegar a uma intelecção mais aprofundada do texto,
o educando precisa ser preparado para reconhecer essas marcas. Entre elas,
podem-se citar, a título de exemplo:os tempos e modos verbais; o posto, o
pressuposto e o subentendido; as modalidades (lógicas, avaliativas,
deônticas); a topicalização e, na linguagem falada, a entonação (representada,
em parte, pela pontuação na escrita); os diversos tipos de referência
anafórica, destacando-se aquela que se faz por meio de expressões
referenciais definidas; os itens lexicais que funcionam como operadores
argumentativos (ou operadores de discurso); a maneira como o emissor
interrelaciona, no texto, diversos campos lexicais, de maneira a produzir
novas significações; certas redundâncias intencionais; recursos gráficos e
estilísticos de valor argumentativo145 (negritos nossos).
167
particípio grego tem características morfológicas bem distintas do particípio português.
Essas características morfológicas, seguindo a lógica de que uma mudança de forma
produz mudanças no significado, trazem para o discurso funções também distintas. Os
particípios gregos já contêm na sua forma o sujeito da proposição principal, o que
facilita na construção discursiva. A facilidade trazida pela forma participial grega evita
as dificuldades que são inerentes ao emprego da forma participial portuguesa. No grego,
a expressão participial é um instrumento lingüístico de nomeação, cuja expressão é
explícita. Já no português, a expressão nomeadora está implícita: conforme Aposthéloz
e Chanet146 “........ em que a nomeação não é outra senão o sujeito zero da proposição
participial.”
168
impossibilidade de mudança, quando se trata de uma pessoa.148 Os particípios
substantivados na epístola de Tiago estão listados no quadro a seguir:
148
TA, p. 335ss.
169
PARTICÍPIOS – LEITURA/ANÁLISE
PERÍCOPE 2:20-26
2:20 qe,leij de. gnw/nai( w= a;nqrwpe kene,( o[ti h` pi,stij cwri.j tw/n e;rgwn
avrgh, evstinÈ
2:20 Oh! Ser humano vazio! Tu estás querendo saber porque a fé separada
dos trabalhos é inativa ?
2:21 VAbraa.m o` path.r h`mw/n ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh avnene,gkaj VIsaa.k to.n
ui`on. auvtou/ evpi. to. qusiasth,rionÈ
2:21 O nosso pai Abraão não foi “justificado” a partir dos trabalhos, tendo
levado para cima/oferecido Isaac, o seu filho, sobre o altar do sacrifício?
2:22 ble,peij o[ti h` pi,stij sunh,rgei toi/j e;rgoij auvtou/ kai. evk tw/n e;rgwn h`
pi,stij evteleiw,qh(
2:22 Tu estás vendo/vês que a fé trabalhava/estava trabalhando junto com os
trabalhos dele e que a partir/ dos trabalhos a fé foi completada?
2:23 kai. evplhrw,qh h` grafh. h` le,gousa( VEpi,steusen de. VAbraa.m tw/| qew/(| kai.
evlogi,sqh auvtw/| eivj dikaiosu,nhn kai. fi,loj qeou/ evklh,qhÅ
2:23 E foi cumprida/preenchida a escritura, a que diz/a dizente: “Acreditou
Abraão em o deus e ele foi escolhido/pensado para a justiça e amigo de Deus
ele foi chamado.
2:24 o`ra/te o[ti evx e;rgwn dikaiou/tai a;nqrwpoj kai. ouvk evk pi,stewj mo,nonÅ
2:24 Começai a ver/continuai a ver que a partir dos trabalhos um ser humano
é justificado/posto de acordo com, e não somente a partir da fé
2:25 o`moi,wj de. kai. ~Raa.b h` po,rnh ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh u`podexame,nh
tou.j avgge,louj kai. e`te,ra| o`dw/| evkbalou/saÈ
2:25 Da mesma forma, também, Raab a meretriz não foi justificada a partir
dos trabalhos, tendo acolhido os mensageiros e os tendo enviado por outro
caminho ?
2:26 w[sper ga.r to. sw/ma cwri.j pneu,matoj nekro,n evstin( ou[twj kai. h` pi,stij
cwri.j e;rgwn nekra, evstin
2:26 Pois assim como o corpo separado do espírito está morto, assim também
a fé separada dos trabalhos está morta.
170
O modo de referenciar o interlocutor nos faz pensar que a assertiva, contida
dentro da pergunta, está sendo dirigida ao destinatário, visto como fazendo parte de um
auditório maior: o auditório universal, constituído por todos os seres humanos. Pois, se
o enunciador tivesse como intenção focalizar o interlocutário na sua condição de
auditório particular, as doze tribos na dispersão, poderia utilizar outra figura para
discursivizar o destinatário, como, por exemplo, o vós, abundantemente utilizado na
epístola. No entanto, mesmo que, o orador tenha como foco a natureza humana do
auditório, desprovido de outras vinculações particulares, permanecem ainda no discurso
as marcas que indicam que o destinatário ainda é o mesmo auditório particular das doze
tribos na dispersão. É o que se constata nos pontos de partida da argumentação da
perícope, os quais levam em conta fatos, valores e verdades que fazem parte de acordos
entre o orador e o auditório. “Oh! Ser humano vazio” w= a;nqrwpe kene, - o interlocutário
para quem o enunciador dirige a pergunta - é certamente um dos membros do grupo
doze tribos na dispersão. Usando a expressão w= a;nqrwpe que se dirige a um ser humano
universal, certamente a assertiva contida no argumento insere o destinatário, na
condição humana que tem capacidade de saber, pois a pergunta, que contém a assertiva
da pergunta retórica, inicia-se com qe,leij de. gnw/nai “tu estás querendo saber?”.
Destaque-se que, além de vincular a potencialidade do saber com o ser humano
universal, também é usado no início da pergunta o verbo “querer” qe,lein. Com o uso do
verbo querer, o enunciador está admitindo implicitamente que dentro dos seres humanos
universais há duas capacidades, modalidades: querer e saber.
A pergunta, entretanto, está levando em conta, ao mesmo tempo, que a ação está
em curso, pois se inicia com um verbo no aspecto Infectum. O modo de dizer que utiliza
o verbo no aspecto Infectum na pergunta qe,leij “tu estás querendo começar a” ou “tu
estás continuando a”, agrega a idéia do contínuo, inacabado ou de incoatividade.
Aparece aqui o pressuposto de que a pergunta se vincula à falta de sabedoria, uma
condição presumida já no vers. 1:5, início da epístola: Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,a, j
“E se, dentre vós, alguém está precisando/carecendo/faltante de sabedoria”. Lá, no vers.
1:5, a falta de sabedoria também é tida como em curso, pois o orador se utiliza também
do verbo no aspecto infectum.
171
A seguir, para assinalar o foco da pergunta como mera menção, o verbo gnw/nai
“saber” que serve como objeto, para o qual o querer se dirige, está no aspecto verbal
pontual. Ora, isso serve como um pequeno refreamento a todo o argumento, uma vez
que o objeto do querer – o saber - não está sendo considerado como já em curso. Nesse
momento, o orador mostra um éthos brando, pois respeita a condição em que se
encontra o interlocutário. Ele não impõe o saber com um efeito de realidade que seria
criado se utilizasse o verbo gnw/nai no aspecto verbal infectum.
Há ainda algumas marcas textuais que merecem ser apontadas: uma é que o
destinatário faz parte de um enunciado com o nome a;nqrwpe “ser humano” no vocativo,
outra é que ele está sendo qualificado como kene, “vão/vazio”. As marcas
argumentativas apontam o cotexto no qual estão inseridos os dois particípios, que são
realmente o foco de nossa leitura/análise. Os particípios que se encontram na perícope
2:20-26 estão listados no quadro abaixo:
172
O que se observa na relação acima? Observa-se que todos os particípios da
perícope estão com temas verbais do aspecto pontual, os quais trazem a noção de
anterioridade, em relação à ação ou ao estado do verbo da oração principal. O cotexto é
narrativo. Os investimentos figurativos todos fazem parte também de um contexto
inserido em fatos e valores bem conhecidos do grupo de destinatários. Tanto o episódio
de Abraão, como de Raab, bem como o trecho da escritura faz parte do contexto cultural
e, mais ainda, religioso dos destinatários, já que são exemplos tirados do Antigo
Testamento. As perguntas que fazem parte da narrativa, nas quais os particípios pontuais
estão inseridos, levam em conta o conhecimento compartilhado do orador/auditório, e
são perguntas retóricas. Qual o objetivo do orador em usar os particípios, neste pequeno
percurso narrativo, que vai de 2:20-26?
O objetivo é usar o particípio como fazendo parte de uma argumentação que vincula
o ato à pessoa. Assim sendo:
01. O uso dos particípios avnene,gkaj - u`podexame,nh - evkbalou/sa torna as ações algo
essencial, para o grupo, no qual o orador está querendo inserir os atores Abraão e
Raab. Não estamos falando agora do grupo dos destinatários da epístola, e sim do
grupo mais geral de seres humanos, o qual se insere numa nova relação com Deus
por meio de suas ações objetivas, as quais estão marcadas na forma participial
juntamente com o sujeito que as pratica.
02. O uso do particípio em h` le,gousa está tornando o fato mais verdadeiro. O fato a que
nos estamos referindo é o fato da escritura “estar dizendo” - a que estava dizendo –
no aspecto verbal infectum, simultâneo ao acontecimento principal, exatamente o
que ocorreu posteriormente. Aqui não é uma ligação de coexistência entre
ato/pessoa, mas de um objeto. É claro que a escritura não pode falar por si só. Usa-
se aqui uma figura, o texto da escritura é antropormofizado, metaforicamente, como
tendo a capacidade de dizer, de escolher.
03. Um fato a destacar é que, com o uso desta metáfora se observa, que lingüisticamente
o orador coloca a expressão escrita como tendo o mesmo valor lingüístico da
173
expressão oral, pois “o texto escrito” h` grafh. para o enunciador tem a capacidade
de falar le,gw “eu escolho, eu falo, eu digo”. O orador não faz diferença, no seu
discurso, entre escrita e fala.
VERSÍCULO 4:17
4:17 eivdo,ti ou=n kalo.n poiei/n kai. Mh. poiou/nti( a`marti,a auvtw/| evstinÅ
4:17 Portanto, sabendo fazer/produzir bem/com eficácia e não
fazedor/estando fazendo/ao mesmo tempo não estando fazendo está sendo
para ele um pecado/ um não atingimento da meta.
A sanção a`marti,a auvtw/| evstin “está sendo pecado para ele” é atribuída porque o
sujeito está na condição/estado de saber. Para caracterizar bem o estado/condição de
saber, o enunciador usa o particípio eivdo,ti. A utilização do particípio caracteriza bem a
intenção argumentativa do enunciador, quando se utiliza da técnica da ligação de
coexistência entre a pessoa e seu estado. A argumentação adquire mais força porque a
ligação é feita com o particípio no aspecto Perfectum/acabado, mostrando a junção
indissociável do actante com a sua condição. Discursivamente, o estado do sujeito é
momentaneamente estável. Argumentativamente, o enunciador considera que essa
ligação é um fato que justifica a “sanção” aplicada. A sanção é considerar o “não
estando fazendo/ao mesmo tempo não estando fazendo” mh. poiou/nti, como pecado:
a`marti,a auvtw/| evstin “pecado para ele está sendo”.
Utilizamos a palavra sanção entre aspas para levantar uma questão tradutória
relevante e que pode conduzir nossa leitura/análise para uma direção diferente. Trata-se
da tradução da palavra a`marti,a. A tradução da palavra a`marti,a pelo português “pecado”
174
é uma tradução legalista ou que adquiriu historicamente essa conotação. Mas, do ponto
de vista do éthos do enunciador e do páthos que se cria do enunciatário, uma tradução
diferente certamente estaria mais coerente com a proposta da (des) construção da
identidade do destinatário e do tema da busca de sabedoria, no caminho, os quais estão
sendo construídos em toda a epístola.
Se traduzirmos a palavra a`marti,a por “errar o alvo, errar a direção para onde se
vai”, a sanção seria a previsão de um estado a ser evitado e não com o caráter de uma
sanção negativa legalista. O hvq, oj “éthos” do enunciador também se transforma, já que
de juiz o enunciador passa a ser um ensinador. A tradução de a`marti,a por “errar o alvo”
seria também perfeitamente possível, levando-se em conta o recurso do sistema da
língua grega que usa aqui, no mesmo enunciado, o acusativo no sintagma kalo.n poiei/n.
O acusativo como direção para a qual se dirige o sujeito, isto é a direção kalo,j
“correta/eficaz/boa” para o alvo certo do fazer, marca do saber buscado.
UM ACTANTE - “ELE”
Marcado no texto por
Forma lexical Tradução Categoria Aspecto
gramatical
auvtw/| Para ele Pronome
eivdo,ti ele estando sabendo/sabedor Forma participial Perfeito
mh. poiou/nti ele não estando fazendo Forma participial Infectum
175
No enunciado há as modalizações da competência saber/fazer e da performance
não/fazer. A modalização da competência - saber/fazer - eivdo,ti “estando sabendo” - está
marcada no particípio, pelo aspecto verbal do Perfectum/acabado.
eivdo,ti ou=n kalo.n poiei/n kai. mh. poiou/nti( a`marti,a auvtw/| evstinÅ
(Ele) Errar o alvo/ Para ele é
4:17 eivdo,ti ou=n kalo.n poiei/n kai. Mh. poiou/nti( Pecado
a`marti,a auvtw/| evstinÅ
4:17 Portanto, sabendo fazer/produzir bem/com
eficácia e não fazedor/estando fazendo/ao mesmo
tempo não estando fazendo está sendo para ele um
pecado/ um não atingimento da meta.
149
Disciplina “Tópicos da Teoria da Enunciação”, Profa. Dra. N. Discini, 2003. Anotações de aula.
176
observador/enunciador.
Note-se que, o conjunto é formado, também argumentativamente, pelo conetivo
kai. “e, também, mesmo, até”. Esse conetivo tanto auxilia a somar as duas maneiras de
se olhar para o actante, como auxilia a separar as duas características desse mesmo
actante, as quais o orador quer enfatizar:
kai. .... é o conetivo somatório, aditivo, e por isso separativo (na mesma
medida em que dois objetos precisam de um conetivo, nessa mesma medida
eles revelam que estão separados) (grifos nossos).150
Há, porém, um fato que permanece em suspenso, o qual precisa ser decifrado
para que o discurso ora analisado possa ser considerado coerente. Trata-se da questão
que já mencionamos acima: O sujeito “ele”, mencionado neste vers. 4:17,
paradoxalmente no contexto imediato não é possível ser identificado. De início,
conforme já mencionamos, o sujeito parece ser retirado do grupo “dos que falam, dos
que estão falando”, tradução da forma participial oi` le,gontej actante mencionado em Tg
4:13. Mas, a inserção da forma participial no contexto mais amplo do discurso que vai
de 4:1 à 4:17 é que nos permite identificar qual o sujeito que está sendo referido em
4:17.
PERÍCOPE 1:5-8
1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( aivtei,tw para. tou/ dido,ntoj qeou/ pa/sin
a`plw/j kai. mh. ovneidi,zontoj kai. doqh,setai auvtw/Å|
1:5 E se, dentre vós, alguém está precisando/carecendo/faltante de sabedoria,
que ele busque/que ele entre no ato de buscar, da parte do Deus doante/que
está doando a todos, simplesmente, e que não censura /não está agredindo e
ser-lhe-á dada.
1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken
klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw|Å
1:6 Que ele busque/entre no ato de buscar com fé, e não fazendo julgamentos
atravessados/ considerações/discriminações, pois o que está fazendo
julgamentosatravessados/ considerações/ discriminações parece uma onda do
mar, que está sendo agitada/empurrada e soprada pelo vento.
150
MURACHCO, Vol. 1, p. 657.
177
1:7 mh. ga.r oives, qw o` a;nqrwpoj evkei/noj o[ti lh,myetai, ti para. tou/ kuri,ou
1:7 Pois, diga a ele - aquele ser humano/o ser humano aquele - que não
pense/não comece a pensar /não continue pensando, que receberá algo da
parte do Senhor.
Para dar ênfase ao fato ao qual se refere, ou seja, a junção do sujeito com a sua
característica, qualidade, adjetivação, o orador utiliza-se da forma participial no aspecto
infectum - diakrino,menoj - e passa a chamá-lo levando em conta essa qualidade:o
sujeito é “o que está fazendo juízos atravessados”, e por extensão: “o discriminador, o
considerante, o considerador, o julgante, o julgador”.
178
Na argumentação, quando há uma ligação entre o ato e a pessoa, com fins
argumentativos, a técnica, como já vimos, se chama ligação de coexistência. No uso do
particípio diakrino,menoj podemos considerar que há a utilização dessa técnica, pois
fazer “julgamentos atravessados”, pode ser visto como uma ligação entre o sujeito e um
ato: o ato discursivo. Com a ligação estabelecida, ocorre um isolamento, ao qual já nos
referimos na introdução deste trabalho. O sujeito passa a ser designado daí por diante
com este nome, que caracteriza sua ligação com o ato/qualidade. Ao mesmo tempo, o
sujeito adquire a potencialidade de ser predicado por verbos de estado, ou de ação, nas
formas ativas ou passivas.
Cabe destacar que, além da relação de simultaneidade o tema participial que está
dando nome ao sujeito também agrega a idéia de continuidade/progresso. Assim, o
sujeito não é apenas mencionado num agora simultâneo com a ação do verbo da oração
principal. Na ação da oração principal, o julgador também é sujeito, participando,
portanto, de uma outra relação a qual chamamos externa.
179
Caberia perguntar - levando em conta o aspecto na denominação do sujeito por
um particípio que dá ênfase a uma ação: as noções acima, podem ser levadas em conta
na leitura/análise do discurso na tentativa de aspectualização do ator?
Num primeiro momento cremos que sim, pois se, no discurso, identificarmos
um grande número de vezes em que o enunciado se refere ao sujeito por meio desse
recurso, poderemos deduzir que a ênfase que o orador está querendo dar é nas ações
contínuas do sujeito e não nos seus estados151.
Por outro lado, a ação contínua cria condições para que um estado se crie e se
sustente. A referência à junção, entre S + qualidade na forma participial, pode estar
dando uma estabilidade discursiva à identidade do sujeito, ainda que momentânea.
Referindo-se dessa forma, o enunciador pode criar uma aspectualização de estado para o
ator. Um efeito de realidade que visa a (des)construção de sua identidade.
Finalmente, uma leitura necessária, e que é trazida pelo sistema da língua grega,
é assinalar que o verbo diakri,nomai está na Voz Média. Ora, este recurso gramatical
semantiza a ação contínua do sujeito como uma ação com a qual o sujeito está
visceralmente envolvido. O particípio diakrino,menoj, pois, está centralizando todo o
efeito de sentido do discurso na pessoa do sujeito, utilizando-se de dois recursos
gramaticais, do sistema grego: o aspecto e a voz. Esse significado se perde nas
traduções para a língua portuguesa, e com isto também os efeitos de sentido trazidos
pelo uso do particípio.
151
O número de temas verbais do aspecto infectum é significativamente maior do que os que se valem do
aspecto aoristo e do aspecto perfeito. Como o discurso de Tiago é centrado no destinatário, deduz-se que
a ênfase está na presentificação das ações deste sujeito.
180
CAPÍTULO 10
O ORADOR E O AUDITÓRIO
______________________________________________________________________
152
TA, pp. 15-70.
identificação do orador como “servo” dou/loj o situa num lugar tópico dentro de uma
hierarquia do grupo e lhe confere dois status simultâneos: um de autoridade e outro de
subordinação. Com o status de subordinado, o orador se apresenta perante o auditório
como hierarquicamente abaixo de seu Senhor, conforme mesmo os costumes que a
própria intertextualidade neotestamentária corrobora e argumenta. Já, com o status de
autoridade, o orador se apresenta como hierarquicamente superior ao auditório. Nessa
posição, ele representa como “servo” dou/loj, aquele que faz as recomendações em nome
do seu Senhor, conforme também a própria intertextualidade neotestamentária assinala:
Mt 10:24 Ouvk e;stin maqhth.j u`pe.r to.n dida,skalon ouvde. dou/loj u`pe.r to.n
ku,rion auvtou/Å
Mt 10:24 O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do
seu senhor. (tradução da ARA).
Lc 7:8 kai. ga.r evgw. a;nqrwpo,j eivmi u`po. evxousi,an tasso,menoj e;cwn u`pV
evmauto.n stratiw,taj( kai. le,gw tou,tw|( Poreu,qhti( kai. poreu,etai( kai.
a;llw|(:Ercou( kai. e;rcetai( kai. tw/| dou,lw| mou( Poi,hson tou/to( kai. poiei/Å
Lc 7:8 Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados
às minhas ordens, e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao
meu servo: faze isto, e ele o faz. (tradução da ARA).
Tudo que está sendo dito pode ser óbvio, como realmente é, no entanto, essa
obviedade de interpretação corrobora uma argumentação e mesmo ilustra com precisão
uma teoria da argumentação. Do ponto de vista argumentativo estão aqui marcados
vários elementos que são fundamentais para os âmbitos da argumentação da Epístola.
182
Já no primeiro versículo, estão assinalados e marcados textualmente dois
protagonistas indispensáveis da estrutura argumentativa: O orador e seu auditório. O
TA, discorre exaustivamente na sua primeira parte sobre esses elementos e dedica o
título “O orador e seu auditório”153 ao parágrafo 03, da Primeira Parte: “Os âmbitos da
argumentação”. Além desse parágrafo, em toda a primeira parte os autores assinalam a
importância desses dois elementos. Delimitar o auditório é definir o grupo de pessoas
que o orador quer influenciar com sua argumentação:
Vê-se, pois, que as identificações do primeiro versículo da Epístola não são mera
formalidade e sim procedimentos funcionais que, a partir do início, começam a
estruturar e caracterizar o discurso como argumentativo. Mesmo a formalidade da
apresentação que segue um padrão social, também presente na Epístola, revela uma
maneira de ser - um hvq, oj “éthos” do orador - que funciona como uma condição prévia
valiosa para o funcionamento de uma interação: “Em nosso mundo hierarquizado,
ordenado, existem geralmente regras que estabelecem como a conversa pode iniciar-se,
156
um acordo prévio resultante das próprias normas da vida social.” . Além disso, a
153
TA, p. 22.
154
TA, p. 22.
155
TA, p. 22.
156
TA, p. 17.
183
própria identificação do orador como servo, que aponta ao mesmo tempo para uma
subordinação e para uma autoridade, está certamente inserida num tema/pergunta da
Epístola, que identificamos e, ao mesmo tempo, constituímos como um das hipóteses
presentes em nossa tese, qual seja: quem pode ou tem competência para se instituir
como sujeito discursivo no meio do grupo?
157
MAINGUENEAU, Dominique. Pragmática para o discurso literário. São Paulo: Martins Fontes,
1996, pp. 64-65.
184
início da Epístola e discorreremos a seguir sobre os tipos de auditórios do ponto de vista
do TA, possíveis de serem identificados no discurso ora analisado.
Se, por um lado, as marcas discursivas no vers. 1:1, que nomeiam o auditório
como “para as doze tribos aquelas na diáspora, saudações/bem vindos” tai/j dw,deka
fulai/j tai/j evn th/| diaspora/| cai,rein, apontam para um auditório ou destinatário
coletivo, um grupo, por outro lado, as referências aos sujeitos que se instituem como
sujeitos discursivos no decorrer da Epístola apontam outros tipos de auditório como: um
orador que fala perante um auditório constituído por um único ouvinte, ou um orador
que se institui ele mesmo como seu próprio auditório, ou seja que delibera consigo
mesmo. Esses dois tipos de auditório, que são preliminarmente apontados e estudados
dentro dos âmbitos da argumentação, na Primeira parte do TA, aparecem no discurso de
Tiago desempenhando também uma função argumentativa. Uma descrição “fria” do
conteúdo dos ensinamentos é perfeitamente admissível num texto meramente didático
ou mesmo num conjunto de leis que têm por objetivo ensinar. No entanto, num texto
argumentativo, em que o objetivo é persuadir e convencer com vistas à adesão de seu
auditório, o orador vai criando a própria maneira de se referir e, ao mesmo tempo, se
dirigir ao auditório.
1:26 Ei; tij dokei/ qrhsko.j einai mh. calinagwgw/n glw/ssan auvtou/ avlla.
avpatw/n kardi,an auvtou/( tou,tou ma,taioj h` qrhskei,aÅ
1:26 Se alguém está parecendo ser um religioso/fazedor religioso e, ao
mesmo tempo, não estando refreando a sua língua, mas
enganando/continuando a enganar o seu oração, a religião dele é vã/sem
valor.
185
1:27 qrhskei,a kaqara. kai. avmi,antoj para. tw/| qew/| kai. patri. au[th evsti,n(
evpiske,ptesqai ovrfanou.j kai. ch,raj evn th/| qli,yei auvtw/n( a;spilon e`auto.n
threi/n avpo. tou/ ko,smouÅ
1:27 Um fazer religioso/religião pura e sem defeito/sem mancha junto de
Deus e pai é esta: visitar/estar olhando órfãos e viúvas, nas suas necessidades
e conservando-se/preservando-se a si mesmo sem mancha do mundo.
186
se: cumpre provar o ponto contestado, informar-se das razões da resistência
do interlocutor, penetrar-se de suas objeções: o discurso degenera
invariavelmente em diálogo. É por isso que, segundo Quintiliano, por causa
do aspecto mais denso da argumentação, Zenão comparava a dialética, como
técnica do diálogo, a um punho fechado, enquanto a retórica lhe parecia
semelhante à mão aberta158 (negritos nossos).
158
TA, pp. 39-40.
187
aparecem no discurso de Tiago o resultado dessa persuasão e o elemento do grupo que
foi isolado. Como diria a Semiótica, o actante é apresentado como um sujeito
manipulado, desempenhando os dois papéis: o de manipulador e o de manipulado. Ver,
por exemplo, o versículo:
1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw o(ti VApo. qeou/ peira,zomai\ o` ga.r qeo.j
avpei,rasto,j evstin kakw/n( peira,zei de. auvto.j ouvde,naÅ
1:13 Ninguém ao mesmo tempo que está sendo envolvido/provado/tentado
(ele) diga/comece a dizer/ continue a dizer “da parte de Deus eu estou sendo
envolvido/provado/tentado”, pois o Deus não é envolvedor/tentador
maldoso/para o mal - suscetível de tentação a partir dos males. Ele mesmo
ninguém envolve/testa/tenta.
159
TA, p. 15.
160
TA, p. 16.
188
Testamento e agregado às novidades trazidas pelo texto do Novo Testamento até a data
do discurso da Epístola. As marcas desse conhecimento compartilhado, formando uma
comunidade intelectual, aparecem nas histórias reproduzidas, nas figuras, nos temas, nas
personagens bíblicas bem conhecidas, nas citações diretas ou indiretas, na menção às
escrituras. Já o debate de questões determinadas, tais como aparecem no decorrer do
texto, refere-se à falta a falta de sabedoria, a instituição do membro do grupo como
sujeito discursivo, ser ou não ser religioso, agir ou não agir para homologar a vontade
do sujeito com a vontade de Deus.
As diversas questões que serão “postas na mesa” pelo orador gravitam em torno
de uma questão fundamental para um membro das doze tribos: como continuar a ser
religioso mesmo aderindo às propostas da Epístola? Tiago assinala essa questão,
respondendo no vers. 1:27:
1:27 qrhskei,a kaqara. kai. avmi,antoj para. tw/| qew/| kai. patri. au[th evsti,n(
evpiske,ptesqai ovrfanou.j kai. ch,raj evn th/| qli,yei auvtw/n( a;spilon e`auto.n
threi/n avpo. tou/ ko,smouÅ
1:27 Um fazer religioso/religião pura e sem defeito/sem mancha junto de
Deus e pai é esta: visitar/estar olhando órfãos e viúvas, nas suas necessidades
e conservando-se/preservando-se a si mesmo sem mancha do mundo.
189
CAPÍTULO 11
A DISCURSIVIZAÇÃO DO DESTINATÁRIO
______________________________________________________________________
PERÍCOPE 1:2-8
Nessa primeira perícope, 1:2-8, entre um uso avdelfoi, mou “meus irmãos” e outro
o` avdelfo.j o` tapeino.j “o irmão o humilde”, encontramos: um pronome indefinido tij
“alguém”; um pronome pessoal u`mw/n “dentre vós”; o substantivo designativo do “ser
humano” em geral, com sua natureza própria, o` a;nqrwpoj “o ser humano"; o pronome
demonstrativo evkei/noj “aquele”; e o substantivo avnh.r “um homem”, que dá nome ao ser
humano de sexo masculino, acrescido de um qualificativo indicativo de sanção di,yucoj
“mente dupla”. A escolha do pronome indefinido é recurso argumentativo que faz parte
do que é chamado técnica de refreamento161 . A referida técnica tem como objetivo
161
Na análise da perícope 4:13-17, a seguir, esta técnica será novamente abordada.
diminuir a solidariedade entre o ato e a pessoa. Isto ocorre porque a distinção ato/pessoa
fica bem marcada e serve para que se atribua um ponto de vista mais favorável para com
o sujeito da ação. Destaque-se, no entanto, que a importância do ato não está
minimizada. Pelo contrário, em 1:5 o efeito de presença da ação está potencializado
pelo uso dos aspectos Infectum nos temas verbais aos quais se referem às ações do
sujeito “vós”, aqui referenciado como um sujeito hipotético tij “alguém”.
1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( aivtei,tw para. tou/ dido,ntoj qeou/ pa/sin
a`plw/j kai. mh. ovneidi,zontoj kai. doqh,setai auvtw/Å|
O único tema verbal pontual do versículo é o futuro doqh,setai “ela será dada”,
que não é ação exercida pelo sujeito, mas uma ação a ser sofrida por ele, que se vai se
constituir na atribuição de uma sanção positiva, uma aquisição por doação. Nesse
momento, o tratamento ao membro do grupo é por meio do pronome oblíquo auvtw//| “a
ele/lhe/para ele”. É como se a ação estivesse sendo realçada, mas rodeada por uma
pessoa hipotética e uma recompensa – sanção - a ela destinada.
191
natureza no vers. 3:7; e a uma característica que lhe é atribuída como essencial a partir
da criação, no vers. 4:5.
PERÍCOPE 1:9-15
VERSÍCULOS 1:16-19
1:18 boulhqei.j avpeku,hsen h`ma/j lo,gw| avlhqei,aj eivj to. einai h`ma/j avparch,n
tina tw/n auvtou/ ktisma,twnÅ
1:18 Tendo tido vontade, ele nos colocou no mundo (gerou) pela palavra da
“verdade” para nós sermos uma (certa) primícia das criaturas dele.
192
PERÍCOPE 1:19-27
PERÍCOPE 2:1-4
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/
kuri,ou h`mw/n VIhsou/ Cristou/ th/j do,xhjÅ
2:1 Meus irmãos não tenhais/continuais a ter em parcialidade/distinção
de pessoas, a fé do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.
2:2 evan. ga.r eivse,lqh| eivj sunagwgh.n u`mw/n avnh.r crusodaktu,lioj evn
evsqh/ti lampra/(| eivse,lqh| de. kai. ptwco.j evn r`upara/| evsqh/ti(
2:2 Se, pois, entrar dentro da sinagoga de vocês um homem masculino
que tem um anel de ouro com veste brilhante, mas, também, se entrar
um pobre com veste comum.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai.
ei;phte( Su. ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h'
ka,qou u`po. to. u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e
disserdes: senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao
pobre disserdes: coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar
abaixo do lugar de colocar o meu pé/meu escabelo.
193
discursivamente, se introduz dentro da narrativa como uma personagem que faz parte do
grupo a quem se dirige. Sua integração ao grupo se dá por meio do uso do pronome
possessivo h`mw/n “de nós, nosso”. No vers. 2:2, o tratamento u`mw/n “dentre vós” é
indireto mas também se refere ao grupo como “vós”. Dois subgrupos são representados
por meio de qualificativos, usando-se tanto adjetivos como particípios. As adjetivações
qualificam o designativo do ser humano masculino avnh.r. O ser masculino faz parte do
grupo maior de ”vós”, pois freqüenta a sinagoga: eivj sunagwgh.n u`mw/n “para dentro da
sua sinagoga”.
PERÍCOPE 2:5-13
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/|
ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato
toi/j avgapw/sin auvto,nÈ
2:5 Escutai, meus irmãos amados: o deus não escolheu os pobres no mundo,
ricos em fé e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão amando?
2:6 u`mei/j de. hvtima,sate to.n ptwco,n ouvc oi` plou,sioi katadunasteu,ousin
u`mw/n kai. auvtoi. e[lkousin u`ma/j eivj krith,riaÈ
2:6 Vós desonrastes o pobre. Não (são) os ricos (que) estão
oprimindo/tiranizando no meio de vós e também (não são) eles que estão
arrastando vocês para dentro dos tribunais?
2:7 ouvk auvtoi. blasfhmou/sin to. kalo.n o;noma to. evpiklhqe.n evfV u`ma/jÈ
2:7 Não (são) eles que blasfemam o bom nome, o que foi invocado sobre vós
?
2:8 eiv me,ntoi no,mon telei/te basiliko.n kata. Th.n grafh,n(Vagaph,seij to.n
plhsi,on sou w`j seauto,n(kalw/j poiei/te\
2:8 Se, não obstante, uma lei régia cumpris/estais completando de acordo
com a escritura : “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” , estais fazendo
bem/com eficácia.
2:9 eiv de. proswpolhmptei/te( a`marti,an evrga,zesqe evlegco,menoi u`po. tou/ no,mou
w`j paraba,taiÅ
2:9 Mas se vós continuais fazendo distinção de pessoas, estais trabalhando
pecado/errando o alvo, sendo acusados/censurados pela lei como
violadores/parabátes.
2:10 o[stij ga.r o[lon to.n no,mon thrh,sh| ptai,sh| de. Evn e`ni,( ge,gonen pa,ntwn
e;nocojÅ
2:10 Qualquer um, pois, que toda a lei guardar mas em um (ponto) tropeçar
acaba de se tornar exposto a todos os outros.
2:11 o` ga.r eivpw,n( Mh. moiceu,sh|j( ei=pen kai,( Mh. foneu,sh|j\ eiv de. ouv
moiceu,eij foneu,eij de,( ge,gonaj paraba,thj no,mou
2:11 Pois o que tendo dito: “Não adulterarás”, disse também: “Não matarás”.
Se (tu) não estás adulterando mas continuas a matar, tu te tornaste
transgressor/parabátes da lei
194
2:12 ou[twj lalei/te kai. Ou[twj poiei/te w`j dia. No,mou evleuqeri,aj me,llontej
kri,nesqaiÅ
2:12 Assim falai/continuai falando e assim fazei/começai a fazer/continuai a
fazer, como se pela lei da liberdade estiveres indo ser julgados.
2:13 h` ga.r kri,sij avne,leoj tw/| mh. poih,santi e;leoj\ katakauca/tai e;leoj
kri,sewjÅ
2:13 Porque o juízo é sem misericórdia para o que não tendo feito/produzido
misericórdia. A misericórdia triunfa/tem mais poder sobre o juízo.
195
PERÍCOPE 2:14 a 3:1
2:14 Ti, to. o;feloj( avdelfoi, mou(evan. pi,stin le,gh| tij e;cein e;rga de. mh. e;ch|È
mh. du,natai h` pi,stij sw/sai auvto,nÈ
2:14 Meus irmãos, qual a utilidade se alguém disse/restiver dizendo ter fé
mas se não tiver trabalhos. Não pode a fé restaurá-lo?
2:15 evan. avdelfo.j h' avdelfh. gumnoi. u`pa,rcwsin kai. leipo,menoi th/j evfhme,rou
trofh/j
2:15 Se um irmão ou uma irmã permanecerem nus e faltantes/carentes do pão
cotidiano.
2:16 ei;ph| de, tij auvtoi/j evx u`mw/n(~upa,gete evn eivrh,nh|(qermai,nesqe kai.
corta,zesqe( mh. dw/te de. auvtoi/j ta. evpith,deia tou/ sw,matoj( ti, to. o;felojÈ
2:16 Mas (se) alguém dentre vós disser para eles: “Ide em paz, aquentai-
vos/começai a vos aquecer e começai a vos alimentar”, mas se não derdes
para eles o necessário, as coisas próprias/oportunas do corpo, qual a
utilidade?
2:17 ou[twj kai. h` pi,stij(evan. mh. e;ch| e;rga( nekra, evstin kaqV e`auth,nÅ
2:17 Assim também a fé, se não tiver/continuar tendo trabalhos está morta. de
acordo com ela mesma.
2:18 VAllV evrei/ tij( Su. pi,stin e;ceij( kavgw. e;rga e;cw\ dei/xo,n moi th.n pi,stin
sou cwri.j tw/n e;rgwn(kavgw, soi dei,xw evk tw/n e;rgwn mou th.n pi,stinÅ
2:18 Mas perguntará alguém: tu tens/continuas tendo fé e eu tenho/continuo
tendo trabalhos, mostra/começa a mostrar (tu) para mim a tua fé separada dos
trabalhos e eu te mostrarei a fé , a partir dos meus trabalhos.
2:19 su. pisteu,eij o[ti ei-j evstin o` qeo,j( kalw/j poiei/j\ kai. ta. daimo,nia
pisteu,ousin kai. fri,ssousinÅ
2:19 Tu tens continuas tendo fé que o Deus é “um” ? Tu fazes bem. Também
os demônios tem/continuam tendo fé e (eles) tremem/continuam tremendo.
2:20 qe,leij de. gnw/nai( w= a;nqrwpe kene,( o[ti h` pi,stij cwri.j tw/n e;rgwn
avrgh, evstinÈ
2:20 Oh! Ser humano vazio! Tu estás querendo saber porque a fé separada
dos trabalhos é inativa ?
2:21 VAbraa.m o` path.r h`mw/n ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh avnene,gkaj VIsaa.k to.n
ui`on. auvtou/ evpi. to. qusiasth,rionÈ
2:21 O nosso pai Abraão não foi “justificado” a partir dos trabalhos, tendo
levado para cima/oferecido Isaac, o seu filho, sobre o altar do sacrifício?
2:22 ble,peij o[ti h` pi,stij sunh,rgei toi/j e;rgoij auvtou/ kai. evk tw/n e;rgwn h`
pi,stij evteleiw,qh(
2:22 Tu estás vendo/vês que a fé trabalhava/estava trabalhando junto com os
trabalhos dele e que a partir/ dos trabalhos a fé foi completada?
2:23 kai. evplhrw,qh h` grafh. h` le,gousa( VEpi,steusen de. VAbraa.m tw/| qew/(| kai.
evlogi,sqh auvtw/| eivj dikaiosu,nhn kai. fi,loj qeou/ evklh,qhÅ
2:23 E foi cumprida/preenchida a escritura, a que diz/a dizente: “Acreditou
Abraão em o deus e ele foi escolhido/pensado para a justiça e amigo de Deus
ele foi chamado.
2:24 o`ra/te o[ti evx e;rgwn dikaiou/tai a;nqrwpoj kai. ouvk evk pi,stewj mo,nonÅ
2:24 Começai a ver/continuai a ver que a partir dos trabalhos um ser humano
é justificado/posto de acordo com, e não somente a partir da fé
2:25 o`moi,wj de. kai. ~Raa.b h` po,rnh ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh u`podexame,nh
tou.j avgge,louj kai. e`te,ra| o`dw/| evkbalou/saÈ
196
2:25 Da mesma forma, também, Raab a meretriz não foi justificada a partir
dos trabalhos, tendo acolhido os mensageiros e os tendo enviado por outro
caminho?
3:1 Mh. polloi. dida,skaloi gi,nesqe( avdelfoi, mou( eivdo,tej o[ti mei/zon kri,ma
lhmyo,meqaÅ
3:1 Meus irmãos, não vos torneis muitos (de vós) mestres/ensinadores,
sabedores de que um juízo mais severo/maior julgamento receberemos.
3:2 polla. ga.r ptai,omen a[pantejÅ ei; tij evn lo,gw| ouv ptai,ei( ou-toj te,leioj
avnh,r dunato.j calinagwgh/sai kai. o[lon to. sw/maÅ
3:2 Pois em muitas coisas todos batemos/tropeçamos. Se alguém não
tromba/tropeça em palavra/logos, esse é um homem masculino completo/que
atinge a meta, capaz de refrear/conduzir no freio também todo o corpo.
3:3 eiv de. Tw/n i[ppwn tou.j calinou.j eivj ta. Sto,mata ba,llomen eivj to.
Pei,qesqai auvtou.j h`mi/n( kai. O[lon to. Sw/ma auvtw/n meta,gomenÅ
3:3 Ora, se lançamos os freios para dentro da boca dos cavalos, para eles
estarem sendo persuadidos por nós, também todo o corpo deles estamos
conduzindo/mudando de lugar.
3:4 Eis que também os navios, sendo de tal tamanho, (ao mesmo tempo)
estando sendo movimentados pelos ventos duros/secos, pela ação do pequeno
leme, mudam de direção para o lugar em que o impulso do condutor está
desejando.
3:5 ou[twj kai. H` glw/ssa mikro.n me,loj evsti.n kai. Mega,la auvcei/Å Vidou.
H`li,kon pu/r h`li,khn u[lhn avna,ptei\
3:5 Assim também a língua é um pequeno membro do corpo e de grandes
coisas se enaltece. Vede quão pequeno fogo ilumina tão grande bosque.
3:6 kai. H` glw/ssa pu/r\ o` ko,smoj th/j avdiki,aj h` glw/ssa kaqi,statai evn toi/j
me,lesin h`mw/n( h` spilou/sa o[lon to. sw/ma kai. Flogi,zousa to.n troco.n th/j
gene,sewj kai. Flogizome,nh u`po. Th/j gee,nnhjÅ
3:6 Também a língua é fogo. O mundo da injustiça. A língua está instalada
nos membros de nós, como a que está manchando todo o corpo e a que está
197
inflamando/inflamadora da/do a roda/curso da origem/nascimento e esta
sendo incendiada pela Geena.
3:7 pa/sa ga.r fu,sij qhri,wn te kai. Peteinw/n( e`rpetw/n te kai. Evnali,wn
dama,zetai kai. Deda,mastai th/| fu,sei th/| avnqrwpi,nh|
3:7 Pois toda a natureza das feras, também das aves, dos répteis, e também
dos seres marinhos está sendo domada e está domada pela natureza
humana/dos homens.
3:8 th.n de. Glw/ssan ouvdei.j dama,sai do,natai avnqrw,pwn( avkata,staton kako,n(
mesth. Ivou/ qanathfo,rouÅ
3:8 Mas a língua ninguém dentre os homens pode domar, ela é mal agitado
repleta de veneno mortal/mortífero.
3:9 evn auvth/| euvlogou/men to.n ku,rion kai. Pate,ra kai. Evn auvth/| katarw,meqa
tou.j avnqrw,pouj tou.j kaqV o`moi,wsin qeou/ gegono,taj(
3:9 Com ela bendizemos/elogiamos o senhor e pai e com ela
amaldiçoamos/lançamos pragas em direção aos seres humanos, os nascidos
de acordo com a semelhança de Deus.
PERÍCOPE 3:10-12
3:10 evk tou/ auvtou/ sto,matoj evxe,rcetai euvlogi,a kai. Kata,raÅ ouv crh,( avdelfoi,
mou( tau/ta ou[twj gi,nesqaiÅ
198
3:10 Da mesma boca sai/está saindo benção/elogio e maldição. Meus irmãos,
não é apropriado essas coisas estarem acontecendo assim.
3:11 mh,ti h` phgh. Evk th/j auvth/j ovph/j bru,ei to. gluku. Kai. To. pikro,nÈ
3:11 Acaso a fonte, da mesma abertura /do mesmo lugar, brota em quantidade
o doce e o amargo?
3:12 Meus irmãos, não pode uma figueira produzir olivas ou uma parreira de
uvas (produzir) figos, nem fonte salgada produzir uma água doce.
3:13 Ti,j sofo.j kai. Evpisth,mwn evn u`mi/nÈ deixa,tw evk th/j kalh/j avnastrofh/j
ta. E;rga auvtou/ evn prau<thti sofi,ajÅ
3:13 Quem (é) sábio e instruído/erudito em vós, diga a ele que mostre os
trabalhos dele pela eficaz/boa/bonita ação de ir e vir, em doçura/mansidão de
sabedoria.
3:14 eiv de. zh/lon pikro.n e;cete kai. Evriqei,na evn th/| kardi,a| u`mw/n( mh.
katakauca/sqe kai. Yeu,desqe kata. Th/j avlhqei,ajÅ
3:14 Mas, se uma inveja amarga e um sentimento faccioso continuais a ter no
coração, não continuais a vos vangloriar sobre os outros/a desprezar e (não)
começais a mentir/não continuais a mentir de acordo com/contra a verdade.
3:15 ouvk e;stin au[th h` sofi,a a;nwqen katercome,nh avlla. Evpi,geioj( yucikh,(
daimoniw,dhjÅ
3:15 Essa não é a sabedoria [a] que está descendo do alto, mas [uma] que está
sobre a terra/terrena , vivente/do mundo, mental, demoníaca/que diz respeito
aos demônios.
3:16 o[pou ga.r zh/loj kai. Evriqei,a( evkei/ avkatastasi,a kai. Pa/n fau/lon
pra/gmaÅ
3:16 Pois onde (há) inveja/ciúme e disputa, ali (há) instabilidade/agitação e
toda qualidade inferior.
3:17 h` de. a;nwqen sofi,a prw/ton me.n a`gnh, evstin( e;peita eivrhnikh,( evpieikh,j(
euvpeiqh,j( mesth. Evle,ouj kai. Karpw/n avgaqw/n( avdia,kritoj( avnupo,kritojÅ
199
3:17 A sabedoria (que vem) do alto, primeiro é pura/inocente, depois
pacífica, conveniente/na justa medida), obediente/dócil,cordata, cheia de
compaixão/piedade e de frutos bons.
3:18 karpo.j de. dikaiosu,nhj evn eivrh,nh| spei,retai toi/j poiou/sin eivrh,nhnÅ
3:18 Um fruto de justiça é semeado com paz para os que estão
produzindo/fazendo a paz.
3:10 evk tou/ auvtou/ sto,matoj evxe,rcetai euvlogi,a kai. Kata,raÅ ouv crh,( avdelfoi,
mou( tau/ta ou[twj gi,nesqaiÅ
3:10 Da mesma boca sai/está saindo benção/elogio e maldição. Meus irmãos,
não é apropriado essas coisas estarem acontecendo assim.
3:13 Ti,j sofo.j kai. Evpisth,mwn evn u`mi/nÈ deixa,tw evk th/j kalh/j avnastrofh/j
ta. E;rga auvtou/ evn prau<thti sofi,ajÅ
3:13 Quem (é) sábio e instruído/erudito em vós, diga a ele que mostre os
trabalhos dele pela eficaz/boa/bonita ação de ir e vir, em doçura/mansidão de
sabedoria.
As figuras utilizadas são: Ti,j “Quem”; evn u`mi/n “entre vós “; deixa (tw) “diga a
ele que mostre; auvtou/ “dele”. O destaque nessas designações se dá novamente pelo
200
recurso enunciativo que se utiliza da terceira pessoa do singular (quem) (ele) (dele), ao
invés de uma segunda pessoa do plural “vós”. Os efeitos de sentido que aparecem, são:
Vincula-se o ele com o tema da sabedoria e com o tema do trabalho. Esses temas
estão também inseridos na questão enunciativa da instauração do sujeito discursivo,
com competência ou não para assumir a palavra. A apresentação do tema se inicia já no
vers. 3:1 com a exortação negativa: “Meus irmãos, não vos torneis muitos (de vós)
mestres/ensinadores, sabedores de que um juízo mais severo/maior julgamento
receberemos..”
201
destinatário. Lembramos, pelo menos, o termo “instabilidade” avkatastasi,a com o
mesmo tema avkatast-
atast utilizado no termo avkata,statoj
“inconstante/instável/desposicionado” do vers. 1:8 do início da Epístola, para qualificar
e designar o destinatário e avkata,staton “instável” do vers. 3:8, para qualificar a língua
que também, por metonímia, designa o destinatário.
4:1 po,qen po,lemoi kai. po,qen ma,cai evn u`mi/nÈ ouvk evnteu/qen( evk tw/n h`donw/n
u`mw/n tw/n strateuome,nwn evn toi/j me,lesin u`mw/nÈ
4:1 De onde vêm guerras e de onde vêm lutas em vós? Não estão vindo dos
vossos prazeres, os que estão guerreando nos vossos membros/do corpo?
4:2 evpiqumei/te kai. ouvk e;cete( foneu,ete kai. zhlou/te kai. ouv du,nasqe
evpitucei/n( ma,cesqe kai. polemei/te( ouvk e;cete dia. to. mh. aivtei/sqai u`ma/j(
4:2 Vós estais ambicionando e não estais tendo, vós estais/continuais
matando e invejando e não está sendo possível um sucesso/e continuais não
podendo estar atingindo o objetivo. Vós estais guerreando e estais lutando e
não estais tendo pelo não estar buscando.
4:3 aivtei/te kai. ouv lamba,nete dio,ti kakw/j aivtei/sqe( i[na evn tai/j h`donai/j
u`mw/n dapanh,shteÅ
4:3 Vós estais buscando e não obtendes/continuais a não receber porque
buscais mal/continuais buscando mal, para gastardes nos vossos prazeres.
4:4 moicali,dej( ouvk oi;date o[ti h` fili,a tou/ ko,smou e;cqra tou/ qeou/ evstinÈ o]j
evan. ou=n boulhqh/| fi,loj ei=nai tou/ ko,smou( evcqro.j tou/ qeou/ kaqi,stataiÅ
4:4 Adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra
Deus? Portanto, aquele que desejar ser/continuar sendo amigo do mundo ele
está posicionando/instalando como inimigo de Deus.
4:5 h' dokei/te o[ti kenw/j h` grafh. le,gei( pro.j fqo,non evpipoqei/ to. pneu/ma o]
katw,k| isen evn h`mi/n(
4:5 Ou vos parece/está parecendo que, em vão, a escritura diz/está dizendo:
contra o “segurar para si”/avareza deseja o espírito, aquele que morou/habitou
em vós?
4:6 mei,zona de. di,dwsin ca,rinÈ dio. le,gei( ~O qeo.j u`perhfa,noij avntita,ssetai(
tapeinoi/j de. di,dwsin ca,rinÅ
202
4:6 Maior graça dá/continua dando? Por isso ele/a está dizendo diz/continua
dizendo: O Deus resiste aos soberbos e ele dá/continua dando graça aos
humildes.
4:7 u`pota,ghte oun tw/| qew/(| avnti,sthte de. tw/| diabo,lw| kai. feu,xetai avfV u`mw/n(
4:7 Portanto, submetei-vos à autoridade de Deus mas resisti ao diabo e ele
fugirá do meio de vós.
4:8 evggi,sate tw/| qew/| kai. evggiei/ u`mi/n kaqari,sate cei/raj( a`martwloi,( kai.
a`gni,sate kardi,aj( di,yucoiÅ
4:8 Aproximai-vos de Deus e ele se aproximará de vós. Limpai pecadores as
mãos e purificai os corações /homens de/ mentes duplas.
4:9 talaipwrh,sate kai. Penqh,sate kai. Klau,sateÅ o` ge,lwj u`mw/n eivj pe,nqoj
metatraph,tw kai. H` cara. Eivj kath,feianÅ
4:9 Sofrei, afligi-vos e chorai. O riso vosso mude de lado para dentro do
luto/da dor e a vossa alegria para dentro da tristeza/lágrima.
4:10 tapeinw,qhte evnw,pion kuri,ou kai. U`yw,sei u`ma/jÅ
4:10 Sede humilhados/humildes diante da face do senhor e ele vos
elevará/exaltará.
203
também o uso do pronome relativo: “aquele que” o[j. Em primeiro lugar, destaque-se o
uso desse pronome em 4:4:
4:4 moicali,dej( ouvk oi;date o[ti h` fili,a tou/ ko,smou e;cqra tou/ qeou/ evstinÈ o]j
evan. ou=n boulhqh/| fi,loj ei=nai tou/ ko,smou( evcqro.j tou/ qeou/ kaqi,stataiÅ
4:4 Adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra
Deus? Portanto, aquele que desejar ser/continuar sendo amigo do mundo ele
está posicionando/instalando como inimigo de Deus.
204
vinculados constroem um dos temas cruciais da Epístola: o tema do acúmulo de
riquezas. É no cotexto de uso da referência ao destinatário como moicali,dej “adúlteras”
que aparece a figura do “acumulador de riquezas” que é trazida pelo termo fqo,non
“segurar para si”. Esta última figura faz parte de um cotexto em que as traduções
historicamente escolhidas para o termo escondem o significado do tema e o sentido da
Epístola como um todo.
4:11 Irmãos, não falais / cessai de falar mal um dos outros. O que está
falando/o falante/o que continua falando mal do irmão ou o que está
julgando/julgador/continua julgando seu irmão está falando da lei e está
julgando a lei. E, se julgas/continuas julgando a lei, não és fazedor/produtor
da lei, mas juiz.
205
“irmãos” avdelfoi, como também um nominativo que designa o sujeito de uma ação
discursiva Mh. katalalei/te “Não continueis falando mal/cessem de falar mal”.
206
da riqueza sugerido pela figurativização do destinatário por meio do substantivo oi`
plou,sioi “os ricos”.
207
4:11 to.n avdelfo.n O irmão 3a pessoa singular ele
4:11 auvtou/ dele 3a pessoa singular (d) ele
4:11 katalalei ele fala mal/continua falando 3a pessoa singular ele
4:11 avdelfou Do irmão 3a pessoa singular (d) ele
4:11 o` katalalw/n O que está falando/o falante/o 3a pessoa singular ele
que continua falando
4:11 kri,nwn o que está julgando/ 3a pessoa singular ele
julgador/continua julgando
4:11 avdelfoi, irmãos 3a pessoa plural eles
4:11 Mh. katalalei/te não falais/continueis 2ª Pessoa plural vós
falando/cessai de falar mal
4:12 ei-j evstin Îo`Ð nomoqe,thj kai. krith,j o` duna,menoj sw/sai kai. avpole,sai\
su. de. ti,j ei= o` kri,nwn to.n plhsi,onÈ
4:12 Um é o legislador e juiz, o que pode/o que continua tendo poder de
restaurar/salvar e fazer perecer. Mas tu quem és, o que está julgando/continua
julgando o próximo?
Fazendo uma relação entre os tratamentos alternativos que aqui são usados e que
se valem de marcas tanto da 3a pessoa e da 2a pessoa do plural como da 3a pessoa e da 2ª
do singular, observamos que a segunda pessoa do singular su, “tu” é utilizada de forma
coerente, pois o seu aparecimento no texto se dá vinculado diretamente a um membro
que foi destacado do grupo, marca do singular. Esse membro do grupo foi designado e
nomeado no vers. 4:11 usando-se dois particípios substantivados o` katalalw/n “o que
está falando mal” e o` kri,nwn “o que está julgando”. Ora, o mesmo particípio o` kri,nwn
“o que está julgando” irá aparecer em 4:12 como sendo aquele tu para quem o orador
está se dirigindo inesperadamente: 4:12 su. de. ti,j ei= o` kri,nwn to.n plhsi,onÈ “Mas tu
quem és o que está julgando/o julgador/o que continua julgando o próximo?”
208
Mas só a coerência de número, singular, entre o particípio substantivado e o
pronome do caso reto não é suficiente para justificar a mudança de tratamento. É nas
teorias lingüísticas de análise do texto, referenciação, argumentação, e na teoria
Semiótica que procuraremos essa justificativa.
(...)
PERÍCOPE 5:1-6
5:1 :Age nu/n oi` plou,sioi( klau,sate ovlolu,zontej evpi. tai/j talaipwri,aij
u`mw/n tai/j evpercome,naijÅ
5:1 Vamos agora, os ricos ! Chorai, ao mesmo tempo lamentando, sobre as
misérias/sofrimentos, as que estão vindo sobre vós.
5:2 o` plou/toj u`mw/n se,shpen kai. ta. i`ma,tia u`mw/n shto,brwta ge,gonen(
5:2 A vossa riqueza está podre e as vossas vestes se tornaram roídas/rotas.
5:3 o` cruso.j u`mw/n kai. o` a;rguroj kati,wtai kai. o` ivoj. auvtw/n eivj martu,rion
u`mi/n e;stai kai. fa,getai ta.j sa,rkaj u`mw/n w`j pu/rÅ evqhsauri,sate evn evsca,taij
h`me,raijÅ
5:3 O ouro e a prata de vocês estão manchados e a ferrugem deles será para
vosso testemunho, e ela engolirá/devorará os corpos de vocês como fogo.
Entesourastes nos últimos dias.
5:4 ivdou. o` misqo.j tw/n evrgatw/n tw/n avmhsa,ntwn ta.j cw,raj u`mw/n o`
avpesterhme,noj avfV u`mw/n kra,zei( kai. ai` boai. tw/n qerisa,ntwn eivj ta. w=ta
kuri,ou Sabaw.q eivselhlu,qasinÅ
5:4 Eis que o salário dos trabalhadores, dos que tendo ceifado vossos campos,
o fraudado por vós está clamando! E, os gritos dos que tendo passado o verão
chegaram/acabaram de chegar aos ouvidos do senhor Sabahot .
5:5 evtrufh,sate evpi. th/j gh/j kai. evspatalh,sate( evqre,yate ta.j kardi,aj u`mw/n
evn h`me,ra| sfagh/j(
5:5 Vivestes no luxo e delícias sobre a terra, nutristes os vossos corações em
dia de degola.
5:6 katedika,sate( evfoneu,sate to.n di,kaion( ouvk avntita,ssetai u`mi/nÅ
5:6 Condenastes, matastes o justo, ele não está resistindo/resiste a vós.
162
MONDADA, Lorenza e DUBOIS, Danièle. Construção dos objetos de discurso e categorização: uma
abordagem dos processos de referênciação. In: CAVALCANTE, RODRIGUES e CIULLA, p. 25.
209
Os tratamentos aos ricos encontrados na perícope 5:1-6 feitos ao subgrupo de
destinatários da Epístola, incluem, conforme quadros a seguir:
210
C) A nomeação por meio de um substantivo com o artigo definido, e que designa
um atributo/qualidade do destinatário – vers. 5:6 oi` plou,sioi “Os ricos”.
D) E a qualificação por meio de um particípio/adjetivo, na verdade um sintagma
verbal reduzido – vers. 5:6 ovlolu,zontej “ao mesmo tempo lamentando/gemendo”.
No vers. 5:1, bem como no vers. 4:13, a interação entre o destinador da Epístola
e o destinatário é feita por meio de um marcador, que é chamado pelos lingüistas de
“marcador de opinião”. Nesses versículos o marcador é representado pela a expressão
:Age nu/n “Vamos agora”:
O efeito de sentido que se cria com o uso desse marcador é de uma desafeição do
interlocutor, em contraste com o uso do tratamento afetivo avdelfoi, mou “meus irmãos”,
comum e abundantemente usado no restante da Epístola. Este último tratamento não só
aproxima como atenua a relação entre os interlocutores. Com o uso do marcador de
opinião, no entanto, não há preocupação de marcar lingüisticamente a atenuação ou
mesmo a paixão afetiva do orador.
A expressão :Age nu/n “Vamos, agora!” é uma forma que, que no sistema da
língua, perdeu a conotação de um tipo de ligação interativa que era trazida pelo tema do
imperativo :Age “vá tu”, para se tornar uma forma que evoluiu para significar uma
interjeição Vamos!” com a conotação de uma exortação direta. Com essa nova
significação a expressão pode nos levar até a incluir essa referência ao destinatário
como uma retomada da isotopia da ordem163, que já apontamos estar presente em toda a
Epístola. A reprodução dos verbetes a seguir dos dicionários de Bailly e Petit Robert
auxiliam a confirmar essa nossa conclusão:
163
A ordem vista aqui não como marca de autoridade, mas como organização estrutural metódica.
211
(:Age) 8. Allons! Eh bien! Voyons, avec une partícule 164.
O uso da forma lingüística :Age se torna mais expressivo porque a ela se agrega
a partícula nu/n “agora”. Do ponto de vista enunciativo, o uso dessa partícula é marca
preciosa da presença do enunciador no tempo externo do enunciado. O efeito de sentido
criado por essa presença revela, de acordo com Rosa, a certeza do locutor com relação
ao seu enunciado bem como revela uma estratégia em que o enunciador assume
responsabilidades, aceitando o ponto de vista do enunciado.166
PERÍCOPE 5:7-11
5:7 Makroqumh,sate ou=n( avdelfoi,( e[wj th/j parousi,aj tou/ kuri,ouÅ ivdou. o`
gewrgo.j evkde,cetai to.n ti,mion karpo.n th/j gh/j makroqumw/n evpVauvtw/| e[wj
la,bh| pro,im? on kai. o;yimonÅ
5:7 Portanto, irmãos, tende paciência até a vinda/a parousia do Senhor. Eis
que o lavrador está recebendo o valioso fruto (que vem) da terra tendo
paciência/paciensioso sobre ela, até que colha o primeiro e o tardio.
5:8 makroqumh,sate kai. U`mei/j( sthri,xate ta.j kardi,aj u`mw/n( o[ti h` parousi,a
tou/ kuri,ou h;ggikenÅ
5:8 E vós tende paciência, fortalecei os vossos corações, porque a
aparição/parousia do Senhor está próxima.
5:9 mh. stena,zete( avdelfoi,( katV avllh,lwn i[na mh. kriqh/te\ ivdou. O` krith.j pro.
Tw/n qurw/n e[sthkenÅ
164
Verbete v,age. In: BAILLY, Dictionnaire grec-français.
165
Verbete “allons”. In: LE ROBERT MICRO. Dictionnaire d´appprentisage de la langue française.
Rédaction dirigée par Alain Rey. Paris: Dictionnaires Le Robert, 1988, p. 34.
166
ROSA, p. 43.
212
5:9 Irmãos, não murmurais/continuais a murmurar uns contra os outros, para
não serdes julgados. Eis que o juiz está colocado/acaba de se colocar de pé
diante das portas.
5:10 u`po,deigma la,bete( avdelfoi,( th/j kakopaqi,aj kai. Th/j makroqumi,aj tou.j
profh,taj oi] evla,lhsan evn tw/| ovno,mati kuri,ouÅ
5:10 Irmãos, tomai exemplo da dificuldade/sofrimento e da paciência dos
profetas, os quais falaram em nome do Senhor.
5:11 ivdou. Makari,zomen tou.j u`pomei,nantaj\ th.n u`pomonh.n Viw.b hvkou,sate kai.
To. te,loj kuri,ou ei;dete( o[ti polu,splagcno,j evstin o` ku,rioj kai. Oivkti,rmwnÅ
5:11 Eis que bem aventuramos os perseverantes/os que continuam a
perseverar. Ouvistes falar da paciência de Job e soubestes o objetivo/a meta
do senhor. Porque o senhor é muito misericordioso e piedoso/compassivo.
O que chama atenção nas ocorrências de uso do termo com a raiz avdelf- nos
vers. 5:7, 5:9 e 5:10 é: A. a proximidade da utilização da referência/tratamento. A
repetição é imediata não havendo mesmo, entre 5:9 e 5:10, versículos intermediários
entre uma referência e outra. B. Nos três usos daquela raiz a figura não vem agregada
com o pronome possessivo da primeira pessoa mou “meus/de mim”, tal como ocorre nos
versículos 1:2; 1:16; 1:19; 2:1; 2:5; 2:14; 3:1; 3:10; 3:12; 5:12; 5:19. A retomada do uso
da referência com o tratamento afetivo no vers. 5:7 e repetida em 5:9 e 5:10 indica
claramente uma volta ao auditório principal, ou coletivo, que é as doze tribos na
dispersão. O orador abandona os tratamentos que subdividem o auditório em subgrupos,
tal como haviam sido identificados em 4:13 oi` le,gontej “os que ao mesmo tempo estão
dizendo/os falantes” e 5:1 oi` plou,sioi “os ricos”. A partir do vers. 5:7 os subgrupos
acima referidos são deixados de lado e as exortações são novamente feitas diretamente
ao grupo maior. Identificamos com essa retomada de tratamento também a retomada ou
introdução de um novo tema, o qual está marcado precisamente no uso do tema
makroqum-, que ocorre quatro (4) vezes nessa perícope:
Constatamos assim que o tratamento afetivo serve como um marcador que, além
de argumentativo, é também um marcador temático. Nada mais próprio para o tópico
aqui presente, pois, inclusive, a interdiscursividade/intertextualidade
213
veterotestamentária aparece aqui com toda a força. Essa intertextualidade tão cara às
doze tribos, aos “irmãos” avdelfoi, aparece com o uso das figuras expressivas dos
“profetas” tou.j profh,taj em geral - Vers 5:10; e um profeta em particular, VIw.b “Jó” -
vers. 5:11. Apesar do pequeno tamanho do trecho que estamos analisando, a riqueza de
construção textual e discursiva é extraordinária. Isto se deve:
02. Tentativa feliz e plenamente realizada pelo orador de estabelecer nesse momento
uma ligação precisa para o discurso, o auditório e mesmo, por que não dizer, para
os caminhos propostos pelo Antigo e o Novo Testamento. Isso se revela também na
figurativização que utiliza o termo kuri,ou “Senhor” e parousi,a “vinda/parousia do
Senhor”.
214
Figura 27 - Discursivização destinatário na perícope 5:7-11.
Numa tentativa de descobrir os objetivos argumentativos e efeitos de sentido
criados pelo uso dos tratamentos listados no quadro acima, faremos as observações a
seguir:
01. Ao fazermos uma comparação entre o quadro que lista as ocorrências das perícopes
5:7-11 e aquele outro quadro que lista as ocorrências da perícope 5:1-6, de imediato
o que se constata é que há uma mudança nas escolhas de tratamento feitas pelo
orador. As escolhas anteriores, em 5:1-6, eram preferencialmente pelo uso do
pronome da segunda pessoa do plural u`mei/j “vós”, na maioria das vezes usado no
caso genitivo plural u`mw/n “de vós/de vocês/vossos”.
03. Outra observação é a constatação da ocorrência rara – apenas duas vezes na Epístola
– do pronome pessoal da segunda pessoa do plural u`mei/j “vós” no caso nominativo.
Esse uso indica claramente uma reafirmação discursivo/argumentativa do
sujeito/destinatário para quem a exortação está sendo dirigida. Seu uso na Epístola
tem sido dispensado já que a desinência verbal -te “vós”“ supre perfeitamente a
marca do sujeito destinatário.
04. O uso do pronome pessoal da segunda pessoa do plural u`mei/j “vós” no caso
nominativo funcionando mesmo como um aposto, na perícope 5:7-11, é marca
precisa de identificação, e serve como um dos elementos na comparação entre a
figura do “agricultor” o` gewrgo.j e a dos destinatários u`mei/j “vós”.
215
05. Outra referência/designação que chama atenção na perícope 5:7 a 5:11 é aquela que
é feita pelo uso da desinência pessoal da primeira pessoa do plural -men “nós”. Ela
chama atenção porque, inesperadamente, insere o enunciador no enunciado, e em
conjunto com a referência ao enunciatário. Talvez esse uso supra a ausência do
comprometimento usual do sujeito enunciador/orador por meio do pronome pessoal
mou “de mim”. Aqui, ao invés de assinalar com o pronome possessivo mou a ligação
grupal entre o orador e o auditório, a mesma ligação se faz pela ênfase com a
desinência -men “nós”. A ênfase, com a desinência da primeira pessoa do plural, não
é no caráter afetivo da ligação, mas no caráter de igualdade de condições da postura
discursivo/afetiva de ambos - orador e auditório - frente a um valor comum
assinalado na figura dos profetas.
5:11 ivdou. Makari,zomen tou.j u`pomei,nantaj\ th.n u`pomonh.n Viw.b hvkou,sate kai.
To. te,loj kuri,ou ei;dete( o[ti polu,splagcno,j evstin o` ku,rioj kai. Oivkti,rmwnÅ
06. Finalmente, o uso do verbo hvkou,sate “vós escutastes” é uma indicação precisa e
valiosa das práticas sociais de oralidade dos textos vétero testamentários destinados
a serem lidos e também escutados. O conhecimento, compreensão ei;dete
“conhecestes, compreendestes” que eram adquiridos pelos membros da sinagoga
vinham pelo “ouvir” avkou,w e não pela leitura direta dos textos, por parte dos
membros. A leitura era feita por um responsável e os demais escutavam. Confirma-
se aqui, também, a relação entre a percepção pelos sentidos, o ouvir, e a aquisição
de conhecimento, do saber.
216
PERÍCOPE 5:12-18
5:12 Pro. pa,ntwn de,( avdelfoi, mou( mh. ovmnu,ete mh,te to.n ouvrano.n mh,te th.n
gh/n mh,te a;llon tina. o[rkon\ h;tw de. u`mw/n to. Nai. nai. kai. to. Ou' ou;( i[na mh.
u`po. kri,sin pe,shteÅ
5:12 Antes de todas as coisas meus irmãos, não jureis/entreis no ato de jurar,
continuais jurando nem pelo/em direção ao céu nem pela/em direção a terra,
nem algum outro juramento. Mas, diga para ele, dentre vós, seja o Sim, sim e
o Não não, para que não caiais sob julgamento.
5:13 Kakopaqei/ tij evn u`mi/n( proseuce,sqw\ euvqumei/ tij( yalle,tw\
5:13 Alguém está sofrendo em vós? : diga a ele que comece a orar. Alguém
está alegre/está bem disposto? : salmodie ele/diga a ele que comece a dizer
salmos.
5:14 avsqenei/ tij evn u`mi/n( proskalesa,sqw tou.j presbute,rouj th/j evkklhsi,aj
kai. Proseuxa,sqwsan evpV auvto.n avlei,yantej Îauvto.nÐ evlai,w| evn tw/| ovno,mati tou/
kuri,ouÅ
5:14 Se alguém no meio de vós está doente, que ele chame [em seu interesse]
os presbíteros da igreja e que tendo ungido o doente com óleo que eles orem
em nome do senhor,
kai. h` euvch. th/j pi,stewj sw,sei to.n ka,mnonta kai. evgerei/ auvto.n o` ku,rioj\ ka'n
a`marti,aj h=| pepoihkw,j( avfeqh,setai auvtw/Å|
5:15 E a oração do crente/do que se posiciona salvará o que está
acamado/doente e o senhor o levantará e caso ele acabe de fazer/no estado de
pecado será perdoado/deixado ir, para ele/em seu beneficio.
5:16 evxomologei/sqe ou=n avllh,loij ta.j a`marti,aj kai. Eu;cesqe u`pe.r avllh,lwn
o[pwj ivaqh/teÅ polu. Ivscu,ei de,hsij dikai,ou evnergoume,nhÅ
5:16 Portanto, confessai/continuai confessando/começai a confessar os
pecados uns aos outros e orai/continuai orando/começai a orar uns sobre os
outros, de modo que sejais curados. Muito tem/continua tendo força/é potente
um pedido do justo, ao mesmo tempo que (é) produtor / agente/enquanto age.
5:17 VHli,aj a;nqrwpoj h=n o`moiopaqh.j h`mi/n( kai. proseuch/| proshu,xato tou/
mh. bre,xai( kai. ouvk e;brexen evpi. th/j gh/j evniautou.j trei/j kai. mh/naj e[x\
5:17 Elias era um homem de mesmo sentimento que nós e com oração dirigiu
uma prece de não chover e não choveu sobre a terra, durante três anos e meio
5:18 kai. Pa,lin proshu,xato( kai. O` ouvrano.j u`eto.n e;dwken kai. H`
gh/ebv la,sthsen to.n karpo.n auvth/jÅ
5:18 E de novo ele fez uma prece e o céu deu uma chuva forte e a terra
germinou/floresceu o fruto dela.
217
da primeira pessoa do plural, é de se supor que a perícope irá tratar de temas que dizem
respeito a todos os membros do grupo/auditório. A suposição é confirmada, pois o sub-
tema da relação dos membros do grupo entre si é que está figurativizada exaustivamente
na perícope e as referências aos destinatários utilizam marcas figurativas: da segunda
pessoa do plural referenciando o grupo/auditório como um todo; pronomes que
identificam membros do grupo em particular; e também de substantivos, adjetivos e
predicações que se aplicam tanto ao grupo como um todo, como a um membro
individual.
218
5:15 h=| pepoihkw,j numa situação de ter Grupo nominal
(acabado de fazer/no
estado de)
5:15 auvto.n a ele Pronome pessoal 3ª p. s.
5:15 auvtw/| Para ele, ( em seu Pronome pessoal 3ª p. s.
beneficio) (ele)
5:16 avllh,loij uns aos (para os) outros Relação grupal
5:16 u`pe.r avllh,lwn uns sobre os outros Relação grupal
5:16 evxomologei/sqe Confessai (continuai Desinência verbal 2ª p. pl.
confessando, começai a
confessar)
5:16 eu;cesqe orai (continuai orando, Desinência verbal 2ª p. pl.
começai a orar)
5:16 ivaqh/te Sejais curados (vós) Desinência verbal 2ª p. pl.
5:16 dikai,ou Do justo (dele) Grupo nominal
5:17 a;nqrwpoj Ser humano Grupo nominal
5:17 h`mi/n nós Pronome pessoal 1ª p. pl.
5:18 Não tem referência
Na perícope 5:12-17, o que se constata com o uso das marcas textuais que fazem
referência ao destinatário é que os temas dizem respeito ao relacionamento dos
membros do grupo entre si. Destaca-se o uso abundante de pronomes e desinências
verbais que marcam o auditório como um “ele”, individualizando o destinatário.
Algumas observações podem ser úteis, neste momento, pois nos auxiliarão em nossa
leitura/análise:
01. Um destaque vai para a referência figurativizada por um ele marcado na terceira
pessoa do modo imperativo. Essa referência merece destaque porque
entendemos que ela nos revela dois efeitos de sentido, e mesmo uma informação
importante, ou no mínimo, interessante.
219
Versículo Ocorrência Tradução Tipo
5:13 Proseuce,sqw Ore (ele) Desinência verbal 3ª p. s.
5:13 ya,lletw Salmodie (ele) Desinência verbal 3ª p. s.
5:14 Proskalesa,qw que ele chame (em seu Desinência verbal 3ª p. s.
interesse) (ele)
5:14 proseucasqwson que eles orem (eles) Desinência verbal 3ª p. s.
5:12 h;tw seja (ele) (continue a Desinência verbal3ª p. s.
ser, comece a ser)
02. O uso, em 5:16, para referenciação dos destinatários por meio dos pronomes de
reciprocidade avllh,loij “uns aos/para os outros” e avllh,lwn “ uns dos outros”,
para referenciação dos destinatários, também merece ser destacado. Em toda a
Epístola, o mesmo modo de discursivizar o destinatário é usado apenas mais
uma vez no vers. 4:11: avllh,lwn. E, como já destacamos naquela ocasião, esse
tipo de referenciação é indicador preciso de um sub-tema da Epístola, qual seja,
a relação dos membros do grupo entre si. Enquanto lá, no vers. 4:11, o orador
indicava um percurso narrativo em que o grupo se desagregava, ao se jungir com
um valor disfórico, aqui no vers. 5:16, o grupo se consolida por meio de um
valor eufórico. A referência em questão contribui com eficácia para a
(des)construção da identidade do destinatário coletivo.
220
5:15 auvtw/| Para ele, ( em seu benefício) Pronome pessoal 3ª p. s.
(ele)
5:14 Evpi auvto>n Sobre ele Pronome pessoal 3ª p. s.
221
A utilização dos grupos nominais coloca com precisão a condição identidade do
individuo ao qual o orador se refere e, imediatamente, faz lembrar sub-temas do
discurso tais como a hierarquia e funções, dentro do grupo, na figura dos “presbíteros”
Touj presbu,teroj; a crença, na figura da “fé” th/j pi,stewj; o estado de ser que leva à
justiça, na figura do “justo” dikai,ou; os ritos, na figura “daqueles que estão ungindo” o
doente avleiyantej; e a referência mais abarcante que coloca todos os membros do grupo
na condição de “ser humano” a;nqrwpoj. Esta última referência amplia o subtema para
um auditório ainda maior, o auditório universal dos seres humanos.
PERÍCOPE 5:19-20
5:19 VAdelfoi, mou( evan, tij evn u`mi/n planhqh/| avpo. th/j avlhqei,aj kai.
evpistre,yh| tij auvto,n(
5:19 Meus irmãos se alguém em vós vaguear/se desviar da verdade e se
alguém se voltar em sua direção.
222
de marcas textuais que discursivizam o destinatário e o fato inconteste é que a
linguagem da Epístola é centrada no auditório.
167
DISCINI, Norma. Comunicação nos textos: leitura, produção, exercícios. São Paulo: Editora
Contexto, 2005, p. 15.
223
destinatário exerce várias funções: na argumentação, na (des)construção de identidades,
na temática, bem como na coesão e coerência.
a) A expressão tai/j dw,deka fulai/j tai/j evn th/| diaspo,ra “as doze tribos aquelas
na diáspora” que, mesmo sendo a referência MATRIZ168, não é repetida. A
repetição integral da matriz provocaria paradoxalmente uma mudança de
auditório, e funcionaria como se o orador estivesse falando sobre um terceiro.
168
“A primeira entrada do segmento discursivo que serve de paradigma é designada como matriz (M)”.
Cf. MARCUSCHI, p. 222.
224
Com efeito, como esses debates devem redundar numa decisão, como devem
determinar uma ação, ser um espectador desinteressado não confere, longe
disso, o direito de participar da discussão e de influir no sentido de seu
desfecho. Contrariamente ao que se passa em ciência, onde basta, para
resolver um problema, conhecer as técnicas que permitem consegui-lo, é
mister, para intervir numa controvérsia cujo desfecho afetará determinado
grupo fazer parte desse grupo ou ser-lhe solidário169 (grifos nossos).
169
TA, p. 67.
225
dedicado à argumentação. No entanto, outros efeitos desse uso podem ser
também levantados se levarmos em conta também que, mesmo discursivamente,
no cotexto, e não somente do ponto de vista interativo, o destinatário
referenciado como “vós” é o centro do discurso. Essa condição pode ser
revelada se aplicarmos uma leitura/análise em que tomarmos o “vós” como
centro – espacial mesmo – e as relações, estáticas e dinâmicas com esse “vós”,
estabelecidas. Essa, porém, é uma pista para uma possível leitura/análise da
epístola, que não aprofundamos nesta tese.
PERÍCOPE 2:1-6
Por considerarmos esta perícope um momento que funciona como pista e mesmo
como um marco discursivo que serve como ponto de apoio valioso para leitura/análise,
faremos a seguir alguns breves comentários sobre a discursivização do destinatário
neste trecho do discurso de Tiago.
É lícito considerar que a ligação entre a pessoa e seus atos, com todas as
argumentações que pode suscitar, é o protótipo de uma série de vínculos que
ensejam as mesmas interações e se prestam às mesmas argumentações. O
mais corriqueiro, talvez, destes é a relação estabelecida entre um grupo e seus
membros sendo estes a manifestação do grupo , assim como o ato é a
expressão da pessoa.170
170
TA, p. 366.
226
englobante coloca a questão dentro do próprio grupo e não relacionada a um só
indivíduo.
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/ kuri,ou
h`mw/n VIhsou/ Cristou/ th/j do,xhjÅ
2:1 Meus irmãos não tenhais/continuais a ter em parcialidade/distinção de
pessoas, a fé do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.
2:2 evan. ga.r eivse,lqh| eivj sunagwgh.n u`mw/n avnh.r crusodaktu,lioj evn evsqh/ti
lampra/(| eivse,lqh| de. kai. ptwco.j evn r`upara/| evsqh/ti(
2:2 Se, pois, entrar dentro da sinagoga de vocês um homem masculino que
tem um anel de ouro com veste brilhante, mas, também, se entrar um pobre
com veste comum.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes :
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/|
ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato
toi/j avgapw/sin auvto,nÈ
2:5 Escutai, meus irmãos amados: o deus não escolheu os pobres no mundo,
ricos em fé e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão amando?
227
2:6 u`mei/j de. hvtima,sate to.n ptwco,n ouvc oi` plou,sioi katadunasteu,ousin
u`mw/n kai. auvtoi. e[lkousin u`ma/j eivj krith,riaÈ
2:6 Vós desonrastes o pobre. Não (são) os ricos (que) estão
oprimindo/tiranizando no meio de vós e também (não são) eles que estão
arrastando vocês para dentro dos tribunais?
VÓS - Não há dúvida de que a quase totalidade das marcas que discursivizam o
destinatário da Epístola, também aqui na perícope 2:1-5, são aquelas que apontam para
o grupo como um todo: VAdelfoi, mou “meus irmãos”; e;cete “começai vós a ter,
continuai vós a ter”; sunagwgh.n u`mw/n “sinagoga de vós”; evpible,yhte “se vós olhardes;”
ei;phte “se vós disserdes”; ei;phte( “se vós disserdes”; diekri,qhte “vós fizestes
julgamentos atravessados, vós discriminastes”; evn e`autoi/j “em vós mesmos”; evge,nesqe
kritai. “vós vos tornastes juízes”; VAkou,sate “Começai a escutar vós, continuai a escutar
vós; avgaphtoi, “amados”; u`mei/j hvtima,sate “vós menosprezastes”.
228
meu pé” h' ka,qou u`po. to. u`popo,dio,n mou. Essa marca vem bem ao encontro do
ensinamento do TA citado acima: “O mais corriqueiro, talvez, destes é a relação
estabelecida entre um grupo e seus membros sendo estes a manifestação do grupo,
assim como o ato é a expressão da pessoa”.
NÓS - A que introduz o orador da Epístola no grupo das doze tribos na dispersão
com a marca “de nós,nossa” h`mw/n. Para que o destinatário e o orador formem uma só
unidade, o ponto de apoio é o vers. 2:1 “a fé do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.”,
modalizada pela paixão da discriminação de pessoas: proswpolhmyi,aij
“parcialidade/distinção de pessoas”.
229
CAPÍTULO 12
LEITURA/ANÁLISE DA PERÍCOPE 1:21-27
______________________________________________________________________
1:21 dio. avpoqe,menoi pa/san r`upari,an kai. perissei,an kaki,aj evn prau<thti(
de,xasqe to.n e;mfuton lo,gon to.n duna,menon sw/sai ta.j yuca.j u`mw/nÅ
1:21 Porque despojados de toda avareza/vileza sórdida e susupérfluo de
maldade, com inteligência, recebei/começai a receber/continuai a receber a
palavra enxertada/palavra inata, a que está tendo poder de restaurar/salvar as
vossas mentes/almas.
1:22 Gi,nesqe de. poihtai. lo,gou kai. mh. mo,non avkroatai. paralogizo,menoi
e`autou,jÅ
1:22 Tornai-vos começai/continuai a vos tornar fazedores/criadores da
palavra e não enganadores de si mesmos, (como) ouvintes somente.
1:23 o[ti ei; tij avkroath.j lo,gou evsti.n kai. Ouv poihth,j( ou-toj e;oiken avndri.
Katanoou/nti to. pro,swpon th/j gene,sewj auvtou/ evn evso,ptrw|\
1:23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra,e não fazedor/realizador, esse
parece um homem que está observando/refletindo a aparência de
nascimento/nascença dele, em um espelho.
1:24 kateno,hsen ga.r e`auto.n kai. avpelh,luqen kai. euvqe,wj evpela,qeto o`poi/oj
h=nÅ
1:24 .... pois ele observou/refletiu a si mesmo e foi embora/desapareceu, e
rapidamente esqueceu-se como era.
1:25 o` de. paraku,yaj eivj no,mon te,leion to.n th/j evleuqeri,aj kai. paramei,naj(
ouvk avkroath.j evpilhsmonh/j geno,menoj avlla. poihth.j e;rgou( ou-toj maka,rioj
evn th/| poih,sei auvtou/ e;staiÅ
1:25 Mas o que tendo olhado com atenção para dentro da lei perfeita/ que tem
meta, aquela da liberdade e, ao mesmo tempo, está persevererando, não tendo
se tornado ouvinte esquecido mas realizador do trabalho, esse será bem
aventurado/feliz em sua ação criação.
1:26 Ei; tij dokei/ qrhsko.j einai mh. calinagwgw/n glw/ssan auvtou/ avlla.
avpatw/n kardi,an auvtou/( tou,tou ma,taioj h` qrhskei,aÅ
1:26 Se alguém está parecendo ser um religioso/fazedor religioso e, ao
mesmo tempo, não estando refreando a sua língua, mas
enganando/continuando a enganar o seu oração, a religião dele é vã/sem
valor.
1:27 qrhskei,a kaqara. kai. avmi,antoj para. tw/| qew/| kai. patri. au[th evsti,n(
evpiske,ptesqai ovrfanou.j kai. ch,raj evn th/| qli,yei auvtw/n( a;spilon e`auto.n
threi/n avpo. tou/ ko,smouÅ
1:27 Um fazer religioso/religião pura e sem defeito/sem mancha junto de
Deus e pai é esta: visitar/estar olhando órfãos e viúvas, nas suas necessidades
e conservando-se/preservando-se a si mesmo sem mancha do mundo.
No vers. 1:22, o orador inicia o discurso com a evocação de uma narrativa que
remete a uma mudança/transformação: Gi,nesqe de. “Tornai-vos começai/continuai a vos
tornar”. O orador usa um imperativo - recomendação/exortação - no aspecto verbal do
Infectum, com idéia incoativa ou de algo em progresso. A marcação do tempo trazida
pelo imperativo pressupõe um tempo agora, do auditório. O auditório vive o momento.
A partir desse momento agora lhe é recomendado que comece a agir/fazer. Há, nos
vers. 1:23-25, a evocação de todo um PN composto por: um sujeito da sugestão - vers.
1:21, e um Sujeito num primeiro momento coletivo, num tempo agora, que está sendo
persuadido a fazer.Esse sujeito, se aceitar a sugestão, se transformará , no vers. 1:25, e
ao final, adquire um outro estado (num outro tempo): S > S1 -------------S2. Aparecerá,
pois, um sujeito transformado que pode ser considerado como eu, pois tem uma
identidade.
231
1:25 poihth.j Fazedor
1:25 maka,rioj Bem aventurado
1:26 Ei; tij Alguém
1:26 qrhsko.j Religioso/fazedor
religioso
1:26 mh. calinagwgw/n O que não esta freiando
1:26 avpatw/n O que está enganando
171
L´opération figurale en quoi consiste l´enonciation fait passer de la vraisemblance d´une monde
representé (empirique ou virtuel) à l´etablissement d´une forme figurative do contenu (Cf. PANIER, Les
marques d’énonciation dans l’épître aux Galates, p. 11). “A operação figural na qual está presente a
enunciação faz passar da verossimilhança de um mundo representado (empírico ou virtual) ao
estabelecimento de uma forma figurativa do conteúdo” (tradução nossa).
172
O discurso da lei, no entanto, mesmo comparado a um espelho, não tem o significado que já foi
atribuído aos discursos como “espelhos” da realidade como, por exemplo, na semântica formal,
referenciando especularmente pela palavra um objeto exterior do mundo.
232
compreensão de uma condição do homem pela percepção. No discurso de Tiago, o
espelho está fazendo parte de uma configuração discursiva que mantém o mesmo
discurso do AT, o qual ensina que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de
Deus. Essa visão, do homem como criado à imagem de Deus, confirma o discurso do
AT e está marcada no vers. 3:9, de Tiago:
3:9 evn auvth/| euvlogou/men to.n ku,rion kai. Pate,ra kai. Evn auvth/| katarw,meqa
tou.j avnqrw,pouj tou.j kaqV o`moi,wsin qeou/ gegono,taj
173 Na epístola, a maior concentração de uso do aspecto verbal perfeito é a partir do versículo 5:1, no
momento em que o auditório principal é subdividido no subgrupo dos ricos, fazendo progredir o tema da
riqueza e seu acúmulo e, particularmente, o das sanções.
233
evpilhsmonh/j não é o mesmo conceito que temos do ato de esquecer presente na nossa
cultura. Aqui, não se trata do esquecer que está preso à noção de memória histórica.
Aqui, esquecer é quase o equivalente ao “deixar-se levar”, “sair”, “não tomar
conhecimento” da relação que o sujeito está tendo com o seu objeto do sentir. O objeto
está lá, latente174, sem que a atenção seja voltada para ele. É o que eventualmente
podemos confirmar com o uso no mesmo cotexto da figura verbo “sair” avpercomai -
avpelh,luqen - que faz parte do PN do mesmo ator esquecido, vers. 1:24 kateno,hsen ga.r
e`auto.n kai. avpelh,luqen kai. euvqe,wj evpela,qeto o`poi/oj h=n “observou, pois, a si mesmo e
foi embora, e logo esqueceu de como era”. Essa idéia do esquecer, está relacionada com
a noção de não esquecimento trazida pela palavra “verdade” avlh,qeia. Esse termo não
tem o mesmo sentido de verdade, tal como em nossa cultura. A relação com o
significado trazido no termo avlh,qeia é de “consciência momentânea e imediata”,
implicando uma “modalização aspectual” pelo contínuo, com o objeto com o qual o
sujeito se relaciona, sente, observa, naquele momento. Uma das marcas textuais
discursivas na Epístola, que permite o estabelecimento dessa relação, é justamente a
morfologia do termo, a qual é apoio para a criação das figuras às quais nos referimos.
Essas figuras do esquecer/não esquecer, na Epístola, estão pois adquirindo uma
significação própria e contribuindo para a leitura do sentido do texto/discurso. Um fato
curioso é também que todas as três figuras - evpela,qeto “esqueceu” evpilhsmonh/j
175
“esquecido e avpelh,luqen “foi embora” - são construídas com a mesma raiz com a
sonorização (l) (t) (Q) (lhq-) (luQ). Na Epístola, o esquecer está diretamente ligado ao
sair176: Um sentido que é criado em conjunto com as figuras que constroem a entrada,
permanência, ou saída do “caminho” o]doj. Este último, espacializando os temas da
relação homem/deus; homem/homem; e homem/consigo mesmo.
174
Em grego la,q-, em português lat-.
175
Talvez nesta relação de raízes esteja a explicação para a forma “tão diferente” da morfologia dos temas
dos aspectos continuo e do aoristo para o mesmo verbo avpe,rcomai.
176
Nesta perícope observa-se uma sonoridade comum dos termos. É a sonoridade “Pêlê”, presente em
avpelh, pela,qeto e evpilhsmonh/
pelh,luqen, evpela, pilh
pilh j. Esta reiteração de sonoridade é chamada pelos semióticos de semi-
simbolismo.
234
vers. Figura Tradução Relação/Tema
1:23-25 logou nomon Discurso/lei Homem com Deus.
1:22 paralogizo,menoi Enganadores de Homem consigo mesmo
e`autou,jÅ si mesmo
1:26-27 (toda perícope) Homem com outros homens
1:17 enfuton logon Palavra Homem com deus.
enxertada
1:17 dezasqe recebei Homem com deus.
235
CAPÍTULO 13
FIGURATIVIDADE E EFEITO DE PROFUNDIDADE
______________________________________________________________________
PRIMEIRA RELAÇÃO:
VERSÍCULO 1:10 COM 1:12
1:10 o` de. plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou
pareleu,setaiÅ
1:10 Mas ao rico, diga a ele que (comece a se vangloriar/exaltar) na sua
humilhação, porque irá embora/cairá/passará como a flor da erva.
1:11 avne,teilen ga.r o` h[lioj su.n tw/| kau,swni kai. evxh,ranen to.n co,rton kai.
to. a;nqoj auvtou/ evxe,pesen kai. h` euvpre,peia tou/ prosw,pou auvtou/ avpw,leto\
ou[twj kai. o` plou,sioj evn tai/j porei,aij auvtou/ maranqh,setaiÅ
1:11 Pois, o sol atingiu o seu ponto máximo/o seu pico/a sua meta tendo ao
lado o vento escaldante/abrasador e secou a erva e a sua flor caiu e a beleza
da aparência dela morreu/desapareceu. Assim também o rico em seus
negócios/nas suas andanças será murcho.
1:23 o[ti ei; tij avkroath.j lo,gou evsti.n kai. Ouv poihth,j( ou-toj e;oiken avndri.
Katanoou/nti to. pro,swpon th/j gene,sewj auvtou/ evn evso,ptrw|\
1:23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra,e não fazedor/realizador, esse
parece um homem que está observando/refletindo a aparência de
nascimento/nascença dele, em um espelho.
1:24 kateno,hsen ga.r e`auto.n kai. avpelh,luqen kai. euvqe,wj evpela,qeto o`poi/oj
h=nÅ
1:24 .... pois ele observou/refletiu a si mesmo e foi embora/desapareceu, e
rapidamente esqueceu-se como era.
237
1:25 o` de. paraku,yaj eivj no,mon te,leion to.n th/j evleuqeri,aj kai. paramei,naj(
ouvk avkroath.j evpilhsmonh/j geno,menoj avlla. poihth.j e;rgou( ou-toj maka,rioj
evn th/| poih,sei auvtou/ e;staiÅ
1:25 Mas o que tendo olhado com atenção para dentro da lei perfeita/ que tem
meta, aquela da liberdade e, ao mesmo tempo, está persevererando, não tendo
se tornado ouvinte esquecido mas realizador do trabalho, esse será bem
aventurado/feliz em sua ação criação.
O uso do verbo par-evr, comai no vers. 1:10 nos permite algumas reflexões que se
inserem nos objetivos mais amplos de nossa tese: apontar a coesão e coerência da
Epístola e seu caráter argumentativo. A tradução de par-evr, comai177 assinala dois usos de
significado, bem distintos. A primeira tradução sugerida por Bailly aponta um
movimento de passagem como algo que surge, passa e desaparece, como, por exemplo,
“o vôo de um pássaro” ou de “um navio que passa”. A segunda tradução sugere as
noções de chegar, se aproximar, e mesmo entrar. Todas as duas noções são úteis para
fazer uma relação entre a morfologia, modalização espacial, figuratividade e construção
de temas.
No vers. 1:10, a raiz erc- é usada no verbo par-evr, comai, no tempo externo
considerado como futuro, mas na verdade a noção principal é de mera menção do fato,
já que se utiliza o tema aspectual do aoristo/pontual, narrativo:o[ti w`j a;nqoj co,rtou
pareleu,setaiÅ “porque irá embora/cairá como a flor da erva”.
No vers. 1:24, a raiz elhlu- é usada no verbo avpelh,luqen, tempo externo considerado
como passado e com a noção de ato acabado ou estado trazida pelo uso do tema verbal
aspectual do Perfectum/acabado: kateno,hsen ga.r e`auto.n kai. avpelh,luqen “pois ele
observou/refletiu a si mesmo e foi embora/desapareceu, e rapidamente esqueceu-se
como era”.
Qual a afinidade entre as noções dos usos dos verbos 1:10 pareleu,setai
“embora/cairá/passará” e 1:24 avpelh,luqen “foi embora/desapareceu”, levando em conta
que os temas aspectuais são diferentes, o primeiro um tema verbal do aoristo pontual e o
segundo um tema do Perfectum/acabado?
177
Verbete par-erc
ercomai.
erc In: BAILLY, Dictionnaire grec-français.
238
01. A afinidade é dada nos enunciados que fazem parte do cotexto em que os
dois aspectos estão sendo utilizados. A forma, no vers. 1:10, pareleu,setai “porque irá
embora/cairá/passará como a flor da erva.” é usada no aspecto Aoristo/Pontual para
manter a coerência com o verbo maranqh,setai “será murcho”. Os dois verbos sugerem
um tempo externo futuro. Essa manutenção de coerência do modo de dizer é
imprescindível, uma vez que o rico está sendo comparado no cotexto à flor “que morre
pela ação do sol”.
02. Uma outra relação entre os usos dos verbos compostos com a raiz erc-, nos
vers. 1:10 e 1:24, é que ambos estão em um cotexto em que aparece a palavra to.
pro,swpon “a aparência, a face”. Ora, esse fato é muito, muito significativo. O uso dos
verbos com a raiz erc- nos dois cotextos está vinculado à questão da face, da imagem e,
por extensão, à noção de identidade dos actantes/personagens, aos quais as figuras da to.
pro,swpon “a aparência, a face” estão vinculadas. Sugere-se aqui que o movimento de
ir/vir/sair/ir embora possa estar estreitamente ligado com o tema do continuum da vida
do “fazedor religioso” qrhsko.j, cf. vers. 1:26: Ei; tij dokei/ qrhsko.j ei=nai “se alguém
parece ser fazedor religioso”, e com a (des)construção da identidade do grupo, ou de
cada membro em particular. Ambos, o grupo ou cada individuo, é importante assinalar,
são destinatários da Epístola.
03. Há uma terceira relação ou ponto em comum que aparece com o uso dos
verbos compostos com a raiz erc- nos cotextos dos vers. 1:10 e 1:24. Ambos os cotextos
contêm enunciados que usam uma construção sintática e argumentativa de comparação.
E, além do mais, a argumentação é reforçada com um recurso idêntico do ponto de vista
239
da expressão. A comparação é feita com figuras construídas ao utilizar enunciados
inteiros, e não com palavras isoladas, conforme abaixo:
1:10 o` de. plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou
pareleu,setaiÅ
1:10 Mas ao rico, diga a ele que (comece a se vangloriar/exaltar) na sua
humilhação, porque irá embora/cairá/passará como a flor da erva.
1:23 o[ti ei; tij avkroath.j lo,gou evsti.n kai. Ouv poihth,j( ou-toj e;oiken avndri.
Katanoou/nti to. pro,swpon th/j gene,sewj auvtou/ evn evso,ptrw|\
1:23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra,e não fazedor/realizador, esse
parece um homem que está observando/refletindo a aparência de
nascimento/nascença dele, em um espelho.
SEGUNDA RELAÇÃO
VERSÍCULO 1:10 e 2:2
240
podendo ser agrupados, de acordo com Bailly178 nas seguintes situações de uso: A) o
uso que traz a idéia do significado mais simples de “entrar”; B) o uso que traz a idéia de
aparecer em público, sendo que, nesse caso, os usos incluem: o de aparecer diante de
um tribunal, ou do aparecimento de atores em cena; C) um uso figurativo que sugere o
percurso narrativo de uma paixão: entrar no espírito, no coração. Todos os usos com os
significados acima apontados podem contribuir para desvendar efeitos de sentido e
relações no discurso da Epístola.
O primeiro uso de significado apontado por Bailly, além da ligação imediata
com o significado direto que traz a idéia de entrar, poderá ser útil quando falarmos
sobre a modalização espacial trazida pelos compostos, com prefixos
separáveis/preposições. A ocorrência, em que ora queremos fixar nossa leitura/análise, é
a do segundo uso de significado apontado por Bailly, aquele que traz a idéia de aparecer
em público, seja em uma cena de teatro, seja em um tribunal. O significado de eivj-
e,rcomai usado em cotextos que sugerem a entrada do ator em uma cena de teatro, se
presta bem para a leitura/análise enunciativa do cotexto, em que esse verbo composto
com a raiz erc- é usado na Epístola. Esse mesmo uso, de entrada do ator em cena,
também nos permitirá uma comparação com a ocorrência do verbo par-evr, comai em
1:10.
1:10 o` de. plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou
pareleu,setaiÅ
1:10 Mas ao rico, diga a ele que (comece a se vangloriar/exaltar) na sua
humilhação, porque irá embora/cairá/passará como a flor da erva.
178
Verbete eivj-e[rcomai. In: BAILLY, Dictionnaire grec-français.
241
Em primeiro lugar vamos fazer uma relação entre o significado do verbo
eivse,rcomai de “entrada em cena”, com seu uso na Epístola, e uma noção da Teoria da
Enunciação que se chama cenografia, “encenação”, “cena discursiva”, “cena
enunciativa” e também a dêixis. À primeira vista, essa ligação é problemática e poderá
parecer uma ligação puramente mecânica. Por essa razão, e sendo difícil, requer uma
grande clareza na distinção das duas noções e na construção da análise. Tentaremos
fazê-lo. O que consideramos importante distinguir é que, no discurso de Tiago, o verbo
composto eivse,rcomai com a raiz erc- está auxiliando a construir, ao utilizar um
enunciado inteiro, o recurso figurativo da iconização. O verbo está fazendo parte de um
conjunto de figuras que inclui até o uso argumentativo de um diálogo, ilustrativo e
hipotético, entre os personagens da pequena narrativa. A iconização é construída com a
pequena narrativa que consta da perícope 2:1-4:
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/ kuri,ou
h`mw/n VIhsou/ Cristou/ th/j do,xhjÅ
2:1 Meus irmãos não tenhais/continuais a ter em parcialidade/distinção de
pessoas, a fé do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.
2:2 evan. ga.r eivse,lqh| eivj sunagwgh.n u`mw/n avnh.r crusodaktu,lioj evn evsqh/ti
lampra/(| eivse,lqh| de. kai. ptwco.j evn r`upara/| evsqh/ti(
2:2 Se, pois, entrar dentro da sinagoga de vocês um homem masculino que
tem um anel de ouro com veste brilhante, mas, também, se entrar um pobre
com veste comum.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes :
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
Outra distinção a ser feita é que, qualquer discurso, de acordo com a Teoria da
Enunciação, é visto como um ato pragmático que sugere uma entrada em cena do
enunciador. O enunciador cria uma interação orador/ouvinte denominada “cena
enunciativa” da qual fazem parte: o enunciado, o enunciador e o enunciatário. Ora,
242
conforme vimos na perícope 2:1-4 atrás transcrita, quando o enunciador com seu ato
cria a “cena enunciativa”, na qual aparecem os enunciados e actantes/personagens, ele -
o enunciador - faz aparecer um outro enunciado e uma outra cena enunciativa. Essa
outra cena enunciativa é criada, mas contém um valor de eventualidade factual, embora
discursivamente real, em que aparece um outro enunciador, portanto, um outro sujeito
discursivo, um outro ato, aparentemente distinto do da criação da Epístola, uma outra
cena enunciativa se forma. Mas é importante assinalar que o sujeito discursivo do novo
ato enunciativo é o próprio destinatário da Epístola, que também é ator do enunciado
englobante. O recurso discursivo utilizado pelo enunciador/orador da Epístola é
riquíssimo em implicações possíveis de criar vários efeitos de sentido. A principal
implicação, sem dúvida, é que a perícope está antes e acima de tudo trabalhando em
função da persuasão do auditório - as doze tribos na dispersão. E, essa persuasão, por
sua vez, tem como função a (des)construção da identidade do destinatário.
243
eivse,rcomai apontado por Bailly. O significado é aquele que traz a idéia de “aparecer em
público”, seja em uma cena de teatro seja num tribunal. Com as considerações que
acabamos de fazer, e as que ainda faremos a seguir, constata-se que esses significados
se aplicam “como uma luva” aos objetivos argumentativos do orador da Epístola. O
caráter iconográfico do enunciado, cremos que foi destacado, senão totalmente pelo
menos em algumas pinceladas. Já o caráter de tribunal trazido pela cena é
extraordinariamente evidente, se levarmos em consideração todo o cotexto anterior da
carta – vers. 2:1- aquele que antecede a cena espacializada na sinagoga, bem como a
conclusão – vers. 2:4 - para qual o orador dirige o raciocínio por meio da cena criada
como premissa. Há um acúmulo de argumentos, inclusive trazido pelo uso do termo,
que nos auxilia a entender o uso de significado do verbo eivse,rcomai como “entrada num
tribunal”. O vers. 2:1, reproduzido abaixo, contém uma palavra grega que, traduzida
para o português, perde totalmente a riqueza de significado contida na figurativização
nela embutida. Trata-se da palavra proswpolhmyi,aij traduzida comumente por
parcialidade ou distinção de pessoas.
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/ kuri,ou
h`mw/n VIhsou/ Cristou/ th/j do,xhjÅ
244
O verbo proswpolhmpte,w é composto com as seguintes partes significativas:
Como se vê, a situação daquele que tem seu rosto levantado para ser colocado à
mostra e ser reconhecido, a proswpolhmyi,a, agregada ao uso do verbo eivj-e,rcomai,
conduz a interpretação da iconização criada pela cena enunciativa, para uma isotopia
semântico/figurativa que está vinculada ao tema de um julgamento. Além do gesto de
pegar o rosto com a mão assinalado no verbo proswpolhmpte,in, que ocorre no vers. 2:1,
e que antecede a cena de entrada do rico e do pobre na sinagoga, também a conclusão,
contida no vers. 2:4, conforme já assinalamos, mantém a isotopia figurativa de uma
cena de julgamento. O enunciado contido no vers. 2:4 reproduzido abaixo, ao concluir a
argumentação de 2:1-4, introduz com força questões relacionados com lei, julgamento, e
a pessoa do juiz.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
Essa isotopia figurativa kri,tai e diekri,qhte, construída com o uso do termo que
usa a raiz kr-, está presente em toda a epístola.
245
5:1 :Age nu/n oi` plou,sioi( klau,sate ovlolu,zontej evpi. tai/j talaipwri,aij
u`mw/n tai/j evpercome,naijÅ
5:1 Vamos agora, os ricos ! Chorai, ao mesmo tempo lamentando, sobre as
misérias/sofrimentos, as que estão vindo sobre vós.
1:10 o` de. plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou
pareleu,setaiÅ 1:11 avne,teilen ga.r o` h[lioj su.n tw/| kau,swni kai. evxh,ranen to.n
co,rton kai. to. a;nqoj auvtou/ evxe,pesen kai. h` euvpre,peia tou/ prosw,pou auvtou/
avpw,leto\ ou[twj kai. o` plou,sioj evn tai/j porei,aij auvtou/ maranqh,setaiÅ
1:18 boulhqei.j avpeku,hsen h`ma/j lo,gw| avlhqei,aj eivj to. einai h`ma/j avparch,n
tina tw/n auvtou/ ktisma,twnÅ
1:18 Tendo tido vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade/do não
esquecimento para sermos um tipo de primícia das criaturas dele.
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/|
ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato
toi/j avgapw/sin auvto,nÈ
2:5 Escutai, meus irmãos amados: o deus não escolheu os pobres no mundo,
ricos em fé e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão amando?
2:6 u`mei/j de. hvtima,sate to.n ptwco,n ouvc oi` plou,sioi katadunasteu,ousin
u`mw/n kai. auvtoi. e[lkousin u`ma/j eivj krith,riaÈ
2:6 Vós desonrastes o pobre. Não (são) os ricos (que) estão
oprimindo/tiranizando no meio de vós e também (não são) eles que estão
arrastando vocês para dentro dos tribunais?
246
É marcante também que a própria morfologia do substantivo avparch,n, no vers.
2:5, contém a raiz erc-179, mantendo uma coerência de significado extraordinária, que
auxilia a criar a função discursiva trazida, podemos dizer, por uma simples raiz.
Certamente, nas versões em outras línguas que não a grega, esse “semi-simbolismo”,
como diriam os semioticistas, não aparece.
TERCEIRA RELAÇÃO
VERSÍCULO 2:2 e 3:10
3:10 evk tou/ auvtou/ sto,matoj evxe,rcetai euvlogi,a kai. Kata,raÅ ouv crh,( avdelfoi,
mou( tau/ta ou[twj gi,nesqaiÅ
179
A kind of first-fruits avparch,n tina. "Some first-fruits" (old word from avpa,rcomai), of Christians of
that age. See Ro 16:5. Cf. Verbete: avparch,n. In: ROBERTSON, A T. Word Pictures in the Greek New
Testament (ATR), Software Bible Works.
180
Verbete evx-e,rcomai. In: BAILLY, Dictionnaire grec-français.
247
vers. 3:10, o da emanação/saída da voz pela boca. Esse significado remete, do ponto de
vista enunciativo, à noção da assunção de um discurso por um sujeito.
Mas, o significado que agora ressaltamos é o que está trazendo uma conotação
figurativa que se enquadra justamente no uso do verbo evxe,rcomai em contextos que
sugerem transgressão da lei e saída do caminho recomendado. Essa figurativização está
vinculada à isotopia figurativa do juízo, julgamento, que contribui para manter a coesão
e coerência textual e temático discursiva.
248
PERÍCOPE 2:1-8
O esquema narrativo proposto pela metodologia semiótica prevê que nos PNs
descritivos o sujeito está em busca de um objeto. Esse objeto é uma casa vazia que é
preenchida por valores. Mas há também um outro tipo de PN, nos quais os sujeitos estão
em busca de valores modais, diferentes dos valores descritivos. A modalidade, na
metodologia Semiótica é figurativizada pelo saber, fazer, dever, poder.
181
Cf. BERTRAND, p. 229.
182
A suposição de que o espaço do percurso narrativo do enunciado englobante é também a sinagoga
fundamenta-se na idéia de que a epístola era para ser lida por responsáveis pelo grupo. Os responsáveis
leriam para uma reunião do grupo. O lugar próprio da reunião do grupo, as doze tribos na dispersão, era a
sinagoga. A marca de que a leitura da epístola era feita por responsáveis está no uso dos modos
“imperativos” na terceira pessoa do singular.
249
um outro percurso narrativo no enunciado englobante, que é o da aquisição de um
estado, pelo sujeito destinatário da Epístola. Para esse sujeito no estado final de
transformação, o enunciador dá entre outros183 o nome de qrhsko.j “fazedor religioso”.
O vers. 1:26 pressupõe que seja esse estado que o destinatário busca, vers. 1:26
Ei; tij dokei/ qrhsko.j ei=nai “Se alguém parece ser religioso/fazedor religioso”. Tiago
concretiza a busca do objeto modal do saber utilizando marcas textuais com verbos que
indicam os movimentos de entradas, do rico e do pobre na sinagoga. Marcando as
entradas dos sujeitos pelo verbo, o texto semantiza o movimento da busca do valor
dentro do espaço. O que queremos enfatizar é que o movimento em busca do objeto
saber, além de pressuposto no PN, está também concretizado discursivamente, pelo
próprio movimento de se dirigir e entrar na sinagoga. O verbo “entrar” evise,rcomai
aparece duas vezes no vers. 2:2, enfatizando o movimento. A cena do enunciado
encaixado, tal como prevista por Tiago, indica, no entanto, uma transformação da
relação entre o sujeito e o objeto.
183
Outros nomes para o destinatário transformado, no percurso narrativo do enunciado englobante, são:
vers. 3:9 kaqV o`moi,wsin qeou/ gegono,taj “tendo sido criado à semelhança de Deus”; vers.1:26 qrhsko.j
“religioso/fazedor religioso”; vers. 1:18 avparch,n tina tw/n auvtou/ ktisma,twnÅ “um tipo de primícia das
criaturas dele”; vers.1:4 te,leioi kai. o`lo,klhroi “herdeiros completos”; vers.1:22 poihtai.. lo,gou
“fazedores,criadores do logos”; vers.1:25 poihth.j e;rgou “fazedores, criadores do trabalho”; vers. 4:11
poihth.j no,mou “criadores, fazedores da lei”; vers. 1:12 e 1:25 maka,rioj “bem-aventurado”.
250
3:15 ouvk e;stin au[th h` sofi,a a;nwqen katercome,nh avlla. Evpi,geioj( yucikh,(
daimoniw,dhjÅ
3:15 Essa não é a sabedoria [a] que está descendo do alto, mas [uma] que está
sobre a terra/terrena , vivente/do mundo, mental, demoníaca/que diz respeito
aos demônios.
3:16 o[pou ga.r zh/loj kai. Evriqei,a( evkei/ avkatastasi,a kai. Pa/n fau/lon
pra/gmaÅ
3:16 Pois onde (há) inveja/ciúme e disputa, ali (há) instabilidade/agitação e
toda qualidade inferior.
3:17 h` de. a;nwqen sofi,a prw/ton me.n a`gnh, evstin( e;peita eivrhnikh,( evpieikh,j(
euvpeiqh,j( mesth. Evle,ouj kai. Karpw/n avgaqw/n( avdia,kritoj( avnupo,kritojÅ
3:17 A sabedoria (que vem) do alto, primeiro é pura/inocente, depois
pacífica, conveniente/na justa medida), obediente/dócil,cordata, cheia de
compaixão/piedade e de frutos bons.
No versículo 2:4:
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
E, no versículo 3:17:
3:17 h` de. a;nwqen sofi,a prw/ton me.n a`gnh, evstin( e;peita eivrhnikh,( evpieikh,j(
euvpeiqh,j( mesth. Evle,ouj kai. Karpw/n avgaqw/n( avdia,kritoj( avnupo,kritojÅ
De acordo com nossa leitura, as duas ocorrências da raiz estão inseridas dentro
de cotextos que utilizam técnicas argumentativas criadas pelo modo de dizer. A
modalização argumentativa na perícope 2:1-4 é feita de maneira cuidadosa, por um
251
enunciado com a modalidade da eventualidade. Tudo começa com a construção, no
vers. 2:2: evan. ga.r eivse,lqh “Se pois entrar”, que é reforçada pela repetição: eivse,lqh| de.
kai. ptwco.j “Mas se entrar também um pobre”.
184
Ver, por exemplo, no versículo 1:5, a eventualidade, em que a particula eiv é seguida por um verbo com
tema aspectual do Infectum/Inacabado: Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( “se algum dentre vós está em
falta de sabedoria”. O efeito de realidade da construção com o verbo no Infectum/Inacabado é bem maior.
Sabe-se que a construção eiv + aspecto Infectum/Inacabado nos textos gregos é tradicionalmente tida pelos
teóricos como argumentativa.
252
PRIMEIRO A ENUNCIAÇÃO PREVISTA NA PERÍCOPE É UM DISCURSO (UM
AGIR) DE UMA PERSONAGEM DO DISCURSO ENGLOBANTE (O PRÓPRIO
AUDITÓRIO DA EPÍSTOLA)
185
O orador formalmente assinala o caráter institucional dos atos ilocucionários: o que se fala tem como
pressuposto valores sociais de um grupo. Tiago marca esta pressuposição concedendo o ato discursivo ao
grupo inteiro.
253
auditório. É nessa dicotomia que o orador se apoiará utilizando a técnica argumentativa
da dissociação de noções.
186
Conforme vers. 1:10-11 e diversos versículos do cap. 05.
254
as duas enunciações. A relação mostra um conflito de valores entre o enunciado
englobante e o enunciado encaixado. O conflito aparece na axiologização das duas
sabedorias e nas estratégias argumentativas de desqualificação do discurso encaixado.
Ao invés de obtenção daquela sabedoria prevista e recomendada no enunciado
englobante, o que se manifesta é um outro PN modal de saber. O saber do PN do
discurso encaixado aparece também em uma enunciação:aquele ato discursivo do
membro da sinagoga que ao utilizar o modo imperativo indica para o rico o melhor
lugar: Su. ka,qou w-de kalw/j( “Senta/inicia o ato de sentar (tu) deste modo (aqui)
bem/boamente/de maneira boa/no lugar que te é próprio” e para o pobre, o lugar abaixo
do escabelo dos pés do enunciador: Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to. u`popo,dio,n mou
“coloca-te de pé ali ou vai sentar/inicia o ato de sentar, abaixo do lugar de colocar o
meu pé”.
255
A sabedoria de
Deus – do alto
Versículos 5:1 e
seguintes Versículo 2:5
Pobreza do Rico Riqueza do Pobre
Discurso Englogante
Realidade de pobreza Realidade de riqueza
avnh.r crusodaktu,lioj evn REAL
evsqh/ti lampra/(| plousi,ouj evn pi,stei
to.n forou/nta th.n 2:5
evsqh/ta th.n lampra.n
2:3-4
SABEDORIA
Aparência Aparência
Roupas brilhantes, Roupas simples e
adereços luxuosos rasgadas despertam
despertam uma uma sabedoria
sabedoria
Aparência de
sabedoria
terrena
do baixo
256
A DISSOCIAÇÃO DE NOÇÕES
01. Na ligação que o grupo faz entre aparência do rico versus destinação de um
lugar tópico privilegiado, mais alto, no espaço da sinagoga - vers. 2:1-4.
02. Na ligação, que a Teoria da Enunciação faz entre o eu/aqui/agora, da instância
da enunciação lato sensu, versus a actorialização, espacialização,
temporalização, na instância discursiva.
03. No estabelecimento de uma relação entre as duas ligações acima. A relação
tomando como ponto de apoio a substituição de um PSNE do Sujeito do
Pa,scein “sujeito do sentir,experimentar, sofrer de” pela propriedade do ouro e
das vestes brilhantes, do sujeito com aparência de riqueza.
257
“lugar menos privilegiado para sentar”, espacializado como BAIXO. A discursivização
que isolará os termos ou variáveis estará em função dos objetivos da argumentação.
Essa construção argumentativa se fará no enunciado englobante incluindo o enunciado
encaixado. O próprio enunciado encaixado no qual o grupo designa os lugares é
introduzido no enunciado englobante justamente para auxiliar a construir a técnica
argumentativa. Nesse enfoque, estamos também querendo insistir que a cenografia
espacializada na sinagoga mostra apenas uma das possibilidades de discursivizar a
associação que é tida como pré-existente. Haveria outras possibilidades de discursivizar
a associação pré-existente ou pressuposta, como, por exemplo, ao invés de especializá-
la numa sinagoga mostrá-la nos lugares designados em uma mesa.
258
de justificar ou não o gesto enunciativo que designou os lugares privilegiados para o
rico, dentro da sinagoga. Terceiro: inserindo os ricos no grupo maior dos “seres
humanos” e, sobretudo, remetendo ou se estribando no par aparência/realidade. Quarto:
tomando como fato determinante da associação a assunção da palavra pelo auditório, no
enunciado encaixado.
Se a técnica fosse a da ruptura de ligação, ela teria como objetivo, por exemplo,
uma ligação feita pelo próprio grupo e consolidada em um acordo anterior entre os seus
membros. O grupo teria estabelecido um acordo de que a aparência de riqueza é um
fenômeno que deve ou tem um valor. Tiago trabalha no texto para persuadir o auditório
a fazer uma ruptura dessa ligação que considera indevida. Ele considera essa ligação, no
enunciado englobante, como atos de proswpolhmyi,a “distinção de pessoas” e
187
TA, pp.467-468.
259
diakri,nein “fazer juízos atravessados/discriminar” . Todos os dois atos axiologizados
negativamente pelo orador:
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/ kuri,ou
h`mw/n VIhsou/ Cristou/ th/j do,xhjÅ
2:1 Meus irmãos não tenhais/continuais a ter em parcialidade/distinção de
pessoas, a fé do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.
1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken
klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw|Å
1:6 Que ele busque/entre no ato de buscar com fé, e não fazendo julgamentos
atravessados/ considerações/discriminações, pois o que está fazendo
julgamentosatravessados/considerações/ discriminações parece uma onda do
mar, que está sendo agitada/empurrada e soprada pelo vento.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
260
4:5 h' dokei/te o[ti kenw/j h` grafh. le,gei( pro.j fqo,non evpipoqei/ to. pneu/ma o]
katw,k| isen evn h`mi/n(
4:5 Ou vos parece/está parecendo que, em vão, a escritura diz/está dizendo:
contra o “segurar para si”/avareza deseja o espírito, aquele que morou/habitou
em vós?
1:14 e[kastoj de. peira,zetai u`po. th/j ivdi,aj evpiqumi,aj evxelko,menoj kai.
deleazo,menoj\
1:14 Mas cada um é/está sendo envolvido/provado/tentado pela própria
ambição/cobiça. Estando sendo arrastado /tirado, pescado e sendo
iscado/seduzido.
3:15 ouvk e;stin au[th h` sofi,a a;nwqen katercome,nh avlla. Evpi,geioj( yucikh,(
daimoniw,dhjÅ
3:15 Essa não é a sabedoria [a] que está descendo do alto, mas [uma] que está
sobre a terra/terrena , vivente/do mundo, mental, demoníaca/que diz respeito
aos demônios.
3:16 o[pou ga.r zh/loj kai. Evriqei,a( evkei/ avkatastasi,a kai. Pa/n fau/lon
pra/gmaÅ
3:16 Pois onde (há) inveja/ciúme e disputa, ali (há) instabilidade/agitação e
toda qualidade inferior.
261
oposições da Semiótica: ser/não ser e vida/morte. Tentando ler a técnica da dissociação
estribada no par aparência / realidade, consideramos ser útil nos perguntarmos:
188
Tal como, também argumentativamente, a pergunta no vers. 2:5 que, sem afirmar, no entanto, afirma:
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/| ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei
kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato toi/j avgapw/sin auvto,nÈ (“Escutai, meus irmãos amados: o
deus não escolheu os pobres no mundo, ricos em fé e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão
amando?”).
262
dos valores modais: os dois saberes, do ALTO e do BAIXO. O que o enunciador da
Epístola propõe é que a própria visão do brilho das vestes do rico, uma aparência, uma
imaginação, sirva como uma volta à realidade, já que faz vir à luz - enuncia/discursiviza
- a sabedoria com a qual o sujeito, as doze tribos na dispersão, já está conjunto. A
interpretação é dada pela sanção, ainda que em forma de pergunta retórica
argumentativa:
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
189
TA, p. 167.
190
Os autores do TA distinguem as ligações que fundamentam o real pelo recurso ao caso particular,
como a seguir: “Este pode desempenhar papéis muito variados: [01] como exemplo, permitirá uma
generalização; [02] como ilustração, esteará uma regularidade já estabelecida; [03] como modelo,
incentivará a imitação.” Cf. TA, p. 598.
263
aspecto aoristo. Um modo de dizer que é usado para amenizar o argumento do discurso
englobante. Este argumento por ilustração é construído com uma técnica argumentativa,
referida acima: a dissociação das noções do par aparência/realidade.
ENTRADAS E SAÍDAS
A ENTRADA NA SINAGOGA – MARCA DE UMA SAÍDA
Essa figuração da saída do caminho não está expressa literalmente num sintagma
no qual o verbo sair esteja diretamente acoplado ao espaço do caminho. No entanto, o
cotexto ou referencial interno nos leva ao vers. 1:24, em que aparece o verbo grego
191
Interessante que existe a palavra ”luxar’ em português, que significa “sair fora do lugar” [luxação da
articulação]. Portanto, no português, a raiz lux- assinala tanto um deslocamento ou saída, como uma
aparência inquestionável de riqueza. Na analogia com as articulações do corpo físico, a axiologização do
luxo é de que o sujeito que o ostenta sai fora do seu lugar próprio. O lugar próprio do sujeito no caminho
é sustentar o seu agora, criar um aqui, e poder adquirir um nome. Um nome que só será adquirido se o
sujeito estiver articulado, pelo sensível, com seu objeto.
264
avpelh,luqen “acabou de sair”, no versículo em que também aparece a figura do espelho.
É nesse versículo, e precisamente nesse tema verbal que pode ser buscada uma pista
para criar as tais solidariedades internas do discurso que sustentam a cenografia da
perícope 2:1-4, como uma figuratividade que remete a um tema concreto. Remete ainda
mais, por extensão, a um tema abstrato mais geral, o tema da ordem no enunciado
englobante. O tema aspectual Perfectum/acabado de avpelh,luqen “saiu, acabou de sair” é
o do verbo avpe,rcomai, cuja tradução é “sair/ ir embora”. É pertinente lembrar que toda
saída pressupõe uma entrada.
A relação pode ser feita, por exemplo, de início, apontando uma identidade
funcional entre os dois espaços: o da sinagoga e do espelho. Uma possibilidade de que
essa relação pode ser feita é comprovada se nos estribarmos no termo explícito da
perícope 1:22-25, a qual figurativiza a funcionalidade metafórica do espelho. Os termos
que apontaremos abaixo pertencem ao campo analógico da função implícita da
sinagoga, a qual evoca, pela sua condição de espaço de transmissão de saber, a mesma
figura da perícope em que ocorre o termo espelho.
265
é construída com o sintagma ei; tij avkroath.j lo,gou evsti.n “se alguém é ouvinte do
lógos”.
192
Os três usos da lei, na doutrina dos reformadores.
266
evocar o vers. 3:9, que repete um ensinamento, o qual diz que o homem foi criado à
imagem e semelhança de Deus:
3:9 evn auvth/| euvlogou/men to.n ku,rion kai. Pate,ra kai. Evn auvth/| katarw,meqa
tou.j avnqrw,pouj tou.j kaqV o`moi,wsin qeou/ gegono,taj(
Ora, no espaço da sinagoga, o sujeito escuta a lei, da mesma forma como se olha
em um espelho que o revela. Mas logo esquece, porque é manipulado por sedução pelas
aparências do rico e do pobre. Cabe destacar que o enunciador/orador marca
profusamente a figuração da aparência com riqueza no uso dos termos. Os termos, todos
eles, remetendo a uma “mostração” e discurvizando o sujeito rico que não demonstra
nenhum desejo de se esconder, vers. 2:2: avnh.r crusodaktu,lioj evn evsqh/ti lampra/(| “um
anel de ouro e que porta uma veste brilhante” e no vers. 2:3, descrito com três termos,
em seqüência, to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n “o que porta a veste a brilhante”.
267
Assinalamos acima a relação entre a descrição da aparência do rico como
remetendo ao termo ko,smoj “o ornamento/a beleza”, tendo como objetivo estender um
pouco mais nossa leitura. É que, no enunciado englobante, deparamos com a
continuidade da perícope 1:23-25, nos vers. 1:26-27. Estes dois últimos versículos
contêm as figuras da glw/ssan “língua membro do corpo”, vers. 1:26, e do tou/ ko,smou
“do mundo”, vers. 1:27. Essas duas figuras remetem tanto ao ato enunciativo do grupo
na sinagoga quando assume a palavra como à beleza da aparência das vestes do rico.
Há, portanto, uma homologação de valores entre os vers. da perícope 1:23-27: os
valores que se referem ao ato enunciativo de um sujeito e os valores que se referem ao
mundo: vestes brilhantes/radiantes/luxuosas.
4:13 :Age nu/n oi` le,gontej( Sh,meron h' au;rion poreuso,meqa eivj th,nde th.n
po,lin kai. poih,somen evkei/ evniauto.n kai. evmporeuso,meqa kai. kerdh,somen\
4:13 Agora, vamos! Os que estão dizendo/os falantes: hoje ou amanhã nós
iremos para dentro daquela cidade e faremos/produziremos lá por um ano/um
tempo e comerciaremos e lucraremos.
4:14 oi[tinej ouvk evpi,stasqe to. th/j au;rion poi,a h` zwh. U`mw/n\ avtmi.j ga,r evste
h` pro.j ovli,gon fainome,nh( e;peita kai. Avfanizome,nhÅ
268
4:14 Sejais quem for (vós), os que não estais sabendo/continuais não sabendo
qual a vossa vida, (a) de amanhã. Pois vós sois vapor, (o) que continua
estando aparecendo, pouco numeroso/pequeno, depois também começando a
(ser) desaparecido.
4:15 avnti. tou/ le,gein u`ma/j Vea.n o` ku,rioj qelh,sh| kai. zh,somen kai. poih,somen
tou/to h' evkei/noÅ
4:15 Ao invés do estar dizendo vós: Se o Senhor quiser também nós
viveremos e nós produziremos isto ou aquilo.
4:16 nu/n de. kauca/sqe evn tai/j avlazonei,aij u`mw/n\ pa/sa kau,chsij toiau,th
ponhra, evstinÅ
4:16 Mas agora (vós) estais vos vangloriando/estais rindo com as vossas
presunções. Todo envaidecimento desse tipo é mau.
ESPACIALIZAÇÃO
Já nas primeiras teorias de análises de textos uma parte era dedicada ao espaço.
Lá se contemplava, por exemplo, a oposição espaço externo/interno, a ambientação, o
preenchimento discursivo do espaço com objetos, ou pessoas, ou se o espaço era claro
ou escuro. Nós mesmos tivemos aulas, há pouco tempo, em que essas teorias se
aplicavam. Agora as teorias da enunciação e a semiótica já vêem a discursivização do
espaço agregando outras noções e ensinamentos. Começando, por exemplo, com a
noção de deslocamento de um sujeito em busca de seu objeto, dentro de um percurso
narrativo. Outra noção semiótica da discursivização do espaço é a leitura de ponto de
vista sobre a qual não nos deteremos, e que é uma das noções básicas da semiótica,
269
herdada de Saussurre, ou seja, que o ponto de vista é que cria o objeto. E, no caso da
espacialização, o ponto de vista auxilia a criar o sentido. O ponto de vista sobremodaliza
o espaço, aplicando-se às vezes, também aqui, o termo aspectualização. Aspectualizar é
sobremodalizar. Nesse caso, a sobremodalização retoma a noção de ponto de vista, a
visão de um observador que se instala no discurso. Há sobremodalização do espaço
quando nos referimos a ele como: apertado, distendido, com limite, sem limite, de lado,
frontal, fechado, aberto, etc.
No caso da língua grega, o próprio sistema, com o uso dos prefixos separáveis –
preposições - isoladamente ou em palavras compostas é um facilitador da leitura/análise
da espacialização no discurso. Mas, deixando a noção de ponto de vista de lado, ou
melhor, como um implícito, já que ela não pode ser afastada, destacamos que as teorias
acima citadas analisam o espaço por exemplo como :
270
axiologização aparece nos vers. 1:17 e 3:15, acrescentando-se ainda ao espaço do ALTO
a figura da luz e ausência de sombras:
1:17 pa/sa do,sij avgaqh. kai. pa/n dw,rhma te,leion a;nwqe,n evstin katabai/non
avpo. tou/ patro.j tw/n fw,twn( parV w-| ouvk e;ni parallagh. h' troph/j
avposki,asmaÅ
1:17 Todo doação boa e todo presente dado completo/com objetivo/com
meta/está descendo do alto, do pai das luzes; junto ao qual não existem
mudanças/sombras ou de volta/lugar de mudança.
3:15 ouvk e;stin au[th h` sofi,a a;nwqen katercome,nh avlla. Evpi,geioj( yucikh,(
daimoniw,dhjÅ
3:15 Essa não é a sabedoria [a] que está descendo do alto, mas [uma] que está
sobre a terra/terrena , vivente/do mundo, mental, demoníaca/que diz respeito
aos demônios.
Ainda no que se refere à espacialização, a relação das raízes gregas tanto com a
figurativização como com a espacialização remete a dois temas que podem ser
identificados na Epístola e que estão relacionados entre si, e com outros subtemas ou
tópicos. O primeiro é o tema da vida cristã figurativizada também espacialmente como
od` oj, “caminho”. O segundo é o tema da “assunção de um discurso” por um actante que,
no enunciado encaixado dos vers. 2:1-4, é o próprio auditório do discurso englobante.
271
aparece também nos advérbios e adjetivos que remetem a noções concretas e abstratas.
A terminologia não assinala só um situamento, mas ela assinala também uma relação
estática ou de movimento de um objeto com outro. Essa configuração discursiva é
reconhecida pelo leitor/analista, por meio das inter-relações dentro do referencial
interno da Epístola vista como um todo.
Tentaremos apontar a possibilidade da criação dessa configuração discursiva,
que utiliza a dicotomia ALTO/BAIXO, tomando como ponto de apoio, também, a
cenografia descrita na perícope 2:1-8. Naquela perícope, os espaços ALTO/BAIXO são
marcadamente investidos de valores, lembrando que esse investimento de valor se dá
dentro do espaço “maior” da sinagoga, o qual por sua vez apresenta-se como local de
transmissão de saber. Portanto, o investimento do valor ALTO/BAIXO está fazendo
referência a uma sabedoria com as figuras espaciais.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes :
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
272
Na perícope 2:1-8, o sujeito que já se encontrava dentro da sinagoga também
ocupava um lugar. Esse lugar é tomado como ponto de referência para outros objetos e
pessoas. Esse lugar é um ponto central de situamento a partir do qual o sujeito que ali se
localiza estabelecerá relações. As relações serão mostradas pelo uso de sua fala dirigida
aos outros dois sujeitos que começam hipoteticamente a entrar na sinagoga. Como
veremos a seguir, a própria morfologia das palavras contribui para a construção do
efeito de sentido do valor trazido pela designação dos lugares ALTO/BAIXO.
Não seria impertinente afirmar que, pelo modo de descrever a cena, o enunciador
principal quer criar a impressão de que o sujeito discursivo do enunciado encaixado
situa-se num nível espacial mais ALTO do que os outros dois sujeitos. Na verdade, quem
fala é o grupo, como já vimos pela marca da segunda pessoa do plural te-. Ele se
considera apto - pode fazer - a assumir um discurso, todo ele portador de um valor. É
um grupo que “ensina”, com seu discurso. Na condição de ensinador, o grupo está como
os mestres num lugar tópico ACIMA dos seus alunos. Essa suposição de lugar tópico nos
é dada pela presença da preposição evpi. na morfologia do termo.
193
[evevpi.] Em cima, sobre (contato pleno, estático) – locativo (Dat. nas gramáticas), idéia de acréscimo,
superposição. Sentido figurado: acréscimo; sobre, apoio parcial (pontual). Genitivo (partitivo).
Sobre/para cima de, com movimento, direção, intenção > acusativo. Ver MURACHCO, Vol. 1, p. 572.
273
um discurso. Como enunciador da sua percepção, o sujeito está num lugar de
preferência, voltando quase a um circulo vicioso, num lugar mais ALTO do que o objeto
que ele percebe. O uso da preposição evpi. está longe de ser inocente. Ele parece ser
intencional e agregando, nessa pequenina palavra, um reforço de argumentos. Na
pequena narrativa, a preposição evpi. é usada em seqüência, duas vezes, reforçando a
importância ainda maior para essa marca.
Isso cria um efeito de conjunção mais forte entre o rico e o sujeito que percebe,
do que entre o sujeito que percebe e o pobre. O movimento do olhar se dirige, se
intenciona, primeira e prioritariamente para o rico do que para o pobre. E é para ele que
o enunciador do discurso encaixado dirige também, primeiramente, a palavra.
274
A mesma, conjunção do enunciador com o rico é também trazida pelo advérbio,
que axiologiza o lugar designado para o rico como “bom”, literalmente: “sentar
boamente, de uma maneira boa”, um lugar próprio e eficaz para aquele tipo de sujeito.
Ainda, as opções diferentes da maneira de dizer também são axiologizadas para
designar os lugares. Para o rico só há uma opção, sentar: Su. ka,qou w-de kalw/j( “tu senta
ali boamente”. Para o pobre, há duas opções: ou fica em pé sth/qi “te coloca em pé” ou
“ou senta” h' ka,qou no lugar abaixo.
275
É possível assinalar que, no caso dos usos da preposição u`po., o lugar designado,
criado pela seqüência imediata dos seus dois usos, indica que espacialmente ele não é só
um lugar mais BAIXO194 do situamento do enunciador. O lugar designado, que se utiliza
da preposição u`po. é, na verdade, um lugar ABAIXO do ABAIXO: u`po.o + (to.) + (u`u`po)
o
(po,dio,n).
Na perícope 2:1-4, há dois sujeitos que são: um o sub-grupo dos ricos e o outro o
destinatário da Epístola que se assume como sujeito discursivo. Ele enuncia o discurso:
“tu senta aqui... etc.”. Na cenografia criada pelo enunciado encaixado, os dois sujeitos
estão espacialmente também ACIMA do pobre196. Já, no discurso da Epístola como um
todo, enunciado englobante, os dois sujeitos serão colocados nos seus devidos lugares.
194
[u`po.] – Sob, em baixo de, por baixo de. Ver MURACHCO, Vol. 1, p. 617.
195
Conquerors often placed their feet on the necks of the victims, “Os conquistadors freqüentemente
colocavam seus pés sobre os pescoços das vítimas” (Lc 20:43). Cf. ROBERTSON, Bibleworks.
196
A espacialização alto/baixo na cena da sinagoga, como já vimos, não se dá pela utilização daqueles
dois advérbios, mas se dá pelos termos utilizados, o uso das preposições evpi, e u`po,, e também
argumentativamente pela utilização do termo to. u`popo,dio,n, que substitui o termo abstrato “baixo”. O uso
do nome do objeto é argumentativo porque o termo concreto aumenta a presença (TA, p.167).
276
Há alguns enunciados na Epístola que invertem a posição estabelecida dentro do
enunciado da sinagoga. Por exemplo, ao destinatário, no vers. 3:1, onde será
recomendado que:
3:1 Mh. polloi. dida,skaloi gi,nesqe( avdelfoi, mou( eivdo,tej o[ti mei/zon kri,ma
lhmyo,meqaÅ
3:1 Meus irmãos, não vos torneis muitos (de vós) mestres/ensinadores,
sabedores de que um juízo mais severo/maior julgamento receberemos.
Ora, ser mestre, ao assumir a palavra, não era outra coisa do que o destinatário
da Epístola pretendia, ao proferir seu enunciado, dentro da sinagoga, que designava os
lugares para os freqüentadores sentarem.
Mas não é só a pressuposição de que, como mestre e juiz que se acha no direito
de designar lugares e aportar valores e julgamentos que os destinatários são
desqualificados.
Alguém poderia considerar que esta ligação com o tema da guerra possa ser
mecânica ou forçada, pois as posições espaciais relativas dos sujeitos na sinagoga não
teriam relação nenhuma com as posições espaciais relativas entre conquistadores e
conquistados. No entanto, é no referencial interno, o enunciado englobante, a Epístola
vista como um todo, que vamos buscar uma pista para nossa própria argumentação. Nas
centenas de leitura que fizemos da Epístola, acabamos por encontrar, também, o tema da
guerra. Os termos e a isotopia figurativa relacionada com esse tema é expressivo. Mas
esta é uma leitura/análise que, embora enriquecedora para leitura da Epístola,
colocamos aqui como pista para posteriores estudos do discurso de Tiago.
277
INTERSECÇÃO DOS ENUNCIADOS 1:9-11 COM 2:1-4
1:9 Kauca,sqw de. o` avdelfo.j o` tapeino.j evn tw/| u[yei auvtou/( 1:10 o` de.
plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou pareleu,setaiÅ1:11
avne,teilen ga.r o` h[lioj su.n tw/| kau,swni kai. evxh,ranen to.n co,rton kai. to.
a;nqoj auvtou/ evxe,pesen kai. h` euvpre,peia tou/ prosw,pou auvtou/ avpw,leto\ ou[twj
kai. o` plou,sioj evn tai/j porei,aij auvtou/ maranqh,setaiÅ
1:9 Mas, diga ao irmão, o humilde /pobre, que ele que comece a se
vangloriar/a se exaltar, em/com a altura/nível dele. 1:10 Mas ao rico, diga a
ele que (comece a se vangloriar/exaltar) na sua humilhação, porque irá
embora/cairá/passará como a flor da erva. 1:11 Pois, o sol atingiu o seu ponto
máximo/o seu pico/a sua meta tendo ao lado o vento escaldante/abrasador e
secou a erva e a sua flor caiu e a beleza da aparência dela
morreu/desapareceu. Assim também o rico em seus negócios/nas suas
andanças será murcho.
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/ kuri,ou
h`mw/n VIhsou/ Cristou/ th/j do,xhjÅ
2:1 Meus irmãos não tenhais/continuais a ter em parcialidade/distinção de
pessoas, a fé do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.
2:2 evan. ga.r eivse,lqh| eivj sunagwgh.n u`mw/n avnh.r crusodaktu,lioj evn evsqh/ti
lampra/(| eivse,lqh| de. kai. ptwco.j evn r`upara/| evsqh/ti(
2:2 Se, pois, entrar dentro da sinagoga de vocês um homem masculino que
tem um anel de ouro com veste brilhante, mas, também, se entrar um pobre
com veste comum.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e
disserdes : senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao
pobre disserdes: coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do
lugar de colocar o meu pé/meu escabelo.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/|
ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato
toi/j avgapw/sin auvto,nÈ
2:5 Escutai, meus irmãos amados: o deus não escolheu os pobres no mundo,
ricos em fé e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão amando?
2:6 u`mei/j de. hvtima,sate to.n ptwco,n ouvc oi` plou,sioi katadunasteu,ousin
u`mw/n kai. auvtoi. e[lkousin u`ma/j eivj krith,riaÈ
2:6 Vós desonrastes o pobre. Não (são) os ricos (que) estão
oprimindo/tiranizando no meio de vós e também (não são) eles que estão
arrastando vocês para dentro dos tribunais?
2:7 ouvk auvtoi. blasfhmou/sin to. kalo.n o;noma to. evpiklhqe.n evfV u`ma/jÈ
2:7 Não (são) eles que blasfemam o bom nome, o que foi invocado sobre vós
?
278
De acordo com a definição de enunciador/enunciatário no Dicionário de
Semiótica, de A J. Greimas e J. Courtés197, o ato de leitura/escuta é também um ato de
linguagem. A leitura aporta significados ou sentidos ao texto/discurso. A leitura é
também uma interpretação. Na perícope 2:1-8, a fala do grupo que já se encontrava
dentro da sinagoga foi “lida”, escutada, pelos sujeitos que lá entram.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes :
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
Cremos que não é difícil fazê-lo. O que se constata é que tanto o pobre como o
“homem com aparência de rico” e que escuta a recomendação dos membros que os
recebem na sinagoga admitem um valor pressuposto e subentendido. Esse valor está
subentendido na enunciação do grupo. Os interlocutores, independentemente de sua
condição, ou melhor, pela sua própria condição social, pressupõem que os membros da
sinagoga estão agindo de acordo com normas sociais vigentes, quais sejam: o rico tem o
direito de sentar em um lugar melhor, presumivelmente mais ALTO, e o pobre em um
lugar topologicamente mais BAIXO, inferior.
197
GREIMAS e COURTÉS, p. 150.
279
Nesse simples gesto reflete-se a posição de cada um na sociedade como um
todo, já o que fica subentendido é que ambos – tanto o rico como o pobre - aceitam essa
diferença de posições e possivelmente concordarão em sentar-se ou ficar nos lugares
que lhes são designados. Esse subentendido esclarece a recomendação do
enunciador/destinador da Epístola que é feita no vers. 1:9. Essa recomendação no
enunciado englobante se opõe a essa aceitação da diferença que, como vimos, é tanto
aceita pela sociedade como um todo como por cada indivíduo em particular. O vers. 1:9
diz o seguinte:
1:9 Kauca,sqw de. o` avdelfo.j o` tapeino.j evn tw/| u[yei auvtou/( 1:10 o` de.
plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou pareleu,setaiÅ 1:11
avne,teilen ga.r o` h[lioj su.n tw/| kau,swni kai. evxh,ranen to.n co,rton kai. to.
a;nqoj auvtou/ evxe,pesen kai. h` euvpre,peia tou/ prosw,pou auvtou/ avpw,leto\ ou[twj
kai. o` plou,sioj evn tai/j porei,aij auvtou/ maranqh,setaiÅ
1:9 Mas, diga ao irmão, o humilde /pobre, que ele que comece a se
vangloriar/a se exaltar, em/com a altura/nível dele. 1:10 Mas ao rico, diga a
ele que (comece a se vangloriar/exaltar) na sua humilhação, porque irá
embora/cairá/passará como a flor da erva.
1:11 Pois, o sol atingiu o seu ponto máximo/o seu pico/a sua meta tendo ao
lado o vento escaldante/abrasador e secou a erva e a sua flor caiu e a beleza
da aparência dela morreu/desapareceu. Assim também o rico em seus
negócios/nas suas andanças será murcho.
Voltando ao vers. 1:9, o que se constata é que ele aparece num cotexto em que o
tema que está sendo desenvolvido é o tema da sabedoria. E, a recomendação de 1:9-10 é
280
apresentada como uma sabedoria. É uma nova sabedoria e um novo valor que vai servir
de suporte e contraponto com a “antiga” sabedoria ou valor que se mostra na cena de
2:1-8. Tanto é uma sabedoria e um novo valor que o enunciado que vem a seguir,
introduzido abruptamente, é todo ele construído em forma proverbial. Todo ele é escrito
usando temas verbais no aspecto aoristo pontual, cuja forma é a escolhida pelos
oradores gregos para expressar máximas, as quais se aplicam a qualquer tempo e se
constituem em dísticos de sabedoria.
Vale a pena insistir na reflexão sobre a relação ente 1:9-10 com 2:1-8 e os
valores e sabedorias pressupostos e subentendidos no discurso de Tiago. Quando o
membro da sinagoga escolhe assentos diferentes para o rico e para o pobre, e estes
últimos aceitam esses lugares, é sinal de que há um acordo e uma norma, ou sabedoria.
Esse acordo é comum ao grupo, mesmo na vida religiosa das doze tribos na dispersão,
auditório da Epístola. Já, quando enunciador/destinador/Tiago da Epístola faz uma
recomendação nos vers. 1:9–10, ele está assinalando, apresentando e propondo um novo
valor - uma nova norma, uma nova sabedoria - que está sendo trazido pelo grupo
organizado em torno dos sujeitos: qeou/ kai. kuri,ou VIhsou/ Cristou, do vers. 1:1. Um
novo valor que o orador propõe que seja assimilado e aceito por cada um
individualmente - vers. 1:9. O orador está recomendando que, da mesma forma que
tanto o rico como o pobre aceitavam a discriminação feita pelos membros da sinagoga,
de agora em diante tanto o rico como o pobre aceitem a nova ordem. Ordem no sentido
de organização social, ordem esta que é contrária àquela anteriormente aceita.
281
um campo extraordinariamente interessante que é abordado pelo TA e que se refere à
ordem dos argumentos.198
FIGURAS E TEMAS
TEMPO
198
TA, p. 555ss.
199
Anotações de disciplina.
282
kai. doqh,setai auvtw/| “e ser-lhe-á dada. ” e 1:7 o[ti lh,myetai, ti para. tou/ kuri,ou “que
receberá algo da parte do senhor”.
ATOR
No espaço do o.d] oj “caminho”, o sujeito tij “alguém” está em relação com outro
sujeito: tou/ dido,ntoj qeou “o deus doante”. A relação se estabelece pelo ato de “buscar”
aivte,w, conforme vers. 1:15. Observar que a marca textual u`mw/n, no vers. 1:5 : Eiv de, tij
u`mw/n “se alguém dentre vós”, indica que o sujeito com falta de sabedoria está dentro de
um grupo, isto é, ocupa um lugar dentro de um espaço criado pela figura do grupo. Esse
grupo anteriormente foi figurativizado no vers. 1:1 como tai/j dw,deka fulai/j tai/j evn
th/| diaspora “para as doze tribos, aquelas na diáspora”. Mais tarde, o espaço ocupado
pelo grupo vai ser concretizado como a sinagoga, cf. vers. 2:2: evan. ga.r eivse,lqh| eivj
sunagwgh.n u`mw/n “se entrar para dentro da sinagoga de vós”.
200
Observar que o ator é referenciado com a figura “o ser humano aquele”, o` a;nqrwpoj evkei/noj.
201
É neste momento que aparece a figura do o.]doj, caminho. Além disto, o ator continua a ser
discursivizado e (des)construído, desta vez com outra figura: a do avnh.r, “um homem masculino”.
283
Nessa perícope, há uma gradação na referência ao sujeito/ator do percurso. Ele
se transforma em um ser genérico, pois, com o nome que lhe é dado pelo particípio
substantivado o` ga.r diakrino,menoj “aquele que busca fazendo julgamentos
atravessados”, é considerado como uma classe, um tipo de sujeito/ator. No mesmo vers.
1:6, o ator continua a ser – aquele que está com falta de sabedoria, aquele que está
dentro de um grupo, e ele é “aquele que busca fazendo julgamentos atravessados”.
284
um sub-tema: a instabilidade, que faz parte do tema maior da ordem. No vers. 2:1,
também no espaço fechado do grupo/sinagoga entram sujeitos/atores que vêm do
exterior. Desta vez, estes atores investidos de valores do mundo cultural.
ESPAÇO
1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( aivtei,tw para. tou/ dido,ntoj qeou/ pa/sin
a`plw/j kai. mh. ovneidi,zontoj kai. doqh,setai auvtw/Å|
1:5 E se, dentre vós, alguém está precisando/carecendo/ faltante de sabedoria,
que ele busque/que ele entre no ato de buscar, da parte do Deus doante/que
está doando a todos, simplesmente, e que não censura /não está agredindo e
ser-lhe-á dada.
1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken
klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw|Å
1:6 Que ele busque/entre no ato de buscar com fé, e não fazendo julgamentos
atravessados/considerações/discriminações, pois o que está fazendo
julgamentosatravessados/ considerações/ discriminações parece uma onda do
mar, que está sendo agitada/empurrada e soprada pelo vento.
1:7 mh. ga.r oives, qw o` a;nqrwpoj evkei/noj o[ti lh,myetai, ti para. tou/ kuri,ou
1:7 Pois, diga a ele - aquele ser humano/o ser humano aquele - que não
pense/não comece a pensar /não continue pensando, que receberá algo da
parte do Senhor.
No vers. 1:8, a palavra o`doi/j “caminhos” está no plural, assim, supõe-se que há
outros caminhos de busca da sabedoria. Na perícope 1:5-8, consideramos que o
texto/discurso de Tiago é um texto destinado àqueles que buscam a sabedoria, e que esta
busca de sabedoria é figurativizada como: a colocação de um sujeito em um caminho,
onde a sabedoria vai ser buscada; ou no percurso no qual a sabedoria vai ser buscada; ou
a própria colocação em marcha num caminho é condição e/ou próprio encontro com a
sabedoria. A figura do o.d] oj “caminho” está dentro da categoria do espaço. Isto faz
lembrar que a primeira condição para que se adquira uma sabedoria é que um sujeito
ocupe um espaço.
285
RELAÇÕES: ESPAÇO FECHADO vs. ESPAÇO ABERTO
202
Cf. Tradução da ARA, 1:6 Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é
semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento.
286
No que se refere ao tema da instabilidade e da ordem, poderíamos considerar que
a entrada do homem rico é que desestabiliza a ordem dentro do grupo, dentro da
sinagoga. A ordem - uma figura que aparece lá no início , no vers. 1:6 - é , por sua vez,
para ser mantida pela fé na oposição evn pi,stei versus e.n diakrino,menoj.
1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken
klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw|Å
1:6 Que ele busque/entre no ato de buscar com fé, e não fazendo julgamentos
atravessados/ considerações/discriminações, pois o que está fazendo
julgamentos atravessados/ considerações/ discriminações parece uma onda do
mar, que está sendo agitada/empurrada e soprada pelo vento.
1:14 e[kastoj de. peira,zetai u`po. th/j ivdi,aj evpiqumi,aj evxelko,menoj kai.
deleazo,menoj\
1:14 Mas cada um é/está sendo envolvido/provado/tentado pela própria
ambição/cobiça. Estando sendo arrastado /tirado, pescado e sendo
iscado/seduzido.
Sendo condições naturais, elas são condições não só aceitas como também
indispensáveis para atingir um objetivo. Esse objetivo aparece na discursivização do
destinatário transformado como te,leioi kai. o`lo,klhroi evn mhdeni. leipo,menoi
287
“atingidores da meta, herdeiros completos, em nada faltantes”. Essa nova condição,
apontada como fim do percurso,também no intertexto, encontra-se no vers. 1:4.
criamos a possibilidade de fazer uma leitura em que a figura da água pudesse ser
considerada como um dado figurativo importante. Essa figura funcionaria como
mediadora da oposição ordem/desordem; estabilidade/instabilidade; guerra/paz.
288
simbolismo mítico da água tanto como figura do caos como figura da criação pode ser
pertinente. Primeiro: o caos > água agitada> o próprio destinatário, dentro da sinagoga
como um ser humano de juízos atravessados > figurativizado como o mar agitado. No
interior do grupo, considerado como o sujeito/ator, se debatem sujeitos criando uma
condição, eles são figurativizados como “uma onda do mar”.
O ator é mais de um sujeito, porque naquela condição ele tem, de acordo com o
intertexto, duas “mentes”: 1:8 avnh.r di,yucoj( avkata,statoj evn pa,saij tai/j o`doi/j auvtou/Å
“Um homem masculino de mente dupla, inconstante/instável/desposicionado em todos
os caminhos dele”.
3:12 mh. du,natai( avdelfoi, mou( sukh/ evlai,aj poih/sai h' a;mpeloj su/kaÈ ou;te
a`luko.n gluku. poih/sai u[dwrÅ
289
3:12 Meus irmãos, não pode uma figueira produzir olivas ou uma perreira de
uvas (produzir) figos, nem fonte salgada produzir uma água doce.
ESPAÇO
É indicada uma separação espacial entre aquele, representando o grupo, que tem
falta de sabedoria e o deus doante. Essa separação é indicada pela preposição para, “da
parte de” e pelo genitivo separativo tou/ dido,ntoj qeou/. Mais tarde o espaço do segundo
ator vai ser figurativizado e objetivizado, como do ALTO a;nwqe,n:
1:17 pa/sa do,sij avgaqh. kai. pa/n dw,rhma te,leion a;nwqe,n evstin katabai/non
avpo. tou/ patro.j tw/n fw,twn( parV w-| ouvk e;ni parallagh. h' troph/j
avposki,asmaÅ
1:17 Todo doação boa e todo presente dado completo/com objetivo/com meta
está descendo do alto, do pai das luzes; junto ao qual não existem
mudanças/sombras ou de volta/lugar de mudança.
290
SUJEITO
Uma outra marca textual comum entre os vers. 1:5 e 1:17 é a preposição avpo.,
que contrapõe a marca espacial da preposição para,. É como se a busca, narrativizada
em 1:5 com a preposição para,, tivesse a sua resposta narrativizada em 1:17, com a
preposição avpo.. Mas o sujeito/ator nos seus percursos narrativos é discursivizado de
várias maneiras: em 1:5 como “Deus doante/que está doando” tou/ dido,ntoj qeou/; em
1:7 como “o Senhor” tou/ kuri,ou; em 1:17 como tou/ patro.j tw/n fw,twn “o pai das
luzes”; Como no vers. 1:1, o Senhor está vinculado a Jesus Cristo VIhsou/ Cristou, esta
última designação também pertence ao segundo sujeito/ator da perícope 1:5-8, que
estamos lendo/analisando.
TEMPO
291
identidade deste mesmo ator Deus/Senhor/Jesus Cristo/Pai das Luzes. No vers. 1:17, lhe
é atribuído um tempo acabado, um estado: verbo e;ni “existe”.
VIDA/MORTE
2:15 evan. avdelfo.j h' avdelfh. gumnoi. u`pa,rcwsin kai. leipo,menoi th/j evfhme,rou
trofh/j
2:15 Se um irmão ou uma irmã permanecerem nus e faltantes/carentes do pão
cotidiano.
2:16 ei;ph| de, tij auvtoi/j evx u`mw/n(~upa,gete evn eivrh,nh|(qermai,nesqe kai.
corta,zesqe( mh. dw/te de. auvtoi/j ta. evpith,deia tou/ sw,matoj( ti, to. o;felojÈ
2:16 Mas (se) alguém dentre vós disser para eles: “Ide em paz, aquentai-
vos/começai a vos aquecer e começai a vos alimentar”, mas se não derdes
para eles o necessário, as coisas próprias/oportunas do corpo, qual a
utilidade?
5:4 ivdou. o` misqo.j tw/n evrgatw/n tw/n avmhsa,ntwn ta.j cw,raj u`mw/n o`
avpesterhme,noj avfV u`mw/n kra,zei( kai. ai` boai. tw/n qerisa,ntwn eivj ta. w=ta
kuri,ou Sabaw.q eivselhlu,qasinÅ
5:4 Eis que o salário dos trabalhadores, dos que tendo ceifado vossos campos,
o fraudado por vós está clamando! E, os gritos dos que tendo passado o verão
chegaram/acabaram de chegar aos ouvidos do senhor Sabahot;
292
ordem daquelas aquisições que não privam o doador de nada. O doador Deus permanece
com o poder, o querer e o saber criar outras criaturas. No discurso de Tiago, o “nós”
inclusivo, destinatário e destinador, são os primeiros frutos. Virão mais.
5:19 VAdelfoi, mou( evan, tij evn u`mi/n planhqh/| avpo. th/j avlhqei,aj kai.
evpistre,yh| tij auvto,n(
293
5:19 Meus irmãos se alguém em vós vaguear/se desviar da verdade e se
alguém se voltar em sua direção.
5:20 ginwske,tw o[ti o` evpistre,yaj a`martwlo.n evk pla,nhj o`dou/ auvtou/ sw,sei
yuch.n auvtou/ evk qana,tou kai. Kalu,yei plh/qoj a`martiw/nÅ
5:20 Diga a ele que comece a tomar conhecimento de que: o que se volta
para/em direção ao pecador do caminho errante dele, ele salvará a alma/a
mente dele da morte e esconderá uma multidão de pecados/não atingimento
de metas.
1:14 e[kastoj de. peira,zetai u`po. th/j ivdi,aj evpiqumi,aj evxelko,menoj kai.
deleazo,menoj\
1:14 Mas cada um é/está sendo envolvido/provado/tentado pela própria
ambição/cobiça. Estando sendo arrastado/tirado, pescado e sendo
iscado/seduzido.
294
1:15 A seguir, a ambição tendo sido reunida/agregada/juntada gera um
pecado/não atingimento da meta. E o pecado tendo ocorrido/sido completado
gera morte.
PN DOS RICOS
4:13 :Age nu/n oi` le,gontej( Sh,meron h' au;rion poreuso,meqa eivj th,nde
th.n po,lin kai. poih,somen evkei/ evniauto.n kai. evmporeuso,meqa kai.
kerdh,somen\
4:13 Agora, vamos! Os que estão dizendo/os falantes: hoje ou amanhã
nós iremos para dentro daquela cidade e faremos/produziremos lá por
um ano/um tempo e comerciaremos e lucraremos.
Os ricos querem ser sujeitos do fazer. Mas não é previsto para eles que chegarão
a uma transformação, pois seu estado de ricos é um acidente. O que é mais essencial,
nos ricos, de acordo com o orador, é seu estado de seres humanos em geral, filhos de
Abraão, membros das doze tribos na dispersão. Além disto, há um PN de um outro
sujeito, o Senhor, que condiciona o PN dos ricos, como abaixo:
295
4:15 avnti. tou/ le,gein u`ma/j Vea.n o` ku,rioj qelh,sh| kai. zh,somen kai.
poih,somen tou/to h' evkei/noÅ
4:15 Ao invés do estar dizendo vós: Se o Senhor quiser também nós
viveremos e nós produziremos isto ou aquilo.
O PN dos ricos também é condicionado pelo fato de antes de serem ricos, eles
são um “ser humano” av,nqropwj. Como portadores de uma natureza humana, os ricos
pertencem a grupo hierarquicamente dominante, cujo programa narrativo domina o dos
outros sub-grupos. Suas condições naturais limitam as condições dos percursos
narrativos dos grupos culturalmente criados. Os valores dos grupos culturalmente
criados, como o grupo das doze tribos na dispersão, estão na dependência das condições
dos valores do grupo de seres humanos como espécie humana, gênero humano.
4:14 oi[tinej ouvk evpi,stasqe to. th/j au;rion poi,a h` zwh. U`mw/n\ avtmi.j ga,r evste
h` pro.j ovli,gon fainome,nh( e;peita kai. Avfanizome,nhÅ
4:14 Sejais quem for (vós), os que não estais sabendo/continuais não sabendo
qual a vossa vida, (a) de amanhã. Pois vós sois vapor, (o) que continua
estando aparecendo, pouco numeroso/pequeno, depois também começando a
(ser) desaparecido.
296
subgrupo dos ricos sofre coerções que podem impedir a sua realização. Uma delas é a
efemeridade da vida e outra é o querer de um outro sujeito: o Senhor e Deus:
4:15 avnti. tou/ le,gein u`ma/j Vea.n o` ku,rioj qelh,sh| kai. zh,somen kai. poih,somen
tou/to h' evkei/noÅ
4:15 Ao invés do estar dizendo vós: Se o Senhor quiser também nós
viveremos e nós produziremos isto ou aquilo.
297
receberá a coroa da vida a que ele prometeu aos que (ao mesmo tempo) o
estão amando.
5:20 ginwske,tw o[ti o` evpistre,yaj a`martwlo.n evk pla,nhj o`dou/ auvtou/ sw,sei
yuch.n auvtou/ evk qana,tou kai. Kalu,yei plh/qoj a`martiw/nÅ
5:20 Diga a ele que comece a tomar conhecimento de que: o que se volta
para/em direção ao pecador do caminho errante dele, ele salvará a alma/a
mente dele da morte e esconderá uma multidão de pecados/não atingimento
de metas.
1:10 o` de. plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou
pareleu,setaiÅ
1:10 Mas ao rico, diga a ele que (comece a se vangloriar/exaltar) na sua
humilhação, porque irá embora/cairá/passará como a flor da erva.
1:11 avne,teilen ga.r o` h[lioj su.n tw/| kau,swni kai. evxh,ranen to.n co,rton
kai. to. a;nqoj auvtou/ evxe,pesen kai. h` euvpre,peia tou/ prosw,pou auvtou/
avpw,leto\ ou[twj kai. o` plou,sioj evn tai/j porei,aij auvtou/ maranqh,setaiÅ
1:11 Pois, o sol atingiu o seu ponto máximo/o seu pico/a sua meta
tendo ao lado o vento escaldante/abrasador e secou a erva e a sua flor
298
caiu e a beleza da aparência dela morreu/desapareceu. Assim também o
rico em seus negócios/nas suas andanças será murcho.
O que está sendo evocado aqui é a admissão pelo auditório, em sua cultura, de
que a atividade enunciativa é metaforizada pelo fogo. A expressão desta cultura é
ensinada por Candido de Souza203, conforme abaixo:
c
“SHIN”: penúltima letra do alfabeto hebraico. Todas as
letras hebraicas têm a forma duma CHAMA. Esta é uma
das mais belas. Parece imitar a Sarça, o primeiro templo
de deus, um ESPINHEIRO EM CHAMAS.
5:5 evtrufh,sate evpi. th/j gh/j kai. evspatalh,sate( evqre,yate ta.j kardi,aj u`mw/n
evn h`me,ra| sfagh/j(
5:5 Vivestes no luxo e delícias sobre a terra, nutristes os vossos corações em
dia de degola.
5:20 ginwske,tw o[ti o` evpistre,yaj a`martwlo.n evk pla,nhj o`dou/ auvtou/ sw,sei
yuch.n auvtou/ evk qana,tou kai. Kalu,yei plh/qoj a`martiw/nÅ
5:20 Diga a ele que comece a tomar conhecimento de que: o que se volta
203
SOUZA, Rômulo Cândido de. Palavra, parábola: uma aventura no mundo da linguagem. Aparecida:
Editora Santuário, 1990 , p.130.
299
para/em direção ao pecador do caminho errante dele, ele salvará a alma/a
mente dele da morte e esconderá uma multidão de pecados/não atingimento
de metas.
DISSOCIAÇÃO DE NOÇÕES
PERÍCOPE 2:1-5
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/ kuri,ou
h`mw/n VIhsou/ Cristou/ th/j do,xhjÅ
2:1 Meus irmãos não tenhais/continuais a ter em parcialidade/distinção de
pessoas, a fé do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.
2:2 evan. ga.r eivse,lqh| eivj sunagwgh.n u`mw/n avnh.r crusodaktu,lioj evn evsqh/ti
lampra/(| eivse,lqh| de. kai. ptwco.j evn r`upara/| evsqh/ti(
2:2 Se, pois, entrar dentro da sinagoga de vocês um homem masculino que
tem um anel de ouro com veste brilhante, mas, também, se entrar um pobre
com veste comum.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes :
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/|
ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato
toi/j avgapw/sin auvto,nÈ
2:5 Escutai, meus irmãos amados: o deus não escolheu os pobres no mundo,
ricos em fé e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão amando?
300
O TA ensina:
O termo I está investido do valor normal, ele é a norma, é a lei social. O termo II
está investido do valor normativo, o explicativo, de acordo com o orador, em
consonância com a sabedoria “verdadeira”, a que remete à realidade e não à aparência.
Os valores que escolhem o Termo II como normativo irão julgar, com uma sanção
negativa, aquilo que é a norma, a lei social. O termo II, o homem pobre, é isolado,
sendo chamado de “ricos em fé” (vers. 2:5). Essa é a norma, um novo ensinamento que
204
TA, p. 473.
301
está sendo introduzido na Epístola. O termo II remete ao que é real. Ele é a realidade
daqueles que são evxele,xatoj “escolhidos” por Deus. É a realidade dos “ricos” em fé.
302
A dissociação é feita apontando o tipo de sabedoria e o tipo de ação que fazem a
associação indevida. A noção de associação nos remete à noção de conjunção do
esquema narrativo canônico da Semiótica. Assim, a noção de associação remete a um
percurso narrativo dos sujeitos. Aqui na epístola, o sujeito que tanto faz parte do fazer
(ato não verbal) da narrativa em que ocorre a conjunção/associação, como faz parte
também do fazer (ato verbal) da enunciação, que cria uma conjunção/ associação.
2:3 ............ Su. ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h'
ka,qou u`po. to. u`popo,dio,n mou(
2:3 ............ coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar
de colocar o meu pé/meu escabelo.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
303
A dissociação prossegue se estendendo para o uso de figuras que remetem à
construção temática, que contêm o campo analógico da oposição
estabilidade/instabilidade. A instabilidade avkatastasi,a associada ao diakri,nw, no final
da perícope 1:5-8:
205
TA, p. 473.
304
1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken
klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw|Å
1:6 Que ele busque/entre no ato de buscar com fé, e não fazendo julgamentos
atravessados/ considerações/discriminações, pois o que está fazendo
julgamentosatravessados/ considerações/ discriminações parece uma onda do
mar, que está sendo agitada/empurrada e soprada pelo vento.
1:23 o[ti ei; tij avkroath.j lo,gou evsti.n kai. Ouv poihth,j( ou-toj e;oiken avndri.
Katanoou/nti to. pro,swpon th/j gene,sewj auvtou/ evn evso,ptrw|\
1:23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra,e não fazedor/realizador, esse
parece um homem que está observando/refletindo a aparência de
nascimento/nascença dele, em um espelho.
305
possa ser feita entre a dicotomia aparência/realidade e a dicotomia ação verbal/ação não
verbal. Esta última dicotomia perpassa toda a Epístola.
As ações não verbais são marcadas profusamente pela ocorrência de uma dezena
de marcas textuais que remetem ao “trabalho” e;rgon e à ação de “criar” poie,w.
Constatamos também que a aparência trazida pelo brilho no referencial interno mostra
que a relação do sujeito que o possui: (o rico), com o grupo é uma relação “vazia”, entre
um sujeito e um objeto. Tal relação do sujeito rico com o grupo é a negação de uma
relação produtiva que, na Instância da Enunciação, poderia criar o estatuto de uma
identidade, caso o PSNE do homem rico como sujeito do pa,scein fosse sustentado. Para
o sujeito - o ser humano - conquistar uma presença no mundo e poder ser discursivizado
como um eu, adquirir um nome no espaço do “reino” basilei,aj, cf. vers. 2:5, é preciso
não esquecer (manter presente) aquilo que a no,moj “lei” lhe ensina. O sujeito que
esquece o ensinamento da lei age como um sujeito “esquecido” evpilhsmonh/j, conforme
o vers. 1:25, a seguir:
1:24 kateno,hsen ga.r e`auto.n kai. avpelh,luqen kai. euvqe,wj evpela,qeto o`poi/oj
h=nÅ 1:24 .... pois ele observou/refletiu a si mesmo e foi embora/desapareceu, e
rapidamente esqueceu-se como era.
1:25 o` de. paraku,yaj eivj no,mon te,leion to.n th/j evleuqeri,aj kai. paramei,naj(
ouvk avkroath.j evpilhsmonh/j geno,menoj avlla. poihth.j e;rgou( ou-toj maka,rioj
evn th/| poih,sei auvtou/ e;staiÅ
1:25 Mas o que tendo olhado com atenção para dentro da lei perfeita/ que tem
meta, aquela da liberdade e, ao mesmo tempo, está perseverando, não tendo
se tornado ouvinte esquecido mas realizador do trabalho, esse será bem
aventurado/feliz em sua ação criação.
306
enunciatário ele só escuta e não age. Ele não será “fazedor,criador do trabalho” poihth.j
e;rgou206.
1:21 dio. avpoqe,menoi pa/san r`upari,an kai. perissei,an kaki,aj evn prau<thti(
de,xasqe to.n e;mfuton lo,gon to.n duna,menon sw/sai ta.j yuca.j u`mw/nÅ
1:21 Porque despojados de toda avareza/vileza sórdida e susupérfluo de
maldade, com inteligência, recebei/começai a receber/continuai a receber a
palavra enxertada/palavra inata, a que está tendo poder de restaurar/salvar as
vossas mentes/almas.
1:22 Gi,nesqe de. poihtai. lo,gou kai. mh. mo,non avkroatai. paralogizo,menoi
e`autou,jÅ
1:22 Tornai-vos começai/continuai a vos tornar fazedores/criadores da
palavra e não enganadores de si mesmos, (como) ouvintes somente.
1:23 o[ti ei; tij avkroath.j lo,gou evsti.n kai. Ouv poihth,j( ou-toj e;oiken avndri.
Katanoou/nti to. pro,swpon th/j gene,sewj auvtou/ evn evso,ptrw|\
1:23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra,e não fazedor/realizador, esse
parece um homem que está observando/refletindo a aparência de
nascimento/nascença dele, em um espelho.
1:24 kateno,hsen ga.r e`auto.n kai. avpelh,luqen kai. euvqe,wj evpela,qeto o`poi/oj
h=nÅ
1:24 .... pois ele observou/refletiu a si mesmo e foi embora/desapareceu, e
rapidamente esqueceu-se como era.
1:25 o` de. paraku,yaj eivj no,mon te,leion to.n th/j evleuqeri,aj kai. paramei,naj(
ouvk avkroath.j evpilhsmonh/j geno,menoj avlla. poihth.j e;rgou( ou-toj maka,rioj
evn th/| poih,sei auvtou/ e;staiÅ
1:25 Mas o que tendo olhado com atenção para dentro da lei perfeita/ que tem
meta, aquela da liberdade e, ao mesmo tempo, está persevererando, não tendo
se tornado ouvinte esquecido mas realizador do trabalho, esse será bem
aventurado/feliz em sua ação criação.
1:26 Ei; tij dokei/ qrhsko.j einai mh. calinagwgw/n glw/ssan auvtou/ avlla.
avpatw/n kardi,an auvtou/( tou,tou ma,taioj h` qrhskei,aÅ
1:26 Se alguém está parecendo ser um religioso/fazedor religioso e, ao
mesmo tempo, não estando refreando a sua língua, mas
enganando/continuando a enganar o seu oração, a religião dele é vã/sem
valor.
206
poihth.j e;rgou - é marcante que os dois termos que indicam uma ação estejam postos em relação
imediata neste cotexto. Esta relação imediata poihth.j e;rgou, em 1:25, remete a outras duas relação do
mesmo substantivo poihth.j: poihth.j no,mou (4:11) e poihtai. lo,gou (1:22). Certamente distinguir os
efeitos de sentido destas construções contribuirá para a análise da dissociação das noções e construção
temática.
307
1:27 qrhskei,a kaqara. kai. avmi,antoj para. tw/| qew/| kai. patri. au[th evsti,n(
evpiske,ptesqai ovrfanou.j kai. ch,raj evn th/| qli,yei auvtw/n( a;spilon e`auto.n
threi/n avpo. tou/ ko,smouÅ
1:27 Um fazer religioso/religião pura e sem defeito/sem mancha junto de
Deus e pai é esta: visitar/estar olhando órfãos e viúvas, nas suas necessidades
e conservando-se/preservando-se a si mesmo sem mancha do mundo.
Podemos no colocar uma questão: por que a figura do pobre remete a uma realidade,
ou a um efeito de real? A resposta é dada pelo orador: “o pobre no mundo” tou.j
ptwcou.j tw/| ko,smw| - do brilho das vestes, dos anéis de ouro - foi escolhido como rico
em fé. Assim, o pobre é rico, a verdadeira riqueza é a fé.
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/|
ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato
toi/j avgapw/sin auvto,nÈ
2:5 Escutai, meus irmãos amados: o deus não escolheu os pobres no mundo,
ricos em fé e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão amando?
308
vérifiable sur le plan syntaxique, le temps instruit le manque essentiel, le
toujours-déjà- perdu qui est comme l´envers du “je-maintenant” et l´argent
intervient comme liquidation imaginaire de ce manque. Que possède um
homme qui se sait possesseur d´or sinon du temps, du temps
miraculeusemente capitalisé, du temps en somme volé... au temps? Il possède
enfin quelque chose qui ne passe plus. Au poète qui implore: Oh temps,
suspends ton vol! Et vous, heures propices, suspendez votre cours! Le
thesauriseur, ce spiritualiste qui s´ignore, serai tenté de répondre que pour lui
sinon le temps tout entier, du moins du temps s´est arrêté, que, autant qu´il
semble en son pouvoir, il retient do temps.207
É contra esta visão que Tiago, magistralmente, faz lembrar aos ricos, aos que
estão falando “amanhã iremos a tal cidade, comerciaremos e lucraremos ...” que o
tempo está estritamente vinculado à vida, e que a efemeridade do tempo da vida destrói
qualquer pretensão individual, subjetiva, de capitalizar o tempo para si pelo uso do ouro,
e o acúmulo dos lucros:
4:13 :Age nu/n oi` le,gontej( Sh,meron h' au;rion poreuso,meqa eivj th,nde th.n
po,lin kai. poih,somen evkei/ evniauto.n kai. evmporeuso,meqa kai. kerdh,somen\
4:13 Agora, vamos! Os que estão dizendo/os falantes: hoje ou amanhã nós
iremos para dentro daquela cidade e faremos/produziremos lá por um ano/um
tempo e comerciaremos e lucraremos.
4:14 oi[tinej ouvk evpi,stasqe to. th/j au;rion poi,a h` zwh. U`mw/n\ avtmi.j ga,r evste
h` pro.j ovli,gon fainome,nh( e;peita kai. Avfanizome,nhÅ
4:14 Sejais quem for (vós), os que não estais sabendo/continuais não sabendo
qual a vossa vida, (a) de amanhã. Pois vós sois vapor, (o) que continua
estando aparecendo, pouco numeroso/pequeno, depois também começando a
(ser) desaparecido.
207
ZILBERBERG, Claude. Temps et signification dans Les Conquerants de Heredia. S/l: s/ed., s/d. , p.
104.
309
Riqueza de bens do mundo é um lugar de quantidade que, pelo acúmulo, se
transforma em lugar de qualidade. As bases que fundamentam o valor da riqueza
precisam ser apontadas para que possa se fazer uma dissociação entre entesouramento e
valor social. Um dos procedimentos do orador da Epístola é colocar o entesouramento
em relação com as condições sociais nas quais o entesouramento é realizado. Assim
Tiago axiologiza negativamente o entesouramento, se dirigindo diretamente aos ricos,
dizendo: “entesourastes nos últimos dias”.
Ser rico em fé não quer dizer que a fé pode ser de duas qualidades: ser muita, ser
rica, ou ser pouca ou ser pobre. Mas quer dizer que a condição evn pi,stei “em fé” cria
um sujeito rico. Rico porque a condição na qual ele está envolvido é uma postura que,
na relação com outro objeto - na Epístola, o seu irmão no grupo -, vai permitir que ele
mantenha o seu agora, crie um aqui e possa ser chamado um sujeito “fazedor religioso”
qrhsk,oj. Isto é, um sujeito que tem uma relação com Deus, axiologizada positivamente,
na Epístola.
310
1:26 Ei; tij dokei/ qrhsko.j einai mh. calinagwgw/n glw/ssan auvtou/ avlla.
avpatw/n kardi,an auvtou/( tou,tou ma,taioj h` qrhskei,aÅ
1:26 Se alguém está parecendo ser um religioso/fazedor religioso e, ao
mesmo tempo, não estando refreando a sua língua, mas
enganando/continuando a enganar o seu oração, a religião dele é vã/sem
valor.
1:27 qrhskei,a kaqara. kai. avmi,antoj para. tw/| qew/| kai. patri. au[th evsti,n(
evpiske,ptesqai ovrfanou.j kai. ch,raj evn th/| qli,yei auvtw/n( a;spilon e`auto.n
threi/n avpo. tou/ ko,smouÅ
1:27 Um fazer religioso/religião pura e sem defeito/sem mancha junto de
Deus e pai é esta: visitar/estar olhando órfãos e viúvas, nas suas necessidades
e conservando-se/preservando-se a si mesmo sem mancha do mundo.
208
Conforme Murachco, anotações de aula.
209
Heb 11:33 os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas,
fecharam a boca de leões, 34 extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza
tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros. 35 Mulheres
receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para
obterem superior ressurreição; 36 outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até
de algemas e prisões. 37 Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada;
andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados38
homens dos quais o mundo não era digno, errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros
311
A INSTALAÇÃO DE UM ACTANTE COMO SUJEITO DISCURSIVO
da terra. 39 Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a
concretização da promessa, 40 por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem
nós, não fossem aperfeiçoados (tradução da ARA. Negritos nossos).
312
conhecimento compartilhado como também, e isto é importante, fazer parte de um
acordo entre enunciador/orador e enunciatário/auditório. Se esse acordo ou contrato não
estiver consolidado, o discurso perderá sua coesão e coerência e sua eficácia
argumentativa. O acordo ou contrato remete também à noção do pressuposto para as
questões de intertextualidade, conhecimento compartilhado, coerções sociais e
ideologia, lugares comuns, condições de produção do discurso, etc.
313
A PERÍCOPE 5:1-5 E 4:13-17.
- Nos verbos : dizer, ensinar, chorar, gritar, falar, julgar, lamentar, falar mal,
perguntar, pedir, vangloriar-se, prometer, tagarelar, escutar, ouvir, murmurar
etc.
Os verbos gritar, lamentar etc., apesar de não serem falas, também remetem à
questão da enunciação. O que ocorre aqui é que o sujeito não consegue falar ou é
recomendado que não fale, ou mesmo lhe é mostrado que não tem capacidade
discursiva, pois não consegue separar-se dos seus sentimentos.
314
Na verdade, o que o orador está assinalando, ao usar os verbos gritar, lamentar
etc., é que o sujeito não pode separar-se da condição passional em que se encontra, e por
isto não pode falar. Bertrand ensina:
Quem são os sujeitos discursivos que podem se instalar como eu, do ponto de
vista do orador/argumentador/destinador? E ainda: o que é recomendado que digam ou
deixem de dizer?
Ora, as respostas são dadas, a cada momento, sem que a pergunta apareça
explícita. As respostas são, porém, também respaldadas em pressupostos muitas vezes
reforçados argumentativamente. São pressupostos por acordos, valores, contratos, os
quais estão presentes, por exemplo, na intertextualidade neo e vétero testamentária.
Toda a perícope que vai de 5:1-6 trata de uma parte do auditório, um subgrupo do grupo
mais amplo das doze tribos na dispersão. Essa parte do auditório é chamada de oi`
plou,sioi “os ricos”. O vers. 5:1 diz o seguinte:
210
BERTRAND, p. 107.
315
tribos da dispersão, para o qual a Epístola se dirige. E, dentro desse grupo, aparece o
querer, o desejo de se instalar como sujeito discursivo. Quando o orador inicia o vers.
5:1 dizendo :Age nu/n oi` plou,sioi “Vamos agora!, os ricos”, ele repete a seqüência
frasal exortativa :Age nu/n idêntica a que usou no vers. 4:13:
4:13 :Age nu/n oi` le,gontej( Sh,meron h' au;rion poreuso,meqa eivj th,nde th.n
po,lin kai. poih,somen evkei/ evniauto.n kai. evmporeuso,meqa kai. kerdh,somen\
4:13 Agora, vamos! Os que estão dizendo/os falantes: hoje ou amanhã nós
iremos para dentro daquela cidade e faremos/produziremos lá por um ano/um
tempo e comerciaremos e lucraremos.
316
“dizer” le,gw. Já no vers. 5:1, a marca da ação está nos dois temas verbais com raízes de
verbos que remetem a atos da fala e à emissão de sons pela boca. Trata-se dos temas
verbais que usam as raízes dos verbos lamentar, gemer, e chorar. A raiz do verbo
lamentar tem, na sua morfologia, o tema do particípio no aspecto Perfectum/acabado
ovlolu,zontej “lamentadores, gemedores”, e o verbo chorar é marcado com o tema do
imperativo aoristo pontual klau,sate “chorai”.
Há uma segunda marca textual e discursiva que nos auxilia a colocar a hipótese
de que os “ricos” oi` plou,sioi, aos quais Tiago se refere, se constituem num subgrupo
do auditório particular,as doze tribos na dispersão, para o qual a argumentação se dirige.
Trata-se de uma indicação cotextual que se encontra na perícope 2:1-5. Nessa perícope,
o texto sugere que o rico211, ao qual Tiago se refere, freqüenta a sinagoga, ou seja, faz
parte das Doze tribos na dispersão.
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/ kuri,ou
h`mw/n VIhsou/ Cristou/ th/j do,xhjÅ
2:1 Meus irmãos não tenhais/continuais a ter em parcialidade/distinção de
pessoas, a fé do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.
2:2 evan. ga.r eivse,lqh| eivj sunagwgh.n u`mw/n avnh.r crusodaktu,lioj evn evsqh/ti
lampra/(| eivse,lqh| de. kai. ptwco.j evn r`upara/| evsqh/ti(
211
No entanto, é extremamente significativo que na isotopia figurativa da riqueza, na cena da sinagoga, o
enunciador principal "suspende" o percurso figurativo do "acúmulo" e investe no percurso "aparência", do
"brilho", do "luxo", da "beleza".
317
2:2 Se, pois, entrar dentro da sinagoga de vocês um homem masculino que
tem um anel de ouro com veste brilhante, mas, também, se entrar um pobre
com veste comum.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes :
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/|
ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato
toi/j avgapw/sin auvto,nÈ
2:5 Escutai, meus irmãos amados: o deus não escolheu os pobres no mundo,
ricos em fé e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão amando?
212
MURACHCO, Vol. 1, p. 236.
318
3:1 Mh. polloi. dida,skaloi gi,nesqe( avdelfoi, mou( eivdo,tej o[ti mei/zon kri,ma
lhmyo,meqaÅ
3:1 Meus irmãos, não vos torneis muitos (de vós) mestres/ensinadores,
sabedores de que um juízo mais severo/maior julgamento receberemos.
Podemos considerar o ato de ensinar como um ato discursivo. O que nos chama
atenção é que a exortação que introduz o tema é uma exortação negativa, o que indica
que há a pressuposição de haver uma proposição/realidade afirmativa correspondente. À
ação de “não continuar sendo mestres” corresponde uma ação já em andamento ou a ser
iniciada de “continuar a ser mestres ou começar a ser mestres”. Esse fato é importante
pois, embora não esteja sendo feita uma narrativa histórica da ação de um
actante/personagem como se instituindo como sujeito discursivo, fica pressuposto, pela
negação da ação, que há uma em andamento ou prestes a se iniciar. Ora, o que isto
significa dentro da temática da assunção de um actante como sujeito discursivo, e
especificamente o que diz respeito esse tema para o auditório para o qual a carta se
dirige? Isso significa que alguma “coisa” que já existiu ou está em andamento, ou está
prestes a existir em matéria de ensinamento está sendo questionada. Observa-se que,
nesse momento, sem mencionar realidades exteriores objetivas, históricas, de sujeitos
que assumem um discurso, o orador está indicando que está falando justamente de
sujeitos que assumem discursos.
Apesar de ser óbvio o que foi constatado acima, cabe então perguntar: por que
essa maneira de colocar, negação pelo uso do aspecto infectum, e por que para esse
auditório?
319
O TEMA DO RICO - O ACÚMULO DE RIQUEZAS
2:16 ei;ph| de, tij auvtoi/j evx u`mw/n(~upa,gete evn eivrh,nh|(qermai,nesqe kai.
corta,zesqe( mh. dw/te de. auvtoi/j ta. evpith,deia tou/ sw,matoj( ti, to. o;felojÈ
2:16 Mas (se) alguém dentre vós disser para eles: “Ide em paz, aquentai-
vos/começai a vos aquecer e começai a vos alimentar”, mas se não derdes
para eles o necessário, as coisas próprias/oportunas do corpo, qual a
utilidade?
213
A necessidade das coisas próprias para o corpo pode fazer parte de uma isotopia figurativa da falta,
que incluiria também a sabedoria, conforme versículo 1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj. “Se alguém
dentre vós tem falta de sabedoria”.
320
Um outro percurso narrativo, em que o destinador, um anti-sujeito ou obstáculo,
manipula o membro do grupo para que ele entre em conjunção com a riqueza e seu
acúmulo, conforme vers. 4:5 abaixo:
4:5 h' dokei/te o[ti kenw/j h` grafh. le,gei( pro.j fqo,non evpipoqei/ to. pneu/ma o]
katw,k| isen evn h`mi/n(
PERÍCOPE 1:9-11.
1:9 Kauca,sqw de. o` avdelfo.j o` tapeino.j evn tw/| u[yei auvtou/( 1:10 o` de.
plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou pareleu,setaiÅ 1:11
avne,teilen ga.r o` h[lioj su.n tw/| kau,swni kai. evxh,ranen to.n co,rton kai. to.
a;nqoj auvtou/ evxe,pesen kai. h` euvpre,peia tou/ prosw,pou auvtou/ avpw,leto\ ou[twj
kai. o` plou,sioj evn tai/j porei,aij auvtou/ maranqh,setaiÅ
1:9 Mas, diga ao irmão, o humilde /pobre, que ele que comece a se
vangloriar/a se exaltar, em/com a altura/nível dele. 1:10 Mas ao rico, diga a
ele que (comece a se vangloriar/exaltar) na sua humilhação, porque irá
embora/cairá/passará como a flor da erva. 1:11 Pois, o sol atingiu o seu ponto
máximo/o seu pico/a sua meta tendo ao lado o vento escaldante/abrasador e
secou a erva e a sua flor caiu e a beleza da aparência dela
morreu/desapareceu. Assim também o rico em seus negócios/nas suas
andanças será murcho.
321
plou,sioj “o irmão o rico” mas também na sua relação com a vida. São vários os
recursos utilizados nesse Percurso Narrativo. Entre esses recursos estão:
322
PERÍCOPE 2:1-8
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/ kuri,ou
h`mw/n VIhsou/ Cristou/ th/j do,xhjÅ
2:1 Meus irmãos não tenhais/continuais a ter em parcialidade/distinção de
pessoas, a fé do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.
2:2 evan. ga.r eivse,lqh| eivj sunagwgh.n u`mw/n avnh.r crusodaktu,lioj evn evsqh/ti
lampra/(| eivse,lqh| de. kai. ptwco.j evn r`upara/| evsqh/ti(
2:2 Se, pois, entrar dentro da sinagoga de vocês um homem masculino que
tem um anel de ouro com veste brilhante, mas, também, se entrar um pobre
com veste comum.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su.
ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to.
u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes :
senta tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes:
coloca-te de pé ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o
meu pé/meu escabelo.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não
vos tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/|
ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato
toi/j avgapw/sin auvto,nÈ
2:5 Escutai, meus irmãos amados: o deus não escolheu os pobres no mundo,
ricos em fé e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão amando?
2:6 u`mei/j de. hvtima,sate to.n ptwco,n ouvc oi` plou,sioi katadunasteu,ousin
u`mw/n kai. auvtoi. e[lkousin u`ma/j eivj krith,riaÈ
2:6 Vós desonrastes o pobre. Não (são) os ricos (que) estão
oprimindo/tiranizando no meio de vós e também (não são) eles que estão
arrastando vocês para dentro dos tribunais?
2:7 ouvk auvtoi. blasfhmou/sin to. kalo.n o;noma to. evpiklhqe.n evfV u`ma/jÈ
2:7 Não (são) eles que blasfemam o bom nome, o que foi invocado sobre vós
?
2:8 eiv me,ntoi no,mon telei/te basiliko.n kata. Th.n grafh,n(Vagaph,seij to.n
plhsi,on sou w`j seauto,n(kalw/j poiei/te\
2:8 Se, não obstante, uma lei régia cumpris/estais completando de acordo
com a escritura : “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” , estais fazendo
bem/com eficácia.
323
figurativizados espacialmente com os termos que remetem ao par: estar elevado vs.
rebaixado, tanto social como religiosamente.
PERÍCOPE 5:1-6
5:1 :Age nu/n oi` plou,sioi( klau,sate ovlolu,zontej evpi. tai/j talaipwri,aij
u`mw/n tai/j evpercome,naijÅ
5:1 Vamos agora, os ricos ! Chorai, ao mesmo tempo lamentando, sobre as
misérias/sofrimentos, as que estão vindo sobre vós.
5:2 o` plou/toj u`mw/n se,shpen kai. ta. i`ma,tia u`mw/n shto,brwta ge,gonen(
5:2 A vossa riqueza está podre e as vossas vestes se tornaram roídas/rotas.
5:3 o` cruso.j u`mw/n kai. o` a;rguroj kati,wtai kai. o` ivoj. auvtw/n eivj martu,rion
u`mi/n e;stai kai. fa,getai ta.j sa,rkaj u`mw/n w`j pu/rÅ evqhsauri,sate evn evsca,taij
h`me,raijÅ
5:3 O ouro e a prata de vocês estão manchados e a ferrugem deles será para
vosso testemunho, e ela engolirá/devorará os corpos de vocês como fogo.
Entesourastes nos últimos dias.
5:4 ivdou. o` misqo.j tw/n evrgatw/n tw/n avmhsa,ntwn ta.j cw,raj u`mw/n o`
avpesterhme,noj avfV u`mw/n kra,zei( kai. ai` boai. tw/n qerisa,ntwn eivj ta. w=ta
kuri,ou Sabaw.q eivselhlu,qasinÅ
214
Observar que a personagem nesta perícope 2:1-4 ainda não é chamada de rico.
324
5:4 Eis que o salário dos trabalhadores, dos que tendo ceifado vossos campos,
o fraudado por vós está clamando! E, os gritos dos que tendo passado o verão
chegaram/acabaram de chegar aos ouvidos do senhor Sabahot;
5:5 evtrufh,sate evpi. th/j gh/j kai. evspatalh,sate( evqre,yate ta.j kardi,aj u`mw/n
evn h`me,ra| sfagh/j(
5:5 Vivestes no luxo e delícias sobre a terra, nutristes os vossos corações em
dia de degola.
5:6 katedika,sate( evfoneu,sate to.n di,kaion( ouvk avntita,ssetai u`mi/nÅ
5:6 Condenastes, matastes o justo, ele não está resistindo/resiste a vós.
At 3:14 u`mei/j de. to.n a[gion kai. di,kaion hvrnh,sasqe kai. hvt| h,sasqe a;ndra
fone,a carisqh/nai u`mi/n( 3:15 to.n de. avrchgo.n th/j zwh/j avpektei,nate o]n o`
qeo.j h;geiren evk nekrw/n( ou- h`mei/j ma,rture,j evsmenÅ
325
A constatação da intersecção não é mecânica. O justo e o pobre são
homologados no enunciado de Tiago. Eles fazem parte do mesmo percurso que os une
pela pistij “fé”. Conforme Tg. 2:5:
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/|
ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato
toi/j avgapw/sin auvto,nÈ
2:5 Escutai, meus irmãos amados: o deus não escolheu os pobres no mundo,
ricos em fé e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão amando?
PERÍCOPE 4:13-16.
4:13 :Age nu/n oi` le,gontej( Sh,meron h' au;rion poreuso,meqa eivj th,nde th.n
po,lin kai. poih,somen evkei/ evniauto.n kai. evmporeuso,meqa kai. kerdh,somen\
4:13 Agora, vamos! Os que estão dizendo/os falantes: hoje ou amanhã nós
iremos para dentro daquela cidade e faremos/produziremos lá por um ano/um
tempo e comerciaremos e lucraremos.
4:14 oi[tinej ouvk evpi,stasqe to. th/j au;rion poi,a h` zwh. U`mw/n\ avtmi.j ga,r evste
h` pro.j ovli,gon fainome,nh( e;peita kai. Avfanizome,nhÅ
4:14 Sejais quem for (vós), os que não estais sabendo/continuais não sabendo
qual a vossa vida, (a) de amanhã. Pois vós sois vapor, (o) que continua
estando aparecendo, pouco numeroso/pequeno, depois também começando a
(ser) desaparecido.
4:15 avnti. tou/ le,gein u`ma/j Vea.n o` ku,rioj qelh,sh| kai. zh,somen kai. poih,somen
tou/to h' evkei/noÅ
4:15 Ao invés do estar dizendo vós: Se o Senhor quiser também nós
viveremos e nós produziremos isto ou aquilo.
4:16 nu/n de. kauca/sqe evn tai/j avlazonei,aij u`mw/n\ pa/sa kau,chsij toiau,th
ponhra, evstinÅ
4:16 Mas agora (vós) estais vos vangloriando/estais rindo com as vossas
presunções. Todo envaidecimento desse tipo é mau.
326
de suas riquezas. A sanção aponta para o nível existencial, descrevendo a vida como um
valor efêmero. Tal como já tinha sido sugerida na perícope 1:9-11, o tema é também
figurativizado fortemente com diversos recursos: estratégias narrativas e discursivas. As
figuras da natureza são utilizadas para metaforizar a existência – a vida humana. O
recurso à figurativização do tema está em função da persuasão do destinador.
327
CONSIDERAÇÕES FINAIS
______________________________________________________________________
Nesta tese buscamos apresentar uma visão teórica na qual demonstrou-se uma
estrutura e processamento para a INSTÂNCIA DA ENUNCIAÇÃO, estabelecendo uma
proposta de relação entre aquela e a instância discursiva. A proposta que apresentamos,
da relação entre as duas instâncias, contempla na gênese da enunciação um
desdobramento do enunciador em vários sujeitos que participam da narratividade do
processo enunciativo, sendo que o cerne das relações que permitem surgir a enunciação
estaria na relação da percepção, sentir, sofrer de um sujeito com seu objeto. Esta idéia
de que a gênese da enunciação se dá em uma relação de percepção partiu do
ensinamento de Aristóteles, em Periermeneias, de que as coisas na voz são símbolos das
Paqhma,taj, “impressões/afecções” na mente.
329
auditório se estendesse tanto para o conjunto dos seres humanos, como gênero/espécie,
bem como para outros leitores eventuais do mesmo discurso. Além disso, constatou-se
que a discursivização do destinatário auxilia na constatação do caráter argumentativo
da epístola. A escolha dos referentes, além de ser intrigantemente muito diversificada
como apontamos, mostrou-se ser uma escolha ligada aos temas e argumentos do
segmento textual/discursivo, no qual uma discursivização particular do destinatário
aparece.
No que se refere ao aspecto verbal, procuramos mostrar que seu uso no discurso,
entre outros, é argumentativo. Ele é argumentativo tanto no que se refere à criação de
técnicas que concretizam a ação ou estado do sujeito nas pequenas narrativas - a figura
de presença - como no ato interativo, quando, na criação de temas, o orador procura ser
mais persuasivo. Neste último caso, observamos o vínculo direto entre a utilização do
aspecto verbal na construção do tema do rico/riqueza, particularmente no que se refere
às sanções, as quais aparecem no capítulo 5 da epístola.
330
No que se refere às raízes das palavras gregas, demonstrou-se que a identificação
da sua morfologia contribui na construção de isotopias, analogias e, por extensão, na
construção de temas. Tal contribuição mostrou-se eficaz e justificou a utilização do
texto original. Nas versões em línguas modernas os termos traduzidos não conservam,
obviamente, a mesma raiz grega. Em nossa língua portuguesa, os termos não permitem
visualizar uma possível relação entre eles mesmos, impedindo a constatação de uma
configuração discursiva.
331
Contribuíram também com minha tese de forma visceral os ensinamentos dos
professores das disciplinas que cursamos, os autores dos livros, os colegas da Pós,
cuja companhia e grande auxílio estão aqui presentes, no final desta jornada.
332
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______________________________________________________________________
ALMEIDA, João de. Introdução ao estudo das perífrases verbais de infinitivo. São
Paulo: Hucitec, 1978.
ARAÚJO, Ubirajara Inácio de. Tessitura textual: coesão e coerência como fatores de
textualidade. 2 ed. São Paulo: Humanitas, 2002.
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Dialogismo, polifonia e enunciação. In: Dialogismo,
polifonia, intertextualidade: em torno de Bakhtin. 2 ed. São Paulo: EDUSP, 1999
(Ensaios de Cultura 7).
BARROS, Mariana Luz Pessoa de. A arquitetura das memórias: um estudo do tempo no
discurso autobiográfico. São Paulo: USP, 2006 (Dissertação de Mestrado).
BARROSO, Henrique. O aspecto verbal perifrástico em português contemporâneo:
visão funcional/sincrônica. Porto: Porto Editora, 1994.
BÍBLIA SAGRADA. Tradução Brasileir. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2001.
BITTENCOURT, Fo. Heitor. Anotações sobre o texto grego da Epístola de Tiago com
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OBRAS COMPLETAS
343
ANEXOS
ANEXO 01
______________________________________________________________________
VIa,kwb
1:1 VIa,kwboj qeou/ kai. kuri,ou VIhsou/ Cristou/ dou/loj tai/j dw,deka fulai/j tai/j evn th/| diaspora/|
cai,reinÅ 1:2 Pa/san cara.n h`gh,sasqe( avdelfoi, mou( o[tan peirasmoi/j peripe,shte
poiki,loij( 1:3 ginw,skontej o[ti to. doki,mion u`mw/n th/j pi,stewj katerga,zetai u`pomonh,n
1:4 h` de. u`pomonh. e;rgon te,leion evce,tw( i[na h=te te,leioi kai. o`lo,klhroi evn mhdeni.
leipo,menoiÅ 1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( aivtei,tw para. tou/ dido,ntoj qeou/
pa/sin a`plw/j kai. mh. ovneidi,zontoj kai. doqh,setai auvtw/Å| 1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei
mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken klu,dwni qala,sshj avnemizome,nw|
kai. r`ipizome,nw|Å 1:7 mh. ga.r oives , qw o` a;nqrwpoj evkei/noj o[ti lh,myetai, ti para. tou/
kuri,ou( 1:8 avnh.r di,yucoj( avkata,statoj evn pa,saij tai/j o`doi/j auvtou/Å 1:9 Kauca,sqw de. o`
avdelfo.j o` tapeino.j evn tw/| u[yei auvtou/( 1:10 o` de. plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j
a;nqoj co,rtou pareleu,setaiÅ 1:11 avne,teilen ga.r o` h[lioj su.n tw/| kau,swni kai. evxh,ranen
to.n co,rton kai. to. a;nqoj auvtou/ evxe,pesen kai. h` euvpre,peia tou/ prosw,pou auvtou/ avpw,leto\
ou[twj kai. o` plou,sioj evn tai/j porei,aij auvtou/ maranqh,setaiÅ 1:12 Maka,rioj avnh.r o]j
u`pome,nei peirasmo,n( o[ti do,kimoj geno,menoj lh,myetai to.n ste,fanon th/j zwh/j o]n
evphggei,lato toi/j avgapw/sin auvto,nÅ 1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw o[ti VApo.
qeou/ peira,zomai\ o` ga.r qeo.j avpei,rasto,j evstin kakw/n( peira,zei de. auvto.j ouvde,naÅ1:14
e[kastoj de. peira,zetai u`po. th/j ivdi,aj evpiqumi,aj evxelko,menoj kai. deleazo,menoj\ 1:15
ei=ta h` evpiqumi,a sullabou/sa ti,ktei a`marti,an( h` de. a`marti,a avpotelesqei/sa avpoku,ei
qa,natonÅ 1:16 Mh. plana/sqe( avdelfoi, mou avgaphtoi,Å 1:17 pa/sa do,sij avgaqh. kai. pa/n
dw,rhma te,leion a;nwqe,n evstin katabai/non avpo. tou/ patro.j tw/n fw,twn( parV w-| ouvk e;ni
parallagh. h' troph/j avposki,asmaÅ 1:18 boulhqei.j avpeku,hsen h`ma/j lo,gw| avlhqei,aj eivj to.
ei=nai h`ma/j avparch,n tina tw/n auvtou/ ktisma,twnÅ1:19 :Iste( avdelfoi, mou avgaphtoi,\e;stw de.
pa/j a;nqrwpoj tacu.j eivj to. avkou/sai( bradu.j eivj to. lalh/sai( bradu.j eivj ovrgh,n\1:20 ovrgh.
ga.r avndro.j dikaiosu,nhn qeou/ ouvk evrga,zetaiÅ 1:21 dio. avpoqe,menoi pa/san r`upari,an kai.
perissei,an kaki,aj evn prau<thti( de,xasqe to.n e;mfuton lo,gon to.n duna,menon sw/sai ta.j
yuca.j u`mw/nÅ 1:22 Gi,nesqe de. poihtai. lo,gou kai. mh. mo,non avkroatai. paralogizo,menoi
e`autou,jÅ 1:23 o[ti ei; tij avkroath.j lo,gou evsti.n kai. ouv poihth,j( ou-toj e;oiken avndri.
katanoou/nti to. pro,swpon th/j gene,sewj auvtou/ evn evso,ptrw|\ 1:24 kateno,hsen ga.r e`auto.n
kai. avpelh,luqen kai. euvqe,wj evpela,qeto o`poi/oj h=nÅ 1:25 o` de. paraku,yaj eivj no,mon
te,leion to.n th/j evleuqeri,aj kai. paramei,naj( ouvk avkroath.j evpilhsmonh/j geno,menoj avlla.
poihth.j e;rgou( ou-toj maka,rioj evn th/| poih,sei auvtou/ e;staiÅ 1:26 Ei; tij dokei/ qrhsko.j
ei=nai mh. calinagwgw/n glw/ssan auvtou/ avlla. avpatw/n kardi,an auvtou/( tou,tou ma,taioj h`
qrhskei,aÅ 1:27 qrhskei,a kaqara. kai. avmi,antoj para. tw/| qew/| kai. patri. au[th evsti,n(
evpiske,ptesqai ovrfanou.j kai. ch,raj evn th/| qli,yei auvtw/n( a;spilon e`auto.n threi/n avpo. tou/
ko,smouÅ 2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/ kuri,ou h`mw/n VIhsou/
Cristou/ th/j do,xhjÅ 2:2 evan. ga.r eivse,lqh| eivj sunagwgh.n u`mw/n avnh.r crusodaktu,lioj evn
evsqh/ti lampra/(| eivse,lqh| de. kai. ptwco.j evn r`upara/| evsqh/ti( 2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n
forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su. ka,qou w-de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/|
ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to. u`popo,dio,n mou( 2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j
kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ 2:5 VAkou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o`
qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/| ko,smw| plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj
h`j evphggei,lato toi/j avgapw/sin auvto,nÈ 2:6 u`mei/j de. hvtima,sate to.n ptwco,nÅ ouvc oi`
plou,sioi katadunasteu,ousin u`mw/n kai. auvtoi. e[lkousin u`ma/j eivj krith,riaÈ 2:7 ouvk
auvtoi. blasfhmou/sin to. kalo.n o;noma to. evpiklhqe.n evfV u`ma/jÈ 2:8 eiv me,ntoi no,mon
telei/te basiliko.n kata. th.n grafh,n( VAgaph,seij to.n plhsi,on sou w`j seauto,n( kalw/j
poiei/te\ 2:9 eiv de. proswpolhmptei/te( a`marti,an evrga,zesqe evlegco,menoi u`po. tou/
no,mou w`j paraba,taiÅ 2:10 o[stij ga.r o[lon to.n no,mon thrh,sh| ptai,sh| de. evn e`ni,( ge,gonen
pa,ntwn e;nocojÅ 2:11 o` ga.r eivpw,n( Mh. moiceu,sh|j( ei=pen kai,( Mh. foneu,sh|j\ eiv de.
ouv moiceu,eij foneu,eij de,( ge,gonaj paraba,thj no,mouÅ 2:12 ou[twj lalei/te kai. ou[twj
poiei/te w`j dia. no,mou evleuqeri,aj me,llontej kri,nesqaiÅ 2:13 h` ga.r kri,sij avne,leoj tw/|
mh. poih,santi e;leoj\ katakauca/tai e;leoj kri,sewjÅ 2:14 Ti, to. o;feloj( avdelfoi, mou( evan.
pi,stin le,gh| tij e;cein e;rga de. mh. e;ch|È mh. du,natai h` pi,stij sw/sai auvto,nÈ 2:15 evan.
avdelfo.j h' avdelfh. gumnoi. u`pa,rcwsin kai. leipo,menoi th/j evfhme,rou trofh/j 2:16 ei;ph| de,
tij auvtoi/j evx u`mw/n( ~Upa,gete evn eivrh,nh|( qermai,nesqe kai. corta,zesqe( mh. dw/te de.
auvtoi/j ta. evpith,deia tou/ sw,matoj( ti, to. o;felojÈ 2:17 ou[twj kai. h` pi,stij( evan. mh. e;ch| e;rga(
nekra, evstin kaqV e`auth,nÅ 2:18 VAllV evrei/ tij( Su. pi,stin e;ceij( kavgw. e;rga e;cw\ dei/xo,n
346
moi th.n pi,stin sou cwri.j tw/n e;rgwn( kavgw, soi dei,xw evk tw/n e;rgwn mou th.n pi,stinÅ 2:19
su. pisteu,eij o[ti ei-j evstin o` qeo,j( kalw/j poiei/j\ kai. ta. daimo,nia pisteu,ousin kai.
fri,ssousinÅ 2:20 qe,leij de. gnw/nai( w= a;nqrwpe kene,( o[ti h` pi,stij cwri.j tw/n e;rgwn
avrgh, evstinÈ 2:21 VAbraa.m o` path.r h`mw/n ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh avnene,gkaj VIsaa.k to.n
ui`on. auvtou/ evpi. to. qusiasth,rionÈ 2:22 ble,peij o[ti h` pi,stij sunh,rgei toi/j e;rgoij auvtou/
kai. evk tw/n e;rgwn h` pi,stij evteleiw,qh( 2:23 kai. evplhrw,qh h` grafh. h` le,gousa(
VEpi,steusen de. VAbraa.m tw/| qew/(| kai. evlogi,sqh auvtw/| eivj dikaiosu,nhn kai. fi,loj qeou/
evklh,qhÅ 2:24 o`ra/te o[ti evx e;rgwn dikaiou/tai a;nqrwpoj kai. ouvk evk pi,stewj mo,nonÅ 2:25
o`moi,wj de. kai. ~Raa.b h` po,rnh ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh u`podexame,nh tou.j avgge,louj kai.
e`te,ra| o`dw/| evkbalou/saÈ 2:26 w[sper ga.r to. sw/ma cwri.j pneu,matoj nekro,n evstin( ou[twj kai.
h` pi,stij cwri.j e;rgwn nekra, evstin 3:1 Mh. polloi. dida,skaloi gi,nesqe( avdelfoi, mou(
eivdo,tej o[ti mei/zon kri,ma lhmyo,meqaÅ 3:2 polla. ga.r ptai,omen a[pantejÅ ei; tij evn lo,gw|
ouv ptai,ei( ou-toj te,leioj avnh,r dunato.j calinagwgh/sai kai. o[lon to. sw/maÅ 3:3 eiv de. tw/n
i[ppwn tou.j calinou.j eivj ta. sto,mata ba,llomen eivj to. pei,qesqai auvtou.j h`mi/n( kai. o[lon
to. sw/ma auvtw/n meta,gomenÅ 3:4 ivdou. kai. ta. ploi/a thlikau/ta o;nta kai. u`po. avne,mwn
sklhrw/n evlauno,mena( meta,getai u`po. evlaci,stou phdali,ou o[pou h` o`rmh. tou/
euvqu,nontoj bou,letai( 3:5 ou[twj kai. h` glw/ssa mikro.n me,loj evsti.n kai. mega,la auvcei/Å
VIdou. h`li,kon pu/r h`li,khn u[lhn avna,ptei\ 3:6 kai. h` glw/ssa pu/r\ o` ko,smoj th/j avdiki,aj h`
glw/ssa kaqi,statai evn toi/j me,lesin h`mw/n( h` spilou/sa o[lon to. sw/ma kai. flogi,zousa
to.n troco.n th/j gene,sewj kai. flogizome,nh u`po. th/j gee,nnhjÅ 3:7 pa/sa ga.r fu,sij qhri,wn te
kai. peteinw/n( e`rpetw/n te kai. evnali,wn dama,zetai kai. deda,mastai th/| fu,sei th/|
avnqrwpi,nh|( 3:8 th.n de. glw/ssan ouvdei.j dama,sai du,natai avnqrw,pwn( avkata,staton kako,n(
mesth. ivou/ qanathfo,rouÅ 3:9 evn auvth/| euvlogou/men to.n ku,rion kai. pate,ra kai. evn auvth/|
katarw,meqa tou.j avnqrw,pouj tou.j kaqV o`moi,wsin qeou/ gegono,taj( 3:10 evk tou/ auvtou/
sto,matoj evxe,rcetai euvlogi,a kai. kata,raÅ ouv crh,( avdelfoi, mou( tau/ta ou[twj gi,nesqaiÅ
3:11 mh,ti h` phgh. evk th/j auvth/j ovph/j bru,ei to. gluku. kai. to. pikro,nÈ 3:12 mh. du,natai(
avdelfoi, mou( sukh/ evlai,aj poih/sai h' a;mpeloj su/kaÈ ou;te a`luko.n gluku. poih/sai u[dwrÅ 3:13
Ti,j sofo.j kai. evpisth,mwn evn u`mi/nÈ deixa,tw evk th/j kalh/j avnastrofh/j ta. e;rga auvtou/ evn
prau<thti sofi,ajÅ 3:14 eiv de. zh/lon pikro.n e;cete kai. evriqei,an evn th/| kardi,a| u`mw/n( mh.
katakauca/sqe kai. yeu,desqe kata. th/j avlhqei,ajÅ 3:15 ouvk e;stin au[th h` sofi,a a;nwqen
katercome,nh avlla. evpi,geioj( yucikh,( daimoniw,dhjÅ 3:16 o[pou ga.r zh/loj kai. evriqei,a( evkei/
avkatastasi,a kai. pa/n fau/lon pra/gmaÅ 3:17 h` de. a;nwqen sofi,a prw/ton me.n a`gnh, evstin(
e;peita eivrhnikh,( evpieikh,j( euvpeiqh,j( mesth. evle,ouj kai. karpw/n avgaqw/n( avdia,kritoj(
avnupo,kritojÅ 3:18 karpo.j de. dikaiosu,nhj evn eivrh,nh| spei,retai toi/j poiou/sin eivrh,nhnÅ
4:1 Po,qen po,lemoi kai. po,qen ma,cai evn u`mi/nÈ ouvk evnteu/qen( evk tw/n h`donw/n u`mw/n tw/n
strateuome,nwn evn toi/j me,lesin u`mw/nÈ 4:2 evpiqumei/te kai. ouvk e;cete( foneu,ete kai.
zhlou/te kai. ouv du,nasqe evpitucei/n( ma,cesqe kai. polemei/te( ouvk e;cete dia. to. mh.
aivtei/sqai u`ma/j( 4:3 aivtei/te kai. ouv lamba,nete dio,ti kakw/j aivtei/sqe( i[na evn tai/j
h`donai/j u`mw/n dapanh,shteÅ 4:4 moicali,dej( ouvk oi;date o[ti h` fili,a tou/ ko,smou e;cqra
tou/ qeou/ evstinÈ o]j evan. ou=n boulhqh/| fi,loj ei=nai tou/ ko,smou( evcqro.j tou/ qeou/
kaqi,stataiÅ 4:5 h' dokei/te o[ti kenw/j h` grafh. le,gei( Pro.j fqo,non evpipoqei/ to. pneu/ma
o] katw,k| isen evn h`mi/n( 4:6 mei,zona de. di,dwsin ca,rinÈ dio. le,gei( ~O qeo.j u`perhfa,noij
avntita,ssetai( tapeinoi/j de. di,dwsin ca,rinÅ 4:7 u`pota,ghte ou=n tw/| qew/(| avnti,sthte
de. tw/| diabo,lw| kai. feu,xetai avfV u`mw/n( 4:8 evggi,sate tw/| qew/| kai. evggiei/ u`mi/nÅ
347
kaqari,sate cei/raj( a`martwloi,( kai. a`gni,sate kardi,aj( di,yucoiÅ 4:9 talaipwrh,sate
kai. penqh,sate kai. klau,sateÅ o` ge,lwj u`mw/n eivj pe,nqoj metatraph,tw kai. h` cara. eivj
kath,feianÅ 4:10 tapeinw,qhte evnw,pion kuri,ou kai. u`yw,sei u`ma/jÅ 4:11 Mh.
katalalei/te avllh,lwn( avdelfoi,Å o` katalalw/n avdelfou/ h' kri,nwn to.n avdelfo.n auvtou/
katalalei/ no,mou kai. kri,nei no,mon\ eiv de. no,mon kri,neij( ouvk ei= poihth.j no,mou avlla.
krith,jÅ 4:12 ei-j evstin Îo`Ð nomoqe,thj kai. krith,j o` duna,menoj sw/sai kai. avpole,sai\ su.
de. ti,j ei= o` kri,nwn to.n plhsi,onÈ 4:13 :Age nu/n oi` le,gontej( Sh,meron h' au;rion
poreuso,meqa eivj th,nde th.n po,lin kai. poih,somen evkei/ evniauto.n kai. evmporeuso,meqa
kai. kerdh,somen\ 4:14 oi[tinej ouvk evpi,stasqe to. th/j au;rion poi,a h` zwh. u`mw/n\ avtmi.j ga,r
evste h` pro.j ovli,gon fainome,nh( e;peita kai. avfanizome,nhÅ 4:15 avnti. tou/ le,gein u`ma/j(
VEa.n o` ku,rioj qelh,sh| kai. zh,somen kai. poih,somen tou/to h' evkei/noÅ 4:16 nu/n de.
kauca/sqe evn tai/j avlazonei,aij u`mw/n\ pa/sa kau,chsij toiau,th ponhra, evstinÅ 4:17 eivdo,ti
ou=n kalo.n poiei/n kai. mh. poiou/nti( a`marti,a auvtw/| evstinÅ 5:1 :Age nu/n oi` plou,sioi(
klau,sate ovlolu,zontej evpi. tai/j talaipwri,aij u`mw/n tai/j evpercome,naijÅ 5:2 o`
plou/toj u`mw/n se,shpen kai. ta. i`ma,tia u`mw/n shto,brwta ge,gonen( 5:3 o` cruso.j u`mw/n kai. o`
a;rguroj kati,wtai kai. o` ivoj. auvtw/n eivj martu,rion u`mi/n e;stai kai. fa,getai ta.j sa,rkaj
u`mw/n w`j pu/rÅ evqhsauri,sate evn evsca,taij h`me,raijÅ 5:4 ivdou. o` misqo.j tw/n evrgatw/n tw/n
avmhsa,ntwn ta.j cw,raj u`mw/n o` avpesterhme,noj avfV u`mw/n kra,zei( kai. ai` boai. tw/n
qerisa,ntwn eivj ta. w=ta kuri,ou Sabaw.q eivselhlu,qasinÅ 5:5 evtrufh,sate evpi. th/j gh/j
kai. evspatalh,sate( evqre,yate ta.j kardi,aj u`mw/n evn h`me,ra| sfagh/j( 5:6 katedika,sate(
evfoneu,sate to.n di,kaion( ouvk avntita,ssetai u`mi/nå 5:7 Makroqumh,sate ou=n( avdelfoi,(
e[wj th/j parousi,aj tou/ kuri,ouÅ ivdou. o` gewrgo.j evkde,cetai to.n ti,mion karpo.n th/j gh/j
makroqumw/n evpV auvtw/| e[wj la,bh| pro,im? on kai. o;yimonÅ 5:8 makroqumh,sate kai. u`mei/j(
sthri,xate ta.j kardi,aj u`mw/n( o[ti h` parousi,
parousi,a tou/ kuri,ou h;ggikenÅ 5:9 mh. stena,zete(
avdelfoi,( katV avllh,lwn i[na mh. kriqh/te\ ivdou. o` krith.j pro. tw/n qurw/n e[sthkenÅ 5:10
u`po,deigma la,bete( avdelfoi,( th/j kakopaqei,aj kai. th/j makroqumi,aj tou.j profh,taj oi]
evla,lhsan evn tw/| ovno,mati kuri,ouÅ 5:11 ivdou. makari,zomen tou.j u`pomei,nantaj\ th.n
u`pomonh.n VIw.b hvkou,sate kai. to. te,loj kuri,ou ei;dete( o[ti polu,splagcno,j evstin o` ku,rioj
kai. oivkti,rmwnÅ 5:12 Pro. pa,ntwn de,( avdelfoi, mou( mh. ovmnu,ete mh,te to.n ouvrano.n mh,te th.n
gh/n mh,te a;llon tina. o[rkon\ h;tw de. u`mw/n to. Nai. nai. kai. to. Ou' ou;( i[na mh. u`po. kri,sin
pe,shteÅ 5:13 Kakopaqei/ tij evn u`mi/n( proseuce,sqw\ euvqumei/ tij( yalle,tw\ 5:14
avsqenei/ tij evn u`mi/n( proskalesa,sqw tou.j presbute,rouj th/j evkklhsi,aj kai.
proseuxa,sqwsan evpV auvto.n avlei,yantej Îauvto.nÐ evlai,w| evn tw/| ovno,mati tou/ kuri,ouÅ 5:15
kai. h` euvch. th/j pi,stewj sw,sei to.n ka,mnonta kai. evgerei/ auvto.n o` ku,rioj\ ka'n a`marti,aj
h=| pepoihkw,j( avfeqh,setai auvtw/Å| 5:16 evxomologei/sqe ou=n avllh,loij ta.j a`marti,aj kai.
eu;cesqe u`pe.r avllh,lwn o[pwj ivaqh/teÅ polu. ivscu,ei de,hsij dikai,ou evnergoume,nhÅ 5:17
VHli,aj a;nqrwpoj h=n o`moiopaqh.j h`mi/n( kai. proseuch/| proshu,xato tou/ mh. bre,xai( kai.
ouvk e;brexen evpi. th/j gh/j evniautou.j trei/j kai. mh/naj e[x\ 5:18 kai. pa,lin proshu,xato( kai.
o` ouvrano.j u`eto.n e;dwken kai. h` gh/ evbla,sthsen to.n karpo.n auvth/jÅ 5:19 VAdelfoi, mou( evan,
tij evn u`mi/n planhqh/| avpo. th/j avlhqei,aj kai. evpistre,yh| tij auvto,n(5:20 ginwske,tw o[ti o`
evpistre,yaj a`martwlo.n evk pla,nhj o`dou/ auvtou/ sw,sei yuch.n auvtou/ evk qana,tou kai.
kalu,yei plh/qoj a`martiw/Nå
348
ANEXO 02
______________________________________________________________________
EPISTOLA DE TIAGO
TRADUÇÃO LINEAR
1:1 VIa,kwboj qeou/ kai. kuri,ou VIhsou/ Cristou/ dou/loj tai/j dw,deka fulai/j tai/j evn th/|
diaspora/| cai,reinÅ
1:1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, para as doze tribos, aquelas na
diáspora, saudações/bem vindos.
1:2 pa/san cara.n h`gh,sasqe( avdelfoi, mou( o[tan peirasmoi/j peripe,shte poiki,loij
1:2 Meus irmãos, dirigi-vos em direção a toda a alegria, quando/sempre que cairdes
envolvidos/enredados, nos mais diversos envolvimentos enredamentos/testes/provas/
tentações.
1:3 ginw,skontej o[ti to. doki,mion u`mw/n th/j pi,stewj katerga,zetai u`pomonh,nÅ
1:3 Ao mesmo tempo tomando conhecimento/sabendo/sabedores de que a prova da
vossa fé/ colocação em pé/postura está realizando com seu trabalho para vós mesmos, a
perseverança/a permanência.
1:4 h` de. u`pomonh. e;rgon te,leion evce,tw( i[na hte te,leioi kai. o`lo,klhroi evn mhdeni.
leipo,menoiÅ
1:4 E a perseverança comece a ter/continue a ter um trabalho completo/que atinje sua
meta, para que sejais completos/atingidores do fim/meta e herdeiros completos, em
nada faltantes.
1:5 Eiv de, tij u`mw/n lei,petai sofi,aj( aivtei,tw para. tou/ dido,ntoj qeou/ pa/sin a`plw/j kai.
mh. ovneidi,zontoj kai. doqh,setai auvtw/Å|
1:5 E se, dentre vós, alguém está precisando/carecendo/faltante de sabedoria, diga a ele
que busque/que ele entre no ato de buscar, da parte do Deus doante/que está doando a
todos, simplesmente, e que não censura /não está agredindo e ser-lhe-á dada.
1:6 aivtei,tw de. evn pi,stei mhde.n diakrino,menoj o` ga.r diakrino,menoj e;oiken klu,dwni
qala,sshj avnemizome,nw| kai. r`ipizome,nw|Å
1:6 Que ele busque/entre no ato de buscar com fé, e não fazendo julgamentos
atravessados/ considerações/discriminações, pois o que está fazendo
julgamentosatravessados/ considerações/ discriminações parece uma onda do mar, que
está sendo agitada/empurrada e soprada pelo vento.
1:7 mh. ga.r oives, qw o` a;nqrwpoj evkei/noj o[ti lh,myetai, ti para. tou/ kuri,ou
1:7 Pois, diga a ele - aquele ser humano/o ser humano aquele - que não pense/não
comece a pensar /não continue pensando, que receberá algo da parte do Senhor.
1:10 o` de. plou,sioj evn th/| tapeinw,sei auvtou/( o[ti w`j a;nqoj co,rtou pareleu,setaiÅ
1:10 Mas ao rico, diga a ele que (comece a se vangloriar/exaltar) na sua humilhação,
porque irá embora/cairá/passará como a flor da erva.
1:11 avne,teilen ga.r o` h[lioj su.n tw/| kau,swni kai. evxh,ranen to.n co,rton kai. to. a;nqoj
auvtou/ evxe,pesen kai. h` euvpre,peia tou/ prosw,pou auvtou/ avpw,leto\ ou[twj kai. o` plou,sioj
evn tai/j porei,aij auvtou/ maranqh,setaiÅ
1:11 Pois, o sol atingiu o seu ponto máximo/o seu pico/a sua meta tendo ao lado o vento
escaldante/abrasador e secou a erva e a sua flor caiu e a beleza da aparência dela
morreu/desapareceu. Assim também o rico em seus negócios/nas suas andanças será
murcho.
1:12 Maka,rioj avnh.r o]j u`pome,nei peirasmo,n( o[ti do,kimoj geno,menoj lh,myetai to.n
ste,fanon th/j zwh/j o]n evphggei,lato toi/j avgapw/sin auvto,nÅ
1:12 Bem aventurado o homem masculino aquele que permanece em direção ao
envolvimento/enredamento/prova, porque tendo se tornado provado, ele receberá a
coroa da vida a que ele prometeu aos que (ao mesmo tempo) o estão amando.
1:13 mhdei.j peirazo,menoj lege,tw o(ti VApo. qeou/ peira,zomai\ o` ga.r qeo.j avpei,rasto,j
evstin kakw/n( peira,zei de. auvto.j ouvde,naÅ
1:13 Ninguém ao mesmo tempo que está sendo envolvido/provado/tentado (ele)
diga/comece a dizer/ continue a dizer “da parte de Deus eu estou sendo
envolvido/provado/tentado”, pois o Deus não é envolvedor/tentador maldoso/para o
mal - suscetível de tentação a partir dos males. Ele mesmo ninguém envolve/testa/tenta.
1:14 e[kastoj de. peira,zetai u`po. th/j ivdi,aj evpiqumi,aj evxelko,menoj kai. deleazo,menoj\
1:14 Mas cada um é/está sendo envolvido/provado/tentado pela própria ambição/cobiça.
Estando sendo arrastado/tirado, pescado e sendo iscado/seduzido.
350
1:15 A seguir, a ambição tendo sido reunida/agregada/juntada gera um pecado/não
atingimento da meta. E o pecado tendo ocorrido/sido completado gera morte.
1:17 pa/sa do,sij avgaqh. kai. pa/n dw,rhma te,leion a;nwqe,n evstin katabai/non avpo. tou/
patro.j tw/n fw,twn( parV w-| ouvk e;ni parallagh. h' troph/j avposki,asmaÅ
1:17 Todo doação boa e todo presente dado completo/com objetivo/com meta/está
descendo do alto, do pai das luzes; junto ao qual não existem mudanças/sombras ou de
volta/lugar de mudança.
1:18 boulhqei.j avpeku,hsen h`ma/j lo,gw| avlhqei,aj eivj to. einai h`ma/j avparch,n tina tw/n
auvtou/ ktisma,twnÅ
1:18 Tendo tido vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade/do não esquecimento
para sermos um tipo de primícia das criaturas dele.
1:19 :Iste( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ e;stw de. pa/j a;nqrwpoj tacu.j eivj to. avkou/sai(
bradu.j eivj to. lalh/sai( bradu.j eivj ovrgh,n\
1:19 Vós sabeis, meus irmãos amados/queridos: seja todo ser humano rápido/pronto
para o escutar, lento para o tagarelar, e lento para uma agitação.
1:21 dio. avpoqe,menoi pa/san r`upari,an kai. perissei,an kaki,aj evn prau<thti( de,xasqe to.n
e;mfuton lo,gon to.n duna,menon sw/sai ta.j yuca.j u`mw/nÅ
1:21 Porque despojados de toda avareza/vileza sórdida e susupérfluo de maldade, com
inteligência, recebei/começai a receber/continuai a receber a palavra enxertada/palavra
inata, a que está tendo poder de restaurar/salvar as vossas mentes/almas.
1:22 Gi,nesqe de. poihtai. lo,gou kai. mh. mo,non avkroatai. paralogizo,menoi e`autou,jÅ
1:22 Tornai-vos começai/continuai a vos tornar fazedores/criadores da palavra e não
enganadores de si mesmos, (como) ouvintes somente.
1:23 o[ti ei; tij avkroath.j lo,gou evsti.n kai. Ouv poihth,j( ou-toj e;oiken avndri.
Katanoou/nti to. pro,swpon th/j gene,sewj auvtou/ evn evso,ptrw|\
1:23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra,e não fazedor/realizador, esse parece um
homem que está observando/refletindo a aparência de nascimento/nascença dele, em um
espelho.
1:24 kateno,hsen ga.r e`auto.n kai. avpelh,luqen kai. euvqe,wj evpela,qeto o`poi/oj h=nÅ
1:24 .... pois ele observou/refletiu a si mesmo e foi embora/desapareceu, e rapidamente
esqueceu-se como era.
351
1:25 o` de. paraku,yaj eivj no,mon te,leion to.n th/j evleuqeri,aj kai. paramei,naj( ouvk
avkroath.j evpilhsmonh/j geno,menoj avlla. poihth.j e;rgou( ou-toj maka,rioj evn th/| poih,sei
auvtou/ e;staiÅ
1:25 Mas o que tendo olhado com atenção para dentro da lei perfeita/ que tem meta,
aquela da liberdade e, ao mesmo tempo, está persevererando, não tendo se tornado
ouvinte esquecido mas realizador do trabalho, esse será bem aventurado/feliz em sua
ação criação.
1:26 Ei; tij dokei/ qrhsko.j einai mh. calinagwgw/n glw/ssan auvtou/ avlla. avpatw/n
kardi,an auvtou/( tou,tou ma,taioj h` qrhskei,aÅ
1:26 Se alguém está parecendo ser um religioso/fazedor religioso e, ao mesmo tempo,
não estando refreando a sua língua, mas enganando/continuando a enganar o seu oração,
a religião dele é vã/sem valor.
1:27 qrhskei,a kaqara. kai. avmi,antoj para. tw/| qew/| kai. patri. au[th evsti,n( evpiske,ptesqai
ovrfanou.j kai. ch,raj evn th/| qli,yei auvtw/n( a;spilon e`auto.n threi/n avpo. tou/ ko,smouÅ
1:27 Um fazer religioso/religião pura e sem defeito/sem mancha junto de Deus e pai é
esta: visitar/estar olhando órfãos e viúvas, nas suas necessidades e conservando-
se/preservando-se a si mesmo sem mancha do mundo.
2:1 VAdelfoi, mou( mh. evn proswpolhmyi,aij e;cete th.n pi,stin tou/ kuri,ou h`mw/n VIhsou/
Cristou/ th/j do,xhjÅ
2:1 Meus irmãos não tenhais/continuais a ter em parcialidade/distinção de pessoas, a fé
do nosso senhor Jesus Cristo, da Glória.
2:2 evan. ga.r eivse,lqh| eivj sunagwgh.n u`mw/n avnh.r crusodaktu,lioj evn evsqh/ti lampra/(|
eivse,lqh| de. kai. ptwco.j evn r`upara/| evsqh/ti(
2:2 Se, pois, entrar dentro da sinagoga de vocês um homem masculino que tem um anel
de ouro com veste brilhante, mas, também, se entrar um pobre com veste comum.
2:3 evpible,yhte de. evpi. to.n forou/nta th.n evsqh/ta th.n lampra.n kai. ei;phte( Su. ka,qou w-
de kalw/j( kai. tw/| ptwcw/| ei;phte( Su. sth/qi evkei/ h' ka,qou u`po. to. u`popo,dio,n mou(
2:3 Se vós lançardes o olhar sobre o que traz a veste brilhante e disserdes : senta
tu/inicia o ato de sentar aqui/deste modo bem e se ao pobre disserdes: coloca-te de pé
ali ou senta/inicia o ato de sentar abaixo do lugar de colocar o meu pé/meu escabelo.
2:4 ouv diekri,qhte evn e`autoi/j kai. evge,nesqe kritai. dialogismw/n ponhrw/nÈ
2:4 Não fizestes discriminações/juízos atravessados entre vós mesmos e não vos
tornastes juízes raciocinando/calculando maldosamente?
2:5 Akou,sate( avdelfoi, mou avgaphtoi,\ ouvc o` qeo.j evxele,xato tou.j ptwcou.j tw/| ko,smw|
plousi,ouj evn pi,stei kai. klhrono,mouj th/j basilei,aj h`j evphggei,lato toi/j avgapw/sin
auvto,nÈ
2:5 Escutai, meus irmãos amados: o deus não escolheu os pobres no mundo, ricos em fé
e herdeiros do reino, o qual prometeu aos que o estão amando?
2:6 u`mei/j de. hvtima,sate to.n ptwco,n ouvc oi` plou,sioi katadunasteu,ousin u`mw/n kai.
auvtoi. e[lkousin u`ma/j eivj krith,riaÈ
352
2:6 Vós desonrastes o pobre. Não (são) os ricos (que) estão oprimindo/tiranizando no
meio de vós e também (não são) eles que estão arrastando vocês para dentro dos
tribunais?
2:7 ouvk auvtoi. blasfhmou/sin to. kalo.n o;noma to. evpiklhqe.n evfV u`ma/jÈ
2:7 Não (são) eles que blasfemam o bom nome, o que foi invocado sobre vós ?
2:8 eiv me,ntoi no,mon telei/te basiliko.n kata. Th.n grafh,n(Vagaph,seij to.n plhsi,on sou
w`j seauto,n(kalw/j poiei/te\
2:8 Se, não obstante, uma lei régia cumpris/estais completando de acordo com a
escritura : “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” , estais fazendo bem/com eficácia.
2:9 eiv de. proswpolhmptei/te( a`marti,an evrga,zesqe evlegco,menoi u`po. tou/ no,mou w`j
paraba,taiÅ
2:9 Mas se vós continuais fazendo distinção de pessoas, estais trabalhando
pecado/errando o alvo, sendo acusados/censurados pela lei como violadores/parabátes.
2:10 o[stij ga.r o[lon to.n no,mon thrh,sh| ptai,sh| de. Evn e`ni,( ge,gonen pa,ntwn e;nocojÅ
2:10 Qualquer um, pois, que toda a lei guardar mas em um (ponto) tropeçar acaba de se
tornar exposto a todos os outros.
2:11 o` ga.r eivpw,n( Mh. moiceu,sh|j( ei=pen kai,( Mh. foneu,sh|j\ eiv de. ouv moiceu,eij
foneu,eij de,( ge,gonaj paraba,thj no,mou
2:11 Pois o que tendo dito: “Não adulterarás”, disse também: “Não matarás”. Se (tu)
não estás adulterando mas continuas a matar, tu te tornaste transgressor/parabátes da lei
2:12 ou[twj lalei/te kai. Ou[twj poiei/te w`j dia. No,mou evleuqeri,aj me,llontej kri,nesqaiÅ
2:12 Assim falai/continuai falando e assim fazei/começai a fazer/continuai a fazer,
como se pela lei da liberdade estiveres indo ser julgados.
2:13 h` ga.r kri,sij avne,leoj tw/| mh. poih,santi e;leoj\ katakauca/tai e;leoj kri,sewjÅ
2:13 Porque o juízo é sem misericórdia para o que não tendo feito/produzido
misericórdia. A misericórdia triunfa/tem mais poder sobre o juízo.
2:14 Ti, to. o;feloj( avdelfoi, mou(evan. pi,stin le,gh| tij e;cein e;rga de. mh. e;ch|È mh. du,natai
h` pi,stij sw/sai auvto,nÈ
2:14 Meus irmãos, qual a utilidade se alguém disse/restiver dizendo ter fé mas se não
tiver trabalhos. Não pode a fé restaurá-lo?
2:15 evan. avdelfo.j h' avdelfh. gumnoi. u`pa,rcwsin kai. leipo,menoi th/j evfhme,rou trofh/j
2:15 Se um irmão ou uma irmã permanecerem nus e faltantes/carentes do pão cotidiano.
2:16 ei;ph| de, tij auvtoi/j evx u`mw/n(~upa,gete evn eivrh,nh|(qermai,nesqe kai. corta,zesqe( mh.
dw/te de. auvtoi/j ta. evpith,deia tou/ sw,matoj( ti, to. o;felojÈ
2:16 Mas (se) alguém dentre vós disser para eles: “Ide em paz, aquentai-vos/começai a
vos aquecer e começai a vos alimentar”, mas se não derdes para eles o necessário, as
coisas próprias/oportunas do corpo, qual a utilidade?
353
2:17 ou[twj kai. h` pi,stij(evan. mh. e;ch| e;rga( nekra, evstin kaqV e`auth,nÅ
2:17 Assim também a fé, se não tiver/continuar tendo trabalhos está morta. de acordo
com ela mesma.
2:18 VAllV evrei/ tij( Su. pi,stin e;ceij( kavgw. e;rga e;cw\ dei/xo,n moi th.n pi,stin sou
cwri.j tw/n e;rgwn(kavgw, soi dei,xw evk tw/n e;rgwn mou th.n pi,stinÅ
2:18 Mas perguntará alguém: tu tens/continuas tendo fé e eu tenho/continuo tendo
trabalhos, mostra/começa a mostrar (tu) para mim a tua fé separada dos trabalhos e eu te
mostrarei a fé , a partir dos meus trabalhos.
2:19 su. pisteu,eij o[ti ei-j evstin o` qeo,j( kalw/j poiei/j\ kai. ta. daimo,nia pisteu,ousin
kai. fri,ssousinÅ
2:19 Tu tens continuas tendo fé que o Deus é “um” ? Tu fazes bem. Também os
demônios tem/continuam tendo fé e (eles) tremem/continuam tremendo.
2:20 qe,leij de. gnw/nai( w= a;nqrwpe kene,( o[ti h` pi,stij cwri.j tw/n e;rgwn avrgh, evstinÈ
2:20 Oh! Ser humano vazio! Tu estás querendo saber porque a fé separada dos trabalhos
é inativa ?
2:21 VAbraa.m o` path.r h`mw/n ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh avnene,gkaj VIsaa.k to.n ui`on. auvtou/
evpi. to. qusiasth,rionÈ
2:21 O nosso pai Abraão não foi “justificado” a partir dos trabalhos, tendo levado para
cima/oferecido Isaac, o seu filho, sobre o altar do sacrifício?
2:22 ble,peij o[ti h` pi,stij sunh,rgei toi/j e;rgoij auvtou/ kai. evk tw/n e;rgwn h` pi,stij
evteleiw,qh(
2:22 Tu estás vendo/vês que a fé trabalhava/estava trabalhando junto com os trabalhos
dele e que a partir/ dos trabalhos a fé foi completada?
2:23 kai. evplhrw,qh h` grafh. h` le,gousa( VEpi,steusen de. VAbraa.m tw/| qew/(| kai. evlogi,sqh
auvtw/| eivj dikaiosu,nhn kai. fi,loj qeou/ evklh,qhÅ
2:23 E foi cumprida/preenchida a escritura, a que diz/a dizente: “Acreditou Abraão em o
deus e ele foi escolhido/pensado para a justiça e amigo de Deus ele foi chamado.
2:24 o`ra/te o[ti evx e;rgwn dikaiou/tai a;nqrwpoj kai. ouvk evk pi,stewj mo,nonÅ
2:24 Começai a ver/continuai a ver que a partir dos trabalhos um ser humano é
justificado/posto de acordo com, e não somente a partir da fé
2:25 o`moi,wj de. kai. ~Raa.b h` po,rnh ouvk evx e;rgwn evdikaiw,qh u`podexame,nh tou.j
avgge,louj kai. e`te,ra| o`dw/| evkbalou/saÈ
2:25 Da mesma forma, também, Raab a meretriz não foi justificada a partir dos
trabalhos, tendo acolhido os mensageiros e os tendo enviado por outro caminho ?
2:26 w[sper ga.r to. sw/ma cwri.j pneu,matoj nekro,n evstin( ou[twj kai. h` pi,stij cwri.j
e;rgwn nekra, evstin
2:26 Pois assim como o corpo separado do espírito está morto, assim também a fé
separada dos trabalhos está morta.
354
3:1 Mh. polloi. dida,skaloi gi,nesqe( avdelfoi, mou( eivdo,tej o[ti mei/zon kri,ma lhmyo,meqaÅ
3:1 Meus irmãos, não vos torneis muitos (de vós) mestres/ensinadores, sabedores de
que um juízo mais severo/maior julgamento receberemos.
3:2 polla. ga.r ptai,omen a[pantejÅ ei; tij evn lo,gw| ouv ptai,ei( ou-toj te,leioj avnh,r
dunato.j calinagwgh/sai kai. o[lon to. sw/maÅ
3:2 Pois em muitas coisas todos batemos/tropeçamos. Se alguém não tromba/tropeça
em palavra/logos, esse é um homem masculino completo/que atinge a meta, capaz de
refrear/conduzir no freio também todo o corpo.
3:3 eiv de. Tw/n i[ppwn tou.j calinou.j eivj ta. Sto,mata ba,llomen eivj to. Pei,qesqai auvtou.j
h`mi/n( kai. O[lon to. Sw/ma auvtw/n meta,gomenÅ
3:3 Ora, se lançamos os freios para dentro da boca dos cavalos, para eles estarem sendo
persuadidos por nós, também todo o corpo deles estamos conduzindo/mudando de
lugar.
3:4 ivdou. Kai. Ta. Ploi/a thlikau/ta o;nta kai. U`po. Avne,mwn sklhrw/n evlauno,mena(
meta,getai u`po. Evlaci,stou phdali,ou o[pou h` o`rmh. Tou/ euvqu,nontoj bou,letai(
3:4 Eis que também os navios, sendo de tal tamanho, (ao mesmo tempo) estando sendo
movimentados pelos ventos duros/secos, pela ação do pequeno leme, mudam de direção
para o lugar em que o impulso do condutor está desejando.
3:5 ou[twj kai. H` glw/ssa mikro.n me,loj evsti.n kai. Mega,la auvcei/Å Vidou. H`li,kon pu/r
h`li,khn u[lhn avna,ptei\
3:5 Assim também a língua é um pequeno membro do corpo e de grandes coisas se
enaltece. Vede quão pequeno fogo ilumina tão grande bosque.
3:6 kai. H` glw/ssa pu/r\ o` ko,smoj th/j avdiki,aj h` glw/ssa kaqi,statai evn toi/j me,lesin
h`mw/n( h` spilou/sa o[lon to. sw/ma kai. Flogi,zousa to.n troco.n th/j gene,sewj kai.
Flogizome,nh u`po. Th/j gee,nnhjÅ
3:6 Também a língua é fogo. O mundo da injustiça. A língua está instalada nos
membros de nós, como a que está manchando todo o corpo e a que está
inflamando/inflamadora da/do a roda/curso da origem/nascimento e esta sendo
incendiada pela Geena.
3:7 pa/sa ga.r fu,sij qhri,wn te kai. Peteinw/n( e`rpetw/n te kai. Evnali,wn dama,zetai
kai. Deda,mastai th/| fu,sei th/| avnqrwpi,nh|
3:7 Pois toda a natureza das feras, também das aves, dos répteis, e também dos seres
marinhos está sendo domada e está domada pela natureza humana/dos homens.
3:8 th.n de. Glw/ssan ouvdei.j dama,sai do,natai avnqrw,pwn( avkata,staton kako,n( mesth. Ivou/
qanathfo,rouÅ
3:8 Mas a língua ninguém dentre os homens pode domar, ela é mal agitado repleta de
veneno mortal/mortífero.
3:9 evn auvth/| euvlogou/men to.n ku,rion kai. Pate,ra kai. Evn auvth/| katarw,meqa tou.j
avnqrw,pouj tou.j kaqV o`moi,wsin qeou/ gegono,taj(
355
3:9 Com ela bendizemos/elogiamos o senhor e pai e com ela amaldiçoamos/lançamos
pragas em direção aos seres humanos, os nascidos de acordo com a semelhança de
Deus.
3:10 evk tou/ auvtou/ sto,matoj evxe,rcetai euvlogi,a kai. Kata,raÅ ouv crh,( avdelfoi, mou(
tau/ta ou[twj gi,nesqaiÅ
3:10 Da mesma boca sai/está saindo benção/elogio e maldição. Meus irmãos, não é
apropriado essas coisas estarem acontecendo assim.
3:12 mh. du,natai( avdelfoi, mou( sukh/ evlai,aj poih/sai h' a;mpeloj su/kaÈ ou;te a`luko.n
gluku. poih/sai u[dwrÅ
3:12 Meus irmãos, não pode uma figueira produzir olivas ou uma perreira de uvas
(produzir) figos, nem fonte salgada produzir uma água doce.
3:13 Ti,j sofo.j kai. Evpisth,mwn evn u`mi/nÈ deixa,tw evk th/j kalh/j avnastrofh/j ta. E;rga
auvtou/ evn prau<thti sofi,ajÅ
3:13 Quem (é) sábio e instruído/erudito em vós, diga a ele que mostre os trabalhos dele
pela eficaz/boa/bonita ação de ir e vir, em doçura/mansidão de sabedoria.
3:14 eiv de. zh/lon pikro.n e;cete kai. Evriqei,na evn th/| kardi,a| u`mw/n( mh. katakauca/sqe kai.
Yeu,desqe kata. Th/j avlhqei,ajÅ
3:14 Mas, se uma inveja amarga e um sentimento facicioso continuais a ter no coração,
não continuais a vos vangloriar sobre os outros/a desprezar e (não) começais a
mentir/não continuais a mentir de acordo com/contra a verdade.
3:15 ouvk e;stin au[th h` sofi,a a;nwqen katercome,nh avlla. Evpi,geioj( yucikh,(
daimoniw,dhjÅ
3:15 Essa não é a sabedoria [a] que está descendo do alto, mas [uma] que está sobre a
terra/terrena , vivente/do mundo, mental, demoníaca/que diz respeito aos demônios.
3:16 o[pou ga.r zh/loj kai. Evriqei,a( evkei/ avkatastasi,a kai. Pa/n fau/lon pra/gmaÅ
3:16 Pois onde (há) inveja/ciúme e disputa, ali (há) instabilidade/agitação e toda
qualidade inferior.
3:17 h` de. a;nwqen sofi,a prw/ton me.n a`gnh, evstin( e;peita eivrhnikh,( evpieikh,j( euvpeiqh,j(
mesth. Evle,ouj kai. Karpw/n avgaqw/n( avdia,kritoj( avnupo,kritojÅ
3:17 A sabedoria (que vem) do alto, primeiro é pura/inocente, depois pacífica,
conveniente /na justa medida, obediente/dócil,cordata, cheia de compaixão/piedade e de
frutos bons.
3:18 karpo.j de. dikaiosu,nhj evn eivrh,nh| spei,retai toi/j poiou/sin eivrh,nhnÅ
3:18 Um fruto de justiça é semeado com paz para os que estão produzindo/fazendo a
paz.
4:1 po,qen po,lemoi kai. po,qen ma,cai evn u`mi/nÈ ouvk evnteu/qen( evk tw/n h`donw/n u`mw/n tw/n
strateuome,nwn evn toi/j me,lesin u`mw/nÈ
356
4:1 De onde vem guerras e de onde ve) lutas em vós? Não estão vindo dos vossos
prazeres, os que estão guerreando nos vossos membros/do corpo?
4:2 evpiqumei/te kai. ouvk e;cete( foneu,ete kai. zhlou/te kai. ouv du,nasqe evpitucei/n( ma,cesqe
kai. polemei/te( ouvk e;cete dia. to. mh. aivtei/sqai u`ma/j(
4:2 Vós estais ambicionando e não estais tendo, vós estais/continuais matando e
invejando e não está sendo possível um sucesso/e continuais não podendo estar
atingindo o objetivo. Vós estais guerreando e estais lutando e não estais tendo pelo não
estar buscando.
4:3 aivtei/te kai. ouv lamba,nete dio,ti kakw/j aivtei/sqe( i[na evn tai/j h`donai/j u`mw/n
dapanh,shteÅ
4:3 Vós estais buscando e não obtendes/continuais a não receber porque buscais
mal/continuais buscando mal, para gastardes nos vossos prazeres.
4:4 moicali,dej( ouvk oi;date o[ti h` fili,a tou/ ko,smou e;cqra tou/ qeou/ evstinÈ o]j evan. ou=n
boulhqh/| fi,loj ei=nai tou/ ko,smou( evcqro.j tou/ qeou/ kaqi,stataiÅ
4:4 Adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?
Portanto, aquele que desejar ser/continuar sendo amigo do mundo ele está
posicionando/instalando como inimigo de Deus.
4:5 h' dokei/te o[ti kenw/j h` grafh. le,gei( pro.j fqo,non evpipoqei/ to. pneu/ma o] katw,k| isen
evn h`mi/n(
4:5 Ou vos parece/está parecendo que, em vão, a escritura diz/está dizendo: contra o
“segurar para si”/avareza deseja o espírito, aquele que morou/habitou em vós?
4:6 mei,zona de. di,dwsin ca,rinÈ dio. le,gei( ~O qeo.j u`perhfa,noij avntita,ssetai( tapeinoi/j
de. di,dwsin ca,rinÅ
4:6 Maior graça dá/continua dando? Por isso ele/a está dizendo diz/continua dizendo: O
Deus resiste aos soberbos e ele dá/continua dando graça aos humildes.
4:7 u`pota,ghte oun tw/| qew/(| avnti,sthte de. tw/| diabo,lw| kai. feu,xetai avfV u`mw/n(
4:7 Portanto, submetei-vos à autoridade de Deus mas resisti ao diabo e ele fugirá do
meio de vós.
4:8 evggi,sate tw/| qew/| kai. evggiei/ u`mi/n kaqari,sate cei/raj( a`martwloi,( kai. a`gni,sate
kardi,aj( di,yucoiÅ
4:8 Aproximai-vos de Deus e ele se aproximará de vós. Limpai pecadores as mãos e
purificai os corações /homens de/ mentes duplas.
4:9 talaipwrh,sate kai. Penqh,sate kai. Klau,sateÅ o` ge,lwj u`mw/n eivj pe,nqoj
metatraph,tw kai. H` cara. Eivj kath,feianÅ
4:9 Sofrei, afligi-vos e chorai. O riso vosso mude de lado para dentro do luto/da dor e a
vossa alegria para dentro da tristeza/lágrima.
357
4:11 Mh. katalalei/te avllh,lwn( avdelfoi,Å o` katalalw/n avdelfou/ h' kri,nwn to.n avdelfo.n
auvtou/ katalalei/ no,mou kai. kri,nei no,mon\ eiv de. no,mon kri,neij( ouvk ei poihth.j no,mou
avlla. krith,jÅ
4:11 Irmãos, não falais/cessai de falar mal um dos outros. O que está falando/o
falante/o que continua falando mal do irmão ou o que está julgando/julgador/continua
julgando seu irmão está falando da lei e está julgando a lei. E, se julgas/continuas
julgando a lei, não és fazedor/produtor da lei, mas juiz.
4:12 ei-j evstin Îo`Ð nomoqe,thj kai. krith,j o` duna,menoj sw/sai kai. avpole,sai\ su. de. ti,j ei=
o` kri,nwn to.n plhsi,onÈ
4:12 Um é o legislador e juiz, o que pode/o que continua tendo poder de
restaurar/salvar e fazer perecer. Mas tu quem és o que está julgando/continua julgando
o próximo?
4:13 :Age nu/n oi` le,gontej( Sh,meron h' au;rion poreuso,meqa eivj th,nde th.n po,lin kai.
poih,somen evkei/ evniauto.n kai. evmporeuso,meqa kai. kerdh,somen\
4:13 Agora, vamos! Os que estão dizendo/os falantes: hoje ou amanhã nós iremos para
dentro daquela cidade e faremos/produziremos lá por um ano/um tempo e
comerciaremos e lucraremos.
4:14 oi[tinej ouvk evpi,stasqe to. th/j au;rion poi,a h` zwh. U`mw/n\ avtmi.j ga,r evste h` pro.j
ovli,gon fainome,nh( e;peita kai. Avfanizome,nhÅ
4:14 Sejais quem for (vós), os que não estais sabendo/continuais não sabendo qual a
vossa vida, (a) de amanhã. Pois vós sois vapor, (o) que continua estando aparecendo,
pouco numeroso/pequeno, depois também começando a (ser) desaparecido.
4:15 avnti. tou/ le,gein u`ma/j Vea.n o` ku,rioj qelh,sh| kai. zh,somen kai. poih,somen tou/to h'
evkei/noÅ
4:15 Ao invés do estar dizendo vós: Se o Senhor quiser também nós viveremos e nós
produziremos isto ou aquilo.
4:16 nu/n de. kauca/sqe evn tai/j avlazonei,aij u`mw/n\ pa/sa kau,chsij toiau,th ponhra,
evstinÅ
4:16 Mas agora (vós) estais vos vangloriando/estais rindo com as vossas presunções.
Todo envaidecimento desse tipo é mau.
4:17 eivdo,ti ou=n kalo.n poiei/n kai. Mh. poiou/nti( a`marti,a auvtw/| evstinÅ
4:17 Portanto, sabendo fazer/produzir bem/com eficácia e não fazedor/estando
fazendo/ao mesmo tempo não estando fazendo está sendo para ele um pecado/ um não
atingimento da meta.
5:1 :Age nu/n oi` plou,sioi( klau,sate ovlolu,zontej evpi. tai/j talaipwri,aij u`mw/n tai/j
evpercome,naijÅ
5:1 Vamos agora, os ricos! Chorai, ao mesmo tempo lamentando, sobre as misérias/
sofrimentos, as que estão vindo sobre vós.
5:2 o` plou/toj u`mw/n se,shpen kai. ta. i`ma,tia u`mw/n shto,brwta ge,gonen(
5:2 A vossa riqueza está podre e as vossas vestes se tornaram roídas/rotas.
358
5:3 o` cruso.j u`mw/n kai. o` a;rguroj kati,wtai kai. o` ivoj. auvtw/n eivj martu,rion u`mi/n e;stai
kai. fa,getai ta.j sa,rkaj u`mw/n w`j pu/rÅ evqhsauri,sate evn evsca,taij h`me,raijÅ
5:3 O ouro e a prata de vocês estão manchados e a ferrugem deles será para vosso
testemunho, e ela engolirá/devorará os corpos de vocês como fogo. Entesourastes nos
últimos dias.
5:4 ivdou. o` misqo.j tw/n evrgatw/n tw/n avmhsa,ntwn ta.j cw,raj u`mw/n o` avpesterhme,noj avfV
u`mw/n kra,zei( kai. ai` boai. tw/n qerisa,ntwn eivj ta. w=ta kuri,ou Sabaw.q eivselhlu,qasinÅ
5:4 Eis que o salário dos trabalhadores, dos que tendo ceifado vossos campos, o
fraudado por vós está clamando! E, os gritos dos que tendo passado o verão
chegaram/acabaram de chegar aos ouvidos do senhor Sabahot ;
5:5 evtrufh,sate evpi. th/j gh/j kai. evspatalh,sate( evqre,yate ta.j kardi,aj u`mw/n evn h`me,ra|
sfagh/j(
5:5 Vivestes no luxo e delícias sobre a terra, nutristes os vossos corações em dia de
degola.
5:7 Makroqumh,sate ou=n( avdelfoi,( e[wj th/j parousi,aj tou/ kuri,ouÅ ivdou. o` gewrgo.j
evkde,cetai to.n ti,mion karpo.n th/j gh/j makroqumw/n evpVauvtw/| e[wj la,bh| pro,im? on kai.
o;yimonÅ
5:7 Portanto, irmãos, tende paciência até a vinda/a parousia do Senhor. Eis que o
lavrador está recebendo o valioso fruto (que vem) da terra tendo paciência/paciensioso
sobre ela, até que colha o primeiro e o tardio.
5:8 makroqumh,sate kai. U`mei/j( sthri,xate ta.j kardi,aj u`mw/n( o[ti h` parousi,a tou/
kuri,ou h;ggikenÅ
5:8 E vós tende paciência, fortalecei os vossos corações, porque a aparição/parousia do
Senhor está próxima.
5:9 mh. stena,zete( avdelfoi,( katV avllh,lwn i[na mh. kriqh/te\ ivdou. O` krith.j pro. Tw/n
qurw/n e[sthkenÅ
5:9 Irmãos, não murmurais/continuais a murmurar uns contra os outros, para não serdes
julgados. Eis que o juiz está colocado/acaba de se colocar de pé diante das portas.
5:10 u`po,deigma la,bete( avdelfoi,( th/j kakopaqi,aj kai. Th/j makroqumi,aj tou.j profh,taj
oi] evla,lhsan evn tw/| ovno,mati kuri,ouÅ
5:10 Irmãos, tomai exemplo da dificuldade/sofrimento e da paciência dos profetas, os
quais falaram em nome do Senhor.
5:11 ivdou. Makari,zomen tou.j u`pomei,nantaj\ th.n u`pomonh.n Viw.b hvkou,sate kai. To. te,loj
kuri,ou ei;dete( o[ti polu,splagcno,j evstin o` ku,rioj kai. Oivkti,rmwnÅ
5:11 Eis que bem aventuramos os perseverantes/os que continuam a perseverar.
Ouvistes falar da paciência de Job e soubestes o objetivo/a meta do senhor. Porque o
senhor é muito misericordioso e piedoso/compassivo.
359
5:12 Pro. pa,ntwn de,( avdelfoi, mou( mh. ovmnu,ete mh,te to.n ouvrano.n mh,te th.n gh/n mh,te
a;llon tina. o[rkon\ h;tw de. u`mw/n to. Nai. nai. kai. to. Ou' ou;( i[na mh. u`po. kri,sin pe,shteÅ
5:12 Antes de todas as coisas meus irmãos, não jureis/entreis no ato de jurar, continuais
jurando nem pelo/em direção ao céu nem pela/em direção a terra, nem algum outro
juramento. Mas, diga para ele, dentre vós, seja o Sim, sim e o Não não, para que não
caiais sob julgamento.
5:14 avsqenei/ tij evn u`mi/n( proskalesa,sqw tou.j presbute,rouj th/j evkklhsi,aj kai.
Proseuxa,sqwsan evpV auvto.n avlei,yantej Îauvto.nÐ evlai,w| evn tw/| ovno,mati tou/ kuri,ouÅ
5:14 Se alguém no meio de vós está doente, que ele chame [em seu interêsse] os
presbíteros da igreja e que tendo ungido o doente com óleo que eles orem em nome do
senhor,
5:15 kai. h` euvch. th/j pi,stewj sw,sei to.n ka,mnonta kai. evgerei/ auvto.n o` ku,rioj\ ka'n
a`marti,aj h=| pepoihkw,j( avfeqh,setai auvtw/Å|
5:15 E a oração do crente/fiel/do que se coloca salvará o que está acamado/doente e o
senhor o levantará e caso ele acabe de fazer/no estado de pecado será perdoado/deixado
ir, para ele/em seu beneficio.
5:16 evxomologei/sqe ou=n avllh,loij ta.j a`marti,aj kai. Eu;cesqe u`pe.r avllh,lwn o[pwj
ivaqh/teÅ polu. Ivscu,ei de,hsij dikai,ou evnergoume,nhÅ
5:16 Portanto, confessai/continuai confessando, começai a confessar os pecados uns aos
outros e orai/continuai orando/começai a orar uns sobre os outros, de modo que sejais
curados. Muito tem/continua tendo força/é potente um pedido do justo, ao mesmo
tempo que (é) produtor / agente/enquanto age.
5:17 Vhli,aj a;nqrwpoj h=n o`moiopaqh.j h`mi/n( kai. Proseuch/| proshu,xato tou/ mh. bre,xai(
kai. Ouvk e;brexen evpi. Th/j gh/j evniautou.j trei/j kai. Mh/naj e(x\
5:17 Elias era um homem de mesmo sentimento que nós e com oração dirigiu uma
prece de não chover e não choveu sobre a terra, durante três anos e meio.
5:18 kai. Pa,lin proshu,xato( kai. O` ouvrano.j u`eto.n e;dwken kai. H` gh/ebv la,sthsen to.n
karpo.n auvth/jÅ
5:18 E de novo ele fez uma prece e o céu deu uma chuva forte e a terra
germinou/floresceu o fruto dela.
5:19 VAdelfoi, mou( evan, tij evn u`mi/n planhqh/| avpo. th/j avlhqei,aj kai. evpistre,yh| tij
auvto,n(
5:19 Meus irmãos se alguém em vós vaguear/se desviar da verdade e se alguém se
voltar em sua direção.
5:20 ginwske,tw o[ti o` evpistre,yaj a`martwlo.n evk pla,nhj o`dou/ auvtou/ sw,sei yuch.n
auvtou/ evk qana,tou kai. Kalu,yei plh/qoj a`martiw/nÅ
360
5:20 Diga a ele que comece a tomar conhecimento de que: o que se volta para/em
direção ao pecador do caminho errante dele, ele salvará a alma/a mente dele da morte e
esconderá uma multidão de pecados/não atingimento de metas.
361
ANEXO 03
______________________________________________________________________
EPÍSTOLA DE TIAGO
VERSÃO ALMEIDA REVISTA E ATUALIZADA - ARA
CAPITULO 01
1:1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na
Dispersão, saudações.
2 Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações,
3 sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança.
4 Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em
nada deficientes.
5 Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida.
6 Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda
do mar, impelida e agitada pelo vento.
7 Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa;
8 homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.
9 O irmão, porém, de condição humilde glorie-se na sua dignidade,
10 e o rico, na sua insignificância, porque ele passará como a flor da erva.
11 Porque o sol se levanta com seu ardente calor, e a erva seca, e a sua flor cai, e
desaparece a formosura do seu aspecto; assim também se murchará o rico em seus
caminhos.
12 Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque,
depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que
o amam.
13 Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser
tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.
14 Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.
15 Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez
consumado, gera a morte.
16 Não vos enganeis, meus amados irmãos.
17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em
quem não pode existir variação ou sombra de mudança.
18 Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que
fôssemos como que primícias das suas criaturas.
19 Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir,
tardio para falar, tardio para se irar.
20 Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus.
21 Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com
mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.
22 Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a
vós mesmos.
23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem
que contempla, num espelho, o seu rosto natural;
24 pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua
aparência.
25 Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela
persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-
aventurado no que realizar.
26 Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o
próprio coração, a sua religião é vã.
27 A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos
e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.
CAPITULO 02
ARA James 2:1 Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da
glória, em acepção de pessoas.
2 Se, portanto, entrar na vossa sinagoga algum homem com anéis de ouro nos dedos,
em trajos de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso,
3 e tratardes com deferência o que tem os trajos de luxo e lhe disserdes: Tu, assenta-te
aqui em lugar de honra; e disserdes ao pobre: Tu, fica ali em pé ou assenta-te aqui
abaixo do estrado dos meus pés,
4 não fizestes distinção entre vós mesmos e não vos tornastes juízes tomados de
perversos pensamentos?
5 Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para
serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?
6 Entretanto, vós outros menosprezastes o pobre. Não são os ricos que vos oprimem e
não são eles que vos arrastam para tribunais?
7 Não são eles os que blasfemam o bom nome que sobre vós foi invocado?
8 Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo, fazeis bem;
9 se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo argüidos pela lei como
transgressores.
10 Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado
de todos.
11 Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não matarás. Ora, se
não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei.
363
12 Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados
pela lei da liberdade.
13 Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A
misericórdia triunfa sobre o juízo.
14 Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras?
Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?
15 Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento
cotidiano,
16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem,
contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?
17 Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
18 Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e
eu, com as obras, te mostrarei a minha fé.
19 Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem.
20 Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante?
21 Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o
altar o próprio filho, Isaque?
22 Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras
que a fé se consumou,
23 e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi
imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus.
24 Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente.
25 De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando
acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?
26 Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é
morta.
CAPÍTULO 03
3:1 Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de
receber maior juízo.
2 Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito
varão, capaz de refrear também todo o corpo.
3 Ora, se pomos freio na boca dos cavalos, para nos obedecerem, também lhes
dirigimos o corpo inteiro.
4 Observai, igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos de rijos ventos, por
um pequeníssimo leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro.
5 Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma
fagulha põe em brasas tão grande selva!
6 Ora, a língua é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros
de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da
existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno.
7 Pois toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido
domada pelo gênero humano;
364
8 a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado
de veneno mortífero.
9 Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens,
feitos à semelhança de Deus.
10 De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que
estas coisas sejam assim.
11 Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?
12 Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos?
Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce.
13 Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante
condigno proceder, as suas obras.
14 Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento
faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade.
15 Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca.
16 Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas
ruins.
17 A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente,
tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento.
18 Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz.
CAPÍTULO 04
4:1 De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos
prazeres que militam na vossa carne?
2 Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer
guerras. Nada tendes, porque não pedis;
3 pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.
4 Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois,
que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
5 Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o
Espírito, que ele fez habitar em nós?
6 Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos
humildes.
7 Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
8 Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós
que sois de ânimo dobre, limpai o coração.
9 Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria,
em tristeza.
10 Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.
11 Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu
irmão fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz.
12 Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem
és, que julgas o próximo?
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13 Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá
passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros.
14 Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como
neblina que aparece por instante e logo se dissipa.
15 Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também
faremos isto ou aquilo.
16 Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância
semelhante a essa é maligna.
17 Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando.
CAPÍTULO 05
5:1 Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos
sobrevirão.
2 As vossas riquezas estão corruptas, e as vossas roupagens, comidas de traça;
3 o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por
testemunho contra vós mesmos e há de devorar, como fogo, as vossas carnes. Tesouros
acumulastes nos últimos dias.
4 Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi
retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos
ouvidos do Senhor dos Exércitos.
5 Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes
engordado o vosso coração, em dia de matança;
6 tendes condenado e matado o justo, sem que ele vos faça resistência.
7 Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com
paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas.
8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está
próxima.
9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está
às portas.
10 Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram
em nome do Senhor.
11 Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência
de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e
compassivo.
12 Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem
por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes
em juízo.
13 Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores.
14 Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração
sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor.
15 E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido
pecados, ser-lhe-ão perdoados.
16 Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para
serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.
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17 Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com
instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu.
18 E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos.
19 Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter,
20 sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a
alma dele e cobrirá multidão de pecados.
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