A Leitura e A Escrita Imbricacoes Entre A Lingua Materna e A Matematica
A Leitura e A Escrita Imbricacoes Entre A Lingua Materna e A Matematica
A Leitura e A Escrita Imbricacoes Entre A Lingua Materna e A Matematica
A LEITURA E A ESCRITA:
IMBRICAÇÕES ENTRE A LÍNGUA MATERNA E A MATEMÁTICA
Manoel L. C. Teixeira
UFRJ
[email protected]
Resumo:
As questões levantadas neste trabalho abrangem a Língua Materna e a Matemática. A
complexidade da aquisição da leitura e da escrita, desde a mais tenra idade, inverte o
pensamento racional. Nessa etapa da cultura educacional, a Educação Infantil requer
estudos e capacitação do professor para dar seguimento ao processo de construção das
transformações por que passam os conceitos no Português e na Matemática. Quanto
menor a idade, a complexidade da aquisição da leitura e da escrita se torna questão de
profundas mudanças na didática dessas duas áreas. A partir desse contexto, faz-se a
interface entre Matemática e Língua Materna baseados nas proposições de Valente
(2012) e na análise da diversidade, que inclui História Cultural, Filosofia da
Matemática, Filosofia da Cultura e Epistemologia. Serão, ademais, apresentadas outras
interfaces entre Educação e Matemática no intuito de que novas pedagogias
transformadoras nasçam nesse momento transitório da civilização.
1. Introdução
Para podermos elucidar alguns problemas clássicos da língua materna e da
matemática, vale enfatizar que tais áreas estão sujeitas à inserção da filosofia da cultura.
Além disso, a impressão que temos é a de que essas duas línguas foram criadas com o
objetivo exclusivo de tornar a leitura e a escrita, tanto em matemática, como em língua
portuguesa, questões difíceis de explicar, já que símbolos e mais símbolos, acentos,
fórmulas e proposições poderosas servem para confrontar a criatividade de qualquer
indivíduo. Entretanto, essa relação escapa, às vezes, ao conhecimento tradicional, e a
existência de propostas se torna, a cada dia, a opção mais vantajosa a essa tendência da
cultura educacional.
Vale enfatizar que, se o homem se faz livre pela palavra, isso significa que ler e
escrever não se limitam à ação de codificar e decodificar signos linguísticos.
O corte que acontece no Português e na Matemática se faz presente, sobretudo,
pela condição de exclusão sofrida pelos indivíduos que não exercem a liberdade plena
no cenário educacional − situação conservadora que, ainda hoje, se mantém. Nesse
sentido, Valente (2012) apresenta a nova pedagogia nascida das críticas de eminentes
educadores em relação à situação do ensino tradicional no final do século XIX e no
início do XX.
A partir deste contexto, fazemos a interface entre Matemática e Língua Materna
baseada nas proposições de Valente (2012) e na análise da diversidade, que inclui
História Cultural, Filosofia da Matemática, Filosofia da Cultura e Epistemologia. Serão,
ademais, apresentadas outras interfaces entre educação e matemática no intuito de que
novas pedagogias transformadoras nasçam nesse momento transitório da civilização. O
Ateliê de Matemática: movimento Ciência e Arte é uma tendência pedagógica para a
Educação Matemática subjacente.
2. O que é o número?
“O número se faz com as coisas, os objetos”.
A passagem do saber matemático cristalizado se faz, em termos escolares, pelo
que hoje conhecemos como tendência pedagógica tradicional, cujo método referencial é
a memorização. Com a chegada da república, por exemplo, como afirma Valente
(2012), o ponto principal a que, em 1882, Ruy Barbosa se refere, em seus relatórios e
pareceres, é o método de ensino. Já naquele período, o autor faz uma crítica ferrenha aos
mecanismos de repetição baseados na memorização.
Não obstante, ao mesmo tempo, é possível afirmar que a Matemática é a ciência
da memória, capacidade latente, em grande parte, dos matemáticos. Decorar teoremas
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formulações das filosofias logicista e formalista, são de pouco interesse para a prática
do educador matemático.
Por fim, nota-se que o conceito de número altera-se em meio às
mudanças da pedagogia: de quantidade a ser memorizada, número
passa a quantidade a ser sentida. Pouco importa qual é concepção
matemática de número. Essa não é uma alteração externa, somente de
metodologia, a dar outra didática ao ensino de número: trata-se de
uma alteração epistemológica em âmbito da cultura escolar, da
construção de outro significado para esse saber (VALENTE, 2012, p.
35).
ler”. Essa questão, então, faz-nos pensar que, antes de refletir sobre a quantidade de
livros que se lê, há de se refletir sobre a qualidade da leitura, no que toca o
desdobramento da capacidade intelectual de cada um, o desenvolvimento de uma
consciência crítica sólida e a ampliação do gosto pela leitura. É preciso ainda
problematizar a questão de que aprender a ler não significa tornar-se leitor, logo ter uma
quantidade significativa de pessoas alfabetizadas ou mesmo letradas não significa que
tais sujeitos gostem de ler ou que sejam “cidadãos literariamente letrados”.
Como professores da Língua Materna, de Matemática ou de qualquer outro
campo, somos os orientadores de nossos alunos no processo de ensino-aprendizagem da
leitura e da escrita e, sem tolhê-los, sem agir com preconceitos descabidos, dando-lhes a
oportunidade de pensar e repensar seus próprios textos numa relação de confiança
conosco, porque, voltando a Guedes e Souza (2003, p. 155):
É sabido que boa parte da população sabe decodificar os textos escritos, mas não
sabe fazer uso das habilidades de leitura e de escrita, no caso, o letramento (SOARES,
2004). O texto faz parte do cotidiano das pessoas, embora muito mais de forma prática,
seja para pegar um ônibus, seja para ler a manchete de um jornal. Ao se pensar em
letramento literário, por exemplo, letramento relacionado ao caráter estético da língua,
aí o problema se intensifica. O que há são inumeráveis impedimentos políticos, sociais e
econômicos (e até geográficos) que delineiam essa problemática e não é o mero acesso à
biblioteca (assim como não é o mero acesso a tecnologias de informação e
comunicação) o que transformará a situação da leitura e da escrita no País (PAULINO,
2001).
Desse modo, assevera-se que, na escola, é importante dar cabo às atividades que
se utilizam do texto como pretexto para o ensino-opressão gramaticalista, e ainda dar
cabo à ideia de que o aluno não sabe a língua, até porque ele já nasce com o seu
programa inato, comum a todos, se pensarmos pelo viés chomskyano. É preciso sim
ensinar a norma culta, fazendo da gramática normativa apenas um instrumento nesse
processo, e valorizar as variantes linguísticas de nossos alunos, atentando para um
ensino que se faça para a vida e não para meros testes de aplicação de regras.
Descrever as interfaces entre essas linguagens vai ser significativo para entender
o corte pedagógico que se apresenta na passagem da etapa de um segmento escolar ao
outro. Estamos nos referindo à Educação Infantil e à alfabetização do Português e da
Matemática.
A idade da inocência se apresenta dos 7 aos 10 anos, mais ou menos, quando
tem início a sociabilidade linguística. Antes, na idade da alegria, os desenhos dos
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bonecos, das letras e dos números seguiam as artes e os devaneios do lado direito do
cérebro. Este comandava as ações interiorizadas, as quais são as transcendências das
artes infantis. Aos poucos, as letras e os números têm que ser entendidos na função
social da comunicação. Nesse momento, o método utilizado na alfabetização e na
alfabetização matemática toma força.
A memorização decorrente do começo do privilégio do lado esquerdo do cérebro
se impõe na proposta pedagógica sedimentar, razão que coordena as atitudes basilares
da língua escrita culta. A ruptura decorrente da inversão do poder da formatação se
alastra, e as consequências são devastadoras. Assim, a continuidade da fecundidade de
aliar as duas maneiras estudadas pela neurociência capitula. Agora, as letras e os
números são o desenho, na sua forma intimista; assim como a reta, os abertos e os
fechados são desenhos da escrita.
A mágica irreverência infantil se perde aos poucos na passagem para a idade da
inocência. A arte da leitura e da escrita se restringe à memorização e a compreensão do
texto, na sua transcendência de continuidade dos processos criativos, transforma-se. A
imposição do linguajar culto se arvora em ser o guia da interpretação da língua, da
mesma forma como os processos de repetição são a memorização desses símbolos e de
seus significados, o que pontua o nascimento da idade da inocência. Na adolescência,
surge, então, a crítica à pedagogia usada na Matemática e no Português.
Nesse caminho da alienação, a magia do tempo infantil se esvai, já que acontece
a ruptura do fazer pedagógico. O que se propunha a ser a continuidade dos processos de
aprendizagem com íntima relação com a criatividade se distancia e, nesse momento, é o
operatório que se apresenta. Na Matemática, tem início o processo de apropriação das
relações fundamentais da aritmética: adição, subtração, multiplicação e divisão. No
Português, as operações internalizadas da escrita e da leitura não conseguem sair para o
papel e para a fala. A linguagem sucumbe.
5. Considerações finais
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6. Referências
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GUEDES, P. C.; SOUZA, J. M. de. Não apenas o texto mas o diálogo em língua escrita
é o conteúdo da aula de português. In: NEVES, I. C. B.; SOUZA, J. V.; SCHÄFER, N.
O.; GUEDES, P. C.; KLÜSENER, R. (Orgs.). Ler e escrever: compromisso de todas as
áreas. 5. ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2003. p. 137-156.
ZILBERMAN, R. A literatura infantil na escola. 11. ed. São Paulo: Editora Global,
2003.
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