Gastroenterite Canina: Principais Agentes Etiológicos

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun.

2018

GASTROENTERITE CANINA: PRINCIPAIS AGENTES ETIOLÓGICOS

CANINE GASTROENTERITIS: MAIN ETIOLOGICAL AGENTS

Mariane Delfino Rodrigues1


Patricia Branco Escapilato2
Natalia Arrais Oliveira3
Kassia Amariz Pires Menolli4

RESUMO

As gastroenterites são afecções comuns de ocorrência na clínica veterinária. Por isto


este trabalho objetivou-se realizar uma revisão de literatura sobre os principais
agentes causadores de gastroenterite em cães. Foram utilizados artigos originais e
revisões indexadas no Google acadêmico e em livros, que abordava os temas:
gastroenterite viral, parasitária, bacteriana e hemorrágica, sendo afecções que
diariamente são encontradas na clínica médica de pequenos animais, incluindo
principalmente a espécie canina. O animal com gastroenterite, geralmente apresenta
os sinais clínicos principalmente de diarreia e vomito. As gastroenterites podem se
apresentar de forma aguda ou crônica. Sendo a forma aguda causada pela dieta,
parasitas ou doenças infecciosas. É uma emergência médica, devendo ser
diagnosticada e tratada rapidamente, pois contem risco de morte do animal. A
crônica pode ocorrer pelas mesmas causas da aguda, porém quando estas forem
persistentes, ou ainda por outras causas, como: intolerâncias ou hipersensibilidade
alimentar, doenças inflamatórias crônicas, doenças congênitas (por perda de
proteínas), sobrecrescimento bacteriano a nível intestinal e doenças oncológicas do
trato gastrointestinal (como por exemplo: linfoma gastrointestinal). Diferentemente da
aguda, a gastroenterite crônica não apresenta perda acentuada de estado geral ou
apenas pequenas alterações no paciente, causando vômitos e diarreias
intermitentes. Para melhor diagnóstico de gastroenterites, juntamente com a
anamnese deve ser feito um exame físico completo, pois os achados físicos auxiliam
a determinar que testes específicos, se houver algum, devem ser feitos e a
necessidade de urgência que deve ser realizado. Deve ser dada atenção às atitudes
do animal, ao estado de hidratação e a postura.

Palavras-chave: Cães. Diarreia. Viral.

1
Graduanda de Medicina Veterinária no Centro Universitário Filadélfia - UNIFIL, Londrina –PR Brasil.
E-mail: [email protected]
2
Graduanda de Medicina Veterinária no Centro Universitário Filadélfia - UNIFIL, Londrina –PR Brasil.
3
Graduanda de Medicina Veterinária no Centro Universitário Filadélfia - UNIFIL, Londrina –PR Brasil.
4
Médica veterinária, Dra. Kássia Amariz Pires, docente no curso de medicina veterinária no Centro
Universitário Filadélfia – UNIFIL, Londrina – PR Brasil.
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

ABSTRACT

The objective of this study was to review the literature on the main agents causing
gastroenteritis in dogs. We used original articles and reviews indexed in Google
academic and in books, which addressed the topics: viral gastroenteritis, parasitic,
bacterial and hemorrhagic, being affections that are daily found in the medical clinic
of small animals, including mainly the canine species. The animal with gastroenteritis
usually presents the clinical signs mainly of diarrhea and vomiting. Gastroenteritis
may present acute or chronic. Being the acute form caused by diet, parasites or
infectious diseases. It is a medical emergency and should be diagnosed and treated
quickly because it contains the risk of death of the animal. Chronic can occur from
the same causes of acute, but when these are persistent, or other causes, such as:
food intolerances or hypersensitivity, chronic inflammatory diseases, congenital
diseases (loss of proteins), intestinal bacterial overgrowth and oncological diseases
of the gastrointestinal tract (such as gastrointestinal lymphoma). Unlike acute,
chronic gastroenteritis does not show marked loss of general state or only minor
changes in the patient, causing intermittent vomiting and diarrhea. For a better
diagnosis of gastroenteritis, together with the anamnesis, a complete physical
examination should be performed, since the physical findings help determine what
specific tests, if any, should be made and the urgency needed to be performed.
Attention should be paid to the animal's attitudes, the state of hydration and posture.

Keywords: Dogs. Diarrhea. Viral.

INTRODUÇÃO

As gastroenterites são afecções recorrentes encontradas na rotina clínica


veterinária. Acomete diferentes idades e não possui predisposição racial, tendo
etiologias variadas, como bacteriana, viral, parasitária e intoxicações. Se o agente é
de natureza infecciosa, o tempo necessário para que ocorra a adequada replicação
do organismo pode ser fundamental para determinar onde será causada a maior
lesão (Jones, 2000). É um quadro clínico caracterizado por vômito e diarreia (Corrêa
& Corrêa, 1992; Beloni, 1993). Desde o final da década de 1970, a enterite viral é
reconhecida como uma das causas mais comuns de diarréia infecciosa em filhotes
de cães até 6 meses de idade. (Hoskins, 1998; Murphy et al. 1999), representando
mais de 80% dos casos de gastroenterite canina (Udupa & Sastry, 1997).
A enterite hemorrágica é uma forma mais grave de enterite catarral aguda.
Já a enterite causada por parasitas podem favorecer a enterite purulenta, devido a
lesões mecânicas que causam (Jones, 2000). No entanto, a viral, é uma condição
infecto-contagiosa sujeita a determinados fatores de transmissão e de manutenção
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

dos agentes na população animal e no ambiente (Homem et al., 1999), entre eles
podemos citar, o coronavírus e o rotavírus. Objetivou-se no presente trabalho uma
revisão de literatura sobre os principais agentes causadores de gastroenterite em
cães.

METODOLOGIA

A pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica, abordando as diversas


formas de gastroenterite canina, utilizando-se artigos.
Para a realização desse trabalho, buscou-se artigos originais e revisões
indexadas no Google acadêmico, que abordava os temas: gastroenterite viral,
parasitária, bacteriana e hemorrágica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diarreia é a excessiva presença de água nas fezes. Sendo a melhor


alternativa para a avaliação de animais com diarreia, distinguir primeiramente
problemas agudos de crônicos (Willard, 2008)
A diarreia aguda é geralmente causada pela dieta, parasitas ou doenças
infecciosas. Os problemas nas dietas são facilmente detectados pela história clínica,
já os parasitas são detectados por exames coproparasitológicos, e as doenças
infecciosas pela história clínica, hemograma, ensaio imunoenzimático das fezes para
o antígeno de parvovírus canino, e a exclusão de outras causas (Willard, 2008).
Animais com diarreia crônica devem ser examinados primeiramente quanto
à evidência de parasitas, são indicados exames coproparasitológicos para a
pesquisa de nematódeos como, Giardia sp.,Isospora sp. e Trichuris vulpis. Em
seguida, o veterinário deve determinar se a diarréia se origina no intestino delgado
ou grosso. Para isso, a história clínica é o melhor método, pois quando se origina de
uma doença no intestino grosso, o animal tem inexistência de perda de peso ou
condição corporal, apesar de diarreia crônica. Já em uma doença no intestino
delgado, o animal apresenta perda de peso (Willard, M. D, 2008).
Quando o animal apresenta depressão e desidratação em conjunto com a
diarreia aguda, sugerem etiologia infecciosa ou relacionada a toxidade. Por este
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

motivo, deve-se avaliar quaisquer sinais de sepse (febre ou hipotermia, taquicardia,


taquipnéia e sinais de choque, que podem incluir alterações na coloração das
mucosas de vermelho tijolo a pálida, extremidades frias e membranas hiperêmicas),
e observar se a condição do animal pode se desestabilizar novamente. Posturas
anormais como, por exemplo, dorso arqueado, podem indicar dor abdominal em
cães, são também observados peso corporal e a estatura física geral do animal
(Tams, 2008).
O exame retal deve ser feito para verificar se há sensibilidade aumentada da
mucosa, presença de parasitas no reto e para a coleta de fezes frescas para realizar
exame macroscópico (Tams, 2008).
Para a identificação do diagnóstico especifico, geralmente são determinados
pelas seguintes considerações - (1) duração, ou seja, se é aguda ou crônica, (2)
inapetência, perda de peso, vômito freqüente, diarréia sanguinolenta intensa,
comportamento de indiferença, (3) história ambiental, (4) assinalamento, (5) origem
da diarréia (intestino delgado e/ou intestino grosso), (6) frequência da diarréia, (7)
achados do exame físico (Tams, 2008).

Gastroenterite Viral

A gastroenterite viral é uma condição infecto-contagiosa causada por vírus


sujeita a determinados fatores de transmissão e de manutenção dos agentes na
população animal e no ambiente. Uma vez presente algum agente viral, o curso
clínico da doença e o seguimento da infecção são influenciados pela idade do
animal, virulência do vírus, rota da infecção, condições debilitantes e infecções
intercorrentes (Homem et al., 1999).
A transmissão dos vírus que causam sintomas de gastrenterite em animais
jovens é muito ampla, principalmente nos centros urbanos e canis, devido à longa
persistência no meio ambiente. Existem vários estudos sobre a prevalência de
gastrenterite provocada por vírus. Bandai et al.(1999) no Japão verificaram em 100
cães com diarréia a presença de coronavírus em 16% dos animais. Homem et al.
(1999) encontraram, no Pará, em 33 cães com ou sem diarréia que 75,8% eram
positivos para vírus sendo 24% de parvovírus, 8% de coronavírus, 4% de rotavírus e
4% de paramixovírus em associação com parvovirus (Ferreira et al, 2004)
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

Desde 1970, as enterites virais são consideradas uma das causas mais
comuns de diarreia infecciosa em cães com menos de seis meses de idade, estão
entre as principais enfermidades da espécie canina e são responsáveis por índices
consideráveis de morbidade e de mortalidade em cães de todo o mundo (Hoskins,
1998; Leghaus, 1982; Baggini, 1991).
Gastroenterites virais são aquelas causadas por vírus, onde os de destaque
mais frequentes são: parvovírus, coronavírus e rotavírus. Rotavírus e o coronavírus
canino são responsáveis por formas leves ou assintomáticas de enterites associadas
com vômito, anorexia e emagrecimento devido a uma invasão de enterócitos das
pontas dos vilos, levando a um grau variável de atrofia vilosa. Isso reduz a área
superficial do intestino delgado e, conseqüentemente, pode levar a má absorção
(Dunn et al., 2001), e são consideradas de menor importância clínica em cães
adultos (Pollock &Carmichael, 1998).
Segundo Nelson et al., (2001) o coronavírus raramente causa diarréia
hemorrágica, septicemia ou morte. Os sintomas podem permanecer por cerca de 3 a
20 dias, e os animais pequenos podem morrer por desidratação ou anormalidades
eletrolíticas se não devidamente tratados.
A diarréia causada por rotavírus pode ser aquosa a mucóide, é geralmente
autolimitante e de breve duração, embora tenham sido relatadas raras fatalidades
(Ettinger et al., 1997)
O parvovírus, dentre os vírus de tropismo digestivo, vem sendo o mais
importante agente etiológico das afecções digestivas, responsável por altas taxas de
morbidade e mortalidade no interior de coletividades, estando à alta frequência
relacionada com a grande resistência do vírus no meio externo (Pollock &
Carmichael, 1990). Já a coronavirose canina, presente em canis, não conduz a altas
taxas de mortalidade, embora esteja mais difundida que a parvovirose. Entretanto, a
infecção dupla é favorecida pela superposição dos mecanismos patogênicos de
ambos os vírus (Appel, 1988).
Alguns estudos epidemiológicos envolvendo a sensibilidade de algumas
raças a infecção pelo parvovirus revelaram uma maior morbidade das raças
Rottweiller e Doberman, com quadros clínicos mais graves (Glickman et al. 1985).
De modo geral, o diagnostico de uma diarréia viral se baseia na
demonstração do vírus em uma amostra fecal ou na presença de um antígeno viral
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

ou anticorpo contra o vírus no sangue (Dunn et al., 2001). O tratamento para as


gastroenterites virais é sintomático e de suporte, com os equilíbrios hídricos,
eletrolíticos e ácido-básico sendo as considerações iniciais mais importantes.
Agentes antibacterianos de largo espectro, antieméticos e suplementos vitamínicos
também ajudam (Dunn et al., 2001).

Gastroenterite Parasitária

Os animais parasitados são uma fonte para a contaminação do meio


ambiente, representando um risco à saúde humana e à de outros animais (Oliveira
et al., 2009; Campos Filho et al., 2008).
Há maior sensibilidade de animais menores de um ano de idade do que
adultos, sugerindo o desenvolvimento de certo grau de resistência com o aumento
da idade. Os animais de rua ou aqueles densamente abrigados (canis e lojas) estão
mais expostos, devido ao maior contato com água, alimentos e fezes de animais ou
de pessoas contaminadas (Mundim et al., 2003).
Existem as condições epidemiológicas necessárias para a existência de
doenças parasitárias transmitidas pelos cães, tais como condições climáticas
favoráveis para a fase de vida livre dos parasitos e um grande número destes
animais, com livre trânsito em áreas de recreação infantil, nas vias de passeio para
pedestres e na areia de praias. (Scaini et al., 2003).
A importância das protozooses de cães se dá principalmente devido a
Giardia sp., Isospora sp. e Trichuris vulpis.
Os protozoários do gênero Isospora contêm muitas espécies e possuem
uma ampla variedade de hospedeiros, dentro eles, os cães. São responsáveis por
parasitar as células epiteliais do intestino, levando à quadros de diarreias,
principalmente em filhotes, podendo ocasionar até a morte dos mesmos. Em geral, a
isosporose aparece mais comumente em filhotes. Estes adquirem a infecção através
do contato com as fezes da mãe ou de outros animais parasitados. Como os filhotes
ainda não têm suas defesas naturais, desenvolvem a infecção rapidamente, muitas
vezes com sinais graves. Os animais adultos, normalmente, não apresentam
sintomatologia de isosporose, a menos que apresentem a doença após estresse ou
concomitante a alguma doença imunossupressora (Vasconcellos et al., 2008).
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

O Trichuris vulpis é um parasito que vive no intestino de cães,


principalmente, no ceco, porém, sem potencial zoonótico. Esses parasitos produzem
ovos que se alojam nas fezes de animais infectados, e esses ovos possuem a
capacidade de viver no solo por muitos anos. Os cães com essa infecção podem
apresentar dor e distensão abdominal e também diarreia, que às vezes pode ser
sanguinolenta (Acha & Szyfres, 2003), causar inflamação diftérica do ceco e levar a
prolapso retal (Longo et al., 2008). O modo de transmissão se dá através da
ingestão de ovos e água. Com temperaturas constantes de 22ºC, dentro do ovo, a
larva infectante se forma em 54 dias, com temperaturas flutuantes entre 6 e 24ºC, o
processo demora 210 dias. Um aspecto relevante a ser considerado é a longevidade
dos ovos, que depois de três ou quatro anos ainda podem sobreviver como
reservatório de infecção em canis (Longo et al., 2008).
Os tricurideos possuem distribuição mundial e necessitam de condições
ambientais quentes e úmidas, para que ocorra o desenvolvimento de suas larvas.
São menos prevalentes em climas de temperatura e umidade intermediárias e
escassos ou ausentes em climas áridos ou muito frios (Acha & Szyfres, 2003).
A giardíase é considerada uma zoonose, sendo a infecção condicionada
pela ingestão de cistos. Os parasitas pertencentes ao gênero Giardia e habitam o
trato intestinal de várias espécies de vertebrados. Dentre as espécies de Giardia, a
principal é a Giardia duodenalis, pois é a única encontrada em seres humanos e na
maioria dos mamíferos domésticos e silvestres (Katagiti & Oliveira–Sequeira, 2007).
A transmissão ocorre através da água, do consumo de vegetais, legumes e frutas
contaminadas pelos cistos, de manipuladores de alimentos e por contato direto
(fecal-oral). Considera-se, ainda, a transmissão por meio de artrópodes, como as
moscas e baratas, através de seus dejetos ou regurgitação. (Mumdim et al., 2003)
O espectro da giardíase é extenso, desde infecções assintomáticas até
infecções com diarreia crônica acompanhada de esteatorreia, perda de peso e má
absorção intestinal. A forma aguda se caracteriza por diarreia do tipo aquosa,
explosiva, acompanhada de distensão e dor abdominal. Além de levar à má
absorção de açúcares, gorduras e vitaminas A, D, E, K, B12, ácido fólico, ferro,
zinco. Os sinais clínicos podem ser autolimitantes em alguns pacientes e a doença
grave ocorre em filhotes e em animais com doenças concomitantes ou debilitados,
sendo a diarreia o sintoma mais comum (Mundim et al., 2003).
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

Gastroenterite Bacteriana

Segundo Ramsey & Tennant (2010) muitas espécies de bactérias podem


causar quadros de enterites. Elas representam algumas das principais zoonoses,
pois cães e gatos podem atuar como reservatórios da infecção humana. Existem
quatro mecanismos reconhecidos pelos quais as bactérias podem causar doença
intestinal:
Bactérias enterotoxigênicas (por exemplo, cepas enterotoxigênicas de
Escherichia coli [ETEC, enterotoxigenic strains of Escherichia coli]) produzem
enterotoxinas que estimulam a secreção e casam danos diretos as membranas
celulares dos enterócitos. Pode haver discreta inflamação. Ocorre diarréia secretória,
com grande perda de liquido e eletrólitos (Ramsey & Tennant, 2010).
Bactérias citotoxigênicas (por exemplo, Clostridium spp.; cepas de
Escherichia coli produtoras de shigatoxinas [STEC, Shiga- toxin producing strains of
E. coli]), produzem toxinas que causam lesão de enterócitos, resultando em
inflamação e danos celulares. Clinicamente o quadro se assemelha aos patógenos
enteroinvasivos, embora estes agentes não promovam adesão e invasão (Ramsey &
Tennant, 2010).
Bactérias enteropatogênicas, conhecidas pela capacidade de causar lesão
pedestal (por exemplo, cepas de Escherichia coli enteropatogênicas [EPEC,
enteropathogenic strains of E. coli]), promovem uma aderência intima a superfície
celular, alterando a conformação das microvilosidades, sem invadir a célula epitelial.
Algumas cepas podem produzir citotoxinas. A redução da superfície das vilosidades
intestinais produz má- digestão e má- absorção (Ramsey & Tennant, 2010).
Bactérias enteroinvasivas (por exemplo, Salmonella spp., Campylobacter
spp., Yersinia spp., cepas enteroinvasivas de Escherichia coli [EIEC, enteroinvasive
strains of E. coli]) invadem a superfície do epitélio intestinal causando danos direto à
mucosa. O quadro de enterocolite aguda é caracterizado por inflamação, exsudação,
hipersecreção e diarréia mucoíde ou hemorrágica. Esta manifestação é
acompanhada de dor abdominal e pirexia. Alguns microorganismos invadem a
submucosa, disseminando-se sistemicamente pelas vias linfática e sanguínea. Estas
bactérias podem produzir enterotoxinas (Ramsey & Tennant, 2010).
Gastroenterite Hemorrágica
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

A gastroenterite hemorrágica é caracterizada pelo aparecimento agudo de


vômito e diarréia fétida com presença de dor abdominal, sendo mais observada em
cães de raças pequenas entre dois e quatro anos de idade. Dentre as causas
conhecidas estão incluídas as infecções bacterianas por Clostridium perfringens,
Escherichia Coli, Campilobacter, e as infecções virais por coronavírus e parvovírus.
Além disso, a estase vascular, a sepse, a cirrose hepática com hipertensão portal e
outras causas de choque grave, devem ser consideradas como diagnósticos
diferenciais (Ford & Mazzaferro, 2007). O parvovírus canino tipo 2 é o agente
etiológico da enterite hemorrágica clássica em cães, sendo que existem estudos
recentes sobre as variantes 2a, 2b e 2c (Hoelzer & Parrish, 2010; Decaro et al.,
2011).
A principal rota de infecção é por via oral-fecal, pois os cães infectados
eliminam grande quantidade de vírus nas fezes. Os principais fatores para
disseminação da infecção são a baixa carga viral necessária para causar infecção e
a facilidade de contaminação (Quinn et al., 2005). Após curto período de incubação,
de quatro a sete dias, o vírus replica-se inicialmente nos tecidos linfóides da faringe
e nas placas de Peyer. A partir disso, há o tropismo por células de rápida replicação,
como os miócitos cardíacos, em cães recém-nascidos, e as células precursoras da
medula óssea, em filhotes mais velhos e até em adultos, pois o vírus depende de
células em mitose para a síntese do seu DNA (Jones, 2000; Quinn et al., 2005).
Quando o vírus invade células da cripta do intestino delgado, ocorre
achatamento das vilosidades intestinais, levando à diminuição da capacidade 30
absortiva e digestiva, ocasionando a diarreia intensa e possível hemorragia
intraluminal. A destruição dos tecidos linfóides contribui para a imunossupressão que
facilita a infecção bacteriana secundária, a translocação bacteriana e a sepse (Quinn
et al., 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A incidência dos casos de gastroenterite é elevada na clínica de pequenos


animais, e sua importância se dá pela ampla disseminação no meio urbano e em
canis, devido a permanência prolongada dos agentes etiológicos no ambiente, assim
como os riscos que os mesmos apresentam à saúde pública humana.
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

A diversidade de agente etiológicos causadores de gastroenterite faz com


que sejam necessários testes e exames específicos para diagnóstico definitivo
entretanto, as presenças dos agentes podem estar associadas em um mesmo
paciente com gastroenterite.

REFERÊNCIAS

ACHA, P. N. & SZYFRES, B. Parasitoses. Zoonoses and Communicable Diseases


Common to Man and Animals. 3ed. v.03. Washington, 2003.

APPEL, M. J. G. 1988. Does canine coronavirus augment the effects of a subsequent


parvovirus infection? Vet. Med. 83:360-366.

BAGGINI S.P. 1991. Parvovirosis canina. Veterinaria Argentina 9(81):43-46.

BANDAI, C. et al. Canine coronavirus infections in Japan: virological and


epidemiological aspects. Vet Med Sci, 1999; 61(7):731-736.

BELONI, S.N.E. Uso do Flotril 2,5% injetável (enrofloxacina) nas gastroenterites de


cães jovens. A Hora Vet. v.13, n.76, p. 11-13, 1993

CAMPOS FILHO, P. C. et al. Parasitas zoonóticos em fezes de cães em praças


públicas do município de Itabuna, Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia
Veterinária. v.17, no.4. Jaboticabal, 2008.

CORRÊA, W. M; CORRÊA, C. N. M. Enfermidades infecciosas dos mamíferos


domésticos. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Médica e Científica, 1992.843p

DECARO, N., DESARIO, C., BILLI, M., MARI, V., ELIA, G., CAALLI, A., MARTELLA,
V., BUONAOGLIA, C. Western European epidemiological survey for parvovirus and
coronavirusinfections in dogs. The Veterinary Journalv.187 p.195– 199, 2011.

DUNN, J. K. et al.Tratado de medicina de pequenos animais. 1.ed. São Paulo: Roca,


2001.

ETTINGER, S. J. et al. Medicina interna veterinária. 4.ed, v.2, São Paulo: Manole,
1997.

FERREIRA, R. ; BARBOSA, P. R. ; GODINHO, E. ; COSTA, U. M. ; GONZALÉZ, F.


H. D. ; FERREIRO, L. Alterações hemato-bioquímicas em cães jovens com
gastroenterite viral: relato de 18 casos. Revista Científica de Medicina Veterinária.
Pequenos Animais e Animais de Estimação, v.2, p. 159-163, 2004.

FORD, R. B. & MAZZAFERRO, E. M. Manual de procedimentos veterinários e


tratamento emergencial segundo Kirk e Bistner. 8ª ed. São Paulo: Roca, 2007 p. 44-
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

45, 167- 168, 263-272

GLICKMANM L.T., DOMANSKI L.M., PATRONECK G.J. & VISINTAINER F. 1985.


Bred-related risk factors for canine parvovirus enteritis. J. Am. Vet. Med Assoc.
187:979-988.

HOELZER, K. & PARRISH, C. R. The emergence of parvoviruses of carnivores. Vet.


Res.41:39, 2010

HOMEM, V. S. F.; MENDES, Y. G.; LINHARES, A. C. Gastroenterite Canina:


agentes virais nas fezes de cães diarréicos e não-diarréicos. Arquivo Brasileiro de
Medicina Veterinária Zootecnia, Belo Horizonte, v.51, n.6, p. 531-536, 1999.

HOSKINS, J. D. CANINE, V. E. In: Greene C. E. Infectious diseases of the dog and


cat. 2. ed. W.B. Saunders Company, 1998. p. 40-49.

KATAGIRI, S. & OLIVEIRA–SEQUEIRA, T. C. G. Zoonoses causadas por parasitas


intestinais de cães e o problema do diagnóstico. Arq. Inst. Biol. v.74, n.2. São Paulo,
2007.
JONES, T. C. et al. Patologia veterinária. 6.ed. São Paulo: Manole, 2000. 424 p.

LENGHAUS C. & STUDDENRT M.S. 1982. Generalized parvovirus disease neonatal


pups. J. Am. Vet. Med. Assoc., v. 181, p. 41-45

LONGO, C. E. M. et al. Trichuris Vulpis. Revista Científica Eletrônica de Medicina


Veterinária. v.11. Garça, 2008.

MUNDIM, M. J. S. SOUZA, S. M. HORTÊNCIO, S. M. CURY, M .C. Frequência de


Giardia spp. por duas técnicas de diagnóstico em fezes de cães. Arq. Bras. Med.
Vet. Zootec. v.55, n.6, Belo Horizonte, 2003.

MURPHY, F. A.; GIBBS, E. P.; HERZINEK, M. C. et al. Veterinary Virology.


Academic Press, USA, 1999.

NELSON R, COUTO C. G. Fundamentos de medicina interna de pequenos animais.


2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001

OLIVEIRA, V. S. et al, Ocorrência de helmintos gastrintestinais em cães errantes na


cidade de Goiânia – Goiás. Revista de Patologia Tropical. v.38, n.4. Goiás, 2009.

POLLOCK, R. V. H. & CARMICHELE, L. E. Maternally derived immunity to canine


parvovirus infection: transfer, decline and interference with vaccination. Vet. Med.
Assoc, Philadelphia, v.180, p. 37-42, 1982.

QUINN, P. J.; MARKEY, B. K.; CARTER, M. E.; DONNELLY, W. J.; LEONARD, F. C.


Microbiologia Veterinária e doenças infecciosas. Porto Alegre: Artmed, 2005. pp.
338-343.

RAMSEY, I. K. & TENNANT, B. J. Manual de doenças infecciosas em cães e gatos.


1.ed. São Paula: Rocca, 2010. 308 p.
Ciência Veterinária UniFil, v. 1, n. 2, abr./jun. 2018

SCAINI, C. J. TOLEDO, R. N. LOARTEL, R. DIONELLO, M. A. GATTI, F. A. SUSIN,


L. SIGNORINI, V. R. M. Contaminação ambiental por ovos e larvas de helmintos em
fezes de cães 36 na área central de Balneário Cassino, Rio Grande do Sul. Revista
da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. vol.36, n.5. Rio Grande, 2003.

TAMS, T. R. Diarréia. 126-131 p. In: Ettinger S.J. & Feldman E.C. (ed.), Tratado de
Medicina Interna Veterinária: doenças do cão e do gato. 5. ed. Guanabara Koogan,
Rio de Janeiro, 2008. 2156p.

UDUPA, K. G.; SASTRY, K. N. V. Canine Parvovirus infection: Part II - Prevalence of


clinical cases of gastroenteritis. Int. J. Amim. Sci, v.12, p. 79-82, 1997.

VASCONCELLOS, M. C. BARROS, J. S. L. OLIVEIRA, C. S. Parasitas


gastrointestinais em cães institucionalizados no Rio de Janeiro, RJ. Revista de
Saúde Pública, v.40, n.2. São Paulo, 2006.

WILLARD, M. D. Manifestações Clínicas dos Distúrbios Gastrointestinais. 351-372 p.


In: Ettinger S.J. & Feldman E.C. (ed.), Tratado de Medicina Interna Veterinária:
doenças do cão e do gato. 5. ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2008. 2156p.

Você também pode gostar