OPEN ACCESS

PSICO
Psico, Porto Alegre, v. 51, n. 3, p. 1-13, jul.-set. 2020
e-ISSN: 1980-8623 | ISSN-L: 0103-5371

http://dx.doi.org/10.15448/1980-8623.2020.3.34062

ARTIGO

Inteligência emocional: relação com inteligência, variáveis

sociodemográficas e habilidades sociais
Emotional intelligence: correlation with intelligence, socio-economic
variables and social skills
Inteligencia Emocional: relación con inteligencia, variables sociodemográficas y
habilidades sociales

Isaías Peixoto1 Resumo: A Inteligência Emocional (IE) é um construto psicológico amplamente

orcid.org/0000-0002-1737-0695 divulgado nas últimas duas décadas, principalmente fora do meio acadêmico,
[email protected] mas requer uma maior diversidade de pesquisas científicas que contribuam para
sua solidificação. Portanto, este trabalho buscou analisar a relação de IE com
Inteligência (G), idade, sexo, renda familiar, escolaridade e Habilidades Sociais (HS).
Monalisa Muniz1
orcid.org/0000-0003-1628-6296 Participaram 120 pessoas, entre 18 e 61 anos de idade, de ambos os sexos, que
[email protected] responderam aos testes de percepção e de compreensão emocional, raciocínio
abstrato e verbal e habilidades sociais. Os resultados encontrados indicaram
correlação significativa positiva entre IE, G e escolaridade, negativa entre IE e
idade, nenhuma correlação entre IE, HS e renda familiar e nenhuma diferença
entre homens e mulheres para IE, sendo o raciocínio abstrato a variável mais
Recebido em: 2/5/2019.
preditora do construto. Tais informações auxiliam para uma melhor compreensão
da IE e da sua relevância atual.
Aprovado em: 4/4/2020.
Publicado em: 21/01/2021. Palavras-chave: inteligência emocional, inteligência, habilidades sociais; psi-
cologia cognitiva, emoções

Abstract: Emotional Intelligence (EI) is a psychological construct widely em-

ployed in the last two decades, especially outside the academic scope. A bro-
ader range of scientific studies to consolidate the construct. Hence, the goal of
this research was to analyze the relationship between EI and Intelligence (G),
age, gender, family income, education and Social skills (HS). A total number
of 120 participants of both genders and ages 18 to 61 took tests on emotional
perception and comprehension, abstract reasoning and verbal and social skills.
Results indicate a significant positive correlation between EI, G and education,
a negative correlation between EI and age, no relation among EI, HS and family
income and no gender difference for EI. Abstract reasoning was found to be the
best predictor for the construct. Such information adds to the understand of EI
and highlights its current relevance.
Keywords: emotional intelligence, intelligence, social skills, cognitive psycho-
logy, emotions

Resumen: La Inteligencia Emocional (IE) es un constructo psicológico amplia-

mente divulgado en las últimas dos décadas, principalmente fuera del medio
académico, pero que requiere una mayor diversidad de investigaciones científicas
que contribuyan para su solidificación. Por lo tanto, este trabajo buscó analizar la
relación de IE con Inteligencia (G), edad, sexo, renta familiar, escolaridad y Habili-
dades Sociales (HS). Participaron 120 personas, de 18 a 61 años, que respondieron
a las pruebas de percepción y comprensión emocional, raciocinio abstracto y
verbal y habilidades sociales. Los resultados indicaron correlación significativa
positiva entre IE, G y escolaridad, negativa entre IE y edad, ninguna correlación
entre IE, HS y renta familiar y ninguna diferencia entre hombres y mujeres para IE,
Artigo está licenciado sob forma de uma licença siendo el raciocinio abstracto la variable más predictiva de IE. Tales informaciones
Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. auxilian para la mejor comprensión de la IE y de su relevancia actual.

1
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil..
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Palabras clave: inteligencia emocional, inteligencia, Carroll (CHC) (McGrew, 2009), com correlações
habilidades sociales, psicología cognitiva, emoción
significativas, de magnitudes fracas e moderadas,
A Inteligência Emocional (IE) é conceituada por entre a percepção e compreensão emocional e
intermédio de dois modelos: o de habilidades a inteligência (G). Todos os participantes tiveram
(Mayer, Caruso, & Salovey, 2016), que considera IE que responder a um teste de desempenho de
enquanto um conjunto de capacidades relativas IE que avaliava as facetas de compreensão,
às emoções e ao processamento de informações percepção e gerenciamento emocional, e
emocionais, com avaliação por meio de testes outros 15 testes de G, sendo três para cada tipo
que medem o desempenho do participante com de inteligência mensurada: inteligência fluida,
respostas certas e erradas; e autopercepção inteligência cristalizada, memória e recuperação
das capacidades de IE (Petrides & Furnham, de curto prazo, raciocínio quantitativo e visual. Os
2000, 2001), que tem demonstrado relação com resultados foram satisfatórios, corroborando à
personalidade e geralmente é mensurado por ideia de que a IE está relacionada a G, inclusive
instrumentos de autorrelato. Nesta pesquisa será atendendo aos critérios para ser considerada um
utilizado o modelo de habilidades, inicialmente fator adicional do modelo de inteligência de CHC.
proposto por Salovey e Mayer (1990), que é Um estudo com o objetivo de verificar a
composto atualmente por quatro facetas, nas correlação entre idade e IE, com amostra de
quais as duas primeiras possuem aspectos 12.198 espanhóis, entre 17 e 76 anos (Cabello et
experienciais e, as duas últimas, características al., 2016), indicou que a faixa etária era o principal
estratégicas (Mayer et al., 2016): (a) percepção, preditor para a capacidade de compreensão
avaliação e expressão das emoções (PE), (b) a das emoções e do gerenciamento emocional,
emoção como facilitadora do pensamento, (c) a bem como predizia percepção emocional e o
compreensão e a análise de emoções (CE), e escore total de IE. Os resultados apontaram que
(d) o gerenciamento das emoções. As facetas de os mais jovens tiveram melhores desempenhos
percepção e de compreensão emocional serão médios na faceta de percepção das emoções
consideradas para avaliação da IE no presente e no escore total de IE relacionado às outras
trabalho e dos estudos que serão apresentados faixas etárias. As facetas de compreensão e
nos parágrafos seguintes, apenas os trabalhos de percepção das emoções apresentaram um
de Nikooyeh, Zarani e Fathabadi (2017), Noor e declínio mais linear de IE em relação à idade.
Hanafi (2016) e Salavera, Usán e Jarie (2017) não No entanto, os estudos envolvendo a idade e
abordaram e não apresentaram resultados da IE as facetas de percepção e de compreensão
por meio do modelo de habilidades. emocional da IE apresentam resultados diversos,
Conforme o modelo de habilidades, a IE é uma vez que algumas pesquisas encontraram
concebida como uma inteligência e, por isso, correlação significativa e positiva entre as variáveis
é preciso que se relacione às medidas de (r=0,20, N=946) (Extremera, Fernández-Berrocal,
Inteligência (G) e que se desenvolva com a & Salovey, 2006), outras, diferentemente, não
idade, como alguns trabalhos já demostraram encontraram relações significativas (N=99) (Farrelly
(Cobêro, Primi, & Muniz, 2006; Di Fabio & Saklofske, & Austin, 2007), ou encontraram efeitos negativos
2014; Miguel, Ogaki, Inaba, & Ribeiro, 2013). Para para percepção das emoções (r=-0,15, N=99) e
investigar a relação entre a IE do modelo de compreensão emocional (r=-0,26, N=310) (Cabello,
Mayer e colaboradores (2016) e G, MacCann, Bravo, Latorre, & Fernández-Berrocal, 2014).
Joseph, Newman e Roberts (2014) realizaram Além da relação com idade e G, na literatura da
um experimento com 688 participantes, de IE também é apontada a diferença entre os sexos
17 a 59 anos, com o intuito de examinar onde biológicos, sendo que geralmente as pessoas
a IE se enquadrava dentro da estrutura de do sexo feminino têm melhores desempenhos.
capacidades cognitivas de Cattell-Horn- Apesar disso, os resultados encontrados
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Inteligência emocional: relação com inteligência, variáveis sociodemográficas e habilidades sociais 3/13

apresentam algumas diferenças, sendo que realizado com testes que avaliassem a IE por meio
em alguns as mulheres apresentaram maior de desempenho, com respostas certas e erradas.
aptidão em todas as facetas de IE e, também, Relacionando IE à escolaridade, Goldenberg e
na capacidade total (Joseph & Newman, 2010). colaboradores (2006) encontraram resultados que
Em outros, as mulheres demonstraram maiores demonstraram haver uma relação significativa e
pontuações apenas nas facetas de percepção e positiva (r=0,19) para o escore total de IE e para
de facilitação emocional (N=122) (Castro-Schilo as facetas de compreensão e de gerenciamento
& Kee, 2010), ou indicaram que as mulheres têm emocional em relação ao nível de escolaridade
maior habilidade em compreender e gerenciar dos participantes. Os achados de Cabello e
emoções (N=99) (Farrelly & Austin, 2007), além colaboradores (2014), com uma amostra de 310
de escores mistos, não demonstrando diferença participantes, evidenciaram que todas as facetas e
significativa para PE e CE em relação aos sexos, o escore total de IE (r=0,30) estão correlacionados
mas com melhores resultados significativos para significativa e positivamente à escolaridade.
as mulheres no escore total da IE e na faceta de Todavia, o foco maior dos trabalhos científicos
gerenciamento (N=233) (Goldenberg, Matheson, tem sido fornecer dados convincentes sobre o
& Mantler Jr., 2006). Dessa forma, apesar das nível de escolaridade relacionado à G e pouco se
mulheres terem melhores desempenhos em IE, tem estudado a associação entre escolaridade e
os dados sobre em quais dimensões e facetas IE (Cabello et al., 2014).
elas têm maior capacidade, ainda são conflitantes. De maneira geral, as facetas da IE remetem
Variáveis sociodemográficas também são a situações de contexto social e a relações
importantes de serem investigadas com IE, como interpessoais, ao buscar entre outros aspectos,
renda familiar e escolaridade, que contribuem perceber, conhecer e analisar as emoções dos
para um entendimento mais contextualizado outros a fim de uma interação mais inteligente e
culturalmente sobre o construto. Uma família adequada. Neste sentido, pode haver uma relação
tende a desfrutar de satisfação de vida e entre os construtos da IE e das Habilidades
ambiente mais saudável com a ajuda de mais Sociais (HS), que são os “comportamentos
recursos financeiros e isso pode levar ao sociais valorizados em determinada cultura
desenvolvimento de habilidades emocionais, que aumentam a probabilidade de resultados
bem como o estresse advindo de necessidades favoráveis para o indivíduo, seu grupo e
financeiras pode contribuir para que os mais comunidade e podem contribuir para um
pobres se atentem, percebam e compreendam desempenho socialmente competente em tarefas
com menor acurácia as suas emoções e dos interpessoais” (Del Prette & Del Prette, 2017, p. 67).
outros (N=200) (Noor & Hanafi, 2016). Além disso, Del Prette e Del Prette (1999, 2014),
Entretanto, investigações relacionando IE e citando Goleman (1995), escritor do livro Emotional
renda familiar são escassas e as informações Intelligence, que divulgou amplamente a IE fora
encontradas são divergentes. Por exemplo, do meio acadêmico, argumentam que tanto HS
estudos como o de Çoban, Karademir, Açak e quanto IE estudam as relações sociais.
Devecioglu (2010), não identificaram relação Alguns trabalhos internacionais, têm encontrado
significativa entre renda e IE, mas o de Noor e relação positiva entre IE e HS com r de 0,25 (N=400
Hanafi (2016), que não abordou o modelo de mulheres) (Nikooyeh et al., 2017) e entre IE e fatores
IE de Mayer e colaboradores (2016) encontrou relacionados as HS como iniciar relações (r=0,31),
relação significativa e positiva (r=0,31) entre IE afirmações negativas (r=0,30), divulgar informa-
e renda familiar, indicando que as dificuldades ções pessoais (r=0,42), oferecer suporte emocional
ou facilidades financeiras familiares afetam o (r=0,44) e gestão de conflitos interpessoais (r=0,35),
nível de IE. Um ponto importante e que merece com uma amostra de 1.402 pessoas (Salavera et al.,
ser melhor investigado, é que nenhum deles foi 2017). Contudo, ambas as pesquisas não avaliaram
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a IE por meio do modelo de Mayer e colaboradores Método

(2016) e também não foram encontradas pesquisas Participantes
empíricas, no Brasil, relacionando os construtos
Participaram desta pesquisa 120 adultos,
IE e HS. Uma vez que nos testes de desempenho
com média de idade de 32,16 anos (DP=8,82),
existem itens que a pessoa precisa demonstrar mínimo de 18 e máximo de 61 anos. Foram 84
alguma habilidade, nos de autorrelato o respon- (70%) participantes do sexo masculino e 36
dente precisa concordar com um dos itens, sem (30%) do sexo feminino. No que diz respeito
a mensuração da capacidade e sem haver uma à escolaridade, 32,5% relatou ter concluído o
resposta certa ou errada (Urbina, 2007). O fato ensino médio, 24,2% cursa o ensino superior, 30%
dos instrumentos utilizados para medir IE e HS concluiu pelo menos uma graduação e 13,3%
serem de autorrelato nas pesquisas mencionadas cursou ou cursa pós-graduação. A renda dos
acima, pode ter contribuído para essa correlação participantes está distribuída da seguinte forma:
positiva e, caso fossem medidos por testes que (a) 11,67% possui renda familiar de até 2 salários
avaliassem o desempenho, com resposta certas e mínimos por pessoa, (b) 54,7% possui renda de
erradas, os resultados poderiam ser diferentes. Os 3 a 5 salários mínimos, (c) 23,33% recebe de 6
testes de autorrelato podem apresentar resultados a 8 salários mínimos, (d) 7,5% de 9 a 12 salários
diferentes a depender da autopercepção do pró- mínimos, e (e) 3,33% acima de 12 salários mínimos.
prio participante ou até mesmo da desejabilidade
social, que pode contribuir para que o respondente Instrumentos
informe aquilo que acha mais adequado e não a Questionário Sociodemográfico e de
resposta real sobre si mesmo. Carreira Profissional (QSCP). O Questionário
A partir dos resultados encontrados sobre a Sociodemográfico e de Carreira Profissional
relação de IE com as variáveis de G e HS, serão (QSCP), elaborado pelos pesquisadores deste
investigadas, nessa pesquisa mais evidências estudo, possibilita a coleta de dados pertinentes
para as facetas de percepção emocional às informações sociodemográficas e de carreira
(PE) e para a compreensão emocional (CE) dos participantes de forma padronizada. Para
da IE, as quais também auxiliarão para a o levantamento dos dados demográficos dos
melhor compreensão desse construto e da participantes, foram elaboradas questões sobre:
sua importância. Com o objetivo de analisar (a) idade, (b) sexo biológico, (c) escolaridade, com
a relação das facetas PE e CE da IE com as os itens de ensino fundamental incompleto, ensino
provas de raciocínio abstrato (RA) e raciocínio fundamental completo, ensino médio incompleto,
verbal (RV) de G, serão utilizadas variáveis ensino médio completo, ensino superior cursando,
sociodemográficas de idade, sexo, renda graduação completa ou superior, cursando ou
familiar, escolaridade e HS. Espera-se que os concluído pós-graduação, e (d) renda familiar,
resultados indiquem: correlação positiva, fraca com os itens até 2 salários mínimos, de 3 a 5
e significativa com a RA e RV, uma vez que salários mínimos, de 6 a 8 salários mínimos, de 9 a
se pressupõe correspondência entre IE e a G 12 salários mínimos, acima de 12 salários mínimos.
(hipótese 1 [H1]); declínio dos escores de PE e As questões de escolaridade e renda familiar
CE com o aumento da idade (hipótese 2 [H2]); buscaram investigar qual era o atual momento
correlação positiva, fraca e significativa com dos participantes, não buscando investigar qual
a renda familiar e escolaridade (hipótese 3 a estabilidade dessas duas variáveis. As questões
[H3]); correlação positiva e significativa com HS sobre os dados profissionais, não foram utilizadas
(hipótese 4 [H4]); que as mulheres apresentem nesta pesquisa.
melhor desempenho que os homens (hipótese 5 Os participantes responderam ao QSCP, em uma
[H5]); e que a idade é preditora do desempenho folha de papel, com canetas disponibilizadas pelos
em PE e CE (hipótese 6 [H6]). pesquisadores. Não houve limite de tempo para
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responder ao questionário, mas os participantes o (c) mecânico (RM), (d) espacial (RE), e (e) numérico
fizeram em aproximadamente 10 minutos. (RN). Foram utilizados nesta pesquisa os subtestes
Teste Informatizado de Percepção das das áreas RA e RV, compostos de 25 itens cada. A
Emoções Primárias (PEP). O PEP é composto forma B, utilizada nesta pesquisa é indicada para
por 38 vídeos de pessoas expressando emoções, pessoas com ensino médio completo. A análise
sendo que os três primeiros são exemplos com da precisão do teste, pelo Alfa de Cronbach, para
instruções sobre como responder ao teste. Os a presente pesquisa foi de 0,79 para a prova RA
vídeos foram construídos a partir de filmagens e 0,73 para a prova RV.
de pessoas enquanto assistiam apresentações Inventário de Habilidades Sociais 2 – IHS2-
de imagens e cenas de filmes (Miguel & Primi, Del-Prette. O IHS2-Del-Prette (Del Prette &
2014a). O participante deve identificar e clicar Del Prette, 2018), é composto por 30 itens com
em uma ou mais emoções, que represente a situações especificas, na qual o respondente
determinada expressão emocional e, também, deve indicar em uma escala Likert de cinco
assinalar se aquela expressão é autêntica ou pontos, a estimativa de frequência de como se
falseada (Miguel & Primi, 2014b). Ao todo, são dá a sua reação para cada uma delas. O Escore
oito expressões emocionais (alegria, amor, medo, Geral (EG) e os Escores Fatoriais (de F1 a F5)
surpresa, tristeza, nojo, raiva e curiosidade). A são determinados pela posição, em termos de
precisão do PEP para essa amostra, pela análise percentis, em relação ao subgrupo de referência e
de Alfa de Cronbach, foi de 0,64, valor muito de sexo biológico. A análise da precisão do teste,
próximo do encontrado no estudo de validade pelo Alfa de Cronbach, para a presente pesquisa
do instrumento 0,65 (Miguel & Primi, 2014b). De foi de 0,82 para o EG.
acordo com a Resolução 009/2018 do Conselho No presente estudo, foi realizada a aplicação
Federal de Psicologia (CFP, 2018) são considerados do teste IHS-Del-Prette (Del Prette & Del Prette,
satisfatórios os resultados de precisão igual ou 2016), em 2017, uma vez que a versão atualizada
superior a 0,60. do instrumento (IHS2-Del-Prette), ainda não estava
Teste Informatizado de Compreensão disponível. Como o manual do IHS2-Del-Prette foi
Emocional (TCE). O Teste Informatizado de publicado em 2018 (Del Prette & Del Prette, 2018),
Compreensão Emocional (TCE) (Oliveira & Bueno, optou-se por utilizar a correção e a interpretação
2013) contém 30 itens, com cinco alternativas cada dos resultados por meio desse manual, pois
uma, podendo ser respondido por adolescentes não ocorreu modificação de itens nessa versão,
e adultos. Está divido em dois blocos: (a) Bloco somente diminuição da quantidade de itens.
A, possuindo 18 itens sobre a transição das
emoções, e (b) Bloco B, contendo 12 itens Procedimentos
referentes à mistura das emoções. A aplicação O projeto da pesquisa foi submetido e
pode ser coletiva ou individual e o participante aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
não tem um tempo limite para responder ao da Universidade Federal de São Carlos (CAAE:
teste. Cada questão contém um enunciado ou 70079817.6.0000.5504). Após aprovação, foi
questão-problema. Os testes de precisão para realizado o convite para os participantes via
os participantes da presente pesquisa indicaram grupos específicos, compostos por profissionais de
resultado de 0,74, pelo Alfa de Cronbach. diferentes áreas (administrativo, vendas, produção
Bateria de Provas de Raciocínio (BPR-5). A BPR- e engenharia) do ambiente de trabalho nas mídias
5 (Primi & Almeida, 2000) é um instrumento que sociais e pessoalmente, por conveniência. A coleta
oferece estimativas do funcionamento cognitivo de dados foi realizada em duas sessões coletivas
geral do respondente em cinco áreas específicas, ou individuais, de acordo com a disponibilidade
divididos em cinco subtestes distintos, são eles: e consentimento dos participantes.
(a) prova de raciocínio verbal (RV), (b) abstrato (RA), Com exceção do QSCP e do IHS2-Del-Prette,
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que foram respondidos em papel com caneta, padronizados no manual do teste. Ao investigar
todos os demais testes utilizados – RA, RV, BPR- a distribuição da amostra, por meio do teste
5, PEP, TCE –, foram respondidos online, por estatístico de Kolmogorov-Smirnov, observou-se
meio de um computador que era disponibilizado que o resultado indicou dados assimétricos em
pelos pesquisadores. O participante, utilizando- variáveis como: escolaridade, renda, os escores
se de um computador com teclado e mouse, de TCE, RA e os fatores do IHS2-Del-Prette. Ou
acessava um software online que continha os seja, os dados não têm uma distribuição normal.
instrumentos. Para isso, após ler e concordar Por isso foram analisados de acordo com testes
com o TCLE, criava inicialmente, um usuário e de estatística não paramétrica.
uma senha própria e, logo em seguida, acessava A estatística inferencial, necessária para
os testes informatizados, sem tempo limite para a comparação das variáveis foi verificada
responder. Em se tratando de testes online, o utilizando-se da correlação de Spearman, com
resultado foi mostrado ao participante depois de níveis de magnitude sem relação ou relação
ter respondido aos testes. não considerável (de 0,00 a 0,19), relação fraca
Os respondentes tiveram acesso ao software (0,20 a 0,29), moderada (0,30 a 0,39), forte (0,40 a
online com os instrumentos informatizados 0,69) e muito forte (0,70 a 1,00) (Duffy, Mclean, &
apenas no dia da coleta. O banco de dados dos Monshipouri, 2011), para testar as hipóteses 1, 2, 3 e
testes informatizados foi elaborado por meio das 4 e Mann-Whitney para testar a H5, considerando
respostas dos participantes e alocado em um o nível de significância de p≤0,05 e o tamanho
domínio específico. As respostas foram obtidas do efeito de 0,00 a 0,19 como nenhum efeito, de
de setembro a dezembro de 2017. 0,20 a 0,49 efeito pequeno, de 0,50 a 0,79 efeito
moderado e de 0,80 a 1,00 efeito forte (Cohen,
Análise de dados 1988; Lenhard & Lenhard, 2016). Para testar a H6
Os dados foram analisados estatisticamente foi realizada análise de regressão.
por meio do software SPSS, versão 21.0. Para
TCE, RV e RA, utilizando-se das pontuações totais Resultados
brutas de cada teste, para o PEP os resultados Os resultados serão apresentados descrevendo
em escore-z e, para o IHS2-Del-Prette, escores o que foi encontrado para cada uma das hipóteses.

TABELA 1 – Resultados para cada uma das hipóteses propostas

Hipótese Descrição Resultado

H1 Correlação positiva, fraca e significativa A hipótese foi confirmada

com a RA e RV

H2 Declínio dos escores de PE e CE com o au- A hipótese foi confirmada parcialmente.

mento da idade Apenas houve correlação negativa entre PE
e a Idade
H3 Correlação positiva, fraca e significativa A hipótese foi confirmada parcialmente.
com a renda familiar e escolaridade Apenas houve correlação positiva entre CE
e a escolaridade

H4 Correlação positiva e significativa com HS A hipótese não foi confirmada

H5 Que as mulheres apresentem melhor desem- A hipótese não foi confirmada

penho que os homens
H6 Que a idade é preditora do desempenho A hipótese foi confirmada parcialmente.
em PE e CE A idade foi preditora apenas de PE
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A Tabela 1 compila para cada uma das hipóteses 0,40), existindo uma correlação negativa, forte e
propostas no trabalho se ela foi aceita ou refutada. significativa. Entretanto, não houve correlação
Como pode ser visualizado na Tabela 1, das significativa entre idade e o outro teste de
seis hipóteses do estudo, uma foi confirmada, avaliação de IE, o TCE (rho=-0,02).
três confirmadas parcialmente e duas refutadas. Era esperado, na H3, que existisse uma
Para uma melhor descrição dos dados, a Tabela 2 correlação positiva, fraca e significativa entre
apresenta os valores do coeficiente de correlação os instrumentos de IE (PE e CE) e escolaridade
de Spearman entre os escores dos testes TCE e e renda familiar. Porém, houve correlação
PEP (IE), testes RV e RA (G), idade, escolaridade, positiva, significativa e fraca apenas entre TCE e
renda e o teste IHS2-Del-Prette, correspondente escolaridade (rho=0,23). Os índices de correlação
às hipóteses de 1 a 5. entre IE e renda estão bem próximos de zero,
A H1 sugeria haver uma correlação positiva, o que indica não haver correlação entre essas
fraca e significativa entre PE e CE, que avaliam a variáveis. Na H4, sugeria-se que houvesse uma
IE, e RA e RV, que avaliam G, e como o esperado, correlação positiva e significativa entre PE e CE
ao correlacionar o PEP com os testes RA e RV e HS. No entanto, o índice de correlação entre
ocorreu correlação positiva, fraca e significativa, os testes PEP e TCE e o EG do IHS2-Del-Prette
sendo que houve maior correlação entre PEP e RA é quase nulo (0,06 para ambos). Resultados
(rho=0,20). Todavia, ao investigar a correlação entre semelhantes também foram encontrados ao
o TCE com RA e RV foi encontrada correlação correlacionar os testes de IE e os fatores do teste
positiva, significativa e forte entre os construtos de HS, portanto, não houve correlação entre
(Duffy et al., 2011). Foi possível observar que a H2, PE e CE e HS. Os resultados das análises que
que propôs haver declínio dos escores de PE e investigavam se existem diferenças significativas
CE com o aumento da idade é confirmada apenas para IE entre mulheres e homens indicou que
para a correlação entre idade e o teste PEP (rho=- não houve diferença de mediana significativa

TABELA 2 – Coeficiente de correlação entre as variáveis estudadas (N=120)

PEP TCE Id. Esc. Rd RA RV EG F1 F2 F3 F4

TCE 0,21*
Id. -0,40** -0,02
Esc. 0,09 0,23* 0,15
Rd. 0,02 0,04 0,19* 0,30**
RA 0,20* 0,45** 0,01 0,15 0,12
RV 0,19* 0,54** -0,03 0,28** -0,02 0,46**
EG 0,06 0,06 0,01 0,12 -0,02 -0,05 0,11
F1 0,06 0,02 -0,01 0,12 0,04 -0,11 0,01 0,82**
F2 0,08 0,11 0,01 0,12 0,05 0,05 0,18 0,51** 0,30**
F3 0,03 0,01 -0,06 0,03 -0,17 -0,07 0,11 0,64** 0,35** 0,28**
F4 -0,06 0,14 0,02 0,07 -0,11 0,06 0,21 0,41** 0,07** 0,27** 0,22**
F5 0,07 -0,12 -0,06 0,02 -0,07 -0,05 0,02 0,82** 0,61** 0,37** 0,49** 0,30**
TCE = Teste Informatizado de Compreensão Emocional; PEP = Teste Informatizado de Percepção das Emoções
Primárias; Id. = Idade; Esc. = Escolaridade; Rd. = Renda; RA = Raciocínio Abstrato; RV = Raciocínio Verbal; EG = Escore
Geral do IHS2-Del-Prette. F1 – Conversação assertiva; F2 – Abordagem afetivo-sexual; F3 – Expressão de sentimen-
to positivo; F4 – Autocontrole/Enfrentamento; F5 – Desenvoltura social.
* p≤0,05; ** p≤0,01.
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entre os sexos e o tamanho do efeito foi menor aumenta em um desvio padrão, a percepção da
que 0,19, indicando que não houve efeito, tanto emoção diminuiria 0,39 desvio padrão. O valor
para o PEP (U=1511,0, Z=-0,006, p=0,995, d<0,01) t é -4,72 com uma probabilidade associada
quanto para o TCE (U=1456,5, Z=-0,319, p=0,749, menor que 0,01. O raciocínio abstrato apresentou
d=0,05), não confirmando assim a H5. coeficiente de regressão de β=0,21, diferente da
A fim de verificar a H6, que sugeria que a idade idade, que teve coeficiente negativo. Sendo assim,
seria preditora de PE e CE, uma análise de regressão sugere-se que quando o PEP aumenta em um
múltipla foi realizada com o objetivo de determinar desvio padrão, a habilidade de raciocínio abstrato
quais delas poderiam ser consideradas preditoras aumenta em 0,21 desvio padrão, com valor de t
da IE entre os adultos pesquisados. A Tabela 3 em 2,61 e probabilidade associada de 0,01.
apresenta o resultado da análise de regressão para Em relação ao TCE, as variáveis preditoras
o PEP e TCE. Foi possível observar, que apenas foram RV e RA. O RV tem um peso padrão de
duas variáveis mostraram ser preditoras de IE no 0,32 no segundo modelo da regressão e 0,44
teste PEP (idade e o teste RA) e duas no teste TCE no primeiro modelo, significando que, quando
(os testes RA e RV). Tal procedimento forneceu um o desempenho em raciocinar verbalmente
coeficiente de variância explicada (R²) de 0,20 para aumenta um desvio padrão, a capacidade de
o teste PEP e 0,24 para o TCE, o que determina compreensão das emoções aumenta em 0,32
que essas variáveis preditoras explicam mais de e 0,44 desvio padrão, respectivamente. Assim,
20% da percepção e da compreensão emocional como na análise de regressão do PEP, os índices
dos participantes. de probabilidade associada estão abaixo de 0,02.
No que se refere ao teste PEP, as variáveis Percebeu-se também, que o teste RA é preditor
preditoras são: (a) idade, confirmando a H6 apenas de ambos os testes de IE.
para a capacidade de percepção emocional da IE,
e (b) o RA. A idade apresentou um coeficiente β=- Discussão
0,39 e p<0,01, demonstrando ser preditora do PEP, O principal objetivo deste estudo foi analisar a
tendo um coeficiente de regressão padronizado relação de IE com G, variáveis sociodemográficas
de -0,39. Pode ser deduzido que quando a idade de idade, sexo, renda familiar, escolaridade e

TABELA 3 – Análise de regressão para os instrumentos de IE

Variáveis Erro-
Variável Modelo B β t p F R²
preditoras Padrão

PEP 1 (Constante) 0,96 0,34 2,80 0,01 21,96 0,16

Idade -0,05 0,01 -0,40 -4,69 <0,01
2 (Constante) -0,10 0,53 -0,20 0,84 14,93 0,20
Idade -0,05 0,01 -0,39 -4,73 <0,01
RA 0,06 0,02 0,22 2,61 0,01
TCE 1 (Constante) 16,42 1,49 11,05 <0,01 27,78 0,19
RV 0,46 0,09 0,44 5,27 <0,01
2 (Constante) 13,98 1,70 8,21 <0,01 18,38 0,24
RV 0,34 0,09 0,33 3,61 <0,01
RA 0,24 0,09 0,25 2,73 0,07
PEP = Teste Informatizado de Percepção das Emoções Primárias; TCE = Teste Informatizado de Compreensão Emocional;
RA = Raciocínio Abstrato; RV = Raciocínio Verbal.
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Inteligência emocional: relação com inteligência, variáveis sociodemográficas e habilidades sociais 9/13

HS. Os dados apontaram correlações fracas e sociodemográficas de ambos trabalhos, por

significativas entre PEP e as provas RA e RV, exemplo, na distribuição de renda a maioria dos
e forte entre TCE e as provas RA e RV. Dados participantes tinha remuneração média, eram
similares foram encontrados em outros trabalhos, adultos e 70% eram do sexo masculino. Além
mostrando que existe correlação entre as facetas disso, dos estudos encontrados, a Turquia é o
de PE e CE da IE e outras medidas de G (Cobêro et país com distribuição de renda mais parecida
al., 2006; MacCann et al., 2014). A maior magnitude com o Brasil (World Bank, 2018). Nesse aspecto, o
e melhor significância entre TCE e os testes de ambiente financeiro ou classe social não estiveram
G em comparação ao PEP, pode ter ocorrido, diretamente relacionados aos melhores ou piores
pois o TCE, assim como o RA e RV, pressupõe a níveis de PE e CE, entretanto, o resultado foi
capacidade de inteligência fluida, fazendo com divergente do encontrado por Noor e Hanafi
que a relação entre os construtos aumente nessa (2016), que aplicou a pesquisa no Paquistão, com
análise. Além de que, o fato de tanto TCE quanto alunos adolescentes do ensino médio e encontrou
RV serem compostos de grafemas e frases pode relação significativa entre IE e renda. Contudo, a
contribuir para uma maior relação entre os testes. pesquisa de Noor e Hanafi (2016) não seguiu o
A variável idade só esteve significativamente mesmo referencial teórico da IE de habilidades
relacionada ao desempenho no PEP e não ao (Mayer et al., 2016).
TCE, demonstrando uma correlação negativa e A presente pesquisa e as demais apresentadas
forte, o que também pode ser encontrado em que investigaram a relação de IE e de renda
outras literaturas (Cabello et al., 2014). Contudo, não investigaram a estabilidade da renda
na pesquisa de Cabello e colaboradores (2016) familiar, ou seja, há quanto tempo o participante
a faceta de compreensão das emoções também possuía a renda informada no questionário
apresentou um declínio linear com o aumento da sociodemográfico. Tendo conhecimento dessa
idade. Tal resultado pode estar relacionado aos informação, poderia ser possível refletir com mais
aspectos culturais da amostra, composta por clareza sobre o efeito da renda familiar sobre
participantes com pelo menos 18 anos, não sendo as habilidades de PE e de CE. Como a renda
possível analisar a relação de CE para as crianças familiar foi coletada apenas perguntando o retrato
e os adolescentes, na qual a idade poderia estar daquele dia que o participante respondeu ao
relacionada positivamente com CE. Esse declínio questionário é importante se ter ressalvas quanto
também pode ser interpretado não como perda aos resultados emergidos. Portanto, pesquisas
da capacidade ao longo dos anos, mas como que investiguem a estabilidade da renda em
influência de diferenças geracionais, ou seja, a relação à IE podem trazer outros resultados e
diminuição ao longo do tempo apontada nas reflexões para essa relação.
pesquisas seria reflexo de gerações mais antigas A variável escolaridade apontou correlação
terem desenvolvido menos a IE do que as mais positiva fraca e significativa com TCE, o que
recentes, uma vez que podem existir influências indica que os participantes com melhor formação
das condições socioculturais e geracionais acadêmica tendem a ter melhor desempenho
na percepção das emoções no processo de neste teste, resultados semelhantes aos da
envelhecimento (Atkins & Stough, 2005). literatura científica (Cabello et al., 2014; Goldenberg
Nenhuma correlação significativa foi et al., 2006). Apesar de todos os participantes
encontrada ao relacionar a IE, por meio dos testes terem concluído pelo menos o ensino médio, a
de percepção emocional (PE) e a compreensão correlação entre a variável e o construto pode
emocional (CE) com a renda, semelhante ao estar relacionada ao fato do teste utilizado para
encontrado por Çoban e colaboradores (2010), avaliar CE envolver não somente a capacidade
que realizou seu estudo na Turquia. Essa de IE, mas também as habilidades de leitura e
semelhança pode se dar pelas características compreensão de textos, fazendo com que as
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pessoas com menos escolaridade possam ter investigar como seria a relação de IE e HS se
menor desempenho nesse teste. ambas fossem medidas com instrumentos que
Essa foi a primeira pesquisa brasileira que avaliassem o desempenho do participante para
buscou correlacionar os construtos IE, por meio cada um dos construtos, com respostas certas
das facetas PE e CE, e HS com a realização de e erradas. Também poderia ser realizada uma
testes psicológicos, pois é sugerido na literatura abordagem multimétodo, com instrumentos
que são construtos positiva e significativamente variados, por exemplo, aqueles que são
relacionados, o que não foi confirmado nas respondidos por outras pessoas do convívio do
análises correlacionais, uma vez que não houve participante, além dele próprio.
correlação significativa entre nenhum fator, nem o Outro argumento que poderia ser apresentado
EG do IHS2-Del-Prette em relação aos testes de é o fato de que as HS sejam situacionais e tenham
IE, PEP e TCE. Tal ausência de correlação entre determinantes culturais envolvidos (Del Prette
os construtos pode se dar pelas características & Del Prette, 2017), sendo diferente da IE. As
dos próprios instrumentos utilizados, uma vez que características situacionais das HS são consideradas
os testes de PE e CE mensuram os resultados pelo fato de uma pessoa apresentar uma classe de
por meio do desempenho dos participantes, HS em uma situação e não apresentar a mesma
sendo que existem respostas certas e erradas, classe em outra. Isso quer dizer que dentro de
já o IHS2-Del-Prette é de autorrelato, no qual a uma mesma cultura a apresentação de uma
pessoa responde a partir da percepção do seu determinada classe de HS vai depender do
desempenho em determinado comportamento, contexto e da situação. Por exemplo, uma pessoa
sem existir uma resposta certa ou errada, mas pode estar apresentando certas HS na interação
sim a resposta típica do comportamento do com seus amigos em uma roda de conversa e,
respondente, podendo ser influenciado pela individualmente, no mesmo ambiente, apresentar
desejabilidade social do respondente ou baixo outras HS para o seu namorado.
nível de autoconhecimento. Ainda assim, apesar de aparentemente
Outras pesquisas encontraram resultados menos situacional que HS, a IE, por envolver
diferentes para a relação IE e HS (Nikooyeh et as capacidades de percepção, facilitação do
al., 2017; Salavera & Jarie, 2017), porém foram pensamento, compreensão e gerenciamento
obtidos por meio de testes de IE respondidos por emocional, também não exclui o aspecto cultural,
autorrelato, que não são os mais recomendados uma vez que a faceta de compreender as emoções
para analisar a IE entendida como construto envolve a capacidade de reconhecer diferenças
cognitivo que processa as emoções. Mayer e culturais na avaliação de emoções e a demanda de
colaboradores (2016), sugerem que a IE seja percepção emocional considera como cada cultura
medida por instrumentos de desempenhos em expressa suas próprias emoções, sem contar que o
tarefas relacionadas ao construto, pois assim gerenciamento emocional envolve a avaliação de
poderia ser assegurada a validade discriminante estratégias para manter, reduzir ou intensificar uma
em relação à personalidade, que geralmente é resposta emocional e, para isso, é necessário saber
associada à IE quando medida por instrumentos agir adequadamente de acordo com a demanda
de autorrelato, além medir mais diretamente a emocional apresentada, que se relaciona aos
capacidade de raciocinar sobre ou a partir da aspectos situacionais (Mayer et al., 2016).
emoção. Outrossim, as medidas de autorrelato O fato de as mulheres não apresentarem
de IE podem estar mais relacionadas à melhores resultados significativos que os homens
autopercepção emocional do que à habilidade nesta pesquisa é diferente da maioria dos outros
de IE que o indivíduo realmente apresenta (Rooy estudos que correlacionavam IE e sexo, sendo que
& Viswesvaran, 2004). as mulheres demonstraram maiores pontuações
Portanto, estudos posteriores poderiam apenas nas facetas de percepção e de facilitação
 Isaías Peixoto • Monalisa Muniz
Inteligência emocional: relação com inteligência, variáveis sociodemográficas e habilidades sociais 11/13

emocional em um experimento (Castro-Schilo expressando emoções, o que pode demandar

& Kee, 2010), em outro maior capacidade de uma percepção ainda mais apurada.
compreender e de gerenciar emoções (Farrelly & Como o TCE de compreensão emocional
Austin, 2007), ou no escore total de IE e na faceta é um teste que exige capacidade de leitura
de gerenciamento (Goldenberg et al., 2006). O e interpretação de texto, com respostas mais
resultado encontrado na presente pesquisa pode abstratas e complexas que no PEP, o fato de
ter ocorrido devido a uma tendência atual de mais de 70% dos participantes já ter, pelo menos
demandar uma maior exigência de sensibilidade ingressado no ensino superior e todos concluíram
emocional dos homens do que antes, inclusive o ensino médio, a presente amostragem pode
nos processos seletivos das empresas, onde os estar relacionada ao fato da idade não ser uma
aspectos emocionais também são analisados e, preditora para a compreensão emocional, uma vez
em alguns casos, até requisitados. Alterações que todos os participantes tenderiam a possuir
sociais como essa podem ocasionar modificações níveis semelhantes de leitura e de interpretação
culturais nos homens e nas mulheres, fazendo com devido à escolaridade. Na pesquisa de Cabello e
que as determinações culturais emocionais, para colaboradores (2016) não foi apresentado o grau
ambos, estejam mais semelhantes atualmente de instrução. Essa mesma reflexão pode ser feita
do que no passado. ao observar que o raciocínio verbal foi o maior
Foram encontradas como variáveis preditoras preditor da compreensão emocional.
da PE a idade e o raciocínio abstrato, e no que
se refere à compreensão, via TCE, o raciocínio Considerações finais
abstrato e o raciocínio verbal. Dessa forma, é A amostra estudada, foi composta de 120
possível concluir que a variável de raciocínio adultos, com ampla faixa etária, de 18 a 61 anos,
abstrato é a que mais aparece como preditora boa distribuição de escolaridade e renda. Mas,
de IE, uma vez que surgiu em ambos resultados mesmo assim, sugere-se que novas investigações
da análise de regressão. Assim sendo, o RA por científicas sejam realizadas com o intuito de
estar associado, principalmente, à inteligência estudar a relação entre os construtos avaliados
fluida, que é mais determinada pelos aspectos nesta pesquisa em amostras com características
biológicos e menos pelos culturais (Cattell, 1998), ainda mais variadas e mais amplas, se possível,
pode ser mais demandada também na percepção com pessoas de todas as regiões do País. Outro
e na compreensão emocional. Além disso, assim ponto a ser considerado é a importância de
como observado na correlação entre os testes de estudos semelhantes no Brasil que abordem
IE e G, esse resultado sugere que os instrumentos as facetas de gerenciamento e da facilitação
utilizados para avaliar tais variáveis neste trabalho emocional.
investigaram construtos relacionados. A presente pesquisa foi pioneira no Brasil ao
Na pesquisa de Cabello e colaboradores (2016) investigar empiricamente a relação entre IE,
a idade dos participantes, que variava entre 17 e 76 por meio das facetas de percepção (PE) e de
anos, não muito diferente da presente pesquisa, compreensão emocional (CE), e HS, sendo que
também foi preditora de IE, mas em ambas as ambos construtos estudam ou se aplicam às
facetas, sendo maior em compreensão emocional relações interpessoais. Também foi a primeira
do que na percepção, podendo tal diferença, ser no País a analisar a relação entre IE (PE e CE)
causada pelas características dos testes, pois os e renda familiar, contribuindo assim, para um
instrumentos utilizados para a avaliação de IE melhor entendimento das características sociais
foram informatizados, enquanto no estudo de da população em relação à IE, podendo auxiliar
Cabello e colaboradores (2016) eram respondidos a prática terapêutica com o suporte de mais
em folha de papel. Ademais, o PEP, que avalia informações e características dos grupos, além de
a percepção, apresentava vídeos de pessoas promover uma melhor compreensão do construto
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em relação a estes aspectos. Contudo, essa Cobêro, C., Primi, R., & Muniz, M. (2006). Inteligência
emocional e desempenho no trabalho: um estudo
pesquisa não analisou a estabilidade (há quanto com MSCEIT, BPR-5 E 16PF. Paidéia, 16(35), 337-348.
tempo) os participantes tinham a renda familiar e
Cohen, J. (1988). Statistical power analysis for the
a escolaridade informada, o que poderia contribuir behavioral sciences (2. Auflage). Hillsdale, NJ:
para uma reflexão com mais clareza sobre o efeito Erlbaum.

da estabilidade da renda familiar sobre PE e CE. Çoban, B., Karademir, T., Acak, M., & Devecioglu, S.
(2010). The emotional intelligence of students who are
Desse modo, sugere-se que no futuro pesquisas
sitting a special-ability examination. Social Behavior
sobre IE relacionada à renda e à escolaridade and Personality: An international journal, 38, 1123-1134.
https://doi.org/10.2224/sbp.2010.38.8.1123
considerem a estabilidade dessas variáveis.
Ainda, novos resultados sobre questões com Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (1999). Teoria das
inteligências múltiplas e treinamento de habilidades
maior historicidade de discussão sobre a relação sociais. Doxa Revista Paulista de Psicologia e
com a IE (inteligência, idade, sexo) aumentam Educação, 5(1), 51-63.

o escopo de investigações científicas sobre Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2016). Inventário de
esse construto. Todos esses dados permitem habilidades sociais: Manual de aplicação, apuração e
interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo.
mais conhecimento sobre o conceito de IE,
Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2017). Competência
especificamente para as facetas estudadas neste social e habilidades sociais: manual teórico-prático.
trabalho, percepção e compreensão emocional, Petrópolis: Vozes.
para a população brasileira, e também instigam Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2018). Inventário
a continuidade de pesquisas que venham somar de habilidades sociais 2 (IHS2-Del-Prette): Manual
de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo:
para a maior elucidação da IE tanto nos aspectos Pearson Clinical Brasil.
científicos quanto nos cotidianos da vida das Di Fabio, A. & Saklofske, D. H. (2014). Comparing ability
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