Direito Penal V

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Universidade Católica do Salvador

Curso de Graduação em Direito

Gabriela Maciel Melo


Matrícula: 200018118

Direito Penal V
Prevaricação, Peculato e Crime Contra a Dignidade Sexual

Salvador/BA
Universidade Católica do Salvador
Curso de Graduação em Direito

Gabriela Maciel Melo


Matrícula: 200018118

Direito Penal V
Prevaricação, Peculato e Crime Contra a Dignidade Sexual

Atividade Avaliativa apresentada ao curso Superior


de Direito, turno matutino em cumprimento parcial
para aprovação da disciplina, Direito Penal V,
lecionado pelo Docente: Cristiano Lazaro.
Salvador-BA
1. Peculato

Jurisprudência:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.


PENAL. INVIABILIDADE DE REEXAME DOS FUNDAMENTOS APONTADOS PELO JUIZ
NATURAL DA CAUSA A PARTIR DO SISTEMA TRIFÁSICO. PENA-BASE ADEQUADA E
PROPORCIONAL AO CASO EM APREÇO. CORRETA APLICAÇÃO DA AGRAVANTE
GENÉRICA DO ART. 62, I, DO CP. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.

I – A orientação jurisprudencial desta Suprema Corte firmou-se no sentido de que somente em


situações excepcionais é admissível o reexame dos fundamentos da dosimetria da pena fixada pelo
juiz natural da causa a partir do sistema trifásico, sendo certo que houve motivação adequada para
a valoração negativa das circunstâncias judiciais (art. 59 do CP) apontadas no acórdão de segunda
instância, bem como para a escolha da fração de exasperação operada na primeira fase da
dosimetria, que levou em conta justamente o maior grau de censurabilidade da conduta do
recorrente, a partir das consequências do crime.

II – Em delitos como tais, a lesão ao erário constitui, de fato, elementar do tipo. Contudo, quando
esse prejuízo for elevado, como no caso, o valor desviado poderá ser utilizado para agravar a
reprimenda na primeira etapa da dosimetria, a título de consequências do crime. Precedentes.

III – Este Supremo Tribunal entende ser “possível a elevação da pena-base em razão do grau de
responsabilidade do cargo exercido pelo agente (1ª fase), sem que isso importe em bis in idem”. (
RHC 125.478 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma). Outros precedentes.

IV – Inexistência de ilegalidade ou teratologia no ato impugnado que justifique a atuação desta


Suprema Corte, especialmente porque a pena-base exasperada tão somente em 1/6 acima do mínimo
legal, para cada um dos crimes, encontra-se proporcional ao caso em apreço.

V – É correta a aplicação da agravante genérica prevista no art. 62 do Código Penal, que prevê o
agravamento da pena para aquele que “promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a
atividade dos demais agentes” (inciso I), como ocorreu no caso sob exame, quando se tem que o
acusado era o responsável pela nomeação dos servidores que compuseram as comissões de licitação
da prefeitura e que participaram do esquema criminoso, “cujo envolvimento era imprescindível para
a realização dos crimes”.

VI – É assente que não se pode utilizar “o habeas corpus para realizar novo juízo de
reprovabilidade, ponderando, em concreto, qual seria a pena adequada ao fato pelo qual condenado
o Paciente”. ( HC XXXXX/MT, Rel. Min. Cármen Lúcia). Precedentes. VII – Agravo regimental a
que se nega provimento.

(STF - RHC: XXXXX SP, Relator: RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento:


24/10/2022, Segunda Turma, Data de Publicação: PROCESSO ELETRÔNICO DJe-216 DIVULG
XXXXX-10-2022 PUBLIC XXXXX-10-2022)

COMENTARIO:

Nos crimes de peculato o legislador visa punir os delitos cometidos contra a administração pública
no geral. A pretensão é garantir o normal funcionamento da máquina administrativa em todos os
setores de suas atividades, buscando o bem estar e o progresso da sociedade. A proibição penal não
se limita a conduta ilícita do agente público, mas estende-se aos, funcionários públicos(intranei),
os estranhos e os particulares(extranei), que de forma comissiva ou omissiva, cause ou exponha
perigo de dano a função administrativa, em sentido estrito, legislativo e judiciário.

Nessa modalidade o bem jurídico tutelado é a Administração pública, o sujeito ativo está ligado ao
crime próprio, onde só o funcionário que exerce cargo, emprego ou função pública, pode cometer,
na figura do sujeito passivo tem-se o Estado e as entidades de Direito Público. Todas as diretrizes
estão contidas no Art. 312 do Código penal.

Em que pese o pedido da ação, não teve provimento, haja vista que é de entendimento da suprema
corte brasileira, que o valor sucumbido da administração publica, pode ser item para que se ocorra
o agravamento da pena, bem como o cargo exercido pode ser um dos requisitos para a majoração
da pena.

Em delitos como tais, a lesão ao erário constitui, de fato, elementar do tipo. Contudo, quando esse
prejuízo for elevado, como no caso, o valor desviado poderá ser utilizado para agravar a reprimenda
na primeira etapa da dosimetria, a título de consequências do crime. Precedentes. Este Supremo
Tribunal entende ser “possível a elevação da pena-base em razão do grau de responsabilidade do
cargo exercido pelo agente (1ª fase), sem que isso importe em bis in idem”.

2. Prevaricação

Jurisprudência:

Trata-se de Petição cujos autos contém denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República
(PGR) imputando ao investigado ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO FRANCISCO, ex-
parlamentar e atualmente advogado, a prática das condutas descritas no art. 23, IV, c/c art. 18,
ambos da Lei 7.170/83 ( Lei de Segurança Nacional), por 3 (três) vezes, na forma do
art. 71 do Código Penal ( CP); art. 286 c/c art. 163, parágrafo único, II e III, ambos do CP;
art. 26 da Lei 7.170/83; e art. 20, § 2º, da Lei 7.716/89, por 2 (duas) vezes, na forma do
art. 71 do CP.

Em decisão de 23/10/2022, diante do reiterado descumprimento das medidas cautelares impostas,


foi restabelecida a prisão preventiva de ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO FRANCISCO, a ser
efetivada pela Polícia Federal, nos termos do art. 282, § 4º, do Código de Processo Penal, devendo
ser recolhido, imediatamente, ao estabelecimento prisional.

É o relatório. DECIDO.

Conforme amplamente noticiado na imprensa, agentes da Polícia Federal, ao comparecerem ao


domicílio do réu para cumprir o mandado de prisão preventiva, sofreram ataques por parte de
ROBERTO JEFFERSON, que até o momento resiste à prisão, tendo disparado tiros de fuzil e
arremessado granadas na equipe policial, com o lamentável resultado de dois policiais feridos.

Esse fato, inclusive, foi admitido pelo próprio denunciado, em vídeos que circulam nas redes
sociais:
"Mostrar a vocês que o pau cantou. Eles atiraram em mim, eu atirei neles"
(https://br.noticias.yahoo.com/roberto-jefferson- troca-tiros-com-pfeagenteebaleado-veja-video-
163005074.html)

Há notícias, ainda, de que o Ministro da Justiça está a caminho da residência do denunciado,


parauma suposta negociação de sua rendição e efetivo cumprimento da ordem de prisão.

Como se vê, a conduta de ROBERTO JEFFERSON, ao atirar nos agentes policiais, configurar, em
tese, duplo crime de homicídio, na forma tentada (art. 121 c/c art. 14, II, ambos do Código Penal),
encontrando-se o agente em estado de flagrância, nos termos do art. 302 do Código de Processo
Penal:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

I - está cometendo a infração penal;

II - acaba de cometê-la;

III -é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação
que faça presumir ser autor da infração;

IV -é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser
ele autor da infração.

Assim, além da ordem de prisão expedida por esta SUPREMA CORTE, nos termos do
art. 301 do Código de Processo Penal, as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem
quer que seja encontrado em flagrante delito, conforme jurisprudência desta SUPREMA CORTE
( HC 205.230, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de 21/10/2021).

Na hipótese de flagrante delito, conforme destacado no inciso XI, do artigo 5º da Constituição


Federal, o cumprimento do mandado de prisão no domicílio do réu é permitido em qualquer horário,
seja durante o dia, seja no período noturno, desde que - como ocorre na presente hipótese -
"amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da
casa ocorre situação de flagrante delito" (STF, Pleno, Repercussão Geral, Tema 280, - RE
603616/RO, Rel. Min. GILMAR MENDES).

Diante de todo exposto, independentemente do horário, DETERMINO À POLÍCIA FEDERAL


QUE CUMPRA A ORDEM DE PRISÃO EXPEDIDA E/OU A PRISÃO EM FLAGRANTE
DELITO.

A intervenção de qualquer autoridade em sentido contrário, para retardar ou deixar de praticar,


indevidamente o ato, será considerada delito de prevaricação (art. 319 do código de Processo
(STF - Pet: 9844 DF, Relator: ALEXANDRE DE MORAES, Data de Julgamento: 23/10/2022, Data
de Publicação: PROCESSO ELETRÔNICO DJe-215 DIVULG 24/10/2022 PUBLIC 25/10/2022)

COMENTARIO:

Prevaricação é um crime funcional, praticado por funcionário público contra a Administração Pública.
A prevaricação consiste em retardar, deixar de praticar ou praticar indevidamente ato de ofício, ou
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

No caso em tela, ação trata da revogação de regime de prisão do ex-deputado Roberto Jeferson, o
caso em fomento entra na esfera dos crimes de prevaricação, Art.319 do CP, pois foi relatado que o
atual Ministro de Justiça, estava a caminho do local para intervir na prisão. Logo, o Ministro
Alexandre de Morais aborda no mandado de prisão preventiva que: “A intervenção de qualquer
autoridade em sentido contrário a ordem, seria enquadrado no crime de prevaricação.”

Observa-se no caso que o comportamento de Anderson Torres não foi usual, o que demonstra a "falta de
autonomia" da PF em casos que envolvam aliados do presidente da República. Visto posto que, as negociações
e as intervenções deveriam ser mediadas pelo grupo tático, os fatos demonstram que a PF não possui a
autonomia necessária para cumprir sua função quando o interesse do governo vai no sentido contrário.

A Constituição Federal é clara em relação ao caso, no Art. 144 prevê: “A segurança pública, dever do Estado,
direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal”

Ao saber do teor da decisão do Ministro do STF, o Ministro da Justiça recuou na sua escalada de
favorecer o aliado do governo, ainda assim, considero que as ações deveriam ser enquadradas como
elucidou o mandado, pois resta cristalina a intenção os agentes públicos em privilegiar seu conhecido,
visto posto que sua prisão não foi conduzida da forma que ordena a lei.

3. Crime Contra a Dignidade Sexual

Jurisprudência:

PENAL. RECURSO ESPECIAL SUBMETIDO AO RITO DOS RECURSOS REPETITIVOS.


ESTUPRO DE VULNERÁVEL (ART. 217-A DO CP). DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME
DE IMPORTUNAÇÃO SEXUAL (ART. 215-A DO CP). EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA
PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES. DOUTRINA DA PROTEÇÃO
INTEGRAL. TRATADOS INTERNACIONAIS. CONFLITO APARENTE DE NORMAS.
PRINCÍPIOS DA ESPECIALIDADE E DA SUBSIDIARIEDADE. RESERVA DE PLENÁRIO.
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. MANDAMENTO DE CRIMINALIZAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE DA DESCLASSIFICAÇÃO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. De
maneira ampla, a Medicina Legal define o abuso sexual infantil como "toda e qualquer exploração
do menor pelo adulto que tenha por finalidade direta ou indireta a obtenção do prazer lascivo"
(FRANÇA, Genival Veloso. Medicina legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p.
250). Nesse sentido, não há meio-termo. O adulto que explora um menor com a finalidade de obter
prazer sexual, direto ou indireto, está a praticar ato abusivo. 2. Nesse ponto, é importante ressaltar
que o abuso sexual contra o público infantojuvenil é uma realidade que insiste em perdurar ao longo
do tempo. A grande dificuldade desse problema, porém, é dimensioná-lo, pois uma parte
considerável dos delitos "ocorrem no interior dos lares, que permanecem recobertos pelo silêncio
das vítimas". Há uma elevada taxa de cifra negra nas estatísticas. Além do natural medo de contar
para os pais (quando estes não são os próprios agressores), não raro essas vítimas sequer "possuem
a compreensão adequada da anormalidade da situação vivenciada." (BIANCHINI, A.; MARQUES,
I. L.; ROSSATO, L. A.; SILVA, L. P. E.; GOMES, L. F.; LÉPORE, P. E.; CUNHA, R. S. Pedofilia
e abuso sexual de crianças e adolescentes. São Paulo: Saraiva, 2013, e-book, Introdução, cap. 1). 3.
Nessa senda, revela-se importante observar que nem sempre se entendeu a criança e o adolescente
como sujeito histórico e de direitos. Em verdade, a proteção às crianças e aos adolescentes é
fenômeno histórico recente. "A família não percebia as necessidades específicas das crianças, não
as via como um ser com peculiaridades e que precisavam de atendimento diferenciado. [...] a única
diferença entre o adulto e a criança era o tamanho, a estatura, pois assim que apresentavam certa
independência física, já eram inseridas no trabalho, juntamente com os adultos. Os pais contavam
com a ajuda de seus filhos para realizar plantações, a produção de alimentos nas próprias terras,
pescas, caças, por isso, assim que seus filhos tinham condições de se manterem em pé, já
contribuíam para o sustento da família." (HENICK, Angelica Cristina. FARIA, Paula Maria
Ferreira de. História da Infância no Brasil. Educere, 2022. Disponível em:
br/arquivo/pdf2015/19131_8679.pdf>. Acesso em: 7/1/2022). 4. Diante de um cenário de exposição
e vulnerabilidade passando para uma perspectiva protetiva, alguns autores verificam uma
correlação entre o reconhecimento pelo Estado da violência intrafamiliar e o movimento feminista.
Dizem que esse movimento, "ao enfrentar o denominado modelo patriarcal de família, acaba por
desvelar inúmeras formas de violência, que permaneciam encobertas pelo manto do silêncio".
(MACIEL, K. R. F. L. A. Curso de direito da criança e do adolescente. 13. ed. São Paulo: Saraiva,
2021, e-book, parte I, cap. I). 5. Verificou-se, portanto, uma modificação de paradigmas sociais,
que refletiu no Direito. E é nessa perspectiva que se deve ressaltar a importância de o Direito estar
atento à complexidade da vida social. "Muitos dos argumentos defendidos por tantos anos já estão
superados. [...] O histórico da Criminologia revela muito sobre a superação de paradigmas e
axiomas", um exemplo disso é o reconhecimento da violência doméstica e familiar. O lar, que era
até então considerado um local seguro (ao contrário das ruas, do lado de fora), passa a ser palco do
drama criminal. (BIANCHINI, A.; MARQUES, I. L.; ROSSATO, L. A.; SILVA, L. P. E.; GOMES,
L. F.; LÉPORE, P. E.; CUNHA, R. S. Pedofilia e abuso sexual de crianças e adolescentes. São
Paulo: Saraiva, 2013, e-book, Introdução). O fato de a violência dentro dos lares ser reconhecida
pelo Estado não significou a criação dessa violência. Em verdade, ela sempre existiu, mas
permanecia no silêncio entre os familiares e na indiferença institucional. O que era para servir de
apoio violentava ou ignorava. 6. Nesse passo, Andréa Rodrigues Amin lembra que "vivemos um
momento sem igual no plano do direito infantojuvenil. Crianças e adolescentes ultrapassam a esfera
de meros objetos de" proteção "e" tutela "pela família e pelo Estado e passam à condição de sujeitos
de direito, beneficiários e destinatários imediatos da doutrina da proteção integral." (MACIEL, K.
R. F. L. A. Curso de direito da criança e do adolescente. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2021, e-book,
parte I, cap. I). O Estado não é mais indiferente ao que acontece no interior dos lares com as crianças
e com os adolescentes. Porém, reforce-se, que isso é relativamente recente. 7. Toda essa evolução
é verificada no Brasil, como um reflexo de um movimento internacional pela proteção das crianças.
Chamando a atenção para a importância dos instrumentos internacionais na positivação e na
interpretação do direito penal pátrio, o em. Ministro João Otávio de Noronha, em voto lapidar no
EREsp 1.530.637/SP, lembra que o Brasil está obrigado, perante seus pares, a adotar medidas
legislativas para proteger às crianças (todos aqueles com menos de 18 anos completos) de qualquer
forma de abuso sexual. 8. Este Superior Tribunal de Justiça, em várias oportunidades, já se
manifestou no sentido de que a prática de qualquer ato libidinoso, compreendido como aquele
destinado à satisfação da lascívia, com menor de 14 anos, configura o delito de estupro de
vulnerável (art. 217-A do CP). Não se prescinde do especial fim de agir: "para satisfazer à lascívia".
Porém, não se tolera as atitudes voluptuosas, por mais ligeiras que possam parecer. Em alguns
precedentes, ressaltou-se até mesmo que o delito prescinde inclusive de contato físico entre vítima
e agressor. 9. Com efeito, a pretensão de se desclassificar a conduta de violar a dignidade sexual de
pessoa menor de 14 anos para uma contravenção penal (punida, no máximo, com pena de prisão
simples) já foi reiteradamente rechaçada pela jurisprudência desta Corte. 10. A superveniência do
art. 215-A do CP (crime de importunação sexual) trouxe novamente a discussão à tona, mas o
conflito aparente de normas é resolvido pelo princípio da especialidade do art. 217 -A do CP, que
possui o elemento especializante "menor de 14 anos", e também pelo princípio da subsidiariedade
expressa do art. 215-A do CP, conforme se verifica de seu preceito secundário in fine. 11. Além
disso, a cogência do art. 217-A do CP não pode ser afastada sem a observância do princípio da
reserva de plenário pelos tribunais (art. 97 da CR). 12. Não é só. Desclassificar a prática de ato
libidinoso com pessoa menor de 14 anos para o delito do art. 215-A do CP, crime de médio potencial
ofensivo que admite a suspensão condicional do processo, desrespeitaria ao mandamento
constitucional de criminalização do art. 227, § 4º, da CRFB, que determina a punição severa do
abuso ou exploração sexual de crianças e adolescentes. Haveria também descumprimento a tratados
internacionais. 13. De fato, de acordo com a convicção pessoal desta Relatoria, o legislador pátrio
poderia, ou mesmo deveria, promover uma graduação entre as espécies de condutas sexuais
praticadas em face de pessoas vulneráveis, seja por meio de tipos intermediários, o que poderia ser
feito através de crimes privilegiados, ou causas especiais de diminuição. De sorte que, assim, tornar-
se-ia possível penalizar mais ou menos gravosamente a conduta, conforme a intensidade de contato
e os danos (físicos ou psicológicos) provocados. Mas, infelizmente, não foi essa a opção do
legislador e, em matéria penal, a estrita legalidade se impõe ao que idealmente desejam os
aplicadores da lei criminal. 14. Verifique-se que a opção legislativa é pela absoluta intolerância
com atos de conotação sexual com pessoas menores de 14 anos, ainda que superficiais e não
invasivos. Toda a exposição até aqui demonstra isso. E, essa opção, embora possa não parecer a
melhor, não é de todo censurável, pois, veja-se, "o abuso sexual contra crianças e adolescentes é
problema jurídico, mas sobretudo de saúde pública, não somente pelos números colhidos, mas
também pelas graves consequências para o desenvolvimento afetivo, social e cognitivo". Nesse
sentido, "não é somente a liberdade sexual da vítima que deve ser protegida, mas igualmente o livre
e sadio desenvolvimento da personalidade sexual da criança" (BIANCHINI, A.; MARQUES, I. L.;
ROSSATO, L. A.; SILVA, L. P. E.; GOMES, L. F.; LÉPORE, P. E.; CUNHA, R. S. Pedofilia e
abuso sexual de crianças e adolescentes. São Paulo: Saraiva, 2013, e-book, Introdução, cap. 1). 15.
Tanto a jurisprudência desta Corte Superior quanto a do Supremo Tribunal Federal são pacíficas
em rechaçar a pretensão de desclassificação da conduta de praticar ato libidinoso com pessoa menor
de 14 anos para o crime de importunação sexual (art. 215-A do CP). Precedentes. 16. Tese: presente
o dolo específico de satisfazer à lascívia, própria ou de terceiro, a prática de ato libidinoso com
menor de 14 anos configura o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP),
independentemente da ligeireza ou da superficialidade da conduta, não sendo possível a
desclassificação para o delito de importunação sexual (art. 215-A do CP). 17. Solução do caso
concreto: recurso especial provido para restabelecer a sentença condenatória de 1º grau, que
reconheceu a tentativa de estupro de vulnerável.

(STJ - REsp: 1959697 SC 2021/0288713-5, Data de Julgamento: 08/06/2022, S3 - TERCEIRA


SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 01/07/2022)

COMENTARIO:
A priori, o capitulo VI do Código Penal possui um rol extenso de crimes. No caso em tela, estamos
diante de uma ação que discorre sobre o Estupro de vulnerável. Ter conjunção carnal ou praticar
outro ato libidinoso com menor de 14 anos, Incorre na mesma pena quem pratica as ações com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

Sujeitos Ativo: Qualquer pessoa. Passivo: Qualquer pessoa vulnerável. Consumação: No momento
em que é realizada o ato. TOME NOTA: As penas aplicam-se INDEPENDENTE do consentimento
da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.

Formas qualificadas:

Se resultar:

a) Lesão corporal grave: Pena de reclusão, de dez a vinte anos.

b) Morte: Pena de reclusão, de doze a trinta anos.

Na jurisprudência, os Ministro discutem se mantem a condenação do juízo de 1º grau, pois este


considerou a tentativa como crime. Como discutido em sala, não resta quaisquer duvida que o estupro
permite a tentativa, haja vista que se resta comprovada a vontade de satisfazer o desejo lascivo do
sujeito ativo. Vê no caso que ele possuía o desejo de manter conjunção carnal com a vítima e mesmo
não concluindo o ato, sua mera vontade, se ficar comprovado o desejo configura o crime.

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