Vicente-Kuperman-Funahashi-61CBC4880-Termicos e DEF Eólicas
Vicente-Kuperman-Funahashi-61CBC4880-Termicos e DEF Eólicas
Vicente-Kuperman-Funahashi-61CBC4880-Termicos e DEF Eólicas
(1) Grazielle Ribeiro Vicente (2) Selmo Chapira Kuperman (3) Eduardo I. Funahashi Jr.
Resumo
Bases de aerogeradores de usinas eólicas normalmente são estruturas massivas de concreto, portanto são
mais suscetíveis à fissuração de origem térmica e à formação da etringita tardia, por este motivo torna-se
necessário o controle da elevação de temperatura em seu interior, através da utilização de dosagem de
concreto adequada e definição do plano de concretagem, conforme condições da obra. Este trabalho mostra
como é possível reduzir a ocorrência dessas manifestações patológicas em bases de aerogeradores e
apresenta os resultados do estudo de temperaturas e tensões de origem térmica. Para o zoneamento das
temperaturas de lançamento do concreto e definição do plano de camadas de concretagem o estudo
empregou um modelo tridimensional de elementos finitos utilizando-se o software B4cast. As bases dos
aerogeradores, objeto deste estudo, possuem diâmetro de 17,6m, altura de 2,85m, com volume teórico de
464 m³ e foram concretadas em uma única etapa. A resistência característica do concreto é de 30 MPa aos
28 dias. Para comparação com os valores de temperaturas obtidos nas simulações, durante e após a
concretagem, foram instalados termômetros no interior da estrutura. Os resultados demonstraram a
importância dos estudos térmicos, através de simulação computacional, para definição do nível de
refrigeração do concreto fresco e escolha da metodologia construtiva e logística adequada. Chama-se a
atenção para a importância de simulação computacional para diminuição dos riscos de fissuração do
concreto, permitindo a construção de estruturas mais seguras e duráveis.
Palavra-Chave: concreto massa, fissura, software b4cast, estudo térmico, refrigeração do concreto.
Abstract
Foundation blocks of wind turbine tower are usually massive concrete structures, therefore they are more
susceptible to thermal cracking and delayed ettringite formation, for this reason it is necessary to control
temperature elevation, through the use of adequate mix design and concrete placement planning according
to the local conditions. This work presents how it is possible to reduce the occurrence of these pathological
manifestations in foundation blocks and the results of the study of temperatures and thermal stresses. This
study used a three-dimensional model of finite elements using the B4cast software to define the temperature
at the time of concrete placement and the concrete placement planning. The blocks of this study have a
diameter of 17.6m, 2.85m high comprising a theoretical volume of 464 m³. The concrete was specified as a
characteristic strength of 30 MPa at 28 days. Thermometers were installed inside the structure for
comparison with the temperature values obtained in the simulations, during and after concreting. The results
demonstrated the importance of thermal studies through computational simulation to define the placing
temperature and concrete placement planning. It shows the importance of computational simulation to
reduce the risks of concrete cracking and making structures safer and more durable.
Keywords: mass concrete; crack; b4cast software, thermal study, cooling concrete.
Em algumas obras observa-se que ainda há dúvidas sobre quais estruturas podem ser
consideradas como concreto massa e como minimizar a elevação de temperatura nestas
estruturas para mitigar as manifestações patológicas devido as reações de hidratação do
cimento. Por definição, concreto massa é qualquer volume de concreto com dimensões
grandes o suficiente que requeiram meios especiais para controlar o calor gerado pela
hidratação do cimento e a consequente mudança de volume, a fim de minimizar o risco de
fissuração (ACI COMMITTE 116, 2000).
A fissuração de origem térmica pode ocorrer em peças cuja menor dimensão seja
inclusive de 1 m, dependendo das restrições existentes e do calor gerado (Sachs, 2012).
Uma estrutura massiva de concreto apresenta grande geração de calor, devido às
reações exotérmicas do material cimentício e a seguir queda de temperatura até o
equilíbrio com o meio ambiente. Esta queda de temperatura poderá originar elevadas
tensões de tração que, se superarem a resistência à tração do concreto, resultarão em
fissuras que podem ser indesejáveis. Além disso, é importante considerar como fator
limitante a temperatura máxima no interior da estrutura de 65°, para evitar a possibilidade
de eventual formação de etringita tardia no futuro.
O aparecimento da DEF pode ocorrer após poucos meses ou alguns anos após a
execução da estrutura, dependendo de vários fatores, sendo o principal deles a
disponibilidade de água. O processo expansivo pode resultar em fissuração e redução
das características mecânicas do concreto podendo provocar deformações não previstas
em projeto além de aumento nas tensões de tração no concreto e na armadura, por este
motivo é importante mitigar esta manifestação patológica.
3. Estudo térmico
Para determinar as condições necessárias para a execução das bases, a fim de evitar
manifestações patológicas, decidiu-se fazer uma simulação computacional, usando o
software de elementos finitos B4cast versão 4.03.
40
35 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
30
Resistência(MPa)
25
20
15
10
5 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Tempo(dias)
Resistência à Tração Resistência à Compressão
Gráfico 1. Evolução estimada da resistência à tração e à compressão (fck=30MPa)
30000
Módulo de Elasticidade (MPa)
25000
20000
15000
10000
5000
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Tempo (dias)
MÓDULO DE ELASTICIDADE (MPa)
Gráfico 2. Evolução do módulo de elasticidade secante do concreto.
Como parte dos dados relativos ao concreto foram obtidos da bibliografia, considerou-se
adequado supor que a fluência reduzisse as tensões de tração em cerca de 30%,
seguindo comentários do comitê ACI-207 “Mass Concrete”.
A partir destes valores, foi ajustada uma curva de evolução do calor de hidratação do
cimento CP IV 32, conforme apresentado no Gráfico 3.
270
264 278
240 258
245
210
Calor de Hidratação (J/g)
221
180
150
120
90
60
30
0
0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Tempo(horas)
CURVA DA EVOLUÇÃO DO CALOR DE HIDRATAÇÃO - CP IV 32
DADOS DO ENSAIO (CALOR DE HIDRATAÇÃO)
Gráfico 3. Evolução do calor de hidratação do cimento CP IV 32
40
30
20
10
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28
Tempo(dias)
Gráfico 4. Evolução da Base
elevação adiabática do concreto
aerogeradores
As características adotadas para a base de apoio foram estimadas com base em dados
de bibliografia, periódicos e dissertações existentes, considerando apoiada em solo-
cimento com concreto magro de nivelamento com espessurra de 10 cm e f ck=15MPa,
base de concreto de fck=25 MPa na parte central de 33 cm de espessura sobre uma
camada de isopor de 20 cm.
Figura 2. Isotermas na seção longitudinal a partir dos cálculos de temperaturas – 45 horas após o início do
lançamento do concreto – Temperatura de lançamento do concreto=15°C
A partir das isotermas, para análise dos resultados, foram escolhidas as regiões mais
críticas, ou seja, onde ocorrem as maiores temperaturas e com probabilidade de maiores
tensões. A localização dos pontos de estudo é apresentada na Tabela 3.
72
70
Temperaturas Máximas (°C)
68
66
62
60
Temperatura Máxima =60°C
58
56
54
14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
Temperatura de Lançamento (°C)
A (h=0,80m) B (h=0,90m) C (h=1,00m) D (h=1,10m)
64
Temperatura Máxima =65°C
Temperaturas Máximas (°C)
62
Temperatura Máxima =60°C
60
58
56
54
52
50
14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
Temperatura de Lançamento (°C)
E (h=2,04m) F (h=2,20m) G (h=2,36m) H (h=2,45m)
6,0
5,5
5,0
3,0
2,5
2,0
1,5
14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
Temperatura de Lançamento (°C)
E (h=2,04m) F (h=2,20m) G (h=2,36m) H (h=2,45m) fct(Fluência e FS=1,2) fct(Fluência e FS=1,1)
A temperatura dos agregados medida nas baias foi de 36°C na superfície e 26°C no seu
interior, por este motivo foi adotado o valor médio de 31°C. Além disso, considerou-se a
umidade da areia igual a 3% e da brita igual a 1%.
Com base nisso, foi necessário adicionar, no mínimo, 112 kg/m³ de gelo para obter um
concreto com temperatura de lançamento igual ou inferior a 18°C e 75 kg/m³ de gelo para
obter um concreto com temperatura de lançamento igual ou inferior a 24°C.
ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 11
5. Monitoramento das temperaturas em campo
Além do controle da temperatura de lançamento do concreto, foi feito o monitoramento
das temperaturas durante e após a concretagem, através da instalação de termopares no
interior da estrutura.
Gráfico 11. Comparação das temperaturas do Gráfico 12. Comparação das temperaturas do
termopar C termopar D
Gráfico 15. Comparação das temperaturas do Gráfico 16. Comparação das temperaturas do
termopar G termopar H
6. Conclusões
Com base na análise dos resultados deste estudo foi possível perceber que os resultados
de temperaturas obtidos através das simulações computacionais se aproximaram dos
valores reais obtidos em campo e isto mostra a eficiência dos estudos térmicos.
Neste caso, além de evitar possíveis fissuras de origem térmica, foi possível também
reduzir a probabilidade de formação de etringita tardia no futuro, através da especificação
da temperatura de lançamento máxima do concreto fresco. Essas manifestações
patológicas, caso ocorressem, poderiam afetar o desempenho e durabilidade das
estruturas, gerando custos adicionais referentes aos serviços de reparos e/ou
recuperação, além também de prejudicar o cronograma da obra.
7. Referências
ACI Committee 207, Mass Concrete. American Concrete Institute.
Gambale, E. A.; Castro, A.; Andrade, M. A. S.; Traboulsi, M. A. Análise estatística dos
parâmetros que intervêm no fenômeno térmico do concreto massa. 52° Congresso
Brasileiro do Concreto, IBRACON. Fortaleza, 2010.