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DIREITO CIVIL

Parte Geral - I

Livro Eletrônico
Presidente: Gabriel Granjeiro
Vice-Presidente: Rodrigo Calado
Diretor Pedagógico: Erico Teixeira
Diretora de Produção Educacional: Vivian Higashi
Gerência de Produção de Conteúdo: Magno Coimbra
Coordenadora Pedagógica: Élica Lopes

Todo o material desta apostila (incluídos textos e imagens) está protegido por direitos autorais
do Gran Cursos Online. Será proibida toda forma de plágio, cópia, reprodução ou qualquer
outra forma de uso, não autorizada expressamente, seja ela onerosa ou não, sujeitando-se o
transgressor às penalidades previstas civil e criminalmente.

CÓDIGO:
230322218016

CARLOS ELIAS

Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito


Agrário (único aprovado no concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de
graduação, de pós-graduação e de preparação para concursos públicos em Brasília,
Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado da União).
Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre
em Direito pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar
em Direito no vestibular da UnB de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de
Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do Conselho Editorial da Revista
de Direito Civil Contemporâneo.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Direito Civil
Parte Geral - I
Carlos Elias

SUMÁRIO
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Parte Geral – I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1. Constitucionalização do Direito Civil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2. Diretrizes Teóricas do Código Civil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3. Corolários da Boa-Fé Objetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3.1. Proibição da Venire contra Factum Proprium. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.2. Supressio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.3. Surrectio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.4. Tu Quoque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
4. Teoria do Inadimplemento Mínimo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
5. Duty to Mitigate the Loss ou Dever de Mitigar as Próprias Perdas . . . . . . . . . . . . 14
6. Alguns Princípios Gerais de Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
6.1. Princípio do Aviso Prévio a uma Sanção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
6.2. Princípio da Proteção Simplificada do Agraciado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
6.3. Princípio da Proteção Simplificada do Luxo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Questões de Concurso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Gabarito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Gabarito Comentado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

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Parte Geral - I
Carlos Elias

APRESENTAÇÃO
Olá, meus amigos e minhas amigas!
O foco da aula de hoje é tratar de alguns pressupostos essenciais do Direito Civil. Isso
não é cobrado com tanta frequência nos concursos. Todavia, quando esse tema é exigido em
prova, a maior parte dos candidatos deixa de responder, o que fará você ficar em vantagens
no concurso. Lembre-se de que não basta passar no concurso; é necessário você também
ser nomeado. Isso significa que acertar questões que os demais candidatos deixam em
branco é uma vantagem significativa.

RESUMO
Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para
os exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu
aprofundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade
com as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver
familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois,
ir às questões.
O resumo desta aula é este:
• A Constitucionalização do Direito Civil é um movimento que estabelece que o Direito
Civil deve ser submetido ao Direito Constitucional, o que implica a despatrimonialização
(a pessoa humana é mais importante do que o patrimônio no Direito Civil), a
repersonalização (pessoa não é mero agente econômico, e sim algum com direito
à dignidade) e a eficácia horizontal dos direitos fundamentais (a possibilidade de
aplicação de normas e princípios constitucionais diretamente em relações de Direito
Civil);
• O Código Civil foi elaborado com base em três diretrizes teóricas: eticidade (valorização
da boa-fé objetiva), socialidade (valorização da função social) e operabilidade (o Código
foi redigido de modo a ser didático e com texto aberto a diversas interpretações);
• São corolários da boa-fé objetiva: (1) a proibição da venire contra factum proprium;
(2) a supressio; (3) a surrectio; (4) o tu quoque;
• Se o devedor cumpriu parcela substancial da dívida, não cabe a resolução do contrato
em nome da teoria do adimplemento substancial (= teoria do inadimplemento mínimo);
• O credor não pode adotar conduta oportunista que aumente o valor da dívida em
razão da duty to mitigate the loss;
• Princípio do aviso prévio a uma sanção: é necessário notificar a pessoa previamente
a uma sanção. Ex.:

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−Prisão civil de alimentos;


−Busca e apreensão em alienação fiduciária ou leasing;
−Consolidação de imóvel alienado fiduciariamente;
−Cancelamento de seguro ou plano de saúde por inadimplência;
−Negativação no Serasa, ainda que seja a partir de negativação feita no CCF, que é
um cadastro de acesso restrito;
− outros casos;
• Princípio da proteção simplificada do agraciado: direito civil não dá prestígio ao
agraciado. Ex.:
− dispensa de consilium fraudis na fraude contra credores;
− interpretação restritiva;
− formalismo;
− inaplicabilidade de vício rebiditório e de evicção;
− transportador só responde por culpa grave ou dolo no caso de carona;
− outros;
• Princípio da proteção simplificada do luxo: direito civil não dá prestígio a luxo. Ex.:
− possuidor de boa-fé não pode exigir indenização por benfeitorias voluptuárias;
− quorum é mais rigoroso no condomínio edilício para a realização de benfeitorias voluptuárias;
− móveis suntuosos que guarnecem bem de família podem ser penhorados;
− benfeitorias voluptuárias não são indenizáveis em desapropriação
− outros.

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PARTE GERAL – I

1. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL

Todos os institutos devem


ser lidos à luz dos princípios
e regras constitucionais

Dignidade da pessoa
Despatrimonialização
humana > patrimônio
Constitucionalização
do Direito Civil
Indivíduo (e não o
Repersonalização patrimônio) = CENTRO
da tutela jurídica

Eficácia horizontal dos Aplicação entre


direitos fundamentais particulares

Amigos e amigas, o Direito Civil atual mudou bastante. Falamos muito de um Direito
Civil Constitucional na atualidade.
A ideia é a de que todas as instituições de Direito Civil devem ser lidas à luz dos
princípios e das regras constitucionais, conforme metodologia doutrinária conhecida como
Constitucionalização do Direito Civil ou como “Direito Civil Constitucional”.
Essa metodologia (ou movimento) encontra berço no pensamento do jurista italiano
Pietro Perlingieri e se insurge contra os fundamentos antigos do direito civil clássico para,
nas palavras do professor da UERJ Carlos Nelson Konder, defender um direito civil capaz de
ser um verdadeiro instrumento de “emancipação das pessoas e de transformação social,
rumo a uma comunidade mais justa e solidária”. O professor da UERJ Gustavo Tepedino e a
professora Maria Celina Bodin de Moraes foram os principais responsáveis por trazer essa
metodologia para a doutrina brasileira, que conta atualmente com a adesão de autores do
porte do professor Paulo Luiz Neto Lôbo e Luiz Edson Fachin.
Por essa metodologia, condena-se a visão individualista em que se assentava o Código Civil
de 1916. Miguel Reale costumava afirmar que havia duas leis fundamentais no País: o Código
Civil, que era a “constituição do homem comum”, e a Constituição Federal, que estrutura o
Estado. Essa concepção não retrata, porém, a perspectiva constitucional do Direito Civil, que

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fixa a Constituição Federal como a única lei fundamental, à qual deve estar subordinado todo
o direito civil.
A propósito, conforme destaca o professor Paulo Lôbo, a Constitucionalização do
Direito Civil implica colocar o indivíduo, e não o patrimônio, no centro da tutela jurídica e
a não mais enxergar o indivíduo como um mero homos economicus, perspectiva essa que
é conhecida como Repersonalização e Despatrimonialização do Direito Civil. Enaltece-se,
assim, a dignidade da pessoa humana como vetor de condução do Direito Civil.
Em suma, pode-se atribuir ao movimento da constitucionalização do Direito Civil as
principais diretrizes: (1) despatrimonialização: o centro da tutela jurídica é a dignidade da
pessoa humana, e não o patrimônio; (2) repersonalização: a pessoa não é mais vista como
um mero agente econômico, e sim como o centro da tutela do direito; (3) eficácia horizontal
dos direitos fundamentais: os direitos fundamentais, que tradicionalmente eram aplicados
apenas nas relações entre Estado e indivíduo (vertical), devem também ser aplicados a
relações entre particulares (horizontal), a exemplo do princípio do contraditório antes de
excluir associado por justa causa (art. 57, CC) ou de infligir uma sanção a condômino (art.
1.337, CC).
Uma outra consequência é a de que o Direito Civil Constitucional prestigia normas com
cláusulas abertas e conceitos jurídicos indeterminados, os quais dão liberdade ao civilista
para acoplar os casos concretos aos princípios constitucionais.
Os contornos do Direito Civil Constitucional foram bem resumidos no documento
conhecido como “Carta de Curitiba”, no qual os Grupos de Pesquisa de Direito Civil dos
Programas de Pós-Graduação das Faculdades de Direito da Universidade Federal do Paraná
e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro editaram seis proposições que, em suma,
realçam a aplicação dos direitos fundamentais entre particulares, a rejeição do método
de subsunção, a supremacia do paradigma principiológico, a mudança do ensino jurídico e
a sobrevalorização da dignidade da pessoa humana (FACHIN e TEPEDINO, 2006).

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2. DIRETRIZES TEÓRICAS DO CÓDIGO CIVIL


Prestigia a FUNÇÃO
SOCIAL do direito em
Socialidade
oposição ao
INDIVIDUALISMO

Diretrizes teóricas
Eticidade Boa-fé objetiva
do CC/2002

Fácil manuseio pelo


Operabilidade
operador do direito

Alinhada à perspectiva constitucional do Direito Civil, é preciso recordar que o novo


Código Civil foi elaborado pela comissão de juristas coordenada por Miguel Reale sob três
Diretrizes Teóricas, que também são conhecidas como baldrames axiológicos do Código Civil.
A primeira foi a Socialidade, segundo a qual o novo diploma prestigia a função social do
Direito em oposição ao individualismo marcante do anterior Código.
A segunda é a Eticidade, de acordo com a qual a boa-fé objetiva foi prestigiada pelo
novo Código, ao exigir condutas éticas dos indivíduos.
A terceira é a Operabilidade, à luz da qual o novo Código buscou ser facilmente manuseável
pelos operadores do Direito, do que dá exemplo tanto a reunião dos prazos prescricionais
nos arts. 205 e 206 do Código quanto a utilização de conceitos jurídicos indeterminados e de
cláusulas abertas para permitir que o texto normativo satisfaça às necessidades advindas
das transformações sociais futuras.

3. COROLÁRIOS DA BOA-FÉ OBJETIVA


Como ensina o professor lusitano Menezes Cordeiro, a boa-fé objetiva condena o exercício
de posições jurídicas contraditórias, do que podem ser extraídas várias figuras parcelares da
boa-fé objetiva, dos quais trataremos de quatro mais abaixo, a saber: a proibição da venire
contra factum proprium, supressio, surrectio e tu quoque. Trata-se de uma decorrência do
princípio da confiança.

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3.1. PROIBIÇÃO DA VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM

Proibição de conduta
contraditória

Proibição de venire contra São ilícitas as


Boa-fé objetiva
factum proprium condutas que frustem a
LEGÍTIMA EXPECTATIVA
criada pela conduta
anterior

De acordo com a venire contra factum proprium, também batizada como princípio
da proibição do comportamento contraditório, em nome da boa-fé objetiva, devem ser
consideradas ilícitas condutas que frustrem a legítima expectativa criada por uma conduta
anterior. Para ilustrar, o STJ não admitiu o pedido, feito pela esposa, de anulação de uma
promessa de compra e venda de imóvel feito pelo marido sem a outorga uxória, pois a esposa,
em ação judicial anterior proposta por terceiro em busca do imóvel, havia denunciado a lide
ao promitente comprador, a fim de que este integrasse a lide como litisdenunciado (STJ,
REsp 277.284, 4ª T., Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 12/03/2001).

3.2. SUPRESSIO

Perda de um Cria LEGÍTIMA


Boa-fé objetiva Supressivo direito em razão da EXPECTATIVA
INÉRCIA em terceiro

Supressivo e
É DIFERENTE da
prescrição
prescrição
coexistem

A supressio consiste na perda de um direito em razão de inércia capaz de criar uma legítima
expectativa em terceiro. Um dos primeiros casos em que se aplicou a supressio foi na Alemanha,
no início do século XX, quando a Corte alemã decidiu que um credor perdeu o direito à correção
monetária por ter-se mantido inerte em exigi-la durante o período de dois meses em uma

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época de vertiginosa espiral inflacionária. O STJ, entre outros casos, já aplicou a supressio
para condenar um proprietário de uma padaria a pagar indenização de R$ 15.000,00 a uma
moradora do mesmo prédio em razão dos barulhos provocados pelos maquinários durante a
madrugada. Nesse caso, a padaria havia alegado que a convenção do condomínio previa apenas
a destinação comercial das unidades autônomas. Todavia, o STJ entendeu que o condomínio
e, consequentemente, os demais condôminos perderam o direito de exigir essa destinação
exclusivamente comercial, por terem sido omissos durante muitos anos diante da ostensiva
ocupação residencial de uma moradora (STJ, REsp 1096639/DF, 3ª T., Rel. Min. Nancy Andrighi,
DJe 12/02/2009).
Outro caso de supressio ocorre quando, em um contrato de compra e venda de combustível,
há cláusula exigindo um volume mínimo de aquisição mensal. Suponha que, nesse caso, o
comprador realize, sem qualquer insurreição do comprador, pedidos mensais em volume
inferior ao mínimo contratual durante todo o tempo de vigência contratual. Ao final do
contrato, o vendedor não poderá posteriormente pleitear a multa contratual estabelecida
pelo descumprimento do consumo mínimo em nome da supressio, conforme decidiu o STJ
(REsp 1374830/SP, 3ª T., Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 03/08/2015).
A supressio nada tem a ver com a prescrição. Os institutos coexistem. No exemplo acima,
ainda que não esteja prescrita a pretensão de cobrança da multa pelo descumprimento do
consumo mínimo, operou-se a supressio contra o vendedor.

3.3. SURRECTIO

Aquisição de
um direito em Legítima expectativa
razão de condutas no autor dessas
antijurídicas condutas
Boa-fé objetiva Surrectio reiteradas

É o contrário da
supressio

A surrectio consiste na aquisição de um direito em razão de condutas antijurídicas


reiteradas com a capacidade de criar a legítima expectativa no autor dessas condutas.
É o contrário da supressio. Maria Helena Diniz afirma que surrectio e supressio são faces
da mesma moeda. Por exemplo, no caso acima do condomínio, pode-se afirmar que, sob
a ótica da moradora, houve surrectio, pois ela adquiriu o direito de imprimir destinação

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residencial à sua unidade autônoma em razão de sua conduta reiterada de descumprir a


convenção condominial. Igualmente, no caso acima de compra de combustível, a conduta
reiterada do comprador de violar a cláusula de consumo mínimo rendeu-lhe a surrectio.

3.4. TU QUOQUE

Veda que alguém se


beneficie da própria Ex: exceptio non
Boa-fé objetiva Tu quoque torpeza, baseado adimpleti contractus
em norma que ele (art. 476, CC/2002)
mesmo violou

O tu quoque, a seu turno, veda que alguém se aproveite da própria torpeza, exigindo direitos
com base em uma norma que ele violou. A exceptio non adimpleti contractus, prevista no art.
476 do Código Civil, é um exemplo. Ainda a título de exemplo, Nelson Rosenvald e Cristiano
Chaves citam interessante caso julgado por tribunal português. Nesse caso, a corte lusitana
entendeu que era incabível a alegação de inexistência de um contrato de compra e venda
de veículo por parte do comprador, pois este, anteriormente, havia retido dolosamente o
contrato que lhe fora enviado para assinatura.

4. TEORIA DO INADIMPLEMENTO MÍNIMO

Função social

Vedação ao
enriquecimento
sem causa
Fundamentos
Teoria do
INADIMPLEMENTO Boa-fé
MÍNIMO ou
adimplemento
Afasta a medida
substancial Vedação ao
drástica da resolução
abuso de direito
contratual

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Meus caros e minhas caras, ainda há outra teoria que vocês precisam conhecer. Trata-
se da teoria do inadimplemento mínimo.
Com fundamento na função social (arts. 421 e 2.035, parágrafo único, CC), na vedação ao
abuso de direito (art. 187, CC), na boa-fé (arts. 113 e 422, CC) e na vedação ao enriquecimento
sem causa (art. 884, CC), o Direito brasileiro acolhe a teoria do adimplemento substancial,
também batizada de teoria do inadimplemento mínimo ou da substantial performance.
Em suma, a referida teoria condena a medida drástica da resolução1 do negócio jurídico
quando a parte tiver descumprido apenas uma parcela pequena (daí o nome “inadimplemento
mínimo”) do contrato após já ter honrado com uma parcela substancial da dívida. A aferição
da expressividade do adimplemento deve levar em conta aspectos não apenas quantitativos,
mas também qualitativos (conforme enunciado n. 586/CJF). E, nesse juízo, deve-se atentar
para a dimensão da consequência do inadimplemento no caso concreto e para o grau de
importância da parte inadimplida, como lembra o Ministro Sidnei Beneti2. A aferição da
dimensão do inadimplemento – se é mínimo ou não – sempre dependerá da análise dos
casos concretos diante da inexistência de um critério prévio e fixo para tanto.
O objetivo é a manutenção do negócio jurídico nesses casos em que o devedor adimpliu
substancialmente a dívida, ou seja, teve uma performance substancial na execução do
contrato, de modo que o seu inadimplemento foi mínimo.
Alerte-se que essa teoria não implica extinção da dívida, mas apenas afasta a adoção de
medidas desproporcionais pelo credor, como a resolução do contrato. Isso significa que o
credor poderá servir-se dos meios ordinários de cobrança da dívida, seja os extrajudiciais –
como o protesto ou a inscrição do nome do devedor em cadastros de inadimplentes (como
o Serasa) –, seja os judiciais, como uma ação de cobrança.
Se, por exemplo, alguém vende um imóvel por preço a ser pago em 100 prestações, não
é razoável que o vendedor pleiteie a resolução do contrato se o comprador, após ter pago,
por exemplo, 99 prestações, descumpriu apenas a última. O adimplemento foi substancial.
Interessante exemplo é dado pelo notável professor da USP Otávio Luiz Rodrigues Junior,
que, com apoio em Edwart Errante3, lembra que uma empreiteira tem o direito de receber
o valor dos seus serviços se, diante de um projeto arquitetônico apresentado pelo dono
da obra para a construção de uma casa, somente cometeu uma falha: deixou de instalar
as maçanetas de duas portas na forma indicada no projeto. Dada a insignificância desse

1
Resolução é uma hipótese de extinção do contrato por inadimplemento. O verbete “resolver” também significa “acabar”. Por
isso, é usual a frase “vamos resolver o problema” com o significado acabar com o problema. Resolver o contrato é extinguir o
contrato.
2
REsp 1215289/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2013, DJe 21/02/2013.
3
O caso é lembrado pelo Ministro Antonio Carlos Ferreira no seu voto proferido neste julgado: REsp 1581505/SC, 4ª Turma,
Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, DJe 28/09/2016.

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inadimplemento diante de toda a obra, a teoria do inadimplemento mínimo impedirá a


resolução do contrato, mas permitirá que seja cobrado apenas a indenização por perdas e
danos cabíveis (o valor das maçanetas e o custo da instalação por terceiros). O dono da obra
terá de pagar o preço pactuado, do qual se poderá deduzir apenas o valor dessa indenização.
O STJ analisou outro caso interessante e entendeu que o não pagamento da última parcela
do prêmio de um seguro de dano não teria implicado a extinção do contrato de seguro,
de modo que o segurado tinha o direito de cobrar o pagamento da cobertura securitária
diante de um acidente ocorrido com o seu veículo. A seguradora só poderá cobrar o valor
dessa parcela inadimplida (REsp 76.362/MT, 4ª Turma, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar,
DJ 01/04/1996). Ressalva-se que esse julgado antigo não retrata exatamente a orientação
mais atual do STJ, que tende a admitir a resolução do contrato sempre que o segurador
tiver notificado previamente o segurado para purgar a mora, ou seja, para pagar a prestação
atrasada, independentemente da dimensão do inadimplemento (REsp 318.408/SP, 3ª Turma,
Rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, DJ 10/10/2005).
Há controvérsia acerca da aptidão da teoria para, além de impedir a extinção do contrato,
coibir a adoção de meios de cobrança que sejam considerados excessivos.
Por exemplo, a jurisprudência oscilou bastante em definir se, nos casos de financiamento
de veículos com alienação fiduciária em garantia, a teoria do adimplemento substancial seria
ou não admissível a execução de uma garantia fiduciária por meio da busca e apreensão do
bem e da consequente consolidação da propriedade fiduciária. O STJ, após um considerável
período de precedentes estendendo a teoria para inibir esse meio executivo, pacificou o
entendimento em sentido contrário, definindo que a teoria não obsta a execução da busca
e apreensão e da consolidação do bem. O fundamento principal foi o de que a boa-fé e a
função social do contrato seriam desvirtuadas se o credor perdesse o direito de executar
uma garantia essencial ao seu crédito com fundamento em autorização legal expressa (o
Decreto-Lei n. 911/67), o que comprometeria o “desenvolvimento da economia nacional”
(STJ, REsp 1622555/MG, 2ª Seção, Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Ministro Marco
Aurélio Belizze, DJe 16/03/2017).
Sob essa perspectiva, a teoria do inadimplemento substancial não pode infertilizar
nenhuma garantia das obrigações, como propriedades fiduciárias, hipotecas, penhores etc.
A teoria apenas impede a resolução do contrato, mas não a cobrança da dívida por todos
os meios coercitivos disponíveis, com execução das garantias da dívida.
Temos por acertada a opção do STJ sob a ótica do Direito Civil Constitucional, cujos
contornos já definimos ao tratarmos da Parte Geral. Impedir a execução de garantias da
dívida geraria diversos efeitos indesejados, como o aumento dos preços dos produtos
como forma de compensar a inadimplência (de modo que os bons pagadores pagarão pelas
extravagância dos maus pagadores) e a insegurança no mercado de investimentos diante

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da lembrança de que é extremamente comum haver venda de títulos mobiliários lastreados


em créditos com garantia (a exemplo do Certificado de Recebível Imobiliário, que é vendido
na Bolsa de Valores e que geralmente se lastreiam em créditos garantidos por alienação
fiduciária em garantia de imóveis).

5. DUTY TO MITIGATE THE LOSS OU DEVER DE MITIGAR AS


PRÓPRIAS PERDAS
Credor tem o dever de
mitigar as próprias perdas

Duty mitigate the loss


Vedação a comportamento
oportunista por parte do Boa-fé objetiva
CREDOR, às custas do
DEVEDOR

Amigos e amigas, tenho por importante que você conheça algumas outras teorias
relevantes. A primeira delas é a teoria da substantial performance.
Não é apenas o devedor, mas também o credor quem deve observar a boa-fé objetiva.
O duty to mitigate the loss, também chamado de dever de mitigar as próprias perdas,
estabelece que o credor não pode adotar conduta oportunista que estimule o aumento da
dívida com o objetivo de obter proveitos. Compete, pois, ao credor adotar comportamentos
que colabore para que a dívida não se avoluma demasiadamente. Nas palavras do enunciado
n.169/CJF, “o princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do
próprio prejuízo”.
Assim, por exemplo, viola o duty to mitigate the loss quem, esperando obter um proveito
econômico considerável, aguarda dois anos para executar uma multa diária de R$ 1.000,00
fixada por um juiz para que o órgão de cadastro de inadimplentes (como o Serasa) apasse
uma negativação indevida. O credor da multa diária (astreintes) agrediu a boa-fé ao manter
uma omissão oportunista ao longo de dois anos, com o objetivo de conseguir um proveito
econômico de mais de R$ 730.000,00 por um lapso do órgão cadastral. O juiz, diante disso,
pode reduzir o valor total das astreintes diante da sua exorbitância por força da boa-fé
objetiva e do art. 814, parágrafo único, CPC.
Temos que, em nome do duty to mitigate the loss, é cabível a redução dos juros excessivos
cobrados por uma instituição financeira por uma dívida de cheque especial, especialmente
quando essa instituição manteve silêncio por longo período a fim de cobrar um montante
exorbitante. Em nome da boa-fé objetiva, competia à instituição financeira, ao menos,
contatar o devedor, informando-lhe dos juros estratosféricos a que ele estava exposto.
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Como se sabe, os juros do cheque especial são vertiginosamente superiores aos de um


empréstimo pessoal. Enquanto aqueles chegam a mais de 500% a.a., estes últimos ficam
na casa dos 60% a.a. Se o banco houvesse comunicado o devedor, é provável que ele
tivesse tentado obter um empréstimo pessoal, ainda que em outro banco, para estancar
essa sangria mortal. Temos que, nessas hipóteses, seria cabível a redução da dívida para o
montante equivalente ao da taxa de juros de um empréstimo pessoal, tudo em nome do
duty to mitigate the loss.
É evidente que, em outras situações de mútuos bancários, como naqueles em que alguém
contrai um empréstimo e posteriormente incorre em inadimplência, não se pode invocar o
duty to mitigate the loss para reduzir o valor dos encargos decorrentes da mora, pois, como
alertou o Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, “o estado de inadimplência e o crescimento da
dívida é de responsabilidade exclusiva do mutuário e não de um comportamento omissivo
do mutuante” (STJ, REsp 1489784/DF, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,
DJe 03/02/2016).

6. ALGUNS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO


Entre os vários princípios gerais de direito, destacamos três aqui que são extremamente
úteis para “decorar” inúmeras regras do Direito Civil. Esses três princípios estão na base
da elaboração de várias regras do Código Civil e das leis extravagantes, além de serem o
suporte de vários precedentes do STJ mesmo quando inexistia lei.
Sobre esses princípios, tivemos a oportunidade de escrever três artigos, que, aqui,
serão resumidos de forma sistemática. Se você tiver mais tempo, leia o artigo completo
para aprofundamento. Estes são os artigos, todos disponíveis no site www.flaviotartuce.
adv.br/artigos_convidados:
• “O Princípio do Aviso Prévio a uma Sanção”;
• “O princípio da proteção simplificada do luxo, o princípio da proteção simplificada
do agraciado e a responsabilidade civil do generoso”.

6.1. PRINCÍPIO DO AVISO PRÉVIO A UMA SANÇÃO


Permitir a
Princípio do AVISO Dever de notificar Deriva dos princípios pessoa possa
PRÉVIO a uma sanção antes de aplicar do CONTRADITÓRIO e defender-se,
uma SANÇÃO da BOA-FÉ OBJETIVA justificar-se ou
preparar-se

Em regra, antes de infligir qualquer sanção a um pessoa, deve-se notifica-la previamente


a fim de que ela possa se defender, se justificar ou simplesmente se preparar. Por sanção,

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deve-se entender qualquer restrição de direito imposta a uma pessoa. Esse é o princípio do
aviso prévio a uma sanção, que decorre do princípio do contraditório (que se aplica a relações
entre particulares) e da boa-fé objetiva.
São vários os exemplos de aplicação desse princípio (e é importante você gravar esses
exemplos):
• Prisão civil do devedor de alimentos: é necessário citar pessoalmente o devedor
previamente para, em três dias, pagar a dívida ou justificar sua inadimplência (art.
528, CPC);
• Busca e apreensão de veículo alienado fiduciariamente ou objeto de leasing: a ação
de busca e apreensão só pode ser ajuizado se, antes, o devedor tiver sido notificado
mediante envio de carta registrada com aviso de recebimento (AR) sem necessidade
de que o próprio devedor tenha sido quem assinou o AR (art. 2º, § 2º, DL 911/1969);
• Consolidação da propriedade no procedimento de execução extrajudicial de
dívida garantida por alienação fiduciária em garantia sobre imóvel: é necessária
notificação prévia do devedor para, em 15 dias, purgar a mora (pagar a dívida atrasada),
notificação essa que é feita pelo Cartório de Imóveis (art. 26, Lei n. 9.514/97);
• Cancelamento de plano de saúde por inadimplemento do cliente: é necessária
notificação prévia (art. 13, II, da Lei n. 9.656/1998);
• Cancelamento do seguro de vida por inadimplemento do segurado: é necessária
notificação prévia. Não há lei, mas jurisprudência do STJ (STJ, REsp 316.552/SP, 2ª
Seção, Rel. Ministro Aldir Passarinho Júnior, DJ 12/04/2004);
• Negativação do nome do devedor em cadastro de inadimplentes: é forçosa a
notificação prévia por parte do órgão cadastral, sob pena de causar dano moral (art.
43, § 2º, do CDC; STJ REsp 1061134/RS, 2ª Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe
01/04/2009);
• Negativação do nome do devedor em cadastro de inadimplentes de consulta
ampla (como o Serasa) a partir de informações extraídas de negativação feita
no Cadastro de Emitentes de Cheques sem fundos (CCF): é necessária notificação
prévia do devedor para comunicar que o seu nome, que estava negativado em um
cadastro de inadimplentes de consulta bem restrita (como o CCF) irá ser lançado em
um cadastro de inadimplementos de consulta ampla (como o SERASA), sob pena de
causar dano moral (STJ, REsp 1578448/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi,
DJe 12/04/2019);
• Ação de despejo:

O procedimento do despejo prevê que, antes da ordem judicial de despejo, o inquilino inadimplente
tem o direito de, após ser citado, purgar a mora: trata-se do chamado depósito elisivo (art. 61,
8 § 3º, e art. 62, II, da Lei n. 8.245/91).

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• Corte de energia ou de água por inadimplência:

a medida drástica do corte do fornecimento de energia elétrica ou de água só poderá ser feito
mediante notificação prévia, conforme art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/1995 (STJ, REsp 1342608/
SP, 2ª Turma, Rel. Ministro Og Fernandes, DJe 27/09/2017). Se, porém, houver situação de
emergência, a suspensão da energia elétrica é permitida sem prévio aviso, pois há urgência a
justificar esse ato (art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/1995.

• Suspensão do cartão de crédito em razão da negativação do nome do cliente em


cadastro de inadimplentes por outras dívidas:

a administradora do cartão de crédito não pode automaticamente, sem prévia notificação,


suspender o cartão de crédito de um consumidor em razão de algum outro credor ter inscrito
o nome do consumidor em cadastro de inadimplentes. O aviso prévio é essencial. Trata-se de
conduta abusiva que causa dano moral ao consumidor (STJ, REsp 592.908/MG, 4ª Turma, Rel.
Ministro Barros Monteiro, DJ 20/02/2006).

• Aplicação da multa de 10% contra o devedor na fase de cumprimento de sentença


com base no art. 523 do CPC: a aplicação da multa do art. 523 do CPC depende de
prévia intimação do devedor para pagar a dívida em 15 dias na fase de cumprimento
de sentença (art. 523, CPC);
• Pedido de falência: depende de prévio protesto, que pode ser o protesto especial
para fins falimentar ou até mesmo o protesto comum, desde que este tenha cumprido
todos os requisitos do protesto especial com inclusão da identificação de quem
recebeu a notificação (Súnula n. 361/STJ; STJ, REsp 1052495/RS, 3ª Turma, Rel.
Ministro Massami Uyeda, DJe 18/11/2009).

6.2. PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO SIMPLIFICADA DO AGRACIADO

Agraciado =
Princípio da proteção O direito protege o Prevalece a
benefício de negócio
SIMPLIFICADA do agraciado, mas não função social do
jurídico negócio
agraciado lhe dá prestígio negócio
jurídico GRATUITO

O Direito Civil protege o agraciado (aquele que é beneficiado por um negócio jurídico
gratuito), mas sem lhe dar prestígio. Vejam os exemplos práticos:
• Fraude contra credores:

Na caracterização da fraude contra credores, o consilium fraudis é dispensado diante de negócios


gratuitos, pois, entre prestigiar o beneficiário de uma liberalidade e os credores, o direito prefere

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prestigiar estes últimos diante da função social (art. 158, CC). Se, porém, se tratar de um negócio
oneroso, o consilium fraudis é requisito essencial.

• Interpretação restritiva: “Negócios gratuitos devem ser interpretados restritivamente


(art. 114, CC). De fato, seria injusto permitir que o beneficiário de uma liberalidade
adotasse interpretações extensivas e, com isso, prejudicasse o generoso”;
• Formalidades para negócios gratuitos:

O fato de a liberalidade somente trazer ônus ao generoso exige que ela se exteriorize por uma
forma que assegure, ao máximo, certeza do seu ânimo. O beneficiário da liberalidade não é
prestigiado do ponto de vista formal, razão por que a legislação se inclina – há exceções! – a
considerar os negócios jurídicos gratuitos como solenes, a exemplo da fiança e da doação, que
devem ser escritas (arts. 541 e 819, CC).

• Vícios redibitórios e evicção:

O princípio da garantia, que estabelece que o adquirente de um bem tem direito à higidez da coisa
(garantia em caso de vício redibitório) e do direito sobre a coisa (garantia em caso de evicção),
somente é aplicável para contratos onerosos, conforme arts. 441 e 447 do CC. Beneficiários de
gratuidade não podem exigir juridicamente essa garantia de qualidade da coisa ou do direito
sobre a coisa. O generoso, porém, deve responder por indenização apenas no caso de dolo por
força do art. 392 do CC.

• Concessão generosa de prorrogação de prazo de pagamento:

À luz do art. 372 do CC, a concessão obsequiosa de um prazo adicional para o pagamento de uma
dívida (prazo de favor) não implica renúncia ao direito do credor de utilizar essa dívida para, por
meio da compensação, extinguir outra. Seria realmente injusto que o beneficiário da benesse
pudesse executar judicialmente o generoso por uma outra dívida, sem que este último, em
defesa, pudesse opor a compensação. A concessão de um prazo de favor afasta a mora ( juros
moratórios, multas etc.), mas jamais o direito de o credor valer-se da obrigação dilatada para
invocar a compensação.

• Responsabilidade do cedente na cessão de crédito gratuita:

Conforme art. 295 do CC, o cedente responde pela existência do crédito na cessão onerosa,
independentemente de culpa ou dolo. Se, porém, a cessão for gratuita, o cedente generoso só
responde por dolo. Essa regra harmoniza-se com a lógica de justiça da tutela da gratuidade e se
afina com as disposições relativas à evicção (art. 447, CC) e à responsabilidade civil do generoso
(art. 392, CC).

• Pagamento indevido por meio de transferência gratuita de um imóvel: “quem


adquire gratuitamente imóvel de quem o havia obtido como fruto de pagamento
indevido não é protegido prestigiosamente: poderá perder o bem (art. 879, parágrafo
único, CC)”;

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• Carona (transporte gratuito de pessoas): generoso só responde por culpa grave ou


dolo (Súmula n. 145/STJ).

6.3. PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO SIMPLIFICADA DO LUXO

O direito protege
Princípio da proteção situações de luxo, Padrão de luxo:
SIMPLIFICADA do mas não lhe dá homem médio
agraciado prestígio

O Direito Civil protege situações de luxo (aquelas que estão acima da média), mas sem
lhe dar prestígio. Vejam os exemplos práticos:
• Benfeitorias voluptuárias e posse:

O possuidor de boa-fé não pode exigir que elas sejam indenizadas, embora possa levantá-las
se for possível, ao contrário que se dá com as benfeitorias necessárias e úteis (art. 1.219, CC).
Em outras palavras, se um possuidor de boa-fé despende R$ 1.000,00 com a troca da fiação
elétrica (benfeitoria necessária), R$ 4.000,00 com a ampliação do quarto (benfeitoria útil) e R$
500.000,00 com a contratação de um famoso pintor para colorir o teto da sala ao estilo da Capela
Sistina (benfeitoria voluptuária), ele – ao ser desapossado do bem por um terceiro com melhor
direito – poderá reivindicar a indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis com direito de
retenção, mas não poderá exigir que o reivindicante indenize-lhe as benfeitorias voluptuárias
(“o luxo”), ou seja, as obras que excedem o padrão do homo medius. Esse possuidor poderá
apenas, se possível, “levantar” essa benfeitoria luxuosa, como levar a lâmina do teto contendo
a pintura e rebocando o teto para restituir-lhe a normalidade. O Direito protege o luxo, mas não
o prestigia, conforme o princípio da proteção simplificada do luxo.

• Quorum mais rigoroso em condomínio edilício:

Para a realização de benfeitorias voluptuárias em condomínios, não basta o consentimento da


maioria dos condôminos, ao contrário do que sucede com benfeitorias úteis – que se satisfazem
com essa maioria absoluta (art. 1.341, inciso I, CC) – e com as benfeitorias necessárias – que
sequer reclamam autorização dos condôminos se não importarem em despesas excessivas (art.
1.341, §§ 1º ao 4º, CC). Benfeitorias voluptuárias, por serem “luxos”, reivindicam um quorum
mais rigoroso de dois terços dos condôminos (art. 1.341, inciso I, do CC). Em outras palavras,
benfeitorias que representam “luxos” não são prestigiadas como as demais benfeitorias, o que
reflete mais uma aplicação do princípio da proteção simplificada do luxo.

• Redução equitativa indenização (art. 944, parágrafo único, CC):

Quando há manifesta desproporção entre o grau de culpa e o dano, o juiz pode reduzir o valor
da indenização equitativamente. Assim, se um indivíduo abalroa o seu veículo contra um carro
de luxo cujo conserto custará cinquenta vezes mais o valor que corresponderia à reparação de

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um carro comum, é viável aplicar o art. 944, parágrafo único, do CC para permitir o valor da
indenização seja reduzido para um patamar mediano. Isso, porque o luxo ostentado pelo titular
do veículo acaba por expor os demais a um risco acima da média. Se, porém, a colisão tivesse
sido provocada dolosamente por inveja do condutor do veículo comum, a indenização deveria
ser o elevadíssimo valor do orçamento, pois o grau de culpa será proporcional ao dano. É nesse
sentido que o direito protege o luxo, mas não lhe dá prestígio, conforme o princípio em pauta.

• Móveis suntuosos em imóvel protegido pela impenhorabilidade do bem de família:

Em regra, os móveis que guarnecem o imóvel residencial do devedor são impenhoráveis por serem
bem de família. Excepciona-se essa blindagem de impenhorabilidade se esses móveis forem
“obras de arte e adornos suntuosos” (art. 2º, Lei n. 8.009/1990). É que esses bens representam
“luxos”, ou seja, excedem o limite do padrão do homo medius e, portanto, não podem receber a
mesma deferência jurídica que repousa sobre os demais móveis. Trata-se de mais um exemplo
de aplicação do princípio da proteção simplificada do luxo.

• Benfeitorias volupturárias em desapropriação:

Na desapropriação por utilidade pública ou para reforma agrária, as benfeitorias voluptuárias não
são indenizadas em dinheiro, ao contrário do que sucede com as benfeitorias necessárias e úteis
(art. 26, Decreto-Lei n. 3.365/41; arts. 5º, XXIV, 184, § 1º, CF; art. 5º, § 1º, da Lei n. 8.629/1993).

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QUESTÕES DE CONCURSO

001. (VUNESP/AUXILIAR JUDICIÁRIO/TJ-PA/2014) É correto afirmar que o direito civil


disciplina, objetivamente, as relações jurídicas.
a) de índole constitucional, que norteiam e limitam outras leis esparsas, hierarquicamente
inferiores.
b) entre as pessoas e a Administração Pública, inexistindo codificação específica no direito
brasileiro.
c) entre os diversos órgãos da Administração Pública, inclusive entre os órgãos do Poder
Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.
d) relativas às pessoas, aos bens e a suas relações, havendo codificação específica no direito
brasileiro.
e) concernentes às pessoas, bens, fatos jurídicos, obrigações, empresas e relações familiares
e de direito sucessório, inexistindo codificação específica no direito brasileiro.

002. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 promoveu a unificação do Direito Privado, com exceção do direito das obrigações,
onde manteve a autonomia do Direito Civil e do Direito Empresarial.

003. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se


caracteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão
mobilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da
casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas
situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
O legislador brasileiro de 2002, ao optar pela grande codificação, unificou o direito das
obrigações, bem como revogou totalmente o Código Civil de 1916 e parcialmente o Código
Comercial.

004. (AOCP/FESF-SUS/ADVOGADO/2010) Os princípios norteadores do atual Código Civil


Brasileiro são
a) Boa-fé, Eticidade e Operabilidade.
b) Socialidade, Legalidade e Operabilidade.
c) Socialidade, Eticidade e Operabilidade.
d) Eticidade, Legalidade e Morabilidade.
e) Efetividade, Adequação e Boa-fé.

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005. (FCC/DEFENSOR/DPE-ES/2016) Darei apenas um exemplo. Quem é que, no Direito Civil


brasileiro ou estrangeiro, até hoje, soube fazer uma distinção, nítida e fora de dúvida, entre
prescrição e decadência? Há as teorias mais cerebrinas e bizantinas para se distinguir uma coisa
de outra. Devido a esse contraste de ideias, assisti, uma vez, perplexo, num mesmo mês, a um
Tribunal de São Paulo negar uma apelação interposta por mim e outros advogados, porque
entendia que o nosso direito estava extinto por força de decadência; e, poucas semanas depois,
ganhávamos, numa outra Câmara, por entender-se que o prazo era de prescrição, que havia
sido interrompido! Por isso, o homem comum olha o Tribunal e fica perplexo. Ora, quisemos
pôr termo a essa perplexidade, de maneira prática, porque o simples é o sinal da verdade, e
não o bizantino e o complicado. Preferimos, por tais motivos, reunir as normas prescricionais,
todas elas, enumerando-as na Parte Geral do Código. Não haverá dúvida nenhuma: ou figura
no artigo que rege as prescrições, ou então se trata de decadência. Casos de decadência não
figuram na Parte Geral, a não ser em cinco ou seis hipóteses em que cabia prevê-la, logo após,
ou melhor, como complemento do artigo em que era, especificamente, aplicável. (REALE, Miguel.
O projeto de Código Civil: situação atual e seus problemas fundamentais. São Paulo: Saraiva,
1986. p. 11-12).
Essa solução adotada no Código Civil de 2002 se vincula:
a) à diretriz fundamental da socialidade.
b) à abolição da distinção entre prescrição e decadência.
c) à diretriz fundamental da eticidade, evitando soluções juridicamente conflitantes.
d) ao princípio da boa-fé objetiva, que garante a obtenção do julgamento esperado pelo
jurisdicionado.
e) à diretriz fundamental da operabilidade, evitando dificuldades interpretativas.

006. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como norma


de conduta leal e ética aplicável às obrigações contratuais, sentido idêntico ao utilizado,
em matéria de direitos reais, na classificação da posse como sendo de boa-fé ou de má-fé.

007. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como um


estado psicológico pelo qual o agente, de forma crédula, desconhece as reais circunstâncias
do ato praticado.

008. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como


norma de conduta de acordo com os ideais de honestidade e lealdade, devendo as partes
contratuais agir conforme um modelo de conduta social, sempre respeitando a confiança
e os interesses do outro.

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009. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta


ausência de má-fé.

010. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta tendo


conteúdo idêntico ao da boa-fé subjetiva.

011. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se


caracteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão
mobilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da
casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas
situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
O Código Civil de 2002 contém várias cláusulas gerais, das quais são exemplos a função
social do contrato, a boa-fé objetiva e a probidade que devem reger os contratantes, a
função social da propriedade e a ordem pública.

012. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) Cláusulas gerais, princípios e conceitos


jurídicos indeterminados são expressões que designam o mesmo instituto jurídico.

013. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) O princípio da eticidade, paradigma


do atual direito civil constitucional, funda-se no valor da pessoa humana como fonte
de todos os demais valores, tendo por base a equidade, boa-fé, justa causa e demais
critérios éticos, o que possibilita, por exemplo, a relativização do princípio do pacta sunt
servanda, quando o contrato estabelecer vantagens exageradas para um contratante
em detrimento do outro.

014. (MPE-MG/PROMOTOR/MPE-MG) Assinale a alternativa CORRETA:


É possível afirmar que a adoção do sistema de cláusulas gerais no Código Civil de 2002
reverencia:
a) O princípio da boa-fé objetiva.
b) O princípio da eticidade.
c) O princípio da sociabilidade.
d) O princípio da operabilidade.

015. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se


caracteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão
mobilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da
casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas
situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:

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Direito Civil
Parte Geral - I
Carlos Elias

Os conceitos jurídicos indeterminados não estão indicados na lei, decorrendo, apenas, de


valores éticos, morais, sociais, econômicos e jurídicos.

016. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se


caracteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão
mobilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da
casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas
situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
O Código Civil de 2002 divide-se em Parte Geral, Parte Especial e Livro Complementar.

017. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se


caracteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão
mobilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da
casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas
situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
Os vetores estruturantes do Código Civil de 2002 são os da socialidade, da eticidade, da
sistematicidade e da operabilidade.

018. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) A operacionalidade do direito civil está


relacionada à solução de problemas abstratamente previstos, independentemente de sua
expressão concreta e simplificada.

019. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 utilizou a técnica legislativa das normas abertas, razão pela qual o processo de
aplicação do Direito depende exclusivamente do raciocínio dedutivo e silogístico.

020. (MPT/PROCURADOR/MPT/2017/ADAPTADA) O Código Civil de 2002 positivou em seus


artigos valores inerentes à pessoa humana, que passaram a orientar a interpretação
de institutos do Direito Civil, como, por exemplo, a boa-fé objetiva como elemento das
relações contratuais. Essa mudança de paradigma decorre do que se tem chamado de
constitucionalização do Direito Civil.

021. (LEGALLE/PROCURADOR/PREFEITURA DE SILVEIRA MARTINS-RS/2014) Atualmente


é possível se falar em um novo Direito Civil, marcado, especialmente, pelos seguintes
elementos, EXCETO:
a) Privatização do Direito Civil.
b) Constitucionalização do Direito Civil.
c) Humanização do Direito Civil.

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Parte Geral - I
Carlos Elias

d) Normatização da biotecnologia.
e) Unificação no plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito Comercial.

022. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil de


2002 resguardou a igualdade por meio da visão abstrata do sujeito de direitos, considerado
em razão das normas jurídicas, e não em face de suas circunstâncias concretas.

023. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 adotou a concepção de sistema fechado, uma vez que permitido o diálogo apenas
com a Constituição Federal e com as normas especiais de direito privado.

024. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil de


2002 estabeleceu a visão antropocêntrica ao Direito Privado, da qual é exemplo a previsão
normativa dos direitos da personalidade.

025. (CESPE/CONCILIADOR/TJ-BA/2019) Assinale a opção que indica o princípio segundo


o qual o que estiver estipulado entre as partes tem força de lei, uma vez que o contrato
vincula os envolvidos no seu devido cumprimento.
a) princípio da função social do contrato
b) princípio da força obrigatória do contrato
c) princípio da boa-fé subjetiva
d) princípio da proibição de comportamento contraditório
e) princípio da boa-fé objetiva

026. (MPE-MT/PROMOTOR/MPE-MT/2012/ADAPTADA) Os efeitos do princípio nemo venire


contra factum próprio podem ser identificados no Código Civil brasileiro de 2002 e no
Código Civil de 1916 por meio de interpretação de algumas regras específicas, entre outras
reguladoras dos contratos e dos negócios jurídicos.

027. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A operabilidade determinou a adoção de


soluções normativas para a facilitação da interpretação, aplicação e adaptação do Direito,
o que se verifica na adoção das normas abertas como técnica legislativa.

028. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A socialidade implicou a funcionalização


dos modelos jurídicos, fazendo prevalecer os valores coletivos sobre os individuais, sem
que sejam desconsiderados os valores inerentes à pessoa, o que se verifica na previsão do
instituto do abuso de direito.

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Parte Geral - I
Carlos Elias

029. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A eticidade provocou a opção antropocêntrica


da codificação civil, implicando a prevalência de critérios éticos sobre os de natureza formal,
o que se verifica nos institutos da lesão e do estado de perigo.

030. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A igualdade formal determinou o tratamento


igualitário dos sujeitos de direitos e o afastamento de regimes tutelares, o que se verifica no
afastamento de um regime de proteção dos incapazes, presentes na anterior codificação civil.

031. (FCC/TRE-PR/2017/ADAPTADA) A teoria do adimplemento substancial foi expressamente


prevista na legislação civil e sua adoção evita a resolução do contrato, quando ocorrer
inadimplemento mínimo.

032. (VUNESP/PROCURADOR/PREF. MOGI DAS CRUZES-SP/2016/ADAPTADA) Sobre a supressio


ou o comportamento contraditório, é possível afirmar que pode ser considerado como
abuso de direito por omissão reiterada.

033. (CESPE/DEFENSOR/DPU/2010/ADAPTADA) O pagamento realizado reiteradamente


pelo devedor em local diverso do ajustado em contrato é um exemplo do que se denomina
supressio.

034. (CESPE/ANALISTA/ADVOCACIA/EBC/2011/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva


contratual tem, entre outras funções, a de limitar o exercício de direitos subjetivos, sobre a
qual incidem a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos próprios,
daí derivando os seguintes institutos: tu quoque, venire contra facutm proprium, surrectio e
supressio. Este último assegura a possibilidade de redução do conteúdo obrigacional pactuado,
pela inércia qualificada de uma das partes, ao longo da execução do contrato, ao exercer direito
ou faculdade, criando para a outra a legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela
prerrogativa.

035. (FCC/DEFENSOR/DPE-MA/2015) Bruno adquiriu um veículo mediante contrato de


alienação fiduciária, em 300 parcelas no valor de R$ 200,00 (duzentos reais) cada. Bruno pagou
pontualmente as parcelas até que, faltando apenas seis prestações para o adimplemento,
não teve condições de realizar o pagamento. Diante da impontualidade de Bruno, a instituição
financeira ajuizou ação de busca e apreensão do veículo. Na condição de defensor público
atuando em favor de Bruno, para defendê-lo neste pedido de busca e apreensão, é correta
a alegação de abuso do direito por parte da instituição financeira por aplicação da
a) autonomia da vontade.
b) vedação de cláusula comissória.

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c) exceção do contrato não cumprido.


d) vedação legal de busca e apreensão em alienação fiduciária.
e) teoria do adimplemento substancial.

036. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) A surrectio refere-se a um


direito que não exercido durante determinado lapso de tempo não poderá mais sê-lo, por
contrariar a boa-fé.

037. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) A surrectio é considerada a outra


face da supressio, ou seja, acarreta o nascimento de um direito em razão da continuada
prática de certos atos.

038. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) O tu quoque está relacionado


à proteção de uma parte contra aquela que pretende exercer uma posição jurídica em
contradição com o comportamento assumido anteriormente.

039. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) O venire contra factum proprium


proíbe que uma pessoa faça contra outra o que não faria contra si mesmo, consistindo em
aplicação do mesmo princípio inspirador da exceptio non adimpleti contractus.

040. (VUNESP/PROCURADOR/PREFEITURA DE CERQUILHO-SP/2019) “A possibilidade de se


considerar suprimida uma obrigação contratual, na hipótese em que o não exercício do
direito correspondente, pelo credor, gere no devedor a justa expectativa de que esse não
exercício se prorrogará no tempo”.
Qual é o instituto a que se refere a citação?
a) Supressio.
b) Prescrição.
c) Impossibilidade jurídica do pedido.
d) Decadência.
e) Surrectio.

041. (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015/ADAPTADA) Os negócios jurídicos que estabeleçam benefício


devem ter interpretação ampla.

042. (IESES/OFICIAL DE CARTÓRIO/TJMS/ 2014) Para fins de prazo civil considera-se Meado:
a) Em qualquer mês, o seu décimo quinto dia, com exceção do mês de fevereiro, o qual será
considerado o décimo quarto dia.
b) A metade do prazo que a lei prever.

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Parte Geral - I
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c) Em qualquer mês, o dia quinze, independentemente de que o vencimento venha a cair


em feriado.
d) Em qualquer mês, o seu décimo quinto dia, e se dia do vencimento cair em feriado,
considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil

043. (VUNESP/ADVOGADO/SPTRANS/2012) Considerando o Código Civil de 1916 (CC/1916)


e o Código Civil de 2002 (CC/2002), assinale a alternativa correta acerca da contagem
de prazos.
a) Prevalecem os prazos do CC/2002, na medida em que este revogou o CC/1916.
b) Prevalecem os prazos do CC/1916, em respeito ao ato jurídico perfeito.
c) Se reduzido o prazo pelo CC/2002 e transcorrido, na data de sua entrada em vigor, mais
da metade do tempo estabelecido no CC/1916, prevalece o prazo da nova lei.
d) Se reduzido o prazo pelo CC/2002 e transcorrido, na data de sua entrada em vigor, mais
da metade do tempo estabelecido no CC/1916, prevalece o prazo da lei anterior.
e) Se houve alteração de prazo pelo CC/2002, dever-se-á considerar a média dos prazos,
a contar da vigência do novo código.

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GABARITO

1. d 35. e
2. E 36. E
3. C 37. C
4. c 38. E
5. e 39. E
6. E 40. a
7. E 41. E
8. C 42. d
9. E 43. d
10. E
11. C
12. E
13. C
14. d
15. E
16. C
17. C
18. E
19. E
20. C
21. a
22. E
23. E
24. C
25. b
26. C
27. C
28. C
29. C
30. E
31. E
32. C
33. C
34. C

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GABARITO COMENTADO

001. (VUNESP/AUXILIAR JUDICIÁRIO/TJ-PA/2014) É correto afirmar que o direito civil


disciplina, objetivamente, as relações jurídicas.
a) de índole constitucional, que norteiam e limitam outras leis esparsas, hierarquicamente
inferiores.
b) entre as pessoas e a Administração Pública, inexistindo codificação específica no direito
brasileiro.
c) entre os diversos órgãos da Administração Pública, inclusive entre os órgãos do Poder
Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.
d) relativas às pessoas, aos bens e a suas relações, havendo codificação específica no direito
brasileiro.
e) concernentes às pessoas, bens, fatos jurídicos, obrigações, empresas e relações familiares
e de direito sucessório, inexistindo codificação específica no direito brasileiro.

a) Errada. Item define o Direito Constitucional.


b) Errada. Item define o Direito Administrativo e, além disso, erra ao afirmar que não existe
uma codificação específica para o Direito Civil.
c) Errada. Item define o Direito Administrativo.
d) Certa. O Direito Civil é o ramo do direito destinado a regular as relações privadas em
geral, o que abrange pessoas, bens, relações jurídicas, família e sucessões. No Código Civil,
há um capítulo dedicado a “empresas”, pois o Código Civil unificou as obrigações civis com
as obrigações empresariais. No Brasil, o Código Civil concentra as principais regras de Direito
Civil. O item “d” é o mais compatível com isso e, por isso, é o gabarito.
e) Errada. Questão erra ao afirmar que não existe uma codificação específica para o Direito
Civil.
Letra d.

002. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 promoveu a unificação do Direito Privado, com exceção do direito das obrigações,
onde manteve a autonomia do Direito Civil e do Direito Empresarial.

O direito das obrigações foi unificado, de modo que relações obrigacionais civis e empresariais
se sujeitam às mesmas regras.
Errado.

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Parte Geral - I
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003. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se


caracteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão
mobilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da
casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas
situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
O legislador brasileiro de 2002, ao optar pela grande codificação, unificou o direito das
obrigações, bem como revogou totalmente o Código Civil de 1916 e parcialmente o Código
Comercial.

Realmente houve unificação do direito obrigacional, de maneira que as obrigações civis


e comerciais sujeitam-se às mesmas regras gerais. Por exemplo, a regra de limite da
cláusula penal a 100% prevista no art. 412 do Código Civil se aplica tanto para obrigações
de particulares não empresários quanto para obrigações contraídas entre empresários.
Ademais, o art. 2.045 do CC/2002 revogou totalmente o CC/1916 (Lei n. 3.017/1916) e
apenas uma parte do Código Comercial (Parte Primeira do Código Comercial, Lei n. 556/1850).
Confira-se o dispositivo:

Art. 2.045. Revogam-se a Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916 – Código Civil e a Parte Primeira
do Código Comercial, Lei n. 556, de 25 de junho de 1850.

Certo.

004. (AOCP/FESF-SUS/ADVOGADO/2010) Os princípios norteadores do atual Código Civil


Brasileiro são
a) Boa-fé, Eticidade e Operabilidade.
b) Socialidade, Legalidade e Operabilidade.
c) Socialidade, Eticidade e Operabilidade.
d) Eticidade, Legalidade e Morabilidade.
e) Efetividade, Adequação e Boa-fé.

As diretrizes teóricas (= os princípios norteadores) do Código Civil Brasileiro de 2002 são a


socialidade, a eticidade e a operabilidade, conforme doutrina.
Letra c.

005. (FCC/DEFENSOR/DPE-ES/2016) Darei apenas um exemplo. Quem é que, no Direito Civil


brasileiro ou estrangeiro, até hoje, soube fazer uma distinção, nítida e fora de dúvida, entre
prescrição e decadência? Há as teorias mais cerebrinas e bizantinas para se distinguir uma coisa

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Parte Geral - I
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de outra. Devido a esse contraste de ideias, assisti, uma vez, perplexo, num mesmo mês, a um
Tribunal de São Paulo negar uma apelação interposta por mim e outros advogados, porque
entendia que o nosso direito estava extinto por força de decadência; e, poucas semanas depois,
ganhávamos, numa outra Câmara, por entender-se que o prazo era de prescrição, que havia
sido interrompido! Por isso, o homem comum olha o Tribunal e fica perplexo. Ora, quisemos
pôr termo a essa perplexidade, de maneira prática, porque o simples é o sinal da verdade, e
não o bizantino e o complicado. Preferimos, por tais motivos, reunir as normas prescricionais,
todas elas, enumerando-as na Parte Geral do Código. Não haverá dúvida nenhuma: ou figura
no artigo que rege as prescrições, ou então se trata de decadência. Casos de decadência não
figuram na Parte Geral, a não ser em cinco ou seis hipóteses em que cabia prevê-la, logo após,
ou melhor, como complemento do artigo em que era, especificamente, aplicável. (REALE, Miguel.
O projeto de Código Civil: situação atual e seus problemas fundamentais. São Paulo: Saraiva,
1986. p. 11-12).
Essa solução adotada no Código Civil de 2002 se vincula:
a) à diretriz fundamental da socialidade.
b) à abolição da distinção entre prescrição e decadência.
c) à diretriz fundamental da eticidade, evitando soluções juridicamente conflitantes.
d) ao princípio da boa-fé objetiva, que garante a obtenção do julgamento esperado pelo
jurisdicionado.
e) à diretriz fundamental da operabilidade, evitando dificuldades interpretativas.

Entre as diretrizes teóricas do Código Civil de 2002 (eticidade, socialidade e operabilidade),


a operabilidade é aquela que levou a Comissão de Juristas coordenada pelo professor Miguel
Reale a redigir um Código Civil que fosse facilmente manuseável (operável) pelos juristas
(operadores do Direito). Em decorrência disso, o Código Civil adotou uma sistematicidade,
de que é exemplo a reunião de todos os prazos prescricionais no art. 205 e 206 do Código
Civil com o objetivo de livrar os juristas de debates para definir qual o prazo é prescricional
ou decadencial. Ressalva-se que houve apenas uma falha nessa sistematização: o art.
1.032 do CC prevê um prazo de prescrição de 2 anos durante o qual o sócio retirante ainda
responde por dívidas sociais. A questão em pauta trata da operabilidade, o que atrai o item
“E” como resposta.
Letra e.

006. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como norma


de conduta leal e ética aplicável às obrigações contratuais, sentido idêntico ao utilizado,
em matéria de direitos reais, na classificação da posse como sendo de boa-fé ou de má-fé.

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O erro está na última parte: a posse de boa-fé ou de má-fé no direito das coisas segue o
princípio da boa-fé subjetiva, assim entendida aquela que verifica se a intenção da pessoa
é moralmente boa ou não. É o art. 1.201 do CC:

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a
aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em
contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.

Já a boa-fé objetiva não foca na intenção da pessoa, e sim na análise da compatibilidade


da conduta dela com os padrões éticos da sociedade.
O fato de o CC ter valorizado a boa-fé objetiva não significa que ele tenha desprezado a
boa-fé subjetiva, que ainda segue aplicável em vários casos, como na definição de posse
de boa-fé ou de má-fé em matéria de direito das coisas.
Errado.

007. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como um


estado psicológico pelo qual o agente, de forma crédula, desconhece as reais circunstâncias
do ato praticado.

A questão aí trata da boa-fé subjetiva, e não da objetiva.


Errado.

008. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como


norma de conduta de acordo com os ideais de honestidade e lealdade, devendo as partes
contratuais agir conforme um modelo de conduta social, sempre respeitando a confiança
e os interesses do outro.

Trata-se da definição da boa-fé objetiva, que é aquela que afere a compatibilidade da


conduta da pessoa (independentemente de seu estado anímico) com os padrões éticos
da sociedade.
Certo.

009. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta


ausência de má-fé.

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É incompleto definir a boa-fé objetiva como a mera ausência de má-fé, pois a boa-fé
subjetiva também decorre da falta de má-fé. Por isso, errado o item.
Errado.

010. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta tendo


conteúdo idêntico ao da boa-fé subjetiva.

O conteúdo é diferente: boa-fé objetiva avalia a conduta, e não a intenção do agente.


Errado.

011. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se


caracteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão
mobilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da
casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas
situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
O Código Civil de 2002 contém várias cláusulas gerais, das quais são exemplos a função
social do contrato, a boa-fé objetiva e a probidade que devem reger os contratantes, a
função social da propriedade e a ordem pública.

O uso de palavras com campo semântico aberto, que permite diversas interpretações por
conter certo grau de indeterminação, é a característica marcada dos conceitos jurídicos
indeterminadas e das cláusulas gerais (ou cláusulas abertas). Essas duas técnicas de redação
legislativa são bem parecidas.
A distinção é a que, no conceito jurídico indeterminado, a indeterminação está apenas
definição da norma (= o conceito é indeterminado), e não na consequência de sua violação,
a exemplo da expressão “atividade de risco” prevista no parágrafo único do art. 927 do
CC. Definir o que seja “atividade de risco” envolve certo grau de indeterminação, mas a
consequência jurídica é certa: a responsabilidade objetiva. A indefinição está apenas no
pressuposto da norma (conteúdo, a definição), e não no seu consequente (consequência
prática).
Já na cláusula geral, a indeterminação está tanto na definição quanto na consequência
prática. É o caso, por exemplo, da expressões “função social”, “boa-fé objetiva”, “probidade”,
“devido processo legal”. Tanto a definição desses conceitos quanto as suas consequências

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são abertas, o que dá grande margem de manobra ao jurista. A indefinição está tanto no
pressuposto da norma quanto no consequente4.
Na prática, porém, é comum haver mistura entre as duas técnicas de redação legislativa
acima, especialmente porque ambas têm em comum o objetivo de dar maior liberdade à
atividade interpretativa do jurista.
Certo.

012. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) Cláusulas gerais, princípios e conceitos


jurídicos indeterminados são expressões que designam o mesmo instituto jurídico.

Embora as duas expressões sejam parecidas por representarem técnicas de redação


legislativa que dão maior liberdade ao jurista, elas não são iguais: a cláusula geral é que
envolve indeterminação no pressuposto e no consequente da norma, ao passo que o conceito
jurídico indeterminado só tem indeterminação no pressuposto. Reportamo-nos ao exposto
nos comentários da questão anterior.
Errado.

013. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) O princípio da eticidade, paradigma


do atual direito civil constitucional, funda-se no valor da pessoa humana como fonte
de todos os demais valores, tendo por base a equidade, boa-fé, justa causa e demais
critérios éticos, o que possibilita, por exemplo, a relativização do princípio do pacta sunt
servanda, quando o contrato estabelecer vantagens exageradas para um contratante
em detrimento do outro.

A eticidade é exigir que, nas relações de direito civil, as partes adotem comportamento
compatível com a ética. Isso permite que contratos com cláusulas abusivas sejam invalidados,
o que representa uma flexibilização do pacta sunt servanda. A questão está, pois, correta.
Certo.

014. (MPE-MG/PROMOTOR/MPE-MG) Assinale a alternativa CORRETA:


É possível afirmar que a adoção do sistema de cláusulas gerais no Código Civil de 2002
reverencia:

4
Para aprofundamento, recomendamos obra do jurista Rodrigo Reis MAZZEI (2005) e da jurista Sabrina Dourado FRANÇA
ANDRADE (2011).

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Direito Civil
Parte Geral - I
Carlos Elias

a) O princípio da boa-fé objetiva.


b) O princípio da eticidade.
c) O princípio da sociabilidade.
d) O princípio da operabilidade.

A operabilidade é a diretriz teórica que estabelece que o CC/2002 deveria ser redigido
de modo a ser de fácil manuseio pelo operador do Direito. Dela decorre, de um lado, a
sistematicidade (de que é exemplo a concentração dos prazos prescricionais nos arts. 205
e 206 do CC) e, de outro lado, o emprego de técnicas de redação aberta das normas por
meio das cláusulas gerais e dos conceitos jurídicos indeterminados. Por isso, a resposta é
letra “D”.
Letra d.

015. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se


caracteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão
mobilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da
casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas
situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
Os conceitos jurídicos indeterminados não estão indicados na lei, decorrendo, apenas, de
valores éticos, morais, sociais, econômicos e jurídicos.

Os conceitos jurídicos indeterminados estão no texto da lei também, pois representam


uma técnica de redação legislativa: a lei é escrita usando palavras de definição aberta
(indeterminada) para dar margem de manobra ao jurista.
Errado.

016. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se


caracteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão
mobilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da
casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas
situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
O Código Civil de 2002 divide-se em Parte Geral, Parte Especial e Livro Complementar.

A divisão do CC/2002 é esta: Parte Geral (arts. 1 a 232), Parte Especial (arts. 233 a 2027) e
Livro Complementar (arts. 2028 a 2046).
Certo.

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017. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se


caracteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão
mobilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da
casuística, sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas
situações. Em relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
Os vetores estruturantes do Código Civil de 2002 são os da socialidade, da eticidade, da
sistematicidade e da operabilidade.

As diretrizes teóricas do CC/2002 são a eticidade, a socialidade e a operabilidade. Dentro


desta última, está a sistematicidade. A questão cita as três diretrizes e, ainda que não
houvesse necessidade, especifica a sistematicidade, de modo que ela está correta.
Certo.

018. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) A operacionalidade do direito civil está


relacionada à solução de problemas abstratamente previstos, independentemente de sua
expressão concreta e simplificada.

A operabilidade do direito civil foca entregar ao jurista a aptidão de resolver casos concretos,
de acordo com suas particularidades, de uma maneira mais justa e compatível com a
dignidade da pessoa humana. Não se busca, portanto, dar uma solução abstrata a todos
os casos concretos de forma indistinta, ao contrário do afirmado na questão.
Errado.

019. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 utilizou a técnica legislativa das normas abertas, razão pela qual o processo de
aplicação do Direito depende exclusivamente do raciocínio dedutivo e silogístico.

O uso de normas abertas (por meio das técnicas de redação legislativa do “conceito jurídico
indeterminado” e das “cláusulas abertas”) reduz o raciocínio dedutivo e silogístico (os quais
são mais usuais para normas fechadas) e amplia o espaço para o raciocínio da razoabilidade
e da ponderação de princípios.
Errado.

020. (MPT/PROCURADOR/MPT/2017/ADAPTADA) O Código Civil de 2002 positivou em seus


artigos valores inerentes à pessoa humana, que passaram a orientar a interpretação

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de institutos do Direito Civil, como, por exemplo, a boa-fé objetiva como elemento das
relações contratuais. Essa mudança de paradigma decorre do que se tem chamado de
constitucionalização do Direito Civil.

A questão trata adequadamente da constitucionalização do Direito Civil, que preconiza


a submissão desse ramo do Direito à Constituição Federal e da qual decorre a eficácia
horizontal dos direitos fundamentais (aplicação destes em relações entre particulares), a
repersonalização (pessoa humana não é mais um mero agente econômico, e sim o titular
de dignidade) e a despatrimonialização (a dignidade da pessoa humana é mais importante
do que a tutela do patrimônio).
Certo.

021. (LEGALLE/PROCURADOR/PREFEITURA DE SILVEIRA MARTINS-RS/2014) Atualmente


é possível se falar em um novo Direito Civil, marcado, especialmente, pelos seguintes
elementos, EXCETO:
a) Privatização do Direito Civil.
b) Constitucionalização do Direito Civil.
c) Humanização do Direito Civil.
d) Normatização da biotecnologia.
e) Unificação no plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito Comercial.

Não há falar em privatização do Direito Civil, e sim na sua publicização, assim entendida a
tendência de serem editadas normas de ordem pública para proteger pessoas vulneráveis em
contratos civis. Por isso, o gabarito é a letra “A”. No mais, acresça-se que o novo Direito Civil é
marcado pela sua constitucionalização (movimento que o subordina à Constituição Federal),
pela sua humanização (há uma valorização da dignidade da pessoa humana), pela normatização
da biotecnologia (a legislação tende a regulamentar a biotecnologia, de que são exemplos a
presunção de paternidade no caso de reprodução assistida nos termos do art. 1.597, III a V, do
CC, a Lei de Biossegurança e a Resolução n. 63/2017 – CNJ, que trata da paternidade no caso
de reprodução assistida) e pela unificação no plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito
Comercial (as regras de obrigações do Livro das Obrigações se aplicam para relações civis ou
empresariais).
Letra a.

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022. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil de


2002 resguardou a igualdade por meio da visão abstrata do sujeito de direitos, considerado
em razão das normas jurídicas, e não em face de suas circunstâncias concretas.

Não tem uma visão abstrata do sujeito, e sim concreta, pois busca adequar-se às
particularidades de cada pessoa na garantia dos seus direitos. O próprio uso de cláusulas
abertas e conceitos jurídicos indeterminados como técnicas de redação legislativa se destinam
a dar maior mobilidade ao jurista para, diante de cada caso concreto, dar uma solução mais
justa, humana e digna.
Errado.

023. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 adotou a concepção de sistema fechado, uma vez que permitido o diálogo apenas
com a Constituição Federal e com as normas especiais de direito privado.

O sistema é aberto: o diálogo do direito civil é com todos os ramos do Direito e com todas
as normas (até com tratados internacionais), e não apenas com a Constituição Federal, ao
contrário do dito na questão.
Errado.

024. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil de


2002 estabeleceu a visão antropocêntrica ao Direito Privado, da qual é exemplo a previsão
normativa dos direitos da personalidade.

O Código Civil colocou a dignidade da pessoa humana no centro de sua tutela, o que retrata
uma visão antropocêntrica, conforme letra “D”. O homem é o centro, e não mais o patrimônio
(visão patrimonialista).
Certo.

025. (CESPE/CONCILIADOR/TJ-BA/2019) Assinale a opção que indica o princípio segundo


o qual o que estiver estipulado entre as partes tem força de lei, uma vez que o contrato
vincula os envolvidos no seu devido cumprimento.
a) princípio da função social do contrato
b) princípio da força obrigatória do contrato
c) princípio da boa-fé subjetiva

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d) princípio da proibição de comportamento contraditório


e) princípio da boa-fé objetiva

O princípio da força obrigatório do contrato estabelece que as partes estão obrigadas a


cumprir aquilo que pactuaram e é conhecido pela expressão latina pacta sunt servanda
(que poderia ser traduzida como “pacto tem de ser cumpridos” ou “o pacto faz lei entre as
partes”). O item “b” é o correto, portanto.
Letra b.

026. (MPE-MT/PROMOTOR/MPE-MT/2012/ADAPTADA) Os efeitos do princípio nemo venire


contra factum próprio podem ser identificados no Código Civil brasileiro de 2002 e no
Código Civil de 1916 por meio de interpretação de algumas regras específicas, entre outras
reguladoras dos contratos e dos negócios jurídicos.

O princípio da proibição do comportamento contraditório (princípio do nemo venire contra


factum proprium) não está positivada expressamente, mas decorre da conjugação de vários
dispositivos do Código Civil que exige a observância da boa-fé e da função social, como os
arts. 187, 421 e 422.
Certo.

027. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A operabilidade determinou a adoção de


soluções normativas para a facilitação da interpretação, aplicação e adaptação do Direito,
o que se verifica na adoção das normas abertas como técnica legislativa.

A adoção de normas abertas como técnica de redação legislativa se destina a facilitar o


manuseio do Código Civil pelo jurista, o que representa uma das ideias da diretriz teórica
da operabilidade.
Certo.

028. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A socialidade implicou a funcionalização


dos modelos jurídicos, fazendo prevalecer os valores coletivos sobre os individuais, sem
que sejam desconsiderados os valores inerentes à pessoa, o que se verifica na previsão do
instituto do abuso de direito.

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A socialidade é o prestígio dado à função social do direito, afastando o individualismo


exacerbado e exigindo compromissos com os valores coletivos. A questão segue essa linha
e, por isso, está correta.
Certo.

029. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A eticidade provocou a opção antropocêntrica


da codificação civil, implicando a prevalência de critérios éticos sobre os de natureza formal,
o que se verifica nos institutos da lesão e do estado de perigo.

A eticidade exige condutas éticas dos indivíduos, fazendo a valorização da pessoa


(antrocentrismo) prevalecer sobre o mero interesse patrimonial (patrimonialismo). A lesão
(art. 157, CC) e o estado de perigo (art. 156, CC) exemplificam isso, pois permitem anular
negócios jurídicos quando uma pessoa assumiu prestação manifestamente desproporcional
por uma situação de vulnerabilidade.
Certo.

030. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A igualdade formal determinou o tratamento


igualitário dos sujeitos de direitos e o afastamento de regimes tutelares, o que se verifica no
afastamento de um regime de proteção dos incapazes, presentes na anterior codificação civil.

Errado. O CC prestigia uma igualdade material, que busca dar proteção a quem está em
situação de vulnerabilidade. Os incapazes, por exemplo, seguem sob a proteção do regime
de poder familiar, tutela ou curatela. Errado, pois, o item.
Errado.

031. (FCC/TRE-PR/2017/ADAPTADA) A teoria do adimplemento substancial foi expressamente


prevista na legislação civil e sua adoção evita a resolução do contrato, quando ocorrer
inadimplemento mínimo.

A teoria do adimplemento substancial não tem previsão textual na legislação, mas decorre
da vedação ao abuso de direito (art. 187, CC), da boa-fé objetiva (arts. 113 e 422, CC) e da
função social (art. 421, CC).
Errado.

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032. (VUNESP/PROCURADOR/PREF. MOGI DAS CRUZES-SP/2016/ADAPTADA) Sobre a supressio


ou o comportamento contraditório, é possível afirmar que pode ser considerado como
abuso de direito por omissão reiterada.

A supressio é a perda de um direito em razão de uma inércia prolongada (omissão reiterada)


que, no caso concreto, gere uma legítima expectativa em outrem. A ruptura dessa legítima
expectativa configura um abuso de direito. Por isso, é correto dizer que a supressio é um
abuso de direito por omissão reiterada.
Certo.

033. (CESPE/DEFENSOR/DPU/2010/ADAPTADA) O pagamento realizado reiteradamente


pelo devedor em local diverso do ajustado em contrato é um exemplo do que se denomina
supressio.

O art. 330 do CC prevê que o pagamento reiterado em lugar diverso do pactuado faz presumir
renúncia ao direito de exigir o pagamento no lugar pactuado. Isso é um exemplo de supressio,
pois a omissão reiterada do credor em exigir a observância do pagamento no lugar contratado
cria uma legítima expectativa no devedor de que este poderá continuar pagando no mesmo
lugar.
Certo.

034. (CESPE/ANALISTA/ADVOCACIA/EBC/2011/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva


contratual tem, entre outras funções, a de limitar o exercício de direitos subjetivos, sobre a
qual incidem a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos próprios,
daí derivando os seguintes institutos: tu quoque, venire contra facutm proprium, surrectio e
supressio. Este último assegura a possibilidade de redução do conteúdo obrigacional pactuado,
pela inércia qualificada de uma das partes, ao longo da execução do contrato, ao exercer direito
ou faculdade, criando para a outra a legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela
prerrogativa.

A questão arrola os quatro corolários da boa-fé objetiva, que são decorrência da teoria
dos atos próprios (segunda a qual é ilícito contrariar um ato próprio). Ela também define
adequadamente a supressio, que implica a perda de um direito pelo seu não exercício
prolongado com a capacidade de criar uma legítima expectativa na outra parte.
Certo.

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035. (FCC/DEFENSOR/DPE-MA/2015) Bruno adquiriu um veículo mediante contrato de


alienação fiduciária, em 300 parcelas no valor de R$ 200,00 (duzentos reais) cada. Bruno pagou
pontualmente as parcelas até que, faltando apenas seis prestações para o adimplemento,
não teve condições de realizar o pagamento. Diante da impontualidade de Bruno, a instituição
financeira ajuizou ação de busca e apreensão do veículo. Na condição de defensor público
atuando em favor de Bruno, para defendê-lo neste pedido de busca e apreensão, é correta
a alegação de abuso do direito por parte da instituição financeira por aplicação da
a) autonomia da vontade.
b) vedação de cláusula comissória.
c) exceção do contrato não cumprido.
d) vedação legal de busca e apreensão em alienação fiduciária.
e) teoria do adimplemento substancial.

A questão é antiga. O gabarito dela à época foi letra “E”. Todavia, atualmente, essa questão
seria anulada. Trazemos essa questão aqui para chamar a atenção para o entendimento
atual do STJ. O STJ, nos casos de financiamento de veículos com alienação fiduciária em
garantia, não mais admite a aplicação da teoria do adimplemento substancial para impedir a
execução de uma garantia fiduciária por meio da busca e apreensão do bem e da consequente
consolidação da propriedade fiduciária. O fundamento principal é o de que a boa-fé e a
função social do contrato seriam desvirtuadas se o credor perdesse o direito de executar
uma garantia essencial ao seu crédito com fundamento em autorização legal expressa (o
Decreto-Lei n. 911/67), o que comprometeria o “desenvolvimento da economia nacional”
(STJ, REsp 1622555/MG, 2ª Seção, Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Ministro Marco
Aurélio Belizze, DJe 16/03/2017).
Letra e.

036. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) A surrectio refere-se a um


direito que não exercido durante determinado lapso de tempo não poderá mais sê-lo, por
contrariar a boa-fé.

A questão define a supressio.


Errado.

037. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) A surrectio é considerada a outra


face da supressio, ou seja, acarreta o nascimento de um direito em razão da continuada
prática de certos atos.

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A questão define corretamente esse corolário da boa-fé objetiva.


Certo.

038. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) O tu quoque está relacionado


à proteção de uma parte contra aquela que pretende exercer uma posição jurídica em
contradição com o comportamento assumido anteriormente.

A questão define o venire contra factum proprium, e não o tu quoque. Este último censura que
uma pessoa, após violar uma norma, tente se aproveitar dessa situação posteriormente. A ideia
é a de que ninguém pode se aproveitar da própria torpeza. O exemplo clássico de repressão
ao tu quoque é a chamada “exceptio non adimpleti contractus” (exceção de contrato não
cumprido), segunda a qual a parte que descumpre a prestação (= viola uma norma) não querer
se beneficiar do contrato exigindo que a outra cumpra a contraprestação. Essa outra parte
pode se recusar a pagar a contraprestação, alegando que o contrato foi cumprido (= exceptio
non adimpleti contractus). A exceptio non adimpleti contractus está prevista no art. 476 do CC:

Art. 476. Nos contratos bilaterais [= contratos em que ambas as partes têm obrigação: prestação
e contraprestação], nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir
o implemento da do outro.

Errado.

039. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) O venire contra factum proprium


proíbe que uma pessoa faça contra outra o que não faria contra si mesmo, consistindo em
aplicação do mesmo princípio inspirador da exceptio non adimpleti contractus.

Questão define equivocadamente o tu quoque: esta é a proibição de alguém se aproveitar


da própria torpeza.
Errado.

040. (VUNESP/PROCURADOR/PREFEITURA DE CERQUILHO-SP/2019) “A possibilidade de se


considerar suprimida uma obrigação contratual, na hipótese em que o não exercício do
direito correspondente, pelo credor, gere no devedor a justa expectativa de que esse não
exercício se prorrogará no tempo”.

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Qual é o instituto a que se refere a citação?


a) Supressio.
b) Prescrição.
c) Impossibilidade jurídica do pedido.
d) Decadência.
e) Surrectio.

Questão define a supressio, que é a perda de um direito em razão de uma inércia prolongada
com a capacidade de criar uma legítima expectativa em outrem.
Letra a.

041. (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015/ADAPTADA) Os negócios jurídicos que estabeleçam benefício


devem ter interpretação ampla.

A interpretação de negócios jurídicos gratuitos (que são aqueles que estabelecem um


benefício patrimonial a outrem sem contraprestação) tem de ser restritiva, e não extensiva
(ampla), conforme art. 114 do CC. O mesmo se dá com as renúncias a direitos: também têm
de ser interpretadas restritivamente (art. 114, CC). Trata-se de um exemplo do princípio
da proteção simplificada do agraciado, de maneira que aquele que será beneficiado com
a liberalidade é protegido, mas sem prestígio. Se faço uma doação a uma pessoa, esse
contrato será interpretado de forma restritiva: não poderá o agraciado “tentar” obter
maior benefício por meio de uma interpretação extensiva.
Errado.

042. (IESES/OFICIAL DE CARTÓRIO/TJMS/ 2014) Para fins de prazo civil considera-se Meado:
a) Em qualquer mês, o seu décimo quinto dia, com exceção do mês de fevereiro, o qual será
considerado o décimo quarto dia.
b) A metade do prazo que a lei prever.
c) Em qualquer mês, o dia quinze, independentemente de que o vencimento venha a cair
em feriado.
d) Em qualquer mês, o seu décimo quinto dia, e se dia do vencimento cair em feriado,
considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.

Para negócios jurídicos (como contratos), a palavra “meado” sempre é o 15º dia,
independentemente do mês envolvido. E, se o dia do vencimento cair em dia não útil,
presume-se sua prorrogação para o dia útil seguinte. Se, por exemplo, estabeleço que o

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pagamento do preço será em meado de fevereiro, a data de vencimento será 15/FEV e, caso
esse dia seja feriado, considera-se que ele está prorrogado para o primeiro dia útil seguinte.
Trata-se do art. 132, caput e § 1º, do CC:

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído
o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.
§ 2º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§ 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se
faltar exata correspondência.
§ 4º Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.

Letra d.

043. (VUNESP/ADVOGADO/SPTRANS/2012) Considerando o Código Civil de 1916 (CC/1916)


e o Código Civil de 2002 (CC/2002), assinale a alternativa correta acerca da contagem
de prazos.
a) Prevalecem os prazos do CC/2002, na medida em que este revogou o CC/1916.
b) Prevalecem os prazos do CC/1916, em respeito ao ato jurídico perfeito.
c) Se reduzido o prazo pelo CC/2002 e transcorrido, na data de sua entrada em vigor, mais
da metade do tempo estabelecido no CC/1916, prevalece o prazo da nova lei.
d) Se reduzido o prazo pelo CC/2002 e transcorrido, na data de sua entrada em vigor, mais
da metade do tempo estabelecido no CC/1916, prevalece o prazo da lei anterior.
e) Se houve alteração de prazo pelo CC/2002, dever-se-á considerar a média dos prazos,
a contar da vigência do novo código.

Trata-se do art. 2.028 do CC:

Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data
de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei
revogada.

O enunciado n. 299/JDC tem a mesma dicção:

299 – Art. 2.028. Iniciada a contagem de determinado prazo sob a égide do Código
Civil de 1916, e vindo a lei nova a reduzi-lo, prevalecerá o prazo antigo, desde que
transcorrido mais de metade deste na data da entrada em vigor do novo Código. O
novo prazo será contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o tempo
anteriormente decorrido, salvo quando o não aproveitamento do prazo já decorrido
implicar aumento do prazo prescricional previsto na lei revogada, hipótese em que deve

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ser aproveitado o prazo já decorrido durante o domínio da lei antiga, estabelecendo-se


uma continuidade temporal.

Letra d.

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