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Parte Geral - I
Livro Eletrônico
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CÓDIGO:
230322218016
CARLOS ELIAS
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Direito Civil
Parte Geral - I
Carlos Elias
SUMÁRIO
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Parte Geral – I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1. Constitucionalização do Direito Civil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2. Diretrizes Teóricas do Código Civil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3. Corolários da Boa-Fé Objetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3.1. Proibição da Venire contra Factum Proprium. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.2. Supressio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.3. Surrectio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.4. Tu Quoque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
4. Teoria do Inadimplemento Mínimo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
5. Duty to Mitigate the Loss ou Dever de Mitigar as Próprias Perdas . . . . . . . . . . . . 14
6. Alguns Princípios Gerais de Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
6.1. Princípio do Aviso Prévio a uma Sanção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
6.2. Princípio da Proteção Simplificada do Agraciado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
6.3. Princípio da Proteção Simplificada do Luxo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Questões de Concurso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Gabarito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Gabarito Comentado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
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Parte Geral - I
Carlos Elias
APRESENTAÇÃO
Olá, meus amigos e minhas amigas!
O foco da aula de hoje é tratar de alguns pressupostos essenciais do Direito Civil. Isso
não é cobrado com tanta frequência nos concursos. Todavia, quando esse tema é exigido em
prova, a maior parte dos candidatos deixa de responder, o que fará você ficar em vantagens
no concurso. Lembre-se de que não basta passar no concurso; é necessário você também
ser nomeado. Isso significa que acertar questões que os demais candidatos deixam em
branco é uma vantagem significativa.
RESUMO
Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para
os exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu
aprofundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade
com as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver
familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois,
ir às questões.
O resumo desta aula é este:
• A Constitucionalização do Direito Civil é um movimento que estabelece que o Direito
Civil deve ser submetido ao Direito Constitucional, o que implica a despatrimonialização
(a pessoa humana é mais importante do que o patrimônio no Direito Civil), a
repersonalização (pessoa não é mero agente econômico, e sim algum com direito
à dignidade) e a eficácia horizontal dos direitos fundamentais (a possibilidade de
aplicação de normas e princípios constitucionais diretamente em relações de Direito
Civil);
• O Código Civil foi elaborado com base em três diretrizes teóricas: eticidade (valorização
da boa-fé objetiva), socialidade (valorização da função social) e operabilidade (o Código
foi redigido de modo a ser didático e com texto aberto a diversas interpretações);
• São corolários da boa-fé objetiva: (1) a proibição da venire contra factum proprium;
(2) a supressio; (3) a surrectio; (4) o tu quoque;
• Se o devedor cumpriu parcela substancial da dívida, não cabe a resolução do contrato
em nome da teoria do adimplemento substancial (= teoria do inadimplemento mínimo);
• O credor não pode adotar conduta oportunista que aumente o valor da dívida em
razão da duty to mitigate the loss;
• Princípio do aviso prévio a uma sanção: é necessário notificar a pessoa previamente
a uma sanção. Ex.:
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Parte Geral - I
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PARTE GERAL – I
Dignidade da pessoa
Despatrimonialização
humana > patrimônio
Constitucionalização
do Direito Civil
Indivíduo (e não o
Repersonalização patrimônio) = CENTRO
da tutela jurídica
Amigos e amigas, o Direito Civil atual mudou bastante. Falamos muito de um Direito
Civil Constitucional na atualidade.
A ideia é a de que todas as instituições de Direito Civil devem ser lidas à luz dos
princípios e das regras constitucionais, conforme metodologia doutrinária conhecida como
Constitucionalização do Direito Civil ou como “Direito Civil Constitucional”.
Essa metodologia (ou movimento) encontra berço no pensamento do jurista italiano
Pietro Perlingieri e se insurge contra os fundamentos antigos do direito civil clássico para,
nas palavras do professor da UERJ Carlos Nelson Konder, defender um direito civil capaz de
ser um verdadeiro instrumento de “emancipação das pessoas e de transformação social,
rumo a uma comunidade mais justa e solidária”. O professor da UERJ Gustavo Tepedino e a
professora Maria Celina Bodin de Moraes foram os principais responsáveis por trazer essa
metodologia para a doutrina brasileira, que conta atualmente com a adesão de autores do
porte do professor Paulo Luiz Neto Lôbo e Luiz Edson Fachin.
Por essa metodologia, condena-se a visão individualista em que se assentava o Código Civil
de 1916. Miguel Reale costumava afirmar que havia duas leis fundamentais no País: o Código
Civil, que era a “constituição do homem comum”, e a Constituição Federal, que estrutura o
Estado. Essa concepção não retrata, porém, a perspectiva constitucional do Direito Civil, que
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Parte Geral - I
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fixa a Constituição Federal como a única lei fundamental, à qual deve estar subordinado todo
o direito civil.
A propósito, conforme destaca o professor Paulo Lôbo, a Constitucionalização do
Direito Civil implica colocar o indivíduo, e não o patrimônio, no centro da tutela jurídica e
a não mais enxergar o indivíduo como um mero homos economicus, perspectiva essa que
é conhecida como Repersonalização e Despatrimonialização do Direito Civil. Enaltece-se,
assim, a dignidade da pessoa humana como vetor de condução do Direito Civil.
Em suma, pode-se atribuir ao movimento da constitucionalização do Direito Civil as
principais diretrizes: (1) despatrimonialização: o centro da tutela jurídica é a dignidade da
pessoa humana, e não o patrimônio; (2) repersonalização: a pessoa não é mais vista como
um mero agente econômico, e sim como o centro da tutela do direito; (3) eficácia horizontal
dos direitos fundamentais: os direitos fundamentais, que tradicionalmente eram aplicados
apenas nas relações entre Estado e indivíduo (vertical), devem também ser aplicados a
relações entre particulares (horizontal), a exemplo do princípio do contraditório antes de
excluir associado por justa causa (art. 57, CC) ou de infligir uma sanção a condômino (art.
1.337, CC).
Uma outra consequência é a de que o Direito Civil Constitucional prestigia normas com
cláusulas abertas e conceitos jurídicos indeterminados, os quais dão liberdade ao civilista
para acoplar os casos concretos aos princípios constitucionais.
Os contornos do Direito Civil Constitucional foram bem resumidos no documento
conhecido como “Carta de Curitiba”, no qual os Grupos de Pesquisa de Direito Civil dos
Programas de Pós-Graduação das Faculdades de Direito da Universidade Federal do Paraná
e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro editaram seis proposições que, em suma,
realçam a aplicação dos direitos fundamentais entre particulares, a rejeição do método
de subsunção, a supremacia do paradigma principiológico, a mudança do ensino jurídico e
a sobrevalorização da dignidade da pessoa humana (FACHIN e TEPEDINO, 2006).
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Diretrizes teóricas
Eticidade Boa-fé objetiva
do CC/2002
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Proibição de conduta
contraditória
De acordo com a venire contra factum proprium, também batizada como princípio
da proibição do comportamento contraditório, em nome da boa-fé objetiva, devem ser
consideradas ilícitas condutas que frustrem a legítima expectativa criada por uma conduta
anterior. Para ilustrar, o STJ não admitiu o pedido, feito pela esposa, de anulação de uma
promessa de compra e venda de imóvel feito pelo marido sem a outorga uxória, pois a esposa,
em ação judicial anterior proposta por terceiro em busca do imóvel, havia denunciado a lide
ao promitente comprador, a fim de que este integrasse a lide como litisdenunciado (STJ,
REsp 277.284, 4ª T., Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 12/03/2001).
3.2. SUPRESSIO
Supressivo e
É DIFERENTE da
prescrição
prescrição
coexistem
A supressio consiste na perda de um direito em razão de inércia capaz de criar uma legítima
expectativa em terceiro. Um dos primeiros casos em que se aplicou a supressio foi na Alemanha,
no início do século XX, quando a Corte alemã decidiu que um credor perdeu o direito à correção
monetária por ter-se mantido inerte em exigi-la durante o período de dois meses em uma
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época de vertiginosa espiral inflacionária. O STJ, entre outros casos, já aplicou a supressio
para condenar um proprietário de uma padaria a pagar indenização de R$ 15.000,00 a uma
moradora do mesmo prédio em razão dos barulhos provocados pelos maquinários durante a
madrugada. Nesse caso, a padaria havia alegado que a convenção do condomínio previa apenas
a destinação comercial das unidades autônomas. Todavia, o STJ entendeu que o condomínio
e, consequentemente, os demais condôminos perderam o direito de exigir essa destinação
exclusivamente comercial, por terem sido omissos durante muitos anos diante da ostensiva
ocupação residencial de uma moradora (STJ, REsp 1096639/DF, 3ª T., Rel. Min. Nancy Andrighi,
DJe 12/02/2009).
Outro caso de supressio ocorre quando, em um contrato de compra e venda de combustível,
há cláusula exigindo um volume mínimo de aquisição mensal. Suponha que, nesse caso, o
comprador realize, sem qualquer insurreição do comprador, pedidos mensais em volume
inferior ao mínimo contratual durante todo o tempo de vigência contratual. Ao final do
contrato, o vendedor não poderá posteriormente pleitear a multa contratual estabelecida
pelo descumprimento do consumo mínimo em nome da supressio, conforme decidiu o STJ
(REsp 1374830/SP, 3ª T., Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 03/08/2015).
A supressio nada tem a ver com a prescrição. Os institutos coexistem. No exemplo acima,
ainda que não esteja prescrita a pretensão de cobrança da multa pelo descumprimento do
consumo mínimo, operou-se a supressio contra o vendedor.
3.3. SURRECTIO
Aquisição de
um direito em Legítima expectativa
razão de condutas no autor dessas
antijurídicas condutas
Boa-fé objetiva Surrectio reiteradas
É o contrário da
supressio
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3.4. TU QUOQUE
O tu quoque, a seu turno, veda que alguém se aproveite da própria torpeza, exigindo direitos
com base em uma norma que ele violou. A exceptio non adimpleti contractus, prevista no art.
476 do Código Civil, é um exemplo. Ainda a título de exemplo, Nelson Rosenvald e Cristiano
Chaves citam interessante caso julgado por tribunal português. Nesse caso, a corte lusitana
entendeu que era incabível a alegação de inexistência de um contrato de compra e venda
de veículo por parte do comprador, pois este, anteriormente, havia retido dolosamente o
contrato que lhe fora enviado para assinatura.
Função social
Vedação ao
enriquecimento
sem causa
Fundamentos
Teoria do
INADIMPLEMENTO Boa-fé
MÍNIMO ou
adimplemento
Afasta a medida
substancial Vedação ao
drástica da resolução
abuso de direito
contratual
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Meus caros e minhas caras, ainda há outra teoria que vocês precisam conhecer. Trata-
se da teoria do inadimplemento mínimo.
Com fundamento na função social (arts. 421 e 2.035, parágrafo único, CC), na vedação ao
abuso de direito (art. 187, CC), na boa-fé (arts. 113 e 422, CC) e na vedação ao enriquecimento
sem causa (art. 884, CC), o Direito brasileiro acolhe a teoria do adimplemento substancial,
também batizada de teoria do inadimplemento mínimo ou da substantial performance.
Em suma, a referida teoria condena a medida drástica da resolução1 do negócio jurídico
quando a parte tiver descumprido apenas uma parcela pequena (daí o nome “inadimplemento
mínimo”) do contrato após já ter honrado com uma parcela substancial da dívida. A aferição
da expressividade do adimplemento deve levar em conta aspectos não apenas quantitativos,
mas também qualitativos (conforme enunciado n. 586/CJF). E, nesse juízo, deve-se atentar
para a dimensão da consequência do inadimplemento no caso concreto e para o grau de
importância da parte inadimplida, como lembra o Ministro Sidnei Beneti2. A aferição da
dimensão do inadimplemento – se é mínimo ou não – sempre dependerá da análise dos
casos concretos diante da inexistência de um critério prévio e fixo para tanto.
O objetivo é a manutenção do negócio jurídico nesses casos em que o devedor adimpliu
substancialmente a dívida, ou seja, teve uma performance substancial na execução do
contrato, de modo que o seu inadimplemento foi mínimo.
Alerte-se que essa teoria não implica extinção da dívida, mas apenas afasta a adoção de
medidas desproporcionais pelo credor, como a resolução do contrato. Isso significa que o
credor poderá servir-se dos meios ordinários de cobrança da dívida, seja os extrajudiciais –
como o protesto ou a inscrição do nome do devedor em cadastros de inadimplentes (como
o Serasa) –, seja os judiciais, como uma ação de cobrança.
Se, por exemplo, alguém vende um imóvel por preço a ser pago em 100 prestações, não
é razoável que o vendedor pleiteie a resolução do contrato se o comprador, após ter pago,
por exemplo, 99 prestações, descumpriu apenas a última. O adimplemento foi substancial.
Interessante exemplo é dado pelo notável professor da USP Otávio Luiz Rodrigues Junior,
que, com apoio em Edwart Errante3, lembra que uma empreiteira tem o direito de receber
o valor dos seus serviços se, diante de um projeto arquitetônico apresentado pelo dono
da obra para a construção de uma casa, somente cometeu uma falha: deixou de instalar
as maçanetas de duas portas na forma indicada no projeto. Dada a insignificância desse
1
Resolução é uma hipótese de extinção do contrato por inadimplemento. O verbete “resolver” também significa “acabar”. Por
isso, é usual a frase “vamos resolver o problema” com o significado acabar com o problema. Resolver o contrato é extinguir o
contrato.
2
REsp 1215289/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2013, DJe 21/02/2013.
3
O caso é lembrado pelo Ministro Antonio Carlos Ferreira no seu voto proferido neste julgado: REsp 1581505/SC, 4ª Turma,
Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, DJe 28/09/2016.
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Amigos e amigas, tenho por importante que você conheça algumas outras teorias
relevantes. A primeira delas é a teoria da substantial performance.
Não é apenas o devedor, mas também o credor quem deve observar a boa-fé objetiva.
O duty to mitigate the loss, também chamado de dever de mitigar as próprias perdas,
estabelece que o credor não pode adotar conduta oportunista que estimule o aumento da
dívida com o objetivo de obter proveitos. Compete, pois, ao credor adotar comportamentos
que colabore para que a dívida não se avoluma demasiadamente. Nas palavras do enunciado
n.169/CJF, “o princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do
próprio prejuízo”.
Assim, por exemplo, viola o duty to mitigate the loss quem, esperando obter um proveito
econômico considerável, aguarda dois anos para executar uma multa diária de R$ 1.000,00
fixada por um juiz para que o órgão de cadastro de inadimplentes (como o Serasa) apasse
uma negativação indevida. O credor da multa diária (astreintes) agrediu a boa-fé ao manter
uma omissão oportunista ao longo de dois anos, com o objetivo de conseguir um proveito
econômico de mais de R$ 730.000,00 por um lapso do órgão cadastral. O juiz, diante disso,
pode reduzir o valor total das astreintes diante da sua exorbitância por força da boa-fé
objetiva e do art. 814, parágrafo único, CPC.
Temos que, em nome do duty to mitigate the loss, é cabível a redução dos juros excessivos
cobrados por uma instituição financeira por uma dívida de cheque especial, especialmente
quando essa instituição manteve silêncio por longo período a fim de cobrar um montante
exorbitante. Em nome da boa-fé objetiva, competia à instituição financeira, ao menos,
contatar o devedor, informando-lhe dos juros estratosféricos a que ele estava exposto.
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deve-se entender qualquer restrição de direito imposta a uma pessoa. Esse é o princípio do
aviso prévio a uma sanção, que decorre do princípio do contraditório (que se aplica a relações
entre particulares) e da boa-fé objetiva.
São vários os exemplos de aplicação desse princípio (e é importante você gravar esses
exemplos):
• Prisão civil do devedor de alimentos: é necessário citar pessoalmente o devedor
previamente para, em três dias, pagar a dívida ou justificar sua inadimplência (art.
528, CPC);
• Busca e apreensão de veículo alienado fiduciariamente ou objeto de leasing: a ação
de busca e apreensão só pode ser ajuizado se, antes, o devedor tiver sido notificado
mediante envio de carta registrada com aviso de recebimento (AR) sem necessidade
de que o próprio devedor tenha sido quem assinou o AR (art. 2º, § 2º, DL 911/1969);
• Consolidação da propriedade no procedimento de execução extrajudicial de
dívida garantida por alienação fiduciária em garantia sobre imóvel: é necessária
notificação prévia do devedor para, em 15 dias, purgar a mora (pagar a dívida atrasada),
notificação essa que é feita pelo Cartório de Imóveis (art. 26, Lei n. 9.514/97);
• Cancelamento de plano de saúde por inadimplemento do cliente: é necessária
notificação prévia (art. 13, II, da Lei n. 9.656/1998);
• Cancelamento do seguro de vida por inadimplemento do segurado: é necessária
notificação prévia. Não há lei, mas jurisprudência do STJ (STJ, REsp 316.552/SP, 2ª
Seção, Rel. Ministro Aldir Passarinho Júnior, DJ 12/04/2004);
• Negativação do nome do devedor em cadastro de inadimplentes: é forçosa a
notificação prévia por parte do órgão cadastral, sob pena de causar dano moral (art.
43, § 2º, do CDC; STJ REsp 1061134/RS, 2ª Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe
01/04/2009);
• Negativação do nome do devedor em cadastro de inadimplentes de consulta
ampla (como o Serasa) a partir de informações extraídas de negativação feita
no Cadastro de Emitentes de Cheques sem fundos (CCF): é necessária notificação
prévia do devedor para comunicar que o seu nome, que estava negativado em um
cadastro de inadimplentes de consulta bem restrita (como o CCF) irá ser lançado em
um cadastro de inadimplementos de consulta ampla (como o SERASA), sob pena de
causar dano moral (STJ, REsp 1578448/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi,
DJe 12/04/2019);
• Ação de despejo:
O procedimento do despejo prevê que, antes da ordem judicial de despejo, o inquilino inadimplente
tem o direito de, após ser citado, purgar a mora: trata-se do chamado depósito elisivo (art. 61,
8 § 3º, e art. 62, II, da Lei n. 8.245/91).
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a medida drástica do corte do fornecimento de energia elétrica ou de água só poderá ser feito
mediante notificação prévia, conforme art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/1995 (STJ, REsp 1342608/
SP, 2ª Turma, Rel. Ministro Og Fernandes, DJe 27/09/2017). Se, porém, houver situação de
emergência, a suspensão da energia elétrica é permitida sem prévio aviso, pois há urgência a
justificar esse ato (art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/1995.
Agraciado =
Princípio da proteção O direito protege o Prevalece a
benefício de negócio
SIMPLIFICADA do agraciado, mas não função social do
jurídico negócio
agraciado lhe dá prestígio negócio
jurídico GRATUITO
O Direito Civil protege o agraciado (aquele que é beneficiado por um negócio jurídico
gratuito), mas sem lhe dar prestígio. Vejam os exemplos práticos:
• Fraude contra credores:
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Direito Civil
Parte Geral - I
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prestigiar estes últimos diante da função social (art. 158, CC). Se, porém, se tratar de um negócio
oneroso, o consilium fraudis é requisito essencial.
O fato de a liberalidade somente trazer ônus ao generoso exige que ela se exteriorize por uma
forma que assegure, ao máximo, certeza do seu ânimo. O beneficiário da liberalidade não é
prestigiado do ponto de vista formal, razão por que a legislação se inclina – há exceções! – a
considerar os negócios jurídicos gratuitos como solenes, a exemplo da fiança e da doação, que
devem ser escritas (arts. 541 e 819, CC).
O princípio da garantia, que estabelece que o adquirente de um bem tem direito à higidez da coisa
(garantia em caso de vício redibitório) e do direito sobre a coisa (garantia em caso de evicção),
somente é aplicável para contratos onerosos, conforme arts. 441 e 447 do CC. Beneficiários de
gratuidade não podem exigir juridicamente essa garantia de qualidade da coisa ou do direito
sobre a coisa. O generoso, porém, deve responder por indenização apenas no caso de dolo por
força do art. 392 do CC.
À luz do art. 372 do CC, a concessão obsequiosa de um prazo adicional para o pagamento de uma
dívida (prazo de favor) não implica renúncia ao direito do credor de utilizar essa dívida para, por
meio da compensação, extinguir outra. Seria realmente injusto que o beneficiário da benesse
pudesse executar judicialmente o generoso por uma outra dívida, sem que este último, em
defesa, pudesse opor a compensação. A concessão de um prazo de favor afasta a mora ( juros
moratórios, multas etc.), mas jamais o direito de o credor valer-se da obrigação dilatada para
invocar a compensação.
Conforme art. 295 do CC, o cedente responde pela existência do crédito na cessão onerosa,
independentemente de culpa ou dolo. Se, porém, a cessão for gratuita, o cedente generoso só
responde por dolo. Essa regra harmoniza-se com a lógica de justiça da tutela da gratuidade e se
afina com as disposições relativas à evicção (art. 447, CC) e à responsabilidade civil do generoso
(art. 392, CC).
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Parte Geral - I
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O direito protege
Princípio da proteção situações de luxo, Padrão de luxo:
SIMPLIFICADA do mas não lhe dá homem médio
agraciado prestígio
O Direito Civil protege situações de luxo (aquelas que estão acima da média), mas sem
lhe dar prestígio. Vejam os exemplos práticos:
• Benfeitorias voluptuárias e posse:
O possuidor de boa-fé não pode exigir que elas sejam indenizadas, embora possa levantá-las
se for possível, ao contrário que se dá com as benfeitorias necessárias e úteis (art. 1.219, CC).
Em outras palavras, se um possuidor de boa-fé despende R$ 1.000,00 com a troca da fiação
elétrica (benfeitoria necessária), R$ 4.000,00 com a ampliação do quarto (benfeitoria útil) e R$
500.000,00 com a contratação de um famoso pintor para colorir o teto da sala ao estilo da Capela
Sistina (benfeitoria voluptuária), ele – ao ser desapossado do bem por um terceiro com melhor
direito – poderá reivindicar a indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis com direito de
retenção, mas não poderá exigir que o reivindicante indenize-lhe as benfeitorias voluptuárias
(“o luxo”), ou seja, as obras que excedem o padrão do homo medius. Esse possuidor poderá
apenas, se possível, “levantar” essa benfeitoria luxuosa, como levar a lâmina do teto contendo
a pintura e rebocando o teto para restituir-lhe a normalidade. O Direito protege o luxo, mas não
o prestigia, conforme o princípio da proteção simplificada do luxo.
Quando há manifesta desproporção entre o grau de culpa e o dano, o juiz pode reduzir o valor
da indenização equitativamente. Assim, se um indivíduo abalroa o seu veículo contra um carro
de luxo cujo conserto custará cinquenta vezes mais o valor que corresponderia à reparação de
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Parte Geral - I
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um carro comum, é viável aplicar o art. 944, parágrafo único, do CC para permitir o valor da
indenização seja reduzido para um patamar mediano. Isso, porque o luxo ostentado pelo titular
do veículo acaba por expor os demais a um risco acima da média. Se, porém, a colisão tivesse
sido provocada dolosamente por inveja do condutor do veículo comum, a indenização deveria
ser o elevadíssimo valor do orçamento, pois o grau de culpa será proporcional ao dano. É nesse
sentido que o direito protege o luxo, mas não lhe dá prestígio, conforme o princípio em pauta.
Em regra, os móveis que guarnecem o imóvel residencial do devedor são impenhoráveis por serem
bem de família. Excepciona-se essa blindagem de impenhorabilidade se esses móveis forem
“obras de arte e adornos suntuosos” (art. 2º, Lei n. 8.009/1990). É que esses bens representam
“luxos”, ou seja, excedem o limite do padrão do homo medius e, portanto, não podem receber a
mesma deferência jurídica que repousa sobre os demais móveis. Trata-se de mais um exemplo
de aplicação do princípio da proteção simplificada do luxo.
Na desapropriação por utilidade pública ou para reforma agrária, as benfeitorias voluptuárias não
são indenizadas em dinheiro, ao contrário do que sucede com as benfeitorias necessárias e úteis
(art. 26, Decreto-Lei n. 3.365/41; arts. 5º, XXIV, 184, § 1º, CF; art. 5º, § 1º, da Lei n. 8.629/1993).
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QUESTÕES DE CONCURSO
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Parte Geral - I
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d) Normatização da biotecnologia.
e) Unificação no plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito Comercial.
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Parte Geral - I
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042. (IESES/OFICIAL DE CARTÓRIO/TJMS/ 2014) Para fins de prazo civil considera-se Meado:
a) Em qualquer mês, o seu décimo quinto dia, com exceção do mês de fevereiro, o qual será
considerado o décimo quarto dia.
b) A metade do prazo que a lei prever.
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Parte Geral - I
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GABARITO
1. d 35. e
2. E 36. E
3. C 37. C
4. c 38. E
5. e 39. E
6. E 40. a
7. E 41. E
8. C 42. d
9. E 43. d
10. E
11. C
12. E
13. C
14. d
15. E
16. C
17. C
18. E
19. E
20. C
21. a
22. E
23. E
24. C
25. b
26. C
27. C
28. C
29. C
30. E
31. E
32. C
33. C
34. C
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GABARITO COMENTADO
O direito das obrigações foi unificado, de modo que relações obrigacionais civis e empresariais
se sujeitam às mesmas regras.
Errado.
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Art. 2.045. Revogam-se a Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916 – Código Civil e a Parte Primeira
do Código Comercial, Lei n. 556, de 25 de junho de 1850.
Certo.
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de outra. Devido a esse contraste de ideias, assisti, uma vez, perplexo, num mesmo mês, a um
Tribunal de São Paulo negar uma apelação interposta por mim e outros advogados, porque
entendia que o nosso direito estava extinto por força de decadência; e, poucas semanas depois,
ganhávamos, numa outra Câmara, por entender-se que o prazo era de prescrição, que havia
sido interrompido! Por isso, o homem comum olha o Tribunal e fica perplexo. Ora, quisemos
pôr termo a essa perplexidade, de maneira prática, porque o simples é o sinal da verdade, e
não o bizantino e o complicado. Preferimos, por tais motivos, reunir as normas prescricionais,
todas elas, enumerando-as na Parte Geral do Código. Não haverá dúvida nenhuma: ou figura
no artigo que rege as prescrições, ou então se trata de decadência. Casos de decadência não
figuram na Parte Geral, a não ser em cinco ou seis hipóteses em que cabia prevê-la, logo após,
ou melhor, como complemento do artigo em que era, especificamente, aplicável. (REALE, Miguel.
O projeto de Código Civil: situação atual e seus problemas fundamentais. São Paulo: Saraiva,
1986. p. 11-12).
Essa solução adotada no Código Civil de 2002 se vincula:
a) à diretriz fundamental da socialidade.
b) à abolição da distinção entre prescrição e decadência.
c) à diretriz fundamental da eticidade, evitando soluções juridicamente conflitantes.
d) ao princípio da boa-fé objetiva, que garante a obtenção do julgamento esperado pelo
jurisdicionado.
e) à diretriz fundamental da operabilidade, evitando dificuldades interpretativas.
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O erro está na última parte: a posse de boa-fé ou de má-fé no direito das coisas segue o
princípio da boa-fé subjetiva, assim entendida aquela que verifica se a intenção da pessoa
é moralmente boa ou não. É o art. 1.201 do CC:
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a
aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em
contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
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É incompleto definir a boa-fé objetiva como a mera ausência de má-fé, pois a boa-fé
subjetiva também decorre da falta de má-fé. Por isso, errado o item.
Errado.
O uso de palavras com campo semântico aberto, que permite diversas interpretações por
conter certo grau de indeterminação, é a característica marcada dos conceitos jurídicos
indeterminadas e das cláusulas gerais (ou cláusulas abertas). Essas duas técnicas de redação
legislativa são bem parecidas.
A distinção é a que, no conceito jurídico indeterminado, a indeterminação está apenas
definição da norma (= o conceito é indeterminado), e não na consequência de sua violação,
a exemplo da expressão “atividade de risco” prevista no parágrafo único do art. 927 do
CC. Definir o que seja “atividade de risco” envolve certo grau de indeterminação, mas a
consequência jurídica é certa: a responsabilidade objetiva. A indefinição está apenas no
pressuposto da norma (conteúdo, a definição), e não no seu consequente (consequência
prática).
Já na cláusula geral, a indeterminação está tanto na definição quanto na consequência
prática. É o caso, por exemplo, da expressões “função social”, “boa-fé objetiva”, “probidade”,
“devido processo legal”. Tanto a definição desses conceitos quanto as suas consequências
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são abertas, o que dá grande margem de manobra ao jurista. A indefinição está tanto no
pressuposto da norma quanto no consequente4.
Na prática, porém, é comum haver mistura entre as duas técnicas de redação legislativa
acima, especialmente porque ambas têm em comum o objetivo de dar maior liberdade à
atividade interpretativa do jurista.
Certo.
A eticidade é exigir que, nas relações de direito civil, as partes adotem comportamento
compatível com a ética. Isso permite que contratos com cláusulas abusivas sejam invalidados,
o que representa uma flexibilização do pacta sunt servanda. A questão está, pois, correta.
Certo.
4
Para aprofundamento, recomendamos obra do jurista Rodrigo Reis MAZZEI (2005) e da jurista Sabrina Dourado FRANÇA
ANDRADE (2011).
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A operabilidade é a diretriz teórica que estabelece que o CC/2002 deveria ser redigido
de modo a ser de fácil manuseio pelo operador do Direito. Dela decorre, de um lado, a
sistematicidade (de que é exemplo a concentração dos prazos prescricionais nos arts. 205
e 206 do CC) e, de outro lado, o emprego de técnicas de redação aberta das normas por
meio das cláusulas gerais e dos conceitos jurídicos indeterminados. Por isso, a resposta é
letra “D”.
Letra d.
A divisão do CC/2002 é esta: Parte Geral (arts. 1 a 232), Parte Especial (arts. 233 a 2027) e
Livro Complementar (arts. 2028 a 2046).
Certo.
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A operabilidade do direito civil foca entregar ao jurista a aptidão de resolver casos concretos,
de acordo com suas particularidades, de uma maneira mais justa e compatível com a
dignidade da pessoa humana. Não se busca, portanto, dar uma solução abstrata a todos
os casos concretos de forma indistinta, ao contrário do afirmado na questão.
Errado.
O uso de normas abertas (por meio das técnicas de redação legislativa do “conceito jurídico
indeterminado” e das “cláusulas abertas”) reduz o raciocínio dedutivo e silogístico (os quais
são mais usuais para normas fechadas) e amplia o espaço para o raciocínio da razoabilidade
e da ponderação de princípios.
Errado.
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de institutos do Direito Civil, como, por exemplo, a boa-fé objetiva como elemento das
relações contratuais. Essa mudança de paradigma decorre do que se tem chamado de
constitucionalização do Direito Civil.
Não há falar em privatização do Direito Civil, e sim na sua publicização, assim entendida a
tendência de serem editadas normas de ordem pública para proteger pessoas vulneráveis em
contratos civis. Por isso, o gabarito é a letra “A”. No mais, acresça-se que o novo Direito Civil é
marcado pela sua constitucionalização (movimento que o subordina à Constituição Federal),
pela sua humanização (há uma valorização da dignidade da pessoa humana), pela normatização
da biotecnologia (a legislação tende a regulamentar a biotecnologia, de que são exemplos a
presunção de paternidade no caso de reprodução assistida nos termos do art. 1.597, III a V, do
CC, a Lei de Biossegurança e a Resolução n. 63/2017 – CNJ, que trata da paternidade no caso
de reprodução assistida) e pela unificação no plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito
Comercial (as regras de obrigações do Livro das Obrigações se aplicam para relações civis ou
empresariais).
Letra a.
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Não tem uma visão abstrata do sujeito, e sim concreta, pois busca adequar-se às
particularidades de cada pessoa na garantia dos seus direitos. O próprio uso de cláusulas
abertas e conceitos jurídicos indeterminados como técnicas de redação legislativa se destinam
a dar maior mobilidade ao jurista para, diante de cada caso concreto, dar uma solução mais
justa, humana e digna.
Errado.
O sistema é aberto: o diálogo do direito civil é com todos os ramos do Direito e com todas
as normas (até com tratados internacionais), e não apenas com a Constituição Federal, ao
contrário do dito na questão.
Errado.
O Código Civil colocou a dignidade da pessoa humana no centro de sua tutela, o que retrata
uma visão antropocêntrica, conforme letra “D”. O homem é o centro, e não mais o patrimônio
(visão patrimonialista).
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Errado. O CC prestigia uma igualdade material, que busca dar proteção a quem está em
situação de vulnerabilidade. Os incapazes, por exemplo, seguem sob a proteção do regime
de poder familiar, tutela ou curatela. Errado, pois, o item.
Errado.
A teoria do adimplemento substancial não tem previsão textual na legislação, mas decorre
da vedação ao abuso de direito (art. 187, CC), da boa-fé objetiva (arts. 113 e 422, CC) e da
função social (art. 421, CC).
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O art. 330 do CC prevê que o pagamento reiterado em lugar diverso do pactuado faz presumir
renúncia ao direito de exigir o pagamento no lugar pactuado. Isso é um exemplo de supressio,
pois a omissão reiterada do credor em exigir a observância do pagamento no lugar contratado
cria uma legítima expectativa no devedor de que este poderá continuar pagando no mesmo
lugar.
Certo.
A questão arrola os quatro corolários da boa-fé objetiva, que são decorrência da teoria
dos atos próprios (segunda a qual é ilícito contrariar um ato próprio). Ela também define
adequadamente a supressio, que implica a perda de um direito pelo seu não exercício
prolongado com a capacidade de criar uma legítima expectativa na outra parte.
Certo.
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A questão é antiga. O gabarito dela à época foi letra “E”. Todavia, atualmente, essa questão
seria anulada. Trazemos essa questão aqui para chamar a atenção para o entendimento
atual do STJ. O STJ, nos casos de financiamento de veículos com alienação fiduciária em
garantia, não mais admite a aplicação da teoria do adimplemento substancial para impedir a
execução de uma garantia fiduciária por meio da busca e apreensão do bem e da consequente
consolidação da propriedade fiduciária. O fundamento principal é o de que a boa-fé e a
função social do contrato seriam desvirtuadas se o credor perdesse o direito de executar
uma garantia essencial ao seu crédito com fundamento em autorização legal expressa (o
Decreto-Lei n. 911/67), o que comprometeria o “desenvolvimento da economia nacional”
(STJ, REsp 1622555/MG, 2ª Seção, Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Ministro Marco
Aurélio Belizze, DJe 16/03/2017).
Letra e.
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A questão define o venire contra factum proprium, e não o tu quoque. Este último censura que
uma pessoa, após violar uma norma, tente se aproveitar dessa situação posteriormente. A ideia
é a de que ninguém pode se aproveitar da própria torpeza. O exemplo clássico de repressão
ao tu quoque é a chamada “exceptio non adimpleti contractus” (exceção de contrato não
cumprido), segunda a qual a parte que descumpre a prestação (= viola uma norma) não querer
se beneficiar do contrato exigindo que a outra cumpra a contraprestação. Essa outra parte
pode se recusar a pagar a contraprestação, alegando que o contrato foi cumprido (= exceptio
non adimpleti contractus). A exceptio non adimpleti contractus está prevista no art. 476 do CC:
Art. 476. Nos contratos bilaterais [= contratos em que ambas as partes têm obrigação: prestação
e contraprestação], nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir
o implemento da do outro.
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Questão define a supressio, que é a perda de um direito em razão de uma inércia prolongada
com a capacidade de criar uma legítima expectativa em outrem.
Letra a.
042. (IESES/OFICIAL DE CARTÓRIO/TJMS/ 2014) Para fins de prazo civil considera-se Meado:
a) Em qualquer mês, o seu décimo quinto dia, com exceção do mês de fevereiro, o qual será
considerado o décimo quarto dia.
b) A metade do prazo que a lei prever.
c) Em qualquer mês, o dia quinze, independentemente de que o vencimento venha a cair
em feriado.
d) Em qualquer mês, o seu décimo quinto dia, e se dia do vencimento cair em feriado,
considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.
Para negócios jurídicos (como contratos), a palavra “meado” sempre é o 15º dia,
independentemente do mês envolvido. E, se o dia do vencimento cair em dia não útil,
presume-se sua prorrogação para o dia útil seguinte. Se, por exemplo, estabeleço que o
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pagamento do preço será em meado de fevereiro, a data de vencimento será 15/FEV e, caso
esse dia seja feriado, considera-se que ele está prorrogado para o primeiro dia útil seguinte.
Trata-se do art. 132, caput e § 1º, do CC:
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído
o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.
§ 2º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§ 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se
faltar exata correspondência.
§ 4º Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.
Letra d.
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data
de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei
revogada.
299 – Art. 2.028. Iniciada a contagem de determinado prazo sob a égide do Código
Civil de 1916, e vindo a lei nova a reduzi-lo, prevalecerá o prazo antigo, desde que
transcorrido mais de metade deste na data da entrada em vigor do novo Código. O
novo prazo será contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o tempo
anteriormente decorrido, salvo quando o não aproveitamento do prazo já decorrido
implicar aumento do prazo prescricional previsto na lei revogada, hipótese em que deve
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