Bergamini Claudia V Me 2012
Bergamini Claudia V Me 2012
Bergamini Claudia V Me 2012
Londrina
2012
CLAUDIA VANESSA BERGAMINI
Londrina
2012
Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da
Universidade Estadual de Londrina
CDU 869.0(81)-4.09
CLAUDIA VANESSA BERGAMINI
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
Orientadora Profª. Drª. Regina Célia dos
Santos Alves
UEL – Londrina – PR
_______________________________
1º Titular Prof. Dr. Ariovaldo José Vidal
USP – São Paulo – SP
_______________________________
2º Titular Prof. Dr. Luiz Carlos Santos Simon
UEL – Londrina – PR
_______________________________
1ª Suplente Profª. Drª. Loredana Límoli
UEL – Londrina – PR
______________________________
2ª Suplente Profª. Drª. Regina Helena Machado
A. Correa
UEL – Londrina – PR
Henri-Pierre Jeudy
BERGAMINI, Claudia Vanessa. De norte a sul, quadros e costumes históricos
do Brasil: o olhar de Marques Rebelo. 2012. 124f. Dissertação (Mestrado em
Letras) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2012.
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar as crônicas do livro Cenas da vida brasileira
do autor carioca Marques Rebelo. Tendo sua primeira publicação em 1951, o livro
traz crônicas que cristalizam o tempo e os lugares de que falam. Nelas, o olhar do
autor captou as cidades como lugares em que circulam diferentes tipos sociais, cada
qual com seus valores, sua cultura, seus costumes. Nessas construções, que são
formadas por pessoas, cada um apreende os lugares a partir de sua percepção. E é
a percepção de Marques Rebelo sobre as cidades que se busca analisar neste
estudo. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de cunho bibliográfico, a fim de
discutir a cidade como um lugar em construção, repleto de tensões e de marcas que
vão da modernidade ao atraso. A relação entre a crônica e a cidade é intensa, pois
esta se mostra como matéria viva para o cronista que a descreve, revelando-a,
transpondo em palavras a realidade visível e invisível das cidades. Os resultados
obtidos por meio da análise das crônicas estão apresentados em quatro capítulos.
No primeiro deles, discute-se a cidade, que se oferece ao cronista como labiríntica,
enigmática, como uma sedutora, que pede para ser eternizada nos textos. Os
demais capítulos tratam das temáticas identificadas nas crônicas, como a crítica à
Igreja; a chegada da modernidade nas capitais brasileiras; os atrasos cultural e
social do interior do Brasil e o lamento acerca dos males que o progresso traz à
natureza. Quanto ao estilo do autor, a linguagem das crônicas revela um cronista
que se vale de ironia, para expor a crítica sobre as questões tratadas; vale-se de um
estilo moderno, com textos curtos, às vezes, com aspecto de inacabados e, por fim,
marca o estilo de Rebelo cronista um lirismo, cuja inspiração vem da natureza,
cenário valorizado como o lugar do equilíbrio, do sossego e da paz que,
modernizadas, as cidades já não podem mais oferecer.
ABSTRACT
This work aims to analyse the chronicles of the book Cenas da vida brasileira, written
by Marques Rebelo, author from Rio de Janeiro. Having his first publication in 1951,
it brings chronicles that crystallize the time and places of which they speak.
According to them, the look of the author has captured the cities as places in which
circulate different social classes, each of them with their values, their culture, and
their customs. In these constructions, which are formed by people, each one
apprehends the places from their perception. And it’s Marques Rebelo’s perception
on the cities that it’s sought to be analyzed in this study. With this purpose, a
bibliographic research was conducted in order to discuss the city as a place in
construction, full of tension and of marks ranging from modernity to backwardness.
The relationship between the chronicle and the city is intense since the latter shows
itself as a topic for the chronicler who describes it, revealing it, transposing into words
the visible and the invisible reality of the cities. The results obtained by the analysis
of the chronicles are presented in four chapters. In the first one, it is portryed the city
that offers itself to the chronicler as labyrinthine, enigmatic, as a seductive one that
asks to be perpetuated in the texts. The remaining chapters deal with the themes
identified in chronicles, such as the criticism of the Church; the arrival of modernity in
the Brazilian capitals; the cultural and social backwardness of the interior of Brazil
and the lamentation about the ills that progress makes to nature. Regarding the
author’s style, the language of the chronicles reveals a chronicler that has irony a
recourse to expose the criticism on the issues dealt with; who has a modern style,
with short texts, with sometimes unfinished aspect and, finally, it marks the style of
the lyrical chronicler Rebelo, whose inspiration comes from nature, scenario valued
as a place of balance, calmness and peace, which modernized cities can no longer
offer.
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................10
REFERÊNCIAS.......................................................................................................118
10
INTRODUÇÃO
1
Com a abertura das faculdades de Letras na década de 1930, no Brasil, um novo crítico inicia a
análise das produções literárias: o crítico-scholar - termo empregado por Coutinho para definir a
geração de críticos especializados que se formou com o surgimento das primeiras faculdades de
Letras no Brasil a partir da década de 1930 - ao qual cabia escrever sobre a forma e o conteúdo,
deixando de lado a impressão acerca da obra ou do autor (SÜSSEKIND, 1993). No entanto,
concorda-se com Bloom quando ele afirma que a escolha passa pelo gosto pessoal do crítico.
Nesse caso, essa escolha poderia ser uma justificativa para o fato de o nome de Rebelo não figurar
dentro das obras de História da Literatura, sendo ainda eleitos os autores de maior destaque em
cada período.
13
obras não foram reeditadas porque um “psicopata” - termo por ele empregado –
apropriou-se de bons materiais e do arquivo pessoal do pai, impedindo a reedição.
José Maria procurou a justiça, mas ela não foi tão justa e, somente com a morte da
pessoa a que se refere, ele recuperou os direitos autorais. Assim, a partir de 2009, a
Editora José Olympio iniciou a republicação das obras, dentre elas estava Cenas da
vida brasileira.
Iniciei a leitura das crônicas e meu interesse por elas cresceu
sobremaneira, apagando o desejo de voltar-me aos contos. Tinha em mãos um
material que considero ainda inédito dentro da pesquisa acadêmica, pois não há
estudos cadastrados na CAPES que analisem as crônicas de Rebelo ou mesmo
artigos disponíveis nas revistas eletrônicas das melhores universidades (exceção ao
artigo já mencionado, que analisa crônicas publicadas em outro livro). Decidi então
mudar o gênero a ser analisado, mas o objetivo maior deste estudo permaneceu:
verificar a construção das cidades, lendo os elementos citadinos presentes nas
crônicas e os pontos de intersecção entre cidade e literatura. Agora, porém, muito
mais forte, porque as crônicas não enfatizam as personagens, mas sim os fatos
citadinos, levam o nome dos lugares que descrevem, marcando a principal temática
que os permeia: as cidades. Em cada texto uma cidade é descrita e ora o cronista se
revela com um tom dissertativo-argumentativo, defendendo claramente o ponto de
vista sobre alguma questão, ora ele se apresenta como um lírico apaixonado pelo
espaço narrado e pelos tipos que o compõe.
A mudança de gênero – de conto para crônica – mostrou-se muito
gratificante, pois ainda que a crônica como gênero literário já conte com um número
razoável de estudos, falar dela exigiu a leitura de teorias que revelaram a polêmica
sobre a literariedade do gênero. Polêmica esta que permeia há tempo a teoria
literária.
Segui à risca as palavras de Simon (2011, p. 20): “a crônica deve ser
estudada”. O tom aconselhador do autor vem de anos dedicados ao estudo do
gênero que, com leveza, informalidade e reverência, instiga o leitor (SIMON, 2011).
Ainda com base nas reflexões de Simon, pude compreender que, embora os
estudos sobre o gênero tenham se intensificado, sobretudo na primeira década do
século XXI, muito se tem a fazer “tanto no que diz respeito a reflexões teóricas sobre
o gênero quanto na esfera da análise da produção dos cronistas” (SIMON, 2011, p.
15
2
De acordo com Renato Cordeiro Gomes, em comentário à edição de Cenas da vida Brasileira
(2010), a primeira edição do livro data de 1944, com o título Viagens sentimentais a Minas Gerais.
Em 1951, o livro foi republicado contendo a segunda suíte, na qual crônicas sobre cidades situadas
em distintas regiões do Brasil foram inseridas.
17
Machado de Assis
19
É falar de uma amplíssima realidade que, sobretudo, deve ser tomada como
complexidade, como diversidade econômica, ambiental, cultural,
urbanística, arquitetônica, política e social. As cidades são tanto os dados
imediatos de suas materialidades, quanto o impalpável dos sonhos, dos
desejos (PAULA, 2006, p. 21).
um texto ágil, não deixa de ganhar do cronista acabamento estético e esse é um dos
fatores que a faz um gênero literário. A crônica torna-se o texto que:
3
Embora Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo façam hoje parte da Região Sudeste, à época
em que as crônicas foram escritas, outra era a Organização Regional do Brasil. A região Sul
contemplava os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de
Janeiro. Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e onde hoje está localizado
Tocantins formavam a região Centro. A atual região Nordeste dividia-se em duas: Este e Nordeste.
A região Norte sofreu poucas alterações, incluindo Rondônia (antes Centro e, posteriormente,
Tocantins). Somente no ano de 1990, o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
dividiu o território nacional nas cinco regiões que se tem hoje. Nas análises das crônicas, ao se
referir às regiões tratadas pelo autor, foi mantida a divisão que se tem hoje.
24
4
O termo flâneur é aqui entendido como referência aos olhos do cronista que divaga pela rua,
observando as transformações arquitetônicas e as belezas naturais. Flâneur é aquele que observa
as mudanças do espaço natural e do homem que por ele se locomove.
27
serem editadas em livro. Rebelo retrata Minas a partir do que viu e viveu, transpõe
para o texto a experiência das cidades por onde circulou. Retrata Santa Catarina,
Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Mato Grosso, enfim, o Brasil, por meio da
descrição das experiências de pessoas comuns das cidades interioranas. É no
contar de causos e de horas que se arrastam que o autor construiu, em Cenas da
vida brasileira, uma imagem do país, por meio de seu olhar cético e crítico para as
cidades e seus habitantes.
Desse modo, corrobora-se a ideia de Renato Cordeiro Gomes que
afirma, na orelha do livro Cenas da vida brasileira, edição publicada pela Editora
José Olympio em 2010, ter retomado Rebelo a tradição, que se iniciou com os
românticos e seguiu com os modernistas, em fazer com que as palavras
delineassem a identidade cultural do país. Para seguir essa tradição, o autor não
escolheu somente a crônica, já que seus romances e contos também são leituras
das cidades brasileiras e dos tipos sociais que nelas circulam – com destaque para o
Rio de Janeiro – a contribuir para representar aspectos da sociedade brasileira
como um todo. Por exemplo, o romance Marafa, no qual seu olhar voltou-se para a
cidade do Rio de Janeiro; o mesmo acontece em Oscarina, livro de contos e no
romance A estrela sobe, que trazem tipos sociais e costumes cariocas da década de
1930. Acredita-se que por circular entre gêneros diversos da literatura – crônicas,
contos, romances, teatro – e tratar de temáticas variadas em seus textos, Rebelo
não ganhou a limitada alcunha, atribuída a escritores como Graciliano Ramos, da
segunda fase modernista, de “romancista regionalista” ou “romancista social”.
Felizmente os poucos estudos sobre o autor apontam para outros aspectos de sua
produção literária, sem a intenção de rotulá-lo ou meramente enquadrá-lo a um
momento específico da literatura. Apontam para a capacidade do autor em registrar
“a cidade como lugar da inscrição e rasura de signos cuja ilegibilidade seduz e
desafia o olhar do amador de signos e da cidade” (GOMES, 1985, p. 154).
Nesse sentido, como um caixeiro-viajante, empregando o termo de
Benjamim (1987), Rebelo vai construindo crônicas que são metonímias dos lugares
descritos e permite ao leitor se tornar próximo daquilo que está distante no tempo,
“ele assume e retrata a condição de viajante que se desloca até os espaços
tematizados em seus textos” (SALLA, 2010, p. 354). Rebelo segue uma tendência
cara aos escritores românticos: escrever o Brasil, a revelar regiões, culturas e
hábitos ainda não retratados pela literatura. No entanto, acredita-se que ele superou
28
cada cidade oferece, independente de ser o melhor ou o pior de cada região. Nas
palavras de Arrigucci Jr. (1987), o cronista é aquele capaz de captar os olhares
mais insignificantes da cidade e documentá-lo, de modo que a leitura da crônica
possa abrir os olhos do leitor para o detalhe que só o cronista percebeu.
Rebelo não faz somente uma descrição das cidades, antes, porém,
tem-se textos com acabamento estético e com interesse ideológico, conforme
poderá ser verificado nos capítulos em que as análises serão apresentadas.
As crônicas de Cenas da vida brasileira permitem afirmar que Rebelo
atende ao projeto ideológico dos modernistas de 1930, já que é um autor que usa a
escrita como parte integrante de um projeto ideológico e não meramente de um
projeto estético. Por ter a maior parte de sua produção situada na década de 19305,
entende-se que o interesse pela cultura brasileira, latente em Cenas da vida
brasileira, advém desse período em que os intelectuais foram tomados por uma
“consciência ideológica [...] numa radicalização, que, antes, era quase inexistente.
Os anos 30 foram de engajamento político, religioso e social no campo da cultura”
(CANDIDO, 2003, p. 182).
Esse engajamento permite afirmar que os autores eram mais que
autores, eram intelectuais a serviço da denúncia acerca do atraso cultural brasileiro.
Intelectual é a palavra com a qual se pode definir Rebelo. A palavra se refere
àqueles que “nunca são tão eles mesmos como quando, movidos pela paixão
metafísica e princípios desinteressados de justiça e verdade, denunciam a
corrupção, defendem os fracos, desafiam a autoridade imperfeita ou opressora”
(SAID, 2005, p. 21). Esse conceito, que parece definir Rebelo, pode, na verdade, ser
aplicado ao grupo de escritores da década de 1930.
Nesse sentido, Rebelo intelectual é aquele “dotado de uma vocação
para representar, dar corpo e articular uma mensagem, um ponto de vista, uma
atitude, filosofia ou opinião para (e também por) um público” (SAID, 2005, p. 25). É
por meio da leitura das crônicas que se observa o olhar desse Rebelo intelectual,
que luta contra os estereótipos sociais e resiste à morte daquilo que é vivo e que
realmente tem valor. Como exemplo, pode ser citada a imagem que constrói das
cidades do interior mineiro, nas quais o poder de coerção da Igreja se sobrepõe às
necessidades da população, a saber: escola, maternidade, sanatório para
5
A referência aqui é feita aos romances e aos livros de contos do autor, grande parte deles publicada
nas décadas de 1930 e 1940.
34
2 O INTERIOR DO BRASIL
para o que acontece com esse “eu”, desdobrando-se, em seguida, para a expressão
dos sentimentos, comentários e reflexões face ao que foi – às vezes, muito
brevemente – narrado”.
Do mesmo modo que no primeiro fragmento, o cronista faz um jogo
de palavras e marca a voz do “eu”, pois a ironia revela o posicionamento desse “eu”
diante da situação, destacando o poder coercitivo da Igreja na tomada de decisões,
como se vê em: “Mas padre José preferiu fazer uma coisa original e muito mais útil –
levantar uma igreja”. Palavras como “útil” e “original” assinalam para a ironia: o que
deveria ser feito e o que realmente foi feito e, acima de tudo, a decisão é do padre,
cujo pedido foi atendido pelos fiéis.
Em outro trecho da crônica, o leitor é informado que Itajubá já conta
com muitas igrejas: “especialmente a matriz, enorme, medonha, ainda por arrematar
(REBELO, 2010, p. 75).
Mas as obras essenciais podem esperar, ainda que sejam
necessárias ao bem-estar da população. No jogo que faz com as palavras:
“medonha” e “enorme”, o texto acena para a indignação daquele que observa a
situação e a comenta. É na escolha das palavras que, sutilmente, a crônica diz o
que não diz, ou seja, argumenta de modo irônico acerca da ausência de outras
obras e da dileção do padre em construir outra igreja. A escolha do tempo verbal –
futuro do pretérito – para iniciar o parágrafo em “Poderia ter feito uma maternidade”
demonstra a atitude de polidez diante da situação, indicando a atenuação da
mensagem. Porém, esse tempo verbal é empregado para indicar também o lamento
sobre uma ação que ocorreria, mas certa condição a impediu, no caso, a opção do
padre em construir outro templo. Assim, lê-se o emprego do tempo verbal,
juntamente com o emprego das palavras “original” e “útil”, como marca irônica para
tratar do assunto:
6
Com a Reforma Constitucional Brasileira, em 1988, foi instituída a divisão entre religiões e Estado,
consolidando o conceito de Estado Laico. Conceito este que consta na Constituição desde 1891,
mas cuja prática não se efetivara. Na Era Vargas, momento em que a crônica foi escrita, devido ao
avanço do comunismo, a Igreja aliou-se ao Estado, já que era contrária ao Partido Comunista, rival
de Getúlio.
43
ainda ampliado. Mas está completa. E a crítica ao custo da igreja diante do número
de habitantes ficou registrada, marcando o olhar crítico trazido pelo texto. Marca
essa crônica o impacto que o tamanho da igreja causa, impacto este registrado no
jogo “quarenta casas” e “um milhão e quatrocentos mil cruzeiros”. Os números são
discrepantes e “milhão” enfatiza o poderio da Igreja ao mesmo tempo em que
contrasta com o pequeno número de casas.
Dado o pequeno grupo de moradores, muitas rifas e quermesses
como as realizadas por Padre José, conforme analisado há pouco na crônica sobre
Itajubá, ainda não seriam suficientes para finalizar essa imponente obra. Assim,
mais uma vez, pode-se verificar a preferência pelo fato pequeno, pelo detalhe, por
aquilo que ninguém prestou atenção, o acontecimento corriqueiro, a cena
insignificante. Essas trivialidades são transformadas em grandezas pelo cronista,
que lhes confere dimensão crítica.
E é justo essa preferência pelo pormenor que auxilia o leitor na
construção do Brasil. Não um Brasil com regiões distantes e com aspectos distintos.
Porém, o Brasil de regiões distantes sim, mas com problemas de igual teor. A
postura da Igreja, ao desejar construir mais um imponente templo em um lugar
paupérrimo, demonstra uma política individualista, a revelar a preferência pela
expansão a debruçar-se sobre a realidade nacional.
À cidade de Leopoldina, também em Minas, são dedicadas três
crônicas, inseridas na suíte nº 2. Chama a atenção o modo como o cronista aborda a
construção de mais uma igreja na crônica I:
catedral. Nota-se que o bispo trata com desdém o templo já erguido, como se não
fosse um lugar digno para as celebrações religiosas. Daí a necessidade de se
erguer um lugar que não fosse “tosco”. Mais uma vez a questão do luxo presente
nas igrejas é mencionada, pois se em cidades como Salvador a igreja já é revestida
de luxo, em Leopoldina isso vai ocorrer com a chegada do bispo. Esse luxo
contrasta com a pobreza “bem brasileira” da matriz. A voz de Eleutério, morador da
cidade que conta o fato, vem enfatizar que, ainda que ele não concorde com a
opção do bispo, “quem manda é o bispo, não eu”. Logo, não se trata de gosto, pois a
ironia consiste em apontar que a outra igreja não será construída porque “o novo
pastor não gostou da matriz que tínhamos”, mas sim porque ele manda e, se
decidiu, está decidido.
Ademais, sabe-se que com o fim da chamada Primeira República, a
Igreja viu seu lugar se perder no centro do poder. Então, outras estratégias surgiram,
dentre elas, iniciar uma espécie de romanização no interior brasileiro, expandindo o
público católico, bem como os ideais que sustentam o catolicismo. Daí incide o fato
de ser constante a temática da construção de templos nas crônicas, pois se trata de
uma realidade no interior do Brasil, a qual vem para enfatizar o poder de decisão
sobre a cidade; poder que detinham os líderes católicos.
Outro ponto que se observa é a aceitação pacífica do povo que não
contesta e apenas concorda com as ideias do bispo. A mesma passividade pode ser
percebida nos moradores de Itajubá, que se dispuseram com vontade e entusiasmo
a levantar um novo templo.
Eleutério lamenta o fato de o “novo pastor” não ter gostado da igreja,
para ele, era necessária uma catedral, imponente, majestosa. Porém, o
empreendimento “custará ao pobre povo da diocese bem duras economias”
(REBELO, 2010, p. 176). O jogo de palavras mais uma vez está presente, agora, por
meio da voz de Eleutério, que parece ser o único da cidade com olhos para as
mudanças trazidas pela fábrica, pois o povo é pobre, é cego, mas a obra é para uma
igreja suntuosa, que será erguida com dificuldade. Ao ouvir as palavras de Eleutério,
o suposto ouvinte responde: “Estávamos parados em frente à catedral. Fica no
ponto mais alto de Leopoldina. Não creio que por isso as almas que dela fazem
ninho estejam mais perto do céu” (REBELO, 2010, p. 176).
Para finalizar a crônica, o ouvinte reflete sobre a construção que tem
diante dos olhos, no alto, imponente. Retoma em suas palavras um ideal difundido
46
pela Igreja Católica: quanto mais alto me sento, mais próximo fico de Deus. Ideal
este que não é garantia de salvação, já que o texto põe em xeque estarem os fiéis,
por causa da localização da igreja, mais perto do céu.
Enquanto as estratégias da Igreja são postas em ação no interior do
Brasil, as estratégias do texto mostram-se opostas às ações. O cronista leva esses
fatos à ficcionalização da linguagem literária sem que, no entanto, eles percam sua
veracidade.
Na suíte nº 2, a crônica sobre Miguel Pereira demonstra a postura do
cronista acerca da religião. Embora não mencione reformas ou a construção de
novos templos, o texto traz a concepção de liberdade das personagens que
compõem o pequeno diálogo7:
Conversinha de hotel:
- A religião é um freio.
- Não sou cavalo (REBELO, 2010, p. 156).
7
Embora as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) enfatizem que textos com
número de linhas inferior a quatro devam acompanhar o corpo do texto, em algumas situações foi
mais apropriado manter a formatação empregada para citações que excedem o número de quatro
linhas.
47
8
O endereço eletrônico do site da Prefeitura de Montes Claros é
http://www.montesclaros.mg.gov.br/cidade/index.htm no link “Aspectos gerais” abre-se um tópico
sobre a história do município, no qual é descrito que Dona Germana Maria de Olinda teria feito a
promessa e, ao alcançar a graça, cumpriu-a, construindo a capelinha, inaugurada em 14 de
setembro de 1886. Consulta em 04 de janeiro de 2012.
48
mencionada na crônica, foi construída e cada vez mais foi se ampliando o número
de fiéis e devotos a visitar a imagem da santa. Assim, ao longo do século XX a
cidade passou a ser um espaço de turismo religioso. Espaço este que chegou ao
século XXI com expressividade ainda maior.
Os milagres recebidos estão registrados pelo cronista, cuja descrição
que faz da sala dos milagres parece não concordar com a eficiência da santa: “Num
prédio ao lado esquerdo da igreja instala-se a sala dos milagres, isto é, a sala cujas
paredes são cobertas de alto a baixo pelos votos e pelas fotografias das mais
evidentes provas da eficiência da santa” (REBELO, 2010, p. 182,183).
Nota-se que foi preciso edificar uma sala, tamanho é o número de
milagres. As paredes estão cobertas de alto a baixo, não só de fotos que
comprovam os feitos sagrados, mas também de votos que mostram como a fé na
santa é grande. Porém, o que se observa na sequência da crônica é a dúvida em
relação ao milagre:
a religião. Para dizer isso, a estratégia do cronista foi analisar a ausência de auxílio.
Primeiro, a falta de veterinários, profissão rara no Brasil da época e que, na crônica,
é descrita como um ofício em função de questões menores, como cuidar de
pequenos animais de estimação. Tecida a crítica aos veterinários, o Ministério da
Agricultura é mencionado. A lentidão para a resolução dos problemas e a ineficácia
do sistema público nacional são marcadas, a revelar que a santa seria a solução
incerta, porém a mais certa naquele momento. Nota-se que “o homem foi prático”,
porque já conhece sua realidade, o sistema com o qual não pode contar. Então,
apelar para a santa é o caminho mais eficiente.
Se, por um lado, a crônica critica a sociedade paulistana emergente
e fútil, as madames com seus lulus, para os quais os cuidados são bem pagos e
atraem os profissionais, critica a ineficiência do sistema público brasileiro, com o
qual só se pode contar, caso tenha muito tempo para esperar pelo auxílio; por outro
lado, o texto registra como a religião vem servir de válvula de escape às classes
menos privilegiadas.
O lavrador levou anos para compor seu rebanho, o qual a peste
levou rapidamente. Ao ser socorrido pela santa, esta se fixa como um ser poderoso
e, nesse sentido, a sala dos milagres tematiza o poder da santa no universo local.
Partindo de fatos pequenos ou miúdos, os textos de Rebelo aqui
analisados destacam o estilo irônico do autor, revelando como ele se posicionou
criticamente diante da temática tratada. No caso, a crítica incide no modo como a
Igreja, ao avançar no interior do Brasil, marcou sua presença pela imposição de
ações que a beneficiaram, sem se importar com as reais carências da população.
Em cada crônica uma cidade foi descrita, de modo a permitir que o
leitor observe aspectos referentes ao tempo e espaço narrados. O cronista mostra
como sua visão sobre as cidades é ampla, capta aquilo que sobressai aos olhos,
mas também aquilo que não se sobressai. Por exemplo, o fato de escolher, dentre
tantos milagres e fotos sobre eles, a foto de um lavrador com seus cinco bois. São
os fragmentos do urbano, dos detalhes miúdos, são fragmentos das cenas que
capta dos locais por onde passa que servem de matéria para registrar a debilidade
do Brasil.
Igrejas, promessas, cidades empoeiradas e atrasadas de Norte a Sul
do Brasil, o cronista trata dos mesmos elementos sem se tornar repetitivo, pois em
51
cada crônica proporciona uma dimensão outra do local descrito, por mais próximos
que os problemas de ordem social, econômica e cultural possam parecer.
Conversinha:
- Que tal a estrada?
- Boa para avião (REBELO, 2010, p. 29).
Conversinha:
- Morreu Zé Fagundes.
- Quem matou? (REBELO, 2010, p. 28).
54
Nota-se que é no não dito que o enunciado ganha força, uma vez
que permite ao leitor interpretar a morte na cidade como algo comum, nesse caso, o
espaço é violento e Zé Fagundes não poderia morrer de outra forma a não ser
assassinado. Outra possibilidade de leitura seria pensar Zé Fagundes como um
sujeito mau, com inimizades, o que justificaria a certeza do interlocutor ao perguntar:
“- Quem matou?”.
A forma “conversinha” se repete mais uma vez e, embora pareça ser
aplicado o sufixo para tratar de um assunto tolo, a violência é mencionada não como
um fato tolo, mas como um acontecimento banal, indicando que a lei do sertão é
regida pela violência.
Considerando que os quadros que o cronista construiu de cada
cidade são verossimilhantes, acredita-se que o retrato que ele desejou criar de
Lontras é o de um pequeno povoado, que hoje é um município com pouco mais de
sete mil habitantes, mas que, à época, a violência já estava presente e as
divergências eram desfeitas com a morte. O cronista fala de um espaço no qual a lei
não tem valor e o modus vivendi é o da lei da morte, elemento que determina a ética
baseada na violência. A lei da morte, em algumas cidades mineiras, nas quais os
jagunços atuavam a mando dos coronéis, é o código de conduta. Com maestria,
Guimarães Rosa irá discutir essa lei em alguns de seus contos e em Grande Sertão:
Veredas, romance que é a constituição de um “sertão, fantástico e real, onde a
brutalidade impõe técnicas brutais de viver” (CANDIDO, 2002, p. 132).
O sistema de poder ou sistema jagunço presente em Minas, e
imortalizado por Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas, configura-se como
uma forma de pesquisa que se equipara aos melhores retratos sociológicos e
historiográficos do Brasil (BOLLE, 2007). Trata-se de uma metáfora que designa o
complexo mundo de violência e miséria, a história dos sofrimentos do povo, a falta
de justiça e de diálogo social (BOLLE, 2007).
Assim, o texto que aparentemente é leve, descompromissado,
parecendo tratar de um causo - inclusive essas são características da crônica – na
verdade, assume postura crítica a partir de um tom irônico, pois o texto oferece ao
leitor um número maior de inferências a partir do “- Quem matou?”, as quais são
ferramentas para interpretar a mensagem.
Uma vez mais é preciso comentar que o elemento que conduz a
escrita da crônica não é grandioso. Trata-se de um fato comentado sem alarde.
55
paz interior. Conforme apontou Williams (1989), o campo oferece uma melancolia,
uma paz interior e uma tranquilidade.
Essa tranquilidade é sentida pelo “eu” que parece se despedir “da
vida com grande saldo de felicidade”. Porém, ainda que inserido na cidade, lugar
comumente mais movimentado do que o campo, mesmo sendo uma cidade
interiorana, ele se sente solitário. Estar sozinho, recluso, como se no mundo nada
mais existisse, são desejos que movem as palavras do cronista. Sentimento que só
é perceptível a quem vive a experiência estética, que traduz as reflexões de um ser
em contato com a natureza. Sentimentos que o fizeram esquecer que as cidades
são povoadas, pois naquele momento, para ele, a cidade comporta o vazio, que
“reúne a complexidade da vida e a inevitabilidade da morte” (HISSA, 2006, p. 89).
Parece, assim, misturar-se às coisas. Dessa experiência transpõe para a linguagem
as sensações, a nostalgia e o sentimento de que seus últimos instantes são
iminentes. Com esse texto, o cronista constrói uma linguagem sinestésica que
auxilia o leitor a pensar e a sentir a natureza descrita e mostra como cada cidade era
sentida e descrita “sob todas as luzes e condições atmosféricas possíveis” (LYNCH,
2005, p. 01).
O tom adotado na crônica em questão aproxima-se daquele
empregado pelos autores românticos da segunda geração, momento em que a
morte se apresenta como a solução para a libertação e como fuga frente ao
sentimento de impotência do ser diante do mundo. Nota-se que há um escapismo,
pois o “eu” parece distante da realidade e espera por uma virgem das águas. Ainda
que esse “eu” não explicite o desejo de morrer, destaca seus sentimentos,
apontando para o fim da vida, para a despedida, mas sem a conotação de tristeza,
pelo contrário, parece haver um encantamento diante de tudo o que descreve e dos
sentimentos que expõe. Seu tom é de encanto, mostrando uma profunda
consciência de que a vida é um fio que, a qualquer momento, pode ser cortado.
A visão desencantada em relação ao interior de Minas se mantém na
crônica I, de Leopoldina, inserida na suíte nº 2. Essa mesma crônica já foi
mencionada na seção que trata da Igreja, no entanto, uma vez mais o texto oferece
aspectos para serem destacados. Na primeira parte da crônica, em que Eleutério
encontra seu ouvinte, tem-se:
58
Eleutério me dizia:
- As últimas novidades da terra são o bispado e a fábrica de tecidos. A
segunda certamente é mais importante – trouxe trabalho para muitos
braços. O trabalho lá não é muito bem pago, verdade seja dita, mas sempre
é trabalho, Deus meu, e a vila operária da fábrica está decentezinha, com
um ar de jardim e limpeza que não é comum nas cidades do interior. Mas o
povo de Leopoldina acha que o bispado vale mais (REBELO, 2010, p. 175).
Juscelino, nos anos em que esteve à frente da prefeitura, orquestrou uma reforma
que seguiu o estilo Art déco, usando pó de pedra na fachada do Palácio Cristo Rei.
A Art déco marca um período de renovação na arquitetura, momento
em que a linguagem arquitetônica torna-se mais
outro tempo e, nessa materialidade imagética, esse espaço “torna-se, assim, um dos
suportes da memória social da cidade” (PESAVENTO, 2002, p. 16). Na visão de
Gomes (2008), a referência à presença de elementos do passado convivendo em
meio ao novo é uma artimanha, pois permite ler a cidade no presente, contrapondo-
a ao elemento do passado, que sobreviveu à expansão modernizadora. E o “eu”,
contaminado por esse elemento do passado – o busto – incorpora o estilo do
romantismo do século XIX para descrever a cidade que avançava e se revelava
cada vez mais moderna.
No fragmento, o locus amoenus é observado e a paz mencionada
poderia ser o equilíbrio em que a natureza coloca o homem. Nesse caso, nem
precisa ser feito o deslocamento ao campo, já que a capital oferece espaços em que
a relação homem/natureza pode ser posta em prática de maneira equilibrada.
Porém, cabe ressaltar que o busto é de um autor que, como todo romântico, tem
visão idealizada e, conforme afirmou Candido (2006), usa linguagem de celebração
e apego e, ao falar da pátria, mostra-a enquanto paisagem inspiradora.
Desse modo, a crônica, ao oferecer uma visão romântica de Belo
Horizonte, ironiza as transformações da cidade, em especial as da praça da
Liberdade, ao mesmo tempo, no texto, lamenta-se a ausência desse passado. Por
isso, Bernardo Guimarães contempla a cidade com olhos evasivos, de fuga.
No entanto, os moradores de Belo Horizonte estão cegos e não
percebem as transformações sofridas pela cidade, pois na crônica XV, escreveu o
cronista: “Doido, cego no voo do amor, o pássaro veio chocar-se mortalmente contra
a parede branca da casa – é a vida!” (REBELO, 2010, p. 115).
A parede branca descrita nessa outra crônica marca a cidade como
espaço do concreto, o qual tira a beleza do voo e a vida da pobre ave. Nota-se que o
pássaro está “Doido, cego no voo do amor” e, por isso, nem nota as transformações
à sua volta, como a parede com a qual se choca.
Pode-se ver nesse choque uma metáfora, que ilustra a chegada do
progresso à cidade e, de forma negativa, os espaços são transformados, de modo
que nem mesmo as espécies que habitam os lugares mais altos saem ilesas. Desse
modo, a crônica aponta para a falta de visão dos moradores acerca das mudanças
na cidade, veem somente o lado positivo, sem pesar os males que o crescimento
traz a ela e, por conseguinte, à população.
69
Belo Horizonte tinha sol, um sol imenso. Mas o povo se escondia medroso
sob as roupas espessas. E era como se não houvesse sol. Foi o Minas
Tênis Clube que trouxe o sol para Belo Horizonte. O sol e a piscina, que
ficou fazendo as vezes de mar, na terra sem mar. E na piscina apareceram
as primeiras carnes procurando a natureza, desejosas de sol e de água,
buscando a saúde na prática dos esportes.
Os músculos foram ficando rígidos, a pele foi ficando morena, apontou uma
alegria simples que ainda não havia. Esporte até então era futebol – brigas,
canelas quebradas, paixão, grosseria, deselegância. A piscina do Minas
Tênis clube teve função moral – mostrou que o esporte é amável – diverte e
estimula, disciplina e alegra (REBELO, 2010, p. 107).
classes emergentes para uma nova prática que surgia: o banho de sol e de piscina.
Nota-se que o deslumbramento com o clube era tanto que a impressão que se tem
ao ler a crônica é a de que o sol chegou a Belo Horizonte somente com a
inauguração do Minas. As pessoas que antes se escondiam em roupas grossas
agora buscavam um lugar ao sol. A descrição do sol não o mostra como intenso,
mas sim como “imenso”, ou seja, capaz de tomar toda a cidade.
Observa-se ainda uma nova concepção acerca da função do sol. As
pessoas agora buscavam a pele morena, queimada pelo sol. Se antes ter a pele
morena era uma vergonha, agora receber os efeitos do sol sobre ela é uma
vantagem. Isso não quer dizer que o negro ou o mulato são aceitos na sociedade, o
texto nem mesmo está direcionado para essa discussão, para essa temática. Porém,
uma concepção diferente se tem sobre a cor da pele, indicando agora uma crença
na beleza da pele bronzeada. Nesse sentido, a crônica marca a mudança do
pensamento daquela sociedade e, ainda que de modo não intencional, o cronista a
marca.
O tênis passa a ser praticado em Belo Horizonte e se diferencia do
futebol, que é um esporte democrático que pode ser praticado nas ruas, gramados e
por pessoas de qualquer classe social; já a prática do tênis é privilégio de quem
pode frequentar um clube e despender dinheiro com equipamentos e roupas caros.
Com a crônica, tem-se registrado o surgimento dessa classe mais refinada que vê
no tênis um esporte alegre e sofisticado. A prática de esportes veio com o objetivo
de adaptar corpo e mente à demanda acelerada das novas tecnologias e, “como as
metrópoles eram o palco por excelência para o desempenho dos novos potenciais
técnicos, nada mais natural que a reforma urbana incluísse também a reforma dos
corpos e das mentes” (SEVCENKO, 1998, p. 571).
Ainda que Sevcenko se refira, no trecho citado, à cidade do Rio de
Janeiro no início do século XX, é coerente estender o pensamento do autor à capital
mineira que, naquele momento, passava por um processo de reestruturação
parecido com o qual passou o Rio na virada do século. Além disso, o esporte está
interligado ao desenvolvimento social, cuja origem está na sociedade burguesa e
capitalista, a qual tomou a cultura corporal como fenômeno esportivo, como
expressão hegemônica, ou como expressou Bracht (2003), a cultura corporal
esportivou-se. Na crônica isso está reverenciado pelo banho de sol e pela prática do
71
tênis, a destacar um quadro que representa, pela prática esportiva e pelo fato de se
frequentar um clube, a inserção da capital mineira às práticas culturais modernas.
Nessa crônica, há a descrição da mudança no comportamento dos
moradores com a chegada do Minas Tênis Clube, pois se antes era preciso se
esconder do sol, agora ele era bem-vindo e seus raios encontravam “as carnes
procurando a natureza”. Ao marcar essas mudanças, tem-se confirmada a ideia de
que “obra do homem, a cidade é, também, o homem que se transforma na sua
criação” (HISSA, 2006, p. 87). E o cronista soube fazer da cidade espaço para sua
criação, partindo das descrições da mudança no comportamento dos moradores e
transformando essa informação de modo que não se torne efêmera e possa
efetivamente marcar o tempo de que fala.
Dentro da segunda crônica sobre Belo Horizonte, tem-se uma divisão
das partes por meio de asteriscos. Ao todo são 13 textos que compõem a crônica. O
segundo deles será apresentado e analisado na sequência: “O tênis, o voleibol, o
basquete, a peteca são complementos. Fundamentais são o sol e água. Elementos
de Deus” (REBELO, 2010, p. 108).
Ao mencionar o tênis, o voleibol e a peteca, instrumentos que servem
para diversão e lazer, como complementos, o cronista mostra como a cidade não
vive mais sem o sol e a água. Leia-se piscina e banho de sol, elementos que
naquele contexto passam a ter uma função: a de bronzear a pele, demonstrando a
prática de banho de sol das classes mais abastadas, que pode ficar horas a fio na
piscina. Mérito de poucos. Com essa crônica, tem-se menção ao modo de vida da
elite que, despreocupada, pode desfrutar desses elementos de Deus. Marques
Rebelo, como autor compromissado com o registro do ambiente, não poderia deixar
de registrar os novos hábitos da capital mineira.
Porém, é justo esse compromisso com o registro das novas práticas
sociais da capital que permite afirmar que o tom da crônica é de ironia. A elite
mineira desfruta a vida de maneira despreocupada à beira da piscina. Essa é a
descrição de vidas vazias, sem interesse algum pelos reais problemas da cidade e
do estado. Vidas para quem pouco interessa se o interior mineiro é lugar de atraso,
de poeira, de desolação, lugar de estradas precárias, onde uma mesma professora
atende várias crianças ao mesmo tempo. Essa crônica traz a descrição de outro
Brasil, bem distante daquele presente nas crônicas analisadas anteriormente.
72
Até fins do século XIX os rapazes e moças se cobriam da cabeça aos pés,
evitando sair nos horários mais ensolarados [...] Agora a cena era outra.
Havia uma intenção deliberada de denotar o trabalho. Não o trabalho braçal
sob o sol inclemente dos trópicos, mas a prática metódica, custosa e de
longa duração aplicada no desenvolvimento da exuberância saudável.
simples era preciso ter uma condição financeira que permitisse frequentar o Minas
Tênis Clube. Na crônica, ser simples é ter dinheiro para participar do grupo de elite.
Nisso reside a ironia da crônica, que, por meio da linguagem, descreve o espaço a
partir dos conceitos do que vem a ser uma vida bela e simples, revelando o jogo de
mascaramento e desmascaramento da vida no espaço focado.
Extrai-se dessa crônica a articulação do espaço, por meio do qual se pode
ler lirismo e crítica. Essa dualidade é, pois, uma marca de Rebelo (GOMES, 1986).
Esse jogo segue, no quarto bloco da crônica II, sobre Belo Horizonte:
em Cáceres, no Mato Grosso, cidade que não tinha nem gilete: “E como o cavalheiro
já não suportasse a falta d’água de um mês, telefonou para a Repartição de Águas e
Esgotos reclamando, ao que o funcionário respondeu com a maior indignação: - Use
Coca-Cola!” (REBELO, 2010, p. 186).
O registro de um problema social está presente nesse texto, trata-se
da questão de saneamento básico à população carioca. A cidade, capital brasileira,
desde a época em que era capital do Império, constituiu um serviço de saneamento
básico, mas a constituição desse serviço não atendia a toda a população e, mesmo
depois da movimentação que marcou o início do século e visou à expansão dos
serviços de saneamento básico, a procura ainda era bem maior que a capacidade
de oferta. Por isso, a crônica, datada de 1943, vem tratar da escassez de água,
problema que já se estendia por mais de 30 dias e para o qual o funcionário da
empresa – a quem cabia atender a reclamação – não tinha solução. Daí a resposta
irônica: “- Use Coca-Cola!”, fazendo menção ao líquido que era ofertado em
abundância nos mercados cariocas.
Como em Belo Horizonte, o olhar sobre o Rio, a então capital federal
do país, não é positivo. O Rio de Janeiro é o lugar do desacerto, das carências, é o
lugar sempre aberto à cultura estrangeira: primeiro a francesa e agora a
estadunidense.
O ano em que foi escrita a crônica é também o ano em que a fábrica
da bebida foi montada no Rio de Janeiro, tornando-se mais uma coqueluche para o
carioca. Essa crônica mostra duas faces da cidade: de um lado tem-se o atraso,
marcado pelo falho sistema de fornecimento de água, de outro, a ideia da
modernidade, marcada pela referência à bebida, de fácil acesso para o carioca.
À Vitória, capital capixaba, são dedicadas cinco crônicas, na suíte nº
2. Na IV delas, mais uma vez a religião é tematizada:
A mãe piedosa contava que Jesus foi vendido por trinta dinheiros.
Ao que o pequeno perguntou:
- Barato ou caro? (REBELO, 2010, p. 160).
tão brilhantes que emprestam um pouco de luz para que o sol possa brilhar sobre a
cidade.
Cuiabá, no Mato Grosso, foi lembrada, na suíte nº 2, em duas
pequenas crônicas. Na crônica I, tem-se: “Às quatro da manhã os sinos acordam,
indiferentemente, católicos e ateus” (REBELO, 2010, p. 191).
Embora não seja ouvido somente pelos fiéis católicos, tocar os sinos
é uma atividade antiga cujo significado é bem representativo dentro da religião
católica. O toque nunca é desprovido de intenção, para cada horário ele tem um
significado. Os sinos “davam notícia de caráter não-religioso, estimulavam orações,
chegando mesmo a estabelecer o momento em que todos deveriam recolher-se”
(VENDRAMINI, 1981, p.49). Esses significados são lembrados por Bandeira, quando
no poema “Os sinos”, alerta para as diferenças entre os sons reproduzidos por cada
toque.
Fica claro, porém, certo incômodo com o toque do sino em um
horário em que a cidade dorme. Ao descrever essa prática, a crônica aponta para
um hábito que, à época, já estava se perdendo nas grandes cidades. Ao mesmo
tempo, há a descrição do desconforto que é conviver com hábitos do passado, como
se já não houvesse espaço para eles no mundo moderno. Assim, o que fica da
capital mato-grossense é o registro de uma prática religiosa arraigada na cultura da
cidade, prática esta advinda do Catolicismo, que se impõe como soberana,
acordando a todos na cidade.
Na crônica II sobre Cuiabá, nota-se a referência a um fato histórico:
“Onde está teu ouro, Cuiabá?” (REBELO, 2010, p. 191).
Diante da forma como o cronista estruturou esse texto, constata-se a
condição híbrida e fértil da crônica. Mais do que uma crônica, os dois textos
referentes à Cuiabá sugerem fragmentos de uma página de diário. Uma espécie de
diário de viagem, no qual o viajante aponta aspectos dos lugares em que passa. Ao
chegar a Cuiabá, o viajante se depara com os sinos, mencionados na crônica
anterior, e com a pobreza da cidade. Para descrever tais aspectos, ocorre a
fragmentação da cidade, ou seja, de Cuiabá são comentados certos aspectos e não
há, portanto, uma descrição do espaço, o que, por sua vez, ocorre em outras
crônicas. Ressalta-se, porem, que a fragmentação não prejudica as idéias e
propicia uma construção progressiva e linear de sentido.
79
Essa história de se dizer de hora em hora Deus melhora não merece muito
crédito não. Há coisas que não melhoram nunca.
Mas Florianópolis melhorou nestes dois anos em que lá não ia, solicitado
por outros quadrantes. Três pontos, pelo menos, marcam o seu progresso:
a luz, o Hotel Lux (que é luz em latim) e o Museu de Arte Contemporânea,
fundado por este seu criado em 1948, mas que só agora inaugurou a sede
própria e não foi por outro motivo que me bati para lá (REBELO, 2010, p.
220).
82
Agora tem luz decente, que permite a leitura, embora proíba o namoro. Mas
como é preceito altamente moral esse de viver às claras, está tudo muito
bem. E além de leitura e moral, o simpático habitante da ilha já se pode dar
ao luxo sempre sonhado de ter rádio sem pilha, geladeira, batedeira,
enceradeira e liquidificador, embora não haja muita fruta para liquefazer
(REBELO, 2010, p. 221).
mais uma pensão, como se costumava dizer das casas para pernoite comuns
naquela época e que não dispunham do conforto que agora o Lux oferecia ao
hóspede. Além disso, eram casas que tinham a intenção de serem hotéis, mas que
de fato, não o eram. Essa repetição acaba por se consolidar como um sinalizador de
ironia, pois uma das formas mais explícitas da ironia é “a repetição de palavras ou
frases, com o objetivo de enfatizar algum aspecto ou informação veiculada pelo
texto” (PERROT, 2006, p. 148). Nesse caso, o objetivo é enfatizar os serviços
oferecidos que fizeram do hotel Lux verdadeiramente um hotel, enfatizando que o
que antes havia eram casas de pernoite sem conforto.
Ainda se tem outra possibilidade para a repetição da palavra “hotel”,
que seria apontar para as vantagens do progresso e da modernização. O autor
elogia as transformações pelas quais passou Florianópolis nos últimos dois anos.
Outro ponto que pode ser entendido como desejo de enfatizar as
mudanças de Florianópolis é o emprego da palavra “colosso”, que funciona como
uma hipérbole, pois a intenção é mostrar uma imagem grandiosa do local. O prédio
só concorria com o edifício do Ipase, onde funcionava o serviço de Previdência
Social, as duas construções significaram o início do crescimento vertical da cidade.
Daí a personificação ao dizer que os seis andares “olham Florianópolis com uma
superioridade de arranha-céu”. Do céu também vem o sinal de alerta vermelho,
como se fosse possível os aviões passarem a uma distância tão próxima, como a de
um prédio de seis andares. Para um carioca acostumado a ver construções bem
mais elevadas, seis andares não poderiam ser, de forma alguma, vistos como um
“colosso”.
No entanto, ao chegar à cidade, essas transformações são vistas
como positivas, como ações do homem que permitiram ao visitante, no caso o autor,
sentir o progresso, que altera Florianópolis. É com ar despreocupado e um ar de
quem fala sem o desejo de obter maiores resultados, que Rebelo consegue extrair
grande significado dos atos e refletir sobre as mudanças observadas.
É possível perceber a descrição do progresso da cidade, tanto no
prédio que, apesar de pequeno, era imponente, quanto na referência de aviões que
sobrevoavam a cidade:
85
Mais uma vez o toque biográfico marca essa crônica, deixando claro
que a ideia do museu foi de Rebelo. Porém, nota-se que ele emprega a terceira
pessoa do singular, exigida pelo emprego do termo “degas” para se referir a ele
mesmo, diferente da primeira parte da crônica em que a primeira pessoa marca o
texto. Outra característica desta crônica que nas demais não havia aparecido é a
referência direta a um amigo pessoal - Armando Simone Pereira - que o auxiliou na
abertura do museu, sem se esquecer de Jorge Lacerda que também ajudou, pois
era preciso lembrar de todos: “joguemos confete em todos que merecem”.
Os professores da Universidade Federal de Santa Catarina, Rogério
F. Guerra e Arno Blass, confirmam a veracidade dos fatos narrados.
Foi o próprio Rebelo quem tomou as iniciativas, pois ele estava realizando
exposições de arte em outras cidades e na Argentina e se interessara em
realizar algo semelhante em Florianópolis. Após a iniciativa de Rebelo, o
secretário Pereira busca apoio de Aníbal para a realização da exposição e,
ato contínuo, os rapazes do GS acenam positivamente, com entusiasmo e
sem refletirem sobre a complexidade do empreendimento (GUERRA,
BLASS, 2009, p. 32).
Como num desabafo, Rebelo fala sobre a falta de apoio para a sua
empreita: levar obras de arte moderna para a cidade. Sua decepção é saber que
86
aqueles que não o apoiam, na verdade, não são consumidores de arte clássica e
nem de arte nenhuma, ou seja, resistem sem causa.
Com essa crônica, Rebelo mostra como o processo de modernização
é contraditório. Se por um lado Florianópolis se encanta com a energia elétrica, com
o hotel e Rebelo inclusive destaca esses feitos como louváveis ao desenvolvimento
da cidade; por outro, a cidade escandaliza-se com o namoro às claras e resiste à
arte moderna. Essa resistência advém do estado de isolamento da capital
catarinense em relação aos grandes centros o que, por sua vez, acarreta o
comportamento alienado dos moradores, fechados às novas tendências estéticas.
Nesse sentido, Rebelo registra o conservadorismo e a resistência da cidade a
diferentes formas de pensamento. Essa resistência se dá porque “Naturalmente
pessoas muito sábias achavam uma vergonha que numa escola para formação de
catarinenses ilustres as paredes estivessem envilecidas por tantos mostrengos e
disparates”. Assim, rechaçam a ideia da exposição das obras modernas.
E mais uma vez o relato de algo que realmente aconteceu foi
registrado. Ao comparar o trecho da crônica com partes do estudo dos professores
Guerra e Blass, nota-se como a pesquisa acadêmica, apresentada pelos
professores, corrobora o conteúdo da crônica.
primeira metade do século XX, enfatiza que outros ideais fizeram com que as casas
se tornassem “arejadas, claras, ensolaradas, sem cortinados pesados”
(SEVCENKO, 1998, p. 575).
Além disso, deixar as janelas fechadas, tanto das casas quanto dos
automóveis, demonstrava a “insegurança das classes dominantes e grupos
ascendentes, nesse momento de grandes transformações sociais” (SEVCENKO,
1998, p. 575). Porém “agora, São Paulo, por um mistério que a ciência não explicou,
não tem mais neblina (REBELO, 2010, p. 188). Nesse trecho, a neblina metaforiza
as mudanças.
Na crônica, a cidade agora passa a ser descrita com o dinamismo
que se tornou característico dela: “E São Paulo deixou de ser a tímida e provinciana
cidade que dormia cedo para se transformar em turbulenta babel sempre acordada.
Cresceu como nenhuma outra cidade neste mundo e a tal respeito as estatísticas
são triunfais e lançadas aos quatro ventos” (REBELO, 2010, p. 188).
Com espanto, o cronista descreve as mudanças que fizeram da
cidade a babel brasileira. Essa crônica não é sobre pessoas, é sobre a cidade, é da
visão de São Paulo que vem o assunto que deve ser registrado. E num tom
profético, anuncia a crença de que a cidade será ainda maior: “E isso é um começo
de conversa, um princípio de carreira solta, porque dia virá – e a paulistanada está
firme na pista em delirante afã – dia virá em que os mais altos edifícios do universo
abrigarão os maiores negócios do mundo” (REBELO, 2010, p. 188).
A certeza de que São Paulo seria o coração comercial do Brasil está
anunciada na crônica. Porém, o texto é finalizado com um tom saudosista, como se
o lugar tão moderno não tivesse mais as belezas de outros tempos, tampouco a
neblina, o bem que encobria os males modernos: “Acode-me com emoção a
lembrança do teu ritmo tranquilo de anteontem e a neblina que era o teu mais belo
vestido” (REBELO, 2010, p. 188).
Passado e presente marcam o texto. Esse faz da cidade o lugar da
promessa de que seu futuro será ainda mais glorioso. Aquele vem para mostrar
como a cidade era pacata, tinha um ar de pureza que os tempos modernos levaram.
Ao descrever São Paulo, o cronista ratifica sua crença de que o progresso é “a
transformação grosseira e desnecessária da fisionomia da cidade” (GOMES, 2008,
p. 102), vê e revê o passado nesse texto de modo que se possa vislumbrar a força
da cidade no futuro e o saudosismo em relação à tranquilidade do passado.
90
Capiberibe, Beberibe, dois rios que são um rio só, largo, misterioso, batido
de luar. Sim, o luar escorre do céu na noite clara e fresca, bate nas pontas,
ilumina o convite das raparigas que são muitas [...]
Sim o luar escorre, bate nos telhados patinados pelo tempo, bate nas
igrejas antigas, algumas tão ricas, outras tão severas, e todas tão
evocadoras, bate no teatro que é puro, lindo, cor-de-rosa, bate nos grandes
edifícios que não deviam existir ali, que poderiam ser levantados mais
adiante, em ponto que significasse orgulho e irrevogável progresso, mas
que não modificasse o ar senhorial e apaixonante da cidade, reduzindo-a a
uma cidade igual a qualquer outra.
Vou com o luar pelas ruas da madrugada, porque é de madrugada, no
silêncio sem atropelos, que as cidades se desvendam aos visitantes que
não amam o turismo. [...]
Vou, não tenho guia, e não me perco, como se pervagasse por um terreno
familiar. Vou e me pergunto por que diabo um pernambucano sai do Recife,
troca tanta nobre riqueza por duvidosas conquistas, tanta segura beleza
pelo alvoroço do mundo (REBELO, 2010, p. 211).
a bela cidade que se esconde nos prédios que, como intrusos, vieram roubar a
formosura das edificações que fizeram de Recife um dos recantos mais belos do
país. Porém, essa beleza não é suficiente para impedir que muitos de seus
moradores de lá saiam, rumando para outros destinos, onde não poderão desfrutar
da cidade de luar intenso e encantador.
O leitor, no entanto, não conhece Recife por suas fraturas sociais,
mas sim pela beleza natural que impera na cidade.
É observando o luar que o cronista não se prende a nenhum dos
detalhes que mostram a chegada do progresso à cidade, como a construção do
aeroporto, a greve portuária e a bandeira vermelha indicando a poluição da água da
Praia da Boa Viagem9. Preferiu descrever a cidade, os becos, as ruas, que marcam
o tempo e são história latente. Conduzido pelo luar, faz da rua, ao mesmo tempo, a
prova material das mudanças pelas quais passou a cidade e o tema para seu texto,
de onde emana uma forte essência poética, que é o próprio sentimento de quem
descobre deslumbrado aquilo que outros olhos são incapazes de ver.
São nos relatos corriqueiros do dia-a-dia, na descrição das ruas,
becos, da lua que o autor permite a imagem da cidade. Não a imagem que o
morador vê todos os dias, mas sim a imagem que vem da percepção do fato miúdo,
do detalhe, de modo que este não caia no esquecimento.
9
Esses fatos são mencionados nas crônicas II e III sobre o Recife. Ver REBELO, 2010, p. 209.
92
Marques Rebelo
93
precisa destruir para construir o novo. Não há preocupação com a história e nem
com a memória. A ideia vigente é substituir. A crônica aborda a questão da ação
negativa do homem, modificando o espaço natural, para o qual os olhos “se
afundam cem, duzentos quilômetros”, mas já não podem mais encontrar o verde,
somente a desolação do espaço destruído.
As palavras: “correm” e “afundam” enfatizam o esforço a fim de ver a
natureza verdejante, mas os olhos beleza natural já não podem capturar, somente a
mesma desolação. Nota-se como o olhar ao redor da cidade se amplia no espaço,
dando uma dimensão ainda maior ao problema tratado. Do fato pequeno, que brota
da observação local, discute-se uma questão de caráter amplo. Longe de encontrar
a natureza leve e acolhedora, como encontravam os poetas românticos, o “eu”
mostra-se pessimista quanto ao que vê e bastante sensível aos efeitos da destruição
do homem.
A mesma ideia de cidade destruída e sem beleza natural, empregada
para descrever Garças, será mantida na crônica sobre Divinópolis, inserida na suíte
nº 1:
O guia adverte:
- Cuidado com onça, moço!
Mas perigoso mesmo é o mosquito. (REBELO, 2010, p. 193).
leitor perceba as tensões de cada cidade, as quais, sem o olhar atento do cronista,
nem seriam lembradas ou mencionadas pelo guia. Além disso, mais uma vez são os
detalhes do lugar que merecem ser descritos. Detalhes estes de conotação ruim,
porque na verdade é denunciado um problema da região. Rondônia não pode ser
lembrada por florestas, turismo ou culinária, no entanto, a função do cronista -
descrever o Brasil em cenas – exigiu o registro desse lado perigoso que,
pateticamente, o guia parece não saber existir.
Cravinas, rosas e cravos são lembrados, na suíte nº 2, na crônica
que fala da pequena Correias, no Rio de Janeiro: “Chuva de pedra: Passeio
piedosamente por entre os mutilados: pobres cravos, cravinas, rosas e hortênsias”
(REBELO, 2010, p. 181).
Um lamento pelo estrago que a forte chuva fez é o que se constata
nessa crônica, lamento este que se une à tarefa do fazer literário para marcar um
posicionamento de preocupação com a natureza. Nota-se que a ironia deu lugar ao
lamento, pois nesse caso nada se pode fazer a não ser lamentar. Sobre essa
relação literatura/natureza, cabem aqui as palavras do geógrafo Jurandyr Ross
(1995, p. 65) de que “todas as atividades humanas obrigatoriamente têm a ver com
o ambiente natural, partindo do pressuposto que o homem também é natureza, por
incrível que possa parecer - e que também somos mortais e precisamos de ar, água,
terra, vegetais e de outros animais para vivermos”.
A natureza torna-se tema para a reflexão acerca dos malefícios que
o mau tempo trouxe a ela, usando, para tanto, da liberdade, da estética e de sua
condição de homem-humano que, embora inserido no mundo moderno, não se
afastou da natureza. Assim, o homem “conjuga a máxima plenitude e liberdade,
abarcando o mundo em lugar de perder-se” (SCHILLER, 1995, p. 75).
A ideia de o homem conjugar a máxima plenitude e liberdade pode
ser verificada na bela descrição que o cronista faz da natureza de Florianópolis: “A
sombra da patriarcal figueira, que de tão velha já se apoia em muletas, também
pode refrescar ideias e sentimentos. Nem tudo está morto dentro de nós. Ficaria
aqui por muito tempo” (REBELO, 2010, p. 219).
A árvore descrita é já uma anciã, mas propicia uma sombra tão
agradável que faz quem dela desfrutar ter ideias e refletir sobre sentimentos. À
moda dos românticos, o “eu-cronista” encontra na natureza a fuga do mundo. A
sensibilidade romântica invade a pena, para mostrar a fusão do “eu” com a natureza.
99
O rio das Velhas, que em outros tempos foi navegável, que já teve um
naufrágio histórico perto da fazenda dos Machado, denso bosque de
mangueiras e jabuticabeiras, é hoje um rio quase sem água, salpicão de
pedras pretas, com raros e teimosos batedores nas margens de cascalho
amarelo. Corta a cidade com as águas barrentas, cada dia mais escasso,
mais triste, como um homem que sabe que vai morrer (REBELO, 2010, p.
94).
100
A Lua não está no céu nesta noite de junho. Foguetes sobem e estouram
festivos no ar seco. Bênção das estrelas sobre a terra e a gente de Montes
Claros! Sobre as fogueiras à porta das casas pobres, sobre o calçamento
que vai mudar, sobre o riso das moças e das crianças, sobre o mercado
com a sua torre de madeira e seu sino tristinho, sobre os mortos das lutas
inglórias que mancharam as pedras das suas ruas nos tormentos de uma
mesquinha política de campanário. Bênção das estrelas sobre a poeira
terrível de Montes Claros, sobre o algodão, a mamona e os bois que fazem
a sua riqueza, sobre a alegria com que recebe os seus hóspedes e a
claridade com que socorre os retirantes que a invadem nas grandes secas.
Bênção tão pura, sobre o amor dos seus filhos presentes, sobre a saudade
dos seus filhos distantes – ó bailarinas espanholas de Montes Claros, bailai!
(REBELO, 2010, p. 28).
mencionados aspectos que pendem para uma visão mais crítica da realidade da
cidade que tem: “casas pobres”, um “mercado com sino tristinho” e “retirantes que a
invade nas grandes secas”. Daí a necessidade em clamar por bênçãos de estrelas
sobre a cidade que no texto não conta com o brilho da lua.
Januária também mereceu ser lembrada por meio de um texto lírico,
descrevendo o que ela de melhor pode oferecer ao visitante: o silêncio que impera
nas noites: “A Lua é pequena e sem brilho no alto do céu. De luzes apagadas, a
cidade dorme o seu sono. De vez em quando vêm das coroas ou da margem oposta
os gritos sobressaltados das aves que acordam, o latido de um cão” (REBELO,
2010, p. 33).
Com missão parecida com a do poeta romântico em transformar
paisagem em poesia, o cronista faz da melancólica noite januarense o ponto de
encontro entre a nostalgia e a natureza. Mais uma vez, parte da Lua, habitante
ilustre da lírica, e caminha para a solidão que a ausência dela provoca, cifrando as
tensões poéticas que o escuro e o silêncio propiciam. Valendo-se de uma
metonímia, ele registra o silêncio da cidade nos momentos em que os moradores
dormem e somente alguns cantos ou latidos podem tirar o sossego desse lugar, que
faz a noite tão tranquila. Essa tranquilidade é descrita não como fruto da “jocosidade
do olhar” (JEUDY, 2005, p. 88), mas como a percepção do sublime daquele espaço
que o próprio silêncio faz transparecer.
A descrição sensorial aparece por meio de imagens poéticas de um
universo ainda por conhecer, por isso, merece ser descrito em cenas. Cenas estas
que representam não só o verdadeiro estilo do cronista, mas também a preferência
pelo detalhe, pelas menores particularidades de um espaço.
Com um tom mais jovial e menos melancólico, Teresópolis, cidade
do Rio de Janeiro, foi descrita em seis pequenas crônicas. Na VI, inserida na suíte nº
2, as consequências deixadas pelos visitantes nos finais de semana são
comentadas: “Pobres vítimas do weekend! Hoje registrei nada menos que quarenta
sapos esborrachados pelas charretes” (REBELO, 2010, p. 180).
Cidade mais alta da região serrana do Rio, Teresópolis sempre
contou com uma natureza exuberante, que há muito atrai turistas, sobretudo os
moradores da capital que aproveitam o final de semana para relaxar na tranquilidade
interiorana, que oferecia muito além do barulho e do ar poluído da capital. Daí o
103
Lá embaixo o rio Pomba está correndo, e a gente sente que ele se arrepia
de vergonha por ter que passar debaixo da ponte metálica. Mas a vida
obriga a muitas dessas tristes contingências. E o rio passa debaixo da ponte
e vai correndo, depois, feliz, contemplando coisas mais belas –
jabuticabeiras, ingazeiros, monte, estrelas, um e outro pássaro, coisas enfim
que não foram feitas pela Diretoria de Obras do Estado (REBELO, 2010, p.
174).
(Para quem corre todo o estado é fácil tirar a respeito dos senhores
prefeitos, duas formosas conclusões: primeira – não dispensam em
absoluto um jardim, que chamam de jardim moderno, isto é, um jardim com
chatos canteiros, grama francesa e o fatal repuxo, bancos de marmorite e
caminhos de cimento, quando não do mesmo ladrilho com que são feitos no
Rio os banheiros de empregada e as cozinhas das casas de subúrbio.
Segunda – são inimigos irrevogáveis de toda espécie de árvore. As cidades
são peladas. Certo prefeito de uma ínfima cidadezinha bateu o recorde da
estupidez quando para receber o senhor Daniel de Carvalho [contam-me],
que então era secretário do estado, mandou botar abaixo todas as árvores
para que o doutor Daniel pudesse ver a cidade.) (REBELO, 2010, p. 43).
cuidad, no podemos salir de ella sin caer en outra, idéntica aunque sea distinta”
(PAZ, 1987, p. 42).
Ademais dos parênteses, o colchete é outro recurso que vem
justificar ao leitor que o causo contado é uma anedota que vem sendo transmitida
oralmente – “contam-me”. Nesse sentido, a história da cidade que perdeu suas
árvores para que o visitante – político importante – pudesse vê-la melhor é um
chiste, transmitido pela população. Assim, a crônica adquire caráter burlesco para
reforçar a crítica acerca da ausência de árvores em Minas.
Com um tom melancólico, Rebelo se despede de Florianópolis, na
crônica VI, fechando a suíte nº 2: “Acolho-me à sombra da árvore sem partido, agora
que parou o vento de três dias neurastênicos. Acodem-me duas ou três verdades,
inúteis para os homens como todas as verdades” (REBELO, 2010, p. 223).
Nessa crônica, tem-se a alusão à mediocridade da condição
humana. À moda machadiana, Rebelo finaliza Cenas da vida brasileira, com um ar
de pessimismo desencorajador que emana da convivência com o ser humano, para
quem não há verdades, mas sim versões. Por isso, fica a sensação de que na alma
do livro há um sentimento amargo e perverso, que às vezes se mostra doce e
risonho. Essa doçura e, paradoxalmente, amargura sobre a existência humana é
encontrada na capital do estado. Por meio dela, o “eu” anuncia que mesmo nas
maiores cidades, é possível se deparar com um ambiente que “reforça a
profundidade e a intensidade potenciais da experiência humana” (LYNCH, 2005, p.
05).
Depois de descrever as cidades, buscar representar partes delas nas
crônicas, mostrar como no interior do país, pouco a pouco, a natureza perde espaço
para as novas construções, os novos jardins, depois de anunciar a beleza do luar,
de pedir a bênção de estrelas sobre Montes Claros, o “eu-cronista” desfruta da
sombra da árvore, como quem aproveita o colo da mãe. O vento, já não tão
agressivo, deu uma trégua e permite que a sombra da árvore seja povoada pelos
pensamentos desse “eu”, o qual sabe que a marca implacável do tempo levará um
dia esse lugar de refúgio, suave e tranquilo. Nesse sentido, há nos trechos a
presença de um apelo poético tão marcado que faz com que as crônicas sejam pura
poesia por conta do diálogo travado entre a linguagem usada e a poesia.
Se por um lado progresso e natureza parecem caminhar
harmonicamente rumo à modernidade dos espaços, por outro, muitas das crônicas
108
E toca almoçar com um e jantar com outro, e tome caruru, efó, vatapá,
muqueca, galinha de xinxim, isto é, tome dendê, tome pimenta, e tome
laranja no Terreiro de Jesus, por um preço que Jesus acharia caro, mas que
nós pagamos sem turgir, [...] e tome capoeira, com musguinha para dormir,
que cá pra nós, que ninguém nos ouça, enche um bocado (REBELO, 2010,
p. 206).
111
exagero, faz de Salvador uma cidade única e que merece ser conhecida pelas
marcas que a tornam tão singular.
No retrato de Januária, na crônica V, na suíte nº 1, nota-se que a
proximidade com a Bahia fez com que a cidade incorporasse certas práticas
baianas. Isso ocorre, porque, como se sabe, não há fronteiras culturais, elas são
permeáveis, invadem umas às outras, modificam-se:
filhos por casal (GULLO, PEREIRA, 2000). Hoje, arrisca-se em dizer que a média é
de um ou nenhum filho por casal. Essa mudança de paradigma foi lenta e ocorreu
junto ao desenvolvimento das cidades, que exigiu também uma transformação
cultural.
Outro ponto a ser destacado é o fato de o rapaz ser um vendedor de
fumo. O fumo de rolo ou de corda passou a ser produzido na Bahia, de lá se
expandiu para Minas Gerais, tornando-se forte a produção na região de Ubá, de
onde vem o vendedor de fumos. Assim, entende-se que o cronista, ao mencionar o
fumo, registra dados da produção agrícola e de práticas comerciais da região.
Práticas essas que não fazem com que sua carteira fique recheada de dinheiro, mas
sim de fotos, as quais ele mostra com amor, “saudade, carinho e orgulho”.
Registrar essas práticas permitiu a construção de um Brasil
detalhado, um país que se compõe com ações e com um povo, cujas atitudes e o
modo de vida não ilustram folhetos turísticos. Porém, esse é o Brasil eternizado por
Rebelo em Cenas da vida brasileira.
Outra prática cultural foi marcada na crônica XIV, sobre Montes
Claros, inserida na suíte nº 1. Trata-se do cortejo fúnebre do ex-prefeito da cidade:
“A cidade em peso acompanhou o corpo de doutor Santos, pelas ruas do comércio
fechado. Não foi por ter sido prefeito que isto aconteceu, para honra de sua vida”
(REBELO, 2010, p. 27).
Nessa crônica, tem-se descrito um cortejo fúnebre que, até meados
da década de 1970, paralisava a cidade, levando o caixão do morto. Para merecer o
cortejo, que seguia em um carro escoltado a pé por toda a população, o morto
deveria ser de uma família mais abastada.
A morte do doutor Santos, ex-prefeito, torna-se para a cidade uma
espécie de espetáculo: o comércio é fechado, a cidade para e todos acompanham o
morto. O cortejo fúnebre mostra-se como capaz de ampla mobilização social e,
ainda que o morto não mereça tamanha mobilização como reconhecimento pelo que
fez quando prefeito, o fato de ser um morador ilustre, um doutor, faz com que essa
mobilização aconteça. Nesse sentido, ao ler a crônica, o leitor se depara com duas
situações: a descrição do cortejo e o perfil do morto, que não merece tal
homenagem a não ser por sua condição social.
Pratos típicos, bebidas, símbolos religiosos, banhos de água de
cheiro são elementos que fazem com que cada região fique conhecida por suas
114
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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