ALEM de VEGAS - Gravida Do Pai D - Lucas, Mario

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Copyright © 2024 Mário Lucas

ALÉM DE VEGAS
GRÁVIDA DO PAI DA MINHA MELHOR AMIGA

1ª Edição

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser


reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem consentimento e autorização por escrito do
autor/editor.

Capa: LA Design
Revisão: Gláucia Padiar
Betagem: Jéssica Figueiredo, Alessandra Portechel.
Diagramação: April Kroes
Ilustração: @aika_ilustra

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor.
Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.
Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem prévia
autorização do autor. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do código
penal.

TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA.


S u m á r i o

Sumário
Sinopse
Nota
Atenção
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Epílogo
Outras obras
S I N O P S E

Gravidez Inesperada.
Age Gap.
Pai da melhor amiga.
Chefe e secretária.

EMMA COSTANTINO
Eu sempre soube o que queria na vida: a primeira,
era me realizar profissionalmente, e a segunda, casar
com o meu príncipe encantado, o homem que havia
escolhido para formar uma família.
Tudo teria sido perfeito se não tivesse descoberto a
sua traição, ou se tivesse recusado o convite de
casamento de uma amiga em Las Vegas. Acreditei que
uma noite naquela cidade seria o suficiente para me
divertir e afogar as mágoas. Mas não contava acordar ao
lado de um deus grego completamente pelado.
Giancarlo não era apenas o italiano mais poderoso,
misterioso e controlador que conhecia. Ele era o meu
chefe, e o pai da minha melhor amiga.

GIANCARLO RUGGIERO

Manter o coração fechado e o controle sobre tudo


ao redor, se tornou um objetivo desde que perdi a minha
esposa e me tornei pai solo. Acreditei que levar a minha
querida filha ao altar seria a coisa mais difícil que faria
em minha vida solitária, até despertar ao lado de uma
jovem nua no dia seguinte.
Emma era tudo o que eu não poderia ter: anos mais
nova e atrevida demais para alguém que havia tido a
audácia de me tirar do celibato. Não seria difícil
esquecê-la, até porque mal conseguia lembrar como
tínhamos ido parar na mesma cama.
No entanto, uma gravidez inesperada mudaria
tudo. Não estava nos meus planos ser pai outra vez,
muito menos me tornar um homem possessivo e
ciumento por aquela que carregava o meu filho.
O que aconteceu na Cidade do Pecado deveria ter
ficado lá, mas para mim e Emma talvez houvesse uma
história além de Vegas.
N o t a

Seja bem-vindo(a) novamente ao universo de


advogados italianos poderosos, protetores, ciumentos e
possessivos!
Se é a sua primeira vez aqui, devo avisar que antes
deste livro, tivemos outro chamado Depois de Vegas:
Rejeitada Grávida do Melhor Amigo do Meu Pai, onde
esse universo começou. Mas não se preocupe, as
histórias são independentes e podem ser lidas
separadamente, sem prejudicar o seu bom
entendimento. No entanto, haverá alguns spoilers.
Aqui você conhecerá Giancarlo Ruggiero, um
homem de trinta e nove anos, controlador, pai solo,
viúvo de coração gelado e que não tem nenhuma
pretensão de sair do seu celibato. Ele só não contava
ficar perdidamente obcecado e apaixonado pela
secretária do seu sócio, a melhor amiga da sua filha,
treze anos mais nova.
“Além de Vegas” conta uma história leve, divertida,
sexy e com um toque de drama que acredito que todo
bom enredo deva ter. Não é um livro com um grande
plot, tem lá os seus mistérios, no entanto, é uma
característica trabalhada ao longo dos capítulos.
Todos os sentimentos e cenas do casal foram
construídas com muito amor e dedicação de minha parte,
sempre prezando por uma leitura agradável para cada
leitor.
Ainda assim, devo alertar que aqui você encontrará
linguagem inapropriada para menores de dezoito
anos, cenas de sexo explícito, relacionamento tóxico
familiar, luto, mas com o nosso amado final feliz.
Espero de coração que goste do livro e seus
personagens. Que Giancarlo com a sua intensidade
conquiste você!
A T E N Ç Ã O

DEPOIS DE VEGAS e ALÉM DE VEGAS são


livros independentes, mas que fazem parte do
mesmo universo de advogados italianos
poderosos, possessivos e implacáveis quando se
apaixonam por uma mulher.
D E D I C A T Ó R I A

A todas aquelas que ainda


desconhecem o poder do seu chá!
Saibam que um chá bem dado opera
milagres, e aqui a mocinha vai
descobrir que o dela ressuscita até pau
morto!
E p í g r a f e

“O medo é só uma palavra de quatro letras!”


Giancarlo Ruggiero
Para ter acesso à ilustração sem censura do livro,
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P R Ó L O G O

2 a n o s a n t e s ...

Apreensiva, relutei em abrir o site da Ordem para


ver o resultado do meu exame. Meu coração estava
disparado, a mão trêmula pareceu enfrentar uma guerra
até finalmente conseguir segurar o mouse e fazer o que
devia ser feito. Perdi o ar à medida que procurava o meu
nome na tela do computador, todavia, não o encontrei.
O desespero me inundou aos poucos. Quando
constatei que havia reprovado novamente, percebi que
viveria aquele pesadelo outra vez, o trauma... a
sensação de incapacidade, de me sentir a bacharel em
Direito mais inútil do mundo.
Aturdida, me ergui da cadeira para me afastar do
computador. Com as mãos na cintura, caminhei pelo
quarto bagunçado, abarrotado de livros jurídicos que me
tiravam horas de sono estudando.
Abalada, preferi não gastar tempo com aquilo, tal
sofrimento estava se tornando costumeiro, além de estar
chegando a minha hora de ir para o trabalho.
Após me vestir e maquiar os olhos inchados do
pranto que liberei no banheiro, ouvi duas batidinhas na
porta seguidas da entrada de Fiorela, minha irmã mais
velha.
— Querida, acabei de ver o resultado do exame.
Não deu certo outra vez, não é? — indagou, lamentando.
Encarei a pena que sentia de mim em seu rosto, aquilo
serviu como uma facada em meu coração.
— Fiorela, por favor... não quero conversar sobre
isso agora — a minha voz embargada denunciava a
minha fragilidade, me amaldiçoei internamente por não
conseguir disfarçar.
— Emma, por favor, eu sou a sua irmã, passei pelo
que você está passando, não quero que se afaste de
mim! — Ela se aproximou, tentando me abraçar, mas não
permiti.
— Não, Fiorela! É isso que não entende! Você não
sabe o que estou sentindo porque você passou no
Exame da Ordem logo de primeira e eu estou reprovando
pela terceira vez! — Alteei o tom, nervosa, me sentindo
oprimida por dentro. — Sei que quer apenas me ajudar,
mas este não é um bom momento, eu só preciso... —
ergui a mão, respirei fundo, tranquei as lágrimas — lidar
com isso sozinha — desabafei, girei os calcanhares,
olhei-me no espelho outra vez e tentei voltar a me
arrumar.
Estava me sentindo uma fracassada!
Fiorela recuou devagar. Torci para que fosse
embora.
Pior do que ter as suas feridas expostas era alguém
para assistir a sua dor, testemunhar a sua fraqueza.
— Sabe... conheço muitos graduados em Direito que
viajam à Espanha para conseguirem ser advogados —
Fiorela começou a falar, com delicadeza. Eu paralisei. —
Não sei se já ouviu falar, mas lá não existe o Exame da
Ordem. Depois eles retornam à Itália, se registram como
advogados estrangeiros e conseguem atuar...
— O que está tentando dizer? — Me virei devagar
para encará-la. Não consegui evitar o julgamento em
minha face.
— É apenas uma ideia — Fiorela explicou, agia
como se aquilo fosse uma saída, quando na verdade
servia apenas para encurtar o caminho, uma manobra
dos italianos da qual não concordava.
— Minha irmã, por favor... — falei, cansada, um bolo
formado em minha garganta. — Será que já não me
conhece o suficiente para entender que não é esse o
caminho que almejo pra mim?
— Mamma mia! O seu sonho não é ser advogada?
— Fiorela cruzou os braços.
— Sim, é! Mas quero ser como você! — Apontei
para ela. — Quero por merecimento!
— Para de ser tola, aquilo é apenas um exame que
não prova nada! São as regras da União Europeia, você
não estaria cometendo nenhum crime! — Fiorela se
irritou, parecia ter perdido a paciência. — Devia parar de
ser essa mimada e ao invés de chorar pelos cantos
acumulando derrotas, fazer tudo o que estivesse ao seu
alcance para exercer a profissão!
Boquiaberta, recebi as suas palavras como tapas
em meu rosto. Lágrimas desceram, ardentes, queimando
a minha pele. Puxei uma lufada de ar, fiz menção em lhe
responder, mas a voz de nosso pai saiu mais rápida:
— Devia ter vergonha de dar essa maldita ideia à
sua irmã, Fiorela — ele disparou, estava parado no vão
da porta, com as mãos nos bolsos da calça social,
vestido à caráter para ir ao trabalho, assim como a
minha irmã.
Ela era advogada na firma dele, seguia os passos
do renomado advogado. Eu preferi crescer
profissionalmente longe das suas asas, por isso
trabalhava na Gagliardi-Ruggiero, uma firma pela qual
era apaixonada.
— Papai? — Fiorela ficou tão surpresa quanto eu,
mas tenho certeza que não sentiu um terço da minha
dor.
— A quanto tempo está aí? — Engoli em seco,
temendo que tivesse escutado a nossa discussão. Até
ali, eu havia mentido para ele várias vezes, dito que
ainda não queria fazer o exame. Agora, sob o seu olhar
decepcionado, o meu mundo estava prestes a desabar.
— O suficiente, Emma. O suficiente — afirmou, com
a voz dolorida. Então me deu as costas, amargo.
— Papai... — dei apenas um passo, estendi a mão
em sua direção, mas o homem não esperou.
— Emma... eu sinto muito — Fiorela lamentou a
situação antes de sair também e me deixar sozinha,
dentro do abismo.
Aquela manhã não poderia ter começado pior,
peguei o metrô até o trabalho com o objetivo de
controlar o meu desespero antes de ter que entrar no
mesmo prédio de todos os dias, desde que fazia apenas
o estágio.
Atravessei a faixa de pedestres enxugando os olhos
marejados com um lenço. Estava quase chegando do
outro lado, tão destruída por dentro que mal notei
quando o trânsito havia retornado e que, em poucos
segundos, seria atropelada por uma moto que vinha em
cheio na minha direção, buzinando descontrolada.
Tudo aconteceu muito rápido, ergui o rosto para ter
um vislumbre do que seria o meu fim até que uma mão
forte me agarrou no último instante, salvando-me do
perigo.
Meu corpo pequeno foi retirado da avenida, puxado
com rapidez até bater contra outro que parecia ter quase
o dobro do meu tamanho, era duro, quente. Demorei a
processar aquele acontecimento, erguer a face e
encontrar olhos intensos da cor de avelã mergulhados
nos meus.
Fui assaltada por aquele olhar, as mãos grandes em
meus braços, o contato inusitado dos nossos corpos.
Por pouco segundos que pareceram horas, fiquei
seduzida na imensidão do que era aquele homem loiro
que havia me salvado da morte certa, me protegido sem
que eu precisasse pedir. A partir daquele momento,
entendi que Giancarlo Ruggiero, não era mais apenas o
meu chefe frio e distante, ele também havia se tornado o
meu herói.
— Ei! Você está bem? — Ele me apertou,
preocupado, seus dedos ásperos afundaram na minha
pele sensível.
Pisquei algumas vezes, assentindo, despertando
daquela hipnose viciante. Me afastei dele, olhei para o
tráfego de carros que havia retornado com força e
entendi de uma vez por todas o que tinha acontecido. Já
não havia mais sinal do motoqueiro, ele tinha sumido.
— Desgraçado irresponsável! — Giancarlo procurou
o homem, aquilo realmente tinha o incomodado.
Calada, ainda não acreditava que o Sócio-Gestor da
firma estava ali, na minha frente. Sempre o via de longe,
inalcançável, e agora estávamos aqui, nessa situação.
— Você também deveria ficar mais atenta,
atravessou o sinal quando ele já estava quase aberto —
sua voz grossa me repreendeu, ele voltou a me dar
atenção, tão lindo sob a luz do sol iluminando os seus
fios dourados que parecia um anjo perdido na Terra.
Um anjo sexy e perigoso.
— Certo... — foi a única coisa que consegui
responder.
Giancarlo assentiu e seguiu para o carro ao lado,
onde um motorista lhe aguardava de pé, ao lado da porta
traseira aberta. Como um rei de terno e gravata, o
homem tomou o seu lugar e se foi, me olhando uma
última vez antes de fechar o vidro da janela.
Incrédula, suspirei, me dando conta de que nem tive
a educação de lhe agradecer.
Bestificada, entrei no arranha-céu com fachada de
vidro, me perguntando se Giancarlo sabia quem eu era
ou qual era a minha função na sua firma, o que achava
muito difícil já que uma paralegal [ 1 ] de vinte e quatro
anos jamais seria notada pelo presidente.
Ao subir no elevador, funguei ao olhar o meu celular
mais uma vez, decepcionando-me por meu namorado
ainda não ter visto as minhas mensagens nem retornado
as ligações.
Sempre que eu mais precisava, Nico não estava
presente.
Segui para o banheiro, tentei contornar a tragédia
que estava o meu rosto antes de ir para o meu
departamento e começar o meu serviço.
Trabalhava em uma sala grande que dividia com
mais cinco pessoas, todos tínhamos histórias parecidas.
Entramos na Gagliardi-Ruggiero como estagiários, nos
destacamos e nos tornamos paralegais após formados,
já que ser advogado não era uma opção, pois ainda não
tínhamos passado no exame.
Tudo corria bem até que o departamento foi
invadido por um moreno de olhar perigoso que todo
mundo conhecia e temia, Filippo Gagliardi, o outro dono
daquele lugar. Como sempre, ele estava acompanhado
do seu fiel escudeiro, Tomás Vitale, um advogado mais
novo que era admirado por todos nós por ter conseguido
se destacar rápido.
Mais admirado que ele era o seu chefe, o invencível
Filippo. O homem era uma fera dos tribunais, letal como
o próprio diabo.
— Bom dia a todos — ele nos cumprimentou,
analisando cada ser vivo daquela sala friamente. — Vou
perguntar apenas uma vez, então é melhor que alguém
me dê uma resposta rápido. — Filippo ergueu os
documentos que segurava. — Quem de vocês está
fazendo o maldito serviço da minha secretária?
Engoli em seco, aterrorizada.
Alice havia se tornado uma amiga. Eu havia a
ajudado uma vez e o seu chefe a tinha elogiado, depois
ela pediu de novo e de novo, então continuei ajudando.
Não vi maldade. Gostava de trabalhar, de sempre manter
a cabeça cheia, não me importava que fosse o nome
dela a ser reconhecido, até porque a minha meta era ser
advogada.
Pelo menos até hoje, depois de mais uma
reprovação na Ordem. Agora, eu não sabia mais, de
fato, o que pretendia na vida.
O senhor Gagliardi continuou em busca de um
culpado, mas ninguém se manifestou, todos sabiam que
ele, diferente do Giancarlo, degolava cabeças sem
pensar duas vezes e todos ali prezavam por seu
emprego.
— Se ninguém responder, todos vocês serão
demitidos antes mesmo que eu volte para o meu
escritório — o infeliz ameaçou, instalando o caos nos
semblantes dos meus companheiros.
— Sou eu. — Com uma dose de coragem que o meu
dia infeliz não me permitia ter, levantei, de rosto erguido
e pernas bambas.
Sabia que a qualquer momento poderia desabar,
mas tentei me manter firme.
Surpreso, Filippo me analisou, fazendo com que o
meu coração quase rasgasse o peito de tão nervoso.
— Arrume as suas coisas — ele disparou, fiquei
chocada. Olhei dele para Tomás e depois para ele de
novo.
— O senhor... está me demitindo? — gaguejei, já
havia recebido muitas notícias ruins naquela manhã,
mas não queria imaginar sair daquela firma, era o que
me mantinha respirando.
— Não, querida, estou te promovendo à minha nova
secretária. — Filippo deu um passo em minha direção,
me estudando. — Esteja na minha sala em quinze
minutos. — Foram as suas últimas palavras antes de me
dar as costas e sair.
Tomás assentiu para mim e o seguiu.
Perplexa, arfei. Meu Deus, eu fui notada por um dos
chefões!
Seria aquela a oportunidade de começar uma nova
etapa na minha vida?
C A P Í T U L O 1

At u a lme n t e ...

Sentado à cabeceira da extensa mesa localizada na


sala de reuniões, observei um dos Sócios-Sêniores
terminar a sua apresentação em slides acerca do
departamento financeiro da firma. Dez pessoas estavam
ali comigo, gente que, assim como eu, carregava o
prestígio de fazer parte de uma das maiores firmas de
advocacia de Milão.
A Gagliardi-Ruggiero era conceituada, referência em
casos milionários que tiveram grande repercussão na
mídia. Muitos estudantes de Direito sonhavam em estar
aqui, fazer parte do grupo poderoso sob o meu
comando.
Ser o Sócio-Gestor daquele lugar, era uma
responsabilidade adquirida não apenas por herança,
como também por merecimento. Eu já tinha o meu
próprio império advocatício em Las Vegas quando tive
que retornar à Itália para assumir o lugar do meu
falecido pai, um homem que, por ironia do destino, não
me servia de exemplo.
— Muito bem, senhoras e senhores, se não tiverem
mais nada a falar, podemos dar essa reunião por
encerrada — afirmei, fechando a pasta à minha frente
logo após o sênior terminar com os slides e retornar ao
seu lugar.
— Se me der licença, Giancarlo, eu tenho uma
pauta. — Vito Sartori, um dos melhores advogados da
firma depois de Filippo, ergueu o indicador.
Ele se manteve distante de mim e de Filippo nos
últimos meses, e essa era a razão pela qual me fazia
acreditar que eu não iria gostar do que estava prestes a
ouvir.
— Pois não. — Fiz um breve movimento com a mão,
permitindo que continuasse. Encostei-me na poltrona.
— É de conhecimento público o que aconteceu a
alguns meses atrás. — Vito desviou o olhar de mim e
encarou a todos. — Uma maluca apontou uma arma para
a sua filha na porta do prédio. Graças a Deus não
aconteceu nada com ela, mas o fato foi divulgado, assim
como a notícia de que Filippo mantinha um caso com a
garota. — Suas pupilas mais uma vez me fitaram.
— Eles não tinham um caso, mas sim um
relacionamento sério e agora estão prestes a se casar —
corrigi, o fuzilando com o olhar, já me sentindo
extremamente incomodado com a sua maliciosa
insinuação.
— Sua filha trabalhou pouco tempo com o Filippo e
logo apareceu grávida... — O desgraçado me ignorou ao
continuar falando, mas decidi interrompê-lo outra vez.
— Aonde quer chegar, Vito? — Apoiei os antebraços
sobre a mesa de mogno e vidro para encará-lo com mais
precisão.
— Só achei estranho o fato de não recebermos
nenhuma explicação durante todo esse tempo. Você e
Filippo são os Sócios-Nominais, porém, um escândalo
como aquele não mancha apenas o nome de vocês, mas
os nossos também.
Respirei fundo, Vito estava tentando me prejudicar
diante dos outros. E, pelo semblante mantido por alguns
deles, tive a certeza de que o infeliz estava
conseguindo.
— Em primeiro lugar, o que aconteceu com a Ágata
poderia ter acontecido com qualquer um de nós. E
quando eu digo isso, me refiro tanto ao escândalo na
porta da firma quanto ao relacionamento de um chefe
com a sua funcionária — pontuei, cruzei as mãos,
comprimi os dedos uns contra os outros. — É claro que
essa possibilidade não justifica os problemas que
tivemos, vai contra os nossos princípios, mas não é a
primeira vez que acontece, mesmo quando o caso
envolve um sócio tão discreto quanto você, Vito.
Ele ergueu uma sobrancelha ao ser alfinetado. Vito
não era nenhum santo, boa parte das funcionárias se
derretiam por ele, e não era do seu feitio sair ileso.
Um meio-sorriso provocativo surgiu em seus lábios.
— Mas não foi comigo que aconteceu, Giancarlo —
ele argumentou. — E mesmo que acontecesse, eu teria
compartilhado. — Observou os nossos companheiros. —
Afinal, uma firma não se faz sozinha apenas com os
proprietários. Todos são importantes.
— O que importa destacar é que tudo foi resolvido
— aumentei o tom, tomando a atenção para mim. — E
esse assunto não foi compartilhado porque era algo
pessoal e não profissional, apesar dos envolvidos. Se a
sua preocupação é sobre a imagem que estamos
passando, Vito, deveria ter analisado o aumento da
nossa clientela e do nosso orçamento nas últimas
semanas, antes de vir aqui perder o seu tempo.
Testemunhei o seu semblante endurecer, como se
um gosto amargo se espalhasse em sua garganta.
— E para concluir quero que escute uma coisa: — o
fuzilei outra vez, a severidade em minha voz denunciava
o quanto eu estava insatisfeito com o seu
comportamento — o meu nome e o do Filippo estão na
parede porque ao invés de tentarmos derrubar um ao
outro, colocamos o nosso foco no crescimento dessa
firma e, principalmente, nos profissionais que fazem
parte dela. — Bati o indicador na mesa, irritado.
Continuei encarando o homem em silêncio até que decidi
dar um basta naquela palhaçada. — Esta reunião está
encerrada! — sentenciei.
De imediato, todos se levantaram. Um a um, se
retiraram da sala onde havia um paredão de vidro com
visão para a cidade lá embaixo, iluminando o ambiente
luxuoso, em tons de preto e madeira caramelo.
Antes que o Vito pudesse sair, fui mais rápido, me
levantei e ajeitei o terno segundos antes de o
interceptar, detendo-me à sua frente.
Ele me encarou sem um pingo de temor, não que
devesse ter porque eu não era do tipo que apreciava ser
temido para ser respeitado. No entanto, o desgraçado
merecia entender qual era o seu lugar. E assim que
ficamos sozinhos, não pude me conter:
— Está tentando manchar a minha reputação,
Sartori? — o chamei pelo sobrenome.
— Claro que não, Giancarlo. Por que eu faria isso?
— Ele foi falso, pude sentir.
— Ter o nome na parede é algo cobiçado por
muitos, mas conquistado por poucos. Sabe por quê? —
Ele esperou, com o seu maldito meio-sorriso. — Quem
está no topo tem a capacidade de identificar um
problema de longe, então é melhor que você não tente
mais brincar comigo — ameacei, obrigando o seu
sorrisinho a desaparecer. — Entendeu? — rosnei, me
aproximei mais um pouco, intimidador.
Vito assentiu, a contragosto. Só então abri espaço
para que ele levasse o maldito traseiro até o seu
escritório.
Sozinho, suspirei, ainda incrédulo com o que tinha
acontecido. Era para ser uma reunião normal, mas a vida
era acompanhada de surpresas. Pensando nisso, peguei
o meu celular do bolso da calça assim que escutei o som
da mensagem.

Pai, não se esqueça da


escolha do meu vestido. Já estou
na loja com a Emma.

Ágata insistiu para que eu participasse daquele


momento. Após as idas e vindas da sua relação
conturbada com o Filippo, eu finalmente o tinha
perdoado por ter machucado os sentimentos dela no
passado. Aceitar o convite para ajudá-la a escolher o
seu vestido de noiva, significava a minha aprovação
sobre o seu casamento, e a prova de que há cinco anos
eu agia como pai e mãe.
Respondi a mensagem antes de pegar a minha
pasta e sair da sala de reuniões. Fiquei contente pela
secretária do Filippo estar ao seu lado. Ágata havia
construído uma bela amizade com a Emma durante o seu
estágio.
Nunca reparei muito na jovem mulher que
trabalhava para o meu amigo, mas estaria mentindo se
não afirmasse que ela havia feito diferença na vida da
minha bambina [ 2 ] nos últimos meses. Isso me agradava.
Após deixar a firma, pedi ao meu motorista que me
levasse até a loja de vestidos de noiva onde elas se
encontravam.
— Giancarlo Ruggiero — disse o meu nome a uma
das moças que me atendeu. Ela me fitava como se eu
fosse algum artista, com um sorriso bobo no rosto que
não me afetava.
Continuava acreditando que nenhuma outra mulher
seria capaz de me afetar positivamente como apenas
Aurora havia conseguido. A minha falecida esposa tinha
levado consigo muito mais do que a sua ausência. Ela
foi enterrada com o meu coração e todo o calor que um
homem feito eu necessitava para dormir com uma
mulher.
— Ah, sim. A sua filha está o aguardando. Vou lhe
acompanhar até o provador no qual ela se encontra. —
Segui a atendente pelo amplo espaço que tinha uma
variedade de vestidos espalhados por todos os lados.
Após a atendente me mostrar uma porta, fui deixado
sozinho.
Entrei no cômodo grande com um lustre enorme no
teto. Caminhei pelo assoalho identificando o requinte do
lugar de paredes claras, com dois provadores em cada
canto, escondidos por cortinas cinzentas. Estranhei todo
aquele silêncio, escutei um barulho de um dos lados e
invadi um dos provadores.
— Filha? — Sorri, todavia, fui pego de surpresa ao
me deparar com uma deusa ruiva seminua de frente para
o grande espelho.
Emma usava apenas uma calcinha fio-dental azul-
marinho, expondo cada centímetro da pele clara que
dava a impressão de ser tão macia a ponto de endurecer
o meu pau. Foi uma reação violenta, imediata, sequer
tive tempo de raciocinar quando os meus olhos caíram
sobre a sua bunda grande e redonda, a curva da cintura
fina até os seios fartos que me deram água na boca.
— Dio Santo! — ela exclamou, se cobrindo com um
vestido de noiva que provavelmente iria ou já havia
experimentado.
No entanto, era tarde demais, saí do provador com
a sua imagem tatuada em meus pensamentos, além da
pulsação feroz no centro da calça, de uma maneira que
não sentia há bastante tempo.
Afetado, passei a mão no cabelo enquanto
caminhava de um lado a outro do espaço, percebendo
que aquele calor do qual tanto senti falta estava me
queimando por dentro, reacendendo desejos esquecidos,
primitivos. E por mais que não quisesse acreditar,
entendi que fui incendiado de um jeito novo, muito mais
intenso.
Disse a verdade quando afirmei que nunca havia
reparado na Emma, mas agora desconfiava que ela não
sairia mais da minha cabeça.
C A P Í T U L O 2

Assim que o Giancarlo saiu do provador, senti como


se ainda estivesse afundando no susto que a sua
entrada repentina me causou. Eu sabia que ele viria,
Ágata me avisou, mas não esperava ser flagrada apenas
de calcinha pelo meu chefe.
Que loucura!
Deixei o vestido de lado e me vesti o mais rápido
possível. O meu plano era aproveitar o momento em que
a minha amiga enfim decidiria qual seria o seu vestido
de noiva, para começar a procurar o meu, já que
pretendia me casar com o Nico ainda naquele ano.
Eram três anos de relacionamento com ele e um ano
morando juntos sob o mesmo teto. Após me tornar
secretária do Filippo, a minha renda aumentou
significativamente, consegui sair da casa do meu pai e
comprar o meu apartamento, o qual ainda estava
pagando.
O sonho de ser advogada havia sido postergado,
ficava nervosa por apenas ter que me imaginar fazendo
o exame de novo, mas no fundo mantinha a esperança
de que um dia iria conseguir, bastava recuperar a minha
autoconfiança.
Constrangida, puxei a cortina devagar até sair do
provador. Giancarlo estava sentado no sofá, de pernas
cruzadas, majestoso. Sua atenção desviou do celular no
qual mexia para focar em mim.
Mais uma vez, fui arrebatada por aquele olhar capaz
de derreter qualquer mulher, até mesmo as
comprometidas como eu. Senti as minhas bochechas
arderem, o que me deu a certeza de que estava ficando
vermelha.
— Scusami [ 3 ] , achei que era a Ágata aí dentro. — O
homem se levantou, guardou o aparelho dentro do bolso.
Apesar de estarmos a um metro de distância, o seu
perfume me nocauteou, uma fragrância amadeirada com
notas de canela e menta que seria capaz de me
hipnotizar se eu não fosse forte o bastante.
Para ajudá-lo a quebrar o gelo, forcei um sorriso.
— Ah, tá tudo bem, você não sabia. Mas não conte
a ela o que aconteceu, eu morreria de vergonha — pedi,
tentei soar descontraída.
— Não se preocupe com isso, será o nosso pequeno
segredo. — Giancarlo piscou para mim. Foi um gesto
rápido e natural, não pareceu ter segundas intenções,
mas achava incrível o fato dele não precisar de muito
para me seduzir, causar calor entre as minhas pernas.
Esse era o problema dos homens muito bonitos,
qualquer coisa que fizessem, intencionais ou não,
causava um estrago em uma pobre calcinha.
Afetada, engoli em seco. Olhei para baixo, umedeci
os lábios. Senti o meu rosto queimar, agora devia estar
parecendo um tomate. Lembrei do Nico e me senti
culpada por ficar tão mexida na frente do Giancarlo.
Aquilo não deveria acontecer.
— Está de casamento marcado também? — Ele
encarou o vestido branco dobrado sobre o meu
antebraço direito.
— Sim... quer dizer, ainda não. — Sorri, confusa,
tentando me reconectar com a própria consciência. —
Mas será este ano. Eu estou noiva. — Mostrei o anel em
meu dedo.
Giancarlo fez menção em continuar falando, mas
Ágata abriu a porta, entrou conversando com a mulher
que nos atendia.
— Oi pai, que bom que chegou! — Ela sorriu ao
avistá-lo, seguiu até ele e o abraçou. Era linda aquela
relação de pai e filha, o fato de que Giancarlo aceitava
as decisões da Ágata sem julgá-la, sem olhares
decepcionados como aqueles que o Sr. Costantino me
dirigia toda vez que nos encontrávamos.
— Onde você estava? — ele perguntou, enquanto eu
entregava para a atendente o vestido que tinha
experimentado.
— Fui verificar outro modelo, mas o que eu quero
mesmo é aquele ali. — Ágata apontou para o manequim
de vestido de noiva sobre um pequeno altar no fundo da
sala, diante dos espelhos.
— Ah, graças a Deus! — comemorei, erguendo as
mãos. Me aproximei dos dois. — Desculpe, mas na
minha opinião aquele está perfeito. — Cruzei os braços,
encarei o manequim ao lado dela. — O outro não ia
contornar tão bem esse seu barrigão de oito meses. —
Apontei para o seu abdômen inchado, destacado no
tecido leve do macacão que usava.
Sempre que olhava para a barriga da minha amiga,
lembrava que Filippo era o pai dos filhos que ela
carregava, que os dois iriam se casar no final da semana
e que aquilo tudo ainda parecia inacreditável, tendo em
vista que até pouco tempo o Sr. Gagliardi sequer
pretendia formar uma família.
— O que acha, papai? — Ágata ergueu o rosto para
encarar o homem que, com certeza devia ter quase dois
metros de altura.
Giancarlo Ruggiero era grande, e de ombros tão
largos escondidos sob o terno, que dava a impressão de
ter dificuldade para atravessar qualquer porta.
— Emma tem razão — ele colocou as mãos dentro
dos bolsos, fiquei surpresa por concordar comigo. Nós
nunca tivemos nenhuma intimidade, e para quem mal me
olhava na firma, em poucos minutos já tinha visto mais
do que o necessário. — A sua escolha é perfeita. —
Sorriu para a filha. — Vai ficar ainda mais linda.
— Aah, gente, obrigada! — Contente, Ágata bateu
uma palma única. Tudo o que estava acontecendo era o
seu sonho realizado, o seu esperado final feliz com o
homem que amava desde que tinha apenas quinze anos
de idade.
Fiquei perplexa quando ela me contou a sua
história, também contei a minha e foi assim que criamos
um laço forte de amizade.
— Emma já me viu usando ele, mas agora vou vestir
de novo para que o senhor também possa ver. — Ágata
caminhou em direção ao vestido, nós a seguimos.
— Querida, não faça isso, por favor — o pedido de
Giancarlo fez ela parar para olhá-lo com curiosidade. —
Sei que não sou o noivo, mas quero vê-la usando ele
apenas no dia do casamento — explicou, fazendo-me
sorrir.
Não havia dúvidas, aquele cara era um exemplo de
pai.
— Sendo assim, tudo bem! Vou manter o mistério! —
Ágata sorriu também, então veio até mim e entrelaçou o
seu braço ao meu, me puxando. — Andiamo, Emma.
Agora temos que procurar algo para a madrinha da
noiva! — Caminhamos lado a lado, em direção à saída.
— Voltamos em um minuto, papai!
Sem entender o motivo, olhei uma última vez para
Giancarlo antes de perdê-lo totalmente de vista. Ele me
encarou sério e enigmático, ainda com as mãos nos
bolsos. E apesar da nossa distância, tive a sensação de
que aquela energia circulando entre a gente não fosse
ser destruída, muito menos esquecida.
C A P Í T U L O 3

Ao chegar em casa à noite, joguei a minha bolsa


sobre o sofá bege da sala e me apressei em me livrar
dos sapatos, como sempre fazia. Suspirei aliviada ao
tocar os meus dedos calejados no tapete branco antes
de seguir para a cozinha. Eu adorava o meu
apartamento, era um ambiente pequeno com apenas um
quarto, mas era meu.
Cada parede foi pintada por mim, havia escolhido a
paleta de cores, sempre optando por tons claros e
femininos para adoçar a vida. Ali me sentia livre, uma
mulher forte e independente que tanto lutei para me
tornar.
Sorri ao encontrar o Nico na cozinha.
— Oi, amor. — Carinhosa, o abracei pelas costas,
ele estava sentado à mesa lendo algo em seu notebook.
— Tudo bem?
— Tudo bem, querida. E com você? — Ergueu o
rosto para me dar um beijo rápido, voltou a observar o
monitor em seguida.
— Cansada, como sempre. — Abri a geladeira,
peguei uma jarra de água gelada e enchi um copo. —
Como foi hoje com a sua mãe? — indaguei, após molhar
a garganta para matar a sede.
Nico tinha a minha idade, cabelos escuros, queixo
sem barba, estava fazendo residência médica no maior
hospital da cidade. Ele era um lindo homem de olhos
castanhos que me conquistaram desde que nos
conhecemos.
— Tranquilo, sua irmã explicou a ela como as coisas
iriam acontecer no tribunal — afirmou, continuava focado
no que estava fazendo, conversando comigo sem me
dirigir o olhar.
Nico havia contratado Fiorela para ser a advogada
da sua mãe, em uma ação trabalhista que a minha sogra
movia contra a sua antiga empresa.
— Tribunal? — Fiquei surpresa com o que escutei.
Guardei a jarra de volta na geladeira. — Achei que
vocês iriam fazer um acordo, foi o que te aconselhei.
— Eu sei, Emma, mas a sua irmã acredita que
mamãe ganhará muito mais se for a julgamento.
— É muito arriscado, ela pode acabar perdendo
tudo, a prova de que foi uma demissão injusta está fraca
— argumentei, preocupada com a minha sogrinha. Eu
adorava aquela mulher, nos dávamos muito bem. Havia
estudado o seu caso mesmo sem ser convidada e não
concordava com a linha jurídica que Fiorela estava
seguindo.
Nico parou de mexer no mouse do notebook e me
encarou como se estivesse sem paciência:
— Fiorela é advogada, com certeza deve saber o
que está fazendo — foi ríspido, suas palavras serviram
como um tapa na minha cara.
Calada, engoli o que tinha escutado. Nico me
conhecia o bastante para saber que havia tocado em
uma ferida. Uma ferida profunda e dolorosa.
Foi de propósito.
— Amor, scusa [ 4 ] , não quis dizer isso — falou de
maneira suave, mas já era tarde.
— Não, tudo bem. — Fui até a pia, comecei a
organizar a pilha de louça suja que havia se formado,
buscando um meio de dispersar a raiva que aos poucos
se espalhava por minhas veias. — Você tem razão. Eu
sou apenas uma secretária, não vou mais me meter. — A
minha voz soou irônica, amarga.
Nico suspirou, cansado, percebendo a grande merda
que tinha feito, no entanto, nem tentou se desculpar.
Permanecemos em silêncio, fazia um tempo que
tínhamos dificuldade para nos entender. Eu tentava ser
carinhosa, manter a relação, mas ele sempre estava
armado, culpava o trabalho como motivo do seu
estresse.
Aquela situação atrapalhou até mesmo a nossa vida
sexual. Nem lembrava quando ele havia me procurado
pela última vez, e o pior era que me sentia necessitada.
Abri o lixeiro no pé da pia para jogar o resto de
comida que estava em um prato, momento em que
avistei uma garrafa vazia de vinho. Era a que Nico tinha
me presenteado no dia do nosso noivado.
Observei a louça na pia com mais atenção,
encontrei duas taças molhadas, uma delas com uma
marca de batom.
— Com quem você bebeu o meu vinho? — indaguei,
deixando o prato que segurava de lado.
Dessa vez, Nico me olhou de imediato.
— Ué, com a minha mãe — respondeu, como se
fosse óbvio.
— Ela veio aqui? — Estreitei as sobrancelhas,
desconfiada.
— O nosso encontro foi aqui.
— Você não disse que seria na casa dela?
— Mas acabamos fazendo aqui, seria mais perto
para a Fiorela, ela não poderia demorar muito, tinha
outro encontro marcado — explicou, cruzando as mãos.
Fiorela, sempre a minha irmã.
— E precisavam beber tudo? Esse foi o vinho que
você me deu no dia do nosso noivado, era para ser
degustado em momentos especiais. — Chateada, voltei a
pegar o prato e despejei o resto de comida dentro do
lixo, sobre a maldita garrafa.
— É só um vinho, Emma. Para de ser mesquinha.
Depois compro outro — o infeliz replicou, voltando a
mexer em seu notebook como se nada tivesse
acontecido.
— Mesquinha? — Parei com o que estava fazendo,
perplexa. Respirei fundo, juntei todas as peças que há
tempos se montavam em minha mente e, de forma
intuitiva, descobri o que realmente estava acontecendo.
Na verdade, parte de mim já sabia. A outra parte
lutava para não querer acreditar, mas depois dessa
conversa, havia recebido sinais suficientes.
— Diz pra mim, Nico, há quanto tempo você está
transando com a minha irmã? — disparei, logo após
caminhar até ele, apoiar as mãos na mesa e encará-lo
com profundidade.
Sempre fui boa em ler as pessoas, era do tipo que
captava as coisas no ar, não me lembrava de alguma vez
a minha intuição ter me enganado e, naquele momento,
quando os olhos do Nico me encontraram, quando senti
o seu nervosismo misturado ao temor, tive a certeza que
precisava.
— Eu sabia... — murmurei, um sorriso frágil e
incrédulo se formou em meus lábios. Minha primeira
atitude foi retirar o anel de noivado.
— Amor, o que está fazendo? — Nico se levantou,
atordoado. Arremessei o anel para longe. — Tá ficando
maluca? — Ele se aproximou, era o que faltava para que
a minha mão acertasse o seu rosto com um tapa. Um
golpe forte a ponto de marcar os dedos.
— Maluca eu estava quando me apaixonei por
você?! — Ergui o dedo, cuspi as palavras. Fui tomada
por um ódio tão insano que nem mesmo era capaz de me
reconhecer. — Maluca eu estava quando permiti que
viesse morar comigo no meu apartamento! Quando me
iludi com o seu pedido de casamento ou quando
acreditei que um moleque mimado como você algum dia
poderia se tornar um homem!
— Emma...
— Cala a boca! — O esbofeteei outra vez, minha
mão doeu. Nico esbugalhou os olhos, em choque. — Eu
te dei a oportunidade de construir um futuro ao meu
lado, acreditei na sua palavra quando nem mesmo a sua
mãe acreditava e pra quê? Pra você jogar fora da forma
mais imunda possível!
— Emma, por favor... — o infeliz implorou, engoliu
em seco. Uma lágrima manchou a sua face.
— Te dou dez minutos para arrumar as suas malas e
cair fora daqui! — Apontei em direção à saída.
— Vamos conversar, preciso que me escute. Eu e a
Fiorela, foi só uma vez... — tentou se justificar. Neguei
com o rosto, aquilo fez com que eu o odiasse mais.
— Dez minutos ou eu chamo a polícia e vai sair
daqui algemado! — rosnei, em ameaça.
De cabeça baixa, Nico demorou a se afastar,
parecia querer encontrar alguma saída, alguma solução,
mas me conhecia o bastante para entender que não teria
mais volta. Eu poderia aceitar tudo, menos traição. Ele
não me traiu apenas com a minha irmã, começou com as
mentiras, o afastamento, o desrespeito.
Decidi esperá-lo na sala, e quando o vi surgir com
as malas prontas, fiz questão de abrir a porta, por onde
ele passou, arrasado.
— Emma, por favor, não faz isso com a gente! —
Nico se desesperou quando ficou do lado de fora.
Começou a chorar feito uma criança. Foi vergonhoso. —
Por favor, me perdoa! — Soluçou, tentou me tocar, mas
não permiti.
Sua reação não me afetava, olhava para ele e via
apenas o vazio. Parecia que todo o sentimento que um
dia nutri por aquele homem havia se apagado,
assustadoramente. Agora, apenas me perguntava como
eu tinha permitido que chegássemos até aquele
momento, se a culpa era minha... se tinha feito algo de
errado.
— Emma, eu te amo! O que tive com a Fiorela não
foi nada! Ela não significa nada pra mim! Você é a
mulher da minha vida! — ele insistiu. Foi quando decidi
que precisava dar um basta naquilo, porque estava me
adoecendo.
Respirei fundo, tomei coragem e falei:
— Nico, olha pra mim — pedi mais calma do que
deveria e totalmente destruída por dentro. Porém, na
frente dele, tentei me manter sólida. Nico me olhou, da
forma como pedi. — Eu mereço mais que isso — afirmei,
tanto para ele quanto para mim. — Agora desapareça
daqui, já me cansei de você.
Fechei a porta com força, depois tranquei.
Com uma mão tapei a boca, a outra usei para
encostar contra o meu peito. Arrastei as costas na porta
até me sentar no chão, anestesiada, fria devido ao
choque. Um bolo se formou em minha garganta, mas me
segurei.
Não sabia mais o que fazer.
C A P Í T U L O 4

Assim que entrei na minha suíte, me encaminhei até


o closet, tirei a roupa e depois segui para o banheiro.
Precisava de uma boa ducha para descarregar o meu
corpo do longo dia que tive de trabalho. E durante o
tempo em que senti a água morna molhar a minha pele,
fiquei surpreso por, mais uma vez, lembrar da Emma.
Aquelas coxas nuas e torneadas... os seios pesados
que pareciam implorar para serem chupados... a
calcinha minúscula enfiada em seu rabo.
E que rabo era aquele, meu Deus?
Só de lembrar, fiquei duro outra vez, uma ereção
exagerada se firmou entre as minhas pernas, o sangue
dilatando cada veia a ponto de doer.
Encarei o meu pau e não acreditei. Para um homem
que estava há cinco anos no celibato era normal ficar
excitado, o que me assustava era me excitar apenas e
exclusivamente por causa de uma mulher, algo que não
acontecia desde que Aurora havia partido.
Emma parecia uma garota, tão jovem quanto a
minha filha, cogitava que tivesse no máximo vinte e três
ou vinte e quatro anos. Bastou ver o seu corpo uma
única vez para entender que ela era o pecado, uma força
da natureza capaz de destruir até mesmo um homem tão
frio quanto eu.
Deixei o banheiro após vestir um roupão, caminhei
pelo amplo espaço do meu quarto em tons de cinza
enxugando o cabelo com uma toalha. Me aproximei do
móvel encostado na parede onde estava fixada a TV e
capturei o porta-retrato no qual aparecia abraçado à
minha esposa.
Era uma foto antiga, tirada em Las Vegas que foi
onde nos conhecemos. Tanto eu quanto ela tínhamos
apenas dezessete anos, e mal sabíamos que naquele
momento já estávamos grávidos da Ágata.
Anos depois veio o Enzo, e assim construímos a
nossa família.
Acariciei aquela imagem, meu polegar escorregou
lentamente sobre o rosto da minha querida Aurora, à
medida que o meu peito e a minha mente foram
invadidos por lembranças tão violentas que tive a
impressão de que atravessariam a minha carne. Respirei
fundo, abalado, cada osso do meu corpo vibrando de dor
e saudade.
— Sempre amarei você — declarei. A minha voz foi
emanada em um sussurro quase inaudível, embargado.
Engoli em seco, parecia haver uma pedra em minha
garganta. Devolvi o porta-retrato para o lugar de antes
quando fui despertado pelo som da ligação.
Peguei o celular que estava sobre a cama e o
atendi, era o Filippo. Ele teve que ir a Las Vegas
organizar os últimos detalhes do casamento, desconfiava
que estava bolando alguma surpresa para a minha filha,
porque nada mais o tiraria do seu escritório e do seu
vício pelo trabalho que não fosse a Ágata.
— Pronto — atendi, após limpar a garganta.
— Boa noite, Giancarlo.
— Boa noite, Filippo. Tudo certo para o casamento?
Já organizou a papelada? — Caminhei até o closet para
procurar o que vestir.
— Tudo ótimo, mas parece que hoje tivemos uma
surpresa na firma. — Ele estava se referindo ao Sartori.
— Vito decidiu mostrar as garras, mas eu já
esperava por isso. O recente afastamento dele foi
planejado — expliquei, prendi o celular entre o ombro e
a orelha enquanto escolhia uma cueca e a vestia.
— Aquele desgraçado... — Filippo rosnou,
identifiquei a magnitude do seu ódio.
— Eu o coloquei em seu devido lugar. E caso Vito
ainda não tenha entendido, amanhã farei com que
entenda. — Coloquei uma calça moletom, então voltei a
segurar o celular, retornei para o quarto e sentei na
cama.
— Poderia tê-lo demitido apenas pela audácia.
— Se eu fosse dispensar cada sócio que me
irritasse, à essa altura estaria trabalhando sozinho. E
isso também vale para você.
— É, tenho que admitir, ninguém é melhor em
torturar alguém do que você, Giancarlo — reconheceu,
incomodado. Aquilo me fez sorrir, ele sabia o tamanho
da raiva que havia me causado meses atrás, e o quanto
suou para obter o meu perdão.
— Ah, o que é isso? — provoquei. — Não precisa
puxar o meu saco só porque vai se casar com a minha
filha. — Sorri novamente.
— E você poderia ir à merda, não acha?
— Eu vou a Vegas, isso sim. E é melhor que tudo
esteja nos conformes, Ágata não merece menos. —
Engrossei a voz, agindo como o seu sogro naquele
momento.
Não iria mentir, ainda era difícil engolir que o meu
melhor amigo, vinte anos mais velho que a minha filha,
estava prestes a se casar com ela. Descobrir a relação
deles abalou a nossa amizade, mas nos últimos minutos
do segundo tempo, Filippo conseguiu se redimir, provou
que era um maldito homem de verdade.
Dialogamos por mais alguns minutos até que
encerramos. Deitei na cama após liberar um longo
suspiro, cansado. Mal fechei os olhos e escutei o meu
garoto bater na porta. Sabia que era o Enzo porque
reconhecia até mesmo a força que usava quando o seu
punho tocava na madeira.
— Pode entrar — permiti, observando o menino loiro
de doze anos abrir a porta e me olhar desanimado. — O
que houve? — Me sentei na lateral da cama,
preocupado.
Enzo entrou e se sentou ao meu lado.
— Falta apenas quatro dias para o casamento —
falou, de cabeça baixa, entristecido, as mãos pousadas
no colo enquanto brincava com os próprios dedos.
— E o que tem isso? — O analisei, sem entender. —
Achei que estivesse feliz pela sua irmã e o tio Filippo.
— Eu estou feliz, pai — afirmou, mas senti que tinha
algo o incomodando. — É só que... nós ficaremos
sozinhos. Sem a Ágata, seremos apenas eu e você. —
Me encarou, com os olhos tristonhos brilhando.
Aquilo me tocou.
— Ah, meu filho... — O abracei, Enzo deitou a
cabeça contra o meu peito. Beijei a sua testa e senti a
sua dor. Ágata não era apenas a sua irmã, ela era a
única representação que ele tinha de mãe. Por anos
fomos só nós três.
Respirei fundo, a verdade era que compartilhava do
seu medo. Por diversas vezes me peguei imaginando
como seria sem a minha menina aqui, sob os meus
cuidados.
— Vai dar tudo certo, Enzo. — Acariciei o seu braço
enquanto tentava animá-lo. — Vai ser divertido só eu e
você. Será a mansão dos homens! — Ele me olhou
estreitando as sobrancelhas, como se achasse o meu
papo estranho. E era, de fato. — O que foi?
Enzo se afastou um pouco, pensativo.
— Pai, você nunca pensou em ter outra esposa? —
disparou, fui pego desprevenido.
— Por que está perguntando isso? — Cruzei os
braços.
— Bom, em um momento crítico como esse,
precisamos ser lógicos — filosofou, me surpreendendo.
— Eu ainda não tenho idade e nem saco para ter uma
namorada, mas se você tiver uma nova esposa, não
ficaremos sem uma presença feminina aqui em casa
quando a Ágata for embora.
— E por que precisamos de uma presença feminina
conosco? Isso não faz sentido. — Neguei com o rosto.
— Ainda não respondeu a minha pergunta, pai. —
Enzo era inteligente demais, não conseguiria
simplesmente enrolá-lo.
Incomodado, cocei a garganta e a minha barba
cerrada. Olhei ao redor procurando as palavras certas
antes de enfrentá-lo.
— Filho, sinto muito, mas o seu pai não pretende ter
uma nova esposa — informei, da maneira mais delicada
que pude.
— Por quê? — Aquilo parecia um absurdo para ele.
— Porque estou bem sozinho. Porque nenhuma
mulher conseguiu mais chamar a minha atenção depois
da sua mãe, e...
— E se eu encontrasse uma garota especial? — Ele
ergueu o indicador, acompanhado de um sorriso
desenhado em seus lábios.
— Enzo... — reclamei.
— É verdade, sou um bom cupido! — Ele se
levantou, empolgado com a ideia. — Quem o senhor
acha que uniu a Ágata com o tio Filippo?
— Não me diga... você? — Cruzei os braços de
novo, ergui uma sobrancelha ao ficar curioso com o
rumo que a nossa conversa estava tomando.
— Exatamente! Eu sabia que os dois se gostavam
há anos! Há muito mais tempo que o senhor! — falou
como se fosse o garoto mais esperto do mundo. Talvez
fosse.
— Ah, então você ajudou a encobrir o romance da
sua irmã e não me contou? — O sorriso dele se desfez.
— Ajudou a fazer o seu pai de bobo? — indaguei,
severo, ficando de pé e parecendo uma muralha perto
dele, algo que o assustou.
Enzo deu um passo atrás, inseguro. Ele engoliu em
seco, parecia calcular as próximas palavras.
— Pai... me perdoe, mas... eu não podia trair a
confiança da minha irmã — revelou, de cabeça baixa, as
mãos atrás das costas. Naquele momento percebi o
quanto Enzo era especial. O quanto eu o amava mais
que tudo na vida.
— Vem cá. — O abracei. — Você fez o certo ao
proteger a Ágata, mas se me esconder algo dessa
magnitude de novo, vou te colocar de castigo.
Entendeu? — ameacei.
— Entendi, papai. — Ele ergueu o rosto para me
olhar nos olhos.
— Agora vá para o seu quarto, seu pai precisa
dormir. — Bocejei, estava realmente cansado, o dia foi
exaustivo na firma.
Enzo caminhou até a porta após ter os seus cabelos
bagunçados por mim, mas antes de partir, me olhou uma
última vez.
— Eu vou encontrar uma nova mãe, quer o senhor
queira ou não! — avisou, sorrindo com malícia. Só então
decidiu partir.
Neguei com a cabeça, sem levar em conta o que
tinha ouvido. Voltei para a cama sabendo que nenhuma
mulher seria capaz de aplacar o buraco formado em meu
peito depois que me tornei viúvo.
C A P Í T U L O 5

Após uma noite inteira em claro revirando o meu


apartamento de cabeça para baixo, amanheci o dia com
a certeza de que a ideia de fazer apenas uma faxina
tinha ido por água abaixo. Passei a madrugada
obcecada em eliminar qualquer coisa que denunciasse a
existência daquele maldito na minha casa, algo que não
foi nada fácil.
Durante as horas de trabalho, encontrei em uma
sacola cuidadosamente fechada e escondida dentro do
lixo do banheiro, duas camisinhas recentemente usadas.
Dentro do cesto de roupa suja que iria para a lavanderia
na sexta-feira, achei os panos de cama com cheiro de
sexo misturado ao dele e ao da Fiorela. Eu reconheceria
o perfume dela em qualquer circunstância porque
sempre usava o mesmo, um tão enjoativo quanto ela.
— VACA! — bradei, revoltada.
Aquilo me deixou louca.
Guardei tudo o que podia dentro de uma frasqueira
de couro, precisava desinfetar o lar que havia
conquistado com tanto trabalho para que ainda
conseguisse viver ali dentro. O lugar que costumava ser
o meu preferido, onde acreditei que havia vivido
momentos felizes, sentimentos verdadeiros.
Para a minha sorte ou não, Nico esqueceu o seu
notebook na cozinha. Não foi difícil descobrir a sua
senha, apesar dele ser residente em medicina, o infeliz
nem sempre era inteligente. Não comparado a mim.
Bastou entrar na sua nuvem para encontrar diversos
nudes trocados entre eles, vídeos, fotos que tiraram
juntos. Como se não fosse o bastante, encontrei outras
provas de que Nico não me traía apenas com a Fiorela,
mas também com umas duas colegas do trabalho.
— Vai, diz que sou melhor que ela, vai! — Abri um
vídeo em que ele pegava Fiorela de quatro, filmava o ato
sexual enquanto segurava o seu cabelo com a mão livre.
— Puta que pariu, já falei que não gosto disso! —
Nico reclamou, virou a câmera para o espelho que
mostrou nitidamente o reflexo dos dois.
Naquele momento, senti que havia perdido o ar.
— Fala! Fala! — ela gritou, rebolando igual a uma
vadia louca.
— Você é melhor que a Emma! Sua boceta é mais
gostosa!
Meu estômago embrulhou. Corri até o banheiro e
praticamente caí sobre o vaso, vomitei por vários
minutos seguidos, trêmula, desesperada. Eu estava
literalmente no chão. Acabada! Eles me destruíram!
Mas aquilo não ficaria assim!
Me utilizando do único sentimento que nutria o meu
corpo naquele instante, me deixei ser motivada pelo ódio
para recuperar um pouco do que havia restado da minha
dignidade. Tomei um banho violento, onde me lavei com
uma força de marcar a pele. Era como se precisasse me
limpar daquela sujeira que Nico e Fiorela tinham me
causado.
Coloquei o melhor vestido, os melhores saltos.
Arrumei o cabelo, fiz a maquiagem, imprimi tudo que
precisava, peguei o notebook, a frasqueira. Esqueci do
trabalho, da minha vida, apenas tomei um café forte
antes de chamar um carro por aplicativo e me dirigir até
a firma do meu pai, onde a vadia trabalhava.
— O meu pai e a Fiorela estão aqui? — perguntei às
duas recepcionistas assim que saí do elevador e cheguei
ao andar presidencial. Elas me conheciam desde
adolescente, e sempre se deram muito bem comigo.
— Emma, que prazer tê-la aqui! A sua presença é
tão difícil! — Uma das mulheres se animou, se
levantando. Os olhos dela brilhavam por me ver, mas
sequer a encarei direito, agia feito uma caçadora atrás
da minha presa. — O senhor Aurélio e a senhorita
Fiorela estão em uma reunião com os sócios, depois
daquela porta. — Apontou, toda educada.
— Ah, eu agradeço. — Fiz menção em ir até lá.
— Espere! Ninguém pode entrar lá enquanto a
reunião estiver acontecendo. Se quiser, eu posso...
— Sabe o que você pode fazer? — Voltei até ela,
olhei para as duas. — Aliás, adoraria que vocês duas se
empenhassem nessa missão — falei de maneira tão
séria, que elas ficaram atentas.
— Tudo o que quiser, Emma.
Retirei alguns documentos do envelope pesado que
carregava.
— Espalhem isso — pedi, entregando os papéis à
elas. Ambas ficaram chocadas com o que leram. — O
nome dessa firma está sendo manchado. — Voltei a
caminhar, invadi a sala de reuniões, tão luxuosa quanto
a da Gagliardi-Ruggiero.
— Emma?! O que está fazendo aqui?! — Sentada ao
lado direito do meu pai, minha querida irmã se levantou
em sobressalto assim que me viu entrar em um
rompante.
A essa altura, ela já devia saber que eu tinha
descoberto tudo, mas talvez Nico a tivesse avisado tarde
demais, porque a conhecia o suficiente para entender
que teria a cara de pau de implorar para que a minha
boca se mantivesse fechada, o que não fez.
— Bom dia! Acredito que todos aqui me conheçam,
eu sou a Emma, a filha formada, mas ainda não
advogada do Sr. Aurélio. — Encarei os homens e
mulheres bem vestidos, advogadas e advogados, todos
conceituados.
— Emma? O que é isso? — Meu pai também se
levantou, não entendendo a minha atitude.
— Como devem saber, eu sou a vergonha da
família. Me formei com honras na universidade, mas
infelizmente não passei no exame. Porém, eu vim aqui
informar que o nome dessa firma está sendo manchado,
não por mim, mas pela minha querida irmã. — Olhei para
Fiorela, que começava a entrar em desespero. — Essa
vagabunda não é uma advogada de verdade! — falei em
alto e bom tom, retirando mais documentos do envelope.
— Fiorela foi à Espanha anos atrás para se tornar
advogada sem precisar fazer o exame. Ela não teria
cometido nenhum crime, afinal, naquela época o nosso
país aceitava esse tipo de manobra, senão fosse pelo
fato de que Fiorela falsificou a sua carteira, para que
não ficasse registrada como advogada estrangeira. —
Contornei a mesa, entregando as provas que tinha
encontrado e guardado há algum tempo, era como se
tivesse sentido que algum dia poderia precisar.
Eu estava certa.
— Como é que é? — Meu pai a encarou, abismado.
— Isso é mentira, papai! — Fiorela exclamou,
atordoada. — A Emma está inventando tudo isso!! —
Apontou para mim, a desgraçada.
— Estou? — A fuzilei com tanto ódio que a infeliz se
calou, com medo. — Você sabe que não. — Me
aproximei do meu pai, ele foi o último a receber o dossiê
que provava cada palavra que eu tinha dito.
O tempo em que trabalhava com Filippo Gagliardi
havia me ensinado que sempre deveria andar precavida.
E na minha firma, eu tinha tudo o que precisava,
inclusive bons advogados investigativos.
— Mamma mia!! — Coitado do meu pai, ler aquilo foi
como levar um tiro no peito. O constrangimento criado
naquela sala não se comparava ao que a Fiorela tinha
me causado com a facada que havia me dado nas costas
ao se envolver com o maldito Nico.
Todos os sócios a encaravam com desprezo,
vergonha. Fitei Fiorela com um prazer doentio, mas eu
tinha só começado.
— É isso, papai. Nem o senhor sabia que a sua filha
mais velha era uma fraude! — Foi delicioso dizer
aquelas palavras.
Ela começou a chorar, partiu para a chantagem
emocional como sempre fazia quando queria vencer uma
briga familiar. Quantas vezes fui castigada devido às
suas mentiras? Quantas vezes fui colocada para baixo
pela sua maldade? Quantas vezes Fiorela me
subestimou e sorriu do meu sofrimento?
— Pai... papai... — a infeliz soluçou, era como se
pedisse socorro.
— Peço que todos saiam e nos deixem sozinhos.
Agora! — Aurélio gritou, transtornado. Ele apoiou as
mãos sobre a mesa como se precisasse daquilo para
respirar.
— Não! — exclamei, atenta, impedindo que os
sócios se movessem. Caminhei depressa até a outra
ponta da mesa. — Ninguém sai daqui porque eu ainda
não acabei! — Coloquei o notebook e a frasqueira sobre
a mesa.
— Emma, por favor, não! — Fiorela tentou
ultrapassar o nosso pai para correr e chegar até mim,
mas ele a segurou firme pelo braço, provando o seu
interesse em saber qual era a outra carta que eu ainda
tinha na manga.
— Como se não bastasse essa mulher ser uma
criminosa, ela é a pior vadia que existe! — Apontei para
a infeliz logo após abrir o notebook e me preparar para
mostrar o vídeo. — Ela não respeitou nem mesmo a mim
que sou sangue do seu sangue! Ontem descobri que há
mais de um ano essa vagabunda mantinha um caso com
o meu noivo! — disparei, todos ficaram chocados.
Papai encarou Fiorela como se não pudesse
acreditar. A infeliz continuava chorando, tentando fingir
que era a vítima. Então eu virei o notebook para os
advogados e permiti que assistissem ao vídeo. Fechei os
olhos com dor quando escutei mais uma vez o que os
dois falaram:

— Vai, diz que sou melhor que ela, vai!


— Puta que pariu, já falei que não gosto disso!
— Fala! Fala!
— Você é melhor que a Emma! Sua boceta é mais
gostosa!

Mais uma vez Fiorela se tornou o alvo. Papai a


soltou como se estivesse com nojo da própria filha,
horrorizado da mesma maneira que os seus sócios. Mas
eu queria sangue!
— Agora tenho uma coisa pra te dizer, Fiorela. Não,
você não é melhor do que eu, você é nojenta! Você é um
monstro! E eu trouxe de volta toda a sujeira que você e
aquele desgraçado fizeram questão de deixar no meu
apartamento! — Abri a frasqueira e joguei tudo sobre a
mesa, os panos de cama, as camisinhas, mais fotos dos
nudes que eles trocaram, além daquelas que eu já havia
espalhado junto com os documentos que provavam que a
infeliz não era uma advogada.
— Emma, não precisava de tudo isso! — ela gritou,
transtornada.
— Não precisava? Vou te mostrar o que era preciso
sua invejosa descarada! — Fui até ela e a esbofeteei,
em cheio. Uma, duas vezes.
Fiz um escândalo, usei de toda violência possível
para puxar os seus cabelos. Foi preciso nos separarem,
uma plateia se formar na porta da sala, os seguranças
virem para retirar todo mundo dali até que ficássemos
trancadas apenas com o nosso pai, enquanto nos
seguravam.
— Inútil! Burra! Você sempre quis a minha vida! — a
acusei, fora de controle, enquanto me sacudia nos
braços do segurança tentando me soltar.
— Eu sou melhor, Emma! Sempre fui! — Fiorela
batia no peito enquanto berrava, outro homem tentava
contê-la.
— Melhor em que? Em ser uma puta mentirosa e
falsa?! Tá achando que era a única? Você era só mais
uma das putinhas dele!
— E você é uma palhaça, Emma! Corna! —
Gargalhou, diabólica!
— Vagabunda miserável!
— Maldita!
— Criminosa!
— CHEGA!! — Papai bradou, socou as duas mãos
na mesa, tentando dar fim àquela baixaria.
— Pai, por favor... — Fiorela mal teve tempo de
implorar. Aurélio a esbofeteou tão forte, que ela
cambaleou para o lado.
— Cala a boca!! — Ele a fuzilou, transtornado.
Chocada com o golpe que recebeu – pela primeira
vez em toda a sua vida – a infeliz demorou a erguer o
rosto vermelho para encarar o homem que a mirava com
um desprezo com o qual ela não poderia lidar. Nem eu
acreditava que papai tinha sido capaz daquilo. Ele era
duro com as palavras, mas nunca se utilizou de violência
para nos educar.
— Você me envergonha. — Cuspiu na cara de
Fiorela, o jato de saliva acertou a sua bochecha. A
atitude de papai foi tão impactante que me arrepiei, mas
não tive pena.
Fiorela soluçou, arrasada, perdeu até mesmo a
força nas pernas enquanto tocava a própria face que
provavelmente estava ardendo. O segurança tentou
segurá-la de início, mas acabou permitindo que a infeliz
fosse ao chão, ficasse na sarjeta.
Era como se o seu mundo tivesse acabado. Ela
sempre fez de tudo para manter a imagem da filha
perfeita, a número um, a preferida, a exaltada e
escolhida enquanto se satisfazia comigo sendo a
rejeitada.
Foi assim desde que perdemos a nossa mãe.
— E você? — O olhar afiado de Aurélio finalmente
me encontrou. — Precisava ter feito toda essa cena na
frente dos meus sócios? — bradou. — Por que não me
chamou em particular? Precisava me envergonhar desse
jeito?!
— Eu fui envergonhada primeiro! — rebati, de
queixo erguido, me soltando do segurança. — Humilhada
por todos esses anos! Tanto o senhor quanto ela
duvidaram da minha capacidade, nunca tive uma palavra
de incentivo! O senhor nunca agiu como um pai de
verdade, muito menos ela como irmã! — Apontei o dedo
para cada um deles, desviei o olhar para a vagabunda.
— Mas até aí tudo bem, eu já tinha me conformado. No
entanto, Fiorela ultrapassou todos os limites comigo! Ela
foi baixa! Ela não precisava ter feito isso, mas o seu
maior prazer sempre foi se sentir superior a mim! —
Fiorela ergueu o rosto, derrotada, os olhos vermelhos. —
Tudo o que fiz foi para que todos soubessem quem você
é de verdade! Porque você não passa de uma vadiazinha
imunda, Fiorela, e eu nunca! Nunca vou te perdoar! —
berrei, ensandecida.
Engoli em seco, troquei um último olhar com ela e
com o meu pai. Então dei as costas e fui embora.
C A P Í T U L O 6

A cama parecia mais confortável quando acordei.


Abri os olhos devagar e encontrei Aurora sorrindo para
mim enquanto acariciava o meu rosto. Sorri de volta,
sem deixar de notar que naquela manhã a minha esposa
parecia ainda mais frágil do que no dia anterior.
Não havia restado mais um fio de cabelo em sua
cabeça, eu mesmo tinha raspado tudo após os primeiros
tufos caírem quinze dias depois do início da
quimioterapia. Desde então, viemos lutando de forma
árdua contra essa doença que surgiu de maneira
silenciosa e somente descobrimos em um estágio muito
avançado.
No entanto, nada mudaria a minha opinião de que
Aurora continuava sendo a mulher mais linda que
conheci em minha vida. Uma parceira que me
acompanhava há anos e que eu estava determinado a
não deixar partir.
Ela não iria morrer. Pelo simples fato de que eu não
permitiria e não aceitaria. Deus não faria isso comigo e
com os nossos filhos.
— Sempre amarei você — sussurrei a frase que
costumava dizer a ela durante todo esse tempo em que
estávamos juntos. Acariciei o seu rosto também, me
apaixonei por minha esposa mais uma vez, e guardei no
meu íntimo a preocupação que a sua debilidade me
causava.
— O para sempre é composto de agoras. —
Arrastou os dedos por minha barba ao citar novamente a
frase de Emily Dickinson [ 5 ] , uma das suas poetas
americanas preferidas.
Aurora tinha um dom para encontrar poetas
excelentes, mas pouco conhecidos. Ela amava quando
descobria um novo, agia feito uma caçadora de talentos
e se regozijava com as poesias que definia como
perfeitas. Tinha o hábito estranho de colecionar obras
dessas pessoas em sua biblioteca, o seu mundo
particular.
— Lá vem você de novo. — A beijei.
— Vá tomar banho, temos que tomar café. Já
mandei o Enzo para a escola. — Ela se levantou,
caminhou devagar em direção ao closet.
Aurora decidiu que não absorveria as palavras dos
médicos como se tivesse um prazo de validade, ao invés
disso, escolheu ser protagonista do seu tratamento,
fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para ter uma
vida bem vivida. Porque não se importava com o tempo
que ainda tinha, mas sim com a qualidade com a qual
poderia vivê-lo.
Era por isso que optou por agir como se – apesar do
seu câncer de ovário – tudo continuasse como antes,
exceto por algumas mudanças na nossa rotina.
Eu, ao contrário dela, havia escolhido ser rebelde,
ainda não tinha engolido o seu diagnóstico nem aquela
situação, e acreditava de verdade que ela viveria o
suficiente para que testemunhasse eu partir primeiro.
Porque uma coisa era certa, não suportaria se fosse o
contrário.
Usando um roupão, ainda enxugava o meu cabelo
no banheiro quando escutei o baque.
— Querida? — Preocupado, voltei para o quarto,
mas não a encontrei. — Aurora? — Segui para o closet,
deixei a toalha cair da minha mão quando fui assaltado
pelo susto de ver o seu corpo jogado no chão. —
AURORA! — berrei, me joguei de joelhos ao seu lado,
tentei reanimá-la, e quando percebi que não estava
respondendo, a peguei no colo.
Desesperado, saí do quarto. Ágata, ainda nos seus
dezesseis anos, apareceu no corredor, tentando
entender o que havia acontecido.
— Mãe?! — ela exclamou. — Dio Santo! Pai, o que
aconteceu?! — A menina ficou nervosa, mas não parei
para respondê-la, segui em direção às escadas.
— Ágata, pegue uma roupa para mim, vou me trocar
no caminho, estou indo com a sua mãe ao hospital!
Ela não pensou duas vezes ao me obedecer. Berrei
pelo meu motorista, tentei manter a calma dentro do
possível. Assim que Ágata retornou depressa com a
minha roupa, segui para o pronto-socorro, sem imaginar
que aquela seria a última vez que entraria ali com a
minha esposa.

Despertei do pesadelo, ofegante, suando frio.


Saí da cama depressa e caminhei pelo quarto
atordoado, esfreguei o rosto e o peito. Estava
consciente de que aquelas imagens foram reais demais,
detalhadas, lembranças dos meus sentimentos, a dor
constante.
Engoli em seco, minha garganta estava seca, a
saliva arranhava, o peito ardia de uma maneira ruim. Os
demônios de um passado terrível me acompanhavam,
além da certeza de que, jamais superaria o fato de a
morte da Aurora ter sido minha culpa. Deveria ter feito
mais, lutado mais. Ao invés disso, a deixei morrer.
O tormento daquele pesadelo fez nascer em mim um
mau humor desgraçado. Como de costume, carreguei
aquele fardo para a firma, onde estava prestes a
esmagar qualquer um que ousasse entrar em meu
caminho.
O escolhido foi Vito Sartori, que invadiu o meu
escritório sem pedir licença. Olhei pela fachada de vidro
e não encontrei a minha secretária no seu posto de
trabalho, onde deveria estar controlando quem entrava
aqui ou saía.
— Você pode me explicar que brincadeira é essa de
me mudar de setor? — Arrogante como era, o infeliz
queria uma explicação, se referia ao e-mail que havia
recebido, onde foi informado que deixaria o
departamento criminal, no qual sempre havia atuado,
para assumir outro onde não tinha grande experiência.
— Brincadeira vai ser a maneira que vou te colocar
no olho da rua caso experimente invadir o meu escritório
assim outra vez! — Bati as mãos na mesa quando me
levantei.
Vito era tão alto quanto eu, mas a forma como o
fuzilei fez com que ele percebesse que, na nossa
hierarquia, estava abaixo da minha posição. E que
qualquer atitude impensada da sua parte, faria com que
se arrependesse. Ele poderia estar agindo feito um
idiota, mas eu sabia mais do que ninguém o quanto
amava a nossa firma.
O homem na casa dos quarenta anos respirou,
insatisfeito. Os seus punhos continuavam cerrados,
denunciando o quanto estava inconformado com aquela
situação.
— Diga o que quiser, mas eu sei que me colocar no
departamento previdenciário está sendo uma punição,
Giancarlo! — argumentou. — Um castigo pelo que eu
disse naquela maldita reunião!
— Entenda como quiser, Vito. Você vai fazer isso e
vai fazer porque estou mandando! — afirmei, mostrei os
dentes afiados nas últimas palavras. — Porque acho que
é necessário e porque eu sou a porra do seu chefe! —
berrei, fazendo com que alguns funcionários que
circulavam do lado de fora parassem para assistir à
nossa discussão.
— Giancarlo, você sabe que o direito criminal é a
minha vida! — Vito mudou o tom, apesar de não se dar
por vencido. Ele levou a mão ao peito, foi quando notei
que aquela mudança estava mesmo o torturando.
— O seu trabalho é a sua vida! — o corrigi,
impassível. — Na Gagliardi-Ruggiero não basta ser bom
apenas em uma área, tem que ser em todas! Mas se
acha que não é capaz, já sabe onde fica a saída! —
Voltei a me sentar, no instante em que percebi que a
minha maldita secretária havia retornado.
Vito bufou, se controlando para não falar besteira.
Parecia que as veias das suas mãos estavam prestes a
explodirem, transpassarem as suas tatuagens. Ele
recuou, mas antes de partir, ainda tentou argumentar:
— Giancarlo, por favor... — um homem como Vito
Sartori não era do tipo que pedia, e se aquilo estava
acontecendo, era porque eu estava arrancando a sua
alma, mas não me importava.
— Quer provar que é bom o bastante para ter o
nome na parede? Então prove. — o desafiei, sério, o
surpreendendo. — Forme uma nova equipe, é para isso
que servem os estagiários e associados. — Fiz um
movimento com a mão, o dispensando quando decidi
folhear os documentos à minha frente.
Apenas escutei quando ele foi embora. E a julgar
pela força com a qual os seus sapatos batiam no
mármore, concluí que o homem estava emputecido.
Olhei para Carlota, a minha secretária.
Ela veio depressa assim que a chamei com a mão.
— Se você não estiver naquele maldito cubículo
quando eu precisar, vai necessitar fazer um novo tipo de
currículo quando sair dessa firma, porque garanto que
nenhuma outra irá aceitá-la como a merda de uma
secretária! — A severidade na minha voz a deixou
boquiaberta.
Tive a impressão de que a mulher teve que criar
forças para se afastar devido ao choque das minhas
palavras. Mas não me importei. Talvez assim ela
acordasse pra vida.
C A P Í T U L O 7

Estava tão deprimida, que mal sabia se seria capaz


de me recuperar depois de todo o caos dos últimos dias.
Dois dias se passaram desde o escândalo que causei na
firma do meu pai, depois de esfregar na cara da minha
irmã o quanto ela era imunda. No entanto, por mais que
eu tivesse saído de lá com a alma lavada, não
significava que não havia ficado destroçada por dentro.
Não consegui ir mais ao trabalho, desliguei o celular
e apenas me tranquei no meu apartamento. Fui incapaz
de conseguir dormir na minha cama, fiquei traumatizada
e tive como única atitude a de me afundar no sofá.
Chorei tanto, que houve um momento em que não
entendi de onde vinham as lágrimas, porque me sentia
desidratada. Tão abatida que mal conseguia me olhar no
espelho.
Após a insistência de alguém na maldita campainha,
levantei do sofá para abrir a porta. Tomás surgiu à minha
frente com um semblante preocupado. Eu sabia que ele
vinha da firma porque ainda usava o seu terno, bem
diferente de mim que estava escondida dentro de um
short curto e um moletom verde-chá.
— Tomás? — Funguei, tristonha.
— Mamma mia, Emma! O que diabos aconteceu com
você? — O meu querido amigo e parceiro fiel de
trabalho, ficou vermelho devido ao tamanho da sua
preocupação ao testemunhar o meu estado.
— Fui traída. Descobri que o Nico estava comendo a
minha irmã há mais de um ano — disparei, funguei outra
vez antes de lhe dar as costas e voltar a me deitar no
sofá. Havia pratos sujos sobre a mesinha de centro,
assim como copos vazios de coisas inúteis que eu havia
tomado.
— Dio Santo! — Tomás entrou e fechou a porta. —
Emma, sinto muito. — Ele se sentou ao meu lado,
segurou a minha mão.
— Não sinta, está doendo muito, mas vai passar. —
Suspirei, olhei para o teto.
— Filippo está louco de preocupação com você. Eu,
ele e Ágata estamos há dois dias tentando nos
comunicar.
— Desliguei o celular.
— Sério, achei que você tinha morrido — declarou,
assustado.
— Só assim para que eu faltasse ao trabalho. —
Forcei um sorriso, Tomás se compadeceu.
— Emma... — Ele apertou a minha mão, tentei
segurar as lágrimas, mas não consegui. — Estou com
tanta raiva daquele desgraçado. Como ele foi capaz?
Respirei fundo, enxuguei as lágrimas.
— Ah, Tomás, eu estou arrasada — declarei, com a
voz trêmula. — Sabe aquela sensação de ter passado
um caminhão por cima de você? — Engoli em seco, era
como se uma pedra entupisse a minha garganta.
Por um bom tempo, ele não soube o que dizer,
apenas ficou parado, me dando apoio emocional, e triste
por mim.
— Avisei a Ágata que vinha te ver. Ela me implorou,
estava bastante preocupada.
— Ah... Deus! A minha melhor amiga. Ela vai se
casar e a madrinha dela está assim. — Continuei
chorando.
— Ela vai entender se você não for. Eu sei que vai.
— Pior que não sei o que fazer — confessei, voltei a
encarar o teto, minha mente não funcionava direito, me
vi perdida em meio aos próprios pensamentos.
— Quer a minha opinião? — Tomás apertou a
minha mão com mais força, roubando a minha atenção.
— Eu acho que você deveria ir a Las Vegas. É o seu
sonho conhecer aquela cidade. Na primeira vez não deu
certo e agora a vida está te dando uma nova chance.
Ele estava certo, Las Vegas era glamour e diversão,
tudo o que eu precisava. Era um sonho antigo conhecer
cada centímetro da Cidade do Pecado. Apesar de ter
nascido em uma família rica, nunca tive a oportunidade
de ir para lá. E agora, mais uma vez, senti que a estava
perdendo.
— Além de ser o casamento da sua melhor amiga,
da nossa querida estagiária e do nosso chefe coração de
gelo. — Tomás me fez sorrir.
— Ah, não sei... não sei se tenho força — falei a
verdade, força era a última coisa que me restava.
— Se não tiver, nós teremos por você. — A voz de
Tomás saiu grave, incentivadora, de uma maneira que
me tocou.
Todavia, ao raciocinar no que ele havia dito me
sentei.
— Está louco? Não vou contar ao Filippo e a Ágata
o que passei, e te proíbo de falar também! — Ergui o
dedo, séria. — Eles estão se casando, não é hora de
atrapalhar com a tragédia que se tornou a minha vida.
— Ah, sinto muito, Emma, então é melhor que
invente uma boa desculpa. — O homem se levantou,
recuou em direção à porta. — Porque eles não vão
aceitar qualquer coisa e não conseguirei impedir que
venham atrás de você. — Me levantei, pronta para
argumentar, mas o infeliz continuou: — A Ágata já
estava morta de preocupação, tadinha. Grávida de oito
meses e tendo que passar por isso — lamentou, fazendo
com que eu me preocupasse. Não havia pensado por
esse lado. — Com certeza a sua ausência no casamento
dos sonhos dela não fará nada bem aos bebês.
— Como você é baixo, Tomás! — Ergui o dedo outra
vez, a minha voz foi emanada em um rosnado.
— Só estou dizendo a verdade. — Ele abriu as
mãos, como se não tivesse culpa por ser aquele a me
falar aquelas coisas. — Sei que está quebrada, mas não
é se escondendo aqui que vai conseguir dar a volta por
cima. — Juntei as mãos em frente ao corpo, absorvi as
suas palavras. — A Emma que eu conheço procuraria
uma forma de reagir, de mostrar àqueles filhos da puta
que eles não a atingiram, e que ela continua intacta. —
Ele abriu a porta e passou para o lado de fora.
Porém, antes de partir, me encarou uma última vez,
com um meio-sorriso malicioso no rosto.
— Sairemos amanhã bem cedo. Caso queira ir, já
sabe onde nos encontrar. — Tomás piscou para mim,
então foi embora.
Era a primeira vez que ele me deixava sem
argumentos.
Que porra estava acontecendo comigo? Que
advogada iria me tornar se não conseguisse contestá-lo?
Tinha mesmo algo de errado!
GIANCARLO RUGGIERO
Olhei a hora no Javier [ 6 ] em meu pulso outra vez
antes de observar a minha filha fazer o mesmo enquanto
caminhava atordoada de um lado para o outro, ora de
braços cruzados, ora acariciando a sua barriga, que
parecia ainda mais pesada do que antes. Eu, ela, Tomás
e Enzo estávamos no hall da entrada principal do
aeroporto, aguardando a Emma, que nunca aparecia.
— Filha, já faz vinte minutos que estamos aqui —
reclamei ao me aproximar dela, incomodado com a sua
situação. — Mesmo de jatinho, a viagem até Las Vegas é
longa. Sinto muito, mas não podemos mais esperar, é o
seu casamento — fiz questão de lembrá-la.
— Eu sei, papai, eu sei, mas a Emma me confirmou
que vinha. — Ágata parou de se movimentar e me olhou,
aflita. Colocou a mão sobre o abdômen.
— Isso foi ontem, quando ela finalmente resolveu
responder as suas mensagens, desde então sumiu de
novo...
— Pai, eu não posso ficar sem a minha madrinha! —
argumentou, aquela ideia lhe parecia um absurdo. — Ela
é a minha melhor amiga, a única que convidei para me
acompanhar neste momento! Como é que o meu
casamento vai ser perfeito se ela não for? Ela é a única!
— falou mais alto do que deveria, sem perceber.
Nas últimas semanas, a sua gravidez a estava
deixando com os hormônios à flor da pele.
— Puta merda, Ágata — reclamei, após respirar
irritado.
— Giancarlo, é que a Emma foi pega de surpresa
por um problema pessoal, e... — Tomás se aproximou,
tentando defender aquela ruiva sem compromisso.
— Todos nós temos problemas, Tomás. Isso não
justifica nada — o interrompi, ergui a sobrancelha ao
assistir Ágata voltar a caminhar de um lado para o outro.
Para a nossa sorte, Enzo largou a sua mala que
estava junto das nossas e foi até a sua irmã, segurou a
sua mão.
— Ágata, nós temos que ir. Eu já estou cansado de
ficar aqui esperando — reclamou, dengoso. Aquilo tocou
a minha bambina.
Ágata olhou para ele, depois para mim e Tomás, por
fim, assentiu, a contragosto.
— Tudo bem, andiamo — concordou, entristecida.
Fechei os olhos por um instante e agradeci aos céus
por ela ter tomado a decisão correta. Todos pegamos as
nossas malas e demos apenas alguns passos rumo ao
nosso destino, já que tivemos que parar ao escutarmos
os gritos às nossas costas:
— Ei! Ágata! Cheguei! — Emma ainda ultrapassava
a porta giratória com as suas duas malas enquanto
berrava em meio às várias pessoas à nossa volta.
Como de costume, o aeroporto estava movimentado,
frenético, mas aquilo não parecia incomodar aquela
mulher, que esbanjava um sorriso brilhante no rosto
enquanto puxava a sua bagagem de forma
desengonçada para correr em nossa direção.
Ela se aproximou feito um trem carregado de
emoção, contagiando a todos com a sua felicidade de
uma maneira que não podia explicar. Ágata deu pulinhos
de alegria quando correu para abraçá-la como se tivesse
ganhado o melhor prêmio de todos.
Paralisado, notei o quanto Emma estava linda, uma
beleza que simplesmente me hipnotizou. Era incrível a
maneira como os seus cabelos vermelhos meneavam no
ar, como o brilho em suas pupilas esverdeadas me
encantava e me fazia querer chegar mais perto. Como o
seu perfume gostoso rapidamente dominou a atmosfera
e roubou o meu ar.
Foi difícil fingir que não estava impactado, mas me
mantive firme.
— Por um momento, acreditei que não vinha! —
Com lágrimas nos olhos, Ágata se emocionou. Qualquer
coisa a fazia chorar.
— Mas é claro que eu vinha! Eu não disse que
vinha?! — Emma enxugou os olhos dela. — Passei a
noite arrumando as malas e esqueci de carregar o
celular — se justificou. — Fiquei sem bateria no caminho
até aqui e o trânsito estava horrível, mas eu jamais
perderia esse seu momento! — Abraçou a minha filha de
novo, que agora parecia estar no céu.
Quando Ágata ficou mais calma, Emma enfim deu
atenção para o resto de nós.
— Oi, gente! — Ela acenou, nos olhando.
Deu um tapinha no ombro de Tomás antes de
oferecer a mão para o Enzo.
— E você deve ser o Enzo, não é? Vulgo meu novo
melhor amigo! — Enzo sorriu de orelha a orelha quando
a correspondeu.
— Você é a secretária do tio Filippo? — ele
perguntou, tímido.
— Sou muito mais que isso, querido. O noivo da sua
irmã não funciona naquele escritório sem mim. — Ela
colocou as mãos na cintura ao falar de si mesma, cheia
de orgulho.
— Se quiser ser a minha amiga, deve cumprir
alguns requisitos — Enzo, que também não era nada
humilde, disparou.
— Ah, então já estou aprovada! — Emma cresceu o
seu lindo sorriso.
Puta que pariu, como nunca havia notado que ela
sorria tão lindamente assim?
— Por quê? — Enzo ficou curioso.
— Porque eu sou a Emma! Não existe ninguém
como eu, e isso significa que não existe melhor pessoa
em todo o planeta para ser a sua amiga, que não, eu! —
Apontou para si mesma.
Dessa vez, o encantamento que tomou o rosto do
meu filho, me fez sorrir. Os dois se deram bem à
primeira vista. Aquilo me agradou.
— Agora, vamos! Já causei atraso demais! — Ela
enfim me encarou. — Oi! — Ergueu a mão, foi quando
notei que não usava mais o seu anel de noivado.
— Seja bem-vinda. Andiamo — chamei a todos com
o rosto.
Nós caminhamos por alguns minutos até sairmos do
aeroporto, logo depois de cumprirmos todos os
protocolos. Dois carros nos aguardavam para nos levar
até o galpão onde o jatinho da firma nos esperava.
Todos entraram em fila no avião, eu e Emma ficamos por
último.
Ela seguia à minha frente ao subir a pequena
escada. Resolvi lhe dar algum espaço, mal pude evitar
contemplar a sua bunda apertada naquele vestido, que
contornava maliciosamente cada centímetro do seu
corpo. Foi impossível não lembrar da cena no provador e
não ficar de pau duro.
Inferno!
Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo
de novo!
Para o meu azar ou não, Emma se atrapalhou entre
os degraus e se desequilibrou. Bastou apenas um
segundo para que eu testemunhasse o seu corpo
pequeno vindo com tudo em minha direção, e os meus
braços agissem rápido para segurá-la. Ela soltou um
gritinho durante a queda, mas a peguei firme. E pela
maneira que a segurei contra o meu corpo rijo, tive a
sensação de que nada me faria soltá-la.
Ela demorou a processar o que tinha acontecido, e
quando o seu olhar frágil e assustado me encontrou, fui
hipnotizado mais uma vez. Obcecado, encarei a sua
boca carnuda, algo que fez com que a minha pele
esquentasse.
Seria pecado imaginar o seu gemido se eu
mordesse os seus lábios naquele momento?
C A P Í T U L O 8

Como se não fosse o bastante chegar superatrasada


ao aeroporto, ainda tive o atrevimento de ser
destrambelhada, pisando em falso durante a subida da
escada e caindo de paraquedas nos braços fortes do
Giancarlo.
Levei alguns segundos até conseguir erguer as
pálpebras para entender o que de fato tinha acontecido,
mas tudo o que consegui enxergar foram aqueles olhos
cor de avelã, tão intensos que tive a impressão de ser
engolida por eles, consumida de uma maneira obsessiva
a qual não pude resistir.
Ao perceber que aquele homem encarava os meus
lábios como se estivesse faminto, não tive outra opção a
não ser encarar os dele, perceber a densidade da sua
carne rosada que me fez imaginar como seria senti-lo
beijar cada pedaço do meu corpo.
Havia uma química exagerada exalando entre nós,
mas o temor do Tomás ou da Ágata nos flagrar, fez com
que eu saísse daquela hipnose e o empurrasse o
suficiente apenas para voltar a ficar devidamente de pé.
— Mamma mia... — falei, liberei um sorriso nervoso
quando comecei a me recompor. Procurei pelas
possíveis testemunhas, mas, graças ao bom Deus, todos
já haviam entrado no avião, faltava apenas eu e o
Giancarlo. — Desculpa, desculpa de verdade, acho que
pisei em falso, meu salto escorregou, não sei o que
aconteceu — tentei me justificar para ele.
— Tudo bem, Emma. Acontece — Giancarlo falou,
em seguida limpou a garganta quando mexeu no nó na
gravata, como se estivesse afetado tanto quanto eu,
mergulhado naquele mesmo calor responsável por
queimar a minha pele.
— Parece que está acontecendo situações
inusitadas demais entre a gente. — Constrangida, senti
as minhas bochechas arderem quando lembrei do dia em
que Giancarlo me flagrou no provador.
Ele me fitou outra vez, tão profundo e enigmático a
ponto de me deixar nervosa o suficiente para me virar e
quase correr para dentro do avião.
Jesus, o que era aquilo?
Não poderia me sentir tão quente assim ao ficar
perto do pai da minha melhor amiga e que, ainda por
cima, era o meu chefe!

Assim que todos tomamos os nossos lugares,


levantamos voo.
Durante as primeiras horas de viagem, contei a
Ágata tudo o que tinha acontecido, o motivo do meu
afastamento e todos os problemas que enfrentei ao
descobrir a traição do Nico. A minha intenção era
preservá-la para que focasse apenas em seu casamento,
mas não consegui me segurar, falei tudo.
Estávamos sentadas longe do resto da turma, então
tivemos privacidade.
— Eu sabia que tinha acontecido algo grave, mas
não imaginava que fosse dessa magnitude, Emma. —
Ágata segurava a minha mão à medida que eu me
controlava para não liberar nenhuma lágrima, já estava
cansada de chorar por aquele mesmo assunto.
— Eu não queria te contar, não queria atrapalhar o
seu momento...
— É claro que devia me falar, ficou maluca? — ela
sussurrou, em seguida se certificou de que não
estávamos sendo ouvidas.
— É que eu nunca tive uma amizade como a sua,
Ágata. Sempre fui muito de guardar as coisas pra mim
mesma e resolver tudo sozinha — afirmei, com a voz
embargada, os olhos ardendo.
— Mas agora eu estou aqui. Você não está mais
sozinha. — Me abraçou, permitiu que eu deitasse a
cabeça em seu ombro.
Ficamos caladas por algum tempo, ela me dando
consolo, até que perguntou:
— Você ainda não tinha desconfiado dele antes? Do
Nico? — Me afastei um pouco para olhá-la nos olhos.
— Claro que sim, já fazia alguns meses que notava
o seu distanciamento, a maneira como me tratava, a sua
ausência na cama. Algumas vezes senti o perfume da
minha irmã na sua roupa, mas preferi acreditar que era
devido aos encontros que ele teve com ela para falar
sobre o caso da sua mãe.
— Emma... — Ágata estava arrasada com a minha
história.
— Sabe quando a verdade está na sua cara, mas
você não quer acreditar? Eu lutei pelo Nico até o último
momento. E apesar da Fiorela já ter me decepcionado
muitas vezes, nunca pensei que ela seria capaz disso. O
Nico nem fazia o tipo dela, acredito que foi apenas para
me atingir mesmo. — Funguei, ajeitei o cabelo e, por
fim, me recostei em minha poltrona, respirei devagar.
Todas as vezes que tocava naquele assunto, parecia
ter que me recuperar de novo.
— Não consigo entender como uma irmã pode ser
tão má assim. É difícil demais digerir algo do tipo. —
Ágata engoliu em seco, ela estava horrorizada.
— Começou depois que a nossa mãe faleceu —
contei, olhei para frente enquanto relembrava aquela
época. — Ela sofreu um acidente de trânsito depois de
me deixar na escola e a Fiorela me culpou desde então.
Ela nunca disse isso pra mim em palavras, mas senti o
quanto mudou, apesar de por fora tentar fingir que era a
boa irmã mais velha.
— Não justifica! — Ágata apertou os meus dedos,
enraivecida. — Nada justifica o que a Fiorela fez e você
agiu da maneira correta. Eu teria feito o mesmo, se não
fizesse pior! — garantiu, senti a revolta tomando cada
poro do seu corpo. — Nico e ela se merecem, e a vida
vai dar o seu troco. Pode apostar que vai!
Me senti melhor por desabafar com ela, foi como
tirar um peso das costas.
— Como descobriu o segredo da vagabunda... quer
dizer, da Fiorela? — Ágata sorriu maliciosa, nós duas
éramos mesmo muito parecidas. — Como sabia que ela
não era advogada?
— Anos atrás ela me deu a ideia de fazer essa
mesma manobra para conseguir burlar o exame da
Ordem — expliquei, virando o rosto em sua direção. —
Quando ela pegou o caso da minha sogra, comecei a
estranhar as suas atitudes, o desconhecimento da Lei,
então pensei que não custava nada pedir ao Tomás para
investigar.
— Mamma mia... chocada! — Ágata tapou a boca
com uma das mãos.
— Amiga, meu sexto sentido é muito forte! — Sorri,
empolgada. Naquele momento estava me sentido no
C.S.I. [ 7 ] — Era como se meses atrás eu previsse que iria
precisar, sabe. Fora que Fiorela me esnobava quando eu
opinava sobre o caso, como se eu não soubesse de
nada. Acho que foi isso que me motivou a querer tirar a
dúvida.
— Melhor coisa que você fez! — Ágata ergueu o
dedo, sorridente e parecendo orgulhosa de mim. — Não
acredito que Tomás fez isso, não sabia que ele era tão
bom investigador.
— Acho que o Filippo o ensinou a fazer coisas que
até Deus duvida! — Ágata gargalhou. — É sério, amiga,
digo por experiência própria naquele escritório. Nada
para esses homens. — Ri com ela. — Mas você tinha
que ver a cara da Fiorela quando a desmascarei.
Pareceu cena de novela... — Ágata gargalhou alto, eu a
acompanhei, então continuamos conversando.
Quando enfim chegamos a Las Vegas, já era noite,
e a cena mais bonita que assistimos assim que
descemos do avião, foi o grande advogado Filippo
Gagliardi receber a sua amada com todo o amor que um
homem poderia sentir por uma mulher. Era algo bonito
de ver, Ágata se tornou a única mulher a domar aquele
arrogante rendido.
Admirava tanto os dois que nem sabia descrever.
— Isso é que é ser um cara apaixonado, chefe! —
brinquei com o homem de cabelos castanhos e olhos
azuis, quando veio me cumprimentar.
— Quer me explicar que porra foi essa de deixar o
seu posto de trabalho por dois dias consecutivos sem
dar uma explicação? — Filippo disparou, mas não me
surpreendi.
Já o conhecia o bastante para entender que aquela
grosseria era a sua maneira de demonstrar o quanto
gostava das pessoas.
— Amor! — Ágata o repreendeu, apertou o seu
braço. Ela era bem menor que ele, tão pequena quanto
eu perto de seu pai, que tinha a mesma estatura de
Filippo.
Tubarões gigantes e poderosos, assim eram os
donos daquela firma.
Giancarlo, que parou ao meu lado, estreitou as
sobrancelhas ao escutar o amigo, como alguém que não
sabia daquela informação. Infelizmente o Filippo não
costumava ser muito discreto quando o assunto era
trabalho.
— Problemas particulares, querido — o respondi, de
bom humor. — Mas que já foram superados! Só não vale
descontar do meu salário, hein. — Pisquei para ele.
Com o olhar afiado, Filippo continuou me
encarando, mas um pequeno grande homem interveio em
meu auxílio.
— Ei, tio Filippo! — Enzo se interpôs à minha frente
de braços cruzados e queixo erguido. — Não vou
permitir que brigue com a minha nova melhor amiga!
— Aaah, meu salvador! — Abracei Enzo pelas
costas, baguncei o seu cabelo em agradecimento à
medida que sorria contente.
Filippo deu dois tapinhas no rosto do garoto e
sorriu.
— Só porque foi você quem pediu. — Ele parou de
nos dar atenção para focar em seu sócio, com quem
trocou um firme aperto de mão. — Giancarlo.
— Filippo. — Giancarlo o correspondeu.
— Olha o noivooo! — Tomás exclamou ao se
aproximar, sorridente, bateu a mão no ombro de Filippo.
— Controle-se, Tomás. Controle-se — Filippo o
cumprimentou, antes de voltar para os braços da Ágata
com um brilho apaixonado nos olhos. — Está com fome,
meu amor? — Colocou a mão sobre a barriga inchada da
garota.
— Aham. — Ágata assentiu, ela se tornava até mais
dengosa quando ficava perto dele, algo fofo!
— Eu também estou com fome. — Enzo fez uma
careta ao acariciar o seu abdômen.
— Então vamos todos jantar e depois ter um bom
descanso — Giancarlo tomou à frente da situação. —
Acredito que amanhã será um dia cheio. — Encarou o
casal.
— Com certeza — Filippo concordou, segurou a mão
da Ágata. — Tem um belo banquete esperando por nós
no hotel. Andiamo!
Além do carro do Filippo, havia outro nos
aguardando fora do aeroporto. Ele foi sozinho com a
Ágata, e nós fomos com o Giancarlo.
C A P Í T U L O 9

Apesar de já ter consumido todo tipo de conteúdo


relacionado a Vegas, foi impossível não ficar
deslumbrada com aquela cidade. Era um paraíso
explodindo em muito brilho e cores, bem mais vivo e
encantador do que nos filmes e fotos.
Las Vegas era mesmo... fabulosa!
Encantadora. Impressionante.
Entrei no hotel maravilhada, um prédio enorme,
luxuoso e que mais parecia um parque temático. Tinha
tudo o que se podia imaginar: cassinos, cinemas,
shopping, clube de banho, além de outras várias
atrações e shows internos. As nossas malas foram
levadas para os nossos quartos, e tive a impressão de
que precisaríamos andar por ali de carro, tendo em vista
os minutos que levamos até chegarmos em um dos
vários restaurantes.
Todavia, a caminhada valeu a pena, o
estabelecimento tinha design de circo. O teto era uma
lona de verdade, com listras em vermelho, branco e
azul. Os garçons, por sua vez, faziam mágica com os
pratos enquanto nos serviam, e o banquete era de
derreter na boca, tudo tão saboroso que não tive
vontade de parar de comer.
Bastou todo aquele calor humano e a quantidade de
novidades para que eu esquecesse rapidinho do cansaço
da viagem.
Fora que todos nós nos empolgamos com o jantar,
exceto Giancarlo, que foi o primeiro a deixar a mesa. Ele
não parecia tão contente quanto o resto de nós.
— Mas já? — Filippo perguntou quando viu o amigo
se levantar da cadeira.
— Já. Estou cansado. — Giancarlo não parecia
cansado, parecia triste, o que era bem diferente. —
Vamos, filho? — Enzo fez uma careta e se encolheu todo
quando recebeu o seu olhar.
— Ah, não, pai! Eu queria ficar mais um pouco! — o
garoto reclamou. — Não quero me deitar agora, a gente
dormiu demais durante a viagem, estou cansado de não
fazer nada e o Tomás disse que poderia me levar para
jogar em um dos caça-níqueis do cassino!
— Você quer ir hoje? Achei que era amanhã. —
Tomás olhou do menino para Giancarlo, em seguida
observou Enzo de novo, que fazia uma expressão de
quem implorava para ser ajudado. Pelo visto, os dois se
deram muito bem, não pararam de conversar no jatinho.
— Ah... mas é claro que podemos ir lá! Eu também não
estou com sono e... qualquer coisa, Giancarlo, o Enzo
pode dormir no meu quarto. Tenho certeza que haverá
espaço suficiente!
— Ah... não sei — Giancarlo não pareceu concordar
muito com aquela ideia.
— Isso! Que legal! Assim podemos continuar
falando de futebol! — Enzo se animou, esbanjou um
sorriso enorme.
— Enzo — Giancarlo o repreendeu.
— Ah, pai, deixa — Ágata decidiu dar a sua opinião.
— Como o senhor mesmo disse, está cansado. E o meu
irmão parece cheio de energia, como sempre. Tenho
certeza que o Tomás cuidará bem dele, além disso
estaremos todos no mesmo andar. Qualquer coisa, se
Enzo quiser, Tomás irá levá-lo até à sua suíte.
— Exato — Tomás assentiu. — Pode ficar, tranquilo,
Giancarlo. Acredite, eu sou bom com crianças.
— Olha o meu tamanho, não posso mais ser
considerado uma criança! — Enzo cruzou os braços,
estreitou as sobrancelhas e ainda fez bico ao reclamar.
— Tudo bem, vocês me convenceram. — Giancarlo
se aproximou do filho e pousou a mão sobre o seu
ombro. — Mas comporte-se — avisou, Enzo assentiu,
feliz da vida.
Ágata se levantou para trocar um abraço com ele,
ganhou um beijo na testa antes de o homem
definitivamente partir. Enzo insistiu para que Tomás o
levasse logo ao cassino, sobrou apenas eu, Filippo e a
minha amiga.
— O que o seu pai tem? — perguntei a ela, em um
tom de voz baixo. Aproveitei o momento em que Filippo
conversava com o garçom para pagar a conta. Nós duas
estávamos sentadas lado a lado. — Senti como se ele
não estivesse cansado, mas triste.
— Você deve imaginar o motivo, não é? — Ágata me
lançou um olhar desanimado. — Vir a Vegas sempre
mexe com a gente, principalmente com ele.
— Foi a cidade em que ele conheceu a sua mãe —
lembrei da história que ela havia me contado.
— Sim. — Ágata suspirou antes de continuar. — Os
melhores anos dos dois foram aqui, então Vegas mexe
muito com a sua cabeça e emoções. Por isso eu insisti
para que o Enzo ficasse com o Tomás.
— Para que o seu pai tivesse um tempo — concluí,
ela assentiu.
— Fora a forte lembrança da esposa, ele ainda tem
que processar a minha partida depois do casamento, sua
única filha. Não deve estar sendo fácil. — Os olhos da
Ágata brilharam, fiquei comovida.
Para consolá-la, coloquei a minha mão sobre a dela.
— Não, não deve. Olha, eu não conheço o seu pai
tão bem quanto o Filippo, mas posso afirmar com toda a
certeza que ele é um homem forte. Ele vai saber lidar
com isso.
— Grazie, Emma. — Ágata apertou os meus dedos,
trocamos um sorriso complacente.
— Vamos, meu amor? — Filippo tocou em seu
braço, e estranhou ao notar que Ágata estava
emocionada, olhou para mim em busca de respostas,
mas, por fim, decidiu se manter calado.
Permiti que os dois fossem na frente, pedi um último
drink antes de finalmente pegar o elevador e seguir para
a minha suíte que, assim como a dos outros, ficava na
cobertura, exclusivas para clientes vips.
Assim que passei o cartão magnético na porta,
fiquei chocada ao entrar, o lugar mais parecia uma
mansão, bem maior que o meu humilde apartamento.
Vivi em mansão durante a maior parte da minha vida,
sabia o que era luxo, mas nada se comparava a esse
hotel.
— Aaah, Emma, querida... — tirei os saltos, deixei a
minha bolsa cair no chão e caminhei depressa pela sala
de estar sofisticada, os pés tocando aquele tapete que
parecia ser feito de nuvens. — Isso é que é dar a volta
por cima! — comentei, sorridente. Arrastei a ponta dos
dedos nos móveis que cheiravam a dinheiro.
Segui para o quarto e esbugalhei os olhos ao ver o
paredão de vidro depois da cama, com uma vista
arrasadora da belíssima Cidade do Pecado.
— Mamma mia... — suspirei, maravilhada. — Nem
acredito que estou em Vegas. — Meu coração explodia
de felicidade. Virei e me encostei contra o vidro, de
olhos fechados e sorriso largo, parecia um sonho. —
Vegas... Ah, Vegas! — Rebolei, abri os braços. — É aqui
que eu vou ser muito feliz, sim!
Saltei na cama, abri os braços e as pernas. Rolei
para o lado e quando olhei em direção ao banheiro,
avistei um pau duro saindo de lá.
— Quê?! — confusa, ergui o rosto, me deparando
com Giancarlo Ruggiero completamente pelado e...
molhado, enxugando o cabelo com uma toalha. — Dio
Santo! — berrei. Agoniada, tentei fugir, me apressei em
rolar para o lado oposto, mas acabei exagerando na
força com a qual movimentei o corpo e caí no chão feito
uma doida.
Um tombo inesquecível.
— Emma?!
— Ai! — Senti que havia machucado o meu punho
direito, mas nem a dor que me atingiu foi capaz de evitar
que eu avistasse aquele homem nu vindo com tudo em
minha direção, a grande ereção balançando entre as
suas pernas. — Não! — exclamei, estendendo a outra
mão para ele. — Não se aproxime, seu tarado! — Fiquei
assustada.
Parecendo lembrar que estava sem uma peça de
roupa, Giancarlo agiu rápido ao tapar o seu sexo com a
toalha, desconcertado.
— Mas que merda! — ele xingou, seu rosto começou
a ficar vermelho, a veia da sua testa apareceu. — Como
conseguiu entrar na minha suíte? — disparou, tão
confuso quanto eu, foi quando percebi que havia um
mal-entendido.
Respirei fundo, engoli em seco e me levantei
devagar.
— Como assim sua suíte? Essa é a minha suíte! —
afirmei, sem entender.
Recuei até me encostar contra a parede mais
próxima, o olhei mais uma vez. Giancarlo era uma torre
de músculos e veias, cada uma mais tensa que a outra,
que pareciam se comprimir e lutar para ter espaço
debaixo de sua pele. Ainda consegui admirar as suas
pernas longas e musculosas antes que conseguisse
prender a toalha em torno do quadril e as cobrissem.
Os gominhos do seu abdômen trincado
evidenciavam ainda mais a sua beleza, os pelos dos
seus braços molhados, os pés grandes. Tudo nele era
sexy. Se não fosse advogado, facilmente conseguiria
seguir a profissão de modelo.
— Ah, mas não é mesmo. — Giancarlo colocou as
mãos na cintura, irritado. — E se tem alguém enganado
aqui, é você! — Ergueu o queixo, impassível, me
encarando do alto.
Concluí que, pela primeira vez, nós teríamos um
problema. A questão é que, sendo ele o meu superior ou
não, não estava disposta a ceder.
C A P Í T U L O 1 0

Pensei que aquilo só poderia ser uma brincadeira de


mau gosto! Como se não fosse o bastante ter a minha
privacidade quebrada, ainda por cima, tive mais um
encontro inusitado com aquela mulher.
Emma tinha razão no que me disse quando subimos
no jatinho, essas situações embaraçosas entre nós dois
já estavam se tornando rotineiras demais. Era como se o
universo conspirasse para que nos esbarrássemos a
cada cinco minutos.
No entanto, me acalmei e me dispus a acalmá-la
também. Entendemos que havia um grande mal-
entendido e, depois de vestir uma camisa de algodão
com uma calça moletom, a encontrei na sala de estar
questionando o funcionário do hotel que havia chamado.
— Sinto muito, senhorita. Acho que houve um
engano — o homem uniformizado se justificou, ele
estava tenso diante da pequena ruiva que não parecia
nada satisfeita, e com razão.
— Mas é claro que houve um engano! Dois cartões
abrirem a mesma porta? Não acredito que isso está
acontecendo em um hotel de Las Vegas! — Emma ainda
estava sob o calor das emoções.
Respirei fundo, cruzei os braços e decidi tomar a
frente da situação.
— Emma, deixe-me resolver — pedi, mais calmo do
que deveria. Então, encarei o pobre coitado que parecia
estar com medo da maluca invasora de quartos. Pedi
que ele conferisse a reserva feita em nossos nomes,
mas a sua resposta não me agradou.
— É a terceira vez que confiro essa informação,
senhor. Infelizmente vocês dois foram registrados aqui.
— E não tem outro quarto vazio neste andar? —
quis saber ao erguer a sobrancelha.
— Nem neste ou em qualquer outro. Nós estamos
lotados.
Emma bufou, começou a andar de um lado para o
outro de braços cruzados.
— Olha, tenho certeza que houve mesmo um
engano. Alguém pegou um dos quartos que estava
reservado para mim ou para ela. O meu amigo não se
enganaria ao fazer as reservas. — Filippo não cometeria
aquele erro nem em sonhos. Com certeza foi
incompetência de algum funcionário daquele maldito
lugar.
— Desculpe, senhor. Desculpe mesmo. — O rapaz
estudou os dados em seu iPad de novo. — Há apenas
três reservas feitas no nome do senhor Filippo Gagliar,
e...
— Está errado. Ele se chama Filippo Gagliardi — o
corrigi, suas sobrancelhas se ergueram.
— Só um momento. — Digitou o nome do advogado
de maneira correta e finalmente pareceu encontrar o
erro. Sua expressão de quem estava decepcionado
entregou a sua culpa naquilo. — Achei. Foi erro nosso.
Alguém deve ter confundido os nomes — admitiu, a
contragosto.
Emma se aproximou, esperançosa.
— Pois bem... — Tentei continuar, mas ele me
interrompeu.
— Amanhã teremos uma suíte vaga, se vocês
quiserem...
— Sem nenhuma taxa além do que já foi pago! —
Emma exigiu, ergueu o indicador, me surpreendendo ao
se impor. — E quero que tenha uma bela vista, parecida
com essa daqui! — Apontou por sobre o ombro.
— Isso eu não sei se consigo garantir... — O homem
sorriu sem humor, desconfortável.
— Ou consegue fazer as coisas da maneira correta
dessa vez, ou tomaremos as devidas providências. —
Emma me encarou, como se pedisse apoio.
— É isso mesmo — confirmei, com o olhar afiado,
me unindo a ela e formando uma dupla. — Sou
advogado, conheço o seu chefe, faremos de tudo para
que alguém pague por esse desconforto, torça para que
não seja você — ameacei.
O rapaz engoliu em seco, enxugou a testa onde o
suor se acumulava.
— Amanhã vou resolver! Eu garanto! — Ele
assentiu, nervoso. Então o deixamos partir.
Assim que a porta se fechou, Emma voltou a
caminhar.
— Dio Santo, não acredito que isso está
acontecendo! — Ela fez menção em passar as mãos nos
cabelos, mas acabou gemendo de dor. Encarou o próprio
punho.
— Está tudo bem? — A estudei, a procura de algum
problema.
— Machuquei o punho quando caí da cama —
explicou, tentando agir como se aquilo não fosse nada,
mas notei que o local do machucado estava vermelho,
além de um pequeno inchaço. — Ah, onde estão as
minhas malas? — Olhou ao redor, estavam no canto da
sala, enquanto as minhas já tinham sido levadas para o
quarto.
— O que pretende fazer? — Curiosidade me atingiu.
Guardei as mãos dentro dos bolsos.
— Acho que... é menos constrangedor se eu dividir
o quarto com o Tomás, não acha? — Ela sorriu sem
humor, parecia exausta. Tentou agarrar os puxadores
das malas, mas a dor em seu punho a fez gemer de
novo.
— Deixe-me ver isso aqui. — Sem dar tempo para
que Emma pudesse me impedir, segurei a sua mão com
cuidado e analisei o seu hematoma. — Está inchado e
sensível demais. Precisa de gelo. — A encarei, ela
mordia o lábio inferior, preocupada.
Era incrível como conseguia ser bonita mesmo de
cabelos bagunçados e com semblante de dor. As sardas
salpicadas em suas bochechas vermelhas, a tornavam
ainda mais atraente, lhe davam a imagem de uma garota
assustada. E por alguma razão que não conseguia
entender, aquilo me fazia desejá-la de uma maneira
absurda.
— Eu vou pegar. — A soltei e lhe dei as costas.
— O quê? Gelo? Não precisa, Giancarlo! — Não lhe
dei ouvidos e fiz o que disse que ia fazer.
Em poucos minutos, estávamos os dois sentados
lado a lado no sofá. Improvisei uma compressa de gelo,
coloquei de maneira delicada sobre o seu machucado.
— Segure assim — instruí, antes de desfazer o
nosso contato. Os nossos dedos chegaram a se tocar
por três segundos antes mesmo que eu me afastasse por
completo.
Foi o suficiente para notar a sua carne macia,
morna.
— Desculpa por ter surtado — Emma falou,
capturando a minha atenção. — Não pensei direito,
fiquei tão chocada ao te ver surgindo do nada... pelado
daquele jeito. — Suas bochechas ruborizaram, algo que
me tirou um meio-sorriso saliente.
— Sou tão feio assim? — brinquei.
Emma desviou o olhar e sorriu, ainda envergonhada.
Sua timidez me deixava louco!
— Veja pelo lado bom, agora estamos quites —
continuei falando, em busca de quebrar o gelo.
— E bota quites nisso — comentou, mexendo no
cabelo como quem queria disfarçar.
— Como assim? — quis saber.
— Nada — Emma desconversou, continuou
segurando a compressa contra o seu punho.
Me levantei, achei por bem não aprofundar o
assunto, apesar de sentir vontade. Tinha curiosidades
sobre ela, todavia, quanto mais ficava perto, mais era
inundado por seu perfume de morango, algo capaz de
me enfeitiçar, destruir o meu raciocínio. Era uma
sensação violenta de que, a qualquer momento, poderia
perder o controle.
— Obrigada, Giancarlo. Obrigada de verdade. —
Contemplei o seu lindo sorriso de agradecimento, o que
me fez dar um passo atrás, passar a mão na barba.
Emma encarou as suas malas antes de falar comigo
outra vez. — Será que pode me ajudar a ir até o quarto
do Tomás?
— Se quiser, pode ficar aqui. — Encarei o relógio de
pulso. — Já está tarde. Podemos simplesmente esquecer
o que aconteceu e dormir. Tenho certeza de que você
deve estar tão exausta quanto eu.
— Ah, pode apostar que sim. Mas, tem certeza? Não
quero incomodar. — Ela não parecia ter vontade de ir.
Isso me agradou.
— Você dorme no quarto e eu durmo aqui —
determinei, me afastando.
— Não, o sofá está ótimo pra mim. Eu me viro. De
verdade — garantiu, mas não lhe dei ouvidos.
— Vou pegar um lençol e um travesseiro — foram as
minhas últimas palavras antes de voltar para o quarto.

Acordei no sofá com dor de cabeça, tive uma noite


péssima, uma ereção constante entre as pernas que
quase não me permitiu dormir.
Fazia tempos que a minha mente não havia sido tão
corrompida, tão negligente quando se tratava de uma
mulher. Imaginei como seria invadir aquele quarto e
foder Emma ali mesmo, tomá-la de quatro e em todas as
outras posições. Desejei descobrir os seus gemidos e
gozar com a mesma intensidade do calor que me atingiu.
Apenas quando estava quase amanhecendo, fui
obrigado a me masturbar para que meu pau finalmente
me desse uma trégua e eu conseguisse adormecer.
Despertei com Emma saindo do quarto, pronta para
partir. Nós conversamos por pouco tempo, ela me
agradeceu mais uma vez antes de um funcionário
aparecer para levá-la até a sua nova suíte. Fiquei
sozinho, apenas com o rastro do seu perfume gostoso
que mais uma vez me fez ter vontade de comê-la.
Inferno!
Tomei banho com a consciência pesada, e apesar de
saber que não fazia sentido, me senti culpado ao pensar
em Aurora. Era como se a estivesse traindo, repudiando
a nossa história, principalmente por estar na cidade em
que nos conhecemos, casando a nossa filha, fruto do
nosso amor.
Fui pegar o Enzo e agradeci ao Tomás por ter
cuidado dele, esperei que o menino fizesse a sua
higiene e trocasse de roupa para que pudéssemos tomar
café.
Conversamos por um bom tempo sobre como foi a
sua noite, ele estava muito contente, mas a sua carinha
de sono denunciava que havia aproveitado as horas de
liberdade para dormir fora do horário a que estava
acostumado.
Quando Filippo surgiu e decidiu se juntar a nós,
Enzo foi se sentar em outra mesa, do lado de uma das
janelas, para observar alguma atração que acontecia do
lado de fora.
— E aí? Está tudo bem? — Filippo me analisou com
cuidado, de uma maneira que eu detestava.
— Por que não estaria? — devolvi, cruzando as
mãos. — A não ser que a Ágata tenha se arrependido
por alguma coisa que você tenha feito, está tudo ótimo
— o provoquei, sorrindo.
— Ela está ótima, entrou agora mesmo no spa com
a Emma — informou, se recostando em sua cadeira,
cruzando as pernas, sem tirar os olhos de mim.
— O que você quer Filippo? — Limpei a boca com
um guardanapo, antes de apoiar o queixo sobre a mão
esquerda. — Sabe que detesto que me olhe desse jeito,
como se estivesse me estudando antes de falar alguma
merda que vai me tirar do sério.
— Haverá uma comemoração depois do casamento
— ele anunciou, com cautela. — Será aqui mesmo no
hotel. Algo pequeno, porque, você sabe, temos
pouquíssimos convidados.
— Sim, eu sei. — Ainda não tinha entendido onde
queria chegar.
— Bem, você poderia aproveitar para tirar os calos
das mãos — disparou, bem descarado, como sempre.
— Como é que é? — Eu não estava acreditando.
— Sabe como é, afogar o ganso — explicou.
— Seu filho da puta! — Sorri, incrédulo, o infeliz
tocava nesse assunto sempre que tinha oportunidade.
— Qual é, Giancarlo. Você precisa de um
sexorcismo [ 8 ] , já ouviu falar?
— Eu vou te matar... — rosnei.
— Um homem como você não pode ficar sem uma
boceta! — falou em um tom mais baixo, averiguou o
ambiente para ter a certeza de que ninguém estava nos
ouvindo. O restaurante estava bem movimentado,
pessoas circulavam ao nosso redor. — Isso tá acabando
com a sua saúde! — Quem nos visse de longe, acharia
que ele conversava algo sério, digno de um profissional
do seu patamar.
Porém, não era o caso.
— Vou fazer a Ágata desistir desse maldito
casamento agora mesmo! — ameacei, emputecido. Mas
Filippo não se importou, pelo contrário, ele não fechou a
maldita boca.
— Não é sobre nós, é sobre você, meu amigo. —
Filippo se aproximou, inclinou o corpo para mais perto
da mesa. Seu olhar se tornou profundo, o que me
obrigou a lhe dar a atenção que não merecia. — Vai por
mim, não faz muito tempo que estive no seu lugar e foi o
amor da sua filha que me ajudou a superar o passado. —
Filippo se levantou, não me dando a oportunidade de
contestar. — Está na hora de superar o seu.
Me levantei também, impassível.
— Você não sabe de nada, Filippo — afirmei, a
minha voz emanou amarga. — Então sugiro que se
importe mais com a sua própria vida. — Olhei para trás,
em busca do Enzo. — Filho, andiamo! — o chamei com
um movimento da cabeça.
Ele veio rápido até mim, se despediu do seu tio
antes de me acompanhar para fora do restaurante.
C A P Í T U L O 1 1

Passar a noite na mesma suíte com o Giancarlo


deveria ter sido algo simples, já que estávamos em
cômodos separados, mas não foi. Fiquei encantada com
a sua atitude de me ajudar a cuidar do meu hematoma,
por se importar comigo mesmo sem termos intimidade,
além de ficar afetada com o tesão avassalador que
aquele homem me causou.
Era um fato, Giancarlo Ruggiero me dava tesão,
uma atração tão poderosa que ficou comprovada quando
a minha calcinha ensopou enquanto rolava sozinha
naquela cama, apenas por lembrar dos seus músculos
molhados, das suas mãos grandes tapando o seu pau
com a toalha.
E que pau era aquele?
O homem era bem-dotado, tive a impressão de que
se ele chegasse a transar comigo, eu não seria capaz de
contê-lo. Não tive experiências sexuais com outros
homens além do Nico, mas bastou ver o Giancarlo sem
roupa para ter a certeza de que ele estava muito acima
da média.
Inclusive, transar com o pai da minha melhor amiga
foi a ideia que me acompanhou durante a madrugada, à
medida que tentava pegar no sono. Apesar de estar a
uma parede de distância, era como se Giancarlo
estivesse naquele quarto, senti a sua presença por todo
o meu corpo, imaginei como seria tê-lo entre as minhas
pernas e só tive paz quando enfiei a mão dentro da
calcinha e me masturbei, mordi o travesseiro para
sufocar a enorme vontade de gemer.
Mal havia pregado os olhos quando amanheceu, saí
assim que possível logo após me despedir dele. Passei a
manhã inteira no spa com a Ágata e quando fiquei pronta
para o casamento, notei que tinha esquecido o
carregador do meu celular no quarto dele.
— Droga! — Desisti de procurar o carregador
quando lembrei do local onde o tinha deixado. Me olhei
no espelho de corpo inteiro uma última vez antes de sair
da minha suíte que, por sinal, não se comparava a do
Giancarlo, mas que também tinha uma linda vista.
Descobri que não era fácil para uma mulher se
achar bonita depois de uma traição. Após tudo
acontecer, percebi que em alguns momentos estava me
autossabotando, como agora.
Usava um lindo vestido tubinho de manga longa, e
apesar do azul-marinho ser a minha cor preferida, e o
tecido moldar perfeitamente cada centímetro do meu
corpo, senti como se tivesse algo de errado.
Devagar, mexi no meu cabelo bem produzido, que
caía ao redor do meu rosto em mechas lisas, de um
vermelho natural que me acompanhava desde que tinha
nascido, a mesma cor de fogo que tingia as minhas
sobrancelhas.

— Você devia pintar esse cabelo, amor. Ficaria


melhor se fosse morena — lembrei das palavras que
Nico me disse algum tempo atrás, de uma maneira tão
descontraída que nem parecia ter a intenção de me
tornar mais parecida com a Fiorela, que àquela altura já
era a sua amente há alguns meses.
Levei algum tempo até conseguir respondê-lo:
— Sério? — Parei de pentear o meu cabelo
enquanto ele arrumava a cama. Fazia pouco tempo que
tínhamos acordado. — Mas eu sou ruiva desde que
nasci, e você me conheceu assim, não foi? — o
questionei, o encarei pelo reflexo do espelho da minha
penteadeira.
— Ah, não sei. Só acho que ficaria mais bonita. —
Beijou o topo da minha cabeça ao passar por mim. —
Mas está bom assim — afirmou antes de sair do quarto,
como se aquele assunto não fizesse muita diferença
para ele.
Sozinha, voltei a encarar a minha imagem no
espelho, dessa vez, completamente insegura quanto
àquilo que sempre me fez bem, a cor do meu cabelo.

Pisquei duas vezes ao despertar daquela maldita


lembrança, assim que escutei alguém bater à porta. Me
esforcei para não borrar a maquiagem ao impedir que
lágrimas caíssem quando enxuguei o canto dos olhos
com a ponta dos dedos, me utilizando da habilidade que
apenas uma mulher experiente em maquiagem
conseguiria fazer.
— Oi Tomás, já estou pronta! — disfarcei a voz
embargada assim que me deparei com ele quando abri a
porta.
— Uau! Que linda! — Ele assobiou ao me olhar dos
pés à cabeça. Seu elogio me fez sorrir, além de ajudar a
afastar o fantasma do meu passado.
— Grazie! — agradeci, voltei correndo até o quarto
para pegar a minha clutch preta. Os saltos eram bem
altos, tinha certeza de que meus pés estariam
massacrados até o fim da noite, mas estava disposta a
pagar o preço. — Mas antes vou precisar subir lá... —
parei de caminhar e de falar quando me dei conta do que
quase ia saindo da minha boca.
— O que foi? — Tomás estreitou as sobrancelhas,
sem entender o meu comportamento. Ele não sabia que
eu havia dormido na suíte do Giancarlo e, sinceramente,
esperava que ninguém soubesse.
Não queria ninguém pensando besteira.
— Nada. — Forcei um sorriso, saí com ele da suíte
e tranquei a porta. — É só um probleminha que tenho
que resolver.
— Emma, já está quase na hora do casamento. O
Filippo já foi para a capela com os convidados dele, a
essa hora a Ágata deve estar deixando o hotel — Tomás
reclamou, ele era bem pontual em tudo o que fazia.
— Não, ainda não está. Já confirmei — tentei
acalmá-lo. — Faz o seguinte, me espera lá embaixo, no
carro, que já te encontro.
— Emma... — me repreendeu, mas não lhe dei
oportunidade para contestar. Saí praticamente correndo
em direção ao elevador.
Assim que cheguei à cobertura, a qual ainda tinha
acesso, bati na porta do Giancarlo. Para a minha
surpresa, foi o Enzo que abriu. Ele estava lindo de terno,
tão parecido com o pai que era impossível não se
apaixonar.
— Ah, oi Enzo! — Acenei para ele, sorrindo.
— Nossa, você parece um anjo... — comentou, à
medida que os seus olhos cor de avelã me
contemplavam.
— Aaah, que fofo! — Acariciei o rosto dele. — Você
que parece um anjinho e nem se dá conta disso.
— Desculpe, Emma, mas não gosto que usem
apelidos diminutivos comigo. Se quer ser a minha amiga
de verdade, teremos que mudar isso — informou, sério.
Pega de surpresa com as suas palavras, limpei a
garganta, pousei a mão livre sobre o peito.
— Ah, me desculpe. Claro, você tem razão —
concordei. — E como eu posso te chamar? Quais seriam
os melhores apelidos para a nossa amizade? — fiquei
curiosa.
— Bom... — Enzo tocou o seu queixo com o
indicador e olhou para o alto, pensativo. — Eu vou te
chamar de anjo — decidiu. Sorri rapidamente, mas
quando ele me encarou, parei de sorrir, queria que
entendesse que eu tratava daquele assunto com a
mesma seriedade.
— Ah, então vou te chamar de anjo também,
fechado?
— É, pode ser! — O sorriso em seu rosto,
denunciava o quanto havia ficado feliz com aquilo. —
Entre, anjo — me convidou, eu entrei.
— Sabe o que é, anjo... — me preparei para mentir.
— Ontem o seu pai me pediu o meu carregador
emprestado, você deve ter visto por aqui.
O menino me olhou de um jeito que fiquei
constrangida, ainda mais quando vi surgir aquele meio-
sorriso travesso em seu rosto.
— Aham... — foi o que respondeu, em seguida girou
os calcanhares e andou até o quarto onde eu havia
dormido. Acreditei que ele retornaria de lá com o seu
pai, mas não foi o que aconteceu. Ao invés disso, trouxe
o meu carregador em uma mão e uma gravata na outra.
— É esse aqui? — Mostrou, ainda com aquele olhar e
aquele sorriso de quem sabia de alguma coisa.
Meu Deus.
— Sim. — Sorri, sem humor. Engoli em seco ao
pegar o carregador e guardá-lo dentro da minha bolsa.
— Emma, você pode me ajudar a colocar essa
gravata? Meu pai foi ver a feiosa, mas esqueceu que eu
ainda não aprendi a fazer isso sozinho — ele pediu.
— Feiosa? — Arqueei uma sobrancelha, peguei a
gravata.
— É o meu apelido carinhoso para a minha irmã —
ele explicou, explodindo o seu termômetro de fofura. Eu
suspirei, encantada com esse mini querido.
Deixei a clutch sobre o sofá onde o Giancarlo havia
dormido e comecei a fazer o nó da gravata ao redor do
seu pescoço. Assim que terminei, dei tapinhas em seus
ombros.
— Agora sim, está perfeito! — elogiei, enquanto
Enzo analisava como havia ficado. — Mas você já é
grandinho, hein. Já poderia fazer isso sozinho, te acho
tão independente. — Cruzei os braços, o observando.
Giancarlo entrou na suíte, se surpreendeu ao me
ver, logo notei os seus olhos vermelhos, de quem tinha
acabado de derramar algumas lágrimas.
— Olha, pai, a Emma me ajudou com o nó da
gravata, não ficou perfeito? — Enzo se aproximou dele,
empolgado. Aproveitei para pegar a minha bolsa de novo
e caminhar até eles.
— Só vim pegar o meu carregador, que você pegou
emprestado ontem — dei a dica para ele, já fazendo
menção em sair.
— Ah, sim, sim... — Giancarlo concordou, observou
o filho por um instante antes de voltar a olhar para mim.
— Encontro com vocês na capela. Até logo. — Saí
depressa, não queria deixá-lo, de alguma maneira,
constrangido por ter sido flagrado em um momento
frágil.
— Pai, posso ir com a Emma e com o Tomás? —
Parei ao ouvir o pedido do garoto. Me virei e encontrei
no semblante do Giancarlo um pedido silencioso.
Ele queria ficar sozinho mais uma vez.
— Ah, por mim tudo bem. — Sorri para o menino.
Giancarlo apenas assentiu para ele. Enzo veio feliz
até mim.
— Eba! — comemorou.
— Eu e sua irmã iremos logo atrás — Giancarlo
informou. Assentiu para mim novamente antes de fechar
a porta e nos deixar partir.
O percurso até a pequena e linda capela onde
aconteceria o casamento não foi longo, nem monótono.
Enzo conversou bastante comigo e com o Tomás, ele
estava explodindo de felicidade por saber que o seu
querido tio de consideração agora seria o seu cunhado.
Assim que chegamos à capela, cumprimentamos o
Filippo e também o único casal de amigos que ele havia
convidado, Giuseppe e Milena [ 9 ] . Foi quando me dei
conta de que seria mesmo uma cerimônia simples e
particular. Vivíamos em um mundo corporativo de muitos
conhecidos, mas apenas os selecionados estavam ali.
Assim que avistei uma tomada livre, tirei o
carregador da bolsa e coloquei o meu celular para
carregar, estava quase sem bateria.
Todos tomamos os nossos lugares quando foi
anunciada a chegada da noiva. E quando Ágata entrou
acompanhada de seu pai, senti o meu coração
despencar do peito. Primeiro, pela felicidade em ver o
sonho da minha amiga se tornar realidade. Segundo, por
um sentimento não esperado, mas que começou a tomar
conta de mim de uma maneira que doeu.
Era a segunda vez naquele dia que lembrava do
Nico, do fracasso que foi o meu noivado e do sonho que
tinha de formar uma família, de entrar em uma igreja
usando um lindo vestido de noiva assim como a minha
querida Ágata.
Chorei durante toda a cerimônia, tanto pela
felicidade dela quanto pelos fantasmas que me
assolavam e que, naquele momento de fragilidade, não
consegui me livrar.
Foram anos de relacionamento com uma mentira, e
em meio a recordações perversas com emoções
doloridas, o lado escuro da minha mente questionou
onde eu havia errado, se não era a verdadeira culpada
do fim daquele maldito relacionamento. Algo que hoje
percebo que foi tóxico, difícil.
O que havia de errado comigo? Não era boa o
suficiente?
Você era sim, Emma! Você era tudo e ele não era
nada!
Abri os olhos quando a força que ainda restava em
mim deu sinais de vida. Acompanhei os outros quando
começaram a aplaudir o casal no esperado momento do
beijo. Foi tudo incrível, perfeito, digno de cinema. E
quando acabou, assim que os noivos foram embora de
uma forma romanticamente inesperada, voltei para o
carro com o Tomás.
— E agora? Para onde vamos? — ele perguntou,
assim que ligou o automóvel.
— Ah, mas que pergunta! — debochei, ainda
enxugando os olhos com o lenço. Olhei no espelho do
teto, estava com o rosto inchado de chorar. — Vamos
para a festa que o Filippo e a Ágata prepararam pra
gente. Hoje eu vou curtir Vegas de verdade! — prometi a
mim mesma, encarei o meu reflexo, decidida. — A noite
é uma criança e quero aproveitar! — Sorri, olhei para o
meu amigo sentindo o peito cheio de coragem.
— É assim que se falaaa! — Tomás comemorou,
pisou fundo no acelerador, me dando a certeza de que o
nosso destino seria uma loucura!
C A P Í T U L O 1 2

Desesperado, caminhei em círculos naquele


corredor enquanto esperava alguma notícia da minha
esposa. Fazia algum tempo que havia dado entrada com
ela na emergência, que a equipe médica tinha a levado
às pressas para uma sala, mas eu ainda não sabia como
Aurora estava.
O suor que se espalhava por minha pele me dava
calafrios, os batimentos cardíacos, um mais potente que
o outro, ameaçavam rasgar o coração. Pensei em um
milhão de coisas, todas ruins. Quase enlouqueci até ver
a médica se aproximar com um semblante que me tirou o
chão.
— E então? — Fui até ela, ansioso, o medo
arrepiando cada um dos meus pelos.
— Senhor Ruggiero, fique calmo — pediu, sua voz
era de quem estava prestes a lamentar, aquilo me deixou
nervoso.
— Calmo? Eu estou calmo, apenas quero saber o
que aconteceu com a minha esposa! — as palavras
saíram apressadas, agoniadas, com a mesma inquietude
que fazia doer cada osso do meu corpo.
— Infelizmente, houve uma complicação...
— Complicação? — Engoli em seco.
— Aurora teve uma parada cardíaca...
— O quê? — Não acreditei, minhas mãos
começaram a tremer.
A médica me olhou de maneira profunda... mórbida.
E se calou.
— O que foi que você disse? — a minha voz saiu em
sussurro, percebi que pouco a pouco eu estava entrando
em colapso.
— Senhor, sinto muito — suas palavras saíram com
tristeza.
Minha mente deu um branco, meu cérebro ficou
paralisado por alguns instantes. Todo o meu corpo foi
congelado até que finalmente entendi o que tinha
ouvido.
— O quê? — Uma lágrima desceu por minha face,
grossa, dolorida. — Não... — Entrei em estado de
negação. Caminhei de um lado a outro, ofegante. —
Aurora, cadê minha esposa? — Tentei ultrapassá-la.
— O senhor não pode ir lá agora. — A mulher tentou
me impedir, mas a ultrapassei com facilidade.
— AURORA! — berrei em um soluço que me
quebrou inteiro por dentro, cada pedaço, cada caco da
minha alma que não teria mais utilidade.
Caminhei depressa, aterrorizado com a
possibilidade de perder a mulher da minha vida. Apenas
acreditei quando a vi morta sobre a cama, sem um traço
de cor ou do seu lindo sorriso. Então eu a abracei,
dilacerado. Eu gritei, chorei sem controle, angustiado.
— Eu quero a minha esposa de voltaa!! — Solucei,
segurando-a nos braços.
Doeu. Doeu demais. Doeu tanto que tive vontade de
morrer também.
A culpa era minha, eu sabia que sim.

— Pai? O senhor está bem? — a doce voz de Enzo


me despertou das malditas lembranças. Estávamos no
banco traseiro do carro, o motorista nos levava de volta
ao hotel. Fiquei distraído observando a cidade pela
janela, nem havia percebido quando comecei a recordar
do dia do falecimento da minha esposa.
— Sim, filho. Eu estou — garanti, ao encará-lo, mas
o seu semblante duvidoso denunciava que não
acreditava nas minhas palavras.
Meu menino me conhecia bem.
— Não vale mentir, hein — ele lembrou, e tocou a
minha mão, me dando apoio mesmo sem ter noção do
inferno particular instalado em mim naquele momento.
— O pai apenas está triste porque a partir de agora
ficaremos sem a sua irmã, mas feliz por ela ter
encontrado alguém que a ame de verdade. — Forcei um
sorriso, esperava que a minha meia-verdade
afugentasse a sua preocupação.
Enzo era inteligente demais para um garoto de doze
anos, não queria que ele soubesse que seu pai ainda
sofria com o luto da sua mãe.
O garoto suspirou, entristecido, provavelmente
compartilhando do sentimento que eu havia expressado,
foi então que notei algo em sua mão.
— De quem é esse celular e esse carregador? —
curiosidade me atingiu, aproveitei para mudar de
assunto.
— É do anjo, ela esqueceu na capela. — Enzo sorriu
de lábios fechados, de uma forma tão genuína que me
surpreendeu.
— Anjo? — fiquei ainda mais curioso, apertei os
seus pequenos dedos.
— É o apelido que dei à Emma. — Ele gargalhou,
desviando o olhar como se estivesse se lembrando da
garota, aquele gesto aqueceu o meu coração, pois notei
o quanto Enzo gostava dela. — Vou entregar de volta
assim que a encontrar — me informou.
— Ah, sei que vai — concordei. — Ela realmente
parece um anjo. — Lembrei da beleza da Emma, da sua
expressão inocente e de toda a energia que ela emanava
que sempre me causava sentimentos bons.
Assim que chegamos à nossa suíte, Enzo estava
caindo de sono. Fiquei surpreso porque ainda não eram
oito da noite, mas o seu cansaço tinha uma explicação,
o fato de ter passado a noite anterior quase inteira
acordado. O seu fuso-horário estava bagunçado, então
eu sabia que ele precisava mesmo dormir, apesar de
ainda não ter jantado.
Com cautela, o coloquei na cama, tirei os seus
sapatos, o seu blazer e o deixei a vontade ao cobri-lo
com o lençol antes de ligar o ar-condicionado.
Estava prestes a tirar o meu terno também quando o
celular da Emma começou a vibrar. Peguei o aparelho
que estava ao lado de Enzo e vi o nome de Tomás
piscando na tela.
— Oi, Tomás. — Caminhei até a sala de estar para
poder atendê-lo.
— Oi... Giancarlo? — Ele estranhou ao reconhecer a
minha voz.
— Sim, sou eu. O Enzo encontrou o celular da
Emma na capela e trouxe com ele — expliquei, enfiei a
mão livre no bolso da calça enquanto caminhava
tranquilamente. — Sim, estamos na minha suíte.
— Ah, que maravilha! — comemorou, então falou
para a Emma que, provavelmente deveria estar ao seu
lado: — O Enzo trouxe o seu celular. — Escutei ela
sorrir alegremente.
A conexão deles me fez pensar que podiam ter algo,
uma hipótese que, por alguma razão desconhecida, me
deixou desconfortável de imediato. Foi estranho ter
aquela sensação ruim, um gosto amargo se agarrou ao
céu da minha boca.
— Estou indo aí pegar! — ele garantiu, eu me
despedi, a ligação se encerrou.
Inquieto, caminhei de um lado ao outro do espaço, a
ideia de que Emma pudesse estar ficando com o Tomás
tomando conta da minha mente. Afinal, ao que tudo
indicava, ela não estava mais noiva, ou será que havia a
possibilidade de Tomás ser o noivo dela?
Balancei a cabeça, por um momento pensei estar
ficando louco, aquelas ideias não faziam sentido, mas
eram consequência do meu desconhecimento sobre a
vida da Emma, sobre o que ela fazia quando estava fora
da firma. Fazia pouco tempo que havia se tornado amiga
da minha filha, e com tudo o que aconteceu, nunca senti
necessidade de conversar sobre ela com a Ágata.
Quando Tomás chegou e eu o recebi na porta,
estava pronto para lhe entregar o celular e o carregador,
mas também precisava sanar as minhas dúvidas.
— Ah, Giancarlo, agradeça ao Enzo. Emma já
estava ficando maluca! — Ele sorriu assim que lhe
mostrei os aparelhos.
— A sua namorada é esquecida, hein — lancei a
indireta de propósito, em tom de brincadeira.
— Quem? Emma? Minha namorada? — Tomás negou
com o rosto, riu daquilo como se fosse uma piada. —
Claro que não, somos apenas amigos! — Riu de novo,
era uma ideia que lhe parecia impossível. — Ela é linda,
mas sempre fomos amigos. Fora que Emma acabou de
sair de um relacionamento tóxico, o filho da puta do
noivo dela a traiu — contou, me surpreendendo. — Acho
que ela ficará com trauma de homem por um bom tempo.
— Ofereceu a mão para receber o que veio buscar.
Sem precisar me esforçar, Tomás contou tudo o que
eu precisava ouvir. Pensei rápido e senti que devia fazer
alguma coisa.
— Ah... Tomás, você se importa se eu mesmo
entregar o carregador e o celular de volta a Emma? — a
minha pergunta o pegou de surpresa.
— Claro que não. Vamos lá. — Ele me chamou com
a mão, fazendo menção em sair.
— Tem um porém, o meu filho está aqui dormindo e
eu não queria deixá-lo sozinho. Se você pudesse ficar
com ele enquanto vou lá, vai ser algo rápido — pedi,
Tomás sorriu, ele era aquele tipo de cara que tinha um
bom coração, além de ser confiável.
Acompanhei o seu progresso ao longo dos anos na
firma como pupilo do Filippo, e após conversar com o
Enzo, soube que com o Tomás, meu filho não corria
perigo. Filippo o tratava não apenas como um parceiro
de trabalho, mas sim como parte da família. Ágata
também o respeitava bastante, comigo não havia por que
ser diferente.
— Olha, não me ache um puxa-saco, e que o Filippo
não saiba que eu disse isso, mas você é o meu chefe
maior. Eu não seria louco de recusar um pedido seu. —
Deu de ombros, antes de trocarmos um aperto de mão.
— Muito obrigado. — Abri espaço para que ele
entrasse no quarto. — É que eu preciso agradecer a
Emma por...
— Não precisa explicar nada. Leve o tempo que
precisar. — Tomás ergueu as mãos em sinal de rendição.
— Não se preocupe comigo, acredite, sou advogado,
mas estou acostumado a ser babá. — Sorriu. — Adoro
crianças, e só não tive filhos ainda porque não encontrei
a minha escolhida.
— Tenho certeza de que você vai encontrar. — Era
verdade, pessoas iluminadas como ele atraíam outras
iguais. — Qualquer coisa, acredito que você tenha o meu
contato.
— Ah, sim, eu tenho. Caso não lembre, foi um bônus
após me tornar Sócio-Júnior — afirmou, orgulhoso de si
mesmo. Piscou e fez um sinal de pistola para mim.
Fui embora contente e despreocupado, sabendo que
o Enzo estava em boas mãos. Mas voltaria logo, o que
precisava falar para a Emma não levaria muito tempo.
C A P Í T U L O 1 3

Sentada no bar do luxuoso espaço que Filippo e


Ágata tinham reservado para a sua festa de casamento,
não me incomodei por estar sozinha, por não ter
absolutamente ninguém ali além de mim, os funcionários
e a pequena banda que ajudava a manter o ambiente
com um clima agradável, apesar de estarem tocando
para nenhuma plateia.
Eu estava decidida a ser feliz naquela noite, tinha
estourado a minha cota de lágrimas e nada me impediria
de aproveitar Las Vegas!
Ao virar o segundo copo de uísque puro e batê-lo
com força na mesa em seguida, fiz uma careta quando
senti o líquido queimar garganta a dentro, mas no fim
respirei fundo, bati duas palminhas de empolgação.
— Uuuh, essa foi forte, hein! — Sorri para o
barman, ele sorriu de volta, já tínhamos conversado
trivialidades enquanto eu aguardava o retorno de Tomás.
Comecei a chupar uma rodela de limão para quebrar
o gosto forte espalhado em minha língua quando
Giancarlo apareceu, do nada, se encostando no balcão
de porcelanato escuro com um semblante surpreso.
— Uau! — ele comentou, quase deixei cair a rodela
devido ao tamanho da minha surpresa.
— Giancarlo?! — Me sobressaltei, me livrei do limão
e peguei um guardanapo com o qual comecei a me
limpar. — O que está fazendo aqui? — Olhei ao redor,
sem entender nada. — Onde está o Tomás?
O homem esticou um meio-sorriso, me encarou de
maneira divertida antes de se sentar na banqueta ao
lado.
— Pedi a ele que ficasse com o Enzo para que eu
pudesse te entregar isso. — Colocou o meu celular e o
carregador à minha frente, mas a sua desculpa não me
convenceu.
— Ah... obrigada! — Sorri, ainda me sentindo pega
de surpresa. Olhei o celular por um instante antes de
encará-lo outra vez como quem queria descobrir o que
estava acontecendo.
— Festa animada, não? — Ele suspirou, observou
ao redor.
— Ah, sim! Você notou? — entrei na brincadeira. —
Os noivos tiveram uma lista enorme de convidados! —
Nós gargalhamos. — Não faz muito sentido, não é? —
continuei, mexi no cabelo. — Foi uma cerimônia tão
particular, não havia necessidade de alugar esse espaço
com comida, bebida e uma banda.
— Não, não havia. Mas o Filippo sempre foi um cara
de pensar no conforto dos outros, por mais que tivesse
pouquíssimos convidados.
— Sim, é verdade. — Observei o Giancarlo, agora
um pouco mais séria e curiosa. Como sempre, ele estava
divino, elegante, usava um terno preto caríssimo que
correspondia a alguém do seu patamar.
O dourado do seu cabelo, agora um pouco mais
escuro do que de costume devido a umidade do seu
penteado, não tinha outra responsabilidade a não ser
torná-lo ainda mais lindo. A barba cerrada, o queixo
quadrado com uma covinha no centro, lhe dava um
charme tão raro de encontrar em um homem, que era
como se ele fosse único.
— Não vai mesmo me dizer por que veio aqui? —
Ergui uma sobrancelha, juntei as mãos sobre o colo.
Giancarlo apoiou um dos cotovelos sobre o balcão e
me encarou enigmático, profundo.
— Emma... pode parecer bobagem o que vou dizer
agora, mas... a verdade é que vim agradecer a sua
gentileza com o Enzo e comigo hoje mais cedo —
declarou, me surpreendendo.
— Está se referindo àquele momento em que aceitei
levá-lo comigo?
— Sim — assentiu, demorou alguns segundos para
continuar. — É que... eu realmente estava precisando —
confessou, a forma como falou me tocou por dentro.
Engoli em seco.
— Eu notei que... você estava abalado, e ficar com
o Enzo para mim não é nenhum trabalho. — Sorri,
lembrando do garoto. — É como se eu o conhecesse há
anos, a gente se deu tão bem e de maneira imediata. O
sorriso de uma criança tem o poder de afastar os nossos
fantasmas, mas eu compreendi que você precisava ficar
um pouco sozinho.
Giancarlo respirou fundo ao abaixar o rosto por um
instante, cruzar as mãos.
— Las Vegas é brilhante, mas nem sempre esse
brilho reflete na gente. — Voltou a me encarar, senti dor
e tristeza nas suas palavras, apesar de se esforçar para
disfarçar.
— Te entendo perfeitamente, eu ainda estou aqui
buscando me contagiar com essa cidade dos sonhos.
Curtir a última noite no local que sempre tive vontade de
conhecer. — Fitei o bar, recordei das expectativas que
coloquei nessa viagem. — Mas, por incrível que pareça,
não está sendo nada fácil. É como você disse, às vezes
estamos tão sombrios por dentro que nem a luz de
Vegas é capaz de nos iluminar. — Sorri com tristeza
quando olhei para Giancarlo de novo.
Apoiei a cabeça sobre a minha mão, deixando-a
inclinada à medida que observava Giancarlo que,
também não tirava os lindos olhos de mim.
— É por isso que já secou dois copos? — Ele
apontou com o rosto para os copos vazios ao meu lado.
Sorri, envergonhada. Tapei o rosto com as mãos por
um segundo.
— Faz tanto tempo que não bebo, mas se pretendo
ter uma noite de loucura em Vegas, preciso esquecer de
algumas dores, entende? — Pisquei para ele.
— Ah, se entendo! — Giancarlo assentiu. — Pena
que eu parei de beber há cinco anos — informou. — Do
contrário, até poderia acompanhá-la.
— Nossa! — Coloquei a mão no peito, lisonjeada. —
Seria uma honra beber com o Sócio-Gestor da firma!
Você acredita que o Filippo nunca me levou para sair?
Nem eu ou o Tomás. Nunca, nunquinha! Ele é péssimo
nisso!
— Ele é péssimo em muitas coisas quando se fala
em socializar... — Giancarlo sorriu, agora parecia estar
se divertindo assim como eu. — Mas eu não fico atrás.
— Ah, eu sempre te achei um pouco... quer dizer,
um pouquinho mais aberto que ele, sabe. Porque você
também é muito misterioso, muito introspectivo.
— Talvez a vida tenha me feito assim. E apesar de
não beber, eu também gostaria de, às vezes, esquecer
de algumas coisas.
O analisei, e me dei conta de que estávamos, à
nossa maneira, nos abrindo um para o outro, da forma
mais discreta possível, sem precisar expressar em
detalhes o que queríamos esconder.
— O problema da dor é que ela dói, não é? — o que
falei capturou a sua atenção, pareceu surpreendê-lo. —
Se não doesse, seria apenas uma palavra sem sentido
— fiz piada, mas dessa vez Giancarlo não sorriu comigo.
— O que foi?
— Você tem talento para ler as pessoas, já se deu
conta disso?
Puxei a respiração, feliz com o seu elogio.
— Já — concordei, abrindo ainda mais o sorriso. —
Mas talvez, nesse momento, eu esteja apenas me
identificando com você. Já se deu conta disso? —
devolvi, Giancarlo pareceu surpreso outra vez.
— Não, nós somos muito diferentes. Você, pelo
menos, tem coragem de tentar esquecer os seus
demônios. Talvez eu... — pensou um pouco, esfregou os
dedos como se estivesse desconfortável — me torture
um pouco com os meus — fez mais uma confissão.
Eu estava adorando conhecer as suas camadas,
enxergar o homem que existia além daquele terno. O
que estava acontecendo ali não era nada além do que
duas pessoas que precisavam desabafar, que estavam
conseguindo aquilo de uma forma tão natural, que
parecia apenas um diálogo comum ao invés de um
desabafo disfarçado.
— Ah, mas nem sempre a gente faz isso de modo
intencional. Às vezes acontece sem que possamos
controlar. É por isso que estou bebendo — chamei o
barman, que estava na ponta oposta do balcão,
organizando algumas garrafas. — Porque o álcool vai me
descontrolar, e o que mais quero essa noite é passar um
pouco dos limites, sabe? Preciso mesmo esquecer dos
meus problemas e ter uma noite inesquecível em Las
Vegas! — Bati palmas, fazendo Giancarlo rir.
O seu sorriso era divino.
— Você é... impressionante — me elogiou de novo,
e eu tentei não me iludir por dentro, tanto com o seu
elogio quanto com a sua inesperada proximidade.
— O que vão querer? — o barman perguntou assim
que parou à nossa frente. Ele tinha traços físicos
britânicos e um comportamento levemente afeminado.
Acho que por isso nos demos bem.
Olhei para Giancarlo, como se estivesse passando a
bola para ele.
— E aí, chefe? Vai mesmo perder essa grande
oportunidade de tomar uma dose comigo? — brinquei.
Para a minha surpresa, pela primeira vez, Giancarlo
parecia tentado, indeciso.
Ele pensou por alguns segundos até me responder:
— Desculpe, Emma. Mas eu realmente prefiro não
beber. Além disso... — olhou o relógio caro em seu
pulso. — Tenho que liberar o Tomás, é a segunda vez
que o coitado se torna babá do Enzo.
Foi difícil fingir que a sua decisão não me
entristeceu. A verdade era que eu não queria que ele
fosse embora. Queria que ficasse mais um pouco, que
se abrisse mais e conversasse comigo. Senti uma
necessidade absurda de conhecê-lo, de mantê-lo ali ao
meu lado mesmo que fosse apenas como um amigo, um
ouvinte.
— Ah... tudo bem. — Só me restava aceitar, senti
que estava perdendo o brilho.
Giancarlo se levantou e me olhou uma última vez.
— Tenha uma ótima noite — desejou.
— Você também. E obrigada pelo diálogo, eu adorei.
— Acenei em despedida. Ele me deu as costas,
caminhou para longe. Quando estava quase sumindo de
vista, parou, girou os calcanhares e voltou.
Não entendi o que pretendia fazer, até que me
encarou decidido, antes de apoiar os antebraços no
balcão e fazer uma pergunta inusitada ao barman:
— Amigo, você teria algo não alcóolico que fosse
capaz de nos fazer esquecer de todos os nossos
problemas durante essa noite? — disparou, me
surpreendendo.
— Hmmm... — O funcionário pensou, então sorriu
para ele. — Acho que tenho exatamente o que vocês
precisam. Só um momento. — Sumiu por alguns minutos,
até retornar com duas pequenas bandejas, cada uma
com dois brownies, um azul e outro vermelho.
Interessado naquilo tanto quanto eu, Giancarlo
tomou o seu lugar na banqueta e esperou o barman
continuar. O rapaz nos encarou com seriedade, antes de
dizer:
— Esta é a última oportunidade de vocês. Depois
disso, não haverá mais retorno. Se comerem o brownie
azul, fim da noite, irão acordar em suas camas e
continuar com as suas vidas normais. Se comerem o
brownie vermelho, conhecerão o País das Maravilhas, e
essa noite irá mostrar a vocês o quão fundo é a toca do
coelho! — Sorriu, malicioso e misterioso, fazendo com
que gargalhássemos empolgados.
— Matrix. — Giancarlo apontou para ele, após citar
a referência.
— Cara, que demaaais! — Cruzei os dedos, ansiosa,
cobiçando o brownie vermelho. — Do que eles são
feitos? — curiosidade me atingiu.
— Ah, querida, não posso dizer — o barman
respondeu, cheio de astúcia, parecendo mesmo o Coelho
da história de Alice ou o próprio Morpheus do filme. —
Fica a cargo de vocês. Qualquer coisa, estou logo ali. —
Apontou para a direção que seguiu. — Mas lembrem-se,
eu estou apenas oferecendo a verdade. Nada mais —
concluiu, enfim nos deixando sozinhos.
Troquei um olhar divertido e eufórico com o
Giancarlo, ele agia como se não soubesse o que fazer.
— Foi você quem pediu — o lembrei, gargalhei mais
um pouco, ansiosa.
— Qual você vai escolher? — Giancarlo perguntou,
curioso.
— O quê?! Já pode me chamar de Alice! — brinquei.
Respirei fundo ao pegar o brownie vermelho e degustar
o primeiro pedaço, sentir o gosto totalmente diferente de
tudo o que já experimentei derreter em minha boca.
Era forte, intenso. Me refrescou toda.
Quando me dei conta, Giancarlo já tinha o escolhido
também, terminamos de comer ao mesmo tempo,
chegamos a lamber os dedos.
— Pior que é gostoso, não é? — Sorri para ele.
— Muito — concordou.
— E agora?
— Agora... esperamos. — Ele riu, aquilo seria
novidade para nós dois.
— Giancarlo, por que você voltou? — a minha
pergunta fez com que o homem parasse de rir e me
encarasse com profundidade, daquela maneira que me
fazia sentir ser engolida por seus olhos, consumida até
os ossos.
— Porque percebi que queria ficar com você —
disparou. Foi direto e certeiro em meu coração,
esquentou meu corpo inteiro.
Sem palavras, não soube o que responder. Apenas
mordi o lábio inferior ao mesmo tempo em que sentia as
minhas bochechas arderem.
Seria apenas eu, ele e uma noite inteira pela frente.
C A P Í T U L O 1 4

Cerca de trinta minutos após termos comido o


brownie, o mundo ao redor pareceu ter tomado um novo
ritmo, um mais lento e gostoso que amplificou os meus
sentidos tanto quanto os de Emma, pude constatar isso
em seu olhar.
Quando um DJ assumiu o palco e começou a tocar
músicas eletrônicas contagiantes, ela decidiu parar de
conversar e me convidou para a pista de dança.
Soube que havia algo de diferente dominando a
minha consciência porque, minutos atrás, eu
provavelmente não teria tomado uma dose de uísque
enquanto a assistia dançar, não aceitaria o seu convite
de bom grado, muito menos me aproximaria feito um
predador e permitiria que rebolasse devagar bem na
minha frente, de olhos fechados, sorriso sedutor no
rosto, mãos envolvendo os seus lindos cabelos
vermelhos.
Era certeza que, se eu estivesse no meu psíquico
normal, teria resistido a esquecer dos motivos que me
impediram de ir embora, que me trouxeram de volta
apenas para que pudesse sentir o seu perfume de
morango exalando na atmosfera.
Aquele cheiro impregnado em sua pele, me inundou
ainda mais quando colei meu corpo ao seu, coloquei as
mãos em sua cintura e permiti que a infeliz esfregasse a
bunda volumosa no meu pau, sem nenhum tipo de
pudor.
As luzes se apagaram, o ambiente semiescuro foi
invadido por jogos de luzes especiais, coloridas, que
tornou tudo ainda mais mágico e especial. Não me
lembrava da última vez que tinha sentido aquilo, talvez
porque nunca tivesse acontecido.
A verdade era que não conseguia lembrar dos
problemas, as coisas pareciam calmas em minha mente,
uma sensação eterna de felicidade.
Emma deitou a cabeça contra o meu peito e olhou
para o alto, para o meu rosto que estava sobre o seu.
Quando as minhas mãos subiram por seu corpo, se
arrastando de modo possessivo por seu vestido colado,
não resisti e pressionei os seus seios com uma força de
lhe arrancar gemidos.
Ela gemeu forte, dengosa. Fechou os olhos quando
empurrei a minha ereção contra a sua bunda, esfreguei
com vontade. Estar vestido naquele momento se tornou
um martírio.
Porra, eu queria comê-la! Fodê-la até a alma!
Quando a temperatura triplicou entre a gente e eu
quase consegui morder a boca dela, Emma se virou
rápido, ficou de frente. Ela tocou o meu rosto como se
fosse a primeira vez que fazia aquilo com um homem,
enfeitiçada. Suas pálpebras semicerradas tanto quanto
as minhas. A diaba desceu as mãos por meus ombros e
braços à medida que abaixava o corpo também, quase
ficando de joelhos à minha frente.
Olhá-la do alto fez o meu tesão crescer mais, assim
como o meu pau que doía dentro da calça, marcava o
tecido como se estivesse prestes a rasgá-lo. Eu o sentia
em cada veia grossa, o sangue fluía por sua extensão e
corria eufórico para o resto do meu corpo e vice-versa.
Sensual, Emma voltou a se levantar, sem pressa,
me encarava cheia de desejo, mordia o lábio inchado.
Assim que ficou totalmente de pé, a segurei firme pelo
pescoço, usei o outro braço para agarrá-la, prendê-la a
mim até que ficasse sem saída.
Testemunhei a sua boca se abrir em um convite
perigoso, a mulher estava excitada pra caralho, sua
expressão denunciava o quanto implorava pelo que eu
podia lhe oferecer. Mas não ofereci, pelo contrário,
tomei. Tomei os seus lábios em um beijo fogoso, lascivo.
Estava há cinco anos sem beijar, cinco anos sem ter
outra carne roçando na minha, e quando isso finalmente
aconteceu, senti como se estivesse liberto.
Era como estar beijando pela primeira vez,
reaprendendo aquelas emoções, conhecendo o prazer
que uma mulher podia me dar.
Então eu repeti, devorei os seus lábios várias
vezes. Emma tinha um sabor único, entendi que aquela
combinação de uísque e morango ficaria tatuada em mim
para sempre, pelo simples fato de ser inesquecível. A
música aumentou de volume naquele momento e nos fez
mergulhar em cada parte mágica da melodia, embalou o
calor que subiu por nossos corpos e aqueceu até mesmo
o meu cérebro.
A pequena infeliz me agarrou com vontade, se
entregou com tudo o que tinha, necessitada. Ela também
me devorou, mordeu a minha carne como se precisasse
daquilo para sobreviver, chupou a minha língua de uma
maneira que parecia essencial para continuar a manter
seu coração batendo, com uma violência que ameaçava
lhe rasgar o peito.
Sabia que ela estava assim porque era exatamente
como me sentia, e nada me faria duvidar de que
estávamos amplamente sintonizados, corrompidos por
aquele prazer maluco que me permitia subjugá-la em
meus braços, um desejo insano de rasgar a sua roupa.
E quando os beijos nos tiraram o ar, quando mais
nada daquilo pareceu suficiente, nós nos olhamos uma
última vez antes de decidirmos sair daquele lugar.
Não sei como, por onde andamos e nem quanto
tempo levou para que estivéssemos em sua suíte. Para
que entrássemos lá quase derrubando tudo o que tinha
pela frente.
Peguei Emma no colo, ela envolveu o meu quadril
com as suas coxas quentes ao mesmo tempo em que
ergui o seu vestido para acertar a sua bunda com a
violência de um tapa.
— AAH! — gritou, manhosa, agarrou os meus
cabelos com força e continuou gemendo dentro de minha
boca. Mordi os seus lábios carnudos, o seu queixo e
pescoço. Estapeei a sua bunda de novo e, dessa vez,
ela jogou o corpo para trás, seus cabelos caíram em
cascata no ar.
Foi então que a joguei sobre a cama, Emma caiu
como uma boneca, ofegante, mordeu a ponta dos dedos
para me assistir tirar a roupa. Me livrei do terno
depressa, e quando fiquei completamente pelado, a
garota olhou para o meu pau impressionada, excitada à
medida que esfregava as pernas uma na outra.
Eu caí sobre ela devagar, consciente do que
precisava e do quanto a queria da maneira mais visceral
possível.
Emma gemeu gostoso ao sentir o meu corpo grande
se esfregar no seu que era bem menor, delicado, todo
feminino e tão voluptuoso que não consegui esperar
para arrancar o seu vestido, rasgar a sua calcinha.
Fiquei de joelhos entre as suas coxas abertas,
torneadas e macias. Minhas mãos se arrastaram por
cada centímetro delas até que a direita tocou a sua
boceta.
— Dio Santo! — Emma arqueou as costas,
enlouquecida, era como se sentisse tudo em dobro, mais
intenso. Por outro lado, eu fiquei louco com a sua
perfeição da cabeça aos pés.
— Ah, Emma... — Suspirei, impressionado.
Esfreguei o polegar entre as suas dobras meladas,
surpreso com a sua sensibilidade e com o fato de estar
diante da boceta mais carnuda que já toquei. Emma era
beneficiada, um exagero de carne rosada entre as suas
pernas que estava afetando o meu raciocínio.
Rocei em seu clitóris, ela alucinou, agarrou os
lençóis, gritou quando pareceu gozar pela primeira vez.
Tudo ali nos fazia sentir como se fosse algo novo e
único.
Enfiei dois dedos entre as suas dobras e a penetrei.
Comecei a masturbá-la devagar até ir bem fundo,
acelerei progressivamente, soquei com experiência até
que Emma vibrasse de prazer e explodisse mais uma
vez. Por fim, chupei os meus dedos lambuzados dos
seus orgasmos, sem pressa, tendo a confirmação do seu
sabor perfeito, cítrico, algo que pareceu ter feito parte
do meu desejo a vida inteira.
Quando não pude mais esperar, quando a minha
ereção não suportou a dor que aquele tesão me
causava, pairei sobre Emma, coloquei um antebraço
abaixo da sua nuca, usei a mão livre para agarrar uma
de suas coxas e enfiei o pau inteiro em sua boceta, de
uma só vez.
— OOH! — ela liberou um gritinho que me tornou
ainda mais possessivo. Seu corpo se aninhou ao meu,
me recebendo fundo, até o limite.
Não foi uma penetração fácil, a infeliz parecia
virgem, estava tudo tão apertado e molhado dentro dela
que um rugido baixo e rouco escapou da minha
garganta. Emma arranhou os meus braços, suas unhas
quase rasgaram a minha pele à medida que lágrimas
manchavam a sua face.
Porém, nada daquilo foi o bastante para me conter.
Faminto, ergui o quadril, senti os grandes lábios da sua
boceta me sugarem enquanto eu saía apenas para voltar
com tudo.
Bruto.
Sem delicadeza.
Ela afundou no colchão com o meu peso, mordeu a
carne do meu peito que abafou mais um de seus gritos,
foi quando me dei conta de que estava gozando outra
vez, perdendo completamente o controle. No entanto,
comigo não acontecia diferente, fechei os olhos e vivi
aquele momento como se apenas agora estivesse
experimentando o sabor que existia entre as pernas de
uma mulher.
Era como se nunca tivesse transado, então
precisava me saciar e saciá-la também. Com esse
objetivo, me ergui um pouco após beijá-la outra vez.
Segurei Emma pelo pescoço para voltar a me enterrar
com tudo em sua boceta.
Fodi com gosto, descontrolado, com um exagero de
movimentos que não me importei. Fui egoísta, queria
tomar tudo de Emma, fazê-la entender que, naquele
momento, ela me pertencia e nada me faria pensar o
oposto. Não dei tempo para que respirasse, a maneira
como o meu pau golpeou sua boceta foi tão intensa, me
viciou de tal maneira, que só parei quando gozei.
Meu cérebro pareceu entrar em colapso, mas de um
jeito maravilhoso. A cada jato que saía de mim, fazia
com que eu delirasse de prazer, algo tão sublime que
era como se tivesse o poder de tocar o céu, parar o
tempo.
Viajei naquele orgasmo, os segundos se passavam
e ele não tinha fim.
Permiti que Emma voltasse a buscar fôlego, ela me
puxou e me beijou, gozando ao mesmo tempo, se
derretendo em meus braços à medida que
continuávamos nos entregando um ao outro, agora com
mais suavidade.
Suas pernas me pressionavam, minha mão
acariciava as suas curvas. Foi difícil deixar a sua boceta
e cair ao seu lado, ou engolir em seco com aquela
sensação de que a minha alma abandonaria o corpo.
Emma não se conteve, ela veio por cima, tomou os
meus lábios, me beijou inteiro até começar a mamar no
meu pau.
Não pude fazer nada além de gemer, alucinar com a
sua língua saliente me chupando com gosto ao mesmo
tempo em que impedia a minha ereção de ir embora.
Quando fiquei duro por completo, me empolguei.
Segurei a garota pelos cabelos e fodi a sua boca
pequena, que parecia não ter espaço suficiente para me
receber. Ela tossiu, se engasgou, se tornou ainda mais
linda de bochechas vermelhas, todavia, não se deu por
vencida, pelo contrário, montou em mim com desespero,
denunciando a sua necessidade de me engolir fundo em
sua boceta.
Afundei os dedos grossos em suas coxas macias e
grunhi quando a garota começou a se mover, moendo o
meu pau de uma maneira que acreditei não ser possível.
Era bom, era muito mais do que bom, a verdadeira
essência do prazer.
Dio mio, como pude ficar sem isso por tanto tempo?!
Puxei Emma para que eu pudesse abocanhar os
seus mamilos intumescidos, escutei o seu gemido
fogoso, sem parar com o que estava fazendo. Ela não
quicava, notei que a sua intenção era causar aquela
fricção gostosa entre a gente que lhe roubava o juízo,
que a fazia gemer cada vez mais forte à medida que se
esfregava em mim com selvageria.
Nos entreolhamos enquanto a minha boca se
satisfazia com os seus seios, me perdi em sua carne
inchada e sensível. Mordi, suguei, deixei marcas, e a fiz
gozar de novo.
Coloquei Emma de quatro, abri as suas nádegas
com força para começar a chupá-la. Com a cabeça
deitada no colhão e o quadril erguido, ela gemeu,
dengosa, rebolou na minha cara.
— Puta que pariu... como pode ser tão gostosa
assim, caralho? — rosnei, obcecado por aquela mulher.
Mamei com violência, suguei os lábios vaginais para
dentro de minha boca e sorvi cada gota dos fluidos que
saíram do seu corpo. Emma entrou em um estado de
orgasmos múltiplos, quanto mais ela explodia, mais me
animava, bebia o seu suco e me deliciava com tudo o
que estava oferecendo.
— Giancarlo... — ela implorou, testemunhei a sua
boceta literalmente vibrar diante dos meus olhos, os
lábios tremerem como se estivesse esgotada. — Acho
que não aguento mais... — Ofegou, gemendo ao tentar
ficar deitada, mas não permiti. A segurei firme pela
cintura.
— Vai ter que aguentar, querida. Vou te foder a
noite inteira — afirmei. Enxuguei a boca com o dorso da
mão ao me posicionar de joelhos e penetrá-la rápido,
sem cerimônia.
Com uma mão, segurei um punhado do seu cabelo,
com a outra, acertei tapas violentos em suas nádegas
redondas, tão macias e grandes que me enlouqueceram
à medida que ondulavam a cada impacto.
Emma berrou uma, duas, várias vezes. Não vou
negar, me senti poderoso. Mordi o lábio inferior e decidi,
em meio à loucura que estava à minha mente, que a
comeria sempre que quisesse.
— Eu vou te foder todos os dias, entendeu?! —
afirmei, selvagem, fora de controle. Adrenalina e
testosterona corrompendo cada poro do meu corpo. —
Sua boceta vai me pertencer! — rosnei, exigente, feito
um animal fora da jaula.
— Sim... — Emma choramingou em meio aos
gemidos. — Eu quero isso. — Soluçou, então a golpeei
mais forte, mais viril.
— O que você quer, Emma? — Bati em suas
nádegas, ela se preparou para gozar, sem fôlego.
— Que a minha boceta pertença... a você... sempre!
— falou de maneira quase ininteligível, rendida. Me
deixei levar e nós explodimos ao mesmo tempo.
Fui invadido por diversos sentimentos, emoções
conturbadas e agressivas durante cada jato que jogava
dentro de sua boceta. A enchi tanto, que vi sêmen
escorrer para fora, manchar as suas coxas, o que me fez
sorrir satisfeito pouco antes de cair exausto sobre seu
corpo vermelho.
C A P Í T U L O 1 5

Quando despertei, acreditei que havia acordado do


sonho mais louco e prazeroso da minha vida, exceto
pela forte dor de cabeça que me obrigou a erguer o rosto
devagar. Tive dificuldade para abrir os olhos, além de
demorar mais do que o necessário para me dar conta de
que estava deitada sobre o Giancarlo.
Meu corpo pequeno se perdia sobre o dele, seu
braço direito, grande e musculoso, contornava a minha
cintura, prendendo-me a ele. Não havia nenhum lençol
nos cobrindo ou qualquer peça de roupa, podia sentir a
aspereza dos seus pelos em contato com a minha pele.
E ainda não tinha entendido como tínhamos ido parar no
tapete.
A forte luz do dia que atravessava o paredão de
vidro do quarto, me obrigou a fechar as pálpebras de
novo enquanto me esforçava para poder ficar sentada.
Não conseguia recordar de absolutamente nada da
noite anterior, tampouco o motivo de estar nua ao lado
do pai da minha melhor amiga.
Chocada, coloquei a mão na boca, calculei o que
podia ter acontecido. Encarei Giancarlo dos pés à
cabeça, lindo, pelado, cheio de marcas, a face
denunciando que estava tendo o sono dos justos. Como
se não fosse o bastante toda aquela loucura, ele ainda
sussurrou, como se estivesse em um sonho:
— Aurora... meu amor... — Aquilo foi um soco no
estômago, todavia, decidi que precisava manter o
controle.
Tentei não fazer barulho ao ficar de pé, porém, não
adiantou, Giancarlo abriu os olhos de repente. Fui
flagrada.
— Emma? — perguntou, parecia confuso, sua voz
mais rouca do que o normal. Naquele instante, fiquei
paralisada. — O que aconteceu? — Eu também queria
saber.
— Não sei. — Engoli em seco, tentei me cobrir com
as mãos e me apressei para encontrar alguma roupa.
Estava tudo revirado pelo quarto, a impressão que
dava era a de que ali havia passado um tornado, além
do cheiro de sexo bem presente.
Enquanto eu colocava o vestido, Giancarlo se
levantou.
— Merda... a gente transou? — Olhei por sobre o
ombro, apenas para testemunhá-lo capturar uma
camisinha do chão, entupida de esperma.
É claro que já desconfiava daquilo, mas a
confirmação fez com que a minha mente entrasse em
parafuso.
— Dio Santo! Eu não acredito que isso está
acontecendo! — Com a mão na testa, cambaleei para o
lado, meio tonta, pisei em outro preservativo usado, do
qual me afastei depressa.
— E parece que foi mais de uma vez — Giancarlo
constatou, incrédulo, de olhos esbugalhados. Ele
estudava o quarto como se quisesse arrancar a verdade
daquelas paredes. — Caralho. — Engoliu em seco, e,
por fim, se deu conta de que estava nu, então começou
a procurar sua roupa.
Enfiei as mãos no cabelo, ainda processando os
acontecimentos, vários flashes de memórias
desmontadas explodindo dentro da minha cabeça.
Segurei os meus saltos, pronta para partir.
— Giancarlo, eu não consigo lembrar de nada —
confessei, recebendo o seu olhar assustador, que
denunciava estar na mesma situação que eu. — Tudo
bem. Tudo bem, tudo bem. Não vou surtar dessa vez,
não vou surtar — afirmei para mim mesma, gesticulei os
dedos em negativa, tentei acreditar em minhas próprias
palavras, mas por dentro já estava surtando.
— Emma... — Não o escutei, comecei a caminhar de
um lado ao outro, decidindo o que fazer. Giancarlo
terminou de vestir a calça e partiu para a camisa.
— Preciso apenas ficar sozinha nesse momento, e...
e depois eu penso. — Fiz menção em ir embora, mas a
voz do homem me parou.
— Emma, acho que aqui é a sua suíte. — Olhei ao
redor, foi quando me dei conta de que estava mesmo
desorientada.
— Ah, claro! Eu sabia! — menti, liberei um sorriso
nervoso.
— Eu que tenho que ir. — Giancarlo encarou o
relógio de pulso, antes de capturar os seus sapatos. —
Falta apenas duas horas para viajarmos, temos que
organizar as malas. Preciso ver o Enzo, e... — Me
encarou de novo. Era nítido que, assim como eu, não
sabia o que fazer. — A gente conversa em outro
momento, de cabeça fria. Pode ser? — propôs, parecia
tentar manter a calma.
— Sim... claro — concordei, precisava mesmo de um
tempo. Nunca tinha vivido uma situação tão
constrangedora.
— Certo — ele assentiu, caminhou devagar até a
porta, me olhou uma última vez, conturbado,
envergonhado, não pude entender. Então partiu.
Pasma, sentei na cama de lençóis revirados, sem
acreditar que aquilo tudo era verdade. Devagar, tombei a
cabeça para baixo, foi quando notei as marcas
vermelhas em minhas coxas.
— Jesus — murmurei, assustada.
Tirei o vestido e corri para o banheiro, encarei o
meu corpo nu na frente do espelho, parecia que havia
levado uma boa surra de sexo. E apesar de sentir a
boceta mais inchada do que o normal, além das dores,
era como se estivesse satisfeita. Não sentia que havia
feito algo contra a minha vontade.
Desci o olhar e avistei uma aliança desconhecida
em meu dedo.
— O quê? — indaguei, observando a joia presa ao
anelar da minha mão direita. — Ah, não... — Delirei,
cambaleei para dentro do box, pousei a mão livre sobre
o coração. — O que foi que eu fiz? — murmurei, tentei
lembrar, mas a minha mente estava em branco. —
Emma, sua maluca, o que diabos você fez?! — exclamei,
irritada, sacudi a minha mão.
Tentei tirar a aliança, mas ela não saiu. Tentei outra
vez e novamente não consegui, foi aí que me
desesperei.
— Sai! Sai agora do meu dedooo! — rosnei, lutando
contra o anel. — Você não devia estar aqui! Você
literalmente não casou com o seu chefe! — reclamei
comigo mesma, à medida que caminhava pelo espaço,
brigando contra a aliança, mas sem sucesso.
Cansada, bufei. Inconformada, ergui a mão.
— Você vai sair daí ou eu não me chamo Emma! —
decretei, obstinada. Liguei o chuveiro, besuntei o meu
dedo de sabonete líquido e tudo o que foi tipo de óleo,
mas o maldito anel parecia estar colado na minha carne.
Quando vi que não tinha jeito, chorei de desespero
e raiva de mim mesma, até que me vi obrigada a me
conformar.
Tomei um bom banho, mas nada foi suficiente para
dissipar o estresse e a confusão que estava a minha
cabeça. O pior de tudo era estar desmemoriada, apenas
lembrei de me encontrar com Giancarlo no bar e comer
aquele brownie!
— Maldito brownie! — rosnei, me enrolei em uma
toalha e saí do banheiro. Avistei duas garrafas de uísque
vazias ao lado da cama. — Não foi apenas o brownie. —
Me assustei, caminhei até o espelho de corpo inteiro
apenas para não conseguir me reconhecer. — Acho que
depois disso vou ter que fazer terapia. — Grudei as
mãos na lateral do rosto, com medo do que eu podia
fazer ao ficar bêbada e drogada.
Peguei o celular assim que escutei os sons das
mensagens, era a Ágata avisando que todos estavam
descendo para o último almoço no hotel, em seguida se
reuniriam para fazer o checkout na recepção.
Me dei conta de que estava morrendo de fome, não
era uma fome matinal qualquer, parecia que havia
passado a semana ou o mês inteiro sem comer. A minha
barriga se retorcia, faminta, mas percebi que tinha
passado tempo demais no banheiro e precisava correr
para não perder o voo.
Arrumei as malas feito uma louca, saí do quarto
recebendo ligações e mensagens da Ágata, que
reclamava do meu atraso.
Coloquei óculos escuros para encobrir tanto a
vergonha quanto as minhas olheiras, antes de encontrar
a minha amiga e o resto do grupo na recepção.
— Nossa, que demora! — Ágata reclamou assim que
me viu.
— Desculpa amiga, eu me perdi na hora. — Olhei
rapidamente para Giancarlo, que aparentava estar
desconfortável, com a mão direita dentro do bolso,
enquanto a minha foi para trás das costas.
— Como sempre, não é? — Ágata me repreendeu,
porém, eu mal consegui me concentrar nela, estava
atordoada com o medo de alguém ver a desgraça da
aliança em meu dedo.
— Bom dia, Emma... dormiu bem? — Enzo se
aproximou, me encarando com um olhar afiado demais
para a sua idade.
— Eu? — Sorri sem humor, o coração batendo na
garganta.
— Parece que dormiu, hein — o pequeno pestinha
foi irônico, e o meio-sorriso que desenhava os seus
lábios denunciava que sabia de alguma coisa.
Mamma mia!
Giancarlo limpou a garganta, chamou a atenção do
garoto.
— Enzo, vamos indo. Encontramos vocês no
aeroporto — o homem se despediu, discreto como
sempre. Ágata foi até Filippo que terminava de fazer o
seu checkout e Tomás veio até mim, desconfiado.
— O que foi? — disparei, ansiosa.
— Nada. — Ele ergueu as sobrancelhas, curioso. —
Está tudo bem?
— Claro! — garanti. Não estava nada bem.
O infeliz me analisou com cuidado, senti as minhas
bochechas arderem.
— Por que está com a mão atrás das costas? —
perguntou.
Inferno!
— Por que a mão é minha? — fui ríspida, estava
sem paciência.
— Nossa... está estressada?
Suspirei, constatei que só devia estar pagando
todos os meus pecados. Não era possível! Tomás tinha
que encher o meu saco justo agora?
— Tomás... por favor... hoje eu não estou para
brincadeira — forcei uma voz delicada. — Então não me
enche! — rosnei, furiosa, o assustando.
— Mamma mia... acho melhor te esperar no carro —
ele recuou.
— É, vai indo — pedi, com o punho cerrado atrás
das costas, o dedo dolorido devido a dor que causei ao
tentar retirar o anel.
Tomás saiu do hotel e Filippo se aproximou de
braços dados com a Ágata.
— Você já foi mais pontual, Emma — afirmou, eu
engoli em seco.
— Acho que me empolguei em Las Vegas — menti,
descarada, mas Filippo não pareceu acreditar. Porém,
ele não insistiu e se foi com a esposa.
Após cumprir os protocolos do hotel, eu os segui.
C A P Í T U L O 1 6

Assim que aterrissamos em Milão e eu finalmente


coloquei os pés em casa, mal consegui pregar os olhos.
Gastei o meu tempo na madrugada me esforçando em
retirar aquela maldita aliança do dedo enquanto me
adoecia em pensamentos, tentando descobrir como a
minha última noite em Vegas tinha chegado àquele
ponto.
Porém, nada do que fizesse, nenhuma tentativa de
lembrar o que aconteceu depois de comer aquele
brownie, foi o bastante para me fazer constatar se havia
ou não me casado mesmo com a Emma.
Era certo de que tínhamos transado, de que aquela
pequena infeliz, de algum jeito, conseguiu arrancar o
meu celibato. Foi sob o meu consentimento, disso não
tinha dúvidas, mas era inevitável não me culpar e
martirizar pelo que tinha acontecido. Ia contra os meus
princípios, contra a promessa que havia feito a mim
mesmo após o falecimento da minha esposa.
Pela primeira vez em cinco anos, me permiti sair do
controle, mas agora, depois de tudo, não me sentia feliz
com aquilo, e algo dentro de mim afirmava que me
arrependeria para sempre.
Olhei para aquele anel uma última vez antes de
guardá-lo na gaveta do armário e seguir para o escritório
na manhã seguinte. Não consegui me concentrar no
trabalho enquanto não liguei para o hotel onde fiquei
hospedado em Las Vegas, em busca de todas as
informações possíveis.
Foi difícil manter uma imagem séria no escritório à
medida que estava destruído por dentro, nervoso, o
cérebro em branco, uma sensação terrível de
incapacidade.
A verdade é que não era do meu feitio aceitar ficar
no escuro, sem o conhecimento de cada coisa que havia
acontecido. Aquilo me corroía por dentro e me conhecia
o bastante para saber que não teria paz enquanto não
descobrisse.
Três dias foram o suficiente para os vídeos daquela
noite chegarem em meu e-mail, assim como um pequeno
relatório das informações necessárias.
Apesar de desconfiar do que encontraria naquele
material, fiquei chocado ao constatar que tudo era
verdade, bem pior do que imaginei. A noite foi longa,
mal consegui dormir outra vez, pois os vídeos não saíam
da minha cabeça. Era uma situação difícil de engolir,
inacreditável.
Assim que cheguei ao escritório, trabalhei feito um
louco, tentei desanuviar os pensamentos com o trabalho
à medida que calculava o que seria necessário fazer.
Quando o sol se pôs e a firma começou a esvaziar,
esperei a minha secretária ir embora para poder ligar pra
Emma e pedir que viesse ao meu escritório. Filippo já
tinha me dito uma vez ou outra que ela costumava sair
tarde, então era quase certeza de que ainda estava no
prédio.
Retirei a minha atenção do notebook assim que a
escutei bater na porta aberta. Apenas um olhar foi o
bastante para perceber o quanto Emma era linda, algo
que, depois da chegada de Vegas, durante esses poucos
dias de surto, eu havia me esquecido. Ela usava um
vestido midi preto, elegante, que se ajustava
perfeitamente à sua pele, destacando o seu cabelo que
parecia me enfeitiçar.
— Emma, entre. — Me levantei, fui até ela, aprontei
para os sofás.
A garota suspirou, como se estivesse tomando
coragem, antes de atender ao meu pedido e passar por
mim exalando aquele perfume de morango. Por dois
segundos, escutei os seus gemidos em minha mente,
flashes distorcidos de nós dois na cama, eu a fodendo
de quatro feito um animal.
Pisquei, engoli em seco. Arrastei a mão na barba
logo depois de fechar a porta, impressionado com a
forma repentina com a qual fui golpeado por aquela
memória, embora tenha sido rápido.
Emma se virou para mim, ela estava com mãos
cruzadas a frente do corpo, apertava os próprios dedos,
nitidamente nervosa.
— Então, você descobriu alguma coisa? — disparou,
ansiosa, provando que estava todos esses dias
aguardando uma atitude da minha parte.
— Sim, descobri, mas sente-se — pedi. Apontei
para o sofá novamente.
— Não, obrigada. Eu prefiro ficar de pé.
Peguei o notebook e fui até ela.
— Emma, é melhor você sentar — avisei, a
encarando bem sério, algo que pareceu ter lhe dado
medo.
Ela seguiu o meu conselho, sentei ao seu lado.
Coloquei o notebook sobre a mesinha de centro.
— Eu paguei para que o hotel enviasse todas as
informações possíveis do que aconteceu naquela noite.
Foi um pouco burocrático, eles não queriam liberar as
imagens das câmeras de segurança, mas acabei
conseguindo — afirmei, percebendo o quanto Emma
estava tensa. — Vou te mostrar os vídeos primeiro,
depois conversamos. Acho que assim será mais fácil de
você processar.
Ela assentiu, notei os seus punhos cerrados sobre
as coxas. Mexi no mouse do notebook e abri o vídeo
compilado que me enviaram.
Na primeira imagem, nós dois aparecemos no bar do
clube onde nos encontramos naquela noite. Não tinha
áudio, então assistimos apenas os acontecimentos. O
tempo em que conversamos, o momento em que
comemos o brownie. Até ali tudo bem, pior foi quando
partimos para a pista de dança.
— Dio Santo! — Emma cobriu o rosto por um
instante, ficou vermelha rapidamente quando se viu
descer até o chão bem na minha frente, logo depois nos
esfregamos e nos beijamos feito dois cães no cio.
Confesso que estava sendo desconfortável ver tudo
aquilo ao lado dela, mas precisava lhe mostrar, não
tinha jeito. Se estivesse em seu lugar, gostaria de saber
dos mínimos detalhes.
Nos minutos seguintes, fomos para a sua suíte,
quase transamos pelo caminho, era como se
estivéssemos possuídos por espíritos sexuais, já que
não conseguíamos nos desgrudar. Ficamos lá por um
bom tempo, depois o vídeo pulou para o momento em
que saímos do quarto, duas horas depois de termos
entrado. O horário ficou evidente pela diferença do
relógio exposto na imagem.
Estávamos mais loucos do que quando tínhamos
chegado, eu agarrava Emma com um braço e usava a
mão livre para segurar uma garrafa de uísque que
compartilhávamos.
— Mamma mia... o que aconteceu com a gente? —
Chocada, Emma continuou vermelha feito um tomate. Ela
me olhou em busca de respostas.
— Drogas e álcool — a respondi, com um olhar
preocupado, voltando a encarar a tela do monitor que
pulou para a imagem seguinte, quando fomos abordados
por funcionários de uma das capelas do hotel.
— Ah não, eu não acredito! — Boquiaberta, a
mulher ficou paralisada, a ponto de entrar em colapso.
— Calma — pedi, prevendo que ela iria enlouquecer
nos próximos minutos.
Era uma sensação terrível, a de ter saído do próprio
corpo e mente por uma noite para depois não se
reconhecer.
Entramos na capela, secamos a garrafa, colocaram
véu e grinalda em Emma após assinarmos os
documentos. Nos casamos enquanto o cover do Elvis
cantava. A cerimônia foi uma bagunça, muita gritaria e
comemoração, parecíamos dois adolescentes rindo à toa
após ficarmos chapados. A questão é que ali dentro, as
câmeras captaram o nosso áudio:
— Simmm!! — berrei, depois de ouvir a pergunta do
cerimonialista. — Eu caso com essa mulher!! Caralho,
nunca quis tanto tê-la como esposa! — Gargalhei, feliz
da vida.
— Simmm!! — Emma também gritou, contente,
dando pulinhos. — Eu aceito!! Ele é meu marido agora!
Meu maridoooo!
A segurei pela cintura e a rodei depois de estarmos
casados, feito um casal daquelas novelas bregas e
toscas.
— Chupa Nicooooo! — Emma berrou, olhando para
a câmera que um dos assistentes usou para registrar o
nosso momento. Ela mostrou o anelar com a aliança que
eu havia colocado. — Agora estou casada com um
homem de verdadeee! — comemorou, antes de voltar a
me beijar.
Minha mão foi para a sua bunda, a peguei no colo.
Elvis começou a cantar o clássico Jailhouse Rock e
começamos a requebrar como se não tivéssemos mais
ossos no corpo.
Não demorou muito, nos desequilibramos, fomos ao
chão, mas levantamos como se nada tivesse acontecido,
gargalhando e dançando dentro da pequena capela ao
lado das testemunhas que nos arrumaram. Agíamos
como se fôssemos donos do mundo. Como se tudo fosse
um mar de flores.
Entretanto, o pior momento de todos, aconteceu
quando Emma retirou o meu cinto para bater na minha
bunda à medida que eu rebolava como se estivesse
montado em um touro.
— Vai, gostoso! Mostra do que essa bunda é capaz,
delícia! — ela gritou, empolgada, acertando o meu rabo
feito o diabo de uma sádica.
Limpei a garganta, incomodado.
— Já chega. — Fechei o notebook, envergonhado,
senti que estava tão vermelho quanto ela.
Emma afundou o rosto nas mãos, abismada. Por
alguns minutos não soubemos o que dizer, já que mal
tínhamos coragem de nos olharmos cara a cara. Me
levantei e fui atrás de uma água, aproveitei para servi-la
também. Ela bebeu um copo e pediu outro, como se
nada fosse o suficiente para matar a sua sede.
Por fim, Emma se levantou, começou a caminhar de
um lado a outro do espaço, nervosa.
— Olha, esse casamento não pode ter sido legal! —
argumentou, com o olhar vago à medida que procurava
desesperadamente por uma solução. — Ninguém se casa
em uma noite assim, gente! Isso não pode ser válido
perante a justiça! Foi apenas um surto coletivo, não é
possível! — falava como se fosse um absurdo.
— Na cidade que é a capital mundial dos
casamentos e que emite uma média de setenta e cinco
mil licenças de matrimônio por ano, sim, Emma, é
possível — garanti, a assustando.
— Giancarlo, por favor, você é advogado! —
implorou.
— Por isso estou lhe afirmando, o casamento foi
realizado dentro da Lei. A capela em que casamos é
uma das várias de Vegas que tem funcionamento vinte e
quatro horas e casa as pessoas de forma rápida —
expliquei ao me aproximar dela, notando que a garota
não conseguia parar de se mover, aturdida.
— Mas podemos alegar incapacidade! Podemos até
mesmo processar o hotel por submeter os seus
hóspedes a esse risco! Estávamos bêbados e drogados!
— Não fizeram nada sem o nosso consentimento,
Emma. — A segurei de maneira delicada pelos braços.
Emma jamais iria saber, mas eu estava encantado com a
sua preocupação e com o tamanho do seu caráter ao
provar que queria resolver as coisas o mais rápido
possível. — No entanto, já estudei o caso e tenho uma
solução, fique tranquila.
— E qual é? — perguntou, com medo, uma
expressão tão frágil em seu rosto que me deixou
alucinado por dentro, acelerou meus batimentos
cardíacos.
— Estamos casados sob a lei americana, mas não
aqui na Itália. Para o casamento valer em nosso país,
precisaríamos registrar a certidão apostilada em um
cartório — expliquei devagar, fazendo com que ela
voltasse a respirar direito.
— Ah... claro — Emma raciocinou sobre o assunto.
Quando notei que estava mais calma, a soltei e
recuei, não podia manter tanta proximidade, seu perfume
gostoso me embriagava.
— Então, quando a certidão nos for enviada, tudo o
que precisamos fazer é entrarmos com um pedido para a
anulação do casamento — continuei, me encostei à
mesa.
— E quanto tempo isso vai levar? — Emma cruzou
os braços, pensativa, seus lindos olhos verdes tomados
por uma fina camada líquida.
— Dez dias úteis. É o menor prazo que eles dão,
mas vou tentar negociar um menor com o ministro do
nosso casamento.
— Nosso casamento — repetiu, desanimada.
Ela me encarou como se estivesse vivendo um
pesadelo. Lágrimas mancharam a sua face quando arfou,
antes de voltar ao sofá no instante em que pareceu
perder as forças.
— Emma... — Preocupado, me aproximei, sentei-me
ao seu lado e segurei a sua mão, momento em que vi o
curativo adesivo que ela tinha colocado em seu dedo
para esconder a aliança. — Você ainda está usando. —
Pensei em voz alta, sem entender.
— Ah, ainda não consegui tirar essa merda! — Ela
soluçou, em meio ao pranto. — E o meu dedo está
inchado, acho que vou ter que ir ao hospital — declarou,
decepcionada com aquela situação. — Estou tão
frustrada com tudo isso, Giancarlo, você não faz ideia!
— confessou, enxugando as lágrimas.
— Faço — garanti, a olhei complacente.
— Não, não faz — ela insistiu. — Antes dessa
viagem, eu estava noiva e apaixonada. — Choramingou,
machucada. — Sempre tive o sonho de me casar, de
formar uma família e agora... com aquela ideia maluca
de curtir uma noite de loucura em Vegas, esquecer dos
problemas... olha o que deu — lamentou, arrasada. —
Me casei com um cara que mal conheço. Desculpa,
mas... — Assenti, permitindo que tomasse fôlego e
continuasse. — Além de tudo, a gente dormiu junto.
Você deve estar achando coisas terríveis de mim, mas
juro que nunca fiz isso...
— Emma. — A segurei pelo queixo, obrigando-a a
me olhar nos olhos. — Essa situação também não está
sendo fácil pra mim, mas não estou pensando nada
errado de você, muito pelo contrário. O que fizemos foi
uma escolha nossa. Se não tivéssemos casado ou
esquecido de tudo, talvez não sentíssemos tanta culpa,
mas vamos resolver. Vai ficar tudo bem — falei tanto
para mim quanto para ela, porém, não a convenci.
Emma sugou ar pelo nariz, tentou se recompor.
— Eu vi a forma como você me olhou no dia
seguinte, Giancarlo. Sei que não foi bom para você, que
se arrependeu. — Ouvi-la fez com que eu parasse de
tocá-la e desviasse o olhar, porque era verdade. — Acho
que foi isso que me pegou desprevenida, sabe. Me senti
muito mal, aquela imagem não saiu da minha cabeça, e
tudo pareceu mais um erro de tantos que vêm
acontecendo em minha vida.
Emma enxugou as lágrimas. Por um instante, não
soube o que dizer. No entanto, pensei a respeito, decidi
que precisava deixar tudo muito claro:
— Emma, eu quis ficar com você. Disso lembro
muito bem, foi uma decisão minha — afirmei, convicto,
ela ficou impressionada, paralisada, como se
esquecesse de respirar enquanto me ouvia. — Assumi o
risco. Fiquei desesperado quando acordei, confesso,
mas não posso culpá-la por algo que senti vontade de
fazer. Então não se culpe — pedi.
Segurei a sua mão novamente, retirei o curativo e
acariciei a sua aliança.
— Agora deixe-me ajudá-la a se livrar disso.
A olhei uma última vez, antes de ir atrás de um
pouco de gelo.
C A P Í T U L O 1 7

Apesar de estar abalada, ficar com o Giancarlo me


acalmava. Não era algo fácil de explicar, ele tinha o
poder de fazer com que os últimos acontecimentos não
parecessem tão ruins assim. O pior era que eu sabia que
também estava abalado, mas na minha frente sempre se
mantinha forte, impenetrável, embora ainda conseguisse
ser um cavalheiro.
Durante o tempo em que colocou os meus dedos
dentro de um copo com gelo, imaginei se Giancarlo era
apenas um homem misterioso absolutamente controlado,
ou se havia trancado o seu coração em uma pedra de
gelo, apaixonado pela esposa que ainda se mantinha
viva em seus sentimentos.
Pensei que nunca teria nada com ele além de uma
noite de sexo que mal conseguia lembrar, apesar de a
minha memória ter dado uma refrescada após assistir
todos aqueles vídeos malditos.
Quieta, o contemplei molhar bastante a minha
aliança, percebi a veia grossa em seu pescoço à medida
que fui invadida por sua colônia amadeirada. Tive um
lapso de memória, Giancarlo me fodendo enquanto me
segurava firme pelo pescoço, implacável... poderoso.
Pisquei ao sair daquela lembrança, pressionei as
coxas uma na outra quando senti a minha boceta reagir
com força, molhar a calcinha.
Experiente como era, Giancarlo ergueu o rosto
devagar ao notar que algo estava acontecendo, a
maneira como me comportei. Era como se sentisse o
cheiro da minha excitação, captasse a violência com que
fazia o meu corpo esquentar.
Desviei o olhar ao mesmo tempo em que as minhas
bochechas arderam, quando entendi que, apesar de toda
a loucura que estava acontecendo, meu corpo me traía
quando afirmava ser capaz de se entregar a ele outra
vez.
Irresistível.
Essa era uma palavra que o definia bem.
— Pronto, desinchou um pouco. Agora é a hora da
verdade. — Giancarlo retirou a minha mão do copo
gelado.
Olhei pela fachada de vidro, temendo sermos
flagrados por algum funcionário que ainda pudesse estar
circulando ali fora, porém, lembrei que estávamos na
cobertura e aqui o movimento era bem menor que nos
andares abaixo, principalmente depois que o expediente
encerrava.
— Acho que vai doer — grunhi, temendo que o meu
dedo ficasse ainda mais machucado.
— Não vai, não. Eu prometo. — Giancarlo me
encarou, profundo e calmo, de uma maneira que me fez
ter a certeza de que podia confiar nele. Chegava a ser
assustador o poder que aquele homem conseguia ter
sobre mim, o pior era que nem parecia ser intencional.
Prendi a respiração quando ele começou a girar o
anel, sem pressa, cheio de habilidade. Fechei os olhos
ao sentir começar a doer, e quando fiz menção em
reclamar, escutei a sua voz:
— Pronto. — Ergui as pálpebras, Giancarlo já tinha
acabado.
— Ah! — Sorri, observei o meu anelar livre da
aliança. — Nossa, foi rápido! — Fiquei impressionada. —
Como conseguiu? — Estreitei as sobrancelhas, curiosa.
— Ficaria impressionada com o que sei fazer com
essas mãos. — Ele não foi nada modesto.
— Ah, eu sei, ainda tenho algumas impressões
digitais... — Sobressaltada, tapei a boca quando me dei
conta do que havia falado. Esse diálogo foi de zero a
cem muito rápido!
Giancarlo sorriu, orgulhoso. Mamma mia, precisava
me afastar dele!
— Acho que agora já posso ir! — Me levantei,
desconcertada. Giancarlo limpou a garganta e fez o
mesmo. — Quando a certidão de casamento chegar,
você me avisa. Até lá, peço que mantenhamos isso em
segredo, por favor — pedi, unindo as mãos. — Não
quero imaginar as piadas que sofreria se o Filippo
soubesse, fora o constrangimento.
— E eu não sei? — Giancarlo ergueu uma
sobrancelha. — Devemos manter segredo absoluto. E
depois do divórcio, fingiremos que nada aconteceu.
Engoli em seco, algo dentro de mim se retorceu de
uma maneira ruim, gélida.
— Exatamente! — Forcei um sorriso. Seria melhor
para nós dois, não queria sentir nada por ele. Não iria.
— Só uma dúvida, o Enzo sabe de alguma coisa? —
disparei, logo depois de levar algumas mechas de cabelo
para trás das orelhas.
Giancarlo fez um semblante que não me agradou.
— Eu desconfio que sim — confessou, me devolveu
o anel. — Não que tenha visto algo, mas o meu filho é
muito inteligente. Tenho dificuldade de enganá-lo.
— Mas você vai conseguir, não vai? — fiquei
preocupada. — Você precisa.
— Claro que sim. E o Tomás?
Fui pega de surpresa, mas resolvi não me fingir de
boba.
— Ele e o Enzo devem ter conversado. Os dois
agiram da mesma forma comigo, desconfiados. — Cruzei
os braços, lembrando de ambos. — Mas, se mantermos
distância, qualquer ideia que passe pela cabeça deles
vai se acabar. — Esperava que sim.
— Tem razão — Giancarlo concordou, guardou as
mãos dentro dos bolsos enquanto raciocinava. De
repente, ele me encarou, como se tivesse lembrado de
algo. — Você não pode contar nada a Ágata — decretou,
sério.
— Óbvio que não! Tá maluco? — A verdade era que
eu estava morrendo de vontade de contar, não me
aguentava mais. Precisava desabafar e a minha única
amiga era ela. — Juro que não vou falar nada —
prometi, incerta daquilo.
Respirei fundo, fui até a porta.
— Obrigada por tudo. — Acenei para Giancarlo. Ele
assentiu. Essa foi a nossa despedida.

Uma semana após a minha reunião com o Giancarlo,


foi o bastante para entender que a minha vida não seria
mais a mesma após ter casado e dormido com ele.
Aos poucos, a minha memória estava voltando,
distorcida ainda, mas ajudava. Lembrava de uma coisa
ou outra, principalmente do tempo em que ficamos na
cama, o que me deixava necessitada. Fazia com que
aquele homem não saísse dos meus pensamentos, fora a
sua gentileza, a maneira delicada e respeitosa como
havia me tratado após todo o trauma.
Eu suspirava pelos cantos, encantada, e estava
exatamente assim quando fui pega de surpresa com a
chegada repentina do Enzo.
— Oi, anjo! — Ele se encostou à minha mesa, após
entrar no meu cubículo de trabalho.
— Enzo?! — Me assustei, saí dos meus devaneios
para lhe dar atenção. — O que está fazendo aqui? —
Olhei ao redor, ninguém o acompanhava, ele usava o
uniforme escolar.
— A Ágata me pegou na escola, ela veio visitar o tio
Filippo e eu vim te ver. — Sorriu, lindo e fofo como
apenas ele conseguia ser.
— Aaah, não acredito! — O abracei, ainda sentada
em minha cadeira. — Você é mesmo um anjo, sabia? —
Acariciei o seu belo rosto, meu coração quase derreteu
com todo aquele carinho. — E cadê a sua irmã? —
Observei através da fachada de vidro da sala do Filippo,
ele continuava trabalhando sozinho, muito concentrado
no que lia na tela do notebook.
— Primeiro ela foi ver o papai — Enzo explicou, se
afastando um pouco, com um rosto que denunciava que
queria me dizer algo.
— Quer conversar a sós comigo? — Ergui uma
sobrancelha, adivinhando o seu pensamento.
— Aham — ele confirmou, segurando o sorriso.
— Então diga. — Juntei as mãos sobre o colo.
— Sabe o que é, anjo, quero te fazer uma proposta
irrecusável.
— Ah, uma proposta?
— Sim.
— E qual seria? — Deixei que falasse.
— Que tal você se tornar a nova esposa do meu
pai? — disparou, obrigando-me a esbugalhar os olhos.
— Quê? — Demorei a processar o que ele tinha
dito.
— Eu estava procurando uma esposa para ele,
alguém que pudesse ser a minha mãe, acho que você
tem todos os requisitos. Você é um anjo, não é? —
Sorriu outra vez, parecia acreditar muito naquilo.
— Enzo... olha, não sei o que dizer. — Fiquei sem
palavras, se ele imaginasse que o seu desejo já estava
realizado. — Me sinto lisonjeada pelo convite, mas...
— Que convite? — Ágata se aproximou, surgindo do
nada.
— Estou convidando a Emma para ser a nova
esposa do nosso pai. O que você acha, feiosa? — Enzo
disparou para ela, mal me dando chances de revidar.
— Não... — Sorri, nervosa. — Enzo, o que é isso?
— Forcei uma gargalhada, tentei fazer parecer uma
piada. Neguei com o rosto para a Ágata. — Coisa de
criança!
— De onde você tirou isso, feioso? — Ela colocou
as mãos na cintura, estreitou as sobrancelhas, o
encarando como se a sua ideia fosse algo impossível de
se realizar. — Não faz o menor sentido! — Negou com a
cabeça, sem levar a sério.
Aquilo serviu de alerta, Ágata não iria gostar nada
de saber o que aconteceu entre mim e seu pai.
Abri a minha garrafa térmica, tentei beber um pouco
de água à medida que encarava o garoto com um olhar
repreensivo.
— Você não viu o jeito que eles...? — Cuspi a água
para fora ao escutar o menino. Comecei a tossir de
propósito, fingi passar mal.
— Emma, você está bem? — Ágata me acudiu,
preocupada.
— Estou bem... estou bem! — repeti, tossindo várias
vezes, bati no peito, nervosa, enquanto implorava em
meu olhar para que Enzo ficasse calado. Ele captou a
mensagem, pareceu entender que falar o que sabia à
sua irmã não seria uma boa ideia.
Ágata me analisou, antes de dispensar o seu irmão:
— Enzo, vai ver o Filippo. Diga a ele que vou
conversar com a Emma e depois apareço — ordenou,
Enzo a obedeceu.
Dez minutos depois, estávamos no refeitório da
firma, ocupando uma mesa pequena após pedirmos um
suco de cereja com gelo, o preferido dela.
— E então, o que você queria me contar? — Ágata
perguntou, em seguida usou o canudo para sugar o
líquido do seu copo.
— Eu? Quando? — me fingi de boba.
— Ah, Emma, desde que voltamos de Vegas que
você quer me contar alguma coisa, eu sei. Chegou até a
me mandar mensagem, mas não tivemos tempo de nos
sentar. Estou curiosa. Fala. — Ela sorriu, ansiosa.
— Nada. Não era nada, nem me lembro. — Fiz um
movimento com a mão, tratando o assunto como
irrelevante.
Contudo, Ágata me conhecia o bastante para saber
que eu estava mentido.
— Meu Deus, parece que é sério. Fala logo! —
exigiu, mais curiosa ainda.
Mordi o lábio, depois da sua reação ao ouvir o Enzo,
sabia que não podia me atrever a abrir a boca. Mas, a
Ágata continuava sendo a minha amiga, costumava me
dar bons conselhos, e além de tudo era mulher, saberia
me compreender mesmo que não tivesse conhecimento
de todos os detalhes.
Todavia, como contar a ela sem contar?
— Era só que... eu fiquei com um cara... em Las
Vegas — falei com cautela, a minha voz saiu quase em
um sussurro. Pessoas circulavam à nossa volta, não era
uma opção que a nossa conversa fosse escutada.
— Nossa! Sério? Fala mais! Quem foi? — Ágata
ficou empolgada.
— O conheci na última noite, não lembro mais o seu
nome. Tivemos a péssima ideia de comer um maldito
brownie batizado, e como se isso fosse pouco, ainda
enchemos a cara. Fizemos tudo o que não devíamos
fazer, se é que me entende — à medida que falava, roía
as unhas, meu coração batia acelerado.
— Chocada! — Ágata não conseguia acreditar, mas
era óbvio que estava gostando de saber da minha
aventura. — Gente, você chutou o balde! Que bom!
— Não amiga, não foi bom — neguei, tensa.
— Por quê? Ele não deu conta do recado?
— Deu! Com certeza ele deu. — Sorri ao lembrar,
depois voltei a ficar séria.
— Descobriu que ele era casado?
— Não! — Fiquei horrorizada com essa hipótese, se
bem que, Giancarlo se comportava como se ainda
tivesse compromisso. — É só que... aconteceu tanta
coisa depois, muitas ainda não consigo lembrar.
Ágata me estudou com mais cuidado.
— E por que está tão nervosa? — Não conseguia
entender. — Não vai me dizer que não se protegeu! —
Ficou boquiaberta.
— Me protegi, claro! — garanti.
— Mas você disse que não se lembra de quase
nada.
— Quando a gente acordou, vi os preservativos
usados.
— E confiou apenas nisso? — a pergunta dela me
paralisou. Ficamos alguns segundos caladas, presas no
mesmo olhar. — Eu confiei no meu problema de saúde e
olha no que deu. — Apontou para a sua barriga. — E se
um dos preservativos tiver estourado? Foi o que ocorreu
comigo e com o Filippo.
— Não, mas... ele parecia ser um cara responsável.
— Lembrei do Giancarlo, apesar de, em meu íntimo, as
palavras da minha amiga terem me deixado em dúvida.
— Ué, mas com um brownie batizado e muita
bebida, quem é que vai lembrar de ser responsável? —
Senti calafrios. De repente comecei a recapitular cada
momento que vivi com o Giancarlo naquela noite, pelo
menos aqueles que recordava. — No meu caso, eu e o
Filippo estávamos muito conscientes quando tudo
aconteceu, mas... — a voz da Ágata se tornou distante,
à medida que o meu cérebro afundava em um oceano de
insegurança.
— Ágata, chega! — Bati as mãos na mesa quando
despertei daquele abismo. Encarei a minha amiga com
seriedade, mais nervosa do que quando começamos a
dialogar. — Você está me assustando — confessei, falei
com mais calma.
— Desculpa! — Ela colocou a mão sobre o peito. —
Não era essa a minha intenção. — Usou a mão livre para
alcançar a minha sobre a mesa.
Respirei fundo, aquela ideia de gravidez estava me
contaminando.
— Acho melhor voltarmos. Tenho que trabalhar.
— Nossa, Emma, calma. Também não precisa reagir
assim, eu só estava... — Ágata parou de falar, fez uma
expressão de dor ao encarar a sua barriga.
— O que foi? — Fiquei preocupada.
— Aaah! — Colocou as mãos sobre o seu abdômen
— Contrações. Contrações fortes. — Ficou assustada.
— Será que chegou a hora?
— Ainda falta alguns dias... ai! — gemeu outra vez,
me encarou como se pedisse socorro.
— Vou chamar o Filippo! — Peguei o celular da
bolsa e liguei para ele.
Algo me dizia que havia chegado a hora daqueles
bebês nascerem.
C A P Í T U L O 1 8

O nascimento dos meus netinhos veio antes da data


prevista, o que causou bastante alegria a toda minha
família. O parto tinha ocorrido bem, Ágata estava
saudável assim como os gêmeos, algo que me deixou
mais calmo quando tive permissão para vê-los. O
garotinho se chamava Davi, e a menina tinha recebido o
nome de Aurora.
Aquela homenagem aqueceu o meu coração, fiquei
emocionado quando contemplei a minha neta no berço
ao lado do seu irmão, ambos dormindo feito pequenos
anjos. Fazia uma semana desde que eles vieram ao
mundo, e ali estava eu os visitando pela milésima vez,
na cobertura em que Ágata agora morava com o seu
marido.
Olhei por sobre o ombro quando escutei alguém
entrar no quarto dos bebês, cuja metade era pintada de
rosa e a outra de azul. Todos os detalhes da
ornamentação, cada objeto infantil havia sido escolhido
a dedo, era realmente um ambiente bonito de se
contemplar.
— Veio me mandar embora? — Sorri para Filippo,
que se aproximou, guardou as mãos nos bolsos assim
que parou ao meu lado. — Sei que estou exagerando
nas visitas, mas não consigo parar de pensar nesses
dois.
— Parece um vício, não é mesmo? — Os olhos do
meu amigo brilhavam quando observava os seus filhos.
— Estou tão apaixonado por eles. Sinto um amor que
jamais achei ser capaz de sentir. — Ele me encarou,
emocionado. — É diferente de tudo.
— Eu sei, cara. Eu sei. — Dei dois tapinhas em seu
ombro, orgulhoso do homem que Filippo estava se
tornando.
— Não consigo me perdoar por tê-los rejeitado no
início — Filippo confessou. — Porque quando os vejo
assim... — Observou os bebês de novo. — Tão pequenos
e indefesos, sinto como se não pudesse viver sem eles...
meus filhos.
— Águas passadas, Filippo. E esse sentimento vai
crescer, meu amigo — afirmei, olhando para Davi e
Aurora mais uma vez, após cruzar os braços e suspirar,
encantado. — Muito além do que pode cogitar.
— Não tenho dúvidas disso. — Ele sorriu, feito um
pai babão. Ficamos algum tempo em silêncio até que
Filippo decidiu me provocar. — Você não pensa em ter
outro filho? — disparou, do nada, o encarei sem
entender. — É sério, não estou te provocando. É que me
bateu a curiosidade agora. — O infeliz sorriu.
— Ágata e Enzo já me dão trabalho o suficiente,
estou satisfeito. Grazie — o ignorei, mas o desgraçado
continuou.
— Mas também...
— Também o quê? — interroguei, irritado.
Filippo coçou a cabeça, olhou para o alto.
— Você está há tanto tempo sem fazer...
— Filippo... não me provoca — rosnei em ameaça,
cerrei os punhos, pronto para socá-lo.
— O que quero dizer é que pau morto não opera
milagre — disparou, e eu juro que quase o estrangulei,
fiz menção em socá-lo, mas ele recuou depressa, rindo
baixo, feito um maldito menino.
— Você vai me bater na frente dos seus netos? —
Fez jogo baixo, apontou para os gêmeos que se
mexeram, desconfortáveis, como se pudessem sentir que
o pai deles estava prestes a ser degolado.
— Para a sua informação, meu pau está bem vivo —
murmurei, no instante em que apertei o meio das pernas.
Filippo ficou surpreso. De início achou que era um
blefe, mas logo se deu conta de que eu estava mesmo
falando sério. Ele tinha quarenta e um anos, dois a mais
do que eu, mas, às vezes, gostava de fingir ser um
adolescente para me tirar do sério.
— Puta merda! — Tapou a boca ao se dar conta de
que havia xingado na frente dos seus filhos. — Quem é
ela? — sussurrou após tirar a mão dos lábios, curioso.
Neguei com a cabeça. Ele nunca iria saber.
— Nossa, eu preciso conhecer essa santa
imaculada! Preciso agradecer... — Bufei. Fiz ameaça em
acertá-lo com um murro de novo antes de deixá-lo
sozinho no quarto.

Quando recebi o e-mail com os documentos que


comprovavam o meu casamento com a Emma, não
esperava ter aquela sensação ruim, algo inexplicável,
um frio na barriga misturado a um súbito desejo de
deixar para assinar os papéis em um outro momento.
Talvez amanhã ou depois.
Com esse pensamento, fui para casa, mas demorei
a pegar no sono. Rolei naquela cama imensa com um
vazio incomum me corroendo por dentro, ao mesmo
tempo em que as memórias da noite que tive com a
Emma me atingiam de uma maneira incontrolável.
Os seus gemidos se tornavam mais altos,
aprisionavam os meus ouvidos. Era como se eu a
estivesse fodendo outra vez, como se pudesse sentir o
gosto delicioso da sua boca na minha, da sua boceta
engolindo o meu pau com violência.
Fora isso, recordei da sua reação quando lhe
mostrei aqueles vídeos, do seu olhar frágil e assustado,
da maneira responsável como queria resolver as coisas,
do perfume maldito que, enquanto eu continuava rolando
sobre a cama, parecia dominar os meus sentidos,
confundir o meu sistema nervoso como se ainda
estivesse ali perto.
Perturbado, me levantei. Caminhei pelo quarto de
pau duro, mas o ignorei à medida que arrastava a mão
no cabelo.
Inferno!
Tudo o que vinha à minha mente eram imagens fora
de contexto, flashes distorcidos, tanto dos momentos
quentes quanto dos vergonhosos, mas no fim o resultado
era o mesmo: como se quisesse manter Emma por perto.
Não especificamente para o sexo, mas para poder sentir
que não a perderia, mesmo sabendo que ela não me
pertencia.
Algo fora do normal.
Alguns dias se passaram, me mantive quieto quanto
a dar entrada na anulação do casamento. Precisava
chamar a Emma para assinar os papéis, mas algo me
impedia. O prazo de dez dias úteis tinha se extinguido,
no entanto, parecia que aquilo não me importava.
Não era como se quisesse continuar legalmente
casado com ela, mas também ainda não tinha
encontrado a melhor maneira de me desligar totalmente
daquela mulher.
Emma não havia me procurado após a extinção do
prazo e aquilo ficou martelando na minha mente. Ela
também estava me evitando? Ou, talvez, apenas
aguardasse a minha atitude de fazer algo a respeito
dessa atração que nos mantinha ligados?
Como se escutasse os meus pensamentos,
encontrei a pequena ruiva sozinha no elevador após
voltar mais tarde do almoço. Quando as portas duplas se
abriram e os nossos olhares colidiram, tive a certeza de
que o que havia acontecido em Vegas ainda não tinha
terminado, para nenhum de nós.
— Emma. — Sorri, ao entrar na caixa metálica.
— Oi! — Ela também sorriu, e em seus olhos
enxerguei expectativas misturadas ao medo, as mesmas
emoções que me corrompiam.
— Como está? Faz alguns dias que não nos vemos
— puxei conversa, logo depois de apertar o botão que
me levaria à cobertura.
— Pois é, eu estive atolada de trabalho. Filippo
quase não está mais pisando no escritório depois do
nascimento dos gêmeos.
— Sim, a minha vida aqui na firma também anda
uma loucura, e com a ausência do Filippo, tive que
redistribuir alguns clientes importantes dele para outros
sócios, fora a resolução de outros casos — afirmei,
enquanto as portas se fechavam.
— Eu vi o grupo da Samsung chegando para falar
com você outro dia.
— Sim, eles queriam processar uma marca aqui na
Itália, que imitou o último lançamento deles e lançou no
mercado.
— Nossa! — Emma pareceu chocada, pouco depois
o elevador parou, tínhamos chegado ao seu andar. —
Então, eu já vou indo. — Ela sorriu outra vez e acenou
para mim assim que as portas se abriram.
Cheguei a fazer menção em falar algo sobre o que
tínhamos combinado, mas a minha voz falhou. Emma
parou de caminhar, apenas para me encarar outra vez,
como se se sentisse culpada.
— Giancarlo.
— Oi. — Segurei uma das portas para impedir que o
elevador se fechasse.
Emma olhou ao redor, temendo ser ouvida.
— E a anulação? — sussurrou, chegando mais
perto. — Fiquei de receber o seu aviso, lembra? Acho
que já extrapolamos aquele prazo.
— Ah, sim! — me fingi de bobo. — Nossa, como
pude esquecer? — Tentei passar verdade, quando a
realidade era que, naquele momento, estava sendo bem
descarado. — Está tudo pronto, precisamos apenas
assinar. Será que pode ir ao meu escritório no final do
expediente?
— Tá bom — ela assentiu, forçou um sorriso.
— Certo. — Soltei as portas.
Olhei uma última vez para Emma antes do elevador
se fechar, apenas para ficar mal-humorado, sem nem
entender o motivo.
Ao retornar para o meu escritório, não tive paz.
Caminhei de um lado a outro após imprimir a petição que
havia feito. Imprimi também a licença e a certidão de
casamento. Fiquei observando todos os documentos
como se estivesse em busca de algum erro que pudesse
justificar algum atraso, mas sabia que estava tudo
correto.
— A quem estou querendo enganar? — murmurei a
mim mesmo, sentando-me sobre o sofá quando percebi
que precisava enfrentar os meus demônios para fazer
algo.
Participei de algumas reuniões antes dos
funcionários começarem a ir embora. Quando todos os
departamentos daquele andar ficaram vazios, liguei para
a Emma. Ela era curiosa, quis ler tudo, inclusive a
petição que eu havia redigido com facilidade.
— Então, está aprovado? — brinquei, sentado na
poltrona à sua frente, Emma estava no sofá, com os
papéis em mãos.
— Muito bom, você é ótimo mesmo — falou como
se, apenas agora, tivesse a certeza.
— Como assim, “mesmo”? — tive de perguntar.
— Ah, desculpa, é que... desde que trabalho aqui
ainda não tinha visto você atuando, sabe. O poderoso
Sócio-Gestor da firma Giancarlo-Ruggiero, para mim,
sempre foi muito distante, inalcançável. Sempre o vi
como líder e não como...
— Advogado — completei, tentei disfarçar que havia
ficado desconfortável com o rumo que a nossa conversa
estava tomando, mas ela notou alguma coisa.
— Sim. — Estreitou as sobrancelhas, como se
quisesse entender o que estava me incomodando.
— Bem, o que posso dizer? Esse é o meu serviço,
mandar que outros façam o “trabalho sujo” por mim. —
Fiz aspas com os dedos, forcei um sorriso, busquei
desviar o assunto, não queria que ela descobrisse mais
uma camada das minhas feridas.
— Mas você não sente falta dos tribunais? — Emma
me encarou com profundidade e expectativas. — Sei lá...
de sentir aquela emoção no sangue.
— Na verdade, não. — Lembrei daquele tempo, de
como sentia amor pela minha profissão, algo que
pareceu se perder quando Aurora partiu. — Já passei
dessa fase. — Neguei com a cabeça. — Estou bem onde
estou — garanti, apesar de, no fundo, não estar
totalmente certo disso. — Tanto que consegui um
advogado de confiança para cuidar da nossa separação
— falei, de bom humor, embora soubesse que, no nosso
caso, se tratava de anulação mesmo, que era diferente
do divórcio.
Emma entendeu a minha piada, no entanto, não
ficou contente, apenas desenhou um meio-sorriso no
canto da boca que aparentava ser forçado. Ela recebeu
a procuração que lhe entreguei e assinou. Depois fiz o
mesmo.
Foi a primeira vez que tive dificuldade em escrever
meu próprio nome. Aquilo era o certo a se fazer, mas
não necessariamente precisava ser o fim.
— Tudo certo? — Emma esfregou as mãos nas
coxas como se elas estivessem suadas, logo após largar
a sua caneta.
— Sim, amanhã mesmo daremos entrada no pedido.
Será tudo sigiloso, não teremos com o que nos
preocupar — garanti.
— Tudo bem. — A linda ruiva se levantou. Naquele
momento percebi que, sempre que a olhava, parecia a
primeira vez.
Ela assentiu e aos poucos foi se afastando até a
porta sem dizer nada, em silêncio e de cabeça baixa,
como se tudo estivesse errado. Meu corpo inteiro foi
atacado pela ansiedade, algo inexplorado, sentimentos
controversos. Não podia deixá-la ir, não permitiria!
— Emma! — a chamei assim que fiquei de pé. Ela
parou de andar e se virou para mim. Saí da sala e me
aproximei. Umedeci os lábios, coloquei as mãos nos
bolsos antes de fazer o convite: — Seria demais se eu te
convidasse para sair comigo? Neste sábado, talvez.
Sua expressão se transformou, e o sorriso feliz que
se formou em sua boca me seduziu, confirmou que eu
ganharia um sim.
— Se não tiver brownie batizado dessa vez — ela
brincou, obrigando-me a rir.
— Não. — Neguei com a cabeça. Então a encarei de
modo profundo, cheio de vontade. — Dessa vez será
apenas eu e você. Sóbrios — prometi, a minha voz
emanou mais rouca do que deveria, apenas para
testemunhar a garota morder o lábio inferior,
devidamente excitada.
Meu pau reagiu no automático, endureceu com
violência. Fiquei cego de desejo, dei um passo à frente,
iria agarrar Emma ali mesmo se não fosse pelos passos
que ouvimos se aproximarem. De longe, avistei um
maldito zelador aproveitando o momento em que o
departamento estava vazio para começar o seu trabalho.
Emma suspirou, engoliu em seco.
— Sábado — assentiu, antes de ir até o elevador.
Fechei os olhos com força, retornei para dentro do
meu escritório, perturbado, sem entender aquela energia
avassaladora bombeando o meu sangue, fazendo doer o
meu pau tanto quanto os ossos. Era uma necessidade
absurda, algo que me dava a certeza de que não poderia
ser controlado mesmo se eu insistisse em continuar
negando.
Não iria mais negar.
C A P Í T U L O 1 9

Assim que paguei o motorista, respirei fundo antes


de sair do automóvel chamado por aplicativo. Encarei o
restaurante à minha frente, notei que era tão discreto e
charmoso quanto o Giancarlo. E apesar de ainda não ter
frequentado aquele lugar, em uma pesquisa rápida na
internet descobri que era famoso, requisitado por gente
da alta sociedade.
Assim que fui autorizada, entrei no estabelecimento
elegante, caracterizado no melhor estilo inglês, como
aqueles clubes exclusivos com boiseries [ 1 0 ] de madeira
em suas paredes, além das mesas redondas e pequenas,
cobertas por toalhas brancas que contrastavam com as
cadeiras cor salmão.
À medida que o maître me guiava até a mesa
reservada, tive a impressão de viajar para outro século,
onde era uma dama prestes a jantar com um senhor da
elite milanesa.
Giancarlo se levantou assim que me viu, sorriu de
lábios fechados, a barba cerrada e dourada com alguns
fios grisalhos cercando o seu queixo quadrado.
Não me cansava de admirá-lo. Outra vez
experimentei daquela maravilhosa sensação de ser
engolida por seu olhar devasso, tão intenso que me
arrepiou a pele antes mesmo da minha consciência
alertar que deveria cumprimentá-lo.
— Emma. — Ele contornou a mesa e puxou a
cadeira para que eu me sentasse.
— Grazie — agradeci, encantada com tamanha
gentileza. — Lugar maravilhoso. — Sorri, observei as
outras mesas, em sua maioria ocupadas por casais.
— Acreditei que você iria gostar. — Giancarlo
cruzou as mãos sobre a mesa, logo após voltar para a
sua cadeira.
— Bom, o que posso dizer é que esse restaurante
faz o seu estilo.
— É mesmo? E qual seria? — ficou curioso.
Pensei duas vezes antes de respondê-lo:
— Bom, ainda não te conheço o suficiente, mas
notei que é discreto... charmoso... — Busquei mais
adjetivos. — Elegante.
— Parece que o meu currículo é ótimo, não é
mesmo? — brincou, nós rimos. — Eu não estava errado
lá em Vegas, quando disse que você tinha o talento de
ler as pessoas.
— Você se lembra de ter dito isso? — Arqueei as
sobrancelhas, coloquei a minha bolsa sobre o colo.
— Lembro de tudo antes do brownie. Depois dele,
as coisas ficaram distorcidas, mas aos poucos estou
recuperando a memória. — Era o mesmo que acontecia
comigo.
— E mesmo assim ainda me convidou para estar
aqui, essa noite — comentei, precisava saber o que o
motivava.
— Convidei — Giancarlo confirmou, enigmático.
Ficamos presos um ao outro, dentro daquela energia
feita de atração e fogo, até que um dos garçons se
aproximou, já com um vinho em mãos.
— Espero que não se importe, tive a liberdade de
escolher. — Giancarlo apontou para a garrafa à medida
que o garçom enchia a sua taça.
— Já disse, desde que não seja brownie... ou
uísque. — Nós gargalhamos. Era incrível como, agora,
fazíamos piada da noite mais louca de nossas vidas.
A minha taça também foi enchida, e depois do
garçom partir, experimentamos do delicioso vinho, antes
do Giancarlo continuar:
— Mas, continuando o que eu estava dizendo...
Você é uma boa companhia, Emma. Gosto de conversar
com você — confessou, aquilo acelerou os meus
batimentos cardíacos.
— Também gosto de conversar com você, Giancarlo
— soprei as palavras, em um tom mais baixo do que o
esperado.
Ele me encarou daquele jeito que me fazia sentir
uma vontade absurda de beijá-lo. No entanto, me
controlei, apenas molhei os lábios com mais um pouco
de vinho enquanto tentava me estabilizar por dentro.
Estava com aquele homem a menos de dez minutos e já
parecia demais suportar não tocá-lo.
Escolhemos o que iríamos comer, começamos pelas
entradas, e à medida que fomos servidos, continuamos
com o diálogo:
— Você é secretária do Filippo já faz um tempo —
ele comentou, entendi que estava interessado em saber
mais sobre mim.
— Três anos. Antes eu era paralegal e antes disso,
estagiária — comentei, após limpar a boca com um
guardanapo.
— Então você é formada em Direito.
— Sim, me formei com honras na Universidade de
Milão, mas não, ainda não sou advogada. — Giancarlo
estreitou as sobrancelhas, curioso. Conhecia bem aquele
olhar, não era julgador, mas sim de alguém que sabia
que era quase impossível uma pessoa se formar com
tanto mérito e ainda não estar advogando. — É que fico
muito nervosa quando tento fazer o exame da Ordem,
sabe? Começo a me tremer toda, a minha mente dá um
branco, tenho ataque de ansiedade.
Fiquei desconfortável ao confessar, pisquei algumas
vezes.
— A verdade é que descobri que não sou boa o
suficiente com testes. — Sorri, tentei esconder a minha
tristeza.
Giancarlo me analisou por mais algum tempo,
respirou fundo antes de dizer:
— Sabe, Emma, também não te conheço o bastante,
mas... pelo pouco que absorvi de você, e tendo a
consciência de que o próprio Filippo a escolheu para se
tornar a secretária dele, posso afirmar que é uma mulher
inteligente... obstinada... meiga... e que, como qualquer
outro ser humano, tem as suas feridas. — Meus olhos
arderam ao ouvi-lo, de repente foi como ter uma pedra
na garganta. — Talvez uma delas ainda esteja
sangrando, e por isso você perca o controle ao fazer o
exame.
— Ah, não faço ideia... — menti, com a voz
embargada. — Na verdade, eu faço sim. Tenho muitas
feridas e nenhuma delas ainda foi sarada. Por isso optei
por parar de fazer o exame até... — Desviei o olhar por
um instante. — Superar essa... insegurança. — Sorri
novamente, mas não existia humor entre os meus lábios.
— Todos os dias tento lidar com a sensação de ser uma
fracassada.
— O fracasso está apenas na sua cabeça. —
Giancarlo apontou para mim.
— Queria acreditar nisso tanto quanto você.
— Posso te garantir que não existe nenhuma
diferença entre nós, a não ser o fato de que o que você
chama de fracasso, eu chamo de mais uma oportunidade
para vencer. — O observei com mais atenção, gostei do
que disse. — Acha que todos os advogados que
trabalham na minha firma passaram no exame de
primeira? Acha que isso faz de você alguém pior do que
eles?
— Meu pai acha. — Lembrei do homem que havia
me virado as costas há muito tempo, desde que deixou
de acreditar na minha capacidade.
— Me desculpe, mas... — Giancarlo se apoiou no
encosto da sua cadeira. — Seu pai está enganado. No
entanto, o seu maior inimigo não é ele, não é a prova,
ou quem quer que seja. É você mesma. — Ele tocou na
sua têmpora direita, indicando que eu precisava
trabalhar o meu psicológico, o que era uma verdade.
Ficamos algum tempo em silêncio, até sermos
servidos com o prato principal. Dialogamos sobre outros
assuntos, saímos daquele clima pesado, nos divertimos.
Quando chegou a hora da sobremesa, um sorvete com
glacê maravilhoso, o clima entre a gente parecia muito
mais contente.
— Nossa, incrível. — Senti o creme derreter em
minha boca. Fechei os olhos por um momento. — É
como se o meu corpo flutuasse. — Sorri de orelha a
orelha, encarei o Giancarlo que experimentava o seu
sorvete também, à medida que me assistia como se
fosse um telespectador.
— O meu tem raspas de limão, o seu tem? —
perguntou.
— Não. — Fiquei curiosa para experimentar o dele.
— Espere um pouco. — Para a minha surpresa, ele
se levantou, contornou a mesa, colocou a sua cadeira ao
lado da minha e se sentou. Ficou tão perto que os
nossos braços se tocaram.
Sem pressa, Giancarlo encheu a sua pequena colher
com o sorvete, fez questão de levá-la até a minha boca,
dando espaço para uma possível recusa, mas eu aceitei.
E durante o tempo em que permiti que a sobremesa
derretesse em minha língua, ele me encarou como se
quisesse me comer.
— Quer experimentar do meu? — indaguei,
completamente excitada, afetada por estar tão perto
dele, meu corpo quase colado ao seu.
Giancarlo assentiu em silêncio, seu olhar se tornou
mais profundo. Tentei levar a colher até a boca dele da
mesma maneira que fez comigo, mas fui impedida.
— Não. — O homem negou com a cabeça. — Quero
experimentar na sua língua — determinou, foi quando
perdi o chão, arquejei. Minha boceta latejou.
Por instinto, observei ao redor, estávamos há um
bom tempo ali, o restaurante agora estava menos cheio,
casais conversando alegremente, alguns de maneira
íntima assim como nós dois. Giancarlo não parecia se
importar caso fôssemos vistos. Eu também não me
importaria.
Assim, fiz o que disse, arrastei a colher por minha
língua, melando-a de sorvete. O movimento foi devagar,
delicado, notei que o homem à minha frente parecia
cada vez mais faminto, algo que ficou provado quando
me segurou pela nuca, atacou os meus lábios.
O beijo começou sem pressa, intenso, e podia jurar
que estava carregado de saudade, tanto dele quanto
minha.
Era algo difícil de acreditar, ter saudade de alguém
com quem tinha dormido apenas uma vez, em uma noite
que a minha consciência se esforçava para se lembrar.
Por outro lado, o meu corpo lembrava, a minha pele foi
tomada por uma energia conhecida, de uma forma que
afirmava que apenas Giancarlo poderia causar.
A minha boca, tão sensível ao ser dominada pela
dele, foi corrompida por seu sabor masculino, algo que
já havia experimentado e que fazia uma onda de calor
me incendiar de dentro pra fora, molhar a minha
calcinha.
A cada vez que Giancarlo me tomava... à medida
que a sua mão grande me apertava a nuca, eu sentia
que pertencia a ele, que precisava entregar até mesmo a
minha alma se fosse preciso, apenas para tê-lo daquela
maneira.
Sem limites, possessivo.
E quando os seus lábios carnudos roubaram o que
restava do meu fôlego. Quando Giancarlo se afastou
apenas alguns centímetros e finalmente abriu os olhos,
detectei fogo em suas pupilas, desejo puro. Fui
surpreendida pela perversão que tomou a sua face,
mordi o lábio, fiquei necessitada.
Eu o queria! Mais do que tudo, precisava daquele
homem!
— Precisamos sair daqui... — pedi em um sussurro,
cheia de vontade. Minhas bochechas ardiam, o que me
dava a certeza de que estavam coradas.
— Andiamo — ele concordou, não pensou duas
vezes quando chamou o garçom e pagou a conta o mais
rápido possível.
Giancarlo me guiou para fora do restaurante com a
mão apoiada em minha lombar. Quando o manobrista
nos entregou o seu carro, um SUV de luxo que cabia
uma família inteira, mal ocupamos os nossos lugares e
nos atracamos de novo, aproveitamos aquele momento
de privacidade para matar um pouco daquela lascívia
desenfreada que nos invadia.
Fui engolida por ele, suas mãos pressionaram os
meus seios por cima do vestido. Ao perceber que
estávamos demorando demais, ele nos tirou daquele
lugar, pisou fundo no acelerador. O automóvel era veloz,
amplo e poderoso, todo revestido em couro branco, dava
a impressão de estarmos dentro de uma nave.
Todavia, não fomos muito longe, adentramos em um
engarrafamento. Um beco sem saída.
— Droga! — Giancarlo praguejou. Tentou enxergar
até onde ia a longa fila de carros que parecia não ter
fim. — Será que aconteceu algum acidente? — Ele então
me olhou, apenas para constatar que, apesar do ar-
condicionado ligado, eu estava queimando.
Era uma necessidade ardente. Estava tão afetada
sexualmente, que não consegui parar de roçar as coxas
uma na outra, muito menos evitar mordiscar a ponta dos
dedos.
Giancarlo umedeceu os lábios, pareceu ser
contaminado por um instinto selvagem, algo fora de
controle. Seus dedos se apertaram tanto contra o
volante que fizeram o couro ranger, no instante em que
começou a tocar uma música sensual na playlist do
veículo, era Black Sea da Natasha Blume.
— Emma... — Ele engoliu em seco, olhou para o
trânsito que aparentava não ter chances de avançar. —
Mostre os seios — ordenou, obrigando-me a respirar
forte, ficar arrepiada.
Me assustei com o fato de que, nem por um
segundo, pensei em contrariá-lo. Não fazia o tipo
aventureira, nunca fiz algo perigoso, mas com o
Giancarlo era diferente. A química que exalava entre a
gente somada à curiosidade e à expectativa do que
poderia acontecer subjugou o meu cérebro, reduziu a
minha consciência.
Sua voz atingiu os meus ouvidos de uma forma tão
primitiva, que mal consegui raciocinar direito. Sabia que
a proteção dos vidros nos ocultaria, o que fez a descida
das alças do vestido preto que eu usava parecer mais
natural, apesar de nunca ter experimentado fazer isso
em um carro, em meio a uma avenida.
De lábios entreabertos e com o coração quase
rasgando o peito, empurrei a parte superior do vestido
até a cintura, devagar, expondo os seios fartos, de bicos
endurecidos e rosados. Bastou isso para Giancarlo me
observar feito um tarado, no instante em que o veículo à
nossa frente avançou um pouco, obrigando-nos a
avançar também.
Tive um lapso de insegurança, mas antes que
pudesse me cobrir de novo, senti a mão grande dele
agarrar o meu peito, os dedos ásperos afundaram na
minha carne sensível, fizeram-me gemer.
— Aaai... — murmurei, ao arquear as costas. De
repente, o banco onde estava parecia pequeno.
Giancarlo me castigou, se alternou entre um mamilo
e outro. Deixou marcas, foi violento, se aproveitou do
jeito que pôde. O trânsito avançou, acreditei que aquela
brincadeira insana seria o suficiente, no entanto, o
infeliz ainda não estava satisfeito.
— Tire a calcinha — rosnou, assim que paramos de
novo. Ele dividia a sua atenção entre os carros à sua
frente e a putaria que estávamos fazendo. — E erga o
vestido.
— Giancarlo... — quis protestar, apesar de entender
que a minha vontade era de prosseguir, por mais loucura
que fosse.
— Sei que você quer e eu quero muito mais,
caralho! — grunhiu, exigente. — E não vou conseguir
esperar — afirmou, necessitado, agoniado. Observou o
trânsito outra vez.
— Mas... como vamos fazer? — a minha voz saiu
em gemido, a minha boceta ficou ainda mais ensopada.
— Apenas faça — ele pediu, com o olhar perigoso,
disposto a tudo. Foi o bastante para me convencer.
Ergui a saia do vestido até a cintura e, sem pressa,
arrastei a calcinha por minhas pernas, o tecido rendado
e molhado desceu por minha pele até os calcanhares.
— Abra as pernas, Emma. — Ofeguei, antes de
obedecê-lo. Os dedos dele escorregaram entre as
dobras carnudas e meladas da minha boceta, em um
movimento certeiro, preguiçoso, que me fez delirar. —
Tão molhada... — Giancarlo rosnou mais uma vez,
mordeu o lábio, acelerou o carro quando precisou
avançar de novo.
Ele decidiu castigar o meu clitóris, girou com força,
pressionou onde devia pressionar. Fiquei louca, fechei
os olhos, tive dificuldade em manter a respiração sob
controle.
Em um impulso de prazer, tentei fechar as pernas,
mas fui impedida.
— Abre, porra! — ordenou, parecia um louco, como
se houvesse assumido outra personalidade, uma que
apenas aflorava quando queria me foder. Sua gentileza
tinha ido pelo ralo, agora era bruto, dominador. — Abra
o máximo que puder — completou, em um tom mais
brando.
Segui a sua instrução, o banco estava um pouco
reclinado, o que me ajudou a deitar e ficar devidamente
exposta, esticada de um lado a outro, vulnerável de uma
maneira que nunca havia experimentado.
Giancarlo voltou a me tocar, provou que sabia bem
o que estava fazendo. Era habilidoso, subia e descia
com saliência, me fez latejar.
— Emma... por acaso você se lembra o que te disse
naquela noite? Enquanto estávamos na cama? —
perguntou, logo depois de beliscar o meu clitóris.
De soslaio, percebi que ele olhava para a frente,
sério e concentrado, ao mesmo tempo em que me
masturbava com maestria, afundava os dedos grossos
dentro da minha boceta.
— Aiii... — a minha voz saiu estremecida, tomada
pela luxúria. — Que iria me foder... todos os dias. —
Arquejei, senti os fluidos deixarem o meu corpo.
— Exatamente. E eu não vou sair daqui sem cumprir
essa promessa. — Virou o rosto em minha direção,
obstinado.
Ele intensificou a massagem entre as minhas
pernas, provou que faria de mim o que bem entendesse.
Alucinei quando senti a proximidade do meu orgasmo, à
medida que o seu toque se tornava mais violento.
Rebolei, baguncei os cabelos, mordi o lábio. Perdi o
fôlego quando acreditei que seria partida ao meio, no
momento em que finalmente esguichei, fraca, pegando
fogo. E durante o tempo em que tentei me recompor,
testemunhei Giancarlo colocar o pau grande e grosso
para fora da calça, apenas para ter a certeza de que ele
não iria parar.
C A P Í T U L O 2 0

Emma conseguia trazer à tona o pior de mim, a


parte mais suja e devassa. Não me reconhecia quando
estava perto dela, a minha mente esquecia da
moralidade, fazia o errado parecer certo. Meu corpo
mergulhava no estado mais primitivo que um homem
poderia alcançar, a ponto de me deixar doente por
aquela mulher.
Se fosse apenas isso, talvez não me surpreendesse
tanto. O fato era que não me recordava de algum dia ter
sido assim. Não com essa intensidade... essa
ferocidade.
E durante os segundos que precisei para tirar o meu
pau de dentro da calça, tive a certeza de que estava
disposto a ignorar o mundo lá fora, o trânsito no qual
estávamos, somente para comê-la dentro daquele carro.
Apenas porque podia e faria aquilo.
— Venha aqui — a chamei, com a mão.
Seduzida, Emma veio, mas não para o meu colo,
como era esperado. A infeliz me surpreendeu, mostrou
que também tinha as suas necessidades. Ela me olhou
uma última vez, carregada de desejo, antes de inclinar o
corpo seminu em minha direção e abaixar o rosto.
E quando os seus lábios inchados beijaram com
delicadeza a cabeça larga do meu pau. Quando a sua
mão pequena me agarrou o eixo grosso pela base. Não
tive outra atitude a não ser grunhir... rouco, baixinho,
afetado.
Aquilo não era bom, era divino.
A fila de veículos à nossa frente se movimentou,
tive dificuldade para pisar no acelerador ao sentir a
garota me abocanhar e deslizar os dentes por cada uma
de minhas veias. Atingi o céu da sua boca ao mesmo
tempo em que a sua língua molhada me contornou,
chupou gostoso.
Era uma sensação inigualável, perigo misturado à
adrenalina, um efeito devastador que me fez lembrar de
mais cenas da nossa noite em Las Vegas. Ainda não
recordava de tudo, mas sabia que tinha sido intenso,
tanto quanto repetíamos agora.
Assim que paramos com o carro outra vez, Emma se
empolgou, mostrou o quanto podia ser faminta. Ela
mamou com vontade, com entrega, de um jeito que
quase fiquei louco. Subiu e desceu repetidas vezes, me
masturbou no processo, até que agarrei um punhado do
seu cabelo quando decidi tomar o controle.
Apoiei os pés no piso, movimentei o quadril para
cima. Fodi a sua boca de princesa com dificuldade,
Emma mal conseguia me engolir.
Em um momento, ela ergueu o rosto vermelho em
uma busca desesperada por fôlego, tossia à medida que
a saliva grossa escorria por seu queixo. Porém, fui cruel,
a puxei de volta, ansioso para senti-la me engolir de
novo, à medida que eu afundava em sua garganta
apertada, até onde a sua anatomia podia aguentar.
A mantive ali, cativa, com metade do meu pau
enfiado em sua boca, impossibilitando quase totalmente
a sua respiração. Os dedos firmes, estavam agarrados
aos fios cheirosos do seu cabelo. A sua saliva, descia
por todo o meu comprimento, gotejava, molhava o meu
saco inchado.
O carro ser automático ajudava bastante, fazia com
que o meu esforço em ter que me dividir entre o trânsito
e a garota, fosse menor.
Não estava nos planos cometer aquela insanidade
naquela situação, mas não iria conseguir resistir até
chegarmos em um hotel. Não quando continuávamos
presos naquele engarrafamento que ainda não dava
indícios de ter um fim.
Apenas quando Emma regurgitou, permiti que se
afastasse, engasgada, os olhos molhados. Em busca de
uma melhor posição para continuar me chupando, ela
ficou de joelhos sobre o seu banco quando a puxei de
volta, momento em que a sua bunda nua ficou empinada.
Bastou aquilo para o calor dentro do veículo se
proliferar, fui tomado por uma dose ainda maior de
virilidade, principalmente quando acertei um tapa em seu
rabo, antes de descer entre as suas nádegas para enfiar
apenas a ponta do dedo anelar em seu cu apertado.
— Hmff... — o gemido de Emma saiu abafado. Ela
rebolou, pega de surpresa, em uma tentativa de evitar
meu contato, mas continuei, me utilizando de toda a
minha habilidade.
Não forcei tanto a penetração, calculei que o seu
traseiro devia ser virgem, algo que me deixou com água
na boca, fez pensar insanidades. Ela se excitou, rebolou
outras vezes, lentamente, como se estivesse
conhecendo o sabor daquela nova experiência. Ao
mesmo tempo, me lambeu de cima a baixo, brincou na
fenda da minha glande até o momento em que não
consegui mais resistir.
Reclinei o banco e puxei a garota para o meu colo,
com força, possessivo. Emma ficou entre mim e o
volante, nossas bocas se apossaram uma da outra
enquanto ela se sentava com dificuldade sobre o meu
pau que, naquele momento, parecia grande demais para
a sua pequena boceta.
— Aiii... — o seu gemido estremeceu, suas mãos
seguraram o meu rosto ao mesmo tempo em que as
minhas espalmaram as suas nádegas, os dedos
exigentes se afundaram em sua carne quente à medida
que a infeliz me engolia entre pernas.
Foi gostoso... intenso... devagar.
Mas quando nos juntamos por completo. Quando
afundei tudo dentro dela, até o limite. Então começamos
a foder, foder de verdade.
— Puta que pariu! — rosnei, sem saber como
descrever aquele momento.
Agarrei Emma entre os braços, com todas as minhas
forças. Quase a quebrei contra o meu corpo. Seu seio
gordo praticamente escorregou para dentro da minha
boca, cravei os dentes em sua pele rosada, mordi com
violência, a fiz gritar. A infeliz não facilitou a minha vida,
me cavalgou sem controle, como se fosse a sua última
oportunidade.
A comi ali, dentro daquele carro, em meio ao
engarrafamento da avenida, e tudo o que queria era
mais! Queria muito mais da sua boceta generosa que
moía o meu pau, dos tapas ardidos que acertava em sua
bunda redonda e da minha língua que chupava os seus
mamilos com gosto.
Eu a cheirei, desesperado. Arrastei a ponta do nariz
por seu busto vermelho apenas para sugar o seu
perfume, feito um animal viciado.
Eu a fodi, a segurei firme pela cintura e soquei com
vontade, de cara amarrada pelo prazer selvagem, lábio
mordido, sobrancelhas estreitas.
Ao escutar o som de algumas buzinas, percebi que
o trânsito havia fluído, mas já era tarde, não tive como
pisar no acelerador. Não quando explodi junto com a
garota, em um orgasmo que acabou comigo... de um
jeito maravilhoso.
Emma berrou seguidas vezes, rebolou durante os
segundos em que gozava. A infeliz quase arrancou os
meus cabelos, roçou em mim, se tornou minha.
E apenas quando ela quase desmaiou sobre o meu
colo, foi que consegui nos tirar daquele lugar. Tentei
manter a calma, controlar a respiração descompassada,
à medida que guiava o carro para a outra avenida, em
busca de um hotel que nos abrigasse.
Duro, ainda latejava quente dentro da boceta dela
que, por sinal, estava melada, havia molhado as minhas
pernas. Aquele sentimento, ter Emma ali comigo,
debruçada sobre o meu corpo, vulnerável daquela
maneira, me fazia bem, me fazia forte e louco. Eu me
senti mais vivo do que nunca, poderoso, e entendi que
aquela mulher se tornaria a minha perdição.

EMMA COSTANTINO
Acordei me sentindo tão feliz e adorada que, por um
instante, acreditei ser mentira. Porém, quando enfim
consegui enxergar direito o homão deitado de bruços ao
meu lado, não pude fazer nada além de sorrir.
Meu peito trovejou devido às intensas batidas do
meu coração, a minha pele inteira ainda ardia devido à
pegada do Giancarlo, o toque grosso, cada mordida.
Dessa vez, conseguia lembrar de absolutamente
tudo, desde o jantar romântico até a nossa chegada ao
hotel cinco estrelas, onde transamos quase a noite toda.
Estávamos na suíte presidencial, o lugar era enorme e
tão lindo que dava a impressão de nos encontrarmos em
meio às nuvens, nuvens com cheiro de sexo intenso.
Admirei Giancarlo dos pés à cabeça, senti vontade
de morder a sua bunda máscula, porém, me controlei.
Me deitei sobre as suas costas, pousei a minha cabeça
sobre a dele com delicadeza, e tudo continuaria perfeito
se Giancarlo não tivesse, em meio ao seu sono
profundo, sussurrado aquele nome mais uma vez:
— Aurora... meu amor.
Fechei os olhos com força, decepcionada.
Quando aconteceu o mesmo em Las Vegas, não
gostei, apesar de, naquele dia, não lembrar de nada do
que tínhamos feito na noite anterior. Mas agora era
diferente, eu lembrava de tudo e, talvez por isso
estivesse doendo tanto.
Com o coração comprimido dentro do peito, me
levantei com calma, fazendo o possível para não acordá-
lo. Vesti a minha roupa, tentei organizar o cabelo mesmo
sem me esforçar para ir até o banheiro, catei os meus
sapatos, a minha bolsa e fui embora, certa de que me
envolver com Giancarlo Ruggiero não era uma opção.
Passei o resto do dia abalada, tentei me
conscientizar de que ficar triste não era correto, afinal,
eu e ele não tínhamos nada. Foi apenas um sexo casual,
sem promessas, sem nada. Não passaria daquilo.
Na segunda-feira, pensei que conseguiria cumprir
normalmente todas as demandas que o Filippo havia me
passado, mas me surpreendi quando Giancarlo apareceu
do nada, colocando as mãos sobre o balcão que cercava
o meu cubículo, com uma cara de poucos amigos.
— Giancarlo? O que está fazendo aqui? — Fiquei
surpresa, paralisei com os documentos em minhas mãos,
estava imprimindo um processo enorme.
— Será que podemos conversar em particular? —
perguntou em um tom exigente, parecia que estava me
dando uma ordem.
— Agora? Não posso, se não notou estou muito
ocupada. Além disso, o Filippo precisa de mim. — Olhei
para a sala do meu chefe que estava em reunião com um
cliente.
Giancarlo seguiu o meu olhar, depois me encarou.
— Ele não parece estar precisando de você agora —
argumentou.
— Mas pode, o Filippo é imprevisível, você sabe. —
Forcei um sorriso. Tirei os documentos impressos da
impressora e empilhei sobre os outros que estava
organizando.
Giancarlo bufou, irritado. Foi quando decidiu ser um
babaca:
— Acima dele, estou eu. Eu mando nessa firma.
Então quando te dou uma ordem, você deve obedecer —
afirmou, severo, e o pior é que não parecia estar para
brincadeira.
Chocada, o olhei, incrédula.
— Está falando sério? — Neguei com a cabeça,
continuei o meu trabalho. — Sinto muito, não é se
comportando assim que vai conseguir algo de mim.
Giancarlo tamborilou os dedos sobre o balcão, não
estava disposto a perder:
— Ah, então quer falar sobre comportamento? — Me
encarou ainda mais sério, diria até, fulminante. —
Poderia começar explicando o motivo de ter me deixado
ontem sozinho naquele hotel?
Então era isso que o feria, no entanto, mais ferida
estava eu, que só de olhá-lo ali querendo satisfação,
ficava emputecida. Me dava raiva o fato dele se
comportar como se não soubesse o que tinha dito
enquanto dormia. Para o inferno se ele estava dormindo!
Ele sabia, pelo menos tinha a obrigação de saber!
— Acha mesmo que esse é o melhor lugar para
falarmos sobre isso? — Observei ao redor, pessoas
circulavam de um lado a outro, qualquer enxerido
poderia nos ouvir.
— Foi por isso que te convidei para conversarmos
em particular — Giancarlo explicou, devagar, com um
sorriso cínico, apesar do seu olhar persistir com a
mesma ferocidade, uma raiva capaz de me desequilibrar.
Bufei, derrotada.
— Onde? — perguntei.
— Na sala de reuniões. — Ele apontou com o queixo
para o caminho que seguiu, todo arrogante. Maldito.
Olhei uma última vez para Filippo, ele estava
distraído dialogando com o cliente.
Respirei fundo, busquei coragem antes de deixar o
meu posto de trabalho. Precisei de mais coragem ainda
quando entrei na sala, onde Giancarlo terminava de
descer as persianas da fachada de vidro, nos isolando
do mundo lá fora.
— Olha aqui, não me importa se você é o Sócio-
Gestor dessa firma. Não tem o direito de chegar no meu
trabalho e me coagir para conseguir o que quer! — Ergui
o dedo, furiosa. Se ele queria o meu pior lado, havia
conseguido!
— Não te coagi, você veio por livre e espontânea
vontade. — Giancarlo colocou as mãos nos bolsos, logo
depois de trancar a porta.
— Isso é mentira, e se quer saber o motivo de eu ter
ido embora, vou te falar...
— Sou todo ouvidos. — Ele parou à minha frente,
realmente queria me ouvir.
— Não vai dar certo! — Continuei, olhei no fundo
dos seus olhos cor de avelã. — Me dei conta disso
quando acordei. Foi por isso que saí, queria que
entendesse que o que aconteceu deve parar por ali.
— O que mudou quando você acordou? — O infeliz
estava desconfiado. Ele deu mais um passo à frente e eu
recuei. — Porque parecia bem satisfeita na noite
anterior.
Sorri, nunca imaginei Giancarlo tão debochado, mas
ele estava motivado pelo ódio. O problema, é que, nesse
momento, o odiava também, mas não queria passar pela
situação de ter que lhe contar o verdadeiro motivo.
— Eu não quero, muito menos você, então pare com
isso! — Tentei fugir, mas Giancarlo me segurou pelo
braço e me colocou contra parede.
— Emma, ainda estamos conversando. — Espalmou
a outra mão acima da minha cabeça, o desgraçado era
grande e a sua colônia já inundava os meus sentidos.
— Giancarlo, essa conversa acabou! — Fiquei
agoniada, minhas bochechas queimavam apenas com a
sua proximidade.
— Acabou? Então acabou o que nem começamos?
— Sabia que ele falava em duplo sentido.
— Isso. Acabou.
— Então repete o que disse olhando nos meus olhos
— exigiu, ficou ainda mais perto, me encurralando.
Nossos corpos se encostaram.
A contragosto, ergui o rosto, mal notei que a minha
respiração acelerava, que as minhas coxas se
comprimiam. Seria impossível, talvez eu não tivesse
coragem.
— Giancarlo, por favor... — implorei, no instante em
que ele roçou a sua barba em meu pescoço, dominador,
uma tentação do diabo!
— Ou você diz a verdade, Emma, ou vou te foder
bem aqui — ameaçou em rosnado, na minha orelha,
fiquei arrepiada. — E é melhor gemer baixo, do
contrário, todo mundo lá fora vai te escutar. —
Mordiscou a minha carne, momento em que traí a minha
consciência, a raiva que sentia.
Giancarlo arrastou a língua perigosa por minha
bochecha. Foi ali que gemi e o beijei. Tomei a sua boca
com a mesma selvageria que ele tomou a minha.
C A P Í T U L O 2 1

Giancarlo não estava me beijando, muito menos


pedindo um beijo, pelo contrário, o desgraçado estava
tomando tudo de mim com a sua maldita boca.
Eu não me considerava uma garota inocente, mas
quando ele me tocava, era como se expulsasse toda e
qualquer experiência de mim! Ficava dopada com a sua
intensidade, e o máximo que conseguia fazer era
permitir que me dominasse. Que me esmagasse contra o
seu corpo, exatamente como fazia nesse momento.
Suas mãos possessivas percorriam cada uma de
minhas curvas com velocidade, e enquanto os seus
lábios famintos se arrastavam contra os meus, tive a
certeza de que aquele homem havia se tornado um
animal. Giancarlo agia como se fosse não apenas o dono
do mundo, mas o meu dono.
E o pior, era que eu gostava.
Sim, era viciante.
Minha boceta latejava, podia sentir as dobras
melando com uma rapidez incontrolável, os músculos
vivos entre as minhas coxas aquecidas, a pele íntima
ardendo como se estivesse em meio ao fogo.
Tudo piorou quando o infeliz enfiou uma perna
musculosa entre as minhas, impôs espaço. Estar entre
um homem do tamanho dele e a parede, era como ser
espremida por uma montanha de músculos escondida
sob o terno. Uma roupa cara que cheirava, exalava a
fragrância masculina que significava cada camada do
poder que Giancarlo exercia não apenas sobre mim, mas
naquele prédio inteiro.
Eu não queria obedecê-lo, não queria ceder. Ainda
estava com muita raiva, mas era a luxúria daquele ódio
que emanava dele e que entrava em conflito com o meu,
que me fazia desejá-lo como se fosse o último homem
na Terra.
Era desespero por seu toque, aflição pura.
Necessidade.
Era um incêndio que me fazia derreter à medida que
Giancarlo puxava as alças do meu vestido com violência,
arrancava o meu sutiã e mamava os meus seios com
força. Tanta força que comecei a gritar.
— Shhh... — ele se apressou em pedir silêncio no
meu ouvido, no mesmo instante em que tapou a minha
boca sem delicadeza. — Lembre-se de que não pode
fazer barulho, anjo — terminou de sussurrar. Chamou-
me, pela primeira vez, do apelido que seu filho havia me
dado. Arrastou os dedos por meus lábios umedecidos.
— Não vou conseguir... — confessei, completamente
vulnerável.
— Vai ter que conseguir.
— Giancarlo, é impossível. — Olhei no fundo dos
seus olhos que, naquele instante, foram tomados por um
brilho sombrio. O infeliz curvou o canto da boca em um
maldito meio-sorriso. Mais um que me estremeceu por
dentro.
— Então vou ter que dar um jeito, porque não vou
sair daqui sem te comer — garantiu, apenas para fazer
os meus batimentos cardíacos acelerarem, o busto subir
e descer.
Sem palavras, o assisti pensar rápido, retirar a
gravata preta do pescoço e usá-la para passá-la em
volta da minha boca aberta duas vezes. Fui amordaçada
com força.
Ao se certificar de que os meus gemidos não
conseguiriam mais ultrapassar a porta, Giancarlo voltou
a me atacar, segurou os meus peitos com as mãos
ásperas e chupou os mamilos sensíveis com uma
habilidade que me obrigou a gotejar entre as coxas.
Não sabia explicar o que ele conseguia fazer com a
aquela língua e os dentes, a maneira possessiva que me
sugava. Era bom demais.
Mal pude raciocinar quando o meu vestido foi
erguido até a cintura e ele desceu. Se apoiou com um
joelho no chão, colocou a minha coxa direita sobre o seu
ombro largo e puxou a minha calcinha para o lado.
Recebi o seu olhar diabólico dois segundos antes da sua
boca devorar a minha boceta.
Foi como um golpe.
Joguei a cabeça para trás, arqueei as costas,
segurei os seus cabelos como se prendesse os meus
dedos a um cabresto e empurrei a boceta na sua cara.
Tudo ao mesmo tempo. Meu coração quase rasgou o
peito e, naquele momento, entendi que a mordaça
realmente me serviria. A mordi com violência, a aceitei
como uma boa amiga, e delirei ao ser mamada entre as
pernas como se estivesse no céu... ou no melhor dos
infernos.
Parte da minha consciência, uma bem pequena,
ainda me fazia ouvir o movimento de gente fora daquela
sala. Entendi o tamanho da loucura que estávamos
fazendo, mas não consegui me importar o suficiente,
sequer podia.
Só desejava aquela agressividade de Giancarlo
mais e mais. A sua língua saliente se esfregando entre
as minhas dobras com experiência, insistente. A maneira
egoísta como sugava o meu clitóris e castigava a região
íntima inteira. Até os dentes afiados daquele infeliz me
davam prazer.
Era algo doentio, totalmente insano.
Nunca alguém fez isso comigo.
Rebolei, alucinei quando a sua barba grossa me
espetou a carne. Gozei como se a minha alma
abandonasse o corpo. Fiquei anestesiada, perdi a visão.
Quando enfim recuperei os sentidos, Giancarlo já estava
me fodendo, minhas coxas contornavam o seu quadril e
suas mãos me seguravam a bunda enquanto as minhas
costas batiam forte contra parede. Uma vez seguida da
outra.
Não o bastante, ainda tinha o seu pau. Longo,
grosso e rápido. Tão rápido no ir e vir descontrolado que
me fez pensar estar prestes a esfolar minha boceta. Me
partir ao meio.
Violento, Giancarlo chegava tão fundo dentro de
mim que não pude fazer nada além de agarrá-lo e
recebê-lo, mesmo que parecesse impossível. Porque era
excitante demais para qualquer mulher suportar. Era
doloroso também. Gostoso. Impressionante. Fora o seu
desempenho e virilidade, ainda tinha a fome evidente
que sentia de mim, como se me comer nunca fosse o
bastante.
Isso ficou comprovado quando ele parou em um
momento e ofegou feito um selvagem. Primitivo, exigente
e possessivo demais até mesmo na respiração
descompassada que percorria as suas narinas.
Eu o escutava ao pé da minha orelha, cada rosnado
e gemido áspero. A verdade é que o infeliz agia feito um
garanhão indomado, que usava a sua fêmea para se
satisfazer.
Quando concentrou novamente o que restou da sua
energia, Giancarlo retornou com os movimentos.
Afundou ainda mais os dedos grossos nas minhas
nádegas e usou cada veia dilatada do seu pau no único
intuito de golpear a minha boceta, tão frágil e carente
diante da força dele.
As minhas costas voltaram a bater contra a parede,
o som ecoava pela sala de reuniões. E toda a
tempestade que era aquele homem só parou quando os
orgasmos múltiplos nos dominaram, em uma euforia
impossível de conter.
Agradeci mentalmente por estar amordaçada. Era
certeza de que, se não estivesse, faria um escândalo.
Demorou até que tivéssemos forças suficientes para
nos recompormos. Giancarlo tirou a gravata da minha
boca dormente, ajudou a me vestir primeiro, ele sabia
que eu sozinha não seria capaz de fazê-lo. Não quando
ainda estava tomada pela magia intensa do prazer, algo
que fazia meu corpo inteiro se transformar em gelatina.
E durante o tempo em que o observei erguer a calça
– que até então havia permanecido acumulada aos seus
pés –, pensei que, naquele gesto, por mais simples que
fosse, Giancarlo conseguia ser extremamente masculino.
Tudo nele exalava feromônios, o que significava dizer
que continuar brincando com o chefe, seria um caminho
sem volta.
Era uma aventura perigosa, fadada a me jogar no
abismo. Um no qual não conseguiria sair com um
coração já maltratado.
— Você chamou pela sua esposa — disparei, com a
voz fraca. Busquei forças para me desencostar da mesa.
— Como? — Giancarlo terminou de colocar o cinto e
me encarou, por cima do ombro.
— Foi por isso que fui embora. Porque você chamou
pela Aurora, o seu amor. Tanto em Las Vegas quanto
ontem, no hotel — revelei, tomada por um sentimento
congelante, triste.
— Emma... — ele tentou argumentar, mas não
permiti.
— Não precisa se justificar. — Ergui uma mão,
enxerguei o quanto aquele assunto o perturbava. — Já
conversei muitas vezes com a Ágata sobre ela, sei o
quanto foi e ainda é importante para você. Não entrei
nesse jogo enganada. É só que... — Minha cabeça
tombou para baixo. — Também não preciso de mais uma
ferida incurável, entende? — Voltei a encará-lo, meus
olhos ardiam. Porém, engoli em seco, me controlei.
Caminhei até a porta.
— Emma! — Olhei para ele, o testemunhei
boquiaberto, mas não emitiu nenhuma palavra. Era como
se não soubesse o que dizer, ou simplesmente não
conseguisse.
— Por favor, Giancarlo. Vamos ser adultos. Você
sabe que estou certa, então... não me procure mais —
decretei.
Meu peito se espremeu de uma forma que acreditei
que iria sufocar enquanto o deixava naquela sala,
sozinho.

Minha menstruação estava atrasada demais. Desde


Vegas que perdi a certeza na contagem dos meus
comprimidos, e ter sido irresponsável ao fazer sexo sem
proteção com o Giancarlo depois disso, não ajudava.
O pior é que a voz da Ágata não saía da minha
cabeça, a nossa última conversa antes do nascimento
dos seus bebês me deixou afetada, mas passei todos
esses dias agarrada à esperança de que o meu ciclo
menstrual sempre foi desregulado, algo que havia se
ajustado com o uso correto do anticoncepcional.

— Ué, mas com um brownie batizado e muita


bebida, quem é que vai lembrar de ser responsável?

A voz da minha amiga ressoou na minha mente


outra vez. Engoli em seco, senti a minha cabeça doer.
— Quem iria lembrar? — me perguntei, antes de
ultrapassar a porta giratória de entrada do edifício para
sair definitivamente da firma.
O vento frio da noite obrigou-me a abraçar o próprio
corpo, usava um sobretudo, mas o tecido grosso não
parecia o bastante para me aquecer. Caminhei pela
calçada, ultrapassando outros pedestres à procura de
algum táxi, mas uma voz conhecida fez com que eu
parasse.
— Emma? — Incrédula, me virei, apenas para me
surpreender com a visão de Nico parado, com as mãos
nos bolsos, assumindo uma postura de quem estava me
esperando. — Será que podemos conversar? — Se
aproximou, com um semblante arrependido, apenas para
fazer com que o meu cérebro recordasse da sua traição.
— Não se aproxime de mim — disparei, séria, tentei
caminhar de novo, mas ele continuou.
— Emma, é sério. Se passou mais de um mês. Por
favor, me dê uma chance.
Fechei os olhos ao sorrir. Devia ser uma piada.
— Chance pra quê? — Voltei a encará-lo, dessa vez
mais irritada. — Posso saber?
— Para me ouvir. Escutar o meu lado da história. —
Sua expressão entristecida, de quem estava machucado,
não me convencia. Nem mesmo os seus olhos marejados
conseguiam fazer com que eu sentisse pena.
— Posso te falar uma coisa? — Cheguei ainda mais
perto dele, ficamos cara a cara. — Se você for
minimamente inteligente, não me procure de novo! —
ameacei.
— Emma, não jogue fora a nossa história, eu te
imploro. — Ele segurou o meu braço.
— Não me toque! — Me desvencilhei, no entanto,
levei a mão ao nariz, o seu perfume passou a me
incomodar. — Você é um desgraçado, filho da puta!
— Estou com problemas, Emma! A minha mãe não
me aceitou de volta em casa. Tenho dívidas da época da
faculdade...
— Que se foda! — Recuei, enjoada, mas Nico me
segurou de novo, mais forte.
— Só me ouve por um minuto... — Ele me puxou,
contra a minha vontade.
— Nico, vai à mer... — Não tive tempo de terminar,
o rapaz foi empurrado para longe de mim, caiu de bunda
no chão, desajeitado.
Assustada, identifiquei quem havia chegado,
Giancarlo Ruggiero surgiu do nada e encarava o homem
no chão como se fosse um verme, não que estivesse
errado.
— Se tocar nela assim outra vez, verá do que sou
capaz! — ameaçou, de punhos cerrados, olhar
assassino. Se interpôs à minha frente, feito um escudo.
— Giancarlo? — Não acreditei no que estava
acontecendo.
— Você está bem? — Ele se virou com rapidez e me
olhou preocupado, tocou o meu rosto com suavidade.
— Sim, estou. — Não estava, o cheiro de Nico
parecia ter se impregnado dentro de mim, embrulhando o
meu estômago.
— Quem é você? — o desgraçado perguntou, logo
após ficar de pé.
— Nico, vai embora! — Ultrapassei o Giancarlo e me
aproximei do meu ex outra vez, prestes a esmurrá-lo,
mas a sua colônia enjoativa me pegou de novo, deixou-
me tonta.
— Emma?! — Giancarlo me segurou por trás.
Mal tive tempo de entender o que estava
acontecendo, apenas impulsionei o corpo para a frente e
vomitei com tudo o que tinha, sujando a calça do Nico.
— Merda! — Ele se espantou, ergueu as mãos e deu
um passo atrás, mas já era tarde. — O que deu em
você?! — indagou, irritado, achando que fiz de
propósito. Mas a verdade é que nem eu sabia o que
acontecia comigo.
— Cai fora daqui, seu moleque! — Giancarlo ergueu
o dedo em riste para ele, uma atitude que teve efeito.
Parecendo se sentir ameaçado, Nico olhou uma
última vez para nós dois, como se não pudesse entender
e, enfim, recuou, desapareceu de vista.
— Vamos até o meu carro — Giancarlo me chamou.
Ele ainda me acolhia em seus braços, mas tive que me
afastar.
— Não precisa — neguei, apesar de me sentir mal.
— Emma, não é hora de ser teimosa. Você não está
bem — ele insistiu, e me fitou daquela maneira de quem
não iria desistir. Giancarlo nunca desistia.
Calada, apenas assenti. Permiti que ele me guiasse
até o seu carro, que estava parado na saída da garagem
do prédio. Dessa vez, andava com motorista, nos
sentamos lado a lado no banco de trás.
Educado, Giancarlo me ofereceu um lenço com o
brasão da firma, algo que bastou para que eu me
limpasse. Ficamos em silêncio nos primeiros minutos,
enquanto entrávamos na avenida.
Minha cabeça voltou a doer, agora pior do que
antes. Era como se o meu cérebro se afogasse em
pensamentos, todos relacionados a uma única ideia,
uma que me recusava a acreditar. Como se pudesse ler
o que se passava na minha cabeça, Giancarlo continuou
com os olhos fixos em mim, analisando-me e pensando
Deus sabe o quê.
— Nós precisamos conversar. Outra vez — disparou.
Fechei os olhos.
De repente, todo mundo queria conversar comigo.
Inferno
C A P Í T U L O 2 2

Escutar da própria Emma que eu chamava pela


minha falecida esposa enquanto dormia ao seu lado, foi
um baque. Porque era algo que nunca pude imaginar e
que, de repente, serviu como um estalo dentro da minha
mente. Fez-me retornar para aquele lugar gélido em que
costumava ficar antes do pequeno furacão ruivo invadir
a minha vida.
Ela me pediu para não incomodá-la mais e, a
contragosto, respeitei. Foi como um balde de água fria,
percebi o quanto estava sendo imprudente, um homem
como eu jamais havia transado no local de trabalho,
aquela loucura se transformou em uma bola de neve.
Por uma semana fiquei afastado, pensei em como
chegamos àquele ponto, lembrei que não tínhamos nos
protegido novamente e me perguntei como dei tão pouca
atenção a esse detalhe. Um detalhe que poderia causar
um estrago.
Estava indo embora da firma quando flagrei aquele
moleque assediando a Emma. Um ódio que nunca havia
sentido me inundou rápido a ponto de me fazer enxergar
tudo vermelho. Desci do carro, marchei até eles, fiz o
que fiz. Foi ali, depois de conseguir colocá-la dentro do
veículo, que finalmente entendi o motivo de vir me
comportando de maneira tão inconsequente.
Emma, sem querer, tinha o poder de cortar o meu
raciocínio. Eu não conseguia pensar quando ficávamos
perto e desconfiava que estava obcecado por ela.
— Você vem enjoando com frequência? —
perguntei. Ao receber o seu olhar assustado, notei que
ela sabia exatamente qual era o assunto que eu
pretendia tocar.
— É a segunda vez essa semana, mas devo estar
com alguma intoxicação alimentar. Ultimamente não
venho me alimentando muito bem. Ando comprando
bastante coisa na rua, sabe como é... — Sorriu, nervosa.
Desviou o olhar.
— Emma, aconteceu tanta coisa entre a gente. Tudo
foi tão rápido e intenso que esqueci de perguntar se
você estava usando algum tipo de anticoncepcional — as
minhas palavras saíram delicadas, apesar de estar
gelado por dentro, apenas por tocar naquele assunto.
— É claro que estava! — Ela mexeu no cabelo, falou
como se a possibilidade de não se autoproteger fosse
loucura. — Sempre fui precavida.
Fechei os olhos por um instante, aliviado após
escutá-la.
— Então... está tudo bem com você? — A olhei de
forma incisiva, ela sabia do que eu estava falando.
— Claro que está! Que besteira esse assunto! —
Fez um gesto qualquer com a mão, tratando a minha
preocupação como algo inútil. Sorriu de novo e se forçou
a encostar a testa na janela, olhar para a cidade lá fora,
que passava por nós à medida que avançávamos na
avenida.
Tinha algo de errado, Emma estava perturbada, o
seu sorriso se desfez no momento em que começou a
roer as unhas, tensa.
— Tem certeza? — insisti, mas ela não me encarou
dessa vez, muito menos respondeu. — Emma! —
Engrossei a voz, a assustando.
— Minha menstruação está atrasada — confessou,
de olhos marejados. Fiquei paralisado. — Muito atrasada
— completou, parecia com medo.
Continuei em silêncio, processando as suas
palavras.
— Acha que pode estar... — mal tive tempo de
terminar.
— Não! — Emma negou, enxugou os olhos. — De
jeito nenhum! — Voltou a encarar a janela, em estado de
negação.
Respirei fundo, deitei a cabeça no encosto do banco
de couro, esfreguei as mãos no rosto e encarei o teto.
— Você por acaso conseguiu lembrar se nos
protegemos em Vegas? — perguntei, dessa vez sem
olhá-la. Minha cabeça fervia em um milhão de
pensamentos.
— Os preservativos estavam lá, não estavam? —
argumentou, apesar da voz frágil.
Permaneci calado, busquei pensar no que seria
mais lógico.
— Tenho que te levar ao médico. — Pensei, em voz
alta.
— Não mesmo!
— Emma...
— A minha menstruação vai chegar, tenho certeza.
Sempre fui desregulada, deve ser apenas um engano.
— Vamos fazer o exame e acabar com as nossas
dúvidas. — Segurei a sua mão, mas ela desfez o nosso
toque e não se convenceu.
— Que dúvidas? — Sorriu outra vez, apavorada. —
A gente não se protegeu aqui em Milão, mas eu
continuei com os comprimidos, e posso garantir que...
— Não, não pode. — Neguei com a cabeça. Emma
se calou. — Você deve saber tanto quanto eu que
existem vários casos parecidos e evitar o exame só vai
nos tornar mais irresponsáveis do que já fomos.
— Giancarlo... — Emma ficou sem argumentos.
— Amanhã — decretei, decidindo por nós dois. —
Vou te pegar em casa e vamos a uma clínica.
— Você não manda em mim! — exclamou, revoltada,
lágrimas molharam a sua face.
Ela se encolheu no canto do banco, colocou as
mãos no rosto e começou a chorar. Com certeza
engravidar tão jovem não estava em seus planos, muito
menos nos de um homem que já tinha dois filhos, era
viúvo e ficou cinco anos no celibato. Até conhecer a
garota que fez com que me sentisse vivo.
Quis tocá-la, até mesmo consolá-la, mas se a ideia
de ter um filho meu em sua barriga a assustava, a mim
incomodava também.
Não consegui mais me comunicar, achei por bem
continuar calado, afastado do outro lado do banco, com
a mão roçando na barba enquanto o carro andava sem
direção, já que Emma ainda não tinha dito ao motorista o
seu endereço.
Quando enfim ela disse, gravei o local onde ficava o
seu prédio, esperei que entrasse lá após ir embora sem
uma despedida.
Ao chegar à minha casa, tomei banho como se
houvesse um caminhão sobre a minha cabeça. Sem que
pudesse evitar, o meu cérebro viajou ao passado,
quando eu ainda tinha dezessete anos e revelei ao meu
pai que Aurora estava grávida:
— Mande ela dar um fim no bebê! — Gregorio
Ruggiero ladrou, feito um cão enraivecido. Ouvi-lo
naquele momento foi como uma facada.
— O senhor ficou louco? Acabei de falar que ela
está esperando um filho meu! Uma menina! —
argumentei, incrédulo.
— Pior ainda, nem para te dar um herdeiro aquela
vadia americana serviu!
— Lave a sua boca para falar da Aurora! — Fui
tomado por um impulso de ódio, quase avancei no meu
próprio pai, mas Filippo, que presenciava a nossa
discussão acalorada, me segurou por trás.
— Acalme-se, Giancarlo! — Ele se esforçou para me
segurar.
— Veja o que aquela menina fez com você. O
colocou contra o seu próprio pai! — Gregorio bateu no
peito, chocado.
— Foi o senhor, papai! — cuspi as palavras. — O
senhor que me transformou em seu inimigo! Posso me
tornar qualquer tipo de homem, mas jamais serei como
você!
Filippo não conseguiu mais me controlar. Afastei-me
dele, sem tirar os olhos afiados do meu pai, que pareceu
ter levado um soco na cara quando recebeu as minhas
palavras.
— Não diga isso! — Ele engoliu em seco, apontou
para Filippo. — Veja o exemplo dele. Acabou de ser
enganado por uma puta aproveitadora! — Filippo tombou
o rosto para baixo, entristecido e envergonhado. — Quer
ter o mesmo destino?
— A Aurora me ama de verdade, pai — rosnei, de
sangue quente. — Um amor que o senhor jamais vai
entender porque não o teve. Nem da minha mãe ou de
mulher alguma.
— Você só tem dezessete anos, cacete! — cuspiu,
saliva expeliu dos seus lábios devido ao tamanho de sua
ira.
— E se não aceita Aurora como minha esposa, vou
morar com ela em Las Vegas!
— Eu não permito!
— Sou emancipado, lembra? Não preciso da sua
permissão! — Lhe dei as costas, alcancei a porta de
saída da mansão, mas antes que pudesse atravessá-la,
escutei a voz furiosa de Gregorio cortar o ar.
— Giancarlo Ottavio Ruggiero! — gritou. Virei o
rosto para mirá-lo, com a respiração sobressaltada. —
Se sair dessa casa, eu vou te deserdar. Você não será
mais considerado o meu filho. Esquecerei da sua
existência e não permitirei que toque em um centavo de
tudo o que construí! — Ergueu o dedo, como se
estivesse prestes a ter um ataque cardíaco de tão
vermelho que ficou o seu rosto.
Olhei para ele e depois para Filippo que, naquele
momento já era um grande amigo. Enxerguei a dor da
minha decisão no seu olhar. Assim como eu, ele apenas
queria que tudo fosse diferente. Assim como eu, ele
estava ferido, cheio de inseguranças sobre o seu
destino.
Encarei meu pai novamente, pela última vez. Então
parti, mal sabendo que só retornaria a vê-lo anos
depois, dentro de um caixão.

Desliguei o chuveiro e suspirei, cansado. Lembrei


da Emma novamente e me dei conta da vontade
avassaladora que sentia de ficar perto dela, do quanto
devia estar assustada. Pensei no que estava fazendo e
não me conformei de modo algum ao recordar daquele
Nico a tocando.
O maldito devia ser o seu ex.
— Pai? — Escutei a voz do meu filho assim que
estava me enxugando com a toalha.
— Oi, Enzo.
— Posso usar o seu notebook para fazer um
trabalho da escola? O meu está com um problema que
ainda não consegui resolver.
— Pode, mas espere um pouco. — Vesti o roupão e
segui para o quarto, a tempo de testemunhá-lo pegar o
notebook sobre a mesa. — Está tudo bem com você? —
Acariciei o seu cabelo.
— Está. — Enzo deu de ombros, como se não
entendesse a minha pergunta.
— Seu pai anda muito ocupado, nunca mais tivemos
tempo de conversar.
— Está tudo bem, pai.
— E a escola?
— O senhor sabe que sou um aluno nota dez. —
Muito modesto também.
— E a babá?
— Pai! — Enzo bufou, irritado. Apertou o notebook
entre os dedos. — Não chame a Madalena de minha
babá, parece até que ainda sou um bebê.
— Você não é mais um bebê, é o meu pequeno
rapaz, o que não significa que não precise de uma babá
— argumentei, esfreguei a toalha em meu cabelo, me
diverti ao testemunhá-lo irritado.
Enzo me ultrapassou, caminhou até a porta, mas
antes de sair, olhou-me uma última vez.
— O que preciso é de uma nova mãe, e já escolhi a
pessoa certa! — avisou, antes de fechar a porta e me
deixar completamente intrigado.
Minha noite foi longa, mas assim que o dia
amanheceu, voltei com o meu motorista até a portaria do
prédio da Emma, pegando-a de surpresa quando saía,
pronta para ir ao trabalho.
Abri a porta do carro, e apesar de não ter dito nada,
ela entendeu que aquele era um convite claro para irmos
até a clínica descobrir o nosso destino.
C A P Í T U L O 2 3

Ficar em uma sala de espera aguardando o


resultado de um exame de gravidez de sangue
qualitativo, não era o meu objetivo esta manhã. Passei a
noite em claro apenas para chegar à conclusão de que
Giancarlo estava certo, precisávamos descobrir a que
ponto chegamos com a nossa irresponsabilidade.
Sentado ao meu lado no sofá, ele apoiava os
cotovelos nos joelhos, olhava para a frente, o queixo
sobre as mãos cruzadas. Uma postura que denunciava
estar bem mais calmo do que eu que, ao contrário dele,
não conseguia ficar quieta, estava trêmula, o coração na
garganta, o pé batendo no chão de modo insistente.
Quando fomos chamados ao consultório do médico,
tive que buscar todo o meu autocontrole para poder me
sentar, fingir que era uma mulher normal, talvez uma
daquelas de novela que estava ansiosa para descobrir
se realizaria o seu sonho encantado de ser mamãe.
Eu queria ser mãe um dia, futuramente, quando
enfim me tornasse advogada e tivesse uma vida bem-
sucedida. Hoje, não!
— E então, doutor? — Giancarlo perguntou, agora
parecendo nervoso.
Engoli em seco, a voz também foi embora. Meu pé
continuava se mexendo, quase me deixando louca se
aquele homem de jaleco não falasse. Antes de falar, ele
sorriu, entregou o envelope com o resultado do exame
ao Giancarlo.
— Parabéns, mamãe e papai. Vocês estão grávidos!
— comemorou, o desgraçado. Sabia que ele não tinha
culpa de nada, mas aquela notícia, dentro daquelas
circunstâncias, não era motivo de comemoração. Eu
estava ferrada!
Troquei um olhar difícil com o Giancarlo, antes dele
abrir o envelope e assentir, bem sério, como se já
soubesse. Meu coração bateu rápido, mas não tinha
jeito, era verdade. Fechei os olhos, esfreguei a ponta
dos dedos na lateral do rosto, segurei as lágrimas.
Aquilo não podia estar acontecendo.
— Grazie, doutor — Giancarlo o cumprimentou,
antes de deixarmos a clínica e voltarmos para o seu
carro.
Ficamos em silêncio até pegarmos velocidade e
adentrarmos na avenida.
— Você não vai precisar se preocupar com nada.
Vou te dar todo o suporte necessário, cuidarei de tudo.
Nós teremos esse bebê — Giancarlo afirmou, e da
maneira que falava era como se afirmasse aquilo tanto
para mim quanto para ele.
Apesar de saber que ainda assimilávamos toda essa
história.
— Dio Santo, o que é que fui fazer. — Pensei em
voz alta, tentei controlar o gosto amargo agarrado ao
céu da boca, o frio na barriga.
— Se precisar que eu fale com a sua família, com o
seu pai...
— Sério que está tão calmo assim? — O encarei,
incrédula, os olhos ardidos.
— Surtar não vai resolver. Além disso, já passei por
essa experiência duas vezes. Não dessa forma, é claro,
mas... o melhor que podemos fazer é manter a calma.
— Ah, Giancarlo... — Enxuguei os olhos antes que
as lágrimas caíssem. Não estava nada calma,
permanecia ansiosa e trêmula.
Um filho, meu Deus, um filho!
Fiz um bebê com o pai da minha melhor amiga!
— Emma... — Ele capturou a minha mão e, diferente
da atitude que tive ontem, me permiti sentir o seu toque.
— Vai dar tudo certo. Sei que deve estar enlouquecendo
com essa novidade, foi uma curva nos nossos planos,
mas eu estarei aqui. Não vou te abandonar. — Os
nossos dedos se cruzaram, mais lágrimas molharam o
meu rosto.
— Sabe que... o problema nem é tanto o bebê —
afirmei, com dificuldade, a voz embargada. — Não
queria engravidar agora, é claro. Sempre imaginei algum
dia formar uma família, uma que nunca tive. Mas quando
esse dia chegasse, tudo o que queria era que o pai do
meu filho sentisse amor por mim. Que me amasse de
verdade, entende? — choraminguei, o coração
despedaçado. — E nós sabemos que esse não é o seu
caso.
Giancarlo afastou a sua mão da minha, lentamente,
denunciando que as minhas palavras lhe fizeram efeito.
Ele recebeu aquilo como algo negativo, triste.
Permanecemos mergulhados naquele silêncio
ensurdecedor até que Giancarlo decidiu quebrar o gelo
outra vez:
— Ainda vai conseguir ir para o trabalho? —
perguntou, voltando a me olhar após um tempo.
— Eu preciso. — Suguei ar pelo nariz, me
recompondo. — Tudo o que tenho que fazer agora é
encher a cabeça de serviço. Além disso, o Tomás não
para de me ligar, deve ser a mando do Filippo. Não tive
tempo de criar uma desculpa. — Me preparei para ser
chamada a atenção quando chegasse à firma. Encarei o
celular em minha mão, o nome de Tomás piscava, mas
não estava em condições de atender.
— Talvez não precise. — Giancarlo me encarou
sugestivo.
— Você já quer contar pra ele? — Fiquei pasma.
Giancarlo respirou fundo, buscando controle.
— Ele é o meu melhor amigo e também é o seu
chefe. Além disso, é muito perspicaz. Podemos continuar
guardando segredo, se quiser, mas em algum momento
Filippo vai perceber.
— Mas tem a Ágata. Não quero que ele conte para
ela, acho que é uma coisa que nós devemos fazer. — Só
de pensar nessa ideia, minha cabeça começava a doer.
— Mas não agora, tudo ainda está muito recente. Não
estou preparada psicologicamente.
— Tudo bem. Só eu e você, por enquanto —
concordou, fiquei mais aliviada.
Assim que chegamos à firma, saímos do carro para
entrar pela entrada principal. Caminhamos pouco pelo
hall sofisticado até nos depararmos com Filippo e
Tomás, ambos segurando suas maletas, marchando com
rapidez, prontos para ir à alguma missão.
— Desde quando você mudou a porra do seu horário
de trabalho? — Filippo encarou o seu relógio de pulso
antes de me fuzilar com seus olhos azuis exigentes.
— Desculpe, Filippo, tive um contratempo — me
apressei em dizer, tentei manter a postura de costume,
na intenção de não gerar desconfianças.
— Sabe muito bem que nós não temos tempo para
contratempos, Emma!
— Filippo, ela já se desculpou. Você não ouviu? —
Giancarlo deu um passo à frente, ativando seu modo
defensor, para o meu desespero.
Foi naquele momento, que enfim Filippo pareceu
notar a presença do seu amigo ao meu lado. Ele olhou
dele para mim e algo em sua expressão mudou, como se
tivesse entendido o que não devia entender. Não
naquele momento.
Droga!
— Certo — Filippo pareceu ponderar a situação.
Limpou a garganta, trocou um olhar rápido com o Tomás
que não tirava sua atenção de mim. — Emma, observe
as anotações que deixei em sua mesa. Nós estamos indo
matar alguns leões.
— Claro. — Cerrei o punho, travei a mandíbula,
fiquei nervosa.
Sem querer, tínhamos nos entregado.
Giancarlo abriu espaço para Filippo e Tomás
passarem, e quando eles sumiram de vista, entendi que
aquilo era apenas o começo do meu declínio.
— Posso surtar agora? — Olhei para Giancarlo,
chateada. Ele mexeu no nó da sua gravata, com uma
cara de quem tinha aprontado, mas não podia fazer mais
nada.

GIANCARLO RUGGIERO
Assim que me separei da Emma, segui para o meu
escritório com uma dor de cabeça incontrolável. Apesar
de ter mantido a serenidade à sua frente, também estava
nervoso por dentro, afinal, mais um filho à essa altura do
campeonato, nem de longe podia ser cobiçado.
Fora essa grande responsabilidade, ainda tive que
ouvir aquelas palavras da Emma. Ela não estava errada,
qualquer garota em seu lugar provavelmente sentiria o
mesmo. Não tínhamos nada, afinal, sequer podíamos
chamar de relacionamento.
Foram apenas sexos esporádicos, os melhores da
minha vida, talvez, mas não significava sentimento.
Tudo bem que não seríamos o primeiro casal a fazer
um bebê desse jeito, porém, essa situação me fez
entender outra vez o quanto eu tinha mudado após me
envolver com a Emma. E enquanto caminhava
estressado por minha sala, cocei a garganta, tive
vontade de beber álcool, um velho hábito que havia
retornado após comer aquela boceta!
Ouvi uma batida na porta, minha secretária pediu
licença e entrou.
— É o senhor Sartori. Ele quer falar com você —
informou.
— Diga que não posso agora. — Tudo o que não
precisava naquele momento, era do Vito enchendo o
meu saco. Fui até a minha cadeira e me sentei.
— Ele disse que é urgente — ela insistiu.
Bufei, sem escolha. Então assenti. O infeliz estava
parado a uma certa distância da minha sala, encarando-
me pela fachada de vidro com aquela aura sombria que
costumava lhe acompanhar. Ele atravessou a porta logo
após a secretária sair, carregava um processo criminal
que colocou sobre a minha mesa.
— Giancarlo, bom dia. É sobre esse caso,
aconteceu em uma das maiores empresas de tecnologia
do mercado... — começou a explicar.
— Eu sei, o CEO da Bel Gioco está sendo acusado
de assassinato. — Analisei as páginas superficialmente,
já tinha lido algumas notícias.
— Estou de olho neles já faz tempo. Essa é a
oportunidade perfeita de trazê-los para a nossa firma. —
Os olhos do Vito brilhavam, ele estava empolgado, o
Direito Criminal era a sua vida, não sabia como ele
estava conseguindo se sustentar no Direito
Previdenciário, fruto do meu castigo.
— Seria se já não estivéssemos com duas das suas
maiores concorrentes — ressaltei. Fechei o processo,
me encostei à cadeira.
— Eu sei disso, mas é algo fácil de resolvermos. Um
acordo entre as três empresas e a Gagliardi-Ruggiero
sairia por cima.
— Você é ambicioso, Vito. Gosto disso. — Cruzei as
mãos, o analisei. — Mas tentar alcançar esse trunfo com
o CEO da Bel Gioco sendo acusado de assassinato... —
Neguei com a cabeça. — Não é um bom momento.
— É o momento perfeito! — Ele cruzou as pernas,
empolgado. Sorriu maliciosamente. Vito tinha um
semblante naturalmente malvado, assustava os
advogados da concorrência. — O CEO da Bel Gioco está
vulnerável, irá precisar dos melhores para fazer o
trabalho que a sua equipe jurídica fraca é incapaz de
fazer. E todo mundo nessa cidade sabe que não há
ninguém melhor do que nós!
— Melhor do que você, é o que quer dizer — o
corrigi, algo que o atingiu, deixou o seu olhar ainda mais
afiado.
— Continuar me exilando naquele maldito setor
previdenciário não será bom para mim e muito menos
para a firma. Você sabe disso, Giancarlo.
Respirei fundo, sem tirar os olhos dos dele.
— Eu vou pensar — cogitei. Era um lance arriscado,
mas uma firma que se preze sempre corria riscos se o
prêmio valesse a pena.
— Não temos tempo. Preciso agir agora — Vito
afirmou, sério e impaciente.
Ele nunca foi do tipo que pedia antes de agir, fazia
o estilo rebelde. No entanto, os últimos acontecimentos
entre nós dois o fizeram trabalhar com mais cautela.
— Eu disse que vou pensar, caramba! Não é tão
simples assim. Espere a minha resposta — decretei.
A contragosto, ele se levantou e assentiu,
insatisfeito. Respirei com calma quando o infeliz foi
embora, coloquei todas as demandas do dia em ordem,
inclusive a dele. O sol estava se pondo quando
investiguei o caso da Bel Gioco a fundo, era mesmo uma
boa oportunidade.
Quando liguei para os nossos clientes, tive uma
surpresa: Filippo já tinha se adiantado. A Gagliardi-
Ruggiero já era a nova equipe jurídica do CEO acusado
de assassinato.
— Porra! — xinguei, prevendo o problema, no
instante em que Filippo entrou na minha sala com um
contrato em mãos, provavelmente o da nossa nova
cliente. — Por que não me comunicou que havíamos sido
contratados pela Bel Gioco? — Me levantei, irritado.
— Estou vindo comunicar agora. — Ele me entregou
o documento, sem entender a minha reação. Li aquelas
palavras superficialmente, apenas o que mais importava.
Estava tudo fechado. — Por que acha que hoje de
manhã saí correndo às pressas com o Tomás daquele
jeito? Não podíamos perder a oportunidade.
— Você fez uma reunião com os nossos clientes
sem a minha participação! — contestei.
— Eu tentei falar com você, Giancarlo, mas não te
encontrei. Não podíamos perder tempo. Só come a
melhor fatia quem chegar primeiro. — Filippo apoiou a
mão direita sobre a minha mesa, encarou-me
profundamente. — Aliás, onde você estava hoje cedo?
Com a Emma? — disparou, desconfiado, mas não
entreguei o jogo.
— O quê? Não mude de assunto! Você devia ter me
esperado. — Voltei a me sentar, ele fez o mesmo, à
minha frente. — Ou me contado quando me viu naquele
momento.
— Por que isso está te incomodando tanto? O que
está acontecendo?
— Vito Sartori está interessado nesse caso. Eu
disse que ia pensar, não quero sair de mentiroso ou
parecer que estava apenas ganhando tempo pra você —
expliquei, encarei a tela do notebook.
Filippo ficou calado por um instante.
— Tem algo mais. — O observei, notei seu olhar
afiado. — Vito é difícil, mas essa questão é algo que
pode ser conversado. O que não está me contando? — O
infeliz coçou a barba, desconfiado.
— Se acha que assessorar três empresas
concorrentes não serve de bomba-relógio, está
enganado! Ainda mais quando uma delas está sendo
acusada de assassinato — reclamei, sem paciência. — É
melhor fazer essa merda direito, não admitirei erros!
Aproveite e trabalhe com o Vito.
— O Tomás me é suficiente.
— Isso não é um pedido, Filippo! — O encarei,
impassível. Ele se levantou, irritado.
— Não sei que bicho te mordeu, Giancarlo, mas
você sabe que só trabalho sozinho!
— Então talvez seja a hora de aprender a
importância de um grupo! — aumentei a voz, não lhe
deixando escolhas. Filippo engoliu o que estava prestes
a me dizer, encarou-me com um ódio absurdo antes de
me dar as costas e ir embora.
C A P Í T U L O 2 4

Debaixo do chuveiro, toquei a minha barriga com


cuidado, imaginei como seria a minha vida dali para
frente, já que em breve seria mãe. De repente, lembrei
dos sonhos que projetava ao lado do Nico, da vontade
que tinha de ter um filho dele, de me casar com ele, e
agora tudo isso havia se realizado em um rompante,
porém, com outro homem.
Um homem que não estava nos meus planos,
alguém que surgiu do nada e virou o meu mundo do
avesso. Giancarlo havia se tornado o meu efeito
colateral, um tsunami que em tempo recorde, modificou
a minha vida. Talvez, o único lado bom depois que fui
traída [ 11 ] .
Apesar de todo esse caos, sempre que pensava
nele, meu peito ardia. Meu corpo sentia a sua falta,
minha mente apenas gravava o seu rosto, como uma
tatuagem marcada em meu cérebro. E agora, de um jeito
ou de outro, estaríamos ligados para sempre.
Assim que saí do banheiro enrolada na toalha, fitei
a minha cama com aquele mesmo sentimento traumático
de todos os dias. Terminei de enxugar o cabelo com a
outra toalha e decidi me dirigir para o sofá da sala outra
vez, lá me sentia mais confortável, apesar de, na
realidade, não ser.
Me aproximei da mesinha de centro a tempo de
flagrar o meu celular vibrando, a foto da Ágata
aparecendo na tela fez com que eu travasse no mesmo
instante, indecisa sobre atendê-la ou não. Pensei na
possibilidade dela, de alguma maneira, ter descoberto
sobre as loucuras que fiz com o seu pai, uma
preocupação que me acompanharia de agora em diante,
enquanto essa situação fosse o meu maldito teto de
vidro.
Ignorei a chamada de vídeo na primeira vez, mas,
quando ela ligou novamente, respirei fundo e atendi.
De cara, surgiu a imagem dos gêmeos dormindo no
berço.
— Aaah, que fofos! — Meu coração se encheu de
alegria. — Eles são muito lindos!
Ágata mudou para a câmera frontal, onde surgiu
com o seu rosto bonito cansado, mas preenchido por
uma felicidade diferente, aquela que apenas uma mãe
conseguia expressar.
— Oi! — Acenei para ela, assim que me sentei no
sofá.
— Que saudade! — Ágata sussurrou, deixou o
quarto dos bebês ao fechar a porta devagar. — Você
sumiu! O que anda fazendo que não responde mais as
minhas mensagens? — Estreitou as sobrancelhas, notei
a sua saudade, era a mesma que a minha, e aquilo me
corroeu por dentro.
— Nada... — menti, com dificuldade. — É só que...
os últimos dias foram intensos no trabalho.
— Você ainda não tirou um tempinho para vir me
ver! — Ágata me acusou, foi como um tapa na cara. —
Sequer se esforçou para conhecer os seus sobrinhos.
Estou chateada! — afirmou, e tudo o que pensei é que
ela provavelmente iria surtar se soubesse da verdade.
— Eu vou! — falei, nervosa. — Juro que sim. Só
estava escolhendo o melhor momento, Filippo está
passando menos tempo na firma, então tudo ficou mais
corrido para mim e também para o Tomás. Não quis
atrapalhar esse lindo momento de vocês como papai e
mamãe, mas qualquer dia estarei aí.
— Que dia, exatamente?
— Logo... — Sorri, mas não convenci a minha
amiga.
— Tá bom, eu te perdoo. — Ela sorriu, meiga, feito
uma doce menina. Ágata se sentou em uma cadeira,
colocou o celular apoiado sobre a mesa, onde também
apoiou os braços cruzados. — E então, me conta as
novidades!
— Ah... não tem nenhuma. — Engravidei do seu pai,
você vai ter um novo irmãozinho ou irmãzinha, pensei.
— Hmmm, acho que está mentindo, Emma! — Ágata
semicerrou os olhos, encarou-me com desconfiança, de
uma maneira que fez meu coração bater mais rápido. —
Você não parece bem, o que aconteceu?
— Nada. É só que... — Pensei em qual desculpa
inventar dessa vez. — O Nico apareceu dia desses
pedindo para se explicar, foi muito estressante.
— Dio Santo! Como ele é cara de pau!
— Sim, ele é. Estou começando a achar que ele não
se importava comigo, mas sim com tudo o que eu podia
oferecer.
— Ah, mas pode ter certeza disso. Se um dia ele te
amou, isso terminou no instante em que decidiu se
envolver com a vagabunda da sua irmã. Falando nela,
Fiorela apareceu?
— Graças a Deus, não. Nem ela ou o meu pai, e
espero que se mantenham distantes por um longo tempo.
Já basta os meus problemas pessoais — declarei,
imaginei que se Fiorela e Aurélio inventassem de me
perturbar pelo tempo em que eu ainda tinha de gestação,
não conseguiria responder por mim.
— Amiga, não é porque virei mãe que você não
pode mais se abrir comigo — Ágata reclamou, ela não
podia imaginar o quanto eu queria me abrir, o quanto
queria falar. — Qualquer coisa estou aqui, entendeu?
— Sei que sim — assenti, buscando forças para me
manter firme diante da tela. — Está tudo bem... de
verdade — garanti, à medida que Ágata me analisava. —
E você? Agora me conte sobre você — pedi, momento
em que mudamos de assunto.

Chegar ao trabalho às sete e meia da manhã como


todos os dias, deveria ser algo normal, se não fosse
pela drástica mudança no ambiente. Constatei que algo
grave estava acontecendo quando percebi que todos
olhavam para mim, sem exceção.
Me senti como se estivesse em um desfile, sendo
assistida por uma grande plateia a cada passo. Alguns
sorriam de forma maliciosa e cochichavam entre si,
outros olhavam para o celular, impressionados. Aquelas
atitudes foram me torturando aos poucos, de tal maneira
que acreditei ser capaz de enlouquecer caso não
descobrisse a verdade.
— Tomás, o que está acontecendo? Por que todos
estão me olhando como se eu fosse uma extraterrestre?
— perguntei ao rapaz que parecia me esperar feito um
guarda ao lado do meu cubículo.
— Puta merda, não acredito que você ainda não viu.
— Ele me encarou, preocupado de tal forma que fiquei
em alerta.
— Do que está falando? — Coloquei a minha bolsa
sobre a minha mesa.
— Venha aqui. — Tomás me puxou pelo braço,
entramos na sala de Filippo que estava vazia, ele ainda
não tinha chegado.
O rapaz pegou o seu celular apenas para me
mostrar um vídeo. Mas não era qualquer vídeo, era
aquele em que eu estava bêbada e drogada me casando
com o Giancarlo em Las Vegas, dentro da maldita
capela. Dançando e gritando feito uma desvairada.
Perdi o chão.
Fiquei em choque.
— Não! — Coloquei a mão na boca. Meus
batimentos cardíacos se descontrolaram. Minhas pernas
esfriaram como o próprio gelo. — Como teve acesso a
isso? — Encarei o meu amigo como se não pudesse
acreditar.
— Vazou na internet ontem à noite, por volta das
vinte e três horas. Primeiro no grupo dos Sócios-
Sêniores, depois para a firma inteira.
— O quê? — Minha mente entrou em colapso.
Entendi o motivo de todos estarem rindo e me olhando e
quase desmaiei.
— Emma! — Tomás me segurou, colocou-me em
uma cadeira.
— Tomás... isso vai acabar comigo... e com o
Giancarlo! — Coloquei a mão na testa, abismada,
perdida em um turbilhão de pensamentos.
— Calma. Ao que tudo indica, ele já está correndo
atrás para tirar o vídeo da internet.
— Mas todo mundo já viu. — Pensei em voz alta. —
Isso vai se espalhar na cidade inteira, talvez no país.
Dio Santo!
— Emma, não enlouqueça! O Giancarlo não vai
deixar isso acontecer. Mas, pelo menos aqui dentro da
firma, a merda já está feita. — Tomás tomou a cadeira à
minha frente.
— E vocês ainda nem sabem do pior... — comentei,
olhando para o nada, prestes a ficar louca.
— Ainda tem mais? — Olhei para o Tomás, apenas
para testemunhar as suas sobrancelhas se estreitarem,
o semblante curioso e mais preocupado ainda.
— Esquece! — Ergui a mão, engoli em seco. — Eu
preciso sair daqui. Tenho que me esconder.
— Acalme-se, tome uma água. — Tomás se levantou
e se dirigiu até o frigobar do Filippo. Mas não adiantava,
sabia que nenhuma água do planeta seria capaz de me
recuperar daquele baque.
Quem fez isso? Como Giancarlo permitiu que
acontecesse?

GIANCARLO RUGGIERO
Era quase meio-dia quando saí do meu escritório
com o peso do mundo nas costas. O vídeo da loucura
que fiz com a Emma em Las Vegas já estava ganhando
algumas páginas de fofoca, fora o caos que aquela
notícia criou na firma.
E enquanto marchava para a sala de reuniões onde
todos os sócios me aguardavam, lembrei da maneira
como repreendi o Enzo na noite anterior, assim que
descobri a tragédia que ele tinha realizado:

— Você compreende o problema que me causou?! —


berrei, o assustando, fazendo com que o menino se
encolhesse mais contra parede do seu quarto.
— Desculpa, papai! Por favor, me perdoa! — Enzo
se debulhava em lágrimas, fazia bastante tempo que ele
não chorava assim.
— Enviar esse vídeo no grupo da firma, Enzo! Dos
meus sócios! Como foi capaz disso?! — exigi saber,
porque apesar dele ainda ser uma criança, era
inteligente demais para cometer tal erro.
— O seu WhatsApp estava aberto! Encontrei o vídeo
em uma das pastas, pai! — Soluçou, assustado.
— Enzo! — Enfiei as mãos no cabelo, olhando dele
para o maldito notebook que tinha o emprestado. — Meu
filho, não consigo acreditar nisso! Onde estava com a
cabeça?! No que estava pensando?! — bradei. O garoto
ficou apavorado.
— Desculpa papai, desculpa. — Arrastou as costas
pela parede até se sentar no chão. Usava pijama.
— Senhor! Está tudo bem? — Escutei a voz da babá
às minhas costas. Preocupada, ela havia acabado de
invadir o quarto, mas não lhe dei atenção.
— Por favor, me perdoa, papai. Juro que nunca mais
farei isso.
— Nunca mais mesmo, está me ouvindo?! — Ergui o
dedo, possesso de raiva. — Porque você perdeu a minha
confiança, Enzo! Seu pai não confia mais em você! E
agora vai ficar de castigo pelo resto do ano inteiro!
Entendeu?!
— Não, pai... não! Papai, por favor! — Gemeu,
arrasado, o rosto inchado e vermelho de chorar, mas não
senti pena.
Nunca precisei tocá-lo para que ele fosse às
lágrimas, jamais gostei de fazê-lo chorar. No entanto,
dessa vez, Enzo tinha passado dos limites.
— Senhor? — Madalena insistiu, enfim conseguindo
um pouco da minha atenção. Franzi os lábios,
estressado, preferi pegar o notebook de volta e
abandonar o cômodo.
Encontrei Filippo no meio do caminho, ele havia
acabado de chegar e não parecia nada amigável, assim
como eu.
— Depois que vi vocês dois juntos naquele dia,
desconfiei que estavam tendo algo. Mas, porra! Se
queria aproveitar a noite em Vegas com a minha
secretária, que não inventasse de se casar com ela!
Muito menos encher a cara ao ponto de praticar tamanha
baixaria! — Filippo estava furioso. Ele sabia que uma
exposição como essa, para um homem com o meu poder
e na minha posição, não seria ignorada.
— Se serve de consolo, a minha equipe já está
retirando o vídeo da internet. E não venha me
repreender como se eu não soubesse a gravidade do
problema, porque eu sei! — O fuzilei, assim que
paramos a frente da sala de reuniões.
— Ah, é? Então espero que tenha uma boa
justificativa, porque não consegui pensar em algo
minimamente razoável pra te defender! — Filippo me
ultrapassou e entrou primeiro. Caminhou entre o
burburinho de mulheres e homens engravatados que
discutiam a última notícia como se o mundo tivesse
acabado, o que não era uma mentira.
Precisei de todo o autocontrole possível para me
juntar a eles. Naquele momento, o mais inteligente seria
agir com cautela, e fazer de tudo para não permitir que
anos de trabalho fossem jogados pelo ralo.
C A P Í T U L O 2 5

Não era a primeira vez que tinha todos aqueles


advogados me encarando à espera de uma resposta, o
problema é que a situação agora era muito mais
complexa. A minha moral, tão bem conservada durante
todos esses anos, havia sido abalada, mas não fazia
parte do meu feitio ficar acuado. Se algum dia tivesse
agido de maneira contrária, não tinha me tornado um
líder.
— Todos nós já cometemos algum tipo de exagero
nessa vida. Infelizmente, o meu foi registrado e, por
irresponsabilidade minha ao supervisionar o meu filho,
vazou na internet — afirmei, observando profundamente
cada homem e mulher que cercava aquela mesa. — No
entanto, garanto que é algo controlável. Já estou
trabalhando nisso, o nome da firma não será manchado.
— Então é isso, Giancarlo? Você vem aqui dizer que
a sujeira que você fez será empurrada para debaixo do
tapete e tudo será simplesmente esquecido? — Mattia
Pagano, um dos sócios mais antigos da firma, se
pronunciou, da maneira mais ácida possível.
Ele não gostava de mim desde que assumi o lugar
de Sócio-Gestor.
— Até onde sei, o seu tapete nunca foi limpo,
Mattia. Meu pai ocultou muitas das suas sujeiras —
rebati, o irritando.
— É verdade. — O meio-sorriso do infeliz foi tão
fino, que era quase como uma lâmina a cortar o seu
rosto. — Porque diferente de você, o Gregorio sabia
muito bem se dividir entre mulheres e o trabalho. E ele
fazia isso de modo tão perfeito, que conseguia manter a
si mesmo e aos seus sócios na linha, outra coisa da qual
você não é capaz. Um exemplo disso, está bem aqui. —
Apontou para Filippo, que o fuzilou como se fosse um
inseto.
— Como ousa, Mattia? — Filippo rosnou.
— Estou mentindo? — Mattia abriu as mãos,
adorando o show que estava fazendo. — Todos sabem
que você transformou essa firma em um parquinho de
diversões quando decidiu engravidar a filha do seu
amigo, Filippo. — O desgraçado encarou a nós dois. —
O Vito mencionou sobre esse assunto em outra reunião,
e o que aconteceu? — Apontou para o Vito, que até
então permanecia calado, atento a tudo como se fosse
um predador esperando a melhor hora de atacar. — Foi
rebaixado, como um castigo. Como se não fosse o
bastante, Giancarlo ainda decidiu seguir o seu exemplo,
se envolvendo com a sua secretária. O que é isso?
Vingança? — Sorriu, fazendo piada.
— Agora chega! — Bati a mão na mesa e me
levantei. — Nem Emma nem a minha filha são dados
para serem usadas em um joguinho particular entre mim
e o Filippo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Você se refere às duas como se fossem objetos e eu não
permitirei isso! — Levantei a voz, irritado.
— Muito menos eu! — Filippo se ergueu, o rosto
vermelho de raiva. — Ágata é a minha esposa, mãe dos
meus filhos. Emma também é uma mulher digna, então é
melhor que você e todos aqui as respeitem! — Filippo
apontou para cada pessoa do grupo.
— Se não o quê? — Mattia ergueu o queixo.
Naquele momento, percebi onde o maldito queria chegar.
Seu objetivo era colocar todos os sócios contra nós,
algo perigoso.
Filippo chegou a dar o primeiro passo em direção a
ele, todavia, fui mais rápido.
— Filippo! — o chamei, a minha voz emanou mais
grossa do que o normal.
De punhos cerrados, Filippo parou de caminhar. Ele
olhava para Mattia com a promessa de destruí-lo, e o
infeliz queria aquilo, almejava o nosso descontrole.
— Vamos todos manter a calma — pedi, me
controlando para não quebrar a cara do desgraçado. —
Antes de tudo, exigimos respeito, Mattia. É o que
estamos querendo dizer.
— Respeito é algo conquistado, Giancarlo. — O
infeliz olhou de mim para Filippo. — Não imposto. A
verdade é que nem você ou o Filippo são capazes de
continuarem a frente dessa firma.
— E quem seria? Você? — Filippo cruzou os braços,
indignado.
Mattia ficou de pé. O infeliz estava na casa dos
sessenta anos.
— Talvez. Sou o mais maduro e experiente aqui. Por
que não? — Ele observou ao redor, apoiou as mãos na
mesa. — A verdade é só uma, meus amigos: ou nos
juntamos e decidimos o que é melhor para a nossa firma,
ou deixamos dois garotos disfarçados de advogados nos
arrastarem para o buraco!
Admito que, naquele instante, tive vontade de
assassiná-lo.
— Agora você pode me castigar também, Giancarlo.
Ou até mesmo me demitir — Mattia afirmou, quando
parou ao meu lado. — Não é esse o seu estilo de líder?
Aquele que não se permite ouvir e pune quando é
contrariado? — Foram as suas últimas palavras antes de
deixar a sala, vitorioso.
Um a um, os demais sócios o acompanharam, cada
um deles pareciam distantes de mim e de Filippo, agiam
como se fôssemos estranhos. O último a se levantar foi
o Vito, que nos encarou com um ódio e rancor acima do
normal, apesar de ter se mantido em silêncio.
— Filho da puta desgraçado! — Filippo bradou,
arremessou alguns documentos que estavam sobre a
mesa no chão.
— Filippo. Fica. Calmo — pedi, entredentes,
pausadamente.
— Esse infeliz mais uma vez está tentando tomar a
firma de nós! — Apontou para o caminho que Mattia
seguiu. — O desgraçado não desiste, é assim desde a
época do seu pai! — Cerrou os punhos, espremeu os
próprios dedos como se fosse quebrá-los. — Se ele
conseguir convencer todos os sócios...
— Ele não vai — garanti, com as mãos apoiadas
sobre a mesa, pensativo. — Não iremos permitir um
golpe. Ainda mais um que foi anunciado.
— Então temos que agir rápido. Temos que ter
certeza de quais são os sócios que estão do nosso lado.
— Filippo caminhava de um lado a outro, aturdido.
— Exato. E temos que fazer isso sob controle. Você
não pode explodir e partir pra cima deles como quase
fez aqui — o repreendi, Filippo passou a mão no cabelo
e agitou a cabeça, prometendo que aquilo não se
repetiria. — É o que Mattia quer de nós, provas de que
não temos mais condições de liderar a firma.
Ficamos algum tempo calados, cada um
raciocinando sobre o problema.
— Nenhuma outra bomba pode explodir, Giancarlo.
Ou ficaremos ainda mais vulneráveis e perderemos o
que nos restou de credibilidade. Não será bom para a
Gagliardi-Ruggiero ter uma rebelião dos sócios.
— Não, não será — concordei, tenso para um
caralho. — Mas a bomba maior não é o vídeo.
Filippo parou de caminhar e me fitou, curioso e
nervoso.
— O que mais eles podem descobrir? — Se
aproximou, ergueu uma sobrancelha.
Respirei fundo, era hora de revelar.
— A Emma está grávida — disparei. — Está
esperando um filho meu.
Pelo semblante chocado de Filippo, diria que a sua
mente deu um giro de trezentos e sessenta graus.

EMMA COSTANTINO
Cheguei ao meu apartamento no final da tarde,
havia acabado de retirar os saltos quando escutei a
campainha tocar. Caminhei descalça até a porta,
observei pelo olho mágico, era a Ágata. O meu
estômago congelou ao mesmo tempo em que tive a
certeza: se ela tinha saído da sua casa e se afastado
dos seus bebês apenas para me procurar, era porque já
sabia do maldito vídeo.
Fechei os olhos por um instante e respirei fundo
antes de recebê-la. Não tinha mais como fugir daquele
assunto, precisava enfrentá-la.
— Ágata? Entre. — Apontei para dentro do
apartamento, ela entrou com um semblante perturbado,
parecia nervosa. — Sei porque está aqui — afirmei,
assim que fechei a porta.
— Que bom — assentiu, ruborizada de raiva. —
Porque eu vim aqui para dizer que acreditava que você
era a minha amiga!
— Mas eu sou sua amiga! — respondi.
— Que amiga mente para a outra? Que amiga
esconde que transou e se casou com o meu pai? —
Perdi a fala, não soube o que dizer. Era como se, por
três segundos, não soubesse respirar. — Sim, porque eu
não sou burra, vocês com certeza transaram. Ele era o
cara que você ficou em Las Vegas! — me acusou, de
dedo erguido.
— Sim, era o seu pai — assumi. Ágata fechou os
olhos e me deu as costas. Caminhou pela sala, era
evidente que estava decepcionada e irritada. — Ágata,
eu juro que quis te contar. Várias vezes quis falar, mas
como?! Me diga como?! — Meu peito doeu, um
sentimento terrível se espalhou por todo o meu corpo,
como se estivesse doente.
— Contando, caramba! Mamma mia! — exclamou,
voltando-se com tudo em minha direção. — Eu poderia
ficar assustada, mas seria bem melhor saber da sua
boca do que descobrir dessa forma! Você mentiu pra
mim, Emma!
— Eu não menti, apenas ocultei e essas duas coisas
são bem diferentes! — Ergui o dedo, me defendi.
Ágata sorriu, incrédula, negando com a cabeça.
— Você fala como se fosse fácil! — continuei, a
seguindo quando ela se afastou. — Se põe no meu
lugar! Era o mínimo que eu esperava de você! — A
mesma revolta que a corrompia, começou a me
corromper.
— O mínimo que esperava de mim? — Ágata ficou
indignada.
— Porque um tempo atrás você passou por uma
situação parecida. Também ficou exposta, sofreu! Eu
poderia ter ficado do lado do Filippo pelo simples fato de
que era ele quem pagava o meu salário, mas não, fiquei
do seu lado! — Apontei para ela.
— Para agora jogar tudo na minha cara! — Ágata
debochou.
— Não! Para agora você insinuar que fui falsa! —
rebati, não estava disposta a abaixar a cabeça. —
Quando na verdade, o que está doendo em você não é o
vídeo em si, é outra coisa!
— O quê? — Ágata ergueu o queixo, enraivecida.
Hesitei, pensei duas vezes, não queria transformar a
situação em algo pior do que já estava. — Vai, fala! —
incentivou.
— Ágata... — Abaixei o tom. — É normal você estar
com ciúmes do seu pai, mas por favor... — A garota
sorriu outra vez. Caminhou de um lado a outro.
— Foi um erro ter vindo aqui. É melhor eu ir
embora. — Ela me ultrapassou, abriu a porta, mas antes
de partir, me fitou uma última vez. — Mas antes, quero
que saiba que você perdeu todo o meu respeito, Emma.
Foi um tapa na cara.
— Tudo bem. Você também perdeu o meu. — O que
falei, a fez esbugalhar os olhos. — Porque se não é
capaz de se colocar no meu lugar como me coloquei no
seu, então não faz sentido continuarmos sendo amigas.
Ágata assentiu, em silêncio. Ela deu os primeiros
passos para se afastar, porém, ainda precisava saber de
uma última coisa:
— E se o seu pai ainda não lhe contou, eu estou
grávida — disparei. Foi como se Ágata recebesse uma
facada nas costas.
Ela me encarou por sobre o ombro, boquiaberta.
Então partiu.
C A P Í T U L O 2 6

Havia acabado de estacionar na rua em que o


condomínio da Emma ficava localizado quando avistei a
minha filha saindo do prédio, atormentada. Desci do
carro depressa, fiz um sinal para que o motorista me
aguardasse antes de caminhar até ela.
— Ágata! — exclamei. Ela ficou surpresa quando me
viu, e eu a conhecia bem para identificar que estava
abalada, os olhos marejados. — O que está fazendo
aqui? — indaguei, curioso, prevendo uma péssima
resposta.
— Advinha? Tentando entender como fui enganada
pela minha melhor amiga e pelo meu pai! — Se já não
estivesse tão estressado do dia de cão que tive, não
teria dado a resposta que ela ouviu.
— Da mesma forma como você me enganou com o
meu melhor amigo! — rebati, ríspido. Algo que fez uma
lágrima grossa e pesada manchar a sua face, como se
Ágata tivesse recebido um soco no estômago.
Ela se esforçou para engolir as minhas palavras.
Por fim, assentiu, arrasada.
— Tem razão — respondeu, frágil. Continuou
caminhando até o seu carro.
— Filha! — Estendi o braço em sua direção,
arrependido, mas já era tarde.
Ágata entrou no veículo e foi embora. Era a gota
d’água do meu dia terrível! Precisava de tudo naquele
momento, exceto um desentendimento com a minha
querida filha.
Abalado, entrei no prédio sem uma segurança
adequada, um velho recepcionista fumante que não
parecia atento a quem ia e vinha e um ambiente feio que
não me agradou em nada. Sem olhar no meu rosto, o
homem na casa dos setenta anos me informou o número
do apartamento que eu desejava visitar sem sequer
pedir a minha identificação.
O elevador estava com defeito, tive que subir pela
longa escada. O prédio era antigo, os vizinhos
estranhos. Ali não parecia um bom local para uma garota
grávida morar.
Emma demorou a abrir a porta, mas quando a vi
usando apenas uma toalha branca, curta, os cabelos
vermelhos molhados, a pele úmida de quem havia
acabado de sair do banho, foi como uma lufada de ar.
Me senti renovado somente por estar em sua presença,
uma energia pacífica tomou conta de mim. E apesar do
seu rosto abatido, um calor sublime me afagou o peito,
obrigando-me a esquecer, naquele instante, todos os
meus problemas.
— Giancarlo? — A voz frágil de Emma me fez
piscar, sair do transe.
— Eu vim aqui saber como você está — falei,
preocupado com o seu estado. Emma pareceu surpresa,
como se não esperasse por isso. — Não faz bem para o
bebê todo esse caos. — Olhei para a sua barriga, antes
de testemunhar seus lindos olhos verdes fraquejarem.
Ela não disse nada, apenas tomou fôlego antes de
me abraçar forte, denunciando o quanto necessitava do
meu apoio. A questão aqui, é que eu também precisava
do dela. Tive a certeza disso quando a correspondi.
Quando a acolhi entre os meus braços com toda a força
possível.
Entrei no apartamento, fechei a porta, mas em
nenhum momento a afastei do meu corpo, pelo contrário.
A mantive colada a mim, beijei o topo da sua cabeça,
acariciei o seu cabelo e as suas costas enquanto Emma
chorava, destruída com tudo o que aconteceu.
— Não chore, anjo. Eu estou aqui — declarei,
segurei o seu queixo, ela ergueu seu lindo rosto... tão
sensível e assustado. — Isso tudo é apenas uma
tempestade de areia — afirmei, em uma tentativa de
acalmá-la. A voz rouca pareceu fazer efeito.
Não conseguimos resistir, nos beijamos.
Foi um arrastar de lábios intenso e diferente de
todos os outros porque, dessa vez, parecia que o nosso
toque ia muito além da carne. Atingia o âmago e
bagunçava tudo dentro de mim, de um jeito bom, louco.
Na sua boca, me senti em casa, senti que estava no
lugar certo e o único que realmente importava naquele
momento.
Eu queria aquela mulher. Mais que tudo, a queria
inteira para mim, tanto quanto o filho que carregava em
seu ventre.
O beijo, até então sentimental, se tornou
esfomeado, um desespero nos inundou como se aquela
fosse a última oportunidade de nos entregarmos, de
sentirmos aquela energia avassaladora que apenas
tomava vida quando ficávamos exatamente assim,
obcecados um pelo outro.
Peguei Emma no colo, sua toalha caiu no processo,
ela ficou completamente nua montada em mim, que
usava terno, como sempre. Nossas bocas não se
desgrudavam, minhas mãos afundaram em suas nádegas
sensíveis de tal maneira que a garota gemeu, gostoso.
— Onde fica o seu quarto? — perguntei, o pau duro
entre as pernas doendo de ansiedade.
— Não, eu quero aqui mesmo. Aqui no sofá —
Emma pediu, sem conseguir parar de arrastar as mãos
por meus cabelos, ou de sentir a minha barba espetar a
sua garganta e rosto à medida que a pequena atrevida
esfregava a boceta carente em mim, melava a minha
roupa.
Apoiei um joelho no assento do sofá para poder
deitá-la à minha frente, esmagar o seu seio de bico
inchado enquanto mordia o seu lábio carnudo, saboroso.
Sem querer perder tempo, retirei o blazer e a
camisa social. Fiquei de pé para me livrar dos sapatos,
da cueca e calça que pressionavam a minha forte
ereção.
Emma mordeu o lábio inchado e vermelho quando
avistou o meu pau. E pelo brilho erótico que corrompeu
as suas pupilas inocentes, tive a certeza de que a infeliz
o desejava em cada centímetro.
Ansiosa pelo meu contato, ela abriu as pernas
quando voltei para o mesmo lugar. Pairei sobre o seu
corpo cujas curvas significavam pecado ao mesmo
tempo em que, não tive dificuldade nenhuma para
mergulhar dois dedos grossos em sua boceta molhada.
Tão melada de necessidade que seu suco escorria ao
redor, umedecia tudo.
— Você está tão carente, anjo... — grunhi dentro de
sua boca, entre beijos. Emma afundou as unhas em
meus braços, rebolou devagar e gemeu manhosa
enquanto me sentia massageá-la entre as coxas. Do
jeito habilidoso que sabia que ela gostava. — Sua
boceta está ardente... quase pegando fogo. — Mordi a
sua orelha, ela arranhou as minhas costas, espalmou
cada músculo.
— Gian, que saudade... — Gemeu, e foi tão
profundo que era como se não nos encontrássemos há
anos. O apelido pelo qual fui chamado, nos tornou ainda
mais íntimos.
Então a masturbei, intensifiquei o toque. Meti os
dedos com força, tantas vezes que Emma perdeu os
sentidos. Durante aquela loucura, mamei nos seus
peitos, mordi cada bico sem me importar com os gritos a
ultrapassar sua garganta.
No limite do prazer, Emma segurou o meu pau,
sentiu a minha espessura e robustez em uma tentativa
falha de competir comigo. Acertei o polegar em seu
clitóris, castiguei seu ponto sensível como devia, apenas
para testemunhar a mulher se contorcer inteira debaixo
do meu corpo.
E no exato momento em que ela começou a gozar,
enterrei o pau em sua boceta. De uma só vez.
Aquela atitude cortou o seu raciocínio, sua boceta
não sabia se esguichava ou se me recebia. Forcei as
duas coisas. Não dei tempo para que a garota tomasse
fôlego, a golpeei entre as coxas com toda violência
possível. Com uma saudade feroz e doentia a me
corromper a carne.
Tomei a sua boca outra vez e continuei a fodendo, a
afundei naquele sofá pequeno que não me cabia, onde
encontrei dificuldade para comê-la do jeito que queria.
No entanto, prossegui. Nada seria capaz de me parar
naquele momento. Meti fundo, grosso e intenso. Emma
teve orgasmos múltiplos, sua pele ficou toda vermelha.
Ofegante, a virei, deixei-a de bruços à minha frente
apenas para estapear a sua bunda farta, que ondulou
com a minha força. Não o bastante, saí do sofá, me
curvei sobre o seu traseiro, mordi a sua nádega até
marcar os dentes. Era um sentimento primitivo, algo que
não me esforçava em entender, mas estava viciado pra
cacete!
— Aaai! — Ela gemeu, tentou fugir, mas aquilo era
apenas o começo. Cravei os dentes na outra nádega,
afundei os caninos como se quisesse arrancar pedaço.
Emma ficou louca, quase chorou de dor, mas não
reclamou. Principalmente quando decidi abrir a sua
bunda e chupar o seu cuzinho, com um cheiro gostoso
de sabonete líquido que me deixou ainda mais
obcecado.
Ela era perfeita, desde a ponta do seu dedo
mindinho até o último fio de cabelo. E agia como se
soubesse que me pertencia a ponto de me permitir fazer
com o seu corpo o que bem entendesse. Ou, talvez,
apenas entendia que não seria boa ideia batalhar contra
os meus instintos, já que no final sempre saía
beneficiada.
Benefício era uma palavra que combinava com ela
em cada lugar. A infeliz era voluptuosa. Chupei tanto o
seu cu que ficou tonta, e quando me satisfiz ali, desci
para a sua boceta, me lambuzei entre as suas dobras
generosas e também a mordi naquela região, de uma
maneira tão sensual que fez a diaba gozar na minha
cara.
Apenas para ficar fraca, totalmente submissa.
Quando me posicionei sobre o seu quadril, prendi os
pulsos dela atrás das costas, usei a outra mão para
agarrar um punhado do seu cabelo. No instante em que
afundei o pau grosso em sua pequena boceta, tão
inchada e sensível que acreditei que iria enlouquecer.
Foi então que a golpeei, desesperado. Surrei a sua
intimidade, implacável. Tinha pressa para comê-la, para
sentir o impacto que fazíamos quando o meu saco batia
nela com tudo.
No limite da luxúria... quando meu coração ameaçou
rasgar o peito, soltei os seus pulsos e cabelo. Acertei
mais um tapa ardido em sua nádega, segurei Emma pela
cintura, firme, rude. Sem parar de castigar a sua boceta.
Era selvageria, devassidão, paixão. Não importava o
nome.
Apenas o que importava era aquele momento.
Aqueles segundos em que rugi como se o meu pau fosse
drenado dentro de seu corpo, no instante em que
ejaculei violento, em total descontrole. E em meio à
loucura que dominava a minha mente, cheguei à
conclusão de que marcá-la com os dentes não era o
bastante, precisava de mais.
Então gozei sobre o seu traseiro, me masturbei e
atingi os últimos jatos em suas costas, criei o caos.
Emma permaneceu deitada, irrecuperável, a boceta
abrindo e fechando em espasmos, derramando o suco
dos seus orgasmos.
Era uma cena linda de se ver, me pegou de jeito.
Algo que sabia que ficaria para sempre em minha
memória, e provavelmente na dela também.
— Você ainda vai me matar... — murmurou, de olhos
fechados, o rosto cansado, porém satisfeito. — E vai ter
que limpar essa bagunça que fez em mim.
Não fiz nada mais do que sorrir, tentei ficar de pé,
mas não tinha forças. Apenas me sentei no chão,
encostado no sofá, aos seus pés.
C A P Í T U L O 2 7

Se havia uma coisa que eu jamais poderia imaginar,


era um dia testemunhar o Giancarlo entrar no meu
banheiro, ficar abraçado comigo debaixo do chuveiro e
cuidar de mim como apenas um homem apaixonado
poderia cuidar. Sempre que estava com ele, tentava não
me iludir, não voltar a ser aquela menina boba que
sentia borboletas no estômago, mas Giancarlo
conseguia, sutilmente, dificultar as coisas.
Ele não apenas lavou as minhas costas para
eliminar a bagunça que tinha feito, como também
colocou shampoo no meu cabelo.
Ter seus dedos massageando o meu couro cabeludo
à medida que criavam espuma, poderia ser definido
como uma das melhores experiências da minha vida.
De olhos fechados, viajei naquela fantasia, um
sonho maravilhoso onde ficaríamos juntos para sempre.
Onde Giancarlo continuaria sendo, não somente o pai do
meu filho, como o meu apoio, o meu homem.
Eu estava completamente apaixonada. Tão doente
de amor por ele que já temia a hora em que fosse
embora. E todo aquele turbilhão de sentimentos que
Giancarlo conseguia me causar, me assustava, porque
tinha medo de me decepcionar. De não ser
correspondida outra vez. De me doar para no fim, ser
traída de alguma forma.
Os fantasmas do que Nico e Fiorela fizeram comigo,
ainda permaneciam dentro de mim, por mais que
tentasse me livrar. E apesar de ter buscado alguma
maneira de me blindar contra o Giancarlo, estava agora
falhando novamente porque, a verdade é que não queria
me afastar. A verdade é que eu queria,
desesperadamente, que ele me amasse. Mas isso ele
jamais iria saber.
Quando terminamos, Giancarlo me vestiu com o meu
roupão logo após se enrolar na toalha que Nico
costumava usar, e que, por sinal, ficou pequena para o
tamanho dele, já que tinha uma boa diferença de altura
comparado ao meu ex.
Giancarlo era tão alto, que o meu apartamento
parecia a casinha dos sete anões para ele em alguns
momentos. Se erguesse a mão, facilmente tocaria o teto,
além de ter sido obrigado a abaixar a cabeça quando
passou no vão da porta.
Para a minha surpresa, ele me pegou nos braços
assim que deixamos o banheiro.
— O que está fazendo? — Sorri, surpresa.
— Sei que está fraca. Pode escorregar e bater com
a cabeça — se justificou, fazendo-me rir novamente.
— Nossa! Como a sua mente é fértil!
— Estou protegendo você e o bebê. — Fiquei
calada, aquele comentário me abalou por dentro, mas
não queria me iludir.
Você não pode se iludir, Emma!
Giancarlo quase me deitou na cama, todavia, o
impedi:
— Não, por favor — pedi. — Vamos voltar para o
sofá. — O homem estreitou as sobrancelhas, sem
entender.
— Qual é o problema com o seu quarto e com a sua
cama? — perguntou, não parecia fazer nenhum esforço
para me manter em seus braços.
— Nada... — franzi os lábios. — É só que... não
tenho boas lembranças — admiti, algo que o
surpreendeu. Giancarlo era esperto demais, pareceu
entender sobre o que eu estava falando.
— Certo — assentiu, levando-me para a sala.
— Grazie — agradeci, quando me deitou no sofá,
cuidadoso. Todas as almofadas cheiravam ao nosso
sexo, algumas até estavam manchadas. — Está sentindo
esse cheiro? — O olhei de baixo, contemplei a maneira
masculina como colocou as mãos na cintura, o seu
tanquinho trincado e úmido. A toalha pequena e quase
caindo que o tornava ainda mais sexy.
O infeliz era um deus grego.
— Aham — ele concordou, pensativo. Fez um sinal
para que eu aguardasse, retornou para o meu quarto e
veio de lá com cobertores e travesseiros.
Fiquei chocada quando o vi montar uma cama no
chão, no espaço vazio e pequeno entre a cozinha e a
sala.
— Giancarlo, não precisa fazer isso. Eu me viro ali
no sofá. — Fui até ele, parei ao seu lado.
— Mas lá não caberá nós dois — disparou,
continuou com o seu trabalho de colocar um cobertor
sobre o outro, até que ficasse confortável.
Boquiaberta, demorei a processar o que escutei.
— Vai dormir aqui?
— Se não me expulsar. — Me encarou de
sobrancelha erguida, depois ajoelhou e ajeitou os
travesseiros.
— Não, tudo bem. Por mim você pode ficar. — Dei
de ombros, tentando agir com normalidade. O
desgraçado estava mesmo disposto a brincar com fogo.
Ele não tinha pena de mim.
Nos deitamos de lado e de frente um para o outro,
dividindo o mesmo edredom, apesar de estarmos
seminus por baixo. Ele usava apenas a sua boxer e eu
preferi ficar de calcinha e suéter.
A cama improvisada estava bem aconchegante e o
calor intenso que emanava do corpo dele me
esquentava. Mergulhei nos seus olhos cor de avelã à
medida que a sua mão acariciava o meu rosto, momento
em que percebi que poderia ficar assim com Giancarlo a
noite toda, talvez dias inteiros.
— Como aquele vídeo foi parar na internet? —
perguntei, lembrando do nosso problema.
— O meu filho — Giancarlo respondeu, perdendo o
sorriso meigo do rosto.
— O Enzo? Não é possível. — Neguei com a
cabeça.
— Ele pediu o meu notebook emprestado e, sem
querer ou não, colocou o vídeo no grupo dos sócios. Era
o meu notebook pessoal, meu WhatsApp estava aberto.
— Giancarlo parou de correr os dedos por minha face,
colocou as mãos debaixo da cabeça.
— Isso não parece coisa do seu filho. — Me sentei
para poder olhá-lo nos olhos. — Tem certeza de que foi
ele? Vocês conversaram?
— Não foi uma conversa, nós brigamos. Quando vi
as conversas no grupo, corri até o quarto dele para
entender o que estava acontecendo. Enzo estava
desesperado tentando apagar o vídeo, mas a merda já
estava feita.
— Se ele queria expor o vídeo, então pra quê iria
apagar em seguida? — Fiquei desconfiada. — Não acha
isso estranho? — Giancarlo permaneceu calado,
pensativo. — Até onde sei, o Enzo queria que nós dois
ficássemos juntos, se ele chegou a ver o vídeo, ficaria
feliz com isso, não faz o estilo dele realizar essa
maldade. Ele tem doze anos, acredito que entenda como
funcionam as coisas.
— Sim, ele entende. Meu filho é muito inteligente,
por isso até agora não consegui entender. — Giancarlo
me encarou, perturbado e desconfiado. — Mas amanhã
conversarei com ele.
— Isso, conversa com ele. Tenho certeza de que
deve existir outra resposta.
Giancarlo sorriu sem mostrar os dentes, como se
estivesse encantado.
— O que foi? — indaguei, curiosa.
— Você aí defendendo o Enzo, como se fosse a mãe
dele.
— Ele é o meu amiguinho. Sempre irei defendê-lo.
— Sorri, Giancarlo me puxou, ficou sobre mim e me
presenteou com um beijo rápido.
— Agora, mudando de assunto... — Escorregou a
ponta dos dedos na lateral do meu rosto. — O seu
apartamento é a única coisa bonita que vi até agora
neste prédio. — Olhou ao redor. Gostei dele ter elogiado
o meu cantinho, realmente era lindo. Pequeno, mas belo.
— Grazie. — Rocei as unhas em sua barba.
— Você não entendeu. — Giancarlo limpou a
garganta, sua expressão ficou séria. — Não gosto que
more aqui.
Aquilo me pegou de surpresa.
— Mas esse é o meu lar — respondi, com calma,
sem entender aonde queria chegar.
— Achei o prédio sem segurança. Seus vizinhos são
estranhos.
— Isso, tenho que concordar. Estou juntando uma
grana para comprar outro em outro lugar, mas por
enquanto pretendo permanecer aqui — afirmei, convicta,
para que ele entendesse.
— Emma, agora você está grávida. E não é porque o
filho seja meu, mas... como pai, não me sentirei bem
sabendo que você vai passar a gestação aqui.
— E para onde eu iria? Para uma cobertura alugada
por você? — brinquei, sem parar de lhe fazer carinho.
— Para a minha casa — disparou, fiquei chocada.
Permaneci em silêncio pelos primeiros cinco
segundos, aguardando o momento em que Giancarlo
falaria que era brincadeira. Mas ele não falou.
— Tudo bem. É melhor pararmos com essa
conversa. — O empurrei no peito. Ele se afastou, eu me
sentei.
— Emma, estou falando sério. — Giancarlo
continuou me encarando, tão firme que cogitei acreditar
mesmo.
— Giancarlo, por favor. Você não está preparado
para isso... — Neguei com a cabeça.
— Não pode responder por mim. — Ele segurou a
minha mão, acariciou o dorso.
— Eu também não estou e não quero tomar
nenhuma atitude precipitada. Não é porque teremos um
filho que você precisa se responsabilizar integralmente
por mim — expliquei, caso ele estivesse pretendendo
tomar essa responsabilidade.
— Eu sei disso. Assim como sei que é uma mulher
independente, tem seu trabalho e dinheiro, mas você
está grávida. Tem um filho meu aqui. — Colocou a sua
mão grande sobre a minha barriga. — E tudo o que eu
puder fazer para tornar a sua vida melhor, para protegê-
la, eu farei. E não é você que vai me impedir —
decretou, sério. Poderia ficar chateada, mas fiz o
contrário, suspirei, encantada.
Não resisti. Segurei o seu rosto e o beijei, me
entreguei aos seus lábios carnudos, que me engoliram
com facilidade, chuparam a minha língua. Montei sobre
Giancarlo, senti seu pau endurecer debaixo da minha
bunda. Ele agarrou as minhas nádegas, enfiou os dedos
por dentro da calcinha.
— Isso é um sim? — perguntou, entre beijos. Ao
mesmo tempo em que me permitiu roçar nele.
— Não... — suspirei, excitada. — Significa que vou
te dar um tempo para pensar melhor a respeito. —
Giancarlo ergueu o meu suéter, abocanhou o meu seio
pesado.
Gemi, mordi o lábio.
— Por quê? — Ele abriu a minha bunda, enfiou a
ponta do seu anelar em meu ânus.
— Porque tenho medo de ser machucada outra vez
— revelei com dificuldade. De olhos fechados.
Não dissemos mais nada. Apenas o cavalguei.
Fizemos amor por horas, até cairmos no sono.
Na manhã seguinte, acordei com aquela sensação
satisfatória de ter levado uma boa surra de sexo, tão
intensa que desmaiei, sequer vi quando o Giancarlo foi
embora, me deixou sozinha sem nenhum aviso.
Aquilo era uma resposta, pensei.
Me sentindo dolorida e assada entre as pernas, me
arrastei até o banheiro, me preparei para ir ao trabalho,
tomei um forte café. E durante a viagem até a firma, o
meu estômago foi tomado por um frio congelante, uma
sensação terrível de incapacidade, a incerteza se
conseguiria continuar de cabeça erguida diante de todos
aqueles olhares. Olhares que me chamavam de putinha
do chefe ou coisa pior.
Ao sair sozinha do elevador, tive o primeiro impacto,
as moças da recepção sorriram com sarcasmo, fizeram
cochichos. Só aquilo já me desestabilizou, no entanto,
puxei ar, respirei fundo e dei os primeiros passos,
apenas para notar todo mundo me encarando naquele
amplo corredor que me levaria até o meu cubículo. Como
se estivessem me aguardando.
Paralisei, amedrontada, era como se conseguisse
escutar o pensamento de cada um através de seus
semblantes.
Puta, vagabunda, interesseira. [ 1 2 ]
Dei um passo atrás, tremi cada osso por dentro.
Não iria conseguir atravessar aquele campo minado sem
desabar pelo caminho.
Antes de recuar de vez, senti alguém segurar a
minha mão, um toque forte, quente e protetor que me
pegou de surpresa. Ergui o rosto, me deparando com
Giancarlo Ruggiero ali, ao meu lado, olhando-me firme,
com segurança e profundidade. Minha pele inteira
formigou, arrepiei dos pés à cabeça.
O que ele estava fazendo?
— Não tenho mais tempo a perder, anjo — declarou,
se referindo à nossa conversa da noite anterior. — Vem
comigo? — convidou, à medida que meu coração batia
tão forte que mal consegui respirar direito.
Não pude fazer nada, nem dizer uma palavra.
Apenas assenti, concordando. Engoli em seco. Então
Giancarlo me puxou, atravessou aquele vale das
sombras ao meu lado, me deu forças para vencer os
demônios. Um tapa na cara da sociedade. De todos
aqueles que achavam que a nossa loucura em Vegas não
passava de uma piada.
Era como se o tempo passasse em câmera lenta a
cada passo. Os semblantes antes maldosos, agora
estavam chocados, inclusive os dos nossos amigos.
Tomás e Filippo nos aguardavam no fim do caminho,
apenas para testemunharem Giancarlo me deixar no meu
posto de trabalho, segurar o meu rosto da maneira mais
gentil possível e depositar um único beijo sobre a minha
testa.
E foi assim, caras amigas e amigos, que descobri
que não importava o que acontecesse. Eu amaria aquele
homem para todo, todo o sempre!
C A P Í T U L O 2 8

Quando deixei Emma dormindo e voltei para a minha


casa, pensei bastante em tudo o que havíamos
dialogado, principalmente quando ela falou sobre o
tempo que acreditava que eu precisava ter para pensar
sobre morarmos juntos. Era mesmo uma decisão
importante, algo que não poderia ser feito de modo
irracional, mas depois que conheci o seu prédio, sabia
que não conseguiria ficar quieto enquanto não tivesse a
certeza de que a pequena ruiva e o meu filho estariam
seguros.
Entrei na mansão a tempo de flagrar Madalena se
preparando para entrar no quarto de Enzo,
provavelmente na intenção de acordá-lo e levá-lo para a
escola, como fazia todos os dias.
— Senhor? — ela se surpreendeu quando me viu,
ainda mais quando notou que eu ainda usava o mesmo
terno de ontem.
— Vai acordá-lo? — indaguei.
— Aham. — Sorriu.
— Deixa que faço isso — decidi.
Madalena me deu espaço, entrei no quarto devagar,
abri as cortinas das janelas apenas um pouco, o
bastante para iluminar o ambiente.
— Papai? — Enzo acordou. Coçou os olhos quando
fez esforço para se sentar, ao mesmo tempo em que
bocejava.
Sentei-me ao seu lado, agradeci a Deus por ter
aquele lindo menino em minha vida. Apesar de às vezes
ele me dar trabalho, nunca deixaria de amá-lo, de
colocar a sua felicidade acima da minha.
— Bom dia, filho. — Coloquei a mão sobre o seu
pequeno joelho, à medida que o garoto me encarava
curioso e triste.
— O senhor dormiu fora por minha causa, não foi?
— indagou, abatido. — Porque divulguei o vídeo.
— Não, Enzo. Não foi por isso. — Neguei com o
rosto. — É certo que ainda estou bastante chateado com
você, mas não irei isolá-lo de mim por causa disso.
Enzo suspirou, de cabeça baixa. Tocou os próprios
dedos sobre o colo.
— Me diga, filho. Por que você fez aquilo? — Essa
era a pergunta que eu devia ter feito a ele desde o
primeiro momento, ao invés de ladrar. Mas permiti que a
cólera do acontecido tomasse conta de mim.
— Eu não sei... — Enzo deu de ombros, sua
expressão era de quem tentava se lembrar. — Encontrei
o vídeo naquela pasta sem querer, mas não era a minha
intenção enviar no seu WhatsApp — contou, entristecido.
— Fui ao banheiro e quando voltei, já estava lá. Acho
que o mouse estava com algum problema, porque se
mexeu sozinho...
— Mexeu sozinho? — Franzi o cenho, desconfiado.
— Eu queria que você e a Emma ficassem juntos,
mas não desse jeito...
— Filho, como assim o mouse se mexeu sozinho? —
O segurei pelo braço, capturando sua total atenção.
— Achei que estava com algum defeito, às vezes
abria algumas páginas. Ia te falar, mas fiquei com medo
depois que o vídeo caiu no grupo.
— Justo no grupo dos sócios... Dio Santo, como não
pensei nisso! — Arrastei a mão pela barba.
— O que foi, pai? — Enzo me fitou, sem entender.
— Filho, eu te amo. Perdoa o papai. — O abracei
forte, me odiando por ter gritado com ele. Beijei o topo
da sua cabeça.
— Pai, não estou entendendo. Eu tive culpa. —
Enzo ergueu o rosto. Na sua cabecinha, ele ainda não
tinha enxergado outra possibilidade a não ser aquela em
que foi o responsável, apenas por ser o único a estar
mexendo no notebook quando tudo aconteceu.
— Não, filho. — Grudei as mãos em suas
bochechas. — Você não teve culpa de nada. — Sorri, ele
sorriu também, apesar de ainda não ter entendido.
Antes de sair do seu quarto, o encarei uma última
vez.
— É verdade que queria que eu e Emma ficássemos
juntos? — questionei, curioso.
— Sim — Enzo assentiu, feliz. — Já convidei ela
para ser a minha nova mamãe, mas ela ainda não
aceitou.
— Acho que seu pai fará algo sobre isso. — Pisquei
para ele. O deixei com a babá, tomei um banho rápido,
peguei o notebook e corri para a firma.
Deixei o notebook com um profissional de confiança
do setor de TI mais todas as instruções necessárias. E
enquanto ele vasculhava tudo à procura do rastro de um
maldito hacker, decidi ir ao encontro de Emma, apenas
para informar a ela que a minha decisão já estava
tomada, que um homem na minha idade e com todas as
experiências que já viveu, não tinha mais tempo a
perder.
Foi exatamente o que disse a ela quando a
encontrei assustada e segurei a sua mão. Pouco antes
de levá-la até o seu cubículo e deixar, com aquela
atitude, bem claro a todos os funcionários e sócios
daquele lugar, que Emma não era apenas uma aventura
de uma noite, mas sim a mulher que escolhi para mim.
— Fique firme — sussurrei em seu ouvido, após
beijá-la na testa, sob os olhos da firma inteira. Acariciei
os seus braços uma última vez, depois de sentir que a
garota ficaria bem.
Emma sorriu sem mostrar os dentes, emocionada.
Por fim, assentiu, então segui para o meu escritório
onde, mais tarde, me reuni com o Filippo.
— Então foi um hacker. — Sentado no sofisticado
sofá, com os braços abertos sobre o topo, ele me
observou atrás da minha mesa, terminando de ler o
resultado da análise feita em meu notebook.
— Um ataque — concluí, atingido pelo ódio. —
Muito bem feito, por sinal, porque é impossível de
rastrear.
— Mattia... — Filippo grunhiu, enraivecido.
— Ou o Vito.
— Vito? Por que ele nos atacaria? — Filippo
estreitou as sobrancelhas, sem entender.
— Talvez porque eu tenha motivos para isso. — Vito
invadiu a sala. Filippo deixou a porta aberta e,
novamente, a minha secretária não estava onde deveria
estar. No entanto, dessa vez eu sabia onde ela tinha ido,
a infeliz deixou um recado. Fiquei de pé no automático.
Assim como o Filippo. — Fui castigado por exigir
explicações do Sócio-Gestor, exilado em um setor do
qual não tenho intimidade apenas para ser humilhado.
Não o bastante, fui boicotado na corrida por um cliente,
e isso não partiu de um mero colega de trabalho, mas
sim de um Sócio-Nominal que queria nada mais do que
mostrar o seu poder — rosnou as últimas palavras,
encarou o Filippo como se quisesse matá-lo.
— Está enganado — meu amigo se defendeu.
Particularmente, eu achava os dois parecidos em alguns
quesitos de suas personalidades.
— Vito, o que está fazendo aqui? — Apoiei as mãos
sobre a mesa, o olhei como um adversário.
— Vim dar um fim a esta brincadeirinha de vocês. —
Ele retirou um pen drive do bolso da calça e o colocou
de pé sobre a minha mesa.
— O que é isso? — Filippo se aproximou,
desconfiado.
— Apesar de eu ter motivos particulares para me
unir com o Mattia na tentativa de expulsar vocês dois
daqui, não acho que este seja o melhor caminho para
salvar a imagem da firma. Não confio naquele infeliz, ele
só terminaria de nos arrastar para o buraco. — Vito
mexeu no nó da sua gravata, antes de observar o pen
drive uma última vez. — Aí está a prova de que vocês
precisam para resolver o problema.
Vito recuou, na intenção de ir embora, mas Filippo
não permitiu:
— E por que deveríamos confiar em você? —
disparou, de queixo erguido. — Já que tem tanto rancor
da gente, por que está agindo feito um bom rapaz? —
questionou, sarcástico, de olhar afiado.
Vito sorriu ao tombar a cabeça para baixo, com
deboche. Agiu como se tivesse ouvido uma piada.
Colocou as mãos nos bolsos, tranquilamente, e retornou
para onde estava, frente a frente conosco.
— Você deveria me conhecer o bastante para
entender que não guardo rancor de ninguém, Filippo, eu
me vingo — rosnou, perigoso. — E se me conhecesse
um pouco mais, saberia que posso ser tudo, menos um
bom rapaz, tampouco um rato traidor. — Vito desviou o
olhar dele para mim. — Sabe qual é a principal diferença
entre nós três? É que eu não sou emocionado, prefiro
pensar com a cabeça de cima do que com a de baixo e
digo mais... sou aquele homem que jamais será visto
colocando tudo a perder por um maldito rabo de saia.
— Cuidado, Vito... — Um meio-sorriso ácido surgiu
entre os lábios de Filippo. — Se tem uma coisa que
aprendi, é que nem tudo está sob o nosso controle.
— Discordo...
— Basta — dei um fim àquela baboseira. Estava
curioso para descobrir o que havia no pen drive. — Sei
muito bem o verdadeiro motivo de estar fazendo isso,
Vito. Mas depois conversamos — garanti. Ele me
encarou como se já não esperasse muito de mim e foi
embora.
— Filho da puta — Filippo grunhiu, assim que
ficamos sozinhos.
— Um filho da puta que está do nosso lado. — Me
sentei, peguei o pen drive e conectei ao notebook.
Filippo trancou a porta do escritório, antes de se
posicionar às minhas costas para também escutar o
áudio. Era uma conversa entre Mattia e Vito, onde o
Mattia tentava convencer o nosso aliado a se juntar à
sua causa para nos derrubar. O infeliz devia estar
fazendo isso com todos, crescendo o seu rebanho na
intenção de ter forças suficientes para cortar as nossas
cabeças.
O seu erro foi acreditar que Vito poderia vir a se
tornar um de seus cordeiros, quando na verdade, o filho
da puta era um lobo sagaz, que durante o diálogo com
Mattia, conseguiu persuadi-lo a revelar ter contratado
um hacker profissional para invadir o meu notebook
particular, o que causou todo esse estrago.
— Essa era a prova de que precisávamos para
acabar com o Mattia! — Filippo cruzou as mãos,
empolgado. Caminhou pelo escritório com a mente
fervilhando. — Vito foi excelente. Porém, expulsar Mattia
da firma não resolverá tudo.
— Não, não resolverá. — Fiquei de pé outra vez,
pensativo. — Preciso recuperar a minha moral e a
confiança dos nossos sócios.
Filippo se aproximou, me encarou desconfiado.
Suas pupilas azuis brilharam, como se tivesse
descoberto algo importante.
— Mas você já sabia disso — afirmou. — Por esse
motivo assumiu a Emma na frente de todos.
— Não fiz isso pela firma, Filippo. — Contornei a
mesa, me aproximei dele. — Fiz por ela. Porque gosto
dela... de verdade — confessei, o que deixou meu amigo
surpreso. Quase bestificado.
— E a Aurora? — ele foi incisivo, sabia que aquele
nome significava não apenas o meu ponto fraco, como,
até pouco tempo, um fator que poderia mudar tudo.
Pensei duas vezes antes de respondê-lo. O
primeiro sentimento foi de fugir, mas... pela primeira vez
em muito tempo, decidi que não fugiria. No entanto,
demorei demais para formular uma resposta, me perdi
em pensamentos. Fiz menção em abrir a boca, todavia,
Filippo ergueu a mão, em sinal de pare.
— Não precisa dizer nada agora. Eu acredito e
estou muito orgulhoso de você, Giancarlo. — Segurou o
meu ombro, com um sorriso amigo. — Mas a Emma para
mim é uma querida amiga, minha protegida. Alguém por
quem tenho apreço e respeito. Que vem passando por
uma fase difícil. — Ele fechou o semblante, olhou-me no
fundo dos olhos. — Faça o que tiver que fazer, mostre a
todos o motivo de ser você a ocupar o cargo mais alto
dessa firma. Porém... não magoe o coração dela. Acabo
com a sua existência se fizer isso. — Apontou o dedo
para mim, em ameaça.
Algo que me fez rir, enquanto o homem se afastava
e saía do escritório.
C A P Í T U L O 2 9

Ao me assumir na frente da firma inteira, Giancarlo


fez com que as pessoas voltassem a me tratar com
respeito, ao mesmo tempo em que me olhavam de outra
forma. As mulheres, como se quisessem descobrir o que
eu tinha de tão especial para conquistar o Sócio-Gestor.
E os homens, com interesse.
Não que eu já não tivesse recebido cantadas de um
ou outro ao longo dos anos, mas era diferente, não sabia
explicar. Claro que, ainda sentia aquela energia negativa
de uma parte das pessoas, que as fofocas ainda
rolavam, mas agora o que estava em jogo era a imagem
da firma, a posição de poder do Giancarlo, uma que ele
não poderia perder. Seja por alguma tentativa de golpe
dos sócios unidos, ou por afundar os negócios ao se
mostrar um libertino em um mundo jurídico frio, que lhe
exigia o mais alto decoro.
Três dias se passaram desde que ele segurou a
minha mão e andou comigo por aquele corredor. Desde
então, Giancarlo aguardava a minha resposta sobre
morarmos juntos, o que significava assumir oficialmente
o nosso relacionamento.
Não é que estivesse me pressionando, ele sabia que
eu não tinha pressa, no entanto, o que faríamos hoje
provavelmente destruiria qualquer dúvida que ainda
restasse ao nosso respeito. E de quebra, seria a mesma
coisa de estar entregando a ele as chaves do meu
apartamento, fosse para vender ou para jogar fora.
Em meio à pesquisa que fazia no computador,
enquanto estava distraída trabalhando, peguei o meu
celular quando ele vibrou.
— Oi — falei, era o Giancarlo.
— Está pronta? — ele perguntou.
Respirei fundo antes de responder.
— Sim — afirmei, com um frio no estômago. A
verdade é que não estava pronta coisa nenhuma, mas
faria isso por ele. Porque ele precisava da minha ajuda e
eu seria capaz de tudo para ajudá-lo nesse momento.
Por mais que não concordasse e sofresse com toda essa
exposição que estávamos tendo.
Contudo, Giancarlo prometeu que hoje iria consertar
as coisas.
De uma vez por todas.
O mais incrível era perceber que, apesar de tudo o
que sofri, os traumas e fantasmas. Em tempo recorde,
ele conquistou a minha confiança. Soube disso no
instante em que saí do meu cubículo, segui até o
elevador e o encontrei na cobertura, aguardando por
mim na porta de uma das salas de reuniões.
Esbelto, poderoso, olhar confiante.
Tremi na base quando, mais uma vez, Giancarlo me
ofereceu a sua mão. Eu aceitei como fiz dias atrás, e o
acompanhei para dentro da sala de mesa oval, onde
todos os Sócios-Sêniores – que até então debatiam
entre si – ficaram em silêncio assim que nos avistaram.
— Bom dia. — A voz rouca e forte do Giancarlo
emanou pela atmosfera, capturando a atenção. —
Primeiramente, quero deixar claro que marquei esta
reunião hoje, não porque esteja me sentindo vulnerável
ou ameaçado, mas sim porque, após tantos debates,
entendi que como chefe, preciso explicar alguns pontos.
Giancarlo observou cada um que estava ali,
enquanto eu, me mantive paralisada ao seu lado, tensa
em cada osso, os dedos prestes a quebrar os dele.
Nervosa era pouco, eu estava quase caindo dura no
chão, mas me mantive firme.
— Todos nesta sala me conhecem, sabem da minha
história e como cheguei neste lugar. Mas nada do que
falaram a meu respeito foi dito por mim. Sempre tive
orgulho de ser um homem discreto, reservado a ponto de
não dar detalhes sobre os meus sentimentos, algo que
não pretendo mudar hoje aqui. Até porque o cargo em
que estou me obriga a não sentir, em vários momentos.
O Sócio-Gestor deve ser racional, frio e calculista. E foi
esse o tipo de líder que decidi ser, principalmente depois
da morte da minha esposa.
A mesma tensão que me atingiu, pareceu se
espalhar entre as pessoas, contaminar cada canto
daquela sala. Porém, influenciada por uma energia
mórbida, que fez com que a maioria dos semblantes ali,
até então armados, suavizassem.
— Tenho orgulho de dizer que, sob o meu comando,
em apenas cinco anos essa firma atingiu patamares que
não conseguiu em mais de vinte, com o meu pai. E
consegui esse feito não porque tive que colocar vocês
na linha, como alguns aqui sugeriram. — Giancarlo
parecia estar alfinetando alguém em específico. — Mas
sim porque todos já eram competentes por si só, assim
como eu.
Ele respirou fundo, antes de continuar:
— Em resumo, o que estou querendo dizer é que
não cheguei onde estou, agindo feito um moleque ou
escondendo sujeira debaixo do tapete, tampouco
mantendo um teto de vidro. Também não obtive sucesso
sozinho, claro. Cada um de vocês foi importante no
progresso do nosso trabalho. No entanto, com o
vazamento intencional daquele vídeo, alguém entre nós
apenas tentou prejudicar a minha imagem.
A voz de Giancarlo se tornou ácida nas últimas
palavras, sua mão esquentou a minha, era como se o
seu sangue começasse a ferver.
— Não foi abrindo a porra do meu coração que me
tornei o líder de vocês! — Elevou o tom, firme. — E
repito, não é hoje que pretendo mudar isso! —
sentenciou, implacável. — Se querem saber, aquele
vídeo não estava exibindo o Sócio-Gestor da Gagliardi-
Ruggiero agindo feito um imoral, mas sim mostrando o
Giancarlo humano, um homem que se fechou por muito
tempo e enfim encontrou alguém com quem sentiu
confiança o bastante para se casar outra vez. Para
recomeçar.
Ele me encarou por um instante, com um meio-
sorriso de gratidão no rosto, apenas para fazer com que
as minhas pernas se transformassem em gelatina.
Seus dedos apertaram os meus, borboletas
invadiram o meu estômago, meus olhos arderam.
— Eu estava em Las Vegas, caralho! Bem longe da
Itália, com a minha família e com a mulher que mudou a
minha vida! — Giancarlo voltou a observar o pessoal,
seguro de si e nem um pouco intimidado. — Tentaram
estragar a melhor lembrança que tive nos últimos tempos
ao exporem a minha intimidade. Foi isso. Algo que
poderia acontecer com qualquer um de nós. Porém, se
alguém aqui não está feliz com isso, não entende ou não
se sente confiante de que eu conseguirei resolver o
problema, peço que se retire agora desta sala! —
Apontou com o queixo em direção à porta. — Porque não
vou mais admitir que duvidem da minha índole, muito
menos que desrespeitem a minha mulher!
Parei de respirar quando ele falou minha mulher.
Era um sonho realizado. Era meu peito explodindo de
alegria ao mesmo tempo em que entrava em conflito com
as minhas orelhas por ainda não acreditarem no que
tinham ouvido.
O silêncio mortal que dominou o ambiente por quase
meio minuto, foi quebrado quando um homem se ergueu
de sua cadeira, batendo palmas secas, em um ritmo
lento. Era Mattia Pagano, eu conhecia ele, assim como
sabia quem era todos que estavam ali.
— Bravo! O seu discurso de defesa foi realmente
incrível, Giancarlo! — Mattia riu, em deboche. — Temos
aqui, caros amigos e amigas, nada mais que um
experiente CEO atuando no que ele acredita ser um
tribunal, onde, obviamente não aceita ser julgado —
falou, em alto e bom tom. — A questão, é que nós é
quem somos as vítimas! A nossa firma está perdendo
clientes por causa do que ele chama de recomeço! — O
infeliz observou a todos. — Os nossos nomes foram
postos em dúvida pelo que ele chama de amor! Que
amor é esse capaz de ameaçar as nossas carreiras?
Mattia ofegou. O desgraçado parecia obstinado em
destruir o Giancarlo que, furioso, deu um passo à frente,
mas eu o segurei pelo braço. Não permiti que se
afastasse.
— Aquele vídeo não significa amor, senhoras e
senhores, é a mais pura libertinagem! É a imoralidade de
um homem que deveria ser o nosso exemplo! — Apontou
para Giancarlo, o acusando do que fazia parecer um
crime. — Temos que parar com isso agora! — Socou a
mesa. — Temos que exigir que Giancarlo Ruggiero
renuncie ao cargo de Sócio-Gestor ou todos iremos
embora! — ladrou, quase espumando de raiva.
Juro por Deus, tive vontade de cortar sua cabeça
fora. E por um instante, não soltei o Giancarlo para que
pudesse esmurrá-lo.
Aquilo definitivamente parecia um tribunal
inquisitivo, onde Giancarlo era o criminoso, culpado até
que se provasse o contrário.
— O único que vai embora aqui é você, Pagano! —
Filippo se levantou, bateu as mãos na mesa, furioso,
assustando a todos. Mattia se calou, mas não abaixou o
nariz, já parecia se sentir vitorioso.
Filippo saiu da sua cadeira – ao lado direito de
Giancarlo – e foi até a outra ponta da mesa, onde ativou
o Datashow sobre um grande quadro branco de
apresentações.
— Dias atrás, o nosso estimado amigo, Vito Sartori,
nos entregou um dossiê sobre este homem que está
causando intrigas dentro da Gagliardi-Ruggiero —
Filippo anunciou, tranquilamente, apesar de áspero.
— O quê? — Mattia se surpreendeu, fuzilou o Vito.
— Então é isso? Vão tentar manchar a minha imagem?
— Abriu os braços, se fazendo de vítima.
— Dentre as provas que recebemos, temos um
áudio gravado pelo próprio Vito, onde este senhor que
se diz preparado para ocupar o cargo de Sócio-Gestor
desta firma, confessa ter contratado um hacker para
invadir o computador do Giancarlo, apenas para causar
este abalo sísmico entre nós e no nosso mercado. —
Filippo abriu a pasta onde surgiu o arquivo do áudio
citado.
— É mentira! Isso é manipulado! — Mattia ficou
nervoso.
— Se me permite. — Vitorioso e malvado, Filippo
colocou o áudio para toda sala escutar.
Foi delicioso ouvir o maldito Mattia tentando
persuadir o Vitor a lhe apoiar em sua ideia maluca de
tomar o lugar do Giancarlo. Deu para identificar a
perversidade no tom da sua voz e o quanto ele tinha
uma alma podre quando confessou o seu crime. Mattia
falou demais, contou inclusive que almejava dar aquele
golpe desde que Giancarlo assumiu o lugar de seu pai.
— Desgraçado, como pode fazer isso comigo?! —
Assim que a sua máscara caiu, Mattia marchou até o
Vito, descontrolado. — Seu merda traidor! — Antes que
ele pudesse fazer algo, Vito se levantou e, com apenas
um golpe, socou o rosto do infeliz. Forte o suficiente
para jogá-lo no chão, sangrando.
Aquela atitude lavou a minha alma, assim como
sabia que tinha causado o mesmo efeito em Giancarlo e
Filippo.
— Eu nunca te traí, seu inútil. — Vito encarou
Mattia do alto, perverso, enquanto ajeitava o seu terno
com classe. — Até porque nunca o apoiei — cuspiu as
palavras, parecia ter nojo daquele verme no chão. — E
qualquer um que pensou em dar apoio a este homem é
um tolo! — Vito falou em alto e bom tom, observou cada
um dos sócios com seriedade. — Giancarlo pode não ser
o líder perfeito, mas é aquele que precisamos. E se tem
uma coisa que ele me ensinou é que... ao invés de
tentarmos derrubar um ao outro, devemos focar no
crescimento dessa firma e, principalmente, nos
profissionais que fazem parte dela.
Vito lançou seu olhar corajoso sobre Giancarlo, que
assentiu em agradecimento, tão surpreendido quanto
qualquer pessoa naquela sala.
Meu corpo inteiro vibrou por dentro, fiquei
explodindo de felicidade com tudo o que havia
testemunhado. Me diverti com os gemidos de dor do
Mattia enquanto o infeliz foi colocado para fora,
carregado por dois policiais direto para a delegacia.
Com certeza, a melhor cena que já vi!
C A P Í T U L O 3 0

Após conseguir reconquistar o respeito dos meus


sócios com uma volta por cima triunfal, tive que me
encaminhar até o distrito policial para garantir que a
vida do Mattia se transformaria em um inferno, por tudo
o que fez. E o lado bom de toda aquela merda era que,
além de ter me livrado de um inimigo, deixei um aviso a
todos de que não era uma boa ideia me enfrentar.
Ao cair da noite, retornei para a firma, precisava
concluir algumas pendências antes de enfim dar aquele
longo dia por encerrado. No meio do caminho, decidi
mudar a rota e tentar a sorte ao seguir para o escritório
do Vito.
Como imaginei, ele ainda estava trabalhando, tão
concentrado no processo que analisava sobre a sua
mesa que não notou a minha chegada. Fiquei parado do
outro lado da fachada de vidro, analisei rapidamente a
sua sala que parecia ser tão sombria quanto a
personalidade que aquele homem apresentava.
Vito Sartori era um enigma que eu começava a
desvendar.
Bati na porta transparente, finalmente capturando a
sua atenção. Ele ficou surpreso quando me viu entrar.
— Giancarlo, que surpresa. — Descansou as costas
contra o encosto da sua cadeira e cruzou as mãos,
atento.
— Já está ficando tarde, Vito. — Encarei o Javier
em meu pulso, me aproximei dele. — Não tem uma
esposa te aguardando em casa? — o alfinetei, sabia que
aquele assunto o irritava. Tomei a cadeira à sua frente
logo depois de abrir o blazer.
Vito sorriu, sarcástico.
— Você nunca me verá casado, Giancarlo.
Casamento é uma bobagem. Não existe mulher nesse
mundo capaz de me prender — respondeu, convicto.
— Mas o mundo é muito grande — argumentei, de
bom humor. Cruzei as pernas.
— Se veio aqui para ser meu conselheiro amoroso,
pode dar meia-volta. — O infeliz apontou para fora.
Sorri, era divertido provocá-lo. Agora entendia
porque Filippo adorava fazer aquilo comigo.
— Não, não é isso. Vim por outro motivo. —
Encerrei a brincadeira, o olhei sério. — Filippo pode não
ter entendido, mas eu sei bem o motivo de você ter nos
ajudado.
— Não os ajudei. Ajudei a firma — ele me corrigiu.
— Sim, é verdade — concordei. — Porque você ama
este lugar. Ama o seu trabalho. E não importa o que
façam, se te castigam ou se tentam te comprar, você
sempre... vai estar do lado que é melhor para a
Gagliardi-Ruggiero — afirmei, convicto, algo que pegou
Vito desprevenido. — Foi por isso que se afastou de mim
e do Filippo depois de todos aqueles escândalos que
envolviam ele e a minha filha. Não concordou com o
nosso comportamento, percebeu que aquela bomba
poderia nos abalar, atingir o local cuja imagem de
prestígio você tanto se orgulhava.
Pela primeira vez, Vito abaixou o olhar, engoliu em
seco. Era evidente que estava afetado, uma prova de
que eu o tinha lido muito bem, tanto que não discordou,
se manteve em silêncio.
— Apesar de tentar fazer parecer que não se
importa com ninguém, sua atitude com o Mattia provou o
contrário — continuei, no instante em que ele voltou a
me encarar. — Você não ajudou apenas a mim e ao
Filippo, ajudou o grupo. Poderia ter pensado somente
em si mesmo, dado um jeito de sair por cima, mas
decidiu agir no coletivo. — Dei uma pausa, notando o
quanto ele ficou desconcertado.
— Está enganado... — Vito tentou negar, era como
se tivesse a necessidade de não ser visto como o
mocinho da história, mas sim o vilão.
— Ah é? — Arqueei uma sobrancelha. — E como
explica o que fez no setor previdenciário? Aquele lugar
estava morto antes da sua chegada, esquecido, e
mesmo odiando ter saído da sua área, se empenhou em
tornar seu novo departamento em um local tão
abarrotado de clientes que, lucrou em dois meses o que
não lucrávamos em dois anos.
— Ah, então você notou? — Sua voz saiu afiada,
com uma gota de rancor.
— Eu notei, Vito. Só não tive tempo de parabenizá-
lo devido a toda essa confusão, no entanto, não é
segredo pra ninguém o quanto você é ótimo em tudo o
que faz. Pode ter parecido apenas um castigo, mas não
o escolhi à toa para aquele setor. Precisava de alguém
capaz para cumprir o serviço. — Respirei fundo, ele
continuou calado, ainda mais surpreso. — E é por isso
que estou aqui, vim agradecê-lo. Por tudo. Muito
obrigado.
Vito assentiu, parecia incrédulo e contente ao
mesmo tempo, o que me fez perceber que devia
parabenizar mais os bons feitos dos meus sócios e
funcionários. Muitas vezes eu assistia as suas
conquistas, mas não tomava nenhuma atitude a respeito.
Fora que, receber um obrigado poderia ser mais valioso
do que qualquer outra coisa.
— Vou ficar te devendo essa. — Me levantei.
— Talvez não — Vito também ficou de pé.
— Como assim? — Curiosidade me atingiu.
Ele me observou uma última vez, como se
calculasse seu próximo passo, antes de abrir uma de
suas gavetas e retirar de lá um cheque, que me
entregou, sem pressa.
— Um milhão de euros? — O fitei, impressionado.
Vito me analisou, fiz o mesmo com ele. — Você quer o
seu nome na parede — adivinhei, após curvar os lábios
em um meio-sorriso.
— Naquele dia você falou que quem está no topo
tem a capacidade de identificar um problema de longe.
Presumo que essa sua mesma capacidade também sirva
para enxergar um talento. Eu sou um talento, Giancarlo,
e você sabe. Não sou apenas ótimo, sou ótimo demais.
— Apoiou as mãos na mesa, me encarou de perto, com o
olhar afiado, tomado por um brilho ambicioso. — Se quer
quitar a sua dívida comigo tem apenas duas opções: a
primeira, é me deixar sair da Gagliardi-Ruggiero livre da
cláusula de não concorrência, para que assim eu
consiga construir o meu próprio império. A segunda, é
reconhecer o meu valor e me tornar Sócio-Nominal. Além
de, é claro, ganhar um soldado incansável na luta para
fazer essa firma se tornar não apenas a melhor da Itália,
como a do mundo inteiro. E não me importa se a porra
desse mundo é grande, eu farei com que aconteça!
Prometeu, obstinado, cheio de garra, assim como eu
fiz quando saí da casa do meu pai. Grandes impérios
eram construídos por homens que confiavam no seu
taco, e Vito Sartori era um deles.
C A P Í T U L O 3 1

Ao chegar em casa, tive uma bela surpresa: Ágata


veio nos fazer uma visita. Ela estava com a babá dos
meus netos, Enzo e Madalena. Todos mimando os
gêmeos na sala de estar.
— Mamma mia! — comemorei, capturando a atenção
deles. — Não acredito! — Caminhei depressa até os
bebês, larguei a minha pasta de trabalho no caminho.
Ajoelhei-me aos pés da minha filha, que segurava ambos
no colo. — Finalmente vieram visitar o vovô? — Acariciei
as bochechas dos dois, ao mesmo tempo, apaixonado
demais por aquelas crianças.
— Sim! — Ágata sorriu, encantada. — Olha quem
chegou, crianças. É o vovô! — ela falou com eles, feito
uma verdadeira mãe amorosa, o meu orgulho. — Quer
segurá-los?
— Claro que sim! — concordei, contente. Ainda não
havia tido esse prazer.
— Pai, você tem que ter cuidado, os meus sobrinhos
são muito sensíveis e o senhor é grandão — Enzo
alertou, preocupado, fazendo as mulheres rirem.
— Ora, perdi as contas de quantas vezes te segurei
quando você tinha o tamanho deles, Enzo. — O encarei.
— Nunca o deixei cair nem tive problema. Lavei até a
sua bunda.
— Pai! — Enzo ficou vermelho, as babás
gargalharam.
Devagar, Ágata me entregou a Aurora e depois o
Davi. Me levantei com cuidado e caminhei um pouco com
eles, o coração disparando no peito apenas por senti-los
comigo. Não me contive e imaginei como seria o rosto do
meu bebê com a Emma. Se teria mais semelhança
comigo ou com ela, se seria amiguinho dos meus netos,
já que teriam praticamente a mesma idade.
— Meus netinhos. O vovô ama tanto vocês —
murmurei, enquanto eles dormiam e faziam pequenos
barulhos durante o sono. — Ágata, por que não me
avisou que vinha? Eu teria chegado mais cedo, hoje o
dia foi corrido. — A olhei.
— Cheguei quando o sol estava se pondo, queria
fazer uma surpresa. — Ela se levantou do sofá e veio
até mim, acompanhada do seu irmão. — Há dias que
estava ansiosa para trazê-los aqui, fazê-los conhecer a
casa onde cresci. — Ela beijou o pezinho do Davi. —
Essa é a casa em que a mamãe cresceu, sabiam? Meus
amores! — Acariciou a cabeça da Aurora.
— Feiosa, eles são sempre tão perfumados assim?
— Enzo cheirou a mãozinha da sua sobrinha, encantado.
— Esses bebês são muito gostosos... e fofos! — Sorriu,
feliz da vida, um clássico tio babão.
— Nem sempre, Enzo. — Ágata fez uma careta
divertida. — Qualquer dia vou te ensinar a trocar as
fraldas deles. — Piscou para ele.
— Ah não, muito obrigado, mas dispenso. — Enzo
deu um passo atrás, uma atitude que me fez gargalhar.
— É tão bom tê-los juntos de novo. Aqui. —
Recordei da época em que éramos apenas nós três, a
nossa família. — E agora ficou melhor com esses dois!
— Beijei a testa da Aurora e do Davi, eles resmungaram
com o espetar da minha barba, o que afagou o meu
coração.
— O senhor está bem? — Ágata tocou o meu braço.
— Filippo vem me atualizando sobre tudo o que anda
acontecendo na firma. Quer conversar? — convidou,
olhando-me em pedido.
Ela queria conversar também.
Entregamos os bebês para as babás, que
continuaram na sala com o Enzo, enquanto decidimos
caminhar juntos pelo jardim, cujo céu inflamava de
estrelas.
Nos primeiros dois minutos, ficamos em silêncio,
Ágata estava nitidamente desconcertada, apertava os
próprios dedos como alguém que não sabia por onde
começar.
— Quer me dizer alguma coisa? — perguntei, com
as mãos guardadas atrás das costas. Andávamos lado a
lado, cercados pelo odor delicado das hortênsias, que
dominavam quase todo o ambiente.
— Sim... também foi por isso que vim — admitiu,
pensativa. Paramos no centro do gramado, sob uma
belíssima lua cheia. A propriedade era enorme, tinha
piscina e várias áreas de lazer há tempos inutilizadas, já
que a minha vida era apenas o trabalho. — Pai, quero
me desculpar pela minha atitude no outro dia. Por ter ido
até a Emma tirar satisfações. — Ágata negou com a
cabeça, decepcionada. — Conversei bastante com o
Filippo sobre isso. Tudo não passou de ciúmes, e... —
seus lindos olhos brilharam — medo — confessou, com a
voz embargada.
Respirei fundo, entendia perfeitamente bem o que
ela estava dizendo.
— Sei lá... — forçou um sorriso, lágrimas desceram.
— Não me coloquei no lugar de vocês. O meu medo foi
maior. Medo de... perder você — se justificou, falou
como se fosse uma coisa tola. — De perder aquele
homem que me acompanhou por tantos anos depois que
a mamãe se foi. — Soluçou, enxugou o rosto. — Medo
da minha mãe ser esquecida e também de perder a única
amiga que tenho, ou... tinha.
— Filha... — Me compadeci.
— Fui tão egoísta, pai! Não enxerguei que o mesmo
vazio que existia dentro do meu peito depois que a
mamãe se foi, poderia ser bem maior dentro de você. —
Ela usou o dorso da mão para enxugar o nariz,
choramingou. — Esqueci que o senhor também é
humano. E que eu fiz bem pior...
— Ágata, não. — Dei um passo à frente, mas ela
recuou, queria continuar.
— Você tinha razão quando me acusou de fazer o
mesmo. E depois de conversar com o meu marido,
percebi que fui tão imatura! — Ágata esfregou o rosto,
arrastou as mãos pelos cabelos, em busca de se
recompor. — Se hoje estou sendo feliz, é porque tive a
sua ajuda, a sua bênção e o seu apoio. Por que não
pode ter o mesmo direito? Por que não posso fazer o
mesmo por você? — Eram perguntas retóricas.
Foi ali que a abracei, acolhi a minha menina em
meus braços, beijei o topo da sua cabeça. Ágata era tão
pequena quanto a Emma, por esse motivo, era fácil
acolhê-la, fechar os olhos durante o tempo em que lhe
dava todo o meu carinho e amor.
— É insuportável ficar longe de você, filha —
declarei, senti os seus braços em volta do meu corpo. —
Não quero mais brigar. — Ergui o seu rosto, olhei dentro
dos seus olhos marejados.
— Eu também não quero, pai.
— Princesa do papai. — Ágata ficou vermelha, me
abraçou de novo. — Eu te amo.
— Te amo muito mais. — Escorreguei a mão pelo
seu braço, feliz por estarmos bem outra vez. Ficamos em
silêncio por alguns segundos, até que ela se afastou. —
Estou torcendo para que seja uma menina — declarou,
de repente.
— O quê? — Demorei a entender.
— O seu bebê com a Emma. Quero ter uma
irmãzinha. — Ágata sorriu, foi quando descobri que
faltava somente aquilo para me sentir completamente
feliz.
— Você não imagina o quanto ouvir isso me faz
bem, filha — confessei, meu coração ardia de felicidade,
uma que até pouco tempo acreditava não ser mais capaz
de sentir.
— Agora me diz, você conseguiu tirar o vídeo da
internet, não é mesmo? — Ela estava preocupada, senti
o peso na sua voz.
— Consegui. No entanto, talvez demore um pouco
para as páginas de fofoca esquecerem.
— A Emma passou por muita coisa nos últimos
meses. Ela não merecia toda essa exposição.
— Não mesmo. Fiquei mais preocupado com ela do
que com os meus negócios — confessei. Sentia raiva do
Mattia apenas por lembrar do que o maldito fez.
— Sério, pai? — Ágata ficou surpresa. — O senhor
está muito apaixonado mesmo, hein — brincou. — Emma
é uma pessoa maravilhosa. Sei que ela vai te fazer
muito feliz.
— Também quero fazê-la feliz, filha. Emma é o meu
recomeço.
— Que lindo, pai! — Ágata exclamou, encantada. —
O senhor já disse isso pra ela? Ela vai gostar de ouvir!
— Ainda não disse tudo o que desejo, mas direi. —
Pisquei para a minha filha. Ela segurou a minha mão e
balançou.
— E como vocês irão fazer? Ela vem morar aqui?
— Ainda estou tentando convencê-la disso. Sua
amiga se parece com você quando o assunto é teimosia.
Ágata gargalhou.
— Isso é verdade. — Ela tocou nas pétalas azuladas
das hortênsias. — O Enzo já sabe? — perguntou,
curiosa.
— Sei de quê? — A voz do garoto capturou a nossa
atenção, no instante em que ele se aproximou, surgindo
do nada, usando uma calça moletom com suéter. Seu
cabelo loiro estava rebelde, não era do seu gosto mantê-
lo organizado, o que tornava a sua expressão ainda mais
sapeca.
— Enzo! — reclamei. — Estava escondido
escutando a nossa conversa? — questionei, estreitei as
sobrancelhas.
— Claro que não, vim chamar a feiosa, os meus
sobrinhos estão com fome. — Ele chegou mais perto,
apenas para nos estudar, desconfiado. — Do que eu não
sei?
Sua insistência fez Ágata juntar as mãos à frente do
corpo e sorrir.
— O que é? — Enzo ficou ainda mais curioso.
— Não vai contar? — Ágata me encarou, estava
nitidamente ansiosa para falar a ele, a pequena
fofoqueira.
Suspirei, não tinha para onde fugir, estava mais do
que na hora do meu filho saber.
— Você vai ganhar um novo irmão ou irmã —
informei, apenas para testemunhá-lo ficar boquiaberto.
— Nosso pai vai ter um filho com a Emma! Ela está
grávida! — Ágata falou em alto e bom tom, como se
precisasse até mesmo que as paredes ouvissem.
— Uaaau! — Enzo ficou impressionado, levou as
mãos à cabeça. — Que legal! — exclamou, e para me
surpreender, deu-me um superabraço.
Fiquei tão contente com a sua reação, que o peguei
no colo.
— Então você e o anjo ficarão juntos? — Há tempos
não o via tão feliz, o menino explodia de alegria, seus
olhos brilhavam.
— Tudo indica que sim — afirmei, sorridente.
— Eles já estão namorando, Enzo! — Ágata
acariciou o braço dele.
— Mamma mia! Deus escutou os meus pedidos! —
Enzo olhou para o céu com gratidão, aquilo me tocou
fundo, me fez pensar o quanto ele estava carente de
uma figura materna dentro de casa. Apesar de a Ágata
sempre ter agido feito uma mãe para ele, nunca seria a
mesma coisa.
— Oh, filho... que bom que você gostou. — Beijei a
sua testa, pouco antes dele agarrar o meu pescoço.
Ágata também nos abraçou, fizemos um abraço
triplo que pareceu formar uma bolha de amor ao nosso
redor, uma força invisível que nos protegeria para todo
sempre. Apenas nos afastamos quando escutamos os
bebês chorarem, o que nos apressou para voltarmos à
mansão.
C A P Í T U L O 3 2

Dois meses depois do maldito Mattia Pagano ser


preso e expulso da firma, tudo parecia ter voltado ao
normal na Gagliardi-Ruggiero, que logo passaria a se
chamar Gagliardi Ruggiero Sartori, tendo em vista o
anúncio feito por Giancarlo e Filippo sobre a nomeação
do renomado advogado Vito Sartori a Sócio-Nominal.
Foram semanas de negociações, além das
especulações espalhadas pelos corredores, até que a
notícia oficial foi divulgada.
Durante esse tempo, o meu relacionamento com o
Giancarlo amadureceu, nos tornamos mais próximos,
principalmente por ele acompanhar o meu pré-natal,
estar comigo em cada visita ao médico e me dar todo o
suporte que uma grávida sonharia em ter, tanto como
homem quanto companheiro. Ele era simplesmente
incrível, e conseguiu, do seu jeito, me dar a segurança
necessária para finalmente aceitar a sua proposta de
morarmos juntos.
A minha mudança para a sua mansão estava
marcada para o final de semana seguinte ao meu exame
de ultrassom, onde tentaríamos descobrir, pela primeira
vez, o sexo do bebê.
Decidimos ir até a clínica que acompanhava a
família do Giancarlo ao longo das gerações, um prédio
sofisticado particular, cuja simpatia do médico que nos
atenderia me conquistou logo quando chegamos. Ele se
chamava Ângelo.
Deitei na cama de barriga para cima, estava usando
calça jeans com uma blusinha leve que foi fácil de
levantar. O médico espalhou o gel pelo meu abdômen
inchado com delicadeza, ao mesmo tempo em que o
Giancarlo se posicionou ao meu lado, com a mão
prontamente agarrada à minha, passando-me a sensação
de que jamais iria me soltar.
Era inacreditável perceber que, em tão pouco
tempo, confiava até mesmo a minha vida a ele.
— Você está com quinze semanas, certo? — o
doutor perguntou, ele era um homem de meia-idade,
cabelo completamente grisalho e de semblante
simpático.
— Isso. — Suspirei, ansiosa, entrelacei os dedos
aos do Giancarlo, que mantinha um meio-sorriso
confiante no rosto. Não era a primeira vez que ele vivia
aquela experiência, mas o brilho que inundava o seu
olhar denunciava o quanto se sentia feliz em estar ali
comigo, em um momento tão importante da gestação.
— Está nervosa? — Ângelo quis saber.
— Não... — respondi, franzi os lábios.
— Está sim, doutor — Giancarlo falou por mim,
todos rimos.
— Você está tranquilo. — O homem fitou o
Giancarlo, por um momento.
— Sei que tudo ocorrerá bem — Giancarlo
confirmou, parecia ainda mais bonito naquela tarde, não
sabia explicar o motivo.
— É assim que se fala. — Ângelo observou com
mais atenção as formas escuras e sem sentido que
surgiam no monitor à nossa frente, enquanto conduzia o
transdutor sobre a minha barriga. Usou um pincel lilás
para fazer o desenho do bebê quando paralisou uma das
imagens. — A cabeça está aqui... a nuca aqui... olha o
corpinho — passou a descrever, e a cada vez que falava,
afagava mais o meu peito. — Uma perna está vindo pra
cá e a outra está subindo assim — comentou,
tranquilamente. — Um bracinho está indo lá pra cima. —
Seguiu com o desenho, contornando cada membro do
bebê. — O outro vem pra cá — completou.
Troquei mais um olhar com o Giancarlo, que
acariciou o meu rosto.
— Que lindo — Giancarlo murmurou, apaixonado,
sem conseguir parar de observar a tela.
— Aqui está a barriguinha do neném. — O médico
usou o pincel uma última vez, apenas para concluir o
desenho.
— De pernas cruzadas. — Giancarlo sorriu, exibindo
a fileira de dentes brancos.
— Exatamente! Parece que esse bebê não quer
facilitar a nossa vida — Ângelo fez piada, todos
gargalhamos. Fiquei nervosa, não queria ir embora sem
um resultado, apesar de, lá no fundo, meu coração gritar
qual seria o sexo daquela criança. — Vamos saber o
sexo desse neném? — Ele voltou a mover o transdutor
sobre a minha pele, a imagem na tela ganhou vida, se
mexendo de novo.
— Vamos! — respondi com o Giancarlo, ao mesmo
tempo.
Apertei a sua mão mais forte, ele me beijou a testa,
senti que agora estava corrompido pela ansiedade, mas
a sua ainda não era superior à minha. Mexi os pés,
tentei não tornar a respiração acelerada.
— Intuição? Alguém aí dá um palpite? — Aquele
médico estava testando o meu nervosismo, não era
possível.
— Achamos que será uma menina — Giancarlo
respondeu.
— Sim — assenti. — Acreditamos que é uma garota.
— Então vamos ver se vocês estão certos. —
Ângelo continuou escorregando o aparelho sobre o meu
abdômen, no instante em que o bebê se mexeu, como se
estivesse se virando para o lado oposto. — Olha aqui a
coluna vertebral, a espinha do neném.
— Ele está se mexendo! — Sorri, feliz ao extremo,
senti os olhos arderem.
Fui inundada por sentimentos quase inexplicáveis,
uma abundância de amor e pureza. Muito além do que
podia imaginar, muito mais profundo que os sonhos que
eu tinha de ser mãe. Aquele momento, por mais normal
que fosse, era mais do que especial para mim, ficaria
para sempre tatuado em minha memória.
— Olha as costelinhas dele! — Giancarlo apontou
para o monitor, emocionado.
— Sim, estou vendo. — Uma lágrima molhou a
minha face. E em meio àquele turbilhão de sentimentos,
só conseguia me sentir grata, a ele, a Deus, a tudo.
— Vamos ouvir o coração do neném batendo.
Se a minha emoção já estava explodindo, ela
triplicou quando o doutor permitiu que escutássemos os
batimentos cardíacos do nosso filho, um após o outro,
forte... intenso... ativou todos os meus sentidos.
Testemunhei os pelos do antebraço de Giancarlo se
arrepiarem, um choque de amor!
Também não saí ilesa, arrepiei dos pés à cabeça,
solucei. Aquele som constante e vibrante nos tocava de
tal maneira que era como se estivéssemos falando com
aquele bebê ou como se ele quisesse conversar
conosco, afirmar que estava vindo. Que mudaria as
nossas vidas para sempre.
— O barulho está um pouco esquisito porque o
neném está se mexendo — Ângelo explicou.
— Está perfeito, doutor. Perfeito — Giancarlo
garantiu, contagiado. Ele me beijou de novo, feliz.
— A frequência do coração está em... — Ângelo
cantarolou uma canção qualquer, enquanto anotava
aquela informação em sua prancheta. — 145 batimentos
por minuto — confirmou. Alternou as imagens, mostrou
algumas em 3D. — Atenção, agora vamos analisar a
região da genitália. Vamos descobrir qual é o sexo desse
bebê!
Puxei ar para os pulmões, estava prestes a
enlouquecer com todo aquele suspense.
— Abre as pernas, neném — o médico pediu,
continuou a deslizar o transdutor pelo meu abdômen.
Olhou para o monitor com bastante atenção, procurando
o que precisava. — Aqui. Descobri! Moleza! — Usou o
pincel pela última vez, fez o desenho sobre a região da
genitália. — É menina, vocês acertaram!
— Eeeeh! — Giancarlo comemorou. Bati palmas,
maravilhada. — Uma garotinha! Nós teremos uma
menina, um anjo como você! — Giancarlo aproximou o
rosto, beijou os meus lábios. — Obrigado por esse
presente, Emma! — agradeceu, apenas para me fazer a
mulher mais feliz do planeta.
— Eu que agradeço. É tudo o que sempre quis. —
Acariciei o seu rosto, imersa em um mar de emoções.
Deus estava sendo bom comigo, presenteando-me
com tudo o que um dia sonhei, mas no seu tempo. Isso
significava que nada na vida deveria ser apressado, que
as coisas tinham o momento certo para acontecer e que
as experiências ruins em nossa vida aconteciam por
alguma razão. Talvez uma que não entendêssemos na
hora da dor, mas que depois serviria de aprendizado
para aqueles que soubessem interpretar a mensagem.
Talvez esse fosse um dos sentidos da vida,
interpresar a palavra do nosso criador. Ser sábio para
entender que não valia a pena dar murro em ponta de
faca. Não era sobre querer, mas sim sobre precisar,
estar suficientemente pronto para quando a bonança
surgir. Talvez, se eu tivesse engravidado antes, me
arrependesse porque não estaria com a pessoa certa, ou
não viveria a emoção da maternidade como conseguia
ao lado do Giancarlo.
Deus sabe de todas as coisas, e isso é indiscutível.
C A P Í T U L O 3 3

Após deixarmos a clínica, Giancarlo decidiu me


levar para jantar em um restaurante não muito longe
dali. Pedimos uma boa massa, mas devido à gravidez,
ele não me permitiu tomar vinho, apenas o suco de uva,
uma tentativa de enganar o paladar. O bom foi que não
bebi sozinha, como o ótimo cavalheiro que era,
Giancarlo me acompanhou, para que eu não ficasse
apenas na vontade.
— E então? Qual será o nome da nossa bebê? —
Ele quis saber. Compartilhávamos uma mesa pequena,
estávamos frente a frente, e da mesma forma que eu o
admirava, ele o fazia também. Não precisávamos de
palavras para ter a certeza de que éramos dois
apaixonados. O nosso comportamento gritava isso,
nossas atitudes e gestos falavam por si mesmos.
— Adele — afirmei, convicta. Já tinha aquele nome
guardado há muito tempo.
— É um lindo nome. — Giancarlo sorriu, tocou a
minha mão sobre a mesa.
— Gostou?
— Bastante. Tem algum significado especial pra
você?
— Não sei explicar, sempre amei esse nome. Acho
lindo, elegante e muito feminino. — Entrelacei os nossos
dedos.
— É verdade, muito belo mesmo — Giancarlo
concordou, pensativo. — Adele — repetiu, devagar,
como se experimentasse a pronúncia.
— Você tinha algum outro palpite? — Fiquei curiosa.
— Não, por isso perguntei a você. Imaginei que,
como era seu desejo ter filhos, já devia ter alguns nomes
guardados. Tanto para a nossa menina quanto para os
próximos — disparou, pegando-me de surpresa.
— O quê? — Fiquei chocada. — Como assim
próximos? Ficou louco? — Ri de nervosa. Giancarlo não
devia estar em seu perfeito juízo.
— Por que não? — Ele massageou o dorso da minha
mão, como sempre costumava fazer. — Nós assumimos
o nosso relacionamento... logo iremos morar juntos.
— Mas o senhor esqueceu que ainda tenho a minha
vida profissional pela frente, querido. — Sorri, me
divertindo com os seus planos para o nosso futuro.
— Ah, está enganada, não pense que esqueci disso.
Você voltará a estudar, vai fazer o exame da Ordem e se
tornará advogada — afirmou, com tanta convicção que
gelou a minha barriga.
— Sim, mas... — tentei argumentar, sentindo aquele
velho trauma me atingir outra vez.
— Sem mas, Emma. — Giancarlo acariciou a ponta
dos meus dedos, tranquilo. — Você já está pronta, não
vê? — Fiquei calada, ele tinha esse poder de me fazer
perder as palavras. — E se estou falando de futuro, se
acredito em você e no seu potencial, é porque pretendo
construir uma vida ao seu lado. E pode ter certeza que,
eu não iria querer escrever uma história com alguém em
quem não acreditasse.
— Ah, Giancarlo... — Suspirei, rendida por ele.
Estupidamente apaixonada.
— Tenho um segredo pra te contar. — Ele soltou a
minha mão, apoiou os antebraços cruzados sobre a
mesa, aproximou seu lindo rosto do meu, sedutor. — Nós
nunca nos divorciamos. Sob a Lei americana ainda
somos casados.
Demorei a processar aquela informação. Lembrei do
que me disse meses atrás, quando afirmou que iria
chamar um advogado para resolver o nosso caso.
Todavia, depois esse assunto ficou de lado, aconteceram
tantas outras coisas que acabei esquecendo. E se em
algum momento lembrei, não me interessei em
perguntar, muito menos realizar alguma pesquisa.
— Por quê? — perguntei, sem entender.
O olhar daquele homem se tornou profundo, intenso
a ponto de me queimar a pele.
— Não percebe? Naquela época eu já estava
obcecado por você. Eu sou obcecado por você, Emma —
enfatizou, sua voz emanou primitiva, tão masculina que
causou uma forte contração em minha boceta, molhou a
minha calcinha. Afundei as unhas em seu antebraço, de
lábio mordido, excitação por cima. — Mas... ainda
precisamos oficializar o nosso compromisso aqui na
Itália. — Giancarlo se afastou um pouco, apenas para
pegar um estojo branco do bolso.
Meu coração parou.
Fiquei sem ar.
— Giancarlo...
— E dessa vez com uma aliança que caiba no seu
dedo. — Ele saiu de sua cadeira, ficou de joelhos à
minha frente. Todo o restaurante paralisou naquele
momento, as pessoas pararam de se movimentar e falar
quando notaram o que estava acontecendo. Giancarlo
abriu o estojo, e o anel que estava lá dentro aparentava
ser tão precioso, a gema do diamante era tão grande
que pensei ser capaz de valer metade da cidade.
— Dio Santo! — Levei a mão ao peito,
embasbacada.
— Emma Costantino, você aceita se casar comigo?
— a pergunta soou como música em meus ouvidos. Ouvi
um burburinho derretido ao nosso redor, de pessoas
encantadas com o nosso momento, mas sequer fui capaz
de observá-las, meu olhar estava aprisionado ao dele.
— Sim — assenti, emocionada. — Eu aceito! —
exclamei, apenas para receber o aplauso e
comemoração dos clientes ao nosso redor.
Um momento inesquecível.
Giancarlo se apressou em colocar a aliança em meu
dedo que, dessa vez, ficou confortável, brilhava demais.
Nos levantamos, ele me agarrou forte pela cintura,
tomou a minha boca logo depois de segurar a minha
nuca, me beijou com aquela obsessão implacável que
admitia ter por mim, que me tornava cativa a ele, em
cada osso, cada músculo do meu corpo que facilmente
se perdia contra o seu.
Foi um beijo cinematográfico, de estremecer aquele
restaurante onde as pessoas nos aplaudiram de pé,
maravilhadas com a belíssima demonstração de amor. E
apenas quando nos sentamos de novo, quando consegui
voltar a respirar com calma, foi que me assustei ao
flagrar Fiorela e Nico em uma mesa distante, quase
escondidos naquele estabelecimento lotado, tanto que
me passaram despercebidos.
— Giancarlo, você não vai acreditar quem está aqui!
— Segurei a mão dele, tensa pra caralho.
— O seu ex com a sua irmã — ele respondeu,
imperturbável.
— Você sabia? — Esbugalhei os olhos.
— Notei a presença deles assim que chegamos.
— O quê? Fiorela e Nico estão aqui desde que
chegamos? Eles nos observaram por todo esse tempo?
— Parece que sim. — Giancarlo sorriu, satisfeito.
Levou a taça com o suco de uva à boca.
— E por que você não me avisou? — sussurrei, sem
conseguir parar de observar o casal do ano
compartilhando uma mesa feito dois namorados, porém,
insatisfeitos. Nico virava um copo de uísque, estava
secando uma garrafa com um semblante nada amigável
à medida que Fiorela parecia reclamar algo com ele.
— Porque não queria estragar a nossa noite, sabia
que você ficaria assim, agitada — Giancarlo se explicou,
no momento em que Nico e Fiorela me olharam, ao
mesmo tempo. — Ei, olhe para mim. Eu estou aqui. —
Giancarlo tocou o meu queixo, obrigou-me a voltar minha
atenção para ele.
— Desculpe, é que... de repente fiquei com um
sentimento ruim, sabe — confessei, arrastei a mão pelo
peito, nervosa. — Acho melhor irmos embora — pedi.
— Emma, se alguém aqui tem que se retirar são
eles. Você está comigo, lembra? Nós estamos bem. —
Giancarlo segurou as minhas mãos com as suas, quis
me passar tranquilidade, mas não conseguiu. Os meus
demônios estavam gritando, fiquei agitada.
— Por favor, vamos — implorei. — Não quero ficar
no mesmo ambiente que eles. Não dá, eu não consigo.
— O encarei, em apelo.
Decepcionado, Giancarlo assentiu. A contragosto,
ele pagou a conta e me acompanhou para fora. E apesar
da sua mão me guiar pela lombar como fazia todas as
vezes, percebi que estava frio, em silêncio.
Antes que fosse até o manobrista, eu o parei, o
segurei pelo sobretudo preto que vestia sobre a camisa
social.
— Ei, o que houve? — questionei, mas Giancarlo
negou com a cabeça, evitou me olhar nos olhos.
— Nada, vou pegar o carro. — Ele tentou se
desvencilhar de mim, mas não permiti. O puxei pelo
braço.
— Giancarlo, por favor! — insisti. O homem
continuou negando, como se estivesse tentando se
conter. — Olhe pra mim! — exigi. E somente naquele
momento ele finalmente me encarou, com os olhos
tomados por um brilho ciumento. — Me diga o que
aconteceu. — Acariciei o seu queixo, minhas unhas
correram delicadamente por sua barba cerrada.
— Ainda sente algo por ele? — perguntou, apontou
com o queixo para dentro do restaurante.
— O quê? — Sorri, incrédula. — Que pergunta é
essa?
— É uma pergunta válida, preciso saber o que se
passa na sua cabeça!
— Você! — O segurei com força. — Na minha
cabeça só existe você, Giancarlo! — expliquei, nervosa,
com um medo absurdo de machucá-lo.
Todo aquele incômodo não passava de ciúmes.
— Será? — ele duvidou, foi como um tapa no rosto.
— Porque você nunca disse isso em palavras e agora
não consegue ficar comigo porque aquele infeliz está lá
dentro? — Apontou para o restaurante. Apesar de estar
chateado, mantinha o controle, falava baixo.
— Então tá, você quer ouvir? — Puxei o seu rosto
para perto do meu. — Eu te amo! — Deixei claro, senti a
sua respiração ofegar contra a minha. — E esse amor se
tornou tão grande que hoje acredito amar mais você do
que eu mesma! — Ele permaneceu em silêncio, engoliu
em seco, afetado. — Não sei o que fez em tão pouco
tempo, mas... não consigo mais viver sem você.
Entendeu?
Fechei os olhos, tentei beijá-lo e, a princípio,
Giancarlo resistiu. No entanto, não deixei que
escapasse, fiz com que ele engolisse a minha boca com
a mesma paixão que me corrompia. Ele me segurou com
cuidado, colocou a mão sobre a minha barriga e
continuou me correspondendo, se entregando, me
seduzindo.
No final, abrimos os olhos apenas para trocar um
sorriso de amor, que se desfez quando escutamos
Fiorela chamar pelo Nico.
— Nico! Nico, para! Volta aqui! — Ela tentava
impedi-lo de sair do restaurante, mas a força dele era
maior. Nico atravessou as portas e se aproximou,
aparentemente revoltado.
— Emma, sua puta! — exclamou, apontou para mim,
bêbado. — Como pôde ficar grávida dele? Era para você
estar comigo! — Bateu no peito, cheio de ódio. Disse
aquilo bem na frente da minha irmã. Ela ficou arrasada.
— Vai largar esse cara e voltar pra mim agora! — exigiu,
fora de si. — Eu que devia ser o pai desse bebê!
Aquilo foi o suficiente para o Giancarlo explodir,
acertar o rosto do Nico em cheio, fazê-lo ir ao chão. Não
satisfeito, o meu marido montou sobre ele e o golpeou
com força, como se fosse a sua última chance. A surra
foi grande, percebi que não conseguiria controlá-lo.
Giancarlo iria matar aquele bosta se o nosso motorista e
os seguranças do restaurante não interviessem. Quatro
homens foram necessários para segurar o meu marido
que, naquele momento, parecia ter se transformado na
própria tempestade.
— Agora ela está comigo, seu desgraçado! —
Giancarlo cuspiu em Nico. — Eu sou o marido dela!
Emma é minha mulher! Minha! E é bom que você fique
bem distante dela e da nossa filha! Nem pense em se
aproximar de novo ou eu te destruo antes mesmo que
tente! — Apontou para o Nico que, não sei como, ainda
estava acordado, com o rosto todo quebrado, em puro
sangue, mas ainda sendo ajudado por Fiorela.
Ela, por sua vez, aparentava não saber onde se
esconder de tão envergonhada e enraivecida do seu
namorado, talvez de si mesma também. Percebi que a
infeliz estava doente por aquele imprestável, mas não
senti pena.
Todo mundo colhe o que planta.
C A P Í T U L O 3 4

A raiva e a adrenalina que me dominavam quando


entrei no carro com a Emma, apenas diminuíram depois
que chegamos ao seu apartamento. Ela me levou até a
sua pequena cozinha, onde me sentou em uma cadeira
apenas para cuidar das escoriações nos nós dos meus
dedos, consequência da surra que dei naquele maldito.
Era para me sentir satisfeito, e até estava, mas não
totalmente. Nunca fui um homem agressivo, jamais perdi
a cabeça de modo fácil como o Filippo, ainda mais
motivado por ciúmes. Também não suportei testemunhar
aquele moleque xingando a minha mulher, muito menos
afirmando que a minha bebê deveria ser dele.
Aquilo me deixou louco, a cólera se apossou de mim
feito um raio, forte... rápido... poderoso. Enxerguei tudo
vermelho e só entendi o quanto havia me exposto depois
de algum tempo dentro do veículo.
Mas no fundo, não me importava. Faria tudo de
novo, fosse para defendê-la ou até motivado pelo
maldito ciúmes mesmo. O que me entristecia, era agir
desse jeito, de modo impulsivo, quando sempre tive uma
vida controlada.
Agora entendia o Filippo, Ágata era o seu calcanhar
de Aquiles, assim como Emma havia se tornado o meu.
Ajoelhada à minha frente, posicionada entre as
minhas coxas abertas, cuidando das minhas escoriações
com um algodão, Emma se manteve em silêncio. Tanto
ela quanto eu, optamos por não falar nada, a situação
foi realmente tensa, saiu do controle, mas sabia que o
meu pequeno furacão ruivo estava do meu lado. As suas
atitudes provavam isso. E era aquela sensação de tê-la
comigo que, no fundo do meu peito, me confortava.
A declaração que Emma me fez assim que saímos
do restaurante, servia para mim também. Eu não sabia
mais viver sem ela, e tinha a certeza de que a amava
mais do que a mim mesmo.
— Está tudo bem, não precisa fazer isso... — Tentei
pará-la, mas Emma apenas abandonou o algodão,
aproveitou que me inclinei sobre ela para segurar o meu
rosto e me roubar um beijo. Fui pego de surpresa.
A princípio, não reagi.
Nossos olhos se fecharam, os lábios permaneceram
grudados, unidos de tal maneira que me senti em casa,
aceito da maneira que era, em cada erro e acerto. Foi
fácil esquecer dos problemas, rejeitar a ideia de que
existia um mundo lá fora, que o planeta não era habitado
apenas por nós. A conexão que tínhamos ia além da
carne, fazia com que a minha mão se enrolasse em seu
cabelo enquanto a outra segurava delicadamente o seu
queixo.
E quando abri os olhos para observá-la do alto,
quando puxei o fôlego e senti as suas mãos abrirem o
cinto da minha calça, não fiz nada além de soltá-la,
deitar contra as costas da cadeira, abrir mais as pernas
e permitir que a garota ficasse à vontade.
Sem tirar os lindos olhos dos meus, Emma puxou
meu pau para fora da minha cueca, suspirou cheia de
desejo. Era sempre assim, ela ficava ansiosa quando me
tocava, seu coração parecia disparar no peito, sua
respiração acelerava, as bochechas ruborizavam e seus
lábios vermelhos por natureza se entreabriam, provando
que estava com água na boca.
Enfeitiçado, a assisti me masturbar sem pressa,
sufocando-me entre os dedos, sentindo a minha
espessura, o sangue quente correndo nas veias. A
infeliz conseguiu dilatar cada uma delas, obrigar-me a
morder o lábio, relaxar o corpo, cerrar os punhos.
Aquela cena explícita me aqueceu, Emma parecia
um anjo ruivo sardento cometendo o pior dos pecados.
De olhar puro e boca perigosa, tão sensual que, quando
engoliu a minha glande, tive de gemer.
— Hmm... — Deitei a cabeça no topo da cadeira,
fechei os olhos, exibi os dentes.
Gostoso. Ela sabia como me chupar.
Me lambeu como se estivesse experimentando um
doce, provocando... saboreando a minha carne que
latejava com o seu contato. Tê-la de joelhos daquele
jeito diante de mim, era uma tentação. Tentei tocá-la,
mas Emma não permitiu, tive que me segurar, agarrar-
me aos braços da cadeira à medida que era mamado.
Ela se entregou, tentou me engolir até a base, mas
não conseguiu. Insistiu de novo, se engasgou, voltou
com os olhos brilhando e deixou sua saliva babar a
minha fenda, escorrer pelo eixo. Repetiu aquele
processo por um bom tempo e quando enfim se cansou,
olhou-me como quem queria passar o poder. E assim o
fez.
— Mostre os seios — pedi. Emma tirou a blusa e se
livrou do sutiã para me obedecer. Os peitos dela
estavam maiores, a gravidez estava a tornando ainda
mais voluptuosa. — Venha aqui — a chamei, usei uma
mão para segurá-la pela nuca e a outra para guiar o meu
pau duro até o centro das suas mamas fartas, onde
comecei a ser masturbado. — Puta merda... — grunhi,
arrasado de tesão.
Aquela mulher entendeu o que eu queria fazer e tê-
la brincando com a minha ereção entre os seios me
alucinou. Fiquei maluco. Principalmente quando senti os
mamilos endurecidos pressionarem a minha carne, se
arrastarem sobre as veias. A putaria estava tão boa que
enrolei a mão nas mechas sedosas do seu cabelo, fiz
com que Emma me chupasse.
E quando estava prestes a gozar, a beijei, a puxei
para que se levantasse, me livrei dos meus sapatos, tirei
a minha calça e a dela. Acariciei e beijei o seu abdômen
inchado antes que ela viesse para o meu colo, se
sentasse sobre as minhas coxas usando a calcinha que
fiz questão de rasgar.
Puxei a peça frágil de um só uma vez, sem nenhum
remorso.
— Ooh! — Emma gemeu, surpresa com a minha
atitude. Ela ofegou contra a minha boca no instante em
que a penetrei devagar, centímetro a centímetro, até
esgotar sua boceta. — Ai, Gian... — seu grunhido me
excitou. Arrastei os dentes afiados pelo seu pescoço ao
mesmo tempo em que a garota me agarrava, arranhava
as minhas costas, rebolava devagarinho, esmagando-me
dentro de seu corpo.
Desci as mãos para a sua bunda, pressionei as suas
nádegas entre os dedos, até arder. Não resisti e lhe dei
um tapa, Emma jogou a cabeça para trás, fechou os
olhos com força, mas não permiti que se afastasse por
muito tempo. Tomei os seus lábios, chupei a sua língua
enquanto a fodia.
Comi a minha esposa de um jeito tão gostoso que
até esquecemos que ainda estávamos na cozinha,
compartilhando uma cadeira, ela montada em mim.
Sentir a sua barriga me tocando, era um detalhe à parte,
fazia o meu tesão aumentar apenas por saber que eu a
engravidei, que Emma carregava uma filha minha.
Próximos do auge do prazer, aumentamos o ritmo, a
segurei pela cintura apenas para ajudá-la a quicar. Senti
os lábios generosos da sua boceta me sugarem,
famintos, algo que me obrigou a rugir, lhe acertar mais
um tapa.
Emma ficou desesperada para chegar ao orgasmo,
se aninhou ao meu corpo quando o seu foi tomado por
espasmos. Ela gritou tão alto, que tive a certeza que os
seus vizinhos nos ouviram, mas não me importei. Segui
com ela daquele jeito, me entreguei à intensidade, gozei
também.
Era como se estivéssemos mergulhados em um mar
de luxúria, batimentos cardíacos fora do ritmo,
respirações descompassadas. Tivemos dificuldade para
nos acalmarmos, e apesar de todo o prazer, continuei
excitado, enrijecido entre as suas dobras meladas,
molhado por cada gota do seu suco.
— Me leve para a cama... — Emma murmurou,
cansada. Surpreso, a encarei, sem acreditar que ela
estava me chamando para o lugar fruto dos seus
traumas. — O passado não me importa mais. — Ela
segurou o meu rosto, olhou-me com profundidade. — Só
o que me importa é a nossa história, o que começamos
naquela viagem, e além de Vegas, só existe você. — Os
seus lábios tocaram os meus, nos beijamos de forma
doce.
— Eu te amo — sussurrei, rouco, fazendo-a sorrir.
— Te amo demais, anjo. — Acariciei a sua face, tirei
algumas mechas do caminho.
— Sério? Que surpresa. Sabe que nunca notei? —
fez piada. Fiquei ainda mais apaixonado.
A agarrei com mais cuidado e a levei para o seu
quarto, deitei com ela na cama, onde fizemos sexo outra
vez.
C A P Í T U L O 3 5

Quando chegou o dia da minha mudança,


acompanhei aqueles homens uniformizados retirarem a
mobília do meu apartamento para guardarem tudo
encaixotado dentro do caminhão. A equipe especializada
no serviço havia sido contratada pelo Giancarlo, que se
esforçou para que eu não tivesse nenhum tipo de
trabalho ou me arriscasse a pegar algum peso.
Ele ainda insistiu para que eu deixasse o
apartamento mobiliado, já que não iria precisar dos
móveis na sua mansão. A ideia era boa, sem contar que
seria até mais fácil para alugar, porém, eu era aquele
tipo de pessoa muito apegada às minhas coisas. Sabia o
quanto havia sido difícil conquistar cada uma delas,
todas fruto do meu suor e da vontade de alcançar a
minha independência.
No fim, havia conseguido, e agora estava apenas
iniciando um novo voo, vivendo novos sonhos, por mais
inesperados que fossem.
Assim, decidi guardar os meus móveis em uma das
garagens do Giancarlo, a casa dele era grande, já havia
feito algumas visitas.
Pensei que, se as minhas conquistas estivessem
perto de mim, sempre que sentisse saudade ou quisesse
lembrar da minha história, estaria a um passo de
alcançá-las, as coisas negativas já não estavam mais lá,
me livrei delas desde que havia me separado do Nico.
Quando o apartamento finalmente foi esvaziado,
caminhei sozinha por ele, em despedida. Toquei nas
paredes que havia pintado, recordei de alguns momentos
bons, principalmente da emoção que senti quando
peguei as chaves pela primeira vez.
— Anjo? — a voz do Giancarlo fez com que eu me
virasse, o avistei na porta, me observando. — O que
está fazendo?
— Me despedindo. — Forcei um sorriso, segurei as
lágrimas.
Giancarlo se aproximou e me deu um abraço, beijou
a minha boca.
— Prometo que será muito feliz comigo —
sussurrou, segurou o meu queixo.
— Não tenho dúvidas — falei, me sentindo amada.
— O caminhão da mudança já foi, agora temos que
ir. — Giancarlo me puxou pela mão, logo depois que
assenti.
Tranquei a porta onde havia uma placa de aluga-se
com o meu contato. Descemos pelas escadas, já que o
elevador havia quebrado outra vez. Entramos no seu
carro onde o motorista nos aguardava. Giancarlo me
manteve junto a ele, absorvendo o seu perfume
amadeirado durante o percurso até a sua mansão, que
agora seria o meu lar também.
Assim que saí do automóvel, contemplei a paisagem
que sempre enchia os meus olhos mais uma vez. Toda a
propriedade era enorme, a casa por fora parecia um
palácio. Nas duas visitas que fiz não consegui passear
por cada cômodo, precisaria de mais tempo para
conhecer tudo.
O jardim era um charme à parte, as hortênsias
embelezavam a construção de dois andares, as flores
cercavam as paredes amareladas feito uma plateia.
Giancarlo entrou primeiro e abriu a porta para me
receber, momento em que tive uma grande surpresa,
todos os nossos amigos estavam ali nos esperando.
— SEJAM BEM-VINDAS!! — o grupo exclamou em
coro. Havia uma linda decoração em tons de rosa, com
balões, flores, bolo, doces e até lembrancinhas com o
nome da Adele.
Chocada, levei a mão à boca, maravilhada com
todos os sorrisos que me direcionavam. Filippo, Ágata e
os seus bebês. Tomás e Enzo. Pessoas especiais que
faziam-me ter a certeza de que não faltava mais
ninguém. Foi naquele momento que entendi o motivo de
apenas nós termos ido ao casamento em Vegas, porque
éramos essenciais.
Na vida, não importava a quantidade, mas sim a
essência.
— Gente, não acredito! — Me aproximei, recebendo
o abraço de Enzo primeiro. — Oi anjo! Que saudade! —
Apertei as suas bochechas.
— Caramba, que bom que você finalmente chegou!
Não aguentava mais ter que esperar! — Enzo falou, algo
que fez todos gargalharem.
— Sim, cheguei! — Acariciei o seu lindo rosto. —
Cheguei para ficar! — Giancarlo se aproximou, contente.
Bagunçou os cabelos do garoto.
A sala de estar estava decorada e bem iluminada,
com cortinas bege nas janelas, uma cor que contrastava
muito bem com os detalhes rosas, as fitas, a plaquinha
no alto da parede com a frase “SEJAM BEM-VINDAS,
EMMA E ADELE”. Era um sonho, algo que se tornou
ainda melhor quando Filippo e Ágata se aproximaram,
cada um deles carregando um bebê.
— Seja bem-vinda, Emma — Ágata falou, olhou-me
de maneira tão terna que demonstrou o quanto estava
arrependida de ter se desentendido comigo, o quanto
queria o meu perdão.
Não a respondi, apenas a abracei.
— Desculpe — ela sussurrou, aquilo encheu o meu
peito. Entendi que estava com muita saudade da sua
companhia, das nossas conversas.
— Me desculpe também — pedi, sabia que poderia
ter conduzido aquele nosso confronto de forma diferente,
mas na hora da revolta, não o fiz. Segurei as suas mãos.
— Agora... vamos esquecer isso, tá bom?
— Tudo bem — ela assentiu, contente.
— Que menino fofo! — Beijei o seu neném, acariciei
o cabelo da Aurora quando Filippo me cumprimentou.
— Seja bem-vinda, Emma — ele falou, olhava-me
como se estivesse orgulhoso.
— Grazie, Filippo.
— Você merece estar aqui, só ainda não tive
certeza se o Giancarlo merece você. — O infeliz piscou
para mim, provando que adorava provocar o seu amigo.
— Como você é ousado, Filippo. — Giancarlo parou
ao meu lado, colocou a mão em minha lombar.
— Bem, eu não sou o dono da casa, nem parente
nem nada, mas não podia deixar de vir aqui prestigiá-la
neste momento tão importante. — Tomás se aproximou.
— Aaah, Tomás! — O abracei com força. — Deixa
de ser cínico! Você é o melhor amigo de todos!
— E o melhor advogado presente aqui, que isso
fique bem claro. — Ergueu o indicador, provocando os
outros, o que gerou mais gargalhadas.
— Modesto ele, não é? — Ágata tocou o meu braço.
— Pra você ver! — brinquei.
— Acho que seria legal tirarmos uma foto. Nessa
casa ainda não tem foto de família, não com a Emma e
todos vocês. A família cresceu, não é? — Enzo se
aproximou com o seu iPhone em mãos.
— Ah, vamos tirar sim. Mas não se preocupe, filho,
de agora em diante, essa casa terá uma grande família
para registrar. — Giancarlo piscou para mim, sempre
com o seu olhar de homem apaixonado que me fazia
suspirar de amores.
— Ouvi dizer que a Adele é só a primeira da fila. —
Tomás fingiu tossir, ao soltar sua notícia fake.
— O quê? Vocês terão outro? Ah, dessa vez pode
ser um menino? Eu, ele e o Davi formaremos um time de
basquete! — Enzo se animou.
— Calma, gente! Como assim? Já estão fazendo
planos sem a nossa permissão?! — Ágata ficou chocada.
— Estão achando que ter filhos é tão fácil assim? Dói,
viu.
— Ah, nem me fale. Estou apavorada. — Me
aproximei dela.
— A dor é terrível, mas depois passa. E quando
você pegar um pacotinho desses no colo, vai sentir tanto
amor que a dor será esquecida. — Ela mimou o seu
garoto. — Se bem que, ainda acho que vou procurar um
profissional para me livrar do trauma daquela dor —
Ágata fez piada, nós rimos.
Enquanto conversávamos, os meninos passaram a
conversar entre si também, todos ao mesmo tempo.
— E o que acha da cesárea? — perguntei.
— Ah, eu acho muito arriscado, Emma. Na época
estava morrendo de medo devido aos meus serem
gêmeos, então pesquisei. Pior coisa que fiz foi ir para a
internet, não gostei de nada do que li, fiquei com ainda
mais medo. No entanto, deu tudo certo no parto normal,
apesar da dor.
— Também já li sobre isso — confessei, após mexer
no cabelo. — Sem contar que já vi algumas meninas lá
na firma sofrerem depois da cirurgia.
— O negócio é o pós — Ágata continuou. — Falando
em firma, estou morrendo de saudades — mudou de
assunto.
— Eu ia até te perguntar quando seria o seu retorno
e também como estava o curso. — Caminhamos para
longe dos rapazes, rumo aos sofás.
— As aulas estão sendo remotas e todos os
trabalhos eu faço em casa. Mas as avaliações são
presenciais, exigência da universidade. — Ela se sentou
no sofá e tirou o seio para fora, apenas para dar de
mamar ao Davi. — Dia desses roubei um caso do Filippo,
tentei dar uma espiada, mas é muita coisa. Mesmo com
a ajuda da babá, não consigo ficar sem fazer nada,
adoro ter contato com eles. — Sorriu para o menino,
apaixonada.
— Imagino. E eles são tão lindos, Ágata. — Me
sentei ao seu lado. — Encantada com o Davi.
— A Adele também vai ser. Já imagino uma
garotinha ruiva correndo pela casa. Acho que não vou
conseguir parar de visitá-los.
— Ah, venha sempre que quiser. As melhores
fofocas são sempre quando estamos juntas! —
Gargalhamos, cheguei a doer a barriga de tanto rir.
— Ei! O que estão fazendo aí?! É a hora da foto! —
Enzo se aproximou, exigente.
— Ah, Enzo, estou dando de mamar para o seu
sobrinho e a sua sobrinha já começou a chorar.
Ciumenta. — Ágata balançou a cabeça.
— E como vamos fazer? — ele perguntou, no
instante em que Filippo se aproximou, brincando com a
Aurora, tentando de tudo para cessar o seu pranto.
— Vamos sentar todos aqui! — dei a ideia. — Tem
alguém para tirar essa foto?
— A Madalena. — Enzo correu até a mulher que
estava passando em direção à cozinha. — Madalena, por
favor, será que pode nos fotografar?
— Mas é claro, querido! — Ele a trouxe até nós,
entregou o seu celular para ela.
O grupo se juntou no enorme sofá, Enzo ficou entre
os dois casais. Tomás sentou em uma das pontas, ao
lado do Filippo. Madalena fez cerca de cinco fotos,
entregou o celular ao Enzo e foi embora. O garoto
mostrou as imagens, gostei de todas, ficaram realmente
boas.
— Só o Tomás que continua solteiro! — Enzo falou,
provando o quanto sua língua era afiada.
— Ainda não achei a minha ragazza, rapaz! —
Tomás se defendeu, cruzou os braços.
— É mesmo, Tomás, já está passando da hora! —
Ágata observou, arqueou uma sobrancelha, em
exigência.
— Ele é seletivo demais — Filippo denunciou.
— Ah, é? — Entrei na brincadeira. — Mas você
disse que estava conhecendo uma pessoa. — O encarei.
— Solteiro sim, sozinho nem um pouco. — Tomás
riu, convencido. — Tenho muitos planos antes de formar
uma família. Sem contar, que já tenho alguns filhos por
aí — disparou, nos assustando.
— Você já é pai? — Giancarlo ficou curioso.
— Pai de plantas e cachorros — Filippo explicou,
apenas para nos fazer rir.
— Tomás, já juntei dois casais. — Enzo apontou
para nós. — Se você quiser, posso te ajudar também.
Ultimamente, estou acertando. Posso procurar a garota
ideal pra você — Enzo afirmou, tão convicto que foi o
motivo da comoção de todos.

No final da tarde, depois que os nossos visitantes


foram embora empanturrados de doces e bolos,
aproveitei que Giancarlo se afastou para verificar o final
da entrega da minha mudança, e fui olhar o quarto da
Adele, que havia sido montado nos últimos dias.
Giancarlo queria me fazer uma surpresa, pediu para que
eu esperasse, mas não contive a ansiedade.
O cômodo foi montado em tons de branco e lilás,
parecia um sonho de princesa. Tinha tudo o que uma
mãe poderia imaginar, e até um pouco mais. Parei diante
do berço apenas para acariciar a minha barriga enquanto
admirava cada detalhe, cada peça exclusiva com o nome
gravado da minha menina.
Ouvi os passos de Giancarlo às minhas costas, ele
se aproximou me encarando como se eu tivesse
aprontado.
— Eu pedi para que me esperasse. — Me abraçou
por trás.
— Você demorou demais. Fiquei muito ansiosa! —
me justifiquei, ergui o rosto para beijá-lo.
Giancarlo beijou a minha boca, bochecha e pescoço.
— Gostou?
— Amei. Está tudo lindo. — Sorri, contente. Respirei
fundo ao lembrar de algo que estava me incomodando.
— O que foi? — Giancarlo notou o meu semblante
preocupado.
— É o meu pai. — Me virei para olhá-lo de frente,
pousei as mãos sobre os seus braços. — Ele enviou uma
mensagem pedindo para que nos encontrássemos.
Semana que vem — contei.
— Então vai — Giancarlo falou, como se fosse
óbvio.
— Eu não sei. — Neguei com a cabeça. — Ele me
decepcionou tanto, e eu posso esperar tudo a seu
respeito, menos um pedido de desculpas.
— Mas independente do que ocorreu, ele continua
sendo o seu pai. Sei que o desentendimento de vocês foi
recente, mas... por experiência própria, anjo. Vá falar
com ele. Escute o que ele tem a dizer. Talvez depois
seja tarde demais. — Giancarlo acariciou o meu rosto,
condolente.
— Pode ir comigo? — pedi, fazendo bico.
— Que bom que me chamou, porque estava prestes
a me oferecer. — Giancarlo riu, depois me beijou.
— Eu te amo tanto. — Segurei o seu rosto e o beijei
mais vezes.
C A P Í T U L O 3 6

Quando o meu pai me viu entrar acompanhada do


Giancarlo no restaurante onde havia marcado o nosso
encontro, se levantou da sua cadeira bastante surpreso.
Eu o conhecia bem para entender que poderia esperar
tudo, menos me ver aparecer ao lado do dono da
Gagliardi Ruggiero Sartori, e ainda por cima com uma
barriga de dezessete semanas.
— Emma? — Aurélio não sabia se encarava o meu
abdômen ou o homem parado ao meu lado, de mãos
dadas comigo.
— Oi, pai — falei, desanimada.
Se tinha uma coisa que não sentia era animação ao
falar com ele. Contudo, não poderia negar que meu
coração bateu mais forte ao vê-lo. Foi como Giancarlo
disse dias atrás: apesar de tudo, Aurélio era o meu pai.
Olhei para o meu marido e limpei a garganta, precisava
apresentá-lo.
— Esse é o Giancarlo...
— Ruggiero — Papai completou, forçou um sorriso.
— Eu o conheço. — Os dois se cumprimentaram. —
Muito prazer, Aurélio...
— Costantino — Giancarlo completou. — Já tinha
ouvido falar de você, mas só descobri que tinha
parentesco com a Emma depois que... — ele me encarou
— começamos o nosso relacionamento.
— Relacionamento? — Aurélio arqueou as
sobrancelhas.
— Sim. — Giancarlo me segurou pela cintura. — Eu
e sua filha nos casamos.
Papai não conseguiu esconder o choque.
— Sua irmã... me contou que você tinha sido pedida
em casamento — informou. — Não sabia que tudo já
havia sido oficializado.
— É uma longa história, papai. — Olhei para
Giancarlo, não queria falar demais da nossa vida, apesar
de que nunca estivemos dispostos a esconder o nosso
compromisso. As alianças em nossos dedos serviam de
prova. — O senhor queria conversar? — fui direto ao
assunto.
— Sim. Sentem-se. — Ele apontou para as cadeiras.
— Eu vou ficar ali no bar. — Giancarlo apontou para
a direção que pretendia seguir. — Foi um prazer
conhecê-lo. — Olhou para o meu pai uma última vez, ao
mesmo tempo em que mexeu em seu blazer.
— O prazer foi meu, doutor — Papai falou, antes de
se sentar. Me sentei também, à sua frente. Assim que
Giancarlo se afastou, Aurélio cruzou as mãos sobre a
mesa e fixou os olhos em mim. — Seu marido comanda
uma das maiores firmas do país — disse, impressionado.
— Eu sei, papai. Trabalho lá, lembra? — Coloquei a
minha bolsa sobre a cadeira ao lado. — Mas não foi para
isso que me chamou aqui, foi?
— Se me permite. Como... — fez o movimento de
círculo com o dedo indicador — tudo isso aconteceu?
Digo, entre vocês.
— Ah, entendi. — Mexi no cabelo, prevendo que iria
me estressar. — O senhor quer saber como foi que um
homem do patamar dele notou uma fracassada como eu?
Aurélio desviou o olhar, desconfortável.
— Emma, não vim aqui para brigar — explicou.
— Então veio pra quê? — disparei, de queixo
erguido. Estava na defensiva, mas sabia que não era
exagero.
— Vim para saber de você.
— Depois de quê... cinco, seis meses? — Cruzei os
braços. Havia tanta coisa entalada na minha garganta
que, estava bem difícil controlar a raiva que subia em
meu peito.
— Você também não entrou em contato — se
justificou.
— Ah, papai... — Neguei com a cabeça. Fechei os
olhos, pedindo calma. — Depois de tudo o que sofri,
toda aquela humilhação que a Fiorela me fez passar, das
suas atitudes. O senhor ainda queria que eu voltasse
atrás? — Era inacreditável! Aurélio suspirou,
desconcertado. Olhava ao redor como se quisesse fugir.
— O mínimo que o senhor devia fazer era se desculpar!
— Ergui o dedo, inconformada.
— Desculpe — ele respondeu, como se falasse uma
coisa qualquer, o que não me impediu de ficar surpresa.
— Era isso o que queria ouvir? — Esperou que eu
respondesse. Balançou a cabeça. — Reconheço, não fui
um bom pai. Nem um bom marido. O resultado está aí...
essa situação entre duas irmãs. Isso acaba comigo. —
Abaixou o rosto. Foi a primeira vez que percebi que ele
se sentia fracassado, pelo menos em alguma questão da
sua vida.
Me mantive em silêncio, engoli o choro.
— Por que o senhor veio me procurar, pai? — A
minha voz saiu embargada.
— A Fiorela se perdeu de vez. Está gastando
mundos e fundos com aquele gigolô — ele contou, aflito.
— Piorou depois que o infeliz saiu da residência, estava
se envolvendo com a esposa de um dos seus superiores.
— Fiquei boquiaberta, apesar de não estar tão surpresa.
— Mesmo assim Fiorela continua insistindo com ele.
Mesmo depois da declaração patética que ele te fez
naquele restaurante.
— Ela te contou? — Estreitei as sobrancelhas, sem
entender.
— Não, eu coloquei um segurança para vigiá-la. Não
confio nela com o Nico. Não depois de tudo o que ele
fez.
— Nossa, como o senhor se importa com ela, não é,
papai? — Fiquei indignada. — Colocou até um
segurança. Que pai exemplar, queria ter um assim — o
provoquei.
— Não fiz o mesmo com você porque não era
necessário. Sempre foi independente, se virou sozinha
desde cedo.
— Porque não fui mimada! — retruquei, irritada. —
O senhor nunca me tratou com o mesmo mimo que
tratava ela. E quer saber? Graças a Deus! A única que
gostava mesmo de mim era a minha mãe.
— Não diga isso. — Aquilo lhe feriu.
— Digo isso e muito mais! — Bati na mesa. — Mas
como estou grávida, não posso me estressar. Ainda não
entendi o motivo desse encontro, o senhor não mudou
nada!
— Quero você comigo na firma. — Aurélio me pegou
de surpresa. Por essa, eu não esperava.
— O quê?
— Sua irmã está saindo de viagem amanhã. Tentei
convencê-la do contrário, mas ela acha que uma viagem
fará bem para ela e para aquele inútil. — Ele cerrou os
punhos, tenso até o último fio de cabelo. — Preciso de
uma das minhas filhas comigo, não posso ficar sozinho.
Paralisei, juro que tentei entender o que se passava
na cabeça do meu pai, mas ele nunca iria fazer nada por
mim. Jamais conseguiria se pôr no meu lugar. Se eu
ainda tinha alguma dúvida, essa conversa me mostrou a
verdade, da maneira mais crua possível.
— Pai, está vendo aquele homem ali? — Apontei
para o Giancarlo no bar, que tomava uma dose de
uísque. — Ele me ensinou que não devo aceitar me
tornar prêmio de consolação pra ninguém. — Puxei ar
para os pulmões, me controlei para não gritar com ele.
— O senhor nunca me chamou para trabalhar na sua
firma, mesmo quando fui contratada pela Gagliardi
Ruggiero Sartori. Sabia que não estava satisfeito, mas
também não fez questão de me oferecer outra opção. E
agora que a Fiorela fez toda essa merda, vai embora
com aquele traste, você vem aqui me pedir para ir lá
limpar a bagunça dela?
Ele ficou sem palavras, apenas me observando.
— Não — neguei. — Nem quando me tornar
advogada, porque eu vou me tornar, isso o senhor pode
escrever. — Me levantei, peguei a minha bolsa. — Viva a
sua vida com essa sua adoração por ela, a adoração
dela pelo Nico e me deixe em paz! Nunca mais apareça
na minha frente!
— Emma? — ele me chamou, mas não lhe dei
ouvidos.
Marchei até o Giancarlo. Ao notar a minha
aproximação, ele se levantou, saiu da banqueta onde
estava sentado.
— Vamos embora — pedi.
— Certo. — Giancarlo segurou a minha mão e me
levou para fora. Já havia pagado a sua conta. Depois
que estávamos no carro, olhei inconformada pelo vidro
da janela, senti quando seus dedos acariciaram o meu
rosto.
— No que está pensando? — ele perguntou.
— No quanto quero ser advogada. — O encarei,
firme.
Giancarlo sorriu, orgulhoso.
— Achei que iria pensar nisso só depois do nosso
casamento... ou da gravidez — comentou.
— Não, eu quero logo — afirmei. — Eu preciso,
Giancarlo! — pontuei, entredentes, determinada,
revoltada em cada gota de sangue que corria por minhas
veias.
— Então vou te fazer enxergar que já está pronta —
ele garantiu. Escutar as suas palavras me tranquilizou
porque confiava nele. Sabia que se estivesse comigo, eu
seria capaz de vencer tudo.
C A P Í T U L O 3 7

Por um mês, Emma ficou estudando comigo todos


os dias. Decidi que seria o seu professor não porque me
considerava mais inteligente que ela, mas sim porque
enxergava a verdade que ela não conseguia. Uma bem
simples, afinal, a de que já estava preparada.
O que lhe impedia de ser advogada não era a sua
falta de conhecimento, mas sim o seu medo, a ausência
de crença em si mesma.
Ela pensou que o correto seria repetir o de sempre,
mas lhe mostrei um novo caminho. A fiz sair da teoria
eterna e ir para a prática, ou seja, as questões do
exame, os assuntos desenvolvidos em perguntas que,
muitas vezes, misturavam mais de um tema, apenas para
testar o candidato.
Em um mês, Emma respondeu mais de cinco mil
questões, apenas para provar o que eu já sabia. Ela
tinha muito conhecimento acumulado, mas não aplicava
aquilo nos testes. Perdia tanto tempo na teoria que
quando ia para a prática, se desesperava, ficava
perdida.
Quando o grande dia chegou, eu e o Enzo a
levamos até o local onde faria a prova. O garoto nos
acompanhou durante o seu processo de estudos, sempre
com palavras de incentivo que a ajudavam bastante.
Ao sairmos do carro, ele acariciou a barriga da
Emma.
— Vai lá, maninha. Dê sorte para a nossa mamãe —
disse, carinhoso. Aquilo nos tocou.
— Mãe? Você me chamou de mãe, Enzo? — Emma
ficou emocionada. O vento soprava o seu cabelo de
maneira suave, o que tonava o seu sorriso orgulhoso
ainda mais lindo.
— Se não se incomodar, queria chamar você assim
de vez em quando, anjo — ele pediu, todo sem jeito.
Colocou as mãos para trás, tímido.
Era incrível como os dois se davam bem. Em pouco
tempo de convivência, já havia perdido as contas de
quantas vezes dormimos todos juntos, coisa que eu não
costumava fazer com ele. Era sempre cada um no seu
quarto.
— Claro que pode! — Emma o abraçou com força. —
Já me considero a sua mãe há muito tempo, e sabe por
quê? Porque você, apesar de não gostar, é muito fofo! É
o meu pequeno grande homem! — Emma o encheu de
beijos. — O meu filho. Meu filhote!
— Filhote — Enzo repetiu, às gargalhadas. Achou a
palavra hilária. — Filhote é legal, não é, pai?
Após ter o coração explodido de alegria ao observá-
los, eu me aproximei. Beijei ela e depois ele.
— Vocês são lindos demais. Eu sou o homem mais
sortudo do mundo — afirmei, sorri de orelha a orelha.
Era como se os meus dias fossem feitos apenas de
felicidade, e aqueles cinco anos em que me senti
sozinho, foram facilmente esquecidos.
Algumas pessoas passaram por nós, entraram no
prédio acadêmico onde aconteceria o exame, algo que
capturou a atenção da Emma. Ela olhou para aquele
lugar e respirou fundo, como se estivesse tomando
coragem.
Acenei com a cabeça para o meu filho, ele entendeu
que precisávamos ficar a sós por um instante e se
afastou, entrou no veículo de novo. O dia estava lindo, o
céu sem nuvens, todo azulado, sol potente e brilhante.
— Você está pronta. — Segurei-a pelo rosto. Ela me
olhou com medo, mas assentiu, calada. — Vou te contar
mais um segredo.
— Outro? — Sorriu.
— Sim — afirmei, escorreguei os polegares pelas
sardas das suas bochechas. Uma característica que a
tornava mais especial e linda do que qualquer outra
mulher aos meus olhos. — Depois que a Aurora faleceu,
não foi apenas a bebida que dispensei, também parei de
advogar — contei, aquilo prendeu a sua atenção. —
Lembra quando você me disse que me via como líder,
mas não como advogado? Era verdade. Parei de assumir
causas diretamente antes mesmo de você começar a
trabalhar na firma.
Emma ficou surpresa, seus lábios se entreabriram.
— A verdade é que eu estava perdendo a vontade
de viver, Emma. Além dos meus filhos, nada mais
parecia fazer sentido. No entanto, tive que me esconder
— confessei, com dificuldade. — Tive que ocultar toda a
minha dor e fragilidade bem aqui. — Coloquei a sua mão
sobre o meu peito. — Porque eu era o Sócio-Gestor da
Gagliardi Ruggiero Sartori, tinha um trabalho a fazer, por
mais que, em alguns momentos, não quisesse.
— Giancarlo, se você não contasse, eu jamais
poderia imaginar. — A garota acariciou o meu rosto,
compadecida, fitando-me com emoção.
— Essa revolta dos sócios, as reclamações sobre a
minha forma de gerir a firma. Boa parte disso também foi
motivada por mim, pelas minhas atitudes, o meu
distanciamento dos funcionários, a forma que agi. —
Respirei fundo, recordei a maneira como aqueles
sentimentos antigos doíam em mim. — Eu não menti
para eles quando disse que em você encontrei confiança
o bastante para recomeçar, Emma. Os seus olhos foram
a minha luz no fim do túnel. As suas mãos me tiraram do
abismo. Você me salvou.
— Giancarlo... — Ela sorria, emocionada, sabia que
estava sendo tocada por diversos sentimentos, assim
como eu.
— Me salvou de mim mesmo — continuei. — E
apenas escolhi aquele brownie vermelho porque estava
com você. — Lágrimas molharam o seu rosto. — Não me
arrependo de nada, Emma. Nada. E sei que vai
conseguir passar no exame porque você é a minha
heroína. Os seus beijos me fizeram voltar a respirar, me
presentearam com o doce sabor que é viver. E agora até
pai vou ser de novo, após cinco anos de celibato.
— Cinco anos? — Emma ficou chocada. — Eu achei
que... — Ela tentou entender. — Achei que não tinha se
envolvido a fundo com outras pessoas, mas foram cinco
anos sem...? — Não completou, esperou que eu falasse.
— Sim — afirmei. — Você foi a minha primeira
mulher depois de todo esse tempo. — Sorri, apenas para
deixá-la impressionada.
— Dio Santo. — A garota me abraçou com carinho,
como se me agradecesse ou buscasse conforto em mim.
Ela sorriu sem mostrar os dentes, tranquila e segura.
Toquei a sua barriga antes de beijá-la, um beijo
longo que foi o bastante para nos despedirmos e motivá-
la a entrar no prédio em busca do seu maior sonho.
— O medo é só uma palavra de quatro letras! —
gritei, antes que ela sumisse de vista. — Coragem é uma
palavra maior!
— Advogada também! — Enzo berrou, da janela do
carro, me surpreendendo.
— Vitória! — Me empolguei, chamando a atenção de
outras pessoas.
— Sucesso! — Enzo sorriu.
Emma acenou, sorridente, brilhando tanto quanto o
sol.

Mais tarde, quando voltamos para casa, horas


depois dela ter feito a prova. Estávamos deitados na
cama debatendo sobre as questões respondidas quando
o Enzo passou pela porta em um rompante, com o
celular na mão.
— Saiu o resultado! — ele disse, totalmente
nervoso.
— Dio Santo! — Emma colocou a mão no peito.
— E aí? — perguntei, após ficar sentado.
— Eu ainda não vi, mas estou com a lista aqui. — O
garoto se aproximou, a mesma ansiedade que o
corrompia me atingiu também, até que segurei a mão da
minha esposa, tive medo dela passar mal.
— Enzo, querido, vai com calma — ela pediu,
percebi a sua respiração acelerando.
— Cadê, cadê, cadê? — Enzo não tirava os olhos do
aparelho.
— Calma — Emma pediu de novo.
— Achei! — Ele se animou. Depois ficou sério, como
se precisasse entender o que estava lendo.
— Ai, não... — Emma se decepcionou.
— Fala, filho — pedi, logo depois de engolir em
seco.
— Emma Costantino — Enzo leu devagar. Olhou
fundo nos olhos da minha esposa. — Aprovada —
contou.
— O quê?! — Emma não acreditou.
— MINHA MÃE É ADVOGADA! — Enzo pulou na
cama e ficou saltitando feito um mini louco em
comemoração.
— Eu disse! — exclamei, vibrando. — Disse pra
você, amor! — Segurei o seu rosto, a beijei.
— Deixa eu ver, por favor! — Enzo entregou o
celular para ela. Emma começou a chorar. — É verdade
mesmo, meu Deus! — Levou a mão à boca, se debulhou
em lágrimas.
— Parabéns, meu amor! Parabéns, campeã!
— Campeã! Campeã! Minha mamãe venceu!
Advogada! Uuuuhuuu! — Enzo continuou saltitando,
jogando os braços para o alto como se tivesse recebido
o melhor dos prêmios. Há tempos não o via tão feliz.
A casa pareceu estremecer devido ao exagero da
nossa alegria. No dia seguinte, reunimos todos os
amigos e fizemos um almoço em comemoração, com
tudo o que Emma tinha direito. Foi uma festa grande, até
banda contratei.
Ela merecia!
C A P Í T U L O 3 8

O dia do meu casamento havia chegado e com ele


uma preparação digna de rainha. Era assim que
Giancarlo queria que eu me sentisse hoje, uma mulher
que se casaria com um rei e, ao seu lado, governaria o
nosso país chamado casa, vida a dois, família, trabalho
e sucesso.
Para seguir a regra de não ver o vestido da noiva
antes do casamento, Giancarlo saiu da mansão logo
cedo, foi se hospedar na cobertura de Filippo enquanto
Ágata veio para a nossa casa com os gêmeos e a babá.
Além delas, Madalena e Enzo, o meu quarto também foi
invadido pelas meninas que cuidariam do meu cabelo,
pés e mãos. Fora as outras que me ajudariam na difícil
missão de colocar o vestido caro, com um véu que tinha
cerca de três metros.
A movimentação foi grande, mas ao mesmo tempo
mágica. As profissionais contratadas tinham experiência
com casamentos e fizeram de tudo para que eu me
mantivesse tranquila, de uma maneira que vivesse cada
momento da melhor forma possível. Era o meu dia de
realeza, então me deixei ser mimada e cuidada do início
ao fim.
Ágata participou do processo, levei em
consideração todos os seus palpites, os elogios, a
emoção que tomava conta de nós. Ela se produziu
comigo, também fez os cabelos, ficou pronta para se
tornar a madrinha mais linda que já existiu, porque se
existia algo que eu acreditava que nunca iria acabar, era
a sua beleza. Tanto por dentro quanto por fora.
Foi lindo perceber o quanto estávamos unidas em
um momento que representava muito para nós duas, pois
era o dia em que eu oficialmente me tornaria a esposa
do seu pai. O homem que a criou, que esteve ao seu
lado nos momentos mais difíceis, que se fechou para o
mundo, mas não para ela.
Enzo, por outro lado, me enchia de declarações de
amor, chamava-me de mãe a cada oportunidade, tocava
o vestido que cobria todo o meu corpo feito uma
segunda pele, entregou à sua irmã a coroa que, ela
cuidadosamente colocou sobre a minha cabeça.
Olhei-me no espelho e sorri. As moças ao meu redor
deram os últimos retoques no tecido de luxo, com
detalhes em brilhantes, e se afastaram. Permitiram-me
sozinha, encarar o meu reflexo. E tudo o que pude
constatar foi que, dos pés à cabeça, sob a luz que
entrava pelas janelas, eu irradiava em meio ao glorioso
branco.
Ágata se aproximou, olhou-me através do espelho,
embasbacada.
— Você está divina — comentou, emocionada.
— Mamãe... — Enzo parou ao meu lado esquerdo,
contemplou-me como se à sua frente surgisse um
milagre. — Para mim você sempre foi um anjo, mas
agora... — perdeu as palavras, ficou impressionado, de
olhos esbugalhados sem conseguir parar de me
observar. — Parece uma fada... ou uma deusa —
completou, encantado.
Minha barriga de trinta e três semanas era um
charme à parte, fazia com que a minha imagem se
tornasse ainda mais imponente, algo pelo qual eu estava
apaixonada! Estava amando a minha gravidez, cada
detalhe, embora não pudesse romantizar o cansaço,
inchaços e dificuldades diárias.
— Obrigada, meus filhos. — Olhei para os dois,
sorri quando Ágata fez o mesmo.
— Não pense que vou te chamar de mãe também,
Emma. Isso está totalmente fora de cogitação! — Ágata
ergueu o dedo, fingindo-se de assustada.
— Ah, mas é claro que vai chamar. Agora eu sou a
sua mamãe também — provoquei, apenas para que
todos no quarto gargalhassem.
Ágata me abraçou, contente, com os olhos
brilhando.
— É sério, você está belíssima. Não tenho palavras
para descrever o quanto ficou perfeita nesse vestido.
Com a minha irmãzinha. — Espalmou a minha barriga.
— Quando o meu pai te vir, vai cair duro no chão! —
Enzo se aproximou, ainda me observando como se não
acreditasse. Como se eu fosse de mentira.
— Olha aqui a sua gravata de novo. — Segurei ela e
fiz o nó da maneira correta. Enzo sorriu, satisfeito. —
Achei que já tivesse te ensinado isso. — Ergui a
sobrancelha, em repreensão.
— Prefiro que você mesma faça, mamãe — ele
contou.
— Mas você já está um homenzinho, tem que ser
independente — pontuei.
— Aaah, que fofos! — Ágata aparentava estar
explodindo de amor. Sua ajudante se aproximou e lhe
entregou o seu celular. — O Filippo está ligando de
novo, falei que estávamos a caminho umas três vezes.
Papai não entende que uma noiva que se preze, tem que
chegar atrasada — brincou, ao mesmo tempo em que
uma das profissionais me deu o pequeno buquê. —
Espera aí... esse por acaso é...? — Ágata o reconheceu.
— Sim, o buquê que você me deu em Las Vegas.
Depois do seu casamento com o Filippo [ 1 3 ] . — Sorri para
ela, pegando-a de surpresa.
— Onde você o guardou por todo esse tempo? —
Estreitou as sobrancelhas, incrédula.
— Eu guardei, ué. Trouxe comigo para Milão. —
Encarei o ramalhete artificial, porém, de hortênsias bem
realistas, como aquelas que inundavam o jardim da
mansão.
— Isso parece coisa do destino! — Enzo afirmou.
— No fim das contas, eu já estava prevendo que
você iria ficar com o meu pai. Olha só! — Ágata bateu
uma palma única. — Mamma mia!
— Agora vamos! Estou ansiosa! — Respirei fundo,
engoli em seco.
Saí da mansão acompanhada do Enzo, entramos no
SUV onde o motorista nos aguardava. Ágata seguiu em
outro carro com os seus bebês e a babá.
O percurso até a catedral que escolhemos para o
casamento foi tranquilo. Assim que descemos do
veículo, segurei a mão do meu filho e o encarei,
nervosa.
— Está pronto? — Senti meu coração disparar no
peito.
— Oh, mãe! Eu que devia fazer essa pergunta. —
Enzo estreitou as sobrancelhas.
— Então faça! — pedi, com a esperança de que
aquela atitude me acalmasse.
— A senhora está pronta? — Ele sorriu, sem
mostrar os dentes, fofinho, as bochechas rosadas, os
olhos que pareciam o pôr do sol assim como os de seu
pai.
— Eu estou — respondi, ansiosa.
Ergui o rosto e me deparei com a fachada
imponente do edifício que causava grande impacto a
qualquer um que o olhasse. Ele tinha pouco mais de cem
metros de largura, era todo em mármore, no estilo
gótico-flamejante. Possuía cerca de doze mil metros
quadrados e podia receber quarenta mil pessoas em uma
missa.
Era uma das maiores catedrais da Itália e estava na
lista das maiores do planeta. A escolha de realizar a
cerimônia em um lugar tão respeitado e admirado, tinha
sido do Giancarlo, na verdade, que estava de fato
levando a sério a sua ideia de fazer com que eu me
sentisse uma rainha. Porque, segundo ele, eu merecia.
Além de tudo, talvez, bem lá no fundo do seu ego, ele
tivesse a certeza de que eu o admirasse como um rei.
De mãos dadas com o meu filho e acompanhada
pelas profissionais do evento, subi os vários degraus até
chegar ao vão das enormes portas de carvalho. As
paredes que a cercavam, com cenas bíblicas esculpidas
em alto relevo, prendiam a atenção de alguns turistas ali
perto.
Avistei o meu noivo no final da imensa passarela
que me conduziria até ele, aguardando-me com um
grupo de convidados que beirava às mil pessoas, em sua
grande maioria da firma. Até mesmo as minhas colegas
secretárias, estagiárias, faxineiras. Os vigias com quem
criei amizade, pessoas especiais que fiz questão de
convidar.
Estavam presentes todos os sócios e sócias do
Giancarlo, acompanhados de suas esposas e esposos.
Amigos da sua época de Vegas também não deixaram de
comparecer, assim como juízes, promotores, médicos e
até políticos da cidade. O meu marido era um homem
influente, e a exposição que sofremos havia sido
superada, sua reputação permanecia intacta, a prova
disso estava bem ali, diante dos meus olhos.
Quando Ave Maria de Bach/Gounod, começou a ser
tocada em uma doce versão composta de piano e flauta,
tive o sinal que precisava para entrar. A cada passo
dado com o meu filho, fruto de alguns ensaios que
tivemos dias atrás, fomos alvo das câmeras da equipe
que filmava e fotografava a cerimônia.
O caminho que seguíamos sem pressa, nos fazia
mergulhar dentro do templo, ultrapassar as suas naves,
seus imponentes pilares, as esculturas e imagens
sacras. Milhares de hortênsias foram espalhadas pelo
ambiente, o azul intenso das pétalas contrastou em meio
aos tons de madeira e dourado.
Centenas de bancos vazios foram paulatinamente
deixados para trás à medida que aqueles com os
convidados se aproximavam. Vi vários rostos conhecidos
e muitos que não conhecia. Filippo e Ágata estavam no
altar, ao lado do Giancarlo, Tomás ocupava a primeira
fila, ao seu lado estava o Vito e demais sócios.
Quando a nossa caminhada enfim cessou, Enzo
demonstrou todo o seu prazer em me entregar ao seu
pai. Orgulhoso, Giancarlo segurou a minha mão com
delicadeza, logo após cumprimentar o garoto e aprovar o
seu empenho.
Satisfeito, Enzo ficou com o Tomás, permitiu que o
seu pai subisse comigo até o altar, um verdadeiro
santuário cercado por gigantescos vitrais coloridos,
exibindo imagens bíblicas a reconfortar qualquer
coração, principalmente o meu, que estava afetado em
absoluto, comovido com a sutileza daquela linda
cerimônia, tocado pela harmonia da canção da prece Ave
Maria.
E embora toda aquela atmosfera me encantasse,
nada era mais lindo do que o olhar idolatrado de
Giancarlo, um que me consumiu dos pés à cabeça, me
contemplou como se eu fosse um milagre ou a
personificação de uma das várias santas esculpidas
sobre os pináculos da catedral.
O terno preto acetinado que o cobria, elevava a sua
beleza a um patamar quase inalcançável. A barba
aparada, as sobrancelhas grossas, o cabelo dourado
devidamente cortado e até mesmo a covinha em seu
queixo, fazia de Giancarlo não apenas o meu marido
pela segunda vez, mas sim o homem com o qual eu
compartilharia uma vida.
Giancarlo segurou a minha barriga ao mesmo tempo
em que beijou a minha testa, um último gesto de carinho
antes do pianista e da flautista finalmente pararem de
tocar, encerrarem o show. Todos se sentaram, a
cerimônia iniciou com um belíssimo discurso do padre.
Seguimos o protocolo até o esperado momento de
trocarmos os nossos votos:
— Prometo te aceitar em cada um dos seus
detalhes, em todas as suas qualidades e imperfeições —
disse Giancarlo, de mãos dadas comigo. — Prometo te
proteger nos dias escuros e caminhar ao seu lado nos
dias de sol. Ser o abraço a te aquecer no frio e o sorriso
a iluminar o seu rosto. Prometo te respeitar dentro e fora
de casa, te beijar antes de dormir, motivar os seus
sonhos, e ensinar os nossos filhos a te amar tanto
quanto eu te amo — completou, com um sorriso
apaixonado a curvar os seus lábios, um brilho amoroso a
preencher os seus olhos.
— Prometo te aceitar em cada um dos seus
detalhes, em todos os seus erros e acertos — afirmei,
entrelacei os nossos dedos, permiti que os meus
sentimentos fluíssem. — Prometo ser a mão a te tirar do
abismo, e o apoio que te levantará da tempestade. Serei
a sua força ao nascer do sol e a sua plenitude ao surgir
da lua. Prometo sarar as suas cicatrizes até o fim de
nossas vidas, te beijar ao acordar, motivar os seus
sonhos, e ensinar os nossos filhos a te amar tanto
quanto eu te amo.
Terminei aquelas palavras com um sorriso no rosto.
Giancarlo me beijou depois de receber a autorização do
padre. Nos dirigimos para fora da catedral sob os
aplausos e comemoração dos nossos convidados, um
momento que ficaria para sempre tatuado em nossas
memórias.
C A P Í T U L O 3 9

Depois de uma incrível festa de casamento com os


nossos convidados, viajei com o Giancarlo para Las
Vegas que, a partir daquele momento, se tornaria a
nossa cidade, porque foi ali que começamos. E o fato
dele ter concordado em voltar ao lugar onde iniciamos a
nossa história, para passarmos a nossa lua de mel,
significava muito, principalmente que havia superado
mesmo o seu passado, e que eu além de ser o seu
presente, também havia me tornado o seu futuro.
A viagem longa somada ao cansaço da grandiosa
cerimônia que fizemos, literalmente nos derrubou no
primeiro dia. Passamos a maior parte do tempo dormindo
em nossa suíte, buscando algum descanso no hotel
cinco estrelas onde nos hospedamos, o mesmo no qual
ficamos durante o casamento de Ágata e Filippo.
Quando decidimos nos entregar um ao outro,
começamos a nos aproximar sexualmente dentro do
banheiro, debaixo de uma ducha morna, onde nos
beijamos.
Ter os meus lábios absorvidos pela boca
pecaminosa do Giancarlo, era uma tentação a qual eu
jamais estaria imune. Não quando necessitava da sua
língua envolvendo a minha. Não quando gemia baixinho
com os seus dentes afiados a mordiscarem a minha
carne.
O infeliz sabia como me beijar.
Mais do que isso, ele conseguia me seduzir apenas
com os seus lábios, e era exatamente isso que fazia de
mim sua submissa.
Devagar, Giancarlo me virou e me deixou de costas
contra o seu torso. Me agarrou entre os seus braços e
escorregou as mãos hábeis pela minha barriga inchada,
logo depois de despejar o sabonete líquido perfumado
sobre a minha pele. Sensual, ele ensaboou todo o meu
corpo ao mesmo tempo em que chupava a minha orelha,
suspirava rouco, me excitava.
Não o bastante, ainda tive que resistir ao seu pau
se esfregando duro nas minhas costas, o seu peitoral
forte roçando em meus ombros, cada um dos seus
músculos a me devorar. Gemi ao sentir os seus dedos
pressionarem os meus seios, massagearem a minha
carne farta, beliscarem os mamilos.
Toda aquela tensão sexual obrigou-me a derreter
entre as pernas. A gravidez havia me deixado
hipersensível, intensificando os meus hormônios. Era
como se eu estivesse sempre disposta a transar.
Apoiei as mãos na parede quando o Giancarlo
pediu, empinei a bunda em sua direção e grunhi no
instante em que os seus dedos escorregaram entre as
minhas nádegas aquecidas e tocaram as dobras meladas
da minha boceta, sutilmente... saliente... uma
provocação tão natural e primitiva que me fez gozar.
— Ai... Gian! — Fechei os olhos com força,
vulnerável. Acreditei que estivesse sonhando.
— Puta que pariu, mulher... grávida desse jeito você
ficou ainda mais gostosa — ele rosnou em meu ouvido,
no instante em que girou sobre o meu clitóris, se divertiu
em cada parte da minha intimidade. Subiu e desceu
algumas vezes, se esfregou no centro das minhas
nádegas, até que decidiu, pela primeira vez, penetrar
totalmente a minha bunda. Devagar, experiente.
Não era novo para mim ter o Giancarlo estimulando
o meu traseiro, mas ele nunca havia ido tão fundo, a
ponto de obrigar os meus músculos a pulsarem contra os
seus dedos.
— Hoje eu vou comer esse seu cuzinho virgem, anjo
— ele disse, tão faminto que teve o poder de me arrepiar
a pele.
Giancarlo me beijou gostoso, sem pressa, degustou
a minha boca por um bom tempo até me levar para a
cama. Ele me deitou de lado, com uma das coxas
flexionada confortavelmente sobre o travesseiro, de
modo que a minha boceta ficasse disponível ao seu
deleite.
Para a minha surpresa, ele havia comprado uma
cápsula vibratória, aquela rosada em forma de gota.
Usou um lubrificante para lambuzar a parte oval que foi
introduzida dentro da minha boceta. Gemi quando senti a
deliciosa textura do silicone, mas alucinei quando o
infeliz usou o controle remoto e ativou o primeiro estágio
de vibração.
— Ooh... — Fechei os olhos, afundei as unhas no
travesseiro. Nunca tinha experimentado um vibrador, não
havia tido essa oportunidade, mas tudo o que me
perguntei foi o motivo de não ter ido atrás disso antes.
Giancarlo se deitou às minhas costas, se aproximou
de lado, lubrificou o meu ânus antes de começar a se
masturbar. Apenas entendi que ele queria me comer por
trás ao mesmo tempo em que usava a cápsula vibratória
na frente, quando já era tarde demais.
Mal tive tempo de ter medo ou algum tipo de
insegurança. O meu cérebro estava ocupado tentando
lidar com os impulsos elétricos na minha boceta,
incendiando todo o meu corpo, acabando comigo.
Foi assim que aquele homem começou a me
penetrar. Senti a cabeça grossa do seu pau escorregar
para dentro do meu traseiro com dificuldade, e ficar
parada ali até que eu me acostumasse. Foi uma mistura
de sensações, tanto tesão acumulado em pouco tempo
que fiquei desesperada. Quis levar a mão ao meu clitóris
para dar um fim naquilo, mas fui impedida.
— Ainda não, anjo. — Giancarlo me segurou, com a
voz cínica. O maldito mordiscou a minha orelha, ao
mesmo tempo em que comecei a tremer entre as pernas.
— Eu preciso! — grunhi, necessitada. Senti o seu
pau se afundar em meu cu mais um pouco, me
alargando.
— Espere! — Giancarlo ordenou, arrastou a minha
mão até a minha barriga e a segurou ali, para evitar que
eu me tocasse.
Experiente, ele moveu o quadril apenas para
começar a me foder, afundar na minha bunda
devagarinho, centímetro a centímetro, até onde consegui
o engolir. Então ficou parado, respondeu às minhas
contrações com gemidos, tão guturais e masculinos que
me deixaram mais molhada.
Giancarlo conseguiu, daquele jeito, me aprisionar ao
seu corpo, atingida pelo vibrador que me torturava ao
mesmo tempo em que o seu pau esgotava o meu ânus.
— Porra, Emma... esse cuzinho é tão apertado — o
infeliz grunhiu, me obrigou a esfregar as pernas
molhadas.
Tentei tocar o meu clitóris outra vez, mas ele não
permitiu.
— Por favor! — implorei, enlouquecida, a pele
vermelha devido à intensidade da luxúria. Eu precisava
gozar logo, estava gotejando. Era uma necessidade
selvagem, mas Giancarlo fez aquela missão impossível.
Continuou me controlando, devorando-me por trás,
fazendo de mim o que queria.
O nosso sexo sempre era bom, mas aquele estava
ultrapassando todos os limites.
— Eu farei isso! — Abri as coxas quando os seus
dedos ásperos escorregaram para o meu clitóris.
Giancarlo fez movimentos precisos, tão intensos que
convulsionei. De alguma forma, o meu ânus relaxou, ele
enfiou o pau mais forte, me fodeu de jeito. — Minha! —
rosnou, na minha orelha. Intensificou a massagem na
minha boceta. — Você me pertence, Emma! — afirmou,
possessivo.
Bastou aquilo para o melhor orgasmo da minha vida
surgir. Acompanhei o ritmo das vibrações que a cápsula
criava e esguichei uma vez seguida da outra,
descontrolada. Giancarlo me agarrou pelos seios, me
segurou contra o seu corpo e afundou seu pau em mim
outra vez. Até o limite.
Foi naquele momento que rebolei, em desespero.
Esfreguei a bunda contra as suas coxas, senti suas
bolas, rocei com gosto. Ele mordeu o meu pescoço,
acelerou o toque sobre o meu clitóris, massageou as
minhas dobras à medida que eu reagia. Apenas me
desmanchava naquele mar infinito de prazer.
Giancarlo me acompanhou, ejaculou tudo dentro do
meu traseiro, me preencheu toda, uma loucura. Ele
retirou a cápsula da minha boceta quando notou que eu
estava prestes a desmaiar em seus braços, e de fato
desmaiei, pouco tempo depois. Sem ar, sem condições
de entender a lascívia que me atingia, o exagero de
luxúria, sentimentos controversos.
No fim, o homem beijou a minha nuca e ombro com
carinho, permaneceu com uma das mãos sobre o meu
abdômen, de modo que aparentava marcar território. Seu
antebraço livre, segurava-me pelos seios, me
aprisionava a ele de uma maneira que me enlouquecia,
fazia-me arder em cada centímetro de pele, aquecia os
ossos.
O seu sêmen escorria do meu ânus, apesar do seu
pau continuar ereto e robusto a me preencher, latejando,
provando que continuava vivo.
Acreditei que Giancarlo já estivesse satisfeito, mas
o infeliz, com todo o cuidado, colocou-me de quatro,
deixou dois travesseiros abaixo de mim para que eu
pudesse apoiar a barriga e fez com que eu ficasse bem
posicionada, aberta para o seu deleite. Suspirei quando
as suas mãos abriram e pressionaram a minha bunda,
seus dedos esmagaram a minha carne. E, pela força que
usou, entendi que deixaria marcas, o que não impedia de
me fazer amar tudo aquilo.
Giancarlo introduziu a cápsula dentro da minha
boceta outra vez, reagi no mesmo instante, engoli e
pressionei aquele ovo de silicone, esperando as
vibrações que vieram em seguida, assim que o botão do
controle remoto foi ativado.
— Aaaaii... — O meu quadril tremeu, aquele estágio
de vibração era mais forte, os impulsos elétricos mais
intensos. Tombei a cabeça para baixo, agarrei os lençóis
ao entender que naquela noite gozaria mais do que
havia feito em toda a minha vida.
— Está tudo bem? — Giancarlo perguntou, ofegante.
Não consegui respondê-lo, meus gemidos falaram
por si mesmos. O homem ficou de pé sobre a cama,
posicionou o meu traseiro entre as suas pernas
musculosas, abriu as minhas nádegas e penetrou o meu
ânus de novo, sem pressa. Giancarlo foi até o fim, até
bater as suas bolas na minha carne, até que não
restasse nenhum centímetro do seu eixo grosso para
fora.
Dio Santo!
Eu estava amando aquilo!
— OOH! — gritei, quando ele me acertou um tapa.
A princípio, me fodeu de forma leve e conforme os
minutos passavam, acelerou, socando forte. Parou
quando esguichei, em seguida continuou, se divertindo,
rugindo como se aquele fosse o seu melhor sexo dos
últimos tempos. Comer o meu rabo estava deixando
aquele homem louco! Sabia que era um fetiche
masculino, mas não imaginava que fosse tão cobiçado.
Escorreguei os joelhos para os lados, abri as coxas
o máximo que pude, facilitando a penetração. Queria
senti-lo profundo, soluçando rouco a cada impacto, a
cada vez que seu pau me golpeava e me arrepiava dos
pés à cabeça, ao mesmo tempo em que a cápsula
castigava a minha boceta, me tirava o juízo.
E em meio àquela euforia de sentimentos, Giancarlo
gritou ao gozar. Ejaculou forte, seu pau escorregou para
fora, assim como o vibrador foi expulso da minha boceta,
saiu com os jatos que me arrasaram, molharam a cama.
Foi maravilhoso, completamente diferente. Fiquei
extasiada, sem fôlego e frágil demais para qualquer
outra coisa. Giancarlo parecia entrar em colapso devido
ao exagero de prazer. E se eu já o venerava antes, a
partir daquela noite, o idolatrei. Quis repetir a
experiência milhares de vezes.
E P Í L O G O

Do i s a n o s e me io d e p o is ...

Realizado, era assim que me sentia sempre que


acordava, principalmente quando Adele invadia o meu
quarto correndo, como se estivesse fugindo da polícia.
— Papai! Papai! — Testemunhá-la fazer um imenso
esforço para tentar subir na cama, era engraçado, me
apaixonava.
— Filha, bom dia! — Despertei ao escutá-la.
Bocejei, me sentando sobre o colchão. Limpei os olhos.
— Papai... Adele quer subir, papai! — Ela fez
drama, denunciou que estava prestes a chorar devido ao
fracasso de escalar a cama alta.
— Eu ajudo você. — Sorri, a peguei no colo, me
encantei com a sua cabeleira volumosa e tão vermelha
quanto a de sua mãe.
— Adeleee! — Ao escutar o berro do seu irmão,
minha pequena princesa esbugalhou os olhos e sorriu,
sapeca. Não demorou para que um Enzo chateado
atravessasse a porta. — Oh, pai! Ela subiu a escada de
novo! Sozinha!
— Adele. — Estreitei as sobrancelhas, a repreendi.
Ela fez um biquinho fofo, seus olhos dar cor de
outono foram inundados por uma fina camada d’água.
— Mamãe foi embora... — soluçou, falava muito bem
para a sua idade. Conseguia formar frases claras, agia
como se já tivesse uns cinco anos.
— Ela não foi embora, maninha. Ela foi trabalhar —
Enzo explicou, se aproximando, sentando-se ao nosso
lado.
— Papai vai também? — choramingou, fazendo-me
sorrir ainda mais.
— Não, hoje papai vai ficar com vocês. Mas não
pode chorar, muito menos subir a escada, Adele. Já
falamos sobre isso. Não pode! É perigoso! — falei sério,
bastou aquilo para que ela se debulhasse em lágrimas,
um pranto tão forte que, para quem não a conhecia, era
como se estivesse com graves problemas. — Tudo bem,
tudo bem. — A abracei, mimei a minha neném do jeito
que gostava, meu peito se derretia ao estar com ela
daquele jeito, em meus braços.
Era a maior vitória da minha vida.
Após fazer a minha higiene, desci com os meus
filhos para a sala de estar, lugar que havia se tornado
um caos sob o comando da pequena bagunceira. Adele
saltou do meu colo e correu até os seus vários
brinquedos. As paredes ao redor estavam todas riscadas
com as suas obras de arte, feitas de giz de cera.
Quando segui para sala de refeições e me sentei à
mesa para tomar café, ela voltou a me procurar. Subiu
com facilidade na cadeira ao lado e jogou o seu livro de
desenhos à minha frente, fazendo com que o meu garfo
caísse no chão.
— Papai, óia... o passarinho! — Apontou para a
ilustração do animal.
— É o passarinho, filha — confirmei, contente.
Enzo se aproximou, ele escutava Podcasts que
achava interessante nos fones de ouvido, usava um
blusão escuro que contrastava com o seu tom de pele e
com o seu cabelo que estava mais vivo naquela manhã,
em um dourado intenso. Apesar de ter apenas quatorze
anos, a sua altura lhe dava a aparência de dezesseis,
embora seu rosto continuasse de um menino.
Ele avistou o garfo no chão e me devolveu,
entendendo o que havia acontecido. O vento fresco que
soprava pelas janelas, meneou os nossos cabelos,
principalmente os de Adele cujos fios grossos cobriram a
sua face, mas ela não ficou incomodada, pelo contrário,
continuou folheando aquele livro, encantada com todas
as figuras como se as estivesse vendo pela primeira vez.
A luz daquela linda manhã inundava o ambiente de
um jeito intenso, passava a impressão de que tudo
estava em harmonia.
— O cavalho e o gatinho, papai! — Adele mostrou,
capturando a minha atenção enquanto eu comia um
pedaço de bolo.
— Estou vendo. O cavalo e o gatinho. — Acariciei o
seu rosto, após lhe mostrar como falar da maneira
correta. — Quer um pedaço? — ofereci, ela assentiu e
comeu o que restou do bolo, que encheu as suas
bochechas e a tornou ainda mais fofa com os lábios
rosados sujos de chocolate.
Melei a ponta do seu nariz com a cobertura, apenas
para assisti-la liberar uma gargalhada alta e gostosa, ao
mesmo tempo em que jogava a sua cabeça para trás.
— Agoa o maninho! — Adele pediu, apontando para
o seu irmão.
— Eu? — Enzo não gostou da ideia.
— Maninho! — ela insistiu.
— Tá bom... — Enzo bufou, perdendo a batalha. Ele
ofereceu o nariz para mim, fiz com ele o que fiz com ela.
Adele se perdeu em risos, obrigando eu e seu irmão a rir
também, encantados com o brilho que a garota emanava.
Minha filha era perfeita, em cada sarda do seu
rosto, nos olhos de outono e cabelos rebeldes do jeito
que ela adorava. Se alguém tentasse penteá-los, era
motivo de escândalo, mas não importava, logo estava
rindo de novo. Era o entretenimento da casa, o nosso
principal lazer, tanto que passei as próximas horas ao
seu lado, permiti que ela fizesse o que bem queria
comigo.
E enquanto ficava deitado no tapete da sala, esperei
que Adele terminasse de usar a maquiagem da sua mãe
no meu rosto.
— Acabou? — perguntei, pela décima vez, sentindo-
me um verdadeiro bode expiatório.
— Nhão! — Muito interessada no que estava
fazendo, a garota continuou passando o pincel na minha
pálpebra.
— Hmmm, isso aí está uma maravilha! — Escutei a
voz irônica do Enzo. Abri um olho para enxergá-lo de pé,
de braços cruzados, se controlando para não debochar
do estrago que Adele fazia na minha cara.
— Papai, fecha — ela mandou e eu obedeci, fechei
o olho, senti o pincel tocar a minha pálpebra em
seguida. Ouvi a porta de entrada abrir, o que denunciava
que alguém estava chegando. — MAMÃE! — Adele
berrou, largou tudo o que tinha nas mãos e correu até a
mulher que usava um elegante vestido verde, uma peça
que contornava bem a sua barriga de seis meses.
— Oi, filha! — Eu me sentei, a tempo de ver Emma
largar a sua pasta de trabalho e tirar os saltos antes de
pegar a garotinha no colo. — Que saudade de você! —
Emma apertou a garotinha em seu colo, não se importou
em ficar toda suja de maquiagem e brilho. — O que
estava fazendo? Por que está um caos desse jeito?
— Maquilando o papai! — Adele apontou para mim,
momento em que a minha esposa sorriu ao me ver.
— Nossa... ele ficou lindo! — Ela não conseguiu se
conter, começou a gargalhar ao mesmo tempo que o
Enzo. Emma veio em minha direção e me beijou. — Oh,
amor... — falou, como se sentisse pena.
— Tá lindo... — Adele afirmou, encantada com a sua
nova obra de arte.
— Ah, mas está mesmo. Porém, acho que você está
precisando de um banho, hein. — Emma a encarou.
— Nhão! — Adele se esforçou para sair do colo dela
e correu até o seu irmão, em busca de defesa. Enzo a
levou para jogar videogame.
— Está tudo bem? — Me aproximei da minha
esposa, acariciei o seu abdômen inchado. Mais um lindo
bebê estava a caminho.
— Está sim, meu bem. — Ela entrelaçou o meu
pescoço, beijou-me outra vez.
— E como foi a audiência?
— Fantástica! Consegui um acordo! — Emma
comentou, empolgada! Desde que começou a advogar
para a firma, não havia perdido nenhum caso, estava
conquistando o seu espaço aos poucos.
— Você é o meu orgulho, sabia? — A agarrei, feliz
da vida, verdadeiramente apaixonado.
— Sabia — ela respondeu, nada modesta.
Nos beijamos novamente, fiz questão de esfregar o
meu rosto no seu, a sujei inteira, Emma sorriu. Adele
voltou correndo, nos puxou pela mão e nos levou para a
assistirmos competir com o Enzo, em um jogo de corrida
de carro. Ele fingiu que ela havia ganhado nas primeiras
vezes, nós a aplaudimos apenas para testemunhá-la
feliz, porque a sua felicidade representava a nossa
também.
Aquele momento, aquela cena em que
comemorávamos a vitória dela, pareceu acontecer em
câmera lenta, composta de vários sorrisos, sensação de
felicidade eterna e muito, muito amor.
Me considerava o homem mais sortudo do mundo, e
não trocaria a minha família por nada nessa vida.

C a r o l e i t o r, s e c o n s e g u i u c h e g a r a t é a q u i e o s e u c o r a ç ã o
enlouqueceu de amor e surtos com essa história, não esqueça de deixar
a sua avaliação. Sua opinião é muito importante.
Do contrário, se o relacionamento de Giancarlo e Emma não te
conquistou, sinto muito e convido você a conhecer meus outros
romances disponíveis aqui na plataforma. Cada livro nos toca de uma
maneira diferente e está tudo bem.
Muito obrigado e até a próxima aventura de amor!
O U T R A S O B R A S

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@autormariolucas

[1]
Profissional que realiza algumas atividades de documentação, pesquisa, investigação e
consultas de informações relevantes, sempre com o objetivo de facilitar os andamentos do
departamento jurídico.
[2]
Garota.
[3]
Desculpe-me.
[4]
Desculpa.
[5]
Emily Elizabeth Dickinson foi uma poetisa americana. Pouco conhecida durante sua
vida, é considerada uma das figuras mais importantes da poesia americana.
[6]
Marca fictícia de relógios de luxo pertencente à família Javier, grupo de homens
poderosos da série Intenso Demais. Todos os livros disponíveis na Amazon.
[7]
Série dramática americana de sucesso.
[8]
Transar com uma pessoa para esquecer outra.
[9]
Casal protagonista do livro “Amada por um italiano: paixão proibida” disponível na
Amazon.
[10]
Carpintaria.
[ 11 ]
Referência ao livro O Lado Bom de Ser Traída, da autora Sue Hecker.
[12]
Referência à música INTERE$$EIRA, da cantora Luisa Sonza.
[13]
Essa cena apenas foi descrita no livro Depois de Vegas: rejeitada grávida do
melhor amigo do meu pai. Disponível na Amazon.

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