Dissertação Hiran Monteiro
Dissertação Hiran Monteiro
Dissertação Hiran Monteiro
ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
Salvador
2018
HIRAN SANTOS MONTEIRO
Salvador - BA
2018
COMPOSIÇÃO VOCAL CONTEMPORÂNEA A PARTIR DE DITOS
POPULARES DO NORDESTE
À minha amada esposa Analécia, que esteve ao meu lado, me apoiando em tempo
integral, incentivando e oferecendo um aporte definitivo em todos os momentos da
pesquisa. Te amo.
À minha filha Lara, a quem devo muito (além dos infinitos motivos), por ter sido a
pessoa que me sugeriu o desafio do mestrado, me incentivando de forma tão
inteligente, madura e visionária.
Aos meus pais, Ezequiel Monteiro (In Memorian) e Celene Angélica Monteiro, pela
educação, pela herança de dignidade, integridade e amor.
Aos meus amados irmãos, Midian, Acácia, Ezequiel (In Memorian) e Poliana, pelo
suporte em todos os sentidos.
Aos meus cunhados, Fábio, Arno Jr e Rivas, pelo carinho, amizade e apoio.
A Paulo Costa Lima, meu orientador, pelos ensinamentos preciosos, pelo dedicação
e gentileza. De certo, uma convivência transformadora.
A Wellington Gomes, pela generosidade tão característica dos bons mestres, pelo
conhecimento compartilhado e amizade.
Aos amigos Sérgio Sampaio e Luciana Sampaio, pelo carinho dedicado. Grato
sempre.
Aos colegas compositores, Vinícius Amaro e Kedson Siva.
À Banda de Boca: Poliana Monteiro, Fábio Eça, Táric Marins, Simei Ferreira e Arno
Hübner, pelas belíssimas vozes que compõem as gravações desse trabalho.
À Diana Santiago, Heinz Schwebel, José Mauricio Brandão, Laila Rosa, Flavia
Candusso, Maísa Santos e Selma Magalhães.
Muito obrigado.
.
“A natureza está constantemente a misturar-se com a arte”.
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
2.2.6 Glissando...................................................................................................... 59
INTRODUÇÃO
1 Paulo Costa Lima em seu livro Teoria e Pática do Compor II, 2014, p. 214, reflete sobre a
indissociabilidade entre teoria e prática e apresenta uma elaboração sobre Os Vetores da
Compocicionalidade, onde assinala a Criação de Mundos como um dos vetores.
15
CAPÍTULO 1
2 Poética é o mais antigo dos trabalhos conhecidos de Aristóteles. Trata-se de uma compilação
realizada por volta de 335 a.C., que busca sistematizar o formato e a estética dos gêneros literários
gregos.
19
Este modelo propõe uma relação inflexível entre texto e música, onde a canção
é uma estrutura em que palavras e texto coexistem, andam lado a lado, porém, sem
perder a individualidade.
O pensamento de Lawrence Kramer sobre a relação texto e música foi matriz
para a concepção do modelo de análise por interação, nele se expressa o papel das
palavras como elementos formativos na criação da canção. Nessa relação argumenta,
“um poema nunca é assimilado numa composição; ele é incorporado, e mantém sua
própria identidade, seu próprio ‘corpo’, dentro do corpo da música”.3 (KRAMER, 1984,
p. 127)
3A poem is never really assimilated into a composition; it is incorporated, and it retains its own life, its
own “body”, within the body of the music.
21
O modelo por coexistência propõe que a canção seja uma sobreposição de três
sistemas independentes que se ligam. O diagrama exposto por Agawu demonstra
essa representação de forma clara:
5 Alban Berg teceu suas canções orquestrais no Op. 4, sobre algumas poesias aforísticas escritas em
cartões postais e pedaços de papel pelo poeta e escritor vienense Peter Altemberg. A obra foi estreada
em 1913.
6 A few years ago I was deeply ashamed when I discovered in several Schubert songs, well-known to
me, that I had absolutely no idea what was going on in the poems on wich they were based. But when
I had read the poems it became clear to me that I had gained absolutely nothing for the understanding
of the songs thereby, since the poems did not make it necessary for me to change my conception of the
musical interpretation.
7 Beba Coca-Cola ou Motet em Ré menor, obra composta em 1967 por Gilberto Mendes, sobre o poema
1.1.5 Text-setting
Figura 4 - Trecho de Anos Dourados de Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque de Holanda.
1.2 METÁFORA
1 – De gênero a espécie;
2 – De espécie a gênero;
3 – De espécie a espécie;
4 – Analogia.
10 Empédocles, filósofo pré-socrático originário da Sicília (c. 492-432 a.C.), escreveu em verso Sobre a
Natureza e Purificações. Influenciou o pensamento ocidental com a teoria comogênica dos quatro
elementos clássicos, em que toda matéria é constituída de água, terra, ar e fogo.
11 Citações das Purificações de Empédocles.
28
Figura 6 – Diagrama
12 Citação das Purificações de Empédocles. Sobre esse filósofo, vide supra, nota 1.
13 Não é conhecida a fonte desta citação.
29
O conceito tradicional sobre metáfora tem sido substituído nos últimos anos por
um novo enfoque, saindo de um entendimento exclusivamente linguístico oratório,
para uma abordagem que integra mecanismos de cognição conceptual. A obra
Metaphors We Live By, de 1980 – Metáfora da Vida Cotidiana14, versão em português
- é um marco nos estudos da Linguística Cognitiva, abriu um amplo espaço para
discussão sobre o pensamento metafórico e os sistemas conceituais humanos. O livro
surge de estudos em comum, direcionados à metáfora por George Lakoff, professor
de Linguística da Berkeley na Universidade da Califórnia, e Mark Johnson, professor
de Filosofia na Universidade de Oregon. A ideia inicial da teoria consiste em que, a
metáfora está inserida nas experiencias da vida cotidiana, e não somente como forma
de ornamento expressivo. A proposta de Lakoff e Johnson se diferencia do
entendimento comum sobre a metáfora, que geralmente é concebida como um artifício
retórico, ou simplesmente para elaborações de imagens poéticas, deste modo, vista
como uma questão de linguagem ocasional, não relacionada à questão de
pensamento e ação.
Lakoff e Johnson afirmam que, nosso sistema conceitual, a forma que agimos
e pensamos, é estruturalmente metafórico:
nova metáfora – “Pessoas são máquinas”15. Andrade (2008, p.42), escreve sobre este
processo: “Duas metáforas diferentes podem, em suma, compartilhar dois domínios e
diferenciarem-se em qual deles é fonte e qual deles é alvo, e podem também
diferenciar-se em seus mapeamentos.”
Usando como exemplo a frase “O telefone está mudo”, a metáfora estrutural
“Maquinas são pessoas”, estende o mau funcionamento do aparelho ao estado
humano de não fala, os atributos humanos são conferidos à máquina.
Algumas questões que pairam neste momento são: Como se dá o mapeamento
metafórico? Existe uma precisa conexão de um domínio para outro? Como as
correspondências de sentidos são desenvolvidas? Para essas questões, recorro a
Marcos Nogueira (2015), quando discorre sobre a teoria do sentido incorporado de
Johnson:
15Exemplos similares à esse tipo de metáfora (Pessoas são máquinas) foram colocados acima (Mentes
são máquinas).
33
Modificações experimentadas:
16 Composicionalidade segundo Hugo Mari: “Segundo esse princípio, o significado que atribuímos a
objetos, em geral, não representa uma totalidade a priori, mas decorre de um processo de aglutinação
de unidades, resultando em matrizes conceituais, com graus diferentes de especificidade, mas capazes
de selecionar aspectos da realidade. A base da construção de uma matriz conceitual é um conjunto de
categorias atômicas, de base semântica distinta, que podem ser submetidas a uma forma de
organização particular[...]. Afinal, procuramos demonstrar que predicação e composicionalidade são
instrumentos formais, através dos quais podemos definir parte da nossa atividade de perceber e de
pensar.” (Mari, 1998, pgs. 51 – 65).
35
no sentido em que o vetor (adjetivo) aponta, como por exemplo, nas frases: “Que
rapaz forte da gota serena!” ou “Que rapaz fraco da gota serena!”
Com base nessas referências, podemos de forma simples, relacionar duas
imagens da grafia musical com o termo intensificação:17
Crescendo Decrescendo
A forma contraída do termo “Da gota serena” resultando em “Da gota”, não é
somente possível, mas costumeira, e reage sintaticamente do mesmo modo que a
forma extensa. As frases “Que cachaça da gota serena!” e “Que cachaça da gota!”,
são equivalentes. Neste último exemplo frasal, apesar da palavra “gota” carregar todo
o sentido do sintagma, se vista como parte isolada, peça formante, não seria capaz
de fornecer o significado do todo. Bolinger (1976) ratifica esse pensamento, afirmando
que:
17 Correspondências entre texto e gestos musicais serão vistos mais detalhadamente no capítulo
dedicado aos Processos Composicionais.
18 “[...] Idioms... have meanings that cannot be predicated from the meanings of the parts. [...] Lexical
inits larger than words...idioms...where reductionist theories os linguage break down...a vastly more
persuasive fenômenos than we ever imagined.” (Bolinger, 1976, p. 5) (tradução nossa).
36
19Podria decirse que los fraseologismos tienen más carne y sangre que las palavras normales y que
están mucho más diretamente integredos y vinculados a fenómenos culturales e ideológicos. (Luque
Durán e Manjon Pozas, 1998, p. 43) (tradução nossa).
37
20A Hipótese da Metáfora Primária foi proposta por Grady em 1997, em sua dissertação de PhD
Fondations of meaning: primary metaphors and primary scenes, na Univercidade da Califórnia,
Berkeley.
38
cresce na proporção em que se pega mais ar. “De quengo quente” se refere a pessoa
com muita raiva.
Em Salvador especificamente seria: “Nego quando se reta é barril!” ou “Nego
quando está virado no estopô é barril!”.
No recorte do contexto soteropolitano, o termo “nêgo” é usado genericamente
para se referir a pessoas, independentemente da sua cor. O termo “barril” –
proveniente de barril de pólvora - possui uma coleção de significados, podendo
significar algo difícil, impressionante, perigoso ou algo de bom.
Apesar destas duas últimas formações frasais se referirem especificamente ao
sistema de fala popular em Salvador, existes traços expressivos advindos do âmbito
regional, relativos ao contexto cultural maior, no caso, a cultura nordestina. A palavra
“reta” utilizada na metáfora, descende do termo “arretado”, muito usado nos falares
nordestinos. A sentença “virado no estopô”, é uma variante da expressão “virado na
gota serena” ou de outras expressões habituais como “virado no mói de coentro”,
“virado no cão”, “virado no diabo”, etc.
41
CAPÍTULO 2
.
A partir da década de 1950, novas possibilidades referentes a técnicas vocais
foram desenvolvidas na música ocidental, principalmente através de compositores
que se dedicaram a experimentos com enfoque numa nova estética para a voz
humana. O empreendimento de elaboração musical, inevitavelmente, se associa a
novas áreas, como a linguística (fonologia), ao conceito de obra aberta, à validação
científica, à eletrônica e outros. Compositores como Luciano Berio (1925-2003), John
Cage (1912-1992), George Crumb (1929-), György Ligeti (1923-2006) entre outros
exploram timbres atípicos da voz em música, modelos alternativos de notação e
técnicas vocais estendidas.
Sobre as características da escrita moderna para a voz, Berio (2006) descreve
que:
22 The most significant vocal music of the last few decades has been investigate exactly that: the
possibility of exploring and absorbing musically the full face of language.Stepping out of the purely
syllabic articulation of a text, vocal music can deal with the totality of its configurations, including the
phonetic one and including the ever-present vocal gestures. It can be useful for a composer to remember
that the sound of a voice is always a quotation, always a gesture. The voice, whatever it does, even the
simplest noise, is inescapably meaningful: it always triggers associations and it always carries with itself
a model, whether natural or cultural. (BERIO, 2006, p. 50).
42
24 After the death of Villa-Lobos, na important development in the composition of choral music occurred
with the formation of the Bahia Group in 1966. Members included Ernert Widmer (b. 1927) and his
student Lindembergue Cardoso (1939-1989), both gifted and prolific composers of choral music in a
cosmopolitan style incorporating serial and various avant-garde techniques. Cardoso’s best-known work
is a cantata about grieving women entitled Procissão das Carpideiras (1969). Additional Works include
the colorful Caleidoscópio (1975), Chromaphonetikos (1978), Minimalisticamixolidicosaxvox (1988),
and numerous sacred Works. Widmer produced the unaccompanied Cerimony after a Fire Raid (1962),
and Rumo Sol-Espiral (Direction to the Sun Spiral) for choir, orchestra, prerecorded tape, audience
participation, and special instruments developed by his Bahia Group colleague Walter Smetak (1913-
1984), in addition to various other secular pieces and many sacred Works in Portuguese, English, and
Latin.
44
25Clement Janequin (1485 -1558) se tornou bem conhecido por suas canções programáticas, próximas
às formas das caceie italianas do século XIV, que usualmente apresentavam imitações de sons naturais
e artificiais, como sons de aves, gritos, pregões etc. Dentre suas chansons descritivas estão Le chant
des oiseaux, que imita cantos de pássaros; La chasse, que simula sons de uma caça; e La bataille, a
mais conhecida delas e, segundo a tradição, escrita para celebrar a vitória francesa sobre os
Habsburgos na Batalha de Marignano, em 1515, a qual contém imitação de ruídos de batalha, tiros de
canhão e gritos dos feridos. Suas 250 canções seculares e seus 150 salmos e chansons spirituelles, o
equivalente francês dos madrigais espirituais italianos, foram seu principal legado. (GROUT; PALISCA,
2007, p. 227, e informações obtidas em http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/agenda/musica-da-
renascenca-francesa-concerto-cenico/, 15 abr. 2018)
45
26 O compositor italiano Carlo Gesualdo está inserido na fase final do Renascimento. Sua produção
musical concentrou-se em motetos sacros e madrigais italianos. Nestes últimos, temos as obras que
o tornaram mais conhecido. Seus seis livros de madrigais a cinco vozes apresentam a sofisticação de
uma linguagem musical específica desse compositor e alguns de seus contemporâneos.
46
principalmente por seus seis livros de madrigais. Sua escrita dedicada a grupo de
vozes apresentou uma sofisticação que o distinguiu do estilo da época. A obra Moro,
lasso, al mio duolo, faz parte do sexto e último livro de madrigais, peça que reflete
procedimentos relacionados ao domínio técnico e maturidade do compositor. Os
primeiros compassos da obra já apresentam um bom exemplo dessa escrita
experimentada de Gesualdo:
Gesualdo inicia a peça com um gesto homofônico, que chama a atenção pelo
caráter exótico advindo dos movimentos cromáticos das vozes, gerando inesperados
encadeamentos harmônicos. Os quatro primeiros compassos exprimem um caráter
profundo e sombrio alinhado ao significado de morte procedente do texto, ao qual as
vozes dispostas nas suas regiões graves adicionam densidade, realçando o sentido
expressivo.
Se por um lado a música descritiva e inovadora de Janequin se certificou como
o principal motivo do seu sucesso na época, a produção musical de Gesualdo foi cada
vez mais caindo em esquecimento por estar em constante evolução e,
consequentemente, mais incompreendida. Garbuio e Fiorini (2012) descrevem a
dificuldade de classificar o repertório de Gesualdo no contexto renascentista:
A obra de Gesualdo apresenta características técnicas que a distingue do repertório mais conhecido
deste período. Sua escrita virtuosística, suas inovações harmônicas e a constante ousadia na escrita
vocal fizeram de Gesualdo um estilo à parte do Renascimento.
47
O Bel Canto é um estilo e técnica vocal que teve sua origem na Itália, no final
do século XVII, e alcançou seu auge no início do século XIX. Trata-se de uma técnica
vocal que tem como princípio básico a beleza do som, o controle da respiração, o
aperfeiçoamento do legato, a ênfase na precisão rítmica e textual, a flexibilidade da
extensão vocal, a ausência de transições bruscas entre registros, a expressividade da
performance dramática no controle sobre uma longa extensão e a capacidade de
construir a situação dramática pela própria linha melódica e pelos atributos vocais.
Os Lieder, oratórios e, principalmente, as óperas contribuíram para o
desenvolvimento técnico do canto até o final do século XIX. Neste período, os
elementos cênicos se incorporaram fortemente à música, fazendo parte de um
conjunto de unidades com grande valor expressivo. No entanto, foi a partir da segunda
48
metade do século XX que essas unidades não textuais foram “despojadas de seus
valores afetivos e encarados como elementos expressivos de uma linguagem musical
de horizontes mais amplos" (VALENTE, 2002, p. 5).
A busca por novos caminhos sonoros para a música de concerto por parte dos
compositores trouxe, para a experiência do canto, um vocabulário sonoro mais
abrangente, que possibilitava, além da técnica do bel canto, outros tipos técnicos e
efeitos provenientes da voz.
De acordo com o que diz Schafer (2001, p. 132), o ambiente sonoro no século
XX agregou, de forma crescente, uma quantidade de ruídos advindos do processo
industrial e revolução elétrica acontecida no século anterior, especialmente com a
primeira guerra mundial. Além disso, a possibilidade de gravar sons através do
fonógrafo e a comunicação à distância com o telégrafo e o telefone foram
determinantes para uma nova concepção e sensibilidade sobre espaço e tempo.
O desenvolvimento da música sofre transformações, o conceito de melodia
começa a se modificar, os compositores sentem a necessidade de novos
experimentos também em relação ao potencial sonoro da voz. Acerca disso, é
relevante o que aponta a autora Sharon Mabry:
27 Twenty-century composers began to think of the voice as “just another instrument”, capable of
creating a multitude of extraordinary and contrasting colors, textures, and articulations, they reorganized
the realm of text settings into novel configurations. (MABRY, 2002, p 105)
49
Cardoso; Eight songs for a Mad King (1969), de Peter Maxuell Davies; Rumos (1972),
de Ernst Widmer; (Im)previstus (1973), de Agnaldo Ribeiro; Caleidoscópio (1975) e
Chromaphonetikos (1978), de Lindembergue Cardoso; Revoada de Memórias (2001),
de Wellington Gomes; For viola and 6 voices (2006), de George Friederich Haas; e
Labia Mea (2016), de Vahram Sarkissian.
Figura 13 - Pierrot Lunaire ensemble at the first performance, 16 October 1912: left to right, K.
Essberger, clarinet and bass clarinet; Jakob Malinak, violin and viola; Schoenberg; Albertine Zehme,
Sprechstimme; Eduard Steuermann, piano; Hans Kindler, cello; H.
Figura 15 - Revoada de Memórias (2001) de Wellington Gomes, para orquestra e duas vozes solistas.
2.2.2 Recitado
Figura 17 - Officium Sepulchri: Diálogo do Anjo com as Três Mulheres (1966), de E. Widmer.
2.2.3 Assoviando
Esse efeito é produzido a partir de uma nota entoada, modulada para o sussurro
sem que haja uma quebra. O timbre se transforma a partir de uma nota específica,
chegando a um som de altura não definida ou vice-versa. Tanto em canto solo quanto
em densos conjuntos de vozes, a modulação tímbrica resulta num efeito de grande
expressividade. Um exemplo deste efeito é visto na obra Sequenza III, de Luciano
Berio.
58
2.2.5 Grito
Peter Maxuell Davies faz uso desse recurso na obra Eight songs for a Mad King
(1969), como demostrado na figura abaixo.
Figura 26 - Grito em Eight songs for a Mad King (1969) de Peter Maxuell Davies.
59
2.2.6 Glissando
Figura 28 - Glissando em For viola and 6 voices (2006) de George Friederich Haas.
Apesar desse recurso ser natural para a voz, o seu efeito é marcante na música,
podendo ser exótico, principalmente se executado com grupos de vozes pela
imprecisão da afinação. Cardoso usa esse efeito associado ao limite de registro agudo
e grave de cada cantor do coro em Chromaphonetikos (1978).
2.2.7 Microtons
CAPÍTULO 3
28 Jonathan D. Kramer (2000), em seu artigo The Nature and Origins of Musical Postmodernism, texto
que será abordado no tópico seguinte, discute sobre uma série de questões referentes à música pós-
moderna, em torno da tonalidade, da citação, da unidade, da temporalidade, da autoria e pluralidade.
29 Princípio decorrente da concepção organicista na criação musical, elaborada por Arnold Schoenberg
(1874-1951), tendo por base práticas composicionais provindas especialmente de Johann Brahms
(1833-1897). Grundgestalt é definido como a “configuração básica” ou “ideia básica” de uma obra, e
que serve como gerador de material temático. (RUFER, 1954, p. 85)
30 A variação progressiva refere-se a ações sucessivas de mutações do Grundgestalt, com a finalidade
32 Paulo Costa Lima, em Música Popular e Outras Adjacências, descreve de forma despretensiosa o
que denomina por “horizontes temáticos”: “anotações para lembrar a mim mesmo e a meus alunos
direções importantes a seguir”. Esta coleção de “janelas” se configura numa listagem de vinte e seis
áreas de análise e da teoria composicional, e cada referida área com suas principais referências
bibliográficas. (LIMA, 2012, p. 145-150)
33 Texto citado do livro Teoria, Crítica e Música na Atualidade – Série Simpósio Internacional de
Musicologia da UFRJ, do artigo escrito por Paulo Costa Lima, 2012, p. 118.
65
04. Desafia barreiras entre high style e low style (estilos erudito e popular);
05. Mostra desdém pelo valor, muitas vezes inquestionável, da unidade
estrutural;
06. Questiona a mútua exclusividade entre valores elitistas e populares;
07. Evita formas totalizantes (peças inteiras tonais ou seriais);
08. Não considera a música como autônoma, mas relevante aos contextos
culturais, sociais e políticos;
09. Inclui citações ou referências de música de várias tradições e culturas;
10. Considera a tecnologia não somente como um meio de preservar e
transmitir música, mas, também, profundamente implicada na sua produção
e essência;
11. Integra contradições;
12. Desconfia das oposições binárias;
13. Inclui fragmentações e descontinuidades;
14. Engloba o pluralismo e o ecletismo;
15. Apresenta múltiplos significados e múltiplas temporalidades;
16. Localiza os significado e estrutura nos ouvintes, mais do que em partituras,
performances ou compositor.
34PERES, Véra Lucia Rocha Pedron. As características pós-modernas na obra de Rimsky, de Gilberto
Mendes. 2008. Dissertação (Mestrado em Processos de Criação Musical) - Escola de Comunicações
e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
68
“A nova partícula que pode mudar o que sabemos sobre o universo!”35 (BBC
Mundo, 21/03/2016)
35 Enunciado da BBC Mundo em 21/03/2016, referente a possível descoberta de uma nova partícula
por Gian Giudice – Físico da CERN Genebra Suíça, 2015.
36 Desirée Mayr (2015) mostra divergências entre pesquisadores com relação à data em que o princípio
da Grundgestalt teria sido citado pela primeira vez: em 1919 (RUFER, 1954), “por volta de 1915”
(LEIGH, 1998), 1913 (DUDEQUE, 2005) ou “no início da década de 1920” (COLLEEN, 2009). Segundo
Carpenter & Neff (2006), o termo “Grundgestalt” só seria nomeado de forma definitiva em 1934.
71
procedimentos composicionais a partir de seis obras da década de 80. 2002. Escola de Música,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2002.
72
41 A Society for Private Musical Performances foi criada em Viena, no outono de 1918, por Arnold
Schoenberg, Alban Berg e Anton Webern, para apresentações musicais privadas, com a intensão de
levar performances mais compreensíveis da música nova para o público da época. A dificuldade era
grande em se formar plateia, especialmente se a música em foco fosse de vanguarda. Poucas músicas
de vanguarda eram executadas, o compositor mais tocado era Max Reger (suas composições
prolongaram o movimento romântico até o século XX). Em sequência, estavam Claude Debussy, depois
Bela Bartok. Schoenberg só permitiu que sua música fosse inserida nas apresentações depois de um
ano. Obras sinfônicas geralmente tinham que ser tocadas em forma de reduções para um ou dois
pianos. Schoenberg, Berg e Webern faziam arranjos e, posteriormente, Erwin Stein. GILLILAND,
Norman. The Society for Private Musical Performance, 2015. Disponível em:
<https://www.wpr.org/society-private-musical-performance>. Acesso em: 26 out. 2018.
42 Em Orfeu in New Guises (Londres, 1953).
43 “The present essay does not describe Schoenberg's composition with twelve notes, but the stage
immediately before it had finally crystallised.” (STEIN, Erwin. Orpheus in New Guises. trans. Hans Keller
(London: Rockliff, 1953, p. 57)
44 Em Michael J. Schiano, “Grundgestalt,” Grove Music Online, Oxford Music Online, Oxford University
Press, <http://www.oxfordmusiconline.com.ezproxy.uky.edu/subscriber/article/grove/music/11868>.
Acesso em: 26 out. 2018.
73
Schoenberg, lança seu livro Die Komposition mit Zwölftone (1952), traduzido para o
inglês como Composition with twelve notes (1954). Nele, Rufer aborda de maneira
significativa e pormenorizada a técnica composicional dodecafônica de Schoenberg e
destaca o vínculo desse sistema com práticas composicionais do passado e o
conceito da Grundgestalt.45
45 Segundo Martin Leigh (1998), a contribuição mais importante de Rufer para a compreensão do
Grundgestalt não estaria no texto principal do seu livro, mas em uma carta escrita ao tradutor da edição
em inglês, Humphrey Searle, e inserida no prefácio da edição. Ver Leigh, Martin. Grundgestalt, multi-
piece, and intertextuality in Brahams's opp. 117, 118, and 119. PhD thesis, University of Nottingham,
1998, p. 58.
46 Trecho da carta de Rufer para Humphrey Searle. (RUFER, 1954, p. vi-ix)
74
responder também a qualquer tipo de música. Rufer reafirma o discurso em The Works
of Arnold Schoenberg (I962), no qual cita o próprio Schoenberg apontando que “em
seus ensinamentos, conscientemente absorveu as novas concepções delineadas na
composição de doze notas, em análises de Mozart, Beethoven, Brahms, mas de forma
camuflada.”47 (RUFER, 1962, p. 148)
47 Schoenberg “mentioned himself that in his teaching he quite consciously absorbed the newly-born
perceptions drawn from twelve-note composition in analyses of Mozart, Beethoven, Brahms, but in
camouflaged form.” Ver em Josef Rufer: The Works of Arnold Schoenberg. (D. Newlin, trad.). Londres:
1962, p. 148.
48 Derivação de movimentos como significado que abarca além de consequências temáticas melódicas,
outros parâmetros como ritmos, harmonias, progressões harmônicas, relações-chave, etc. (EPSTEIN,
1968, p. 92). David Epstein: Schoenberg's Grundgestalt and Total Serialism: their Relevance to
Homophonic Analysis, (unpublished Ph. D dissertation, Princeton 1968).
49 (...) “was a fundamental concept for Schoenberg, one from which subsequent ideas would emerge.
Its usefulness to him was mostly that of a background influence for the more precise and systematic
compositional procedures that evolved as twelve-tone theory". Em D. Epstein, Beyond Orpheus: Studies
in Musical Structure, Cambridge, Mass., 1979, p. 21.
75
Patricia Carpenter foi aluna de Schoenberg entre 1942 e 1949 nos Estados
Unidos. Enquanto Rufer e Stein estiveram ao lado de Schoenberg em sua fase inicial
de elaboração das suas ideias, Carpenter esteve presente no período em que ele já
havia formatado os princípios fundamentais do seu método dodecafônico. Esse fato
foi essencial para Carpenter apresentar uma visão mais abrangente e original para a
teoria da Grundgestalt, através do artigo Musical Form and The Musical Idea:
Reflections on a theme of Schoenberg, Hanslick and Kant (1984), em que reflete sobre
um tema de Schoenberg, Hanslick e Kant, na consideração desse último. De acordo
com Carpenter, as reflexões de Kant sobre cognição e música51 influenciaram
profundamente a compreensão de Schoenberg sobre ideia musical, como um trabalho
completo que teria origem em seu sentimento platônico, além da experiência
sensorial.
Carpenter considera a ideia como “um único pensamento musical concreto”.52
Nesse contexto, a autora coloca frente a frente a discussão sobre estética e lógica,
subjetivo e objetivo. Na análise do Quarteto de Cordas Op. 95 de Beethoven, presente
no seu estudo, a autora discute o assunto enfocando o domínio das relações tonais e
apresenta os fatores de desequilíbrio e ambiguidade como questão central. Carpenter
se concentra em posicionar o aspecto abstrato e o objetivo numa mesma dimensão,
como visto nesta afirmação:
50 Em Stephen Collisson: Grundgestalt, Developing Variation and Motivic Processes in the Music of
Arnold Schoenberg. Diss. King’s College, 1994, p. 26.
51 Immanuel Kant: Critique of Judgement, trans. James Creed Meredith (Oxford University Press, 1952).
52 Patricia Carpenter: Musical Form and The Musical Idea: Reflections on a theme of Schoenberg,
Hanslick and Kant. Music and Civilisation: Essays in Honour of Paul Henry Lang, ed. Strainchamps and
Maniates, New York, 1984, p. 418.
76
53 Brent Lawrence Auerbach: The analytical Grundgestalt: a new model and methodology based on the
music of Johannes Brahms. Thesis (Ph. D) - Department of Theory Eastman School of Music, University
of Rochester, New York, 2005, p. 7.
54 J Schmalfeldt, 'Berg's Path to Atonality: The Piano Sonata, Op. 1' in Alban Berg: Historical and
alguém deseja levar mais a sério, pode-se dizer que eu parti do próprio
Schoenberg.55 (SCHMALFELDT, 1991, p. 84)
55 ...”I propose that the initial phrase of Berg's Sonata may be understood as the Grundgestalt of this
work, and that its influence upon the complete movement will be accomplished by means of developing
variation. To begin with, I must stress that my notion of Grundgestalt applies not to the initial motive of
the Sonata but rather to its initial phrase. With this view, I depart radically from the numerous motive-
oriented Grundgestalt analyses of the past; and, depending upon which of Schoenberg's own remarks
about Grundgestalt, or ‘idea', one wishes to take most seriously, it could be said that I depart from
Schoenberg himself.” (SCHMALFELDT, p. 84)
56 O Grupo de Compositores da Bahia era formado por Widmer e seus alunos de então: Fernando
Cerqueira (1941), Rinaldo Rossi (1945-1984), Milton Gomes (1916-1973), Jamary de Oliveira (1944),
Nicolau Kokron (1936-1971) e Antônio José Santana Martins (1936) - mais conhecido como Tom Zé -
Lindembergue Cardoso (1939-1989), Carlos Rodrigues de Carvalho (1951), Carmen Mettig Rocha
(1947) e posteriormente, Walter Smetak (1913-1984), Rufo Herrera (1935), Agnaldo Ribeiro (1943),
Marco Antônio Guimarães (1948), Lucemar de Alcântara Ferreira (1933), Alda de Jesus Oliveira (1995),
Ilza Nogueira (1948) e Paulo Costa Lima (1954). (LIMA, 1999; TACUCHIAN, 2001; GOMES, 2002)
78
1 – A quantidade de produção;
2 – Originalidade do produto;
3 – Compromisso com a novidade e com a tradição;
4 – Envolvimento com a cultura baiana;
5 – Abertura a toda e qualquer expressão cultural;
6 – Influência exercida nos programas de ensino, pesquisa e difusão.
57 A tese de doutorado do professor e compositor Ângelo Castro, foi publicada como livro pela EDUFBA,
em 2007.
58 Ver em: LIMA, Paulo Costa. Ernst Widmer e o ensino de composição musical na Bahia. Salvador:
CAPÍTULO 4
Fonte: o autor.
O modelo identifica a cultura como um fator que abarca o processo por inteiro,
e que pode acolher outros elementos externos através da intertextualidade. O filtro
interpretativo está diretamente ligado ao confronto entre hermenêutica e criação, lugar
onde o compositor define escolhas, guiado pela razão interna.59
O circuito corresponde às estratégias de criação de gestos e escolhas de
elementos textuais e simbólicos, bem como ao diálogo entre eles, empregados nas
obras destinadas à esta pesquisa.60
Na Miniatura I, o caminho das relações se apresenta por um único gesto
provindo diretamente do dito popular, de igual modo, o elemento textual advém do
conjunto fonético presente no dito.
59 Paulo Costa Lima em seu livro Teoria e Prática do Compor II, escreve sobre ética e criação, nele
argumenta sobre o entrelaçamento entre teoria e prática: “na medida em que a capacidade criadora,
especialmente no campo das artes, depende dessa ‘razão interna’ capaz de guiar escolhas”. (LIMA,
2014, p. 73)
60 As análises detalhadas e partituras completas das obras musicais que compõem esta pesquisa, estão
Fonte: o autor.
Fonte: o autor.
Fonte: o autor.
A obra Mas será o Benedito, Lampião ou Suassuna?, possui uma trama mais
complexa de fluxos e refluxos dentro do circuito de relações. O dito popular “Mas será
o Benedito” foi escolhido como ponto de partida para a elaboração composicional. O
gesto principal é decorrente do trânsito e entrelace de três vias: 1) o significado
etimológico do nome Benedito, presente no dito popular; 2) a relação intertextual com
outra obra e seus símbolos agregados; 3) e a referência sociocultural Nordestina. Os
elementos textuais tanto advêm do conjunto fonético encontrado no dito popular, como
87
Fonte: o autor.
A partir desse ponto se reinicia o processo por uma amplificação mais intensa,
agregando percussão vocal, linha de baixo e melodias harmonizadas:
Figura 39 - Adensamento.
90
A peça possui uma forma linear, movimento cíclico sem rupturas, induzindo à
imagem de ondas sequenciais. O gesto final, a partir do compasso 13, inicia um
processo de desagregação de vozes. Esta decomposição do impulso contínuo,
conduz à sensação de intensificação de escassez, sugestionando a imagem de
gotejamento.
Visando a viabilidade de execução da peça, as notas são apoiadas em cada
uma das 3 unidades da divisão do tempo, como demonstrado nas figuras abaixo.
98
Figura 43 - Apoio das notas em cada uma das 3 unidades da divisão do tempo.
Figura 44 - Apoio das notas em cada uma das 3 unidades da divisão do tempo. (Forma reduzida)
99
61Representação apresentada por David Gibson em seu livro The Arte Of Mixing – Visual Guide to
Recording, Engineering and Production, 1997.
103
Faixa Região
20 a 60 Hz Subgrave
60 a 250 Hz Graves
250 a 2000 Hz Médio-Graves
2000 a 6000 Hz Médio-Agudos
6000 a 20000 Hz Agudos
Para designar alguns efeitos auditivos provocados pela falta ou pelo excesso
de determinada faixa de frequência pelo ouvinte, usaremos como referência a tabela
exposta por Henriques em seu Guia de Mixagem, em que resume alguns atributos
identificados em cada oitava de frequência, e alguns termos usuais no dia a dia no
trabalho em estúdio de áudio para definir a falta e o excesso dessas faixas de
frequências em mixagens.62
62É natural o uso de termos técnicos, e não raramente, termos não técnicos em ambiente de estúdio
para definir uma intervenção com relação a mixagem musical, visto que, o diálogo geralmente se firma
entre o especialista e o leigo, aquele que percebe os eventos acústicos e traduz por sentimentos.
104
8ª Hz EXCESSO FALTA
fundamentais da voz, ou como por exemplo de 700 Hz a 1400 Hz, onde a sua
acentuação atribui à voz, um timbre anasalado.
63O posicionamento diante do microfone e a distância de 30 centímetros, não foram alteradas durante
todo o processo. Em todas as gravações do experimento, foi utilizado um microfone padrão AKG-414,
sem equalização, somente um o filtro High-Pass em 100Hz.
106
O conjunto fonêmico (uh, ah) e o conjunto fonético (nu, nô, in), foram escolhidos
no propósito de acentuar a sensação auditiva de distância gradativa, por suas
características sonoras e tipo de emissão. A sílaba “nu” tem pouco ataque por possuir
uma consoante não plosiva integrada à uma vogal fechada “u”, moldada através de
108
Figura 49- Volume, obstáculo na emissão e sonoridade textual na linha do tempo da Miniatura III.
65 Apesar do dito popular “Mas será o Benedito”, não ter uma possível explicação da sua origem
desvinculada da cultura nordestina, a expressão é recorrente na linguagem sertaneja. Uma provável
versão para a origem do termo, está no livro De onde vem as palavras do escritor Deonísio da Silva. O
autor explica que “Em 1933, Getúlio Vargas estava indicando novos governadores, e chefes políticos
mineiros temiam que o presidente nomeasse alguém indesejado. Para não desagradar seus
apoiadores, dizia-se que o escolhido de Getúlio seria Benedito Valadares, jornalista, político local e
candidato neutro. Muitos, surpresos com a provável escolha, que acabou acontecendo, perguntavam-
se: Será o Benedito?”.
66 Soneto extraído do CD A poesia viva de Ariano Suassuna, lançado em 1998. O CD conta com a
participação musical do compositor Antônio Madureira. As escolhas dos temas são inspiradas em
autores que Suassuna admirava, a exemplo de Augusto dos Anjos, Fernando Pessoa, o poeta popular
Lino Pedra-Azul e Renato Carneiro Campos, a este último citado, é creditado o tema do poema “O sol
de Deus”.
114
67Quaderna, um dos personagens mais emblemáticos de Ariano Suassuna, escolhe o Gavião como
representante do Espírito Santo no que denomina de Religião Católica Sertaneja. O gavião e a cobra,
neste contexto, também tem a responsabilidade de vigiar os homens e mulheres cujas mortes estão
próximas. Referenciado na dissertação A morte, o feminino e o sagrado de Ester Suassuna Simões,
2016, p. 79.
115
Figura 51 – Iluminogravura e poema "O Sol de Deus" – ambos por Ariano Suassuna.
116
O SOL DE DEUS
Rei do Cangaço.
117
[...] Após os anos 30 e 40, passou a ser empregado sobretudo para designar
homens como Lampião. A passagem da significação generalizante a uma
específica de bandido salteador foi, a rigor, consequência da enorme
celebridade alcançada por Lampião, conhecido como "rei do cangaço",
durante as duas décadas em que ele foi chefe de um bando de cangaceiros.
Seu nome, o relato de seus atos, a história de sua vida ultrapassou as
fronteiras regionais e nacionais, atingindo o exterior, invadindo os palcos de
teatros, as telas de cinema, as páginas da literatura, tornando-se, desde os
anos 60, tema de debates sociológicos. (MARQUES e VILLELA, 1999, p. 130)
O poema já se constitui num elemento íntegro, uma obra finalizada. Por esse
olhar e uma escolha estética resultante, o poema não passará por transformação,
servirá como componente para declamação.
LEVEZA AUSTERIDADE
SENSÍVEL RUDE
ACOLHIMENTO REPULSÃO
CELESTE TERRENO
TÊNUE MARCANTE
CADENCIADO PERCUSSIVO
DENSO ESPARÇO
MAGESTOSO DESPROVIDO
SOLENE INFORMAL
RITUAL INSUBORDINAÇÃO
Inventário fonético:
Conjunto fonético [ma, se, ra, be, ne, di, to] – variação de percussividade;
Conjunto textual:
Deuteronômio 28: 1 a 6.
1. E será que, se ouvires a voz do SENHOR teu Deus, tendo cuidado de guardar
todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o SENHOR teu Deus te
exaltará sobre todas as nações da terra.
1. Sin autem audieris vocem Domini Dei tui ut facias atque custodias omnia
mandata eius quae ego praecipio tibi hodie faciet te Dominus Deus tuus
excelsiorem cunctis gentibus quae versantur in terra.
70 Consoantes glotais: são consoantes pronunciadas através da vibração da glote. Não há consoantes
glotais em português e em praticamente nenhum dos idiomas ocidentais. Exemplos de idiomas com
consoantes glotais são o hebraico e o árabe. (Formação de Escritor do Dr. João Domingos Soares de
Oliveira, Editora Clube dos Autores, 2010, p. 146)
71 “Et erit Benedictus” consiste numa tradução literal nossa, sem considerar o conteúdo significativo do
termo em português.
124
A – Modo IV (sintético);
B – Conjunto intervalar de segundas e os acordes gerados por esse conjunto
(representação do profano);
C – Tríades maiores dispostos no modo IV (representação do divino);
D – Gestos percebidos pelo antagonismo entre os elementos “Benedito” e “Lampião”.
E - Poema “O sol de Deus” recitado.
F – Segmentação e agrupamento fonético vocálico e consonantal a partir do dito
popular “Mas será o Benedito”.
G – Texto bíblico em latim.
Figura 65 - Quatro estratégias para simular o som da viola sertaneja nas vozes.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
72Baseado na compilação (Poética - Aristóteles) realizada por volta de 335 a.C., que busca sistematizar
o formato e a estética dos gêneros literários gregos.
148
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