Livro Didatico Lingua Inglesa
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Resumo: Material didático pode ser definido, de forma sucinta, como todo e qualquer objeto
que auxilia os alunos a aprenderem. Portanto, os materiais didáticos podem assumir a forma
de livros, dicionários, gramáticas, vídeos, CDs, revistas, dentre outros. Temos, assim, que o
livro didático é apenas mais um dos diversos materiais que podem ser utilizados em um
processo de ensino-aprendizagem. Entretanto, no que concerne o ensino de língua inglesa, os
livros didáticos se encontram, na atualidade, como o principal, e muitas vezes único, material
didático a ser utilizado em sala de aula. Desse modo, é necessário entender que o livro
didático não é apenas um meio para a propagação de conteúdo linguístico, mas também
cultural e social. Portanto, os elementos e concepções utilizados na sua elaboração terão
impacto direto em como os alunos visualizarão a língua estudada e o mundo ao seu redor. Ou
seja, as concepções de língua, ensino, aprendizagem e metodologia adotadas pelos criadores
de um livro didático influenciarão na forma como o aluno irá compreender e assimilar a
língua inglesa. Nesse sentido, este artigo aborda o surgimento, uso e importância dos livros
como ferramenta para o ensino de línguas, assim como discute sobre a elaboração desses
materiais.
Introdução
Os livros, independentemente de seu conteúdo, são elementos intrinsecamente
conectados aos seres humanos, pois decorrem da necessidade da sociedade em documentar
acontecimentos, em retratar fatos, em registrar e criar histórias. De acordo com Mello Jr.
(2000 apud PAIVA, 2009, p. 18), “o livro como nós conhecemos hoje, surgiu no Ocidente por
volta do século II d.C., fruto de uma revolução que representou a substituição do Volumen
pelo Codex”.1 Até o século XV, com o advento da imprensa, “os livros eram escassos,
pesados e difíceis de produzir. Livreiros os tinham copiados por escravos, um leitor ditando
em uma sala cheia de escribas, mas o custo de se produzir livros dessa forma fazia com que
poucos pudessem ter acesso a estes” (KELLY, 1969, p. 258). Tem-se, assim, que a produção
de livros era muito precária, feita ainda manualmente, “não existindo dúvidas de que o único
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Paiva (2009, p. 17) explicita que “o volumen consistia de várias folhas de papiro coladas que eram enroladas
em um cilindro de madeira, formando um rolo. […] Já o formato de codex se aproxima mais do livro atual com
várias folhas de papiro ou de pele de animais costuradas”.
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texto nas salas de aulas medievais estava nas mãos do professor, os pupilos tomavam notas
tanto dos textos quanto dos comentários através do ditado” (KELLY, 1969, p. 258).
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Roberto Francesco Romolo Belarmino, nascido em 1542, foi um jesuíta italiano e um cardeal católico, sendo
uma das mais importantes figuras da Contra-Reforma.
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A invenção da imprensa, como enfatiza Paiva (2009), foi de grande importância para a expansão dos livros de
forma geral, pois através desta foi estabelecida a cultura letrada. “Os livros deixam de ser copiados à mão e
passam a ser produzidos em série” (PAIVA, 2009, p. 18), fazendo, assim, com que a disposição de livros para a
sociedade aumentasse e, em relação ao ensino de línguas, fizesse com que se deixasse de ter um ensino no qual o
professor era, via de regra, o único detentor do material didático a ser utilizado.
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prática de ensino. Surgiu, então, o livro didático que foi, e ainda é, um dos diversos materiais
didáticos que podem ser utilizados no ensino de línguas, realizando como principal função, a
mediação no processo de ensino-aprendizagem.
O livro didático é o responsável por indicar e basear o estudo do aluno fora da sala de
aula, lhe cabendo também o papel de instigar o aprendiz à procura por novos conceitos, novos
vocabulários, novos conteúdos, novas formas de estudos e assimilação do conteúdo, entre
outros. Ademais, na maioria das escolas, o livro didático passou a ser concebido como
principal fonte de ensino nesse contexto, incorporando os procedimentos, direcionamentos,
atividades, conteúdos, entre outros, necessários para a aquisição do novo conhecimento.
Desse modo, as gramáticas e os dicionários passaram a ser vistos não mais como livros
didáticos, mas como material de suporte no processo de ensino-aprendizagem.
Os livros didáticos, portanto, podem ser concebidos como a representação das teorias
de aprendizagem e dos posicionamentos pedagógicos, uma vez que são utilizados como meio
de propagação de determinadas concepções educacionais. Isto é, se os teóricos, sejam
educacionais ou linguísticos, concebem que uma língua é adquirida ou aprendida através da
compreensão de estímulos e reações, o livro didático trabalharia dentro desse escopo,
apresentando o conteúdo de modo a gerar a memorização e o condicionamento do aluno. Caso
os teóricos se baseassem na concepção de que a aquisição ou a aprendizagem da língua
precisa ser feita de modo significativo, através do uso da língua e não apenas através da
memorização de regras e estruturas, o livro didático seria construído de forma a ser usado
como suporte para a interação e uso da língua em sala de aula.
Portanto, para cada teoria de aprendizagem e/ou posicionamento teórico tem-se uma
construção distinta do livro didático, inserindo os princípios, diretrizes e parâmetros típicos de
cada orientação. Ou seja, assim como o papel do aluno e do professor, o papel do livro
didático sofreu e sofre modificação de acordo com a teoria de aprendizagem ou o
posicionamento pedagógico adotado para o ensino de línguas. Outrossim, além do seu valor
pedagógico, livros didáticos são artefatos culturais, não menos enraizados em um tempo e
cultura específicos do que qualquer outra atividade humana e são moldados pelo contexto no
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Entretanto, precisamos atentar para o fato de que o marcador ‘localidade’ não pode ser
utilizado como único parâmetro para se estabelecer se um livro se conecta ou não com as
necessidades desencadeadas pela globalização. Muito mais do que se fixar no local de
produção do livro didático, precisamos verificar se este livro propicia, de certa forma, através
do ensino da língua, que o aluno se visualize como ser autônomo e como um cidadão global.
Inicialmente, é necessário compreender que o uso do livro didático precisa ser analisado com
base em duas posturas que podem ser tomadas pela instituição e pelo professor perante este: a
de utilizar o livro como base e fonte única de estudo e a de usar o livro como uma das fontes
para o processo de ensino-aprendizagem.
No primeiro caso, o livro é visto como o guia supremo para o processo de ensino-
aprendizagem, sendo o responsável por estipular os objetivos, conteúdos e formas de trabalho.
Essa postura, de certa maneira, impossibilita a improvisação, isto é, a inserção de materiais e
atividades externos aos livros. Na segunda perspectiva, o livro didático não controla a sala de
aula, pois serve como suporte para as aulas, possibilitando que o professor improvise mais,
seja criativo e adapte o livro às necessidades de seus alunos.
Concebemos nesse trabalho que o livro didático precisa ser adotado como suporte para
as aulas, relacionando-se, desse modo, com o estímulo à reflexão, à autonomia e ao
pensamento crítico por permitir uma maior liberdade, tanto para o professor como para o
aluno. Ambos podem atuar de forma mais livre em sala de aula, expondo suas opiniões,
desejos e atitudes, já que a sala de aula se torna mais flexível e aberta a novas discussões e
conteúdos pertinentes e relacionados aos temas do livro. Nessa perspectiva, o livro didático
não, portanto, controla o processo de ensino, mas é utilizado como uma preciosa ferramenta
que complementa os conhecimentos do professor e do aluno e, ainda, funciona como
instrumento de atualização do educador.
O professor, assim sendo, tem um importante papel no uso do livro didático, visto que
será o responsável por apresentar ao aprendiz como ele pode e precisa utilizar o livro didático
de forma autônoma e benéfica ao seu aprendizado, instruindo-o a aproveitar todas as
vantagens e benefícios desse instrumento de aprendizagem, além de chamar a atenção para
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suas lacunas. Além disso, o professor será responsável por debater e introduzir temas
relacionados à expansão da língua pelo mundo, seu uso, impacto e variantes.
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Nesse sentido, para a construção do livro didático é necessário que se estipule o seu
público alvo, mesmo que de forma generalizada. Um livro voltado para alunos denominados,
por exemplo, de iniciantes, primários ou secundários, precisa ser elaborado utilizando
recursos (áudio, figuras, exercícios, entre outros) que permitam a evolução gradual dos
aprendizes no decorrer das unidades, bem como, o uso de uma linguagem clara e simples que
possibilite a sua fácil assimilação e compreensão. Para cada nível de aprendizagem será
utilizado, ou ao menos deveria ser, uma linguagem distinta, coerente com a competência
linguística do aluno.
A fase do desenvolvimento refere-se aos objetivos do ensino da língua estrangeira, ao
conteúdo a ser ensinado e aos recursos a serem utilizados, ou seja, a delimitação, organização
e adequação do conteúdo à estrutura do livro didático. De acordo com Leffa (2008, p. 17) “a
definição clara dos objetivos dá uma direção à atividade que está sendo desenvolvida com o
uso do material. Ajuda a quem aprende porque fica sabendo o que é esperado dele.”
Desse modo, visualiza-se que as fases da análise e do desenvolvimento são
complementares e precisam ser concebidas em conjunto, pois “a etapa do desenvolvimento
parte dos objetivos que são definidos depois da análise das necessidades” (LEFFA, 2008, p.
17). Ou seja, é a partir da delimitação das especificações linguísticas que os alunos devem
alcançar que são determinados os objetivos específicos para cada plano de aprendizagem.
Além disso, de acordo com Ferro e Bergmann (2008), a junção dessas duas fases,
isto é, a necessidade dos alunos e a delimitação dos objetivos e conteúdos a serem alcançados,
precisa de bastante atenção, pois é a partir da estipulação destas que o livro didático passa a
desempenhar as suas funções secundárias:4 a de livro como objeto inovador, motivador,
comunicativo, controlador, configurador e estruturador da realidade.
O papel de inovador do livro didático decorre do fato de que o uso de um material,
seja este qual for, expõe ao aluno novos conhecimentos e conteúdos ou, ao menos, uma nova
perspectiva sobre assuntos que este já conhece. Isto ocorre, pois mesmo voltados para um
mesmo nível e público, dois livros didáticos distintos mostram os conteúdos utilizando-se de
4
Apesar de não serem independentes, concebemos como função primária do livro didático o papel de mediador
do ensino de línguas propriamente dito, já enquanto função secundária nos referimos aos demais elementos que
são intrínsecos a este, tais como a metodologia utilizada, a visão de mundo apresentada etc.
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diferentes recursos e com base em concepções diversas, sendo estas guiadas pelo
posicionamento pedagógico e os objetivos de seus criadores. Portanto, cada livro didático
sempre apresentará ao aluno algo diferente ou trabalhado de uma nova maneira.
Ao introduzir os conteúdos, o livro didático assume também a sua função de
motivador, a qual condiz com o fato de que, ao apresentar um conteúdo, o material precisa
captar a atenção dos alunos para a importância do mesmo. O seu papel de motivador é feito
através da forma como o assunto é exposto, dos recursos que utiliza e das atividades que
propõe. Além disso, a sua atribuição de motivador terá grande relevância para cativar ou não
no aluno o seu interesse por determinado conteúdo, vocabulário, lugar, língua, etc.
A função comunicativa do livro didático refere-se ao fato de que “o material é um
agente de comunicação cultural e pedagógica, difundindo pontos de vista e servindo como
representante da metodologia da qual faz parte” (FERRO; BERGMANN, 2008, p. 20). O
livro didático, portanto, nada mais é do que uma representação de ideais e valores daqueles
que o elaboraram, os quais serão refletidos e perpassados aos alunos.
A influência do livro didático, por sua vez, condiz com a sua característica de
“controlador dos conteúdos a serem ensinados, determinando uma progressão de
aprendizagem” (FERRO; BERGMANN, 2008, p. 20). Os livros precisam seguir uma escala
de desenvolvimento do conteúdo, partindo do mais simples para o mais complexo,
possibilitando, assim, o desenvolvimento gradual do aluno.
Essa delimitação dos conteúdos, de forma controlada, precisa ser feita com muito
cuidado, pois o livro didático também é um configurador, uma vez que é um dos principais
responsáveis pelo tipo de relação que o aluno criará com os conteúdos introduzidos. Por ser,
na maioria dos casos, o elemento central de estudo, os livros didáticos carecem ser feitos de
modo a criar motivação pelos estudos, estimulando, ainda, a busca por novos meios e recursos
que podem e irão auxiliar o educando no aprendizado, em vez de manter a dependência com
uma única fonte de aprendizagem.
Ademais, na atualidade, os alunos estão inseridos em diversas realidades e precisam
estar aptos a saberem agir e se portar em contextos sociais variados. A contextualização do
livro didático com a realidade na qual o aluno se insere é realizada através de seu papel de
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diferenças. Contudo, o que os materiais fazem é gerar uma falsa sensação de inclusão cultural,
pois,
mesmo que materiais didáticos nessa perspectiva apresentem uma certa
tolerância com a diversidade entre os povos, esta é tratada apenas como algo
interessante, sendo o componente cultural, por um lado, expresso, por
exemplo, através do folclore ou da culinária, visto como objeto de admiração
e contemplação por parte dos alunos. [...] Apesar de tudo, o objetivo
continua sendo a valorização da cultura euro-americana. (SCHEYERL,
2012, p. 43)
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conhecimento que o aluno já tem, ou, ao menos, deveria ter de acordo com o nível ao qual
está e aquele que precisa alcançar, apresentando, ao mesmo tempo, um papel de revisor do
conteúdo e de estimulador pela busca de novos saberes.
Além disso, conforme dito antes, o elaborador do material didático precisa prever o
que pode acontecer, pois, como o professor não estará presente no momento de seu uso, é
preciso “ter uma ideia das possíveis dúvidas do aluno” (LEFFA, 2008, p. 35). Nesse sentido,
ao produzir um material didático, o autor precisa ser criterioso com as informações que
apresenta e atencioso com as atividades que insere como forma de tentar evitar possíveis
brechas e dúvidas em torno de como as atividades devem ser realizadas e, ainda, mal
entendidos em relação ao conteúdo ensinado.
A última fase a ser analisada é a da avaliação, a qual aborda o fato de que o material
didático deve ser avaliado pela escola, pelo professor e pelo aluno, de modo a demonstrar se o
seu uso é/foi efetivo para o objetivo esperado. Essa fase pode ocorrer de duas formas:
informal e formal. A informal ocorre, em regra, quando envolve o trabalho de um único
professor, sendo este o responsável pela elaboração e implementação do material didático
(LEFFA, 2008, p. 38). Nessa avaliação, o próprio professor averigua os pontos positivos e
negativos do material em sua aplicação com os alunos e analisa se o material alcançou o
objetivo delimitado, para então, sendo necessário, reformulá-lo para ser usado novamente e
com diferentes grupos de alunos.
Na formal, por sua vez, o material é preparado por um grupo de professores para uso
próprio e/ou de outros colegas, assim como por editoras de materiais didáticos. Nessa
situação, a avaliação do material “pode ser feita por consultoria de um especialista ou por
questionários e entrevistas com os alunos” (LEFFA, 2008, p. 38).
Conclusão
Através desse trabalho, foi feita uma exposição sobre os materiais didáticos, as suas
conexões com o ensino de línguas e o seu processo de elabora. Desse modo, foi constatamos
que estudar o material didático, em especial o livro didático, possibilita que este seja
compreendido através de novas perspectivas e facetas. Ou seja, ao ampliar o nosso escopo de
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Referências
GRAY, J. The global coursebook in English language teaching. In: BLOCK, D.; CAMERON,
D. Globalization and language teaching. New York: Routledge, 2002. p. 151-167.
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SCHEYERL, D. Se o inglês está no mundo, onde está o mundo nos materiais didáticos de
inglês? In: SCHEYERL, D.; SIQUEIRA, S. (Orgs.) Materiais didáticos para o ensino de
línguas na contemporaneidade: contestações e proposições. Salvador: EDUFBA, 2012. p.
311-354.