Ebook Cancer de Pulmao Final
Ebook Cancer de Pulmao Final
Ebook Cancer de Pulmao Final
Realização:
Suellen Nastri Castro
William Nassib William Jr.
Antonio Carlos Buzaid
2021
1ª Edição
VENCER o câncer de pulmão e mesotelioma pleural (2021) | 1ª edição
Suellen Nastri Castro, William Nassib William Jr. e Antonio Carlos Buzaid.
ISBN 978-65-86538-05-2
Proibida a reprodução total ou parcial deste livro sem a permissão escrita dos editores.
Os autores e editores desta obra fizeram todo esforço para assegurar que as indicações dos fármacos, bem
como dos procedimentos apresentados no texto, estivessem de acordo com os padrões vigentes à época
da publicação. Em virtude dos constantes avanços da Medicina e de possíveis m.odificações regulamentares
referentes aos fármacos e procedimentos apresentados, recomendamos que o leitor consulte sempre outras
fontes fidedignas, de modo a se certificar de que as informações contidas neste livro estão corretas.
FICHA CATALOGRÁFICA
V449
Vencer o câncer de pulmão e mesotelioma pleural / Suellen Nastri Castro, William Nassib
William Jr. e Antonio Carlos Buzaid -- São Paulo:
Dendrix, 2021.
224p.
ISBN 978-65-86538-05-2
Aknar Calabrich
Oncologista
Médica Oncologista do Grupo de Oncologia Torácica na Clínica AMO (Assistência
Multidisciplinar em Oncologia).
Carlos E. Bacchi
Patologista
Diretor e Patologista Chefe do Laboratório Bacchi.
Christina Shiang
Patologista
Patologista Sênior do Laboratório Bacchi.
Desirré Filizzola
Paliativista
Médica do Núcleo de Suporte e Cuidados Paliativos da BP – A Beneficência Portuguesa de
São Paulo.
Gabriela Brito
Clínica Médica
Médica Residente em Oncologia Clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Pedro Genta
Pneumologista
Médico Pneumologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Robson Ferrigno
Radioterapeuta
Coordenador Médico dos Serviços de Radioterapia do Centro de Oncologia da BP – A
Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Thamara Kazantzis
Cirurgião
Cirurgião Torácico do Núcleo de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
capítulo 2
Nódulo pulmonar 36
O que é um nódulo pulmonar? 37
Achados incidentais de nódulos pulmonares: como interpretar? 38
Como calcular o risco de malignidade em um nódulo pulmonar solitário descoberto incidentalmente? 45
capítulo 3
Lesões pulmonares pré-malignas 48
O que são lesões pré-malignas pulmonares? 49
Como são diagnosticadas as lesões pré-malignas pulmonares? 49
As lesões pré-malignas pulmonares causam sintomas? 49
Quais são as principais lesões pré-malignas pulmonares? 50
O que mais está relacionado à DIPNECH? 56
Existe tratamento para lesões pré-malignas pulmonares? 57
capítulo 4
Rastreamento 58
O que é rastreamento? 59
Por que devemos fazer o rastreamento em câncer de pulmão? 59
Como é feito o rastreamento em câncer de pulmão? 59
Quais pacientes devem ser submetidos ao rastreamento em câncer de pulmão? 60
Como interpretar os achados no rastreamento? 61
capítulo 5
O câncer de pulmão 64
O que é câncer? 65
O que faz as células tumorais crescerem? 65
Em qual faixa etária o câncer de pulmão é mais comum? 66
O que são fatores de risco? 66
Quais os fatores de risco para câncer de pulmão? 66
Quais são os tipos de câncer de pulmão? 70
Como o câncer de pulmão se espalha pelo organismo? 71
Quais são os sintomas do câncer de pulmão localizado? 72
Quais são os sintomas do câncer de pulmão avançado? 73
capítulo 6
Tabagismo 74
O que é tabagismo ativo e passivo? 75
Como calcular o risco de câncer de pulmão associado ao tabagismo? 76
O quanto é benéfico cessar o fumo? 77
Quais as principais estratégias não medicamentosas para a cessação do tabagismo? 78
Quais medicamentos estão disponíveis para auxiliar na cessação do tabagismo? 79
capítulo 7
O diagnóstico 82
Qual a diferença entre a radiografia de tórax e a tomografia computadorizada de tórax? 83
Como deve ser feita a tomografia computadorizada de tórax? 84
Como fazer o diagnóstico de certeza? 85
Qual a importância na quantidade e qualidade do material da biópsia? 86
capítulo 8
A equipe multidisciplinar 88
O que é a equipe multidisciplinar? 89
A avaliação multidisciplinar faz diferença no tratamento e nos seus resultados? 89
Quem faz parte da equipe multidisciplinar? 90
Como deve ser a avaliação multidisciplinar? 90
Qual é o papel de cada membro da equipe multidisciplinar? 92
Qual é o papel dos enfermeiros navegadores no câncer de pulmão? 95
capítulo 9
A biópsia 96
O que é o exame anatomopatológico? 97
Quais são as informações mais importantes que devem estar descritas no exame
anatomopatológico do câncer de pulmão? 98
O que é imuno-histoquímica? 100
O que é a mutação de um gene? 101
O que é uma fusão de um gene? 102
Quais as mutações e fusões mais comuns em câncer de pulmão de células não pequenas? 103
Que exames podem ser realizados para detecção dessas mutações e fusões? 104
O que é PDL-1? 106
Porque é importante a avaliação do PDL-1? 106
O que é uma biópsia líquida? 107
Quando é feita a biópsia líquida em câncer de pulmão? 107
capítulo 10
O estadiamento 108
O que é estadiamento? 109
Quais são os estádios do câncer de pulmão? 109
Quais exames devem ser solicitados para o estadiamento? 112
Qual o papel e quando realizar o estadiamento invasivo do mediastino? 113
Quais são os métodos de realização do estadiamento invasivo do mediastino? 114
capítulo 11
Cirurgia 116
Quais são os princípios básicos da cirurgia para o câncer de pulmão? 117
Qual a quantidade de tecido pulmonar removido na cirurgia? 117
Quais são as modalidades cirúrgicas? 119
Qual a diferença entre cirurgia aberta, videotoracoscopia e cirurgia robótica? 120
Como e quando é feita a linfadenectomia mediastinal? 121
Quais são os cuidados no pós-operatório? 122
Quais as complicações mais comuns da cirurgia do pulmão? 124
capítulo 12
Avaliação pré-operatória 126
O que é a avaliação pré-operatória? 127
Como é feita a avaliação pré-operatória em pacientes candidatos à cirurgia pulmonar? 127
Como se realiza a avaliação da função pulmonar e qual a sua importância? 128
Como se interpreta a avaliação da função pulmonar? 129
Em que consiste a prova de função pulmonar com difusão de monóxido de
carbono (DLCO) e quando deve ser realizada? 129
Em que consiste a ergoespirometria e quando deve ser realizada? 130
O que é a reabilitação cardiopulmonar e quando deve ser indicada? 131
capítulo 13
Radioterapia 134
O que é radioterapia? 135
Como age a radioterapia? 135
O que é o planejamento da radioterapia? 136
Como são feitas as sessões de radioterapia? 137
Quais são os tipos de radioterapia externa? 138
Quais os tipos de radioterapia utilizados no câncer de pulmão? 139
Quando a radioterapia externa é utilizada no câncer de pulmão? 140
Quando a radioterapia estereotática é empregada no câncer de pulmão? 140
Em que situações a radioterapia é utilizada para câncer de pulmão metastático? 141
Em que situações a radioterapia estereotática é utilizada para pacientes com
câncer de pulmão metastático? 141
O que é e quando está indicada a radioterapia profilática do cérebro? 141
capítulo 14
Quimioterapia 144
O que é quimioterapia? 145
De onde vem a quimioterapia? 145
O que significa o termo quimioterapia adjuvante? 146
Por que a quimioterapia adjuvante é indicada em câncer de pulmão? 146
O que significa o termo quimioterapia neoadjuvante? 146
Quando a quimioterapia neoadjuvante é indicada? 147
O que significa quimioterapia paliativa? 147
Quais são os quimioterápicos mais utilizados no tratamento do câncer de pulmão? 148
Quais são os efeitos colaterais mais comuns dos quimioterápicos e como podem ser prevenidos? 148
capítulo 15
Imunoterapia 152
O que é imunoterapia? 153
Quais imunoterápicos são mais usados em câncer de pulmão? 153
Como funciona o ipilimumabe? 153
Como funcionam os anti-PD-1 e anti-PDL-1? 155
Em que situação está indicada a imunoterapia no câncer de pulmão? 156
Quais são os efeitos colaterais mais comuns da imunoterapia? 158
capítulo 16
Terapia-alvo 160
O que é um driver gene? 161
O que é tratamento dirigido contra alvos moleculares (terapia-alvo)? 162
Quais são os genes mais frequentemente alterados no câncer de pulmão? 162
Como diagnosticar esses genes alterados em câncer de pulmão? 162
Quais os medicamentos inibidores de EGFR? 163
Quais os medicamentos inibidores de ALK? 163
Quais os medicamentos inibidores de ROS1? 164
Quais os medicamentos inibidores de RET? 164
Quais os medicamentos inibidores de MET? 164
Quais os medicamentos inibidores de BRAF? 165
Quais os medicamentos inibidores de NTRK? 165
Quais os medicamentos inibidores de HER-2? 165
Quais os medicamentos inibidores de KRAS? 166
capítulo 17
Carcinoma de células pequenas de pulmão 168
O que são carcinomas de células pequenas de pulmão? 169
Quais são os fatores de risco para desenvolver carcinoma de células pequenas de pulmão? 169
Onde os carcinomas de células pequenas surgem? 169
Quais são os sintomas mais frequentes? 171
Quais exames são realizados quando se suspeita de carcinoma de células pequenas de pulmão? 171
Como os carcinomas de células pequenas são diagnosticados? 171
Como os carcinomas de células pequenas de pulmão são classificados? 172
Há necessidade de realização de testes complementares como testes genéticos no tumor? 172
Como se avalia a extensão de doença no carcinoma de células pequenas de pulmão (estadiamento)? 172
Quais os estádios do carcinoma de células pequenas de pulmão? 173
O que é doença limitada e como fazemos essa avaliação? 173
Em que consiste o tratamento da doença limitada? 174
Todos os pacientes com doença limitada podem realizar esse tratamento? 175
Quais os efeitos colaterais frequentes e que cuidados tenho que ter durante o tratamento? 176
É necessário algum tratamento preventivo para as recidivas cerebrais? 176
Após o término do tratamento, como é realizado o acompanhamento? 177
O que é a doença extensa e qual a sua importância? 178
Em que consiste o tratamento da doença extensa? 178
Todos os pacientes podem receber esse tratamento? 179
Quais pacientes com doença extensa devem receber radioterapia? 180
O carcinoma de pulmão de pequenas células responde bem ao tratamento? 180
Quais os efeitos colaterais do tratamento com quimioterapia e imunoterapia? 181
O que fazer se o tratamento falhar e o câncer progredir? 182
Existem novos tratamentos sendo investigados para o carcinoma de pulmão de
células pequenas? Se sim, quais os benefícios de participar desses estudos? 182
capítulo 18
Carcinoma de células não pequenas - doença localizada 184
O que é doença localizada? 185
Como é feito o tratamento no estádio clínico I? 185
Como é feito o tratamento no estádio clínico II? 186
Quais são os tratamentos no estádio clínico III? 187
Como são tratados pacientes em estádio III candidatos à cirurgia? 187
Quando é feito tratamento combinado de quimioterapia e radioterapia? 188
Quando se usa a imunoterapia no câncer de pulmão localmente avançado? 188
Existem casos de doença localizada tratada apenas de maneira sistêmica? 189
capítulo 19
Carcinoma de células não pequenas - doença localmente avançada inoperável 190
O que é a doença localmente avançada inoperável? 191
Existem diferentes tratamentos para a doença localmente avançada? 191
Existe um tratamento-padrão para a doença localmente avançada inoperável? 191
Como é feito o tratamento concomitante? 192
Existem contraindicações para o tratamento concomitante? 192
Quais os efeitos colaterais do tratamento concomitante? 193
Existe papel para a imunoterapia na doença localmente avançada inoperável? 193
Como é monitorada a eficácia do tratamento? 194
Em quais situações o tratamento da doença localizada é feito apenas de maneira sistêmica? 195
capítulo 20
Carcinoma de células não pequenas - doença metastática SEM driver genes 196
Qual é o objetivo do tratamento? 197
Quais os tratamentos disponíveis? 197
Como é escolhido o tratamento em primeira linha? 197
Como é escolhido o tratamento em linhas subsequentes à primeira? 198
Qual é o melhor tratamento em primeira linha para pacientes com alta expressão de PDL-1
(maior ou igual a 50%)? 198
Qual é o melhor tratamento em primeira linha para pacientes com baixa expressão de PDL-1
(menor que 50%)? 199
Qual a sequência de tratamento após a primeira linha? 200
capítulo 21
Carcinoma de células não pequenas - doença metastática COM driver geneS 202
Qual é o objetivo do tratamento? 203
Qual a importância dos driver genes? 203
Quais alterações devem ser avaliadas e qual sua frequência? 203
Qual o tratamento em primeira linha? 204
Quando é necessário rebiopsiar e por quê? 205
Qual o tratamento após falha da primeira linha? 206
capítulo 22
Cuidados de suporte 208
O que são cuidados de suporte? 209
Qual a importância dos cuidados de suporte? 210
Quando são indicados cuidados de suporte? 211
Quais são as principais estratégias não medicamentosas para controle de sintomas? 211
Quais são os principais medicamentos usados nos cuidados de suporte? 213
Como cuidar do cuidador e da família? 215
capítulo 23
Mesotelioma pleural 218
O que é o mesotelioma? 219
Quais os fatores de risco para o mesotelioma? 219
Quais os principais sintomas e como fazer o diagnóstico? 220
Qual o estadiamento do mesotelioma? 221
Qual o tratamento do mesotelioma? 222
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capítulo 1
Os pulmões
e a pleura
Laringe
Traqueia
Brônquio
Pleura
Lobo inferior
direto Lobo inferior
esquerdo
Diafragma
Internamente, os pulmões são repletos de vias aéreas, por onde passa o ar – entra
oxigênio e sai gás carbônico –, e de vasos sanguíneos (artérias e veias). As vias aéreas
se iniciam na boca e nariz, por onde respiramos e, então, conduzimos o ar pela
faringe, laringe e traqueia (uma estrutura do trato respiratório inferior, formada por
fortes cartilagens na sua parte da frente – anterior – e músculo na parte posterior).
A traqueia se divide numa bifurcação em forma de “Y” invertido em dois grandes
brônquios, chamados brônquios principais, e cada um desses brônquios segue para
um pulmão direito ou esquerdo. Cada brônquio repetidamente se subdivide em
brônquios menores – lobares, segmentares, subsegmentares, até que seu calibre
fica muito fino, microscópico, quando passamos a chamá-los de bronquíolos. Em
suas extremidades, os bronquíolos formam estruturas em formato de “sacos”, as
quais nomeamos alvéolos, semelhantes a pequeninos cachos de uva. Cada pulmão
possui cerca de 60 milhões de alvéolos e, se fosse possível abri-los, eles ocupariam
uma área equivalente ao tamanho de uma quadra de tênis. Nesses microscópicos
alvéolos é realizada a troca de gases – o ar inspirado leva oxigênio para dentro
dos pulmões; esse oxigênio é jogado na corrente sanguínea e levado para todo
o organismo; o ar expirado retira o gás carbônico da corrente sanguínea, sendo
exalado através da via aérea até ser eliminado pelo nariz e boca (Figura 2).
Em relação à parte sanguínea dos pulmões, cada um recebe uma artéria pulmonar
principal, a qual, assim com os brônquios principais, divide-se progressivamente até
formar os microscópicos vasos que irrigam os alvéolos pulmonares. Inversamente,
saem dos alvéolos microscópicas veias, que vão se unindo e se tornando cada
vez maiores e mais calibrosas. As artérias dos pulmões carregam sangue pouco
oxigenado, que provém do lado direito do coração. Já as veias, após a troca de
gases, retornam ao lado esquerdo do coração, com sangue rico em oxigênio, o qual
será distribuído pelo coração a todo o corpo (cérebro, órgãos abdominais, membros
e músculos).
Capilar sanguíneo
Alveolo pulmonar
Ar expirado
Ar inspirado
Bronquíolo
Veia pulmonar
Artéria pulmonar
Capilares sanguíneos
Alvéolos
O que é pleura?
Pleura é uma membrana dupla que recobre o pulmão e a caixa torácica, formada
por dois folhetos: a pleura visceral, que recobre o pulmão, e a pleural parietal, que
recobre a parte interna da parede do tórax (Figura 3).
Anatomia da pleura
As pleuras apresentam espessura mínima, são transparentes e aderidas à parede
torácica e ao pulmão. Entre as pleuras parietal e visceral temos a cavidade pleural,
com uma pequena quantidade de líquido, em torno de 10-20 mL, que funciona
como lubrificante, permitindo o deslizamento dos pulmões na caixa torácica, o que
facilita a respiração.
Cavidade pleural
Pleura visceral
Pleura
parietal
Pleura
visceral
A pleura serve para manter os pulmões abertos para as trocas gasosas. Isso
ocorre porque o líquido pleural, juntamente com uma pressão negativa
da cavidade pleural, mantém as pleuras parietal e visceral estabilizadas
e aderentes, evitando um colapso pulmonar e permitindo a entrada e
saída de ar. Além disso, é graças à presença do líquido pleural que os
pulmões conseguem deslizar suavemente sobre a caixa torácica durante
os movimentos da ventilação, prevenindo atritos que poderiam causar
alterações pleurais, tais como inflamações.
capítulo 2
Nódulo pulmonar
1. Nódulos sólidos – É o tipo mais comum, caracterizado por uma atenuação mais
homogênea e mais branca em relação ao pulmão (Figura 1a).
A B C
Diâmetro médio = 6 mm
FIGURA 5. Morfologia: Nódulo com aparência espiculada possuem maior associação com
nódulos malignos.
FIGURA 6. Fatores de risco para câncer de pulmão: presença de enfisema pulmonar (A) e
fibrose pulmonar (B).
A B
• Nódulos perifissurais: São definidos como nódulos sólidos em contato com uma
fissura ou com a superfície pleural e são considerados benignos, provavelmente
representando linfonodos intrapulmonares (Figuras 7A e 7B).
A B C
Típicos Atípicos Improvável
(Nódulo perifissural) (Provável nódulo perifissural) nódulos perifissural
• https://www.uptodate.com/contents/calculator-solitary-pulmonary-nodule-malignancy-risk-in-
adults-brock-university-cancer-prediction-equation.
Figura 10. Exemplo de preenchimento de calculadora online com dados de uma paciente
fictícia.
Para aqueles que preferem uma ferramenta de mais fácil acesso, é possível utilizar
o aplicativo Lung Nodule Manager, disponível para Iphone/IOS. Eis abaixo o
preenchimento com o mesmo exemplo da paciente acima, ilustrada na figura 10
(Figura 12).
capítulo 3
Lesões pulmonares
pré-malignas
Do ponto de vista histológico (ou seja, na análise microscópica das lesões pelo
patologista), as lesões pré-malignas não adquiriram todas as características de
um câncer. As células pré-malignas apresentam capacidade de duplicação e
crescimento acelerado, mas elas ainda respeitam a arquitetura normal do tecido
e não invadem o pulmão profundamente. Dessa forma, as lesões pré-malignas
não têm a capacidade de se espalhar para órgãos distantes (ou seja, originar
metástases), o que é uma das principais características do câncer.
Em geral, essas lesões são achadas incidentalmente (ou seja, “sem querer”) em
exames de imagem ou exames de broncoscopia.
Quando esse grupo de células fica exposto ao cigarro ocorrem várias modificações
progressivas que as fazem chegar até o estágio de se tornarem células muito
parecidas com escamas (como as de um peixe), quando a chamamos, então, de
metaplasia escamosa. Até então, essas alterações podem ser reversíveis, pois são
uma resposta ao dano causado pela fumaça do cigarro.
] Célula
colunar
estriada
Atipla
celular
Invasão da
membrana
]
Carcinoma in situ
basal
]
Carcinoma invasivo
de células escamosas
A B C
Este é um agregado
Normal de células
neuroendócrinas
Quando estas
proliferam
e invadem a
membrana basal,
porém medem
menos de 5 mm
são chamadas de
tumorlets
Se os agregados
celulares medem
5 mm ou mais,
demonstrando
crescimento
invasivo, são
chamados
de tumores
carcinoides
À medida que as CNEP se proliferam, ocorre a extensão para dentro dos brônquios
e, como consequência, obstrução direta. Porém o mecanismo mais importante
de obstrução da DIPNECH se dá através do desenvolvimento de um tecido fibroso
que circunda as vias aéreas, tornando-as estreitadas e tortuosas. Isso leva a uma
obstrução crônica das pequenas vias aéreas, a qual chamamos de bronquiolite
obliterante. É por esse motivo que vemos o padrão de atenuação em mosaico
na tomografia associado a múltiplos nódulos, indicando diversos distúrbios
ventilatórios distribuídos de maneira não homogênea nos pulmões (Figura 6).
FIGURA 6. Extensão das células neuroendócrinas do pulmão para dentro dos brônquios
com a formação de tecido fibroso circunjacente e a representação dos múltiplos nódulos
associados a padrão de mosaico na tomografia.
Além da interrupção dos fatores de risco, pessoas com lesões pré-malignas devem
ter acompanhamento médico, para que possam identificar o aparecimento de
câncer de maneira precoce, se ele ocorrer. Se e quando um câncer for identificado
durante o acompanhamento, o tratamento adequado deve ser instituído, conforme
discutido nos vários capítulos desse livro.
capítulo 4
Rastreamento
Capítulo 4 | Rastreamento 59
Portanto, de acordo com as evidências científicas atuais, o exame de escolha para
o rastreamento de câncer de pulmão é a TCBD, que deve ser realizada anualmente
na população de risco. Essa técnica é um dos pilares do programa de rastreamento
do câncer de pulmão, que conta ainda com uma equipe multidisciplinar, incluindo
o pneumologista para efetivar a cessação de tabagismo, formando outro pilar
do programa.
Capítulo 4 | Rastreamento 61
Tabela 1. Adaptação do Lung-RADS 1.1.
Prevalência
Risco de
Categoria Lung-RADS Recomendação estimada na
malignidade
população
Necessita imagens
adicionais da TC ou
Incompleto 0 n/a 1%
comparação com
exames anteriores
Negativo
(Nenhum nódulo ou nódulo 1
definidamente benigno)
Aparência ou Continuar
comportamento benigno rastreamento anual
(Nódulos com < 1% 90%
com TCBD em
probabilidade muito baixa 12 meses
2
de se tornarem um câncer
clinicamente ativo devido
ao seu tamanho ou falta
de crescimento)
Provavelmente benigno
(Nódulos com baixa
probabilidade de se 3 TCBD em 6 meses 1-2% 5%
tornarem um câncer
clinicamente ativo)
Suspeito
(achados para os quais
4A TCBD em 3 meses 5-15% 2%
são recomendados testes
ou PET-CT
diagnósticos adicionais)
Capítulo 4 | Rastreamento 63
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capítulo 5
O câncer
de pulmão
Célula tumoral
Alteração
do DNA
Câncer
Célula normal
Tabagismo
O tabagismo é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento do câncer
de pulmão. Aproximadamente 85% a 90% dos casos de câncer de pulmão são
ocasionados pelo cigarro, em pessoas que fumam ou já fumaram. O risco de câncer
de pulmão aumenta tanto com o número de cigarros fumados por dia quanto com
a duração do tabagismo, ou seja, o tempo pelo qual a pessoa se manteve tabagista.
Além disso, outros fatores podem influenciar a probabilidade de desenvolver
câncer de pulmão em fumantes, como a idade em que se iniciou o tabagismo, o
teor de alcatrão e de nicotina nos cigarros e o uso de cigarros sem filtro. O risco
cumulativo de câncer de pulmão entre fumantes pesados pode chegar a mais de
30%, em comparação a menos de 1% em pessoas que nunca fumaram. A cessação
do tabagismo reduz o risco de câncer de pulmão ao longo da vida. Após 15 anos de
abstinência, o risco de câncer de pulmão cai 80% a 90%.
Maconha e cocaína
Usuários dessas substâncias parecem ter um risco aumentado de desenvolver
câncer de pulmão, embora a magnitude desse risco ainda não tenha sido bem
quantificada.
Cigarros eletrônicos
O efeito dos cigarros eletrônicos na incidência de câncer de pulmão não é bem
estabelecido devido à alta frequência de fumantes de cigarros eletrônicos que
também fumam cigarros regulares, o que dificulta avaliar se o câncer foi ocasionado
pelo cigarro regular ou pelo cigarro eletrônico.
Tabagismo passivo
É a inalação da fumaça do cigarro por pessoas não fumantes. Existe uma relação
entre a intensidade de exposição à fumaça do cigarro e o risco relativo de câncer de
pulmão. Nesses casos, a exposição à fumaça do cigarro pode começar mais cedo na
vida do indivíduo em relação ao tabagismo ativo, e com isso a exposição a agentes
cancerígenos ocorrerá por um período maior ao longo da vida. O tabagismo passivo
é, portanto, um importante fator de risco no desenvolvimento do câncer de pulmão,
embora menor quando comparado ao tabagismo ativo.
Asbesto ou amianto
O asbesto, também chamado de amianto, é um mineral natural formado por silicato
de magnésio, extraído das minas, que pode se transformar em um tipo de fibra
utilizado em construções devido a suas características. Esse material é encontrado
em caldeiras, tubulações, ladrilhos sintéticos, massa de janelas, materiais de
telhado, fibras de cimento, isolamento acústico ou térmico, lonas e pastilhas de
freios, revestimentos de embreagem, na indústria petrolífera, têxtil, de papel e
papelão, entre outros. A inalação prolongada de fibras de amianto pode provocar
doenças graves, incluindo o câncer de pulmão, motivo pelo qual seu uso foi proibido
Radônio
O radônio é um gás incolor e inodoro gerado pela decomposição do rádio radioativo,
produzido pelo decaimento do urânio encontrado na crosta terrestre. Os níveis
de gás radônio variam de acordo com a localidade e com a composição do solo
e das rochas. Produtos radioativos liberados pelo decaimento do urânio ionizam
o material genético e causam mutações nas células do pulmão, podendo levar à
formação de câncer. A exposição ao radônio é a segunda maior causa de câncer de
pulmão na população geral, após o tabagismo.
Fatores genéticos
Algumas síndromes genéticas hereditárias (quando existe uma mutação na
célula embrionária que pode ser transmitida por gerações) apresentam um risco
aumentado de desenvolvimento de câncer de pulmão. Portanto, indivíduos com
parentes de primeiro grau com antecedente de câncer de pulmão ou múltiplos
familiares afetados devem ser avaliados para verificar tais alterações genéticas.
Portadores de uma mutação chamada TP53, que caracteriza a síndrome de
Li-Fraumini, por exemplo, têm um claro aumento de risco de câncer de pulmão,
assim como de outros cânceres.
• Carcinoma escamoso:
Figura 2. Processo de disseminação das células tumorais para outros órgãos (metástase).
As células crescem
Tornam-se invasivas
e invadem a
e entram no capilar
membrana basal
Epitélio normal
Lâmina
basal
Viajam através da
Capilar corrente sanguínea
(menos de 1 em
1000 células
sobreviverão para
formar metástases)
Tosse
A tosse está presente ao diagnóstico em mais da metade dos pacientes com câncer
de pulmão e ocorre frequentemente em tumores que envolvem as vias aéreas,
pois nessa localização o tumor atua como um fator irritativo, causando tosse
geralmente seca.
Hemoptise
Hemoptise é a eliminação de sangue através da tosse, podendo ser classificada
como leve, moderada e maciça, dependendo da quantidade de sangue eliminado.
O volume de sangue irá determinar a gravidade desse sintoma.
Falta de ar
Também é um sintoma frequentemente encontrado em pacientes ao diagnóstico
de câncer de pulmão, podendo acontecer sobretudo pela obstrução das vias aéreas,
atelectasia (colapso total ou parcial do lobo pulmonar) e, eventualmente, derrame
pleural (acúmulo de líquido na pleura – as membranas que envolvem o pulmão).
Rouquidão
A perda ou alteração da voz pelo acometimento do nervo laríngeo recorrente no
câncer de pulmão, cujo trajeto vai desde a laringe (onde estão as pregas vocais,
responsáveis pela voz) até o arco da aorta. Se o tumor estiver próximo ao seu trajeto,
ele comprime o nervo e a prega vocal, paralisando o lado acometido pela doença.
Quando a prega vocal está paralisada, ela fica o tempo todo aberta, resultando em
rouquidão.
capítulo 6
Tabagismo
Acroleína Toluidina
Acetona Amoníaco
Naftalina Uretano
Metanol Tolueno
Pireno Arsênico
Dietilnitrosamina Dibenzacridina
Formol Fenol
Nicotina Butano
Cádmio Polônio
Benzopireno DDT
Níquel Alcatrão
Mercúrio Chumbo
Capítulo 6 | Tabagismo 75
O tabagismo é a principal causa evitável de adoecimento e morte precoce no mundo,
relacionando-se a inúmeras condições, como câncer, doença pulmonar obstrutiva
crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica), doença arterial coronariana
(angina e infarto cardíaco), acidente vascular cerebral (AVC, também conhecido
como “derrame”), infecções respiratórias (pneumonias), tuberculose, úlceras
gastrintestinais, osteoporose, infertilidade e impotência sexual. Entre suas diversas
consequências, destaca-se o risco de desenvolvimento de câncer. Estima-se que
o tabagismo esteja associado a um terço de todos os cânceres diagnosticados,
incluindo pulmão, boca, bexiga, pâncreas, fígado, esôfago, colo do útero, estômago
e intestino.
O tabagista passivo não é fumante, mas convive com fumantes e por isso inala a
mesma fumaça tóxica. Todas essas substâncias acima citadas propagam-se pelo
ambiente em altíssimas concentrações. Apesar das tentativas de quantificação dos
componentes da fumaça nos ambientes, não há nível de exposição que seja seguro.
Portanto, a melhor forma de proteger os não fumantes é proibir o tabagismo em
ambientes fechados, como já é determinado por várias leis federais.
Capítulo 6 | Tabagismo 77
FIGURA 2. Benefícios da cessação do tabagismo ao longo do tempo.
Capítulo 6 | Tabagismo 79
TABELA 1. Teste de Fagerström.
- Qualquer um - 0 ponto
3. Qual o cigarro seria mais difícil de abandonar?
- O primeiro da manhã - 1 ponto
- Menos/igual a 10 - 0 ponto
4. Quantos cigarros você fuma habitualmente - Entre 11 e 20 - 1 ponto
por dia? - Entre 21 e 30 - 2 pontos
- Mais que 31 - 3 pontos
É importante salientar que o tratamento para parar de fumar deve ser prescrito
por equipe especializada e ser personalizado, dependendo das características do
paciente e de sua dependência.
Capítulo 6 | Tabagismo 81
[retornar ao índice]
capítulo 7
O diagnóstico
Capítulo 7 | O diagnóstico 83
FIGURA 2. Corte axial da tomografia de tórax de alta resolução em janela pulmonar,
destacando as estruturas do parênquima como brônquios, artérias e veias, e permitindo
a distinção de estruturas milimétricas.
Em alguns casos, o meio de contraste pode ser aplicado por via intravenosa, para
ajudar no estudo de estruturas vasculares e complementa o exame na pesquisa de
algumas doenças pulmonares e do sistema circulatório.
Nos casos em que existe alta suspeita para a presença de câncer (Figura 3), torna-se
necessário prosseguir a investigação com biópsia, pois somente uma amostra da
lesão poderá dar o diagnóstico definitivo.
Capítulo 7 | O diagnóstico 85
Qual a importância na quantidade e qualidade do material
da biópsia?
A obtenção desse material pode ser feita por técnicas invasivas ou minimante
invasivas, sendo que a quantidade e qualidade do material irá variar dependendo
da técnica empregada.
Uma vez acessada a lesão suspeita, uma amostra do tumor pode ser obtida por
punção aspirativa ou biópsia de fragmento, ambas sendo suficientes para o
diagnóstico. No entanto, as biópsias de fragmentos geram amostras que preservam
a estrutura tumoral e provêm maior quantidade de material quando comparadas
às punções por agulha fina.
Na biópsia percutânea (Figura 5), a lesão suspeita é acessada por uma punção guiada
por imagem (em geral tomografia). O paciente recebe sedação e/ou anestesia
local, e uma agulha é introduzida pela pele do paciente. O trajeto da agulha é
acompanhado pelo exame de imagem até que ela atinja a lesão, quando então uma
amostra é retirada para envio ao laboratório de patologia.
Broncoscópio
Agulha de biópsia
Agulha de
biópsia Agulha de
biópsia
Câncer
Capítulo 7 | O diagnóstico 87
[retornar ao índice]
capítulo 8
A equipe
multidisciplinar
A avaliação multidisciplinar tem se tornado uma prática cada vez mais comum nos
centros de tratamento oncológico. Isso, porque inúmeros são os possíveis benefícios
derivados dessas atividades, seja para o paciente, seja para os profissionais
envolvidos. Dados de estudos clínicos sugerem um menor tempo para o diagnóstico
e início do tratamento. Presume-se, inclusive, o aumento de sobrevida dos pacientes
quando submetidos ao tratamento por um time multidisciplinar. Além disso, o
alinhamento com diretrizes e protocolos estabelecidos por sociedades médicas e
a inclusão de um maior número de pacientes em protocolos de pesquisa clínica
parecem ocorrer mais frequentemente em centros oncológicos com reuniões
multidisciplinares.
Seleção
de casos
RMD
Discussão
clínica, imagens
e patologia
Pneumologista
Atua desde o rastreamento, diagnóstico, decisão sobre as modalidades de
tratamento até a decisão compartilhada de cuidados paliativos. Além disso,
também faz parte das suas atribuições a implementação de medidas para apoio à
cessação do tabagismo.
Oncologista
Tem papel principal na indicação e escolha do tratamento. Com os avanços no
desenvolvimento de novas drogas, usualmente é o oncologista quem indica a
pesquisa de marcadores moleculares que predizem resposta a novos tratamentos,
seja quimioterapia convencional, imunoterapia ou terapia-alvo orais. A escolha do
tratamento deve considerar o controle de sintomas, aumento de sobrevida, perfil
de efeitos colaterais/toxicidades, custo × benefício. Quando o paciente progride às
terapias empregadas, também é papel do oncologista definir a maior atuação do
time de cuidados de suporte.
Cirurgião torácico
É o profissional responsável por identificar e selecionar os pacientes candidatos
ao diagnóstico ou tratamento cirúrgico. É o cirurgião quem também inicia em
conjunto com demais especialistas a avaliação dos riscos de cada procedimento e
elegibilidade dos pacientes.
Radioterapeuta
Auxilia na identificação das características do paciente e da doença para então
selecionar a melhora técnica de radioterapia a ser empregada em cada caso.
Nos pacientes que não têm indicação ao tratamento cirúrgico, é imprescindível a
avaliação do radioterapeuta para a oferta de um tratamento definitivo com intuito
curativo, seja ele concomitante ou não à quimioterapia.
Patologista
É o profissional que contribui para o diagnóstico histopatológico da doença,
bem como para a identificação de alterações moleculares específicas que são
determinantes na escolha do tratamento mais adequado a cada caso.
Enfermeiro(a) oncológico
É o principal elo entre o paciente e o restante da equipe. É quem defende as
necessidade e demandas do paciente e facilita o acesso aos serviços de saúde.
Psicólogo
tem seu papel centrado na criação de vínculos e identificação de preocupações
relacionadas ao tratamento ou processo de adoecimento. Para isso, é muito
importante que tenham uma comunicação tão ou mais efetiva que os demais
membros da equipe.
Nutricionista
Avalia e trata distúrbios de desnutrição, frequentemente presentes nos pacientes
com câncer (por exemplo, perda de peso em decorrência do tumor).
Fisioterapeuta
Auxilia na reabilitação muscular e pulmonar (ou preservação dessas funções),
especialmente em pacientes que foram submetidos à cirurgia, ou pacientes
ambulatoriais ou internados que passam por tratamento debilitante.
Paciente
Apresenta sintomas
Multidisciplinar
Médico de
Equipe recebe diagnóstico
molecular e determina cuidados Cirurgião
plano de atendimento primários Intervencionista
Cirurgião Radiologista
Intervencionista Pneumologista
Patologista Coletar biópsia de tecido
Radiologista
Pneumologista
Oncologista
Patologista
Executa teste
molecular usando
sequenciamento de Patologista
nova geração Realiza análise histológica e
faz o diagnóstico do câncer
Oncologista de pulmão
Solicita imagens adicionais,
avaliação de driver genes e
expressão de PDL-1*
Vigilância
oncológica
Tratamento Rastreamento
dos efeitos rotineiro do
colaterais câncer
Toxicidade
Imunizações
financeira
Suporte Cessação de
psicológica tabagismo
Manejo
da saúde não Estilo de vida
relacionada saudável
ao câncer
capítulo 9
A biópsia
Christina Shiang
Carlos E. Bacchi
a b c
d e f
Capítulo 9 | A biópsia 97
Quais são as informações mais importantes que devem
estar descritas no exame anatomopatológico do câncer
de pulmão?
Existem vários tipos de carcinoma de pulmão. Para fins práticos terapêuticos, são
divididos em dois grupos: carcinoma de pequenas células e carcinoma de células
não pequenas.
Capítulo 9 | A biópsia 99
Na avaliação do comprometimento dos gânglios linfáticos ou linfonodos, dado
importante para o estadiamento, é necessário constatar a quantidade de linfonodos
que contêm células malignas, especificar a localização desses linfonodos (cadeia
linfonodal) e verificar se há ou não extravasamento dessas células para fora da
cápsula do linfonodo com infiltração de tecidos adjacentes.
O que é imuno-histoquímica?
Para entender esta questão, vamos rever alguns conceitos básicos de biologia. O
núcleo das células humanas contém 46 cromossomos organizados em 23 pares
(1 par de cromossomos sexual – XX nas mulheres e XY nos homens – e 22 pares
não sexuais ou autossomos). Cada cromossomo é composto de uma longa cadeia
de DNA (ácido desoxirribonucleico). O DNA é uma molécula que carrega toda a
informação genética de cada ser vivo, necessária para a síntese de proteínas e
para sua própria regulação. Tem uma complexa estrutura composta de substâncias
químicas interligadas criando uma forma parecida com uma escada em espiral,
chamada de dupla hélice. Cada uma das duas hélices ou fitas tem a parede formada
por fosfatos e açúcares e elas estão ligadas pelos degraus compostos de um par
de bases nitrogenadas, com uma base para cada fita. As bases são identificadas
pelas letras A, T, C e G, e as diferentes sequências e combinações compõem o
código genético.
Célula
Núcleo
Cromossomo
Braço
Centrômero
DNA
Gene
Braço
Fusão de gene é um gene novo formado pela união de dois genes diferentes. É
uma classe distinta de alteração gênica que pode ser um evento-chave na iniciação
e progressão de vários cânceres. Esses novos genes (genes de fusão) podem se
originar de diversos tipos de quebras e rearranjos do cromossomo, por exemplo:
• Fusão do gene ALK. O gene ALK (do inglês anaplastic lymphoma kinase) está
localizado no cromossomo 2 e codifica a proteína ALK. Essa proteína também
pertence à família de receptor tirosina quinase. O rearranjo do gene ALK ocorre
em 3 a 5% dos carcinomas de células não pequenas, em geral, em indivíduos
jovens e não fumantes ou fumantes leves. O rearranjo mais comum do gene
ALK ocorre por mecanismo de inversão com outro gene presente no mesmo
cromossomo 2 chamado EML4, resultando no gene de fusão EML4-ALK. A
quebra dentro do gene EML4 pode ocorrer em diferentes pontos, o que resulta
em diferentes genes de fusão EML4-ALK, que são chamados de variantes. A
proteína produzida do gene de fusão ALK promove sobrevivência e crescimento
tumoral.
p23 ALK
p21 EML4
ALK EML4
Normal
Inv(2)(p21p23)
EML4-ALK
gene de fusion
ALK-EML4
ALK-EML4
O PDL-1 (do inglês Programmed Cell Death Ligand 1) é uma proteína presente na
superfície de células normais ou cancerosas. Essa proteína se encaixa em outra
proteína (PD-1, do inglês Programmed Cell Death 1) que é encontrada nas células T
do sistema imune. Quando ocorre a ligação entre PDL-1 e PD-1, a célula imune
entende que não pode atacar a outra célula, inclusive cancerosa. O PDL-1, portanto,
é uma proteína que permite às células cancerosas escapar do sistema imune (ver
capítulo 15, Imunoterapia, para mais detalhes).
Alguns cânceres podem apresentar células com alta quantidade de PDL-1 na sua
superfície. Isso impede as células imunes de atacá-las, promovendo o crescimento
tumoral. Algumas drogas anti-PD-1 e anti-PDL-1 foram desenvolvidas para bloquear
a ligação do PD-1 com o PDL-1 com o objetivo de deixar as células cancerosas
suscetíveis à ação do sistema imunológico.
O grau de expressão do PDL-1 nas células cancerosas pode ser avaliado por exame
imuno-histoquímico. Esse teste serve para tentar identificar quais indivíduos
se beneficiariam mais do uso dessas drogas. O resultado do teste é considerado
positivo se mais de 1% das células tumorais apresentam expressão do marcador
na sua membrana. Trata-se de uma forte expressão se 50% ou mais das células são
positivas; e de baixa expressão se entre 1% e 49% das células tumorais são positivas.
Acredita-se que aqueles com forte expressão tendem a responder melhor ao uso
dos inibidores de PD-1/PDL-1.
Biópsia líquida é um exame que usa uma amostra de sangue para detectar células
cancerosas que estejam circulando na corrente sanguínea ou pedaços de DNA
dessas células.
É um teste simples, não invasivo, e por isso tem grande apelo, pois bastaria uma
coleta de sangue para obter material capaz de identificar células cancerosas ou
fragmentos de seu DNA. No entanto, ainda é uma tecnologia em desenvolvimento
com potencial no futuro de revolucionar nossa maneira de diagnosticar os cânceres.
No momento, esse tipo de biópsia apresenta muitas limitações e não pode substituir
totalmente a análise do tecido obtido por biópsia por agulha ou cirurgia. Uma das
principais limitações é sua menor sensibilidade, uma vez que depende da presença
de grande volume tumoral. O teste é mais eficiente quando há doença extensa,
com vários órgãos acometidos, porque isso aumenta a chance de haver células
cancerosas ou fragmentos de seu DNA circulando no sangue.
capítulo 10
O estadiamento
Estádio Características
Tumor IA
Tumor IB
Tumor ≤ 4 cm e
linfonodo hilar
comprometido
(em azul)
Linfonodo hilar
comprometido
Tumor
Tumor entre 4 e 7 cm
e linfonodos não
comprometidos
(em verde)
Tumor
Linfonodo mediastinal
comprometido
Linfonodo mediastinal
comprometido do mesmo
lado do tumor (T1 a T3)
(em azul)
Tumor
Cérebro
Pulmão
Fígado
Glândula adrenal
Nos pacientes com câncer de pulmão sem metástase para outros órgãos, o
principal fator determinante do tipo de tratamento e prognóstico é a ausência
ou presença de envolvimento de linfonodos pela doença. A investigação desse
envolvimento é uma das principais etapas do estadiamento do câncer de pulmão
e deve ser feita de forma precisa através de exames de imagem (tomografia
computadorizada e PET-CT) e, muitas vezes, com biópsias dos linfonodos. Todos
nós temos linfonodos espalhados em diversos locais do organismo. Os grupos de
linfonodos que têm relevância no câncer de pulmão são aqueles localizados no
interior no pulmão (linfonodos hilares) e em uma região dentro do tórax externa ao
pulmão chamada mediastino (linfonodos mediastinais). Ter certeza se os linfonodos
mediastinais estão comprometidos pelo câncer de pulmão é o objetivo principal
do estadiamento do mediastino. No entanto, em algumas situações, os exames de
imagem não são suficientes para definir essa certeza e, então, é necessário realizar
biópsias desses linfonodos. Esse processo se chama “estadiamento invasivo do
mediastino”. É importante ressaltar que, quando indicado, o estadiamento invasivo
do mediastino deve ser realizado antes da definição do tratamento, pois pode
modificá-lo radicalmente.
Ecobroncoscopia (EBUS)
A ecobroncoscopia é um método não cirúrgico endoscópico no qual um aparelho
com um pequeno probe de ultrassom na ponta é introduzido por via oral ou nasal
e, em seguida, ele é inserido na traqueia e brônquios, e eventualmente, no esôfago
também (Figura 5). A imagem ultrassonográfica permite a visualização e realização
de biópsia dos linfonodos mediastinais com uma agulha fina específica. A grande
vantagem desse método é o fato de ser pouco invasivo e apresentar menor risco
de complicações. A desvantagem é que sua disponibilidade ainda é restrita a alguns
serviços no Brasil e a acurácia do resultado depende bastante da experiência do
operador do exame. Atualmente, se disponível, deve ser o primeiro método de
escolha para estadiamento invasivo do mediastino.
Mediastinoscopia
A mediastinoscopia é um método cirúrgico realizado sob anestesia geral no qual é
feita uma pequena incisão de 3 cm na região cervical e pela qual é introduzido um
equipamento chamado mediastinoscópio (Figura 6). Esse equipamento permite a
visualização direta dos linfonodos mediastinais e a coleta deles para biópsias. É um
método seguro com baixa taxa de complicações, sendo atualmente mais disponível
que o EBUS no Brasil.
capítulo 11
Cirurgia
Nos tumores muito pequenos e iniciais (até 1 cm no maior diâmetro), pode ser
realizada a chamada “ressecção em cunha”, em que se retira apenas o tumor com
margens adequadas, mas sem dissecção das estruturas brônquicas ou vasculares
do pulmão. Esse tipo de cirurgia só deve ser realizado em tumores periféricos
(localizados no terço externo do pulmão).
Em pacientes com tumores maiores que 1 cm e menores que 2 cm no maior eixo, pode
ser realizada uma ressecção menor que a lobectomia, chamada segmentectomia.
Esta difere da ressecção em cunha por ser considerada uma cirurgia em que os vasos
Nos tumores maiores do que 2cm e naqueles ditos centrais, ou seja, próximos dos
brônquios de maior calibre, pode ser necessária a retirada de porções maiores
do que um lobo pulmonar. Assim, dois lobos pulmonares (do lado direito, que
possui três lobos), ou mesmo de um pulmão inteiro (pneumonectomia) podem ser
excisados no tratamento do câncer de pulmão. A Figura 1 mostra a extensão dos
diversos tipos de cirurgia para câncer de pulmão.
Lobectomia Pneumonectomia
Toracotomia Videotoracoscopia
Toracotomia
Braçadeira Grampeador
Câmera
Cirurgia robótica
A grande maioria das cirurgias pulmonares são realizadas com o paciente sob
anestesia geral, deitado sobre o lado normal, e com o pulmão a ser operado voltado
para cima. Isso significa que o cirurgião chega ao pulmão pelo espaço entre as
costelas do mesmo lado do tumor. Em situações muito raras, o acesso pode ser feito
pela parte anterior do tórax, como acontece nas cirurgias cardíacas (esternotomia).
A cirurgia minimamente invasiva prevê que sejam feitos cortes pequenos (até 8
cm, mas habitualmente menores que isso), sem o afastamento das costelas, e
com o uso de instrumentos desenhados especificamente para os procedimentos
minimamente invasivos. Isso reduz significativamente o trauma cirúrgico sobre
a parede torácica, bem como as dores pós-operatórias. Através dos cortes, são
inseridos tubos rígidos (trocartes) no espaço entre as costelas, com diâmetros
que variam entre 5 mm e 12 mm. Esses trocartes servem como porta de entrada
para colocação de instrumental específico para a cirurgia minimamente invasiva.
A visualização das estruturas a serem operadas faz-se através de uma câmera de
vídeo com diâmetros que variam de 5 mm a 10 mm.
É preciso saber que toda cirurgia que começa por via minimamente invasiva
pode ser convertida para cirurgia aberta a depender do grau de dificuldade do
procedimento, ou mesmo pela ocorrência de acidentes durante a cirurgia, por
exemplo, sangramentos. Felizmente, estas situações são bastante raras.
A imensa maioria dos pacientes recebe alta hospitalar 3 ou 4 dias após a cirurgia.
Nesse momento, devem receber orientações para que se mantenham ativos,
evitem ficar muito tempo deitados ou sentados, mantenham alimentação saudável
e retomem o uso de medicamentos para o tratamento de doenças prévias à
cirurgia (hipertensão, diabetes etc.). Em geral, medicamentos para controle de dor
e prevenção de trombose são ainda mantidos por um tempo após a alta hospitalar.
Infecções dos cortes cirúrgicos (incisões) podem ocorrer, mas também são raras,
exceto nos casos em que são necessários cortes grandes em pacientes já infectados
no pré-operatório (casos em que a cirurgia serve para tratar o tumor e a infecção).
capítulo 12
Avaliação
pré-operatória
A avaliação se inicia com uma boa história clínica e exame físico, como em qualquer
outra consulta.
Existe uma faixa de normalidade para cada parâmetro avaliado pelo teste, sendo
considerados normais valores acima de 80% do previsto para indivíduos do mesmo
sexo, idade e altura.
Recomenda-se que o exame seja feito antes e depois da inalação de uma medicação
broncodilatadora (popularmente conhecida como “bombinha”), usada para
abrir as vias aéreas. Os resultados da espirometria antes e depois da medicação
broncodilatadora são considerados na avaliação pré-operatória.
Quando o valor do VEF1 ppo apresentam-se abaixo de 60%, o paciente deve ser
submetido a uma avaliação mais criteriosa, incluindo-se a prova de função pulmonar
com difusão de monóxido de carbono (DLCO).
A prova de função pulmonar com DLCO nada mais é que a própria espirometria
acoplada a um método capaz de medir a troca de gás pelos pulmões. Essa prova
mede a quantidade de monóxido de carbono (CO) no ar inspirado durante o exame
que pode atravessar os alvéolos pulmonares e chegar aos glóbulos vermelhos do
sangue (veja o capítulo 1, Os pulmões e a pleura).
Quando os valores do DLCO ppo são menores que 60%, o paciente deve ser
submetido a outras modalidades de exames, tal como o teste de exercício
cardiopulmonar (TECP), também conhecido por ergoespirometria.
ThRCRI
História cardiológica
Pneumonectomia = 1,5
DAC = 1,5
AVC = 1,5
Creatinina > 2 mg / dL + 1,0
ThRCRI < 2 ThRCRI ≥ 2
TECP máx
*Legendas: ThRCRI – índice de risco cardíaco revisado; DAC – doença arterial coronariana; AVC – acidente
vascular cerebral; VEF1 – volume expiratório forçado no primeiro segundo; DCO – difusão do monóxido de
carbono; ppo – previsto para o pós-operatório; TECP – teste de exercício cardiopulmonar; VO2 – consumo
pulmonar de O2; VE/VCO2 – relação entre ventilação por minuto e liberação pulmonar de dióxido de carbono.
capítulo 13
Radioterapia
Existem dois tipos básicos de radioterapia, de acordo com a distância entre a fonte
que emite a radiação e a parte do organismo a ser tratada:
e
Ação
P*
direta
O número de sessões varia de acordo com a área a ser tratada, o tipo do tumor e o
objetivo do tratamento. O número de sessões varia de 1 a 39, em dias consecutivos
ou alternados, geralmente entre segunda e sexta-feira. No caso da radioterapia
externa, o técnico da radioterapia controla a máquina que faz as aplicações,
seguindo as especificações do planejamento feito anteriormente (Figura 2).
As sessões são feitas com hora marcada, e não existe restrição às atividades
habituais do paciente. É um tratamento realizado sem a necessidade de incisões
cirúrgicas ou acesso venoso, e o paciente sai da aplicação sem efeitos colaterais
imediatos, podendo retomar suas atividades logo a seguir.
capítulo 14
Quimioterapia
O termo quimioterapia foi originalmente usado pelo cientista alemão Paul Ehrlich,
em 1907, na busca pela cura da sífilis, uma doença infecciosa muito comum na época.
Mais tarde, em 1917, na Primeira Guerra Mundial, e durante uma operação militar
na Segunda Guerra Mundial, algumas pessoas foram expostas acidentalmente ao
gás mostarda, e posteriormente descobriu-se que elas tiveram uma diminuição da
contagem de glóbulos brancos (leucócitos) do sangue. Foi então deduzido que um
agente capaz de afetar a multiplicação de leucócitos poderia ter um efeito similar
no câncer.
Estudos mostraram que pacientes com câncer de pulmão nos quais o exame
anatomopatológico, realizado após a cirurgia, tenha mostrado um tumor de 4 cm
ou mais e aqueles com linfonodos locais acometidos apresentaram tempo mais
longo sem recidiva do tumor e maior sobrevida quando tratados com quimioterapia
adjuvante, em comparação com aqueles que foram somente observados após a
cirurgia. A taxa de sobrevida em 5 anos após a cirurgia é inferior a 50%. Com a
quimioterapia adjuvante, após 5 anos, 69 pacientes em cada 100 estavam vivos.
Então, a quimioterapia adjuvante é indicada para reduzir o risco de recidiva e
aumentar as chances de cura.
Náuseas e vômitos
Podem acontecer com praticamente todas as medicações utilizadas no tratamento
do câncer de pulmão, com maior intensidade quando carboplatina e cisplatina
estão envolvidas no tratamento. Atualmente, no entanto, com o uso de diferentes
medicações anti-eméticas aplicadas antes da quimioterapia, conseguem-se evitar
náuseas e vômitos mais intensos em até 90% dos casos. Além disso, o médico pode
receitar medicações para o paciente tomar em casa e utilizar no caso de persistência
de sintomas. Algumas adequações durante o cotidiano também podem trazer alívio
dos sintomas. Entre elas estão a realização de refeições menos volumosas e em
menor intervalo de tempo (comer de 3 em 3 horas, por exemplo), evitar ingerir
líquidos durante as refeições, dar preferência a alimentos secos (bolachas, pães)
e evitar ingestão de alimentos muito processados (pré-prontos, fritos, embutidos)
durante o período de tratamento.
Perda de apetite
O apetite do paciente em quimioterapia pode diminuir, tanto como consequência
do tratamento como da doença. Sensação de boca seca, náusea e cansaço podem
Fraqueza (astenia)
Comum a quase todos os tratamentos quimioterápicos, pode causar bastante
angústia, por poder ser confundida com piora da doença de base. Deve-se
sempre lembrar que a perda de apetite, anemia e outras alterações causadas
pela quimioterapia podem acabar piorando a fraqueza. Da mesma forma que
para outras possíveis complicações, manter dieta e ingestão de água em volumes
Alopecia
A queda de cabelo pode acontecer nos pacientes em quimioterapia. Paclitaxel
e docetaxel são as medicações que mais comumente causam esta alteração,
que costuma acontecer cerca de 20 dias após o início do tratamento. O cabelo
geralmente volta a crescer cerca de 3-4 meses após o tratamento. O uso de tocas
térmicas pode reduzir de modo significativo a alopecia.
Anemia
Da mesma forma que os leucócitos, a contagem de glóbulos vermelhos (as hemácias)
também pode ser reduzida durante a quimioterapia, levando ao quadro de anemia.
Como sintomas, o paciente pode apresentar cansaço, falta de ar e palidez. Deve-se
tomar cuidado para não confundir esses sintomas com os da progressão da doença
ou de outras complicações. É muito importante manter ingestão de água e de
alimentos adequada para que não haja deficiência nutricional que possa piorar a
anemia (por exemplo, de ferro ou de vitaminas importantes para a formação do
sangue).
capítulo 15
Imunoterapia
antígeno
TCR
MHC CD28
A
B7
CTLA-4 Linfócito T
Célula
apresentadora
de antígeno
antígeno
TCR
MHC
CD28
B Célula
apresentadora Linfócito T
CTLA-4
de antígeno
B7
antígeno
TCR
MHC
CD28
C B7
CTLA-4
Linfócito T
Célula
MHC: complexo principal de apresentadora
histocompatibilidade; de antígeno
TCR: receptor da célula T.
anti-CTLA-4
Após o linfócito T ser ativado, ele circula no corpo e vai tentar eliminar as células
tumorais. Um dos mecanismos que o corpo habitualmente usa na regulação do
sistema imunológico consiste no uso de uma proteína chamada PDL-1, presente
em várias células do organismo, para paralisar o linfócito T. Isso ocorre porque o
contato entre o linfócito T – com seu receptor chamado PD-1 – e a proteína PDL-1
de outras células resulta na “paralisação” do linfócito T. Por exemplo, a placenta é
rica em PDL-1, evitando que o sistema imunológico da mãe ataque os tecidos do
feto. As células do câncer de pulmão, assim como de outros tumores, usam esse
mesmo truque para paralisar o sistema imunológico. Sabemos que frequentemente
as células do câncer de pulmão têm em sua membrana uma expressão aumentada
do PDL-1. Dessa forma, quando os linfócitos T tentam atacar a célula tumoral,
seu PDL-1 entra em contato com o PD-1 do linfócito T e o paralisa, evitando o
ataque. Hoje temos anticorpos chamados de anti-PD-1s, que se ligam ao PD-1, o
receptor que fica na membrana do linfócito T, e anticorpos que se ligam ao PDL-1,
os chamados anti-PDL-1s, presentes nas células tumorais. Ao ligarem-se ao PD-1
ou ao PDL-1, esses anticorpos impedem a “paralisação” do linfócito T e permitem
sua ação contra o tumor. Exemplos de inibidores de PD-1 são o pembrolizumabe,
o nivolumabe e o cemiplimabe; os inibidores de PDL-1 são o atezolizumabe e o
durvalumabe. A figura 2 ilustra o mecanismo de ação dos anti-PD-1s e anti-PDL-1s.
FIGURA 2. O linfócito T se
acopla na célula tumoral Célula
por reconhecer o antígeno A tumoral
na sua membrana. A célula
Antígeno
tumoral usa o PDL-1 na sua
Receptor do linfócito T
membrana, que se liga ao PDL-1
receptor PD-1 presente,
resultando em paralisação
do linfócito T (A). Há duas PD-1
maneiras de bloquear o eixo Linfócito T
PD-1/PDL-1: bloqueando
o PDL-1 da célula tumoral
com anticorpo anti-PDL-1 ou
bloqueando o receptor PD-1 B Célula
presente no linfócito T com tumoral morta
anticorpo anti-PD-1 (B).
PDL-1
Anti-PDL-1
Linfócito T
Anti-PD-1 PD-1
Em pacientes com câncer de pulmão localmente avançado, que são tratados com
quimioterapia combinada com radioterapia, a imunoterapia com durvalumabe
deve ser iniciada logo em seguida e administrada por um período de 1 ano. A
taxa de cura é maior quando se administra esse imunoterápico após tratamento
com quimioterapia e radioterapia do que quando se usa somente quimioterapia e
radioterapia.
Por outro lado, nos pacientes que não apresentam os driver genes, o tratamento
de primeira linha é dividido de acordo com a expressão de PDL-1 nas células
tumorais ou imunes. Naqueles com expressão de PDL-1 maior ou igual a 50%
nas células tumorais (ou, em alguns casos, nas células imunes), podemos usar
imunoterapia isolada, sem quimioterapia. Nesses casos, pode-se utilizar anti-PD-1
(pembrolizumabe ou cemiplimabe) ou anti-PDL-1 (atezolizumabe) isoladamente ou
até mesmo a combinação de ipilimumabe com nivolumabe. Pode-se usar também
a combinação de quimioterapia com imunoterapia nesses casos. A quimioterapia
destrói parte das células tumorais e ajuda o sistema imune a ser ativado. Não
está claro, entretanto, qual a melhor estratégia: quimioterapia combinada com
imunoterapia ou imunoterapia isolada nos pacientes com expressão de PDL-1 maior
ou igual a 50%.
Quimioterapia combinada
Baixa ou sem expressão de PDL-1
com imunoterapia*
*Quando há contraindicação à quimioterapia e a expressão de PDL-1 está entre 1 e 49%, pode-se usar
pembrolizumabe isolado em casos selecionados.
capítulo 16
Terapia-alvo
Proteína mutada
(driver gene)
Proliferação Angiogênese
Invasão Metástase
Inibição da
apoptose
Cromossomo
DNA
Gene mutado
Assim como no caso dos inibidores de EGFR, os inibidores de ALK também são
classificados em primeira, segunda e terceira geração. Na primeira geração, o
crizotinibe foi relativamente eficaz em casos com alterações do gene ALK, porém
esse medicamento tinha baixa potência contra esse alvo e baixa capacidade de
proteger o cérebro contra a progressão da doença. Dessa forma, inibidores mais
específicos, mais potentes e com capacidade de agir no sistema nervoso central
foram desenvolvidos. Entre os medicamentos de segunda geração estão o ceritinibe,
o alectinibe e o brigatinibe. O lorlatinibe é um inibidor de terceira geração, com
Pacientes com câncer de pulmão podem ter mais de um tipo de mutação de BRAF,
sendo que em cerca de metade dos casos a mutação presente é chamada V600E.
Justamente para essa mutação do BRAF existem terapias-alvo específicas. Nesses
casos, utiliza-se uma combinação de duas drogas, o dabrafenibe, um inibidor de
BRAF, e o trametinibe, um inibidor de uma proteína chamada MEK, que tem íntima
relação com o BRAF. A combinação desses dois medicamentos se mostrou mais
efetiva que o uso apenas do inibidor de BRAF. Atualmente essa combinação é
utilizada na prática clínica no tratamento desses pacientes.
As fusões de NTRK, que envolvem os três genes da família, NTRK-1, NTRK-2 e NTRK-3,
podem ocorrer em vários tipos de tumores em adultos e crianças, incluindo o câncer
de pulmão. A droga mais utilizada atualmente nesse contexto é o larotrectinibe, um
inibidor de primeira geração bastante potente e com boa ação no cérebro, o que
também é o caso do entrectinibe. Inibidores de NTRK de segunda geração já estão
sendo desenvolvidos, como o repotrectinibe, que podem ser uma alternativa em
caso de desenvolvimento de resistência às drogas de primeira geração.
Apesar de o KRAS ser o driver gene conhecido há mais tempo em câncer de pulmão,
apenas recentemente a terapia-alvo contra ele tem-se mostrado ativa. Inibidores
específicos contra uma mutação pontual de KRAS, a G12C, mostraram atividade
promissora em estudos preliminares. Os inibidores sotorasibe e adagrasibe se
mostraram ativos mesmo em pacientes tabagistas, que já haviam sido tratados com
quimioterapia e imunoterapia. Esses medicamentos foram seguros, o que permite
a avaliação em combinação com outras terapias nesse cenário.
capítulo 17
Carcinoma de
células pequenas
de pulmão
Vladmir Cláudio Cordeiro de Lima
Aline Fusco Fares
Fábio Nasser Santos
Cérebro
Linfonodos
Osso
Tumor
primário
Pulmão
Fígado
Adrenais
Vaso sanguíneo
Células
tumorais Hemácias
circulantes
A classificação dos carcinomas de células pequenas de pulmão é feita com base nas
características das células vistas ao microscópio (tamanho e formato), na maneira
pela qual elas se organizam e pela presença ou não de proteínas específicas na
superfície dessas células detectadas por uma técnica chamada imuno-histoquímica.
Esses tumores se caracterizam por serem formados por células pequenas e
arredondadas ou em formato de fuso, com muitas células em divisão, organizados
de maneira bem compacta. Os carcinomas de células pequenas de pulmão são
subclassificados em carcinomas puros (80% dos casos) ou combinados (20% dos
casos), conforme contenham ou não outros de tipos de células misturadas. A
resposta ao tratamento e a sobrevida nesses dois subtipos são semelhantes.
Não. De modo geral, esses tumores não apresentam alterações genéticas que
ajudam atualmente no tratamento. As exceções são os casos que ocorrem em não
tabagistas (2%) ou os casos de tumores combinados com adenocarcinoma (< 3%).
Nesses cenários, pode-se solicitar o sequenciamento do DNA do tumor para tentar
identificar alterações que permitam empregar terapias específicas, chamadas
terapias-alvo.
Metástase
cerebral Metástase
Campo pulmonar
RT
Metástase
hepática
Linfonodos Outros locais
de metástase
Metástase
óssea
Diante desse fato, alguns estudos avaliaram o papel da radioterapia de crânio total
profilática, após o tratamento com quimioterapia e radioterapia, como forma de
prevenção das recidivas cerebrais. Diversos estudos sugerem que a realização desse
procedimento está não só associada à redução do risco de recidiva cerebral, mas
Cerca de duas a cada três pessoas com carcinoma de células pequenas de pulmão
têm doença extensa ao diagnóstico inicial. Nesse estágio, o câncer já se espalhou
para o outro lado do tórax ou para órgãos distantes, tais como cérebro ou outras
partes do sistema nervoso central, fígado, ossos, adrenais ou outras partes do
pulmão.
A B
IO
Radioterapia
QT-IO torax?
Radioterapia
profilática
de crânio?
Os pacientes com boa resposta ao tratamento inicial que mantêm doença visível no
tórax (doença residual) podem ter benefício da adição de radioterapia torácica, com
prolongamento de sobrevida. Entretanto, os estudos que avaliaram radioterapia
torácica foram feitos na era pré-imunoterapia, e por isso não se sabe ao certo o seu
papel nos pacientes tratados com a combinação de quimioterapia e imunoterapia.
capítulo 18
Carcinoma de
células não pequenas -
doença localizada
Aknar Calabrich
Iuri Amorim de Santana
Linfonodos
Lobo pulmonar
Nos casos em que a cirurgia não é possível por contraindicações clínicas, como
problemas cardíacos ou baixa reserva de função pulmonar, é possível, como
alternativa, oferecer tratamento não cirúrgico com radioterapia. Nesses casos,
sempre que possível devem ser empregadas técnicas de estereotaxia, que permite a
aplicação de doses altas de radioterapia com baixíssimas taxas de efeitos colaterais,
mantendo-se a intenção curativa do tratamento (ver capítulo 13, Radioterapia,
para mais detalhes).
Quando o câncer de pulmão atinge o estádio III, porque acomete tecidos próximos
ou linfonodos do mediastino, a doença é chamada de “localmente avançada”. Não
existe um tratamento-padrão para todos as pessoas com câncer de pulmão em
estádio III; a melhor opção de tratamento depende do tamanho e da localização do
tumor, do envolvimento dos linfonodos e das condições clínicas do paciente.
Alguns IIIA: T1-2N2; T3N1, T4n0-1 (20%) IIIA volumoso, todos IIIB e IIIC Muita doença
N2
N3
T4
T3N2
T1-2
Duas situações comuns são encontradas no estádio III operável. Alguns tumores
grandes com envolvimento dos linfonodos apenas do hilo pulmonar (N1) podem
Existem casos em que o volume de doença é muito extenso, não sendo possível
nem cirurgia nem radioterapia; em outros, a condição clínica do paciente está muito
debilitada. Nessas situações, o tratamento deve ser semelhante aos dos pacientes
com doença metastática (estádio IV). Portanto, a depender do perfil molecular e
expressão da PDL-1, utilizam-se drogas como terapia-alvo orais ou imunoterapia
combinada ou não com quimioterapia.
capítulo 19
Carcinoma de
células não pequenas -
doença localmente
avançada inoperável
Robson Ferrigno
Capítulo 19 | Carcinoma de células não pequenas - doença localmente avançada inoperável 191
Como é feito o tratamento concomitante?
Figura 1. A área azul neste corte de tomografia de tórax representa o volume do tumor de
pulmão direito que receberá a dose de radioterapia. A linha vermelha interna representa
o contorno do tumor, e a linha vermelha externa representa o volume total a ser irradiado,
incluindo o tumor e uma margem de segurança.
O paciente fica indisposto para realizar as atividades do dia a dia, e o que mais
ameniza esse sintoma é a prática de atividade física, respeitando-se a limitação de
cada paciente. Outro possível efeito colateral, a depender do local e do volume a
ser irradiado, é uma inflamação na mucosa do esôfago, conhecida como esofagite.
A esofagite é caracterizada por incômodo ou sensação de dor durante a passagem
do alimento pelo esôfago. Esse sintoma pode ser amenizado com medicações orais
que são prescritas a depender da avaliação médica.
Capítulo 19 | Carcinoma de células não pequenas - doença localmente avançada inoperável 193
Como é monitorada a eficácia do tratamento?
Em casos de volume de doença muito grande, não sendo possível nem cirurgia
nem radioterapia, ou quando a condição clínica do paciente é muito debilitada,
o tratamento deve ser semelhante aos dos pacientes com doença metastática
(estádio IV). Portanto, a depender do perfil molecular e da expressão do PDL-1,
utilizam-se drogas como terapia-alvo orais ou imunoterapia combinada ou não com
quimioterapia.
Capítulo 19 | Carcinoma de células não pequenas - doença localmente avançada inoperável 195
[retornar ao índice]
capítulo 20
Carcinoma de
células não pequenas -
doença metastática SEM
driver genes
Suellen Nastri Castro
Deve-se ressaltar, porém, que os avanços vêm ocorrendo de maneira cada vez mais
evidente, e os resultados do tratamento nitidamente melhoraram ao longo dos
últimos anos.
Para pacientes com carcinoma de células não pequenas metastático sem driver
genes (ver capítulo 16, Terapia-alvo para definição), os tratamentos disponíveis são
a quimioterapia isolada ou combinada a antiangiogênico, a quimioterapia associada
à imunoterapia com ou sem antiangiogênico, a quimioterapia associada a duas
imunoterapias, a imunoterapia isolada ou a combinação de duas imunoterapias.
Capítulo 20 | Carcinoma de células não pequenas - doença metastática sem driver genes 197
Como é escolhido o tratamento em linhas subsequentes
à primeira?
Para pacientes com alta expressão de PDL-1 (ou seja, PDL-1 maior ou igual a 50%),
existe a opção de imunoterapia isolada. Nesses casos, podem ser utilizados os
anti-PD-1, pembrolizumabe ou cemiplimabe, o anti-PDL-1, atezolizumabe, ou até
mesmo a combinação de duas imunoterapias da classe dos anti-CTLA-4 e anti-PD-1,
ipilimumabe com nivolumabe, respectivamente (ver capítulo 15, Imunoterapia).
Para paciente com baixa expressão de PDL-1 (ou seja, PDL-1 menor que 50%),
classicamente o tratamento se faz com quimioterapia associada à imunoterapia,
com ou sem antiangiogênico. Em alguns casos excepcionais, em pacientes com
expressão de PDL-1 de 1-49% que por algum motivo não sejam candidatos à
quimioterapia pode ser usada imunoterapia com pembrolizumabe isoladamente (o
algoritmo, na figura 1, resume essas recomendações).
Imunoterapia isolada
{
2 imunoterapias
Quimioterapia +
PDL-1 ≥ 50% imunoterapia
Quimioterapia +
imunoterapia +
Carcinoma de células não pequenas antiangiogênico
SEM driver genes
Quimioterapia + 2
SEM contraindicação à imunoterapia imunoterapias
1ª linha de tratamento
{
Quimioterapia +
imunoterapia
Quimioterapia +
imunoterapia +
antiangiogênico
Capítulo 20 | Carcinoma de células não pequenas - doença metastática sem driver genes 199
Qual a sequência de tratamento após a primeira linha?
Em caso de falha ao primeiro tratamento, uma vez que o paciente não tenha
usado esquema com imunoterapia, ele poderá receber imunoterapia isolada. As
drogas utilizadas nesses casos são pembrolizumabe (imunoterapia com anti-PD-1),
se houver expressão de PDL-1 maior ou igual a 1%, ou nivolumabe (imunoterapia
com anti-PD-1), ou atezolizumabe (imunoterapia com anti-PDL-1), ambas
independentemente da expressão de PDL-1.
Imunoterapia prévia?
SIM NÃO
capítulo 21
Carcinoma de
células não pequenas -
doença metastática COM
driver geneS
Gabriela Brito
William Nassib William Junior
Capítulo 21 | Carcinoma de células não pequenas - doença metastática com driver genes 203
avaliação molecular desses tumores, já que existem tratamentos específicos para
essas mutações. Além disso, é importante determinar o tipo específico de mutação,
uma vez que algumas conferem sensibilidade e outras, resistência ao tratamento.
EGFR Osimertinibe
ROS 1 Crizotinibe
Capítulo 21 | Carcinoma de células não pequenas - doença metastática com driver genes 205
Figura 1. Biópsia líquida é a pesquisa de mutação no sangue periférico.
Quando há falha dos TKIs na primeira linha e não é possível a troca de inibidor, o
tratamento da doença metastática com driver genes torna-se semelhante ao da
doença sem driver genes, sendo então baseado em quimioterapia associada ou
não à imunoterapia. Uma exceção à mudança de tratamento para quimioterapia
e imunoterapia são as progressões com lesão única ou de baixo volume, em que é
possível manter o TKI e realizar alguma forma de terapia local, como radioterapia
da lesão em progressão.
capítulo 22
Cuidados
de suporte
Desirré Filizzola
Fátima Martins de Oliveira Paula
Livia Ponte Correia Mota
Michella Gatto
Figura 1. Cuidados de suporte, em que o indivíduo é cuidado nos âmbitos físico, psíquico,
espiritual, familiar e social.
Físico
Psíquico
Sociedade
Espiritual Família
Trabalho
• Orientar sobre os benefícios aos quais esse paciente tem direito, como isenção
de tarifa de transporte enquanto estiver em tratamento quimioterápico
(problemas sociais).
Falta de ar
Dispneia é o termo técnico utilizado pelos profissionais para descrever falta
de ar. É um sintoma complexo e que pode estar ligado não só a alterações
anatômicas/estruturais dos pulmões pelo adoecimento, como também à perda
de massa muscular, que pode vir associada a perda de condicionamento físico.
Além disso, com as mudanças no corpo, idas mais frequentes ao hospital e o medo
diante da situação de enfrentar o câncer, pode haver um aumento da ansiedade,
que também é causa comum de falta de ar. Caso seja experimentada, deve ser
comunicada ao médico para uma melhor avaliação. A depender da causa, será
tratada de diferentes maneiras.
• Exercícios respiratórios.
• Acupuntura.
• Técnicas de relaxamento.
Para entender melhor esse último tópico: na realização de cada tarefa é importante
planejar o que será feito e é ideal que os movimentos não sejam realizados de forma
simultânea. Alguns exemplos:
Fadiga
Esse sintoma pode ser definido como a sensação subjetiva de cansaço ou falta
de disposição, desproporcional ao esforço habitualmente realizado. Pode ser um
cansaço físico, emocional ou cognitivo, decorrente tanto do adoecimento como do
tratamento oncológico. Além disso, pode estar associado a outros sintomas, como
dor persistente, náuseas e vômitos, insônia e depressão, que devem ser tratados.
• Melhorar a qualidade do sono, o que pode ser feito com medidas simples
como dormir em local escuro e silencioso, além de evitar o uso de dispositivos
estimulantes como celulares e tablets próximo à hora de se deitar.
Esse é um dos sintomas mais difíceis de tratar e o momento da alimentação pode ser
extremamente angustiante para quem o experimenta. É importante conscientizar a
família e os cuidadores de que a falta de apetite não depende de quem vivencia esse
desconforto e a insistência para comer pode ser motivo de grande sofrimento. É
comum o sentimento de culpa e impotência ao ver alguém que amamos ou de quem
cuidamos perder peso por não se alimentar, e é essencial tentar conscientizar-se de
que existem situações que estão além do nosso poder de cuidado. O acolhimento
é a melhor estratégia, assim como o respeito aos limites colocados pelo paciente
em relação à consistência, tipo de alimento tolerado, intervalos entre as refeições
e quantidade de comida desejada. Além disso, alimentos frescos, com poucos
condimentos e em pequenas quantidades podem ser mais toleráveis em algumas
situações em que a falta de apetite é extrema.
Falta de ar
Como dito anteriormente, sua causa pode ser multifatorial e merece a avaliação
de um médico, que estará atento a algumas características: intensidade, fatores de
melhora ou piora, resposta às estratégias não farmacológicas e associação a fatores
emocionais. De acordo com o diagnóstico realizado, um tratamento específico será
instituído. Concomitantemente ao tratamento de causas específicas de falta de ar –
por exemplo, pneumonia, problemas no coração, acúmulo de líquido na membrana
que reveste o pulmão (chamado de derrame pleural) – pode ser necessário o uso
de medicações para alívio dos sintomas. Entre as principais medicações utilizadas
Tosse
Pode estar presente em até 50% dos pacientes com câncer avançado e em mais de
80% daqueles com câncer de pulmão, mas não necessariamente está associada à
doença oncológica. Pode interferir na respiração, no sono, na fala, estar associada a
escarros com sangue (hemoptise) e até mesmo a vômitos após as crises. Para alívio,
sempre se deve tratar as causas potencialmente reversíveis.
Fadiga
Como citado anteriormente, medidas não farmacológicas podem ser adotadas no
intuito de melhorar a falta de disposição, assim como o tratamento de condições
associadas (dor, náuseas, vômitos, insônia). Quando o sintoma persiste, algumas
medicações podem ser utilizadas. Dexametasona, metilfenidato, modafinila e
acetato de megestrol são as principais alternativas.
Falta de apetite
Os agentes dexametasona, acetato de megestrol, suplementos alimentares,
medicações que aumentem a motilidade gástrica (como metoclopramida
e domperidona) e alguns antidepressivos podem ser considerados opções
medicamentosas. No entanto, como dito anteriormente, é um dos sintomas mais
O suporte aos cuidadores deve ser realizado por todos os membros da equipe
multiprofissional envolvida na assistência. Isso inclui proporcionar uma boa
comunicação entre a equipe de saúde e os familiares, fornecer espaço para
orientações e retirada de dúvidas sobre os tratamentos e desafios esperados no
decorrer da doença e, sobretudo, garantir que tenham seus anseios, preocupações
e medos ouvidos, validados e acolhidos.
NO CUIDADO A QUEM
SE AMA, É IGUAL.
capítulo 23
Mesotelioma
pleural
Pleura pariental
(camada externa) Fibra de
asbesto
Mesotélio
acometido
Mesotelima
Pleura visceral Espaço entre as
(camada externa - duas pleuras
cobre o pulmão)
Estádio I
Tumor localizado na pleura
Estádio III
Tumor extenso, acometeu
os pulmões, parede torácica,
abdômen e pericárdio
Estádio II
Tumor acometeu
o pulmão de um
lado e/ou linfonados
Estádio IV
Tumor com metástases além
do tórax, como abdômen,
pescoço e ossos
A cirurgia pode ser mais agressiva, com o intuito de controlar a doença, ou menos
radical, com o intuito de aliviar sintomas (paliativa). A cirurgia como tratamento
principal pode ser considerada em pacientes com doença inicial. A chamada
pleurectomia/decorticação é um tipo comum de cirurgia, consistindo na retirada
da pleura e outras áreas afetadas. Outra opção é a pneumectomia extrapleural,
que consiste na remoção do pulmão afetado, pleura, diafragma e pericárdio. São
cirurgias complexas, devendo ser realizadas em instituições com experiência no
tratamento do mesotelioma. A quimioterapia geralmente é indicada antes ou
depois da cirurgia. A radioterapia também pode ser recomendada para aliviar
sintomas ou em conjunto com a quimioterapia e a cirurgia.
O mesotelioma sem indicação cirúrgica deve ser tratado com terapias sistêmicas.
A cirurgia e a radioterapia poderão ser indicadas para alívio pontual de sintomas.
Atualmente, a imunoterapia é a primeira opção para o tratamento da doença
avançada. Utiliza-se uma combinação de drogas chamadas inibidor as de checkpoint
com ação anti-PD-1 e anti-CTLA. A quimioterapia com uma ou mais drogas
também é uma importante opção terapêutica. Entre as medicações ativas contra
o mesotelioma destaca-se a platina (cisplatina ou carboplatina) e o pemetrexede.
Esses medicamentos são administrados por via venosa, enquanto houver controle
da doença e tolerância pelo paciente.
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