ODR - Renata Alessandra Amaral
ODR - Renata Alessandra Amaral
ODR - Renata Alessandra Amaral
PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
NÍVEL: MESTRADO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO:
INSTITUIÇÕES SOCIAIS, DIREITO E DEMOCRACIA
BELO HORIZONTE
2022
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BELO HORIZONTE
2022
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AGRADECIMENTOS
Essa caminhada foi feita de inúmeros desafios, que por vezes me fizeram questionar
se eu suportaria continuar. Mas em todos os momentos eu fui fortalecida e guiada pela Mão
Divina, razão pela qual nutro meu sentimento mais profundo de gratidão.
Agradeço ao privilégio de ter meu pai William e meus filhos Pedro e João nessa
jornada que é a vida. Estamos construindo um caminho bonito e caminhar ao lado de vocês
fortalece e alegra meu coração. Vocês são a fonte de amor, carinho e compreensão, da qual sou
nutrida.
Aos meus queridos amigos, em especial ao Wagner, que estiveram comigo desde a
minha infância, compartilhando sonhos e momentos únicos, apoiando-me e torcendo por mim,
contribuindo para a minha jornada e conclusão dessa etapa.
Aos meus amigos, colegas e conhecidos que tive a oportunidade de conhecer, aprender
e compartilhar ensinamentos e experiências que foram essenciais para a minha trajetória.
Ao meu orientador, Professor Dr. Daniel Firmato de Almeida Glória, pela ajuda e
contribuição, fundamentais para a minha formação.
À FUMEC, incluindo a Cláudia, que sabe aliar com maestria profissionalismo e
humanidade no exercício do seu trabalho e que foi de fundamental importância para à minha
formação acadêmica.
4
RESUMO
As soluções consensuais de disputas ganham força frente à crise do sistema judiciário, através
dos métodos adequados de tratamento de conflitos. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da
tecnologia impulsionada pela revolução tecnológica impactou significativamente todos os
setores da sociedade, incluindo o processo de gestão de conflitos. Nesse âmbito, o online
dispute resolution (ODR) surge como um mecanismo de resolução de conflitos, estimulando o
consensualismo, diálogo e acessibilidade e, ainda, conferindo maior velocidade, menos custos
e maior satisfação quanto ao processo de solução de disputas. Nesse contexto, a aplicação das
tecnologias de informação e comunicação ao processo de gestão de conflitos, a partir do online
dispute resolution (ODR) tem sido importante mecanismo de acesso à ordem jurídica justa. À
vista disso, o objetivo deste trabalho é analisar o uso do online dispute resolution (ODR) como
ferramenta de acesso à justiça, com ênfase nas políticas desenvolvidas no âmbito dos tribunais
voltadas para esse cenário adotadas no país, especificamente o desempenho da Plataforma
consumidor.gov.br, ferramenta do governo federal colocada à disposição para solução dos
conflitos na seara consumerista. Descreve-se a introdução das tecnologias aplicadas ao processo
de gestão de conflitos. Explica-se origem, evolução, conceito e relação entre os métodos
adequados de tratamento de conflitos e o online dispute resolution (ODR), e sua abrangência
aos tribunais e ampliação ao campo da inteligência artificial. Examina-se a relação do online
dispute resolution (ODR) com o direito fundamental do acesso à justiça no Brasil. A presente
pesquisa possuiu como objetivo a descrição e a finalidade básica de cunho teórico, voltada para
o aprofundamento do tema, tendo sido adotado o método indutivo e bibliográfico-documental,
através da técnica de coleta de busca de dados por meio de descritores e abordagem dos dados
através análise de conteúdo. Ao partir da análise feita, concluiu-se que a utilização das
tecnologias de informação e comunicação no processo de gestão de conflitos são indispensáveis
para se alcançar a solução de disputas, constituindo o online dispute resolution (ODR) uma
importante ferramenta para o acesso à ordem jurídica justa, aplicada ao caso do direito do
consumidor em solucionar os litígios
ABSTRACT
Consensual dispute resolutions gain strength in the face of the crisis in the judicial system,
through adequate methods of handling conflicts. At the same time, the development of
technology driven by the technological revolution has significantly impacted all sectors of
society, including the conflict management process. In this context, online dispute resolution
(ODR) emerges as a conflict resolution mechanism, stimulating consensualism, dialogue and
accessibility, and also providing greater speed, lower costs and greater satisfaction with the
dispute resolution process. In this context, the application of information and communication
technologies to the conflict management process, based on online dispute resolution (ODR) has
been an important mechanism for accessing a fair legal system. In view of this, the objective of
this work is to analyze the use of online dispute resolution (ODR) as a tool for access to justice,
with emphasis on the policies developed within the courts aimed at this scenario adopted in the
country, specifically the performance of the Consumer Platform. gov.br, a federal government
tool made available to resolve consumer disputes. The introduction of technologies applied to
the conflict management process is described. The origin, evolution, concept and relationship
between the appropriate methods of conflict handling and online dispute resolution (ODR) are
explained, as well as its scope to the courts and expansion to the field of artificial intelligence.
The relationship between online dispute resolution (ODR) and the fundamental right of access
to justice in Brazil is examined. The present research had as objective the description and the
basic purpose of a theoretical nature, focused on the deepening of the theme, having been
adopted the inductive and bibliographic-documentary method, through the technique of
collecting data by means of descriptors and approach of the data through content analysis.
Based on the analysis carried out, it was concluded that the use of information and
communication technologies in the conflict management process are essential to achieve
dispute resolution, with online dispute resolution (ODR) constituting an important tool for
access to order. fair legal system, applied to the case of the consumer's right to resolve disputes.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 7
2 NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS AO PROCESSO DE GESTÃO DE CONFLITOS ..... 11
2.1 SISTEMA JUDICIÁRIO POR MEIO DA ALTERNATIVE DISPUTE RESOLUTION (ADR) ........... 11
2.2 EVOLUÇÃO CIBERNÉTICA E NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES JURÍDICAS .................................................................................... 16
3 MÉTODOS ADEQUADOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS - ONLINE DISPUTE
RESOLUTION (ODR) ....................................................................................................................... 21
3.1 BREVE RELATO DA ONLINE DISPUTE RESOLUTION (ODR)................................................... 21
3.2 APLICABILIDADE DOS MASCS E ODR NOS TRIBUNAIS .......................................................... 26
3.3 PRINCIPAIS DESTAQUES ÀS RESOLUÇÕES DE CONFLITOS PELO ODR .............................. 33
3.3.1 Processo de Arbitragem ....................................................................................................................... 35
3.3.2 Processo de Mediação .......................................................................................................................... 38
3.3.3 Processo de Conciliação ...................................................................................................................... 40
3.3.4 Processo da Negociação....................................................................................................................... 42
3.4 UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA PARA SOLUÇÃO DOS LITÍGIOS ........................................... 43
4 NOVAS TECNOLOGIAS PARA O ACESSO À JUSTIÇA ........................................................... 48
4.1 ACESSO À JUSTIÇA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ........................................ 48
4.2 UMA QUESTÃO DE POLÍTICA PÚBLICA ...................................................................................... 52
4.3 UTILIZAÇÃO DOS MÉTODOS ADEQUADOS DE TRATAMENTOS DE CONFLITOS E ONLINE
DISPUTE RESOLUTION (ODR) NO BRASIL ................................................................................... 56
4.4 A EVOLUÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO E O SISTEMA JUDICIAL BRASILEIRO .................... 62
4.4.1 O aumento da demanda judicial e medidas adotadas quanto ao desenvolvimento e utilização do online
dispute resolution (ODR)...................................................................................................................... 64
4.4.2 Online Dispute Resolution (ODR) como ferramenta de acesso à justiça no Brasil ............................. 67
4.4.3 Análise da aplicação da solução de litígios pela plataforma do consumidor ...................................... 71
5 CONCLUSÃO..................................................................................................................................... 77
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 81
7
1 INTRODUÇÃO
Por último, examinar a relação do online dispute resolution (ODR) com o direito
fundamental do acesso à justiça, sobretudo, no Brasil, através da incorporação do fórum
múltiplas portas e da virtualização do poder judiciário, elencando os desafios da utilização dessa
ferramenta no país e as medidas adotadas no âmbito dos tribunais quanto ao desenvolvimento
de métodos adequados de tratamento de conflitos e utilização do online dispute resolution
(ODR), trazendo, ainda, os conceitos de “acesso à justiça”, “cultura do litígio e da sentença” e
“cultura da pacificação”.
No primeiro capítulo, a pesquisa aborda o início da utilização de tecnologias aplicadas
ao processo de resolução de disputas. É discorrido sobre o surgimento e adoção dos métodos
adequados de tratamento de conflitos ao ordenamento jurídico, por meio da política do fórum
múltiplas portas. Ademais, é tratado acerca do desenvolvimento e disseminação da rede de
comunicações — a criação da internet, e sua introdução ao sistema judiciário. Ademais, expõe-
se os conceitos dos termos “multidoor courthouse system” e “information and communication
technology” (ICT).
No segundo capítulo, é explicado a origem, evolução e conceito do online dispute
resolution (ODR), bem como sua relação com métodos adequados de tratamento de conflitos,
apontando-se os aspectos convergentes e divergentes dos modelos offline e online, discutindo-
se, ainda, a sua abrangência aos tribunais. Em seguida, são elencados os aspectos relevantes
acerca dos principais métodos utilizados em plataformas online. Além disso, é apresentado o
início da aplicação da inteligência artificial ao tratamento de conflitos a partir do
desenvolvimento de sistemas inteligentes.
No terceiro capítulo, é realizado uma análise acerca da relação entre o online dispute
resolution (ODR) e o acesso à justiça no Brasil. Inicialmente, é discorrido sobre o direito de
acesso à justiça no país a luz do ordenamento jurídico brasileiro, com a atualização do seu
conceito. Após, é abordado a incorporação do fórum de múltiplas portas no país, destacando-
se a política pública de tratamento adequado dos conflitos de interesses, desencadeada pelo
Conselho Nacional de Justiça. Ademais, são tratados os desafios relativos à utilização dos
métodos adequados de tratamento de conflitos e online dispute resolution (ODR) no país, sendo
apresentado os conceitos de “cultura do litígio e da sentença” e “cultura da pacificação”.
Outrossim, é explorado o processo de virtualização do poder judiciário e a sobrecarga do
sistema judicial brasileiro. Além disso, são exploradas as medidas adotadas no âmbito dos
tribunais quanto ao desenvolvimento de métodos adequados de tratamento de conflitos e
utilização do online dispute resolution (ODR). Por último, é examinado a utilização do online
dispute resolution (ODR) como uma ferramenta de acesso à justiça no Brasil, especificamente
9
Insta salientar que quanto ao seu desenvolvimento, embora para Sander os principais
lugares de tratamento de conflitos sejam os fóruns, esse sistema não está necessariamente
vinculado ao interior dos tribunais, tendo em vista a ausência de relação intrínseca entre ambos,
de forma a permitir que a administração da justiça também ocorra separada das cortes
(OLIVEIRA, SPENGLER, 2013).
Desse modo, verifica-se que as portas de tratamento de conflitos, inclusive aquelas
presentes no sistema americano, identificadas por Sander (avaliação neutra, o summary jury
trial, a mini-trial, a court-annexed arbitration, a med-arb e arb-med e a ombudsman),
originaram os chamados métodos adequados de tratamento de conflitos, também denominados
métodos adequados de solução de conflitos (MASCs) (ou alternative dispute resolution (ADR),
no inglês).
Insta salientar que no que tange a abordagem dos conflitos ou controvérsias, embora
sejam comuns a utilização das expressões “resolução” e “solução”, inclusive como sinônimas,
entende-se que “nem sempre é possível que ele seja resolvido (no sentido de ser extinto) por
um ato isolado”, tendo em vista que “muitas vezes o impasse tem fases e só é efetivamente
superado após uma série de experiências vividas ao longo do tempo pelos envolvidos”
(TARTUCE, 2018, p. 18). Nesse sentido, a autora, bem como Oliveira e Spengler (2013)
defendem a utilização do vocábulo “tratamento”, uma vez que essa expressão “torna-se mais
adequada enquanto ato ou efeito de tratar ou medida terapêutica de discutir o conflito, em busca
de uma resposta satisfativa” (OLIVEIRA; SPENGLER, 2013, p. 76), cujo termo também é
14
utilizado pelo Conselho Nacional Justiça, sendo este o qual será adotado ao longo deste
trabalho.
1990 a 1996, consiste em uma etapa, na qual os métodos de resolução de conflitos, por meio de
da utilização das tecnologias de informação e comunicação, compreendidas como soluções
eletrônicas, estavam em período de teste. Na segunda fase, entre 1997 a 1998, os sistemas
voltados para a resolução de litígios online se desenvolveram forma mais dinâmica, quando
buscou-se integrar ferramentas voltadas para a solução de conflitos online originários do meio
virtual aos primeiros portais comerciais da Web. Já na terceira fase, entre 1999 a 2000, dado o
favorável período de desenvolvimento econômico, principalmente em serviços de tecnologia
de informação, verificou-se que muitas empresas iniciaram projetos baseados na resolução
eletrônica de disputas, ainda que grande parte delas deixado de atuar no mercado. Por fim, a
quarta e última etapa, no ano de 2001 marcou o início de uma fase institucional, durante a qual
as técnicas de online dispute resolution (ODR) foram introduzidas nos tribunais e
administrações públicas.
Nesse limiar, verifica-se que, por volta de 1994, restou evidenciado que o ciberespaço,
no futuro, não seria um lugar harmonioso e que haveria necessidade de ferramentas, recursos e
expertise em responder às disputas que ocorreriam (WAHAB; KATSH; RAINEY, 2012).
Contudo, embora a idealização da resolução de litígios no âmbito online tenha surgido no início
dos anos 90, em fase inicial de estudos e testes, a online dispute resolution (ODR) veio a se
materializar com a elaboração de softwares facilitadores, ao fim da primeira metade da década,
quando essas plataformas estavam voltadas unicamente para à resolução de disputas originadas
do âmbito da internet (OLIVEIRA FORNASIER, SCHWEDE, 2021).
Desse modo, em razão do aprofundamento das relações acompanhada dos avanços
tecnológicos somada às mudanças trazidas pela era digital, a possibilidade de solucionar
conflitos online começou a tomar forma, principalmente, a partir do campo do comércio
eletrônico.
O aprimoramento do mundo digital permitiu, entre outras ferramentas, a utilização da
internet para realização de compras online, o que, por sua vez, originou diversos conflitos
consumeristas, os quais, em razão do seu aumento gradativo, ensejaram o desenvolvimento de
mecanismos que garantissem o atendimento da demanda, de maneira ágil e fácil.
Nesse contexto, um dos principais destaques quanto às primeiras utilizações do online
dispute resolution (ODR) foi a iniciativa do website americano E-bay, ao desenvolver uma
parceria com o site SquareTrade.com, uma plataforma de conciliação virtual, ante as inúmeras
reclamações por parte dos consumidores acerca das transições intermediadas pela empresa de
varejo (JUNIOR, 2017). O objetivo da colaboração era “a criação de uma plataforma digital
que configurasse um meio onde os conflitos gerados no comércio eletrônico pudessem ser
24
resolvidos virtualmente, num espaço digital específico para negociação entre fornecedores e
consumidores” (OLIVEIRA FORNASIER, SCHWEDE, 2021, p. 73), vindo a se tornar um
eficiente e inovador sistema de feedback com o intuito de avaliar a qualidade dos negócios
oferecidos pela sua plataforma (JUNIOR, 2017).
Por outro lado, no que tange ao desenvolvimento dos meios de resolução de conflitos
online no âmbito do sistema judicial, em 1996, nos Estados Unidos, além dos primeiros artigos
sobre ODR aparecerem nas revisões de lei, o Centro Nacional para Pesquisa de Informação
Automatizada (NCAIR) patrocinou a primeira conferência dedicada ao ODR, lançando os
primeiros projetos ODR significativos, quais sejam, o Virtual Magistrate, Ombuds Online
Office na Universidade de Massachusetts e um projeto de ODR de disputa familiar na
Universidade de Maryland (WAHAB; KATSH; RAINEY, 2012).
A plataforma Virtual Magistrate foi a percursora a lidar com noções de um “tribunal”
privado integralmente virtual, cuja ferramenta tinha como função principal solucionar os
conflitos registrados entre os usuários da internet e seus operadores (FUJITA; ALMEIDA,
2019, p. 23), contudo, o referido projeto não obteve sucesso em atrair disputantes interessados
ou em alcançar o seu objetivo de servir como um portal de resolução de conflitos para a
comunidade online (PONTE, 2002).
Nesse limiar, embora haja registros de projetos anteriores quanto à prestação de
serviços online na área privada, conforme mencionado, o primeiro tribunal público totalmente
virtual nos Estados Unidos da América a ser estabelecido consiste no “Michigan Cyber Court”
(PONTE, 2002), aprovado pela Suprema Corte de Michigan, através do Ato 262 de 2001, sendo
percursor do desenvolvimento da online dispute resolution (ODR) no país (FUJITA;
ALMEIDA, 2019).
Sobre o seu funcionamento, Fujita e Almeida (2019) esclarecem que:
De acordo com o ato, os juízes nomeados para serem integrantes do
cybercourt deveriam ter experiência em litígio comercial ou interesse em
tecnologia. A norma previa também que todas as ações instauradas no
cybercourt poderiam ser conduzidas por meios de “comunicações
eletrônicas”, que incluíam, mas não se limitavam, a conferências de vídeo e
áudio e conferência na internet entre o juiz e pessoal do tribunal, testemunhas
e outras pessoas necessárias ao processo. Desde então, a partir de 2005, a
American Arbitration Association, através do Model Standards of Conduct of
Mediators, disponibiliza em sua plataforma on-line serviços de reclamações,
promove transferência de documentos, serve como intermediária de eventuais
pagamentos e acordos e escolhe árbitros neutros, dentre outras conveniências
(FUJITA; ALMEIDA, 2019, p. 23).
relação ao comércio eletrônico, em razão da sua gradual utilização, o “potencial de uso dessas
plataformas começou a ser melhor observado em relação a litígios que não são fossem
especificamente de natureza patrimonial, nem mesmo que tivessem seu surgimento no mundo
online” (OLIVEIRA FORNASIER, SCHWEDE, 2021, p. 572).
Dessa forma, os sistemas de online dispute resolution (ODR), conforme o progresso
das tecnologias e a incapacidade do sistema judiciário tradicional em atender a demanda de
forma satisfatória ante as suas limitações, cada vez mais mostram-se como um viável e eficiente
mecanismo para a resolução de disputas, especialmente, quanto ao desenvolvimento dos
métodos adequados de resolução de conflitos.
perca, ou mesmo, quando o propósito seja de interesse pessoal, como almejar vingança ou a
derrota da parte adversária (KATSH; RIFKIN, 2001).
Por outro lado, consoante Katsh e Rifkin (2001), o crescimento pela busca por métodos
adequados de tratamento de conflitos se deu em virtude de muitas disputas envolverem mal-
entendidos, acidentes, ou outras situações nas quais a resolução rápida do problema se torna
mais importante do que achar um culpado. Nesse limiar, acentua-se que a popularidade desses
meios, se comparada a tradicional via judicial, deve-se a alguns aspectos também presentes nos
sistemas ODR, quais sejam, menor custo, maior velocidade, mais flexibilidade nos resultados,
menos estratégias adversas, mais informalidade, menos problemas jurisdicionais, cujo objetivo
é buscar uma solução, em vez de volta-se para a culpa.
Embora os mecanismos ADR e ODR compartilhem algumas características em
comum, este apresenta alguns recursos exclusivos, entre os quais incluem (i) a desnecessidade
os disputantes estarem cara-a-cara; (ii) o processo de resolução de disputas pode ocorrer a
qualquer momento, independentemente da distância geográfica e (iii) a possibilidade de
comunicação assíncrona (WAHAB; KATSH; RAINEY, 2012).
Nesse limiar, Lodder e Zeleznikow (2005) pontuam que embora há aqueles que
argumentem que o aspecto mais importante da alternative dispute resolution (ADR) é a
comunicação face a face, existem muitas circunstâncias, entretanto, em que a comunicação face
a face não é viável ou indesejável, como, por exemplo: (i) partes com histórico de conflito de
violência; (ii) partes para as quais os custos de estarem no mesmo local são exorbitantes; (iii)
partes que estão em fuso horários diferentes; (iv) partes que não conseguem chegar a um acordo
sobre um horário de reunião conjunta.
Nesse sentido, portanto, tem-se que a falta de interação pessoal do Online Dispute
Resolution (ODR) pode realmente ser uma vantagem para disputas em que o envolvimento
emocional das partes é tão alto que é preferível que eles não se vejam. Desse modo, além de
fornecer potencial de logística e benefícios emocionais, o ODR também ajuda as partes a serem
mais capazes de separar a pessoa do conflito (LODDER; ZELEZNIKOW, 2005).
Ademais, outra peculiaridade do online dispute resolution (ODR) consiste no número
e a natureza das partes envolvidas. Nos processos de ODR, ao contrário dos métodos offline de
resolução de conflitos, as tecnologias de informação e comunicação (TICs) estão sempre
presentes, razão pela qual é possível identificar elementos comuns em quaisquer sistemas ODR,
quais sejam, (i) as partes envolvidas; (ii) o "terceiro", chamado de pessoa neutra ou mediador,
conciliador ou árbitro; (iii) a chamada "quarta parte", a qual se refere, principalmente, à
28
tecnologia envolvida no processo e (iv) a "quinta parte", a qual diz respeito ao provedor de
TICs, o denominado ator técnico (WAHAB; KATSH; RAINEY, 2012).
Outrossim, um aspecto inerente aos mecanismos de ODR, conforme pontuam Wahab,
Katsh e Rainey (2012), é a capacidade única de estender a sua funcionalidade para o âmbito da
prevenção de litígios através gerenciamento dos meios de informações a fim de evitar mal-
entendidos e prevenir conflitos, o que não se observa nos processos tradicionais judiciais.
No que tange a aplicação das tecnologias de informação e comunicação ao Online
Dispute Resolution (ODR), tem-se que vários meios podem ser usados para a troca de
informações, incluindo e-mail, chats, mensagens, chamadas de telefone, videoconferências, as
quais podem ser em tempo real ou assíncrona, cabendo as partes decidirem se desejam estar
online simultaneamente (LODDER; ZELEZNIKOW, 2005). Portanto, este mecanismo pode
apresentar inúmeras qualidades, sendo elas a velocidade da web, a escolha e experiência de
neutros imparciais, a informalidade e flexibilidade, privacidade, economia e eficiência
(PERUGINELLI; CHITI, 2002).
Há diversas abordagens utilizadas para definir e descrever mecanismos de online
dispute resolution (ODR). Nesse limiar, diferentes formas ou métodos adequados de tratamento
de conflitos para ambientes eletrônicos têm sido apontados por doutrinas jurídicas. Entre elas,
tem-se que o ODR pode ser compreendido como qualquer método de resolução de disputas em
que, total ou parcialmente, uma rede aberta ou fechada é usada como um local virtual para
resolver uma disputa (KATSH; RIFKIN, 2001).
Outrossim, em uma concepção ampla sugere-se que os métodos ODR englobam todas
as alternativas aos processos judiciais que são desenvolvidos eletronicamente, enquanto em
uma perspectiva restritiva, compreende-se que se limitam a métodos consensuais de resolução
de disputas online (WAHAB; KATSH; RAINEY, 2012).
Sobre o tema, Kaufmann-Kohler e Schultz (2004), em sua obra “Online Dispute
Resolution: Challenges For Contemporary Justice”, ao discutirem sobre a dificuldade de definir
online dispute resolution (ODR), pontuam que o mesmo, embora seja geralmente definido
como uma forma sui generis de resolução de litígios ou como resolução alternativa de litígios
online (online ADR), para fins de conceituação não são inteiramente satisfatórios. Nesse
sentido, analisa-se que:
Quando ODR é percebido como ADR online, naturalmente se refere aos
instrumentos legais desenvolvidos para ADR. Alguns provedores de ODR
referem-se explicitamente a tais instrumentos como os padrões relevantes, os
quais devem ser atendidos ao resolver uma disputa online. Nesta abordagem,
as ferramentas de comunicação online devem ser desenvolvidas de forma a
atender aos requisitos desenvolvidos no domínio do ADR offline. O problema
29
Portanto, verifica-se que alguns autores preferem tratar a ODR como uma oposição à
resolução de disputas offline, sem, entretanto, referir-se ao alternative dispute resolution
(ADR), circunstância na qual o conceito de online dispute resolution (ODR) administrado pelos
tribunais torna-se completamente legítimo.
No que tange a relação do online dispute resolution (ODR) aos tribunais, analisa-se
que os sistemas ODR oferecem não apenas uma alteração processual, mas sim mudanças
30
tecnológicas aplicadas às resoluções de disputas, tendo em vista que ambientes online criaram
novas e únicas formas de solução, assíncrona ou síncrona, de maneiras mais econômicas, razão
pela qual o ODR pode ser visto como uma ferramenta concorrente e complementar para
esquemas judiciais tradicionais (WAHAB, KATSH E RAINEY; 2012).
Nesse sentido, Thomas Schultz (2005) ao tratar da abrangência dos sistemas ODR
explica que:
Os tribunais cibernéticos são simplesmente processos judiciais que usam
exclusivamente (ou quase exclusivamente) meios de comunicação
eletrônicos. Eles deveriam ser, e muitas vezes, são considerados parte do
movimento ODR, por duas razões. Primeiro, porque o movimento ODR
surgiu por causa do choque entre a onipresença do Internet e a territorialidade
dos mecanismos tradicionais de resolução de disputas off-line. O termo ODR
se opõe, portanto, aos mecanismos de resolução de disputas offline, não a
tribunais. O ADR online é apenas uma parte do ODR. Em segundo lugar, os
tribunais não fornecem apenas litigação. (...) Agora, se aceitarmos que o
tribunal pode fazer parte do movimento ODR se eles fornecerem resolução de
disputas online, podemos pensar sobre as vantagens que são específicas dos
tribunais. Os tribunais têm recursos que os sistemas privados de resolução de
disputas não possuem. Muitos desses recursos induzem confiança de uma
forma que as formas privadas de ODR não o fazem. (SCHULTZ, 2003, p. 05).
Desse modo, consoante Schultz (2005), o ODR baseado em tribunais poderia evitar
alguns dos problemas que muitos sistemas ODR atuais enfrentam, quais sejam (i) fonte
independente de financiamento; (ii) julgamento como serviço público, racionalidade na
resolução de disputas e capital simbólico; (iii) exigibilidade de resultados e (iv) previsão de um
sistema judicial online.
Quanto a primeira questão, tem-se que os provedores de ODR precisam garantir
alguma fonte de financiamento, o qual não deve criar ou indicar interesses adquiridos e, ao
mesmo tempo o processo deve permanecer acessível para as partes. Assim, existem
basicamente três modelos de financiamento para provedores de ODR: taxas de usuário (bilateral
ou unilateral), taxas de adesão e fontes externas de financiamento.
Nos primeiros dois modelos, há a possibilidade do surgimento de problemas de
independência, os quais podem interferir na confiança e consequentemente na qualidade da
justiça. Por outro lado, o terceiro modelo, normalmente é uma bolsa de pesquisa ou um fundo
governamental do sistema judicial nacional, sendo a primeira, por definição, limitada,
impossibilitando seu uso como uma solução duradoura, diferentemente do segundo, indicado
para negócios de terceiros para pequenas e disputas de médio porte. À vista disso, um tribunal
cibernético apresenta um modelo de financiamento ideal no que diz respeito à independência e
à viabilidade financeira, estendendo-se, ainda, à possibilidade de o sistema judicial financiar
31
busca tratar um tipo específico de questão, sendo eles a transformação do direito pelos meios
eletrônicos, os requisitos de comunicação e os requisitos legais. Dessa forma, cada uma dessas
abordagens se concentra em uma categoria de questões de modo a fornecer um certo tipo de
solução, através de suas próprias características, teorias e regras, proporcionando, assim,
diferentes percepções e opiniões sobre a resolução de disputas no ciberespaço (KAUFMANN-
KOHLER; SCHULTZ, 2004).
Portanto, nesta concepção, tem-se que no momento em que um sistema de online
dispute resolution (ODR) está sendo implementado, ou ao promover iniciativas ou realizar
pesquisas neste campo, uma dessas abordagens é geralmente utilizada, na medida que cada
campo tem sua própria visão, o qual desenvolve suas próprias considerações, requisitos e
propostas, marcando, inclusive, sua própria arquitetura (KAUFMANN-KOHLER; SCHULTZ,
2004).
Nesse limiar, conforme pontuam Kaufmann-Kohler e Schultz (2004), o primeiro
campo está centrado na Internet, ciberespaço, alta tecnologia e comércio eletrônico, ou seja, nas
mudanças trazidas ao mundo, sobretudo, no âmbito da resolução de disputas e da lei, a partir
da criação da rede de computadores, os quais trouxeram inúmeras ferramentas que facilitaram
o processo e comunicação, proporcionando formas de disputas melhores, mais rápidas e baratas,
tendo como destaque a inteligência artificial. Este campo, ainda, gerou provedores de online
dispute resolution (ODR) na forma de “ponto com” startups como a SquareTrade, advinda do
e-commerce e da Internet, transformando-se em resolução de disputas.
Por outro lado, o segundo campo centra-se na alternative dispute resolution (ADR)
não judiciais, no qual as partes enfatizam as disputas, suas implicações e as formas de resolução,
através de uma abordagem baseada em comunicação, interesses, emoções e sentimentos, tendo
como destaque os meios de tratamento de conflitos negociação e mediação. Ademais, este
campo tem como princípio reconstruir uma arquitetura online que se assemelha à negociação e
mediação offline, de forma que, no mundo online, as partes tenham flexibilidade em se
expressarem, razão pela qual as ferramentas de comunicação adequadas devem ser fornecidas
para este fim (KAUFMANN-KOHLER; SCHULTZ, 2004).
Nesse sentido, Kaufmann-Kohler e Schultz (2004) pontuam que tal abordagem induz
acadêmicos e profissionais a conceberem maneiras de mover efetivamente as partes em direção
à resolução, garantindo, sobretudo, a capacidade de comunicação, o que pode vir a ajudar a
aliviar a agressão através da expressão e para gerenciar desequilíbrios de poder. À vista disso,
tem-se que este campo levou a provedores de serviços ODR — compreendidos como
empreendimentos que fornecem software para ODR, mas nenhum serviço real de resolução de
33
Outrossim, Azevedo (2016) esclarece que embora o procedimento decisório seja mais
parecido com um processo judicial — uma vez que o terceiro neutro, um árbitro, exercerá a
função de juiz, este método oferece como vantagens o controle das partes sobre o procedimento,
tendo em vista a possibilidade de escolha do direito ( material e processual) aplicável à solução
da controvérsia, “podendo optar pela decisão por equidade ou ainda fazer decidir o litígio com
base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais do
comércio” (CARMONA, 2009, p. 15).
No que tange as peculiaridades da arbitragem, especialmente, quanto à sua diferença
em relação ao papel do terceiro imparcial, estão:
[...] arbitragem assemelha-se à decisão judicial, pois em ambos os casos um
terceiro, seja ele árbitro ou juiz, decide com autoridade acerca de uma
controvérsia. Existem diferenças, no entanto. Primeiro, o juiz é um
funcionário do Estado, que para decidir utiliza o ius imperium, não
necessitando da autorização de ambas as partes, ao contrário do que ocorre
com o árbitro. Segundo o juiz deve seguir os ritos processuais estatuídos na
lei, enquanto que o árbitro seguirá o procedimento determinado ou aceito pelas
partes. Terceiro, o juiz deve decidir com base na lei do Estado ao qual se
vincula, enquanto que o árbitro pode decidir com base na eqüidade ou em lei
alienígena conforme a convenção de arbitragem firmada pelas partes, que lhe
outorga poderes. Como o árbitro é um terceiro neutro ao qual as partes
outorgam poderes para decidir uma demanda, surge um grande benefício, que
é a possibilidade de escolha da pessoa que vai decidir a causa. Destarte, pode-
se escolher um árbitro especializado na área da controvérsia. (BARBOSA,
2013, p. 253).
Property Organization’s (WIPO) Arbitration and Mediation Center, criada em 1994, a qual
conduz procedimentos de arbitragem desde 2010 (LODDER; ZELEZNIKOW, 2005).
No Brasil, a mediação passou a ser regida por lei própria com a edição da Lei nº
13.140/2015, a qual abordou, entre outros aspectos, sobre a abrangência desse método, da
gratuidade aos necessitados, estabelecimento prazo para finalização do procedimento de
mediação, suspensão da prescrição e ausências de custas judiciais finais e a possibilidade de
sua realização online.
Algumas das vantagens desse meio está em ser mais barato, rápido e sigiloso, bem
como, tendo em vista considerar os interesses das partes, tratar-se de um método mais
hospitaleiro, de modo a “educar as partes sobre as necessidades do outro e as de sua
comunidade” (OLIVEIRA, SPENGLER, 2013, p. 91).
Portanto, verifica-se que a mediação pode ser compreendida como um método
colaborativo de tratamento de conflitos, na qual as consequências da decisão são mutuamente
compartilhadas, porquanto a participação ativa das partes fortalece o sentimento de união, razão
pela qual “os mediadores exercem uma importante função de proteção da integridade do sistema
legal” (FRANCO, 2021, p. 06).
A mediação eletrônica (também nomeada como e-mediação, em inglês e-mediation)
também pode ser compreendida como uma ferramenta de ODR assista pela tecnologia
desenvolvida no ciberespaço, ainda distante das tecnologias de ponta em desenvolvimento para
resolução de disputas, tendo em vista que a necessidade de um terceiro imparcial, na condição
de facilitador do diálogo.
Não obstante isso, tal mecanismo pode oferecer algumas vantagens (WAHAB;
KATSH; RAINEY, 2012), entre elas, a conveniência da escolha de quando participar — no caso
de ser empregada a comunicação assíncrona; as partes ganharem acesso à experiência do
mediador, o qual poderá estar disponível em qualquer região geográfica e os registros são
preservados e revisáveis, permitindo processos mais contínuos e conjuntos. Ademais, na
comunicação assíncrona, além não haver a pressão do tempo, facilita o diálogo, de modo a
garantir mais conforto aos participantes, incluindo a percepção de nuances e sutilezas pelo
mediador. Além disso, outro destaque positivo está no fato de que existem diferentes modelos
de preços para os serviços de e-mediação, nos quais, muitas vezes, não são diferentes dos
serviços presenciais, existindo, assim uma melhor relação de custo benefício (WAHAB;
KATSH; RAINEY, 2012).
No campo da mediação eletrônica, destacam-se alguns sites que oferecem o
desenvolvimento de mecanismo de resolução de disputas, quais sejam, Internet Neutral,
40
Desse modo, analisa-se que embora no Código de Processo Civil de 1973 (BRASIL,
1973) a busca pela solução consensual do conflito era sempre designada como “conciliação”,
além da criação de uma lei voltada especialmente para a mediação, o novo Código de Processo
Civil 2015 (BRASIL, 2015) contempla expressamente a existência dos métodos adequados de
tratamento de conflitos conciliação e a mediação no processo judicial.
À vista disso, destaca-se que, conforme o Código de Processo Civil de 2015 (BRASIL,
2015), o conciliador atuará nos casos em que não houver vinculo anterior entre as partes, sendo
possível sugerir soluções para o litígio, porém, vedado constrangimentos ou intimidações para
que se realize a conciliação. Por outro lado, a atuação do mediador ocorrerá nos casos que
houver vínculo anterior entre as partes, auxiliando os interessados a compreender as questões e
os interesses em conflito, de modo que eles possam, por si próprios, através do diálogo, chegar
a soluções consensuais.
41
Outrossim, ressalta-se que a conciliação pode ser tanto extrajudicial ou judicial. Dessa
forma, “pode operar-se tanto no contexto de uma demanda judicial como no âmbito de
instituições privadas voltadas à resolução de controvérsias (a exemplo das denominadas
“câmaras de conciliação e arbitragem”) (TARTUCE, 2018, p. 49).
Nesse sentido, destaca-se que, no Brasil, há um estímulo no sentido de promover
audiências como forma de prevenir judicialização (ou mesmo no decorrer do processo) e buscar
a autocomposição. Diversas legislações, entre elas a Lei dos Juizados Especiais e Consolidação
das Leis do Trabalho vêm consagrando a conciliação um importante procedimento no
tratamento de conflitos, como também no Código de Processo Civil, no qual a tentativa de
autocomposição precede, inclusive, o oferecimento de defesa pelo réu (TARTUCE, 2018).
Além disso, ressalta-se, ainda, que a conciliação ganhou ênfase a partir do lançamento
do Movimento pela Conciliação, pelo Conselho Nacional de Justiça, partindo-se da premissa
de que “de que um poder judiciário moderno não poderia permitir a condução de trabalhos sem
técnica” (AZEVEDO, 2016, p. 22).
Nesse contexto, ressalta-se que, para a sua eficácia, tal método “requer o
comprometimento do tribunal, instalações adequadas, um coordenador responsável e um
treinamento de qualidade” (BARBOSA, 2003, p. 253).
A conciliação é o método alternativo mais utilizado no Brasil e nos Estados
Unidos. Na nossa pátria, a conciliação é plenamente aceita e até incentivada
por nosso ordenamento o que se pode perceber pela tentativa de conciliação
obrigatória para determinadas causas e ainda pela sua larga utilização nos
juizados especiais. [...] Além da função de pacificação social, a introdução da
conciliação nos tribunais mediante o fórum de múltiplas portas racionaliza a
aplicação da Justiça, reduz o congestionamento dos juízos, educa a população
a negociar por si própria suas disputas, aumenta a legitimidade do Poder
Judiciário (pois, na maioria dos casos, a satisfação com o processo é superior
à de outros procedimentos) e, por fim, intensifica a participação democrática
popular naqueles casos em que o conciliador é escolhido entre a comunidade
(BARBOSA, 2003, p. 252).
Além disso, Tartuce (2018) destaca que através desse método, as partes podem chegar
a uma solução para a demanda, sem a intervenção de terceiros, através do diálogo e a exposição
dos benefícios, destacando-se como vantagem a preservação da autoria e autenticidade na
solução das demandas, bem como a durabilidade do acordo, tendo em vista o maior controle
sobre o processo. Desse modo, trata-se do método no qual as partes, com ou sem o auxílio de
advogados “buscam compor a controvérsia já instaurada sem a ajuda ou a assistência de uma
pessoa neutra e alheia ao conflito”, de modo que “a negociação retrata uma “mediação sem
mediador”, sob um enfoque de resolução colaborativa de disputas (collaborative law)
(FRANCO, 2021. p. 06).
Quanto ao seu funcionamento, Azevedo (2016) explica que as partes:
i) escolhem o momento e o local da negociação; ii) determinam como se dará
a negociação, inclusive quanto à ordem e ocasião de discussão de questões
que se seguirão e o instante de discussão das propostas; iii) podem continuar,
suspender, abandonar ou recomeçar as negociações; iv) estabelecem os
protocolos dos trabalhos na negociação; v) podem ou não chegar a um acordo
e têm o total controle do resultado (AZEVEDO, 2016, p. 20).
todo o mundo — cenário o qual permitiu justamente o surgimento dos primeiros sistemas ODR.
Em sua forma mais avançada, no campo da resolução de disputas extrajudiciais, é possível
verificar a aplicação da inteligência artificial ao processo, conforme será explorado um pouco
mais adiante.
Entre as vantagens da negociação eletrônica estão a redução dos custos comparada a
negociação tradicional, a velocidade, o assincronismo, e nos sistemas mais avançados, em que
possível a prática de casos hipotéticos ou mesmo simular o próprio caso antes da realização do
negócio, um resultado mais valioso pode ser alcançado (WAHAB; KATSH; RAINEY, 2012).
No Brasil, uma das plataformas digitais voltadas para negociação é o
“consumidor.gov.br”, cujo sistema foi desenvolvido pelo Banco do Brasil junto ao Ministério
da Justiça, na qual a pessoa faz uma reclamação em face da empresa credenciada que, por sua
vez, tem um período de resposta e outro para análise da proposta. Para tanto, destaca-se que o
TJDFT, por meio de convênio feito com o CNJ, integrou a plataforma ao sistema Processo
Judicial Eletrônico (PJe).
Nesse limiar, ao analisar alguns sites voltados para o desenvolvimento do online
dispute resolution (ODR) no campo do comércio eletrônico, tem-se como destaque, conforme
já citado, a criação da plataforma European Online Dispute Resolution (ODR), em atuação
desde 2016, o SquareTrade, que trata principalmente de conflitos entre os comerciantes do site
de leilões online eBay e o SmartSettle, que auxilia as partes na superação os desafios da
negociação convencional através de uma gama de ferramentas analíticas, é projetado para
esclarecer interesses, identificar trade-offs, reconhecer a satisfação das partes, e gerar ótimas
soluções. (LODDER; ZELEZNIKOW, 2005).
inglês Alan Mathison Turing. Considerado o fundador da ciência da computação, Turing ficou
famoso pela sua contribuição no campo da Inteligência Artificial, sobretudo, por criar o “teste
de Turing”. Neste experimento, uma pessoa se comunica sem saber se está conversando com
um ser humano ou um computador e se, após um certo período limitado de tempo, a pessoa
decide que provavelmente está conversando com um ser humano, tem-se que o programa
passou no teste e pode ser considerado “inteligente”.
O teste de Turing é conhecido como um trabalho precursor no âmbito da Inteligência
Artificial, a qual, embora tenha se desenvolvido ao longo das últimas décadas, na maioria dos
seus subcampos, seu progresso tem sido mais lento do que o inicialmente previsto, sendo este
o caso da área do Direito (LODDER; ZELEZNIKOW, 2005). Nesse sentido:
Inicialmente, muitos comentaristas esperavam que fosse possível colocar
todas as regras legais relevantes dentro de um domínio específico em um
computador e fazer com que o software resolvesse todos os casos possíveis.
Pesquisadores em domínios do direito civil consideraram essa realização uma
probabilidade. Enquanto alguns ainda acreditam, a maioria das pessoas
concorda que, não obstante nossa tecnologia de ponta, estamos muito longe
dos computadores ocupando os lugares de juízes. Para ser justo, estudiosos de
AI e Direito não visam projetar computadores que possam assumir a função
de juiz. A razão para isso, principalmente enunciada por advogados, é que
permitir que os computadores façam julgamentos é moralmente indesejável.
Uma objeção mais fundamental é que, porque as leis exigem interpretação,
não seria factível para sistemas de software tomarem decisões judiciais.
Sistemas de computadores são sistemas "fechados", enquanto argumentos em
ações judiciais não podem ser conhecidos com antecedência e, portanto, não
pode ser implementado em uma aplicação de computador: a lei é um sistema
“aberto” (LODDER; ZELEZNIKOW, 2005, p. 289).
Insta salientar que tal perspectiva permitiu a concepção da chamada “quarta parte”,
desenvolvida por Ethan Katsh e Janet Rifkin, na qual, verifica-se que, em um processo típico
de resolução de disputas online (ODR), há, pelo menos, duas partes, a terceira neutra e a
tecnologia de informação na condição de quarta parte. Um elemento importante que integra
esse quarto ator no processo será o desenvolvimento de sistemas especialistas e agentes de
software inteligentes com poderes para ajudar as partes e o mediador (ou árbitro) na busca por
uma solução justa (CARNEIRO; NOVAIS; ANDRADE, 2014). Além disso, há, ainda, a
chamada “quinta parte”, consistente nos prestadores de serviços, isto é, aqueles que fornecem
e entregam os elementos tecnológicos (WAHAB; KATSH; RAINEY, 2012).
Ou seja, no Online Dispute Resolution (ODR) deve ser considerado não apenas as
partes litigantes e o eventual terceiro (mediador, conciliador, árbitro), mas também os
elementos tecnológicos envolvidos, o que permite transformar o ODR em uma forma nova, um
tanto complexa (mas consequentemente e eventualmente mais rápida, menos onerosa e mais
vantajosa) de interação e de resolução de conflitos.
Desse modo, tem-se que tal abordagem pode ser considerada a partir de duas
perspectivas distintas: por um lado, como uma ferramenta para ajudar as partes e os tomadores
de decisão a obter a melhores resultados possíveis na resolução de disputas comerciais e, por
outro lado, considerando uma nova forma de resolução autônoma de disputas por meio do uso
46
Desse modo, o princípio do acesso à justiça pode ser compreendido como sinônimo
do princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, também denominado princípio da
universalidade ou da ubiquidade da jurisdição, tendo em vista que a disposição constitucional
49
de que “nenhuma lei excluirá ameaça ou lesão a direito da apreciação do Poder Judiciário deve
ser entendida no sentido de que qualquer forma de “pretensão”, isto é, “afirmação de direito”
pode ser levada ao Poder Judiciário para solução” (BUENO, 2018, p. 126).
Portanto, nesta abordagem, sob o ponto de vista formal, a acesso à justiça pode ser
compreendido como sinônimo do acesso à jurisdição, a partir da atuação do Poder Judiciário.
Nesse contexto, importa salientar que o acesso à justiça por meio da tutela jurisdicional estatal
pode apresentar vantagens e desvantagens.
Entre os aspectos positivos, consoante Fernanda Tartuce (2018), estão ser pautado por
princípios e garantias constitucionais, como o devido processo legal, o contraditório e a ampla
defesa, assegurando, ainda, a isonomia entre as partes na proteção de interesses socialmente
relevantes. Além disso, destaca-se a publicidade dos atos, a imparcialidade do Juízo, a qual
pode ser atestada, junto ao controle dos seus atos por meio da motivação das decisões, a
imperatividade das decisões a partir da qualidade terminativa e obrigatória, a estabilidade da
decisão final em função da coisa julgada, bem como a coercibilidade a fim de dar cumprimento
às decisões.
Já os aspectos negativos são, primeiramente, quanto ao ingresso no sistema judicial,
além de problemas na gestão administrativa de aparatos judiciários complexos e o estímulo da
litigância voltada para obter vantagens diversas, a dificuldade de acesso daqueles que possuem
baixos poderes socioeconômicos contraposta pela excessiva facilidade de acesso pelas classes
de níveis mais altos. Tais fatores, aliados à cultura da litigiosidade, permitem o inchaço do
poder judiciário com demandas que destoam do asseguramento de direitos (TARTUCE, 2018).
Outrossim, conforme aponta Tartuce (2018), as demais desvantagens da administração
da justiça são as incertezas do direto, a lentidão do processo (morosidade) e seus altos custos.
O primeiro está relacionado tanto com os aspectos qualitativos no que se refere ao resultado da
demanda através da interpretação que será aplicada a situação concreta, quanto com os dados
temporais, ante a impossibilidade de previsão de quando ocorrerá a satisfação do direito. O
segundo diz respeito a delonga do processo, ocasionada pelo excesso de demandas, ausência de
estrutura, número reduzido de funcionários junto a qualidade duvidosa dos julgados, fatores os
quais levam diretamente ao terceiro apontamento, tendo em vista que a demora da tramitação
do processo poderá ensejar aumento dos custos de forma a prejudicar aqueles economicamente
mais fracos, bem como, em alguns casos, impossibilitar o cumprimento da decisão, ainda que
a parte vença a demanda processual.
Além disso, outro apontamento negativo consiste na falta de alcance da efetiva
pacificação das partes, tendo em vista que a sentença imposta pelo juiz não assegura a satisfação
50
dos integrantes do processo, uma vez que sempre haverá descontentamento com a decisão do
juiz por uma das partes ou até mesmo ambas, circunstância que pode ser agravada pelos demais
aspectos, sobretudo, pela morosidade (GRINOVER, 2007).
Por outro lado, analisa-se que o conceito de acesso à justiça sofreu uma atualização,
sobretudo a partir da década de 80, com grandes e revolucionárias transformações, como, por
exemplo, a criação dos Juizados Especiais de Pequenas Causas (1984) e a aprovação da Lei da
Ação Civil Pública (1985) — com posterior aprovação do Código de Defesa do Consumidor
(1990), passando a ser considerado a perspectiva material desse direito assegurado
constitucionalmente. Sobre o tema, Kazuo Watanabe (2017) ressalta que:
O conceito de acesso à justiça passou por uma importante atualização: deixou
de significar mero acesso aos órgãos judiciários para a proteção contenciosa dos
direitos para constituir acesso à ordem jurídica justa, no sentido de que os
cidadãos têm o direito de ser ouvidos e atendidos não somente em situação de
controvérsias com outrem, como também em situação de problemas jurídicos
que impeçam o pleno exercício da cidadania, como nas dificuldades para a
obtenção de documentos seus ou de seus familiares ou os relativos a seus bens.
Portanto, o acesso à justiça, nessa dimensão atualizada, é mais amplo e abrange
não apenas a esfera judicial, como também a extrajudicial (WATANABE, 2017,
p. 24).
Nesse limiar, Cândido Rangel Dinamarco (2004, p. 114) pontua que essa compreensão
acesso à justiça “abarca uma série de possibilidades de verificação e realização da justiça, o que
se coaduna com a nossa realidade multifacetada na configuração de um sistema jurídico
pluriprocessual”.
Portanto, é imprescindível ressaltar que o acesso a justiça não se confunde com o
acesso à jurisdição. Nesse limiar, Cappelletti e Garth (1988, p. 12) acentuam que o acesso à
justiça “pode, portanto, ser encarado como o requisito fundamental – o mais básico dos direitos
humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas
proclamar os direitos de todos”, representado, assim, por um sentimento de equidade e razão,
diferentemente do acesso a jurisdição, que é uma função do Estado própria e exclusiva do Poder
Judiciário, na qual atua o direito objetivo na composição dos conflitos de interesses, tendo como
finalidade assegurar a paz jurídica (SANTOS, 1998).
Neste ponto, insta salientar que há hipóteses previstas na Constituição Federal, nas
quais a jurisdição não é exercida pelo próprio Poder Judiciário. Sobre o tema, André Tavares
Ramos (2012) explica que:
É que há casos — e necessariamente previstos na Constituição — nos quais
há jurisdição exercida por órgãos fora da estrutura orgânica própria do Poder
Judiciário. Como exemplos, há o caso do julgamento de impeachment,
realizado pelo Poder Legislativo, ou da jurisdição administrativa, onde uma
decisão pode, evidentemente, acabar assumindo o papel de definitiva (dada a
51
Nesse sentido, uma barreira importante do acesso à justiça está relacionada custos da
demanda, através das custas judiciais e honorários advocatícios, ante a presença de situação de
vulnerabilidade ou hipossuficiência de muitos jurisdicionados. Nesse limiar, verifica -se que a
Constituição Federal (BRASIL, 1998), em seu art. 5º, inciso LXXIV, instituiu a assistência
judiciária gratuita e integral, regulamentada pelo art. 98 a 102 do Código de Processo Civil
(BRASIL, 2015).
Além disso, importa salientar que, nos Juizados Especiais, consoante o art. 9º, §1º, da
Lei 9.099/1995 (BRASIL, 1995), nas causas de valor até vinte salários mínimos a assistência
por advogado é facultativa, bem como, no art. 54, do mesmo dispositivo, é assegurado o acesso
ao Juizado Especial, em primeiro grau de jurisdição, isento ao pagamento de custas, taxas ou
despesas.
Assim, conforme elucida Rodolfo de Camargo Mancuso (2011), fez-se necessário a
ressignificação do acesso à justiça, não sendo mais cabível a sua conceituação apenas sob a
perspectiva formal, transcendendo, assim, a definição clássica como sinônimo de acesso ao
Judiciário.
O conceito de acesso à justiça não pode mais se manter atrelado a antigas e
defasadas acepções – que hoje se podem dizer ufanistas e irrealistas – atreladas
à vetusta ideia do monopólio da justiça estatal, à sua vez assentado numa
perspectiva excessivamente elástica de “universalidade/ubiquidade da
jurisdição” e, também, aderente a uma leitura desmesurada da “facilitação do
acesso”, dando como resultado que o direito de ação acabasse praticamente
convertido em... dever de ação, assim insuflando a contenciosidade ao interno
da sociedade e desestimulando a busca por outros meios, auto ou
heterocompositivos. [...] A questão hoje transcende o tradicional discurso do
acesso ao Judiciário, para alcançar um patamar mais alto e mais amplo, qual
seja o direito fundamental de todos, num Estado de Direito, a que lhes sejam
52
social, tendo em vista que tal circunstância leva ao inconformismo, que, por sua vez, implica o
crescimento da litigiosidade.
Desse modo, tal cenário exigiu do sistema jurisdicional, além de investimentos em
outras áreas, como em organização judiciária, informatização, capacitação de servidores e
magistrados, a busca por outras formas de atuação, sobretudo, por meio do incentivo ao estudo
e adoção de mecanismos autocompositivos de solução de conflitos, a fim de assegurar o acesso
a uma ordem jurídica justa, através do estímulo a pacificação social.
Embora os métodos adequados de tratamento de conflitos não tenham surgido
atualmente no ordenamento jurídico brasileiro, tendo em vista alguns exemplos legislativos que
tratam da mediação e conciliação, como a Lei dos Juizados Especiais Cíveis (Lei nº 9.099/95),
o próprio Código de Processo Civil de 1973 (Lei nº 5.869/73) e, ainda, no caso da arbitragem,
a criação da Lei da Arbitragem (Lei nº 9.307/1996), a preocupação e a institucionalização do
fórum múltiplas portas na busca pela efetiva solução de controvérsias da forma mais adequada,
estimulando-se a autocomposição na resolução de conflitos, é recente.
Insta salientar que, conforme pontuam Nunes e Sales (2010), o sistema judicial
brasileiro foi objeto de análise de um projeto piloto de uma pesquisa intitulada UST
International ADR Research Network, coordenada pela professora Mariana Hernandez da
Universidade de St. Thomas nos Estados Unidos, supervisionada pelo professor Frank Sander,
da Universidade de Harvard, e pelo professor Lawrence Susskind, da Universidade de Harvard
e do Massachusetts Institute of Technology, na qual se discutiu a viabilidade da implementação
do sistema de múltiplas portas no país, tendo as autoras integrado o projeto.
Nesse contexto, uma das principais ações do Estado relacionadas a implementação da
política de tratamento dos conflitos nos moldes do Fórum Múltiplas Portas foi a criação, através
da Emenda Constitucional nº 45/2004 (BRASIL, 2004), do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), cuja atuação, desde a sua instalação como instituição pública que visa controle e à
transparência administrativa e processual, esteve voltada para o incentivo a adoção de métodos
consensuais de conflitos.
À vista disso, considerando a conjuntura brasileira, uma importante evolução
normativa no Brasil, no que tange a incorporação do fórum múltiplas portas, é a Resolução nº
125/2010 do Conselho Nacional de Justiça, a qual instituiu a Política Judiciária Nacional de
tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário. A referida
norma dispõe acerca de orientações para implantação dos Núcleos Permanentes de Métodos
Consensuais de Solução de Conflitos (NUPEMEC), normas atinentes a criação dos Centros
Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC), bem como orientações para a
54
À vista disso, Watanabe (2007) ressalta que tal entendimento no que diz respeito a
obtenção de soluções de conflitos de interesses tão somente por meio de decisões judiciais, deu
origem a intitulada “cultura da sentença”, também denominada de cultura do “litígio”.
Desse modo, o segundo ponto consiste na cultura da sentença e do litígio, a qual está
interligada a “mentalidade hoje predominante entre os profissionais do direito e também entre
os próprios destinatários dos serviços de solução consensual de litígios, que é a da submissão
ao paternalismo estatal” (WATANABE, 2017).
Há, ainda, a preferência pela solução adjudicada por terceiros, em especial
pela autoridade estatal, e grande parte da população não conhece os benefícios
da solução consensual dos conflitos de interesses. Os profissionais do direito,
mesmo conhecendo esses benefícios, não sabem como transformar em ganho
significativo a sua atuação na solução consensual dos conflitos de interesses
(WATANABE, 2017, p. 29).
ressaltou as deficiências existentes no atual sistema jurídico nacional, tendo feito alguns
apontamentos acerca das medidas a serem tomadas para que ocorra a mudança desse cenário
fático. Nesse sentido, ressaltou que:
[...] a capacitação de terceiros facilitadores, entre os quais, conciliadores e
mediadores judiciais, deve partir de um ensino genérico dos métodos
consensuais de solução de conflitos, com informações sobre a Política
Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos, instituída pela
Resolução nº 125, do Conselho Nacional de Justiça, seus objetivos e o
funcionamento das unidades judiciárias chamadas Centros Judiciários de
Solução Consensual de Conflitos; criando-se, em momento posterior, uma
pluralidade de especializações nas diversas áreas dos métodos consensuais.
Assim, depois da formação básica, que permitirá o início do trabalho com a
conciliação e a mediação e suas variações, seja no âmbito judicial, seja no
extrajudicial, pode-se ampliar o sistema de formação, através de cursos
específicos, como de mediação familiar, mediação empresarial, conciliação
cível, negociação etc. E, o aprofundamento no que diz respeito às técnicas de
conciliação, mediação e negociação, bem como à conduta ética pela qual
devem se pautar, através de reciclagem e atualização permanentes, por
seminários e cursos diversos, também é essencial para que o conciliador/
mediador/negociador se torne um bom profissional. Assim, pode-se concluir
que, não é adequado falar em capacitação plena em conciliação, mediação e
negociação, pois no trabalho com esses métodos, o aprendizado é permanente
e contínuo, aconselhando-se, além de novos cursos, a participação de
conciliadores e mediadores em grupos de supervisão, integrados por membros
mais experientes e pertencentes a diversas áreas do conhecimento
(LUCHIARI, 2020, p. 169).
Outrossim, a análise do custo, a qual dependerá do mercado, é notável no tange a opção pela
adoção ou não de sistemas de ODR, considerando, ainda que o progresso do uso da tecnologia
também deve tornar a intervenção em algumas disputas comuns menos onerosa.
Ademais, Albornoz e Martín (2013) identificam três principais desafios a serem
enfrentados em relação a implementação do online dispute resolution (ODR) nos países em
desenvolvido no âmbito da América Latina, quais sejam (i) o desafio cultural; (ii) o desafio da
estrutura das tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) e (iii) o desafio regulatório,
além de mais um aspecto subjacente que permeia os três: a falta de confiança.
O desafio cultural está relacionado ao fato de que as sociedades latino-americanas
ainda não assimilaram totalmente a ideia de usar as TICs tanto para atividades como compra e
venda quanto no campo da resolução de litígios, de modo que priorizam os relacionamentos
pessoais, destacando-se ainda o analfabetismo digital, sendo necessário uma política de
educação proativa e eficaz para esse campo, assegurando a inclusão digital.
O desafio tecnológico diz respeito a distância que separa a América Latina das demais
regiões no mundo, no que tange a infraestrutura das TICs. Para se atingir um ecossistema
robusto de internet é necessário em uma infraestrutura de qualidade, abrangendo o fornecimento
de eletricidade, realização de transações online de confiança, acesso à internet com conexão de
alta qualidade e o incentivo de profissionais locais experientes a se envolverem no
desenvolvimento do ODR, permitindo, assim, o estímulo a implementação de políticas de
pesquisa e desenvolvimento (P&D) pelos governos nacionais.
O desafio da regulamentação consiste na necessidade de uma estrutura coerente que
permita a construção de confiança no comércio eletrônico e no online dispute resolution (ODR),
tendo em vista a ausência de regulamentação aplicável à América Latina que trate sobre este
campo. Em virtude dessa lacuna legislativa, as autoras sustentam a possibilidade de análise da
aplicabilidade dos regulamentos sobre o alternative dispute resolution (ADR) aos
procedimentos online dispute resolution (ODR).
Além disso, ressalta-se, ainda, que a construção da confiança nos sistemas ODR é uma
tarefa importante, na qual todas as partes devem estar envolvidas, incluindo governos,
empresas, consumidores e provedores de ODR, cada qual com a sua parcela de
responsabilidade.
Dessa forma, analisa-se que os avanços tecnológicos por si só não são suficientes para
transformar antigas instituições e práticas, cujas mudanças podem ser afetadas tanto pela
tecnologia em si quanto pela cultura. É imprescindível que as pessoas também sejam capazes e
estejam prontas e dispostas a usar a tecnologia, tendo em vista que mecanismos poderosos não
62
trarão mudanças se não forem usados, e não serão utilizados se forem muito difíceis ou mesmo
se não forem confiáveis (KATSH; RIFKIN, 2001).
homologatórias de acordo cresceu 5,6%, passando de 3.680.138 no ano de 2016 para 3.887.226
em 2019.
Neste ponto, importa destacar que ainda no primeiro semestre de 2020, contabilizou-
se um significativo aumento no número de ingressos judiciais, em especial, quanto às demandas
voltadas para área de saúde, direito de família, direito empresarial, trabalhista e consumerista.
Desse modo, tal circunstância implicou o fenômeno da “judicialização da pandemia”, termo
utilizado para caracterizar, além da sobrecarga preexistente, o abarrotamento do judiciário no
período em virtude do acúmulo dos litígios, evidenciando ainda mais a necessidade de se adotar
normas voltadas para a solução consensual de conflitos.
No que tange as medidas voltadas para uso das tecnologias de informação e
comunicação (TIC), ao desenvolvimento dos métodos adequados de tratamento de conflitos e,
sobretudo, quanto a utilização do online dispute resolution (ODR) pelo Poder Judiciário,
destacam-se (CNJ, 2020): (i) a Resolução 329/2020, que regulamenta e estabelece critérios para
a realização de audiências e outros atos processuais por videoconferência, em processos penais
e de execução penal, durante o estado de calamidade pública, reconhecido pelo Decreto Federal
nº 06/2020, em razão da pandemia mundial por Covid-19; (ii) Portaria nº 61/2020, que institui
a plataforma emergencial de videoconferência para realização de audiências e sessões de
julgamento nos órgãos do Poder Judiciário, no período de isolamento social, decorrente da
pandemia Covid-19; (iii) Recomendação nº 70/2020, que recomenda aos tribunais brasileiros a
regulamentação da forma de atendimento virtual aos advogados, procuradores, defensores
públicos, membros do Ministério Público e da Polícia Judiciária e das partes no exercício do
seu Jus Postulandi (art. 103 do NCPC), no período da pandemia da Covid-19 e (iv)
Recomendação nº 71/2020, que dispõe sobre a criação do Centros Judiciários de Solução de
Conflitos e Cidadania – CEJUSC Empresarial e fomenta o uso de métodos adequados de
tratamento de conflitos de natureza empresarial.
Além disso, destaca-se que a Resolução nº 345, que autoriza os tribunais brasileiros a
adotarem o “Juízo 100% Digital”, com mais de 900 varas judiciais. Tal programa consiste na
possibilidade de o cidadão valer-se da tecnologia para ter acesso à Justiça sem precisar
comparecer fisicamente nos Fóruns, uma vez que, no “Juízo 100% Digital”, todos os atos
processuais serão praticados exclusivamente por meio eletrônico e remoto, pela Internet,
estendendo-se, ainda, às audiências e sessões de julgamento, que vão ocorrer exclusivamente
por videoconferência.
O principal marco no que tange a incorporação do online dispute resolution (ODR) é
a Resolução nº 358/2020, que regulamenta a criação de soluções tecnológicas para a resolução
de conflitos pelo Poder Judiciário por meio da conciliação e mediação.
66
Aprovado na 322ª sessão ordinária do CNJ, em novembro de 2020, o ato foi proposto
pela Comissão de Solução Adequada de Conflitos, tendo sido pensado considerando a lei de
proteção de dados. A norma estabelece que, no prazo de 18 (dezoito meses), os tribunais
deverão disponibilizar sistema informatizado para a resolução de conflitos por meio da
conciliação e mediação (SIREC) (Art. 1º), conferindo liberdade na confecção de projetos que
forem mais adequados a cada região, contudo, sob a coordenação, supervisão e fiscalização do
CNJ (CNJ, 2020).
Ressalta-se, ainda, a edição da Lei nº 13.994/2020, em abril de 2020, a qual trouxe
uma inovação legislativa ao implementar a possibilidade da realização das audiências de
conciliação por meio de videoconferência no Juizado Especial Cível. Dessa forma, deixou de
se fazer necessário o comparecimento presencial a um órgão judiciário, possibilitando a
participação das partes de qualquer lugar no mundo, desde que conectadas à rede a qual permita
a transmissão de áudio e vídeo em tempo real.
Ademais, no que tange a legislação estadual, ressalta-se que, através da Instrução
Normativa Conjunta 01/21, o TJPE regulamentou e padronizou o aplicativo WhatsApp
Business e WhatsApp Messenger, em conjunto com a ferramenta do WhatsApp Web, como
meio de comunicação institucional dando maior segurança aos usuários (PERNANBUCO,
2021).
No que tange a inteligência artificial, insta salientar que, consoante a publicação
“Inteligência Artificial aplicada à gestão dos conflitos no âmbito do Poder Judiciário”,
produzido pela Fundação Getúlio Vargas, por meio do Centro de Inovação, Administração e
Pesquisa do Judiciário (CIAPJ/FGV), em 2020 apurou-se a existência de 72 projetos de
inteligência artificial no âmbito do Poder Judiciário. Entre eles, destacam-se os sistemas (i)
Sócrates 1.0; (ii) O robô Athos, (iii) O robô Hórus; (iv) robô Secor, (BRAGA, 2020).
[...] o Sócrates 1.0, que é desenvolvido no âmbito do Superior Tribunal de
Justiça, que conta com uma assessoria específica de inteligência artificial com
projetos de ponta. O Sócrates 1.0 pode identificar grupos de processos
similares em 100 mil processos, em menos de 15 minutos, bem como os
demais processos que tratam da mesma matéria em um universo de dois
milhões de processos e de oito milhões de peças processuais, que abrangem
todos os processos em tramitação no STJ em mais 4 anos de histórico, em 24
segundos. O robô Athos, criado também pela assessoria de inteligência
artificial do STJ, realizou agrupamento de acórdãos similares, e cerca de 29%
foram incluídos de forma automática; em junho, já foram incluídos 19,42%.
O robô Hórus foi implementado no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Territórios, numa Vara de Execução Fiscal, e já realizou a distribuição de
275.000 processos de forma automatizada em menos de 10 segundos para cada
processo. O TRF da 1a Região possui um robô chamado Secor, que realiza a
sistematização de dados a serem enviados para o CNJ. Tal atividade era
67
Por fim, destaca-se o Projeto de Lei 21/20 (BRASIL, 2020), em tramitação na Câmara
dos Deputados, o qual cria o marco legal do desenvolvimento e uso da Inteligência Artificial
(IA) pelo poder público, por empresas, entidades diversas e pessoas físicas, estabelecendo
princípios, direitos, deveres e instrumentos de governança para a AI.
4.4.2 Online Dispute Resolution (ODR) como ferramenta de acesso à justiça no Brasil
razoável duração do processo e aos litigantes, o contraditório e ampla defesa. Embora tenha
passado por uma recente atualização, culturalmente, a mentalidade voltada para a solução
contenciosa como única forma de solução do conflito ainda é predominante.
Pautado nesse direito, a partir de 2004, com a Emenda Constitucional nº 45, no país,
inicia-se no país um gradual e importante processo de virtualização do poder judiciário,
orquestrado pelo Conselho Nacional de Justiça. Ao longo de mais de 15 anos, foram
implementadas medidas voltadas para garantir o maior controle dos atos relativos à desse poder,
objetivando melhorar os serviços propiciados pelas atividades administrativas e jurisdicionais.
Nesse contexto, um dos principais destaques foi necessidade de adaptação do sistema
judiciário como um todo para que pudesse assegurar a continuidade das atividades
jurisdicionais, circunstância a qual somente foi possível em virtude das medidas voltadas para
a virtualização do poder judiciário realizadas pelo CNJ, desde a sua criação.
A gestão processual e atendimento ao público nos Tribunais de Justiça, ressalta-se que
do total, 27% do acervo ainda é físico, por outro lado, uma parcela significativa dos tribunais
já está atuando com 100% dos processos em andamento na forma eletrônica, de modo que 20%
do acervo tramita no PJe, 19% no SAJ, 9% no ProJud, 7% no E-Proc, 2% no Themis, e 17%
em outros sistemas eletrônicos, tendo sido protocolados, ao longo de 11 anos (2009 - 2020),
131,5 milhões de casos novos em formato eletrônico no Poder Judiciário.
Dessa forma, analisa-se que a adoção das tecnologias de informação e comunicação
foram e estão sendo essenciais na manutenção da prestação jurisdicional, seja pela utilização
eletrônicos portáteis, seja por plataformas de encontros ou mesmo sistemas processuais.
No entanto, nota-se que a busca pela solução litigiosa restou prejudicada, com a
situação de isolamento social pela crise sanitária, sendo que o desenvolvimento dos métodos
adequados de tratamento de conflitos, em virtude das suas características intrínsecas, sobretudo,
em razão de ser operado presencialmente, através de instrumentos offline, também contribuiu
para uma redução de demandas nesse período pandêmico.
Tal contexto político-sanitário exigiu a adoção de medidas voltadas para a realização
processos litigiosos e dos métodos adequados de tratamento de conflitos, permitindo, assim,
um cenário favorável para o desenvolvimento do online dispute resolution (ODR) no âmbito
do sistema jurídico brasileiro, como forma de assegurar o acesso à uma ordem jurídica justa.
Destaca-se também que a tecnologia, nessa forma de resolução de litígios,
funciona como peça essencial, pois através dos seus meios as partes poderão
se comunicar de forma assíncrona ou síncrona, pela utilização de chats de
texto, de voz, ou de vídeo, bem como o envio de documentos, dentre inúmeras
formas de compartilhamento de informações. Essas plataformas apresentam
bons espaços de interatividade entre as partes litigantes e um conciliador,
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Gradativamente nos últimos cinco anos, foi sendo incrementada a adesão por parte das
empresas se credenciando, bem como dos consumidores buscando cadastrar suas reclamações,
fomentado também por algumas imposições institucionais que determinaram o cadastramento
de algumas empresas específicas e também com as adesões seguidas pelos direcionamentos do
Conselho Nacional de Justiça, aumentando ainda mais, após a pandemia de Covid-19.
74
Os dados permitem verificar por ano a maior frequência por segmento, quais os
assuntos com mais reclamações, os tipos de problema com maior incidência, até mesmo o
gênero dos consumidores e nos últimos cinco anos foram do sexo masculino os que mais
procuraram ofertar demandas, a faixa etária e demais assuntos disponibilizados no painel
interativo.
Os conflitos tratados na plataforma têm a dinâmica de ser um caminho facilitador para
o processo de comunicação entre consumidores e fornecedores, em razão de haver determinada
insatisfação na relação de consumo entre as partes, sendo assim um vetor que oferta às partes
um ambiente virtual de negociação entre as partes, sem interferir ou direcionar alguma
intermediação do conflito, configurando assim a autocomposição entre partes. Trata -se de um
espaço público para realização de negociações privadas (BELEN,2021 p.52).
Destaca-se que a plataforma consumidor.gov.br tem sido amplamente utilizada pelos
Procons, bem como pelos CEJUSCs e NUPEMECs nos Tribunais de Justiça de modo inserido
no sistema de Processos Judiciais Eletrônicos (PJEs), no momento da apresentação da
reclamação, sendo uma ferramenta utilizada para a solução do litígio.
Pelos números expressivos que tem demonstrado nas reclamações registradas, pode se
considerar a plataforma consumidor.gov.br um agente militante na promoção da cultura do
consenso, fomentando a autonomia das partes na solução de conflitos.
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5 CONCLUSÃO
adequação do Poder judiciário a essa nova realidade, a partir de medidas que garantissem, ao
mesmo tempo, a preservação da saúde da população e o acesso à justiça, por meio da
manutenção das atividades desempenhadas.
No Brasil, esse contexto possibilitou a aceleração do processo de virtualização do
sistema judiciário, cenário o qual apresentou um grande potencial de extensão dos métodos
adequados de tratamento de conflitos, no âmbito online, em função do desenvolvimento e
utilização do online dispute resolution (ODR).
A metodologia utilizada na pesquisa teve como finalidade o cunho teórico, tendo sido
adotado o método de abordagem indutivo. Além disso, utilizou-se o procedimento de coleta de
dados bibliográfico-documental, através da abordagem de análise de conteúdo.
O primeiro objetivo foi cumprido, uma vez que no primeiro capítulo descreveu-se
acerca da introdução a utilização de tecnologias aplicadas ao processo de gestão de conflitos e
sobre a política do fórum múltiplas portas como mecanismo de acesso à justiça, trazendo-se os
conceitos dos termos “multidoor courthouse system”, “alternative dispute resolution” (ADR) e
“information and communication technology” (ICT).
O segundo objetivo foi atingido, tendo em vista que no segundo capítulo foram
explicados a origem, a evolução, o conceito do online dispute resolution (ODR), além de ter
sido tratado acerca da relação entre os métodos adequados de tratamento de conflitos e o online
dispute resolution (ODR), incluindo a sua abrangência aos tribunais e ampliação ao campo da
inteligência artificial, indicando-se, ainda, os aspectos relevantes dos principais métodos
adequados de resolução de conflitos desenvolvidos em plataformas online (ODR).
O terceiro objetivo foi alcançado, considerando que no terceiro capítulo examinou-se
a relação do online dispute resolution (ODR) com o direito fundamental do acesso à justiça no
Brasil, por meio da incorporação do fórum múltiplas portas e das políticas voltadas para a
virtualização do poder judiciário. Além disso, foram apresentados os conceitos de “acesso à
justiça”, “cultura do litígio e da sentença” e “cultura da pacificação”. Ademais, elencou-se os
desafios da utilização dessa ferramenta no país e as principais medidas adotadas no âmbito dos
tribunais quanto ao desenvolvimento de métodos adequados de tratamento de conflitos e
utilização do online dispute resolution (ODR).
O objetivo principal foi completado, tendo em vista que ao longo do trabalho, analisou-
se o uso do online dispute resolution (ODR) como ferramenta de acesso à justiça, evidenciando
o papel e atuação dos tribunais nos últimos cinco anos, bem como os desdobramentos e
utilização da Plataforma consumidor.gov.br.
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