Parecer Juridico 681.2023 Concessao. Adequacao de Contrato de Programa. CORSAN. Privatizacao. Lei 8987.95. Lei 11445.07
Parecer Juridico 681.2023 Concessao. Adequacao de Contrato de Programa. CORSAN. Privatizacao. Lei 8987.95. Lei 11445.07
Parecer Juridico 681.2023 Concessao. Adequacao de Contrato de Programa. CORSAN. Privatizacao. Lei 8987.95. Lei 11445.07
MUNICÍPIO DE CANOAS
SECRETARIA DE LICITAÇÕES E CONTRATOS – DIRETORIA JURÍDICA
I. RELATÓRIO
É o relatório.
3. Consigne-se que a presente análise considerará tão somente os aspectos estritamente jurídicos da
questão trazida ao exame desta Diretoria Jurídica, partindo-se da premissa básica de que, ao propor a
solução administrativa ora analisada, o administrador público se certificou quanto às possibilidades
orçamentárias, financeiras, organizacionais e administrativas, levando em consideração as análises
econômicas e sociais de sua competência.
4. Isso porque, nos termos da Lei nº 6.627/2023, que dispõe sobre a estrutura, organização e
funcionamento do Poder Executivo Municipal de Canoas, compete à Secretaria Municipal de
Licitações e Contratos, entre outras atribuições, proceder com o assessoramento jurídico em questões
de licitações e contratações em geral:
(...)
(...)
direta; (grifei)
5. Desta feita, verifica-se que a atividade dos procuradores e assessores jurídicos atuantes junto à
Secretaria Municipal de Licitações e Contratos – assim como ocorre com a atividade advocatícia de
maneira geral – se limita à análise da compatibilidade jurídica da matéria trazida a exame, sem
prejuízo de, eventualmente, sugerir soluções vislumbradas por esta unidade de assessoramento
jurídico, que devem ser objeto de consideração por parte do gestor, que detém, no entanto, a palavra
final sobre a implementação de políticas públicas no âmbito municipal, nos limites do seu juízo de
mérito.
(...)
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos
da lei:
(…)
(...)
7. Já conforme o art. 21, inciso XX, do Diploma Constitucional, a instituição de diretrizes do saneamento
básico é de competência da União e a construção e promoção de melhorias competem a todos os entes,
nos termos previstos no art. 23 da Carta Magna. No mesmo sentido, os artigos 30 e 175 da
Constituição Federal (CF) assim estabelecem:
(…)
(...)
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.
8. Nesse contexto, a Lei Orgânica do Município de Canoas regula o tema, em termos gerais, em seu
Capítulo VII (grifos nossos):
Orgânica nº 3/1996)
(...)
9. Portanto, conforme de depreende das normas constitucionais sobre o tema e da lei fundamental do
Município, compete a este o estabelecimento de políticas e ações visando à criação, expansão e
aperfeiçoamento do serviço de saneamento básico, diretamente ou através de delegação.
10. Dessarte, diante da possibilidade legal e constitucional de transferência da prestação dos serviços a
terceiros e os critérios de repartição de competência, foi editada a Lei Federal 8.987/95, estipulando
regras gerais de abrangência nacional.
11. Como referido no item anterior, a Lei 8.987/95 dispõe sobre regras gerais de concessão e permissão da
prestação de serviços públicos, regulamentando o art. 175 da CF. Confira-se:
(...)
(...)
1
Pietro, Maria Sylvia Zanella Di Direito administrativo / Maria Sylvia Zanella Di Pietro. – 31. ed. rev. atual e ampl. –
Rio de Janeiro: Forense, 2018
2
Carvalho Filho, José dos Santos Manual de direito administrativo / José dos Santos Carvalho Filho. –
28. ed. rev., ampl. e atual. até 31-12-2014. – São Paulo : Atlas, 2015.
É, pois, com absoluto acerto que CAIO TÁCITO anota que, embora o vínculo
principal seja o que liga o concedente ao concessionário, há outros existentes nesse
negócio típico de direito público: “Na concessão de serviço público há situações
jurídicas sucessivas, que lhe imprimem um caráter triangular.”5 Com efeito, se, de
um lado o negócio se inicia pelo ajuste entre o Poder Público e o concessionário,
dele decorrem outras relações jurídicas, como as que vinculam o concedente ao
usuário e este ao concessionário. Importante é saber que na concessão de serviço
público há uma tríplice participação de sujeitos: o concedente, o concessionário e o
usuário.
14. Em prosseguimento, as diretrizes nacionais sobre prestação de serviços de saneamento básico são
estabelecidas pela Lei 11.445/07. Confira-se:
15. No ponto, relevante a questão da desnecessidade de processo licitatório, forte no art. 24, inc. XXVI da
Lei 8.666/93 e no art. 38 do Decreto nº. 7.217/2010, que regulamentou a Lei nº. 11.445/2007. Confira-
se:
(...)
II - de forma contratada:
a) determinado condomínio; ou
17. Dessarte, considerando-se que a empresa Corsan, quando da avença com o Município de Canoas no
âmbito do Contrato de Programa 099, tratava-se de empresa pública e a relação jurídica entre ambos se
dava nos termos da legislação acima, dispensável a licitação.
18. Ainda, relevante mencionar-se o instituto introduzido pela Lei 11.107/05, o chamado “contrato de
programa”, em cujas bases se assentava a relação jurídica em análise. Veja-se:
Art. 13. Deverão ser constituídas e reguladas por contrato de programa, como
condição de sua validade, as obrigações que um ente da Federação constituir para
com outro ente da Federação ou para com consórcio público no âmbito de gestão
associada em que haja a prestação de serviços públicos ou a transferência total ou
parcial de encargos, serviços, pessoal ou de bens necessários à continuidade dos
serviços transferidos.
(…)
19. Portanto, em síntese, esse era o modelo jurídico e regulatório nos quais se deu a relação jurídica
entre o Município de Canoas e a então empresa pública Corsan.
20. Contudo, a Lei 11.445/07, que como já referido, instituiu normas gerais de contratação de consórcios
públicos, sofreu recente alteração pela Lei 14.026/20, a qual instituiu o chamado “novo marco
regulatório” do saneamento básico no País, trazendo diversas inovações e metas ao setor.
21. No ponto, relevante a vedação ao contrato de programa, até então instituto jurídico regularmente
utilizado pelos entes. Confira-se:
Art. 1º Esta Lei atualiza o marco legal do saneamento básico e altera a Lei nº 9.984,
de 17 de julho de 2000 , para atribuir à Agência Nacional de Águas e Saneamento
Básico (ANA) competência para instituir normas de referência para a regulação dos
serviços públicos de saneamento básico, a Lei nº 10.768, de 19 de novembro de
2003 , para alterar o nome e as atribuições do cargo de Especialista em Recursos
22. No mesmo sentido os artigos 8º e 10 da Lei 11.455/07, alterado pelo Diploma acima, verbis:
(…)
Art. 10. A prestação dos serviços públicos de saneamento básico por entidade que
não integre a administração do titular depende da celebração de contrato de
concessão, mediante prévia licitação, nos termos do art. 175 da Constituição
Federal, vedada a sua disciplina mediante contrato de programa, convênio, termo
de parceria ou outros instrumentos de natureza precária. (Redação pela Lei nº
14.026, de 2020)
§ 1º (Revogado). (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)
I - (revogado). (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
a) (revogado). (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
b) (revogado). (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
II - (revogado). (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
23. Em conjunto com as relevantes alterações regulatórias acima, deu-se a alienação do controle acionário
da empresa pública Corsan à iniciativa privada em 2022 (privatização), nos termo da Lei estadual
15.708/21, tornando necessária a adequação da relação jurídica entre a empresa e o Município de
Canoas, em especial em função da adesão deste ente às condições previstas na referida Lei estadual.
24. Como suprarreferido, a Lei Estadual 15.708/21 autorizou o Poder Executivo do Estado do Rio Grande
do Sul a promover medidas de desestatização da Companhia Riograndense de Saneamento –
CORSAN e a conceder contrapartidas aos municípios que mantivessem a empresa como prestadora
dos serviços após sua alienação e consequente transformação em empresa privada. Confira-se:
Art. 1º Fica o Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul autorizado a alienar
ou transferir, total ou parcialmente, a sociedade, os seus ativos, a participação
societária, direta ou indireta, inclusive o controle acionário, transformar, fundir,
cindir, incorporar, extinguir, dissolver ou desativar, parcial ou totalmente, seus
empreendimentos e subsidiárias, bem como, por quaisquer das formas de
desestatização estabelecidas no art. 3º da Lei nº 10.607, de 28 de dezembro de 1995,
alienar ou transferir os direitos que lhe assegurem, diretamente ou através de
controladas, a preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a
maioria dos administradores da sociedade, assim como alienar ou transferir as
participações minoritárias diretas e indiretas no capital social da Companhia
Riograndense de Saneamento - CORSAN.
(...)
(…)
Art. 2º Fica o Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul autorizado a ceder,
a título de contrapartida, até o total de 63.000.000 (sessenta e três milhões) de ações
da CORSAN, de sua titularidade, aos municípios que venham a firmar, em até 90
(noventa) dias após o início da vigência desta Lei, Termo Aditivo de Rerratificação
do Contrato mantido com a Companhia, prevendo, cumulativamente:
I - a extensão dos prazos contratuais, nos termos do art. 14, § 2º, da Lei Federal
nº 14.026, de 15 de julho de 2020;
II - as cláusulas de que tratam os arts. 10-A, 10-B e 11-B da Lei Federal nº 11.445,
de 5 de janeiro de 2007, com a redação dada pela Lei Federal nº 14.026/20.
§ 1º A cedência das ações de que trata o "caput" será objeto de cláusula constante
do Termo Aditivo de Rerratificação e somente se perfectibilizará quando
concretizada a desestatização de que trata o art. 1º desta Lei.
(...)
§ 5º Os municípios que façam jus às ações de que trata o "caput" poderão exercer,
no momento da alienação das ações de titularidade do Estado, a opção de aliená-las
juntamente com o acionista majoritário "tag along".
25. Apesar de não informado nos autos em tela, mas a partir de informações públicas fornecidas pelo
Estado do Rio Grande do Sul e do próprio Município, tem-se que o Município de Canoa aderiu aos
termos previstos na referida Lei estadual, firmando, antes da alienação da empresa em bolsa,
rerratificação do contrato de programa, fazendo jus, por via de consequência, aos benefícios
financeiros previstos. Veja-se notícia publicada no sítio do Município 3:
3
https://www.canoas.rs.gov.br/noticias/extensao-do-contrato-com-a-corsan-preve-investimentos-de-r-615-milhoes-
para-o-desenvolvimento-de-canoas/ Acesso em 09/11/23
26. No mesmo sentido, notícia publicada no sítio do Poder Executivo do Rio Grande do Sul 4:
(…)
4
https://estado.rs.gov.br/estado-repassa-r-192-milhoes-para-50-municipios-pela-venda-de-acoes-da-corsan Acesso em
09/11/2023
28. Dessarte, compatível com as relevantes alterações promovidas, a Lei 14.026/20, em seu artigo 14
assim prevê:
29. Nesse contexto se dá o Termo Aditivo para adequação do Contrato de Programa nº 099 ao regime de
concessão de serviço público e outras avenças e respectiva consolidação entre a Companhia
Riograndense de Saneamento - Corsan - e o Município de Canoas.
30. O art. 23 da Lei 8.987/95 elenca os elementos essenciais que o contrato administrativo de concessão da
prestação de serviços públicos deve conter, verbis:
31. Já o art. 11 da Lei 11.445/07, alterado pela Lei 14.026/20, assim dispõe sobre os contratos envolvendo
a concessão de prestação de serviços públicos:
Art. 11. São condições de validade dos contratos que tenham por objeto a prestação
de serviços públicos de saneamento básico:
32. Analisando-se a minuta do Termo Aditivo em tela à luz da legislação de regência, em especial os
artigos de lei acima transcritos, tem-se que, em linhas gerais, seu conteúdo se coaduna com as
determinações legais, recomendando-se, todavia, especial atenção aos seguintes apontamentos,
sugerindo-se que o gestor ou órgão competente efetue as complementações, retificações ou
justificativas pertinentes sobre os itens abaixo, sem exclusão de outros a critério da Administração e
seu legítimo juízo de conveniência e oportunidade:
aparente ausência de previsão dos itens previstos nos incisos XIII e XVI do art. 23 da Lei
8.987/95, verbis:
atestado por parte do gestor da existência de plano de saneamento básico e estudo que
comprove a viabilidade técnica e econômico-financeira da prestação dos serviços, nos termos
estabelecidos no respectivo plano de saneamento básico – art. 11, I e II, da Lei 11.445/07
33. Por fim, à guisa de reflexão, outro ponto de destaque é a previsão contratual de resolução de eventuais
conflitos pela via não judicial, em especial a mediação e a arbitragem. Veja-se que a própria Lei das
Concessões já prevê em seu art. 23, inciso XV, a possibilidade. Confira-se:
(...)
34. Frise-se que a arbitragem é regulada pela Lei 9.307/96, contemplando a participação de pessoas
jurídicas de direito público, verbis:
35. Ainda, relevante notar-se que, apesar da bem-vinda previsão contratual de autocomposição e
heterocomposição não judicial, a CF, em seu art. 5º, inc. XXXV prevê a inafastabilidade da jurisdição
e o próprio Termo Aditivo, em sua cláusula 22.4. prevê a possibilidade de eventual não solução de
controvérsia por meio da mediação ou arbitragem. Veja-se:
36. Portanto, legal a previsão contratual da mediação e arbitragem para solução de conflitos, não
vulnerando eventual acesso das partes à justiça.
38. Assim sendo, tendo em vista o objeto do Termo Aditivo e a conformidade com a legislação que rege a
matéria, opina-se pela sua viabilidade jurídica, recomendando-se especial atenção aos
apontamentos vinculados no capítulo VII deste opinativo, sem prejuízo de outros pontos
relevantes a critério da Administração.
39. Registra-se que a análise consignada neste parecer se ateve às questões jurídicas observadas na
instrução processual. Não se incluem no âmbito desta análise os elementos técnicos pertinentes, preço
ou aqueles de ordem financeira ou orçamentária, cuja exatidão deverá ser verificada pelos setores
responsáveis e autoridade competente do Município.
40. Por fim, cumpre ressaltar que o presente parecer jurídico é meramente opinativo, com o fito de orientar
as autoridades competentes na resolução de questões postas em análise de acordo com a documentação
apresentada, não sendo, portanto, vinculativo à decisão da autoridade competente que poderá optar
pelo acolhimento das presentes razões ou não.