Apostila 2 - Aula 03 - Ofchan
Apostila 2 - Aula 03 - Ofchan
Apostila 2 - Aula 03 - Ofchan
Público
A positivista, defendida pelo jurista e diplomata italiano Dionisio Anzilotti, afirma que a
origem das normas reside na manifestação da vontade dos sujeitos. Portanto, os fatos
ou atos considerados fontes são aqueles que o direito determina que possuem valor de
regras obrigatórias de conduta. A principal crítica a essa concepção é que ela não
consegue explicar a validade de certas normas como o costume internacional, que é
válido inclusive para Estados que não manifestaram a sua aceitação1.
Por sua vez, as fontes formais compõem o meio de comprovação do direito, isto é, a
forma pela qual a norma jurídica é exteriorizada, sendo um reflexo, uma formalização da
fonte material. Como afirma Georges Scelle, elas dão a “forma exterior reconhecível e
especializada às diferentes categorias de regras” (Apud. MELLO, Celso de. p.193).
1
As normas consuetudinárias apenas não vinculam os Estados que discordaram do costume desde o
princípio.
Dito isso, a doutrina considera que existem fontes formais convencionais, fruto de
acordo de vontades, oriundas de tratados, e não convencionais, fruto da evolução da
realidade internacional.
Elementos fáticos ou motivos que levam As formas pelas quais a norma jurídica é
ao surgimento do Direito, das normas exteriorizada são o meio de
jurídicas comprovação do Direito.
Artigo 38
As demais fontes, ausentes no estatuto da CIJ, são conhecidas como fontes extra
estatutárias.
Resumidamente, as fontes primárias do Direito Internacional Público, que ditam os
direitos e deveres dos sujeitos de DIP, aplicáveis diretamente a uma relação jurídica,
são:
● Tratados internacionais;
● Costumes internacionais;
● Jurisprudência
● Doutrina
2
SHAW, Malcom N. Direito Internacional. São Paulo: Martins Fontes, 2010. p.85
justiça, da qual a equidade se origina, é uma justiça segundo as normas de direito, de
modo que a aplicação da equidade não é o exercício de um poder discricionário ou de
conciliação ou uma operação de justiça distributiva3.
Como disposto no estatuto da CIJ, a equidade apenas pode ser utilizada com o
consentimento expresso das partes, quando não houver norma jurídica aplicável ao
caso sub judice, ou a norma disponível não for eficaz para solucionar a contenda.
Vale ressaltar que a CIJ nunca julgou um caso baseada exclusivamente na equidade.
2. O costume internacional
O costume pode ser definido como uma prática geral, uniforme e reiterada reconhecida
como juridicamente exigível.
De acordo com a teoria dos dois elementos, reconhecida pela CIJ e pela Comissão de
Direito Internacional (CDI), todo costume é formado por um elemento material e um
elemento subjetivo.
3
Esse é o entendimento da Corte Internacional de Justiça no caso da Plataforma continental opondo a
Tunísia e a Líbia (1982).
● Elemento objetivo: é a prática geral dos Estados, a inveterata consuetudo.
A inverterata consuetudo implica que uma prática deve atender certos requisitos
materiais para ser considerada um costume. Deve corresponder a uma prática geral,
uniforme e constante por boa parte dos Estados ou de Organizações Internacionais.
Embora tenha, via de regra, caráter universal, sendo uma prática consistente, difundida
entre os membros da sociedade internacional, o costume não precisa ser reconhecido
unanimemente, bastando o uso por um grupo amplo e representativo. Ademais, o
costume pode ser pode ser comissivo ou omissivo. Portanto, a prática de um Estado
pode ser no sentido de agir ou de se omitir. No caso de um costume omissivo, o Estado
pode deixar de praticar uma ação em virtude da ausência de capacidade técnica ou em
razão da convicção de que o DIP exige essa conduta omissiva (obrigação de não fazer).
Não há prazo para surgir um costume, a prática deve, apenas, ser uniforme e constante
por tempo suficiente para se consolidar.
São diversas as formas como o costume pode se manifestar, como declarações públicas
feitas em nome do Estado, publicações oficiais, correspondência diplomática, decisões
de cortes nacionais, entre outros; podendo, inclusive, ser uma prática oral.
Além dos costumes gerais, aplicados por grande parte da sociedade internacional e
obrigatórios para todos, existem os costumes regionais, que são adotados por membros
de determinada região, sendo obrigatórios dentro dessa região. Um exemplo é o asilo
diplomático, válido apenas na América Latina. No Caso Haya de la Torre, julgado pela
CIJ em 1950, a Corte reconheceu a possibilidade de haver costumes regionais, desde
que a parte que o alega apresentasse provas de sua existência e validade.
Aplicados por todos e obrigatórios para Aplicados apenas por alguns membros da
todos sociedade internacional. São obrigatórios
dentro da região
Vale ressaltar que a objeção persistente não é oponível a jus cogens. Ou seja, não
funciona como mecanismo para bloquear normas com valor de jus cogens.
Como dito anteriormente, a objeção deve ser expressa de forma clara e pública, pois
caso o Estado não reaja a uma prática ao longo do tempo, será considerado o aceite
tácito do costume.
Porém, a falta de reação de um Estado à prática alheia somente servirá como prova de
opinio juris se esse Estado estiver em condições de reagir e as circunstâncias pedirem
reação. A saber, o silêncio apenas será considerado um aceite tácito caso o Estado
tenha conhecimento da norma sendo gestada, tenha um tempo razoável para realizar a
objeção, e tenha interesse direto afetado pela formação do costume. Por exemplo, não
configura aceitação tácita o silêncio de um Estado sem acesso ao mar na formação de
um costume relacionado ao Direito do Mar. Por outro lado, um Estado costeiro não pode
alegar que desconhece uma prática marítima de um Estado vizinho.
No Caso Atividades Pesqueiras, Reino Unido V. Noruega (CIJ, 1951), a corte examinou
a questão do silêncio quanto a costumes internacionais. O Reino Unido alegou
desconhecimento sobre a ampliação da delimitação do mar territorial norueguês,
após barcos ingleses serem apreendidos em águas norueguesas. A CIJ, entretanto,
entendeu que: "as a coastal State on the North Sea, greatly interested in the fisheries in
this area, as a maritime power traditionally concerned with the law of the sea (...) the
UK could not have been ignorant" e, portanto, já poderia ter objetado a ampliação do
mar norueguês em uma situação anterior.
2.3. As críticas aos costumes:
Apesar de ser uma fonte tradicional do Direito Internacional, o costume não está isento
de críticas. Há tanto os problemas da formação lenta e da dificuldade de prova como o
fato dos costumes refletirem as relações de força.
2.4. A codificação
Como disposto anteriormente, desde o surgimento da Organização das Nações Unidas,
há uma tendência à ampliação da codificação dos costumes, possibilitada pela
crescente institucionalização do DIP. Esse aprofundamento na codificação responde à
necessidade de dar maior previsibilidade e segurança jurídica às relações entre
Estados, de modo que as normas, antes reguladas apenas pela prática dos Estados,
passam a ter conteúdo e aplicação mais certos.
As regras possuem enunciado claro, específico e mais objetivo, com baixa abstração.
Um exemplo são as leis penais, que trazem determinadas condutas e penas definidas.
Para evitar antinomias, existem critérios delimitados, como a lei posterior derroga a lei
anterior, e a lei especial derroga a lei geral.
Resultantes da prática interna dos Estados, os PGD podem ser identificados a partir do
direito comparado. Ressalta-se, entretanto, que essa presença nos ordenamentos
internos dos Estados não precisa ser unânime, bastando haver certa generalidade.
Por serem resultado da prática interna dos Estados, não há uma lista de Princípios
Gerais do Direito válidos para o Direito Internacional, mas é possível delimitar algumas
de suas características, entre elas:
Vale ressaltar que a CIJ nunca decidiu um caso com base nos Princípios Gerais de
Direito, embora sejam admitidos pela doutrina e jurisprudência como elemento
subsidiário em relação ao tratado e costume.
Além dos princípios gerais de Direito há os princípios gerais do Direito Internacional
Público (PGDI), que, diferentemente dos primeiros, compõem o rol das fontes
extraestatutárias. Os artigos 1 e 2 da Carta das Nações Unidas apresentam um rol
importante dos PGDI. Eles são as normas que alicerçam e conferem coerência ao
ordenamento jurídico internacional, orientando a elaboração e a aplicação das
normas internacionais e a ação de todos os sujeitos de Direito das Gentes.
jurisprudência
A doutrina e a jurisprudência estão presentes no art. 38 do Estatuto da CIJ como os
meios que poderão auxiliar a Corte na interpretação do sentido e alcance das normas
do DIP.
Em tese, os meios auxiliares não criam o direito, e, portanto, não são considerados
como fontes propriamente ditas. Por esse motivo, alguns doutrinadores consideram que
os meios auxiliares são fontes secundárias, ou, ainda, fontes auxiliares, não possuindo
obrigatoriedade. Celso de Albuquerque Mello, em seu Curso de Direito Internacional
Público, corrobora essa visão do papel subsidiário da doutrina e da jurisprudência, que
"não constituem um modo pelo qual se manifesta a norma jurídica internacional” (p.311).
É possível afirmar que as decisões internacionais criam o direito entre as partes, sem, no
entanto, criarem precedentes vinculantes (stare decisis). Isso significa que as decisões
internacionais não originam parâmetros vinculantes para o julgamento de casos
semelhantes. No entanto, ainda assim, os tribunais internacionais buscam por coerência
e coesão jurisprudencial, adotando decisões razoavelmente harmônicas entre si, em prol
da estabilidade e previsibilidade.
Ademais, as decisões dos tribunais internacionais podem dar origem a práticas gerais,
uniformes e constantes, de modo que seu conteúdo pode virar um costume.
Se houver conflito entre uma norma jus cogens (norma imperativa) e uma outra norma,
quaisquer suas formas de exteriorização (tratado, costume, etc), a jus cogens
prevalecerá. Entretanto, se o conflito for entre normas de mesma natureza, exteriorizadas
em quaisquer tipos de fontes formais, os critérios para a resolução serão os tradicionais,
também aplicáveis ao Direito interno:
4
Artigo 103. No caso de conflito entre as obrigações dos membros das Nações Unidas, em virtude da
presente Carta e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as
obrigações assumidas em virtude da presente Carta.
Os Tratados Internacionais
1.1. Definição
Tratados são acordos internacionais escritos, firmados entre Estados e/ou
Organizações Internacionais e regidos pelo Direito Internacional. Podem constar de um
instrumento único, ou de dois ou mais instrumentos conexos, e podem possuir distintas
denominações.
Vale lembrar que, embora a CVDT/86 não esteja em vigor, ela codifica regras
costumeiras sobre o Direito dos Tratados, e por isso seu conteúdo é aplicável no
território brasileirom e no Direito Internacional Público como um todo.
Embora o Brasil ainda não tenha ratificado a CVDT/86, seu texto foi aprovado pelo
Congresso em dezembro de 2022, com reservas aos artigos 25 e 66.
Tratados são criados pela convergência de vontades, sendo vinculantes com anuência
das partes. A vinculação no âmbito interno (doméstico) e externo significa que o
tratado produz efeitos jurídicos obrigatórios para as partes. Deve-se destacar que a
existência dos tratados fundamenta-se no voluntarismo, pois a vontade das partes é
essencial para que tais acordos possuam validade.
Via de regra, esses acordos são firmados por Estados e/ou Organizações Internacionais.
Entretanto, esses instrumentos internacionais podem ser firmados por outros sujeitos de
DIP, como a Santa Sé, Beligerantes, Insurgentes, e a Cruz Vermelha.
Outro ponto retirado da definição é que tratados são regidos pelo Direito Internacional.
Em suma, isso significa que devem obedecer aos procedimentos estabelecidos pela
prática internacional, principalmente quanto à celebração e à vigência, para que sejam
válidos.
Embora haja registros de tratados desde a Antiguidade, a maior parte das situações
eram reguladas através do costume até o século XX.
1.3. Terminologia
● Ata: estabelece regras de Direito. Alguns possuem mera força política e moral.
● Carta: cria organizações internacionais. Contém, portanto, os objetivos, órgãos e
modo de funcionamento de uma organização internacional, como a Carta das
Nações Unidas. O termo também é utilizado para designar instrumentos que fixam
direitos e deveres dos indivíduos, a exemplo da Carta Social Europeia.
A parte dispositiva, por sua vez, é a principal parte do texto convencional, formada
pelos artigos. Nela estão presentes os direitos e deveres acordados entre as partes, e
todo seu texto é obrigatório.
Fecho: Feito na cidade de Assunção, aos 26 dias do mês março de mil novecentos
e noventa e um, em um original, nos idiomas português e espanhol, sendo ambos os
textos igualmente autênticos.
Anexos: “ANEXO III 1. As controvérsias que possam surgir entre os Estados Partes
como consequência da aplicação do Tratado serão resolvidas mediante
negociações diretas (...)”
Essa classificação diz respeito à quantidade de signatários de um tratado, que pode ser:
● Bilateral: firmado entre apenas duas partes. Era o tipo predominante até o
Congresso de Viena de 1815.
● Multilateral: firmado entre 3 ou mais partes.
2.2 Em relação ao procedimento de conclusão
Em relação à natureza das normas, o ponto de vista material, os tratados podem ser:
● Transitórios: são tratados com efeitos limitados, de realização imediata, mas que
podem perdurar no tempo. Um exemplo são os tratados que estabelecem as
fronteiras entre Estados;
● Permanentes: são tratados cuja execução se consuma durante o período que
estão em vigor. Possuem efeito sucessivo.
● Restrito às partes: acordos que apenas geram efeitos sobre as partes (inter pars).
É a regra geral no Direitos dos Tratados.
● Alcançando terceiros: acordos que se aplicam a sujeitos que não os celebraram,
como é o caso da carta da ONU, em que as normas de manutenção da paz e da
segurança nacional podem gerar ações contra Estados que representem ameaça
à estabilidade regional ou mundial, ainda que não sejam parte do sistema das
Nações Unidas.
Todo Estado é sujeito de DIP pleno, com capacidade para concluir tratados, de acordo
com o Art.6 da CVDT/69.
Deve-se ressaltar que as OIs detêm capacidade parcial. Elas podem celebrar tratados
com outros Estados, com seus membros ou com outras OIs, com a limitação de que
esses tratados sejam relativos a objetivos presentes em seus tratados constitutivos.
Nesse sentido, o tratado constitutivo de uma OI estabelece o órgão competente para
celebrar tratados em seu nome.
De acordo com a CVDT/86: “A capacidade de uma organização internacional para
concluir tratados é regida pelas regras da organização.”
Além dos Estados e das Organizações Internacionais, podem celebrar tratados a Santa
Sé, beligerantes e insurgentes, o Comitê da Cruz Vermelha e alguns blocos econômicos.
Essas pessoas jurídicas de DIP celebram tratados a partir dos órgãos que atribuíram
competência para tal.
Vale lembrar que indivíduos, empresas e ONGs não possuem capacidade para celebrar
tratados.
Para que o tratado seja válido, o agente que negocia o acordo deve estar habilitado para
tal ato.
Além dos plenos poderes e da prática, uma pessoa pode ser considerada representante
de um Estado em razão de seu cargo. Entre os agentes capazes de celebrar tratados
sem a comprovação dos plenos poderes estão:
● os Chefes de Estado, os Chefes de Governo e os Ministros das Relações
Exteriores, para a realização de todos os atos relativos à conclusão de um tratado;
● Os chefes de missão diplomática, para a assinatura de tratado entre o Estado
acreditante (aquele que envia seus representantes diplomáticos) e o Estado
acreditado (aquele que recebe os representantes do Estado acreditante).
● os representantes acreditados pelos Estados perante uma conferência ou
organização internacional ou um de seus órgãos, para a adoção do texto de um
tratado em tal conferência, organização ou órgão.
Vale relembrar que no caso do Brasil, o Presidente da República reúne em um único cargo as funções de
Chefe de Estado e de Chefe de Governo.
O poder para celebrar tratados vai depender, portanto, do cargo que ocupa o agente; da
posse de um documento que lhe confere poderes para agir em nome do ente estatal; ou
da prática estatal.
Para que um tratado seja válido, seu objeto não pode violar normas internacionais
vigentes ou conflitar com normas jus cogens.
O tratado incompatível com uma norma de jus cogens é absolutamente nulo, não podendo a nulidade ser
sanada.
Para parte da doutrina, tratados regionais devem ser compatíveis com regras universais.
Seu teor pode ser diverso, desde que o escopo da regra universal seja ampliado.
Esse consentimento pode ser expresso por meio da assinatura, da troca dos
instrumentos constitutivos do tratado, da ratificação, da aceitação, da aprovação ou
da adesão, ou por quaisquer outros meios que as partes acordarem, nos termos do art.
11 da CVDT/69.
Na adesão, o Estado que não foi parte na celebração manifesta seu consentimento em
obrigar-se aos termos do tratado. Já na ratificação, o Chefe do Estado ou o Chefe de
Governo declara a submissão do Estado às obrigações estipuladas pelo tratado.
Uma vez presente algum tipo de vício, o tratado pode ser invalidado. Caso a parte no
tratado não tenha aceito o vício, deve então alegá-lo expressamente. Nesse caso, a
causa da nulidade deve ser alegada antes da aceitação do acordo, caso contrário o
vício não poderá ser invocado como causa de nulidade, de extinção ou de suspensão da
execução de um tratado (art. 45, CVDT/69).
Artigo 45
b)em virtude de sua conduta, deva ser considerado como tendo concordado
em que o tratado é válido, permanece em vigor ou continua em execução,
conforme o caso.
No caso de nulidade relativa, o tratado é anulável mediante prova. Nesse caso, o vício
não afeta a todos, apenas ao Estado responsável pelo vício. Logo, pode ser sanado se
for aceito expressamente que o tratado é válido, ou tacitamente, se a conduta da parte
for considerada como tendo concordado que o tratado é válido.
É importante destacar que o erro apenas enseja a nulidade de um tratado caso atinja a
essência do assunto que o ato pretende regular, isto é, a razão fundamental pela qual o
sujeito consentiu em celebrar o tratado. O erro não levará à nulidade caso as
circunstâncias eram tais que o Estado devia ter-se apercebido da possibilidade de erro,
ou o Estado contribuiu para tal erro pela sua própria conduta. Ressalta-se que o erro
sobre a redação do texto não prejudica a sua validade.
Jus cogens é uma norma imperativa do Direito Internacional geral. É uma norma aceita
e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como
norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por
norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza.
Em caso de nulidade por conflito com jus cogens, as partes devem eliminar, na medida
do possível, as consequências do ato praticado com base em uma disposição violadora
de uma norma jus cogens, além de buscar adaptar suas relações mútuas à norma
imperativa do Direito Internacional geral (Art.71 da CVDT/69).
4. Processo de Elaboração dos Tratados
Para o direito internacional, é indiferente o método usado pelo Estado para promover a
recepção por seu ordenamento jurídico. Portanto, cada Estado define em suas normas
internas o procedimento de incorporação.
É importante lembrar que o Brasil é um país que adota a corrente dualista moderada,
havendo dois ordenamentos jurídicos distintos, o interno e o externo. Logo, para uma
norma internacional possuir validade interna, via de regra, ela deve ser incorporada
através de um procedimento específico, não sendo a incorporação uma simples
transformação do tratado em lei interna5.
4.1. Negociação
A negociação é a fase inicial, que ocorre no plano externo. Nessa fase, as partes
dispõem a respeito do texto do tratado, promovendo a elaboração e a adoção do texto
do tratado.
5
Um tratado é incorporado no ordenamento jurídico interno após a promulgação e publicação do decreto do
Presidente da República. Ressalta-se, entretanto, que a internalização não cria uma lei interna.
No âmbito multilateral, a negociação geralmente ocorre dentro de uma Conferência.
Nesse caso, a adoção do tratado depende, via de regra, de maioria de 2/3 dos Estados
presentes e votantes na Conferência. No entanto, os Estados podem decidir por um
processo de aprovação diverso.
A assinatura representa a concordância das partes com o teor do acordo, pondo termo
às negociações. Na prática, a assinatura demonstra que o acordo está pronto para a
ratificação. A assinatura também impede que o texto seja alterado unilateralmente,
embora ainda possa haver a propositura de reservas.
Em regra, no caso de tratados solenes stricto sensu, a assinatura não gera efeitos
jurídicos por se tratar de uma anuência preliminar, não vinculativa. Isso ocorre porque o
consentimento definitivo se expressa em duas fases: na assinatura e na ratificação.
Vale lembrar que alguns tratados, como os acordos executivos, podem ter um
procedimento simples, em que a assinatura é suficiente para exprimir o consentimento.
Esses casos geralmente envolvem apenas dois Estados, sendo acordos sobre matéria de
importância limitada e que se concluem por troca de notas, envolvendo apenas o
executivo. No Brasil, o uso de um procedimento simples na adoção de um acordo
depende da condição de reversibilidade da matéria tratada e cobertura orçamentária
prévia. Via de regra, os acordos com procedimento simplificado são os adotados na
rotina diplomática para a complementação de tratados, como a interpretação de
cláusulas de tratados vigentes.
O Estado que tenha assinado ou trocado instrumentos constitutivos de um tratado, sob
reserva de ratificação, aceitação ou aprovação, está obrigado a não comprometer seu
objeto e finalidade antes de sua entrada em vigor. A mesma limitação aplica-se ao
Estado que tiver expressado seu consentimento em obrigar-se por um tratado no
período que precede a entrada em vigor do tratado e com a condição de esta não ser
indevidamente retardada.
4.3. Ratificação
No Brasil, após a celebração do tratado pelo Executivo, o acordo passa pela aprovação
do Congresso Nacional — por meio de decreto legislativo do presidente do Senado—, e,
uma vez aprovado, este pode ser ratificado pelo Presidente da República, vindo a ser
promulgado e publicado para ter vigência interna.
Não obstante a ratificação ser ato privativo do Presidente da República, ela depende
de aprovação parlamentar. Portanto, se o Congresso Nacional não aprovar um
tratado, o Presidente da República não poderá ratificá-lo.
Por ser um ato discricionário, não há um prazo específico para que a ratificação ocorra.
Ela será efetuada no momento mais oportuno ou conveniente para os interesses
nacionais, de modo que o Estado pode se abster de ratificar, mesmo com a aprovação
do Congresso Nacional, caso considere a ratificação inconveniente ou inoportuna.
Além de ser discricionária, a ratificação é irretratável. Em outras palavras, uma vez
feita, ela não pode ser retirada, cabendo às partes o fiel cumprimento dos termos do
tratado. Caso queira deixar de se obrigar, a parte pode fazer a denúncia de um tratado,
subordinando-se às regras prefixadas quanto a esse procedimento. Entretanto, a
denúncia não se confunde com a retratação da ratificação.
Embora não haja prazo para ratificação, tratados podem estabelecer um lapso a partir
do qual a ratificação será impossível.
A ratificação se consuma pela pela comunicação formal, seja pelo depósito ou pela
troca dos instrumentos de ratificação.
● Guardar o texto original do tratado e quaisquer plenos poderes que lhe tenham
sido entregues;
● Informar os Estados que tenham direito a ser partes no tratado sobre quando tiver
sido recebido ou depositado o número de assinaturas ou de instrumentos de
ratificação, de aceitação, de aprovação ou de adesão exigidos para a entrada
em vigor do tratado;
Um tratado pode ser vigente tanto no âmbito interno de um Estado quanto no âmbito
externo da sociedade internacional. Isto é, existem dois momentos de vigência que, via
de regra, são distintos entre si.
Diz-se que um tratado está em vigor no âmbito interno quando este deve ser observado
dentro dos limites jurisdicionais de um Estado. Consoante a doutrina e a jurisprudência
brasileiras, um tratado negociado e assinado pelo Brasil entra em vigor no território
nacional a partir da promulgação e da publicação de decreto do Presidente da
República.
Já no âmbito externo, diz-se que um tratado possui vigência quando sua observância
pode ser exigida por outros signatários ou por organizações internacionais. Neste caso,
para se vincular a um tratado, o Estado deve ratificá-lo; e para que este tratado passe a
valer na sociedade internacional, ele deve preencher os requisitos acordados pelos
Estados negociadores, como um número mínimo de ratificações. Isto é, as partes podem
dispor sobre as condições para a entrada em vigor de um tratado. Admite-se, por
exemplo, que a entrada em vigor ocorra a partir do implemento de uma condição, a
exemplo do depósito junto ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas
(ONU), ou mesmo a partir do alcance de um número mínimo de ratificações, como o
disposto no art. 85 da CVDT/1986, que afirma que a mesma entrará em vigor quando
forem alcançadas trinta e cinco (35) ratificações — número ainda não alcançado para
sua entrada em vigor.
Caso um Estado manifeste seu consentimento em obrigar-se por um tratado após sua
entrada em vigor, a vigência ocorrerá a partir da data em que o consentimento foi
definitivamente manifestado (o depósito do instrumento de ratificação, por exemplo),
salvo disposição diversa. Ressalta-se a importância da atuação do depositário, que
tem a função de receber a nova assinatura ao tratado e de comunicá-la às demais
partes.
Para parte da doutrina, o Estado passa a ser obrigado pelo tratado a partir da
ratificação. No entanto, pode ser que o tratado ainda não esteja em vigor, inclusive por
não ter atingido o número mínimo de ratificações, então, nesse caso, não há que se falar
em obrigação do Estado perante o tratado – salvo a obrigação de não agir de maneira a
contrariar a finalidade do tratado, que vale a partir da assinatura.
CVDT/69, Artigo 25
No entanto, por entender que a aplicação provisória admite a possibilidade que o país
se obrigue internacionalmente antes do crivo do Congresso Nacional, o Brasil
apresentou reservas ao artigo 25 da CVDT/1969. Para o país, a aceitação da aplicação
provisória seria uma violação das normas constitucionais.
4.5. Registro e Publicidade
Destarte, entende-se que o registro não é necessário para que um tratado seja parte do
DIP.
O tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido de boa fé, como disposto no
artigo 26 da CVDT/69.
Isso implica que as partes não podem invocar disposições do Direito interno para
justificar o inadimplemento de um tratado6. Uma vez vigente, o acordo deve ser
cumprido conforme o princípio do pacta sunt servanda.
6
a não ser que a violação em questão seja justificada por uma norma de direito interno de importância
fundamental, de acordo com o art. 46 da CVDT/69.
De um lado, diz-se que a vigência é contemporânea na hipótese de ser atingido o
número mínimo de ratificações em tratados multilaterais, ou de haver ocorrido a
manifestação do consentimento definitivo de ambas as partes em um tratado bilateral.
Nos dois casos, o tratado passa a ser simultaneamente vigente para as partes
contratantes.
De outro lado, diz-se que a vigência é diferida quando o tratado entra em vigor em
momentos distintos para as partes, como no caso de haver prazo para entrada em vigor
após o consentimento definitivo das partes, sendo que nem todas expressam esse
consentimento no mesmo momento.
A vigência também pode ser escalonada, tendo prazos distintos para a vigência entre as
partes.
Os tratados podem ter vigência por prazo determinado ou por prazo indeterminado. Via
de regra, a maior parte dos tratados multilaterais em vigor possui prazo indeterminado.
Entretanto, existem exemplos notórios de tratados com prazo determinado, como o
Tratado do Canal do Panamá de 1977, que estipulou, em seu Art.2, que o tratado
perderia sua eficácia no dia 31 de dezembro de 1999.
Por fim, tratados podem ter a duração condicionada a um evento futuro resolutório,
como a execução integral do objeto do tratado ou o pagamento de uma quantia
estipulada, ou mesmo o cumprimento de determinada obrigação.
Regra geral, tratados criam obrigações para as partes e devem ser cumpridos por elas
de boa fé.
Geralmente, os tratados não têm efeito retroativo em relação a fatos ou ações que
ocorreram antes de sua entrada em vigor. Essa não retroatividade é estabelecida no
artigo 28 da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 (CVDT/69).
CVDT/69, artigo 28:
Irretroatividade de Tratados
Quanto ao alcance, os tratados se aplicam a todo o território dos Estados partes, a não
ser que se disponha de forma diversa. Essa aplicação decorre da regra geral do animus
contrahendi, ou seja, da vontade de se comprometer com um acordo.
O artigo 29 da CVDT/69 estabelece que os tratados obrigam cada uma das partes em
relação a todo o seu território:
Para a CVDT/69 o termo “terceiro Estado” significa um Estado que não é parte no
tratado.
Além dos casos supracitados, a doutrina identifica pelo menos três outras exceções ao
princípio geral sobre a não criação de obrigações e direitos para terceiros.
A segunda exceção é para os tratados que criam situações jurídicas objetivas, como os
tratados constitutivos de organizações internacionais e tratados de limites. O limite de
um Estado determinado em tratado bilateral será válido para todos os Estados como a
determinação objetiva daquela fronteira.
A terceira exceção é para os tratados que criam efeitos de fato sobre um terceiro
Estado. Um exemplo é a cláusula de nação mais favorecida entre A e B. Se B celebrar um
acordo mais favorável com C, deve estender essa vantagem a A. Um tratado entre B e C
atinge como fato, não como norma jurídica. É o fato-condição anteriormente previsto
no tratado entre A e B.
6. Reservas a Tratados
Além disso, as reservas também podem ser utilizadas para evitar conflitos com a
legislação nacional ou para proteger interesses específicos do Estado.
De acordo com a CVDT/69, “reserva” significa uma declaração unilateral, qualquer que
seja a sua redação ou denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou
aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar o efeito
jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação a esse Estado.
Uma reserva pode ser feita no momento em que o Estado possa expressar seu
consentimento em se obrigar a um tratado, seja quando da assinatura, ratificação,
aceitação, aprovação ou adesão. Ou seja, ela pode ser feita antes da confirmação, que
geralmente corresponde à assinatura, ou de forma definitiva na ratificação ou adesão.
A regra geral é que a reserva não pode ser feita após a manifestação do consentimento
em se obrigar, a não ser que as outras partes concordem com isso.
Há também situações em que as reservas não são permitidas, seja totalmente, seja no
tocante apenas a determinados pontos, entendidos como centrais para a aplicação do
ato internacional.
As reservas devem ser formuladas por escrito, como consta no artigo 23, e devem ser
comunicadas aos Estados contratantes e a outros que tenham o direito de ser parte no
tratado.
A retirada de uma reserva pode ser feita a qualquer momento e deve ser por escrito.
Além disso, a retirada da reserva não depende da aceitação das demais partes de um
tratado, podendo ser feita a qualquer momento desde que propriamente divulgada.
Se o tratado depender da aplicação na íntegra para ser aceito pelas partes, a reserva
deve ser igualmente aceita por todas as partes.
Consonante o princípio do livre consentimento, uma reserva produzirá efeito logo que
pelo menos outro Estado contratante a aceite.
A objeção a uma reserva permite que o Estado opositor negue a vigência do tratado
entre si e o autor da reserva.
Vale ressaltar que a objeção de uma reserva não impede que o tratado entre em vigor
entre o Estado autor da reserva e o Estado que formulou a objeção, a não ser que uma
intenção contrária tenha sido expressamente manifestada pelo Estado que formulou a
objeção; Quando este último não se opuser à entrada em vigor do tratado entre ele
próprio e o Estado autor da reserva, as disposições a que se refere a reserva não se
aplicarão entre os dois Estados, na medida prevista pela reserva.
7. Emendas e Revisões
Os tratados internacionais são instrumentos jurídicos que regulam as relações entre
Estados e outras entidades internacionais. No entanto, as mudanças nas relações
internacionais e nas necessidades da sociedade internacional podem tornar necessária a
modificação do texto de tratados, seja por meio da revisão ou da emenda.
7.1. As Emendas
As emendas são alterações feitas no texto original do tratado, pelo qual o teor dos
atos internacionais é revisto, levando ao acréscimo, à alteração ou à supressão de
conteúdo normativo. Isso permite que o marco legal internacional seja atualizado de forma
mais rápida e eficiente, sem a necessidade de negociação de novos tratados a todo
momento. Já as revisões são um processo mais amplo, que envolve a análise e a
possível alteração de todo o tratado, e não apenas de partes específicas. Isto é, as
emendas constituem um modo de atualização mais rápida do tratado, enquanto a revisão
é utilizada para mudanças mais profundas.
Se um Estado não aprovar a emenda, não se tornando parte no acordo de emenda, ele
será obrigado apenas pelo tratado original, e não pela parte emendada. Portanto, podem
conviver dois regimes jurídicos devido à vigência concomitante do tratado original e do
tratado emendado, no que Valério De Oliveira Mazzuoli chama de duplicidade de
regimes jurídicos.
7.2. A revisão
Já a revisão ou reforma, como visto anteriormente, é uma alteração mais profunda que a
comumente ensejada por emendas, a exemplo das reformas da Carta da OEA através do
Protocolo de Buenos Aires (1967) e do Protocolo de Cartagena das Índias (1985).
Basta uma leitura superficial dos referidos protocolos para confirmar que os mesmos
alteram uma série de artigos da Carta original, trocando-os de ordem, alterando seu
conteúdo e moldando a Carta à nova realidade que se apresentava.
É possível identificar diferentes situações que levam à extinção de um tratado, entre elas:
● A execução integral;
● O consentimento mútuo das partes;
● A existência de número de partes insuficiente;
● A inexecução por uma das partes ou violação substancial de um tratado bilateral
por uma das partes;
● O termo final ou a superveniência de condição resolutória;
● O surgimento de uma norma posterior que regule de maneira diversa a matéria
disciplinada pelo tratado
● A caducidade ou desuso;
● A mudança substancial de circunstâncias;
● A impossibilidade de execução;
● A superveniência de norma jus cogens;
● A denúncia unilateral;
● Um fato de terceiro;
● A renúncia do beneficiário;
Muitas das hipóteses de extinção estão expressamente previstas entre os artigos 54 e 64
da CVDT/69. Não obstante, existem formas de extinção não contempladas por tratados
internacionais, a exemplo da caducidade, concebida pela doutrina.
Ressalta-se que, conforme o artigo 55 da CVDT/69, a não ser que o tratado disponha diversamente,
um tratado multilateral não se extingue pelo simples fato de que o número de partes ficou aquém do
número necessário para sua entrada em vigor.
Outra forma pela qual um tratado pode ser extinto é por mudanças nas circunstâncias que
motivaram a celebração do tratado.
A guerra é outra hipótese de mudança fundamental das circunstâncias que deram origem
a um tratado, podendo resultar na extinção dos compromissos estabelecidos entre os
Estados em conflito. Tratados bilaterais que vinculem os beligerantes podem ser extintos,
e os compromissos entre ambos que constem de acordos multilaterais podem ser
suspensos. Destaca-se, no entanto, que tratados voltados a gerar efeitos durante
conflitos armados, a exemplo de acordos com base no Direito Humanitário, bem como
outros de vigência permanente, como os tratados sobre limites, e também acordos
sobre Direitos Humanos devem permanecer em vigor.
As normas sobre Direitos Humanos devem ser aplicadas em quaisquer circunstâncias, não sendo
extintas ou suspensas em caso de conflitos armados.
Os tratados que não podem ser extintos em decorrência de uma guerra tampouco podem
ser suspensos.
Por fim, se sobrevier uma nova norma peremptória de Direito Internacional geral, a
jus cogens, qualquer tratado existente que estiver em conflito com essa norma tornar-se-á
nulo, sendo extinto.
Além das hipóteses resultantes da vontade das partes e da mudança das circunstâncias,
um tratado também pode ser extinto por vontade unilateral.
A violação substancial de um tratado bilateral por uma das partes autoriza a outra
parte a invocar a violação como causa de extinção ou suspensão. Já em tratados
multilaterais, as partes podem suspender ou extinguir o tratado com a parte que violou o
tratado, ou igualmente entre todas as partes.
Outra forma de extinção por vontade unilateral é a denúncia do tratado, que consiste em
um ato unilateral, com efeitos ex nunc, pelo qual uma parte anuncia sua vontade de se
desvincular de um compromisso internacional, desobrigando-se de cumprir as obrigações
presentes nesse acordo. A denúncia só é válida se a natureza do tratado a admitir, e se
for notificada com antecedência de pelo menos 12 meses.
Tratados sobre fronteiras não admitem denúncia, salvo se existir cláusula garantindo essa
possibilidade.
Assim como a extinção, a suspensão pode estar prevista e regulada no próprio tratado
ou pode ser produto de acordo entre as partes. Em tratados multilaterais, a suspensão
envolve a concordância de todos os Estados-Partes ou de um número mínimo a ser
estabelecido pelo tratado.
É importante destacar que duas ou mais partes de um tratado multilateral podem concluir
um acordo para suspender temporariamente, e somente entre si, a execução das
disposições de um tratado. Essa possibilidade deve estar prevista ou não ser proibida
pelo tratado, caso em que não deve prejudicar o gozo, pelas outras partes, de direitos
decorrentes do tratado, bem como o cumprimento de suas obrigações, nem ser
incompatível com o objeto e a finalidade do acordo. Nessa hipótese de suspensão, os
interessados devem notificar os demais signatários de sua intenção e indicar as
disposições do ato internacional cuja execução pretendem interromper.
Um tratado pode ser suspenso com a conclusão de um novo tratado entre todas as
suas partes e sobre o mesmo assunto. Para que a suspensão ocorra, deve ser possível
depreender que a intenção das partes é a suspensão do tratado anterior.
A suspensão, por sua vez, exime as partes do cumprimento do tratado em suas relações
mútuas e enquanto vigorar. Ressalta-se que as partes devem se abster de atos que
tendam a obstruir o reinício da execução do tratado.
A CVDT/69 prevê, em seu art. 32, meios suplementares de interpretação, cuja finalidade
é confirmar o sentido da interpretação feita conforme a regra geral ou determinar o
sentido quando a interpretação deixá-lo ambíguo ou obscuro, ou conduzir a um resultado
que é manifestamente absurdo ou desarrazoado. Considera-se como meios
suplementares os trabalhos preparatórios e as circunstâncias de conclusão do tratado.
Quando o tratado for autenticado em duas ou mais línguas, ambos os textos fazem fé
(art.33). Isto é, presume-se que os termos do tratado têm o mesmo sentido nos diversos
textos autênticos.
Outra versão em língua diversa, que não a autenticada, só fará fé se as partes assim
concordarem.
É comum haver uma confusão entre a aplicabilidade imediata e o efeito direto das normas no direito da
União Europeia. Enquanto a aplicabilidade ou aplicação imediata diz respeito à possibilidade da norma
comunitária ser incorporada ao ordenamento nacional sem um ato especial da autoridade estatal, o efeito
direto refere-se aos efeitos das normas comunitárias sobre os direitos dos particulares. Consoante o
Tribunal de Justiça da União Europeia, os particulares podem invocar diretamente o direito da UE
perante jurisdições nacionais e europeias, independentemente da existência de textos provenientes
do direito nacional.
A partir daí, já no Congresso Nacional, o trâmite tem início na Câmara dos Deputados,
com a apreciação pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e pela Comissão
de Relações Exteriores — e a depender do conteúdo, por outra comissão temática.
Após a apreciação pelas Comissões da Câmara, o texto vai para votação no plenário da
Câmara, e, se aprovado, será enviado ao Senado Federal, submetido às respectivas
Comissões desta casa, e votado em plenário. O acordo pode ser rejeitado, aprovado em
partes ou aprovado totalmente.
Com o acordo aprovado pelas duas casas em turno único, o Presidente do Senado
emite um decreto legislativo, autorizando o Presidente da República a ratificar o tratado.
A ratificação é um ato posterior ao referendo pelo Congresso Nacional. Ela representa, no plano
internacional, a conjugação das vontades do Legislativo e do Executivo.
Etapas:
As fontes extraestatutárias
1. Os atos unilaterais
O ato unilateral pode ser definido como a expressão de vontade emanada por um ou
mais Estados, de forma autônoma e independente, capaz de criar obrigações e
direitos em conformidade com o Direito Internacional.
Já no caso dos Testes Nucleares opondo Austrália e Nova Zelândia à França, a CIJ
reconheceu que as declarações de autoridades francesas, afirmando que a França não
realizaria mais testes nucleares na atmosfera do Pacífico Sul, criaram uma obrigação
internacional para esse Estado.
Em 1974, a Austrália e a Nova Zelândia acionaram a CIJ para obrigar juridicamente a França a encerrar
seus testes nucleares atmosféricos no Pacífico, pois estes estavam danificando a vida marinha em águas
daqueles países. A Corte entendeu que declarações posteriores de oficiais franceses haviam criado uma
obrigação para o país de não realizar mais testes na superfície, e que, portanto, o caso havia perdido o
seu objeto. Pouco depois, a França fez novo teste naquela região. No entanto, por ser de natureza
submarina, a Corte não viu uma violação às declarações anteriores, por entender que estas devem ser
interpretadas restritivamente.
Ressalta-se que os atos unilaterais não possuem forma prescrita para serem válidos.
Princípios Orientadores
Entre os distintos tipos de atos unilaterais que criam efeitos jurídicos, destacam-se o
protesto, a promessa, a renúncia, a denúncia, o reconhecimento, a ruptura de relações
diplomáticas, a notificação, entre outros.
O protesto é o ato unilateral pelo qual um Estado procura evitar que uma norma
costumeira se forme, ou se opõe a um estado de coisas que lhe seja prejudicial,
buscando resguardar seus direitos. Ele pode ser escrito ou oral, ou por atos inequívocos,
e depende de continuidade.
A ruptura de relações diplomáticas é um ato unilateral pelo qual um Estado rompe suas
relações com outro, encerrando as comunicações oficiais bilaterais. Via de regra,
ocorre em resposta a desentendimentos políticos, como forma de sanção, ou mesmo para
o cumprimento de decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, nos termos do
Art.41 da Carta da ONU.
Art.41 da Carta da ONU: O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem
envolver o emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas suas
decisões e poderá convidar os Membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas
poderão incluir (…) o rompimento das relações diplomáticas.
2. As decisões de organizações internacionais
Vistas como fontes extra estatutárias do Direito Internacional, as decisões de OIs não estão
expressamente previstas no art.38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça.
Ressalta-se, portanto, que para que seja fonte de DIP, uma decisão de uma
organização internacional deve estar prevista no tratado constitutivo.
Consoante Portela:
(...) decisões de OIs são reguladas pelas normas que regulam o funcionamento dessas
entidades, constantes de tratados que permitem que o organismo pratique seus próprios
atos e que estabelecem a denominação desses, as condições para seu aperfeiçoamento e
suas possíveis condições jurídicas. (p.71)
Quanto às resoluções da AGNU, estas não são consideradas fonte formal do DIP,
apesar de terem refletido a opinião geral dos Estados sobre determinados temas. É
importante destacar que as resoluções da AGNU possuem importante papel no
desenvolvimento de normas consuetudinárias, sendo evocadas como manifestação do
costume.
Ressalta-se que as decisões de OIs não são assinadas ou ratificadas, mas sim
votadas pelos membros. Destarte, as decisões de OIs refletem a prevalência de uma
vontade coletiva dos Estados.
No Brasil, em que pese o Estado adotar o dualismo na relação entre a ordem jurídica
nacional e a internacional, é possível haver decisão de organização internacional com
executoriedade imediata: esse é o caso de resolução sancionatória do CSNU.
7
No caso da Namíbia (consequências jurídicas para os Estados da presença contínua da África do Sul na
Namíbia), a CIJ afirmou em sua opinião consultiva que a obrigatoriedade ou não dessas resoluções
depende de seus conteúdos textuais.
Art. 7º Sem prejuízo da obrigação de cumprimento imediato das resoluções sancionatórias
do Conselho de Segurança das Nações Unidas e das designações de seus comitês de
sanções, as resoluções e as designações de que trata este Capítulo, ou seus extratos, serão
publicadas no Diário Oficial da União pelo Ministério das Relações Exteriores, em língua
portuguesa, para fins de publicidade.
As jus cogens são normas peremptórias de Direito Internacional geral que refletem e
protegem os valores fundamentais da comunidade internacional.
Conforme da Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas, para que uma norma
seja identificada como uma norma peremptória (jus cogens) ela deve:
Por estarem contidas em distintas fontes, como costumes e tratados, não são
consideradas fontes propriamente ditas do direito internacional. Inclusive, não há menção
expressa às jus cogens no Estatuto da Corte Internacional de Justiça.
Embora não sejam consideradas fontes, essas normas criam obrigações erga omnes, ou
seja, obrigam a todos sem exceção. O fato das normas peremptórias deverem ser
respeitadas por todos e em sua totalidade resulta no não cabimento de reservas a
normas imperativas. Além disso, excludentes de ilicitude não são válidos contra jus
cogens.
O artigo 53 da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 define a jus
cogens como uma norma imperativa da qual nenhuma derrogação é permitida e que
só pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma
natureza.
Art. 53 da CVDT/69: (…) uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma
aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma
da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de
Direito Internacional geral da mesma natureza.
Art.64 da CVDT/69: Se sobrevier uma nova norma imperativa de Direito Internacional geral,
qualquer tratado existente que estiver em conflito com essa norma torna-se nulo e
extingue-se.
Ressalta-se que violação de jus cogens não pode dar origem a um direito8. Na
realidade, os Estados devem abster-se de qualquer ação que colabore com a violação a
uma jus cogens; cooperar para cessar o ato ilícito violador, e eliminar suas
consequências. Portanto, nenhum Estado deve reconhecer como lícita uma situação
criada por violação a uma norma peremptória de Direito Internacional geral.
Como refletem valores fundamentais para a comunidade internacional, as jus cogens são
apenas globais, não existindo normas peremptórias regionais.
8
Em parecer consultivo no caso Namíbia (Sudoeste Africano), a Corte Internacional de Justiça afirmou que
nenhum estado pode surgir por meio de violação de norma de jus cogens, em atendimento ao princípio ex
injuria jus non oritur.
Embora apareçam principalmente como costumes, tratados e princípios gerais do Direito também podem
servir de base para normas peremptórias de Direito Internacional geral.
A ver:
Anexo
1. Proibição da agressão;
2. Proibição da escravidão e do tráfico de escravos;
3. Proibição da tortura;
4. Proibição da pirataria;
5. Proibição do “apartheid” e da Discriminação Racial;
6. Princípio da autodeterminação dos povos;
7. Princípio dos fundamentos de DIP Humanitário;
8. Proibição do genocídio;
9. Proibição de crimes contra a humanidade.
Por fim, é importante lembrar que uma norma jus cogens é uma norma rígida, mas não
imutável. Ela pode ser modificada ou revogada, contanto que a norma posterior seja
outra jus cogens.
Para a doutrina majoritária, a natureza das jus cogens as situa acima das demais normas internacionais.
Entretanto, isso não significa que haja hierarquia entre as fontes. Isso ocorre devido ao fato das jus
cogens não serem fontes formais, podendo ter seu conteúdo expresso em tratados, princípios gerais de
Direito ou mesmo costumes internacionais.
Apesar das normas peremptórias não serem consideradas fonte formal de Direito
Internacional, sua importância é inegável, uma vez que refletem os valores fundamentais
da sociedade.
3.2. A soft law
A soft law, também conhecida como soft norm, é uma norma flexível que resulta da
necessidade de adaptação da Sociedade Internacional a novos temas, refletindo a
mutabilidade da política e das relações internacionais.
Em temas de difícil consenso ou que exigem resposta mais rápida, como direitos de minorias ou mesmo
temas de Direito Ambiental, o uso da soft law é flagrante.
Via de regra, a soft law não cria obrigações de direito positivo para os signatários,
possuindo natureza programática e não vinculativa. Ela é uma regra que possui um
valor normativo menos constringente, e cuja origem reside na negociação entre os
sujeitos de DIP, em organizações não governamentais (ONG), ou dentro de órgãos
técnicos de OIs. Isto é, preceitos de soft law podem ser fruto da vontade de entes que
não são possuem capacidade jurídica para celebrar tratados — muitos dos quais não são
sujeitos de DIP.
Não obstante a ausência de um conteúdo imperativo, a soft law pode ser prova da opinio
juris, ou pode influenciar na formação de um costume internacional.
Vale ressaltar que a natureza jurídica das soft laws ainda não está perfeitamente
delineada. Na realidade, não há consenso na doutrina se essas regras devem ser
reconhecidas como fontes de DIP.
Bibliografia:
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. 15. ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2004.